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U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D O E S TA D O D O R I O D E J A N E I R O
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – CCH
LICENCIATURA EM HISTÓRIA

Monografia

O Partido Nazista em Nova Friburgo (1932-1941).

Aluno(a): Pedro Augusto Storck


Matrícula: 13116090133
Polo: Cantagalo

2018
2

O PARTIDO NAZISTA EM NOVA FRIBURGO


(1932-1941)

Pedro Augusto Storck

Monografia submetida ao corpo docente da Escola


de História da Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro – UNIRIO, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do grau de
Licenciado em História, sob orientação do(a)
Prof.(a) Mr.(a) Cinthia Annie de Paula Ferreira.

Rio de Janeiro
2018
3

O PARTIDO NAZISTA EM NOVA FRIBURGO


(1932-1941)

Pedro Augusto Storck

Aprovado por:

_________________________________________
Prof.ª Ma. Cínthia Annie de Paula Ferreira (UFRRJ)

_____________________________________

Prof.º Dr.º Pedro Spinola Pereira Caldas (UNIRIO)

Rio de Janeiro
2018
4

Dedicado à memória de meu avô, Pedro Sérgio


Storck, por ter me ensinado que são os homens que
fazem seu próprio destino.
5

Agradecimentos
Caminhos árduos foram percorridos para que este ponto fosse alcançado. Não foi fácil
chegar até aqui. Certamente, algumas pessoas foram fundamentais em minha vida, das quais
sem as palavras, a força, a cobrança e o incentivo, tudo seria ainda mais martirizante.

Em primeiro lugar, agradeço à Deus. Em todas as vezes que me faltaram forças,


encontrei o meu amparo e a partir dali, alcançava a motivação que me faltava. Sentia em meu
coração que não poderia desistir, que o caminho não seria fácil, e que não me faltariam forças
para continuar a caminhada.

Aos meus pais, Fernando e Maria Madalena Storck, por terem me proporcionado força
e incentivo para a conclusão deste sonho. Não há palavras para exprimir o meu agradecimento
a estes dois seres divinos. Também agraço aos meus irmãos Flávia e Fernando, por terem
compartilhado excelentes momentos comigo, uma amizade sincera e protetora.

Agradeço também à minha professora e orientadora, Cinthia Annie de Paula Ferreira,


Por todo o carinho, paciência e conselhos, por todos os ensinamentos ao longo desta trajetória.
Obrigado, Mestra. Sem você, eu certamente seria um aluno perdido em meio à tantas teorias e
possibilidades de pesquisa. Em mesma medida, agradeço à todos os meus professores, não
apenas pelo conhecimento transmitido, mas por toda a sabedoria transformada. E, obviamente,
à toda a equipe do Cederj, que em meio à tantos alunos, estresse cotidiano e dificuldades,
sempre esteve à prontos, com o brilho nos olhos e o sorriso no rosto.

Aos meus mentores, professores e amigos, Ronald Lopes e Mateus Barradas Teixeira,
os luzeiros em minha vida acadêmica, presentes antes mesmo de minha entrada na
Universidade. O meu muito obrigado por todos os incentivos, todos os ensinamentos e puxões
de orelha. Juntamente à vocês, agradeço aos meus companheiros de caminhada acadêmica,
Carlos Felipe Bento Bessa, Matheus Almeida Barrozo e Kevin Serafim. Meus grandes amigos,
não compartilhamos apenas a História, tampouco conhecimentos teóricos. Acima de tudo,
esteve a amizade, a camaradagem e boas risadas, principalmente nas reuniões de nossos grupos
de estudos, que acabavam se tornando gargalhadas enquanto compartilhávamos algumas
cervejas geladas. Nada seria possível sem vocês, meus grandes amigos.

Sei que devo agradecimentos à muitos. Aos que não foram citados, sintam-se
agradecidos por este pequeno historiador. Tenham a certeza de que todos vocês também fazem
parte de minha história.
Nova Friburgo, 25 de Dezembro de 2018.
6

"Quando olho para trás, para mais de trinta anos


pesquisando, lecionando e escrevendo, espero que se
possa dizer que também estou dando uma pequena
contribuição. Mas mesmo que não esteja, mesmo que
se negue haver progresso a ser feito, ninguém está em
condições de negar que eu esteja aproveitando
muitíssimo."

Eric J. Hobsbawm1

1
HOBSBAWM, Eric J. “Sobre História”. São Paulo, Companhia das Letras, 2013, p. 105.
7

Resumo

O Nacional-Socialismo ergueu-se sobretudo a partir de 1933, ano em que Adolf Hitler


alcançara o posto de Chanceler do Reich, nomeado após ter perdido as eleições presidenciais
de 1932. Adolf Hitler começou a implementar as diretrizes que sempre ambicionara para a
Alemanha, possibilitando à nação germânica que se reerguesse após as consequências da
Primeira Guerra Mundial e da Crise Econômica, impulsionada pela Grande Depressão em 1929.
Ainda que tudo tivesse um preço, como o antissemitismo, o autoritarismo exacerbado e a
ruptura com as cláusulas do Tratado de Versalhes, Adolf Hitler conseguira implementar o seu
modelo de fascismo. A recuperação econômica da Alemanha, aliada com a personalidade
carismática de Adolf Hitler, renderam ao führer alemão um grande contingente de apoiadores
por todo o mundo. A construção do Reich não se limitava à Alemanha, tão menos à Europa,
mas aos cinco continentes. Entre os nazistas, estava a ideologia de um só povo, uma única
nação, e por um único führer. Desta forma, o Brasil, que havia recebido grande contingente da
imigração alemã durante os séculos XIX e XX, além de possuir relações diplomáticas históricas
com o império alemão, acabaria vendo grupos alemães formarem núcleos do Partido Nazista.
Por estar em condições bem distintas da situação alemã e da Europa em si, o nazismo no Brasil
atuou de formas diferentes, sob diferentes circunstâncias, o que acabou formulando elementos
diferenciadores se comparados com a sede em Berlim. No cenário da Era Vargas, o Partido
Nazista no Brasil atuaria de formas distintas, ora com momentos de livre propagação e
notoriedade, ora em momentos de perseguição e clandestinidade. É neste contexto que se
encontra a célula do Partido Nazista na Nova Friburgo dos anos 1930. Friburgo, que era uma
cidade expressiva para o Estado do Rio de Janeiro – lembrando que, naquela época, a cidade
do Rio de Janeiro era a capital do Brasil –, contava com importantes indústrias de proprietários
alemães, a qual abrigava grande contingente de operários e notória produção industrial no
Brasil. Em mesma medida, a comunidade germânica, presente na cidade, ostentava o status de
ter transformado Nova Friburgo, sendo constantemente exaltada por autoridades políticas e
pelas mídias, como o rádio e os jornais. Assim, o Partido Nazista de Nova Friburgo atuou de
formas singulares, se comparados com as células de outras cidades brasileiras, ainda que
estivesse submetido à rígida estrutura burocrática e hierárquica da sede alemã. O presente
trabalho não se trata de uma análise definitiva, uma vez que há muito a se investigar. Contudo,
trata-se de uma análise construída com rigidez, fruto de muito trabalho árduo. Acredita-se que
esta investigação contribuirá para o enriquecimento da Literatura especializada nos estudos
sobre o Nazismo pelo mundo.
8

Lista de Abreviações

Auslandzorganization (AO): órgão submetido à rígida estrutura hierárquica do Partido Nazista,


responsável por cuidar dos interesses do Nazismo no exterior.

Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (NSDAP): em português, “Partido Nacional


Socialista dos Trabalhadores Alemães”, ou simplesmente, “Partido Nazista”.
9

Lista de Tabelas

1. Número de votos direcionados ao Partido Nazista (1924-1933) ........................................ 26


2. Hierarquia do Governo Nacional Socialista – 1º, 2º e 3º escalões ...................................... 37
3. Hierarquia da AO – 1º, 2º e 3º escalão ................................................................................ 38
10

Sumário

Introdução ............................................................................................................................... 11

Capítulo 01: O Partido Nazista ............................................................................................. 15

Capítulo 02: O Partido Nazista no Brasil............................................................................. 30

Capítulo 03: O Partido Nazista em Nova Friburgo ............................................................ 42

Conclusão ................................................................................................................................ 58

Fontes....................................................................................................................................... 63

Bibliografia ............................................................................................................................. 64
11

Introdução

O mundo contemporâneo do século XX, categorizado como a “Era dos Extremos” pelo
historiador Eric J. Hobsbawm, foi um período de ambiguidades. Ao mesmo tempo em que o
progresso tecnológico se propagava, a disputa por poder e hegemonia entre diferentes nações
culminou com o surgimento das Grandes Guerras, que quase levaram a civilização humana ao
extermínio. Neste contexto, surgiram diferentes ideologias e variadas formas de organização
do Estado, destacando-se de forma expressiva o Nazi-fascismo.

Adolf Hitler seria o grande difusor do Nacional-Socialismo durante os anos 1920, em


uma Alemanha que encontrava-se arruinada após a Primeira Guerra mundial. O colapso
financeiro da nação germânica proporcionavam à setores do povo alemão a sensação de
“humilhação”, fator que serviu como propulsor do engrandecimento do Partido Nacional
Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), ou simplesmente, Partido Nazista. Adolf
Hitler, impulsionado com o crescimento dos nazistas, que conquistavam cada vez mais espaço
no reichtag2, disputou as eleições presidenciais de 1932, e apesar de grande número de votos,
não sagrou-se vencedor. Em 1933, contudo, seria nomeado ao cargo de Chanceler do Reich
pelo presidente Hindenburg, posição em que concentrava grande poder político e que renderam
decisões cruciais ao futuro da Alemanha. Anos depois, Hindenburg acabaria deixando a vida,
o que faria Adolf Hitler conquistar o posto de führer do Reich. A Alemanha pouco a pouco se
recuperava do colapso econômico, ocupando novamente o posto entre as maiores nações
europeias.

O plano do nazismo consistia na criação do Reich universal, impondo a doutrina do


arianismo, como exaltavam os camisas pardas Ein Volk, Ein Reich, Ein Führer! Em outros
dizeres, ambicionavam a criação de uma única nação, para um único povo, e por um único líder.
O culto à personalidade de Adolf Hitler pode ser explicado pelo conceito de “autoridade
carismática”, cunhado pelo sociólogo alemão Max Weber. A recuperação alemã nos anos 1930,
em conjunto com as ações propagandísticas e os discursos de Adolf Hitler, renderam a dispersão
do Nacional-Socialismo pelo globo. Como o Brasil era uma nação que possuía muitas colônias
de alemães, acabaria se tornando plano de ambição dos nazistas, encontrando muitos adeptos.

Neste trabalho, desdobrei-me sobre importante literatura acerca do Nazismo. As


principais obras são extremamente conceituadas por sua precisão histórica e pela autoridade
dos historiadores enquanto cientistas políticos. E não apenas os historiadores por ofício

2
Parlamento alemão.
12

complementam meus estudos, mas também aqueles que eram dotados de conhecimento e
vivência do período, e que por suas contribuições, serão para sempre lembrados na História.
Refiro-me, essencialmente, à Sir. Winston Churchill.

Para o desenvolvimento desta pesquisa, parti do princípio de recentes estudos sobre o


fenômeno do Nazismo no Brasil, os quais demonstram que as características singulares do
Brasil fizeram com que o Nacional-Socialismo funcionasse de forma muito diferente, se
comparado à Alemanha. De acordo com esse princípio, a historiadora Ana Maria Dietrich
desenvolveu a tese de que houve a “tropicalização do nazismo”. De acordo com este ponto,
direcionei minha pesquisa, acreditando que existem elementos diferenciadores não apenas entre
o Partido Nazista do Brasil e sua matriz na Alemanha, mas também entre as diferentes regiões
brasileiras. Tudo isso está permeado por questões históricas. Ao investigar Nova Friburgo dos
anos 1930, pude elaborar algumas hipóteses, e em comparativo com o funcionamento do
Partido em outras cidades, acreditar que o Nazismo na serra friburguense foi extremamente
notório. Tudo isso por causa de um passado histórico, em muito forjado por grupos que
possuíam forte interesse na construção desta comunidade imaginada.

A estrutura do presente trabalho está dividia em três capítulos. O primeiro tem a


finalidade de abordar o surgimento do Partido Nazista, analisando o contexto global e a
condição que a Alemanha se encontrava, assim como o surgimento da personalidade política
de Adolf Hitler. O capítulo segundo teve como finalidade abordar a recepção dos ideais nazistas
no Brasil, a partir da conjuntura internacional e dos fatores que aproximavam a nação brasileira
com a Alemanha. Percebe-se que, no Brasil, o nazismo acabou sendo “tropicalizado”, diferindo-
se em vários aspectos com a Alemanha e até mesmo, de região para região no próprio território
brasileiro, ainda que estivesse sujeito à uma forte burocracia e estrutura hierárquica. O último
capítulo, por fim, trata da atuação do Partido Nazista em Nova Friburgo, analisando os fatores
históricos que possibilitaram a aceitação do nazismo na cidade, em virtude, principalmente, da
grande concentração de capital político e econômico de certas personalidades da Nova Friburgo
republicana, o que rendia inúmeros poderes simbólicos à comunidade germânica.

As fontes investigadas foram, em sua essência, jornais da época. Abordar a história de


acordo com a perspectiva da imprensa é um ponto muito interessante, pois nos ajuda a
compreender a dimensão da circularidade do objeto investigado. Além da imprensa
friburguense, investigamos também o principal periódico nazista do Brasil – veículo oficial da
13

ideologia hitlerista por aqui –, o Deutscher Morgen.3 O recorte de investigação rende-se,


essencialmente, de 1932 à 1942, ou seja, durante grande parte da “Era Vargas”. Optou-se por
este recorte em virtude da ascensão de Adolf Hitler e da recuperação da Alemanha frente às
potências europeias, tendo por fim o ano em que o Brasil declara oficialmente guerra à
Alemanha. Durante toda a dissertação foi discutida a questão de o Partido Nazista ter vivido
períodos de manifestação explícita e clandestinidade, sendo esta última em virtude do advento
do Estado Novo. Contudo, de forma precisa, a partir de 1942, as fontes impressas não
demonstram mais indícios do funcionamento do partido, o que nos dá indícios de que,
realmente, o partido entrou em sua fase de clandestinidade ou acabou encerrando suas
atividades. A imprensa passaria a atacar fortemente os princípios do Nacional-Socialismo,
criando-se em muitos casos a “germanofobia”, ainda que, como no caso friburguense,
mantivesse o respeito e a admiração pela comunidade germânica.

Para o embasamento desta pesquisa, optamos em utilizar de forma enfática os conceitos


de “autoridade carismática”, de Max Weber, em conjunto com a teoria de Pierre Bourdieu,
acerca do “Poder Simbólico”, do qual também elaborou os conceitos de “campo político” e
“capital político”. Em linhas gerais, a partir da visão destes autores, foi possível pensar o
fenômeno de elevação do Nazismo, sua dispersão e recepção pela Alemanha, pela Europa e
pelo mundo. Em conjunto com estes teóricos, encontrar-se-á também as análises de Ian
Kershaw, o qual avaliou as ações do Partido Nazista sob o conceito de “trabalhar para o führer”.
Hannah Arendt, por usa vez, nos vale de importantes aspectos, como a conceituação de
“totalitarismo” e “antissemitismo”. Todos estes conceitos são aplicados e melhor explicitados
ao decorrer dos capítulos que sucedem esta introdução. É importante salientar que inúmeros
autores, historiadores e teóricos buscaram compreender e explicar o fenômeno do Nazismo e
suas consequências no mundo, produzindo análises que abraçavam diferentes recortes
temporais, conjunturas políticas, configurações sociais e modelos de Estado. Contudo, optamos
pelas análises dos autores citados.

Vale lembrar que este trabalho não se trata de uma análise totalizante ou definitiva. As
hipóteses foram formuladas com base em ampla literatura especializada em nazismo, política,
sociedade e poderes. Nada seria possível sem os incríveis autores que dedicaram boa parte de
sua vida para a construção historiográfica do tema. De mesma forma, a maioria das fontes não
são inéditas, uma vez que muitos historiadores já as investigaram e puderam tecer importantes

3
Em português, “Aurora Alemã”.
14

trabalhos sobre os assuntos aqui tratados. A especificidade deste trabalho consiste, em muita
das vezes, nas lacunas geradas por essas investigações, uma vez que boa parte delas foram feitas
nas últimas décadas, não acompanhando as produções historiográficas recentes. Desta forma,
podemos cruzar informações diferentes, que em muito nos auxiliou na construção das hipóteses.
Ainda que este seja um simples trabalho, foi produzido com muita dedicação, humildade e
contribuição de muitos. Espero estar contribuindo, mesmo que minimamente, para o
enriquecimento da história regional e da historiografia sobre os estudos do Nazismo.
15

Capítulo 01 – O Partido Nazista.

A história do Nacional-Socialismo alemão tem ligação direta com 1914. Ao eclodir a


Primeira Guerra Mundial, o império germânico avançava e empreendia inúmeras vitórias contra
seus inimigos. Como afirma Richard Evans, “o sentimento de invencibilidade era sustentado
pelo imenso crescimento da economia alemã ao longo das décadas anteriores, e ficou mais
exaltado com as formidáveis vitórias do exército alemão no front oriental em 1914-1915”. No
plano interno, os generais Hindenburg e Ludendorff aumentavam seu prestígio, em virtude do
andamento do conflito. Esbanjavam virtudes de liderança e inflamavam o nacionalismo no
coração dos soldados germânicos. Suas vitórias passaram a deixá-los com a aparência de
invencibilidade. Utilizavam o método austríaco de conflito, que consistia na rígida hierarquia e
estabelecimento da ordem, impondo a punição àqueles que não representavam o cumprimento
do dever.

“Hindenburg e Ludendorff estabeleceram uma “ditadura silenciosa” na


Alemanha, com o comando militar nos bastidores, repressão severa às liberdades
civis, controle central da economia e generais dando as cartas na formulação das
metas da guerra e na política externa.”4

O poderio bélico alemão dividia-se em duas frentes: a oeste, combatiam arduamente os


franceses que recebiam apoio direto da Inglaterra, e a leste, enfrentavam a força e o frio da
Rússia. Batalha após batalha, o nacionalismo germânico se dividia entre apoiar a causa da luta
ou abdicar da guerra, uma vez que a Primeira Guerra Mundial demonstrava ao mundo o poder
de destruição das armas contemporâneas, levando milhões à morte.

Com a Revolução que eclodira na Rússia em 1917, a nação de Vladmir Lênin se retirava
do conflito. Em contrapartida, os Estados Unidos da América, que apoiavam França e Inglaterra
com recursos, entrava de forma definitiva na Europa, mobilizando suas tropas para a batalha.
Este momento foi crucial para a conclusão da guerra, pois

“a mobilização da economia mais rica do mundo começou a pesar intensamente


em favor dos aliados, e, no fim do ano, tropas americanas chegavam ao front

4
EVANS, Richard J. “A Chegada do Terceiro Reich”. São Paulo, Editora Planeta, 2014, p. 96.
16

ocidental em número cada vez maior. O único aspecto realmente brilhante do ponto
de vista alemão era a série contínua de sucessos no leste.”5

Os ideais da Rússia revolucionária chegavam até o seio da Alemanha, tão mesmo como
uma forma de insistência dos próprios russos. Lênin acreditava que a Revolução seria suprimida
caso não se expandisse entre todos os trabalhadores, fato este que impulsionou a criação da
Primeira Internacional. O monolítico partido Social-Democrata da Alemanha acabou aderindo
aos ideais revolucionários, de onde saíram personalidades como Rosa Luxemburgo, havendo a
fundação do Partido Comunista em 1918. Estes grupos não apoiavam o conflito, pois
acreditavam que este estava restrito ao imperialismo, que por si só era um elemento do
Capitalismo, como afirmara Vladmir Lênin. A Alemanha de Hindenburg e Ludendoff que
marchava de forma brutal e conquistadora via os desígnios da guerra transitarem para outro
lado. Em seu próprio seio, o nacionalismo político rompera-se, havendo a propagação de
diferentes ideais contrárias às ações germânicas. No plano externo, soldados passavam a
desertar e se rendiam aos montes, uma vez que as nações inimigas avançavam pelo front
ocidental, subsidiadas com o dinheiro e os soldados americanos. Hindenburg e Ludendorff,
supostamente invencíveis, foram obrigados a informar ao Kaiser Guilherme a derrota
inevitável. Rapidamente, a imprensa alemã passou a tecer profundas críticas ao sistema criado
por Bismarck em 1871. Mesmo com a tentativa de censura por parte do Estado, a queda da
Alemanha repercutiu de tal maneira que expressiva parte da sociedade civil voltou-se contra o
Império, apoiando o armistício e a alternativa democrática da República. O nazismo era forjado
nesse caldeirão de guerra e revolução.

“Sem a guerra, o nazismo não teria emergido como uma força política séria, nem
tantos alemães buscariam de forma tão desesperada uma alternativa autoritária
aos políticos civis que pareciam ter falhado de maneira tão notável com a
Alemanha na hora da necessidade. 6

Os exércitos inimigos, que haviam derrotado a Alemanha de Bismarck e Guilherme,


nem precisaram adentrar o território germânico. O armistício havia sido imposto aos alemães,

5
Idem.
6
EVANS, Richard J. “A Chegada do Terceiro Reich”. São Paulo, Editora Planeta, 2014, p. 101
17

que eram obrigados a aceitar a amarga sensação da derrota, quando a vitória estivera tão
próxima. Para um determinado grupo de germanos, sobressaía a sensação de que a guerra havia
sido perdida por um ato de traição. Os traidores da pátria haviam apunhalado o Reich pelas
costas. Agora, eram obrigados a aceitar as cláusulas ocidentais dos vencedores, incluindo o
compromisso em substituir o modelo de Estado criado por Bismarck por uma democracia.

Era de conhecimento das lideranças alemãs que, em caso de derrota, a perda seria
expressiva, uma vez que a Alemanha marchava em larga escala, derrotando seus oponentes e
expandindo suas fronteiras desde 1871. Importantes territórios foram anexados, pertencentes à
Polônia, à Estônia, à Rússia e a França, como a Alsácia-Lorena. Com a rendição germânica em
1918, o Reich esfacelou-se, ocorrendo a gradativa desintegração territorial. As fronteiras
imperiais diminuíam e com elas, rígidas condições eram impostas pelo Tratado de Versalhes7.
Aos alemães ficava compulsório a cessão de territórios, a restrição de sua força bélica, o
pagamento de débitos exorbitantes e acima de tudo, como evidenciado no Artigo 231 do acordo,
a obrigação de aceitar a “culpa exclusiva” pela deflagração da guerra em 1914.

Se o Tratado de Versalhes tinha como objetivo garantir a paz após a guerra, ou de


reestruturar nações diretamente atingidas pelo imperialismo alemão, como França e Bélgica,
aos olhos germânicos prevaleceu uma visão peculiar. “A maioria dos alemães sentiu de repente
que a Alemanha havia sido brutalmente expulsa da categoria das grandes potências e coberta
com o que consideravam uma vergonha indevida”.8 A Alemanha estava exposta à uma situação
humilhante, ao mesmo tempo que acompanhava o crescimento de uma “germanofobia”.

Por outro lado, o sentimento ultranacionalista se aflorava no coração da geração do


front, em grupos como os Capacetes de Aço, organização paramilitar composta principalmente
de ex-soldados e simpatizantes do modelo imperial. Os homens desta organização política
almejavam o retorno da ordem e os gloriosos dias do Reich e atribuíam a culpa da derrota aos
sociais-democratas e comunistas, acusando-os de cooptar com forças estrangeiras em
detrimento da “Sagrada Alemanha”9. Manifestações públicas e exibições nacionalistas
tornaram-se comum nas ruas da breve República de Weimar. Os Capacetes de Aço valiam-se
de ter cerca de 300 mil membros. Formavam uma presença expressiva e amplamente

7
O Tratado de Versalhes foi assinado como condição para o fim da Primeira Guerra Mundial. Dentre as cláusulas,
estava a perca de importantes territórios da Alemanha e o pagamento de altas indenizações pelos custos da Grande
Guerra. Alguns autores consideram o Tratado de Versalhes como uma das grandes causas da ascensão do Nazismo
na Alemanha e eclosão da Segunda Guerra Mundial.
8
EVANS, Richard J. “A Chegada do Terceiro Reich”. São Paulo, Editora Planeta, 2014, p. 108
9
Idem.
18

militarizada quando realizavam marchas, manifestações e comícios nas ruas. Em uma


manifestação ocorrida nos anos 1920, mais de 100 mil membros exibiram seus uniformes
militares e participaram de uma parada em Berlim, visando demonstrar lealdade à velha ordem.
A Alemanha havia fracassado, pois não conseguira transitar de tempos de guerra para tempos
de paz. Em vez disso, permaneceu em guerra com o resto do mundo e consigo mesma, pois

“o choque do Tratado de Versalhes uniu virtualmente todas as partes do espectro


político em uma soturna determinação de derrubar suas cláusulas centrais,
recuperar os territórios perdidos, pôr fim ao pagamento de indenizações e
restabelecer mais uma vez a Alemanha como a potência dominante da Europa
central.”10

As condições do Tratado de Versalhes influenciaram acima de tudo para o colapso


econômico da Alemanha. Gradativamente, a produção industrial caía. O banco central alemão
fechara suas portas. A hiperinflação que vinha crescendo de forma descontrolada atinge seu
ápice em 1923, quando 1 marco alemão chega a custar 1.000.000.000.000.000.00011 (um
sextilhão) de dólar. O desemprego e a fome promovem o caos nas ruas da Alemanha. Crescem
as taxas de trabalhos subalternos, como a prostituição. Neste deteriorado cenário, os grupos
nacionalistas começavam a se impor contra a República de Weimar e reforçavam ainda mais
sua aversão às condições do Tratado de Versalhes. A Alemanha se encontrava destruída
política, econômica, militar e moralmente. Em 1926, havia cerca de 3 milhões de
desempregados, em 1927, 17 milhões. 12

“Os valores morais tradicionais pareciam estar em declínio junto com os valores
monetários tradicionais. A descida ao caos – econômico, social, político e moral,
- parecia ser total [...] Foi nessa atmosfera de trauma nacional, extremismo
político, conflito violento e sublevação revolucionária que o nazismo nasceu.”13.

10
EVANS, Richard J. “A Chegada do Terceiro Reich”. São Paulo, Editora Planeta, 2014, p. 115
11
Idem, p. 152.
12
Idem, p. 164
13
Idem, p. 159.
19

No panorama político, alguns partidos expressivos e com ideais diferentes compunham


o Reichtag14. Imersa em conturbações sociais e ao caos econômico, a República de Weimar
possibilitou a disputa interna de diferentes grupos, concentrados em alguns partidos. O mais
expressivo era o Partido de Centro, dominado pela burguesia alemã, pois formava a base do
governo; além disso, as cadeiras eram também ocupadas por Social-Democratas e Comunistas,
que apesar de dialogarem quanto ao papel do Estado e a importância da classe operária,
divergiam quanto aos métodos. O primeiro grupo amedrontava-se do possível “terror
vermelho” que os comunistas implementariam aos moldes soviéticos, caso o poder os
favorecesse. Além destes, existia também os Liberais, composto por setores da classe média e
apoiadores do capitalismo, os Conservadores, formados pela ala da igreja católica e de
industriais alemães; os Nacionalistas, formados pela burguesia conservadora, que almejava o
retorno imediato do Reich e a suspensão instantânea do Tratado de Versalhes. Outro partido de
destaque era o Partido dos Trabalhadores Alemães, composto por setores variados da sociedade
germânica. Ambicionavam um Estado sólido, aos moldes do império, e tinham uma conotação
diferente de “trabalhadores”, uma vez que este grupo contava também com setores da
burguesia. Desta forma, distanciavam-se tanto dos Social Democratas quanto dos Comunistas.
Este seria o partido que funcionaria como o alicerce para a ascensão do Partido Nacional
Socialista dos Trabalhadores Alemães ou Partido Nazista. Todavia, é imprescindível que seja
falado sobre o homem que unificou grupos diversos sobre o princípio de construir uma
Alemanha sólida e coesa, e que ao povo alemão tudo fosse possibilitado. Era preciso apagar a
vergonha da guerra perdida e submeter os inimigos que humilharam os germânicos. Fazia-se
necessário conter os traidores que haviam apunhalado a nação pelas costas e instituir métodos
para superar a crise econômica. Parafraseando os historiadores Eric J. Hobsbawm e Sir. Ian
Kershawn, “nada teria sido possível sem Adolf Hitler”15 e “Pode-se dizer com certeza: Sem
Hitler, a história teria sido diferente”.16

Adolf Hitler cresceu na Áustria, transferindo-se para Viena entre os anos de 1908 e 1909
com o propósito de estudar na Academia de Belas Artes. Grande admirador de arte, passava os
dias pintando quadros e ouvindo música clássica, da qual Wagner era, sem dúvidas, seu
predileto. Hitler sonhava em ser um grande artista, reconhecido entre os melhores naqueles dias
luminosos de Viena, antecedentes à Grande Guerra. Os sonhos do jovem Adolf, contudo,

14
Na República de Weimar, o Reichtag representava o Parlamento alemão. KERSHAW, Ian. “Hitler”. São Paulo,
Companhia das Letras, 2010, p. 44.
15
HOBSBAWM, Eric J. “A Era dos Extremos: O breve século XX”. São Paulo, Cia das Letras, 2012, p. 46.
16
KERSHAW, Ian. “Hitler”. São Paulo, Companhia das Letras, 2010, p. 20.
20

encontraram alguns obstáculos no meio do caminho. Havia algo em que ele não contava quando
ainda planejava sua ida para Viena: a rejeição. Rejeitado como artista na Academia de Belas
Artes, Adolf Hitler ainda tentaria mudar seu segmento de atuação, acreditando que possuía
talento para a Arquitetura. Para sua frustração, também não obteve aprovação nesta área. Os
sucessivos fracassos na vida de Adolf Hitler contribuíram para potencializar suas decepções e
seu ódio, impulsionados ainda mais quando ele passou a ter acesso à veículos de informação
que nutriam suas desilusões com a sociedade austríaca, à sua visão, corrompida por comunistas
e judeus.

“O abismo entre a imagem de grande artista ou arquiteto frustrado que fazia de si


mesmo e a realidade de sua vida marginal precisava de uma explicação. É possível
presumir que a imprensa marrom antissemita vienense o tenha ajudado a achar a
explicação.”17

Os anos em Viena tornavam-se cada vez mais difíceis na vida de Adolf Hitler, que estava
sucumbindo em meio aos fracassos e desilusões. Ele passava a pensar que aquele lugar era um
antro de corrupção, na qual as principais instituições eram controladas por judeus. Do mesmo
modo, passava a consumir em maior escala ideias antissemitas e nacionalistas, fazendo-o a
nutrir uma aversão ao governo do império Austro-Húngaro, o que o fazia pensar em como seria
a vida em que o povo germânico estivesse unido entre os seus. De acordo com Kershaw,

“Aversão encarniçada ao império dos Habsburgos pelas políticas pró-eslavas que


deixavam em desvantagem a população germânica; ódio crescente à “mistura
estrangeira de povos” que estava “corroendo” a cultura germânica em Viena; a
convicção de que a Áustria-Hungria estava com os dias contados e, quanto mais
cedo acabasse, melhor; e o desejo intenso de ir para a Alemanha, para onde
levavam seus “desejos secretos e amor secreto de infância”.

Era chegada a hora de mudança, e o jovem austríaco decidiu mudar-se para Munique,
na esperança de que os novos ares o revigorassem. Por algum motivo, passara a nutrir um
profundo sentimento de ligação e emoção com a Alemanha, encantando-se pela história desta

17
Idem, p. 77.
21

nação e por sua gloriosa trajetória. A Alemanha passou a ser sua pátria de adoção. A maneira
que ele encontrou para tanto servir aos princípios que adotou, quanto construir uma nova
carreira, foi abandonar os devaneios da Arte e Arquitetura e se alistar no exército nacional. Não
seria necessário muito esforço para que o jovem aspirante a artista pegasse em armas para
defender de forma patriótica sua nação. E desta forma, ao eclodir a Primeira Guerra Mundial,
em 1914, Adolf Hitler já estava a postos para o conflito. Após suas falhas e a decepção com sua
carreira, agora ele tinha um ofício, um propósito, uma missão, e estava muito entusiasmado
com a guerra.

Deslocado para lutar no front ocidental, Entre 1914 e 1915, Hitler vivenciou o desespero
da guerra e seu poder de destruição. Presenciou a morte de 70% de seu regimento18. Para ele, a
destruição da guerra era necessária não apenas para aniquilar os inimigos, como para
possibilitar a limpeza racial da Alemanha. O decorrer do conflito e sua postura fria e
determinada possibilitaram sua promoção a cabo, sendo este o posto de maior prestígio que
conquistou dentro do exército. Por não ser um dos melhores soldados em termos técnicos de
combate, ele se tornou mensageiro, ocupando um posto de extrema importância, mas que lhe
garantia certo conforto. Passava horas de prontidão, e utilizava este tempo para ouvir música
clássica, ler e pintar. Em 1918, Hitler foi condecorado com a Cruz de Ferro 19 Primeira Classe,
em honraria à bravura demonstrada na entrega de uma importante mensagem, quando a
comunicação entre o quartel e o front havia sido cortada em virtude do fogo pesado da guerra.
No dia 18 de Outubro de 1918, durante uma importante missão, o jovem cabo sofreu um
acidente, sendo atingido junto com um grupo de companheiros pelo danoso gás mostarda
diretamente em seus olhos. Sem condições de permanecer em seu posto, foi deslocado para o
hospital militar. A guerra havia acabado para o jovem cabo, que nesta altura do campeonato,
encontrava-se cego sob uma cama de hospital. Ficaria também “cego de ódio” quando
descobrisse a rendição alemã. Ao abrir os olhos, passava a enxergar apenas os inimigos externos
e internos, atribuindo a culpa das falhas aos fracos que “apunhalaram a Alemanha pelas costas”.

De acordo com Winston Churchill, Hitler pensava que “A Alemanha fora apunhalada
pelas costas e aprisionada nas garras dos judeus, dos aproveitadores e dos conspiradores que

18
KERSHAW, Ian. “Hitler”. São Paulo, Companhia das Letras, 2010, p. 87.
19
A Cruz de Ferro era importante condecoração dada aos heróis da Alemanha. KERSHAW, Ian. “Hitler”. São
Paulo, Companhia das Letras, 2010, p. 89.
22

operavam atrás da linha de frente, dos malditos bolcheviques em sua conspiração


internacional montada por intelectuais judeus. 20

Desta forma, “Resplandecendo à sua frente ele viu seu dever: salvar a Alemanha dessas
pragas, vingar-lhe as injustiças sofridas e conduzir a raça superior a seu destino havia muito
decretado.”21

Para Ian Kershaw, contudo, a revolução que se desencadeou durante os dias da guerra e
coincidiu com a rendição alemã e assinatura do armistício, dando início à República de Weimar,
nada mais era do que um símbolo da desordem social e insatisfação com o sistema vigente. “Na
realidade, não houve traição, nenhuma faca cravada nas costas. Isso foi pura invenção da
direita, uma lenda que os nazistas utilizaram como elemento central de seu arsenal de
propaganda.”22

Junto com a rendição da Alemanha, a Revolução Russa de 1917 possibilitou o aumento


do ódio de Adolf Hitler pelos comunistas, que chegavam ao poder no antigo império dos Czares
e promoviam as ideias revolucionárias de Karl Marx, tendo Vladmir Lênin como o grande
intelectual e líder desta revolução. Os ideais dos revolucionários russos chegariam em peso aos
germanos, dando suporte às aspirações dos revolucionários alemães. O crescimento do prestígio
dos comunistas e socialdemocratas na Alemanha impulsionaram em Hitler, além do
antissemitismo, o antibolchevismo.

Terminada a Grande Guerra, em 1919 só restava uma certeza para Adolf Hitler: ele
deveria entrar para a política. O fim da guerra significava também um ponto final em sua vida
no exército; tudo que sonhara e dedicara estava destruído. Mais uma vez, os fantasmas de suas
antigas desilusões com a carreira artística voltavam a assombrá-lo. Ele não sufocaria
novamente. Para Hitler, seguir na vida pública não era apenas uma opção de carreira, era, acima
de tudo, uma questão de honra. A partir deste momento, ele dedicaria todos os dias de sua vida
a lutar por seus princípios, naquilo que acreditava, pela nação que havia escolhido e pelo povo
que jurou defender. Acima de tudo, Hitler valeu-se do oportunismo que as condições históricas
e sociais o proporcionou. Ele usaria a boa sorte a seu favor, e acabaria descobrindo o seu talento
natural, aquele por qual tanto procurou: o de falar para pessoas.

20
CHURCHILL, Winston. “Memórias da Segunda Guerra Mundial”. Vol. 1 (1919-1941) e Vol. 2 (1941-1945).
Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2012, p. 40.
21
Idem.
22
KERSHAW, Ian. “Hitler”. São Paulo, Companhia das Letras, 2010, p. 94.
23

Em Setembro de 1919, Hitler foi convidado a participar de uma reunião do Partido dos
Trabalhadores Alemães, sendo invitado por um oficial de segurança para quem prestava
serviços. Naquela ocasião, seria apenas um encontro entre os membros do partido político.
Discussões sobre o grupo e especulações sobre o futuro da pátria eram as questões em pauta,
como de praxe. Pela primeira vez, Adolf Hitler ouviu políticos afirmarem as mesmas
convicções que ele carregava consigo: antissemitismo, antibolchevismo, valorização da
germanidade, supressão de outros partidos, perseguição aos “traidores da pátria”, vingança aos
inimigos. Tudo pela redenção da Alemanha. Naquele dia, Hitler sentira-se extasiado. O Partido
não poderia contar com sorte maior a seu favor. Eles haviam encontrado a pessoa que
precisavam. Naquele mesmo ano, Hitler foi convidado a participar como membro efetivo do
partido e oficializou sua filiação.

Naqueles dias, eram muito comuns reuniões em cervejarias. Estas eram pontos de
encontro de políticos e membros de um partido, atuando como locais de discussões,
confraternizações e comícios. Em sua primeira oportunidade de fala, ele colocou suas
experiências vividas durante a Grande Guerra e suas convicções em perspectiva com a delicada
situação da Alemanha. Para Hitler, os rumos da Grande Guerra acabaram se tornando uma
dádiva. A dramática situação da Alemanha atuou muito bem como plano de fundo durante suas
palestras. Era fácil enfatizar o seu discurso e atribuir os culpados pela derrota alemã. De forma
calorosa, utilizava gestos e expressões que faziam suas narrativas atingirem de forma intensa o
emocional de seus ouvintes. Fazendo uso do conceito de Max Weber, Adolf Hitler acabara
personificando a “autoridade carismática”. Na cervejaria de Sterneckbräu, durante eventual
reunião do partido, ocorreu um debate após as palestras, na qual um dos convidados enfatizou
o desejo de separação dos bávaros, quando Hitler

“interveio de forma tão veemente que Bauman, totalmente desanimado, pegou seu
chapéu e se retirou, como um ‘cachorro molhado’, enquanto Hitler ainda falava.
O presidente do partido, Anton Drexler, ficou tão impressionado com a intervenção
que, no fim da reunião, lhe entregou um exemplar de seu panfleto Meu despertar
político, convidando-o a retornar em poucos dias, caso estivesse interessado em
participar do novo movimento. ‘Meu Deus, que língua ele tem! Poderíamos usá-
lo’, consta que Drexler teria dito. Segundo o relato do próprio Hitler, ele leu o
panfleto de Drexler no meio de uma noite insone e lembrou-se de seu próprio
‘despertar político’, doze anos antes.23

23
KERSHAW, Ian. “Hitler”. São Paulo, Companhia das Letras, 2010, p. 109.
24

Em 1920, após evidenciar aos partidários seu talento retórico e de oratória, Hitler foi
promovido pelo partido como responsável pela propaganda. Estipulou 25 pontos, os quais
compartilhavam os ideais dos partidários. Em síntese, os pontos pautavam-se

“No conjunto de ideais völkisch, a noção de um socialismo especificamente alemão


ou nacional, ao lado de um ataque ao capitalismo ‘judeu’ [...] Exigência de uma
Alemanha maior, terras e colônias, discriminação contra os judeus e negação da
cidadania a eles, rompimento da ‘escravidão dos juros’, confisco de lucros da
guerra, reforma agrária, proteção da classe média, perseguição dos especuladores
e regulamentação rígida da imprensa. ‘O bem comum acima do bem individual’
era uma banalidade sem objeções. A exigência de um ‘poder central forte’ no Reich
e ‘a autoridade incondicional’ de um ‘Parlamento central’ [...]”24.

Em meados de 1921, Hitler tornou-se a liderança do partido, eleito através de reunião


geral dos membros do Partido dos Trabalhadores Alemães por decisão unânime. De acordo
com o programa estipulado por ele, o primeiro passo foi institucionalizar o princípio de
liderança, atribuindo as responsabilidades maiores e o poder final em uma única persona. De
acordo com Kershaw, a atribuição da liderança à Hitler “acabou com o velho e ineficaz modo
quase parlamentarista de dirigir o partido, com comitês e democracia interna.”25. Deste modo,
o poder estava garantido em suas mãos. Algumas tentativas de retirá-lo do cargo não tardaram
a acontecer, assim como críticas de partidários aos seus métodos enérgicos e sugestões de
unificação com outros partidos. Insatisfeito, Hitler chegara a romper com o partido duas vezes.
Na segunda oportunidade, quase imploraram o seu retorno. Ele aceitou, com a condição de que
pudesse reformular o partido e que, desta vez, tivesse poderes plenos, e que todos os membros
aceitassem o princípio de liderança. Em seu primeiro comício ocupando o posto de líder
máximo, Adolf Hitler anunciou, sendo calorosamente aclamado por seus colegas partidários,
aquele que se tornaria o slogan do partido. Nosso lema é somente luta. Seguiremos nosso
caminho inabalável para nossa meta.”26. A partir de 1921, o Partido dos Trabalhadores
Alemães passou a se denominar Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães
(NSDAP). Além do slogan e da mudança de nome, Hitler desenhara pessoalmente a insígnia do
partido, sendo uma suástica negra num círculo branco sobre um fundo vermelho. Os comícios
passaram a ser repletos de cartazes vermelhos, suásticas e frases que remetiam ao ideário do

24
Idem, p. 115-119.
25
Idem, p. 117.
26
KERSHAW, Ian. “Hitler”. São Paulo, Companhia das Letras, 2010, p. 121.
25

Partido Nazista. Estava claro que todos os comícios de Hitler seriam como fogos de artifício,
fazendo com que ano após ano, aumentassem de forma expressiva o número de participantes e
apoiadores do partido.

Na Baviera, o Partido Nacional-Socialista vai atuando de forma cada vez mais convicta
e expressiva, crescendo gradativamente e se propagando para outras províncias, como a
Francônia. Adolf Hitler passava a ser a personificação do partido. Tudo o orbitava, seguindo de
acordo com suas objeções. Segundo Kershaw,“em 1921, para o público de Munique, Hitler já
era o NSDAP. Era a voz do partido, sua figura representativa, sua personificação”. 27 Na
Europa pós-guerra, era muito comum que os partidos políticos tivessem mais que um líder. O
sentido de “liderança” que Adolf Hitler exercia era apenas nos termos técnicos partidários, de
atuar como o homem que direciona o partido. Contudo, a ascensão ao poder por Benito
Mussolini na Itália acabaria servindo de inspiração para Hitler. Ele afirmaria mais forte do que
nunca aos seus partidários que a luta era necessária para a vitória. A liderança carismática vai
se tornando mais expressiva. O capital político de Hitler cresce de tal forma que os membros
do partido vão passando a atribuir um sentido diferente de liderança. A imagem do ein führer
estava sendo construída.

A afirmativa de que a Alemanha precisava de um ditador era mais convicta e mais


receptiva a cada discurso. Adolf Hitler não se considerava este homem, mas via-se como o
arauto, que anunciava a chegada daquele que restauraria o poder e a glória da Alemanha. Neste
ínterim, os Nazistas, valendo-se do exemplo da Marcha sobre Roma e da tomada do poder pelo
Partido Fascista na Itália, organizaram a tomada do poder na região Bávara, local onde eram de
maior expressão. Tudo começou em 1924, na cervejaria de Bürgerbräukeller, em um comício
que contava com cerca de 3.000 espectadores, incluindo as próprias lideranças da Baviera. Com
vários homens armados e seus capacetes de aço, Hitler anunciava que o governo estava deposto.
Em seguida, expandiu a conspiração para criar o governo provisório do Reich. A hiperinflação,
que atingia seu auge entre 1923 e 1924 era sua força motriz. Ele anunciava, naquela noite na
cervejaria, que a revolução tinha início. Contudo, a revolução não conseguiu se expandir e
tomar as proporções que Hitler e os nazistas esperavam. De acordo com Kershaw,

“Numa noite de caos, os golpistas fracassaram em assumir o controle de quartéis


e prédios do governo, graças, em larga medida, à sua desorganização. Os

27
Idem, p. 129.
26

primeiros e parciais sucessos foram, em sua maioria, rapidamente revertidos. Nem


o Exército nem a polícia estadual uniram forças com os golpistas”.

O golpe estava suprimido. Adolf Hitler seria preso e posteriormente julgado. O capital
político que carregava consigo atuou de forma a garantir algumas regalias. Ainda em seu
julgamento, fez-se de seu talento retórico e convenceu boa parte da corte que os planos do
partido seriam a solução para conter a crise. Condenado por fim, teve na cadeia o conforto de
um preso político de ordem especial. Havia sido condenado apenas para cumprir o protocolo e
servir de exemplo aos desordeiros. Do contrário, seria absolvido. Durante os dias que ficou em
cárcere, surgiu aquele que seria o coração do Terceiro Reich, a obra de sua vida: Mein Kampf.28
Com Hitler preso, os nacionalistas perdiam cada vez mais prestígio no reischtag. O movimento
estava desorganizado em sem rumos. O partido não precisava de seu arauto, mas sim de seu
líder. O acúmulo de capital político possibilitou que Hitler, ao sair da cadeia, tivesse convicção
do papel primordial que deveria exercer frente aos seus. Os partidários pronunciavam com
clamor: Heil Hitler!

Os anos seguintes serviram para a reorganização do movimento. A postura sólida do


partido se define na expressão agressiva de Adolf Hitler. Era preciso transitar rumo à vitória, e
já que a tentativa militar havia falhado, eles utilizariam os meios democráticos. Uma
personalidade importante adentraria o partido e se tornaria Ministro de Propaganda, auxiliando
na promulgação dos nazistas por toda a Alemanha. Tratava-se de Joseph Goebbels. Nas eleições
dos anos seguintes, os nazistas conquistaram cada vez mais cadeiras no reischtag. Em 1928,
eram apenas 12. Em 1930, se transformaram em 107. Em 1932, em 230. A explicação para este
salto pode-se pautar na grande crise econômica de 1929. A Alemanha, que já havia enfrentado
os terrores de uma hiperinflação era impactada novamente pela quebra da economia dos Estados
Unidos da América, que suspenderia os empréstimos aos alemães, ocasionando a quebra de
inúmeras indústrias. Sir Winston Churchill observou este momento como aquilo que
impulsionou a ascensão do nazismo. As massas alemãs temiam o desemprego. “O desemprego
na Alemanha elevou-se a 2,3 milhões de trabalhadores no inverno de 1930”.29 De acordo com

28
Minha luta, em alemão.
29
CHURCHILL, Winston. “Memórias da Segunda Guerra Mundial”. Vol. 1 (1919-1941) e Vol. 2 (1941-1945).
Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2012, p. 46.
27

Sir. Ian Kershaw, em 1930, “o número real, incluindo os postos com jornada reduzida, foi
estimado em mais de 4,5 milhões”.30

Impulsionados pela grande crise, o Partido Nazista conquistava o seu espaço de forma
considerável entre os anos de 1930 e 1933. Hitler estava extasiado com a ascensão dos adeptos
do movimento Nacional-Socialista por toda a Alemanha. A cereja do bolo estava cotada para
as eleições presidenciais. Naquela ocasião, o emblemático Hindenburg ocupava o cargo de
Presidente, e Franz Papen o de Chanceler. As disputas para as eleições presidenciais foram
calorosas e acirradas. Em termos propagandísticos, Goebbels atuava como um soldado,
determinado a tornar possível a chegada de Hitler ao poder. Desta forma, os nazistas estavam
impulsionados a “trabalhar para o führer”.31 Na eleição presidencial de 1932, o velho
Hindenburg derrotou Hitler e acabou reeleito. Hitler estava furioso com o resultado das
eleições. Papen, que havia sido Chanceler e possuía grande prestígio, aproximava-se dos
nacionalistas e de Hitler, aderindo aos seus ideais. Valendo-se de sua influência junto a
Hindenburg, ele pede em favor de Hitler, para que este ocupasse a chancelaria. Com relutância,
mesmo tendo negado a esta ideia em outra ocasião, o presidente Hindenburg consentiu ao
pedido de Papen. “Em 30 de Janeiro de 1933, Adolf Hitler assumiu o cargo de chanceler da
Alemanha.”32

Tabela 1 – Número de votos direcionados ao Partido Nazista.33

Ano Milhões de votos Percentual


Mai de 1924 1,8 6,5%
Dez de 1924 1,0 3,0%
Mai 1928 800 mil 2,6%
Set 1930 6 18,3%
Jan 1932 13 37,4%
Nov 1932 11 33,1%
Mar 1933 17 43,9%

30
KERSHAW, Ian. “Hitler”. São Paulo, Companhia das Letras, 2010, p. 228.
31
O conceito de “trabalhar para o führer” foi formulado por Ian Kershaw, que observou que a esfera do poder
simbólico e político estava estipulada em níveis dentro do Partido Nazista. O mais alto nível era ocupado pelo
führer, desta forma, hierarquizando todo o partido.
32
Idem CHURCHILL, p. 51.
33
EVANS, Richard J. “A Chegada do Terceiro Reich”. São Paulo, Editora Planeta, 2014, p. 374.
28

Nos dias que sucederam a ascensão de Hitler à chancelaria, um fato acabou


concomitante para o início da centralização do poder nas mãos dos nazistas. O Incêndio do
Reischtag foi atribuído aos comunistas e social-democratas. Adolf Hitler utilizou a força dos
nacional-socialistas do parlamento para pressionar o presidente Hindeburg, fazendo com que
este baixasse um decreto que garantia poderes amplos à chancelaria, perseguia a imprensa e
cassava partidos. A democracia dava seus últimos respiros, enquanto os nazistas tomavam o
poder. O Partido Comunista, a partir daquele momento, estava extinto. A repressão se estendeu
em seguida à todos os opositores do Reich. Os camisas pardas andavam pelas ruas, fazendo uso
da violência e dos poderes ocupados pelo Partido Nazista. Tomavam casas, lojas e patrimônios.
Em seguida, as instituições passaram a se submeter ao comando de Hitler. Primeiro, a Igreja
Católica e os sindicatos. Depois, os partidos e organizações paramilitares. O Partido de Centro
foi direcionado gradativamente a aceitação da causa. De forma compulsória, os nacionalistas,
aliados dos nazistas, foram obrigados a abdicar e a aderirem ao Partido Nazista. Por fim, a
emblemática organização dos Capacetes de Aço, a primeira inspiração aos ideais nacionalistas
de Hitler, aderiu ao Nazismo. Em síntese, os principais partidos e instituições sucumbiram
diante da violência e do poder político dos nazistas, em um trabalho de propaganda, negociação
e imposição. Destronados os principais opositores e conquistados os principais aliados, o
processo de consolidação do Partido Nazista estava praticamente concluído. A ascensão
definitiva do Nazismo na Alemanha se deu a partir da morte do Presidente Hindenburg, em
1934, o que fez com que Adolf Hitler ocupasse os cargos de Chanceler e Presidente da
Alemanha. O führer estava a postos para guiar a nação ao seu destino.

“A destruição dos partidos Comunista, Social-Democrata e de Centro foi a parte


mais difícil da ofensiva nazista para criar um Estado de partido único. Juntas, essas
três legendas representavam muito mais eleitores que o Partido Nazista jamais
conquistou em uma eleição livre. Em comparação aos problemas que esses três
apresentaram, livrar-se dos outros partidos foi fácil. A maioria deles havia perdido
virtualmente cada voto e cadeira que havia um dia possuído no Reichstag.”34

Democracia destruída. Criação de um Estado com partido único. Faltava pôr em prática
a doutrinação moralizadora característica do totalitarismo fascista. É o momento em que a vida
pública e privada se fundem. O Estado passa a intervir diretamente no âmbito familiar e

34
EVANS, Richard J. “A Chegada do Terceiro Reich”. São Paulo, Editora Planeta, 2014, p. 445.
29

escolar.35 Manifestações artísticas consideradas degradadas são expurgadas da Alemanha. O


Jazz, ritmo de maior consumo no período, passa a ser considerado aversão de valores. Livros
de cunho judeu ou comunista eram queimados em piras erguidas nas ruas alemãs. No cinema,
na imprensa e no rádio, em tudo ocorre a nazificação, ponto central da revolução cultural de
Hitler.

A Alemanha estava conquistada. Um líder, um povo, uma raça. Era chegada a hora de
impor-se frente aos inimigos, conquistando a Europa para estabelecer uma nova ordem, em
busca da prioridade racial alemã. O ideário que há muito vinha se formando entre os nacional-
socialistas estava consolidado e o plano de governo estava estabelecido. Entre 1935 e 1939, os
alemães superaram a crise econômica e aumentaram consideravelmente sua capacidade bélica.
As imposições do Tratado de Versalhes, outrora símbolo da humilhação alemã, estavam
rompidas. As Nações Unidas estavam vendadas diante da ascensão germânica. Em sessão na
Câmara dos Comuns, em 1934, Winston Churchill afirmou que

“A Alemanha já tem, neste momento, uma força aérea militar (...) e que esta (...) se
aproxima rapidamente da igualdade com a nossa. Em segundo lugar, (...) o poderio
aéreo militar alemão, dentro de um ano, será de fato pelo menos tão grande quanto
o nosso, e talvez até maior. Em terceiro lugar, (...) no fim de 1936, ou seja,
decorrido mais um ano – dois a contar de agora – o poderio aéreo militar alemão
será quase 50% maior e, em 1937, quase o dobro do nosso.”36

Aos nazistas, era preciso conquistar o espaço vital necessário ao Terceiro Reich. A
expansão seria uma questão delicada. O início seria unificando os povos de origem germânica,
e desta forma, a Áustria germânica seria o primeiro passo. Além de tudo, uma entrada triunfal
em Viena tinha um sentido pessoal para o führer. O partido Nazista crescia em solo austríaco
desde 1934, com o assassinato do chanceler Doulfuss. A cada sucesso nazi, crescia o número
de adeptos. A tomada da Áustria foi caracterizada por muito apoio aos nazistas e resistência
inexpressiva. Logo, o caminho para a Tchecoslováquia, Polônia e Rússia, para a Europa
Nórdica e Central, seria uma questão estratégica e de tempo.

35
ARENDT, Hannah. “Origens do Totalitarismo: Antissemitismo, imperialismo, totalitarismo”. São Paulo,
Companhia das Letras, 2012, p. 474.
36
CHURCHILL, Winston. “Memórias da Segunda Guerra Mundial”. Vol. 1 (1919-1941) e Vol. 2 (1941-1945).
Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2012, p. 80.
30

Capítulo 02 – O Partido Nazista no Brasil


O projeto de construção do Terceiro Reich estava em curso na Europa. Iniciado de forma
mais expressiva na década de 1920, nos anos após a Grande Guerra, o Partido Nacional-
Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) ganhava força gradativamente. A Alemanha
pouco a pouco era conquistada, estabelecendo-se os princípios do partido, como a aversão ao
liberalismo ocidental, o antissemitismo, o antibolchevismo, a militarização e o autoritarismo.
A esfera do público e do privado passaram a estar diretamente conectadas. Antes arauto, depois
führer, Adolf Hitler conseguiu crescer no meio político, usando as experiências de sua vida
pessoal e dos anos durante a Primeira Guerra Mundial como motivação e plano de fundo de
seus discursos. O Partido Nazista chegava ao poder de forma definitiva em 1933, quando Hitler
era nomeado para ocupar o cargo de chanceler, após ter perdido as eleições presidenciais de
1932. A partir daí, apenas questão de momentos para que os nazistas emparelhassem o Estado,
baixassem decretos e instalassem o projeto político que almejavam para a construção da
gloriosa Alemanha: aquela que superaria a crise econômica, que puniria os “traidores da pátria”
e se ergueria de cabeça erguida frente aos inimigos. O Terceiro Reich era uma realidade, a
Alemanha estava dominada. Em seguida, seria preciso conquistar os territórios necessários ao
Reich, o “espaço vital” desejado ao princípio de pureza racial. A Europa seria o coração do
império alemão, pois o projeto nazista não se restringia apenas ao domínio do velho mundo. De
acordo com Ana Maria Dietrich, “O estudo do tema nazismo no exterior mostra a dimensão
ambiciosa de Hitler em sua proposta. Não era somente a Alemanha que interessava, nem a
Europa: eram cinco continentes.”37

O Brasil acabara se tornando a morada de muitos alemães, que imigraram com intenções
diversas, tais como construir uma vida no novo mundo, buscar novas oportunidades ou fugir da
Guerra. Nos séculos XIX e XX, o processo imigratório da Europa para o Brasil ocorreu em
larga escala, havendo grandes contingentes de populações germânicas. Austríacos e alemães se
estabeleceram pelo território brasileiro, com expressivo destaque para as regiões Sul e Sudeste,
que por si contavam com os estados que continham o maior número de alemães. Santa Catarina,
Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro foram as regiões em que a seção
brasileira do Partido Nazista tiveram maior expressão.38 Não é possível afirmar diretamente as

37
DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa
de Pós-Graduação em História Social). p. 112.
38
MORAES, Luís Edmundo de Souza. “Ein Volk, Ein Reich, Ein Füher! A Seção Brasileira do Partido Nazista e
a Questão Nacional”. Rio de Janeiro, 1996. Dissertação (Antropologia Social) – Museu Nacional da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. pp. 193
31

causas de porque os estados com maior número de alemães serem também os que contavam
com mais adeptos ao nazismo, mas é possível dizer que a quantidade influencia neste número,
além do fato de que nestes Estados estavam presentes as principais instituições alemãs no
Brasil, como a Embaixada, situada no Rio de Janeiro, que também foi o primeiro estado a sediar
o Partido no Brasil, sendo sucedido por São Paulo. No Sul, muitas comunidades germânicas
expressavam de forma muito intensa ligações com a pátria mãe. Estas informações nos ajudam
a compreender o fenômeno de aceitação do Partido Nazista no Brasil.

O Partido Nazista possuiu teias de contato com diversos países do mundo, seja por
questões diplomáticas que antecedem o governo nazi, seja por articulações políticas de Adolf
Hitler. Para Dietrich,

“O Partido Nazista no exterior esteve presente em 83 países do mundo, com 29 mil


integrantes. É intrigante saber que países com realidades e histórias tão distintas
compartilharam deste ponto em comum: a presença do movimento organizado do
nazismo por meio de um partido político e a disseminação da ideologia nazista nas
décadas de 1930 e 1940”.39

Inúmeros documentos informam o envolvimento de governos com a Alemanha hitlerista. O


caso mais emblemático da história são os documentos de Marburg40, por sua repercussão e
circularidade. No caso do Brasil, não foi diferente. O governo de Getúlio Vargas, durante a Era
Vargas (1930-1945) manteve relações estreitas com a Alemanha nazista durante longo tempo.
A ruptura ocorreu apenas em 1942, quando Vargas aderiu às forças aliadas na Segunda Guerra
Mundial, momento em que o Eixo tornou-se inimigo do Brasil, fato que será melhor
apresentado no capítulo seguinte. Neste contexto, o Brasil conviveu com importantes
momentos. Nos episódios da Intentona Comunista41, liderada por Luís Carlos Prestes, o
governo de Getúlio Vargas conteve a revolta e deportou a ativista Olga Benário para a

39
DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa
de Pós-Graduação em História Social). p. 118.
40
Após a Segunda Guerra Mundial, constatou-se que Edward VIII, que havia renunciado ao trono da Inglaterra
por questões matrimoniais, foram descobertos alguns telegramas entre o abdicado rei inglês e o alto comando dos
nazistas. Além das correspondências, Edward teve diversos encontros com Adolf Hitler, prestigiando comícios e
apresentações. Constatou-se que Hitler tinha o plano de invadir a Inglaterra, depor o governo e coroar Edward
como Rei.
41
A Intentona Comunista foi um episódio ocorrido em 1935, como tentativa de erradicar uma revolução aos
moldes soviéticos.
32

Alemanha de Hitler, enquanto estava grávida. Olga acabara dando a luz dentro de um campo
de concentração. Neste ínterim, a GESTAPO, polícia secreta do estado Alemão, atuava no
Brasil e treinava as forças nacionais para conter comunistas. Desta forma, foi possível para que
o Partido Nazista funcionasse livremente no Brasil entre 1928 e 1938, oito anos da Era Vargas.
De acordo com Dietrich,

“Só depois de uma década – quando a existência deste partido entrou em confronto
com as diretrizes nacionais que proibiam atividades políticas estrangeiras e, ao
mesmo tempo, procuravam “nacionalizar” as minorias estrangeiras, intervindo em
escolas, clubes, bancos e demais associações estrangeiras, proibindo o uso de
outros idiomas em público – o partido nazista se tornou alvo de investigação e
controle e foi finalmente proibido em 1938.”42

A historiografia do nazismo em diferentes partes do mundo aponta para a intenção do


partido nazi em expandir as fronteiras do Terceiro Reich. De acordo com os 25 pontos do
programa do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, era necessário que a
Alemanha empreendesse colônias, visando se tornar um império consolidado. Dois autores que
trabalharam o tema do nazismo na América Latina buscaram categorizar de qual forma
ocorreria a atuação germânica sobre o mundo.

Esnesto Giudici, jornalista argentino, debate sobre a presença do nazismo na América


Latina, analisando a dimensão do imperialismo alemão. Para o autor, a atuação germânica tinha
a necessidade de estabelecer uma economia de guerra e, por isso, havia grande necessidade por
matérias-primas.

“As colônias destas nacionalidades (Alemanha e Japão) não se fundaram ao azar


ou em quaisquer lugares que não fossem estratégicos do ponto de vista econômico
e militar. (...) [Nestes países] se estudaram determinadamente as regiões mais ricas
do mundo e as zonas necessárias para a expansão econômica destes imperialismos;
e no sentido para onde a imigração se dirigia oficialmente. (...) Isto nos explica
como uma colônia estrangeira pode servir aos fins da expansão imperialista.
(...)
As ‘colônias’ servem: primeiro, como avançadas ideológicas do imperialismo
fascista, utilizadas para a difusão de ideias políticas reacionárias, para a

42
DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa
de Pós-Graduação em História Social). p. 120.
33

propaganda fascista no exterior, etc.; segundo como sustento das oligarquias


reacionárias dos respectivos países, com as quais se põem em contato em prol de
seus comuns planos ditatoriais e antidemocráticos; terceiro, como centros de
espionagem fascista, quarto, como consumidores dos produtos de exportação [dos
respectivos países] e como vendedores destes produtos (como se referiu Goering);
quinto, como base de apoio para o imperialismo do ponto de vista estratégico,
guerreiro, militar ...”43

Aproximando-se da abordagem do argentino Ernesto Giudici, o uruguaio José


Fernandes Artúcio decorre sobre o plano nazista para a construção de uma rede “subterrânea”
na América Latina. Em suas palavras,

“O Estado Alemão e o Partido Nacional-Socialista existem em qualquer lugar que


existam membros da comunidade germânica. Então, nenhum indivíduo, nenhuma
instituição – ainda que política, econômica, religiosa ou cultural – podem possuir
direitos superiores aos membros do partido. O partido tem prioridade sobre todos
os indivíduos e instituições. O partido possui moral absoluta, jurídica, e
precedência material através do mundo. Consequentemente, aonde existam
indústrias alemães, negócios, escolas, igrejas ou simplesmente membros da
comunidade germânica, lá será encontrada a “Grandiosa Alemanha”, o qual o
direito de ocupar e depois possuir as terras ocupadas se tornam um direito de
conquista, o qual o próprio Hitler mantém-se livre para utilizar qualquer estratégia
necessária para criar o Grande Império Alemão de 250 milhões de pessoas.”44

Estas abordagens não são totalizantes sobre o tema, todavia, merecem destaque por não
se tratarem de meras especulações, mas de associações diretas com a matriz do partido em
Berlim. O Partido Nazista possuía rígida hierarquia e múltiplas estruturas burocratizadas, com
a finalidade de manter o funcionamento pleno das atividades do Reich. Em meio a este
emaranhado político, encontrava-se a Auslandsorganization der NSDAP45, órgão responsável
por cuidar dos interesses do Partido Nacional-Socialista no exterior.

A Auslandsorganization foi fundada em 1931, passando a ser dirigida por Ernst


Wilhelm Bohle – membro do alto escalão do führer – a partir de 1933. A fundação desta

43
GIUDICI, p. 108 e 110-111 apud MORAES, Luís Edmundo de Souza. “Ein Volk, Ein Reich, Ein Füher! A
Seção Brasileira do Partido Nazista e a Questão Nacional”. Rio de Janeiro, 1996. Dissertação (Antropologia
Social) – Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. pp. 79-80
44
Idem. ARTÚCIO, p. 23 apud MORAES, p. 80.
45
Popularmente conhecida por sua sigla: A.O.
34

estrutura partidária se dá pela necessidade da organização de membros do nacional-socialismo


em outros países, a se iniciar com a Áustria. A organização não se restringia apenas à pátria
natal de Adolf Hitler, mas à todos os países onde houvessem membros potenciais do Reich.
Como afirma Dietrich, no período das guerras, os nazistas circulavam por todo o mundo,
inclusive em países considerados inimigos do Reich, como França, Inglaterra, Estados Unidos
e União Soviética46. Desta forma, a A.O. cuidava dos interesses do nazismo no exterior,
subsidiando, informando, instruindo e suportando o Nacional-Socialismo de forma universal
para a construção do Terceiro Reich em escala global. Moraes afirma que, além do povo
germânico, era “perspectiva também da A.O. “o controle das firmas alemães que operassem
no estrangeiro”47. Desta forma, evidencia-se que a organização tinha papel fundamental dentro
da estrutura do NSDAP.

No panorama político brasileiro, o Partido Nazista atuou livremente durante oito anos
da Era Vargas, uma vez que o presidente brasileiro mantinha relações políticas, diplomáticas e
econômicas com a Alemanha. Em 1938, com o estabelecimento do Estado Novo, Getúlio
Vargas reprimiu todas as organizações que não compartilhassem com o nacionalismo brasileiro
direcionado pelo getulismo. Desta forma, não só a seção brasileira do NSDAP, como todas as
manifestações germânicas foram proibidas em solo nacional, evidenciando conflitos simbólicos
de poder. A historiadora Ana Maria Dietrich contextualizou os fatos como o período de “caça
às suásticas”, concluindo que os alemães, de uma forma geral, sofreram com a repressão da
polícia política varguista, mesmo aqueles que não possuíam nenhuma identificação com o
Partido Nazista. Apenas pelo fato de serem alemães, tiveram seus periódicos censurados,
escolas fechadas e foram proibidos até mesmo de falar o idioma nativo. Acredita-se que o
partido tenha funcionado na clandestinidade a partir de 1938, sendo definitivamente caçado
como inimigo da pátria a partir de 1942, quando o Brasil entra na Segunda Guerra Mundial ao
lado das forças aliadas.

Considerando-se o contexto político específico do Brasil durante os anos 1930 e 1940,


coube a A.O. tecer estratégias de atuação para os nazistas que aqui residiam. O Brasil era visto
com muito interesse pela Alemanha, por seu potencial produtivo, sua expansão territorial na

46
DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa
de Pós-Graduação em História Social). p. 118.
47
MORAES, Luís Edmundo de Souza. “Ein Volk, Ein Reich, Ein Füher! A Seção Brasileira do Partido Nazista e
a Questão Nacional”. Rio de Janeiro, 1996. Dissertação (Antropologia Social) – Museu Nacional da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. p. 69.
35

América e por ter abrigado inúmeros alemães nos séculos XIX e XX48. Desta forma, “acredita-
se que o partido nazista no Brasil era para a Alemanha muito mais importante do que para o
Brasil.”49

É imprescindível categorizar a atuação do Partido Nazista no Brasil. De acordo com


Luís Edmundo de Moraes, a organização não pode ser vista como um partido político em si,
mas como uma seção brasileira do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. A
seção brasileira do NSDAP estava submetida à rígida organização hierárquica e burocrática do
Reich, submetida diretamente à A.O., de forma que Berlim deveria saber tudo o que acontecia.
Para Moraes,

“O Partido Nazista no Brasil é uma seção partidária e não um partido


independente. Os vínculos formais que o relacionam com toda estrutura do partido
europeu são os mesmos que vinculam outras estruturas partidárias à hierarquia do
partido. De acordo com esta formalidade, as políticas, a constituição de estruturas
e várias outras ações da seção do partido no Brasil precisavam ser autorizadas
pela direção na Alemanha.”50

Aproximando-se da conceituação de Moraes, Ricardo Seitenfuss também associou a


subordinação do partido à A.O., demarcando a periodicidade do partido entre 1929 – quando
os grupos hitleristas já articulavam a chegada do führer ao poder –, e 1934, após a ascensão de
Adolf Hitler na Alemanha. Neste momento, as atividades partidárias se intensificaram,
aumentando consideravelmente o seu grau de relevância. De acordo com Dietrich, “A partir de
1934, o NSDAP envia ao Brasil o chefe geral do Partido Nazista, o alemão Hans Henning von
Cossel, e a Alemanha coloca em prática uma intensa propaganda que tinha como objetivo
cooptar os alemães residentes no Brasil.”51

O Brasil tornara-se relevante para a Alemanha hitlerista. Atuava a seção partidária do


NSDAP de acordo com as normas e estruturas burocráticas do partido. Cossel assumira a

48
Como consta no folhetim “A Quinta Coluna das Duas Américas - Objetivo final de Hitler: Conquista da América
Latina. In: DIETRICH, Ana Maria. “Caça às Suásticas: O Partido Nazista em São Paulo sob a mira da Polícia
Política”. São Paulo, Fapesp, 2007, p. 63
49
Idem DIETRICH, p. 134.
50
MORAES, Luís Edmundo de Souza. “Ein Volk, Ein Reich, Ein Füher! A Seção Brasileira do Partido Nazista e
a Questão Nacional”. Rio de Janeiro, 1996. Dissertação (Antropologia Social) – Museu Nacional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. p. XXIV.
51
DIETRICH, Ana Maria. “Caça às Suásticas: O Partido Nazista em São Paulo sob a mira da Polícia
Política”. São Paulo, Fapesp, 2007, p. 74
36

liderança do partido, que estava diretamente subordinado à A.O. Contudo, de que forma este
partido atuava? Como destacado anteriormente, a organização possuiu total liberdade na década
de 1930, até o estabelecimento do Estado Novo, em 1938. Utilizando o contexto de ascensão
de Adolf Hitler e o sentimento de “germanidade”, os membros do partido utilizaram a
instituição como vínculo de união e expressão sentimentalista à Alemanha. De forma comum,
organizavam festividades e comemoravam energicamente datas especiais alemãs, como o Dia
do Trabalho. As atividades ligadas ao Reich também eram motivo de festividades, como o
aniversário de Adolf Hitler52. Além disso, a seção brasileira do Partido Nazista, sob ordem
direta da A.O., foi responsável pela criação de periódicos de grande circularidade. Os jornais
foram nomeados Deutsche Zeitung, Deutscher Morgen e Die Nationalsozialist53, sediados
respectivamente em Porto Alegre – RS, em São Paulo-SP e no Rio de Janeiro – RJ. Estes jornais
tinham dois objetivos principais: o primeiro, o de informar aos alemães residentes no Brasil
sobre o avanço dos ideais do Reich na Europa, visando manter os germânicos informados sobre
sua pátria mãe; e o segundo, o de atuar como veículo propagandístico do nazismo. As
manchetes foram produzidas em alemão até o ano de 193854, pois a polícia política do Estado
Novo condenava essa postura como exibição de um nacionalismo estrangeiro e antipatriótico.
Neste momento, as instituições germânicas foram forçadas a mudar a forma como atuavam. Os
jornais alemães passaram a publicar suas manchetes em português e mudaram o nome como se
apresentavam, a única forma de conseguirem passar pela censura varguista. O Deutscher
Morgen passou a se chamar, a partir de 1938, Aurora Alemã.

De acordo com Luís Edmundo de Moraes, o Partido Nazista contava com 2822
membros no Brasil, atuantes em 17 estados brasileiros. O senso de 1939 demonstrava um total
de 89.071 alemães residentes no Brasil. Destacavam-se as regiões Sul e Sudeste, que juntas
somavam 2490 partidários55. De acordo com orientação da A.O., os membros da Seção
Brasileira do NSDAP não poderiam interferir na política local. Significa dizer que o Partido
Nazista no Brasil não era institucionalizado ao ponto dos membros concorrerem à eleições, por
exemplo. Era imprescindível que os participantes mantivessem uma postura discreta. Os

52
Esta questão será melhor explorada no capítulo seguinte. No dia 3 de Maio de 1933, o jornal O Nova Friburgo
noticiava a reunião de alemães em comemoração ao aniversário do führer.
53
DIETRICH, Ana Maria. “Caça às Suásticas: O Partido Nazista em São Paulo sob a mira da Polícia
Política”. São Paulo, Fapesp, 2007, p. 74
54
No capítulo seguinte, será melhor explicitado os fatores que contribuíram para a “resistência” da comunidade
germânica e do Partido Nazista à polícia política de Getúlio Vargas.
55
MORAES apud DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007.
Tese (Programa de Pós-Graduação em História Social). p. 159
37

membros do Partido Nazista não poderiam, desta forma, atuar ou intervir de forma direta na
política local. Segundo Dietrich,

“Os nazistas deveriam se manter neutros com relação à política interna e não
poderiam divulgar suas ideias à estrangeiros. O teórico principal da A.O., Emil
Ehrlich, escreveu que havia dez deveres instituídos a partir do Decreto do Führer
de 1934, entre eles, os dois primeiros referem-se a este princípio de ‘não-
intervenção’: ‘1. Seguir as leis do país, no qual você é hóspede. 2. A política da
terra de hospedagem deve ser deixada para seus moradores. Você não deve entrar
na política de uma terra estrangeira. Não se intrometa nesta política, nem mesmo
por meio de conversas. A neutralidade na política local era, muitas vezes, utilizada
como bandeira de negociação para que o partido nazista continuasse suas
atividades em território estrangeiro.”56

Em linhas gerais, o serviço funcionava como uma pirâmide, cada esfera de forma
diretamente conectada. As tabelas a seguir, elaborada por Ana Maria Dietrich57, demostram a
rígida organização do partido.

Tabela 2 – Hierarquia do Governo Nacional Socialista – 1º, 2º e 3º escalões.

Führer Adolf Hitler

Stellvertrete des Führers – vice


(Rudolf Hess)

Reichsleiter – dirigentes do Reich. Eram em número de 18,


Entre eles estava Wilhelm von Bohle, chefe da A.O.

56
DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa
de Pós-Graduação em História Social). p. 147.
57
Idem, p. 144.
38

Tabela 3 – Hierarquia da A.O. 1º, 2º e 3º escalão.

Chefe da A.O. Wilhelm von Bohle

Landesgruppenleiter – chefes de países. Atuavam


em 83 países onde a A.O. estava presente. Entre estes
chefes estava Hans Henning von Cossel.

Ortsgruppenleiter (chefes dos grupos regionais)

De forma geral, as sedes estavam concentradas nas áreas urbanas, podendo existir outras
células ao redor desta. As zonas de interior organizavam células menores, responsáveis por
subsidiarem a sede. Então, cabia aos nazistas do interior integrarem grupos de suporte ao Reich,
como a “Juventude Hitlerista” e a “Associação de Mulheres Alemãs”. Estes grupos tinham o
objetivo de agregar membros que obedecessem os critérios de adesão à causa do partido. A sede
nacional do Partido localizava-se primeiramente na cidade do Rio de Janeiro, em virtude que a
embaixada alemã estava instalada no mesmo local. Quando Hans von Cossel se torna a
liderança do partido no Brasil, a sede da seção brasileira do NSDAP transfere-se para a cidade
de São Paulo, local onde estava instalado a redação do Deutscher Morgen, periódico no qual
Cossel publicava regularmente. 58

Falar sobre os membros do partido torna-se uma questão interessante. Não se pode
afirmar que todos os alemães eram nazistas59, parafraseando Hannah Arendt60, seja na
Alemanha hitlerista, sejam nas vinculações do partido ao redor do globo. Da mesma forma,
nem todos os alemães poderiam pertencer à organização. De acordo com as determinações da

58
Deutscher Morgen (Aurora Alemã) foi um periódico com sede em São Paulo, atuante como porta voz oficial do
Nacional-Socialismo no Brasil.
59
ARENDT, Hannah. “Eichman em Jerusalem”, São Paulo, Companhia das Letras, 1999.
60
Luís Edmundo de Moraes valeu-se de importante análise ao relativizar o conceito de “banalidade do mal”
cunhado por Arendt, além de sua errônea utilização pela historiografia sobre o Nazismo. O extermínio dos judeus
em si não se trata de uma “banalidade”. Não haveria “monstruosidade” inata aos comandantes das forças nazistas,
como muitas vezes o Eichman foi descrito, mas a atividade de membros embebedados por ideologia e que seguiam
friamente as determinações de seus superiores. O projeto de Adolf Hitler era executado por funcionários que
trabalhavam assiduamente para o führer, das secretárias que preenchiam dados, aos carregadores dos gases
utilizados nas câmaras de extermínio. MORAES, Luís Edmundo de. “A filósofa e a máquina de extermínio
nazista”. Disponível em: https://blogs.oglobo.globo.com/prosa/post/a-filosofa-a-maquina-de-exterminio-nazista-
504064.html. Acesso em 25 de Dezembro de 2018.
39

A.O., apenas os alemães com cidadania alemã poderiam adentrar ao partido. Isto porque os
membros não estavam subordinados à esfera local, mas diretamente à matriz na Alemanha. Esta
determinação mantinha relação com a ideologia ariana, a qual a pureza da raça era questão
primordial para a construção do Reich. Como afirma Dietrich,

“A questão da raça era tão importante que foi proibida a participação de não-
alemães – ainda que descendentes – no partido nazista. O partido seria formado
por esta grande ‘raça de eleitos’, que foi chamada de uma espécie de ‘elite do
Führer’. Os integrantes desta comunidade étnica nazificada eram os portadores da
cidadania alemã. Não haveria então a disposição de divulgação da ideologia
nazista para estranhos. Assim, esta elite viveria em uma espécie de gueto e o
nazismo funcionaria, então, como se fosse uma seita.”61

O Partido Nazista que se propaga pela Alemanha e estende sua influência pela Europa
“germanizada” não é, definitivamente, o mesmo que se espalha pela a América Latina e o
Brasil. A ideologia nacional-socialista formou-se em um contexto específico. A Alemanha
bismarckiana havia se tornado um poderoso império no século XIX. A perda da Grande Guerra,
a humilhação de uma nação diante das cláusulas do Tratado de Versalhes e o terror da
hiperinflação, aliado à depressão econômica, encontraram uma liderança que viveu todos estes
momentos, transformou-os em um elaborado discurso e o direcionou aos alemães “eleitos”. Os
nazistas ascendem gradativamente ao poder. Seu domínio político e militar sobre a Alemanha
se dá por um importante critério: o apoio expressivo e de diferentes setores da sociedade,
incluindo operários, burgueses, conservadores e religiosos. A Alemanha nazista tende ao
totalitarismo, passando a interferir diretamente na vida de cada cidadão, desde o seu
nascimento, de forma rígida, militarizada. Ein Reich, Ein Volk, Ein Führer.62

No Brasil, o nazismo precisa lidar com questões específicas e extremamente distantes


do contexto alemão. Assim que os ideais do nacional-socialismo chegam ao Brasil, estes sofrem
diretamente as influências da esfera local. Ocorre o processo de “tropicalização do nazismo”63.
A sessão brasileira do NSDAP encontra suas próprias especificidades no contexto brasileiro,
ainda que buscasse manter de forma ortodoxa os princípios do führer. Praticavam o
anticomunismo e o antissemitismo, como orientação da A.O; a repulsa aos comunistas era

61
DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa
de Pós-Graduação em História Social). p. 146.
62
Pelo Reich, Pelo Povo, Pelo Führer!.
63
DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa
de Pós-Graduação em História Social).
40

aceitável na medida em que Getúlio Vargas possuía aversão à esta ideologia, contando com o
apoio da própria GESTAPO para reprimir os revolucionários no Brasil; em relação aos judeus,
não seria permitido que alemães saíssem às ruas agredindo pessoas e depredando seus
patrimônios. O Brasil não era uma nação antissemita, pelo contrário. Contava com muitos
judeus, presentes em diversos estados. A forma que o partido encontrou para expressar o
antissemitismo se deu, acima de tudo, pela imprensa. O jornal Deutscher Morgen, por exemplo
publicou “muitos artigos anti-semitas e possuiu uma coluna dedicada exclusivamente ao
assunto”64. Ainda assim, direcionavam os ataques aos judeus alemães, com a finalidade de
minimizar o impacto no Brasil e desta forma, evitando ser cassados pelo Estado.

Além da questão dos judeus e comunistas, A sessão brasileira do NSDAP teve que lidar
com três pontos definitivos e específicos, diferentes do contexto da Alemanha. No Brasil, havia
grande número de negros e indígenas, considerados pelos nacional-socialistas como “sub-
raças”. Era inadmissível para a construção do Reich o contato com essas etnias. O próprio Adolf
Hitler discursara sobre essa questão. Em suas palavras,

“A América do Norte, cuja população decididamente na sua maioria se compõe de


elementos germânicos que só muito pouco se misturam com povos inferiores e de
cor, apresenta outra humanidade e cultura do que a América Central e do Sul, onde
os imigrantes, quase todos latinos, se fundiram, em grande número, com os
habitantes indígenas. Bastaria esse exemplo para fazer reconhecer clara e
distintamente o efeito da fusão de raças (...) 65

Outro ponto pertinente sobre a questão nacional gira em torno da distância entre
germânicos e teuto-brasileiros. Os alemães germânicos, os únicos que poderiam se filiar ao
partido, seguindo as orientações da A.O. (para manter a pureza de acordo com os princípios
ideológicos do Reich) tiveram de confrontar os teuto-brasileiros que aderiram à um movimento
fascista específico do contexto brasileiro: a Ação Integralista Brasileira (AIB). Esta organização
tivera laços estreitos com os nazistas em diferentes esferas. Simpatizavam com os mesmos
objetivos: eram conservadores, nacionalistas e anticomunistas. Prezavam por um Estado forte
e coeso. Contudo, disputavam o mesmo espaço de poder político, iniciado na esfera simbólica,

64
Idem, p. 128.
65
HITLER, Adolf. apud DIETRICH, Ana Maria. In: “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo,
2007. Tese (Programa de Pós-Graduação em História Social). p. 128.
41

como a cor das vestimentas, nas saudações, pois os integralistas utilizavam o “Anauê”, uma
palavra de origem tupi-guarani que significa “você é meu irmão”; e nos símbolos, uma vez que
este grupo usava o caractere grego “sigma” (Σ) como emblema, que possui significado de
“somatório”. Tudo isso equipara-se ao Heil Hitler e ao uso de suásticas pelos nazistas. Em
síntese, se os nazistas aproximaram-se dos integralistas, logo estariam em disputa simbólica
pela propagação ideológica e domínio do campo político, havendo inclusive o conflito entre
alemães germânicos e teuto-brasileiros.

O Partido Nazista no Brasil teve que lidar com um ponto extremamente delicado:
Getúlio Vargas. O presidente brasileiro possuía relações diplomáticas amistosas com a
Alemanha. Não havia objeções quanto aos nazistas no Brasil, que propagavam o ethos
germânicos nos periódicos, em festas e em instituições diversas. De 1928 à 1938, o partido
funcionou de forma livre. Com o advento do Estado Novo, entre os anos de 1937 e 1938, os
partidários passaram a sofrer processos de repressão por parte do Estado, a “caça às suásticas”.
Instituições trocaram de nome, o uso do alemão foi proibido nas igrejas, nas escolas e na
imprensa. Tudo pela nacionalização getulista. Acredita-se que até mesmo os alemães que nada
tinham ligação com o Nacional-Socialismo tenham sofrido forte repressão por parte da polícia-
política getulista. O Partido passa a atuar na clandestinidade a partir deste momento, atingindo
o ápice em 1942, quando o Brasil toma o lado dos aliados na Segunda Guerra Mundial. Neste
ponto, os alemães passam a ser considerados inimigos do Estado e as organizações partidárias
passam a ser consideradas crimes de guerra. Era a queda sessão brasileira do Partido Nacional
Socialista dos Trabalhadores Alemães.

Desta forma, percebe-se como a atuação do nazismo no Brasil ocorre em aspectos muito
diferentes da atuação na Alemanha. As comemorações de datas especiais no Brasil pelos
alemães, por exemplo, estavam sujeitas às questões nacionais, como a obrigação em se executar
o hino brasileiro. O Partido precisou atuar, segundo as orientações da A.O., em esferas de apoio
à sede em Berlim, principalmente com subsídios financeiros, fruto de arrecadações dos
membros do partido no Brasil. Foi preciso também, respeitar as esferas locais, não interferindo
diretamente nas questões políticas nacionais. Então, em virtude de todas estas questões
singulares, acredita-se que o Partido Nazista no Brasil tenha sido “tropicalizado”.
42

Capítulo 03 – O Partido Nazista em Nova Friburgo.

Como apresentado no capítulo anterior, é possível dizer, com base em ampla literatura
acerca do nazismo e pautando-se na recente historiografia sobre os estudos do Nacional-
Socialismo e sua dispersão pelo globo, que estruturas específicas de cada local, sejam elas
políticas, culturais, sociais ou econômicas, influenciaram diretamente na forma de
funcionamento do Partido. Nesse sentido, Dietrich conceituou que no Brasil, o NSDAP foi
“tropicalizado”, significando que as questões nacionais brasileiras impossibilitaram ou
direcionaram os planos do partido. Durante a Era Vargas, como exemplo, o partido vivenciou
períodos de apoio e repulsão, mediante as ações getulistas do Estado Novo. Este capítulo tem
como objetivo investigar o funcionamento do Partido Nazista em Nova Friburgo, acreditando-
se que a “tropicalização” se afunila de região para região. Vale lembrar ainda, que não se trata
de uma análise definitiva, uma vez que faço uso de importante bibliografia como fonte
secundária, de historiadores que já analisaram estes aspectos. A diferença da abordagem que
será produzida consiste na relação com produções recentes sobre os estudos do nazismo no
Brasil e investigação de fontes primárias não abordadas em sua totalidade. Ainda há muito a
ser investigado.

Antes de iniciar a discussão específica deste item, é pertinente recapitular de forma


sintética alguns pontos da história de Nova Friburgo com ênfase na trajetória da imigração
europeia e alemã. Nova Friburgo era, durante o império, uma das maiores vilas da região
Centro-Norte fluminense e com notória capacidade produtiva. Ali, o comércio atuava de forma
considerável e de grande referência. Com a construção da estrada Leopoldina Railway, o café
produzido em Cantagalo, uma das mais importantes regiões do Vale do Paraíba, poderia ser
escoado até o Rio de Janeiro. Ainda durante o Primeiro Reinado, D. João VI iniciou um projeto
imigratório com a finalidade de “branquear” a população brasileira, tendo em vista que a Europa
era o modelo de civilização e sofisticação. Naquela altura do século XIX, propagava-se o
ethos66 burguês pelo mundo, e não existia exemplo melhor para personifica-lo do que o europeu.
No decorrer do Oitocentos, algumas levas de imigrantes se espalharam pelo Brasil, com
destaque para as regiões Sul e Sudeste. Gradativamente, a “Vila de São João Batista” crescia
em termos econômicos, populacionais e políticos até tornar-se a “Nova Friburgo”.

66
De acordo com Pierre Bourdieu, ethos são as características que classificam um grupo e orientam,
silenciosamente, a conduta de um indivíduo, de acordo com seus costumes, signos, tradições e outros vínculos de
sociabilidade comuns. BOURDIEU, Pierre. “O Poder Simbólico”. Rio de Janeiro, Edições 70, 2014, p. 57.
43

Os primeiros imigrantes foram os suíços, tão logo seguidos pelos alemães. No


centenário de Nova Friburgo, em 1918, Galdino do Valle Filho67, jornalista, médico e com
grande capital político68 foi o responsável pela criação do mito da “suíça brasileira”. Desta
forma, Nova Friburgo tentava apagar o seu passado com a escravidão, considerada retrógrada,
valendo-se do poder simbólico exercido por importantes personalidades políticas para criar o
mito da Suiça Brasileira: a terra construída por mãos de imigrantes europeus. Este contexto
demonstrava o plano de Galdino do Valle Filho, representante do grupo liberal que almejava
industrializar Nova Friburgo. Para isso, fazia-se necessário construir uma “comunidade
imaginada”69, que funcionasse como atrativo aos imigrantes e à industrialização. O potencial
populacional e simbólico aguardava apenas pelo capital econômico e industrial, para que estes
pontos somados construíssem a Nova Friburgo, industrializada, sofisticada e forjada pelas mãos
da civilização europeia. Mas, por que a preferência pela Suíça e não pela Alemanha, se os
alemães se encontravam em maior número e possuíam maior capital social, político e
econômico? A justificativa se dá em virtude do contexto da Primeira Guerra Mundial, pois a
Alemanha era inimiga do Brasil na Grande Guerra. Logo, optou-se pela Suíça como a grande
referência da imigração europeia na cidade de Nova Friburgo. Todavia, isso não era nenhum
empecilho ao projeto liberal modernizador, pelo contrário. Serviu muito bem aos interesses das
elites industriais do capital estrangeiro.

Nova Friburgo possui uma relação próxima com a história alemã. Desde o século XIX,
imigrantes alemães propagaram-se pela região e foram se estabelecendo gradativamente. Com
eles, muitas práticas culturais e de sociabilidade foram trazidas, destacando-se as instituições,
como a Igreja Luterana, a primeira da América Latina. Importantes famílias de alemães já
atuavam na cidade nos diversos ramos, desde as zonas agrícolas ao comércio, com destaque
para lojas, sapatarias e alfaiatarias. A ascensão germânica e sua expressiva atuação na cidade
se dá a partir de 1910, em virtude da conquista da concessão da exploração de energia na cidade

67
Importante político de Nova Friburgo, parte da corrente moderna favorável à industrialização, atuando na
oposição às oligarquias da Primeira República. Proprietário do jornal “A Paz”, militou assiduamente na imprensa
e na Câmara em favor da industrialização, conquistando a concessão da exploração de energia elétrica ao alemão
Julius Arp. COSTA, Ricardo Gama da. Visões do Paraíso Capitalista: Hegemonia e Poder Simbólico na Nova
Friburgo da República. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 1997, p. 40.
68
O conceito de capital foi definido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieau em seu livro “O Poder Simbólico”.
Significa, em linhas gerais, a acumulação, de poderes em um determinado campo (político, econômico, social,
etc). Desta forma, permite ao indivíduo ou instituição manifestar os status e prestígios acumulados em um
determinado campo, evidenciando sua posição de destaque. BOURDIEU, Pierre. “O Poder Simbólico”. Rio de
Janeiro, Edições 70, 2014.
69
O conceito de “comunidade imaginada” foi formulado por Benedict Anderson, com a tentativa de explicar
vínculos que unissem diferentes cidadãos por uma mesma causa ou propósito. Desta interação, formam-se laços
identitários intangíveis, que permitem a construção de uma comunidade tangível.
44

pelo industrial Julius Arp, com notória atuação de Galdino do Valle Filho na Câmara de Nova
Friburgo para a efetivação desta mudança. Galdino sofrera forte oposição, já que “o Legislativo
Municipal era contrário às pretensões de Galdino, pois a concessão da energia elétrica, de sua
competência, havia sido dada, em 1906, ao Coronel Antônio Fernandes da Costa, ligado à
facção política dominante”.70 A assídua militância de Galdino do Valle Filho na imprensa,
através de seu jornal “A Paz”, aliada com sua importância política na cidade e sua efetiva
participação na Câmara triunfaram, uma vez que a população passou a pressionar a Câmara
pela transferência da concessão. A exploração da energia era a condição primeira para a vinda
de indústrias teutônicas.

Nova Friburgo, que já contava com expressivo número de germânicos, seguiria com o
projeto de modernização industrial liderado por mãos alemãs. Com a conquista da exploração
de energia, o processo industrializador não tardaria acontecer.

“Logo, durante as décadas de 10 e 20, Friburgo via instaladas as primeiras


fábricas têxteis (Fábrica de Rendas ARP – MARKEIS SINJEN & CIA. – 1911;
Fábrica Ypu – MAXIMILIAN FALCK & CIA. – 1912; Fábrica Filó S/A – principais
acionistas: Gustav Siems e seu filho, Ernst Otto Siems – 1925) e outras, além da
criação da Companhia de Elitricidade, com capital privado do grupo Arp, o qual,
por sinal, teria ações em todas essas fábricas, constituindo-se no principal
representante dos capitais alemães em Friburgo.71

As fábricas tinham uma determinação fundamental para sua instalação na cidade de


Nova Friburgo. Além do conglomerado germânico atuante na região, a Alemanha enfrentava
uma forte crise pós Primeira Guerra Mundial. Vendo-se na necessidade de continuar com o
progresso dos negócios, coube aos industriais encontrar um local para a continuidade dos
processos produtivos. A cidade ofertava as condições necessárias para a instalação destes
industriais, como baixos impostos e mão-de-obra barata e abundante, que abrangia grande
número de mulheres, crianças, trabalhadores do campo e, obviamente, pessoas com raízes
teutônicas. Além disso, o historiador João Raimundo de Araújo determinou alguns fatores para
a instalação industrial em Nova Friburgo, tais como: 1) o Rio de Janeiro seria o principal
mercado consumidor dos artigos produzidos em Nova Friburgo, o que seria muito bom do

70
COSTA, Ricardo Gama da. Visões do Paraíso Capitalista: Hegemonia e Poder Simbólico na Nova Friburgo
da República. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 1997, p. 40.
71
Idem, p. 41.
45

ponto de vista econômico e estratégico, já que Friburgo detinha as condições necessárias para
ampla produção, e o Rio contava com um amplo mercado e capacidade de recepção e
exportação; 2) Julius Arp tinha como primeira intenção instalar as fábricas alemãs em Santa
Catarina, local que, assim como o Rio de Janeiro, contava com expressivo número de alemães.
Contudo, os altos impostos catarinenses, que eram inexistentes no Rio, influenciaram para a
tomada de decisão por Nova Friburgo; 3) por fim, Friburgo já contava desde o século XIX com
expressiva colônia alemã, incluindo a Igreja Luterana e um cemitério alemão, além do fato de
que a cidade ofertava forte infraestrutura urbana, pontos estes que garantiriam o sucesso e o
conforto. 72
Iniciada por Peter Julius Arp, considerado “Conselheiro” pelo Kaiser alemão, e
continuada por Maximilliam Falck e Otto Siems, foram os responsáveis por fundar as
respectivas fábricas Arp, Ypu e Filó, da qual concentrava grande contingente de trabalhadores
e contribuía de forma considerável para a produção industrial do Estado73. A atuação destes
personagens garantiu-lhes o status de formarem a “Trindade Teutônica”. Friburgo tornava-se,
a partir dos investimentos destes homens, uma cidade expressiva no cenário nacional. Desta
forma, os alemães constituíram forte capital econômico, político e simbólico na Nova Friburgo
republicana, da qual influenciaram de forma singular a sociedade friburguense dos anos 30.

Como afirma o historiador Ricardo Gama da Costa, Nova Friburgo chegava aos anos 30
como uma das principais cidades do interior do Estado, com uma população estimada em
37.000 mil habitantes, dos quais mais da metade residiam no Primeiro Distrito, local onde
concentrava-se as principais indústrias, que arregimentavam aproximadamente 5.000 mil
trabalhadores. Além do alto número de proletários, destacavam-se também o setor de turismo
e hotelaria, em conjunto com o comércio. 74

Os industriais alemães Julius Arp e Maximilliam Falck fundaram em 1921 a Deutscher


Schul und Kirchenverein, ou Sociedade Alemã de Escola e Culto, com a finalidade de
integralizar a colônia alemã de Nova Friburgo e difundir os costumes germânicos. A
comunidade germânica estaria reunida em um espaço de sociabilidade, na qual estava presente
a Igreja Luterana e também uma escola para filhos de operários. A Sociedade possibilitava aos

72
ARAÚJO, João Raimundo de. Indústria em Nova Friburgo. In: “Teia Serrana”. Rio de Janeiro, Editora Ao Livro
Técnico, 2003, p. 185.
73
O periódico germânico “Der Deutsche Zeitung”, publicado no Rio de Janeiro, noticiava em março de 1928, data
do aniversário de Arp, elogios através de um longo artigo, como “o que ele tem desenvolvido como membro da
colônia alemã, servindo a sua cultura em atuação extraordinária não deixa nada a desejar em relação a sua
atividade comercial [...]” FISCHER, E. C. “Uma História em Quatro Tempos”, N. Friburgo, Tipografia da
Fábrica de Rendas Arp, 1986.
74
COSTA, Ricardo Gama da. Os Anos Trinta: A Escalada Autoritária. In: “Teia Serrana”. Rio de Janeiro, Editora
Ao Livro Técnico, 2003, p. 242.
46

industriais consultar os sobrenomes das famílias filiadas e assim, priorizar os germânicos para
o trabalho nas indústrias alemãs. Até 1942, a Sociedade Alemã de Escola e Culto funcionaria
de forma aberta, com notoriedade na cidade de Nova Friburgo. Seu nome estaria presente em
importantes eventos e festas comemorativas do Brasil e da Alemanha. Para além das
manifestações culturais, a Sociedade tinha o papel fundamental de propagar a germanidade
entre os seus, tanto pela religião, como por aulas de alemão oferecidas aos membros e acima
de tudo, pelas festividades promovidas em memória à pátria mãe.

Os anos de 1930 seriam de muita importância para a comunidade germânica em todo o


mundo. A ascensão do Nazismo pelas mãos de Adolf Hitler era vista com muito bons olhos
pela comunidade alemã de Nova Friburgo. Logo, muitos teuto-friburguenses passariam a bradar
com orgulho a suástica que havia restaurado a glória da sua pátria-mãe, fazendo da Alemanha
uma potência mundial novamente. No mesmo caminho, importantes alemães que estiveram
envolvidos com Galdino do Valle Filho no processo de modernização e industrialização de
Friburgo passariam a aliar seus discursos com as bandeiras do Nacional-Socialismo, opondo-
se ferrenhamente ao Comunismo e o Liberalismo ocidental. O capitalismo deste grupo
preenchia-se de conservadorismo aos modos germânicos da Alemanha de Adolf Hitler.

Como já apresentado no primeiro capítulo, o historiador Luís Edmundo de Moraes


mapeou 2822 membros do Partido Nazista distribuídos no Brasil até o ano de 1941. O Brasil
contava com um número de 89.071 alemães residentes, de acordo com o senso de 1939, dos
quais 2490 estavam filiados às células do Partido Nazista pelas regiões Sul e Sudeste. Deste
número, 1339 membros partidários estavam na região Sudeste, mais especificadamente, 41
membros no Espírito Santo, 66 membros em Minas Gerais, 447 membros no Rio de Janeiro e
785 membros em São Paulo. Dos 447 partidários no Rio de Janeiro, 44 estavam em Nova
Friburgo, que só ficava atrás de Niterói, com 53, e da capital, com 26775. Da análise destes
números, é possível perceber a expressão de Nova Friburgo para o funcionamento do Partido
Nazista no Brasil. Vale lembrar, como já destacado nas páginas anteriores, que a filiação ao
NSDAP não era por qualquer membro. Em determinado ponto, até mesmo os teuto-brasileiros
foram impedidos de se filiarem, quando a participação fora restringida, de acordo com a
Auslandsorganization (AO), aos alemães que possuíssem cidadania alemã.

75
MORAES, Luís Edmundo de Souza. “Ein Volk, Ein Reich, Ein Füher! A Seção Brasileira do Partido Nazista e
a Questão Nacional”. Rio de Janeiro, 1996. Dissertação (Antropologia Social) – Museu Nacional da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. pp. 195-197.
47

Como as principais lideranças do Partido Nazista de Nova Friburgo eram também


importantes membros das direções das indústrias e, consequentemente, membros eméritos da
Sociedade Alemã de Escola e Culto, a instituição passou a ser também a sede dos partidários
do Partido Nazista residentes em Nova Friburgo. A sociedade tinha por princípios integralizar
a comunidade germânica presente na cidade, promovendo eventos e comemorações, tendo por
finalidade criar vínculos entre as diferentes famílias teutônicas residentes na região. Além das
datas comemorativas alemãs, como o dia do Trabalho em 1º de Maio76, muito comemorado
pelos trabalhadores na Europa, a Sociedade Alemã também oferecia atividades diversas, como
curso de alemão aos integrantes, também adotado pela Escola que era voltada ao filho dos
membros, reconhecida por sua rigidez. O ponto primordial da Sociedade consistia na interação
entre os diferentes alemães. Ao se tornarem membros efetivados, além de desfrutarem das
instalações, dos espaços de lazer, dos serviços, ritos e festas promovidos pela Sociedade, os
associados eram também categorizados e classificados, formando uma espécie de irmandade
germânica. Uma vez que as principais indústrias friburguenses estavam sob controle de
dirigentes alemães, os membros eram gradativamente alocados nos postos das fábricas. 77 No
ano de 1933, um fato muito inusitado foi responsável por grande comoção entre os operários
de uma fábrica, repercutindo em escala nacional e que culminou em um terrível desfecho. Este
episódio será melhor detalhado em parágrafos seguintes e comprova tal favorecimento dos
alemães pelos industriais de Nova Friburgo.

Os anos 1930 marcam também o apoio irrestrito aos regimes ditatoriais, devido à
falência das economias liberais após os eventos da crise norte-americana de 1929. A grande
depressão que atingia o mundo capitalista encontrava forte oposição e resistência por todo o
globo, enquanto simpatizantes se apegavam aos modelos centralizadores de Benito Mussolini
e Adolf Hitler como forma de oposição e superação. Em Nova Friburgo, o periódico O
Friburguense noticiava, após os eventos da Revolução de 1930 que depusera os antigos
princípios da República Oligárquica e lançara Getúlio Vargas ao poder, pelas mãos do colunista
Helio de Araújo Maia, a manchete “Ditadura de mais? Não. Ditadura de menos”78, defendendo
a força de um regime centralizado e forte, capaz de controlar uma nação.

76
COSTA, Ricardo Gama da. Visões do Paraíso Capitalista: Hegemonia e Poder Simbólico na Nova Friburgo da
República. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 1997, p. 80.
77
SILVA, Luiz Henrique da. Um Mundo na Sociedade. Nova Friburgo, Atlas Artes Gráfica, 1990, p. 35.
78
COSTA, Ricardo Gama da. Visões do Paraíso Capitalista: Hegemonia e Poder Simbólico na Nova Friburgo da
República. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 1997, p. 65.
48

Os impactos da Primeira Guerra Mundial e da Crise de 1929 lançaram à Alemanha ao


colapso econômico, como já apresentado no primeiro capítulo. Adolf Hitler, contudo, faria dos
anos 1930 primordiais para a recuperação econômica da Alemanha e consequentemente,
justificando o carisma de diversos simpatizantes ao redor do mundo por seu carisma. A
Sociedade Alemã de Escola e Culto atuou como palco de diversos encontros e reuniões da
comunidade germânica de Nova Friburgo, que comemoravam as festividades alemãs, como o
“Dia do Trabalho” instituído em Primeiro de Maio por Hitler desde 1932, e o “Dia do Colono”,
estabelecido pelo então prefeito Hugo Motta, em 1935. Além das recorrentes reuniões solenes
e das cerimônias que aconteciam na Sociedade, a recuperação econômica da Alemanha passou
a ser também motivo de grande euforia entre a comunidade teutônica de Nova Friburgo. Como
destaca o historiador Ricardo Gama da Costa, “Nos anos 30, a colônia alemã de Friburgo se
reunia com frequência na sede da Sociedade para comemorar o retorno de seu país natal à
condição de potência europeia, recuperando-se da situação considerada por eles humilhante
ao fim da Primeira Guerra Mundial.”79 Importantes jornais como O Friburguense e O Nova
Friburgo noticiaram diversas ocasiões de expressivas reuniões entre os anos de 1932 e 193980
ocorridas na Sociedade Alemã, com menção honrosa ao nome de Hitler e ostentação à suástica
do Reich Alemão, além de muitas colunas de apoio aos seus feitos políticos do período
antecedente à Segunda Guerra Mundial.

No editorial de 22 de Dezembro de 1932, O Nova Friburgo informava sobre a


solenidade de Natal ocorrida no salão principal da Sociedade Alemã, o qual estava
esplendorosamente ornamentado para a ocasião. Membros da comunidades germânica e italiana
desfrutaram de boa música, comida e bebida. Os partidários do Nacional-Socialismo estavam
à caráter com suas “camisas-pardas”, juntamente com membros apoiadores do fascismo
italiano, igualmente à rigor. A comemoração do Natal dava espaço para o enaltecimento de
Adolf Hitler e seus feitos na Alemanha81, o qual a coluna descrevia a doutrina Nacional-
Socialista como portadora de “milhões de apoiadores por todo o globo”. Desta forma, não seria
diferente que a comunidade alemã de Nova Friburgo se mobilizasse, pois havia motivos para
festejar. A manchete ainda descrevia que “à frente do palco estendiam-se os pavilhões
brasileiro e allemão, e ao fundo via-se uma allegoria, de onde se destacava entre flores e

79
Idem, p. 77.
80
Mesmo após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em pleno poder do Estado Novo, ainda circulava menções
ao Nacional-Socialismo. Este tipo de prática torna-se extinto de forma definitiva apenas em 1942, quando o Brasil
entra no conflito global ao lado dos aliados, declarando guerra à Alemanha.
81
no contexto das eleições presidenciais alemãs de 1932, que mesmo com a derrota de Hitler, o levaram à
nomeação ao posto de Chanceler do Reich pelo então presidente Hindenburg.
49

emblemas característicos, a esffigie de Adolf Hitler.”82 A festividade foi interrompida poucas


vezes, apenas para os discursos de Edmund Weber, membro da colônia alemã, que ao fim de
sua fala bradou “viva à Benito Mussolini”, sendo calorosamente correspondido. Emílio Cleff,
diretor da Fábrica Ypu e líder dos nacional-socialistas em Nova Friburgo, encerrou o discurso.

“Encerrando o programa, o Sr. Emilio Cleff, estimado diretor-gerente da Fábrica


Ypu, figura de elevado conceito na família friburguense, elemento de alto destaque
na Sociedade Alemã, e chefe dos nacionais-socialistas nesta localidade, proferiu
emocionante alocução, enaltecendo a personalidade e os ideais de Hitler e
apontando os deveres que cabem aos alemães no Brasil para com a pátria e para
com a generosa terra que tão gentilmente os hospeda, sendo as suas últimas
palavras abafadas por uma estrepitosa salva de palmas.” 83

Terminada a fala de Emilio Cleff, o salão principal reverberaria novamente com o som
de violinos e demais instrumentos da orquestra local, muito elogiada na ocasião, dando
continuidade à festa.

Solenidades como a comemoração do Natal de 1932 pela comunidade germânica


tornaram-se comuns nos anos 30. O salão principal da Sociedade Alemã de Escola e Culto seria
por diversas vezes adornado com as cores do Reich Alemão, na qual erguiam-se suásticas,
cantavam-se o hino do Brasil e da Alemanha e professavam-se calorosos discursos em
homenagem à Adolf Hitler. O dia do Trabalho Alemão, comemorado em 1º de Maio de 1933,
foi também de grande comoção na Sociedade Alemã, noticiado pelo periódico O Friburguense.
Deste evento, participaram novamente, os executivos das principais indústrias, como Richard
Otto Ihns, que enalteceu a comunidade germânica.

No dia 20 de Abril de 1935, a Sociedade entrava em ritmo caloroso de festa para


comemorar o aniversário de 46 anos de Adolf Hitler. Nesta solenidade, estavam presentes o
presidente da Sociedade Alemã, Frederico Writte, além de Edmundo Weber, Richard Ihns,
Emilio Cleff e outros importantes nomes ligados aos industriais alemães e ao Nacional-
Socialismo. Sob os gritos eufóricos de “viva o Brasil” e “viva a Alemanha”, a cerimônia
prosseguiu com muita música, comes e bebes, com discursos acalorados e com a execução dos
hinos do Brasil e da Alemanha. Estavam presentes também membros da comunidade italiana e

82
O Nova Friburgo, 22/12/1932, p. 3
83
Idem.
50

simpatizantes do Fascismo, assim como membros da Ação Integralista Brasileira (AIB),


liderados pelo professor Júlio Ferreira Caboclo, do qual proferiu calorosa saudação à Adolf
Hitler. Os membros da AIB também estavam devidamente trajados, com suas vestimentas
oficiais e ostentando o emblema do sigma (Σ) em seus braços. As comemorações foram
iniciadas com o discurso de Hanz Abendroth, secretário da Sociedade Alemã, o qual proferiu a
trajetória de Adolf Hitler, enfatizando os dias de soldado na Primeira Guerra, o colapso da
Alemanha pós-Guerra, a ruína dos dias durante a depressão econômica e a escalada do Partido
Nacional-Socialista e sua triunfante ascensão ao posto de Chanceler do Reich. Outras ilustres
personalidades também participaram ativamente da festividade, como o professor J. Nunes da
Rocha e o Sr. José Mastrangelo, representante da Associação Comercial e da Liga dos
Proprietários, responsáveis por proferirem o principal discurso do dia, o qual parabenizava à
Adolf Hittler, chefe da “nobre nação alemã”, do qual os feitos possibilitaram a redenção e
crescimento da pátria. Também louvavam à Trindade Teutônica, composta por Julius Arp,
Maximillianus Falck e Otto Siems, fundadores das primeiras indústrias alemãs em Nova
Friburgo. Desta forma, a comunidade germânica abarrotava os salões da Sociedade Alemã e
comemorava o 46º aniversário de Adolf Hitler.84

No dia 06 de Agosto de 1936, a manchete principal do jornal O Nova Friburgo


divulgava a festividade ocorrida na Sociedade Alemã. Na ocasião, participaram muitas pessoas
e membros das comunidades alemã, italiana e suíça. Mais uma vez, o salão principal da
Sociedade resplandecia beleza, estando este altamente ornamentado e caracterizado com faixas
e cartazes, além das bandeiras da Suíça, do Brasil e da Alemanha Nazista. O motivo da
comemoração era o “Dia do Colono”, que havia sido instituído pelo então prefeito de Nova
Friburgo, Hugo Motta.

As festividades que ocorriam na Sociedade Alemã eram símbolo da força que a


comunidade germânica detinha na sociedade friburguense dos anos 30, evidenciando-se o poder
simbólico deste grupo. Não se tratava apenas das comemorações e reuniões; eles ostentavam o
título de “principal colônia” e matriz da industrialização de Friburgo. Isso está claro quando
importantes setores de Nova Friburgo garantiam apoio ao grupo germânico, como evidenciado
nos editoriais dos principais jornais da cidade – que em si, já garantiam apoio à comunidade
alemã. Personalidades notórias, atuantes nos ramos da indústria e comércio, participantes de
tradicionais instituições e que tinham, por algum motivo, ligações diretas com os membros da

84
O Nova Friburgo, 28/04/1935.
51

comunidade germânica e com o diretório do partido Nacional-Socialista friburguense, que por


sua vez, eram pessoas de muito prestígio social em virtude da concentração de capital político,
fruto de um processo histórico e da construção de uma comunidade imaginada.85 Emílio Cleff,
o líder dos Nacional-Socialistas de Nova Friburgo, era diretor-gerente da fábrica Ypu, homem
86
de muito prestígio na cidade e em meio à comunidade alemã. Em conjunto com Cleff,
estavam Edmundo Weber e Richard Otto Ihns, pessoas que também ocupavam altos cargos nas
principais indústrias e gozavam de alto prestígio social.

Um episódio notório e que nos auxilia na ideia de que estes homens eram grandes
detentores de capital político foi a greve geral ocorrida na fábrica de Rendas Arp, no ano de
1933. Dentre os principais fatores da greve, estava a coerção do gerente da fábrica, Richard
Ihns, com os trabalhadores alemães, em conjunto com sua severidade com os demais operários.
Em editorial do dia 12 de Janeiro, o jornal O Nova Friburgo dedicou inúmeras páginas para a
tragédia ocorrida com grevistas, que reivindicavam melhores condições de trabalho e
condenavam assiduamente a postura de Richard Ihns frente à gerência da fábrica, com o
beneficiamento dos alemães e o martírio dos outros operários. Segundo o editorial,

“alegam os grevistas, em sua quase totalidade, que o senhor Richard Ihns, além de
admoestai-os, sem causas justificáveis, com palavras ásperas de não responder
sequer à um simples cumprimento de cortesia e de permitir que no fim das
quinzenas o envelope de pagamento contivessem quantias inferiores àquelas que
deviam encerrar, ainda teve o desplante de despedir seis operários, com a pseuda
paralização de várias máquinas, a fim de colocar com o salário assim obtido, um
de seu compatriota.87

Além da demissão de seis operários, houve a demissão de um sétimo, que ocupava o


cargo de supervisor e detinha 14 anos de fábrica, sendo respeitado por quase todos os operários
da fábrica de Rendas. Assim como o jornal relata, as somas dos funcionários demitidos eram
destinadas ao salário de trabalhadores alemães, assim como seus cargos.

85
O processo de industrialização, com a instalação das primeiras indústrias alemãs e consequentemente, com o
rápido crescimento econômico, garantiram o status que os membros da comunidade germânica ostentava na Nova
Friburgo dos anos 30, o de patriarcas do desenvolvimento da cidade.
86
Como noticiado pelo editorial do jornal O Nova Friburgo, dia 22 de Dezembro de 1932.
87
O Nova Friburgo, 12/01/1933, p. 1-2.
52

Este episódio rendeu fortes acusações ao senhor Richard Ihns, convocando a


participação de importantes pessoas na investigação dos acontecimentos, como o prefeito Hugo
Motta, o conselheiro Julius Arp – patrono da fábrica em que Ihns exercia o cargo de gerência –
, Dante Laginestra e Antonio Soares Macedo, suplente de delegado e subdelegado,
respectivamente e Augusto Cardoso, colaborador do jornal O Friburguense. Além destas
personas, estiveram presentes também a diretoria do sindicato de Nova Friburgo, o
representante da federação proletária do Estado do Rio e o representante do Ministro do
Trabalho, Pedro dos Santos. Todos estes estiveram presentes na comissão que investigava e
acusava o senhor Richard Ihns, comprovando a notoriedade do caso não apenas em esfera
municipal, mas também estadual e federal. O Nova Friburgo criticava ferrenhamente o
desenrolar dos acontecimentos, afirmando que “engana-se redondamente o sr. Richard Ihns,
pretendendo implantar o seu velho regime na Fábrica de Rendas, porque com os que ali
trabalham estamos nós, estão as altas autoridades da República e está, finalmente, a população
de Nova Friburgo.”88 O editorial exigia a cabeça de Richard Ihns, por sua falta de compaixão
e destreza administrativa e o favorecimento de compatriotas, ao mesmo tempo que inocentava
Julius Arp, pela sua importante contribuição para o desenvolvimento da cidade de Nova
Friburgo.

A greve, por sua vez, não seria o apogeu dos acontecimentos. A principal manchete da
edição do Nova Friburgo trazia os dizeres “a polícia assassinou, miseravelmente, um inditoso
jovem, ferindo quatorze operários, sem causa justificável”. O jovem assassinado era Licinio
Teixeira, de 21 anos. Operário na fábrica de Rendas há algum tempo, acabou sendo vítima de
um acidente e perdendo uma de suas mãos. Sua mãe, com a saúde debilitada, não resistiu ao
brutal acontecimento com o filho e acabou morrendo. Licinio era responsável ainda por cuidar
de seu pai, que naquele momento, encontrava-se paralítico. Todo este cenário de plano de fundo
era ainda complementado pelos punhos de ferro do sr. Richard Ihns para com o jovem operário.
Na praça Julius Arp, com a esquina da rua Baroneza, aguardavam pacificamente um grupo de
grevistas, que ansiavam com esperança pela resolução dos recentes acontecimentos da greve,
quando foram surpreendidos por um grupo de policiais, que liderados pelo cabo Altamiro
Galdino da Silva, foram ordenados a disparar contra os grevistas. Licinio foi atingido e morreu
na hora, enquanto seus colegas ficaram feridos. No dia seguinte, enquanto seus colegas
encontravam-se feridos na Santa Casa, seu corpo passou por um procedimento de autópsia,
sendo posteriormente liberado para o sepultamento. Na Igreja Matriz, um grande número de

88
O Nova Friburgo, 12/01/1933, p. 1-2.
53

pessoas se fez presente para prestar as últimas homenagens à Licinio, havendo forte comoção
pela tragédia iminente. De acordo com O Nova Friburgo,

“chovia copiosamente, mas, mesmo assim, a esse enterro compareceram as


sociedades musicais Euterpe e Campezina, todas as autoridades, a Associação
Catholica da Juventude Friburguense, o funcionalismo municipal, estadual e
federal, o operariado do cidade, as diretorias de todas as associações de classe
que possuímos, representantes da imprensa local, de Nictheroy e de Bom Jardim e
compacta massa popular.89

Também estiveram presentes o prefeito de Nova Friburgo, Hugo Motta, o dr. Joubert
Silva, chefe de polícia, Gastão Reis, prefeito de Bom Jardim, Gusmão Filho, 1º delegado
auxiliar, Euclydes Solon de Pontes, promotor público da comarca de Nova Friburgo, o sr.
Arlindo Américo dos Santos, redator da “Gazeta Operária” de Niterói, Antonio Monteiro e
Benoir Sortain, representantes da Federação proletária do Estado do Rio; pela diretoria e pelos
membros do conselho fiscal do sindicato de Nova Friburgo, além dos representantes das
fábricas Ypú e Filó e de várias associações operárias de Niterói, Rio de Janeiro e São Gonçalo.
Antes de chegar ao cemitério, o corpo do jovem seguiu em procissão. Parando na praça Julius
Arp, o tio de Licinio, Bazileu Dias, proferiu emocionante discurso em defesa de seu sobrinho,
afirmando este ser um rapaz bom, dotado de honestidade e trabalho árduo durante toda sua vida,
ao mesmo tempo que acusava a frieza da polícia e das diversas autoridades que compartilharam
com o terrível homicídio.

Dias após o ocorrido, o conselheiro Julius Arp negociava com as lideranças sindicais as
reinvidicações dos grevistas, chegando ambas as partes ao acordo. O curioso fato deste história
é que Richard Ihns, o grande responsável pela comoção operária, não seria exonerado do cargo
de gerente, como se especulava na matéria do Nova Friburgo. Muito pelo contrário. Ihns não
apenas manteve seu cargo, como tempos depois, seria promovido ao posto de diretor. É inegável
que ele concentrava inúmero capital político em suas mãos. O problema maior orbita a
recomendação da Auslandsorganization (AO)90, de que os membros não poderiam interferir
diretamente na política local ou colocar em evidência as diretrizes partidárias. As atitudes do
sr. Richard Ihns feriram diretamente esta recomendação, uma vez que a questão tomou maior

89
O Nova Friburgo, 12/01/1933, p. 1-2.
90
Como apresentado no Primeiro Capítulo.
54

proporção, atingindo as esferas estadual e federal, mobilizando não apenas a imprensa, como
também entidades políticas do município e da República, sem falar da grande comoção popular.

A imposição partidária sobre a Sociedade Alemã de Escola e Culto acarretou na cisão


entre os sócio proprietários, entre àqueles que eram favoráveis ao Nacional-Socialismo e aos
que não faziam questão de seguir a ideologia de Adolf Hitler. O patrono da “nazificação” da
Sociedade foi Maximilian Falck, este que seria confrontado pelo Conselheiro Julius Arp, Otto
Siems e Hans Gaiser, proprietários das fábricas Arp, Filó e Haga, respectivamente. Esta cisão
tornou-se um problema maior, uma vez que os germânicos professavam o luteranismo como fé,
e acabaram dividindo-se. A comunidade luterana, em crise, dividida por duas correntes
ideológicas, contou com o auxílio do pastor Johannes Schlupp91, que nos anos de 1935, seria
responsável por resolver os problemas e promover novamente a paz. De acordo com Maria
Janaína Botelho Correa, “Sua orientação para a união dos evangélicos luteranos foi a de que
deveriam ficar afastados da política interna da Alemanha e manter-se unidos em razão de
possuírem a mesma cultura, tradição e professarem o mesmo credo”. 92 O pastor Schlupp
obteve sucesso em sua empreitada, apaziguando os ânimos entre os lados da Sociedade Alemã.
Ele permaneceria à frente da comunidade luterana até a década de 1980. Acredita-se que não
houve uma posterior tentativa de imposição ideológica, visto que não há relatos nos periódicos
da época, tamanha a importância da instituição e sua circularidade. Ainda assim, os eventos
pró-nazismo, como o aniversário de Adolf Hitler em 1936, seriam comemorados nos anos
seguintes.

Teria os partidários friburguenses alguma atividade de contribuição direta pelo


Nacional-Socialismo? Como abordado no Primeiro Capítulo, Dietrich informa que os partidos
eram comumente divididos em duas esferas: as sedes, situados nos centros urbanos, e as células,
localizadas nas zonas de interior. Em linhas gerais, as células eram responsáveis por dar suporte
às sedes. Nova Friburgo contava com 44 membros da Seção brasileira do NSDAP, e além
destes, estavam os simpatizantes do partido conhecidos como “Juventude Hitlerista”, jovens
que ostentavam as suásticas como manifestação de apoio ao Nacional-Socialismo alemão, e a
“Associação de Mulheres Alemãs”, que participavam na organização de eventos e nas questões
filantrópicas. Também fazia parte a Deutsche Arbeitsfront (DAF), popularmente conhecida
como “Frente do Trabalho Alemão”. Este grupo existia em função da substituição dos

91
Enviado pelo Sínodo no dia 1º de Fevereiro daquele ano.
92
CORREA, Maria Janaína Botelho. “Memórias sobre o Nazismo em Nova Friburgo”. In: Histórias e Memória
de Nova Friburgo. Rio de Janeiro, Educam, 2011, p. 362-367.
55

sindicados, que eram então considerados controlados por comunistas. Em editoriais do


periódico Deutscher Morgen (Aurora Alemã), como do dia 30 de Abril de 1937, consta o nome
de Nova Friburgo como importante núcleo do DAF no estado do Rio de Janeiro, no qual os
membros deveriam contribuir com uma mensalidade, de acordo sua renda demarcada em uma
tabela, e teriam portanto alguns direitos e benefícios, como tratamento médico.

Em diversos editoriais do jornal, dos anos de 1933 aos anos de 1941, existem menções
à Friburgo, em propagandas de estabelecimentos como hotéis, bares e restaurantes. Todavia, o
enaltecimento da cidade serrana ocorre em diversos momentos. Na edição de 17 de Novembro
de 1933, é apresentada uma tabela que destaca as cidades e os valores arrecadados por cada
subsede do partido, valor este que seria destinado para auxiliar no inverno dos trabalhadores
alemães. Naquela ocasião, Nova Friburgo havia contribuído com a expressiva quantia de
5:511$000 (cinco contos de réis e quinhentos e onze mil réis)93, recebendo inúmeras felicitações
do editorial por tal feito. “Für Nova Friburgo ein glänzendes Ergebnis!”94

No dia 2 de Outubro de 1936, o Deutscher Morgen noticiava importante


confraternização na Sociedade Alemã, havendo a presença dos representantes do partido do Rio
de Janeiro. Já em 5 de Maio de 1939, meses antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, o
Aurora Alemã estampava foto dos membros do Nacional-Socialismo em frente ao prédio da
nova sede, na Avenida Rui Barbosa, que contava com amplo salão, biblioteca e áreas de lazer
diversas, além de amplo espaço para a prática de esportes. Estiveram presentes à inauguração
da nova casa importantes pessoas filiadas ao Partido Nazista, como o Sr. Gödde, representante
de uma importante transportadora de negócios alemã no Rio de Janeiro, e o Sr. Steffin, chefe
da Confederação do Recreativo de Alemães. Estes foram recepcionados com as sinceras
palavras do Sr. Cleff,, líder dos nacional-socialistas de Nova Friburgo, que após caloroso
discurso que enfatizava a força da Comunidade Germânica e do Reich Alemão, prosseguiu com
as comemorações, incluindo execução do hino da Alemanha e exibição musical da orquestra
local. A coluna era concluída com um caloroso viva aos germânicos de Nova Friburgo,
exaltados porque, aos olhos dos simpatizantes do Nacional-Socialismo, em muito estavam
contribuindo em benefício do povo alemão.95

93
Se comparado ao real, o conto é equivalente ao milhão. Ou seja, algo em torno de cinco milhões e quinhentos e
onze mil. Desta forma, optamos em não levar em consideração o valor exato em números reais e inflacionários,
apenas o das unidades de medida.
94
“Para Nova Friburgo, um resultado brilhante!”
95
Deutscher Morgen, 05/05/1939.
56

A notoriedade do Nacional-Socialismo em Nova Friburgo pode ser compreendida


também pelas inúmeras visitas que a liderança da Seção brasileira do partido, Hans Henning
von Cossel, empreendia até a cidade. Contundo, ainda não foram investigadas fontes que
comprovem de forma concreta os objetivos de tais visitas, sejam elas pela imprensa local ou
pelo Deutscher Morgen, o qual o próprio Cossel chegou a exercer o cargo de editor. Estas visitas
podem ser comprovadas por depoimento de uma de suas filhas, concedidas em entrevista à
historiadora Ana Maria Dietrich, a qual destaca:

“Meu pai ficava pouco em casa, porque tinha que trabalhar muito. Meus pais
estavam sempre fora, porque tinha compromissos da sociedade pela embaixada
alemã. Portanto, tínhamos uma babá, porque minha mãe precisava ir junto. Eu
penso que ele esteve em Blumenau. Novo Hamburgo, Nova Friburgo, lá ele
sempre ia, porque havia muitos alemães nestes lugares. As escolas e a cultura
alemã deveriam ser cuidadas. Minha mãe também trabalhava muito.”96

O apagar das luzes para o Partido Nazista no Brasil se deu de forma definitiva a partir
de 1942, ano em que o Brasil de Getúlio Vargas opta por entrar na Segunda Guerra Mundial ao
lado dos aliados.97 Anterior à entrada brasileira na guerra foi o advento do Estado Novo em
1937. Getúlio Vargas propagou o que inúmeros historiadores chamam de getulismo, baseando-
se em vários fatores políticos e simbólicos, dentre eles, a construção de sua figura carismática
e a aproximação com setores populares. Um Estado forte e centralizado, desprovido de eleições
e que investia fortemente em propaganda e censura das oposições, acabaria colocando
quaisquer modelos alternativos de estado na mira. Tanto os opositores à esquerda, como os
Comunistas da Aliança Nacional Libertadora, quanto o movimento de direita da Ação
Integralista Brasileira, foram perseguidos e confrontados pela polícia política estadonovista.
Por questões de praxe, as comunidades formadas por imigrantes também sofreram com a “caça
às bruxas”, que impôs sanções aos simpatizantes do fascismo italiano e do nazismo alemão.
Neste contexto, é preciso que se considere dois aspectos distintos. O primeiro deles é sustentado
por Ana Maria Dietrich, a qual considera a implacável postura do Estado Novo contra os
imigrantes. Ficava proibido os cultos ou quaisquer comemorações que pudessem exaltar algum
tipo de nacionalismo contrário aos princípios getulistas. Ficava proibido a circularização de

96
DIETRICH, Ana Maria. “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil”. São Paulo, 2007. Tese (Programa
de Pós-Graduação em História Social). p. 347.
97
As negociações seguiam firmes desde 1941. Todavia, o bombardeio de navios brasileiros por forças alemãs em
1942 impulsionou a concretização da união entre o Brasil e os aliados.
57

jornais que não estivessem em português, assim como proibia-se o ensino nas escolas em outros
idiomas. Desta forma, o que Dietrich chama de “caça às suásticas” não coloca apenas os
nazistas em xeque, mas também muitos teuto-brasileiros que nada tinham a ver com o Nacional-
Socialismo e que sofreram com a perseguição da polícia política estadonovista. O segundo
aspecto a ser considerado é que esta postura do Estado Novo não se manifesta de forma imediata
sobre a comunidade germânica, não de uma forma linear. Como podemos perceber, jornais
como o Deutscher Morgen circularam de forma integral até 1940, ano em que passou a assumir
formalmente o título Aurora Alemã e a publicar seu conteúdo integralmente em português.
Como visto, em edição de 1939, os nazistas residentes em Nova Friburgo inauguravam o novo
espaço da Sociedade Alemã. As explicações mais plausíveis para isso orbitam a aproximação
diplomática ainda existente entre Brasil e Alemanha com o advento do Estado Novo. De mesma
forma, a concentração de poder simbólico e de capital político e econômico por grande parte
dos membros do Partido Nazista de Nova Friburgo garantiram certa blindagem contra as
perseguições do Estado. Hans Henning von Cossel não apenas se correspondia com Getúlio
Vargas, como o encontrou algumas vezes. Estes aspectos nos ajudam a compreender a
resistência das suásticas no cenário brasileiro, resistência esta que se torna insustentável no
momento em que a Alemanha é declarada inimiga de guerra do Brasil. É neste momento que a
caça às suásticas se radicaliza, no qual o Estado usa de sua força para prender e interrogar
membros das comunidades germânicas. Em Nova Friburgo, a Sociedade Alemã de Escola e
Culto, estando sob constantes ameaças, seria forçada a trocar de nome caso quisesse continuar
resistindo. Eis que surgia a “Sociedade Alemã de 1921”, que logo passaria a ter o nome que
levaria consigo pelos anos seguintes: Sociedade Esportiva Friburguense, ou seja, retirando-se
o “Alemã” do nome.98 Até o momento, não temos fontes que nos fazem acreditar que o Nacional
Socialismo tenha continuado nas instalações da Sociedade ou se manifestado de forma explícita
na cidade. Os periódicos como O Nova Friburgo e O Friburguense, que outrora cobriram e
apoiaram os passos do Nazismo na cidade de Nova Friburgo, passariam a manifestar oposição
à ideologia hitlerista, ainda que não atacassem à comunidade germânica em sua totalidade,
mantendo, acima de tudo, o respeito e a admiração pelos alemães que instalaram as primeiras
indústrias na serra friburguense. Este episódio sobre a clandestinidade do Partido Nazista após
a declaração de guerra do Brasil à Alemanha merece ser investigado.

98
SILVA, Luiz Henrique da. Um Mundo na Sociedade. Nova Friburgo, Atlas Artes Gráfica, 1990, p. 61.
58

Conclusão

A trajetória do Partido Nazista não pode ser considerada linear, seguindo-se um único
caminho. A literatura especializada no assunto vem sendo construída com diferentes análises,
incluindo as mais diversas teorias e autores. Qualquer questão que envolva o nazismo no mundo
deve ser objeto de investigação e certamente, renderá algumas considerações.

Ao iniciar o estudo do presente trabalho, deparei-me com as mais adversas situações.


Era impensável aos meus olhos que a minha cidade natal pudesse um dia ter abrigado uma
importante célula do Nacional-Socialismo no Brasil. Ao decorrer de minhas investigações,
deparei-me com importante bibliografia que direcionaram minha pesquisa e auxiliaram em
minhas primeiras hipóteses. As conclusões foram sendo pautadas quando as fontes primárias
começaram a ser investigadas. Sobre as fontes, é inegável que ainda há muito a desbravar na
área. Optei pelo uso dos periódicos não apenas por uma questão de praticidade e estética, mas
como forma de trabalhar de forma mais explícita a primeira hipótese que havia sido formulada,
e esta era a circularidade do Partido Nazista na cidade. Ficou explícito que a comunidade
germânica que aderiu à bandeira hitlerista não se mantinha no escuro, muito pelo contrário.
Ostentavam com muito orgulho a nacionalidade alemã, expressando-as nas constantes reuniões
dos salões da Sociedade Alemã, nas comemorações nas ruas, nas solenidades. Em quase tudo
de notório que acontecia em Nova Friburgo dos anos 1930, lá estava a colônia alemã, sempre
exaltada. Os principais periódicos da cidade naqueles anos, O Friburguense e o Nova Friburgo,
ainda que divergissem em diversos aspectos entre si, quando o assunto era a Alemanha,
rasgavam-se os elogios página após página, edição após edição.

Nesta caminhada, vários historiadores estiveram ao meu lado, dos quais, sem suas
incríveis contribuições, não seria possível chegar até o ponto que atingi. Pude comparar seus
trabalhos, cruzar informações e enxergar as lacunas que faltavam, podendo tecer os caminhos
para investiga-las. Dentre minhas conclusões, é inegável dizer que o Partido Nazista funcionou
no Brasil de diferentes formas, de acordo com as regiões. Obviamente, não possuo um estudo
que contemple todos os casos, mas, ao menos de Nova Friburgo com outras cidades que
concentravam importantes sedes do Partido Nazista no Brasil, fica evidente inúmeras
diferenças. A história de Nova Friburgo, além de complexa, foi também forjada por pessoas
que detinham uma visão de sociedade a alcançar, pessoas estas dotadas de carisma, de capital
político e econômico. Os alemães que iniciaram o processo de industrialização de Nova
Friburgo possibilitaram que muitos imigrantes alemães exibissem o seu orgulho de ter a
59

Alemanha como pátria mãe. No contexto de ascensão do Partido Nazista, não tardou para que
se formasse em Friburgo importante núcleo do Nazismo não apenas para o Rio de Janeiro, mas
para todo o Brasil. Existia expressivo número de alemães entre a população friburguense, que
por si formava um grande contingente de trabalhadores nas fábricas friburguenses, nos serviços
e no comércio. Estes alemães brindavam à Adolf Hitler porque o consideravam o “salvador da
pátria”, aquele que ergueu novamente a Alemanha dos escombros da Primeira Guerra Mundial
e da Grande Depressão econômica. A repercussão no Brasil tornou-se muito produtiva à Adolf
Hitler, o que explica a dispersão do Partido Nazista pelo solo brasileiro e concomitantemente o
forte apoio de diversos setores aos partidários, com expressivo destaque à imprensa. O apoio
dos periódicos friburguenses ao Nacional-Socialismo foi uma questão política e de poder.

Elementos diferenciadores em escala regional e nacional estão presentes no Partido


Nazista de Nova Friburgo. Além da atuação alemã no início do século XX na industrialização
da cidade, o que garantiu aos germânicos concentração de poder simbólico e capital político e
econômico, o partido friburguense não existiu para orbitar a sede no Rio de Janeiro. Ana Maria
Dietrich descreveu, de forma generalizante, a atuação dos partidos, dividindo-os entre as sedes
– presentes nos centros urbanos – e as células, em cidades menores, orbitando a sede. Nova
Friburgo contava com 44 partidários, estando atrás apenas de Niterói e da capital Rio de Janeiro.
Nos editoriais do principal periódico nazista do Brasil, o Deutscher Morgen, constatou-se várias
vezes o nome de Nova Friburgo nas manchetes, sendo exaltado por seu importante serviço de
engrandecimento ao povo alemão. Os eventos que ocorriam na Sociedade Alemã recebiam
lideranças dos partidos das mais diversas regiões, o que nos ajuda a pensar na impossibilidade
de Nova Friburgo ter sido apenas uma célula orbitando uma sede. Pelo contrário. O Nacional-
Socialismo atuou de forma expressiva na serra friburguense, tornando a comunidade alemã da
cidade reconhecida em todo o território nacional. Fica evidente pelo fato de que a liderança do
Partido Nazista no Brasil, Hanns von Cossel, tenha visitado tantas vezes Nova Friburgo.

O envolvimento dos membros do Partido Nazista de Nova Friburgo com a política é


outro ponto que merece destaque. Como já apresentado, o órgão que cuidava dos interesses do
Partido no exterior, a A.O., determinava que os partidários não poderiam se inserir na política.
Todavia, em inúmeras situações, percebemos o envolvimento entre as duas esferas. A
concentração de capital político aos industriais alemães rendeu-lhes a influência sobre as
instituições mais notórias da cidade, que garantiam o apoio aos industriais alemães. Além do
apoio intenso que recebiam da imprensa e de importantes pessoas da sociedade friburguense,
os membros do Partido estiveram também envolvidos em algumas polêmicas, como foi o caso
60

da greve geral de 1933, na qual as atitudes do gerente da Rendas Arp, Richard Otto Ihns,
culminaram em uma greve dos trabalhadores e posteriormente, no assassinato de um jovem que
fazia parte do movimento grevista. Rapidamente, a imprensa de jornais respeitados por todo o
Estado estava à prontos para cobrir e noticiar o ocorrido, em conjunto com os principais
sindicatos e até mesmo com o representante do Ministro do Trabalho. Vale lembrar que estas
instituições eram extremamente importantes e influentes durante o contexto do acontecido,
recorte da Era Vargas. O fim do episódio não terminou de forma trágica para o Sr. Ihns. Ainda
que parte da imprensa e a grande massa de trabalhadores queriam a sua cabeça, Richard Ihns
acabaria se tornando diretor da fábrica de Rendas. Percebemos através destes pontos o alcance
da influência do Partido Nazista de Nova Friburgo.

Pelas análises dos historiadores Ana Maria Dietrich e Luís Edmundo de Moraes, foi
possível perceber também que o Partido Nazista funcionou no Brasil de forma diferente durante
a Era Vargas. De 1928, data da fundação do Partido, até o ano de 1937, com a eclosão do Estado
Novo, a agremiação entraria em seu período de clandestinidade, sendo perseguida pela “polícia
política” estadonovista. É o momento em que, mesmo os que não eram partidários, sofreriam
com a consequência da “caça às suásticas”. Em Nova Friburgo, contudo, o partido funcionou
de forma íntegra até o ano de 1939, o mesmo ano em a Sociedade Alemã inaugurou sua nova
sede, fato que foi comemorado com o envolvimento de partidários de diversos lugares, coberto
pela imprensa local e noticiado no periódico oficial dos nazistas, o Deutscher Morgen. Pode-se
considerar que esta resistência do grupo em Nova Friburgo se deu por alguns motivos, dentre
os quais pode-se destacar a influência da cidade para todo o Estado, considerando-se que o Rio
de Janeiro, que era a capital do Brasil na época, dependia dos produtos produzidos na serra
friburguense. A concentração de capital político e econômico destes industriais, o apoio dos
políticos, das autoridades, da imprensa e de grande parte da sociedade deram à comunidade
germânica um grande status na Nova Friburgo da Era Vargas, que teria inclusive, recebido a
visita do Presidente Getúlio em algumas ocasiões. Apenas em 1942, com a entrada do Brasil na
guerra ao lado dos aliados, em que os alemães seriam fortemente confrontados pelo Estado. A
Sociedade Alemã acabou sendo forçada a renunciar ao seu nome de fundação para persistir de
pé. Muitos alemães foram encaminhados à Niterói e ao Rio de Janeiro para prestar depoimentos,
sendo considerados criminosos. Se comparado ao partido de São Paulo, Nova Friburgo teve
maiores momentos de liberdade durante a “caça às suásticas”, além de ter resistido durante mais
tempo às pressões da polícia política getulista.
61

Outro ponto que merece ser investigado é a filiação dos membros ao Partido. Por
orientação do topo, apenas àqueles que tivessem cidadania alemã poderiam ser membros
efetivos, questão que orbitava a objeção do Nacional-Socialismo de manter a “pureza do
sangue”. Não podemos afirmar de forma precisa que todos os 44 membros possuíam cidadania
alemã. Esta é uma questão com potencial de investigação, o que pode contribuir em muito para
o enriquecimento dos estudos do Nazismo no Brasil.

Também merece destaque a relação do Nacional-Socialismo com a Ação Integralista


Brasileira. Dietrich considerou que o confronto dos nazistas com a AIB em si já seria um ponto
para a “tropicalização” do partido. Em Nova Friburgo, contudo, percebe-se, através da
investigação das fontes, que os integralistas estiveram presentes em muitos momentos com os
nazistas, confraternizando os feitos germânicos, e que em muitas oportunidades, brindaram
juntos à Adolf Hitler

Desta forma, não se trata de uma análise definitiva do movimento Nazista em Nova
Friburgo. De mesma forma que as fontes estudadas não são inéditas. Importantes historiadores
já se debruçaram e desbravaram estes caminhos. O presente trabalho teve como objetivo
investigar algumas lacunas que esta valorosa literatura detém. E desta investigação, fazendo
também a comparação do resultado com outras análises semelhantes, encontramos inúmeras
singularidades do Partido Nazista friburguense. As fontes investigadas vão, principalmente, dos
anos 1933, da chegada de Adolf Hitler à chancelaria do Reich, transitando pelos anos seguintes,
terminando em 1942, com a declaração de guerra do Brasil à Alemanha. Nos anos 1930,
percebemos que a atuação dos Nazistas em Nova Friburgo deu-se acima de tudo, pela história
da imigração alemã na cidade, e pela expressiva atuação da comunidade germânica em
Friburgo, que acabou aderindo o apoio de importantes personalidades e instituições
friburguenses, nos campos político, econômico e social. Em conjunto, estes grupos brindavam
à Adolf Hitler, pela recuperação econômica da Alemanha. Com a entrada do Brasil na guerra,
o Nazismo no Brasil passou a atuar definitivamente de forma clandestina, o que não foi
diferente com Nova Friburgo, as comunidades tiveram de conter os ânimos, e as instituições
tiveram que mudar seus nomes. Até o breve momento, não foram investigadas fontes que
indiquem o contrário.

Por fim, valho-me dizer que, apesar de não estar construindo uma análise definitiva,
creio estar ajudando no enriquecimento dos campos da História Regional e dos estudos sobre o
62

Nazismo no Brasil. Apesar de muito já ter sido feito, ainda há muitos caminhos a serem
percorridos. Espero estar contribuindo, mesmo que minimamente, para todas estas questões.
63

Fontes

Jornais pesquisados junto ao Departamento Pró-Memória da Secretaria de Cultura – Fundação


D. João VI – Secretaria de Cultura – Prefeitura Municipal de Nova Friburgo:

A Esquerda
A Paz
O Friburguense
O Nova Friburgo

Periódicos disponíveis na Biblioteca Digital da Unesp: Disponível em:


https://bibdig.biblioteca.unesp.br/handle/10/10395. Acesso 15 de Dezembro de 2018.
Deutscher Morgen (Aurora Alemã).
64

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