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As promessas do Sagrado Coracfo de Jesus Em suas aparigdes a Santa Margarida Maria, Nosso Senhor insiste que 0 culto a seu Sagrado Coragao seja revestido do aspecto de reparagao. Seus devotes devem no somente descobrir seu Amor insondavel, mas também oferecer reparagao pelas injirias, ffiezas ingratido com que Ele 6 ofendido, De fato, oliberalismo, desconhecendo a submissdo que o homem deve a Deus, poe na liberdade do homem o principio de todas as leis da sociedade modema. 0 liberalismo quer que o préprio Deus se submeta & liberdade do homem. Que blasfémial A-esséncia da devorao ao Sagrado Coragao 6 0 reconhecimento de que a submissao humilde do homem a lei de Deus 6 seu maior bem, e que 0 homem deve submeter-se néo como um escravo ao seu tirano, mas como um filho que reconhece o amor de ‘seu pai em suas disposigdes e ordens. A devogao ao Sagrado Coragdo é, portanto, essencialmente antiliberal AAs reclamages de Nosso Senhor sobre os jansenistas parecem definir nossos modemistas atuals: “Els aqui o Coragdo que tanto amou os homens, que nada poupou até esgotar-se @ consumir-se para dar-hes testemunho do seu amor, e em paga néo recebe da maior parte deles mais do que ingratidéo, pelos desprezos, irreveréncias, sacrilégios e friezas que tém para comigo neste ‘Sacramento de amor’. Irraveréncias, sacrilégios,friezas: Nosso Senhor parece aqui estar descravendo a Missa Noval (© mademismo é 0 esforgo de teclogia para justicar 0 sacrilégio do homem que se pde no lugar de Deus. A devogao ao Sagrado Coragao de Jesus 6 a descoberta do amor de Jesus Crucificado e de como devemos obedecer a Ele. Introducao A devogo a0 Sagrado Coragao de Jesus fol apresentada oficialmente ao mundo catélico pelo Papa Ledo Xill, em 25 de malo de 1899, como meio extraordinario de salvaco para a humanidade. “Hoje se oferece aos nossos olhos" ~ disse entao 0 Papa — “um grande sinal de salvagao, sinal todo infuso de divino amor e de suprema esperanca. E 0 Sagrado Coracao de Jesus, encimado pola Cruz, cercado de espinhos @ resplandecente de uma claridade espléndida, em melo as chamas de seu amor. N'Ele 6 necesséirio depositar toda a nossa conifanga; a Ele 6 necessario pedir e esperar a salvagao" Foi longo 0 caminho que essa devorao percorreu até chegar a uma proclamagao tdo solene e explicta por parte do Vigario de Cristo, Certamente ela expressa a propria esséncia do catolicismo, Mas existe também, sem divida, algo de novo nela, Dom Columba Marmion, no capitulo que dedica & devagao do Sagrado Coragao no seu livro “Jesus Cristo em seus mistérios”, mostra bem como ali se dao 0s dois aspectos de continuidade e de novidade. Podemos dizer que 0 primeiro devoto do Sagrado Coragao de Jesus foi 0 apéstolo So Jodo, que owviu suas palavras comovedoras na Uima Ceia, e que o viu ser ferido pela langa e dele jorrar sangue e agua Na Idade Média, o amor & santa humanidade de Nosso Senhor professado pelos misticos inclula, certamente, o aspecto central dessa devogao. Vemos So Bemardo inflamado em sua pregagio, ouvimos as conversas intimas entre Nosso Senhor e Santa Gertrudes, vemos 0 admiravel Pobre de Assis reproduzir as chagas da Paixao do Salvador em sua prépria came. ‘So Boaventura assim convidava as almas: “Para que do lado de Cristo, adormecido na Cruz, se formasse a lgreja e se cumprisse @ Esoritura que diz fardo lamentagses sobre Aquele que traspassaram’ (Zo 12, 10), um dos soldados o feriy com uma langa e abriushe 0 lado. Isto foi permitido pela divina Providéncia, a fim de que, brotando sangue e agua da ferida, se derramasse 0 prego de nossa salvagao, 0 qual, manando do arcano do Corago, desse aos sacramentos da Igraja a virtude de conferr a vida da graca, fosse, para os que vivem em Cristo, a faga levada @ fonte viva que mana para a vida eterna, Essa é a mesma langa do pérfido ‘Saul ~ figura do povo eleito castigado — que, errando o golpe, se cravou por divina misericérdia na parede, @ abriu um buraco na pedra © um furo no muro. Aparece pois, alma amiga de Cristo, ¢ sé como a pomba que faz seu ninho na parte mais alta da entrada da cavorna: all, como um passare, encontraras morada; all, onde o rouxinal de amor casto escondo os filhotes; pée ali tua boca para que bebas as aguas das fontes do Salvador. Esta 6 a fonte que jorra no centro do paraiso e que, dividida em quatro rios, desdgua nos coragdes devotos, rega e fecunda toda a terra.” Mas essa devogao, que alé entéo estava reservada aos altos misticos @ contemplativos, encantrou uma nova expressao quando Nosso Senhor tomou, Fle préprio, a inicativa de estendé-ta a todos os fiéis, O que até entdo fora um segredo das almas mais santas e penitentes passou a ser uma oferta de amizade intima a todos os catélicos. U-Divina Estratégia Muitas devogées nascem espontaneamente do espirito do povo catélica. Aparecem, crescem e se difundem, movidas pelo interesse © pela admiragao dos figis. Mas a devogao ao Sagrado Coragdo de Jesus nao foi assim. No foi uma devogao ‘espontinea, mas sim uma devogao ensinada e propagada pelo Céu. Serdo as diversas intervengdes de Nosso Senhor, Ele mesmo, que faréo com que essa devogao se difunda de modo tao admiravel Ela 6 uma resposta do Salvador a perfidia do humanismo renascentista, que se props a abalar a lei de Deus e de sua Igreja. Essa oferta 6 uma vinganga amorosa diante do protestantismo e de seu sucedéneo, o Jansenismo. Nosso Senhor propée essa devogao como um remédio para os males modemos, como um antidoto contra o espirito da revolueao. ‘Assim considerada, essa devogao poderia parecer uma coisa antiga e sem importdncia, ou que, ao menos, teve sua importancia ro século XVII, mas ja no mais hoje em dia. Que nos importam hoje as disputas protestantes? Que nos interessam as querelas dos jansenistas? Sera entio esta devogao algo fora de época? Pensar assim seria um engano grave da nossa parte. A crise modemista, que vivemos hoje com 0 Vaticano Ie todas as suas reformas, ¢ a continuagée em linha direta da crise do protestantismo e do jansenismo, da revolugée francesa e da revolugéo comunista. Se as idéias s40 as mesmas, se @ revolugo é a mesma, podemos pensar, sem medo de engano, que o remédio para sua cura sera exatamente o mesmo. Qual serd o plano do divin Salvador ao querer difundir deste modo a devoco ao seu Sagrado Corago? Qual serd sua intengao 20 revelar de modo t4o amplo os segredos de sua divina amizade? E como esta devogao pode ser o antidoto para crise tao aguda? Nosso Senhor quer curar os males dessa peste que se difunde entre nés usando 0 remédio contratio. A peste negra que dizima a ctistandade desde o inicio do Renascimento é o egolsmo saténico que prope a propria liberdade como principio absoluto de todas as relagdes do homem com Deus. © liberalismo insolente que nascera desse espirito malsdo quer transformar essa rebeliao contra Deus em lel @ om fundamento da sociedade. E assim o fez © remédio apresentado pelo Salvador seré a manifestagao do Amor que o moveu a encamar-se @ a morrer na Cruz por nés. Amor desinteressado, amor generoso, capaz de curar todos os nossos males: “Eis aqui o Coragdo que tanto amou os homens e que é por eles t&o ingratamente correspondior”. Ingratidao! Esse é o nome préprio da nossa sociedade madera, Esse é o rosto verdadeiro da revolugo. Nosso Salvador propée a contemplagdo e 0 estudo do seu Amor como o grande remédio capaz de curar-nos dessa ingratidao, \Vejamos bem: Nosso Senhor néo reclama da nossa desobediéncla. E bem que poderia reclamar. Poderia repreender-nos pelos rnossos pecados. Sao enormes e sem niimero! Poderia langar-nos ao rosto nossa malicia. Entorpecemos tudo aquilo que tocamos! Mas nao, nada disso. Nosso Senhor aparece repetidas vezes para reclamar da nossa ingratidao, N— Santa Margarida Maria Em meio @ tormenta do século XVII, entre a surda conspiragéo dos inimigos de seu reinado, Nosso Senhor elege como instrumento de seus designios uma religiosa timida @ escondida na clausura. Ela serd 0 general que deverd, como nova Joana ‘Arc, conduzir a batalha da cristandade. Margarida Maria Alacoque nasceu em 22 de agosto de 1647, em Verosvres, na Borgonha. A formago da nossa santa foi marcada ‘especialmente pelo soffimento. Dos quatro aos sete anos, ou seja, entre 1652 e 1855, foi morar no castelo de sua madrinha, Madame de Corcheval, dama nobre da regido, para ali comecar, em ambiente sereno e austero, sua formagao, Mas sua educagao teve de ser interrompida quando Madame de Corcheval morreu. Sua afilhada entéo voltou & casa patema, Em 1655, mesmo ano da morte de sua madrinha, falecem também sua irma mais nova e seu pai, Cléudio de Alacoque. Sua mae, Felisberta, colocou seus flhos maiores em colégios, e Margarida como interna no convento das Clarissas mitigadas de Charolles. No convento das Clarissas, Margarida contraiu uma doenga grave, sendo necessério mandé-la de volta para sua casa. La ermaneceu cerca de quatro anos prostrada na cama, sem poder se levantar. Os médicos nao sabiam mais o que fazer quando tla resolveu consagrar-se 4 Santissima Virgem, prometendo-Ihe que seria sua filha. “Basfou que eu fizesse voto" - declarou Margarida ~ “e logo ful curada da doenga com a nova protegao da Santissima Virgem, que, tomando posse to completa do meu coragdo, @ tendo-me como sua filha, me governava como coisa que the era consagrada; me repreendia pelos meus erros ¢ me ensinava a cumprir a vontade de Deus." Em sua casa, outa situagdo muito dolorosa a esperava, Sua mie tinha deixado a gestdo do seu patriménio por conta de seu cunhado, Toussaint Delaroche, homem avarento e de temperamento iritével. Ele, sua mulher e sua mae tomaram as rédeas da casa © comecaram a tratar a senhora Alacoque e seus filhos como se fossem empregados. A santa suportou durante anos a somiescraviddo a que era submetida pela injusticas do tio. As vazos sinha até que mencigar po aos vizinhos. A casa materna se transformou numa prisdo torturante. “Deus me deu tanto amor a Cruz que ndo consigo viver um momento que seja sem sofrer, mas sofrer em silénci, sem consolo, alivio ou compaixéo, e morrer com este Soberano da minha alma, sob 0 peso de (ode sorte de oprébrios, dores, humithagées, esquecimentos e desprezos...” Diante de seu desejo constante pela vida religiosa, e superadas as intengSes de casar a jovem Margarida, sua famfia quis envidla a um convento das Ursulinas onde jé vivia uma prima sua, Santa Margarida Maria — que tinha muito carinho por essa prima — dew uma resposta em que transparece seu grande desejo de perfeigdo: “Olha, se eu entrar no teu convento, seré por amor a ti, Mas profro ira um convento onde nao tenha parentes nem conhecidos, para ser religiosa somente por amor a Deus.” Uma voz interior ja tinha avisado; “Nao te quero ld, mas sim em Santa Maria", que era o nome do convento das visitandinas de Paray-1e-Monial No entanto, as pressées familiares para que escolhesse as Ursulinas eram fortes, Doengas de sua mae @ de um dos seus irmaos a obrigaram de todas as maneiras a adiar seus planos de vida religiosa. Em certa ocasiéo, um sacerdote franciscano hospedou-se nna casa dos Alacoque durante uma missdo. Santa Margarida aproveitou a oportunidade para fazer uma confissao geral. Ao conhecer o alto grau de virude © as desejos de vida religiosa da jovem, 0 sacerdote achou que ela devia seguir sua vocagao. O religioso entéo conversou com 0 irmao dela e 0 convenceu a mudar de atitude, Nossa Santa foi entéo finalmente aceita como rnoviga em 20 de junho de 1671, vestiu o habito em 25 de agosto do mesmo ano, e fez sua profissdo solene em 6 de dezembro de 1672 Nosso Senhor vinha misteriosamente dispondo de Santa Margarida de tal modo que ela era, humanamente falando, o instrumento menos apto possivel para a tarefa a que a destinara, De caréter timido, de satide frag, religiosa sob obediéncia estrta sem poder dispor de si mesma, levando uma vida de clausura sem jamais sair de dentro dos muros do seu convento, e que morreu antes de completar 45 anos, ela deveria ser 0 grande apéstolo que difundiria no mundo inteiro a devogo ao Sagrado Coracao. Disposigao surpreendente de Nosso Senhor, que quis com isso mostrar que essa difusdo era obra inteiramente sua © Papa Pio Xl, depois de fazer a lista dos Santos que a precederam na pratica e difuso da devogie ao Sagrado Coragao, disse a ‘esse respeito: "Mas entre fodos os promotores desta excelsa devo¢ao, merece um lugar especial Santa Margarida Maria Alacoquo, que, com a ajuda de seu diretor espiritual, 0 beato Claudio de la Colombiére, @ com seu zelo ardente, conseguiu, ndo sem a admiragao dos fis, que esse culto adquirisse um grande desenvolvimento e, revestido das caracteristicas do amor @ da reparacao, se distinguisse das demais formas de piedade crista Durante a curta vida da nossa santa, Nosso Senhor he revelou os segredos do seu Amor incompreensivel. Suas palavras ficardo registradas na autobiografia que Santa Margarida foi obrigada a escrever, Esse texto foi o grande meio para dar a conhecer as intengdes de Nosso Senhor 20 lamentavel século XVII. Além dessas paginas, nossa santa conseguit lancar seu confessor, Claudio de la Colombiére, ¢ sua superiora, a Madre Greyfié, na obra de pregagao desta devogao. Eles serdo os bragos de Santa Margarida ‘em sua difusao. IAs Promessas Para mover vontades to atrofiadas, para aquecer coragées téo gelados, 0 dvino Mestre uniu promessas surpreendentes & manifestagao de seu insondavel Amor. Nao se sabe quem foi que fez a compllagao das famosas 12 promessas do Sagrado Coragdo. Mas esse devolo atento procurou Cuidadosamente em todas as palavras de Nosso Senhor a Santa Margarida as promessas que associou & devogo ensinada, e as apresentou numa tnica lista, 1" Promessa: “Eu darei aos devotos do meu Coragao todas as gragas necessérias a seu estado”. E curioso como uma promessa tdo grande como esta soja lida e vista com tanto desinteresse por parte dos catélicos. Vejamos bem o que & que Nosso Senhor promete, Neste mundo suibmetido & Revolugdo, neste mundo apéstata, cumprircom os deveres do sou estado é, na maioria das vezes, uma situagdo dramatica, que exige uma virtude heréica. Que pai de familia nunca se viu atormentado ciante das infitas infuncias que empuram seus flhos na diregdo contréria daquilo que ele Ines ensina? Que professor catélico nunca se sent perseguido por ensinar a seus alunos as verdades mais simples evidentes? Que médico caldico nunca teve medo de ser despedido do hospital em que trabalha por no querer receltar melos desonestos de contracepeao? Que advogado catélico nunca se viu compelido @ mentir € a aceitar provedimentos desonrosos em seu trabalho coatiiano? E 0 que mais assusta 6 vermos como todos estes procedimentos inadmiss'vels para um caélico vo se tomando lel comum em nosso mundo contemporéneo, Temos a impressao de que as garras da revolucdo vo se apertando e fechando todas as saidas. A desobediéncia a lei de Deus se torna a lei dos homens. Pois bem: é diante desse mundo ameagador que Nosso Senhor oferece sua ajuda ao catélico indefeso, Promete a quem se tone devoto de seu Coragéo todas as gragas necessérias, sua ajuda, sua intervencao em cada uma destas situagdes to prementes. Promete abrir-nos uma porta quando o mundo nos tiver fechado todas elas. Promete Ele mesmo nos conduzir, como Capito ‘experiente, quando © barco da nossa vida entrentar os recifes madernos em meio a tempestade. 28 Promessa: “Eu estabelecer ¢ conservarei a paz em suas familias” Ha de fato duas promessas nesta pequena frase. A primeira é 0 estabelecimento da paz nas familias, e @ segunda é a sua conservagao. Paz significa tranglidade na ordem. Portanto, estabelecer a paz significa alicergar a vida daquela familia que se fez devota do Sagrado Coragao na ordem da verdade. E esse estabelecimento, para que seja pacifico, exige que soja também trangilo, que essa ordem estabelecida seja constante e estével. Que familia nao tem um fiho, um pai, um irmao que esteja longe de Deus e de sua Lei? Que familia nao vé sua vida intera catélica constantemente ameagada? Pols Nosso Senhor promete estabelecer paz © conservévla, mesmo diante dos mais ferozes ataques. Nosso Senhor se oferece como 0 fundador © conservador das nossas familias! 3* Promessa: “Consolarei meu devoto em todas as suas aflicées” Consideremos bem estas palavras. O divino Mestre no diz que seus devotos no terdo afldes. Nao! Estamos em tempo de ‘apostasia, em tempo de guerra. O mundo esté em fogo, a Santa Igreja é perseguida © humilhada, e nés, devotos do Sagrado Coragéo, ainda queremos ter uma vida cémoda? Nao! E necessério que tomemos parte nas dores da Santa Igreja, 6 preciso que subamos com Nosso Senhor ao Calvério. Mas ~ ¢ aqul entra a admirével promessa — 0 Salvador promete que estard ao nosso lado, e de cada pequena injiria, dor ou soffimento que tenhamos, Ele mesmo vié consolar-nos! Viré mostrar-nos como superar nossos males, come tirar deles um bem maior, como os bens deste mundo passam, como teremos uma felicidade eterna. Nos consolara melhor do que um pai amoroso faria por um flho Unico afigido, Ele dir em nosso interior dulcissimas palavras que iluminem nossa inteligéncia inquieta e sustentem nosso coragiio cansado. E tao grande 0 bem deste consolo que quase desejamos aflig5es que nos obtenham a promessa do Divino Consolador! 4° Promessa: erel para eles um refiigio seguro na vida e principalmente na hora da morte Refiigio é um lugar protegido, onde 0 perigo que ameaga nao pode alcangarsnos, onde os males que nos perseguem encontram um escudo que os impede de chegar até nés. E um lugar que est sempre & nossa espera, para 0 qual podemos fugit em meio as tormentas. © deménio, quando decide perder uma alma, se prepara longamente, estuda todos os seus passos, descobre todas as suas brechas, conhece todas as rachaduras em sua vontade @ nos seus afetos, considera tedos os erros que hd em suas idéias. O tentader, entdo, vai conduzindo seu perseguido até a arapuca em que o faré cair ieparavelmente. Muitas vezes o deménio, nesse proceso funesto, aceita perder um pouco para ganhar muito, Quando vemos uma inteligéncia angélica téo aguda dedicada inteiramente & nossa ruina, quéo grande nao 6 © nosso receio? Nos sentimos como presas faceis diante de um predador voraz, Nos sentimos profundamente desamparados. Nosso Senhor promete ao devoto do seu Coragao ser seu refigio, Nem toda a sutleza, nem toda a forga @ veeméncia, nem toda a astticia do inferno inteiro reunido poderdo alguma coisa contra nés, se Nosso Senhar oferecer seu Corago como refiigio. Quando ‘0 deménio, a came © o mundo jurarem perdé-lo na hora de sua morte, o verdadeiro devoto do Coragao de Jesus verd este refigio ‘que se abre consoladoramente para ele! 5* Promessa: “Derramarei béngdos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos”. Como tude hoje é dificil para um catélico! O mundo moderna, fruto da revolugo, dispds todos os elementos da vida cotidiana de modo contrério néio somente & lei de Deus e da Igreja, mas também contra a prépria natureza humana. AS instituigSes, os costumes, 0 trabalho, as familias, as diversées, os estudos, tudo est organizado na diragdo contraria & qual um catélico devera i. Nossos empreendimentos mais simples, as aspiragbes mais legitimas se véem contrariadas constantemente, O catélico parece estar diante de um frustrante dilema: ou lutar em vao, ou deixar-se levar pela corrente. Nosso Senhor promete aqui a seu devoto que Ele mesmo conduzira suas empreitadas e projetos. As obras realizadas deste modo terdo 0 selo do Coragdo de Nosso Senhor, e, mais que uma simples ajuda em sua realizacdo material, elas terdo uma luz de vida ‘eterna, Serdo benditas para nossa salvacéo. 6 Promessa: “Os pet sdores encontraro em meu Coragi Quantas vezes os sacerdotes encontram, em sua vida de apostolado, pessoas de grande valor que gostariam de sair deste ou daquele vicio ou pecado, ¢ pessoas que admiram a vida catélica e gostariam de levar uma vida de piedade e que, apesar disso, terminam seus esforgos com a dolorosa constatagao: “Nao consigo!”. Gostariam de sair do estado de pecado em que vivem, mas ‘40 tantos os laos e vinculos que os prendem a essa situag3o que concluem seus desejos com o gio: “Eu quero, mas ndo tenho valor” Nosso Senhor promete ao pecador que abracar a devocdo ao seu Sagrado Coragéo que Ele mesmo descerd ao poco das suas misérias e debilidades. Promete conduzi-lo pela mao entre suas cadeias e amarras até trazé-lo de volta & vida da graca. Nosso Senhor promete ter paciéncia com ele. Ele mesmo abriré as portas, Ele mesmo aplanara o caminho espinhoso e desfaré os ‘obstaculos que se opsem a sua conversao. 7* Promessa: “As almas tibias se tornardo fervorosas pela pratica desta devocao' Com que facilidade os padres, pastores de almas, caem na idéia de que seja normal que 2 maioria dos seus paroquianos seja mediocre. Nao se pode esperar que foda a paréquia seja fervorosa! Nao se pode pretender que a grande maioria dos fiéis seja piedosa e bem formada! Devemos dar-nos por contentes com ter algumas almas que estejam um pouco acima da média Embora 0 fundamento deste pensamento seja uma desconfianga no valor da graga de Deus, e de certo modo quase uma blasfémia, a experiéncia mostra que néo é menor a dificuldade de um pecador para sair de seu estado habitual de pecado do que ade um catélico mediocre para aproximar-se de uma vida fervorosa. Algumas vezes, este titimo é mais dic de converter do que um pecador piiblico! So Pio X dizia que tinha mais medo da tibieza dos bons do que da perversidade dos maus. Pols Nosso Senhor promete a estas almas envelhecidas, a estas almas que ja nao se admiram com o sagrado, que nao se sentem atraldas pelo céu, que j6 nao temem sua condenagio, a elas Ele promete uma renovagdo, Promete que do tronco velho & ressecado do seu catolicismo sairé um broto vigoroso, que dara flores e frulos surpreendentes. Estas almas que tantas vezes ‘ouviram a pregacao da Verdade, e que a recobriram com a poeira da sua banalidade, encontrarao na devorao ao Sagrado Coragao uma renovada juventude. 8* Promessa: “As almas fervorosas ascenderdo em pouco tempo a uma alta perfeigac Os doutores misticos ensinam que, chegada certa altura da vida espiritual, os caminhos comegam a fazer-se dificels e sutis. Todos eles dizem que a complexidade dessas regides espirituais é tal que as almas que alravessam o escolho do que chamam de a terceira conversdo e entram na regido que Santa Teresa chamou de Quarta Morada necessitam imperiosamente da ajuda de um iretor espiritual que 0s guie © conduza, Santa Teresa explica como, nesse momento, a falta de ajuda de um confessor bem instruido geralmente causa de um acovardamento por parte da alma generosa, Entéo, ou bem regressam @ uma vida de piedade comum, ou bem ficam paralisadas nesse desamparo. Nosso Senhor promete ao generoso devoto de seu Coragao que Ele mesmo sera seu “Confessor instruldo” ou seu “Diretor spiritual”. Ele mesmo seré o Guia experiente nesses caminhos dificeis. 9* Promessa: “Minha béngao permanecerd sobre as casas em que for exposta e venerada a imagem do meu Sagrado Coragao”, A béngaio e protegdo de Nosso Senhor e sua agdo misericordiosa nao serdo algo passageiro, nao serd uma graca recebida em uma ocasido especial © memordvel, mas sera uma fonte constante e sempre viva, Nosso Senhor promete estar presente Ele ‘mesmo como um fogo que mantenha a vida verdadeira da familia que se fizer devota de seu Coragao. Nesta promessa vemos uma delicadeza de Nosso Senhor para conosco. A devogo consiste essencialmente em uma disposigao interior, na prontidéo da nossa vontade ao servigo de Deus. Mas a disposigéo interior necesita de uma prética exterior, tanto para ‘expressar-se quanto para apoiar-se. E muito dificil encontrar uma pratica exterior que ndo termine por afogar e substituir a devogao interior. Nosso Senhor aqui nos ensina Ele mesmo uma pratica que possa concentrar e manifestar a devogdo a seu Coragdo _amoroso. Prope que a familia ponha no centro da casa uma imagem em que Ele apareca com seu Coragao visivel, © que diante dessa imagem a familia venha a realizar suas praticas de piedade, Essa imagem deve ser o centro da familia, Essa imagem deve ser exposta @ deve ser honrada. Nosso Senhor ali néo deixard de ouvir o pai de familia que venha rezar diante de sua imagem pedindo ajuda nas afligdes para manter sua casa; atendera prontamente a mae que reze pelo filho que dé passos perigosos em sua vida incipiente; enfim, Nosso Senhor promete que Ele mesmo se tornara o Chefe daquela familia, e dela cuidaré como sua. 10* Promessa: “Darei aos sacerdotes que pratiquem especialmente esta devocéo o poder de tocar os coragées mais ‘endurecidos”. Sacerdotes conformes ao Coragao de Jesus! Nosso Senhor Ihes promete que terdo 0 poder de trazer as almas para Deus. Nos tempos da cristandade sempre houve sacerdotes generosos que, aceltando o sacriticio de suas Vidas, eram enviados as terras de infigis e pagaos. L4 deviam trabalhar, lutar e pregar sem fruto — 20 menos, sem fruto aparente, E eram necessérias varias geragdes de missionérios para que os primeiros frutos comegassem a aparecer. Que coisa terrivel para um sacerdote € ver-se revestido do poder de Nosso Senhor, ser capaz de curar @ salvar as almas que se condenam e, mesmo assim, ver que elas resistem ao seu chamado! Como um médico que tem nas maos o remédio mals precloso e effcaz, ¢ vé o doente morrer por nao ‘querer tomar o remédio que Ihe & oferecido. Nosso Senhor aqui apresenta aos sacerdotes que abragarem a devogéo @ seu Coragao, e que fagam dessa devorao o principio da sua agao sacerdotal, a promessa de que Ele mesmo vencerd a obstinagao dessas almas enfermas. Noutros tempos, essa promessa jé seria admirdvel; hoje, porém, ela & mais do que um tesouro raro, pois, se antigamente eram os ages e infgis que mantinham seus coragées inacessiveis & pregagdo da Verdade, hoje 0 mundo inteiro se tornou terra de isso: nossos paises, que eram catélicos, hoje vivem no mais desaforado inaiferentismo. E nao ha nada que os faga sair dessa inagdo. A mais sabia pregagao, os mals comovedores exemplos nao causam nem sequer o mais minimo interesse. Pois Nosso Senhor promete que, nestes tempos de ineficdcia, Ele dard poder aos pobres padres perdidos neste deserto de infidelidade para converter os coragdes mais endurecidos! Uma iltima palavra sobre esta promessa, Embora ela se refira aos sacerdotes, podemos pensar que o proprio fato de haver sacerdotes conformes 20 Coragéo de Jesus jé um dom do Divino Salvador. Um Priorado que tenha bem estabelecida a evapo ao Sagrado Coragao nao deixard de ter muitas e sélidas vocagées sacordatais, 118 Promessa: “As pessoas que propagarem esta devocao terdo sous nomes ascritos para sempre no meu Cora¢ao”. No dia da nossa confirmagéo recebemos o titulo de Soldados de Cristo. Este titulo nos deixa — nés, homens modernos ~ indiferentes. Soldado? © que quer dizer esta palavra que, desde entéo, passou a ser a nossa obrigagao diante de Deus? Um re tum duque ou um conde, em outros tempos, eram também chefes dos sous exércitos, e governavam seu reino por meio dos sous homens. Ser soldado, entdo, era ser um brago do rel; era parlicipar do governo das posses de seu senhor. Nés, quando fomos armados cavaleiros, quando recebemos nosso tilulo de nobreza de Soldados de Cristo pelas méos do bispo, recebemos sobre os ossos ombros a obrigagao de velar pela honra da Santa Igreja, pela difusdo da Verdade, pela expanso do Reino de nosso divino Senor. Podemas dizer que, ao abracar a devogae ao Sagrado Coragao de Jesus, fomos recebidos na inlimidade da sua amizade, O que ainda mais do que ser seus soldados. Pois bem: tal titulo exige que disponhamos dos nossos bens, das nossas forgas, das nossas atividades na difusdo © expansao dessa mesma devorao. Seria uma ingratidao sem nome de nossa parte se ndo fizéssemos assim. Que nosso Rei seja conhecido, amado @ obedecido! Qual nao sera a nossa gléria se houvermos contribuido de alguma forma para que o Reino do Sagrado Coragdo tenha conquistado novas almas? Mas isto, que nao 6 mais do que a nossa obrigagaa, ¢ visto ¢ recompensado por Nosso Senhor como se fosse uma obra de grande valor, © Ele promete aos quo assim se dediquem & expansao da sua devogao que “terdo sous nomes escritos em seu Coragéo”, Vejam bem o que nos diz 0 Salvador Ele, tomande a iniciativa, nos ofereceu sua amizade e inlimidade; Ele, 0 Criador do céu e da terra, a quem devemos submisso. E & aqui, quando respondemos a esse convite imerecide e, orgulhosos da honra com ‘que somos tratados, anunciamos aos nossos conterraneos deste vale de lagrimas como & bom seu Corago generoso, que — oh, incompreensivel grandeza - Nosso divino Rei se sente obrigado para conosco, e nos promete uma amizade ainda maior, colocando-nos em lugares de honra em seu amor! 12* Promessa: “Eu prometo, na misericérdia excessiva do meu Coragao, que concederei, a todos os que comungarem na primeira sexta-feira de nove meses consecutivos, a graca da perseveranca final e da salvacao eterna. Esses no morrerao ‘em desgraca, nem sem receber os Sacramentos; e nesse transe extremo receberéo asilo seguro no meu Coracao”, Esta 6 conhecida como A Grande Promessa. ‘Fo! numa sexta-feira de maio de 1686" escreve Santa Margarida Maria - “que, durante a Santa Comunhéo, meu divino Mestre me disse estas palavras”. Vivemos tempos muito confuses e diffceis. A revolugao chegou tao longe que tudo parece estar sob seu dominio. As almas que querem permanecer fidis séo arrastadas pelos ventos mais violentos. E esta gravissima situago chegou ao paroxismo quando invadiu a propria Igreja e fez prisioneiras as préprias, autoridades. A alma flel parece abandonada por todos 0s lados, perseguida e desamparada, Pois, om meio a esta tempestade sem igual, Nosso Senhar oferece um Porto Seguro aos que queiram atender a seu chamado. Como no pequeno barco do Evangelho. E 6 importante notar como em suas palavras essa devocdo aparece associada ao momento de crise em que vivemos: “A devogao ao meu divino Coragao ¢ 0 ditimo estorce do meu amor aos cristéos destes liltimos séculos. Esta devordo, se realmente entendida, faciltaré a salvagao de todos, levando-os a amar-se mutuamente entre si, como Eu 0s amei. Quero reinar por meu divino Coragao sobre a pobre humanidade destes fempos. E reinarei! Apesar da oposigao de satands @ de todos os que ele instiga contra Mim.”

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