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Programa de Leniência

Antitruste do CADE
Módulo

5
Acordo de Leniência
Antitruste e demais
instrumentos no Cade e
em outras legislações
Fundação Escola Nacional de Administração Pública

Presidente
Diogo Godinho Ramos Costa

Diretor de Educação Continuada


Paulo Marques

Coordenadora-Geral de Educação a Distância


Natália Teles da Mota Teixeira

Conteudista/s
Amanda Athayde (conteudista, 2019)

Desenvolvimento do curso realizado no âmbito do acordo de Cooperação Técnica FUB / CDT /


Laboratório Latitude e Enap.

Enap, 2019

Enap Escola Nacional de Administração Pública


Diretoria de Educação Continuada
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF

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Sumário
Apresentação.................................................................................... 5

Leniência Antitruste e Leniência Plus................................................. 5

Termo de Compromisso de Cessação............................................... 11

Dos requisitos para a celebração de TCC.......................................... 11

Do procedimento de negociação e celebração de TCC...................... 15

Acordo de Leniência Antitruste e Acordo de Leniência Anticorrupção


(CGU, AGU e TCU)............................................................................ 16

Acordo de Leniência Antitruste e Acordo de Leniência no SFN (BC e


CVM)............................................................................................... 19

Acordo de Leniência Antitruste e Acordo de Leniência do MP.......... 20

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5
Acordo de Leniência Antitruste
Módulo

e demais instrumentos no
Cade e em outras legislações
Apresentação
Este é o quinto e último módulo do curso. Nele, você estudará os Acordos de Leniência Antitruste
e dos demais instrumentos no Cade e em outras legislações em comparação com os acordos de
outros órgãos.

Para atingir os objetivos do módulo, você passará por:

• 9 páginas de conteúdo em formato de hipertexto, que podem conter imagens,


infográficos, tabelas, links.

• 5 questões avaliativas, valendo 5 pontos cada.

Sugerimos que você veja o conteúdo dos módulos e responda às questões na ordem em que
estão dispostas. Você é livre para cursar os módulos na ordem que achar melhor - dentro do
período de duração do curso, mas as questões devem sempre ser respondidas para que você
possa avançar dentro de cada módulo. Tenha certeza de que fez tudo, módulos e questões, para
não ter problemas com a obtenção do certificado ao final do curso!

Lembrando: você navegará por todo o conteúdo e atividades em sequência, podendo avançar e/
ou retornar sempre que achar necessário.

Bons estudos e sucesso na nota final!

Leniência Antitruste e Leniência Plus


Além do Acordo de Leniência “original”, o artigo 86 da Lei nº 12.529/2011 c/c artigo 209 do
RICade prevê o leniência plus. O leniência plus consiste em um benefício de redução, em um
terço, da penalidade aplicável à empresa e/ou ao indivíduo que fornecer informações acerca
de um novo cartel sobre o qual a SG/Cade não tinha conhecimento prévio (“Novo Acordo de
Leniência”), e quando esta mesma empresa e/ou pessoa física não se qualificar para um Acordo
de Leniência com relação a um outro cartel do qual tenha participado (“Acordo de Leniência
Original”).

Quando os requisitos legais da nova infração denunciada forem atendidos, o proponente receberá
todos os benefícios do Acordo de Leniência Antitruste (art. 86 e 87 da Lei nº 12.529/2011). Em
relação à infração que já está sob investigação da SG/Cade, o proponente poderá beneficiar-se

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com a redução de um terço da penalidade aplicável (“plus”), na medida de sua cooperação com
as investigações. A figura abaixo, retirada do Guia do Programa de Leniência do Cade, representa
o fluxo do instituto.

Fonte: Guia: programa de leniência antitruste do Cade, 2016.

Caso a empresa e/ou o indivíduo já tenham celebrado um Acordo de Leniência com o Cade em
um determinado mercado e, posteriormente, venham a ser investigados em outro mercado, não
é aplicável o benefício da leniência plus de forma retroativa, pois não apresentaram qualquer
informação nova ao Cade. Nesses casos, fica facultado a eles apenas a celebração de um Termo
de Compromisso de Cessação – TCC.

Ao solicitarem uma leniência plus, a empresa e/ou o indivíduo devem se esforçar para levar ao
conhecimento da SG/Cade as condutas anticompetitivas de que tenham participado, incluindo
novas infrações de que o Cade não tenha conhecimento. Em termos cronológicos, a linha do
tempo que deve ser percorrida pelo proponente para se beneficiar de uma leniência plus, nos
termos do Guia do Programa de Leniência do Cade, está representada na figura abaixo, em que
B representa um segundo proponente para celebrar o Acordo de Leniência.

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Fonte: CADE. Guia: programa de leniência antitruste do Cade. 2016.

O caso da “Operação Lava Jato” é um exemplo público da utilização do


instituto de leniência plus. Uma empresa e alguns de seus funcionários
e/ou ex-funcionários eram investigados no Processo Administrativo nº
08700.002086/2015-14, relativo a obras de serviços de engenharia, construção
e montagem industrial em licitações públicas da Petrobras. Diante disso, não se
habilitavam para a negociação de Acordo de Leniência naquele mercado, pois
não eram os primeiros a reportar os fatos ilícitos ao Cade. Ocorre que a empresa
e um de seus funcionários trouxe ao conhecimento do Cade um outro caso de
cartel, em um outro mercado, do qual o Cade não tinha qualquer conhecimento
prévio. Assim, a empresa e seu funcionário negociaram um novo Acordo de
Leniência, que deu ensejo ao Processo Administrativo nº 08700.007351/2015-
51, relativo a obras de montagem eletromecânica na “usina Angra 3”, em
licitação pública da Eletronuclear. Com relação à investigação no Processo
Administrativo nº 08700.002086/2015-14, concedeu-se um desconto adicional
de um terço, consistente justamente na leniência plus.

• Leniência plus ou Termo de Compromisso de Cessação

Tal qual previsto em outras jurisdições no exterior – notadamente nos Estados Unidos –, o Cade
percebeu que o instituto da leniência plus se coaduna com o objetivo maior da sua função
repressiva, especificamente na persecução a cartéis, pois a colaboração da empresa e/ou dos

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indivíduos permite a obtenção de informações e documentos de condutas anticompetitivas
distintas e ainda não descobertas.

Para cada nova investigação iniciada pela autoridade antitruste abre-se a oportunidade de que
novas condutas anticompetitivas sejam descobertas, na medida em que cada Representado terá
ainda mais incentivos a reportar ao Cade uma infração desconhecida, a fim de, com isso, receber
uma redução adicional na sua penalidade.

É possível observar a importância da ferramenta na medida em que, no mesmo


período em que ocorreu um aumento no número de Acordos de Leniência
assinados, entre 2015 e 2017, foram feitos 21 pedidos de leniências plus, que
representaram significativo aumento no número de casos iniciados.

Nesse contexto de leniências plus surge o questionamento: seria possível combinar descontos da
leniência plus com os de TCCs?

Antes de ver a resposta, imagine a seguinte situação: a empresa e/ou o indivíduo já investigados
em um cartel (1º cartel) apresentam ao Cade um novo cartel (2º cartel, ou seja, qualifica-se
para leniência plus), e querem colaborar na investigação do primeiro cartel, por meio de TCC.
Será que eles poderão combinar ambos os descontos? Se sim, como seria feito esse cálculo de
descontos? E como fazer com que essa combinação de descontos não crie desincentivos aos
pedidos de novos Acordos de Leniência, não conectados a investigações já em andamento?

A fim de endereçar essas dúvidas e garantir previsibilidade e segurança jurídica aos administrados,
o Regimento Interno do Cade esclareceu que a empresa e/ou o indivíduo que celebrarem um
TCC com relação a determinada conduta anticompetitiva em investigação (1º cartel) podem ser
beneficiados pela conjugação dos benefícios da leniência plus e do TCC. Para isso, é necessário
que, até a remessa do processo para julgamento, se habilitem para celebração de acordo de
leniência relacionado a uma outra infração, da qual o Cade não tenha qualquer conhecimento
prévio (2º cartel).

A aplicação de ambos os descontos é realizada de modo subsequente (ou seja, primeiro incide
o desconto de uma leniência plus e, posteriormente, o desconto do TCC) e não cumulativa (ou
seja, não se trata de uma simples adição de ambos os descontos). Isso porque o Cade entendeu
que a aplicação cumulativa poderia trazer benefício excessivo à empresa e/ou pessoa física que
praticou cartel em diversos mercados, com possível redução do efeito dissuasório e com possível
desincentivo à ágil apresentação de novas propostas de Acordo de Leniência. Além disso, a
aplicação subsequente possui interpretação que se extrai da própria legislação e mantém a
consistência entre o valor máximo de descontos da leniência plus e do TCC e o valor que seria
aplicado na hipótese de leniência parcial.

Assim, considerando que a negociação do TCC prevê faixas de descontos, a aplicação subsequente
da leniência plus com o TCC pode resultar nos seguintes parâmetros totais de desconto sobre a
multa esperada, tal qual definido no artigo 209, §3º, do RICade.

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Parâmetros totais de desconto sobre a multa (art. 209, §3º, do RICade)
Proponente Desconto sobre a multa
Primeiro De 53,33% a 66,67%
Segundo De 50% a 60%
Demais proponentes Até 50%

Entretanto, nenhum requerimento poderá prever redução percentual superior àquela estabelecida
em TCCs com leniência plus já celebrados no âmbito do mesmo Processo Administrativo, dada a
aplicação subsidiária das regras do TCC (art. 209, §4º, do RICade).

Mas, e se o novo Acordo de Leniência ainda estiver em fase intermediária de negociação e o


TCC já estiver em fase final, a SG/Cade teria que atrasar a homologação do TCC e esperar a
celebração do novo acordo para conceder a leniência plus?

Para não prejudicar o Programa de Leniência e de TCCs, para promover maior transparência,
previsibilidade e segurança jurídica aos administrados, a SG/Cade poderá conceder uma
“leniência plus condicional”, conforme a conveniência e a oportunidade, caso verifique a forte
probabilidade de êxito da proposta de Novo Acordo de Leniência. Trata-se de benefício que pode
ser aplicado sob condição suspensiva, ou seja, caso o Novo Acordo de Leniência em negociação
não seja celebrado ou seja declarado o seu descumprimento pelo Tribunal do Cade, o desconto
concedido antecipadamente, na negociação do TCC, deverá ser recolhido como contribuição
pecuniária complementar ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (art. 250, §2º e 3º, do RICade).

De acordo com o Guia de TCC, caso o novo Acordo de Leniência ainda não tenha
sido celebrado ou não tenha sido declarado cumprido pelo Tribunal, o desconto
da leniência plus será condicional, de modo que será necessária a inserção de
trecho sobre leniência plus no termo (“Da contribuição complementar”), cujo
modelo pode ser acessado no próprio Guia.

Além disso, na hipótese de declaração de não cumprimento, o signatário perderá também os


benefícios pertinentes ao Novo Acordo de Leniência (art. 247, §1º, inciso IX, do RICade). Essa
situação é expressamente prevista no Guia de TCC, que consiste justamente na hipótese de
Leniência Plus Condicional.

Entretanto, não é possível obter descontos de duas leniências plus em um mesmo Processo
Administrativo. O benefício da leniência plus é aplicado apenas uma vez em cada investigação
existente, de modo que a relação é um para um, ou seja, a cada Novo Acordo de Leniência
celebrado, obtém-se o benefício plus em uma das investigações. Veja, na imagem abaixo, extraída
do Guia do Programa de Leniência do Cade, a aplicação dos benefícios da leniência plus a cada
nova investigação.

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• Leniência plus no Acordo de Leniência Antitruste Parcial

O Acordo de Leniência Antitruste Parcial pode não dar ensejo ao benefício da leniência plus. O
artigo 86, §7º, da Lei nº 12.529/2011 c/c o artigo 209, caput, do RICade, que tratam da leniência

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plus, revelam que o novo Acordo de Leniência deve se relacionar a uma nova infração da qual
a SG/Cade não tenha qualquer conhecimento prévio. Nesse sentido, uma leniência parcial não
poderia fazer jus à obtenção do benefício da leniência plus, uma vez que se trata de hipótese em
que a SG/Cade tem conhecimento prévio da infração noticiada, mas apenas não dispõe de provas
suficientes para assegurar a condenação da empresa ou pessoa física na ocasião da propositura
do acordo de leniência (art. 86, §1º, inciso III, e § 4º, inciso II, da Lei nº 12.529/2011 c/c art. 198,
incisos III e VI, e art. 208, inciso II, do RICade).

Termo de Compromisso de Cessação


O Acordo de Leniência Antitruste, cujos benefícios são tanto administrativos quanto criminais
(artigo 86, §4º, combinado com artigo 87 da Lei nº 12.529/2011), é instrumento disponível
apenas ao primeiro agente infrator a reportar a conduta anticoncorrencial ao Cade (artigo 86,
§1º, I, da Lei nº 12.529/2011).

O Termo de Compromisso de Cessação (TCC) para casos de cartel, por sua vez, é acessível a todos
os demais investigados na conduta anticompetitiva (artigo 85 da Lei nº 12.529/2011), gerando
benefícios na seara administrativa, mas sem benefícios automáticos na seara criminal. Assim,
por conta dessa exposição do Compromissário em relação à seara criminal, os incentivos para
a celebração de TCC tendem a ser diferentes dos incentivos para a celebração de Acordo de
Leniência.

Quanto à terminologia, quem celebra o Acordo de Leniência é denominado


Signatário, ao passo que quem celebra o TCC é denominado Compromissário.

Rufino e Mendes ressaltam a mudança do Cade no tocante à celebração de TCCs, realizada


em 2013, por meio da rejeição dos acordos “pay-to-go”, da exigência de reconhecimento da
responsabilidade do Compromissário na infração e do dever de colaborar com o prosseguimento
das investigações para os demais investigados. Assim, a seguir serão brevemente apresentados
os requisitos para a celebração de TCC e o procedimento de negociação e celebração de TCCs,
evidenciando em que diferem do Acordo de Leniência.

Dos requisitos para a celebração de TCC


A celebração de um TCC em casos de acordo, combinação, manipulação ou ajuste entre
concorrentes (como é caso de cartel) , no âmbito da Superintendência-Geral/Cade (SG/Cade),
possui cinco requisitos.

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1. Pagamento de contribuição pecuniária ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos,
nos termos dos artigos 85, §1º, III, da Lei nº 12.529/2011 e 183, caput, do RICade
A contribuição pecuniária do TCC é estabelecida com base no valor da multa esperada,
sobre o qual incidirá uma redução percentual que varia conforme o momento da
propositura do TCC e a amplitude e utilidade da colaboração do compromissário
com a instrução processual, de acordo com o artigo 186, incisos I, II e III, e artigo 187
do RICade, nos seguintes termos:
a) logo após a instauração de procedimento administrativo e antes de o processo
ser remetido ao Tribunal do Cade, a contribuição pecuniária será calculada com
base na multa esperada, sobre a qual incidirá:
9 uma redução de 30% a 50% para o primeiro proponente de TCC;
9 uma redução de 25% a 40% para o segundo proponente de TCC;
9 uma redução de até 25% para os demais proponentes de TCC; e

b) depois de os autos serem remetidos ao Tribunal do Cade: a contribuição


pecuniária será calculada com base na multa esperada, sobre a qual incidirá uma
redução de até 15% (esses parâmetros podem sofrer alteração se também houver
leniência plus).

2. Reconhecimento de participação na conduta investigada por parte do proponente,


nos termos do artigo 184 do RICade.
O reconhecimento de participação na conduta investigada é o que difere da
exigência de confissão do Acordo de Leniência. Uma vez que o TCC não gera
benefícios automáticos na seara criminal e o Ministério Público não é interveniente
na negociação (diferentemente do que ocorre nos Acordos de Leniência), houve
diversos questionamentos sobre se a exigência de “reconhecimento de participação
na conduta” resultaria no fim do Programa de TCCs do Cade. O Cade, a fim de
aumentar a previsibilidade e a segurança jurídica dos administrados, assinou, em
16 de março de 2016, o Memorando de Entendimentos com o Grupo de Combate
a Cartéis do Ministério Público Federal em São Paulo, formalizando a possibilidade
de coordenação institucional caso os proponentes tenham interesse em colaborar
tanto por meio de TCC, com o Cade, quanto por acordo de colaboração com o MPF/
SP. Nessa hipótese, a SG/Cade pode auxiliar a interlocução com o Ministério Público
e/ou a Polícia Federal, sendo que a negociação e a assinatura de eventuais acordos
de colaboração premiada ocorrem a critério dessas autoridades.

No referido Memorando de Entendimentos, foram previstas duas possibilidades de


acordos no âmbito criminal, paralelamente à celebração de TCCs:

• Acordo de Colaboração Premiada, nos termos da Lei nº 12.850/2013 (Artigo


4º), quando a colaboração é mais ampla e detalhada, realizada antes mesmo do
oferecimento da denúncia pelo Ministério Público. O colaborador pode obter
redução de até dois terços da pena privativa de liberdade ou pode substitui-la por
uma pena restritiva de direitos.

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• Confissão qualificada pela delação, nos termos da Lei nº 8.137/90 (Artigo 16),
quando a colaboração é mais pontual, realizada após o oferecimento da denúncia
pelo Ministério Público. A pena pode ser reduzida de um a dois terços.

Observa-se que os benefícios da Confissão Qualificada são menores que os


da Colaboração Premiada. Isso acontece porque não existe a possibilidade de
substituição da pena privativa de liberdade, contudo, os requisitos para a celebração
de Colaboração Premiada são mais rigorosos, na medida em que, para obter
a redução ou substituição da pena, é necessário que, por meio das informações
prestadas, se atinja um dos seguintes resultados:

a) a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e


das infrações penais por eles praticadas;

b) a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização


criminosa;

c) a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização


criminosa;

d) a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais


praticadas pela organização criminosa;

e)a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

3. Colaboração do proponente com a instrução processual, nos termos do artigo 185


do RICade.
A colaboração com a instrução processual é prevista no artigo 185 do RICade.
Na análise da colaboração, serão considerados os seguintes fatores: amplitude,
utilidade e momento de apresentação da proposta.

Para conferir maior previsibilidade em relação à quantificação da colaboração, o


Guia de TCC do Cade estabelece alguns critérios objetivos para análise do desconto
aplicável. O método utilizado para quantificar o desconto considera quatro principais
parâmetros de cálculo:

1. identificação dos participantes da infração;

2. apresentação de informações sobre a infração;

3. apresentação de documentos que comprovam a infração; e

4. momento processual, de modo que a soma dos valores máximos de cada


parâmetro corresponde à pontuação máxima prevista para cada proponente.

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O Cade possui um Guia de TCC, um documento consolidado com as melhores
práticas e procedimentos usualmente adotados para negociação de TCCs
em casos de cartel. Embora o Cade considere as características de cada caso
concreto para a realização da análise, no Guia consta uma tabela indicativa de
descontos aplicáveis.

Ademais, outros fatores específicos não identificados na tabela poderão


eventualmente ser utilizados para majorar ou reduzir o desconto. Um
exemplo disso ocorreu no Requerimento de TCC nº 08700.004602/2016-26,
realizado pela Cascol Combustíveis para Veículos Ltda., no suposto cartel
nos mercados de distribuição e revenda de combustíveis líquidos do Distrito
Federal. No referido caso, em razão da implementação de medidas não usuais
– como desinvestimentos, alterações societárias, programa de compliance
e acordo com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT)
abrangendo o pagamento de multa de natureza reparatória e a colaboração no
cumprimento de medida preventiva –, no âmbito da colaboração da empresa,
foi concedido um desconto adicional no valor da contribuição pecuniária a ser
paga pela empresa.

Guia de TCC do Cade: https://addie.escolavirtual.gov.br/pluginfile.php/10542/


mod_lesson/page_contents/5437/ODA%2020%20-%20LENI%C3%8ANCIA%20
ANTITRUSTE%20E%20TCC%20%28Introdu%C3%A7%C3%A3o%29%20
%281%29.pdf

Todos os requisitos são aplicáveis às negociações de TCCs no âmbito da SG/Cade.


Já no contexto das negociações com o Tribunal do Cade (na hipótese de o TCC ser
proposto após a remessa dos autos ao Tribunal), a princípio, o dever de colaboração
com a instrução processual deixa de existir. Contudo, a redução esperada da multa é
inferior ao que seria se o acordo tivesse sido proposto na SG/Cade.

4. Obrigação de não praticar a conduta investigada, nos termos do §1º do artigo 85


da Lei nº 12.529/2011.

5. Multa para o caso de descumprimento, total ou parcial, das obrigações


compromissadas.

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Do procedimento de negociação e celebração de TCC
O procedimento de negociação de um TCC fica a cargo de uma Comissão de Negociação formada
por, no mínimo, três servidores do Cade. No âmbito da SG/Cade, o período de negociação deverá
ser fixado por despacho do próprio Superintendente-Geral. Já quando o TCC é negociado pelo
Tribunal do Cade, o processo de negociação deverá durar, no máximo, 30 dias, prorrogáveis por
mais 30. Abaixo, veja o fluxo do curso de negociação do TCC com o Cade.

Após a homologação do TCC, as informações apresentadas pelo Signatário serão disponibilizadas


também aos demais Representados no Processo Administrativo e às pessoas autorizadas pelo
Cade, para fins de ampla defesa e instrução do processo, respectivamente. Além disso, após a
homologação do TCC, o Signatário deverá continuar a cooperar com o Cade, ao longo de toda a
instrução processual, semelhantemente ao exigido nos Acordos de Leniência.

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Acordo de Leniência Antitruste e Acordo de Leniência
Anticorrupção (CGU, AGU e TCU)
Na legislação brasileira, o primeiro Programa de Leniência instituído foi o de antitruste, voltado
à investigação de cartéis pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), nos termos
da Lei nº 10.149/2000, que alterou a Lei nº 8.884/94 ao inserir os artigos 35-B e C, atualmente
previsto nos artigos 86 e 87 da Lei nº 12.529/11.

A partir da experiência exitosa do Programa de Leniência Antitruste, em 2013, no contexto de


pressão dos movimentos de combate à corrupção e das manifestações populares, foram aprovadas
duas leis que incrementaram sobremaneira o instrumental público de investigações no Brasil. A
primeira delas é a Lei da Empresa Limpa, convencionalmente chamada de Lei Anticorrupção
(Lei nº 12.846/2013), que instituiu o Programa de Leniência Anticorrupção, nos termos do seu
artigo 16. Na prática, na esfera federal, a celebração destes Acordos de Leniência tem envolvido
a Controladoria Geral da União (CGU), a Advocacia Geral da União (AGU), o Tribunal de Contas
da União (TCU) e o Ministério Público (MP).

Diante dessa multiplicidade de Programas de Leniência no Brasil, nota-se, em diversas ocasiões,


uma notória confusão sobre os contornos jurídicos de cada um dos institutos, especialmente nos
casos em que mais de uma autoridade é competente para realizar os Acordos de Leniência. Resta
necessário, portanto, estudar as especificidades teóricas e práticas de cada um destes Programas
de Leniência, bem como apresentar seus elementos unificadores.

Para auxiliar a sua aprendizagem, analise os dois quadros-resumo em que são feitas comparações
das legislações dos Acordos de Leniência Antitruste (Acordo de Leniência X Termo de Compromisso
de Cessação) e o Acordo de Leniência Anticorrupção.

• Quadro-resumo Leniência Antitruste x TCC

O quadro-resumo a seguir faz a comparação entre as características do Acordo de Leniência e do


Termo de Compromisso de Cessação, de acordo com a Lei nº 12.529/2011 e o Regimento Interno
do Cade (RICade). Observe que as principais diferenças entres eles estão nos benefícios cabíveis.

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• Quadro-resumo Leniência

Já no quadro-resumo a seguir são apresentadas as características do Acordo de Leniência


Anticorrupção, de acordo com a Lei nº 12.846/2013 e o Decreto nº 8.420/2015. Perceba que nos
casos de Leniência Anticorrupção não há benefícios criminais e cíveis para aqueles que cometem
a infração.

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* Passo a passo" Leniência CGU: https://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabilizacao-de-
empresas/lei-anticorrupcao/acordo-leniencia/passo-a-passo

Acordo de Leniência Antitruste e Acordo de Leniência no


SFN (BC e CVM)
O primeiro Programa de Leniência instituído na legislação brasileira foi o antitruste, voltado à
investigação de cartéis pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), nos termos
da Lei nº 10.149/2000, que alterou a Lei nº 8.884/94 ao inserir os artigos 35-B e C, atualmente
previsto nos artigos 86 e 87 da Lei nº 12.529/11.

Em 2017, diante dos resultados positivos obtidos pelas autoridades públicas investigadoras a
partir da celebração de Acordos de Leniência, foi promulgada a Lei sobre Crimes no Sistema
Financeiro Nacional (Lei nº 13.506/2017), que instituiu, nos termos dos artigos 30 a 32, o Programa
de Leniência no âmbito do Banco Central (BC) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Com isso, buscou-se modernizar o instrumental investigativo dessas autoridades pois, diante das
modernas práticas ilícitas dos agentes no mercado financeiro, o mesmo estava defasado.

Em diversas ocasiões, diante dessa multiplicidade de Programas de Leniência no Brasil, nota-se


uma notória confusão sobre os contornos jurídicos de cada um dos institutos, especialmente nos
casos em que mais de uma autoridade é competente para realizar os Acordos de Leniência. Resta
necessário, portanto, estudar as especificidades teóricas e práticas de cada um destes Programas
de Leniência, bem como apresentar seus elementos unificadores.

Para auxiliar a sua aprendizagem, analise os dois quadros-resumo em que são feitas comparações
das legislações dos Acordos de Leniência no Cade (Acordo de Leniência versus Termo de
Compromisso de Cessação), o Acordo de Leniência Anticorrupção no Sistema Financeiro Nacional
(SFN), ou seja o Banco Central do Brasil (BC) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

• QUADRO-RESUMO: ACORDO DE LENIÊNCIA E TERMO DE COMPROMISSO NO SISTEMA


FINANCEIRO

São apresentadas, no quadro-resumo a seguir, as características do Acordo de Leniência e Termo


de Compromisso (TCC) no sistema financeiro, ou seja, no BC e na CVM.

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Acordo de Leniência Antitruste e Acordo de Leniência do
MP
O primeiro Programa de Leniência instituído na legislação brasileira foi o antitruste, voltado à
investigação de cartéis pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), nos termos
da Lei nº 10.149/2000, que alterou a Lei nº 8.884/94 ao inserir os artigos 35-B e C, atualmente
previsto nos artigos 86 e 87 da Lei nº 12.529/11.

Em 2013, com a aprovação da Lei sobre Crimes de Organização Criminosa (Lei nº 12.850/2013),
delineou-se, em termos precisos e particularizados, um verdadeiro sistema de colaboração

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premiada. Esta legislação, em que pese não ser o substrato jurídico para a celebração dos
Acordos de Leniência pelo MP, pavimentou o caminho para a celebração concomitante de
acordos de colaboração premiada das pessoas físicas e dos Acordos de Leniência pelas pessoas
jurídicas com o MP, fundamentados no art. 129, I, c/c art. 37, caput, da Constituição Federal,
no art. 37 da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (Convenção de Mérida), no art.
26 da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (Convenção de
Palermo), no art. 3º, § 2º e 3º, do CPC e no art. 840 do CC.

Diante dessa multiplicidade de Programas de Leniência no Brasil, nota-se, em diversas ocasiões,


uma perceptível confusão sobre os contornos jurídicos de cada um dos institutos, especialmente
nos casos em que mais de uma autoridade é competente para realizar os Acordos de Leniência.
Resta necessário, portanto, estudar as especificidades teóricas e práticas de cada um destes
Programas de Leniência, bem como apresentar seus elementos unificadores.

Para auxiliar a sua aprendizagem, analise os dois quadros-resumo em que são feitas comparações
das legislações dos Acordos de Leniência Previstos pelo Cade: o Acordo de Leniência X Termo de
Compromisso de Cessação (TCC), e o Acordo de Leniência no Sistema Financeiro Nacional - SFN
(Banco Central do Brasil - BACEN - e Comissão de Valores Mobiliários - CVM).

• LENIÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

No quadro-resumo a seguir são apresentadas as características do Acordo de Leniência do


Ministério Público (MP), o Acordo de Celebração premiada e a legislação aplicada a eles.

Quadro-Resumo: Leniência do Ministério Público

LENIÊNCIA
LENIÊNCIA CÍVEL-CRIMINAL ACORDOS DE COLABORAÇÃO PREMIADA
ANTITRUSTE

Infrações contra a - Improbidade Administra-


ordem econômica tiva
Infração (condutas coorde- - Crimes previstos na legis-
Crimes previstos na legislação
nadas). lação

Negociado pela SG/


Órgão Cade, celebrado - Ministério Público (cível e
- Ministério Público
com a SG/Cade e criminal)
competente para com a interveniên- - AGU (cível)
- Polícia (ADI 5508/STF)
a celebração - Homologado pelo juiz
cia do Ministério - Homologado pelo juiz
Público.

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Quadro-Resumo: Leniência do Ministério Público

LENIÊNCIA
LENIÊNCIA CÍVEL-CRIMINAL ACORDOS DE COLABORAÇÃO PREMIADA
ANTITRUSTE

- Lei nº 12.850/2013 (organização criminosa,

art. 4º)

- Lei nº 7.492/86 (crimes contra o sistema fi-

nanceiro nacional, art. 25, § 2º)

- Lei nº 8.072/90 (crimes hediondos, art. 8º, §


- Art. 129, I da CF/88 único)
- Art. 5º e 6º da Lei 7.347/85
- Art. 26, da Convenção de - Lei nº 8.137/90 (crimes contra a ordem tribu-
Palermo
- Art. 37 da Convenção de tária, econômica e relações de consumo, art.
Mérida
Artigos 86 e 87 da
Previsão legal Lei nº 12.529/2011.
- Arts. 3º, §2º e 3º do CPC 16, § único)
- Arts. 840 e 932, III, do CC/02
- Arts. 16 a 21 da Lei - Lei nº 9.613/1998 (crimes de “lavagem” e ocul-
12.846/2013
- Lei 13.410/2015 tação de bens, direitos e valores, art. 1º, §5º)
- Princípio da eficiência, art.
37. caput da CF/88 - Lei nº 9.807/1999 (organização e a manuten-

ção de programas especiais de proteção a víti-

mas e testemunhas ameaçadas, art. 14)

- Lei nº 11.343/2006 (crimes previstos na lei de

drogas, art. 41)

Código Penal (art. 159)

Artigos 196 a 210


do RICade.
Previsão Orientação da 5ª CCR do
Guia do Programa --------
infralegal de Leniência do
MPF
Cade.

Possíveis Pessoas jurídicas e Pessoas jurídicas e pessoas


Pessoas físicas
beneficiários pessoas físicas. físicas

Apenas com a 1ª
pessoa jurídica e as
pessoas físicas que
atuaram em seu
nome. Ser a primeira empresa a
Ordem de
Se o proponente revelar os fatos desconheci- Não há ordem de chegada
chegada for pessoa física, dos à investigação
apenas com as pes-
soas físicas, sem
beneficiar a pessoa
jurídica.

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Quadro-Resumo: Leniência do Ministério Público

LENIÊNCIA
LENIÊNCIA CÍVEL-CRIMINAL ACORDOS DE COLABORAÇÃO PREMIADA
ANTITRUSTE

- Não existem benefícios ad-


ministrativos automáticos.
- Realização de gestões para
entabular tratativas para a
Imunidade adminis- celebração de acordos tendo Não existem benefícios administrativos auto-
trativa total ou redu- como objeto os mesmos
Benefícios
ção da penalidade fatos em outras autoridades máticos.
administrativos aplicável de 1/3 a - Emissão de certidão sobre
2/3. a extensão da cooperação
realizada
- Empreender gestões para
que retirem eventuais restri-
ções cadastrais

- Não propositura de ações


criminais para os indivíduos
- Perdão judicial
aderentes de baixa culpabi-
Imunidade criminal - Redução em até 2/3 da pena privativa de li-
lidade
Benefícios total ou redução da berdade
- Sem benefícios para os
criminais penalidade aplicável
indivíduos de grave culpabi-
- Substituição da pena privativa de liberdade
de 1/3 a 2/3. por restritiva de direitos
lidade, que devem negociar
- Regime diferenciado (*)
Acordos de Colaboração
Premiada

- Não propositura de ações

cíveis ou sancionatórias
Não existem
benefícios cíveis (inclusive as ações de im-
automáticos.
Benefícios probidade administrativa)
Possível alteração
Não existem benefícios cíveis automáticos.
cíveis legislativa sobre a
- Suspensão das ações já
responsabilidade
solidária do signatá- propostas ou prolação de
rio da leniência.
decisão com efeitos mera-

mente declaratórios

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