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O Município no Brasil Colônia e sua transição para o Império: o primeiro

“surto emancipacionista”

Resumo
No Brasil, o Município precedeu ao próprio Estado – Unidade da Federação – constituindo-
se, desta forma, os fundamentos da Federação. Atualmente o Brasil possui 5.570
municípios, contudo o ritmo de criação das unidades municipais variou no tempo e no seu
extenso território. Vários fatores contribuíram para que esse ritmo se alternasse ao longo da
história do país, dentre eles a forma de governo, o baixo contingente do conquistador vis-à-
vis a extensão territorial da colônia, a ameaça estrangeira, os ataques indígenas, a
diversidade geográfica, os ciclos econômicos, etc. Durante o longo período do Brasil Colônia,
não se verificou crescimento vertiginoso do número de vilas e cidades. Contudo, na transição
para o Império ocorreu pela primeira vez o que muito autores chamam de “surto
emancipacionista”, contrariando a ideia de que a “explosão” da criação de municípios no
Brasil aconteceu apenas no período da República, notadamente, na Nova República,
quando a Constituição Federal de 1988 concedeu autonomia às unidades federativas sobre
a temática das emancipações e, em decorrência disso, foram criados mais de mil municípios.
O objetivo desta pesquisa é, portanto, trazer à baila a discussão de que o Brasil tem histórico
emancipacionista desde a transição para o Império, e que os “surtos” ocorrem em momentos
oportunos da política brasileira e em função do “represamento” da criação de novos
municípios, como se assiste nos dias atuais.

Palavras-chave: Povoamento, História do Brasil, Municípios brasileiros, Emancipações.

TEMA 14: As múltiplas abordagens da história da população


1- INTRODUÇÃO

Os estudos que tratam da criação de municípios no Brasil, através das


emancipações distritais, são relativamente fartos quando se referem a períodos mais
recentes, notadamente a partir da Constituição Federal de 1988 (BREMAEKER, 1991 e
1996; NORONHA, 1996; SOUZA, 1997; KLERING, 1998; RIBEIRO, 1998; KASZNAR, 1999;
GOMES & MAC DOWELL, 2000; TOMIO, 2002; FLEURY, 2003; LORENZETTI, 2003;
FAVERO, 2004; BRANDT, 2008; WANDERLEY, 2008; CIGOLINI, 2009; PINHEIRO, 2013;
NUNES & GARCIA, 2014; NUNES, GARCIA & OLIVEIRA, 2014, 2015; SHIKIDA, s.d.), e
muitos outros. Contudo, esses estudos tornam-se escassos à medida que se regride a
períodos mais pretéritos de nossa história.
Os registros históricos revelam que durante o longo período do Brasil Colônia o
número de vilas e cidades, e seus “termos”, evoluiu de forma gradual. Enquanto que, na
transição para o Império, verificou-se um grande incremento do número de municípios, como
se os pedidos para a emancipação estivessem represados ou aguardando momento político
oportuno. Na condição de colônia, o Brasil estava sujeito aos interesses da Metrópole
portuguesa. Embora o sistema político-administrativo herdado dos lusitanos tivesse que se
adaptar à realidade da Colônia e de suas atividades econômicas.
Nos três primeiros séculos da colonização a economia brasileira é parte do universo
mercantilista, cuja base é o Pacto Colonial, ou seja, a Colônia existe para fornecer matéria-
prima à Metrópole (IGLÉSIAS, 1993). Assim, as primeiras cidades coloniais, que tiveram
seus “termos” definidos para a configuração dos limites municipais, surgiram ao longo do
vasto litoral brasileiro como resultado dessa amálgama: povoamento (de caráter
exploratório) e bases locais, que constituíam os pontos de exportação das riquezas.
Esse estudo, portanto, irá elencar os principais acontecimentos externos e internos,
fatos históricos e agentes que contribuíram para o surgimento das vilas e cidades no Brasil
Colônia e no período de transição para o Brasil Império, quando se iniciaram os surtos
emancipacionistas, típicos do Brasil República – conforme referências supracitadas. Para
isso, foi imprescindível arregimentar dados em meio digital, derivados da importante obra do
geógrafo Aroldo de Azevedo (1992) sobre o surgimento das vilas e cidades no Brasil colonial.

2- A ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA NO BRASIL COLÔNIA E O


SURGIMENTO DAS PRIMEIRAS VILAS E CIDADES

Essa seção fará uma breve incursão histórica, visando contextualizar o surgimento
dos primeiros municípios no Brasil, bem como a sua expansão durante o Brasil Colônia até
a transição para o Império. Antes, todavia, formalizou-se sinteticamente os aspectos
metodológicos da pesquisa.

2.1- Aspectos metodológicos

Dois eixos principais sustentam essa pesquisa: a) revisão bibliográfica, numa


perspectiva historiográfica, em que o pesquisador fundamenta o seu texto a partir de obras
importantes que permitem situar o seu objeto de pesquisa (CANABARRO, 2008); b) análise
do surgimento de vilas e cidades no período colonial, a partir das informações obtidas e
dados quantitativos coletados das principais referências elencadas.
No primeiro eixo, alguns autores foram imprescindíveis. No caso de Azevedo (1992),
sua obra utilizada nesta pesquisa, antes em formato analógico, hoje digitalizada. Da mesma
forma, autores como Odair Alves (1986), Francisco Iglésias (1993), Caio Prado Jr. (1998),
Celso Furtado (1998) e Raymundo Faoro (2012) foram, da mesma forma, importantes para
correlacionar os principais fatos históricos ao povoamento do Brasil e, consequentemente, à
criação de vilas e cidades. Outros autores também trouxeram contribuições bem pontuais à
compreensão de fatores responsáveis pelo surgimento das primeiras municipalidades
brasileiras.
Assim, o principal percurso desse estudo é de caráter historiográfico, seja para situar
o objeto de pesquisa, seja para escolher a metodologia que permita dar conta do seu
desenvolvimento. Evidentemente, seria de maior relevo se se pudesse contar com dados
demográficos para o período de análise. Em Minas Gerais e em muitos territórios do Império
português, a contagem da população passou a ser realizada a partir da década de 1770
(STUMPF, 2017), o que impede o conhecimento detido do tamanho das vilas do período. No
entanto, isso não torna a pesquisa menos relevante, uma vez que foram identificados os
primeiros “surtos emancipacionistas” em períodos ainda remotos da história desta nação –
o seu principal objetivo.

2.2- Percursos históricos: o surgimento das primeiras vilas no Brasil

A paisagem de hoje do território nacional, sua organização e distribuição de cidades,


é o produto do “acúmulo de tempo” (Santos,1997). O território de hoje ainda se associa às
normas instituídas no passado. Sem entendê-las, não seremos capazes de melhor
compreender os espaços atuais (ABREU, 1997). Os ritmos do povoamento e as mudanças
impressas no espaço foram, portanto, diferenciados.
Durante os primeiros trinta anos após a chegada de Cabral, Portugal não se
preocupou em oferecer ao Brasil uma administração regular (a Carreira das Índias lhe era
muito mais rendosa). Com o declínio dos lucros nas Índias, a Coroa, então, deu início à
colonização do Brasil erigindo vilas e instituindo órgãos do Poder Judiciário. Evidentemente,
as leis que aqui passaram a vigorar eram as da Metrópole (BANDECCHI, 1972).
Os primeiros municípios da América portuguesa surgiram a partir de 1532, sob a
vigência das Ordenações Manuelinas (promulgadas em 1521). Todavia, as leis herdadas do
reino português não se ajustavam à Colônia. Assim, essas Ordenações não foram seguidas
à risca no Brasil. Aliás, o próprio sistema sesmarial apresentou falhas quanto à concessão
de terras. Martim Afonso, primeiro governador-geral, contrariou o texto régio que estabelecia
que a doação seria vitalícia, não de caráter perpétuo. No entanto, não há dúvida que essa
modificação se adequou melhor aos objetivos da colonização (ABREU, 1997).
Pêro Borges, primeiro Ouvidor-Geral, ao chegar ao Brasil em 1549, observou entraves
à colonização. Escreveu longa carta a D. João criticando a Justiça, pois as Ordenações
foram feitas tendo em vista os povos de lá e não os de cá. “Esta terra, Senhor, para se
conservar e ir avante, há mister não se guardarem em algumas coisas as ordenações, que
foram feitas não havendo respeito aos moradores daqui” (BANDECCHI, 1972, p. 18).
Ressalte-se que o Estado português tinha estabelecido um acordo com o Papado, no
qual recebia os dízimos relativos à Igreja e ficava responsável pela manutenção das
despesas da Igreja no Brasil, conhecido como padroado. O pagamento desse tributo à Coroa
e as consequentes obrigações que esta teve que assumir constituíram peças fundamentais
do processo de organização territorial do Brasil, e fizeram surgir um engenhoso sistema de
regionalização da cobrança (ABREU, 1997).
Segundo Vasconcelos (1997), a Igreja teria papel fundamental na Colônia à medida
que definia localizações das catedrais e das igrejas matrizes e delimitava as áreas territoriais
correspondentes (as paróquias). As ordens leigas, o Estado, os agentes econômicos e a
população foram agentes modeladores das cidades brasileiras no período colonial.

Os agentes tiveram diferentes papéis durante os quase três séculos do período


colonial. Durante este período a Igreja teve um papel importante, porém declinante
no fim do período, ao passo que o Estado manteve seu papel e mesmo o ampliou no
final da colônia (VASCONCELOS, 1997, p. 268).

Fonseca (2011), ao pesquisar sobre a gênese dos espaços urbanos em Minas,


atribuiu o processo de urbanização às funções religiosas e comerciais sem apontar aquela
que deteve a primazia1. Já Santin e Flores (2006) admitem que as municipalidades se

1 O processo de urbanização teria sido iniciado por necessidades de ordem espiritual ou material? Para alguns
autores, a primazia deve ser atribuída à função religiosa. Segundo eles, era a construção de uma primeira
capela que atraía novos moradores, o comércio e as outras atividades urbanas seriam, portanto, uma
consequência desta função primordial. Para outros autores, a população teria, ao contrário, erguido igrejas e
habitações em lugares que já possuíam uma função comercial, ou seja, nas proximidades dos pousos
situados ao longo das estradas e dos ranchos, onde se reuniam os tropeiros (FONSECA, 2011, p. 430). É
quase impossível identificar o elemento determinante de tal transformação, que permitiu o nascimento e o
desenvolveram não apenas sob a influência da Igreja, mas também com o apoio dos
donatários para a formação administrativa e política do Brasil.
No início da colonização, contudo, era comum que o estabelecimento das cidades e
vilas geralmente antecedesse ao povoamento, isto porque o seu próprio fundador (o capitão-
mor regente), detinha carta concedida pelo rei ou governador (FAORO, 2012).
Com relação a distinção entre vila e cidade, convém considerar o fato de o Brasil ter
pertencido à Ordem de Cristo, da qual o Rei era Grão-Mestre, Isso fez com que só vilas
fossem criadas nos tempos coloniais, pois as cidades deviam se assentar em terras isentas
de senhorios. A questão era mais de ordem eclesiástica, pois o Vaticano não consentia que
bispados fossem instalados em vilas e sim em cidades, por serem os bispos nobres de
primeira grandeza e príncipes titulares.
Destarte, os primeiros municípios fundados no Brasil com o nome de vila foram: São
Vicente, instalada em janeiro de 1532 por Martim Afonso de Sousa; Olinda (1537); Santos
(1545); Salvador (1549); Santo André da Borda do Campo (1553); São Paulo do Campo do
Piratininga e Rio de Janeiro (1567). Tudo indica que, no findar do século XVI, existiam no
Brasil 14 vilas (AZEVEDO, 1992), conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 1 – Brasil Colônia: 1532-1600. Evolução do número de vilas, conforme as atuais grandes regiões)
DENOMINAÇÕES
DATAS (original e atual) UNIDADE ATUAL
REGIÃO NORDESTE
1536 1- Igaraçú Pernambuco
1537 2- Olinda Pernambuco
1599 3- Natal Rio Grande do Norte
REGIÃO LESTE
1535 1- Porto Seguro Bahia
1536 2- São Jorge dos Ilhéus (atual Ilhéus) Bahia
1536 3- Santa Cruz (atual Santa Cruz Cabrália) Bahia
1551 4- Espírito Santo Espírito Santo
1551 5- Nossa Senhora da Vitória (atual Vitória) Espírito Santo
1590 6- São Cristóvão Sergipe
REGIÃO SUL
1532 1- São Vicente São Paulo
1545 2- Santo André da Borda do Campo (atual Santo André) São Paulo
1558 3- São Paulo de Piratininga (atual São Paulo) São Paulo
1561 4- N. S. da Conceição de Itanhaém (atual Itanhaém) São Paulo
1600 5- São João Batista da Cananéia (atual Cananéia) São Paulo

Fonte: Adaptado de Azevedo (1992).

A maior parte das vilas fundadas, entretanto, estava localizada na faixa litorânea, já
que fora um grande desafio para a Coroa realizar as primeiras incursões sertanistas, ainda

crescimento das cidades no Brasil. Contudo, dois lugares havia de suma importância para a população das
vilas e cidades coloniais: “a igreja que era de todos e a venda que era para todos” (TORRES, 1944, p. 55
apud AZEVEDO, 1992, s.p.).
no século XVI, em busca de pedras e metais preciosos. Era necessário um sistema de
governo que pudesse incentivar a fixação e a permanência do colonizador nessas paragens.

2.3- A administração territorial pioneira: o Brasil “bipolar” e a “civilização litorânea”

Os portugueses se deram conta de que estavam diante de um extenso território


voltado para o Atlântico, e de difícil penetração do seu interior (PRADO JR., 1998). Além
disso, tiveram que conviver com as constantes ameaças das invasões francesa, inglesa e
holandesa, e dos ataques dos nativos. Pesava ainda a indefinição quanto aos limites
territoriais, notadamente na região da Bacia do Prata, com o seu vizinho ibérico.
Ao constatar a não ocorrência de metais preciosos, os portugueses adiaram a
instalação de um típico empreendimento mercantil-colonial, limitando-se a assentar, até
meados do século XVI, pequenos e dispersos entrepostos de escambo e comercialização
do pau-brasil. Esta frágil presença estava longe de configurar uma verdadeira estratégia
geopolítica de ocupação e domínio de um território. Então, resolveram evoluir para bases
mais sólidas de ocupação, por meio de empreendedores privados dispostos (COSTA, 1989).
Assim, a primeira forma administrativa apresentada foi eminentemente
descentralizada – o sistema de capitanias hereditárias (FREIRE, 1906), instituído em 1534
por dom João III. Inicialmente foram catorze capitanias e doze donatários. Eram hereditárias
e não tinham relações umas com as outras.
Este sistema vigoraria até 1548, quando a Coroa instalou o governo-geral, pouco
eficaz no povoamento da terra. Os donatários não pretendiam povoar, mas arrecadar,
depressa. As donatarias fracassaram, bem como as capitanias, mas a terra prosperava 2.
“[...] malograva-se o sistema, mas vingava o negócio” (FAORO, 2012, p. 166).
A instalação de um governo-geral visava, sobretudo, a defesa contra os constantes
ataques dos índios e de estrangeiros. A missão era vigiar o litoral, já que a expansão colonial
para o interior seria gradual e conflituosa. A “insistência de estrangeiros na costa, para
ocupá-la ou simples contrabando, levava o governo a fazer fortalezas, colocar forças em
determinados pontos e a manter pequenas frotas [...]” (IGLÉSIAS, 1993, p. 37). Assim, as
escassas vilas litorâneas existentes funcionavam também como estratégia de defesa.
Em 17 de dezembro de 1548, dom João III nomeou Tomé de Sousa como o primeiro
governador-geral do Brasil, fixando os poderes do governador, temporariamente designado.
Este sistema, mesmo que frágil, duraria enquanto existisse a Colônia, e em muito

2 Apenas duas capitanias foram exitosas: a de Pernambuco, de Duarte Coelho, e a de São Vicente, de Martim
Afonso de Souza. Persistia um quadro de semiabandono do novo território, uma vez que o dispêndio de
capitais seria enorme, dado as suas dimensões. “Se as capitanias eram a descentralização, o governo-geral
era, como o nome indica, a centralização” (IGLÉSIAS, 1993, p. 26).
interessava à Metrópole. Primeiro, por assegurar a posse do novo território diante das
ameaças externas, segundo, por interiorizar o povoamento à custa do desbravamento de
novas terras, com base no trabalho escravo (COSTA, 1989).
A Coroa, ao incentivar a colonização por meio da concessão de terras para a
construção de engenhos de açúcar aos que tivessem posses, incentivou também a sua
concentração (ABREU, 1997), o que reflete até hoje na estrutura fundiária brasileira3.
Não obstante, a interiorização da colonização ainda parecia distante. O povoamento
se concentrava nas adjacências de um ponto de comando do território, geralmente uma vila.
Por esta razão, a fronteira entre as terras já concedidas e as que ainda estavam disponíveis
para doação foi rapidamente se afastando dos núcleos de colonização (ABREU, 1997).
No Brasil Colônia não houve sistemas urbanos sólidos que permitissem o
entrelaçamento dos povoados e das emergentes vilas das capitanias. Azevedo (1992)
chama atenção para o fato de que o sistema de povoamento e as atividades econômicas
desenvolvidas fora da área mineradora contribuíram para essa tendência antiurbanizante.
Dessa forma, as sesmarias e as fazendas de gado estimulavam a dispersão demográfica,
assim como os engenhos de açúcar eram responsáveis pela concentração populacional que
gravitava em torno das “casas-grandes".
Matos (2011) observa que, naquele período, no próprio continente europeu a vida
urbana era incipiente e a grande maioria da população vivia em áreas rurais. Deste modo,
falar em cidades no Brasil Colonial é focalizar territórios densos de pequeno tamanho, muito
distantes das grandes densidades das sociedades urbano-industriais do século XX4.
Contudo, à medida que os núcleos de povoamento mais densos se expandiam, diversificava-
se a economia e surgiam grupos sociais que acumulavam poder não rural, por meio do
comércio de maior porte e da participação na administração colonial (MATOS, 2011, p. 43).
Holanda (2016) afirma que os portugueses não instauraram no Brasil uma civilização
agrícola, mas uma civilização de raízes rurais. Foi nas propriedades rústicas que toda a vida
da Colônia se concentrou durante os séculos iniciais da ocupação europeia: as cidades eram
dependentes delas. Sem o incremento das cidades e a formação de classes não agrícolas,
a terra se concentrou, gradativamente, nas mãos de poucos. Holanda (2016), entretanto,
não ignorou que a burguesia emergente das cidades, notadamente os comerciantes, se
rivalizou com os proprietários rurais detentores do monopólio das Câmaras Municipais, muito

3 Estrutura que foi validada pela Lei de Terras (nº 601, de 18 de setembro de 1850), que reconheceu as
sesmarias antigas e ratificou formalmente o regime de posses, e instituiu a compra como a única forma de
obtenção de terras. Só em 1854 que essa lei foi regulamentada (SILVA, 1996 apud ABREU, 1997, p. 229).
4 Azevedo (1992), ao se fundamentar no historiador Max Fleiuss (s.d., p. 4), considera que os núcleos de

povoamento no Brasil eram modestíssimos e “um esboço dos nossos primeiros núcleos da organização
político-administrativa” e que eles, pouco a pouco, com a chegada de mais colonos, a feitoria se convertia em
aldeamento ou povoado, depois floresciam as vilas e as cidades.
poderosas no início do Brasil Colônia5. Serve de exemplo a disputa entre a aristocracia rural
de Olinda e os comerciantes de Recife, até então distrito daquela Vila. A disputa culminaria,
entre os anos de 1710 e 1711, na Guerra dos Mascates (GRILLO JR. 2013)6.
Este poder político do Brasil Colônia, especialmente no Nordeste, foi denominado
por Costa (1989) de “bipolar”. Um lado representado pelo governo-geral, que expressava o
Estado português no controle do sistema tributário, militar e comercial. De outro lado havia
a força política do poder local existente no modo de funcionamento das Câmaras Municipais,
onde se expressava o poderio dos proprietários rurais, os “homens bons”, os únicos que
possuíam direitos políticos (votar e serem votados). As câmaras poderiam fixar tributos
locais, regular moedas, organizar a defesa e o ataque aos índios. Permanecia, no entanto,
a característica principal da gestão política da colônia – a sua dispersão (COSTA, 1989).
Em suma, o modo como se efetivou a colonização portuguesa no primeiro século foi
criticado por Frei Vicente do Salvador, ao salientar que os portugueses, como ótimos
desbravadores de terras, se contentavam, todavia, em andar como caranguejos, ocupando
apenas estreita faixa do litoral brasileiro.

A ocupação do litoral, partindo dos focos de Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e


São Vicente, foi obra da metrópole, obra oficial e empreendida por seus agentes. Os
pontos extremos dessa jornada, para a qual o Atlântico serviu de via unificadora, se
fixaram no Rio Grande do Sul e na bacia do Amazonas, já entrado o século XVII, na
tentativa de recortar o perfil geográfico do Brasil entre os dois maiores cursos d’água
do continente sul (FAORO, 2012, p. 178).

Até o final do século XVI, poucas eram as vilas instaladas no Brasil, mesmo assim a
maioria estava localizada ao longo da costa brasileira, conforme mostra a Figura 1.
No decorrer do primeiro século a colonização pouco avançou, e a “ocupação do
litoral” teria fim com as incursões dos bandeirantes no século XVII. Havia, pois, um mundo
novo, entre o mar e o sertão, entre o mar e a serra (FAORO, 2012). Para “mergulhar” no
sertão era necessário se afastar do litoral. Mas faltava um elemento motivador para penetrar
o interior.

5 Este domínio político pelos senhores rurais perpetuou no Brasil por vários séculos, culminando na República
Velha com o fenômeno do “coronelismo” (LEAL, 1997).
6 “No Recife, forma-se, logo, uma burguesia rica que passa a dominar, econômicamente (sic), a Capitania.

Seus componentes, que eram negociantes e na maioria portuguêses (sic), querendo ingressar na Câmara,
sofreram forte oposição dos olindenses, que os chamavam de mascates por se dedicarem ao comércio. Em
1703 conseguiram os recifenses, os mascates, o direito de disputar cargos em Olinda, mas esta ordem foi
anulada, em seguida. Só restava, então, à elevação do distrito de Recife à categoria de Vila, desmembrando-
se de Olinda. A luta se acendeu entre burguesia e aristocracia” (BANDECCHI, 1972, p. 29).
Figura 1- Marcha do Povoamento e a Urbanização do Século XVI no Brasil
Fonte: Adaptado de Azevedo (1992).

2.4- A interiorização da colonização: bandeirismo e transição entre ciclos econômicos na


construção de novas territorialidades

Os 150 primeiros anos da colonização portuguesa no Brasil foram marcados por


lenta expansão territorial. Isso porque a Coroa contava com um efetivo populacional bem
reduzido, vis-à-vis à grande dimensão da Colônia e a necessidade de vigiar o seu litoral das
invasões. Além disso, pesava à administração metropolitana a grande distância entre
povoados e vilas já instalados, e também o desafio de conhecer o sertão. A penetração seria
obra oficialmente orientada, com estrutura militar do Reino já implantada na Colônia.
No início do século XVII, o litoral brasileiro, apesar da persistência dos vazios de
ocupação, já estava relativamente povoado, desde São Vicente até a foz do Amazonas. Vale
lembrar que Belém do Pará foi fundada em 1616, após expulsão dos estrangeiros. A
pecuária extensiva no sertão nordestino e meio-norte se encarregou de ocupar boa parte
dessas regiões, adensando-se ao longo dos vales fluviais. Os jesuítas, por seu turno,
instalaram suas missões pelo oeste do território e atingiram o extremo norte. Os
bandeirantes, partindo de São Paulo, abriram vias de circulação e criaram algumas pré-
condições para ocupações futuras, em especial com a descoberta do ouro em Minas Gerais.
Os vicentinos rumaram, a partir do litoral, em direção ao Rio da Prata, onde enfrentaram o
domínio espanhol (em fins do século XVII) e ocuparam parte dos campos gerais meridionais
mediante criação e comércio de gado empreendidos por luso-brasileiros (COSTA, 1989).
A economia canavieira, sobretudo a que estava assentada na Zona da Mata
nordestina, era a atividade econômica mais rentável durante o período colonial, embora essa
renda estivesse fortemente concentrada entre os donos de engenho (FURTADO, 1998). A
atividade suplantou, inclusive, a mineradora que se iniciaria no final do século XVII – por isso
conseguiu fixar os homens e seus sonhos de riqueza na orla litorânea por tão longo tempo
(SIMONSEN, 1957).
A produção açucareira, fundamento econômico dos séculos XVI e XVII, foi a forma
de inserção da Colônia no mercado mundial. A agricultura era sustentada pelo trinômio:
latifúndio, monocultura e escravagismo. No entanto, a economia canavieira revelaria a sua
primeira crise no final do século XVII, quando as exportações do açúcar brasileiro, em sua
grande maioria proveniente do Nordeste, começaram a minguar7 (FURTADO, 1998).
Em decorrência, aconteceria importante dispersão demográfica em direção ao
interior nordestino. O prestígio e certa opulência de Pernambuco e do nordeste litorâneo
acabaram impondo outras necessidades que sucederam a atividade canavieira. A ocupação
do interior se intensificava através da pecuária e surgiram outras culturas como a do tabaco
e do algodão que ganhariam notoriedade econômica no Nordeste (IGLÉSIAS, 1993).
A Figura 2 ilustra a marcha do povoamento no Brasil no século XVII; observa-se que
o povoamento se expande pelo sertão nordestino por vales dos principais rios, como o São
Francisco e o Amazonas.
A atividade criatória nordestina era muito dependente da economia açucareira. Em
princípio, a expansão desta comandava a daquela, em consequência ampliava-se a
penetração nos sertões. O crescimento do rebanho, associado à crise do setor açucareiro,
fazia com que sempre houvesse emprego para a força de trabalho que crescia
vegetativamente (FURTADO, 1998).
A crise econômica colocou Portugal em uma busca “feroz” de novas fontes de renda,
uma vez que a Coroa vivia das inúmeras taxas e impostos arrecadados na Colônia. Este
cenário estimulou que aventureiros e bandeirantes se colocassem a postos em busca do
ouro e de pedras preciosas.
Segundo Azevedo (1992), ao longo do século XVII foram criadas dezenas de vilas
no Brasil, sobretudo nas macrorregiões antes denominadas Leste e Sul do Brasil, conforme

7 A economia canavieira do Brasil foi afetada, primeiro, devido à concorrência antilhana, que se beneficiava de
ótima posição geográfica, já que a Holanda havia começado a produzir açúcar nas Antilhas, de boa qualidade,
com preços mais baixos, equipamentos novos e exportando o produto para a Europa – principal mercado
consumidor. A contribuição dos holandeses para a grande expansão do mercado do açúcar já ocorria deste
a segunda metade do século XVI, e por isso constitui fator fundamental do êxito da colonização do Brasil
(FURTADO, 1998). Segundo, a descoberta do açúcar a partir de outras fontes de sacarose. Em 1747, um
químico alemão obteve os primeiros cristais a partir do suco extraído de raízes de beterraba. Entretanto,
apenas no início do século XIX que a nova indústria teve finalmente oportunidade para se desenvolver, já que
a Europa assistia às guerras napoleônicas, com o bloqueio britânico e o consequente racionamento do açúcar
– o que acendeu um novo alerta à Coroa Portuguesa.
mostra o Quadro 2.

Figura 2- Marcha do Povoamento e a Urbanização do Século XVII no Brasil.


Fonte: Adaptado de Azevedo (1992).

Quadro 2- Brasil Colônia: 1608-1700. Evolução do número de vilas por grandes regiões.

DENOMINAÇÕES UNIDADE
DATAS (original e atual) ATUAL
REGIÃO NORTE
1632 1- Vila Viçosa da Santa Cruz do Cametá (atual Cametá) Pará
1634 2- Vila Souza de Caeté (atual Bragança) Pará
1661 3- Gunipi(?)* Pará
REGIÃO NORDESTE
1627 1- Vila Formosa (atual Sirinhaém) Pernambuco
1636 2- Bom Sucesso do Porto Calvo (atual Porto Calvo) Alagoas
1636 3- Santa Maria Madalena da Alagoa do Sul (atual Marechal Deodoro) Alagoas
1636 4- Penedo do Rio de São Francisco (atual Penedo) Alagoas
1637 5- Santo Antônio de Alcântara (atual Alcântara) Maranhão
1700 6- São José de Aquirás (atual Aquirás) Ceará
REGIÃO LESTE
1608 1- Angra dos Santos Reis da Ilha Grande (atual Angra dos Reis) Rio de Janeiro
1608 2- Cairú Bahia
1665 3- Santo Antônio da Itabaiana (atual Itabaiana) Sergipe
1667 4- Parati Rio de Janeiro
1677 5- São João do Paraíba (atual São João da Barra) Rio de Janeiro
1677 6- São Salvador dos Campos dos Goitacazes (atual Campos) Rio de Janeiro
1689 7- Guarapari Espírito Santo
1693 8- Nossa Senhora do Rosário de Cachoeira (atual Cachoeira) Bahia
1693 9- Nossa Senhora da Ajuda de Jaguaripe (atual Jaguaripe) Bahia
1693 10- Camamú Bahia
11- São Francisco da Barra do Sergipe do Conde (atual São Francisco do
1693 Bahia
Conde)
1697 12- Santo Antônio de Sá de Macacú (atual Japuiba) Rio de Janeiro
1697 13- Santo Amaro das Brotas Sergipe
1699 14- Iguaçu (atual Duque de Caxias) Rio de Janeiro
REGIÃO SUL
1611 1- Santana de Mogi das Três Cruzes (atual Mogi das Cruzes) São Paulo
1625 2- Santana de Paraíba São Paulo
1636 3 - São Sebastião São Paulo
1637 4- Exaltação da Santa Cruz de Ubatuba (atual Ubatuba) São Paulo
1645 5- São Francisco das Chagas de Taubaté (atual Taubaté) São Paulo
1653 6- Nossa Senhora da Conceição do Rio Paraíba (atual Jacareí) São Paulo
1653 7- Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá (atual Paranaguá) Paraná
1655 8- Nossa Senhora do Desterro do Campo Alegre de Jundiaí (atual Jundiaí) São Paulo
1657 9- Santo Antônio do Guaratinguetá (atual Guaratinguetá) São Paulo
1657 10- Nossa Senhora da Candelária do Outú Guaçú (atual Itu) São Paulo
1660 11- Rio de São Francisco do Sul (atual São Francisco do Sul) Santa Catarina
1661 12- Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba (atual Sorocaba) São Paulo
1665 13- Nossa Senhora das Neves de Iguape (atual Iguape) São Paulo
1693 14- Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba (atual Curitiba) Paraná
Fonte: Adaptado de Azevedo (1992).
*Localidade não identificada.

2.5- A expansão dos territórios do sul: a pecuária e os surtos de riqueza oriundos da


mineração nos setecentos

Da crise do setor açucareiro decorreu a diversificação econômica nordestina, o que


impulsionou a atividade pecuarista que rumaria para o sul, através dos vales de rios, como
o São Francisco e seus afluentes das duas margens8. Era o período da colonização dos
“sertões de dentro”, quando a Coroa Portuguesa também se preocupava com o
abastecimento interno das povoações e engenhos da Bahia e Pernambuco.
Verificou-se, assim, a intensificação de arraiais e fazendas de gado pelo interior da
Bahia e de Minas Gerais, já no final do século XVII. A expansão desses currais, momento
antes do ciclo do ouro, permitiu o surgimento dos primeiros núcleos urbanos, que serviam
de pouso para tropeiros, bandeirantes e aventureiros, e que se desenvolveram graças ao
incipiente comércio de alimentos, artigos e utensílios domésticos. Os caminhos abertos que
antecederam à mineração, somados às trilhas palmilhadas pelos bandeirantes, iriam formar
as primeiras artérias da atual rede de cidades do território nordestino (FERREIRA, 1999).
A descoberta de ouro em quantidade como ocorreu em Minas Gerais na última
década dos seiscentos, e que se estendeu pelo século XVIII, iria colaborar para o
devassamento do território (IGLÉSIAS, 1993). Concomitantemente, a atividade pecuarista
se tornava mais vigorosa no Nordeste e Sul do Brasil, e ganharia cada vez mais projeção
econômica no atual Sudeste. O interior do país adquiria dinamismo econômico em torno das
minas, e inúmeras fazendas surgiram próximas dos núcleos mineradores, muitas situadas
ao longo das estradas que ligavam os diversos centros de extração aurífera – em particular,

8 As terras localizadas à margem esquerda do rio São Francisco, no atual território baiano, pertenciam à
Capitania de Pernambuco. “‘O São Francisco’ – escreve Vicente Licínio Cardoso, ampliando a intuição do
gênio de Euclides da Cunha – ‘é a coluna magna de nossa unidade política, o fundamento basilar que reagiu
e venceu todos os imperativos caracterizadamente centrífugos oferecidos pelo litoral’ – ‘laço cósmico’ que
uniu os ‘bandeirantes do sul e os do nordeste’” (FAORO, 2012, p. 180).
os caminhos que conduziam ao Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Bahia. Em certos casos,
permitiram a formação de pequenos arraiais em suas terras (FONSECA, 2011).

[...] se o século XVII, o das Bandeiras, foi o século da expansão territorial, da


conquista e do povoamento, o século do ouro, o XVIII foi, com o declínio do
patriarcalismo rural, no norte, e do movimento das Bandeiras, ao sul, o século do
desenvolvimento das cidades, onde se formara e já ganhava corpo a nova classe
burguesa, ansiosa de domínio, e já bastante forte para enfrentar o exclusivismo das
famílias de donos de terras (AZEVEDO, 1971, p. 68 apud AZEVEDO, 1992, s. p.).

Visando um melhor controle das áreas mineradoras, em dezembro de 1720 a


Capitania de Minas se desmembrou da de São Paulo, sob o governo de D. Lourenço de
Almeida. Antes, havia se tornado uma unidade político-administrativa própria, ao se separar
do Rio de Janeiro a capitania de São Paulo e Minas do Ouro, em 1709 (IGLÉSIAS, 1993).
Nesse sentido, a descoberta do ouro resolveria um problema antigo da Coroa, que
persistia desde o início da colonização: necessitava atrair e fixar grandes contingentes
humanos no interior do Brasil, inclusive com o estabelecimento de uma grande via interior,
que foi o caminho da Bahia para as Minas Gerais (LIMA JR., 1978, p. 40-41).
Os arraiais do ouro se expandiram pelo Jequitinhonha. A mineração, começou nas
antigas lavras do aurífero Hivituruí. Logo, o atual município do Serro foi desmembrado do
termo da vila de Sabará, em janeiro de 1714, e elevado à categoria de vila. A descoberta de
diamantes nos anos de 1720, permitiu o florescimento da atual Diamantina. Localidade que
viria a ser o arraial do Tejuco, uma área de intenso afluxo de garimpeiros (NUNES, 2001).
Desta forma, duas modificações de fundamental importância alteraram
substancialmente o curso da formação territorial do Brasil. A primeira foi representada pelo
deslocamento do polo dinâmico da economia colonial do Nordeste para o Centro-Sul, a partir
da decadência da atividade açucareira e do advento da mineração em Minas. A segunda
refere-se ao deslocamento da sede do poder central. Em 1763, a capital da colônia é
transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, a fim de aproximar a administração central do
novo polo econômico, e também efetuar melhor controle de suas riquezas. Essas mudanças
afetaram o curso da formação e da gestão territoriais futuras (COSTA, 1989).
A atividade mineradora possibilitou uma efetiva interiorização do povoamento de
base predominantemente urbana, além de que estabeleceu fluxos e vias de comunicação,
com São Paulo e Rio de Janeiro, criando assim as bases da futura região Sudeste (com as
grandes polaridades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte)

2.6- O Brasil na transição para o século XIX: declínio da mineração e distúrbios às vésperas
do Brasil Império
Até fins do século XVIII, a colônia brasileira já havia experimentado dois importantes
momentos econômicos: o canavieiro e do ouro. A partir de então, estes setores econômicos,
articulados à pecuária e agricultura, iriam comandar a formação de novos territórios no
interior do Brasil. Nas palavras de Furtado (1998), a economia brasileira

[...] se apresentava como uma constelação de sistemas em que alguns se articulavam


entre si e outros permaneciam isolados. Essas articulações se operavam em torno
de dois polos principais: a economia do açúcar e do ouro. A pecuária nordestina
estava articulada ao núcleo açucareiro, se bem que de forma cada vez mais frouxa,
estava a pecuária nordestina. Articulada ao núcleo mineiro estava o hinterland
pecuário sulino, que se estendia de São Paulo ao Rio Grande. Esses dois sistemas,
por seu lado, ligavam-se frouxamente através do rio São Francisco, cuja pecuária se
beneficiava da meia-distância a que se encontrava entre o Nordeste e o centro-sul
para dirigir-se ao mercado que ocasionalmente apresentasse maiores vantagens. No
norte estavam os dois centros autônomos do Maranhão e do Pará [...] (FURTADO,
1998, p. 90).

No início do século XIX o sistema colonial estava em franca desagregação, e já dera


os seus frutos sob o signo do velho Pacto Colonial (IGLÉSIAS, 1993). Nos extremos
setentrionais e meridionais, o povoamento e a economia haviam prosperado: além do Pará
e do Maranhão existiam núcleos ao longo da calha do Amazonas, com destaque para São
José do Rio Negro (Manaus); ao sul, os núcleos litorâneos e a ocupação extensiva do interior
já representavam uma base segura para a onda de povoamento do séc. XIX (COSTA, 1989).
Contudo, a nação estava prestes a passar por distúrbios, que foram estimulados pelos
ideais de liberdade9 que ecoaram dos Estados Unidos e do Velho Continente, reforçados
pelos constantes abusos da Coroa Portuguesa. O descontentamento se tornou cada vez
mais intenso, sobretudo quando se reduzia a exploração mineral, o que provocou a crise do
setor. Assim, no alvorecer do século XIX, a colônia brasileira transitava por um momento em
que se esgotavam os seus depósitos auríferos de superfície na vasta área que ocorreram.
Um rápido balanço do que sobrou da mineração, foram observados nas quatro capitanias
centrais: Minas Gerais (principal), Goiás, Mato Grosso e muito pouco na Bahia.
Neste período acentuaram as rebeliões e revoltas na Colônia, muito relacionado ao
modo que a Coroa administrava as riquezas. Estes conflitos já se arrastavam desde os
primeiros decênios do século XVIII. Era uma série de rebeliões de origem fiscal e de revoltas
que desafiaram as autoridades coloniais, em diferentes regiões, como exemplo Bahia,
Pernambuco, Minas Gerais. Tratava-se de reivindicações setorizadas, já que a ideia de uma
unidade entre as diferentes partes que compunham a América portuguesa era, então, muito
menos clara entre os colonos do que entre os homens que os governavam a partir da

9 Essas mudanças tiveram início com os ecos da Independência Americana, em 1776, e que repercutiram em
todo o planeta. As ideias liberais foram robustecidas ao calor da Revolução Francesa, em 1789, que
redesenhou o mapa da Europa e iria abalar as monarquias daquele continente. A independência das colônias
inglesas também foi fundamental. Assim, no início dos oitocentos, a América Latina já estava madura para
tentar a sua emancipação política.
Metrópole (FONSECA, 2011).
Além de choques entre as capitanias, funcionários da justiça e do fisco, entre os
governos das capitanias e o central, este clima culminaria com duas importantes
contestações, ainda no início do século XVIII, as guerras dos Emboabas e dos Mascates (já
mencionada), que já sinalizavam a fragilidade do domínio metropolitano sobre a Colônia.
A Guerra dos Emboabas, por exemplo, colocou em choque dois grupos distintos em
Minas Gerais: os bandeirantes paulistas, que reclamavam exclusividade na exploração do
ouro, e forasteiros imigrantes. Em Minas Gerais, após esta guerra, a criação de municípios
conseguiu levar a pacificação àquela área da Colônia.
Todavia, a mais importante dessas rebeliões ocorreria na segunda metade do século
XVIII, em 1788, conhecida como Conjuração Mineira, quando as vilas mais populosas da
Província viviam a crise da mineração. Os inconfidentes eram contrários ao funcionamento
das Casas de Fundição10 e tinham em vista os ideais de liberdade, visando tornar o Brasil
independente da Metrópole. Estes acontecimentos foram influenciados pelos ideais da
Revolução Francesa, que resultaram também nas lutas pela independência nas Américas.
As rebeliões e os acontecimentos políticos no Velho Continente deixaram a Colônia
mais instável do ponto de vista do controle político e social, como também contribuíram para
as manifestações de liberdade e independência.
É neste contexto, que a literatura revela que ocorreu forte incremento na criação de
vilas e cidades no Brasil Colônia, cujos resultados serão apresentados nas próximas seções.

3- ALGUNS RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como visto em seções anteriores, alguns acontecimentos foram fundamentais para


a escalada do número de vilas no final do Brasil Colônia, a exemplo do clima de rebelião que
estava instalado desde os primeiros decênios do século XVIII, e que se acentuou até
culminar na Inconfidência Mineira.
Conforme visto, Alves (1986) cita que a criação de municípios em Minas Gerais
conseguiu pacificar aquela área da Colônia após a Guerra dos Emboabas. Fato é que as
lides municipais já não empolgavam, àquela altura, os senhores da terra e os colonos, que
ascenderam economicamente com a descoberta das minas. Estas propiciavam maior
número de cargos e os naturais da terra começavam a ter maiores aspirações, ao enviarem
seus filhos à metrópole para cursarem universidade. As vilas, distantes dos centros auríferos,

10 As casas de fundição transformavam o ouro em barras para serem enviadas a Portugal. A Coroa cobrava “o
quinto”, ou 20% em impostos. Além do quinto, cada região produtora deveria fornecer certa quantidade de
ouro. Havia muita sonegação de impostos, e quando o valor não atingia o esperado pela Coroa, os soldados
entravam nas casas e retiravam os bens dos moradores até que se completasse o valor – a derrama. Esta
cobrança era motivo de revoltas entre a população.
decaem e o grupo patriarcal que dominava os concelhos municipais também se eclipsa. Com
a queda da produção aurífera, esse grupo se volta às atividades agrícolas e se transformará,
durante o Império, no alicerce econômico do Brasil (ALVES, 1986).
No final do Brasil Colônia, durante o século XVIII, foram criadas mais de uma
centena de vilas, e as macrorregiões Nordeste, Leste e Sul, conforme regionalização
utilizada por Azevedo (1992), já figuravam como as mais segmentadas territorialmente –
prenúncio do que aconteceria nos dois séculos seguintes com as emancipações distritais. O
Quadro 3 mostra o número dessas vilas criadas no período de 1701-1800, segundo a região
e os estados brasileiros atuais.

Quadro 3- Brasil Colônia: 1701-1800. Número de vilas criadas, segundo as grandes regiões e UFs.

UNIDADE DA Nº DE VILAS
FEDERAÇÃO (ATUAL) CRIADAS
REGIÃO NORTE
Amazonas 8
Pará 8
Amapá 1
Subtotal 17
REGIÃO NORDESTE
Ceará 13
Paraíba 4
Maranhão 3
Rio Grande do Norte 3
Alagoas 2
Piauí 2
Pernambuco 1
Subtotal 28
REGIÃO LESTE
Bahia 27
Minas Gerais 14
Sergipe 3
Espírito Santo 2
Rio de Janeiro 2
Subtotal 48
REGIÃO SUL
São Paulo 13
Paraná 3
Santa Catarina 3
Rio Grande do Sul 1
Subtotal 20
REGIÃO CENTRO-OESTE
Mato Grosso 4
Goiás 1
Subtotal 5
TOTAL 118

Fonte: Adaptado de Azevedo (1992).

De acordo com Fonseca (2011), a instituição de novas câmaras municipais poderia


ser uma maneira eficaz de acalmar e assim satisfazer as elites locais. A fundação de uma
vila acarretava não apenas a criação de cargos administrativos e judiciários, mas podia
favorecer o comércio e aumentar o valor das terras nas redondezas (FONSECA, 2011).
Certamente a criação de vilas durante o longo período colonial corresponde não
apenas ao povoamento progressivo e crescimento econômico das localidades, como
também aos interesses do governo português na instituição do poder civil, com fins
principalmente fiscais. E que atinge também as lideranças políticas locais (CHAVES, 2013).
Este movimento emancipacionista se estendeu pelas primeiras décadas do século
XIX. Segundo Azevedo (1992), os primeiros 22 anos do século XIX, a derradeira etapa do
período colonial, no que se refere à urbanização, fez-se mais do que em todo o século XVII
– duas novas cidades e 44 vilas novas surgiram no panorama urbano do Brasil. Com mais
de 8 milhões de quilômetros quadrados, o Brasil, enfim, conseguiu tornar-se independente.
Seria esse o panorama urbano do Brasil no momento em que se libertou do domínio
português: 12 cidades e 213 vilas, concentradas na porção leste, conforme ilustra o Mapa 1.

Mapa 1- Vilas e cidades brasileiras criadas entre 1530 e 1824.


Fonte: Atlas dos Municípios (PNUD, 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos que tratam da criação e emancipação de municípios no Brasil são
relativamente raros quando se regride a períodos mais antigos da constituição territorial do
país. Os dados históricos mostram que durante o Brasil Colônia o número de vilas e cidades
evoluiu lentamente. Contudo, na transição para o Império, verificou-se um notável aumento
do número de municípios.
Os primeiros municípios do Brasil surgiram a partir de 1532, sob a vigência das
Ordenações Manuelinas (promulgadas em 1521), embora não se ajustassem à Colônia, daí
a adoção do sistema sesmarial (modificado por Martim Afonso). Fato é que a criação de
municípios e a estrutura administrativa sofreram clara influência dos donatários, mas
também da Igreja.
A maior parte das vilas fundadas localizava-se na faixa litorânea, de onde a Coroa
pudesse realizar as primeiras incursões sertanistas, ainda no século XVI, em busca de
minerais preciosos.
Diante da não ocorrência de metais preciosos, os portugueses adiaram a instalação
de um típico empreendimento mercantil-colonial, limitando-se, até meados do século XVI, a
pequenos e dispersos entrepostos de escambo e comercialização do pau-brasil. Esta frágil
presença territorial estava longe de configurar uma estratégia geopolítica de ocupação.
Com a decadência da economia canavieira e o desenvolvimento da mineração é que
o povoamento se efetivou no interior da Colônia com o surgimento de novas vilas e cidades.
A crise do setor mineral e os acontecimentos externos colocaram em xeque a
monarquia no Velho Continente. Várias revoltas e rebeliões ocorreram no Brasil no clamor
pela independência. Neste período vários municípios foram criados com o intuito de
“pacificar” as regiões em conflito.
Este pequeno “surto” emancipacionista no Brasil Colônia teria continuidade nas duas
primeiras décadas do século XIX, quando foram criadas muitas outras municipalidades.

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