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A CULTURA

BRASILEIRA
INTRODUÇÃO AO ESTUDO
DA CULTURA NO BRASIL
FERNANDO DE AZEVEDO
Prof'eai,or da Universidade de São Paulo

A CULTURA
BRASILEIRA
INTRODUÇÃO AO ESTUDO
DA CULTURA NO BRASIL

Segunda Edição

COMPANHIA EDITORA NACIONAL


São Paulo-Rio de Janeiro-Recife-Bahia-Pará-Pôno Alegre

1944
Primeira edição, Instituto Brasileiro de Gcog,rWia e EstaUstica, ag~to de 1943
Seiunda edição, Companhia Editora Nacional, agõel'O de 1944

IMPRESSO NOS ESTADOS UNrDOS DO BRASU.

PRI.NTBD 1N THB UNlTBD STATBS OF 13RAZ1L


NOTA DOS EDITÔRES

Esta obra constitui o tomo 1 do volume I - Introdução - da Série


Nacional. das publicações do Recenseamento Geral. do Brasil, realizado em
1.0 de setembro de 1940.
Promovendo sua elaboração, em obediência a disposições legais, a Comissão
Censitária Nacional considerou o objetivo de dar maior expressão aos resultados
censitários, mediante o confronto dêstes com os antecedentes históricos da
formação cultural do povo brasileiro.
A presente tiragem da publicação oficial, com um ou outro acresczmo
e como edição do Autor, pela qual responde a Companhia Editôra Nacional, foi
autorizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística para atender à
conveniência de proporcionar maior divulgação a uma obra de interêsse geral.
SUMÁRIO
,
SUMULA

INTRODUÇÃO

Parte Primeira

OS FATÔRE$ DA CULTURA

O PAIS E A RAÇA - O TRABALHO HUMANO


AS FORMAÇÕES URBANAS - A EVOLUÇÃO SOCIAL E POLÍTICA
PSICOLOGIA DO POVO BRASILEIRO

Parte Segunda
A CULTURA

INSTlTUJÇõES E CRENÇAS RELIGIOSAS - A VIDA INTELECTUAL


AS PROFISSÕES LIBERAIS - A VIDA LITERÁRIA - A CULTURA CIENTIFICA
A CULTURA ARTÍSTICA

Parte Terceira
A TRANSMISSÃO DA CULTURA

O SENTIDO DA EDUCAÇÁO' COLONIAL


AS ORIGENS DAS INSTITUIÇõES ESCOLARES
A DESCENTRALIZAÇÃO E A DUALIDADE DE SISTEMAS
A RENOVAÇÃO E A UNIFICAÇÃ(!) DO SISTEMA EDUCATIVO
O ENSINO GERAL E OS ENSINOS ESPECIAIS

BIBLIOGRAFIA GERAL - fNDICE DE NOMES


1NDICE DE ASSUNTOS - 1NDICE DE GRAVURAS
,
INDICE

Introdução ......................................... ~ .. _ 1
O que se entende ))OI" cultura - A variedade de sentidos que se atribuem
a esaa palavra - A concepção antropológica de cultura-'- A co.mprecnsã9,·
oob e.e t~o. dos elementos materiais e imateriais da civili%ação - A
concepção francesa de cultura - A limitação da cultura aos elementos ima-
teriais - As cottcepções, nacionalista e universalista, da cultura - Civi-
lização e cultura - O ponto de virta cm que me coloquei para cstudàr a
cultura no Brasil - O. fat= culturais: físicos, raciais, técnicos e econômicos,
sociais e históricos - O conceito da civilização brasileira - As diversas
manifest:Qçõcs da cultura .no Brallil - A educação, transmissão da cultura
- Uma obra de síntese - As dificuldades de um trabalho dessa natureza -
"Urna hont de sfntcsc supõe anos de anélise" - A falta ou a insuficiãicia
de monogra.{"taSespecializadas - A utilidade de uma visão de conjunto, tão
perfeita quanto possível.

Parte Primeira
Os fatôres da cultura
Capitulo I - O país e a raça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

O meio físico - A fisionomia geográfica e a extensão territorial do


pais - A oposição daS- duas vcrteQtCII continentais - As duas gtandes
bacias hidrogrMic~ - As distAncias e a divcnridade dos quadros naturais
- O ambiente geom6rfico e climatérico - A flora e a fauna - Os recursos
minerais - O mar e a costa - Regiões de condeosação e de dispersão -
Os rios de penetração - O São Francisco, rio da unidade nacional - As
origens e a composição do povo brasileiro - As três raças que confluíram na
formação daf populações no •Brasil - Os dados antropológiqos - A dis,-
tribuição das populações setentrionais e meridionais - O crescimento vegc•
tativo da população - As migrações internas - As imigrações - A mes-
tiçagem - Seleção e pcneiramento - Densidade estática e dinlmica
A distribuição da população por idades, sexos e raças. - O brllllileiro.

Capítulo ll - O trabalho humano . . .. . .. . .. ... . ..... . .. .. .. .. 39

O monopólio do pau de tinta -A agricultura e a vida rw,al-Os engenhos


de açúcar - A escravidão reg\llamentada, técnica elcrncntar e o trabalho
barato - O descobrimento do ouro e as entradas ao sertão - As lavras
de -Minas e de Mato Grosso - A caça ao índio - As invernadas de Piauf,
Goiás e Rio Grande - Velhos e novos caminhos - A grandeza do esfôrço
humano - Limites geográficos e fronteiras econômicas - O sertão ameri-
cano e o sertão brasileiro: semelhanças e diferenças - As fazendas de café
Vlll A CULTURA BRASIL IRA

- Ainda • monocultura de base escravocrata - A conccnlJ'


cm mãos de grandes proprietários - A vida econõmica e as
A m o-de-obra industrial na Colônia e oo lmp&io - Gnande. e pequena
cultw' - Os portos e a navegação costeira - Os transporte. e o c:om&cio
- O regime fiscal - O surto das indústrias os ícnõmtt101 de coocen o
- A variedade e o desoívcl dos centros eam6mí001 e culturais - As ln,
díaatriu atrativas - A aploração do subllolo.

Capítulo III - As formações urbanas .. .. . .. ... . .. .. . ... .. . . ... 61

O si ema de l)Ovoação marginal - As primclrn povo , entreposto,


de mêTciomarítimo - A face da civilização urban , voltada par o AtJAntico
- Cidades fortificadas - As inva5Õcs e tra.n eir - O contraste entre
o esplendor rural e a miséria urbana - m proveito d engenhos - A li-
berdade, condição dos habitantes das cidades - A o da bur ·uceia urb na
bre a sociedade feudal - As guerras e e to õcs nativistas - A cid dea no
planalto--. A Vila de Piratininga, à b6ca do ser o - O perigo constante das
n.cursões de !ndios - As bandeiras e o despovoamento das cidades - Vila
Rica e o caminho do ouro - Os centros de comér iode gado - i;plendor e
de ad~ncia das cidades coloniais - Anlcs de atingirem a idode da matu-
ridade. . . - A cfü1per,;ão e o isolamento das iJom ações urbanas - O
litoral e os sertões - Tranqüilidade e pobreza das • ade no Imp&io - A
vida nas ·dadcs - A indústria e o crc cim nt dos cen orban - A.
cidades, capitais politicas - Focos de pro ressoe de civiliza o.

Capítulo IV - A evolução social e política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

A colonização no Branl, suas íorm e seu, rumo. - ) A fi d


homem à tcrr - A ~mc:ia frudal - O choque cb.s b'b r ç , e culturas
- A • ade colonial - O reino do aç(ic:ar - O esplendor da vida rural
- b) A penetração e conquista da tuni. - As mig:raç&, int u e,n-
tr u sertão - As bandeiras - Fen&nc:nos de - Dcsloaiçio de
fronteira - O reino dos mctaís - A fotm o do pfrito e da unidade na-
cional - e) A independência d.a terra - Rqjmc tri cal de economia -
A no raa a aristocracia rurais - A b cai da "dad - O indivi-
du tismo e os preeursores da ideologia democr tica. - O 2.• lmp&-io e a
uniíic o pol!tica - A p0litica e o romantismo - A aboli o d esaava-
ura - d A dcmocratixa!;âo pela terra - Pcrsia ~eia. da trutur social e
onõmico. - A República - O esplrito particuJarl•t - O sistema fede-
rativo os partidos políticos - O profi fonaH mo p I tico - A imigraç o
e monocultura do café - A 1Jcquena pro riedadc r talhando os latifúndios
- O surto das indústrias - A evolução da socied d contcmporlne .

Capítulo V - Psicologia do povo brasileiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

An lise do caráter coletivo - A int rpcoetra o das cultur , afro.


índi e da dvilização ibérica - O braoc e vfaad r e a misc1gen o -
O resultado do encontro das três cuJtur ! inicia - A concordA.ncia e
1n po.tibilidade de certos traços originário, - Alguns traços fund.omenta1
- O reclomfnio do afetivo, do irracional do m - Atitud em r r:c
da vida - Resignação fatalista - Tolerlncla e bospitalid e - J.nstinto
d reação de defesa: rci=va e irrevcr&lcia - O humor bnsileiro - Plasti•
• ade na adaptação às situações novas - O desint r econõmko - Itn-
pr vid!ncla dissipação - Sensibilidade deli e e • vcl - lnteli meia
vivu e upe_rficial - Falta de espúito posítivo. de objetividade e de tidão
- Von de losiva - Capa.cidade de uand esforços - Ação feita de i.m-
pulsõcs, sem cons ãncia e sem espírito de con '.nuidade - Valor qu ,e,e atribui
pcsso humana - Individualismo an!rquico - O individualismo i.mpc--
di.ndo & concentração l)Olítica - Auscncia de ~lrito d cooperação - Povo
de oneiros - Preitígio pessoal e hierarquia aocial - O homem do litoral
mcm do crtão - Norte e Sul - Oivel'lidadc de tipOS r ríonais e
e fundamental - As transformações de m ntalidade e su causas
ertemas.
iNDICE GERAL IX

Parte Segunda
A cultura

Capítulo I - ln •tui - e crenças religiosas 125


A hi!tória du miAõcs e a bi.st.6ria da ci~ cn,tã - A Compaohia de
Jcsu.s e Reforma - A prim.rira missão de jcsuitas ao Brasil - A cat~ucsc:
J 1>• ANCHarA - O Evangelho nas selvas - A tempestade da Refonna
e • ua repen:uasão no Bra.sil - A fundação em Roma (1622) de uma con-
gregação pennanen para a pr~o da fé - A erpen o das mia&s -
0a mi.uionirios contra os abuaos da conquista - ANTÕNJ0 V111tiaA na Juta
acmtra a escravidão do indios - A cultura, nesse pcrlodo, mais ou meno.
tributãria da rei giã.o - O catolicismo e a influt!ncia das religii5el aft-o-lndiaa
- Casa grande, capela e senz.ila - As igrejas e os t,emplos - O p6.lpit'o no
Brasil - A format,ão d0:1 sacerdotes - As ordens e congrc1açl5etrrelwioeae
- A au riquc1: e o seu florc!lci.mento - A maçonaria - Aa atividade, da•
lojas meç nkas - A fusão da Igreja e do Estado - Influencia do clero -
O. gr ndcs prcg dorct - A questão religiosa - Liberdade de ulto e de
crcn~• - O protellte.otismo e seus progressos - O espiritiamo e outras
formai de religiosidade - A teosofia - O positivismo - A "reli&) o d
bumanid e" - Religião e cultura. - Predomínio da rd.i«ião catt>lica.

Capítulo II - A vida intelectual - As profissões liberais . . . . . . . . . . 149

intelectual crninenttmdlte litmiria - Letr:adoe e eruditos - A


herança da nica da cultura clássica - A gnunáôc.a e a retórica - A
vidão e a. repugnãncia pelos ofícios e atividades de base manual med•
nica - A tcod eia para a buromacia e as profissões liberais - A fundaçlo
d cunos jurid.icos - A cult:W'a juridica - Adv°'ados e jurixon.sulto. -
A funçio cultural d faculdades de direito - Focos de idEias e cwnpanbaa
poli • - A EIClólaCentnl - A$ duas f.aculdad.esde ml!dic:ina - Mfdicos,
engc:nheir011e adv adas - As elites caltut'ais, políticas administra • •
recrutada nu proi~ liberai& - Política de doutoree e de fucn-
deiros - A preponderlocia dos juristas na politica - A Escola de Mina ,
em Ouro Pr to - ÔSVALDO CRUZ e a ml!dicina nacional - As uoc:ta
profisslonai, - O prestí&io dos diplomados - Cultunl d caT'ter marcada-
mente profi ·onal - As profissões e as letras - O esfôrço para ultraS)8JISo.r
e dominar, pel cultura, s profissão - A atividade do coro&-cio do IÍVTQ -
Livraria e bibliotecas.

Capítulo III - A vida literária .... ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173

Os prirnõrdtos da literatura brasileira - Lituatura portuguba feit


no Brasil - As sua.s primeiras manifestações originais - Guoó1t.r0 D&
MATOI e tira - Diferenciação social e diíCTenciaçio lincfilsdca. -A
COC2'istb:lciade du llnguas vulgares até o século XVllI - O teatro de M•
TÕNIO Joú DA SILVA - Os dois ~ nacionais - Os poetas da lnc:oo•
fidEnria - Revolociorários na política, conservadores nas letr - O Jor•
nalisrno e a tu da Independ!ncia e no 1. lmpêrio - Utcratura política -
0

O romantismo no Brasil - A atração para os temas indigenas - Go -


ÇALVSI DIAS, o poeta d.o fodio - Jost OE ÃL2NCAR e a llnlUB brasileira -
e.unto A.t.vas. o poetA dos escravos - A evolução do teatro eu waa íicura•
principais - • mióri de um sargento de :millcia.s" - Ofpemamento
n.óonal. de TAvAJa.S B - A eloqüência par.Jamenw oo Império -
JOAQUOI ABUCO e Rcn BAJUIOSA- Agitadores de idéiu - T081.U BAR-
ro e SfLvro Ro11Uo - O esplendor do jornalismo - Eou.umo PaADO
- A Academia Brasi eira e a unidade de língua - O. andes poetu l1ria,e
- A bllt6ria. - Aa dllDs faces do espírito nacional - MACHADOD Alar.a
Euc.a.ma DA CtrNHA - Ensaístali, criticos e panfJetirios - Movimento
de literatura moderna. - A poesia dos novos - ROlllSJlcistas e novelistu -
A difu.aão da imprensa - A literatura e o espírito p<tblic:o.
X A CULTURA BRA lLEl

Capitulo V - A cultura científica 205


O pa-lodo boland!s - A oomitiva de !bu feto o• - Os
primeiros ezploradorcs estrangeiros - A col.Onia e a metrópole - A
em q11e a metrópole mergulhou o Brasil coklnial - A • d•
portu E:seno Brasil - D. JoÃo VI e u primeiras C&CO!as e in•tituit
- O Museu Nacional - Os ~dos de botlnica ~ • -
de naturalistas cst:nuigciros pelo interior do ·1 - A & ogia -
& pctqUisu palcootol6gicas do Dr. LUND, Lagoa Santa - ó!ncia f{.
·cu - De BAJl1'0L-OlOru nE GUSKÃO a SANTO DUMO - o ObSCTVetório
Nacional - Escasso interêsse do bf'Uilciro pelu c:i&\ • ffsices - D. PEDRO
JI • cimcias - A E5c:Ol~de Minas - A matem tiai e oa acu prioci,p is
wtorca - Golllts Dlt So\JSA - Mulleus e bibliotcc - A Blblio eca Na•
donaJ - INA RODRlGUES e a Medicina Legal - 08vA.Loo Cauz o centTo
de pcaquisa. em Manguinhos - A geografia e hist.6ria - O Institutos
Históricos - A penetração do espírito científico aos e tudo, hia 6rico gco-
vMieoe - O Instituto Brasileiro de Geografia e Eatatistlc - As mistões
culturais estrangeiras - As ciências sociais - A sociologia a e nologfa no
Bravil.- Cillnci11e filosofia. O positivismo - A filo o!ia de FARIAS Bano.

Capitulo V - A cultura artística ............................... 243


A arte, sob diversas formas, no penodo colonial - uran o domínio
boland . em Pernambuco -A arquitetura sacra e o barroco - As velha
ícr •u Bahia e de Minas Gerais - Os clallBttoa do Nordcnc - Pintura e
d •çio das igrejas - A =ltura; o ALl!IJADIHHO - arte reli i a
tor!utica - Uma arte brasilcira original - MSSTll& Vit.t. l'fT1M - A ouri-
e a arte de lavrar - A casa colonjal - A mú • reh ·osa e a m si
ular - 0 primeiro compositor 'leito: o Pe. Jost IJIÚCIO -
A mi e arti íranccacs (1816 - A Academia d Artn - Oiv. •
N OE ON'ttONY. aTquiteto - & primeiras ex:po,si de pintur -
A Nptu.ra com a arte de tradição colonial - O despertar do sentimento na•
donal na - Pint:on:s de quadros hútóric.os - VfTOll ua&.I.IS e:
P&otto • ICO - A pintura bram1cira de costwnet: ÃUfflDA J1l"10 -
uandes pajss • - HJmluQUE BllNARDELLl e BAn A DA CosTA -
bel •'11 e as artes industriais - A arte, pene do o ·om i mo:
a eericatura - A música brasileira - O Cooserv tório de 6sica -
CAJlL08 OolilJB - O movh.ncnto da arte moderna - Tradicionalistas e
inovadore. - A CIC'U!turae V. BltECHERJtT - A arte mmore - A pintur
e a fi&UH• dominantes - PoRl'INARJ - A arquitct a ruptura doa
)oçoa entre o útil e o belo - A música: VtLAS LOeo - O público e o !sta
- Museus e pinacotecas - Historiadores e crl'tieos d arte.

Parte Terceira
A transmissão da cultura
Capitulo I - O sentido da educação colonial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287
A. origens cclcsiá tica~ do ensino no Bra&il - As mi •csuiticas e a
Clllcquese colonial - O primeiro mes e-escola - M.umEt. DA NóB
lt.Clltl'A NAV RRO - Apóstolos e educ:ad - Jost Dll ANCHI TA
- Nos tios dos colégios e nas aldeiu dos catttúmcnot - las de ler
e c,crevcr - Educação literária _popular, de fundo 1"eli&i010 - cai.anlãl> da
lln& portuguêla entre 011 indígenas - A paisagem .social da Colbnin - A
f11mlfui~triarcai - A situação das mulheres - As tr& eir ou dlrcçôes
qu • m os filhos - Os capelães e tio«- res - O. id • dD bomffll c:ulto
ero Ponugal - A instrução e os jesuft:as - Os col • de pach - &-
• e mcs em artes - Os estudos superiores n m tr6pol - O pcl
da Universidade de Coimbra na f:on:na<~ das cli - Os cminfui
onop6lio de ensino - Para a forma,çio e déri oe e l~os - Sistema de
eoaino alindo da cidade contr-a os campos - Os colqi01 doe j uJtaa e o re-
de vida patri.wcal - Processo de "urbaniz-ação" da• elites - A obr:
INDICE GERAL XI

e• unidade nacional - O marquês de PoKaAL e a crpult-o dos


jcsu1 7S9) - De!tnúção do sutema colonial de en9ino - A reforma pom.
ina em cuc:uçio - h aulas rqjas e o "subsídio litlririo'' - O. padres
mntnt e ca de ~o - Colégios das ordens mODisti - Perlodo
d, d enda e de tran.tição.

Capítulo II - A origens das instituições escolares 321


A renovaçio da cm cultural do Brasil - ~ influencias das id! •
dos cn •clopediataa - Aff;a_JtDO CoUTINHo e o Seminllrio de Olinda - A
obra de D. Jolo VI: o fundador de instituições - M primeiru CICIOW de
• o superior l)"ofiasional - A fundação dos cursoe jwidicoe no 1.• lmp&io
- O Ato Adlcional (1834) e a de1Centralização - Au!Encia de ensino búico
ní:iado e de ensino universitãrio geral - O ColEgio Pedro Il - A eoo•
nomia patriarcal e o tipo 001Tcspondente de cultura - Educaç o para uma
dyiliz ç o base da na escravatura - A tendência exagerada para u euttlras
liberais - Prcdomtrtio da cultura de caráter profissional - A lnstru~o po-
pular e .1 primeiras e11COlas normais - Ensino 11CCUndArio de tipo CÜl!lico
- O cultivo qu se exclusivo das belas-letras - Esplendor e 4ecadlm.cia do
ensino secund.ério particular - Os grandes educadoréll - A cooperaçio du
ordens relllioe na cduca~o secundária - A ação de D. l'zDRO II - A lrt •
dia o das altas in.ati uiçõcs de cultura - As reformas do VilCOOdede Rio
BUNCO - A Escola de Minas em Ouro Preto- O parecer de Rtn BAR-
.BOIA em 1882 - As tend&i.cias do pensamento pedagógico - A últim Fala
do Trono - Fruto que aind não estava maduro .. ,

Capítulo m - A d ntralizaçao e a dualidade de sistemas . . . . . . . . 3S7

Eatrutura IOCÍal e c.c:on6mica em transformação - O primdro surto


iudustrial e a eboliç1o da c:acravatura - Mudança de l"CgLIIICpoli •
A República o triunfo do princtpio federativo - A Eecola Militar e a ln-
Outncia du id&ll positivistu - A reforma de BuJ.uma Col'ISTANT -
A separa o da Içeja e do - A cooOCMT!nciadu pr
tantes e a pen.etraçio teorias pedagógicas americanas - A desccntra-
tralizaçio e a dualided de siateina.s-O sistema [ederal, conatituido do CD•
aino sec:undirio e upcrior - O Instituto de Manguinhoe, centro de pe1q
cimtfficas - As u ·vas refOffl'Ulll do ensino eec:tmdário - A eXpantlo
paralela irregular do sistemas estaduais - O desenvolvimento do cnaino
primirio e nonnal nos Estados - Impulso qu~ tomou a instru_ç:ãoem S o
Paulo, novo centro da vida econômica do pafs - Novas eacole• 1uperiore1,
para a carreiras liberais - Iniciativas· isoladas no ensino t~cnlco e proria-
aional - Uma an6liae da estrutura do sistema educativo cm formação - Dua-
lidnde no acntido vertical - Sistema de educação popular e de formação de
elite• - Burocratização e estratificação do sistema eacolar - A rea~o
contr a escola tradjcional e o movimento reformador - Novu tendblciu do
pensamento pedag6gico - Por uma política nacional de educaç o,

Capítulo IV - A r novação e unificação do sistema educativo 389

O movimento de renovação educacional e sua ~CUl!Jão no Br il - A


rdonna de 15128,no Distrito Federal - A revolução de 1930 - Cria-1e o
Miniat&io da Educação - A reforma Francisco Campos - A rcoqanin.Çlo
do enaino teCUDdérioe superior - A qacstão do ensino .ttligjmo - A Içeja
e o Bita.do - O manifesto dos pi011eiros da cdu~ nova - A V Coo·
ítrencia Nacional de Edw:açio - Pela ~ educacional do B.rasll
- Conflito de tcndtncias - A polfüca escolar do Distrito Federal (1932-1935)
- Navu institui culturais e cicat:ificas - A fdndação da Univenidad
de Paulo - A primeira F culda:le de F.ilosof'ia, Ci&J • e Letru - A
Univenilhde do Distrito Federal - Conmt.uiç:ão de 16 de julho de 1934 -
A u,:~,ão quantitativa do ensino scmodmn - Proceaao de democ:ra•
tuaçlo - O. primeitol profcss6res de ensino seamd»io formados no Bruil -
O regime implantado o 10 de Novembro de 1937 - Tendeocias unifica,cio
XII A CULTURA BRASILEIRA

do sistema educativo - Renascimento do npirito nacionalista - A Univer-


sídade do Brasil-A Faculdade Nacional de Filoeofia - Os nov01 elementos
de apansão e unidade cultural - O movimento bibliottcário - JUdio..diíusio
e cinema educativo - A atividade cultural da Minist&io da Educaç;lo -
Para a defesa de nossas tradiçiics artísticas - A organizaçio doa scrvjÇOS de
cstaUnica nacional.

Capítulo V - O ensino geral e os ensinos especiais . . . . . . . . . . . . . . . . 425

O ensino e a cultura à luz d.e seu desenvolvimento hisl'6tico - A herança


cultural do Brasil - O alargamento, no sistema, do ensino ccral ou comum
- O cnaino primário, segundo O!I dad011estatísticos - A c:xten.ão quantjta-
tiva e o rebaixsmento de nível do ensino 11CCUndArio - Os eneinos eapcciais
Predominlncia das escolas de preparação para as profisalict liwais - O cn-
1i110 militar e naval - O descnvolvimepto industrial e as novas cziaenci-.1 tt-cni-
ca1 da sociedade cm transformação - As e,colaa profiaslonai,, agrfcolaa, CQ.-
mcrdais e indu.striais-Cultura industrial e formaçilo ttcnica e profissional-A
c:oopera$àOdas oficinas e des fãbricas na educaçiío profüs!on.al - /lJ.hierarquia
doe tipos profissionais-As Universidades e a formação das elites culturais, ttc-
nicaa e políticas - A missão das escolas de altos estudos e de pesquisa desintc-
re888dn - Especialização profislrional e especialiração cientifica - A cultura
cttética - A fonnação pedagógica do profc,sorado de todos os craus - Da
unidade do ensino para a unidade intelectual do Braeil - A polftica nacional
de educação e cultura.

Bibliografia geral ........................ - ....................... . 459

índice de nomes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 463

lodice de assuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 479

lndice de gravuras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 513


Introdução
INTRODUÇÃO

O que se entende por cultura - A variedãde· de sentidos que se atribuem


a essa palavra - A concepção antropo16gica de cultura - A compreensão,
sob êsse têm,.o, dos elementos materiais e imateriais da civilização - A con-
cepção francesa de cultura - A limitação da cultura aos elementos imateriais,
- AIJ concepções nacionalista e universalista da . cultw-a - Civilização e
cultura - O ponto de vista em que me coloquei para estudar a c.ultura no•
Brasil ....:..Os fatôres culturais: fisicos, raciais, técnicos e econômicos, sociais e
históricos - O conceito da civilização brasileira - As diversas manifestai;õea
da cultura no Brasil - A educação, transmissão da cultura - Uma obra de
síntese - As dificuldades de um trabalho dessa natureza - ''Uma hora de
sfntese supõe anos de análise" - A falta ou II insuficiência de monografias espe-
cializadas - A utilidade de uma visão de conjunio; tão perfeita quanto possivel.

As PALAVRAS também viajam, emigram freqüentell'.).ente de um povo


i-1., par~ 0_1:1tro
e, quando não ultrapassam as fmntcira,s de um ~stado ou
os limites da língua em que se formaram, atravessam às classes e os
grupos sociais, colorindo-se de "tonalidades distintas- que nelas se fixam e acabatn
por lhes aderir", e são provenientes ou da mentalidade particular dos grupos,
<:9existentes no interior de uma sociedá4e, ou do gênio do povo a cuja língua
,se transferiram. Assim, enquanto a ação gecal de uma sociedáde tende a wú~
fomµzar a língua, modelando-a à sua imagem, a ação dos grupos particulares
tende a diferenciá-la, ao menos quanto ao vocabulário. "Cada ciência, arte,
ofício, compondo sua terminologia, marca com seu caráter as palavras da língua
comum". 1 O vocabulário de uma ciência constitui-se, pois, ora com neolo-
gismos, isto é, com palavras criadas especialmente para designar idéias e noções
novas, ora _pela introdução, na terminologia científica, de vocãbulos verná-
culos ou adventícios já em circulação, tomados à língua comum, com sentidos
determinados. Mas, como a significação de uma palavra de uso corrente·,
segundo observa A. MEILLET, ''é definida pelo conjunto de noções às quais
a palavra se associou e as associações diferem evidentemente segundo o grupo
cm que é ,empregada'', 2 têrmos como civiliza1;ãa e cultura, ambo.s de cria.cão
e de uso recente, transladados para o vocabulário especial, contin~am a opor
aos esforços dos homens de ciência, para lhes precisar o sentido, a riqueza das
noções que evocam ou, a variedade de sentidos que comportam na língua geral.
Daí as acepções diferentes, mais ou menos arbitrárias, ora restritas ora am-
pliadas, com que figuram, com nuanças diversas, em obras de caráter científico.
~ palavr~ civilização, cujo emprêgo, em texto francês, parece remontar ao

1 Bu.u. (MicH&L) - &sai de ai. mant,'q.ue (Scieoc:e de! &igllifieatians'), 3e. fditioa, p611.285, Jlac:hette,
Paria.
1 MIW.L.ST (A.) - Comment le• mot• chanlent de en~. L'AnnEe tociol<>&'iq11c,t. IX, 1905-19M,
pfp. 1.3-19.
2 A CULTURA BRASILEIRA

ano de 1766 e que servia para marcar um estado coo ário à baTbãrie, estabe-
lecendo uma distinção entre povos policiados e povos vagens, passou também
a d ignar, na linguagem etnológica, em francês, como o ~o cultura em
ingJes, "o conjunto dos caracteres que apresenta aos olhos de um observador
a vida coletiva de um grupo humano'". primitivo ou civilizado. Uma e outra,
civilização e caltura, 8 no vocabulário etno16 ·co e sociológico em que se in-
corporaram, serviam para designar duas noções diferen que se defrontam,
disputando-se o predomínio.
De fato, para CLARKWISSLER ' que empreendeu estabelecer um "sistema
compreensivo dos processos de civiliza~ão humana e dos fatõres que para ela
contribuem", a cultura se apresenta como o modo de vida social, a parte do
compor amento humano que, proveniente do meio exterior, material, intelectual
e his 6rico, "faz dos indivíduos o que êles se tornam". O conceito de cultura.
no sentido anglo-americano, ampliou-s4 como o de civilização em francês, pas-
sando a abranger não só os elementos !;lSpirituais,mas todos os modo~ de vida
e, portanto, também as caraçterísticas' mate.riais a vida e da organização dos
difer ntes povos. Se ness_!tacepção mais larga se compreendem, sob o mesmo
têrmo, tanto os produtos da atividade mental, moral, artlstica e científica, como
as bares materiais da evolução social, todos os povos, desde as sociedades pri-
mitivas, de organização embrionária, até às sociedades mais ai amente evo-
luídas, po uem certamente uma cultura; na concepção antropológica adotada
por WrSSLER e outros antropólogos e etnólogos norte-american~. Mas essa
concepção que estende o nome de cultura às bases materiai da sociedade e
às sua técnicas. se logrou uma grande acritação en re sábios americanos, tem
a suas origens na Inglaterra com os trabalhos de E. B. TYLoR,e da longa série
de seus sue ssores. Já o antropólogo inglês, quinze ano antes, entendia por
cultura de um povo "um complexo que compreende o conhecimento , as crenças
e a e , a moral, as leis os costumes e todos os demais hâbitos e aptidões
(any capabilíties and habits) adquiridos pelo bom na qualidade de membro
de urna sociedade". Pode parecer à primeira vista que n defurição não
se faz ref ..encia, ao menos muito clara, ao elemento material; mas se se con-
siderar que "costumes, artes e hábitos" compor am e rtamente elementos
materiais, erá fácil reconhecer que ,a ~palavTaassume em TYLOR em que os
americanos se inspiraram, o mesmo sbtido lato de sua concepção antropo-
lógica de cultura.
1
Assim, as duas admiráveis instit~ições que são a seção antropológica do
Museu da Universidade de Oxford.,obraíconsiderável de TYLOR e de A. BAuotm,
e mais tarde a do American Museum, of Natural Hi tory, com CLARK W'ISSLER,
chegaram, depois de lmigas pesquisas le debate , a estabelecer uma r.ni e au
poin t geral e ao mesmo tempo uma "análise mais aprofundada da noção de
civilização e do seu conteúdo". Uns e outros, da cola de antropologia cul-
tural de Oxford e do Museu Americano, abrangem, sob a denominação de cul-

1 Ne Una:aapcirt>ZgUba, .,. 1ffltm.as de uso corrente '1""' o, d.ldonirioe btnm pen1 a dW11 palavra,,
o o. m que Ih atri~ os dici=irio, de Uncwa ortufuh e Lo-titw de
BwT e o Eln~déda de V .• a pei.vta c:iviliza~.
O Dicion o-..us o.& su.v,._ em q u« o: .. o adiaota-
vimento do enado 1 , o.e bnndW'1l
s ffllltffl.KH e oa cultua-• in , nu letraa e nu
• uue id~ a ~finição dj, e , 192S'. evidentc-
11. No No.,o Dicionirio d Un & QlnD]ll)O, •
, tonl0'.11e vago e obscuro. "Civil' 1,.•.,. de um povo
o es biri>Mm, se g:cwcr por 1 leita..lmente por
ooe Vlnu (Grande Dicionário Portu#u! 1173) ~vili o e c:ul-
"'"'- Ou.ln • ~hrvn cultua-■, ■lEm dos ec:itidos ~ (cultivo da rerr■,
da■ pi■ IM; m■ cl d.e animai•, etc.), todm E:stb lexic6itafo., , per si-i•Y111•
olícrot o lido fiiwado. abstra o. in~tual, "• cult\1111 das ltm.1. du dtncia . d I bel•••artcs: imtra~o
e ",atlo: otado de qw:m tem de,envolvi=to i~tu.i." R. 81.,na: 1,1,em 11n, J • rc • rrara com o ..e.a
KOLid mcW6rico: "ellltuni do ~eobo, da• arta, cieaciu".
4 WIJl'l,&11 (C.) - M■ n and r:altrve in Amarica. New Yorlc, Lond , Harrop, 1923.
INTRODUÇÃO 3

tura, todo o "modo de vida social", o modo de vida de um povo como um todo6
dando a a palaVTa a maior extensão que era suscetível de tomar. Certa-
mente, as concepções antropológicas de cultura, segundo sâbios • 1~
e americanos, dit renciam em alguns pontos, mas t!m de comum inclwrem
na cultura os elementos materiais e espirituais. A dcími,eão antropológica
de cultura, cuja origens remontam, como vimos, aos trabalhos dos primeiros
antropólogos ingl TYLOR e outros, e qu_epartilham, nos Estados Unidos,
antropólogos eminentes, como LoWIE, KROEBER, GoU>ENWJUSBR e WISSLER,
se caracteriza ni ·damente pelo fato de se encerrarem sob o termo cultura
não s6 ot hábitos e o produtos da atividade mental de um povo como também
os elemento materiais. Mas se -TYLoRtendia antes a limitar a cultura aos
elementos imateriais, ao menos preponderantes no seu sistema .compreen ivo
de cultura, C. WrssLER de um lado, exclui da cultura a linguagem, que ora
incorpora como parte integrante do sistema cultural, ora coloca à parte, para
incluir sob esse têrmo todos os fenômenos sociais, exceção feita dos fatos mor-
fo16gicos de tudo que se entende por morfologia social na. concepção de DUR·
XHEIM, e que êle considera como pertencendo ao "homem" e ao 11meio geo-
gráfico". Tem razão, pois, M. M>.uss em criticar essa oposição que estabelece
WISSLERentre o homem e a cultura, e essa divisão entre a linguagem, a socie-
dade e a cultura, que lhe parecem igualmente falsas e suscetíveis, por isto, de
suaci.tarem antes confusões do que claridades na apreciação dos fenõmenos de
cultura e de civilização.
O 80ci61ogos franceses, desde DURKHEIM, comenta M. MAuss, "consi-
deram em conjunto todo os fenômenos sociais e já não podem mesmo con-
ceber essas divisões. Para a sociologia, esta diade - homem e cultura não é
senão uma outra maneira de desaever o ..homo dupler', o ser social e os
psico-fisio16gico que é o homem. E tôda abstração que dividi o er social
e o ser humano seria perigosa. O homem não é concebível sem a sua cultura,
ou não ~ um homem. E a cultura, ainda assim entendida, não é senão uma
outra palavra, par d ignar a sociedade que é tão inerente ao "homo aplen ,.
como uma natureza. E enfim, não há lugar para distinguir e eparar os diverso,
elementos da fisiologia social, nem uns dos outros, o direito por exemplo da
religião, nem da morfologia". A essas -críticas de M. MAuss à abstrações e
divisões, nem sempre constantes, em que se funda a teoria de C. WJSSLER,
aliás verdadeiramente fecunda e rica de sugestões, acrescentam-se as que le-
vantam a idéia fundamental de englobar, sob a mesma rubrica de cultura, os
elementos espirituais e materiais da sociedade. Não se pode cont star a exis-
tência de relaçõ entre a cultura propriamente dita ' com as bases materiaj
da sociedade e as suas técnicas, nem o interêsse que apresenta a investigação
sôbre o comportamento material, técnico e econômico, das sociedades e as
bases materiais dbse comportamento. Mas, sem negar o papel dos fatõres
materiais sõbre a evolução dos grupos humanos e a utilidade dêsses estudos
que nos podem fornecer pontos de partida para o conhecimento de importantes
realidades sociais, parece a alguns arbitrário e ilegítimo abranger~ sob a mesma
denominação, as bases materiais da sociedade e a sua atividade verdadeira-
mente cultural (artes, letras e ciências), além de perigoso por falsear a noção
de cultura no seu sentido restrito e favorecer uma interpretação material, -o
materialista, da evoluçao social e da história do pensamento humano.
O tbmo cultura, no sentido antropológico, lembra-nos P. ARBo BAB-
TID.E, "conquis ou na língua anglo-americana direito de cidadania, ao passo
que em França encontrou resistências decididas, por jã significar fortemente
aí outra realidade bem espiritual. Na Alemanha o seu sentido oscilou, ator-
& ... " hh rou11d oi llf• ln Jt• 11tlre n,oop oi indiridw.1 u#•itie1 ia tbe b- ■Ja ph1nomat1ao .•01'I•
tvn" (C. Wrmiaa, Man •nd Culture, i>A,;.2).
4 A CULTURA BRASILEIRA

men do, do sentido clássico e impessoal ao nacional que achava estreita-


mente ligado ao sentido antropológico". Uma vez adotada, porém, a palavra
neste sentido geral, com o tênno, na sua nova acepção desmedidamente am-
pliada, difundiram-se as expressões "áreas de cul ura, camadas de cultura,
difusão de culturas, conflitos de cultura' e outras como as noções de complexos
e de traços culturais, algumas das quais, como por emplo, "camadas de ci-
vilização" (Kulturschichten), "áreas de civilização" (Kulturkrei.se), jã em-
pregadas por F. GRAEBNER, assistente de W. Fov, dk tordo Museu de Etno-
grafia de Colônia, no seu trabalho sôbre o m 'todo etnológico, 6 em que a etno-
logia e apresenta, na sua concepção tão discutida, como "a ciência das camadas
e da áreas de civilização". Segundo observa M. MAuss, é C. 'W1sSL&R. um
dos amencanos que, sob a inspiração dos etnólogos al mães e especialmente
de GRAEBN&R, mais manejaram o princ~pio das área de civilização, dos centros
de in,venção e das vias de difusão, corno as noções d complexos e de traços.
O êxito que alcançaram essas concepções, em que s desenvolveu a acepção
antropol6gfoa de cultura, prende-se, de um lado, ao fato de se tornarem mais
susc tfv is de descrição científica os objetos materiais "mais fàcilmente per-
ceptíveis, mensuráveis, classificáveis oomo o são"• e, por outro, ao de forne-
cerem os elementos materiais e fatôres antropológicos "indiscutíveís pontos
de partida muito mais seguros do que as representações coletivas, crenças,
tradições, organi2ação social, certamente suscetíveis de anâlise e tratamento
objetivo, mas 'passíveis de interpretações tendencio as e mesmo de serem sim-
plesmente forjadas '. A marcha para a objetividade, "o ervâvel em tôdas
as ciências, principalmente nas mais recentes, d josa de afirmar seu caráter
científico (as pala as são ainda de P. ARBoussE BASTIDE), favorece essa ten-
d ncia de partir dos fatos materiais e do conhecimento rigoroso e seguro que
permitem". Mas na França a definição antropo16gica de cultura, com a ampli-
tude que e ps,Javra ganhou, abrangendo, no seu ignificado, tanto os produtos
imateriais do espírito, como os hábitos de vida, o u ensnios, aparelhos e ins-
trumentos afigurou-se o.ma violação do seu entido co~ nte e tradicional e
um deturpamen o do vocábulo, empregado para exprimir as criações mais
altas do espírito humano.
Certamente, o emprêgo do tênno, com êsse sentido geral, corresponde,
como pond ra SAMUEL H. LoWRIE, a uma necessidade específica da antropo-
logia e da etnologia, - "a necessidade de um vocábulo que igníficasse tôdas
as realizações materiais e imateriais de um agrupamento humano, sem levar
m co.nta o seu nível de evolução social''. Entre criar um têrmo novo e atrt-
bulr um novo sentido a uma palavra, corrente em vitrias línguas, preferiram
os antropólogos essa última solução, dando ao vocábulo cultura ês e significado
amplam nte compreensivo. Estavam no seu direito e não fizeram mais do
que adicionar ao têrmo mais uma outra acepção aos vário s ntidos, muito
diferentes, em que já era empregado nessa Unguas;7 mas essa nova acepção
vai tanto ao arrepio da. corrente que, nessa palavra, rola do passado carregada
de espiritualidade, que, para a fazermos compreender, no eu significado an-
tropol6gico, precisamos sempre lembrar o sentido em que a usamos. se a na-
tureza da obra ou do trabalho não é suficien e para indicá-lo com exatidão.
~ que a palavra cultura, no sentido com que se transladou para a tenninologja

uJtur bkh Bi k, Hem. . w. Foy.


H
l mesmo sentido que~ e:icontN. oa dcfi • de cul N. ndo R. TR\IJnnl,AI.D, p;,n, qo.en,
cultura f º• lbtcm■ tíaçio e hannonizaçãa de todo, a■ O<mb«imrot e babilid■d , do
c da Individualidade tndicional de 11m po.-o, ,.a■ constituiçil> MJC:i■I e mcn 1, m. um det~o
uip■,:ncnto aviliudm-
carte tr■na•
v~ no tm,po. Cbe.,.,.ma. cultura, - acreocerita o 61oeo ■lcml , - um • l de ■titw;l.et e modos
de • , e COltllm .. cjuS.me de valor, de ~tniçÕcs e Ol'l■niza de IIIll.l IX'i e''• T UllHWA.U> - n;,.
o, r,-,:hllch ■ G• 1/tch•ft, S vol. IV, ~- XVI, Berlim, 1931-1935. crr. H. B.u.ou• e K. Wll.LIJJ,19- Di-
t:lon~rio d• etnolo i o eoclolotúi. Série 4.•, lai~ção c:icAtlJ'lca,vol .. I?, Comp, Bdltor■ Nllcioael, Sio
P■uto, 1930).
INTRODUÇÃO 5

aocio16gica,em outros países, a começar pela França "continua a ser no teste-


munho de ARBOUSSE BASTIDE, o requinte da iotélig!ncia, a preocupação das
belas-artes. Estima-se, o mais das vêzes, deva ser desinteressada, isto é, nã.o
ter fins imediatos e estreitamente utilitários", g um certo desenvolvimento do
estado intelectual, o gôsto e o interêsse pelas artes e o progresso das ciências,
o que caracteriza a cultura, em que não é difícil reconhecer ~es elementos
essenciais: 1) o esfõrço pessoal e co etivo em prol da libertação do espírito;
2) o desinter~, isto é, por maiores que .sejam as relações entre o útil e o belo,
entre o útil e o verdadeiro, ela não visa diretamente fins utilitários; 3) o en-
tido de tradição humana que procura, consciente ou inconscientemente, como
um idcal supremo, seja qual fôr a riqueza de seiva de que se alimentam as suas
raízes mergulhadas no humus nacional. Conservadora e criadora de valores,
longe de se confundir com a vida material, a técnica e a economia, é "um es-
fôrço de inteligência e de vontade para dominá-las e dirigl-las" 8 e elevar-se
aos deuses, isto é, "atê os valores impessoais e eternos que se encontram acima
dos homens e podem vir a uni-los um dia".
Se, porém, nesse sentido abstrato, digamos intelectualista, se pode dizer
que não hã senão uma cultura humana válida para tõdas a sociedades que
atingiram um certo grau de desenvo1 vimento, a cultura, ainda oeste sentido
restrito, estã. s mprc ligada às tradições nacionais e tende a tomar aspectos
e formas diversa ao passar por meios diferentes. Ela será mesmo tanto maia
aatbltica e original quanto ma.is rica e substanciosa fõr a seiva que subir de
suas raízes mergulhadas no humus nacional, mas não poderá desabrochar,
como uma verdadeira flor de civilização, se não se abrir, na plenitude de sua
f6rça, par todos os tempo e para todos os povos. Essa • aliança da cultura
e da civilização, batizada entre os povos latinos com o nome de humanismo",
6 que dá à palaVTa cultura. nas expressões de AlmoussE BAsTms, "o sentido
maia completo, mais humano, mais fecundo". As concepções de cultura podem
variar de wna nação a outra; e nas culturas nacionais podem entrar e efetiva-
mente entram, cm proporções variãveis, conforme as épocas e os povos, os ele-
mentos da tradição nacional e os da tradição humana; mas à concepção uni-
versalista não e opõe uma noção nacionalista de cultura, senão quando, em
vez de uma fusão e de uma harmo.nia dêsses êlemcntos, se estabelecer, ao con-
trário, um antagonismo de valores ou se instalar a idéia de superioridade dos
elementos particulares, nacionais, sõbre os valores humanos e universais. t o
que se deu com o sen ido que, a partir dos princípios do século XIX e sob a
inspiração doa român ·cos, tomou na 1Alemanha, (e a guerra não fêz mais que
realçar) a palaVTa Kultur, que emigrou da língua francesa e, esvaziando-se
do sentido humano que ainda lhe davam os clássicos, passou a designar• como
lembra E. TONNELAT,"uma cutturaltipo, tanto mais exemplar, tanto mais
própria a servir de modelo às outras' culturas nacionais, quanto mais forte•
mente fõr escorada pelo poder do Estado e pelo da religião". De fato, 'para
os escritores da época clássica (as palavras são ainda de ToNNELAT)a palavra
Kultur designava sobre do a série d.e progressos, tanto materiais como in-
telectuais e morais, realizados pela humanidade, considerada na ua totali&
dade. Par . seus sucessores, ao contrario, designa um conjunto de conquistas

1 P. Al:llOVaa Bunzl• - CuJtur• • m•flri.a. Qu,e t cultura. ''&tta o d Slo Paulo", 21, Jul&o,
li3S.
1 'l'o1"QLA1' ) - Ku1ttu. Hlttoltt du ~. ltvniutioo du oem. ln "ClvUl tlon". Le Mot et
J'ldle. te. fUL".. Pr ~ 8~m <te Int ... cuitioule de S,nth~ La ~ du Llne, Parla.
6 A CULTURA BRASILEIRA

intelectuai encaradas como o bem próprio algumas vêzes mesmo como o bem
e clusivo de uma comunidade limitada, que tende a confundir-se com um Es-
tado ou uma nacionalidade" .10
M s, apesar da complexidade que apresenta o problema das relações entre
civilização e cultuJ'a e cm grande parte provenien da variedade de sentidos
atribuídos a dois tênnos, na França e na Alemanha, parece-nos aceitável
a distinção tabelecida por G. HUMBOLDT, quando define civiliz-ação ''por
tudo que, na ordem material. no desenvolvimento dos co tum e na organi-
zação social, tem por efeito tornar os povos mais humanos nas suas instituições
na sua mentalidade, consideradas em relação a essas instituiçoes ', e reserva
a palavra Kultur para designar uma nuanca de refinamento, marcado pelo
estudo d interessado das ciências e das artes. A palavra civilização toma,
para HUMBOLDT, um sentido mais amplo, abrangendo, no seu conteúdo con-
ceituat, não e6 a técnica mecânica, as aplicações das ciências à vida material,
- que representam certamente um elemento importante, - como certas qua-
lidades de espírito, que acentuam os aspectos morais e intelectuais da civHi-
.zação. A idéia de polidez, de refinamento e de cultura, estâ, para os latinos,
tão ligada à de civilização (civilis, polido, refinado), que essa palavra lhes evoca
sempre. doçura de costumes, isto é, um certo equilíbrio entre o desenvolvi-
mento intelectual e moral e a organização social. ~ e mesmo sentido latino
é que se encontra, em autores alemães, como HUMBOLDT e mais recentemente
BORXHARDT, para quem a Kultar é de algum modo "a ílor d história que
confere seu brilho aos costumes e às institui - de uma êpoca definida,.. A
cul ura, segundo P. A. BASTIDE, "não pode senão designar um certo desabrochar
da inteligência, em virtude do qual se toma o homem mais humano, i to é,
mais apto a compreender e a amar os outro homens. A cultura ~ a parte da
in e1igblcia na obTa da civilização". Na acepção mais larga, que abrange,
ob o t o genérico civilização u a organização material, econômica política
e social, os costumes e a vida espiritual d um povo, a cultw:a, têrmo espe-
dfico de s ntido limitado, designa o impulso das letra , das ciblcies e das artes
que, enobrecendo as instituições, enriquecem e fecundam s m cessar a civi-
lização.

10 A palavra Kultur, trsnJplo.~da do franch cultuu,, "Alo ap e •enlo tardfameote na lfngua


alemll: •Omentc n quoda metade d;, •!c"J}o XVlll que o ,eu cm,pr o ,e tom corrent-i,". Noe nn, dea.o
l!ft"Ulo,como verificou TONNIIUT, tinha trés sentidoo prtncipai1: l l taido COlltrlrlo 1, barb rle; 2) l\bertaç!lo
moderna do r>lrlto ou libertação d09 preconccitoo; 31 alstio!;ão fl.nura. mn11clre1. São as tr~ aleni-
ric■ çllc, que "•• e contr11m o msia dn vbes, sob 11 pena dos cocrlt rei d1 ~poça clA111lC11, cmbor11 com lll~u:m11s
o anc,u.1''. AHim HEROER, KANT e ScHILLltR co-u,idcrdm a <'U!lur "'eomo um bom comum 11t<ldos ot povoe
ou ao mcoo■ qu oe pode tornar comum". Para HuMBoll)t- que, ao ddlnlr os 1,rt,, termos CIYl/lsat/on, fCultut,
lllldun,, ptoc:ur• ptteioar o eentido de Kult11T, caa p lavra "lnr.lica-que Ot homeo eouber m elcvn..,1e aelma
doa mr>lu con ldcr11~ de uUudaoc aociel e emptcenderam o e.tu o d int renado du ciMdD e da. artea''.
N o t nt.&1 por6m, • concq,c:ão dc Go1<T,q:que t16 wc amtldo p lavre Blldunl e c:ocuWtta Kultur um con-
junta dc conhec:lmeot . C01tumC11e tradJ'çõe3 particular s a um povn de i-mlnado. (Cfr. o cotldo antropol6-
r!co ele t:llltura\. Bm todo caso, na acepção que à pal&YT.llKullur atrihucm. !coo, oba,nra ToNtrlll.AT,
"oll.llc:a •-,oc:1.,uo • essa.pOlavra a id& de 1uperioridade de wn i,ovo a6bre outro'', ua ldEia lurt"C com • gc◄
nç&o ,..,,, nt! por,, tom r í6't• com F1CllUI e ,_...., 11 eo, 11(\11 01 qualo • C'Ultu,.. tffld ,:or;!wul'ir•IC
com um Retado ou uma uacioruilidade e que a.tribuem 110 ""1 p,,111e ao tu pevo tuna mlAllo cultural, procla-
lM.lld.C • 1upcnoridade da cultura alem:ii, - "cultura-tipo", a mal própda r ffN& de moei& b ou~
CUICWN n.ac!Obl lo. . To . 1'.t.l.T, op. cit .)
11 em aeu ce!ente t:mlo s6brc as civilize , d.-mentOII
Clllir o cO{ljunto ou '•terna de Cat que .,...,.tit= uma c:ivill~ o. "
4d1 o, dia elo, fen ,. IOCiab, ma>1n.c<n toei oe Cco6m • o imo,mc...,.de civili:Dç&o. existem
qae ,lo l)fff'eitameute e.spctia/s a m:na aoci q~ • • swa,uame • !.eh _ b..6que tb1
c::anctcrtnica lmr,arttou: • de se,...., • um malat "" menor DJ da • lldet • U!D pus!ldo
ma ou mc009 1 o aociedadcs. Pode.,., reservar-lbd o - de i 01 de e1vlli çl ". Um, acres-
emta U ÜlDp • ~. outro<, a<> CQUtrfuio, ap 1JOf'a tu, 1 tl ultra~ai por • mumois 011
llrnl d uma todc:cl.de dad"-, limites alib muito v dictail de dctamto r, A , pois, 01 fcs,6nico01 de
d.-llln o -nci•hn,ote nteru~ atra-na=>o11ah C• civUl o lati.na,~ u 'taria.nteS. ,,.._,
ltallana. e ) e a, drill:.a .se c:ircun.oa.,....m -pela ~e de era,on,,ttn,,a e de n fícn6m.,,..,. _po-
lltiVOI) cem.o tamb!m pelas resi tmciu dia wcicds:!<:s que coin m, ao emprátim:.. Onl, m ua afinal MAUIS
q • n tt lnt<:macionsl doo fatos de ciri&acão we in 'fies (a dmda que t unlvcnAI p..- natureza
e nu lln~em 6 neceoa1ri.me11te humana., a tkaica mec:lmca, o dne , o r6d o, e .l e uc "o nõme:1> de
tra&Qa U.DILto:nd • aumentar, usem~ rn•lt umm t, cutraa.at rannu do CAdauma das naç,ICI e C:Í•
vil' pelo ~mo i1'cenante d.o fondo mmum, em o6mero, em p o e m q1talldadc. CM. M.\UA. C.,.,.
Ci•ilJ1&tiona. S/6mants t for-me11.. ln '"Civiliution••. Lt, mot ct l'àd!.e. Prcn>i~c Semaioe ln ema "ooalc
de 6)'0 . RcnlUiluJM::cdu Livre, Pari,}.
INTRODUÇÃO 7

Ora, o ponto de vista em que nos colocamos para escrever esta obra, ~ o
que nos fornece a concepção clássica, francesa e alemã, de cultura, já clara-
mente enunciada por O. HUMBOLDT, quando estabeleceu a distinçao entre
cultura e civilização. Entendemos por cultura. com HUMBOLDT. êssc estado
moral, intelectual e artís •co, "em que os homens souberam elevar-se acima
das simples considcraç· de utilidade social, compreendendo o estudo dcsin-
tcr do das ci cias e das artes". A vida da sociedade reduz- , certamente,
a um sistema de funções que tendCD}à satisfação de suas necessidades funda-
mentais, e entre as quais a função econômica viu atender n~idades ma-
teriais e a função poUtica {para darmos apenas dois exemplos) tem por fim
"defender a exi ência da sociedade, tomada como conjunto e também como
reunião de grupos particulares", regulando as relações dos indivíduos e grupo
entre si, e dêstes com o todo, Estado ou nação. Mas uma sociedade, se quer
preservar a sua existtncia e aSE-eguraro seu progresso, longe de contentar-se
com atender às exigências de sua vida material, tende a satiefazer às suas ne-
cessidades espirituais, por uma elite incessantemente renovada, de indivíduos,
sâbios, pensadores e artistas que constituem uma certa formação social, acima
das classes e fora delas. Assim, "criar a atmosfera espiritual sem e qual a
aociedade não poderia respirar, oslaços espirituais sem os quais ela não seria
una, o te ouro dos bens espirituais ~ os quais não poderia subsistir, tal ~
precisamente, ob erva A.RNosT BLAHA, a tarefa da função intelectual". Essa
função ê, por con guinte, uma função de produção, de circulação e de organi-
zação no domfnio espiritual: cria.dora de valores e de bens espirituais, com
que instaura um domúüo que ê uma páaja e um asilo para todos, a inteligmcia
não s6 os distribui e se esforça por torná-los aceesíveis a um maior número
possível, como empreende a organização da sociedade, segundo ponto de vista
espirituais, "atingindo a sua mais .alta expressão quando empreende or anizar
a vida moral". A cultura, pois nesse sentido restrito, e cm tõda as suas ma-
nifestações. filos61icas e científicas, artísticas e literárias, sendo um fõrço
de criação de critica e de aperfeiçoamento, como de difusão e de realização de
ideais e valores cspirituais, constitui a função mais nobre e mai fecunda da
sociedade, como a expressão mais alta e mais pura da civilização.ia
Assim, limitado o conceito de cultura ou, por outras palavras, tomado e
têrmo no seu sentido clássico, o estudo que fazemos incide diretamente õbre
a produção, a conservação e o progresso dos valores intelectuais, das idéias,
da ciência e das artes, de tudo enfim que constitui um esfôrço para o domínio
da vida material e para a libertação do espírito. E, como o nivel social e espi-
ritual doa intelectuais, sâbios, pensadbres ~ artistas, não é eõinente imputável
a certas superioridades bio-psicológiqa.2 estritamente ligadas à natureza indi-
vidual, mas à intensidade de ação ma.ior ou menor das influências civilizadoras,
e em conseqü!ncia, como não pode haver criação espiritual onde faltam cstf-
mulos à vid do espírito ou não são suficientemente apreciado os valores ca-
piri tuais, o estudo da cultura, na v.medade de suas formas, como na ua ex-
tensão e na sua intensidade, é, por si mesmo, uma luz viva que se projeta sôbre
a naturcz , a fõrça e o grau de uma civilização. !sse estudo que forma como
que o cerne ou a medula da obra, é precedido de uma análi e dos fatõres de
tMa ordem que condicionam a produção dos fenômenos culturais, científico
e estêticos e contribuem, portanto, para explicá-los; e seguido de uma expo-
sição das instituições educacionais, de ensino geral e especializado, destinadas
à transmissão metódica da cultura sob todos os seus aspectos. ~ esta, ao pa-
recer, uma ordem lógica, p icol6gica e genética a um tempo; pois se a cultura
pressupõe e implica um complexo de condições que estabelecem o clima social

12 ln ÃUOIT BUKA (Brno, Unlveni~ 1'1atn,yk) - La iuobllm d flnt lteotu•I ln "'RefllC


loterutõoo.Je de Soe ol~c", 44c. aru,êe, iu. vn. vm, p6g. 361, Juillct-Aout, 1935.
8 A CULTURA BRASILEIRA

e bis 6rico favorável ao florescimento das letras, ci&icias e artes, e cujo estudo
~ nao sàmente 6til, mas indispensâvel à compreensão dos fenômenos de cul-
tura, o sistema educativo que.,.em cada povo, forma para conservar e trans-
mitir o patrimônio cultural, constantemente renovado e enriquecido através
de gerações sucessivas, tende a desenvolver-se e a oomplicar-se oa medida em
que aumentam as criações do esoírito nos vários domínios da cultura e da ci-
vilização. ! preciso, para compreendê-la e explicá-la, situar a cultura nacional
no seu quadro geográfico, social e hist6rioo, acompanhá-la nas diferentes etapas
de sua olução, nas suas orientações e tendências, para mo trar, cm seguida,
quai as instituições que -se organizaram, prepostas ao fim de transmiti-la, já
is ematizada, de geração em geração para assegurar a sua continuidade no
tempo, a sua unidade. a sua difusão e os seus progresso .
Antes de entrar, pois, no estudo da cultura prôpriamente dita que cons-
titui a parte central do livro, pareceu-nos neces ário proceder à análise das
grandes ínfluências que puderam agir sõbre a produção dos fatos de cultura,
como sejam o meio físico e étnico (o país e a raça), o meio econômico, social
e político, o meio urbano (tipos e vida das cidades) e a mentalidade particular
do povo, determinada esta, por sua vez, por todos êss s elementos que condi-
cionaram a sua formação. Essas divel'Sas ordens de fenômenos podem tôdas,
em proporções variáveis, ter uma determinada relação com os t tos culturais,
n o só por lhe fornecerem assuntos, .mas, sobretudo porque os provocam e
orientam, agindo sôbre êles à maneira de causas ou de íatórcs, e podem ainda,
quanto a certas categorias de fenômenos (econômicos, urbanos, espírito cole-
tivo sofrer contra-golpes e reações dos fatos de cu1 ura e receber dêles um
impulso determinado. t't por isto que, cm vez de os julgarmos como causas
verdadeiras, preferimos considerá-los como um complexo de fa õres ou de con-
dições, sub!tituiodo o conceito de causa pelo de corre.lação entre o fenômenos
que constituem o objeto principal do estudo e os que o condicionam e con-
tribuem para cxplicã-los. Uma desconfiança leg{tima, com que sempre nos
resguardamo de conclusões apressadas e simplistas, no cs do de fenômenos
sociai , não nos permitiu subordinar-nos a qualquer das teorias chamadas geo-
métrica , que recorrem a uma causa única (o meio geogrâfico, a raça, o meio
econ mico, etc.)18 e que, na justa observação de A. NICEFORO, "podem ter
tõdas seu interêsse e sua importância, mas, não constitui cada uma delas, iso-
lada da outras, senão wna interpretação, por assim dizer, monossilábica, do
fenômeno complexo que se trata de estudar". Como quer que seja, analisar,
de um lado, s.sesfa,tôres (geográfico, racial,
f
econômico, histórico, etc.) que não
e6 variam de um povo para outro, mas se combinam diversamente e em pro-
porções desiguais, e, de outro, a vida e a evolução próprias ~e uma sociedade
sob a pressão d@ssesfatôres, e a influência dessa socied de sôbre o índivíduo
a quem ela fornece seus quadros, sua organização e sua trutura mental, é
explicar como surgiram, etn. determinado pais, o fcnômenos de cultura, as
formas particula,res que tomaram, e o sentido e o ritmo de sua evolução.

li •cscXlbc,c,cr,maa as inll!!bici _ td!u-ica rodais e OI comport111nen d


\i,,dh, ,_ e. o:m t,,ci.a. ll6bre 05c fa.tm sxiais, jul1am &rbltrúi<I e t6d• doutrina que atribui
an ao o o.a~ ora l ...,ç,t. ora l cstnrtuni iklJia Uftla tnn "KS\ando aoçlo v■p
do homo lealr•phlcu•, que poderia ãu~ o::orrer à gcccnfi• OI mcs,u • cfo homo -nomicu
lDdtara.• comeftr, dut11lltc mm de um s&:ulo, "" • d.o la lo a pu-«c acàt6ttl,
DaD • dolltrioa do dctcrn:,.nimio g~n:a, nem • do dt • • ,..,,,,llõmli<,o.
a.li TDL ollbre
u r-. lcffl doa E.tu.los e as evolu~ Polí • . q a.l pera. , o~•
J. LOl'SUa. pcrl q~ bl em q erer JtCbaJ, condl luraiJ, • e:. de tnit\11 ddi • e
•ordl mente camplttu pua .-e dco:arcu, mudar de wn. maneira u411■tcrál", A pçlo ratuüao•
da aaciadade a.c:eu • dcmAis, como uma ~ a ·•■mente PA i••• • lonu!Ada da. aa oõbre o
bom , Kl1I tra.tar da ■i:Ao, talvu mw importante, a::ctcid ■ pelo bOtn m bre o próprio meio n mra.l ~.
pc,rcUDl:a J. Loau11, ••um dm rewult.dos uw~ viafvcia J. d,rilla■C'lo Cllo t • bom ffldue,lo cr te da. cuJ.
turM ~ d irmtoe, e, trod&icia n:lio ! j um o tjru)o l llbcrda.de d a o daa leu DANr■isi"' {Jui.
O. Loa.-a. Oo quolqu , th6oríe$ g&,1raphiquoa au ,x,ln.r de ruo aocio/oflquo, ln "Rovuc Iatrrutiooale
de s oloalc", 47c. ~ ..... 1.n, Janvier-FEvri~. JSJ!IJ.
INTRODUÇÃO

Mas, ent:r:eos fatôres que mais contribuem para a pre><;lução dos fenómenos
de cultura, o desenvolvimento das cidades 14 é wn dos mais importantes, na
sua função de intensificar as energi !S co1et:ivase de levar ao mais alto grau
de d;senvolvimento P:'ssível às cap:ipda~ latentes e di~er.sa~ na í>.opulação.
As cidades, de fato., sao poderosos ~1 _ tnu}i.entos de seleçao SOC1% seJa:no sen-
tido de HA.N'Sll:N, para quem as ci des-não fazem senão atrair, por uma se-
leção mecânica, os melhores elem tos do país, -servindo para selecioná-los,
sem contribuírem, no entanto, para fazerem o seu v~or; seja·no ponto de vista
de WEBER, que pensa, ao contrârio, serem elas suscetíveis de tomar atuais
os méritos que não seriam senão virtuaisj superexcitando fôrças que, sem êsse
estimulante., ficariam inativas e adormecidas, e produzindo essa supe(exci-
tação s6 pelo fato da concentra~ão. Paí o estudo, que se nos afigura do maior
interêsse, do desenvolvimento das grandes cidades e dos movimentos de con-
centração urbana. Se o têrmo civiliza~ão, como obsetv~ R. LENOIR, 15 "cor-
responde ao conjunto das obras por meio das quais os sêres humanos passam
da animalidade à humanidade, pode parecer paradotal aplicá-lo às sociedades
ditas primitivas. Não parecem elas 'ter por principal caráter o de não serem
civis e não conhecerem as cidades no seio das quais se fixam e se tran&mitem
os atos e os conhecimentos?" Existe, de fato, uma ligação tão estreita entre
civilização e vida urbana que, para designar aquêle fenômeno, é ao.têrmo civiüs
(de civis, cidadão; homo civilis, zôon politikón, de ARISTÓTELES), que se
foi buscar a palavra civilização, já ~e uso corrente em várias línguas e susce-
tível de mar~ por si mesma a oposição, que remonta à antiguidade clássica,
da cidade (civitas, pólts) e do cam!>b·(rus, silva). Não é sem razão que em-
pregamos os têrmos civilif{!s, urbanitas, civilidade, urbanidade, quando
queremos exprimir doçura de costuµies, benevolência recíproca nas rêlações
humanas e, ao contrã;ͺ: u~os a~,palavras r~sticus, silvaticus (homem do
campo, das selvas, rustico, inculto), para des1gn_annosexatamente o oposto
de polido1 de civilizado. Em todo caso, se não se podem sempre encontrar os
elementos especfficos de uma civilização nos caracteres das populações urbanas,
não serão êstes "verdadeiros índices objetivos de uma dvilização superior" 1
pela metamorfose que as cidades operam nas idéias e costumes e pelo estímulo
poderoso que constitui para o florescimento dás ártes e das letras e para as
criações do espírito, a superexcita.çãp produzida pe1os fenômenos de concen-
tração?
Nem tôdas as transformações qt)e, sob a pressão da vida das cidades, se
operam nas idéias e nos costumes, sepodem certamente considerar como um
acréscimo de civilizaçã,o, ao menos do ponto de vista moral, nem se deve con-
fundir o fenômeno urbano, característico de tôda civilização, com o urbanismo
que é um fenômeno relativamente novo. Certamente não há procurar nas
grandes cidades, a pureza, a_frescura e a inocência dos costumes do campo,
Ó encanto e a simplicidade das paisagens bucólicas. nem o vigor e a impetuosi-
dade das fôrças instintivas concentradas na vida do sertão. Uma certa las-
sidâ_ode costumes, as perspectivas que se abrem à vida de prazeres e uma li-
berdade, que é favorecida pelo entrecruzamento dos grupos sociais, e atinge
freqüentemente aos excessos da licenciosidade e ~a demagogia, são outros
tantos efeitos do fenômeno de concentração. Além disso, como as .migrações
interiores são o fator essencial do fenômeno, o pregresso dos .gra,ndés centros
se faz freqüentemente à çusta dos movimentos migratórios dos cai:tlpospara
as cidades, que se tornam às vêzes, nas civilizações modernas, verdadeiras
bombas de sucção aplicadas sôbre as populações ruJ"ais ao alcance da .inOuência

H Won (ADIU,-l!'l!UclN) - The Orowth of Cities ln thfl nineteenth Centur:,. A atudy la


11:athotia. New York, MaçmillllD, London, Kio( nd San, 1899.
16 LSNPlll IR.\VllPND) - Le, Soci6t6• h(unaine,. Rovue de Srnthm hletorique, DbmbTO, 1924.
10 A CULT-URA BRASILEIRA

atrativa dos agrupamentos urbanos. Todos conhecemos a impetuosidade


com que s lançam ao prazer. numa espêcie de embriaguez, as geracões jovens,
quando uma pequena cidade, cercada de campo começa a transformar-se,
com a t~cnica mecânica e as aplicações das ciências à vida ma erial, e a sua po.
pulação aumenta e se condensa, já pela incorporaçao à velha cidade, de subúr-
bios e distritos vizinhos, já pela população que, vinda de fora, se acrescenta
àquela que a{ jâ tinha as suas raízes. Mas não se pode contestar tambêm que
nas diferentes formas por que passaram os agrupamentos urbanos, da anti-
guidade aos nossos dias, as cidades gregas ou romana , da idade média e da re-
nascença, e modernas, c.'terceram sempre um papel tão importante no desen-
volvimento das artes, das letras e das ciências que não possível separar a
cultura da vida urbana. É, de fato, na vida coletiva, altamente concentrada,
das cidades, que se desenvolve a fôrça expansiva, criadora de energia do gênio
individual, e é nela que naturezas mais ricas e originais, se não t m a sua fonte
de inspiração, haurem sua energia e seu vigor, absorvendo por todos os poros
um ar mais intelectual, uma atmosfera' mais carregada de estímulos para as
artes e as ciências.
Era preciso, em todo caso, fazer entrar a cultura brasileira não só nos
quadro sociais, econômicos e políticos da história do país, estudando-lhe os
fatores e as condições especiais do meio, como no movim o geral da civili-
zação do ocidente, de que a cultura nacional não é senão uma das formas par--
ticulares. Já DORKHE ensinava, antes de M. MAuss, que, se hã fenômenos
sociais estritamente ligados a um organismo social e polftico determinado, a
um ovo ou a uma nação, há outros que "transcendem um território nacional
e se desenvolvem por períodos de tempo que ultrapassam. a história de uma
sociedade".! ~ss fatos ou sistemas complexos e olidãrlos de fatos que,
sem serem limitados a um organismo politico determinado, são todavia locali-
závei no tempo e no espaço, eons ·tuem na lição de DUR.IOIE , o fatos de
civilização. Se, pois, uma civilização, - seja, no caso, a civilização mediter~
rânea, - "cons "tui uma espécie de meio moral no qual s-o mergulhadas um
certo número de nações e de que cada cultura nacional não é senão uma forma
particular", compreende-se quanto interessa, para a compreensão do fenô 0

meno brasileiro, ligá-lo constantemente à sua fonte lund mental, - à ci-


vilização ibérica e de um modo geral, à civilização ocidental, e analisar os ca-
racteres particulares que essa civilização tomou no interior do país, sob a pressão
de fatôres e de acordo com as condições diversas de nossa evolução hiot6rica
e social. Mas essa necessidade de, no estudo direto dos fenômenos de cultura,
sempre ter presentes essas relações, ainda se mani~ ta com mais evidência,
se considerarmos que, entre os fatos sociais mais apto a internacionalizar-se,
isto ~. fatos de civilização, se encontram exatamente as belal!l-artes,as formas
e os ideais literârios e os conh.ecimentoJicientífico . Assim, ligando a história
de cultura brasileira, de um lado, à d , idéias que a6bre ela influíram e, em
geraJ, à evolução das grandes correntes reJigiosas, políticas e filo ficas do oci-
dente e, de outro, às condições específicss de nossa formação social, como o
pais, a raça, e ~ formas de estrutura social, econômica e poUtica, poder-se-á
compreender melhor as evoluções paralelas que se operaram, na Europa e no
país, em grande separação da fonte comum, as formas ciais que a cultura
tomou entre nós, a facilidade com que se propagaram certas correntes de idéias,
como a resistE:ncias opostas pela sociedade a outras manifestações e movi-
mentos da cultura ocidental.

1 DlnlaJUM (E,\ - CiYiliat{otu et typn de c;.m tion , Note, W' la oodoo d~ cívillsotlon,
ln L' ÀllnH, t. XJ.r. l909-l911, pA.p. 4'6--50. Patil, Ws A]QD.
INTRODUÇÃO 11

Pode e notar, ao fazermos a síntese da cultura, no Brasil, depois de tra-


çarm09, nas 111188linhas essenciais. a evolução da sociedade brasileira, um fe-
nômeno de decallaAe (culture lag) fortemente acentuado, entre a cultura e
a civilização. Que a civilização se apresenta, entre n6s, com oa se:uscaracteres
fundamentais, não há sombra de dúvida. A doçura de costumes, o respeito à
pessoa humana, a toler ãncia e a hospitalidade, nas relações entre os cidadãos
e cm face do es angeiro, o espírito de ordem e o culto da paz, o apcrf eiçoa-
mento constante da organização jurídica e da técnica social e, maia recente-
mente o sentido do confôrto, desenvolvido com as aplicações das ciência à
vida material, põem à evidência o grau de civilização que já atingimos, e que,
ainda comparado com os povos mais civilizados, s6 nos pode desvanecer sob
diversos aspec os. Já, entre os latinos, civilis tem uma significação moral:
polido, refinado e, a êsse respeito, da tolerância, da polidez, e da distinção
de maneiras, com um toque encantador de reserva e de recato, pode-se dizer
que, entre nós, se desabrochou, na sua plenitude, a flor da civilfaação. E, dadas
as relações tão intimas entre a civilização e a cultura que uma nlto pode exístir
sem outra, não seria possfvel conceber um tão alto grau de civilização moral
com o desprêzo pelo espírito de cultura ou com a ausência de cultura que tem
por função enobr ccr e consolidar a civilização e manter a sociedade "no n!vel
a que a eleva cada progresso de civilização". Tôda a parte do livro sõbrc a cul-
tura mostra que, de fato, ela existe e já rompeu. em algumas obras-tipo, lite-
rárias e artísticas, com uma fôrça ou uma finura espiritual realmente digna de
nossa civilização. Mas não é menos certo que a cultw-a apresenta graves la-
etmas e, tanto pela qualidade como pelo volume, sobretudo do ponto de vista
filosófico e cicntlfico, não se desenvolveu no mesmo rib:no da civiliza,Ção apre-
sentando e ora slvel.mentc retardada em relação a outros países de civili-
zação comum, ora marcada pela superficialidade e pelo diletan ·smo, artificial,
e "desinteressada pela civilização em que floresceu". No cn anta, à cultura,
para empregar as expresroes de P. ARBoUSSE BASTIDE, "além de manter as
oonqu.istas da civilização, cabe ainda orientâ-la e esclarece-la, nem que eja
tão s6mentc no que diz respeito ao aperfeiçoamento da técnica ' . Poi , se
pela civilização o homem dominou as coisas e a vida material, "pela cultura
deve evitar (sobretudo numa época em que se dá grande importincia à vida
material) que as coisas obtenham uma desforra e venham a dominó-lo".
Ora, cada povo tem o seu temperamento e o seu gênío próprio que, elabo-
rados através de séculos, são o produto do meio fü1ico,dos elementos raciais,
e do progresso de sua evolução social, e se m!Ulifestam tanto na sua hist6ria
e nas suas instituições, quanto na sua língua e na sua literatura, nas suas obras
de arte e de pensamento. A cultura, nas suas múltiplas manifestações, sendo
e expre ão intelectual de um povo, não s6 reflete as idéias dominantes em cada
uma das fases de sua evolução histórica, e na civilização de cuja vida ele par-
ticipa, como mergulha no domínio obscuro e fecundo em que se elabora a cons•
d!ncia nacional. Por mais poderosa que seja a originalidade que imprime
à sua obra, literária ou artística, o gênio individual, nela se estampa, com maior
ou menor nitidez de traços, a fisionomia espiritual e moral da nação. Mas
os seus ideais, '.o seu caráter coletivo e as suas tend!ncias, a sociedade os ex-
prime, ..melhor e mais profundamente do que na filosofia, na arte e na litera-
tura, pela educação que não somente constitui um dos aspectos mai caracte-
risticos, mas 6 o próprio veículo da cultura e da civilização. O estudo da edu-
cação, desde as suas origens atê o seu estado atual, nas suas formas estruturais,
nos seus fins e nos aeus processos, não podia, pois, deixar de fazer parte inte-
grante de uma obra que se tenha proposto dar uma visão de conjunto da cul-
tura nacional. Se se considerar, de fato, que a educação consiste, em ua cs-
&encia,na transmissão de uma civilização, nu.ma pressão exercida pelas gerações
adultas sôbre as gerações jovens, a fim de que estas recolham e realizem os
12 A CULTURA BRASILEIRA

ideais que aquelas trazem consigo, compreender-se-á que " cs ideais, como
observou P. FAUCONNET, nunca talvez seja mais fácil apreendê-los do que
quando se assiste à sua transmissão." o que uma geração faz para criar os
seus sucessor , há cert:amepte ocasião para se surpreender o egrêdo de sua
alma e traçar o quadro de uma sociedade,. vista através de seu sistema de edu-
cação. 8: por isto, pelos elementos que o estudo da educação fornece à análise
p icol6gica e social do caráter coletivo, que o sod6Jogo fran~ considera jus-
tamente a história da educação como 'uma das mais eguras vias de penetração
na psicologia de um povo e na bist6rla de seu passado''.
Assim, se a educação, que é uma função do estado social, varia na sua
\ forma e no seu cont«:_údose~do as sociedades, e _secada povo ~rocura real~,
por meio da educaçao, um ideal que lhe ê pr6pno; ''uma prâtJca ou uma ins-
tituição não pode vulgarizar~e sem patentear um traço profundo do caráter
coletivo". Mas, diretamente <:o1ocadacomo se acha sob a depend!ncia da
organização geral da sociedade, a edueação começa a diversificar-se segundo as
class a e as profissões a partir do momento em que as sociedades atingiram
um certo grau de diferenciação, e se vai complicando, no seu desenvolvimento,
em razão da complexidade maior da vida social. A medida que se tomam
mais complexas a organização social e a cultura de uma sociedade determi-
nada, aumentam e complicam-se, em conseqilência, as t~cnicas e os conheci-
mentos que são transmitidos às gerações jovens, enriquecendo- e de novas
instituições especializadas o sistema educativo em formação. A quantidade
e a natureza dos conhecimentos que se transmitem às gerações novSB a varie-
dade de ins ·twções de caráter profissional, d tinadas a at der à especiali-
~ação ditada pelas necessidades coletivas, a pobreza ou a complexidade do sis-
tema educativo, variam, evidentemente, com as condições sociais de cada grupo
humano e rcfle em as suas necessidades, :ma mentalidade especial, cu passado
histórico e as tendências gerais de sua evolução, Se, pois, se proceder a um
inqu~rito sõbrc as instituições pedagógicas de um povo, apanhadas, no curso
de eu desenvolvimento, e estudadas nas suas estruturas, nos fins prosseguidos
e nos meio adotados para realizar êsses fins, - uns e outros ociais, porque
a natureza dos fins _pré-determina a dos ml:todos,17 - não será difícil recons-
ti :uir não s6 a sua evolução social a sua concepção da vida e do homem a sua
hierarquia de valores, as mudanças que se operaram nas suas concepções e
na sua mentalidade particular, como o tipo, as espê<:iese o grau de cultura
que atingiu e se exprime constantemente nas instituições prepostas a mantê-la
e a transmiti-la através de gerações. O interesse pela cultura e pelas coisas
do cspfrito, em um dado povo, patenteia-se de maneira constante e iniludível,
no trabalho a que a sociedade se entrega e no esfarço que realiza, pelo conjunto
de suas instituições escolares para educar os seus filho , elevar o n(vel de cul-
tura e estender a um maior número possível os beneflcios da civilização.
Poder-se-á objetar, e não sem razãc;,,que, se nao faltam de todo, são insu-
ficientes os elementos necessários a uma obra d te gênero, destinada a dar
uma vista de conjunto da cultura brasileira na sua evolução, desde as suas
origens até seu estado atual. Uma obra de síntese tem, pela sua própria na-
tureza, o duplo objetivo de unificar os conhecimentos dispersos até hoje nos
trabalhos de detalhe, e de abandonar tudo que é secundário, inexpressivo,
access6rio, para fixar o essencial e indicar as grandes liohas do desenvolvi-
mento. A exposiçao resumidíssima, quase esquemãtica, arri • e a embara-
çar- na obscuridade ou a tomar um caráter su erficial, se não foi precedida.
na sua lenta elaboraçao por um prolongado íõrço analltico para apanhar,

17 DuluallWA (B.) - P6d11~oai11ef. Socioloai . Revue d m!laph)"llqu d de morale, Janvltt. l9PJ,


p6p. S7-S4,
1
INTRODUÇÃO .lS

em cada ~. e relativamente a cada uma das manifestações cultw-aia, através


do que passa, o essencial, o que fica. não só pelo seu valor intrínseco, autentico
e original, como pelo .seu poder de irradiação. Uma hora de síntese. como j
ac escreveu, upõe anos de análise; e a síntese ganha certamente em vigor e
precisão à medida que se desceu mais profundameri e na sondagem dos acon-
tecim-entos, remontando até às suas causas e desceodo,até às uu conseqU~.
A largueza do campo cultural que o autor é obrigado a -perlustrar, a variedade
do asstmtos cada um dos quais bastaria para esgotar a capacidade de um espc.
cialist , e a complexidade dos fatos estudados dão a medida do esf6rço nece.s-
sârio para empreender uma obra que, pela sua extensão, não se poderia a rigor
levar a tlrmo senão através de anos e com a colaboracão de muitos. De tõdas
as dificuldades cm que esbarramos na elaboração dêste livro, não foi porém,
a menor a insuficl&lcia, em alguns casosi ou a absoluta falta, em outros, de
monografias especializadas. Fôssem numerosos os trabalhos de detalhe, de-
vidos a especial,istas, que tornassem possível uma tentativa de síntese, e o autor
não teria por tarefa senão e%I)loraros dados assim recolhidos para nos restaurar
a imagem verdadeira, a imagem profunda da história da cultura nacional, na
sua evolução e em todos os seus aspectos.
Todos os que jã tentaram reconstituir, nas suas linhas mestras, a evolução
de nossa literatura, por exemplo, ou dentro dêsse campo limitado, a de um dos
gênero literârios como a do teatro ou da eloqüência, podem avaliar, pelas di-
ficuldades que tiveram de enfrentar, as que se levantam a todo esfõrço para
traçar uma vi o panorâmica de nossa cultura nas suas múltiplas manifes-
tações. As interfer ciu dos fenômenos sociais, as aU.8.9ações e reações reci-
procas, a ação tão dificil de determinar, dos acontecimento bre os homens
e d tes sôbre quetes, a complexidade do jôgo do mecanismo da evolução, em
que se há de êonsidcrar, ao lado das tendências gerais observáveis em todo pro-
cesso evolutivo os acidentes. contingentes e imprevistos como uma invenção
ou uma descoberta, tudo isto exige uma sólida e extensa base de monografias
especiais para que, nwn trabalho dessa ordem, o espírito não fique flutuando
sôbre a margem indecisa qu separa o sonho da vigília, a fantasia da realidade
«o mais ou mcno ", pressentido pela intuição, do exato e do preciso, alcançado
pela observação metódica dos fatos. Se já se encontram, para o ncial, bre
alguns aspecto de nossa cultura, os materiais indiq>ensáveis, e amente frag-
mentários., mas, nestes limites, verdadeiramente instrutivos, o estado atual de
nossa documentação e a pobreza de nosso equipamento cientffico ainda tomam
audacioso qualquer esfôrço no sentido de pôr clareza e ordem nas particulari-
dades e de, tabelecer linhas muito distintas de demarcação entre as diversas
fases de nossa evolução cultural. Em quase tôdas as monografias e mesmo
entre algumas das melhores, em que não faltam observações penetrantes e al-
tamente sugestivas, as indicaçoes, por mais inteligentes que sejam, emeadas
como que ao a o, mal dissimulam a ausência de desenvolvimentos em que
os problema tivessem sido tomados corpo a corpo, nos seus conflitos e na suas
reperco • diretas. Acresce que, além de pemianecer ainda inMita boa parte
de nossa documentação e de serem ainda poucos os trabalhos de detalhe, que
se possam considerar exaustivos, s6 muito recentemente, a partir de JoÃo RI-
SEIR.O e de CAPISTRANO DE ABREU,começaram os nossos estudos históricos a
ser penetrados de espírito científico e a apresentar, em conseqil.encia, mais
rigor na in crpretaçio dos fatos.
Mas dever- -ia concluir daí, de tôdas as dificuldades inerent a trabalhos
dessa ordem, que seria inútil ou infecunda uma tentativa de stntese da cultura
brasileira? Parece-nos que não. Antes de tudo, uma visão do conjunto, por
imperfeita que f, e, cria a vantagem de grupar numa exposição metódica
finas indlca~õea e ob ervaçõea eguras qu~ dispersas por um grande número
14 A CULTURA BRASILEIRA

de estudo monográficos, perdem assim muito de sua fôrça explicativa e ficam


n essàriamente incompletas. Por mais difícil que seja, f possivel, não s6 pela
utilização dos materiais conhecidos, mas com as impressões recolhidas da
rcfl o sõbre os fatos, traçar- o quadro provisório da cultura no Brasil, sem
dela fazer uma caricatura tão do gôsto dos pessimista, que não situam o es-
rço brasileiro no seu clima social e hlst6rico, nem apr tar um r trato li-
songeiro, que podia ser agradável à vaidade nacional, mas não serviria para
nos abrir o olhos sôbre a realidade e conduzir-nos o rço empreendido pela
libertação do espírito. Assim uma tal obra seria desde logo uma "tomada de
consci cia" de nós mesmos~ desde que seriamente pensada, construfda e do-
cumentada; e, com todos os defeitos decorrentes da escassez de material der
cumentãrio, em que se pudesse apoiar, 1 teria realizado o seu destino se fôsse
capaz de renovar o interêsse pelo assunto e de suscitar um dia a s1otese ma-
gistral que s6 se tomarã possível com o desenvolvimento dos trabalhos prepa-
ratórios de erudição e de pesquisas. Jâ de um ponto de vista me.is geral que
abrange tôda a história do país, escreveram JoÃo RIBEIRO PANDIÁ CA.LÓGERAa
e PEDRO CALMON, entre outros; obras que, sem serem definitiva,, constituem
uma maneira de grande panorama histórico, em que, sob estilos diferentes,
em um, de uma sobriedade elegante, em outro, de uma ecura enérgica e no
último, de uma poesia colorida, deram uma visão nova da hi t6ria de nosso
país, num grande esfôrço para penetrar até o coração do mecanismo de nossas
in tituições sociais, políticas e econômicas.
Ora, o objeto desta obr~ reduzido ao estudo da cultura. é muito mais
limitado; e, se já foi possível uma vista de conjunto de nossa evolução histó-
rica e social, podemos tentar apresentar a de no evolução cultural, susce•
tível de ser dominada do mesmo ângulo de ob ervação. 2 o que nos animou,
bre a seguranç de ser útil ao país, a escrever êste livro, tomando sôbre os
ombros a tarefa que nos puseram sôbre êles e que, por diflcil e árdua, se des-
tinava a outros mais resistentes. Certo, não podem faltar a quem se proponha
traçar uma síntese, um horizonte histórico bastante largo, um sentido vigOToso
dos grandes problemas e uma consciência profunda da complexidade e inter-
dependência dos fenômenos sociais e, portanto, da ligação treita dos fatos
e das atividades especificamente culturais com os outros fenômcnos sociais
de cat gorias diferentes., As diversas manifestações de cultura, de que teríamos
uma noção falsa se estudadas como se fõssem microcosmos isolados dentro do
conjunto social, se ligaram sem cessar, nesta obra, à evolução das grandes C01'-
rentes políticas, econômicas, religiosas, ,que nos diversos pedodos da história
ocidental e nacional, orientaram todo q pais numa direção ó.nica ou puseram
em conflito algumas de suas partes. ~eferimos sempre o fato humano com-
plexo a qualquer fórmula rígida em que se procurasse apri ionar a realidade
múltipla e viva; e, repelindo todo do~tismo capaz de falsear a compreensão
do fatos, o nosso pensamento se orienta para uma interpretação dos movi•
men os culturais, estéticos e científicos, muitas vezes segura, à vista d.a documen-
tação recolhida, e outras, hipotética, mas que não deixará de ser sugestiva, nas
suas indicações. O espírito sintético e as idéias gerais dominam Oda a obra
deixando na sombra ou em segundo plano, a que os relegaram a sua pouca im-
portância e re ercussão, nomes, fatos e obras sem um profundo sentido cul-
tural, que teriam de figurar antes num trabalho analítico ou numa obra espe-
cializada de grandes e pequenos quadros históricos. "A posteridade abrevia,
dizia admiràvelmente E. FAGUET; e estã no seu direito, pois que escrevemos
para ela; e ~ seu dever também, e, por menos que pareça, um dever piedoso,
pois não abrevia senão para não perder tudo".
PARTE J

Os Fatôre~ da Cultura
CAPÍTULO I

O país e a raça
O meio físico - A fisionomia geográfica e a e~ensão territorial do pais
- A oposição das duas vertdltes contil1entais - As duas grandes bacias fú-drd-
grtúicaa - As clist:Ancias e a' diveníldade dos quadros naturais - O amblâ'te
geom6rfico e climat&ico - A flora e a fauna - Os recurllOS minerais - O
mar e a costa - Regiões de condensação e de dispersão - Os rios de pene-
tração - O São Fr-ancisco, rio da unidade nacional - N!. origens e a com-
posição do povo brasileiro - As tr~ raças que conflufram na fõm)ação <bs
populações no Brasil - Os dados antropológicos - A distribuição das popu-
lações setentrionais e meridionais - O crescimento vegetativo da população
- As migra~ internas - AlJ imigrações - A mestiçagem - Seleção e
peneiramento - Densidade estãtica e dinâmica - A distribuição da população
por idades, sexos e raças - O brBBileiro.

S E EXAMINARMOS atentamente o mapa físico da América do Sul, a


imagem impressionante que nos fica dêsse bloco continental no seu ,
conjunto, é a de um imenso maciço de terras que escorrem da cordilheira
dos Andes ·para mergulharem no Atlântico. Os contrafortes andinos esten-
dem-se de norte a sul, como uma barreira soberba de píncaros e planaltos que
~ agigantam e descaem bruscamente e donde não corre um rio para o Pací-
fico, enquanto, na vertente oriental, enormes massas de águas, do Amazonas
ao norte e do Prata ao sul, e as do São Fr-ancisco e -Paranafüa, entre aquelas
duas bacias hidrográficas, rolam lenta ou impetuosamente para-o oceano Atlân-
tico. Na vertente do Pacífiêo, predomina, agressiva, a linha vertical, com as
cumiadas e os picos dos Andes, entestando com as nuvens; num contraste vio-
lento com a paisagem oriental de terras altas, chapadas, chapadões e serras,
, que, ondulando para leste, numa elevação média inferior a mil metros, se em-
pinam a quase 3 mil metros, sàmente nas montanhas da cordilheira marítima
(o ·Itatiaia, na Mantiqueira e o Pico da Bandeira na Serra do Caparaó, em
Minas), para caírem, espreguiçando-se ao sul na vastidão intérmina dos campos
e das planuras. Do lado do Pacífico, uma costa lisa, pobre de relevos e arti-
culações, em oposição .às baías, enseadas e ilhas das costas, pouco recortadas,
mas "hospitaleiras, banhadas pelas águas atlânticas. Mas, se voltarmos a
atenção para o continente que nos fica fronteiro ao Atlântico Sul, as duas costas,
africana e brasileira, não tardarão a parecer-nos tão concordantes nas linhas
do seu contôrrto que não nos custaria a imaginar os dois continentes atuais
como o resultado •do esfacelamento de wn mesmo b1oco antigo. O mundo
americano constitui, de fato, -quanto: se pode julgar pelo estado atual da ci-
ência, - os escombros de um antigo e imenso çontinente de que se desmem-
18 A CULTURA BRASILEIRA
----------
braram a Auatrãlia, envo1vida pelo Pactfico as lndi s separadas pelo oceano
Indico e. pelas águas atlânticas, a África e o continente sul-americano. Foi
no inicio do período a que se dá o nome de cenozóico, na história geológica que,
aterrando- os vales, inundando-se as terras baixas, e erguendo-se do oívet
do mar o Andes, como os. Alpes e o Himalaia, al&n de suas alturas atuais,
tomou a terra a configuração que hoje apr a nos seus principais delinea-
mento e relevos.
Analisando esta concordância das costas do Atlântico Sul, A. WEGBNER 1,
como PICKERING, foi levado a admitir a ex:i.st!nciade uma antiga ligação ter-
t:re entre o Brasil e a Ãf rica e a supor que essa cos s são o bordos de uma
fratura ampliada, tendo a América sofrido uma translação igual largura do
Atlânti09. tsses dois continentes, efetivamente reunidos atê o cretáceo, se
teriam deslocado para oeste, arrastados pela atração solar, agindo sôbre os
corpos viscosos à superfície da Terra.. A América do Sul, para o autor da teoria
dai transla,cõcs continentais, "deve ter sido cont{gua África ao ponto de
constituir com ela um bloco continental único. tsse bloco se cindiu durante
o cret6eeo em duas p~es que se separàram, no curso dos tempos, como de-
rivam os pedaços de um gêlo quebrando-se na água. Os contornos dêsses dois
10los são ainda hoje notàvelmente semelhantes. Não é sõmente o grande co-
tov!lo saliente retangular que· apresenta a costa brasileira, no cabo São Roque,
que ~ reproduzido em sentido inverso pelo cotov~o reentrante da costa afri-
cana oo Camerum; mas, para as regiões situadas no sul dbscs dois pontos.
a cada saliência da costa brasileira corresponde uma parte rcen ante seme-
lhante da costa. africana, da mesma maneira que a cada bafa do lado bra3ileiro
co, responde uma saliencia do lado da África. Por ocasi o do deslize das massas
continentais! para o oeste, as duas Américas tiveram o seu bordo anterior ex-
tremamente enrugado, em conseqüência da r istencia frontal que o ao
aeu avanço o fundo abismal do Pacifico, resis !ncia explicável pelo fato de
que te. c:xistindo como tal, desde as épocas geo16gicas mais recuadas, tinha
podido friar-sc profundamente e tomar-se mais resistente. Daí r-csultou a
gigantesca cadeia andina que se estende do Alasca à Antártica".
A América que resultou da ruína dêsse mundo antigo, divide-se geogrà-
ficamente em duas grandes seções: a oeste a América andina debruçada sôbre
o Pacffico, e a lesto a América tropical e atlântica, brasileira, amazônica, an-
tilhana, de um lado, e- a América temperada e dos pampas, de outro. Ora, o
Brasil, - vasto país para o qual os contrafortes andinos fecharam o Pacifico
e que e inclina inteinpnente para o Atlânticc, ocupa na América do Sul ou
na Amêrica Latina, com seus 8 milhões e meio de qui16metros quadrados uma
área pouco inferior à de tôda a Europa' ou à dos Estados Unidos. Elevando-se
no maciço do norte, dos altiplanos guianeses, para arquear na planfcie ama•
zônica, - 'jimensa calha onde vêm qesaguar os beirais ci!a.Qdinos"-, esse
vastf imo território alteia-se de novo ao sul da baixada amazônica, no enorme
planai o central "inclinado suavemente para o norte e para oeste, descreve
AFR!Nto PEtxOTO, levantado às vêzes quase a pino, no sudeste. cercado à

1 w.o- (A.), Die Bntatehun{ du Kontin nt und O .,.., L•. e</., 191$: 4•. ed .. l9:'J9; r..
"'" d • continent• er du océan5. rhéorie du tr11JUJetion• cont/n rua/ : treduit de r•ll,.mand
par ~ LIIU'Q, fZltt V B.ur.um, Pvis, 1931; cú. PIJ'.J Lllld (A. BaTllol). O depoimento do Sra il
na di.eu d11 ,..,,;,. do de.Jne dos continenrea n1undo W1ouru. ct1m do Muxu NIM:iaoal, Rio.
S, pq. 41; La Thiolie de WBGEl'l'n en prl~ de qu,..lqu obee,.,11/ion• 1"1/oliqu,u co..-rnant
1- 81 '/, "C.R. Ac:ad. d.,. Sc:ia:ac,es, tomo 186, . 802.
t s.. dM p-aod"9 ~ boruocrtaia doe COII.W>n>~ • qual ~00!0 ia °' mo-
fl pve o , de que ruultou, Cbtrc outn••• por fre te r d llte, o bloco rontina11:al IIIDCl'1Caft0,
olio -6 n r dte, ID8I imp{ia a teoria de iu,ar-11sie, Sccwido -• ron«lJÇlo, • • CN11ta ,_,, nutua em
tado de c:qu lfbrio a6twe um meio maio dCllllOe viaco9o ,, - uud q pode ct pat\llbado por cüvenoe
r•t&eo <• oobra:111'&• de c:raata tettestn per u!Jl.11calçtc itl ■del, IIC\I.Dlulaçlo doe oedlmaitot, etc.).
O PAlS E A RAÇA 1!1

beira do Atlântico por um estreito debrnm de terras baixas". A cordilheira


marítima que ora se precipita a prumo sôbre o mar, como se emergisse do seio
daa águas, ora descai para o interior, desdobrando, ao longo da costa, uma
fau:a es cita de planíci apresenta-se dominando a paisagem, - 'qual mu-
ralha imen que debruasse o litoral, defendendo o interior". Ao sul de Mato
Grosso aa planlcies do Alto Paraguai, prolongando as da Argentina e a, do
Grão-Chaco, imprimem a essa região um aspecto particular que a düerencia
fortemente de tõdas a zonas ítsiogrãficas do país. A oposição das duas ver-
tentes continentais que definem a espinha dorsal do Andes,- a do Paófico,
de que nos eparam a cordilheiras andinas. e a do Atlântico, cujas ãguas banham
todo o país oriental, de norte a sul, dão uma importância capital à face vol-
tada para o A làntico, a todo conjunto atlântico que, no dizer de CALÓOKRAS,
''tende e tenderá naturalmente a sobrepujar social e económicamente a ourela
do Padfico".
lt pelo Atlântico que penetraram os colonizadores, que se estabeleceu o
comércio internacional, se faz a maior parte do comércio interno e cruzam
tõdas as correntes de civilização. O pulmão do Brasil respira, ce~nte,
para o mar, para o Atlântico, e é do oxigênio que absorver, com a inten~dade
do comércio maritimo, que o organismo nacional readquirirâ a vitalidade ne-
cess6.riapara prolongar, na conquista do oeste à civilização, a façanha daa en-
tradas e das bandeiras. li: certo ainda que o mar contribui para formar o tem-
peramento intelectual e moral dos povos marítimos, estendendo-lhes o hori-
zonte poli •co, estimulando-lhes as energias criadoras e fazendo deles outr01
tantos focos de civilização. Mas, sem contestar o papel histórico que desem-
penharam os mares cm todos os tempos, como o demonstrou RATZBL 11 e a no-
tãvel contribuição do Atlântico na história da civilização brasileira, é preciso
ponderar, de um lado, que todo poder marítimo depende da natureza e da forma
das terras que tocam o mar e lhe dão acesso, e, de outro lado, que, se é bre a
água que ae desenvolve todo poder marítimo, é sôbre o continente que ~e tem
o aeu ponto de partida e sua base de ação. Já havia notado CAPISTRA.NO PE
ABREU, como nos lembra A:FRÂNIO PEIXOTO, que, "sem recorte de periferia
marítima a imensa cos do Brasil não dava incentivo à navegação interco-
municante e, por isto, os habitantes primitivos do país se quedaram num atraso
de isolamento. Ainda hoje a cabotagem é tão diffcil Q\lC, trechos diversos e
próximos do país, vivem separados. "Acresce ainda que, por maior que seja
• acão do mar s6bre o espfrito dos homens, o mar por si mesmo não ê mais do
que um caminho aberto à humanidade". É, nas expressões de E. DURJQiErM,
"um campo livre que solicita a vida a desenvolver-se, não é uma fonte de vida .
.Não é possível um poder puramente marítimo; é-lhe preciso um apoio sõbre
a terra. e suas bases continentais devem estar sempre em relação com a impor-
tAncia de IU8. expansão maritima. Se o equihôrio se rompeu, o Estado, sem
base sólida, expõe-ae a ser am~batedo pelo menor' abalo". A 'própria ext ~o
da coata, que oferece tantas facilidades ao comércio quanto às iovasõei5, acen-
tuando nosso papel de Estado marítimo, agrava os problemas da defesa nacional
e mostra à evid cia oomo, para o domínio do Atlântico, devem ser s6Udas e
extensas continentais, em que tem de repousar a nação.
A ausência de vales perpendiculares à costa, que tende, oom uas
praias de areias alvas, "entre a muralha verde-negra e o mar azul.-eacu.ro",
de uma a outra extremidade do Brasil, definindo-lhe o contõrno oriental, e

3 h. RATQL, Dn MHr •I Quelle dar VoeJttrjroesae (o mar camo roo d &raadr:n doe povo.).
Ldpd1 e llunkh, R, Oldmbourr. 1900: cfr. B. HEU<QL-r, Weltluchicbte. tomo IV: Dt R•ndland r dn
Ml11 lmHr•, LciJ>Zl&,Vicn11, Bi •uc,e:raphltcheti lmtitut,. 1900.
-----~ A CULTURA
-- --- -
BR SILEIRA

a magn1fica Serra do Mar- que, correndo paralel ao litoral atlân ico, se le-
vanta como um sis ema de defesa, mas também como um obs culo à conquista
do planal o, constituem com a imeruiidade da cos traços fun amentais da
fisionomia geográfica do país., e outros tanto problema que a natureza esta-
beleceu, desafiando a energia do homem para o domínio do oceano. Aos 14 500
quilômetro de fronteiras terrestres que limitam o Brasil, do ul ao norte. e
cm t&ta a sua extensão ocidental com a qua otalid de dos povo hispano-
americanos, corr ndem e se opõem cerca de 8 mil quilõrne o de orla ma-
rítima, na face oriental banb.ada pelo Atlântico. E fácil compreender que o
colonizador cnha começado pe1o litoral "arranhando a praia como um ca-
ranguejo", para depois transmontar a cordilheira e, atingido o planalto donde
p"1Tt1!"3m as bandeiras, acender e concentrar n!le o maior fo o de civilização
nacional. Ma a imagem física do país, tão fortem nte delineada., d leste
a o ste. pela opo~ição das duas vertentes continentais do Pacffico do Atlân-
tico, - o v rdsdeiro z;nare .nostrum, só adquire ua , pre são original e
retoma o s u relêvo inconfundível, quando consid ramos os imensos territó-
rios de penetração que têm como base o litoral atl otico são definidos. ao
sul pela bacia do Prata, e, ao norte, pela bacia do Amazonas. O Brasil ama-
z nico, ob!erva M. TRAvA530S,"comunica-se de modo m is direto com o oceano,
por ·ato que di põe do rio Amazonas como via n tural, e a sua capacidade de
penetração é mais ampla pois o vale amazônico é o grande coletor do formi-
dável anfiteatro que se arqu-eia de Caracas a La Paz. O Bra il platino, em-
ra exija rn ios artificiais para se ligar ao oceano dispõe de portos com sufi-
ciente capacidade de atração na costa e dos estímulo de dois países mediter-
râneos que. naturalmente, reagem contra a fôrça ccntrfpcta do Pra a: - o
sul de Mato Grosso, prolongàndo os t.erritórios paulis e paranaen e, repre-
sen a sua fôrça de penetração'·.
A imensidade das águas que descem dos And , e avolumam na calha
d edida e transbordam no labirinto de igapó e igarapés, sob o túnel de ver-
dura da Hiléia prodigiosa; a ação destruidora, erosiva, da enorme caudal que
atrav corroendo as montanhas, desmon ando as margens e arrastando
trechos de florestas, que derivam rio abaixo, ' ao modo de monstruosos pontões
desmastreados", enfim tôda essa natureza selvagem e umultuária da Ama-
z nia, jã teve em EUCLIDES DA CUNHA o pintor incomp rável que, nas páginas
da ''terra sem. história". traçou o mais sobe.r o quadr dessas paisagens em-
polgantes. Para êle, "o homem ali é ainda um intruso imp r incnte. Chegou,
sem ser esperado nem querido, quando a na ur za ainda estava arrumando o
seu mais vasto e luxuoso salão. E ericontrou uma opulenta desordem". E,
dian e do espetáculo dos materiais desagregado e carr ados pelas águas bar-
r ntas, v no Amazonas "a viagem incógnita de um território em marcha.

• M~ ccogrâCica. d ... ~ DO tul do BtulJ, & m .. 11. p doi od '"' lhe Cot1 •
t\llu:m • n partiw!Ar: mllil eleva.ruu pan. o lildo do mv. inc:lin.am pena • •• ci do Panmi.
arule mab boixu do continente, e que -ia u.m prG!o,i menu, do 1, mrtea,te
noe Ci e ligado à r..... dos A n. De um lado, nto • c.:arpa da SerB do r, e, de
tnl , • maiar q11<e '"" coohc<:c (o CbKo tam
1:111~ ~. ao C9-Cbooíl'en,ou ao neo- ela
bau:i• da que o Cb,u:o pnhava em pro( foram
tOl'l>Gido, çio iaosb\tica, nnu dl!vada De,
provàvd:mano dtflulam d" mente paor,a o ocesoo. e, em ••
mam, acc:o ,on..i no início do quaternm'iD. cm ~ • ,un
do Ma, oepãr rarn--. do pana,. e d do
a.ucid.o nu ptarirmd.ade,, e a 2S q e,
c,oNO pcrior, pcrte:nccodo Cf'I\ICI' O
ocstr. • e de Jmlllltcr li o caminbo por meio d• Scrta
• • puso Jl'9(1l a C!>llllllhta 11:o ado do oceano por equd• b..-rcitt, e do
do cu.-.:, m!dio Jo P3raa_i e do P C'Olonm.
índios, trilhAd.a. mab tarde pdoo D pOtte de

uend.o c:om qu,o o, ,;.,. corre,


• com iea~i>e• com o -a<,,
=
bclcc,,,) • tm~o por rneio de cabos óoo pla.noe 1DCUnlld
p,nl]itiu
para o ln cr, e vn
Peulo R&ilwey. A dençio
o Puan , ,e r01 1rma ba.rrc:ira
r íllv cceu •• m raçllca c.ntr e beo,iciraa1 pa:ra o
el.01 i;-r-.nd rios de pmetrai:ão..
O PA S E A RAÇA 2l

o efeito maravilhoso de uma espécie de imigração telúrica: a terr abandona


o homem; vai cm busca de outras latitudes". A visão dd artis deslumbrado
em face dessa movimentação espantosa de terra e de águas, d penda
natureza quase em formação, leva EUCLIDESDA CUNHAa aceitar a única hi-
pótese gcol6gica qu corresponde a essa visão, por ver na Amazania, gundo
aa induçoes de WALLACE e FREDERICO li.ARTT talvez a terra mais nova do
mundo, nascida da úJtima convulsão geogênica que sublevou os Andes. ~ a
mesma concepção que perfilhou nos Sertões, ao estudar a forma o geológica
da região central do Brasil, e de que partiu a hipótese de E. Lws bre a origen
e a estrutura daqu as terras sertanejas5. Até o perlodo terciário, segundo
essa concepção à qual se opõe a teoria de WEGENER, a América do Sul se di-
vidia em duas grandes ilhas por um oceano cretáceo, que ligava o Atlântico
ao Paclfico atrav~ de sua zona central. Mas, emergindo então das ãgua a
cordilheira dos Andes e elevando-se as massas gran{ticas das altiplanuras das
Guianas, "o mediterrâneo entre os planaltos do norte e os maciços do sul fe-
cha-se ao oes e, estreita-se, comprime-se, despedaça-se em istmo e termína
por se reduzir ao canal amazônico".
Entre as duas bacias hidrográficas que caracterizam o Brasil amazônico
e o Braail platino, comunicando-se diretamente com o ooeano pelas auas redes
fluviais, e fazem dessas regiões, por isso mesmo, dois mundos "mai ou menoa
o:certtrico ", alongam-se, do norte para o sul, o norte sub-equatorial e a ver-
tente oriental doa planaltos, que são como que chamados a estabelecer a ligação
entre aquelas duas vastíssimas regiões. À extensa linha da costa convexa que
se prolonga da Guanabara ao golfão de São Lub. corresponde, o erva M.
TRAVASSOScomo uma espécie de corda "a linha terrestre balizada p lo vale
superior e mEdio do São Francisco e do Pamai'ba '. Ou, por outra palavras,
"ac!otricamcnte por via marítima, ou concêntricamente por vias terrestr ,
o papel funcional dessas regiões é de ligar, homogeneizar amarrar os doi Brasis
eacnciaia do ponto de vista continental, o platino e o amazônico '. A linha
do vale do São Francisco nos forneceria a corda desse arco, cujas extremidades
aio oonstitwdas pela duas regiões amazônica e platina; quanto mai e re-
tesar o arco e ae aproximarem, portanto, as suas pontas, tanto mais ao longe
e vigoroaamcnte se despedirá, dos planaltos para a regiao ocidental, a flecha
da civilização. Eaaa aproximação entre as regiões extremas, de inf1ublcia
decisiva na política interna e na política continental, Rrá a grande obra da
politica nacional de produção, transportes e comunicações, de wn lado, ex-
tremamente dificultada pelas distâncias, mas, d.é outro, facilitada pelo próprio
fato de reprcacntarem o Brasil amazônico e o Brasil platino jjduas l"egiões con-
vergentes. em relação ao próprio centro geográfico do continente (planalto bo-
liviano), seja por meios artificiais (pôrto de Santos, rede paulista, Noroeste),
seja por vias mais que espontâneas como os rios da bacia amazônica '. O des-
locamento da civilização geral para o ocidente, a que já chamou a "marcha,
para o ocate ', estA evidentemente condicionado a essa dupla marcha de flanco,
deaenvolvid na direçao do planalto boliviano, e tem, sôbre a vantagem de
articular pelos ponto de chegada os dois extremos do Brasil, a de li ar oa doa
oceanos, unindo o Pacífico, - o grande isolador dos povo -, ao Atl tico,
cujas âguas p cem embalar o berço de uma nova civilização.

do - b tae d B. LIAll (Ul2.6--l901>j,ll!l:rlfflomo frano:& q~ w.o • la" dlrflt<,r do O


d J• , trecho do Hftlo t,aiano surge"°"'º uniforme ui.do d& montanha, da<-
,, em co...eq ' da con que f& ema:gir os Aadca e wbkv.,.. a 'plaauraa G , • ar•
-..do o c:Glllunto dD _,... numa roaçlo ~ em t6mo de um • o i o po,r Lu.rt tn ~
cbapadlla d Bar e • Bollwia •. Os ~ do aarte da Bahia avolWDam- tio. nam coe-
tflmo, u r • .itaa Nlpiam,.e de I oe, enquanto o tiorru baiJtu eou • ua.mimcnu. Ide IO&.UfUlU,,
Lu.U. Esplor•tio,.. w ntifiqu •u Bt6 li. 1665; Tr&it:6 d'utronomie •ppUqu6c, I I• 4,010'1• •t ~ I•
11••14•1ion, 1967; cfr. Buc:i.ma º-" CVJ!BA,A mar,em da hiat6ri•, 3.• ed. POrto, l 21; J. M•ri• Belo, /11-
taUl'ncí• do Bra li. no estudo ll&bce EuCLmu Dlt Culm.<, pAl{e. 161-1155, J.• ed. C«np. ltdltono Nacional,
1931).
22 A CULTURA BRASILEIRA

Não no afigura pois- tão justa, como poderia parecer à primeira vista,
a observação de A. SIEGFRIED quando afirma que, conforme predominar
no destino do continente o fator geogrãfico ou o fator bis :6rico, as democracias
la.tino-americanas e orientarão para a unidade pan-americana ou manterão,
durante muitos ano ainda, oom a Europa o vinculo cultural que liga a América
Latina ao velho oontinente, desde a a:>lonização. A América Lati.na, por outras
palavras, industrializando-se i:àpidamente, se moverá como se tem movido
ora em tõmo do eixo vertical (Estados Unido) ora cm tôruo do eixo horizontal
(Europa). Mas, essas oscilações de movimento além de serem determinadas
antes por fatõrcs econômicos, políticos e culturais do que pelo fator geográfico
mostram, evidência, que a América Latina continua a gravitar como satélite
em tõrno de dois grandes núcleos de civilização. Enquanto o nosso continente
não criar por si mesmo a sua própria civilização, renovando a c'Q]tura bebida
na mesma fonte peninsular, ibérica, e n.ão se estabelecer contato mais íntimo
não a6 entre a América andina, de um lado, e a tropical e a dos pampas, de
outro, e entre a América Latina e a anglo-saxõnica, não haverá base material
e cultural suficiente para o deslocamento do eixo, no sentido vertical, capaz
de promover a rotação sõbre si mesmos e, portanto de norte a sul, dos dois
continentes, fortemente diferenciados pelo contraste entre o ibérico e o anglo-
aaxõnico. Não é nas condições geográficas, nem no elementos raciais que se
pode~buscar, na própria América Latina, uma unidade que provém antes d~
"atmosfera de ua civilização''. Mas a unidade que existe, não como um re.
sultado definitivo, mas, como um processo em elaboração, r ulta da comuni-
d de de origens (hispano-lusi.tanas) das nações que se formaram nessc'blooo
continental e que, voltadas a maior parte para o Pacífico, outras, para o Atlân-
tico, aíora dois países insulados (Paraguai e Bollvia), se mantêm afastadas,
econ ·ca-e culturalmente, pela própria oposição geográfica das duas vertentes.
A dilatação máxima do Brasil em latitudes diferen es e, cm conseqüência, as
enonn distâncias, a extrema variedade dos quadro ftsicos e a diferenciação
çlimato16gica, teriam cindido o país em dois blocos cstanqu , se fatõres histó-
ricos, como as migra.Çõesinternas e outros, não tiv em intervindo para fundir,
numa nacionalidade, regiões tão díspares, cfütantes às vezes opostas, pelos
cus aspectos geográficos, climatéricos, econômicos.
Se, de fato, as grandes regiões naturais em que se pode dividir o Brasil,
sã.o, de atardo com a cle,ssificação de D&LGADO DE CARVALHO, o Brasil ama-
zõnico, o nordeste sub-equatorial, a vertente oriental dos planaltos e o Brasil
platino, cada uma dessas zonas compbrta sub-regiões naturais, nltidamente
diferenciadas, com a sua fisionomia par6.cular e as suas características próprias.
A região setentrional do Brasil amazônico, que se a\teia na região serrana,
constitufda pelo maciço granítico das Guianas, para se deprimir na formidável
calha do Ame.zonas e de seus afluentes, compreende a16m d a duas regi~
a Hil~ia ou a zona das florestas tropicais. ~ essa a região das grandes planí-
cies, das grand selvas, e dos grandes 1ios que lembram inf ncia. do mundo.
ão ê menor nem menos diferenciado o Brasil platino que. no sul, se contrapõe
bacia do Amazonas, e que, englobando a costa ou a contravertente oceânica.
entre o Atlântioo e a Serra do Mar, se desdobra ainda na região da cordilheira
e na do planalto em que se alternam campos e mata - "região auporte dos
uentea orientais do Paraná"-, e na das savana rio-grandemscs e da baixada
de Mato Grosso. Entre essas duas imensas regiões em que se extrema o Brasil,
de norte a ui, estendem-se o nordeste sub-equatorial, a rangendo o goltao
maranhens (sorte de transição da Amazônia), a bacia do Parnaíba, as erras

A. S11. l'llJ&D, A.m&rlqua ldiru:, Pa.ris, 1934. Cft. Lo ptoblam d la Am11( lo1ina ln • La
•• Bllen Aires, ll de julho de 1937.
O PAÍS E A RAÇA 23

e chapadas da vertente norte-oriental, o litoral, a mata e o agreste de Pernam-


buco; e a vertente oriental dos planalt~ compreendendo o litoral baiano e
cspirito-santenae, inclusive as bacias do Paraguaçu, Jequitinhonha e Doce, a
região das chapadas (zona alta), o vale do São Francisco, o sul mineiro e o vale
do Para[ba que se alonga pelos Estados do Rio e de São Paulo. Nessa aínteae
geográfica em que DELGADO D.E CARvALBO procura abranger, definindo-lbea
as grandes divisões naturais, as regiões e sub-regiões mais típicas que integram
a vastidão territorial do Brasil, comprime-se, - s6 comparável e talvez in-
ferior. na diversidade de seus aspectos, à natureza maravilhosa doa Estados
Unidos, - a mais fantástica variedade de cenários fisicos que jâ 1e reuniram,
aob a mesma bandeira, com.o habitat de um· só povo, endo as mesmas origem.
falando uma única língua, praticando uma religião comum, e, portanto, com
todos oa caracteres de uma mesma civilização.
Florestas imensas, como as do Amazonas, e regi6cs despidas de vegetação.
como aa do Nordeste, que ocupam a décima parte do território do pafs; altipla-
iiuras e várzeas irrigadas, ricas de húmus, e terras âridas, est~rcia, dcaotadaa;
montanhas e serranias abruptas que se erguem a altmas de quase 3 mit metros,
e colinas ondulantes e chapadões extensos; pântanos e baixadas ganglionadaà
de lagoas e campos de pastagens que se estendem a perder de vista; imcnai-
dades de águas, como as do enorme rio pelágjco, que ainda não se fümaram nos
8CU8 leitos e avançam vagarosas, carreando massas de tCITas diluidas, e rios
que ae avolumam cm vales profundos, se apertam entre gargantas e ae pre-
ê::ipitam do planalto, despenhando-se em ca.tarataa, como a de Paulo AfoD80,
de SS metros de altura, para descerem ao mar; costas recortadas, cm pcqucooa
trechos, com suas fraturas e indentações. ou lisas. com uas praias vastíssima■,
êttendendo-se qua&e em linha reta com.o pistas de corrida; fechada.a pot mu•
ralhas gnuú •au, quaae a pique sõbre o litoral. onde se despedaçam as ondas
do oceano, ou abertas cm baías e enseadas hospitaleiras, coalhadas de ilhas
pitorescas; quem poderia apanhar todos esses aspectos, na sua variedade ez.
trema, para reduzf-los a uma síntese e fazer o retrato f'Iaicodo Brasil, aem perder
um tra90 caracterfatico ou uma linha essencial do conjunto? A diversidade
~ pai5"gcns naturais e a justaposição de contrastes que apresenta uma a6
cidade, - a do Rio de Janeil"o -, enquadrada numa das maia estupendas mol-
dw-as geográficas em que já se encaixou Wil quadro urbano, levaram MoK-
TEIRO LoBATO a definir a capital do país, numa imagem sugestiva, como um
"museu de paisagens". 1t como se ali, - naquele microcosmo onde se reflete
tõda complexidade do mundo brasileiro, - se tivessem concentrado, qual num
mostruluio soberbo, para prazer e deslumbramento dos olhos, os mais belos
e variados aspecto da natureza. Não há, porém, imagem que possa dar id~ia
de wna vastidão de território, tão dilatada e tão diversa, da Amazônia tumul-
tuária às montanhas acolhedoras do planalto, das zonas áridas de sóis ardentes
às regiões exuberantes das chuvas torrenciais, das terras altas às planaras. das
matas maravilhosas aos campos de horizontes ilimítados. Um bio ingl~.
BoCELB, lembra-no AFRÃNJO PEixoro - "chegou a pensar qu numa pompa
tamanha de natureza não devia haver lagar para o homem"; outro, germano,
mais prãtico HUKBOLDT, "calculou que s6 o vale do Amazonas daria para nutrir
a humanidade inteir ".
Ora, não ê de estranhar, observa ainda APRÂNIO PEIXOTO, que, ºtendo
tão vasta exten o de temt6rio e tão diversas condições locais de altitude.
proximidade ou afastamento do mar, solo desnudo ou protegido por vegetação,
possua o Brasil vários climas, quase todos os climas da Terra'. A enorme
extensão territorial, calculada em 8 500 000 quilômetros quadrados, estendidos
A CULTURA BRASILEIRA

em 39° de latitude e outros tantos de longitude; a orientação das montanhas


e as diferenças de altitude entre a faixa do litoral, o vale dos grandes rios e o
plaoalto interior; a distribuição pluvial, abundante cm quase todo o pa[s (1 000
2 SOOmilímetros de altura, anualmente) e deficiente no oord te; e enfim as
estruturas geológicas de algumas regiões do norte e do e ntro bastariam para
aplicar a diversidade de climas do país situado entre o trópico de capricórnio
e o equador, e mostram, diz AFRÂNI.o PEIXOTO, ' como seria difícil traçar na
carta geográfica do país, zonas climáticas precisas e limitadas". Em todo caso,
podem- distinguir, segundo as classificaçoes de MORJZE, DELGADO DE CAR-
VALHO e AFRÂNtO PEIXOTO,idênticas, em subst!ncia - as tr grandes zon~
equatorial, tropical e temperada, das quais, a primeira, n vizinhanç.a do equador
até o paralelo 10°, compreende todos os Estados setentrionais até parte de
Goiás, Mato Grosso e Bahia; a segunda, entre o paralelo 10° e o trópico de
capric6mio, eatende-.se da Bahia e Sergipe para o ui abrangendo quase todo
o Mato Grosso e parte do oeste de São Paulo, e finalmente a terceira, a zona
temperada, situada entre o trópico de capricórnio e o limite sul do pais, ocupa
tõda a regiio que se estende do sul de São Paulo até o Rio Grande do Sul.7
As pr~ barométricas, a temperatura, o regime pluvial, variando com a
posição do lugar em reJação ao equador com a dístribuição das terras e das
guaa, as altitudes e os ventos dominantes, determinam uma grande variedade
de climas, desde os mais deliciosos, como nas terras do ocidente da Serra do
Mar, até os mais inclementes, como na região do Nordes e sujeita ao flagelo
das secas prolongadas. Em quase todo o planalto interior o clima é ameno e
saudável, geralmente pouco variável em auas oscilações t&micas: e, albn de
faltarem, entre os climas da Terra os extremos, pela posição do pais situado
alguns graus abaixo do equador térmico e muito aquém das regiões frígidas,
o próprio "clima caluniado" por excelência - o do Amazonas - aprcacnta
Oldlaçoes limitadas, como se pode observar em Manau em que o calor máximo
atingido foi de 37",5 e o mínimo de 18°,8, sendo de 26°,53 a temperatura média
nessa cidade, erguida em pleno coração do mundo amazônico.
Maa, se do clima depende o mundo vegetal, "intcnnediãrio entre ds dois
principais ciclos de fenômenos geográficos, os do mundo inanimado e os do
mundo animado" ,9 a vegetação brasilei;a se caracteriza, como o solo e o clima,
peta extrema diversidade. Para se ter uma 1déia da variedade de formações
e de ea~cies que seriam súficientes, se exploradas, para atender a t6das as
neçcssidades da vida, basta lembrar qt\e das 22 767 espécies classificadas por
MARTIUS, 19 619 são brasileiras, distribuídas entre e, flora geral e a amazô-
nfoa que representa, s6 ela, 40 % da nora brasileira. A formação dominante
é a mata, com a fantástica exuberância da vcgetaçao tropical e com tudo o
qu.e tem de misterioso e selvagem a floresta virgem; ma s de t ra firme e de
várzeas, da Amazônia e florestas da Serra do Mar que atendem ao longo
da co ta e dos grandes rios, ocupando, segundo os cáJculo de GoNZAGA DE
c.ua-os,c&ca de 5 milhões de quilômetros quadrados a a florestal ou mais
7 A priaiére """°•
d .. climas equatariai.:, ou s,,b-cqU& • • , a que
6rrida, apNKDta uma c,empenhlnl m&lia dJ 26" C a 27• C; na_. •
oa.ua
lrOpk:a
~ tropical
ou 1ot>-uoplcaia. a tem-
pera: ■, d# 23 C a 26" C e111 'lll6dia, a■cjla a.H r -~ ..,.._ altu entre li• C e 2 l• C, e na ercc:inl •ana
■ pcntunl mWla vuia entre (9" aQ longo da coat■ e 15" DO planalto (up-GO.,nfq) B - pedem -•
OI~ • eaa.aubdi,ridicá1 mi t:alltal aulH, Íl)cs q ..... H ' de dimu uJtanta dOI (aJ6.
- "'-iul, a......, cq1Jatarial 1e ~ cm trb ub-r
""et:Nirol41&1cc,,._ : 11 1Uprrctaoí4& e • •lrid ■
do Nard } alEm da contiu=tal úmida: • %ona tropiml comprecade d 111.ll>-4iv!lll)el, ecmi-Gnuda ma-
'1time e L- coadOàltal, e • llOG& ftm~ sUbdivid cm ut. tlpoo d cllmaa: 1uperúa)lda. da cotla
-dmicb do l11taic.- eu aemi-<smkla du =ras altu. (llraz,1 1938 - A N• • un oi llruiU■ n /He.
lamtvto Bruild,o de Oeovaf'ra e ~. Rio, 1939}.
V e Bac;i.ma DA CtnmA, À D114J".Aezn d• hi1t6ri11; Um dlma cal\l.lÚlldo, pq,. 47 , 3.• ed.
IJvrarla Chardtoo, Põrto, t9n.
Vro.u. &.A 81.Aars, La ffopapbíe poütiqiu. in • Annal d IJqniPh ,, VH, p4 102.
O PAIS E A RAÇA 25

da metade da superficie total do país. 10 As essmcias sã.o numerosa sobretudo,


DO Amazonas; e com as ãrvon:s e as combinações de espêcics variam os a.spcct.0$
da paisagem em que dominam, na floresta amazônica, a castanheira, serin-
gueira, as palmeiras, as orquídeas e, nas lagoas e igapós desabrochando ma•
ravilhoaas as vitóriaa-rqias. com fôlhas de cêrca de 2 metros de diâmetro; na
iona tentrional do .Maranhao e do Piauí, os cocais de babaçu, as florestas
de carnaubeiras e o buritizais e ao sul, nas altitudes, os pinheiros ou as arau•
driaa que elevam solitárias, como sentinelas ou agrupada em m taa nai.
vizinhança dos campos do planalto. ltsses, os campos, limpos ou cerrados,
assinalado de palmeiras ou semeados de pinhcirais, campinas floridas sem
árvores, pastagens naturais interminávei1;1,as caatingas desoladas do Nordcs e
e -os charravascais bravios do Amazonas, surgem. com sua vegetação caracte-
ristica, do sul ao norte, cobrindo no tertjtório nacional, uma ãrea de 3 SOO000
quilômetros qua~ados. Na Hiléia am~ônica, com sua flora luxuriante, na.s
florcstaa densas e nos campos abertos, nas .matas e no sertão, a fauna, pecufüu:
a cada wna dessas regiões, com ser variadíssima, não apresenta nenhuma das
grandes feras bravias que infestam outros continentes. Os animais selvagens
como o jaguar, o tapir e o porco do mato, não chegam, de fato, a constituir
ameaça ao homem no Brasil, onde, somente certos mosquitoe e algum repti
venenOBOa,a coral, a jararaca e a cascavel, se são o maior perigo das selvas
qlo levantam obstáculo sério à conquista das regiões tropicais. A profusão
incalculável de insetos e a espantosa variedade de pássaros, de cõr variegadas
e brilhantes, animam a paisagem e enchem, com os seus rumores e suas vozes,
as matas já d.csbravadas pelo homem e as florestas úmida.s e profundas. 11
Tõda casa diversidade de vegetação e de fauna que caracterizam, na ua
multiplicidade de cspkies e na sua exuberância, a vida pululante doa países
quentes, está condicionada à diversidade do solo, ncsaa ou naquela região, de
uma fertilicladc perene, devida, no norte. ao alúvio amaz6nico, cm Pernam-
buco, Bahia e Campos (Estado do Rio) ao cretáceo deccmposto (massa~) e
no aul, à terra ron, "alteração da diabase e do porfirito que, em vastos lençóis
de lava, cobria o pcrmiano do Rio e São Paulo.,. Pais montanhoso, sem aer,
contudo, um plÚI de altas montanhas, situado, pela sua maior parte, na zona
quente, entre o equador e o trópico, pertence às mais velhas eras da terra e
retrata, na complexidade de seu relêvo e de suaa estruturas, as aua vicis~
situdes geológicas. A parte mais antiga é constituída de maciços cristalinos,
como o que se estende pela larga f~ litorânea do Cearé a Santa Catarina,
pela Serra do Mar, com suas rochas cristalinas, ígneas ou sedimentares, e o
que ocupa tõda a bacia do rio Doce e Serra do Espinhaço com suas magnfficas
jazidas de ferro, mangane:t e ouro. Todos os períodos geoló'gicos,desde o fgoeo
ou o az6íco até o terciârio ou cenozóico, passando pelos dois perfodo interca•
lares, o primário o secund!uio, têm no Brasil representação de vários de seus

10 De Mdfdo com o OMll)II OOO'aUJde Oom.ua J>SC.U0-0S, .. "'ªª n.,,,.,.u,;. •bnftccm 4 11567 J qui•
lllmdrw qu.ad flcalldo o reata,Jte, da suporlkit iobl do paio, para oe campoo •b«tm ou d n,,■ 41» qu.c
-s,ariam wna ,hca de 3 SS. 446 qw,&acu-oo qulldnode&. Ora. por e.a ,et ~ta •
lae lotai do Bnuíl, que 6 d 8 511 1119qail6cnc:tras qu■dmdm. mo ficaria 1 .... a 41'• mprodlltiva q l
• l 800 000 quilbmctna quadnd (21% da"- tot.i) e na qual 116a~ por 6 de
1 110 000. ~ .Obr .cu n«atail e as 6reu rampcatra alo cvid l voe e pn•
- Gol, pa,ra qiw • rdto o d-to - dU&I seas, nc.-at.J e ~. ct. ar... Improdutiva,
ccmfanne a 111,11tlvac:akuJada pda Bàa:liati<:a Territariàl e .Ewtatlttica da Prodll(lo; Cír. AnÃJIIO P&IltO'rO,
Clima • uude, plp. Z 120. l.a •~", 1938.
H S6 d 1-bal~. entre °" • oe, B.u•u apanhou. nm arredores de Bclba, 770 • dlfermta .
.li.a.o LDT.Jo l'ala UO • de~~ ao BruiJ, para 450, oa Ar&aatlu, e 6 _._ variedade
.aodnl I BUDeON • cbamar a Amcrica do Sal o • con6- dQ •- ,. IY. oroltol elo
ADM....,.u, .ao plaoalto i.aterior e oo eu!, ande-um d,_ mail bdca apctkuloa 6 • variedade de av
-:JUldu &1 la1oa• do Rio Gra.Ddc do &il eoa plllltmMIÍI de Mato Qroaao. Quanto ._ fauna
iliol6&ka, - na coota marftnna e na r6:le poUmic:a, cakula All.USIS que o a daa -s,6cle11,
116pwa • t-la amu6aica, •tinae • drai de 2 000, o que daria para o AINI...,.. • q- du. Yba o a6.cntii'o
do ~- q .;vffll oo lled taTbeo e cifra 11.i.adamaior do q,w a d ap6da u,e o Aúbt:ico at tA1
de um paio I outro. • (lla. .U:a. A-, Um.a ~iallem oo Brll.,,;J)
2 A CULTURA BRASILEIRA

sistemas fortemente acusados nas linhas gerais da gcomorfia e da estrutura


de nossas serras e nos fósseis que remontam a épocas gcot6gi.casmais recuadas.
Certamente, o solo e o sub-solo, no Brasil guardam rcs rva de riqueza mi-
neral, como o cobre o chumbo, a prata a platina o diamante negro amorfo e
o cristalino além de outras pedras preciosas, de incompar vel beleza, e sobre.
tudo o OW'O que jã foi bastante, como observa R. Smo SEN, para interessar
a economia universal. Mas, dos cinco minerais que mais diretamente influem
nas indú tri modernas, - o carvão fundamcn I na indústria metalúrgica,
química e de transportes, o petróleo o ferro, os fosfatos e os sai de potássio
-, é õmcnte o ferro que possuímos em quantidade, e se pode dizer, tanto pela
excel ncia como pela abundância dêsse minêrio, sobre udo no centro de Minas
Gerai , que o Brasil é um dos países que encerram as maiores jazidas de ferro
no mundo. O carvão de pedra, nas bacias carboníf era.s do sul, é um produto
inferior pela mistura de :xistos; já toram descobertas importa.ates jazidas de
fosfatos minerais no Estado do Maranhão; e, se da existência do petróleo j6.
ee encontraram indícios na Amazônia e em Alagoas, e provas indiscutíveis
nas sondagens dos poços de Lobato, na Bahia, as pesquisas gool6gicas, em maia
de meio século, não revelaram ainda camadas de sais de potâ ·o de uma ím•
portância primordial nas culturas intensivas.
A variedade extrema de formas e de aspectos e, em conseqüência, a diver-
sidade de climas e de recursos; eis o que faz a beleza o con aste, de uma re-
gião a outra, da paisagem brasileira e eis também o que lhe determina o ca-
actere da atividade humana, assegurando a multiplicidade de culturas e de
de vida. A civilização brasileira resulta dessa infinita variedade doa
grup humanos na variedade infinita dos quadros geogrãficos. Proveniente
do ocidente europeu donde viajou nas caravelas através do Atlântico, ela tinha
de começar, como de fato começou fixando-se em diverso , pontos da costa
(llh~us. São Vicente, Recife e Rio) que ofereciam ancoradouro seguro às suas
fro para depoi transpor a barreira da Serra do Mar na dirctão do planalto,
onde tornou novas fôrças de expansão, espalhando a grandes diat cias neue
imenso quadro de paisagens naturais, algumas "manchas" de paisagens cul•
urai humanizadas. A vastidão do oceano, sem um comunicativo meditcr•
r&nco, 12 a configuração geral da costa, imensa e pouco recortada, a variedade
das regiões de dispersão e a extensão enorme das terras altas dos chapadões
tabuleiros, restringindo a colonização' à conquista do litoral, antes isolando
do que unindo populações, não tornavam poss1vel o fenômeno de concentração
doa agrupamentos urbanos que tôdas essas condições geográficas persistiaQl
em manter dispersos, desagregados e distantes uns dos out.-os. A expansão
marítima, ao longo da costa, exigia bases continentais onde o poder marltimo
se pud e constituir e tomar sua base de ação. Daí o longo período em que
a civilização no Brasil se manteve • arranhando a praia", segundo a expressão
pi oresca que retrata, de um lado, as- dificuldades com que d envolvia a sua
marcha pela costa, movendo-se ' como caranguejo" e, de outro, a resistência
ue cordilheira marítima, paralela à costa, opunha ao seu avanço ·para o in-
erior e à conquii::ta do planalto. As ãguas do Atlâo ·co contribuíram mais
para unir o Brasil e a Europa do que para articular entre si s diversas zonas

12 pu,,r \lena C011ta,c-omo a bra.aeira, que ar e de aorti: a 1111 e • • adeo 1e


af&ilam, ~o uo ......-, como M doo uma pn/,bala, com uma bada cm ..e at C011ta8 llo llcoach.eg e
pa,:1t111 da pr • da co,rta, p<>de- avaliar ■ /ung6o Jml•dora daquele tlpo de ta e o papaJ uai-
(/, dor, pOt"
arM"u:.o,- ot..tv H. RG.llOl.T, =
p! da Clllt■ dD Mdimrãu=
• Ha o, ao mesi:nu condições de ~ c<n
A bs • do 14 lten-ln
• im~tu
, d fato. do pcmta de VUU ~·
unidade qu.ue perfeita: o moamo cllci:JA,o
• poplWI
o ff&imc de cbuva. a
COI . A moa~
da casta, pcu-te III crai>da ~ aberU.. como III do &i.no, do o e o P6. A • da .., coaceabra
.. pri i.Ad ~; ilhu Ião = ........ - COll;Q R:Or d • hrd ruer pdo ...... IQQ&OI
a-ajetol cm peQ jamadu. O mar uio _,-a pois os po,,m. Sut bln.6rw1 n,l1twam e uat civiliza~•
ae ~m. O muodo medltenlttco fonnA uma unida e 6rica. (B. lit.t.MOLT, W•lt~ohta 1 tomo
IV: D/e Rllndlind d Mittolme,u•, Lcll)!ig u:od W!1m. Blblioer p hc. ln tltut, 1!100).
___________ O_P_A_íS_E
__ A_R_A--=.Ç_A
_________ ____;_'27

de condensação, estabelecidas a grandes distâncias na costa do p s e cuja ar-


ticulação se teria de fazer antes pelo interior, com as migrações ao longo do
vale do São Francisco, ao mesmo tempo que os rios de penetração, como o
Tietl. e a marcha dos rebanhos abriam o caminho ao desbravamento do Sertão.
E em meoo de trbl skulos por águas e terras, correndo todos oa riaco da nave-
gação marítima e fluvial e todos os perigos das caminhadas int~rminaa já es-
tava feito o trabalho humano de penetração e de conquista, e iniciado o da
exploração da riquezas naturais,
A imagem da grandeza do meio geogrãfico, exaltada sob &ias aa formas,
sugeriu mais de uma vez, a idéia de mesquinhez do homem que nêle se formou
e pareceu a muitos sem a proporções para o seu quadro natural. Mas, quando
se pen na vastidão do território, na variedade dos seus aspectos, nas pers-
pectivas que abria como nas dificuldades que levantava ao trabalho humano,
é que se pode avaliar a importância e o sentido dessas "ilhotas de cultura"
que, já nos fins da colónia, aqui e ali, a enormes distâncias e em tõdas as di-
reções, marcavam, na paisagem natural, o esfôrço constante do homem para ~
posse do meio e a utilização das fôrças da natureza. E se nos lembrarmos ainda
g·ue êsse esfõrço se desenvolveu através de gerações, por populações escassas
e disseminadas pela imensidade territorial, e que tudo, na natureza conspirava
para lhes embaraçar a marcha e faz@.Jasrecuar, teremos então uma idéia maia
yiva da grandeza dramática do trabalho humano que se realizou e, em vez de
se amesquinhar s6 avulta em face da grandeza de seu quadro geogrã.fico. Os
próprios rios, loog de serem caminh0$ que .marcham, sao freqüentemente
obstáculos à civilização. Se há rios navegáveis, como o Amazonas e os aeus
afluentes, ao norte, o São Francisco, no planalto, o Paraná e o Paraguai ao
sul, entre tantos outros (a mais formidável rêde fluvial que conhece, ~ a da
América do Sul, com seu 60 mil quilômetros de rios navegáveis), as corre-
deiras, a, quedas d'água e os saltos enormes dos rios que descem do planalto,
não lhes permitiam prestar erviços ao homem em tôda sua extcn o. Os saltoa
e as cataratas, de extraordinário efeito cenogrãfioo, e de futuro incalculâveia
riquezas, quando transformadas em energia elétrica, tomando os rios intrana-
ponfvei , cortaram ao homem, em suas águas, encachoeiradas, o caminho que
lhes preparava a natureza em suas magníficas avenidas fluviais. Certamente
gtandea e pequenos rios serviram, alguns de maneira notável, mobilidade e
à expansão das populações· e de tôdas as artérias fluviais de pen tração, ne-
nhuma exerceu papel tão importante como a do São Francisco que, cortando
o coração do Brasil central, do sul para o norte, articulou o dois setores ter-
ritoriais em que se divide a nação. O São Francisco, - ''rio da unidade na-·
cional", a cujo vale chamou CAPISTRANO DE ABREU o "condensador de gente",
desempenhou ~o Brasil, promovendo o contato das populações do norte e
do sul, a mesma função hist6rico-geográfica que exerceu, na América do Norte,
o Mississipi, "o pai da águas", ligando o este ao oeste, separados p la cordi-
lheira doa Alleghany , das planícies do Middle West e pelas cadeias das Mon-
tanhas Rochosas. Ma de um modo geral, pode dizer-se com GILBERTO FREYR!:
que, "sem equilfbrio no volume, nem regularidade no curso, variando extre-
mamente em condições de navegabilidade e de utilidade, os grand ri foram
oolaboradores incertos": enormes maasas de água, se davam grandeza espc.
tacular à te:rr , coberta de matas espêssas, "só em parte, e nunca completamente,
se prestavam às funções civilizadoras de comunicação".
Foi n ccnârio imenso e perturbador, de um pais de clima quente, ' d
vida aparcn em e fácil', mas na realidade, de condições flsicas adv ,
que se exerceu o csf6rço colonizador dos portuguêses de que nos proveio, com
os seus primeiros colonos, a semente, e com que se constituiu o núcleo funda-
mental do povo brasileiro. As 13 naus que em 1 500 zarparam da penfnsula e
28 A CULTURA BRAS(LEIRA
--------- - -
sulcaram as águas atlânticas a caminho das fndias, desviando- para longe
de sua rota e vindo abordar~ no continente americano, a terra do pau brasil,
não descobriram apenas novas terras para o domínio lusitano: marcaram as
origens de um fonnidável trabalho colonizador e do drama de uma nova nação.
~ povo que achou o caminho das ln.dias, com VASCO DA GAMA,que descobriu
o Bra il, com PEDRO ÁLVABES CABRAL qu fez a circunavegação do globo
com FERNÃO DE MAGALHÃES, depois dessas façanhas com que organizou no
século XVI o maior impê!rio comercial, só superado, na história, p lo Império
Britanico, devia pôr à prova pela primeira vez, o seu gênio colonizador e a sua
capacidade de consolidar as conquistas. A vastidão d domínios, de que
apenas tocava a orla do litoral, a escassa população da m tr6pole que orçava,
na êpÓca do descobrimento, por 1 200 000 habitante e s distâncias então
enormes qu separavam de Portugal as terras ultrwnarinas, bastariam para
dar a medida das dificu1dades com que teria de lutar a elite governamental
do país, para erguer-se, no esfôrço de colonização, altura do empreendimentos
marítimos e da glória de suas descobertas. A onda branca que havia de alas-
trar-se pelo pais, em sucessivos movimentos imigratório , não atingiu, por isso,
a 3 000 colonos, em 1 550, em que mal se esboçava o domtnio do colono civi-
lizador sóbre as populações aborígines. O elemento portugu!s que se fixava
lentamente no Brasil, não era, o qu~ se ,podia dizer uma raça, no sentido bio-
16gico da palavra mas o resultado de uma mistura dos povos indígenas da
pen{n ula - os primitivos iberos-, e de raças e povo que s cruzaram em
constantes migrações pela península ibérica como os ccl , os gregos, os fe--
.n1cios os romanos, os visigodos e os ár-abes, sem falar nos judeus, dos quais,
de uma s6 vez, recebeu a península, transplantada por ordem de ADRIANO,
50 mil famDias israelitas. Mas, produto de longo processo de misccgenação,
o povo português, que se manteve o sólido núcleo primi ·vo e dominante das
popula - brasileiras, deveria misturar na eolõ.nia o u sangue ao da duas
raças dominadas, - ao do ameríndio, de origem asiática, e ao do negro im-
portado da Ãfrica -, e a ambos dar uma nova lingua e uma nova civilização.
No campo da biologia, como observa ROY NASH "o dr ma brasileiro de-
envolve um tema de grande importância para a espécie' : a trb raças branca,
vermelha- negra, misturaram-se, sobretudo nos primeiro séculos, em grande
escala, dando lugar a uma notável variedade de tipos, rcsultan cs de cruza-
mentos de brancos com índios e negros, e, ainda que em menor escala, do sel-
vicola bra ilciro e do negro africano. Dessas tr raças por~, que, desde ·as
origens, confluíram na formação das pópulações no Brasil, em propor9õea de-
siguais e variâveis com as diversas regiões do país, a dos conquistadores brancos
tomou-s o elemento fundamental, embora tivesse co.nstituido a parcela menor,
como e pode depreender dos cálculos que davam para o Brasil, em 1789, quase
trb século depois do descobrimento, 1 SOO000 negro escravos, para um
otal de 2 300 000 habitantes., sem incluir as ociedad primitivas. Os povos
elvagen lll agricultores e caçadores, que deviam er numerosos em l SOO.

13 2in ~• i.asuf"tcleate a. doom,entaçilo mcnto, e alo


e., o lev n:buncnto rtnol~ du tnõo. • re, o aclvqem
Y1I pela ,...._ peq_w,ne estatura, n)c ! e ~-
i o, oH,a. moag6JÜ!Ol {afab,dQj e pequ 1ot-<àl!.\ll'11!1 1 th. A orp-
• e• c:ulNra, 11eralmcnte rudim-, dM ente, entre.•
ulbm •Vlcolu, d tu ~. " • du • llelv1.CQlao ande do Su.l
atf o Chico e tal campcm cr:aade M-a!» • de
oa baadoJ de ema •, c,omo c;,tre csbu triboo e da oaça.
• o do atreuo ui, o do al:ipl,u,o cc:ntral qu pOSJWAC~ da ffCÍIO Rten-
t:ri«-1 de to 0-, e oa nativos da bacia ama&,ic:a, CQj Am...,a.u • pela oru Ularl-
Uma •Ui oode o,, i,&le levar • - &/isil ubã •, tod,. •F b..-am, por&n, u~ com1ma cl c:ultw:e material.
o o e • nc,cJJ., a peu de foco, • arte de tecer e toe, • pedra ~ oá • comunidade de
• art COI r """ • CONti~o:i.a.l ••-.nllo ao c:a1« •, oa obaervac.'Jla Ta, puo:ce coofürnar •
p6tftle da1 ori do od.-.ic,n va-Jnelho qw, vlv como u.nho te dli rqiõe,,,
• • na.lo clima tu\çúo original oAo cnt adaptad.a. acm at • ora. pc:rl'cü:amccte • , • W .
8'.Tm. Um n•tu.r11.ll.r• na A.....-olU!.o), A co~ cmnunbta da . no aer de Rov N.uu,
• um tHço íl.indamencel qut liga todos 0& p<nros emerlndio., egrlc:olu ou c:.~dore■ ,.
------------- O PA1S E A RAÇA
------------ 29

mas cujo núm ro ainda hoje seria dificil senão imposs vel de calcular com
gu:rança, por falta d dado . derivavam, na grande variedad de sua tribos
e famílias, de quatro trom::os principais: tup· tapuia, arauaque e cariba, dos
quais o mais importante o do tupis, se espalhava pela orla do litoral, do Rio
Grande do SuJ ao Par . e do Pará, pelas florestas alagadiças do Amuonas,
até a foz do M d •ra. Dos cruzamentos entre índios e portugu , lembra
RoY NA.6B,"nove talvez em cada dezena, se processaTam com mulheres d
atraordinârio povo agócola". - os tupis, cuja língua se tomou lfngu cral
e cuja cultura era a mais disseminada na América portugu . A sez
de mulher brancas contribuia para atiçar as relações com as do país e esti-
mular a mestiçagem de brancos e de índios, em cajos descendentes, os mam •
lucos, se entroncam numerosas familias do. norte do planalto central e podem
buscar as origens da vitalidade e da fôrça expansiva do nomadismo aventu-
reiro dos bandeirant s. O romance lraoema, de Jost DE ALENCAR, escrcv
AnÃNIO P.a:txOTO, "é simbólico do amor que as filhas do país tinham ao aven-
hlreiro branco; descobri que é anagrama de América: seria sua intenção des-
crever as núpcia, da terra virgem e do colono civilizador ?" Ma muito maior
ainda foi a contribuição que trouxe a onda volumosa dos africanos; talvez
3 300 000 segundo os cálculos de R. SwoNSEN, colhidos em grande número
de nações dif erentcs e importados à grande, quase sem intermit!ncia, at6 que
se estancou a fonte em 1850, com a abolição do tráfico de escravos: a uperio-
ridade da cultur.a negra em relação à dos índios, a intimidade do contato q.ue
o regime de cscravid o não tardou a estabelecer entre as duas raças, e a uti-
lizaçao do negros para serviços domésticos, abriram largo campo a nova
mestiçagem, favorecendo, por tôda parte, na expressão de Gn.snTO FRBYR&,
...&ses amores de senhor e escrava coro que se regalou o patriarcalismo colo-
nial'.
Se, como se v!, as origens brasileiras estão claramente de enninad n
mistura das tr!s raças ou na assimilação progressiva, nos primeiros ~os,
das raças vermelha e negra, pela raça brana1. européia, numa larga transfusão
de sangue, ainda estão por se esclarecer completamente a, questões relativas
aos diversos tipos étnicos, portuguêses e negros, que se canalizaram para o
Brasil aos seus r pcctivos caracteres antropol6gicos, à distribuição gcogrlúica
dos negros e dos lncüos e às proporções em que se produziram o cruzamentos
com os colonizadores brancos. 14 Parece,-nos que já se pode concluir, com F.
J. DB ALMEIDAPRADO, no seu trabalho exaustivo sôbrc os primeiro povoa-
dores do Brasil, ter sido bem variada a ascendência branca dos mestiços d.o
litoral, e tanto NINA RODRIGUES CQmo GTT,BERTO FREYJUt, ao se ocuparem
do tráfico africano jâ demonstraram: a variedade de "nações" e de área de
cultura, de que foram transportados os escravos negros, que vão desde os ele•
mentos colhidos na tribos mais selvt:1gensdos cafres até os negro udanese ,
de cultura adiantada, predominantes na formação baiana. 1tstes, os africano
brasileiros, aegros autmticos como os "hotentotes" e os "boschimanos", os
"fulahs" ou chamados "negros de raça branca", ou mestiços como os escravos
provenientes d Sene âmbia e da Guiné Po.rtuguêsa, "considerados, por algun •
superiores ao dem • do ponto de vista antropol6gico", concentravam-ac em

14 • que larpu:ncntc ,e praticou, no Bruil, c~Q, ccmo obtava OJJ.ILl.&70 h.SnlJ:,


• • dlat outro m • canKrV11do """"'"' ..,tre• .,... p-Ulde e • -1• •• Red.ualu ,
dG • çlo lllCial, oo llfm:anos, ca ~ • ...,.. e1 em enl, pr6prloo m •
tiçm de uanm • mloca.--k ua caJDJWU -saia lmeriara, alDda quaQdG apramta'l'&JD
ao DCIJ" dl... e mesmo à do, bnncoe. Se era
Jdn>. ori&-em.,iovocar com orgulho o wu •
• &do aodo bnnco, o8BftCUCda nça •
cam o m hoje, antes dissimular do que lllankar • ...a
-, ....,, na eatntirlC8Çãl:I Etmca, cm 111~taa c blcnrqul•
zadu. cbepnm • esttobdcc:,:r coonib>I e ~. ■rmpre • m bmWm
a d 'ru:,,.r •.
o A CULTURA BRASILEIRA

regiões diversas do país. mas, em proporções jâ impossí~ • de determinar


pela au eia ou extinção de documentos e atística aduaneiras de entrada
de escravos. A luz que projetam os documentos •his 6ricos, jâ amplamente
investigados por INA RODRlGUES, GILBERTO F'REYR&, ART RAMOS, F. J. DE
ALMEll)A PRA.Do e outros. não chega a esclarecer, ão no eu conjunto e em
alguns de seus aspectos fundamentais, o quadro das origens brasileiras, cujos
estudos, tanto do ponto de vista físico, como, sob o pecto cultural, se diriam
em parte condenados, por falta de dados antropológicos e hi 6ricos, ao do-
mínio das conjeturas, tôdas as vêzes que entramos em d talhes sôbre os pri-
meiros povoadores europeus e sôbre a conveniência e a distribuição de escravos
negros. Não são menores nem menos profundas as zonas de sombra que en-
volvem, fechando-as por todos os lados, as questões refi rentes aos diversos
povos ameríndios, da bacia amazônica, do planalto e da costa meridional do-
Brasil entre os quais as diferenças acentuadas de caracteres flsicos não che-
gavam a di ímular a comunidade de origem, marcada nos traços principi,i.Í$
da estrutura, na côr dos cabélos, dos olhos e da pele, como nos dentes em forma
de pá, cõncavos, e na largura considerâvel do rosto em relação às dimensões
cranianas. 1 •
Certamente enquanto a mestiçagem do branco e do índio não foi em grande
eacala, a não ser no primeiro séeúlo, e se foi reduzindo progressivamente, parte
pelo extermJnio, parte com a retirada, em massa, dos selvícolas brasileiros,
acossados do litoral para o interior e para as flores as 6, o contingente negro
seguiu por 300 anos uma linha de desenvolvimecto cr nte, com a impor-
tação ininterrupta de escravos de diversa proced@ncia africana, que se cru-
zavam en e si e com os brancos, multiplicando-se os m •ço resultantes dêsse
último tipo de cruzamento. Se se considerar que, nos prindpios do século XIX,
o n<unero de escravos atingia 1 500 000, para uma população de 3 500 000
de brasileiros, entre brancos e mestiços e que dai por diante 1 250 000 negros
foram ainda introduzidos no Brasil, até a abolição do trâfico, cm 1850, será
flcil avaliar a desproporção do núcleo negro em rcl ção raça branca, domi-
nadora, e o enorme contingente trazido pelas levas continuas de es.aavos -à
mistura do povo, sobretudo nas mais baixas camadas sociais. Segundo o ~ •
ccnseamento de 1872, o primeiro que se fêz no Brasil, para a população ini-

1J A diílCllldode em determinar a estrutura aotropal61(lea d011~1~mento, (branco, vc:nnclho e nC'l!'o)


q\lC cntr1ram 011,tor:mc;lo do povo, e a influ!nd• dt> ada um dC!ea tu1 conmtulclo do tipo 1U1c:looal,~m
ai.o 16 d11,varled11,dc de tfpos de cad.a Umil deaaa,, ra"""• como d1 dlll rlbu\cil,o BC!Q11'f.fica, dbl elementos e dH
dlferentet lJroporç • cm que ae cald-•m"de uma • outra regjll.o, NIio houve apenH, M origem 6tnica, a mi ■tuta
de trh r■Ç111 radlcabncntc dlícttntcs. A• dWlll ra.PQ ex6tkil1, a brim~• e II nci,jra, J6 vlohlm crwrada■ e recru-
Hda , T>8NIac mesclarem ila populaeões amerímlia■, nwn verdadeiro c11ldeaménl 6tnico. Oa colonlzadoru
br1lD- P«t"(Ubet eram ptOvenientes ae um agrupamc:nto ftnico, de ÍO(rnA o utreraamentc complexa, Dll
m• H de cuJ população pcoinsulM já ae encoatran.n>, obffrva Ot1v1nRA Vu.,,A, d ' rupoe fu.nd11ment•i•:
''um louro alto, dolic6id.c, de blíbitoo nômadet e conquiltadora; outro marcno, d pequena ,,1tat:uni, doUc61de
ou br quillldc, de, b4bitOI IICden~o,i e 1)8.dficoa >, Na obra de cooqul u e do de obrimcoto, pc:011 OLIVIIIRA
VIAN'A tomado • dilulteira. na. emiça_çio pa.rs o covo IDU.Ddo,o bmnem d6Uo:o,tou.rn(f,omo et1ropou1, de
uo11), prc-poodcr■nle na clanc, wtocrática .. eaericialmmte mtarlldor, enquanto o homem braquieMalo e
d,: pcquen c.atanira (.!tomo Alpinuo, de l,"Il'<Niw) que íom, ~• • bu da,, d m!diaa e poplll&r , terl• •fluido
sn■l• nu-de, C'lD cornntc:. ccp;...s de colollOII,aobc-ctlldo ilepou d• d...,.,bttta d- ■ m n •· llipótae o.lo tnn,
portm, • •pol4, wu. aullctenu ~mção de ba8" nem rol c:oorirm..s. pcJ \ldg,e e pe.qubu ulteriores.
A -vlll"ied e de tipc,, d.as duas raças dotllll>:l a,,c:rapa o proble de iltrie\llda aluda mab in!tantcs:
• pop,llasja llbarf w, nn que ac· ~ ,ob oamc comum (o lloa:,o ama,ic:,uuu} .., ~ dois 1111poa
( e tapuia} agan..doo em am:a plllldc divenidade ele tnõm tdv , ~. ■poa;r d ..,.. comple.á4■ ilc. muita
DICllOI na tlp,oa tropol6alcm do que a n,ça negno, llU • de -=r■vae lml)Ol'Udae. lffl afri-
cane111,prownlcnta de uma enr-em.a \'lll'iedffc de tn~ e• .,. ,, dlf= QJo 16 toai cultura (ire.,
80 mal<II, V'IWJdoAll"l'IJaRAJms.qtai, filia tad .. CB oq;ro,,, VÚldOI panl O J, l ,:ultura fllil,i • , l udan.CD•
..,. - bao !, m.u também pda awq puücwaridad IIOll1Atica, e pcio. canctcr paicolócicoo.
Alndli pQ" C!K.lar , li qiu: venham 11m dia a w::idar- , qu.ue todol oe problema -- a.nttopo-
1 pura pela ~ daa tipos ._;<m>1areo, nq;roo e a'IDO'lcao , qu c:oofl e 1e muturwa.m ncuc
calei o, doa a- primcin,s ~. depois do de,icobrimcnto.
l • A ~ cm de - autôctone, ~ H.OlOliatn> D"& c.uao., li, o m■,1, maia im-
p0r1alr da q INpOmOII ou praclam1ro1c,, A nnão de que o !adio prd'criu d parea:r em ..,.ode pate
• an.r- ao ÜIVUDt', provtm da coafosãD doo 9CUI ·cu,. CGffl o pOrt'IÃ ub, •póe -.i.Qd ou r.,,n:ein 1an,ção
■cUmacada. O mwto li i:ocoo.fuadln:J: o 1!1R-1Dd11Co, milito ao cont:ririo, po,dc, d~bido, mélmo a.a
n 1er-.çb. Al>!Dre-« par■ 01 22 milh&:s de, brui.lcii"<>tq,.., pOVoam o nane do pa1, e°" &e.doo do centro
e -~, como laN:l'ltt ainda n!les, Ili> tipo e. rua aim., o aotep&u.1140 amcri no •· (HU'lll!T:11:1'0 0ll C..KPO•
Crrt co, L.• l&ic, 2.• ed. p . :!56. Mar'.oa. Edit:r,,,a, Ri.o de Jan 'ro, l 33),

1
O PAÍS E A RAÇA ai

cialmente apurada de 9 930 479 habitantes, cm que se computaram 1S10806


escravos, havia 3 787 289 brancos e 3 801 782 mulatos e m tiços de vãrios
graoa, doa quais c&ca de 2 milhões (precisamente l 954 452) de raça africana
e 386 955 de raça amerlndia, constituindo êstes, portanto, a qwota parte doa
mestíçoa recenseados. A mestiçagem com o amerindio predominou no extremo
norte, nas Lonas do Nordeste e nos Estados centrais, de Goib e Mato-Grosso,
enquanto a do branco e do africano foi mais intensa no litoral, desde o Recife
até o Rio de Janeiro e em Minas Gerais, ou, em geral, em determinadas regiões
do planalto, mais pr6~as ao litoral e aos portos de entrada e distribuição de
escravos, isto é, nas regiõca em que dominou a grande propriedade agrícola,
de economia cravocrata e na 2ona de mineração. Por bse mesmo censo de
1872, aa populações do norte e do sul se distribuíam em part equivalentes,
de c!tca. de 5 milhõca de habitantes cada uma, concentrada sobretudo em
Pernambuco, Ceará., Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo que
com o Rio Grande do Sul, então com perto de 450 000 habitantes, constituem
ainda hoje os maiores centros de cultura e produção do pafa. 17 Mas &se cres~
, cunento da população e o que posteriormente se verificou, até o penúltimo
recenseamento de 1920, - se considerarmos os 300 000 estrangeiros, na sua
maioria portugueses, apurados no primeiro recenseamento, e tivermos em vista
que de 1872 atê 1920 só entraram cêrca de 3 200 000 estrangeiros, de imigração
branca-:-, verifica-se terem sido antes um notável desenvolvimento gen~co.
com predomúuo crescente do branco, dos diversos elementos que entraram
na composição do povo brasileiro.
A esse fato, de grande importância para a formação nacional, de ter per-
manecido relativamente fraco o número dos estrangeiros em relação ao núcleo
primitivo, ~ precilO acrescentar para compreender o fcnõmeno brasileiro, a
mobilidade da população, CQjo movimento~ agindo como instrumento de assi•
milaçio, concorreu para a interpenetração e assimilação de raças e culturas
divenaa. Além daa infiltrações lentas que, repetindo-se, produziram muitaa
v&cs tanto efeito como as migrações em massa, e do pequenos agricultorea
que, jll em nosao século, se deslocaram q~o se esgotou a fecundidade do
ac,lo que ocupavam (movimentos para noroeste em São Paulo), conco1Teram,
para misturar aa populações no Brasil, nos três primeiro attulos, os movi-
mentos .migratórios que tendiam a um fim procurado de antemão: o que se
ligaram à criação e ao comércio de gado, acompanhando as pastagens ao longo
dot vales e, sobretudo, do vale de Sijo Francisco; os movimentos provocados
pelas lnV'a8Õe9como no caso da guerr~ holandesa e, especialmente o das ban•
deiraa e entradas ao sertão. ''Para vencermos a terra, escreve .EuOLtDES DA
CUNHA,houvemos que formar até o homem capaz de a combater, - eriando-se
l imaeem dela com as l!'Ua& rudezas e as suas energias revõltae -, por maneira
• talhar-se no tipo mestiço e inteiramente novo do bandeirante, a figura cxcep-
donal do homem que se f& bãrbaro para estradar o deserto abrindo s •pri-
meiras trilhas do progresso". Todos sabemos a importência capital dessa•

17 Bm l!MO, o:qundo a ~SioapaPrdln>ÍftJu'dOI Rewl11tcica Dcmosdf""'°"''•


a popola~ ' eni
de 41 56$ 11&3hablt.uta. doa q-u 16 005 992 e&bi!riam ao aam: (n:v.ilo ~ 4 1564467 q~ ~
-preendlda d o Temt6rio do Aae a1f a Bal>ia, ~) e 25 55'9 091 llOI 1111qlllO ~
do
_. pnflc:ie m or. calculada c:m J 646 722 quil6m.cuoe qvadnidoa. Smdo a dffllldade & da papolaçlo
bruilàra de 4,U he.bilalltu par q'ld!6,rr,_etroquadrado, a deaaidack. - recl o M 1. loto t, do bloco
doa z.t.do. do oortc,, • llltre.~ 3 habltaat.a e, ooa ~ do Slll •tiafe um ~ ma!. de 7 babi
per qull6 q o. Ã ulYalmda ck populaQila ...... dma gr&Ddc:a ~ Cfl'Cl'il"ac,qdo ..,.s.. o
o R--to de 1872, C\ÚIII RW1tad111 deflcllivoa davam Ja1-a o l>Clr1e-wna popwaCIG de S 040 99 b&bi-
tmltea e, pano aul. a de S 071 063, aui:cdeu, CQCna.., ve. d<> ponto de nata Olrif",co, wna ruptanl d lllqQ1•
.ltbrio catre oe d bloca., atio,.indo OI B11tadoe do 1JW.1de 2-SSOO000, contra poaco mala de 16 000 000 .,.
n,p&o eeunoional do pala: • irnlançto ~ de oriF<D medlt:aTan- c,u crmlnlar. pan III Batadoodo .ui.
• u mlcra('6a tema do norte ~ o tul coneurenm olio a6 pan alknt a COll:ll)CllicAoprimitin du P"J'I'•
~ bra-"1c!n .,... para dcurrnmar e- daohrd oa diíc:ra,ca dc to mllhila de habí1ai:1tca ao cna:;imcnto
demo&T'11code uma a outra rqilo.
32 A CULTURA BRASILEIRA

migrações humanas, cuja teoria geral foi estabelecida por FRED RICO RATZEL 111 ,
que nào são mais do que o conjunto dos movimentos em virtude dos quais
as coletividades chegaram a grupar-se e a distribuir-se s6bre o território em
c da mom nto d história. As cartas, traçadas por R. S o SE , do movi-
mmto do gado e de populações vaqueiras. e o mapa g r l das bandeiras que
devemo AFO so TAUNAY, mostram-nos à evidência como oatur Ul do solo
cident geográficos contribuíram para determinar maneira pela qual
ma s de homens e mo,-eram sõbre o errit6rio, no período colonial,
li ando o nor ao sul do país e di!.atando-lhc as fronteiras coloniais. Os grandes
rios foram, por xcelência, na justa observação de GtLBERTO FRBYRE ' os rios
do band irante do missionário que os ubiam vencendo clificuld d de quedas
d'água e de curso irregular': êles dispersaram o colonizador permitindo ao
bandeirante "tome.r-se desde os fins do século XVI um fundador de sub-co-
lônia '', internando-se para oeste, -pelas águas do Tietê ou subindo pelo vale
do São Francisc em que entraram as levas de catequizadores, formou a
civilizaç-o do couro e se encontraram as bandeiras paulistas, pernambucanas
baianas.
Essa migrações internas que, dispersando mi turando os grupos enttt
i. contribuíram para acelerar o processo de formação de nossa sociedade, hl-
brida de índio e mais tarde, de negro na sua composição, podiam ter suas origens
na cndencia colonial do português de "antes se derramar do qu condensar-se",
mas foram certamente favorecidas e estimulad s pelo inter e econômico
(caça ao {ndio, procura e extração de riqueza mineral e pela própria extensão
do espaço ocupado. Ela supõe, de fato, sociedDdcs pouco densa e que dis-
põem d v tos espaços. ~ uma tendência fundamcn 1 de t, as as socie-
dades estender sua base geográfica; elas t s de de espaço. Sem dúvida
os espaços limitados, segundo observa RA.TzEL, ém wn papel útil; são muitas
v~es os foco em que se elaboram, graças a uma concentração en&gica, formas
el adas de civilização. Mas, desde que elas se formaram. endcm ncccssària-
m te a espalhar-se al'm de suas fronteiras iniciais. As bandeiras e as entradas
em que expandiu o nomadismo dos bandeirantes, na sua maioria mestiços
d brancos indios, constituíram, por esta forma, um dos sistemas mais vigo-
rosos de uma nova sociedade em armação. Assim, quando já no ~culo XIX,
pouco antes da abolição da scravatura, começou a intensifica.r-se o movimento
de imigração de origem mediterrânea e gennAnica (portugubes, italianos,
espanhóis, alemães e outros) já estava constituído o núcl o nacional, bastante
sólido para digerir e assimil8f a massa de imigrantes, carreados em correntes
anuais, sucessivas e às vêzes volumosas como as que se .registraram de 1888 a
1897 e de 1906 a 1914 e se repetiram mais tarde, no decênio de 1920 a 1930,
com outros grandes afluxos imigratórios. Ademais, ao tomar impulso a uni-
ração branca, depois da extinção do t.rãfico, a população do Brasil já beirava
7 milhões, para atingir a mais de l milhõe em 1890, subindo de 7 677 800
cm 1854, a 37 milhões em 1935, enquanto, nesse mesmo período, nao ultra-
P ssou de 4 4-00000 o número total de imigrantes europ us. A absorção gra-
dual e pro es iva dos imigrantes pelo núcleo primitivo nacional proc ou-se
r ularmcn e pela confluência das condições essenciai , em a quais nao se
poderia realizar essa assimilação: a existência de um forte núcleo primitivo como
base d comunidade de raça, em tôrno do qual se formou comunidade
étnica cm conseqj.iencia de con ínua miscigenação; a proporção rela •vamentc
fraca do número dos estrangeiros em relação ao núcleo primitivo; e, finalmente.
distribuiç o e a mobilidade ria população imigran , passando do campo à

J RAT7 (FIU IUCR , Ánthrapo • raphl-. Em Th 1: GrunrhiJ d•r Ant• ndunl


EI 1lr11nd11 •uf tUt- Cuchlohtr StuUi,,rt, l. ltntclho,·11, 1 I} •
3, BejKo rio Neiro. Troncos e ramos caído, po,- ~leito d• ero,,',o d..,
Ria, Hamilton, Exploration en Ciuyu,e Brédtienne. Pn1ncha XJ<V
"'"º

4, Ma.loca Shiriana, no iAarapé Lir.epcnono (Urnricut1re), 1


RJCE, Hamilton, E,cploration en Guyane BrésJ!ienne. Prancho L.4Xllf.
1. Paraná Cutiltú (Rio Netro). Espéssn floresta ribeirinha; ilhas com 1t1,unns o lt1IOS
.R1ct:., Hetnllton Exploration en Gu_yane Bté$ilienne. Prancha XV.

2. Vc;ettlção denso, cara.cietÍsfica das ilhas do baixo rio Nctro.


RICE. Hamilton. Exploration en Guyane Brésilie.nne. Pranc.ha XXfU.
S. Vi!ta acima dn tar,anrn
de KulBihia 1 para Judoe~, . -
RtCE, Hamilton, E:icplortttion
en Guyane BréJilienne,
Prandta XC.

6. T,ec.ho do rio Amazona,


nu via.inhttnças de FtJ.ro.
Foto REMORA, DT.

,,

1. Trccbo da rio Am4zo.n:tY,


nt.ts vi:rinha.nças de Foro.
Foto RE~1BRANDT.
8. Trecho do rio Amazonas,
nas vizinhBnças de Faro.
Foto REMBRANDT.

9. Carnaubal em Parnaíba. -
Foto 'REMBRANDT.

10. Dois juazeiros; ÓFVores. que


resi.ste,n às mais lon#ns sê~.a.s.
Pa:sa.tem do Piauí. - Foto
O. DOMINGUES. Travel in
B:-~zil. vol. 2, n. 0 2, pág. 20.
11. Canal de l1Jm11 no, cc.rconitu de Bolém do PnrÁ, Um iQttrJJÇ}C.Foto REM.BRANOT,
12. Carnaubal. Foto REMBRANDT.
13. Cactus. Planta caractc-
ríst;ca das re,Ciões do Nordeste.
- Foto do Departamento de
Agricultura, Brasil. Travei in
Brazil. Vai. 2, n.o 2, pág. 19.

14. Praia da Areia Preta, em


Natal. - Foto REMBRANDT.

15. O pico do Jaragu,; no


Estado de S. Paulo.
16. Serra divisória entre Sã.o
Paulo e Minas_ São Bento do
Sapucaí. - Foto da ENF A.

17. Serra dos ÔrJ:àos, visra do


alto de Teresópolis. - Foto
TORRI MACCHI. Fototeca Cen-
tral do Conselho Nacional
de Geografia.

18. Rio Paraíba, perto de


Taubaté. Estado de S. Paulo.
- Foto da ENFA.
19. Pont11 da .furé-fo. ljuapc. Esrndo de S. Paulo.
Foto da .ENFA.

20. Catarata do lgi:açu ou Santa Maria. Rio Iguaçu.


Foto Touring Club. Fototeca Central do Canse.lho Nacional de Geografia,
21. lndio M11yonionA, ca!,.ondo.
RJ~, Hamilton, Explora-
tion en Ouyane Brésilieone.
Prancha CXV.

22. Joven índio Moyon,Onl Kujumn, armado de um arco


e flechH. - RICE, Hamilton, Exploratioo n Guyane
Brkilicnne. Prancho CXIV.

23. Ch fo Tucano da rngíõ.o do rio Ne,ro. - Foto do


Gabinete de Etnognúin da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
-·-. i-~--
,·.-

24. Caba,w de índio$ Makus cm Tokixima.


RTCE, Hamilton. Exploration en Guyane Brésilienne. Prancha CXXX.

25. índio Parintíntim do rio Madeira. - Foto do


Gabinete de Etnografia da Faculdade de Filosofia
de São Paulo.
26. "Mesiiço". óleo de CÃNOJOO POR'l'lNARJ, - Propriedade da Pinacoteca de S. Paulo.
O PAIS E A RAÇA

cidade, da agricultura indústria e mai fàcilmente assimi • l em c::ooseqü&.cia.


dessas mudanças que contribuíram para romper os laços d origem e fundir
os elementos ~tranbos no mundo dos brasileiros. 19
Foi graça a cruzamento, - processo biol6gjco de seleção natural,
facilitado em parte pelos deslocamentos das populaçõc.s e pela aaabicia de
preconceitos raciais. que no Brasil se caldearam as raças, branca, africana e
amcrlndia, e foi formando o povo brasileiro, resultante de vários elementos
ttnicos, indígenas e forasteiros, assimilados-pelo branco. Que êstc povo é um
amálgama de virias raças, ela mesmas cruzadas e recruzadas, como o por-
tuguês que e tornou pela sua atividade genésica, mobilidade e adaptabilidade
ao clima tropícal, o núcleo de formação nacional: que, por essecaldeamento
incessante, o pais se constituiu, na expressão de MENDES CORREIA, um dos
maiores camp01 de assimilação étnica e social que já existiram, não hã sombre
de dúvida. Mas, de um lado, não é menos certo que "todos os povos que
marcham à frente da civilização, como lembra JEAN F1NOT, possuem o sangue
maia rico em elementos heterogêneos, e todos cujas origens foram estudadas,
fazem ver a mesma riqueza de elementos étnicos que, entrecruzados, contri-
buíram para formar a sua unidade nacional''. E, a ser verdadeira a hipótese
de 8c:HNEJDER, ~ sempre SOOa 600 anos depois de um intenso mestiçamento
que ae produzem os principais surtos culturais, geralmente anunciadoe por um
grande poeta, como parece testemunhar, na China, a ~ cUssica de LA.o-TSÉ
e de CoNP'ÓCIO (60o-480), cinco séculos depois da conquista dos TCBOU' (1123)·
na GT&:ia, o nascimento de EsCHYLO,seis séculos após a invasão dos D6rioa;
na França, a eclO&ãoda poesia trovadoresca. no prindpfo do culo XII, a
igual diatência, no tempo, da invasão dos borguinhõea no ~culo V, ou, na IWia.
o aparecimento de DANT&,precedido de 600 anos da conquista do norte pelos
lombardos. Aasi.m, no Brasil, paí.s novo, em plena fue de creacimento e, por
isto m mo, pelas riquezas e imcns.idade de seu território, grande foco de tração
de imigrantes, êase caldeamento e mistura de raças, desde oa albores de sua
vida, pôde estar preparando o húmus biológico para florir uma nova civilização.
Por outro lado, a análise da constituição" antropológica de nossa população,
de 1835 a 1935, demonstra que, segundo cálculos aproximado , a perccnta em
de mestiços (18,2 %) e de negros (51,4 %), atingindo a 69,6 % sõbre 24,4 %
de brancos, em 1835, baixou a 40 % (compreendendo somente 8 % de negros)
para 60 % de brancos sôbre o total da população; as raças negra e india estão
desaparecendo, absorvidas pelo branco, ou, para empregar a expressão pito-
resca de AFRÂNIO PEIXOTO, 41há, crescente, a albumina. branca para refinar
o mascavo nacional". Se nos faltou a integridade racial dos tipos formadores
e nos sobraram as mestiçagens dissolventes (branco e negro), outros elementos

H a.. a:,obl dlldc. d• populac;&o lmicra,ite vcrificau-ae par t&l.a ·.,..U, com •penq doe alcmaa
de Santa C.tarin& e do Rio Granda do Sol, e dDI Japoo&e,. em Sio Paulo uo Amuoou
sdrm em Slo Pauto. oad cand""un.m e an omroo Edados. tiffnUD qvr fwidlr-, ír
Clidoe peJu m~ O. alcmka. ao cootririQ, qu,e se ~. d Jl34, ao
d .. Pataa, peq ptopri il'p'(.,.,..•, e em Santa Catarina, rcfQl'Pd.01 por AoYDI -t1ncmt1-,
,d ui e • • col lo.tvlo de ...,,. 9ick runJ de tipo ew-opeu.: o bolamcnto d ,
4e $00 000, ltlll;ttSUQ ■ li DO lo.tenor do &tado, ji Ião idado da obecrv■ J. l..\MaD'r, pa,,,lliu
., l!Jblbc o d wna bomaiten.. col~ alemã, durante mwto m,,p0 privada du nuc,lla com .. .._
tG1 _,_,lnft>te .... • do paSa. (J. 1..AJma:r, A• ,:oJ,,ni .. .r ..-rs no Rio Grande do Sw t-U
I.n "'O de S&D Pewo", j o d.e 1g3g), A nsirnílaçãµ doe j..,....,_,,,embcn JA N teabam ~o
fflll ..... lllll .. d j INd e . lelU UK!o obetár!wo ao ICO dael!Volfimmt.o ... i.d,b,da •
imllfute. ■ ~- de~ reôõo e, coaoenttand-, • ~ • •
......,.,_., 'rad q oe ao""' oDaàoDal. Emmdocao,camooaAinorode' _,;.,.
D1 pOrt.o de Sul'OI, dade que oe iniciall a imiuariO tnmiaeint ma IIMII. t • de 176 77S,
.O todo, o 16.S 19 o dOI que 11C (",uram oo Eflado de Sio Paulo, oo i•~ ~ P"f' d1.- Geio,
• pordem nua,a ~ -1 d 7 milbôes de b■bit:antca. O J>tOblem■ -,iiv. CUI 193G, oom reli • b&d■
--■6nic._ quando. pd caotnito ajpo,a:muan:ko, oe prctei>d.eu d<:rramar l6bn 10 000 q ~ qaadnldo•
., &atado do Am.-1, 300 000 J ■ poa . Nlo eui■ ,llmente wu problem,& de -• mN d ~~:
~ 000 j■ ..,
1111 8 mllh de quil&netroe quadrado. da Brui1 alo ~i.ri&m WD l)C!l'lao,
ClbNn9 J te. . H411u1u 01 mearr,oa 300 000 .Obre 10 000 q~ qu:adr■d1111 do o do tado do
Amuoo■.., tltulrlai:o um penso Qllc olo M> pode oqar••. (B. H.ursall, A lmifra(llo no Bc. oil • o probMou.
japon,. ln "La Prcn "• de Lima, Pcrú, li, 10 e 11 de .etembro de 1937).

-3-
34 A CULTURA BRASILEIRA

flsicos e sociais, como os fatôres meso16gicos, a vitalidade do primitivo núcleo


ibúico, a rápida fu ão de raças. a comunidade de língua, de co~tumes e de tra-
dições constituiram, no Brasil, para criar um tipo nacional, e a fôrça empol-
gante que nos Estados Unidos, como e~creve M. SAMPAIO FERRAZ, "plasmou
e absorveu as correntes adventícias, transformando-as ràpid&mente no tipo
aui A neri e inconfundível do americano".
Em um meio como o nosso que se veio formando, desde o início, com ele-
mentos de várias procedências, indígenas, sobretudo no primeiro século, afri-
canos durante trezentos anos, e povos europeus, além de mitas, árabes, sírioo
e japonêses, êsses, em fraca proporção a mistura ou caldeamento de raças
heterogéneas, não antagônicas, é um fato normal, não s6 útil, mas indispen-
1_ávelà evolução étnica do povo brasileiro. Não é um problema, mas antes
a solução natural, o cruzamento dos vários povos e nacionalidades que entraram
na composição êtnica do povo e que, sob êsse aspecto, s6 viriam constitui.r
problemas quand) se manifestassem inassimilâveis, formando ou tendendo
a formar colônias maciças, involuindo para suas origens como quistos no orga-
nismo nacional. Na verdade, "contemplando-se os fatos do alto, isto ê, consi-
derando-se largos períodos-, escreve H. HAUSER (loc. cit.), pode-se admitir que
desde 1820, nas vésperas da independencia, a. 1930, o Brasil recebeu cêrca de
4 milhões de imigrantes. O estoque de origem portugu sa aumentou com um
contingente igual a 30 % dêsse total, e, ajuntando-se-lhe os espanhóis (12,2 %),
teríamos o total de 42 % de ibéricos, enquanto os italianos alcançaram 34,l %-
Os alemã , fortemente concentrados no sul, não representarem no total senão
3,5 %, e os de origens diversas 19,8 %, figurando no primeiros lugares os fran-
CC9C'8e o belgas e, mais recentemente, os polon cs". Não se contata, por-
to, em matéria, de imigração, salvo nos casos já citados, problema nem de
ma nmi de distribuição. Todo problema brasjJeiro acha- e, ao contrário,
corno já observara R. HAuSira, nas suas cifras de populaçao (41 S65 083 ha-
bitantes para 1940) e de superflcie (8 511 189 quilômetros quadrados) ou, mais
1implesmente ainda, dentro da cifra da sua densidade: - "den idade que quase
corr nde a um deserto". A população brasileira é, pois, como se vê, ligei-
ramente superior à da França, em um ter-rit6rio quinze v!zes e meia maior,
que permitiria ao Brasil, ~cm superpovoá-lo, uma poputa,ão de cêrca de 400
milhões de habitantes, descontadas as zonas semi-áridas, pantanosas e de di-
fícil aces o no territ6rio nacional. A selv,a amazônica, os bosque espessos e
as florestas de Mato Grosso e de Goiâs, constituem, no sentido estrito "solidões
em que o avião, - único meio de transporte possível nessas regiões, - não

.20 A tcDdbld• de explicar pelas djftréncu dimatfrlcu ou dlrn- nca• r•d•I tócl• •• idioelncra1iH de
1IJTIear6ta nacio11al encontn • mai• Forte repulsa 110pr6prio proceuo de ev luçlo d•• 1ocied dC'I, cuj .. t:Nlna•
,~m•~ d trutl>r• ooclal e eeoc6mica oc ae<>mpallham d,e mud.0.11~ df mc.i,1allc1'1dc,n , d vcnat í•1e1 de
d nvolvlmento. Certo, tanto o clima ou meio flslco, em g~I, quanto • raço, mtmditt. como o conjW110
de fat6rn her I rloo, ctn:ma111cnte complexos ali4a, pua "" podttnm pttci..,., m pov const tuld de mi...
tun e na~ cxc:rttm illflufttcia na tanwoçio do tanpcramc,ao e do carAtcr naciON •· ,M.. alo oc pude re-
tutar • m otalldade nem prediuc o futuro d., um qnipamento b11mano un íw,çlo de • compooi(lo ltnica.
lt O qu aíin:nam CC111 t6d• lliticl6 N. Co1AJAl'l1Ull.A1ina ., •nff0•Mi0n•, uaduil pai J. OUIIOII, Pari,, F'Eli.x
At~n. 1905): e J, FI OT !La priju~ d,,. r,,sa,s, Paril. FfliJ: Alea11, 11105. "01 r, 6ramo. qw: ""' pa ... m na
-.cdack, obKrva R. HVJISRT, ímõmenOI de aeacimcuto e de dccon, e , &J-" marals, etc, elo re-
Dl)m oe ~aia e olo raibmen01 pecul:!ares àa raça. Adaa.i-. o. N ..,,.._lv • do de tal -.nara com-
p6111 que lllo e cicndlico pnx:urar dutin&uir na wa lrida ooc,ial e rnmtal, • oon 'bu cl-> d• aptl lia ari&iw
de cth,_ dcmdltas." O ~ dat raçu, cuno dcme_ot compooc•u d11at:rupoo h - estudo
de pvn1 AOn-opol ia, deve completar .... e ■ uwaT-R com o d .. oodedlld , na ua 1n11ura t cvo~, qiK t
obje da 01~· , De fllto, pan e.npugarmao • npceuio e Tlctr w , c:rlad• pano ~uir • oclcçio
1 d• ac_l biol6t{ca. - os divcnoa tipos naciooais o "pc,n n,d ", ~o f, a ONI e formados ac-
lW'IOO oe 1d 11 4'lm1i,aotcs em certa tpo<:a, lltWla edade detennio■da. O ci- mporu, ..,rn de tudo,
coab«a" .. coad de prnerameoto (.deção aocilll), uama acitdaclc, 1 to . conhecer valeres culturai1
e • otdmi Kt:W>do • qu.o.lt,e pc-ocessa essa -seleção, O a.ntr0p6logo, lica 1-1. B come11t&lldo • teoriu
de TJn;'ANw4UI e de aeu dixtpulo W. MtJ'lll.MAJfl'I,"s6 e<>Ma COIJI ot objeto do pcnrinmc,no e"'' , ino ~
com u prcdit heredltirie• ou com ns bomw1 poraidor de,r..1 ptf'dh O uJc,ítr, d• peot•u'&clo
• d■ lffAo, f o ambí ~ (bico e aoc:ial que forma o bori.oble n.J1ural, de 11111povo, l1noraodo--.. eu=. hori-
rootc, nlo M' podem jul1 r 011 cCcltaa do pa,cirameoto e ela IC'loÇlo" (dt, Mu n, Rac:e conta ta: Cel>tury ~
cnce. aenea. Th Cemury Co.: FRANI< H. R,untIN5, La , • ..., dana la viúMlion. Uc. Partlt. Lc concq,t-
ct I rõle aodlll de la race, p6g1. 203-327, Payot, Paro, l!llSJ.
O PAtS E A RAÇA 35

descobre senão raro agrupamentos humanos". 21 Ma.a. se a essa situação


demográfica criada por uma t· uc densidade estática, se acrescentar a fraca
densidade dinâmica, ou seja, o grau mínimo de intercâmbio econõm.ico e cul-
tural dessas populaçõe9 extremamente rarefeitas, será fácil compreender que
o problema brasileiro E.o de povoamento, de penetração e de comunicação e
transportes e que a chave dêsse problema estará antes num plano r cional
de imigração, em pequenas massas, e de dístribuição e assimilação das correntes
adventícias, plll'. a incorporação progressiva dos imensos semi-desertos da
Amazõnia, de Mato Grosso e de Goiá a civilização nacional. Que para essa
obra de penetração e conquista das terras por povoar, o brasileiro concentra
tôdas a condições de audácia, tenacidade e resistência, provam-no não sômcnte
o formidável movimento de expansão que se verificou, desde o século XVI
com as entradas e bandeiras, mas, ainda em nossos dias a empresa heróica da
conquista do Território do Aae e a vitória do homem contra essa natureza, - a
da Amazônia-, "misto de águas e terras, que se oculta, completamente ni-
velada na sua própria grandeza". As gentes que povoam essa terra, lembra
EucLJDES DA CUNHA, na sua Unguagem incomparãvel, "talham-se-lhe pela
braveza. Nao a cultivam, aformoseando-a; domam-na- O cearense, o parai•
bano, os sertanejos nortistas, em geral, ali estacionam, cumprindo, sem o sa-
berem, uma das maiores emprêsas dêstes tempos. Estão amansando o de,erto".
O quadro d soei dade de "caboclos titânicos que ali estão con truindo um
território", com a firmeza e o vigor com que os paulistas avançam pelos eus
Rrtõcs, levando a civilização nos limpa-trilhos e fazendo amadurecer, em de-
cênio , cidad s brotadas do solo, põem à evidência a têmpera do homem na-
cional, perf eitamcnte aclimatado ao novo meio, enrijado na áspera Juta contr
a natureza hostil e os espar;os ilimitados. Certamente., se não se podem de-
terminar com precisão os elementos de cuja mistura, em cada W1lB das regiões.
resultou o povo b sileiro e discernir com nitidez, nessa população, tõdas as
diferenças 6tnicas, jâ se distingue no brasileiro, - um mediterrâneo, de sangue
misturado, na variedade de seus sub-tipos. - um tipo nacional único a que
imprimiram caracter próprios, vigorosamente marcados, os agrupamentos
primitivo , fundados sôbre o parentesco material e desenvolvidos pela longa
coabitação do m mo territ6rio, pela comunidade de Ungua e pelas crenças
comuns que e seguiram e caracterizam a nossa civilização. Foi A. SraoFRJED
que vaticinou que, "se algum dia a civilização branca retroceder, a civilização
indígena perdurará na Am6rica Latina, sempre dísposta a retomar o sentido
de sua tradição". Mas, a raça indígena que levantou os seus baluartes nos
Andes e em alguns países centro-americanos e neles se mantém irredut{vcl à
infiltração branca, não contribuiu, de maneira ponderáv~l, senão nos dois pri-
meiros ~culos, para a formação do povo brasileiro, cujos mestiços de origem
ameríndia, oomo as raças autóctones, ainda existentes, embrenhadas nas fio-
21 &ata,• dm dadc arltmftlca m!dia (•.SBJ, E tttremamente baiza como te pode ver do controoto com
• d 'dade d alllU,II• paltet eu,~ e.m que o ndmero mldio de peuota. que "lvem bN um ■ unidade d Ili•
Pff(lcle, own dado tcrrttótlo, ■ a e na BlJ1ica • 276 hwbi~tet por q~ u.odtado: na O -BrctAAh ■
e bl .1 do Noru • l!llh.,.. Alem11o.b■ • 141;"" ltáli■ a 139 e rin■lmrott • 76 llll F'raD(a. No Japlo, mb6m
- 15134• d .d■de mtdla t de 179, o que coloca &,,e pah em oquodo tu~, ~o • d• AI ohll, entro
.. de popu'-<'fo m I rortancnte • p■dL A dciuidade m61ia da popul çio bili • i:in.. de ,S9 1 111bla.
a,oforme ■ '" ia " &ntmarmcote dtlld■• em 1~ • 4.58 b ■biunta por quil&metro qaadra: o: dea•
• f estrema t varffvcl de uma • • • outn, •ti~nd<>, • 43,93 no Rio d J■nc!to: • 3l.S2 ms AI■ :
• 19,21 an Slo Paulo: ■ 27,U em Pcma.n>buco; • 25,lrZ oa Paadba.; ■ 2S,3l ou pc C t■d d pop.i.l■cAo
º d ), par■ c■.lr ■b■ o d l habitante po,r q '16metro quad.r■d.o no P■rt, T t6rio do Me, A
e .M:■ to O • Squnllo dedo, c,olbído, ~o R~to d.e 1920, .,.,,. l DOOh■bl t • so• po,rtc ~
ao 11aa m■tcUllno e 4 6 ■ o fc::mlAJ.na,oclldo a aúmtto de homen acftJÍlvdm.:nte
Goüo e M■ l:i:> Gnm~. - r; •
·• alto º"' d do '"' eaa
de .-xpl ~ o Oorutal e de
~ d• 1~ e na A,nQ6ol-.
mm&io., - e p,eciomill■.ndo u m.u.l a.o. Ettadoo do nart... devido boda da mb o, nu pua
o do p,,fe. bre e.da 1 000 ha tantooi ~- par tssc mesrao ceccc:o.ociuneoto. 570 iadMd d
meu de 20 an , 400 de 20 • 60 ■n e 30 de ~ de 60 aua■. /u ~ =n q e coeidtu:o:, u dlfllftn
ser•~. a ac:nelo d te, do. mau vúh<e, os avóe; 11 geração «inantr, • do. palt, e a 11~ • ·n ,
oe rtlhoo, mottr ■ m, pdo nClmc1'opouco cv•d.o doe mauvelbot (30 de mait d~ 60 &o :,, par■ 75 na ln I tt!l'T■,
IO u AI nba, 82 na BuJcÀrl■, S7 no 1 pia, e 118 - França), a 11Jperioridadc q11.1.otlt11t va dO!I J ,
-.. oilc>i:-~ tU'Cm conuibuldo p■ r■ diminuir ~vd.roentc • influ!ocia d.■ v~h• ,~ o, cuja aoto,ld de
mm«"OO •, 1b■lad• pcl revoluç&,, • pSrt:ir de 1930, e)>tla CDD8'!q0cnte ucenllo doa moçoe ao pod.u e ro-
.11C1Yaçlo doe ql&ll<ltw poli cic>1 e culbit■ n..
36 A CULTURA BRASlLElRA

restas, n o tariam em condições nem teriam a capacidade d resis ·r à ava-


lanche di povoa brancos. A admitir-se que continuem negros e tndios a de-
saparecer tanto nas diluiçoes sucessivas de sangue branco como pelo processo
constante de seleção biológica e social e desde que niio seja. estancada a imi-
gração, sobretudo de origem mediterrânea, o homem branco não s6 terá, no
Brasil, o seu maior campo de experi&icia e de cultura no trópicos, mas poderá
recolher velha Europa, - cidadela da raça branca - , antes que passe a
ou a mãos, o facho da civilização ocidental a. que os braailciros emprestarão
uma luz nova intmsa, - a da atmosfera de sua própria civilização .

.BlBLIOGRAFfA

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CAPíTULO II

O t(abalho humano
O monop61io do pau de tinta - A agricultura e a vida rural - OI
engenhos de açúcar - A escravidã.o regulamentada~ técnica elemenw e o
trabalho barato - O descobriment~ do ouro e a:s entradas ao sertão - A!,
lavras de Minas e de Mato Grosso - A caça ao indio - As invernadas de
Plauí;, Goiás e Rio Gra1;1de- Velhos e novos caminhos - A grandeza do CS•
f6rço humano - Limites- geogTâ.íicose fronteiras econômicas - O sertão ame•
ricano e o sertão braaileiro: semelhanças e diferenças - As fazendas de ·café -
Ainda a monocultura de base escravocrata. - A concentração de riqueza e~
mãos de grandes proprietários -A vida econõmiça e as classe.s socii,ís - A mão
de obra industrial na Colônia e no lmpério - Grandes e pequenas culturas -
Os portos e a navegação costeira - Os transportes e o comércio - O rcgim.\:
fiscal - O swto das indústrias e 09 fenõmenos de concentração - A variedade e
o desnívd dos centroii económicos e culturais - As indústriaa extrativas -
A e.zploração do sub-solo.

N O IMENSO cenãrio das terras descobertas, escancaradas, pela costa,


sôbre_a _amplidão dos mares e fe~das, para o interior, p?r uma solidão
sem Imutes, nada acrescentou à paisagem natural o conqwstador branco,
durante quase meio século depois do descobrimento. Tudo conspirava para
retardar a posse do meio geográfico pelo homem branco, que não assinala com
o sulco de sua passagem senão um ou outro ponto da costa interminãvel: as
enormes distâncias que separavam Portugal do Novo Mundo, a vastidão ter•
ritorial, com tóda a poesia do mistério e todos os perigos do desconhecido, e
as dificuldades de povoamento das novas terras por um país pequeno, de es-
cassa população. Enquanto o português se preparava para se fixar no novo
meio geográfico, oscilando entre as glórias de suas aventuras e os planos colo-
nizadores, nas paisagens naturais, que permaneciam intatas e protegidas da
tomada de posse do homem branco, .apenas se notavam as humildes clareiras
humanas de tabas e malocas, no coração das florestas e à beira dos rios, e as
constantes sortidas, na orla marítima, de tribos vagantes com seus rastos efê-
meros nas areias das praias. A ação do homem. como agente geográfico e modi-
ficador da paisagem tinha efetivamente de ser lenta num país, cuja extensão
territorial havia de ser "o orgulho dos fµturos brasileiros, mas também a sua
fraqueza", e de que, quatro séculos depois, ainda permanecem cêrca de 4 800 000
quilômetros quadrados, s6bre a superfície total de 8 SOO000, com uma den-
sidade de deserto, ou sej.a menos de um habitante por quilômetro quadrado. i

1 1tuc~ 4 Ma 000 ou, m:tls yce,,isam•ntc, 4 814 031 constitilem. a superHcie total dM E,tados do Pent.
'renit6no do Aere, 'Mrn> º'""º e Acnno;,~3. cuju de11;idade, óio ,.,.p,cti-,a.me.nte 0,70, O,S,, 0,29 e 0,25 h••
bitantc, P'!' quilõcn:tr-o qaadra:lo, soguo,:lo a "Siuop>e Prclimiliar dOI Ri!Sillbldos Demográficos'' do Rcccn-
-to Geral de 19f0,
40 A CULTURA BR SILEIRA

Tudo, nessa terra de vida aparentemente fácil, "era dcaequiUbrio, escreve GIL-
BERTO FREYRE. Grandes excessos e grandes dcfici&lcias, as da nova terra.
O solo, excetuadas as manchas de terra preta ou ro , de excepcional fertili-
dade, estava longe de ser o bom de se plantar nae tudo o que se quisesse, do
entusiasmo do primeiro cronista. Em gTande parte, rebelde à disciplina agrí-
cola, áspero, intratável, impermeãvel. Os rios, outro inimigo da regularidade
do esfôrço e da estabilidade da vida de família. Enchentes mortiferas e sêcas
cs crilizantes, tal o regime de suas águas. E pelas terras e matagais de tão
dificil cultura e pelos rios quase impossíveis de er aproveitados econômica-
mente na lavoura, na indústria ou no transporte regular de produtos agrícolas,
- viveiros de larvas, multidões de insetos e de vermes nocivos ao homem •.
Antes, pois, de lançar as bases da colonização, cujo primeiro plano, cedo
malogrado, consistiu na divisão da terra de Santa Cruz em capitanias, de 30
a 60 J~guas pela costa, e na doação dêsses formidáveis la iffutdios aos nobres
da metrópole; o português limitou a sua atividade às explorações litorâneas
que fizeram da costa um imenso cais de desembarque e de carregamento de
suas frotas. Além do transporte do algodão nativo e de sementes, de animais
e mdios preados nas pequenas incursões pela terra a dentro, o comércio do
pau-brasil, nas suas várias espécies, constituiu a principal fonte de renda de
Portugal e do contratadores, cujas naus não se demoravam enão o tempo
suficiente para a derrubada, o transporte e o embarque da famosa madeira,
abundante nas matas do litoral 2 O tráfico dessa madeira, de grandes apli-
cações na marcenaria e nas indústrias de tecidos, não tardou a transformar-se
em monopólio da coroa, arrendado a mercadores e a grupos de capitalistas,
prov velmentc cristãos nov<XI,entre os quais se destaca, lembra A.Fomo AR.mos,
"o judeu FERNANDO DE LoROmtA, o maior contratador de pau-brasil dos pri-
meiros tempos, cajo nome ligeiramente alterado, ainda persiste numa ilha da
regi o do nordeste do Brasil' . A extras;ão, o embarque e a colocação do pau
vermelho, se continuaram a constituir parte do comércio lusitano nos três
primeiros skulos, s6 se realizaram em grande escala no século XVI e nos prin-
dpios do século XVII e não tiveram papel preponderante senão na primeira
metade do século XVI, antes de se iniciar, prôpriamcnte, a colonização que
ae abriu com a cultura da cana. Foi, de fato, no perlodo pré-colonial, que
atingiu o máximo desenvolvimento essa economia destrutiva, que, não con-
tribuindo, pela sua própria naturez&., para fixar o homem à terra e iniciar a
organização interna do trabalho, abriu à metrópole um vasto campo de explo-
ração e uma ,das suas fontes de riqueza, pela rápida colocação da madeira nos
mercados mais importantes da Europa. Segundo FERNÃO CARDIMe GABRIEL
SoAREB, se a isto dermos crédito, sõmente das capitanias de Parafba e Pernam-
buco rumaram para Lisboa, em fins do século XVI e principio do seguinte,
maia de cem naus carregadas de pau-brasil, dando o monopólio dêsse comércio
à coroa 60 mil cruzados ou cêrca de 6 milhões de cruzeiros em moeda brasileira,
por ano. Embora baseado em indústria puramente extrati.va, o tráfico do pau-
brasil, pelo eu volume e valor comercial, despertando a cobiça dos franceses,
concorreu para incitar Portugal, a fim de combatê-los, a criar na costa, núcleos
de povoação permanente.

S O 1)11ll• , de que prowta e r..:ou o nomA: d.o par,, primitivamcn n Tctra de Sm>111Cl'Ull,
era..,_ Am • , uma irvatt ,..ti.,. de que àavu. viriaa •e, ....,.. ma d.o litaral, e q11 , ,mpanad • pm>dpio
da lwi.., d o .&:lllo xm, J6 .e havia tonuido cocbccida e •preciada
• . A ônta ccut.~ q e dela.., utraia, cn. ~ par.a tiotir t (da.l • o~ o de Jolo oa 8.uaoJ,
""pau d Dct,-panot"). Apticada em 1a,p ~la. para e ow:ro,i mit .....,, • mad do pa11de tinta .-ecebea
- aad te o n de l 'Jlnum bnuik (~illuzn) do alto al. bl• , ar e, d, , ou do •nli o ccnulnico
b, ... (M. LUIID, Raw .. 1276; Dmz, Dic.. li3; A. ~. D/o. Btim, d• Uniu• portulu sa, 123) e de
LOfMSU, que• dataiflcc:,u com o oome dcs,tif",co de C. Jpin,,. uppan. ~amado I palawa • tlc:a •IIP&nl,
~JM-ft (e& cncarua4-), por que .e dQl.omiuavam u .. p&:ies • itlcu. l.adioe bna!lâr01 ~- •
- madeira ibir4•J»f•n'-• (pau vcrmclllo).
O TRABALHO HUMANO 41

A fundação do primeiro engenho de açúcar, sem São Vicente, entre 1532


e 1533, por MARTIM APONSO DE SoUSA, donatãrio da capitania, que
ciou a alguns estrangeiros, italianos e flamengos, • entendidos neste ramo de
mecânica agr{cola' , abTe, para o Brasil, o primeiro ciclo econômico e rasg
a mais larg penpectivas à colonização. Já era Portugal, quando descobriu
o Brasil, o senhor do comércio internacional do açúcar, e, transportada a cana
de São Tomás, na Ãf rica Ocidental, e talvez também da Ilha da Madeira, para
Sã.oVicente, estendeu-se ràpidamcntc, por todo o litoral, do sul ao norte, abran-
gendo, ao longo da faixa litorânea, as capitanias do Rio de Janeiro, Espúito-
Santo, Bahia e Pernambuco. Em meados do século XVI a produção do açúcar
na Am~rica portugu&a já sobrepujava a da América espanhola e atingia, noa
rlDI do mesmo século, a 300 mil arrobas por anc, para se elevar ao dõbro, em
-prindpioe do ,~o seguinte, num valor total de 300 mil cruzados, ou, em
noaa moeda atual, 30 milhões de cruzeiros. A terra branca do massape, cal-
c:6reoe argila, n:sultante do cretáceo decomposto, de Santo Amaro, na, Bahía,
de Pernambuco e de Campos no Estado do Rio, fornecia o solo mais favorável
à cultura da cana e desenhava, nas manchas brancaa que indicam as aluviões,
oa primeiros focos de civilização. As regiões cultiváveis ainda aio verdadeiros
oúia, e naturalmente os homens, os primeiros colonos, começam a agrupar-se
neuca pequenos cantões cultiváveis, marcados, na carta geológica, pela decom-
posição das baciaa crctAceas e pela presença dos pequenos rios. De fato, onde
fae9 ri01, - os rios menores, porém. mais regulares -, "docemente se pres-
taram a moer as canas.a alagar as várzeas. a enverdecer os canaviais, a trans-
portar o açúcar, a aervir aos interesses e às necessidades de populações ÍlXSS,
humanas e animais, instaladas às suas marge:m, aí a grande lavoura floresceu,
- escreve GILBERTO FlutYRE-, a agricultura lati:f um:liária prosperou, a pc-
cuiria alastrou-se. Rios do tipo Mamanguape, do Una, do Pitanga, do Paran •
Mi.rim, do Serinhami, do Iguaçu, do Cotindiba, do Pirapama, do lpojuca,
do Mundaú, do Pa.rafba, fcram colaboradores valiosos regulares, aem as intcr-
mit!ncias nem os transbordamentos dos grandes, na organização de nossa eco-
nomia agrária e da sociedade escravocrata que à sua sombra se desenvolveu".
Mat, se o colonizador encontrava, ao longo do litoral, no masaap~, rico de
húmus, a terra fértil, banhada por êsses pequenos rios, cujo importante papel
dvilizador GILBERTO FREYRE soube realçar com vigor e colorido, faltava-lhe
o trabalhador para desbravar a terra, plantar a cana, fazer o açúcar e trans-
portá-lo nos ombros às frotas mercantes. ltsse trabalhador foi o negro escravo,
que entrou com as mudas de cana doce e cresceu com elas. ºAo calor de seu
sangue, - as palavras são de SOARES CABELO -, a terra conservou indefi-
nidamente a gordura , ao impulso de sua fôrça, as moendas funcionaram sé-
culos e séculos sem cansar. Negro escravo. Sete anos, no esfôrço implacável
e, depois pior do que boi velho: carcassa de animal, bagaceira de senzaJa ...
ele, o negro, foi e ~ para a cana-de-açúcar, o que ela, a cana-de-açúcsr foi para

1 A cana ~. oriciD6ria da Asla, foi importada ~ o Braail e a:pl<,rada, i,riQl "ª no


do Ooftnlador, fund O par M.urrn, .vo.10 DS Sou&\ que ''mandou vir ú O da Madeira• plante
d ". (Jl'1lsJ O OA. MA.ou 01t D!!DS, am6rw p,u11.• bi t6rl11.d C11Pitanl11.d S6o Vh»nt.).
~oi a capitania de SAo ote, ac:rew Fn:i VICIUfT& DO S&LVADOll, em 1Ci'.l7(lli•t6rl1t do Br11. 1), "a primeira
c.n- aadc rea~. donde ec INOU pl&n de caa.a pam outnu capiianin.'• &t o, - o primeiro
• cana-d -. ffZUD<lo o qual .e aitua - capitania de MAAn JUONIO o prlm o n •
d •c:6carmocn carrc, • t .-polado por ltiatoriadOR!9, c,omo o YIICOlfVS Dlt PÕltTO s UJIO, na tu
ITHt6rl1' do /Jrü I (lOmo r, pq. , J.• mrmo), por B.SllllAlOI WAYJSlf q no O domlnlo ooJor,J I holand •
no BraalJ ·rua no tuJ do 8r 1 • primeira plan~çlo de ca.na.vinda da Maddm. e pcw ~ ma.Iara, o
a~ autoridade t6ria do aç6car, SawuMD vo:c LIPPIIIAN que. em O..Ctiicltte d Zuckara (td. de 1929).
allrm&, alribado cm H.un>IU..ICAIOI,ter rido o~ ~ "pela pnme;,. v para S&o Vla:otc, • o
- Olldo o d- o ArO DS SOUSA ma:tldou mon.tar dai, eo&á>hoa". ~ d- opinllo R. 5-AK.
pa,:a qunn o addro nldo da cw uni pan:,eeter sido cm_precndldo por 11!.urrtN ~. e 1Sl3, com •
~o, em .,.,..te, do lta&enho do ~- (H.ist6ri• oc,ondmiclt do a, .. 11, to ·1.•,
6lo Paulo. 1iU).
42 A CULTU"RA BRASILEIRA

& e p s. Certamente que, sem êlc, ela não teria sido a principal coisa com
que o Brasil enobreceu e se fêz rico". A introdução da escravatura negra,
regu]amentada e imposta pela necessidade do trabalho barato, como os ca-
naviais e as plantações de algodão, na América do Norte, determinaram a
importação do braço escravo, foi u,m dos aspect~ mais importantes e um fato
das maiores conseqüências étnicas e culturais da economia agrária e da indústria
que "primeiro permitiu que o país se pudesse reger e pagar seus funcionários.
aem sobrecarregar o tesouro da metrópole". Na construção e no desenvol-
vimento da estrutura econômica colonial, baseada no açúcar e no trabalho
senril, entraram, por igual, a cana verde, a terra branea do massap!, o escravo
negro; a planta da Ásia, a terra da Amérira, o homem da África, utilizados
e explorados pelo poder de organização e disciplina do colonizador europeu.
- o português, que, dominando, naquela êpoca, o comércio mundial, viu asso-
ciados como num símbolo os quatro continentes, na sua mais fecunda obra de
colonização. '.a, certamente, graças à capacidade colonizadora dos portuguêses
e de seus descendentes brasileiros, de um lado, e de outro, à capacidade de tra-
bf!lho e de submissão dêsses 1 500 000 escravos importados para os cana-
viais e os engenhos, que se multiplicaram os núcleos de produção, atingindo
a 238 f'bricas um século depois de estabelecido o primeiro engenho no Brasil,
que coube ao Brasil, já no século XVII, a primazia da produção do açúcar
no mundo. suficiente para abastecer a Europa inteira, e calculada, nos três
culos do Brasil Colônia, segundo ROBERTO SlMO SEN, em 300 milhões de
libras esterlinas. O açúcar, - o maior artigo do comércio internacional,
ocupava, naqueles tempos, o papel do carvão que veio a fazer mais tarde, na
civilização industrialT a grandeza da Inglaterra, cuja exportação total, por ano,
em meados do século XVII, não alcançava a cifra de 3 milhões de libras anuais,
da produção e exportação do açúcar brasileiro.
Por maior, porém. que tenha sido o valor economico atingido pela cul-
tura da cana e pela indústria açucareira no Brasil, ' não é stc o aspecto mais
importante do regime patriarcal de economia, que exerceu as mais profundas
influ!ncias na formação social e histórica do povo brasileiro. Foi com o ciclo
do açúcar que se instaurou a colonização. O engenho foi, na verdade, observa
BARBOSA LIMA SoeRtNNO, "a primeira fõrça de atração para fixação do imi-
grante strangeiro. Nêle tivemos a primeira fortaleza contra as arremetidas
do gentio. Elemento permanente de civilização, ~le criou, nessas terras ainda
selvagens, aquêles núcleos de intensa vida social a que já se referiam, com ex-
pressões de entusiasmo e de surprêsa, os cronistas do século XVI". lt com
a formação patriarcal e a economia escravocrata que o conqui tador se trans-
forma de traficante em colonizador, realizando a po e do meio geográfico, e
surge, ainda que sàmente ao longo do litoral, como modificador da paisa,gem.,
violentando a natureza, para sobrepor às regiõ s naturais uma paisagem cul-
tural, fortemente caracterizada pela "casa grande" (~ a casa que revela o
homem). pela senzala pelos engenhos e canaviais e por tõda essa floração mag-

Ih prud ~ do vi
~• do nç\kar qu" " Fra Mal'titw~ e

mbi ~t:nl. para c,c o


do aç-",.earde ca,v,
c:ito eh pro:iuçã:,
e,afi:,,,L, ■ ap[i.:a
europ!iu o ,
te d: riquua. A
, embm-a tlvêue domi undo
de libras cstcruaas, na e Ubl'b, a apor-
llO zneamopcrfodo.
O TRABALHO HUMANO

rufica da arquitetura colonial das fortalezas, das igrejas e dos conventos. 5


O vinco do homem sõbre o solo, êle o deixou ainda nas devastações que a terra
..aoíreu,pela sua ação destruidora, e de queJ nas expressões de GILB ltTO F'RBYJtE,
"guarda cicatrizes, quando não as feridas abertas, ainda sangrando do regime
devastador de exploração agrária, - o fogo. a derrubada, a coivara, "a lavoura
parasita da natureza.,, no dizer de MONTEIRO BAENA, rcferindo•sc ao Brasil.
T&ia essa paisagem correspondia a uma estrutura social e econômica, de que
GILBERTO FR.&YRB, em Casa grande e senzala, estudando a regi o açucarei.ra
do Nordeste, nos deu uma anãlise penetrante e luminosa não s6 quanto à téc-
nica de produção e de trabalho, - a monocultura e a escravidão, como ainda
quanto aos costumes, às idéias, ao sistema de moral, ao caráter da religião
d~ sociedade escravocrata e da aristocracia rural que nela se formou sombra
doa engenhos. Certamente, como cada uma dessas regiões açucareiras, distan-
tes uma das outras, no litoral fluminense, baiano e pernambucano, constitufa
uma unidade isolada, êaee parcelamento geográfico de terras cultiváveis teria
contribufdo à fragmentação política, se não tivesse concorrido, para promover
a unidade polltica na costa, a solidariedade econômica de todos &sscscentros
produtores dispersos, mas ligados já pelo monopólio lusitano desse comErcio,
j6 pela unidade de cultura e de técnica de trabalho. A lutas obstinadas
sangrentas contra o invasor bolandês, que se instalara em Pernambuco, traído
pela sua indústria açucarcira, não sõmentc foram índice de unidade, mas
também um meio poderoso para consolidá•la. reunindo contra o inimigo comum.
brancos, pretos, tndio e mestiços, e congregando pela primeira vez, nos mesmos
campos de combate. fluminenses e paulistas, baianos e pcmambucan .
A agricultura que se desenvolveu. n~ três séculos, ficou, aos olhos doa
brasileiros, ocupação principal e a principal fonte de renda, e as condições
de vida n grandes propriedades agrícolas, cm que se fabricava a maioria
dos artigo de conaumo e que se podiam bastar a si mesma , não fizeram senão
manter e desenvolver o individualistno, isto é, um dos traços mai marcados
do car ter brasileiro. O novo ciclo da minera~o que se seguiu ao do açúcar,
sem substitui•lo, s6 contribuiu, por outros motivos e em outras circunstânciaa,
para acentuar asse traço de individualismo e misturar as populaçoes, por um
dos maiores movimentos, registra.dos em nossa história, de migrações internas.
Já nas cartas de doação das capitanias se apontava o caminho do in criar do
país, quando se limitavam êsses imensos latifúndios, de 30 a 60 léguas pela
costa, com as ilhas que se achassem fronteiras por 10 léguas mar em fora, e
'"pelos sertões a dentro, com a extensão que se achar". O litoral tal qual se
apresentou a princlpio, escreve ALBERTO RANGEL, "era uma banqueta de mi-
séria com seu pescado coqueirais e pau•brasil, principalmente para quem vinha

bar de enaen!lo f ■ ''l:IU!I gn:ade", e1tpre,,ao Uplc. do petrieual mo e d•


-cc:ul elmplicld• e r6stica, dl:' pedra_ e aJ, cob h ou de lelh■,
prini - grandes • o ..,...
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cirO!I, q_~
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. Ca ~ode. c:apda e seonla. senhor,
M !ldar:ntnmi1 ein q_ue ac apóiam d e o do
d<> • fr. Ga..aJUtTO ~Y'IE. e,... lr•nde e nul•
, ito d• M>Cied de aolonial it.p,:ci&ln:u:.otc: Parte •
Br~illaba. vol. 40. C ■ "onal, 1935.
44 A CULTURA BRAS LEI A

prelibando as riquezas incomensuráveis da fábula' . Tudo conspirava para


incitar as entradas ao ertão: a idêia fascinante das mina de ouro e de pedras,
que atormentava o espírito aventureiro dos colonos e es exaltava a imagi-
nação; as notícias que repercutiam no ambiente timpânico das vilas nascentes,
no limiar do sertões, tomando proporções len i ; a fome do ouro e a ur-
glncia do braço, impelindo à captura do selvicola e, além da perspectiva do
mineral e do escravo vermelho, os rios que corriam para dentro, como caminhos
oaturai de penetração, e as montanhas que " erviam a aguçar o desejo pelo
descortino dos horizontes". Tôdas as tentativa, e incursões, em que se des-
vaneciam os sonhos e as esperanças dos conquistadores, atravêa de quase dois
~culos, não fizeram mais do que exacerbar o esplri o de aventura, esporeado
pelos constantes apelos da coroa, sem resultado, at~ que os bandeirantes pau-
listas, mestiços mamelucos, audaciosos e tenazes, desbravaram, no crepús-
culo final do ~culo XVII, a terra das "minas gerais", fixando a zona do mi-
~rio aurffero do Brasil-central e abrindo o campo a sucessivos descobrimentos
de minas. tssea feitos admiráveis dos sertanistas, dewendando as riquezas
imensas das "minas gerais". inauguraram o novo ciclo econ6mfoo, deslocando.
para o trabalho de extração e apuração do mineral, massas de imigrantes e
aventureiros que afluíam de todos os pontos do pais, na busca alucinatória do
ouro e das pedras verdes nas faisqueiras de Minas e da Bahia e nas lavras de
GoiA e de Mato-Grosso.
A mineração do ouro, -praticada por proceasos primitivos e apoiada ainda
no escravo negro, desenvolveu-se por tal forma que, durante meio século da
produção mais in ensa das "minas gerais" (1710 a 1760) "o Brasil extraiu cm
regiões de difidlimo acesso, tr-ansportando para a costa atravb de imensa.a
dificuldades e exportando para a velha Europa, segundo os cálculos de Ro-
BERTO SDIONSEN um volume de ouro equi alente a 50 % de odo o ouro pro-
duzido no mundo, nos três séculos antmores, e igual a õda produção apurada
oa América. de 1493 a 1850 I" Os mineiros e escravos negros, aos milhares.
debruçavam-se, com suas bateias sôbrc o Jeito dos rios, em cujas areias rolava,
entre o cascalho de aluvião, a palheta do ouro, ou labu vam ao pés das mon-
tanhas. deslocando e quebrando pedras, ou abrindo galerias, com cus músculos
fortes e tisnados, para extrair o metal de rocha que a natureza guardava nas
suas entranhas. Mas a tôda essa riqueza constitutda, obrctudo, pelo ouro
superfidal de aluvião, retido nas areias fluviais, acr sccntou-se, a partir de
1730, no período em que a exploração das lavras minerais a ingia a maior in-
tensidade 6 , a das jazidas de diamantes, arrendadas a ~rincípio a contratadores.
que acumularam fortunas fabulosas, e depois exploradas diretamente pela
coroa que se apossou do monopólio da extração. Se a exportação do ouro,
cm tr& séculos calculada em 200 milhões de esterlinos, eve grande impor-
Anci na economia e nas finanças internacionais, a de diamantes foi tal que,
segundo JoÃo Lúclo DE AzEVEDO, "se desequilibraram os preços internacionais
da pedra", por essa época em, que a produçao, em menos de um éculo, ultra-
u, na estimativa de CALóGERAS,600 quilos, num valor superior a 10 milhões
de libras tcrlinas. A descoberta e a exploração das minas auríferas desde
o alvorecer do século XVIII e a das jazidas de diam , quando já ia a pino
a id.a<iedo ouro, contribuíram notàvelmente p r a con uista do Brasil-central
fixação dai populações no interior ultiplicando nos rtôes as vilas e ci-
d 1 d quais mais da metade, existentes o in erior bra ileiro cm e..ssuas

A carta r , ~ 29 de m.i:ç,, de 1617 que manda,·• :k owo aos n que ,u


cobriacm e: c.q,l.oruwc:m, r. • co:no diz ALls-DTO RAJO , dmukn li lMia baudeiranto,
•• • coroa com • libcnlade e • lcgali=açâo du p0a1c», em 1an de: uclha o lml)Of'to do quinto,
ando-o do lombo dos garlmpárco"". {lu.sll.ln'O RAl OIU,, Rumo• e ou pocti~• , p6 , 18, 2.• ed., 1934).
O TRABALHO HUMANO 4S

origens, segundo LtJÍS CAMlLO,nos trabalhos da mineração. Na época que


então se inaugurou, de opulência e de febre criadora, que se manifestaram
no esplendor de Vila Rica, com a fortuna imensa dos co tratadores, com
8\l&S ob suntuárias e uma igreja por atalaia cm cada monte e que ainda oo
evocam, no fa to da arte barroca, os mais belos exemplares d arquitetura
rdigiosa, deslocou- da Bahia para o Rio o centro polftico do país, e cultura
intelectual, no Brasil, ascendeu até um nível nunca dantes alcançado. Do
litoral em que floresc u, com a indústria açucarcira, transf criu-ae para a região
das "minas gerais", o centro da cultura e da liberdade de eaplrito, onde, nos
conflito, com a Metrópole, se expandiu o sonho e se forjaram as primeira.
armas da emancipação e que se tornou, na história colonial, sob o influxo da
civilização do ouro, o foco de mais intensa irradiação intelectual e de maior
dive~idade e riqueza de elementos naa artes e nas letras.
Mas, eabocando-se com a civilização do açúcar de que foi subsidiária, pre-
cedendo à mineração cio ouro e expandi·ndo-se no curso e depois d!sse ciclo
econômico, a ctíação do gado, 7 limitada a princípio às necessidades dos en•
genho e à alimentação de suas populações, estendia-se lentamente pelo Brasil,
d.esde os meados do s!culo XVI, do sul para o norte, Bahia e Pernambuco e,
da Bahia, onde atingiu maior intensidade, para zonas cada vez maia distante.
do sertão. Freqüentemente era nas rotas dos rebanhos que marchavam as
bandeiras e, quando a veJha Minas foi varejada pelos bandeirantes, jã o cria-
dores de gado haviam aberto os caminhos às zonas mais próximas doa centros
de mineração. Os rebanhos precediam os bandeirantes, que não raro ae fi-
nvam, transformando-se cm criadores e fecundando o deserto, e em cujas
pegadas, com a descoberta da "minas", surgiam faiscadores de ouro e pesca-
dores de diamantes e se assinalava, nas vilas e cidades, que brotavam da terra,
a marcha da civilização pelos sertões. Os dois ciclos econõmi008, o do gado
e o do ouro, cruzavam-se, interpenetrando-se às vêzcs de tal modo que a ex-
pansão territorial do gado facilitava às bandeiras o acesso ao sertões, pc.!01
velhos caminhos das tropas e boiadas, e as bandeiras; a seu turno, rasgando
novoe caminhos cm õdas as direções, promoviam o avanço e a multipli ção
dos rebanhos. A im ~ que, pelas çidades antigas dos sertões mineiros, como
em Vila Rica, engrimpada nos flancos da serra, ou em Mariana, embalada
pelas águas do Ribeir o do Carmo, ao lado das suas famosas igrejas, cheias
de tesouros, arrancados às areias auríferas pelos bateadores e garimpeiros, surgem.
na sua. humildade, para rcfrigerio das tropas, as fontes públicas, "encimadas
pelos brasões e pelas cruzes, com as marge~ das bacias rotdas pelo roçar dos
pescoços dos animais''. Certamente, êsse período a que CAPISTRANO DE ABREU

7 Iatnld1Uldo oo Bani, aioda a.a prlmdn metaclc do .eculo XVI, prov.lvclm te a.a c:ap tallia de 6 o
Vocaiu, foi o pd.o vaami 1""'"'1odcpM l)At'8 • Bahia e outra cspitauuoa do Norte. Ao q~easioa A11úwo Põno.
o pdo bruilrin, de ID Vlc:cotc, etffl>d<:tldo-oc para o $til, iruc:iou • c:ria,ç3o bovlna D<> Parqua, par. aaâ foi
lendo m ISSS c d CIÚOarcbe:ohOI proveio todo o cado que oe ateadcu do Oru =-a do Rlo d• Praia,
cai!e Portu ai r OU, • Col6 • do S-mcnto. "Na d_irccão do oeste cht:'RE'am ot CWT e pdo, - lembra
~ ÃJIIHO. DS Cl.o hAMco-,. Goib e Mato Gt- c:DqU&Oto o futuro território .. ' I" ",
1111ta da mio o, J6 lft bnvado pd criadora de. Sio Vical •. &> norte ■ c:riaçlo p,11taril • dwramou
do ~ • Ptto,untnaco, aftl)Ç8t)do par l>Od.oo D«deffe, e úinci:xlo o 1CU -... deac:o..al "" ,
~ do rio PrucilCO. Pol para rqiio que ""dibtsram OI d • d G41lC1Ao·AVIU, com,.
panhciro e d Tolld D ■ Sou-u. fund.adot da r-=- e- da T6ttc, • malar lucDda d" avç:lo QO Br •
C'Qjo1.to, - em tamllllha quanbd e q e o prõprio potcatado Dia Nbia o aC.-0 -, aw v• pcw ~•
e I_,... de pllJUU'ia " C\lla perfldc IIC tmcü par 7 ■ 8 ~ por c:attll de l SOOq ~ de tcna a
rio,pdoaado ■ d cro. B'.r&wda bnuma,mlllllAl>ha,dcq,:u,""~" i.r.o ,CIIUDI
de lt■,POA e o htor■l •~ perto de 5er&lpe,a C... da T&Tc, cm Tatu.ap&B, en uma i- propdcd■de fnodal,
com seu v o e t(l)to de moradiq, m di, dcf. e bal- vi&ilaatc.e com campa■ de cri çlo de-,, •
• "alpiu d eanala por tctn adlar,:tc", no tataawiho de G.ulaa;L SoA.llu (1584). UDdo Pao.a
C\Lll0N, • Cua da 'tõrre, ave Bahia e 5ercipe, aerviu de ponto de visia e de ccntro de a o ml.lltar durante
aa ..-r com o ' , prutaodo • çoo ADiDAlados na looga. CIIJJIJ>llllhaeolltra o, holabd it Ili• qc,c
• prq,araram e foi dai que pjUtirem tamb6m., aguenida.1, diversas cxp:,diçac,, e eotnd .. ao tlo, a.lo a6 pal'II
«m>batm" o o como alada para catar mil,Q de prata. unto CAL1101t,Ri•l6r~ d• C..u da Tdua, L vrarla
Jo.f OJ!mplo, lo de Janeiro, 1939),
/\ ~ULTURA B A

chamou o "ciclo do couro", e que, iniciado no culo XVI, e diu cada


vez mais., envolvendo, no tempo, os outros ciclos econômico , conquistando
progres..~vamcn e, ao lo:'.1godas pastagens naturais, o sertão brasileiro, teve
importância verdade:irame:ite notável, do pon o de vista econômico.
Importância, sem dúvida, crescente, nunca dominante. ão é prõpriamente
e a rigor um ciclo: a curva ascendente não caiu nem mos ou, em qualquer
época, tend eia a fechar em círculo. Não teve apogeus, com predomínio
absoluto na economia nacional, como o açúcar, o ouro, e mais tarde o café,
mas não conheceu também flutuações violentas nem decUnio bruscos. Se, no
princípio do sêculo XVIU, em que se inaugurava o ciclo da mineracão, para
atingir logo o fastígio, o total dos rebanhos orçava por um milhão e meio de
cabeças, na êpoca da indepenàência, quando jâ era acentuado o declínio da
idade do ouro, deviam ultrapassar de 5 milhões os rebanhos brasileiros.
:!sse fenômeno econômico-social, - a atividade pastoril, chamada "ci-
vilizacão do couro", por ser o couro o único artigo de exportação da pecuãria,
extraiu, porém, a sua: importância na história colonial, menos do valor eco-
nômico de sua exportação (110 000 couros, anualmente, de todo o país, nos
princípios do século XVIII, para 400 000, s6 do Rio Grande do Sul em 1816}
do que do sua influência como fator da unidade nacional e elemento prepon-
derante em nossa formação. A necessidade de pastagens e de terras abun-
dantes para as fazendas ou estâncias de criação, e portanto, a sua localização
forçada no interior, a multiplicação dos rebanho e as enorm caminhadas
pelos ertões, para ó comércio interno de carnes, tro~ em conseqüência,
um desenvolvimento enorme nas migrações in ema e o desbravamento de
regiões imensas que, sem o gado se teriam mantido, por muíto tempo, êrmas
e desoladas. Ã margem dos caminhos das boiada p lmilbado pelos misslo-
nários, na catequese dos índios e pelos vaqueiros sertanejo , junto às inver-
nadas, estâncias e currais que se localizavam no interior do Piau{, do Ceará,
do Rio Grande do Norte e da Paraiôa, como na Bahia e, mais ao sul, em Goiás,
em Minas, em Mato Grosso e no Rio Grande do Sul, multiplicaram-se os pousos,
as vilas e povoações, algumas das quais, grandes cidades hoje, que guardam
no nomes (Campo Grande, Campinas, Curral dei-Rei, Campos, Vacaria,
etc.) as suas origens ligadas à expansão territorial do gado. Essa influência
decisiva do fator pastoril em nossa civilização não passou despercebida à ar-
gúcia de CA}'ISTRARO DE ABREU, EuGiNIO DE CASTRO e ROBERTO SIMONSEN,
e outros que realçaram a função histórica do gado na penetração do interior
e na fixação de suas populações, como na formaçao da unidade nacional pela
aproximação de brasileiros do norte e do sul, qual abriram oportunidade as
migrações internas impostas pela criação e pelo transporte e comércio do gado.
S, de fato, na vastidão interior que se formam, escreve MANuEL BoNFlM, "as
correntes vigorosas em que se faz essa circulação de gentes que por centenas
de lêguas, gaJgando serras e transpondo val , aproxima os campos de Gua-
rapuava do de Rio Branco... Ainda não estão completamente reveladas
a terras amazônicas, e as gentes da terra a se!ruir os rebanho de gado vacum
lo chapadões e caatingas, desenvolvem uma extensa circulação que, irra-
diando-se do São Francisco, faz comunicar costum , inter es e sentimentos,
do Rio das Velhas atê a1ém do Parnafba. Ao sul, participando o mesmo tempo
da circulação sertaneja (pois que havia mais de cem paulis s com fazendas
de gado no alto São Francisco) a atividade bandeirante lo Tietê e pelo
São Francisco, os dois grandes caminhos naturais de penetração, cria o for-
midável movimento que se derrama por todo os vales, ligando-os numa só
popul ção'.
O TRABALHO HUMANO 47

Quando se pensa no obstáculos de tôda ordem que tinham de vencer


os sertanejos, à frente de suas tropas e boiadas e os bandeirantes nas suas
entradas pelo s rtão, à caça do índio oa à procura dos terreno auríferos, n-o
te pode deixar de reconhecer, neste movimento estupendo de expansão cr-
ritorial, as fundações robustas em que, no interior começou a erguer-se estru-
tura da nação. A tomada de posse. pelo homem, do meio geográfico, riçado
de florestas virgens, amuralhado de montanhas, embolado nos espigões, apau-
lado nos pantanai e recortado de rios imensos que se irradiam e se cruzam em
quase todos os sentido , para o mar e terra a dentro, é uma epopéia !vagem
em que irrompeu, com tôda grandeza do esfôrço húmano e no quadro imen o
dos labõres, das penas e dos sacrifícios, "uma das afirmações vivas e autênticas
do sangue brasileiro nas ásperas terras" que conduziam às pastagen • e às ci-
dades, ao litoral e à mineração, nos fluxos e refluxos das vagas sertanejas. Cer-
tamente, no fundo do quadro, formigava a escravaria negra, nae terras da
mineração, aõbre o leito dos rios ou ao pé das montanhas, ou se agitava a massa
dos selvkolas que, escravizados cm cada uma das expedições, desciam aos
milhares de cada vez, para serem distribuídos ou vendidos a bwo preço nas
cidades e vilas do litoral. Mas as origens de todos os povos são dolorosa e
sangrentas Uá AUGUSTO CoMTE falava ''na ferocidade das pãtrias primitivas ');
e as provações e os sofri.menos das raças que o conquistador branco e os des-
bravadores dos sertões se viram na necessidade de escravizar e que ora opunham
bravia rcsist!ncia ora cediam à dura imposição, não devem fazer-nos esquecer
as angústias e os reveses dos crtanejos e bandeirantes que traziam o sangu.e
autóctone na veias e que, conduzindo o gado ou marchando em expedições,
vadeando rios, escalando serranias e embrenhando-se pelas florestas, dilatavam
as fronteiras do país e conquistavam o interior à civilização. ~te fenômeno
a que Tu'RNER chamou "deslocação de fronteiras ', para significar a expansão
econômica territorial de um pais, dentro de seus limites poUtico , e que ainda
ac está processando no Brasil, foi, como observa J. F. NoRMANO, o movimento
vcrdad.eiramcn e formador da nação. Nem a metade do território existente
se incorporou ainda à vida econômiça do pais, mantendo-se muito distantes
das fronteiras políticas as fronteiras econômicas 9 qu,e ora avançam cm direções
diferentes ora r~ do limites geográficos; mas foi incontcstàvelmen e de-
vido às jornadas sertanejas e à formidável expansão bandeirante que o Brasil,
"desde meados do século XVIII, já abrangia, lembra R. SIMONSEN, uma área
pràticamente igual à gue hoje ocupa, quando os Estados Unidos nilo ocupavam,
nessa época, nem a sexta parte do seu atual território".
Esta é precisamente a diferença fundamental, já apontada por Rov NASH,
entre a expansão territorial. na América do Norte, regular, ordenada e contínua,

8 P. J. Tu,o,s~. Th• r~ontl r ln Aoierleen Bi•tory. P61. ll, J\fe• Yorlr, 1916.
9 Aa fr011t ru polJ da Am&ic:11 portucutsa rcduzúun-11c. no dilCC\llo do e&ulo XVI, qu- l
ra;. do Utonl, em q11 OI p.-toa e • primc:inu c:i,d&cle9auinalavam, com OI ...... ..i.i. e OI ,t~ d • car,
a p,-c
com •
=-
q
pdo colonl.udor hmtaJ>o. A coloomçào iatcrna do pah começou ~maite
poac:o al&n do debnlm litar&oeo, OI Um.itw ck upaodo ff006m"
turit q oaado de tapuia - ribciru QIK OI pd ID,rlldi.m", e. •nnc,ando
pdoa ~tributam drtivame<rk para lllarg.l-1 O &ado en uma lnvulo.
O rc •• cuninbando". N apcdi pelo .«tio. • Dilo annu
a a, od • o cado e: .. ttopm. continuavam• ■v~. d bl'av■ndo o Interior,
dli. ~ dBes o dcscnvolvimc:nto • M .. , r •
tdnu ·--ani-. na do aklllo XVW, haviam .ido dmiaraOU pelo ~o lt'&tlld
eit - ltn du colõnia, esp,l:DbolAso mri
lOII Acre, Íl'Otltciru ~ mal a
Par , ~ •• GQjh e Mato G
o que: de valoriu.eto do territõrio pOlf • ou de loc:crporaç1:, à vida
ui1tadaa. Aa de«10bcrus e• ploreçio d. mlriaa e• tant ol)an
, o ch....,,.m • maoter, ati onde. foram impelidu, •• frooleinu tton6micu
que, DOIKU mo llDI mudança• dc: direção, dc:nuncl■YUD .. nu,:uaç& dctcn:c nada■ pela
dcoc,obcrt,a de e no..,.. mina• e pdo cqota.mcoto p-adual d.- an cu pa1t& Vll e nu de
mhu:raçio.
A CULTURA :BRASILEIRA
------------
nmna 96 direção e acompanhada quase sempre de progressiva oolonização in-
tCJ;Ua e a expansão geográfica, no Brasil irregular, desordena.da, realiza.da em
quase tõdas as direções, sem um desenvolvimento econõmico paralelo ou si-
mult eo. Sem dúvida, o sertão (palavra cuja morfologia usual proveio, como
mostra ALBERTO RANGEL, de de.sertão, amputada a primeira sílaba), foi,
tanto na América como no Brasil, "a isca e a miragem dos povoadores iniciais
e o grande excitador da energia nacional": os missionários do evangelho, com
seu catecismo, o vaqueiro com seus rebanhos, o bandeirante com seu arcabuz
e 01 mineradores com suas bateias, sucederam-se oo Brasil, sem se sub tituirem.,
no e:afôr~ civilizador, abrindo caminhos por onde continuavam a avançar as
migrações internas, impelidas em direções diversas, na obra notável de cate-
quese dos fndios, na procura inc~te de pastagens naturais, como para cap-
tura do aborígine e a descoberta e exploração das minas. Nos Estados Unidos,
"a zona do sertão era principalmente constituída, escreve Rov NASH, por uma
linha onde se dava o embate da onda hwnana que, das regiões colonizadas,
avança'V'a rumo ao Oeste, num período de tempo que se prolongou por 300
anos. Essa linha (acrescenta) acusou um avanço regular ordenado, sem ne-
nhuma solução de continuidade, através do tempo até 1849, quando a corrida
do ouro, na Calif6rnia, transportou de chõfre, num {mico e formidável salto,
o limite da vaga humana às praias do Pacífico, muito tempo antes de ter paa-
aado a fase inicial de colonização das Grandes Planfcies e das Montanhas Ro-
chosas. Maa. no Brasil, já em 1700, o descobrimento do ouro (e anterionncnte,
poderia.moa acrescentar, a descoberta de novos campos de pastagcn.a) partia.
em rnilh.arel de fragmentos essa zona fronteiriça, - entre a parte colonizada
e o sertão dcacoobecido -, projetando a população sõbre um território ilnen$o,
como pelo efeito de formidável bombardeio aéreo". ~ fcnõmeno d dis-
persão que resultou do fato de se estender o sertão no Brasil "em fundos pro-
porcionais à d~edida linha de face ao oceano", abrindo às entradas e ban-
deiras tres direções, ao norte, ao sul e ao oeste, enquanto, nos Estados Unidoa,
a vaga humana se desenrolava sobretudo na direção do oeste, trouxe, com
efeito, a maior expansão geográfica de que tem conhecimento a hiat6ria, rca•
lizada por um pequeno agrupamento humano, mas não permitiu que ae colo-
nizasse , ou se valorizasse econômicamcnte a zona ertaneja, mantendo, até
oa ai.bares do século XX, ao lado de .uma estreita franja de civilização, debru-
ando a costa e cobrindo o planalto nas regiões mais próximas do litoral, a imen-
sidade do mato-grosso, das florestas e do sertão, com seus terrlveis problemas
econômicos e sociais.
Mas, se de tôdas as terras desbravadas pelo homem, nenhuma delas, a
não ser a região das "minas gerais". atingiu uma den idade de exploração e
valorização econômica, equivalente às conseqüências politicas da expansão
territorial, as catas e as galerias da mineração, sobretudo em Minas, e as trans-
formações da paisagem, pela derrubada e queimada das matas, acusam forte-
mente o esfõrs;o humano, na conquista e na utiliz.ação das riquezas naturais.
Não que a exploração do pau-brasil e a colonização interna, imciada com as
plantações de cana, tenham feito recuar o manto floréStal de grande parte de
sua primitiva extensão, avaliada em cêrca de 4 milhões de quilômetros qua-
drados: a montanha continuou a servir, como ainda serve, de lugar de atração,
no planalto ao lado de planícies insalubres e invadidas pelo pântano ou pela
floresta bostil, na Tegião setentrional de Mato-GTosso, cm Goiás e no Ama-
zonas. Mas, como a floresta, sem a qual a terra seria quase inabitável para
o homem, foi sempre, no principio, a grande inimiga da colonização, a luta
contra a floresta, sustentada pelas derrubadas e pelo fogo. foi um elemento
modificador da paisagem florestal, substituída pela cultura, estendendo-se nas
27 .-
---c-~---
~
-
. Casa Grande cio Entenho d ,--
----...
Desenho de eMMe;aipe, constr
anuel Band eira.
• uçao - do !Sééu I o XVll.
29. Antiga Fazenda. Ttnbor:,í. Eslndo cio Rio.
Foto ST!LLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Poulo.

30. antiins.
Méquinas B4r1co111s
Pavilhão do Musou Pauliota. Foto do Mu,cu Pauliatn,
31. Pouso de uma tropa (princípio:; do séçulo XIX).
RUGE.l';DAS, J. M, Voyage Pittoresque .au Brésil. 1835. Pr.oncha 3/ 19.
32. C.ítefra par., viagens. -
DEBRf:1', J. .B. - Voyage
Pittoresque et H.istorique 2u
Brésil. 1834 . n volume.
Prancha 16.

33. Lava1.em de
ouro, perto de
Jtscolomi (prin•
dpios do sé-cu/o
.XTX). - Ru-
CENDAS, J. M.
- Vova,ge Pi.t•
toresqué ao Bré•
sil. 1835.
Prancha 3/22.
34. Garimpeiroa. Mato Grosso.
Foto REMBRANDT .
35. Gari1npciro."1. M::lfo Oross<>.
Foto RBMORANOT.
36. Toccl~ir11 - Fo10 da Cadt-lr• de Coo-
an,íla d<>Branl da Faroldad~ de Ftlosofi.i
d@ S Paulo.

37. Urr1<1ttrrn,w,/:, no 1ra""1ho junto no Io,no.


- Foto dn C.delra dt' 0001n>fía do '8rosll
da FAcllldade de FilOJOha de S. rnulo.
38. C.,.,1eiro
f'ato da C.dem, ~ ~fia do Brasil d,i Faculdade de FilaoofiA d~ S. P•ulo.

30. ]DntAdos e jantadeiros n• prnia <lc C11bodoln. P11r11fb11.


Folo Colcçilo P"oair. Fototeca Central do Conselho Nociom,I do OcoarMls,
•o. Emb.trc~ " ••ela. em
S Lv•~ MM~. - Foto
C..ledo Panalr. F-,1oteca Cen-
tnl do Co~i, Nacional d"
Ceo,:raf"""'.

41. Mualldo "° or liv,,,. no


pórto de ~Álflo do Menino,,".
BaJ,;,.. - Falo KAHM<. Travei
io Brazil, vai- 2, n.• 2, 1)111. J.

42. Me,c,,do em Salvador.


Bahia - Foto VOLTAJl!E FRA-
GA. Urbo Salvador. Instituto
8ra,ill>lro de Gcoarafia e
E:1tat1$tica.
43. VlSCONDE OE MAüÃ, /jAura sj11gular {!uc. de J 850 a 1870, pl"Ocurou por tõdas as formas incutir
no maio brasileiro um espírito industria}. promóvendo a construção de estradas de ferro,
de porcos, de fábricas e estaleiros.
Foto da Coleção Companhia Melhoramentos de S. Paulo.
•N. V, du10 dn hl.td1, de
lrrro ,.,,,~ P ulo Sarrta5".
- Trnvt-1 n Br ,il, vol. J,
n." J, pii . lO,

4-. Alto d ,,..,, S1m10


And, •. E 1,ldn d,• S P. ulo.
- Polo ti E_, 1 A

~6. R<'pr·.., nová d;, Ligh1,


t:.1 do d S. P u/o - Po.lo
da A.
47. Vista de um ter'feiro de seca4em de café. Estndo de S. Paulo.
Travei in Brazil, vol. 1, n, 0 3, pág. 7.

48. Fa~endll Santa Clara, em Dourados. Estado de S. Paulo.


Foto da ENFA. Fototeca Central do Conselho Nacional de Geografia.
49. UsiM Monto Alc,,e. Pi-
roduba. E•tl><lo d• S. Pau.lo.
- Foto da ENFA.

50. Usintt T .m,oio. A,ar-a-


quor•. Estado de S. Pau.lo.
- Foto da ENFA.

51. F•brica Goodye,u. S.io


Paulo. - Foto da ENF A.
52. Fábrica de juta. Taubaté.
Estado de S. Paulo. - Foto
da ENFA.

53. Belo pnnora.mo da pfin.


cipal via de comunicação entre
Rio e Petrópolis. Foto
PRETSlNG. Tra.vel in Brazil,
vol. 1 1 n. 0 31 pág. 16.
O TRABALHO HUMANO 49

planícies ou trepando nas vertentes das colinas. e pelo sapê indígena no Brasil
ou pelo capim gordura, de origem africana. cobrindo os campos, entre velhos
e grandes troncos abandonados no chão. A difusão do capim &ordnra, observa
PIERRE M0NBEIG, "acompanhou a destruição da floresta pelo fogo, a grande
técnica agrícola primitiva (a coivara, como lhe chamavam os lndios), fcrra-
ltlenta essencial do caboclo, tai como o notou A. de SAINT-lin.AIR:E, mostrando
a evolução da vcge ção após a derrubada e a queimada da floresta. A pai-
sagem vegetal mais freqüente, no interior do Brasil, é o cerrado que parece
natural, mas não o é; não é difícil pensar que no Brasil, como no Sudão ou em
Madagascar, tais paisagens são produtos do fogo". A ubstituição integral
da paisagem florestal por uma paisagem humanizada, devia começar com o
novo ciclo, econômico, o da lavoura cafeeira, 10 sôbre que assentou tôda a
trutura econômica do Império e, em grande parte, a da República, e graça!i
à qual a cidade de São Paulo, "de pequeno burgo que era no fim do Império;
passou a ser um dos mais importantes centros urbanos do mundoº. A tropa
e a escravaria, e, mais tarde, o trilho, o canúnhão e ~ machado do derrubador
de matas, abrem o caminho para a nova cultura; e, em lugar de florestas se-
culares, desaparecidas diante da investida devast~dora do machado e do fogo,
lastra-se a ..onda verde do café", galgando as serras dp litoral e estendendo-se
ràpidamente pelo vale do Paraiõa do Sul, entre o Rio de Janeiro e a cidade
de São Paulo.
A lavoura do café cujo alvorecer, em princípios do 'culo XVllI, coin-
cidiu com o crepúsculo da mineração, adquiriu, de fato, tamanha in ensidade
que, já em 1820, subia a 100 000 e em 1830 a 400 000 sacas a exportação, pelo
pôrto do Rio de Janeiro, do produto colhido nas plantações próximas a
cidade, - ponto de partida do novo ciclo econômico,, que devia er em São
Paulo o u principal centro de produção. Era com ramos de cafeeiro que
D. PEDROI fazia enfeitar o chapéus de seus oficiais e as espi arda de eus
soldados; e o Império que fundou, tão ligado se sentiria ao café que, conforme
nos lembre AEo so AIUNOS SOBlUNHO, "colocaria, também, mai tarde. um
ramo da planta como stmbolo da economia nacional, no seu escudo de armas".
Do Rio de Janeiro a cultura, desenvolvida, como a do açúcar, "s bre os
escombros incendiados das grandes matas tropicais", espalhou,se pelo interior
de São Paulo e Minas, sobretudo às margens do Paratba do Sul, em cujo vale
,predomin~u até a década 1880-1890, mantendo a p~a do põrto do Rio
de Janeiro, no comçrcio brasileiro. Entre nós, esq-eve ALBERTO RANGEL,
""' âgua não só dessedentava, mas conduzia e enrí9ava; nas areias fluviais,
entre os acixos rolados, retinha-se a palheta do ouro e a pedra do diamante.
Três proveitos e pantosos para o estabelecimento e o movimento dos aven-
tureiros". O rio Paraíba do Sul que banha, numa larga região, a antiga pro-
vmcia, hoje Estado de São Paulo, e atravessa o Estado do Rio de Janeiro,
oa sua maior extensão, teve assim, relativamente à lavoura do café, a função
que exerceram os rios Bcberibe, Una, Serinhaém e outros. no ciclo do açúcar;

10 O cale ' , - plan us:ll ena d.a Abwíaia, tomou o .eu nome atwil (cafí ) d Karl'a, WNI du
pco-.iada, que c.m twam, a.a & 6pla, o ecu habitar origjnâôo. Tqi pxt:ada pcloa ..,.be,t para o ICU JM{t,
roí larKalD u dlru.nd o, d • o -'cw Vl, o.a Ar.tbi:l, q..., mankve por muito tempo• ezd vld6dc da prod.u~o
como b blda ojlC{ ai, C■ pcl .. re,triç,õc,a maometaruu, imp"" ao u,o de beblclu alco6Uc•■• e dond
1e íuia por oka (dai o n de um do■ tipoa do produto) .a apxtr,çã:, para o oddeo. D■ Suropa aadc JA
niatl.a uo X VJ I desdna o do cale, fai tnu,,spiaDtado para • Am&ica em 1710, por um ofldal
da muinb■ íraDCQII0.urasu. MATBJlt'U Dit, CLm1I que. em ~ pua a Martimc■, 11&1 Ancilhu, plantou a
ilha o■ primdto■ ucmplata de calcdro. Bmb:ic-a poD'!<J depo,u. jl em 17i7, d.,,,_ o car, trado no Bruíl,
truido de C■l aa por FtA1'C11CO Da uo P.U.H'ff.A, o'1d.i brasileiro c1- trop coloaJ.al portuauha, o a!t, 1)1'1•
Dlitfvamono culti1111dono P..-l, 116um .«Ulo d~~ a..,.. explorado micamaite, e olo foi eni o
,.. eecunda.metade do lo XVtll que, tran,plantado para o Rio de Janeiro, .S "o IIOCltode partida do
""" o d avol,rimcnm", (Cfr, AForno . TAtlNAY, Hi.stl>ria.do caf6; BAth.to D& oA.Llll.af, O o."
rui hht6d■ , 110 /olo/or• • nu ba.l■ •.artu, 2.• ed., aumentada e melhorada. s&ie Bratlllana, vol. 17~,
Comp. Edltcn NadoA&l. Slo Palllo, 1939; W~ Utt&U, A11 a.boul coffH)
50 A CULTURA BRASILEIRA

o São Francisco e o Parnafüa no centro e ao norte o Paraná e o Paraguai, ao


oeste, o Uruguai, ao sul, na criação pastoril, e o Rio•das-Velhas e o Ribeirão
do Carmo, em Minas, e o das Garças, em Mato Grosso, na f. se mais intensa
da mineração. O café seguiu os rumos das águas fluviais, como a cana-de•açúcar,
o rebanho, e o metal e a pedra que se extraiam ou do lei o dos rios ou com o
awdlio das águas desviadas de seus cursos. A lavoura cafeeira que se desenvolveu,
por essa ~. nas províncias de São Paulo, Minas e Rio de Janeiro, ' a mais
considerável na produção total dos cafés do Império", compreendia por essa
fonna, na justa observação de AFoNso ARlNos, "uma grande unidade geográ-
fica, conclicionada por wn sistema fluvial e diviclida politicamente pelos ter-
ritórios de três províncias''. Mas, se a base da estrutura econômica se deslocou
do nordeste açucareiro para a região das "minas gerais" e, depois, para São
Paulo e Rio de Janeiro, da cana-de-açúcar para o ouro e mai tarde para o café,
mantev -se ainda nesta última fase a unidade de produção (monocultura) e
o instrumento de exploração: o braço escravo.
Foi com a cultura do café, de base latifundiária e escravocrata que rompeu,
na bacia do Paraíba, uma nova aristocracia rur 1 stl:lio político do Império,
e se inaugurou, no sul do Brasil, ainda nas imediações do litoral um período
fecundo de prosperidade e de civilização. As riquezas concentraram-se em
mãos de grandes proprietários, cuja fortuna, apoiada nas s nzalas, plantada
nos caf~ais e batida nos terreiros e nas edificações destinadas ao beneficia-
mento do café. se ostentava na sua vida de fausto e de prazeres, no luxo de suas
residências senhoriais no campo, e na grandeza de seus solar s na cidade, como
os palãcio do Catete e do Itamarati, hoje suntuosos cclifícios públicos. Sob
o inílu.xo da cultura cafeeira, que se tornou u d maior explorações agrí•
colas do mundo, u constrói-se para servir à zona do café, por iniciativa do
BARAO DE MAUÁ, a estrada de ferro D. PEDRO II, cujo rimeiros
48 quilômetros são inaugurados em 1858 e que 1871 atinge a capi-
tal de São Paulo; desenvolve~se o sia ema ferroviário que em 1885 já se
compunha de 57 estradas de ferro, entre grandes e pequenas com cêrca
d 7 mil quilômetros de extensão; rasgam-se as primeiras estradas de ro-
dagem, como a União e Indústria, do Rio a Minas: apar cem, depois de
1860, os primeiros saldos ponderáveis na balança do co ·reio; transforma- e
e se enriquece de novos aspectos a paisagem urbana do Ri de Janeiro, que
se manteve o grande pôrto -até 1894; cresce a população; aperfeiçoam-se os
transportes; e, no prazer dos gastos, na emulação do luxo e no desprêzo da
economia, desenvolve-se wna vida social intensa e, com o fenômeno de con-
centração coletiva, inaugura-se um dos períodos de maior efervescência inte-
lectual e de mais brilhante cultura, em nossa civitiz9&ão. Mas o declínio da
produção das terras banhadas pelo Paraíba e seu aflu t s; a crise política
e soci l de que resultou a abolição da escravatura, em 1888 e o impulso que
tomou, em conseqüência, a imigração· de elementos europeus, acabaram por
deslocar para o planalto paulista, que se tornou o maior produtor do café, o
• o central dessa atividade econômica. À organização latifundiári e escra!
vocrala, alicerçada sôbre o instituto social da escravidão e praticada segundo

JI A mrporta do caf~ que, em 18:W. aw • ·n • 100 Ulil J).)r an , em 12 0jiul~ l


m atie, para elevar= • mm de 2 mil il,•1. em li 3 • 11;0, •
• • ri
mi e "'"'º em 1880,
lll:lit de mdo
&, de Outruobara, qw, c:on.etVou •
va-u: 4S vbcs nn.iw do qw: • pro .i • eh o se
, a partir de 1890, com a fue r»v 1
IJl<liftm uai dCICOvolvim aro incomparà,,cl!llc:it.e auior d S •
:n pelo p6rtD de S.1>tm, em 1900, mhio • erpartaç:J e
-• pelo m o parto, al&n doe 3 milhões q e#~ ptb Ri, dt J o
mhlma ■ d:11lu oo 13,.._.1_1,• 9 milhões de s-..,..,._ para uma pr<>dução a111Ddl ,
o pnllomfnlo quue ab,oluto do produto hr.asilcin> no, m:rca,1:>1 lntcrn e, e
17 milh o nllmcro de c:aíedr<>Sque co~ ôo Bnwl, um 6r de e ca d: de c.lltura,
• d qu lt qua,e meu.de ou c&ca d.e um bilhão e SOOmllhl>a de p& de no Eatado d~
Slo P•u.lo.
O TRABALHO HUMANO 51

métodos emptricos, uc eu um sistema capitalista de exploração agrícola,


fundada sôbre o trabalho livre e duplamente desenvolvida pela aplicação à
cultura do café, de processos técnicos e pelo enriquecimento do sis ema de
viação e de transportes. A descoberta, em São Paulo e no Parané, da erra
roxa. - terra farta resultante dos lençóis, decompostos, de rocha ígnea (dia-
base e porfirito), e o propícia ao café, com.o foi, no norte, o massa.pê, para
o açúcar; o d volvimento de nossas maiores linhas férreas de penetração,
a Mogiana, a Sorocabana e a Paulista, e enfim o impulso vigoroso que tomaram
as correntes imigratórias, atraídas pelo clima temperado do planalto e pelo
a1to rendimento da lavoura, multiplicando e derramando as culturas, impeliram
para o interior e sobretudo para o oeste de São Paulo o oceano verde dos ca-
l fe.zaís. A expansão cafeeira, escreve R. SmoN&EN, verificada no vale do Pa-
raíba e, em maior escala, no planalto de São Paulo (o que fez de Santos o maior
pôrto mundial de exportação), "constitui um dos maiores cometimentos agrí-
~ colas de todos os tempos, honrando um povo e uma nação".

"Nesse 1argo período que se estende por tr~ séculos ~ meio, da Colónia aos
fins do Império, tOda a atividade econômica, com exceção da criação pastoril
se desenvolveu segundo um regime essencialmente patriarca] de exploração
da terra, nas duas grandes culturas (açúcar e café), entre as quais se situam
s indústrias extrativas do ouro e do diamante, apoiadas, como aquelas, no
braço escravo. A classes que essa sociedade sobrepõe, no seu processo de es-
tratificaçao, tendem a diferenciar-se nitidamente pelas suas ocupações e pelo
e estilo de vida, que variam da aristocracia rural das casas grand e da
fazendas, para a burguesia das cidades, constituídas de comerciantes, b -
queiras e exportadores, como dessas duas sociedades, rurais e urbanas, para
a massa complexa e tumultuária dos trabalhadores livres, vaqueiro e cam-
peadores do ertão faiscadores e garimpeiros de Minas e Mato-Grosso, pes-
cadores e seringu •ros do Amazonas, peões e carreteiros dos pampas. A ex-
ploração agrícola da cana, que jâ nos meados do século XVII, deixava perceber,
no norte, o e b6ço de uma primeira aristocracia, - a dos senhores de engenho,
e as plantações do cafeeiro, a cuja sombra irrompeu, no sul, no século XIX,
uma nova aristocracia cravocrata, alimentaram no litoral uma civilização,
de que participaram s cidades tributárias da lavoura, enquanto se dissemi-
navam, nas suas aldeias longínquas, nas suas fazendas e propriedades solitá-
rias, as populações dos sertões, cujos trabalhadores lhires, mestiços, cabras,
caboclos e matutos, não tinham sôbre a massa dos escravos senão a vantagem
da natureza bruta e d atmosfera de liberdade. O homem branco do litoral,
encerrando o ciclo das bandeiras e das minas, isolava-se cada vez mais do sertão.
As atividades agrkolas, como as da mineração e as da criação pastoril, absor-
viam, por&n, todos os capitais e mãos de obra disponíveis não permitindo,
no período colonial, senão a indústria doméstica, resultante da falta de relações
p:>r ·solamento fisico, a indústria complementar da agricultura, como a dos
~enhos de açúcar, pequenas indústrias, autônomas e dispersas, em cid d
do litoral, além dos estaleir navai em que se construíram numerosos barcos
de madeira e que vieram a adquirir grandes progressos, no Império. A popu-
lação extremamente rareíeita, na Colônia, ainda mesmo na orla maritima;
falta de núcleos cond dos de população; as dificuldades de transporte que
ae reduziam às trop s e aos carros de boi; as distâncias imensas; o regime de
escravidão e de la •fúndio na exploração da terra, e a pr6pria política
treita da Metr6pole que proibia, em 1766, o ofício de ourives e, por carta
régia de 1785, tadas as manufaturas de rios, panos e bordados no B il, con -
titulam, como observa R. SIMONSEN, outros tantos obstâculo a qua1quer surto
de manufaturas de valor, no período calo.nial.
52 A CULTURA BRASILEIRA

Essa situação prolongou-se, sem alteração ponderável, pelo primeiro e


segundo lmpfaio, cm que faltaram todos os e1 entos para indústria autô-
noma concentrada e mecanizada, que procura a proximidade das fontes de
energia, das matêrias-primas, da clientela, dos traosport e, sobretudo, da
mão-de-obra, - fator principal, segundo BLANCHARD, 12 - e ainda por tôda
essa ca absorvida na cultura do café. nos tado do Rio, de Minas e de
São Paulo. A própria cultura cafeeira a que e destinavam as correntes de
imigrantes europeus, no último quartel do ~culo XIX, não facilitava, por ~ua
natureza especial, o trabalho mecânico: "a vida produtiva do cafeeiro, planta
de caráter perene, estende-se, lembra R. Smo SRN, roes.mo na regiões médias,
a mai de 40 anos e o seu plantio é feito, de prefer ncia, nas vertentes das co-
linas '. A cultura do café, como a do ai;úcar, com seus engenhos, não produziu,
por isto, em São Paulo senão wna indústria de recurso complem ntar, a de
máquinas para o seu benefício e tratamento, em cuja compo ição, mais de
madeira do que de ferro, "o consumo de me al não era de molde a justificar
o fomento de nossa siderurgia". Ainda que incipiente e rudimentar, a indústria,
na Colônia e no Império, pode-se, porém, indagar e o escravo absorvia todo o
mister industrial, ou se deixava wn lugar, e que lugar, ao trabalhador livre
na cidade e no campo. Certamente, como se deu em outros países e em outras
civilizações, 13 a mão de obra servil, empregada em rabalhos das mais diversas
formas, prodigalizada e desperdiçada, dominava no trabalho doméstico, nas
laVTas de mineração, como na indústria primitiva de transport . Todo o
trabalho doméstico era feito por escravos, e, den ro das grandes propriedades
agrícola , fabricava-se, com a mão de obra servil, "a ·orla dos artig de
consumo, por processos manuais ou com instrumento rudimentares". Mas ao
trabalho servil que tinha a mais larga aplicação na economia domés ica fechada,
se op sempre o trabalho livre que teve grande lugar na indústria, não sõmente
na direção mas ainda na execuç.ão dli.Starefa , e n~o cessou de se desenvolver,
de tomar e ensão e de melhorar lentamente as suas condições, mui iplicando-se,
recrutados sobretudo entre os libertos os operários rurais, os artcsões comer-
ciantes das cidades, os pequenos artífices, trabalhadores independen cs e es-
táveis, ou dependentes e assalariados, de pequena oficinas e atividades in-
du triai . 14 Embora, para a mão de obra servil, as despesas de compra ou de
locação, como as de conservação, correspondessem aos salários da mão de obra
livre, e a escravidão contribuísse ao menos nos centros escravocratas, para
influir ôbre a taxa de salários, havia, no entanto, prefer nci para a mão de
obra servil que, por essa razão, fazia à mão de obra livre uma concorrência
terr(vet, tornando ineficaz e extremamente rara a grev causada por uma rei-
vindicação de aumento de salários.
Mas a atividade agrícola, preponderante da Colônia ao Império, em cujo
crepúsculo, em 1880, se registrava o primeiro surto industrial, não só se ex-
pandiu, no regime republicano, alcançando com a cultura c.afeeira proporções
nunca atingidas, como se vem modificando, com a substituição gradual da

1 RAC>Ol.Bi.Mrciu.ltD, La flioJraphie do l'ú,d~trie. ootr&.I, Beaucbcmln, 1934, fo a.•,


si'I- 174,
li PAUi. 0111lUU'D, La moin d'oeune indu.tri• C,b antiqua 900,
U Na lOni no Império tiveram D1'l e s,apd.. • e domhtka e
plcmentar, ritm.ada pet.. sgril:'D!tuta, qw, 11ha11~0-lhn a imp,,r-
lle tanta naqu:h. iAdústria como oa de rei"', p,x-
o o trab-.lho RJ<vi,, e que tnln1b, p.-riodo,
oma.,. o em que ~çãea !riu, es-
cra arn •-hlriuos; qu.l a =turrn da, pr da,
de prd bra Ih.,-~ 11 ~ de s,,lliri:, 6b1'c cu•
1-.a er ~ rclsçõca C!ltfe empreaad nconfcteia c,bnn -~
tJÚl:II • do, e:te:revOI e • dos bom.,.. liffC:I, ,u condi • v, qu !Ilente düercntes,
do cKrallO e do u-abaJhdor I vtt; OI oflc:b, eu pr..ri qw, e •bri•m tot, do outras
l:lllllU qu dlncd de dcrerminar. parte por eaca11ee de dxwucnto, e ,,.,,. íalta de u-
tud monOlrlfic .. cm qw, b:llh.u:o sido tratad.u a fwl.llo e com prechlo.
O TRABALHO HUMANO 53

monocultura pela policultura, cm Pernambuco, Minas, Rio Grande do Sul e


sobretudo em São Paulo em que se misturam, cm proporções aliãs veriãveis
as divcraas formas do trabalho humano. A princípio, tão uniformemente mar-
- cada, em Pernambuco e no Estado do Rio, pelos canaviais, com a casa grande,
a senzala e os engenhos, e ao sul, nos Estados do Rio e de Minas e especial-
mente cm São Paulo pelos milhões de cafeeiros, que se estendem a perder
de vista às vêzes em tínico bloco maciço, em fiteiras cerrada , a paisagem cul-
túral já apresenta, com o parcelamento das terras cultivâveis e a multiplicar;ão
de culturas, uma grande diversjdade de aspectos em correspondência com os
múltiplo aspectos das atividades agrícolas. As crises sucessivas do café, cuja
produç.ão ameaçava superar, para ultrapaSSJll' mais tarde as necessidades do
consumo mundial; as limitações impostas à plantação de cafeeiros e a frag-
mentação da grande propriedade contribuíram para disseminar as pequenas
culturas, quebrando a uniformidade maciça das ve}has paisagens rurais. 11Quat
era, de fato, no seu conjunto, pergunta P. MoNBEIG, a paisagem paulísta do
começo do século? O oceano de cafezais plantados uniformemente, as casas
de colonos em fila, - t6da uma paisagem que refletia a estrutura econômica
e social a monocultura e o sis ema de plantação. E que nos mostra uma foto-
grafia tirada de avião, ao longo da estrada de ferro en ando pela mata, nas
proximidades de Presidente Venc lau? Pequenas propriedades e culturas varia-
das. Por detrás da zona pioneira, em que se estendem imensas plantaç.ões de al-
godão, multiplicam-se laranjais de Sorocaba, vergéis de Siio Roque, inver-
nadas e ribas do Paraíba. A propriedade tende a dividir-se e nova forma de
habitat se organiza com o meeiros de algodão. Nessas paisagens que se es-
boçam aos nossos olhos, reflete-se, com a policu.ltura, a estru ura social e eco-
nômica, mais complexa do São Paulo de 19-39". No entanto, nas duas fases
da civ:itizaçiio agrãria, à base de cuja organização residiam a monocultura,
o escravo e o latifúndio, como no regime capitalista de exploração cafeeira,
apoiado no trabalho liVTe,ou na policultura nascente e já em franco desenvol-
vimento, o que impr siona são menos os esforços feitos pelo homem para do-
minar a natureza do que as suas lutas incessantes para manter as conquistas
que realizou: num pa·s de chuvas torrenciais e de sóis ardentes, de vegetação
parasitária e de fauna pulutante, o solo que se deixa inculto. se degrada, e bas-
taria, para que os terreno de cultura perdessem o seu valor e a civilização
recuasse. que se descuidas em por um instante os múltiplos trabalhos de apro-
priação.
Mas tõda essa produção agrícola, do açúcar e do cacau ao norte, do café
e outros produtos ao sul como a enorme produção das indústrias extrativas,
de ouro e diamente, na Col6nia, e da borracha, já na República, tinha de, for-
çosamente, detenninar um sistema de comunicações e de transportes, em busca
do litoml, e de acôrdo com as possibilidades técnicas da época e as condições
especlficas do meio. ~ um estudo ainda por fazer entre n6s, e dos mais inte-
ressantes da história econõmica, política e social, esse das relações entre as
grandes culturas e o desenvolvimento dos portos e entre a r de de viação do
paf.s e a evolução nacional. ts A formação da unidade brasileira, fundada na
comunidade de origens, de língua, de costume~ e de religião, não está sômente
ligada à afirmação de uma ari tocracia rural, apoiada no latifúndio e no mesmo

16 Cír. Boll1..Uf1:>t (]l'ram:o), 11probl11ma deli com.municaaior>I nel ..colo XVflf" I ,mi rapportl
col Riaor~lm•nto 1(11/lano. (~tau dt "'ic-, e p<>!ltiehe diritt,, d•1 Prol. Prsno v..,c:CAIU, S&ie B. vol. lfll
Peri1, Torino, 1\-«earoi, Tw,,l,.e.111. 1!132;a ao Y IJ. W.l, Srorr of th rOt1d feootudo■brc,n do e aamt■ nci
o ~ml!tho ■ lravn dcrt ttmo,nl, L'2tulo~, AI ~. M,cl_ & Co., 1931: LII fioc Ulllt (Yvnl, Le• rout••
ar l•ur ,.., niqu "· P ril, Al~•11, 19 : Vu.n (Pi:n-c,l, l.,e rail eTl• to.ui•.,,..,, rOI, d•n• 111probll>m• fllnllra I
do, tren•p::,t<t • •nE,o.,111n . ln " ~ d'l:llltoito ko=miq\le •ot a'>Clale", 11.• 30, 6c. 1111D!e.11ovcmbro
de 193'1. Llbr. Armaod Colllo, Parb.
54 A CULTURA BRASILEIRA

instrumento de trabalho, - o escravo, na Colônia e no lmpêrio: tôda essa


sociedade cconõmicamente produtiva tinha necessidade para o desenvolvi-
mento m o da produção que ela dirigiu de uma rêde de vi ç-ão importante
e de todo um sistema de portos bem aparelhados. lt assim que a organização
d equipamento econômico, embora primitivo oa Colónia e ão limitado
ainda no Império, constitui um dos mais curiosos aspectos técnicos da formação
nacional. pela sua dupla origem ligada, na direção do litoral, à exploração da
colônia pela Metrópole e, no sentido do sertão, pelo nomadismo pastoril e pela
expansão da bandeiras. Sem dúvida, num pa{s que dispõe de 7 mil quilô-
metros de co ta e de cêrca de 44 mil quilômetros de rios navegáveis o mar e
as art~rias fluviais constituem a principal rêde de transporte; e oão é de sur-
preender que, segundo observa Roy NASH, "quatorze das vinte e uma capitais
dos Estados brasileiros demoram à margem da strada l(quida", e das suas
sete maiores cidades, cinco, - Pôrto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, Re-
cife e Belém, se assentam à beira dessa principal ar éria de tráfego e transporte,
e õmente duas, Belo Horizonte e São Paulo, - esta, a egunda do país, mas
com seu pôrto de mar em Santos, - se elevam sõbre o planalto. Se consi-
derarmos o impulso que durante meio século adquiriu a exploração das minas
auríferas, e, durante quase cem anos, do café, no centro-sul, compreender-se-á
que o Rio de Janeiro e Santos se tomaram os portos de maior movimen o do
Brasil is e que a densidade dos caminhos e o valor dos portos tenham sido
cxtraordinàriamente mais fracos no norte do que no ui embora o único
caminho que liga o sul ao norte, de Vi ória a 1anau , e da capital do
Amazonas à fronteira do Peru. "continue sendo ainda hoje como nos tempos
idos de VASCO DA GAMA, o vasto oceano e o gigantesco ar nhol potâmico do
hinterland."
Apesar de possuir o país uma das mais extensas rêdcs hidrográficas do mundo
e de con ·tuír a navegação interior o único meio de ligação para cêtca de
dois terços do território brasileiro, a na egação fluvial, barrada pelas corre-
deiras quedas d'água não se faz ainda hoje regularmente senão até os limites
das terras inexploradas e desertas, e por embarcações de velho tipo e de pe-
queno calado. As pirogas primitivas, - canoas cavada em peça inteiriça,
num lronco de arvore, de grande pêso e fundo chato, para varar as corredeiras,
continuam a subir e descer, carregadas, por numerosa via fluviais, sobretudo
nos anuentes do Amazonas, at€ o limite da navegação a vapor; e no São Fran-
cisco e em alguns de seus tributários, como o Paraca u, encontram-se ainda
as velhas barcaças do Rio Douro, de Portugal, que, no prindpios do século
XIX foram introduzidas pelos colonos. A navegação a vapor nos rios de
volume ponderâvel e de suficiente profundidade, vem-se desenvolvendo, no
entanto, embora lenta.mente, já adquirindo con iderável importância na rêde
de transporte fluvial, constituída especialmente pela navegação no Ama.tonas,
que pode ser navegado por grandes transatl ticos a é Iquitos na fronteira
do Peru· no rio Paraguai, de Assunção a Cttiabá e a São Luts de Cáceres; no

l ta do AtlAot\co qu,: ~ • dniea do norte e o do '11,,


de passqcin,s e de carps, rta l Mio d.e
l ío Grande do Sul. dirtantc l~ milhaa de , •tE Belém
de mil milh:,0~ aqoém de o 6rto AI
~ em menos de 25 dias por J19r pela.
p:!o eo
to pano Jnl'"..<ll'"agem, ondo p viO>de q1nlqaer
• com profun:!idadc para npon:s d 2g p& d1e ea!Jtdo. d ri ou• impart.lru:ia
ecoa6mlce, •valia a pelo ua tonc!.~m bro:ta. os porto, de lvador , qwu:1to l profw,..
didado m6siJII&,),Bel~ do Pari, Rio Gnnde do Sul e P eot , DO oortc, laaam que no baiico
Amuo,:, f, cm 1u-at, o ponto teo:llmal da naveg~ que vem do Atlb~
O TRABALHO HUMANO ss

rio São. Francisco a o pôrto das Piranhas e, acima da cachoeira de Paulo


Afonso, até Pirapora em Mmas Gerais; no Paraná, 17 até as cachoeira das
Sete Quedas e, acima delas até Jupiá; em antros rios menores em que, em 1921,
jâ trafepvam c:êrca de 356 embarcações. maiores ou menores, conforme o
calado do curso e com uma tonelagem total de apenas 73 387 toneladas. Mas,
além das comunicações fluviais, "a rêde de trilhos, observa ainda Roy NASB,
cons 'tufa o sistema venoso por onde circulava o sangue econ ·co do país,
mantendo a unidade do lmpêrio". Os trilhos dos tropeiros que irradiavam
de todo o núcleos urbanos, grandes e pequenos, - povoações, vilas e cidades
-, articulando entre si as populações brasileiras, exerceram, de fato, no sis-
tema colonial de comunicações, um papel tão importante talvez como o do
rios de penetração. Velhos caminhos, - trilhos da anta, picadas do bugre,
palmilhados p lo missionârio na catequese dos índios, ou caminhos mais re-
centes, abertos pelo bandeirante, "violador dos sertões e plantador de cidades"
-, foram progressivamente alargados pelo português, com seus cargueiros,
pelo vaqueiro com as suas boiadas, pelos colonos com seus carros de boi , e
mais tarde, pelo comerciante, caixeiro viajante, cometa ou mascate, batedores
da civilização. As nossas maiores linhas de penetração, observa EUCl.lDES
DA CUNHA,''desde a Mogiana seguindo para Goiás sôbre o velhos rastros do
ANBANGUERA a é a Sorocabana, t ajustando-se aos primeiros lances do longo
itinerário de TÕNIO RAPOSO e dos conquistadores do Guafra" tem reconhe-
cimento que duraram s~cu.los e evocam a figura excepcional do homem, o
bandeirante, "que f!: bãrbaro para estradar o deserto, abrindo as primeiras
trilhas do progresso".
A grande migração para as regiões temperadas do sul, no ítltimo quartel
do • éculo xrx, e o extraordinário desenvolvimento da cultura do cafê, que
ainda absorvia o capital e os braços disponíveis, não tardarem a promover a
substituição, na região cafeeira do planalto (Minas e São Paulo), dos velhos
meios de comunicações pelas estradas de ferro, cuja construção iniciara
timidamente em 1854, com os 14 primeitos quilômetros e que, em 1890, jâ
atingiam 9 973 qtülõmetros de trãfego, quase triplicando em um dec~o (1880-
1890) a extensão d paralelas de aço. 19 A Central do Brasil que jã cm 1877

11 A xt:c.n~o nove 6vel de rl01 bra,Ucir01, jâ CO!lhecldo, e ext>loradao, E caleuhttbl por •lto por RoT
Nil9H (70 mil qullOmctros', 11uan o a.lia parece exeed.,. de 44 mil 11ullõmetro1, 011 m11!1pred monte, eiiuodo
d~doHrfídlil,, de 13 !>SSqullõmctro•. S601ent~ o Arnuona·•• com uma profundldade m ~\ma d 10 p61 de cnlodo,
dltP<le de um ti lema nllvCj16vd do 25 4411quilõmc1r,,., ou ,ejam S7,8~% do t<>t.1 n,wagAvcl do ii•to. A nave,
gai;íto no grando:i rio acumtrlon ! foi aberto em julho de 1857 aos palsa atran,.C!lros, a,, em agó o
ano, par • de Pen o, pa.ra llngrr o põrto d .. Piranha,, a pril;ldro vapor que n•vcgou o dono o.
Brnil-1938 - A 1' .,, evrv ,y of buuiU n /ifo, Servisa Gr(,ljco do lnttlt'.1to BrlltUc ro e
Eatathtka, 193!1.
1 D quatro prindpal i6rlos que partem do Rio d1t J1111e:iro, doit ao mirooe, o qu vil
para Mina,, por- JW-. de F«n, Ba 2ba.r6 e, pel<>vale do Ri:> ds, Velhat. att Pira :,,ra, e o llc • t.nça
para SI Paulo pelo valc do P . oo caminhos anti11os de Mins, ,. de S lo CII•
mlaho vdllot, aa-avl1 do vil• do q e o eni:,cllbciro diri ►ra a p:,n d que
parte de Silo Plluc, o B 1ti , um c !Dioho tradicional, up•tdam, n co, 01
trCAJI que COCTCtn d Salvador par na bUHlle& do Sât> Francbco. NID !Ih o do
an • o caminho da St,-r-. o 11, ~ d,- rod•gcm que cal10<1o plaa awo.
Chqac yfvun boje, nu grande. • coab~m ahinóriapitorac.a,c mqu
a rude ' • ae m pr 111:r.:s a fio, - a
l;xnm de bWTD por b
em que, ~e,u, cm ~umo, p:r~. nãl> rodava ou
~o .,er "-
lt
• t:lpsis fcrnJ~ bruileiou, em I n, ; ta
da Bca• ~• suvi:1a de ~ de ferro i • do
Sio Pa11.I us., dtnl> pn,j~ a<> a e, alai.Vit6ruo
atf Curi do Panatú. Al&:a d~ w,u [111n corr•:I• ••
ridfo,,.■J chi:a de 3 2U q~?trOl de -
c■.d■ 110 n :, p:x- R.::ife, e .,... q11e se eacoob,o uma r e •
de rhz:n in:lil;àm nni e. ,Su de ícrr:,,
m "nemll de vt..~. D= S:b S~J.,11:br, oa B.iila, e
rcc-ro em qU&tr dua, mw im;,xt.,,:i~ ••h u q e se t::1tini at6 a bt -
dec:o, uma ao lon o do Ut.:ral, e 011tl'II at6 Ju11 ein> em plen.o •~o (a Qreat W tua, com. 1 741 qwl6metrol).
56 A CULTURA BRASILEIRA

alcançara São Paulo e avançava por Minas, rumo à barra do rio das Velhas;
a Leopoldina, em direção nordeste, para Vit6ria, e Rio Doce, no Esptrito Santo;
a lngl que se inaugurou em 1867, para ligar Jundiai, ao pôrto de Santos;
a Mogiana, na direção de Goiás, e a Soroc.abana que roda para a barranca do
Paraná e ia entroncar-se mais tarde com a oroes e, e a Pauli ta, - uma
das melhor estradas de ferro do Brasil passaram a integrar o sistema ferro-
viário, a serviço principal de três Estados: Rio de Janeiro Minas e São Paulo.
A zona cafeeira paulista começava, já no alvorecer do ~culo XX, a ser cortada
por cxcclent estradas que se distendem e irradiam, emaranhando-se numa
vasta rede de ramais e enriquecendo por tal forma o sistema ferroviãrio que,
cm 1937, o Estado de São Paulo já dispunha de c rca de 8 635 quilômetros
de vias f~rreas, ou quase a quarta parte do total. de estradas dêsse tipo, exis-
tentes ntão no Brasil (33 521), além de 15 mil quil6metros de estradas de
rodagem lançadas em todos os sentidos. Mas o desenvolvimento notável,
nos princípios dêste século, dos meios de transporte, pela construção de es-
tradas de ferro e de rodagem, na· região mer.idional do planalto; a superpro-
dução cafeeira e o conseqüente refluxo de colonos para as cidades; os fenómenos
de ond nsação de imigrantes e de concentração urbana; e a formação de um
mercado interno de alguma importância para os produtos industriais. cons-
tí wram, com a construção de grandes usinas de energia elEtrica, segundo ob-
serva R. Sn,10NSEN,os fatôres essenciais à evoluç o industrial que se acelerou,
a partir de 1905, para tomar. depois e em conseqü@ncia da guerra européia,
novos impulsos e novas direções. O Brasil que continuava a er na cultura
do caf~ a ba de sua estrutura ecooomica, já se encaminh va para um regime
novo que deveria colocar, nas formas mais móveis da fortuna, o eixo central
da sua atividade econômica, orientando o seu esfõrço, com a expansão das
riqueza , dos transportes e da mão de obra, para a produção industrial. A
própria evolução da indústria paulista, cuja produção atual representa para
mais de 43 % da produção nacional, e não excedia de 16 % cm 1907, de 20 %
cm 1914 e de 33 % em 1920, mostra, no entanto que o fenõmcno industrial,
intensificando-se nesse Estado a partir da guerra de 1914, se manifestara em
outra regiões do país como o Distrito Federal, Minas, Rio Grande do Sul e,
ao norte, Bahia e Pernambuco.
Assim, a indústria nacional que, no Império, s6 passou a ter algum valor
ponderável a partir de 1885, apesar de várias entativas anteriores para im-
plantar indústrias no Bi:asil, não cresceu consideràvelmente senão no século
XX, por um conjunto de fatôres favoráveis, ligados alguns ao surto cafeeiro,
no planalto, e outros determinados pelas repcrcu sões da gue1Ta de 1914 no
mercado brasileiro. Certamente o século XIX em que se operou, nas expressões
de VICENTE Ltcfmo, a mais violenta transição econômica, com a substituição
do binãrio "ouro e escravo" pelo binário mais enérgico "máquina e carvão",
foi o século da mãquina a vapor, do carvão e do aço e, portanto, da revolução
industrial. D de os prindpfos do século XIX, entre 1808 1821, em que
D. JOÃOVI se esforçou por desenvolver a siderurgia e mandou vir técnicos es-
trangeiros para estudarem a possibilidade de organização da indústria no Brasil,
até o VISCONDE DE MAuÁ que, entre 1850 a 1870, procurou por tôdas as formas
incutir no meio brasileiro um espírito industrial, "fundindo, forjando, armando,
t'Ollstruindo", promovendo a construção de estradas de ferro, de portos, de

DO oortt, u,lnalam outra ea!ndà como u que do de Pel'Nllln1 • T n , no Plluf, e d.e.SJo Luá, no
Manah o,• 1'ttoina, na rqião oddental não se eocontra • tnda ••lbmort, com 366 qllilõmetn>t,
de 1111>Allt4oio • QIUl,jui-M",rim, e ns """" aodaatc. • q v Ca.mp, Orande • Carumb , m, M■ tó-0 ,
o checari, cal a, • uma étirna pi,:rte d.o tetritó<io bra ·1eiro o l!)tSI d rql uvida~ par- estra<!u de fttro,
u qual• (pai , como e.crevc Rua.ma DA Ct11fflA,.... o c,tnd de (erro r I m antes de tudo de
DONO proar w" ,) d envolveram mais na• tti do ■ç6ca, e do caca IPern.am co e Bolilal, oo aartt,
do cal: , oo 1uJ (Rio, SIO P■mo e Mlila,) e na do com&cio de couro e carn (Rio Ora d do Sul), mlll'cando, c,om
oa prlnclpala centro• econllmicos d.o pais. tamMm. cs uw, prioc:ipa,ÍI entro, de cultwa,
O TRABALHO HUMANO 57

fábricas e estaleiros, tantas tentativas se malograram quantas foram feitas,


no sentido de desenvolver a produção industrial no lmp&io. Mas os obs -
ettlos em que se anulou a clarividência de D. JoÃo VI e se quebrou a férrea
energia dessa figura singular que foi o VISCONDE DE MAUÁ, estavam menos
na mentalidade agrária da q)()Ca, na ausência de uma polltica imperial de pro-
teção às indústria , no regi.me tarifário de caráter estritamente fiscal, do que
na falta de combustíveis, na dificuJdade de acesso às minas de ferro na cz
de mão de obra nas gT&ndes distâncias e na extrema insuficiênci dos meios
de transporte. As indústrias não se concentram senão junto aos centro pro-
dutores de combustíveis e na proximidade das matérias-primas e das regiões
em que a mão-de-obra, os transportes e o mercado de consumo sejam sufici-
entes para lhes favorecer a evolução. Foi a ação conjugada d es fatõres
que provocou o surto industrial em determinadas regiões do Brasil no êculo
XX; a construção das usinas geradoras de energia elétrica, que desemp nharam,
em nossos parques industriais, um papel semelhante ao dos centros hulheiros
na Inglaterra e nos Estados Unidos; as matérias-primas, sobretudo, para as
indústrias t~xtcis e para os produtos de alimentação que, em 1920, já cons-
titufam 67,8 % da produção nacional; a mão-de-obra que põ a serviço das
indústrias a superprodução cafeeira; as estradas de ferro cuja e tensão, de
17 242 quilômetro , em 1906, atingiu quase o dôbro (33 521), em 1936, e final-
mente a clientela que se alargou sob o influxo da imigração de colonos uropcus,
das novas nc idades e das solicitações crescentes do mercado interno, e dos
fenômenos de concentração. Avalia-se em mais de 60 mil o número de esta-
belecimento industriais do país, distribuídos por São Paulo que desde 1910
alcançou o primeiro lugar, com 10 mil f'abrlcas, pelo Distrito Federal, com
c!rca de 20 % da produç o total e pelo Rio Grande do Sul, Minas Geraís, Es-
ta.do do Rio de Janeiro e Pernambuco. 20
A cultura cafeeira que se estendeu pela vasta planura de depósito ter-
ciários, a oeste da Serra do Mar, e por todo o interior até onde chegaram os
borrifos e a salsugem da preamar de colonos europeu,11,que se derramou pelo
planalto, forneceu os primeiros capitais substanciais e, com a superprodução
do café, os braços disponív is aos progressos da transformação industrial que
se operou no pa1s. A antiga província de São Paulo, que, esgotada pelas san-
grias constant periódicas das "bandeiras", se arrastara duran e cem anos
na pobreza, e gravitava na órbita da mineração, transformou-se num Estado
pr6spero que, a partir de 1886, passou a ser o maior produtor de café no Brasil,
e, desde 1910, o maior parque industrial do território brasileiro, e hoje, do con•
tinente sul-americano. o' eixo da atividade econômica, já desviado do norte
para Minas Gerais, no século XVIII, com a descoberta e exploração dos v ios
auríferos, deslocara-se desta vez para São Paulo cuja capital, em excelente si ua-
ção geográfica, servida de um pôrto de mar de primeira ordem para escoadouro
de sua produção, se tomou o maior centro ferroviário do pa1s e u.m do grandes
centros urbanos do mundo. O que não podiam fornecer à indústria paulista
bacias carboníferas junto às quais se produziram as mais compact s organi-
zações industriais da Inglaterra, da Alemanha e dos Estados Unido , -lhe
à disposição o conjunto das usinas geradoras de energia clEtrica, que repr enta,

Jl'ola pu1ir de 1920 que ,e rqbll'OU • awar cvvl..ç&o industrial, ao e...,;1, e ~lanneo
Paulo. O foi o era ·men d• P"odll~ fabril. - portado de 1919 a 19311. •v.n. pd qlilll
,. • A proch1clo al !l'lpd moeda quae quadnap&ou 110 Bta I; qllln ·eou em lo
Paulo. O n6 de optrAti qac •1ÍJl&la • 275 Sl2, aqutlilo o ~to de 1920, d ltJII 19311.
a inai de 11.S0000. AI umnu d en~ d&rica, calcula.da,s em 3SD, subiram a l "a00,m, 11118.cam uma produçb
guue 4 v Nl)e'lor • do ano que ae t- por p:>atD de part:i.dL Nlo li menos plíicativo o ouwlmeoto
do,, pOrt09 br ' em que o admcro de ftlrV'.iot, ent1'1ldc. e n!:io,, com unn. cvga de m • de J 7 rotlh6N e 500
mil tont!llda,, ,ubiu de 23 ns ~ 3!1 170 em 1919, para 34 1188e 34 063, cm 19.37, coai ctrc de 50 mllb de lo•
nelada1, pua o comerclo tr I\Jatll.o o e c:o,tciro. (BraziJ-193B - A ª""' eurraJ' of brui/í■ n Ufa, Savli:o
Qrifia, do la, tu.to B d• Oe<IFcallae &lt&11stica, 1939').
58 A CULTURA BRASILEIRA

para a indústria nacional, o papel do coque me alúrgico nesses países. "A


formação de gr des lagos na Serra do Mar, pelo represamcn o de rios que
corriam para o interior e o despejo dêsse volume nas rtenles do Cubatão,
- obra ciclópica que honra os técníeos estrangeiros que a conceberam e rea-
lizaram-, proporciona a São Paulo, observa R. Swo SEN, a possibilidade
de obter a energia suficiente à triplicação do atual parque industrial e rasga
largos horizontes a outros múltiplos cometimentos". as, com a extraordi-..
nárie evolução industrial de São Paulo, verificou-se outro fato de suma impor-
tância para a organização nacional: a divisão industrial do trabalho, com a
notév l diversificação, provocada pela guerra de 1914, na fabricação de novos
produtos e com a especialização das indústrias de acordo com as particulari-
dad dos diversos Estados da Federação. crNão obs ante o caráter regional
da maioria de nossas indústrias, as palavras são de R. StMONSEN, já se vai ope-
rando um entrelaçamento salutar entre as vá.rias regiõ eoon6~icas do país".
Se numerosos produtos industriais de São Paulo encontram mercados em todo
o país, as indústrias paulistas importam, por sua vez, borracha, fibras e cacau,
do norte, •trumo do Rio Grande do Sul, madeiras do Paraná e ferro gusa de
Minas Gerais' , trocando-se de um Estado para outro os produtos das indús•
trias cm que se especializaram, e estabelecendo•se, com os progressos dos meios
de transport das linhas de cabotagem, das vias férreas e dns rodovias e cotn
crescente diversificação, uma interdepend eia e uma circulação econô-
micas do mais alto interêsse para a vida e a unidade nacionais.
Certamente, embora a produção industrial, no pais, se tenha desenvolvido
de tal forma que já em 1936, alcançando 8 bilhões de cruzeiro , ultrapassava
largamen e a produção agrícola, avaliada em 6 bilhões e 200 milhões de cru-
z-eiJ,os,não se pode reconhecer, nesse desenvolvimen o notâvef, enão o alvo-
recer de uma civilização industrial No quadro d distribuição das matéria
do maior parque industrial do Brasil, jã notava R. S o SEN o predomínio
da produção de artigos para consumo imediato que constitui, s6 el , em São
Paulo quase a metade (46 %) e no Brasil mais de metade (67,8 %) do total
da produção. A situação econômica que OsvALD DE A RADE definiu com
uma expressão pitoresca, chamando o Brasil do 'pais de obremcsa", por se
fundar t a a sua economia no açúcar, tabaco e café, no per!odo preponde•
rante ou quase exclusivamente agrícola, não se mudou ainda radicalmente,
na fase industrial, em que a maioria dos produtos de nossas indlÍstrias são cons-
titufdos de produtos de alimentação e tecidos. A ausência de indústrias pe-
sadas e básicas, na constituição de nosso aparelhamento econômico, é, sem
dúvida, um dos maiores obstãculos à nossa evolução indu tri 1, cujos progressos
a
e t m de ligar como por tôda parte se ligaram exi tência de combustíveis
(carvão) e à riqueza de minérios de ferro. Mas em primeiro lugar, se existem,
.. cm Minas Ge,ais, as maiores jazidas mundiais de ferro que se conhecem as
minas de carvão de pedra, elemento indispensãvel à siderurgi nem dispõem
de fácil acesso àquelas jazidas, - pois estão situadaa, so retudo, em Santa
Catarina e no Rio Grande do Sul, - nem apre tam, pelo alto eor de cinzas
dêsse minério as condições exigidas do carvão para as indústrias pesadas. A
fundição do ferro que jâ se realizava, no período colonial, cm forjas primitivas
por processos diretos ensinados pelos negros africano , entada por D. Jo-o VI
que pretendeu instalar no país, entre 1808 e 1821, os primeiro to fornos e,
a partir de 1818. pra ·cada com caráter industrial em Ip .ema, no Estado de
São Paulo, desenvolveu-se, no entanto, no sécu o XX com o a ·o do carvão
vegetal nos altos fornos mineiros e outros, cuja produção total atingiu em
1936 a 78 mil toneladas de ferro gusa e a .mais de 77 zxul aneladas de aço. As
gTandcs distâncias, a falta de um mercado interno, ponderável e condensado,
O TRABALHO HUMANO 59

e sobretudo, a ausência do coque metalúrgico, retardaram até hoje o d


volvimento das indústrias pesadas que exigem enormes capitais e cujo pro-
gressos, depend ntes de combustível ou energia motora. podem provir, &cgundo
observa R. S ON EN, simultânea ou sucessivamente da aplicaçao da cner •
hidráulica disponível no planalto centro-sul, da melhor utilização industrial
dos carvões pobres das bacias carboníferas do Ri.o Grande e da exploraç- o do
petróleo. Só então, com a produção do ferro em larga escala e a exploração
das jazida petro~ as cuja existência parece ter Siido constatada no rccôn•
cavo baiano, a volução industrial entrará na sua fase mais fecunda e o tra-
balho humano que, a não ser na extração do ouro, nas minas de Morro Velho,
apenas arranhava o solo, passarã a explorar o sub-solo para dele extrair o ferro
e o petróleo que lhe fornecerão com a fôrça hidro-elétrica, tão fàcilmente trans-
portável, as bases sólidas à grande revolução econômica e industrial do Brasil.
A América Latina no século XIX era escreve A. SIEGFRIED, o grande
centro exportador de produtos brutos e de matérias-primas para a Europa.
, O velho continente era a fábrica; nós, o campo; êle, a chaminé; nós, a cultura
agrfcola. Entre os patses sul-americanos, porém, em que surgiu uma forte
vontade de industrialização, o Brasil que, até os fins do século passado e, quanto
às indústrias pesadas, até hoje, se mantinha tributário dos Estados Unido e
de países europeus, tende cada vez mais a sacudir a velha armadura colonial
para restaurar, pela base, o seu aparelhamento econômico e inaugurar um
novo ciclo de exploração. A indústria que, na Europa e nos Estados Unidos
ainda nos séculos XVIl e XVIII, se fixava freqüentemente nas zonas florestais,
e se deslocou, mai tarde, no século do carvão, das florestas de superfície às
florestas sepulta.d das minas e, na idade do petr61eo, para os campos ins-
t.liveis dos petróleos e óleos minerais, ainda alimenta no Brasil os seus forno
e os seus tran port do carvão mineral importado e do combu tível que lhe
fornecem as suas ma s. A hulha, no entanto, no Ri.o Grande do Sul onde e
estendem as melhores minas de canrão de pedra, ainda que de minêrio pobre, jâ
vai tomando lu ar nas caldeiras, à madeira de nossas florestas; e, no Distrito
Federal e em São Paulo, a transformação em fôrça elétrica das quedas d'água
multiplica o poder da indústria, aproximando-a dessas fontes de cncrgja mecâ-
nica de que aparelhou o Brasil a riqueza incalculável de suas bacia hidrográ-
ficas e de suas cacho iras. E quando o mar nos entregar nova fõrc; s, quer
pela utilização da marés em estaçoes maremotrizes, quer pela utilização das
diferenças de temperatura das águas, segundo o processo de GEORGES CLAUDE,
pode-se imaginar a soma de energias que à fôrça hidráulica, resultante das
quedas d'águ , seacrescentarâ um dia a utilização das calorias marítimas. Mas,
não se trata apenas da luta para transformação industrial da matéria, nas
fábricas e nas usinas, mas da luta contra as distâncias ou com o espaço e contra
o tempo, para o aumento progressivo da velocidade nos transportes, - luta
essa que, num país de ta.manha extensão geográfica, é uma questão vital, li-
gada, pela sua pr6pria natureza, ao progr~ de exp!Oiação do e ntros pro-
dutores de combu ttvcis, o carvão, o petróleo e a energia elétrica em qu se
forem transformando as quedas d'água e, porventura, as mar do oceano.
Estradas de ferro que se eletrificam no planalto ou se estendem, penetrando
lentamente o ertão; rodovias que irradiam dos principais núcleos de povo •
mento, para o trãf go de automóveis, e os progressos das fio II mercantis como
dos transportes aér s, cujas linhas em tráfego, civis e militares, decuplicaram
de extensão, em menos de dez anos (1928-1937), tendem a reduzir as distân
cias e a aproximar cad vez mais os centros econômicos do pa!s, facili do,
com a circulação das gen es e das mercadorias. a circulação da consciência na-
cional, da cultura e do pensamento humanos.
60 A CULTURA BRASILEIRA

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1924-1930,
CAPÍTULO 111

As formações urbanas
O sistema de povoação marginal - As primeiras povoações, entrepostos
de comércio marítimo - A face. da civilização urbana voltada para o Atlântico
- Cidades fortificadas - As invasões entrangeiras - O contraste entre o
esplendor i:uraJ e a m1séria wba11a - Em proveito dos engenhos - A 1íbu-
dade, condição dos habitantes das cidades - A ação d11 burguesia urbana
sôbre a sociedade feudal - As guerras e explosões nativistas - As cidades
no plana.lto - A Vila de· Piratininga, â bôca do sertão - O perigo constante
das incursões índios - As bandeiras
de despovoamento das
e o cidades - Vila

Rica e o caminho do ouro - Os centros de comércio de gado - Esplendor


e decadência das cidades çoloniais - Antes de atingirem a idade da maturÍ•
dade ... - A dispersão e o isolamento das agloD:1erações qrb;mas - O litoral
e os sertões - Tranqüilidade e pobreza das cidades no Império - A vida
na~ cidades - A .indústria e o crescimento dos centros urbanos - 1u cidades,
capitais políticas - Focos de progresso e de civilização.

T. ODA a nossa história, da Colônia à República, segundo vimos, é, nas


expressões de OLIVEIRA VIANA, "a história de um povo agrícola, de
Uma sociedade de agricultores e pastôres. É no campo que s~ forma
a nossa raça e se elaboram as fôrças íntimas de nossa civilização. O dinamismo
de nossa história, no período colonial, vem do campo; e do campo, as bases
em que se assenta a estabilidade admirável de nol!!sa sociedade, no periodo
imperial". Mas, conquanto o "urbanismo" seja condição muito recente de
nossa evolução social, o estudo das formações urbanas apresenta um duplo
interêsse, decorrente já do modo particular de formação das cidades brasileiras
ou do caráter especial que revestem a sua gênese e evolução, já das relações
existentes entre a cultura e o desenvolvimento dos centros urbanos. Em tõdas
as civilizações, e:x.erceram as cidades, que são fenômenos de concentração~ um
papel de maior importância na formação da cultura na sua acepção intelectual:
poderosos instrumentos de seleção social, não !!Ó fazem atrair a si, como pensa
HANsEN, por uma seleção por assim dizer mecânieâ, os melhores elementos
do país, como também, além de selecioná-los, contribuem para fazer o seu valor,
na observação de w·EBER, 1 tornando atuais os méritos que não eram senão
virtuais e "superexcitando fôrças que, sem êsse estimulante, permaneceriam
inativas e adormecidas". Elas serão, sem dúvida, muitas vêzes, grandes des~
traidoras de vidas humanas; mas êsse consumo importante de fôrças sociais
parece a WE;BER ·ser necessário para pennitir às cidades desempenhar sua ftmção

1 W.s11iR (Adna-Ferriaj - The Arowth oi the citiea in tJ,e n,"net<Jenth centwy. A atudy in Sta•
tutlet. New Yotk 1 Macmillan, Loncl1>n, Kiag o\ Sou, 18~ll; cfr. SHJ>Hl!N59N, Borough and lo.w1t. A 1tudy
ot urban oriQ:inl in Eni:land.
62 CULTURA BRASlLElRA

que é "d intensificar as energias coletivas, de levar ao mais alto ponto de de-
senvolvimento possível as capacidades latentes e dispersas na população".
A civilização de que elas são focos, não pode, escreve DUR.KHEI il, ser obtida
por outro preço, e as cidades que determinam essa superexcitação de enet'gias,
s6 pelo fato da concentração, não consomem, portflllto, sem 11ada produzirem:
••o que custam à sociedade, é largamente compensado pelo que elas lhe trazem".
Se, porém além da concepção do papel das cidades no desenvolvimento da
cultura, se considerar a luz intensa que projeta sõbr o fenômeno cultural a
análi e da evolução e decadência de nossas cidades, na Colônia e no Império,
compreender-se-á melhor o alcance que repr enta, para n6s, o estudo das
formações urbanas, no Brasil. A posição dessas cidades, estabelecidas geral-
mente .na orla marítima, e a sua ascenção e decadência, com as sucessivas des-
locações do eixo da economia nacional, contribuem, de fato, para explicar não
s6 o sentido de nossa cultura, voltada para o Atlântico, como as origens e as
flutuações dos centros culturais, ritmado~ pelo progresso das aglomerações
urbanas.
A extensão enorme da costa e a necessidade de nela estabelecer, para a
sua defesa, os primeiros núcleos de povoamento e, sobretudo, os objetivos de
Portugal que antes cuidava de explorar do que de colonizar, impu eram aos
conquistadores da terra o sistema de povoação marginal e os levaram a semear
de vilas e colônias o litoral imenso, nas enseadas e ancoradouros que oferecessem
abrigo seguro suas naus, galeões e caravelas. As antigas povoações e fei-
torias, anteriores à divisão do Brasil em capitania& hereditárias, como Olinda
e lguaraçu, cm Pernambuco, Santa Cruz, na Bahia, Cabo Frio e Rio de Ja-
neiro (Vila Velha) e as velhas vilas primitivas, como São Vicente, fundada
por MARTTM AroNSO em 1533 e Olinda, por DUARTE COELHO, no regime das
capitanias hereditárias, não tivecatn outras origens e denunciam, nas crises
que atravessaram e às quais algumas sucumbiram, as dificuldades extremas
de sua formação. O único núcleo colonial mais afastado do mar é a vila de
Piratioinga fundada no planalto por MARTIM AFo so em que já habitava
o famoso JoÃo RAMAI.ao,com os mamelucos seus filhos e parentes. as ca-
pitanias, que partiam tôdas de beira-mar para o ocidente ate onde entestpssem
co111 as colônia espanholas, o que -importava, an es de tudo, era a defesa contra
os ataques do gentio e dos navios corsários que constrangiam a colonização inci-
piente, e já em perigo, na e0 treita faixa de terra entre a vastidão do oceano e
a dos sertões, povoadas de numerosas tribos selvagens. A evolução do par-
ticularismo feudal para o absolutismo da coroa, com o malôg.ro do sistema
das doações e a conseqüente criação do govêmo central, se trouxe grande im-
pulso à colonização, não podia mudar por si, como não mudou, a situação di•
ficil dessas fonnações urbanas, embrionãrias e dispersas, de. caráter maia ou
menos oficial, expostas à cobiça das naus trangciras e às incursões dos fndios.2
Surgem, no entanto, nesse período as primeiras cidades, a de Salvador, em

.2 A i a c!c dd'eoa p11rece ter i,r,,si<lido A esc,olh.a de coloc çlo d.a ma.iorúld.u viw primiti que ■e
utabe:lec<n:m DA COIJU ou procuraram lagares. d!Oacuso, dirtc:11,comi, • vib de Pl,.tinl4P. no plaiulto. Om•.
âd d l caencielaicnm ql.oma-ação de rique;a e deve. portan , es • co11tnl ue po-
dbm m • tanto d oavio, e fuiin que infesta;,,,.,., oa m .ru, com.:, du trib lv ~ que ■e levaabou,n
elo !lo d n ta.1 pllf'II o ataque ao bom-..m branco. AI eJlficaciln de ro.-tes cm l .va catratll~co.. como
o d.a S o Crlot6v o, e trul o cm 1S89, perto do rio ~~- e a f e n11sadacle cdiri em Híl l, Junto
ao rio C , foram ·m o rermc de Glgumu ci.la.d.~ • d" o Cris 6vl . ~ Sergipe, e de P'orbll~n. no Ceorl:
e outrco odcl <'Oloc: • , íuadadoe 11• cmta por casa t,poc:Q, N11taJ, flll Rio Gr&11e do Norte Slll • o Nona
Se,,, on, do BeU,ro, rio r6 cm l 615, por iniciativa de ertanbt.111. r,un oatt011 t>lntoll n6cle.:.1 de povoaroeDlO
e de dei COQI q e "• lin II de rosu:tmda", rcd.<1>.idaem 1600 a UJD• laixs de tc:rra, da bllN de P&ra<Lasuà, ao
.111.• • ro1 do nD Poamli, ■ o DOl'lr, "" o:st=dia p.v.a • ~v1o euu:itrlo!lll i\ ro~ do AmDllUU. como ••
dd-.Ja e■ • o pr , M •u■ oriiem e oo •= d~eovolviment Uz'ldü • àrcula , e pr~ con.:mtrar H
ttocaJ que ,, íreqDen..,,,,ente a aua.ruã:>de""", tt.du u vila, priml vn, "tued.u nu ~oret eru...1<1.aJ,ton:11un
de■de m l!C'llS prim6rdiae um car6.tcr c:omati.aJ marta<lo. A cc,16 • que nJ.o l)'>ntti ainda oenliuaui cidade oo
centro do RU tenit6rio, a alo ...- a vilil de .Pi;atiaiap e ■ de S o A ,!ri da BYd-9 do Ca :,,, plaulto pau-
Liatll, e,ti ls:,ieada no lmento circuito de, 9'eU litoral par uma .&ic, d: p:q o ce::itroo de uoi:a, ou d com&cio
de im~o e 1<11:ltttudod11~o.
AS FORMAÇÕES URBANAS 63

ue TOMÉDE SousA estabelece a primeira capital do Brasil; a de São Scbas-


ºão do Rio de Janeiro que ESTÁCIO DE SÁ funda em 1566, junto ao Pão de
Açúcar, e DE SÁ transfere, em 1567, para o Morro do Castelo, depois de
sua vitória sõbre os franceses; eleva-se à categoria de vila a povoação de Santo
André da Borda do Campo, e Piratini:nga que deveria ter, mais tarde, com as
bandeiras, um papel preponderante na conquista dos sertões, e se consolida,
no planalto, na luta contra a coníederação dos tamoios. Entrepos os de co-
m&cio marítimo, an es de tudo, essas vilas que já formavam povoações re-
gulares, ao longo da costa, como São Vicente, Rio de Janeiro, Vitória, Bahia
e Olinda e de que partiam naus carregadas de pau-brasil e ~p ciaria , eram
ainda pequenas 'cidad -fortalezas", erguidas numa colina e amuradas, como
a do Rio de Janeiro, Vitória e Bahia, e guarnecidas tôcias de fortes para a de•
fesa oontra as invasões que se tornaram extremamente perigosas com as in-
vestidas dos franceses, no século XVI (1555-1594), com os assaltos dos corsârioa
inglêses e, no século XVII, com a guerra e a ocupação holandesa.
Não se pode, pois, pensar nessas povoações e cidades, ao longo da costa,
ecm se atentar não s6 para a sua função eminentemente comercial de portos
de mar, como para a sua função militar que provém menos de suas particula-
ridades topogrlificas ou de seus pontos de apoio naturais do que das construções
edificadas pela mão do homem como a coroa de muralhas de que MEM DE S.(
fêz cingir a cidadela d São Sebastião, junto à antiga cidade, Vila Velha, ou a
fortaleza de Bertioga em São Vicente, mandada construir pelo primeiro go-
vernador geral, na capitania de MARTIM AFONSO. Os colonos, porém, obri-
gados a explorar a terra, transportam para essas vilas da costa e para as do
planalto paulista as suas culturas tradicionais e outras como a do trigo e a da
vinha, a do milho e mandioca, em que são empregados negros índios escra-
vi%ados e, maia tes do que aquêles nas culturas incipientes, antes de começar
a despejar- em grandes levas, nas praias do continente, para a fadiga das
moendas, a escravaria africana trazida a ferros. Já entravam a prosperar
algumas d sas colônias quando a cultura da cana-de-açúcar, com a sua in-
dústria complementar, - que praticada, em grande escala, veio a constituir
a base da riqueza agrícola, no período colonial-, deslocou, das vilas nascentes
~ a lavoura, o centro do trabalho humano, a que se oferecia, nos canaviais
ç nos engenhos, o maior campo de atividade e de exploração. Mas, a cultura
da cana, quer pelas facilidades de transportes para os portos de mar, quer pela
sua natureza de cultura industrial, com disp_endiosoe complicado beneficia-
mento, quer ainda para se manter ao abrigo das incilrsões de selvfcolas, não
1se desenvolve senão ao longo da costa, na qual contribui, portanto, para fixar

a colonização do país. O comércio marítimo e a def~sa da costa juntam-se,


chú por diante, à própria lavoura da cana que, desenvolvendo-se nas imediações
•do litoral, nas terras de massapê, em Pernambuco, na Bahia e no Estado do
Rio, longe de se orientar para os sertões, concorreu para manter o prestígio
do litoral, crescendo à retaguarda e a pouca distância das cidades marftimaa.
As cidades antigas, do s~culo XVI e princípios do XVII, ainda em periodo
de formação, - organismo urbanos mirrados, medíocres, às vazes mal fixados
-, como Olinda que não tardarâ a ceder a primazia a Recife, e São Vicente
que definha e regride cm favor de Santos, fundada pelo colono BRÁS CUBAs,
tornam~se, nas zonas açucarciras, "dependências do, engenhos, burgos de
familias onde os senhores vinham passar as festas, reunindo- e para as cava•
lhadas e os banque es". Certamente, são os comerciantes da costa, lembra
Ol.NEIBA VIANA,"que fazcm então o papel de banqueiros. São !les que di-
antam aos ci.roa o fundos precisos para a montagem da "fflbri ". São
files que lhes dão dinheiro para comprar peças, ferro, aço, enxârcias, breu, vela
e outras fazendas fiadas, - diz ANTONII.-; o que os obriga a ser impecàvel-
64 A CULTURA BRASILEIRA

men e pontuais para com êsses comerciantes, porque, "se ao tempo da f1ota
não p garem o que devem, cão erao com que se aparelharem para a safra
vindoura".
As maiores cidades do sécu]o XVI e dos princípios do século XVII, Bahia,
Olinda, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, não pilSsavam, no entanto, de lu-
garejo mal cons uidos e abandonados a si mesmos, que cr ciam, sem nenhum
lano preconcebido, não obedecendo, ao meno no criado primitivo de sua
hi tória, senão às leis gerais que regem o d senvolvimento de tôda aglomeração.
Nessas formações burguesas, constituídas de funcionários mercadores e ofi-
ciais mecánicos, misturavam-se portuguéses r inóis e nascidos no Brasil (ma-
zombos), mestiços, fodios e africanos, associados ainda à maneira de acam-
pam nto num verdadeiro tumulto de rac;as e de grupos, para itando à sombra
sob a influência dos grandes senhores de engenho. O que entao se podia
hamar um ' povo" não era, nas expressões de GILBERTO FREYRE, mais do que
um aglomerado de mestiços independentes, junto com mecânicos e mascates
de origem uropéia e que, a calcular pela população total do Brasil avaliada
e.m 50 mil habitantes por essa época, não constituiam enão escassa população
m cad um d ·sses núcleos urbanos. A miséria nessas primitivas cidades,
heterogêneas e por isto mesmo pitorescas, irrequi tas e turbulentas, contras-
tava com o esplendor da sociedade rural, cuja riquez transbordava nas casas
que os senhores de engenho possuíam na cidade, .nos esbanjamen os de festas
e banquetes e nas touradas e cavalhadas. que, com o de envolvimento da
cultura do açúcar, a maior parte da população se concentrava nos latifúndios,
em que se forma am pequenas sociedades, comple. , tam~m heterogênea ,
mas oderosamente estruturadas. Sem relaç.ão umas com a outras, "ver-
dadeiros núcleos autônomos, diz Ouva:rRA VIANA, tendo a ua economia própria,
ua vida própria, a sua organização própria", ou "outra tantas vilas", na
cxpr são de SIMÃO DE VASCO c&.os. A solidez de sua es rutur social em
que e superpunham, rigidamente hierarquizadas, as suas tres classes, - a dos
senhores, a dos homens livres rende.iras de domlnio, e a dos cravos que são
os o erários rurais-, assegurava aos latifúndios um predomínio esm'Bgador,
tanto do pon o de vista social como econômico, sôbre as formações urbanas.
A n c idade de condensação, nesses vastos domínio , de uma população nu-
merosa; as grandes distâncias, que separavam uns dos ou ros, e a concentração
de ledas a pequenas indústrias nos engenhos já numerosos, que tudo possuíam
e ond tudo se fabricava,, 3 não sõmente dav m à sociedade colonial, na justa
observaçao d OLIVEIRA VIANA, ''um aspecto ganglionar e dispersivo, de ex-
trema rarefação'', mas e.strangulavam, no seu impulso inicial, as aglomerações
urbanas qu passaram a gravitar na órbita e na dependência dos grandes pro-
prietários de erras. A cidade era o lugar a que se ia, para fugir ao tédio e à
fodi dos trabalhos do campo, para expandir, nas tropelias de potentados, o
instinto de dominação e para a osten ação fácil d opul ncia e de fausto que
à no reza do país, constituida pelos senhores de engenho , permitiam a, ri-
quezas ac muladas nos seus latifúndios.

ttnlo d "" d lnios, de car •o, m o ,


, abs cndo gn,nde parte l\Ye. do • •
o skulo XVI em q e • • , ku,
o d~ rn h dhtribuldOI p t:r-
o., qu..· mct.adc. K UlldD n(n iaíorrna t.M:O.
E • o, pro ·o""' que ~-.m pi•
IA oo par■ omo pop~tio de qu,u~ 3 co,
qu rui ur.va.,..,. d.- 2 oooh.■ bi1>1nt:c1 • .., comp, te ren6meao
d• c,onc:rnlt• p<'OJ1u:ido no campo. em Pl'~j .Iro das 1:1e11.._, Yasf>ll
·propntdadco, ulada, e d,.taole11 Ullllll das outra.,.
54. Recife. aspecto da cidâde antita.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. P~u!o.
55. Cui, colonial à rua Carlos Gomes (considerada monumento n•c/onaJ). SoJv,.,Jo,. Bnhfo.
Foto VOI..TAll'XhAGA, Arquivo do Instituto Brasileiro de Geoc,-aíi~ e Estatística,
58. Ouro Preto, a,pKto pareinl.
Gerais.
Foto Rádio Inconfidência de Mina,
59. S. João d'EJ Rei, em Minas Gerais. Ao fundo a !Areja do Carmo.
Foto STILLE·. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
60. S. João d'EJ Rei, em Minas Gerais. Rua colonial e ao fundo n Igreja do Can:10.
Foto STILLE. Coleção da Faéuldadc de Filosofia d&. S. Paulo.
61. S, João d 1 EI Reí 1 cm Minas Gerais. Velha ponte e um sobrado do tempo do Império.
Foto $TILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
62. S. Joii.o d'EI Rei, em Minas Gerais. Sobrsdo do tempo do Império.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Fôlosofia de S. Paulo.
63. Sobrado da época imperial, em Mariana, Mina, Gerais.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
64. Rio de Janeiro. Aspecto ela cidsde colonial, ve11do•se ,; porta da Igreja do Carmo.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
65, Rio Bonito. Eatttdo do Hiô. Vó~.u• n IArojn don1innndo a vida urbana.
Foto STtLL&, Colcçlío do l"oculdMdo d~ FlloJofia de S. Paulo.
RIJOEND<'-S, J. M, _ 6 t Rio de /ar,oiro,
oyo11c Pít1orc,quo
Ruo Di,cila
Au Brósil. '1sJS • Pnmcha 3/13,
67. LarAo da Carioca. Rio de
Janeiro. Quadro de NICOLAS
TAUNAY, - Foto CARLOS.

68. Morro de Sanlo Antônio.


Rio de Janeiro. óleo de
NICOLAS TAUNAY.
Foto CARLOS.

69. Ubatuba. Vists geral.


Foto da ENFA.
70. Munaus, vistli poreis! da cidade.
Fototeca Central do Conselho Nacional de Geografia.
71. 5 lv dor, B;,/úo. PrllÇll
e
TAJRE "º FRACA
"'"" • - Fato VOL-
ln,tituto BT,as1-
lirodG íi:1 Estati,tica.

72. Salvado,, B hin, Praçn


Ped,o li. - Foto VOLTAr"
FR,.CA. ln11hu10 B,a ileiro d
Geo11rafla t E,111tl1tica.
!
e

7 3. Rio de J;;mciro. Vista do cenit'o u.rbnno".


Foto REMBRANDT.
74. Rio de Jnnelro. Praçfl Paris,
Foto REMBRANDT.
75. R;o do Janeiro. Vísla do Pão de Açúcar.
Foto REMBRANDT.
76. Juiz de Fora. Minas Gerais. Vista p11rciRI.
Foto Postal. Fototeca Central do Conselho Nacional de Geografia.
?7. S. P<1u/o. Aspecto d(f cidn.c!e., vendo-§e o Parque AnhanBabmí, o novo Yi,tiduto d9 Chá e, ao fundo, o Tcafro Municipal.
78. S. Pnulo. Vi.dn do centro dn cidade, c.om ,ou princlpol bloco do oon..rtruçóes moderna~, e ao fundo. o bn1rro indu.afrlnl do Brrn,
79. Pôr to de Corumbá. Mato Grosso. Vista parcial.
Foto S. G - E. F. Fototeca Central do Conselho Nacional do Geografia.
65

Mas observa GILBERTO FREYRE, na capitania de Pernambuco, como mais


tarde em Minas, por efeito da exploração do ouro, "se antecipavam condições
de vida urbana, - a um tempo industrial e comercial, contrária àqueles pri-
vilqio (da aristocracia rural). Em Pernambuco essa an tecipaç6o se veri•
ficou em cons oenciado dominio holandês". no qual, graças à presença
ação de M.\UJdCIO DB NASSAU, "o Recife, simples povoado de pescadores, em
yolta de uma igrejinha, e com tõda a sombra feudal e eclcsibtica de Olinda
! para abafl-lo, se desenvolvera na melhor cidade da colônia, talvez, do con•
tinente". A transformação da antiga povoação do Recife (1637-1644), em que
o príncipe, cercado de arquitetos e pintores, artistas e intelectuais, fb erguer
. paacioa e templos, pontes e canais, lojas e armazéns, oficinas e indústrias, não
16 acelerou a decadência de Olinda, que começara antes do domínio holand&,
ma trouxe aos oolonos "o gôsto de cidades com vida própria, independcn es
doa grandes proprietários de terras". A difeTenciação, porém, entre o grande
domlnio, - unidade econômica rural--, apto a se bastar a si mesmo e as ci-
dades da costa que vão crescendo "de simples pontos de armazenagem e em•
barque de produtos da terra cm populações autônomas com os senhores dos
10brad01 falando groSIO para os das casas grande$ do interior", foi- acen-
tuando cada vez mais por um conjunto de fatôres, econõmkos, politicos e so-
óail, que contribu&rl para promover a emancipação e desenvolver a íõrça
du cidades. Aa próprias condições feudais da colonização agrária, apoiada
-na monocultura e na escravidão; as dívidas crescentes dos senhores de enK"enhO,
atraídos j agora para a órbita e postos na depeodblcia dos intermcdilrios e
comcrcian cs e, afinal, a partir do século XVIII a nova política da Metrópole,
isto E a aliança do impcrialil&llloportuguês com os negociantes e a plebe das
cidades contra os magnatas rurais e o espírito de aventura comercial que to-
mava com os judeu um novo impulso, tendem a deslocar par cidades co-
loniais que se v-o enriquecendo e aumentando em prestígio o eixo d gravi-
tação social e poUtica do país. A liberdade, desde o princípio, condição do1
habitante.a das cidades, ímposta pelo próprio gênero de vida qu levavam, não
podia deixar d desenvol er-se numa sociedade heterogênea, coo titufda d
forasteiros, judeus, comerciantes e mascates, brancos e mestiços que, não sendo
nem senhores nem escravos, vivem em constante efervescência e se levantam
anno uma muralha contra todos os privilégios. Era uma nova men alidade,
inquieta e democrática até a demagogia, qae se criava em oposição à menta-
lidade conservador e arrogante da aristocracia rural. Os conílitos entre Olinda,
cidade eclesi: stidl e centro da aristocracia, e Recife, p6rto de comércio, que
, em 1710 já obtinha o título de vila e onde dominavam os portuguêses, apeli-
dados de "mascates", não terão sido apenas explosões de reação nativi ta (bra-
sileiros contra portu uêses), mas principalmente, escrev GILBERTO FREVRE,
..um choque que os antagonismos políticos e confusamente os de raça ainda
mais dramatizaram, entre os intcrêsscs rurais e os burgueses". 4
à medida porém, que e tendia lentamente a conquista do litoral, sal-
picando-se a orilha atl ntica de povoações e vi1as, dependentes mais dos centros
de produção agrícola e do mercado externo, no téculo XVI e, sobretudo nos

"' ' ' 6U (29 • SG}, de KU ffffo Sobr~ e "'°"41fflbo.s, OIUI


pc"OCIHOI u cid.edo c,<>loaâai~no a&ulo XVUl
- • .. cc• • 4a• e a, Pan Gn.allJIT D
.._,., do de po,,o e de ■ 'l e n6t. e o o,owi-o
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-.:1llo XVTI ■cio do utor de Sobr•do• • mocambo->, ••
.itio9 e • • em certo ■-:s>tido. depend~ de
9ltio9 • mc , olo como ba.te ~ - vii!■ «oo6ni.i
• ll&miMJO pQ" U tetri■J,"
66 A CULTURA BRASILEIRA

seguintes, as entradas sertanistai; que partiam do litoral para o interior, o no.


m dismo pastoril, as missões religiosas no extremo norte e no sul. e as ban-
deira no eu formidável mov..mento de expansão iam cruzando de canunhos
e povoando de aldeias os rincões profundos dos sertões braeilciros. Os colonos;
penetrando a terra, e os missionários, na sua ação civi izadora, congregam, no
Amazonas, o gen ·o 'de índole mansa e hábitos pac1fico ", cm aldeias nu.me,.
rosa , 5 na quais, diz OLIVEIRAVIANA, buscam a a origem muitas cidades
e povoações atuais, e que acusam, na sua própria toporumia (Viana, Soure,
Aveiros Amarante, Bragança. Santarém, Viseu), como as povoações nascidas
dos fortes, às margens dos rios, "a prepot:iderância do elemento branco, por-
tuguês, no início de sua colonização''. Tôdas essas aldeias e povoações de que,
de norte a sul, se vai semeando a imensidade do território, situada a enormes
distâncias umas das outras, de população extremamente reduzida, sem con-
dições de vida própria; não passam de pequenos núcleos de povoamento, em
que s6 mais tarde, nos séculos XIX e XX, vieram a formar-se alguns centros
urbanos de valor e importância locaís. Das vilas do planalto do centro sul,
uma, sobretudo, a mais antiga, fundada por MARTIM AFONSO em 1533, assume,
na bôca do sertão, uma i.tnportânda capital não s6 pelas suas condições topo-
gráficas como por constituir, com São Vicente, no litoral, ''os dois focos iniciais
de irradiaçao paulista, e terem nela a sua origem Taubaté, Itu e Sorocaba, -
outros tréa grandes focos de conquista, expansão e povoamento. Situada à
entrada do sertão e à margem do Tict~ que ~ um caminho de penetração na-
tural, e a 60 quilômetros de um pôrto de mar, e mais tarde, numa encruzilhada
de caminhos que se estendem em quase tôdas a direções para o Paraná e Mato-
Gro:i o, Goiâs, Minas e Rio, Piratininga é no planalto o lugar onde começam
os caminhos do mar e os caminhos da terra, que ornam a sua exis éncia mais
estreitamente ligada à circulação do que aos mercados. Sõbrc os destinos
dessa vila, no tempo das bandeiras, e dessa cidade, mais tarde, na idade do
café, como na sua fase industrial, influiu mais do que sôbre os destinos de qual-
quer outra, a história dos caminhos que para aí afluem ou dai e irradiam, com
todo o seu poder criador, desde as origens de Piratininga, - o caminho dos
índios pela Serra do Mar-, até o período mais brilhante de sua civilização
atual. Mas, como o foco litorâneo de São Vicente que se esgota, não s6 ali-
mentando os focos de serra acima senão tambêm projetando pelo .litoral, na
direção do norte e do sul, a sua ação colonizadora, São Paulo de Piratininga,
no planai o, não se desenvolveu senão para impelir 'tôdas as suas fôrças vivas
para os sertões do norte, do oeste e do sul, à caça do índio, à procura do ouro,
ou pela sua atividade pastoril, em busca de novos campos de criação.
Em geral, o circulo de influência das cidades varia com a sua importância
e a diatãnci entre o ponto de partida e o de chegada, ou o que se poderia chamar
"a amplitude da onda de ímigração", é tanto maior quanto maia considerável

S O. ■kl,.meu i:rto ~ de fadi p&nHllto em dct«mioado lapr


d lri • q « pda r~uçlo em uma aldeia jà o Parqu■J cocn:, IIO Á>'llUOftH,
o pm,to d• partida ou a6dco lllicial decmnnerosu • 1
pdQI jcsu{tu ao anl. eram arpnimdn ao
nciptl da C.t:.eqllcsc d<>gemi, e com:, um
citam tllmWm, por iniciatin dot jnllf para
d .. , o■:tddu, o ■ mu..-parte, 4.,. • • e;,~ e
~. Cananfja, Santo ~. dc _,,..,., de a..f
Cattte>. Sac:nmc,,to, lcu-tesnil. A capela qac Ji Pft:lllls><ic planalto,
como all6a por todo o territ6rio btui1ãro, "de rucaç1o de cm t:O<fto
da e.pela, acrcve Ruw-.iu BoUA os 14011.US,. que sc cria • Em t6nlo
dela o C'OO\Erc:io,o c,cntro cmmim:idor, - ■ r~ ~
eom , ~ CID que .e pode bus,:ar • origem de " tCC'04hcce
o P' 1111VOJtAIS em relação ao plaaalt'O, ºun:, o povo■me:oto rural, o.o,■,10, que
par■ o to coocencrado cm forma de cid&d.e".
AS FORMAÇÕES URBANAS 67

o centro urbano. A amplitude da onda de expansão dessas migrações desbra-


vadoras que tem como ponto de partida São Paulo de Piratininga e depoi
Taubat~, ltu Sorocaba, e senhoreiam todo o Brasil-central e meridional não
tem por&n qualquer relação com a importância ou o volume dbse agrupa-
mento urbano, cujas crgias colonizadoras se prendem antea à assombrosa
atividade dinâmica dessa raça de mestiços, que se plasmou no planalto, e daa
fôrças econômicas verdadeiramente fecundas (o índio, o ouro e o gado) qu.e
impelem os bandeirantes para os sertões. O que essas correntes povoadoras
ganham em extensão ou em auperl'ície, atingindo por 'Viasterrestres ou fluviais a
disUnciaa prodigiosas dos seus pontos iniciais de irradiação, perde cm profun-
didade a vida urbana, ainda nascente, cm que se alimentam e a que voltam,
para restaurar, com novos recursos e novos homens, as suas fõrç de coloni-
' RÇJo. A, bandeiras paulistas extraem, de fato, de uma raça vigorosa e de um
aangu~ jovem, - a raça e o sangue dos mamelucos, povoadores de Piratininga-
- uin exce980 transbordante de fôrças que as sangrias, freqüentes e quase
perió,dicas, das expedições, temperrun dificilmente, em cêrca de um sêeulo de
apaneõea acrt.ancjaa. Fundadores de currais, caçadores de escravos, deaco~
bridores de ouro, oa paulistas açulados pelo espírito de aventura, pela cobiça
ou pela necessidade de expansão do gado, dispersam-se por tõda parte,. de-
vassando aertõcs, abrindo caminhos e cstabelecendoJ ao norte, ao sul e a oeste,
núcleos de povoamento e de civilização. A pequena vila de Piratininga des-
povoa-se, mas para povoar, nem chega a enriquecer-se: 6 o paulistas, senhores
das minas descobertas são despojados de suas terras e repcJido em 1709 pel01
~boabas, rein6is e sertanejos da Bahia que lutavam por anular pela fõrça
privilqios dOB bandeirantes; e, ccino um símbolo, FlmNÃo Das morre em
1781, à margem do rio das Velhas, apertando contra o peito as pedras verdes
que supunha esmeraldas. . . sucessivas sangrias em sua população, a enorme
alta dot preços que, entre 1690 a 1709, levantavam o clamor do povo "cons-
trangi.do da necessidade", e, cm geral, as perturbações econ&micas na antiga
zona povoada de S o Paulo, em conseqüência das migrações internas, não
permitiram que no planalto paulista atingisse, nos séculos XVII e XVIII, a
menor intensidade o íenõmeno urbano que é, por sua natureza, um fenõmeno
de concentração e ao qual as bandeiras, pelo seu caráter dispersivo e expan-
aionista, opunham, em ai mesmaa e nas suas conseqü!ncias, um obstáculo in-
1upe:rAvelem quase dois séculos.
Onde se vai produzir mais intensamente o fenômeno de conce.ntração
urbana ~ nas regiõe das mi~as, descobertas pelos desbravadores paulistas, nas
•uas formidáveis incursões pelo sertão. Mas o fenômeno urbano que não se
deve confundir co-m o de povoamento primário, feito por uma grande varie-
dade de sistemas e por etapas, não se processou senão através de diíiculdadca
e, a prindpio, em luta contra dois fatôres de dispersão e mobilidade das po-

8 Alad.to.cni prindpl .. do .&..lo XVll, a limplicldade e1utia. e a pobrsa da. l.cltaiora d


'ftlam como diferia da ,rida 4n ddad.e,,, 1:11U _,.. _,,euu, • vida 111"becua.as • do p!Jrcwto. 11:,o
Paulo, N CNN de pa .... .plque a.. de tarpa, de pc,dra e cal, c:obertu a. prindpii, de p h• e, m t d , e telha ,
quando e.e tipo de mbcrtura Jt b.-via di/ulldi o pelo litanl, d1> ienimente t&Teu e, qu ad•••
- ..:woX:VlJl, ape,>a1de d pavimentos. Os m6vcis, timplet e "9CU:mL B 1 .. ,., da ~ a rfdc u llud
por· ocull.o da
pdo ~o do plaMlto. m 1613 aiad nl.:I havia c:m Si.> Paulo m' que cuu cama q
- ,rio a - ddade, i • c::oD1C&ulda .,.,.. o c~or. maítb ■ contrqaltO do ~o. Ao qoc p,uoco,
ao p«iodo mala lnl daa balldelrat, rui:, cn, m.uib>di-n:na a paiucem urb&u do DCGQCQO bwto ac la ■ I •
..__ te u coadi de vida, a ~ la' para UJD IT'lPO d.e forn q t a.til. nu
A,o,cao B. T,Ull!fAY, "a o,paiu,_çl:, d.a~"~~ Allb, de tre ti , •6
- - ee tornou ram- pc. .,... , o do P~ Gvll.al:&Jd PoVPsu, da ta=llia doa Lata. .. qw: COl'llq\lC,ee,1,
41a ""'"90 a. TA.tUlAY, J- o tenitório d.a mineraçio e limitand~- a - o ronccedor d m •
.....S- aq faro,td., c:rop,a,a6 tropU, cooduziodo vivere.. ferraa:=1, o., .nna , pó!" , yad to,
q • •. , ~• o6bre. boladu, varu o6bre vM'H de pYCos", Entala •118fartu.,..., betdaJ.a d pat. e daea.
'tGhWa com 6qa. de ab tcclmento du bandrir.s que, em 111.a c:ua, .e dava a.o IWtOde .,..ater, pai-a h611•
pak,o, ''cem n, 1e UIIIA com ae11cort!nado pr6prlD, leuçóis fio09 de bttta.nlia e wna bida de pra.ta d o
de cada uma de ." A prataria que dc,oia do Peru, ■ trav& da ardilhma, c-tltuil a pru,dpal riq- du
- baDdciru
68 A CULTURA BRASILEIRA

pulações sertanejas. atraídas de todos os pontos ,para as minas gerais" pela


ilusão sedu ora da riqueza fácil e rápida. na exploração do ouro. A notícia do
sucesso das bandeiras, afluem da Metrópole e da col rua,du aldeias de Por-
tugal como das vilas brasileiras, e até dos recõocavos e do fundo d0$ sertões,
um mundo de imigrantes, brancos, negros, tndios e mestiço 1 aventureiros
rc:in6is e sertanejos da Bahia, que vêm juntar•se ao, paulistas, senhores, po.r
ou orga de concessões reais, das terras descobertas. Multiplicam.se, na região
das minas, os arraiais, as povoações e as vilas; e os prim iros centros minera-
dorea, Cat:Qguasese Sabará, Vila Rica e Mariana (esta tres últimas elevada&
a vila em 1711), Caeté e Qucluz7 "são, por seu turno, os focot originários de
um sem número de vilaa, aldeias e arraiais que se distribuem pelos vales do .rio
das 'elhaa, do Paraopcba e do São Francisco e pelas chapadas das acrraniaaº.
A população a:escente de forasteiros, atrafdos de longes terras pela obsessão
do ouro, em vez de se concentrar em algumas vilas, dispersa-se, íragmenta~se
e como que "se pulveriza" em wn ,número extraordinârio de arraiais e povoações
que, desenvolvendo-se antes de tudo pelo vale do rio das Velhas, se estende
pela bacia do Jequitinhonha. onde surgem, fundadas ainda por paulistas, as
vilas de Diamantina, Grão-Mogol e Minas Novas. be íen meno de dispersão
que ae explica jâ pela marcha do sertão a d.entro, aempre à cata de novas minas,
ji\ pelas lutas entre emboabas e paulistas que, desalojados de auas terras, con-
tinuam a penetração dos sertões por Mato.Grosso e Goiás at~ onde não chega
• cupidez do português intruso já pelo desassoss~o que reina na capitania,
devido às extorsões do fisco, 1 tem a acentuã-lo ainda mais a pr6pria naturen
da exploração do ouro de aluvião, que se depositava nO! leito e nu margens
dos rioa. A facilidade com que as minerações mudavam de loca), favorcceu
não penas o desenvolvimento do espirita de insubmiasão, que fttmentou nas
minas, mas a dispersão dessas populações beterogbtcas e flutuantes deslo-
cando- constantemente em busca, ou à primeira notícia da pepita que brilha
na areia do rio ou se oculta nas vertentes das serras. S6 mais tarde, a partir
de 1720, como observa BARROS LATIF,os trabalhos vultosos exigidos pelo ouro
de montanhas radicam o homem à terra, e a concentraç o doa mineradores,
peta estabilidade do trabalho. fazendo a população perder o carãtet nômade,
aventureiro, contribui para fixá-la e leva os senhores de lavrai a construir suas
casai junto às minerações.
Assim, pois, se o sêculo XVII, o das bandeiras, foi o s!culo da expansão
territorial, da conquiste. e do povoamento, o século do ouro, o XVIII foi, com
o decUnio do patriarcalismo rural, no norte, e do movimento das bandeiras.
ao sul, o século d.o desenvolvimento das cidades, onde se formara e já ganhava
corpo a nova classe burguesa, ansiosa de domínio, e jã bastante forte para
enfrentar o exclusivismo das familias de donos de terras. Das diversas áreas
coloniais, Pernambuco, Bahia, Rio e São Paulo, é a de Minas Gerais onde mais
cedo se processou a diferenciação no sentido urbano. Em Minas, o século

7 O. lms-toa que n,cmram '6btt • ~ do owo e


d wa •~ mcmop61io. e• dt~ da ptod pan lbb-, ati,,
e l milúia popwações du .min&t. A mdl li.li.li morm,:, do•
pr opnaivu da l4etrôpale, eq>lodiu...,. de Vl Rica,
ao 1720, - quc N dntaca • r&&.or■ ~ de Fn.IP& Dm coadenado • morte
orc:ado,anulado l_ amda de um cavalo pc1q o d.e prod,do :mab
• riQ
d.e 1710 • 1760, c:amiJma•• a maior
dm eeu.bara da 1avru, eu.Ire ,. qual1, e • Metrópo:e,
,.. 11& =~• -
r'C1)■l'tMI • prodoçlo.
t'OCl•
.Foi
e poUdc:o an qac íerm:o:blvazn tod,. ,. 1«m .. da rev ta, q roml)CU. ■l=al, com esf.
cOQJ IIClodoe~ tnmada, ao calor UbaUtia:,, wn p<10bado de padtts.
e a mnmo de of'"->ciait do fammo de ,q anI.ram em
t4mo da fi&urade 'l'lRAD~ "o mirtir mais atdcnte do, arau do D e .i·•. A ane-
ced orclcDada, do im~ doe qai.Dt.os atrasad<>1Dlo devia f ai.o • !Plll' pan a ~volta doa
q IODha••.m c:om a ind,:peod~ e alin,eatavam ideai• rcpu
AS FORMAÇÕES URBANAS 69

XVIIl t de diferenciação intensa, escreve GILBERTO F'JtEYRE, e às vezes em


franco conflito com as tcnd!ncias para a integração no sentido rural, cat6lioo,
portugu&: e é em Minas que, sob o influxo do ouro e da burguesia dai cidades,
dominada pelos grandes magnatas das minas, 8 se desenvolveu, com wn vi-
cc,roro espfrito nativm.a, a fase mais brilhante da civilização, oo perlodo colo-
nial. A cidade jã se ocupa com a inat:ruçãa; cresce o inter&se pela coisas do
ap{rito, e oe senhores de lavraa e burgueses mais abastados rnaodam os ís.lboe
a Coimbra ou a Mootpellier para fazerem seus estudos. "Sobe pelos caminhos
úperos, lembra BARROSLATU' um ou outro cravo e, maia tarde, no com~
do RCUlo, esfalfando boa quantidade de mulas, chegam os primeiros pianos".
A vida IOCialadquire intensidade e rclêvo, com o desenvolvimento do com&cio,
es:pande-1eno luxo, desabrocha na flor da cultura e du arte, e no faat!gio
do lembo e do poder, e, depoia de repontar, agressiva, nu revoltas temerárias,
ae embuça nas conjurações de independência, cnq:uanto 1e transf onna radi-
calmente a paisagem urbana, com a construção de templos, casaa nobre, e
tc>brados. Se o ouro que saiu das minas, permitiu a D. JoÃo V o luxo oriental
de sua cõrte e deu a Portugal Queluz e Mafra, foi bastante o que ficou na a,.
lõnia para o eaptendor de Mariana, de São João del-Rci e, sobretudo, da tor-
tuosa Vila Rica, cngrimpada no flanco das serras e cm cujas igrejas, rutilantes
de riquaa.s, pompeia o fausto da arte barroca, brilha o ouro batendo no ribete
doe aJtaret e ac erguem as estátuas e os púlpitos de pedra sabão lavrados pelo
Ãll!JADINBO. Mas, não são somente as cidades da região daa umi.naa gerai"
que 1e dcacnvolvcm, produzindo-se, cm conseqü~cia da mineração, o maia
poderot0 surto urbano do periodo c:oloni.al;deslocando-se o ceotro político do
pala, da Bahia para Rio de Janeiro em 1763-,essa cidade, - escoadouro da
opulenta produção das minas, e já agora a nova capital do Brasil, adquire um
taJ impulso que cm 50 anos, de 1750 a 1800, a sua população se multiplica,
aumentando de 25 mil para 100 mil habitantes; cresce notàvelmente a sua
importAncia econômica e, se não se aformoseia prôpriamente o seu aspecto
urbano nem ganha brilho a sua vida social, já apresenta uma extensão conai•
dcrável e aa proporções de uma capital. pela intensidade de movimento e pelo
n6mero e valor dos eclificios públicos. A sua natureza incomparável; o movi-
.mento do põrto que a transformava no maior centro de com&-cio de exporta-
ção; o sistema de via ão terrestre e marítima que a ligava a tôdat as capitanias,
e o deslocamento, do norte para o sul, das fronteiras econômicas, tudo
contribui para impelir a um grau mais elevado de intensidade a vida urbana
nessa cidade, para a qual se havia de transferir ainda, com o ciclo do ouro,
o centro político e, com a decadência da indústria mineradora que o retinha
nas "minas gerais' , o próprio centro de cultura do pa!s.
Nenhuma atividade econômica teve, como se vê, maior influ~cia n criaç
e no desenvolvimento das cidades do interior e, portanto, na produção do fe-
nõmeno urbano do que a indústria mineradora, não s6 na região das "mina
gerais", como, pelas suas repercussões, sôbre o centro comercial e político que
deslocou para o Rio de Janeiro e contribuiu para desenvolver e diferençar, no
aentido urbano. Certamente, "na obra de colonização de nosso interior acrta-

1 & 1710 ir 1760, dun111te rz- meio......_ que atÍOll)u ao mhimo d tatanldack • produ o
._ ''nw>P ", pa,ra Ú' d n.ando at6 prl.odpü)I, do .&:alo XIX, ca que ie mn1f1 r- a •
- dcaideaáa. O d val-,i to ela cultura latdectu4, eamo C08UIIUI -• - pais Dia l paralelo
- llimulliDeo "º
m, rc.t.çlo • ~ pn{odm de iDl>:lno IDIJYimcnto acool&Dlc,o -, edq • •
_,.,,. iAtffilldadc, w,da -.Se do -.cu.lo XVITI.COIII os lúcn:a e • tnDQGllidado q,. J6 ddxa H
for1- mM mab udlacrlbufd••" do que ao. pcrlodo, de in- produç,lo. Nmhwn doe mapataa dq millu
4c CIQIO~. , • fortuna acumulada par aJcum coatra.tadora d,- dl11na11tn. emno e.e 11 Jolo
....,.Affl>a oa OIJYilM que, p,tt-. oatcntar o KU poderio, lb cOllatruir tanplo. o palida. e, - wa tcàdenda
-"orial, tatN> Ja.rdl 6t!.,.., e CQJ• rique,,,i,, ~o ao dcmillio da ~, ficou como • apr mai
ptllraca do )ID'O e da OI ata artoCl'ftle de.e. a,rm.twcin,a aariqaecid .. au
70 A CULTURA BRASILEIRA

nejo não há agente, diz OuvEJRA VIANA, mais poderoso e eficiente do qu_eo
pastoreio. tte t a vanguarda de nossa expansão agrícola. O cUJTSlprecede
a fazenda e o engenho. Depois do vaqueiro é que vem o lavrador; o gado pre-
ludia o canavial e a plantação cerealífera". Os vaqueiros, pastôr e criadores.
paulistas, baianos e pernambucanos tangendo à frente os cus rebanhos de
ado, levam o povoamento às regiões mais pr-ofundas do no sos crtões, do
norte e do sul, semeando de povoações a região setentrional, a bacia do São
Francisco, os campos e chapadões de Mato-Grosso, e impelindo para o sul.
a t as serras e as savanas do Rio Grande, a obra de colonização pastoril. Aa
migrações de gado, conduzido por sertanistas audazes, por todos os rincões
agrestes até os recessos dos altos sertões, é que fazem recuar cada vez maia
"essa barragem viva e móbil que formam os índios e as federações sclvícolas
dificultando a penetração do -interior"; e é ainda por intermédio da pecuária
e pelo movimento das tropas de muares, que se consolidou a ocupação de vas-
tissimas regiões do pafs, onde, por tôda parte, grande número de povoações
e de cidades tiveram as suas origens na atividade pastoril, acusada, ainda hoje,
na variedade bucólica e pitoresca de sua toponímia (Vacaria, Curral, Campc>
Grande, Campos, Campinas, Pouso Sêco, Pouso Alto), tão altamente cxprcs.-r
aiva da influEncia do gado na colonização. Mas, se o ·pastoreio exerceu uma
função primordial, alargando as fronteiras econômicas, e foi, evidentemente,
um dos tistcmas de povoamento do país, assinalando "primeira ocupação ..
de uma região ainda vazia, êre constitui um tipo de povoamento primário, de
uma prodigiosa mobilidade e de um grande poder de cxpan o. "A pecu~
obscrv com justeza AFR.ÂNIO PEcxoro, goza da faculdade peculiar de ocupar
grand Arcas com pequena população· ê uma indústria extensiva por cxce-
l~cia". Fator de ocupação e de povoamento, de primeira ordem, de dispersão.
e não de concentração, não é, em parte alguma uma fôrça capaz de contribuir-
para a inten ificação do fenômeno urbano. As povo çõea fundadas por pu-
tõrcs e criadores de gado, junto aos pouaoa, às feiras e às fazendas de criar,
aão fonnaçõcs urbanas que se cristalizam, se desenvolvem e se diferenciam
lentamente, sob a influEncia da produção da pecuãria e do com&cio pastoril
Q,uc,não exigindo senão vastas pastagens e latifúndios para as massas de re-
banho!, não fazem das cidades focos de atração de massas humanas, nem lhes
permit m, enquanto não se emancipam do comércio de gado, condições de
vida própria, nem lhes exigem, peia "rusticidade" inerente a ~se comércio,
o clima e o teor de vida das cidades profundamente diferenciadas dos campos.
lt pois, na larga faixa da costa, que a intensidade do movimento econô•
mico, nascido do comércio de exportação e favorecido por êle, tende a esta-
bilizar as populações urbanas e a resolver-se finalmente numa ascensão lenta
da classe comercial e da classe industrial, constitufda esta ainda de oficiais
mecânicos e de exploradores de pequenas indústrias. Essa ascensão, sobre-
tudo, de bur ueses, comerciantes e banqueiros, f, nau cidades vizinhas doa
latifúndios agricolas, tanto mais sensível quan o corresponde a um empobre-
cimcn o gradual d classe senhorial. fàcilmentc observável pelo habitual do-
aequilfbrio de seu orçamento, pelos expedientes o quais devem recorrer os
senhores de engenho para manterem o seu teor de vida e pelo deficit crônico
ao qual devem fazer face e que tende a transferir o eixo cconõmico e político
da, "ca,as grandes para os sobrados". Mas as própria cidades coloniais que
chegaram a desenvolver-se e atingiram prematuramen e certo grau de inten-
aidade e brilho social, como Recife, já no domínio boland~. e Vila Rica, no
aéculo XVIII, sob o signo do diamante e do ouro, cresceram e entraram em
decadência. antes de alcançarem a maturidade e conhecerem todo o vigor de
expansão dos centros urbanos. Certamente jã. começavam a aparecer, por
AS FORMAÇÕES URBANAS 71

tõda parte 1 os sintomas de uma nova classe ansiosa de domfnio de burgu ea


e comerciantes rico , cm cujas mãos de credores se diria estalarem às vbca
os cmos da velha aristocracia rura1, arrogante e endividada e se manipulavam
os recursos de uma nova técnica. - burguesa-industrial, - em seu período
rudimentar e vacilante de formação. As aglomerações urbanas, porém, - e
as mais antiga e flor tes não passam de aldeias grandes - nao tinham
apena a entravar-lhes a evolução, as distâncias e o isolamento em que ve-
getavam: o movimento e a dispersão da massa social que se acentuaram, com
a expansão das bandeiras, e a deslocação de fronteiras econômicas, que ora
avançam ora recuam, com a oscilação e mudança dos produtos contribuíam
para impedir a formação de grandes focos de concentração urbana no litoral
e no planalto. Pais novo e cm formação, quase todo por povoar, as suas po-
pulações não apresentam, em parte alguma, êsse forte apego ao meio nata1,
próprio dos povo que atingiram a maturidade, e não tendem a emigrar, ainda
que vivam uma vida material medíocre: elas se caracterizam, ao contrário;
pelo gõsto do perigo, das migrações e das carreiras de aventuras. A necessi-
dade de novas pastagens, a multiplicação de engenhos e de fazendas de criar,
a expansão das bandeiras e á descoberta das minas mant~. em movimento
incessante, uma boa parte da população de diferentes regiões do país, - po-
pulação móvel e errante que acusa, nos seus fluxos e refluxos a história do pas•
toreio, das expedições sertanejas e da mineração, na 1ua intensidade e .nos seus
dcclin.ios.
Mas. quando cessaram, embora não inteiramente, êssc movimento e essa
dispersão da m social e diminuíram notàvelmcnte de intensidade os íe-
nõmcno de migrações internas, do litoral para o interior e do planalto para
o sertão cm tõdas as direções, iniciava-se, no país, uma dissociação profunda
e, com ela, uma diferenciaçao que diversos fatórcs sociais e econõmicos tor-
naram cada vez s:naior, entre o litoral e os sertões. Essa fragmentação de que
resultou a formação de duas mentalidades que, a poder de se diferenciarem,
se acabaram por opor, constitui um dos aspectos mais interessantes de nossa
formação 110ciale histórica, fecundada pelas migrações internas e paralisada
depois, ao menos no interior, pelo iaolamento das zonas povoadas ou ocupadas
dos sertões brasileiros. Na sua marcha para o oeste cm busca do lndio arisco
ou das minas fabulosas, - eis como HUMBERTO DE CAMPOS fixou bse fonô-
meno, - "iam os portugueses e brasileiros dos séculos XVII e XVlII seme-
ando aa fazendas, os engenhos, as aldeias, em que alguns dêtes se fixavam,
fazendo face a todos os perigos do imenso deserto verde. Cessada a caça ao
aborlgine e desfeita a ilusão do ouro e das pedrarias, as bandeiras foram ••en-
roladas", e voltaram ao litoral. Os bandeirantes que se haviam es belecido
na terra, ficaram, porém, nas suas propriedades solitárias. Oa casamentos
asseguradores da conservação da raça faziam-se entre parentes. Os vizinhos,
situados a 30 ou 40 léguas, tornaram-se inimigos, pela demarcação dos lati-
fúndios. Com a abertura dos portos na alvorada do século XIX, ato que con-
tribuiu para a intensificação do comércio~ com prejuízo da agricultura e da
indústria pastoril, as populações das proximidades do litoral voltaram- e in-
teiramente para o mar, tornando mais profundo o isolamento do homem branco
do extremo sertão''. As vilas e povoações, e ainda as raras cidades de pro•
porções diminutas, disseminadas pelo interior, passaram a contar com ua
próprio recursos, involuindo muitas vezes, numa vida obscW"a e apresentando
tôdas um aspecto rudimentar de aglomerações humanas, resignadas e fortes,
cuja energia q e elvagem se tempera na resistência à natureza e ao isola-
mento. A vida dessas cidades se dilui e se absorve na vida do todo de que
fazem parte e que constituj, por uma palavra, o sertão. A alta função moral
72 A CULTURA BRASILEIRA

do sertão é, dai por diante, a de ser, nas impressões de ALBERTO RANGEL. "um
i.aol dor às trepidações da faixa", o músculo central do p , "o conservador
de nossos traços étnicos mais fundos", um ' est&vo fáceis desnaturalizações
de beir -mar", das cidades do litoral que o ilustre escritor compara a pontos
medular , " centros scntitivos e motores recebendo as impressões primeiras
da cultura univcnal e dos intcrêsscs da alta e baixa extração da poUtica nacional,
e cujo reflexo será cq_uilibrado e medido nas fibras resistentes das entranhas
de no terras".
As próprias cidades do litoral e as do planalto, até noo meados do. s culo
XIX, não passam ainda de aldeias, acanhadas e sujas, atropeladas de becos
e vielas, de designações pitorescas, e espreguiçando- e, na periferia, nos seus
ranchos e caminhos de tropas, nas suas chácaras e sltio que marcam a tran-
sição entre a paisagem urbana e a solidão envolvente do campos, das chapadas
ou das serras. A vida urbana, sonolenta e obscura, chocada no funcionalismo
burocrático e parasitário e num comércio "desconfiado e ratinhão", arrasta-se
na monotonia das ruas e das estradas, cujo silêncio é apenas quebrado de longe
em longe pelo chiar de êarros de bois, pelo tropel de valos e burros de carga
e pelas cantigas de africanos e de tropeiros. :t t a primitiva, na sua sim-
plicidade rústica, a vida dessas cidades: negras lavando roupas nas bicas do
centro, muar de cangalhas, junto às lojas, e animais soltos p las ruas, tor~
tuosa e treitas, por onde, desde os fins do século XVIII, no Rio, em Ofü1da
e Recife "j começavam a rodar carruagens os solavanco pelas pedras e
pelos. buracos". As câmaras só mais tarde, no século XIX, determinavam
que a lavadeiras, diz GILBERTO F'REYRE, 'f&scm para riachos fo:-a das
portas; porque algumas cidades, como Recife, tiveram seus arcos. além dos
quais se estava medievalmente fora das portas' . De noite, por essa época.
"foi deixando a rua de ser o corredor escuro que os particulares atravessavam
com um escravo, na frente, de lanterna na mão, par ir iluminando a Jampeão
de azeite de pei."t"e,suspenso por correntes de postes altos e tristonhos". a-
gotcs de moços foliões, serenatas sob as gelo ias quietas, o deslizar de uma
aomb a de mantilha, sob a luz mortiça de um lamp o, eis a que se reduzia
a vida noturna nesses vilarejos coloniais... Na cidade de São Paulo, peque-
nina e bisonha, escorregando-se pelas ladeiras lamacenta , onde troteiam as
tropas de burros o casario apinhava-se dentro do triângulo formado pelas
igrejas do Carmo, de São Francisco e de São Bento. Era ainda em 1827 tão
pequena O que, com suas casas quase t6das térreas e de paredes de taipa, a "me-
tade da cidade" poderia caber, segundo o depoimento de TOLEDO RENDON,
no cercado ou quintal do Convento de São Francisco. As cidades mineradoras,
como Vila Rica, apresentam-se, já nesse tempo, qual cenário de uma repre-
entação que tivesse acabado". Nenhuma edificação, escreve BARROS LATIF,
nenhuma mudança inerente a uma nova atividade vem perturbar a atmos-
fera tranqüila do século XVIIl. E as belas íachndas culpidas das igrejas
envelhecem emolduradas pelo casario autêntico da época, como s um fenô-
meno e mico o tivesse fossilizado '.
a vida em cidades do litoral como Recife, Bahi e sobretudo Rio de
Janeiro, começa a transformar-se profundam te no lo XIX, devido em
parte aos fatôres de transformação da economia agrária que vinham concor-
rendo desde o culo XVIIl, para substi uir o prestígio dos nhore das "

cc,,,J Jost AltotrC>lI D"E: Touwo RsHJ>ol'I', prim • or da Acad d" Direito, uaim
N o Ml4lnro do lmp&io Josi! ~l'& PUMJU. • .abre o Cooveato de SAo l!nncitCO qw: caco!heu,
~ ■ i •tio d ~ j • .: '"!!: (o c:ercado do coavc l 6 ti.ou q o rq,11to m e dJt cidade''.
Ji BDfl PII.UJftA D1l VMC#) CIII.O.,_ =b!ltcodo aa Ancmbl6la tatl&in ■ criaçto d cun Juridjc,o5
S o Pe11lo, v■ q=, "ac viesocm J'.'ll& a Academie SO ou. 60 twtantn, nl tttuJD onde mOC'IU"en, &o
P■ull>": tao pcqocn■ lbe par~ • vclhs cid■dt: do pl.analtia.
AS FORMAÇôES tJRBANAS n

grandes ' pelo preat.tgio dos negociantes de sobrado. 10 A dccadblcia progrea-


tiva da ariatocraóa rural de que, no entanto, ainda saíram a nobreza do im-
p&io e a. chefes poUtioos das províncias e dos munidpios e a nova poUtica
da metrópole que "deixando a lavoura colonial um tanto de lado, colocav
sob o aeu melhor íavor u cidades e os homens de comércio e a~ a gente miúda",
contribufram oom efeito para o dcscnvolvimeri.to das cidades que jâ começavam
a excrccr sõbre as populações do campo um grande poder de atração. A aber-
tura doa portos brasileiros ao comércio estrangeiro, inspirada pelo VISCONDE
m CA.ntu a D. JOÃO VI, e a instalação da côrte no Rio de Janeiro em 1808
aceleranm ainda mais o progresso dessa cidade que, al&n de capital do Br li!,
havia quue meio a!culo, se tomou de momento para outro a sede da monarquia
portucu&a. 2 fácil compreender a influ&ncia social e polltica, que exerceram
'IÕbre a ~•grande aldeia" que era ainda o Rio de Janeiro, a chegada inesperada
de D. Joio VI com a, sua comitiva e a mudança da oorte para o Brasil, por um
largo perfodo de 13 a.nos, seguido de perto do movimento da independência
e da lundaçlo do imp~rio. A vida da côrte, com t6das a suas exigências e
todo o preatfgio da realeza, fidalgos procedentes do reino, artistas vindos da
França, como LBBllETON, DEBRET e TAUNAY, e as iniciativas de D. JOÃO VI
qae cria a Imprensa Rfgia, institui a Biblioteca Pública, inaugura a Escola
de :eetu.Artes, funda o Banco do Brasil, rasga o Jardim BotAnico e ergue fá-
brica, eacolas e hospitais, não podiam deixar de estabelecer uma forte cor-
rente de renovação que, atingindo a própria estrutura social, perp , modi-
fü:ando--a, .Obre a paisagem urbana da velha cidade colonial. 11 Não -o sô-
mente a presença ativa de D. Joio VI, o brilho da vida da cõrte, o prestígio
que lhe veio de er a capital do Império e o crescimento de sua popul o
que asseguram preponderância à sede da monarquia e, depois, cidade un-
perial: jomaia e tipografias que se multipli~ a prosperidade de suas escolas,
o impulao de aeu com&cio, tudo contribtÜ para fazer do Rio de Janeiro o maior
centro urbano do pai , e da opinião carioca uma das fôrças vivas da Nação.
Nu nw tio mal iluminadas que, por ocasião de indndio à noite, - "cada
morador das ruas por onde passassem os bombeiros era obrigado a pór luzea
àa janelas para clarear o trânsito", jã se erguem em 1854, cm subs "tuição ao
candeeiros de azeite de peixe, os lampiões de gás: e, na cidade, calçada e poli-
óada, que se derrama pelos bairros novos do Catete, Laranjeiras e Botafogo,
erguidos em terrenos de velhas chã.caras, se alia ao pitoresco o cuidado de um

10 O bradó, - tipo urb-,io d11,habita~&o, en, no ~ocio colcmlal e ao lm"Pttio, • e•• do l'.llotadl•
dot 1enhora. A ■lt11r1 dbaetl •ol•ret, rar».mcntc llltnpaaa de um pavilncnto em Silo Paulo, v.,;• de 2 • 3
andare. 110Rio de Ja.nolro, de li • 4 o• Dahl•, •tlnc\ndo • 6, no Recife, oode ee C!MlODtnl'II"' miü■ alt01, lottO•
cluzldoe ao domlolo holaod . S: uma e • CT11.nde,de pedra e cal, "urbanizada'' cm 1obfado, c:om IICUt,:Jl1ailo
de tdhu •-na,, unbltado nu poot• e de beirai■ largoo,.., r;õato chíu&, com ■uu loelu e blll norentllloe
• com fCV.I vara.nd!aa ou vvud&t, p6 .o tnteroo. iuuld01 oo vestíbulo e mllChar•bu cioe vi .in d 6nbe9,
coa,.o aquela ou dmi.mtol d l)OrtM cbl11aes e da pc111nslll•iw;c. p« interl'IIMlo do tipo i,ert111111 d•
Mbitaçf.o. Tudo .,...., tu e -61 du. de Mltora, riqueq e tip;,o irarilvria do ocrt.tt para o 1ul, e dn•
Yiadu do 1ea ~rad.ic:ma orl&ln'rio per Qe«lllidade de ■daptaçiio mc,<>lópca, dmunda, COCIIO J4 tive oca i o
de ~..-. "o rcca e • b pi Idade du famOiu lips de ,rida patriU'Cal, coj "to rdid " tteiwd ■
- a1l"1I ora tab, aoe oratórioa ou nu capelu. O. tetos ricos de m.clcica !Jlvrad• oo lliada, 01 rn
• paio&i■ de u doe e o p4tlo 11\teffiO~ que abrem, à r:aaneir• <riental, varudu e de Juw, pkm
- oota de akeri• ..., talor daJ e cnu,dc, e do■ aares doe nobra, com ■aas tndlda■ e •
de ""roe poira o ■obndo, cm um ou d • lanç<;s •C1S'IIVCd• acad.vt. lmpoocntc''. O bn4o
• uiftdo, bola e aq,era • viis. interior da wta da nlll. • 1mtc pobce da suite rica. • eco d
1DP01mboee • do aot,ndo, A emmcn mtc uma babitaç6<> de "d&oe", Aa r6tul e as cloalaa,CS.q
INlll'Oltcldau u J Y prOY!daa de vidraca e par 0óde e coa ■ luz , 01 machan • 01 6ew
U1IRta9 d feno ou t• , par onde.., pode yc,: a.rua em.- vbto, d o tipo de babl ,
• c:.rita" da vida p,lltr\vca), - a l:cn'Jadc e rcKtta atE o iocbmmtn. 0a sa: ele _. Janti , •
441- d Yldt'o ou u Vada de fcm, t.crmi.nadaa CD la-...,._,.. ainda • pftOCVpllClo de .ola, ~ d eodC'I',
-■, • rua e pcris • ceM ICfthorial.
li e .ideia de 4S 000 lllmu, acr..vc EuCUM:11 DA CulolA, ui a d brv "d
pdea q Lb C1'.lto11n1c:ldl.mla;- e. CODm'Ulda d~tc, • -, pelo recOato du ealmaa,
atulhaodo OI ales ■paw.d , ~om • vfc!Jlt cm torcicalot. cx:18dn de &cloola1 de ~. • Clllll cm-
'-tecev• o paupártmo r.i de velbaa ee.1csde cortiD.u de couro, ~o oe dl rran,an- a
capuleede aliou'". ~UCLIDD DA C171fflA, A mJJrlem da história. III. Babecode hbt6ria Ida: da
llldapeodeAda • Rep6hllc., pq. 222, 3.• t,d. Livraria. Chardron. - Perto, 1922).
A CULTURA BRASILEIRA

urbanismo que vai transformando constantemente a paisa em antiga. A3


crações jovens, educadas na. Europa, cm São Paulo ou em Recife, nos cursos
jurldícos fundados em 1827, ou nas escolas da capital, jâ raramente voltavam,
observa GILBERTO FREYRE, às fazendas e engenhos pa •arcais depois de
formados: "com seu talento e sua ciência foram enriquecendo a cõrte, abrilh~
tando as cidades; a diplomacia, a polltica, as profi - liberai , e às vêzcs, a
alta indústria absorveram-nos".
O germe de uma vida, diferente da vida rural, e achava a im constitwdo;
e, para essa vida nova, formações morfológicas de um g cro novo, - as ci-
dad , foram tomando uma fisionomia própria, comercial a princípio, pela
grande importància que adquiriu o comércio marítimo e mais tarde, já no sé-
culo XX, o industrial pela evolução que se operou sobretudo no Rio e em São
Paulo. Em todo o século XIX, o papel da indústria foi, a êssc respeito, secun-
dário· ~ o comércio que suscitou as cidades e é, antes de tudo, para o comércio
que se formaram os nossos maiores centros urbanos. As cidades aqui, como
em tantas outras civilizações, nasceram porque do conjunto da população
rural se destacou tõda uma classe de homens que pediu seus meios de subsis-
tência à compra e à venda e portanto ao comêrcio. 12 A renovação dos meiot
de transportes com a organização, iniciada em 1854, de nosso sistema ferroviário,
a correntes de imigração que se canalizaram para o sul, atraídos pela lavoura
c::afceira,o intenso êxodo rural que se seguiu à abolição em 1888, caoafü9ndo-se
os escr vos antigos para os cafezais do sul e para as cidades, foram outras tantas
fôrças que trabalharam na transformação das cidades cuja função principal
continuava a ser o comércio, não já estabelecido apenas entre a cidade e o campo
vizinho, mas entre as cidades situadas ao longo ou nas encruzilhadas das novas
viu de comunicação. A abolição da escravatura e crise decorrente, com a
qual se desorganizaram completamente os engenhos bangub, concentrados
a maior parte no nordeste, foi o ponto de partida de uma nova evolução da
vida urbana. Entre os movimentos que determinam uma dispersão da massa
social, nos fins do Império e nos três primeiros decênios da República, o do centrl-
petismo i dado, como justa.mente observa OLIVEIRA VJANA, "pelo deslocamento
da população l'W"Bl para as grandes cidades da costa e do planalto e pela for-
mação de grandes focos de condensação urbana no interior. ~sse movimento,
particular ao período republicano, ê uma conseqUmcia da abolição do trabalho
servil em 1888". A riqueza trazida pela lavoura caf eira; intensifícaç~o das
correntes imigrat6rias, depois da abolição da escra-vaf:ura; o deslocamento,
para as cidades, do excesso de imigrantes, em con eqüência da supel"J)rodução
do café; os progressos do comércio que acarretaram, em seguida, os da indústria.
e o enriquecimento do sistema ferroviário, irradiando-se do Rio de Janeiro para
Mina e São Paulo, e de São Paulo para todo o planalto, e finalmente um re-
levante impulso industrial forneceram aos germes da civilização urbana tôda.
as condições favoráveis ao seu pleno desenvolvimento.
Sob o influxo poderoso do café, da imigração e das indústrias, não é apenas
a cidade d baía de Guanabara que se transforma radicalmente para tomar
as proporç e os aspectos de uma grande metrópole, cm cons .ante evolução.
A velha cidade colonial, saneada por OSVALDO CRUZ e remodelada por PEREIRA
PASSOS{1902-1906), que rasga a Avenida Rio Branco e, com suas iniciativas
reformadoras, abre novas perspectivas ao progresso UTbano, adquire um ex-
traordinário desenvolvimento "em superl'icie", estendendo-se ao sul por magn{-

IJ B. PlJtVnB, Hi•roir• d• la B!!1ljlq11,. Dei oriclctu a11 COl'.lll!Dc<IICCtlo.cDt d11 XIV 1ilde, Bruxdlet.
Henri La111er 11, l!) o.
AS FORMAÇÕES URBANAS 75

ficos bairros residcnciai , ao longo das praias, em Copacabana e Ipanema, que


se comunicam por meio de túneis com o centro da cidade, para começar, depois
de 1930, a crescer rapidamente em sentido vertical, pela multiplicação de
arranha-cfos. A cidade de São Paulo, que jâ em 1867 estava li d ao seu
põrto de mar, em Santos, pela São Paulo Railway, e em 1877 a.oRio de Janeiro
pela Central do Brasil, dã um salto de 70 mil habitantes cm 1886, para 1 200 000
habitantes, em menos de 50 anos: iniciada a sua remodelação por ANTõmo
PRADOem 1910, a mais antiga cidade do planalto, situada agora no n6 de seis
e:,tradas e no centro ferro viário de uma rêde, cujos trilhos chegam ao Rio, Minas,
Goiâa, Mato-Groato e Paraná, cortando o Estado em quase tõdas as direções,
Íião cessa de descnvolver-ae, em tôrno do primitivo núcleo central que se alarga
e.se transforma, para se cingir, na periferia, com a sua esplendida coroa de fá•
l>ricas e de cidades-jardins. Nenhuma cidade acompanha mais de perto oa
progrea10a de São Paulo do que Santos que, tributária da região eminente-
mente cafeeira e industrial do país, se torna o mais importante centro brasi-
leiro de exportação e uma das maiores aglomerações urbanas. Em tôdas as
regiões do planalto central, constituído pelos dois Estados de Minas e de São
Paulo, no Rio Grande do Sul e em Pernambuco, em que se manifestou, cm pro~
Porções variéveis, e sobretudo, a partir de 1920, o mais vigoroao surto indua-
trial que registra a n.ossa história, 19 cidades como Campinas, Sorocaba e Ri-
beirão Preto, em São Paulo, Juiz de Fora, Belo Horizonte e Itajubá, em Minas
Gerai,, Pelotu e Pbrto Alegre, no Rio Grande do Sul, e Recife em Pernambuco,
entre outru, tiveram o eeu desenvolvimento urbano marcado pelo ritmo d01
aeus progtCUOSno campo das indúmias e do comêrcio. E, como ~ principal-
mente cm função dos caminhos que as cidades crescem ou decrescem e se tornam
núcleos de concentração ou de distribuição de produtos agrlcolas ou industriais,
e como ainda hoje, o poder criador dos caminhos, longe de se at:inguir, tende
a aumentar com a nova técnica de transportes (máquina a vapor e au om6vel),
surgem pequenas cidades novas que se formaram e cresceram nos centro. prin-
cipais das vias íérrcaa, nu bifurcações, nos auzame:ntos da estradas de roda,gem
e dos caminhos de ferro.
Certamente, onde as populações se condensam, atingindo o maior grau
de concentração e de intensidade de vida urbana, é nas cidades, capitais poU-
ticas, cujo papel e desenvolvimento se explicam, em grande parte, pelas vias
de comunicação que comandam, como portos marítimos ou fluviais, ou como
eentros de sistemas ferroviários. Tôdas essas cidades, de P8rto Alegre Ma-
naus, passando por Florian6polis, Santos, Vít6ria, Bahia, FortaJ·~a. Recife,
Par alba, São Lu{s do Maranhão, Belém do Parã, na orla marltima, e as que e
acham encravadas qo planalto central, como Curitiba, São Paulo, Belo Hori-
zonte e Cuiabã, desenvolveram-se de maneira desigual, menos sob a influ~cia
de suas condições geográficas do que pelo impulso que adquiriu o crescimento
eoonõmico, agrícola, comercial e industrial, dessas diversas regiões. Na reali-
dade, ob erva LuCIEN FÉBVRE, "é o Estado que cria a capital. Sua prosperi-
dade cria a prosperidade, sua decadência acarreta a da cidade que escolheu,
como cabeça ', aegundo se pode elucidar, entre nós, com o exemplo frisante de

1! Mu, •inda OQ p1a... 110 paulrna, em que aa indúatrlaimprimiram um impUl aotiw 1 • d o


cban:a, determinando m.qn!Ocoe «Gtrol ele coademacão, mm pr6.úmo,, uru doo outro,, ~nt&ln íort:ea:,enc,
...........
aa dU: tte • Yid \ltbana e• vida rur-1, se:par-.da., p...- ~ vul e I os, com todo,
• aapKbla du pai p,tm\ va,. Nlo .e nl daa cidades pam oa ~mpoe de eultww ( í•-
Ml>du) oo pelM ma uman uu1u, ord pde mão do bi::rmetn. m.u par• u ma • CUDpGI, ~,. e pi••
..,._ \Ma recllo u,C'Ulta v; apc,... d~ peloe dcsbraTadarea do ~ Nada aiodll que
pas,eça com• pel•lflll urbana rurlll. endo-,r,.,. llldamn. par enuiplo. 4,. tal ÍCIMIUI q IDe1 pa'·
c,rbr. ar • 11(10 e1111e duaa pal ""• tio l!põcameutc difei:=çadu e111:rc 61, m o rccílo mah cu1 nela
â pl&na\to 1141 : o cams,o lo l& que KIJl&l. CAPU CQlllpllf8.V& • um ~jardim 10&1 '', para mrptlm • que
ponto - pai.,e111 foi tr•b-.lbtlda pelo homem, •pft9CG.la•Ko "'com. o. .e111camtaho,, mbn , aeut eottefH
aieandldoe por detr-,, daa 6rvOl'n e • 11t pred.,., conto paiaaf:'em du m • canHarh • de WDII dvil o".
76 A CULTURA BRASILEIRA

Manaua que se desenvolveu notãvelmente com a produç o e a alta da borracha


no Amazonas, para estagnar, por longo tempo, com a ttisc dessa exploTação.
Daa cinco cidades, capitais políticas, no planalto caitral, São Paulo, Belo Ho-
rizonte, Curitiba, Cuiabá, e Goiânia, - de tõdas a mais nov , e ainda cm cons-
trução, - a de Belo Horizonte teve uma formação original que e acusa na
bclua geométrica de suas linhas, retas ou curvas, na vastid~o magn:ífica dai
ruas, das praças e alamedas, e no luminoso estendal de parques e jardins. Velha
aspiração dos inconfidentes que já sonhavam cm Vila Rica com a mudança
da capital de Minas para São João del-.Rei, • por ser essa vila mais bem si-
tuad ", a idéia da mudança da capital, ventilada dez anos depois da Jndepen-
d~cia; tentada em 1843 pelo General A.NDRÉlA, BARÃO DE CAÇAPAVA, então
presidente da província; novamente discutida, em 1852, quando governava
Minas o Dr. Jost RICARDO DE SÁ RiGO; defendida com ardor pelo Padre PA-
ufso na Assembléia Lcgislati,;a, triunfa afinal em 1893, depois da campanha
a que estão ligados os nomes de ALEXANDRE STOCKLER e JOÃO PINHEIRO, com
a lei' n.º 3 adicional à Con11tituiçãodo Estado. E, em menoa de 4 anos, come-
çada a construir em 1893 e inaugurada a 12 de dezembro de 1897, surge a nova
cidade, no descampado entre a serra da Contagem e do CUJTal, aberto para
horizontes largos, a que deve o seu nome, e, por um dos lados, par o Pico da
Piedade, - "velha mira dos primeiros bandeirantes". Em pouco mais de 40
anos a nova cidade, à qual se transferiu da legcndâria Ouro Pr! o a capital
de Mi.nas, e que guarda intatss as tradições intelectuais de Vila Rica, expan•
de- , enriquece-se, apura-se e se aformoseia, ultrapassando com seus ·200 mil
habitantes a moldura circular em que a pretendeu encerrar a plêiade doi. seus
construtores, a quem, nas próprias expressões de AARÃO Rsts, um dêles e o
chefe de todos, se confiara "a missão quase taumatúr,..ica de dotar o Estado
com uma cidade, - verdadeiro conto de fadas'.
Que estamos muito longe de uma civilização tlpicamen e urbana, ainda
oo planalto centro-sul, não há sombra de dúvida: a1 para prová-lo o fato
de que, de tôdas as cidades capitais, do litoral e do interior, sõmen e duas já
ultrap aram de muito 1 milhão de habitantes e apresentam caracteres nov01
e distintivos das metrópoles modernas. Essas cidades que s tornarem cosmo-
politas e nas quais a indústria já passa ao primeiro plano, são o Rio e São Paulo.
grandes centros manufatureiros: o Rio de Janeiro que se tornou a mais im-
portante cidade do país, porque é o centro não s6 de uma vida econômica in-
tensa, mu de uma vasta administração, e São Paulo, porque, sendo o maior
produtor de café, desde 1886, se tornou em seguida o maior parque industrial
do Brasil, com a vantagem de ter a seu serviço, a menos de 60 quilômetros,
um pôrto de mar, em Santos. Ainda mais, se a cidade é, na sua origem, o pro-
duto de uma diferenciação entre a lavoura que cultiv a terra, e um grupo de
artesões, comerciantes e industriais, estabelecido no centro desse campo, CS·
tendendo-se mais tarde as relações comerciais e entrando em contato as di-
ferentes cidades, dessa aproximação e d@:ssecontato resultam entre elas espc,.
cializações novas. Ora, não sômente não se formaram ainda, a não ser em
São Pau.lo, compactas concentrações indus •ais, u como tam~m não pa!sa

1 P &ti lD DA CmmA ar:,6.8lido-ec: .._. ~ de Ru.wJ:Lo AJ,.yq f,-robl1ttn11 da Vl1t~o


Fln PIU• M•.to-0,ono), qw, •.,. ternnm e A. DO p....._.,,,
e ltupur■, ao Tict!, d' bmtll::I uma 1~ llào a bur vi lm iad 17· • d•
da Sul, cl.bpoado da mec:Acica inealeuav-d daq - • dcrl<nda do
Avarllll&aaa,,a e a-amíonnand<He 1111!1111cuerp& c- da i.nd.1htriH
tr-c:lo du alndu de ftrt0 que par ali ~ previ• ~••
,iaqudea 111.1 , onde maJ .., dutlacuem h l9 • afoead ..
-i •naa de malo;:rww, <:Ol6aill militar, - u. do futuro. So.
tnt,;ado 1e 11d e eh ..,,- uma du mais ronconid QC&la,, do maior uilico ln bioo d e ç011.
tlllntc; porq • ta) o dClltiao ilt~ca:tal da Nor"" t• lnmdnl dioitio". (A m.•rgem
da ltleldr/a, p4&. IGO, :!,• 19113).
AS FORMAÇÕES URBANAS

de um esbõço de divisão industrial do trabalho o processo de "cspcciafü:ação


ou diíerenciação" das principais cidades manufaturciras. A desproporção do
número e da importância de grandes cidades, na costa, em relação às maiores
do interior, aliú próximas tõdas do litoral, como Belo Horizonte,. ligada ao
Rio, São Pau.lo a Santo,, Curitiba a Paranaguá, mostram que permanece vol-
tada para o AtlAntico e sujei.ta a t6das as infiumciat externas a civilização
nacional. Mas não hâ pafs que tenha nascido de si mesmo, ou que, para aaacer
crescer e conatituir-se, tenha podido enmir-se de influências exteriores. "O
choque vem de fora, escreve VmAL DE LA BLACRE-.Nenhum paí, civilizado
é o artificc ezclusivo de sua pr6p.ria civilização. Ou, ao menos, não pode CD·
gendrar ecnão uma civilização limitada, como um relógio que, depois de algum
tempo de marcha, pâra logo. '! preciso, para que se eleve a um grau superior
de desenvolvimento, que a sua vida esteja em comunicação com a de um do,.
mfnio mais vasto que o enriqueça com a sua substância e que nele inmtre novos
fermento&". Esta circulação de seiva e de correntes de vida e de renovação
ae faz pelas crandes cidades que, sendo CS$Cllcialmentecentros de trOC4se de-
eenvolvendo-ae com as trocas comerciais, são os focos incontestados do pro-
lJ"CS90: ~ nelas, como j6 ponderava E. DuRxHEm, que "a influencia modera,
dora da idade desce ao minimum, a tradição tem menos império aõbre os
esplrit01, e ~ nelas que a idéias, modas, costumes, necessidades novas se ela-
boram para ae espalharem cm seguida pelo resto do país".

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Introduç o, p~g9, 281-310, Tip. da Estattst-lca, Rio de Janeiro, 1g22..
CAPÍTULO IV

A evolução social e política

A colonização no Brasil, suas formas e seus rumos - a) A fixação do


homem à terra - A experiência feudal - O choque das tr~ raças e culturas
- A sociedade colonial - O reino do a~car - O esplendor da vida rural -
b) A penetração e conquista da terra - As migrações internas e as entrad~
ao aertão - As bandeiras - Fenômenos de massas - Deslocação de fron.
teiras - O reino dos metais - A formação do espírito e da unidade nacional -
e) A independência da terra - Regi!lle ~triareal de economia - A nobreza e
a aristocracia .rurais - A burguesia das cidades - O individualismo e os
precursores da ideologia democrática - O 2.0 Imp&io e a unificação política
- A política e o romantismo - A abolição da escravatura - d) A demo-
cratização pela terra - Persistência da estrutura IK)Ciale econômica - A
República - O espírito particularista - O sistema federativo e os partidos
políticos - O profissionalismo político - A imigração e a monocultura do
caf~ - A pequena propriedade retal_ha,ndo os latif<mdios - O surto das in-
dústfias - A evolução da sociedade contemporênea ..

P
ODE parecer audacioso tentar reduzir, numa síntese apertadís~ima, o
quadro das origens e da evolução das formas de estrutúra social e po-
. litica que assumiu a sociedade brasileira, desde que começou a cons•
titúir-ae, no primeiro século, até nossos dias. Mas, por mais difícil que seja
~ trab~o dêsse gênero' e ainda que, pela sua natureza, se mantenha sempre
•~ve1 de retificações, em conseqüência de pesquisas ulteriores, os estudos
~s e JlS investigações monográficas, como as tentativas já feitas, nos per-
mitem reunir os elementos postos à nossa disposição para uma larga visão de
fCOtljunto. Aliás, se considerarmos a importância do papel que exercem os
.f.ttõrcsfisicos, demo16gicos, econômicos e urbanos no processo de evolução
~al e política, as grandes linhas desta síntese, tão útil senão necessária ao
~udo de nossa evolução cultural, já se destacam com uma tal nítidez que
·não será preciso mais que desprendê-las dos fatos estudados, acompanhá-las
~ seu desenvolvimento e apresentá-las com maior precisão, rigor e rel~vo.
'A dificuldade de uma síntese, que não é senão a resultante da documentação
:f~ecida pelas monografias especializadas e trabalhos analíticos-, não está
IJPell&S na insuficiência de obras dessa ordem, de pesquisa e investigação, mas
na tentação a que tantos costumam ceder, por gôsto ou excesso de cuidado,
f;ie não negligenciar nenhum detalhe, embaraçando-se na multidão dos "pe•
quenos fatos". Ora, qualquer que seja o papel determinante dos pequenos
(atos, eles não devem fazer-nos ·esquecer as tendências gerais, explicáveis elas
i111esmaspor causas gerais. "Discernir no conjunto dos aconteciment06 his•
t6ricos fatos gerais doir.in~tes, que lhe formam como que a armadura ou a
80 A CULTURA BRASILEIRA

o atura, mostrar como a ~~ fatos gerais de primci.r ordem se subordinam


ou os e assim cm seguida até os fatos de detalhe que podem oferecer um in-
!sse dramático, picar nossa curiosidade, mas não a n curiosidade filo-
s6fica'', é assim que COURNOT definiu o objeto de suas "Considerações'• que
cons ·tu.em o mais vigoroso esfôrço do filósofo para aplkar à história moderna
grandes idéias mestras, - idéias de acaso ou de irracional, de ordem ou de
razio, que !Je extraiu da prática das ciências e experimentou, apticand.o-as a
tõdas a disciplinas. 1 É êste também o nosso obje: ·vo, ao tentarmos definir,
nos seus caractc.cs gerais e nas suas causas principais, o movimento de nossa
civilização.
No vasto território descoberto e ocupado apenas cm parte, na sua faiu.
li orânea, explorado pela Metrópole e -para a Metrópole, povoado de uma grande
maioria de indígenas e por uma rala minoria de brancos, os portuguêses não
ornaram pé, nos trinta anos seguintes ao descobrimento. senão para a extração
e comércio do pau de tinta, de que se reservaram o monopólio da exploração.
Mas o próprio comércio do pau-brasil, que se encontrava cm abundância nas
vizinhanças do litoral e as incursões de piratas franceses que, aproveitando-se
do abandono daa novas terras descobertas, pilhavam os aldeamentos doa m-
dfo e disputavam aos portuguêses a sua exploração e o seu dommio, levaram
afinal a Metrópole a voltar a,s suas vistas para o Brasil e a entrar francamente
no caminho da colonização. A imensidade do território, as distâncias que o
separavam de Portugal. e o estágio elementar de cultur dot habitantes pri-
mitivos, - selvagens bravios que erravam pelas florcst s americano ou
ae dispersavam pela infinidade de taba e malocas-. constitufam porém,
obst/lculos quase insuperáveis ao estabelecimento de c:olõnias e à fundação
de um império. A colonização que. por isso, tinha de tomar novas forma e
cguir rumos novos, começa, na verdade, com a expedição de MARTIM APoNSO
DE SOUSA,em 1530, e a doação de capitanias bcredit/lrias, que marcam o período
de fixação do homem à terra, em que até então os primeiros exploradol"C9ha-
viam reduzido a sua atividade a traficar com o pau-brasil e a reconhecer as
costas. A divisão do Brasil em quinze capitanias hereditárias e a doação delas
a capitãca-mo.rcs, dignos pela excelência da linha em ou pelo prestigio indi-
vidual, e com poderes discricionários, a constituíam, cm última anAJise, uma
experi ncia feudal, rutidamente marcada pelo elemento sencial nesse regime
que se caracterizava, no feudalismo europeu, pela distribuição e posse da terra,
como um meio de fixar o homem, suscitar a sua defesa e o interesse pela colo-
nização. Somente, assim, escreve RoNALD DE CARVALHO, "confiando essa
porção de terras incultas à energia de homens de boa vontade, poderia guardar
a coroa, sem maiores gastos, a prêsa já cobiçada por muitos salteadores". Cer-
tamente, não havendo uma estrutura social já constituída, não poderia dar-se,
como efetivamente não se deu no Brasil, com esse sistema, a superposição de
uma classe, pelo predomínio econômico e polltico dos senhores feudais aôbre
os primitivos ocupantes e a formação entre es e aqu&es, de laços de
dependência resultantes da apropriação do solo. Mas se não c:xiste um para-

l A. C0V1Uf01', Con.Idtratfona aur l• .marche d /d •t d. '"' 11U1tt• d.,.. IN t•m1»


nn. lat10dactiOll dr Nux MIIIDL 2 .-oi,., X:XXJI, pie 354 310. Rf«t., Paris. Btlma P1Jr
ue de Phila.ophiei, 11134;cfr. Sou ..enin, de Cournol (1150--1860, P • , Hachett, 1913 (publj,:a,doa por
Bott:melllij; Fts.lx Mlllff'ai. Cournot et Ia .Rlnai ,_ du probab U.m• u, ]C/,C /1,cJ , 1'01.
, •• d capi eo-,emad---. de cato, o rd. TAVUP D Ll1IA. padCN!II
de, que alo baria feito o e outor-c•e eatavam ord el 1eral do ffiAo "a.aquilo que alo tinha-
~ de d -~ ~ .,.. CltUI de d~ e foral". lno, pc,rlm, pc,uco importava de a q-
.,. • e OI dlr, tos d,. col livrea e,. dolar.>ooedncra d tn~one - codUlcanaHe aa
wgnt.de e GOi ata9 do d<matjrio, - chde militar e c:h e iAd trial, IM:llbor ~• te:rnJ e da j ca.dm:ribuldor
de ICUIAriM • de SlfflU, làbricadcr de n'lh e emptaf.rio de ,-- I oba,'' rtAYU&I o& Lnu.. Or a-
n/• o po/lt • • admini•tr•ti•• do Bra.w. Colõnia. Imp&io e Rtp(ibU C p. Bdí=ra N ci<:m.al,Slo
wo,
A EVOLUÇÃO SOCIAL E POL!TICA 81

lelismo entre a organização econômico-poütica brasileira e a economia da Eu-


ropa Medieval, não há a contestar que a organização instituída pela doação
das capitanias com o fun de prender o homero à terra e suscitã-lo ,ua dct ,
assegurando à Metrópole o domínio da çolônia. obedecia a prindpios verda-
deiramente feudais.
Essa primeira medida do mais alto interêsse para a colonização não bastou,
apesar de vantagens comprovadas, aos fins a que se propunha, e não tardou a
exigir providencia que a completasse: a criação cm 1549 de um governo geral,
tendo· em vista principalmente a formação de um centro de unidade e, em con-
seqüência, a melhor defesa da terra. O abandono, por alguns donatários, das
terras que lhes couberam em partilha, o malôgro de outros, em seu mpreen-
dimento colonizador, a desintelig~ncia dos senhores de capitanias, indepen-
dentes entre si, e as dificuldades em que se achavam todos, para defenderem
os seus lotes contra as tentativas de agressão, por parte dos lndios e dos es-
trangeiros, fizeram desde logo sentir a necessidade de um govêtno central,
com jurisdição sõbrc a totalidade do território ocupado e partilhado. A luta
que devia atravessar séculos, até os tempos modernos, entre as tendências par-
ticularistas e uni árias, ou de centralização e descentralização, 'já ae acusava
por essa época nas dua medidas que se sucederam, do sistema feudal de doações
e do gov@mo geral, preposto a lhe corrigir os inconvenientes, mediante a cen-
tralização do poder político".ª As capitanias que, desde então, com a nomeação
de To DE Sou , ficaram sob a dependência do govêmo central, com ede
na Bahia, "no correr do tempo foram passando umas após ou_tras, por aqui-
sição do erârio público, ao jugo da Metrópole". Mas, se com a transmi ão,
de particular ao patrimônio público, das últimas capitanias hereditárias e
a submi ão de tõdas a um govê:rno único, se podia considerar encerrada a ex-
periência feudal, não está ligado, nas suas .raízes, ao primitivo regime e à perma-
nência das condições geográficas, econômicas e i:olíticas que o de erminaram,
como a outro fatõrcs sociais supervenientes, o "espírito de dominação", que
persistiu, durante largo tempo, na vida política do país, se desenvolveu com
as oJia:arquias regionais e tantas vazes assimilou à administração de fuend s
oú de Ieitorias o gov!mo das províncias e dos Estados ? Não é meno impor-
tante, para a inteligência de nossa evolução social e política, nos tr primeiros
• séculos, o fato de que a instituições políticas, fundadiá pela Metrópole, pre-
cederam a quaisquer formas de organização social na colônia cm que, na pri-
meira metade do sêculo XVI, apenas se esboçava uma sociedade em formação.
Antes que a lavoura de açúcar, nos meados do primeiro e no segundo sêculo,
fornecesse à sociedade colonial nascente os elementos constitutivos e os quadros
de uma estrutura social, sólida e estãvel, jã estava montado todo o mecanismo
poUtico, baseado no istema das capitanias, temperado e corrigido pelo gov~rno
central, que se destinava a promover a fixação do homem à terra, e a sua defesa
e colonização.
Em nenhwn dos pontos do litoral, salpicado de grupos humanos, e no
planalto em que já se estabelecera a Vila de Píratininga, encontrava, de fato,

1 Alada por ~ani.Ar-. hcteroeta e IIVc:a:tuttira. • tocieded.e eolànial com.poeta por de


bel tdD6ia e ·o,, ma~ e DC&fOII,a.11:1podia como " ~
• de r poUticu impl.ant:adu ao pata. ~ r
ma, Dlo • ulta aim_ple,acm su.cicar • ax:iedlld te ou
que aa da ••~dos Indim e ae .....tta. d.e navloe
alo .e havia coa:odtJada eot:rc ums aai:i1llalidade 110Va "
DDVa e • da ac reclamava l.llIY. aoi.ttb>cia • •
uma et,, , C9Crevc J~~ Sll.a&A.!Co, ••C
que• lDstala rui! era provisiria e que a tadae dmnlnu,a o d~o do voltlll'
pàlrla o m.i. o ~••il. pãi:. 134. F. Briauirt l!JCia., editar.,._ 19!11
polllku, antl.adlldQ pana • cottmi:a, servindo ■ae interhMl9 nid'
dadc IDC&I,cm pcrlodo e:m.brioaino, ■uvi■ID re■lmmte ao, intere.- d.a Metrópole qut aa crio ,
c:at:io, ldcntü .awtaa.
82 A CULTUR.t\ BRASILEIRA

a sociedade nascente condições favoráveis à sua organização. Disseminada em


pequenos oúcleo!', esparsos e a grande distância uns dos outros; consti~jda
inicialmente de duas raças, a branca e a vermelha, em cs ági o mais diversos
de cultura~ premida entre o litoral e o planalto, eo rc as investidas de corsários
e o a sa1tos dos selvicolas, ela perde a rua antiga trutura social, da Metr6-
pole, não chega a elaborar-se uma estrutura pr6 ria e mantêm-se,. com seus
colonos degredados e fudios, como um fenômeno por a im dizer pré-social.
um "estado de sociedade em suspenso' , amorfo e flutuan e, à procura de novas
formas. A sua extrema rarefação, a sua heterogeneidade na com osição. inicial,
que complicava com a importação de escravos africanos, os perigos que a
bloqueiam de todos os lados e os choques das três raças e culturas, tinham for-
çosamen e de retardar o processo de organização social e a levam a concentrar,
no esfôrço in tintivo de conservação e de defesa, as suas fôrças elementares.
Entre os portuguêses que já haviam atingido um alto grau de civilização, e.
cujo capitalismo se achava na fai,e comercial, de exploração de produtos agrí-
colas, e o fndio que permanecia no estágio mais primitivo, o da colheita, da
caça e da pesca, e não podia passar brutalmente ao es ágio agrícola, havia
norme dist~ncia social que não só tornava impossível a assimilação dos índios
à eccnomia rural, como persistia uma fonte gerador de conflitos de culturas.
Os colonizadores portuguêses entram imediatamente em contato com os ín-
dios, quer escravizando-os pela fôrça, quer comerciando com ê1es paclficamente,
por meio de trocas de produtos: e, se às vêz são acolhido amigàvelmente
por indígenas, graças sobretudo à ação incomparâvel dos missionârios são
r elidos com freqüência por outras tribos selvagens, a cujos ataques não es-
capem ·senão com grandes esforços. O caldeamento tnico, pelo cruzamento,
em larga escala, de brancos e índios, devido à escass z de mulheres brancas,
a cdução que sôbre as índias exercia a raça dominadora e a ação pacificadora
dos jesuí , "transformando o instinto áspero dos elvag s num instrumento
auxiliar de colonização", contribuíram para atenuar até certo ponto os antago-
nismos das duas raças e promover a assimilação e adaptação de suas culturas.
A cultura dos negros africanos que, ao contrário dos lndios, já haviam chegado
ao tá ·o agrícola, e a menor distância entre a estrutura social de tribos afri-
canas e a família patriarcal dos colonizadores portuguêses, não sh tomaram
poas vel, como observa R.oG~R BASTIDE, a assimilação dos negros na economia
brasiteira, ainda que sob uma forma anormal e patológica, - a de escravidão
-, como também, com a miscigenação largamente praticada, por falta de
mulheres branca9:, corrigiram "a distância social que de outro modo se teria
ornado enorme entre senhores e e~cravos".
Foi com a exploração da cana-de-açúcar que o patriarcalismo português,
apoiado no trabalho servil, deu um impulso vigoroso à colonização e forneceu
sociedade colonial, nas terras do massapê, desde o recôncavo, na Bahia, até
parte do Maranhão, os quadros de uma organização social cerrada, cuja for-
mação começara, nos meados do 1. século, para atingir, já no segundo, o ma-
0

ximum de seu desenvolvimepto. Numa sociedade notà:velmente desnivelada,


como a rimitiva sociedade colonial, em que a diferença demográfica acentua
as de •gualdades sociais e, mais tarde, as pollticas, e a primeira classificação
ocial rtuguêses, índios, -mestiços) se funda em razões de pigmen o, a dis-
tinç o de classes, estabelecida sobre base econômica, encontrava na distinção
de raças um fator novo e um sinal, material e visível de diferenciação. Se-
nhores e escra os: brancos e negros. As raças, branca e africana, formavam
a tratificação étnica, cujas camadas correspondiam a mente, como se
v~. na es ratiíicação social, às duP.s classes que a monocultura la 'fundiária e
e cravocrata separava e supa-punha, elevando à categoria de nobreza a dos
senhores de engenho e degradando ao mais baixo nível as massas de escravos.
A EVOLUÇÃO SOCIAL E POLlTICA 83

"A côr significava nobreza, lembra PEDRO CALMON, citando VON MARTtUS;'
havia uma origem comum de plebeísmo, - o tronco africano; na elaboração
de uma sub-raça branc6ide consistia a elevação e a reabilitação do homem".
De um lado, a riqueza do solo que, nas expressões de GILBERTO FREYRE,
permitia às gera~ de senhores de engenho "suceder-se no mC8mo engenho,
fortalecer criar raízes em casas de pedra e cal", e, por outro, a endogamia,
praticada frcqUentemente, casando-se as primas com primo e o ti com
sobrinhas, jâ con ibulam poderosamente para dar à classe dominante, n
80ciedade sõlidamente hierarquizada, a armadura de uma aristocracia que,
sem tradição lúst6rica e sem nobreza de sangue, se graduava e avaliava seus
títulos pela extensão dos latifúndios, pelo número de escravos, pela inatividade
e pela ostentação do luxo. Ainda mais tarde, outros fatôres deviam in ervir
para fortalecer essa sociedade, enquadrada em classes, profundamente distintas
e diferenciadas. A lei que vedava a execução, por dívida, dos se.nhores de
engenho, não podendo os credores penhorar-lhes mais do que a safra, e a lei
de família que dava ao primogênito a sucessão integral, imp dindo a divisão
do patrimônio, acrescida do costume que tinham de não vender os seus escravos,
inclufdos indissoluvelmente no donúnio hereditãrio, "haviam de consolidar,
escreve PEDRO CALMON, essa aristocracia de emergência, corrompida pela ins-
tituição do cativeiro, explorada pelo comércio, imobilizada, desmoralizada pela
ignorância, pela sensualidade e pelo misticismo que lhe flor ceram a inati-
vidade,.
O senhor de engenho que, s6 por sua situação econômica, já e conriderava
erguido à condição de fidalgo; soberano e pai, de uma autoridade quase sem
restrições na família patriarcal; vendo no trabalho uma ocupação de escravos, 5
é um pequeno rei, nas suas sesmarias ilimitadas com o direito de vida e de
morte, ainda que não tab 1 •do expressamente por lei, ' sôbrc os que dêle
dependem, amanhando as terras ou servindo nos engenhos". A igreja, se de
um lado amaciava o rigores no exercício dêsse poder, contribuía, por outro
lado, com a sua disciplina modelar, para manter em equili'brio as relações entre
senhores e escravos enrobustecendo a autoridade daqueles e desenvolvendo
nestes o espíri o de obediência, de conformidade e de submi são. A redução
do corpo sot;ial ou a fragmentação da sociedade nesses organismos complexos,
nessas propriedades imensas que se bastavam a si mesmas e que as di tâncias
isolavam umas das outras, manifestava-se com uma nova tendência à t uda-
lização, isto é, à desintegração do todo em partes independentes, com a ten-
dência a enfraquecer as camadas superiores centrais, e preparando nos cn enhos
de açúcar, em que e concentra a autoridade dos senhores, formas imprevista
de individualismo. Ao contrário, porém, do regime feudal, em que h~via traços
psico16gicos comuns, no nobre e no camponês, e uma mentalidade dominante
que coloria tõda vida social, na sociedade brasileira, no segundo colo, as
diferença de raçaa e de culturas e as condições ~ciais, criadas pelo cativeiro

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um ".i.a.J de clu.", par :,e cuu I' 11d • rt'plllJl.lncia do bnailieiro pelo tl:libalho <M.1111.!ll ou o cm que
ec ocupa- ravoo, d,.... te o lon&o periodo do cativeiro. e que lhes a:primY a C<llldl O rq,me de pro.
daçio e de trabalho que ·au o mamo tipo do srlrtoaata da ou, craad<!. e o m pode vo da a.
sala. dacftvolveu. entre OI or de er,cenho, oblttva GIL!!BJl'l'O h.sYJt&, "o m • , l. pela
cadeira de bala , pela corinha, pela malhc:r, pelo cavalo, pelo ;o_:o." ]6 M0!<7UOltr&U, rd • 01
penlmllllarC~ poodc-.-.n qu.c, "aqullc que pc:nna:neu KJ>r.do dez. hanu por dia CODIC:(U.e ~ te o d6br
do ~ dr quem n o o t6 m.ait q dm:o, porqu,:, "adquire II n?brcn, rcfestd nd:>-Seo mem D111na e&•
deica". DNTUQUI u. C.r/a .• p tNI~, ,. •. l68;. Trad. de Wmo 84Jt-..no). Em Mi:iu Qual,, o afüm•
SOVTIDJ' e lcmbr1 PSDKOCIJ.i H, nunao .o vira hm:nca, br.>peo tomar 11.11,m?ioo um lnnr.umento cr o. (PJWao
~Ol'I, Fo1ma lo brolilelra; So I.SY, Hüt6ria do Bn'"1, VI, 480).
8 A CULTURA BRASILEIRA

que não a6 hierarquizava mas opunha as duas elas extremas. nada a prin-
cípio permitiam de comum entre os senhores de engenho e as massas de es-
cravos. Mas, a psicologia da classe dominante sob o regime patriarcal, em
que a c~a grande e a capela se ajudavam redprocamente, e impôs de tal ma-
neira e tão fortemente na sociedade que da acaba por dar o om a ôda a vida
social, ubmetcndo à sua influência não s6 os escravos, assimilados pelos brancos,
mas a população livre dos operãrios rurais. 6 Aliá , como frisou GILBERTO
FREYRE, "o que a monocultura latifundiária e escravocrata realizou no sen-
tido de aristocratização, extremando a sociedade brasileira em senhores e es-
cravos, com uma rala e insignificante lambugem de gen e livre, "sanduichada"
entre os extremos antagônicos, foi, em grande parte, contrariada pelos efeitos
da miscigenação". Esses cruzamentos que tanto contribu[ram para a demo-
cratização social e forneceram, com os mestiço , os prim iros elementos de
reação contra os senhores de engenho: a ascensão social do mais aptos dos
elementos negróides, a hostilidade crescente entre o campo e as cidades, entre
o agricultor e o mercador, e, afinal, o desenvolvimento da bllfguesia urbana
acabaram por solapar pela base a solidez e o prest(gio da aristocracia rural
dos senhores das casas grandes que representavam, na formação brasileira,
"a tendência mais caracteristicamente portuguêsa isto ~. pé-de-boi, no sentido
da es abilidade patriarcal". A rígida estrutura social que e formou e se man-
teve, durante quase três séculos, apoiada no açúcar (engenho) e no negro (sen-
zala) e mul iplicada pelas imediações do litoral cm vas as empresas, dirigidas
por tenho~ brancos e cultivadas por um exêrcito de negros, teve, além de sua
função social e econômica de importância primordial, um pap 1 de primeira
ordem, nas refregas com os aborígines e, mai tarde, com os corsários franceses
e os invasores holandeses.
Mas, à medida que as organizações do engenho se multiplicavam, con-
centrando cm tõrno das ca.~ grandes a população negTa e dando origem à
aris oc.racia rural, com base na monocultura e no trabalho escravo, desenvol-
via- sob o influio do reino do açúcar e à sombra do e plendor da vida rural,
a burgu ia das cidades. Eram duas sociedades que e defrontavam, ambas
heterogêneas e complexas; uma, sàlidamen e estruturada, outra, igualitâria;
uma próspera e rica, outra, mergulhada na miséria urbana e que não tardariam
a enfr ntar-sc e a entrar em conflito, com as suas tendências e mentalidades
opostas. As pequenas cidades do litoral, com seu aspec o rústico de aldeias,
com seu comércio de mascates, seus balcões de fazendas, e suas tavernas de
vinhos, fermentavam, na sua população livre constituída de portuguêses, ge-
ra1mente de raça judia, uma nova sociedade mais maleável e dinâmica, em que
encontravam condições favoráveis à sua expansão "as tend!ncias semitas do
portugu aventureiro para a mercancia e o trâfego". Ainda quando, no sê--
culo XVII, a civilização era puramente agrícola, já se apresentavam os ain-
toma da luta que se devia abrir no sêc:ulo seguinte e explodir na guerra dos
mascates, entre a nobreza rural, já então comprometida pelas dívidas, e a bur-
guesia. urbana em que o mercantilismo de portugu es emigrado ia lentamente
erguendo a sua fôrça sôbre a ruína dos senhores de engenho. A estrutura social,

O A orpiwacão do fflho, íAbn,:,a e fona.lna • wn t mpo, oh o o !l ~ produto


e • noaa primcita moeda (o •~ r). a m&quina ,nais padcrO!I■ de N>lor,Lt • vi~• m !T■ de ,._ orpni.
t. como ■lnd c:oocorrcu ~menu deít • tcrNI ao I o do litoral. Pjbtlc. e íortalua
lo tt , comtit:w!s de c:r-naVO"J e de opc:ritl , t • - valldc d.aa cn«cohoa '}"
z rQiali!:aci innd:> b:ilmvll, l11tim&me11tc 1iz • à bis do cid-, da laYtl<II'■ ~a.
o primeiro mMCO de mma dvillz.çio. A tt do lll&Dllpl m ndnh ■m. nu imcd.i~
do lit.or■l, oe csq 1>1em cuju cnu grandes, amurdh■ ec u1J _, .D t dr íorulcu, para re3inirefl\
aoa anb,uet d.u ui lndt mu, ~ fc.-jatam, na 0t11anluc,ão e llll ·pana, q .,,,... para • dd da coltin·
coflt.ra a. llOflid I d" naVU>O C:lll'WlOI eu iDvnõet hlll.olud~ A ;,t6pria unidade ae tr I do pab E, cm i,.rte,
e ■Q 1110.IIOI quanto à ■ixa lit«lAea, um p<i>duto do lme. p.atrfaratl de: e.e Olnla Cll:t ue K íannou • an to-
t'l'lll • rur I dot nharu de c.oieol>o e, m.ai, ~ J4 ao aklllo IX, d i,aod" ,onhord p,lltic■ e
do lmp&io..
A EVOLUÇÃOSOCIAL E POLtTICA S5

nas cidades, antes da derrota dos aristocratas de Olinda. em 1710, pelos mer-
cadores de Recife, j se vinha organizando sôbre o modêlo do ais ema patriarcal
e escravocrata da colonização; aos solares da aris ocracia rural correspondem,
a partir do culo XVII, os sobrados dos portuguêscs enriquecidos, cuja famu-
lagem e acotovelava nos porões, como à sombra da casa grande e apinhava
a csaavaria nas enzalas. "A mansão reproduzia deliberadamente, como
assinalou PEDRO CA.L.MON, a hierarquia social: no andar nobre morava o senhor,
e ao nlvel ou abaixo a sua escravatura, havendo muitas famílias que das portas
para dentro têm 60, 70 e mais pessoas desnecessárias". Ao contrário, porém,
das organizações s nboriais dos engenhos, essa hierarquia social, graduada
pela distinção de senhores e escravos, se erguia sôbre a massa da população
livre de pequenos comerciantes, mascates e oficiais mecânicos que não eram
nem senhor s nem escravos e constituíam, pela sua maioria preponderante,
sua atividade mercantil e pela mistura de raças e culturas, realidades dinâ-
micas que se desenvolvem no tempo, como fôrças de nivelamento. Mas, se
tendiam a diferenciar-se até a oposição, essas duas sociedades, rural e urbana,
que se formaram no litoral e nas suas imediações, mais profundamcn e diversa
delas foi a que e desenvolveu no interior do país, - a dos past6res e criadores
do sertão.
A sodedadc colonial dividida no litoral entre os engenhos e as cidades,
entre a aristocracia rural e a burguesia urbana, cindiu-se, ainda sob a pressão
de causas geográficas e econômicas, entre essas sociedades da faixa litor ea
e as do in criar que cresceram, como ramos distintos, "sem entendimen os nem
aproximações'. Enquanto, de fato, se realizava na orla mantima, pela eco•
nomia de tipo patriarcal, uma emprêsa singularmente notável de colonização,
e erguia, com a organização dos engenhos, a segunda linha de resis ência e
defesa da colônia, a marcha do gado, as entradas ao sertão e as bandeir em-
preendiam, por fôrça de fatôres econômicos, a obra de penetração e conquista
da terra. O que geralmente se assinala nesses fenômenos de deslocação de
massas que são as bandeiras e as migrações internas, determinadas pela in-
dústria pastoril, com a sua função geográfica e social, não ultrapassa a suas
conseqüências econõmicas e de expansão do domínio territorial. Certamente,
o século XVIII, graças a esse duplo movimento dos rebanhos, tangidos pelo
vaqueiros, à procura de campos e pastagens naturais, 7 e dos bandeirantes à
caça do índio ou cm busca do ouro e de pedrarias, foi o século da conquista
e da integração, na pátria que se formava, da imensidade do seu território.
As exigências da mão.de-obra, a sêde de ouro e as necessidades da criação pas-
toril iniciaram e levaram a têrmo, em dois séculos, a obra política e demográ-
fica, de maior vulto, que se registra em nossa história, e pela quat se expandiu,

7 No N~ te, " proporei que .., cndcraro oa lati.íóndioa do açdcar, • ilff.tl partorll, como • do
mato-a,-. obacfv• On. no Pun~. foi dimlolliAdo rlpíd.amente". A monocultut9 d• e.na ttpcU.1 o p o
pua.°" O ~ nto, l)«tm. do lntcri«, de it<Jrte • ■ui, e aa direÇJo de te, rol e 11•nd• ru.
como J6 oo«am • uma rut>ç&o1111nu d e ct>tr econlrmico dt o primltiY• ~•nl .. çla rural. a, • ,
prcd.lD di itJn,iwr, c«I\ Allllt&.ro PõitTO (A /ung o 6cio-lso.l,rAJi,;,, do ,,.
m!l'do''. 1 o de 193S). "No oonc. no~. o,a-e,,c lle, íoi
que • land, íixaod on., m, adnür6"el argil!ÜDltâo d,.
to lo Praoc:t.:o t o c:or>dutDIDtllvilho.o da ptnetnçào
pan o MCU, t:a111fflda OI pnd ri leva •tt o ~ nordu •
d cam10". No tremo ■ul, no Rio (i.,.ndc, ob-..e o amtriria. ••2
ríq rcoo6cnica J6 formada cm natun.a) e .. c:omiiQi!cs cs
,. • alNlcn," pc>rtuJUb e o cspa,:ib;;,1. E, l<OlliO um
Ci!rio, IP •
lal'I trata de n Q12el" um quer ou
tra be,•cccr de camu e c:ounfflll, A prfodpb ■ eçã<> do
Aa ~ do t..So wur qve .se provi. º°" p,im<ÕN>s ■lbores do
rio-v■.nd P■n • col6nla do S~cnto qac oacíla a.as ataquu ui-,
pa. po OI inio o:it que l:t • p;vtu ~ Mm arde E o ot• rn
ao o e e coem, ou m Vb h, u p:im!inn eutiJ::.iu. O~;, lo,
canopo, cootl11u)I. Mu, o hom:m na d.,r de ■ .,.-!>;,riaíaeili >e tor1n o.
■eu.a OI Iat bt:1 de ,:,u vl~inlun, q .,. Y,b nu.ai) o.::i, cam;,n ua,uplu.i.ao>,".
86 A CULTURA BRASILEIRA

se desbravou, se reconheceu e se marcou de nt'.lcleosde povoamento o terri-


tório brasileiro. 'Fazendo recuar a linha das fronteiras para al&n do meri-
diano convencional de Tordesilhas, lembra ANDRé CARRAZONNT os desbra-
~adorcs de sertões. os batedores de florestas, o animadores de desertos, todos
aquêles homens que criaram o heroísmo bandeirante, foram pioneiros da gran-
deza territorial do Brasil de hoje". E se a fixação do limite do território ou
o exerclcio do poder do império constitui a fronteira que, para RATZEL, "é
organismo periférico que avança ou recua, medindo a fõrça ou a fraqueza da
sociedade que limita ', a dilatação dêsse território at~ as suas fron eiras atuais
no dâ a medida e a expressão mais Vigorosa da .imensa fõrça expansionista
da sociedade que a realizou. Mas não são menos importantes os efeitos sociais
d!sse movimento de populações e dessa deslocação de fronteiras: a sociedade
a que deram lugar, as diferenças profundas que estabeleceram entre o litoral
e o sertão e os tipos sociais que criaram e retratam a natureza de suas relações,
a sua atividade dispersiva e as origens de sua formação. "!sses dois fatos, da
mobilidade extrema das populações do interior que se inicia com o movimento
da criação pastoril e tem a sua maior expressão no nomadismo aventureiro dos
bandeirantes, e a sua heterogeneidade marcada pela coexistência dos três ele-
mentos fundamentais (branco, índio e mestiço), contribufram notàvelmcnte
para a expan ão do sentimento individualista e das idéias igualitárias e demo-
crâticas que caracterizam a sociedade do planalto e do sertão.
Certo, na sociedade colonial. como na sociedade antiga e na ordem feudal,
não se tem nem a idéia da humanidade em geral, como o demonstram os sen-
timentos para com o africano e o índio, nem a do indivíduo, como o revelam
as distinções de classes. o regime da escravidão e a pr ão que a sociedade
exerce Obre o indivíduo. Mas essas distinções e s pressões são incompa-
ràvclmente menores nas sociedades do planalto e do sertão, cons 'tu.idas na
ua maioria de mestiços de brancos com índios e cuja vida social, "sem casas
andes mas também sem senzalas' , baseada quase que exclusivamente sôbre
a pecuária e dispersada pela mobilidade das populações. criou, na área pas-
toril, "um tipo de civilização antàgônica ao da civilização do açúcar". ~ so-
bretudo do movimento das populações, pela troca incessante de influência,
como da mistura de raças, pela hereditariedade, que as classes as suas dife-
rença se atenuam, tanto pelas assimilações do indivíduos que separavam,
como pela diferenciação dos indivíduos que encerravam. A atividade ban-
d irante e a criação pastoril completariam, pelos .seus modos de vida, o trabalho
de libertação individual; vivendo quase à lei da natureza, grande! parte do tempo
longe dos seus lares, e afastados de milhares de qui16metros da civilização lito-
rânea, essa raça de mamelucos, autoritários e valentes, habituados a contar
consigo mesmos, plasmavam, na atmosfera livre dos sertões, a matéria social
mais favorável à constituição de um direito mais individualist de certo modo
e mais igualitário. Nas zonas de criação o contato dir to que estabelecia o
istcma de trabalho, entre os trabalhadores, geralmente poucos, e o patrão,
colocados em plano de igualdade ou, ao menos, de camar dagem (uainda hoje,
o peão da fazenda de criar, no centro-sul, tem o nome simbólico de camarada''),
maiores exigências de natureza técnica que decorrem da atividade de peões
e de vaqueiros e o fato de serem pàr via de regro, JiVTeso trabalhadores da
z-on pastoril, reduziram consideràvelmente a distância social entre os criadores
de gado e os seus servidores. Era exatamente o contrário do que e passava
na zona açucareira, em que os trabalhadores são escra os, a técnica de pro-
dução, enão mais elementar, mais limitada e rotineira, e o patrão, como lembra
A. A. DE MELO FRANCO,"podia ficar como ficava acastelado nas suas casas
grandes, agindo sôbre a negrada dos canaviais e do engenhos. por intermédio
A EVOLUÇÃO SOCIAL E POUTICA 87

de prepostos, mestres e feitores' . Mais gregário que o sertanejo, o agricultor


da mata "não passa da fase familial de sua evolução, escreve PEDRO CALMON;
e os proprietários uniam-se para determinadas cerimônias e pela teia dos ca-
samcotos que fücavam a sua pequena aristocracia" nessas sociedades fragmcn-
t:árias e disper a , cujos costumes, abalados pela instabilidade da organização
rocial são adoçado tanto pelo seu caráter democrático quanto pela ua maior
acessibilidade aos elementos heterogêneos e pela consciência mais viva d05 pe-
rigos comuns provenientes do isolamento e das distâncias.
A füionomia social não se modificou muito no planalto, quando e esta-
beleceu o ciclo do ouro, com a descoberta e exp1oração das lavras minerais:
nas vilas e cidades que o bandeirantes fundaram ou tem as suas origens nos
trabalhos da min ração, cresce uma sociedade nova, sem grandes diferenças
de classes, retraída e desconfiada, composta na sua maior parte de mineradore
e escravos, comerciantes e mascates, fazendeiros e criadores de gado. Nenhwna
sociedade se formou no Bra il sob tão diversas .influências êtnicas e culturais
como esta que teve nascimento nar. tropelias das bandeiras e nas lutas entre
portuguéses e mestiços e tomou impulso com a indústria extrativa do oul,"o
e a exploração de diamantes. Fundada por paulistas que de cobriram as minas
e acabaram por ser rep lidos de suas propriedades, depois do último combate
'CioRio das Velhas, em 1709, ela sofreu, de um lado, as inva ões sue iva das 0

bandeiras, con tituídas de brancos, mestiços e índios, e de outro, o assalto


dos portugu es vindos de Portugal e de várias capitanias e dos ser cjo
da Bahia, - os "emboabas" que disputaram e arrebataram aos seu descobri-
dores o domínio das regiões mineiras. A essa. população de raças misturadas
e cruzadas ajuntou-se a dos escravos negros, transportados cm levas para os
trabalho da mineração. Nessas sociedades novas. formadas pela ação râpida
de elementos beterog&leos, o mais das vêzes destacados de suas famílias e de
suas raças, como nas colônias gregas, citadas para exemplo por C. BouGLÉ,
"não são os grupo mas os indivíduos que se acham em presença (daf o seu
carâter individualista); e, entre êsses indivíduos que organizam, a concorrência,
menos refreada pelo costume, é mais fecunda, as riquezas são mais m6veis e
as distinções mais ràpidarnente atenuadas". Daí o seu caráter igualitário.
O reino dos metais que se instalou nas montanhas do centro-sul foi, certamente,
tão importante do ponto de vista econômico, que suplantou o ,do açúcar, tran -
ferindo para o sul o eixo da vida econômica e política da Colõnia; mas do ponto
de vista social, nem deu lugar a um novo sistema de estrutura, nem desviou
senslvelmen e, de suas linhas essenciais, o que já se esboçava no planalto. A
deslocação das minas, a riqueza do solo, superficial, a mobilidade das riquezas,
a facilidade do lucro, as flutuações próprias dessa indústria extrativa e a ra-
pidez com que se processou a evolução dêsse ciclo econômico, não proporcio-
naram aos senhores da lavras que rivalizavam com os dos engenhos na opu-
lência e no fausto, nem o tempo nem as condições favorâveis à estratificação de
uma hierarqui social, com a solidez tranqüila das "patriarquias aristocrá-
ticas", de Pernambuco. .t nessas sociedades do planalto, instávei e hetero-
&&leas, aventureiras e democráticas, que se desenvolve o espírito de liberdade
ê de emancipação polftica, a que a Metrópole, apertando-as entre as tenazes
do fisco e com as m didas opressivas na Carta Régia de 1719, fornece o com-

SaD d6'nda, oe ~ d.a litaJldade ■tinvaa, tamb&11 011 doadcloa eenhariai,, da,,, rammn ar to-
cr, ·c:aa. que !arm■n,m na dvt1h çio do eçdear; mas, ...,,,,, -1,or feudal, r,,.anl■du .. p,opor: dll •
rençaa de rq\me, o lhe ltavam par ac reparar do, ~ol,pcs d ■ Mt-tr6p~, e da palnc:1 ■ do , Alih,
• ...Ud d.a trutura Id o e h , • riqucu d:, ...io, profu!>da, • -.ão dbaes vuto, do 1 > , bolado-,
que ae tranai:nltlll.ffl, lo~ do pa r• o prlmogtnlt:>, e aa leis qu,,c ve,hvam • aecuçl:, pOC'dfvl doe• aliar
de e11&e.aho,davam wna .,....de ~tAb lidadc I forc:un_. acwnul~ pela ariat.ocrada da térrll. TO<lu u oíCJUI"
88 A CULTURA BRASILEIRA

b vet para a explosão nas sedições de Pitangu1 e de Vila Rica. em 1720: 6


nelas que se forjam, nos conflitos com a Metrópole, de Fn.1P1t nos SANTOS a Tt-
RADENT&s, em 1789, as primeiras armas da idéia republicana e os primeiros
moldes da consciência nacional.
A obra singularmente notável dos missionários que, desde os prim6rdios
da vida colonial, percorreram de norte a sul o Brasil, plantando as raízes do
catolicismo oo coração de nossa terra e fazendo d!Ie realmente "o cimento de
nossa unidade"; e as guerras com franceses e holandeses e, pecialmcnte, contra
ês es, para cuja expulsão se congregaram, em defesa do solo e da fé, brancos,
índios e negros, paulistas, fluminenses, pernambucanos e aianos. jã haviam
ccrtamcn e lançado as bases da formação do e ptrito e da unidade nacional.
Mas, a form.idãvel conquista e expansão geogrâfka, realizadas com a exploração
da bacia amazônica, o desenvolvimento da criação pastoril e, sobre~do, no
!culo XVII, com a epopéia dos bandeirantes que atingiram os Andes e che-
garam, com MANUEL PRIETO, a transpô-los at6 a orla do Pacífico, forçando
o recuo da linha divis6ria das Tordesilhas até os limites atuais de nosso terri-
tório criaram, por essa deslocação de fronteiras, um tipo de povoação gan-
glionar, de núcleos dispersos e extremamente distantes uns dos, outros. Sob
se aspcc o, pelo seu poder expansionista, foi o bandeirismo um fenômeno
dissociativo que tendia a desagregar as populações, disseminando-as, em frag•
mentos, pela vastidão do território. A dispersão da população colonial, cada
vez mai rarefeita à medida que se dilatavam as fronteiras e e multiplicavam
os centro de povoamento, nas terras descobertas, e s diferenças de tipos de
economia e de organização social, de caracteres étnicos de níveis culturais e
cnd!ncias políticas, entre o litoral e os sertões, qua e de odo desqul ados entre
si, atenuavam como dissolventes da unidade e da coosci~ncia coletiva em for-
mação. As bandeiras, porém, que, por um lado, pulverizaram a sociedade cm
pequénos grupos, fazendo-os saltar por tõda parte, como e ·lhaços, contri•
buíram, por outro, para assimilá-los e fundi-los, determinando, pela intensidade
e freqil!ncia dos contatos, com as migrações internas a maior troca de inílu-
tncias que se realizaram no planalto e no sertão. Misturam-se o po os e, com
a descoberta das minas, encontraram-se de novo, nas montanhas mineiras,
como no tabuleiros pernambucanos, na guerra holandesa, brancos. negros,
indios e mestiços, povos do norte e do sul, instigados pelo aguilhão do lucro e
atraídos pela cobiça do ouro. Das duas línguas que se falavam, - a portu-
gu •sa que os meninos iam aprendCT na escola, e a dos índios que se fala nas
farnflias, segundo o testemunho de ANTÔNIO VIEIRA-, a língua portugu~sa,
afirma AIRESoo CASAL, s6 então, em 1755, começou a predominar e a tomar-se
Ungua geral. As diferenças étnicas e culturais entre os povos do litoral e do
norte, em que predominavam portuguêses, negros e mes iços do branco com
negro, e os do planalto de São Paulo, constituídos de portuguéses e espanhóis,
mam luco e índios, cujas famílias viviam intimamente ligadas umas com as
outras, começaram a atenuar-se com a fusão de povos e raças. por efeito d!sscs
fluxo e refluxos das populações do hintecland brasileiro. A ação intensa do
bandeirante, dcsccdor de índios e pesquisador de minas de prata e ouro, vem
juntar-se o trabalho mais lento, mas nem por isso menos eficaz, do comércio

do pOÔcT r.-i, qllC (onm oub'CII t:anu. re-,>esa, para ~ .... ., • antari-
d do cnbor d.D , quando n.l!> p:,dia c:omcn:1,u- • çl\Cllr CIIo aa ao-
~ o produto q ava: foi ainda, como j• "" • , m d.,. cred
dai ddad • • bnr,ttvirltnria.que tinham d r, de • WDtll.3Y

·r t1:11 1710, eotre.


qu

e pcrdullna, Dai • luta que oe e,tabeleccu e. tenuinou COffl a v,


ta dd9dt, onde domioavam ~ e • de 01.mda, centra ., " do e b-no
de Pcroan:ibuco. O C<1Dnito cut:rc a b~ urham. ., • 11.Db< o upe,:O de uma
rc:açlo contra • Mctr6pa!c. na opmiçi-, ai, 11:ovcrnador que •p:>u1vaReelre, e, •final, M b 'ldd~a, de fnldd•
por B11Uf.U.OOV~tRA D1 tbt.O, da lq,pilblica de. O!i4lu 1 mu d, ums rc.p bll &rial.o:riti<:e, oo mold.u 4a
Replíbliea de Vcne
A EVOLUÇÃO SOCIAL E POLtTICA 89

feito por tropeiro,, intcrmediârios entre o sertão e a costa, "que nãos limitavam,
escreve PEI>~o CALMON, a guiar os animais de carga, mas foram ainda o men-
sageiro, o correio, o negociante ambulante, espalhando ao longo de seus ca-
minhos as id~as e as novidades adquiridas nas cidades".
Assim, poi,, quando entrava em declínio a mineração, no íms do século
XVIII, estavam não s6 latentes, mas vivos, o sentimento da unidade nacional
e a idéia da emancipaçao. lt &se o século, -não sõmcntc da expansão territorial
que n~e atingira a sua plenitude com os tratados de Madri (1750) e de Santo
Ildefonso (1777), mas também das reações nativistas, - a guerra dos mascates,
em Recife, em 1709, a dos emboabas, em Minas, em 1710, as duas conjurações
de Vila Rica, e de 1720, que teve seu mártir em FILIPE DOS SANTOS, e a de 1789,
em que a figura heróica de TrRADENTES foi o núcleo polarizador daquele fluido
místico que irradiava das idéias de liberdade, de estudantes, poetas, sacerdotes
e magistrados. No planalto, a gente dos paulistas e dos ,mineiros tivera, desde
os princ{pios do 3,0 século, como a do norte, nos duros transes da campanha
contra os holandese , no 2.0 século, o seu batismo de fogo, para estruturar a
unidade e a independencia da nação, sonhadas nas conjurações e nas trincheiras,
e cujo alicerce se cimentara com o aangue de mártires. A comunidade dos
perigos corridos e, mais tarde, a lembrança-:das grandes ações realizadas em
comum, "eis por onde de ordinário, observa L. FÉBVRE, se confirma e ae exalta
o sentimento nacional". t cm face do inimigo,- constituído a principio
pelo estrangeiro e, depois, pela Metrópole com a sua política fiscal e opressiva
- que os br silciros começam a reconhecer-se como um mesmo povo. Ao
processar.se, no cmpo de D. JoÃo VI, o movimento de que resultou a inde-
pend!ncia da terra, proclamada cm 1822 por D. PEDRO I, pode-se dizer que
o Brasil j! estava unido e constituldo. O fator moral da religião, o trabalho
de penetração e infiltração do território, o contato e a mistura das populações
a que deu lugar a unid de fundamental de costumes e de tradições, a unidade
de lingua que e estabeleceu e os conflitos com a Metrópole, haviam, de fato,
plasmado, no solo conquistado e possuído em comum, todos cs elementos
que constituem, ligando meios e tipos sociais diferentes 9 a solidariedade or-
gânica e moral de uma nação. Mas, embora menos intensas, as fõrças que
trabalhavam por desa regar a sociedade e o pais, atingiram, antes de se ins~
taurar o primeiro Império uma fase aguda, quer com os fermento separatistas
que abrasavam as províncias mais prósperas do Brasil, quer com a política
desvairada da Mctr6po~e que, em desespêro de causa, declara a independência
das províncias, para afrouxar os laços que as prendiam ao poder central, torna

O AI o diferente. cm que ee dividiu • antlp sociedade colonl I e • qu con- pond~ tr~


m campo, • d I cidades ao litoral e • do plllllalto, dcram lua•• 100I i1"
qu m an clima 1odal., ftio 116diV<'.-,,0!1, • lad un d Dai - ■
e r poUticas, cm là..--eile uma me,l'.ll,I ltua( do cn•
genlto. oo a l1 rico, - de tíd!lde,, do litotal mui •·
plicoa pe band ·rante ca~dDI' de cabocl0!1 e 1; o
(ant>deir UtlÇO, ti!JO'I •~ntjo• e o gaQcho- -q11
ronnan ta:otm tipos aociaia • que, no J:rn tar ma
tard~ o i ... ~ do aç{,car, e ptoddl da OIC>•
a«ultuno üa.,~ intcnucdimo ci,tTC a eu do
Utotal. doo pampas. no Ri.o G..,..,e. lu d ca e
m, a .,.. ~o eneocial eu f CJ\l
.,._ e hábito, de vida e m,
.«ia! oo vive cm • ernura
de .., do det,enru~ "'1tlrn
d l'mrla --·m: .. =ndi criaçlo,
tio ~- a tipoo difcreuta de vaqueiroo, - o vaqlldro do iu,rtc
e o umcntma, pela linguagem, pdot cmtwn ablt•t
do lndlo c:av ••fflturàro e befu:oea. Ambas • tcn e , m o
pdebo, "m lloo. e/ri. e mm d,itil, porque tioh• l frente • e Inter•
ml"'vd para voat' no I0:11bodoc.V11l0. •tfraodo u bolcad.,.-,u. o laço e enrl.ttando a lança, o "º norte),
nttido de couro. adcat.a o pdOI ac41 da, c:uti4&JU,o bonienl .entia. c=bora carreado atrú d r trnm&•
lhadu, ah trudade wu Avd.da_a&turua",
90 A CULTURA BRASILEIRA

sem efeito a instituição dos tnõunais de justiça do Rio e tente fazer regressar
a Portugal o Príncipe Regente. A sedição, de tend&icias nativistas e de caráter
republicano que, em 1817, estala em Pernambuco, foi ràpidamente jugulada,
no gov mo de D. JoÃo VI, pela energia do CONDB DOS ARcos, governador
da Ba.b.i ; mas o espirito de desordem e de secessão e propaga, com os des-
n1veis culturai e econômicos d.e uma região para a outra, com a diferenças
de reações poütic:as de meios e tipos sociais os mai diversos, cujas desinteli-
gências e oposições se agravavam pelas distâncias e pelo isolamento, com o
choque entre os naturais e os reinóis, o antagonismo entre nativistas e rea.cio-
nários e o conflito entre as aspirações de liberdade e as tendências conserva-
doras.
Tõdas as indecisões e perplexidades, avanços e recuo , que caracterizam
a vida poUtica da primeira metade do século XIX, de de a elevação do Brasil
a reino e a campal)ha da independência, e que se atribuem ao espírito irreso-
luto de D. JOÃO VI e ao temperamento arrebatado de D. PEDRO I, provêm
antes do antagonismo de interêsses que cindiam a sociedade em facções e.xtre-
111adas,e do divórcio que atê êsse tempo isolara uns dos outros os vários agru-
pamentos em que se subdividia o país, comprometendo-lhe a unidade e agi-
tando aos olhos de todos o fantasma de seu desmembramen o. O conflito entre
o espirita federativo que mergulhava suas raízes no particulari mo local das
capitanias hereditárias, e as tendências unificadoras do regiro monarquico,
explodindo em rev.Jltas e sedições das províncias, levanta barreiras entre estas
e o govêmo central e torna cada vez mais dificil o ac6rdo entre a fôrças polí-
ticas em ação. A fraqueza de D. JoÃo VI e a instabilidade de PEDRO DE BRA-
GANÇA davam, no entanto, a um e a outro, como mai tarde a D. PEDRO U,
o espirito de moderação e equiliôrio, essas plásticidad que EUCLIDES DA CUNHA
notava em relação ao Principe Regente, ºpara se amoldar ao incoerente da so-
ciedade proteiformc em que surgiu ', e que se mantfm trav~ do prime.iro rei-
nado e do Império. O que do ponto de vista social subsis •a de sólido nessa
sociedade, tumultuâria e anarquizada, era ainda a aris ocracia rural dos se-
nhores do engenho, reacionária às vêzes, sempre conservadora que e recolhe,
desconfiada, enquanto as lutas políticas dilaceravam burguesia das cidades
arremetendo umas contra as outras as facções mais diversas. A monocultura,
o latifúndio e a escravidão que, nas expressões de GILBERTO FREYRE, ' con-
dicionaram de modo tão decisivo o desenvolvimento social do Brasil", deviam
fornecer ao Impêrio nascente, uma vez assegurada a ordem, os grandes senhores
da politica, - os barões das terras do massap!, ao norte, e os aristocratas das
fazendas do cnfé, ao sul, já na segunda metade do século XIX. Foi, de fato,
no regime da economia patriarcal e na aristocracia rural a que deu lugar, que
se apoiou a monarquia para resistir aos embates das lutas políticas, travadas
no centro ou desencadeadas a distância, na provfncias. Os choques entre
as correntes monárquicas e democráticas, federali tas e unitárias, absolutistas
e liberais, e as diferentes reações poUticas das provtncias, isoladas entre si,
refl tindo nos violentos debates das câmaras e nas polbnicas acirr das da im-
prensa, na arruaças e nas sedições locais, 10 criavam uma atmosfera eletri-

1 ente d COD•
fllc- ffl fed- e unffiíri.111, • 111 ~d• vivo. por todo n
pcnodt>, o Hfltlmcnto oativhtll, com SllllS ezpl pc,rtUJ'U~ ~ ~•
, mal • a-a natural, no por ocaJilo da mdepen.
d na cis n.a B.ohlw, . 1", .,. ff'ue
de HVIO!DTO 1>1 C rebeli9G pn,:ieint, liberal e de J>emambuco,
t-m l&UI e 1 9, com rei sociali,,tQ. i.-:rompe o oen1ti.miento 1a,-pruadcnte.
"0 to de tff' eido ferido oo dia 26 dcjuuho de 1848 um w,, portugUb,
coo. OUSJtA 01 Mil.o, d lupr ~ carmrr.clna e , em q11c ao 1rito
d mera m:,rlnheiro IUCUfflbiram •J~ l>"'"tu&u~·quc J>JI coml:rdo". Por.
mulou• era o, \I~ pctl~o à assembl:ia l~'ltiva pcovincial, convoc:açio de uma
A.Nembltia Coaltltulntc pu-a tra- de uma r-eforma tocial qw, ■e hatmonl-. c:omo pro e110 liberal, "• e,x.
A EVOLUÇÃO SOCIAL ~ POLfTICA 91

zada de tempestades e elevavam a manutenção da ordem ao primeiro plano


das cogitações da política do Império. Nessa sociedade he erog~ca, incon-
sistente e in távcl, trabalhada por dissenções intestinas e por ofensivas diretas
contra a unidade nacional e contra o Estado, não se sustentaram no poder
senão os que tiveram a ooragem e renunciar aos ideais de doutrina para se
amoldarem à realidade múltipla e complexa, extremamente mudável, ou se
serviram dos princípios como meras tâticas oportunas de ação, v • veis con-
forme as fases dos acon ecimentos.
Os grandes homens foram, por essa época tormentosa, os arquitetos da
ordem social e poUtica, como ssa figura notável de Joslf BoNTFÁCIO que ocupou
as ruínas de um temporal que ele mesmo ajudara a desencadear, e cujo minis-
tério, ameaçado pelo movimento libertador, logo depois de proclamada a In-
dependência, 11salvou a revolução, escreve EUCLIDES DA CUNHA, com uma
política terrivel de Saturno: esmagando os revolucionãriosu. Não foi outro,
depois de 7 de abril, o papel da Regência que se instituiu "como um ponde-
rador das agitações nacionais: um volante regulando a potência revõlta de
tantas fôrças disparatadas". No período da Regência, os três maiores homens
do tempo, o que fizeram, de fato, foi restaurar a ordem no caos poUtico, aglu-
tinando essas fôrças sem coesão e caldeando-as em dois partidos que haviam
de encher a história do Império: EVARISTO DA VEIGA salvou o princípio monár-
quico, "identificado então com a unidade da pátria"· sob o pulso de ferro do
Pe. D1000 ANTôNTO FEIJÓ, que restaurou a autoridade civil, dobrava-se, ju-
gulada, a anarquia demagógica, e BERNARDO PEREIRADE VASCONCE.LOS surgiu
da fileiras liberais, com õdas as fôrças de sua energia indomãvel, para cam-
panha contra a d rdem. 'Fui liberal, - explicava êle mais tarde a sua nova
atitude-, en -o a liberdade era nova no país. e estava nas aspirações de odos,
mas não nas leis, não nas idéias práticas; o poder era tudo: fui liberal. Hoje,
porém, ê div r o o as to da sociedade: os princípios democrâticos tudo ga-
nharam e muito compromet.cram; a sociedade que então corria o risco pelo
poder, corre agora o risco pela desorganização e pela anarquia'. A idéia re-
publicana que ainda no período colonial, tivera em 1789, a sua majs bela ex-
pressão idealista na Inconíidencia Mineira, e inspirara os dois vigorosos mo-
vimentos de Pem mbuco, o de 1817 e o de 1824, sofrera golpe profundo com
a reação monárquica que promovera a Regênciâ, mas para irromper, com vio-
lência desmedida, antes de terminar êsse período, na guerra doe Farrapos.
Nessa campanha que durou dez anos, de 1835 a 1845, circunscrita ao Rio
Grande, 11 e e travou para "a independência política, debaixo dos auspícios

clualo doa trancclro, do eotntrelo • reta.lho, e a erputao de todo, 01 f)Ol'tUCU :. 1oll:dro,, dco,tro de 1S dl ,
COftlO iniml 01 ltnpl c6vtll do ltru l". (J. M. PtG~l!llU. D~ Mm.o, Crdn1" dt1. R•b .. liito f>r■ lolt& ,o,;n 11111
• 111'49 Ttp0gt n o Brull, d J, J .. DA ROCHA,rua das Cigan<11, n.•• 32, Rio de Jandro. ISSO).
JI • •dmiohtr~o ct. província, m imjlOltos en:emvos e o ~tameoto r..,.m n oplm
q,u, cita raro movimento qu.e, anbor. c,om f- teod no MU ... no •o
(ovfN!o ceotr&I, cr•Ylt■ v■, como C!'Ctevc Cn,o Vsitr.tA, apoiado no fato llJ , "para um
remota • 1 ,. ... 1Bvofuç6o do pon,am.=to .republicano no Bra,ti/. ln "A mw1tem da h" •
t6ri■ da !tS-5$, Rio de Jandrv!. Ma as idfueJ faleralistu e republlca .ncontnvam IH
terra DA io Onaadc wn meio vudAdriram=te fa....-ivd IIUll eclo;li>. A ter ... com 1
azdlha e a Ul11:d ot, "que oivdsm as coiaas e • 1 que,
pda - m '> pS de il(Ualdadc pe5e, e ataociei.raa, mo-
delado oo valhcireaoo e bellco,ti, vi~ni:nte indhrid m,,dbc1-, ll'dll•
troo tipa, .acb.i,, no Bnuil. nem 91Jbttt:udo c:cGe1
~~ tôra, e pelos acull ~ ....-.c:mhticol q PfC •
chlmUTü e a, bombachas. A vida aociat. , de:ra
ao p4cho tlr e de ~• que. o comun, ,ao, tipo, pastor, como
j6 .., viu, um cu MYIUI do mL ''O camarada. o o, aqui ou li. ao ou ao
llll, obut'va tu, Pa, 6 mÊ, ut0 coms-nheiro de jDl"llllia do que um . Com
ele dorniimo, p:M' vh:o ■ o relento. pvtim:is a frugaJ m,a.tuh nu gnrul t I ma e
pel ca.rnpo,. 2te rambEm v,õra co
d11 lll8"C8 ® patr A, oc.. , famfliu do ,,: etd~m
otleiot qtund,, u:,s b:><u antn, ""="
d,:, c.w,vi\lio com u dtle1'',
o ndmero da 'mal•
92 A CULTURA BRASILEIR

do sistema republicano", na República de Piratini, desenvolveu-se, em epi-


sódios de uma intensidade dramática, a mais robusta demonstração de fôrça
que registra a nossa história, das idéias federalistas e republicanas. Mas
antes mesmo de sufocada a revolução Farroupilha e pacificada a provtncia.
por CAJUAS, que durante três anos estivera fazendo a guerr , pelo regime e
peta unidade nacional. já entrava em declínio o prindpio democrático, e tõdas
as fõrças poll'ticas, canalizadas em dois grupo íortcmcn e organizados, jâ co-
meçavam a aparelhar-se para a luta que ia durar qua!ie meio século por todo
o periodo do segundo Império. Depois de 1836, a his 6ria politica do Brasil
se resume, de fato, como observou o BARÃODO Rio BRANCO, "na luta dos doli
partido , -o conservador e o liberal".
A vaga republicana reflui pouco a pouco e às fileiras liberais se recolhem,
para defesa das liberdades públicas dentro do regime monárquico, os rema-
nescentes dos partidos democráticos radicais. A partir de 1845, sufocadas
uma por uma as revoltas das províncias, o Império vai-se consolidando pelo
jõgo livre do mecanismo constitucional, já possível no embate e na utilização
dessas duas fôrças organizadas entre as quais se equílibrava e que se revezavam
no poder e na oposição. Amainaram as tempestades políticas desencadeadas
pelas paixões facciosas; e, em lugar das intervenções temporárias e limitadas,
impostas pelas circunstâncias e necessidades momentâneas, uma ação con-
tínua e permanente dos dois partidos, permitindo uma si ua -o de equilfürio
que assegurou à monarquia um período de esplendor entre 1855 e 1864 e para
a qual D. PEDRO II havia de concorrer com u temperamento liberal e seu
espírito de moderação. Mas, enquanto a unificação política e realizava pelo
Império que centraliza a autoridade e desloca para a côrte o eixo de gravitação
da vida p(iblica, o estado social permanece sem transformações scnsfvcis por
tôda a extensão do território. A mesma dispersão e descontinuidade de uma
sociedade rarefeita, que se espraiara irregularmente pelo país, fragmentada
cm núcleos à maneira de ilhotas de um vasto arquipélago, na lúcida imagem
de NESTOR DUARTE, e desdobrada como "descosida trama, tênue, e larga sem
fõrça de tentáculos para associar e promover a comunhão". A mesma dispa-
ridade entre a área da expansão social e a área da eficiência polftica, a que se
referia OLIVEIRA VIANA, essa sorte de heterocronia que vinha desde o 1.0 sé-
culo "entre a marcha territorial da sociedade e a marcha territorial do poder,
essa sorte de discordância entre os dois perímetros, o social e o poHtico, sendo
que· êste é sempre inoomparàvelmente menor do que aqu le". E, devido a
ésse anta,gonismo do deserto e das distâncias, o me mo desequiUbrio, senão
um desequilíbrio crescente entre os homens do sertão e os do litoral, entre uma
elite cultural educada à européia e capaz de elevar-se às alturas de um sistema
político nascido na Inglaterra, e a massa da escravaria e das populações livres,
mas rudes e incultas, difundidas e tresmalhadas pelos recessos mais profundos
dos sertões ou perdidas no insulamento das chapada . 12 Nesse estado social e
poUtico que se caracterizava pela inexistência de uma sociedade esclarecida
e politicamente organizada e de que não podia sair um corpo eleitoral capaz
e respon vel, as elites, reduzidas em nÍlmcro e em qualidade, com algumas
figuras de primeira grandeza, eram, como continuaram a ser na República,

licis cmce,pcm, venando lcm m o, r,u, •


Ax.a'DO, não mm Por
lLIIJlltl'O !!"rico, COO•
do dia. - .s,,:p-&timoo
• º" dcit<x'ait - • .,-aod
en,...
e
"º• dir t:o
, pe-1 ••·
llWltoa. I\Oa ds França e da ln tema. N e P·• QA,
'1"1 lcabon,1, oum Cotqlpc auu tilclü, ae s,:ntia • exp,ri eia que o euid•do
4- obe'vfl , • fflJllhí d f•t:ot dando ... ••.11 dis~.as • c~nte:atura re, te d . Ali o,
A• IMtlt~ • pol/ti,:.as • o m9ÍO soeúd no Buisi/, /11 "Ã muaem d• ht.t&ri• p. 57.79,
ed cio do Anuir/o do Br• il, Rio de JanciroJ.
A EVOLUÇÃO SOCIAL E POLITICA 93

escrevia eu em 1936, 1 uma frágil casca de refinamento aplicada sabre corpos


geogrMicos enormes, ainda elementares ou caóticos; pequenas ari3tottacias
cultivadas, mas cujo suporte humano não é senão um bloco primitivo, amorfo
e mal talhado". JS
Mas diversos (atores de ordem econômica e social trabalhavam na mu-
dança da estrutura do país e ameaçavam subtrair ao Império, com a d~dência
. da ,aris ocracia territorial e a marcha para a abolição, a sua principal base de
1u.s.teataçio e de resistência: os senhores e os escravos. Os centros urbanos
do 4itoral e do planalto serviram, sem dúvida. de pontos de apoio a um forte
sistema administrativo que se estendera a todo o país, recobriu, sem extinguir
o qu.c restava do sistema federativo, e consolidou na mesma medida o poder
do Imperador, tornando-se o Rio de Janeiro o centro de uma vasta adminis-
tração. O íuncionalismo numeroso a que deu lugar e que tinha de crescer
desmedidamente, mais tarde, por todo a regime republicana, era, na justa
observação de GILBE~-To AMADO, ama espécie de coletivismo, apoiado no te-
souro público, e cujos elementos se recrutavam entre "bacharéis, médicos e
engenheiros, antigos senhores nas suas descendências arruinadas, filhos de es-
cravo , de mestiços e de mulatos, distribuídos pelas fwiçõea públicas, pelas
carreiras liberais". Foi a escravidão que, tornando abjeto o trabalho da terra,
obrigou a encaminhar-se para os empregos da Estado os filhos dos homens
livres que não podiam ser senhores e não queriam igualar-se aos escravos. Sendo
o trabalho (rural ou mccanico) "ocupação de negros, os me.stiços e brancos jul-
gar-s -iam desonrados n@le'. Os centros urbanos, no entanto, como o Rio e
São Paulo, sem perderem o caráter político e administrativo, começam então
a transformar-se, sob o influxo de íatôres econômicos, de um melhor sistema
de articulação e de transportes, da imigração mediterrânea e das mudanças
aobrevindas na distribuição das populações, com repercussões profundas na
organização social e poUtica, Na segunda metade do ireculo XIX, em que
ae inaugurava um período de vibração e de iniciativas econômicas, como bancos,
fábricas, emprêsas, estradas de (erro e companhias de navegação, a entrada
de imigrantes e do capital estrangeiro, embora em pequena escala, a facilidade
de crédito, a acessibilidade do capital, mais abundante, e realizações de tôda
ordem, tendem, de fato, a transformar a velha estrutura rural do pais, ainda
apoiada na escravidão, e a fisionomia urbana, dominada pelo funcionalismo.
As crises de 1851, 1857 ,e 1864,-crises de crescimento, como as qualificou
VÍTOR VIANA, resultaram dessas transformações técnicas e econômicas que
se produziram e da faciHdade de emitir para incitar a circulação da riqueza
e favorecer essas transformações. Precedida por um F. CALDEIRA BRANDT,
no alvorecer do século XIX, na Bahia, e por um J. RAMos DE OLIVEIRA, em
Pernambuco; 1 preparada e ecundada depois par TAVARES BASTOS, CAPA·
NEMA, TE6FILO ÜTONI, MAR.IA.NoPROCÓPIO e TEIXEIRA L JTE, a ação vigoro-
samente desenvolvida pelo VISCONDE DE MAuÁ, - grande pioneiro do pro.
gresso tecnológico que arra.stou na. sua órbita inteligências-satélites de primeira
ordem no trato de negócios-, marcou o ponto critico de uma pequena revo-
lução industrial, que abortou, devido às condições especiais, ainda extrema-
mente desfavoráveis, do meio nacional.
Apesar do esfôrço empreendedor dos pioneiros da têcnica industrial, essa
política realista, orientada para os grandes problemas práticos da economia

IS &l11ca060 o ..,.,. problonaa. Polltica e cdumçio. 1.• amfc:renda pronunciada • ll.3 de Olltubro
de 1036, r,a Uruveuid•de d~ o Paulo.
li crr. Vl:roa VIANA, O B IICO do Br ... i/, pq. 36.2;V.Coauu. Fu.so,A inlaúJtJio d• C.ld• ro Brondt.
ln "JorGAI do Camt.rcio", cie 3 de o hlbco l!ll7,
94 A CULTURA BRASILEIRA

nacional, não podia, de fato, encontrar ambiente de receptividade nem na


aristocracia da terra, com o seu velho modo de produção agrícola dependente
do trabalho servil nem na burguesia urbana, com seu com reio e a ua indústria
rudimentares pulverizadas em pequenas empresas. Nem trc conservadores
nem entre liberais. Uma vez que a experiência tivesse provado as vantagens
do trabalho livre e das grandes empresas industriais e agrícolas, o sistema tinha
de generalizar e como uma grave ameaça aos conservadores, cm geral pro-
prietários de terras e de escravos, com seu poder mediocre de produção. Os
liberais, , dominados por uma concepção rom tica de poUtica, não viam·
na abolição, de que encaravam antes os aspectos morais e humano , senão uma
etapa na marcha das idéias liberais até a vit6ria do principio democrático.
ET impossivel estabelecer uma concordância entre as transformaçõe técnicas
e conómicas, de um lado, e as mudanças sociais e poUticas de outro, perante
o tremendo desvio angular que a mentalidade jurídica criara entr o econômico
e o social. No advento dos liberais ao poder, propiciado pelo Impera.4or, mar-
cava-se o início de uma "po1ítica de suicídio dinástico', a que D. PED~O II
se aventurara "sem compreender talvez que o trono assentava na aristocracia
territodal e que o enfraquecimento desta traria em conseqüência o enfraque-
cimento do trono". Aquela situação de equilíbrio a que atingira a política
imperial em 1862, exprime, com.o observa Gil.BERTO AMA.Do,"a plenitude da
maré cheia. Tinha começado entretanto a vazante conservadora e ia pro-
nunciar-se a forte corrente democrática. Um acontecimento inesperado de-
teve-a, porém. Foi a Guerra do Paraguai '. Depois da longa campanha (1864-
1870), travada no sul e que tanto contribuiu para estreitar os laços que pren-
diam brasileiro de quase tôdas as províncias, brancos, m tiços e negros, fun-
dindo as populações nos campos de batalha nas glórias nos sofrimentos comuns,
reacendem-se as paixões políticàs e rompe com uma nova intensidade no
parlam to e nos comícios públicos, a luta pelo prindpfo federativo retomado
com vigor no manüesto republicano de 70, pela abolição da esa-avatura e, de
maneira geral, pelas idéia5 liberais. A diferenciação e complicação crescente
das sociedades urbanas, fragmentadas já em grande número de grupos; a marcha
progressiva das idéias liberais e a própria centralização que, não se opondo à
complicação social, longe de llie ser contrária, preparava à democracia, já
vinham alargando caminho ao curso da corrente t'Cpublicana. Foi, porém, da
abolição da escravatura que veio o golpe decisivo. A substituição do regime
do tr&balbo servil pelo do trábalho lívre, solapando as próprias bases da eco-
nomia. agrária e da aristocracia rural e, portanto, os alicerces econômicos do
Império, ~ z com que em pouco mais de um ano, desmoronasse afinal o trono,
a que a questão religiosa e a questão militar haviam subtraído outros dois
pontos de apoio, representados pelas fôrças conservadoTa da igreja e do
exército.
O Irnp6rio representou, em nossa evolução política, o esfôrço de unifi-
caç o, suficiente para que se implantasse a República sem o doi perigos da
fragmentação e do caudilhimio. A monarquia, pela ação da fôrça centrípeta
que desenvolvem as instituições dinâstícas, teve um papel bjs 6rico na formação
da nacionalidade: foi a primeira fôrça que interveio para instaurar a ordem
no caos •aJ e tirar dêsse twnulto efeitos políticos, e, quer sufocando as se-
dições locai e as revoltas nas províncias, quer mantendo equillbrio entre as
duas correntes or-ganizadas em partidos, pôde consolidar a unidade do país,
tr"nmi ·odo intata à República a herança territorial le ada pelo nossos-
antepa dos. Mas tanto o Império, que não póde subtrair-s às tenazes do
bloqueio liberal, como a República Federativa que lhe sucedeu, eram super~
estruturas decalcadas em modelos teóricos r,or uma elite sem povo e sem orga-
A EVOLUÇÃO SOCIAL E POLlTICA 95

nização da opinião púbtjca, minadas pelas lutas partidárias, polltico-militares,


e emperrada pel burocracia de profissão, que tomava laborioso o seu pro-
cesso de adaptação às formas e condições da vida social. :Lse duplo movi-
mento das ideias e das coisas, no seu longo curso através do Império, e o su-
'ees&o da filosofia indjvidualista, de base religiosa e política, auxiliado pcl
abolição do cativeiro, pela imigração e pelo surto industrial, acabaram por
demolir os quadros da vida política que eram também os quadro da vi.da so-
cial. A prcdominAncia quase exclusiva dos senhores de enge:nho, no norte,
e dos fazendeiros de café, no sul, - classe dirigente, à qual eram geralmente
reservadas as altas funções do govêmo central como às da administração local,
não podia aus entar-sc por muito tempo, com a destruição, pela base, da ri-
queza e preponderànda das zonas açucareiras e da cultura do café que se
apoiavam, uma e outra, no braço escravo. A abolição devastara e arruinara
a grande propriedade, onde senhores e fazendeiros tinham montado, com o
trabalho servil, as suas vastas culturas: o abandono de velhas propriedades
agrícolas, a transmissão, por compra, à burguesia urbana ou ao patrimônio
ptíblico, de palácios e vivendas arlstocrãticas no sul e a decad&lcia do domf-
nioà senhoriais, mo tram à evidência até que ponto atingira a desorganização
trazida à economia agrâria pela leí 13 de maio que extinguiu o regime da es-
cravidão. A estrutura social e econômica, porém, permanecia quase a m ma,
baseada ainda na monocultura latifundiária que retardou a divisão d grande
propriedade e, portanto, a democratizaçao da terra, expandindo- e novamente
' em São Paulo que pôde conservar a sua aristocracia territorial graça às cor-
rentes de imigração e ao capital estrangeiro. A classe média que não forma
nunca, no iode uma naç-o, um corpo compacto e uma parte bem di tinta do
todo; que participa cmpre um pouco das outras classes e em algun pontos
se confunde com elas, , estendeu-se e se enriqueceu, sem se organizar, com
os movimentos in ensos que determinam ªli variações bruscas nos períodos de
transição, da escala social das profissoes e das fortunas.
Mas, se a implantaç~o do ~egime republicano foi uma vi 6ria de a classe
r média, insurgida contra a. escravidão, a monarquia e a aristocracia, e ajudada,
nessa luta, pelos desertores da nobreza rural, o poder político, antigamente
real ou arletocrata não se tomou popular senão teoricamente, continuando
associados, na realidade, o velho poderio econômico e o novo poder polltico.
Jt que, quando se proclamou a República, ainda não se havia desenvolvido
o câpitalismo industrial e, com êle, ,um proletariado ponderável: o capitalismo,
por essa époc , ainda e 'tava na fase comercial e vivia conseqüentemente da
exploração de produtos agrícolas nativos. A nova elite que se constituía,
traída da burguesia urbana, formada, em geral, de doutores, m~icos, enge-
nheiros e, sobretudo, advogados, tinha de procurar, como procurou, um de
seus pontos de apoio n aristocracia territorial que, cm São Paulo, se reergui
com as grandes lavouras capitalizadas, dirigidas por fazendeiros e cultivadas
por legiões de colonos e se restauràva, ao norte, com a rápida assimilação do
negro, jã libertado, na nova economia capitalista e pela reconstrução da ri-
queza nas zonas açucareiras. A poUtica nacional dominada a crise militar,
e restabelecida a autoridade civil, com PRm>ENTE DE MoRAis, passaria a gra-
vitar cm tõmo do eixo constituído por São Paulo e Minas, onde imperavam
fazen.deiros e criadores, e reforçado, de um lado, por Pernambuco e pel Bahia,
ao norte, e, ao sul, pelo Rio Grande, com a sua já poderosa indústri pastoril.
A união de Minas e de São Paulo não s6 permitia o equilíbrio entre o norte e
o sul, repr entados respectivamente pelo bloco setentrional e pelo grande
Estado fronteiriço, dis nte e insulado, como arrastava, na sua órbita os Es-
tados menores, como satêlit, de um sistema poUtico. As mais graves crises
96 A CULTURA BRASILEIRA

nacionais ou se resolviam pela fôrça de coesão dos dois Estados do planalto


central, que mantinham em suas mãos as grande ai vancas de comando, ou
d encad vam cm lutas e ~<.Jmoçõesin estina , tõdas vêzc que se desar-
ticu ava e a oliança e, se deslocava, para o norte ou para o sul, o e· o de gra-
vh çào d política nacional. Se, na estrutura d~se si tem , variava de uma
região para outra o centro de impulsão da vida poli ica, e às v es, como na
campanha ci ilista encabeçada por Rui BARBOSA, com uma al fôrça que chegou
a atuar em t • as as suas articulações motrizes, onde se inst lou, na República,
o maior núcleo de resistência das fôrças de conserv ção, foi no Estado cen rais
e, sp cialm nte, em São Paulo, em que se formou a nova aristocracia terri-
tori l. ão se pode dizer que a idéia democrática tenh sido sis cmàticamente
burlada pela própria classe latifundiária, novamente erigida em classe gover-
name, quer diretamente pela posse do poder, quer utilizando-s do poder po-
lltico e pondo ·ste a serviço do poder econômico. Se, de fato, essa aristocracia
territorial aprofundou as diferenças de classes e converteu as instituições de-
mocrát icas em manto dissimulador de um novo despotismo, - o d spotismo
oligárquico que ela favoreceu e sú$tentou -, é certo que essa unificação da
pol:tica republicana em tôrno da monocultura 1 lifundiãria, de possuidores
de erras, íazendeiros, criadores e senhores de engenho, foi, dentro do sistema
federativo, um corretivo de primeira ordem à tendências descentralizadoras.
Cer amente, dada a expansão progressiva do principio federativo que
m rgulhava suas raízes na tradição e ex raía 6da a sua fôrça do caráter de
isolam nto e de diferenciação autonômk-a das províncias, formada de um
modo eral em tomo das antigas capitanias, não podi surpr cnder que ao
uni ari mo do regime imperial sucedesse o federali mo vencedor em 1889, com
o golpe de Estado que abateu o trono e i stituiu o re ·me republicano. O
federalismo areceu a todos a melhor forma e a única susceúvel de manter a
unidade nacional, cm um povo, de formação é nica e estru ura social hetero-
g ncas, cuj s unidades, constituídas pelas províncias do Imp •rio, separadas por
randes distancias, em meios físicos e e.lima éricos diversos, s haviam desen-
vol ido m um rcgjmc de autonomia admini trati a e de par icularismo cco-
n6mico. Mas, se a República não podia tomar senão e forma federativa nem
aderia con lidar-se senão mediante a garantia e a coordc:n tão das franquia
remonai , o federalismo, sem o complemento essenciol d partidos nacionais,
trouxe em seu seio os germes que deviam pôr em peri o a vitalidade do regime
e provocar a reação contra as prerrogativas dos Estados. A descentralização
levadc o extremo entravou a obra de reorganização nacional e, promovendo
o substi uiçiio de partidos nacionais por partidos locais e a formação de ver-
dad iras oligarquias, semelhantes a essas "palriarquias aristocráticas" do
Imp ·rio que se referia SAINT-HlLAIRE, permitiu o monopoliza ~o do poder
politico p los partidos regionais dominantes, diri idos pelas grandes familias.
Êsses partidos que a prindpio, nas duas primeiras d ·cadas rcpublican s, ainda
tu a am por idéias, já não apresentam senão pro roma imprecisos, cujo ponto
capital parece reduzir-se à montagem da máquina eitoral e conquista
e exploratão do poder político; são, em poucas palavras, para empregar ex-
re de M. OSTR0G0RSKY, 15 "grandes fábricas de opini- que s arriscam
a mecanizar tudo e tendem a substituir por um govtmo de m 'quina um go-
' rno de homc:ns r sponsáveis". As reformas sociais, conõmicas e pedagó-
gica , do govêrno central ou dos governos locai , quando não se reduzem a
pretex os, abrem oportunidades à colocação d pcs oa protegidas, e os própri

1· M, OITR0 0R.lllY, L• d4tnocruio et l'orll,aniu1,on d•4 parti• pu/l'li ..... v ~. CJ1lm...,n U!vy,
h, lllOl.
80. Forttl.leza de Monte SerrBt (que data da época da invasão holandesa). Salvndor, Bahia.
Foto VOLTAIRE FRAGA. Instituto Brasileiro de Geografia o Estatística.
81. Fortaleza do Santo António (1772) em Salvador, Bahia.
Foto VOLTAlllE FRAGA. Instituto Brasileiro de Geografia e E,tatistica.
82, Bntalha dos Guararapes. óleo de VÍTOR MEffiELES,
Foto REMBRANDT,
83, A partida da Monção. Óico do ALMEIDA JÚ>flOR.
Foto do Museu Pi,ulis:tn.
84, Bandeirantes. ôI"o de HENRIQUE BERNARDELLI,
Foto CARLOS
85 -Osprimeiros
povoadores
eFernão
Dias
Paes
Leme.
Peristi/o,
ladoesquerdo,
doMuseu
Paulista.
fotodoMuseu
Paulista
86. Palácio da Ju$tiçR, que da.ta de 1660. Salvador, Bahia.
Foto VOLTALRE FRAGA. Instituto Brasilefro de Geografia e Estatística,
87. Ouro Preto. Praça Tiradentes.
Foto Rádio lncoofidénc.ia de Minas Gerais.
88. Panteon da Inconlíd6ncia ( anti ia penitenciário). Ouro Preto,
89. Antigo Pol!,cio dos Vlco-'Rci• o P1JIAcla lm1,orir,J (hoje Dopnrtsmcnto dos Correios e Telé4rolo•),
FOTO STll,Le. ColcçOn ti~ Fnculdodu de Filosofia de. S. Paulo.
90. D. JOÃO VJ. óleo anônimo, calvez de JOSÉ LEANDRO DE CARVALHO. !,reja do Rosário, Rio de Janeiro
Foto VOSYL1US. Cole~ão do Serviço Naciot1al de Recenseamento.
91. 1ndepend6nâa ou Morte. Óleo de PEDRO AMÉRICO.
Reprodução da tela que se conserva no Salão de Honra do Museu Paulista. - Foto do Museu Paulista.
92. JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SII.VA,
o patriarca da Independência.
Foto do Museu Paulista,
93. Sa!Jraçõo de PEDRO 1. óleo de J. B. DEBRE1'.
Foto REMBRANDT.
1

94. Palácio da Aclamação em Salvador, Bahi:i'.


} ...
··(
"
Foto VOJ..TAJRE FRAGA. Urbo Salvador. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

' -~··
95. PEDRO II, antes da maioridade, cm 1840.
96. PEDRO n, Imperador. Óleo de PEDRO AMÉ.RJCO.
Foto REMBR.ANOT.
97. Batalha cio Avní. óleo de PEDí~O AMf:RJCO.
Fo/ollf.MBR;INOT
98. B ..<tlalha nnval do Rfo.chuelo.Ô/eo de ViTOR MEIRELES.
Fo(o REMBRANDT.
99. Duque de CAXIAS, o Pacificador (LUIZ ALV>~S DE LLMA E Sl:LVA, Rio de Janeiro, 1803-1880), que,
pela sua obra inestimável de militar -e político, pacificando províncias, salvou e consolidou.
a unidade da Pátria.
Foto da Coleção Companhia Melhoramentos d.e S. Paulo.
100. General MANUEI, LUIZ OSÓRIO, Marquês do ERVAI, (Rio Grande do Sul, 1808-Rio de Janeiro,
1879), lllória do exército nacional e um dos heróis da /lUerra do Paraguai.
Foto da Coleção Companhia Melhoramentos de S. Paulo.
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101. Almirante BARROSO (FRANCISCO MANUEL BARROSO, Bnriío do Amazonas, Portugal, 1804-Uruguai,
1882), vencedor da batalha do Riachuelo, uum das maiores leitos navais de que reza a histórian.
Foto da Coleção Companhia Melhoramentos de S _ Paulo_
102. AlmiranteJ Marquês de TAMANDARÉ (JOAQUIM MARQUES LISBOA, Rio Grande do Sul, 1807-Rio
de Ja,neiro, 1897), um dos trandes vullo.s da marinhn nacional.
Foto da Coleção Companhia Melhoramentos de S. Paulo.
103. Catedral de Potr6polla, na qu11/ j11zem o, re.-10~ mortal, do lmperndor PEDRO ll e da lmpcratria.
Folo PREJSINO, Travei in Brozll, vol. 11 n." 3, pág. 19.
104. l?SNJAMIM CONSTANT BOT'Et.KO
DE MM:.,t.HÀBS, C1 fundador d11
Rcpubliu.

105. 0 Cun,o/h~iro RUI BAIUIO!IA, o


princip11I outor d1t Comtlluição de 1891.
Fo101,aíln d~ f,-a do Govõmo
Provb6rio, 1890
106. Barão do RIO BRANCO {Jcst MARIA OA SILVA PARANHOS. Rio de Janeiro. JS4S-1912). n<>tável
hi1toriodor, teóAralo ~ diplomata, o "Deus T~rminu,·• do Brtui/ 1 no oxpr~niio de Rui BARBORA.
Foto da Coleção Companhia Melhoramento, de S. Paulo,
107. O Conselheiro RODRIGUES ALVES, que presidiu à transformaç.ão dn cjdade do Rio de Janeiro. com
o Prefeito F. PEREIRA PASSOS e ô obra de extinçAo da febre amarela, com OSVALDO CRUZ.
EVOLU O SOCIAL E- POLtTICA 97

afluxos do c pital estrangeiro ornam mais fácil essa prolifcraç-o de car o


públicos, ''resultante da superabundância de dinhciro no tesouro que, screvc
GILBERTO AMADo,não sabiam como aplicar homens que não tinham obrig ção
de prestar con opinião inexistente de seus atos bons ou mau ". 1 AJ
convcnç~ polfticas cm que todos os interésses são represen dos, menos o
intcrêssc ger 1, e t o n s mãos d manejadores de homens profissionais, a que
ee refere OSTR0G0RSKY e que empregam todos os mcios para fazer prevalecer
as vistas que previamente fixaram. Desencadeando a luta por tõda cspkie
de métodos; distribuindo, segundo os serviços prestados ou a hostilidade tes-
temunhada ao partido, recompensas e puni.;ões de tôda natureza, etes chegam
a um grau de poder incontrastãvel, nos seus esforços por estabelecer unani-
midades maciça , anular as personalidades para subm tê-las à disciplina do
partido e prosseguir na política de <:liminação dos valores que formam a bas
moral e intelectual da civílizaçào.
Assim, 11 í11stituidotipara assegurar de urna parte o funcionamento de um
governo cad vez mais complexo e, de outra, a livre expre~são das opiniões
de cidadãos, cad vez mais numerosos'', segundo a observação de M. OSTR0•
GORSKY, 17 os par idos tomaram-se cada vez mais incapazes de servirem de
instrumente? de governo e não fizCTamsenão abafar, sob uma opinião fi tícia,
entretida pelo conformismo exterior imposto à maicria, qualquer movimento
real de opinião. Os grandes poderes públicos, caídos sob sua dcpendênci ,
enervam-se; admini tração entrava-se; diminui a autoridade dos líderes absor-
vidos pelas necessidades e cuidados eleitorais; e como não é perante o público
que o homens polttico são responsáveis, o que os preocupa n-o são os vCT-
dadeiros inter do público. Quanto à opinião "ela aparece antes defor-
mada do que reílctid por oda êsse sistema. Ela, a bem dizer, revolta-s aJ.
gumas vb e quebra a máquina; guarda o seu poder repressivo mas rdeu
o seu poder preventivo. Manipulada pelos partidos ou esmagad por éles,
não chega senão a constituir u.ma atmosfera de frowcidão geral'. A poli ·ca

IG O. putíd011 naram•K, den. r-.. verdadeiru "'aa:tncóa1de colocaç , no ,ando o run e>-
oa1· mo como uma clle:o~I• rouJ e po,,,.o • adminiotr•çio • ...-viço desH pDlltk.• de um p<:r' naJiamo •1rn,
alvo e dr horillont dorot.licoa. O íllh•dltmo ou ncpatumo, - apre.. que• principio dnl1tll•vam • trana•
inl..ao, d pai. • nu, óu de ti • brlfll)o.., de cargoo públi"°" ou ektiv01, e pauatam • uprim r der,o ,, d&
um modo lff.l, • J)'Ot~o dl1pct1Hd1 a llldivlduoo llO ioterktc pcuoal e ·p!lrtidÃlio, COJltnbulam pua II e.tu.
tifieac o d011corpo, poli co. e r odlam • fl.Zc-t da •dmlnistl'ado e da pnlftica u....- o~c de cl fechado.
i, m11ooir1 de (a~U1, dom nada, flOt um KfUflOde "mnnnpo1iudores polltic01" que control•m • m6ciu na do Et•
tado. At ",krn.ib1da1" que mu~•vam, n11 lutas mai, violenta•, a vitória de um partld m~anl .. Jo ou li~ um
agrupamento tran,itórlo ■Obre o outro, comtitufam o "'~""'º de upuran do fonoinnaliomo " dai clrnaru i,o·
Jftícud01 principal, lcmcot.oa li1,1ad01•• íac vcnc:idu. Maa esu ntrul-uta polltica, rl11ldament hl ruquí11d1,
motitada abbrt • bW'Oc,.. 11110e apoiada pelo rucndeú'o e pelo douto,- (baehuel e mEdlco), 1 •v••te'
pelo lpicc-, ao. poder p idn,, por hnm na de partido e llrtkul.ava- , pel . baoc, , ca.mad•• popu.
iate,: o capan&• e o cabo eleitoral alo t caractcrf1ticoo que ae formaram, c:omo cor>Kq tncl•• do alar11mcnto
doe corpoa poUtk e pcui o dado de ll&llf .., cbtf<:1, 1>0f intenn i6rioo, ao corpo c,lcit ai, won 'atente c-
nutu ntc.
17 Aa concl • • uc chcanu M. Ol'TaoooRtEY, na 1tu■ OU1ilucpmnrllDtor. d• orcao .. , o ,J
poli (op, cil ,J, crubon t6brc partidoo o.■ lnglatcra e,
do Nane, l""ç•m un,a 111.1 que ae ronaar■ m, no Sr U 0blka, •
que nlo roram atnd ■ •uflcit "" 1.u. Cffleae, nu divcru.1 r, uaato
■OI te nu,o teadtnciu tomUJD, ~ cr,
na e que H rCYcl■m ou puoettm r
partid"" -ffl ■ COIU •
vüta u diíercn(11s.de ronn.a
P•turaia. tltm e, em todo o
• de cad• m~o e
b>d•• t:1 e dr Klll
que pro~ corre,, l dcmocr ■ci&. ~m.
c.o::no
• mpubo maio ,.,; "'""' =
de ··,nr--cr~ ai.antro,º em. q
uno
- 11.nn OI, pdAt IIUU f
em. uparndot. locai1.-.. no resim
v•u n«aan•u• ft\ lou e aa tendlnciaa de d li , de ar lo
e■ i ■ c,nc, • "ia,fida,ie
e a a ' .tunocd .

(Clr, A. nulon ■ I. S:n;, Braaillana, vol. 27, Co1n_p l, S o P•ulo.


l!lll: OLIY'l:UU. '""'"• O idHti1mo ru, con•tilui ~o, Rio, 192 •
98 A CULTURA BRA ILEIRA

dos governadores, a organização de policias militarizadas, como pequenos ex&--


cito capazes de fazer face ao govêmo central, o apêlo freqüente à fôrça e à -
indisciplina e as crises militares, produzidas pela exploração política dos quar-
t • , denunciavam não só a fraqueza do Estado, em luta com fôrças tão
disparatadas, ma ºa ausência de um sentimento público em que as instituições
poUticas pudessem apoiar-se e ganhar, por sua vez, outra asccnd!ncia no sen-
tim o.to e no ideal coletivo". Que as idéias democré.ticas não se afinavam,
ainda com o padrão cultural existente, provam-no não só as lutas prolongadas
que se sustentaram para a sua implantaçao mas as cris se revoluções que pu-
seram em perigo, mais de uma vez, as instituições e os esforços dcaenvolvidos
para conservá-las: "suficientemente fortes para minar a velha ordem l)olíti~.
escreve S. LOWRIE, mostraram-se demasiado inconsistentes, para tornarem
a base efetiva de uma nova ordem política". Por maior, pois, que tenha sido
o valor de algumas figuras eminentes que se agitaram no cenário político, du-
rante êsse perfodo, - como PR®l!.NTE DE MORAIS, CAMPOS SALES e RODRIGUES
ALVES,. oradores parlamentares verdadeiramente notáveis como RUI BARBOSA,
e diplomatas de um s,lto descortino, qual foi Rio BRANCO, o Deus Terr.ninus,
fixador de nossas fronteiras. - êles não con eguiram nem podíam conseguir
pelo seu prestígio e ação pessoal, senão iluminar às vêzes de um brilho intenso
as in tituições democrãticas que oscilavam sôbre a ba e precária e flutuante
de uma população ainda incapaz de exercer os seus direi.tos políticos e asse-
gurar a solidez do sistema representativo. No choque entre o idealismo de
RUI BARBOSA que encarnava em sua pureza os ideais democrático e colocara
a serviço dêlcs tõda a sua eloqüência incomparâvel e o realismo de PlNHE:mo
MACHA.DO que se levantara, com tôda a sua energia de caudilho, como uma
fõrça autoritária de disciplina e de coordenação, tinha de prevalec:er esta última
corrente que jogava com a mâquina politica se dispensava de apelos ao povo
e opinião e contava, para dominar, com a grande maioria indiferente e amorfa
que subsistia, na República, - como "um prolongamento da colônia, formando
o caput mortuu.m do grande organismo nacional".
Mas o grande impulso que tom.ou a imigração mediterrânea; a prospe-
ridade que se instalou no sul, com a monocultura latifundiária, baseada no
ttabalho livre, e permitiu a inversão de capitais brasileiros na indústria; o afluxo
cm maior escala, do capital estrangeiro, e as própria crises do café,• de que
resultou entre outros efeitos, o transbordamento, dos campos para as cidades,
do excessit de colonos, tudo isto concorreu vigorosam n e para determinar,~
a partir de 1920, o maior surto industrial que registra a história econômica•
do pats. Transforma-se a fisionomia social no Rio de Janeiro, nos grandes
centros do planalto e em algumas regiões do norte e do sul, em Pernambuco
e no Rio Grande; e o deienvolvimento das indúi.trias, o progresso dos novos
meios de transportes e os fenômenos de concentração urbana não s6 agem di-
retamente sõbrc os hábitos de vida, a mentalidade e a própria moralidade dos
uupo mas produzem o efeito de uma corrente econômica poderosa, geradora
de um espírito de associação de que as comunidades urbanas, já mais conden-
sad e de vida mais intensa, não foram senão uma de suas múltiplas mani-
festações. Mas, ao mesmo tempo que se alarga esplrito de organização,
a divisão do trabalho, com todos os seus efeitos, determinada pela complicação
crescente do sistema social. prepara nos centro de aglomeração urbana em
que se i tala, formas imprevistas de individualismo. E. se considerar que
f; menos de transformações técnicas e industriais e de concentração
coletiva se produzem em alguns pontos esparsos do terri 6rio, nas imediações
do litoral, adquirindo uma intensidade maior em São Paulo, compreender-se-á
que, antes de eIVirem de instrumentos de assimilação da populações, come-
EVOLUÇÃO SOCIAL E POLlTICA

çaram por a tuar as causaa das diferenças econômicu e culturais que


desnivelam cm planos diveraos de prosperidade e são ligadas, em grande parte,
àa diversidades de condições fisicas, climatéricas e dtmog:ráficas. "Colocado
entre. o norte, intransigentemente português e o extremo sul ligeiramente cs-
:paahol, São Paulo, escrevia lit:JMBERTO DE CAMPoscm 1919, l: uma fatia de
mortadeui de Bolonha, a aeparar num sandwich as metades de um mesmo
pão geográfico. Os ecu vizinhos imediatos. as gentes que v~ sofrendo pouco
a pouco os efeitos de sua influência civilizadora, não percebem essa diferença
pela su.avidade de transição. O nortista, principalmente o que procede da
região sertaneja, é que verifica, ao simples contato, a mudança radical do
cenário e do drama humano". O alto grau atingido pela cultura, vegetal e
bum.anã, e pela técnica industrial, especialmente cm São Paulo, deslocava,
de fato, para esaeEstado o prcdonúnio nos dois ramos de produção e, aumen,
tando-lbe a capacidade de criar, de renovar e de produzir, e, portanto a sua
aptidão civilizadora, tinha de forçosamente conservá-lo, ainda que liberal
nas reformas politicaa, nas retaguardas reacionárias, quanto às reformas sociais
e econômicas. '
A propriedade latifundiária ainda se mantinha, no início desse surto in-
dustrial, residindo à base de nossa economia, tanto no sul, com a riqueza verde
dos cafezais, como no norte, cm que, com o advento da usina, se rccompõa
o primitivo latifúndio. "O senhor da terra emigrou, escreve DUARTE LIMA,
cedendo lugar ao r de indústria que, de longe, no seu escritório da cidade,
administ:r a mãquina prodigiosa que multiplica a produção". No sul, para-
lelamente com o desenvolvimento que tomaram as indústrias, endem-se
as grandes fazendas com as suas instalações modernas e as suas casas senho-
riais, e atinge a proporções nunca vistas a produção da lavoura em ~ue ainda
parecia assentar- e a viga mestra da economia nacional. A falta de braços
para a lavoura, com a diminuição das correntes imigrat6riu, e de recuraos para
o seu custeio e, sobretudo, a crise de 1929, com as dificuldades rmanccira ,
vieram contribuir, porém, para o retalhamento de alguns latif úndioa paulis as
a di eminação em maior escala, da pequena propriedade que tomara antes
um grande impulso, pelo fracionamento em lotes, nas zonas de terras esgotadas
e nas regiões em que a broca produzira devastações mais profundas nas culturas.
'te o nwnero de propriedades agrícolas, de 1930 para 1934, cresceu em São
Paulo de, 110 97~, atingindo, nesse último ano, a 274 740, quando as estatls-
}icas oficiais regi trara,m 163 765, em 1930, essa díferença não foi certamente
devida ao fracionamento apenas de latifúndios existentes em 1931, mas de
propriedade médias e pequenas, espalhadas por todo o interior do Estado.
~. ainda reduzida às suas proporções devidas, 18 não se pode contestar que
100 A CULTURA BRASIL.EIRA

a democratização pela terra já começava a processar- e no centro sul, pelo


duplo fato do fracionamento da grande propriedade e da sub-divisão das mé-
dias e pequ propriedades, repartindo-se por grande número de proprie-
tários rurai a posse e a explora_çio das terras cultivadas, quas monopolizadas
ant.eriormente por uma pequena minoria de grandes senhores de terras. ltssc
duplo fenômeno de que resultou a substituição progr ·va do regime da mo-
nocultura pelo da policultura, intensificou-se, como se vê, por efeito da crise
do café, cm 1929, tão fecunda em conseqüências econômicas, sociais e políticas.
Foi por ela, com efeito, que se aplainou o caminho revolução de 30, - um
plano de revolução liberal abortada que se fêz contra-revolução; desmante-
lara-se com o desmoronamento econômico, a máquina política do Estado e
encerrava- e o donúnio das "grandes familias". O novo poderio econômico
deslocava-se para uma classe de homens, e o velho poder poUtico para outra:
nessa desagregação da lavoura, e na dissociação que dela resultou, entre a eco-
nomia ·e a política, já estava o germe de um processo revolucionário cujas ver-
dadeiras causas eram dissimuladas pela massa de fatos poUticos, sucedendo-se
com rapidez, e de que um conjunto de fatôres internos e externos devia forço..
aamente retardar a resolução.
A revolução de 30 varre os antigos quadros polltico , procurando, fora
dê.les, nov s fôrças em que se apoiar; e nos antagonismos de interêsses econô-
micos, nos choques das novas correntes políticas e dos dementes do antigo
regime que se esforçam por sobreviver às instituições extintas, nos conflit01
entre a utoridade civil e a fôrça militar, põe-se à prova rude a resist~cia das
id6as democráticas que não tardam a render-se ao assaltos das tendências
autoritári . As crenças relativas ao poder, transformando- e, por tõda parte,
e as n 'dades da vida econômica tendem a modificar o poder politico que
muda de mãos e de natureza, para entrar, cm 1934, em uma nova exi:criência
democrática, com que se encerrou. três anos depois, a crise política aberta pela
decomposição do liberalismo constitucional. Todo (! e pcrlodo que se tende
de 1931 a 1937, de agitações políticas, de desconfiança em relação às fórmulas
antiga e de hesitação à margem de soluções novas, nao constitui politicamente,
nem progresso nem regresso total, mas "uma fase de incubação". As indús-
tria , por um lado, adquirindo novo impulso e diversificando-se, conforme oa
meios regionais, em especializações que se completam, tendem a tomar-se um
dos instrumentos mais capazes de assegurar uma verdadeira unidade nacional,
pelo entrelaçamento dos inte.rêsses econômicos. Mas o movimento democrá-
tico parece estar na razão inversa do desenvolvimento da grande ind6atrla.
As distâncias por outro lado, se estão longe de ser suprimidas, reduzem-se con-
sid~àvelmentc pela rapidez dos meios de locomoção, pelo desenvolvimento
da aviação comercial e militar e, sobretud.o, pelo rádio que, permitindo um
contato díreto entre os homens em situação central e o povo, di eminado, a
distância, põde assimilar grandes países ao Estado.cidade, da civilização an-
' ga, desenvolvendo o prestígio do chefe e do líder, reduzindo a importância
dos representantes e dos parlamentos que jâ não são intermediário efetivos
entre os eleitores e o govêrno. A centralização é novamente julgada o único
meio de resguardar a unidade moral e política e de resolver as antinomias que
ubsistcm no jOgo das fôrças cconômica11da vida nacional: o novo regime ins-
titwdo, com apoio nas fôrças armadas. pelo golpe revolucionário de 10 de no-
vembro de 1937, cm que desfechou a crise do liberalismo no seio da democracia
brasileira, acentua as tendências do pr •dencialismo, restaura a autoridade
central, dissolve o parlamento e os partidos políticos - essas máquinas que
parecia quase impossível desmontar- assume o contrõle do poder e da nação
A E OLOÇÃO SOCIAL E .POLITICA tol

e, cerceando as prerrogativa, regionais, marca o recuo do fcdcralismo para a


-centralização. :! uma fase nova que se inaugura e em que o principio da ordem,
da unidade e da defesa nacional se impõe novamente, com tõda a sua fõrçai
como no período da Reg~cia; e a sociedade agora centralizada, pois t6das as
IOdedadea centralizadas são igualitárias, - evolui para o igualitarismo, im-
pelida por gi-andes reformas sociais e econômicas, 19 enquanto se realiza wn
doa maiores esforços de unificação e de reconstrução, num espfrito e em bases
eminentemente nacionais.

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li AII eck-dada evaluan c-r• • tcu,,ldadr, e: d~ da~ civil e pelltka, 6 ~ -,.po-c


• iaual<lad ~; ma, c:ol'.QD j6 ae oomuorou, t&lu u aocied.adet CerltnliAd.u .. o i&ualit6riu e u os.l ■
lpalitiriaa ■ao a■ mau ceatrallada&. Ali pua:.: que, "ae • d~ ai■ par tbdaop&ttc e ..U 110 ponto
de por t.,4a puu existir, E porqqc u ..t.ltocrllda, ve,r-üde:itn, acffYe &. ll'&OO:ff, nlo l'llportam. a c:m!rali•
~. nawtado dQ 4i.t,lndq oupir:nidaa". Lqilladara an rewhKioairio■ que pn,meum ■ um mnpo • i&IW·
4-de ■ a llba-dadc, de dDQ u .... , lembn:n Ooa::nu: aa do risiaa.firioa ou álo c:bAra.J A tTalbaclo ta•
fllN!l:e, _,. d6Tida, • evoludo pano lcwllitariamo e prq,u:a • democn,.c:uiqa i,od~ perder• ,oa ~.
tom,u DOVU e pr pile, pela p,6pria utur.- du ~ tUU opiDiAo tio ~• q'QaotD mpnl•
ada -■o em t6d• • ..,. de «J)IIDllo ~I, ■o"'""°" em lodo o urritório ati.np!o pela_.,. do i,odcr poUâ.c,o
102 A CULTURA BRASILEIRA

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CAPÍTULO V

Psicologia do povo brasileiro

Análise do carãter coletivo - A interpenetração das culturas afro-fndiali


e da civilização ibérica - O branco escravizador e a miscigenação - O resul-
tado do encontro das três culturas iniciais - A concordência e a incompa•
tibilidade de certos traços originários - Alguns traços fundamentius - O
predomínio do afetivo, do irracional e do mfstico - Atitude em face da vida
- Resignação fatalista - TolerAncia e hospitalidade - Instinto de reação de
defesa; reserva e irreverência - O humor brasileiro - Plasticidade na adap-
tação às situaçõea novas - O desinteresse econõmico - Imprevid~cia e·
dissipação - Sensibilidade delicada e excitável - Inteligência vivaz e super--
ficial - Falta de espírito polritivo, de objetividade e de e:ir:atidão- Vontade
explosiva - Capacidade de grandes e1fotços - Ação feita de impulsôes, sem
constAncia e sem esptrito de continuidade - Vaior que se atribui à pessoa
humana - Individualismo anárquico - O individualismo impedindo a con-
centração política - Auset!cia de espírito de cooperação - Povo de pioneiros
- Prestígio pessoal e hierarquia social - O homem do litoral e o homem
do sertão - Norte e sul - Diversidade de tipos regionais e unidade funda-
mental - .A!stransformações de mentalidade e suas causas internas e externas.

N ÃO é somente pelas particularidades de sua vida, de seus costumes, de


sua língua e de suas instituições que um povo ou, mais geralmente.
um grupo humano se distingue dos outros. ~ tàmbém pelo seu tem~
peramento e caráter coletivo. Produto de grande variedade de fatôres, geo-
gr,áficos, étnicos, econômicos e sociais, dos quais os dois primeiros têm um
papel importante mas não preponderante, na sua formação, o caráter coletivo
é uma síntese de elementos os mais diversos, concordantes e resistentes, que se
combinam ou tendem a combinar•se, marcando a fisionomia original de um
povo ou de uma nação. "Um temperamento coletivo ou individual, frisa E.
DURKHEIM, é coisa eminentemente complexa e não poderia ser traduzida
numa simples fórmula. O caráter, nos grupos como entre particulares, é o
próprio sist;ema de todos os elementos mentais; é o que faz a sua unidade. Mas
essa unidade não se prende simplesmente à preponderância, mais ou menos
marcada, de tal ou qual tendência particular". Não é, pois, generalizando
observações de indivíduos, mas analisando o meio natural e, mais do que -êste,
o meio humano, as instituições e a evolução histórica e social de cada povo,
que se toma possível reconstituir, ao menos nos elementos fundamentais, o
seu caráter, - ''explicável êle mesmo não por uma causa única, geográfica ou
racial, mas por uma convergência de influências múltiplas". As grandes fôrças
naturais, como o meio ffsico, o clima e a raça, modelam, de fato, profunda-
104 A CULTURA BRASILEIRA

mente um povo no momento em que sua alma ê virgem ainda; e prolongando


sua ação ao longo da história, observa BoUTMY.l são capazes, através das
modificações do meio humano, de perpetuar os traço hereditários qu impri-
miram d e o principio às primeiras gerações. Mas, medida que a civi-
lização se d~volve, as fôrças sociais pesam mais sõbre o cará cr das na_ções
do que as fôrças naturais que tiveram um papel de importância primordial
nas suas origens e na sua formação. Se. pois, a alma de um povo não é uma
"ess!ncia eterna", alguma coisa de imutável e definitivo; se os caracteres que
a compõem estão numa perpétua transformação, análise do caráter coletivo,
tio compJCJtopor natureza, sujeito a influências tão diversas e, por isso mesmo
mudável com a modificações no sistema de instituições no interior de cada
povo, deve concentrar-se na pesquisa dos hábito e tendenciaa mentais "sufi-
cientemente persistentes e suficientemente gerais'•.
A complexidade de um caráter coletivo, a variedade de influencias que
concorreram para o modelar, e êsse fato de que também ele é suscetível de
se transformar. bastariam para mostrar as dificuldades que se levantam a
quem se proponha, não digo, a esboçar um quadro sistemático e explicativo
do caráter brasileiro, mas a fixar-lhe um certo número de traços-, recolhidos cm
observações e estudos, e de que se desprenda uma impre&ão de conjunto. A
leitura do autores que estudaram a psicologia dos povos, noa faz reconhecer
quanto é dificil, nessa matéria, chegar a uma preci • o. Mas, na análise da
psicologia do povo brasileiro, o estudo de etologia coletiva se encrespa de difi.
culdades tanto maiores quanto os traços que o caracterizam e presentam
com essa imprecisa.o natural dos povos jovens que, não tendo atingido a sua
maturidade, ainda não chegaram a afirmar os us aspectos di tin ·vos e a
realizar a fusão harmoniosa dos diversos elementos mentais que entraram na
sua composiçao. Que já temos um caráter próprio, uma feição particular,
uma personalidade viva e, a certos respeitos marcada, não hâ dúvida; mas,
além de alguns elementos bãsicos, mais fàcilmente defüúveis, o que há de vago
e de impreciso, de flutuante e variável cm outros traços psicot6gicos, torna
essa psicologia, em muitos pontos. senão inabordável, ao mcno , rebelde a uma
análise segura e penetrante. As monografias e os estudos feitos anteriormente
devidos a vário autores, pensadores e ,50ci6logos,não nos fornecem elementos
auficicntcs para uma psicologia política e social do povo brasileiro, tanto nos
traços com que se esforçam por defini-lo, - transitórios, porque são antes
ligados a fases diversas de nossa evolução e tendem a desaparecer com as trans-
formações sociais -, como na sua explicação, quase sempre ligada às condições
geográficas e às três raças que concorreram, inicialmente, para a constituição
do povo brasileiro. Mas, por maior que tenha sido a pressão do meio aõbre
a raça, no tempo em que quase nenhum produto social se interpunha entre
wn e outro, entre a raça e o meio, poder-se-á explicar muitas coisas, na his-
tória de um povo, pergunta C. BoUGLÉ, por essa prt$São primitiva? E, por
maior que tenha sido, em alguns pontos do território nacional, mestiçagem
de brancos e lnclios e de brancos e negros ou a influ~cia de auas culturas res-
pectivas, sobretudo nos três primeiros séculos poder-se-ão aceitar essas ex-
plicações por atavi.mio, em relação a elementos que se devem menos aos índios
ou aos negros do que a formas de vida social e tomar, como tratos gerais e per-
tistente , traços peculiares a certos grupos e 1igados a divenos estágios de oossa
evolução?
Certo, lndios e negros não só contribuíram de maneira notável na colo-
nização e conquista do Brasil, como se caldearam, misturando-se com os por-

1 unrt, sal d'une p ,rcholog.-epolifique du peupl •n~l•I• ~u XIX . siklr, Pario, Colln, 1901.
PSICOLOGIA DO POVO BRASILEIRO 105

tugu!ses mais intensamente nos primeiros dois séculos, e cm proporções va-


riAveia, nas diversas regiões do território. Se o indígena colaborou formidà-
velmcnte na obra de devassamento e conquista dos sertões; se !te constituiu,
com os mamelucos, nas cxpressoes de GILBERTOF'REYJtE,"a grande muralha
movediça de carne, que foi alargando no sentido ocidental as fronteira colo-
mais do Bra ·1•, íoi "a lama de gente preta que lhe fecundou os canaviais e os
cafezais e lhe amaciou a terra ~•\ exercendo uma função civilizadora, do
ponto de vista agrário e econômico. 2 As misturas de brancos e negros, de
brancos e índios, como tamb&n, mais raramente de índios e negros, salpicaram
de mestiçoa de todos os tipos e matizes a populaçao branca que devia ter, no
norte, pelo meno , 50 % de sangue indígena, e que aõmente no planalto e no
aul, readquiriu o seu predomínio, restaurando-se nas suas fontes primitivas,
com os afluxot das imigrações de origem mediterrânea e germânica. Não se
pode, pois, nem do ponto de vista racial, nem do ponto de vista econômico,
subestimar a importância dessas contribuições, na composição 6tnica e na
formação da mentalidade do povo brasileiro .. Os hâbitos físicos e mentais, aa
concepções de vida e aa técnicas de trabalho tinham de forçosamente mudar
com os contatos e a interpenetração das três culturas, e sob a preesão dêssea
fenômenos "resultantes do contato direto e contínuo de grupos de indivfduoa
de culturas diferentes, com as mudanças conseqüentes nos padrões originais,
culturai•, de um ou ambos o grupos". Mas, em primeiro lugar, não chegou
a completar-se a fu ~o dessas três culturas e sempre ficou superficial a assimi-
lação de tndios e negTos pela cultura ibérica, predominante cm todos oa pontos,
mantendo-se a discordância profunda que dissimulam compromisso variados,
e constituindo-se indígenas e negros à margem das duas culturas, - as de
origem que esqueceram e de que perderam as caractcrlsticas e a cultur do·
minante em que não foram completamente integrados. Al&n disso, certos
c.lcmcntos que se supõem constitutivos do caráter coletivo, como a tristeza,
a frouxidão, a lubricidade, tio longe estão de provirem do negro, quanto, do
aborígine, a di ·pação ou dcsap!go à terra e o espírito de aventura, que
procura explicar por atavismo, como uma herança doa tndios americanos. O
que teve de perniciosa a influencia do negro, na vida e formação social do povo
brasileiro, foi devido menos à raça do que a sua condição de escravo, como
já observara JOAQUrM NABUCO, quando afirmava não ser a raça negra o mau
elemento da população, mas "essa raça reduzida ao cativeiro". E a mcsm
"apagada e vil tristeza", que RoNALD DE CARVALHO considera como resultante
das "duas melancolias imensas, a do negro e a do {ndio escravizados'' e que
tanto, o seu juízo, iriam pesar no caráter do povo, não mergulha as rafzes nos
africanos, que an es comunicaram à nossa vida doméstica uma nota de alegria
e cajas reservas extraordinãrlas de alegria e robustez lhes permitiram tolerar
bem, escreve GILBERTO FREYRE,"o ramcrrão tristonho da lavoura da cana, cm
que falharam o indios".
No 1eu livro Retrato do Brasil, - um ensaio s6brc a tristeza brasileira
segundo a classificação do próprio autor, ~ "o mais feio retrato que o Brasil
podia CSJ)Ct'&r de um filho seu"-, PAULO PRAoo assinala na lux<iria e na co-
biça dois traços principais do carãter brasileiro. São êlcs, na ua opinião, que
106 A CULTURA BRASILEIRA

caracterizaram n.o tempo os nossos an epassados; e d!les, da paixão genésica


que fatigou o português e o índio, e da fome de ouro em que se 1h cristalizou
a alma no século XVITI, é que resultou. "a tristeza da nova raça a que o afri-
cano veio trazer a sua colaboração doentia, como exilado e como escravo".
O brasileiro, - observa, porém, HUMBERTO DE CAMPo, numa pâgina de grande
lucidez -, ' não é absolutamente um povo triste, nem tem de onde lhe venha
..e mal. O portugues é jovial, festeiro, comunicativo. Provam-no a alegria
de seus vilarejos, e os seus folguedos campestres em que predominam o bai-
lados nacionais. E o nosso índio não o era menos. A suas festas eram bu-
lhentas, tumultuosas, e duravam dias, às v!zes, semanas". O nosso indígena,
isoladamente, acrescenta o ilustre escritor, era de fato taciturno. Mas ser ta-
citurno não é ser triste. A taciturnidade é uma das características dos povos
caçadores e toma-se um hábito pelas próprias exig!ncias da ocupação. O
U cio e a quietação não significam, assim, tristeza, que s6 pode vir do des-
gôsto da vida. Os nossos selvícolas viviam satisfeitos de sua condição. E con-
siderando-se instintivamente felizes, viviam alegres, mesmo porque a tristeza,
omo nós a definimos, s6 pode nascer de um confronto de de tinos, e da certeza
de inferioridade, tirada dêsse confronto". Os cinco diversos traços psicológicos
com que, por seu lado, A. A. DE MELO FRANco caracteriza a civilização brasi-
leira, marcando-a para sempre com a sua influência, não são gerais e persis-
ten ea, nem também, como os classifica o autor de Conceito de civilização
bras1"leita, resíduos, tipicamente afro-fndios, isto é, elementos constitutivos
das culturas infc:riore assimilados pela raça branca. A imprevid .eia e a
dissipação, o desapreço pela terra. a salvação pelo acaso, o amor à ostentação
e o desrespeito pela ordem legal, que ele atribui aos nossos antepassados, tu•
pis-guaranis, ou aos negros, - uma herança que no ficou no sangue e na alma
-, -o antes, na justa observação de MIRANDAR.Ets, carncteristicas de um
cs gio determinado da evolução de um povo, como o desapreço da terra, ou
do atraso mental das massas populares como o mis •cismo nas suas diversas
modalidades , sobretudo, nas formas que reveste, nas camad inferiores, do
timcnto do acaso, do jôgo e de tôda es écic de superstições.
Certamente, ainda está por estudar (se é que ainda venh a ser estudado
um dia), com mais rigor científico, o resultado do encontro das tr~s culturas
iniciais e da fusão das três raças, branca, vermelha e negra que entraram na
composição primitiva do povo brasileiro. A raça nao deixa de ser um fator
importante. ltsses numerosos cruzamentos que se verificaram, sobretudo du-
rante os tres primeiros séculos; entre os elementos raciais, constitutivos de nossa

3 Aa&lm,de!eitM ou t:ratot de cv.lte-,,eomo a tri,,ten. a imprevldhu:I• e o dcu.ptgo d• terra, lntima-


l• 1 •dCM• det#mlnad,. at'cioa de no,;oa evaluçio, c deoti ,..i.,. • dcaapar cr ou • alteTV• e com aa m.o-
dUica n c:,trutura IIOClal,110 erroo-.amente atnõuJdos l lntlutnc:ia da fnll a e do I\C!VO e con.lderad01 como
up«t..,. tlp coa e r • i de nosaa civiliza~o. Sáo. lndiCMe negros. como 01 qwtlirlcou M'.111ANDA Ra1s, "01 bodes
;c,;plat«iae" ln Bo/1,tlm dOAriaf.ano VI, n.o 4: janeiro de l931, Qfa, • trbten qu, par PAut.o P1tADo E
WII d,_ tnÇOII d.c o ciYiUução e oe atnõui a ~ elem= nclalA, nio provf:m nem de wn Mm de outro.
.. G'OII ta• do, loko,lo, XVI e xvn, lembno lílnOIIUlTO DS ~- com tdet ' a.oalod • - .... unllllme
c:a, proclamar a 'eiritt, o seu aot<!C' à plbo{ a. pillt ' o ri r.ran,.,o, 1, c,-aDd roi 'd ,
qu.ando uumd co .o pode vu, psra cirz wn aempb, Lú'I', • • ta l :Surwmiri, em que
1111trop61: oa "' • llOÕtecm griUID e trqc:itoe, eo<o o cl prop6.!to de alecrar o tmu.'!àto".
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e ) • o6 d parece com • tramiçlJ> d&tc ;,ai-• o ..,_;-. Qa,icol e pn,a,ct .,. ■ •criculturL O problema.
tamb&n alo pode att ~ cm t!rmoa dr raça. OJ.Q cm tfrmoa acrao6a,lcao e • • Sob qwr!qucr
aapocto pc,r que • lDIIDitcwte.o mi,,ticismo ~ e dcm..,.tar (crença cm IOrças dncclG!Mtdelu e m~ a
Ketumiatll:o do acuo, a mporismo, o jag:o e aa wperati cm acral), n;&o um ua auwr-al do fndla e do
, uoda o • MLU."fDARBis. "um f•tu uruvcnal. ,e v carnadu pcll)UlaTa d.e qoalquer
tem qu wr COM • taça e o -pngue ~ rawta do ~o du etivld.d af.UYU Mime • rado.
llf oadc a ' o lhe faraeec • cata tlltima .,. IJlrioa de ddesL Clll'IICt~·tlco d \llll a o,cn.tal 4u -
popularea. tlc t aaa camada. mltaa. wn rcs!duo, -ailll, - d mamo atn,a .. , O a.mor oetcntacAn. presm•
tlldo - tnço da cs ter nacional, e... E tamb&n, nã!J uma bcrau.c.:a ,o- • . ..,.. uma d&a IIWl.ifa~
IQ&I■ li do 1p1 to pri,:,1'rio, "acmprc mia>ig.o da aimplicidade", IIC1(Wld u pr6pr{u palafffl de A, A. oa
D.D HCO.(Cart.,,.ilo de ciriU•a~o br-iltdta, Suic 8r na, Comp. Bdlto,a Nr.rional,SloPaulo, 1!1311).
PSICOLOGIA. DO POVO BRASILEIRO 107

população, puderam passar à alma brasileira certos caracteres d!ssca povoe


modificando como modificaram a do conquistador e a do.colonizador branco .
.Aa transformações de origem racial, variaram de uma para outra região do
território conforme maior ou menor percentagem de sangue iod!gena ou
africano, que e mis urou ao do branco mas elas se acusam íortcmcntc nu
próprias concordãnci ou incompatibilidadea existentes entre tal ou qual traço
de caráter, entre tal caráter ou tal instituição e nas particularidades que dia-
tingllem as populações do norte e do sul, relativamente àa suas tcnd~ciaa, ao,
IC\18 gostod, às suas maneiras de ser e de reagir, e, portanto, àa fon:nu e tipo,
de seu comportamento. t por isto mesmo, e não só pelas diversidades de
paiaa.gena e de climas, que a própria homogeneidade do povo brasileiro con-
trasta com a varied de de forma$ que apresenta, segundo os meios sociais, •
sua civilização. Mas antes de tudo o contato e a mistura com as raças abo-
rlgines, cotpo já f@z sentir SÉRGIO DE HOLANDA, num ensaio vigoroso, não noa
alteraram profundamente a herança que recebemos da península iMrica e não
nos fizeram tão diferentes de nossos avós de além-mar, como gostaria.moa de
sê-lo. ''De Portugal nos veio a fonna tttual de nossa cultura: o resto foi ma-
téria plástica que se sujeitou, bem ou mal, a essa forma". A argila portuguesa,
lançada no molde do mundo americano, então todo por colonizar, saiu, evi-
dentemente tran formada; é um s6pro sempre poderoso, mas inteiramente
novo que animou a estátua antiga. Não nos parece também (e esta 6 outra
consideração preliminar, indispensável) que se possa esclarecer o caráter ou
predizer o futuro de um grupo humano em função de sua composição 6tnic:a.
Os fenõmenos que nêle se passam, já observou H. HUBERT, fenômenos de cres-
cimento, de decompo ição, econômicos, n:ligiosos, morais, são fen~menos so-
ciais e não fenômenos peculiares às raças. Além disso, os grupos observãveia
são de tal maneira oomp6sitos que não é científico procurar distinguir, na u
vida social e mental, a contribuição das aptidões originais de seu diversos
elementos tanto mais quanto ês:sesse misturaram, em proporções extremamente
desiguais de uma região a outra, apresentando grande variedade de tipos e
1ub~tipos raciais, que não permitem estabelecer, do ponto de vista étnico, "o
brasileiro leg(timo, autentico verdadeiro".
Entre os traços dominantes, um dos mais forte&, e considerado às v!zca
como a própria chave do caráter brasileiro, ê o predomínio, na sua estrutura,
do afetivo, do irracional e do místico que se infiltra por todo ser espiritual,
amolecendo-lhe ou exasperando-lhe a vontade, conforme os casos, e dando-lhe
à intelig!ncia um asp cto essencialmente emociomd e carregado de imaginação.
Certamente todos os grupos humanos, segundo a lição de R.JeoT,' se formam
e se mantêm por uma comunidade de crenças:, de opiniões e de preconceitos,
e é a 16gica dos sentimentos que serve para criâ-las e defendê-las. Essa lógica
sentimental, mai complexa e confusa, que o sábio ignora e de que derivou a
lógica cicnttfíca, racional, embora variável com as condições sociais, desem-
penhou e desempenha sempre um papel considerável na vida dos grupos. Al&n
disso, se não seria possível essa lógica sentimental no caso em que a consci&icia
individual não se prestasse a ela, - como demonstra RIBOT, decompondo o
mecanismo p {quico que toma posstveis &ses raciocinios sui-JZeneris de que
sentimentos, est dos emotivos formam a trama real-, não é mc:oos certo que
os Qtados mentais que constituem a matéria dessas opcraçõn sao essencial-
mente coletivos. o crenças, idéias, ou conclusões relativa, à vida futura,
ou que residem à base da magia e da adivinhação, que tomam formas diversas
nu diferentes sociedades, e dentro de uma mesma sociedade nas diferentes
108 A CULTURA BRASILEIRA

camadas ou classes sociais. Mas, no brasileiro, a sen "bilid de, a imaginaçã


e a religiosidade têm uma tal intensidade e f6rça que raramente a cultura con-
acgue dissimulá-las, não concorrendo senão para levantar o afctivo e o místico,
de suas forma primitivas e grosseiras, para formas mai altas e de11cadas.-
intcrfcr!ncia constante dos sentimentos cm nossos jufzos e opiniões, as
formas de raciocínio emocional, tão freqüentes em tõdas as classes sociais, a
facilidade com que se acredita e se propaga tudo que tem de estranho e mi-
raculoso, o desinterêsse pelas considerações objetivas, não acusam, de fato,
!ssc fundo afetivo e místico que se traduz ainda na tcnd ncia de se pôr e re-
eolver cm t!rmos pessoais, de "amigo" e de "inimigo", os problema mais con-
cretos, e n própria concepção de autoridade fundada s6brc a f~ cntimental
dos homens na superioridade de um chefe ou de um corpo odal ? :! preciso,
para compreender &ses traços, não esquecer nem as origens do brasileiro, tri-
butário da península ibérica ou, mais particularmente, do portugues cm todos
os dom:!nios, nem o meio em que se formou e se descnvolv u a sua atividade,
e em que é fácil encontrar, na sobrevivência do estado de alma dos primeiro&
colonos e na obra apostólica dos evangelizadores, prolongada através de ge~
raçõ , a explicação da persistência e da vitalidade do sentimento religioso.
Mas, êsse sentimento religioso que apresenta, no norte, um caráter mais
místico, mais ligado ao dogma, ou inclinado às superstições e ao fanatismo, nas
camadas populares e nos sertões, tomou, em geral, uma direção diferente, mais
formalista, concentrando-se nas cerimônia nas pr ticas e no ritos religiosoa.
A religião desenvolve-se livremente, dobrando-se aqui, como por t6da parte,
às necessidades próprias dessa sociedade nova, de senhores de engenho, serta•
nejos e pioneiros, e portanto ao gênero de vida que a exploração de um imenso
território impõe aos descendentes dos primeiros imigrantes e dos imigrantes
novos. Ao contrário, porém, dos Estados Unidos em que o sentimento religioso
não parece prender-se demais .ao dogma nem lançar-se aos sonhos místicos, e
o clero se ocupou sobretudo de "desenrijar e desanuviar a teologia ', para lhe
reter tudo o que impele à ação, como observa BoUTMY, 5 na sua penetrante
anâlise da psicologia do povo americano, a religião, no Brasil, não assumiu essa
feição essencialmente ética e prática que lhe imprimiram, naquele país, de
um lado, a severidade ascética e a rigidez de costumes dos puritanos, seus pri-
meiros colonos, e, de outro, a mobilidade e a atividade intensas na obra de
colonitação. :e;em todo sistema de vida colonial, escreve GILBERTO FREYRE,
"uma religião doce, doméstica, de relações quase de família entre os santos e
os homens, que, - das capelas patriarcais das casas grandes, dos templos sempre
em festas, batizados, casamentos, festas de bandeira de santos, crismas, no-
venas -, presidiu ao desenvolvimento social do Brasil. Essa religião "domés-
tica, lírica e festiva, de santos compadres, de santas comadres dos homens,
de No Senhora madrinha dos meninos", essa confrat rnização de valores
e de sentimentos, da terra e dos céus, não se teria realuado aqui se, como diz
GILBERTO FRitnE, tivesse dominado a nossa formação social outro tipo de
cristianismo, "um tipo mais clerical, mais ascético, mais ortodoxo, calvinista
ou rigidamente católico". A tendência do brasileiro para a dissolução de tôdas
as hierarquias sociais atingiu, modificando-o e enriquecendo-o de ingenuidade
e de espontaneidade, o sentimento religioso, com aproximação quase coo-
vivio com os deuses que pareciam, como na idade grega, andar sôbre a terra,
mais humanizados. na intimidade doméstica dos crentes. Ou por fôrça dêssc
sentimento religioso, com sua espontaneidade rica de simpatia humana, ou
pela ação da natureza tropical deprimindo e esmagando o homem, o brasileiro

8 E. BovntY, Ell-n1enu d'une pspcholoii" politiqu du peupt om ri.,._;,.,(IA N• an, la patr;e,


1'2ta t. rdJ ioal. Pa. , Armand CQlin. 1902.
PSICOLOGIA DO POVO BRASILEIRO lM

não é um revoltado, mas um resignado, dócil e submisso s fatalidades fisica


e morai às quais prendeu a resistir com coragem e a subordinar-se cm amar-
gura, quando as reconhece superiores aos seus rccur503 de det e d ação.
A aua atitude cm face da vida, - misto de indulgência, de piedade e de ironi
-, é uma espécie de capitulação resignada ao assalto das fôrças de uma natu-
reza hOt"til,diflcil de dominar, cuja violéncia êle conhece por expcriênci pró ria,
e que ele se habituou a enfrentar, quase sempre ao desamparo, contando con-
sigo mesmo, nas suas ntradas aventureiras, nas suas expedições desbravadora.t
e nas suu investidas pelo sertão a dentro.
De todos os traços dis in •vos do brasileiro, talvez um dos mai gerai e
constantes, que constitui a sua fôrça e a sua fraqueza a um tempo, o maia atra-
ente e comunicativo, e que mais o destaca, nos primeiros contatos, e maia
se acentua, no convívio, é, pois, a sua bondade que parece brotar da alma do
povo, do seu temperamento natural. A sensibilidade ao sofrimento alheio, a
facilidade em esquecer e em perdoar as ofensas recebidas, um certo pudor em
manifestar os seus egoismos, a ausência de qualquer orgulho de raça, a repug-
nância pelas soluções radicais, a tolerância, a hospitalidade, a largueza e a
generosidade no acolhimento, são outras tantas manifestações désse elemento
afetivo, tão fortemente marcado no caráter nacional. Não se trata de ''polidez''
que é sempre, por tôda parte, produto de um refinamento de civilizaçao, como
qualidade antes adquirida do que natural, apurada no convívio com os homens,
na freqüência de contatos com as fontes da cultura, na ação civilizadora das
viagemi e, sobretudo, mais do que na experiência, no gõsto da vida social, com
todos os s us requinte e artilicios, lt uma delicadeza sem cálculo e em inte
r&sc, franca lisa e de uma simplicidade -primitiva, às vcJes rústica, m frc•
qüentemente trespassada de ternura e encolhida de timidez e discrição. Aliás,
IC oe estrangeiros se tem entre nós quase como em sua pátria, e são
tão fàcilmcn e similado no printitivo núcleo nacional, é porque noss terra é
mais maternal, mais do~. mais acolhedora, mais humana, capaz de fazer sentir
a auave pressão de seu braço sôbre a cintura de tôdas as raças e de todos os
povos, Essa bondade que ignora, como um sentimento igualit •rio, distinções.
de classes e diferença de raças; que se retrai, como que ofendida, diante da
violência e da brutalidade; que atenua as repressões, indivjduais ou col tivas,
e toma o brasileiro tão fácil de se conduzir, quando se faz apélo à razão e, so-
bretudo, ao entimentos, e tão difícil de levar pela fõrça, tem as suas origens
na formação profundamente cristã de nosso povo, na confraternização de sen-
timentos e de valores e na democratização social, para que tão poderosamente
contribufram, de um lado, a religião, e, de outro, a mestiçagem largamente
praticada, das três raça iniciais e, mais tarde, de outras raças carreadas para
o sul nas correntes de imigração. O contato do negro deve ter também con•

1 I!- prini:1p,o ·a1 de card!•Udrtde p,1ra com m _.,. e ., , ça mai• d,.,.,._. r Ca"Ull'n"" c r•.
" ' • d-,valvlmeuto,.pelo JWOC..., mnmo de Ccnn çào n ai de
par-a . branu, vermelha e neça. Num qu.c 0<id d. r
ra (O<temcntc - fcaOmcn de cnuamcoto,, • loln'tncia
• ■ m ff'DtimenlD _.,t.&M<,, al.imcntAdo tn,diçào
e a• e:Olllcaa,aa tatOI e mirtucu de poyoe e AI prin•
ápio roateali·lo -. praidcm•oc rei, e OI
• • ncuaram profondamcGtc OI •
•• Corta e aceeufvm à o OI
O llfflfimento de cord ..ra e d
cm nenhuma q,oca, lliDd• ■ m •o
nJ ~ e bcnn? de ■i qu.alql!O' outr•
brutalld.ade e d.e Yiolàicia de OII u C\11 •
, ho•ti1 - ptt °" ...,. •Jicur TOcl-.. a
ena CC1Gtt• o ea.tr&D&• o, tiv lco: ~OY •
nAciooal. Dio dW'IU'UII oeaào o completa repa•
r e de wu da~n~a1.,;..,...to D&tu.ral • ev ,. ,.,d apll'lto d ■
I> 'lall ·• b..m º"'•
llO A CULTURA BRASILEIRA

corrido, segundo GILBERTO F'REYRE, para apurar os tesouro sentim tais que
acumularam a religião e a fusão de raças: "deu-no êle. a revelação de uma
bondade maior que a dos brancos, de uma ternura como não a conhecem igual
os cri tã ; de um misticismo quente, voluptuoso, de que se tem enriquecido a
ibilidade, a imaginação e a religiosidade do brasileiro". O que teve, porém
influ eia notável no desenvolvimento dêsse culto da hospitalidade em que
desabrochou, como uma flor de civilização, a delicadeza sentimental do bra-
sileiro, foram a enormes distâncias que separavam uns do outros os núcleos
de população e o isolamento em que viviam, disseminados e segr ados: a che-
gada de estranhos, de viajantes, nacionais ou estrang • os, a &ses agrupamentos,
- fazendas, povoações e vilas-, insulados nos sertões era sempre uma nota
festiva que, reatando as comunicações com o litoral e o mundo exterior, e res-
tabelecendo a sensibilidade e o gôsto da vida social, quebrava por horas ou dias
a tristeza e a monotonia da solidão. Mem,ageiro das cidad , portador de
novas, - um presente dos deuses nessa imensidade territorial salpicada
de pequenos núcleos-, o foràsteiro, a quc:m se abriam os braços e às vêzes
o coração, punha em alvorôço as famílias, nostâlgicas de outros ambientes,
acordava-Ih s a curiosidade e, rasgando aos espírito horizontes mais largos,
o deixava suspensos às miragens de terra~ distantes ...
Mas, essa hospitalidade, longe de ser aberta e sem reservas, é quase sempre
coitada de uma atenção vigilante e à& vêzes de uma severa discreção. No
estudo dos caracteres individuais,. costumam os morali:.ta descrever um.a
grande variedade de tipos, conforme a predominância de tais ou quais defeitos
ou qualidades, e que a rigor não são senão abstrações ou invenções de .seu espí-
rito. Sob e aspecto, o romancista que nos apresenta seu per onagens por
in ejro, dotados de virtudes e carregados de dcfei os ou de vfcios e surpreen-
didos na vida, em plena atividade, nos dá mais .realidade concreta do que ~~
qu oo fornece, sob o nome de moralista. a análise de uma virtude, de um vício
ou de um defeito. :Eo mesmo que se passa na análi do carâter coletivo. Há
grupo_, como hã pessoas que têm um ou outro ou vârios d defeito , mas
t~ tam~m uma existencia que influi sôbre êles e em que ales intervêm: sua
existancia ou seu gênero de vida modifica-lhl:5 os defeitos, do me mo modo que
& es se modificam uns aos outros, pelo fato de sua coexistência. 7 A iro &se
traço de hospitalidade,. tão característico do brasileiro, coexistindo com outros,
como uma natural reserva e desconfiança, modificou-se ob a influência dêstes
e se reveste de um caráter particular, só explicâvel dentro das condições espe-
cificas de nossa formação. Por maior que seja a hospitalidade os brasileiros,
ainda os do norte, mais loquazes e comunicativos, não se abrem fàcilmente
nem totalmente: ''os recessos das consciências como os dos lares, escreve TRISTÃO
DE ATAfDE, ficam vedados por muito tempo a quem não se impuser lentamente
à confiança do filho da terra". Essa desconfiança e r~erva, que constitui
um dos traços de nosso caráter, pode ser um de eus defeitos; mas, se acom-
panharmo evolução social do povo brasileiro, '-nos fácil reconhecer nêle
uma das suas mais notãveis reações de defesa. Em um pais novo, de formaçao
heterogênea, sujeito a influências de raças diíei-cntes que se foram incorpo-
rando lentamente ao núcleo primitivo, e de uma população extremamente
rarefeita, o homem, exposto na sua solidão, às extor ões do fisco, aos cercos
de avcntur • os e à ganância de mercadores, tinha de viver aos sobressaltos,
numa pennanen e desconfiança que, ainda ao abrir a portas da c a, o leva
a fechar as da intimidade e as do coração. A atmosfera social que criavam o
isolamento e a distâncias, ao mesmo passo que concorria para desen olvcr

7 CR. FlUSIN01lR. Las dHauta-. rMclian• d défen te.


PSICOLOGrA DO POVO B.RASU,EIRO

o culto da hospitalidade, contribuía para fortificar o ,entimcnto da famíli3,


- como o núcleo que oferece mais amparo, e resguardar, num ambiente de
recato, a felicidade relativa que se desfrutava e se expunha aos perigos ou às
seduções de estranhos, viajantes e forasteiros.
Não há nada, porém, nessa atitude de desconfiança, que seja agressivo ou
destoe do espírito hospita!eiro; e, se ela é constante, como uma reação de
defesa, assume, combinada com outras qualidades ou defeitos, diferentes as-
pectos e uma série de nuanças que vão desde a reserva no falar e a dissimu-
lação até essa aparente incontinência de Linguagem que nos permite falar muito
acm dizer nada ou, ao menos, sem abrir o coração. Ela é mais sensivel no centro
eu!, entre paulistas e mineiros 1 e, sobretudo, entre êstes, cuja formação foi
condicionada por certos fatôres peculiares ao gênero de trabalho e de vida
.na região d~s minas. Sempr,e atento, eis como MlRAN LATJF descreve o mineiro,
aempre a postos para colhêr as possibilidades que reluzem furtivas, - a pepita
que brilha na areia do rio; sempre à espreita. Procurando vencer pela perspi-
cácia e ma•s confiante na boa estrê1a do que no esfôrço, o mineiro, de tanto
desconfiar, acabou também por se tornar dissimulado. Mostra-se imaginoso e
cheio de deseonfiança. A sua linguagem que trai a mentalidade de quem sempre
está de p~ atrás, adota o modo indeterminado do verbo em que a ação con-
tinua e pode ser etquiva. "Éste rio dá bom ouro? Estã dando, res:,onde o
. faiscador. Está dando, mas amanhã, talvez, não dê. Resposta de quem não se
compromete... O abuso do gerúndio teflete a desonestidade de quem pre•
tende poder invocar que nada afirmou, ou então o escrúpulo de quem não ousa
afirmar". ~sse feitio especial que se reforçou nos mineiros, pela atmosfera de
desassossego cm que viviam, devida ao isolamento da capitania er., relação
ao resto da colônia, às exigências do fisco, às facilidades de deslocamento das
minerações e ao contato com o comêrcio das vilas, e que dêlc f€z um homem,
na apar&lcia afável e diplomata, mas no fundo reservado e cheio de descon-
fiança, é um traço psicológico da gente do int~rior e do caboclo e, em gerei,
do brasileiro, embora menos carregado no litoral e nos grandes centros de popu-
lação. A heterogeneidade na composição étnica do povo, o contato de culturas
diferentes, o isolamento das capitanias, a política fiscal da Metrópole, as ílu-
tuações econômicas, e o convite enganador de uma natureza, aparentemente
fâcil e opul.enta, mas, na verdade, avara e inconstante, na distribuição de suas
reservas, mostram como um meio desfavorável, excitando osindiv{duos a reagir,
pôde contribuir à formação do caráter brasileiro e imprimir-lhe o traço dêsse
cepticismo indulgente que acusa, com uma plasticidade singular de adaptação
às situações novas, uma grande prudência e malícia de espirito. O brasileiro,
aob a pressão dessas causas, aprendeu a reagir e a defender-se pela descon-
fiança, dúvida e irreverência, mantendo-se numa atitude de espectativa e de
observação. Mas é verdadeiramente admirável que êsse cepticismo qu.e se traduz
numa atitude de complacência e de bom humor, de piedade e de ironia em
face da vida, - flor de sabedoria em que se desabrocham as civilizações ma-
duras e refinadas. - tenha surgido, como um dos traços mais vivos de seu
carãtcr, num povo simples e jovem, ainda em formação.
De uma simplicidade primitiva, fácil de contentar nas suas necessidades
materiais, vivendo e satisfazendo-se com pouco, o brasileiro tem a sobriedade
dos habitantes de países que não oferecem senão uma fraca superfície de terras
cultiváveis e cujos terrenos de cultura não podem conservar seu valor senão
por uma ocupação contínua e por um C$ÍÔrçoincessante. Em um país de
montanhas, de uma natureza tropical, áspera e selvagem, cm que os declivi-
dades, as sêcas prolongadas e as chuvas torrenciais constituem antes obstá-
112 A CULTURA BRASILEIRA

culos à cultura, o homem tinha de forçosamente habituar-se à frugalidade no


regime alimentar e à poupança nos gastos. O brasileiro não é, de fato, nem
foi nunca torturado pela sêde do ouro, como julga PAULO PR.Aooe podiam
fazer crer as entradas e as expedições realizadas por paulistas, impelidos pelo
esp{rito de aventura e estimulados pelo poder régio, para a descoberta e explo-
ração das minas. A parcimônia dos mineiros, essa tambm1, como já se observou,
não é tanto manifestação de usura quanto o desejo de continuar a desfrutar o
pouco a que cada um já se sente habituado. "A medida que as novas possi-
bilidades (na exploração das laVTas) começam a se tomar fugidias. escreve
BARROS LATIF, • amealha-se cada vez mais no fundo dos baús. Nesse ap~o
ao dinheiro, não há sofreguidão por ganhá-lo. Sente-se apenas o receio de o
perder". Não é, certamente, característica do brasileiro a avidez do ganho
nem a preocupação do futuro; o cãlculo não é a ess~ncia dê$se povo; o que está
além do presente, quase não existe para ele; o presente é o que conta e, por
isto, nem tem o culto do trabalho nem despreza todos êsses prazeres, leves
e fugitivos, que fazem o encanto da vida. Mas, se o desamor ao trabalho cul-
tivado no longo regime de escravidão, é, na classe mMia, tôda uma tradição
moral da nobreza reino] a que "urna digna ociosidade sempre pareceu mais
excelente e até nobilitante do que a luta insana pelo pão de cada dia", a in-
dÔl~ncia displicente no povo, em geral, não provém antes do hábito de viver
com pouco mais do que nada e da consciencia da desproporção entre o lucro,
sempre escasso, e as duras fadigas para grangeá-lo, entre o esfôrço despendido
no trabalho e o resultado realmente obtido? O fundo do caráter brasileiro,
pondera com lucidez MfLTON RODRIGUES, "é de uma simplicidade rústica; o
meio que o gerou, nos seus primeiros tempos, nem ao rico permitia o confõrto,
ainda meffl\o que lhe concedesse o luxo. Acostumado a isso, @lenão tem as
ncccssidade, do europeu; e quando a opul@nciao atinge, envolve-o sem penetrá-
lo e ele não sabe como usã-la, passando abruptamente da carência para o exibi-
cionismo e a delapidação".
Não é, pois, do mdio que o brasileiro herdou a imprevidência e a dissi-
pação: ligadas, ao contrário, à constante instabilidade de nossa vida social,
acompanham, como caracteres que lhes são próprios, esses periodos de ílutua!;âes
econômicas que, abalando fortunas antigas e fazendo surgir novas, convidam
à dissipação da riqueza e tendem a substituir pela espera no milngTe e nos
vaivéns da sorte a confiança na continuidade do trabalho. Essa instabilidade
econômica e social, o processo fragmentário de nossa formaç.ão por núcleos,
desg~rrados, sem relações uns com os outros, a descontinuidade dos contatos
econõmicos e culturais, e a disseminação extrema da população, que é tão nociva
à intensidade da vida espiritual, explicam também a atitude do brasileiro em
face da cultura, geralmente considerada eotre nós, não como uma necessidade
prática ou um valor moral, mas como um sinal de classe ou de distinção. Não
~ que faltasse ao brasileiro intcrêsse pela cultura: a sua sensibilidade delicada
e cxcitãvel, a sua inteligência vivaz, mas superficial, a sua facilidade de
adaptar-se a um minimum de vida material e a sua pr6pria tradição religiosa
não s6 lhe despertaram uma noção viva da subordinação dos valores materiais
aos valores morais, mas lhe trouxeram uma forte atração pelas coisas do es-
pírito. Mas a nossa cultura é, geralmente, uma cultura literária de superfície,
feita, como observa MÍLTON RoDRlGUES, "para preencher os ócios de desocu-
pados, cultura que não envolve os sentimentos nem leva às convicções fortes".
Não ~ somente a tradição secular de uma disciplina escolástica, verbalista e
dogmática, de influência ibérica, que manteve o brasileiro tão distante do
espírito posjtivo, da objetividade e da exatidão, tão desintti'essado das idéias
e tão fàcilmente irnpressionãvel e sujeito ao encanto da fonna. ao aparato da
108. C•beç41 do índio. Afresco de CÃI<DIDO PORTINARl.
Foto Vc>avt.tus. Propriedade do Sr. MÁlUO DE A."11RADE.

109, fnd/01. E,tudo pnra um dM olrucoi do Minisfério do EduCllçiio e S11cído,


Foto VOSYLIOS.
110. fndios Machactuis e C.amaçãs.
RUCENDAS, J. M. - Voyage Pittoresque au Brésil. 1835. Prancha 2/3.
11l . Caçador.
Coleção da Biblioteca Municipal -de S. Paulo. RUGENDAS, J. M. - Voyagc Pittoresque au Brésil. 1835. Prancha •/n,
112. Ne,,o. óleo dç CÂNDIDO PORTINARI.
Foto VOSYLIUS. Propriedade do Sr. CARLOS DRUMMOND OE ANDRADE.
J 13, FERNÃO OIAS PAIS LEM.E. E,rárua :,or LUIZ BRIUOLARA.
Foto do Museu Pa.utis:ta.
114. Ai.TÕ!,'10 RAPOSO TAVARES. Est6wn f>OI LUIZ BI\IUOI..MIA
Foto do l\iu,eu Paulista
115. Jantar.
DE8RET, J. B. - Voyage Pittoresque et Historique au Bré-sil. 1834. 11 volume. Prancha 7.

116. Uma senhora brasileira. na intimidade.


D&BRET, J. B. - Voyage Pittoresque et Historique au Brésil. 1834. II volume. Prancha 6.
1/1·Fom/liodtf1JJ'111kiro<,
prina'piosdo>i<lJloXJX.
AI.Voyog,PiOl)("'lf),ouBttJil.18JS.Pran<i>o
R"9<ndol,i, 1116
118. Uma senhora indo à m:ssa, cnrre4ada numa cadeirinha (começos do século XIX).
DEBRET, J. B. - Voyage Pittoresciue et Historique au Brésil. 1834. III volume. Prancha 5.

119. Uma manhii de quarta-leira santa, na Igreja.


DEBRET, J .B. - Voyage Pittoresgue et Historigue au Brésil. 1834. 111 volume. Prancha 31.
120. Vendedor de flores à porta de uma Igreja.
PEBRET. J. B. - Voyage Pittoresque et Historiquc au Brésil. 1834. lll volume. Prancha 6.

121. Um funcionário do Aovêrno, sair1do de casa acompanl,ado de sua família.


DEBRE'J", J. B. - Voyage Pittorcsquc ct Historiquc au Brésil. 1834. 11 volume. Prancho. 5.
122. Habitantes de Minas, princípios do s,kulo XIX.
RlJGENDAS, J. M. - Voyagc Pittoresque au Bré,il. 1835. Prancha 2/ 18.
123. Costumes de S. Paulo.
RUGENOAS, J. M. - Voy~ge Pittoresque au Brésil. 1835. Prancha 2/ 17,
Rvc:::NDAS, J. M. - VoyageFa.mília
124. p· t de f az.endeiros.
' tores(}ue au Br,ê,sil. 1835. Prancha 3/17.
t'.ZS, },n,adeirM,
Arqu ·o do 1.nstil»lO Bna ,leíro d ococraíi:t e Esuuistico.
126. Vc.qt.:e:'ro do Marajá. - Arquivo do
Instituto B:-asileiro de Geografia e Estatística.

127. Vaqueiro do Nordeste. - Arquivo do


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
128. Vaqueiros de Goiaz (Habitantes de Goi.cn).
RuGENOAS, J. M. - Voyage Pittoresque au Brésil. 18:S. Pnmcha 2/ 19.
129. Co/ona. Têmpera de CÂNDIDO PORTINARI.
Foto REMBRANDT. Propriedade do Sr. MÁRIO DE ANDRADE,
130. T,po de taúcho - Arquivo do Instituto
Bratil•iro de Gooc~uie • &.taústin.

13 l. Tipo do ,a,ícho, Arquivo do ln~tituto


BrHllolro d• Oco11raíio e Estatística.
PSICOLOGIA DO POVO BRASlLElRO 113

linguagem e às pompas da erudição. A delicadeza e a fôrça de sua sensibili-


dade, se impediram que descambasse para wna moral sem generosidade, para
as artes sem apuro e para uma literatura sem beleza e sem inspiração, contri-
buíram, com tudo o que tem de vivaz a inteligência, para afastá-lo das espe-
culações filosóficas e das investigações científicas que aigem wna té01ica
severa e uma forte disciplina de pensamento. O que o caracteriza, não é a
penetração, nem o vigor, nem a profundidade, mas a facilidade, a graça, o
brilho; é a rapidez no assimilar, a ausência tot.al de exatidão e de precisão, o
hábito de tomar as coisas obUquamente (talent for indirection} e de lhe
apanhar os aspectos que tocam menos à inteligência do que à sensibilidade.
Aliãs, nesse mundo m6bil e disperso, dominado pelas necessidades materiais
imediatas, a filosofia e a ciência não tiveram tempo de lançar raiz; e todos os
defeitos dessa cultura verbalista, escolástica, dogmãtica, que herdamos doa
portugueses e que se infiltrou a.tê a medula, no ensino de todos os gr-aus, cão
revelam menos urna inteligência fraca do que uma inteligência mal formada,
e, portanto, capaz, como já o tem provado, de se destacar, sob uma nova orien-
tação, em todos os dominios, da literatura e das artes, como da técnica, da
ci!ncia e do pensamento puro?
A ínteligência e a sensibilidade têm entre si um jôgo alternado que ~ a
nossa própria vida mental e moral; e é preciso que a sensibilidade não a excite
demasiadamente, para que se desenvolva em tôda a sua plenitude a inteligência,
capaz, também ela, de iníluir sôbre a sensibilidade, constrangendo-a ou favo-
recendo-a. Tanto por influéncia das três ra.Ças que entraram na composição
de nosso povo, como pela ação do meio físico e do clima, e ainda pelas pr6prias
condições de nossa formação social, parece fortemente marcado o predomínio
da sensibilidade sôbre a inteligência, no brasileiro. Dai, dêsscs defeitos de
predominância afetiva, certos aspectos de nossa vida intelectual, pela qual
a sensibilidade faz passar, agitando-lhe a superfície, uma corrente constante
de vibração. Poder-se-ia talvez traçar o retrato mais sistemático e mais ex-
plicativo do caráter brasileiro, se .lhe procurássemos a chave, não na inteli-
gência, mas, sim, na sensibilidade, que e.~erce grande influência também sôbrc
a nossa vontade, imprimindo-lhe um ritmo irregular e descompassado, de de-
pressões e arremessos, da indolência até a impetuosidade. Tudo o que a nossa
vontade tem de explosivo, essa aptidão de guardar, sob as apar&leias da mo-
leza, da lassidão e da indiferença, reservas de energias que se desencadeiam,
sob o imperativo de uma necessidade ou ao choque de uma emoção, não de-
nunciam uma preponderância acentuada da sensibilidade sôbre a inteligência,
ou, para empregarmos têrmos técnicos da fisiologia, do simpâtico neuro-glan-
dular, com tõdas as suas impulsões, os seus instintos e as suas taras, s6bre o
cérebro, com e sua capacidade de comparar, de julgar, de concluir ? A ação
do brasileiro, de um modo geral, não tem, de fato, nada de premeditado, nem
de reíletido: ela é feita de impulsões, às v~es violentas, mas passageiras e sem
(."Ontinuidadc.Os povos, porém, como os indivíduos, não lutam apenas com suas
qua!Jdadcs, mas também com os seus defeitos que éles empregam pars se defen-
derem, e. que, depois de nos terem servido, se tornam preciosos e habituais,
até nos formarem o caráter individual ou coletivo. É wna ilusão ver, nos ares
de indiferença e de despreocupação do brasileiro, um princípio de fraqueza,
quando a indolência, nélc, representa antes uma "economia" de fôrças, uma
"reação de defesa'' contra o clima e as condições físicas e sociais do meio. É
certo que a dúvida, quando se postou e enquanto se mantém diante dlle, o
obriga a recuar e a conservar-se inativo até à preguiça. indiferente até à abs•
ttac;ão. Nem sempre, porém, a melhor reação de defesa é um ataque. Pode
ser, e será muitas vazes a expectativa, a capacidade de esperar, a vigilância
114 A CULTURA BRASILEIRA

sbbre o momento de entrar em ação. ~ dom de resposta aos estúnulos cz.


tenores, ap ·dão para reagir, essa capacidade de grandes esforços, ainda
que descontinuo , são tão fortemente acentuados no brasileiro que, a um abalo
emocional, se mobilizam logo tôdas as suas fôrças e, desencadeadas, las sur-
preendem sempre, atê o espanto, pela violência do poder combativo, dissimu-
lado e economizado sob a inação descuidada em que pareda deleitar-se.
Nessa mistura singular de qualidades e defeitos que entram, em proporções
diversas, na composição do caráter brasileiro, e em que os rudes comandos da
vida interv~. como principios de ordem, um dos elementos mai ativos é
sem dúvida, o individualismo. 8le provém dos povos ibéricos; expandiu-se até
a agressividade nas condições favoráveis que lhe oferecera a vida no sertões e,
mais tarde, na fronteiras do sul. e adquiriu, para o brasileiro, tõda a eficácia
de um instrumento de defesa. É êle sempre aliãs, a um tempo, o dissolvente
de tôdas as restrições que tendem a fazer a sociedade s6bre o indivíduo, e o
grande agente disciplinador onde que.r que não se façam sentir com eficiência
ou corram perigo o prestígio da lei e a autoridade das instituições. Não é porém,
êsse individualismo de origem ibêrica, criador como o individualismo anglo-
aaxônico, nem possui o seu sentido e o seu conteúdo social. lt, e.o contrário,
e até certo ponto, negativo. Ainda que alimentado poderosamente nos sertões,.
sem limites e sem freios, e cuja extensão proporciona o asilo fácil, como nas
regiões fronteiriças, a proximidade da linha divisória o individualismo que
é no interior despovoado, a condição necessária para a pr6pria proteção e de-
fesa, teve, no Brasil, novas fontes de exaltação no regime patriarcal e escra-
vocrata de exploração agrícola, do norte e do planalto. Tõda a tendência
do sertão com a sua imensidade territorial, fora do alcance da lei, e com todos
os seus perigos que punham em primeiro plano, entre as virtudes sociais, a
coragem fisica, a confiança em si mesmo, a astúcia e a dissimulação, era para
criar "um "po de homem rebelde a qualquer forma de organização social",
e para estimular o desenvolvimento de classes não s6 as sociais, mas anti-so-
ciai.s, cujo individualismo agressivo tinha de forçosamen e tomar o lugar à lei
e à proteção do Estado. A vida nômade, imposta pelo regime do pastoreio,
nessas terras ilimitadas em que se respirava uma atmosfera de liberdade sern
pejas, contribuiu para acentuar o caráter individualista do homem que se for-
mava nesse ambiente de isolamento de audácia e de aventuras. Mas o poder
adquirido pelos senhores de engenho, no lítoral do no.rte, ou das grandes fa-
zendas de café, na bacia do Parmôa, e em geral, em todo o planalto do centro
sul, o relativo isolamento em que viviam, e o regime de autarquia, nesses lati-
fúndios, cujos propríetãrios s.e vangloriavam de quase nada adquirir fora de
suas terras, não podiam deixar, por seu lado, de exacerbar, ainda que sob outra
forma, esseindividualismo renitente que se gerara no sertão. Não é sõmente
pelas regiões da, lavras ou pelas invernadas, mas também sob a pressão de
outras cau.sas, nos núcleos patriarcais das grandes propriedades agrícolas,

8 ~ traço de cuitcr, ""'"'8do ''pda ínr:.rCàdend■ lmp,:culonadon mire utrcmo,, l.mpul- "•pa•
1iu loopa", e com o qual c:ncobR, oob wna atitude de indoleoda e de: c:,,.,...co, um 11oc6:vdPOiia de rcaçio,
•pra,entll•c ~IIJllllumcotc •ce:utu.ado 110~o. Por t.6da p1tt , poe m, • ação do bruildro K uprlme-
pela d..c0t1tinuldadt1 e pela vlol&>cla d.os CODtraste:1; ;ntermí te ... ;,or6:dl.cs, ele pllllQ da atonla ao eotu-
riumo, do langor dil IIU!il..-c11çaam ·rugas dementara 011cavalbeffl , ,... rcsélo. Em \lnu. p ;.,. &d.mi-
rh-el pcl.o vlRor e pela I de:i, EVCLml!9 DA Cvi'lBA, deJ>QiJI
de i,latar cm O• ,,,.,,&,,. o tipo do ICt'àlrn,Jo, m l:Ta
como ilude DO homem pennan=temenu, Ea.tigado ''tttda •~•b>c:la de mn ;o. N&dll 6 l'nAl w-pn:eodedor
d.o que .. i.1.a druparcccr de improvu:o. N"'l.uel& or.ganlui;Ao combllllda Opef9m•re <:m eetiuida t.r format;<k,
completa,. •lhe o apcrecir:oento de qualqu« illddcotc, cd I do.lhe o d""mc:ad.car du o,::rpq lldormc-
ddu. O bomcru tramfi...,-■-. lmpertiga-, e,tadiando "°" rdevOI, ocmu liolJ.- a. eauiruta e ao ccoto:
, a c:abetil Orula...-. e alta, o6bte os OIJlbros pOos11ntt.,■d■111d.a pdo albar brado e r ; • coni em...,,lhe
Pftllt.a, DIUD■ d-e,■ nervaN imtantãae,i, todot OI efd do tdmmmto habitual do. Ore os: e, da rí1wa
VWll'■r do ta tu 0111h r:n, rcpcmt■, ~te, o epec,to dom o.ado.- d.- um "ti .cobrado e pOt,m~,
"""° deodobramento urprceodauc de fõrs;a e agjlldade- atnordlokl.aa".
P ICOLOGJA DO POVO BRASILEIRO lJS

que se desenvolveu esseindividualismo rebelde, que às vezes se exaspera, agrct•


aivo ou arrogante, orgulho da vida e da fôrça, nas zonas aertanejaa como nas
classes aenhoriais. O indivíduo é que conta; e, se &se individualismo rude
implica um sentimento extremamente vivo da personalidade, nem sempre
envolve, entre o , um respeito à vida. proporcional à importância que dam.01
à autonomia de cada um dos homens em relação ao seu semelhante e ao valor
próprio da pesso humana. Estimulando sentimentos individuais, de udâcia.
coragem e altivez, assegura, aem dúvida. a sQa floração, mas, impondo à vida
o prinópio das competições individuais, alimenta, ao mesmo temPQ, com a
dispersao e a indisciplina, a fontes de rivalidade e de conflito.
Se a individualismo, nem sempre agressivo, mas dissolvente e anár-
quico, se acrescentarem as tendências particularistas, desenvolvidas pelo fra-
cionamento político da Colônia em individualidades coletivas (as capitanias),
distantes e isoladas umas das outras, e numa multidão de pequenas c~lu1as,
ter-se-á nestes dois fenômenos, de grande poder centrífugo, a explicação tanto
da falta de coesão social como da resistência constante, ativa ou passiva, à
concentração política no pa!,. O caráter essencial da história brasileira, du-
rante um largo período de mais de três séculos, e com forte projeção pelo lm-
~rio e pela Repõ.blica, é esseduplo fato do individualismo e do particularismo
resultante da justaposição de pequenos e grandes Estados, sem contato una
com os outros e sujeitos influências diversas. geográficas e sociais, no pro-
cesso de sua formação. Daí, a au~cia do espírito de cooperação, no braai-
lciro. "As iniciativas, escreve SlfR010 DE HOI..ANDA, mesmo quando se fizeram
oon trutivas, foram contlnuamente no sentido de separar os homens e nunca
de os unir'. Em 1 "onde todos são barões. não é possível acbrdo cole ·vo

durável, a não ser por uma fôrça exterior respeitável e temida'. Certamente,
o UlIDll(O comum, rep ntado quer pelo índio, nas suas incursões, quer pelo
estrangeiro, nas tentativas de oonquista e ocupação, oonstituía um elemento
unificador, tendente a r duzir o individualismo e o particularismo e a estimular
a união dos indivíduos e da unidades coletivas, isoladas. Contra essemeio,
de uma naturcz ho til e povoado de inimigos, "não se luta sõzinho, observa
Mn.TON RODRIGUES; luta-se em bandos, organiza.dos quase que militarmente,
quer se trate de entradas e bandeiras, quer da explotação agrícola ou pastoril
da região já conquistada. O trabalho em comum é a regra, trabalho que exige
de todos aa mesmas qualidades rudes, e trabalho iguallzador que pede todavia
a autoridade indiscutível e sem limites de um chefe, que s6 pela sua posição
se distingue de seus comandados". lt verdade, mas &se fato, que primeira
vista poderia denunciar um espírito de cooperação, mostra apenas como a
falta de coesão, na sociedade brasileira, é um fenômeno de raízes profundas, u
Pois, se a co o, mantida aliás pela autoridade de um chefe, de um poder sem
116 A CULTURA BRASIL JRA

limit dominava, digamos assim, a superllcie da sociedade, neases grupo


unidos pelo laços de um perigo comum, no âmago a ficava ci.almente.
individualista. Essas formações em bandos cons ·tucm antes uma fase aci-
dental nas tentativas de organi2ação em que se debat u um povo de pioneiros,
para a conquista e exploração do território, do que uma expressão de qualquer
tend~cia o agrupamento; são formações sociais, esporâdicas e transitórias,
que e organizam para fins determinados sob o império de uma necessidade
e dissolvem depois, sem deixarem quaisquer vestígios, na estrutura social.
cm instituições ou associações permanentes.
A quem não tenha perdido de vista esseselemento fundamentais no pro-
de nossa formação social, tão fortemente influenciada pelas tendências
individualistas e particularistas. não pode. como e v , causar surpresa o fun-
cione.mento da democracia e os efeitos, no Brasil, do movimento igualitário.
Certamente, oomo já observou SÉRGIO DE HOLANDA, a vida foi aqui incompa-
ràvehnente mais suave, ma.is acolhedora das dissonâncias sociais, raciais e até
religiosas, e tudo concorreu para acentuar a tendência dissolução de tôdas as
hierarquias sociais. O contato de raças diferentes, a miscigenação praticada
em larga escala e variãvel com a latitude e a classe social as migrações internas,
o nomadismo do pastoreio, a liberdade de vida nos sertões e em geral, no in-
terior do pafs, o espírito de independência que eravsm as distâncias e o iso-
lam to, tudo isso contribuiu para desenvolver em alto grau o rntimento
democrático e as tendências igualitárias. 1º Daí l cz o caráter cmin ntemente
popul r e a maior fôrça de expansão do carnaval brasileiro em que AI.MJR
DE RA.DE vê como que "um protesto, protesto gigantesco de muJtidões
dclirant e alucinadas, contra as f6rmu1as que nos eparavam uns dos outros,
contra todos os artifícios que a ordem social e •ge para a conservação de si
m ". Parece que, nesse anonimato de cada wn, n identifica -o com
a grande massa, "tôdas as paredes que dividiam os homens cm classes e cm
indivíduo , desmoronam uma por uma, se esfacelam e diluem; tõdas as con-
venções sociais se destroem; tôdas as partes e fundem num mesmo todo uni-
tário, onde tudo é homogêneo e uniforme". 11 Mas, e ~ tão espontâneo e vi-
goroso o cntimento democrâtico no Brasil, é preciso, para compreender o
funcionamento da democracia, ver, atrãs das instituições, os costumes e os
homen q e agem e são as ''fôrças ' da vida política e surpreendê-los nos seus
métodos de ação e nos seus movimentos. O espírito individualista e quase
libertário e as influências tradicionais dos particularismos locais levam os homens
a grupar-se em temo de pessoas e não de idéias; tomam os partidos cada vu
menos capazes de servir de instrumentos do interêsse público e transformam
pouco a pouco o municipalismo, princípio vivificador da República em ins-

-. ncm o ti!,' abob"•to " rude da dixiplina ~&tica c:nttt ot Jo CI.D C•~ de
~ como.N, o lsolameato eu distlDcias. contribuem para• dum&tica. e»
de ~darte<IJl<lc: e dr afeiçlo e faar do lema "um por fllod.am=tal
, POt c:oota próp:ia, da imtituii;io e d.os l11dMd...:a.
10 O acntlmentD danoo;rltic<>,, q11c Ec& vi eito, e
DO miaôro, pdu ~ e,ip,,ciai oro de: b..-.
Dai 'br9 B.ua,ot LATIP, d~cdc muita. CIICll>Cl"C:ia.DI •
·c-1ode llii:rcad.oriaa que o moaop6Uo ~oferece• ~ aor -
tb.v. Bm COCltlAllOI d~ QO bllJCKOdu C9l!U de ~~ P"A a ta,
de, dlarquc, forçado • M ■NCWV cm dono de cua pani qu,: oi.o tudo
1 ■inda mala awo. Para rqat,,sr de ecmocí!o.cia tr■nq ·ta. o rico
timbram por te lcu,wu- •c:ie -. O coatato pcnnaDeatc com o ..- de t.n ■s
tiriM. Omdoev.macerta.doscdc "ta( L.l.n:P,oall o
CCtOI dara? iudú,a) ton>am o mill • lltAJt M.. D B.u:aoa
• aJr•, &dlt6ni S. A. NA N "tc'', o de Jancu-o, l~0).
li Al.aaa Dll Áffl>lLU>ll, ÁQ>J!Cto-. da cultura br,uiJ,.i,-■ . A ma 16-17.
Colcçlo _,.dOf'CI bralilcirae, UL Scltmidt Editor, Rio, l9l9.
PSICOLOGIA DO POVO BRASILEIRO 117

trumcnto de servidão. Tõdas as lutas tendem a revestir, por fôrça d&ae in-
dividualismo, um caráter pessoal; e mesmo quando e julga que aplaudimos
ou combatemos id~, o que. no fundo, se pretende comagrar ou repelir aio
os indivfduos que as encarnam, e de que o brasileiro é geralmente incapaz: de
~ar das suas idf.:ias, não s6 no terreno político, mais agitado de paizões,
~ no próprio domínio intelectual em (Ne as divergências de doutrinas ac:ar-
~ quaae sempre aeparações e conflitos de pessoas.
Num pafs em que o prestígio pessoal é tudo, independente do nome her-
dado, e a união de indivíduos e grupos se tinha de fazer, em c:onscqübicia, em
t6rno de chefcs ou de personalidades prestigiosas, não podia ser forte o prin•
cfpio de coesão e de hierarquia social nem dominante a tend~cia à centra•
lização. Tõda a no história social e política mostra. como já frisam011,tanto
a r~ist~ncía oposta pelas províncias a movimentos centralizadores.que', acima
desses governos territoriais e particularistas, suscitaram um organismo comum
e unitário que os envolvesse, reduzindo as autonomias regionais, como a reação
. instintiva do individualismo contra as hierarquias ou tõda e qualquer compo-
sição que se tomaaae obstáculo à autonomia do indivíduo. O individualismo,
de um lado, e, de outro, as tendencias 1ocalistas resultantea do pr~ de
nosaa formação, residem base d~ personalismo tradiciona1, profunda-
mente enraizado no brasileiro e intimamente ligado à vida de partidos e aos
11eus mecanismo de ação. A organização social, mais solidamente hierarqui-
zada que registra a nossa formação histórica. foi a das sociedades agrfcolaa,
latifundiári&.8 e csa-avocratas. Mas o fenômeno de urbanização o deseavolvi•
mcnto do comércio, a transformação das estruturas urbanas num eentido de-
mocrãtieo, a extensão da cuJtura intelectual, e o individualismo ~te aca-
baram por desagregar o agrupamentos rigidos da sociedade rural, antes mesmo
de ser atingida, nas suns próprias bases, pela abolição. O que dela nos ficoa,
quase como um resíduo transferido à vida política foi a moral de p trões e
agregados de senhores e de escravos, formada e desenvolvida no regime aocial
da escravidão. "t es moral - constituída de dois princípios, da autoridade
aoberana do chefe, herdeiro do senhor, e da fidelidade incondicional do ser-
vi.dor, - que deu o conteúdo social ao personalismo _porvia der gra tão com•
placente e doce, para os submissos, tão arrogante e desabusado em «:lação a
quaisquer restrições ao seu domíni,o e à sua expansão. ºAinda hoje, como
pondera MfLTON RODRIGUES, se formos analisar os elementos cornponcn ea
do complexo constitufdo pelo que aqui se denomina "prestígio", talvez o en-
contremos naquela espécie de relação entre o protegido e o proprietário, que
caracterizou a nossa formação por núcleos agrícolas semi-feudais e isolados.
tsse traço que um individualismo intenso imprimiu ao caráter pol{tico, e de
que se acham afastados tanto o sentimento do interêsse comum quanto o es-
pmto de cooperação, arnda mai fortemente se acentuou com o desenvolvi-
mento da burocracia a que as condições socirus e econômicas do país arras•
taram a burguesia urb e o Império; com o hábito de apelar para o
govêrno a propósito de tudo quanto interesse a mais de duas pessoa , na justa
observação de Rov NASB, e com a absorção constante de tôdas as funções
aociais pelo E ado".
, Enquanto, como ob a BountY, o Estado surge, na América do Norte,
como uma criaç o consciente dos indivíduos e os cidadãos se mostram pouco
desejosoe de v!-lo intervir nas suas relações, 12no Brasil o Estado ap81'CCC oomo
uma providbtcia que precede os indivíduos e a que se recorre como um sis a

IJ E. Boon&Y', EJ m~nt• d'un p,ycholo,ie po/itigue du peúpl am ica,•n. Pwlt, AnAalld


Coli.D. l902
li A CULTURA BRASILEIRA

de amparo e de proteção. O que se vê, atrás da estrutura do Estado não é o


inter coletivo de que é ou deve ser a suprema expressão; não é uma von-
tade objetiva que se d.csenvolve e reforça a dos indivíduos, para que esta ae
possa realizar completamente; não é a sociedade politicamente organiAAda
que, como um espêlho mágico, transmite ao indivíduo, com ua imagem, um
poder novo; são, antes de tudo, as fôrças vivas as personalidades que agem
e bn cm suas mãos as alavancas do comando. Não o ins ·tuições, não
é a au oridade que se respeita, seja qual fôr o indivíduo em que ela se instalou;
mas o personagens que detêm o poder ou se agitam no cenário político, cn-
volvend~se numa auréola de prestígio. . . he respeito e essa atração pelas
individu.bidades sobranceiras não apresentam, no entanto, o caráter místico
de devoção até o sacrifício que costumam impor, aos indivíduos atraídos pelo
seu magnetismo, os grandes chefes e condutores de massas; desconfiado e irre-
verente, enamorado do acontecimento e da sensação, o brasileiro manifesta
ne988 atitude, antes um interêsse quase espetacular pela fôrça atuante doa
tipos representativos e wn constante esfôrço para despojar das fisionomias
reais, humanas, a que às vêzes tenta prender-se, a máscara. fascinadora de
predestinados. A extensão territorial e a sucessão inumerável de quadros
geográficos cm que se desdobra o panorama do país, e a própria dispersão dos
&n,ipos tendiam a apagar, no homem, pela distância em que os mantinham
dos governos a i ~em visivcl do Estado. Aliãs, a diacordància jâ aqui notada
entre a marcha territorial <ta sociedade e a do poder, entre a área de expansão
social e a de eficiência política, e o fato de não ter sido constrangido a defender
constantemente os indivíduos e a reconquistar a sua egurança contra inimigos
erio.r , nem deram tempo e meios ao E tado nem lhe impuseram, por largo
pcrfodo, a necessidade de se fortificar, pelo tCOlOt" da guerra, e de pôr a sua
fôrça cm movimento estreitando as relações dos indivíduos entre si e dêstcs
com o Estado. Se, porém, algum traço de misticismo se encontra na atitude
do brasileiro em face do Estado, é um certo fciticismo das fórmulas e dos re-
gim que e exprime numa confiança quase ingênua na eficácia de construções
j

a pri"ori, de instituições sociais e políticas perfeitas, e dcv provir tanto da


falta de uma longa tradição p01ítica quanto de um espúito revolucionário,
ainda remanescente do século XVIII, que a,crcditava poder a razão interromper
a continuidade histórica e regular o curso dos acontecimentos.
O patriotismo, no Brasil, oomo nos Estados Unidos, 6 também êle, maia
utilitãrio do que místico, e se apóia sôbre o individualismo, longe de contrariá-lo.
Ainda que alimentado aqui, como por tôda parte, na crença de que a nação
repr nta uma grande tradição e encarna um ideal que é preciso defender,
le se volta mais para o futuro que para o passado, com brilhantes mas sem
largas perspectivas históricas. Se êle reveste raramen e a forma mística a que
es o habituado os ocidentais. é que lhe falta, com efeito, recuo. Os povos ame-
ricanos cm geral, segundo observou BouTMY, cm rel ç o aos Estados Unidos.
não podem amar sua nação como um antepassado venerável, pois que êlea a
veem formar aob seus olhos e por assim dizer a modelam com suas mãos. Não
senão pouco a pouco que, aproximados cada dia mais e unido uns aos outros,
dquirem os grupos uma verdadeira conscieticia coletiva. Sua imaginação
pede então ao futuro essas largas -perspectivas que o p do lhe recusa, em
pais novo, de formação recente. Mas tõdas as lutas cm que o brasileiro ae
empenhou, mostram a fôrça e a vitalidade d sentimento nacional que se
formou, sem a frcqü&lcia estimulante de contatos bosti , e que tende a desen-
volver.se cada vez mais à medida que a população se torna mais densa e se
multiplicam as trocas econômicas e culturais de uma a outra região. O que
PSJCOLOOIA DO POVO BRASJLBIRO ll9

admira. ao primeiro aspecto, nesse fato singular da emtancia de um espfrito


coletivo já tão amúgado, l: que bsc sentimento se tenha formado e tenha ad-
quirido tanta vitalidade num país em que não concorriam para dcscnvol*lo
.DCm a exteoaio territorial, nem a densidade de população, nem os cstfmulos
poderosos de inimigos exteriores. O sentimento nacional ~ de fato, um d~
C}Uese afumam, opondo-se, e chegam a tomar um caráter religi060, quase fa-
nático, de idolatria, de saaiflcio e de imolação, sob a pressão de agresaõcs a-
tcrnaa ou de invasão do território. A experiência testemunha ainda a exis-
t!ncia de "um laço efetivo e de uma lei de progressão concordante entre a den-
sidade de populaçã.o e o vigor do sentimento nacional". Compreende-se tambbn
que, nos pequenos Estados, o patriotismo tenda a adquirir maior intensidade,
como na Grécia antiga, em que, na observação de A. JARDJf,"bsc sentimento
foi se não engendrado, ao menos desenvolvido pela medíocre extensão do Es-
tado". O território nacional era, de fato, 'J)ara o grego, "uma realidade con-
creta e viva: o cidadã.o conhece-lhe todos os aspectos, todos os recantos; êlc
pode muitas vêzes do alto da Acrópole abranger, num s6 golpe de vista, tõda
a cidade até as fronteiras que indica no horizonte um círculo de montanha". 15
Ore, apesar da grande extensão territorial e da rarefação demográfica do país,
que s6 podiam concorrer para enfraquecê-lo, e de lhe terem faltado, para tem
pcrá-lo, as grandes lutas dramáticas com que se robustece e se exalta o espí-
rito oolctivo, o sentimento de pátria é uma das fôrças vivas do brasileiro que
mal se dilllimula sob a sua doçura, humanidade e tolerância para com as outras
pAtrias.
Mas. ae estes constituem alguns dos traços comuns da psicologia do povo
brasileiro, a unidade fundamental que acusam. no caráter nacional, não ee
fonnou nem tende a acentuar-se com prejuízo da grande divcraidade de tipo1
regionais que tornam a paisagem social, no Brasil, uma das mai ricas e pito-
1'CSCU.Pode-se dizer certamente e, de um modo gc:ral, que o brasileiro é al-
truísta, sentimental e generoao, capaz de paixões impulsivas, vio1entas maa
-pouco tenazes, amando mais a vida do que a ordem, pacffico, bospitaJeiro maa
desconfiado, tolerante por temperamento e por despreocupação. Ei quanto
à eensibilida.dc. Trabalhador resistente, dotado dêssc individualismo vigoroeo
que caracteriza os povo de pioneiros, mas sem espírito de coopcraçao, e guar-
dando, eob uma atitude displicente de indolência e de abandono, reservas·ex-
traordinárias de energia. Eis quanto à vontade, que, agindo por impuJsõca e,
portanto, sem continuidade, parece tender constantemente a concentrar-se,
economizando fõrças, para as grandes reações periódicas, individuais ou cole-
tivas. De wna nsibilidadc aguda, de rara vivacidade intelectual e de uma
imaginação rica cm ficções que o predispõem mais às lmaa e às artes do que
às ciencias nã.o é o brasileiro menos interessante quanto à inteligência, quas
primitiva pela facilidade de "apanhar no ar" e pela sua intuição, alimentada
na sensibilidade e pelos seus instintos de direção. Mas. se parece ser &te, noa
seus traços mais importantes e gerais, o retrato do brasileiro, tipo comum,
fàcilmentc distingwvcl se desdobra numa admirável variedade de sub-tipos
psicológiC09 e socjai , diferenciados, pelos seus caracteres próprios, de uma
para outra região. Não se trata das diferenças ou divisões que não aio cepc-
dficaa pcculiarca ao Brasil, .mas separam po.r tõda parte a cidade e o campo,
o litoral e o interior, discriminando as respectivas populações com marcadas
caractcrlsticaa que r tam de sua mentalidade particular, de IC'U.Bmodos de
vida, de seus costumes e de suas tendências. Aqui. como em todos oa pa1aca,
se opõem a atmosfera inquieta e brilhante das grandes cidades e o ambiente

ta A. J,um , La (o m,rr r,n du ,,.upl r La. R:rn•íMPDCe du Livtt, Pen., 1923.


A CULTURA BRASIL IRA
120
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tranqüilo e repousante das cidades provincianas; a simplicidade rústica, a re-
rva e o cspirito tradicionalista dos grupos sociais que vivem, isolad nas
montanhas ou parados pelas distâncias. e se mantbn, por isto, mais fechados
e homogtoeos, e a acessibilidade às idéias novas, a tendeitcia ao progresso, o
g&to ta aventura e a avidez de lucro das grandes cidades, de composição
hetero , e cosmopolitas. Não é, sem razio cscr ve C. BoUGL , que se
tribui montanhas "uma influência conservadora. As costaa, ao contrário,
bre a quais os elementos mais hetc:rogmeos, trazidos pelas vagas, podem
entrar em conta o, fazem as sociedades mai9 móveis de certa maneira, e menos
tradicionais''.
As diferenças mais características, ligadas à dive idade de composição
étnica, à variedade de meios fisicos e a condições e pedficas de formação social,
são as que se constatam entre as populações do norte e as do sul, e bastante
acentuadas para se perceberem, através de uma grande unidade de espírito
e de sentimentos. ~ preciso levar ainda em conta, como um dos fatõres que
mais contribuíram para distinguir dos povos do sul os do norte, o que e po-
deria chamar a influência social favorável dos meios naturalmente desfavo-
ráveis a que alguns autores atribuem a maior importância. De fato, em região
algwna do país, a natureza exterior se apresenta tão bárbara e desordenada.
tão fortemente perturbadora, na fôrça e na sue o de suas paisagens, como
nu terras do norte, em que, oferecendo aos homens a impressões volup uosas
e as sensa variadas,- tudo parece convidar a sensibilidade a desdobrar-3e
btt as coisas e a inteligência a se deixar arrebatar p lo entusiasmo e pela
ualtação. O homem do norte é, com efeito, mai vibrátil, mais Urico e dra-
má -co; o do sul, mais comedido, maia positivo e realista· naquele a prepon-
dcrAncia da sensibilidade sôbre a razão, o g to da cloqü!ncia, dos gestos e
atitudes ardentes; neste, um maior dominio dos nervos, uma sobriedade até
reserva, uillbrio e moderação. O norte, escreve Jo:RGB AMAoo,dando o
seu depoimento sobre as duas populações. "parece-me muito mai lírico e nm-
terioso; o sul, mais vertiginoso e progressista". Ma nessa paisagem humana
em que avultam dois tipos tão nitidamente diferenciado , - um, expansivo,
iníl vel, categórico nas afirmações, e o outro, retraido, prudente e conci-
liador, destacam-se ainda novas diferenças, não s6 nas populações do centro-
ul, mas entre estas e as do extremo sul, em que se elaborou um dos tipos mais
característicos de nossa formação histórica e social. Embora tão próximo , o
paulista, de wna discreção quase hostil, de tão rcserv da, com sua tendência
à ação, empreendedor e tenaz; o mineiro, desconfiado até a dissimulação, pru-
dente até o pe simismo, de um grande poder de pla ticidade, de um claro bom
senso e de hãbitos morigerados, e o carioca, com eu bom humor até a irre~
vcrência, eu senso do ridículo e seu gôsto do bem estar e dos prazeres da vida,
se di tinguem tão nitidamente que êsses traço discriminativos já não passam
despercebidos à observação superliciaJ. De todos tipos ociais se dife-
rencia, porêm. o rio-grandense, o gaúcho propriamente dito, romântico e cava-
lheiresco em que um vigoroso ináividualismo, o entu ·as.mo apaixonado e o
ardor combativo e misturaram a uma .s sibilidade afetiva e a uma natural
generosidade para modelarem um tipo original de acento cro e rebelde,
proced do por contrastes de violência e de conciliaç- de &rrebatamentos.
utoritários e de sentimentalidade derramada. e amando tanto a arrogância
dos tos como a nobreza das atitud . 1-t

14 Ao i er a cm do liYro O tJ!l.úcho na rida


V. CoAAAClque "hi d ' dpoa de ~-.duu pê,:i .. deuid viduo.lida c:o.rt ca ". t.sn-• que
nt m , E, • d6vida, multo rm,i,, m,qilente: "o tipo popular 11~ conbcddo do 1•6~ho, a=timent,d ,..
«-• valmtlo e igo d 1catoe teatr.ii1 e d8.a fr- rrtwnblo , vlllhf:iruco e d~dor, q11~
PSICOLOGIA DO POVO BRASJLEJRO 1:U

No entanto, se traços difcrenciajs mostram o processo fragmentário


de nossa forma o que favoreceu a eclosão, na variedade dos quadros gco-
gr{úicos, da diversidade pitoresca da paisagem humana, os de semelhança , o
gerais e pcnistcntes, revelam que o Brasil se tornou uma unidade histórica.
um sistema de civilização cm que circulam idéias comuna e aparecem tendênci
dessa civilização expansão atual. Tod0$ êsses grupos de sociedades, dife-
renciados sob a pr o primitiva da raça, do meio e dos regimea de produção
e de trabalho eodo participado de uma vida comum, formaram uma IOCie-
dàdc maia ou meno coerente, com seus costumes, suas tradições e seus ca.rac-
tera próprios. Mas algumas dessas diferenças regionaia já ac atenuaram,
como certos traços ou tendanciaa, cujo feixe constitui o caráter brasileiro,
tendem a transformar-se por fôrça de causas internas e externas que vão ope-
rando modificações na estrutura social e econômica e, em conseqüência, na
própria mentalidade nacional. Das tratJsfonnações que se produziram no pla-
na1to paulista, já resultou que o que lhe constituía a base primeira, é dissi-
mulado ao olhar não só pela nústura e assimilação de povoa europeus ao núcleo
primitivo, como também pela rnamia de instituições novas que se lhe aobrcpu-
seram e a alteraram, pelo simples fato dessa superposição. Onde certos traços
ainda se observam, n sua pureza e fôrça originais, é certamente em aglome-
ra~ de população de maior ou menor vulto, disseminadas pelo interior ou
encravadas no acrtão, que mantêm o seu caráter antigo, enquanto se trans-
formam aa do litoral e do planalto, sôbre as quais, desde os princípios d!ste
l!léculo, ji reverberava mais intenso o c1aTão da civilização íodustrial. No
mesmo país em que aa condições naturais permaneo:m as mesmas, tõda a vida
ae modifica dcade que os povos mudam, como no planalto; e à medida que a
civilização 1C desenvolve, conforme já obscrttamoa, as fôrças sociais pesam
mais sõbre o caráter das nações do que as fôrças naturais. Aos contato e
comunicações mai freqüentes entre o litoral e o interior, o norte e o sul, graças
aos meios mecânicos de transporte (autom.6vel e avião); à fõr a assimiladora
do rãdio; às mudança de estrutura social e econômica num mesmo sentido e à
transformação das condições demográficas l)Odem-se ligar as transformações
recentes da psicologi do povo brasileiro. Essas mudanças se processam o-
davia dentro de cert0$ limites e na díreção das tradições e tendências funda-
mentais com que afirma o temperamento de cada povo. Por mais q'ue as
n'ações modernas se esforcem por ,serem completas e procurem o sucesao eco-
nômico e industrial, poUtico e militar, literário e artístico, filosófico ou cien-
tífico, elas conservam certas particularidades caracterlsticas e e fazem notar
singularmente pelo rel~vo dessas ou daquelas· qualidades nacionais, fornecendo
com essa própria diferenciação, um princípio de riqueza e de fôrça para a ci-
vilização de que participam e para a qual concorrem com seus progrcsaos em
domínios determinados.

~ bi "e& h~ írloa e impmcU


f•aían'aml<ln. que rara v rc
- acolhidm i-w. a sua
'o Gr.-ode do s...t.,..c!c dois e,rp(ri
~ plfito de froniflirll e o qu.e o
• • 1111: d&te c:ritErio. Mot
rol dend-9 à. prepoddcr lacia do -
1JUdemmr;que!ueserplritm,... •
~ viriu Cacçiics e dentro cld:e
.. pcdodo. de pn aqu8es em q= dO<IÜnao e,,ptri e
Iúuo DS. CUTu.lrOI _,,, OI pÍOll•pain, dmomiaatd:,a pelo e.pfrito de c:ida&. arai to•
wam implradoe pt.lo de rOCltdtL Jrc,j o pri!lléiro que ~ e orialtoll • pollttai do Rio Grande. DO
to --.cta1a de 1894, data d deffou doa fcderaJi.-, atE l!123, quando íol -1aado o 'J'n,tatdo de
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122 A CULTURA BRA ILE RA

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se.ti • 1o.>,r.o
wi•r9 lc- IGO
171. RUI BARBOSA (Bahia, 1849. Petrópolis, 1923). Jurista de notável saber e
um dos maiores advoaados do Brasil.
Foto da Coleção da Companhia Melhoramento• de S. Paulo,
172. CLOVIS BEVILAQUA, "de cujas mãos
.)ãiu, para a sagração leAal. o projeto definitivo
do Có=liAo Civil Br.asileird'.

173. Pt.DRO L::::ssA (Sê-rroJ Min,1sJ 1859 -Rio,


192 l), Professor, juiz e escritor de d frei to.
169. TEIXEIRA DE J'RltlTMI, autor da co,,.o-
lidaçõo dtJs lci.J civ1,. '"o maior monumento
jurídico quo o lmp4,io no, le,oú".

170. L,-FAIL'T~ ROoRJGUES PERIUIIA (Minas,


1837 - Rio, 1917). Clvillm• • um• das m..iores
culturas. 1uridic.&1 do p11.ú.
J68. F,.culdndo dn Direito do Roc,'le, F11oh1td11poJtt:rior e entrada da Bibliolcc,,.
.---
~ 4·+, ~
•• ,;o,..

'ii

IBJ• fo<uldad,d,MtdKinado
Riodt/atlt,o,jdnos,u norotdiffdoàProilJ
Vtm>dho.
(fM!ilodoXfVi(o~-
• \IOSYUIIS,
H>IO dt RtcM<tamfn/0
181, TE.JXE.JRA SOAl'I-.S, que p,-O~to,, "
1>recvlou o plano da Estre,1:, de Ferro Cur,ub"·
Par411.iaã. admirável peliu .rua obra, de
arte e pe.lo aeu UltÇIK/o.

182, l"IMNCíSCO PAJS Lli:ME DE MONLl<VADB,


tnfcmhtiro qut'I, concebendo e começando a
rx.c.1.110,. cm 1913. com uma Ubia or·ie.n.taçâo,
o plano d• ~lelrificaçáo da Companhi,. Pt>u·
""• de E•trad-, de. Ferro, " tornou "'o pionftíro
e o iniciador da tração elétrica pesada
no s,,u;r.
J 78. FRANCISCO PEREIRA .PASSOS, enAenhefro, 179. SAT\/RN1NO DE BRITO, um dos nomes
prefeito e remodelador da cidade do Rio de mais ilustres da engenharia. sanitária no Brasil.
Janeiro, que começou o transformar. no govêrno
Rodritues Alves, de uma velha cidade colonial
num~'t dns maiores metrópoles modernas.

180. FRANCJSCO BJCALHO, notável em


entenharia de portos.
-----

176. A.>IDRÉ REBOUC'AS, uma d1J> nu,ion,,


/i4urm da t:"t',Cnh.6.ri11n,1ri?11.JI.

177. PAULO O& FROl'TI-", en~nheiro vrb•·


nista o lo.novi.1trio, e-nue cujas obr•• ll"Ult•1u
"' ,,,.,11.~, d• pJanós u,banistlco. ne cidlld"
rio Rio do Ja,...i,o e a dup/ic«:,io da 1,nh,,, n.1
S~trtt do /\far, da Estrada d~ Pruo
Central do Brasil.
167. O Mosteiro de S. Bento, cm Olindlt, (md• foi prlm!ll'vnmonto in,t1tlffdo o curso jurídico, fundnch, em 1827.
166. A Faculdade de Direito de S. Paulo. Edifício re5tt1urndo no esiilo tradicional brasileiro e no me.smt') local, no larAo S. Francisco, cm qua
se inauAurou e funciona, desde a sua /undsçiio, o curso jurídico criado t:-m 1827.
164. A Univ~11ldo<I~ d<t Coimbra, onde no p,,rio,w colonial iam lutduudM••C o, qU<- ~5lu<lav"m
com os padres da Companlu•.

+
....._..-_r_ ... ~·
l..:.J- ~j - i
16S. Pnc.u/dad<t do Oireito de S. Paulo, ttntiA<, Con,.enfo de S. Frant:1""1, om que foi 1111talado e
funcionou, desde 1827, o eur.so jurídico
162. 1,rojo Unidn, ]Arejo.
Cristã Presbiteriana de S60
Paulo. Um dos belo• templos
do protestantismo no Bra~·il.

l63. Templo B<>th•lsrael. Pro-


jeto da SinnAoAn de S. P:>ulo,
ctm c::omtrug:ioe já quRSe
concluído.
186. FRANCISCO 011 CASTRO (Belúa, 1857 - 187. AANAU>O Vl~INA DC CARVALHO, médieo-
Rio, 1901). Or•nde m6di,:o e prof= da cirur1i&o, lundadOI • primeiro ditelor da
F«uld11de do M~d/cina do Rio de Janeiro. FIICuldadr do Mod,c.ina do S. Paolo.

188. MlOU'tL COUTO, médico 6 professor de 189. MIOUl>L P11Rl!IRA, d11 Faculdade de
clinica n,i Fnouldado do Modloin11 do Medicina do Rio da Janeiro.
Rio do /ttnoiro.
184. A Faculdede de Metlici•
,.. dlJ B,,J,,o. - Foto VOLTAIRE
FRACA. Urbo Salvador. 1nsti-
1Ulo 8r8'ilrtro do C~ffa e
Ei1at!Jtic•

185. F aculJ.,,~ de MNl,cin,.


de Pórto .UeJr,t, no Rio G,.,.,,.
do Sul. Flteltad11 princ,,,.J,
PARTE II

A Cultura
CAPtTULO I

Instituições e crenças religiosas

A história das missões e a história da civilização aistã'. - A Companhia


de Jesus e a Reforma - A primeira missão de Jesuitas ao Brasil - A cate.-
quese: J~t Dlt AffCBIMA - O Evangelho -nas Sc!va11- A Tetnpeatade da
Refonna e a sua repercussão no Brasil - A fundação em Roma (1622) de uma
oongregação permanente para a propagação da fé - A expansão das missões
- Os miãsionãrios contra os abusos da conquista - ANTÕNIO VmDtA !l8. luta
contra a escravidão dos índios - A cultura, nesl!C período, mais ou p:ienos tri-
butária da rcligjão - O catolicismo e a influência das rcligjões, afro-índias -
Casa grande, capei~ e senzala - As igrejaJ e os templos - O p6lpito no Brasil
- A formação dos sacerdotes - As ordens e congregações religiosas - A sua
áqueza e o seu florescimento - A maçonaria - As atividades das 1ojll8 maç(l-
-nicas - A fusão da Igreja e do Estado - Influência do clero - Os ~andes
pregadores - A questão religiosa - Liberdade de culto e de crença - O pro-
testantismo e seus progressos - O espiritismo e outras formas de retigjosidade
- A .tC0110fia- O- positivismo - A "religião da h~anidade" - Religião e
cultura - Predomínio da religião cat6líça.

-pODE parecer estranho à primc:ira vi$ta que, ao abordarmos a análise da


cultura, no seu sentido mais restrito e nos seus aspectos fundamentais.
comecemos pelo estudo das crenças e instituições religiosas. Certa-
.mente, tomado o têrmo ncultura", no seu mais amplo significado, corrente nos
domínios da antropologia cultural, as crenças e instituições religiosas fazem
parte integrante da cultura espiritual de um povo. Sob êsse aspecto, seriam
apenas umadas condições e fatôres da cultura, na acepção mais limitada, de
desenvolvimento intelectual, literário, artístico ou científico. Mas são tão
íntimas e constantes as relações entre o desenvolvimento da religião, no Brasir,,
e o da vida intelectual, nos três primeiros·sêculos, que não se podem, durante
"êsse largo período, separar um de outro; nessa fase de nossa formação social,
foi efetivamente de intenção, forma e fundamentos religiosos quase tôda a
cultura que se desenvolveu nessa parte do continente. A religião teve, no
período colonial. uma influência, sem dúvida preponderante e quase exclusiva,
na organização do sistema de cultura que, tanto no seu conteúdo como ·nas suas
formas e instituições, acusa fortemente essas relações de estreita dependência
, entre a cultura e a religião. Não são apenas pontos de contato que estabele-
ceram, entre uma e outra, zonas de influência e de interpenetração, mas verda-
deiros vínculos que as prendem, desde as suas origens, entrelaçando-lhes as
raízes, e obrigando-nos a entroncar a história cultural em sucessos, instituições
A CULTURA BRASILEIRA
126
--------------- ----------
e influencias religiosas. Tributária da religião, de cuja •va se alimentou por
largo tempo, a cultura, só mais tarde e, especialmente, no ~cuto XIX. sedes-
prendeu da igreja, sem deixar de ser cristã no seu espírito e nas auaa manifes~
tações, para se ligar à vida profissional e às instituições pr,cpoetas à preparação
para as profissões liberais. AssimJ a prinápio, de iniciativ ecleaiâatica ou de
conteúdo religioso, crescida. à sombra de conventos, seminários e ool~os de
padres e, cm seguida, de caráter utilitário, fomentada nas escolas superiores
de preparação profüisional, a cultura não pode ser compreendida nem ezplicada,
na ua evolução, se nos esquivarmos a começar por apor as atividades reli-
giosa e profissionais a que se ligou, e, sobretudo as da religião católica que.
com suaa crenças, sua moral e seus ritos, embalou o berço e selou o túmulo
de gerações sucessivas.
O Brasil, pode-se dizer com SBRAFIM LEITE que .nasceu cristão. E nasceu
cristão, antes de tudo, peta fé que ardia no peito dos descobridores e de seu
rei e se transportara. com os costumes e os usos, as mercadorias e as armas,
no bõjo das caravelas. A grande cruz, de madeira indfgena, trazida em pro-
cissão por portugu!ses e indios, e arvorada jwito ao altar armado a céu aberto
e cm que dis.,e a missa Frei HENRIQUE DE COIMBRA, a 1.0 de maio, em terra
fITTlle, foi, no ato oficial de posse do Brasil, celebrado em P6rto Seguro, o SÍIO·
bolo augusto da conquista, à civilização cristã, das terras descobertas. O nome
de Ilha de Vera Cruz, com que as batizou o seu primeiro historiador PERO
VAZDE CAMINHA, brotara eomo uma ~iração do ntimento religioso que
animava os descobridores e se devia transferir do pequeno país peninsular
ao vasto campo que então se abria à propagação da fé e ao esfbreo colonizador
doa portugueses. A religião ca.t61ica. ao tempo dos descobrimentos, já havia
penetrado em tôda a sua extensão o reino lusitano, desde as suas pequenas
cidades às vilas, aldeias e povos, e com tanta profundidade que, quatro séculos
depois, ANTERO DR Fmm:numo, nas suas jornadas em Portugal, ainda pôde
senti-la cm tõda a sua pureza e simplicidade rústica, «na alminhas brancas
das cncrwilhadas, com seus beirais encarnado sua lâmpada, seu animismo e
seus padre-nossos; na cruz negra da borda das estradas· no cruzeiro dos la,r-
guinhoa aldeões, - simbolos que dão religião ao caminhos, à esquinas, aos
r6cios e aos cerras, espiritualizando a terra e o ar pelo sen •do de sua devoção' .1
Nesse pal's, de população tão escassa que, por essa época não excederia de 1
milhão de habitantes, dispersos por vales e serranias ou agrupados ein cidades
raras, de ruas estreitas e cotoveladas, a religião se disseminara por tõdas as
camadas sociais e a cruz, que se erguia nos cimos das igrejas e se carregava
nas procissões e nas romarias às ermidas milagrosas, se alteava nas caravelas,
omav o punho das espadas e pendia sôbre o peito do ecular e do eclesiástico,
do campon& do fidalgo. Era tôda uma atmosfera de religiosidade e de fé
que se respirava em Portugal e, se se apresentava mais quente e carregada
de misticismo nos conventos e nos santuários, se propagava por tõda a parte,
na palavra evangélica que descia dos púlpitos ou nas vibrações dos sinos de
bronze que cafam lentas das tôrres cristãs. Na armad de PEDRO .ÃLVARES
CABRAL-, iam para a lndia a que se destinava, quando partiu de Belém, alguns
franciscanos, missionãrios: a crnz das caravelas que zarpavam para terras de
gentio ou para as aventuras maritimas das descobertas, abria os braços para
a evangelização das tribos bárbaras e a conquis das n.lmaa. Mas, para essa
obra de extensão do reino de Deus, nesta parte do novo mundo, como na lndia.
se devia aparelhar todo um estado maior de homens de elite: os jesuítas.

1 ~ Z>t Ffotn1nmio, Jouu1.d1n em P~tut_cl. Ailla.vde BertraDd, Paril-Lltbaa; ~ Alve.,


Rlo d JaDCl.ro,una.
_______ fNSTJTUIÇÕES E CRENÇAS RELIGIOSAS __ 127

Ora, desde as viagens de São Paulo até nossos dias a hist6ria da missões
ac confunde com a da civilização cristã. e os anais missionãrios continuam
através doe século as atu doa Ap6stolos. 2 A propagação da fé, no entanto,
eeban-ava, no aéculo XVI, em obstáculos ao parecer invenclveie: de um ledo,
a di9Ciplina do clero e da Igreja, penetrada da vida acnsual da Renascen e
da admiração um pouco idólatra do mundo antigo e impregnada do orienta•
limlo pagã.o, tendia a di solver- e nos abusos dos papas e do grandes cclcsiát•
ticos. e, por outro, irrompia, no seio do catolicismo, em conscqilblcia d
mamos abusos e sob a pressão de idéias reformadoras, a maior dissid&lcia
que jé perturbou a unidade espiritual e a pregação do Evangelho. A hora
era grave. O catolicismo "sofrera os ataques fomndâveis de um LUTERO,um
Z~GLJO e um CALVINO. A unidade da igreja quebrara-se. Mei Europa
atava repartid em seitas protestantes. A política fomentava as de:sordcn_s
aoe grandes pa1sea para, dividindo-os, enfraquecê-los; e a terra estava ainda
eneopada no sangu do massa,cre do dia de S. Bartolomeu e no das tremendas
matanças doe anabatistas e dos huguenotes". Foi por essa época de lutas e
dinençõca religiosas que surgiu a Companhia de Jesus, fundada em 1534 por
Sto. IHÃCIODlt LOIOLA,e da qual, antes mesmo de ser erigida, em 1540, cm
ordem religiosa por PAULO UI, já se destacava um dos seus íllhos meia emi-
nentes, Slo FRANc1sco XAVIER, para a evangelização da f ndia. Segundo a
expressão de Pio XI, Deu fazia, por êssc modo, do século da Reforma, "o sé-
culo do Condlio de Trento, da renascença das antigas ordens monásticas, da
floração inumerável de novas familias religiosas, o século de ouro da santidade".
De fato, o movimento evangélico retoma a sua curva ascendente e entre a
grandes datas do calendário missionário figuram, nesse século, o dos uccssos
do apóstolo da lndia e os do Pc. JosÉ DE A.NcmETA, apóstolo da América. Em
1549, cêrca de SO ano depois do descobrimento e quando a Companhi de
Jesus já contava nove de existência canónica, chegava ao Brasil, com o pri•
mciro governador geral TOMÉ DE Sous.&~a primeira missão de je ufta , diri-
gida pelo Pc. MANUEL DA NóBJlEGA, religioso de grande saber e virtudes, ''o
maior poUtico do Brasil", como lhe chamou SotJTHEY, e que fundou e organizou
a catequese dos indios. Essa missão, quatro anos depois, em 1553, e refor-
çava com outro punhado de missionârios de que fazia parte um jovem jesu(ta,
de 19 anos e de constituição frágil, - o Pe. JosÉ DE ANCHIETA, natural de
Tenerife, nas Canária , e que devia tomar-se famoso, pela santidade de aua
vida, pelo seu espírito do sacrifício e por seu zêlo apostólico na propagação
do Evangelho nas selvas e nos sertões.
O que foi a ativid de dêsses homens admiráveis, na defesa e conversão
dos gentios e nas suas entradas aos sertões, entre perigos e trabalhos de tôda
ordem, não se pode avaliar senão medindo-a pela extensão da ârea geogrãfica
esocial em que se desenvolveu e pela variedade de serviços cm que se repartiu,
projetando- em todos os domínios. Certamente, é na cristianização da terr
que se concentram os e forços dos jesuítas, e é a serviço dessa obra fundamental
do ponto de vi ta cat6lico, que se desdobra, se alarga e se multiplica ativi-
&.de espanto dos mi ionârios. Mas. que a ação infatigável e fecunda dt
religiosos ultrapassou os domínios do espiritual, não resa sombra de dúvida.
• t1cs formavam, pela sua rígida disciplina, na sociedade colonial, incoerente
e fragmen ria, um todo homogêneo e compacto, capaz de resistir à., innumcias
dissolventes e de abclecer um minimam de unidade moral e espiritual
entre o colonos portuguêscs e os povos primitivos. assimilados nova civi-

2 Fl.o,u,4J,1Du11ou•. Le minion• utholiqu•• d&n• le monde, lo •·1,c Maia", du lu, M.,.. •u


I•. Avril, 1939, Mauld• •t R•nou, Pu
28 A CULTURA "BRASILEIRA

lização. A Companhia de Jesus não se limitava a doutrinar a todos com a


palavra crista, edificand0-0$ com os sacramentos e os e:zcmplo de uas vir-
tudes nem empregava sõmente os meios reli.gi030Spara difundir o Evangelho
e assegurar a coesão moral e a fidelidade das tribos ca equizadas: investia contta
a p epot&icia e os abusos dos colonos· d~cadeava a ofensiva contra a disso-
lução do costumes, com que, pela acessibilidade das índia e pela escassez de
mulheres brancas, se abalava até os seus fundamentos a tabilidadc social;
bria escola de ler e escrevei-, chegando a edificar, com suas próprias mãos.
colêgio como () da cidade de Salvador, - o primeiro do Brasil-, o de São
Vicente, e, em 1554, o de S. Paulo nos campos de Pir tininga; 9 concentrava
os fndios em aldeamentos em que, à sombra da igreja e da escola se cultivavam
a terra e praticavam tôdas as indústrias necessârias; e iniciava, "ao passo
tardo dos missionários", - para empregar a expressão de EUCLIDES DA CUNHA,
essa formidável penetração colonizadora que s6 mais tarde deveria atingir o
mâximo de intensidade, ''irradiando-se por trc'.!squadrantes, com a .rota ace-
lerada das bandeiras". Primeiro mestre do Brasil que, compreendendo o al-
cance dêssc instrumento verdadeiramente eficaz de penetração que é a escola
elementar, criou escolas e ergueu colégios por tõda parte, o jcsutta, cóm a sua
medicina e a botica do colégio, - "reservatório cral de todos" -, com as
ua indústrias as suas culturas e as suas fazendas de ado, tomou-se, nestas
paragen , um dos mais poderosos agentes de colonização. A autoridade e o
pres gio de que se armaram, entre índios e colonos, erigiram religiosos,
no é<:uloXVI, ao primeiro plano da política colonial, a que assistiam como
conselheiros. e chegaram, por várias vêzes a imprimir, por sua influ!ncia de-
cisiva, uma nova orientação, assegurando o sucesso das armas portuguêsas.
Foi, de fato, de primordial importância a intcrvcnçao do Pe. MAm.1EL DA
ÓBREGA na política colonial. jã levando o governador M DI!! SÁ a adotar
novo sistema para a sujeição dos índios, jã indurindo o rei de Portugal a ex-
pulsar os franceses do Rio de Janeiro e animand.o Esdcio DE SÁ na luta contra
o invasor associado aos tamoios. Até então, ' os portuguê eve SE.RAFDI
LEITE, seguiam o sistema romano de dividir para reinar. Promoviam a divisão
dos chefes índios entre si, e dessa divisão e aproveitavam". Para o Pc. MA-
NUEL DA NÓBREGA, "o sistema que convinha não era é : era o de mão forte' .
A paz impo ta pela firmeza e pela fôrça, não s6 tornaria, como efetivamente
tomou mais fácil a catequese dos índios, que se fcram incorporando ao grêmio
da civilização, como devia assegurar mais s61idas garantias à vida dos colonos
e ao esfôrço colonizador que se desenvolviam, até e sa época, sob a pressão
permanente das incursões de tribos revoltadas. A atividade dos jesuf tas, em
poio à campanha de MEM DE SÁ contra os franceses, ainda que inspirada
sobretudo por motivos religiosos, teve um alcance polltico qu nunca é demais
encarecer: contribuiu para restabelecer a união entre os fodio que os fran.
ceses dividiam e açulavam contra os portugu es, para impedir que se cortasse
em duas a Amêrica portuguêsa. e ain~ para re guardar contra os perigos

s oq u., em Piratinln:a. • vida dcw pri j o P-. Joà os AIIC8DT4 em ama


c:artn, num ewp!rito e:lif"=tc de piedade e d• a li.Ili ~ de
"Aq\11.., fh, acreYe te, 11m11 ~ de palba, COU1 uma tdra d e&QM po, pci,rU. -......
1um tempo bem pcrUdOII as irmim; ma aperto era ~~ contn o frio q uq cl■ • u-.lc
uh• AIIe■ma aam rMcs, q11r oo lud' ccatwi:ia= r-. cobcrtora, o roeo P",. o qual oa
~ Nlm te -.biida a lidlo da tarde t■ a. ~ 1 ao mato, e■ e per■ a GOite,
O VCI O .... 111uito pogco, e p0bte. IClD calço, 11cm i-toa, de patlO d« ai& , Jlara a -UD alcw,,
po fOI !arpa de Arvora, rm •~ de &U8ffl-anai-; bem eec: v , oade faltava o comer,
o qual olo tiobanl donde llle,i ,..;eac, ICllã!> dos (adi , q1H lha ÜY&ID ■lcuma ....,._ de farinha e b v!rea (ma.a
,..,) ~ pebdAhoo do ri e C11Ç11do ....to. Muito ~p0 panaram grande rome. e:írlo: o contudo~
u o com íc:rvor, leodo iu vtu& a lição fora ao &io, c:om o qa■l ae ba otlelhor que CQIII o Í1lmO dcotro
e c:&I■". (Apud S!MJ.o lff VAS::ONCLLO$, w6ruc. da Companhia d }NIU, p4 , n.• 151).
INSTlTUIÇÕ'ES E CRENÇAS RELIGIOSA

que a ameaçavam, a unidade da religião. Outros vêem certamente a divcrs'


luz o procedimento do Pe. NÓBREGA; nós vemos, através dessa condu , n e
s6 a solicitude de u zêlo apostólico, mas a aguda visão de um grande poUtico.
Em 1557, um ano e quatro meses depois que VrLLEGA.G o tran pu ra, com
as suas naus, a baia de Guanabara, aportava ao Rio de Janeiro a expedição
organizada m Honflcur, na ormãndia, e a que se incorporara uma comitiva
de 14 huguenotes, escolhidos por CALVINO e pela lgreja de Genebra. Foi a
primeira missão da Igreja Reformada que pisou terras bra!oileiras; e com ela
vida repercutir, na colõni portuguêsa, "a tempestade terrível da Reforma
que devia arrancar ao seio da igreja tantos povos"'. A dissidetlcia que rompeu
entre os calvinistas e VILLEOAGNON; a volta da maior parte dêles para a Eu-
ropa, em 1558, o sacrifício de outros quatro que assinaram a admirâvel ''pro-
ÍÍS!lão de fé", calvinista, escrita por JEAN DE BOURDEL e caíram vítimas da
vingança sanguinária do próprio governador francês, reduziram, sem dúvjda,
a~ per ·ptc ivas dt: difm1~u, nu Brasil, da seita proteslanle. Mas seja qual fõr
o ponto de vista em que se possa colocar o historiador imparcial, não é pos-
sível desconhecer o alcance da atitude dos jesuítas em face do perigo da trans-
posição das lutas religiosas em que se debatia e se dilacerava a Europa, para
a pequena ociedade colonial, ainda etn formação, dispersa e heterogênea, e
já trabalhada por graves díssenções internas.
Não f&sse a energía de MEM DE SÁ1 secundada pela atividade incan ve1
de NÓBREGA, e não somente, como diz SouTIIEY, • esta cidade que é boje ca-
pital do Brasil, seria francesa'', mas francesa seria também larga parte da
região meridional e estaria definitivamente comprometida a colonização por-
.,. uguika na sua tríplice unidade de língua, religião e território. De todos os
episódios em que se de nrolara, o vasto plano de ÓBREGA para a eipulsào
dos franceses, nenhum, porêm, foi tão famoso como o da missão que r alizou
o jesuíta ilus re acompanhado de ANCHIETA, indo ter com os {ndios par ne-
gociar a paz e oferec ndo- a si me"5mocomo refém, com risco de perder a vida.
A -célebre jornada de que resultou o armistício de lperoig (1563), concertado
entre tamoio e português s pela missão de NÓBREGA e de ANCHIETA, - a
mais perigosa embaixada de que ninguém jámais se encarregou, como a qua-
µficou SoUTHEY - ·, sem dú"ida, uma das mais belas pãginas dos anais mis-
sionãrios da Companhia de J sus e de sua obra, paciente e humana, de colo-
nização. O que é surpreendente em tôda esta ei;nprêsa civilizadora, iniciada
pelos jesuitas, uinze dias depois de desembarcados, e multiplicada cm .serviços,
~ante quase três séculos, é que êles a realizaram s6s, durante cêrca de 30
anos, e não tiveram, senão a partir de 1580, para auxiliá-los no seu apostolado,
·o-ussionários de outras ordens, como os beneditinos, franciscanos e carmelita .
f.s atividades apostólicas deveriam adquirir por tôda a parte novo impulso,
no século XVII, quando GREGÓRIO XV funda, a 6 de janeiro de 1622, uma
congregação pe:rmancn e para a propagação da fé e em que se di scmfo m as
IJllSSÕeS católicas que só entraram novamente em declínio, na Europa e em
~ distantes, nos fios do sêcufo XVIII, em conseqüência da Revolutão
Francesa e das guerra de NAPOLEÃO. Mas ainda depois da entrada das ordens
monã.sticas, no éculo XVll, foram os jesuítas que desfecharam, quase isolados
wna outr campanha, - a mais memorável de tõdas cm que se empenharam
-, em defesa da liberdade dos índios, opondo a muralha de seus peito sagrados
J)cla cruz e o fogo de sua palavra ardente ao tráfico e à exploração das tribos
•ênericanas. Os ataques dos mamelucos, os mais terríveis inimigos dos índios,
aos aldeamentos e povoações indígenas; as jncursões das bandeiras, or ani-
zadas com o ítm expr so de cativar indios; as investidas destruidoras, ao sul
130 A CULTURA BRASlLEíRA

contra a missão de Guaf.ra e as reduções do Paraguai, Uruguai e Tape;' as


perseguições que sofreram, ao norte, no Pará e Maranhão, donde por duas
vêzes, em 1661 e em 1684, foram expulsos, e a tremenda ofemiva de acusações
e calúnia , mostram a intensidade a que atingíu a lu obs ·nada dos jesuítas
contra os colonos escravistas e a sua decisão inabalável de não sacrificar, em
obséquio aos poderosos, os ideais de respeito à p a humana e à liberdade
dos índios. essa luta contra o cativeiro .indígena avulbl, no norte, a figura
incomparável do Pe . .AliTÔNIO VIEIRA, evangelizador nas ntradas pelo sertão,
diploma a arguto e orador notabilíssimo, cuja eloqüência, em defesa da raça
oprimida, rompeu com a fôrça irreprim{vel de uma explosao e s6 comparável
de RUI BARBOSA, dois séculos depois, na campanha da libertação dos escravos
negros.
Diante de uma ação de tão larga envergadura, no plano religioso, social
e polftlco, em que os missionários de tôdas as ordens souberam manter, entre
os colonos, uma superioridade autorizada tanto pelo ministério sacerdotal
quanto pela cultura e dignidade de vida, pode~se avaliar o grau de penetração
que atingiu a obra de propagação da fé, entre os índios e colonos. A cristiani-
zação, propriamente dita, dos indígenas e de grande número de caboclos, "ainda
que uperficial e pela crosta", no julgamento severo d GILBERTO FREYRE, foi
incontestàvelmente, como êle próprio o reconhece, obra quase exclusiva dos
padres da Companhia, que contribuíram. mai do que • odos, pare que o cato-
licismo fôsse rea!mente o cimento de nossa unidade. A medida que _e alargava
para os sertões e as florestas, num esfôrço imenso de pcnetr ção catequista,
infiltrava-se o evangelho na região tenebrosa das enzalas, trazendo, com a fé
à raça infamada pela pirataria da escravidão uma palaVTade alivio e uma porção
de energia, e promovendo a conversão em ma sa da populações negras apa-
nhadas pelas garras do tráfico. Os mi ionãrios, ão atdentes na defesa da
liberdade dos aborígines, eram obrigados a tolerar o cativeiro negro, estabe-
lecido pelo saque ungido em instituição legal, como 1 nas fedias, foram êles
con trangidos a transigir com a separação das casta , tão enraizada se achava
no sangue (sobr tudo no sul da Índia), atacando a evangclizaçao pela conversão,
mais fâcil, dos sem casta (párias), que viam no missionário um protetor contra
s us exploradores. Não lhes sendo possível destruir a scravidão negra (e sa-
bemos todos a campanha que foi necessária, durante quase um século, para
a sua abolição), procuraram tornar menos dura a condição servil e pr star
tõda a assistência possível, moral e religiosa, às vitimas do cativeiro. Mas,
onde os religiosos e, especialmente, os jesuítas estabeleceram os seus mais só-
lidos pontos de apoio a essa vigorosa expansão missionária, foi nas escolas e
cot~gios que fundaram e com que, no Brasil, durante c.êrca de três séculos,
a história da cultura se ligou intimamente à hlst6ria das missões. A igreja

4 N• n d tftjue■c do,, tocüos, os jcsulbu dcnim quo Ih permitiu


levar m i lon&c do qu q114ilqu..- outros mis,ianAdaJ • lllZ de 1010 aprender •
U"l'I• tapi-cua,ani q dominar 'm cmno pt>U<:m,e 11a5 mcnillCM bnncm e
• '"c::,,d qaa.l ■ prender e UJ\&U'I o portU&Ubc:I, • brt·
m e,,pHt0s, t= de:scuidn do,, aduJt reino da crw,çu,
atrair czunça. Dão bá como cri,u,ç 6rf de Lº boa
oquada erpe,!içãodejesultu. e.«am. -o oot h1fll[rlna SKliFIV LCJTB," agentes
fndias do Srnil". Souberam traMi • •trai-los
atividatle ap:,a:t6lica, notlrnl • ett de
e-ou: que um dáes ío.i te.- """"tuado o 011e,
doo lndinos oo. fra • • c:oau, jt II OKÚIIS
de t,,,d.o em tua- doa lndt artlrt«S e ~--m. cnquaotn qw, V11m,
do fa de lhes ter sid'> ~" e • pc•.
o dendo pn,pé,oitu de defesa dos (ndio., CIIU em Vllftde•
m arpniz:adas q= íôs=,- e os Ald :u,~ de red~s
m- p<qo.eo ciJàde., prõ.per e traaq -, • pra .,.1a.:1ioa,
çilll, dlí"...ullJlodo, ~b virioo aspectos, • u n.i o ruaYI a a d~çãa. além
m vcrdodtiroa quiitos ltni=! ece:ulturaia na mdec!ad~ oulal, d que vlvlui ap,vtad •~b • ju•
riadl~ do, Je ui . Abandonand~, pcl11 a~o dDil rni oniri . a cultura de qll provinham, 11l0 cb~vam
011 lndlM a locorp ar- ■ uma nova sitwie;io, olio idet1I, 1Da1 real, ficando ■ ro o c:aminho de, d,alt tlp;:)t ou ,....
tllCI de cultw-a, de lllvcla e upoetos e>;tremament,: div,.,,__
INSTITUIÇÕES E CRENÇAS RELIGIOSAS 131

e a escola aparecem, na vida colonial, tão irmanadas que não hã aldeia de


mdios nem. vila ou cidade, no raio de ação missionária, cm que, ao lado do
templo católico, - igreja, ermida ou capela -, não se encontre ao menos a
esçol.a de ler e escrever para meninos. A princípio, o ensino elementar e, depois,
o de humanidad , no colégios do Rio de Janeiro e de Pernambuco, e no da
Bahia no qual, reorganizado em 1557, jâ se ministrava ensino superior, con-
feriam as láureas de m trc cm artes, em 1578, e, nesse curso de artes (filosofia),
já se haviam matriculado em 1598 quarenta estudantes. Enquanto se esta-
belecia o colégio da Bahia, escreve SERAFIM LEITE, e ainda por inicia •va ,dos
jesuítas, "fundavam-se outro simultânea ou sucessivamente nas principais
povoações portuguêsas do Brasil, que, durante o século XVI, não eve outro
~trea".
2 nessea col gios e nas casas de jesuítas que se instalaram as primeiras
bibliotecas do pais e, por um largo período, os únicos focos de irradiação de
éUltw-a.,no litoral e no planalto. É nêles que se educaram, ainda no :dculo
XVI, entre outros, BENTO TEIXEIRA, autor da Prosopopéia, Frei VICENTE
DESALVADOR, a que se deve a primeira história do Brasil, e JERÔNIMO ALBU-
QUERQUE MARANHÃO; no século XVII, ANTÔNIO VIEIRA, Euslfe10 e GREGÓRIO
DE ~TOS, e a seguir, até o século XVIII, em que foram alunos de j u1tas o
poetJ SANTA RITA DURÃO, BASÚ.IO DA GAMA e ALVARENGA PEIXOTO, "todos
ou quase todo , diz o BAR.lo DO Rio BRANco, os que no Brasil colonial tiveram
algum nome na letras, nas ciências. nas artes e na política". N essé-
culos que abrange o regime colonial, o ensino, abandonado inteiramente ao
clero, esteve cargo exclusivo dos jesuítas, no primeiro de nossa formação, e
pasaou a ser dado, nos seguintes, sobretudo pelos religiosos da Co panhla e
pelos beneditino • capuchioho , carmelitas, e de um modo geral por sacerdotes,
w~\llarc::sou seculares, em s us colégios, conventos e seminários. "Pioneiros
de nossa civilização, escreve VtLHENA DE MoRAISa respeito dos j uí , ao
mesmo tempo que se d ·cavam ao ministêrio espiritual ... não esqueciam
como filhos que eram de Sto. INÁCIO DE Loro.LAo cultivo das ciências e das
letras. :tlcs, com efeito, os que criaram e quase exclusivamente mantiveram
por duzentos anos o ensino público, entre nós: êles, os que deram à po i , à
crenica, à história, filosofia, à eloqüência os seus mais antigos representantes,
num pais ainda imerso nas trevas da barbaria; êles, os único que estudaram o
idioma dos selvagens. . . êles, finalmente, os que tiveram a glória de presidir
à forma~ão intelectual doa nossos mais notáveis escritores dos séculos XVII
e XVIII'. Pode-se, pois, dizer, sem nenhuma ênfase, que a cultura no Brasil,
elaborada pela Igreja, ao longo de nossa história colonial, foi tributária da
religião. Certamente porque lhe faltava ambiente apropriado, não logrou
desenvolver-te, senão dentro de certos limites. mesmo entre os eclesitisticos,
- os homens mais ilustrado do tempo cujos conhecimentos -não passavam do
latim e da teologia-, e continuava a ser tão rara que o indivíduo, cnhor do
conhecimento do latim e do francês, "era olhado, diz A.RMITAGE, como um
iênio t o transcendente que de grandes di tân.cias vinham pessoas consultá-lo .
Mu, ainda que dominada pela influência predominante ou qu exclu.siva
da religião e orientada sobretudo para a formação profissional de sacerdote
es,a cultura, de feiçao literária e escolástica, era até certo ponto desinteressado,
aem preocupaçõea utilitária , e se caracterizava pela sua unidade orgânica,
ligada como tava, a uma determinada concepção de vida dominante por
essa época na Metrópole e no seu único centro universitãrio. 6

6 mo ..,. de 1:11 ar aidbor rnuluido iatd.ectu&I 1111Col4nia, quamlo, D& capital d• me_tr6po1 L •boa,
en 11norbcla no .&:ulo XVI, e 116mcatcdwu pe:poas. ao que .t'11m• R. OLJV&IAII,
l{Cfal e prol'UDdll • OC\lp&v 1D
em en&ÍD# lcitur• .. mmlAu. NO!I ~CúlOI xvu e XVJfl a à~°" .Metrópole,. e....UJ)«,to alo IDodl•
132 A CULTURA BRASILEIRA

A im, com todos os seus defeitos, que eram os do ensino da ~. exc -


ivamente li erârio, abstrato e dogmático essa cultura, se é certo que criou
uma elite artificia!, superpos a à massa ignorante dos colonos, eve a vantagem
de operar, ainda que por cima, pelo seu caráter uniforme, uma a: similaçao
mais profunda do brasileíros, do norte e do sul, do litoraJ e do planalto. Os
alunos de colégios de padres foram, como já ob ervou GILB RTO FREYRE, 'wna
vez formados, elementos de urbanização e de universalização, num meio influ-
enciado poderosamente pelos autocratas das casas gTandes no sentido da
tagnação rural e da extrema diferenciação regional. Na modas de trajar,
nos tilo de vida, êles representaram aquela tendência para o pr domínio do
espírito europeu e de cidade sôbre o agreste ou turbulentamen e rural, encar-
nado mui a v zes pelos seus próprios pais ou avós". A cidade contrapunha-se
o en enho; e e é verdade que o senhor de engenho, - senhor quase feudal -,
tendo o governo de sua propriedade e a polícia de sua. r gião, era o dono de
seu latifúndjo, de seus escravos e de sua capela, a religião montava guarda à
familia patriarcal com seus capelães e tios-padres, cuja itúlu ncia moral e cul-
tural se estend u por todas as casas grandes. ~sses sacerdotes, geralmente
do clero secular, não exerciam apenas a função de capelães; eram os assistentes,
o conselbefros e, muita. vêzes, os primeiros mestres dos filhos de famílias abas-
tadas que dai se encaminhavam depois à Europa par estudos superiores. "O
número de homens ilustres da época colonial e dos primeiros anos do Império,
que receberam sua educação primária e secundária nos colégios de padres,
sobr uja. e aeve GILBER.TO FR.EYRE, o dos educados em casa, com capelães
e tios~padres. Capelães e tios-padres que, subordinad mais ao pater-famílias
que à Igreja não deixavam, entretanto de representar, sob a efüa vã do ca-
aarões patriarcais alguma coisa de sutilmente urbano, ecl iãstico e universal,
- a Igreja, o latim, os clássicos e a Europa, o sentido de outra vida, além da
dominada pelo olhar dos senhores, do alto da casa grandes". Mas os
capelães da casas grandes, sôbre assistirem à familia patriarcal, d tinavam-se
ainda a cristianizar as senzalas e a secundar os s nhor na poHtica de assimi-
lação dos escravo : como os missionários, com suas escolas e igr jas, nas aldeias
do gen ·o, os cap lães, com suas capelas, junto às senzalas, consti afwn portos
svançad s no litoral e no sertão, não só para a p netração do vangelho, mas
ainda para manterem a unidade da religião e resguardarem a religiosidade
dos colonos do feiticismo indígena e do animi~mo africano de que se vinham
inquinando as cr nças e doutrinas católicas.
A religiosidad dos colonos, ameaçada, na cidade e no planalto, pelo ma-
terialismo do judeu, estava, de fato,. em virtude do contato com dua cul-
turas diferentes, a dos negros e a dos índios, tanto mais exposta a e sa iofil-
aç quanto mais se aprofundava a comunicação com o doi grupos 'tnicos
e culturai e maior a ignorância da massa que facilitav os as altos de todo o
mi tici mo primitivo. A religião, pondera ainda GJLBERTO YRE, "tornou-se
o pon o de encontro e de confraternização entre as duas culturas, do enbor
e a do negro, e nunca uma intran...•,p<mívele dura barreira". Era a política
de adap ação e transigência que lhe convinha ado ar e a lgrej efetivamente
adotou, para cri tianizar índios e escravos; mas a assimilação gradual e rogres-

f1can nln>mtc, • 6 o l.uloues n'E Po:r,m.u,, " ~ enonne p,x t'Odo o p,11, •
d • cm m"loto monop6h.> do ensino. A 6Dica univa-sidJlde que íunclacav
ele bra. fundada cm I em Lúbo& e transferid.a em 1537 ~ Coimbr -, atava
Outncla dln .:lo dr:ro e, r,,,nú:ularmenu, d Co.np:anhi2 de Jenu que dda apoderou ein ISSS, e e "" ·nii..
DOIItc:WIC\lnOIIacallbado, e llvis , de apostilas, gI .u e com-:n • , •a • um •~tlbo de e tctilluçAo inental
do q um (ator de pr ,)l:Jctt~ it1tde.t1lll e c:i=a.:.!Uc:i.
0 OtLDIUIT0 Fit YU, Sobredot ~ Moeam~. rural Jo Bruil,
Dccadmi::i• do 1)21:rlOJ'l:Alla . lOO.
S e Brullwua, YOI. S4, Comp. Edlt«. Nacionw~ S. P-.nJo, 193~.
rNSTITUIÇÕES E CRENÇAS RELIGIOSAS 133

siva dêstes na massa dos colonos, não se podia fazer sem o risco de expor as
crenças cat6lica.s e torná-las permeáveis às culturas, - crenças ritos e supers-
tições -, indfgen.as e africanas. A religiosidade cristã que, herdade de Por-
tugal, ae contaminava de tõdas essas impurezas afro-tndias, sobretudo n s ca-
madas inferiores d sociedade colonial, atingia sua fase aguda nos s~culos XVII
e XVIII, cm que a vida religiosa, de wn lado, e a paixão genésica e a dissolução
de costumes, de outro, chegaram, na observação de PEDRO CALMO , "a ameaçar
de extinção a raça branca na colônia infestada de africanos". Ninguém anda
sem rosário na mão e t rço ao pescoço; todos são pontuais a se ajoelharem
pelas rua , ao toque do Angelus, e no palácio governamental da Batúa, no
testemunho de LA BARBtNNAJS, se rezava pelos cantos ... 7 Enquanto o pri-
meiro filho, nas famflias patriarcais, sucedia ao senhor de engenho, pela lei
que dava ao primog, nito a suces ão integral, e o segundo ia estudar na Europa,
o terceiro entrava para a igreja, professando aos quinze anos. "A vocação
viria depois, com o bê.bito, o cercilho e o voto". As moças ricas, em uma socie-
dade em que o número de homens foi sempre superior ao de mulheres, iam
professar em Portugal e, depois, nos conventos brasileiros, chegando a tal ponto
a evasão para os claustros que apenas fundado em 1669 o convento de Santa
Clara na Bahia, desceu a cinco na capital do Brasil, naquele ano, o número de
casamentos ... Multiplicavam-se por tõda parte os templos religiosos e, desde
o século XVII, o Brasil jâ é o pais das igrejas e dos convento!', 8 e era vcrda-
deiràmente extraordinário o encanto que c,x:ercemas igrejas sõbre a multidão.
Jgumas como a igrc"a do Convento do Carmo, na Bahia, as de Vila Rica e
Mariana no século XVIII e as do Rio de Janeiro, tomaram-se c~lcbre pela
lidcz tranqüila de sua construção, pela harmonia de ruas linha arquitetô-
nicas, pela beleza de seu interior, de suas balaustradas e de suas abóbadas,
de seus altares e de us púlpi os, de suas capelas e sacristias, e pelas preciosi-
dades e objetos de arte em que não seria possfvel deter os olho em ouvir,
pela riqueza de uas lembranças hist6ricas, uma voz do passado.
A religião católica, penetrada de misticismo, já aprofundara como uma
ârvore frondosa, as suas rafze na terra e, abrigando a sociedade colonial com
sua vasta ombra, fazia dissolver, na unidade da fé, as diferença regionais,
&Ociaise culturais, do povo brasileiro em formação. Fôrça ativa, de combate,
e reduto de resistancia, ela serviu também de dique à invasão de franceses e,
depois, à de holandeses, para cuja expulsão a palavra dos pregadores, nos púl-
pitos, 11~,associou à ação guerreira dos próprios conventos, misturando-se, como

7 LA BAJtJll!flfAJ, Nouv au Vor11te, UT, 206.


8 N■ lgrt.1' do Cvmo, da Bahla, er1111e•seaioda. om meio de. nu riqve , • aq11e:rd• d• e11 1 do n•
Uqimo, o ■nll~o pdlvlto da tn■drir• cm qu pr ou Frei ~SÍBTO DA Sot.m>llDS. c:,armi,II , lnnllo (le G ■ ao6■ 10
II■ d A T 11' V1 IIVo, de q"""' i • tido C'1> seu temo!> com? ri
AflNI di,t:11111l0 tre
outra pn,cica!d qu • tortllllll um• du nnis rins d:, Br:uil, COtl~ e,n 111:<
-..i_ altar d talha dO\ll'edO jac.,.ndá, t..lbad~ m •
dftoro do S..nto Crul.o do ; o sacr6cri? da &,,cs cb, h .
pâ!) rico Ylll lluo, e Por ta' ofttta do ddentllr da Ilha. de ItaO!lri i ;
e tr& IIPll~IMI, -tlldoe com • .,_ ,.e-i1d" Pcrtupl a q
por D. OÃO do pal&do. (COffA R.too, ;n "C>ndo S
d j <>de 1940\. A • de S. F'raodsco de A • obm pnms de Amamo o Al:1,Jadlnbo.
e a de N- f>rttn. e a de São d lld II o
0

de,,araeão, o esolendor do oe~ t■ III


.doa que dcimu. t1111J"avílbu
aa de Criam, lo. no ntuhi!> d:. S"'1hor do B
..,.. "' uh . Aa ._ i!tN:j .. que ..,...
RilmllmA " do bllrroo:o eo !mlbienbe do
q11e bi cm cnuitas _.,.. A ic;rej de .
ClllllStnJda lel' do R<ldri?, mi Qlll! pr-edami-.., lillhu
monume11l.,. " rellci:>u col:,oi.J. tã, rica no Ri., de Jand , e,
em R fe e :,u l;rti• do M:,stciro de S. F~n:bco, t'ffl li ,ela
dA Oraça, q e r • an p que a da Aj'11b, rol a prim!ira e a,1,cop.t. (V. Gu/• da
Ouro Prlto. Sl:rvl rt6rico e Arwtko, 1939; SUdo D& V CELOI, Mariana • Nu•
taa,plo , 1938).
34 A CULTURA BRASJLE RA

na igreja do Carmo da Bahia, "o cheiro do incen o nas ccrimõnias religiosas


ao da pólvora que aq1iêle convento vomitara nas lutas contra o domínio ho-
land&I''. Era do púlpito que trovejava a cloqü@nciaincomparâvel do Pe. A •
TÕN10 VIEIRA, pela liberdade dos índios contra os colonos escravistas, no Pará
e Maranhão, como cm defesa do solo e da fé, na Bahia, cm 1640 em eu célebre
sermão pc1o bom sucesso das armas de Portugal contra a da Holanda, expulsas
dn Bahia e concentradas em Pernambuco. Era da tri una, sagrada peles
ins{gnias acerdotais e cobertas pelas imunidades da I cja, que tantas vêzes
explodiu a reação, cultivada em conventos e seminários, como no de Olinda,
"verdadeiro ninho de liberais e revolucionãrios , contra a pr potência insolente
dos senhor , a usurpações do poder público e as arremetidas invasoras do
estrangeiro. Foi também pela pregac;ão, nos púlpitos, como pelo ensino nos
colEgios, que se tornou mais forte, através de gerações, o vínculo de unidade
nacional estabelecido pela unidade de lingua, divulgando- e, pelos que a fa-
lavam com mais pureza, - os eclesiásticos -, o gõsto e o interesse pelos es-
tudos de Ungua vernácula. A formação dos acerdotes, a que já se destinava,
na Bahia, desde os fins do século >.."VI,a primeira casa, para jesuítas, de ensino
upCTior,con tituído das três faculdades de Teologia Dogmática, de Teologia
Moral e de Artes (Filosofia), ministrava-se, de fato, com vigilante cuidado,
não só na Companhia e nos conventos da principai ordens religiosas como,
entre outros, nos seminários de São Pedro e de São José, criado no Rio, nos
princlpios do século XVIII, no de Mariana (Mina ), que data de 1750, e no
de Olinda, fundado em 1800 pelo bispo AzEREDO CouTr o no antigo colégio
de jesuítas. Era nesses cursos prepostos à preparação para o sacerdócio, do
clero regular ou secular, que se formavam os futuros educadores da mocidade
que e odos clérigos; e, como dos jovens que entravam nos conventos, muitos
aJTepiavarn carreira, já com estudos feitos ou por cond ir, 1º a maior parte
de n0830S le ados se recrutavam entre os alunos de colêgios de padres e os
egressos dos conventos e dos seminários. ão fi a contribui o já impor-
an.te, d ea institutos e das congregaçoes religiosas e, com a expulsão dos
jesuítas, determinada em 1759 pelo MARQuts DE POMBAL se teria desmantc-
tclado completamente o sistema pedagógico e cultural da colônia, - obra
em grande parte dos jesuíta~ que, transportados, como presos para Portugal,
tiveram não s6 confiscados os seus bens, ma destruf dos odos O!' seus livros
manuscritos, "valiosíssimos tesouros de rara erudição". 11
Mas, se os jcsuftas, apóstolos e mestres, conquistaram lugar indisputável
na evangelização dos índios e-na educação da mocidade, contribuindo mais do
que todos para a formação intelectual do Brasil na Colônia, religiosos de outras
orden preparavam-se, no silêncio dos claustros, para as atividades do ensino
e, jâ nos fins do século XVIII, para as pesquisas no domfnio das ciências na-
turais. a botânica, a figura mais eminente do sêculo XVIII 6 Frei MARIANO
DA Co CElÇÃO VELOSO, da ordem dos capuchos, autor d Flora F'luminense
e aiador de 66 gêneros e 400 espécies de plantas pertenc ntcs à flora brasileira;

9 "Cauqut,u. etcrcveu o Cm,m: im L&:tT, entrou ( lllA) pd ■or , -na.


tando pAB • ~e inal~ ttib.,s do gcnw, bn,I de - be.-
rano. e pi,>pO. m , e angari<P-1rccanos pano • . o o o1lrtc do
& I· prcpdor, 'sm,o m,w distinto>, e o. finur. d o, 1Ubi11ti':o
ada OC'Qbua, oe 1 e aprmi,noa; prosador . • e va:n~.
o ri- c..u«a.n o lbko p:,rtug,~e.·•. (CA.m. crtnda feira
un 22 de l:IWllo c}c l.POl oo Cfn:<llo Ca ,:oi.
10 eo.i-o. (HDltY, Vara~~ <bns la partia • n 1-d ,,u; 1809 j&Hqu'cn
JBIS-, • 1, 59. Tnod.uita de l'anglou p« M. A. TAT. P b ~. lflll.
11 "A c,,puJ o doe jeowtae, e:«:ftVC Eou.ua:,o ~. t pon, o hn ·o llltnrnarino ~ outro
Alue ,-ICJblr. cocno o do " XVI PIIT" o rei.ao luait;ano, Com a e o doe ta.o oo écu.lo P" do,
a civlll.a o reco de lqw,a do centro do i,onlinéAle afri~ano e d.o uU. À:! Pfflll'"'T'l•
c:c:otCDB.1 ?OV.,.
do Paran6 e do lo Ora:odf calram em ~ os lndios volven.tn l vida ,.i..,a;em: u ldelu do Ama.zona■ dm-
povouam- e, atf. hoje. r um a aofld.ii.oe o deserto, onde b.avl1 Jli aod.bil dadc bum&111"".
INSTITUIÇÕES E CRENÇAS RELIGIOSAS 135

e cujos manuscrit foram encontrados em 1825 por ANTONIODE ARRABIDA·


recolheram-lhe a herança, na sua especialidade, Frei LEANDRO DO SACRAMENTO,
carmclitayernambucano que percorreu quase todo o Brasil, durante seia ano,,
deixou emitas 23 obras e deu organização científica ao Jardim Bo ânico, e
mais tarde ALVES ERRÃO, mais conhecido _por Frei CuSTÓDlO, também car•
mclita, que "apesar da escassez de recw"SO§,escreve ARTuR N&TVA, realizou
trabalhos considcrãveis no curto prazo de sua direção do Jardim Botânico".
·g ainda da ord"m do carmelita e dos f'ran.ciscanosque salram, para honrarem
o sólio episcopal, algumas das mais ilustres íiguras da Igreja brasileira: e, depois
do jesuíta A TÕmo VratRA, no século XVII, a tribuna sagrada s6 readquiriu
novo brilho, no s6culo XIX, com os três grandes franciscanos, todos pre adores
de nome, SÃ.o CARLOS, JESUS SAMPA10 e MoN'l'' ALVERNE, que ascenderam
ao púlpito da. capela real no tempo de D. JoÃo VI e dominaram, com sua elo-
qO@ncia,meio s6culo da vid·a religiosa atê o princípio do 2.0 Impêrio, quando
pela Ílltima vez depois de 18 anos de silêncio, se fêz ouvir a convite do impe-
rador PEDRO II a palavra de MoNT' ALVERNE, em famoso sermão. Nas re•
fregas poHticas morre, em Recife, ''espingardeado junto à fõrca, por não haver
r u que se prestasse a garroteá-lo, o patriota Frei JOAQUIM DO AMoR DIVIJlfo
CANECA,r~ublicano de 1817 e a figura ma-is representativa da Confederação
do "Equador". 12 Revendo essas sombras veneT"adas,o Pe. ROMAe Frei CA-
NECA,na ublimidade de seu sacrifício, o Pe. JosÉ MAR1ABRAYNER,na epopéia
de Pirajâ, o Pe. MioUELINHO e outros, punha-se CosTA Rtoo a pensar, e não
sem razão, cm vi ita ao convento do Carmo, na Bahia, "na utilidade de reins-
talar o cspí.ri o do carmelita no Brasil. Porque, escreve ~e. estamos de gra-
çadamente esquecidos das profundas lições com que o carmelita nos ensinou
a ser fortes e ao mesmo tempo brasileiros '. 13 É que a ordem dos carmelitas
no Brasil, a que chegou a primeira leva de religiosos portugu!sea, na armada
de FRUTUOSO BABBOSA, oi enta anos depois de sua descoberta se ligara à his-
tória de nossas luta p a liberdade, com a bravura e o sacrifício de alguns de
seus filhos.
A difusão das ordens monacais. de tipo carmelita, beneditino e franciscano,
entradas no Brasil desde 1580, foi rãpida em todo o litoral, especialmente no
Rio de Janeiro, na Bahia. e em Pernambuco. Nenhum obstáculo entravou o
desenvolvimento dessa coletividade, - igreja, mosteiro. A crise religiosa
desencadeada por atos do govêmo de MAURicro DE NASSAú (1637-Hi44) que
baniu, os frades de Pernambuco e proibiu a constnlção de no'Vas igrejas, não
se cst!eJ:)dcupor empo bas ante nem se processou com bastante intensidade
para impedir a restauração material e espiritual das ordens monásticas. Os
bens afluíam, dilatando-se e enriquecendo-se o patrimônio dos mosteiros, alguns
dos quais chegaram a possuir grandes propriedades, fazendas, prédios e es-
cravos e a viver, não já do apoio dos fiéis, mas dos rendimentos dos seus bens
patrimoniais. 1' Espalhando as artes úteis, incentivando o progresso das letras,
organizando bibliotecas e arquivos e cultivando o solo, os mo teiros a que

U ln~~ o;iu I no moGummto lo undo por miãativa do tituto Ri t6rico e O &lko de


~-. a 2 d.e Julho de 1g11, leso daa Cinco PODtu cm Reem; ,em qae calu fuzilado o írade
~
13 Coff.A RIX!o, ln "~ da at1hli", Rio~ Jaaéro, lS de junho de U40.
1' O pr{ncipe dt: WRD Niruwra,, ""' YUl&alli>do :S...sil, entre uns c 11117, b
dar..., em am d m d• ordem o Bento, IUI vila de São Salvadar, per,:o de Cebo P'riQ. tuado
plamciea d .. Oüc:.cu , .,.., prorimidad do Rio de Jam:in>, a cuja abaaia ~. hM to que nl,o f
d me1, Impor o~ d ordem d .. bmc<litino,, • posaui t=u e bcM vaJiosa,,". "0 lffdo 6 (contlM>
o il natunlli ta 11 mlol; ~ uma bonita ~•• doio pltios e um p,equaoo jard lnti:rno, eom cant
c,cn:adot de o«lru c pl at.doe de balnmi , tub<-r'osu. Clle. Num doa pltiaa iota,, 111 crcucm, altm coqudr
~oe d ínúol- O coavcn tem cit1qDc:nt:au:nvo. instalado, em d,_ perto de om• prec- ampla,
,:m c,tj11meio e levanta, do estai, um raode cnuclro, Al&n disao h6 om rr-me eu cubo de ~c:ar e 11111ltu
ben.íellurlu. ri.co couvent'O .-aul bmb6m multo, ea:valos e bob e v:irim c:un-w e rau .. ou c:ercanlat.
Recebe meamo dirlma.l d •cGcar de dlvena1 pr<>priedldes du vfz:inhaa,çao". ~!MO, Prlod~ de WLU
136 A CULTURA BRASILEIRA

qu e empre se associava a escalá, exerceram um papel altamente moralizador


e civilizador, desde a Colooia e por todo o Império. Na antiga cidade de São
Paulo erguida à sombra do c.olêgio dos j uítas, eu n6cleo inicial, o triângu o
formado pelos secular mosteiros de São Bento, do Carmo e de São Francisco,
em cuja salas abertas para o pátio claustral funciona desde 1827 a Faculdade
de Direito, repr enta como num sim.bolo o domínio da vida reli ·osa e a in-
fluencia preponderan e que exerciam os estabelecimen os monásticos na his-
t6ria dos tempos coloniais. No século XIX ou a.s congregações religiosas
vieram unir-se a essas ordens monásticas, jâ ricas de tradiçõ , e os lazaristas
e dominicanos, entre outros, entravam em atividade, ao lado dos que enver-
gavam a roupeta da companhia, cingiam o burel e o cordão do pobre de Assis
ou lTBziam a cogula de São Bento. 15 Os lazaristas, ê es fundam em 1821.
com 14 alunos, nas montanhas, em Minas Gerais, o solitério colégio do Ca-
raça, em que, durante quase meio século da vida nacional, se ministrava um
ensino marcado, como o dos jesuitas, pelas mesmas preocupações dos estudos
de re 6rica e de latim, e que se tornou, pela severidade de ua disciplina e pelo
rigor do re •me de trabalho, corno escreve GILBERTO FREYRE, "alguma coisa
de inistro na paisagem social brasileira dos primeiros tempos do Império,
arrebatando os meninos aos engenhos ... às fazendas sertanejas de criar; às
casas de sítios, aos sobrados da cidaden. A religião con ·nua um elemento vital
da sociedade; estabelece-se uma troca permanente entre a Igreja e o século;
surgem batinas liberais e revolucionárias na revolução de 17, cm que aparecem
32 representantes do c ero, e em outros cpis6dios, tão expre ivos da comunhão,
~ que se entremeavam a sociedade política e a soci ade reli ·asa· os monges
ornam bispos, e os bispos e padres, políticos; e o dois clero os regulares
o diocesano, que foram os principais fatôres da vida intelectual do país, com
essa interpenetração do religioso e do profano, participam ativamente de tôdas
a manifestações da vida política e social.
:!ssc amálgama do religioso e do profano, fa.vorecido tanto pelo regime
de economia patriarcal e pela penetra&ão dos inter es temporai nos con-
ventos, em conseqüência de sua riqueza imobiliâria, quanto pelo predomínio
do elemento clerical nas elites sociais do pais, devia acentuar-se ainda mais
com a interferência de uma nova instituição e com a união da Igreja e do Es-
tado, d sde o primeiro Império. lt, de fato, com o d senvolvimento da ma-
çonaria que se misturaram mais intensamente e Igreja e o século, e se fermentou
a crise de que resultou o maior conflito, em no a hist6ria, entre o religioso e
o pol{tico. A franco-maçonaria, iniciada, sob o seu aspecto moderno, em 1717,

Nlt ta.D, Vl ,dc,m


■ notada
"ºv.,r8r11:11'/. Trrul. di:: "&Do R ~D
Ouvtiuo Puno, p{jg. 96. s!.;e Br
t>Ol(i;tl.
(&n
e 1"1..lv(o POP1" D FlPlTfiJUDO.
rorra to), vol. 1, C mp. Editnra
. Paulo. 1910}.
U 0a m beneditino. qae vieram estabcl=-
ro na ail)it;ntlit d S3o Viceott, Uad.11.,
n, eua primcirno; mostrime,. A lloti ,
DZ Po~ no .o6::ulo xvm. ~o do
D11:GotJVnA. on:r<'DCDU um.,; gr■ Bento.
e a-oa. Tõdas a, o, cce11m-e>
c,n, que ct,.ogaram os pa:lns o Co!Eci<1
~ da pru,mcia T<>'.J «d m
primeiro9 índes prq~ bs,
em q iuqa. de São DomitJ ., "
dir\clr&m 891, • fim de se dedicarecn, Cooali;lo O,
anos, vfodos do Uru1tlP,i. ■ eo<tritie do bilpo D. PEDRO MA de
bcleealll!l•llé primeira em N:i~ onde fuadar&m, no jo de
e lo;o • ""'1Jir, cm ISBS. em Sãn Paul<>,onde""""""' o L e e o Cant~o
no Rio d Jancko qui, .., f"L~. mas j' BHt.l! lé!culo, mi Cnraçã.o
dc:su dd-.!e, -l'OD de partida de ,wi ■ tiYi ede rninlon6 . con,tru(Nlm lgrd■ do Ser,
•le plll'■ o Paula e outro, Estados da Fedcrat,So.
INSTITUIÇÕES E CRENÇAS REL!,GIOSAS 137

em Londres difundiu-se pelo mundo, atingindo a França, em 1725, e mais tarde


Portugal, onde te fundava cm 1735 a primeira loja ma_çônicae donde irra-
diou para o Brasil pelos fins do século XVIII e prindpios do seguinte. Jâ
pelas suas origens obscuras, que se presumia remontarem a HlluM arquiteto
do tempo de SALO o, às misteriosas iniciações da antiga Ordem do Templo
ou ~ da s corporações operârias que construíram as catedrais góticas; já pelo
pr g:io de que a armaram o seu carâter de segredo, o culto das solenidades
o mistério de su.as fórmulas e a suntuos.idade de suas hierarquias; jâ pelo seus
fins .morais e pollticos, a associação, nacional e internacional, de bomen
que professam princlpios de fraternidade e se reconhecem entre si por emblemas
(a esquadria, o compasso e o avental), não tardou a vigorar e a ramificar-se
pelo Brasil, infiltrando-se por tôdas as camadas e classes sociais. Instituição
social e humanitária, preposta a servir ao bem estar da humanidade e ao pro-
gresso social, ainda que condenada por vârios papas desde CLEMENTE XII,
em 1738, até LEÃO XIII, cm 1884, atraiu católicos e não pequeno nõmero de
altos representantes do clero regular e secular, por se mostrar indiferente a
que seus afilhados fõss m dessa ou daquela religião. Essa atitude de tolerância
religiosa e os objetivos poltticos que visavani os clubes maçônicos, fundados
para lutarem pela independ!ncia do Brasil, pela demolição da monarquia e
por ideais republicanos, permitiram à franco-maçonaria 16 conquistar para
suas sociedade s eretas ao !ado de civis e militares, eclesiásticos e frades, entre
os mais ilustres, de divcr as ordens monãsticas. Alistaram-se nas lojas maçô-
nicas, militando debaixo de um e de outro Oriente, figuras pr eminen do
clero diocesano e do cleros regulares, como o Cônego JANUÁRIO DA C'CJNHA
BilBoSA, DO período da lndepend~cia. o Pe. DIOGOANTÕN10FEIJÓ, o CONDE
DE IRA.JÁ,bispo do Rio de Janeiro, sagrador e coroador de PEDRO II, Frei SANTA
TERESA DE JESUS SAMPAIO e Frei MoNT'ALVERNE,frades franciscanos. e os
maiores orador sacros dos tempos do Império, todos grau 33, na associações
de pedreiro livres. Não havia loja maçônica em que não figurassem, irmanadas
aos civis pelo mesmo ideais poUticos, e participando de eus ritos e de suas
atividades, algumas batinas liberais.
A união da Igreja e do Estado, ao ser estabelecida peta constituição de
1824, já estava por assim dizer consagrada pela tradição. A religião católica
era, de fato, a religião oficial. No país colonizado e civilizado à som~ra da

18 Ao contr6rlo do que l)l!n~ A. J. M&LO MOltAJI (ffí5t6.ri,. dos,,. ;r R .. inoo, do s,,,s// Tmpi,do. t, S),
que fH remootar II ris no Brt1•il à ~ de. êo'>jura·ção Mloeíra 1178 178!1),• prlm.dro lo.!•
ma~6nlc.i pucc omc:,de AJ'eópa(tode Itam~ foi fundad• em 1799 pcl arm •
Uta, AluluoA Tinha por objetivo priuci'l)!ll in,titulr um ovem n o
durou IDJlü • ~ qu in,tal r•m em São Salvador, e.m1807, 18
o, Or nd , como o, deau loja,, canram em r o de
na! 800 cria ... em.a loj,. no RI e Jfto<:I •
em Pera tr~ lojas ílllldada , uma cm i~, nn 1812, e duu ouO'••
no Rio, BMKII,q= se constituiu ,.r,...i o Grande Oriente do Bra,11,
i 'edlldes ~ de que {ulam •
lldl Cl'll1D ac,iio pre;>:>rl<len.11.b:08
o.i. que, entre n6e. .tcan,
um , ~m~tre da ~ffia. de,d
be ...Se ÔIYate Nacio;mt Brw ·'°-
e.te o aob o o= primâro ,u-
de wn~ ...,,,. dsilo no Grande •
de J!lllffl'O. de um outro, o Orand
pd., imtituiçila CODê:&:>eres d•
882, P'Wffl>, cdebrou.«, por um CGIIYffl
Orl do m o, o nub antigo e, ~te, o m • pod •
cna~:ru. cem -ocwos Gnmdes Oricotes, em 1
• mab de cineo IIJlOI; o 'de ~ Palllo e o do Rlo ra
od • o d B.sbhL Al!tn do, servi~ rdenn.t q •
do pelo pab, teve o,rrt., atjv• na pr~ d aboUçlo e d 1•
ca-. Rm f , perdenm •• IQju ma~niea,, alr>da e:ti~tcnm o car6ttt 11·
tlco primltivCIII,íoadlmUl!So como auoc:t.~ rtlantrbpicaa cm hu:manlt:Ariu. num árc:u.lo cada vea ratrlto
de lnflueneúl e de ■ çlo.
13 A CUL'I'URA BRASILEIRA

Cruz a sua vida, não s6 religiosa, mas moral e intelectual, e ainda política,
durante cb'ca de três séculos, se desenvolveu em grande parte senão por ini-
ciativa, ao menos com a participação constante do clero. A Igreja desempenha.
na cidade um papel de primeira ordem· e o culto, entretido sob suas abóbadas,
cm suntuosas cerimônias e solenidades as procissões o espalham nas ruas, com
a magnifi eia de seus cortejos, entre as multidões ajoelhadas à passagem
do Santí •mo, sob o pálio augusto sustentado por sacerdotes. As mis,ões
apostólicas e as vi itas pastorais alargam cada vez mais as fronteiras religiosas
dilatando e fortalecendo seus domínios atê as vila e os últimos rincões do sertão.
A posição social dos padres, nota RuGENDAS, nos prioclpios do século xrx.
"é um dos traços mais belos e característicos do espirita moral dos colonos do
Brasil: são conselheiros, amigos da família, consoladores protetor s dos opri-
midos, mediadores nas dissenções e inimizades". 17 É ainda a Igreja que pre-
side, pelo seu clero e especialmente pelas ordens religiosas, à formação da moci-
dade, nos conventos e nos co1égiosde padres. E oe,,de um modo geral, escreve
VIRIATO CORREIA, "talvez não haja outro pais que tenha como o Brasil a vida
tão estreitamente ligada às batinas e aos buréis", não há uma s6 das nossas
revoluções "que não tenha um padre ou um frade a bater-se pelo ideal da li-
berdade". 1 Os sacerdotes implicados na conjuração mineira· os que, em tão
grande número se incorporaram aos civis na r volução de 1817 ou que, con-
gregados ou não sob o rito maçônico tomaram parte na luta pela Indepen-
dência, guiam, nos movimentos políticos de nossa hist6r"a, a tradição na-
cional do catolicismo que, encorajando, pela energia dos jesuítas a reação de
EsrÁcro DE SÁ cortou as asas, no século XVI, ao sonho de uma França Antâr~
tica, e ajudou a sacudir o jugo batavo com os ex cito que em 1640 lutavam
a um tempo pela fê e pela integridade do território. Mas notável influ-
encia do clero de cajas fileiras ainda saíram, no s&:ulo XVIII, um ff foo do
valor do Pe. BARTOLOMEU DE GUSMÃO o descobridor do aero tato, e no alvo-
recer da nação, um botânico da autoridade de Frei CONCEIÇÃO VELO o, um
compositor como o Pe. JOSÉ MAURÍCIO e um poU •co do pulso de D1oc;o FEIJÓ,
atingira o eu ponto culminante na primeira me de do ulo XIX; grandes
pregadores, o Cônego JANUÁRIO DA CUNHA BARBOSA e o Pe. SOUSA CALDAS
entre os seculares, e Frei FRANc1sco DE SÃO CARLOS,Frei SANTA TERESA DE
JESUS SAMPAIO e Frei MoNT' ALVE"RNE, frades franciscanos, que acrescentaram
com sua eloqüência, um novo brilho à irradiação da Igreja e à autoridade in-
telectual do clero.
Se, porém, nessa irr.adiação em que hã muitos pontos opacos, nem tudo
são fulgores, na influência religiosa, benéfica e salutar a tantos respeitos; nem
tudo foi realmente útil à no~sa formação. A predominância, senão quase ex-
clusividade do }emento clerical, nessa obra civilizadora, e a ori ntação aca-
demica e livresca do ensino professado nos mosteiros eminários, comprome-
teram por largo tempo a cultura brasileira de que várias características, como
o p dor los estudos puramente literários e r tóricos e o gõsto pelo diploma
de bacharel, incutidos pelos jesuítas desde o s~o XVI, se pt'endem a essa
educaç;ão bi-sccular de tipo religioso. Tôdas as gerações que se sucederam,
n Col ia e no Império, acusam nas qualidades e nos defeitos d sua cultura.
" regime de domesticidade monacal", em que foram educadas. O predo-
mínio do padr e dos frades, nas elites culturair, não foi tam~m sem conse-
qüeocias prejudiciais à própria religião; solicitados, pel escassez de homens
cultos, e sob pressão de causas sociais e económicas, não tardaram os eclesiás-
ticos os letrados do tempo, - a transbordar de seu campo de ação natural

17 Jolo M,w1dc10 RoOBWDAI,Vi•,.,,,. pitores~a •tr••6 do Bra li, Livrar! M11ttl111,S, Paulo, 19-40,
li VtlnAto COl!lll&U. Batinu. lilu!raia. Arti&o 110 "Cornlo da nhl", Ri.o de JIUICiro, 19~0.
INSTITUIÇÕES R CRENÇAS RELIGIOSAS 139

para atividadea profanas, estranhas ao seu ministério. Assim, por um lado,


enfraquecendo o seu caráter nas lutas políticas, fora e dentro das lojas maç6-
oicas, fazendo-se rten1 dores de tal ou qual partido, acabam, também no
Brasil. por perder o seu prestígio, comprometer a autoridade da lgre.j e correr
ao encontro de perseguições. A política, por outro lado, favorecida pelo re-
gim de união da IgTeja e do Es.tado, tende a intrometer-se em assunto de
or espiritual, perturbando a harmonia entre os dois poderes e debilitando
o poder episcopal, cuja intervenção jâ se ·tornava cada vez menos eficaz Obre
a massa do sacerdotes e dos fiéis. Foi contra êsse estado de coisas que se
levantou a gTande voz do bispo de Olinda D. VITAL jovem frade capuchinho
secundada por D. ANTÔNIO MACEDO COSTA, bispo do Pará, quando a maço-
naria, em reprcsltlia à atitude do bispo do Rio de Janeiro, suspendendo de
ordens em 1872 um padre maçom, fêz apêlo a tõdas as lojas do Brasil para rom-
perem a ofensiva contra o episcopado. A autoridade cada vez maior da maço-•
naria a que se deixaram arrastar católicos e sacerdotes, e o rega11smo,- "pre-
eminência da autoridade civil aôbre a eclesiástica, contida em germe na cons-
tituição de 24". foram as causas do conflito religioso. Os bispos D. VITALe
D. MACEDO COSTA exortam os sacerdotes a abandonar os clubes maç~nicos;
e, tendo lançado um interdito às confrarias que se recusavam a eliminar oe
seus membros afiliados àquela seita, interpuseram as irmandades um recurso
à Coroa que levantou a interdição. A ordem do VISCONDE DO Rio BRANco,
p • eiro ministro do govêmo e grão-mestre da maçonaria negaram-se a obe-
decer os ilustres prelados da Igreja que, processados e presos, como funcionârios
rebeldes foram condenados e recolhidos à Fortaleza de São João e à Ilha das
Cobras.
Não era certamente a intolerância religiosa que inspirou a tenaz resist~cia
dos dois prelados, na questão epíscopo-maçônica, que anuncia, como um divisor
du âguas. o ponto culminante e crítico do regime de união da fgTeja e do Es-
tado e mais uma etapa da idéia, em marcha, da liberdade de pensamento e de
crenças. O que defendiam os bispos brasileiros, era a sua autoridade legítima,
em assuntos puramente espirituais, sôbrc o clero e as confrarias subordinadas
à autoridade eclesiâ tica e ameaçadas a um tempo pelas influencias morais
e politicas das lojas maçônicas e pela intervenção da autoridade civil que con-
siderava o clero como uma classe de funcionários do Estado. Nessa pendência
que se prolongou por três anos (1872-1875) e ~balou a opinião pública do pafs,
se restabeleceu e. linha de demarcação entre a Igreja e o corpo maç6nioo, e
entre a autoridade eclesiástica e o poder civil que tendia a absorver aquela,
pelas suas constantes incursões no domínio .espiritual, 'com apoio na consti-
tuição do Império. A lgTeja Católica era a religião oficial e embora dúvidas
sôbre os seus dogmas lançadas por escrito constituíssem delitos de imprensa
punidos pelas leis, foi a liberdade de consciência que triunfou na Constituinte,
"com as restrições que lhe impunha, observa PLfmo BARRETO, a posição es-
pecial do catolici mo'. Foi um sacerdote, o Pe. MUNIZTAVARES que, na As-
sembl8a Cons 'tuinte de 1823, defendera com intrepidez a liberdade de pen-
samento e de opinião fulminando com palavras de fogo os intolerantes e de-
clarando com enfase num dos lances de sua oração, reconhecer na liberd de
religiosa "um do direitos mais 88gt'&dosque pode ter um homem na sociedade;
direito sagrado, porque a conscieticia é um santuário onde poder humano nenhum
tem o direito de penetrar". De outro padre, Joslf MARTINIANO DE ALENCAR,
foi tamWm que se ouviram, na mesma asseJDhléia, lembra PLfNio BARRETO, 1
"as palavras mais ensatas sõbre o eterno problema da liberdade da imprensa '.

19 Pl.l/Oo BA.a&&TO,
A cultur•jurldlM no BrniJ (l8U--19;7), Bibliouca do "01» o ele Slo Paulo".
o.o 2, S. P ulo, lll22.
'140 A CULTURA BRASILEIRA

Durante o Império, outras vozes de sacerdotes e pregadores, como MoNT'AL-


VERNE, se fizeram ouvir, em defesa da liberdade de con ciencia; e a maior prova
de tolerânci religiosa durante o século XIX no Brasil, onde poderá buscar
é exatamente na atitude contemporizadora da Igreja cm face da maçonaria
de que faziam parte numerosos católicos, sacerdotes e até frad , e contra a
qual não reagiu energjcamente senão quando aquela instituição, de caráter
filantrópico e político. se lançou em franca oposiçao ao episcopado. A questão
religiosa. pondo à evidência tôcias as desvantagens do regime de união da Igreja
e do Estado, preparou, pois, o caminho à separação dos dois poderes, - tem-
poral e espiritual - que a República devia consagrar, no seu estatuto fun.
da.mental de 1891, fazendo triunfar, sem restrições, o princfpio, já estabelecido
na constituição de 24, da liberdade de culto e de crenças.
Foi nesse período que se implantou o protestantismo no Brasil, irradi-
ando-se, como o catolicismo, do litoral -para o planalto e alcançando, em um
século, no seu raio de âção, quase tôdas as províncias do país. A semente,
lançada no século XVI pelos calvinistas que vieram em 1557, não germinou:
dos 14 buguenotes que compunham a missão, escolhida por CALVINO e de que
fazia parte o historiador JEAN DE LÉRY, a maior parte tornou a Genebra, para
se libertarem de VILLEGA.GNON, quatro foram executados por sua ordem, na
Baía da Guanabara, e JACQUES DE LA BALLEUR, que veio reunir-se, na Capi-
tania de São Vicente, em 1559, a outros três calvinistas franceses, a abou em
1567 enforcado como hercje por ordem de ME DE S.( no ·o de Janeiro, depois
de oito anos de prisão, na Bahia, em cárcere e a ferro . Era cólogo e pregador
eloqüente, Ver!ado nas lín.,auas espanhola, latina, grega e hebraica. A nova
investida mais vigorosa e prolongada no século XVII, cm condições singu-
larmente favoráveis, malogrou-se com a expulsão do holandeses. De 1630
até a retirada dos flamengos em 1654, desenvolveram os missionários uma
atividade intensa e fecunda e por tal forma se destacaram na obra de catequese
que " avam muitos índios. no depoimento do jesuíta AND É DE BARROS,
io calvinistas e luteranos como se nasceram na lnglat rra e na Alemanha",
e já tão penetrados das novas idéías que "chamavam à igr ja moanga, quer
dizer falsa, e à doutrina morandubas a.barés, patranhas de padres". O em-
bate entTe as duas religiões cristãs,- a católica e a prote ante-, foi tanto
mais áspero quanto mais eficaz se mostrara a missão holand sa, apoiada, du-
rante o largo período do domínio estrangeiro, pela Companhia das lndias Oci-
dentais e pelo Conde MA11Rfc10 DE NAS AU, administrador notável, que esti-
mulou a obra da catequese, providenciou para a vinda de novos missionários
e criou escolas e hospitais. A reação contra os holande e e as medidas anti-
e tólicas tomadas pelo Consistório Calvinista em Recife, e a expulsão do fla-
mengo depois de uma luta desesperada, desarraigaram no nordeste, a lgreja
Reformada que se propagara pela ação dos ministros evangélicos dos Países
Baixos e pelo trabalho pastora] das igrejas coloniais. A circunstância de se
acharem ligadas a causa da fé católica e a da pátria, facilitou sobr aneira a
luta contra o holandeses e os ministros evangélicos, na qual participaram com
grande eficiência os jesuítas e em que J. FERNANDES VmtRA conquistou, com
a vitória sõbrc as armas holandesas, o título conferido pelo Papa INoc!Nc10 X,
de "restaurador do catolicismo na Am&ica portugu •. lt, portan o, sômente
no éculo XIX em que é assegu.rad<¼embora com limi ç~. a liberdade Teli-
giosa pela Constituinte de 1823 e pela carta cons ºtucional de 24, que radicam
afinal no Bra il as igrejas evangélicas, com cus cultos, celebrados em casas
com aspecto das de habitação, sem forma exterior de templo.
TNSTITUlÇÔES E CRENÇAS RELIGIOSAS 141

A primeira igreja que se fundou. então, foi a anglicana que, jã em 1819,


lançava a pedra fundamental de sua capela no Rio de Janeiro, 20 e s6 teve a
acompanhá-la, no us trabalhos evangelizantes, a metodis a, cm 1836, com
um pequeno núcleo de fiéis. Sucederam-se, no decurso do século, as fundações
de outras i rejas: a luterana, em 1845; a congregacional, em 58; a pre bite-
rians, em 62· a batista, em 82· e a episcopal, em 90, tôdas; com e.zceçào d
t~ja batis a que iniciou os seus trabalhos na Bahia, organizadas no Rio de
Janeiro. E n a cidade que o protestantismo se instalou no século XIX e
procurou apoio, como num centro de irradiação, para se estender a todo o país,
já no regime republicano, com a irrestrita liberdade de culto e de crenças. A
primeira fase de tentativas, na época colonial, seguiu-se o ciclo de radicação
ou de estabelecimento definitivo, que coincide com o Império, e a que ucedeu,
na República, o período de expansão. Se a obra evangélica, reaiizada por
essas igrejas, - e são a batista, a luterana, a presbiteriana e a metodista as
, que mais se desenvolveram-, acusam notá,vel poder expansivo, com os seus
4 mil pregadores, entre leigos (3 mil) e ministros, não é menor a obra cultural
do protestantismo que, apaixonado pela liberdade e fazendo da leitura de um
livro um meio de desenvolvimento espiritual, tende a desdobrar num movi-
mento intelectual o movimento de propagação da fé e das idéias cristãs. As
escolas americanas, introduzidas no país, nos primórdios da República e em
época em que a instruç-o ainda se achava em grande atra!to, contributram
notàvelmente, em São Paulo, não só para a mudança de métodos como para
a intensificação do ensino. Fundam os protestantes grandes colégio , como
o Mackenzie em São Paulo, o Instituto Granbery em Juiz de Fora, o Instituto
Gamon, também em Minas, e os Ginásios Evangélicos da Bahia e de Pernam-
buco; inc nti am a literatura didátjca que se enriq1:1ececom traba bos de pri-
meira ordem, no seu tempo como as gramáticas de JÚLIO RrBElRO e de EDUAR-
DO CARLOS PEREIRA, a aritmética e a álgebra de TRAJANO, as obras de OTo-
NlEL MOTA e os livros de leitura de ERASMO BRAGA, e colaboram eficazmente
na difusão do en ino popular, pelo sistema de escolas dominicais, cujo número,
~ 1934, jã orçava por 3 912, disseminadas com cêrca de 15 mil professores
oficiais, no largo campo de ação ao alcance de suas igrejas. 21 A medida que
se multiplicam os s us adeptos pelo trabalho pastoral, em que se destacaram

1D Ante1 de eor ■11c~u~adu. " llbc1d<1dcrcligío•a pela carte con,titucí,mal de 1824, e, lngl•tau, 1101 OI•
timo, an~ do p~r!~do ~oi n1AI,om 1810, havia rirmltdó com Portu~eJ um tratad~ de c<imfecio croquete o,tl,
pulava, no a.r1lr,o XI(, que Porlugo.l mBntefig ao, ol'tdao, inglt,~, n.,., ••u• territ6rioo, liberdade de culto, "ruu
partkuhirc, l11reJ~•e cap lo.e", e cri■ ixrmitida a edlfica~o de CIIISI para o culto, com II co,:,diglo dc, cittarna-
mcntc, "" • 1cmclhuom a cu de h•bit•~II • Por bte tratado ccld,re,do cbtte D. JOÃO VI e a l nal•tarTa, o
p,-Otcttante , aóo qual, n o ,., faoultav• fazu prmélitoo, teriam ccmltéri<• N~i•I• e o• funeral,, rupdta,J.o .
21 Que • urer do protc.t■ntbmo 1a tem alugado e •• multiplico.m º' ~u.a obr •• n~o 6 relialo..- ma,
de carfiter edw:llllvo e oclal, n o h' 0>mbra de dúvida. :tue tlc,eovalvlmento l tanto mai, not,vd quanto
-ttm r,ncontr do ,cmpre, da ~rt• do cetoliciJroo quatro vhe. 5e<:ular no Bre,il, e lllll lr■di~ c1t6li Ido povo
bruildro, um. opo lçAo dcddlll ■ r conatantc. Em i935, jã contava cerca de I milhão e D1c.lode pa11M .ob •
•ti.o rrliiti d i rc:iu cv•oitili .. 1: e, pua .2 S76 par6qui11s, 76 curatoo, 30 capei■ cW'■du, d.a ;,,itl• eat6!lca,
oqun<lo.,. d ,. ~h o, ofl:hl• de 193~, e itli m cm 1935, 1 231 iuc.)b e 64S mln1t1r01 p,otc t.alltco, coai
• uclD.;.o d ■■ rriH dO'I roinhuo d I c.:,munidad~ colonislt. ErtllJeram•ac raQd 1c,mpl iovao~tUco,,,
cutnD • lp-d■ Pre1blterl a., do Rio, anti a Cau di, Qraçã.:,, recon,truldã, rm cotilo 1õtko, e reputado 'o ma •
bdo e maj uno ,.,mpl.:, d dcD ln ■,;;õra cvan:;ffic.u do Bruíl'', e ouu no RiD, cm S&o Paulo (Campiau,
Rio Claro, Aru uar , BotDCalu), no Pu: nà e no Rio Grande do Sul. Calcula,ac em 10 n,íl o oflroc:ro de
cumplun Jo trxto sa rado, - por ntri.ru e cm •~;itu-, diJlribuldaa ■tE 1936 ao Br• t". mrnoa
imptllrUL.nle• obr■ cdu tiva que r li.D, 11■ndco col~ e tuB eocaJa, domlnical , tae, "°"' u.roa ma-
trkula toul d" 180 !J'III hlnOt, cm 193 e II qU! ao Auoci'1ÇÕe9 Criltãs dr M-. innitwac> dei clO eY■I\&'·
lica e de ari1cm rruHI ..,,. nor amcn 11■• traiem '1111acontribuição d.,. alto valor c,oo, , eti,ridadn cd11,
n.tiv .. 11AJ u da, a do Rio de Ja ciro, - a primeira fundada no Branl, em 1191, j6 com wn palibu.Ots o
de S mil c,onr -. • d Pdota.t no R Grande do Sul e ■ de, São Paulo. A C<X1tribu:i;l\odo pro,:nt&Bti o, n
otn h pin!a, e, orf %1ca, "nda que maü tC<CllU. ji .aprbe:Ot:11 hoapilaio com.o o H pl!Al Evan Mico do
•Rio d• J•n.·,o, o S.mu lano, de Slo P■ ula, ■ Vila S:unaritana, cm Si.o Jod dO'I C....poa, o S■uabXio S:b '"•
cm Campos do Jord o, 11 1 • orl"■ nal no Ri:,, ~m linu e Sào Paulo, e...., poder de cxpan o ' pode
aprec;lar pel.:i valor do patrilll<lnio evan1llko, cakullldo n<> oeu ~otal em SOOmil c,ontol. oesu.ndo oi c,iklll d.,.
DoMJNOOI R1a.1!110, que eompr; cndc, 11 avalj•~o. t.empl<>o,rl!fld&!ciu p.utaralt, umloiri011, e 'ao,
ha.piu,I e orfana . (Cír. DD,.1!'1009 Rl■ 1t110, Oril.en• do """nlle/úmo bra il■iro1 R o, 1931; EaADIO
BuoA .and K&NNIITIIa. GRU•, Th11 republic: o{ Brml. A IW"YCY OÍ Rli&íou., riluat:1011, World Dom.in.lon
Pral, 1933).
142 A CULTURA BRASILEIRA

figuras de relêvo, como ÃLVARO RE1s (1896-1925) e ERAfil o BRAGA (1877-


1930), o pro estantismo desenvolve e alarga a sua atividade ocial, criando
hospitais creches e orfanatos. Fragmentária, durante mais de um lo, mas
já unificada por meio de uma Confederação que represen a oficialmente o pro-
t antismo no Brasil, a obra missionária de suas igreja , consolidada nos prin-
cipai centros urbanos, expande-se sobretudo no Estado do ui {Santa Ca-
tarina e Rio Grande) graças à influencia de colônias cstrang • as. e, como é
fócil de compr nder, com mais vigor nas zonas novas do que nas velhas cidades
tradicionalmente católicas.
As duas igrejas, a católica e as da reforma, mais recent no Brasil, ao
menos na ua forma permanente, colaboram por se modo em manter o ca-
ráter cristão da civilização nacional; e, se o protestantismo, com seus progressos
indiscutíveis, está longe de arrebatar à Igreja romana a primazia, num meio
l-radicionalmente católico, a sua fôrça de proselitismo e o seu poder de ação
cultural e social não deixam de atuar como um fator de mulação, As diver-
gências teológicas e eclesiásticas-que extremam as duas religiões, ambas cristãs
e apoiadas no Evangelho, as levam forçosamente a combater-se e a procurar,
na: instituições de ensino e de cultura e nas atividades. de carãtcr social, outros
tantos pontos de apoio para a conquista das almas e o predomínio religioso.
Enquanto o seu poder de irradiação se enriquece e se renova nas fontes de cul-
tura e tende cada vez mais a apoiar-se em centros de atividad culturais, a
expan -o do espiritismo, em que se embriaga o misticismo devoto, iniciada no
io das classes mais baixas e incultas, tem as suas origens na ingenuidade e
ignor cia do público e na atração que por tôda parte exercem as iniciações
mi teriasas, o fi nômenos tidos como sobrenaturais e as comunicações, por
meio da mediunidade, entre o mundo visível e invisível, ntre vivos e mortos.
A própria cxpnnsão do espiritismo entre gente de baixa mentalidade, - movi-
mento muito maior aliás do que pode parecer ao primeiro exame-, é a prova
evidente de que o espiritismo (modern spirituali m, 1842) não passou ain~
par a f e prõpriamente cientifica e guarda pelo geral o caráter de uma seita
r ligiosa, com seus mediuns e experiências, em sessões meia luz em que, ao
lado de visões e alucinações, poderão produzir-se fatos obscuros e desconhecidos.
A ci6ncia, sem dúvida, não afirmou nem negou a exist nda de alguns dêsses
fatos para cuja 0.1>licação o espiritismo faz constante apelo ao sobrenatural,
mas também nada provou nem pode concluir a despeito de seus esforços. Em
todo caso, fôssem verdadeiras essas realidades 1 ainda tão problemáticas, que
ter.iam elas de sobreumauo? Do fato de que não se constitu11,1ainda a ei-
a.oda dêsses fenômenos (metapsíquica), não se segue que êles sejam divinos.
Diferente do espiritismo, a teosofia professa que "o homem é um spírito caído
da ordem divina e que, obscurecido pela matéria, tende a remontar por traos-
formaçõe! sucessivas ao seu estado primitivo". Essa filosofia religiosa que,
em suas vârias seitas e tendências, desprezando a razao e a fé para o conheci-
mento da natureza divina, pretende alcançli-lo por uma espécie de iluminação,
de intuição especial da divindade, acha-se representada no Brasil, por diversas
sociedades prepostas à sua propagação e cuja influência, !uni da a um público
muito especial, não parece ter trazido qualquer contribuição cultura religiosa
e à formação intelectual do país. 22

o oe d os esta • of"u:mi., de 193:>, lll!m rdtrf p-aide aworiA


do povo bra cito, e dlvcrsu icrtiu pr«esbultcs, esistcm IWlda a 1 • Ortodaai. 8 vc.i e 8 padres
e l~ laracfüa qu dlspõc de g aiuagops. Bm IXldoo pc,111110 c:oloaial, o qw: barnva <ntnlda em ...,_
portot ■ o tran/: • , ct• • hetctodoxla, ou camo e.cr=e GIUU!ltTO Fu "■ ro&~ do bereje DA ■lma ...
O • o tll tav no esuaa dto nem oo indivld~ dbi-b\icu, ma,, oo b tic", Dai• r· çlo ob,wu,a., eo:>tra
.. dua, mal u:ntativu de implanYGÇio do protcrtanchmo, no t!culo XVI, n Rlo de Jandro, e, no 16l!ulo
wntc, cm croan,buco. O e,rpl'rito aventureiro d.a tent<: 1omiu, u peraea:uJt rcU em PartuclJ e, maio
wde, • rlquc dai llllllenç6e,I dacra,i.oanim um &f&II e IÚlW<O Bruil de dom,ml.ol de raeti j que
TNSTITUlÇôES E CRENÇAS RELIGIOSAS

Ainda que igualmente encerrado num circulo restrito de aderentes, o po-


sitivismo, rêm não tardou a exercer influência e a desempenhar como
doutrina, um papel importante na vida intelectual e polltica do Brasil, nos
ms do Império e no período republican.o. O movimento geral do positivismo,
entre nóe, partiu de um grupo de jovens brasileiros que estudavam na Univer-
sidade de Bruxelas, cm 1860, e entre os quais se encontravam dois paulistas
Lufs PEREIRA BARRETO e JOAQUIM ALBERTO RIBEIRO DE MENDONÇA, e A.N-
TÕKIO BRANDÃO JÚNIOR, natural do Maranhão. Graças à influencia de uma
jovem francesa, Mlle. RIBBENTROP, que assistiu, ainda menina, às lições do
filósofo no Palai Royal, estudantes brasileiros, escreve HERMES LIMA,
"iniciaram-se no positivismo de que viriam mais tarde a ser, em .nosso pais,
verdadeiros precursores". Depois da morte de Auousro COMTE,, ocorrida
por aquela êpoca, 1857, o positivismo dividira-se em duas escolas, uma das
'tuais sob a direção de PIERRE LAFlTTE foi á que ganhou mais terreno no ex-
. ,lerior e em particular no Brasil, onde conseguiu grupar uma falange de tra-
balhadores. Para os qu se ligavam a essa fração do positivismo, as teorias
q&eE. LtTTRÉ, chefe de outro ramo, encarava como produto da doença mental
de AUGUSTO COMTE, sedam talvez o que o pensador francês deixou de mais
precioso. ~ aquela corrente, - a do comtismo ortodoxo, como lhe chamou
EUCLIDES DA CUNHA-, que no sul conquistou entre nós maior número d
adeptos, exatamente pelas teorias de CoMTE, rejeitadas por LITTRÉ sôbrc a
organizaçao política e religiosa da sociedade. Essas construções sociais e re-
ligiosas do m tre, e, entre elas, a preponderância da família no sistema, re-
presentaram, no movim nto positivista nacional, pela sedução que exerciam
um papel semelh nte ao que desempenharam, na propagação do protcatan-
tismo, além do seu carãter essencialmente cristão, o cuidado da liberdade in-
dividual, o ideal constante do desenvolvimento da pessoa humana e a impor-
tância dada à moralidade, e, portanto, a tudo o que seja capaz de for le~.
nos corações, o sentimento da responsabilidade e do direito. As idéi s morais
e políticas de CoMTE infiltraram•sc pela Escola Militar e entre propagandistas
e f~formadores republicanos; e a seita ou "religião da humanidade', que não
encontrou adeptos senão nas classes superiores, teve o seu ensino, dado por
figuras admiráveis como MIGUEL LEMOS e TEIXEIRA MENDES, seus templos
e seu culto qu con iste essencialmente em sacramentos, festas e peregrinações.
Mas, se na voluçâo do pensamento brasileiro teve, em certa época, real influ-
ência, não como método de pesquisa, mas como doutrina social e polftica, o
positivismo, seita religiosa, acessivel a um punhado de homens, aí fícou, -
para empregar as expressões de EUCLIDES t>A CUNHA-, ' 1imóvel, cristaliz do
na alma profundamente religiosa e incorruptível de TEIXEIRA MENDES".
O decreto que, após o 15 de novembro, separou a Igreja do Estado, não
teve origem, porém, no desenvolvimento do positivismo sectário: foi antes
uma vitória do movimento laicista com que se -restaurou o princlpio de neutra-
lidade do Estado em face do problema religioso e se assegurou à própria Igreja

do cm o Palllo. m Pr::m•mbuco, 111!Bat-.m e ~m ·..., GcHi1, d lliea como mu•


Qlllor e 01,:cobo, C' un10no cultlvo dQ leu,u quanto na;s .,..oíl libcrau. Maa aam aa mai_ot
~ cru .• .m Portuital, da• íoguciras inquíJitóri p,, 1 ar
de, d Tfd .- de Jcoua diYJ>CfJ,..v•Lili pcotc,ção q ou 1
cnlTc, - o. A ni., cr oo p,rlodo ao domlnio • e Dat
caprtaniaa oít11 vam püblkamc,;i~ a r 'p o ta alo
pOd<,, pois. 1Eculo XIX e. como a orl<Jdau, P3"8 um draal ndu-
:rido de nt o de lon~ pdo 11"" -.afumo, •- de w,, c,c o,
f o e.p,ri hcúc ma,,,.. detc1Jv.olvlmenro qu.aotitarivo. com ~&- de 4 • d •
tribwd por b'o> p rít (maü de 40.>, 1llracote em Sio Paulo). ji inc craçlo,
ma,, 1em qualq_. lnllu!.-.d• no d0<nlnlo c111t,ual. A Sociedade de M~i:.pslQuu:a de Slo Paulo, que ao.te. uma
'edadc de cttudo, do qu um cc<>tro rdi i010, de.envolve, cal'~ no KJ>tldo de wn cat6t.cr dcodCico 11.1
i11v<:11t~ d ícobcumot cb•mad • pitltu e tid como aobrconunia.
A CULTURA BRASILEIRA

Cat61,ica, no Brasil, como reconhece a pastoral coletiva, de 19 de março de 1890,


' 1uma certa soma de liberdades que çla jamais lo ou no tempo da monarquia",
O novo regime era incontestàvelmente (as palavras ão do Pe. JÚLIO MARIA)
'a lib rdadc restituída à Igreja depois de uma longa e triste escravidão". Não
foi o sectarismo que triunfou, mas o princípio de liberdade de cul o e de crençag,
o qual e permitiu a atividade normal e a expansão de outras igrejas, trowte
I reja Católica a libertação do regime de dependência e de opr ão exercida
pelo E tado. No período monárquico abatera-se, de fato, o prestígio do clero;
esmoreceram as atividades da Igreja e atingiram-se, nas suas fontes vivas, as
ordens moné.s kas, com a proibição de receberem noviços: 23 o regalismo e o
padroado tendiam a transformar o clero numa superestrutura parasitária,
alimentada pelo regime de privilégios e de subsfdios com que se mascarava a
opr ssão, e a reduzir a lgreja, com o enfraquecimento do pod ·r episcopal, a
um simples instrumento de poder político. Ninguém compreendeu melhor
as perspectivas abertas para a Igreja, no novo regime, do que o Pe. Júuo MARIA,
notáv J orador sacro, que, segundo escreve J ÔNATAS SERRANO, "numa pregação
única em nossa história pela sua feição e pela sua amplitude", fêz um apelo
constante ao clero para promover a obra de pacificação política e religiosa,
alargar a missão sacerdotal por uma compreensão mais profunda da função
social da religião, e "convidar francamente a democracia, sem hipocrisia po-
li ica n m covardia religiosa, ao banquete social do Evangelho". A nuvem
de prevenções de que se carregara a atmosfera, de 1889 a 91, perturbando as
novas relações entre a Igreja e o Estado, no novo regime, dissipou- e, afinal,
em 1905, com a ação diplomática desenvolvida pelo BAR.ÃODO Rto BRANCO
junto Santa Sé e a conseqüente nomeação pelo Papa do primeiro ca.rdeal do
Brasil e de tõda a América Latina, D. JoAQUl, ARCOVERDE DE ALB QUERQUE
CAVALCA.NTE, Arcebispo do Rio de Janeiro. s o clero, ecular e regular,
com soas fileiras rareadas encastelava-se nos santu rios, 'contemplando de
longe o povo a que outrora tão intimamente se ligara"; e ao passo que, no
período colonial e até a primeira metade do século XIX, vida intelectual,
social e política se caracterizava por uma interpenetração da Igreja e do século,
n República, a Igreja, cortadas as amarras que a pr ndiam ao Estado, pa-
recia hesitar em fazer-se ao largo para uma ação de grand env rgadura, num
ambiente de ampla liberdade de pensamento. A lgr ja brasileira passava por
uma crise de lassidão de que, no século XX, e sobretudo depois da grande guerra.
devia reerguer-se, apesar de graves obstáculos, para novas iniciativas nos vã-
rios domínios de atividades religiosas, sociais e culturais.
Em todo ·sse período, a religião não foi nem um estimutante nem um adver-
sário do p nsamento: daí uma indiferença mútua entre a cultura e a religião.
Os futuros clérigos já não se recrutavam, como na Colônia en re as melhores
íamília brasileiras e nos mesmos estabelecimento , cminários e colégios de
padr , em que se preparavam as novas gerações da sociedade colonial, com
uma unidade de espírito e de direção. Aquela comunidade de idéias e de sen-

A rudlo d POM:ll,\1.«>ntra lqad e o crdcna mon\ lko. pro,b,ndo-t ..ic rcc,cb:nm oov;ç ,
fo, H'r'Ulm lc de oporrionad• •ot í" q~ ~ímou: tttma4 , como • pollllca ral o: treduria em
do cuYCrno imperial, cm UISS, cuido:, cooi;:k u , ~ltum com outro,
ln • libcnladt dc ams.:ifflda. En prN:i '• .ih, invrt,:;.
va com .. íilha d .. mdh«es íamlli o de ,e cdu-
c:oa4<:D&J"cmoa Mttrópo!e à da w-11 o abu» que Pololll &.
N. ''d lqadot •cstabeled:mcntu, rdi,:im a , au 'ado
e o f &tifltlo··. M.u c:c:n o mesmo 1talpc q • am, -
de• mi,ti:itmo, se feria e Ubcnb,deac con m, • pn)pria
" ;:1ç • Oa conveo cntr~r•m em decad&Jcia e, C'I o , li DCOnt«e:r,
o que acont..,c,cujl na Rrpúblka: foram parar b ml.iot d.i, f tt "'1<>vtncoa
q1ie dellohDvam pedldoo de reecbtt novi(oo.
133. Pe. JOSÉ DE I\NCHIET,\, S. J.
(Canária,, J9,1ll-1534 - E:pfrito S1mto, Brosil,
!,l.VJ-1597) - Reprndução do Gabinete de Etno•
l(rafia do Faculdade de Filosofia da S. Paulo.

134. A primeira missa nt> Brasil. Ó/"° de VÍTOR MEIREl.ES.


Foto REMBRANT>T.
135. Matriz e residência dos jesuíta.f em Reri4tiba. hoje Anchieta, Espírito San lo.
(É a própria e.asa primitiva restaurada. onde existe a antiga cela do grande apóstolo).

136. Pe. MANUEL DA NÓBREGA, S. J.


Segundo uma escu.ltura coaveocional de F~ANCl!iCO
FRANCO, publicada por SERAFIM LEITE. -
Desenho de GISELOA LOPES DA SILVA.
. .
,-" .
"'-ª --~ -
'/1,-

138, último Tamoio. Quadro de RODOLFO AMOÊDO.


1:.01.o RF.MBRANDT.
CATECISMO
BRASILICO
'Da DoutrmaChrijlãa,
Com o Ccremonial do Sacramentos,&
mais aél:o Parochiacs.
COMPOSTO
Por Padres Douto.: da Companhia de
1 E S U S,
ApeifeiçMdo
, ê5dadoa /,a.,
Pelo Padre ANTONIO DE ARAU[O
da meíma Companhji. -
nej},ifegutrdaim-prejfaó
Emerrd,:1,do
Pelo P. BER THOLAME.U DE LEAM
da mefma Companhia .

. ••--~r.
~-
~

LISBOA·
Na Officinade MIGUEL DESLAN DES
M. DC. LXXXVI.
Comtod4Sas l1ccnpunectJ[ar
'4s

137. Fronti.spícfo áa ediçiio de 1686 da ~1CateciSmo Brasílico 1 •


do Pe. ANTÔNIO DE ARAÚJO.
140. Sncr/11/n dtt C4todrnl. Sn/vndor, Bahln.
Foto Vo1. TAIRlt FRAOA, lnJlhulo Br•sllclro do Geografia e Estatística,
139. Pe. ANTÔNIO VIEIRA (L/1t,oa. 1608 - 8al,in, 1697). jcsuífn c<1m 50 anos
de .serviço! a-n Brasil o o maior prctadot que se exp1 lmiu em lín{1ua portuguêt11J.
115. A E&cola Cenrral, que so lrarulormou cm 18?4 no E•colo Politécnica, (Hoje Escola Nsciom1/ de Enlonhor/11).
141. Claus/ro
Frnncioco. S 1 do Convento S
Foto VOLTA':it~ndor, Bahia. _:
tut.o Bras,·1euo
. deFRAOA.
O 1ns1·,.
Estatistic•. eotrafia e

142. Iircju
Bento. Salvad e MoJtei,o S
VOLTAIRE FRor, Bahia. - Fol·
vad ACA U o
~. lnnhuto Sr rll>? Sal-
eosr•f•• e Esta~t~~o de
143. Igreja da rua do, Passos (século XV'll/). Salvado,. 8ah:a.
Foto VOLTAIRE FRAGA. Instituto Brasileiro de Geogrzfia e Est~tísllca.
144. Ouro Prêto, ;1spccto parcial, Vis/a tirada do átrio da IAreja S. Francisco de Paula.
Foto Rádio Inconfidência de Min<1s Gerais.
145. S. Jono d' E/ Rei. I4reja S, Frnnci,co de ÁIJI•,
F«o•Rddlo/ncon6dffldod#MIM..,..
146. S. }01,0 d'EI Rei. Ia,ci• S. Francisco ,Je Assis. Outro :upecto.
Foto Rádio Jnconfid~ncia de Minas G~r~is.
147. Ouro Prêto. lArcja Nossa Senhora do Carmo, aliares laterais.
Foto Rádio Inconfidência de Minas Gerais.
148. Portal de ltreja. S. João d'EI Rei.
Foto· STILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
149. S. ]oiio d' E/ Rei. Matriz.
Foto STILl-E. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
l 50. S. João d' E/ Rei. Igreja do Carmo.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
151. Tiradentes. M•rriz. Detalhe do ór,io.
Foto Rftdio lnconfídência de Minas Ger•i•.
)52. Tiradentes. Ma.tr-íz. Rertíbulo e te,o do aliar-mor.
Ji'oto Rádio Inconfidência de Minas Gerais,
153. Mariana. ltreja do Carmo.
Foto STJLLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
154. Aliar do T4reja da Boa Morte. Rio de Janeiro.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filo1ofiã de S. Paulo.
ISS. IArcja de S. Francisco de Paula. Rio de Janeiro.
Foto STILLE'.. Coleção da Faroldodc de Filosofia de S. Poulo.
156. r;reja d& S. Bento.
O/indo. - Foto STILLE. Co-
leção da Faculdade de Filosofoa
de S. Paulo.

157. Coll,eita do esmolas para


a fest• do Divino. - DRBR&T,
J. 8. - Voy•&• Pittoresqu«
et Historique au Bmil. 1834.
Ili volume. Prancha 29.
158. Con(Ôrto. Quadro do pintor bniDno PRISClLIANO $11...VA.
Foto VOLTAIRE FRAGA. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
159. Sé de Olinda. Pernambuco.
Foto ST11,1,i;. Colcçiío dn Fnculdodc de Filooo{io de S. Paulo,
160. D. Frol VITAi. 0& OUVEIRA,
b1>no de O/indo.

161. D ANTÓNIO D& MACEDO COSTA.


bnp,, d« BeNm
lt-:S~TUJfôES _!___C:__RENÇAS
RELIGIOSAS 145

timentos, que então se formou entre o clero e a nação, - comunidade mani-


festa cm tôdas as atividades da vida colonial e na participação constante de
sacerdotes, nas inconfidklcias e revoluções, até os fins do primeiro Império,
e tanto mais forte quanto o clero apresentava um carãtcr eminentemente na-
cional, - sucedera uma indiferença recíproca, senão quase uma dissociação
entre a Igreja e o século, entre a religião e as fôrças vivas da 80Cicdade. Por
wn lado, as vocações sacerdotais, cada vez mais raras, que eram colhidas no
aeio da família brasileira, isoladas e encerradas em seminários, já não parti-
lhavam da vida dos outros estudantes. O clero, por outro lado, dcanaciona-
lizava-se lentamente, quer pela entrada, já no sé,culo XX, de ordens monb-
ticaa, provenientes da França, da Bélgica e da Itália. quer pela infiltração
progressiva de estrangeiros no clero secular, quer pela transfcrfncia aos frades
alemães dos tradicionais mosteiros da Ordem de São Bento, com seus opulentos
patrimônios. Essa "desnacionalização'' crescente do clero regular e secular,
cada vez mais penetrado de elementos estrangeiros, não s6 afrouxava os laços
antigos que uniam, como num só corpo, a religião e a sociedade, a Igreja e o
povo, mas tendia, segundo alguns, a transformar o clero numa classe fechada,
com interêsses particularistas, e a imprimir-lhe a feição, ostensiva ou dissi-
mulada, de um ''partido político estrangeiro". É nesse momento, e dentro
de dificuldades e graves ameaças ao prestígio da Igreja, que se irúcia o mais
vigoroso movimento cat61ico de nossa história, pela amplitude de sua ação
social, por uma nova interpe.netraçâo da Igreja e do século, pelo renascimento
do espírito religioso e nacional a um tempo e pela combatividade, nem sempre
marcada pelo espírito ecumênico. de catolicidade, ou por uma grande largueza
de vistas. As fôrças, "encasteladas nos santuários", segundo a expressão do
Pc. JÚLIO "MA.RI.A, saem dos conventos e das igrejas, para tomarem posí~
na trincheira: e a trincheira está por tôda a parte, no parlamento e noa palácios
do govêmo, na imprensa e no rádio, nas escolas e nas associa~s cm que se
tempera para as refregas a alma batalhadora da mocidade e se preparam ele-
mentos de vanguarda para abrirem caminho ao avanço, tranqüilo e seguro,
da Igreja e do clero.
O papel que desempenharam intelectuais eminentes, como JACKSON DB
FIGUELREDO que desencadeou o movimento espiritual, cat6Iico, e ALCEU AMO-
ROSO LIMA que recolheu sua herança e lhe sucedeu na direção; o apêlo à moci-
dade acadêmica e às classes operárias que :ie organizam cm associações de ca-
rllter religioso; a participação efetiva de católicos ilustres nas campanhas em
que se empenhou a Igreja contra o divórcio e a favor do ensino religioso, naa
escolas, e o recurso às t~cnicas modernas de propaganda mostram até que ponto
a Igreja Romana, no Brasil, mobilizou as suas fôrças e renovou seus processos
para enfrentar os problemas religiosos e sociais e as dificuldades que se levan-
tavam à sua solução. Não tem mais de 25 anos êsse renascimento religioso.
A pena do jornalista. na imprensa diária, e mais recentemente a propaganda
pelo rádio, se não substituíram a palavra na tribuna sagrada em que, ainda na
República, se ergueram as vozes magníficas de um Pe. JÚLIO MARIA, de um
Monsenhor PAULA RODRIGUES, -o Padre Cmco, e de um Pe. JOÃO Gu.u,,.
BERTO, em São Paulo, adquiriram, pela sua eficiência, maior prestígio, cclip•
sando a eloqüência que se recolhe, perdido o brilho antigo, à atmosfera mfstica
e tranqüila das igrejar. A literatura de inspiração cat6lica atinge um nfvel
intelectual e um volume de publicações que ainda não conhecera no Brasil,
enriquecendo-se com obras de primeira ordem como a do jesuíta Pe. LEONEL
FRANCA,uma das mais altas senão a maior figura do clero nacional e do pen-
samento cat6lico. Multiplicam-se as instituições confessionais de ensino, liceus
BRASILEIRA
-------------
46 A CULTURA

e ginásios, para rapazes e colégios para moças, H orfanatos e educandârios,


m.an ·dos &tes por vârias congregações de religiosas; fundam-se escolas supe-
riores como a de Agricultura e Veterinária em Olinda, cm 1913, e, também
por inicia ·va dos monges beneditinos, em São Paulo a Faculdade de Filosofia
de São Bento; aia-se, em 1935, nas cercaDÍas de S o Paulo, pelo esfôrço da
Liga das Senhoras Católicas, a Cidade dos Menores Abandonados; e, enquanto,
por tõda a parte, a simpatia humana, iluminada pela fé encarnada nas irmãs
de caridade, assiste e acaricia os que sofrem no bos itais, a Igreja dilata até
os crtõcs as su.as atividades apostólicas, na catequese dos índios, por inter-
médio dos dominicanos, em Conceição do Araguaia, dos beneditinos, em Rio
Branco, e dos salesianos, em Mato-Grosso e no Rio Negro. Fiel às suas
tradições, a Igreja Cat6Iica renova-se, adaptando-se às condições da vida atual;
e, com suas 54 dioceses, 17 arquidioceses e 23 prelazias, sob a direção de car-
deal brasileiro, e suas numerosas ordens e congregações, em atividade
constante, mantém um predonúnio indisputãvel entre as instituições religiosas
do país, contribuindo para desenvolver, com o primado dos valores espirituais
sôbre os valores vitais e materiais, ·o sentido do humani mo cristão que remonta
b origens históricas e -religiosas da civilização nacional.

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u r, ultado . Trabalho apresentado ao Coogrcuo Intem dona.! de Hist6 • da Amé-
rica, em 1922. Separatl\ em 2 vols. Imprensa aciOJlal, l927-19'l9.

hora ft:ftha •umentlld.o """'5t.an!Enmte. o aõm de I n, , p6bl.icQ <l!l


■ cducaeio de mcmuas. mant&zi..c ■ccotu:ld• prcfcr •~t d• pera OII co-
po,- tõca rdigi-. Eu:- &tt,o., d ...,_ tod .. M>b • íonn■ d,:
de: Sioo, dai, Irmãs do Sqrado Ccxa lo • tcdinu ou du
oA ,. ~•çâo date~ .. de: Santo ~
LEm, de9dc: a.,,. chq:ads ao Brasil c:m 1907, um ".
■ cuja 11'-io R aa-crentou. an 1933, ums. faculdade pcrll:,r d.e l "'Scd""
Sa c:atlac", e oo , com 11m Janlil:n de: W. nci•, criado m.o.iJtatd ■Ilia. lia
lnnh M ■ r«lln qw çbqaram CJD l9ll.. dirigem ao Br..u IM!:i.inta CJWJIDpara mOCIQe:, entre:
tJ .... o d. BOUJC■ tll (lül:lldo de São Paulo), o primeiro in lado por ç . 0a Col!,io, de Sioll,
de Slo Paulo, d C■ mr,■ nb (ao Sul de Minatl, de Pc: n. e do Rio de Jaodro, olo deoltt OI n:,a;I floreec:cnt,,a
col IOIIrc ·- d•tin doe I i:iutrução e educa~ da m«idade feminina.
INSTITUIÇÕES E CRENÇAS RELIGIOSAS 147

14ÃGAUIÃU io e} - &tudoa d hi t6ria do Brail. II. D. Pmv.o n e a ICTeja


Cat6li , plp. 89-Ui2. S&ie Bruiliana, vol. 171, Comp. Editora Nacional, o Paalo. 1940.
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RODRIOU'&I ºº~ C l01) - R ligitse• acat6licas; memória por Jost CAJU.OI RODR.IOUU, 1.. d.
SlttmANo Oónatas) - O clero e a República. ln "À margem da história da Rep6b11ca''.
Edição do "Anuério do Brasil", Rio de Janeiro; artigo s&bre a Igreja no Braail e aua
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Letow:cy ct Anf:, no França,
TJUNDAD.lt (Cónego Raimundo) - Arquidiocese de Mariana. Subsídio& para a 1ua história.
São Paulo, 1928.
Ylz.m:NA DB Mo~xs (E.) - QuaJ a inLJulru;ia doa jeaultu em nosa,H letra.a? '.Revista
do Instituto Híst6rko, tomo e.pecial do Congresso de História Nacional de 1914, vol. V;
O patrioti,mo e o clero no Bra i/. ln "Jornal do Com&cio". Número eapecial conaa•
,vedo ao Ano Santo, p4p. 181-197, Rio, 1925.
Ba.un., 1938. - A new aurvey of brszilian life. Pãgs. 396-397. Culta. Serviço GrU'ac:odo
Instituto Bruilelro de Geoarar ia e Eltatfltiça, Rio, 1939.
CAPÍTULO 11

A vida intelectual - As profissões liberais

Formação intelectual eminentemente liter6.ria - Letradot e eruditoe - A


herança da eacolãstica e da cultura clássica - A gramática e a retórica - A
escravidão e a repugnAncia pelos oíícios e atividades de base manual e mednica
- A tendencia para a burocracia e as proíias'õea libet-ais-A fundação dos cunos
jurídicos - A cultura jurídica - Advogados e junácOnsultos - A função cu1-
turál das faculdades de direito - Foc:oa de id6ias e campanhas pollticas - A
Eacola Central - As duas faculdades de piedic:ina - M6dicos,. engenbciroi e
advogados - As elites culturais, polfticas e administrativM recrutadaa nu pro-
fissões liberais - Politica de doutores e de fazendeiros - A prepondedncia d01
jwistas na politica -A escola de Minas, em Ouro Preto- OsvALDO C1tuz e
a medicina nacional - As asaociaÇÕCS profissionau - O prcatfgio doa diplomad0S
- Cultura de carâter marcadamente profiamonal - As profissões e as letras -
O esfõrço para ultrapaasar e dominar, pela cultura, a profissão-A atividade do
com&cio do livro - Livrarias e bibliotecas.

E NTRE fidalgos, senhores de engenho e sacerdotes recrutavam-se os pri-


meiros líderes da sociedade colonial; e, além da nobreza e da proprie-
dade da terra, o que determinava o acesso na escala social, era a ins-
trução exclusivamente a cargo do clero ou, mais particularmente, d08 jesuítas.
A posse de grandes propriedades rurais servia, na Colônia, para perpetuar em
larga escala a distinção de dasses: de um lado, a aristocracia representada por
fidalgos portuguêses, em trânsito, - mais ou menos instável, - e a de origem
territorial, constituída de senhores de engenho, e de outro lado, o clero regular
que se tomou, sobretudo com os jesuítas, "o grande produtor colonial", e cuja
autoridade, social e econômica, se foi progressivamente fortalecendo com a ex•
ploração agrícola e as fazendas de\criação. Mas, do seio da sociedade colonial,
heterogênea, dispersa e inculta, não tardou a surgir, com a instrução ministrada.
pelos jesuítas, uma nova categoria social, - a dos intelectuais q~e, feitos os
estudos e formados mestres nos colégios de padres, iam bacharelar-se em Coim-
bra, para adquirirem, com o título de licenciados e de doutores, o acesso
fácil à classe nobre pelos cargos de govê.mo. Era costume velho, nas famílias
abastadas, cujo primogênito, herdeiro da terra, seguia o destino do pai, man-
·~em o ~do filho à Europa, -para estudos, enquanto reservavam à Igreja
o teréeiro, que professava ·numdos conventos, geralmente do país: um filho
doutor e outro, padre ou frade, constituíam motivo de orgtilho para as famílias
antigas. No entanto a formação intelectual que recebiam, eminentemente
1iterária, orientada não para a técnica e a ação, mas para o cuidado da forma
150 A CULTURA BRASILEI.RA

adestramento na eloqüência e o exercício das funções dialéticas do espírito,


não podia fazer d&ses mestres cm artes e licenciados s -o letrado , imitadores
e eruditos, cujo maior prazer intelectual consistia no contato com os velhos
autores la 'nos. Fôrça de conservação antes d.o que instrumento de libertação do
espírito, ensino de classe, dogmático e retórico, que mod lava todos pelo
mesmo padrao de cultura, fundia as minorias ralas de letrados, que flutuavam.
tranha e superpostas ao meio social, como uma elite in elcctual de impor-
tação. Nada de vivo e de verdadeiramente ovo e fecundo, de observação da
natureza e de culto do ienius loci, para despertar o poder criador e o senso
crf •co n a cultura coerente e uniforme, de fundo universali ta, cristalizada
pelas humanidades latinas, como um núcleo em tõrno do qual, à medida que se
subia na rucrarquia do ensino e das funções, se adensava o invólucro de ma-
térias religiosas (apologética, teologia, ética), destinadas à preparação para
o acerdócio.
As humanidades clássicas, quase exclusi-vament latinas, - pois o grego
não foi incluído entre as disciplinas do ensino superior seilão mais tarde pelos
frades de São Francisco, - constituíam, de fato, a base s6bre que r pousava
t a a instrução ministrada nos colégios de je uítas e nos seminários. A gra.-
mAtica, a retórica e a filosofia, estudadas freqüen emente nos próprios autores
latinos que recolheram e tornaram mais assimiláv 1a herança dos gregos, tinham,
aôbre o inter&se decorrente dos seus objetivos especiais, nesse ensino impreg-
nado de humanidades, o de verdadeiros instrumento para desenvolver a cul-
tura latina situada no âmago da instrução. A herança da escolástica e da
cultura clã ica, com o predomínio do latim da gramãtica e da retórica, 1 trans-
au a-se, sem enriquecer nem transformar-se atravi de gerações de letrados,
até o fms do éculo XVIII, quando os frades franciscanos em virtude da ordem
régia de 1772, estabeleceram no Rio de Janeiro um curso de tudos superiores
em que, la primeira vez, figurava, além do grego e do latim, o ensino oficial
de duas Un,guas vivas. Sõmente em princípios de 1800 AzEREDO CoOTINHo,
bispo governador. que exerceu extraordinária influ!nci sôbre n, mentalidade
pátria e sem o qual "não surgiria a geração idealista de 1817", no julgamento
de CAPISTRANO DE ABREU, 2 rompe com a velha tradição colonial de ensino
jesuítico, ao fundar o seminário de Olinda em novo moldes e com vistas mais
larga : ministrando o ensino do desenho, das ciências flsicas e matemáticas,
da química., da botânica e da mineralogia, ao lado das disciplinas dos antigos
oolEgi.osde jesuitas, ésse seminário, com efeito, "transformou as condições do
en ino e, com s , as condições intelectuais da capitania" de Pernambuco. 3
Atl: essa 'poca, o ensino dos colégios de padres, escreve GILBERTO F'REYRE,
devastando a paisagem intelectual em tôrno dos homens, para s6 deixar crescer
no indivíduo idéias ortodoxamente católicas, quebrar no brasileiro, princi-
P en e no da cla$Se educada, não só as r laçõe lfricas entre o homem e a
natu.rcz ... como a curiosidade do saber, a ânsia e o gõ to de conhec~r. a
alegria das aventuras de inteligência de sensi ilidade e de exploração cientí•
fica; aventuras do descobrimento das coisas do mundo. Se, porém ensino

1 A rct , lembra Git.lUtll'tO Fll:gyes, ~.., cotod •- lcndo Quunil..l.AWO, red-


undo l:lolt.l.c.l.o, dcconu,do onções de Cfcsao. • nd• ot ditcUnOe de
C dema>too~dea doepoidrcs. Muita
■pcilogetu que cam,mpe • boa.Qtidadc da

tóri• que fi-.. no de como


oeup■Ddo-~ de qw, •• pn,ciÃ.O de
111de c,cm_nna em vei: do de • ob.i~e.
u lc,y ■nta • voz e _,cdoada. a r....._ eito 111ult11ret •
moe;unb<u. Pi;t.. 169, 1.• B.diQào, Sio P

J 0.t.PtrrAA o o■ Amtsu, Um vàits.dor do S.nto oneio, r, .1, t ♦.


01.IVKtllA LIMA, Hiatdria d• Revolur;ti.o d" J>t,rruu:,.,buçe, 11m 1111. lt4 Cio comcrnOl'lll va. Reti , l917,
A VIDA INTELECTUAL - AS PROFISSÕES LIBERAIS 151

unifonni2ador dos padres da Companhia abafou a espontaneidade intelectual,


embotou o gõsto da análise e comprometeu, por sEeulos, o espírito critico do
brasileiro, na sociedade colonial, foi certamente, como reconhece GILBERTO
FREYRE, "utiUssimo à integração social do Brasil": criando e espalhando por
todo o pals um sistema de cultura, não só contribuiu para consolidar a religião
a-iatã, - uma da fôrças vivas da unidade espiritual na Colônia, mas concorreu
para assimilar as elites brasileiras de norte a sul, fundindo na unidade da cul-
tura as diversidades rcgionai , soáais, econômicas e políticas.
Embora esseensino, todo literário e eclesiástic-o, tenha contribuído larga-
mente para o desprêzo das ciências úteis, o desinterêsse pela natureza e o horror
à atividade manual, não pode ser ale considerado responsãvel por esse desamor,
que ficou sendo um dos traços característicos do brasileiro, pelo trabalho da
tcna e pelos ofícios mecânicos. Produto da época e das condições de vida aoci.aJ
.. ~etrópole, transferiu-se para a Colônia, com os costumes, os usos, a. religião
'1 mentalidade da nobreza, para a qual liberdade se tornou sinônimo de ocio-
tidaie e o trabalho qualquer coisa. de equivalente à servidão. Essa mentali-
dade fortificou-se com a preguiça lasciva de um clima quente em que o homem
tem poucas necessidadca e onde as neces:iidades vitais são relativamente fáceil
desa "afazer, e num meio social em que a distinção de classes e o regime de es-
cravidão tinham de relegar para plano inferior, como sinais de inferioridade
de classe aocial, os oficias mecânicos e os mistcres manuais. Alib o desprezo
pelo trabalho manual aqui, como por tõda a parte. em que M classe foi sempre
um traço distintivo da nobreza que julgava degradar-BC com os trabalhos
servis, e cuja superioridade na hierarquia social se marcava pelo poder de se
fazer servir e ~lo número de escravos ou de servos capazes de lhe assegurar
o maximum de confõrto com o m.inimum de esfôrço. Se a profissão "clae-
lifica" e as classes a detcnninam, influenciando sôbre ·a escolha du profissões,
não podia. atrair e classificar o que se tinha por ocupação de escravos, mas
tõda a atividade de preferencia intelectual que, elevando aos cargos nobres,
fõsse capaz de suprir a propriedade da terra e os privilégios de nascimento.
O sistema jesuitico de ensino, literário e retórico, não fb mais do que valorizar
as letras e acentuar, com a distância entre a eljte intelectual e a massa, o horror
ao trabalho manual e mecãnico'quc provinha antes "dêsse pendor portugub
para viver de escravos", para o qual concorreram sucessivamente a cultura
aefardlnica e, na Colônia, o regiro social da escravidão. "Ao lado da tradição
moura, escreve GILBERTO· FREY.RE,foi a influência dos frade&, grandes agri•
cultores, que em Portugal mais contrariou a das judeus", inimigos do trabalho
manual e, desde remotos tempos, inclinados ao regime do trabalho escravo.
"Se mais tarde (acr~nta) o parasitismo invadiu até os conventoe é que nem
a formidãvel energia dos monges pôde Tcmar contra a mar~". Os mosteiros
que em Portugal, "a par de mansões de oração e de estudos se tomaram cm
focos e escolas de atividade industrial, em laboriosaa colônias agrfcolas' , na
observação de EsTEVBS PERETRA, acabaram também êlcs, no Brasil sob o
regime da escravatura por apoiar-se no trabalho servil, utilizando numerosos
escravos agrários, nas suas grandes propriedades ativa!.
A ausência quase comple a de indústrias, a rotina da mo.nocultura e da
exploração industriaJ do açúcar e o caráter elementar das atividades de co-
m&cio, não criando necessidades de especialização profissional, nem exigindo
trabalho tecnológico de mais alto nível, contribuíram, como outros fatores,
para desvalorizar as funções manuais e mecânicas, aerád.as por artcsõca,
escravos e libertos. O que interessava nessa sociedade de estrutura elementar
era, de fato um tipo de cultur~ que favor~ o acesso da elite intelectual,
152 A CULTURA BRASILEIRA

ICJlão nobreza, ao menos aos chama.dos cargos nobres, criando uma nova
aristocracia, - a dos bacharéis e a dos doutore,. Para •a funções nobres,
como a magistratura e o canonicato, que exigiam um minimum de especiali-
zação intelectual, bastava a cultura literária e abstrata, transmitida nos colégios
de padres, por métodos que se baseavam, não sôbre a ação e o concreto, mas
sõbrc leitura, o comentário e a especulação. As armas espirituais de que se
compunha o arsenal dos mestres cm artes, "essa espécie colonial dos bacharéis
de hoje", não passavam das humanidades latinas e das noções gerais que re-
sidiam ba da fiiosofia e da teologia e eram • apropriadas a formar pre-
g:adorcs, letrado e eruditos. Formou-se, por modo, a tendência intelec-
llialista e literãria que se desenvolveu por mais de tre& séculos, para o bacba-
relismo, a burocracia e as profissões liberais. Se para ela devem ter concorrido
s tr dições intelectualistas do judeu, a cuja influência OtLBERTO F'REYRE
atribui o g6sto pelo anel no dedo, com rubi ou esmeralda, do bacharel ou do
doutor, e a mania dos óculos e do pince-nez, "reminiscência oriental, de sabor
israelita", é certo que nenhuma influência nesse sentido, na Metrópole e na
Colônia, foi maior do que o sistema de ensino e a cultura que dêle resultou.
O papel que exerceu a cultura modelada por êsse tipo de ensino foi de tal pre•
ponderância que nem as missões holandesas, cientificas e técnicas, no período
da ocupação de Pernambuco, nem mais tarde as rcaçõe isoladas do Seminário
de Olinda, no século XVIII, e dos colégios de franceses e ingleses, aqui esta-
belecidos no século XlX, '1>ara grande indignação dos padres" cons ·ram
abrir uma brecha mais profunda na tradição intelectualista, purament lite-
r6ria, do velho ensino colonial dos jesuítas. :€ que as condições de vida social
e econ mica, depois da expulsão dos padres da Companhia em 1759, e até os
fins do culo XIX, se caracterizavam pelo m~mo regime de escravidão e pela
m a organização econômica; e os progressos lentos, no dominio das indús-
trias, não foram suficientes para valorizar o trabalho prático e ccnológico,
mantendo em baixo nível os tipos profissionais, e ainda extrema.mente simples,
a hierarquia das funções industriais. O título de bacharel e de doutor man-
tinha- como um sinal de classe, e às mãos dos filhos do enhor de engenho
ou do burguês dos sobrados continuavam a repugnar s calosidades do tra-
balho ...
Mas a ascensão do bacharel e do clérigo 9ue data do s!cuto XVIl, com os
primeiros valorcs brasileiros, GREGÓRIO e EUSÉBIO DE MATOS e ANTÔNIO VrEI-
RA, êste, por uguês de nascimento, todos formados na Bahia pe1os jesuítas,
C' que te acentuou nos séculos, seguintes com os bachar.éis do Rio e de Minas
Gerais (Vila Rka), teve, sem dúvida, uma grand importânci na vida social
e polit-ica, nos últimos tempos coloniais. Se, de um lado, essa cultura padro-
nizada que recebiam os que estudavam com os padres da Companhia e iam
bacharelar-se cm Coimbra, tendia a assimilar as elites. de norte a sul do pais,
aproximando pernambucanos, baianos, fluminenses e paulistas, • os valores

• e bruilciroe que iam -tudM o. &w-oo., • ft>Al parte-.., d tina.,. • Coimbra, 0<1troo •
tpclll e Pio • o, - 4;J;uerno, oadc
f1ll'Ol!.oli Alemanha e 1. 1.n tcnnaf'lm...,. v\11 e os ou pouco mab,
moan0a, mcdidna e .abn:tuci<> d'ttritx>. Entre ae iuconf"1Clc , CI.ÁVIJ o MAHUm. 11ACo,t4, de MiNll !RI-
barlo elo Carmo) e lfl.tcro Joli oz AI.VAD!<GA, do Rio de Jandrc>, dOll~- Cl'll Coimbra: DoKm- Vm.u.
m!Qetro, e OI n.umine,,..... Jod M4JIU."íO Lr..u. e Jost ]OA DA , que, C'YC 17$6, u.,,. cn-
trn' cm Nlmca. c:am J~ a:abiuD<l« dos .Estad Unld c:m Par , ftlCWN\I t. boe ao Y<>lta,-
.t. pf,t:r&, ..,.m m~idna cm q,eDier; e Jost ÃLY#JIU m., na t , ODdc .., doutDrt>u c:m
todq • e lil<IIOfla. Da nortr, - de Pcni.ambui:o e da Bah - com • Ca:rtun criada pch 1a.._....
da cana, e, maia llltdc, "° la XVUI,, ~ umina r;crals'', """' • riq q11e P'"" .o da CXf'at çio du •
de ouro, E que pactinun bruilci.n>s. c:m mlii<ir número, pau, atw!OII a:a ~ eur~. Recite, Bahia
Vila Coram, cm coo.:q b>cia, os mmorc,, ceatros da vida lntd u.l da Cal Rat OI peun..tu, poqco
mal. de vinte, qlJ fan,n bacharelar-se cm Coi11Jbc11,O<ldehavia WOS UUllcr ; t, rntre ldl, OI cl GUIM.ÕU,
d Sai, , B~Ot.DIBU Lou•~• in.ve.>t= do aenli&"'to, o 1 te de m6ti na Univ~ de
C,oii,,bni, e Al.Bx.u<Dllt, di9lomata, que também cm Colmbni OII OII n dadOII "" ·a d j~-
naltaa; OI tra Ãl<DIVJJAJI, Jori Bo,n ...tc.10, ANTÓll"IO e.ui.os C MIJtTll(. F'ltAJ.-CUOD, t.ambtm de Santcr, CCIDD
-, AJ<Da Plffl{ltno, tROGde de Sio Leopoldo, e. de São Paulo, o d Tcn.&DOR.sli'Dol'I, NCfllCO ld.umao
e J01 • Mouc 1, que foi o primi,irn direto<" da F•culdadc de Dlr ' o de o P• o.
A VIDA INTELECTUAL - AS PROFISSÕES LIBERAIS
- 153

encarnados pelo bacharel, branco ou mulato, "vinham se constituindo em ele-


mento de difcrenciasão, dentro de uma sociedade rural e patriarcal que pro-
curava integrar-se pelo equillbrio". Filhos dos senhores de engenho ou de fa.
zcndciros, traziam de Coimbra, de Montpellier- ou de Paris, eom idfuls novas e
novos eatilos de vida, o germe de reação contra os costumes das casas grandes
patriarca.is de que provinham; rapazes da burguesia nova das cidades, filhos ou
netos de mascates, 04 v11lori.zadospela educa;ão européia, observa ainda Ga.-
BEKTO FRln'RE, voltavam socialmente iguais 899 filbcs das mais velhas e po-
derosu familias de senhores de terras". ltsses novos bacharéis e cl&igos, oom
aett prestigio crescente na sociedade colonial e com su_a mentalidade nova,
romântica e revolucionária, marcavam o triunfo politico não s6 do homem da
çidade aõbre a gente do campo, mas da Col6nia contra a Metr6po1e, dos ideaia
republicanos sõbre as tendencias monãrquicas de portugu~es e proprietários
de terras. A Inconfidência Mineira, no dizer de GILBERTO FRitYRlt, "foi uma
•olução de bacharéis, como revolução de bacharéis, - pelo menos de clErigoa
q_ueeram uns bacharéis de batina, alguns educados cm Olinda, no seminário.
liberal de AzEREDO COUTINHO - seriam as duas revoluções pernambucanas,
preparadas por homen,a do século XVIII; a de 1817 e a de 1824", As viagens
ao Velho Mundo para completar estudos em universidades facilitavam aos
jovens brasileiros, de regiões diversas, o contato que não lhes permitiam, no
Brasil, o isolamento das populações e a ausência de comunicações entre a•
capitanias. Não eram apenas novas idéias, novas místicas e novos coatumcs
que traziam &ses rapazes educados na Europa, mas o sentido de pâtria pela
consciência mais viva daa diferenças que cada vez mais distanciavam a Colônia
da Metrópole. Em Coimbra, onde se familiarizavam, se entendiam e ae oon-
certavam, "pela primeira vez, lembra PEDRO CALM:oN,os estudantes perce-
biam a existência de uma pátria, enorme e primitiva, que lhes pertencia. A
idéia nacional surgiu assim. Elaborou-a às margens do Mondego a mocidade
renovada todo o ano, que dos engenhos de açúcar e depois. du fazendas de
criação e das lavras mineiras, se fôra a estudar leia e cânones na Universidade".
No entanto, com a expulsão dos jesuítas em 1759, pelo M.uQUts D&
Polm.u., sem a medida complementar da substituição. de suas escolas por outras,
desmantelou-se, por mais de 50 anos, todo o sistema cultural, apoiado na cstru•
nua colonial do ensino jesuítico, para voltar a reflorescer no Imp&io, aliado a •
outro tipo de cultura mais 'lil>cral, ligado agora à idéia de preparação profia•
lionah à formação de militares, advogados, médicos e engenheiros. A cultura,
tributá~ da religião, passou por essa forma a ser tributária das profissões
liberais, sem ae despojar do seu velho conteúdo humanístico e eclesiástico, ao
menos até a segunda metade do século XIX, em que à base das escolas de for-
mação profissional residiam ainda, em grande parte, os seminãrios e col~gioa
de padres. Em todo caso, uma cultura, não livre e desinteressada, mas fortemente
marcada pela sua finalidade e aplicação profissional. Não houve, a rigor, wna
ruptura com a tradição, mas antes um fracionamento da "unidade 'de cultura'',
quando à de origem clerical, nutrida nos colégios de jesuítas e em seminários,
e refinada na Universidade de Coimbra, sucedeu, como uma nova fase na evo-
lução cultural, a de base profissional, alimentada em institutos, fragmentário.
e dispersos, orientados em sentidos diferentes de acôrdo COJl!as suas finalidades
cspecfficas. A grande massa permanece estranha às novas instituições; toma-se
mais numerosa e apurada a elite intelectual que se beneficia dSsses cursos;
cresce o prestígio do titulo de bacharel e de doutor, para decair depois com a
apansão q~antitativa dos formados; e os cursos novos, jll por não terem to-
mado, no seu desenvolvimento, feição eminentemente prática e profissional.
já por falta de instituições destinadas à filosofia, à ci@-nciae aos estudos desin-
teressados, tomaram-se focos de inquietação intelectual e viveiros de jornalistas
154 A CULTURA BRASILEIRA

poüticos, letrados e eruditos. Assim, subtraído o nsino superior ao domínio


do clero, para se restabelecer sob o signo da profissão a tendência intelectualista
e litcrâria que vinha desde a Colônia, continuou a eguir a linha de seu dcscn-
volvim to normal, como um distintivo de classe, um derivativo ao tudos
de finalidade pr-ofissional, e, mais do que pelo seu caráter ornamental, pelas
aplicações crescentes das letras ao jornalismo político e à eloqüb\cia nos co-
mícios na tribuna judiciãria e sobretudo no parlamen o. ão ~ ainda com
s escol e cur profissionai~ criado nos princípios do s~o XIX, que
"o profissional" toma a desforra do letrado do erudito e do orador, - outros
tantos tipo intelectuais que continuaram a florescer por todo o Império, à
sombra da academias, e a exercer todo o seu poder aristocrâ ico com o duplo
pr stígio tradicional do título de bacharel e de doutor e do poder de atração
da cloq • ência das letras.
Se já no reinado de D. JoÃo VI se instituem, com o estudos de história
natural e de artes, os primeiros cúrsos profissionais de inedicina e de marinha,
é sõmen e m 1827, com a criação dos cursos jurídicos, em Olinda e em São
Paulo que se formam afinal os dois maiores núcleos de c:nsino superior e de
cultura jurídica no país. A vida intelectual, no norte, depois de um período
de isolamento e de segregação, readquire o seu antigo prestigio, com a fundação
do curso jurídico, em Olinda, transferido mai tarde, em 1854, para o Recife,
enquanto se inaugura em São Paulo um dos foco mais vivos de C'Ultura inte-
lectual com a primeira escola de direito. Ambos e cursos, de ciências ju-
rídicas e sociais, o de Olinda e o de São Paulo criados a 11 de ag6sto de 1827,
instalam- cm antigos conventos, êste, no velho 6bio dos filhos de São
Francisco aquêle, no tradicional Mosteiro de São Bento, como um símbolo
da uperposição das duas culturas, a religiosa e a profi ·ooal que lhe sucede.
substi • do o espírito eclesiâstico pelo espírito juridico e o dogmatismo reli-
gioso e coo ervador pelo intelectualismo revolucionário e crítico. ~, por êles,
de fato, que penetra, no Brasil a infh1ência dos fil6sofos ingl es e fran e,
m • tarde, no Recife, a dos alemães, com TOBIAS BARR TO; é neles que se
forjam e e temperam as armas -politicas, para as luta pelo direito e as cam-
panhas li ais; e é dêles que se elevam nas asas da poe ia e da eJoqüência,
para em espalhadas por tôda parte, as sementes da idéias revolucionârias,
enquan o forma, no recolhimento dos estudos e do magi têrio, a elite dos
construtor do direito que devia dar travejamento à estrutura jurfdica e po-
lftica do Estado. "Cedendo provàvelmente à intuição de que nela (na cul-
tura jurídica) reside o eixo de tôda a civilização cristã, o regime imperial, quase
logo após à nossa independência, escreve Rtn BARBOSA, consagrou ao direito
duas faculdades, uma ao norte, outra ao sul, como situações polares, domi-
nant no movimento de nosso mundo moral. Sem de fazer, por6n, na rea-
leza de Olinda, a pérola do norte, amortecida talvez mas não dcsluzida jamais
de seu oriente não se poderia seriamente duvidar qu o magistério de São
Paulo crceu sempre de um grau mais alto, com influênci muito mais po-
derosa e muito mais larga amplitude, a sua missao nacional. Bolonha, famosa
outrora entre a cidades letradas, pela sua universita cholarium pelos
us doctores leAentes, se chamava por antonomãsia a um tempo 'a douta
a livre", •ando nas suas antigas moedas à legenda solene de us direitos,
liberta , o foro por excelência de mestra: Bononja docet. A São Paulo
indispu velmente, lhe cabem os dois tftulos no mesmo bras-o: 'professa a
liberdade e cn •na a justiça".
~ com essas íacuJdades, - as primeiras instituídas no Brasil, - que a
cultura se emancipa da de Portugal rompendo com a Universidade de Coimbra,

6 R111DAUOS,., Dlocuno pronunc,iado em Slo Paul.o im, 11 d ducmbfo de 1 09.


A VIDA INTELECTUAL - AS PROFISSÕES LIBERAIS 155

berço trissecular da cultura brasileira, e elevando-se progn:ssivamente da pe-


núria das letras jurídicas, manifesta na Constituinte de 23, ao nível de uma
das maiores senão da maior cultura jurídica no continente americano. A po-
breza de juristas e de conhecimentos jurídicos era, de fato, de tal ordem que
nessa assembléia a que concorreram as maiores notabilidades da Epoc:a,apenas
tr~ ou quatro deputados, escreve PLÍNIO BARRETO,"revelaram alguma fami-
liaridade com as instituições jurídicas de outros povos", e se chegou a sugerir
a ideia de se contratarem jurisconsultos em Portugal para as aulas de direito ...
Mas, em todos os domínios dêsses conhecimentos e nos vários ramos das ativi-
dades jurldicas não tardam a surgir figuras como PIMENTABuENo, TEIXEIRA
DE FREITAS e LAFAYETTE RODRIGUES PEREIRA,no Império, e já na República,
CARI.os DE CARVALHO, civilista, da altura dos dois últimos, Rut BARBOSA,
CARVALHO D.E MENDONÇA, os dois JOÃO MENDES, JOÃO MONTEIRO,CLOVIS
B&VILAQUA e PEDRO LESSA, advogados, juízes e construtores do direito, que
honrariam a cultura jurfdica, a magistratura e a profissão de advogado nos
países mais civilizados. Em 1830 surgiu o Código Criminal, cuja organização
fôra determinada pela Constitui~o de 24; em 1850, promulgou-se o Código
Comercial a que se seguiu logo depois "essa maravilhosa obra-prima de legis-
lação que é o Regulamento 737, devido à pena de CARVALHO MORB1RA/Barã9
do Penedo, e ao saber jurídico do redator, de NABuco, de Joslt CLEM:BNUe de
CAETANOALBERTOe à experiência arguta do BARÃODE- MAUÁ. Da incum-
bência que em 1855, recebeu TIUXEIRA DE FlmITAS, de reorganizar uma classi-
ficação das leis do país, "nasceu essa formosa Consolidação das Leis Civis,
cujo clarão transpôs as fronteiras do país, indo iluminar a legjslação de outros
povos".. Trabalho formidável de síntese. no julgamento autorizado de PLfmo
BARRE-ro, é "o maior monumento cientifico que o Império nos legou". A dis-
cussão do Código Civil Brasileiro, que só entrou em vigor em l." de janeiro de
1917, quase um século depois da Constituição de 24, que determinou a sua or-
ganização, "ficará também. observa ainda PLÍNIO BARRETO,como um capí-
tulo brilhante de nossa cultura jurídica. Dominou-a, no máximo esplendor
de seu ilimitado saber, envolvendo-a de uma rutilação imperedvcl, o eaptrito
de RUJ BARBOSA".Confiada a sua redação, em 1858, a TEtXE.tRA.Dlt FREITAS,
que não pôde conclui-la, e, sucessivamente, a NABUCO,FELiCIO DOSSANTOS
e COELHORODRIGUES, é das mãos de CLóvrs BEVILAQlJA que saiu, para a sa-
.gração legal, o projeto definitivo. As conquistas liberais, a combinação do es-
pírito jurídico e do espírito politico, a or~anização do aparelho judiciário, o
prestígio da magistratura e a concepção rigorosamente jurídica das relações
internacionais, tão eficaz.mente concretizada na ação diplomática do BARÃO
DO Rto BRANCO,na solução das questões de limites, e tão brilhantemente pro-
clamada pela voz de RUI BARBOSA, paladino do direito e da justiça, na Con-
ferência de Haia, cm 1907, mostram com vigor incomparãvel o domínio que
conquistaram em nossa terra a cultura jurídica e a fé nos princípios da justiça,
na ordem legal e na fôrça do direito.
Mas, não foi sõmentc no desenvolvimento da vida jurldica do pafs que
tiveram papel preponderante, dentro de sua missão especial, essas e outras
faculdades fundadas posteriormente, no Rio de Janeiro (1891), em Belo Hori-
zonte (1892), cm Curitiba, na Bahia e em Manaus: no Império e na República,
atê 1934 em que se criou cm São Paulo a primeira faculdade de filosofia, ci-
encias e letras, as escolas de direito exerceram uma função cultural suplementar.
estimulando, em seus cursos teóricos, a cultura geral e abrindo aos acadêmicos
perspectivas para outros estudos. Na preferência dos filhos de familias pobres
ou abastadas, pelo estudo das leis, não se deve, pois, reconhecer apenas o gôsto
pelo título de bacharel em direito, com que se reatou a tradição do bacbarclismo
156 A CULTURA BRASJLEIRA

colonial. nem somente um número crescente de vocações para os es udos ju-


rfdicos que se difundiram por todo o país, mas também a aspiração de ama
cultur geral, desinteressada, para jovens que não podiam adquiri-la senão
ac:sseacurso penetrados de filosofia e de letras. enhwna imtituiç.ão de ensino
superior ava mais predestinada do que as escolas de direito a C."terceressa
função supletiva, não s6 pelo caráter mais filosófico de us estudos e pela maior
aplicação das letras às atividades de carreira como ainda porque de t6das
as faculdades de preparação profissional, são as de direito, pela própria natu-
r-eZ'ade us curso , que põem a sua razão de ser, de prcfer cia, no elemento
cultural, e oao no elemento econômico e técnico, e desen olvem uma fé mais
robusta no poder espiritual, na virtude unificadora da inteligência e nos valores
morais. As faculdades de ditei.to 6 foram, pois, o viveiro de uma elite de cul-
tura e urbanidade, em que rec:rutaram numerosos elementos a administração
e a política, o jornalismo, a,s letras e o magiEtério (e até m smo o teatro), infil-
trados de bacharéis., desertores dos quadros profissionais de que guardaram,
com a ilustração, apenas o título e o anel de rubi no dedo, como sinais de classe
e de prestígio. Aliás, desde o tirocínio escolar, o mundo politico e o mundo
academico se penetravam mutuamente; e cm nenhum outro centro de estudos
repercutiam tão intensamente, como nas escolas de direito, as agitações da
vida pública a que dava a mocidade, com a participação do seu entusiasmo
generoso a fôrça comunicativa dos grandes movimentos de opinião. Não
houve de fato uma só campanha liberal, de cajas vibrações não e carregasse,
embebendo- na sua temperatura, a atmosfera acad~ca, e a cujo dcsenvol-
vimeoto não imprimissem professores e estudantes um ritmo novo, conjugando
a a ão forçosamente lenta da inteligência à fôrça maia r pida e impetuosa dos
sentimentos. Focos de idéias e de campanhas polltica , faculdades cm
cujo regaço se nutriram na ciência da justiça gerações de juri consultas, advo-
gados e estadistas, tomaram-se ainda centros de democratização e de caldea-
mento da unidade nacional: nelas se encontravam e se en eadiam brasileiros
de odo os Estado e de tôdas as classes sociais, para e dispersarem, depois
de um convívio de cinco anos, pelas capitais e pelo interior, levando a todos os
recantos do pafs, com o espírito de luta e de reação liberal. o cu1 o da justiça
do direito.
Mas esus escolas e a cultura profissional jurídica a que deram origem,
longe de favor ccrem a criação de uma mentalidade nova, contribufram antes
para acentuar a feição literária e retórica da cultura co1onia1que, através delas,
tomou novo ímpulso com os elementos extremamente vivos de sua tradição.
Tradição enraizada no sistema de ensino colonial, humanistico e abstrato, e
tão per istente que, as escolas técnicas, como as academias m~dico-cirúrgicas,
militares e de agricultura fundadas no tempo de D. JoÃo VI (1808-1821),

O No plaoo do Ctl4ino profi lunal ~or. cxcalc de muit d direito a., du


.-colu de a,odklllA e mharia! ""' 1940, p:,n, des acclu d.e cn,: , qw,tonc, de Car-
111. e odont • • cin<:0 de agrocanúa e vé>:rii:Aria, coatav&m• ici.;. ou n-i;.
llllda . Ãa dua pc-1,uld,,.s Íóli:uldadca d.e-direito. s~ fato.:mac:raccntan,Jo CUl,Y1ll:IIC:ll. ac te,:u1..-.,.
pelo pala. - RJo de 1 • . em Belo Hori:.-.m~ J>a • , em :i-,a~l6p,llli~ CUritiba, em
Nltcr6l, em 'l'lt«ia, em Maceió, cm Fat:atcz,,, em Ttteoiaa, co, Sio do Par6, dll
ni.. b:ave<ldo Enadca, aJm do Dutilto F o
!• e de Direito a P~ Palllista dcDiffi e.
• Ckaodc do Sul (a de P6rtx> Alqn e a de coa,==ira o
malar aGmeno do~ d,: ~'wia: a EKoia de to
o I tituta ~ d" lt:,jub• (4 110 un:
'GUDDCntca e • de Eq • 114Ekcm:ie, ambQ oa u AIJl..nO>&t, •
Eaptrito San.to, Sa<Jt:a Catarizui e o
e de ~cito. No DOrte. a partic •to ,
etCCilu de ~-ia, • Polit.Eadca Ol(C•
Aharia, A Eocola Poliikni:a de Pcmambúco, • da rua putícolar
~ f:ln 1912, -.lderada de utilidade públia e.u 11117(decre\CI o e daemwo
d.e 19171 • que- ora um (m;,,o, o de <:Q&euh • indUJ dJ 84 m enhciro1
de 19'12 • 1.1110,ou am, cm ml:duo, 3 pc,r ano. (Cfr. E.zpr do cull ia/ d• EM»/11 l'olitkrúc.tt do
l'•1rui01buto, Rcdft, T;p. "Diirio d.a M:auh.i.", l940l.
A VIDA JNTELECTUAL - AS PROFISSÕES LIBERAIS 157

não determinaram quaisquer transformações sensíveis dessa mentalidade 1 re-


orientando-a para H ci!ncias e a:s suas aplicações às atividades técnicas e in-
dustriais. Sob bsc aspecto, foi francamente reconstrutora e qua revolucio-
nária a ação de D. JOÃO VI, quando estabeleceu na sua c:ôrtc e cidade do Rio
d.e Janeiro, uma Academia Real Militar "para um curso coropl o de cieitcias
matemáticas e de ci!ncias de observação e das ciências militares em t6da a sua
extensão", de maneira que (são expressões ainda do decreto real) "dos mesmos
CW"80I de estudos formem hábeis oficiais de artilharia, engenharia e ainda
mesmo oficiais da classe de engenheiros geógrafos e topógrafos que possam
tamb&n ter o útil emprego de dirigir objetos administrativos de minas, de
caminhos, portos, canais, pontes e calçadas". Enquanto, porém; as faculdades
de d.íreito, instituídas jé. no primeiro Império. entraram a participar e a influir
intensamente na vida social e intelectual e a favorecer, em larga medida as
agitações nacionais de alcance social e político, tôdas essas fundações cientf-
ficaa e t~cnicaa, lançadas por D. JoÃo VI que pretendeu criar interb!c peloa
problemas econômicos e desenvolver .a siderurgia no país, não exerceram influ-
bcla eficaz no sentip.o de imprimir à cultw-a um novo espírito, melhorar as
condições econõmicas da sociedade e quebrar os quadros a que habituara, de
bacharéis, letrados e eruditos. Todo o esfôrço, largo e generoso, de D, JoÃo VI
criando escolas e instituições de carãter técnico, e estabelecendo cQrsos de
economia, vetcrinãria e agricultura, e organizando e reformando a Academia
Militar e a de Marinha, foi uma ofensiva manifesta contra aatendetlcias e carac-
tcrlsticas da instrução colonial que deixou desarmada a aociedade de quadros
capazes de promover, pelos fundamentos Ceónômicos, a sua reconstrução.
Mas não chegou essa s&ie de iniciativas a empolgar e a galvanizar seoã.o um
pequeno gJ"Upo de vontades, insuficientes, pelo número e pelo vigor para de-
sarticular v~os prcc:onceitos e fazer surgir do marasmo em que vegetava, a
economia nacional. Se uma das causas principais, senão a maior, do insucesso
dessa nova política de cultura, residia na economia agrícola baseada no trabalho
escravo e na falta de atividade jndustrial do país, é certo que contribuiu para
esseresultado a propensão discursiva e dialética da intelig!ncia brasileira, mais
inclinada às letras do que às ciências, às profissões liberais do que às "profissões
6teis ', ligadas à t~cnica e às atividades de tipo manual e mecânico. 7
As vicisaitudes por que passou a preparação para a engenhari civil, ~edu-
zida aos cunoa de engenheiros topógrafos, desde 1810, e de pontes e cal das,
cm 1832, e ligada aos cursos de oficiais e engenheiros militares, at6 a criação,
em 18581 da Escola Central em. que se transfonnou a Escola Militar R e que

7 Bm urna da.• p6tJIUl d" NU di.lrio. o QK,:rihciro L. L. V.i,.VTHI&11. fumdD conaldnactie,, oõhre q Fe1tae
,ealludH ao Reelr m:i hom<:nacem • haao n (l de desem.bro de 1&40l. regim", comD obKrvador P8'•i:,leu.
~bora - amm6ola a cuta ■ greulvidadc. • tmdtaci■ b,-...,lein, ao C9p!rito retórico e ao d""•nu,r p0r qualqua,
trabalho de ct&DpD, de cu,t.,. ,nanua] ou mc,,:Auko, "Qtle ~entel" ~ V,UIT!IJ&ll diante do nllm.or,, fui•
1urute do "'DUrio de Pernambuco'' (dolo biruie a Sua Majestade e um a Pernambuco, '6bn! o ffJD lllllo).
"Que a:mt I mo recu,, diante d~ nmbuma ~ per ~ que .eja. do amar ma.li anlM e do en,.
~o ma arnbatadcw-. Nlo pe,n,o. catou.cato, nem • (N■ffa pcte a6 du palavru que etCHYC. •• li: 1~
adlllllte: "QullOdo falam d am ,,.is. tudo qae lhe nt:ede de ma.a. al:ribucm à [alta de p■ trloti.lma... Eu 1mtarla
llein qDL lllcu&n pod,_ a um dln. v-1im que taato [■Iam de patriotinno que e~ uma mini e ajad.uae
a ra:cr am nivelam to. Diria loa:o Q1ff nlo f nem criado nem catirr>, que E llvo, e MO pano "'"'1111'"
• &laum,a.'' (DIA.rio lritlmo do nl-:1:!heiro V■ athíar (1140-:"1846). Prálkio e - de OJLUaTO l"'1lrnR,.
Publicaçiia do Servi'° do P■ o llilt6ri<>o e Arthtico Nuioaál. 4. Sc:rvi~ <nif'..,,., do Ml da &daNÇlo
s.tld.e, Rlo Janeiro. 19'10).
B De rato. Academia Real llt■r, hmd■da em 1810. ,,..._ • r......._ a putir de 1a:i2
virtude do que lhe ■ac,rou • Bicala de Marinha, racenm:in>, IDilitara, civia (de poDta e ~> ,1111 '
ltm 11133,deolicOQ,N • ~- Nave) ct. Al,sdi,mia Real Militar em que ae amplianin o eano militar e o de
aílei■ me mo oc modií'oicau C91CTM'ialm""1tl: • 9im,,ç5,:, cm 183!1, cm que ■ ~ ts .-.,,.
■ d-.iu■r 8-:ol■ MWta.r, com oa aieunm objcúvaL E com a ftf.....,. da li.Mola Mltltar, ftll iM2, qu
SIJFle, ■o lado dm C'.llt9M militara, de cavalaria, infantaria e artilharia, o de ~ em 7 . O proecuo
ele difere-~, porfio. o.ln n ia.ida ....to em 18S8, ,em qoc ■~Militar tama o - de lt"""* C-tnl,
e a de Aplicaçlo, cri■dli em UISS, ·o de ltAcol Mllitar: m curw,a de oiu:iaia e de ena.mbdn>I mill:tara IÍIO ídto9
aa Ba:ol■ Militar e o de en1fflhdr°' c:1.,.,na BICOia Ccotr■l. em que, ■l&n do cuno de cocetlharla civil (dol
-> R e:otabclfteu ,o c11tao büco de ma.tmúilica e c:ib,d.a fbicu e oa.tur&D, de qua.i:ro ■-, cunum e obri-
&■t:Crio, 110 t D ou ero ,,..-t-e. • caAdl.d•to. eo. ,:uno,, de inl■Dtaria, anilbaria e &.t<uio cw,e e eo ,,.,ha,-1.a
158 A. CULTURA BRASILEIRA

foi a única no genero em todo o país até 1876, mostram como, no Brasil, custou
a desenvolver- e a adquirir relêvo e autonomia a profi ão do engenheiro
civil. Em São Paulo, a escola de "engenheiros de trada , prevista no plano
do Gabine e Topográfico, criado em 1835 por RAFAEL TOBIASD AGUIAR,
não funcionou senão dois anos (1836-1838 , reab a em 1842, com a prc-
acnça de 23 alunos, extinguiu-se em 1849, por um artigo da lei orçamentária
daquele ano ... Só mais tarde, 43 anos depois d sa tm tiv é qu e criou,
em O'laio de 1893, em São Paulo, uma escola de engenharia que não chegou a
abrir- , como também não se instalou a escola superior de matemática e ci-
ências aplicadas às artes e às indústrias, criada m ag to de 1893, sob a dc-
nominaç o de Instituto Politécnico. As tentativas e reformas sucediam-se,
no campo do ensino técnico, até 1874, em que s institui, sõbre a velha Escola
Central, a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, - última fas de um longo
processo de formação, - seguida de perto pela E cola de Minas, fundada em
1876, em Ouro Prêto, e com longo intervalo, pela Escola Politécnica de São
Paulo, já no regime republicano. Não foram mais bem sucedidas as iniciativas
na ordem prli.tica em que, segundo observa EuCLIDE DA CUNHA, ''as mais
imperiosas medidas despontavam abortícias". A idéia de bater-se a distância
e abreviar-se a enormidade da terra pelas linhas férreas (idéia jâ acalentada
por Dtooo FEIJÓ quando em outubro de 1835 a ina a primeira lei sôbre es-
trada, de ferro) ressurgira em 1840 no privilégio concedido a um estrangeiro
pertinaz, TBoMAZ CoCHRANE. Mas o lúcido profissional agitou-se debalde
no meio da sociedade desfalecida até o malõgro completo de seu pensamento
progr • ta. A missão técnica de franceses, contratada em Paris, em 18 O,
por FRANCISCO DO RÊGO BARROS,depois Barao e Conde da Boa Vista, prova
co a sua presença em Pernambuco, não s6 a deficiência de profissionais no
pais e o baixo nível, ainda por essa época, da engenharia de proíi -o, como
também, nos constantes conflitos com o meio, o choque de d culturas e duas
tendlncia: - a conservador-a e a de inovação. D 1840 a 1846, essa missão
que azia como chefe o engenheiro Louts LÉGERVAUTHIER,e era constituída
por um grupo de técnicos, BJULITREAU, MlLLET, BUESSARD, MOREL, PORTll!:R,
todos franceses, teve de enfrentar, no Brasil patriarcal e escravocrata, apesar
do a oio do presidente da província, as mais trem ndas oposições: "a perso-
nalidad européia, como salienta GILBERTO FREYRE, no pr fácio ao Diário
Intimo do engenheiro VAUTHIER,é que dá ao drama de desaju tamento a
nota revolucionária, e o meio americano, a de conservação, a de rotina, e às
vêzes a de inércia. O homem do Velho Mundo ê que foi, nesse caso, o inovador".
E as incompreensões e resistências em que se quebraram as tentativas
no domínio do ensino de caráter técnico e na ordem pr' tica, acusam mais for-
temente o tremendo desvio angular que o ensino colonial, de origens eclesiás-
tica , criou entre a terra e o homem, entre a cultura e obra de colonização.
t nelas que se amorteceu a série de iniciativas de D. JoÃ.o VI, cujo espírito
orien do para a ordem técnica e econômica e r tabelcceu, trinta anos depois,
e já então com novo brilho e uma vibração nova, nos prcendimentos auda-
cio de lBINEu EVANGELISTA. DE SouSA Barão d auã, a que devem.
com os 15 lan da linha do G.rão-Pará, e sem nenhuns favor do govêrno~ 'os
prim iro paseos da conquita majestosa dos plan ltos". ainda na rotina e
nas h "tidades do meio que se abateu a vontade robusta de MAuÁ, v rias vêzcs

mlll ou dvlL &m 1874, afinal. aepanu,un-se a3 duas tra,ui .od~ • E.~ Cenb"al "ª as.ola
Pollt ca, com oa tr c:ur- de~ ciril, jii de trb ar,os, de mfo , tamW de u-e..e d• e...,..
r,ufarun,, de d , • cuja buc rendiam o cuno g,:ral ldob ano1) e os de n • fbicll e naturai1 au de d •
lrJlClall e ..,.l,.,n,t1c■ 1, de trb ■ n06.
A VIDA IN'r&LECTUAL - AS PROFISSôES LmERAIS 159

triunfante, corn uma elite de engenheiros brasileiros, e a!"mal desfalecida 10b


o pbo dos obstáculos que o levaram a renunciar a seus grandes planos e a sa-
crificar, nas mãos dos inglêses, construtores da atual São Paulo Railway, inau-
gurada cm 1867, a primeira concessão de estradas de ferro cm São Paulo. Sob
a influ!ncia. tenaz de MAUÁ que deu uma nova guinada, imprimindo rumo
oposto à mentalidade colonial, e em virtude do decreto de 26 de junho de 1852
que, "estabelecendo as garantias de juro, iniciou p.ràticamcnte a indústria
ferroviária" abrem-se novas perspectiva às atividades téalicas e econômicas
e um campo mais largo à engenharia nacional. De 1867 a 1875 e, portanto,
cm oito anos, já estavam inaugurados, quase todos por empresa , e com capitais
paulistas o trooccs das grandes rêdes ferroviárias: de Santo a Jundiaf (1867),
a Companhia. Paulista (1872), a Ituana {1873) e, em 1875 e Sorocabana, a Mo-
giena e e $,ão Paulo-Rio que levava os leus trilhos até Mogi das Cruzes, com-
pletando, em junho dêsse mesmo ano, o seu tráfego até Cachoeira, ponto terminal
da Estrada de Ferro Pedro II. A Escola Central que se transformou, e~ 1874,
na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, e a que vieram juntar-se a de Minas,
em Ouro Preto, em 1876, e s6 mais tarde, em 1893, a de São Paulo, era então,
em todo o país, o único centro de formação profissional de engenheiros civis.
,A.indaque, pois, mai recente na história de n~ cultura profi ional, a enge-
nharia que s6 tomou impulso na segunda metade do século XIX e conta atual-
mente com 10 escolas, entre particulares e oficiais, já se ilu tra com figuras de
vulto como TElXEtRA SoARES o construtor da estrada de ferro Curitiba-Pa-
ranaguá, - uma das mais notáveis obras da engenharia nacional-, C. B.
OroNI, TEÓFILO OroNJ, ANDRt REBOUÇAS, PEREIRA PASSOS, 9 remodelador da
cidade do Rio de Janeiro, PAULO DE F'RONTIN, ARROJADO LISBOA, PANDIÁ CA-
.LÓO&RASe, em São Paulo, ANTÔNIO FRANCISCO DE PAULA SOUSA, o primeiro
diretor da Escola Polit~mica, e FRANCISCO PAIS LEME DE M0NLEVAD.Eque
concebeu e começoa a executar, cm 1913, o plano de eletrificação da Companhia
Paulista de Estrada de Ferro. íO Ademais, se se considerar que era somente
nessas escolas e nas de medicina que adquiriu mais alto nível o ensino das ci-
~ncias matemáticas, físicas e químicas, embora aplicadas a profissões de cr-

9 Vede CollUIA J.l'u..Ro, Andtll Re!,oup,as. Contulnria pronunciada • lJ de Janeiro de 1!138em , .. lo


aolene do Clu.bc de Bn11:,:nhari• do Rlo de Janeiro, /n u Jcmal do Com~o••, Rio, 16 de janeil'o de 1938\ S..UO,,uo
Co1t1t■ l'A, Franoi,ico J>er&iu Pea o•. Confcre=la proíc:rida • 28 de ag&tto de 10311,• conYite do M1nl11:roda
Ed.uc. o e S•úde PObllc11, c·m comemorQçllo db c~tcaãrio d.o nee:<imento (l836) do rcformedor de cldad.c do
Rio de Janeiro. I o ' 1Condo d• M•nbl", Rio de J•nd.ro, 2!1 de agO.to de 1\)Jfl,
10 1111tu01.m11s DA CuJfflA que ob&orvou o contra.te entre o de,envolvlmento do 1-tem• ícri'ovi6rl11
argmtloo" o ,urto ferT<>V!Arlo brulletro, &11qW1nt:11 aqu& paio, em 1907, j' collt v■ com 20 814 km de vi&1
f&reu, cakul•v•m•oe CID17 242 1cm u .. tr•d•• de fttto do Bnsil que devera -ulr ctrca dc 70 000 1cm "•d·
mltindo- e co,no tbffl.,. oa pOV011111ent11a do. dolA palaoa e u linha• que um e outro pe«:OCTCmpara o dll1Xl.ioiod.a
ta-r■". diferença qt1e ''au&erlu ,:omcnürl~ que noa .a,, aetameute dteaf'11vnrlvei", cipllc•, pe,rt,n. Evc1,mu
IIA CvlnrA, antu de tudo pcl.o CO!ltrutc entre oe dola me:i gtogrMíCOJ: o d• At-ienl:lQll, em que ll terra • aub•
cnctu1, ºd e primeíroe p,1--, IC1n a ropul.a daaíu,dora do, plllC&tc,ann,:m d e brutoo, cntrq•odCH
qUAIC tt.da, buml.lhada oo rcbawnM:nto das plaou:ra.'', e o do.B,:uil em que•• ICITU e J?&l!W<ll• lcvaataram
CJam i« obttkuJa. CGDqlÚSt:a imtiva do plaodto eu, ava:nc:,,dttt trilh,. ei:o t.Õl!U D d.ireç6a. (À mari,am
da hl t6rla, l.• ed. 192.2, p6 . l ♦ P e 141). !, par i•ta, na con,,~ d.as va111J lillh&J de penctr çlo q\lC t11
pa. l p,ova mab dvr• • ..,..cnbnia íonal, ...,, que ., destacaram Vrsco:m& D& MAul., que alo era eopohdro,
Am>d Roo ç.u. M.ul.ulo hocd.,ro, e. 8. OTo,n, Pa.DlRA PASIO&,AMu Rui&tJto, .,.11<1.,. &dmi " tndorn
d.a e:. ..,. da Peno c~i:r&J do Bnull, .PAULODlf hOlff1lit, pda.obo de.d pf.-.çln d&aUl\ha,, DA SaTa do Mar.
e T,wc.uu Sou-,, o c-onatrvtor d• atnda P.ra1111pê a Curiliba, nDtlvcl pcl obl'u de arte, empnendid
peia "" ellharla d.e camiah de ícr,o. N. n l!Dh.arl• de po,tllill embora itr•lldcs pro-J tenham sido de et•
tra.ncdrOI, fi11:uramb'b nomet "º v FltANcuco BlCA.LBO,SoaSA BAito·antA e ALPuoo LtSGOA,e na de miDU,
Go ZAGA 01. CAMPOS c a ■UA acol■, C.i:.dou1.u, AllllDSADOL~o& e ColTA. S&ff&, o tcn:dro diretor da Kola.
de Mirutt, cm 01110 Preto. kt p-alldc• ln tal.-~ loidroelétriau, como Ribdrlo das i..,Ju, llha do, Pombos e
Cubata.>, - bl OJlima um doi mab 1,randl011011 tmpc«n4im=tos n••ll~dot no Elra■il, - llito planoe e obr1.1
d.e e,,g clroa e1tn11.11:eirot,eorn • o:olaboRi;:Ao de btaoileiroa. Na C!OMtruçliD civil. AAIIXo R&la, que dlrirh,
• comltdo w, .Mlhelro■ enc:arre •da de nn:rulr • cidade de Bela Horizonte, e SATULll<l:1'o os 8-.rro. o maior
nome da mieohari.a ao.itlria em que .. de:slACarllmo Gen~ }AKllDol, SillPAIQ Caiuuu e. T&oDoao R.u101.
q,o Rio Pai,.1,. são Ol.lb'OI tiultoa '">fflai qw, bcaram a cnv,oharia ~ {Cl'r. Rua.ma DA Cwou.,
A mv •m da hiet6ria. Vi■çlo Sul-amcriCSJlll, 139-163, l.• cd. 1922). MON SILVA, ln "Revuta S,., we
d.e Ocop:a!l.&"; ÃldlUTO RAl'iom., Rumot • p,u pàGfirea. 2..• cd. s&ie Br&llllao., .,o1., 16. Slo l'lll.llo, 193•;
Jott u,r. EIATtttA, O aur10 lorTO"ih/11 br 1.i/eilo no H,lundo rainado • o NU de ni,oJ•;m 11.to. Scp,,ni.
dGI li E U, de 1933, do ºl3a/otun" d.a Jo■ pero,ia Fedaal ~ &.tJ:adq).
J(i(} A CULTURA BRASILB:JRA

minadas, compreender-se-á o papel que a engenharia e a medicina exerceram


na cultura do país, quer despertando maior interêssc pelo problemas concretos
e locais, quer desenvolvendo o g6sto pelos estudos de carãter objetivo.
De fato, ao mesmo tempo que se criaram cursms de engenharia militar,
estabeleceram-se as primeiras escolas médico-cicúrgicas da Bahia e do Rio de
Janeiro, cm 1808, isto é, no mesmo ano cm que chegavam ao Brasil D. JoÃo
VI e a sua côrte, acossados de Portugal pelos exércitos de NAPOLEÃO.Foi
numa d cidades., na Bahia, que, ainda .na época colonial, 11 desenvolveu
o primeiro centro de cultura médica no Brasil, devido, observa GILBERTO
FREYRE,à aflu.!ncia para a cidade do Salvador, desde o século XVII, "do
maranos peritos na ciência de tratar dos doentes e receitando carne de porco
para que nenhum voluptuoso da delação desconfiasse deles. A medicina foi
sempre uma especialização muito dos sefardins; seu meio de competir com os
padres confessores e os capelães, na influência sôbre as grandes familias e a
gente poderosa dos governos. Foram de certo êlcs que a trouxeram para o
Brasil, nas suas formas mais adiàntadas e a desenvolveram na Bahia .e no Re-
cife". 12 At6 D. JoÃo VI, porém, os raros brasileiros que desejavam seguir
essa profissão não tinham outro recurso senão de ir estudá-la em Montpellier,
cm Paris e sobretudo em Coimbra, a que se encaminhava a maior parte dêles
e onde chegaram a estabelecer-se alguns, como Jost FRANCISCO LEAL e JosJf
CoRREL\ PlCANÇO,incluídos em 1772 pelo Marques de POMBAL no corpo do-
cente da Faculdade de Mcdiçina daquela Universidade. .ltss_ cursos mé-
dicos, instalados nos princípios do século XIX, não alteraram scn velmcnte
a i uação. Somente com a lei de 9 de setembro de 1826 que autorimva as
duas academias mé&co-cirúrgicas a expedir cartas de cirurgião, e, sobretudo
com a de 3 de outubro de 1832, que transformou essas escolas nas Faculdades
Nacionais de Medicina, da Bahia e do Rio de Janeiro, modclad pela de Paris,
adquiriu a profissão de clínico notãvcl posição no quadros profissionais e se
iniciou um período de atividades mais fecundas no campo do ensino médico.
As du s cidades tomaram-se focos mais vivos da cultura intelectual européia,
não s6 a de caráter t~cnico, ligado à medicina mas, por seu intermédio, a das
cibcias naturais que residem à base da profiS!ão. Na Bahia, centro científico
com vida pr6pria, not meados do século XIX, surgem, na patologia indigena,
figuras do valor de um WuCHERER, o descobridor da filária que traz o seu nome,
de um PATERSON, de um Sn.vA Luu., "o descobridor das doutrinas clinicas
acêrca.do beribéri", de um Al.MEIDA COUTO e de um NtNA RODRIGUES o criador

11 No p;-[mdro e:
OI lndio, OUl;r(MI "(bicoa",.
= p•rt:6 do eecun,lo ekulo
nl.o .erem OI jesu:11:8!1
1 do perlodo colonl11I,~o coAh eram oe colonoe e, aobrewdo.
que, nllo te:odo por ptot'i o. medldna, blCl'CVC Sltll.UJY LUTS,
"tinham por f&-ça de rnantcr-■e dentro da terap!utic■ c:mplric■ e:duma prorll• a rudimentar. ltvltaHm contudo
o lho do curanddri1mo pd• cultu•• bum■nl•tica <1uepouutam, a mal lllta do ■é\l tClllpo. Tivcrlffll, na vc:r-
dad • de te prc:mW>lr Udamcnte coot:nt. 8c-_ 01 fadioa, com a ,ua men lldade primitiva, cxl1lam ou,.. mara-
Yilb01U, como oe °" mio d jtsnltu eat'i_,.. • vida e: a m~". (SILII.AnMLsnll, PA,inH da hiat6ria do
Bra li, s-',, 195). CbamaY&m Cndl ... -padres o IICU pav,1nfa, bto t, "a w, v ad ra ~iclna". :&les.
de falo, u■nto do vlet'IIJD ae proliDioa.aü, er■= OI m&lic d fndloa, ao tniam11:1no de c:u.ju -Cennidadu
utlllu lat cote u crvaa med~ e a ttpcrii!slcia indf1e:na collúda. ffll contato com oa ea á e, cm &era!,
com a culwra da• popula primiti,,.._ Núma _,.. c:m que havia "f • Ottll batbélnlt"[ •• drcuns-
lh unpwiham o dever hwna.aitkio de acudir u cofermldad do carpo, audJda em qu.c hea era paa-
&lvcl,,com OI - locab • • botica do oa!égio. Bm cada mi • irio pod' - dizer que vivia u midlco.
O. p,cl • do _. c:m S■lndor e ao Rerife. n r..,.do a6cu.lo XVU, &m111« far•m tin pau,:oa qu
.... nm pua aa ddad , e: ainda aoe Cma do a6eulo XVlll, pedia o • ,rei Lob olt V Clll.09 t SoUk
(177 1790) provid&ldb il Mctt~c, wpor haver na b:rca pcnu quatro
COIDO pr timo." Doa cwi âbloo mEdicoi, q12 fanam pa,-t,, da b(ll,llldcsa.
AflAU, e toroatam • 8W"Opl■,- WII.HEU( Piso e Gttoao_s Mu.olro.MPP, o QU<' l um plmJo
d l)n otde.m, Medk/tlll. Br,ujJi.,nsi , primeira parte da Hi t6ti n ■ fu.raJj BrHlli a (16411), obr9
• tod.,. ,_ i,àtoL Doo criatmia """"'- jude-llS vinde» de Ammnlam d Portupl, q11 p, • am
• a na Bahia e doe pr6prioo m&liaa panugu qllC vieram acra:r • pr e rwa.,,eolc
K bel • DO Brasil, aeabum rco.luou obra PCm ttve quamqw:r eia: vu I v ck ume. U>flQ_l!ac.ia
dl!l'ivel a6bN o d volYU11eotoda medicina no pás. 1t, porém, • um a mldlm belano, Dr. Ál.~
oo ua Jl'au1:st.\. maunaturalista do que m!dico, eoviado tem 171l s-,a dar aa ri411UU aaturais do
& devem aa mclh.arn nb9ervaçõcs ■6bre u feb«a de to-Gtoao e " primeira e: maueu deacric;l.o
da l>ffi DO Braall"
12 Gn.aatro 1"111:nu_ Sobrado5 ., ,noc.,mb<u. Dcc■ • da pa_trla.ru o niral do Br-'1, '271,
P•11lo, 1113
A VIDA INTELECTUAL - AS PROFISSÕES LlBERAlS 161

da medicina legal, cm cuja escola se formaram OScAR FREl.REe APRÂ.NlO Psl-


XOTO;enquanto no Rio de Janeiro se desdobra uma plliade brilhante de cli-
nicoe, cirurgiões e professores que atingem, no Império, o prestígio indisputável
• de um SALEsTÕR.RESHOMEM,clinico e mestre eminente. de um VIC&NTE SAB61A
e ANDRADEPERTENC&,grandes cirurgiões, e que se sucedem, na República,
numa cadeia de valores, como MIGUEL COUTO,MIGUEL PEREJRA, ALMEIDA
MAGALHÃES e outros, formados na escola de FRANCISCO DE CASTRO,"mestre
sedutor e lunúnoso", que imprimiu novo brilho ao ensino e à clinica e elevou
a medicina brasileira à mais alta autoridade intelectual.
- Certamente, as classes, agrupando e separando as profissões, influíram
poderosamente, por todo o Império e na República, sôbre a escolha das pro-
fissões liberais que passaram a ter uma supremacia evidente, como ocupações
nobres, sôbre tõdas as de carãter têcnico, manual e mecânico. Em nossa elite,
pÓfém, quase inteiramente constituída de advogados, médicos e engenheiros,
,, foram aqu@les bachareis e doutores, que adquiriram, na hierarquia interpro-
fisaional, maior autoridade e prestígio. A atração exercida por esses dois tipos
de escolas, as de direito e as de medicina, mais de acôrdo com as nossas tenden-
cias intelectuais (o próprio ensino médico permaneceu durante muito tempo
mais te6rico e especulativo do que experimental), foi tão intensa que não tardou
a estabelecer-se grande desproporção entre o número de médicos ou bacharéis
formados e os que exercem a profissão escolhida, em geral, prematuramente,
aos 18 anos, menos por tendências individuais ou por vocação do que pela in-
fhiêocia social dessas carreiras. Em um país, cuja grandeza foi antes de tudo
politica e jurídica, e de que se começou a construção jurídica antes de ae erguer
• sua estrutura social e econõnúca, não podia ser o comércio, nem a indústria,
nem a técnica em estágio rudimentar, mas o direito que devia atrair a si uma
boa parte das fôrtas vivas da nação. O importante não era, para nós, a prá-
tica de negócios, nem a técnica industrial, nem a ciência aplicada, nem mcamo
a peaquisa cientifica, mas tal ou qual conhecimento que os indivíduos adquiriam
empalidecendo aõbre os livros, e em que encontravam ponto de apojo, sobretudo
quando adornado pelas letras, para a expansão de todo o seu prestigio de le-
trados, eruditos, jurisconsultos e oradores políticos. • O bacharel tomou usim
o primeiro lugar na escala proíissíonal e social, e, entre as profissões liberais,
nenhuma outra desempenhou papel mais importante na vida intelectual e
política do pa[s. Pois, se uma segunda natureza o domina de algwn modo,
como a qualquer outro profissional médico ou engenheiro, e o fu ver as coisas
de üm ângulo especial, - o ponto de vista jundico -, a amplitude de conhe•
cimentos que exige a profissão do advogado, lhe dá maior plasticidade, inte-
lectual e o leva a encarar as questões de vãrios pontos de vista, facilitando a
• improvisação que deixou de ser um defeito, para ser uma utilidade. . . O mé-
kdico seguiu-o de perto: a iníluência que tende a exercer nas grandes famílias,
a extensão das endcmias e das epidcmiaa e o largo campo aberto, no Brasil.
àa atividades cHnicas armaram o médico e, em muitos casos, o fanna~utico,
- o médico da gente pobre, no interior-, de um enorme prestígio aocial e
mesmo político, especialmente nos pequenos centros urbanos. O engenheiro,
'ào contrário, obrigado a um relativo. isolamento, pelas suas atividades domi-
nantes (serviços de campo); trabalhando, não sôbre material humano, - in-
teresses e sofrimentos-, mas sõbre a madeira, a pedra, o ferro e o cimento:
acm estímulos, na profissão, para a vida intelectual, como para grandes reali-
zações num meio de economia agrícola de uma organização elementar de tra-
balho, e com êsse espirito prático e positivo que vem de um contato maia fre-
qüente com as ci!ncias fisicas e matemáticas, nunca adquiriu poder de influ•
bcia e a projeção social que abriram aos bacharéis e doutores o acesto a tôdas
•u pociçõca, poUticas e academicas, e aos mais altos postos na administração.

-u-
1152 A CULTURA BRASILEI A

A abundância das escolas de ensino superior, de tipo profissional, e parti-


cularmente das faca.Idades de medicina (11 em 1940) e de direito (20 nesse
memio ano), num país em que a classe aba tads não é relativamente numerosa,
é uma prova evidente da tendência exagerada de elas para as carreiras
liberais. Penetrado, em geral. em todo o século XIX, do velho e.sp{ritolivresco
e dialético, o ensino superior fabrica incessan em.ente uma e~c d aristo-
cracia nova a dos diplomados. quer dos que seco am dentro da profissão
para que preparam, quer- dos qu_e d am ou tr sbordam dos quadros
profissionais para as letras, o jornalismo, a polltica e a administração. Todo
e$e ensino, - que se manteve satélite da cultura curop 'ia, no seu carãter
universalista e teórico, e raramente soube transformar-se pela critica, obser-
vação e experimentação, ainda quando orientado para a aprendizagem prâ-
tica, - e os diplomas que o sancionaram, abriam aos jovens, bacharéis e
doutore I cargos e funções públicas em todos os quadros administrativos e po-
líticos do país. A classe dos intelectuais, de tipo profissional, que cresceu sem
cessar desde o Império, e sobretudo na República, e na qual se integram men-
talidades, encerradas no círculo estreito de suas profüsõ s ou abertas para ho-
rizontes mais largos, não é senão uma simples categoria social tudo que se pode
chamar a elite intelectual do país, que não procurava a mais das vêzes ou jul-
gava não poder encontrar meios de subsistência senao nas atividades gover-
namentais ou ada;ünistrativas. Que grande número de bacharéis, de médicos
mesmo de engenheiros, afluem para a função públic.a, fim de lhe pedir os
meios de vida que s6 a poucos concede o exercício clusivo da profissão, é fato
que r ta do exame da escala administra ·va e política, de alto a baixo, e
dos tem ntos dominantes na sua composição. Ma , com o número crescente
de bachar is e doutores que saem, às multidões, dessa faculdades, multipli-
caram-se os candidatos a ~es cargos e empregos do E tado. ~les passaram
a cons 'tuir uma classe cada vez mais numero de funcionários e letrados,
saturados, na República como no Império, "de fónnulas européias que des-
prezavam a sociedade de que saíram e lhes alimentavam vastas ambições".
o funcionalismo tão extraordinàriamente desenvolvido teve a sua origem
na escravidão que, degradando o trabalho da terra e amesquinhando os oficias
mecânicos, ''obrigou a encaminhar-se para os empr os do E tado os filhos
dos homens livres que não podiam ser senhores e não queriam igualar-se aos
avos", foi certamente o bacharelismo que mais contribuiu para desenvolver
&!sependor para os cargos públicos e políticos m qu se instalou como em do-
mínio pr6prio. "Dêle, escreve GILBERTO AMADO,é que na ceu ssa irresis-
tfvel inclinação ao eroprêgo público qlie o novo r gime não pôde conj\:lrar,
antes acoroçoou, porque, não tendo criado o trabalho nem a instrução profis-
sional, não pôde evitar que se dirigissem para os cargos públicos o moços for-
mados nas academias, inaptos à lavoura, ao comércio, ao ofício técnicos", ts
As classes dirigentes do país, constituídas na sua maioria de bachar~is ern
direito, "de uma grande receptividade para as novidades jurldicas", mas de
píri o tão pouco aberto à observação e à ciência à realidad econômicas
o problemas técnicos. tinham de marcar-se com todo os caracteres e todos
09 hábitos intelectuais, de linguagem ou de ação qu cultura e a atividade
profissionais costumam. transmitir ao advogado. Nad marca o homem como
a rofí -o; e nada se estampou tão vivamen e na cultura e na politica do país
como a fisionomia profissional ou a mentalidade caract í ica do bacharel
cm direi o. A direção política. partilhada entre es aris OCTacia profissional
as famílias proprietárias, entre os doutores e faundeiro , com a cultura teó-
rica daqueles e o espírito reacionário dêstes, era dominada inteiramente por

1 GrLBll•TO ÃJUJ>O, Aa in11U~õu polib'CJY e o m,;/o -' I, ln "Ã marllffl) cl• hiltúia cá Rc-
·c,1,11ca",P'I• 74. Edjçlo do "AouArio do Bnuil", Rio de Janeiro.
A VIDA INTELECTUAL - AS PROFISSÕES LtBERAJS 163

uma elite que não ac havia preparado para resolver 01 problemas técnicos e
para enquadrar e governar a comunidade com um vigoroso espírito de recons-
trução. H A classe dos intelectuais que se obstinava a desconhecer as nccea-
sidadcs vitais do pais, continuava, sob a influência de homens de E1tado, "com
todoe oe.b bi o peculiares aos legistas educados à abstrata", a limitar aa u 1
atividades à polltica, às profissões liberais e à literatura, enquanto o comércio,
oa negócios, as empr!sas comerciais e industriais, corno a cimcia pura e a. ci-
encia aplicada, as pesquisas e as investigações, não pareciam interessar senão
aos estrangeiros. Homens de educação abstrata, escreve GrLB,ERTO AMADo
referindo-« aos políticos do império, "a todos faltava. uma educação 1científica
necessária compreensão de um país que, mais do que nenhum outro, precisava
de uma potrtica construtiva"; e "quase todos eram levados a se preocupar mais
com o aspecto do que com o fundo dos problemas". ~ por isto que as maia
bela~ figuras de um ou de outro partido, no Império, - e pode-se afirmar o
mesmo quanto ao estadistas da República-, "no que dizia com as realidades
concretas do país realizaram uma simples ação decorativa. Ilustrados nos
publicistaa europeus, observa ainda GILBERTO AMAoo, versando tema que
não tinham relação com o meio, os mais brilhantes estadistas não eram de certo
os mais útei ". No entanto. além de contribuir para atender às necessidades
dos quadros poUticos e culturais, em que sempre dominou com a sua plasti-
cidade de adap ação, o bacharel cm leis, como notou SAMPAIO CORREJA, foi
o único profissional que C4 êve à altura da tarefa que exigia êsse mundo em for-
mação, e que cumpriu fielmente a sua função social. Levando por tôda parte
o cspirito juridico, de r peito ao direito, à lei e à justiça; suavizando as relações
humanas e dando estrutura política à República, o bacharel não foi sõmcn e
um batedor e um pioneiro da civilização, mas «um mãg:ico que conseguiu e
legalizassem pelos usucapiões mansas e pacíficas as transmi de erra, e
que obteve de um punhado de homens atirados à aventura que r conhe m
o poder e a sabedoria do direito e, com êle, a estabilidade e a fôrça org ica do
Estado'.
A !sse predom1nio do bacharelismo cultivado por todo o lmp rio nas duas
·Jaculdades de direito, e de influência crescente nas elites polfticas e cul urais,
prendem-se a notável preponderância que teve o jurídico sóbre o econômico, o
cujdado d dar sociedad uma estrutura jurídica e política sõbre a preocupação
de enfrentar e resolver os eus problemas técnicos. É um dos exemplos maia
fri~tcs do dc9interê e p lo estudo e pela solução das questões referentes à
organização material e econômica do paí9, a história da fundagão da E cola de

U O crlt&io poll.tlco qu qua ecm~ p,e.idiu à f<lffllA$llod~ que IOY""'8mcntal , d,:u luaar a
WDA claPc • • t.a, cm 11crlll,de bW"ocratu e membro. de parti:lo. coma um ■ nov la pro.
m• DIICIC~h• doo homem prcp~ aou o cri~ • •
o do ~ vidoa Oll pooto. em via de •
port re mtrela t uma du provN
(a , - apreaeotv Wll3 ootn, e ii 't•
• • •~. A íebre ILID..-el , dnde I aao,,
an timo, d cred1tan o o P"f>- Em 1159 WuCHD&II, P•cru lf
e: rc &.111&rela • coidem.i• rei.a.an e o,-, e, du•
, ao vulJ>, ada.do do Mico.
F't!'ll.4T e II u:podiç,10 .am
~ febre ..,,.rc1 •. pêlo S ata)
Slo Paula, P~IUllllA O I UT &
com .. upéri
■ u:u
como le:mbno , cirur11,io n.otivd,
arri..:am •
11>&.odOJ de eo<nhste à pe,tc amcncana.

e
noaovbuJ>deRoououu Ai.va(I 32-19061 que
capU de rnl>lver o problema. rompeU • ca
°"'""
oh.a _. •
i a ataq direto ao, foco, de tn • o, fb. u, da alO•
906 Eatllve pràticamcnte- cstiJ>t:a• febre ......-cu nata parte do coo•
tinente di nrc nla hav;., de rato, m i~ nutro da m>l&ti■, O pr.>blcm• da lepra, e,
ae •ind• lllo eac: na palt j6 ■e pode cooaldcnr raolvido cm ~a Paula par moo de una or •n •
aç:lo Ya"d une madda.r, ln d pu.- E:,rfuo 'Ruiu e aot:hdmeate deocov rida, to.-col601u,
par SIJ.q GOMu e acua auiuharn de primctra ordem, pela co,i,pct!ftcia e capaciddc .
l A CULTURA BRASILElR

Minas. A maior riqueza do Brasil colonial foi certamente a C%ploraçãodos


grandes dep6 itos de aluviões auríferas e diamantinas acumuladas à flor da
terra e descobertas pelos bandeirantes, nas s as investidas pelo sertões. Mas
a exploração das minas, à medida que se e.3gotavam as riquezas das camadas
upcrfidaís e se pa sava do simples trabalho de panhá-las ao da extração do
ouro nas camadas subterrâneas, tornava-se cada vez mais difícil e complexa,
exigindo a substituição da rotina e dos métodos empíricos por no as t~cnicas
de pesquisa do solo, do trabalho das minas e da extração dos metais. Daí, e
do abandono em que iam caindo as minas do Brasil a idlia d criação de uma
escola de minas, já acalentada por D. JoÃo VI, então Príncipe Regente, quando,
no alvará de 13 de maio de 1803, falava 'no e tabelecimcnto de escolas mine-
ra16gicas e metalúrgicas, semelhantes às de FREYBERG SCK&MINTZ, de que têm
resultado para aquêles países tão grandes e assinaladas vantagens". A questão
ressurge com mais precisão em 1832, na A sembl'ia Geral, que vota a lei de
3 de outubro dêsse ano, sancionada pela Regência, criando na Província de
Minas Gerais um curso de estudos mineral6gicos. Essa lei permaneceu du-
rante 43 anos sem execução. Somente em 1876 ~ instalada, em Ouro Prêto,
por iniciativa de PEDRO II, a Escola de Minas com o objetivo principal da for-
mação de engenheiros de minas, geólogos, mineralogi tas e metalurgistas. Era
a segunda escola técnica de engenharia que e instituis: no Brasil, dois anos
d poi da Escola Politécnica em que se transformou em 1874, ainda segundo
moldes franceses, a Escola Central do Rio de Janclro. A Escola de Minas,
inaugurada em Ouro Prêto -por deliberação do Imperador que convidara o
engenheiro francês CLAUD$ HENRI GORCEIX pnra 'r ao Br il estudar-lhe o
plano e encarregar-se de sua execução, foi, dentro do nosso sistema de eultura,
uma ins ºtuição original e solitária, fiel ao espírito que lhe imprimiu seu fun-
dador e primeiro diretor, empenhado desde as sua orig; em faze dela não
s6 um tabclecimento de ensino profissiona1 mas um centro de pesquisas
e de trabalho científico. Encravada, porém nas montanhas de inas, longe
dos principais centros urbanos, industriais e cul urafa, do aís, essa Escola
em que e formaram profi.ssionais de primeira ordem e professaram mestres
eminentes como GoRCEIX, ARMANl>DE BovET e ARTUR Tunuf, contratados em
Paris, e A.RQOIAS MEDRADO, COSTA SENA, LEÔNlDAS D lÁSIO, BARBOSA DA
Sn.vA e ROCHA LAGOA, entre outros, não pôde adquirir uma vitalidade bas-
tante ativa para dar ao seu ensino, preciso e experimen al, maior poder de
penetração e para influir eficazmente na transformação da m ntalidade e na
r novação dos valores técnicos.
Certamente, se, no domínio da engenharia, essa Escola n o realizou, -pelo
isolamento que lhe restringiu a zona de influência, a função renovadora que
exerceu mais tarde o Instituto de Manguinhos, no campo da medicina experi-
mental, foi ela igualmente dominada pelo desejo de imprimir uma nova ori-
entação e abrir perspectivas novas à engenharia nacional e de resolver os pro-
blemas nacionais com elementos próprios. A finalidade a que se propôs na sua
organiz ção, o vasto campo que à volta do pr6prio instituto se abria para as
pesquisas geológicas e mineral6gicas, e o espírito cientffico e experimental que
lhe transmitiu seu ilustre fundador e se comunicou aos seus me.lhorea colabo-
radores, a levaram a concentrar sua atenção sôbre as riquezas minerais do
Brasil, s investigações do subsolo e os problemas da indústria do ferro. Os
estudos de HENRr GoRCEIX sôbre as rochas dos arredor de Ouro Prêto, as
jmda.s d topázios e as bacias terciárias do Gandarela do Fonseca; as contri-
buições de wn COSTA SENA, no domínio da geologia e da mineralogia, e as ati-
vidad de pesquisa de fósseis brasileiros, realizadas quer sob a inspiração de
GoRc tx, quer pela poderosa influência de ÜRVILLE DERBY, mostram em que
sentido se orientou a Escola de Minas e até que pon o contribuiu para o desen-
A VIDA INTELECTUAL - AS PROFISSÕES LIBERAJS 165

volvimento do esptrito de investigação e para os progresso da engenharia


nacional. Foi, no dorn1nio da engenharia, Ulll papel semelhante ao que desem-
penhou, embora cm muito maior escala e com maior poder de irr dias;ão, o
Instituto de Manguinhos fundado por OsvALDO CRuz, o saneador da cidade
do Rio de Janeiro, o remodelador da medicina uperimental, o "mestre d
mestres~•, que, criando laboratório de pesquisas, no terreno da pa ol •
aperimcntal, aparelhou a medicina no Brasil de um instrumento de fecundas
transformações. ''Na hist6ria da ciência brasileira o nome de Osv.u.oo CRUZ,
escreve OscARFREru, marca uma fase decisiva. O desejo de resolver os pro-
blemas nacionais com elemento próprios, fazendo no Brasil a ci~ncia para o
Brasil, todo se perdia em esforços isolados e esparsos. Preciso era fundar um
núcleo onde se reunissem os elementos de trabalho capazes e donde se irra-
diasse para o Brasil inteiro a claridade de uma nova orientação e de novos
horizontet. E tal função OSVALDO CRUZ exerceu admiràvelmente, de sorte
que de.te, como seu maior dtulo de glória, se pode dizer: OSVALDO CRUZ nacio-
nalizou verdadeiramente a ciência médica, estabelecendo o prindpio de que
~ no Brasil que se devem fazer a medicina e a higiene para o Brasil".t!S A insti-
tuição de Manguinho , jé proclamada ''a maior glória cientifica do Brasil"
e que, desde 1908, tomou o nome de seu fundador, é, de fato, como escola de
medicina tropical, no dizer de RtJt BARBOSA, -''a matriz onde vem beber tõda
a América Latina."
No entanto, apesar dêsses grandes esforços, isolados e cli per a que
rdcria OsCAR FREnm, e da ação sistemática. mais limitada, de uma escola de
minas, ou de maior amplitude e fôrça de penetração, como o Instituto de Man-
guinbos o que tem predominado, em cada uma dessas carreiras intelectuais é
a idéia de aplicação profi ional; e as próprias pesquisas, quando se entra nease
terreno, o orientadas no sentido da pro(issão. A não ser nas faculdades de
direito, em que, pelo pêso excessivo das noções teóricas, se rompeu o equilíbrio
entre a teoria e a prática, abrindo-se, porém, maior margem à cultura geral,
dá-se por tõda parte, nos institutos de formação profissional, prderência
aprendizagem prática, que ainda ocupa lugar de importância, embora se acentue
cada vez mais, como nas faculdades de medicina, a tendência a uma prepa-
ração científica especial e ao espúito de pesquisa e de experimentação. Em
conseqüência, pois, da importância preponderante dada à vida prática e pro-
fissional, as ciencias cxp rimentais foram por largo tempo quase desconhecidas
fora dos mQscus, como o Museu Nacional, dos observatórios e de outros insti-
tutos, mais penetr~dos do espírito e dos métodos científicos; e, ainda hoje, apesar
das escola técnicas e dos laborat6tios recentemente criados, é diffcil ao inves•
tigador ou ao sâbio no Brasil, achar algumas dessas sinecuras, tão numerosas
na Alemanha, em que possa, ao abrigo de necessidades, prosseguir estudos de-
sinteressados. Por tõda a parte e cm tôdas as instituições de ensino superior,
a mesma subordinação da ciência à arte, o mesmo cuidado da aplicação imediata
e próxima, a me ma direção utilitária em vista da função pública ou de uma
i3 o 16 na obn de cameato mas DO es/6,tço deoeovolvido para ••ra.uJlO
1km par:aoB<uil", fni O.V.U.00 C.t,& epalad.o " ldo de pcr:to pOl° di,dp
ordem, como CA&LOI Clu.a.u, AltJVII NILIVA e. B.~o P-A. que. par & ap,,clalmc,:~ convidado. o
pan ou 1910, oe vla&ffll l do Má1dra-Mamort, oo Ama%onu. Jl cm 190-7a. Bll.11.(IUO PDI co-
• -4o, de CA'IU.CIIC1ll,o.u, s,ua comblltl!s" • Qidcmia do im • DO oane de ,
ebalhae n,,i comi orpnlllld• par OlvALDO C.Uz, e qlM: c:z:tiD(llie • fcbn, aa.tda QO
P•l {U>l0-1911), ui• llll2, com /1.a'l'Ull NEIVA, para uma, cccuraão c::icaiúftcaao oorte de la, .O IIU•
doeatc dte Pernambuco, .., Pi.elll e •o sul e ao oarte de GClÜillv. Rckt6rio publicado naa "Mcm6riu do lrMo bito
0sYaJdo <:nu'', 1916). foi dlrctcw do ScrviçO de P1ol'iluia Rural, criado pelo pre,id. te. VSl(car.AD Bw (clec.
IS 000 de l.• de ffl4lo d 19111; fUDdou • Up Pr6 Smlea.mento do Brasil; poblicc,Q,. aJ&:,. --
e COQfcr~. •6rla• obru tn u q , Sit=amento do BrHil (1.• ediçh, 1911; ed. 1 U): promoveu.
cm 19.lO, quudo do i,amento Rural, a ~o do ~ de praliluia runJ 15 s.tadoe: m•
JlffCDdeua mab vicot0ta campanha qu ,e ~fuua entre 116s,pano dapert:ar • • -1t • dar cam.•
batel aDdl tomole, ao • .,..,r110, l r.nalclta, ll lepra e ao alcoolismcr, pacarreu (1927-2 f;Nlldc pct,e 4a .._
'-do d MlDaa OeraiJ, bc,a c-.o ce de A ,.., Panambw:o, Paraíba e Rio &ande do Norte, em ~ de
p-opepDda ■ educ■c o ll&llitirla, ~. maÍII tarde, de uns• 1!>30,o Rio Gt"&Ddcdo ol, p■r■ oDdeKIU!r■ a coa•
,ri do ao,,erno do &tido. P.--iovido ■ U>tJld.l>rde Pr~ e Edv.caçio S■nic.6d■ em 1928, !oi -oado
em 1930 dlnllX' do ~to N ■c anal de Sa6de PAbUca {19l0~3l).
166 A CULTURA BRASILEIRA

carreira privada, e o mesmo pendor, em conseqüência, a encarar de um ângulo


especial, - o profistlonal, as questões mais gCt"aise complexas que transcendem
as fronteiras de uma profissão. Sôbre a base prccâria de cultura científica e a
aus!ncia quase absoluta do espírito crítico e filosófico, era natural que se de-
senvolvesse, como de fato se desenvolveu, nas gerações dos "desertores" das
profissões, essa cultura de caráter enciclopédico em que o pensamento ganha
em extensão o que perdeu em profundidade, e se manteve sempre distante o
espírito criador, de que tomou o lugar a erudição, e esta mesma quase sempre,
entre nós, aparente e sem substância, dissimulando, sob a superfície às vêzes
brilhante, a absoluta falta de solidez de conhecimentos. Da.t a razão de não
ae ter f<i-mado, ainda que ao abrigo da liberdade, uma elite cultivada cuja
iníluatlcia sõbrc a massa tivesse sido notável e que não se poderia esperar de
uma educação, de caráter estritamente profissional, e certamente, porisso preju-
dicial tanto ao indivíduo, tomado isoladamente, como à sociedade no seu con•
junto. A enorme desproporção entre as sociedades puramente cientificas que
quase se contam pelos dedos, e as associações de advogado,, engenheiros, mé•
dicos e farmacêuticos, 16 existentes no país, constitui por si s6, um fato forte•
mente ilustrativo da expansão do espúito profissional e do prestígio crescente
dos diplomados.
Se, pois, a Independência, como observou PEDRO CALMON, "não encon·
trara formada uma aristocracia mental, detmembrada do clero, puramente
leiga", o que a República encontrou e não fêz mais do que desenvolver foi uma
aristocracia nova, de bacharéis e doutores, inteiramente nutrida nas escolas
de formação profissional ou constituída de "desertores'' da profissão. Quanto
representava de eclesiástico ou de clerical a cultura que &e desenvolveu na
Colônia, à sombra de colégios de padres e seminârios, tanto trazia de profis•
~onal a que tomou impulso e se expandiu, na claridade das escolas e academias
-prepostas à formação de médicos, engenheiros e advogados. "As sacristias,
as celas dos frades, o púlpito e as vigararias polarizavam, escreve ainda PEDRO
CALMON, a animação intelectual que resswnbra nos documentos ideológicos
daquela quadra de revolução e definição nacional", e desempenharam por tôda
a Colónia, com os colégios e seminários, na formação cultural do Brasil, o mesmo
papel que exerceram, no Império e na República, as escolas destinadas à pre-
paração para as profissões liberais, marcando com um carâter acentuadamente
profissional a nossa cultura que mal se desprendera do circulo de atração das
influencias eclesiásticas. Das três grandes tradiçõeg da Europa, cm que se
alimentou a nossa cultura, a que ne1a predominou, não foi, porém, como se
podia julgar pelas suas origens religiosas o sentido profundo da vida interior
ou de uma miseão a cumprir, característico da tradição judaico-cristã, nem o
culto da inteligência pura, herdado dos gregos, mas a tradição, do direito .ra-
M Bntn u princli,ais auociaçlles cn~icu do pai~, nf;\ll"Q em primeiro pl100, • mab 1nti1• de t6claa,
• AclOdC'fflla Nacional de Medicina, cm que 1e -formou,~•
de Mcdldna que, pnr- 1ua vez, NS\lltoU-da r-éor-pnizai;ão, em 183$, da ~ade de Medlcln.1, fundada
par J. e. SoA•fl Mua.RID, J, M. Cauz JOBl~, L. v. D11SlMOf'II,J. M.. P.UVllll e J. P, SlGAllt>,com o ob)etivo
=
1889. t-omaodo aquele nome,• Academia Imperial
1829
de promovff "o prcs,cttn e o fomento du cilnciu m&lie• e bendíclar, em ttet■I, • humanidade mcdlantc o
ntudo e a &pllc:eelo doo ~ favarAvei• à ~ e •o mdh«aa\ento da uõda pOblica." Teve ocmprc
..ma vide 1.DtCDM e de 1nu>de autoridade, como oc v~ da pgl>Ucaçlo q- foinu:rnipta d1 rcviata dCN&nckdldc
q..,. tomou., IICOCDJ>&:>.baad~lbc
ledo, cu Acadcuiia Nlldooal de M~"' Entre UMS e 1&8$, em que M '"""'°"
• ~ nomca di.,.,.._ e tem boje adi• d<>100 voluniu, IAtitulada. •'B<>,.
oob a p,uldtftcia de CAff-'
l'UV. • Soci<,dadc de Med.icina e Cin,rg~ do Rio de Janeiro, - Olltr• import&Dtc eodcdade mtdlca -~
.... ait.u ootrH ~ ~•"'- e se cxti!!culnm DO Bt■..il"", C<mlO ._...., .. ~ Al<T6'NIO AVST11IOÚll.O que
Rumcn 14 desoaJ oociedadCIImidk:u, r~ca, e mtdlco-(arrucfutlCM. A Sociedade de Medicina e Cl-
l'\ltl)I da Bahia, qu<>1ocedeu cm 1894 à Soc:ieda.i!.c de Medicina, fimdalla em Ul&I, p1tbU- att L90I dai, \'Qtu=,:1
de ecu. Aoail e mant&n, dadc ens Epoca. como {r~ da Soci!'dade • Rcvbta de Medicina. Numaoau outra•
-,;cdod .. ec f'lllldaram mm -de, cm São Paulo, oodc funcionam a Sociedade~ l4cdlclo.a e Cinirtia e• Ano-
dac:lo PauliJta do Medlána, entre .. mais anlip,; no Rio de Jandro cm qw, .., crieran, ~t&s de e:adter
Jtral, como o Sindicato MHico ou cçcàaliudu, como a Sociedade .Bruiltlr& de Nusrolc,aia, Ptiqulatria. e Me~
dlcioa Lqal, f~• nn 1907; em v'riu capitai.l (P6rto Alqrc. Niterói e MaD.■111) o mesmo nn cidade, ma.ia
impc,nantQ do IJlt:aic.-, em Mioas e em São Paulo, Se o dCR1>volYlmt.eto.. aodAt190, oo terreno da cn«•nharia.
• Jo dlr<lto, DIio teve • eo<pa.nsio q.,.ntib!ti,•a que se verificou no campo m6'fü:o, JA podem u da.u d._. apre-
emtar u~ t'OlllO o Clube de Engenharia. no Rio. o hutitulO de BnaCAharia, em Sio Paulo, e .. Ordca.a
de AdVOladot, de Slo Paulo e Rio, alhn de sindicatos e iOJtltutos de rui lnOu!ncl1 noe mclo,i ,,. ..n.. ionaio.
A VIDA INTELECTUAL - AS PROFISSÕES LIBERAIS 167

cional, provindo dos romanos. Enquanto no norte do continente americano


se realizava, sob o impulso de suas imensas riquezas minerai e da exploração
industrial do subsolo, um desenvolvimento i:tuniJateral, quase excluAivamente
baseado no pro resso das coisas materiais", desabrochava, no Brasil, como uma
flor de civilização a cultura joridic.i, poderosamente alimentada nas tradições
morais e religio d nação. Durante mais de um século ou por qu se odo
o \,eriodo que a seguiu à Independência Nacional, foi a voz do direito que ae
ergueu mais alto, e nas academias e à sombra delas é que a vida intelectual
adquiriu maior intensidade e maior poder de projeção. Com a complaid de
crcsoente do sistema social e econômico, do país, e a especialização de funções,
resultante do processo de divisão do trabalho, dilatou-se, sem dúvida, o campo
de atividades a aplicações profissionais, para corresponder a neccssidadca novas,
aaa carreiras libel'ais, como na agricultura, na indústria e no comércio, e sur•
giram, em conseqüência, instituições e escolas especializadas destinadas a atender
à aigencias dos quadros técnicos e profissionais nascentes ou em pleno descn 4

volvimento. Mas, a mentalidade literária e jurídica pr-epondera a t6daa as


outras, cientifica, técnica e de organização racional; e, no processo de sua evo-
lução, apenas se desenha a emancipação da cultura que ainda se mantim
prha à vid e às atividades profissionais. e sem as condições e os impulsoa ne-
cessários para se erguer acima das profissões e transíormar as elites do país,
de "portadoras" de cultura em "criadoras" de uma cultura nacional, 'integrada
no espfrito de uma nova civilização.
A tendanci par letras, ainda no domínio profissionaJ, e o, trabalha.
dispersos de cul ores d in ercssados da ciência, revelam essec,í, ço, verda-
deiramente no vel, entre brasileiros, para ultrapassar e dominar, pela cul-
tura, a profissão. Essa inclinação não corresponde, de fato, apenas tradição
emincn emente litcrári de nossa cultura, por influência do sistema colonial
de ensino mas tamMm a uma nobre aspiração de aperf ciçoamento e libataçio
do csplrito, de um derivativo à cultura profissional, tanto mais procurado quanto
o prestígio literário empre foi, entre nós, suscetível de aumentar, nos homens
de profissão, a ua u orid de e o seu poder de irradiação intelectual. Não é
IÕmente, como ee vê, uma tradição que se desenvolve e se fortalece, a partir do
Império; ê ainda ums reação contra as limitações da cultura de tipo proíi~ional,
um meio de vaaão do campo das especializações que tendem a separar 01
grupos profissionais, isolando-os uns dos outros, pelas diferenças de mentali-
dades de cada grupo. Ou, por outras palavras, uma "reação" dentro da tra-
dição. No plano literário mais do que no plano político, é que se estabeleceram
e ee estreitaram a11comunicações entre profissionais; pois, se as letras, ornando
o diploma e a fortuna, facilitavam o acesso à vida pública, não eram elas, pelo
idealismo que costumam estimular, as mais capazes de habituar os homens,
colocado em pontos de observação, a ver sem amargura a política cm eat do
de nudez, despojada de tõda a ficção e de tôdas as lendas... Para libertar-se
da tirania da profissão e escapar às especializações estreitas não havia outro
recurso para o brasileiro senão a literatura que lhe alargava oa horizontes, lhe
dava novas arm intelectuais e lhe fornecia- "êsse grão de faotasia e de sonho
que viesse moderar o íuror da atenção ordinária do homem aos acua fio pr6-
' cos". A ·m, pois, se poucos profissionais deveram todo o prcstfgio que con-
quistaram, exclusivamente ao exercício de sua profissão, a maior parte dos que,
entre ~le , atingiram as eminências intelectuais, não só não desdenharam u
1ctraa, ma nel s procuraram e às vêzes encontraram um ponto de apoio e o
meio ma.is eíicaz par dilatar a sua autoridade além das fronteiras da.a proílUÕea
liberais. Em alguns, as letras acabaram por dominar a profissão; em outros,
pre-valeceu bre as letras, que não chegaram a absorvê-los, a carreira em que
1e especializaram; e cm raros a profissão e a arte literária, elevando-se a um alto
grau, auociaram-s equilibraram-se por tal forma guc a cultura especifica
BRAS1LB.JRA.
A CULTURA
- -
e tomou a substância das letras e as lc as o mais belo ins rumen o da pro-
fissão. 17 Mas, se as letras contribuiram para humanizar cultura e favorecer
o esfõrço para ultrapassar a profissao, trazendo uma contribuição decisiva à
vida intelectual que, por outra forma, ficaria redunda, sem brilho e sem vigor,
os quadros profissionais, elas ti eram cus graves inconvenientes: tornando
as inteligências menos utilitárias, de um lado, e m is sujeitas, por outro, à,
aeduções da forma embotaram o sentido da realidade e retardaram o apare•
cimento do espirito critico e. criador, cien ffico e experiment 1, na evolução do
pensamen o brasileiro.
As letras não foram, de fato, em larga medida, mais do que uma ponte
lançada de maneira a permitir aos médicos, advogados e engenheiros (o, únicos
que recebiam instrução superior no Brasil) passarem da margem da cultura
profissional a outra margem da cultura, sob as abóbadas de suas -idéias e sen-
timentos ligados às classes e profissões. Longe de serem, como em outros
países, o coroamento intelectual de uma cultura largamente nutrida da vida
social e fundada sôbre o pensamento filosófico e científico, que tivesse neces-
idade d comunicar-se e procurasse, nelas, a varit-dade e riqueza de recurso'3
para a sua expressão, não passavam geralmente de uma atividade inte1ectual,
praticada como um aercic:io e entretenimento do espírito, insatisfeito nos
quadros em que se encerrou e impelido a rompê-los ou Q fazer aberturas em
outras direções. O eogCl'.heiro, e sobretudo, o médico e o advogado, como,
de um modo geral, os profissionais e especialistas sempre acharam fãcil e simples
"viver fora de sua especia idade {profissional ou in lec u 1), bre as idéias
de todo o mundo, is o é sôbre uma pacotilha de idéia3 apagadas como velhas
mocd cm circulação desde muito tempo". ~ v"Crdadcque tõda essa vida in-
telectual, literária e política, durante mais de um 'culo, dava à primeira vista
a impress-o de uma árvore magnifica que estendess seu braços para o céu;
mas, examinada mais de perto, não se tardaria a verificar que estava con-
de.nada a perecer, com suas raízes quase à superfície do solo, ro fôrça para
penetrarem aa camadas mais pTofundas em que, alongando-se, iriam reunir-se
e entrelaçar-se às da vida social e nacional. Dai, &b uma litCTatura artificial,
aem ubstãncia e sem cocvicçõcs, sem calor e sem altura, que se contentava
com o verbalismo vazio, com a ilusão de saber as coisas só por lhes conhecer os
nom s, e que. julgando que falar e escrever dispensava de agir, fomccia aos
indivíduos os meios de se encerrarem ao abrigo do real e prc extos para vol-
tar m as coctas à realidade e à ação. Certo.mente, dos dois ímãs, dos dois pólos
elétricos, o literário e o cientifico, o que exerceu, em nossa vida intelectual,
mais poderosa influência, foi o pólo lit::rário, ujo oder de atração, desenvol-

11 1 teu c.b...-.i:m"11cnualhar-k de~ m<IJ l'lu O ' ri lo:ia1 parem


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-rid EUCLU>Q 11ACvmt , tm&' lnv p■n cmplo,
.., penumer,tn vlv= ••mpre &rima de ■eu offcio r m~e. um c:aeritor.
r•.-clcJr '11ir ori 'nal, e tlm dm mti"""' J,. lltcrnura
190. OSVALDO CMUZ, hi41enista, saneador do Rio de Janeiro (1902 - 1906)
e fundador do Instituto de Man4uinhos.
A VIDA lNTELECTUAL - AS PROFISSÕES LIB.ERAJS 169

vido no regime de ensino colonial, não cessou de aumentar, a partir do Imp&io.


à sombra da profissões liberais ou entre os desertores das profi - a que
dentro das condições do meio social, não se abriam para o espfrito, senão as
perspectivas daa letras e das artes. Mas, efeito e causa, ao meamo tempo,
essepredomínio das letras, que remontava às tradições coloniai do ensino,
te resultava, por um lado, de nossa falta de educação científica, por outro,
falseando e empobrecendo a imagem que nos dava da realidade, substituindo
por um mundo convencional o mundo real, com tõdas as suas inquic.tações e
acua problemas, contribuiu, sem dúvida, para nos desviar do caminho das ci-
!nci.as e retardar os seus progressos. A nossa atração pelo encan os da lin-
guagem e pelo brilho exterior foi o que por ela se cultivou, e com tal in cnsidade
que os profissionais o que procuravam nas letras foi sempre não s6 um deri-
vativo, mas um meio de interessar o público e de fazer "viver;, a própria pro;
fissão.
Não se pode, porém, buscar sõmente em nossa tradição unilateral, literária,
as origcoa do dcsinterêsse pela ciência e pela técnica que embora cultivadas,
em vários domlnios, por esforços individuais, isolados, se desenvolveram com
dfficuldades e grande atraso sôbre os acontecimentos. A nossa organização
cultural montada no Império com quase tõdas as suas peças essenciais que se
mantiveram na República, não estava apta a produzir senão essa aristocr eia
profissional a que quase e reduziu a aristocracia do espírito, cultivad pela
escolas de ensino superior em que se fabricavam, cm larga escala, bacharéis e
doutores. Não havia outras fontes de formação e recrutamento de elites, pobres,
cm conscqü~ncia, de valores autênticos. Se ''para cada milhão de varões in-
glbcs hã cêrca de 250 homens eminentes, isto é, com uma nomeada e cvid ncia
nacionais', e regular pelos dados de FRANcrs GALT0N, não se calcula para o
Brasil em mei de 30 o número de personalidades notáveis do tipo de José DE
ÃL&NCA.R, JOAQUIM ABUC0, BARÃO DO Rio BRA.Nco,OsvALOO CRUZ e Eu-
CLID DA CUNHA, quando o Brasil poderia possuir mais de 1 500 indivíduos
cminmtes, egundo as conclusões de OLIVEIRA VI.ANA, baseadas cm cálculo
da populaç o, descontada a massa de analfabetos. É que, nas entro.,agens de
nosso sistema cultural e educativo, reduzido, no plano supc.rior, às escola de
formação profissional, faltou evidentemente, observa OLIVEIRA VIANA "uma
peça qualquer, peça essencial, com a função de colbêr essas indjvidualidades
e de as fazer chegar até as elites." Ess:;1peça é a que se constitui por tõda a
parte, do conjunto de institutos destinados a desenvolver o csptrlto e os mé-
todos científicos, nos diversos ramos do saber humano, e a aplicá.-los .invea•
tigação direta e a fundo de todos os planos da realidade nacional, de suas ri-
quezas naturais, de r.uas necessidades e de seus problemas espirituais, p0Utico1
e econõmicoa. Aliâs, se o indivíduo está ligado à coletividade que o cerca e
de que se nutre; e t a a vida psicol6gica e intelectual é um troca, wna co-
municação constante, e se a comunhão nutre com tanta fôrça quanto a difc-
rença, "aquilo por que o homem se ultrapassa, cria, inventa e se concebe"
faltou ainda ao brasileiro para chegar à plena cultura a intensidade das troca.a
intelectuais entre homens. grupos e instituições, entre a cultur bra 'leira e
as outra culturas nacionais. 1 O isolamento em que vivemos não foi apenas
11 ,. ... o Nord "· vc OlUIUITO F'UYU, "com ■ .SOAc:ivil~çlo de mbo, 6ci ~•
• , que dCII •o 8t 'I o u i andor, - o P&dte Vmnu.; o oeu ar poeta at!ric.o, - Oaaodlll0
OII Jil.\1'01:o KU ma ..... um.il'ico. - o &>U'JJ!tRA; o ..,u ~ f'il6laco, - o D- MOllAII, - UUl traAo.•
~o a. ri'lilluçlo do do eul para ■ ele Pen..mb<ll:o, oadcea,c toraou ocnl>cr dceucvih:1". ~ ddo
do~ q • j6 oo lmp&lo, o ior ju,uta TaDI.UIIA o• l'DlTM; u.m pode polltico, cw ■dor e W•
lllom,aL■ , Jo4QutM Nuuco: o a,alor or potftico, R111B&aiios.r.: um poeta de 1 • CJ.nwo AJ.;vu: • m■ i•
fartl!oGr& ~ nll do Br■.i, NU<4 Ron o:uc,: um ~ d ■ ttmpcra e da li •elo do
~: 11,111 toriador ceoaroOUntu Lnu.: ;...,.,~ e polc:mistu do valor de "t 8.UUTO e lLYlO Ro•
nao, e u.m pi..- como Pu, A>lÚ:ICO. A vóda int~ qac flotcacc'I&. 11■1 mootaah•• C11t Ocn_ •
, eob o ian.._o mlDff , e mant.-ve quue tio i:rma.l,id ■ como • que .- daa>yojveu com • c:I ' do
~. lnaucur•· com OI pot-Lb B.uluo D4 GAMA e SA!n'A RITA ou.lo, e IITOGIJ)C. C0tn ldc:ali . O ,
NCJ'aadO- com o ma, tino, ng o d• llbcrtaoio naciooal, acalentado pdm poeta• llricoe da I ncoiat1deacla, TOM.b
ÃlrtOfflO GOWL\OA, CI.ÃtnllO WA.1CU'll. DA Co11u, SU.V4 A.I.V~lfOÃ e ÁLVü&XCU. Puxoro. &m 6An Paulo
170 A CULTURA BRASILEIRA

do Br ·1 em relação s outras nações dUl'ante todo o perlodo colonial, mas.


no interior da unidade nacional, entre os diversos grupos e instituições. A
vida intelectual, isolando-se nas diferentes zonas de produção, no norte, com a
civilização do açúcar, mais tarde em Minas Gerais, coro a ez:ploração do ouro e
do diamante, e, por último, no vale do Paraiba, com a cultura do café, seguia
o ritmo e a evolução dêsses ciclos econômicos. As elites que formavam, em
regiões diversas e se mantinham isoladas entre si pelas grandes distâncias,
s6 podiam comunicar no centro da vida do pais, pela figuras mais ilustres,
como grandes árvores que, plantadas a largos interval , tocassem pelos
Tamos mais altos ...
Es situação, tão característica do perfodo colonial e do Império, pro-
longou-se, embora menos acentuada, na República, até 1920, em que o desen-
volvirn nto da indústria e do comércio, o crescimento e a multiplicação dos
centros urbano e o progresso das comunicações começaram a favorecer os
contatos que restituem ao indivíduo, com a consciência mais profunda de sua
dependência da vida social, a sua "fertilidade" e os meios de expansão intelec-
tual. Mas s6 depois da Revolução de 1930 ê que se intensificam essas trocas
ccon6micas e culturais, se criam novos valores e se rasgam nova possibilidades
à literatura, que em vez de se limitar .a distrair os rico , se embebe na atmos-
fera social, toma consciência dos problemas locais e pas!a a corre ponder mais
vivamente às necessidade; espirituais do pafs. Ao lado dos quadros, quase
exclusi.varnente limitados às profissões liberais, em que e r crutavam as an-
tigas elites, surgem novos focos de estudos, com as faculdad de filosofia,
ci!ncias e letras. e de sociologia e polltica, que abrem per pectivas às maia
vari da aptidões individuais, ganhando a vida intelectual uma intensidade e.
extensao que jamais conhecera a história de nossa cultura. Certamente, êsse
alargamento de quadros e essa intensidade de vida iot lcctual não podiam ser
obtidos senão à custa de um sensível abai"Xamento de ruv1; mas, estimulando
a trocas entre grupos e instituições e dilatando o campo de sondagem de in-
divíduos mai bem dotados, contribuiram, sem dúvida para provocar movi-
mentos de idéias cm diferentes direções e suscitar um público de maior recep-
tividade e mais su.scetível de fazer "viver" a Uteratura, d~ncia e as inicia-
tivas culturais. O desenvolvimento verdadeiramente notável que adquiriram
a indústria e o comércio do livro, e as novas livrarias e bibliotecas que se ins-
talaram por tõda parte, mostram o grande alcance dessa pequena revolução
intelectual em que ao científico e ao técnico, ao social e ao econômico se co-
meça a dar uma atenção ao menos equivalente à que se dava ao profissional,
ao literário e ao político. As grandes bibliotecas, nacionais e estaduais, que
tinham como principais senão únicos clientes os historiadores habituados ao
mEtodos e às disciplinas da pesquisa, - procuradas agora por estudantes e
intcl ctuais de todos os tipos, sentem a necessidade de reorganizar-se e de en-
riquecer-se, para facilitarem o trabalho do leitor, aperfeiçoarem os meios de
consultas e se constituírem em centros de investigação e de trabalhos cientí-
ficos. Não e criou apenas o novo no prolongamento àe uma linha existente,
m cada pelas tradições literárias e pelas profissões liberai ; ~ a eclosão de um
esp(ri o crítico e criador que, fazendo-nos perder a atitude de upcrstição pe-
rnn e os e os, nos convida a saltar fora da cultura livr ca para o mundo
real e nos impele ao estudo de nós me_"'Dlos e de nosso problemas e à inv ti-
&ação d realidade em todos os domínios.
de que ram.~ atuds cm Ccitnbra, u p:qm,;aúd ca ~ not
02 doi G U. 8.utTOLO :U e Al.U...'<VU, o inventor e o dip ata, o
LA D AJ.M:&IUA, e OI trh J\Nmu.l)4s, {todos de Sa11toe, OI O enholro , ....-cem.
QO ciclo do caU -
trh dmtre ü ma • li d4medicina oacional, P.a:aull.o\BiJlnTO, M10\T&L PIUl&lltA e OIY4t.DO Cnlr.
o malar d t.oclot, a um comporit:,w oOl:6:vd, C.UU.OSQo,cu, a al6'b alta d• m br Ueira. llnDlldu
e:iD OI aifnt11t , na ocv~•çio e no -iiol.Amento, e conftit\lllal de homciu Ou alt.,. mah variada e
talidad maia dlvcn:a.1, essat elites, ~ relaçàe,9 ~• com u outr iteediam-~. detloando-ec: c-om u
fteml :.... CCOD6111I C: lnta-p,;oetr1111do.sc Ient!I.IJ1CDtc pdu c.1lMldu 1uperlor •
A VIDA INTELECTUAL - AS PROFJSSÕES LIBERAJS 171

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CAPÍTULO III

A vida literária

Os primórdios. da literatura brasileira - Literatura p0rtug11êsa frita no


Brasil - As suas primeiras manifestações originais - Gruro61uo Dlt MATOSe
a sátira - Diferenciação social e wfcrenciação lingüfstica - A coczistência de
duas línguas vulgares até o século XVIII - O teatro de AN1'ÕNIO Josf DA
SILVA - Os dois poemas nacionais· - Os poetas da Inconfidência - Revolucio-
nários na p01ítica, conservadores nas letras - O jornalismo e as lutas da fnde-
pendência e nQ 1)rimeiro Imp€no - Literatura p0lítica - O romantismo no
l3rasil - A atração para os temas indígenas - GONÇALVES Du.s, o poeta do
índio - JOSÉ DB ALENCAR e a língua brasileira - CASTRO Ar.ws, o poeta dos
escravos - A evolução do tes;tro e as suas figuras principais - Memórias de
um sarAento de millciaa·- O ~sarnento nacional de TAVARES BASTOS -
A eloqüência parlamentar no Império - JOAQUIM NABUCO e RUI BARllOSA -
Agitadores de idé:ias - TOSIAS BARRETO e SfLVIO ROMERO - o esplendor do
jornalismo - EDUARDO PRADo - A Academia Brasileira e a unidade de
língua - Os grandes poetas liricoa - A história - As duas faces do esp!rito
naçional - MAC.HADO.DE ASSts e EUCLIDU DA CUNHA - Ensaístas, crí-
ticos e paoltetános - Movimento de literatura moderna. - A poesia aos novos
- Romancistas, e novelistas A di:fuaão da imprensa - A literatura e o ts·
pírito público.

A LITERATURA não é senão um dos elementos da cultura geral; mas,


pelas condições especificas de nossa form1:1çãoquase exclusivamente
literãria, foi o primeiro elemento, o mais persistente, o mais forte e o
mais expressivo, de nossa cultura. Se somente em no~ dias os fatc~res que
condicionam a vida intelectual, se combinaram e adquiriram a necessária in•
tensidade para criar a "profissão de escritor" (e ainda hoje raramente vive o
escritor de sua produção intelectual), desde muito cedo, no segundo século,
foram bastantes para produzir, na aristocracia rural e na burguesia, reinol ou
nativa, o que se pode chamar um "clima literârio". Na aurora de tôda a so-
ciedade, como observa Novxcow,1 o que predomina, -pois é preciso primeiro
viver-,_ é a atividade econômica; e a vida intelectual não surge senão mais
tarde quando a existência de indivíduos puramente ou sobretudo intelectuais
se torna possível com a formação de uma classe rica, em condições de entretê-los.
direta ou indfretamente, e com os lazeres que não vão sem a riqueza e abrem
mais largas oportunidades aos estudos. A elite intelectual formou-se naturahnen-
te 1 entre nós, como -por tôda parte, por diferenciação econômica: os que tinham
riqueza e lazeres par.a estudos, - os fidalgos portuguêses e, sucessivamente,

l M. J. NoYtc:OW. L'Mite inidlectuel/a et t'srJ,tqcrlloic,


174 A CULTURA BRASILEIRA

os senhores de engenho e os mineradores, ou se ocupavam mais particularmente


das coisaa intelectuais ou, - o que acontecia as mais das v!zes-, se não ae
davam pessoalmente a êsses estudos, suscitavam-nos nos outros, promovendo
a educação dos filhos, dando-lhes oportunidades para e ilustrarem ou ampa-
rando os produtores de uma literatura suscetível de distraí-los nos largos
ócios das grandes e dos sobrados. Mas a elite intelectual que então
eurgiu, trazia, tõda ela, em suas sucessivas gerações, o caráter comum que lhe
imprimiu a cultura universalista. e europeizante estritamente literária adqui-
rida no colégios de padres e desenvolvida cm Coimbra: era uma elíte de ba-
cbarfi e de letrados. Não exerceu nem podia exercer uma influência efetiva
sõbre a sociedade colonial, limitada como sempre estêvc aos círculos restritos
em que se criara um estado de prosperidade, pela indústria do açúcar no norte
ou pela exploração das minas no sul; sem rafaes na terra e no meio social de
que não refletia, na sua cultura, a experiência, as necessidade e as aspirações;
e sujeita às flutuações econômicas a que devia o seu florescimento como o seu
declínio, e que não lhe permitiam o tempo necessário para se renovar e se aper-
feiçoar, através de gerações e constituir-se numa aristocracia de espírito, bas-
tante radicada e conhecida, para afetar profundamente a consciência social.
No princípio da formação intelectual do Brasil, as preocupações e idéias
literárias quase tôdas vindas da EUl'opa, eram um privilégio de um punhado
de senhores, a cujos interêsses serviam ou às vezes mesmo se opunham: uma
cultura que os homens cultos não qu_eriamnem pensavam aplicar à realidade~
guardando-a apenas, para recreio das horas vagas e para marcar mais nitida-
mente a diferença entre a pequena casta privilegiada e a massa ignorante.
Pura imitaçao, precoce e artificial da M trópole, não passava a literatura de
um ' sinal de classe' , de uma prenda de gente distinta, de um ' adõrno para
a sal de • •tas do imenso casarão colonial que ainda era o Brasil '. Sem atender
a nenhum fim, sem ter verdadeiramente função no quadro social, 'a atividade
pur do espirita, explica GENOLINO AMADO2 poderia suscitar agrado, porêm
nunca respeito e terminaria desdenhada como udo que, embora divertido, é
inútil e inatuante. Vendo a literatura sem utilidade para quem a produzia.
pois não chegava a er uma profissão e sem sentido social humano para quem
a lia, pois se afastava da realidade, o povo se foi acostumando a considerá-la
como eimptes habilidade curiosa, um dom exquisito que a natureza atribuía
a certos individuos, talvez ,como oompensação, por lhes negar capacidade para
coisas mais construtivas e consistentes 11• Daf. desse literatura artificial, sem
aubstância e sem ligações com o meio, a atitude do brasileiro em face dos homens
de inteligência e das coisas do espírito, e, segundo GENOLINO AMAoo, uma
estranha inclinação "para se congratular com as derrotas da inteligência. O
homem de espírito s6 lhe parece simpático e interessante quando se deprime
na venalidade das opiniões e na boêmia da criação' .3 Como quer que seja, a

1 O1Df0LJN0 AKADo, Um olhar ~bre a •ida. LlvrariA Joei OUmpio, Rio de Jalld.ro, 1939,
a Lancede KI' pcculilar .,. lw1w!eiroa, ~ essa nma lvcnal ue udal íarmn
e on, d u:ia, era ae ace:n , comorme as ~ de
de apfrlto l)Oli ·,;o e" , 'tino,•~ e CUC1Teiroe,tiobam • do ·to,
- da poa1a, da d&lcia e d fikaoíu,, e Dão oe in~ ture e dOII
eh rruri,am eom dc,prho Araeculj e q eodo«o ao
Entre os poym moderuot, oa in.c)tse., • 111esma
bio pu,Q, o intdel:tual qw: poda'i ,.,,, CO<lq lstar
ua in ll!sa que ttiau ~ ck "dl~..e q11c
cal mu f hlih-bro., itenlmeare fronte alta) para. indicar il11z.1cctual;
e, com w:aa lllilt,;t;ra de compaixão e de despr!ro, q11c tal lndi uo .., .. ucd f6ne a tal
t.O bra/n (de braJ°n. rittbrol". 1l:que, DO fu!>d , • v<!nbdclra iotcll1eaci.a E.l.lo pouco C'Grrco cru:rc o•
oa, e t.io ÍorfflllellfC perturba.dara do estabelecido, da vdha ordem co· 1, qWI! • ailttoda e ,;io
pc'Odu1tm tcmar; e. eo,:o ■ •d.niir11çlloque- desperta, .e mub.ir• oemP« wu v io lCQ: mento de m~ o, de prevenção
e de b01til!dade, como ac .. t:ratus<;: de tllil'O 4., mãgit:o, de demonlaco ou eobr~ano. No bruildro, luc pcrulot
A IDA LITERÃRIA l7S

obra li crária constitui acmpre um testemunho: ela liga-se a uma E.poca e lhe
cnanifesta as tendbl.ci8% a um país e lhe revela os usos e a mentalidade, a uma
cic social, a de que aiu o escritor, e lhe descobre os costumes. Ainda que,
tem inter e humano, literatura de conformista, - e raramente de ino-
vadores -, tem um grande valor histórico que provém da relação con tan e
en e o artista e o meio de que é expressão, quer se tenha ad ptado a ê.Je,quer
ac tenha revoltado contra, - pois "rebelar-se contra seu tempo é aind fuer
parte dêle". A atmo fera social em que se banhava a literatura colonial era
a mesma que, na península envolvia o povo colonizador e s tranaferiTa para
bsc lado do Atlântico, com seus prepostos, fidalgos e fw,cionário mercadoret
e aventureiros, e sobretudo pela elite intelectual constituída a principio da
classe sacerdotal e que monopolizava o ensino nos colégios e seminários. A
única pátria era Por ugal e, enquanto a diferenciação que se vinha processando
não se tomou bastant intensa para despertar a consciência de urna distinção
entre brasileiros e portugueses, o que se produziu na Colônia não podia ser
senão uma literatura portuguêsa feita no Brasil, como um reíl xo apagado da
metrópole distante.
No século XVI, o primeiro de nossa história, o caráter eminentemente
lusitano dessa literatura destaca-se em tão forte relêvo que a rigor não se pode
considerar não como 'um capítulo colonial da literatura portugu ". Livros
de viagens, narrativas de cronistas ou cartas de missionários, se, ob algum
aspecto, e prendem à literatura brasileira, é em geral pelo fa o de terem por
objeto o Brasil ou rem "datadas" da Colônia em que, aJ m da po da terra
e da exploraçao de suas riquezas, o que preocupava a Metrópole era a domina -o
e a cateque dos índios. A política hesitante de Portugal, por largo tempo
descuidado das terras descobertas as dificuldades que e opunham à coloni•
zação e o malôgro do regime das capitanias não permitiram nenhum desenvol-
vimento n ívcl da primitiva sociedade colonial, rala e dispersa, que s6
em 1549 se introduzia um fenncn o de cultura com a primeira mi o dos je-
111.itas,antes mesmo que a lavoura da cana, em maior escala, lhe fom ce a
1Ubestru ura econômica d uma civilização. Além da famosa carta de PERO
VAZ CAMINHA, scrivão de Calicut que viera com a armada de CABRAL e do
roteiro de viagem (Diário da navegação da Armada que foi a terra do Sra il
em 1530), de Pe o LOPES DE SousA, destacam-se por essa época, entre os do-
cumentos portugueses de maior interêsse histórico para o Brasil, o Tratado
da terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz (1576), de PERO
MAGALHÃES GANDAVO, ami o de CAMÕ.ES, e essa obra que CAPISTRANO DE ABREU
qualifica de monumental, - Tratado descritivo do Brasil em 1587, de GA-
BRIEL SoARES DE SOUSA que veio ao Brasil em 1567 e se estab lec u na Bahia,
aenhor de engenho. Todo !les, portuguêses, e dois, funcionários do Reino
que estiveram de passagem pela novas terras ou nelas pouco permaneceram,
a não ser GABRIELSoARES,que se radicou. na C-0lônia, só tomou a Portugal
a fim de rcqu rer licença para explorar as minas e, voltando ao Brasil já nomeado
capitão-mor e governador, pereceu em 1591, na sua entrada aos tõcs. O
pensamento também portu uês, como a linguagem, de wn sabor vem culo,
com êsse claro ilo que CAMÕESlouva em GANDAVO, na elegia escrita para

que""' mAnif , - ta, ·m. bem bralilcita -. de ineverbrcia de


a pfrito o do q1>c a um «rtO i...i:iato de reai;ão d" defesa, A
e d tatçlo do contra o iatdcrtuali1mo u
I.n l I e hwnano e aem cont.to com
KG • UPf".,.." ftOI artittaa e penad:ira, ao. pr
de _r, • Kmpt'<" ameaça. a falta de rel&ç , dc:tdc •
e u d, vald..Sc contra • qual ""tu diflcilmc:otc prcm11ncm, cottlTibulram da,
e Dia h o e • inv • du clAUca não iatdtttua.11 qwo Ílll'mllffl a !1f11.Ddmaioria,
176 CULTURA BR AS ILEJ RA

seu livro, e cm que se reconhece um traço do espíri .o clássico do século XVI,-


º de maior esplendor da literatura portuguêsa -, e com essa nota descritiva,
~e gõsto do pitoresco e êsse encantamento ürico diante da paisagem que tão
fortemente dominaram a mentalidade e a literatura nacionais. Mas, se enas
obras não pertencem à literatura brasileira senão porque ou foram escritas no
Brasil ou por élc inspiradas, à semelhança de outras como a do alemão HANs
STADE que narrou cm 1556 as suas avent\U'as, e as dos franceses ANDÚ THlfVET,
que escreveu as Singularidades da França Ant.ártica (1558) e JEAN DE LÉRY,
autor da História d uma viatem lei a à terra do Brasil, impressa em 1S78,
as carta de AAN'UEL DA NÓBREGA, JosÉ DE A.NcmETA, poeta e dramaturg:o, e
de outros jesuitas, e os tratados do Pe. FERNÃO CARDJV,apresen am um in-
teriss.e particular, mais que informativo e documentário. ' Por essas pãginas
já circula o atmosfera da s:,ciedade colonial e passa uma corrente de simpatia
pela terra e pela gente do Brasil, de que foram os jesuítas os confidentes e di•
retores e a que trouxeram, com seus colégios e um vivo interêsse pelos índios
e colonos, os primeiros elementos de cultura e de civilização.
É somente no século XVII que surgem, no norte, com .a civilização do
açúcar, os primeiros prosadores e poetas brasileiros de nascimento mas por-
tuguêses ainda no pen.sarnento e na forma trabalhada ao gõ to da Metrópole.
É a primeira geração de intelectuais, já inteiramente educada pelos jesuítas,
se.gundo os moldes importados de Portugal, donde continuavam a vir, com as
idéias e as modas literárias, novas missões religiosas. Por algum tempo se teve
como primeiro documento literário, deixado por brasileiro, o medíocre poemeto
a Prosopopéia de BENTOTEIXEIRA que RODOLFO GARCIA identificou, pondo
em dúvida a sua naturalidade brasileira, ao cristão novo, natural do Põrto
que depõe cm Olinda perante a mesa do Santo Oficio. ~ssc poema entoado
cm louvor de JORGE ALBUQUERQUE COELHO, governador de Pernambuco, e
publicado em Lisboa cm 1601 e os DiáloAos das trandezas do Brasil, escritos
em 1618, - obra de maior valor pela riqueza de informações, atribu.tdà a prin-
cipio a BENTO TEIXEIRA, mas de autor desconhecido-, filiam- e ' mesma
categoria de documentos que não têm de comum com. a liter tura brasileira
senão haverem sido escritos na Colônia ou terem por objeto o Brasil daquele
tempo. Em 1627 terminava um b~iano, Frei VICENTE DO SALVADOR, a História
do Brasil, na qual moteja de portuguêses e se afirma o seu amor à terra natal,
mas., escrevendo antes um livro de hist6rio.s do que de história do Brasil, nos
legou com essa obra uma "história de chinelos", na expressão pitoresca de
CAPISTRANO. O Pe. SIMÃO DE VASCONCELOS, portugu!s, que velo adolescente
yara o Brasil e professou aos 19 anos na Companhia de Jesus, publica, entre
outras obras, a Crónica da Companhia de Jesus (1663) e a Vj"da do venerável

• Sob o titulo de Carta iuultlc..t! e em quatro tcmOI publi •me,.,, "º DI Allaev e V.u.a CilUJ.
,•iriOI ......iu~ri de 81bl otcu N■.cion 1: "I - lnfotm•oOe o (ra4m nro.1 h,'$f6,r't:o,. do Pt. J li&
ANClfll'T,\ (ISI 1S86), Rio, 1 , l 11ol,. 84 p.ãg._; Jl - C.rt••• do Pe. M IIIU. DA NÓU&OA (1$49-1S60),
Rio, 1 , 1 11ol, 1 6 p~._, Ili e IV - C111tu 11•ulu1 (USO-IS6 , Ri.o, 1187, 326 p. a. T6da • lilfflltura
de AlfcJUru, co.-..dtuld1 de poal&s, ■.utc>o e can~, em par-tusu , nJ)Oll\hol o<1 tupi, i:ilo p■-v• d ""' i •
trume:i>to de qúc R údli,.va o ■póotolo do gentio e m.,,lre d filb doa tc-i"6í , p&r&• prc,:,a1....t,, da ":t aimplft
at~ • in1 nllldAdc " ele urna 1randc c,spont:anddadc e fre,c,,,. de tntlmc.n o. Ju Clll'ta.o, rkH d_c laicinna
obbre • vida e eottum d■q11tJc tempo, e • ,ua ....,,,.ti de UocWI cral aobrcpajam, pgrtm, .. aua, po,niu
em pOf'tlll\J e cm lac:im e il.1 p,:qucnu peças de tcetro rdiai para dinralr e -"' ne:ar col aoa. O Pc. ftl&lfÃO
C#Ju>l,., o:oíniooJ.rio no Btt>il ande cbq011 cm IS84, toi rdtor doo colt iOI da S.b e do Rla, procundot e pro•
i.n~&I da Companhia de Jn1.11. Se ftJo chep,-em ct. m~tas Qúc tai, útuloo lll>CaT&.IZlo ~cvc A,a,41110 Pa1.zoro,
"basuria li.a" ido úm da d a deia • que pcrtV>Ccnm .\!<r:fllST4 e V11-111.A.taoilo c<>tn: o, d.oi ■, um qw:
••tia • íillAf'-. o outro a quci:o ®lhla". Ch1:uo 1r&balh0t, de um real ln b,c t6rico. Clima • fe,-ra do
Br1uil, tD&lliucrito de t!:vora. p11blicado vn 18&Sli"" C...,.UTILUCO D&Aauu: Do princlpio • ori an, doa lndl<U
do .Bra,,il, publicado cm 1881, tamWm poc ioiciati dbK b. Of'., e Nu;afi•• epilto/., d• uma p/ap,n
~ Bahi•. Rio, ,..,,ni,mbuoo, er<., J"ibtica.da por A.. VAANKA0 m 1 47. foram rcwiid "°' yalwne, com
a110 de RDl>Ol'O OAiêU, aob o U~o Tr11t•do d• letra ■ anr do s,.,;1, o, 11125,
1
SERMAM, Q_UE PRE.GOU

OP.ANTONIO
VIEIRA,
AO ENT RRO DOS OSSOS

ENFORCA DOS,
NA MI ERICORDIA DA CIDADE DA BAHIA
havendo guerras n:iquell s Eftados. 191. F~c-,lmil do rooto do "Sormam, que
pregou o Pe. ANTÔNIO VW.IR .... ao <1nl '"º do-s
Reimpre!Jo
á cufla o,&o> <10$ onlorcndo,", l.l.•IJo-a,J 753.

D E D. T. A.
F. d, S. Ojficio.

LISBOA,
e,,,,,,,,s ,s liuni Ili 11urfJt1ri,s.Anno 17 fl•

192. Púlpuo d1t lfr i• d Ajuda m que preto" o


P~. AYTÕ!'llO VILIR.A Solvodor, B11Mo. - Foto Vo1. TAn<E
F'RAGA. ln,blUIO loiro d e ,.,,e, Estatistica.
'
O URAGUAY

CARAM U R U.
POEMA EPICO PO MA
, . E
00
JO~ ~ BASI IO D GAMA
DE COBRIMENTO A ARCAO!A D R MA
DA ~ ERM NDO PlLIO
B A H I A., /t)
D
lLL.M0.
'DICAD
l~XC.M SENHOR
COMPOSTO XAVIER
F:B ANOSCO run.'l'A
POR IJ ~ ME.NI)ON DO A

Fr.JOSÉ DE SANTA RITA $ t C 1' 'r:'r: A P. 1


D
DURÁ O, S. M GESTAD IDELISSIMA
Da Ordem dor Eremitar de Santo Agojlinbo, na
'"ral da CtU -Preta 1jaf MiTJar Geratt.

LI BO
NA ~E::GJ Qp 1c1H Tv OCllAPJCA

LI B O A A 1 >1o H o 1.x I x
Com litcn,a d• Rc11/Meu, Cc,ifarhi.
NA REGIA OFFlCINA TYPOGRAFICA.
/'t. N O M. DCC. J.XXXI, F ,,11..,,r io ,fo po nio d•di oiro ao inr1u11
,1,; ,lft1T1/ 1,,··, ti Pom /Jul
C,un liunfa da R,íll /r1n,q ç,nfori1~
Ea~le da lraaU,o/çlo do Uruguay 1 pooma du Jost
195. A ponte de Marílit1, em Ouro Prêto. A,pccto parciot.
Foto Rádio Inconfidência de Minu Oe.rais.
196. GONÇALVES DIAS (Maranhão, 1823 -
naufrágio nas cwtas da MlirtmhJo, 1864).
Grande poeta nac!onal. - Desenho de J.
WASH ROD!>I01.Jl/:S. Arquivo d'O Esto.do
de S. Paulo.

197. CAS'fRO ALVES (Bahia, 1847-1871). -


Desenho de J, WASH ROD.RIGUES. Arquivo
d 'O Estado de S. Pavio.
198. JOSÉ DE ALENCAR (Ceuá, 1829. Rio. 1877). iJramalurAo, rom"nciste, político e juriscon.u//o.
Foto da Coleçáo Co::npanhia Melhoramento, de S. Paulo.
O VAI,I~-DOAMAZONAS
ESTUPO
SOIJIU:

a Livre }ia agação elo fu--..


e:onas,·
EstatísLica.Pr·oducçóes, Com:nercio,
Questões Fis~aes do valle de P.-rnazone_
nl.11 1'11PIIEI \CIO

-~Qnten,do
o decre10
queabreaosnav10s de todasas naç~•:·
or.riosAmaronas,
Tocantins
e s·,Francisco

,•.. ~- 1'WA!l.t5lUSTOS

!U;\lllkí) IM C..UU.IU 1)0$ Dt:,l'l 1/AD</S,


1.11)1'.TOI\
t•I IUll!fl.TOf>EU t?,lC'-Ll•.11.!E.
OE_S.l'A'\!L_O.

-HIO OE JAKElHO

ík!z,-~bro
llílll,

199, Reprodução !ao-similar do rosto do livro Vale do Amazonas


de TAVARES BASTOS. Edição de 1866.
200. JOAQUIM NABUCO (Joaquim AuréNo NttbtK!O de
Araújo, Recife, 1849 • Washin,,on, 1910). PoJil/to,
orador p.11rlamentar_, diplomai• e hi.toril.tdor ~

201. li v,t6t1• do JOAQUIM


NABUCO, depullldo ebo/ic/onl,re.
Tr1tundo do novo no pa,le-
m<!nto o ttu ,,,,;,/mo deputado
do prime.iro • quinio distrito.,
a brioa11 Província dtt Pe,nom-
bato dlÍ uma r,emendn liçAo
nOJ'ne,,ei,os da Câmara r~p,,e..
•ontedOI pelo seu chefe. -
Oe,,enho de ÁNOELO AOOSTINI,
na ~Rm,ta llusind1", de 13
de Junho de 188S.

202. O Cun,e/h.,iro Rol BARBOSA, 1ed1110,-<'hefe do


Diário de Noticias. - Desenho de ÃNGE.1.0 I\OOSTINI,
nn Revista Ilustrada. 1888.
203. A Acndcm!a Brasileira de Letras.
Foto Vasvr 111"1 Colcc.âo d<> s~tviço Nacional de Rec@nseamento.
204. OLAVô BJLAC (O/avo Braz Martins dos Guimarães Bilac, Rio, 1865•1918). Grande poeta lírico,
Foto da Coleção Companhia Melhoramentos de S. Paulo.
205. VICENTE DE CARVALHO ($. Paulo,
186ó-1924), um dos maio~es líricos bra$ileiros. 206. JOÃO CAPISTRANO DE ABREU (Ceará,
1853 • Rio, 1927}.

207. SÍLVIO ROMERO (Sílvio Vasconcelos dll


Silveira Ramos Romero, Sergipe. 1851 - Rio,
1914), a quem se deve a maior contribuição
ao desenvolvimento da hisióâo da Ii1eratura
brasileira.
.,.,._.,,'.la.,c..o....... ~- IH .... l"OA<.D 1....a.1.f'"'Co ..... 'fUA ,uurl•O. ..... ,u ...l. "'fa.3,...,00 rº~ i, ....,""- ... Jl ........... ,,.~d. o )0.U...o d,

Gia..,,•
/'.,.i.Jc,.c.. S'Jo ......_ c.ow.<>.~ ;w.o. ,.,,.), ..._ ~C,, 'l"'--.Co tk.o.~ o, e.o .,.o o.l"""a. vú.,i.,,._ ,,k .._.,~o A!Jt.Q;~/, ('<n ~,Co,

to.l"o,. 6 a.c..lõ, do 9ual ·u o?t.iu.Ü, cw.a 1....J'lt.<CI><


eº"º• 'f>,u;a.C.:c.o..da po1<- CL»<c ,.,..,.~IJo ,1..,tttA,.:lwc.o,, "'º
<j~~ll. lt.Qu.d<i,,C...
1
11.

~ ..A(ol<l°cl,,.... QM.d.o
tCll<CIW.o.u,.CU.1.G., C1.0 r....
c.,.:.~CA.i.-..o.cl... A\C.GM&.a.\ d.,-~ I ,., ...... cu.o, da '40)><> t>~dcw. ~- V a./<>.

~ÕN. -"' CpordQ. ,. c1..;. ~,, ... -:i.. E,1


........ do ._,.J~ da ~O~)C> i"'44À-+é) t- ..._.......11~\ 't~Q. how,e,,.,c.ci ... .........._

"•~c,.do. d" l'º"'a.•,M.QQ.,._,. o. t,.Q~~tct..'..:., cu,:u a. -r.:__ca. co_!J......_ lo.vc..,io. o.~ e;,. ...,..__..o.:b .. o.;,.o.";a;o, a. 0.1<0.lla.~ ola.

s.a-~da.do., Q. ~.,1..~ ... do 3--0.,(0 do. "fe><ot\l.&LO ~º· ~11.o. f'Ciu:a;~a.•~ 3-11.q,,.du.a.\ cí'.At...Q. .,.......... pci_cl..:o.o cu.Ir. 'f"'4L

~i;_a- .......... ~)w-i;,...d.o-.)~ C:.O"-f;,,. ç,,, f'1U>rl<A.O.\ 1-ú"> rt;..l.cu.,.ov,, .._ OQ.>a.fo..u.olo ca. LU..01<.to., ,, ...... e;.....o.o"º"'~º <JI
.. .f.;_

......
p,u.-fo ~ 'f,a,,...o.. .,,.,.. o. "f>Q)'(Q.'J.7'LU.LO.c.;:..,, ......._ Cju.q vou , ....o..o O.c<1>u<oG. ol,+fi-c,,d<;Jo&.cl,o., ..,_...,.. lo.va,.,;.~ ..Su_,r,u~Õ<lh

~u.t fºl'<Uu c..o~><-0&.U.e>.Vv,.. o. .f~~, O.)'-0L<<V<O-tMct de c.ax.3-O ~..._,. uollo. '-YVC.';"'· .X-a:.õW'l ~ú,a-w.,..,...._.

Jw.,..a..v, ....._e.:..to.,,. <1U-L


I ou f.to.\ V'CICI.O.\ -;oouéi:o o.,, oo. fo.1;.,· o, o. o ~.,_.._ d~la. º""';-" ")ciÃ, f>o.l='"'-' d,, jLV>T., 171d'o..dlu,

-~""º oe ~

200... Fac•slmile de umA C"arrn de COF:LHO Nr.:to.


Arqw1"\•o dn f&milin COELUQ NETO,
209. O Museu Paulistl,, o mnior centro d, documo-nta"lla e de pesquisas da história do Brasil o,
e-specfol,nenro, dtJ. Siio P1Julo, Porque do lpiranta, S Paulo.
210. MACH~ DE Assis (/Olf((ulm M•ri•
M,,,:hodo d,; Au/s), ltM 2.S •not•

211. MACHI\DO D& Assis. - DHenho d6 J.


WA5H Roo,uouu. Arquivo d'O Et1•do
de S, P•ulo,
212. EUCLIDB.~ DA CUNHA
(Bmwo do Rio, J866 -
Rio, 1909).

213. Herma de Euc1,.wss DA


CUNHA. 1tm S }04<! do R,o
Pardo. E,todo d,; S. P1t11lo.

214. A~pecto do jo,dm, o


mar,.,._ do rio Perdo, cm S.
J"I, do Rio Pttrdo, E:,tlldo de
S. Paulo, onde • vUm a
Mrm11 do EuCLmllS DA CUNHA
e o 11bril0 d• c1,o.,,,,.,.,. "m que
ucrevou Os S..rtóH ,
215. HUM8ERTO DE CAMPOS Poeta e cronista, mestre da líniu11 e da críl/c11.
-------·-- - A VJDA LITERÁRIA 17'1

Pe. Jos/J de Anchieta {1672); e, na eloqüência. deixando na sombra o jeswta


ANTÕNlO DE SÁ e o carmelita Frei EUSÉBIO DE .MATOS, com seus ermões, cheios
de sntilczas e arrebiques ao gõsto da época, destaca-se quase solitária a figura
a tantoe titulas not vel e ligada 'int:unamente à hist6ria do Brasil, do Pe. AN-
TÕNlO Vr~. o maior orador sacro da língua portuguêsa em todos os empos.
O grande pregador, portugub de origem, que, dos 90 anos de sua vida, passou
50 no Brasil, servindo-lhe nas missões, no púlpito e na politica, e confe va
dever ao Brasil "pelo segundo nascimento, as obrigações de pátria", foi cer •
mente. como escreve AFRÂNIO PEIXOTO, ' o mais brasileiro dos clá icos portu•
guescs, o maior dos clá icos brasileiros, tanto é brasileiro o melhor do seu pen-
samento, como já brasileiro é o seu estilo, doce e fluente, sem os travamento
e as rebuscas dos lusitanos de seu tempo". Entre as primeiras manifestações
• originais com que se esboça, pelo conteúdo mais do que pela forma, a literatura
brasileira, figuram as sátiras de GREGÓRIO DE- MATOS GUERRA (1633-1696),
da Bahia, - se terrív J ma.zombo de língua viperina e o maior poeta colo-
nial que verberou a sociedade da Colônia, com se1.1g6sto de ostentação e d
luxo, seu9 costumes desregrados, seus fidalgos e mestiços. Nas sátiras que ex-
traiu dessa observação implacável, ferinas e violentas, e em que retratou, em
, c6res cruas, a sociedade colonial, vergastando senhores e prelados, portugu@ es
e brasileiros, brancos, negros mulatos, não se afirmam, porém, nem se apuram
quaisquer transformações da língua portuguêsa transplantada para o Brasil
e guardada quase intacta, sem uma nota regional, pelo poeta brasileiro.
A forma em que se exprimiam oradores, cronistas e poeta.sera, como con-
tinuaria a ser por muito tempo, o da língua culta falada na Metrópole, na sua
pureza vocabular e sintática, e com as qualidades ou vícios de e tilo vari vei
com os gostos individuais e as modas literárias. Tanto os sermões do Pe. AN-
TÔNIO VIEIRA, com a sua magnifica eloqüência, como as s'tiras de GREGÓRIO
DS MATOS, apelidado o 'bôca de inferno" pelas suas invectiva e pelos seus
remoques contra tudo e contra todos, dirigiam-se a um público de c1 , mais
preparado para compreendê-los, semelhante ao público escolhido de Lisboa,
de Coimbra ou do Pôrto ~ que as classes mais cultas se prezavam de falar
e escrever o português da Metr6pole, - lingua oficial que se procurava re -
guardar, por tôdas as formas das contaminações indígenas e africanas, enquanto
o tupi, chamado língua geral, rivalizando com o português na razao de 3 por 1,
na opinião de TEODORO SAMPAIO, era a que mais se usava geralmente nas re-
lações comuns. A semelhança do que sucedia em Assunção, no Para,guai, onde,
segundo informação de SoUTHEY, "se entendiam melhor os sermões em guarani
do que em espanhol, havendo mulheres de nome e de origem castelhana que
não compreendiam o idioma de seu país". a língua dos autóctone , lembra
HUMBERTO DE CAMPOS, se tornara mais vulgar nas vilas e cidades nascentes
do que o português.r. O português não era, de fato, mais vulgarmente falado
do que o tupi em que, d e os primeiros anos da Metrópole, e adestravam
os jesuítas para maior facilidade de sua missão, e que chegou a vulgari.zar-s
de tal modo entre colonos que no Maranhão e Pará se empregava no púlpito
e.1:clusivamente o idioma do índio. Assim, quando se pretendia falar ao povo
era a língu do selvagem que mais se empregava, reservando.se o portuguh,
}1ngua oficial, para as camadas mais cultas. Dai o carâtcr convencional e mwi-
dano dessa literatura de nsamento português que se destinava às c1 es
elevadas da ociedade colonial, enquanto, nas camadas mais profundas, se: pro-
cessavam a difercnciaçao lingüística do idioma falado nos dois países ou, melhor,

5 Hu11a1aTO D&C-'\MPOI,Ctlt,'c. ).•, e, 7.• edição, pigs. 209-119, Marl.Mlt-ditõra, R o, 1933.

-12-
178 A CULTURA BRASILEIRA

na Colõnia e na Metrópole, e a formação da língua e literatura populares, em


que se misturavam, em proporções desiguais conforme as regiões, os elementos
indígenas e africano. Certamente, "a unida.de fundamental da raça e da língua
entr as tribos que se estendiam da bacia do Amazonas à do Prata, era um fator
importante na possibilidade da formação de uma língua puramente brasileira".
criação de um idioma americano se opunham não s6 a existencia do
português, como Ungua oficial, mas sobretudo a simul eid de e concorrência
d dois idiomas, - o português e o tupi como Un as populares que não
podiam coexistir, sem se interpenetrarem e se transformarem, por efeito de um
processo interno de evolução e pela pressão de influências reciprocas e dos con-
tatos da Ungua e cultura africanas. A língua culta, pen trad atê a medula,
do espírito da Metrópole, sob cuja influência direta ou indireta se formaram
os bacharéis e doutores, pairava demasiadamente alto, nas camadas sociais,
para tomar consciência dessas transformas;ões e se deixar influir ou penetrar-se
d las.
A vida de opuJência que se desenvolveu com a agricultura florescente nas
vilas e cidades litorâneas, ou se expandiu no planalto, com a exploração das
minas contribuiu, de fato, para destacar e isolar, elevando-a muito acima das
camadas populares, a pequena minoria de funcionârio , letrados e senhores
de engenho. &tes formando uma espécie de nobreza rural semelhante à dos
barões feudais: os funcionários, na maior parte, vindos da Europa - aristo-
cracia prepot te e arrogante no trato-, e a burgu •a, rei.no! ou nativa, que
se ocupava no comércio nas minas e nas profissões liberais, constituíam essa
ela rica e apartada, orgulhosa de sua fortuna e de sua posições. "A copiosa
escravatura doméstica, - observa Lúc10 DE AzEvEoo em relação ao Rio de
Janeiro do fins do século XVll -, facilitava o viver descansado a que os ares
inclinavam, e, nas casas abastadas, supria com a sua indús ria muito do que
agora nos Comece a loja e a oficina". O luxo e a vaidade então já espantavam
por tal modo que o Pe. FERNÃO CARDIM julga a su arem na Colônia a
tudo quanto pudera observar Do próprio reino. Enquanto mergulhava na
ignorância e na miséria a massa informe da população, a claasc rica apurava-se
nos prazeres buscava Dos requintes da cultura, um recr io do espírito e um
sinal de distinção, educando os filhos em Coimbra e mantendo, nas casas grandes
e nos obrado , para os seus ócios, bibliotecas iguais ou superiore à de JoÃo
MENDES DA SILVA, pai de ANTômo JosÉ, e cuja livraria, nos fins do século
XVII, "não insignificante para vivenda colonial", compunha- e de 250 volumes,
150 e tantos de direito. ~sse era o meio social em que flore ceu e o público
restrito a que se destinava a literatura da 'poca colonial, sem raízes na terra
e em outra função que a de distrair os rico , ligados 1 como em geral o indi-
vfduos de camadas superiores, menos à Colônia do qu à Metrópole e, por meio
desta, ao estrangeiro. Ela não podia deixar de ter e carâter acentuada-
mente reino!, de requinte e de artificio, que se acentua nas Academias, como
a dos Esquecidos (1724), a dos Felizes (1736), a dos Seletos (1752), no Rio de
Janeiro e a dos Renascidos (1759), tôdas de duração efêmera, e impregnadas,
como o d unciam os seus próprios nomes, do espúito falso e pr cioso, prove-

e Ga.a no hff 11:,estud.aJldo o .PGi>eldo c:>lumin no lo lol na r..-- nacional,


1 mbnl o depoimento do Pe. Snllo og VMCo>1ca.os. q Ddo ■ rinm., 11• b n. do Pc. J
Cl\lCo• o do ontio "no mesmo t.:mpo o:ra mestre diodpulo'' e q o. co/urnln ''lhe
em itJ' ... f'aõ • 1 DIIJ,8 (e&ct"eveGu.e.&R'.!'Of"UTllll) - q e• íorm"!Kl .. da coi,,bona do columin com o
padre, d primeiro rela IOciais e da co=&cio entre a» dnat r , poclend afirmar do povo in..- que
adotou para o 1:u ou OtO c:on-entc a fala do po110 COl>llubt.do, ndo • NA para UAD restrito e ofi.
dai, Quando m•u Wde o idiOllUI porrogu&, - ae.mpcc ol"adal -, pttdoau11<11.1 .tlbrc o tupi, ~. ao
lido d te, Unaua popular. j6 o colonind<>r" esu"'1 imprclD)ldo de ao- Dflu ia lnd.tac ; J6 o aau portugub
perder■ o ,.n ou • dura.s do rán<II; amoletetta-M: aum ~b ra rr ~ : nl' ntlllu..ra. .. c qao.sc, cm
rai. de mcnlno, a infl11&>c:ia do cuino Je,u!tico d,: colabor çio com a. c;,/um/n1". (Ca • ~tnnda" une a.la.
Foi:ma o da f1t.mffia bruili!ii'a ,ob o ~ de economia pawn:al. I.• cdlçb, p 172-1 O.
A VIDA LITERÃRIA 179

nj.ente das associações literáriaa de além-mar, que lhes serviram de mod~o.


Embora o sentimento nativista que germinava no século XVI, já tive en-
trado em período de maturação no século XVIII, não é ainda o Brasil, mas
Portugal o pólo que exerce ~bre nós maior poder de atração. Em ua His•
t6zia da América portuAuha (1730), em estilo gongórico e empolado, como
o de quem escrevia para produzir "efeito", RoCHA PI.TA mal deixa perceb r
uma nota de nativismo na enrase nacional, quando a do lusitanismo, mais forte
e freqüente, sobreleva, no próprio título da obra, - uma das mais estimadas
do tempo. Dos bra "leiros que iam estudar em Coimbra, os que mais des-
tacavam na ci cia, na política e nas letras, lá se deixavam ficar na M trópole:
os dois GuSMÕES, de Santos, BARTOLOMEU, o inventor dos balões, e ALEXANDR ,
estadista e diplomata, secretário de D. JoÃo V, focaram-se em Portugal como
o moralista e clássico MATIAS AIRES,de São Paulo, que publicou em 1752, m
Lisboa, as Reilex8es sôbre a vaidade dos homens; o poeta SANTA RITA
DURÃO,de Minas Gerais, que, levado aos nove anos para Portugal, ali studou,
professou e morreu, e, antes dêstes, arrastado na vaga do infortúnio que arre-
batou a famíli 1 ANTÔNIO JosÉ DA SILVA, do Rio de Janeiro, ligado ao BrasH
quase exclusivamente pela sua origem e nascimento.
De fato, embora nascido no Rio de Janeiro, em 1705, filho de JoÃo M.ENDl!'.S
DA SILVA,embarcou ctn 1712, com 7 anos, em companhia dos pais para Por-
tugal, onde se educou, estudou cânones em Coimbra e, acusado d judaísmo,
faleceu em 1739, queimado pela Inquisição. ANTÔNIOJos.&, o judeu, advogado
como o pai, "mas nas horas vagas poeta e escritor de farsas, ou por ventura
com mai aatidão, advo ado nas horas que lhe sobravam do cotretenimco o
da pena e do teatro", foi, depois de GIL VlcENTE, a maior figura do teatro
portugu!s, en • o em decad!ncia como se achava por tôda a parte o teatro
naquele tempo. As suas obr s teatrais, compostas entre 1729 e 1737, e publi-
cadas em dois volum em 1744, com a licença do mesmo inquisidor geral que
ordenara a prisão do autor em 1737, apareceram no Teatro do Bairro Alto,
em Lisboa como uma vigorosa e.r;pressão popular de um revoltado, de i-
bilidade de espiri o, que, com as suas sátiras, Iemoqu e chalaças 11se vin-
gava de seu sofrim ntos, sorrindo petulantemente à face dos poderosos".
Mas, tanto p la língua como pelo pensamento) a obra do notãvel comediógrafo
que nos deu a medida mais alta de sua verve cômica, de seu stilo claro e
preciso, e de sua técnica original, na peça, - a melhor de tôdas, Guerras do
Alecrim e ManAerona (1737), pertence à literatura portuguêsa como a Por-
tugal deve ANTÔNIO Joslf a sua formação intelectual, as fontes de sua inspiração,
os seus triunfos, e as incompreensões e hostilidad~s que culminaram no mar-
tírio. Foi um grande poeta, arrebatado criança ao Brasil, na primeira ternpcs•
tade que a Inquisição desencadeou sôbre sua família, e novamente, gora a
Portugal, aos 34 ano , na segunda perseguição que lhe moveu o Santo Oficio,
condenando-o à morte nao pelos seus escritos, mas pelas suspeitas de hebraísmo
que valeram a ua mã o tormento no potro, as torturas morais e tr anos de
detenção. Se. pois, d atarmos, na primeira metade do século XVIII, as suas
principais figura , - ANTÔNIO JOSÉ que, transferido -para Portugal, n-o acrceu
nenhuma influ!ncia em nossas letras, ROCHAPlTA, senhor de engenho na
Bahia e autor de uma 'história de alto coturoo 11
e JoÃo ANT NIO AN'DREom
,

(A.NroNIL),italiano de origem que veio para o Brasil aos 49 anos de idade, jé.
visitador da Companhia, e nos deu em Cultura e opulência do Brasil (1711)
uma obra de preciosas informaçõ~ coloniais, nada mais restará de ponderâv l
no 'balanço da vida in electual e literária do país. li:, no entanto, na segunda
metade do sêculo que e assegurou, cm tôda a extensão do territ6rio a vitória
180 A CULTURA BRASILEIRA

definitiva do português sôb.re o tupi, para a qual concorreu POMBAL, 7 dando,


com expul ão dos jesuítas, em 1759 "um golpe de morte na criação de uma
ltngua legitimamente americana' ; é nesse período qu surgem, res abelecendo
a tradição de VIErRA,os três grandes clássicos por temperamento e educação,
o moralista TIAS Anu:s, de São Paulo, o poeta SANTA RITADU'RÃo,ãe Minas
Gerais, que viveu em Portugal, e o lexicógrafo ANTÕ 10 DE MORAISSILVA.do
Rio de Janeiro, senhor de engenho, em Pernambuco, e autor do Dicionário
de LínAua Por u~uésa, publicado em l. edição em 1789, "o melhor guia 11

para as usanças clássicas"· é ainda nesse século de reações nativistas que na


Inconfid!ncia Mineira - a maior de tôdas, se unem pela primeira vez a política
e as letras atraídas pela idéia de emancipação nacional.
O desenvolvimento da mineração, deslocando do norte para o centro-sul
o ~xo econômico do país, não ·só favoreceu a criação de novas aglomerações
urbanas e, com elas, rtovos focos de cultura, nas "minas gerais'', como contri-
buíu para exacerbar o sentimento nativista e republicano. A natureza especial
do comércio do ouro e de diamantes, a intensidade das troca econômicas, as
dificuldades opostas pelo fisc-0 à acumulaçao de fortunas e a tendência cres-
cente à fragmentação da riqueza por grande número de mineradores, concorrem,
por um lado para fundir as populações, atraída de tôda a parte pela cobiça
e pelo espírito de aventura, e tendem a nivelar as cl es desenvolvendo em
conseqüência as idéias igualitárias e democráticas; e por outro lado, o nativismo
que já nos começos do século deflagrara nas guerras do emboabas (1709), em
Minas Gerais, e dos mascates (1710), em Pernambuco, adquire maior vigor e
intensidade nas sedições de Vila Rica (1720) e na Conjuração Mineira (1789),
como uma reação natural contra a. ganância do fisco português e a feroz política
de opr ão adotada pela Metrópole. São todos mineiros os grandes poetas
do tempo dos quais, porém, os dois épicos, Frei Josá DE SANTA RlTA DURÃO
(1720-1784), nascido em Cata Preta, perto de Mariana, autor do Caramuru
e Joslf BAsiLJO DA GAMA (1740-1795), natural de São José del-Rei, boje
Tiradent , autor do Uruguai, viveram, aquê.le de de a infância e este, a partir
da adolescência, em Portugal a que devem à sua formação e onde se fixaram
e morreram. O Uruguai, escrito em versos livr s e publicado em 1769, em
Lisboa, supera pela originalidade da fatura, pelas graças do estílo, flexível e
elegante, pela V"i'!iacidadedo colorido e pelo calor da imaginação, o Caramuru,
m oitava rima camoneana, publicado doze anos d pois, m 1781, e conside-
rado o poema mais brasileiro que possuímos: por um e outro circula, em fortes

7 O aurto que o tupi conseguira nos sécul"" XV[ e XVlt j no llkulo XVIII,
como n pode verificar DIio a6 pelo coofTonto da._ biblu,grar,as sõ
c:ulot, e ao terceiro, como pcbu tr,imfannaç~ que ae opc,-av a.síl e aio
R pod 111 pr o pclo acx:cme COlltll:tO ~ id on, rlcana) e
pela •u• ponctr v,:1 msinr em tMa:s •• ~111 10:i 1 > era ab-
m=te o Idioma oíi 1, rn.a u.mbEm ama. líugua_ popular, e de upos so-
111:l0fflll"2ffl cad ves m • scnol:vcis, na pc-oe6:iia, de dife•
entre o partlqllb Calado rua Col.411111
e em Partg& íilho de
• • ·4o oo Ri., de Ja;Miro em 17 • ~ 6pcle,
-li e o ritmo du modiohas ru-am • popular
.e o poeta mul1m, raõl e ,..,,11:imental, com • bra.-
tr'& uma poe,ia de :nb:,r intmamentc mineiro,
(1749--1'931, tamb&n & de cdr p:ll'da, ru da..
provfoba, que uome. comr<>p,,,,do iJi.lluta pocaiA,
UJIUI Jvrcm, rn • e n el, e um senti,fa malt e, p03,
■ '1ml BOVII.EIITO Dll ~ 11pm ~
foi obc'a de POlOl.U.". O miamro de O. J e dlvul-
' •~ contnbwu par. extinguir 01 Clltim i,a, IIO'Odeoa
vam mm moços apr-en:ir:r o tupú,jq .lim -, e no p(llpi to, o ldi01nS
:, conhe.:endo, ctcnve HuKSeRTO D& CAlao1, llfttlll do l ~. o dtr3 vido de Portupl,
• tubt tuir OI jc:111.ltu. preferiu ensi= 1d cria11i;a.. a Uoiua p:>rt ba, 1 epre du em m,, a d odVII em.
!,te• tnu ■os poucos a modiflca&l,11u, (a'.ll.ol.llJIRJ'O DJI CAMP,n, Critica. l.• drle, 2.• cdl 3t rl .. &dittlra,
1933).
A VIDA LITERA.RIA 181

vibrações, o sentimento da terra americana, na exaltação do mdio, na evocação


dramática dos episódio de nossa hist6ria e na pintura das belezas naturais.
Onde se concentram porém, os maiores ·poetas liricos, congregados tanto pelas
afinidades do g to literário quanto pelos ideais de libertação nacional, ~ em
Vila Rica, cidade jã lendária, mas "como que atropelada ainda, nas expressões
de J. A. Noo IRA, da violenta desordem que lhe estampara no todo o atTC·
messa das bandeiras, na luta corpo a corpo com as escarpas cheias de ouro".
São os poeta da Inconfidência, discípulos mais ou menos fiéis da escola arcâ-
dica, todo comprometidos na revolta mineira e condenados todos ao cárcere
e ao exílio: CLÁUDIO MANUELDA COSTA(1729-1789), da antiga vila do Ribeirão
do Carmo, depois cidade de Mariana, senhor da língua e da técnica do verso,
limando estrofes fria e às vézes engenhosas, no seu medíocre poema Vila Rica
e nos seus sonetos, carregados do arcadismo lusitano, sem f6rça de pensamento
e sem inspiração; os doía ALVARENGAS, INÁCIOJost ALVAttENGA PEIXOTO,
nascido no Rio de Janeiro, em 1744 "poeta de pouco sentimento mas de ima•
ginação fãcil e colorida", de que nos restam, além-do Canto GenetJiaco, vinte
sonetos, tr odes e duas liras, e MANUEL INÁCIO SILVA ALVARENGA (1749-
-1814) de Vila Ric , que nos legou, sobretudo em G/aur-a, poemas er6 ·cos,
uma poesia essencialmente brasileira· e, o maior entre os ârcades ToMÁs AN-
TÔNIOGoNZAGA (174 1792), autor de Marilia de Dirceu, -o livro de amor
mais estimado da Ungua portuguêsa -, em que se associam a emoção comuni-
cativa, a naturalidade da pinturas e a elegância de linguagem, m afetação.
Português de nascimento, é, como escreve AFRÂNio PEIXOTO, "bra ilciro
pelo pai pelos mais de doze anos que aqui viveu, 9 pelo amor que o inspirou,
principalmente pelo martírio injustamente sofrido por n6s".
Mas, embora ja acentuada a influência do arcadi mo nessa pl~ade de
poetas e, particularmente, em CLÁUDIOe GoNZAGA, a nota brasileira jâ ~ tão
sensível cm alguns tão repetida em Sn.VA AI.VARE GA que R0NALDD&
CARVALHO não hesita em considerâ-lo um precursor do romantismo ou, mais
exatamente ' o elo que pr nde os á:rcades e os romântico ". O primeiro
acentos do movimento romântico, cujas raízes mais profundas se podem buscar
no poema de BASfLIO DA GAMAe se estendem pelas odes e redondilbas de SILVA
ALVARENGA, continuariam a vibrar, através dos últimos árcadcs, nas descrições
da natureza, do poema místico Assunção da Virgem, de Frei FRANCISCO DE
SÃO CARLOS(1763-1829) e, sobretudo, nas produções religiosas do Pe. SOUSA.
CALDAS(1762-1814), de um pessimismo doloroso, mas de alta inspiração. Se
na poesia Urica, amorosa ou sagrada de influência arcádica, a que se prendem
também êsses dois poet~ sacros, ambos nascidos no Rio, já se marca a lenta
evolução para o romanti mo que foi, no século XIX, o alvorecer de nossa in-
dependência intelectual, os poetas da Inconfidência, revolucionário na polf-

8 A açlo do Urulu• • _. em cinco eant~ E • gu=>1 qoc ~I. -.ioda o da ~. moveu


aoe .--te P- 1 do Uni;uai, rebelados pdoe jeuftu eontn, o tra o de 1750, que lnmf • do
domfalo dOII pa a para o dOII pc:w"tUCUe.c,_ Apoar de - auunto acaDhado e e para uma ia,
Büfuo o G.t.MA t ll4br e um poema cwi i.oat, eh • de calor e- timeito, de um forte colorido pltor o
e de alcuo, • iOIIdramitkoe como o da "'arte de LJ.NDÓIA.an qae mai,, te de.-. o l6pro UriC'Oda plrac&o.
O d1>Caramuru olo e mal larao que o do Uruguai; mQ, tomando par obJ do NU poema o
brimcnto da BabJapor D1000 ÃJ.VASU Cous111. O Catam~ 5.un'ol. RnA OVIL"(o o ampl OIJ por mdo d .,.
tillciol lilcriri CIOIIDO o do l<lllbo e d• d.a {adia Par,.ru,ça. que lhe pami 'o • CV~ de :ob6d OI
de a. hist6ria ttri • açlo princ:ipal. O poema qae oe em:ooe por de:s OU>tolf, J' uu • DOta do ame•
• ' qu ,nbrou mal tarde, com m.Íor intetuidade, cm Go:,ro.u.n:s DIA.I, o p-a,,de do h,dlo.
11 F'onm, mA.11 a.xatammtc, d- ·• ano,o os que vivcn. cm hnerdade, no &,uU, Tcn,Ãa A.'f'l'ÓlfI0Go>IU r
"°".,.... in!locie • adol end , entre oe a de id de, cm que veio pva o Braall com o pai, e oe 17, com qu
"ºll!ou • Portut:al par ■ tud..- em Coimbra, e sete aooe, puudas depou na comarca de Vll• Rica, ...,. onde
vdo d e.bido cm 1712 c:Qma ouvidor e proeureoor de defanto. e onde -perm&nft'W • a« JI" , 17 • e
ro:olh do • J'.lhad • Cobni . I>a prh • u..em 1192, ~ cumpra cm "Moçambique- ■ peoa de daten-o.
l8l A CULTURA BRASILEIRA.

tica, foram, em geral, conservadores nas letras. 't que a mudanças de idêias
precedem, e as mudanças de forma seguem um.a metamorfose social. Em
nenhum d!I de fato, uma ruptura contra os mold clássicos nem um grito
d revolta, a não ser nas Cartas chilena , - na sua ia, espon ãnea ou
trabalhada, serena e melancólica como um cair da tarde nas montanhas. ão
é entre os Incoofidentes que se encontra um renovado da técnica do verso,
ou um poeta de sensfüilidade aguda e de espírito inquie o: aquêlc os precedeu.
com o Uruguai, a obra de mais forte originalidade no per!odo colonial; e êste,
foi-lh posterior, e se chamou SooSA CALDASpara quem o pessimismo e as
tu a da vida interior não foram senão um ponto de partida, um ponto de apoio
de que o poeta religioso tomou impulso para võos mai altos. No entanto, a
análise d e grupo de poetas que se reuniram em tõmo de TIRADENTES, não
nos r vela apene~ a transição entre os árcades e os românticos. T6da a poesia
dos árcades de Vila Rica já acusa, na discreção do sentimento e d forma, o
carâter especial da inteligência mineira e dêsse humorismo que é um dos seus
encantos e, na observação de MÁRIO OE ANDRADE, "não tem processos tradi-
cionais de se manifestar, mas irrompe de uma mesma forma de inteligência e
se processa em manifestações diferentes umas das outras". Entre as sátiras
de GREGÓRIO OE MATOS e as Cartas chilena há um bismo, de fato, 'que
não se afunda apenas pela distância do século mas especialmente pela paixão
intelectual em que o baiano gargalhava e pelar erva com que aquelas sortiam".
A1 disso, à sombra do grupo mineiro que, pass ndo a imaginação entre
pastõres, numa suave poesia bucólica soube alimentar a idéia revolucionária
da libertação do país nasce com esse documento a literatura política, - a
maia abundan e e car~ctet"Ística do espírito nacional. A Cartas chilenas
que un a ·buem a CLÁUDIO MA.NuEL e outr com maiores razões, a ToMÁS
ANTõmo GoNZAGA, - terrível sátira em versos contra o "'Overnador Lufs DA
CUNHA NESES e seus favoritos, e documento p ecioso da cri •ca de costumes
-, d finem com in ensidade os caracteres dessa literatura a que a liberdade
de imprensa e as lutas políticas, sob etudo depois da Indep dência, abriram
tõdas as comportas, inundando o pais de sátiras, libelos e paníle os.
A vinda de D. JoÃo VI, com tôda a sua cõrte, numa época de decadência
da vida colonial, devido à dupla crise, - uma que já vinha de longe, a da la-
voura da cana, no norte, e a outra, mais recente, a da exploração das minas-,
foi certamente, pelas suas fecundas con_seqüências, um acontecimento polftico
do maior alcance para o Brasi1, sob todos os seus aspectos. Não foi apenas.
a mudança, jâ de si tão importante, de uma cõrte inteira, com cêrca de 15 mil
pessoa entre dignitários, tropas e famulagem, e com tõdas as riquezas que
o r i e a sua comitiva puderam, na fuga, embarcar para o Rio de Janeiro, onde
se instalou a nova sede do govêrno. A abertura do portos brasileiros à nave-
ga ão estrangeira, - primeiro ato de clarividência de D. JoÃo VI, em 1808;
a in ensificação do comércio, agora direto com a lnglaterr , e as primeiras me-
didas econômicas tomadas pelo rei imprimem um im ulso notável às ati-
vidad mercantis do Rio de Janeiro e da principa· cidades litorâneas, produ-
zindo um grande surto economico e rasgando à vida in electual do país novas
perspectivas. A fisionomia urbana da grande aldeia de 45 mil almas que era
então o Rio de Janeiro, transforma-se profundamente e, co a presença da
cõrte, cxpand -se a vida social e mundana que adquire a in •dade e o brilho
da capitais estrangeiras. Os fatos, como ob erva EUCLIDES DA CUNHA,"lan-
çavam a nossa erra o único estadista capaz de a transfigurar". D. JoÃo VI,
o criador de instituições, funda, entre outras, museus 1 escolas e bibliotecas,
inaugura a Imprensa Régia e estimula, por tMas as formas a produção eco-
A VIDA LITERARIA 183

nõmica e intelectual, transfigurando a velha aldeia colonial na capital do novo


lmpúio Portugu!s e em nosso maior centro de cultura, com a, sua biblioteca
que t'11l 1828 jã se considerava uma das melhores do mundo, e com a ua im-
prensa que, depois da Independência, nessa mesma época, jã se cons ·tu.ta de
15 jornai do paí e 2 estrangeiros. Se é, porém, com D. JOÃOV1 que surge
a imprensa na Colônia, com a Gazeta do Rio, órgão oficial, é sàmente na
lutas e depois da Independ!ncia que se sucedem os jornais, o Diúio do Rio,
o Revérbero Con titucJonal, o Jornal do Comércio e a Aurora Flumi-
nense, entre outros de grande prestígio, na opinião pública, desde o primeiro
Império. A vida intelectual, no período de D. JoÃo VI e no reinado de DRO l,
se não se concentra exclusivamente, adquire uma extraordinliria intensidade
na tribuna, sagrada e proíana, e na imprensa que se toma o mais poderoso ins-
trwnento das agitações nacionais. Enquanto no púlpito se ouvem as vozes
independentes de um Pe. SOUSA CALDAS, de um FRANCISCO DE SÃO CARLOS,
elevado à dignidade de pregador régio por D. JoÃo VI, de um Frei FRANCISCO
:OE SAMPAJO e de um Frei FRANCISCO MoNT'A.LVERNE (1784-1858), cuja elo-
qüência arrebatada e enfática já alcançara tôda a plenitude e fôrça de expr ão,
08 grandes jornalistas da época, HIPÓLITO DA COSTA, GoNÇALVES LEDO e JA-
NUÁRIO DA CUNHA BARBOSA, no Revérbero Constitucional, Frei FRANCISCO
DE SAMPAIO, no Correio do Rio, que redigiu em 1822 a representação ao Pdn-
cipe, impondo-lhe a permanência no Brasil, rompem na imprensa as campanhas
poHticas que atingiram o máximo de vigor no primeiro Império, e durante
todo o pcriodo da Reg!ncia. É um períod.o êsse, "forçadamente critico e de-
molidor", em que passa para o primeiro plano a literatura ef~mcra, mas eficaz,
do jornalismo poUtico. ' A agitação doutrinária que até então se amortecera
nos prelos londrino do Correio Brasiliense (1808-1822), de HIPÓLITO bA
COSTA com todos os inconvenientes da distancia e do isolamento, deslocava-se
de súbito, escreve EuCLIDES DA CuNHA, para o âmago do pírito nacional".
A proclama -o da independência política, a liberdade de imprensa, esta-
be1ccida na carta constitucional, e as lutas políticas q,ue se desencadearam
com violencia extr ma, ravoreceram o surto do jornalismo no Brasíl e lhe dera
extraordinário poder de expansão. A campanha 'tenaz, movid de Londres
por HIPÓLITODA CosTA,- o maior jornalista da época. em íavor da Indepen-
d~ncia e da emancipação dos escravos, sucederam-se as polbnicas de larga
repercussão na opinião pública, provocadas pelas reações nativistas, pelos
debates da Constituinte (1823) e pelas questões partidárias, e em que tomaram
parte entre outros BERNARDO PER&IRA DE VASCONCELOS, notãvel político.
orador e jornalista, J. J. CARNEIRO DE CAMPOS, no Tamoio, "órgão de um
radicalismo infrene", e sobretudo EVARISTO DA VEIGA, livreiro, jornalista e
político, que dirigiu a Aurora Fluminense (1827-1835) com uma not vel
lucidez, uma firmeza incorrutível, e uma coragem varonil. A imprensa em
1830 "com um vigor que nunca mais teria no Brasil dirigida pela Aurora
Fluminen e de EVARISTO DA VEIGA, tomara, escreve EUCLIDES DA CUNHA,
a direção do movimento tornando-o irreprimível, generalizando-se nas pro-
vtncias com o Observador Constitucional de LfBERO BADARÓ, em São Paulo,
com o Universal, em Minas Gerais, e no orte, caro o Baiano, de REBOUÇAS''.
lt, de íato, pela ação dechiva da imprensa que o movimento político de 1830
e 1831 se tomou bastante vigoroso para forçar a abdicação de D. PEDRO I e
p6r térmo ao primeiro Império. O papel de EvARISTO DA VEIGA foi, n e
episódio, tão importan e como o de HIPÓLITO DA COS'IAna luta pela lndepcn-
d!ncia. A imprensa que precedera, na influência sôbre o espírito público, à
eloqü.ertcla parlamentar, e foi o leito profundo e ramificado como uma rede
potâmica, para que se canalizou a torrente impetuosa das paixões, atravessava
o seu período de maior prestigio e projeção. Era pelo jornal que se iniciava
184 A CULTURA BRASILEIRA

ou se fortalecia a carreira política e raros foram os homens públicos que consc•


guiram subtrair-se à seduçao do jornalismo em que s destacaram, entre outros
menores, LoPES GAMA(1791-1852), tambêm poeta satírico no Diári'o de Per-
nambuco· JUSTlNIAN0 JosÊ DA ROCHA (1812-1862); SALESTORRESHOMEM
(1782-1876, médico e parlamentar autor do Libelo do povo, assinado por
TIMAND o; ODORICO MENDES (1799-1864), tradutor da Eneid e da llíada
e o maior humanista de seu tempo; e JOÃO FRANCISCO LISBOA (1812-1863)
advo ado e erudito, escritor clássico por excelência que publicou, no Maranhão,
diverso jornais políticos e nos legou no Jornal de Timon,- coleção de en-
saios em doí volumes, o melhor documento da lucidez de sua reílexão pessoal
e da riqueza de sua cultura, e na Vida do Pe. António Vieira, a obra mais
amadurecida documentada de suas investigações no dominio histórico. O
jornalismo, - a maior arma de combate, desde as lutas da Independência e
no prlrneíro Império, devia, porém, ceder o lugar .à eloqüência parlamentar, -
forma aristocrática do pensamento político, e que já surgia, nesse período de
agitações, com um brilho e uma fôrça capazes de transferir para um plano
secundário a ação dos jornais na segunda metade do século, com o advento
do segundo Império, o restabelecimento da ordem interna. a estabilidade eco-
nômica e a expansão do romantismo em tôdas as manife taçõe da vida lite-
rária e política do país.
Estamos em 1850 e nos anos seguintes, no momento do s~ulo XIX em
que n Europ a ciência já começa a impor a todo os plritos a sua visão
ordenada do mundo. Prodigiosas descoberta demon traram a superioridade
d seu mHodos. Elas se resumem tôda.s neste princípio; a submissão ao objeto.
~ a negação mesma do romantismo, cuja essência é uma cxal ção lírica e ima-
gina ·va da ensibilidade e uma revolta contra o real quando ~e perturba essa
exaltação. as no Brasil o 1850 corresponde ao 1830 na Europa e estamos
nessa ~oca, por volta de 1850, em pleno romantismo. Certamente, desde
183 1836, com e pub icação dos Su 1piro poético , de Go ÇALVES MA-
GALHÃES impressos em Paris e o poema A voz da natureza de PORTO ALEGRE
já haviam surgido com êsses precursores, na poesia brasileira, o espirita de
r ação contra os moldes clássicos, maior liberdade de ritmo , o gõs o do pit-0-
resco e o sentimento da natureza que cantava em todos os versos românticos.
Pode-se datar dessa época a aparição de uma nova poesia em que e esboça o
romantismo, ainda que sem calor e sem vibraçao, e que no autor dos Suspiros
poéticos ~e inspira sobretudo em motivos patr16ticos e religiosos, e se anima
de um sentimento mais vivo da natureza na Bta i!ianas (1865), de PÔRTO
ALEGRE e em alguns excelentes quadros descritivos de seu poema Colombo.
Na segunda me ade do século XIX, de 1845 a 1875, é qu surge de GONÇALVES
DIAS a CASTRO ALVES, w;na plêiade magnffica de poetas que morrem quase
todos cm plena mocidade, e alguns, como FAGUNDES VARELA e o poe a do Úldio,
apenas atingida a maturidade. ainda em tôda a fôrça, enao de sua inspiração,
de sua vida intelectual É ÃLvARES DE AzEVEDO (Sao Paulo, 1831-1852),
" a criança de gêoio que apenas deu amostra. do que pudera ser".
e m as suas Poesia (1853), dolorosas e torturadas, em que e misturam
a fanta •a e a realidade e circulam, na dúvida e na ironia, as ioquietaçoes de
u espírito. os contos fantásticos A noi e na tav rna, o mUDdo artificial
que le viveu pela sua imaginação, traz uma máscara de horror e de perversi-
dade, e reponta às vêzes qualquer coisa de atânico n e enervamento de
alegria que enche o olhos de lágrimas. li: JUNQlJElRA FREmE (Bahia, 1832-
1855), poeta -ambém essencialmente subjetivo, esplrito livre e revoltado que,
sofrendo o abalo d«j;um trágico despert-ar para a vida, r úne os sonhos místicos
A VIDA LITERARJA 185

à rebeldia de um egr do convento, e parece deixar flutuar entre a terra e


o du as suas /n :pirat;óes do claustro (1855). lt CASIMIRO "'DEABREU, do Rio
de Janeiro, autor de Primaveras (1859), o suave cantor da saudade, a quem
nem a vontade do pai nem o ei:ílio em Portugal nem a moléstia puderam des-
viar da sua vocação, e que se tornou, com a sua poesia senti.menta] ing&lua
e lânguida, suas impr ões da natureza e seu amor à terra natal, um dos poetas
mais lido do Brasil e o mais caro aos adolescentes. ~ ainda o poeta dos Cantos
e fantsaias (1865), do Cantos do érmo e da cidade (1869) e do EvsnAelho
nas f!elvas (1875), - FAGUNDES VARELA, em cuja poesia, ubme "da a tõdas
as influências anterior , se confundem, numa singular mistura, o sentimento
da natureza e o da vida interior, a exaltação do índio e a nota soaal, a sensi-
bilidade inquieta e o entusiasmo ardente, e a cuja inspiração uma paisagem,
um pedaço de céu, uma "coisa vista" ou um pressentimento, uma dúvida,
um sonho dá o choque e o movimento inicial, fazendo vibrar uma das cordas
de sua 1ira e lançando as idéias no domínio de sua imaginação.
Mas, grande entre os maiores, GONÇALVES DIAS (1823-1864), do Maranhão,
os precedeu a todos na publicação de seus poemas; e com êle, o lirismo român-
tico, antes de tomar o caráter essencialmente subjetivo das poesias de ÃLVARES
DE AZEVEDO, JUNQUEIRA FREIRE ou CASIMIRO DF) .ABREU I se apresenta forte~
mente marcado com o seus elementos essenciais não s6 no seu culto do indi-
vidualismo mas com a sua sedução pela natureza e as suas tcndencias religiosa .
Nos Primeir~ (1846), Segundos (1848) e Últimos Canto (1850), escritos
todos no período da mocidade, entre os 17 e 27 anos, o poeta brasileiro imprimiu,
porém, à sua poesia um cunho particular, que é talvez a sua nota mais original,
associando o sentimento do pitoresco, o poder emotivo e o sôpro ardente da
inspiração, do grandes românticos, a êssc admirável sentido cJ ico da so-
briedade e do equilíbrio. Enquanto, nos outros poetas do tempo, o vocábulo
freqüentemente precede e transborda a emoção e o pensamento no poeta mes•
tiço, o fõrço constante em governar a emoção, sem lhe a.bafar a espontanei-
dade e o vigor, lhe permite dar à poesia, pela clareza e precisão, uma das formas
mais puras da Ungua portuguêsa falada no Brasil. O sentimento da natureza
e da paisagem americana, que devia fàcilmente levar ao culto do indfgena,
fruto da terra, ainda que idealizado pela imaginação; os fenômenos de mesti-
çagem do branco e índio em odo o país, e sobretudo, no norte, e as lembranças
ainda vivas dos antepassados selvkolas e das cu1turas primitivas, determinaram
essa volta surpreendente aos temas indigenas, arrastando os nossos român-
ticos para a órbita de sua ~tração. O interêsse pelo aborígine, pelo homem da
natureza que vinha dirctamen e do interêsse pela paisagem e pela terra, e foi
uma das mais forte expressões do nativismo brasileiro, ê, com efeito, a nota
romântica, ferida com mais persistência, por GoNÇALVES DIAS, o rapsodo da
epopéia indígena, nos Timbiras 1 na Canção do Tamoio e em 1-luca-Pirama,
e por Joslf DE ALENCAR (1829-1877), do Ceará, no seu romance Guarani e
nas novelas /raoema. e Ubirajara, - verdadeiros poemas em prosa, admi-
ráveis pelos quadros descritivos e pelo movimento de expressão. O autor dos
Timbira e de outros poemas épico-romanescos, poeta e indianista, que no
deu no Vocabulário de línAua Aeral o t~temunho de seus conhecimentos
em língua indígena e o romancista do Guarani, - considerado uma obra
prima e que teve su ivas edições, são as figuras centrais do romantismo
literário, em que o primeiro dominou, oa poesia, e o segundo, n prosa de ficção.
Essas obras, a vários aspecto notáveis, em qne se representou pela primeira
vez o conflito entre as duas raças, entre o homem da natureza e o homem da
civilização, ficaram como fragmentos da epopéia da raça e a base de um ciclo
186 A CULTURA BRASILEIRA

~tico e romanesco da literatura brasileira. No grande poeta nacional como


no vi oroso romancista e dramaturgo, o mesmo dom do pitor co, o mesmo
sentimento da natureza tropical, e o mesmo sôpro Urlco de inspiração e de idea-
lismo. Mas, no ocantc à forma, se o poc a do fndio, senhor dos segredos da
língua tradicional se mantém fiel ao gênio da l!ogua portuguesa, que fixou em
suas obras e de cujas origens nos revelou conhecimento nas Se tilhas de
Frei Antão, escritas em português arcaico, Joslf DE ALE CAR é antes um re-
novador, que acolhe e faz circular pela prova arttstica o vocabulário, as ex-
pressões e os tomeios especiais, resultantes das transformações do idioma fa-
lado no Brasil.
lt realmente interessante seguir e destacar as diver as tend!ncias literárias
e correntes de idêias que êsse escritor polimorfo e fecundo, como que captou
e acolheu cm sua obra e aquelas contra as quais veio a reagir, como a da aboli-
ção dos escravos, j Se foi o iniciador do indianismo na sua prosa de ficção,
com seu primeiro ttomance Guarani, em que se revela um observador da na-
tureza e aclmirávetj evocador da vida do selvagem, transfi urada aos olhos do
romântico, a sua a.tenção inquieta não se fixou nas paisagens misteriosas e na
abnosfera ardente que servem de quadro ãs aventuras romanescas e aos con-
flitos entre a raça indígena e a dos conquistadores. ltle mergulha no passado
de cujas profundidades traz nas mãos as Minas de Prata e a Guerra do Mas-
cates; e à emoção das lembranças históricas se acrescenta em O Gaúcho e
em O Sertanejo a alegria do viajante que descobre os aspectos regionais e
os horizontes mais variados, das savanas do Rio Grande às caatingas e às flo~
r dos sertões. Em outros romances como em Cinco minuto , em A Pata
da Gaseia e em o Tronco do Ipê, ou na comédia O Deml,nio Familiar, re-
vela-se um excelente observador da sociedade atriarcal, tr çando uma série
de perfis de mulher e esclarecendo os hábitos da vida brasileira e vários aspectos
da bist6ria de nossos costumes. Observador sagaz, dotado de impetuosa ima-
ginação, a sua atividade política e o contato mais íntimo com a sociedade
imperial deviam prepará-lo a perceber com mais nitidez e a registrar com mais
bravura essas transformações por que vinha pas ando a língua portuguêsa e
a que se tomara menos sensível GoNÇALVES DIAS, educado em Coimbra (1838-
1845), e mais penetrado pela sua formação e permanência em Portugal, do
sentido das formas de linguagem, autênticamente portuguesas. Ao lado das
afinidades românticas, tão acentuadas no oeta como no romancista, o crítico
não poderia encon rar na obra de ALE~CAR essas persist~ncias clássicas que
se reconhecem nos poemas de GONÇALVES DIAS. "Con ervador na politica
(foi adversârio da emancipação dos escravos), José DE AL NCAR, escreve MA-
NUEL BANDEIRA, iniciou no domínio literário e lingüfstico a reação nacionalista
cm favor das formas brasileiras, pelo que teve de susten ar vivas polêmicas
com os irmãos CASTILBOS e com literatos nossos, fiéis às regras gramaticais
portugubas". O grande romancista não s6 acreditava elÔs ência ou for-
mação de uma língua nacional, como ainda aceitando sem repugnância al-
gumas formas vulgares que já a vinham caracterizando, não se amesquinhou
de empregá-las nas suas obras, embora com a prud!ncia que impunham a um
homem de gôsto, as condições da vida intelectual e o predomínio quase abso-
lu o, na literatura, da llngua culta sôbre a língua falada no Brasil. Não é um
cscritor ou poeta de cenáculo que não tiv e querido ocar enão algumas
almas de elite, ma5 um romancista, ensaísta e político, a um empo, que, não
tendo o culto da elite, não teve de fazer C$ÍÕrçopara ceder à tendência popular
e refrescar, retemperando-a, nas fontes vivas da língua falada, a sua prosa ar-
tís ·ca, nervosa e cambiante, já tão fortemente marcada do caracteres do
idioma nacional.
A VIDA LITERÃRIA 187

No mov;men o abolicionista em que se desenhou, no Brasil o primeiro


anseio de reforma social, encontrou outro romântico, - e &se, poeta Urico e
épico, CA.s'l'RO ALvv, (1847-1871) uma corrente de idéias bastante impctu
para t:ransport6-1o nas uas ondas. Certo, já antes dele, como escrevi nos
Ensaio , io o pau.li ta Jost BoNIFÁCIO, o moço {1850), intcresaava-se pela
sorte dos escravos, e dava a algumas de suas poesias e:ssesacentos de que s6
encontra a consonância mais tarde no grande poeta baiano. Contemporâneo
e emulo de CASTRO ALVES, procurou TOBIAS BARRETO, para matéria de sua
poesia o mesmo ideal abolicionista. Mas, em nenhum poeta, antes ou depois,
a poesia de inspiração social atingiu o largo sôpro de idealismo, a fõrça arre-
batadora de convicção e o impulso religioso de inspiração ardente que fazem
de CASTRO ALVES o intérprete, insuperável e dominador, dessa grande aspi-
ração. O poeta dos escravos não dispõe apenas de um extraordinário poder
verbal, mas tem sempre, para aquecer a sua poesia e fazer circular por ela uma
corrente de vida, uma potência sentimental como nenhum outro teve maior
entre nós: tornou-se popular com as Espumas Flutuante , porque trocou
a ordem do pensamento pela do coração e o sentimento da natureza pelo da
humanidad , que o impele a entrar com entusiasmo no tumulto das paixões
coletivas. E é tão impetuoso o seu impulso lírico que ainda em poemas como
Sub teAm.r'ne f aAJ, - quando se pensa que ia dobrar as asas, para revestir
de uma doçura bucólica essas estrofes, se deixa arrebatar a.os cim08 nebulosos
da poesia p la fõrça de sua inspiração. ::S;talvez o maior, embora o menos
intelectual de nossos poetas, verbal e sonoro mas também cheio de fõrça e de
substância, como VICTOR Hooo, que ainda hoje se lê, "como se respira o
ar da montanha ou se toca uma matéria admirável". S6 resta à gente, lendo
um e outro, deixar-se penetrar e calar. A tonalidade predominan na sua
poesia é, sem dúvida, com os ideais da liberdade. a sorte dos escravo . A ua
lira, porém, como a dos grandes poetas, ~o já observei, "tem Odas a
cordas. A ibilidade de sua alma aberta às emoções, das mais delicadas
às mais violentas, não o deixa cair na monotonia que poderia re ultar de uma
nota ferida d maneira senão exclusiva de certo persistente. Evocador das
angústias de uma raça triste e oprimida, ora envolve-nos como em Cachoeira
de Paulo Afonso, no ritmo embalador de uma graça voluptuosa ou de uma
carícia ard nte sob que pe.nctra a intimidade do coração, ora ataca com fõrç
a fibra popular espalhando nas harmonias orquestrais de Voze d' África e de
Na~io NeAreiro, êsse frêmito misterioso de fatalidade e de terror que corre
pela epiderme como um arrepio de febre. :E:,porisso, pela essência de sua poesia
não selada pela perfeição, mas profundamente viva, humana e brasileira, que
ainda hoje a claridade do passado ilumina, como uma auréola, a figure. juvenil
dêsse poet que, morrendo aos 24 anos, conquistara larga popularidade, apanágio
dos que conae.guem propagar uma grande paixão''.
As paixões humanas, sociais e políticas, que se alastravam tão inten •
mente pela poesia de inspiração social e explodiam nos debates da impr n
e do parlamento, não tiveram, por&n, repercussão no teatro que, mais pr6ximo
~ alma popular, pela sua própria natureza, se tomara em outros países um
dos instrumentos mais eficazes para condensá-las e difundi-las. A poesia, com
Go CALVES DIAS, em Escrava, com TOBIAS BARRETO e sobretudo CASTRO
ALVES; a eloqO&lcia com JOAQUIM NABUCO e RUI BARBOSA, e o romance, com
BERNARDO GU1MAR.ÃES,em Escrava Isaura, deixaram-se penetrar dbse vivo

JO P'U.l<AKDO os .AffnDO, Elt• Jo , A poesia aodal no Bcuil. pAgt. !IO--L02,Comp. Melh


de São P•wo, Slo P•ulo, 1929.
U l!'&mfANDO os Anva>O, Bn •io,. A poc'lia ll0Cia1a.o Bruil, pAp. !10-102, Comp, M.elbon.mc.ntot
de Slo Paulo. o P•lllo, 19~!1.
18 A CU LT"URA BRASILEIRA

interesse humano pelo escravo a que o romantinno, exacerbando a imaginação


e a sibilidade, imprimi.a, nos poemas de CASTRO ALVES e nas orações de
RUI, o carãter dramático das paixões coletivas. cnhum autor teatral con-
seguiu o.rumar-sedessa inspiração religiosa e social que fêz a grandeza do drama
ao 'go, nem tentou explorar, com wto, os conflitos sombrios entre a duas
raças ou a riquem de nossas tradições históricas. Os gostos e as predileções
do público, que se f~aram no romance, venciam, no Bra ·1, o gõsto pelo teatro
que por tõda parte se estendia com a expansão do romantismo. Assim, o
teatro que a rigor teve seus começos nesse pcdodo, não chegou a conhecer a
gl6ria, a não ser por um grande ator, JOÃO CAETANO DOS SANTOS (1808-1863},
de notável poder de interpretação e de uma fôrça singular de dedicação, na
luta obstinada pel~ organização do teatro nacional. Embora a montagem e
a dignidade dos cspltáculcs ainda deixassem muito a desejar, a figura de JoÃo
CAETANO, que surg com uma vocação surpreendente e se mantém infatigável
durante 24 a.nos, d sde a representação do Olgiato (1839) de MAGALHÃES até
a sua morte, domina quase solitária a cena do teatro, pelo s u calor apaixonado,
pelo sentido dramá,tico em alto grau e pela segurança de sua dicção. Era um
grande ator à procura de autores. Não é que aos brasileiros faltassem dispo-
sições para as formas cênicas da literatura; mas a vitorio a concorrência do
repertório e do teatro estrangeiro, o carãter comercial das emprêsas que pre•
feriam sempre uma peça con~agrada pelo sucesso a uma obra inédita de autor
desconhecido, e as poucas possibilidades, para os autores nacionais, de se fa-
zerem representar e adquirirem um conhecimento prâtico de seu oficio, tinham
de forçosamente afastar da cena as produções de nosso cscri or~. No entanto,
d peito dessa concorrência que tornava difícil a representação e, em conse-
qü&lcia, sem ~tímulos a produção de obras brasileiras, não faltaram autores de
peças teatrais, desde GoNÇALVES DE .MAGALHÃES, PôRTO ALEGRE e Go ÇALVES
DIAS, e outro romancistas e poetas, que, depois de alguns nsaios medíocres,
renunciaram à carreira dramática. O maior de todos, Luís CARLOSMARTINS
P NA (181 1848), do Rio de Janeiro, o criador do teatro nacional, deixa nas
suas peças e, especialmente, na comédia de costumes, 1 como o Juiz de Paz
na R°'a (1838), o Noviço e Quem casa quer casa a fisionomia moral de
tôda uma época, retratada também, em alguns d s us aspectos, com espon-
taneidade e graça, por JOAQUIM JOSÉ DA FRANÇAJÚNIOR (1838-1890), da
Bahia, na sua comédia As Dou.toras, em tt:ês atos, e por JosJf DE ALENCAR,
m Dememio Fam/Uar (1857) que anunciam as promessas e definem a.s ten-
dências de nossa literatura sob essa forma especial.
Jt, sobretudo, no romance, colhido, como a poesia pela fôrça torrencial
do romantismo, qu~ se sati!faz o gôsto do público, inclinado ante às obras de
caráter s ntimentaJ 1 do que àquelas que viessem penetradas do sentido da rea-
lidade. A primazia tinha de forçosamente caber nessa época, a JOAQUIM
MAmrEL DE MACEDO(1820-1882), do Rio de Janeiro, romancista, comedió-
grafo e poeta, que logrou extraordinária popularidade com A Moreninha (1844)

J! A com • de a.tumc:s e de Cllr&Ct'.eres, que;, • ~lo mala alta e í nobre da &ri.li teatral. •c
cul no Bn ·1. como ?,f.urrn;s Pl!:NA.!i'RANç,. JIÍNlo■ e Jod o-a "1.slfcut. alo eh • ado ·r com o!lca
wn• vanch r&ço no movimcftto da ~. no j6go doo dW , oo o d<M cur .. e. 1111 plntur dos
cmrumca. AI auu pc alo, no ..,antt,, its ,,_s mdhàa tiru , ■ C'61n, de A•TIIQ PDl'A.
que tem. como o dbm de fazi:r rir c de ~. ~ o ·a.çlo m d1r d4 .,.da, cm P°'LU(ÇA
Ji!lno11, pela. dc:H-icza aeutimemal. e f"'mura de ■niliK, cm J D& A/.Vfe.U: d ut« ., Edia1
q11 apr tMam maior 11.■rantias de dmaçü e qw,. tendo f 'to ~ • ~o de KU t~po. ai Oa:riun
~ o tr: Ela• indicara, o■ nric:dade complexa do, e~ dn:miticm, u forte. tendtnclu do tro
n■doolll. AI trac .. de Go çA.Lvu ~ An.tdnio Joú (1839) e 0111A1 , • qa Joio CAQ.u.o,
lcrv■ndo • , l!ftlpc'Q ou odo o prestl&io de '5CU poder de lntupr ç • n J11.1tl11m o cntutia,:mo de 1e1n1
CODtcmpcrA.neot. Todo o ,wt'rt6rio dranático coa,titufdo do. dtam
o& At.DCAJI, PJtA1t11UMTÃVORA e outrm, e r~csc:nt do entre l8S4
de JOAQUIM M" •V&L º' 14Cl'DO, Josi.
187~, na apr cnl•, na verdade. wenão
om ioc,u e hiat6rii:o n& iN'Olu o úc .noua litcratws dram l-ica.
A VlDA LITERÁRIA 189

e Mopo Louro (184S), narrativas passionais, de caráter romântico, publicadas


em numerosa edições e ainda vivas na memória de todos; BERNARDO GUI•
MARÃES (1827-188S), com o Garimpeüo e Escrava Isaura, em que se destaca
entre fantasias a nota regional, e JOSÉ DE ALENCAR que, mantendo-se fiel à
tradição romanesca, nas páginas admiráveis do Guarani e de lracema, jã
não recua diante da reprodução da realidade, em seus romances e comEdias de
costumes. O timento da natureza, de que derivou o inter se pelo índio,
abriu, porém, imaginação dos romanàstas outro campo de explora o: os
sertões. Evocadores de paisagens naturais, Josi DE ALENCAR em Mina de
Prata (1862) BERNARDO GUIMARÃES, em O Ermitão de Muquám e em
Lendas e romance (1871), inauguraram e puseram em voga a tendênàa ser-
tanista que se acentuou em FRANKLIN TÁVORA (1843-1888) e em ALFREDO
TAUNAY (1843-1899), que em Inocência, publicado em 1872, veio marcar,
corno observa MANUEL BANDEIRA, "um progresso no gênero pelo maior senso
da realidade na descrição da vida sertaneja, pela restrição do elemento senti•
mentalmente idealizador'. Mas, se com ALFREDO TAUNAY 1 pelo sentido de
objetividade na pin ura dos tipos e quadros naturais e pela s6brl elegância
de seu estilo, já e esboçam as novas tendências literárias, onde se tornara mai
vigorosa a reação contra os excessos idealistas, é nas Mem6rias de um Sar-
gento de Milícias, - romance que apareceu dezoito anos antes de /n~noia,
e cm plena efcrvescencia romantica, com tôda a fôrça e pontancidade de
uma criação original, sem influ&tcias e sem modelos. O autor da novela, MA-
NUEL ANTONIO DE ALMEIDA (1830-1861) que. ao publicá-la cm 1854, ainda era
um estudante de medicina surge, como ''um realista antes do reali moº, an•
teàpando-se a uma corrente que s6 nos fins do século XJX deveria C:J:erccr
acentuada influência cm nossas letras. O que nos desperta um vivo inter
no romance do jovem escritor, desaparecido em plena a.scensão do talento,
não ê prôpriamente a sua arte, mas a realidade apanhada com agudeza de obser-
vação; e a própria emoção que às vêzes o faz vibrar, não lhe vem dos senti-
mento , mas das ções ou, por outras palavras, lhe chega pelos olho .1.
Essa novela fortcment original, que passou quase despercebida e não teve
nenhuma repercussão, apresenta, no domínio das letras, com suas falhas e
imperfeições, o mesmo sentido realista revelado no mundo do pensamento,
pela obra eminentemente nacional de TAVARES BASTOS (1839-1875), que naa
Cartas do Solitário (1863), no Vale do Amazonas e em Provtnoia, refa.
zendo-se ao contato da realidade, precede de quase um século e anuncia a
iepoca em que o grande processo aberto entre o idealismo e o realismo 1 m po-
Utica, teria de desaparecer da arena das lutas partidárias para prosseguir no
único terreno, - o dos estudos s6lidos e objetivos-, que convem ao11pro•
blcmas vitais de uma nação.

JI Em aeu tudo .Obn l44Hv11.t, OS Al.XJIIDA, CE:rito por ocaslio do I.G c,.nte,ojrlo do cato do
acdtar do undo Imp,frlo o lido em uma du ~ d.a Academia Br • cin por Auouno Ol LLII•, Mliffltil
XA•tu Y.!.Aouu o 111.. oco do RO.'fAI.Dos C.av.u.ao, julg,wdo .., Mem6ri.u um 1u.la 11\lfO par■ quem
quci.-a conh "oa coetuma ~ mldiu e<ltrc 1850 e llóll". se trata, parecer do XA.naa
MÃR.OUP, de: retrato d■ l'Odedad daqudo tea\90, m de uma. e,,ocação pde tipoa e de UCD.&
inreriar da • e t'Oloni■l carioca", r,-llatllcuf<u ••com tal flaçlncia que lncbu. • cate: • •ubvcncr • crono-
loaiL RWJmQtc o oeu """' q11UC rocou'1ko, ~ tn;o por tr ço • ~ r , ~ tOda
■ ■p■.rtnc:ia dl! um ta llllho PI' ada!; e aqailo que no livro não _passa de limpl r • . lld4 •• a.o
csplrito do leit«, o -■l te oblcn dlret.a... P■ncc-1111!, por&n, que Aln&no D& AlJOU>A, cm vu de unia
,_titule- hlat6rica de =ta IIQdcdN.,o, DD mnpo de O. Joi.o vi, o que apr-,,ta, de Caco, n.lo f um■ Yu.lo
r•tro-11-• d tipoa e - coloclab, ma • o dittta de c:aolllme9 e fi uru d,: tnnpo. q e • •
tnçlo d ua ■nlllM SW'P" o ~tr'II , dbám!llaftdo u 11UU oboc<v~ôes ~•• colh na vida n1■l, entre
JIS0 e 11160,eob ■ Íom)& tbdu M • .rtuci de W1Ut. reconatibni;io. "N- tempo.,." t6 mi,re a ■d·
wrtir, 911 XAVI ■ MAaouu.. H ,..., &R, UID rec:uno habitual de NmlADOi:iatlU, que, ~ te ICfl cm
mai. 1 Yoctlldc ,.. rcprodu ld da """1ldade, ffl>Oldw:am oa fatm e ~a qllA! obolwvvam, cm quadrol
biat6rlcoa, como 1e H a'■' de uma ~çlo? Bm todo coo. ac;ia qual ítlr o poolo de v ta :m qu a .. oolo-
quclOOI p■r11 apn,ciar o eco romance, jul ando-o uma visão dittita ou rdJ'Olpc,<:tn'a da 'cdade, MAm:IIL
A.IITOlollO DI A.un.lliA , 1C1Z1dõvlda, o precun« do rtAlism.a .aa ~tora oadonal, pelo a:&.to da abj Yid■4
e da ou dlo, pda nhld doa trll('ot, no desenho do, tipoo e pela fiddida~ na puuuta doa qued e :wnea
■ocl■i.l..
190 A CULTURA BRASILEIRA.

ão eram de fato, os estudos- sociais e econômicos iniciado com tanta


segurança e penetração de vistas _por TAVARES BASTOS, que podiam interessar
num pais a cuja política, por essa época, orientada do uma concepção
idealista, as idéias e as reivindicações liberais forneciam o principal alimento
para os grandes debates públicos, A eloqüência qu , no período colonial, s6
pôde manifestar- no púlpito, tomou impulso no primeiro Império, com o
regime parlam tar, desenvolvendo-se ràpidamente com a organização dos dois
partido e a tabilidade do segundo Império. As influência da vida pública
e do parlamento, na Inglaterra, que serviam de mod lo às nossas instituições
polltice.s, e o romantismo que contribuiu para acentuar as nossas tendências
li erãrias e idealista~, fizeram da palavra a arma de combate por excelência e
o instrumento mais 1eficaz de domínio polttico, levando a eloqüência no parla-
lam nto a grandes 1alturas. Foi a época dos lidadores da tribuna cm que se
expandiu, sob as ml\ls variadas formas, a fôrça intelectual, "cintilante na ironia
sarcãstica de um B RNARDO DE VASCONCELOS, na diall:tica persuasiva de um
Joslf BONIFÁCIO, o moço, na gravidade imponente de um FERNANDES DA
CUNHA, na impetu idade torrencial de um Fll:RREIRA VIANA ou de um SIL-
VEIRA MARTINS, e 'na eloqüência patrícia de Unl JOAQUIM NABUCO que, do
primeiro ao segundo reinado, dividiram entre si e outros da mesma cs atura,
o principado da eloqüência politioa". 14 Mas a e1oqüência parlamentar em que,
a propósito ou per sugestão de problemas do meio ambiente, 6C abordavam
os tema gerais e eternos que foram sempre por tõda parte a alma da poesia
e a substância mesma da eloqüência, nunca subiu tão alto como em JOAQUIM
NABUCO e RUI BAJU30SA, aquêle o paladino da abolição, e • te o maior de
nossos oradores de todos os tempos. Equilibrado e harmonioso, JOAQUIM
ABUCO (1849-1910), pblítico e diplomata. que tem a eloqümcia do pensador.
disciplinada pela razão, mas animada da generosa franqueza de uma ins-
iração lar a e fecunda, ultrapassava pela cabeça e pelos ombros a multidão
de oradores de sua época utilizando na tribuna e mesmo estilo natural e
preciso, de uma admirável nitidez que é um dos encanto de sua obra de his-
toriador, Um Estadista do Império (1897-1899) e de Minha Formação
(1909). Um e outro o orador do Recife e o da Bahia, vindos do Império, tinham
cerca de 40 anos, quase a mesma idade, quando se proclamou a República;
nquanto, porém, o ostracismo político fiz ra mudecer a voz de JOAQUIM
NABUOo, Rur B~OSA (1849-1923), idealista e romântico, depois de um curto
exílio de que nos mandou as Cartas de Inglaterra (1896), foi, sob o regime que
se institufa, uma projeção luminosa do antigo parlamento. tle era, se me
é permitido repetir. me, "do velho tempo pela sua educação impregnada de
liberalismo largo e generoso, pela tenacidade de suas campanhas evangeliza•
doras, que traziam a nota de uma vibração messiânica e pela volúpia qoe sentia
em dominar as a~embféias e experimentar o con ato com as multidões ...
Com orador, de cuja linguagem de ouro, purificada d tõda as escórias
pelo trabalho do artista e malhada ao fogo de uma inspiração vulcânica, sal-
taram a cada momento centelhas do gênio da eloqilênda latina apagara-se
o maior e o último facho que se acendera no Império' .
Não fôs a eloqüência dêsse orador em que a paixão borbulha como de
sua própria fonte, irradiando cm tôrno dela a emoção que circula do orador
para o auditório, e dêste para aquêle, e o parlamento na República teria de-
caído mais rapidamente das eminências a que o haviam erguido as grandes
fi uras do Império. Naquela aristocracia de erudit e letrados, RUI BARBOSA
já havia conquistado antes dos 40 anos uma posição indi putávcl não s6 pelo

1' &llJtANl)0Ds AnYWX>O,B:n&aioa. Pequena i.ntraduplo ao catudo de alcum•• íllflll'll cm,tem-por.lncaa


Je oi:ad poUtlcot. Pip. 67-79, Comp. Melhoramento. de Silo Pau.lo, Slo Paulo, 1929.
A V IDA LITERARIA 191'

seu saber jurídico, pela riqueza de sua erudição, pela fôrça de sua dialética
irresistível e pelo seu poder de expressão verbal, mas ainda pelo domínio de
todos o segredos da llngua. 1tle tinha tanto o sentido da vernaculidade como
o gôsto da forma ar stica e em tõda a sua obra de grande variedade e extensio,
sempre encontrou, como poucos, antes e depois dêle, o aço do 'lo para pro-
duzir a centelha nessa pedra da velha lingua enterrada no tesouro do clássico .
Mas tõda eloqü!ncia a que o romantismo emprestara proporções gran-
diosas, quase espetaculares e com a qual o parlamento se tornou, no Império,
«a forja de nossas letra '. jâ vinha sendo ameaçada, pelos fins do século, no
seu antigo prestlgjo pela corrente das idéias filosóficas e científicas, com qu
se encerrava o ciclo romântico e se abriam perspectivas para uma nova con•
cepção, realista, da vida e do mundo. As lutas em tômo dessas idéias tiveram
por teatro, no Brasil, a cidade do Recife em que TOBIASBARRETO(1839-1889),
secundado por Sllmo ROMERO (1851--1914) e por seus disctpulos1 se tornou
11 figura predominante do maior movimento de renovação, na história intelec-
tual do Império. O centro da vida espiritual, no norte, deslocou-se, pela com-
batividade do polfgrafo serglpano, do terreno das lutas políticas para o debate
das doutrlnas, sob as influ ncias, retardadas e sucessivas, dos grandes c:riadore,
de sistemas. Sem r u.m filósofo ou um pensador original, mas antes um agi-
tador de idéias e destruidor de rotinas, TOBIAS BARRETO prestou à. cultw-a
acional serviços assinalados, atraindo a atenção para os estudos filosóficos,
vulgarizando os autores alemaes e contribuindo como nenhum outro para a
renovação das concepções jurídicas no Brasil. A sua coragem indômita e o
gôsto pela luta que o arrastavam a polemicas, quase sempre violentas e bra-
vias, como as de Sfl.Vlo ROMERO, outro admirável debatedor de idéias, e lhe
tiraram a erenidade para as obras de criação, formaram em t6mo de seu nome
uma atmosfera de batalha e lhe permitiram fazer uma pequena revolução in-
telectual, de libertação do espírito numa atmosfera carregada de preco ccitos.
Mas, irrompendo do no e a tempestade dos inovadores, quase inteiramente
~unscrita àquela região e ao terreno doutrinário, essas polêmicas extrema-
mente vivazes, em que se ornavam pcsiç.õe,sem face das grandes correntes
de pensamento, na França e na Alemanha, não tiveram maior rep rcussão
na. vida nacional do que os debates políticos que se travavam, no sul, em tõrno
a República, e com que se inaugurou uma nova fase de esplendor no jornalismo
brasileiro. ~ase prosador, de estilo nervoso e sugestivo que foi RAUL PoMPtrA
(1860-1891) e um ensaista político e social da envergadura de EDUARDO PRADO
(1863-1895) "entravam em cheio na batalha política'', e em campos opostos:
aquêle, romancista de O Ateneu, artista requintado, de uma sensibilidade
extrema, bateu-se com fê e o destemor de um revolucionário, pelo idealismo
republicano; e este, paulista de nascimento, grande espírito que ficará entre
os mais brilhantes scritores do século e tão profundamente penetrado do sen-
timento universal, foi um reacionário em política, que, em Fastos da Ditadura
Militar defendeu vigorosamente, nos começos do novo regime, o Império e a
tradição.
Que ·vessem amortecido cedo de mais os ecos da campanha de renovação
dirigida, sem desfalecimentos, por TOBIAS BARRETOe SfLVIO ROMERO que
abrangiam no m mo culto e quase não distinguiam, nas suas aspirações, a
letras e as ci!ncia1', explicava-~e pela fôrça terrível de nossa tradição. A ten-
dência acentuadamente literária de nossa cultura, criando um enorme desvio
angular entre o espírito li erário e o espírito científico, nunca permitia cultivar
de conjunto u duas flores do espírito humano. Mas-o que é de surpreender
à primeira vista. é o div6rdo que com o novo regime, se estabeleceu entre
a política e as letras, que foi estudado, com rara penetração de análise, por
192 A CUL"I'URA BR SILEIRA
---------,~-
TRISTÃOo"E ATAÍDE,em um de seus ensaios críticos_lii A reação individua-
lista, com as suas explosões de rebeldia, o gõsto da arte pel arte ou da arte
cultivada por si mesma e despejada de sua função social, inexis ê.ocia da
profi ·o d escritor e a hostilidade e prevenções com que pa aram a olhar-se
as letra e a política, concorreram notàvclmente para • dissídio, fazendo
oscilar a classe dos intelectuais entre a dispersão na boêmia literária ou por
cenãculo tertúlias, e a reserva de um orgulho altivo que acabava por vêzes
cm completo isolamento. As letras a que o regime parlamentar no Império
imprimira um notável relêvo e quase- um valor pr tico, utilizando-as como
um dos instrumentos de ação política e social, tornavam• e, por essa forma.
na República, não s6 estranhas mas suspeitas à politica, dominada pelo ime-
diatismo utilitário e afogada nas questões militares nas agitaçõe.s partidárias.
Sem um público ~astante numeroso para mantê-ln ou fornecer-lhe as· bases
econômicas de su1' emancipação, e sem um novo meio intelectual que fôsse,
como o parlamento antigo, um foco de atração e de convergência das figura,s
mais eminentes do tempo, a classe dos intelectuais, 1 trados, não encontrando
apoio em parte alguma, procurava afirmar-se, opondo-s , nao pela luta, mas
por toda& essas formas de boêmia em que se di simula a revolta dos espíritos.
Dai, naturalmente a idéia que nas reuniões literãrias da Revista Brasileira
surgiu por sugestão de LÚCIO D}; Mli': DONÇA, - da Academia Brasileira de
Letras, fundada em 1896, por iniciativa daquele poeta, de Jo QUIM NAauco e
MACHADO DE ASSIS, seu primeiro presidente. Essa instituição, hoje solida-
mente instalada na sede que lhe doou a França, 111vi ando concentrar os grandes
nomes da literatura nacional e fomentar, com o culto das letras o da língua
pátria, acabaria por assumir uma função de alcance não apena literário, mas
social político: o da defesa da unidade do idioma nacional. Se, de fato, se
considerar, de um lado, a que vicissitudes está sujeita uma língua transplan-
tada para um meio novo e a multiplicidade de fatôres que trabalham na sua
transformação e, em conseqüência, na produção de formas diale ais, e, de outro
1 do, que a comunidade de língua é a mais forte base de uma civilização e de
uma unidade nacional, compreender-se-á fàcilmente o papel de instituições
como essa, dcstin~das a estimular, divulgar e consagrar os Cbtudos da língua
e as grandes obra da literatura do pais.
O di sídio en e as letras e a política, e a criação da Academia Brasileira
de Letras coQstitu,m, coro a intensidade que adquiriu s. reação contra o roman--
tismo, os três fat°iS mais importantes da vida literâria do país, no crep'ú.sctilo
do século passado. O movimento anti-romântico que remonta a 1860 e de que
são expressões vigorosas a reação doutrinária, de carâter filosófico e científico,
de TOBIASBARREJO,e o realismo político-soda! de TAVAR.E9 BASTOS,toma

15 TIIDTÃO Olt AT O&, Poll1ka e /etra5, /n "Ã


,çlio do Aou6rn>do Bruil, Rio.
I& A Acod ui Bruileinl de Lctn,,a, íl1Dl1ada 11D
ú i:uod da Acsdcmi Fr■ IIC'CSII, insraloo..s,, COIIL 30 11
(IGUCftllll, nlll~ ~ estatua>s da i~l:iwiç.i o &lJC. to -. a
pri.ad ' U1J,iri2,do- ]oú ~. ~ em -prf,prin os-
etonal; (lnalm,:otc,, .,.. ...Se q~ lhe doou a l<'11J>Çt1,a çoada, da•
um ercen.a.1,o livreiro F fruta
pcdeodo • 1-i=olb::ia e bem''.
- canqUttta,..,. m. vcroack, Q.
de sua ~ e
llid ■ de , ,,...
que lhe •trihuiram "" ...
in~ d.t lmgua e li ;., d;
iplomatas cm l'<:?OIDQ, o:'8d "ção
conMnadqno IIOI"ex ele.>cf. (e d ■f a .,,. op,nipo b novldul. 16ria),
tc:nw: a apol •.., bre a &f&Dd.c,,ilutitmç6co, a;ssociaa:id.o àl I tie■ e
■ reUpo. arc:c,:u narunl, ec.-ão do proprio inmb,e: Ih lltà"■ r;ur , anccsa, que
UM:~lu de roodllo, • lw:'ICI~ Brasili,ira r«olb-, como oo pri íd dlo■ emi•
a, m rccampmaa de aervÍ'JOI prutildos • pàtri.a.
A VIDA LITERÁRIA 193
-------------
corpo, com a introdução das idéias filosóficas do século XIX, e adquire um
nÓtável vigor, na prosa de ficção, com ALofs10 DE AZ&VEDO {Maranhão, 1858-
1913), autor de O Mulato (1881) com que estreiou e de A Casa de Pensão.
O Homem e O Cortiço, e sobretudo, com RAUL PoMPÉIA que nos legou em
O Ateneu, - um romance admirãvel pela exatidão minuciosa das observações,
pelo naturalismo de seus quadros, fiéis, -nítido~ e expressivos e ainda pela ,o.
briedade de seu estilo, verdadeiramente sugestivo, na sua gravidade simples e
forte. ~. como ALofsto DE AzEvB.oo, um excelente observador de costumes,
mas na sua maneira tanto de encarar a realidade como de exprimi-la, mant~,
RCiafôrça de sua personalidade original, uma posição de equilíbrio dentro
da etcola, de que adotou os processos, sem descair em qualquer de seus defeitos.
Em um e outro extremo, aos lados do autor de O Ateneu, - sátira, lfmpida
e vivaz, do sistema de educação em um colégio particular do Rio, situaram-se
JÚLIO RIBEIRO(1845-1890), de Minas Gerai~, que em A Carne levou os pro•
cessas naturalistas à mais crua audãcia, e COELHO NETO (1865-1934), quase
um naturalista revolta,do, em que parece ter havido desde o principio o con-
trário de um verdadeiro naturalista, um visionário cuja imaginação engrandece
instintivamente e amplifica todo objeto. Dir-se-ia antes o último grande ro-
mântico, pela faculdade de abraçar vastos conjuntos, pela sua imaginação
ardente com que mais de uma vez levou a idealízasã_oaté o símbolo e pela pompa
c!e sua linguagem, freqüentemente prejudicada pela seiva borbulhante de
palavras que lhe ofuscam a emoção. Em O Sertão (novelas) e A Treva {contos),
o fecundo escritor maranhensc que foi também um observador inquieto da vida
das cidades cm Inverno em Flor, Tormenta e A Conquista, retrata a côres
vivas o meio e os costumes sertanejos, mas sem o sentimento do real e a obje-
tividade de análise de AFONSOARINOS(1868-1916) nos seus contos Pelo Sertíla
e Lendas e Tradições, nem a firmeza no desenho dos caracteres, de AFRÂNJO
PEtxOTO, cm Maria Bonita, Buarinha e Frota do Mato. Mas é na poesia,
e não no romance, que se f~ sentir senão mais profundamente, em maior ex-
tensão, o movimento anti-romântico pelo parnasianismo que, a certos aspectos
é uma vclta ao classicismo, no sentido de que o importante para os parnasianos,
como para os clássicos, é antes ser do que parecer emocionado, é governar a
emoção, é substituir o fausto que o romantismo dá à expressão verbal pelo con-
ceito plãstico da forma, nítida e precisa, e pela sobriedade nas imagens, subme-
tidas., como a linguagem, à disciplina da arte e da razão. Por isto os parnasianoe
como os clássicos, nos parecem frios; e consideramos como defeito exatamente.
o que êlcs tem por sua qualidade mais preciosa, - a reserva, a medida, o equi-
líbrio.
Os quatro grandes nomes da escola parnasiana são, no julgamento quase
unânime, ALBERTO DE OLIVEIRA que, mais do que todos, se deixou submeter
aos seus quadros r1gidos, RArMUNDO CORREIA, OI.Avo BILAc e VICENTEDlt
CARVAUI0. O primeiro, ALBERTO DE OuvEIRA (1857-1937), natural do Ra-
tado do Rio, nos dâ em sua obra Canções Romlwticas, Meridionais, So-
netos e Pôf!Jmas, Versos e Rimas, não só o documento mais expressivo, deaaa
reação contra a eensibUidade lacrimosa dos românticos e de um respeito da
arte, no mais alto grau, como alguns dos mais belos poemas de inspiração par-
nasiana, pelo vigor descritivo, pela justeza das imagens e pelo apuro da m~-
trica e da expressão. Se os seus sonetos e poemas, de uma coloração intensa,
de tão magnífica amplitude de feitura, são, em geral, quase unicamente plás-
ticos, em alguns d!les, como Vida em Flor, sob a delicadeza da forma. já maia
simples e natural, mal se dissimula a vibração de uma delicada sensibilidade.
Em Ouvo BtLAC {186S-1918), também do Rio, - e um dos maiores poetas
nacionais, de uma forma flexível e elegante, primorosamente trabalhada -, a

-13-
194 A CULTURA BRASILEIRA

intelig~cia jâ não comanda tão fortemente o coração, frem alegria dos sen-
tidos a é a volupt-uosidade e a inspiração mais frese e cspont ea, nas Pan6-
plias, em Via Látea e Sarças de Foto, eleva-se no ú1 • o livro Tarde, pe-
netrada de idealidade mistica e de uma beleza, grave e melancólica de pensa-
men o. A finura de sensibilidade, um humor melancólico pessimista e irônico,
a fôrça comunica ·va da emoção, mais grave e concen ada, e a naturalidade
da expres~ão, mais musical, constituem os encanto de RAIMUNDOCORREIA
(1859-1911) que em Primeiros Sonl1os, Sinfonia Ver o e Versões, e
Aleluia , nos apresenta quadros de uma gra acabada, de uma franqueza
de execução igual e de uma grande delicadeza de sentimentos. ~. porém,
talvez no Poema.s e Canções, de VICENTE OE CARVALHO (1866-1924), de
Santos, que a poesia adquire mais ternura e intensidade dramâtica, na sua evo-
lução marcad no sentido do humano, e se restabelece, na cadeia que liga o
passado ao presente, o anel sólido e luminoso em que se fundiram, na poesia
l{rica, as vozes do mar e os cantos da terra, o sentimento da natureza
e o do coração hu,mano. Mas, em pleno fastígio do pamasianismo,17 surge o
simbolismo que foi na França uma reação contra a e cola re lista e aparece,
entre nó , como um puro reflexo de uma _r ação distante, jâ então quaie em
declinio. Es a realidade na imitação da qual os realistas, na poe ia e na prosa
de íicção tinham pretendido encerrar a arte os imbolistas se apllcara_m a in-
terpr tar, a penetrar os mistérios que recobre com as suas apar ncias e a des-
prender-lhe o sentido do ideal. Tudo o que essa cola uis introduzir na poesia.
de v o, de fluido e de secreto, ~auém, porém, o exprimiu melhor entre nós
do que CRU1 E SouSA (Santa Catarina 1863-1898). poeta negro cuja emoção,
bastao e forte para dominá-lo, se reflete inteiramen e nos versos de Mis ai e
de Far6i , de uma linguagem -irregular, mas de uma grande beleza rítmica, e
com obscuridade que é wn defeito essencial do simbolismo. Enquanto
&se poeta que vulgarizou a escola entre n6s, conquistava a adesão entusiãstica
de disclpulos e sustentava o fogo da oposição a s novas formas poéticas.
o i olarnento austero em que vivia ALFONStJS DE GUIMARAENS (1870-1921), em
Minas Gerais, fecunda a ma poesia, sombria e litór ic.a, povoada de visões
da morte, ainda que uavizada pelo sentimento religioso.
S , pois, e pesquisar em cada um dêsses momentos a causa das transfor-
maçõe do gõsto l~terãrio no país, não é dificil encontrã-la na ação de uma li-
teratura estrangeira, quase sempre a francesa, e na influência que exerceram
sõbre a nossa mentalidade e as nossas instituições as grandes correntes inte-
lec uais do tempo( J;; o que sucedeu também, na evolução dos estudos bis-

o outro propl,oito -,ão tnl.!:"t, em •wi.• li W BraaU, em


pcqu e contiv o encncü,J e n.ão 'fO- indo, n&o dot J>'><:IJLS
(Ulad01 eacol qut IC ua:deram. marcandc, , o, ~tu,
1t1111idoae,:n c•d• um d~ 1ru1>01,come, as da escol te entre • 1
pir• te:rmn todot um ar ramnia. O q,ie importava, am íorm11J1
q um determinado mov:.mento de
• eonv m lembrar que n.enhuma ra il
• """" ma tendb>c:ia tã,, f:,ne da
- pottica um meio ttfioad.o de l,
- , pela de aascimcnto e pela d ta 1
e beleza d1t l'àrna. e que •
bratilci "• o, entre oo:u:rot e
~O. l t-Í92'J), p:,e01llrico, • •
,os de um S;mples !1!91) e d ,
co e par • ao e,ctrcmado; B'llA •
que o ,...,,., (lMil, c~do maú tar
l'\lnl. calor de emc,ci,r. A11GU!;l'O
o,: L
nc DI! ÃUU<C.U: (Ria, 1872-19251,
d equillbrio: e a Lor • que •urtte em 1881, mestre "" aru
rtvda pelo ae:ntimeom da notun:z:a e pela eapi>otaneidade de I e
w,,a f6'QI oova. Auouno oos ANJO!I {Panúb.a, 18 .. 1913), COOlnUll<Qt'IO e,
noe te Eu (191t1, provém, t,Qbtetudo d4 aJX"QSAo praaige.
lldade em met&foru de loapiraçio cieotilJCA e de •uu tcn.dendu rcílellivu, que lhe q11cbra.m Crcqõcntemente
oe J,.,, toa Urlcoa e • fOr~ de temperame.nto.
A, VIDA LITERÁRIA 195

t6ricos, senão quanto intensidade, mais ligada a causas internas ao menos


quanto à orientação e aoe m~tod.os que se foram transformando com a novas
teorias históricas. O sentimento nacional tende, geralmente, a exprimir-se
com vigor, d de o alvor~er da liberdade política. pelos estud hi rico que
constituem uma das primeiras manifestações literárias e se explicam "pelo
ardor que um povo, entrado na posse de sua liberdade e de ua indcpendmcia
nacional deve r naturalmente em procurar seus títulos de famfila e em ligar
seu futuro ao seu passado". As lutas políticas do primeiro Império e no período
da Regência e o brilho, no segundo Império, da vida parlamentar, - centro
de atração das atividades intelectuais, não permitiram que o sEculo XIX e
esforçasse por lançar wna luz intensa sôbre todo o passado da história do Brasil.
Os maiores historiadores da primeira metade do século XIX ão dois estran-
geiros, ROBERTO SOUTBEY, que em sua History oi Brazil nos deu, em 1810,
a primeira história do Bra,il baseada em provas documentais, e FERDINAND
D&Nts, a que devemos um resumo em francês, publfoado em 1826, da história
literária do pai . Na cadeira de história do Pedro II, então o único estabeleci-
µiento oficial de cn ino ecundârio. sucederam-se, atê que a ocupasse em 1883
um historiador de profissão, três homens eminentes, um notável poeta, GON-
ÇALVES DIAS, um romancista de grande público, JOAQTJIM MANuEL DE MA-
CE.DO, e o BAR.ÃoDO Rio BRANCO,profundo conhecedor da matéria, ma , so-
bretudo, como se revelou mais tarde, diplomata e homem de Estado. Na se-
gunda metade do século XIX cm que os nossos historiadores se ligam geral-
mente às história francesas do período romântico, surgem, no entanto, JOÃO
FRA.Ncsco LI BOA (Maranhão, 1812-1863) que na <utima parte do Jornal
de Timon {1852-1855), com suas pesquisas relativas à história do Maranh-o
e à vida do Pe. VrErRA,no dá a prova de um investigador de primeira ordem
servido de um ·10 vigoroso e enxuto; JOAQUIM CAETANO DA SCLVA (1810-1873),
do Rio Grande, autor da Memória sôbce os Ji.mites do Bcasil com a Guiana
FrancetJa. e do notável abalho L'Oyapock et 1'Amazone, de que seu "lizou
Rio BRANCOpara no alcançar a vitória na questão de limites com a França, na
Guiana; e os dois grandes, entre os maiores historiadores brasjlciro,, FRANcrsco
ADoLFo VARNHAGEN (1816-1878), Visconde de PÔRTO SEGURO, e JOÃO CAPI •
TRANO DE ABREU, que sucedeu na cadrua de história do Pedro 11 ao BARÃO
DO Rlo BRANCO. A aparição, em 1854, da Hist6ria do Bcasi/ 1 de VARNHAOEN,
que se preparara a essa obra fundamental por uma longa série de trabalhos e
de pesquisas, bastou para classificar o autor no primeiro plano e justificar o
titulo com que o consagrou a posteridade, - "o pai de nossa história". Em
quase meio século d erudição e de pesquisas, tomou-se CAPISTRANO DE ABREU
(1853-1927) o historiador apontado por todos como o único verdadeiramente
capaz de e c:rever a síntese magistral de nossa história, pelo seu dom de pene-
tração, pelo rigor de seus métodos e pelo seu espirita sintético na exposição dos
ratos.
Essa obra de stntese para a qual o predestinavam as suas qualid des tanto
de bjstoriador como de escritor, nítido e sóbrio, não se animou CAPISTRANO
DE ABREUa escrev la: começando por especializar-se nas pcsqui as sõbre o
têculo do de cobrimen o, dispersou-se depois em numerosos trabalhos fragmcn-
târios, - modelos de monografias históricas-, em que deixou o tca cmunho
do vigor de u espírito, de suas intuições luminosas e de sua grande erudição.
Nos seus livro O De cobrimento do Brasil (1883), Capítulo de Hi tóri
Colonia.l (1907) e Caminlws Antilos e Povoamento do Bca li, como em
prefécios, anotações e sumâriot, - obra dispersa mas opulenta, o notáv l re-
novador dos tudos históricos no Bra~, se não criou uma escola histórica
brasileira, suscitou um movimento verdadeíramente fecundo de idfias e de
1 (i A CULTURA BRASILEIRA
---------------------
quisas. A historiografia do Brasil colonial entrou, sob o eu impulso. numa
fa de inv tigações e descobertas com que se foi esclarecendo o sentido se-
cr to de nosso passado. Entre os contemporaneos de CA.PJSTRANO DE ABREU,
qu pr em o trabalho de estudo dos documentos, mas j em 9utros do-
minios da história do pais, destacam-se JoAQ NAB co, a quem a biografia
do pai a au o iogTafia, em Urn E tadista do Império e em Minha For-
mai;ão fornecem a matéria de pãginas primorosamente crita , de reconsti-
tuição da vida política do segundo Império; OLIVEIRALIMA (1867-1928), na-
tural de Pernambuco que recolheu dos arquivos para a sua obra, como paci-
en e inv tigador, abundante documentação; e JOÃO RIBEIRO (1860-1934),
d Sergipe, polígrafo dos mais eminentes que tem tido o Brasil, pela nitidez
de suas idêias, pcrs~icácia de suas anâlises, segurança de sua erudição e graça
natural de seu estilq, e que foi o primeiro a abandonar na sua sintesc didática
H,..&t6riado Brasil' o critério puramente crono16gico, "delineando os sucessos
segundo os principai~ focos de irradiação de cultura' . A tendência histórica qu
e vem desenvolv~do desde a segunda metade do século XIX, toma um im-
pulso vigoroso, na Repúblic.a e, sobretudo, nos últimos anos, sob o influxo de
pesquisadores notáveis como RoDOLFOGARCIA, TOBIA MONTEIRO, AFoNSO
TAUNAY - o historiador das bandeiras, PANDIÁ CA.LÓORAS, BASÍLIO DE MA-
GALHÃES VILHENA DE MoRAIS e Jô ATAS SERRANO,e de uma nova geração
de brilhantes tústoriadores, em cujol> estudos, como nos de PEDRO CA.LMON
já ac constata uma penetração progressiva do p{ri o e do mé odos socioló•
gico . A história da literatura brasileira que, a bem dizer, foi fundada por
Sú.vto ROMERO (Sergipe, 1851-1914), - um dos mai íomúd{lveis trabalha-
dol'i da literatura nacional, e que durante largo empo, não contou seoão com
tr@s escritor , adquiriu nestes últimos vinte ano , um extraordinário desen-
volvimento em obr~ de conjunto e de detalhe. Lançadas ua.s ba s por SfLVlo
Ro RO na História da Literatura Brasileira (1888), ua obra capital,
por Jw VERÍSSIMO ará, 1857-1916) aquêle ard nte e im uoso, e te
mais ser o objetivo, mas sem o vigor de estilo a largueza de vistas que dis-
tinguem o historiador sergipano, e, ainda por ARARIPEJúNlOR (Ceará, 1848
1911), em seus ensaios críticos, a história e cri ica literária, d formação re-
cente, tomam uma feição mais desinteressada de análi e de pen tração, com
RoNALD DE CARVAiz.Ho que lhes emprestou um brilho novo pela destreza de
ua intelig€ncia e -pela sensibilidade de seu gôsto literário. A princípio, apo-
logética e enfática, sem o cuidado dos fatos e sem penetraç o de análise; mais
s6lida d pois, pelo eu caráter documentârio e .pelo seu desejó de objetividad~
não rarament preJudicada pelo calor da paixão como convinha a uma época
em que a pena era uma arma e a literatura um combate; r'pida e leve, em se-
guida, cortada de reflexões psicológicas, a história li erária, como a história
simplesmente, se deixa penetrar de idéias gerais e de r.oções sociológicas de que
se utiliza, entre outros, NÉLSON WERNECK, ao estudar o fatos da evolução
literária em suas relações com os fenômenos econômicos.
O reino de nosso passado literário já bastante afi do para suscitar o
prazer da descoberta e o encanto do desconhecido, e o alto nfvel a que aubiram
s le as, tanto no sentido da universalidade, como no sentido particularista,
explicam esfôrço crescente para tomar consci~cia d.a literatura nacional.
A literatura atingira, de fato no Brasil, a ua maturidade, ~o marcada e ca.
racterls ·ca na variedade de seus aspectos. que tinha de fo çosament despertar
curiosidade intelectual intensa, levando-nos a examiná-la a t as luzes.
Na obra de MACHADO DE A.ssis (Rio, 1839-1908), que explorou todos os domí•
ios da atividade literária, cuJminara com uma arte perfe· ta uma de suas ten-
d eia , - a que se desenvolveu entre nós, como observa A. DE QUEIROZ Fn.Ho,
A VIDA LITERÁRIA 197

"sob o impul o do pírito de civilização e sob a luz inspiradora da tradiç


e da cultura ocidcntai ". O poeta das Ocidentais .(1879-1880), o roman ·sta
de Mem6rias Póstum de Brás Cubas (1881), de Qui.ncas Borba e d
Dom Casmurro, o contador de Papéis Avulsos (1882), de Histórias em Data
e de Vária H,,i t6ria , atinge, na sua caJTeira que foi uma ascensão contínua
uma posição singular na escala dos valores estéticos e humanos de n avi-
lização. Senhor de si mesmo e de sua arte. - a mais lúcida expr - o b asi-
.leira do equilíbrio, da medida e do gôsto clássico, - céptico na superl'{de, por
uma eapéci de pudor intelectual, extremamente delicado, mais ~o. no en-
tanto, e mais dcd~ivo do que poderia parecer, mal dissimula, sob eu tom hu-
morístico, de cepticismo e de ironia, um fundo de ternura humana, "sentimentos
hauridos nas fontes mais vivas e mais puras da sensibilidade' . Dai pes-
simismo todo pessoal, sem azedume e sem irritação, e o senfmento delicado
dessa poesia elegante e pura que sua própria reserva e seu nobre recato mar-
.-am, em pleno romantismo, de 1.Ul).a originalidade sutiii triunfante, sem e&-
ftirço, de tôdas as influências de escolas. A sua fôrça de reflexão, de um raro
poder de análise psicológica, afirma-se nos seus contos e romances, deixando
a marca não s6 no estudo de tipos humanos e de conflitos de caracteres como
na expressão recolhida e grave que reveste a mentalidade dêsse observador
implacável da vida interior e das paisagens da alma humana. l!: com MACHADO
DE Assis, de fato, que '-'começou a ter existencia na literatura brasileira o mundo
interior, a galeria psicológica, o universo do pensamento". Mas, se o espí-
rito de civilização desabrocha com tanta frescura em MACHADO DE Assis, 'que
cristalizou a universalidade de nosso pensamento", EucUDES DA CuNBA (Es-
bldo do Rio, 1866-1909), homem americano até a medula. em que irrompe o
espírito de conquista, "norteado pelas fascinações dos horizont desconhe-
cidos pela ução dos mia érios virginais da terra'', fixou, como niogu&D na
sua obra, o colorido localista_.as inspirações do sertão a fisionomia particular
da nacionalidade. l!:l~ refletem as duas faces do espírito nacional, 1 uma
voltada para o Atlântico, a outra para os sertões. Escritor eminentemente
brasileiro, pelo entido agudo da terra e da vida nacional, saltando da ratão
e da arte pura para escutar melhor a voz do instinto da raça, apanha, par
compreendê-las, todos o seus conhecimentos e os arrebata na corrente impe•
tu&sa de seu pensamento como o rio que descreveu, arrasta na suas éguas
imensas pedaços de florestas. A imaginação poderosa e apaixonada que à
vêzes lhe falseia a vista, aguça também o seu olhar, em intuições lumino ••
e. se aqui e ali prejudica o observadtr, serve aínda mais ao pintor, incomparável
nos quadros da natureza tropical. EUCLIDES DA CUNHA lhe deve, tanto nos
Sertões (1902), sua obra-prim~. como nos Contrastes e Confronto (1907) e
oos ensaios magníficos de À margem da história (1909), o relêvo e o vigor de
seus traços, os lampejos de suas visões grandiosas e a fôrça quase pica d eu
eatilo, ardente rápido den o e vigoroso.

l .. Bm de «>ntincroaa, Hpeciajs, de partieularidadcs hitt6rica, • íormaei,o bnellc:ir , •


A. D Qv&UIOZ PIJ.llo, orientou_, par cll~ dúpara e ru:ebcu o impubo de • (titoo, ~o dlo 6 ind
fcctívd e notivd n ~ da hiat6ria e - realhaçõcs da literatura. O púito de cooquhu e o de dvl-
-..~- • dálnldo p,:IA taMltncia .,,.r:ural de r~ e eatabilídade, procurando afil"ICal' • ~ IJOb• ha
impiracl,.. du tradl e d■ cultura • E aqu&,, m■ttado pdo do mOYlmeoto, atv.■JMSO
• . ~• aurCAilo m■i.1 ( (oi o fmpnD hcr6ico do baDdeirumo, uaruado r,da ( • d hona«tte•
«id01, pela CII • t • virp,aia d■ tem-. O esplrito de cu,quis1- de.poctava • Kiv■ c:ri■dcir ■
da tara inldit■ , c:n, o comec,o, o lnatante ina ai d■ vid• D<mL. O d■ c:iYiliação a-a o ■ caadlll_ld,e,
• DtOCAo de des,end • , do amaito e da -.lapt■:ção: l.ip.va li vm iJx::ipia,: da. a- d■ rai-
CGlturals pluria-=-Llan:a. Flli d 170 d- dupficidade de ~ que a61 c:retca11C11 e --- prlm
i- na vllCilante dOit primeltCII itiner6rioa da pitria. NQ let:r~ OI dnia l'UfflOII fontm rotun,■ plNI •
Ido■. MACIUDO D ■ Alml e Eua.mu Jl.t. Cmnu ~ n ,mu exi,~,a,.. extrcmM. Um crii, a
lllliv e do pcftMmm • O outro raou o c:obido loalim,. as ~ da. ta-ta, o fdóo partic,alar da
nacicmal1dade. 'M.t.cllADO foi 1lflMI vos macia, um l'"Jduto de. cultura requintada: atnlu de - to o
que tk. de W>1-1. Ci.tDl.l p-oeu;rgou .. IC:l'tõC9,p1gou e tran.i,09 a cordilheira que Ntl'l"■ff o Bruil
em domSAkia nquu. fcchadoe e ml)Cfftle a., viu o "re,,eno da medalha"; dilatou oa bori.&ootm do IIKlo·
...ii-o .intelectual, mprqnando • - c:ultun de am 1i::õsto maia farte da mra". (A. D Qu&tatn P'u.110,
Daaa /af!fll do Hpfr/lo nacional, ln "O Estado de São Paulo", dcaembro, 1937).
198 A CULTURA BRASILEIRA

Em Os Sertões, de fato, como no ensaio s6bre a Amazônia, Terra em


história nã.o é tanto a realidade que ê extraordinária quanto o clarão que
aôbre la projeta o escritor magnífico. Nada é falso nem fantástico nessas
telas geoirráficas de uma grandeza espetacular: singularidade de tudo isso1-
acontecimento e natureza-, que EUCLIDESDA CUNHA reproduziu com uma
vida in ensa e um poder pitoresco sem igual, provém da maneira pela qual
o artis a os põe em relevo, exprimindo sem constranrimento, dilatada pda
imaginação, em tôda a 6U8 fôrça dramática, a imagem que recebe de nosso
mundo. Temperamento de escritor, verdadeiramente original, possuía em
alto grau essa faculdade de invenção literária e de renovação da forma artís-
tica tão profundamente pessoal que, impondo-se à admiração, s mpre se re-
cusou a servir de modelo. É por essa fôrça singular de estilo que o ilustre geó-
grafo historiador e observador social pôde apresentar a vida dos sertõ , nos
~us aspectos. primários e brutais, e dar-nos como ninguém e sensação estranha
de tudo que é grande e poderoso, contraditório e ti"aiçoeiro na terra e na na-
tureza tropical que parece ter atingido nas suas obras o paroxismo de expressão.
Sem êsse vigor e essa vibração de estilo, mas com um notãvel senso de reali-
dade, na observação das paisagens e dos cos umes dos sertões, AFONSO ARJNOS,
sertanista admirável, primoroso contador de histórias em seus liVTOS d cont01
Pelo Sertão (1917), Histórias e Paisagens, Lenda e Tradiç6es, "disse
mais e melhor das coisas e dos homens do int rior brasileiro do que uma consi-
derável po.rção de obras científicas e históricas penosamente arrancadas a ar-
quivos esquccidos". 1 Mas, o desenvolvimento das cidades não tardaria a
trazer o romance para o primeiro plano e a deslocar do campo para a vida ur-
bana o interêsse do9 escritores, enriquecendo e linhagem de romanc:is as, qu
culminara na 16ria de MAcKADODE Assis, com 'sse novelista de primeira ordem
LIMABAR.RETO (Rio, 1881-1922), observador pen t.rante, de acentuado humor,
que cm Triste fim de Policarpo Quare ma (19 3) e outros romanc fixou
aspectos e paisagens da vida urbana e suburbana da capital. 2 que, como
lembra G NOL o AMADo20 "o romance é um fenõmeno e um produto da ci-
dade. Tôdas as grandes consttQções da litera ura que representa a vida nos
cus elementos humanos, levantam-se em terrenos urbanos... ação
exterior às vã s se desenrola num plano rural, a aç-o in erior é air.da um re-
flexo da cidade, porque para o campo as pertonagens levam os problemas ín-
timos, os choques de alma ou de intcrêsses qu s6 pod m existir quando existe
a grande vida urbana e que resúltam da f.)r6pria complexidade da Metrópole''.
A narrativa de inspiração rural desprende-se da terra de cuja seiva ines otãvel
se alimentou, pora transformar-se com ALOÍSIO DE AZEVEDO RAUL POMPEIA,
MACRA.DO DE A IS LIMA BARRETO, no romance autêntico, e alargar~se sob
o influxo da vid urbana. at~ conter tudo e tudo representar, ganhando em
objetividade em enetração e em sentido humano o que perd u de inter·
lfrico de gôsto descri ivo e de espírito locafüta, das narrativas indianistas ou
ertanejas.
Se, porêm, é em MACHADO DE Assis e em EUCLIDES DA CUNHA ue sc-
afir am, com uma grande intenS!dade, de um I do a universalidade do pen-
samen o, pela riqueza do conteúdo hurr.ano e, de outro, a ~ ração pela terra e
pelo homem americano, por essas duas direções continua a dividir-se tõda uma
pequ na falan° d ensaístas, a quem já não fazem mêdo nem as idéias gerais

19 ~ON.u.D or CUII o, />equ.e:aõl Eli!-rória d Lir,;r lur Br,uit ' 4. Brii,ud & e ·np., Sditl'lrai,
R1 de J■ GCiro, 19111.

:?11OM0~t O Nf,t.00, O rom.,n<"!. ,. ec;d,.Jle o e mr,o. /11 "O J -nl", n. S 92, RJ,. J JH•iro.
A VJ'DA LITERARIA 199

nem os problemas concretos da complexa realidade nacional. Abrem-se


exploração literária um campo cada vez mais vasto; e, onde não se viam enào
ílguras solitárias, um ARARIPE JÚNIOR, critico impressionista, u il até a obs-
curidade um CARLOSDE LAET io, 1841-1927j, con ervador em política
cm religião, polemista terrível, de uma ironia mordente, e um ALBERTOT6RRES,
vigoroso pensador político da estirpe de TAVARES BASTOS,surgem críticos,
ema.latas e paníletários, que em suas crônicas e estudos provam uma aptidão
particular em analisar e cm compreender as questões qu preocupam o pcnsa-
mcn o europeu ou in eressam à vida do país. É que, com a Grande Guerra
ae inau urou um dêss período, a que se refere TAI.LEYRAND, ao d crever a
época de Lufs XVI e em que ' o espírito geral da socieded soíre modificai;õcs
de todo ênero. Queria-se tudo conhecer, tudo aprofundar udo julgar.
Os entimentos foram substituídos por idéias filosófi.cas, as paixões pela análi
do coração humano, o desejo de agradar por opiniões, os divertimentos por
planos e projetos". No domínio da critica literária, RONALD DE CARVALHO
funde, nos seus ~nsruos, a argúcia do pensamento e as graças do estilo, de uma
poe1ia colorida; ANTÔNIO TôRRe:s, derrubador de preconceitos, dá aos seus
golpa rudes de paníletário a íirm za e a precisão que vêm de sua disciplina
mental e do vig"or do seu estilo; AGRIPtNo GRIEco faz entrar a crítica ao gôsto
do público, pela combatividade de seu espírito cáustico, pelo sabor picante
das expressões insolen e.s mas imprevistas, de um poder carica ural e pelo
brilho de sua imaginação; e Hu BERTO D.E CAM.Pos,poeta e cronista, mestre
da língua e da crítica, de um pensamento mais amadurecido e de uma arte
mais compJcta, anexa ã sua reílexão pessoal, extremamente lúcida, o vasto
campo de sua experiência e d suas leituras. No estudo e debate das questões
religiosas no maior ensafsta e panfletário católico que já tivemos, JACKSON
DE FIGUEIREDO (Sergipe, 1891-1928) sucede TRISTÃO DE ATAfD.Eem cujos
ensaios, na segunda fase de sua carreira, dominam as preocupações morais
e religiosas, roubando ª" qualidades de artista do antigo crttico brilhante
perspicaz, em proveito do dcs jo mornlizador do cns ão fervoroso. Se wn e
outro identiíicados desde a sua profissão de fé, no seu culto pela ordem, pela
disciplina e pela hierarquia, representam o que há de mais con ervador no pen-
samento nacional, TRISTÃODB ATAfDE, porém, substitui e ord m da violência
impul iva do fundador do Centro D. Vital pela de uma ação in electuaJ, mais
vigilante, mas não menos intran igente, e de maior poder de penetração. Nos
estudos sociais e políticos, postos m foco pelas grandes questões em que se
debate o mundo atual • pela acuidade que a.sumiram os problemas nacionais,
in tigando o estudo do passado como a chave da compreensao do presen e,
avultam, entre outros, GILBERTOAMA.Do,escritor dobrado de um pensador,
que se oculta sob o br.ilho de seu 8tilo, de uma grande precisão· VICENTE LI-
cfNro CARDOSO, humanista de um espirito generoso profundo, mais preo
cupado com as idéias do que com a forma: OLIVEIRAVIANA, em seus ma~-
fico ensaio orien ados num entido prepondera,, emente antropológico e
racial e penetrados de realismo político, e GILBERTO FREYRE ao qual, como
a OWVEtlU VLANA, cremos de voltar ainda em outro capítulo, e que pelo
rigor de seus método , pela argúcia de sua análise e pela lucidez de suas con-
clusõe , iniciou nas suas intese, de interpretação sociol6gica, um. movimento
verdadeiramente fecw1do, senão defir.itivo, para a orientação de nossos estudos
90ciais.
Não • de surpreender, portanto, diante dêsse movi.meato ssenc1almentc
critico, de análise e de pen tração, desenvolvido depois da guerra de 1914
que participassem do mesmo espírito revolucionário a corrente inovadora,
purarncn e literária iniciada m 19 2 por poetas, criticas e novelis as, na Se-
mana de Arte M.oderna. m São Paulo. Ainda ecoavam as vozes límpidas.
'200 A CULTURA BRASfLElRA

sonors. da última geração de pamas.ianos, como AMADEU AMA L, (São Paulo


1875-1929), au or de Névoa. e. de Espuma. , poe a de fina ibilidade e de
expr o grav e polida, e RAUL D.E LEO 1 (Rio 1895-1926), o artista enc-a11-
ador e harmonioso de Luz Mediterránea, quando irrompeu a corrente
modernista, impelida por um grupo de rap e:s a que deu desde o comêço a
sua adeuo generosa GRAÇA ARANHA aranhão 186 1931), o brilhante ro-
mancista d Ca.naã, empolgado pelo entusiasmo dos inici dores do movimento.
J pelos poemas de RICARDOGONÇALVES Aro so SCH UDT, em que se fet"ia
com vi or a nota social e humana,' 1 atingindo, no primeiro, u n acento ãspero
de revolta, ou pela poesia lírica, tocan e de um id !idade mi tica 1 de HERMES
FONT (S rgipe, 1890-1930) perpassava um ôpro de reação c ntra a escola
parna iaoa, s ão de vontade, mal dissimulada, como nos poc a paulistas, de
abater todos os ídolos. Por essa mesma época MONTEIRO LoBATO, que tem o
sentido da observaçao, dava aos contos de Urupê , - p daços de existência
arrancados à realidade-, a côr, o tom, o specto e o movimento da própria
vida; e, mbora fiel ao gênio da língua, soube extrair dd novas riquezas, re-
moçando-a, pelo seu estilo, vigoroso e enxuto, de absoluta dar za e precisão.
A impetuosidade, porém, com que se lançaram • avon ur r novadora ntre
outros um critico de arte e de literatura como MÁRIO DE ANDRADE,um espírito
de vanguarda motejador e combativo, da t"mpera de CSVALD DE ANDRADE
e os tré maiores poetas paulistas dessa ração, GUILHERME DE ALMEIDA,
CA lANO RlCARDO e MENOTTI DEL PICCHIA, transformou e movimento,
fortalecido ainda ma.is pelo prestígio pessoal do utor de ViaAem Maravilhosa.
em uma "tação de caráter revolucionário ad tri a a reocuparõe de fórmnlas
literárias, mas realmente útil, pelo que trazia de esplri o iconoclasta. à reno·
vaç o da literatura nacional. Se nada produziu de grande e definitivo, se não
concorreu, por falta de uma nova concepção de vida, para fecundar as cons-
ci~ci , serviu, s m dúvida, para libértá-las das velhas coisas contra as quais
ae insurgiu, - a antiga técnica do verso, 3 eloqüencia parn siana, o gõsto pelos
grand temas e o apêgo às formas tradicionais da língu portuguêsa falada
no Brasil. processo de emancipação. iniciado p lo movimento de 1922
critico e destruidor, mas sem nenhuma fôr a criadorA, tomou novo impulso,
agora mais poderoso, com a revolução de 30, que, na justa observ ção de ALMIR
OE ANDRADE, quebrando o velho regime político, e rccu um pap 1 psicoló•
gico de libertação de endências recalcadas; todo aten ado vitorioso contra
o poder político tem uma capacidade desinibidora bastante ac n uada: esti•
mula expansão de novas fôrças, impõe a necessidade inconsciente de novas
afirmaçõe ".ea A literatura braf>jleira, porém, long de ser impelida para uma
única direção, e fragmentou. cerno aliás por tôda parte, numa pluralidade de
tendências, que se chocam, se fundem ou se equilibram, conforme os gostos
individuais e a variedade de influênciss es rangeíras, e entre as quais se podem
constatar a do movimento modernista já atenuado nos seus ímpetos renovado-
res, e re ç·o néo-clássica, pela volta ao equilíbrio à harmonia cntr a forma
e o fundo; a da introspecção e sondagem do mundo interior e a da observaç.ão
objcti a da realidade social e, enfim, a do espírito de hrasilidade e a do espírito
de civilização que, desenvolvendo-se, como tendências paralelas em nossa evo-
lução intelectual, se apresentam sob novas forro .
Mas, ntr tantos nomes que surgem na p ia e oa p d ficção e brilham
vezes por instantes para se apagarem no uecimcnto, é cedo demais para

ti o Anvaoo, E~io.o. ,t ,xn i• 1 no 8, /, P ••· 90•101, Comp. Melh


...... 1 de . o P ■ ulo, 1929.
AN1>11ADa, Rdr,o,ta •o inquéio10 "" "'R • • do B•• r· ~ .i.. tc-nd~w atuaj1 ""
tltcr•tur• J 9•0.
A VIDA LITERÁRIA 01

separar os qu ficam e determinar, com precisão as contribuiçõc verdadei-


ramente ori inais aos prC>gTCSSOs da literatura no país. A proximidade em qu
ainda estamos em relação a essas obras, sucedendo-se em tumulto, sem deixar m
tempo para rcflexao, e a abundância da matéria a examinar não permitem
julgamento definitivos eóbre a história literãria contemporàn . A vog
sucessiv cm t6mo de nomes, trazendo às vêzes ao primeiro plano obras d
aegunda ordem, e os o tracismos de igual desproporção, relegando um meio
esquecimento talento supcriorec, impõem a necessidade de uma r visao d
valores intelectuais para que cada um encontre o lugar de u mérito numa
opinião t'CStituída à verdade sem o entusiasmo excessivo ou sem as hostilidad
secretas dos contempor neos. No entanto, entre os que se impuseram à nossa
admiração, podemos lembr9.J",na poesia, MANtrat BANDEIRA de uma sCDsibi-
Jidade delicada, motejador e doloroso; Auousro ScHMIDT, sensiv 1 e forte a
um tempo, muito pessoal pelo tom e pela inspiração; JORGE DE LIMA, com a
sua poesia original e simples até a mais autêntica ingenuidade, e de um sabor
popular; CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, cuja poesia melancólica até a an-
• gústia, e de urna extrema densidade d~ forma, corresponde a uma visão deso,
leda da vida e do mundo; GILKA MACHADO, que faz estremecer seus versos,
polidos e sonoros, da exaltação dionisíaca dos sentidos; ADA.LOISA NERI, uma
alma arden e que .respir fortemente a vida e a exprime com uma ainceridad
exasperada, e CECÚ.IA MEIRELES, recolhida ao seu mundo interior corno a wn
reino de exílio de que nos transmite a mensagem em seus poema , com uma
expressão nostálgica do infinito, e com tudo o que há de vago e de fluido,
porisso m mo encantador, no seu pensamento simbólico, rico de ugestões.
No romance que e cruzam as influências mais diversas e pedalmente
as de Jü JOYCE e as de MARCEL PR.oUST, distinguem-se de um modo geral
duas grandes correntes, a do norte, néo~naturalista, dominada pelo g o de
fixar os aspectos da vida ocial, com JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA, Joú LlNS
DO Rioo, GRAClLIANO RAMos, JORGE AMAoo., AMANDo FONTES e RAQVEL
DB QUEIROZ; e a do sul que antes se compraz nos estudos do mundo, p icoló-
gico, moral e mental, e em que se destacam., para citar apenas algun , PLiNto
SALGADO, LÚCIO CARDOSO, CORNÉLIO PENA, MARQUES RBBÊLO, TELMO VER·
GARA, ltRJ.coVERiSSIMO e OTÁVIO DE FARIA, apaixonados da vida in erior e da
arte de analisar os tadoa da alma e o movimento das idéias e da peixões. 2
Embora pertencentes a mundos inteiramente diversos, com suas diferentes
concepções da vida do homem, e com particularidades bem marcadas, a s •
melbarn-se com freqü ncia, no relêvo, no poder pitoresco e na intensidade do
processo de reviver em tõdas as nuanças o passado ou de nos dar a totalidade
dos acontecimento:i, sua retcrcussão sôbre a consciência e as reações que deter•
minam no individuo. Mas já se constata em alguns, entr os maiores dessa
época, - a mais fecunda do romance brasileiro, o duplo esfôrço no ntido d

2J A n lllcr■ ture, mal1 llric do que reOdida, exprimiu-"" em t6d I u Epoca1m~ fortcn16tc ~
pc)elW, pdo romance. d..cnt:ivo e l)da eloqil!ncia do que ~ riloaoí"111, pelo cBJ111io
., pelo teatro ou por qualque~
Cllltra forma Uta-Aria qw:, pela ua lllltW'c • exige maí• an.i1i,,e e ccflexio. O p<llprio MàauJ)O D& Aal', que
!Dtrodmi1t na Um-atura bn.-alldra, com - romaJ1Ge1,o in~&se pela vide i.n or, e tJO tornou um matrc oo
o de c:anctcr , nlo uou DO teatro uma ~o bem a.jus ada forma par de u aplrito.
O taJento todo ~ ct m subjetivo do r;rm>dc ..-omanciotilparecia nia c,oms,ortar aa ~ualidadft d
ürvc:ação e oe doaa de rida •a. l obn do teatro, que: mge. ao do.ma, a (Orça de um i.tao llri,mo obri#
oa a ■.p■ CM- para fan,r viYCr o 1111ll>do de 1Ub criações. N• ~ p«· cm q~. b a 140 • d ro-
-lCi.atu D■d c::oa>O 14.t.CRADO D& Assa e LIXA ~. " atrllJl&eirol. como J JOTCS • ÃLOOUI
Bu;w::r;n MA.ICSL P8:00ff o ANillli Qu,&, tomam um ç,mde imJNl,o o romancc p■icol6r.lco e o d.e «iatuma,
pod..--.(a cuid.-, ao primeiro cume. que te ti..- reguindo uma laM: d.e pro~- KOI[ • cvoluel
de - tzatro. Nu, • a ~ .... proporQ}c:I e too:wda a palavra 11um ocAti<lo rela vo, Qlo i,rodll&ill
-. on ~I DO C- cfrw.mAtlco. Flmdada a ~ düer par 111.tJcnl!r• Pu... ,_ pri ra mcUld do •
cwoXIX, e a.piorada com rdativo , - o,ecunda metade d&.e s&::ulo,i-- Jod D& A.Lslfc.t.a ~ PILUJÇ.\
Jcbao-. • reem« por Amva ADva>O (l,[ar,ulbio. I&Sl-19 , pocb •tlrieo e ' o, com
- ddid- (a • de um plrit.o pican~ e por P l1J.O BduTo ·o, 1881-l92ll, ; • ta ta,
a e, • de 6 refl" nUlda box 1)(lr" 11111 pcqaaio grupo de autores tauab cooio KAl'IIV'"'"' o&
~QoU.lllq J01fl , 1!!:mc.\Mll"OPAJU e JollACI c..uau.oo. Não lá ~ dcadeoda do muo aa•
doDaJ, q11econtinua • d volver«, 11wn fl"occrJO lc:nro de cvoluçio, aem apraentar alodA Ci&"1Ucapattt d
formar uma tNld CIO dram tica entre n6t, P"" um núcleo de obrai de granclo lnteruida.d de vida, vlp
o de ceract o de lar e de CtO~<>.
2 2 A CULTURA BRASILEIRA

atender à n cessidade qu;: reside à base da arte clâssica, de sacrificar os detalhes


em prov ·to dos grandes fatos significativos ou de escolher o traços caracte-
mticos, com a exclusão dos traços secundários e parasitas, e de se apagarem
diante das coisas que representam, confiando-lhes a elas sõmente o cuidado
de nos comover pela simplicidade na fôrça e pela inceridade da apressão.
A im, poi embora nem sempre seja do melhor quila e essa produção
que e destina an es a distrair e a prender a atenção do leitor, e em que não
se pode destacar senão uma ou outra obra verdadeiramente origina] e forte,
própria expansão quantitativa, nesse movimento literário, já ~ um fndice do
-inter e cresc nte do público pela literatura nacional. Se ainda é considerável
o comércio de livros franceses e inglêses no país, dilata-se cada vez mais o campo
de influencia de aut~res brasileiros, dos quais alguns já conseguem senão viver
de sua pena 1 ao me~os constituir em ocupação principal a atividade pura do
espirita que não tinha antes função no quadro social e não chegava a ser uma
profissão. Essa divergência entre o prazer do autor a predileção do público
ou, por outras palaviras, entre o produtor e o consumidor, - em que HUMBERTO
DE CAMPOS, via com, razão uma das causas da monotonia da vida líterâria no
Brasil,~• tende desaparecer pelo maior cuidado dos autores em não se afas-
tarem da realidade e em satisfazerem as preferências do público que fazem
hoje, como sempre, o que se pode chamar um "clima literário". A difusão
da imprensa, pela circulação de grande número de jornais co •dianos; o es-
pa.ço que abrem os diãrios mais importantes à crítica literária e ãs informações
eõbre livros novos; a rêde cada vez mais apertada dos s rviços de distribuição
que as casas editôras estendem sôbre todo o pais, pelas livrarias e agencias,
os m eroos recursos de publicidade e propaganda contribuem de maneira
notável par redunr senão eliminar o divórcio entre artistas e o público e
aumen • poder de penetração, bastante forte para coroar às v~ es de
uccs os de livraria obras sem real interês<Jeliterário. . Já não det&n o mo---
nop6lio do julgamento as escolas literárias que, considerando a literatura como
um privilégio de uma elite reduzida, consagravam ou rejeitavam outrora, com
seus preconceitos ou dentro de critérios limitados, as produções de arte; o cres-
cimento num· rico e a elevação de nível cultural do público chamado a julgã-Ias.
subtrai tiranias de pequenos grupos o destino das obras de literatura postas
agora, quase que aq mesmo tempo, ao alcance de pµblicos socialmente difc-
ren es e de círculos Icada vez menos restritos, Se à conta dessa expansão da
vida literária, mais achegada às preferências do público se pode levar um certo
abaixamento de nível que costuma a.companhar os movimentos caracterizados
pela int nsidade de rodução, é certo que êsses períodos de efervescência inte-
lectual, alargando o campo de sondagem e de influência literária, despertando
vocações e fecundando consciências, preparam os grandes movimentos de re-
novação e criação, no domínio artístico. Mas ssa corr nte de alta freqüência

n, u.rnpol: ~ uti trediçücs liU:mri e em qur OI &utar e o p6bllco Jl :t>(;ODU'IIJ"■ m wn ""1•


ate, como ae podeob.e,,,ardadifll$loda im.P"' edolívro. rvammt lognram bltoasf'CYÚtae
e-, Umtrin, de nllm<ro muito RduÁdo e, em &en.l, de flOUCI' duraçlo. A m ·• a.nti a
, no atwll, A l/u.tr11~ Br,uit,,.i, .. , rtlftdada em 1909 no Ri<>d,: Jan • "edGde
lho, tcvr, b • dittç¼o de Mm1mros 'B • col boraclo d poeta•
po, uma r brilhml.te que e cnccnov. pvbllca - ano, .-caparecet1
lntaromper_. mab mru, ve.i: em 1930, e numa.
,_ mal• de un, quartel de ~o. Em 1916 ~ • eot.e
e M'.OlffllIRO Lmu.l'O • Rerista der s,. DO
ua ~ fuc ~ a dire:çio de Orivro T eue-
diricldo por GASl'ÃO Clltl:LS e AOAJPfflO Oltaco. nlo d •
•,, lo a,w,dlAII), fund..S.. por SAl.ruu. R;t:unto, .... op IJl"Ol1,
ma , lafonnativo e de divul~ do q1>:: Gtcdrio. No d~
, rm forma de jomal, o s~&n6rio Don, C..miuro, tur•.
Se .., acrcaccotllr, , • ■ .....,.;.ta, e jaraail li~ cr Anu,lr. o aiu
prl1111::iN1vu em 1931, t<r• i, oa hiat6ri• de o lsu, no ulo • u rm,ta de
c:ar6t.er llt Arfa, de m ·ar iate:r!...., e rep,,rcu.do, e entre • qlllli nlo um.,,..,. u pllhlica~•
pa'i6\'llc:3 ■•m rrJtva, do dura ef~.,.. e d~ influl"nda Utni!:ad.il• cú tr1
A VlDA LITERÁRIA 203

que se estabeleceu entre os autores e o público, e de que extrai a literatura do


pafs a sua i ça de penetra&ão, não se explica sómente pelo florescimento do
romance, - a forma popular da literatura, pela maior riqueza de sentido social
e humano, da obras de ficção, pela concordância mais p.rofunda entr-e o que
se escreve e o que se r clama para ler e pela pressão da publicidade que, se às
y!zes não tem o objetivo, tem sempre po.r efeito despertar o gõsto e o hãbito
da leitw-a. Na raízes dessa penetração mútua ou dessa compenetração entre
o público e os autores encontra•se também o caráter nacional da literatura,
cujas manifestações ainda são marcadas de influências estrangeiras, e que,
no entanto, evoluindo no sentido da libertação espiritual, apresenta um sabor
~tnico mais acentuado e possui um clima próprio pelo qual procura afirmar-se
e chega às vezes a atingir uma forte originalidade de pensamento e de e%J>rssio.

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nõaiicoe). Edíç&cs Cultura Brmlcira, S. Paulo (sem d l ).
Wor,n crd.innd) - Le BrlJsiJ li téraire. Bistoitt de ta li éta ur br' ilicnne, suivie
d'u.n cboi~ de morccawt tirb des meill.eun autews br ilien . XV1. 42 et 334 pa es.
A. A.eh e- Cie., Bnlin, 1883.
CAPÍTULO IV

A cultura científica

O período holandes - A comitiva de MAtJRÍClO• DB NA&SAU- Os pri-


meiros exploradores estrangeiros - A Colônia e a Met:r6pole - A treva em
que a Metrópole mergulhou o Brasil colonial - A instalação da c6rte por•
tuguêsa no Brasil - D. JOÃO VI e as primeiras escolas e instituiçõea científicas
- O Museu Nacional - Os estudos de botânica e zoologia - As viagens
de naturalistas estrangeiros pelo interior do Brasil - A geologia - As pes-
quisas peleontológicas do nt,. LUND,na Lagoa Santa - As ciencias físicas -
De BARTOLOMEU DE GUSMÃO a SANTOS DUMONT - o Observatório Nacional
- Escasso interêsse do brasileiro pelas ci&lcias físicas - D. PEDRO n e as
ciências - A Escola de Minas - A matemática e os seus principais cultores
- Gonms DE SouSA - Museus e bibliotecas - ,A Biblioteca Nacional -
Nm.,. RODRI<,UU e a medicina legal - 0sv4I,DO CRUZ e o centro de -pesqQisas
em Manguinhos - A geogr~ia e a história ·- Os Jnstitutos Históricos -
A penetração do espirito cientifico nos estudos históricos e geográficos - O
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - As mis1tões culturais estran-
geiras - As ciências sociais - A sociologia e a etnologia no Brasil -
Ciência e filosofia - O positivismo - A filosofia de FAJUAS BRITO.

E M UMA síntese extremlõ!D)entereduzida, ao longo de trinta páginas cer-


radas, assistimos ao desenvolvimento de nossa história literária, às
primeiras manifestações, no período colonial, modeladas em forma por•
tuguêsa, ainda que às vêzes de pensamento americano; à floração viva, desigual
e desordenada, do século XIX e à produção mais disciplinada, rica e saborosa,
do s~ulo XX. O que nos fere logo a atenção, na história da literatura brasi-
leira, não é sàmente a continuidade do movimento 'literário através de três
séculos, nem a variedade crescente de talentos de primeira ordem, em cada
um dêsses periodos, mas a vitalidade e a fôrça com que se vêm afirmando pro-
gressivamente a originalidade da literatura nacional, nas diversas fases de sua
evolução e, especialmente, a partir do moviménto romântico. Em nenhuma
oqtra atividade de espírito, a inteligência no Brasil se expandiu com tanto
vigor nem manifestou tão grande poder de invenção. Pode-se mesmo consi-
du~ a literatura como o produto mais caracterlsticamente brasileiro, o tes-
teniunho menos contestável da originalidade do espírito nacional. Se com.-
pararmos, perém, os progressos nesse domínio de atividade ~om os das ciências,
o que nos fica dêsse confronto, estabelecido numa análise ainda que sumária,
é uma impr~ão desconcertante da desproporção entre o progresso literário
e o desenvolvimento científico que a rigor começou a processar-se somente no
século XIX, ,quase adstrito ao mundo das ciências naturais e com wna extrema
206 A CULTURA BRASJLEIRA

lentidão. Essa predominância do espírito literário sôbrc o espírito científico


cm sido, na história de nossa cultura, tiio accntu da e persistente que não
faltou quem a atribuísse, num exame superficial a uma fonna particular de
espúito, li ada a fatõres étnicos e, portanto, biol6gico , como se se tratasse
de uma inap "dão natural, irremovível, para estudos e pesquisas científicas,
pa a a ci!ncia pura e a especulação. Certamente o povo brasileiro, como qual-
quer outro, apres nta um complexo de traços fundamentais que o caracterizam
e refletem sôbrc uas instituições e tend~ncias, marcando-a com seu cunho
particular. Mas, sejam quais forem os traços ou o fato salientes que se possa
fazer r saltar como pttuliares a uma raça, ~les são su cctivei de se modifi-
carem com as transformações da vida social: as variações d mentalidade que
êlea compõem, são ligadas em primeiro lugar às variações sociais e, dada a cons-
tante relação entre êsses dois tipos de mudanças, não se pode sentenciar a inap-
tidão de um povo para qualquer ramo das atividad humanas senão em face
de suas atitudes e reações, em um novo estado social, criado pelos contatos
de culturas diferentes. Aliâs, a lentidão do progresso dentfflco e o nosso
atraso nesse dom(nio provêm, como é fácil verificar, de fatõres políticos, eco-
nõmicos e culturais que contribuiram poderosamente para criar uma atmosfera
IOC'ialpor muito tempo desfavorável à cultura científica e para impelir a ati-
vidade cm outras direções.
Em todo o pcriod.o colonial, desde o descobrimento at~ a vinda de D. JOÃO
VI ao Brasil, não se registraram, de fato, na história de n cultura, senão ma-
oifi taç- esporádicas e isoladas, - de estrangeiros que, provcitando a opor-
tunidade de sua permanência na Colônia, tomaram os habitantes e as riquezas
naturais do pais para objeto de seus estudos, e de algumas figuras e ccpcionais
de b ileiro que viveram for.1 do país e se dedicaram na Metrópole e. maia
tarde, na Colõnia, a atividades científicas. Nem os sábio estrangcirO'! que
recolheram, cm terras americanas, o material para suas obras, nem os brasi-
leiros eminentes qoe, formados na Europa, realizaram abalhos de valor cien-
fico no estrangeiro, cxerCCTamqualquer influ~ci no desenvolvimen o do
esplrito e dos m'todos científicos no Brasil. lt no p riodo hotandb ou, maia
propriamente, no govêrno de MAURfc10 DE NASSAU (1637-1644), - "um pa-
rentcscs luminoso", aberto pela chegada e encerrado com a partida do prín-
cipe flamengo -, que se inaugurou no Brasil colonial uma ~poca de atividades
cientfficas, realizadas pelo grupo de homens de ciência que o Conde de NASSAU
mandou vir a Pernambuco. Essa importante missão, a primeira que aportou
ao Brasil, chegou no Recife em 1637, um século depois do comêço do povoa-
mento, pelos portugu.êses, das terras descoberta,. Dela faziam parte, entre
outro, GUil.BERME Piso, médico de Amsterdam, o fundador, com J. BoNTIUS,
da medicina colonial e J. MARcxoRAF, naturalista alemão, que deixaram na
História N turalis Brasiliae (V ed., 1648; 2.• ed,, 1658) uma obra capital
pele riqueza de dados e de observações, e a mais no v I publicada sôbre a
medicina, a ílora e a fauna do país, nos tempos coloniai . Se pelas suas obser•
vações sóbre as moléstias dominantes no Brasil setentrional e a ação terapêu-
tica das plan s medicinais, GUILRERME Piso, - o primeiro médico que tratou
da opilação, indicou a transmissãn do veneno ofídíco pelos dentes da cobra ~
fb necroses no Brasil, é justamente consid ado o criador da nosologia brasl·
leira, a J. MARCK:GRAF cabe a gl6ria de er Jantado os fundamentos da história
natural, colecionando, desenhando e descrevendo tôdas as planta e animais
que encontrou em suas numerosas explorações científicas. Era tão avultada
a cópia de material colhido nessas excursões até as capitanias lirn(trofes que,
no dizer de ALFREDO DE CARVALHO, "o gabine e do conde, os museus de duas
Universidades e várias coleções particulares (entre estas a de SEBASCH, depois
A CULTURA CIENTÍFICA. 207

tão famosa) foram com elas enriquecidos e por mais de um •culo ciet1cia se
nutriu dessa provisão''. Não se restringiram, porém, ao campo da ci ncias
naturais as atividades cientificas de J. MARcKGRAF: no observatório instalado
entre os anos de 1637 e 1644, pelo príncipe de ASSAU, - o ma.i antigo do
hemisfério sul. r lizou importantes observações meteo.rol6gicas astronô-
micas de que nos ficaram apenas, conservados por BARL.Eus,1 os cãlculo re-
la ivos ao eclipse solar de 12 de novembro de 1640, e escreveu um tra ado to-
pogrãfico e meteorol6gico do Brasil, publicado em apenso na 2.• edição (1658)
da grande obra cm que figura em oito livTOsdos doze que a cons ituem, o enorme
espólio científico recolhido pelo sábio alemão.
:t certo que o Recife judaico-holandês se tomou, no período da ocupação,
como observa GILBERTO FREYRE, "o maior centr-o de diferenciação intelectual
• na colônia que o esfôrço católico no sentido da integração procurava conservar
estranho às novas ci ncias e às novas línguas. Com o conde MAURicto DE
NASSAUlevantou-se do mejo dos cajueiros o primeiro observatório astronô-
mico da América: um jardim botânico e outro zoológico surgiram dentre aa
gitiranas e o mangues onde outrora s6 havia buraco de goiamum; apareceram
Piso e MA.RcKGRAF, os primeiros olhos de cientistas a estudarem o indfgenas,
as árvores, os bichos do Brasil; pastôres da religião de CALVINO pregando novas
formas de cristianismo; FRA.NsPosT pintando casas de engenho, palhoça de
lndios, mocambos de pretos, cajueiros, à beira dos rios, negros com trouxa de
•roupa uja à cabeça; PE'l'ER PosT, traçando os planos de uma grand cidade
dt: sobrados altos e de canais profundos por onde se pudesse passear de cano
como na Holanda''. 2 Mas êsses pequenos focos esp~, últimos tes emunh
da grand chama do esptri o de cultura que MAuRfc10 DE NA acendeu,
~o tardaram a ser e ·nos, jã pela pouca dura,Ção do domínio holand , man-
tido pela fôrça. j • pela ho til idades crescentes contra os inva res, herejes,
em que os colono pa aram a ver os inimigos da pátria e da religião. O f.
rito de integração no s ntido católico e português acabaria por dissolver as di-
ferenças, atraindo novamente para a órbita da influência ib'rica as populaçõ
de Pernambuco. MARCKORAP morre em 1644, no mesmo ano da retirad do
príncipe de NASSAUpara a Holanda onde, quatro anos depois, G. Ptso fazia
publicar a l.'" edição da obra notável em que colaboraram o médico flamengo
e o naturalista alemão. As profundas agitações que se seguiram à partida de
NASS.AU cm maio de 1644; as guerras contra os batavos, vencidos na Europa
pela Inglaterra e, na América, pelos brasileiros, nas duas batalhaa dos Guara-
1rapes e, afinal a capitulação, em 1654, dos invasores que abitndonaram as suas
conquistas deixaram inteiramente desarmada e já a ponto de esboroar• e t6da
a civilização que o pr(ncipe ílamengo pretendeu edificar em terras da América
portugu&a. "Da obra do administrador nada sobrevive, escreve CAPrSTRAN0
DE ABREU; seus palácios e jardins consumiram-se na voragem do fogo e sangue
dos ano seguinte : suas coleçoes artística enriqueceram vários estabeleci-
mentos da Europa, e estão estudando-as os americanistas"; e o livros de BAR·
LBUS, Prso e MA.RCKGRAP que, "devidos ao seu mecenato atin iram a uma
a1tura a que nenhuma obra portuguêsa ou brasileira e pode comparar nos
tempos coloniais, par ce mesmo terem sido pouco lidos no Brasil apesar de
,escritos em la im, língua universal da época. tão insignificantes vestfg,ios
encontramos dêlc .

l OAll'All 8,1iu.zue, Hi 16ri• do,, f iro• ,eunremente pr,tia,dcu, duunu, oito ,no• no Bra li•
lfOutr• ,..,,,. /1 o º"''"º ilu trl imo Joio M•ruicio.
do de
C<Jnde Na~sau, ck. Tf'. ~o e• ~
4c CIJ.UDJO Da>. OÃ0. Co Gr ,co do Miniúhio da Bduca.ção, Rio Janeiro, ck I.H0,
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1 C.u>lfl'LUIO D& A•■ &U, C•pltulo~ da hi•t6ria co_/oniJJJ. PA&t. 90-ll1 lo, lllO?.
2011 A CULTURA BRASILEIRA

Até o século XIX n&o se dirigiu ao Brasil nenhuma outra missão de sábios
estrangeiros; e, se entre. os visitantes do Brasil colonial alguns mostraram in-
terêssc peta nossa natureza, como os franceses DAMPlER {Bahia, 1704), LA
BARBJNNAIS (1714) e BOUGAINVILLE que estêve em Santa Catarina cm 1763
e no Rio de Janeiro em 1765, as suas observações não traziam, em geral, senão
éssc sentido do pitoresco, de viajantes deslumbrados diante das paisagens tro-
picais. O gósto das viagens, o espírito de aventura, o interêsse pelas novas
tcrt'as descobertas, na América e na Ásia, estimuJavam êsses empreendimentos
isolados de forasteiros que não deixaram vestígios de sua passagem pela Co-
lônia, de onde naturalistas adveniços, porém, - um PH. COMMERSON (1767)
e JOSEPH BANKS (1768), que passou três semanas na Guanabara, remetiam,
respectivamente para o Museu de História Natural de Paris e para Londres
herbários colecionados no Rio de Janeiro. A Colônia continuava estranha
à revolução científica que se processava no Velho Mundo e mergulhada na
espbsa obscuridade em que, sob êsse aspecto, se envolvia a Metrópole que
estava. como tôda a península, ''fora da linha isotérmica dessa revolução".
Por tõda a superfície da península, pondera Rur BARBOSA, "a instrução cientí•
íica não existia. Nos meados dêsse século (XVIII) não havia cm tôda a Es-
panha um químico prático. Mais de 150 anos depois de HARVEY ainda sedes-
conhecia aí a circulação do sangue. A Universidade de Salamanca, em 1771,
recusara entrada pública, desdenhosa e terminantemente, aos descobrimentos-
de NEWTON, GASSENDI e DESCARTES por não se coadunarem com ARISTÓTELES.
Em Portugal os estudos univCt"sitáTiosvegetavam sob a rotina teológica, do
mesmo modo como os colégios eram monopólios das ordens religiosas e as raras
escolas primárias não passavam, digamos assim, de estabelecimentos dioce-
sanos, sob a direção dos clérigos e inspeção dos bispos". 4 A instrução, SU·
jeita à curatela clerical e transferida, desde 1555, para as mãos dos jesuítas,
sem dúvida os maiores humanistas do tempo, se caracterizava pelo ensino da
gramática, da retórica e da escolástica, e se reduzia, no plano superior, às
letras teológicas e jurídicas, além da medicina galênica, mantendo-se quase·
totalmente fechada, através de mais de dois séculos, ao estudo das ciências
experimentais. Era. todo um sistema cultural. montado para a formação de
sacerdotes, letrados e eruditos e que, desenvolvendo-se na sua órbita autônoma,
resistia à poderosa atração dos métodos novos e das tendências progressivas
que agitavam o mundo civilizado. Se a essa atmosfera cultural, saturada de
formas puramente livrescas e dogmáticas e de controvérsias inspiradas pelo
velho espírito escolástico, se .acrescentarem a política: de isolamento adotada
por Portugal cm relação à Colõnia, a ponto de privá-la de tõda a comunicação
e comércio com as nações da Europa,·• o regime opressivo da liberdade de pen-
samento e de critica, e a desesperadora tenacidade com que a Metrópole sufo-
cava tõdas as manifestações de cultura viva no país e todos os meios de sua

4 Rui BAIUIOSA, O ,:,,nt.-niTio áo M;uqvr"' d.,. Pomb:il O.- p,onunCJ<ldo • 8 de ma,o llc 1$82
1:1•►lll)pcnal Teatro de D. Pedro tr.
4 ~ pol!tk• de IC'Cl'CPçào .Jouda per PClttUilll que "ICfflllf'C p,oc,i,ou Impedir o coot.ato doo e,,.
traoi:tirot com•• centa db Br,_.íl'", nunca x aprimiu co.-11toonl'AI alttitna como ftllqude ruoooo evlt0 ~o
• 3 de junho d,: 1800 pdo covfn>o da Me-trópole ao..,,_. dc:lepdo do Pa,6, spma1 oito •00t Hln de eh~ do
Príncipe Real ao ~il, e em que ac proibi., a vinda do pllDde HUltdO~DT h lc:mu bra.llc-,ru, "l'íio en, pcú,
de admirar (comffll• JIJI.UJ<O Moa.1111A}q= oo Btuol Dia pmcts._m ld8a1 que cum eo,rcoteo no mundo
c,-v,lludo. Attnnou Ãa>UTAOlf, hiatoriedot initl& que aqui viveu durante dwu dbd.u: pela Poifticade Par•
1u1el,una<.1a,11\enbeJasc,Cfrtnar0giõesdoglo!>oha,,iuidopri....sadct6da•coonwúcacJoc ICO!>lháocom .. --•
n•c-6cl tiaa~. • poc1to que • •dmimo e• residtncia doo c:sttu1tira. ttem ali prolbidu. Se - oarioe da•
no,6ft Aliada, A Mcuópolc ae CODOC'!lli•q_u• de vea an qu.-odo •~-• noa """ portQI. proit,la--U,. 4ve
eeus -~..,..,. e trlpula1>tcs dc,oceuem à tuni, a«to quando acomp&nbadoo par aieoltAJ de ooldad.,._ O ,..,.
1ul1&dodiuo era ... ve11.aigno..-Jlnciager-1 do qo-, 9C pe-v• pelo mundo, uceto o que Port11gal quaia qu ee
eoubote". Nlo havia o:tn todo o Bra.lil Uma .o6 tipocrar ...... A conll1çAo d01 bc'hllclr .. , eoodul o~ .bis·
,criador, er•. 1>• vudod•, disoa do compaixão companda =•dos c:lltOp<m". (JULIANOMo•anv., O p,oAr ... o
d.,a cifnofH no Br•1//. ln '"Ana1.1'· d• Biblioteca N1tcional, 1'113. vol. XXXV. Oí~IDH or,ru,.,,. daBibli~
N•cl-1, Rio d• J•noiro, 1916 ,
2 l6. Fac-similt do t,ontlspkjo de "Hislori,,, Naturalis Brau/,.,.r,
de Pôo • Marcl711.ve.

217. BARTOLOMltU LOUIUtNÇO GUSMÃO, o ''Padre Voadorr, "º r:ua/ ,.. •UAI tt.-pori8ncin, do •cro,lalo
l)K
um /u,,., entf'e o.s antecipa.dores imorta;, da ovfoç.no.
A11e,uraram
Snla Bartolumou d• Outmiio, do Museu Pauli4ta_, vendo-se ao centro o retrato do Inventor bra•ileiro.
Foto do Museu Paulista.
218. Jost BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA (Santos, 1763 - Rio, 1838) primeiro professor da cadeira
de metaluraia da Univer$idade de Coimbra., mineraloAisfa de grande valor, ªo maior e o mais
culto dos brasileiros de seu tempo" .
Foto da ~leção Companhia Melhoramentos de S. Paulo.
219. O Con,e/lr1tiro FIIAl'ICJSCO F'RE.IIIE ALEMÃO, :?20, J BAJtoos.-RoomGUl:5- Mo mai• not•vttf
notlÍvt,/ bor,ir,,co, mcsrr11 de bol.irnca n.o E,coJe botm= que o Br,..;/ pOssuiu depóÍs de Furu
de Med1cir1a • diretor do M- r..,,;one/ ~tlo", direto, do Jardim Botin;c,., (1889-1909)
(186f>.1874). • •utor do ftSertum Palma:rum!!r.

221. ALIPIQ MrRAl'IDA RIBEIRO, ietiólo,O COMU• 222. A.001.1"0 LUTI: (L855-l940), que ,,,,...,_
nu,do • da. ,oólop nascidos no B,ui.J, 111/vu c.ontri~ val;.»as nos domiruw d• •oolo,ia
o maior de todo,. pura • d• zooloiia mé.Jic&.
223. EMh.10 GOllLDl, lund1tdar do Mu...u Pa- 224. JACOUllll HVRltR, bo11;ni<:o, auiço, que tra•
reen,a) Mje MUJeu Cioeldi. e autor de ~os balhou no Museu PttrbMru.e, o um dO!I naturalista.s
Momi/ero, do Br,ui/ (189J) e '"Ave, do Brasil". eJUan~i,o, fl'Llt> mois ..- c-oruaJrar11m A no.na t~rra
• H urudo de IUdlJ r,que.ao naturais.

22S. H.!RMANN VON lHltRll<G, fur.da,Jor do Museu P•ulina. do ~u• /oi diretor (189•-1915) e uma
du maio,.,, ou.tondad"-5 do mundo na ,ua CJpec.alidado (molu,coi),
226. FRJTZ Mill..LER. "o príncipe dos obsl!rv11dorcs·•, 227. Pen:R WILHELM LUNll (D/nnm rca, 1801
no conceito de DARWIN, um dos mo,ore n tu- - Latoa Santa, Mina Gerais, 1880), um dos
ralistss do século com 45 ãr>M de B,a,I e de ~ábio, msJy minente no domínio da paleontolo,ia.,
&erviço., â cienc_i;9e, oo poi 4
/nmoso (H!ltu SUO$ pe.fqui1nr sôbr fó ei,
no vale do rio d,u Velh,is

229. CHARLES FRE.D1':RIC HART'r (1 40-1876),


228. LOUIS AOAS IZ ( /807-1 73), n turn/Í ta sui o sábio americano qu lêi ,wrto dv "Th.oyer Expe-
que eh r:ou a E:xpcdíçi,o Th vc, ( 1 65-6/í) o ditian", complerou, em 1867, o reconhecimento
iniciou .. umn novt., cpOC<, rio rudo d:i 4eolo,ico do litoral (do Rio II Pornnmbuco) e
lle ln in nlrc uó ". publicou, em 1870, 11 obrn m,,it lmpor1nntc do
sécvlo pam,do sôbrç II peQl,;,,,n br~s/1 ira,
230. 0RVILL& A. D&RBY (1851-1915), colabo- 231. LUlZ FEUPE GONZAGA D& CAMPOS (J 856.
rador e continuador de CHARL2'S FREDERIC HARTTt 1925), geólogo brasileiro, colaborador de 0RVILLE
na orAtm.izaçào do serviço geolóAico Acra} (1873~ DERBY (1907-1915) e autor de trabalhos
1878) e a cuja competência foi coníieda a direção importantes.
do serviço teoló,Aico e mineralógico do Brasil, de
novo organizado em 1907,

232. JOHN C. BRANNP-R, um do,; discípulos e 233. A. BETIM PAIS L&Ml:. geólogo do Museu
colaboradores de C. FREOEJUC HA..RTT, na orAa• Nacional e autor de exce/ence~ monoAralias .sóbre
nizsçâo d0$ serviços e no deset1volvimento do.-. l1 teoria do desli~e dos conrineni~s. de WECENER 1
e~tvdos Aeológicm no Brasil. estududa ~m face du-, obsfsrvaçõcs At)ológ,:c;m:
concernentes ao Brarí}. ~
e:

234. P.ED.FlO u, animador- e cultor d.as ci,énci.as., o qual., no seu Ion40 reinado, se encontra à frente
de lôde.s as iniciativas de interêsse científico no Brasil.
Foto da Coleção Companhia Melhoramentos de S. Paulo.
235. Sn/11 con,o'r"do o SANTOS DUMONT ..
Slllo B-!l, do Mu1ou Pnulhto, F o t O d o Museu Paulista,
236. SANTOS DUMONT (Mins.s. 1873 • Snntos.., 1932) . ., quem ÉDISON chamou "o ba11deirance dos ares", e 11
quem cabem duas invenç.óes, - a da diri4ibilida.de do "ma.is leve" e a da. ascensão do "mais pesado''~
237 Lo11Ts Cauu (1848-19081, .,,r&nmno 238. fiENRIQO'E MOIIJ.H (1860-1930), pro-
IHII•• •lurtdo diretor do ObH,_nr•tó,/o lmpe_noJ fcnor de física e de me1eo,oloAl1t, dirt!tor do
do Rio de Jan,,iro (1884-1908), «m quo Observa.tório Naàon•I, d~MI• 1908, ~ quem
t"ucedeu ao sábio lrancis EMMAl<U&L LIAIS ,e devem a primeira or,•ni,4'9,io metcoroló1ica
(1874.-1884). nacional e uma notávrJ monolr•li• &Õbre O
clima cio Bra,11.

lJ9 VISCOND& DO RIO 81u1<c;o. em cujo


num,,e,,o w rt:-:1.lizaram a. mou ,mp0,11tn1es
1n1c::ÍMivM.t e reform.ttS. de mtr-r~utt e:, ntilio, 1
no petiodo in·,puiaJ.
240. A Escola de Minas de Ouro Prêro, criada cm 1875 no Ministério _Rio Branco e instalada no antiAo Palá.cio do$ Governadores, que se tornou, sob a direção de l-lENRI GORCRIX,
o maior centro de alta cultura, no último qu1trtel do século XI X.
241. HEl..-Rl GORCEDC, o,,,.,,;,,.Jor o primeiro
díretor da Escola de Minn de, Ouro Ptôlo,
criLtdor de escola, .sob cuja orfent~ ,e /oNf'JlltJ
uma lffttÇâo noltlvel de especÍ4'fhl., cm
mi.n,e.nJogia, 1;eo10,in e mina,.

242. 'EUÇt.NIO HUSSAK" (18S8-1911), pclrÚ•


;rafo " <tnim11dor & colaborndor de HE"N' 24-3. JOAQUIM GOM&S DK SOUSA ( 1829-1863),
OORt'EIX, nM pe•qui,as Acot6;1car o ,,o o,1111.lo nntural do M6r•nlu7o, o maior moremác,co
dq~ riquozns naturaii elo Brasil. do Brai/1.
244. Mi:seu Nn.cional do Rio de Janefro (antiao Museu Renl e Museu Imperial) J;rande cenfro de pesquisas e de traba.1/lo científico. in~ialàdo 1 desde 1892 1 no antito Palácio
Imper:al da Quinta dã Boa Vista. - Foto do Museu Nacional.
245, Muaou N10clonn/. Snla de Etno~ralia.
r111ot/oAl1lltllll«rlJ/I/II
246. Museu Nncional. Sala de esqueletos.
Foto do Museu Nacional,
247. RA.IMUNDO NJ:NA RODlllCUltS, nnfur•I do
Mar1tnhào, com o qual se inauAur uma nova
/ lllf! na e110Iuçâ.o cíenri/ica da modkínt1
no Bra.sil.

24 ln,rrlu10 d M-1uinhos. ho;. Instituto Osvaldo Cru,, fundi/do m 1901, o """'"' eenlro
d -ui- c,ctntlli~ do J>ili>, no domínio da porolofu, e1t~rimu,1•I.
Foto da 5«çio Fo oeráfica do InstllUlO o. leio Cnn.
249, Biblioteca Nacional do Rio de Ja11ciro, a mais importante e a mais rica dê( América do Sul.
Foto VosYLlus. Coleção do Serviço Nacional de Re<::enseamento.
250. ÔSVALDO CRUZ (1872•
J 9 I 6), no ""' labol.!ório no
ln11i1u10 de M""4UinlroY. Rio
de. J•,..._/,o. - Foto J. PINTO.

251, CARLOS CIIAClAS, 1/iiápu/o de


OSVALDO C11uz, quo om 1909 conquista
par• o lrut/tuto do Mnn/luinhM o ~eu
tn#lor triunfo com o tr•bttlho «ibre a
r,;pano,:om;,uo •~ríe•n• e o àetl
""'""' propqador (Trypanosoma Criai).
Foto J. PINTO.
252. O Instituto Bvta.ntã, fundado em 1899, cujo fase prõpriamente científica, iniciada, entre 1901 e 1902,
por VITAL BRASIL, .seu primeiro diretor (1899-1919) e desenvolvida em 1913 por J, FLORêNClO GOMES,
tomou um impulso notável, a pnrtir de 1918, com AFRÂNIO AMA.RAL.
253, G.,ne,11/ JOSÉ VLIJRA COUTO D& MAOALRM!S
(MinM. 1837 - Rio. 1898), ,.._,,ani,te • etn6ua.Jo,
•uro, de ''V/o_ft!m "°A,,.,.,,.,,.
..a de "O Selvalem", -
Fo10 do Oabinet• de E1no1rafia da F•culdode de
Filosoíie da S. Paulo.

254. Gcno,ol CÃ.HDIDO MARIANO DA SJLVA ROl'iOON,


dubrav•dor • civili%11.dor do .ertâo durant~ 38 ana.s,
(1892•1930); elide d,u e1tpedi,;&• ckntílk .. brosil.,irtu
(CominGo Rondon) que m,a/1 co~•r•m p,tra o
dnttnvolvimenu, d• lukt6ria n•tur•l. c,ntre n61.
PolO d• Jmp,,1on ■ E. d• PronteirH.
A CULTURA CIENTIFICA 209

propagação, ter-se-á o quadro sombrio dos obstáculos quase invendvci que


se levantavam no Brasil à penetração do espírito critico e ci.entffico e difusão
do estudo das ci.bJcias de observação.
Nesse largo período de obscurantismo interrompido apenas pelo ra gão
luminoso que nele abriu a administração do príncipe flamengo, as discu
estéreis, de um preciosismo até o ridículo, em que se debulhava a intdig&lcia
nas academia literárias, não deixavam Jogar ao espírito objetivo e ao
exame cerrado das id~as e dos fatos. A natureza, na variedade de suas pai-
sagens e de us aspectos, era antes uma fôrça selvagem, desafiando a audâcia
de aventureiros e exploradores, um espetácuJo com que se entretinham os poetas
e os letrados ou um trampolim donde a imaginação mística se lançava para o
infinito; raramente s abria aos olhos dos brasileiros, despertando-lhes a curio-
sidade científica, como um campo inesgotável de observação. Para dezenas
de academias literárias que se sucederam, nâ Colônia, não se encontra até 1770,
uma só academia de ci@ncias:a primeira~ dêsse gênero, a Academia Chentffica,
que se fundou cm 1771 no Rio de Janeiro, três anos depois da reforma da Uni-
versidade de Coimbra pelo Marquês de POMBAL,teve duração efêmera (1771-
1779), e, reduzida a sua atividade à criação de um horto botânico, no Morro
do Castelo, a algumas iniciativas de interêsse prâtico e ao intercâmbio com
as academias estrangeiras, não exerceu nenhuma influência na evolução do
pensamento nacional. Embora se propusesse aos estudos de cietlcia pura e
de ci&lcia aplicada, congregando, no mesmo grêmio, os que pr tendiam de-
dicar- e à fisica, à química e à história natural, como os que se consagravam
à medicina, ci.rur ·a à farmácia e à agricultura, a Academia Científica, ins-
tituída pelo vice- i Marques de LAVRADro, 6 -precursora da Academia Na-
cional de Medicina e da Academia Brasileira de Ciências, não encontrou na
variedade de s u.s objetivos nem na amplitude de seu plano de ação, clement
suficientes para assegurar a continuidade de sua existmcia e us progressos.
Ainda estudante cm Coimbra, Sn.vA ALVAllNGA, de Vila Rica, que recebera
em Portugal a impr ssão da corrente de idéias novas, füstiga, na sua sãtira
O desertor das letra , os velhos mêtodos de ensino seguidos na Universidade
antes da reforma pomba,lina; de volta ao Brasil, a que trouxe o gõsto pela d-
ência, funda uma sociedade científica que teve também curta duração e r urge
mais tarde, em 1786, restaurada pelo poeta e com a aprovação do Vice-rei Lufs
DE VASCONCELOS, sob o nome de Sociedade ·Literária, do Rio de Janeiro ...
Nas suas linhas esquemáticas, a cultura colonial, estratificada em f6rmulas
rígfdas, mantinha um clíma de todo desfavorável a qualquer movimento de
interesse pelas ciências; o que não era de surpreender quando mesmo na Me-
trópole, em que as reformas de ensino promovidas pelo ministro de D. Josif
produziram uma verdadeira revolução, as ciências naturaiB, mal vistas ainda,
cceram como que bastardas a quem a generosidade e a clemência de POMBAL
tinham dado morada e agasalho naquele arrogante morgado literário que as-
sentara em Coimbra o u solar. Eram ciências de plebeus e quase desconhe-
cidas por ad idiças e carecentes de costado genealógico .7 Mas uma pleiade
de brasileiros que tudavam em Coimbra, por essa época. entre 1768 e 788,
e respiravam uma nova atmosfera cultural. foi a primeira a beneficiar do
ensino na Universidade, reorganizada, em 1768, por POMBALque acrescentou
ao progTama do curso a história natural e as .matemáticas, estabeleceu um ob
vat6rio criou laboratórios e museus e "reconheceu à ciência a ua dignidade
•no ensino".

O V.uoraAOut rv, ....... ,•~ de P6ro> Squro), Hist6ri1t Geral do Brull - &llt de açlo e
iDclepcodencla Portu "1 -. 3.• ecL ll>tellnl Comp&llhia. Mêlbon.meatoa de Slo Paulo, •• d.
7 ln Jut.lANO MOUlllA, O pro#,ri,no dAa ci4miia11 .no Br,uil.. ln "Anaia"' a B bllc>l..ia N• onal,
1913, vol. XX.XV, Rio de Judro, UllCi.

-l4-
:no A CULT-URA BRA SJLEIRA

Se no alvorecer do século XVIII avulta em Portugal a figura singular


de um brasileiro, o Pe. l3ARTOLOMEU LOURENÇO que se arroja acima de seu
meio às primeiras experiências do aernstato a quem a justiç assegura, nos
anais do progresso científico, um lugar entre os antecipadoTea imortais da
avi -o, surgem, a partir de 1115, no crepúsculo d êculo, um geógrafo
con um.ado LACERDA lt ALMEIDA, um CoNCEJÇÃO VELOSO um ALEXANDRE
RODRJGUES FERREIRA, grandes naturalistas, e um mineralogista do valor de
Jo t BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA, ''o maior e o mais culto dos brasileiros
de u tempo". o primeiro, FRANCISCO Jos.lf DE LACERDA E ALMEIDA (São
Paulo, 1750 formado em Coimbra, por volta de 1776, embrenha- pelos sertões,
ao regr ssar ao Brasil, "varando o território de oeste para I ste, de um galho
meridional do Amazonas e através do sistema hidrográfico Paraguai-Paranã",
e determinando as coordenadas de centenas de localidades; embarca em 1790
para Lisboa com a-s i;nem6rias e mapas que devia apresentar à Academia Real
de Ciencias e parte, em 1796, em missão geográfica às colônias da Ãfrica Por-
uguêsa, onde o colheu a morte, em outubro de 1798, depois de ter ultrapas-
sado o alto Zambese, em demanda da região central do continente africano.
No seu Didrio da via4em de Moçambique para os rio de Sena, editado
ômente cm 1936, descreve-nos com uma grande riqueza de dados e observações,
a empr sa grandiosa em que sucumbiu e que foi tentada pela expedição de que
fazia parte, quase um século antes das gloriosas explorações (1871) de LEVINGS-
TO E e STANLE POOL, às mais altas nascentes do rio ilo. Mas, ' da reforma
pombalina o maior lucro para o Brasil além dos Andradas, foi, no parecer de
JULIANO MOREIRA, o ter produzido o naturalista ALEXANDRE RODRIGUES
FERREIRA(Bahia, 1756-Lisboa, 1815), médico baiano que viera ao Brasil,
encarregado de arrolar as riquezas naturais do país, tendo desembarcado em
Belém, em 1783 e que, pelas suas explorações científica na Amaz6nia e pelos
us notãveis trabalhos, sobretudo nos dominios da botânica e da zoologia,
mereceu ser chamado o "HumboJdt brasileiro". Autor da Via em filo ótica,
ilus ada por desenhos coloridos, e de mais de uma e ntena de livros e memó-
rias a hoje in ditos, passou pela amargura não s6 de saber que nao seriam pu-
blicados como ainda de ver requisitados pelo General ]UNOT, em 1808, a pedido
de GEOPFROY DE SAINT-HILAIRE, os seus originais e desenhos e suas preciosas
coleções de história natural que foram transportados do museu da Ajuda para
o de Paris, e de que se aproveitou o naturalista francês, a,poiando suas pesquisas,
nos trabalhos do grande naturalista brasileiro. Não s reduziu ao material
colecionado por ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA o e p61io de que, munido
de ordens oficiais. se apoderou G. DE SAINT-HILAIRE, em Portu al, por ocasião
da invasão das tropas francesas: a 29 de agôsto de 1808 na me mas ge em que se
fêz transportar Imprensa Régia de Lisboa, levou coo ·go 5S4 chapas pCTtencen-
tc notável Flora Fluminense, de Frei JOSÉ MARIANO DA CoNC.EIÇAO VELOSO
ina , 1742-1811), vítima, como o naturalista baiano, "da incompreensão
do meio em que viveram", escreve ARTUR NEIVA. e da inaudita usorp &ão que
lhes fiz am bios de tão grande valor".S Do bra ilciros que estudaram na
Universidade de Coimbra, reformada pelo Marquês de Po.MBAL,o maior de
todo . José BoNIFÁCIO, urineralogista no ável, "o portugu ANDRADA" que
BRuEm menciona entre sábios de reputação universal, companheiros d H
BOLDT, d volveu intensa atividade cientifica, em paí europeus, publicou
mem6ria s6bre as minas de Portugal e regeu a cadeira de me alurgia da Uni-

Vede 116brco eminente íradc franciseapo. Frei Jo MAtu.Ho D,. CoNCltl o VIILOID,• memória publi-
cadann I per J il ~fflL\ D,. GAMAna "Revitta" do ln1titulo Hitl6rlco, e o ieftl tudo d.e Toiú.l
Bo OlllllU, cdltedo tob o dtulo Frade• Ns.turali•taa, DIU "Voz da Pctr6polla", 1919.
,.
________________________
__________ A CULTU~A CIENTtPICA
......;; ..:..:,:_
211

vcni_dade de Coimbra;• de volta porém, ao BrasiJ, a política agitada do empo


o arreba ou s ciência , a cujos progressos ninguém melhor podia ervir para
fazer d le um dos grandes construtores da nação.
:t, porém, com a instalação da côrte portuguêsa no Brasil que se inicia
propriamente a his 6ria de nossa cultura de que não e encontram, té ssa
tpoca, cnio manife tações esporádicas de figuras excepcionais, formad em
Portugal e sob influências estrangeiras, no século XVIll, e enviadas, algumas,
! ao Brasil como funcionários da coroa, para estudos e obs rvaçõe de car er
científico, A prim ira m dida, de alcance não só com rcial e polítko, mas
cultural, tomada por D. JOÃO VI, foi sem dúvida, a abertura dos por os da
Colônia às naçoes estrang iras: sob a inspiração do Visconde d CAIRU qu
. conheceu na Bahi , o Príncipe Regente, ao desembarcar em Salvador, as inou
o decreto de 28 de fev r ko de 1808, franqueando os portos do Brasil à nave-
gação e ao comércio exterior, e, em conseqüência, facilitando as no sas rclaçõe
intelectuais com os países europeus e rasgando canais por ond pudessem pe-
netfar e exercer-se as influências de culturas diferentes. ~ssc ato já bastaria
para revestir de importância, ainda do ponto de vista da cultur nacional, a
chegada de D. JoÃo Vl que havia de abrir novos horizonte à vida do paí ,
sob todos os seus aspectos. Mas não foi só. Ê ainda na administraç-o de
D. JOÃO VI (1808-1821) que surgiram as primeiras instituições de caráter cul-
tural, como en re outras, a Imprensa Régia, a Biblioteca Pública, o Re I Horto,
mais tarde, em 1819, denominado Real Jardim Botânico, e o M s u Re 1,
além da prim ira col s superiores destinadas à formação de cirurgiõ e
de en enheiro militares. Ao rei de Portugal cabe a glória de er a ntado
a pedra angu ar de grandes ins i uições, como a Biblioteca acional e o Museu
acional, criado sob o título 9c Museu Real por decreto d 6 de junho de 1818,
e das e col s de ensino sup ·or proüssional, com a fundaç-o da E cola de Ci-
rur&ia,da B hia. in t.ituída por Carta Régia de 18 de fevereiro de 1808 e rans-
.. formáda, em 1 15, no colégio médico-cirúrgico; da Academia M ico-Cirúrgica,
criada por decre o de 1. de abril de 18)3 e da Academia Mi iLar d que rcsul ou,
e~ 1858, por transformações ucessivas, a Escola Cen ai do io de Jan iro.
Nã9 s pode dizer que D. JoÃo VI, com tôdas essas magnifica iniciativas,
_.tpnha inau urado calculadamente uma política de deslocação cultural, trans-
' 1'frin<lo para o prime·ro plano o ensino das ciências quase inteiramen e desco-
•111iecidas,e dando ao conõmico e ao técnico a primazia sõpre o lit r rio. O que

9 A., 3nto1, 17071 pebs dfoci•• nntur•b m1n (c1l6'0ITI·••• l!>IIOút


l11lcio, o mandi,u pn.ra cuca.u- ü Fac ,: ltm <JOcur •o h1tld1c1>,
rr.!lücnt cm ""' .. "~ t.>c-olM. N li ta Mtldtu~IU o Õttu
pe cu cun_:, e Já e.nl>'• 11. p,u de C1E11 ·I , cm l,I bo .
e e ti;,, prin~ip11a ccntr<I'! e !11rop , cum o obítllYll
de cia naquele rcmpo. Em Pano, ouvi,r, cntrc r P't L
ir: , [um.h-=.! da .-n,ne,rel cr ,, p ria
as. e ?-1,r:i,;.apr1:'nJeu ,!_R, dador
írru ~a.li :. IJ ". De
LOT, rui fam r u nunai do 'rirol,
Üê O&.TA, O l.DY~Q\Qf'" Ja
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,10. •Clr. Euc1.,0BS D CUNW., À mar om
U 9U~
212 A CULTUliA BRASILEIRA

antes de tudo, visava diretamente o rei de Portugal, criando essas escolas e


instituiç- , era aparelhar a Colônia em que instalava a sede da monarquia,
não só de cirurgiões e engenheiros, indispensáveis à defesa atútâria e militar,
e que já não podiam vir da Metrópole, como ambém de instituições com que
pude transformar a grande aldeia do Rio de Janeiro oa oova capital do ím-
pério português. Mas, certamente, deu grande impuJ que podia ser defini-
tivo, e e ornou transitório, sob a pressão de várias causas, entre as quais não
foi a menor a ação prolongada de acontecimento po te-riores, desviando para
as questões de ordem e de segurança os principais cuidados do govêmo, desde
as lutas pela independência nacional até os com~os do guodo Império.
T as as reformas empreendidas por D. JoÃo VI, - o criador de ins-
tituições no Brasil, não foram, de fato, suficientes para operarem transformações
profundas na mentalidade colonial do país, que continuava a viver uma vida
isõnoma em tõmo de velhos focos de cultura. A instrução que se ministra nos
colégios, mantém, pelo geral, um caráter estritamente literário, e a rêde escassa,
cujas malhas, na urdidura do sistema escolar em formação, ão constituídas
p las instituiçõe de ensino médio (colégios ou aulas), quase tôdas dirigi~s •
ainda por padres, não colhe, no litoral e no planalto, senão um pequeno número
de candidatos à Academia Militar, às escolas médico.cirúrgicas e, mais tarde,
depois de 1827, às de direito. Tôda a educação, montada b se dê!ssescursos,
nos colégios, em seminários e à sombra dos conventos, ~ ainda uma fôrça cen-
trtpeta que atrai o homem para um foco absorvente, - a literatura, a eloqüência
e a erudição. As novas instituições, isoladas e disper~. que passaram, no
tempo de D. JoÃo VI a constituir a superestrutura do istema cultural, vaci-
lavam, em raízes profundas, nessa organização em que nada se criou para
atacar reformas pela base, arrancando-no as preocupações de no sa educação
literâria, e pata fazer inílec ir a cultura na dir~-o dos estudo filosófícos e
científicos. 11 ão há nada mais ilustre que o matemá ·co gregos, podíamos
dizer com CiCERO (Tusculanas, VIII, 6). Mas n6s temos limitado nossos
tudos à utilidade da medida e do cálculo. Ao contrário, dedicamo-nos muito
cedo à eloqüência; para nós, um homem não é um sábio em primeiro lugar e
um orador em seguida; a dência não vem senão em segundo lugar". 1tsse
contra te entre o pensamento crítico e desint re sado retórica do latim con-
tinua a dominar tôda a história da nossa cultura, sôbre a qual, por essa época
ainda se projetava a influência sombria do século de seiscentos, na pení~sul-â
ibêric , em que, nas expressões de ANTERODE QUENTAL,"a uma g r1:1ç'ãóde
filósofos, de sábios e artistas criadores sucede a tribo vulgar do eruditos sem
critica, dos acadêmicos, dos imitadores". Não tiveram, porisso, repercussã9
alguma as instruções escritas por JosÉ BONlPÁCtO e enviadas pela junta de
São Paulo, a 9 de outubro de 182-1, aos deputados paulistas eleitos para as
côr de Lisboa, sugerindo-lhes, entre outras medidas, as de reorganização do
en ino ecundário e superior e a criação de uma universidade em São Paulo,
com uma faculdade de filosofia, em que as ciências física e na urais e as ma-
temáticas puras e aplicadas começariam a fazer parte obriga 6ria do plano de
tudos na vida do ensino nacional. A cadeira de física s6 foi criada em 1832,
nas faculdades médicas, - os dois centros em que essa ciência começou a ser
ensinada, e, apesar de abertos os portos do Brasil por D. JOÃO VI, em 1808,
e franqueada por D. PEDRO I, em 1821J a entrada do liVTo, a penetração das
obras de ci ncias processou-se lentamente e com grande atra sôbre a rápida
inva ão das letras estrangeiras, importadas sobretudo da França: o romantismo
não tardaria a suscitar, até a agitação, um movimen o intelectual que nem o
pen amcnto científico nem o espírito critico jamais produziram no mesmo
A CULTURA CIENT1FICA 213

grau e da mesma maneira, durante todo o século. Em lugar de uma faculdade


de filosofia e de cibtcias, de acõrdo com as antigas sugestões de JosJfBo 1r.<c101
a geração de espírito jurídico, formada em Coimbra, que ccuara tradi~
pré-pombalinas, e mais pre.ocupada cm dar estrutura política e jurídica à nação,
criava cm 1827 com as Faculdades de Direito, de São Paulo e de Olinda, os
dois focos de jurisconsultos e advogados, oradores e homens de gov mo.
No entanto, a criação do Museu Real, do Jardim Bo ânico e da facul-
dades médicas devia estimular o desenvolvimento dos estudos de bo ânica e
de ;zoologia: o mundo tropical, com a sua extraordinária riqueza cm espécies
vegetais e animais, abrindo-se como um vastíssimo campo de observação, n~o
podiJ afinal deixar de atrair a atenção dos fitologistas do país e do estrangeiro.
Foi, de fato, pelas ciEncias naturais que começou a nossa cultura cientmca:
e em nenhum outro domfnio surgiu no Brasil maior número de pesquisadores,
nem adquiriram maior importância as contribuições de brasileiros aos p.ro•
grc:sso9 dos estudos científicos. Mas, para isto devem ter concorrido não sõ-
~te a imensa riqueza de nossas matas e de nossos campos em espécies vegetais,
• poderoso incentivo de numerosos naturalistas estrangeiros que, atraídos
~ t6da a parte pela nossa natureza, percorreram o Brasil em tôdas as direções,
fomentado o interêsse por essas pesquisas, com:> também a criação do Museu
Real 1º e das cadeiras de botânfoa, e o próprio caráter da história natural, que,
tendo como primeiro objeto observar os sêres- vivos, descrevê-los e classifi -los,
é de tõdas a ci!ncias a mais accs.!ível e a que, impondo o mesmo rigor de ob-
SCt'Vaçãoe a mesma exatidão na análise dos fatos., não exige o mesmo esfôrço
intelectual, o mesmo poder de raciocínio e a mesma capacidad de espírito
criador e de abstraç.ão. "A história natu_ral, principalmente em sua p e si •
temática escreve MIGUEL OSÓRIODE ALM&ID-', 11 exigindo tão pouco da facul-
dade de raciodnio, E uma das ciências mais ao alcance dos que, sem ter, por
falta de vocação ou de instrução geral, altas capacidades de acompanhar idéia

10 O MllNV Real, bole Mu .. u Na-4Dna.1.foi uma d•• i.,jda.tiv•• de O. Jo,lo VI que o n.ind J, ...,,. docrel'O
dl' li de Junho de llll. 1111cotlo de To-il A"1'6HIO DC ·v,u.NOV'I Pouuo .. i.. Ja QI) lllD XVJU, o. LIJII
DS.\'AICOHC& 12.• VI m do Bra 1 (1779-1790, havia fundado• Cua dJII H1 tõno Natur&I que•• tomw
mal co odd11 pelo nDmc de C.n d Ph,aroa e t.cve curta dureçã:,. O Mueeu R'°'al foi ln talado primitivt.m nte
no prfdlo hoje ocupad"I !>(.lo Ar(!Ulvo N11clonal no CamPO de Saat•n•, com o mltcrlal of~ccl'.lo pelo pr6l>rlo
D. Jolo VI e conatituldo de objeto, de arte, de uma coleção d<equadros e outr1, de mlr1cralocl1, comprada •
il"slllf•it, o lblo pl'or.,.,or d l"rcybcn, com o qual ct1tudou Jost Bom,,1.c,o. Mei, tarde, em 1813, • coleçlo
'Jnlhwal6f.lc• que POt 111•Jod BOl'IPkJo, foi lnao<oorada ao Mu•eu Nacboal, nrlQu cfdo, em ■ n •C111ulnt1,
com~~ col~ de 1ool0tth1, ofertada r,()t' naturalis~u "11lrang~ir01em excursfto pelo Br• li, como LolNQIPOR,,,
NA:rl••·• VOT< IDI.LCIW, • qu n, o mi~l•tro de D, P1101to I diri~ira um ■ pll) para que •u~llla1,cm o mu,ou
em tOMIIÍ.çlo, Em mudo, do ■ kuJo XfX, o Muacu Nocional a qucc, por aqui,irlo, p,,rmuta 011do~ç~o, vieram
a,Junw•M n0Ya1 eo\cç mlnrnl1, botAnka■ e .cool61(ica , J4 cu con,id•ndo o mal, importante da "merlca do
au1:e • ,ua blbliottt•, rund,da na admlnl~trac;Io de Cthu Bu111.A1,..ou1 0847-18601 1 1 lnlcllva com ctfc•
• S mil volum , para to,n,r, n nn, do tfculo XIX, urruo dq m•í• rlcl\1 em obr■ 1 reí rentn •• cl n~IH
aa...,.i._ Pela dlr~Jo do mu~u pe,..ram homcna do v1lor de. Frei Cusr6010 At.va:1 S tUlÃO 11878· 18471, •
que " dtve • primei<■ importaote re~ da Muuu, pelo Rco:. de l de fN~ro de 11142:PII 111.a ALtMÃO
UIN-J,.1741, ■ u 11i■do POI' l..\O1S1.AU Nno qu lhe 1.ictdw n• dircçao, e, m ■ I, rttentement , BATlffA LACSIIDA
fl!9s-;U15l, - outro v•nd reformado,, B■uHo Ulao, A11Tu1t N11vA e RoQu.a:n PINTO. N■ ua l<>nR••
.fttuàdi■ •.drnl~lwaçlo 0874-18931, L"o~AU f'JsTo r<en lnlri,tivu de prlmeir ■ ordem, como •• c011fertnci- ■
p6bllcq, anill'Uld ■I multa• v com • pu:1mç,, do lml>C"■ dor, ■ publkaç.'lo A,-qulvo, do u u Naclon■ I,
-rrvl•tacrt.d ■ pe.lod ad 28d março&hlS76eeojo5.•volum,del l,fcon u■<fo F/o,aP/umnu,..,,
de.Fr CoNCIIÇÃO Vno , - • r cio do Laboratório de Fi,iolOl'ia lhperimrotAI. cm que (oram feita
JXI" Louu CoUHf T e BA'YQT'ILACSRO ■ 1 primriru ~hl~ .. de fi ·-,1asJ■ na Amtn o Sul. O líldo
do u..w Na lonal, t ■I ■ o d 1192, Do anri o p11lkio impcru,I d■ Quinta d■ BOI Vhta, í , em 1927, r •
modelado• ampl o de r 1ada1tt, 11a■dmin"nrac;lo de ROQuns Puno (I02fi.19J$) ,.ue m 1931 in •
~ u novu ra f c-o,n qu • tnd cl01111lln ·tu cio "•larg.ou o oeu campo de attvidllde na paq , oo
recoohedimnto e n■ d vuJ ■çAD da a1ture ", mtl~ dividido em 9 dqJvt■ mcs>t ~ 1 , ou
S ; l Mlntt•IORi• e 0<"0pe:IN)&ra : lturaripfuo e Palc=tolDVía, ■ dir~ode A, Bnuc P4tl 14KJ;;
2) Botl<rica, d dJvl , • ca,ao do Ptol. AL.-&Rto 5.ulPAID: li Zoo!Oltil I br■d •e lnv ttbrad l, b
• ttrpODM füda de MIJlAH'IIA RrstlllO. 41 A11uopol....la e Ernoenr ... sob a cJi~o de HuolN. T
hoje d~tora do M u; SI a d H 1! Natunl, criada par ROQIJEtt PtHTO, que ~"° t. arlvid
oeot1nc .. do Mu u • funçlo edue11riva, •P""clhande>-o l)IU1l ao um iNtr11mcnto di de edu~a. (Cfr, PAl/\.0
Roou 1', O Nu ., li• ·onal • a educ•~o br••ilelr•. ln "Jon,aJ do Com&cio'', o de J~o. 10 e 11
de Julho ae J 933),
li M1ouu. Ot61110 011 l.,.IIDA, A msntali ade cientír.ea no Bruit. Coa( fnda pr,ffllnt • DO
.tio Gobce do "Jornal do Co111 e o", Rlo de J Dciro. 215de egõ,to de I910. ln "l"Gl!a• M -Jlca", ,, u crobro,
U20).
214 A CULTURA BRASILEIRA

abstratas, são dotados de um grande amor pela ci~cia e de um sincero desejo


de serví-la". A tradição, iniciada nos fins do culo XVIII p os dois emi-
nent na alistas brasileiros, - o frade mineiro Jost IA.NO DA CONCEIÇÃO
VELOSO e o médico baiano ALEXANDRE RODR1Gt1ES FERREIRA -, e pelo parai-
ano MANuEL DE ARRUDA CÂMARA (1752-1810) autor da Centúrias Per-
nambucanas, é reatada por uma plêiade de bo Anicosde primeira ordem, como
Frei LEANDRO DO SACRAMENTO (1779-1829), frade pernambucano, que intro-
duziu o ensino da botânica no Brasil e deu or anização científica o Jardim
Botânico; Frei CUSTÓDIO ALVESSERRÃO,diretor do Museu Imperial, de 1828
a 1847; o conselheiro FRANCISCO FREIRE ALEMÃO, m re de botânica na Es-
cola de Medicina e "o maior botânico da Am~rica do Sul", que também dirigiu
o Museu Nacional, desde 1866 até a sua morte, em 1874, e JOÃO BARBOSA Ro-
DRlOUEB, - o mais notãvel botânico que o Brasil pos uiu, depois de FREIRE
ALEMÃO, - diretor do Jardim Botânico, desde 1889 até a .sua morte em 1909,
e autor do Sertum Palma.rum, obra monumental em 2 vols. in folio, a que
deve a sua reputação científica nos estudos de sua especialidade, no domínio
botânico. Se, entre brasileiros, estas são as figuras que culminaram, nas in-
vestigações científicas sôbre a nossa flora, em que atingiram uma autoridade
indi putável um FREIRE ALEMÃO e um BARBOSA RODRIGUES, muitos outros
se destacaram, na fitologia brasileira, como, para ci ar a enas alguns nomes de
mais rei vo, ]OAQUlM MONTEIRO CAMINHoÁ(Bahia 183 1896), autor de uma
gTande Botânica médica e geral (1877); SALDANHA DA GAMA (1839-1905);
KUHL Á O nosso maior especialista effi gramineas; ADOLFO DUCKE; ÃLVARO
J

DA STLVEIRA, que escreveu A flora e as serras mineira 1908) e FR. HoEmra,


direto, do Horto Osvaldo Cruz em Butant.ã e da estação florestal do Alto da
Serra, cm São Paulo, e com um ativo, como nos lembra ARTUR EIVA, de mais
de 100 cies novas descritas.
No domínio da zoologia, se os progressos nao foram tão notáveis como
no campo igualmente vasto da botânica, não faltaram brasileiros que o ilus-
traram com pesquisas originais em quase todos os seus departamentos. Na
rim ·ra. metade do século passado, escreve ARTURNErvA 'entre os que mais
rabalharam sõbre botânica e zoologia do Brasil, particularmente do Pará e
do Maranhão, figura ANTÔNIO CORREIA D& LACERDA, autor de volwnosa e
importante produção que deixou inêdita e cujos originais estão em grande
parte guardados na Biblioteca Nacional". Nêle se otronca uma linhagem de
inve tigadores eminentes, entre os quais se destacam, ao primeiro exame, CARLOS
MOREIRA, um dos nossos maiores zoólogos e o nosso maior especialista em
crustáceos; ADoLFO LUTZ (1855-1940), que trouxe contribuições valiosas tanto
no dommio da zoologia pura como no da zoologia médica, elucidando prob1emas
relativos à sistemãtica dos insetos e à biologia de vâri03 grupo ; RODOLFO VON
IIJERING, qu publicou a Fauna do Bra il e o Dicionário da Fauna do Brasil,
- o único dicionário de zoologia que possuúno ; e, mais recentemente, C. MELO
LEITÃO, do Mus u acionàl, com importantes trabalhos originais sõbr arac-
nídeos, e O. DE OLIVEIRA PI:Nro, ornitologista, hoje direto, do Departamento
de Zoologia, de São Paulo. Dos zoólogos nascidos no Brasil, talvez o maior
de odos ALb>Io MIRANDA RIBEIRO, icti6logo consumado e um dos compa-
nheiros de RoNDON, "tem perlustrado quase todos o campos da zoologia,
sempre com o mesmo brilho, e percorrido quase todo o pais em excursões cien-
tífica ". 12 A parte, porém. que, no desenvolvimento d e tudos tiveram

l2 V!dc b l.eral da fauna brallll6ita, por ALfl,10 MrRA A ...atllo. ln "Rcc=-m.cnto do


rull" (I.• de e.ctembro de 1922), volume L lJltrodu~io, p . 233-275, Rlo de ]11.11dro,Tlp. dJIBatadnica, 1922.
A CULTURA CIENTlFICA 21$

os Qaturalistas estrangeiros que viveram entre n6s, é verdadeiramente notável;


e, se algum reparo e pode fazer a êsses pesquisadores. que tão grandes crviços
prestaram à causa d ci~cia, é o de não se terem esforçado por criar escola e
fazer disdpulos. Entr os colaboradores estrangeiros que e dedicaram aos
estudos da flora e da fauna do país, avultam, pelas suas contribuições originai
TEoDORO P'RcKOLT echem, 1822), vindo para o Brasil em 1847 e condeco-
rado por D. PEDRO II, por seus serviços no domínio da bo ânica: C. A. Gm•
LHERME SCHWACKE {Alfeld, 1848-1904) que percorreu, de 1873 a 1891, diversos
Estados do norte e do sul, e professou desde 1891 o curso de botânica na Escola
Farmâcia, de Ouro Preto: EMfuo GOE:t.DI, fundador do Museu Paraense, hoje
Mueeu Goeldi, e autor de O mamíferos do Brasil, (1893)e de Aves do Brasil;
HERMANN VON IRERJNG(Kiel, 1850), fundador do Museu Paulista de que foi
diretor desde 1894 até 1915, e que, realizando -pesquisas em todos os campos
da zoologia, se tomou, na sua especialidade (moluscos), "uma das maiores
autoridades do mundo"; A. F. MARIE GLAZIOU (França, 1833) que viveu entre
~s 34 anos (1861-1895), construtor do Jardim da Aclimação, da Quinta da
Soa Vista e do Passeio Público, e botânico da Comissão Cruls do planalto,
de cuja coleção (22 770 exemplares de nossa flora) figura uma parte no Museu
Nacional (herbário Glaziou); ALBERTO LOEFGREN (Estocolmo, 1854-1918),
vindo para o Brasil em 1874, botânico, durante 15 anos d.a Comissão Geográ-
fica e Geol6gica de São Pauto, mais tarde, da de Obras Contra secas e um dos
colaboradores de PACHE-CO LEÃO; e, sobretudo, pela competência e pelos ser-
viços em que ninguém o rivalizou, FRITZ MOLLER,o mais notável observador
de nossa naturcza, 11 "o príncipe dos observadores", no conceito de DARWt ,
e, certamente um dos maiores naturalistas do século.
A semen e, lançada nesse campo de estudos, germinou; e. se ainda nos
faltam grandes aquários, jardins e estações zool6gicas, a que nunca soubemos
dar organização adequada, jâ dispomos de jardins botânicos e hortos ílorcstais,
além de mu us, aparelhados de esplêndidas coleções e cada vez mais adap-
tados à função que lhes cabe. como centros de pesquisas, de promover os pro-
gressos das ci~ncias naturais. Mas, na história dêsses trabalhos desenvolvidos
por brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil, para o conhecimento da ,flora
e da fauna do pais. não ~ possível esquecer a extraordinária contribuição tra-
zida, desde os começos do século XlX, por naturalistas estrangeiros, obretudo
alemães, inglêses e franceses, que, isoladamente ou em expedições científicas,
substituíram o missionário e o bandeirBl}.teno desvendar a terra e as nossas
riquezas naturais. "Eram, escreve EucLWES DACUNHA,uns nomes estranhos,

18 De tod0t .,. n.tunU,ta tnn1droe que ~ rumna.m110 Brull, aeiihwa, com eídto, bttJcff •
hff% ~. na equt11nça d mttodca de anA!lae, no pod..- qwuc i1Utintivo ele o ~o d0t r.cc.,e oa
í6rç,a criadon de ~taçSo. Vindo pua o &uil, em virtudo: do movimento de 1&42 e apena, com 30 a1100.
o jovem rmdlco e t:unli ta alelDlo f"Ulourcaid~ de.de 1852 no mwd pio d,: Blu.m 11( ta Catarina),
Ollde mo a fal , em 1 97, tendo rivldo em ternu bruilmu 4S auoo e. portallto, q mdo lkw!l. Nat11-
ra&ta Yiajantt, do li N oa.&I, um de - mm illDt!'CS cohbnradoc-a, enqllAll.to d. • a,onarqwa,
íol dílpcnMdo de tuncila, allb ~mm~ rcmUDenid em 1&90,1c,god pau que ~ • Rq,6blltt,
ej, com ctrca de •- de l d~ e 11.0 pah. O, primeiros v.li dia,, ct.o'""I ' llld(cCA•
íaram trui o ..aJe amal6nico pua o M u Nacioaal p:r ~ Pn.1 e pelo b1o a1e:r:n1o.Batr, • u
.,... cootri • d , - du mala !a,port,aDt.., .mão a lllllkr, foi• dC1100oai:., - pQ: dti ao 4.•
Yal doe AtqulVOI do II N•~I. cm 1&81, - de um cnut:ir:<o "de -nho dlmlnu o, uma félnn ■
c:uri... -, BJpldiu.m brom li•r,un, d 'ta de ae:mp!Are,i .,.,.llí4ão nas,._. da br <Ili crr,atn".
Dmcobriciar d.a 1d Ofttocec> ou do ne•pltulaçAo, a que depois BA&CCL chamou. a lel flmda.mmOII da b O•
lfll!tfca. dd'Old h:ln: MO'u.&a a doutrina de DA.IIWIIIno 11e1>fam liwo FD.r D~in (1864, - OI d
meotoa que colhn no Bn em unu -6bn ~ Publicou em 1&79 ou llwo qu . toa
vivoe ckba no mundo clmtlr.co. -" notbd cuo de mimetiDJ:lOcntrc borboldu (tu.a,a Tb,Vrldla". em
que cooteata, cm parte, a t&«ia ck BATU bft lftÍUletiamo (nümeuy), i~ 110c,.11de natural ta ln lb
)ldOt \wi0t .&bre borbol a1'4U6nica,,. OUWIM chamou-lhe "priodpe doo oat°'ali " HA&CUL,
que Ih aacv•u a b o,p-afia, o c:onaid..-a um bcr6l d• ci~ em virtude de ■boepçlo ~-1 e de eu ca·
pinto de aaaifldo que o ,~.,..m • r _,., num ruco de nobcea mllt'llL Cll oe patos l ua dl ~ por
IUllll tubllcriç;lo Wllvenal aberta pdu eodeda:lea cletatfficM com o fim de ~m o va,ide dblo.
216 A CULTURA BRASILEIRA

- MAWE, KOSTER, WATERTON ... - batedores de outros mais ilustres, na~


cionalizados todos entre nós pelo carinho com que olharam para uma natureza
portentosa' . Entre êsses elei os que, nas expressões de EUCLIDES DA CUNHA,
"saltavam em um ponto qualquer da costa e iam descerrar as opulências de
uma natureza sem par, - imensa página da história natural que n o sabíamos
ler",u o maior de todos. MAR.Trus(1794-1868), que viajou, acompanhado de
SPIX, na comitiva nupcial da princesa LEOPOLDINA, chegou, cm 15 de julho de
1817, à cidade do Rio de Janeiro. ~sses dois jovens naturalistas bavaros,
- MARrrus, médico e botânico, e SPoc, zoólogo, haviam ido inclicados pelo
rei da Baviera, para fazerem parte da expedição científica, que e incorporou
cm Viena da Áustria à comitiva real da Arquiduquesa, que contratara casa-
men o com D. PEDRO, príncipe herdeiro de Portugal e, mais tarde, 1.0 Impe-
rador do Brasil. Em cêrca de 3 anos, êsses dois pioneiros percorreram quase
todo o território do país, palmilhando-o de norte a sul, numa extensão de 4 mil ,
quilômetros, e de leste a oeste, num total de 6 500 quilômetros de percurso,
e realizando um dos mais notáveis trabalhos de estudos e de pesquisas que
registra a história das expedições científicas. O material que o grande botâ-
nico coligiu nessa longa excursão pelo Brasil, ascendia a 300 mil exemplares,
em que figurava uma coleção de 7 mil espécies e variedades vegetais, com as
indicações exatas e acompanhadas de desenhos feitos in loco pelo dois natu-
ralistas. De volta ao seu país quando contava pouco mais de 26 anos, projetou
a publicação de uma grande obra, de que assentara planos em 1825, sôbre
t a a flora dessa parte do continente americano. O fundador da Flora bra•
siliensis, trabalho monumental de que saiu o primeiro fascículo em 1829, e
já segundo novo plano, em 1840, e que levou 66 anos a se publicar cm seus 130
fasdculo , pôde iniciar e adiantar a execução dessa empr grandiosa, em cuja
colabor ção foi necessário o concurso de 67 botânicos e dos pai mais OVl-
1.izado do mundo. Por ocasião de sua morte, em 1868, jã haviam ido impressos
46 fasclculo da atual Flora brasilien is para cuja publicação concorreu
D. p RO DE ALCA.NTARA, filho de D. LEOPOLDINA e que foi levada a êrmo
por E~CHLER(1868-1887) e U.RBAN (1887-1895), seus sucessores no arrojado
empreendimento. Obra fundamental para o estudo da sistemática da botâ-
nica, a Flora de MARTIUS, - "O maior trabalho at~ hoje publicado sôbre fito.
grafia", - abrange nos seus 130 fascículos e 40 volumes in folio, ilustrados
com 3 mil estampas, 20 mil espécies brasileiras descritas, das quais nada menos
de 5 939 ram novas para a ciência.
Mas, antes de MARrms e SPIX já haviam estado no Brasil, em princípios
do século XIX, o sâbio HUMBOLDT e o naturalista alemão, prfncipe de Wrno-
NEUWIED(1782-1867) que, no curto período de dois anos (1815-1817), per-
correra os Estados do Rio, Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais, es udando
principalmente as nossas aves e manúf eros. Parte de seu herb rio, composto
de 650 exemplares, ofcreceu•o a MARTms que chegava ao nosso pafs no mesmo
ano em que o príncipe zoólogo voltava à Europa de ua longa excursão. Da
obra do ilustre naturalista, ornitologista apaixonado, que cscr veu um dos mais
in eressantes livros de viagem (Rei e nach Brasilien, 1820), destaca-se o
trabalho notável cm seis volumes (Beitcâge zur NaturAe chichte von Bra~
i/ien) em que tratou sob critério estritamente cientifico das formas animais
que lhe f6ra dado observar. Seguiram-se mais tarde ou alemães, como
NATTER , que percorreu o país durante 18 anos, colhendo e reunindo grande
material que se encontra no Museu de Viena. Nenhum, entre naturalistas
frene , no é mais caro, pela constante atitude de simpatia pelo Brasil, do

U Bua.mu DA CtnnL\, A mar,em da hiat&,'11. 3.• tdl~, p4 . 2211. Livn.tü Clw\lroa, P6rto, 1922
A CULTURA CIENTfFlCÁ 217

que A. DE SAINT-Hll.AIR.E (1779-1853) que, chegando em 1816, também antes


de MARTIUS,percorreu em 6 anos (1816--1822)c&-ca de 15 mil quilômetro ,
explonmdo bo ãnicameote os Estados do centro e do sul, coligiu abundante
material (cêrca de 7 600 exemplares) para o Museu de Hi 6ria Na ral de
Paris e deixou nos volumes descritivos de suas jornadas um dos documentos
mais preciosos e ricos de informações sôbre fatos de valor cientifico diverso
e s6bre o 6ltirno período de nossa vida colonial. Entre o ingl , do quais
23 nomes de bo Anicos herborizadores e autores de relatos de viagem, ão ci-
tados na Flora. de MARTIUS e 5 botânicos contribuíram com monografia para
&se formidável trabalho, íorarn os primeiros a chegar ao Brasil, nos começos
do século .XIX, o zoólogo SWAINSON (1817-1818), que publicou mais tarde o
seu livro sõbre as aves do Braail; o botânico GEORGE GARDNER (1812-1849)
que percorreu o Brasil do sul ao extremo norte em estudos botânicos. de 1831
a 1846, e dedicou a sua existência curta, mas fecunda, de 37 anos, às investi-
gações cientificas, e CHARLES DARWIN, um dos maiores sábios do século XIX,
que visitou por duas vezes o Brasil, - em 1832, quando a nau Beag/e fundeou
na bafa do Rio de Janeiro, onde permaneceu três meses e, 4 anos mais tarde
(1836), no Recife, por sete dias, já de volta de sua viagem de exploração. O
grupo mais importante de naturalistas britânicos que nos visitaram ~. porém,
o do "ciclo amazônico'', assim chamado por ADOLFODucn, e consti u(do por
ALFRBDRu !LL WAI.LACE e BATES, que vieram juntos ao Brasil cm 1848,
para tentar resolver os problemas ligados à origem das es~cics, e o botânico
RICHARDSPRUCE(1817-1893) que chegou um ano depois de WALLACE,em
1849 e, terminado os seu trabalhos botanicos na Hiléia Amazônica, em 1855,
teguiu para o Equador e o Peru regressando à Inglaterra cm 1864 pelo Pad-
fico. Foi no Brasil que W ALLACE e DARWIN iniciaram a maravilhosa série
de estudos que culminaram na-revolução intelectual produzida pelo livro imortal
Origin oi Specie (1859), de DARWIN, e que BA.TESdescobriu o mime ·smo
(mimecry) animal, estudando as borboletas amazônicas: do material imenso
coligido pelos dois naturalistas no Amazonas e Rio Negro, - e aõmente BATES
reuninl 14 700 espéci animais, das quais 8 nu1 novas e 14 mil insetos-, per-
deram-se as col~ões de WAI.LACE, no incêndio verificado a bordo do navio
em que regre ava ao seu pafs.
Não ficou, porém, circunscrito ao domínio da fauna e da flora ~se cxtra-
ordinârio movimento de inter&sc pelo Brasil que, desde os princípios do século
XIX, despertou a curiosidade dos sábios naturalistas estrangeiros; lo com a

13 A hl.tdrla d1 natur•fütu e det eicpedi~~ cienttneu ao Bra n e de WI contribui~


10 pr09;rcuo d0t cttu ter.a, b tcdoi a. upeelm, ainda e,tl, por e.crcvu e 16 l)ltlmam nl
v•i ud•r«cndo noe e ncatJv01. Alfm de trahalhm e monogr'lfiq e,l)CC!al u.du que tom•nm
por o Jeto llll!UD d , ltm COl\trlbu.ldo, Jnlli.s do que t&i.s a lnlclativaa, para dlvulpr a
hi tória d vla11 &et b'9Alleira, dn obras fundamcutala doa ~i,lorad0<c, e, angclro .
Nlo C$bc•I• n dcmi obn nem o eatudo detalba.do nem mesmo uma I ta complctAI
dos nom~ dte ........ nouo ORiai:om eua vWta e c<mcorreram, com 1uu obru. nlo
16 puatarna, undo civilwldo. """'ºtamb&,, e, . nrlquccu
oa n<>1 con mfnlo d.a nixa, da ra:una e da ceolQgi& ji .., cn,
ccmtram anol • i llmit.ed~ como o dr obrai DCffl de obr111
alanh. de Co aõtw e lo«i-. m!ao:n,logia e pelcontol"lt"', • B{b/lo,,arúi mineral •
..,16,ica do ,ca por MtOU&J. lt.UDJ.f,DOLU804, nos "ÃIUÜ da E.cal• de bf/0,,a(/a
frUica de ROl>Ol.ll'O oe d car te- «'cnl, dr ob<ss 16bre o , mu , t:ri
• tr,aca. dehm)iud lc/onj,io de fHOChiet.o S...ca.uoffl'0 Bu.1E 6 /lfbliol
9.,.,.; J. C , que e tarnou, pda riqueza de.- \mi& o dm:,- d •
'c,a, e e cltlldAI ( CIUOpCUI e ll~,...n, contfm mmcuttr 09 d 2 600)
relati col til011:oosenis de obrQ "6bre o Bruil, o mal o que a m.
blloteca Nadcmal organ.110<1a pubtil'ou, nn I t, por oc»ilo d" uma. CZ)XMÍçlo de hlrt e eTQ q
f«a.m ~CNI drca de tO mil trablllh , n>tre livra., i etc,,.c ~ de<Mltu. O tàloSO d
{bUotlCIJJ lfr6rieo-B,uJt,úra., de At.n:alO Dli CAJno.u.110,cajo ~ovo-
lum o .,..&a Grtf"""°'Edi.t&'a• Rio de Janeü-o, 19'%9). 2 um 400
Em e prlm•it• p•rt• do c,eUI o d-.. obras. distribufdu por óca doe oomtt
d.. o e:nu 1,0-u A. B e e. e contendo cãca de mil obro A p1íb icaçlo,
vol-. da• C u 1Mt'IUacriU1 vendld.u à Biblioteca Naci0tl8!, ~ tudo o qlle .1,,., COID
• ,,.n.,.. colabonçlo de OAIUIOT4VAllU, do lmemo material ncolhido par lt.Ll'UDO l)li Cuv.u.110 que ••·
ral•ra. para o teil proJe d" cat:6I01 , chu de U mil inipreno,, ~ 26 ;diom.u difettnto. (Cf'r. H•no• L1U,
BibUot/#4 udlfoo•br••iloira. ln "Jan:ial d.o Com&cio", Rio de Janeiro, 13 de Janeiro de lll30),
218 A CULTURA BRASILEIRA

vinda de D. Jo-o VI e a abertura dos portos ao comércio exterior, cm 1808.


com que inaugurou o memorável ciclo das viagcn e expedições científicas
ao Brasil, afluíram também, em não pequeno número, gcógTafos, geólogos e
paleontologistu. O g6sto das viagens, notàvelmente descn olvido no século
XIX, o sentimento do exótico e a procma do desconhecido, atraindo de tôda
parte sâbios estrangeiros, fizeram dêsse século um do pcrlodo mais fecundos
cm descobertas e investigações científicas sôbre as riquezas na urais do Brasil.
Iniciados, entre 1810 e 1820, por FELDNER, VARNHAGE e ESCHWEGE, sábios
aJ ães a erviço do govêrno português, os tudos gcol6gicos do solo do Brasil,
a que G. L. VON EscHWEGE trouxe a primeira contribuição importante com
as suas tr!s obras sôbre geologja e mineração, publicadas entre 1822 e 1833,
foram retomados pelos viajantes que percorreram o Brasil desde a Inde-
pendência até meados do segundo Império. Entre outros, D'ORBIGNY (1823-
1833) dirige-se à parte superior de Mato Grosso; em 1841, o dinamarquês
PETER CLAUS!lEN, que residiu por muito tempo en re nós, se e para Minas
Oerais, o belga PARIGOT,para Santa Catarina, e o francês P1ssrs, "que delineia
o nosso primeiro mapa geológico", para Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio;
CASTELNAU (1843-47) elege para suas pesquisas a região do planaltos: e HELM-
RETCHEN (1846), entre os alemães e ALLPORT (1850), entre o inglêses, pros-
eguem, aquêle, em Minas Gerais e este, na Bahia os udos sôbre a estrutura
geológica d nosso erritório. Foi por essa época, entre 1835 e 1844, que PETER
WtumLM LUND (1801-1880) começou a reunir o material, recolhido ao Museu
de Copenhague para a determinação da natureza geológica do planalto, e,
aprovei ando o vasto campo aberto aos estudos õbre fósse:i , no vale do rio
das Velha , realizou a série memorãvel de investigações espeleo16gicas que
deviam consagrá-lo como um dos sábios m8Í$ eminen es no donúnio da pale-
ontologia. O célebre dinamarquês que já havia estado no Brasil, em fins de
1825, e fizera então pesquisas sôbre a flora e a fauna do Rio de Janeiro (daí
o cus primeiros trabalhos sôbre as aves destituJda de papo, os costumes das
formigas e o invólucro dos ovos de moluscos) aca ava de voltar ao nosso país
onde fixou residência em Minas Gerais, e donde nunca mais saiu, depois de ter
abalado o mundo científico com as suas extraordinárias descobertas. Se os
seus importantes trabalhos, no glorioso decênio de suas pesquisas paleontoló-
gicas, pouco adiantaram quanto à estrutura geológica do terreno, conseguiu
PETERLUNDdescobrir, nas explorações de cêrca de 800 grutas e lapas, e entre
estas, a de Maquiné e a do Sumidouro, ossadas humanas, da antiquíssima
raça de Lagoa Santa e restos de animais, em parte extintos, e gigantescos, abran-
gendo nas suas pesquisas, em geral, o estudo de 54 gencros e 114 espécies, a
maior parte dos qu'iis novos para a ciência. Em 25 de maio de 1880 extinguia-se,
no seu retiro de Lagoa Santa, onde viveu 47 anos, um dos maiores sãbios que
jll pisaram nossa terra, o primeiro a desvendar os segredos do mundo pré-bis•
órico brasileiro, e o fundador da paleontologia no Brasil, "já agora entre nós
centenária', graças às suas pesquisas e descobertas.
Nesse o perí o (1822-1865) de- atividades cien 'ficas realizadas no
dommio mioera16gico, zoológico e paleontológico, por estrangeiros cm viagem
pelo Brasil ou residentes em nosso país como o sábio escandinavo, os brasi-
leiro e o eu govêmo permaneciam quase estranhos, como simpl espect:a.
dores, diante d&sc imenso material científico que escoava pelos portos do
pais, e d fluxo e refluxo, do litoral para o interior, de viajantes e expedições.
Os exploradores atraídos por nossa natureza, vinham e voltavam sem despcr•
tarem, cm geral, nas regiões percorridas, senão um movimento de curiosidade,
A CULTURA CIENTIFICA 219

seguido da hospitalidade natural do brasileiro. ''Ninguém os percebia", observa


amargamente EucLmES DA CmmA nem se dispunha a lhes seguir o exemplo.
Entre o brasileiros, por essa época, não trouxeram contribuições à geologia
senão um MANuEL DE SouSA que se internou pelo Amazonas (18 9-1850) e
um PERBtRA CABRAL, que em 1850 realizou trabalhos de pesquisa no Rio Grande
do Sul; e a única expedição brasileira que então se organizou, cm 1857, por
proposta do Instituto Histórico, para a explora~o cientifica das provfn.cias
do norte, e de que fü:eram parte G. RAJA GABAOLIA, GoNÇALVES DIAS, Scm.,ce
CAPANEMA, FREIRE Ar. ÃO e ClfsAR BURLAMAQUI, teve curta duração e não
chegou a produzir grandes resultados: o material etnogrâfico colhido por GON•
ÇALVltS DIAS, no Amazonas, figura no Museu Nacional, e as coleções e notas
reunidas para a seção geológica perderam-se em um naufrágio. As pesquisas
de LUND que permanec ram por longo tempo ignoradas, só mais tarde seriam
vulgarizadas e traduzidas por LEÔNIDAS DAMÁSIO e HENIU OoRcErx, contra-
tado, em 1875, para organizar e executar o plano de uma escola de minas, em
Ouro Prlto. A expedição de AoASSIZ que o govêrno resolveu auxiliar e que
percorreu de 1865 a 1866 grande parte do Brasil, inicia, afinal, escreve JULIANO
Mounu., "uma nova ~poca no estudo da geologia entre nós". Foi então que
se criaram, por alguns governos provinciais, as primeiras comissões geológicas.
0 geólogo CARLO FR DERICO HARTT que fazia parte dessa expediç~o (Thay r
Expeditlon cu teada por NATHANIEL TRAYER.também americano, para es-
tudar a fauna ictio16gica da bacia amazônica, e chefiada pelo naturalista suíço
Loms AOASSlZ (1807-1873), foi, porém. figura central d movimento de
pesquisa e de estudos geológicos no Brasil. Regressando por conta própria
ao nosso pafs, em 1867, completa o sábio americano o reconhecimento geológico
do litoral, desde o Rio ai Pernambuco; publica em 1870 ua Geo/ov, and Phy-
sical GeoAraphy oi Brazil, a obra mais importante do aé.culo p do Obre
geologia brasileira; visi , entre 1870 e 1871, a região amazônica, e, encarre-
gado, em 1873 da organização do serviço gco16gicogeral, consegue em tr&
ano , dar a êsses estudos um grande impulso, mantido, depois de sua morte,
em 1876, raças a ORVILLR DERBY e a J. C. BRANNER, os dois mais ilustres dentre
seus di dpulos e companheiros na organização d&ses crviços. ln errompido
em i878 pelo govêmo que, por essa mesma época, reforma a eção de geologia
e mineralogia do Museu Nacional, foi de novo organizado, ômente em 1907,
um Serviço Geológico e Minera16gico do Brasil e confiado, escreve JULIANO
MOREIRA, "à direção altamente competente de ORVILLEDERBY, e com um
pessoal de incontestável valor, bastando-nos citar FRA.Ncrsco DE PA'Ul,A E
OLIVEIRAe GONZAGA DE CAMPOS, a quem devemos tantos trabalhos, como se
verifica da magn{fica BiblioArafia mineral e AeoJ6gica do Brasil, publi-
cada por ARROJADO LISBOA, nos Anais da Escola de Minas de Ouro Pr!to".
Ma , se no campo das ci@nciasnaturais e. especialmente, no da botânica
e da zoologia, se re ·s a no século passado importante contribuição nacional
embora inferior à contribuição estrangeira, certamente mais avultada em todo
êsses dom1ruos não pas amos, quanto à ffs.ica.da transmissão da ci&tcia feita.
A ff •ca, no Bf'. il, desde que se instituiu o ensino dessa ci!nda n duas facul-
dad médicas pcl reforma de 3 de outubro de 1832, "foi apenas cultivada,
na justa ob ação de FRANctsco VEN.!Nc10 Fn.Ho, como mat~ria de ensino
s6 aparecendo agora em algumas instituições técnicas as primeiras pesquisas
em grande parte de carâtcr utilitário". Nenhuma contribuição de ordem ex-
perimental nem mui o menos no domínio teórico, uque czigc uma larga sedi-
mentação dos hábitos de pensamento abstrato". Sem díivida, no domlnio
r
A CULTURA CIENTIFICA 221

nomo franc , E ANUEL Lws que se desligara do Observatório de 'Paris e


chegara ao Rio de Janeiro em 1858, incorporou-se, a pedido de D. PEDRO II,
à comissão científica encarregada de observar em Paranaguá o eclipse to al
d 1, de 7 de etembro de 1858, e de que faziam parte, entre outros, CÂNl>mo
BATISTA DE OLIVEIRA e ANTÔ 10 MANuEL DE MELO. De 1858 a 1871 d en-
volveu -cm.n.n EL LIAIS uma atividade intensa: adido, de volta ao Rio, à co-
o dos trabalhos geográficos e geodésicos, explorou as an •gas províncias
de Minas Gerais, Bahia e Pernambuco; estudou a hidrografia do alto São Fran-
cisco e do rio das Velhas e realizou, no seu observatório móvel, numerosas ob-
servações sôbre cometas e sôbre a origem e a natureza da luz zodiacal, sendo,
ímalmente, em 1871, nomeado diretor do Observatório Imperial, desligado por
essa época das Escolas Naval e Militar, a que estivera até então anexado como
observatório de instrução. O decreto de 3 de janeiro de 1871 e o ato do governo,
con(iando a EM. LIAlS a direção do Observatório, "marcaram uma data impor-
tante na .história da astronomia do Brasil". Em 1874 voltava EM. LIAIS da
Europa, com os novo instrumentos, adquiridos ou mandados construir para
o. Ot;,servat6rio, cuja direção assumiu, e chegava ao Brasil um jovem belga, de
26 anos, matemá ·co e geodesista, Loms CRULS (1848-1908), que, admitido no
Observatório como astrônomo adjunto, logo se tornou um dos colaboradores
mais brilhantes dessa instituição. As suas memórias sôbre Marte (manchas
do planeta e durabilidade de sua rotação) e sôbre a determinaçao da durabili-
dade da rotação do planeta Júpiter, e as suas observações que lhe valeram o
prêmio Valz, da Academia de Ciências de Paris, sôbre o cometa descoberto
por ELLENY, a 7 de a tembro de 1882, não tardaram a elevar L. CRULSao pri-
meiro plano n campo de atividades científicas. Em 1884 era nomeado o
astrônomo belga, digno continoador do sáh.io francês, para suceder a E . Lws
que se havia retirado para a Europa. A pru.sagem de Vênus re o disco solar,
em 1882, foi observada por tr· missões organizadas por L. CR : uma, che-
fiada p lo Barão de TEFif. e destacada para e ilha de São TomÁs; outra, diri-
gi<:lapor OLIVEIRA LACAILLE, também brasileiro, que fêz interessantes ob er-
vações s6brc o com ELL!tNY, e enviada para Olinda, e ã terceira, a mais im-
portante, que se estabeleceu sob a responsabilidade do próprio L. CRULS,em
Punta Arenas no streito de Magalhães. Ao ilustre cientista belga que publicou
ainda, em 1890-92, duas memórias sôbre climatologia, sucedeu, depois de sua
morte em 1908 em Paris, HENRIQUE MoRIZE (1860-1930), nascido em França,
e que, tendo chegado ainda adolescente ao Brasil, em 1875, fizera seus estudos
na Escola Politécnica de que havia de ser uma das grandes figuras, e já em 1891
era o primeiro astrônomo do Observatório. Professor de fisica e met orologia 1
desde 1896; diretor desde 1908 do Observatório Nacional e um dos fundadores
da Academia Brasileira de Ci ceias (1916), conseguiu dar ao Observatório a
sua nova instalação no morro de S~o Januário, promoveu em 1909 a separação
entre os serviços de meteorologia e os de astronomia, e, entre outros trabalhos

dittt« (la&tl-1!101). que teve• lnlciatrn do primeiro Anuiria do Ot.cN&t6rio (lUJ) e íuadffll,
1186, a_ &~ilfa do O •1:6rlo, p,abllca o fflCD.lal de astronomia. No 3.• tomo d Aruol•, o r tadCIIIoe
ira_b<llhoed.u t:Jh m lllCUmbídu de ob,rrvv a pasagcm de Vbi\19 oõhno o duco tolar. Em 1 , quando
oO aterio • J Clive b • dircçlo de limntI0111< MoJUD, e/ • • ~ d ...-vlp
troro16&1co e troa&nka: o •min nte dlmatalogirta obtew: então • primcua ""IJIAi~ ~lu. nacional,
• aAd d ••.,. Jca~ cqwp,urw,to lmuumental e du mrmas ,nai., ~ de, t...b&lho''· S:ca 1!110
raparect'V, C01ll o Anu,, o para 1!10~1!110, o Bolef,"m Metl4Sl da Obler?•~ de Janclro • março de
1901). Na b ,mria da mo olotila bnsi1.cira mi. que se destacaram, m: fue p,-djmlnat, L. C.UU. H. Uo1UX•,
F. D&AS.IIUT. o. Wuu. A. LBBOA, ellb'e OUIJ'09, a\l'Ultiun as íaguru de /utúJco StLYADO, DO ~ Me•
teoo-~ico da Marinha, e J. S.UOAIO aa.u, anti10 diretcr ao Serviço Ir~ er.llild.ro • aiitar de um.a
obn fu.odamcntal o6btc • IJlcteoo-al bnaildtt. Al&u do Oblclvatório Nacional. nlo comta atividade.
o Ob,en,a • de &Ao Paulo, dmpcb, ll■ •ua primeira íue, por Sm.,QaT D& MA roe. q11e abr""I« tamWm
o acrviço meteorol6pco: ~ aprCKllta qll&lqucr deacobena 011 trab.ibo utroo6mico oe m,portADclL (Cfr.
Dn.oADO Da C.Uv.u.no, Mlt6oroloti• du B,é il. Lobdrcs, 1g17; T4NCUDO l)lt .P.UVA, Blbllot,.a. do clim•
bto.aiüc.o. Rio, 1 28: J. os SAMPAIO FIIMÃJ, Metao,alolia Br•YÜ&ira. S&ie S.-ulli&Aa, vc:il. 33, .o Paulo.
111H).
222 A. CULTURA BRASILEIRA

de alto valor, como Nosso céu e Previsão do tempo, de· ou uma notável
monografia, O clima do Brasil, que escreveu para o Dicionário Hist6rico,
GeoAráfico e EtnoArálico, organizado em 1922 pelo Ins • ulo His 6rico do
Rio de Janeiro. As observações de FERNANDES DA CoSTA sôbre tr€las duplas
e a érie de medidas micrométricas tomadas entre 1924 e 1926 continuando
no Observatório acional as pesquisas iniciadas por L. CRULS, cm 1878, e os
trabalhos de ALIX DE L os sôbre marés e de LÉLIO GAMAsôbre variaçao de
latitude constituem, já num periodo de declínio dessas ativid d científicas
entre n6s, uma das poucas e mais interessantes contribuiçõe brasileiras aos
progr dos estudos astronômicos.
:tsse contraste entre a produção científica de estrangeiros que percorreram
o país ou nêlc passaram a .residir, e as contribuiçõ s, esparsas e isoladas, de
brasileiros, e o desnível fortemente acentuado entre os estudos literários e os
estudos científic-0s põem em evidência o fato, jâ tantais vêze assinalado, da
falta de interêsse do brasileiro pelas ciências em geral e particularmente pelas
ciências físicas. Não faltou quem concluísse dessa indif crença, num exame
apressado, uma inaptidão natural do brasileiro para o trabalho científico ou,
ao menos, lançasse, - o que- é mais exato-, à conta de ua inteligência muito
viva, mas superiicial, e de sua vontade feita de impulsões, a desproporção entre
as suas atividades, e o~ resultados de seus esforços, n ss domínio . Parece
com efeito que, se não lhe falta uma curiosidade ardente, n o costwna êle
trazer para trabalhos desta ordem a fôrça de refle ão, o pírito objetivo, a
pacie.t1ciae a tenacidade que exigem as pesquisas cientificas. A ci@ncia, como
e eveu CH. R.ICHE"T, "não é uma jovem de costumes ficcis que uma promessa
ou uma carícia bastam para seduzir. Ela é arisca fria, impiedosa, e é preciso
sacrificar-lhe por muito tempo tudo que se ama para lhe ob er insignificantes
fa ores". Mas, a erdade é que o gôsto dos fatos, o espírito critico e inves-
tigador e o entusiasmo pelo método experimental podiam d volver-se entre
n6s como por tôda parte; e a causa principal d~ desintcr e do brasileiro
pel s ciestcias, longe de residir numa inaptidão natural, é antes o tipo d en-
sino quase clusivatnente literário, livresco e ret6rioo que se implantou no
Br sil, desde a Colônia, até os fins do Império. Uma cultura demasiadamente
verbal, demasiadàmente afastada do concreto, demasiadamente cheia de re-
t6rica e de poesia, demasiadamente afastada das hurnild s r alidades terrestres,
sem contr pêso científico, «não se encaminha, pergunta LÊONFLAVIEN, 17 para
essa atrofia de caráter, para essa forma de impotência que se chama o dile-
tantismo?" Pois, foi exatamente essa a nossa cultura, - a cultura que se podia
esperar de um sistema de educação inteiramente desaparelhada de faculdades
de ciências ou de institutos de ciência pura e de al os estudos-, para a qual
a arte de escrever não era a arte de pensar; em que a llteratur e a ciência, longe
de obedecerem ao mesmo ritmo, desacertaram atrnv!s de mai de tr s ulos,
e que se caracteriza pelo profundo divórcio, senão ant gonismo, tabelecido
entre dois ramos que são destinados a fortificar-se mutuamente, num plano
g ral e sistemático de educação. 1s Se é certo que " c:i.!ncias, ara as das
letras se tomam maquinais e brutas' , - no penaamen o de ANATOLE FRANCE,
que, em alguma, palaVTas de La Vie en Fleur abran e sob todos aspectos

17 L Puvu,o, adem:e.o ea!CliOS IJ! /a cu/ture n~a/ . ln "


JIIDV. e f'éw~ 1929. Uan E~ &iit.. 3, Rqe Thcnacd, Paris.
wn povo de o,:,!'"- e retb;:icos, autrido de palavru. o •o, - •
a- , UI .B.u.aou cm ln1, - e alo ~.. •6
obra d• n o aa acola, :oa fauúüs, no co çu.lto
Ili Anka d aOI adrtm íàlU e reoehemas. luvcrili dca-
~ çAo s;wóprà; par- da eatnaruunas te
a la aenl<t atrav& dessas "nu_v~" e
coan arbltrlriaJ, em que Rcoméoia de A!UnÓPAKU
m■,. ' do. ~-
cola I.Q 110 1N tempo". (RUI BA>tBOM. Di.cuno proaw,.cllldo DO ílcl , c,:n 23 de
de 1882. ln Or111flíeado A~tola,
DOVc:Dlbro Ediçio da "Revuta de Lla&ua P o J•ndro 1923),
A CULTURA CIENTÍFICA .223

essa questão. - ' as letra , privadas da ciência, são vazies pois, a ci cia ~
a aubstància das Ietr s". Qoando irrompeu entre nós desenvolvendo-se de
1 a 1870, a corrcnt do romantismo que ê, na sua essência, uma exaltação
lú'tca da ensibilidade e uma revolta contra o real quando êle perturba exal-
tação, não encontrou, nos incliv1duos desprotegidos contra si mesmos, para
resistir à tend eia ao subj tivismo, êsse hábito de reflexão e de objetividade
que costumam desenvolver as ciências matemáticas, - instrumento de racio-
clmo por exccl.ência, e as ci&lcias flsicas -o instrumento, por excel cia de
investigação. No mundo intelectual brasileiro em que se praticavam a~ letra:,
sem o complemento e o contrapêso das ciências, o romantismo, - êssc podcro
rio de poesia que por t6da parte arrastava muitas escórias nas suas ondas
soberbas-, tinha de forçosamente acentuar a velha tendência colonial à li-
teratura e ao subjetivi mo, arrebatando todos os valores e devastando udo à
sua passa.gcm como uma torrente de montanha ...
Dat o caráter da evolução (se assim podemos chamar-lhe) da cultura cien-
tífica no Brasil, desenvolvendo-se por saltos, mais pela ff>rça de alguns espf-
titos excepcionais, filhos de suas próprias obras do que pela pressão de um
ambiente cultural que entre nós foi sempre hostil senão à inteligência, ao menos
às pesquisas de ci ncia pura. Em vez de se desenvo1ver como um rio que, nas-
cendo longe, e dispersa por muitos braços, recebe numeroso afluentes e se
divide num grande delta, constituído, nos seus ramos, pelas diversa ci@ncia
de observação, a cultura das ciências no Brasil se tem pr<>eel!sadonum ribno
irregular, por avanços e recuos por iniciativas sem continuidade e em sen ·do
diferentes, e por mestres em discípulos. A Sociedade "Palestra Cientffica''
que sucedeu à Sociedade Velosiana de Ciências Naturais, fundada por F'R.EtR.B
ALEMÃO, e que •nha por fim "ocupar-se do estudo das ciências flsicas e ma•
temáticas, principalmente com aplicação ao Brasil• (dec. n. 0 1820, de 13 de c-
tembro de 1856), teve duração efêmera e não conseguiu senão a publica o,
estipendiada pelo Imperador, do 1.0 número de seus Arqw·vos. A revis
Minerva, que desaparecia no 3.0 número, não resistiu mais nem logrou maior
sucesso que a Guanabara, - revista de ciências e letras, também fundada
anteriormente por FREIRE ALEMÃO, cujo nome se acha ligado a quase tõdas
as iniciativas dêsse t mpo no domínio das ciências naturais. O próprio Im-
perador D. PEDRO II, enamorado dos altos estudos, o "Mecenas ma.isdevotado
que a nação tem possuldo", no dizer de ARTUR NEIVA, e o soberano que, no con-
conceito de BABINET, astrônomo, merecia antes o título de sábio do que o de
''amador coroado", que tão vivamente se empenhou em incrementar o pro-
gresso das ci ncias no Brasil, teve seus esforços quebrados pela resistencia pa -
siva e pelas hostilidade mal dissimuladas dêsse meio intelectual e polftico,
dominado por homens de espfrito retórico e de educação abstrata, e em que a
literatura, as idéias e as questões jurídicas e os debates poUticos absotviam o
pensamento nacional. 1 Pois não foi D. PEDRO II, em 1882, combatido e cbas-

18 Que • D. ~ao n um ativo animador e bccutivador e, n:uia do qw: i um cultar daa ci 1,


Ji Dl.o ..,.. d6\lid. . No ae 1cm.o reinado, eacorrtn« à freuw de tMu ai inicia ...,, d ln ciC'.GUll..,,
atimulando-.t pc. d,,, rormu 4.llUM.Odocom IIWl pc~ça ai de • u:. e IOdcdadc
cie11t:Ui , como I do I tuto Hl.116ri<:ae 0CGEl''1i que presidiu ~ DlwtA v&e.. u ttllll d• o:l&dc
"PalQtta e· tff'",u" ou allld ■ • coofermd p6b ku pro,,no'lidn no wieu Imperial por L.ulULAu Nno
(.1174-11193) • cm q0ot M bclnbcvam pro lemu de botãnica c de 200lop,, de r... iala;lll, d e Jllr;
locia. W~nd por con1, • amando oa ailrios e a cõ!nm. mantiol,a a - atib.ldc dc cu,-IGl!dade
e de limpacla todol 09 do!nfol09 da tO c cm rd~ a todos os bmnez>j em!uentea. í"i16tc,1: , blm e .,..
tittas. Ea • do hcbralco e o sln.crii:o. par qu.e mottrava um. iuw&ee parti,:ular, cwtivot.l ■ll'amU d
como a 11&1:t'OOomia de qW!, • oplnUo de: S...DQ:T, ·no prcficio de; O 1<5~ °"'"
te, cb ou a adquirir proflllldo1
BuWTOlf, chamou..o par■ o wu
ecmhecimm-. wna noite " m:i S.O Crlst6-Ao, ■o av'.1tar R1cHAJuJ
pJm,cte. entre O•R cm pt,1.,,tn ~ o famDIO c:rp\ar■ d.,.-, "e:pql>Allto, cs:rev OLIV&ZIIA LIIIIA,.. diplomata.
o etperaHm. pua i ITOCa do banalidades utUilb". Em Paris, onde ptOCQraU ~ VICTO Hoao, t odo
a iolciativ■ d■ primdr■ vlll~ d ~otc ~ recuaa do craude po;?ta, rcpublicaoo radical. de lr • " de bnper■-
c:i.c.", - lot« - vivamente pe1- pcequlD1 de Cil.U(:oT DA Eecola. de: Salptrrio!re; e, 11 B,~o, Vo.ldot,
224 A CULTURA BRASILEIRA

queado em plena Câmara por homens inteligen es e cultos como FERREIRA


VIANA, que crivou de sarcasmos o Imperador, por ter êste solicitado um modesto
crédito de 60 contos para facilitar as observações científicas da passagem do
planeta Vênus sôbre o disco do sol? E não era "sõbre a sua qualidade de sábio
como se ela prejudicasse o governante,', que insistiam mais fortemente os a aques
e os remoques desfechados ao Chefe de Estado, grande príncipe e grande bra-
sileiro que nos governou 49 anos e foi, em todos os países que vi ·tou 1 o embai-
xador de nossa cultura? Se D. PEDRO II nao fêz pelos progresso das ciências
no país tanto quanto se podia esperar de sua cultura e expcri ncia e do seu
interêsse pelos altos estudos, foi certamente porque, fora de um grupo de escol,
D)uito reduzido, raramente encontrou, para as suas sugestões e iniciativas-,
um apoio eficaz na mentalidade dominante, mais inclinada às esquematizações
teóricas e aos torneios oratórios. D. PEDRO II, a êsse respeito, repete e explica
JOSÉ BONIFÁCIO: mineralogista notã.vel que freqüentara, em dez anos, os maiores
centros de cultura na Europa, era o Patriarca, no alvorecer da nacionalidade,
wna figura solitária entre aquêles homens que, no dizer de GILBERTO AMADO,
constitutam a única realidade viva do pais ', e que, com a sua instrução "ba-
seada no direito canônico e em todos os vícios da metafisica jurídica da época",
permaneciam, no seu exclusivismo fechado, estranhos e indiferentes à nobre
ambic;.ão do sâbio brasileiro de fazer entrai: o Brasil no movimento em prol
dos progressos das ciências e dos altos estudos. Na segunda metade do sé-
culo XIX, no longo reinado de D. PEDRO II, não se modificara sensivelmente
essa atmosfera cultural: literatos, políticos e oradores mantinham o mesmo
desprêzo pelas realidades concretas e pelas ciências experimentais que têm o
mêrito de corrigir o que há de excessivo no espírito de sistema nas doutrinas,
subtraídas ao contrôle dos fatos e da observação. Para êss homens, d edu-
cação li erãria e abstrata, que constituíam a elite dêsse tempo, nada parecia
mais estúpido do que um fato, segundo a expressão do filósofo que tinha razão
de se irritar contra os fatos que não concordavam com as suas teorias ...
Bastou, porém, que subisse ao poder e oêle permanecesse cinco anos (1871-
1876) um homem como o Visconde do Rro BRANCO, cujo govêmo sobreveio
então "à maneira de uma longa trégua civilizadora, nas e..-q>ressoes de Et.rCLIDES
DA CUNHA, para se inaugurar, nesse período, uma nova politica de cultura,
planejada e executada sob a inspiração e pela açao conjunta do Imperador e
de seu primeiro Ministro, - um de nossos maiores homens de Estado". Essa
política ·nha, a favorecê-la, duas circunstâncias: RIO BRANCO, engenheiro,
vinha da Escola Central, de que era professor de mecânica e foi diretor, e, em-
bora filiado ao partido conservador, "não representa realmente, na justa ob-
servação de EUCLmES, nenhwn dos partidos monárquicos' . Engenheiro e
professor de mecânica, e, mais tarde, de economia política, trazia para a política
um novo pírito, formado na disciplina das ciências físicas e matemáticas, e
com o qual se habituara a apanhar tôda a diferença que separa a verdadeira
ciência, - a ci ncia fundada sôbre os fatos, e a pre ensa ciência, fundada ôbre
teorias verbais. An es diplomata do que poUtico, e ''apelando indj tintamente
para a dissidência de seu próprio partido e para a boa vontade dos adversários,
liberais ou republicanos", tinha as mãos livres e desembaraçadas para uma

quando v 'tftya a &.1~ltlo de P"tlad~lria, c:m J876, IIOUbcIOl}Olpr o alcance da rcc:eftlz lnvni~o cfdnica
de G~ 81.1.t-, • Dd em l de~.. Admirado por mttaQ& roo, daa mau, t.ivci1 de ocv tempo.
- um escrita, e chplo.,,.1:11como o ~de Goan.uu. úbioo como FLA,IOl4lll0:t e PASJ'EUC• p cu I n,n ua
de Vtero HUGO, - toruous1e popular ca P.ario "• maq do que qllalquer outro ~O. pn::::ado noo KllS mc:lo,
lntclCCt"Wlb; ... do lnt<:r q11e ,.... cai-a de despertM, 11Cm o pr1:11ttaloda raalua. DOI dA • mc3i<la • mprcn o
qu,e t:aUJOII • P'llU> co Nl'.ltTZS1::lfE, quando sê dlCGDtnU'8111, 01.1111.DJPOfttl>nha dlt. S11~ •• via.latido Junt01
niuna dili e,;,cú,, .cm ■e: ,•,;,::,h~crem entraram .a pale$UV o lmperador branlciro e o fil6tofo alm1 o, (OLIVUJIA
,.,.. • n ,.., ,.,.,,.,to, • o• dbicn. f n "Jarnal dp Com&do'". o de JiUWl'D,4 de julho do l 6J.
A CULTURA CIENTÍFICA m
ação de grande envergadura, - a mais larga e profunda de tõda a poUtica do
Império. 2 assim que pôde realizar, cm todos os dommioa de atividades, e
especiálmente no terreno cultural, uma série de iniciativas que, se tivcaem
prosseguido no mesmo ritmo e na mesma direção, teriam dado uma forte gui-
nada e marcado um rumo oposto ao de seus predecessores, - rumo aliás da
tradição colonial que voltaria a prevalecer ainda durante quase meio RCU!o.
Em 1872, CARLO h.ED&RICO HARTT, que se incorporara à expedição de AOASSIZ,
em 1865, e acabava de visitar a região amazônica, é encarregado pelo gov!mo
brasileiro da organização de um serviço geológico geral. Inicia o minist~rio
Rio Branco, por essa forma, o levantamento de nossa carta itincrária e geo-
lógica, "logo abandonada pelos governos que lhe sucederam' ; consegue imprimir
um grande impulao aos estudos geológicos do país, a cuja frente se mant,cve,
at6 a sua morte, o sãbio americano, auxiliado na realização dêsses serviços e
no desenvolvimento desses estudos por ORVILLE DERBY e J. C. BRANNER, e
promove o Recenseamento de 1872, o primeiro que se fêz no Brasil. Nas re-
formas de ensino que empreendeu, reorganiza, em 1874, a Escola Central, que
passou a denominar-se Escola Politécnica, de maneira a transf onnâ-la não 96
nwn grande centro de educação profissional superior, mas tamWm numa ins-
tituição capaz de difundir ºos mais elevados conhecimentos teóricos das ci!nciaa
cu.tas"; cria cadeira especiais, como a de física matemãtica e a de fmca ez-
perimental, nessa escola e na Escola Militar que resultaram da divisão da an-
tiga Escola Central; e funda, em 1876, a Escola de Minas, instalada em Ouro
Prato, cm 1877, e na qual, sob a direção de HENRI GoRcEIX, criador da escola,
ac formou urna geração notâvcl de especialistas em mineralogia, geologia e
minas. A instrução acad&nica que, pelo geral, ainda em 1882, estaria, no de-
poimento de R01 BARBO , 10 "infinitamente longe do nível cientffico d
idade", tomou com essas reformas e criaçoes. as mais importantes depois de
O. JoÃo VI, u_m impulso vigoroso, segundo a nova orientação do admir6ve1
estadista; e Escola de Minas. - como atestam os seus Anais, cheios de con-
tribuições valiosas, - sob a sábia inspiração de HENRI GoRCEIX e com os e,.
tímulos de O VlLLE DRRBY e do petrógrafo EuoÊNlo HttSSAK, entre outros,
tornou-se, no último quartel do século XIX, nm dos maiore senão o maior
centro de alta cultura que, longe de se reduzir à formação profiaaionaJ de en-
genheiros de minas, se esforçav:a constantemente por aplicar e propagar os
métodos dentfficos de pesquisa, nos estudos da geologia, das riquezaa naturais
e dos principais f6sseis do Brasil. •
Mas essas iniciativas, como as anteriores, não viveram senão pela aua
propulsão inicial e graças à tenacidade de algumas figuras eminentes, ma.s
raras e solitlirias, e às vezes de um pequeno grupo de trabalhador~ aos quais
aá..biosestrangeiros souberam transmitir o espírito desinteressado de pesquisa
e especulação.. De um modo geral, se excetuarmos um ou outro centro de
estudos e de pesquisas como o Museu Imperial, a Escola PolitEcnica e a recente
Escola de Minas, o que ainda se notava por tôda parte era o mesmo desio-
teress pela investiga o de ciência pura, a mesma resistencia à penetração
dos m~todos científicos e at~ à noção, já corrente no século XIX, do valor uti-
litário da ciência que costuma trazer aos povos que a honram, não s6 a g16ria
mas a riqueza, e que ainda persistíamos em considerar quase uma excentrici-
dade ou, quando muito, um luxo. Essa atitude penistente em face da ciblcia
punha em agressivo rel!vo uma das falhas mais grava,. senão o vício funda-
mental de nossa formação tradjcional, penetrada de um espírito puramente li-

Rui BUJIOIA, Rofora .. d• ena{no p.rimhio. Pq, 1, Rio de Jaoriro, 1882.

-15-
A. CULTURA BRASILEIRA

tcrârio, com sua tendência à rct6rica à soffs •ca e ao verbalismo. Se essa at-
mosfera intelectual, alimentada por um sistema de ensino e de cultura, des-
•nado quase exclusivamente a desenvolver as qualidades literárias e a especia-
lização profissional, não era certamente favorãveJ aos progressos das ciências
experimentais, contribuía ainda menos para despertar o gõs o das matemáticas
e tomar-no acessíveis às atrações das alturas serenas da coria cm que tudo se
resolve por equações e fórmulas algébricas. o entanto surge, nos meados
do culo XIX, uma figura singular que inaugura a linhagem dos matemâ-
•cos do 'Brasil, e devia ter-se formado a si mesma, sob o influxo da própria
vocação para êsses estudos e pela fôrça de seu e piríto criador e de sua intuição.
2 JOAQUIM GOMES DE SouSA.,tto mais vigoroso e o mais alto espírito matemá-
tico que em produzido o Brasil, "um gigante intelectual, .nas expressões de
EUCLIDES DA CUNHA, a nossa mais completa cerebração do s~culo, jurista,
médico e poeta, legando-nos sôbre o cálculo infinitesimal páginas que ainda
liojc sobranceiam tôda a matetnática''. 32 Professor, àos 19 anos, da Esc-0la
Militar de que cursou apenas o primeiro ano e obteve, em 1848, o grau de ba-
charel e de doutor em ciências físicas e matemáticas, depois de ex.ames vagos
e sucessivos de tôdas as·matérias, já em 1855 o jovem matemático apresentava
à Academia de Ciências de Paris três memórias do mais alto valor sõbre a de-
terminação das funções incógnitas sob o sinal de integral definida, sôbre um
teorema de análise matemática (cálculo integral) e sõbre o som, publicadas
mais tarde com outros trabalhos, por iniciativa do governo imperial. Grande
matemâtico que pertencia no julgamento de AMOROSO COSTA "à classe dos
geômetras em que predomina a intuição" e man java de modo magistral o
instrumento algébrico, a sua obra, reunida depois de sua morte, em voJume sob
o título Méla.ntes de Calcul lntél,ral (1882) e constitu!da de sete memória,
e alguns fragmentos, é considerada por TEODORO RAMos verdadeiramente no-
tável pelo arrôjo e pelo engenho das concepções. Ge6mctra, - escreve o
aâbio Ce. HENRY que lhe prefaciou a obra p6stuma -, atacou o problema mais
difkil e urgente da ciência; matemático, apaixonado pela experiência e pela
observação, apreciou os encantos da arte· a brutalidade do problema social se
impô ao seu coração e as pungentes complexidades do problema filosófico não
Dão o deixaram indiferente. Criança-prodígio, natureza ideal, complexa e do-
CDtia, ele pertence, a essa família de inteligências que parece terem sido criadas
para mostrar a identidade fundamental de tôdas as varledadee do saber, dessas

lll Natunl do Mannhllo, J0A0trnc G0MB! DB Sol/IA (182 1863), o m1ior m•tem!tlco do er.,u. foi,
c:omo jt obtiervou CAllOS POl"TS1·, de uma precocidade noulvcl, ''ocm precedente. e em tcual cm tMa • llilt6ri'!
d• lntellctn<:i• bn,oltt1ra". Envindo p,cloa pc,is ao Rio de Janetro, em 18 ~. para ~uir • c1rrclr du ■ rmu,
■b1u:1donou • , 1 Mlllt.,, no primcirn ano, e m.atrioutou, e, ao1 lS de id,uSc, de Modic:Jn11,que
cunou ILt o .• ano. Requereu em oeg,iidlloe obn,,,c e,cameo vag01 do lida H m· 1• E cola: Miliw
c:,d~ ou pcovH 1ucea,wa., que realizou c,om exito e,ccepcioll&I, rut pttton do p.,...ntc nllffler
aud1t6no. rcc,ebc,, • I.• d,: Junllo di, i&I& o u-,n d.1' bacluitd e 14 de outubro o, o de douttr em
dhlclu ri lcl• t m k:mêtioe.,. Conta""- mtã:> 19 anos qw,ndo efcndcu lc1e; e, o dçoio, proleuor
da la MUIW, ,c,gvlu 1111,.a Europa e íormw«: cm rucdi na cm Pa,., • m ta l Academia e
CI~ de mc«lldri••• pub~•$ em e.fiçilo ~- cm I p:i, swl!rao brar.leiro.
(JOAQU.111 ()cm.n Dlt Sous.t., Ml./t,nge3 de <:.k.uJ lntefr11I. Ouv,.,e bum cntt d"un,, mEm;:,irc,de
t·aut « d'u.n a1111nt-propospw- M. Clw't:=3 aenry. Lel • ·mcri& de l'. A. Broc:kbaun, 11121.
Em ltsG o ..,._itico STOICUapce,nta l Sociedade Real de Lo c:ontendo um tc:1Jm<1 da pri•
mcln mern6ria, ll6brt o !?"°!)lema da inveni~ du io r.i.. l • mtti1 alta.,
cm-6UCIIS,mp<ri<>res, ''aplicou- com maim- f ta, bi~ ória.,
cl saciai.o cm geral. nio mm q ic.
00
• (Jolo
FltAJfcttC0 LtDOA, J iaron, 2 v<>l!.M.ar.u1htio. 1852•1 olo cunara
dlí-áto, mfreou,a, na CAmara doo de ar e
,_ j~ tomanda part'e o apr-e,eob>Q
, por tes" este ,rposeatad.o. xm p, (C.- Po,n-q, . 1J1Uc:o
~ O CU!I da a.pooeot:ad«ili • ln '"Jarn.11 do Com&cioº',
24 e ·unho de llU4). 0-f' ■ f"Cido l)<"CmStunn:nentc■m 3♦ iiqoDlla •~ Burops,
• C'.&rta aiat&i.cia, brilha.ore e íci:unda, foi, na op, um modtlo de pen&llffll!'.Oto
e de A( ".
112 ltl/a.mu DA Ct»lltA, A mMAem d• hút6ria. O. Jodepc,nd!ada l Rep blic:a (csb6ço poUtieo).
o. Livnr.la Clw,droa. Põrto, 1922.
A CULTURA ClENT1FICA 227

almas prematuramente roubadas à sua obra. gue a poesia da antiguid de dizia


caras aos deuses e que através das distâncias dos séculos e dos meios evocam
a melancólica figura de PASCAL",
Se ainda na segunda metade do século XIX honraram as cieticias mate-
miticas no Brasil um PEllEIRAREIS e um L1cfN10 CARooso, que no entanto,
ae especializaram em outros domínios de estudos, sõmentc cm 1897 apareceram
ua Revista da Escola Politécnica trabalhos de um jovem de 23 anos que pre-
nunciavam um matemãtico da estatura de Goras DE SouSA. Embora desa-
parecido prematuramente como o sábio maranhense, que faleceu eos,34 anos,
Oro DB ALENCAR (Ceará, 1874 - 1912) deixou uma obra notável e, como pro-
fessor da Escola Polit~cnica, de 1902 até a sua morte, conseguiu, nesse dec~io,
erguer o nível dos estudos matemáticoa a uma altura a que só atingira, no Brasil,
com J. GOMESDE SouSA, meio século antes. A importância de seus trabalhos
e o valor de seu ensino, no magist~rio de vàrias disciplinas que professou desde
1902, como professor substituto, lhe deram direito à nomeação em caráter
efetivo, em 1907, sem concurso, por proposta da congregação 'da escola em
que se formou e de que se tornou uma das maiores figuras. Profe9SOr da ca-
deira de flsica experimental, por que passou eventualmente como ubstituto,
Oro DE ALENCAR, que tinha grande habilidade experimental, se preocupou
antes, por ser essencialmente algebrista, com o aspecto matcmãtioo do fenõ-
menos flsicos: data dêsac periodo a coleção de notas e memórias, publicada
cm 1906, aob o título Fí ica e Eletrotécnica, em que avultam os scua estudos
16bre o po encial ermo-dinâmico, "antevisão da teoria da relatividade, de
EJNSTErN",no conceito de um alto espírito. Entre outros trabalhos publicados
aqui e na Europ , e aceitos por GOMES TEIXEIRA, no Jornal de Ciência. Ma-
temáticas, do Põrto, e por DARBOux,no Balletin des Sciences Mathém -
tiques, destacam- as memórias sôbre a teoria das superflcies mínimas, bre
a velocidade do som, m desenvolvimento da de Goams DB Souu, de cujos
mE.todos e resultados se utilizou, e sôbre as aplicações gcom~cas da equação
de R.lCCATI, - talvez a mais original de tôdas-, além do estudos crfticos e ci-
entífico sõbre alguns erros de matemática, de A. CoMTE, e com que, afas-
tando-se da cone pção matemática do filósofo francês, marcou, na escola,
"o início de uma reação contra o comtismo '. Disclpulo e sucessor de OTo DB
ALENCAR, que representa na evoluç.ão das idéias matemáticas no Brasil, no
dizer de Lifuo GAMA,• um traço de união entre a antiga escola positivista,
cujo anacroniuno @lepróprio evidenciou, e a escola moderna, cujos prindpios
foi êle tamb~m o primeiro a propugnar", - M. AMOROSO CosTA (Distrito Fe~
~eral, 1885-1929), tomou-se um batalhador incansável na campanha iniciada
por seu mestre em prol da renovação completa dos estudos matemâ ícos entre
n6s. "Não po uindo, escreve TEODORO RAMos,o brilhante talento de analísta
de Oro DE ALENCAR, mostrou-se, porém, AMOROSO COSTAum pensador mais
profundo, um esptrito· mais equilibrado e um paladino mais vigoroso da ci@ncia
pura e desinteressada". Talvez o maior cultor, entre nós, da filosofia mate-
mática, seguindo de perto as lições de HENRI POINCARÉ que exerceu sõbre s u
espírito considerãvel influ&tcia, e comprazendo-se em contemplar na ci!ncia
matemática o seu ledo puramente estético, o ilustre professor, - o primeiro
que se ocupou no Brasil das geometrias não arquimedianas, distinguiu-se pot"
seus trabalhos de astronomia, como a memória sôbre a evolução das estr~
duplas, ou matemAticas como aa suas investigações originais sôbre a teoria
das sêries divergentes, e, especialmente, por seus ensaios de crftica filosófica
e científica. Se a s três grandes nomes se acrescentarem o de TEoDORO
RA.Mos(São Paulo, 1896-1936), - o maior matemático do Brasil no seu tempo
-, o abeliano que, com tanta profund~a e originalidade, tratou da funçõe11
de variáveis reais (tes de doutorado), das integrais definidas d funções des-
2211 A CULTURA BRASILEIRA

contínuas (1926) e do cãkulo vetorial (1930) e tanto e csfOt'çou por elevar o


nível dos estudos de análise matemática e de mccàni racional, e, por último,
o de LÉLJo GAMA,que, na Escola Politécnica e na Escola de Ci~cias (1934-38)
do Rio de Janeiro mantém com brilho a tradição dos estudos matemáticos,
ter-se-á o quadro completo dessa linhagem científica que se entronca em GoMES
Dll SoUSA e se prolonga até nossos dias numa série pequena, mas ilustre, de bra-
aileiros realmente preocupados com as coisas abstrat e distantes das apli-
cações.
Mas nesse mesmo período em que as ci!ncia matemática tomam novo
impulso com Oro DE ALENCAR e seus sucessores, estabelecendo-se uma cooti-
nwdade entre mestres e discípulos, entra em atividade intensa o Museu Pa-
raense, fundado por EMfLio GoELDI em 1885; HERMANN VON IHERING, cha-
mado a dirigir o Museu Paulista, instituído em 1893, lhe imprime um alto
cunho científico; BARBOSA RoJJRIGUES reorganiza o Jardim Botânico, inaugu-
rando uma fase nova de pesquisas; e NINA RODRIGUES empreende na Bahia
pela primeira vez, "o estudo rigorosamente científico da parte considerável
dfl nossa população, constituída pelo elemento afro-am icano". Além do
Museu Nacional que, na história de nossa cultura, desempenhou um papel
da maior importância no desenvolvimento das ciertcias naturais, e passa por
grandes transformações sob a impulsão de BATISTA LACERDA (1895-1915),
entram a colaborar nas atividades científicas do país novas instituições, como
o Museu Paraense, denominado mais tarde (1900) Museu Goeldi, em home-
nagem ao cu fund dor, e o Museu Paulista que acabava de ser criado pelo
go~ o de São Paulo. Aquêle, o Museu Goeldi onde se guardam as mais
ricas e variadas coleções tropicais do mundo e que po ui, al&n de um jardim
zoo16gico anexo, um jardim botânico e uma das mais completas bibliotecas
especializadas do país, com 21 -mil volumes, teve a sua ~ mais fecunda sob
a direção de seu fundador, naturalista de renome universal, a que sucedeu,
.mai arde, JACQUES HUBER, botânico suíço, falecido prematuramente, e um
dos naturalistas estrangeiros que mais se consagraram nossa terra e ao estudo
de suas riquezas naturais. ~ste, o Museu Paulista, fundado em 28 de agôsto
de 1893 (lei n. 0 200) e organizado pelo dec, o.~ 249 (de 26 de julho de 1894),
com o fim de estudar a história natural da América do Sul e em particular,
do Brasil, nilo tarda a impor-se nos meios cient!fico do mundo pelas suas ati-
vidade:,sàbiamente conduzidas por HERMANNVON IHERIN0 (1894-1915), zoó-
logo notâvel a quem o govêrno confiou a sua direção, por ugestão do eminente
ge6logo ORVILLE D.ERBY,então diretor da Comissão Geográfica e Geológica
do Estado. Nos fin do século XIX, em 1890, desliga-se o Jardim Botãnico2t

ir,aadc mmtuiçl.o, que "" vem dC961volvend 1r11• • de m de 11,:0 lo, tc111 ,... ori1ens
oo.,. Hortu, -Janl'i,m ~pi._ntas ell.6tica1, - criado par D. J o Vl cm IIO M P'uenda da Laeoe
de Rodri o de. Prelta,, e po.- Be mesmo ampfuodo e 9be:rto ao p~bla li de R l Judia,_
Botlnko. Jar-dilude dmaçio, destinado• priodpio • iotradiulr r 2 das 1ndiu
Ori -dou • curiqutter-se de cscdcuta coleçõa de plaAtu, cd.id conwiaa
por D. Jolo VJ d amparo e Cltfmulo "• t:od"" oo que • da Klime(Io e da cultara de planta.• e:ic6ticuH.
0 -~ s-rque etal da o,,,_ qu: ai.ada bqjc ,j llmd.Sor, • l!'llm.eino real
plantada por O. JDÃD VI cm llOS, d.o penleu,, porl:m, o - car im de aclimaçlo, pani re-
w-1r o um at'Albrlcclmeato r.ien611co, aenio - ad.mioii Frti LM.lfD.eQ 00 SAC'ü>BH'?D
(t .,_llill) que lhe imprimiu DOYa ari~. No aqw>do Jmp&lo cm que, por iu.o pcrb1o, de 1160 a_ J O,
eath'c o Jan:Hm Botlolco IIOb • direção- do lmtituto Flumi .,... lldalinia-
q U , no domt,,io ~ d primeira me•
e P. L. Cm.a Buau.lu.Qtn e P. G. P ta mad ..,.
• e admillitrativo. 'S IÕmei>te no to, o Judlm
cm uma oava r-, - • mai, fecu.oda de wo J. B4I&ou
• da ocnmerual 5,,rtrun P•lm.aroun, o re d<>
• arieni.çlo de Frei Llilm.llO, reiAtecivu o Jardim Ba>t llÍCo ir ao trabslho
• • u ma i.i:u pc:npectivu. .Entn cm dccadtocit,. Dlll0VU. para
aova.mu com AHTõ ro PACID.OO 1.sio, proli e:d.ic:iu e di.td·
p,ilo dAIOrlr.u.oo C•in.. qUt o ~cJou, dentro d• me1nu deoeovolrimentO com
o au.:Rlo de Losrroal:N, Dtrcu e Kum.:Ll:.l!flt, - WCI doi1 61 lf m.11ndo-oem um ~tro
d u:IAada nora oacloaal. Dadc 1918, c:am a -reforma da tura, rol o Jardim. Bothico
A CULTURA CIENTÍFICA

do Instituto Fluminenae de Agricultura e é nomeado seu diretor J. B..utBOS>.


RoDRIOUBSque orientando para aa finalidades científicas eua antiga imti-
tuição, realizou uma t&ie de rdormas de caráter técnico e, enriquecendo os
eeua herbários e aa suas coleções vivas, criando a sua biblioteca e intemificaodo
o intercâmbio com o estabelecimentos congêneres no catrangeiro, contribuiu
de maneira brilhante, e e6 comparável à ação posterior de ANTONIOPACBBCO
Ldo, para tranaformll-lo no mais opulento parque do mundo e num centro
de pcaquisas bo Anica,. Os 8 volumes do Boletim do Muaeu Paracnse, de
que apareceu o primeiro cm 1904 os 23 da Revista do Museu Paulista, os 30
dos Arquivos do Museu Naciona1 e os Arquivos do Jardim BotAnico atestam
• atividadea cientfficas no Brasil, nos diversos periodoa da hi11t6ria deuu
imtituições. AI bibliotecas, essas, a começar pela Biblioteca Nacional, de
tMaa a maia importante e hoje a mais rica da América do Sul, com os BCUa 500
mil volumes e nwnerollOSmanuscritos, ainda não estavam organizadas como
um centro de pesquisas e de trabalho cientifico. De sua dupla função, - de,
por wn lado, conservar as mais belas coleções do passado, enriquece-tu e com-
pJetA-1as, e, por outro, recolher tôda a produção contemporAnea, literária,
biat6rica, científica e jomallstica, - não exerciam eficazmente, devido à es-
treiteza de aeus rec:uraos, senão a primeira, aliás de suma importância, pela
riqueza de seus depósitos antigos que os historiadores, os seus principais clientes,
habituados aoa métodoe e à disciplina da pesquisa, já consideravam corno tc-
lOW'OI preciosoa, verdadeiros arquivos em que vinham colher a sua documen-
tAlçio.
Entre as atividades científicas que caracterizam esseperíodo de ebulição
intelectual (1890-19 ) e o distinguem como um dos mais fecundos, na história
de nossa cultura, avulta, pelo seu valor e pela sua fôrça de atração, o trabalho
realizado por NINA RODRIGUES, nos domtnios da medicina legal e dos estudos
antropológico e sociais bre as populações afro-americanas. Com a nomeação,
em 1891, de RADruNoo NINA RODJUGUES, para a cadeira de medicina legal
da Faculdade de Medicina da Bahia inaugura-se uma nova rase.na evolução
científica da medicina legal, no Brasil, à qual AGOSTINHO DK Souu L114Adeade
1877, profcsaor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, ji vinha trazendo
valiosa contribuição nacional, reduzida, entretanto, à aplicação dos conheci-
mentos mMico-legais na interpretação das leis do país. O ilustre maranhense,
justamente considerado o criador da medicina legal brasileira, empreendeu,
de fato, durante 15 anos de magistério (1891-1905) na escola baiana, uma obra
notável de revisão critica das técnicas 'estrangeiras e de criação, pelo estudo
prático e experimental dos problemas médico-legais brasileiros. Os aeus tra-
balhos sdbrc as raças humanas e a responsabilidade penal (1894), aôbre os dia-
positivos atinentes à filiação legitima e sôbre a condição legal dos alienados
(1901), bem como os estudos de psico-patologia da mutilação cadav rica, em
que estabelece a distinção, boje clássica, entre o cspostejamcnto defensivo e
o c:apoatejamento ofensivo, marcam época e criam escola, - a escola baiana
de medjcina legal -, que, continuada por discípulos seus OscAR FREIRE e
An1mo PEIXOTO,permanece ativa até nossos dias, através de discípulos
dêstes na Bahi no Rio e cm São Paulo. Mas, a monografia relativa à influ-
encia dos fatõres raciais na responsabilidade criminal, - trabalho em que
advoga a diversid de de tratamento penal, segundo as raças, e com que começou
• emprêsa de nacionalizar a medicina legal - é, ao mesmo tempo, como observa

lllca. par..SO .., Serrice, P1llr-1 q11e anAo ., ,-pniloa e de, que pe.-. • IDtep'at • de Botbb .. O
,Jardim. cuja Wd 6 c:&lcwada $◄ li '43 llldral quadrado. (aa,do 135 112 r cm -matu a 32J 099 ID 1 Clllt:iw.doe ,
,-,.l 7 mD -.ptd dMlliílQ- alem de lllllb.a de p&aMa herb6cae arnernentala, ailtivadat cm •tll.l'M,
•- total de ~ de 200 1:amDiu.
230 A CULTURA BRASILEIRA

ALCÂNTARA MACHA.DO, "o marco inicial de uma série de tudos sl>bre os mes-
tiços e o, negros brasileiros". Os seus ensaios de psico-patologia social, como
o que lhe inspirou a psicose coletiva de Canudos ou o que tem por objeto o
tudo de um magnicida nacional, MARCELINO BISPO (autor do atentado contra
PRUDENTE DE MORA.IS), constituem importan cont:ribuiç- ' na série de.
investig ções diretas, cientffic.as,,sôbre a nossa gente e que, iniciada pe]a subs-
tanci monografia de 1894, deveria culminar na obra, interrompida pela
morte, O problema da raça negra na América Portuguê , 'sín e e coroa-
mento d sinvestigações". Obra essa, considerada no seu conjunto, "íecunda co-
mo nenhuma outra, escreve ALc.ÂNTARA MACHADO, porque foi a nascente gene-
rosa de ama escola que nos deu líderes do valor de AFRANIO PErXOTO, Oscu
FREIRE, DIÓGENES SAMPAIO e continua a enriquecer-nos com um FLAMfm:o
FÁVERO, um LEONIDIO RIBEIRO, um ARTUR RAMos", e, podemos nós acres-
centar, um A. F. ALMEIDA. JÚNIOR e um O\.ltro nome contemporâneo, -e êste,
de um ilustre escritor e jurista, não seria interdito senão a ALCÂNTARA
MACHADO pronunciá-lo. . . Entre os discípulos e continuadores de NrnA Ro-
DRIOUES, nos domínios da medicina legal, destacam- e OscAR FRltrRE, com
seus valiosos estudos sôbre a fauna cadavérica no Brasil; AFRÂNIO PEIXOTO
que efetuou, com JULIANO MOREIRA, interessantes experi!ncias sôbre psico-
Jogia do testemunho 2• e elaborou um modelar regulamento pa:ra as tnicros-
copias médico-legais, "louvado irrestritamente no pa(s e no estrangeiro"; Fu.-
M.f?uo FÁVERO, discípulo de OSCARFRlURE com a revisão auxiliada por seus
a1Sistcntcs e colaboradores, das técnicas médico-legais, e LEONÚ>to Rm"Emo
ecialmente pela originalidade de seus estudos, explorados com grande brilho,
&Obrea patologia das impressões digitais.
Não cr somente na medicina legal e nos tudos dna r ças negras que
introduziu no Brasil, graças à atividade fecunda de NINA RODRIGUES, êsK
csp[rito critico e experimental. com que, no mundo civiliz-ado, rena avam
todos os dom!nios de conhecimentos e tõdas as profi - e atividades b eadas
na aplicação prática das novas descobertas. As doutrinas acerca da ftnnen•
ç6es e do papel patogênico dos micróbios, firmadas pelas memoráveis expe-
ri!ncias (186S-1881) de PASTEUR, em quem nas expressões d RUI BARBOSA,
"encarnou o g&úo da experimentação' , e cujo nome e ligou à nova era, j!
vinham orientando em São Paulo as pesquisas de L. PERElRA BARRETO(1840-
1923), sôbrc a produção de cerveja, a fabricação do vinho e o problema da
transmi são da febre amarela que se instalara no território brasileiro. Já em
1887 tsse sábio investigador, de espirita objetivo e prático, que desde 1876 se
consagrara em São Paulo, numa série de experiências, à renovação dos mé-
todos e à solução de problemas da agricultura e da indú tria, chegara a entrever,
pelas suas pesquisas, o mecanismo da transmissão da febre amareJa, que seria
mais tarde estabelecido com precisão pela teoria havanesa; e, apenas anunciada
a descoberta de ser o mosquito rajado (SteAomyitl fa ciata) o agente propa-
gador da moléstia, participou das experiências de AooLPO LOTZ e de EMfLIO
Rls.As que, para demonstrarem a verdade nova não hesitaram em arriscar
as próprias vidas, no Hospital de Isolamento de São Paulo. A EM1LloRIBAS
coube a glória de realitar p~la primeira vez no Brasil, mi 1902, na luta contra
a febre amarela os novos processos que, no ano seguinte, seriam aplicados.
em campo mais vasto, na grande campanha de saneam to do Rio de Janeiro.
Por ~. em 1899, voltava ao Brasil um jovem pauli , OsvALDOCRuz.
que tivera durante mais de-três anos, de 1896 a 1899, em Paris. no Instituto
Pa eur, na própria matriz que o gênio iniciador da nova medicina 'animara

JIJLIANO M:oUlltA, Paitx>loli• do tntemunho. Colllnt ·• rwlaa<l• em t 2G no ... 11o da Boaila


ca do Rlo de Janeiro. ln "Jor.1.11 do CoJD~o•·, 29 d~ ,Janeiro d I JS,
A CULTURA CIENTIF"ICA. 231

c:om o seu contato e deixara imortalizada pela herança de sua tradição". No-
meado, aos 28 anos de idade, diretor do Instituto Bacterio16gico, por sugestão
de EMf~10 Roux, auxiliar e colaborador de PASTEUR, e en~o diretor do Ins-
tituto de Paris, a quem o governo solicitara a indica~o de um especialista, -
OsvALDOCRUZrevela desde logo, associado à sua capacidade de homem de ci-
blcia, um extraordinário podc:r de organização, na luta vitoriO!la contra a peste
indiana que entrara em 1899 em Santos e já grassava cm 1900, nessa cidade
e no Rio de Janeiro. 'Outro cometimento, escreve RUI BARBOSA, ia seguir-se
a &se, em que tínhamos, não de nos opor ao esbôço de uma invasão, mas de
reagir contra uma conquista consumada: o domínio do Brasil pela febre ama-
rela". Na presid!ncia RODRIGUES ALVES,investido, em 1903, nas fu.oções de
diretor da Saúde Pública, OsvALt>OCRuz aceita a missão que lhe puseram sõbrc
01 ombros e, tomando o compromisso de extinguir a febre amarela, no Rio de
Janeiro, em trêa anos, consegue extirpá-la dentro dêssc prazo, depois da mais
vigorosa e intrépida campanha que se realizou entre n6s e na qual se orientou,
pela experiblcia de Cuba, corroborada pela do Pànamá; volta-se o saneador do
Rio de Janeiro para o norte, onde inaugura e termina em seis meses, com a
perseguição sistemática do pernilongo rajado, a extinção da febre no Pará, e,
enfrentando em seguida o problema da maiâria na região do Madeira-MamorE,
traça o plano geral de saneamento do vale do Amazonas. Mas, por maiores
que tenham sido, - e foram notáveis a todos os respeitos, - os serviços que
prestou ao Brasil, debelando a peste, a febre amarela e o impaludismo, não e
avantajaram êles, pelo seu valor científico e pelas suaa con.scqübcias p.râticas,
a obra que empreendeu, de nacionalização da medicina experimental, "fazendo
no Brasil a ciência para o Brasil", e criando, com a fundação do Instituto de
Manguinhos em 1901, não s6 o maior centro de pesquisas cientificas do pais,
mas tõda uma brilhante escola de sãbios e experimentadores nos diversos ramos
du ci!ncias cultivadas naquela instituição.
lt nessa instituição :es que OsvALDoCRUZ concentra todos os seusesforços
e:t&la a sua capacidade de organização, atraindo e agrupando, para a pesquisa
cientffica, uma plêiade de jovens que não tardariam a granjear uma justa no-
toriedade e a constituir, na cadeia de tradições do Instituto de Manguinhos,
o elo, sólido e luminoso, de ligaçao entre o mestre dos mestres e os seus pr6-
prios disdpulos. "Pesquisador extraordinário na atividade e inivalizável na
tEcnica, OSVALDO CRUZ revela-se, nas e,q>ressões de Rur BARBOSA, um edu-
cador inimitável de sábios' , despertador de vocações e criador de esco1a, que
possuía, mrus do que ninguém, a arte de incutir o gôsto pela ciência, de sel~
clonar aptidões e de amestr8.Tos discípulos na técnica da -pesquisa e da experi-

2S O loati to, criado an 1901, oo rundo da bola d,o Guaoabua, oob o IKNllC! de • to s«otcriplc:o
hdnal, • per inldat!..-a do Satlo de Pm Momo, dl!I ·=- pri:P>itivaJIICOte.. p,~o de wo e de
Tadila u,tipea • ,,.,. o coa,b■ L'C à bub6nlc:a que 1n.,...di,9 o pa1.a. o - oficial, por&,,., cedeu &O d•
ln.tituto de .Maqtdnbo,,, tQmado ao - d.a fucndll porta à d:i:tpoaido do S.lo d• Pmao AloJftO pelo pf"e-
fcltó' Ca.bio ALVIM, e cm C(JU!,,....,, t.mpro,rl u • ...,, prim.eirq inal:llb o ha ' decorrido •
-da ll&Ddaçlo d I l:ibl.to quaado ao Coap lntcmacioaal. de Higiene, e I>ernovú!JI, tttmldo cm Bc:rUm,
,m -bro d• 1907, tte:ebeu O.$V.U.OOC11,vz• oial0< co.... craçã:11• q11cpodia, •pirar: o Jllri d.a ~ de.e
~ cai qw, ta,;naram p,uto 2 .sis pro(l..ional•, destaeO<l dentre o. 123 ui-itm~ dm pAlJCI -maia civl•
ladeia.,_ trablllho■ do 1m tuto d• Mansuinhoa e c,onferi11 •o Bruil o 1.• p-!mh,, • flUldaJha d.e ouco da lm-
t,cnais. Em 11XJ8,• S.Col■ de Man inhos q11e e,.~ ena e ailatara notàvdmcote o campo de tel15 trabalb...,
oobn:tudo Dot dmn.laiot da aooloei• tn&llca, c M tnlO&f m&ra pcl.o dccteto n.• l 812, de 12 de dc:zembro de 1907,
IMtl o dc Plltokittl• ~mnital, íoi d•do o DOJne de lnatitl(to Otvaldo Cnu,, cm b.o..,....1cm ao -= emi-
_,tc fwidad0< Qlle lll9ft'OU, com a, ,ua acoja de domçu tropicais, 11D1t l-po,:a. - e • m.aJ. lnopartantt e íOICUDda,
- na evolu(&o d,mtmca, da mediei.,. ao e .. .u. N09 antigos terrtnOe da r.ucnda de ~ull>hc., cm C\l.ia:.
depmdeadq lataiu.m 011primdr l■ borllt6ri de merutina experim=ta.l do p■h, ~U•N lliadll 1:IO tempo,
e por lmdaâva de: OrvAI.DO C.Ur, o
C'Om l1borat6rloo t uma blbll-
'"°- cdllldo a:otra1, em catilo • , do I titut Osvaldo O- que
de 7S mU ..-alumca. - boje w:ua 4u ma11lmporuotc, do i:o.Wldo -, alb
de d ed!lldOI ml!ll«a., um ha■pital e viri01 p■rilhõc,, e ~ aoe:u.a, ti • malar D00la de maSI•
ematn,pical o,a Am&ica do SuL lt 't.ulçlo uothd o u&llde -2,o qll OIVALIIOC.111. (1172-19l5),
í.ieddo P'flDA lioeDte •oe # a., "aonbou na mocidad,e e CCIGIIOC"Íll n,atl,;u NI e 1118dlll'II".
232 A. CULTURA BRASILEIRA

mentação. Forma-se, desde o princípio, por iniciativa e sob a influência do


criador da medicina moderna no Brasil, "essa cons dação de moços laureados,
utroa tantos mestres em cada um dos quais se espelha a imagem gloriosa do
mode.to': um GASPAR VIANA, falecido prematuramente aos 29 anos descobridor
das formas endocelularcs do "Tripanozoma Cruzi" {formas de GASPAR VIANA)i
um ALcmBS GoD61, que assinala em 1906 a primeira grande descoberta de
Manguinho , com a vacina contra o carbúnculo sin omático; um HENRIQUE
ÃRAGAO, que realiza em. 1907 o primeiro dos grandes trabalhos sõbre proto-
.roologiaj um CARDOSO FONTES,que em 1909 publica os seus primeiros estudos
sabre a filtrabilidade do virus da tuberculose; um EZEQUIEL DIAS, um .AR.TUR
NEIV.A, um ROCHA LIMA e um CARLOS CHAGAS, que em 1909 conquista para
o Instituto o seu maior triunfo com o trabalho sõbre a tripanozomfesc ameri-
cana, e aeu agente propagador (Tripanozoma Cruzi) e a quem, por essa des-
coberta, "o premio Schaudin confere, por uma sentença germânica, as honras
do mal1 notãvel dos protozoologis.tas do mundo". A êsse núcleo, formado em
Manguinhos, veio reunir-se atraido por OSVALDOCRUZ em 1908 o sãbio ADoLF0
LUTZ (1855-1940}, que estabelecera as bases da .zoologia m6dica no Brasil em
trabalhos memoráveis, realizados em São Paulo. lt n se Instituto que tra-
balharam ainda entomologistas Cómo CÉSARPINTO e COSTA LIMA, um endo-
crinologista do valor de TALES MARTINS, - a nossa maior autoridade cm
questões de ereção interna, - um FLÁVIO DA FONSECA, que se especializou
em protozoologia e em animais venenosos e um helmintologista da estatura
de LAURO
"um dos mais produtivos inv ·g dores e chefes de
TRAVA.SSOS,

escola que Ma.oguinhos já formou". 8 dêsse centro de pesquisas e de trabalho


científico, - a maior escola americana de medicina tropical, que se irradia
por quase todo o pais o espírito critico e experimental, lev do por discípulo,
de OsvALOO C~uz como PACHECO LEÃO, que rcmode a o Jardim Botânico.
do Rio de Janeiro, ARTUR NEIVA, que cria em São Paulo o ln tituto Biológico
e J. FLOR!Nc10 GoMESque inaugura, em 1913, a fase c:ientlfica do Instituto
de Butan ã, vigorosamente desenvolvida por
G
AMARAL, seu sucessor
APRÃ 10

e o maior conhecedor de ofidi..~o no Brasil; é d!le que ae originam o novos


institutos de pesquisas, que se fundam no país, como o Ezequiel Dias, em Belo
Horizonte, o Biológico, em São Paulo, o Borges de Medeiro , m Pelotas, o
Instituto de Patologia Experimenta] no Norte, em Belém do Parã, podendo
dizer-se que quase todos os instituto de pesquisas científicas, do país, nos
domfnios da zoologia médica, foram senão criados, renovados ou secundados
por pesquisadores formados na Escola de Manguinhos. A importância capital
dessa escola de medicina experimental, em cuja direção, em 1917, sucedeu
a OSVALDO CRUZ seu discípulo CARLOS CHAGA , que lhe des nvolveu e completou

20 Pol, de rato, ao .lftltituto de ldanguinh . on e l'i••• c:uno de p allatliD, q.ie we pceparou.


olldl , no liu-
J. ~&H o QQM:Q pan .,. ntt>doo quC' levo-.i a e!cito, dm 19 l , sóbr • i,tcml de n
tltuto d Butantl, de 51., Paulo. Sesa imti~'>, fundada em 18 9, i ra IIWI~ atlvid,i • sob a d.ir~D
de VtT.u. Ba.uu. (lll99--l919) no lctreno da pcei:,acação da vacina • '6ro contra • pe.le bub6Dica. A r- pr •
priamllnte de,i Instituto, h1iciaaa por Vrr.u. 811.UU. e ~ 1901 e 1912, e d<VA•
Nllvida em 191S por J, hOQ>ICIO Gmo:s. tornou um im;,,lho i»Va orietitsçl.o
que Ih deu~ Cl9A, da R,co1a de Manguiahol, e ati-rida.ie lecl1nda
de An.u110 A.t.wt.u., cbd'e da oeção de oüdiaJogia e em 1919
pua d • 6ou lDstituto. Em 1918 o pllblicadQJ ae tant • vol. l.
• tr•balll '6boo planta.e mcd.ic:iDa:': e, entre 1919 e 1921, o l vc,1. doo
Ane.ro d• OUdlotoila, .,,., que AnÃSlD Ax4v.i. d ca da 11h
QudJ:oada 0...odc, .um de trh OUtra3 espkis ~ nica em qlic
F. C. Ho d YOI u. .,.... e9tudoe sõbre às ' ubllcou o 1:11
116bre o trabunentn das Í1kffas por m 1, de~.
e Butan: trusformado 11wn ceou-o de • • aplkadu
, de ae&do COlll o projeto de 21, vol-• •
28, • direçl.o dbae llutituto. 1t por ataram
llbllh p1iblimd01 entre l9J5 e 1938, do lmlitu
m • col borv, attatdo!I pela llOV1l d' CIOIDO AUS
KAlrT:Dtlo PLJ.vro DA FOlnllc,.. da &lco!a de Maoc,,;n "od de 11.11i,
"'1aJdadu da AlcmMhL
A CULTURA CIENTÍFICA 23S

a organi.tação, e a aste, CARDOSO FONTES, seu terceiro diretor, ainda se pode


apreciar peloa mais de 2 SOOtrabalhos científicos publicad~, desde a sua fun.
dação, e grande parte nu Memórias do Instituto Osvaldo Cruz, "o maior
reposit6rio au.1-ameriamode artigos referentes à microbiologia e à parasitologia''.
Mas Manguinbos que nasceu no apogeu da era pasteuriana. "o.ão podia
fugir, oomo bem observa TALES MARTINS, à orientação microbiol6gi e apli-
cada que monopolizou, e muito utilmente, as atividades iniciais do Instituto".
Se com as transformações nêle operadas por iniciativa de CARLOSCHAGAS
depois de 1917, ~ que se criou, aliás segundo plano do próprio Osv.ALDOCRuz,
a aeçio de fisiologia1 e se abriram novo$ horizontes às suas atividades cientí-
ficas, "16 com Ãl.vARo e MIGUELOs6RIO,vimos finalmente na cer, sadia e a
termo, a ítsiologia nesta terra, quase no mesmo tetnpo em que, na Argentina,
aurgia BERNARDO HoUSSAY". No seu laboratório particular, por volta de 1915,
ÃI.VARO OSÓRIO DE ALMEIDA, o inaugurador da pesquisa fisiológica entre n61,
conquista a sua primeira vit6ria com o trabalho sObre o metabofumo baaat
nos trópiC08; e, no Instituto de Manguinhos, a que J. CARNEIRO FILIPE, embora
engenheiro, mereceu a honra, pela sua notável cultura científica, de er cha-
mado para dirigir a seção de flsico-química aplicada à biologia e inaugurar
a fase qu.úruco-terapeutica dêssc Instituto, é encarrc.gado, em 1920, do labora-
tório de fisiologia M.raUBL OsóRio, já consagrado pelas suas importantes pes-
quisas eõbre íisiologi do sistema nervoso e da respiração, e, mais tarde, lau-
reado do prêmio Einstein da Academia de Ciências e do pm:n.io Sicard da Fa-
culdade de Medicina de Paris. 2 oom os novos laboratórios e as pesquisa•
empttendidas, em novos campos de investigação, pura e desinter d , que
ae alarga ainda mais o trabalho científico dêssc Instituto, cuj origcn mer-
gulham na luta decisiva que o Brasil foi compelido a sustentar contra a peste
e a febre amarela at~ a sua exterminação. "Quando o governo, escreve TALU
MARTINS,resolveu atacar o problema da febre amarela, de vida ou de mort
para a nação, encontrou o homem, - OsvALDO CR.uz. Aproveitando-se do
prestígio decorrente para criar Manguinhos, cuidou OsvALDO CRUZ de nossa
bigienização intelectual, dando um desses saltos formidáveis, s6 possfvei, nos
palses em formação; quase do nada passamos a possuir um doa melhores insti-
tutos de medicina experimental do mundoº. Mas, se ~te nosso maior passo
cultural ~ conscqüetlcia de uma praga, já bastante enraizada e devastadora,
além de humilhante, para que o brasileiro permanecesse de braços cruzados
diante do problema terrível, é certo que o seu desenvolvimento foi extraordi-
nàriamente favorecido não s6 pela atividade maravilhosa de um homem,
OSVALDOCRUZ, como também por essa atmosfera social de inquietação e por
essa efervescência intelectual e científica que haviam produzido no Brasil
desde 1890, as transformações de estrutura econômica e de regime poUtico. :t.
por essa mesma época em que lança suas bases e toma impulso a obra grandiosa
de OsvALl>O CRUZ, que surgem, de 1902 a 1909, Os Sertões e outras obru
de EuCLID DA CUNHA, explorador e geógrafo, tôdas marcada de um alto
apfrito cientffioo, e desenvolvem, num plano mais largo, as expedições
piora.doras do General CANDIDO RoNDON. encarregado em 1907 pelo Ministro
MIGUEL CALMoN de 'atravessar a zona d.csoonhecida e estudar os recursos
uturais da região percorrida' , isto é, de Mato-Grosso ao Amazonas.
notável brasileiro, desbravador e civilizador do sertão, 'ao desvendar tão grande
trato desconhecido de nossa pátria., de tal forma cuidou das inv tigações d·
mtificas que, no julgamento autorizado de ÃRT1JR NEIVA, seu nome como pro-
pulsor das ci&lcias naturais no Brasil dos tempos modernos vem logo depoi1
de OsvALDO CRoz". Se tivermos, de fato, em vista o que tanto em botAnica
234 A CULTURA BRASILEIRA

(8 mil número colecionados, muitos pelo próprio RONDON) como cm zoologia


(6 mil exemplares) representam as 66 publicações da Comi de Linhas Te-
legráfica Es atégicas de Mato-Grosso ao Amazonas, podemos concluir com
ARTUR NEIVA que • nenhuma expedição científica brasileira concorreu com
tão alto contingente para o desenvolvimento da história n tural entre n6s e
nenhuma tou mais no estrangeiro o nome de nossa pátria '.
ão foi, porém, menos importante a contribuição que ouxcram aos es-
tudos geográfico e etnológicos os trabalhos da comissão chefiada pelo General
RONDON que, tendo-se iniciado com o Major Go ES CARNltlRO na obra de
desbravamento do sertão, já em 1892 inaugurava, como chefe, essa série ex-
traordinária de expedições com que, estendendo linhas telegráfica ou proce-
dendo ao exame de fronteiras, devia "abrir à ciencia um campo enorme de
verificações e descobertas". Da estirpe de batedores de sertões, constituída
por um LACERDA E ALMEIDA (1750-1802), paulista, engenheiro geógrafo que
féz explorações no Amazonas, Pará e Mato-Grosso; de um ALEXANDRE. RO-
DRIGUES FERREIRA, médico e naturalista baiano (1756-1815), notável pelas
suas excursões cientificas na Amazônia; de um General CouTo DE MAGALHÃES
(1837-1898), mineiro, outro grande sertanista e etnógrafo, autor de Viagem ao
Araiuaia e de O SelvaAem, - o General RoNDON realizou durante 38 anos
(1892-1930), com suas viagens e expedições, uma das obras mais fecundas
da história do Brasil, não só do ponto de vista da conquista territorial como
do ponto de vista geográfico. Depois de Os SertéJes, - "o mais notável tra-
balho de geografia humana que um pedaço de terra já mereceu de um escritor''
-, e de outros ensaios como Terra sem hist6ria, cm que EUCLIDES DA CUNHA,
geógrafo ao par das teorias mais modernas, poe todo o vigor de seu e tilo a ser-
viço de sua cultura científica e de seu poder de observaçao, aparece s6 em 1916,
com o mesmo espírito novo e constnúda sôbre uma base de pesquisas originais.
a Rond6nia de RoQUETlt Pl:NTo,- narrativa da expcdicão de 1907 e mo-
delo de monografia etnográfica e antropológica sôbre a tribos indígenas de
Mato-Grosso. Assim, tendo à frente EUCLIDES DA CUNHA,com a sue visão
genial da terra e da gente, e ROQUETE PlNTo que volta da exp dição Rondon
com uma obra, de alto sentido geográfico e etnológico, desenrola-se, nos diversos
setores do vasto dominio dos estudos g,eográficos e geológicos brasileiros, uma
eoria de pesquisadores, como um RAIMUNDO LoPES, na geo-arqueologia, pelos
estudo das esteiarias e dos sambaquis, um ALBERTO Joslf SAMPAIO na geobo-
tAnica, um MELO LE.ITÃO,na zoo geografia, L'Uis FLORES DE MORAIS Rioo, DJALMA
GUIMARÃES e LUCIANO JACQUES DE MORAIS, na geologia e SÍLVIO FR61s DE ABREU,
na geografia mineral e industrial, enquanto DELOADO DE CARV ALUO e F. RAJA GA-
BAOUA, - pioneiros da geografia moderna no Brasil. - se batem pela reno-
v ção doa métodos do ensino geográfico. Os estudos his 6ricos, estirou.lados
através de quase um século pelo Instituto Histórico e Geogréfíco Brasileiro,
fundado m 1838, e mais recentemente por outras instituições da mesma natu-
reza, como o de São Paulo, fundado em 1894, e renovados por um CAPJSTRANO
l>B ABREU que cm 1907 publica os Capítulos da hi t6ria colonial, e por um
JOÃO RIBEIRO com uma síntese magistral da história do Brasil, entram também
'es, numa fase nova que se caracteriza pela penetra -o crescente do cspfrito
científico, tanto pelo gôsto da análise como pelo esplrito ·n ético e pc]as idéias
g ai , pela pesquisa dos fatos e sua interpretação. Em São Paulo, a partir
de 1917, AFONSOTAUNAY, diretor do Museu Paulista, concentra todos os seus
esforço em organizar, enriquecendo-a constantemente, a cção de história
n cio ai, já prevista no dec. 249, de 1894, e ampliada pela lei n. 0 1 911, de 1922.
no gov!mo de WASHINGTON Lufs, com que tomou notáv l desenvolvimento
nA mesma época em que se fundava, no Rio de Janeiro, o Museu Histórico
A CULTURA CIENTÍFICA 235

Nacional, boje um do maiores e mais importantes do país,27 A obra gigan-


tesca iniciada por WASHINGTON Lufs, entre 1916 e 1924, de ui , restau-
ração e publicação de documentos na sua integridade primitiva, a6 mais tarde
seria retomada, no govêmo de ARMANoo SALEs, pelo Instituto Histórico
de São Paulo. as o impulso, no domínio da geografia e da história, havia
sido dado com bastante vigor para que se interrompesse magnf fica série
de trabalhos e de estudo de documentos. Em 1931 com , de fa o, a
conatituir-se com a Brasiliana, editada pela Companhia a Nacional, a
mais vasta e rica biblioteca de estudos nacionais, escoltada, depois de maia
de um lustro, pela coleção Documentos Brasileiroo, publicada pela Livraria
Josê Olímpio sob a orientação de GILBERTO FREYRE e, dez anos mais tarde,
jã em 1940, pela Biblioteca Histórica Brasileira, criada por iniciativa da
Livraria Martins, de São Paulo, que confiou a RUBENS BoRaA DE MORAIS
a sua direção.
A repercussão da Brasiliana que atingiu, em um decênio, cêrca de 200
volumes e foi, por certo, uma vitória da cultura nacional, já era nttidamente
ãntomática do renascimento dos estudos históricos, geográficos e sociais que
deviam encontrar, depois da revolução de 30, uma atmosfera intelectual extre•
mamente favorávcl aos seus progressos. Com essa enciclopEdia que "vem
descobrindo o Brasil àqueles mesmos que mais o julgavam conhecer", inau-
gura- e uma s&ie de iniciativas, públicas e privadas, tôdas prepostas à aplo-
.raçio e ao desenvolvimento, em extensão e em profundidade, dos estudoe na-
cionais, com que o Brasil pudc:ssc tomar uma consciência cada vez mais viva de
ai mesmo. A revolução de 30, determinando uma fecunda agitação de idlias,
semelhante à que se produziu depois de 1889, oomo conseqüência da mudança
do regime econômico e político, acelerou o movimento de fermen ção inte-
lcctuaJ e cientffica que já percorria o pais &0ba pressão crescente de influ du
culturai externas. o entanto, como os problemas mais g:rav jã n o eram
os da saúde p(iblica, ameaçada em fins do século passado pela peste e pela febre
amarela, mas problemas de outra ordem, sociais, políticos e econômicos, agra-
vados por tõda. parte com a aplicação mais intensa dos novos mEtodos de
produção industrial~ foram ~tcs que a revolução transferiu para o primeiro
plano, criando em õmo dêlCl!iuma atmosfera ardente de curiosidade e de in-
quietação. Atmosfera não s6 de inquietação mas também de batalha, própria
tanto para estimular os estudos das ciências sociais, quanto para impelir os
homen ação, dividir as inteligências e marcar a atividade intelectual de um
espírito eectãrio. Daí o predomínio das preocupações de reforma sõbre o gOsto
da objetividade, na maior parte dessas obras em que, pela interferência cons-
tante. dos planos teórico e normativo, nem sempre é fácil desmaranhar da
idéias filosóficas ou de doutrinas, simplistas e unilaterais, o conteúdo em geral
muito limitado, devido a pesquisas positivas. O pensador, cuja única ambição
seja a pesquisa dos fatos e a reflexão sôbre êles, sabe que o mundo não lhe per-
tence senão como objeto de es udos, e "ainda mesmo que pudesse talvez o
acharia tão curioso que não teria coragem de reformá-lo ... " Maa, embora
caracterizado a princípio por essa orientação prática e aplicada, foi &se mo-
vimento intelectual um dos mais fecundos que se produziram entre n6s, n o
a6 pela sua intensidade como pela variedade de iniciativas a que deu lugar,
236 A CULTURA BRASILXIRA

cm diversos etores de estudos e de trabalho científico. ~ por época, em


1931, que se agita com mais íntensidade e se procura resolver, na reforma Fran-
cisco Campos, o problema universitário, fundando-se cm 1932 em São Paulo,
a Escola de Sociologia e Política e. mais tarde, em 1934, e Faculdade de Filo-
sofia, Ciencias e Letras, - a pr.mcira, de iniciativa ofici I. que se instituiu
no Brasil -, seguida logo depois pela Faculdade de Ciências do Distrito Fe-
deral e pela Faculdade Nacional de Filosofia; ê entre 1934 e 1935 que. on São
Paulo, se org o Departamento Municipal de Cultura, de cujas atividades-,
oo terreno das pesquisas históricas e sociais, nos dá conta a excelente Revista
do Arquivo Municipal, e se fundam a Sociedade de Sociologia, a de Etnografia
e Folclore e a As ociação de Geógrafos Brasileiros além de outras instituições
da mesma natureza cm diversos Estados; é ainda nessa época que adquirem
um impulso notável os serviços de estatística geral, fundado por J. L. S. DR
BULHÕES CARVALHO, --o ilustre orientador do Recen camento de 1920 -, e
ae cria cm 1934, no Rio de Janeiro por ·niciativa do govêmo federal e graça'!I
à tenacidade incomparável de TEIXEIRA DE FREITAS, auxiliado por elementos
de primeira ordem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatfstica, - uma
das instituições mais importantes e de maior alcance cienttfico, social e polí-
•co fundadas depois da Revolução)iS As missões de professores estrangeiros,
contratados em 1934 para a Universidade de São Pauto, - a primeira que
.recebeu a influência dessa corrente de cultura, e para as do Rio de Janeiro e
P6rto Alegre, intensificam as pesquisas no domínio das idêia e dos fatos e,
iniciando pela primeira vez .n.o Brasil as investigações científicas, na física ex-
perimental, contribuem notàvelmente para a penetração em tõdas especia-
lizações intelectuais, do espírito e das m!todo cicntfficos.
No campo dos estudos sociológicos que se v~ d envolvendo sob a in-
flu ncia de professoTcsnacionais e estrangeiros, sobretudo depois da introdução
da sociologia no programa de ensino universitário, aparecem, ao lado dos pri-
meiros •s ematizadares de sociologia, pesquisadores e historiadores sociai
que procuram modelar uma representação, mais clara e precis , de nossa for-
ção, à luz viva dos documentos. Entre aquélcs, sociólogos de profissão,
continuam os forços de um PoNTES OE MIRANDA e de um DELOA.DO DE CAR-
VALHO um MIRANDA REIS, um FERNANDO PIR&Se um E ÍLIO WJLLEMS, para
citar apenas alguns dos que mais têm contribufdo para a aplicaç o do métodos
positivos ao estudo dos fenômenos sociais e para os progressos dos estudos
comparativos dos grupos humanos e de suas instituições. 20 Entre éstes, - os
28 O lruUtuto .Br111.Uriro de Geografia e &tat.iltica, criado pelo d«roto.ld 11,•24 609, de ISde julho dl'
1!13it, ■ peUr ele ,er hut:ltulção recente, é d.u que tem d111doprova, de m•IOl' v tAlldade, nos 11 11,randaaaetorH
que abr age o 111u lotem■ de oer"íços ettatútico--~grArico-censitl\riCIII. E eatro u.• nlc:l•tl1111.J 6 ....i« vulto,
4,m:ac.m- • unlronnlHçio dCIIIservtÇOe eotatbt;icos no Br&nl, - obr■ notavel • q~, dNde 1931, vem con•
.. IJ'l'n4 'J°111UIU pg F'utTAS 1u1t grande c,ompctlncl e .:,ap cid do do decllCJ1c;lo;11 publlc■çia do Anuárico
Eat■ tl,tJoo; • orpn~ çào de mapa& topoçfil'íc:09 e o clcam,,olv!m oto d "1"tn&Tafi11 bt■ailelni, • que l' hav!AtD
u.ddo c:oatrlbui do J1111ia a.lto ,·alor o Minat:ério du Rcl■ç6w Jbtcrlore II o d• Oucr..._ pela Comltailo d
C■rt■ Ocr■I do 8t U, oc~o.nlcadJl c:m 1900, e pelo Serviço Oco :.\nco M que foram
reunld , ""' 1932, a,;b • denomíne.ção de Servtco Geogrtrlco e HI tórico nova
c:diclo, J)Cló cm dúi, do rn•p~ do Cbbe de Et>genhllria. edi o em 1932 1 m •
dp■ í1, em 1940, •~ngendo todm "" munic:lpi do Bnuil. m 116m tud ,
de llm.OI unn • tútica e de um■. bib!iognn■ ge,ix;rtfica br que
lbc c:anJJoo o covtruo íedCB!, pondo-o 11<>b .- rcaponsabilld■de e di oml,
pelo OT. Cl.fflElao .Fct.tpg, - O ~to d.e 1 O Yer•
.tur■ ' no Bniil. Presidido pelo D<-. J. C. tis M&CIDO -mW-•
c:mno aa:retvio cera! o Dr. A. uma ti•
domtaio w paqnis■s 1: ~. de tbn duu
raú, que Ião modelos r.o r;~ • Ro.,( Brll ilmr•
Cfr. Rehtóno de l939 •~do pelo t: M.t.czno
te de Rep6blic:a. Servipo Gr tlim • ,
Rio, J.940; Lei/ai ia do S~ &talblko-G • •
• B.G.E.,Rio,l~O
Po MIRA1mA, lt>trodu~ a !!!OCio/o
1 DC ialosia. 2 vota. Liw-■ri.s F clona 1•
N aulo, 1933; &x:iofo ·• • o, 1934;
P'Dlf- DC Arltva,o. l'rint:I_pi~ de Soc:i.olofia. Pequc:tul • ~p.
N~. Slo hlllo. 1,• ediçAJ;i,1935'; 2.• c:ion4/. la.
trodll(lo ■o mudo d.ce r~ eduaicianaia e de p. Editara
Ne~, SI.o Paulo, l!MO; cdí;lo - esp:mhol, &c:c■,Oaúca
M&Sco, 1942,
A CULTURA CIENTIFICA

historiadores 10ciaia1 0uvBlRA VIANA que os precedeu a todoe com aa Popu.-


/açõea Meridionais e Bvolut;ilo do Povo Brasilei,ro, e 011.BllTO F'R.EYRB.
o maior i:nt&prete de nOABformação social. trazem com suas obras de análise
eocial, nio a6 uma contribuição de primeira ordem à penetração de nosao paa•
aado, mas um exemplo e WJlestímulo ao estudo científico das sodedad . Elas
concorreram, de fato, para documentar e realçar a utilidade do esfõrço desen-
volvido, no domlnio do ensino e da pesquisa, no sentido de mat;ttcr à sociologia
o aeu verdadeiro valor científico, fora de tôda a preferA eia outrinâria e da
preocupaçõc:a de idades práticas. Em Casa irande e senzala (1934),
- trabalho notável de precisão de análise e de uma extraordinãri riqueza de
observaçé5cs, deu-nos GILBERTO FREYRE a obra de maior repercussão que se
publicou no Brasil, depois de O Sertões. Nesse grande livro, consagrado ao
estudo do patriarcalismo rural na época colonial, como em Sobrado e mo-
cambos (1936), em que trata da decadência do patriarcado rural e da formação
d.a burguesia urbana, e na sua monografia regional, Nordeste, o eminente 80·
ci6logo brasileiro, como observa RoaER BASTIDÊ, "procedendo por acumulação
de pcquenoa fatos, por análises minúsculas, q,uase infinitesimais, voltando
.Obre certos traços importantes, sempre com novas luzes a projetar", consegue
ressuscitar "através dessas centenas de parágrafos cerrados, compactos, pesados
de detalhe , uma atmosfera, um clima desa.parecido: o do velho Brasil" .ao A
sua obra aociol6gica que se caracteriza pela aplicação do m~toda histórico cul•
tural ao estudo da farmação brasileira e em que se manifesta fortemente a
reação contra a tese racial de OLIVEIRA VIANA, assinala, sem dúvida uma fase
estraordinàriamente fecunda e decisiva, na evolução cientffica dos estados
aociais no Brasil, renovando os métodos de investigação e abrindo novas pers-
pectivas. N trb obra O Ne~ro Brasileiro (193 ), o Folclore NeAro do
Brasil e .A Cultur NeAra no Novo Mundo, ARTUR RAMO, retomand.o
as pesquisas de NINA RODRIGUES, realiza uma série de estudos de maior intc-
~ científico sõbre a, origens dos negros importados no Brasil, a sua distri-
buii;io pelas divcnaa rcgiocs da pais, os seus costumes e as uas culturas pri-
mitivas. Mas, se oa trabalhos de GILBERTO FREYRE, que também estuda o
negro "em odo um sistema de relações sociais" e os de ARnrR RAMOS.nos
quais êle é estudado "em si meroio e independentemente de sua posição social",
determinaram um grande inter&se pelos estudos científicos afra-brasileirot,
chegando a provocar no Norte um movimento literãrio de exaltação do afri.
cano, os estudos sõbre as tribos indígenas· prosseguiam) silenciosamente, na,
atividades das Museua ou nas explorações etnogrãficas, isoladas e dispersas,
especialmente em Mato-Grosso e no Maranhão. A escola brasileira de etno-
logia, cujas tradições remontam a ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA, GoN-
ÇALVES DIAsu e Couro DE MAGALHÃES, e a quem vinham trazendo, atrav6a
de mais de um século, a sua colaboração MARTrus, VON DEN STEINEN (1888),
SCHMIDT, e, já no éculo XX, CoLBACClllNI, HERBERT BALDus e KuRT NlMU-
ENDAJU, -o maior de todos, toma novo impulso com ROQUETE PINTO. 001
:seus estudos bre os parccis e nambiquaras. e HELofsA Tô.RRES,com as auu

80 u lta, a,:tuel dM ltud


UTm.S, •lro-brkilirmna. Le probl e d C'OClt8Ctd ,-.
li, '"R- ONlk de Boclalolk'', 47c. ennEc, m. 1-II, JUlvier-Pecmer 1113, p6p, 77.ff. Roe. 8ollffl.ot.
la-
20, Pari9, 1939: r. P.1vi. AaoU- Burm•: pre!6do ao tívro de Go..u.mo Pun:a., Um. en,anh ho fran,,:,h
no lhnll. 1-XX:XV, Co1eGio~ Bru!leirca. Liff'Cia JO/llf; OUmpóo, ' , IMO.
li Da c:om1 brulJein arp.,,IAda em 1151. s-- a eqiloracio dmtffic:a da prcr,ii,du do aartr. fi
,-u, - Jl IC Oottç.u. DLU nocdlcu • ~ de bidar' OII do "- o
IJ'&a4c1JC)Ctll do (Qd.io, - a o - maior .s-i- -, qoe erac tamb&n um b.lillaDitra de lncoa-
d. autor do DidonJ,/o d• ua,u. Tupi (Lcipà&, l&S6). colq:ib em • '""°' wn abudan - 1
~CD que - nocolb H l(UIICV, N~. dbpeno e - ~ o. r~ atad d• :R.ul&UWDO
LoPa, complttadOII d
IJ'9ÇAI ' tllc:l,o mmlda per lifOODallA.
DA ~U.V"-, lavaram r - e da.alllcar,
pa,>de part , ,,.J ~ q , -,uecldo o relmlrio que a d.eo,orimhia (vol. dc ~eh de llliL),
pcrmiU>eClafrasmcntada e d! llff' .. , cain ilUU -pill tem adequada laterpretaçAo (Vede CHuno:a i.ou.:.cmu,
Lln ua. lnd.1,ene~ do BrH/1. D tribui~o e blbllognHa. ln Jàviste do Arquivo Municipal, ano V, vol. LIV ,
ícvetdto de 1939. S o Paulo, pl J 4 7-174).
238 A CULTURA BRASILEIRA

investiga~ sõbrc a cerâmica marajoara, para entrar numa fase de interpre~


ção e de análise das estruturas de sociedades primitivas, em que se destacaram
dois etnólogos traogeiros, KURT Nn.ruENDAJU,com suas notáveis monogra-
fias sl>bre os canelas orientais- (Ramkoka.mekra) e LEVY STRAUSS, com
páginas magi ais. publicadas em 1937 na Revista do Arquivo Municipal
brc os bororos da região setentrional de Mato-Grosso.
!. te, em suas linhas gerais, o quadro da evolução da cultura científica
no Brasil, num período que se estende a pouco mais de um ~culo. Em tôda
a hi tória de nossa cultura, ilustrada, no domínio cientifico, por figuras notáveis,
mas excepcionais, sempre nos faltaram, para estabelecer o equilibrio de nossa
saúde intelectual, o hábito da objetividade matemática e êsscgõsto dos fatos,
bse rigor de observação, êsse contrôle, constante das teorias pelos nossos sen-
tidos e esse espfrito crítico e experimental que só nos podiam dar as ciências
físicas1 químicas e naturais. A atitude geral do brasileiro em face da cíência,
- atitude de admiração pelas conquistas das ciências, mas de indiferença e
desíntcrêsse pelo trabalho científico, é determinada exclusivamente pela atmos-
fera cultural em que se educou e pelas condições de vida social e econômica:
ae tem suas raízes no tipo de formação quase trissecular, com a preponderância
aenão domínio exclusivo das letras, não foi menos favorccida e estimulada
pelo imediatismo utilitário, característico dos países jovens cm que os problemas
prático I de ordem material e eoonômica, têm de forçosamente des1ocar para
plano secundário, senão relegar ao abandono as preocupaç· s culturais. Povo
cm formaçao, cujas elites, durante cêtca de tr· êculos do regime colonial, se
modelaram por um mecanismo de ensino vcrbalis e literário, apropriado,
como nenhum outro, para tornar o homem um isol do, inapto para a ação,
desprotegido contra si mesmo, teve o Brasil mal despertava para a liberdade,
de enfrentar problenas árduos e complexos que não estava preparado nem em
condi ~ de resolver, e que, desde o alvorecer da nação, o bloqueavam de
od.os os lados. De uma parte, a tendência ao subjetivismo que se desenvolveu
com o cultivo e cJusivo das letras, alimentando o píri o do ático, exacer-
bando a sensibilidade e favorecendo os desvarios da imaginação, e, por outra,
o utilitarismo sem freios a que nos habituou a lu a áspera para a conquista de
um minimum de vida mate.~al, deviam permanecer, atravé de quatro sé-
culos, como elementos tradicionais dos mais desfavoráveis ao progresso das
ci!ncias, pelo trabalho da pesquisa, só possível e eficaz mediante o hábito de
uma técnica severa que exige. uma constante preparação e uma disciplina de
todos os instantes. Mas, se entre a ciência e a filosofia não há senão uma di,
ferença de pontos de vista, a saber, que "o ponto de vista filosófico é mais geral
e se apresenta sempre um pouco como uma aventura', um sal o no desconhe-
cido, sem conservar pontos de apoio constantes: se da ciência, que ela pressupõe
e cm que se baseia, não difere a filosofia senão por uma maior generalidade
de hipótcsc,u é fácil compreender que, ligada Intimamente na sua evolução
a ci • eia e a filosofia. não podia esta ter tornado impul o num pais, de recente
cultura científica e em que as condições sociais e econômicas foram sempre tão pou-
co favoráveis tanto à pesquisa científica como à especulação filosófica e, portanto,
edos-o de representações originais da vida e do mundo. :e
certamente a
tarde, na cxistê.ncia do indivíduos como na dos povos, a hora do sonho e da
meditação. Nos povos jovens que ainda lutam para constituir-se e manter-se
livres, sonho nutrido do interêsse pelos problemas transcenden es e da
editaçâo, quando chega a arrebatar alguns íritos pioneiros, muitas vêzes
interrompido, tem depressa as asas quebradas; e a inspiração é de curto fôlego ...

at A:a&t. R.n, La Plúloaophie Moderne. ~ Fk=-r on, Z:tl , aru, l9U.


A CULTURA CIENTIFICA 239

Os largoe horizontes lhes são geralmente interditos: o que os preocupa antes


dé tudo, para 01 problemas que se agitam, são as soluções particulares, tocaia
ou nacionais, e não as soluções humanas; e, renovando-se cm cont to com as
culturas externas, não se sabem criar senão uma cultura para uso interno, como
c.rtos vinhos que resistem mal à exportação e não têm sabor senão no próprio
lugar em que -o fabricados ...
A evolução do pensamento filos6fico entre n6s está por tal forma ligada,
nos ~ primeiros culos, "ao clima ideológico" peninsular, sob o qual se de-
te:DVolveua nossa colonização, e no século XIX, a correntes filosóficas euro-
péia, importadas, que a história do que tem sido a filosofia no Brasil, como
obsdva CRUZ COSTA, não é mais do que a história daquela influência e dessa
continua importação. Se as relações entre a literatura nacional e as literaturas
européias têm um ritmo de pêndulo, desde meados do século XIX, procurando
aquela, ora afirmar-se e ser ela mesma, ora voltar, a fim de renovar-se, às IP'ªndea
fontes das literaturas estrangeiras, as relações entre a filosofia no Brasil e as
,&:grrcntesdo pensamento ocidental são, ao contrário, marcadas sempre por
um caráter de pura imitação e subordinação. Reduzida, na Colõnia, ao quadros
rígidos da velha colâstica que nos legou a tradição portuguêsa, a filosofia
que, nas palavra de EUCLIDES DA CUNHA, .. papagueava no ecletismo massudo
do Pe. MONT'ALVERNE", segue nas suas transformações, durante o culo XIX,
o ritmo e as direções diversas impostas por novas correntes filosóficas, mate~
rialiatas e po itivistaa. "O que para logo se nota na generalidade dos escrito
filosóficos brasileiros, cscr ve o Pe. LEONEL FRANCA,é a falta de originalidade.
Não podemos ainda pleitear, como as grandes nações civilizadas, certa auto-
nomia do pensamento. De no o e de nossoJ bem pouco e bem mesquinho é
o que podemos reclamar. Refletimos, mais ou menos passivamente, id~as
álheias; navegamo lentamente e a reboque nas grandes esteiras abertas por
outros navegan cs; reproduzimos, na arena ·filos6fica, lutas estranhas e nelas
combatemos com armas emprestadas". De fato, nenhum tr ço vigoroso de
criação, nenhuma rebeldia do pensamento cnti.co, nenhum desvio dos caminhos
abertos e trilhados. Mas, se a anáfü,e da evolução das idéias filosófica no
Brasil não nos depara um.a pesquisa no domínio das idéias ou uma produção
verdadeiramente original, e, portanto, um pensador bastante robusto e pro-
fundo para que se lhe po dar o nome de "filósofo", os brasileiro não se man-
tiveram indiferentes às questões que preocupavam o pensamento europeu,
desde os prindpios do século passado, e alguns dêles, ensafstaa brilhantes e
persuasivos, contribuíram notàvelmente para a divulgação entre nós, de cor-
rentes filosóficas modernas, como o positivismo e o materialismo sob diversas
formaa. São agitadores de idéias como TOBIAS BARRETO que reage, no Norte,
contra a imitação francesa, mas para subordinar-se à cultura alemã, arrastando
uma geração de brasileiros ilustres para a 6rbita da influência do movimento
de idéias que desencadeou no Recife, e a que CARLOS D.E LA.eT chamava irõni-
camcn e "escola teuto-sergipana", associando na mesma denominação o ger-
manismo do chefe da escola e a pequena província de eu n cimento. Es-
pírito inquieto e combativo dentro do qual se sucederam, conforme as ~pocas,
um espiritualista, um positivista, um metafisico e mesmo um matcri lis ,
TOBIAS BAR.RETO,como SfLv10 ROMERO, foi antes de tu.do um semeador de idfias
e um demolidor de rotinas, e mais do que ninguém concorreu, com suas obra
e polêmicas, para a divulgação de sistemas e arrrcntes filosóficas. Em um e
outro, que são os maiores polígrafos da eh.amada "escola do Rccif eº, como cm
seus discípulos, cm geraJ, a mesma instabilidade e incoerência de pensamento,
que leva alguns de nossos ensafstas a percorrer vãrios sistema para voltarem
às vêns o ponto de partida; a mesma sedução pela novidade, a mesm in-
quietação e indisciplina de cspúito e, em lugar da especulação filosófica, serena
:1 o A CULTURA BRASILEIRA

e fecunda, o debate público, apaixonado e estéril, cm pol&nicas bravias. Ne-


nhuma doutrina, porém, depois da escolástica, teve maior repercussão entre
nós nem exerceu um papel mais disciplinador do que a escola positivista que ae
introduziu no Brasil na segunda metade do século XlX,U e se difundiu sobre-
tudo no sul, sob a orientação de L. PERElRA BARRETOe, especialmente, de
MIGUEL L os (1854-1916) e TElxEmA MENDES{1855-1927). - "essa alma
profundamente religiosa e incorrutível", nas expressões de EUCLIDES DA C~
tipo de diretor espiritual e sacerdote- austero de uma nova religião, Filosofia
que abortou e se fêz moral e religião no Brasil, o positivismo, de que se tomaraJll
ant as idéias de reforma social e política do que os métodos, concorreu notà-
velmente, pela disciplina mental e moral dos homens que receberam a impressão
dessa corrente, como um BENJAMIM CONSTANT, para a reação contra a anarquia,
a de~ da ordem e a consolidação do novo regime político.
Se tivemos, ·porém, um "filósofo profissional', êsse foi, sem düvida, FARIAS
BRITO (Ceará, 1862-1917) q_ue,iniciando-se, sob as influências germanistas do
norte, dirigiu a reação espiritualista contra as duas correntes, - o positivi,~
e o materialismo que se disputavam a supremacia no p nsamento brasileiro.
Sem ser um pensador profundo e original, o autor da Bas física do espírito
(1912) e do Mundo interior (1914), foi duplamente fiel aos u ideal de filóaofo~
j consagrando-se inteiramente aos problemas de ordem especulativa jã dei-
xando-se penetrar por tal forma de suas convicções que soube e pôde viv~-las
ejwitando a própria vida de trabalhos e de lutas sua obra de pensamento.
Certame.nte, ainda que dominada de um espfrito aústico e cruzada de visões
ãgicas da vida, a obra do pensador brasileiro do Mundo interior, em que
mais fortemente se revela a argúcia de seu sentido a-ítico, e d A ba e fíSJ·ca
do spícito, - estudo metódico da evolução da psicologia no s!culo XIX
acusa, no seu conjunto, uma independência de juízo, uma solidez de cultura
filosófica, embora limitada aos três últimos culo , e uma tal maturidade de
int liglncia que bastariam para o erguer a uma ição singular na história
da filosofia no Brasil. Mas, a sua dedicação sem reserva os estudos abstratos,
o prazer intenso que experimentava em pensar, a sua sinceridade mais do que
sua coerblcia, a harmonia entre o homem e o pensador, e o carãter domi-
nante de sua filosofia que se avizinha do espiritualismo cristão, sem, contudo,
atingi-lo cm qualquer de suas obras, constituem talvez o principal segrêdo da
autoridade que adquiriu entre todos os que se preocupam com as coisas do
espírito, e, especialmente, nos drculos católicos. No dom(nio dos estudos filo-
sóficos nenhum movimento, porém, comparável ao que se produziu no terreno
dai ciencias experimentais, em tôrno dêsse foco de pesquisa, criado no Insti-
tuto de Manguínhos, e de que foi uma das conseqil cias a fundação cm 1916
da Academia Bra ileíra de Ciências, - a primeira iniciativa duradoura de
coordenação de esforços dos investigadores brasileiro nos diversos setores do
vasto campo dos estudos científicos. Depois de FARIASBRITO, e jã em 1918,

JI A d Y\llpçAQ da !il-,f'b, de AUGUSTOCoxn oo 8nail d ..ta d 1151, mi q A. P. MUlm: 1>• Av.'Cl1o


■praerwt. a.a lcltroduçlo d.. E/t,tneAt<n d" M■ t,.nútic,,~ 18»1 o pclinc:lto taumo ~ • C'Qlihc«,
4- doutrifta paeltivut■. Por e:saa~ 11ss1-1863), ■teum j.,.._ 1 , , ,un~ d.a Ua.i cnldade de
Un,,. ,. c;oioo Lull PSIIERA BilR.rro e Fli!fCDCO l"rÓNTO 8a4HDÃO IUCIII, i-o:cb m, ■iod■ oo atrai>•
a pri ra ftflu&ac!■ dau carrente que 116depoio de 18711 com a dJ ~• no oortc do ~ cm que
1d ' de Auouno CoxTt fcwam logo conrnbaWIQl!d.,. e de domln■du pdo tllGD!amo h■.,,Jt.,,Jiano, e
a.pedal . te no 1ul, ODde prepcmden,a ■té m fina do ~o o, - com do teu d~l!Aio.. Em at:w,,
(T.a1oit■ • t.adicéia nlo slo c,encla,; Moiw ■ lApl• ; A Ti /•a pe.,anr • ,,. cota1la), p11-
U OI nu 1 , Tolll4I B.u.u,m, at~ entio eapiritoa.lÍJ.ta, j a ori t■ '60 pooi1hilt■ • que ac indiDol1
po,- ~ tempo. Do ll"IPG de eatwi.otes de Bruxdu, F. A. Ba.ulol.o Jl) um publlca em J 65, Ji aob • •
nuend du ldElu po,aítlvúta.1, UD'I tnbalbo-sôbre A ..-aratur• no B1• l e L. P&ll&fJl.48.uutffO, eoao adrpr;,,
dll e.:ola de A. Coat-r&, no, dA. em 187♦, o J. 0 volume dc A. trlJ IIIOMJII■ . Sd et11 1877 6 que ■ pareceram oe
Pr/m■irot U1Ni0t p,Mit" iatas. de MrotrZL LKMos que, com Tttx•IIIA M&e<l>&I.dneria u «r un,a lall~
·prcpoodcrante na cw o do tDDVimcnto pCllitivuta: no Br '
A CULTURA CIENTÍFICA

~ que aparece a primeira hist6ria da filosofia, digna dêssc nome, escri a em


lingua portuguba no Brasil, - a do Pe. LEONE-L FRANCA,filósofo jesuíta e
historiador da filosofia que, em segunda edição, enriquecia o seu excelente tra-
balho, de caráter didático, de uma síntese da bist6ria da filosofia no Brasil -
■ mais completa e mais lúcida que se escreveu em todo o perlodo da vida na-
cional. 2ssc enorme traso cm que se manteve a filosofia no Brasil, levou
algum ensaístas, como Toei.AS BAJtRETO, a atribui-lo a um ' defeito natural da
fotelig&cia brasileira". Ma quando se pensa, por um lado, que as pri.meiru
faculdades de íilosofia e de ciências, precedidas de tentativas n g!ncro,
a6 ae instalaram de 1934 em diante, quatro séculos depois de se iniciar a colo-
nização no Brasil, e que, por outro lado, durante tôda a nossa hist6ria, que
nlo conheceu en o escolas superiores de tipo ptofissionaJ destinadas à fonnação
para as carreiras liberais, o país produziu grandes valores científicos, no meio
de 0011díçõcsinteiramente desfavorãvcis, não se pode deixar de procurar a
causa d&se fato no valor da raça que se desabrocha em plena natureza. Onde
ae tem de buscar as causas de nosso atraso no douúnio da filosofia e das ci!n-
ciu, ~. pois, na falta de estudos superiores, metódicos e profundo , sob a direção
de~grandes mestres e, mais do que nessa deficiência, em todo o sistema de en-
sino e de cultura montado, desde o regime colonial, para desenvolver uclusi-
vamcntc o csplrito literário e dialêtico, e o gôsto da retórica e da erudição.
O .Brasil libertado, ainda cm plena adolescência, da opressão da Metrópole,
respirou, na madrug da que se seguiu à noite intelectual, e sentiu-llc à vontade
j\mto à fonte borbulhante das letras, sem sonhar que essa água cristalina, ali-
mentada cm nascentes clá icas escondia mais de uma armadjlha para a cman-
ápação de teu csptrito e que havia mais de uma ilu~o para a cultura sob uu
flores encan doras.

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123, Comp. Editora Nacional, São Paulo, 1938.
CAP1TULO V

A cultura artística
A arte, ,o"b diversas formas, no pertoclo colonial - Durante o dõrn[nio
holand&, em Pemarrbuco - A arquitetura sacra e o barroco - ÃJJ velhu
igrejas da Bahia e de Minas Gerais - Os claustros d.o Nordeste - 'Pintw,a
e decoração das igrejas - A esculturar O ALEIJADJNHO - A arte religiosa
e a. tcrêutica-Uma arte brasileira original - Mestre VALENTIM - A ouri-
vttaria e a arte de lavrar - A casa colonial - A música religiosa e a m6sica
popular - O primeiro compositor brasileiro: o Pe. Joslf MAURfcro - A
missão de artistas franceses (1816) - A Academia das Artes - GRANDJEAN
DE MoNTIGNY, arquiteto - As primeiras e,tpOSiçõesde pintura - A ruptura
com a arte de 'tradição colonial - O despertar do sentimento nacional na arte
- Pintores de quacirns históricos - VÍTOR MEm1tLESe PEDRO Au:wco -
Pintura brasileira de costumes: Au.mm4 JÚNtOR - Os grandes paisagistas
- HENRIQUE B.ERNMUIEl,Ll e BATISTA DA COSTA - AJJbelas-artes e as artes
industriais - A arte, petletrando o jornalismo: a caricatura - A músjca bi-a-
sileira - O Conservatório de Música - CARLOSGoMBS- O movimento da
arte moderna - Tradicionalistas e inovadores - A escultura e V. BRECIUUT
- As artes menores - A pintura e suas figuras dominantes - PoR~AJU
- A atquitctura e. a ruptura. dos laços entre o útil e o belo - A m6sica: VILA
Lôsos - O piiblico e o artista - Museus e pinacoteca·• - Hi•toriadorca
e crfticos de arte.

E M sua resposta ao inquérito promovido_ por Foi et Vie sôbre o hwna-


nismo, ROMAIN ROLLAND, referindo-se à concepção, excessivamente
restrita, que a educaç~o universitária nos fêz da "literatura'' de utn
povo, mostra a necessidade de alargar as fronteiras dessa noção além das obras
chamadas literárias que não são mais do q_ueum andar do edificio da cultura.
"Não é, por exemplo, conhecer a Alemanha (nem seu pensamento· nem mesmo
sua arte), se a reduzímos a seus homens de letras .. , lt útil lembrar o rio Reno,
C!'tn seus grandes místicos Eckhart, Bôhme. E a cultura, é ela sàmente asse-
gurada pelos livros ? Não teria o exercício da razão lógica e construtiva tanto
ou mais a aproveitar com o estudo intelectual de um grande prelúdio de Fuga
de J. $. BACH do que com o de um poema ou romance? E que poema, que
romance na Alemanha vai mais adiante na análise do coração humano do que
a escultura alemã do XV e XVI século? Um grande povo não exprime por
sua língua escrita, senão parcialmente, não só a sua sensibilidade, mas suas
experiências da vida e sua razão" .1 Por maior que tenha sido, pois, a prepon-
der·ância, em' nossa história cultural, das manif estaçõe& literãrias 1 - e essa

1 /n Pour un hum1lni1tm-e t,ou•,.au. Enqufte dirigh par PAUL ~usn: BAITmE. Prllace de F,
Sntowsxr:. Cahi~ de Foi et Vie. 139, Boulevard 1\,'lontparol!Me, Paria.
2 A CULTURA BRA 1LEIRA

prepondcr cia já revela por si menos um traço do temperamento nacional do


que o caráter da educação intelectualista que pr aleccu na Colônia e no Im-
pério, - não se poderia pretender o conhecimento do Brasil, em o estudo de
sua cultura sob as outras formas, plásticas, picturais e r1tmicas, tão importantes
para a compreensão de um povo como as criações do gênio literário. ~ pela
arte, em tõda as suas modalidades, e não somente pelos documentos da lite-
ratura culta ou popular que se manifesta, de fato como lembra o autor de
J AN CmuSTOPHE, a cultura característica e original de wn povo: é na esta-
uária e na pintura, na arquitetura e nas artes decorativas, na música, nas artes
maior,cs e menores que cada povo encontra como que uma linguagem, 'uma
esa-itura figurada", ou um meio de expressão de seus pen amentos, de suas
necessidades e aspirações. Certamente, a hist6ria da arte no Bra i1 revela-nos
~ progresso extremamente lento da arte em quase tOdas as suas formas. Mas
se considerarmos, de um lado, tudo o que o sentimento estético implica de
social, - "repercussão profunda da vida social sôbre as moções do indivíduo".
- e tudo o que a vida na sociedade e as instituições sociai trazem ao desen-
volvimento da arte, e, por outro lado, o isolamento em qu se farmaram, em
uma sociedade ganglionãria, os núcleos geradores do Bra il, separados inicial-
m nte entre si por vastas distâncias, e dos principais foco de cultura eu-
ro~ia, não pode surpreender a lenta propagação de algumas formes de arte
no período colonial e mesmo por todo o lmp •rio. Ademais, a história das artes
a história dos lazeres que sucedem aos períodos de prosperidade econômica;
e, num povo premido pelas exigências imedia s da vida material, as necessi-
dades primorcliais tinham de forçosamente prevalecer por longo tempo
aõb'rcas necessidades de luxo que, sendo a exp_r ão da vida desenvolvida e
apcrf eiçoada, são condicionadas pela intensidade e concentração da vida so-
cial, pr6pri uma e outra, das civilizações urbana e, pela freqil eia dos con-
tatos com culturas diferentes. li: essa subordinação da arte a uma multidão
de necessidades sociais mais urgentes q_ue explica o nosso atraso, no domínio
das atividades estéticas: •~ banquete da humanidade, diz ANDR.t GmE, a
arte s6 chamada a terminar a refeição; sua função não é a de alimentar mas
a de embcbcdar". 2
Essa hierarquia de importância entre as diversas funções sociais, das mais
urgentes às funções de luxo que a sociedade exerce pelas suas atividades artfs-
ticas e que se destinam., em larga medida, a favorecer aquelas, poderia à pri-
meira vista dar-nos a explicação do movimento artístico que s verificou na
sociedade colonial e foi iniciado em Pernambuco, durante o domfnio holandês.
A ocupação pelo flamengo, da região maís rica do pais e em plena cultura da
cana-de-açúcar, e o esfôrço de criação de uma civilização de tipo urbano, na
administração de MAURÍCIO DE NASSAU (1637-1644), podiam sugerir a idéia
de uma relação entre as atividades artísticas que se manifestaram nesse período,
e os fenômenos urbanos ou de concentraç.ão da vida social, que d correram do
desenvolvim to do Recife, da reconstrução de Olinda e da fundação de uma
cidade nova, semeada de diques e canais. Transforma-se completamente,
pela a ·vidade construtiva dos holandeses, a pai!agem urbana do Recife que
se toma o centro mais populoso e cosmopolita da América, - cidade preferida
pelos mercadores, judeus, soldados e operários, e ligada por uma ponte à ilha
de An nio Vaz onde se levanta, segundo plano de PIETER PoST, • moda da
Ho18Jlda", cidade Mauricéia uritzstadt), a primeira que se edifica no
Brasil, conforme traçado de um arquiteto. Erguem-se os primeiro sobrados;
intensifica- a vida social; e. enquanto o Recife, que não possuía, à chegada
de NA: u, mais de 150 casas, já podia ostentar dois anos depois duas mil cons-
A CULTURA ARTISTICA 2 5

truções - expande-se, com seus palácios e jardins, a cidade do Prlnàpc, onde


panaram a residir cm aobrados e casas de campo burgueses enriquecidos e
acnhorcs de engenho. Mas nessa. nova Holanda, "a primeira tc:ntativ de
coloniiação urbana no Brasil_', a floração em que desabrochou a arte, sob di-
veraaa formas, não resultou como produto ou conseqüência dêssea fen6men01
de concentração urbana, - de muito pouca duração para poderem provocá-la
-, e l:le tal maneira foi obra de artistas holandeses, sem ressonância no ambi-
ente, que mal se enquadraria na hist6ria da arte brasileira como uma f se iniàal
de sua evolução. Dos seis pintores que trouxe consigo MAURfc10DE NASSAU,
e dos quais apenas três se conhecem. ALB&RT ECKHOUT, ZACARIAS WAGNER
e FRAN8PoST, irmão de PuttRR PoST nenhum, de fato, se vinculou ao país
nem formou disc{pulos, nem marcou de algum modo, com sua influblcia, a
primeira eta,pa da evolução das artes no Brasil. Na colônia dirigida pelo prín-
cipe de NASSA.u,e que foi um quisto neerlandês na América, todo ~ movi-
mento artfstico1 de iniciativ-a exclusivamente estrangeira, permaneceu insu-
lado, sem repercussão, dentro dos limites dos três principaia núcleos urbanos
em que se instalaram, sob o govêrno tutelar de NASSAu,arquitetos e mecâ-
nicos, pintores e escultores, sábios e artistas holandeses. Pelo museus de
Haia, Amstcrdam, Munich, Praga, Viena e Copenhague, dispersaram-se as
gravuras, os quadros e os desenhos a côres, que compunham a iconografia ho-
landesa e de que até hoje não se levantou o inventârio; e da arquitetur imposta
à cidade tropical n o ficou, segundo observa GILBERTOFRBYRE,senão uma
rcminisdncia de telhados flamengos alguns inclinados quase a pique. e conser-
vados por tradição nos sobrados mais velhos do Recife. Foram, no entanto.
08 .bolandcacs que trouxeram para o norte do país o sentido e o g6sto da vida
urbana e que, introduzindo no continente americano o espírito do Renasci-
mento, quebraram pela primeira vez a unidade da cultura jcsuftica; e com eles
~ que urgiram no BrasiJ as primeiras manifestações artisticas, com Pm1'D
PosT projetando àd dcs em que se refletia a paisagem holandesa; com FRA.NI
PosT,* o maior dos pintores que vieram na comitiva do príncipe flamengo,
pintando, nos seus quadros de intenso colorido, aspectos da paisagem tropical
e da vida agrlcola dos engenhos, e com WAGNER e EcKKOUT, que deixaram nos
seus desenhos e retratos de tipos locais, índios, negros e mestiços, trabalhos
de grande inter&se etnográfico e valor documentário. De tõdas as tividadcs
intelectuais e artísticas, a que menos se desenvolveu, no pertodo nassoviano,

3 Dur11ntc • ,.,. pcmumtncl• n Braoll, 011pintor"" h<>làftdeaca"'tudarrun e fixaram, em ■uu eei., •


de.enhOII, ti.Ido o quo de mal■ caracterf■t\co lheo •pr-ntav• o novo meio fülco e ■oda! • q,1.1eforam tran,por-
llldoe1 • pal1•1ern, •■ pccl'm da vida e da tknica •1rlcola dos eng~oe e tipo, l.ocal1, a.eçOI, lndloe u, tlçOI,
Dai a orl1lnalidade o nter e b t6rico e 1cos;r6flc:o d-. produ,i;õea ut.htlca , i111plr•da1 no ambiente e lm•
sincn,ad.u d■ c6o-local ciue oa flamencOII fora.1n "" priineir011• levar à Europa, atrav& de HU quadro. e •nunto
brulleiro. Km q!MI tOdu •• tdQ cm que pin.tar■m ._ mturen laaü, u paisal(en• apc-es ntam "buma.ah■ das 1 ',
emoldurudo tipo■ d tnd1oe ou d n~, ••perto■ da vida dat cidades, da tk.nlca da lnd6 tria do ■çócar ou
1rabelho rural ao■ en CllhOI. Km ■lcu-nt quadról, como• pintura de W40..-..a. "a raldtncia do prln pc de Nus.tu
IIO Redf'e", 11C)der, -la roam ete u;rar ■ll'l""I coisa de mwto procvrado na m•nl~ teclo ate"" de vld , no
aorimcnto da r■nullqan e da acnvaru. no pitio do palácio. O 11ltoraco e o eolorldo d011qWIOl'Ol,banh• '"'
• liu b'oplcal e em q,ic 1111rctratnu tudo o que • pai gcm h....,.... of~ de aovo aoe olbo,, de ~. c:am•
titufram. no raut9dmento oort-uropcu. UfQ d.,. maufortes atrati""" da -piotw-a bolan ín,pirad.a pão Bfa■il
- tal. Rcin ace ou cm bardo, de tlpoe rai:iais -que aqui ae lha dq,.,..,,.m l YDI pi do
cx6tico", elCl'CYe GD.IIUTO PU'IU, el UD■ aão truem &$ÚIIMlt:ora. camo o quadro da cai MIOCU
C ue, d rctn d n.tÇOI bruileiras, e. no Zoobilioa, ~ d wna ~
da o de ..,-avo■ c.1n Perasmbuco e de wn,i aldeia de bfuili ou tvpl CV6clcPAU1.
&an!Du1CR, S6br, ollUIU anlt,0. , lr•t= de 1ndi- .,;d-1Un1JrKa.no • Tnd~ de 0UVU,..,. LlllA,
ln "R. " do lnaôcu A,q lco de ~br.lco, n.• 65). De Fulff Po.-r, au.tar do. d q orlam
o■ mapu, no livro de B.t.al.ao,, ratam =- autrclo tnlbalhoa. a ua,ran qllt n: tam o Pai o de B
v--,. (l6U), - reilde.icia de vo-fio do coveruador em M.a-uricãa. um apedn da cidade de O cçcla
....,.mbocana, c:uJ l bram o tlJo da Renarença atmtdam. e o■ primàtOI q
llnoiJeiru. de d cõrcl (1637), em que flmu II dimça icucrràradoa ta aJd
- d ~. o ,nen:■,do d.ec:ocravo■ em Mauric6a e quatro tipo,■ ' ~t:ou ZA.c:.u:LU WAGl!IU
• rmdtoo:ia do Prfndpc no e aes,-a escnrn qoe JJ'l""" 'POI"um de - mdh- tnb Qu.aoto
■ Al.aarr &c.xl100T, innlo de OUIIIIAICM' BClmoVT, dixfpGlo de Rmcáa.umT, oo d te■ OI de
IDdio tap,da, un d li trayon, qllC K c:oc:imlli a,n D11Bibliota:a P6blicll de Berlim, &m 1)11111c:amqrl-lo
C111rco■ pllnor d• o &n:bl holand (Vtde rc,pradtlQÕCIIde elpm quad ln J, Jlo1<6&Jo Ro-
maJCOD e JOA0CJDCRJaaillO, Cit,/1/aa~o Bol•ndeu no 8raaJ. s&ie Brasi11-. C-p. ltdlll!IR Nedooal.,
Palllo, 1940, JI,.po,lçao P'uJ,11 PolT CGtD \laia illtrodoçio de Rm21JIOCouTO e um& tdaç&o dCllqu■dro:o
K.eu Nacional de &l -Arte.. lnhtâio da Educa"° e S.6dc, Rio de Jane!r-o, 1942!,
246 A CULTURA BRASILEIRA

dominado pelo Renascimento, foi a literatura, já devido ao ambiente cosmo•


polita do Recife, mais favorável à eclosão das artes plásticas do que ao flores.-
ci.mcoto das letras, já porque, na justa observação de HONÓRIO RODRIGUES,
alêm de não haver unidade de língua, na colônia neerlandesa, o idioma do in-
vasor jamais conseguiu impor-se de maneira a criar um • público" para as pro-
duções literárias.
Mas, esse impulso que os holandes imprimiram às artes, elevando-as. na
qx>ca nassoviana, ao mesmo nível a que ergueram todo o conjunto cultural,
nao teve repercussão nem exerceu influência nas camad s, mais antigas e cs.-
tAveis, da população, nas próprias capitanias conquistadas. Além de efêmero
{pois a rlgor não durou, com a mesma intensidade mais de oito anos), super-
ficial, porisso mesmo, êsse contato da cultura norte-européia com a cultura
portuguêsa tinha ainda, para lhe atenuar os efeitos, a.s diferenças profundas
que separavam as duas culturas em conflito, - a dos invasores, chegados tarde.
e a dos primeiros colonizadores do país, que já constitufa em todo o território
"uma única e mesma civilização". Enquanto o holandês, burguês e calvinista,
inaugurava, no :Nordeste, wna civilização de tipo urbano, promovendo o de-
senvolvimento da arquitetura civil, incentivando as ciências e as artes, "re-
duzindo iconoclàsticamcntc a ornamentação dos emplos", e despertando o
g6sto da vida da cidade e da decoração interior das resid!ncias, o portugub,
lavrador e cat6lico, continuava a marcar com aeWIcaracteres essenciais a cul-
tura brasileira em formação, no cultivo das letras que os jesuítas ensinavam
mocidade, no desprêzo das ciências, no descaso pelo urbanismo, na simpli-
cidade d casas de paredes nuas, e no luxo ornamental das igrejas. Em uma
cultura, provinda do norte da Europa, o cspfrito criador e artlstico critico e
experimental, alimentado nas duas correntes que se interpenetraram, do Re-
nascimento e da Reforma; na outra, de origem ibéri , o espírito dialético,
literãrio e religioso, de caráter quase medieval, que imprimiu uma impressio-
nante uniformidade à paisagem social e cultural de nossa civilização. Nem a
própria cultura pernambucana que sofreu mais de perto, diretamente, as in-
flublcias da cultura holandesa, "se separou escreve HONÓRJO RODRIGUES,
da civilização brasileira pela infiltração d~cs outros valores. O contato é
rápido e, porisso mesmo, há apenas a sobreposição de capas culturais na vida
do Nordeste". A cultura portuguêsa, católica, máis velha de um século, na
América, já se radicara e estendera bastante para dissolver os elementos cul•
turais importados pelos invasores, herejes, cujas obras não tardariam a desa-
parecer na destruição da guerra e ·na voragem dos incendios e cm cujas insti-
tuições não se viam senão focos de rebeldia, suspeitos ao espirito religioso até
e.o misticismo das populações brasileiras, sob a dominação espiritual dos
jesuftas. ~ sobretudo no século XVIII que se inicia, de fato, a história das
artes no Brasil, com a arquitetura religiosa e as artes anexas posta a serviço
da decoração interior dos templos, inspiradas uma e outras no csptrito barroco~
então dominante na Europa e transplantado para o Brasil com tudo o que
e e,ptrito trazia de romântico, de oposição sentimental ao racional, ou, em
poucas palavras, de reaçao ao renascimento clá ·co. Fenômeno de caráter
geral que tem a sua origem na arte da Contr Reforma da Itália ou da Espanha,
como querem outros, o movimento barroco repercutiu profundamente no Brasil.
através do jesuítM que o adotaram, mais preocupado aliá com os problemas
estéticos da ornamentação interior do que com o aspecto arquitetural de suas
igreja . O conceito geral dessas obras em estilo barroco, - templos, igrejas
e palái •os, que são por tôda parte, na Europa, grandes poemas enfáticos,
não ac embaraça de nenhuma lógica, mesmo arquitetural. 1tle ~ todo baseado
na n~sidade primordial do interêsse lírico. O espíri o ou, e o quiserem, o
estilo harroco, na escultura, na pintura e na arquitetura, e a v riedade de
A CULTURA ARTÍSTICA :Z47

formas e de spccto, que revestiu conforme os pafses, é, na Itália, na Espanha


e- sobretudo n Áustria, o triunfo do teatral, do sensível sôbre o intelectual,
ºé a aiação de um mundo fabuloso, um mundo à medida dos potentados da
q>oca,magnfficos, quase deificados, um mundo que não pousa no chão e vive
no absoluto de seus sonho ". ~ nesse estilo derivado do sentimento de r ção
peninsular contra o dogmatismo clãssico, qu.e encontrou o sen •menta religi030
do pais o seu meio de expressão, utilizando-o não s6 para o partido interno de
caráter ornamental, encialmente litúrgico, nas igrejas dos jesuítas, como
para a concepção arquitetônica de numerosos templos; e, se há uma arte da ci•
vilizaçâo braailcira no perfodo colonial, esta foi) sem dúvida como ob erva
AUGUSTO Dlt LtMA Júf<(1oa, a arte arquitetônica e decorativa, inspirada no
barroco que tendo sido o tilo do esplendor da civilização portuguesa, trans-
plantado oom ela para o Brasil, foi a expressão magnífica do carlltcr patri•
areal ê-relJlioso, sentimental e místico de noss~ formação.
-•· Não foram, porém, os jesuttas que levaram ao apogeu o barroco de que se
utilizaram, não como expressão plástica, arquitetônica, mas para a decoração
interior de seus templos ou, para empregar as palavras de Joslf MARl'.A.NoFILHO,
para o desenvolvimento do partido ornamental litúrgico. Nem a arquitetura
religiosa, de arte barroca, transplantada de Portugal, seguiu na Colônía, a
mesma linha de desenvolvimento da Metrópole e uma evolução local uniforme
em tõdas 89 regiões. Das igrejas e edificações jesuíticas, calcadas cm modelos
clássicos portugu!ses, como o Colégio da Bahia, edifício de linhas beneditinas,
eômente duas, par AUGUSTO DE LIMAJÚNIOR, - a Cruz dos Militares, no Rio,
e outra no Recife - representam autênticos barrocos, trabalhados pelos jesuítas
que s6 no Maranhão, onde dispuseram de grandes TCCUt"SOS, deixaram rcat:oe
notáveis, mu de fachadas pesadas e monótonas, como a da velha Igreja do
Castelo, no Rfo, "com volutas opostas à quina do frontão com a lembrança
renascentista de BRUNELESCHJ e a tôrre de pinho bem portugu~". Par
Roou BASTIDE, que estudou as evoluções do barroco no Brasil, de um ponto
de vista socio16gico,a hipertrofia da ornamentação interior em rela - o à parte
arquitetõniea, - wn dos caracteres comuns do barroco brasileiro - tem antes
aua explicação na pobreza do país e seu enriquecimento progressivo, e, por-
tanto, no elemento econômico: "a igreja só podia ornamentar-se à medida que
aa riquezas aumentavam; mas, como então o exterior já estava feito, o barroco
s6 podia triunfar no interior". Além das diferenças que separam o barroco
europeu do barroco brasileiro, e são ligadas, como observa ROGER BABTIDE,
às diferenças entre a sociedade européia aristocrática e a sociedade colonial,
patriarcal (donde a aimplifícação do barroco brasileiro por influencia, não a6
do clem:nto económico, mas da simplicidade do meio social), diversificani.se
os estilos do barroco no pals, conforme as regiões, tomando no Nordeste, no
Rio e cm Minas Gerais características próprias bem definidas.' O que discri-
mina, no s~culo XVIII a arquitetura religiosa do Nordeste e a de Minas Gerais,

4 A arqui l, q~ ac o.; ..;,.,.,.. da i~j• pom,gubl,. - modflo de tclllplOI.


acompanha • ev tia reino! que nw= do 'P'kOlll-6ntko, -~ UJD c-At« mi to,,
ilAl,d DOS :,sXVU.,XVlllasinflll • • oco.Doa
doú O I ti.:O•m¼llUeiUlll• foi O TOJnàQcko q l7C GÓI(D,.
n • i&rd bruJl:in. CQi= observa
l=b, ~ COllrlnna .... ot~:,, d
atf ao ' de, evotuçi,, toeCUlareuc-i:...,,_
temi(,; 'CO IL1> mm II lltuOIO.
qul:. ·ç1, ''ti:m!)'X21'' de farm
,_ do de umt "diferencia~". a.o
c:oofanue a rqilics do ·
ercnças TqiO<>m ""t:t-e O bmnx:o
• do litoral e das m=tiull\l~ con-cspondcm • dJYG'al.lade
~te dup,:ra. fomatla iai::úlm
de popula$Ao. t diJtb • e cvol:lill-io, num. 1
tmN • ' for t b1ao repoiuit. da ~:,ca coloolal, a11ra,'3c:, asar C.
11am que dlltiuJ p:lo • 1 düerCfltce de -b'llir. 1) o eatllo ltal!HO, Mo e vero, da.
-bd,cim~utoo J1ttultlcot, not a~o, do ,..i. (m.lawea do Rlo Gnmdc do S111 do At1U1:aooul: 1) • arqllitct r•
248 A CULTURA BRASILElRA

cm que a interdição das ordens religiosas pelo govêmo impediu o desenvolvi-


mento da arquitetura conventual substituída pelas igrejas de sociedade, são,
entre outro elemento~ o contraste entre as suas sacristias pobres e as sacristias
ricas, "verdadeiros salões acolhedores do Nordes e", e o papel inferior do azu-
lejo n igrejas mineiras. ºPara a sociedade dispersa do Nordeste, explica
RoOER BA.STIDE,a igreja constituía o grande vínculo social o cimento unifi.
cador das famílias patriarcais, e a sacristia representa o momento dominical
dessa ligação'~. As diferenças no tratamento decorativo pelo azulejo estariam
ligada diversidades de recrutamento dos grbnios profissionais: "no litoral
o recrutamento se fazia entre pessoas imigradas do sul de Portugal e que tra-
ziam consigo, como sugere GILBERTO FREYRE, um pouco do sangue e do g6sto
estético do mouros, ao passo que o recrutamento em Min Gerais se fazia
preferlvelmente entre os mestiços de fndios, negros e brancos". Mas, com seus
traços comuns e seus caracteres peculiares às regiões na par e arquitetural e
decorativa, tôdas essas grandes construções religiosas a que se imprimiu o es-
pírito e que ostentam, sobretudo na ornamentação interior, a pompa do barroco
não remontam além do século XVlll e são posteriores, portanto, ao rush do
ouro em Minas Gerais, de 1698 em diante, que deslocou todo o esfôrço metro-
-politano para a extração de riquezas minerais e, estimulando a abertura de
estradas, a fundação de cidades e uma corrente de imigração do norte ao sul,
contribuiu para formar em curto período "uma dcns faixa de povoamento
pelo interior da Bahia e de Pernambuco até o ccn ro de Minas Gerais", donde
IC irradiou o maior movimento econômico do periodo colonial. As migrações
internas, as levas imigratórias atraídas de Portugal pela cobiça do ouro e em
que vinham artistas, escultores- e arquitetos, e o florescimento de uma civili-
zação urbana tinham de forçosamente produzir contatos e es.sas 'fricções
sociais", que provocam as correntes civilizadoras e de que havia de resultar
o desenvolvimento da cultura sob todos os aspectos. Do ponto de vista da
arquitetura não tardaram as igrejas da Bahia a beneficiar- do ciclo da
mincraçao; e, depois, pela rota dos bandeirant baianos, - a estrada emboaba
- e pelo caminho do Rio a Vila Rica, abrem-se os roteiros da ane, que foram
também os dos escravos e mercadorias do Reino, para a região dos garimpei-
ros e dos faiscadores, nas montanhas do planalto.
Certamente, ~ admirãvel surto de arte colonial, de que resultaram os
mais belos monwnentos religiosos do país, seguiu- e com senslvel atraso ao
esplendor da vida econômica que, sob o influxo da explora ão de ouro e de dia-
mantes, se desenvolveu em Minas Gerais e no recôncavo baiano. Não é a ati-
vidade comercial, mas sim o ócio do luxo que favorece em geral as artes. 8 Que
a técnic;:a artistica tem um desenvolvimento mais moroso do que o esplendor
econômico, t um fato geralmente observado e mais uma v z constatado em
Minas Gerais, cujo apogeu artístico não corresponde ao seu apogeu econômico_
"A extração do ouro, comenta RoGER BASTJDE atingiu o mâximo entre 1726
e 1750. Ora, nessa época, as cidades mineiras conheciam apenas humildes
habitaç de taipa e modestas capelas; é somente na segunda metade do sé-
culo XVIII que e erguem os grandes monumentos civis e religiosos de que se
orgulha a região" e que, com as igrejas e os claustros do Nordeste, e, especial-
mente da Bahia constituem a maior parte do patrimônio artístico do Brasil
colonial. Se em geral vinham do Reino os plano , remetido pelas matrizes

do o • ta do norte de P~l, 1,:,ca6U<S. cm U-,, Oet11•• no MM hlo, 011d ae o uma


mwti<!Ao de Vi,,c: e er.., trOl)icaia; 3) o estilo ct. capital, n-oluiado Wde numa com • de iftflu•
• ~ • e ta1laiu,a. ~tas ._,_ moddoa p(lr't:Ugu • 4) • ar-qu.it.chare colo«ll&I do N,wde.te, CDnl
duu dlvenn trad uma tenacndo • imitar o -estilo batTo-:? d., d rura pOtt , e • oulnl que teve
ori ~ no XVII. wpitad,a - .,-quiu,tura c,f",cial eh, cilrte de L .. boa ou d «fflplOII m<'tropolitilDOII
Bahia Pa-nambucn.

& l..ALQ, L',ut er Ja .,;e ~- O Ql1 no.a ltcfücur, P111la, 19Zl.


A CULTURA ~R'TtS'l'ICA 249

daa ordens religi e os arquitetos, todos ou quase todos importado , e e a


cultura arquitetural não se desenvolveu na Colônia, cm que os mestres auto s
de nacos-o quase sempre portuguêscs começaram a multiplicar- , no Nor•
deste, no Rio e em 'Minas Gerais, artistas que adquiriram de seus mestres reinói
as grandes idéias ornamentais, o gôsto e o sentido da decoração, e que tendo-se
usimilado às técnica estrangeiras, fizeram dessas aquisiçocs cu bem próprio,
marcando-as à vêzcs com um carãter original, resultante já de um espirito
difcrente1 já do empr!go de novos materiais. Os grandes pintores da Bahia,
do valor de MANu&L DA CosTA ATAÍDE, e os melhores santciros da chamada
eac:olabaiana como MANuEL MENESES DÁ COSTA, surgem depois da febre do
neg6dos; é por essa época, cm que ainda o artesão mal se distinguia do artista,
qúe, no Convento de São Francisco, em Serinhaém (1747), um escultor de
,c!nio rude, escreve ROBERT C. SMITH, soube criar os anjos, pâssaros e conchas
do maravilhoso púlpito e também os balaústres da escada monástica, com suas
esculturas, j 1obras da oficina de algum ALEIJADINHO desconhecido do Nordeste";
e tanto em Minas Gerais como no litoral aparecem êsses pintores, entalhadores
de madeira e escultores que contribuíram para elevar a wn alto grau a arte
barroca da ornamentação e criar magníficos interiores de igrejas, resplandes•
ce:ntes na fartura da talha, nas obras cscultóricas e na beleza dos adornos, do
medalhões e das ima ens. Mas, o maior de todos é, sem dúvida, o mestiço
de Vila Rica, ANTONIO FRANCISCO LISBOA, o Aleijadinho,e que surge na segunda
metade do skulo XVIII quando os distritos diamantíferos se encontram em
plena decad eia, e consegue dominar pela fôrça de seu genio, renovando-a
e apurando-a a arte dos grandes mestres toreutas, baianos e pernambucanos,
que prepararam várias gerações de santc:iros e entalhadores a serviço das cons-
truções religiosas. Educado na arte da torêutica por seu pai e por ou-
tros mestres rcin6is, como JoÃo BATISTA GOJfBS, em cuja escola de arte.
em Vila Rica formaram um JOAQUIM CilN!tIRO DA SILVA, portuguet, con-
sagrado depois cm Roma como um dos maiores artistas de seu tempo, e um
ÃNTÔNIO FERNANDES RODRIGUES, mestiço de Mariana e autor, mais tarde, de
obras no veis em Portugal (1758) e na Itália, -ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA
tomou-se maia ~lebre que seus mestres e mereceu, com as criações de seu genio,
que se desse ao século XVIII, - o terceiro da época colonial, o nome de
"século do ALEIJADINHO''. Entalhador, enriqueceu os interiores e frontiap{cios

$ AlffÕNtO l"'II.AIICJeOO LlllllOA (1730-1814), o AJ.eljadinhr,, grande ■rti■ta, etcultoc' e erltalbdor, n•tcldo
ali Vila Rlc■, nlho do mettre MANUIL l"11.ARCJ■CO Ll!BO.\, f, de fato, A figura domiru,nt<> IUI hl1Wia d•• atth
p16aticu oo Bra1U, cru todo o perlodo col(lftial, e talvez m=o, Da opiailo de Jott. M.\luANO tru.eo, o -lor
artlffa pU..tlco ~ lltlro. O •.pelido com qw: p,taaou il hiJt6ria, cavotvmdo-o ouma &Ut la de lend , prwelo
da.■ ddamuiç&, c:auaad• pela lc,Pl'• que o ._Jwa em 1777 e, portanto, aos 47 anot d Idade, o t~• privado.
cm uaa devHta~ mui ladora,, de lr:'l'•nde parte dos dedo:,,. A~u o o(lcio com ,eu pa, ac:ultor o ar-
qalteto po,-tu1uh, que recebeu co.in.ameotos de BATUTA Go1a5, dildpulo dos gravadorea fr■ necsa ÁNTÕNIO
KPauur e ll'ltANQOU1144trruMU, e, na puce de a,qui~s.. lll!m du llçõa e•t.au , aprovri u do con•
- com Al'rrÕN{O P&JU!i!AA D& $OUSA CAJ.lfftJIOf, Josll p~ ÃJIOUCA e JMf ANT lflO DO!I SA.NTOIcaua
- ·turnlll o ttllltlvvato utl tlco de Mariaru, e pauavam pe1.,,. mai..-eo meotr .. do tcmp.:,, T nh• 610.u.m e oi
de ~ ••tdraa. dladpulm c ■ wdliarn, a.utorcs pro,,ihela>enb: de ,nulta, da obr que lho o
buld.q, e cQJo■ d to, de aoat:omia C'lll contr,ute com outras. vttdadein.rn=te bel c I taa, tein do
plbdo■ pela ...., ou por wn cid'omDçAo iat=ci-1 du figuras. Embora do deldc ma Gflll •
ao dld.r, dc a>tatbada, de madeira e de acultor, parc,:,e ter sido tanto arquitet.o como «.tat"'"°, e e certo" foi,
K ~c,cte de • • coofom,c atat■m RODIWlODE Fa&nü e Dtoao D ■ V cm-. GIi prqjtto
ipd de 8lo rr■l1IC'laao d Aaal d N- Senhan, do Raúrio, uo m • belo IDOIIW'.llt:ntD NO"O de •
Gerai. e dOII aoUv do p■h". Cantata, por&n, Jad MAALuro FIUIO q OI tenha •
o •-doe c;i , COOSU'ufdasna aoecunda mctadedow6culo XVTll, M>b• • do Al&I•
.JAliQfQIO que • • colabGndo, de acórdo c:mn ea■ apinilo, na parte oro.amcabll ou tdric:a d
templo., de pia.oca cUptlc,I e t6nu cir""1aia. Sqw,do Joú !úJuÁMO Fn.Bo cabe., DO entao , ao AulJ OfllO
• l,l6rw. de ta- Olldanalizado a oova erpreulo vqol~ de carit-er ba,ramlnko, troc:111'nclo
a ponDc:DQta, " prevla DO prim.ltlvo pN>jero europeu da ~a de N.,.. ~ do Ro■iria'', JM"O'"
jm,a d nad ao templo de P'~ de Aaia de Ouro PrbD c de Slo J dd-R, (C(r. RODlllOO J.
~ BUT.u, :r,_, bio1rAJiot» r latir~ 11D fia.ado AatOnôo Francuco Lí•boa, l st; RDUO AJ.vH
017DL\alu, António Ftanc/roo Liaboa, Slo Plluio, 1931~ GUTÃO Pa&\LVA, O ,lhjjadlnho d Vlla Ric4,,
• , l9J3; I>tooo Da V.uco cu.m, A uta d• Ouro l'r6,to. Edii;io do bi-cartalirio, 1934; Joú o l!'U.llo,
Con.id ra(IIJN eolrca do templo d NOUII &nhos11 do ~rio e d• S6o l"r•nt:i- d• '•• d Ouro
,.,,ro ln "8atlldoe Bnw1cltoe". Ano 11, volwnc 4, n.• 10, RiD, 1940; e a biblíocrafla rdaúva ao AL&IJ,t,Ollfli[O,
Cll'pJr!uda por ]IIDIT& M.uTJKI. "Revuta" dr, Patrimbaio Hi11tlri:o c Art:lsdco, 11'311),
2S0 A CULTORA BRASILEIRA

de igrejas com numerosos trabalhos de talha, tanto em m dcira como m pedra


t.alcosa, laVTando púlpitos, tribunas, altares e portadas e trabalhando no aca-
amento do mobiliário litúrgico; escultor o maior artista plástico do Brasil,
foj o criador das decorações ornamentais das fachadas, o es a uãrio das três
fi as centrais nos Passos do Santuário de Congonhas, - verdadeiras obras
d arte, o modelador de imagens em pedras-sabão, - a pedra do ALE(JADCNHO,
que se tomaria tão famosa, escreveu AUGUSTO DE LIMA JÚNIOR, trabalhada
pela mãos disformes do mestiço de gênio; arqui eto, enfim, quando surgiu em
Ouro Pr!to e influência do barroco de BoRRoMINt, com a Igreja de ossa Se-
nhora do Rosário, de planta elíptica e de tõrres redondas, soube criar, com as
dua réplicas de São Francisco de Assis, de Ouro Pr to e de São João del-Rci~
o barroco brasileiro, introduzindo modificações essenciais no frontispicio. in-
tercalando seções retilíneas, colando o retângulo tradicional das velhas igrejas,
projetadas segundo o plano da Igreja do Gesu, em Roma, à curva inovadora
do estilo botromínico e quebrando, por essa forma, numa concepção original,
a uniformidade do barroco de importação.
As relacões de comércio com a Metrópole, desenvolvidas sob o impulso
das descobertas e da exploração das minas e o contato mais freqüente, através
de Portugal, com civilizações mais avançadas, desempenharam, nos meados
do século XVIII, um papel cuja importância não e poderia negar nessa mi-
gração das formas de arte e nessa seqüência de trocas que deviam chegar, em
Vila Rica, à invenção de tipos e de motivos. O que provocou e fenômeno
de renov ção dos velhos modelos rein6is, de influencia jcswtica, e permitiu
ao ALEIJADlNRO a criação de uma arte original com o barroco brasileiro, foi o
novo elemento que interveio com a introdução inespera do barroco de BOR-
RO , na Igreja de c»sa Senhora do Rosário, construída segundo projeto
cotado, vindo, ao que se supõe, da Itália e po.r conseqilblci , a ação e reação
d s formas arquitetônicas portuguêsas e da influblcias estrangeiras, encon-
trando• e modificando-se umas pelas outras. ~. sobretudo, com as criações
desse mes ·ço que atingem, em Minas Gerais, um grau de perfeição, todo re-
lativo, a oréutica, a escultura e a arquitetura religiosa, e com elas é que se
intensifica êsse fenômeno, de tamanha import eia na vida do pafs, da ascensão
social do mulato, a princípio pelas artes plãsticas, pela música pelas letras.
e mais tarde pelo clCTo e pela política no Império. A arte 6, de fato, um meio
de classificação social; e o homem de cõr, negro ou mestiço, - um artista plãs-
tico, do valor do ALRIJADINHO, um VALENTIMDA FONSECA E SILVA-, o grande
mostre VALENTIM, desenhista e entalhador, 7 cujas obras constituem a prova
de um notável senso plâstico e do mais fino gôsto decorativo, ou um Josif MAu-
Rfc10, a nossa maior figura da música sacra, - tomam a desforra do branco,
embora modelando-se pelo seu padrão, e escalam as barreiras, levantadas pelos

1 VAL'&NTPI t>A l!'ONHCA r: SILVA, mulato bnuileiro, ceduc:lldona M'ctr6pol com p•nd mestra
Ja '1,oca, foi, aot no. da o XVUI, o mlliar empnário cat çlo, aa Rio de J aeira.
Pwtu ai, onde ll=Yc • mw clevalis imt:ruçSD t, anna Jod M.uJA.No J'n.Ko.
ba1ha, coma colaborador, coto artu • de rcp nlo
arar , ~I• auperi~ de sua obra, d tra ta • do
pera • arte ~ ~ e íandidor • wn tcn , V v UAdlr-
• tuvu, com B.utTor;çeoro a--
AL e ck ~n!rlCOS c:a elu
br= m
periar-u =e
, ~ Jos-.t ~o dcta.lh~ cotad.,.,
ma.d....., e pra.ta, mu t&m a do fn bo da
do c.rn:,.,_ ao Rio dt J o, aoenlo
com oeu dacnho. O 12.• Vice-t-d, Lt7& Dlt V.uco.,cum & Sou-. (1779-1190), c:onflou,lhe u •
YUlto e ln par IIAo enamtrar, .._. C"'6ma. artina parUJ&u ru ot qu.e
V4I.SIIT1ll OI ele,,a.n, de fato_ a.u obna. de torf q\lCt q<LAJ>to. lot ,,_.
o qu.,. quanto • nitidez da ex~o mamial, aegundo oa partu e.a. JA no fiffl de -
Qi:!jtre 1110 e 1111 (Valentim DUlffeu em 1813) re.i: o altAr • d N • Senhora da P que.
• Cffl 17 • ;, via ele rettaurado, fu.elldo ,u obru maia ucg Jost M IUANOl!'U.no, Jn •'Jtuudoa
• ", Ao.o n, volume •· n.• 12. l)ip. 656-6SS, Rio de Jut'iro Junbo de llHO.
A CULTURA ARTÍSTICA 251

J)feconccitos de raça, elevando-se na hierarquia social, pelas suas atividades


artísticas e intclectuai . Sob êsse aspecto, como a outrás luzes, a história das
artes no Brasil oferece um interêsse imediato para a intcligmcia de n hi •
t6ria social. Mas, além do desenvolvimento da arte toreutica, de tão va ta
e variada aplica - o religiosa, na ornamentação interior dos templos, e da ar-
quitetura religiosa que atingiu o seu esplendor jâ no crepúsculo do regime co-
lonial, não apresenta nesse período, real interêsse artístico senão a arte da ou-
rivesaria, que até os escravos aproveitaram. Na terra das pedras preciosas, -
o maior centro mundial de produção do ouro na primeira metade do skulo
XVIII, a ourivesaria, embora nã.o tivesse tido o desenvolvimento que se podia
esperar da abundância de metais preciosos que serviam de matéria aos artistas,
foi uma das artes que mais floresceram apesar de t6das as restrições opostu
. la Metrópole, preocupada exclusivamente com a arrecadação do ouro e a
cunhagem das moedas. Tõdas as medidas, algumas extremamente severas,
tomadas desde 1698 contra os ourives e que culminaram na proibis;ão da ouri-
vesaria e da arte de lavrar, pela Carta Régia de 30 de julho de 1766, não lo•
graram reduzir senão temporàriamente o número e as atividades dos ourives,
no Rio de Janeiro, e em várias capitanias. Em virtude dessa Carta REgia
foram fechadas, segundo nos informa F. MARQUESoos SANTOS,142 lojas de
ourives, demolidas tõda as forjas e seqüestrados os instrumentos de arte; mas,
quando chegou ao Rio o 13.0 Vice-rei, o Conde de RssENDE (1790-1801), viu
6e com espanto arruados os ourives com muitas lojas e oficinas, em que tra-
balhavam "375 mestres e 1 500 oficiais". A grande quantidade de ourives da
prata e do ouro, lapidário gravadores e fundidores, nas capitania: de Pernam-
buco, Bahia 1 Minas Gerai e, sobretudo, Rio de Janeiro, mostra não e6 que a
perseguição aos ourives "nunca teve o vulto que se imsgina'i, como tamb&n
que a reação da Coroa visava antes salvaguardar o numerário (a moeda ouro),
reprimir o contrabando e talvez refrear o luxo que se desenvolvia "com a pros•
pcridade alcançada na ouri.vesaria colonial pela habilidade de seus artistas e
pela peneição de suas obras... Para MARQUESDOS SANTO que trouxe e con-
tribuição maia valiosa à hi t6ria da ourivesaria no Brasil, 8 os arquivos da.a ir-
mandades e oa acervos daa velhas igrejas, quando suficientemente pesquisados.
falarão alto sõbre a abundância de j6ias e sua manufatura no Brasil colonial,
que tomou novo impulso no reinado do Príncipe Regente D. JoÃo, quando
~ste fêz cessar as restrições ao oficio de ourives, e, dai por diante, no primeiro
e segundo Im,pério. .
Arte do luxo, de car • ter eminentemente secular ou mundano, a ourive•
aaria colonial não e destinava apenas a favorecer a ostentação das famflias
dos senhores de engenho, dos lavradores de minas ou de burgueses enrique-
çidos, mas a adornar as imagens de santos nos grandes dias de festa religiosas.
''Nas igrejas at~ o segundo reinado fôssem elas dos Campos dos Goitacases,
da cidade de Cunha, de Sabará, ou de Olinda - escreve MARQUESDOS &mos
-,' teriam adereços de tõda a ordem para cada imagem I Com que garbo as
ICDhoraa devotas v tiam as imagens nos dias de suas fest I Botavam-lhes
vestido novo, arrecadas, broches, laços, pulseiras, aíogadeiras, colares de contas
enfeitadas, tudo com diamantes, crisólitas. rubis ou pedras coradu". Um
dos maia ricos e formosos conjuntos de jóias antigas, de cris6litas e diamantes
que já vimos, acrescenta MARQUESDOS SANTos,foi vendido a um ourives da
rua Lufs de Camões pela Igreja da Boa Morte, no Rio de Janeiro: "muitas

B IIJvJfc:ucoMA.aoo DOI 5.\Jffo:I, A ou.r",...ri" no Braàl anti,O. Conferi:n • ral:Qd - lDlti•


tat.o de &rudoe Ua!roecm 24 de:maio de 1910. ln "Eatudm DruileirotM. ,...., u. Yol 4, a.• 12, pAp,
62S-647, RJo de Janeiro, rnalo-JWlbO de 10•0.
252 A CULTURA BRASILEIRA

delas com meralde pequeninas fazendo um delicioso contraste ao diamantes''.


Essa preponder eia do sentimento religioso, que a nossa fonn ção, sob o do-
mínio piritual dos jesuítas e das ordens moná ticas, elevou ao primeiro plano
em todo o per-lodo colonial, a ponto de fazer tributârios da igreja ou pôr a seu
terViço a própria arte da ourivesaria, bastaria para explicar a inferioridade da
arquitetura civil, das vivendas e edifício públicos, em r o suntuosa ar-
quitetura dos claustros e das igrejas com seus ma nfficos interiores. Os mo-
numentos eclesiásticos, nessa sociedade, não mundan mas profundamente
religiosa, constituíam um traço característico do Brasil colonial: por tôda parte,
no meio da povoação apinhada avulta o mosteiro ou a igreja, de estrutura an-
tiga, que eleva suas tôrres quadrangular-es e maciças sôbre a cidade, pobre de
construções civis, com alguns sobrados e casarões senhoriais, construídos se-
gundo modelos portuguêses. A arquitetura civil não se desenvolveu s não
em Minas Gerais: no Nordeste, ela não teve, observa ROBERT SMITH, "nem a
relativa originalidade nem a riqueza da religiosa. Suas ddades nunca tiveram
os esplêndidos edifícios públicos de Minas Gerais, as grandiosas construções
militares do Pará. A própria casa dos governadore da Bahia (1663,-}890)
foi a reprodução de alguma casa da câmara portuguêsa de qualquer cidade
provincial. Faltavam-lhes as torres e os portões do edifícios de Ouro Prêto,
as linhas elegantes dos de Mariana. A vida proeminente.mente rural da região,
as ais meias recolhidas no meio dos canaviais, o isolamento quase total dos
senhores, durante a maior parte do ano necessitavam pouca ostentação da
vida pública da cidade. Não fizeram culto da urb o primitivo senhores de
cngenho''. 8 Pode-se dizer, po.is, de um modo geral que o e período a casa
de habitação, - e casa grande nos engenhos ou o sobrado das cidades, - con-
trasta, na solidez rude de sua C011$tTuçâo e na simplicidade severa de suas linhas,
com a suntuosidade da arquitetura e a exuberância da decoração io ema dos
templos religiosos, Não hã, de fato, casa de governador paço municipal ou
aolar de fidalgo qu denuncie, através das formas bBJTocas, a intensidade de
vida e de movimento, o esplendor da vida social e o gô to do luxo, das socie-
dades arjstocráticas, em que, na Itália e na Áustria, o barroco se desenvolveu
com tanto vigor e com tão grande riqueza de formas. Mas, as obras de arte,
se quer mos apreciá-las e senti-las, devem ser vistas, como pretendia DEGAS,
onde nasceram, em face e à luz do caráter especial da civilização de que par-
ticiparam e que ê feito da conjunção de elementos diversos. A austeridade
arquitetônica das mansões coloniais, em que tão fielmente se exprimiu a sim-
plicidade do meio social, corresponde ao seu interior, de salas amplrui e hospi-
taleiras, de paredes nua.s e de mobiliário pesado, que imprimem a todo o conjunto
e caráter brio até a severidade e essa estabilidad tranqüila em que repousa
o regime da família patriarcal. Na velha casa colonial cuj paredes raramente
eram ornadas de quadros artísticos, - o que já havia urpreendido os holan-

9 Ca-tat11CAtc, de. um lado, a formai;àio no Nordau, cam a cultwa


• e11embaa, com -, cuas çanda.
..., que Oarac..u oo oliculo XVTTI, c,om a indiistdoo atrativa
e, dct outro, a e
e o ~ do ouro, 11,... Yil
tracla = W'blna, .,.,...'.
tu,un • caua prlDc.lpal dr ..,,. • arqui=a c;ivil meno1 brilhan e no Nord do que cm - Gc:raJ.. &
ata • u,pllca que noa d4, ao tcxto {efttido, Roa~ SMJTU quando aa.wtl o carlt.cr da a:rqwtcttw-a •
do N (fn" ~mo&'', ano II, vol. 4, a.• 10. p6p. ~\9 O, o Jan ' , Ícvc,(ci,o de 1940).
001( 8-uTll> • aeeitaDdo ena apl~, urtnldus, por&,,, 01> demento que par«e c:oocorrcr ra cxlarecer
- difcn:nça. "Talvu • tdndio.~ ~ porque o Nard te tiv l pdo l Me , pdo UtoraJ
do que o acrtlo, e partanto, ali .., fazia =nas ~ wna in ·i do poderio pcrtuaV • ao pu,o qne
a r • ck Muiaa Gcr.ia, mai,, afundada no.interior, mmos cm - com a mie ui.a, e 1\ biblda pc1.,_ d-
odeotff de p111llbtu de .er>tlmcntoa nativista,, maia pramUDCiAdot,rcqu m"umcntoe q11e 11 em Mntir
o ablolu o da d:r6pole; por d v<mM c:o,no o berTot-o civil"'"' tct:Dpr I pdo • d do • olutita>t>''. (Vfd11
l!ltuda, da Htlt "• aocia/6,;u b,sz.ilf!ira.. Artico V. ln "O &tado d< o Paulo", tetem1"o-outubro, 1940) .•
A CULTURA ARTÍSTICA

deses, - o mobiliário de luxo., trabalhado em jacarandá ou em cedro, to ainda


no século XVIII quando começou a dominar o estilo D. JoÃo V de influencia
francesa, mantém a robustez excessiva de carpintaria e a ornamenta -o vigo-
rosa, exigidas pela solidez arquitetônica das habitações urbanas, de wna po-
derosa construção, em que a economia agrícola e a paisagem social fizeram
prevalecer as grandes formas simples e em que o arcabouço vale mais do que
• decor1lção.
Tõda primeira fase da arte no BraEil, - correspondente ao período
colonial foi a da arquitetura, da pintura e da estatuária religiosa ; até D. JOÃO
VI, a arte se refugiara nas igrejas e nos conventos. Religiosa foi tamb&n a
primeira manüe tação da música artística brasileira; e, se por tõda parte,
escr~e MÁR.10 DE ANDRADE, "o som foi sempre elemento de edificação reli-
siosa", também aqui, pelo predomínio do catolicismo desde as origens de nossa
(onnação social, nasceu misturado com a religião. Os cantos e os autos can-
tados que oa padres ensinavam ou compunham para ensinar aos meninos !ndios,
constituíram, desde as prhneiras missões de jesuítas, um instrumento de pri-
meira ordem na obra de catequese; e, segundo SIMÃO DE VASCONCELOS, aa
próprias cantigas de índios que continham a doutrina cristã, eram postas em
canto de órgão para servirem à propagação da fé, nas tribos americanas. Cer-
tamente, enquanto nas capelas e .nas igrejas, em que, em dia de festas, jâ se
celebravam missa cantadas, florescia a música gregoriana e se difundiam entre
índios e africanos os cantos religiosos e os reisados (bailes pastoris, nau cata-
rineta), formavam-se lentamente, nos engenhos e nas cidades, o canto e a mú-
sica populares, sob a influencia da música primitiva das senzalas, das tabas
indígenas e das aldeias rcin6is. Todos os povos, portuguêses e espanh6.is, ame-
ríndios e africanos, que contribuíram para a nossa formação, nos tres primeiros
séculos, trouxeram, com suas línguas e culturas, as suas cantiga e uas danças
que se mi turaram, compondo-o e enriquecendo-o, no nosso folclore musical
quase todo por explorar. 11 Embora não se possa saber, no estado atual dos
estudos folclóricos, em que medida influíram os elementos africano, indígena
e portugub nessas cantiga e músicas populares, de que quase não nos resta
documentação, parece ter predominado a influência portuguba, "a maia
vasta de t6das' , e a fonte principal das melodias de nosso folclore de real be-
leza, na opinião de MÁRlO DR ANDRADE, é a dos escravos negros em cujo con-
tato a nossa rítmica "alcançou a variedade quê tem, - uma das nossas ri-
quezas musicais". A penetração das danças africanas, religiosas ou guerreiras

10 O mobUJ6rlo d,: luxo, c:lvll e rolldOl!o, em Minas Gi,rab, importado 110. prlmeir01 tcmp01 da B•hl1
como e vmflca peio. tlloo, .Soollkulot XVl e XVII, em que Ilia desenhadas u ra11de1peça•, pu,ou depol
a kl' r br:ica.do DH pr6pr • o clna1 mlndr11. A partir ae 1730, escreve AuOUftO ox LllAA J(hj101t, "oo mar•
c:endr01 e e.obllhll<lor da aoaa capitania, acompallham o dnenvolvimento artlatico qu.c,ae Op«OU m POl'.hlllll,
aa f~ de D. JoXo V, oadc oe tema1 orientai e hi,rpaao-xa.bcs, introdu.rídos 11& Flaadta e aarte da Praaca,
retomam Nbllmadoe pela nth,tad.a doe cbaa.i,taa írancesea". O, ri3CO! e oe de,ebbot fttadam,rotal■ de tal,
móveis., ao qu jA te COGatatam no■ rl1111 do m:ulo certa, manifestaçõea típica, d orlpoali.s..d , o otia.va
Avourro 011 LIMA J(ht1~, «UII lmportadOI de .P«tupl donde ,nobam iJupitadOI ou novaa r-., d• 1111:e
e PG<'llitoe pceço1. Sccv:odo JOJi AIAJUANOll'n.ao, ■ lnflll!ftcia eiitR n6e do atila .Lu!I XV, nlldon■Jlqd cua
Portupl ■ob o nome d O. JOÃOV, ■- fh ""'tir, no .&:cio XVII. em primeiro lucar ao mo l6rio d vil• .,.,. M
e■talda mal tatd • ClnlUOattaçio - , "domiaada •~ entio pelo ornato barroeo de llflueacia Jo,ultic:11".
Do primitivo mobDllrlo, tnbalhado to■camcmo de ae6rdo com moddos clillic,», mobi1iirio h:ilpin,do oo
• o D. Jo;.o V. cvoluçlo ■e p,oc:a.ou at:n fonuu in=e:tiári do j llldc:o roa.na.dino e do na•
- estilo L ltV. ada l..nutoda ae fh ~ ''oa ornamcnt:,oção aa. atrtvâ do tratam b» roblUto dH
mald e capeaura da talha". Cfr. Auoono alt Lnu. Jmao,,. AC..pjtania do·• ln• Oarai,t'. S 1
ori&ml e formac6o. P 11 1 IS. boa, 1940: Joú M&Ju.uro Fll.Ro, &oi~ do au:>blliArlo • da ortu•
mant.apa:o lit6rik■ b • lnllulnciJI do11/Hu1cu e de D. João V. ln "Rcruta do Braoti.l",Aoo lU, 3.•
... 22, p6p. 41 •. •briJ. 1940).
H Clr. RoqVff'& Pnm>. Rond6m•. .• ediclo. A mlJ:ric:9du prioàpai■ C11D ' pwccla. apaahada ao
foa6cJ'a(o. P.lp. 121. 134-137. \43, 152. Smc Bruiliana, voL 39, Ccmp. Bdit. N '..,..J, Slo P ulo, 19.)5; SuJ:a
.Hôvno - l'eret, C/lanl popuJlliru du Br4ri1. Pnmike ,.&.,:, ID.troductioo par Philippe S CFG. Lltwairla
OrieD. • Paulo 0...thn , Pa,u, 6c.. 1932; Josf. SrQt111mA. A mú:uc.a brasileira 110 ~o da -·d a»<i:c:u.
ln "Revbta da SftntM'', -Rio de J1u,elro, 9 de Ktlcmbro de 1-939;Mmo D-g Almun Comp ndlo d■ Hi.t6rl■
da M~i.,.. 3.• edlçio. Cap!tulo Xll; M6sica popular brasi!ma, pãg-. 167-177, L. O. Mlraad.a ltllltor, Slo
hulo, 19311:MO ica do S.r nto de Mi/teia . Ta "0 Eltado de São Pau.lo'". u.• de a e de«mbro de 1940;
ÃIITIJa RAllOI, O n Sro b, .. .ileiro. L• ....i. Etnofrafi• reliSiou. 2.• cdiçlo. Capít\llo VUs A d■n,;■ • •
múlica do candomb1I . P 223--243. s&ic Bruiliana, vol. Ili.li, Comp. Editort Naciooal, Slo P•ul.P, 1040.
254 A CULTURA BRASILEIRA

ou suas sobrevivblcias nas danças populares do Bra ·1, como tõda a cspttie de
batuques - samba. candomblés. maracatus, e cana verde acompanhados de
vluios instrumentos entre os qllais predominam os de percussão (gaozã, puíta,
atabaque), mostram, de fato, como foi decisiva na formação de nossa música
popular a influência africana, superior sem dúvida, à dos indígenas de que
no vieram o cateretê ou a ca.tira. - dan_çaguarani, aproveitada por ANCHIETA.
para catequiiar selvagens, e diversos instrumentos como o chocalho (adaptação
do maracá) e alvcz o puíta que, considerado geralmcn e de origem africana.
e conhecido na região diamantina pelo nome de N' gomma Puita, é tido por
alguns como proveniente do tambor dos índios. Se, pois, em todo o período
colonial, os africanos, que tiveram na mús1ca "o derivativo principal no exílio
da América' , inundaram o Brasil de suas danças nostálgicas e de seu canto
monótono, os portuguêses não trouxeram contribuição menos notável com suas
danças, suas cantigas. e seus instrumentos europeus: é deles que vieram nossas
canções de berço (acalantos) e outras formas poético-lfrfoas, como a moda e
o fado que parece ter-se originado no Brasil, e que MÁRIODE ANDRADE, - um
de nossos maiores folcloristas musicais, considerando-o "uma desinência bra-
sileira do lundum angolense", julga com razão ter sido privativo dos brasileiros
antes de se tomar, nos meados do século XIX (depois de 1840 ou 49), a dança
cantada, portuguêsa por excelência.
Mas, se a música e o canto populares que deviam resultar da fusão das
can • as e danças do colonizador, do aborígine e do escravo negro, já tomavam
corpo nos fins do século XVIIl, foi a mú..qcareligiosa que revestiu, sob a pressão
das circunstâncias sociais maior importância social e bist6rica, nos três sé-
culo coloniais. Ainda devia decon:er quase meio século para adquirirem ca-
ráter e expressão original e, portanto, influencia e irradiação as primeiras criações
da música popular e os cantos tradicionais, cm que se cruzaram, com precio-
minãncia dêstes ou daqueles elementos exótico , e numa grande riqueza de
formas, ''o ritmo discu.nivo, constante nos amerindios, a percrequke rítmica. do
africano na expressão pitoresal. de MÁRIO DE ANDRADE, e os arabescos melódicos
lusitanos, ora puros ora deformados". A mú ica religiosa que domina então,
essa jâ havia atingido tal fôrça histórica e penetrara por tal modo as diversaa
camadas saciai que ainda no canto popular brasileiro, segundo a observação
do ilustre critico musical, "aparecem frases oratórias, livres de compasso e que
a'té pelo desenho melódico se assemelham a fórmulas de cantochão". A influ-
tncia da religião católica não foi profunda no Brasil somente no que SuMNER
MAJNE chama a "trituração" das sociedades: ela não só contribuiu para fundar
a unidade da famnia patriarcal e entrecruzar, assimilando-os de norte a sul,
os grupo sociais num processo intenso de unificação espiritual, - base da
unidade política, mas exerceu um papel importante em tõdas as ·manifestações
culturais e artísticas do pa.ís. É, pois, também sob a forma religiosa ou sa•
grada que com mais intensidade se exprimiu a música, largamente cultivada,
para fes magníficas, nas capelas e igrejas coloniais. N ambiente de re-
ligiosidade musical que atinge, com a vinda de D. JOÃO VI e sua côrtc, o seu
pcrlodo de maior esplendor, e perdura até meados do culo XIX, surge a pri-
meira manifestação artística da música brasileira: o Pe. Jos.Jf MAURfcio. Edu-
cado provàvelrncnte com mestres formados na extin a escola dos jesuítas, em
Santa Cruz, e ordenado sacerdote aos 25 anos, em 1792, a su extraordinária
vocação musical encontrara, desde cedo, no próprio meio social e nas festas
litúrgicas, não s6 o estímulo mas a fonte de inspiração para as suas cria_ções.
Se o artist , ao mesmo tempo que artista, é um homem subme •do a tôdas as
influências comuns, o que êle tende a exprimir pon âneamentc em suas
A CULTURA AR1.'ISTICA 255

obru, aio os 1entimentos e as idéias que as atividades ambientes, econõmicaa,


jurldicas morais e religiosas inspiram coojuntameute ao p6blioo e a ai próprio.
A aua fonnaçio inicial, em contato com padres músicos de quem recebe as
primeira liçõca; a sua participação no côro de igrejas: a influlncia aõbrc o seu
cspfrito da pompa das festas eclcsiãsticas, e a caneira sacttdotal que a raçou,
tinham naturalmente de lcvâ-1o a servir-se da música sacra para dar expressão
artíatica às suas cmoçõcs. 12 Músico de rara habilidade e cultura, que conheceu
e praticou grandes clássicos alemães e italianos, cem BAce, HAYDN e MOfART,
ROSSINI e PALBSTRINA: compositor fecundíssimo que até aos 44 ano jâ havia
compoato, a6 para a Capela Real, perto de 200 obras, em grande parte esque-
cidas em manuscritos, o Pe. Joslf MAURfcxo deixou trabalhos notávei1, e entre
&tea, a Mi sa em si bemol e a Missa de Requiem, uma de suas obras primas
e também ..a obra-prima da música religiosa brasileira", comparável, segundo
M.úuoDE ANDRADE,"pela invenção melódica, duma serenidade, duma nitidez
pur~: ao que faziam no g~nero os italianos do tempo". As euas convicções reli-
gi068a dominaram quase tõda a sua produção musical cm que ae reflete, com o
csp(rito da época, "a imagem de urna .sociedade calma, organizada em uma hie-
rarquia, aceita por todos", e que se destaca, no que tem de mais representativo,
não sõmente por uma ainceridade manifesta na nitidez de acento, por uma
pureza de linha mel6dica e por uma grande espontaneidade de inspiração, mu
por uma qualidade de estilo, nltidamcntc harmônico, que parece proceder de
HAYDNe MOZARTseus autores prediletos.
De õclas as artes, - a arquitetura, a pintura, a es.cultura e a rn6aica, que
ee cultiv&Tam no período colonial, sob forma ou de inspiração religiosa, a que
mais tardou a adquirir carâtcr e expressão vudadciramente art1 tica, foi, pois.
a música saa-a com o Pc. Jost MAURfc10, que marca a transição entre os dois
pcrfodos, - o da arte penetrada de religioridade e o de novas fontcs de in -
piração. E:.c:om as criações dêsse mestiço de talento que culminou a música
religiosa, numa ~a. - princípios do século XIX-, rm que já .haviam en-
trado em decadencia as diversas manifestações da arte colonial, que floresceu

12 Jori MAUlllcto NlmU 0.o.•ctA {Rio, 171l7-tl30), nuâdo de paio mulatoa, con.et11í11, a_.. de , ...
cripm humilde, raur túdtll de gram,ri..,_ latina e de íilo■ofi■, «deou-11!' ...,erdote, "" 17g2, e adqlt, na
.....tN1 ededútla, 1 o e1r10 de prq■ do, •~o. De tua educai;io muai~I, lnl&da, •.htd• em menloc,. e pr-
_,iida 11<>b ■ dlr~o de ucttd '"'"'º
ca rnll1k01,
que ae conhece de p1191tlvo,que L. H. Co11 ■-1t1,l 011: JU:KVll:DO
S11.VA"Rui, grande ar;:anirta de "" tempo, e tlo pouco o
o con■ida-■ anlct1 um ■ uto-dld ■ la, - prod11to
de ,teu talento e d• HUll prõprloo earorc<>1.Que nh rol di,dpulo doa jeiouita■ e Glo írcqllcntou • dU1e de mi11lca
que m ■nrinh1m, IMITAr11,11ro,,C111Cr■ V01, na f■amd ■ de Stmta Crut, toma,.., patm~ de um 1hnpl" eonrrontCI do
d■ ta■ : ""' J,.,_.11.. haviam Ido e"pul- do Bra li em l?S9, oito """" ■nta do nlQC:lmcnt(I de Jo,i MAu11lo10,
■ ■ - pras,,lcd■di, em S■ nu Cruw, eutle> connoead ■, pea...., 111 domfn.to d ■ eo,.,., 4 prov4vel, no entanto,
que o ntcatleo earloe■ to:,,h■ • d.o eduead,, "ª' tradiç6ee, ■índ■ vívu, de. s .... ia Crua, •., com mutru í0tma<101
1111e9t0\■ dga,Jcau.lta■. ltm 1798 obtbn li~m~ P'!B l)l'ecv e E DOmeadu Me1tre de C■ po,l■ da C.tcdral • 9" do
Rln de JIIDftl'O,auoa 1c:n,leoo mu1lcaó.l l.,.:o ■e tornuam nothei■ IIOb 1ua dl~o. "f.le mcmio, nim • prlttlca,.
-,rcve Co•■r.rA 011:AaVIDO, vem ■ KI' 11m 6tímo ~la: oa cantoret adettndOI C tnbalb ■d M>b a ....
batuta, r-- prodl(iOI e ,:a.,....lo •,na, vlv■ ,urp,-.,. 1 ctne quando aqui ■e calabl'lccor,"" 1101". Nome■do,
Da■é _,,, ano, ~lo Pt1nclpc R"l!ent• D. Joio. iNpetar de lllwi.e,i da C.pel■ R .. J. e., mal1 t.arde, P''!l'■dor
ripo, o pad,e compo■lu,r cntreiou-K ■ um■ ■,tlvldld.e ioteosa, tendo compooto, ■ tf tlll. p■ ra u atlvldad ..
da Capela Reot, ~o de 100 obr■t. alErn dai q,.., ~c:n "p■,11 ,rftriu irm•lldadea e outra. lsrd• e de ai
~ proíao■•••. Com a c:.hepda ao Bruíl, an l&ll, de l,l.urcos POIIT'UCl.U., IM>tllvd compooitor par-
lD&Ub, e qw: D. Jo.h, VI ftlVlda,a vir, para :,r I ttt d• 1111a tCIUI m cah, n.a C.pda Rc■ I e no lt.,.J Teotro
de &ao Jo&c>, decrn« o pr u o oC"tdaldo Pe.. J014 M.<.ullfc10 que ~ a ■er m■l vuto r hoa ILI.Ido pdo eO!l:I•
-'tor t ta ao, non, o pro(.,.... da (&mfU■ rm e dint.or da.o r.. ta• mu:s:ai■ na C. •"º .P~o. O d. e
ltio.1- N~olOf, de S.h . Cl771-IISU,di.dpulo de H.t.TI»f • .,-aade pl■ ru ta e campoal.uir ai
qu.e vlo-■ , em 111&, a.a m ttlo tics "d• por J. Lu:uTO>!, • que t...,e dr tutu CgálH • ~ ct.
14..acoe POIITVOAI..fal'.Íl•lhe J tlça. lama,iaiodo, lliud■ em vida do Pc. Joaf MA.UlllcJo. qu.e br■al nlo
■pn,da, d...tdamcntc o ...ior do anut■ que ~. ••·e tanto """" pra:lo■o q tO era ~ocluto de
- pr6pri r ••• De "º"ª a Ponupl, D. Jol.o Vf que lhe ehaml,n o ÚGOYO M,u,c,c,-•--.laftlC11.taY .. -
a,u aut6&r■.f• ao P Joú. MAvaloo. nJc, o bava- levado pare Portug&l,afim de d' Ir u •
d■ Cape.la Real dir. boa. Paiei:eu o Pe. Jod M.-u ■.lao cm 1&30, •111:UlD dia d Je
Sm 1156, ..,,..,.,..,lhe a bioenn.MAr<vm. DII AttAd,o Pia,:o ALllDll que, &inda jovem, o --- J•
titima■ sooo d .... .ia-. IM. 1\. Phro AL.ao•E. lcono~ralia bJ'ujleila. Apont■m•nro ■ a,)br■ a •Ida
do 1'•. I* N■ urlclo Nut1•• Garcia. /n "Reviu■•• do lllllituto Bilt6riéa BrQIJrirn. tomo XJX, pq J4 369;
VDCOlll>I o■ TAUltAI', T•■e biofrj{i,:o.• do 1'■ Joá M■u,Jcio. ln "Rn,vt■ li ••, uo 11, lllO,-. 7
■ 13. U, U e 20: M.ul\111:1. AtUÕIOO MOHlllA bl Anvuto, Biolr■ li• do 1'•. Joo4 Nautkio Ntn1•• Ouda,
• Jo '"Rnbt■" do lot Kl■ t6rlco St■ai.lciro, toaio XXXlX, 2.• p■n~, pq. 213).
256 A CULTURA BRASILEJR.A

sombra dos claustros e das igrejas. Embora ainda perdure até meados do
s o XJX o domínio da música religiosa, que conheceu o seu esplendor. no
Brasil, com o Pe. JOSÉ MAUlÚClO, já se esboça, na época de D. JOÃO Vl a "lai-
cização" da múl!ica. com o desenvolvimento da vida urbana e o brilho das festas
musicais, e com a chegada, em 1811, de MA.Rcos PoRTUOAL, já autor consagrado
de numero s óperas que figuravam no repertório de teatro italian~ e de
S101 UNDO NEUKOMM,pianista e compositor alemão, vindo em 1816, com
a missão de artistas franceses. Dos discípulos do Pe. Joslf MAURfCio, nenhum
perseverou no caminho do mestre, e o maior de todos, FRANCISCO MA.NtraL
DA SILVA, que também freqüentou SIGISMUNDO NEUKOMM, é uma das maiores
figuras que o Brasil já produziu , o que dei11:oude mais belo foi o Hino Nacional,
a que deve a sua consagração na história da música brasileira. Mas êsse pro-
cesso de laicização ou de profanização das artes, jâ em desenvolvimento,
ob e pressão de causas sociais, econômicas e poltticas, d via ser acelerado com
as atividades da mi$São artística que chegou ao BrasH, em 1816, e por sugestão
do Conde da BARCA,ministro de D. JOÃO Vl, no Rio de Janeiro. A missão
francesa, que tinha por chefe JOAQUIMLEBRETON, do In tituto de França,
era const:itu{da de J. B. DEBRET,pintor de história, dos irm-os NICOLAUAN-
TÔNt0 TAUNAY, pintor de paisagem, e AUGUSTOMARIA TAUNAY,C3Cllltor, de
GRA.NDJEAN DE MONTlGNY, arquiteto: do gravador CARLOSSIMÃO PRADIER,
dos irmãos FERREZ, além de outros, artistas auxiliares e mestres de oficios,
todo franceses, com exceção de NEUKOM.M, compositor alemão, antigo pianista
adido à casa de TALLEYRAND.:Esse grupo h.etcrog~eo de artis , de que
participam figuras eminentes, vítimas de perseguições políticas no seu país,
devia constituir, na terra de e.'Ólio, o núcleo principal da futura Academia de
Bela -Artes, criada, sob o nome transitório de Escola Real de Ciências, Artes e
Ofícios por dca-cto de 12 de agôsto de 1816, e instalada somente dez anos depois,
cm 1826, com as modificações de estrutura e o nome definitivo, - Academia
das Artes-, que o decreto de 20 de novembro de 1820 havia dado nova ins-
tituição. A história dessa missão artística que confunde, nos primeiros
vinte anos, com a da Academia das Artes, e do papel que d~empcnhou, é a
historia dos confli os de duas culturas, de aspecto e nívei diferentes, e das
reações naturais do meio a que se transportou o grupo de artistas contratados
cm Paris. A missão francesa tomou-se o acontecim nto central da época e
marcou, desde as suas primeiras atividades, a ruptura, sob as influências de .
uma concepção nova, da arte de tradição colonial, de origem portugu@sa, e o •
conflito entre a arte de expressão litúrgica e o laicismo franc~s, importado pela
missão. A diversidade, porém, de elementos que a compunham, artistas lau-
reados, mestres e artesões, - donde a primeira id'ja do Conde da BARCAda
criação de uma escola de artes e ofícios:l3 a morte, em 1819, de J. LEBRETON,

l3 A S.Col& Real de- Cllncias, Arte:, e OITrioa, criada 12 de • lo de 1 lG, oo mamo ano mt
u b&n:ou no Rio de Janeiro • llliuão de u1ntu ír•-• .w ou, , por decr. de I.• d" -b,o
de 181 , na RcaJ Aad=i• de o...,oho, Piatura. 8-cultw• e Arqwt tu,a C1v,l, deaoininad■• oq: o outro
d to do ,ncsmo ano (23 de novembro de 1870), Aeadcxxua d Art , que 16 tnc ; 1 dctlY ■ ou vrio rui,
mcolc • Í\l.DCIQll&r '""' 1 , ;, no primeiro lm:,erio. A Ac■duaia de Bel ./vtc-,. que tcYc com.o """ prim~
d' o püllor portucu RDlwiouz Joú D4 Su.u (1826-1104 . rm diripf• ma, un1., ti 11541 par Jtiuz
,.11,,0 T•VffAY, füho de NICOU.V AlíJ'Õ,.'110 To1itnt•T e 9CU d' pQI<>.dc-pob a.,. d T UWAYe. entre 1854, e
lll7, par UU. OI AIIU.'ÕJOPOtto ÃUIGJIIP! ·o <Mande do Sul, 1 11791, an o aluno e- pttil, da ~
d • , p,olcw e ~. qlll! impi,011 um• de 11Ja:1 m■i• importantes rcror111u, cri nllo aul--■ de • apll-.•
cada. ■nau,..,,. artl■ó , wqu ia, est!tica e hi1t6ria d■• bel• aMca. e íW>dando • plo■CO( , - a ~
qu "' or ' no r■,,L Em 11145, par d..acto Gc 19 de de bro, t ' c:r,ado o 11< ,o de vi em li Europa.
1 dutw~<>, de J ..,,., e evou :, S ■ am. cm 1852. Rcorr,aniuda prl ■ Pftmc,ra vu 14 d maio d 185$,
b a uupiraçlo de PORTO AI.Ema, ~ dinotlr., a Academia de Bd ■ 1•Ar pa , uo lmpf:rio, par ...,,,.. ••
formu: • de 1• de- m lo de 18S9, que mou dou curJOS, diun,u e- nowno, e• de: 1 d maio de 1871, tom■lldo,
cm ll90 o oomc de B la N■ciOIUII de Bel -Artes, par d_,eto de 8 de nmrem d ano que lhe deu -
255. IA-rejo dn Ordem Tercci-ra de S. Francisco. Maravilhosa fachada em cantaria, em estilo barroco. Ss.1vador, Bahia.
Foto VOLTAIRE FRACA. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
256. !Areja de S. Francisco. Interior da lfreja. Salvador, Bahia.
Foto VOLTAIRE FRAGA. Instituto Brasileiro de Geoirafio e Estatí,tica,
2S7. llfwuuro tio C.rmo. Sfll<:ri11i11.Salvador, Bahi«.
Fel:> VOLTAJRS FRAGA. lmlllLto Bruil~,ro de, Geqgrafia e Estari•tica.
258. IArcja de S. Frtmcisco. Aspecto do .sacristia. O/jndn.
foroST/UE. (uk(oodo FO(JJ/dct!, de r,.,.,lilde S. PIMIJ
2S9. li/reja de S. Pedro. Parte do magnífico portal. Recife.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
260. Mosteiro de S. Bento. O majestoso a.ltar-mor. Rio de Janeiro.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
261. Mosteiro de s ...Bento. Vista de um altar lateral e do côro. Rio de Janeito,
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S, Paulo.
262. Mosroiro tio S. RMlo. Socri,ti~. Rio do ]011eiro.
F010 S-nL1.I!.. Colcçiio <lo Fuculclodo do 'Filo•ofia de S. Paulo.
263. Igreja N. S. do Carmo. FiJchada principal. Rio d~ Janeiro.
Foto STILLE. Col~·iío da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
264. T,Aréje '/'f. ·s."ào Carmo. Aspecto do altar mor. Rio de Janeiro.
Foto .STILLE. Coleção .da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
,'.
265. 1/lr~j,', ·de· N. 's. ·do Carmo. Vista de um altar: Rio.de.Janeiro.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
266. ]Areja de N. S. do Carmo. A magnifica pio batismal. Rio de Janeiro.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
269, 1,,oi• de /li. S. do Carmo. Pórtico, Ouro Pr•lo.
Foto Rádio Inconfidência de Minu Gor1tl•.
2 70. I ttcja de N. S. do Carmo. Detalile da c-apela•mor, Ovro Pri•l.o.
Foto Rádio Inconfidência de Minas Gerais.
267. lArejn de S11nto Antônio. Sa.cri.stis. Rio de Janeiro.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filosoíia de S. Paulo.
268. fareja de Sa11to Antônio. Outro aspecto dn sacri~tía. Rio de Janeiro.
Foto ST!LLE. Coleção da Faculdade dê Filosofia de S. Paulo.
271, r,,oin do R0-t6rio. Aspecto e.<terno. Ouro Prfto.
l"olu Rádio Inconfidência de Minas Ger:.it.
272. Malfiz. Detalhe da capela-mor, S. /060 d'EJ,Re,
Foto R~dio Inconfidência de Minn, Oerois,
• l

273. Itreja de S. Fr,.ncisco. Aspecto erierno. S. João d'EI Rei.


Foto $TlLLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Poulo.
2 74, Matriz. Retábulo do altar mor, Tiradentes,
FotoRM/o/n((JIOMit>dadtMitHnlitrois
do alt• .._ Tir.,Jentes.
entabl-•o
275. Matriz. Co/u,,,.. e de Mina.1 Gr.rais.
ência
Foto Rádio Inconfid
276. Igreja de N. S. do Carmo. Púl!.,ilo em 9edra sabiio de autoria do ALEIJADINHO. Ouro Prél.o.
dt MmmGtrair
FotoR4diolncoolidlodo
277. Um dos profetas que o ALEIJADJNHO e.sculpiu em pedra sabão para a 278. Estátua do profeta AMOS, esculpida na pedra "brasileira por ANTÔNIO FRANCISCO
ennida de Conf!onh,u do CamDO, em Minas Gerais. LISBOA, o ALEI.JADINHO. Santuário deConAonhss do Campo, em Minas Gerais.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo. Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
279. Padre JosÊ M,w1dc10 "" "8rl<> rl~ D. Jo}.o. Qu,ulro de HENRIQUE BERN-"RDer..r..r.
Foto Vosvr..1ua. Cola~6o do Serviço Nec:lonal de Recenseamento.
280. Porta central da AcademiaImperial de Belas Artes. Projeto de GRANDJEAN DE MONTIGNY,
arquiteto da Missão Francesa.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
281! Auto-caricatura. Desenho de PEDRO AMÉRICO.
Foto CAJILOS.
282. Lenhador brasileiro. Quadro de ALMEIDA JÚNIOR, o maior pintor brasileiro do século possado,
Foto REMBRANDT.
283. Ca;piras ne,éaceando. Óleo de ALMEIDA JÚNIOR.
Foto REMBRANDT.
284. Descanso do modêlo. 6/eo de ALMEIDA JÚNIOR.
Foto CARLOS.
265. Sopucafr,iros eniJalanados. óleo de J. BATISTA DA COSTA.
Foto REMBRAJ<DT.
286. Volt• "º eumt/. Pai••~ d" J. BAT1STA DA COSTA.
Foto REM'IIRANDT.
287. Nature,a morta. óleo de PEDRO ALEXANDRlNO.
Foto RllM8RANDl'.
288. CARLOS GOMES (Camp;nas, 1836. Belém do Pará, 1896), um dos Arandes melodistas do século XIX
e um dos mais poderosos &rtistas que o Brasil já produziu.
Foto da Coleção Companhia Melhoramentos de S. Paulo.
280. Maqu li do monumento "A, Bs.ndeira,º. Trab1tlho not&vel do e. ullor VITOR BRECHERET.

290. D<ll•lhe do monumento "'As Bandeirll.J", de VlToR 61l8CH li


291. Café. óleo de CÂNDIDO PoRTINARI, um dos Arnndes pintores brasileiros e o m.a:s viAoroso, dentre os modc:-nos.
Propriedade do M:..1seu de Belas Artes do Rio de Janeiro,
292. S. João. Óleo de CÂNDIDO PORTINARI.
Foto VOSYLIVS. Prcpriedade do Sr. CARLOS GVINLE.
293. Composição. óleo de C.~NDIDO PORTINARI.
Foto REMBRANDT. Propriedade do Sr. MÁRIO DE A,-;DRADE.
294. HJUT0R. VILA Lõoos (1890), o mai~ alro
er~n,~ no Br1uil da mú,ico modcrn11. de impiração
lold6rico, e um do, m•it>r~~ compotitores das
duu Américas.

295, G0l<ZA0A OVOU. ESTRADA, crít!co e hi•roriador


de arte. Ô/eo dt: ELIUU VISC0!'IT&. - Foto CARLOS.
A CULTURA .ARTtSTICA; 257
....

cheJc da missão, e o regresso à ~~~::~~-~~·~~õ:


~IER, em 1818, e
NICOLAU ANTÔNIOTAUNAY, cm 1821; as, hostilidadn dp'.mcio social natural-
mente rcacionArio, cm que conOufam velhÓS artistas brasileiro, da época co-
lonial, artia as portugueses vindos ao tempo de D. JoÃo VI e os artistas che-
,s:ad01 de França: o choque entre culturas tão diversas e a .conscqüfo e rcaç o
a.ativista de que resultou ser confiada a direção da ~cademia das Artes ao
pintor portugucs HENRIQUE JOSÉ DA SILVA, ÍOT8.fl\ ~tros tapto contratempos
e obstáculos aos planos da mis ão contratada pelo ·Marqub de MARIALVAe
que acabou por se dispersar, fragmentando-se nas influ&lciaa isoladas, indi-
• viduais, de algumas de suas figuras dominantes.
De fato, quando se instalou, em 1826, a Academia das Artes, já estava a
aniasão francesa desfalcada não só de seu chefe, homem de pensamento e de
ação, mu de alguns de seus principais elementos, como os dois TAUNAY, NI•
., COLAU ANTôNro,talvez a sua figura mais notável, que se retirou para a Europa
• em 1821 e expôs no Salon de 1822, cm Paris, excelentes quadros de pa1sagens,
-41uaac todos e:a:ecutados no Brasil, e AUGUSTO MARIA.. escultor, que faleceu em
18'24~ na 1ua vivend da Tijuca, no Rio de Janeiro. A sociedade colonial,
transformada com a presença de D. JOÃO VI e de sua córte e agitada de tcm-
peltades políticas, torna-se, na campanha da Independência e no primeiro rci-
_mdo, o teatro de luta entre artistas de origens e tcndéncias diversas. O. ar-
.ti.ta estrangeiros, já residentes no país, como o pintor PALLIBRlt e o arquiteto
'Pz.zERAT, e sobretudo os que ficaram da missão chefiada por LBBRETON,en-
contram uma oposição tenaz da parte dos artistas portugueses vindos nos
'fuu da ~ colonial e de velhos artistas brasileiros, "quase todos mestiços e
de origem humilde, cuja rudimentar cultura, observa Jost MARIANOFJLKO,
11C havia formado à custa de ingentes esforços, longe da proteção remuncrad
que agora se dispensava a estrangeiros perseguidos". ~ essa uma qxx:aagitada
·em que s cruzam e cn am em conflito três correntes distintas, obrepondo-se
as doutrinas acad~icas da arte francesa à tradição colonial, que resiste, ao
lado da cultura lusi ana, contra a.s novas .idéias e t~cnicas importada . Não
tardou porisso, a dissipar-se a miragem de uma ação em bloco e do prcdomfnio
irrestrito da missão, num meio tumultuoso e anárquico, cheio de preconceito,
e de prevenções; em que se disputam a primazia e cercam o berço da Academia
das Artes, franceses, brasileiros e portuguêses, êstes últimos quase sempre
atrafdos e irmanados numa frente única de combate e de resistência à ação dos
artistas estrangeiros. Mas, se não há um despertar do sentimento nacional
na arte, como se verificou no domínio político, - os elementos estrangeiros
que penetram, ainda que pouco numerosos, não permitem nem o triunfo do
velh.o espirita colonial nem a preponderância artística dos elementos portu-
gucses. u A missão francesa a que Jost MARIANOFn.Ho chamou "wna linda

arpnia~. • • ~ Nadonal de Bclu•Artn per i~ traw cm 1 01,


p« IJ>Íciati ça, EPITÃCI0 PusoA,""' 1911, pda Lei Or&llllica do Sn no e, em 1915, com
• Lei c., a!ICDda, cm 1931, dep.M de •oírer DIUdifica(6a radical•. l Uo,.,cnidad
do Rio de ·•• o d • 22 697. de 6 de julho de 1933, •tualmeu • lnld1Ut11
tera( o DO • or&•n PÇão aa. .,...,_ de ""I
Em J o d• 1937 a, 1.Jcriu de, piotw•. cuultur■ e cr■.vun, íon= d
111■ l'I.Ull M .._ N acioaal de BcJ -An cs. I>íri& par- Aoocr.rro BRAcn e
u-amCarmou. lic:e, a Academia de Bd,u..Arteo, e C\l.i•.1ori ta
bidao, ""1,a u Da tlU! direçio, ~tores como RQ001'0 •
Lnu., um crl e e J01t 1!4,Ju.uio Fu.Ko, piator-e1 c,oa:,o8.n
~ov•1t:o Ldc:10 Corr• e Altou ma MuldltIA. C\li«. - ac ac
obru • pcloo bilt6r .. d■ ■nc oac,oo■l.

lt ltatn , de v ~ ••· qg:o:.., rt>Cat1lnlvam, pc,r fs>oc■, ao Rio d J aro (o,,.


maado iun 11cr<L.dcotom lt.n# pot ■nl.nico, lcmbn F. MA.aouu DOI ~ dl v- l>r • , wiDd d•
~ cololllal. COCD0 MAlfl.l L ow OI. O~(V&lltA, pro( ... ..,.. de dC9C'<lho;Jost (,aaHOJ!Q OI. C.Uv "º·o r'CIT■ t lt.■
e. .. d■.
da D. JOÃO e de •11a c6rtc, c Fll.A:<c1sc.o P&D110 DO AM.,.IIAL, decondor da Bibl oUC'tl Ntc,onal e da
lhtq de SAlfTOI. niiu , vind no lctnpo do i>rlncipe Rcgcatc e Rei, ui.taram• e o.o primeiro
nlD&do ÃN'T'Olff0 Qll, c ..... o PUIT0 OI. Ptaul.Jaa»o e Jolo Jo,t O& Sou-... d-,,,, .. 1:ao e 1••....S-: 144"0 ■ 1,

-n-
258 A CULTURA BRASILEIRA

aventura", toma pé afinal, fazendo disc:ipulos e criando escolas e a arte no Brasil


se modifica ao seu contato. ~ aos seus elementos remanescentes que se devem
os progressos da Academia de Belas-Artes, no primeiro reinado e até 1840; e
nenhuma influência de certo, igualou nesse perlodo, as de J. B. DEBRET, pintor
histórico, discípulo de DAVID, e professor de pintura hist6rica até 1837, - o
artista admirável que deixou na Viagem Pitoresca ao Brasil uma preciosa
col~o de desenhos de alto valor documental; de GRANDJEAN DE MONTIGNY,
disdpulo de PERCraR e FoNTAINE, e "arquiteto de genio', no julgamento ex-
cessivo de EuctmES DA CUNHA,mas certamente um grande artista, que não
deixou discípulos à altura de -seu mérito extraordinário e cuja passagem
pelo Brasil foi assinalada por- vários projetos de monumentos de valor artf11tico
e arquitetônico, pelo majestoso edificio da Academia das Artes, pelo chafariz
da Carioca e por quatro ou cinco casas residenciais, como a do Visconde do
Rro COMPRIDO e a de FÉLIX EMn.IO TAUNAY, filho de NICOLAU ANTÔNIO e
seu disc!pulo, professor de paisagem, autor dos desenhos de que se serviu G.
P. RoMNYpara pintar o Panorama exibido com sucesso em Paris, em 1824, e
segundo dire or da Academia das Artes, em que sucedeu a luNRIQUE Joslf
DA SILVA. o mais ob tinado adversário da famosa missão. As duas expo ições
públicas de 1829 e 1830, - as primeiras que se realizaram oo Brasil, por ini-
ciativa e graças aos esforços de DEBRET e de MONTIONY mostram, com os pro-
gressos de seus discípulos, a influência que exerceram êsses dois grandes artistas,
acnâo identificados com o meio, inteiramente dedicados aos progressos da Aca-
demia das Artes e ao desenvolvimento da cultura artís ·ca no Brasil.
~ nesse período que se opera., por várias causas e sob a influência da cul-
tura francesa, a ruptura com a tradição da arte colonial e, embora ainda in-
formes as novas manifestações artísticas, jã denunciam elas um processo franco
de laicização da arte e a procura de outros rumo e de novas fontes de inspiração.
As artes antigas não sofreram dõcilmente as impulsões estrangeiras. Na pin-
tura como na escultura, observam-se antes mudanças do que progressos; e.
se na arquitetura não se implantou o estilo neo-clássico apesar de todos os
esforços de GRANDJ1!:AN DE MoNTIONY,não se desenhou nenhuma tentativa
de regresso, aliás inútil, às formas da arquitetura colonial, já então irrestau-
ráveis, nenhum movimento em favor das formas brasileiras do barroco que
atingiu o seu e plendor no Nordeste e, especialmente, em Ouro Prêto. O Pa-
lácio do Itamarati, obra de JACINTO RABELO, um dos discípulos do arquiteto
franc~s, "está concebido, escreve J. MARIANO FILHO, como que m opos1çao
ao pensamento do mestre, e a Santa Casa de Misericórdia não ~ prôpriamente

114 Coe:rA. arq • eto da Imperiait " n.acianaia; J QOT CÃffl)lDO GUD.to•n. d t:a e llq\lAttlilta,
de atjo va a rico íic,au um tar=unho na ■quarcl TroJHl/ro em. ~1■ ,am. ClltTc O\IU,. tnbalh :e
B.aH ■IQUR Jod 0A I.LYA,tamb&a deaet.üú.stae pintor, auto.- d rclnl • 61eo D. Pal>IIO 1 e o prlm. ro dlrct<>r

m,tlo ln11ulr9m a,bicntc bntil:iro,


c.pltlo oe ea1cnh rQI, ,._D
=
da Acadenia du Ance. At rigurq de ôtarO< rdo!vo, eotrl!"" • ta,

JUUIE'I P.u..Liia:z, p/fttor 1! 1 ntc d d


tr•
dola imilnwt .. d■ P'l'•nca. o q
' raídentc:o fto Br ·1, e que cntlo
-~
bo dJI Ral
por m voe poli _, o
• deml■ M'illt.,-, e P&l>.i>
Jod PU.llUT, arquiteto qi, D. PllDRO I tomou a ttU .u,ryl(o, r:m ■ubidlll:i~ de U:.. U'Sl. DA COff , que. a.a
ucn:lcio deauo (u • r t:aW'ClU o PJllãdo ~• dl! C tórll . O ph1tor Alt.llilN'O P t.ubs que
ra.1<>u,no Ri • nim um fllb ■ de GllAm>Jl!.AN o&.MOIO'IGJ<Y, d ID>ll.•n , alt:m de dcacahm de t.1n1íar-mc,o. pe-r-ao-
~ c cot WII br<lt 1 ·ro.. o projeto da. Imperial Ordem do Cnu roe t,1m m nll:eo ■ uto•rc aro. Por ena
~. e.nconUu'■ m◄c no ·Rio, mas d.cP9~cem, "~°" OUtl'09 rtl•tat tnu><eú'ot, co=o R&NltV c,,.uon:iu.,u~.
cõn1ul inal no primei rclnedo. pintor é aquarclLita, c JOÃO MAURfcuo Ru uro.u, .11r■nde nhbu ■leml.o
que, deoll ndo-ac d• ml.nlo Laogodorlí, ponua= ■ri 1825 no Sr • e levou. de volr:. l Suropa, "'"""e ,:o.
leçlo de oeacnhot., publJcado,, c,o parn,, oa ma Viap,n piloreXJJ attavob do Braal1, 11,no o m■b •lto llm::rtue
• t6rko e artbtlco, pdo u:no e. IObrcrudo. pdo tllH IJtJ lmu sr■vuru e, como ~e Sb.010 ,Mu.l.l■T,
"um do, ma.lt curi- e b- d«wnenh!J àefn:ti do BruU ■nt ". t. pcq O l1.I o llt'tf ri,:,o. detlal>
e brtero& co, ffll qlloOae ~tnr:a:m grupo,, 4e attàu, de u,ndtnciu contra lt6ria. q i:e~e d • • . e<>tre
dific:uldad d" t4da ord=, • 1J1iuão rr..,,.,...... inflvlnd , ■final "6bne fie. cerno o o-Odca b pc,dcro■o de ilTa,
dl.çlo de cúlturL (VMe P'&ANCISCOt.l.utQUEIJ cot mo,, Artl•tH: do Rio de J•,.,,fro oalonl•I. ln wa,_.
d._ S...11eil-w". voL IU, p6p. 26--33: ,u b ,,._ tes no tHim Iro rein•do (1822-18.U 1. ln ·•&tudm
~•• . .oo u. 'VIII. 1v •. o.• 11, p,ip. 471-SOQ, ra.o.rço..abd.l'".
A CULTURA ARTtSTICA 259

composiçio neo-dãssica, mas esscncialmc:ute clássica, inspirada em VtONOLA"


€ que as artes antiga não eram nem bastante ricas para repelir as influ~ci
catrangeiras nem bastante poderosas para transformar seus empr&timo, em
nova criações de belez marcadas pelo gênio da raça. Não ac tra ava, em cral,
por essa q,oc:a,sen-o de copiar, sem a menor imaginação aiadora, oe modelos
estrangeiro . Jt, por&n um mundo novo que surge revelador, - desde e.s u111
primeiras obras mais características, ainda ingênuas, - de promessas fecunda :
o grande tempo que chegou, com D. PEDRO I (1822-1831), "do retrato a 61 ,
dos quadros históricos de paisagem e de gênero". Em 1840 tomam- e gerais
as u;poaíçõca de pintura, e cm 1845 institui-se o prêmio de viagem à Europa,
cuja duração, de tr anos, se elevava a cinco anos, cm 1852, quando ainda
catava 10b a direção de FéLIX EMfl..roTAUNAY a Academia daa Artea. A em-
baixada francesa, despertando o gõsto pela cultura artística e criando uma
•tradição, realizara a sua missão civilizadora que de\l"ia completar-se daf por
diante com os pr~os de viagem à Europa, onde os melhores artistas, formados
peta Academia, iam aperfeiçoar os estudos. A embaixada francesa, pois, não
ae dispersou sem fazer escola e dcfacar alguns discípulos. Doe que receberam
a inl1ublcia direta de artistas dessa missão não se destacaram senão um Au-
OUSTO MOLLER (1815), alemão de nascimento, que fâ tõda a sua educa -o ar-
tfatica no Brasil, o mai notável artista de sua geração, sucessor de Fm.r..xEaduo
TAUNAY na cadeira de paisagem e autor de um excelente retrato de GRANDIBAN
D& MONTIONY; um AGOSTINHO JOSÉ DA MOTA (1824-75), um dos maiores senão
o maior paiaagis de cu tempo, um J. CoRRElA LIMA (1814-57} disdpulo
de J. B. D.&BRtr, quem sucedeu na cadeira de pintura histórica, como pro-
fessor substi u o, e MANUEL DE ARAÚJO PÔRTO ALEGRE io Grande do Sul,
1806-79), depois Barão de SANTO ÁNGELO. Discípulo e amigo de DBBRET,
com quem viajou para a Europa a fim de freqüentar os mestres do tempo e a
quem sucedeu na cadeira de pintura, em 1837; poeta e pin or, hiatori dor e
aitico de arte, PORTO ALEGRE, que não se tomou notável em nenhwn d ca
domínios, foi, no entanto, o mais entusiasta partidário da missão e não teve
quem o igualasse no intcr~e pela cultura artística no Brasil: concorreu par
a fundação do Conseivat6rio de Música e Academia de Música e Opera Na-
cional, escreveu a primeira biografia do Pe. JosÉ MAuRfcro e contribuiu, como
poucos, para os progressos da Academia das Artes de que foi um dos primeiros
estudantes e veio a ser professor (1837) e t.erceiro diretor (1854-57), um dos
elementos mai úteis e brilhantes na fase inicial e atribulada da história dessa
instituição. Nenhum deles, porém, trouxe qualquer contribuição nova à arte
de seu pafe; e ainda havia de trllllscorrer muito tempo para que o arti ta brasi-
leiro acabasse a sua educaç o artl' tica, poS9uí.sscsua técnica e seu ideal e fõsse
capaz de tran formar o que tomava aos estrangeiros cm alguma coisa de ori-
ginal e de mais belo.
Mas a arte que se laiciza e tende a deixar o serviço exclusivo do deu cs
para se consagrar e.o dos homens, começa a procurar suas aspirações na vida
nacional, rruli r ou pa ri6tica, sem se desinteressar dos assun oa religiosos.
Ela se humaniza: é o homem que a interessa, mas, sobretudo, o grande persa•
nagem, o homem heróico. Tudo o que é anedótico e contingcn e, tudo o que
a>.nstitui a trama dos íatos materiais e cotidianos pouco a retém e ras-amcntc
lhe prende a a cni;ão. Ela procede de preferência por alegoria e por stmbolo.
O que ent o inaugura e projeta, por cêrr:a de 50 anos, desde a Indcpen-
d~cia, é a época do quadro ale 6rico dos retratos a 61eo, de per,onagens em
evidmcia e da pintura de bi t6ria ou, por outras palavras, tõda uma arte que
tem medo do feio e do cômico, do efêmero e dos pequenos fatos, e cuja con-
2 O A CULTURA BRASILEIRA

cepção de beleza está estreitamente unida à grandeza dos acontecimentos. A


emancipação política do país; o interêssc que pela nossa hist6ria despertou a
tomada de coosci!ocia da vida de nação; o desenvolvimento d a consciência
nacional; a influência da escola francesa dos pintores de batalha; o movimcnt.o
romântico, n primeira metade do século XIX, e, por último a guerra do Pa-
raguai, cm 1865-70, pondo novamente em relêvo os cpis6d.iosheróicos, levaram
os artis a explorar êsse ítlão ainda intacto dos "grandes" assuntos nacionais.
!Ice não pareciam satisfeitos senão quando abordavam as largas composições
bfblicas e hist6ricas. lt na escolha do assunto que começa a manifestar-se,
eob o impulso do romantismo,lli o sentimento nacioo l na arte; e, dentro do
espírito dessa pintura consagrada à história, a pr6pria paisagem, numa época
m que os paisagjstas ainda se recusavam a olhar natureza, entrava apenas
como "colaboração" e não passava de um fundo de colinas, de um recanto de
bosque ou de urna curva de rio, que serviam de acessórios a um trecho da his-
tória sagrada e antiga e da história nacional. O horror ao real, o gôsto do gran-
dioso e o amor aos temas ecadêmiéos constituíam um traço caractedstico do•
idealismo em que se compraz a arte brasileira em quase todo o século XIX e
que adquiriu, entre 1861 e 1886, a sua maior fôrça de expressão nos dois famosos
pintores de quadros históricos, ViTOR MElREL&Se PEDRO AMwco autores
de painéi• inspirados em motivos heróicos de nossa his ória e cuja arte estt
longe de se reduzir, como pensa Lufs MARTINS, a uma 'transplantação, cm
estilo de ópera, de todos os Ho:RACEV.sRNET,pintadores de batalhas". Ambos
fizeram os seus estudos na Academia de Belas-Artes e, ubvencionados por
D. PEDRO U, partiram para a Europa onde tomaram lições, aqu~le, com MI-
NARI>l e CoNSONt, na Itália, e com DELAROCHE, em Pari • e este, PEDRO AM:Jf-
RICO, com lNGR.ES, HoRACE VERNB1' e outros, em Pari , freq entando ao mesmo
tempo curso universitários. Grande desenbi~ e pintor, ido como fundador
da pintura nacional, VÍTOR MEnraL&S (Santa Catarina, 1832-1903) deixou
al~ de numerosos retratos de personagens da época, a Primeira Missa no
Brasil e os ma.gníficos quadros de batalhas A Passagem de Humaitá, A Ba-
talha dos Guara.rapes {1869) e A Batalha do Riachuelo (187 ), quadros
que reoebcu a incumbência de pintar e se destacam, de maneira notãvel, da
produção artística do tempo pela firmeza do desenho, pelo sentimento poético
pelo vigor e pela ciência da execuç.ão. A maior obra de arte que, nesse gê-
nero, o Brasil possui é, porém, a JJatalb.a de Avaí, de PEDRO AMÉRICO (Pa-
rafba, 1843-1905), uin dos maiores artistas brasileiros, que se impôs, não pelas

16 O c&to daa via ena e do a6tico e o e1p!rito de aventut• conatlt car•ctc:bticoa


do movl.m~to romlnttco qu,: resultou, por um lado, de revah1çõe:,, I\I , e, par outro,
do prOl'ftlO d d l>bt6rica1 e ffiol6gieu "que b a tr •• íalcl6rieot,
comwu à fantasia de todo, m lmlDel!S". Por tOu p , lbl,., ~-
artit qw:, •traido,, para ª°"""'
campos de oboen,açã e entre tstc
1)090 europeu palsQ amcrianos. ~ bte um dot Catot ptrlto
d •vCAtur•, a-oi.Iam o 11TaJ1dc01!.mcrodte oãbioa e ariio e:stn cl o
XJX, •parecem no RiodcJIUleiroc cmout:nurqiõesdo pai. oaoc: m ~ocia.
com o uovo mão carreg.ado de prema Entre do
e ~ dtu aPfflQ oo prindpms, - ]Ih.to L• Ce to
dc,,cnho em que íai. mm tarde ap:DTci do. f o primeiro a ncooh«cr a auperiaridade de
ta d~~ à~ por ~a: J.
Callaclhdro To & GO.IPS 1>09 SA!ffOJ;
e 114 9; FftDDCAl'fOO KittlUlot. n, 5
e Põa.TO Al.solll: um.ai obra ~te no de
w, veio pva o Bn, íl e,11 18$6 e íoi oa.o
s, MAanito que, eo ao Brant. em 1865, u dirqill PIIJ'& dtc.•c juat»
&t1W'al de CAXLU e • bonfo de OJ1Yia. de llllelTA. a coaccpç&o,
oo cpi16dloa da história de ,._ narl:lha., como A uaf•m d•
Humairl e O combato de /tjaútueto; T0JÚS 0-.tL''lll&.'S ,,;e,-a, lU6), plator de n,uru e de r: tot. CQja
tda Uma .,.n• de f1tmWa not Bavit1TtJ E justamente coa,i •prima: e, finAln1 nto, Jo os Ouw:w
(Bavfcn, 11146),profcnor da cadeira de p9i13ec,n, • t:Qjo e mprimlt oov• orie1> ç .,, tornao:lo-ac
wn doem i:r, ele maior lofl.ll!acia H Academia da, Arttt. ouireram um co trlbu çlo ~et6\lel,
e -.1 n de real valar, ao d~volllimcoto d■ cultan artf tica ai, BruU, em ~11.1 r« ntcl.cctu:■J tio lD.tJ
mamo.nu p■rtJclpara.m, oo 1,!!c:uloXJX. as cultura.a estnACeiru.
A CULTURA ARTÍSTICA 26l

auas telaa inspiradas em assuntos bíblicos. os de sua predileção (Davi, Judite,


Vi'rAem dolorosa, Jacobed), mas pelas suas pintura de batalhas e ouros
epia6dioa hist6ricoa, como o Combate de Campo Grande e a Proclamar;So
da lndepend ncia, em que soube pôr vida e movimento e se SS90ciam,para
lhea dar um alto grau de expressão plástica, a nitidez do colorido a arte de
factura, nos detalhes, a profundidade de perspectiva aérea e a largueza de
composição.
A obra doa artistas contemporâneos ou sucessores dbtcs. ou que foram
aeus disdpulos ainda acusa uma predileção marcada pelos anuntos bíblicos
e hi ricos. Os quadros de paisagem e os consagrados a cenas familiares e
da vida comum, ainda não são freqüentes nas exposições de pintura nem com-
petem, pelo número ou pela qualidade, com as telas históricas ou inspiradaa
em motivos blblicoa, e com os retratos a pastel ou a óleo. Dlfc10 VII.ARES
(Rio, 1851), disópulo de PEDRO A.Mlfluco, compõe os dois Jerdnimaa (Slo
Jer6nimo em oraçlo e Sio Jerônimo tradurindo os livros hebraicos,
e a FuAida para o EAito, - quadros em que se podem admirar a pureza d0,
desenho a harmonia do colorido e a inteligência da composição; mas ~ no re-
trato de mulher e de criança que a sua arte se desabrocha em plena maturidade,
pela peequiaa do que a nsionomia tem de mais dificil de apanhar e de reproduzir:
• apressão. Disclpulo de VfroR MEIRELES,RODOLPO AMotoo, que tam~m
foi pensionista da Academia das Artes cm Paris, depois de procurar inspira -o
na hist6ria sagrada (A partida de Jac6 Jesus em Cafarnaum). volt.a-se para
os assuntos indígenas, deixando-nos Marabá, mergulhada numa melancolia
romântica, e O último tamoio, o melhor de seus quadros pela originalidade
de concepção e pelo vigor de execução. '& também na pintura histórica que
AUÚLIO DE FIGUEIREDO (Paraíba, 1854-1916), irmão e disdpulo de Pu>RO
Almluco, mai se compraz-, como o revelam o seu csbaço Descoberta da Amé-
rica, 036rio e o quadro que r-epresenta o baile na ilha Fiscal em novembro
de 1889, al&n do Encontro de Paulo e Franoesca. da Riauni, considerado
o mais perfeito de seus trabalhos. li Ma& é com ALMEIDA JtÍNTOR (Itu, São
Paulo, 1850-1899), o maia original e pessoal de todos os nossos artistas do sé-
culo XIX, que se funda verdadeiramente a pintura nacional, e dã a bifurcação
entre oa europeizantes que insistem na conservação das técnicas estrangeiraa,
e os autoctonistaa que se aplicam à procura do brasileiro, do regional, do novo,
JlO 888unto como na técnica, e se marca mais fortemente, pela pesquisa do oci-
dental, do individual, a evolução do idealismo ao rcafü1mo. O grande artista
que, pensionado pelo Imperador, estéve cm Paris, quando mais aceta se travava
a luta pela renovação das t6cnicas picturais e atingia o seu ponto culminante
a hiat6ria do impressionismo com CAJ,JILLEPlSSABRO, AUGUSTE RENOIR.,
.Bl>oUAlt.D MANET, EDGAR DlfGAS e outros, "passou incólume pela batalha

te Nlo o &tu, ~m, • dn coa ttprnmta;!lta da pi,,tura J,qttrica q,a.,, laldada tob o impulJlo da
....., lnncaa, .., abc,ça com QI rm d" l'Õlln> Al.mJU: e ou:troo e "" d_...,,.,,ve par q\lUC todo o
q1,1.11 o
XI.X, pn4omb>ando •ti o cr~ do romafttwno n.o Bnnil com ...... iufiutncia a que OI ria- m. ori•
Dlro 1....,..... -• N'• producAo artf,tica de ZEn>tlNO D CoftA (Rio de Ja.odto, 114 191S) pro•
, .., Dlo doml.nain t~tc. • qaadrm ~ e rdigi080I e °" pallltb d_..ti.,.., ai dm Q,\1&11
.foram Cll«UUlda. pua • I~• da CaDdd6rie. Bua,no ~ (Slo P•lll.o, IW), qo atudau e-, Vtro•
11•:rna A, bnarta&a a "6r{a de Slo V'icc,:i~ e • caaqailtlí do planalto com - q....sn. P&ro du .... u1 ( o
'Vlcemle), P rtld'a d• /rota d &14do d• 54 e Baa co,njn/ra d,, 1'iratinin.fo, - ei,uddl da b.ln6ria C'Ol
• Slo Paulo. Olltro tar U q <!SJ)lorouq- todm .. a:~ Aln'6tuo P&lllllmLU, ~ do Betado
do Rio, • aa t'e1a aa l'\mdaç,Oe, d 1ter6i, de São Paulo e do Rio de Jandm, d - cn> 1/lo,t1 d•
•tKio d ~ (ll'w,daçAodo o de Jaa.dro) um de aeaa mail bcloa q'0811r<M pda r..s e hi.t4ri<:a ,.. nsta\l•
• do • o pelo va.ode poder de cYOClld.o, A hirt6ria coloaia1 .,_ • («-DeCO dn~:oa •
O.CUJ>sua.t. DA n.v• m. 11do • . 11161)~ foi dixfpwo de v&o- 111'.DJD'v ea Hom:~ BllaJl'.41U)U.U,
.aqv.tk, •utor FumlaoSo d S.o P•ulo, e &te. de O.a baadmantea, aa qlle rcpradiu wn da -iia
de - banddnl pa, ui atr da n C9ta, .i&n d,. dou qizadroa A/d.;1dinho e /oa' N1urlclo na C6a•
th, D, Jo•o, cm q evac:11 o iull!>dc ardtta eoloalal e o primàro compooitor bruilaNI. Natural do Rio Grande,
Al1oowroLui. o• ~n-.u. q e foi dh,dpulo de Bsiuu.a»m,u. -.Eecota de ae..Arte. (U19~l1911),tempcnmot
làrte e ricorwo, por UNntoo 4~ ai de - q~ da~
ep;.643<111 põclu,, admlrbclft:lellte evo•
...So. em A ch•l•d• do, IIOOt nol A Bitalha de .46"nhl., que fipnmi. Põaro Al.aau. 1111 PlAaCOt-
4«>ltlt:ado.
262 A CULTURA BRASILEIRA

artística, segundo já observou SÉRGIO Mn.LET, e voltou -o bra ileiro quanto


antes". Pode-se dizer que o pintor paulista fêz prova de originalidade, abor-
dando francamente o atual e o vivo, - cenas, costumes e tipos locais -, depois
de er tentado com êxito a pintuta histórica cm A partida da monção, uma
tela magnífica e a Ful,a para o E~ito, que ê um do nossos melhores trabalhos
inspirado cm assuntos bíblicos. ~e convenceu-se afinal de que encontraria
efetivamente encontrou os elementos de sua p odução ao lado de si mesmo,
na pr6pria vida ambiente, nos aspectos de todos os dia , na: idas e vindas dos
Er familiares no meio rural de São Paulo. 1tlc é, d fato, - para empregar
as expressões de Lufs MARTINS -, "o pintor da madrugada de nosso fastígio
agrícola e o fi ador de nossa vida rural, do inicio da era da grandeza do café";
m e1,1squadros Caipira neAaceando, Caipira picando fumo, O violeiro,
Amolaçíío interrompida, Na espreita, O caipira , Saudade Mendiga,
O caçador, Cena de roça e outros, em que se juntam ciência do pintor e a
sinceridade do observador, há, sem dúvida, "um espírito brasileiro inequívoco,
qualquer coisa de inconscientemente bárbaro e fecundo, - uma fatalidade de
terra moça -, que nenhum grande artista estrangeiro conseguiria traduzir.
:tle é o primeiro clássico de nossa pintura.17 Juntamente com VÍTOR MEIRELES,
de quem foi discípulo, e ,nuito mais do que PEDRO AMÉRICO, screve por sua
vez SlfROIC MtLLIET, "ALMEIDA JÚNIOR tem para a pintura brasileira a impor-
tD.ncia de um marco divi$6rio. Com ê1e se afirma a nossa liberdade artística
e por !le conquistamos um lugar na hist6ria da arte contemporânea".
Me , com ser o maior de ncssos pintor no século passado, e sempre igual
a si mesmo, a despeito do motivo, atual ou retrospectivo, proposto aos seus
pincéis, não e pode dizer, com Luís MARTINS, que ~e tenha sido um "belo
espetáculo estêril", uma figura singular e solitária na bi t6ria de nossa pintura.
:2Ie foi, ao contrário, não o início, mas o marco de uma evolução natural que
ae vinha processando desde os pintores de hist6ria ''até a geração de SANTA
ROSAe de PoRTINARI'': a evolução do ideali o ara o realismo, de uma arte
que predominava a preocupação de beleza e de fazer "grande", para uma
art naturalista, de observação e de verdade, inspirad nas paisagens geográ-
fica e sociais do país. O lugar que êle ocupa, na evolução da pintura nacional,
mo o pintor picamente brasileiro, é o mai alto e o mais importante que
conquistou um artista no século passado; mas a evoluç-o que ele marcou, de
modo excepcionalmente notável, vem assinalada também, no seu tempo ao
menos quanto à preocupação aned6tica do assunto, por um PEDRO WEIN-
OARTNER (Põrto Alegre, 1858), paisagista e pintor de cenas, tipos e costumes
gaúchos, e BELMIRO DE ALMEIDA (Minas Gerais, 1858), que tomava de prefe-
rência, por assuntos de suas telas, aspectos e figuras da vida comum, principal-
mente das altas camadas sociais. De volta, em 1882 a São Paulo, e atirado,
fora da órbita das influências acadêmica!! e urbanas, à pequena cidade, deserta
cura - centro de uma vida agrlcola intensa-, o que s oferecia aos olhos
do pintor paulista era essa vida rural, da fazenda e do cafbai , no seus as-
as, costumes e tipos dominantes. A fórmula luminosa não a impressio-
nista, "mas a de CABANEL, mais primária", êle a trouxe da Europa, para os
eus quadros, de oores nítidas e quentes. A vida campestre do Rio Grande,
nas sua paisagens e nos seus costumes fpico foi PBDRO WEINOART ER quem
rimâro pintou, com uma análise fragmentária, sem audácia de técnica, mas
com a verdade e a sinceridade de ALMEIDA JtlNloR; e, como o grande pintor

17 Clf. Olff1U110LouTo, Alrn<'-idt1. Júnior. ln "R" • u do 1". U, pl\it. JS, Slo Paulo,
l e j nc:lro de 1917; Slbto10 IU..l'U; Afmsida Júnior. ln ug ", ""9- l42 UI, Slo Paulo, 1931· Luta
u.Tl/CI, Altneid• Janlor. 1n "Revine" do Arquiv0Muniàpal, """ VI, Y'OI..66, p ,. -5-22, abrll•-IO, 1940,
~ Palllo.
A CULTURA ARTÍSTICA 263

paulista, também ele. que est~e cm Paris. ignorou os impressioniatu e, na


observação de ÃNOBLO Gomo, 'ficou de qualquer modo à margem das ino-
vações de seu tempo'. O pintor mineiro BELMIRO D.E ALMEIDA, que ac deixou
ficar no Rio de Janeiro, ~e atende às sugestões de outro ambiente e toma•
o pintor da vida urbana, revelando cm Arrufos, Trecho de jardim, Quadro
e em outros um sentimento profundo e tocante da intimidade e qualquer coisa
de voluptuoso na pesquisa das linhas elegantes, nas p.referênciaa de uma atmos-
fera velada e na delicadeza do sentimento. Com a pintura de co tumea regionais
que em a IIWl fonte no realismo e de que ALMEIDA JÚNIOR é um dos precursores
e a figura maia representativa no século XIX, desenvolve-se tambml a de pai-
sagens, com ANTÕNIO PARREIRAS, nascido no Estado do Rio, artista dos maia
fecundos e de uma grande habilidade em quase todos os g!nero que explorou:
JOÃO BATISTA CASTAGNETO, italiano de nascimento, que reza sua educação
artfstica no Brasil e cujas i=xcelentesmarinhas lhe valeram, na e:qiosição de
1884, a grande medalha de ouro, e alguns outros, quase todos disdpulo de
JORGE G'R.IMM, paisagista alemão que, contratado para a cadeira de paiaagem
na Academia, reformou profundamente o ensino, levando os alunos a ver e a
observar a natureza e espalhando-os pelas praias e pelas montanhas. A pai-
agem brasileira "que os artistas franceses Pio chegaram a compreender, e&•
aevc Josll MARIANO FtLBo a6 nos foi revelada depois, quando H&NRIQUK
BERNARDELLI a sentiu cspl!ndida e truculenta". Mas não é ainda com a obra
vigorosa de B&RNARDE.LLI éxico, 1858), brasileiro desde 1878 por ma von-
tade, que se inaugurou a fase mais brilhante na evolução da paisagem oontcm-
porAnea: o maior de nossos paisagistas foi, sem dúvida Jolo BATISTA DA CosTA
(Estado do Rio, 1865-1926), professor de pintura (1906) e diretor da Escola
de Belas-Artes (1915) cuja produção testemunha a mais completa e poderosa
individualidade que jâ possufmos, na interpretação de paisagem brasileiras.
A técnica de seus quadros é tal que maravilha os espcciali tas e, quanto ao
encanto que 9C desprende de obra acabada. não há ninguém que lhe possa es-
c:apar. Entre os seus numerosos quadros que se fazem particularmente notar
pelo rigor da observação, pela delicadeza do colorido, sempre justo e pela sin-
ceridade do sentimento, Tranqüilidade, Quaresmas. Saudoso recanto,
A caminho do curral, Manhã (Alto da Serra, Petrópolis), Prisioneira,
Campo em flor, Depoi da chuva, Repouso, Idílio rústico e Pouca pressa,
tocam-nos ainda pelo ideal de paz e de pureza que sugerem, pelo sentimento
poético da vida bucólica, tanto quanto pelas transparências e justezas de suas
tonalidades e pela harmonia de suas linhas.
A história da arte brasileira que era antes a das escolas ou florações locais
e regionais, tomou-se, como se vt, no século XIX, a dos grandes mestres que
impõem a sua vi11ãoest~tiCQ,suscitam discípulos e fazem frradiar sua iníluência
no tempo e no espaço. A vinda de D. JOÃO VI e de sua côrte, a missão francesa,
a fundaç-o da Academia das Artes, que drenava das provincias para o Rio de
Janeiro grande número de vocações, não tardaram a fazer da capital do Im-
pério o maior centro de cultura artística do país. Cria-se uma tradição aca-
dêmica sob a influblcia das escolas francesas que forneceram a nova t6c:nica
aos nossos pintor e escultores, como aos nossos compositores que sofreram
também influencias italiana enquanto, no que diz respeito arquitetura re-
q:iosa ou civil, de progressos mais lentos, "o que ainda havia de melhor, como
observa Josi MARIABELO, era ainda a velha tradição colonial pomguba' .
A lentidão d transformações da paisagem. urbana, que ainda revestia, no
Rio de Ja.nci.ro, como nas capitais das províncias, o velho aspecto colonial.
em quase todo o s~culo XIX. não permitia um maior desenvolvimento da
arquitetura civil, sempre ligada, por tôda parte, aos progressos das grandes
cidades. Os artistas, sobretudo, os pintores e músicos, viajam e, cm coo.se-
264 A CULTURA BRASILEIRA

qUbcia 1 o seu horizonte se alarga; e o advento do r i mo que leva o artista


procurar à volta de si mesmo, no próprio meio ambiente, no individual e no
ciden 1, os elementos de sua produção, contribui par: a libertaçao da arte
brasileira, esboçando-se, na pintura com ALMEIDA JÚNlOR, H. BERNARDELLl
e BAnSTA DA COSTA,uma reação nacionalista no sentido de mais livre inter-
pretação da vida dos costumes e das paisagens brasileiras. As difcrenças de
escol , - o marcadas no princípio do sêculo XIX, cm que se encontraram
em presença artistas coloniais, portuguêses e estrangeiros, se tendiam a dis-
solver nos meados do século, em que todos os artistas apresentavam pelas suas
semelhanças um ar de família, voltam agora a acentuar- e, numa variedade
maior de tendências abrindo novas perspectivas de trabalho e de lutas fe-
cundas. A posição que, na história das artes, durante o egundo Império,
ocuparam a Academia, já tradicional, e os artistas que nela se formaram, foi
devida, porêm, não somente à influência da missão francesa e da escola a que
se transmitiu sua herança cultural, e ao público, jâ constituido de uma pequena
elite, no Rlo de Janeiro, e estimulado pelas exposições de pintura (pois tôda
a arte pre upõe neccssàriamente um público), como ainda à proteção vigilante
que dava o Imperador aos artistas, facilitando ou e tipendiando as suas viagens
de estudos. O mesmo zêlo com que D. PEDRO II anjmava os empreendimentos
dentfficos, fazia-se notar no amparo às artes; e se o amor à ciência levou o chefe
de Estado a trocar cartas com o notável fisiologista Ou Bo1s-REYMOND, acêrca
da fundação de um grande instituto de fisiologia, no Rio de Janeiro, o inter~
pelas artes chegou a alimentar-lhe o sonho, tão irrcaliz vcl como o primeiro.-
de entregar a RICARDO WAGNER a direção permanente de um teatro em nossa
capital. . . Quando não lhe era possível ir ver a exposição de um arti ta, como
ac deu com a de PEDRO WEINGARTNER. instalada no Rio de Janeiro, alguns
anos depois de haver êlc recebido a pensão que lhe concedera D. PEDRO I!,
pedia-lhe o Imperador que levasse alguns de seus quadros ao Paládo de São
Cristóvão para poder apreciá-los. Mas se foi no Rio de Janeiro que, por tôdas
s circunstãncias, se acendeu o principal foco de irradiação artística, no Brasil,
na velhaa cidades do norte, Belém, Reci.fe e, especialmente, na Bahia, - cuja.
escola de pintura (a chamada "escola baiana• ) remonta aos fins do século XVIII
e em que se fundou, ainda no Império, por iniciativa particular, uma Academia
de Belas-Artes .(1877)-, trabalhava uma legião de artistas, amadores e pro-
fissionais, que, modeatamente e quase sem estímulos, prosse uiam a sua obra
no quadro estreito que lhes impunham a tradição e as convenções. Nessas
formações m te6ricas, -vias lácteas de cultura. regio11al,de que não se des-
tacou urna estrêla de primeira grandeza - 1 já se esboçava, no entanto, um
movimento artístico que, no século seguinte, com o desenvolvimento das grandes
cidades. tomou proporções maiores e um sentido mais profundo, suscitando
a criação de novos focos de cultura estética, nas velhas cidades do norte, corno
nas do sul, em P6rto Alegre, Belo Horizonte, Curitib e sobretudo em
Paulo.
A maior parte dessas produções, nas zonas marginai da cultura sr ' tica
que ae deaenvolvia no Brasil tendo por centro a capi aJ do Império, não s6
nos mostram o nível médio da arte brasileira no século XIX, como as grand
djferenças de nível e de aspectos da vida artística, no centro do pais e nas ci~
dadcs em que os artistas heqüentemen e ainda trabalham n maneira do •-
culo XVIrl, sob as influências da tradição colonial portuguesa. Se seguirmos
de perto a evolução da arte nas velhas cidades do norte ( do sul, ainda é
extrema.mente reduzido o movimento artis ico), apenas se perceberia uma
metamorfose. A transformação, sob a pressão dos grandes mestres do Rio áe
Janeiro, é lenta e gradual, e se desenvolve à medida que es centros urbanos
A CULTURA ART1ST1CA

&anham cm densidade de população e intensidade de vida cconõmica e aocial.


Não ac ob erva, mesmo no centro de cultura artística do pais. qualquer inte-
ração de poetas e de arti tas: nenhuma influência do pensamento criador sõbre
a invençio plástica ou pictural, nem dos artistas sôbre os poetas. A arte que
ainda quase se reduz à pintura e à escultura, imagem plana e rcprcscntação
plhtica, e se mani!csta em maior escala e com mais vigor na pin ura, ainda
não dava nem podia dar sinais de baixar "da região d~e Olimpo, inac 've1
ao o, cm que o mantinha (nas expressões de RUI BARBOS.A) um &To cano-
nizado pelo séculos, ao seio de todos, como membro integrante da educação
comum". Se para o fim de promover individualidades extraordintuiaa, nos
diversos ramos das belas-artes, se fundou a Academia, se estipendiavam viagens
de estudos, - premio aos que mais se destacavam-, e se realizavam expo-
liçõea individuais ou coletivas, a6 mais tarde, em 1856, se criava, por iniciativa
de BETBENCOURr D~ SILVA dieclpu1o de GRANDJEAN DE MONTIONY, o Liceu
de Artes e Oficioa com o fim de desenvolver as artes industriais, de fazer penetrar
a arte em tOdas all indústrias e de difundir náil massas o g6sto da arte aplicada.
Mas, num pais de indústria elementar e de baixo padrão de vida, sem condiçõea
técnicas para o desenvolvim~to das indústrias do gôsto e ainda sem um pú-
blico artuticamente educado, não era possível expandir-se a arte aliada à cul-
tura induatrial, aplicada aoa objetos de uso cotidiano, cm que o artista imprime
9 1Mo da beleza e com que atinge o seu mais alto privilégio, - o de aformosear
e purificar a vida, tornando os atrativos da arte ao alcance de todo Daí,
das próprias condições impostas ao meio industrial, a odiss6ia do admirâvel
instituto de BltTIIENCOURT DA SILVA que, "nascido entre desdéns, peregrinou,
lutou, esmolou longos anos", como escreve RUI BARBOSA.e que, tendo sido
um "ow no areal", s6 muitos anos depois se-reproduzia em outros exemplares,
como oe Liceus de Art e Oficioa de São Paulo e do Rcciie. criado com os
' mesmos objetivoa de fomentar a educação popular pela arte e de alargar o campo
de ç.licaçio da arte às ind(istrias. A penetração da arte nas camadas ,sociais
ji ae ia fazendo, no entanto, lentamente, não s6 pelas exposições gerais como
•b&n pel01 eafOitol desenvolvidos na difusão do gôsto e da ciblcia da.a artea
dea>rativas e pelo■ progressos du artes gráficas, para os quais contribuiu HEN-
1UQU& Fu1uss, de modo eficaz e brilhante, jã fundando o Instituto Imperial
Artístico e as reviatas Semana Ilustrada e Ilustração Brasileira, j prca-
~o, 10bretudo à primeira dessas publicações, entre 1860 e 1876, a valiosa
1
colaboraçio de seus desenhos. A caricatura e o desenho humorlstico inau-
l[W'am-ae por essa época e, pela e:xtensãQ do público que divertiam, reunindo
no mesmo aentimento de prazer a elite e a massa, são fatõres na difusão popu\ar
da arte, e conatitucm a primeira colaboração real entre as artes e a literatura.
Os primeiros caricaturistas ÃNGELO AGOS'l'INI, qué dirigiu a Revista Ilustrada
~ o Dom Quixote, e BoRDALO PINHEIRO, notâvel artista portugu& que viveu
alguna anoe no Rio de Janeiro, concorreram por essemodo, para o nosso mo-
vimento artístico pondo a sua arte a serviço da política. e inaugurando a e&·
pecialidade em que vieram a destacar-se, jâ no século XX, RAULPEI>JtRNlUli ,
CALDcToCoRDEIRO, CARLOSLENOIR (Gt1) e mais recentemente, entre 1910
e 1930, J. C.UU.OS, no Rio de Janeiro, e VOLTOLINO, cm São Paulo e cm que
o esptrito motejador de nossos artistas, o seu senso moral e social e as quali-
dades de aeu desenho no dcvÍam permitir cstabclecer uma tradição no mero
e dar à caricatura um lugar mais alto na hierarquia das artes.•

li &ot,,o a mr• C O d O h~ a difereaça f ~e! aq ~ D.111D


Cllle f íW>d.am l>D aru ova, e 6 um dese.oho ~ q- todoe oe dem rm alo dffldoe 1 ~
.., mrim' rwco e mon.l (.,. uncatura bi "mriter"l, o descnh<J lmmorhtico "do t6 atHl-tamcirt.c Updo
mme.. pw-o do d-.«lho. at o cone,e alo em. tõda • tibcrdtode ma1 aob o 'JllO da r, a. A qualidade
do 4-1,o j& do den r ... intcrpr-"o • todo o - do 'ftrdaddro, - ... c:,q,renlo d IUIH aatut-CH
.. ,Dplrtto". U e oullr• mtccoria, porim, como l:6cla a ......U~ do c6mú:o, IIC(llllpA(lbadat pn
266 A CULTURA BRASILEIRA

Mas e enriquecimento e alargamento da arte sõbre o primitivo esquema


colonial não se verificaram apenas em relação às artes plá tica e mais parti.
cularmente pintura histórica que foi, no Brasil a grande arte do segundo Im-
p&io. A pintura, como a literatura, que é um produto dos po os individua-
listas, adquiriu na segunda metade do século XIX um desenvolvimento s6
comparável ao que se processou nestes últimos anos. Nenhum artista até hoje
no f~ penetrar melhor na intimidade da vida e dos costumes regionais do
que ALMElDA JÚNIOR, que desaparece tragicamente em 1899: o que chamamos
pintura de costumes", é com êle que nasceu. TambEm à música que toma
um caráter profano, abrem-se novas perspectivas no segundo Império, "talvez,
segundo MÁRIO DE ANDRADE, o período de maior brilho exterior da vida mu-
sical brasileira'. Jã SPIX e MARTrusque chegaram ao Rio de Janeiro em 1817,
observavam que a música era então "cultivada no Brasil de preferencla a
tôdas a artes, particularmente no Rio de Janeiro'\ concluindo que essa arte
seria certamente a primeira em que os brasileiros atingiriam cedo um certo grau
de perfeição. 18 Para FREYCINET que estêve no Brasil logo depois, "de tôdas
as artes cultivadas pelos brasileiros e portuguêscs, a mú ica ~ que tem para
eles maiores atrativos e é nela que estão mais bem sucedidos. " 2º O impulso.
porém, que o Pe. JosÉ MAURÍCIO dera à música de igreja, parou: as suas missas,
as de MARCOSPORTUGAL e as de SIGISMUNDO NEUXOMM, "escrita estas no
tilo dos mais célebres compositores alemães' marcaram, no tempo de D. JOÃO
VI, o apogeu da música sacra no Brasil. O seu declinio começou no primeiro
lmp&io. "A música religiosa, escreve MÁRIO DE ANDRADE, inda muito apre-
ciada e escrita. vai perdendo pouco a pouco import eia dorrunadora que
teve de primeiro''. .Depois de um longo período de d alecimcnto, a música
rtís •ca renasce mais variada nas manifestações e mais disperu no país; e di-
funde- por tal maneira a moda de tocar piano que cm Pernambuco se instala
uma oficina d~es instrumentos. WETBERELL se espanta de encont:rã-los "a
cem JEgua , interior a dentro, transportados a. ombro de negro", como de
v~los e ouvi-los em quase tôdas as casas do Rio, ainda na mais modestas, se
surpreende CASTELNAU, 11 que visitou em 1843 o Rio de Janeiro, apelidada por
PÔRTOALEGRE (1856) "a cidade dos pianos". :t essa a época das bandas e
orquestras que se organizam por tôda parte; dos concerto de virtuoses, n•-

com urn lntcte ... e pnrtlcula.- pelo i,õblieQ, que se conat:Uui de tOd.■1111 camada• 1ot:l■ I,. O dmuwho bum«(1ti,co,.
e-, ,obretudo, • c■ rlc:atura, te.1dem • nivet,,r a.• clA...,,,, unlndo-a, no me.mo 1entlmento de- pruer, e contribuem
Jl••• edw:11rarthtkamentc • IDJl•a& geral dag populações: silo espeá1lld•Jct que, pela 1wa ll.lt\U'ci.11e funt o aodal
l!Olltica, ac diriJem e lnte.-QSaJD a um grande público. Antn de HDIUQUa PI.CIUII, - um doe plooeiroa
d& clU'i rura no Bra 1-, we R!oeto jé era explora.do. embora com pouco valor de artt, p0r v,rioe IU'ti1t:a•
d , 11,ereçbc:a Mteriorc,,. Foi depoi., d~le qnc tomou, por&n, lmpulto com rev ilualre.d.a■ e com oa Joruai•
pol!tl , como o Mo•quito e o Bo1K>uro. que dirigiu 13olln4LO P1NU111ao. 8 um ~ero e.e, - •caricatura-.
q"" dapt. mllis ao ai>lrito lrondeur de """'°" artt,tu, li Lili pr ui.- mot11l1:t11e ao ■cu &61to do c&ltico
e do cr«uco, qu,o • obKrv,açJ.o at:!rica obt&n com 11 dd'orma;lo in ndonal da realidade. ~ oe teaa
Ktera • iL o maior dtlc,, DO aEallo pa,udo, ÃKO&LO ..._TUO, " Ot qr,e lhe ~-. 'RJ.tn.. Pa-
1)11tJnJJLU, CA.u:xTo COJU>UltO, J. CARLOS, Bü'ros Tto=, V0l,ntldlCO, 01 CAVALCAl!Tl, )hiM0lfTS e ou~
tod com wua tr ços pró;,rios " oricineú, d,, caricaturutll . lt \' cnta q11<. wna vu laDcadoa na pista
do cõmico e do rldlcuJo, ■ pro,,eitam tudo o qne encoot:mm, c"<crcendo 11\lO arle ·pccjlllmenb: cm bftle!lc:io ih
ttlat ou ISA tira de c:osmma. Mas pouc.oo denttt tle., 11 ft&o ter em um Oll outro tnbalho, vea«nm • dia·
tAnda q vai d • ao humorista. e E a que aq,ara o m do Ma tanh, C.t.al.OI Luom,
fOb o s-ud~mo de Gn., pUblicou ~ porc:roit•~•r o f•n wr icat, .., r tema1t.., Dr
t.Y.u..cA.vn, elo que ·• vf:x:I ati:Dgiram o daenho hum • , ,:\ljo vai.« v&r,co, ......, ta aeolo CID
lo d~ um clima de • e d~ um. atmod"tta. poé:ti:a"'. O humor de On. i,a, .,ta,e natural; e. .e fo
u1llr vcx:t,çlo i,ar. caric,nura, fai caric:atoritta à oua man ra. Ullri.cni o l!l-"IOI o que vt do que o que
o , e embcbc:Gdo dt1 a1ec,ia. de bom bam« e de hu mour " au.a dai h e d _,t,oàmentoe. .u.
de, e
ah,ü u.m estudo por fuer, ~ da cvol~ da caricatura, llahas, e da
artiRaa.
:onirlbui':clo que, an IJO'lCO meo,. de QlQ 16::ulo, - pr
li V&lc SPIX VlQ) M.urwt, Réiaa ín. Bro.1ili=. vo1. 1,
UYCUln, Vo_ya1e autour dú monde au.r 111 corvetl I l,'Ur.;11 el la l'hy1icJ" nne. Paris,
lll , vdl. l, pie. 21&.
ti CAsrKL.Atl, lbcptditit>n• dans les parti•~ oecntr /e., d L'Am61iq= du ud, t:( Paria, 18$0,
' J, pls. 61.
A CULTURA ARTtSTlCA 267

clonais e ea angeiros; daa companhias líricas que, compostas dos maia teebrea
artiat:u, cantam cm i liano no Rio de Janeiro, em quase todos os invernos,
aoma.ndo àa v!zcs 60 cspetâculos as suas temporadas na Capital do Imp&io.
2 também a tpoca em que e fundam as primeiras instituições e socied dea
musicais, como cm 18 1 o Conservatório de Música que se deve aos csforÇOt
de FRANCISCO MANl.JEL(1795-1865) e que se transformou, cm 1890, no Ins-
tituto Nacional de Mú ica, 21 e, além da Filarmônit:a Brasileira, socied de ins-
trumental (1841), a Academia Imperial de Música e Ôpcra Na ·onal, fundada
em 1857, tam~ por rüciativa de FRANCISCO MANuE-L e que teve, no dizer
de Mwo DE ANDRADE, ' um período de brilho nacional extraordinário, fazendo
cantar na língua do p {s 6pera.s estrangeiras e numerosa produção brasileira".
2 ainda no segundo Império que, conforme nos lembra o ilustre critico musical,
~ mudam para o Brasil os dois fundadores da virtuosidade pianf stíca nacional,
ARTUR NAPOLEÃO, que cm 1878 fundou, associado a LEOPOLDO MIGUEZ, uma
casa de pianos e de músicas, e cuja ''maneira nítida se tradicionalizou no Rio
de Janeiro", e Lufs CHIAFARELLI, o fundador da escola de piano paulista; e
se multiplicam, já no crepúsculo do regime, as sociedades instrumentais, como,
entre ou ras,"o Clube Beethoven (1882), no Rio de Janeiro, o Clube Haydn
(1883), em S o Paulo, sob a direção de ALEXANDRE LEVY e 09 Concertos Po~
pulares, imtitu1dos em 1887 por CARLOSM!rSQUITA. no Rio de Janeiro.
Nessa atmosfera vibrante de in crêsse musical que tem as suas raizes no
gõsto do brasileiro pela música e era constantemente estimulado pelas com-
panhia.allrica e tociedades de concertos, era natural que romp e, j nos rins
do ~culo XIX, a primeira floração de músicos e compositores nacionais. Entre
o Pc. Jost MAUR1c10que faleceu cm 1830 e com o qual se cn~rrou o pcrlodo
da música saaa, e CARLOS Go , o criador da música brasileira, não se eo-
oootra aenio um compositor de grande mérito: FRANCISCO MA.Nuu (179
1865), que foi disclpulo de SIOlSMUNDO NEtJKO e MARCOSPORTUGAL, e
ll! tomou cilebre como au or do Hino Nacional, e fundador das duas maiores
e maia importantes instituições musicais do Impêrio. Foi êlc na cadeia dos
oompositores brasileiro , o elo que liga o período da música sagrad ao da
mú.aica profana, que atinge o seu esplendor nos fins do segundo lmpêrio. Para

ti A. oo:i1e.a.1 da atual BICOia Nacional de M.ib!ca r=ontam ao ConterVat6rlo de Mótlc• qu. P'UKCtllCO
~ li,' Sn.VA., autor ào Hloo Na otu1I, foi autor.zado ■ ru.ndar pdo dcc. leiialatl.-o n.• UI, d• n d no-
-iiro, de 11141. Durant.ct o lfculo que dcc:cn-e da <111t■ dbte decreto, podem-ac: dl1tlnàulr trb run. na htat6rl•
da tndid-l lnetlttl.lçlo, "i.lve.r o m•I ■ ■ntla:o cttabclcdme,,to de educ■ çlo mwJc:.i•·• octl• p■,tc do «Dtuicote
-.rlculo. Na priftl<'lr• •t6rio que l'IIANCllCO !IIANVSL (oi autoriH o a fundar qu,r
~ a fuadonar numa dependeaci• do .U:uaeu lm!lfflal e em coolormldw
- o dec. n.• 4ff d 21 • o eariter de hut:ltulçla part:leuli,r. o,:,.hedda • IU'lrv •
~ pelo loV Á .-- coot ■ refomu de l&SS. pda q I o Co al'&lo
e 111:i:nramcote.,. pa.lu 'Priv&d■ l imtitulçlo oricla.l. i • emla lm•
pirial d• Bdu-Artn, da que flcou o a quinta ac:çlo. O hoperial C-V,,16rl
dlriddo pc,,- Fll..Ufe1tc:0 M.utusi. DAltlLVA.etl: o ac:ufillecimeoto (11165),~ liui.alado e
Da 110YO " " • • lao'8da e,Jl l&Sl, por l.oidativa
• , - o Oepala d.■ prndame,çlo -da R,:p6
• lido da onnou.- ao lmtituta Nacional de
~ uc tuia.m. PEU Auuoo B&vn.4ou
e L o ma Lõllo, • tro do ln
1-tituto por - rd'c:rma (dce. a.• 9: ~-
JIG'fm. a uaad.o ae t:reaaferiu pata o que
à nu do P o na-n, edifJrio du aul.u e cm 1922 o
H31. rea ffr■ncieo Campot (dec. a.• l9 &52. de
o l hutit-uto NaciD0.111 de M • , ou
• de • 'J. de S de jwho de. 1937 que crioll
6.ldmo • o~ e fea,ndo, na • t6ri• d--■ Ulll>rulQIO,
~ • llll1C&Jt0 (1902-l!IOJ; 1906-1916): f:lllftlQIB
1 !: Ã&DOlf n2 ); A.Ln.soo P'umil os VAJICOff~ {19'J'J-l93.0); L
t931): O11n.io•1D (111 l•l9J e A~ 10 D& SÁ PllUJJU. que, a.ommdo em lllll,
• dírtdo dbtt e■ tD. (VM 01, io 8-i1'qu■, l,t,opoldo MifuH • o lntrlturo Naçioru,I de
Ili, /ca, ln ""R n1 da NO...."', vOil. Vtl, l.• f■tdculo. 1940, p6p. 6-11; Jod RODIDOlfl:IB.ullOP
Alberto N•potnu.,,,no. to "Rcvbta 'Bnt !ova. de M~••, vai. VII, I,• fllKklllo. J!HO, pip. l 111).
268 A CULTURA BRASILEIRA

MÁRIO DE ANDRADE, que considera a arte, ainda nessa fase de sua evolução,
'fundamentalmente européia., mesmo entre o nacionalistas que se interessaram.
pela representação musical da coisa brasileira' , refle em a preocupação nacio-
nalis CARLOSGOMES(183~6), ALEXANDRE LEVY (1854-92) e ALBERTO
NEPOM\.ICENO(Fortaleza, 1864-1920), - "o mais lntimamen e nacional de
odo " -, figurando entre os menos caracterlsticos, "preso demais à tradição
européia", LEOPOLDO MJGUEZ iter6i, 1850-1902). HENRIQUEOswALD(1852-·
1931), FM.Ncrsco BRAGA (1871) BARROSO ETO e outros. Todos êles, no en-
tanto, com tendências nacionalistas ou mais sujeitos às influ~cias européias,
-o expressões dêsse romantismo musical, que então dominav e em que se des-
tacaram, como as figuras de maior vulto, na música brasileira até a época atual,'
HENRIQUE OSWALD, a mais completa organização de músico de sua geração,
no julgamento de M.Ã.ruoDE ANDRADE, e antes d4le, e o maior de todos,
CARLOSGOMESnaturnl de Campinas, São Paulo, e um dos mais poderosqa
artistas que o Brasil já produziu. Entre as duas orientaçõe9 na composição_
de 6peras, dessa época - a que nos vinha da Itália, como herança de VERDl.
e outros compositores da península, representada por MAscAGNI, LEONCAVALI.o,,
PucCINI, e a outra que tem sua origem em WAGNERe STRAUSS,e na qual pre-
valece m6sica de programa em que a orquestra tem o papel primordial,- foi
aquela, a orientação italiana, que exerceu maior influência nos compositores.
de óperas nacionai9. Se a tendência alemã é representada por LEOPOLDO
MlGUEZ, que e revela no drama lírico Saldunes um de no!lSOS raros wagne-
rianos, de fé sincera, mas sem grande poder de invenção musical, a outra ori-
entação, geralmente seguida, teve o seu mai alto representante em CARLOS
GOMESque deixou marcada da influência italiana quase tóda a sua produção.
Tendo estudado em Milão onde foram escritas muitas de su composiçocs,
como F081c (1872), Sal'iador Rosa (1874), Maria Tudor (1878) de insp-ração
e factur italianas o seu estilo é o dos contemporâneo de VERDI, em quase
tõda a sua obra, com exceção àe O Guarani, a mais famo a e talvez a mais
original, e a que, sobretudo pela ouverture, incorporada. ao repertório de bandas
populares, mais contribuiu para tomá-lo conhecido no pa[ e no estrangeiro.
Autor de numerosas óperas, entre as quais avultam além do Guarani, a Fosca,
de 6daa "a mais sábia e a mais complicada", e lo Schiavo (1898), e de compo-
aiçõ para canto e piano foi, certamente, CARLOS GOME.<; um dos grandes me-_
lodistas do século XIX e um técnico de primeira ordem dentro de seu estilo
que deve, porém, muito pouco às fontes americanas. Se faltava ao compositor
brasileiro êsse vivo sentimento da cena, quase ina o em VERDI,e se a inspiração,
larga e espontânea, não obedecia sempre à vontad na pesquisa das formas
novas, a sua obra, desigual, sem dúvida, é, em tõda a produção musical dQ'
Brasil, uma das mais belas e robustas, pelo calor Hrico, pela melodia quase,
sempre obundante, de uma firmeza de desenho e de uma. franqueza de desen-'
volvimcnto bem caracterizada e ainda pela fõrça do senfünento criador que.
rar ment p rde alguma coisa de sua riqueza de sua frescura e de seu poder
de comunicação. :s

A 6p;:,ra.O G111ir11ni, cba!da do rot11aocc de Joú o, cm


Jl70, com sn.Dd oreeo; e o póblico qw: 11 ouvw. ..,... urd.c,
N .-, co:lcndo ao desss mdtica, de uma md!,dla
COCIIJl.to na
oi cantada pcb prin,eira Ve& cm 11171,ll ,..
Ceotrjou. com a e:rtriia do o Guararu, . P&D&c n. ll'oi p«
Yâo • ~ A."IDÚ RilJIOUç.u: -o, oa qum-u réclt&.
• qac a6 i~ a 90licitudc a:,,,:, pa.obou • vida e • •ti•
m,r pa:llluta. B~tr1a-o de llOYO • e MUia, eocrev~ C'QJ.
te. llrllr,m, e, ao receber, o
C'ID IUD, ya p6in.., pub " o
ea,anr:ipar;.io, em que eotuda u rela~ cn Oo1u:.1e • a.mpal\hll.
Na comunidade do ia.brble pda arte e d 11talo mlDÍall d.- CULO
• catn:im amizade que unill A.'íl> RaaouÇA.11 d TAWIAY' OllUO adepto
artb111 que, DM espetkul"'" de 1871, foi• de,,.. p61ria e t aí...S..
o mbolo de, - &l6ri ~d• 110 domi:D.iodai arta..
A CULTURA ARTtSTICA 269

Mas com a República., segundo já observou ~o DE ANDRADE, ' se accn•


-tuou gradativamente a dccad!ncia do brilho exterior da música", que atingiu
a sua maior intensidade nos fins do segundo Império. Não s6 da música, como
da pintura, entre as artes plãsticas. :8ssedeclínio, que é vislvel em tõdas as
manifcatações artísticas e se toma cada vez mais pronunciado até a guerra
europ6a (1914), parece-me determinado por um complexo de caw.a.s, da quais
não foi a menor a manutenção do sistema de proteção individual e de subvenções
aos artistas antes centralizado e dirigido pelo próprio Imperador e, portanto,
peloa mesmos mecanismos rectorcs que asseguravam a coesão, a homogeneidade
e o brilho exterior das instituições políticas. Era, de feto, grande, no lmpmo,
o nfunero de jovens que vinham para o Rio de Janeiro ou eram enviados à
Europa para fazer estudos a expensas de D. PEDROII que ao "sistema de D.
Jolo VI", - o de contratar missões artisticas e culturais para o Brasil-,
1'J'Cfcriu sempre o de mandar os artistas aperfeiçoar estudos no estrangeiro.
Chegou a criar.11ecom ~sse sistema "um movimento artificia] e estéril", pois,
na justa observação de EDUARDO PRAoo, "não é enviando à Europa meninos
maia ou menos prodígios ou gênios mais ou menos incompreendidos que se
.conscguirã encorajar a arte brasileira", cujos progressos estão menos ligados
a alguns artistas excepcionais do que -ao desenvolvimento, por todo os meios,
da educação artística do pais. De resto, dos dois fatc~res da arte como mani-
festação nacional, a riqueza e a instrução, nenhum dêles havia adquirido a in-
tensidade capaz de elevar a um alto nível ou manter no ritmo de seu impulso
inicial, o desenvolvimento das artes. O Brasil era uma democracia em que
não se encontrava, como escrevia então EDUARDO PRAI>o, uma aristocracia
de fato, dca e podc:ro , necessária ao desenvolvimento do luxo e das artes; e
a instrução, quer instrução geral da nação, que em- última anlilisc não de-
pende senão de sua civilização e de sua riqueza. quer a artbtico-profissional
não constituíam. como não constituem ainda hoje, apegar de todo o seus
progressos, um sistema bastante desenvolvido em altura e extcnsao para pro-
duzir grandes resultados. O artista nacional não podia ser então nem pode
eer ainda por muito tempo senão "uma exceção, brilhante prov velmente
maa sem i1&ndc utilidade para o adiantamento da arte cm geral em seu pafs".
Para o deaenvolvimento das formas mais modestas da arte, como para a pin-
ttua, a escultura e a arquitetura, o que ialtava, sobretudo, ao Brasil, era o cn-
Jino técnico e profissional que se reduzia por essa época a dois liceus de artes
'e oficias, o do Rio de Janeiro, fundado em 1856 por BETHENCOURT DA SJLVA
e o de São Paulo. No plano do ensino artístico superior, o govêmo d Re-
pública parecia contentar-se como o do Império, com a Academia de Belas-
Artcs, fundada no tempo de D. JoÃo VI. No entánto com a vitória do fede-
ralismo, produziu-se, embora lentamente, no domínio das artes, acompanhando
o fenõmeno de decentralização polftica, um movimento de irradiação, de que
são as primeiras manifestações as novas escolas profissionais artfsticas, que
vão surgindo nos Estados, por iniciativa particular, como a Escola de Desenho
e Pintura, de Curitiba, o Instituto de Belas-Artes, de Põrto Alegre (1908),
onde cm 1929 e realiza o 1.0 Salão de Belas-Artes, a Academia de Belas-Artes
de Manaus fundada por JOAQUIM FRANCO, a de Belém do Pará (1918), a de
Belo Horizonte o Liceu de Artes e Ofícios do Recife. 24 e a Escola de Bclas-Art ,

Ne<lhwna .S.. 1 ç de Arte. e or • que =tio x criamm, .., aplico.. • ra wv •


1)0Jl!lllar • l.adtc;-. e • alvar • ~ bcnaçu -,tb.ticas, cuustitutllas ck pcq llld4a ,
qoc: aitravam d6•ilb oo domltllo d• arte updo cario= c:ra,ameutal doa produ-"'. AJ q ri•
YenDI, con u.ant11 • d •wvcr- pcw muito tempo qaaoe i.J:tteitameote ili d.. . A. renda•
e bordad , de qu ae ara.ava com r,rol o tOda • roupa branca, e de • apl',c:aç5o v otu llt6z-c •
(all'aiQ" pu-ameat111), co ritul 11) Ull)JI du l'DW iAt,,r,,n;mt... iadlutrin dom&. tradl 'oo.aú DO pai Em•
bani aAo r 11en1 multo •ariad• - pa.trae., eram tn,balhm"CM:iaa ck camt:a", aproximaada-.ci, am 0t,
doo bcrdadOI orlrnt •quem~ bei-daram do• m"""""''· Tornani.m Í.&O\ •• rcad e bordad
de-• provfnda,i d.o N ... ~, coroo Cead e Pauambuc:o. aeas principau cc.ntrot proda1or Na a.ntlc pro.,focl
do Rio Ont.Dde do ul. OI c:•tum da vtda putoril dominante aena regih corno noa valu .S.. MlDu O..n1
270 A CULTURA BRASILEIR

de São Paulo (1925) que já se vinha transformando desde fi.ns do século


XIX, no maior foco de cultura artística depoi do Rio de Janciro. A Academia
de Belas-Artes da Bahia, - instituição particular que procedia do Império (1877)
r-cfonnada em 1899, tomou então um novo impulso. As instituições musicais
multiplicam-se pelo país, em que começam a figurar ao lado do Inatituto
Nacional de Música, do Ri.o - o mais antigo dos estabelecim tos d e g~ero
-, o Co tório de Música, do Recife, o de Põrto Alegre, reorganizado em
1910, o Conservatório Dramático e Musical, de São PauJo, fundado em 1906,
a Sociedade de Concertos Sinfônicos (1921) e a Sociedade de Cultura Artística.
que se fundou também, por essa época, em São Paulo, e jâ promoveu cêrca de
500 saraus ou recitais. ~e movimento de expansão artística que se produziu,
ainda que sem grande vigor, a não ser na capital paulista, não foi sem conse-
qil!ncias para a evolução das art?es no Brasil: fragmentou, no cu centrifugismo,
a orientação uniforme do antigo aparelhamen o oficial, dando maiores oportu~
nidades à expansão de fôrças e ao desenvolvimento de correntes diversas e di-
la ando cada vez mais, sôbre o território nacional, o campo de atividades ar-
tísticas.
Os caminhos já são diversos, embora a conver !ncia seja para o mesmo
ponto: a capital artística do país, O movi.menta de arte moderna é dos Estados
que se irradia, da periferia para o centro: o seu maior foco de expansão acende-se
na capita] paulista em que não só se reúnem, para favorecer as ar es, a riqueza
produzida pela cultura do café e pelo desenvolvimento industrial e um sistema
certamente mais completo de instruçao. como ainda conco1Te,para a renovação
do C'SJ)mtoe a variedade de tendências, o encontro, na cidade cosmopoli a,
de diferentes grupos étnicos e de culturas diversas. O movimento, aqui como
por tõda parte, não se desenvolve sem latas entre os tradicionalistas e os ino•
v dores, entre os refratários à novidade de todo o progres e os espíritos apai-
xonados pelo novo, amorosos do incerto, "fâustico ", para empregar a expressao
de SPBNGLER, revolucionários nas artes, embora tão conservadores e reacionários
como os demais, cm todos os outros domínio . A1Jnovas aspirações que, sob
influencias de escolas estrangeiras, se elevam de grupo he erogêneos na sua
composição e nas tendências de seus principais elementos, e que não têm de
comum senão a vontade de destruição de valores antigos, invadem de tal modo
o ambiente que não s6 se manifestam nas zonas renovadoras da oposição, mas
fundam quartéis no centro mesmo de zonas conservadoras como as Academias
Literárias e de Belas-Artes. E o período pré-revolucionário de que foi um sin-
toma, em 1922, a tumultuosa Semana de Arte Moderna, em São Paulo. Mas,
n se movimento que não traz, para fecundá-lo, uma nova concepção da vida
e da arte, e em que o "espírito revolucionário" não tem profundidade nem vai
alêm da renovação superficial de técnicas as evoluções são necessàriamente

flzenm ■urvr • 1~ da u,laria qae ■e carac.to:ria ' l'.nl!'.fttaCil1>. Mu


ta, nb tarol>U •
indlbtnl de ,.rrdoo, ricamcaa: traba.lbadoa
a,trar c:m d~~•• _pva desa.p,,~ d<: t<ldo oo UAlll)Q ~DO dD
quem recolhemo■ .-. lof'onnaçllea - '"'""3fúml!s ~ ,...,..,. • ti-
tv. ..., e, de f=. e, rkm,
par&n , da ind :tri,, ~- Poder
de c,o:riter rqjon,,I ( nm C t&ri11a e Rio Grande
um 0<1 caba!;Q ind{ccnu, enca:wodss em guarnlçóeo de
para m.1a:, e o iod Iria: d.e ornamento, cocú.ett1
e hC9 • forma de corolas 4" ll6res. - tt■
• de .,.....mc_n de~ farte plw:airia) ·11
me1s Kl'Cdltad.h. De tGd.u u iad6•trin que apra.....,ta maia
o m&im do cstib, ao u,en a:
■ d,. 1h11ou ~. camo p:,ta, talha-. de 1>
ccoor&llsado au h p,,ni~ """ coaven filml3t.
im portUc,,lacl, e cm que R IICUS8.VllJD o .,.,_ - ce-
rlrol • 1 e eavcn,mda,, pínta~a. aõbre fundo de mm.ai~. como tinham,
- provloci • em Pemembuco e cm Santa Cal:arillll os teW nHI""ª «ntl'OI de prod~:,. (Cfr. ltoUAROO
DA Su.v,1. PIIAOO, L'at1. ln "Lc .Sr&il en 18&9", R.&ll.1.t p,,r trl>Upe
1111 d'&.-riv leu b llieo 10 la di.rect:i
ele , P, - J. de Sant'Ann.oi Nc,y. Oi,p. XvtU, •· 53 S4S).
A CULTURA ARTÍSTICA 271

lentas e aa certezas da compr,ecnsão de uma arte moderna e os progressos de


8Ua consciencia não se afirmam senão através de conflitos int.criorcs, de an-
-tagonismoa de tendencias rivais que lutam nos artistas, disputando-- e por
marcá-los com o seu car.ãtcr e por adquirir seu predomínio. A evolução linear
d uma doutrina ou tend~cia ,uccde agora a multiplicidade de e.ritmos e téc-
nica divergentes que encontram, na luta contra as retaguardas reacionária.,
o terreno comum de cn cnd.imento. Se tôda uma plêiade de jovens realmente
bem dotados anima movimento artístico que se prolonga até hoje e o
numcroeas as suas produções, raros são aquêles que manifestam uma atividade
profunda como, no domínio da escultw-a, um BR.ECHERET, brasileiro de origem
italiana, o grande escultor do Monumento das Bandeiras no qual o aenso plás-
tico parece todo instintivo e concorrem, para lhe dar um destaque excepcional,
a .auarara sensibilidade, a sua habilidade em traduzi-la, o seu sentido do mo-
numental e o dom de atingir a plenitude de factura sem nada perder da fres-
Cllft de seneação. :t!com êle que se restau~ no Brasil, segundo espf.rito e formas
novas, a arte escultura), de que se perdera a tradição, depois do ALEIJADINHO
e Mestre VALENTtM, da época coJonial,26 e de que não souberam prolongar o
valor vivo os escultores brasileiros do século XIX, como ALMEIDA RR1s (Rio,
1840) RODOLBO BERNARDELLI (México, 1852) e CORREIALIMA (1878), para
aõmente citar as figuras principais. Certamente não faltou talento a &ses ar-
tistas; e, embora se tenham perdido todos numa espécie de academi~mo e com-
prometido, como BERNARDELU, a sua arte numa produção numer , cons-
titufda de obras "de encomenda'' (bustos e monumentos) que não lhes permi-
tiram manifestar-se, na expansão total de seus dons, são dignas de figurar ero
nossas galerias de arte algumas de suas esculturas, harmoniosa e bem aca-
badas, mas em fõrça nem espontaneidade de invenção. Se, sob alguns aspectos,
os seus nomes se ligaram ã hi t6ria das artes. especialmente da cultura no Brasil,
foi antes pelo seu ensino técnico e pelo fervor que souberam inspirar ao ua
c:Gsc.ipulQIpela arte da escultura. Mas, nenhum dêlcs trouxe qualquer contri•
buição original à escultura brasileira, em que se afirmou BRECHERET um no-
tável artiata, dando um estranho caráter de novidade e de audácia à sua obra,
de grande valor plãstico, que não nos impressiona apenas pelo seu aspecto
exterior, mas pelas intensidades inesperadas de sua fôrça de expressão, e cuj
concisão, economia e simplicidade esquemática, resultantes de seu vigoroso
poder de sintese, traduzem a marcha de seu espirita para um classicismo de
acento novo.
Não é, porém, na escultura, que alcançou maior vitalidade ou se diver-
sificou numa variedade maior de tendências êsse movimento de renovação.
Com serem as artes de tradição maia antiga e aquelas de que, no período colo-
nial, se encontram aa manifestações mais caracteristicas, a escultura e a ar-

:la AYm d lm111ln6rloa e d .. •-nteb-<:iaque trabaJh,lyam em madtlr■ e em pedn,-ublo. e com a1,W11


4lci■ qul como o AI.IUADI RO, .e elevou • um ■lto ol'vd utbtico • acultura rdiidOM no Br1.U, tiveram uma
■dwl.ad.e iAutlta. ao periodo colOftl.al. oo meatra tareutu que "°" deiur■m t:nb■lhoe de nudaJhltdc,a orn■-
mmt.■1 e manvll obtft em ialha, "" d~o iourior du v"'11>4lu~- 8 a.■ arte d aculplr e&bn! m •
manun e apedalma,u madeira, que .e tornaram 1todvm .., metr.. • e penuimbucalloo: e íal t
o d.o9mvolv1mc:ato d• tortutlc■, IIOb• hlfllltnc:i■ do■ Jcsuftu. que llllte> -mil da i CGl'l'etlte
de: arte pelo jl ... dutm~úi■.m llO 13r■dl, OI
.Pn.ao, "dl" ". Foi, como ji oblervalllOl, • e aplmdar d■
...-mmllll A 111.malta estima, .,_. Coi&m.
:> o■ m pliatic■. A g)fptica que emprcp
• ■rte d m e: u matri:z:e,,dato maedu, e tumaa
Auouno OIIIA.Olt, autor de e médalhu. •.,.,.,. aeu., ditdpul01; e •
de oaro d P<■t■ , p■nl OI ,UOI f'dial tuan.. coa, oa trabalbOI""" •
er;o da qu.e foi aem"!ll'e.poc t6da parte, o •
tara; d peq I, utilll■d■ llalAa...,. oe-, em
-tr■ a ute . Com ■ ■rte da ettlllmi
o 8t ·1, ■ o q OI e dM im.■gc:<>1 de mni-, qoe
de,■ de culto, . pel U>Od<>1do éclllo XVill,.....,.. r d ra.■■clme1>to.
oe dltll,Del b■nut:■ 1 de a de ra e • lnlldia_Çl.o por vlrim e~ prodularo, ra.-o. pola■ IC'U■
.--, - ClOll"lpotl b■nocQ -, e pew fU.&I rwuu de barro pial:lld<>.
272 A CULTURA BRASILEIRA

quitetura ainda não se reergueram totalmente do marasmo cm que estagnaram


no primeiro e no segundo Império. Se fizermos, de fato, a história detalhada
dessas esartes, - a pintura. a escultura e a arqu.ite ura - e nos decidirmos
a segui-la, em todos os graus de sua lenta evolução, desde a Independência,
podemos marcar nitidamente o contraste entre as evoluções de cada uma delas
e o predomínio quase absoluto da pintura sôbre oub'as duas art , até os
nosso dia . A pintura, a grande arte do sêculo XIX na Europa, foi de tôdas
as artes a que mais se desenvolveu no Império, como ainda boje é a que resume
o maior esfôrço criador dos brasileiros. lt sempre grande o número dos que
e dedicaram a essa arte (e não seria possível citá-lo senão em um trabalho
especializado); e, ainda na época atual, as tr!s fases de evolução que se so-
brepõem e se opõem, - a dos antigos, a dos novos e dos modernos, - são bri-
lhantemente representadas, aquela, por um PEDRO ALEXANDRINO, excelente
pin or de natureza morta, e BENEDITOCALIXTO, cujas paisagens não têm
p rdido nada do interêsse que, em seu tempo, lograram despertar; esta, a da
geração anterior, por um EDGARPARREIRAS,PAULODO VALE JÚNIOR e OS-
VALDO TEIXEIRA,entre outros. e a da pintura moderna, por um LASAR SEGALL,2J
A. VOLPI TARSILADO AMARAL,pioneira da arte moderna no Brasil, SANTA
ROSA e PoRTINARl,- o maior de todos. Apesar das tend@ncias, conquistas
e evoluções da arte e das diversas corrente6 que ela cria sem cessar, é preciso
chegar para caracterizar uma época, às fisionomias diversas e às personali-
dades mais marcadas. Aquêles que foram o, maiores realizadores e mais for-
temente exprimiram uma época. ou por se submeterem ou por se oporem a
ela, acabam por atrav~ os tempos e por deixar cus companheiros e apa-
recer s, p a soberania de sua obra ou pelo grande caráter de sua produção.
T a a história da arte é feita assim. Na pintura moderna que teve como
precursores DO Brasil PAULORoss1, VIT6Rlo GoBB1 , HUGO ADAMI,GASTÃO
Wo s, Dt CAVALCANTI, e se caracteriza pela heterogeneidade dos grupos,
"em que se irmanam, segundo SÉRGIOMn.LIET, impressionistas de primeira or-
dem como VOLPI, expressionistas como SEGALL, cclé •cos como PoRTINARI,
primitivistas como T ARSILA", ergue-se, dominadora, e figura de PORTINARI,
com a sua produção desigual, variada e inquieta, ma já agora com todos os
caracteres das obras definitivas. Senhor de uma têcnica maravilhosa que lhe
tem permitido passear, nos retratos e nos quadros de g!nero, de uma escola
a outro de uma a outra época da história da pintura, utilizando todos os pro-
e saos de pintar, CÂNDIDOPORTINARI(Estado de São Paulo 1 1903) parece
afinal ter encontrado, de experiência em experiência, o seu caminho, construído
a sua técnica e triunfado de tôdas as desordens e incoer ncias, tão fecundas
alib e que são comuns nos espúitos dotados de uma natureza exuberante e
de um real poder de invenção. Ninguém viu, entre n6s, o espetáculo das coisas
com os olhos mai ingênuos, e também mais claros penetrant , nem teve
da paisagem ocial uma visão tão concentrada, como profunda e um poder
tão vigoroso de acentuar a realidade deformando-a, de fazê-la ressaltar como
uma fôrça surpreendente de expressão, nessa obra estranha pelo aspecto, mas
poderosa pelo pensamento, de um sentido nacionali ta, mas carregada de ver-
dade e de riqueza de conteúdo humano. Tendo um extraordinll.rio pris aar
/e vil do tipos e cenas da vida ruraJ, o pintor paulista, nascido de colonos ita•
li.anos numa fazenda de café, revela-se; nos afrescos do novo ediflcio do Minis-
tério de Educação e Saúde, um DIEGO DE RlvERA, com meno poder de imagi-
nação e menos largueza de composição talvez, mas com uma sensibilidade mais

! Vede p,.OL F~ , La ar s..,a.11. E"ditiom dei Chroaiquo du Jour, Pau, )938; ROlllrllTC. Sll:tTa.
"""' ,oJJ oi s•o l'aulo. ln "Bulleti,:, or the p.., Aftlcric.,, Unl.oa" Maio, 1940, p6o, 3&2-3118.
A CULTURA ARTISTlCA 273

aguda e maior poder psicológico de penetração. O que êle pinta, nos seu mag-
m&caa quadros mura, E mai o que sente do que o que ve, ou, por outras pa-
Jeviits, são as figuras, cenas de costumes e paisagens humanas, corno m aur-
prccndeu a sua sensibilidade e as reconstituiu, restaurando-as com pedaços
da vida, ~ extraordinário poder de síntese pr6prio dos grand criadores
de imagens e de lmbolos.
Pode parecer tranho primeira vista que, ao contrário da pintura, a
arquitetura não manifeste, no Império, nenhuma atividade importante , desde
o período colonial t' a República, não faça progressos em nenhuma direção.
em na linh de evolução dentro do espírito colonial, cuja tracliç-o ee perdeu,
n~ segundo os rumos novos que GRANDJEAN DE MoNTIGNY pretendeu im-
prioúr-lhe com suas sóbrias arquiteturas clássicas. Certamente, no segundo
lmp&io, em que os melhores edifícios ainda eram os mais antigo,, surgem,
isoladas e dis,persas, algumas construções de primeira ordem: o edifício da bi-
blioteca portugu&a no C!tilo g6tico manuelino, palácios como o do conde de
NOVA FRIBUllOO (1862), atual palãcio do Catete, em mármore branco e rosa, o
do Itamarati, o do Guanabara, antiga residência da Princesa ISABEL, inteira-
mente restaurado em 1908, e o solar de MARIANOPROCÓPIO, construido (1861)
em Juiz de Fora pelo arquiteto alemão M. A. GAMBS, na verde moldura de um
parque magnifico. Mat a ruptura com a tradição, sem importar na abdicação
completa das criações coloniais cm proveito das fórmulas clássicas, o prcdo-
minio da economia a.grlcola e as leo as transformações das paiaagens urbanas
quebTavam todos os esforço para as grandes obras de arquitetura civil, re-
ligioaa ou militar, que entrou em período de estagnação ou decad&lcia cm odo
o pais. Se ac con,idcrar, além disso, que das três artes. - a pintur , a escul-
tura e a arquitetura-, esta última senão mais material que as outra, duas,
certamente é a mais depcndcnt da mat&ia, sCTã fácil compreender que não
K podia esperar gr.ande swto de arquitetura onde os opcrârios não atendiam
às exigé:nciu da tEcnica franceaa e escasseava a mão-de-obra capaz de eguir
a nova orien açao doa artistas estrangeiros. Se êstes, grandes arquitetos como
GRANDJEAH DB MONTIONY, não souberam tirar partido do material e da mão-
de-obra nadlonaia que permitiram à arquitetura religiosa conheCCTuma íase de
esplendor, na Colônia, os arquitetos brasileiros não passavam cn -o de mestres-
de-obras ou quando muito de "engenheiros civis, sem conhecimentoe artísticos
eapcciais". Sob êase sono aparente em que se mergulhou a arquitetura no BraaU,
dissimula-se, por&:n, uma lenta e obscura necessidade de preparação. Parecia
que se havia criado o clima favorâvcl a um novo surto da arquitetura, com a
remodelação das principais cid.adcs, no primeiro quartel dêste século e com a
febre de construções, nas velha, cidades que se transfiguram ou nas oovas que
se erguem, no pla.nalto, egundo traçado moderno. Mas, quando, sob o impulso
da indústria da borracha, no norte, e do café, no sul, começaram as cidades
antigas a reconstruir- e o Rio de Janeiro a despojar-se do seu velho aspecto
colonial, para adquirir a fisionomia esplêndida de urna grande cidade moderna
foi antes um oba culo do que um fator de progresso da arquitetura o ritmo
acelerado rm que e processou o desenvolvimento dos centros ur anos. No
pcto das con truçõcs qu e multiplicavam, reclamando por parte ope-
e arqui etos, a falta de mão-de-obra e de profissionais pccialli:ados abr
domínio da ve mais va o à improvisação e a tôda esp!cie de aventuras.
"Empreiteiros promovidos a arqui eto , na justa expressão de NER.Eu SAMPAIO,
. nmplcs cons ores quase analfab tos que se fizeram arquitetos e estran eiroa
sem escrúpulos" cncon raram o campo livre para uma intensa atividade sem
os freio da opiniao pública, num meio social a que faltava educação artlstica
acm elites profissionai com idéias bastante claras e definidas para orientarem
<nnovimento extraordinário de construções urbanas. A arquitetura sofre então

-1 -
274 A CULTURA BRASILEIRA

influ cias múltiplas; inaugura-se a época da c6pia ervil dos estilos ex6ticos
e dos modelos históricos: e nas soberbas avenidas que rasgaram, - Rio
Branco e Beira-Mar, no Rio de Janeiro-, cstadciam, como um j6go interna•
cional de dispara"tes, o clássico, a ogiva, o arco mourisco, numa variedade pi•
tor de construções bizarras, nos mais variados tiJos. !. o triunfo do mau
gõsto e da cstravagância que Mo TEIRO LOBATO batizou de "carnaval arqui•
tet6nico", e a que não faltou, para acentuar a viol!ncia dos contrastes, nessa
sucessão desencontrada de estilos, a velha arquitetura colonial, despida de sua
beleza antiga e afogada no luxo barroco de detalhes decorativos.
Foi nessa época, por volta de 1920, - época de indecisões e de tentativas,
mais ou menos aventureiras, que se iniciou o movimento, ainda mal orientado
mas jâ fecundo, de renascença da arquitetura colonial, - "a única que fala de
nossas origens históricas e que, trazendo caráter racial bem definido, corres-
ponde, do ponto de vista das habitações privadas, à natureza do clima". O
que, com êle, se pretendia, era que estudãssemos a fundo os modelos antigos,
não para re{>roduzi-los,mas- "para retomar o fio da tradição e confrontarmos
com o novo quadro social o que os nossos antepassados, por intuição, acomo~
daram maravilhosamente à diver.sa natureza de clima e de materiais". 27 ~e
movimento tomou-se tanto mais útil quanto mais, n volta ao tipo brasileiro
de habitação, os arquitetos haviam perdido a no -o da arquitetura funcional,
racional, ou a consciência do valor utilitário dos elementos principais que en-
travam na sua composição arquitetônica, e que eram empregados, na obser-
vação de Jos:t MARIANO Fn.Ho, a título de "meros omamentosll, quando tinham
uma "função" - a da defesa contra o clima - na casa colon.ial, admiràvel-
mcnte adaptada, nos seus pormenores, às condições e s necessidades do meio!?.
Com a ruptura dos laços entre o útil e o belo, entre o caráter utilitário e os
efeitos a tico dos elementos que oferece a arquitetura de diçâo, tendia•se
naturalmente a cair no excesso dos adornos e a considerar como inspirada na
arqui etura colonial todo o edifício a que se imprimisse o s lo do barroco e
que trouxesse, na fachada, pormenores arquitetõnicos, tratados cm profusão,
puramente como elementos decorativos. . . A poder de cederem ao gôsto do
itor co e de se lançarem à procura do efeito, acabaram por descuidar da
"função orgânica" dêstes elementos (alpendres, balcões de rótulas, azulejos),
de que a idéia ornamental e não o valor utilitário passava a determinar a sua
estrutura ou a sua aplicação. Mas, a campanha que se realizou, neste último
quarto de sêculo, em favor do estudo das habitações coloniais e pelo regresso
às formas da arquitetura tradicional, e em que tomaram parte brilhante RI·
CARDO SEVERo, 20 JOSÉ MARIA:NoFILHO e F. NEREU SAMPAIO, entre outros,
nem se fêz sem resultados nem se desenvolveu sem embates com a corrente
que se formou, dentro do movimento geral de renovação. A corrente tradicio•

17 Cft. FDKAN'DO Da Áav&DO, Arqwtetur• co1Dni111. VIU. A9 concl dl! DGaO lnqumto. ln
"º do do SJo P oto••, '29 d.e abril de 1921í.
De f•to. "oa lvc09 beirab {eocrevia cu em itct:ura caloniall,
oa al~ad, e J Jlda•. 09 ternçoo e, .,. l>al:ae, de , tu! , com:, m p ti,_
ln.u:rl . det: d• cau contr • 11çio d raiot oni alo foram
lmpoo.ta 1)Cnas ~"" mate.i Is d.- m11.1rrui;i<>da . de, ,Pcd,9. cnm
r ,. l)«qlU" tinham • penhar wn papel oa , amc,!eat .
O. pr6pri auk_i,. c\lio ttatido l11l comp,:,sq;ã caa,rar a
m.a pa,tc d a,q ito,m,, coo,o cl.eroent.o ~tt d m • aerviço
da dd'na ntra o dlrne t:N>pical. De o-w,em irabt, de re,.
«bcr, n· vn lbul ,,i...,. o.as alpen:!noo c:im o meam lnN!to que be, cio scu
•P""•~UU'<lellto. manta • fteocura do iateriY das cas n ard~ d Allvll'.DO, Ar·
qu,·r111u111 eolo11i11I. Vlll. ln ''O Baa.do d-. ~ Pa.ilo", 29 de abril
29 JbCA.ltf>O Snuo. A tradi~o. Conrcrh>cia lida oa o d de 19ll D.O Instituto
H • 6,»o e Ocoer r= de Slo Pau.lo; A arta lradicional no 8111Ili. inda ,u Sxiedll.dc de
Cultura Anlr e• de o Poalo; A arte rradiciona/. Confcrencl• oo nico de ) P ili: Da
.arquitoru,11 oo/onia/ no Brasil ln "O Estlldo de SAo Paul.>", 84 a d Centcn rio d h,.
dt1)Cndtocla. ? do aet.embro de 1912; .ll prop6tito de a14uitatu111 e lonl•I (eotrcv 1ta). ln "O &stado de
o Paulo", IS de ■ bnl de 1916.
A CULTURA ARTÍSTICA 27.S

nalista de que resultaram estudos, debates e inquéritos, alEm de construções


de aJor,- resid!ncia e edificios públicos, inspirados na arquitetura colonial
-, op6s-se um movimento francamente moderno que se caracteriza pela re•
jeição de todos os tradicionalismo!, pelo apêlo à razão e pela pesqui de forma
inéditas. Representada por CBISTlANO DAS NEVES, LÚCIO COSTA - um de
nossos maiores arquite -, e mais recentemente, _por FLÁVIO DE CARVALHO,
teve essa corrente a seu favor, na reação que promoveu contra as form co•
loniais, o prestígio crescente das fonnas simplificadas a volta concepção da
obra em vista do seu destino as construções em cimento armado, em linh a
• retas e verticais e a difusão do gôsto pela arquitetura moderna, tão longamente
combatido, mas jã vitorioso nas obras de grandes proporçõc . No plano das
habitações privadas, uma pesquisa obstinada do novo a todo o transe continua
ainda a impelir os arquitetos a modificar constantemente suas fonte de ins•
piração e a renovar o "repertório" das formas ,que lembram, com freqüência, as
construções maciças, - ~ssírias e ârabes -, pelo emprêgo exclusivo das linhas
retas, pelo equiUbrio das massas e pela cobertura cm terraço . Como quer que
seja, uns e outro não somente desenvolveram um esfôrço apreciável pare sim•
plificar aa formas (processo de despojamento do supéríluo) e adapta.r cada vez
mais o elementos estruturais à sua função e os edificios à sua des •nação ocial
(racionalismo), como também, orientando-se para a pesquísa da unidade ótica,
ex>~ despertar o gô to dos conjuntos homogêneos, onde a casa e a pai•
sagem, e, no interior, os menores detalhes (decoração, móveis, ta~tes, cortina )
constituisscm um conjunto estritamente estabelecido. A arte dos jard.i que,
"'num, clima quente e de rica vegetação, deveria ser mais do que nunca o com-
plemento da arquitetura", como jã ob2ervava EDQARDOPRADo, cm 1889, e
era raramente praticad no sêculo XIX, em que poucas casas se davam ao
luxo de um jardim,ao adquiriu, com o desenvolvimento da arquite a, um
impulso notável: não s6 no~ jardins públicos, como nos grandes jardins parti-
cu.larcs, especialmente nos de São Paulo, que se tomaram famoso pela beleza
de seu traçado e pelo encanto da v.egetac;ão,e às vêzes se prolongam no interior
daa habitações, ente-se por ôda parte a influência cada vez mai acentuada
dos jardins ingleses e da topiaria francesa a que deve o Rio de Jao iro alguns
de seus mais belos jardins, o da Praça Paris, entre os mais novos e, entre os mais
antigos, os que foram de enhados e plantados por GLAZIOU, no segundo Império.
Mas, se neste último quarto de século, a influência das idéias modernas foi
tão poderosa em tõdas as artes plásticas, dando-nos, na e cultura, um BRE-
CHERET e, na pintura, um PoRTINARt, e rasgando à arquitetura novas per p C•
tivas, não foi menos intensa na música a que se abriu u,;n de seus perfodos mais
brilhantes e fecundos. Integrada nesse movimento geral de arte moderna que
repercutiu cm a as meniíestações artísticas do país, a música no Brasil
tende não a6 a libertar-se das outras artes e a tomar-se "sugestão pura ' ou cada
vez mais música, como tamb a penetrar mai~ profundamentt> na música e
nas canções popular , para haurir, nas suas fontes ingenuas, os clemcn os de
sua própria renovação. Na época de CARLOS Goras, como escreve MÁ.Rio
DE ANDRADE, "o que faz a base essencial das músicas nacionais, a obra popular,

10 "N .. nd M.uu. GJWL\Jl, pauc,u ttm o I o d um J.-dltu. 1


;....s· atam •o o upccto dir v eitae va ,,. de lloT-cs oneouh. m.u psn:cem c:oovir m m ~ ao
c,Um&, ~ p1 oi.a, doe J 1111da Bucopa ~ncem ao l&<bdas pi.a.ata mai. mr;r e d ar do pai _ lln-
C01>tram- ai~ V i t ou ba •~ •• '1-,,Drff, Í1>nDJ11>cb ■bri&OJ mui.to f, e dcíld.7tm "cue
dima q • , (Jou,no/ of • "f>Yt1I• To B,ez.il. 1 voL. Londtea. 1824, pi . 162). ºOt Jard "' p,rt n
....m, bt um lo, vi SOUAltDO P-. Cffl 1889, e ooatiowtn1m • - m, maior inr-tir d JanSlnt pVtl•
e-alares. no s, .. 11, mh Imita cm pequen<>,do ctm:r<> t,,, NoStre, dr IÍ.llbal retu, pi tlb&o 'nútrk.,, e
~c:antdroo eoqullffldoe r,o, duru de bw,oo, .ubttituJd blU mwta.1 vi«. p1>rtclh , ruo o, de 11rraf'H
"" ,mibn:c.luldoe d ccmcllaa", (l..'llrt, C.p. XVJlL ln "Lc Brésil e:o 18&9", Pi&. 519-562, Parb).
276 A CULTURA BRASILEIRA

ainda não dera entre nós a cantiga racial", e s6 ae torna evidente do fim do sé-
culo XIX para cá (são palavras suas) "o amálgama de tend!ncias ibero-ame-
ricanas que boje caracteriza a musicalidade naciooal"31 Se, por~, se pode
dizer com PEREIRA DE MBLo que nos primórdios da República se inicia, na hia-
6ria de nossa música, o ,Cperíodo de nativismo" embora frouxo e hesitante,
e mais tarde, nestes últimos vinte anos - e não õm n e no decênio ap6s
30, como quer Lufs HEITOR-, que vemos chegar à plena fixação e ao apogeu
aquêle nativismo que se esboça nos fins do século XIX com a música popular,
niio indígena, nem africana, nem portuguêsa, mas a que, por elaboração cole-
tiva, resultou com tôda a espontaneidade e frescura "do amâlgama de ten-
dencies ibero-americanas". Entre CARLOS GoMES e HENRIQUE OSWALD, que
são as "expressões mais caractetísticas de nosso romanti mo musical", e a mú-
sica moderna, de inspiração folclórica ou não, que tem cm VILA LôBos o eu
expoente mais alto, figura, como num.a fase de transição GLAUCO VELASQUEZ
(188 1914), um romântico, ém essência, influenciado por WAGNER, e compo-
sitor fecundo, de uma requintada sensibilidade e de real poder criador, cuja
música se desenvolve, como escreve RENATO DE ALMEIDA, "entre o simbolismo
e o impressionismo, em meias imagens que se completam em nosso espírito
graças à aua intensa emoção". Nessa corrente moderna que busca no folclore
brasileiro a sua fonte de inspiração, avulta com um rellvo singular HEITOR
DE VILA LOBOS (1890), cuja preocupação, diferente dos outros compositores
de folclore, não é, porém, - pondera F'RANKE.sTEIN- a de conservar e embal-
amar o material autóctone, mas sim a de dar expansão à energia contida em
us elementos. As suas peças üricas, como as cinco auitN, que batizou com
o tu1o de Bachianas brasil.eiras, levado do seu cn siasmo pelo esptrito de
BACH e que constituem •-uma curiosa fusão do estilo de BACH da música
fold6rica"; os seusChoros, entre os quais e destaca o n.º 8, "pela sua en.orme
vitalidade ritmice, complicada, pela veemência primitiva e lirismo da terra";
as sues grandes orquestrações de música folcl6rica ou de matéria original, ba-
da no moldes de música popular, os seus poemas ainfõnicos, fantasias e
variações, revelam uma tal riqueza de idéias, uma tão prodigiosa espontaneidade
e tio grande exuberância e vitalidade de ritmos, que não tardar m a colocá-lo,
no juizo dos críticos de mais autoridade, entre os primeiros compositores das
dua, Américas. Se não é VILA Lôaos, como o julgou ALFR.!D FRANKESTEIN,
numa expressão enfática, "um dos maiores prodigio que êste século l?roduziu

at A móaiea popular bruileira. que raultou de1U fm o ele dlverwoa e1omcnLC>a e em que • íoflue.ici do,o
uqroe nlo rol upc,,•da .enlo pela d09 pOtTOi\le..et, aurgiu, de rato, com , u.u ca, tetlatieaa, ■&mente ...,.
n do -6culo XIX, depoio de IOQlo proc:eno de.claboraçio. Se, por6111,J6 o b ta<lte nltlda •• 1ua1 f"'Culiarl-
dad e tende.nela ■ dentro da trlUlic:ãoe do■ dcmcnt01 fündamcntal que l)C'OYdo,nlo , elodJI, nom ac.-6 tal,rca
p0-■ ,rd ma,ca, com c:nti<Do • ln11ueocia.de Cllda um dt!N ""' gra e vatledade de íarmat ptll'ticuJara em que ...,
~ a mu,icalid.llde aaclooal. O que 1>elaCKirtc de in pira.cio ama-[ndie, JA comeÇa • revelar- com o estudo
do 11D11taialrccolhldo ao M1>0CúNacional que dis.,ae boje, o,aça, IH"t'tudo u poqu.lJu de RoQVHS Pnno,
de uma ucdc11.tc coleçlo de foaogramu, com m(aicu de flld.i09 e ■cr~••· AI.oda NtA per rua- uma
ploc'9(lo ma prol'unda a6bre o !olcloce musical a,:uo. que UOll revda, ao lado de 1IJQa m • trumeotaJ.
-taeialrloente ritmica ..uma "tDÕSial Tocal. com fraee md6dku e timPüt", c,úo o -• boto ÍDtclel·
q_ to 6 certo Que o llf~ tamb&n toOlOIJ. como o~ M.(1110011 ""-a:. parta muito ....-.
panante aa forma do canto popular brasileiro. Mo. .., o que to.l • m popular, l ta.mb&D
• tndlclo mf'"~l de de compositma que podiam ta- • com.pOeits d Qaal ■ parte com qu,::
pooitora ~ e do tanpo do lmp&ia, - lavc:o dc ou =poojt,ora
• CQje. abra .em parte e COGICttOll e 11e tamou, muor i-te, aaóa.lma, 1m • incor-
porada ao t d m • popular] Ainda recmJ :te Roosa B.u:noa. maia• du roa IIUÚI
lmponau1n • • r mdodias popuI,on,s, "na 1111maioria ronnu u • d .na de ..ao ou de o:Onc q e,
ll6 to fora de moda ooe m • aristDcriticaa q • WJ>i:a,,om.permlul v o numa prorind■
&oadDQ ". Foi • q111t, e:q,lica Roo&ll Rvnn&. a rorm■ a>ota .. vol "daa oi~ tecee • tu,
r.,,._ 1111, • popular no -..lo XIX em que ■ mlX!inha t rcfcrid beca do f>OYO. O p,,90 alo t
criador, dor;• elite,,-•~"""" diNida. '"retomM ttma1 para toffli.loe requintad •
- tra.t■- .t do uma r«00qimt■• pdoo eruditoo, de um bem q~ lhe:, pene tror■ e que h.olviamoque-
ddo'". A IICfl>elli'&D!;IIde a.ntot bnsi!CÜ'OS e cantol nu , j' nouel■ por MÃIUO 011 AN'DlliDs, mour •n aiAd•
qulo pouco a mo.e■ Clll • ~ populal' 6 local: da, de rato, o ro~ q_ue • m ardt
• ~1- culta. No coumto, ■lod■ que derivada em grande rte d~ rootc plll'tu&u • cootam.1n11dadoo m ■ill
dlv dcmaltot. Hiate oa IiUbica bruili,ira, i.nmtrach de tan11tAda afro-am.,,r 11111, WDll na popwair, ua-
dl cn , alcuma aol• d «i&inal, que aio dcciva da pc!ttlmul■ e E fartcwmte n:iate11d1do e r lc:t br..Udro,
A CULTURA AR-'I'ISTICA 277

no campo da música' , ele ê por certo um compositor tão profundamente do ado,


como fecundo, um auto-didata, "talvez o mais talentoso depois de MUSIOROSE:Y' ,
no dizer de PAUL ROSENFBLD, que se espanta com a sua extraordinãri fõrça
involuntãria e a sua fertilidade de imaginação; um RABELAisda m6aics, como
lhe chamou IRVINGScllwRRXE, pelo que existe "de gigantesco no gõsto e
cspirito, de humorismo, ironia, finura e grandeza de estilo que comp<Scma sua
personalidade muaicaJ".U Em tôda a sua enorme produção, constituída de
maia de 1 400 composições desde as páginas mais pungentes, poderoeaa e rica•
de colorido, das suas Bachiansa até as Cirandas, - deliciosaa cantigas de
roda, arranjos originais de melodias populares, - VILA Lõeos ê sempre uma
voz maravilhosa cm que se exprimem, com uma intensidade inigualável, a
alegria caracterlstica dos latinos, a vida do país, o contato da terra e &se sen-
timento Intimo dos trópicos que não é somente, como observa ROSENFELD,
"conseqiletlcla do 010 freqüente de melodias bârbaras, ritmoa e sonoridades
derivadas doa i'legros e dos fndios", mas a essência de eu.am{laicaou, por outra,
palavras, uma parte essencial do seu ser, extremamente senslvel àa sugestõea
liricaa da terra e da raça, em tôda a sua inquietação e na pujança de suas fõrça■
e paixões primitivas.
Ncsae esfôrço magnffico cm vista de uma síntese da música popular e da
música artfatica, se Vu.,. LO»osadquiriu um destaque excepcional, pela riqueza,
variedade e, sobretudo pela alta qualidade de sua produção, não ~. porêm,
uma figura aolibiria &se compositor verdadeiramente notável, cuja fama, como
cm outros tempos a de CARLOS GOMES, jã ultrapassou as fronteiras de acu pala
de nascimen o. Depois da floração romântica que se encerrou com GLAUCO
VELASQUU, "aperi!ncia inquieta, com lampejos de genio num resultado pre•
cirio", nas exprcnõe1: de MÁRIO D& ANDRAD&, outros mai.1 moços que VILA
Lôsos deram provas de uma grande fôrça e originalidade na sua produção, ins-
pirada na música e nas canções populares brasileiras. A música folclórica, cm
aijas fontes se vem abcberar a de nossos maiores compositores atuais, e que
constitui pela riqueza de assuntos, um tesouro em grande parte por explorar,
continua a exercer notável influblcia sôbre a mú,ica moderna e a aer um dos
f'atõrcs maia importaot de sua evolução. lt o que assinala. a produção de um
LoRENZO FERNANDEZ (1898), com o Reisado do pastoreio, as delicio as mi-
niaturas Presente de Noel e a ópera Malazarte, tão fortemente marcada
pelo caráter brasileiro; de um FRANCISCO MIGNONE (1897), não com a sua ópera
L'i'nnocente, - • urna das melborcs e mais fortemente dramáticas de tõda, a
produção lfrlca nacional", - mas com a ConAada, da festa de negros esaavoa,
no 2.0 ato do Contratador de diamantes, e, sobretudo com a sua obra sin-
fOnica e sua música de câmera; e de um CAMARGOGUARNJERI (1907), paulista,
dos tres, o mais jovem e cuja música, no julgamento de Lufs HEITOR, "~ uma
das mais construidas e das mais profundas da escola brasileira". Mas, com er
nesse per1odoªª, realmente importante a produção musical e, o que mais ~. tão
vigorosamente vincada do espírito e temperamento nacionais, não é aõmcn e,

12 Vede Fa.ufCJICO Cuu l.AJfG.&, Vilo l.61:t<M, ..-m J»d•l<>go aia.dar. In ' latiaa..amatc,1.0o
de mAalca, plip. 1 196, LllO I, •bril 1935, ~ll; ~ ~- ln" Prudaco Cbro-
.aids'', Calif6nalll,11. S. A., a, d wo. 1939; P,\UL R.ooi1ffno, Curtent Clttanicl . ln "Tbe
Qmml.y". Carl Bacd Bdltor, 1111 Yc.-k, Oc:tober, 19411;Etnnco NOOIR:lli hÃlll~ 1 Vil• """-, P"-d
ln ui,( V'rn", ~(éYcrdn>, 1941, p 6; ~ ~ Vüa Ub<M. ln ''Voa-", l 1,
Jfcw Yc.-11:,pq. 112.
S3 m obn l'Ol'Olte cm qoe tnea a quadro da esrtilução ....:ial d.a
º tr perlod... prlndpai, d- "1>1uçlo: t.•) • ~ eftelldalm
• priodpio popw.v,coo, Olll •bcr (■ m • das prit,mr09 jcs,d , e mala tard a-adita. c:om pre-
lallilleo • d ..ta d ~.cto. nacionais (a artt de c■pclal ■riatoerlticu); 2.•} {aM do amor (to c:a
Jlrb, _, c:am que 1C nJda • ~;lo da arte e cm que '11f11C a fic,1ra d hAMC:IIIC:0 M.urom, DA ILYA,
"• -lar que J• prodw:i11 o 8n I' . ,a ophúlQ do ilmtte cdtico; e 3.•) o pedodo d.e l'tanco udoullono Q\M N
i...ucwa depol.a e aob u lnnutodu d• Grande GuftTa (l!ll.4-l8l ou, melba,, d.,. acon m q do,le deri•
..,...m. "Prirndro,, Oeua; era ICIU.ida, o amor, e, dc-poit, • nacicmaUdadt.". Na priludra Ílltc d d 1101•
rimento, • mo.lca qllC foi um "clcm= Utdr&lc:ode ICICialialçlo", tornou« unlven•l, oo a o CW'OpCU,
emprqudo o cu cat611c,odo,, portu&',lbn, com m p,imdr011 antoa -de «&lo e o gtefon&DO, Ma•, pd•
278
--------------- A CULTURA BRASILEIRA

sob e aspecto, que adquire um novo inter e a bis 6ria da música, nessa
última fase da sua evolução. A medida que se eleva altura, tende a
cxpnndir-se a cultura musical destle 1930, em que LUCIANO GALLET funda,
em junho a Associação Brasileira de Música e, elevado, m dezembro dêsse
meemo ano, à direção do Instituto Nacional de Música, cons ue a reforma de
ior alcance d. e Instituto, pelo decreto que, em 1931, lhe desdobrou o plano
de e-studos, criou dez cadeiras novas e o incorporou à Universidade do Rio de
Ja e.iro. Reorganizam-se as atividades artí ticas do Tea o Municipal, do
Rio de Janeiro, que passa a manter uma orqu tra fixa d 80 figuras, um corpo
coral e Cf'rpo e escola de baile; e um músico criador como VILA LôBos entra
em ação, desde 1932, colocando-se êle mesmo, no Rio de Jnneiro, à frente da
educação musical das masl:!-ase da difusão do canto coletivo, com a mais efi.
ciente organização peda,gógica que já se tentou entre nós, destinad à iniciação
musical da infância das escolas primârias. Funda-se, por iniciativa de VLL.A
Lósos, o Orfeão de Professores e, sob a influência da obra educativa do grande
compositor, adquire notável desenvolvimento o nosso repertório coral, orga-
níiam-se grupos corais, cm várias cidades, como São Paulo, Pôrto Alegre e
Recife, e se realizam as primeiras tentativas de arque tras infantis. Mas, se,
por um 1 do se alarga a campanha iniciada por VILA Lôaos em prol da ·cultuta
musical infantil e popular, e se intensifica o esfôrço pela renovação do ensino
mu&ical, por outro lado, trabalham com entusiasmo na eleva o do nível cul-
r l as revistas artístico-musicais do Brasil, como a J/u tração MusiCJJI, a
Revi ta da As ociação Brasileira de Música a R vi t Brasileira de Mú-
ica, fundada cm 1934 e publicada pela Escola Nacional de Musica, a Cultura
Artí tica, a Mú ·ca VJva, tôdas do Rio de Janeiro, e a Re enha Mu ical,
de São Paulo, que constituem não sàmcnte intomas ma íatõres da cultura
mu ical, pelo. trabalhos de oitica, de crudiçao e de pesquisas. O extraordi-
•o d volvi.mento material e técnico, n te último dec •o, dos serviços
de rãdio-difusão, com o número cada vez maior de estações e de aparelhos de
ré.dia, e a indústria em progresso, da gravação elétrica, põem a serviço da di-
fu ão do gõs o da música pelo povo e da aproximação do público e do artista
dois dos mais podCt'osos instrumentos educativos, como ão, por ôda parte,
quando orientados no sentido da cultura, a rfldio-difusão a discografia na•
cional.
A arte, aliás, em tôdas as suas manifestações, desenvolveu-se no Brasil
maio. ràpidamente do que o público, quase inexistente, ao meoos considerado
como "massa", quando ela tomou novo impulso no século passac;lo,e que não
1h pôde acompanhar, em todo êsse perfodo, o ritmo de evolução. Dai o divórcio
que se tem atenuado sem dúvida, mas se mantém ainda vivo nt.re o público
o artista. No Império, como na Colôn~a, a aris ocracla rural das casas grandes
e a burguesia dos sobrados que podiam constituir, na grande ma:;,sa inculta,
o seu verdadeiro "público", não tinham pe as artes o menor in er nem po-
dian tornar-se pelo caráter de sua própria formação, um "co umidor" de
s produ o . O interior da ca-a brasileira, cr via EDUARDO PRADo em

JCl:lius.cl" procurou ,r,,n,v,:;tàlr todm a,


o o cat:erert e a~ pr-ocesoosammnd •
la rd~ crudia... li " domim.
' impc-~ da ~id.ad.e ln
do 1mi;,&-io. Es"' c-..1P3, cm C'Jj
culmÍAa com CARLOS GoYa, qu
Já 1::úki:nt=>=te farte dava
imi~ c,sna,, eiNs. D• • q<1.e
FRAl'lctSCO .BRAn-'- e &now ,;ri.se
fins do .&:ulo :XIX, -adqum, u o 0.u.i.&T
Cl!CO MmN . "'• C-"tAll/JO G!l TAl,1.1
À :O:RAl)JI, Mú ,;e.~ do Br111ail. Wlln, Curitiba.
A CULTURA ARTÍSTICA 279

1889, "oferece cm geral a mesma nudez e o mesmo mau gôsto das casas portu•
guêsas. O. objetos de arte são raros. Os quadros e as estátuas, vindos do CS•
trangeiro, pagam direitos enormes, ad valorem, como simples mercadorias.
Os artistas nacionais que têm mêrito, lançam-se na pintura grandi , fazem
guadro maia vas os que os apartamentos e m seus preços ainda são mais ele-
vados que os dos mcstr vivos da pintura européia. Não se pregam à parede
scn.ao retratos, - único recurso dos pintores que, não ousando abordar o mo-
numental, querem de qualquer maneira vender suas telas. As pai agens, as
aquarelas, as pinturas de gênero, os quadros de tamanho moderado, destinados
a embelezar as babitaçõ , são abandonados". Na Colônia, os artistas, - pin•
tores, estatuários, torcutas e arquitetos-, trabalham para os claustro e as
igrejas. Tõda essa época é dominada pela arte religiosa, em cujo dcscnvol•
vimento, em função do clero e do público das igrejas, se manife ta fortemente
êsse traço essencial da arte que é uma atividade de luxo, de caráter ocial, ÍD•
eeparável da existência de um público, ou da idéia dêsse público sempre pre•
sente ao pensamento do artista. No Império, como não se havia estabelecido
ainda o gõsto da ornamentação artística dos interiores, lançam-se os artistas
ao monumental ou, quando muito, aos bustos e retratos. Os poderes públicos
constituem o principal consumidor dos produtos de arte, - quadros hís 6ricoa
e monumentos-, que são freqüentemente encomendados aos artistas; nas·
repartições dos governos e nos jardins públicos multiplicam-se os bustos que
ornam também os palácios; e pelas habitações particulares dos cnhores e dot
burgueses espalham-se os retratos a óleo. Se a elite não está preparada para
favorecer as artea e consumir-lhes os produtos, dispersos por museus e pinaco-
tecas públicas u muito menos o povo de que ela saiu e permanece inculto, em
nenhuma educaçao artística; e, como a educação popular vem da elite, uma
multidão não podia ter a alma elevada e sensível às coisas de arte, não a tendo
aquêles que a fortuna ou as contingências colocaram acima dela na escala social.
~ao há relações entre as grandes obras e as produções da arte industrial extre-
mamente rcduzid e ainda sem qualquer influência, com as suas primeiras ten-
tativas: nenhum movimento fecundo que propagasse as criações da arte e ten-
desse a unir, ao meno nos grand~ centros, numa laboriosa fraternidade, as
classes do povo brasileiro. O público, certamente, alarga-se com os progressos
da vida urbana, o desenvolvimento da riqueza, as facilidades de comunicações

H O malt lm"Dt'tAnto muacu de artet qui:. ponufm011 E o Museu Nacional de Be!h-Arta, do Rio de Janclro,
CODlltltuldodH 1nliRH galcrla1 que e de1Ugara-m d11E1çola Nacional de Bclas-Arte1, íundada lll0 tempo de 0,
Jolo VI. A plnacot<e.a elo MuHU que l!'iLlX TAUNAY, da miHilO artí,i:ka francesa, foi encarregado de lnallllat,
H ot'ganizou do lnfolo com 011 quadr011 mal ou mtn011eflcbres trazidoo, na ua bagagem, pelo nobren que com•
panhou o Prwcl Rcc,ntc ao Br111il. Enriquecida por donatl- de valor, j6 apceaentava om 1889, quando
.., proclamou • Rep6blica, u.rna colaç&o de msü de SOOquadroo, e alcançava, em 19U, mai1 de um milheiro, •"m
de m6rmor o bf'on~ , de a, taa nacl0n8t. e esttan;:ei.rot. Tclaal aasinadu por me,tra da Rena1ecnÇ11,cott10
.RoilPt. MUJUt.O, Vu..uoua, TlNToa.To, Coado10 e outra,. obnu de matr fraacesn e de pintora P«·
turu e •~entln , e oom ant &011 e modc,m011,..ntrc autnrea nacionau, fi~ na1 1\lh c:ol n,pu! du
entre u manpcftl da Alnúlc:a .o Sul. tn,,talod.o no santuooo oolat de MAm.Wo P1toc6,io htlHlllA 1.-'J•,
rwi.s.dor d Jlll.t d .. 1'- qve f COMtru1do cm 1861 pelo ,uquittto alemão e.ui.os AUOVl'l'O
fldo compondo por to:.o .\CO I ccl 'bn Villa Pal•vü:cini.- de ~nova-, ergue-o.e
º"-· -
uda cidade de Mit>U
edl,
~ • o wou • 110Pr , emoldurado oo marwvi!h-, p,ttq11e ex p.oc-Ot.UlOU e a qw, o Dlt'll.•
~ AOAG12 chamou o "panlto d tróplcc,a", ~ tmDCll, fwidado l)elo Dr. ALrUDO f'lu&.rM J..vs, aa
hist6rica propri· e~.., pais, e dmdo • ade, além. de smu espléndidaa tu.t:6N. nw:oa""
e ca-lmlca, ~ui IIJl>II de arta cm qw, « eaeoatra vali!Bll mle,;ão de qll.lld.rol d au at,raD1lC1f'tie e
de pintor aacll>Ma. a \UII monumento do _,. e de • 6ri& de que iusb.mnl~ ae arFl1ba a maior cidade i.a,
dlHtl:ial dto Ocnh e w:n d crande1 ccatroe de cultura do pah. EDtlt pill&l:Gb:C.Q que de ma·
prcdoeo ~trim611lo • , podem d a do 2 o de Sã!>Paulo, a lnt=d • Muiníciípal Bd6m,
• do Liceu de Artel e Ofld.oa o R rc, o a d Academia de Bd..-s--Arta da Bahia. A1Emdtst.ea que tnm
a:itre .. ma anticoa, !oram rcuntemenc c:riadaa pelo G<>v&no Fedcnd o llfuai:.u du destinado I pre-
eerv~ e ao CI o dm moctlffllffitoa ~os pelos jcautt.u no t:!nitú:io bruileiro d.u eo lm,
paw, que ac talw cai Pc .,, cm rn de 194-0,no aotigo p.el!cio do .lmp«1td.ar, com a dupla n
de rccdller a\4a de ,,.io, 1 t.6r1c:o e doa rcüudoo de D. PlWJtO r e D. Pma.o u e d 1:a1 n:lativ ..
a fonnaçAo bist.6rlca do S.tado do Rio e, apeda!V>C'Otc, da cidade de Petr6polis. Se 1e acr tarem 01 ,:n
relici...,. e u v lha l;~u. ,:.om Kua magnffieoo interiora, - relidrios de llOA0 puudo colonial -. l __ ,
o qll&dro completo d .. m 1» e moaw,;,entoc de arte 110 B.....U. de que ac ""'°""
pe.ra ~ tr:u, !Mrm, dll
••.,.. ~ ..... ··- • "'" ,._ ·~·"'""'"""...ft.......
.... - ,.__~ ~h-irnA.ft;,.., .,...,,..~
118.0 A. CULTURA BRASILEIRA

e a multiplicação dos meios tendentes a pô-lo cm contato com as artes e a d


pertar-lhe o sentimento artístico; e difunde-se cada vez mais, nas camadas so-
ciais mais a1tas, o g6sto de criar nos interiores, pela p~ nça de objetos de arte,
um ambiente de beleza e de distinção. Mas a educação ética do povo que
não faz- nos cursos nem nas escolas especiais, como jã observava EDUARDO
PRADO, mas por tõda parte, nas ruas, no jardins e nas praças públicas. n~
museu nas pinacotecas, nas exposições individuais e coletivas, e com a apJi-
cação, em larga escala, da arte às indústrias nao passou, no Império, de um
sonho de raros idealistas; e, só nestes últimos anos, depoi da Grande Guerra
(191 1918) e da revolução nacional de 30, se iniciou com uma vida artística
mais in ensa e mais difusa, embora mais rica de promessa do que de realizações.
Se ainda não se vê circular pelos museus e pelos salõ s de exposição uma mul-
tidão de visitantes atentos; se não se iniciou a é hoje um esfôrço realmente
fecundo para a reprodução industrial dos grandes quadros de nossa pintura
e por uma colaboração mais_intima da arte e das indústrias; se o artista bra-
sileiro parece ainda temer rebaixar a arte, aplicando-a, aos objetos de uso co-
tidiano e à decoração artística dos interiores, ~ certo, por~m, que na arquite-
tura, na ornamentação interna, no mobiliário como nos vestidos, jã brilham
os sinais, evidentes em algumas grandes cidades, - de um interêsse cada vez
maior pelas artes em tôdas as suas manifestações.
:!nes sintomas estarão menos nas realizações numerosas, mas raramente
de qualidade, das duas artes maiore~ - a pintura e a escultura-, do que no
movimento do artistas à procura de um maior contato com o público, nas
reações dSase público e na atmosfera cultural do pais. Mul "plicam-se, de
f'ato a.s associações artísticas; à Sociedade Brasileira de Bela -Artes em que
transformou em 1919 o Centro Artístico Juventas, sucederam- , entre outra&,
no Rio de Janeiro, a Associação dos Artistas Brasileiros, cm São Paulo a Asso-
ciação do Arti...otasPlásticos, a cujo admirãvel esfôrço se devem a iniciativa
de exposições e, por elas, a di-vulgação de trabalhos de uma pl!iade de jovem
artista . Longe de se atenuar, tende a tomar corpo o inter pela reprodução
industrial, de número limitado de exemplares, de nos s melhores quadros,
e pel arte aplicada às indústrias:35 a produção em série de ar efa os marcados
pelo sêlo das artes e acessíveis a um público cada vez mais vasto, terâ, no do-
mm.io das artes plásticas, para a difusão do gõsto artís ico, uma função seme-
lhante à que jâ exercem, no domínio musical, a gravação em discos e a trans-
missão pelo radio, da boa música artística e popular, nacional ou estrangeira.

36 D•• ai,u .... nqru ou vermelha.,, que ~ c.ncontrlUII no e,. li, Íllll CQIGnla e n.o Impér1o,
,,._ de 1&m•t:1hOJ dlv-eno, e de rocm,u variadas e onginalo: p<>tca,talb.a , quar lnguu. Oa produto.
c.crllmltQI q11Au e rcdu.rle.m b ceràmic.s !U1tra.du e a:nvernhadru. O m vali., .., tcot:atam,
mo prorivcl, aio dclll■run obn de vaiot ~tico. no oo:nrn
o d obj t r praen!Ilndo tiP')I,
íl ou cenu; e, no cttAmica, pintado, ■pcn,u •• conheciam H da o•• (randc,i lllforu
pi,nadQ .,t6brc r~oe de eamaln: em verde ou em a:ul, n:alçado,o de d011.r•<haa lloo", e, ll1I~
do Ãm&SOOM, "u ,:erl.mlcu onwho1 de d""""'1hos e.m cõc .e arümai do
pai'• (pepap , Olr'lar'll&U, etc.", Mas• evolução d e OC:C:U0\1- com o ■IHln-
doao, pclli ll>d tria, d .. rormas cm\:i~ deinf!u&>da fira • },
l=partadu pel°' oortUJtU No técma XIX nio ae falir :ral
, o. de í■ m-ou as nd.c,.
r■des cur.,,.ororj.ado,, por o • .
bremdo 001 õltiin<>ovinte ,u,os, E q ■çilo
decobe«:a~ ffll Pacova.1, na ilha.d CI
... HlD ~ de arledeca::atÍ\'■ &UCll
IUllA, ~ São Pauln, que tamb&n e lf.
JtUAs illUtrlll!nc e cer • q~ 935,
balho, no ~tn""'. Voi m tam!>&n criar
lil:-il"IUI:UQS a,:ulcjQS P<JÍIC'O!ffl)!I Q ••
q,ad¼veJ fr~ nas c:.as,q .que . tnurprc-
~ qu lnnf1J c:unho i;in-1. prcíer== ■iilda IU \mi auten ·ca, qu
alo ■ pliaulu à rica,, c:,o,tru e.m e,olilo colonial, Al de um ti.lo
d ativo novo pt)o,, uulej,,. ÍD3pirad°" cm motivos rcpo ,am 1nt .,.nk 6 ta.lv...,:
• é! P. ROffl, ob cuJ.,. direçlo em São Paulo, trsh.1ih!lm A. VC1J..õ'I e M. Z1.1,mn, plntauldo ~quc:aoo q~ ~
prcpara.odo-oc p • o, 1111dupatgfu dccwativo,.
A CULTURA ARTÍSTICA 281

A obra doe pioneiros da arte decorativa. inspirada na flora e na fauna do p Is,


em motivos bist6rioos ou na cerâmica marajoara, adquire novo impulso com a
aliança de artistas e industriais, para a fabricação de cerâmicas, porcelanas
e uulejo . Os poderes públiC09 participam dêsse movimento, favorecendo-o
e estimulando--0 por várias formas, e montam _guarda à tradição artística do
pata: o 1ov!mo federal, depois de 1930, aia, por uma legislação modelar, o
Serviço do Patrim •o Histórico e Artístico que substituiu a antiga Insp toria
de Monumentos Nacionais, anexa ao Museu Histórico; eleva a his 6rica cidade
de Ouro Preto, - considerada em bloco e em todo o seu conjunto urbanístico
- à categoria de monumento nacional; promove o arrolamento do patrim6ruo
artístico; desliga da Escola de Belas-Artes as galerias da sua antiga pinacoteca,
para com elas constituir o atual Museu Nacional de Belas-Artes, oficialmente
inaugurado em maio de 1938; confia a decoração do novo edifício do Minis-
t&io da Educação e Saúde ao grande pintor CÂNDIDO PoRTINARI,e inicia uma
Rri.c de publicações de alto interesse artistico e de valor documentârio. Certa-
mente, a grande massa permanece estranha a estas atividades novas, públicas
ou S:,rivadas;e, - povo jovem, ainda em formação-, o Brasil continua, para
empregar aa expressões de A. SIEGFRIED, "a fazer figura de país vencrãvel,
com algumas tradições quase vetustas, e com uma atmosfera de cultura que
cacende ainda à aristocracia", mas a elite que as partilha, torna-se cada vez
1Jl8i.snumerosa e mai apurada oo gôsto e na capacidade de apreciação. O que
era prazer acenfvel a poucos jâ se vai tornando, embora lentamente, o alcance
de um número cada vez maior, pelo desenvolvimento da riqueza e da instrução,
ou principais aglomerações urbanas do litoral e do planalto. A tcndbicia
crescente à urbanização, manifesta no desenvolvimento das grandes cidades
e na formação de cidades novas; os progressos dos meios de comunicação que
tendem a apronmar cada vez mais as regiões do país, de diferentes níveis cul-
turais e eoonõmicoa; a intensidade de vida social. e a diversidade de direções
em que ac propagam as correntes de influência urbana. não oontribuem apenas
para cheaiar a arte às suas fontes populares, elevar a um plano mais alto os
produtorca intelectuais e abrir domínios cada vez mais vastos à exploração dos
artistaa. Sob a pressão desses fenômenos, mais do que pelos esforços indivi-
duais, ac vai reduzindo o isolamento em que viveram os artistas, condenados
antca pela fõrça das coisas, a a.m círculo estreito e fechado, de g16ria ou de
incompreensão, que raros conseguiram romper. ~sses fatos de concentração
urbana, de mobilidade circulação, tanto de indivíduos como de idéias, e de
propagação de correntes de pensamentos, concorrem ainda para tomar m ia
viva a unidade social e política, e dar à atmosfera cultural do pai uma pressão
suficiente para suscitar, nos artistas, novos meios de expressão e fazer dêles
íocos cm que se intensifiquem e se tomem luminosos os modo de sentir, pró-
prios de uma época ou da vida nacional. Pois o que move o artista, como
observa E. DURXBEIM, "não é sempre um esfôrço centrífugo para fazer irradiar
IÕbre outros um sentimento todo íntimo e pessoal; é também a pressão exercida
sõbre !te por um estado emocional coletivo que êle ressente com uma acu.idode
maior e ao qual é capaz de dar expressão".
e movimento moderno, derivado, nas suas origens da arte e das influ-
encias europEias, mai.a poderosas, na medida em que o Brasil e integrava n
civilização de que participa, já acusa, de fato, uma tendência acentuada para
afirmar o seu carâter brasileiro, no espírito, no estilo apropriado à arte na-
cional, e na busca de novas fon es de inspiração. Não se caracteriza ~penas.
como vimos e jâ e observou, pela preocupação de conservar a arte antiga mas
de achegar às font · vivas da arte popular e de criar uma arte nova caracterl -
ticamentc nacional. Examinado mais de perto. o que revela é menos um
282 A CULTURA BRASILEIRA

fõrço de libertação sob a influência de teorias intelectuais do que um processo


de ºamadurecimento" da própria atividade e cultura artística do país. A his-
tória e cr-ttica artísticas, antes quase inteiramente confiadas a jornalistas, cujos
artigos ap ados não tinham nenhum valor artístico, provam essa mesma
maturidade, manifesta no campo da produção e que se exprime, neste outro
domínio, pelos trabalhos de pesquisas, por um ~tido mai vivo do «nacional"
n s es e pelo amor da verdade, da realidade e da precisão. Sob a dupla in-
fluência das novas teorias históricas e de uma definição mais nacional para a
arte, a. história e a critica artísticas, em que, no fins do séeulo XIX, se desta•
caram GONZAGA DUQUE, na pintw-a. e J. RODRIGUES BARBOSA e, mais tarde,
OscAR GUANABARINO, na música, renovam seus m todo e, tomando-se mais
refletidas, objetivas, documentadas. prenunciam, nas obras de detalhe e nos
ensaios, os primeiros grandes trabalhos de conjunto sôbre e história da arte no
passado de nosso país. A história da pintura e da escultura, de formação re~
cente, não contava, entre nós, senão um escritor, L. GONZAGA DUQUE ESTRADA
Rio de Janeiro, (1863-1911), autor da Arte Brasileira (1888), livro puramente
literãrio, sem espírito crítico e sem rigor de documentação e escrito ao gôsto dos
criticos e historiadores românticos; e a música, não apresentava senão a obra
erudita e documentada (1908), mas sem idéias gerais de PEREIRA DE MELO
que escreveu a hist6ria da música no Brasil desde os tempos coloniais. Nos
seus trabalhos, ARGEU DE GUIMARÃEs,dominado pelos fatos, em lugar de os
dominar, e LA.UDE-LINO FREIRE levado exclusivamente pel preocupação in•
formativa, e ambos sem cultura geral e artística e sem o gõsto do juízos exatos.
n o trouxeram nenhuma contribuição nove ao estudos da história das artes
plbticas no Brasil. enhuma visão de conjunto ou das grandes linhas de evo-
luç o, nem vistas parciais, originais e seguras, nessas, obra fragmentárias, em
que sedução pelo adjetivo e a exaltação enfâtica tomam o lugar ao gõsto e
ao espírito critico quase sempre ausentes, e se confW1dem no mesmo plano,
sem perspectivas, tanto as artes como os artistas... Ê sômente nestes últimos
anos que apare~. em 1926, com a obra de RENATO Dlt ALMEIDA, uma história da
música brasileira, em que o método sagaz do escri or vivifica os documentos
um pouco secos que êle colheu na obra dos eruditos; surgem historiadores e
cr1tícos musicais como ANDRADE MURlCI, e depois de 1930, Lufs HEITOR
CORREIA DE AZEVEDO, e começa a atingir a plenitude de sua fôrça M.úlo
DE ANDRADE, - um dos espíritos mais perspicazes da crítica moderna, histo-
riador de musica, que domina a crítica e o folclore musicais com as sues intuiçõea
lúcidas e penetrantes. Na pintura, cuja história ainda estâ por escrever, coroo
a das artes cm geral, transmitem-nos impressões claras e vivas, com um sen-
tido r fletido da arte moderna, um SÉRGIO MILLIET, um ÃNOELO Gumo e um
Lufs MARTINS enquanto MARQUESDOS SANTOS, AUGUSTO DE LIMA JÚNIOR
, sobretudo, Joslf MARIANOFlLBo cujos trabalhos revelam um crítico ver-
d dciramente conhecedor de tOdas as fases da evolução da aquite ura colonial,
inauguram uma série de valíoso~ estudos sôbre as artes dos ês primeiro sé-
culos. A medida que se estende a área e se eleva o nível d cultura do pais,-
·sa cultura viva e orgânica que é a snbs ância das le as e das a , - cresce
a r ção contra a crítica medíocre, de in1provi~ção, que longe de aproximar
o artistas e o público e tomar mais comp c.!nsive1 de todo a obra de arte,
ende a afas -los a corromper o gosto de uns e de outros e a fazer o público
desconfiar da sinceridade dos artistas. Todos êss trabalhos de pesquisa e
de erud"çao nao s6 contribuem para renovar os m ·t o da crítka artística
ubtraindo-a à mobilidade das opiniões individuais, ingênuas ou tendenc osas,
fornecendo novos elementos à objetividade do jul amento cd ·co, como
A CULTURA ARTISTICA 283

tamMm preparam, com mais solidez, as bases de nossa grande história das artes,
"tudada não isoladamente, mas cm suas relações com a história geral da cul-
tura no Brasil e com a idéias do tempo que maior influ!ncia exerceram entre
116s e na1 raízes profundas que lançam as artes na vida do povo bra ileiro, de
1

uma extraordinária predisposição artística, nos seus costumes e, portanto, na


alma nacional.

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Mapa das zonas de densidade cultural do Brasil
e sua irradiação aproximada.
296. Mapa das zonas de densidáde cultural do Brasil e sua frrndiação aproximsdb.

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rt ORIMiÓPO!JS
PARTE rII

A. Transmissão da Cultura
CAPÍTULO I

O sentido da educação colonial

~ origens eclesiâsticas do ensino no Brasil - As missões jesu!ticas e a


catequese colonial - O primeiro mestre-escola - MANUEL DA NÓBREGA e
ASPrt,CUETA NAVARRO - Apóstolos e educadores - JOSÉ DE ANc~TA -
Nos pãtfos dos colégios e nas aldeias dos catecúmenos - Escolas de ier e es-
crever - Educação literâria popular, de fun-Jo religioso - A expansão da
língua portuguêsa entre os índígenas - A paisagem social da Col5nia - A
família patriarcal - A situação das mulheres - As três carreiras ou direções
que seguiam os filhos - Os capelães e tios-padres - Os ideais do homem
culto em Portugal - A instrução e os jesuítas - Os colégios de padres -
Bacharéis e mestres em artes - Os estµdos superiores na Metrópole - O
papel da Universidade de Coimbra na fortna,Ção das elites - Os seminários
- Monopólio de ensino - Para a form~ão de· clérigos e letrados - Sístema
de ensino aJiado da cidade contra os campos - Os colégios dos jesuítas e o
regime de vida patriarcal - Processo de "urbanização'' das elites - A obra
dos jesuítas e a unidade nacional - O marquês de POMBAL e a expulsão dos
jesuítas (17S9) - Destruição do sistema colonial de ensino - A reforma
pombalina em execução - As aula$ régias e o "subsidio liter·ário" - Os
padres-tnestres e capelães de engenho - Colégios das ordens monásticas -
Período de decadência e de transição.

A
VINDA dos padres jesuítas, em 1549, não só marca o início da história
da educação no Brasil, mas inaugura a primeira rase, a mais longa dessa
. história, e, certamente, a mais importante pelo vulto da obra realizada
e sobretudo pelas conseqüências que dela resultaram para nossa cultura e ci-
vilização. Quando naquele ano .seis jesuítas aportaram à Bahia com o 1.0
governador geral TOMÉ DE SOUSA, não tinha mais de nove anos de existência
canônica a Companhia de Jesus, cujas bases foram lançadas a 15 de agôsto
de 1534 na capela de Montmarte por INÁCIO DE LOIOLA e seus seis compànheiros
e que, apenas confirmada em 1540 por PAULOIII, se dispersava, no continente
europeu, em missões de combate à heresia e, além dos mares, à propaganda
da fé entre os incrédulos e à difusão do Evangelho por todos os povos. Ani-
mados, de um ardente zêlo apostólico e ligados ,entre si e à Igreja Católica por
uma ngorosa disciplina, refletida e· aceita, não tardaram os discípulos de INÁcro
DE LOIOLA a ccnquistar uma justa preeminência na hierarquia das ordens re-
ligiosas e uma autoridade moral imensa, selada pelo martírio, nos combates
sem tréguas nem transigências a serviço da rel\gião. Uma fé inabalável, como a
dos primeiros apóstolos, e dispostos a todos os sacrifícios; uma disciplina que
dava aspectos de milícia à ,iova Ordem, fundada em plena tempestade da Re-
forma, -pelo intrépido soldado de Pamplona, e uma cultura literária sagrada
288 A CULTURA BRASILEIRA

e profana, erguida a um alto nível e utilizada como instrumento de dominação,


fizeram dos grandes missionários a fôrça mais eficaz e robusta na luta contra
o prot tan ••smo e na implantação do poder da Igreja entre os povos infiHs.
Era uma congregação nova que se criava numa época sombria de paixões e
lutas religiosas e com o propósito obstinado de enfrentá-la , e que, ainda nos
com , guardava intata e viva a chama do esptrito evangélico do seu fun
dador; e as missões jesuíticas que chegaram ao Brasil em 1S49 e cm 1S53, es-
tavam entre as primeiras legiões de missionãrios que atrav aram os mares,
para a catequese do gentio, em longes terras desconhecida . Todos ficam sa,
bendo ao que vieram êsscs religiosos, enviados a conselho de DIOGO DE GOUVEIA
por D. JoÃo III a quem começava a preocupar a colonização do Brasil; o com-
promisso essencial do jesuíta com a Igreja, na defesa e propagação da fé, criara
desde a sua chegada, aqui como por tôda parte, essa ituação, clara e defüúda,
em que a sua espantosa atividade missionária, política e educadora, se apre-
sentava ,subordinada inteiramente às exigências ecumênicas da Igreja e aos
supremos interêsses da religião. Os jesuítas assentam, logo ao des mbarcarem,
os seus arraiais; fundam as suas residências ou conventos. a que chamavam
'colégios"; instalam os seus centros de ação e de abastecimento, ou. se o qui-
erem os seus quartéis, para a conquista e o domínio das almas, penetram as
aldeias dos índios e, multiplicando, ao longo da costa, os seus pontos principais
de irr diação, estabelecem-se, ao sul, sob a inspiração lumin do Pe. MA-
Nt.TEL DA NÓBREGA, na Capitania de São Vicente, em que reconhecem 'a porta
e o çaminho mais certo e seguro para as entradas ao sertão'. Em dois séculos
ou, mais precisamente, em 210 anos, que tantos se estendem desde a chegada
dos primeiros jesuítas até a expulsão da Ordem pelo Marques de PoMBAL, cm
1759, foram êles quase os únicos educadores do Brasil: os religiosos, de outras
ordens franciscanos, carmelitas e beneditinos, não s6 se fixaram entre nós mais
t.arde, em 1S80, como também, fiéis à tradição monacal. mantinham um regime
de vida maia asdtica e apartada e. se já começavam então a romper o isolamento
primitivo e a dedicar-se à pregação e a obras mais prãtica , não davam à função
educadora o papel primordial que ela assumia no plano de atividades dos je•
u{tas. Por isto, quando "a alma portugu.êsa, her6ica e moça, encurralada na
Europa entre os muros de Castela e os muros do mar, queria dilatar-se na es-
' pécie e no g!aio", foi nos jesuítas que encontrou, para apoiá-la, no seu esfôrço
colonizador e refreiã-la, nos seus ímpetos aventureiros, um dos maiores e mais
poderosos instrumentos de domínio espiritual e uma das vias mais seguras de
penetração da cultura européia nas culturas dos povos conquistados, mas re-
beldes, das terras descobertas.
Falar das primeiras escolas do Brasil é, de fato, como escreve SERAPnl
LEITE,"evocar a epopeia dos jesuítas do século XVI", em que lançaram, entre
perigos e provações, os fundamentos de todo u.m vasto sistem de educação
que se foi ampliando progressivamente com a e.xpansao territorial do domfnio
portugub. Pare se ter idéia do plano que traziam e da rapidez com que en-
traram em ação, basta lembrar, com SERAFIMLEITE que na Bahia, "enquanto
,e fundava a cidade do Salvador, quinze dias depois de chegarem os jesuítas,
já funcionava uma escola de ler e escrever, - inicio daquela sua política de
in ção que ~les haviam de manter inalterável através dos siculos de abra
scmpr uma escola onde quer que erigissem uma igreja. O mestre dessa pri-
meira escola foi VICE TE Ruo ou RODRIGUES ... , bistõricamentc o primeiro
mestre-e cola do Brasil, a quem consagrou mais de S0 ano de uma vida entre-
cortada de trabalhos e doenças - e bcnemerencia ". Inaugura- e então, a
partir da Bahia, impelido vigorosamente, nos primeiros dez anos (1549-59),
pelo Pe. MANuEL DA NÓBREGA, e depois por Lufs DA GRÃ, eu su sor, no cargo
O SENTIDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL
------------ 289

de provincial (155 9), movimento envolvente que se es ende na direção


do sul, de Salvador ao Pôrto Seguro, ao Espírito Santo e a São Vicente, onde
desde fins de 15 9 funda L ONA.RDO UNES um seminário-escola (escola média),
transferido mais tarde, em 1554, para Piratininga,l restituído a São Vicente,
em 1561., e fixado afinal definitivamente no Rio de Janeiro. O glnio político
de NÓBREGA, "grande p olo da instrução", concebera o plano de levantar
116breos alicerces do ensino tõda a obra de catequese e de colonização e se em-
penhara com t6da as fôrças em realizá-lo, determinando, dcsd 1550, que se
construíssem casas "para se recolherem e ensinarem os moços dos gentios e
também dos cristãos ' não s6 em beneficio da catequese mas também "para
o sossego da tecra proveito da República". Ao falecer em 1570 o maioral
doa padres da Companhia, depoi de 21 anos de Brasil a obra que inspirou
ajudara a construir já havia adquirido grande altura e extensão, abrangendo
cinco escolas de instrução elementar, estabelecidas no Pôrto S~uro, nos llbêus,
o Espírito Santo, em São Vicente e em São Paulo de Piratininga, e três colé-
gios, no Rio de Janeir-o, em Pernambuco e na Bahia que, além de uma classe
preliminar, apresentavam outra, de latim e de humanidades. Em pleno século
XVI, decorridos apenas cinco anos da morte do ilustre jesuíta, se chegou a colar
graus de bacharel em artes, no colégio da Bahia, em que no ano seguinte, em
1576wse conferiam os de licenciado. Certamente essa notâvel organização,
planejada e sà.biamente conduzida por NÓBREGA, até o fim de seu gov~rno, e
constantemente desenvo!vida nas administrações posteriores, foi, no primeiro
decênio, o resultado dos esforços dos dois núcleos iniciais de jeswta , doz ao
todo, padres e irmão leigos empenhados em atacar a catequese coloniLJ, d de
as suas fundações. as frente destas iniciativas, por fôrça do cargo e da au•
toridade, sempre estive NÓBREGA, fundador e provincial, grande entre os maior
que com ~le chegaram, em 1549, como JOÃo DE AsPILCUETA. ou que vieram
depois, com o 2.0 ovemador D. DUARTE DA CosTA, em 1553, como Jos.t DE
ANCHIETA aqu!le, navarro de origem, que se atirou com intrepidez à atividade
apostólica e faleceu em 1857, vencido pelos trabalhos, com oito anos apenas de
Brasil, e &te, de ascend eia biscainha, que domina com a fama de sua santi-
dade e de seus mila~, quase meio século da vida colonial, inseparável dos
44 anos de eu apostolado. Foi ASPlLCUETA NAVARRO, dentre os j uftas, o
primeiro que aprendeu a Ungua indfgena e dela se utilizou desde 1550, na pre-
gação aos selvagens, o primeiro mestre e missionãrio do gentio, e o primeiro
nas entradas evangelizadoras aos sertões, que varou em 1553, escrevo AttRÂNTO
PEIXOTO ' 1de Pôrto Seguro, 350 lêguas de périplo, às cabeceiras do Jequiti-
nhonha vale do São Francisco, tornando ao litoral, pelo rio Pardo". Se nessa
trindade esplêndida, - NÓBREGA, o político, NAV.4-RRO, o pioneiro, e ANCa'JETA
o santo, 3 se simboliza a atividade extraordinária dos jesuítas no século XVI,-

1 A íandaçto, mi ISS♦, do Col lo de São P•ulo, DH pwifcia de PiratlD'np, com • JlftNnca do Pc.
Jod. 1,a. ANl!l0tt4 w, acabaH d chc V de Portu1lll, foi dctcrmiuada par NdBll.llOA, que acolheu o , -
futuro ttntro de ll'T ia<lo de mi looAtioo e bandelraoteo, e clcoi&=u pw:a e11 ca,a o jovem j u1tll, -ando-o
- de..,,. colega . Nlo era, por!m, um ncwo colqio qw:"" fuQ<\.ay,a DII CapltatWI, ma, o d Slo Vi II e.
que• tramfcria pan OI Cllln~ de .Pir dala1a. - "p0r ...- <=Ih« clim& e mais fki1 ntaçlo - tamb6m
par amor ■ llldio■''. O wminirl , "-bd<Cida primeiro cm Si.a V"icetitc p« Lso11.....oo Nll'l'IU (a-
c:ttff lliDdll uun, Lun), tranai o e q- fundada de rum, em Piratininp em 1554-, clenda • calfcio
par N6BUOA em 1556 que O datou C01D tod ~ mó,,cis e de raiz, ~ l Com flO ui,
tramferido nutra n& pa,a o V. lC cm 1561, ia nur..., definitivamente, ji afldalindo e pcrl'tito Rlo
JUICiro'". (Sta.\,w LIIJT&,A pritJ1'1ir1Ja _, .. do Bruil. Ir, .. P.ipnn da Hüt6rla do 0.-UU", 35 62),
Em S.. Paulo de p· a permanccca poRUl, com o metmn nmne q ~ a,e te e a a n,d..idc oo
plealto, uma d ím çio cneotar, d abrtado-a por essa. ranna c,:o d cal on • " da
Capil'&lJ de te: o de Sia Vi<'ellte e o de Sio P•ulo que voltaram • IM!I', aquele, • parti, .S. 1561 ~
fne, delde 1567, ell:llM~Uiru., para OI {IIC1ll40lt, (ilha. de ttia6i.,.,, de mamei e de lodl
1 Jod os AJcCIIlff p-ude fipn da lerei• e uma das tJl&iores da BnniL ap6atolo do ovo Wldo,
~ Tcocriít 111de março d I SJ,f, DD ftldUID ano cm qnc se criava ■ Co,op,u,hi. de J , de que ;,elo
a- vultOII me.lJ aaiDCD. d..Se a fwideçi_o. Em 1.548l'oí m.1lDdado pd p■la a ·oobra olldo fb
- atudos e f!l'of a.1 Coml)llllh cm J.• de março de 1551., l'fftinda dou aoo, d~ iúod.e GOY!ço para
o Bnall. COiD a ICI\IJlda leve de m, ODàrio■ joa tu. Kta e,otiio pouco maia do qw, ■d ~l do coot~

-J9-
290 A CULTURA BRASILEIRA

a rase mais bela e berólca da história da Companhia de Jesus-, entre todos


êsses ap6stolos e educadores avulta, com um relêvo singular, a figura auma-
túrgica de ANCHIETA que chegara, no refôrço mandado por D. JOÃO III, em
1553 simples noviço de compleição frágil e menos de vinte anos.
Nessa época em que prevalecia sõbre todos o cuidado da catequese e que
se havia de projetar através dó século XVII, JOSÉ DE A CHI TA, desde a sua
chegada a é a sua morte. desenvolve um trabalho apost61ico de proporções tao
vas as e com al intensidade que se tornou a n ra central dêsse movimento
estupendo de propagação da fé entre os gentios ão que lhe f6 em inferiores
no fervor e na dedicação, os seus admirávei companheiro de Ordem a que,
embora tão poucos, na primeira década não assustara a tarefa a realizar no
imenso campo de ação que se estendia à exploração dos mis ionários; mas é
que cm nenhum dêles se concentraram em tão alto grau as virtudes evang'licas
e a11aptidões intelectuais que se combinaram na personalidade surpreendente
de ANCBUtTA, para nos darem o grande apóstolo dos fndios. Ainda jovem, me-
tido "na sua sotaina de cânhamo tingido de preto, que êle m smo fizera com
retalhos de velas náuticas", era já o mestre, designado para ensinar latim e
humanidades aos seus irmãos no col~gio de Piratininga, que não passava, em
1554, ºde uma barraquinha de caniço e barro, coberta de palha, longa 14 pés,
larga 10", em que, segundo informava em carta a IN..<.cmDE LOIOLA, se com-
primiam às vêzes mais de vinte companheiros de apo talado. Mas, já cm 1555,
um ano depois da fundação do colégio na ald ia de Píratininga, - que era o
nto mais avançado na ofensiva da catequese e da colonização sôbre o pla-
nalto, podia orgulhar-se ANCHIETA de terem ali os jesuftas "uma grande escola
de meninos índios bem instruídos na leitura, escrita e bons costumes". Para
e trabalho de ensino, em que todos participavam, mas a que faltavam livros
e material, era êle que compunha canções, e crevia pequena eça de teatro
e organizava compêndios que, copiados e recopiado , se ornaram de uso cor-
ren e em quase todos os colégios. Au or da primeira gramâtica da língua di-
ficil dos indigenas, em que se tomou mestre para melhor os in tr-uir, poe a,
inventor de autos, mistérios religiosos e diálogos em verso, que os meninos
r pr entavam nos pátios dos colégios e nas aldeias dos catecúmenos, êsse edu-

fr•n~lnn ••lldc pre,:llrfa, attnivsda ,:,or um acidente 1ofrido cm Portu{C0,1,e • cuj111 padcdmcnto,, o,, •eu•
IUl}crlore Julgaram dor alivio, envinndo-o para nl!'lhorea clim ~. "A'> vl-1 cmbue•do 1 8 de muçll de 1553,
quem poderia oulp 1( r. uereve BRA.sll.10M.-.CRADO,que, oom o correr do on,po aquflt lnv61i o de IQ 1n011,
ravolvtrlo. 1 ordcn e lnfati~ável, um mundo dc.genHDl, opostollt e •mpor11u:lo om o i:Mtoo dei•
lo,:ad~• • hei•m~ni• de Port1><:RIna, terra• de Santa Cru•I" lo /la l'lr ■ tlc;,!ng•, pna o qu~I o
da gnou, cm 1854, o Pe. MANUELDA NósREóA; minian6ri0 em Plratlt1i1111: , no Rio de Janeiro
e oo &aplrlto Sinto: provincial da Companhia de Je1u•, de 15711 o C lt~I d e:,-,lrito Santo> foi
cm tõd ■ t •• fuoç que e,,:erceu, na ensino dos mcnin!J9, rilh01 de lndio• • de colonc,., nu mlnlttEr\11 cspiritu.al
e n ■ prop R■çl d ■ re pel sertões. um eiietnplo incompu "flcio e de
h.-r6lc1 tliidk ~llo. Comp•nhelro ou emíSlári.:>dé NÓ8Rtm poa.a-
billdade, cm (ptt ·e 1156.3), pará e padfü:a,cão do, t , como
ili d: S o P•ul , e cm que pr09tou 1<:rvi!;OO o e:rpul'li 6, par•
rdalllr • MI\I DI' SÁ oo ■w: .,. tl,i guer-rs, ninguém deaem-
pcnhou de t&ia1 • mlu , dil■ taado P'l'" t:õia parte Q-.wndo
ei:n 1S66 Clfdcnou cm Ol'dcn.t aaa••· na &!>.ia, oa ue foi o
p,lm ro ''p<-1• • n«açfo levada ~=o d """ • .,.
olhos d todo,, o mini-.tto de Deus e o miuionArio d.:, r■ t'OD·
• • o 1.entio, palmilhando sertões, pen in&Ddo,
tod e l"'"""eodo • twio, cheg,un • ap o de um.-.
de • u datada, =mo llmiu o
■dor e i:nhslonàrb. U,w!ist3, ort•niZO\I • Arre ua r ,11;,.., - "o pnmein>
momcn10 dr h tif,ti t>ra ilcira -. u,ao~ta dme 156
CM1m ■ d Virt,tm e, em ~ub eem ru dar.
lnlornui o e /r•l.~nros hi5l6ri,:;m, martot
no, dmO!l, 1ttn ...._. cmTU precfosa1, uma C.Jm
. ■ 9 de Junho de IS9 ,
imt:ern1r1m-,c 44 -
= Rcririt.. (a,,tip
e um• vida d.e aµo,talado, - um■ da& mas, 1 o
S.nt<>,
• mai,
r u • qu J• "'""" um mi11i0t1ário em cemu da An>Erli::a. (Cr~. t eis V.UCONC&LOI,Vida do Vone,jve/
1'■. /OH d■ Anchiot11. L -• 1672; Carta . inform110IH•. lr••m•nto• hi t6rlco • ,Mrmilu. Pubf~o
d.a Acadcrn.l ■ Brasileira de Leu Io Ria, 1933; Jó .u.u; SaxaA."10.Anc/o/■I• aduc11dor. ln Jllffl&I do Cnm&cio",
211de, ■cwubro de 19 O).
O SENTIDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL 291

<:a.doreminente, que tinha o segrêdo da arte de ensinar utilizava tudo o que


fósse útil ou uece ivcl de exercer sugestão sõbre o espírito do gentio, - o entro,
a música, os cânticos e at~ as danças, multiplicando os recurso para a iogir
a in cligmda das criaoç s e encontrar-lhes o caminho do coração. a IV\•
dade realmente notável d e missionário, bandeirante que durante quase
meio éculo, passou o dias. de São Paulo ao Espírito Santo, pregando o Evan-
gelho aos indios, nas uas en Tadas pelos sertões, instruindo e convertidos.
assistindo s doentes e consolando cs aflitos, não é a menor parte a strie inin-
terrupta de esforço na catequese e ü:istrução dos menino a cuja educação
põde trazer contribuições originais, inspiradas pela sua in ukão da ai a in-
fantil, pela sua experi~cia pessoal e pelas suas observações sôbre a mentali-
dade m{ tica do índios. Se a essa obra, - parte integrante e fundamental de
aeu apostolado, se consagrarem os jesuítas, espalhados por tôda a Colônia,
nenhum adquiriu mais direitos do que ANCHIETA ao título de mestre-escola,
edúcador, protetor e apóstolo dos pequeninos índios, a que se dirigia, certa-
mente, para converte-los à sua fé e servir assim ao triunfo, de suas idéias, mas
com todo o seu coração e com uma inteligência e lucidez admiráveis. A com-
preensão, - uma compre nsão profundamente humana, sublimada pela f~, eis
o que caracteriza ANCHIE'I"A que porisso mesmo, exerceu uma influência excep-
cional, dirigindo• e não sõmente a todos mas a cada um em particular, se undo
a sua natureza e as suas necessidades, as quais lhe revelava uma verdadeira in-
tuição. :t n obra de educação popular, nos pãtios de seus col~os ou nas
aldeias da catequese, que os jesuítas assentaram os fundamentos do seu sistema
de ensino, e se em, pois, de procurar o sentido profundo da mi ão da Com-
panhia, cujo papel na bis ria dos progressos do Cristianismo e da in rução no
Brasil inha que ser, em mais de dois séculos, tão principal e, incontes vel-
mente, superior ao das outras ordens religiosas. Mas, apresentados os fato
à sua verdadeira luz, a obra de catequese e a do ensino elementar, nas escola
de ler e escrever ultrapassam. nos seus efeitos, os fins imediato que i aram
os jesuitas. Atraindo os meninos índios às suas casas ou indo-Ih ao encontro
nas aldeias· associando na mesma comunidade escolar, filhos de nativos e de
reio5is, - brancos, tndios e mestiços, e procurando na educação dos filhos,
ronquistar e reeducar o pais, os jesuítas não estavam servindo apenas obra
de catequese, m s lançavam as bases da educação popular e, espalhando nas
novas gerações a mesm fé, a mesma língua e os mesmos costumes, começavam
a forjar, na unidade espiritual, a unidade ·política de uma nova pât.ria.
Nessas escolas elementares que repousavam à base de todo o sistema co-
lonial de ensino, ainda m formação, e funcionavam não s6 nos colégios mas
''em tõdas a terras onde existisse uma casa da Companhia", aprendiam os
filhos dos índio a ler escrever, contar .e falar português e recebiam também
a primeira instrução os filhos de colonos. Não s6 nos colégios e nessas escolas
menores, ma m cada uma das aldeias onde têm os padres "suas casinhas
cobertas de palha , bem acomcdadas e igrejas capazes' , a1•m de in truir o
fndios nas coisa nece sãrias ã sua salvação ensinam aos seu fi.lh~, como n
informa ANCHIETA, "a ler, crever, contar e falar português que aprendem e
falam em gT ça, a dançar à portuguêsa, a cantar e a ter u cõro de c-an o e
flauta para s suas festas". Se os jesuftas concentraram na escola superior
a grande ambição de eua política educativa. - "a elaboração de um elite,
culta e reli iosa, que realizaria os objetivos P'\ÍSticose saciai de SA.: TO I ÁCIO",
é certo como se pode concluir de todos os documentos antigo , que entre as
suas ocupaçõe com próximos s.empre estêve, no sécu1os XVI e XVTI, a de
ensinar os meninos do indios dos portuguêses a ler e crevcr, nas aldeias
dos neófitos e nas colas de columins e de crianças brancas. Em a a
.292 A CULTURA BRASILEIRA

o' r magnífica, de catequese e colonização, utilizavam os padr não só a in-


flubtcia dos meninos brancos, órfãos ou filhos de colonos, sõbrc os meninos
índio , po os em contato com aquêles no mesmos colégios, como também
a a - o dos colomins que, ensi.r.,adospelos padres, • pelas ald •a a ensinar
os ais na própria língua dos índios. Foi po aí, por escola de ler e es-
crever, fixa ou ambulantes, em peregrinação pelas aldeias e ôes, que teve
de começar a fundamentis a sua grande poUtica educativ ; e com elas é que
inaugurou, no rasil ao mesmo tempo que na Europa, essa educação literária
popular, d fundo religioso, organizada em cons qü!ncia e sob o influxos das
Ju s d Reforma e da Contra-Reforma, para a propagação da fé. Foi ainda
por as escolas primárias, - poderoso instrumento de pen tração -, e pela.a
aulas de gramática, mantidas em todos os colégios, que se tornou língua geral
o idioma portugu que os inclios aprendiam não s6 do colon'os, mas sobretudo
do padr e do meninos, filhos de rein6is ou órfãos trazidos de Lisboa pelos
jesuítas, e cuja presença nos colêgios (pois "para crianças não há distinção de
raças e elas são por n~tureza universalistas") ajudou muito, na opinião de
SERAFIM LEITE, a atrair e estimular os pequeninos fndios no caminho da ins-
trução.s Certamente, os padres, desde o século XVI, aprenderam dos índios
a sua língua em que se tornaram mestres exímios e de que escr eram a gra-.
mâtica, mas n~o a aprendiam senão para os in truir por ela e conquistar mais
fàcitmeote os selvagens à sua fé e às suas idéias religiosas e sociais. "A facilidade
que tinham os indf genas das Índias Orientais de aprender o português, Ungua
geral na Ásia e na Africano século XVI, repetia-se no Brasil, como já observou
PEDRO CALMON; a expansão do idioma correspondia à efetiva conquista do tcrrit6-
rio". A cultu.ra indígena, não somente quanto à lín a mas na espontaneidade e
variedade de suas formas, se foi lentamente substituindo, no raio de influência
do miS3ionãrios por um outro tipo de cultura, de acõrdo com os ideais dos
jesuítas, e sua concepção de vida e do mundo, idên •ca para todo os povos. É
por i o que GILB&R'J'O FREYRE,examinando a questão a essa luz, do contato
e cho uc de duas culturas. e da atitude dos jeswtas em fac d e conflito,
considera o missionário como "o grande destruidor de culturas não europêias
do século XVI ao atual", e a sua ação "mais dissolvente que a do leigo''. Os
jesuítas, ob éssc aspecto, foram de fato, "puros agentes europeus de desin-
tegTação de valores nativos". Mas, supe.rimpondo à naturalidade das dife-
rentes 11nguasregionais uma só, - a geral; acabando c:om os costumes das po-
pulações aborígines ao seu alcance e levando os meninos índios a "abominar
os usos de seus progenitores", como declara ANCHI&TA m uma de suas cartas·
procurando destruir e.ntre os caboclos as suas danças, cânticos e festivais, "em
desacôrdo com a moral católica e as convenções uropéias", os missionãrios,
univer alistas, realizavam evidentemente uma obra de assimilação e de uni-
formização que não foi sem conseqüências para a vida nacional, cuja unidade
começava a plasmar-se, sob a sua. ação, e pela qual se pode apreciar o valor
enorme da catequese na formação do Brasil.

a Sa1t4nll LlllTII,c:omcntand.oUlWIeart. datada Ih e


1152 ••, cqur no. d½ nfflciat $6 õrfi.oe,
q11eruiam• pE pdo ICrtâo at!-cfutln
pa,- , avulta a que traz u,n;a '"nota.
em L boa :oer~ mu• carta
wrpreeodft' OI bomeas D33 .ti-=- e, da:oçu.
...,.,.m-lha "• hlxao de Noao 5,::nho,-, o, fLaruiam aba, Clll
Un dm (Ddloe. De cn.aneira que m filhos ""- .aa liu pos
v •tr dOI Cllho,, cantando Santa lohria. e 86 re ,n_u. • ta
5&11:AnMLslTI) 1ss2. o~ padre eiufuam o, filboo... sem
cordial, que tAdta a&uirbei• virtudes, e foi. tb tltil, • pn isenta
de vfdm e d carr-ucl,D. 2 o qW! jul1.a O~ File M •
ftntO d qoc no, Uvrot de ncfa.n,Jo ,iD citados Cb= me n 'utG elcmc
n,lnaj ela pcrl1Jlufail no 'Btuil, e,crev-e Gn.auro Fanas, •de corrutor,
rwam mcni- 6n'lo, truidOI l)d_.,. jcsuitq _para o, nnl . R;o, 1933,
p' 360).
O SENTIDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL 293
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Mas essa obra empreendida pelos jesuítas mediante vasto sistema educa-
tivo que, elevando-se, devia atingir um esbôço de ensino superior, desde o pri-
meiro século colonial, não se apresentava apenas sob êsse aspecto, de conquista
dos {ndios a uma nova civilização. Ao mesmo tempo que procuravam, no seu
eonho imperialista, substituir por outra a cultura indígena que se desmantelava.
diante do assalto vigoroso d@sses novos agentes de colonização, lançavam-se.
nos colégios e nas igrejas, a uma tarefa não menos dificil e complexa, - a. de
restaurar e manter na sua integridade a civilização ibérica que passava por
transformações profundas e tendia a dissolver-se, na Colônia, sob as poderosas
influencias, indígenas e africanas, e cuja unidaàe, por duas v~es, no século
XVI e XVII, foi ameaçada por invasões estrangeiras. Se era inevitável e,
segundo todos reconhecem, foi a mais larga e profunda a inílublcia que devia
exercer cm nosso pa{s a civili~ação portuguêsa, trazida pelos colonos, merca-
dores e aventureiros, e cuja defesa se impunha à Metrópole, no próprio inte-
resse econômico e político, é certo que ela foi constantemente trabalhada, no
proceeso de sua evolução, pela interpenetração de culturas de níveis e aspectos
,diversos e cstéve em ponto de ceder lugar a novas influências européias; as dos
•franceses e holandeses. Não fôssem os jesuítas que se tornaram os guias inte-
lectuais e sociais da Colónia, durante mais de dois séculos e teria sido talvez
impossível ao conquistador lusitano resguardar dos perigos que a assaltavam,
a unidade de sua cultura e de sua civilização. :tlcs foram, de fato, o centro
de tôda essa rca~ão europeizante, na sociedade colonial. Organizando as pri-
-meiras instituições de educação e cultura - mediante as quais o clero passava
a obter na Colônia a ilimitada preponderância de que jã gozava na Metrópole,
lutavam os jesuítas por assegurar a posse e a unidade do poder espiritual, com
a mesma firmeza com que um dêles, M.ANuELDA N6aaEGA, intervinha na po--
Utica contra os franceses (1564-67), quando a indecisão fazia nutuar frouxas
nas mãos dos chefes as r~deas do govêrno, ou com que outro, não menos ilustre,
ANTONIO VIEIRA, na campanha holandesa, concitava as povoações e as aldeias
a levantarem o estandarte da cruz, arvorado no cimo dos campanãrios e os
portugu!ses a cerrarem fileiras à sombra da bandeira da fé, que desenrolava.
à frente dos seus soldados e das tropas coloniais. Seja qual fõr o ponto de vista
de qU'!!se considere a obra realizada pelos jesuítas, ela não pode (ieixar de im-
pressionar, não s6 pela extensão da área social cm que se projetou, da Bahia
até Olinda e, para o sul, até São Vicente no século XVI, e de Pernambuco ao
Pará, no século XVII, mas também pelas dificuldades que tiveram de vencer,
para realizá-la e mantê-la, numa sociedade heterog~ea, de brancos, negros.
fndios e mestiços, baseada num regime de escravidão, fracionada em núcleos
dispersos por grandes distâncias e cindida por lutas e dissenções internas. Se
no norte, no século XVII, a paisagem social da Colônia já apresentava, com a
lavoura da cana, uma estratificação étnica e econômica, em que a uma moral
de escravos se sobrepunha, sem freios, uma moral de senhores, a mobilidade
social, no sul, intensificada pelas entradas e bandeiras, misturava as populações
e as classes, determinando um largo processo de diferenciação e fazendo aaltor,
do tumulto de wna vida social instável, uma nova forma de individualismo,
tão despótico e desabrido como o dos senhores de engenho. :tlcs, os jesuítas,
para imporem a moral católica. tinham, pois, de enfrentar no norte a onipo-
tência dos senhores escravagistas que se opunham, nos seus latifúndios, com
o arreganho costumado, a tôda autoridade exterior, e de sustentar, no sul, uma
luta sem tréguas, cm defesa da liberdade dos índios, contra homens violentos
e audazes, desprezadores das poucas leis que- ent.ào regiam a sociedade civil,
e habituados a todos esses desmandos e excessos com que os pioneiros e des-
bravadores de sertões costumam romper caminho, na sua marcha para o des-
conhecido. Por tôda parte. os conflitos entre o colonizador e os naturais:
294 A Ct1LTURA BRASILElR

a influências dos negros ou dos índios, ou da duas raças e culturas, modifi-


cando a língua reino), infiltrando-se pela religião e solapando a influência dos
portuguêses· por tõda a parte, a explosão irreprim.ivel dos instintos de liber-
tinagem favor cidos e estimulados pelo clima, pela mestiçagem praticada em
larga escala, pela desenvoltura e liberdade de costumes • próprios de sociedades
"de acampamento' como as dos sertões, ou pela ociosidade voluptuosa de
wna classe escravocrata que fazia de cada uma daa senzalas nos en nhos de
açúcar ou nos sobrados da burguesia "um grande scrralho õl o". Nem foram
sõmente as casas grandes que se dei aram con amioar pelos escravo : nessa
terra tão I rga e de gente tão sôlta", na expressão pitor~ca de um dos jesuitaa
que primeiro chegaram ao Brasil, a corruçào já havia atingido, desde o século
XVI, os próprios clérigos, entre os quais se instalou aos clhos complacentes
da sociedade colonial, sem abalar o prestigio eclesiástico nem constituir obs-
táculo à ascensão social, geralmente tão fácil, dos filhos de padres, brancos e
mestiços.
Na família patriarcal, a única fôrça que realmente se contrapunha à ação
educativa dos jesuítas, era a do senhor de engenho, cuja autoridade soberana
dominava do alto não só a escravaria, mas a mulher e os filhos, mantidos a
distância, e acumulava, com o govêmo dos latifúndios, a administração da
justiça e a policia de sua região. Uma rtgida disciP.lina, sob o comando do
pater-f am.ilias, a cujos interêsses servia, refugiou-se nas casas grandes, onde o
sentimento de autoridade e o principio de hierarquia acentuavam as diferenças
de idade, tornando enorme a distância social entre o menino e o homem, entre
o filhos e os pais. As mulheres, - a matrona ou senhora, com a sua côrte de
mucamas, empregadas na indústria doméstica, e as filhas que não se despren-
diam das saias das mães até se casarem quase impúberes ou se meterem freiras
nos conventos, viviam aprisionadas. atrás das rótulas e das por as, na solidão
melanc6lica de seus gineceus onde estranho algum podia penetrar e donde
geralmente não saiam à rua senão para as f tas de igrejas. Submetidas a um
regime de clausura, entre pais de uma severidade cruel e maridos ciumentos
e brutais e dividindo o tempo entre os cuidado dos filho.s, as práticas religiosas,
na capela ou nas igrejas, e os serviços ca eiras, não tinham nem podiam ter
na Colônia uma condição intelectual diferente da que conheciam as mulheres
em Portugal, nos tres séculos da colonizaçao. A situação tradicional de infe-
rioridade em que a colocaram os costumes e as leis, a ausência de vida social e
mundana e a falta quase absoluta de. instrução (pois raramente aprendiam a
ler e escrever), davam-lhes essa timidez e reserva habituais que as faziam corar
ao serem surpreendidas por estranhos ou as deixavam desconcertadas diante
de hóspedes e forasteiros. 5 Pois nesse domínio quase inviolãvcl da casa. grande,

• O. d-cndeu d08 d~bridores, ruucidas nn B •


com D aancu• d,. pa e.te pr a viol,:a.t<,. dibcl..,, pel
pe,ruçilo do ocaro. cuja •~ trni• 'ii io-.nom de,,auid.i" p
mai, em ...,._ av o cul o d.e libidinagem q= e t da
Glaa.QI e, o.ia tnc:not. um dO!I m~vos que a,pt'Ofun.dam,e: , o. v:el,.
du incõmpatibíli uln • . A po<,aja e D tom.a XJ . com ta:tu
ton'lli d , OI pc,:to, dcua ci"ilmç3o deprl" fel -
• ,ad., de t6d.a1 • !11,...-ea,eronaado irrcp!>lll v.el • D•
timeato de alm11 ou coosd Dei.ade C01'11Çiio,ª"'-. rB? m:;otiç • v= ._,
l coac:úpw:~ 0
11 d01 nlbo, leqltimO"S. ~e direito, qu nd~n. e-
fu yd, runecm en~ OI 1r ndtl ~rim.,,, ,.. íWtdu revolta•, llii:D o.
o aeu destino hlttbrieo, aVCJ'ltw'l{ndo a vida, no ,ntlo d.• r, o
boea dcíonídvu da n.ovarai;,i". (l:fm.a!lllTO o,:~,. Car•al o, p
Jo. Ollmplo. Pa 1934).
5 A re.,,va a.tf mi4es e • [&n«A~
.11 ~d l'l!dud • q
dc:no.ram • mulher. oo lcx!D c:1>hx1ial,m=liver■m-s.:. • 1)ri lllo X.lX. c:o
~m àl.o e, à ollscvaçii11 d! tcda, o, 1\1.' • A ma·
partul':llàa au de m nt::i5, tll!lt:> nuí,:,r q to diua~• d:, fito,al, e: • 11-ci '-
<lade dos c:onum.e,, plir.am ena. atit<clc e dofesa c:<>mqllC: o • n • m~her de c:on to c::>dl
ettrauho., CQCl.auaur.:ado-a00 lotai« de:,..,,,... casas. " • provf au :uhara "1o costumam
O SENTIDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL 295

em que tôda a autoridade se concentrava no pater-familias, e tanto os cs.-


cravos, como os filho e ainda a mulher, eram conservados numa dis ãncia
de inferioridade e de subordinação, variável conforme a idade e a condição o-
cial, não tardou o jesuíta a penetrar, quebrando, em proveito da Igreja, pela
influblcia que exerceu sôbre a mulher e sôbre os filhos a fôrça disai.cionâria
dos senhores de engenho. "No primeiro século de colonização eve Gn,
BERTO FREYRE o colégio dos jesuítas chegara a fazer sombra à casa grande
e ao sobrados patriarcais, na sua autoridade sôbre o menino, a mulher e o
escravo. Pelo colégio, como pelo confessionário, e até pelo tea o, os jesuítas
procuraram subordinar à Igreja os mesmos elementos passivos da casa grande:
a mulher, o menino e o escravo. Procuraram tirar da casa grande duas de
suas funções mais prestigiosas: a da escola e a da Igreja. Procuraram enfi:-a-
quecer a autoridade do pater-familias em duas de suas raízes mais poderosas".•
Mas não foi sômente na religiosidade da familia que eoccntraram os jesuítas
o clima favorável à sua ação educativa, tanto mais eftcaz, nessa atmosfera de
servidão, quando no amparo e na fôrça da Igreja, o escravo, a mulher e o filho
deparavam um conlTapêso aos excessos da autoridade doméstica e patriarcal,
com que nenhum outro poder se podia defrontar senão aquêle em nome do qual
falava o missionário, - o poder da religião. Segundo uma tradição da familia
portuguêsa, sõbre cujo modêlo se formou a família patriarcal, na Col6nia, se-
guiam os filhos três direções ou carreiras, "que não raro, conforme lembra PEDRO
CALMON,depois de moitas voltas acabavam na mesma casa familiar que era
apanãgio domai velho". ~ste, herdeiro do morgado. seguia o destino paterno;
o segundo, a carreira de letrado, a que se encaroiob::iva, começando os estud01
no colégio para ir conclul'-los na Europa; e o terceiro, entrava para a Igreja pro-
fessando a 15 anos num conveoto, num colégio ou envergando a batina num
aeminário. "Fazia-o padre a mãe piedosa". Todos, pois, que se destinav~
na casa patriarcal, à carreira daJ letras ou à vida eclesiástica e monacal, - e
tõdas as familias abastadas se desvaneciam de ter um filho letrado ou um filho
padre-, caiam naturalmente sob a influencia da educação jesuitice, em seua
colégios, na Colônia ou na Universidade de Coimbra, em poder d!sses reli-
giosos desde 1555, constituindo-se os instrumentos mais úteis de penetração
de suas idéias e de eus métodos. A tradição da famfüa patriarcal, cm dois
dos destino quer servava aos filhos, abria,' por essa forma, entre a casa grande
e o colégio, os canais de comunicação por onde devia chegar, fazendo sombra
à dos pais, a influência dos jesuítas, e escorut•se para a Igreja e para a letras
a flor da mocidade colonial. j'Dai a tática ,terrível, porém, sutil, doa educa-

mo.tnr ■Ofll horoe111",NCtevt: A. oa S,nm-Hn.."111!: que rara.g,ente,...,, •Wll loo •• viat;en. pelo Br• li (11116-22),
teve o prucr, oa1 cua, em. que •e h ptdou, de rcpe>unr o, olliot em rosto feminino. Bm Vll R ea, • fc,, que
deu o ,ov~oedcr d• provfDc.la D. °MAJtlttu. 1>&e.uno • Po.1tTU0AL,levou o naturalista rr1nce. • 1up0r que: t«•
Daria • ver u nhoru com qu , no dia uinte ao de lll1Jl chei:ada, ae avistar■, oo ■anu do -pa16d A 11 . o
4urou pouco. "Plnm frcq entemente vltitn II aeuJ mU'ÍdO! que cr.....- o, prlru:i • p« l(cna da cl ailr.
mu, - acraccnta, llu I o -, o avi1t&tn um Csoica mulller'º. (Via.,am p /11 Pto•lncla, do Rio d•
Jan<Jito • d Mln• O ,111•, tomo l. ~íe BtllJlllana, voL 126, São Paul , 1938, p!s. li2). "Du,wn.te todo
o tempo qoc, pu an e • dq C.pitSo V• (conta o 12hío rr.»cb) a dona da do m li""- Bo-
trttmltO, eoquuto c:o0tlam011, wn vulto ·mpAtico fftniDino avançm-doc:em a.te atrav da pcrc.■ eotrube-rtL
Loco. pocfm, que "oltaVll OI olho. pa,11 ble lado, a saihora cksaparccia. g mediaote lllD8 curiooldadc
jao,% qu,e u IIUlhcrat pnx-uram ~ tiva I liberdade de qu,, p:xlnn gouc''. (Vlafem pola Pro•lnda
do Rio de Janeiro • d /IITin O.r■ I•. T'omo 2. Sái.e Bni~:ana. vai. 126-A. Si.o Paulo, 1938, pq. 287).
• .-do Rio Q,.nd ~ em ccr■t. cL■ rca de Slo João, ••e1q R mouram a.m pouco ma do qw, de ouiru
partes da Provtnc:la de MillU Orni1, m • (comenta Sillff-Hn..-.nu,, im~o com a lo • bll e fe•
• , "COQ)O AO nlo f uw onalmeotc &dmitldo e a. que apsrec:cm dianl:I! d b& a6 o l11UM calcando
precooc:dto, maatr■.m muít.u v certa au_llim q e tem q"3lqlla' êoin de ~6wl. Aqv, como a.o
rato cL■ Prov1rloa, u d de e■ e nn- enfiav■m an ebsamentee o rDlto entre • pen,:! do quarto cal
qac me achava a porta n~, ■. nmde me ver .,..,.-.,.,...- ou. .eu.mi plaruu, e, ■e m tav• d ro-
J)Clltc. perubi• vllltw. q e e n, ,.,,.,.. apr .,,.en.te. Cem vezes a.ie repccscota...m comH.IA". (Via, oi
A• n&eamtu do rio S6o Pranciaco e i,./a P-1o•inci■ de Goi.i5. Tmno 1. S&i ,...,., ..,, . 611. Pauto,
1937. l. o lmpbio, oc ucctu.vrno, a cl!rtr, não 90fre:-am ~~tu.toes• vol a'ludan;:a, oo litoral
e no plaoalto. c SAllfT•ftD.Ataa que v;.jou pdo Bnsil, no ~ulo do pcrlodo oru.l (181 22), at ,
M.u Ls:CL&IICqu_e nw vi ÍlO\I, par conta do Jounu.l du Débat'!, quamlo ac prod a Rq>(lb (1 D
lOcl.aeoe viajantes r. m1 obocrv& --=thutcs aeoAo idhiticas sõbre a condiçio aocial d ..U.u 011 Btaail.
fi On,IIDTO h&nul:, Sobrados 01oc:.,i01boa, Série Bra,,ifiana, vol 64, "6c•· 92-43,
29 A CULTURA B A %LEIRA

dores jesuítas, observa ainda GILBERTO F'REYRE, de conseguirem dos índios


que lhes dessem seus columins-, ou dos colonos branco que lhe confiassem seus
filho para os educarem a todos nos seus internato , toma.ndo-~e os filhos mais
deles, padres, e dela, Igreja, do que dos caciques e da mães caboclas, dos
oh.ores e das senhoras de engenho '. 1
a autoridade e a influência cÚltural que os j suítas exerceram nas casas
gT des, por uma ação de fora para den o, isto é-,empalmando a educação dos
meninos que recolhiam aos seus colégios, passaram d pois a ser sustentadas
no "interior'' da própria família patriarcal, pelos tios-padr s e capelães de en-
genho.a Pela malhas estreitas dessa réde cultural, trançada com uas insti•
tuições de ensino, poucos elementos hábeis deviam capar, em cada urna das
novas gerações que se sucederam nas casas grandes e das quais a maior parte
dos meninos ia parar nos colêgios de padres, ficando a educação dos restantes,
a partir do século XVII, a cargo de capelães e padres-mestres. A Igreja que a
princípio rondava a casa grande, disputando a autoridade ao pater•familias,
arrogante e luxurioso, acabou por nela se instalar, vivendo, por seus t:apelães.
sob o mesmo teto e sentando-se à mesma :mesa dos senhores de engenho. Fo •
por es ação conjugada e depois sucessiva, dos jesuf as, nos seus colégios, e
dos cap lãcs e padres-mestres. vindos do reino ou educados, na Colônia, em
grande parte pelos padres da Companhia, que se amorteceu a maré montante
das influências africanas, subindo das senzalas s ca s grandes. "Mães negras
e mucamas, crcvc Gil.BERTO F'REYRE,aliadas aos meninos, às meninas. às
moças brancas das casas grandes, criaram um português diverso do hirto e
gramatical que os jesuítas tentaram ensinar- aos meninos indios e •-brancos
alunos de cus colégios; do português reino) que o p dres tiveram o sonho
de conservar no BrasiL Depois deles ma sem a mesma rigidez, padres.-
m tres e capelães de engenho procuraram contrariar a influ!ncia dos escravos,
opondo-Ih um português quase de estufa '.9 A ação dos jesultas e dos capei.ses
que deles receberam, para transmiti-los à mocidade colonial, o mesmo espírito
e os mesmos ideais de cultura, não se reduziu certamente à defesa do portuguea
contra as fofluências negras ou indígenas, que ameaçavam a um tempo a língua
pátri • a autoridade da Igreja, a moral e os costumes: êles l van aram uma
barreira à desintegração da herança cultural de que ram depositários e de
que foram, na Colõnia 1 os ~ais autorizados representantes e os propagadores
maí ardent s. As águas que colheram nas fontes da Igreja e nas tradições
d Metrópole e que fizeram derivar das altas cumiadas de s us colégio , áer-
ramaram-se p las duas vertentes, - a das enzalas e a das aldeias de índios.

cl ■ me.ns o e • Ktlnla, - cl=tos fu


" o regime ~ =ncmia p& •
cape!,,, cucoa.trava-.-e ruprc,
, lldU rkJu, du Terid e r,.,..
o um doa traços culturau m&b ta
• iodo«: 1'.111pr6pria capltanis
XVIll, Div ,e ~bda::r.ram
dAU,nocanto •
10 O&Luu .Jlhl'tolll à cap,,1■ oadc, DO a
Crino cr.iuante ou ~o sõllre • cnu,
;ae.. o de c:.a.ima. oem ~. to
o ""quarto dGI ftlDt.o. ..'. a. to re:sc-rvado
ootnva o orat6riQ._ 110 qusl an-wna,-..m, além d ol:orip
(A C■p ra11i11d•• "Mlnu Gerais". S:as oci&an "tonnaçAo. que
Llo íoru_mente aprimmm os ~t<>1 rdigj.:)soJ da r. l• ps
ha Importante:. ruraia e w-~ ccm.savando-"" ~ 0t o XlX cm que, Ji p,:lo b/iblto
odcufrem u mulhore::Ãrua. jàpela_dau:,~raçll w, v: , o, C'l)ltumf:I tnd,icion,1~.
o o C11ltorei x d.e>loc,ou par._ as iruciill e o, tcn:1pl<>s.
O O!1.llllln'O F'UYill':, Ca•a jr;,nde e S<"nrnla. MIWI S.hrnid L miud■, Rio, 193◄, , J13,
O SENTIDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL 297

Embot"anão tenham chegado com todo o seu esfôrço, a neutralizar as influências


que foram enormes, d duas culturas, -indígenas e, sobretudo af rican I a
mais próxima e penetrante é certo que conseguiram contê-las bastan e para
que a unidade cultural não se dissolvesse ou se quebrasse sob a pressão perma-
nente de uma extraordinária diversidade de elemento heterogmcos. As ge-
rações que e formaram sob sua direção espiritual, em mais de doi s los,
souberam pois 1 transmitir quase na sua integridade o patrimõnio de uma cul-
tura homog&lca, - a mesma língua, a mesma religião, a mesma concepç o
de vida e os m mo ideais de "homem culto~•, soldando, pelas camada supe-
riores da sociedade, todos êsses núcleos dispersos que, do sul ao norte, se desa-
gregavam ao assalto de poderosas fôrças de dissolução. Humani as por cxce-
leticia e os maiores de seu tempc, concentraram todo o seu esfôrço, do ponto
de vista in electual, em desenvolver, nos seus disópulos, as atividades literá-
rias e acadêmic~ que correspondiam, de resto, aos ideais, de "homem culto"
em Portugal onde, como em tôda a península ibérica, se encastelara o csplrito
da Idade M6dia e a educação, dominada pelo clero, não visava por essa época
aenão formar letrados e eruditos. O apêgo ao dogma e à autoridade, a tradição
escolástica e litcrâria, o desinterêsse qÚase total pela ciência e a repugnância
pelas atividades técnicas e artísticas tinham forçosamente de caracterizar, na
Colônia, tõda a educação modelada pela da Metrópole que se mantC'J'e fechada
e irredutível ao esp!ri o critico e de análise, à pesquisa e à experimentação e,
portanto, a essa «mentalidade audaciosa. que no século XVI desabrochou para
no XVII se firmar: um século de luz para a restante EW'Opa e um ~culo de
treva para Portugal". 1º Não que tivesse- desertado da "restante Europa",
alêm dos Pirineus a velha mentalidade escolástica, - a mesma que imperava,
acm conb"as e, n pen!nsula; mas com ela, e em luta aberta, jã coexisti
mentalidade revolucionâria, que brotou do espírito critico, da liberdade de in-
vestigação e dos m' odos experimentais e rasgava vigorosamente o caminho
entre as fôrças ainda vivas da tradição.
A obra civi~ora que o jesufta realizou no Brasil, nos dois ulos iniciais
da colonização, não pode, pois, ser compreendida se não situada na sua época,
dentro das condições da vida social, na Metrópole e na Colônia, e do espfrito
com que naece\1 a Companhia e que ela transportou para as missoes. Em .face
da luta q,ue se travava na Europa entre o catolicismo e o protestantismo, o
espírito de reforma e de livre exame e o de autoridade e discíplina, êle tomouJ
desde as suas origens, uma posição de vanguarda, em defesa da Igreja, contra
a Reforma e o spírito moderno. Desde 1554, quando San o INÁCIO adotou
o plano de campanha rigorosamente aplicado, a partir de 1573, com as modi-
ficações introduzidas por GREGÓRIO XIII, o instituto inaciano tomou o caráter
de uma ordem militante anti-reformista, p;,i.ssando definitivamente paro o
primeiro plano de suas atividades a função educadora e o combate ao protes-
tantismo. A3 diferenças de idéias e de processos de educação, na Am~ric do
Sul e na do orte, prov!.m não só da diversidade de temperamentos dos povos
que conquistaram e co1onizaram essas regiões, mas da oposição entre dua
concepções cristãs, - a que se manteve fiel à ortodoxia cat6lica, e a que im
plantou o ci ma religioso, fixando-se nos países europeus do norte, enquan o
os do s11l como Portugal e Espanha se conservavam católicos. Ao lado de
1

uma concepção de d ver e, comum aos dois campos em que se dividiu o cris-
tianismo, ' preciso reconhecer no inglês., como até certo ponto no p.ro estante
da Inglaterra e de outros países, maio. independência de espirita. Em teologia,
como em polftica e em ciência, o inglês recusa-se a aceitar as opiniões recebidas,

10 Aln6KIO stao,o, En111{0~. Lbbaia, 5e:ara Nova, 1929, pág. 22.


298 A CULTURA BRASILEIRA

tendendo a formar ele mesmo uma opinião. Longe de pr-oibir o liVTec.umc, o


protcs antismo o exige. l!:le é bastante largo para permitir o uso da ra2ão,
bas ante simples para seguir melhor a evolução das id"ias modernas, rc codo,
contudo, o essencial da fé, - o que permite manter-se emprc vivaz, entre os
pov anglo-saxônicos, o sentimento religioso. O jcsufta, que não acreditava
muito na liberdade, é, ao contrário, e por excelência o ~ taurador do d
e da au oridade, em que encontrou o meio de se impor aos elvagens cujos ins-
tintos a civilizaç o ainda não havia domesticado, e na qual rcconh ce e proclama
apesar de todos os erros que foi condenada e cometer um do meios de que a
humanidade podia dispor para se elevar gradualmente dos estágios sociais in-
feriores s diversas fases de civilização. A sua cultura, - e nenhuma das ordens
religiosas d pois do século XVI a elevou a tão alto nível-, é antes de tudo uma
cultura "de profissão", que se governa se orienta e se mede segundo as exigên-
cias dos ministérios do sacerdócio e do ensino; uma cultura qu tem por fim a
formação do humanista e do filósofo, mas como base da formação do perfeito
teólogo; uma cultura disciplinada para se fazer moral, triturada para a cate-
quese e -para o ensino, equipada como arma de combate para as lutas religiosas.
florida para os torneios do espírito, esplêndidamente ornada para o púlpito.
Com e e esp{rito de autoridade e de disciplina e com êsse admirâvel instrumento
intelectual de dom!nio e de penetração, que foi o seu ensino sábio, sistemâtico,
medido, dosado, mas nitidamente abstrato e dogmãtico o jesuíta e erceu, na
Colônia trabalhada por fermentos de dissolução, um papel eminentemente
con ervador e, ensinando as letras à mocidade, fêz despontar pela primeira vez
n Colônia o gôsto pelas coisas do espírito. O livre exame, o espfrito de análi
e de entice, a pai ão da pesquisa e o gôsto da aventura intelectual, que apenas
amanheciam na Europa, teriam sem dúvida alargado o nosso horizonte mental
e enriquecido, ao campo filosófico, a nossa cultura que ficou sem pensamento
e sem substãncia, quase exclusivamente limitada às letras. Mas, além de
faltarem na Colônia, não digo o ambiente favorável o norescimento do "es-
pírito moderno", mas as condições mais elementares de vida intelectual, uma
cultura mais liVTee fragmentada, prematuramente desenvolvida, sem um lastro
de tradição, podia concorrer ainda para dilatar até o lano espiritual as zonas
de discordância e acrescentar as lutas religiosas às diferença e discórdias que
trabalh vam a soci dede em formação. Foi o que, antes de tudo, se evitou
com a influência cultural do clero e, particulameote, dos padres da Companhia,
que erigiram em princípios de ação a autoridade e a disciplina moral e mental:
com a solidez de sua organização, fortificada pela sua escala hierárquica, com
seus privilégios e itnunidades estribadas na Igreja, com as su s idéias claras e
precisas e com sua cultura uniforme, propagada m todos os eus colégios, pu-
d"sam os jesuítas constituir-se talvez o maior núcleo de resistencia e de coesão
na sociedade colonial, onde os laços sociais, frouxos pela imperfeição das ins-
tituições, mais fracos se tornaram ainda pelas lu as e dissenções internas.
Se o jesuita atacaram, no século XVI a missão civilizadora que se pro-
punham, começando, como era natural onde tudo faltava, pel s escolas de ler
e e cn:,.,cr, não e detiveram, porém, no ensino elementar n m o no pri-
meiro culo, m que já mantinham, nos colégios do Rio de Janeiro e de Pcr-
nrunbuco, aula de humanidades, e conferiam, no col gio da B hi , os graus de-
bacharel, cm 1575, e em 1578 as primeiras láure s de mestre cm artes. O en ino
ementar não lhes servia enão de instrumento de catequese e como base para
organiza o do u si tema que, ao se encerrar o século XVI, j havia atin-
•do na Bahia o curso de artes. com quarenta tudantcs em 1598 e que, menos
de um *ulo apó a ua chegada, alcançara quase o maximum de expansão
pelo t rrit6rio do paí . O pri.-neiro século foi, pois, o de adap açao e construção,
e o segundo, o de desenvolvimento e extensão do sistema educacional que.
O ENT.IDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL 299

adquirida a altura necessana, foi alargando progressivamente, com unidades


escolares novas a sua esfera de ação. Segundo a Ratio tudiorum, publi-
cada em 1599 pelo Pe. Geral Cú.uoro AQUAVIVA, e em que se corporificaram
as regras pedagógicas de Santo lNÁClO e as experiências ulteriores, no campo de
educação, o plano completo dos estudos da Companhia devia abranger o curso
de letras humanas, o de filosofia e ciências e o de teologia e ciências sagradas.
D&scs tres cursos, que nos maiores estabelecimentos europeus da Companhia
se ex>mpletavam com um biênio de especiaJização, reservado à preparação de
lentes de universidades, o primeiro o de letras humanas, dividido em três classes
(gramática, humanidades e r tórica), destinava-se a formar o homem in litteri
humanioribus ministrando t e um ensino eminentemente literário de base
clássica, e constituía por jsto mesmo, como curso de humanidades, o verdadeiro
alicerce de tôda essa estrutura, sõlidamente montada, do ensino jesuítico. Foi
este, - o das letras humanas, o curso que mais se propagou na Colônia, nos
colégios de padres. O curso de filosofia e de ciências, também chamado "de
artes'' e dividido cm três anos, tinha por fim a formação do fi16sofo, pelos es-
tudos de lógica, metafisica geral, matemáticas elementares e superiores, ética,
teodicéia e das ciências fisicas e naturais, tornadas pela escolástica e estudadas
ainda a êsse tempo como "ciências constituídas definitivamente pelas especu-
lações aristotélicas . Em ARIST6rnES segundo os escolásticos, estava tudo:
nada que investigar ou que discutir; só havia que coment.ar. Assim tôda a
vida intelectual, ' no que toca ao estudo do mundo externo, escreve ANTONIO
SlfRGIO, ficou reduzida a comentários. Comentar os livr'os da antiguidade;
comentar, sutilizar comentar. Era wn sonho de sutilezas formais, um jõgo
de ilusões aéreas. Esmola-se sempre um eterno cibo de nulo valor a1imentar;
ia-se percorrendo um e erno círculo, como o cavaleiro no redondcl". 11 No
Brasil instalou-se pela primeira vez êssc curso de artes no colégio da Bahia,
em que, ao terminar o século XVI, como afirma SERA.FIM LEITE, já "era
florescente e numeroso". Formado o humanista, no curso de lettas humanas,
e o filósofo, no das artes, es ava o aluno do jesuíta, se se destinava ao ministErio
sacerdotal, em condições de e:nfrentar o terceiro curso, de teologia e ciências
sagradas que constituía, num quatriênio, o coroamento de todos os estudos e
que, servindo mais diretamente aos fins da Companhia, só se instalou em se-
minários maiores e em casas prepostas à formação intelectual dos jesuftas.
Foi ste o plano adotado no Braailt depois da publicação da Ratio studiorurn
em 1599, pelos padres da Companhia que l~e introduziram modificações, oo
sentido de adaptá-lo às necessidades peculiares à lgTeja na Colônia, como a
substi uíção do grego nas aulas de huntani ades, pela língua brasfüca. "ins-
trumento útil e até necessário para a catequese". No século XVII possuíam
os jesuftas, além de escolas para meninos e outros colégios menores, onze co-
légios propriamente ditos, a saber: o de Todos os Santos, na Bahia, fundado
em 1556, para o ensino da retórica, filosofia e teologia, 12 o de São Sebastião,
tran ferido de São Vicente, m 1567, e instalado com êsse nome no Morro do

11 Al'lfÕ"10 5:UGIO, /!n (l;/QI, LI tio., Sc:ar■ N""", 19ti, p!,z_ 23.
12 O au« pmal[6g;jco do,i J .if Q'IIC, pcnu:os anos d~,. da lb:ndaç;o d■ Ord , J tram cooao-
d.,,..dot e<>tnl) m Ire. mai1 hAbd1 e ~r,erimentados d■ Europa, uiD foi. dcll'ido ■penas «& rzleio do 11
ai■tem.. e doo teus, m~todoo de en lno e de çlo,. O fc,vor dOll J>.!ldret" d" Complnbl e o dlo .,. ente com qu11
ae I• çava.n, d ren de l eja, q ttdo la m l1 """"' a ol'emivs da Reforma, n o podl m deixar: de CODCon"ff
pars Ih 11CT■ir 1impatia e .,, preíerll'ldu d familias c11t6)ícas. Nwn■ ■oc:iedlule proí'llnd1mente abalw
par 1rav d coç_ rditlln <;pollticat, e1 ~ r&ucram, maiJ: alto do que_ '!unca, ■llbre íllllda.mta do doe,;na
& d■ Í , O prilldp10 de .. catollcidade", de OOJV ulidade, que lhe, ptnrutll de_,.,. •cllll• dc,u compctiç6et:
e dos anta :onl.,..o, oa.b.. 2n, uma bandeira de i:u=a, a que desenrolan.11>, U>&t par■ plantarem o ..,.
ta~ d• pU • cu.i• 90fflbr■ d~m ª"olhu-se todoo os po,,.it, quando a6brc 1 •e o dornIAio da
l&ro:i.: ao íundo, 'llõ:I• nov■ ·~ de "impabfimlo idcol6;i,ico". he prini:Ipi<> de wúverulidade " ■ u~
,bedorl■ C'Olll que o pn,,c,u,r otobt.loca, • odando a ,,.t:nms~~ciil de doull"UUI à vidade de, m ~••
Vort/1., ln ••• •ua~ilu ;,. modo), lha "lltou o ml'l-to de E1■ ftfera de &Ç,io, m "onirl■ e edw:adora,
atrav e lk'.im■ de 11:la:Ju írontelra . msino direto do ratim, qu.e era dado c,,mo "LIA;ua _.c,ra1", io-
tc:nadan■l, do ho,n..n culto, e qu.. ClOaJtit11r1, com o r:rc,a:o,• b1tae d.s• twma:nidadca c1 icat, úvtH.m, ru, cntan.to,
A CULTURA SRASILE RA

Ca: telo. no Rio de Janeiro· o de Olinda, que pa sou d simples residência e


escola elementar a colégio, em 1568; o de Santo ln cio, São Paulo (1631):
o de s-o Mi uel, de Santo {1652); o de São Tia o, no Espírito Santo (1654)·
o de N Senhora da Luz, em São Luís do Maranhão, e o de Santo rexandre,
no Pará, estabelecidos em 16S2, mas só elevados à categoria de ''col~ per-
feitos"• em 1670; o de Nossa Senhora do ô no Recife (1678), o da Para.11,
1683) e o Seminário de Belém, da Cachoeira, cuj fundação foi solicitada e
obtida, em 1687, pelo Pe. ALEXANDRE DE GUSM o. Se e acrescentarem a
bs abclecimentos, já florescentes no século XVII, os minérios fundado ,
no século eguinte, na Parafüa, em Paranaguá, na Bahia, no Parâ e no Ma-
ranhão, subirá a dezessete o número das instituições de en ino e de cultura (lUe
mantinham os je-suítas, quando foram expulsos do Brasil.
De todos êsses colégios, os mais importantes e os que maior influência
exerccrwn, foram o de Todos os Santos, na Bahia em que se ducou o Pe. AN-
TÕNIOVmIRA e o de São Sebastião, no Rio de Janeiro, os quais apresentavam,
inteiramente montada, a organização do ensino je uflico, desde o curso de
letras humanas e o de artes, até o de teologia e ci nda sa rada . Foi por êles
que passaram a maior parte dos brasileiros que professaram na Companhia
de J us exerceram o ministério do sacerd6cio e do ensino em seus colégios
espalhados por quase todo o território colonial. Eram por ssim dizer semen-
teiras de religioso , as casas matrizes da Companhia que o ensino, para a
formação de sacerdotes, se elevou a um alto nível, chegando a r lizar-se no
Rio de Janeiro -conforme se deduz do documento de 747, • ente na bi-
bliot do antigo colégio Anchieta, de Nova Friburgo , solene defesa de teses
de filosofia que, no julgamento autorizado do Pe. MANun MADURlURA nada
tem invejar aos atuais programas de contro ~ ias fil s6fi das grandes
universidades ca ólicas". Grande número de padr que foram professor
no 17 colégios de j uítas, escreve ainda o Pe. MADUREIRA,"fizera.-n tQdos os
es udo no Brasil, como por exemplo o Pe. ViEIRAque já era o "grand VIEIRA".
quando foi à. Europa pela primeira vez, tom.ando-se ma.is tard o a~ombro d
quantos o ouviram e puderam admirar, no Brasil colonial, a aprimorada for-
mação que a Companhia de Jesus dava a .,cus filho ". Mas, nesses dois colé-
gios, como o da Bahia e o do Rio de Janeiro, e em todos os demais que se esta-
beleceram d sde o século XVI até a expulsão dos jesuítas, em 17591 os padres
da Companhia, nsinando o latim e a gramática a meninos brancos e meatiços,
formaram os primeiros bacharéis e letrados do Brasil e prepararam para os.
estudos superiores em Coimbra todos os jovens que, preferindo a carreira de
direito ou de medicina, eram forcados a procurar universid des na Europa,
aobi-etudo a da Metrópole. A êstes, - porque não havi escolas superiores no
Br ·1-, ministravam cs jesuítas o preparo fundam al nos cus colégios,

o o de ah , i,.ra • ,tçio inu,,..aaciolJaJ, o da


rui tbim do Aeffd6cio e do en,ioo'', Matns i
am■.du '"chua chri _,. e à fonnai:ão do ckro
o de cima par■ baix.> a r
tro • o.,.,..;dadn i:n&YCS,
c:nu~ qlll' lavra
• queani,ittni:
que CO!ltl':bu!nu:o
mais impcrtanm e •
• •
coplano~-co
rum. - au cosuti~ esc<ib:r, com n:u•,m,u jul-
BAco.", "• i-,te m,ós nobn: da
ClKCI 9, pelo
lll:>roAoo.1.vtv.... e remoddaMs e1n IS32, CGllJ •ubrt.,:>ci■•
ot mEt os e m _plano. pri1Ditivo,. orientam aioda hqje, ao, .,...;oo dado 1)<l!I' ea
cd...:ad : e, quan o ~çilo inW.:dulll d~ jesuwu, rawto íW>damcot.al", ~
<'lD ttla OI :nhodos, mu llind■ "°"' ref..-&lcia l ec:t:rut,, rtid nos r,m de1tir,ado,
íOMNI o do humaal , do íil6aoío e do teólcsa,
O ENTIDO rJA EDUCAÇÃO COLONIAL 301

onde muitos estudantes receberam, nos colégios da Bahia e do Rio de Janeiro, o


'grau de bacharel ou a licenciatura em artes. u No ensino destinado mocidade
que não aspirava o ministério sacerdotal, no clero s cular ou regular, não
cuidou Portugal de ootar, õbre seu sistema, uma faculdade superior, para
qualquer especialidade (como direito civil, canônico e m ana, que eram
disciplinas privativas de Coimbra), nem mesmo conseguiram os jesuítas qu o
govêmo português reconhecesse o curso de filosofia e ciências (curso de artes),
a despeito de vária tentativas como a dos mercadores da Bahia que em 1671
em vão solicitaram a El-rei D. PEDRO II a equíparação do Colégio de Salv dor
ao de ltvora, a fim de não s rem obrigados a enviar os filhos ao reino para com•
pletar os seus tudos. Excelentes es abelecimentos de ensino de humani-
dades, com um esbõço de sup rior para leigos, tiveram, porém. uma impor-
tância capital em nossa formação êss:s colégios de padres que foram, no éculo
XVII e XVIII, "as massas mais imponentes de edificação nas primeiras cidade
do Brasil": suntuosos sobrados de pedra e cal como o da Bahia, que GILBERTO
FRBYRE descreve, apoiado em GABRIEL SOARES, - com seus cubículo para
80 religiosos, grandes donnit6rios, muitos dos quais "ficam sôbre o mar com
grande vista", e com capacidade para 200 meninos, e com umas terraccna
"onde recolhem o que lhes vinha por mar e era quase tudo: sementes, ferra-
mentas, livros". Pela ação cultural dêsses educadores iof atigávcis, já não era
somente pela propriedade da terra e pelo número de escravos que se media
a importAncia ou avaliava a situação social dos colonos: o graus de ba-
charel e os de m tre em artes passaram a exercer o papel de cada ou de as-
censor- na hierarquia ocial da Colônia, onde se constituiu uma pequena arls·
tocracia d letrados futuros teólogos, padres-mestres, juízes e magistr do .
Nesse enormes casarões de pedra e cal, os jesuítas estabeleceram, de fato, não
só instituições par transmitir a berança cultural de uma geração a ou a, mas
~gências de seleção e de distribuição, - as únicas existcnt na Colônia, e cuja
importância, como canais de circulação social vertical, se pode avaliar pelo
número de critores, poetas e oradores, clérigos desembarg dores e ju1zes,
educados no colégios de padres. Entre as três _instituições sociais que mais
acrviram de canais d.e ascensão, a fanu1ia patriarcal, a igreja e a cola, estas

18 O vau de m tr cm M"t - o ni la 11lto que, se conferi• ter:minado o cuno dq vtel, COl'TfflllODd•


eeclln<lo O C()ocsn llllN.lN'D■t P1Nllll110, ao de "bacharel em. l=tru". jt deaH mf!IIUI oplnll P&l>ll0C.U.M0N,
q.,..nélo, apoiado 10 qoe parcre. neo autor, du,ific:a 09 mestres <!m artes. como "uma e,p~lo colonial de b•·
c:hmin em letra,". {Hi1t6,la. Socl11/ do B,aall, 1.• tomo, 1937, 1>A11:, 124). Aue11u, , 10 contr•rlo, Mou1u
11a ~IY&Do qq ~,e tlt!>lo, t!lo aml;lclonaclo na. ooeie<ladccolonial, era maio apreciado que o d• dou or ma nona.
faculdodea •upe_rior . (ln1tru,60 p(lbllo11 no.t tempo3 colonlai~ do Brasil, ln "Rev!Jta" do ln1tlt1.1to
Hiat6rico, LV, 1892, p6.&, 112). O Pc. MAl'!Ua.LM.u>URSfl'A,ROQIUGO OT.lvio e Sslirfll L11n, oltllndo todOI
a M0R&mA D& An:V&oo, rcundam eu opinlio de ft1' o msmo ou melhor do que doutor por qualquer univen •
dadc atval o aatlao titulo de, mc,trc c:m utu. (M.\NU ■L MADUllElÍlA, A Companhia d• /Hui. Sua pt1d•,oll•
• eu reeultado11. 2.• "°'·•1929, p • 392; SUAl'l>I L,:n11, l'~in11il de hilt6ti"- do Sta II. o Paul • l!ll7,
l)A«. 25), A vc:rda e, no entanto, parece 1c:r outra, e oão ~tli ncn,, eom ta q e elevam em dun 11- o titulo
ll<!<D com ■quet qu o rcbakam ■o nJvcl do de ''bacharel cm letras••. O ciuno de art , no plano J.. uftlco, JA
era deti e.ntc de nivcl wapetlor: ersuldo aõbs-e o de letras bu~ e dado cm trb la
e de cilndu nuadu. Era or ~D calada em madcl:,s do currlc:ulo m ot•
ma~ por qu panar■ oa VD venld■de d Perb • P-=ldade du Altca, cm que:
l6rlca e a dial dC1I(16p:a), WNI vu concluldo. com 011 i:r■mfltlcÕ8,, o catudo do
~ dildpli.Da1 o trf~ium -, e que depois ee. taruou mai• pr6priameotc wo11 l'■cul
o "" (fi tr u•m acadtmlcoe, - o de bechAtd,
em qu oa aiQd11 no akulo XVI. 110 BrQil, d d pel
de bacbat-d aici•bln, em 1576, e. em 1578, ''a~ pri,noir
com • lt do bbpo e mais 1"111:1!gr ■ d.a". (S-
elo Bruil. 1(111 o de mem-e em llrto::I qoc x eooúcria
en por&n no •nti o rerime eoMlar. em que a F7
plano ID!cn • cAnoaca. leiA e medici: , acm
do qu d I S6S e a.inda e,n l57'2 C01Ulituiu
e UJri diapoelçü d0t ncn el'tatutm a:JJ"'D'1'11'lm
pdo
• qual o praldir o jl,\ri das licenmtnrn de que tinb.
am • n um vc:zame que umjcawt., ,iimp1.,, m tre
d an.cs... B.c titulo apeoas «ncápoodia a.o d
wn.vcnt de■ moclenuia. Nem maia -nem.ni.-nos, e ante,
faculdade■ d ruoaori., aul .. •o nl I u.nl
= do que mu.s, oe
"t:Ario.oe acham no mesmo plano d
o •._ d.A arw.1" mantln!u, em lllvd inferior ao do,, cunoo em Wlivcnid.ade.
302 A CULTURA BRASILEIR
----------,
dua últimas, que constituíram um contrapêso à influência da cac-a grande.
estavam pràticamente nas mãos da Companhia: qua e tôda a mocidade, de
branco e mcsti<;o~,tinha de paSS21'pelo molde do ensino jcsuitico, manipulada
pelos padres em seus colégios e seminários segundo os princípios da famosa
ordenação escolar, e distribuída para as funções eclesiâs ·cas, a magistratura
as letras. O gôs o que despertaram pelos es udos e pel tí ulos acadêmicos
(e aqui não conferiam, para os leigos, senão os de bachar I e licenciado em
art ), e o desejo de ascensão social, tão vivo en e mestiços como em filhos
brancos de nhores de engenho e de burgueses, ornaram cedo a universidade
um ideal comum: 'a magistratura, o canonicato, escreve PEDRO CAL o , hon-
ra am por seus privilégios, elevavam o homem a um nível egré io, davam-lhe
principalmente na colônia uma eminente situação, ao par dos cargos de govêrno".
O ensino jesuítico montado na Colônia, para a mocidad em geral, abrangia
em qua e todos os colégios o curso de letras humanas, ensino médio de tipo
clâ€sico, atingindo, em algumas casas, como no coU:gio central da Bahia e no
do Rio de Janeiro, o curso de artes, intermediário entre o de humanidades e
os curso uperior:es. Era nessa altura, ao terminar o curso de letras e de artes
(filosofia e ciências), que o en~ino, orientado para a uniformidade intelectual,
se ramificava em dois caminho~: o que levava ao curso de eologia e ciências
sa adas (para as carreiras eclesiásticas) e o que infletia para os cursos de câ-
nones, leis e medicina. Aqaêle. era dado ou pelos próprio~ jesuítas, no colégio
central da Bahia e nos seminários maiores, ou na Faculdade de Teologia, em
Coimbra: êstes, que preparavam para as carreira profanas (profissões liberais)
n o am ministrados senão em universidades européias, e, particularmente,
na de Coimbra, - a única a rigor existente no reino para Portugal e seus do-
mínios. ão havia, pois, na Colônia estudos superiores uni ersitários a não
ara o clero regular ou secular. êste formado em Coimbra ou pelos jesuítas
na Colônia, sobretudo no sêcolo XVIIl; e, para os que não se destinavam ao
c d6cio, mas a outras carreiras, abria-se, nesse ponto de bifurcação, o único,
longo e p oso caminho que levava as universidades ultramarin2s, à de
Coimbra, organizada sôbre o modêlo bolonhês e mais reputada para as ciências
eológicas e jurtdicas, e à de Montpellier, na França, que recebera, na bacia do
Mediterrâneo, as tradições médicas dos gregos, desenvolvidas e enriquecidas
pelo'!!judeus e pelos árabes. O govêrno português, ao qual a câmara da Bahia
requerera m 1671 a equiparação do colégio local ao de li:vora, p rmitira apenas,
pela provisão de 16 de julho de 1675, "que aos estudantes de retórica e filosofia
que tivessem cursado as aulas dos jesuítas na Bahia, se l vassem em conta na
Univer idade de Coimbra e na de Évora, um ano de artes"; pràticarnente com
ssa provisão se havia reduzido o ensino geral do j suitas na Colônia ao curso
d I tras humanas. e se fecharam tôdas as perspectivas para a criação no Brasil
colonial, de cursos superiores destinados à preparação para a profi sõe liberais.
A poli ica governamental traçara definitivamen e o i1incrário a er percorrido
pelos estudantes brasileiros e que, iniciado nos colégios de padres, pelo curso
de humanidades, devia terminar geralmente na Universidade de Coimbra,
cujo "colégio das artes", fundado em 1548, na reforma joanina e organizado
r A DRÉ DE GOUVEIA, seu primeiro dire or, es ava desde 1555 cm poder e
b a direção dos jesuítas. Que os estudos propedêu icos, de gramá ica, latim
e re 6rica, confiados aos padres da Companhia, íôssem dedo n Colônia, já
ão era po ível nem a Portugal interessava impedir; mas os estudos "Uperiores,
êsses, sempre pareceu à política da etr6pole con nicnte senão nec sãrio
man ê-los centralizados na sua velha Univer idade a que começaram a afluir,
desde o sêculo XVII, estudantes brasileiros. A Univer idade de Coimbra
passou a ter, por i-sto, um papel de grande import eia na formação de: nossas
O SENTIDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL 303

elites culturais. Foi nela, de fato qae se formaram em direito filosofia e me-
dicina, "qua e todo os homens graduados do Brasil" e se despontaram para
as letra , a medicina e a magistratura aJgumas das figuras de maior vulto de
nossa hi t6ria in elcctual, nos três primeiros século~. Mas cons rangendo os
jovens brasileiros a completar os estudos em PortugaJ, em vez de atingir os
seus prop6sito , de "desenraizá-los'', de lhes quebrar os impuJ os de indepen-
dência ou d a rebeldia natural de filbos de colonos de aportuguesá-los, o
que aJcançou a polftica da Metr6pole foi aproximar e tomar conbecidcs uns
dos outros, tudantcs provindos de capitanias diversas e, por essa forma, alar-
gar-lhes o horizonte sôbre a pátria territorial, acima e além das fron eiras de
suas provincias. Se, por um lado, êles se tinham de tornar, como se tomaram
de fa o, prisioneiros dos hábitos morais e intelectuais, contraídos no ambiente
univer itário portugu~ , as lembranças da família, as diversidade de costumes
·e de tendencias, e e situação de inferioridade em re1ação aos estudantes rein6is
tendiam, por outro lado, n uni-los entre si, a atraí-los para o Brasil e a faze-los
desccbrir o despertar de um sentimento novo, - o de uma pátria, primitiva
e rude, de fronteiras móveis, em formação, de que começavam a ter uma visão
de conjunto, e não teriam tomado consciência, no isolamento de suas capitanias
distantes. Pois o sentimento nacional não se desenvolve sõmente pela comu-
nidade de raça ou de língua, nem mesmo pela livre escolha de uma vontade
refletida: E o impulso de todo o nosso ser que, uma vez despertado, nos proibe
de pensar que poderíamos pertencer a uma outra pátria que n.ão à terra que
nos viu nascer, - túmulo de nos9os pais e berço de nossos filhos.
Mas. aJEm dos colégios estabelecidos nos séculos XVI e XVII, para a mo-
cidade colonial, de quem foram os primeiros mestres e a quem ensinaram as
letras, fundaram os jesuítas no éculo XVIII os seminários para o clero cuJar,
a cuja formação troUKeram contribuição inestimável, na úl ·ma fase da Com-
panhia no Brasil a a época de sua expulsão. A Ordem, cm todo !sse período,
teve qu e exclusivamente a seu cargo não só a educação do l'apaz br ·-
lciros, mas ainda a formação do clero que passou a ser recrutado principalmente
entre os elementos locais, preparados peloo jesuítas quBDdo no culo anterior
se cons itufa, em grande parte, de clérigos portugueses. O fervor cat6lico dos
padres da Companhia, a sua cultura e a habilidade profissional com que xer-
ciam o magistério. a escassez de sac.erdotes, no clero secular, m condiçõ
de assumir o encargo de preparar os candidatos às carreiras clesiés ices, le-
varam os bi pos na Colônia como em Portugal, e até certo ponto em tõda
Europa, a confiar aos filhos de Santo 1NÁCIO a formação do sac rdotes e a
direção dos primeiros seminários. Se o século XVI em que avulta, projetando-se
pelo seguinte, a magnífica obra de catequese ou de conversão do gentio, foi,
do ponto de vista da instrução, o da organização do sistema do nsino jesuí•
tico, e o s'culo XVII, o da expansão horizontal de&se sistema, quase inteira-
mente construído no primeiro século, êste último, o XVIII, é o da organização
dos seminários, de que apena um se estabelecera anteriormente. o de Bel m,
da Cachoeir (Bahia), fundado em 1687, a instâncias ou por iniciativa de ALE·
XANDRE DE Gu Ão. No sécuJo XVIII foram, de fato. criados, além de outro,
menores o semin rio da Paraíba em 1745, o do Pará, em 1749, o do Maranhão,
cm 1751 e o de Paranaguâ, em 175 , s.endo os dois mais importantes os do Pará
e do Maranhão, que consti uíam, desde 1725, uma vice-provincia da Com-
panhia, com. dois grandes colégios e dois seminários.u Ve-se, materialm e

14 Sbl'!lfflte o HffllDlrio d B~l&n. d• Cachoeira, íund!tdo pelos jesuf .,. ·s. i , 1 7 oo. -undo
PKDIIO ON, m 1 , • Mtlnri de Al.SXARDllt Dlt úu5'1ÃD. prtt,edeu m doit ae.mlllArl de o J e
de SI P ,.._ bd=d cm 17 9, no Rio de Jan -ro, p« inici-.ti,ra do bopo O. Fr AH1'ÕHIOD 0UADALU1'&.
frade Crtod1C9oo. O quatro kfflÍniriOI fw>c!Adm pela CQmpanhia no lécnlo XVUI, - Parana1ul. Da PaTafba,
IDO Paz; e ao M.,.nhlo, foram poster or • euu duu irutitulç3es diDCe98D&t, cri&d&I poc- prov do b po
304 A- CULTURA BRASILEIR

falando nessas iniciativas uma3 após outras, aper ar-se cada vez mais o c@rce
da Companhia a volta da educação da sociedade colonial, para onde convergem,
no ~fôrço de estender o seu predommio, ôdas a f, rças e todo os recursos
dos j u1ta . Fundadores de seminários, para a formação do clero secular,
co:itribu{ram não só para elevar o nível da cultura religio no Brasil mas,
formando sace.rdo es mais tarde padres-mestres e capelã de en enho, trens-
nu am o u esptrito e a sua cultura àquel que, d pois da expulsão da Com-
panhi . se tornaram de certo medo o depositário da tradição do ensino je-
u.I ·co, e o principais responsáveis pela educação do menino brasileiros.
Não fôra a contribuição trazida pelos jesuítas • preparação do clero secular,
no us seminários, maiores e menores, de que saíram em grande part,e os
padr -mes s e capelães das casas grandes, e não se cria conservado ·a tra-
dição humants ica e literária do ensino jesuítico tão viva e intensamente que,
70 anos d pois da saída dos jesuítas, ela ressurgiu, em todos o colégios leigos
e confessionais, inteiramente vitoriosa de vârios embates com tendências e
correntes contrárias. ~ certo, que para isto, devia concorr r no século XIX,
a pressão de outras influências semelhantes sõbre a velha cultur colonial que,
t ndo- deslocado da 6rbita dos jesuítas, caiu, no s6culo seguinte, scb o dQ--
aúnio da Hngua e literatura francesa que, tomando-a as mais humanas e uni-
versais da Europa, operavam a penetração intelectual no mundo cujas idéias
d!ncias se infiltravam em nossos espíritos mais do que as de outras nações
Quando ela passou a gravitar em tômo dessa literatura univcrsaJ, didãtica.
im essoal e desinteressada, mais do que nenhuma outra fie] às tradições clãs-
sicas, a cultura brasileira não teve de desviar-se scn vclmente da linha de
direção literária que lhe imprimiram os jesuíta!, educador do Br sil colonial,
e o principais educadores dos franceses desde a fundação da Companhia até
a sua extinção por CLEMENTE XIV em 1773, e, portanto, 14 ano depois de
er sido ordenada por POMBAL a expulsão dos jesuítas. Mas se ob armos
a entamcnte o que e passou após a partida dos padres da Companhia, será
fácil verificar, apesar de tôda a decadência do ensino que dela resultou, no
último período colonial, a persistência da herança literária, clá ica e didática,
que faz parte, com a herança católica, das maiores tradições deixadas por êssea
religioso que tiveram a direção exclusiva da educação e mentalidade coloniais.
A explicação dêsse fato encoqtra•se não s6 na atividade pedagógica das ordens
maná ticas como, sobretudo, na influência direta que os jesuítas exerceram.
de de os fins do século XVII, na formação do cloro brasileiro, pr arando nos
seminário várias gerações de padres-mestres e capelães e fazendo do clero se-
cular que lhes devia sobreviver, o guardião d u11stradiçõe pedag6gicas e
literárias.
Assim, pois, "na treva espêssa e profunda a que Portugal atirou o Brasil"
como escreve VrRIATO CORREIA,"só nas vizinhanças dos colégios dos jesuítas
há claridade''. 15 Nos colégios e seminários foram leso prim ires e, no século

do Rio de J■ adto e m ■-Dti@s oernprc eob II diJo~ d O 6tf'loe de São Pedro,


• mado por ter~ inatalado jnmo à iueja d ai o pc pr Ide Junho de 1739
ado foi tr11mfaido para junto da i1.t~• de • • t oov. d o (Scaúairio de Sio
■tE 1e co,,vert>er, em 183?, o li. O blOte cios -=minlri.,.
•. eenamt:nte, o de 830 J~. criado de atmDbf'o o m mo -,:io e em qae.
o 0112 17a , ..- davll.lD aulas de ktim, 11r■l • Sar•
e luk:iatlva ed • tica, Qlltrol e.b de Mariana
ado em I TSO pelo am 1JftlDÓN>bbp<> 0A em l8ll.
to,, ra ee rcahir -cD1 1820; o Semi " D.
que COO.ÍNJO fll.!l direção ■oe Jea• do •
dA ia em llt1.6, as último9 ~ que 1C iOAtal
em 1759, fcclara.m1e cinco aemilliri , Em de O\I VIUZlalte
• c,arco do dav ll«WU', nas aemiD4rioo dioaouna,, ll pr~ dClf OI -
q ...
1$ Vut&ATOCOIIJUU, A in.JrUI:iio colonitll. ln ''Carreio d• M■ nb ", Rio o Ja&iro, l7 daanbro
192 .
:297. PAtln• de ro,to d1t 1 .• edlt;lo da Ane de cremmatica da linco• mol• uPdo n• :298. PA1,ina de ""to do Vocabululo n• lincu• brerilice. um dM mal, va,to, repo,lt.sm.
cotla do Bra•II, do Jost og ANCHIKTA, S, J,, o prirneiro e o m4Í$ completo dot cn,olo• d• termlno/01,ia tupi do JNÍcu/o XVII. De •ulor do,c()nhocldo, tru • d•t• d• 1621.
de 1/,tornntluçAo l,rnmatle4/ d1t /Intua tupi, Publicado em Coimbrn, •m 1595, Foi publiudo om 1938.
Fotocóplo do Gabinete do EtnoKr•fi• do Fe.culdade de Filosofie de S. Peulo, Fotocópia do Gabinete de Et.noar•Jla da Faculdade de Flloaofla de S. Paulo.
ARTE
DA LINGVA
BR ASILl CA,
pelo Padre Luís Fi-
Compos1a
gueiradaCompanhiad~
/ ESV,'Theologo,

EM LISBOA.
C-0mlicenfadosSuperiores.
lgr M4noeld, s;z,,~.
300. P.'t!n d TOlilO da J ... diçâo da Arte da lincua lm .. mca, do P . LUIZ FlG P:IRA
(l576(?).J64J), uce/enre contribui,;ão par• o ,. tudo do tupi llll#ldo no nottr do Biasil.
Pub/1.,,,do provnvelm "'" em 1621. Eremplnr ,-,/,rente na Blbl/01 Nodonnl d Lí,boa
299. Plil)nll //na/ do Voc:nbul o na linguo bra ilic11, d
1621, de ,iuror dcsconh e/do, único em todo o mundo (cl. StRAFIM Lr:rn:).
publlci,do por P1.INIO AIROSA, em 1938.
s rito em Plrntlnlnltt
Fotccópio do Oabin t d Etnografin da Faculdad da Filosofia de S. Paulo, Fotocópia do Gabinete de Etnografia do Faculdade de Filosoflo do S. Poulo.
301. ltrejs do ontii_o Coléaio dos Jesuítas.
Salvador, Bahia. - Foto VOLTAIRE FRAGA.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti..:a.

2. ColéAio Santo 1nóció, em


Pau/Q, no século XVIII. -
Revista do serviço do Pa~
mônio Hist6rico e Artístico
Nacional, n,v 4, 1940.
JOJ. Ant/t., Malria Colrtio s. Mi,uel dos Je.suÍIIU, em S•nio•. Quitdro df' BEHl!.DITO Cu.IXTO.

304. Anri,o Coté,io N. S. do Tér,;o, do,, J,:suil m P•r•natu<Í.


Foto Hu.s, pt'rt n ""te ao Arqu:i"o do Sttviço do P■ trimõriio H ttirko ArllJlico Nacional.
30S. Colé,io N. S. dn Terço, dos J~uílns,
cm Parttn4'ulÍ. Arcadas do claustro. - Foto
HESS, do Arquivo do Servi,;o do PatrimGnio
Histórico e Artístico Nadon.al.

306. Colé,io N. S. do Térço, dos Je~lt".s, om P1tt1JnaAuá.


Póteo d•uslrnl. visro de urna das areadas. - Foto cedido
p,,lo Dr. DAVI CARNEll'O, historiador " diretor do Museu
Cc.l. Davi Carne-iro, Curitiba, Paranã.
307. ltrejo S. Francisco, consrruída em 1606. Recife.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
308. 11,ei• S. Frtmci,co. Sacristia. R~fe.
Foto STILLI!:. Colação da Faculdade de Pilo.tofla de S. Paulo.
309. l4rejn S. Francis=. Um aspecto do interior. Reçifo.
Foto STILLE. Colcciio da Fa.culdade de Filosofiâ de S. Paulo.
310. Igreja S. Pedro. Fachada principal. Recife.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
311. Conv4ruo S. Francisco. Aspe.-c.lo do pàtco clnu.strnl. OUnda.
Foto STILLE. Coleção da Fa..-uldade de Filosofia d~ S. Paulo.
312. Convento S, Francisco. Vista de conjunfo do prédio. Oli nela.
Foto STILLE. Coleção da F<tculdade de Filosofia de S. Paulo.
3 Jl. Cc>nvtmtoS. Fr,mdsco. A~pc,010 dH ~ac.tistin. Olinda.
Foto STILI.&, Ct>lcçõo dn F,wuldndH de P.ílosoíia de S. Paulo.
314. Igreja S. Francisco de Assís, em S. João d'El Rei.
Foto S'rlLLE. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
31 S. Universfr!ade- de Coimbra, t!n1 Portu4al, cujo pttpel foi !iío importan,e na lormaçiio das elites brt1sileirns. Fachada do norte.
Foto RASTEIRO. ln Históriu de Fortutal, de DAMIÃO PERES, pág. 605.
\116, Sem,n,Ó110 de Olinda, criado ""'ºbin,o A:tl!;IIUIO COUTll'IHO • ln•llll•ilo ~m J800 no antiA<, edí/ido do Col<i'io do, Juu1tlH,
317. Seminário N. S. da Boa Morte, de Mariana, em Minas Gerais.
Fotocópia de uma litografia da obra "Viagem pelo Brasil", de li. BURMEISTER. Betlim. 1853.
318. Seminário N. S. do B°"' Morto, de M,.r/an11. E.t11do alua/,
Foto H&ss, do Arquivo do Serviço do PAlrlm6nio Hist6rico e Artístico Nadonal.
319. Seminário de Mariana, em Minns, Outro aspecto dêsse seminário, no seu estado afua.l.

320. Semlnál"io de MariatUJ, que /oi. desde os lins do século XVlll e por to:io o período imperi81 o maior
centro de estudos humanísiicos, em M;,uu Gerais.
O SENTIDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL 305

XVI, os (micos mestres do Brasil; nos seus colégios e nas suas casas e formaram
as primeiras biblioteca e, por iniciativa da Academia dos Seletos e de seu pre-
sidente, - um jcsutta, o Pe. FRANcrsco OE FARJA, fundou-se, no Rio de Ja-
neiro, no a!culo XVIll, a primeira oficina tipográfica, destruída mai tarde
por ordem do governo português ( Carta Régia de 6 de julho de 1747 ), que
'tmandou sequestrar e remeter para Portugal as letras de impren a proibindo
que se imprimissem livros, obras ou papéis avulsos e cominando a pena de
prisão para o reino".'' A ausência quase absoluta de iniciativa dos colonos
que, ao contrário do colono inglês e protestante da América do Norte, não
trouxeram, com o ideal religioso, o da instrução: a penúria. e a ignorância dos
clérigoa importados do reino, e a inatividade externa das ordena monásticas
4tUese mantiveram, at~ os fins do século XVIII, recolhldas aos seus conventos
e fiéis às tradições ascéticas, concorreram, como outras tantas causas associadas
à poUtica negativa e absolutista da Metrópole, para deixar o campo da educação
colonial inteiramente livre e aberto ao domínio pedagógico dos jesuítas. Edu-
adorea, por vocação, mestres notáveis a todos os respeitos, @lespuderam exercer
na Colônia, favorecidos por circt,mstâncias excepcionais, um verdadeiro mo-
nop61io do ensino, a que não faltava, para caracterizá-lo, o apoio oficial que
lbn deu o govb-no da Metrópole, amparando-os, na sua missão civilizadora
e pacifica, com largas doações de terras e aplicações de rendimentos reais à
dotação de seus colégios. O govêmo de um país como Portugal, "que se exauria
cm tentativas coloniais desproporcionadas cotn seus recursos cm homens e
meios materiais", tendia forçosamente a concentrar todo o seu pensamento e
todos os cu esforços na exploração e defesa das colónias: a ducaçao não lhe
interessava cnào como um meio de submissão e de domínio político, que maia
íàcilmcnte se podiam alcançar pela propagação da fé, com a autoridade da
Igreja e os freio da religião. ~lc a confiou, na Colônia como no Reino, à Com-
panhia de Jesus, jâ famo pela superioridade de suas e colas e que, pelo cu
~o apostólico, estav mais do que qualquer outra ordem cm condições de
realizar uma larga obra de penetração e de colonização das terras de Portugal
no Novo Mundo. Não in crveio o govêmo diretamente nos planoa de ensino
e da cultura senão para criar, à margem do sistema jesuítico, escolas cm que
te aprendesse a jogar a artilharia, borncar a peça e carregá-la, e a conatruir
fortificações, como a escola de artilharia e arquitetura militar, da 'Bahia (1699),
e aula de artilharia criada cm 1738 no Rio de Janeiro, ou para cortar pela raiz
jn1tj.tuições, como a universidade e a imprensa que de futuro pudessem cons-
tituir focos ou instrumentos de libertação dos colonos. Com a mesma menta•
lidadc com que, em Carta Régia de 19 de março de 1614 e pelo alvará de 21
de fevereiro de 1620, proibia ao governador geral de visitar as diveraas capi-
tanias sem expressa permissão de El-rei (convinha, para imperar manter as
capitanias senão divididas, distantes e isoladas), recusou em 1675 a equipa-
fação do colégio da Bahia ao de ltvora e mandou queimar e destruir cm 1747
primeiro est bcJecimento grãfico que se instalou no Brasil. . . A uni ver i-
dade e a circulaç o de livros impressos podiam constituir ameaça à unídadede
patirão cultural e um perigo para o despotismo lusitano. Largado inteiramente
nas suas mãos, hábeis e firmes, a Companhia de Jesus que desde 1555 dominava
ensino público de todo o Reino e só no continente, no mo.mente de sua cx-
,pulsão, tinha 24 colégios e 17 casas de residência, conseguiu organizar o ensino
colonial, nos s us 17 colfgios e seminários, como entendeu de acórdo com os
-prindpios e padrões fixados nos seus estatutos pedagógicos. A treva csp&sa

li M. O. No lfOA og Axiftoo, lnururllo p6bli,;,, n~ tolTlpo• co/onl•i• do 810 I. ln "R


do tr.tltuto H.latórico, LV, 11113,pq. 144.
306 A CULTURA BRASILEIRA

e profunda a que, no dizer de VIRIATO CORREIA, Portu al atirou o Brasil, era


porém a mesma que descera sôbre o próprio Reino, jã cm decadência, fechado
e inscn vel as novas correntes européias e à agitação in elcc uaJ e cientifica
que rondava a Metrópole sem atingi-la no seu raio de ação. Pontos luminoso
n sa vasta zona de sombra, as escolas dos jesuítas, no Reino como na Colônia,
marcavam, com seu ensino uniforme, semi-oficial, de tipo dá ico, montado
para a formação de clérigos e letrados, o maior esfõ ço desenvolvido por uma
a ociação religiosa para criar uma "cuJtura de elite" cm dúvida artificial,
universalista em sua essência, mas tão intensamente trabalhada que persistiu
no século seguin e, como um resíduo na tradição intelectual do dois países,
equilibrando-se entre as suas fôrças internas e a pressao periférica de outras
influência estrangeiras. Essa cultura que ficou sempre a de uma elite; que
o povo não assimilou nem podia assimilar, e pela qual o Bra íl se tornou por
muito tempo, na Amêrica, "um pafs da Europa ', teve, no entanto, efeito~ da
maior importância, na criação de tendências e caracterís kas das classes di-
rigentes, na farmação da burguesia e no estabelecimento de uma t,adição e
continuidade nacionais.
De todos os ramos de atividade dos jesuítas, ê a educação das elites e,
nesse donúnio, o ensino literário de fundo clássico, que f z sentir a sua foflu-
Encia mais profundamente e mais longe; é, por êle, sobretudo que a Companhia
foi mais rica e constantemente representada nos seu colEgios espalhados por
tõda parte. Foi nessa cultura humanfa ica e literária que procuraram diwlgar
também entre nós, numa sociedade primitiva rude, inorganizada e hetero-
gEoea pondo ao alcance dos rapazes filhos de colonos o que era na Idade Média
apan •o de clérigos (daí, o duplo sentido de clerc cl!rigo de letras) e, mais
tarde, na Renascença, privilégio dos eruditos de profLsão. Para apreciar com
justiça essa cultura padronizada, de tendência universalista e tipo clássico,
transmitida pelo ensino jesuítico, é preciso que não se veja à luz da ci "Jização
atual, ma que. remontando aos séculos XVI e XVII, s examine e se meça
pelos costumes e ideais de então, segundo os quais s pre endia manter o latim
ainda erguido à categoria de língua geral sustentar nos homens o fascínio
p las letras clássicas, até a cópia servil dos modelos antigos. Que a Companhia,
fiel a a tradição, só formou, no Brasil, clérigos e letrados, ba.ta para provã-lo
o fato de que, nas várias gerações de estudantes, que passaram pelos seus co-
légios, nenhum dêles se destacou na Colônia por qualquer interisse pelas ci-
encia:i físicas e naturais· ou preocupação com atividades cientffícas, técnicas e
artl ticas. Foram todos letrados, cronistas e historiadores, como Frei VICENTE
DO SALVADOR, ROCHA PITA e PEDRO TAQUES; poetas como GREGÓRlO DE MATOS,
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA e JosÉ BAsfuo DA GAMAou oradores sacros como
Euséero DE MATOS e tantos outros cujos nomes s apagaram luz in ensa pro-
jetada pelo Pe. ANTÔNIO VIEIRA, con'.I.a supremacia de sua obra e a fôrça in-
comparável de seu gênio. Êste, o maior de todos o discípulos de jesuítas,
nos colégios coloniais, - prosador notável e pr gador sem rival, com quem
aprenderam a polir e a burilar a frase os maiores escritores e ensaiaram os seus
vôos as águias da eloqüência sagTada e política; lapidário mãximo da linguagem
portuguêsa, opulenta e formosíssima, foi nas sues qualidad e nos defeitos,
despro r-cionados pela exuberância de s.eu talento, expr - mai alta dessa
educação intelectualista, dialética e formal, concentrada na cultura da palavra,
da forma, do gósto literário e da imaginação. s, m mo em literatura, de
um formalismo estéril, - se excetuarmos um G OÓRIO DE MATOS e um BA-
siLio DA GAMA, poetas, e um ANTÔNIO VIEIRA, cuja eloqüência é uma harpa
possuidora de tôdas as gamas, na quaJ perpas am tôda as notas e vibrações
O SENTIDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL 307

o espírito clássico, reduzido à forma pela forma. se diluía em reminisdndas


humanísticas afogadas, aqui como aliás em Portugal, na onda de um produção
medíocre, estandardizada, de uma pobreza de estilo, de imaginação e de pen-
samento, raramente atingida na história das letras. A primeira obra cientí-
fica, a Historia Naturslis Brasiliae, de Piso e MARcGRAP,cm que s con-
densavam obscrvaçõe-s importantes sôbre a medicina. a nora e a fauna do país,
surgiu duran e a ocupaçao holandesa em Pernambuco, e, apesar de publicada
em 1648, cm latim, - lingua ensinada em todos os colégios de padres não logrou
despertar nenbwn inter e no Brasil nem deixar vestígio de ua exia ênci
numa vaga alu o em Oda a literatura colonial. Por melhor que. fôsse a or-
ganização do ensino jesuítico e por segt1ros e eficientes que fôssem os ·seus mé•
todos, com que e cobriram de glórias por tôda parte como humani tas, é
certo que, praticado dentro de um sistema de ensino único, excessivamen e
literário e retórico, sem o estímulo de influências renovadoras, tenderam à
unifon:q.ídade e à estagnação e não ficaram inefiça,zes para a erradicação de
tôda a ,atividade livre e criadora do espírito. Não restava, de fato, uma única
porta para, por meio dela,, se introduzir um fermento novo na massa dêsse en-
aino semi-oficial que, organizado para a formação de letrados e casufstas, tinha
que forçosamente ímpelir para as letras as tendências das elit dingentcs,
acentuar a oposiçao entre estas e as classes dirigidas e constituir-se num "sis-
tema de ensino aliado da cidade contra os ~". Desenvolvendo an :esde
tudo as atividad literárias e acadêmicas, e "dando um valor exagerado ao
menino inteligente com queda para as letras,.,, os jesuítas criaram muito cedo,
com a tendência literária e o gôsto que ficou tradicional pelo diploma de ba•
charel, o despr~ pelo trabalho têcnico e produtivo, e fizeram de eus colégios
çanais de circulação horizontal, do campo para as cidades, e de scen - tocial
_portanto, elementos poderosos de urbanização. "Nos seus enormes casarões
de pedra e cal, creve GILBERTO FREYRE.prepararam-se no Brasil os primeiros
letrado que seriam o prim •ros bacharéis, os primeiros juízes padres e d em-
bargadores, homens mais da cidade que da mata".1 7
Cer 1Unentc,cuidou o jesuíta também da lavoura e da indústria; e, organi-
zando e explorando as suas fazendas, montando os seus engenhos, p e tomar- e,
já no ~culo XVII e sobretudo, na primeira metade do XVIII, "o grande pro-
dutor colonial, o maior fazendeiro dos trópicos". Para a construção de suas
igrejas e de. seus colégios,18 como para a instalação de suas fazendas e a expe-
rimentação de suas culturas, não podiam faltar operários e mes res capazes
que vinham do Reino ou se recrutavam quer na massa de escravos negros e

17 01.1,JIUTO1"1UIYU, Sobr•do• o mocambo•. Sio Paulo, 1936, pf~. 96.


18 01 padrct qu • prínefplo viviam com vaodes dificuldadca e ,e 1UJtcnta-iam como "
ckp,,ulde dAJI cuta1 doo prlmdro■ J u(ta,. pa ram, d::1dc o 1!culo XVI, • tct ben r r
data~ que lhn permitiam • manutcnç114 de ~• ahm , nos iz,tc,r~tas. Tallto o d ■ IISGA
corno o P~. LU D4 011.l. ,iue lho 1ucdeu no cari:o de provintl3.I. preocupado, cora o OI, com-
pr eram de c:ne'tlotrar um meio de lh"" .. vi, d lOf'• o o••, oan
qw:, nio ,e dupau supcri:,r"" " ,uu ~ ftem
de buEBr od ". Da cCIC"f'espoad!nchtrocada CD
raultou ri rcndimanoe reaio do 13t,qil dobÇio de trb ~•ades cal
Bahia. i e ;d:> • 1tt dota.d>, e S1ta."n11 Lll!Tll, i IMltw..i- o
da c,ap· do rel de P~al em que annd■ ao c:apltlo d
quanto b • hi■ cal~ de Sã., S.dv&Jar • , e a ttdl
por l'W>d■ tarda íuen.da de S:111Allen". A proviJào de 7
1-564. lt :, públíca. E a íuad.açi> d;, prio, ro col o
(Sll.LVIM L&rrll, l'llfna1 de h!116ti1J do Bra.JJ. Si<, Paul.-., 1937, $31, IS61, 1
Pt. art pa.r.a que na capitania de Slo V-,ccntc "" r
$0 aw,Umco que 011 da Bahia. O local bido
que ■ -rd. Alad• que a dotação E de H68. f certo q;,,c
, ('0010 11<:vl de mn docwncDlo ou de WDll 'c de d
"1>.ftÍdOt eam o titulo de "1 qtK dru EffÃCJO 011 SÃ ao ealtgia do 1Uo de Jaociro". (Op.
dota que r-m •• prlmcitu. e Olltrlll cm beoe'k:io dm DDYOII C'Ol.klot;com • arpnin(" o do 1.t11b&lbo
do, fn41011,aoe alde m0,urn., e com • plora.ç'ilo •crlcot,, e pastoril de aua. tc:n'al. • que nlo (alt■nm cxnv
.-as, coino n■ r e • de Senta Cnu, no Ri,, de Janeiro, põde • Compaubia. •ril:lp UD\11....-ndCpro■l)C:rld•d•
materf■l que lhe pena. llu levantar oeua c:oormet ca...- de pedra e cal e manter cm IIC\IJI culta e H'rnio.4ri ,
30 A CULTURA BRASILE RA

dos caboclos catequizados, quer entre rns irmãos leigos e pecializados num
grupo de oficies. os noviciados da Companhia, e, mais geralmen e antes
de tomarem a roupeta, já se seleciODa.vam,pelas sua aptidões, os religiosos
que d ·am ascender aos ministérios do sacerdócio do en ino, e aquêlcs que,
•nado o biênio de provações, seriam aproveitados nos ervit auxiliares-
ou na atividades manuais e mecânicas.. Os jovens irmãos leigos, vivendo a
mesma vida religiosa e trabalhando lado a lado com o mais lhos, mestres
hâbeis e experimentados, faziam a sua aprendizagem, neste ou naquele ofício,
em condi ões que satisfizessem aos interê-sses e às exigências de casas, igrejas
e col!gios. Ma tudo isto, a exploração de suas fazendas, de que vendiam os
produtos; o aproveitamento do trabalho do escravo ou do indio e a própria
formação profissional, sob a pressão das circunstâncias, de um corpo de mestres
oficiais, não eram senão meros instrumentos meios para a realização dos fins
religiosos e educativos a que se propunham os padres jesuítas. As técnicas
utilitárlas elementares, necessárias à missão civilizadcra da Companhia, como
vida colonial, e bastante simples para exigirem uma formação especial, trans-
mitiam-se diretamente, de uma geração a outra, e não constituíam objeto de
nsino para. os rapazes, nos colégios de padres. A vocação dos jesu!tas ra outra
certamente, não a educação popular primária ou profissional, mas a educação
das classes dirigentes, aristocrática, com base no ensino de humanidades clás-
sicas. Aqui, como por tôda parte. Hoje, como no penado colonial. Os seus
colégios instalam-se de preferência nas primeiras cidades do Brasil e à sombra
das casas grandes, no litoral latifundiário, onde se recrutam os seus discípulos
e a tabilidade da familia patriarcal lhes oferece à construção do seu sistema
de en • o a base segura e necessária que dificilmente podiam encontrar na so-
ciedade, molecular e flutuante, dos mamelucos caçadorea de índios e de esme-
rald s ou dos criadores de gado. Embora, porém, mon da para uma sociedade
tipo casa grande, latifundiária e escravocrata, essa educação "de classe", longe
de contribuir para fortalecê-la no sentido português pé-de-boi, de que fala GIL-
BERTO FREYRE,concorreu para favorecer o desenvolvimento de uma classe di-
rigente nova, já cm plena formação, desde meados do s cuia XVII, - a da
burguesia urbana, Esta contribuição do ensino jesuítico, europeizante, univer-
alista, no processo de urbanização de nossas elites, já foi observada com lu-
cidez por GILBERTO FlmYRz, em vários pontos de suas obras fundamentais.
Não me parece que os padres, como êle pensa, visavam o dom(nio social sõbre
o patriarcalismo das casas grandes, quando "se esforçavam em fazer dos me-
nino , o mais depressa possível, homens ou adultos" e estimulavam a preco-
cidade literária "que se tornou tão característica do menino brasileiro, no re~
gime de vida patriarcal de nossa formação". Mas ! certo, como escreve o
grande int~rprete de nossa vida social, que "os meninos nesses seminários e
col~gios foram um elemento sôbre o qual, em vez de se acentuarem os traços,
as endênc· as por um lado, criadoras mas, por outro di soJven e:s,de uma for-
ma o excessivamente patriarcal, ã sombra de pais heróicos, de indivíduoa
em extremo poderosos, senhores de casas grande , quase independentes do
mundo, desenvolveram, ao contrário, o espírito de conformidade, certo gôsto
de disciplina, de ordem e de universalidade que os padres e, principalmente,
o jcsuf souberam como ninguém comunicar aos us alunos brasileiros..

ertad•ote1.. BnttYam
O¾, e aiids lh:9 s:>bravano p:ua o~ ill:tciu e atl .,,.
-~a, • a bofr:a cb co!E.io ,... o r O p.._ Slllt,.Pl.11
,arl>rnlS~I, rcfere-w. "a ap»dJ> c:m !"i.a1tlo CAtD •1 cultur11.1"de plantat
dM je1n,!t:a,, dT.lllc in'a,;l{anun psra A1 01 puti .
~• d.e pdo eram mo:lewcs. D.tu abuted m 01 rofin e miuiolliriot;
e lnl\awrm
11111 l:!"abalbl!d«cs, ;:oeral'oo e livre,, que rivb.rn do, e -padrc:t". (Op,
dt., i,At. U),
O SENTIDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL 309

~ alunos de colégios de padres foram, uma vez formados, elementos de ur-


banização e de universalização, num meio influenciado poderosamente elos
aut6c:ratas da! casas grandes no entido da estagnação rural e da e:xtrem.l di-
ferenciação regional '. 11
Uma das conseqüências. porém, certamente a mais larga e a mais impor-
tante, d a cultura urbanizadora que e desenvolveu pela ação pedagógica dos
jesuítas, foi a unidade espiritual que ela contribuiu notàvelmente para tabe-
lecer fornecendo uma base ideológica, lingüística, religiosa e cultural, à unidade
e defesa nacionais. A iníluência do catolicismo em geral e, particularmente,
da Companhia, na formação do Brasil, foi, a êste re peito, tão prepondei ante
que a JOAQUIM NAsuco chegou a parecer "de todo duvidoso que existi e a
unidade brasileira sem a unidade da Companhia" e mesmo que houvesse Brasil
"se em ,•ida de LoIOLA não tivess sido feito província da Companhia",S0 quase
e.o mesmo tempo em que se organizava, em substituição ao regime da capi-
tanias, o primeiro govêrno geral da Colônia. Foi, de fato, em grande parte
pela influência dos padres que se preparou a base da unidade na.clonai na trf-
plice unidade de língua, de religião e de cultura, em todo o território. Nenhum
elemento intelectual foi mals poderoso do que o ensino jesuítico, na deíesa e
conservação da língua culta, cuja ação unificadora é de wna importância pri-
mordial e que consti uiu, com o estudo do latim, o núcleo central e o único
elemento "nacionalista" dêsse ensino preponderantemente literário e retórico.
Na propagação e defesa da fé, - outro elemento de integração nacional-,
não puseram o jesuítas apenas o seu zêlo míssionãrio, na pregação cvangéli
e na catequese àe gentio, mas tôda a organização do seu ensino nos colégios,
alguna dos quais, como o colégio central da Bahia, conforme lembra o Pc. SE·
.RAFlM LBITE, prestaram ao Brasil, durante dois séculos, • os mais rclevant
serviços não só dentro de sua finalidade especifica de instrução e de educação,
mas até como defe!a e ponto de resistência contra o estrangeiro invasor". Contra
o invasor calvini ta, francês oo holandês, rechaçados nas suas cota ·vaa de
oonquista, que ameaçaram fragmentar a unidade do território e da religião.
A. unidade de cultura, essa foi estabelecida pelo seu "ensino geral' , - o único
realmente que tivemos até hoje, organizado com esse carãter. no duplo sentido,
de ensino não especial, profissional, e enquanto se opõe ao "regional", ou por
outras palavras, pela sua natureza e pela sua extensão. Ensino destinado a
formar uma cultura básica, livre e desinteressada, sem preocupações profis-
sionais, e igual, uniforme em tôda a extensão do território. A cultura "brasi•
leira" que por le se formou e se difundiu nas elites coloniais, não podia evi~
dentemente ser chamada ''nacional" senão no sentido quantitativo da palavra,
pois ela tendia a espalhar e8bre o conjunto do território e sôbre todo o povo o
seu colorido uropeu: cultura importada em bloco do Ocidente, internacio-
nalista de tend!nda, inspirada por uma ideologia religiosa, católica, e a cuja
base residiam as humanidades latinas e os comentários das obras de ARISTÓS·
TELES, solicitada num sentido cristão. Tratando-se de uma cultura neutra
do pon o de vista nacional (mesmo português), estreitamente ligada à cultura
européia, na Idade M ia, e alheia a frontei..-aspolíticas, - como tinha de
a cultura difundida por uma 'associação essencialmente internacional, com o
caracterietico de vcrd deira milícia papalina", é certo que essa m neutra-
lidade (se nos colocarmos no ponto de vista qualitativo) no impede de ver,
nessa cultura, nas uas origens e nos seus produtos, uma cultura espedficamente
brasileira, uma cultura nacional ainda em formação. Mas, pelo seu caráter

1 Gn.asuo f"llrrn, Sobrado • mocambo&. São P.1.ulo, 1935, pip. 93, , JOO.
20 JOAQOlN NA'BV00, ]OH do Anohieta. A tlsnif"tq,çã.o n:aciooal do Cenmnitlo Anch . ln '"UI
Ceat~o do V Avd P , Ja.6 de ADA:hicta'", p , Jlli-327, Paris-Utba,a, 1900.
310 A CULTURA BRASILEIRA

de cultura geral e unifom1e~ universalista ua essência e em uas manifes-


tações, e pelo raio de influência que atingiu, acompanhando ao no e até a
Amazônia, e ao sul até Destêrro, o avanço português e a expansão geográfica
do pats, ela constituiu sem dúvida, numa época em que não havia unidade
política, um dos fatôres mais importantes de int graçào e de unidade nacional.
Ela exerceu, através do ensino nos colégios de padres uma funçao unificadora,
dissolvente das dif erenciaçôes regio11ais;e, sob êsse specto, nao foi ameaçada
senão pelos progresso da língua tupi como língua geral, ensinada também nos
égios, e pela concentração dos índios em 'aldeamentos' , governados pelos
padres/li, Embora movidos pelos mais altos prop6sitos, os jesuitas, segregando
em gran<ks aldeias os índios convertidos, teriam con ti ufdo verdadeiros quistos
de diferenciação étnica e cultural, se não fôsse a ação contrária dos bandei-
ran es, que, nas oas entradas pelos sertões à caça dos 1ndios "dispersaram" o
que os padres reuniram, contribuindo para dis olver na massa geral da cultura
e da população a"Ssodedades e as culturas primitivas insuladas em suas aldeias.
Enquanto, na primeira metade do século XVlll, a obra educadora dos.
jesuítas atingia no Brasil o maximum de expansão, recrudesciam na Europa,
contra a Companhia, as lutas que deviam terminar c.om a sua extinção e naa
quai os ataques partiam agora de todos os lados, das universidades e dos par-
lamen os, das autoridades civis e eclesiásticas e das próprias ordens religiosas.
Alegava-se por tôda parte que a Companhia de Jesus, perdido o antigo espí-
rito de seu fundador, entrara em decadência e que, dominada pela ambição
do poder e de riquezas, procurava manejar os governos como um instrumento
político, ao sabor de suas conveniências e contra o i.nterêsses nacionais. O en-
sino jesuitice, na opinião de seus adverwios, envelhecera e petrlficara em
várias gerações e, anquilosando-se nas forma antigas, jâ se mostrava incapaz
de adaptar o seus métodos às necessidades novas. Em Portugal, intervi.nham
ainda, para tomar mais acirrada essa campanha enaz dois elementos de pro-
paganda contra os je,u.itas: o monopólio do ensino que êles exerciam desde 1S5S,
quando D. joÃo III lhes confiou a direção do Coltgio das Artes, e a miséria
econômica e intelectual do reino, pela qual êsses religiosos eram apontados

21 2- quettlio • Que j6 one rcforimoo, do llldu.mcs,.to ÜOI lndiot, pode aer .... carada •P meno. 10b tr&
•a:pectol rundamentala, o que O!IJeaultas 1><etendcram, eriando " o,,.niu.ndo a\dcl•• pr6prlu p • ot htdl01;
.. coDocqlltnr.illll, p11ta .. popuf•çac. e culturu priniltiv.u, ,e,,e~1da1 pelo, je1u!tG1, e o, crelto1 que rc,ult■r■m
oa podiam r.-.ultu dh1C1 IIU11il•m.ent0,p...-- a soc!ed•de colool ■l em rormlçio. A fd~• dc1tH irr~nd~ co11ccn•
t,.ç5el rol, eutarncntc, Jo,pirada •o• jnul.tu po,lo prop61lto do ■=rv-ir com rnal; '"lcl!acl~ à 1u1 voa;llJJ catequi t.a
e de, arcanl"9ndo 6. man~ curõptl■ e oegw,dQ os 1cu1 ;dclli<Im rala e •~lltlon1 u po11ul ■t~ lnill&ertaw,prover
melhar à■ ■uu nec:eHidados o,lrituail e mB.teriais e à pr6pria dof9,1. doo !ndloa convertid01 e empre 1tmeaç■d<ff.
de -- te,;lmld01 ni:ravtdl<>. Nessa ald<9mento, gov.,.n.adQI pelo p■drc,, OI lndi<>,,co1110CICl'OVI! SKJ1Ar111
L.l.rT'I, adqulrlt11m h'bitOI de tnbalh<>, cwtiv,.vam u terra,, ,nvlam tnllri lment~, eilw:avam o■ íllho,, e exer•
dtall'UD H lndihtrlaa l'nlllt 1111Mbe neeeuftrias- que as jetul m te Ili •llflnavam". (l'lltlna~ da
hi•t6d1 d~ Bra,11, 1937, pA~,. 19 e 'W}. ~ oo je-1\ll~ ,e del!idlram • eoa~r 6•101em Ili riH, pan lhes r••
á!Itar • vida e •lo. -lhOI', e que se esl'ClrÇal'lln, par chr • eu. • p;,plllac m•°" Dfll'UtlAC o poqlvol
d=tro do pc>GLO de ru da Juei e d -...u. i<!.ud ~:::i•i e peda,c6 ',: , nJo b.t dCI.~. , como o
O!UlBIC'O hff••• ua.mluado a qim,tb • o,nra hu, •·era todo o riffll~ da ri • IOCiAlque ,e alterava O.Oll lodi
Os povo. ..,.. Ylda dlJpcna e oõm.o,k -~" "' d d oa, q a o íor;ados • JTII~ o:0<1U11tnç!o
e • acdeatarlcdade • uta". O• padres, - co=lui Ga.aa.,-o P:anu q c,o,uiilua, por 1....,, deh,ib-~ •
illflll!Dcia -. foram ..,i, bte lllpcctD. "p= ageo.ies .. "'P= d ra,;b de .,. ruo VOI". (C.••
.r radtJ o .. n,raJa, 1,• cdlçb, 1016, ~ 76-17), O próprio p., SHAP Latn. d Comp obi de Jesu1 e
..,.. hll • .or lhum, lllo dcilll de r«onhectt .., menos em snnc leilrim dane d.,..a "'1tic'■, quaodo ,nna
que "01 lndiot, acoo1wnado. • wn• vida d.e di,pcAã-, pd t!lva,, e r mtbm 110 co~ de lpb'to da po-
voa~ De vu em quando, eram v1t:hn,.,,dn impalodirnio, d boxl~ e de outr I epl emt .. ••. {Op, eit., pàJ. 20).
• podc-x aprecw • lniclatin dm jesu.itas ainda. w'> outro prl1m , 11to l, p<"lm cíc.lt.OIqo~ produdram DO
podiam pn,dozir, w M1totld01, !slCS IÜdCl!1Jl"ºtos formado, como v hddro, qUi 1<>1,ta11 m•IJ peri1tos01 10
Ol'llangmo o cio , qu• b • or 1nln~ g.1~ fo:~ d"v• a d\vh!JI~ m:iltlpl d J p ,.,. t.oGdi ■ a rcmu,r quaoe
•utllnom enQ J"OYnac ■ m«india.o. ~ a atitude doo Juu!lu co ':r ll ,: ~• ao lndln na c11plar çlo
i.ndu.triru ílc-arll, cvc o Pc. S a.u-n,, 1.'llT&, "r.a '1irt6.-í1 da '1um ■nhàd• coino ma da mp )> nu,
pur • a Cavar .S. Ubcrda11c bWl>ll.U", • m.edidl<d:tn sldcam.eotft, p~!lc, 1cl<.::1 , llli pan dcfcaa d Hberda-
dc do tn.d.io.eooutituiu a11ttt um omtkul,,3 à mÍSt'Jill. de r t e l ~IICO tt ,:lo d~ cultu....,, e uma ameaça à
a unid, r IOCI.IJ,IID 1ica ~ cultural. cm í0n11~ç~o e a q o, Jc,111l1.Uprataram , de prlmtir•
ardem, em tao outra, niciatóvas. ~lnlllo e que p dr "'" 1, <n, a• ~u OfT nil'&IIU com o fim
np,euo de tivlJ' ndi , atli,:iam, tmnb~m, aio.:1• qu ••m vl ,,1 , o ol:t;ctl,ro d~, a pri.lldplD, ncu o.
etêco. • cllcp.r d di:m'l>i~ total ~ obn. de ea ;h d flldlOI L,111. r,■adCI ldda1.
O SENTIDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL 3ll

como os principais r sponsáveis. A decadência do reino chegara, de fato, a


tal ponto que, no t temunho de VER.NEY, alguns portuguêscs "mais adver
tidos que saíram de Portugal", quando se achavam em pafs es gciro, pa-
recia-lhes estar em um mundo novo , e acaso tinham juízo, não deixavam de
mudar de opinião. "D. Luí DA CUNHA que passou por êsses lugares com louvor,
e depoi de longos minist rios se acha hcje embaixador da França, di e a um
amigo meu (escreve Luis ANTômo VERNBY, em 1746) que, quando sa1ra de
Portugal e ouvira falar outra gen e, o maior trabalho que tivera, fõra procurar
esquecer-se de tudo o que tinha aprendido em Portugal, para poder en ender
as coisas bem e falar com propósito". As novas concepções filosóficas e cien-
t!ficas que já se difundiam por quase tôda a Europa e iam ganhando pouco a
pouco os melhores eapfritos portuguêses, traduziram-se desde D, JoÃo V em
divenat tentativas de rcformas de estudos; e os novos ideais e tipo peda,g6gicos
que se opunham aos da escola jesuítica, ameaçando destroná-Ja, tomaram
exprca!ião vigorosa nas 16 cartas do Verdadeiro método de estudar, de Lufs
VJtRNEY, que, publicado em 1746, teve a maior repercussão e passou a ser con-
siderado, sob vários aspectos, "a maior obra de pensamento que se publicou
cm Portugal". Tõdas essas críticas assestadas contra a pedagogia autoritária
dos jesuf tas encontraram um meio favorável no reino e nos países cm que atea
exerceram uma ação prep:,nderante, e cujo atraso intelectual e empobreci-
mento econõmico, produzido certamente por um complexo de causas e, entre
estas, o fanatismo religioso, as perseguições do Santo Oficio,21 eram lançado,
à conta dos religiosos que tiveram a direção exclusiva do caráter e educação
nacionais. A tempestade armada pelas lutas políticas e religiosas e que vâriat
dzea pareceu desvanecer- e, detida por tanto tempo nos horizontes ia final-
mente estalar. O Marqu!s de POMBAL, em 1759, expulsa os jcsuftas do reino
e dos aeus domínios, inaugurando com a sua política radical a série de medidal
semelhantes, tomadas pela França (1763), Espanha, Nápol e Sicnia (1767)
e por outros governos, e que culminaram, em 1773, na total supressão da Com-
panhia de Jesus pelo Papa CLEMENTE XIV, - centro de converg6ncia dos
clamorca que subiam de todos os países. Assim terminou, no perlodo colonial,
com a expulsão da Companhia, a obra dêsses missionários que, cm mais de doi1
tléculos, educaram • mocidade brasileira e tão eficazmente auxiliaram oa por•
tuguêses a, colonizar o Brasil, amaciando a aspereza dos costumea de um
~oca de violências e de rapinas, sopitando as discórdias entre ca&a9 grandes,
coarctando os abusos dos governos, retemperando a fé, avivando a caridade,
apertando os freios da reUgião e contribuindo para implantar a. ordem e a dis-
ciplina onde tudo conspirava para enraizar a anarquia, filha de ódios civis e
das lutas de classes e de raças. A obra civilizadora dêsses homens que surgiram
do mar, nas caravelas, p ra se espalharem pelo litoral e, ao longe, pelos sertõet,
toca, de fa o, ao sobrenatural, para os civilizados anêmicos que nós somo ,
amigos de prazeres. O ardor apostólico, o desprêzo da morte, a mobilidade
_;._
312 ________
_ A CULTURA BRASILEIRA

invcrosstmil em todoG os terrencs e asua capacidade de organização e disciplina


não se podem medir, na sua grandeza, senão pela serenidade e resignação, com
que abandonam os seus colégios e partem para o cxllio, silenciosos como sol-
dados que dobram suas tendas ...
Em 1759, com a expulsão dos jesuítas, o que sofreu o Brasil não foi uma
reforma de ensino, mas a destruição pura e simples de todo o sistema colonial
do ensino jesuítico. Não foi um sistema ou tipo pedagógico que se transformou
ou se substimiu por outro, mas uma organização escolar que se extinguiu sem
que essa destruição fôsse acompanhada de medidas imediatas, bastante efi-
cazes para lhe atenuar os efeitos ou reduzir a sua extensão. Quando o decreto
do Marquês de POMBAL dispersou os padres da Companhia, expulsando-os da
Colônia e confiscando-lhes os bens, fecharam-se de um momento para outro
todos os seus colêgios1 de que não ficaram senão os edificios, e se desconjuntou,
desmoronando-se completamente, o aparelhamento de educação, montado e
dirigido pelos jesuítas no território brasileiro. Para se avaliar a profundidade
desse ,golpe para ·Portugal e especialmen'te para o Brasil, bastará lembrar ainda
uma vez que, no momento de sua expulsão, possuíam os jesu[tas s6 no Reino
24 colégios, além de 17 casas de .resiàência, e na Colônia, 25 residências, 36
missões e 17 colêgios e seminários, sem contar os seminários menores e as es-
colas de ler e escrever, instaladas êrn quase tôdas as aldeias e povoações onde
existiam casas da Companhia. Nessa paisagem escolar, uniforme e sem relêvo,
não se encontravam fora do domínio espiritual dos jesuítas senão a escola de
arte e edificações militares, criada na Bahia cm 1699, - talvez a primeira ins-
tituição leiga de ensino no Brasil, wna aula de artilharia criada em 1738, no
Rio de Janeiro, além dos seminários de São José e de São Pedro, estabelecidos
em 1739, na mesma cidade. Podia-se acrescentar o seminário episcopal do
Parà que foi fundado pe!o bispo D. Frei MIGUEL DE BULHÕES, mas cuja direção
fõra confiada aos jesuitas. A não serem, portanto, os estudos elementares
de arte militar, dois ou tr,ês seminários, algumas aulas de clérigos seculares
e outras, de filosofia, em conventos de carmelitas e franciscanos, ô ensino no
Brasil at~ 1759 se concentrava quase todo nas mãos dos padres da Companhia
cujo sistema de organização escolar era o único existente no pa1s. A educação
da mocidade reinol e colonial, monopolizada pelos padres, orientava-se, sem
dúvida, para a uniformidade intelectual; os quadros do seu ensino, dogmático
e abstrato, não apresentavam plasticidade para se ajustarem às necessidades
novasj os métodos, autoritários e conservadores até a rotina; e, além de não
incluir o ensino das ciências, êsse plano de ectudos, excessivamente literários
e retóricos, não abria lug,ar para as líuguas modernas, conservando nas elites
uma tal ignorância sôbre essas línguas que de maravilha se encontraria, na
Colónia, um brasileiro que soubesse francês. . . Estas, do ponto de vista pe-
dagógico, as principais acusações que, no Reino, levantaram contra os jesuítas
os seus adversários. Da extensão que ganhou o tupi, como ltngua geral, a
ponto de ser utilizada até nos púlpitos, já não se podia, nessa altura, acusá-los:
já em 1727, por uma provisão datada dêstc ano, o govémo da Metrópole, alar-
medo com o abandono do português pelos próprios portugueses, proscrevera
expressamente o tupi, proibindo o uso da língua brasileira; e, se êsses religiosos
contribulram, de fato, para o estudo e o empr!go do tupi, como instrumento
de catequese, não ro nunca pretenderam eliminar do Brasil a Uogua portu-
guêsa, como foram antes, em todo o período coloniaJ, os seus mestres incom-
pará.veis. Mas, como quer que seja, até 1759, a instrução se desenvolvia desde
a segunda metade do século XVI, em progressos constantes, dentro de pontos
de vista e métodos, "perfeitamente adequ:ldos ao alvo a que apontavam os
jesuítas", como escreve JOSÉ VER.ÍSSJ:'4O. As escolas e colégios eram cada vez
mais numerosos: sua dotação e seus recursos cresciam de dia para dia; seu pro-
grama, ainda que já antiquado, par& o Reino e para a Colônia, a opiruão o tir.ha
O SENTIDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL 313

por saficiente· e seus mestres, hábeis e abalizados, - iniciadores da educação


no Brasil, gozavam, na maior parte, da estima pública na socicd de colonial.
Em lugar de desenvolver esse organismo, de enriquecer, alargar e .reformar
esse sistema, o Marquês de POMBAL o eliminou e, uma vez compl ada a sua
destruição, esperou treze anos para começar a reconstruir, no periodo de um
govbno, o que os jcsuf a conseguiram cm dois séculos, com d notável obra
de penetração, evangelizadora e educadora. com que envolveram, num mo i-
mento de tenazes, odo o litoral, do sul ao norte, e alargaram as fronteiras
pi.rituais na medida em que os ertanistas e bandeirantes se afundavam nos
sertões, dilatando as fronteiras geográficas do país.
Maa, se o poderoso ministro de D. JosÉ I destruiu, nem êle nem os go-
vernos portuguêsca que lhe sucederam ~ouberam ou puderam restaurar. Onde
havia uma obra de organização escolar, lenta e solidamente edificada através
de dois séculos, tinha êle de levantar outra, num imenso ·esfôrço de reestrutu-
ração reet>meçando pelos próprios fundamentos. Não foi o que f!z o ministro,
na reforma de estudos empreendida, depois que atingiu o objetivo fundamental
de emancipar o ensino público da influência pedagógica dos jesuítas. O que
nos veio, não foram propriamente reformas (nem era poss[vel exigir de golpe
reformas que só longamente se podiam realizar), mas uma série incoerente de
medidas tardia! e fragmentárias, com que em 1759 e 1772 o govlmo da Me-
tr6pole ee p6s a talhar, na massa inerte da sociedade colonial, uma obra que
desse a ilu o de 9ubstituir o organismo desmantelado. A expulsão doa jc-
tuítas, seguida apenas de resoluções {alvarâ de 28 de junho de 1759) tendentes
a substituir aulas e elas que foram suprimidas, abrira uma brecha - o pro-
funda quer na obra da missão catequista quer na educação da mocidade co-
lonial, que nenhuma dessas medidas pôde depois repará-la. A instituição daa
aulas de gramática latina, de grego e de retórica, e a aiação, pelo mesmo alvará
de 1759, do cargo de 'di.retor de estudos'', com que se esboçou em Portugal
um 6rg o dministr: tivo de orientação e fiscalização do ensino, cs avam, de
fato, longe de dar solução aos problemas estabelecidos pela expulsão dos padres
da Companhia, mesmo na hipótese que não se verificou, de se criarem tanta
aulas de tõdas aquela, disciplinas quantos os colégios extintos no reino e nos
aeus domínios. Com cassa medidas de emergência que o alvará batizou de
"reformas", visava El-rei 'não s6 reparar os mesmos estudos (os de letras hu-
manas) para qu não acabassem de cair na total ruína a que estavam próximos.
mas ainda restituir-lhes aqu~e ante.cedente Justre que fêz doe portuguê ea tão
conhecidos na República das letras (sic), antes que os ditos religiosos se intro-
metessem a ensinâ-lo , com os sinistros intentos e infelizes sucessos". S6 em
1772, porém, isto é, treze anos depois da expulsão da Companhia, e dêsse al-
vará com que se pretendeu reorganizar os estudos de humanidades1 6 que uma
ordem régia mandou estabelecer essas aulas, de primeiras letras, de gramática,
de latim e de grego, no Rio de Janeiro e nas principais cidades das capitanias.
Foi nesse mem,o ano que, pela ordenação de 10 de novembro de 1772, se ins-
tituiu o "subsidio literário", - imposto aia.do especialmente para manu-
tenção do ensino primário médio e que, mandado cobrar no Brasil no ano se-
guinte, nunca chegou a colh!r pa.ra a educação, em Portugal e na Colônia, o
recunos n ãrios. Mais tarde, em 1174, inauguram-se uma aula r~gia de
latim, cm S o João dei-Rei, Minas Gerais, e uma de filosofia oo Rfo de Ja-
neiro onde e instalam, dois anos depois. aulas de grego, de hebraico, de filosofia
e de teologia, por iniciativa dos frades franciscanos; é. criada, nes a mesma ci•
dade, em 1783, pelo Vice-rei Luís DE VASCONCBLOS, uma aula de ret6rica e
poética. cm favor do poe a SILVA ALVARENGA; abrem-se uma aul de desenho
e de figura cm 1800 e aulas de ensino elementar, aritmética, geometria, francês
314 A CULTURA BRAS LEIRA

e desenho, para a instrução de militares, seguindo- e outras iniciativas dessa


ordem, nas principais cidades da orla marítima e em algumas, raras, do pla-
nal o e do sertão. Embora determinada pelo alvará de 1759 que criou cm
Portugal uma diretoria geral de estudos, a fiscalização da, aulas e escolas régias
não começou a ser feita regularmente no Brasil senao a partir de 1799, jã no
crepúsculo do século XVIII, quando o govêmo portugu atribwu ao Vice-rei
a inspeção geral da Colônia, com o direito de nomear anualmente um pro!i sor
para visitar as aulas e informar-lhe sôbre o estado da instrução. Suprimida,
pois, e Companhia e aíastada do ensino, no Reino e cus domínios, o Estado
qu não intervinha na gestão das escolas elem ntares e secundãrias, tomou a
seu cargo, por iniciativa de POMBAL, a função educativa que passou a exercer,
em colaboração com a Igreja, aventurando-se a um largo plano de oficialização
do ensino. A paisagem escolar adquiriu, sem dúvida, maior variedade de as-
pectos, com a introdução do ensino dQ grego e do hebraico, da,s línguas moderoe,s,
como o francês e o inglês e, sobretudo, das ciências matemáticas, físicas e na•
turais, na Universidade de Coimbra que passou em 1772 por uma profunda
transformação, - a mais importante das reformas de estudos universitãrios
em Portugal. Mas o plano geral da educação jâ não apresentava a mínima
coesao: em lugar dêsse enorme bloco homogêneo que era a organização escolar
dos padres da Companhia, - associação de tamanha unid de de vistas dire~
tivas, instituiu o gov~o o regime de aulas régias, - aulas de disciplinas iso-
ladas -, que na Colónia, s.ó mais tarde, cm 1776, com os frades franciscanos.,
" e or anizaram cm escolas com cursos graduado e sis cmatizados".
Se. portanto, com a reforma pombalina, não houve na Colónia uma "fr~-
mentação essencial de cultura", porque a união da lgreja e do Es do e a própria
tradição cultural ainda mantinham resistente e extremamente viva a unidade,
de fundamcnto religioso e humanístico, E certo que, do ponto de vista formal,
d organização, à ''unidade de sistema" sucedeu a fragmentação na pluralidade
de aulas isoladas e dispcrsas. 21 Essa fragmentação de estrutura ornou-se
tanto mais grave quanto o govêrno reformador não soube ou nao põde recrutar
os mestres de que tinha necessidade, assegurar-lhe uma situação condigna, nem
submc e-los a uma disciplina capaz de introduzir no pessoal doe ate a unidade
neces âria de vistas e de esforços. A educação que era dada quase e:xclusiva-
me.nte em escolas confessionais, - os colégios de padres, passou a 11er minis-
trada nas aulas e escolas régias por mestres nomeados, de ac6rdo com os bispos,
e pelo padres-mestres e capelães de engenho, ' 1que se tomaram, depois da aafda
dos jesuítas, os principais responsáveis pela educação dos meninos brasileiros".
Os mestres leigos dessas aulas e escolas, que nao chegaram a assimilar o espf•
rito da reforma, pombalina, mQStravam, pelo geral, segundo testemu.nboa da

:l Na opl de Mf.LTl'llf Romu-r.~, ....a Ct.g:znc:atatlo ai ai.. ••~


l rcrco:, ftnmt ~ uillu1do poder~1tl<e t gpc,li mo francb, ~• eri..
por Polol.U. que a crw im-primir ª" col ·o d fim flloclado IIOano do: 1761;
e um modo c,qativo, pcl'I allS!ncia d qualquer outro priac(plo uni dor que o
uc:,,,ç:4ocomparada. 3,• parte. O Bruil. Bi ~ e dout,ina1. Hill .,..i. 2
r..., • illflwr. ..._ Colilnia, .. ~de..dat do cJ ' e
,.. 1t1A f&ça unif"li:adont, o pri11dpÜI da rdi •
lo plano de cstúd.c,o do i:io d-'lS N..tirc,, m 17&1 •• 1
bnl, 96mente ooo fiasdo~XJX. istu 6. quv oi.a o doa jcwftu,
ColOo , e er«ndo influenáa vd na ~ .nl •nd l'lndadO
COV1'11'KO.Par todo &se t=.po, atf O. JoXo VJ, • pio
uniflcador • w:ú e n,lidOM. mu • pr6pria_ b-&dição do ada
- ICUll valon:., e Ku• m&ados, por, tM. • ~• ao Olho •
,:1)1 m moniaticas. Nio h<Juvc. portanto, uma "íf:&llllt:ll • -4•
6 11<>b • o d. ullidadc religiosa. jã pela trad • ta- ·oe, da
li pela ~eia da c,oncep;ã:, med:ieval de • na lctnU, no o& do•
prb'o ·pdQOr to. e ao nlc,r prepondenn,te que d,,.va, no entino, -6l:lre AI •q I A aq içJ<>
li que oe ■lunia d0110llli1111m Weito11~aa.unA, de 1ldl8 "vutll d • conjunto do a1W>do".
O SENTIDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL SlS

época, não s6 uma êssa ignorância das matérias que ensinavam, mas uma
ausência absoluta de senso pedagógico. Embora menos rígida e disciplinadora
do que a dos jesuftas, de cujas tradições de ensino foram como que os deposi-
tários, a a •vidade edag6gica dos padres e capelães de engenho orientada pelos
mesmos objetivo , d empenhou um papel importante na conservação da cul-
tura brasilcir no sentido europeu e de sua QD.idade no sentido nacional 8
GILBERTO FRRYREquem observa e sublinha essa influencia dos cap -es e
tios-padres que, de colaboradora da ação dos jesuítas, se tornou principal ou
preponderante depois da expulsão dêsse~ religiosos. "O número de homens
ilustres da época colonial e dos primeiros anos do Império, que receberam sua
educação primária e secundária nos colégios de padres, sobrepuja, escreve GIL-
BERTO FREYRE, o dos educados em casa com capelães e tio -padres. Capelães
e tios-padres que, subordinados mais ao pater-faaulias que à Igreja, não
deixavam, entretanto, de representar sob a telha-vã dos ca!arões patriarcais,
aJguma coisa de sutilmente urbano, eclesiástico e universal, - a Igreja, o latim,
os clãssicos, a Europa, o sentido de outra :vida, àlém da dominada pelo olhar
dos senhores, do alto das casas grandes". Educados com mestres leigos ou
clérigos seculares, nas aulas e escolas régias ou com os capelães em cas.a, nos
aigenhos da mata nas fazendas ou nos sobrados da burguesia 1'dondc já ra-
pazotes seguiam quase diretamente para Coimbra" ou para outras universi-
dades, os rapazes brasileiros continuavam a receber uma instrução quas sempre
inferior, quanto ao nível, mas certamente semelhante, nos seus fins e nos seu,
métodos, à que outrora lhes davam os padres jesuítas nos seus famoaoa colégios.
Se à instrução cm casa, para as familias abastadas, e a essas aulas régia • muito
pouco freqüentadas se acrescentarem a atividade desenvolvida pelas ord
monásticas dos carmelita , beneditinos e franciscanos que abriram novas aulas
an seus conventos e mosteiros para estudantes seculares, e o en ino preposto
à formaç.ào sacerdotal, ministrado nos seminários de São José.e de São Joaquim,
no Rio de Janeiro, no de Pernambuco, criado em 1798, e no do Maranhão, fun-
dado em 1805, pouco faltará para completar o quadro das atividades e instituições
escólares, no último per!odo colonial, desde a expulsão dos jesuítas att a vind
de D. joÃO VI para o Brasil. Mas, sôbre tôda essa instrução, inorganizada
._fragmentária, cujo nível se rebaixou senslvelmente, mas que permaneceu fiel
i tradição da pedagogia jesuitica e aos seus valores essenciais, mal se projeta
na Colônia a sombra do remodelador português, a que não se pode negar nem
largµe.za de vistas nem fidelidade aos propósitos que orientaram os seus planos
de reformas em que tão poderosamente influíram as tendências do enciclope-
dismo francas. O novo espfrito filosófico e científico que inspirou a reorgani-
dçâo dos estudos superior em Coimbra, aparece, nas aulas e nos colégios
de religi0&0s,como uma solução ainda bem fraca e singularmente neutralizada
quer pela ignorância dos novos mestres, quer pelos resíduos importantes da
velha cultura disseminada pelos jesuítas.
A reforma pombalina planejada para o Reino, não só golpeou profun-
damente, oa Col nia o ensino básico geral, pulverizando-o nas aulas de dis-
ciplinas isol das (aulas r •as), sem qualquer plano sistemático de estudos.
como ainda cortou, na ua evolução pedagógica normal, o desenvolvimento do
ensino para o planos superiores. Tanto ao ensino médio que dissolveu no
regime de "aulas' , como ao ensin.o superior que se achava em e&bõço no curso
de artes do plano jesuítico, subtrairam-se tôdas as possibilidades de dcsenvol•
vimento, com a fal .a de recursos e dos órgãos necessários a assegurar a conti-
nuidade da ação docente e os seus progressos. A unidade fundamen 1 de pen-
samento que dava Companhia e aos seus órgãos de ação o poder e a prepon-
!16 CULTURA BRASILEIRA

d ãncia que teve na vida espi.-itual do povo brasileiro como por tôda parte.
transmitia- e, através de tua organização cerrada e admir velmcntc hierar-
quizada, que facilitava o enquadramento de todos os seu recursos de ação,
favorecendo a um tempo a unidade e a autonomia de seus col~os. N reforma
pombalina, ao contrário, além do regime de aula , qu enfraquecia odos os
esforços de organização, a distância entre "a diretoria aal de do ' (no
Brasil, o próprio Vice-rei) e os mestres, não congr ad~ em colégios as dis-
perso , sem órgao. intermediários permanentes, nem permitia qualquer ins-
peção eficaz nem criava um ambiente favorável a iniciati as de vulto. Tudo,
atE: os detalhes de programas e a escolha de livro , tinha de vir de cima e de
longe, do poder supremo do Reino, como se êste tivesse sido organizado para
instalar a rotina, par-alisar as iniciativas individuais e estimular, em vez de
absorve-los, os organismos pa:rasitãrios que costumam desenvolver-se à sombra
de governos distantes, naturalmente lentos na sua intervenção. Esta foi uma
das rs,zões pelas quais a ação reccmstrutora de POMBAL não atingiu senão de
raspão vida escolar da Colônia. Do corpo de reformas empreendidas pelo
ministro de D. JOSÉ, a mais importante foi sem dúvida, a dos estudos univer~
sitá ·os, onde mais fortemente se fêz sentir o pulso vigoroso do remodelador
que, reformando as escolas menores (alvará de 6 de novembro de 1772) e in!I•
titui.ndo os fundos escolares (alvarâ de 10 de novembro de 1772) acabou por
atingir em cheio a Universidade de Coimbra, dando-th novos estatutos e
abrindo, com a criação das Faculdades de Filosofia de Matemática, novo
horizont à cultura nacional e ao estuoo das ciblci s de observação. Mas
nenhuma instituição de ensino superior criou o gov~o português no Brasil.
elbança do Real Colêgio dos Nobres, fundado em Portugal em 1761 ou
nos moldes das faculdades. novas ou antigas, de imbra. A única tentativa
inter san e a ês3erespeito foi o curso de estudo literãrios e teológicos, criado
pelos frades franciscanos no Rio de Janeiro e organizado no mold da Fa-
culdade de Teologia, da Universidade reino}: pela sua organização e pelo seu
plano de estudos (grego, hebraico filosofia, bis 6ria eclesiástica, teologia dog-
mática, moral e exegética), êsse curso que foi aprovado pelo alvará de 11 de
julho de 1776, destinava-se antes à preparação pecial e profissional de sacer-
dotes, e não se pode, pori~so, assinalar, segundo p nsa Joslf VERÍSSIMO, "como
a primeira e única te11tativa feita no Brasil para a instituição de um curso uni-
vcrsitlirio de estudos superiores e desinteressados". Da reforma da Universi.
dade de Coimbra 2' empreendida por POMBAL, o Brasil não colheu senão os 'be~
neffdos que deviam result~r para os jovens brasileiros que a &se tempo foram

Z4 A Universidade de Coimi,,-a que teve- papel t.lo imporqote na formaçlo d11 elita e oa al.,..o da
mentalidade bra lltlr•, no pe,,lodo C'Oloaial,at~ o primeiro q1&artcldo ~cu XlX, 6 aind hoj • Onk• 1Jnlvcroi•
dado e tente em POl'NJ;al. Fundado em Li,st:,.,. • L• de marco de 1~9 . por D. DaNn trarurorlda pdo m~mo
Juvtmo do rd•pocta para Coimbra, ""' 1308, n,g,-enou a LI.o~ em
an l3S4 e de,,J~ ■irwa ms ,•cz cm 1377 para a apitai, onde ■ eco
•• Kl' r tu! • •º velno burgo
• ;ra e reforra de D, Jo.lo Ut
,;iu:~ cm 1537 • ost lou ~llrutival'.Qc:nte cm Coimbra, tnn~omul>d tro lot h:ctwll d n■çl>. A <"e•
ronn■ J na e a fwi o do C~Et;io dilS Arte>, c,úa dl~ foi • ,A,111:1d os OollV&J dep '
., r■ m- 01000 01 C0UVZJA. "principal." .s,, Col~io de s oiv ldda
de Pari e aw antiao rei-. abritnm o perlodo ID3ÍI • i., tarde,
cm 1555, o Col io • Artes. ao qWll EI-ro COIICedcta• •
ea, Coi.mbn, foi e ~ lo di~ dos jcsufta! q~. ao
ua de ~- Ã U<>i?erfflidc de
e Jurldical, tCOWÇJIe mcdlcina, que,
Com• mon.c dtO,Jolonl cm 1,S57,eotroaa=ivemdade
·pc,mba • c:onrb11tco com os je,ufta e 1
Ih ín 7-l 71l), de nws de d"'9 s«ul
• ilc:irot qoc, de.de •~ do .Eculo
pan aplicar o nw que DM Uz lo li
o o wúeo ceotro patuti,b de cultura
te • !P5ria.d.s n:otuura. d U
rql.lb V..itnd~,~- a fa.K-m&is imp d . P,-
pomballDOI o I l'C01'1 IIÍ"'11lm, era ~ oov r, de Te!>loSI•, CltlOQ ,
dld.t:., ~o ldlld9 •• crie,am duu o,.Jtr,.., a de~ e• de Pllo■ :alla em q e cooq mo 1•11 lusar, a,
pl•a.o de !Ur.loa1m1v~tluios, "' matemática, (dlculo hlt~ o dllercnda!J, u cl!t1 1 ílako- tem uc• 1
O SENTIDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL 31'1

a Portugal completar os seus estudos. Formaram-se por essa ~a e já dentro


do novo regime estabelecido pelos estatutos pombalinos, o paulista FRANctsco
JOSÉ LACERDA & ALMEIDA que se bacharelou por volta de 1776, e foi geógrafo
notável· AzEREDO CoUTINBO, natural do Estado do Rio, fundador do Semi-
nário de OI nda que cursou na Universidade a Faculdade de Direi o Canônico
(1775-1780); o baiano ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA (1756-1815), mé-
dico e naturalista consumado, JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SrLVAque.
além de cursar a Faculdade de Leis, a que os pais o destinavam, Crcqilentou
a de Filosofia, tendo-se bacharelado cm ambas as escolas. Na Uoiv rsidade de
Coimbra em que estudou (1784-90) e de que veio a ser, mais tarde, professor
da cadeira de metalurgia, adquiriu JosÉ BONIFÁCIO o gôs o pelas ciências de
observação e pelos conhecimentos sôbre a natureza que, aperfeieoado em
nagens de estudo pelos principais centros científicos da Europa, lhe permi-
tiram tomar-se u.m grande mineralogista e um dos mais cultos brasil iras de
11eutempo. A história de nos'3a cultura cientifica se pode dizer, pois, que teve
'5Uasorigens na obra realizada pelo Marquês de POMBAL na Universidade de
Coimbra que, com oa novos estatutos, se transformou num centro de studos
científicos, colhendo, nesse arranco para a cultura moderna, uma plêiade de
jovens brasileiros e treinando-os nos novos métodos de <:$tudos e de inv ti-
gação.
As reformas de POMBAL, como se vê, atingiram o Brasil sobretudo po
intcnnédio da Universidade de Coimbra, que continuou a ser a um empo o
centro criador e d.is ibutivo para o Reino e seus domínios, mas jã num csptrito
novo, de que as faculdades de filosofia e de matemãtica se ornaram os focos
de irradiação. Se a ação distante da Universidade, reorganizada segundo novas
tend&icias, não foi suficien e, cm extensao e em profundidade, par r uzir
preocupações dominant de no a educação literária, serviu, em dúvida, para
infiltrar na elite colonial a corrente de espírito moderno e inaugurar, com al-
gumas figuras de escol, a cultura científica do Brasil. A escassez de matrícula
(de que jã se queixava o Marquês de POMBAL,em 1773) nas eções de ci&icias
natura.is e filosóficas, e no, cursos que mais tarde (1791) se criaram na Facul-
dade de Filosofia (botânica e agricultura, zoologia e mineralogia, flsica, quimice
e metalurgia), e as próprias necessidades técnicas, do Reino e da Colônia, Je--
. varam o governo portugues a atrair para a Universidade os estudantes brasi-
leiros. Em 1800, e crcve JosÉ VERfSSIMO, ''mandou o cei ao governador do
Maranhão que designasse quatro estudantes para receberem instrução no Reino,
fazendo eeua cursos em Coimbra, dois, o de matemãticas, para depois serem
empregados como hidráulicos, agrimensores e contadores, um, o de medicina
e outro, o de cirurgia. Se além dos quatro, mais algum o merecesse pela sue
capacidade, podiam as câmaras mandã-lo, lançando para êsse fim uma finta
especial". Excetuadas essas iniciativas raras e sem influências sõbrc a men •
lidade colonial, todo o período de quase meio século que se estende da expulsão
dos jesuítas (1759) à transferência da cõrte portuguesa para o Brasil, é de de-
cadência e de transição. No fundo e através das forma mais variadas da
paisagem escolar, recorta-se ainda rutidamente, com seus traços característicos,
a tradição pedagógica e cultural deixada pelos jesuítas e continuada pel0$
padres-mestres, e resultante de uma educação exclusivamen e li erária, ba-
seada no estudos de gramática retórica e latim e cm cujos planos não figu.

• Cll'perÚllmbll, • quJm ca • bgtdria naturtl. Na Univ<Nid c p.-o(11 e re<armw, d e


mwto ~o alvo doo a1:aq11 daqucl q11c ocaram • •o: ocla "um centro de doub'l..,.. i por •~
11tor.amn1te -••. rorm ram, oo primeiroe bruileir0t qa.• trowteram -tribuiçlo ■ i,r vc:1 à Nltura
cieflli(I~ ao 8tu1I. {Cfr. M.t1t10 Ba.utnlo <' M. LoPltl o• AL>am.t, Á Unw•r d■ d• de Co ..,i.,,.. Keb6ço
de ma . Por ord d ■ IJ .- da. U , 11137.
318 A CULTURA BRASILElRA

ravam nem as ciências natu«üs nem as línguas e literaturas modernas. Embora


parcelado e fragmentãrio, e rebaixado de nível, o ensino, mais variado nos seus
aspectos, orienta-se para os mesmos objetivos, religiosos e literários, e se rea-
liza com os mesmos métodos pedagógicos em que o apélo à autoridade e a áis-
ciplina estreita, concretizadas nas varas de marmelo e nas palmatórias de si-
cupira, tendem a abafar a originalidade, a iniciativa e a fôrça criadora indi-
vidual, para porem em seu lugar a submissão, o respeito à autoridade do mestre
e a escravização aos modelos antigos. Era essa aliás, tanto nos seus valores
como nos seus processos, a educação dominante em Portugal e quase por- tôda
.a Europa, onde começava a abalar-se ao assalto das novas idéias: o Brasil
colonial, educado pelos jesuítas, era uma das zonas na vasta extensão geográ-
fica dêsses tipo! de educação. Além. disso nenhum movimento de diferenciação
de valores. Os ideais de homem, que se transformam com as mudanças de
estrutura social e econômica, permaneciam os mesmos na sociedade colonial,
rude e escravocrata, que não tinha meios nem sentia a necessidade de uma
instrução mais ampla e diversificada, orientada para outras carreiras. Mas,
nessa atmosfera sombria em que o Seminârio de Olinda, fundado em 1798,
vai determinar uma inflexão brusca e transitória para o espírito moderno, mar-
cando o divisor das águas entre a pedagogia jesuítica e a orientação nova dos
modeladores dos estatutos pombalinos de 1772, já aparecem indícios claros da
época que se deve abrir no século XlX e em que se defrontam essas duas ten-
dências principais. Em lugar de um sistema únicc de ensino, a dualidade de
escolas, umas leigas, outras confessionafa, regidas tõdas, porém, pelo11mesmos
princtpios; em lugar de um ensino puramente literário, clássico, o desenvolvi-
mento do ensino científico que co.meça a fazer lentamente seus progre.ssos ao
lado da educação literária, preponderante em tôdas as escolas; em lugar da
exclusividade de ensino do latim e do português, a penetração progressiva das
línguas vivas e literaturas modernas (francesa e ingl~a); e, afinal, a ramifi-
cação de tendfocias que, se não chegam a determinar a ruptura de unidade de
pensamento, abrem o campo aos primeiros choques entre as idéias antigas,
corporificadas no ensino jesuítico, e a nova corrente de pensamento pedagó-
gico, iníluenciada pelas idéias dos enciclopedistas franceses, vitoriosas, depois
de 1789, na obra escolar da Revolução.

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O SENTIDO DA EDUCAÇÃO COLONIAL 319

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e mandadas publicar pelo Dr. J. J. SEABRA.. Carta oitava, pãp. 281-302. li:npren
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Nacional. V. P a:s, 633-673, 1914.
CAPÍTULO II

As origens das instituições escolares

A renovação da paisagem cultural do Brasil - As influências das idéias


dos enciclopedistas - AzE-REDO COUTll'mO e o Seminário de Olinda - A obra
de D. JOÃO Vl: o fundador de instituições - As primeiras escolas de ensino
superior profissional - A fundação dos cursos jur1dicos no primeiro Império -
O Ato A-::licional (1834) e a descentralização - Ausência de ensino básico
organizado e de ensino universitário geral - O Colégio Pedro II - A economia
patriarcal e o tipo correspondente de cultura - Educação para uma civ:i1ização
baseada na escravatura - A tendência exagerada para as carreiras liberais -
Predomínio da cultura de caráter profissional - A instrução popular e as
primeiras escolas normais - Ensino sécundário de tipo clássico - O cu.ltivo
quase exclusivo das belas-letras - Esplendor e decadência do ensino secundârio
particular - Os grandes educadores - A cooj)era~ão das ordem religiosas rta
educação secundária - A ação de D. PEDRO II - A irradiação das ~tas ins-
tituições de cultura - As reformas do Visconde do Rio BRANCO - A Escola
de Minas em Ouro Prêto - O parecer de Rut BA.IUIOSA, em 1882 - As ten-
dências do pensamento pedagógico - A última Fala do Trono - Fruto que
ainda não estava maduro ...

E NTRE a expulsão do~ jesuítas em 17?9 e a transp}ant~ção da cõrte po:•


tuguêsa para o Brasil em 1808, abnu-se um parentes1s de quase meto
sêculo, um largo hiatus que se caracteriza pela desorganização e deca-
g.ência do ensino colonial. Nenhuma organização institucional veio, de fatot
substituir a poderosa homogeneidade do sistema jesuítico, edificado em ·todo
o litoral latifundiário, com ramificações pelas matas e pelo planalto, e cujos
colégios e seminários foram, na Colônia, os grandes focos de irradiação de cul-
tura. Em -seu lugar, como vimos, o que surgiu, sob a pressão das cirew1stân-
cias, foram aulas isoladas de matérias, fragmentárias e dispersas, que mal che-
garam 'ã tomar o aspecto de ensino sistemático., em raros colégios religiows
estal:)elecidos em conventos. Mas, nem a partida, em massa, dos padres da
Companhia, nem as reformas pombalinas, de tardia repercussão na Colônia,
conseguiram quebrar a unidade social e cultural dada pela idéia religiosa e
mantida pela mesma concepção de vida e de cultura e pelo mesmo regime so-
cial e econômico. O tipo de ensino e de educação, adotado pelos jesuítas,-
sistema aliás útil às necessidades de seu -principal consumidor 1 a Igreja, e ou-
trora organizado por ela-, parecia satisfazer integralmente às exigências
elementares da sociedade daquele tempo, de estrutura agrícola e escravocrata,
em que o estudo, quando não era um luxo de espírito, para o grupo feudal e
aristocrático, não passava de um meio de classificação social para os mestiços

-21-
S22 A CULTURA BRASILEIR

e para a burgaesia mercantil das cidades. Mantendo-se quase exclusivamente


ecle,siâstico, todo êsse ensino tradicional que se transferira da maos dos jesuítas
para as dos padres secuJares e dos frades, franciscano e cannelita , - seus
naturais continuadores, como a porção mais I trada da sociedade colonial - 1
nao colhia nas suas malhas senão os estudan es ue vinham, na maior parte,
da elite da sociedade rural e burguesa, e poucos outros, recrutados na massa
de mestiços que gravitavam para as vilas e cidades. A aulas régias e as escolas1
ainda em estado embrionário, qÚe se instalaram no conv ntos, são orientadas
na m ma direção, segundo os mesmos método e com o mesmo regime de dis-
ciplina, sob as influências da Igreja e do feudalismo agrário; e, transmitindo
o que a alma coletiva ainda considera como sua h ança mais preciosa, repre-
sentam. robu tos instrumentos de unidade e de resis ência aos acontecimentos.
A scola, pois, ainda que não enquadrada na estrutura de qualquer sistema
de ensino, continua a viver, como a familia, sob a sua forma tradicional 1 e
manterá ainda por muito tempo o seu prestigio ao lado de outras formas de
educação, também de aclimatação européia, que se laboratn lentamente sob
influências estrangeiras. É sob a pressão dessas influências, - que não che-
garam até n6s sõmente por via de Portugal-, que começa a preces ar-se, nos
principio do século XIX, a renovação da paisagem cultural do Brasil, com
reflexo intermitentes nas institujções escolares. A importação das novas idéias
liberais e democráticas que já agitavam a atmo fera cultural no crepúsculo
do culo XVIII e teriam de exercer influência tão marcada no jôgo das fôrças
políticas, e fazia então através de livros que cons uiam penetrar no ambiente
colonial e sobretudo pelos moços vinõos de Edimburgo, Paris, Montpellier ou
acabados de sair da Universidade de Coimbra. já reformada por Po BAL, e que
ainda preferiam para os estudos de direito. Mas outros elementos mai cfi.
cazes do que essas fôrças individuais e isoladas, que se des cavam da aristo-
cracia in electual, deviam contribuir mais tarde para a propagação das novas
idéias estrangeiras e o estabelecimento dos primeiro choques, no terreno po-
lltico, entre a tradição e a nova corrente que foi encontrar nas doutrinas im-
portadas uma base ideológica para a independência e a organização nacional.
Es as idéias, de um colorido acentuadamente revolucionário, e apanhadas
sobretudo em seus aspectos sociais e poUticos, já se inham espnlhado em Por-
tugal sob as influências scicessivas da reforma ombalina (1772), da revolução
de 89 na França e, mais particularmente, da invasão francesa em 1807 que,
d organizando os quadros ti:adidonais, abriu ainda mais o caminho à sua
propagação. No Brasil, as teorias dos enciclopedistas s ·muladas pelo exemplo
recente da independência dos Estados Unido2 (1776), haviam exercido influência

1 i;llo ln• r.mm r«:lum.o,e, escr""c C,ó.prn,_ 110 D~ CICPUl)Clr a vi11acld■dc e a e,:.
panu,nel pll M,erunQI e !ll6Ínu AndaYL"tl ttua em e e de c:lnço anm; nll!I dnco ■ nm
•;ln r,,,n■s carrrua. Se pott,m iam !I igr~;; .,.., • ai um. tiam e m o rli:cr de cwte
vaod", c,om, • dirtteO? •~, d.as dim~. Poucm aprendiam a ler."(C.t.PlYnA.110aa Ainuru. C,,pítula.
do ,.;,i ' Páu, 21W-210}. N.,. col!;:j:,s de od,e.,.,n d baituua,mCSJUo
quando fi , tristes e ealatl-"O. O. ,. 11dru't e Slo Joaqw_m, no Ri:, ele
J tu,tro, l'lCll: d.aí o •~dn de '·carn • qu• "" com-d ■ era
mol 16,.l cm 1668, na sua~ ■o pi , visitando
r111 Co coléria fut>daiio pcb Pc Lu t ta 1111 o
mamo e: no r■ lf\MO c-!qi:, do ~ e do Cmp&io:
''oi 1 70, ....,..~ Be, nnm tod ~ ·ll'll••. li. Tl'IMi. 1.•
, • MDtl'O Vrlho. Sso Paul"- 19'-I , pl • da b11 ti-,
trubm a■ D'l~DOI ~- preu, IIJD"=tando, "º traje - precoecs'".
CJ1\l11Ctlltkam1enl'C bc•DnJt
A unlfonnldade do tn.jc, ■:ada que -=~•o e arinocn,ti<:Q. conu-
e m lat;a■, que, j6 cnm aclmjtid<J1, ~ di'.!tinç:ib, DOI ~o, " ue pareceia
,.,. sido bana eir ~ csçotu j.,...ll:ica.3", ji, desd o tá:ulo o ■!cul XIX,
na m or n!I u a0 llu rEv.iu como a~ «l!ti<K !,titios ou conr OIL•UTO f"Rn11a clt , rcpro-
du.clodo-a aa Rqia de 20 de novembro de 168fi em q an ndo qu M col iot d
rdld..- exel ou alo que,iam admitir O!J ;,an:IJ,o, drtenni:ia que , ada■ • ~ c, çl~f•IOI. "• !,itc:1
li , 1cralmentt1 16 1)elJl qualid-.de de J>'l'dos, porqu• "" ncol dt elt • devem comum • todo o 1!0"1'0
de p ou km aecçlo lll&uma". (Cl'T. Casa grandt! • ••n•ala, Rio, 11133,1>ilit•• 4-41,.,.42).
AS ORIGEN DAS INSTITUlÇÔES ESCOLARES 32

na conjuraçao mineira de 1789 que visava a emancipação nacional, sob um


governo de forma republicana e de que faziam parte, entre outros ÃI..v
MACIEL, de Vila Rica, que chegara em 1788 da Inglaterra, formado em ciertciaa
naturais e filoaóficas, e Do aos VmAL BARBOSA,vindo, neste mesmo ano,
da França, onde e formou cm medicina, e um dos estudantes brasilcir que
em Montpellier, em 1785, já nhavam com a nossa libertação. O poeta SlLVA
ALVARENGA, um dos conspiradores, e que estudou em Coimbra, em plena agi-
tação da reforma pombalina, chegara a publicar em Lisboa uma sátira aos
métodos de en i.no adotado na Universidade, antes da reforma de Po AL,
De volta ao Bra il, o poeta de Vila Rica que trouxera do novo ambiente uni-
versitário o interêsse pelas literaturas modernas e o gôsto pelas ci~cias físicas
e naturais, funda no Rio de Janeiro uma Sociedade Científica que, transfor-
mada em 1786 em uma soei dade literária, mas ainda com objetivos cientí-
ficos, foí mandada fechar pelo Conde de RESENDE sob pretexto ou por motivo
poUticos. Mas, 116com a introdução das lojas maçônicas que, transplantadas
de Portugal, no século XIX, se tornaram •O centro mais importante de propa-
ganda das novas tendências dominantes na Europa e, especialmente na Franç.o.,
~ que tomaram corpo e ganharam extensão as teorias dos enciclopedistas, na
medida em que inspiraram a ideologia da Revolução francesa. O frades,
porém, como escreve PEDRO CALMON, "não perdem o seu lugar na dire ão da
sociedade, com o de embrutecimento dos núcl~os litorâneos. Adquirem maior
importância porque de êm a ilustração universal. São mais fracas as suas
virtudes, mas a sua letras são mais influentes. No inter e de combater
a filosofia francesa, estudam-na e muitos a divulgam. Tomam- tolerant
e protetores dos estrangeiros. . . A id~a dissimula-se e insinua- e, mercê
da sociedade secreta, cujo elementos mais prestadios pertencem ao clero na-
cional '. 2 E, concluindo, num balanço à colaboração dos padres nos movi-
mentos polttico.s, sob a inspiração das novas tendências liberais e democrãtica ,
lembra PEDRO CALfON que a Inconfidência mineira fôra uma conspiração
de padres e poeta ; a revolução pernambucana, de 1817. um movim to de
eclesíástico "pedreiros livres' . A agitação da independência teve-os na
vanguarda; a revolução de 1824 ainda foi feita por éles". Mas, se as teorias
do encic1opedis as chegaram a constituir, no Brasil, a ideologia d es movi-
mentos políticos ou contribuíram ao menos para 1hes dar a tonalidad da época,
não se desenvolveram bastante pa.i:a romperem a unidade da cultura ou co•
lorirem fortemente o ensino com as suas tendênças, cuja expressão culminante,
no domínio escolar, foi o Seminãrio de Olinda, criado em 1798 e fundado em
1800 pelo bispo AzE:REDO COUTINHO. Do ponto de vista cultural, absorvendo
tantas substâncias estrangeiras, to~am-se os letrados e os clérigos mais eu-
ropeus, mantendo-se, no entanto, fiéis à tradição universalista e literária da
cultura colonial bastante enraizada para resistir às novas ioíluência . Sob
o ponto de vista pedagógico, essas tendências, com que apenas se esboçou um
movimento de agitação subterrânea, não foram muito além de três fatos ig-
nifica ·vos, mas isolados: a estrutura do seminário de AZEREDO Cou rNHo,a
t
1 ~110 CU.Xoi • Hl t61J. -1•1 do Bra.11. t.• tamo, São Paulo, 1937, 9 214.
a AnuDo CO\l'ffKRO (J Joe,quim da Ôlllha de , fiJlu> de wn enbor de ienb.oe,.._ cm 1742
no d trito de Cami- 'ta , hoJ ddule de Campm. no Etàdo do Rio d Janeiro. fP o. pri.
mc:iroe d01f oo de I m, pm tka, r t6rica e m fia no Ric, de Janeiro, par D0Cll! tratlllfcrlra • íacnll :
e, tendo perdido o pai, em 17 , enu-ou, com.o primoienlto. na !>OS!'C do ~ad<>. K111,1775, J6 -•
e cr de o. partiu pVa Portupl, • fim de eurur • Faculdade de CA da Uol•aàdad de Coh1:1bn,
ráarmeda ha.vta pouco pelo u d Po,oui.. &a ainda reitor da U~e o. Flu,tCQCO DS Lac01
(de Faria P a Cou' o), ~ llOIIIUOllo p,,ra c:ar~ em. 1770 e .,.... o rri onnador da
tJnlvcnicl..sc, em 1772, e q" com \rmlo vuu vclbo. Az1ltlmO Cotn:ffl:ko (Dr. Joio Pereira Ramm}, - pri.D-
àpal roaperador da reforma pamMllna -, íol doo que mti1 ativamen~ tnba1hanu:n tia ttdaçlo do. ftO"IOI •
tatutot. Na Un'venldad.-. rc,raw-ada pelo MMQu.e.ck P<NB.\L, AzmisDO CoUT111RO , cm claco UD!t,
• Fa<:aldad.e de Dir to oan&lka. l nd~ ~i • j' • ocrd<>tie.1'0I atudo, filoeM',c: e, COI de IWI
predileçlo. Dol bre,ilelrot qu,, -por 6poc,,, r beram • 11ov,, infltJ~ da Univ • ade. lll una d qu
vicrun ■ d tacar na l!l~u. como L,1,a•ni< 1t At.VZfllA. Ronar:>tllll F&IUUlU " Jod Bom~,c,o, f o
6nico que Cftf'CeUno Bre 1, delltro du nova ldéia1, uma e.Çio pcrlqópce e cultural dileta cora • c:ri~la do
324 A CULTURA BRASILEIRA

s6brc o qual nenhum outro se modelou; o projeto de organização do ensino


de GARÇÃ0 ST0CKLER, "direta e estreitamente inspirado nas idéias enciclo-
pedistas das quais o próprio POMBAL já era adepto, e parecidísmmo com o
projeto devido a CONDORCET''. como já observou MiL TO RODRlGU ; e afinal.
a larga parte dada na primitiva organização do Colégio Pedro II (1837-1838),
ao ensino científico, sem prejuízo, mas antes com a preponderância do ensino
litcrãrio clássico.
:!, de fato, no seminârio de Pernambuco criado na cidade de Olinda por
AzERBDO COUTINHO que mais fortemente se manifestaram, no seu espírito e
nos cus métodos, os princípios que orientaram as reformas pombalinas, em
grande parte inspiradas pelas idéias dos enciclopedistas. Foi esse seminário
o primeiro e tardio. reflexo, na Colônia, da grande renovação educacional que
se processou no Reino por iniciativa do ministro de D. Joslf, e com a colabo-
ração principal de parentes de AzEREDO COUTINHO. Brasileiro, nascido em
Campos, de uma famfüa ilustre da Paraíba do Sul, o fundador do seminário de
Olinda, que acabava de chegar de Portugal, nomeado bispo de Pernambuco,
era um 11filho espiritual da Universidade coimbrã, reformada sob os auspícios
de seu parente, o bispo•conde D. FRANCISCO DE L· MOS". Tipo de colégio
que já não era o jesuítico, com seu ensino excessivamente retórico, literário
e religioso, como observa Gil.BERTO FREYRE, o semínário de Olinda, logo con-
siderado "o melhor colégio de instrução secundária no Brasil", no dizer de
OuvEIRA LIMA, e comparado por TOLLENA.RE ' a um liceu fra.nc!s dos depar-
tacnen ais, representa, na sua orientação como nos seus mHodos-, uma ' ruptura
com a tradição jesuítica do ensino colonial". As novas tendências pedagógicas
exprimem-se não s6 no ambiente liberal que nele se criou, com métodos mais
suaves e mais hwnancs, no respeito maior à personalidade do menino, nas trans-
formações profundas das retaçóes dos adultos com as crianças, dos mestres com
os di clpulos, mas ainda pela importância dada, no plano de ndos, ao ensino
das matemá •cas e das ciências físicas e naturais. Ao lado de ma êrias que
constituíam o curr1culo tradicional, - a gr-amática, o latim, a r tórica, a poé-
tica, a filosofia (mas já segundo novos pontos de vista) e a eologia, - figuram
o grego, o francês, a história,, a cronologia, a geometria a física, a história na-
tural e o de enho que se leciooa\l'am não sàmente aos que queriam fazer o seu
curso de hwnanidades, mas ainda, aos que se destinavam às ordens sacras.
Para OLIVEIRA LIMA, o sábio bispo "visava a formar no seminário que fundar.a
com certo luxo de ensino das ciências naturais., - cadeiras de física, química,

Seml.,Arlo de 011.nda, ·ndc devicut1 manífem,r-ae ~ tarde o n.ovo p!rlto m6tod impl.ln d011~I• rd"on:r111.
pc,mbol na, tob a ID.'1>im,llode •us parw~ os írmii"" D. 1>"-<U'CI~ L&IIOI e J. 'P. Atl.ltJ:00 COt!TfHRO. De-
tato, de,poi de ~e.. ea:er:id.o Offl Ll:sho,:,,enl:re outro.o ntivida.deo, o cor,to da deputa.d o Ot'!cio {17&4-04),
p,1rtlu. em l 798 pua o Braoll, oom"'1do bi~po de Pcnu11nbuco, onde fundou o i :m 'o. J6.ntav• com
56 ■11,. quando IOMICIUà •ua pitrla, d,:pgis de lon a111tacía (177 11de • ba- e de
i,rudt..cia, 1 nda alo 011~o espioh-'90 que ocupou. com m Lttbaa, - a
o pra;Q do 1t1,-'iear. que lhe valeu o convite :li de Ci~ ,
e nO,njco ...Sbre o comêtrio de l'ortul / • dO' 1 00 ;.,..,.
, io dr OUnd•, a:~d.o "" eslatutm l!labarad 900 Cou1U1Ro
e cm l 798. anta de s1111rnrt,da para • do pelo • po
, {oi iarta.lwdo oa 11I11Ígo cdiflclo do calfcl • icn:i• e ...
• cn,,unbuco, "pua um ~aârio de uca marco de 17!16,
d e 1ovcnnd0< int-.:rinn de P~ 1 e Diret<r
bio pc-elado qm, foi, com o VilCOO.dcde "tud°' -.serci.:ú1 e
aa Col6nia, ~t<Jll em c:urto peslod dc:vaata • eo
p!ll"A • Diocc• d: ar.poça e a.ada. re ·rou fflJ 1~2 pera Partu 1, Bi u,
de tl02 a 1811, e oouu-■d , n ~ a.no, por D. Joio VI, Ioquhidar OCffl do Reiao, Azu.&DO CollTUfflo íalec-<o
=
do
t: ~ 1111 11, apena• tomara ueento aa Aac:mbl.~• Comtiwl.nie, l qual ro,. eleito dcpul.ldo pela iw-ovtad•
o de J andro..
' MIIIIU TAVA.11.U, HJ~i6ri1t da revo1ui,Bo de 1817. Ano , de OLIVUIU. Lr.MA, Recif~, 1.917, ~- 36.

6 Tau. Ali!!., Nota dominiea.ia. Tn,4. de Át.l!"JI.B.00 D CARVALHO. ln "R ta" do Instituto
m.t&ico Al-qucolCi&iet:> e Oeou,\flco de Pcno■mb1.1Co, pq. 4'1.
AS ORIGENS DAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES 3:Z5

mineralogia, botânica e desenho -, gerações de párocos-exploradores, os quais


à um tempo pastoreassem as almas e devassassem as riquezas vegetais e mi-
nerais de sua freguesias, podendo compreender os descobrimentos que fizessem
e abendo tirar dêles proveito".º De modo gerãl, pois que não se organizou
somente para os que se destinavam à vida sacerdotal, o Seminário de Olinda,
como escreve GILBERTOFRE.YRE, "começou a ensinar as ci!ncias úteis que
tomassem o ra az mais ap o a corresponder às necessidades do meio brasileiro,
cuja transição do patriarcalismo agrário para um tipo de vida mais urbana e
mais industrial exigia orientadores, têcnicos bem instruídos, e não apenas mc-
cAnicos e art:ffices negros e mulatos ... " como também "o estudo dos problemas
econõmicos criados pela mineração, pela industrialização, pelo decltnio da
economia baseada simplesmente na monocultura ou no monopólio" .7 A geração
educada no Seminário de Olinda, que se tomou o foco de irradiação das idêias
liberais, foi a brigada de choque da nova ordem europtia no Brasil, e tal in-
fluência exerceu no preparo e na direção d~ revolução pernambucana de 1817
que esta se pode considerar estreitamente ligada, pelas suas raízes, àquele ins-
tituto, devido à difusão das idéias liberais. ''Sem AzEREDO COUTINHO, escreve
CAPISTRANO DE ABREU, não surgiria a geração idealista de 1817". A inde-
pendencia brasileira, segundo OLrVEIRALIMA, ainda foi mais diretamente ser-
vida no seu preparo pela instituição fundada em Pernambuco. Para se avaliar
a obra de renovação intelectual empreendida pelo ilustre prelado e interrom-
pida mais tarde em cooscqilência de sua retirada, em 1802, para Portugal, -
ao que parece, perseguida pela C6rte, sistemàticamente hostil a tõdas as ten-
tativas. de progresso na Colônia, - bastará lembrar que não se reduziu à f un-
dação do Seminário, sem dúvida a sua criação mais importante: foi !le quem
instituiu com o Recolhimento de Nossa Senhora da Glória, fundado no Recife
com o mesmo espírito, o primeiro colégio para as meninas de casa grande e
de sobrado.
Mas a paisagem escolar, sem colorido e sem relêvo, na qual o s.cminârio
de Olinda assumiu "wn caráter quase escandaloso para o tempo", no dizer
de GILBERTOF.RRYRE,não se transformou sensivelmente, no Rio de Janeiro e
na Bahia senão com a chegada do Príncipe Regente D. JOÃO. A notícia da
invasão de Portugal por tro a de BONAPARTE-, D. JOÃO D& BRAGANÇA em-
barcara às pressas para o Bra il, ºnos restos de uma frota", comboiada por
navios inglêses. Em 22 de janeiro de 1808, à sua chegada à cidade da Bahia
decreta, por sugestão de JosÉ DA SILVA LISBOA, Visconde de CAJRU,a abertura
dos portos do Brasil a.o comércio estrangeiro, estabelecendo essa franquia em
Carta Régia de 28 de janeiro do mesmo ano; derroga, já no Rio de Janeiro,
com a de 1.0 de abril, o alvará de 5 de janeiro de 1785 que ordenara o fecha-
mento de tôdas as fábricas; e, além dêstes dois deeretos, ''equivalentes aos
efeitos de duas revoluções liberais", como escreve EUCLIDES DA CUNHA,abroga
ainda o alvará de 6 de julho de 1747, fundando a Imprensa Régia em que se

1 OL~IIIA LIMA, l',umunbuco o Mu d& &n.,o1Pimen.tn hut6rlr:o. Ldp,df:, 1895, p&~ 320.
7 O11.D&HO h&Y-, SohradM e moe.ambo11. Slo Paulo, l!U6, P.l&•JOS..
8 A lm,p. o R~i•, em qu tem • ari1ms • atual lmJl("Cm■• acioB■I, foi c:rud ■ p0r dec:reto de
19 de. m■lo d 1808 e~ a, rt,nc-looar em 180!1, na ru• do Pa~c:io, n.• 41, com um prelo de mA<lc:lraOOQI•
truldo pua nm no Rio de Ja.oc:iro. O d..:rct.1> de D. JOÃO V1 anio11la "• lnt:roduçAQ pennnuentc da lmpn:Nlt.
no .B>-niJ". Antes d ■ C'lUÇlo d■ Impn:nlo REc{a, ltl se tem noticia de uma oriclne pOgT'itiu, - • pnn:,e!ra
qw, ,e inetalou uo pai,,, NDd da em l747, no ·o de J■ odro. <:0m o auentimento de Oo III P'ltCTU 1)1, Ãl(l)JtADa,
Cond de BoBADSU, e 1uprimld ■ pouco epol• por ... dem do govf.rno portupb. O no •ve1 aV'lld.oc-Jolo
c:.rr.uto Rlv.uu. doi O\ltro., RDMlo Bl.dl CAUDO " PAUI.0 D<» SANTOSPmIDU., qil lrOW< camgo Frei
J011l MA.aLuto DA Col'lCIUÇÃ0 Vnoso, ao volcar do Portug,,J, em 1808, e que pUa;IU'8:ft1 • trabalhar Da prCNlo
Rq.la, elo dend.OI OI inttoovtor daa arte, gr'1iea, 110 8,-~ Foi Bioda D■ lrnnra,lo ~-. - a 6niça
ex! ten~ DO Rio d J■Jldro ■tio 1821, - qi:ac lau,rirniu o prin,,,iro jotllál que publicou DO B,t,ril, • Ga.-.t ■
do Rio do Jan Iro, e durou de 111.08• 1822! an,■ p61:iode j"""'1 on,;.i_ q11.e:te alita. • dua, vb:co por ■cmaaa.
O~ jornal e o prirn..tro dl6rio que teve o • de. J neíro, o Dil,lio do Rio d }1111Iro (1831) c:am.eç.ou
tuib&n • -■ir da lmprm.lo &Utia, Jl cn~ ilcoomln■d• R~ Tipaçafia, ~ que foi o ~ do jonwlamo brul.-
326 A CULTURA BRASILEIRA

imprimem as primeiras obras editadas no Brasil e e inicia, com a publicação


da Gazeta do Rio de Janefro em 1808 o jornalismo brasileiro. Com a vinda
de D. JoÃo VI e cêrca de 15 mil pessoas chegada com a famllia real, a velha
cidade, - "uma grande aldeia de 45 mil almas", que dormia no marasmo, des-
p ta para uma vida nova, sacudida do inesperado acontecimento e erguida
de s(lbito à categoria de capita) do Império Portugu . A cidade colonial,
de ru s estreitas e tortUosas, transforma-se com o plendor da côrte e o im-
pulso de seu comércio e, pela atração do novos cncan os da vida urbana,
orna- o centro da vida intelectual do país, para onde convergem brasileiros
vindos de quase tôdas as províncias. As mudanças de mentalidade e de cos-
turo que se operam lentamente, irradiam-se da nova capit 1 da monarquia
para cidad distantes, Vila Rica, Bahia e o Recife que, a exemplo do Rio de
Janeiro e tomadas de emulação, também começam a ransformar-se não s6
na sua fisionomia urbana como nos velhos hãbitos coloniais. A distância que
as separava dos campos, qual!le-nula no século XVII, e jâ marcada no XVIII,
torna• cada vez maior com os progretososdas cidades e a emancipação urbana,
sc;guida tlmidamente pelas pequenas metrópoles locais. Mas de tôdas as ci-
dades, é a an iga capital da Colônia que mais se beneficiou com a transladação
da cõr e português.a para o Brasil: pelo grau que atingiu, no coração da mo-
narquia, a intensidade da vida urbana e pode medir a mobilidade social -
a maior que registrou a variação rítmica, na sociedade colonial, de períodos
imóveis para períodos móveis -, e com a qual desenvolve a migra.Ção de
as de co umes não s6 de uma classe para outra, como de uma para outra
rc.gião.' Onde, fora dos conventos, quase não exi tiam livraria , e essas mesmas
rar e pequenas, surge a primeira biblioteca p(lblica, criada por D. JoÃo VI,
em 1810, com os próprios livros de que se desfez, e que foi instalada e fran-
queada ao público cm 1814, no Hospital dos Terceiros do Carmo. 1t nessa
biblioteca, constituída inicialmente dos 60 mil volumes pertencentes à Real
Biblioteca do Palãcio da Ajuda e trazidos por D. JoÃo VI, que tem as suas
origens a Biblioteca Nacional, hoje uma das mais importan es senão a maior
d a parte do continente americano. As produ da li eratura brasileira
que MARTIU em vão procurava nas raras livrarias existen ea, começam a cir-
cular, publicadas na Impressão Régia, de cujas oficinas, de 1808 a 1822, saíram
1 154 impressos vários, entre os quais avultam as poesias )(rica de TOMÁS
ANTÔNIO GONZAOA, o poema de BAS(LIO DA GAMA, as obras do Visconde de
CA1RtJ e o dicionário de MoRA1s. A superfície li a da cultura colonial, que
mal chegava a formar, na praia mon6tona, um d brum de spumas ltterárias 1
enrugou-se pela primeira vez, encarneirou-se com a divulgação de obras estran-
geiras que já entravam livremente nos portos do paí , com a ações e reações
de princípios opostos e sob a influência das nova idéias que encontraram na
maçonaria um dos principais focos de irradiação. Mas não foi sõmente com

1 'ro, De.s • dliui d• f11ndatão da Impreoslo Ri,la_ at.6 \112


entre OI Qld' al ama poblicaçaa notáveis como Mor/lia d• OI mo O0HtAOA, obras de
J011f DA ll.YLtnOA, d V-1-ecoode d<, c.u,n,. primc:in, ed,çI u uai de 8.\mJO DA OAldA
(11111, • Hl t6tl do Br sil, oe 5oum:EY, m lr1lbal~ do botl A11Aeo Dicionit-
rlo da C.lnfa• l'ortu~aba (~o í,tt,-,imilar da 2.à), de All'T6 ·...i 1)CX'
dttr de 17 de ícvetriro de 111 5 com o nome dr Real Ofidua lm~n,a
NJldOftAI em aetaabro dr 1821, ""'virtude-do dto"eto d Que toei
m de Coro. rcrt,cnciIIII li. Naçio " • éhunariam 'co dc:Mk
• i,rocbmulclo d■ lndepcndtncia "o d.,._..olvimento du • ' J! ponof.a
•- r«tiuindo o ps.pd Qllt teve • tm , e !oi tio
(ll!Ja-18'2:2) do pmodocotoalAI. A. sis-•OC'QP&l'-
pobll~ aficia.i,i t6rlae, ....i,,. u t, • prind l ckode
,c,a do lmp&io "• mais tarde, da ~ • , it no. No cdllláo
IR""' 13d Maio, o ep 'elmC'!lte pous ma • para erlu .,...julho de 1117.
pcm,.amctu a Im odooal com tbdu a. sua IICÇl'lct e ol'lclftN at.! Jlllbo de 1931, quando ,e começou •
tt li 111• dc.molicilo.
~ Oi:.rvuu. Lou, D. ]o/Ia Vl no Brasil. 2 vot.., Rio, 1909.
AS ORIGENS DAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES 327

enas iniciativas e seus primeiros resultados que a cidade do Rio de Janeiro,


jâ com a sua imprensa, o u jornal, a sua biblioteca e o eu museu se tomou
o centro da vida intelectual do pais: as escolas superiores de que o grande criador
de instituições lançou os fundamentos, ficam à base do •progresso e da trans-
formaç- da cultura nacional.
A obra de D. JoÃo VI, an es ditada pelas necessidades imedia do que
sugerida por qualquer mod@Jo,lembra, sob certo aspecto, a obra colar da
Revolução. As escolas técnicas, na França, velhas e novas, já haviam accn•
tuado o seu predomínio à medida que declinava a influ@nciadas univecsidades;
e a ideologia da Revolução francesa_ propagava por tôda parte um precon-
ceito anti-universitãrio. Todo conhecimento não utilitário, todo aquêlc que
compromete a personalidade inteira do indivíduo, parecia-lhe u pci o. "Para
o homem medieval, escreve STEPHEN o'IRSAY, o que lhe importava mais era a
9A.uisição de uma, sólida Weltanschauung, de uma vista de conjunto do
mundo; êle não tinha pelos fatos essa adoração que tem o homem moderno",
e que começou a desenvolver-se, na idade moderna, com o empirismo ingl s
e sob a influência dos enciclopedistas. O que importava, porém, no clímax revolu-
cionário europeu, favorecido pelo desenvolvimento das ciências e pelo decUnio
do prestigio das velhas universidades, era a aquisição de uma certa técnica
especial, de uma certa ciência limitada, de uma profissão. Não é pos {vel
precisar até que ponto as tendências ã profi~onalização do ensino superior,
favoráveis às escolas especiais e hostis à universidade, teriam influído na ori•
entação de D. JoÃo VI ou de seus conselheiros que, criando escolas, visavam
antes de tudo as formações especializadas e a preparação de um pessoal capaz
de atender ao serviço público. S6bre as ruínas do velho s·stcma colonial, li-
mitou-se D. JOÃO V1 a criar escolas especiais, montadas com o fim de a ·srazer
o mais depressa possível e com menos despesas a tal ou qual nec sidade do
meio a que se transportou a côrte portuguêsa. Era preciso, antes de mais
nada, prover à defesa militar da Colônia e formar para isso oficiais e enge-
nheiros civis e mili ares: duas escolas vieram atender a essa nec 'dade fun-
damen :al, criando-se em 1808 a Academia de Marinha e, em 1810, a Academia
Real Militar, com oito anos de curso.lo Eram necessários médicos e cirurgiixa
para o Ex6rcito e a Marinha: criaram-se então, em 1808, na Bahia, o curso de
cirurgia que e ins alou no Hospital Militar e, no .Rio de Janeiro, os cursos
de anatomia e de cirurgia a que se acrescentaram, em 1809, os de medicina,
e que, ampliados em 1813, constituíram com os da Bahia, equiparados a.os do
Rio, as origens do en ino médico no Brasil. Não eram menos necessârios

10 A ACA eo,la de Marinha 118011e• A c:mia Resl Militar (1810\, funde • por O. JOÃOVJ, fCdn.em.
em 1832 nWM 16 t111Utui(lode cll cnh ri militar, pa,,.J e civil, cnn, O!I scguint.ea cunoo: •I cuno d m■ rm,jrica,
d 4 ■.n • • • ,. de 2 anoa; c) au " d.e pont"" e calç:ad115,de 2 ■ 110.: 1 cuno de con■ truçlo
mrral, içl , cmbnun01>to,.équc x data"" m 18511, cm 1174,
ii-,. c,c,I odea e,,:<>1,u: a E • ili Na..-1 • • . oi•
de En anlro, o rqulsmento de 11112e Acsd.emia Na.,.I
da ma (militar, de 3 aDM, e o d dtoa. d
atf 113!1,quando pun • d,m , com uma nova arrcanlu.clo. Na ~ forma tJOr q
cm 1841 c■ nlvi3, de 2 ano,, r,.. e o de ar•
tllluuia, e =s. d~ 1839) des<S ,e 5
....... e o e ci~nhoru, • a • ~ de Ao çlo 11te da■ S.• •
5.• ....,. 1ti para comtit:ufrem a d ld
Ba:ala d.e tar e d" Apliat.ção, e •
cola Ccn . cil!nttll fl:si.:u e na um l'.>Otodo
ou em part,c. :thariB riril oa a qual1u : " bl o d e
cnh■ria MOtollriO!I "ra■ do alltcrior). A B arma
de 18$8. a,- (o l.• ■no da Ea •
tar ; b) ■n tr~ primeiros ■.no, d■ &.cola C..ntral •
Mili ); e) (~ prirneinn da C=tnl, m,w d " d ■ • M o
CQGJpicta i:nl 1874, quando a &rola Ccatntl pu1,u ■ de •
ca, com :!ll:Ulte, c:uro,,. trb gerais e tr&, e p,d i ~101 e
2 .._; b) de ci o t,, 3 ■ nDO: el de ci~ciu-lfsinu e matemit~,. de 3 ■ ooe:
clvU, d 3 ■oca; ~) de minu, de 3 anotl e O d1t artes e manuf&.turu. de 2 11.DOa.
328 A CULTURA BRAS LEIRA

homens instruídos e técnicos em economia, agricultura e indústria: fundaram-se,


na Bahia, a cadeira de economia em 1808, o curso de agricultura em 1812, o de
química (abrangendo química industrial, geologia e mineralogia) em 1817, e
de desenho éc:rúco em 1818, e, no Rio de Janeiro, o laboratório de química
(1812) e o curso de agricultura (1814), os quais todos se destinavam a suprir
a deficietlcia absoluta de técnicos que atisfiz sem às necessidades do meio
brasileiro m transição para um tipo de vida mais urbana e industrial e para
uma melhor organização da economia agrlcola do pa{ . A Escola Real de Ci-
encia , Artes e Ofícios criada em 12 de agôs o de 1816 e transformada somente
em outubro de 1820 na Real Academia de Pintura, Escul ura e Arquitetura
Civil, acusava no esbôço de seu plano primitivo (1816), que aliás não chegou
a realizar-se, o mesmo cuidado técnico; denominada, porêm, Academia das
Artes por outro decreto, - de 23 de novembro de 1820, s6 veio a funcionar,
sob ssa nova e definitiva orientação em 1826, já n.o primeiro Impêrio, e dez
anos depois da chegada ao Rio de Janeiro da missão de artistas franceses. Se
excetuarmos, pois, algumas cadeiras que se insti ufram para suprir as lacunas
de ensino tradicional, e visando estudos desinteressados, como a de matemãtica
uperior em Pernambuco (1809)1 a de desenho e história em Vila Rica (1817)
e d re 6rica e filosofia, em Paracatu, Minas Gerais (1821), quase tôda a obra
escolar de D. JoÃo VI, impelida pelo cuidado de utilidade prá ica e imediata,
e-se dizer que foi uma ruptura completa com o programa escolástico e li-
erãrio do período colonial. Circunscrita no espaço quase que exclusivamente
à Bahia e ao Ri.o de Janeiro foi certamente muito restrito o domínio que ilu-
minou, dei:mndo, fora de sua irradiação, tôda a parte res ante da Colõrua que
continuava mergulhada no mesmo atraso: ela r pr enta, no entanto, não s6
uma das fa es mais importantes de nossa evolução cultural, mas o período
mais fecundo em que foram lançados por D. JOÃO VI os genn de numerosas
instituições nacionais de cultura e de educação.
Prodamada a Independência e fundado o Império do Br si! em 1822,
a vitória do liberais ~ôbre os conservadores e os deba travado na Ccnsti-
tuin de 1823 anunciavam uma orientação nova na polttíca educacional, sob
o impul dos ideais da Revolução francesa de que es avam imbuídos os li-
b rais p lo desenvolvimento do espírito nacional que obrigava a enc-.arar
sob um novo ângulo os grandes problemas do país. As idéias como costuma
acontec r, nas crises das transformações polí icae, tom m outro rwno e, pela
primeira vez, as preocupações da educação popular, - como base do sistema
de sufrágio universal, passam a dominar os espíritos da eli culta, constituída
d sacerdotes, bacharéis e letrados. Mas dêsse movimento poHtko em favor
da ducação popular e que se manifesta nos dcba e na indicações apresen-
tadas na Assembléia Constituinte, dissolvida em 1823, não resultaram senão
a lei d 20 de outubro de 1823, que aboliu o privil'gio do Estado para dar
instrução, inscrevendo o princípio de liberdade do ensino sem r trições; o ar-
tigo 179, n. 0 XXXII, da Constituição outor ada pela Coroaj em 1 de dezembro
de 1823, que garante "a instrução primâria gratuita a todos o cidadãos"; e,
afinal, a lei de 15 de outubro de 1827, - a única que cm mais de um século
romulgou sôbre o assunto para todo o país e que determina a criação de
cola de primeiras letras em tôdas as cidades, vilas e lugarejos art. 1.0) e~ no
. XI, " colas de meninas nas cidades e. vilas mai populosas '. Os resul-
tados porém dessa lei que fracassou por vária" causa , econ6micas, técnicas
e polí icas, não corresponderam aos intuitos do legislador; o ov!rno mostrou-se
incapaz de organizar a educação popular no país; poucas, a colas que se
criaram, obretudo as de meninas, que, em todo o errit6rio, em 1832, não pas-
savam de 20, segundo o depoimento de Lrno CouTrNHo, e na esperança ilu-
AS ORIGENS DAS INSTI'I'UIÇÕES ESCOLARES 329

s6ria de se resolver o problema pela divulgação do método de LANCASTER ou


de ensino mútuo que quase dispensava o professor, transcorreram quinze ao
(1823-1838} atl que se dissipassem tõdas as ilusões ... 11 Em matéria de en-
sino superior os debat na Constituinte pareciam marcar uma reviravolt na
política de D. JoÃo VI: em vez de projetos sôbre escolas especiais, . u1 em
indicações e propo tas õbre o ensino universitário e, entre estas, a de FER·
NANDES PmlmlRO, Visconde de SÃOLEOPOLDO que na o de 14 de junho
propõe que "se crie quanto antes uma universidade pelo menos p a assento
da qual parece dever ser preferida a cidade de São Paulo, pelas van agens na-
turais e razões de conveniência geral". O projeto da Constitui o, apresen-
tado em sessão de 1.0 de setembro de 1823, e assinado por Josá BoNIPÁClO,
ANTÔNIO CARLOS, ARAtlJo LIMA e outros, adota a medida, det rminando no
art. 250, a criação de 11escolas primirias em cada têrmo, ginásios em cada co-
marca e universldades nos mais apropriados locais." A idéia de unidade e de
universalidade do ensino, que parecia prevalecer s6bre a das formações espcda-
lízadas, não chegou, porêm, a determinar a mais leve inflexão na política ante-
rior, cujo esp{rito de continuidade não se interrompeu durante mais de um sé-
culo, em que o ensino superior permaneceu inteiramente dominado pelo espírito
profissional e utili ãrio. Nenhum esfôrço real para a criação de uma universi•
dade; nenhuma in ·tuição de cultura e de formação geral. As escolas de pre-
paração profissional ins i uídas por D. JoÃo VI, acrescentou o primefro lm-
p&io os dois cursos de ci ncies jurídicas e sociais que, criados pele lei de 11 de
agôsto de 1827, foram instalados, o da cidade de São Paulo, a 1.0 de março,
' no Convento de São Francisco e o de Olinda, a 15 de maio de 1828 no Mos-
eiro de Sã.o Bento. Com as duas faculdades de direito que se fundaram, uma
no norte, outra no ul, cujo papel foi capital na vida do país, s completou
o quadro das colas destinad~ à preparação para as profissões liberais. Ini-
cialmente constitufdo, na primeira metade do século XIX, das duas faculdades
de medicina, em que se ansformaram em 1832 as Academias de Medicina e
Cirurgia, da Bahia e do Rio de Janeiro; da Academia Real MHitar, de que se
desligou em 833 e E cota Naval, e que tomou o nome de la Militar m
1839; e dessas duas novas instituições -vigoroso enxêrto no ramo do ensino
superior profissional -, êsse conjunto de escolas em que se preparou tõda uma
elite de médicos engenheiros e bacharéis, foi, nesse largo período, o centro mais
importante da, vida profis ional e intelectual da nação.
Mas, em 1834, o sistema educativo e cultural em formação desde D. JoÃo
VI, e que se vinha r organizando lentamen.te de cima para baixo, foi atingido,
no seu desenvolvimento, por um ato da política imperial que o comprometeu
nas suas próprias ba es, e viria paralisar todos os esforços posteriores de uni-
ficação. Entre as conseqüências do movimento que forçou PEDRO I a abdicar

li A ln ou de ens·no m6tuo e u espe111n<Uq


urlo do mltod.o de LA1<1CMT11:•
un, d<11,eplt6dJ mal ~rlOOOI dcua f--=ilidadc. que Dai 6 caracteru
e 111nifie11dvoe
• pll tu e primjria para p,obt c,i:t,C>Mmente c:omole,:os. Se<!ul>do ~ o
dunmtie , d vi anoo. ™• d lun°' (dacúrià) era diti • o por ura dtl
turma.. por - ~ q .crcm, por mais habilita.do. Por....,. e
ª°' eninol e . • mlltuamcnb! .e cmi~, tarw 11
oriniiria, de SOO ahm!,s, por acnolo,
O alll.DOS,mais ou m=os, nio i:--
·ta.m""to o cmigo doa restantes diflribul
e '', con,en.ta COlll íraai• Ãnt.ÃNID Pmx_oro. P •
umtal og,d _•11at•fio,atfa •
de apcrar e apa tardado bnto. A ld de tS d.o outubro de
de en,alno m6tuo: no an. 4.• ,,.. • m de emino m<itao u •
11a1 d no S.•, cm que estsb-elca: pnwidhdn para ■ •
m m • neca■6ria innruçio· d!tsc endDo • irem iM
d& d I capl b"; e no IS, é1Jl que. es~ ; que .. .,.
m Jt. O &a'lttma rec-a
11
,. cri ·do em .. mMod.o ofldal*', im •
do ,..m • m nU:
J Cl'Cffl'.\e r-se u prim-eirQ d6Vff! ■ .&tu, " m homem do yaJor
de l>t. VUCOHC!:LOI nda proeurava. no tzempo do '"'11ino e naa lmpe:rfc:IOl)cado aetddo,
uma cx,:uoa i,ara o malÕITO do todo la:101 criaAo que loi armai quue coa,plctamta •IMuillD11ado,
330 A CULTURA BRASILEIRA

(7 de abril de 1831), uma das mais importantes foi, como observa AzEvEoo
AMARAL,"o únpeto adquirido pelas tendências regionalista contrapostas ao
espírito de unidade nacional, que se procurava consolidar com a Constituição
de 24. A sscend!ncia da corrente liberal que caracterizou todo o periodo da
Regência, contribuiu poderosamente para enfraquecer o vínculos da coesão
nacional. Essas tendências centrifugas tiveram a sua culminante expres$ão
legal no chamado Ato Adicional de 1834 que foi uma das maiores aberrações
na evolução da política imperial".U Do ponto de vista ucativo, o Ato Adi-
cional, aprovado em 6 de agôsto de 1834 e que resultou da vitória das endências
descentralizadoras dominantes na época, suprimia de olpe tôdas as possibi-
lidades de estabelecer a unidade orgânica do sistema em formação que, na melhor
hipótese (a de estarem as províncias em condições de criá-los), se fragmentaria
ou.ma pluralidade de sistemas- regionais, funcionando lado a lado, ~ e todos
forço emente incompletos -, com a organização escolar da União, na capital
do lmp!rio, e as instituições nacionais de ensino superior, em vários pontos
do território. Com efeito, pelo n." 2 do art. 10 do Ato Adicional, com que se
introduziram importantes reformas na Constituição de 1824, se transferia às
assembléias provinciais o encargo de regular a instrução primãria e secundária,
ficando dependentes da administração nacional o ensino superior m todo o
pais e or anização escolar do Município Neutro. O govêrno da União, a
que competia, como centro coordenador e propulsor da vida pol1tica do país,
se exonerava por essa forma. segundo as expressões de TAVARES BASTos, "do
principa1 dos deveres públicos de uma democracia", que é o de levar a educação
gera) e comum a todos os pontos do território e de organizá-la em bases uni-
formes e nacionais. Se se considerar que, nos sistemas escolar, , a educação
primârie em por fim estabelecer essa comunhão de idéias e de sen •mentas, -
indispensável à unidade política da nação e, portan o d envolver o entimento
nacional e que a unidade do ensino secundário destinado a enriquecer êsse
fundo comum de civilização e de moral, é tanto mais preciosa e mais útil quanto
os indivíduos, encaminhando-se depois a carreiras div , endcm a dife-
renciar-se pelas suas ocupações especiais será fácil compreender o que impor-
tava para a vida nacional a renúncia, por parte da União, ao encargo de orga-
nizar a educação primária e secundária em todo o pafs. A unidade espiritual
de urna nação, se não depende, como julgava LlBERAT0BARROSO,dessa uni-
dade e homogeneidade do ensino geral e comum, tem, sem dúvida, um poderoso
agente unificador na escola primâria, unüorme, igual para todos, em todo o
territ6rio nacional. A descentralização do ensino fundamental, instituída
p lo Ato Adicional e mantida pela República, quan o ao ensino primário, atin-
gindo um dos pontos essenciais da estrutura do sistema escolar, não permitiu,
durante um século, edificar, sôbre a base sólida e larga da educação comum,
a superestrutura do ensino superior, geral ou profissfonal, nem reduzir a dis-
tância intelectual entre as camadas sociais inferiores e as elites do pafs. O
ensino público estava condenado a não ter organização, quebradas como foram
as suas articulações e paralisa.do o centro diretor nacio 1, donde se devia pro-
pagar às in tituíções escolares dos vários eraus uma política de educação, e
a que competia coordenar, num sistema, as fõrç e instituições civilizadoras
esparsa pelo território nacional. Nem as províncias, b cuja alçada ficaram
apenas o ensino primário e o secundário, podiam completar os u is emas e
ergu -lo ao n!vel das escoJas.superiores nem o gov@moim •ai podia levantar,
bre uma base sólidaJ do ensino elementar e médio, um sistema nacional de

l2 Ann!>O AMAB.U., l!Polução da po/Jtiu. únperlttf> lo "Cultura Poli ca". Rc-rute mcosal de
illdoe braalldtOI, Ano l, n.0 II, abril de 1941, pigL 45-46.
AS ORIGENS DAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES 331

educação. A própria Constituição, reformada em 1834, estabelecia, em conse-


qüencia, o faccionamento do ensino e a dualidade de sistemas: o federal e os
quele e !ates, forçosamente mutilados e incompletos. Um, sem
,...,""'-ll!iri·a;o outros, sem o natural coroamento do ensino superior,
profissional ou desinter ado. A profissionalização do ensino superior, inau-
gurada por D. JOAO VI, e a fragmentação do ensino consagrada pelo Ato Adi-
cional, deviam marcar tão profundamente, através de mais de um s culo a
.fisionomia caracterí tica de nossa educação institucional que se teriam de ma-
lograr tõdas as tentativas para alterar o curso de sua evolução.
Certamente, a u ~eia, na educação do paí!i, de um pensamento cole ·vo
ou de unidade de orientação, não era mais do que uma das expressões do es-
tado flutuante e molecular da sociedade, que resultou do caráter fragmentário
de nossa formação social e das divergências fundamentais de interé es e de
id~ias, ligadas às diferenças de nfvel cultural e económico das províncias, como
das classes sociais. Foi esse estado de inorganização social que dificultou a
unificação polftica e impediu a consolidação educacional num sistema de en-
sino público, senão uniforme e centralizado, ao menos subordinado a dire-
trizes comuns. Mas a reforma de 1834, em vez de estabelecer medidas tendentes
a resolver o problema, o agravou, tomando impossível a solução, dentro dos
nossos quadr constitucionais. Nenhuma perspectiva, daf por dian e, para
uma política educacional de larga envergadura. A educação teria de arra tar-se,
atravês de todo o s culo XIX, inorganizada. anárquica, inc antem nte de-
sagregada. En e o ensino primário e o secundário não há pon es ou articu-
lações: são dois mundos que se orientam cada um na sua direção. As cola
de primeiras letras, como as instituições de ensino médio, cm geral aocOTadas
na rotina. Nenhuma ligação não somente no sentido vertical entre os diversos
graus de hierarquia, mas também horizontalmente entre as unidad escolar
do mesmo ntvcl que funcionavam lado a lado. As dificu1dades de sino u-
pcrior, às vezes ju tapostas umas às outras na mesma cidade (Bahia e Rio de
Janeiro), mas convidadas a se isolarem e a se ignorarem completamente uma
a outra. Não se pode inferir, porém, do fato de não ter organização, qu não
houvesse ensino básico geral e mesmo algum ensino superior d int ado.
Havia certamente. O que não existia (e neste ponto são unânimes os depoi-
mentos) ers um plano geral de organização. Uma das conseqüências do im-
pulso dado ao ensino superior profissional e ao regime de descen raBzação ins•
titufdo pelo Ato Adicional, foi o extraordinário desenvolvimento do ensino
secundário particular em quase tôdas as províncias, e sobretudo nas capitais.
O Co16gio Caraça, fundado em 1820 pelos padres lazaristas, - colégio tipica-
mente tradicional, organizado nos moldes do ensino jesuítico, toma um grande
impulso, transformando-se numa das mais importantes instituições de ensino
secundãrio. 13 Os jesu(tas que em 1842 voltaram ao Brasil, 83 anos depois de

la O co14Jo qu tomou o II l Sema do Cara~ em MJ.DU o-ta, fo( fund•do cm 1820 e


awto altciahue11te mi ll21, COl'll 14 tudRtc. die vamiltica latina, pél port\1'11 d• Conctr açllo
da , de Slo ulo. Ot i;wlres laari&a. q~ Yion:m • chamado de O. JOÃO VI,
foram lqalmdttc e tCffU e na b .... nça do álebrc lnnio Louau ffll
• • l'lla -, u.m TJ.vov. que. segundo• leada. fi
u do Onç,r., fundou.• e,..,. de hou
de q melo .&:oJ:,. O l4hin naturalista A. D e
, cm l1Sl6, qwuulo pcn:orri• • pr Clcia de ~ G-.:rau. d..,...ett • de
mar■.Yil emoldura • «:Na ~ta do Cuaça, llit:uada aa vertente de uma coU..., •
1 metrQI • ma do nlvd do fflllr, e c:cn:alla de W111Lp:s:nde cadda de monta.D f■•
l • 11lrmlo ~co. barca m em Portug:al os pedn::1 da
tm..Taf:11 • , 00 a!>BruiJ., &e~ DO
doadQ por D. Jo1o VJ e o r_.,,._, col~ De 1820 • Ul35 ji
de :e tcm;,o te entlnavam •• letru,. latim, úanm .
tonaDd- conh • o, ~ do Caraça que nIJ> tard
11111:rUr~ hnporn11 • n e c.n,po Belo. Com a tnnafermci■, em 114 I
liYTW e col lo pe,. Cun. , desde esa ~ at! .1854, intelr11mentr abandonado o Car""■ qac fo
o berço e ■ C&.N e ntnl de Conv açlod MI o e o centro para onde eoavtt2i m Htud■n , toa0101 l)Onto1
dolmp&io. ltm t&S4, alabcltteu e, por&n, ll0 Caraça o Sc:m.inkio K&ic.- de~ qlla ali devl■ pcrrun r
332 A CULTURA BRASILEIRA

ua apulsão, fundam em 1845 o primeiro colégio em DestbTo (Santa Cata-


rina), que adquiriu grande fama e teve curta duração (18 5-53) como o semi-
nãrio e colêgio de Pernambuco {1867-73), criado no mesmo ano em que abriram
o grande colégjo de São Luís (1867-1917), em Itu no Estado de São Paulo.
Surgem por t6da parte aulas e liceus, alguns importantes, como nos sertões,
o Liceu Paraibano, em 1842, e o Colégio Brandão, Cajàzciras (1866), na
Paraíba, ou nas principai cidades, oomo o Ginásio Baiano, de AefLIO CÉSAR
BoRGES, fundador, mais tarde, de ginásos no Rio de Janeiro e Barbacena, e
o Colégio Meneses Vieira, no Rio de Janeiro. A id ·a de uma universidade,
que segundo muitos teria precedido a proclamaçao da Independ!ncia e a fWl•
dação do Império, mas que PRIMITIVO MoACIR contesta com razao haver sur-
gido no tempo de D. JoÃo VI,H não passou dos debates na Constituinte, da
proposta apresentada nessa Assembléia, por J. F. FERNANDES PtNHEtRO, e
do art. 250, do projeto da Constituição de 1827, que, dissolvida a Assembléia,,
não logrou aprovação. Em 1843 e em 1870 devia ressurgir essa ídêia, para ter
o mesmo destino, no projeto de lei (l843) submetido ao exame do Conselho de
Estado e com o qual se fundava, na capital do Império, uma universidade com
cinco faculdades, e no projeto formulado pelo Conselheiro PAULINO JosÉ SOARES
DE SOUSA que propunha a criação de uma universidade com quatro faculdades:
de Teolo •a, de Direito, de Medicina e a de Cimcias aturais e Matemáticas.
A única instituição de cultura geral, criada desde a lndepend~cia até a Re-
p(iblica, foi o Colégio Pedro II, fundado em 1837, - celente estabelecimento
de en ino secundário em que os estudantes. enninado o curso de e e anos,
r cebiam o grau e as cartas de bacharel em letras, depois de pr tarem o jura-
men o perante o Ministro do Império que lhes punha Obre a cabeça o barrete
branco da Faculdade de Letras {art. 7.0 do dec. de 20 de dezembro de 18 3),
O grau de bacharel em ciências físicas e ma emãticas e, mais tarde, também
em ci!ncias físicas e naturais se conferia na an ·ga Escola Militar, na Escola
Central (18S8) que dela derivou, e na Escola Politéc.nica cm que se transformou,
em 1874, a Escola Central, e em cuja organização se mantinham. cursos gerais,
sem aplicação imediata, de ciências físicas, matemãtica e naturais.
Apesar da solenidade que o decreto de 20 de dezembro de 1843 imprimiu
à cerimônia da colação de grau de bacharel cm letras, estabelecendo o jura-
mento sôbre o Evangelho, a imposição do barrete branco e a a slnatura do
pergaminho pelo Ministro do Império, o Colégio Pedro II estava longe de se
equiparar a uma faculdade de letras ou a uma instituição superior de estudos

por ~a de qulllt!llt• 11nQJ, e rc•brfa Q ,ieu antigo e IÚA<IIMO col lo. OI m la.brilh.an •• aenlo
o pcr!otlo lurco n hin6r1a d e oat11bch:cimcnto de cdu.,..çio, rol o •1885) do Pe. ]\ILIO .Jost
Ci.Av&LIH,luar1 frotncb, homem de gn,<1dc saber " vlrw.dea e um ,ú3 toe da provlnd11
d.a.Con do Miedo no Bratil. Em 11132Psoao II e• Ira e para vi•
iritarem a prOYtllda de Mlaal, Oor,is, chqãm atE • l>C'1Uella cld e vhltam
•u.lu do prindpall d.o ca!~o. &, lado
Pe. JOJ.1D II cm dec,adf:lcia ims "°" ,
:
cm 1907 apenas eomcçava ■
qw, doaparc,:cu em 191.2, d
Sexni. O!I à i;nparaçiio d<,
~ OI m.rtim~tesdo ,
do at! 1907, m:,ú de •
ns ma:~t>ãtura. e oa 1
n ..Rmúau do A,qi • 07, lmpren• Oricltl de
orhvot.,, 190 ; O c-,ntenário d da
d Fm , ru■ BIRe!l:,,,Aires, 130,
U SqulldD un,a ooin lo corrcoe, repetida em lív-r
de •v de I promul aa Rep(ibiica.. a pria:,cira l:=bni da wna wriv • e no , .. u
c:abcrill• D. J
• Jod
o \1l,
r,.{c.io = e teria pe,D.a!lo ""' -fundar oma onivcaidade DO ·., de JuoeifO coaíw-lhc a direção
I\JllvuD4 g SILVAq11~ c:m 1819, aca va d rt'fC~ r d& lturop vdo • ~ lnfllléncia,
..- no mO'llbntato da lod,:peml&>cia Nacional. Deea 11nlvcnídade prqj d■ por D. ]OÃD Vl qut parece
d
olo pagar de wna lenda, n&o hã, porém, com:, -.ÚITPM .PitnllTIVO Mo ci.a, "o IJl&Dor
bn de •to JOV""' mcal". (Pimunvo MoACJR, A u.niv,., idada de D, Jo o VI. Artil
"""°
n lcgida~o nem
r e U. ln
' 10 &atado de Slo Paulo", dcumbro de l939 • l.• de janeiro de 1 60),
AS ORIGE S DAS INSTITUIÇõE-S ESCOLARES

desinteressados. :tle foi, desde as suas origens, um grande colégio de humani-


dades, - o mais importante criado pelo govêrno do Império e no domlnio
doa e tudo literários, a única instituição de cultura e de formação geral, em•
bora em nível secundârio, como foram também os únicos existentes no país,
no domfnio dos estudos cientificos, sem idéia de aplicação, os cursos de ciên-
ciaa, fi •cas, matemáticas e naturais introduzidos na organização da Escola
de Engenharia militar e civil (Escola Militar, Escola Cen a1 e Escola Poli-
ttcnica) do Rio de Janeiro. Só uma escola oficial, -o Colégio Pedro "II,
representa os estudos literários e desinteressados mantendo sempre, cm &ias
u transformações por que passou o seu caráter de cultura básica, necessária
à elites dirigentes do pa1s.15 A variedade de suas cadeira que, enumeradas
no art. 3.ª do decreto de 2 de dezembro de 1837, abraçavam o drculo quase
completo das letras e das ciencias, revelava a princípio, com uma tendência
ao eneino universalista e enciclopédico, uma larga concessão aos estudos cien-
Uflcos. De fato, no plano estabelecido nos estatutos, aprovados pelo dec n. 0 8,.
de 31 de janeiro de 1838, a parte que se reservou às matemáticas (aritmética,
ãlgebra, geometria e matemiitka geral), ensinadas nos seis anos do curso; às
ciências flsicas, cujo estudo deveria desenvolver-se nos três últimos anos, e à
geografia e hist6ria natural, anunciava senão uma vitória do estudos científico
brc oe estudos literários, um esíôrço salutar para equilibrá-los, rompendo com
a tradição do ensino exclusivamente literário e retórico. Mas a predominância
do ensino literário de base clã ica, já sensível no plano primi ·vo, foi singul~-
mente acentuada no plano de ensino apresentado pelo reitor JOAQUIM CAETANO
DA SILV e aprovado por ANTÔNIO CARLOS, no novo regulamento (l.º de feve
reiro de 1841) com que alterou os estatutos do Colégio. Nos quatro primeiros
anos do curso que passou a s r de sete anos, além das línguas antigas e mo-
dernas (latim, grego, francês, inglês e alemão) não se ensinavam senão o de-
senho, a geografia e a mú ica· o estudo de gramática geral e nacional s6 figura
no 1.0 ano; as matemática e as ciências ffaicas, químicas e naturais amontoam-se
nos tr últimos, enqu.anto o grego é ensinado em quatro, e o latim, o francês
e o inglês se estendem pelos sete anos, apresentando o latim maior número de

, 15 O Colqio Pedro n, cuJ•• orlgcn remoo m ao Seutln6rio dos Ôrfloe de Slo Pedro, criado pel■ pro-
vltlo de ll cJojunl>o de l 739, do bbpo b. P'rc AK1'ÕNlO D~ Ou.u>iti.llf's, • chamado mau tude de Sio Joaquim
ao •er tn.Mícrido para o "º'"º edlítc!o, foi íuotlado cm 1837, po,:· decreto eicp•dldo po,, 81!.llNARPO 'PllUlllA e•
V..ucoN01:L01, têicnte intvlno. O Somloârlo do SIio Joaqmm que, Jà convertido em uma on a de lll'te51'io,, havia
plltoado ptll'O.• Càmam Munlo\pal d Côr e, cttava em com;,!ebl dec■d~oein por e.ta OClltlllo.O Deereto do 1837 -
dar11dodei de d11Hmbro, A11lvenblo nt1blfciodojovc111 imperador-,rcformou,.o radloalm nte, trllntformando-o em
inttltuto de en too nrundi\rio, com o tftwo de Col6do Pedro li. Nesse co!éK)o, - otab<ileda o att. 3.• do citado
decreto -, ""'rio en.lnad&.1,u ltni:uu lattna, rq.a, francesa e ing;l!s4, rct6rli:a e o,. s,Ti11clpio,de gcogra( a,
hilt6ria, ·rilo,oíia, ,rool0gi11, rnlnenJOKl•, bot&o ca, qulmica, fl5ictl, 61gebr&, 1eomctria " a,u-onomla". O Decreto
n.• a, de 31 de jandro de 1838 •prove e:etudCi!I q\lc com ele bai>raJ-mne cm que u. tabtloccm o regime do a•
tudo!! e outr■- ditpa.lç6ea rcl•tiyu ■dminlatração, dw:ipfü,a e ensinD. S"lllJ'ldo estatuto., ao ■Ju.oo que
tiveste compleUdo o ClD"I.O , cava o titulo de boll:harel CD letra• que o díor;,enuiva de exam p■n1 entrar DAI
.c.dc:mlaa. Boi nomeado em S de r...,crclro de UU8 ..,u pri:mci,,o •eitcr D. Frei ANTOmo os Alut&DIDA. que a
25 de ll'llll'ÇO, perante o lmpendor llÍ • IJIOO<X' e presentes o Rqente Ali1'10 Luu. o mlnbt&io, ~ o
rqwamttllO cio CoU&O da mA111 MiD. ~ HHAE>a DI< VAEO>,"CKLOll. &ntn 0a prlmoiro■ prof-,
o doa oo dia ~ de abril, f'icw"avam ]i7J'mt1 o Jori I>A RoceA, JO&O C\.n o DA Sl:1. "• !14.unJm,
AudJO P6uo At.J.Gn e Go Ç,U,VC, º" M.AO.U.U...ES.Elll 1840 foi criada a cadcclra de a.lcmb; - ll primdra
d- lliagua cm n pai,, e que teve como titular o 8""10 de ~ e l~o depol.1, cm l&U, (ar.o:, rcfurnud
pela l?"mdr• vu
ltxaado-
°' cstatotoa do col!1io, mo4iricaod<,.se, pelo novo r~ o tt0. pl.aoo de atud
etc .no, o eUl"lo completo, CQll'I IAtim ooe&etl: e uqp º"" qa■.tro llltlmoa .,..,.. De todos os
e

ereta■ que lbe lntrOdu:.riram m. 1 ,cac , cm 1cu.l, po11<10 import.a,tteo (doc. de \84!>, 51, 55, 62, 70, 74, 81, IJ,
88), nenbWll em todo o lmpéio lhe atin iu tio prilfurulalim,:,tc a ~tu('■ e oe prlvile.ia■ COtrJo o, d • dccret
de 1878 e 1879, rd'erendadm pelo Mia.i1tro LsõHcro D.& CARv-.u.ao. e doa quai o 61t.ii:nodd:cnninoo • 1ua rc•
tirada do minl1tErlo. O Pcaeto n.• 6 881, de: 20 de abTil de 1818, com qJ1C1c deu nava ditlribuiçio u m■ tMa■
de maioo • .., tal'nOU livre a frcq ln.e do e tcruat.a, tirou ao eiwno rcli11l090o .::..r6tc:robr 11t.6rio,pctn:utindo
a111 eatudanta a.ut6!ici» ncew o Ili' u de bacblrd m cunarcm a ca.delra de lmtrv n:ilaiou. Pdo .Decreto
n.• 7 ~♦7, de 19 de ab<"il de 1879, 1c e ten cra.n), em coi,,Us,;e. determm■.t.., u prcn~tivu d.c que IW'!Vll o
Cole.lo Pc,:ko ll BIii at■ bclcdJn,:nta, de CllSIOOIICCW>.iãriOqu.e .aeguiui,m o ,n"""'ºprocrama de ... cud.... o
l■taot0 e o pcrma....:e ■lnd• no cdlrldo do Scmín ·o de São Jo■qoim em que foi i talado e Ql:lC. rccon truldo,
com nc,yq Onhat ar:quitet6nkaa,. por B•TIUNcouu DA sn.v1. (1877), .., acha d e 1913-14· c:om~t.e
trBn$Í , ~- JA illldapt6vel t oovu ~tm:ia• do Cl1$lll0. (C!r. Buollno H, B.utltM a..,,. GAIM.CIUA,
O Cotatlo 1' dto U. Rio de Judn>, 1g1 ; Bda.AlllfOl.t.l: Da,u,,.., Maa16ri• hi•t6dc , COGl<mOta -va elo 1.•
Ccotcll&rlo do Colf:cio Pedro li. Pubiicll do .tdutlttéáo da ~. Rio, 1937),
334 A CULTURA BRASILEIRA

lições do que o de quaisquer outras disciplinas. ~e plano de estudos consagra


no Colégio Pedro II wn ensino secundário de tipo clássico, com predominância
dos estudos literários e adaptado menos as condições csped • do meio do que
às tradições morais e intelectuais do país. O ensino da Ungua pátria. reduzida
a um ano de gramática geral e nacional (1.0 ano) e a dois de retórica e poética,
não chega a dar um. colorido nacional a êsse plano de tu.dos fortemente euro-
peizante; e o tudos científicos acumulados na última parte do curso, de atro-
êlo com os de línguas clássicas e modernas, mal poderiam ultrapass!U' os li-
·tes d mera 'informação" e de erudição liVTesca. A ob -o dos estudos
superior profissionais, como um meio de tornar o indivíduos úteis à socie,
dade do tempo ou elevã-los às fileiras da elite dirigente, e o espirito utilitário
que se desenvolvia, parte sob a pressão de necessidades imediatas, parte pela
predomin ncia da cultura profissional, tinham de forçosamente prejudicar
os progr ssos dos estudos cientfficos, jã entravados numa certa medida pelo
carâter do ensino básico geral, eminentemente literârio e retórico, no Colégio
Pedro lI e nas instituições particulares de ensino secundário. Certamente
capazes de cone ber planos de estudos em função da condições do meio bra-
sileiro jà m transformação os estadistas do lmp~rio, imbuídos de fórmulas
jurídicas e penetrados de cultura européia montaram um instituto de ensino
cundário de rimeira ordem, mas aristocrâtico, que tendia e separar o menino
de eu m io, a afastar o homem das funções úteis, t~crucase econômicas. e a
influir poderosamente, em colaboração com os colégio e seminários, como um
trum to de seleção e de classificação social.
a edacaç-ão de tipo aristocrático, des ·nada ante5 à preparação de uma
eli e do que à educação do povo, desenvolveu-se no Império, seguindo, sem
desvio sí 1, as linhas de sua evolução, fortemente marcadas pela tradições
intelectuais do país. o regime de economia patriarcal e pelo ideal corres-
pondente de homem e de cidadão. O tipo de cultura a que se propunha servir,
não se xpl"ca apenas pela tradição colonial de fundo europeu, que de certo
modo o p:-ep&rou,mas se liga estreitamente às formas e ao quadros da estru-
tura ocial que persistiram por todo o Impêrio. De fa o, com a mudança do
e tado político, de colônia para nação, e com a fundação, em 1822, da monarquia
constitucional, não se operou modificação na estrutura da soei dade, que se
man ve como na Colônia, organizada sôbre a economia agrícola e patriarcal,
de base escravocrata, desde os engenhos de açócar no Norte, até as fazendas
de caf no Sul, já pelos meados do século XIX, em pleno des nvolvimento.
Nes e regime de educação doméstica e escolar, próprio para fabricar uma cul-
tura anti-democrática, de privilegiados, a distância social entre os adultos e
as crianças, o rigor da autoridade, a aus~ocia da colaboração da mulher, a grande
diferença na educação dos dois sexos e o predomínio quase absoluto das ati-
vidade puramente intelectuais sôbre as de base manual e mecanica, mostram
em que m 'da influiu na evolução de nosso tipo ucacional a civilização
basead na escravidão. O menino tratado de resto ou "como um demônio, passada
a f de er considerado como um anjo, que era até 5 ou 6 anos". nas expressões de
G[LBE TO FR.Ev'RE. quando não usa batina, nos colégios ves e- e de sobreca-
saca pre a ou "com todo o rigor de gente grande, com a diferença apenas das
dimen ", para e desforrar, já rapazes, na in • "plin das e.scolassuperiores,
do regime de autoridade em que pais e mestres haviam asfixiado a sua natural
vivacidade de meninos... É êsse aspecto triste e sombrio, com que e apre-
sentam meninos e meninas, todos com ares de adulto , é essa precoce maturi-
dade exterior, nos trajes e nas maneiras, que levou um viajante estrangeiro a
A ORIGENS DAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES 835

chamar o Brasil d tempo "um país sem crianças''. A mulher, essa, tratada
geralmente com su riorid de pelo homem, quase um senhor em relação
própria esp (e la mesma freqüentemente assim lhe chamava); eoclausuradâ
nas casas grand e no sobrados e sufocada na sua personalidade, consagrava-se
aos mister~ da casa e aos cuidados dos filhos. Não tendo em geral mai que
educa -o dom~ ·ca, cercada de escravas para todos os SCTviç e ocupada
com o lar, o piano e a agulha, "contentou-se com a sorte medíocre que lhe estava
.reservada, não procurando alargar o seu horizonte nem melhorar a sua con-
dição' .JO A escravatura que desonrou o trabalho nas suas formas rudes, eno-
breceu o 6cio e es imutou o parasitismo, contribuiu para acentuar, entre n6s,
a repulsa pelas atividades manuais e mecânicas, e fazer-nos considerar como
profisllÕeSvis as art s e os oficios. Segundo a opinião corrente, "trabalhar,
submeter-se a uma regra qualquer, era coisa de escravos". Nessa sociedade,
de ~nomia baseada no latifúndio e na escravidão, e à qual, porisso, não in-
tex:ess~va a educação popular, era para os ginásios e as escolas superiores, que
aflu{am os rapazes do tempo com possibilidades de faz.er os estudos. As ati-
vidades públicas, administrativas e políticas, postas em grande realcd pela
vida da carte e pelo regime parlamentar, e os títulos concedidos pelo Imperador
contribuíam ainda mais para valorizar o letrado. o bacharel e o doutor, cons-
tituindo, com as profiss liberais, o principal consumidor das elites intelec-
tuais forjadas nas colas superiores do país.. .Esse contraste entre a qu e
aus&lcia de educação popular e o desenvolvimento de fonnaçao de elites, tinha
de forçosamente estabelecer como estabeleceu, uma en.orme desigualdade entre
a cultura da classe dirigida, de nível extremamente baixo, e a da classe dirigente,
elevando aôbre uma grande massa de analfabetos - "a nebulosa humana
desprendida do colonato" -, uma pequena elite em que figuravam hom s
de cultura requintade e que, segundo ainda. em 1890 observava MAx LE.CLERC,
-o destoaria entre a eJites das mais cultas sociedades européias.
Se um do mais preciosos documentos para estudo da evolução de uma
sociedade e do caráter de uma civilização se encontra na legislação escolar
:nos planos e programas de ensino e no conjunto de suas instituições educativas,
a análise dêsse material e dessas instituições o que nos revela ê exatamente
a continuidade de estrutura social e econôm;ca e do desenvolvimento do ' tipo
de cultura" colonial, produto de uma ci~ação fundada na scravidão. A
instrução primária, confiada às províncias e reduzida quase exclusivamente
'ao ensino de leitura, escrita e cálculo; sem nenhuma estrutura e sem caráter
formativo, não colhia nas suas malhas senão a décima parte da população cm
idade escolar, e apresentava-se mal orientada não somente em r lação às ne-
cessidades mais reais do povo, mas aos próptjos inte:rêsses da unidade e coesão
nacionais. Em 1867 LIBERATO BARROSO, apoiado em dados oficiais,11calculava
em c!:rca de 107 500 (mais precisamente, 107 483), o total da matrlcula geral
nas escolas primãria em tôdas as províncias para uma população livre de
830 000: n a altura do Império, sôbre cêrca de 1 200 000 indivíduos em
oondiçoes de recebe-la, apenas recebiam instrução, avaliando-se acima da es-
timativa, 120 mil ou seja a décima parte da população em idade colar, ou
ainda um individuo por 80 habitantes. O ensino técnico, agrícola e industrial,

IS MA.a: L ci.nc, wffn• du Bt6si1. Cap. XI, L'csprit public, LºEtat .ocial, la m
tutiom. P 203-2'6, Llbralrie Plon, Paris, 1890.
17 J. LJJIA.UO BAuolo, A in•truo6o páblkl! no Bruil. B. L. Gllnlier Bdlt«. Rio d11Janci,o, 1857.
p6&. 35.
336 A CULTURA BRASILEJRA

não passava de meras tentativas e ensai0$. O Liceu de e Oficios, de


1nicia iva privada, fundado por BETBE COURI' DA SILVA cm 1856, no Rio de
Janeiro, não se desenvolvia como uma plan a que s fez ao ar livre e ao 801,
mas com.o uma instituição artificial, tran plantada par meio estranho e hostil
e mal compreendida de quase todos. Nenhuma outra escola de cn ·no indus-
triali duas, de comércio, o Instituto Comercial do Rio de J ·ro, cm que
1864 se matricularam 53 alunos, e o curso comercial de Pernambuco, que não
·oh mais que 25 alunos nesse mesmo ano; e apenas tr• 1 de agricultUTa, uma
em projeto, que a Companhia União e Indústria obrigou a criar no Rio de
Jan iro, cm virtude de um acôrdo celebrado em 1864 com o governo imperial,
e duas outras, respectivamente com 24 e 14 alunos cm 1864, nas províncias
do Pará e do Maranhão. Nenhuma dessas escolas e das que depois se criar~
prosperou no pais, acabando por extinguir-se míngua de recursos, de alunos
e por falta de organização. O 1mperial Instituto Flumin nse de Agricultura
e os outros institutos similares que se fundaram na Bahia, em Pern~buco,
em Sergipe e no Rio Grande, - associações criadas com o objetivo de propagar
teórica e prà •camente os melhores sistemas de lavoura e de exploração agrí:
cola-, n - o cons guiram, não digo realizar, obra ú il e duradoura, mas nem
qu r r urgir do marasmo em que estagnavam, sob governos apáticos -e
quase indiferentes. Ésse quadro, realmente desa.rum dor, como o definiu LJ-
BERATO BARROSO, em 1864, denuncia ao descaso pela educaçao popular e pro-
fissional, a me talidade dominante, literãria e retórica tanto quanto escravo-
crata, que opunha ou se .mostrava indiferente a todo o fi rço para orientar
o ensino geral no sentido das condições sociais e econômicas ou com fin mais
práticos e utilitários. O trabalho da terra, como a tivid de mecânica e in-
dustrial, parecia reservado aos ignorantes e incapazes e mal se acomodava
c:om pécie de enobrecimento que confere a passagem pela cola, -
pcl lic us e pelaa faculdades, destinadas íl preparação para a profa õcs ti-
rais. Os tudantes que. no Brasil, como aliãs por tóda parte, vinham da
elite da sociedade, - do patriciado Illl'al ou daquela pequena burguesia que
procurava ascender às camadas superiores, - dirigiam-se s aulas e aos gi-
n.6s.ios,e daí, às escolas das profissões liberais, e especialmente às duas facul-
dades de direito. lt o que nos revela êsse contraste significativo: para pouco
mais de uma centena de alunos, esparsos por pequenas escolas comerciais e
agricolas, atingia, no mesmo ano de 1864, a cêrca de 8 600 o número de alunos
que frcqilentavam as aulas e os estabelecimentos públicos e parliculares de
instrução aecundãria 1 e inscreveram-se na Faculdade de Direito, do Recife,
396 rapazes, e na de São Paulo, 430, tendo- e matriculado, no decênio de 1855-
64, segundo os dados oficiais, 8 036 alunos nas dua faculdade de direi o do
Imp rio. 1 Na sociedade governada pelos inter es materiais de uma oli-

.,..rta de lei de 11 de ec&sto de 18'.17 ccloa,ada par 0, Puao I e o V~ de


(J Felici.ano cn,,mda Pii:lbcíro) e d e -.--iail, 'IIJll
P ulo e ~o na de O6Dda. anti& m tllladce oa dClia
e o l)rifflriro 110 Coo"ento de Sio F Moateu"O
lJI l o.• 71~, de 19 d _
tul , baixacd.ca l'nll:a &I
vm.art:o, o r,linitJ:..o Pto • 1 316,
d aova ar11_.,ja,çiío aoa cur l>O\'tn
pauaram • d,:nmnina,--.e r &•

= o da:>'rto n.• 1 134, e


"' tralUferid.a ~ o R«iú,
de março de 1853, que
o pd.o lq:iaJ.tivo n.• 714, de 1
impon:&ow. doeume<>to a4mia: u1tivo t
Ldloc;io de Carvalho (dcc. • 7 247, ele 1
dp,,o d.. Cõrtc e o ou;,.,rl« rm todo o 1
• de mo:J.w.na 1q,t.1 eh" l4ria do dlrrito
de deu oJ>Vm utatut u li culil e dird
pr6 eve & 1wi cxecuçào 11>1pc:nn, c~c• de 11 mnc:a de o
de IIIS). De tAdal &o rc!arm.u l)OI" que s---am u raculdad de dllc to, oa .Rcp 1890 •

o· Á o.· A G R A. T I
:·e ·A-:R NA M~B U .GANA.
~~
. .,. Â o
s Eu BEMFEI
E X.Mo E R.~1.º S EN H. ..
D. J O. S ~· J O A Q U I M
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DA~ .
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D E A Z E R E D O C O U_T I N ~."i~ J ...,..,. '
..• Bifpo d' Efli11s , em outro tempo de P•rn11mbuco-, E/,:it, de Br•gan-
~?

ça., e JHira11d11, do Co,uel/;o de St1a il'I,rtestade , Governatlor


-lrtteri110 da C11pi,,111ia G.:ral de Par11n111buco, Presiáente fl(r Re'!}
Junta da'Fttzt.mf·o, Dírutor Ger11/ dos_ Estudn, F1111dodor·doSe-
• mi111.1rio•de !:,'osso· S,:11/1oro da Gr:,af'' d1;1Cid111li! dé: p1i11da , ~ So-
•do da .~.ad(,'!i~ R~ft.d11s Scie~ia~. ~e~ 1.Jsbo•1 , ~., ...
. • ', :• . l • ,
{."\,, n '~ .,e.., .J!: ., • .., ••.
~ V• µ. ...~ .-./" •... 1- • ~. • ,

• • .. 4. "'~• • i"l-t\ .._ 1 l

......
,t '4;.,..,..S
• < • t .• ,.

socfos--ÍM,.. fA·~N-AMBUC~Ne~
A-C::.tBEMf~
i '0 S

A L UM NO.: D O :,'EM I N·A RI O O L 1 N D EN SE.

N NO' M.DCCC. VIII.


.. - /

NA No V A

32 L Fac-símile do rosto do livro A gratidão parnambucao.a ao seu bemfeitor o Exmo. e Rmo. Senhor
D. José Joaquim da Cun.ha de Azeredo CoutÍI\hO, então bisp0 d' Elvas> em Portu~al, antigo de Pernambuco,
fundador do Seminário Episcopal de Olinda (1800), q't1e se tornou o foco de irradiação de idéias
liberais e da nova ordem européi:J no Brasil. Edição de 1808. Lisboa.
Do exemplar da Biblioteca Lamego, hoje incorporada à Bibliotec-a Cent:ral da Faculdade
de Filosofia de S. Paulo.
322, D. JOÃO \'1, o fundador de wtiruiÇÕft. IH•~nho de J. 8. DEBRET.
Gravura de C. S. PltADIIR. lmpreuo por CHAIUIO,.. Coleçio cb Museu Pauli.ui.
ESPIRITO DE. VIElltA~.-- ANN-AES
OIJ

SEL ECTA
DE

PENSAME 'TOS .ECONOM:ICOS, POLITICOS, (;A_Pl1"'ANIADE S. PEDRO


MORAES , LITTERARIOS , 1 ,
COM A BlOGRAPHIA ~----- PELO
DESTE CELEBRADO ESCRIPTOR.
APPENJ;>ICE DE 'EMBAR ..ADOR
AOS
TJG~'E' FEl.lCt,1.VO PERSA. -DE,' PJV[[E/f(O_
ESTUDOS DO BEl\rI-COMl\rIUl.VI.
1'011.
I
JOSE DA SILVÁ LISBO.J.. To 10 I.

O que uuica~wc.ntede,ej~. bc \ltT u Reii10 unido, fiel, e .obe-di,ntc;


O! n1wo, de sua conservoçio prompto:í , e bem app1icad09i e para mim,
..cab<r o ""'º llot dia, l1ll minho. l\Jiuio.
• v-~;,.. c.,i. &m,.

RIO DE JANEIRO. NA IMPRESSÃO REGIA. llIO PE JANEIRO: ~A JMPRE;,SÃO


11,
REGIA.
182 1. l 8 1 9. : :t· · -
C'o11i Licença..

323. Fac-s:imile do fronti:spício do livro Espirita de Vieira ou Seleta, etc., por 324. Reprodução lac•simUnr do r~to do livro Annaes da Capitania de S. Ped.ro,
JosÉ DA SrLVA LISBOA, pub/jcado 'em 1821, na Impressão Réth:1.. - ún.ica existente pelo desembartador JOSÉ FELICIANO FERNANDES PlNHEIRO, publicndo em 1819,
no Rio de Janeiro a1ó 1821 -, criada pelo decreto de D. JoÃo VI1 de 13 de ms.io na Impressão Réeia, criada em 1808 por D. JOÃO VI e QUe passou a denominarrse
de 1808 aue nssinalou "a introdução permanente da. impre11.'i:ã no Bra$il". Imprensa Nacional, em 1821 .
Do exemplar da Bibli.oteca Lamego, hoje incorporada à Biblioteca Central da Do exemplar pertencente à antiga Biblioteca Lamego 1 hoje incorporada à Biblioteca
Faculdade de Filosofia de S. Paulo. Central da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
325. A anti.~a Escoln Mifjfar do Rfo de Janeiro, em que :iie tumslôrmou em 1858, a Escola de
Aplicnção do Exército, proveniente como a Escola Cenlt:a.lJ da Academia ReaJ Militar, fundada por
D. JOÃO Vl e que, instalada ainda no Realenio_. deve transferir-se para. seus novos edifícios,
cm Resende, no Estado do Rio.

326. O Colé,gio do Caraça, que tomou o nome à serra do Caraça, em Minas Gerais, funda.do pelos
padres laz.a.ristas em 1820, famoso pelo riAor de sua disciplina. e como centro de estudos humanísticos.
327. D. ~110 li. p,ttrOno do Colótio Pedro 11, cm 1837. D<l><mho
dt; Luls AUUXO Eout.ANOP:R.
Coleçio PAANCISCO M"-RQL'ES DOS SAlffOS.
Chc:hi dt' MANUl!:L PINTO G .. PAR.

328. Br.M..,ARDO PMFJRA Dr. VASCONCf.t.OS. 329. Ftf'cl Al<TÕNIO DB ARRÁBIDA. bltPO elo
ministro do lmplrio. que r~lerendou o decreto Anem,iri•, prim,,,ro Reitor do Cold1io Pedro li
do 2 do dezembro da J 837. com o (/u~I ,e (1838-39). •ub•tituído "m /839. q1111r1do pediu
fundou o Cc,/cl~/o Pedro li. boi1<ado por Pr.DRO t,XOnernç,io, por JOAQUIM CAIITANO DA $11.vA
A~AÍJJO LIMA, ftJlent& interino, e.m /\OfflO ,to (1839·185 l). ;.,.,. forte dt MODESTO B11ocos.
/mporodor o Senhor O. PEDRO li. Coleçiio da Biblloteu N•donol.
330. Collfio S. l.11,,. d
(Jttdr~ j w1,u, pr,...,,/r mu-
u do 8ra,il. lund""o '""
J867, c,m ''"· noe~,..,º
P•ulo
d

33 l, A Aeadomia Imperial tJ"


B /,., Arfo , do Rio de Janeiro.
Proioto de OR.-NDJEAl'I DE
MON1'10N"\', rqult<>f<> da Mis-
1tl.toFtdn sa que veio no Brasil
em lBJ6 (Ediffcio em que mais
tt11d ~ irutalou o Mini.stêrio
da F1111Mda).- Foto STILU:.
Col io da Faculdade de Filo-
mfla de S. Paulo.
-

332. 011 AAAÓJO PÕRTO ALIIGR&,


MANllt:t. 333. AalLIO CUAII BORC.S. bar5o dt, Ma-
bario de Santo Á~o (1806-1819), poeta e, uúluu (Baltra, 1824-1896), m&lico • irandc
pintor., prof~~ o primtú.10 diretor br.silei,o edueodor cem mais de 40 ano.t de u,rviç,>6
da Aa>demi,1 lmp,,;rial de Belu Artes. Rctri>to a «dUC"S40 rntcion/Ú.
de PltORO AMtRrco. - Foto C.ARLOS.

334. JOÃO PEDRO D& AQI/JNO. ettAenltciro,


fundador do E1tternato Aquino (1867) ,-lo
qual P4JSAra.m duran,~ mais de meio M!!C.uto.
n1ilhorcs do c11udantl!$, e em que Rui BARBOSA
ao in,pirou o oolheu dados para o .seu p/ot•o
do reforma, em 1882.
335. Colégio Anchieta, fundado pelos padres jesuítas, em 1886, em Nova FTibw:Ao, no Estado do Rio, e um
d08 mais import.1ntc$ cqtabclcoimcntos de cm1i110 &ecundtirio do paÍB,
336. PEDRO II, qr,1e sempre revelou exfraordínário inferêssc pelas coisas do espfrifo e foi um grtmdc
inccntivador da obra de educação e de cultura. Retrnro oficial de pouca divuléaç5o.
J37. Museu Nacional, antigo Mus-eu Real e Museu lmpel"Íal, funda::Jo por D. JOÃO VI, e em que, ~'f partir de 1876, e pnr inicfotiva de
LADlSt..Aü NETO, .seu diretor (1874-1893). se realizaram cursos de ci.ência.s e conferências ptíblicas.
Fotografia do antigo edifício cm que Co.i primitivamente instalado o Museu Real, e que depois foi ocupado pelo Arquivo Nacional, com a
transferência do Museu Nacional, em 1892, para o Palácio Imperial da Quinta da Boa Vista, Rio de- Janeiro.
Cópia fotográfica do Arquivo Nac-ional.

A,sigoaluradoO.P[ORO 4.º d! p,.1,,,1e 1° ,, 81mi


\t1.'1;\e"\1 ""- ü1:'(\\\ C.o"sl,\,l,011~,,

Assignalura
dol~peradar li, doBmil
O.PlORO

D,JOIOli
!ui1nalmd, EL-REI
\\t'I 11.t~o,\1>40.\~ \,11~m.\\.o,\\.otTM,\
C.011\0
338. Fac~simile das as~inaturas de E/.Rci D. JOÃO vt, o fundo.dor de instituições, de D. PEDRO J, o
criador dos cursos íurídicos no Brasil e rle D. PEDRO li, cujo nome se acha UjJado D tôdas as iniciativás
de caráter cienrífico, no século passado.
339. Vi,cond<' do Rio BRANCO, em cu,o 340. HJU<ltl Co11c.t:1x (1842-1919). fr•..eb,
miniJt6r,o (1811-1876) ,u,~ • Escolo de Mino1 or,an,1.ador e prim•iro ditt!tOf' da E.s.cola do
de Ouro Prõto, cr111do un l 815, e ,., ro1tl1• 1lfu•4J do Ouro P,~to.
zaram t•lo,ma, e inic:i,uivü do mnior tücan«
por-a • dvili.1~ brtUJleira

--

341. JOAQUIM CÀNl)ID() DA Co$TA SllJ"A


(1852-1919), minualo,isla e luc;,iro dirotor
d• E•colll d,: Minas de Ouro Préto.
342. O conselheiro RUI 8AAOOSA, autor do lnmoso pnrcccr
n.• 54, com Que justificou, como rclotor dn comi&.siio nomet.d,-,
em 12 de $etembro dr 1882, o projeto de ,elo,ma npre.t.tmtodo
pelo conselheiro DANTAS, nn Cltmnro dO!I DaputadO!t. -
Fotogra!in de 1918.

343. O conselheiro LiiÓNCIO DE CARVALHO,


ministro do ImÇWrio. o inovador. autor de
reformns dl! caráter rndioal (1878), inspir.1das
nas idêins Jibers;s.
AS ORJGE.NS DAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES 337

garquia de grandes proprietários rurais, explore.dores de escravos, e pelo idealismo


jurídico, cul ·vado nas duas faculdades, continuadoras das tradições coimbr-s,
erguia-se, superior estrutura social e econômica, a estrutura politica, mont da
pelos homens d direito, e aprofundava-se, em vez de se reduzir, a dis ância
mtre a cultura da elites e a das classes populares, .que permanecem em r lação
àquela!>, como ' realidade mísera de um pobretão sob um manto de lcn e•
joulas ' e de pedrariaa ...
Assim, pois, feita abstração da massa de escravos e dos povos primitivo ,
inteiramente ao abandon0 1 dentro da propria sociedade livre, cm que coexis-
tiam os mais diversos estágios da civili:1;-açã.01 a classe dirigente di tinguia•se

excessivamente do resto da população do país, não s6 do ponto de vista do


aspecto exterior, do nível e estilo de vida e dos interêsses essenciai , mas, eobre-
tudo da cultura. Uma minoria de letrados e eruditos, e uma enorme massa de
analfabetos. E se é verdade que a desigualdade de fortuna (e de poder), ao
contrário do que afirmam os economistas, é mais suportáV'el do que o da cul-
tura, bse grande desnivelamento não podia ficar sem efeitos sõbre a evolução
da cultura como da política do Império. Enquanto na América do Norte, em
relação à cul ura, a população é mais homogênea e a classe dirigente é mais
próxima da classe dirigida. - o que explica em parte o caráter beoigno da luta
de classes e a maior solidez das instituições democráticas nesse país-, man•
tinham-se, no Brasil, e tremamente acentuados os desníveis culturais entre
as elites e o res o d população. 2sse desní'.vet, que já é um efeito normal da
civilização agrâria e e cravocrata, foi notàvelmente elevado pelo desenvolvi-
mento que adquiriram no sistema escolar em formação, as escolas destinadas
às profissões liberais, m um desenvolvimento paralelo da educação das ca-
madas populares. O que estéve na base de seus progressos, não foi õm te,
.,POrWJ,a necessidade de prover à renovação dos quadros das diversa profi ões
intelectuais (advogados, m dicos, engenheiros) e das atividades pública do
Esta.do. Nem se podia eitplicar êssc movimento, - tendblcia exagerada para
.as carreiras liberais-, pelas razões de ordem mais geral que se prendem, já
aos caracteres da sociedade daquele tempo, já aos progressos da burguesia e
às modificaçoes que se iam operando na sua estrutura interna. A nova ela se
social que se desenvolvia, com o crescimento dos centros urbanos, tomava- e
de fato cada vez mais acessivel aos estudos que a principio pouco a preocu-
pavam e que passaram a exercer sôbre as gerações novas uma tão grande a ração.
Entre as causas dessa tendência está certamente o papel selecionador que as
escolas profissionais superiores foram chamadas a desempenhar, acumulando,
com a sua função especifica de transmitir uma dctemúnada herança cultural,
de uma geração a outra, a de agências de seleção e de distribuição. O gin slo,
preparando para as escolas superiores, e estas, formando bacharéis e doutores,
tinham por mi ão, n-o manter o indivíduo nas ocupações habituais de 1eu

rai Cfftamrlltc • de BDJAMIK CO!fl'LU<T (d« ...... 1 232 H, d 2 de


rataado o im111crod~ c•dcir.,,, crlae>d • R i,l.za Ai,• •mi
e jurUku, de citnriu e notanado, •boi OI- cui li S
retafl.<18650,deS 1911,q ap,av••I or••nic■
do l'l.lnd.a de-:rct a.• 11 Sl0. de ta d.e m A,
ele 191 au;l!rio e ,upcrior, u,trodu IIH
c.r,.Jdad • docum,ntos l•!ti-•bti e 11_d11>' VII
0DUI linha Httlt eute d - '·
ma - i!I accnnada cm !Ili • e e»
D DO Couto Fllll.ll.U (B;xn Rctirol, l)f
«. A, oub'fl m ;. ub p~to de ~uta, ,:,unlta, • lu
10 • fia de Direito do Rio de Janóto i iiu,orpYadll I J•·
......o. crillda polo d<tteto n,• , de 7 de ..-tnnbn> de 1920, e or1ao.\Ltd , com do
H2, d'" S de 19]7. A aati11• Faruida~e de Direito de SI:, nl•
Pa,alo. cri S de jaoeiTO de l9J , . neuc ano. ua111f • ovlrno
P ulo. hoje no palt Ili í.-euldllet de direito. du qu.ú e d11&1
tt-ior t• d.t P I oo RI GJ'anclc do s.il e .■ de Cami-, llll &.lado do Rio de J■.aclro),
338 A CULTURA BRASILEIRA

meio, mas de o elevar em dignidade social, dar-lhe um título e abrir-lhe, com


inclusão em uma das profissões intelectuais, o acesso ao jornalismo e às letras
ao cargos administrativos e às atividades politi ão eram perspectivas
que e rasgavam sõmcntc para os brancos mas tamb&n para os mestiços que,
tendo- clevado, no período da Colônia, pela pelas letras e p las funções
ecl •áaticas, encontravam agora uma nova escada pare a a censão social, nas
escol superiores, donde entravam em número crc cente para o quadros das
chamadas profissões liberais. A importância dessas eacolas como canais de
circulação social vertical toma-cSCevidente pela percentagem cada vez maior
de r~az ue afluíam para elas, desde a sua fundação e dos quais parte se
consagrava exclusivamente às suas carreiras, e parte se elevava das suas pro-
fi ~ ao magistério secundãrio e superior, à poHtica, e à alta administração
do país que recrutavam os seus melhores elementos nos quadro das profissões
liberais. Na hierarquia profissional ocupavam esta o degrau mais al o, sendo
de Odas as mais procuradas as que se preparavam nas faculdades de direito.
D fato, m 1864, que podemoji tomar para exemplo, matriculavam-se nas duas
faculdades de direito, 826 alunos, para 294 nas duas de rnedicina; 1~ 154 (dos
quaís 15 militares) na Escola Central, e 109 na Escola Militar, sem contar a
Escola de Marinha de que não foi possível encontrar dados relativos a êsse ano,
e que apre ntava em 1866 a matrícula geral de 94 alunos. No decênio 1855-
64, para 8 036 alunos que se matricularam no dois cursos jurídicos foi de
2 682 (excluídos os 533 dos cursos farmacêuticos) o número de estudantes nas
faculdades médicas e, portanto, um têrço da matricula total nas duas facul-
dades de direito. Em 1876 os números já tendiam a aproximar-se: nesse ano,
78 alunos recebiam o grau de bacharel nas duas faculdades de Recife e de São
Paulo; 102, o de doutor nas duas de medicina e 58, o diploma de engenheiro
(civil, 35; ge6grafo, 22; de minas, 1) na E cola Politécnica em que, dois anos
ant , ransformara a Escola Centra] do Rio de Janeiro.
Todo o fôrço e todo o favor do poder imperial aplicaram-se naturalmente
ao d envolvimento do enl!ino superior não s6 porque o Ato Adicional deslo-
cara para as províncias o ensino primário e secundário, senão bém pela

19 A. PIIDUldades de ?,ledkina do Rio de Janeiro e da hl tlm u uat orl ~ nOIIC11n01 de clnlrgia


c:rill(lo. em 180 por D. Jo.lo Vl e aml'liadot cm cur- de medicina e cirurgia, cm 11113e cm l81S, em que 01
ci. 8ahla roram équlparad0tt ao, do Rio de Janeiro. Em 1832, pelo deudo d ■ R enc-la, de J de outubro de.te
•no, u dila ac■ demlsa n,6dico-cirl1rgice ronom t"COrganiuda1 " tran rormeda cm rac:uldad• do meJido11. ~-
vindo- da autoriuç o le itlativa, contida õo decrtto n.• 714, de 19 de 1ctembro de 1853, o Ministro Lu-la
PU>UtRA DO OOu-ro Fs RAr referendou o dc,cn,to n.• 1 38?, d• 28 de 11bril de 1854, com que deu nova organi•
n~ o h duat füc:uldirde,i de rnedidna do tmp&io, o, estaru- de 1 S4,, com que u privaram o cn1ino, de sua
liberdade e •• ÍM,euldadcode ·ena autooomiJ,., ,egu11do ob••fV'll F&w;NAND0os MAOALll~H, eram lnferiotu à lri
de S,de• outubro de 1832, ''notável de pre\lioão e de libenlli!mo''. A fololathr• dn Knv&"o do Marqu!a do PAJ1.,1114
(1853~S~I. concebida num tcnlido anti-libera:!, autorit4rio, reprnent:n, por~m. do ponto d1: viaw t!cnico, -o primeira
tran,for-maçlo Importante daa dua, raculd'ade,, Em relação ao en1lno mMko, a rdorma promoviáA pnr Ll!ÕNCI0oa
C411VALlfO(d . o.• 7 247, de 19 d.e aqril d., 18791, fundou cur..,. pr6tk01t, de11dc,brouclln CH ,crab e criou e,,
pecl 1~.lntrodudndo outra, iaovaç!ie• de relevo, gue, como aqúclas, ollo tlvc,am exccu, o. tn1tituindo o regime
de liberdade de freq0&ncia edc ensino, em parte modifkodó _pelod • n.• 8 918, de 3J de m~ de 1843, n o tardou
• pra:1uilr 11CIIIefeiCOt aõbre o ,:mino na• faculdadn, de medicina como n outro, n1tltut01 IUJ)t'MOl"es do lm•
~tia. O d . o.• li 02 , de 12 de março de 1881. Cttabele«Odo medida• p r de envolver o enolnn i,ritieo. dCt•
dobr Jl<io cadeira• e criando Pavu dín.lca,., imprime ao ensino mltdlco um novo (mpul quo ,., dctcnvolvc. no
■ no •cgutnlAI, com a remodclo_çóes de uande alomce, contld "' er m• L,cóncia de C rv•Jho, que a decreta
de O de outubro de 1882 ourndou cumprir na tot1tlidáde de eu pl,no e d w,1 dlopotlç , Ma,. de t6d
reforma, empreendida dC!ld.e 1851, a de maior vulto, pclas IUQ rc ll m■ ti I e t cc••• foi • de 2S d4
oun,two de 18114;preparada por- uma onga aunpcru,a. em qoe tomaram parte proi n cm ncutel e, entre
, S,U,Ól4, d recor d• F~ade de Medicina do Rio de Janeiro (l I l e tõbr a qual Wluiu • noúvel
rci,rocnaa o dlrt,,,da. em 1880, prl8 F"8Ctlldadt da Bahia à Clmara d Oepul:ad01, a rd'orma tr çada no de-
cnto de 11&4. que deu ....,,.,. estatutos iu faculdades de icina, marca uma cun,a u«ndente e lna a uma
Ept'C8 na cvolu o da ino mh:!ko do p,th. Depoi1 do mav,mcn renovad q ,e trad iu ao decreta n.• 1 110.
de 10 d janeiro de 1891, - • prim~ reforma rq,ublic-ana da íacul de 1106,do n1111 "' utl)too de
BUJAMDI Co l'tAHT -. novas alt~ se introd ....-iram na arpo aa'-'° do ~na mMicn pela I or1•n1ca
d 1911, pda I Carl011 u,míliaoo dec. 11.• U 530, de 18 de ""8l'ÇO de I JS) e la d..-. de 13 de janeiro de
11115ln.• ICi782,Al teve como priDcipal colabotedor o Prof R VM, tor da Uoív ■dr.-do Rio
d J•odro ,: prcttdcnte da Comelbo Superior de lttalno. N■ r inçla d• Univ e do Ria de Janêro
pd■ 1 • Ptancl~ Campao (1!131),1U faculda<u,a dr r:nediciAa do Bruil oav■mcnte rcors r.ada,, com o duplo
ob o "IDflNÍI' o mállca na, eonheci=tm indis~ • • u no e m , e de hmulff • inda .tão
den oripaal. em quabquer d~ da biologia aplic:ad.11". 8111 19 O, alba de 12 í■c:ul .,, de tarmAci■
e odantol • óam 11 fatU.ldlldes de ,mrdicina, das quaili duu, ■ de a Plaul.,, - • ma bc:m ionalad.•
d t6dat com moou111C11talHospital de Cllniau. e • do Rio de Ja.o • , ~du fCilp«~~ A
IJnlv 'dadc d Slo Paulo e A Universí<bde do Bn,il.
AS ORlO NS DAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES 339

enorme importância que assumiram as escolas das profissões li is no sistema


de educação. Numerosos debates se travaram no Parlamento bre propos
e planos de reformas, e os decretos sancionados sôbre o ensino superior ou oa
diversos tipos dessas escolas constituem uma copiosa documentação para o
estudo dêsse capitulo da história da educação no país. De tôdas as iniciativ
que atingiram, no r gime imperial, a legislação reguladora do ensino uperior,
destacam-se pelo seu •gnificado ou pelo alcance de suas inovações, o decretos
referendados, no governo do Marques do PARANÁ., pelo M'tnistro Lufs PEDREIRA.
DO Couro FER.RA.z,Barão do Bom Retiro .(decs. n. 0 1 386 e 1 387, de 28 de
abril de 18S4), as reformas empreendidas no govêrno do Visconde do Rio
BRANCO(1871-1875) e o célebre decreto 7 247, de 19 de abril de 1879, com que
LEÔJ-iCIO DE CARVALHO instituiu a liberdade de ensino e de freqüência e mo-
dificou profundamente o plano das faculdades oficiais. Essas reformas de
carãter geral e outras especiais, relativas a cada uma de suas grandes insti-
tuições, revelaram sempre um esfôrço no sentido de adaptá-las a novas neces-
sidades da ttcnica dessas profissões e marcaram, sobretudo, em 1854, em 1874
e em 1884, progreeos s nsíveis na evolução do ensino superior do Xmpério.
Mas, todo &se ensino acadêmico e que se acrescentava apenas o de belas-art s.
era, como justamente observou MAx LECLERC, "um frontão rico e pesado de
mais para o ediflcio frágil e mal construído que devia suportá-lo. O estudante,
insuficientemente preparado, em fundo sólido, assimila mal a ciência que lhe
é prodigalizada na faculdades. Nem por isto tem menos pretensões e a chusma
dos falsos doutor , dos "bacharéis" transbordou naturalmente da profi
liberais entul das, sõbrc a poUtica '. 20 Pepineiras aristocrãticas ou, ao menos,
estabelecimentos a que convergiam de preferência os filhos de famllias ricas,
do patriciado rural e da burguesia· viveiros de bacharéis e doutores, como de
políticos e de fuocionãrios do Estado. contribuíram essas escolas para pôr cm
moda e vul arizar no Brasil o g6sto pelos anéis simbólicos e pelos epíteto , -o
vivo quanto o amor aos títulos, e tão difundido já nos fins do Império, que
MAX LECLERC se espantava, em 1890, com o número incalculável de p as
"distintas" e "ilustr ", cm nosso paía, o que noS'devia. trazer por i to, "maiores
dificuldades do que alhures, quando se apresenta a oportunidade de um elogio,
de encontrar um que não tivesse servido mil vêzes". Essa ausência de senso
de medida e de cquilibrio e, portanto, de uma concepção nítida do valor relativo
dos homens e das coisas, se, por um lado, se prencila à \rulgarização e ao "de -
gaste" dos títulos de bacharel e de doutor, devidos à percen agem crescente
de indivíduos forme.dos, ligava-se, por outro lado, ao gôsto e ao hábito da ~n-
fase, cultivado no ensino bãsico excessivamente retórico, e à falta de um m~-
todo, de um cri rio. Tõda a nossa cultura está aliás marcada, nos seus aspectos
mais tfpico por a formação de base puramente literãria e de car ter profis-
aional, sob cuja influ ncia, sem o lastro de sólidos estudos cientfficos e filos6-
ficos, se desenvolveram tendencia às generalizações brilhantes em prejuízo
das especializações fecundas, o gôsto da retórica e da erudição livre ca, a super-
ficialidade mal dissimulada na pompa verbal, a anilateralidade de vi :ão, e o
diletantismo que leva o indivíduo a passear por tôdas as ques ões e doutrinas
tem aprofundar em nenhuma delas. É que, em todo o sêculo XIX, à raiz:
,e como fon dessa cultura residia um sistema de fonna.çao de eli es intelectuais,
constitufdo de um ensino secundãrio literário e retórico, e de um ensino superior,
cxclusivamen e profi ional e em que faltavam essas instituições destinadas aoa

MAX Lscz.uc, !Attr du Br il. C.p. Xl; L•eoprit pubtlc. l'&al IOCial, leo moeun, ct ln m •
t»tioae. P's, 215, Libc-lllrie 'Ploo, Pari 1890,
340 A CULTURA BRASILRJRA

tudos filosóficos metódicos e à pesquisa científica, em que se desenvolvem


o csptrito critico e experimental e o gôsto da observaçao e do fatos. Essa
t adblcia d põr a quantidade acima da qualidade, a erodi -o acima da cultura,
o valor da eloqüência acima da paixão da3 idé..ias, e o "mais ou menos" em
lugar da exatidão. se não teve as suas origens, certamente s fortificou no tipo
tradicional de ensino, utilitário e informativo, cm que e tratava menos de
apreciação do que de acumulação, e em que o espfrito de finura, a profundi-
dade, a penetração, a maturidade crltica e estética eram (como o são ainda
hoje) sacrificados à aquisição de um saber cnciclopMico. A im, se excetu-
armos a literatura substanciosa e enxuta de um TAVARES BASTOS, um CAETANO
DA SlLVA, um TEIXEIRA DE FREITAS, um LAFAYETTE, um JOAQUIM NABUCO e
poucos outros, nos homens mais cultos do tempo e em que a pobreza de idéias
é mais ~parente do que real, a forma suntuo a que se habituaram, pela sua
formação, a dar ao pensamento, chegava quase sempre a abafá-lo, como um
manto de cõrte tão pesado e enriquecido de recamos e de ouro que reduzisse
a um, detalhe insignificante ao olhar a mais bela figura humana ...
Em um excelente ensaio sôbre a evolução da política imperial, A.zEVEDO
AMARAL, 11dá grande importância. como um fator do d envolvimento político,
à nova classe social, constituída de mestiços que se vinha for.mando desde o
a~culoXVIII e que tomando-se cada vez mais numerosa, veio a adquirir,
depois do movimento de 7 de abril de 1831, "uma influ&lcia cr cente no jõgo
das fdrças políticas e na determinação dos rumos da nacionalidade'', Entre
os três elementos sociais, - o grupo nordestino aristocrático e feudal, o núcleo
mineiro, que era uma sociedade de tipo burguês e democrático, e classe
média urbana, 'de elementos de tipo pequeno-burgu ', mais consumidores
que produtores, é esta última a que exerceu segundo sua opinião, uma influ-
encia mais persis ente e nefasta nas fases criticas da evolução politica do lm-
P •o. Produto de uma miscigenação em larga escala e composta de elementos
' que creiam nas cidades as mais variadas profiss6ea, sofr do o efeitos de
uma ins bilidade econômica permanente" e que se carac crizavam tanto pelas
flutuações de caráter como por uma extrema plasticidade de espírl o, estava
de tinada e~ tivamente a desempenhar um papel importante nos períodos de
crise e de transição. Mas não era somente por fôrça da mestiçagem e da ins-
tabilidade econômica, que essa classe vivia "desarticulada das realidades pro-
fundas da vida econômica do Brasil" e acabou por se tornar um viveiro de pro-
fiseionais da política e um foco de atividades demagógica . As escolas supe-
riores, com seu predomínio quase absoluto no sistema de educação e com o
caráter enciclopédico de seu ensino, contribuíam de sua parte para deslocar
o indivíduo das ocupações habituais de seu meio, urbano ou rural desarticu-
lando-o daa realidades econômicas da vida nacional e atirando-o, p la porta
daa profissões liberais, tanto à burocracia como ao profissionalismo político.
Procur das por todos os que desejavam ou podiam adquirir uma cultura de
nível superior, suscetível de marcar a sua classe ou de e1 vá-los em dignidade
aocial, não tardaram em transformar-se em escolas geradora de oposição, jã
pelo número crescente de indivíduos, pequenos-burgueses e mestiços que para
elas afluíam como a uma escada de ascensão social, já fi bricando déclassé
- bacharéis d ertorcs dos quadros profissionais, cada vez mais saturados pela
intensa produção dessas escolas. É o que, em par e reconhece AzEVEDO
AMARAl.,quando afirma que já no período da Reg~cia ' o nível intelectual
de uma parte dessa classe (a classe média urbana) era rela ·vamentc elevado

21 AnYIDO AM.ut.u.,Ett>lui,&:oda_polltica imperi•I. fn "Cll.lt'W'• oUtl<:a'',ano 1, a.• 2, abril~ lMl,


Ria de Ja.ndro, p4 . 21-53.
AS ORIGENS DAS JNSTJTUIÇÕES ESCOLARES 341

e entre seus membros não poucos se not2bilizaram por copiosa crudiç.ão li-
vresca, não sendo raros os que já se incluíam nos quadros das chamadas pro,.
f'llSÕCS libera.isn. Ora, aa escolas destinadas à preparação para essas profissõea
eram t6das instituições tendentes a dar aos alunos uma educação teórica, a
lhes comunicar um estado de espírito de diplomados e a subtrai-los à atmosf cra
de seu m io, seja do patriciado rural, seja da burguesia mercantil das cidadca.
Se considerarmos ainda que o ensino superior profi ional nãÓ tomou, a não
aer com a criação da Escola de Minas, de Ouro Prêto (1875), uma forma par-
ticular, mais ou menos adaptada às condições do meio, e que à base d!ssc en-
sino acadetnioo não se encontrava nem uma educação suficiente da ma888,
nem escolas profissionais especializadas, de diversos graus e ajustadas ao,
diferentes meios agrícola, comercial ou industrial, scrli fácil compreender
que as escolas superiores daquele tipo, montadas sôbre um ensino literário, e
dominando todo o sistema, não podiam contribuir senão para desarticular as
elites que preparavam, das realidades profundas d.a vida econamica do pa1a,
e para acentuar todo um mecanismo de pensamento, a que nos habituara a
forma retórica e livresca do ensino colonial. No entanto, não ~ possfvel nem.
justo subestimar os serviços, notáveis a certos aspectos, que prestaram as ea~
colas de direito de medicina e de engenharia, ainda fora de sua função espe-
dfica de preparar profissionais, que os tivemos de primeira ordem, nas car-
Tciras liberais. Elas concorreram notàvelmente para elevar o nfvcl intelectual
do Brasil e transportar por tMa parte um elemento de cultura, de urbani-
dade e de civilização; e, al&n de funcionarem como verdadeiras instituições
de scleçao e de classificação social foram fatôres de mobilidade no sentido ho-
rizontal e, portanto, de democratização, atraindo de meios aociai.s diversos
e oongrcgando, na mesma sociedade escolar, ricos e pobres, brancos e mestiços,
e submetendo-os a todos a um processo comum de assimilação intelectual que
se traduzia quase sempre por uma aproximação moral, de sentimentos e de
end!ncias. Focos de irTadiação cultural. de oposição e de agitação política,
pela Última interpenetração do mundo político e do mundo acadb:nico, essas
escolas situadas em quatro pontos, no Norte, e no Sul, no Recife e na Bahia,
no Rio de Janeiro e cm São Paulo, tiveram uma parte digna de se destacar,
como forjadores da consci~cia nacional: para as duas faculdades de medicina,
as duas faculdades de direito que se transformaram em verdadeiros studia.
generalia,, e para a Escola Central, a Escola Militar e a de Marinha, afluiam
brasileiros de tôdas as províncias que por essa forma se punhame m contato,
e delas se distribuíam, todos os anos, não s6 por todo o território nacional,
ad\Togados, juízes, médicos, e engenheiros como também pelas letras, pelo
magistério, pelo jornalismo e pela polltica, os elementos que transbordavam
dos quadros profissionais ou puderam orientar a sua atividade cm duas ou
mais direções.
Certamente, essa elite. de uma mentalidade poUtica e retórica, imbuída de
idéias gerais, de68rticulada, pela própria formação, das realidades da vida
nacional, e habituada a examinar oa problemas concretos ou de um s6 ponto
de vista, estreito porque profi ·ooal, ou pelos seue aspectos mais gerais e teó-
ricos, não estava preparada para resolver os grandes problemas técnicos e eco-
nômicos do país. Com essas características. tantas v~es apontadas, não tendia
a marchar diretamente sôbre objetivos, cuja posse lhe asseguraria, mediante
reformas econômicas e pedag6gicas, uma restauração do ensino pela base e
a sua progressiva extensão las camadas populares. Pela sua cultura, de fundo
europeu mais abstrata porque menos complexa do que a da civilização oci•
dental, de que se saturou, distanciava-se demais das massas para lhes compre-
ender as necessidades, e dos rob1emas essenciais, locai9 e espedficos do pai..
para enfrentá-los com decisão. O seu grande mérito não era o de unir forte~
A CULTURA BRASILEIRA
-----------
342

mente a idéia à forma, a palavra à ação, e ustentá-las urna por outra. Da


palavra, sempre alerta e exuberante, à ação, sempre lenta e acanhada, parecia
enorme a distância a vencer; os que se lançavam às realizações, ficavam pelo
geral a meio caminho ou novamente se refugiavam no mundo verbal, desilu-
didos... o que já notavam, nos princlpios do sêculo XIX, Joslf BoNIFÁCIO,
quando dizia do brasileiros que tudo emprffndem e nada acabam"; e, em
1865, Lofs AG SSIZ que não teve o qo.e retificar nem o que acrescentar, a êsse
respeito; à observação sagaz do eminente homem de ciência e de Estado.
"Nenhum país, ponderava o sábio suíço, tem mais oradores nem melhores
program ; a prática, entretanto, ê o que falta completamente". Se tivermos,
com efeitio, o cuidado de traçar, de wn lado, a história das idéias e dos planos
de reformas pedagógicas, e de outro, a hist6i:ia das instituições educacionais,
veremos, na superioridade daquelas s6bre estas, o contraste impressionante
entre os sonhos de uma mentalidade, dominada pela sedução das fórmulas e
escaldada pelo romantismo político, e a incapacidad realizadora, evidente na
pequenez das obras e na àescontinuidade da ação.22 Mas, essa mentalidade
que fazia oscilar a política imperial entre um idealismo utópico e um utilita•
rismo estreito, não a única n.em a prindpaJ responsável pelo atraso e.m que
permaneceu a educação popular em quas todo o Império. Esse mal tinha
raízes mais profundas. O que faltava para uma vigorosa obra de educação
cm alto nível e cm grande escala eram sobretudo, condições de ambiente real-
mente favoráveis à mudança de mentalidade e aos progressos da cultura no
país. O sistema econômico, assentado em aJicerce exclusivamente agrruio e
no regí,me da escravidão· a inexistência de uma cultura econômica básic.a ou
de w:nagrande fonte de riqueza que pudesse acelerar o ritmo de transformação
da fase agrícola para a de exploração industrial; a falta, em conseqüência, de
uma extensa rêde de comunicações que permitissem uma interpenetração maior
de culturas e uma ação mais intensa dos focos de atividade intelectual sôbre
as largas "zona d silêncio", - zonas culturais sem ressonância e sem vibração;
a di sipação das energias nas competiçoes pessoais e nas lutas de partidos que
paralisam a ação governamental, nos momen os de maior ensão interior e
xterior, udo isto concorria para neutralizar o forças construtores, nessa
50ciedadc heterogênea fracionada em grupos sociais, dos mais diverso niveis

22 lt, de (ato, impr~i=tce o conttute entre • po<:1uene, (),., ttt1ll••~ e • rna.ua de dectttoa e prn,
Jctoe 4o •~. 110 t mpo do lmp6rlo. Se c:l'élwrmos u indi.d11.ç&ee, l)l'<>po!lt11e projetai de menor 111oota,que tio
11wnt:roa01, atlogein • drea de ~O OIIprojet"9 DUUtimporltotpa 16bra lnatruç o púbUca apre1entad011 ~• Clm,uao
Leflitlatlvu no primelro reinado, durE1te • R,egênoi& e oo ·•eeuodo reinado. 01 decreto• .tlhre o cruino aecua,
dArio e eupcrlor, ~- aublnm • 32, ioc:losiv.r os decret:01 le11ulatlv01. 11:mt823 ro~•m propo,otat oa Auernbl~•
Coo■ tltuintc nada n1eoo. ele 8 projeto. (4, 16 e 27 de junho; 31 de julho; 4, S, l 1 e 27 de ■ O.to). ai m da mcrn6ri•
Optffl:nbda R 7 de julho pelo des,utado M.u'rnil FJtANCII.CO.'Em 1826 IU,CC o projeto de 27 d• m&lo, OOVAJilell~
}"'elefltado a 115d Juobo <.00>reem~ por JAfflJÃRJO DA Ctlllff4 BUBOU, Jori C,\IUJOIO &U.. OI. M&...o.
e A.'ITÓ.'11011'1:unllÁ. Flu.NÇA, e S de julho, peloa deputado,, C!JlfRA 8Alllll>IAe Pr.UU.-. Ili. Mal.o. Squem-ft,
• cutt.cn m~.io.. era 1827, r.ioda no primeiro lmp&io, o projeto aprQcDUldo • 2 de jGlho pelo dc-putado hl.J6
e,Ji Da Rqenda, no.projtt.Oe 111. 82 c 1711,cro 1831; n.< 1.22,em 1832; 611,ICM,\08 e llS, cm lfl'7: !V37, r8311;
e a.• 108, m 1 39. No o mnado aio f ..,,.,,.,.. ns littta-. Iam.e ~ em que ali ta'm, entte •
tnbafhoa maJ1 rcle,,an btc iaa,tn,çio, • projetos A F do Senado. era 134 • .Oix'e • ,:riaçlo de u UD.iva--
• e oa C&u; m. 35, 36 e 37, em 1846; 31 e 51, em l 47: 46, 6 e li , em l8SO: 7-4-.em l&Sl; S o 6, cn, 1868~
113. e<n 1870; 290 e 463, ,mi 1 1 : o.• 92, em 1877; l58. em l880: •• • 1 de abril de IU2, o "eti:i o,• 64 oóbn
O in.o .,.._-.md!rio e p:,-lor, ~tada pdm dc,puud Rtn B.U.IIQU,. Ur.usu VIANA e Bo n:M E&l'lNOLà.
e qu.e, com ..,,. o ma impmtan de todo,. iJAa t~c t:ambfm •-'""tailiD oo Parlam<:11 , CoaJrODte-NI acon
o 116,nero nulblda de prOJctoa c:om u iniciaiiva, e ioatituiç6,ol ~ polo vera.oi111pcm111, em q 70 •aos.
e vtr•.se-1, em o o relevo. o e<>nl:Hste vinlmto e11tre a ordem do ldf-iH e • ordem .,. rato-. Para '
,.,..,.._ ccn,o da ,m,.il!\OI e dccrc , -1E:in de outt<>!Inpeda , nio apuaeo.tam •~o 7 hutituic ovn..
na. 11110 ptriodo, ot do! cu,- jurldia>i, t::riAdoocm 1827, ru, primf:tlo re.inal.ta: o CoM lo Pedro n. cm 11137.
dw-antc • Rqhlda; o Ioadtuto dt CIOiO!I,criado em l8S4, e o de Sutdo,. udo., em 1856) o Ob!crv•t.6rio Im-
paia'I. do Rio de Ju.dro, a EKola de Mioas, ~utada cm 1877, cm Ouro Pctto. .. Os ioa - que cul·
d...vam da tn1çAo do. ~OI e dOI ourdos-.awdoo, - criaç&,, 1U1t piradu aum pirita hufflltnlt4rio do
Qlle l!Topootlll ao nm de enramlnbar IIQlução d<>il 11,nvea problema, o p&Q&vllm de _, tlv , qUDC ioope,
ruta, no aeu acanhado circulo de ai;Ao: o lnstitutll de Mc:tlnot . cm 1874, nlo 'C'Oni:.v■ KQJl.o3S al~
(23 ra e n J par-. uuia P<>J>Ula,çãode mais de l2 mil "'"i"' uutc.o no lm ·o. o• eatiraativa
o6ci.l; e o Irutituto de SW'daa-Mud,_ n,Jo a~v,,. oa.m- paea. mal,i da 17 a! 01 para uma popwac&o
~ e,u 10 mll ,urd-mudas, Doa do,crdos do COYf:rllO impe(' • & mal .... paM:e del • .. v. a ora
e a refornw, do Col ·o Pedro n do ensino superior do lmp&io, d o à rorma de mtd COI. &d
g=hdroa, dvl ;nilltara.
AS ORIGENS DAS lNSTITUIÇÕES ESCOLARES 343

econômicos, isolado!! e dispersos a grandes distâncias. Não era uma sociedade,


a massa plástica em que o gov!mo tinha de trabalhar, ma.aum agreg do" de
aoc:iedadcs múltiplas, umas, do litoral e do planalto, sob as influenda!I mais
direta!! da civiliza o ocidental, e outras, vivendo durante quase tres êculos,
J)Or assim dizer de sua própria substância, pttdidas nos sertões e amur das
num isolamento quase completo. O Ato Adicional em que preval ccram as
fôrças descentralizadoras e que, transferindo às provincia!I o duplo encargo da
instrução primAria e cundâria, fragmentou em dois o sistema de mino ainda
em formação, levantava-se, desde 1834, agravando essas dificuldades, como
um obstáculo permanente a qualquer tentativa de organização. O principio
de autonomia das provfucias, o respeito quase supersticioso s fórmulas ju-
• ridicas e os escrúpulos constitucionais pareciam mais vivos do que a consciêlcia
do interesse nacional: ainda aquêles mesmos, - um J. LlBE:R.ATO BARROSO
em 1867, um TAVARES BASTOS, em 1870, um JoÃo ALFREDO,em 1874, ntre
outros, que percebiam com lucidez estar no Ato Adicional uma das causas ''do
espetáculo de anomalia e desordem" que apresentava a instrução popular -,
não se animavam a sugerir mais do que uma ação do govêrno geral, em forma
de concurso ou colaboraç o, em alguns setores e em favor das menores prov(n-
cias. No entanto, JOSÉ PAULINO DE SOUSA opinava, em 1870, que "à As-
eemblêia Geral nao tava impedido criar, manter e dirigir, nas p.rovlncias,
eatabeleciment de in trução pública à custa do Estado" e, com mais auda-
ciosa crítica e construtiva, o Ministro RODOLFO DANTAS reclamava cm 1882
pela necessidade de ' disseminar pelas províncias escolas normais sustentadas
total ou parcialment pelo o-ário nacional, animar ou realizar do mcamo modo
a instituíção de cola -modelo de ensino primário, estabelecer dotações de
terras públi em favor da instrução popular e consignar ao desenvolvimento
da educação geral, impo tos decretados no orçamento nacional e distribuídos
proporcionalmente por todo o país".
r; a conjun o d causas, de natureza diversa, que se prendem o carãter
esporádico da medidas, tímid.as, fragmentárias inoperantes, institu(das um
pouco à aventura, sem qualquer plano de conjunto, e a extrema lentidão no
desenvolvimento da educação popular e do ensino técnico. A instruç o pri-
mária, confiada às provindas, vai-se organizando por um sistel'ha "de tenta-
tivas e de erro ", em conformidade com os recursos limitados de cada uma
delas e ao capricho das circunstâncias, quais o predomínio dêstc ou daquel
grupo partidário ou a inspiração pessoal do presidente, em que se pode en-
contrar a causa mais pr6xima da periodicidade das variações nas politiCQt
locais de educação. O pessoal docente, quase todo constituldo de mestr~
improvisados, sem nenhuma preparação especifica, não melhora senslvelmente
com as primeiras scolas normais que se criaram no pafs: a de Nit rói, ~ 1835.
a da Bahia, cm 1836, a do Ceará, em 1845, que 11ãoforam por diante, a de São
Paulo, em 1846, e a do Rio de Janeiro, em 1880, tôdas com uma organização
rudimen ar, à mane.ira de ensaios, como a de-São Paulo que se fundou, com um
a6 professor, cm 1846, d pareceu em 18671 para ressurgir com um novo plano
e um curso de dois anos, em 1874, fechar-se novamente em 77 e restabelecer-
afmal em 1880, e então com um curso mais completo, de 3 anos.ia No Mu-
nicípio Neutro, cm qu a organiz ção do ensino em todos os graus competia

2J A • ~. atribwda pro,,inriu, longe de e dcaa:rvolver ainda 11M adlaa~, COD·


tiD- • .,....ta, aum ritmo lc:oto e &IDd• anunirregubr. narcado por av o r lt wn fndlcc
IIÍCDillaú:lvv d e coi o q IIC na pcOY{uda de São Paulo. Em l13~ havia na ado apma.e
dala pn,r_... de primd lctraa, wn da r~ ia da 5' e outro da de Sa,na Efi • , o P BalTo Jod "-·
unu. e C.ui.oc 1 DA SU.V-4 TIU.U, am~ ~o, doa ca,tigo, corporal, coma meio de ato- a pi •
>fama rq>r0mt1.çlo d rl~d• l Carna .. Mwucii,.I, pc,dJam "a cmic:esaio de ai cu .. í cm eu.u CI•
cota. • fim d mdh« e aarcm e corrigirem OélP ah1ooe, por 1uo que ncahwn CIIMI (ucm dOI C:UblO&
....-.11, mol"ando mamo d.e RIU mc1trn", (Nu,,o &.t.l'fT''Alt4,O mutre•aaoofa. ln "0 Ir.alado de o Palllo",
2l de novanbro de J.93&). B.n:I1846 l criada pela lei n.• 3•~ de março de.e ano, a 1.• acola nor111&1 de S&o Paulo
34,t A CUl.TURA BRASILEJRA

ao govbno geral, só em 1854, pelo decreto n. 0 3 331-A, que cria o Conselho


Diretor da Instrução Pública se estabelecem medidas mai3 eficientes com o
iim de d nvolve.r, elevar e fiscalizar o ensino prim io e sõmente depois de
1870 se construíram os primeiros edifícios e colares com os recursos de uma
aubscrição feita para erguer uma estátua a PEDRO 11 e convertida, por vontade
apr do Imperador, 'na construção de edificios apropriados ao ensino das
escolas primárias". Assim, em 1872, para uma população recenseada de cerca
de 10 milhões de habitantes, a matrícula geral na escolas primárias não e:rcedia
a 150 mil alunos, e se calculava, segundo os dado oficiais, em 66,4 a percen-
tagem de analfabetos. No entanto, com tôda a morosidade dbses progres!!os,
ituação se modificara bastante, mesmo quanto às escolas femininas (primárias
que, segundo o testemunho de LINO CoUTlNHO, não ultrapassavam de 20 em
todo o Impêrio cm 1832 e já atingiam, em 1852, a 49 e, em 1873, a 174 só na
Provincia de São Paulo. O ensino técnico, que se destina a fornecer à indústria,
ao comtrcio e à agricultura os auxiliare$ indispensáveis à sua prosperidade,
não se havia desprendido de suas formas embrionárias: nem a indústria, rudi-
mentai-, quase inexistente, nem o comércio praticado segundo métodos empí-
ricos, impostos peta tradição portugu.êsa, nem a lavoura, apoiada na rotina e
no trabalho escravo, reclamavam a criação dessas escol s profissionais, em que
se forma o pessoal qualificado emtodos os setor e em todos o graus, e cujos
progressos estão estreitamente ligados às transformaçt tEcnicas e de estru-
tura econõmica e à divisão e organização do trabalho. Se o ensino popular é
escasso, mal orientado, e se não existe ensino técnico, aumenta o prestígio do
ensino secundário, literário, como um ensino de classe e um valor de tradição.
ao E sômente o Colégio Pedro 11, - a mais importan e instituição de ensino
m~o oficial -, que se desenvolve, guardando, através de t as rcformu.
as linha gCTaisde sua organu-ação, modificada cm 1841 pelo Ministro ANTÔNIO
CARi.os, em 1854 pelo Ministro Couro FERRAZe, mais profundamente, em
1878, pelo Ministro LEÔNCIO DE CARVALHO.Embor rcs ·to a uma porção
insignificante da população adolescente e institufdo, obretudo, com a feição
de cursos de preparação para o ensino superior, toma o ensino secundário um
grande impulso, mais por iniciativa particular do que pela ação do govêrno
Imperial e dos das províncias. Em 1832 o Seminário de Olinda, - admirável
instituiç o de AzEREOO COUTINHO, -já decaído de eu prestí~o antigo, é
transformado por decreto legislativo de 7 de e,gôsto dêste ano, cm colégio prc--
parat6rio das artes do curso jurfdico, e quer pela f6rça do ex mplo, quer pela
procura crescente de alunos, grande número de colégios particulares que se
abriram. posteriormente, se anunciam como cursos de preparatórios avulsos
para a faculdades de direito. As aulas públicas de instrução secundária sôltas
e esparsas, ou se reúnem em colégios, como em 1836 no Ateneu do Rio Grande
do Norte e cm 1838 no Liceu Provincial da Bahia, criado por lei de 19 de março

16m te a bomem, e çom um 6nieo p=r.,._, e r.i.....t;. e moral ru,


airm •o«o l Faculdade de Oirdto; asa c:ocols limciooou a at, e foi pri.
rnld.. drca de 40 proi; DO • Pffa U
u pro(csooras do Semiair o c::lmlO da•
primmu ~ d= pri 18 aMs COffl •
Alo ~ emprega.vam ~ e aJ:IC\t'O lMS). Por lei
e11> U68. o pr.>Íeaof' • nomeava p.,r- Uffl pr ça
• cdo~Gernlde~ Dalo eosoradc
e do 1kulo XIX é q ee ,rcruacoa um de -nata
quaa Ul vo. De rato, de 1852 lltl 1&73. em vinb, -~ q· lripl H7
IICte vba (2 Ol8 para 14 737) • ffllltdcula mo•
SI.o Paulo a,, v~ du • "UltO
livre, que, em 1852, cni d e Jl lamte$, O
pn,!llcma da i ~o do ~ docente ca:mnhava pare , • mudanca
6e rqime polltko. ltm 187• pd■ lei n.• 9, de 22 de ano a ll uma E,-
col■ Nannal, com um cuno de doí ■.a.oa, que.., illlt■ lou a l~ ele íev 5, com 33 alun,. num.a u1a d.,
cuno n l Paculd~c de Direito. T~,n esta, p0< r.it■ de verba i,ara • hutal■ çlo e cullc "• ■e fecl>ou eOl
1171, por■ IC abri.r. e detta vo com tr&....,. de curso, 11 2 de a:Õ9to de 1&80, o:o, vtrtu4 d• rtfanna de auiao
"°tadà aa AIM.mbl6ia, pac au,a-estlo de L\.UIW'fl)O A.Ht.ultlO til. 8■ tTO, l'Dtlo praldalte d■ Provllld.■.
AS ORIGENS DAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES 345

de 1836, ou ão uprimidas como a3 do Rio de Janeiro, a d cito de h v r


autorização legislativa (dec. de 17 de setembro de 1851) para congregá-las
num externato, com a mesma organização e as mesmas matérias ensinadas no
Colégio Pedro II. 1t e renascimento dos estudes propcd uticos, qua e um
século depois da expulsão dos jesuítas (1759), e sob o impulso dado pcl s oolaa
superiores, e traduz mais fortemente pela expansão quantitativa, jâ apre-
senta nltidamente as suas tendências e os primeiros indícios de "organização".
De Cato, com absorção das aulas públicas em colégios; com a transformação
progressiva, para o curso cm série, do ensino pulverizado dos aulas avulsas e
do regime de estudo fragmentários, sem ligações de fundamentos e com a
criação de novos colégios não só particulares mas oficiais, como os liceus de
Taubat~ e de Curitiba, fundados em 1846, em São Paulo, as esc-0lassecundárias.
cm que se man ém o predomínio tradicional do ensino das letras, entram fran-
camente em organização e com fisionomia própria, individual, se fizermos abs-
tração dos resíduos, já pouco importantes, do velho sistema de.a aulas régias
e de preparatórios avulsos.
Maa as iniciativas das províncias, criando liceus, como o Ateneu do Rio
Grande do Norte e o Liceu Provincial da Bahia (1836) os de Taubat~ e de
Curitiba, cm São Paulo (1846), que logo se extinguiram por falta de alunos
e de profcasorcs, o Ateneu Cearense, o Liceu do Maranhão e o Coligia Para-
ensc, entre outros, n o comegue:m acompanhar a evolução prosseguida, no do•
mínio particular, las instituições de ensino secundário. Em 1865 para 439
alunos que no Ccarã recebiam instrução secundária, 156 freqüentavam o
sino público e 283 o particular; cm Pernambuco, de um total de 635, matri-
culados em aulas e colégios, apenas 99 tinham o ensino público; na Bahia, em
cujo Liceu Provincial, de todos então o mais procurado, faziam as humani-
dadca 337 alunos, 860 cursavam colégios particulares; e no pr6plio Munidpio
Neutro, oom o seu modelar Colégio Pedro II, fundado pelo gov~o imperial
cm 1837. dos 2 550 alunos de escolas secundárias, 327 eram tudantes daquele
institu o oficial e os outros 2 223 se distribuíam pelos seus numerosos curso,
e colégios. Sômen na Província de .Minas Gerais, em que os mais i.mportant
estabelecimentos de cn ino dêsse grau eram o Colégio do Caraça e o Seminário
de Mariana, que datava de 1750 e era freqüentado por estudantea seculares,
o número de alunos inscritos (638) nas 38 aulas existentes equivalia, em 1865,
se não era superior ao dos matriculados nas instituições particulares de en-
:sino.2t 1t que o Ato Adicional, transladando para as provlncias a instrução
primãria e secundária, importava, como observa PEDRO CALMON, m "sacri-
ficar uma e outra na angústia dos pobres orçamentos locais, ao espirita ac nhado
e rotineiro, que per istia longe da Côrte"2:5• Acresce ainda que as foculdndes.
aubordinadas ao govêrno geral, não aceitavam os exames dos liceus provinciais,
pondo-os por esta forma em pé de igualdade com os colégios particulares e
abrindo perspectivas fecundns, mediante a concorrência livre entre colégio ,
ao ílorcacimento dos institutos particulares de ensino secundário. Nwna época
cm que sómente o grau de bacharel em letras, conferido pelo Colqio Pedro II,
habilitava matricula nas faculdades do Império, todos os demais estudant ,
candidatos escola superiores, eram obrigados, para serem admitidos às
facuidades, a prestar exames perante comissoes organizadas por in tituto .
Essa situação, evidentemente anormal, do ponto de vista morfol6gico, de es-
trutura do sistema escolar, inaugurou um período brilhante dos estud prope-

14 J. U.llV.'l'I> 84UOIO, A in•truc•o p(lblica no Btuil. B. L. Qamla Edil«, • de J o,


11167,. S
U Pm o C.u.KO , l//,r6rl11. i111do Br11.1il. l.• tomo. .Btp.lrltoda Sodedad ColonlaL Slo Palalo,
1937, i,,ic,.31Wt9.
346 A CULTURA BRASILEIRA

dêuticos, subs "tuindo a um rígido enquadramento sêcamente burocratizado


como o teria sido o ensino provincial, estrangulado pelos orçamentos e pelo
espírito de rotina, uma floração de instituições fora da pressão direta do Es-
tado e que, tornando-se rivais, se disputavam a primazia oa reputação pela
efici!ocia do ensino, e cujo papel foi de assegurar a continuidade e os progressos
dos estudos de humanidades no país. Surgiram en ão ou se desenvolveram,
em conseqüência, marcando, no período de 1860 a 1890, o apog-cu do ensino
secundário particular, institutos modelares como, em Minas o famoso Colégio
do Caraça, que teve a sua fase mais brilhante entre 1867 e 1885, sob a direção
do Pe. JÚLIO JOSÉ CLAVELINe os Colégios de Campo Belo e de Congonbas
do Campo; o do Dr. KoPKE que em 1855 contratava professores na Europa e
o Colégio Sao Pedro de Alcântara, dos padres PAIVA, também fundado em
Petrópolis; o Giná.sio Baiano, do Barão de MACAÚBAS, o Colégio de Silo João,
de JOÃO ESTANlSLAU DA SILVA LISBOA e o de ERNESTO CARNEIRO RIBEIRO
na Bahia, o Ateneu Sergipano, cujo número de alunos subia de 99, cm 1871,
a 334, em 1874; no Rio de Janeiro, os Colégios Stall, Meneses Vieira, AbOio,
o Externato Aquino 20 e o Colégio Progresso, cm que RUI BARBOSA se inspirou
e colheu dados para seu plano de reforma em 1882: em Santa Catarina, o Co-
Jégjo dos jesuítas, em DestêrTo, que adquiriu grande fama, na sua curta exis-
tência (1845-53): e, em São Paulo. o Colégio de São Luís, fundado em 1867,
em Itu, pelos jesui e o de Campinas, estabelecido em 1874 pela Sociedade
Culto à Ciência, e que se tornou uma das melhores casas de educação. Nunca,
na história da educaçao nacional, o ensino particular teve tanto r lho e gran-
jeou tamanha autoridade como nesses e outros institutos que foram os pontos
d apoio iniciais em que assentou, para tomar impulso, o ensino secundário no
pais, e que contributram para aperfeiçoã-lo, na sua constituição orgânica, desen-
volvê-lo, à mingua de iniciativas oficiais, e enquadrá-lo no sis ema geral d
educação. Sem a base dos estudos propedêutico , para cujos progressos con-
correram tão intensamente, nesse -período, a dedicação e a inteligertcia parti-
cular, as faculdades jurídicas e médicas e as escolas de engenharia, «não seriam,
como escreve PEDRO CALMON os seminários de vocações literárias, de trepi-
dações espirituais, de filosofia política, de ação cultural em que se constituíram".
É dessa época a plêiade notável de educadores, cuja tradição ilustre chegou
até as gerações atuais: um Barão de TAUTPHOEU5, professor do Colégio P dro II.
um FRE&ZE, um KOPKE, um PUJOL, e êsses três grandes batalhadores em prol
da elevação dos es udos no Brasil e da renovação dos métodos do ensino: ABiuo

20 O ltxtcrnato Ailulno tom u 1u1.J1ori 0.111num pequeno cuno d• Ul)lic11çüe,, de, m11,~m~tioa1, ■bato
m março de 1864, num■ ■ 1• do p.-Edio n.• 43 da rua d ■ Canoa. e deatinado ■os ah.10C11 do t.• ano d■ aot:11■
Elcolo Central, boje E1cola Nacional d Engenharia. Era eJllllic:■ dor dbtc çu_po de atud■ otn um eu com•
paohciro ■i• velh.o, Jo:to P 0110 DJ<Aoi:rmo. fundJldOf ma.ia tarde do J!:~llllto e qw, cunav■ entlo o 4,• ano
d■qncla Eocola. no Rio de J■ nclro. Em 1867 b1'! curso de. e.xplu:. " tn,n orma1r■ no &xtcmato Aq111Jl.o.
de qu,; ■-uniu• dit«ão o Dr. J040 l>Inll.D ns AQIIIIIO, prof: d matem • e cuju ■11I c:omeç■n1m ■
fi • ·.,.,.,. m ,u■io. Knear,er..,-.m-H da re:g-toci■ d.e aula., c:ol ·o, homem roma To1d,1 Al.vu q11e rol
proi or de crqo oo Colqlt> Pe<h'o U, AJ.l'tPl>O.o"EscaAo:.-oua TAVl'IAY,depc1 tcnador do lmpbio v;
TA • ,...,, ANoú Rl.l:IOUÇAI, JOA,QUDI M.OJtT1IOl0 e O Cml■clbdro UNO Fult&DU. D.!. AN'DJtA!l&. cntri ootrOJI
bnlãki"iro. ilut!TCL Bm 1174. o Exun,au, a queji se baVia. a.neudo wn primãri., foi com ctt■• tnu:llftrido
p■:ra pr6dioo . 71 e 80 4- rua do Lavrtdio, O!lde P4DOU • fu.od.onar CODl ee a-e.CUl'IOt. o t:leme11tar (a•
to pcqW!N> o mfdao e o de. ~ do9 cttUd.ata matricula no. C11nlCl9 ouporiores, O c:m.l.oo, b6D
~dl>.SJio de mate ....i to borat6ri , reali.mvs-se, tanto no CW'IIO priD>A,io corno .no occund4rio, pel mlt 01
modem,. ado melhora e.~"" d.• Am&ic■ do Noru. Bm S d" Jun.ho de 187$, •• modelar tstabc•
1 'mm.to de cnsi.Do ... ■. hoor■do pc1- primeira ve: «;m • via ta do lmpcrador. o lf&Od•c4!610&0, CAJu.ol hl<-
t>.a-.ico H.u.T prof- da Univc:nidllde de CClín:ldl..a011 lbtadm Onldoe, e que te<'c llo de o Ir • _.,r.oeo
c~lo, comunlc■.ra • P:&DRO1I ~ viva imprallin qu" lhe dcl:11 ra obr■ do ni,~ve.l muc:■ dor- br■..Ud:ro. ICm
l •• po,- dlíieUld..d O,u,a_c,oi,,,1 dccorrmt:n da IDlllluten~o do lntuo■to. criado~ tB76, fcchw· o nc:roatu
AQWJ:10,q_uc. dude moadm de 1883. f'1Dciona:H it. ru• do P io, cst, e vdo • reabrir" e .tiro.ente em 1892. ,.ob
• dueçio do MU (UDd ■dar. Dr. JOÃO PEDllO DA AQDI.H~. ltq-..lparado, cm 1903, a.o Giohio onal, cootiauou
• pra~ ICIVlÇQI à edllC•~º da mocidade.. Fai ~ Extern• o um llaport.oes cstlobcla:uDC'llrwode,
~o, aa .., metade do .akulo XIX, não &S pd■ unidade. e cfic:l~c:la de dlre;ão e pt.1 ■ •txn er■ mgraJ
qw, ode .., r plrav-. como la dl çifo dOII n.>vOII m!rodc. pdo cm,J to de -. prar--. ocalbldo■
cntn OI .,,.t,, bfbc:i 1: c:xpaim.m.bldm da capital do pai._ No Ezu:rnato Aqwo, pdo qlUI.I paa0nim, dw ■o
,...;., de meio kwo. m ll1"'C:Ide .,,~., f"ucram K1ll atud de buma.nld.ad mai do, brhÍlcU'OI qu ma
dmw:-ar■m n■ polrtic , a.u lerru ., wu pn,f',aõc,s libera' . (Jolo PIDlta Da AQtR o, Bre• notklil l!dbre
o Ertceroato Aquino. Tip. da "GHtl:a de. Notlci&o''• Rio d.e ]■.MI.to, l903 .
AS ORIGENS DAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES 347

CÉSAR BoRGES (Bahia, 1824-96), Barão de MACAÚBAS,•QU trocou aa atividades


médicas pelas de educador, criando colégios na Bahia. Rio de Janeiro e em Minas
erais (Barbacena) e pondo a sua pena a serviço da instrucão, cm numerosos
trabalhos publicados, numa campanha de cêrca de 25 ano ; ]OAQUUI José
MENESESDE VralllA ·o de Janeiro, 1851-97), também médico, fundador
do colégio que teve o seu nome e do "Pedagogium" (1890) que dirigiu até morrer,
e JOÃO PltDRO DB AQUINO, engenheiro, que, desde estudante, consagrou uma
aistencia inteira à obra de educação e teve a fortuna de fazer viver, durante
perto de meio éculo o colégio que fundou, - a mais bela e fe unda criação
de seu espirita.
A livre concorr ncia e a rivalidade que se estabeleceu entre os colégios,
favorecendo o florescimento das instituições particulares e fazendo saltar da
nebulosa do ensino uma constelação de valores, contribufram ainda para intro-
duzir, no jôgo da vida educacional do país, fôrças pedagógica, novas, acaste-
ladas, como cm pequenos redutos de reação, nos estabelecimentos leigo de
ensino devidos à iniciativa privada. Os primeiros movimentos de renov cão•
partiram, de fato, dos colégios leigos, mais progressistas e adiantados, quer
10b a inspiração direta dos seus fundadores, quer pela ação de professores con-
tratados na Europa ou recrutados entre os melhores elementos do rnagist~rio
nacional e entTe o homens mais cultos das "col6nias'' estrangeiras. Sente-se
passar por ês colégio , estimulados por uma nobre emulação, um aõpro re-
novador que e traduz na abolição de castigos corporais, no impulso dado aos
estudos das Unguas moderna das oências- na adoção de novas técnicas de
ensino e no apar lhamento de seus laboratórios: MENESES D:K VIEIRA. empreende
viagens à Europa, a fim de tudar a organização de institutos simiJa.rcae, além
de introduzir melhoramentos em seu colégio, funda a ' escola de domingo"
ou curso de educação de operários e, mais tarde o "Pedagogjum", e publica
obras didllticas que con tituem, com os livros escolares do Barão de MACAÚBAS,
a contribuição pedagógica mais importante na época para a renovação d
métodos no en ino secundário. Onde não se fizeram sentir tão intensamente
a concorr~cia do colégio leigos e a sua ação renovadora, a instrução manteve
o seu caráter conservador e fiel às tradições do ensino clássico: é o caso da Pro-
víncia de Minaa Gerai , que e tomou o maior centro de estudo humarusticos
110 Império, uma esp cie de "colônia latina", no dizer de PEDRO CALMoN,de•
vido à predominância acentuada do ensino eclesiástico, ministrado nos dois
aeminârios, de Mariana de Diamantina, e nos colégios dos padres da Con-
gregação de São Vicente de Paulo. Um deles, o Colégio do Caraça encravado
nas montanhas solitúrlas de Minas, constituía, pelo seu insulamento, pelo
rigor de sua disciplina e pela fidelidade à tradição, 11alguma coisa de sinistro
escreve GILBERTO FREYRE, na paisagem social brasileira dos primeiros tempo
do Império". Mas, atém de ser quase sempre local a influência daqueles re-
dutos do pensamento novo, estritamente pedagógico, que se procurava como
"um valor em si" e não como uma modificação de técnicas ligadas a novos fina
sociais e políticos, mantinha-se preponderante a ação do clero, n09 scminârioa,
e das ordens reli •osa que cooperavam na edttcaç.ão secundária, com grande
número de in tituições confi sionais essencialmente conservadoras, e espalhadas
pelas principais cidades do pais. Eram os lazaristas que se haviam estabele•
cido desde 1820 com o Colégio do Caraça, e se irradiaram de sua CSJ matru
para Campo Belo e. Congonhas do Campo· os jesuítas, 2 grandes ~ucado~

27 O. primeiro,, J que e .,.m ao Bc-Ul1, 83 ....,. depoia de •U. pd 6' de


21 an ap6e o r ta eclm to de Con!pallhia de Jew., por Pro vn, el'1IJll padres pa.n . 1"11.Dd.ando
JIM.2 • prim. ra 1 °"' cm P6nD Alqre, dedi!;ar-am-ec • prindplo, como .- lembra o Pc. KA.IIV~
lotADu.&rRA. cl 'v.m nro ao mln t o apo.t61ico c à catequese doo lodios. O primdro colftio Que: catabc•
1~m. C1D Datb-ro, bQjc Flori&n6poti-, vc. na WI fue iuicial, uma vid& ef&ner■• pG o quo (ecuod&: cm 1853,
devido• um 1111rtod rcbt ■l'l\llrela, no nil. fechan-tc o c,ol4io criado cm 184S pelo. padm panhAil, pua .e
34 A CULTURA BR SILEIRA

e bwnanistas, que haviam voltado ao Brasil, 83 anos depois de sua expulsão,


fundando um colégio em Destêrro e outro, com um eminário, m Pernambuco
(1867-73), ambos de curta duração, e mais tarde, os tr& colégios que se tOT•
naram no •veis o de São Luís, em ltu, na Pro ncia de São P ulo (1867), o
d Anchi ta (1886), em Nova Friburgo, na Província do Rio de Janeiro, e o de
assa Senhora da Con~ição (1870), em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul;
os beneditinos, elh.os hóspedes do Brasil, que cri cursos primários e se•
cundário ; e os salesianos, recém-chegados ao paí , em 1883, e que se especia•
lizar m, aqui como por tôda -parte no ensino profissional e secundário. Asi
origens eclesiásticas da educação no Brasil a i.nterpene ração do mundo clerical
e do munc!o pede. ógico, ainda tão íntima que o pr6pric Col~gio Pedro II teve
entre seus reitores, vice-diretores e professores, numeroso padres e frades,
desde Frei ANTÔN!O DE ARRABIDA, Bispo de Anemúrla, seu primeiro reitor
(1838), e afinal o desenvolvimento que adquiriu a colaboração das ordens re-
ligiosas na educação de moças e rapazes, acentuaram o caráter religioso, lite.
rário e retórico, do ensino secundário, cujos ginásios se inspirarem nos modelos
europeus de tipo clássico. Nenhum fermento novo se introduziu na massa do
ensino, a uão ser o que se preparava nos colégios leigos ou se formava, nos fins
do Império, com o aparecimento das primeiras escolas protestantes, como a
Escola Americana, fundada em 1870, em São Paulo, para o ensjno elementar
e que se acrescentou, em 1880, a escola secundária, am as do Mackenzie
College", ou o Colégio Piracicabano (1881), para meninas, em São Paulo, e
o Col~gio Americano (1885), em Pôrto Alegre, ambos de iniciativa dos mcto-
di o Brasil que começava apenas a dividir-s em duas crenças religiosas,
ambas cristãs, a Igreja Romana, estreitamente li ada s origens de nossa for.
mação social e hi tórica e unida ao E tado mantinha a d"stância, circurucrita
a alguns círculos restritos, a influência do prot tantismo, recém-vindo e ainda
mal aclimado ao meio brasileiro tradicionalmente c t6lico. No erreno edu-
cacional não haviam estabelecido senão os primeiros con tos nem travado
senão os primeiros combates ~ concepções escolares correspondentes às duas
crenças r ligiosas e ligadas a duas culturas, já diferenciadas. a europ ia e a
norte-americana; a pedagogia protestante, progressi ta e libertadora que
tende antes à emancipação do espírito do que e uma domesticaç o intelectual,
e o ponto de vista católico, mais conservador e autoritário, especialmente do
jesufta que, na frase de MACAULAY, "parece ter encontrado· o ponto até onde
se pode impelir a cultura do espírito sem chegar à emancipação intelectual".

,.,.bdr, J6 oob • dlrt .o do, ;,adrts da Provúicia Romane, ,:m l86S, e acr novamente ícc:hado tm 1840 e. ir.ali tardo,
r !>«lo, d ta vc• pclot jau!tao d:o Provfocia da Oerm&ni.a. 801 1867, o. pt1dta , - OI ptlrneiroa q_u,o
voltavam ■ o Dr il pelo IUJ, no akulo XIX -, "foram com uJ Plldn: da Provft1cia
da C1'1.<1Anla, aoe qu.ai■ o Padtc Ger:u confiou, nes ei, 6ltim o do Sul, rcm>lftdo
• ta. com a d ~Jo de P:rov!nc:i.aMeridional do Bruil ormiai1çl.o do
Padre O.nl, Nm:10 vf, fnstalaram-ac a.e, aul oo jCIUfta_, ai~ o talia.na.
Kat■ , 1 r o, com qu oc tratla(erlu cm 111.67,doo pad«-' P , tM• a
Ora.ode o Sul, e -.e lb.c ~ mais tvdc a. de S.Dta lC moti•
cn • alcm.i.que. inlcada, ainda no tempo de D ~
bwco por Pfllao t. = • fWl<hçto de LcOpOIJ , s.ou.
a de Pcfrópolia, teria, corno ~ CUD ~ Cl1JfHA.d !OI
craça.do a>atfl>uo de qa.e rcsacn como poclt:Do dctcrlDÍDAll o Novo,
outnt... (A m.uA,1!m d bút6ria. r>Otto, 1922, pi . 215). Em 1810 °' i tu
cm 5h Ltopoldo o Giúsio de N- SmlM>ra ~ (1870-1912 italian ,
criado cm 1867 o Scminirio e o - ddi•
• CC1>tnl Jo pa É perca,, q~ r 867-1917).
17 pan Slo Paoll>, ~ w, Nova Fribur&o o ~ 19H,
bm.aJou • Casa Cau:n:I. da Compulbia de ao,,tdAldo o b1a•
os í11turoajcouftu. ~ d • co ' , o l'CpU"
• lncstimiveis à educaçla da • ~. durante
• BochAdo o Coiqio Anchicte, briruD hoje ~o-
io de Santo ltl.4cio, qlk ~ um doo os no Rio de
jHultll de Panút;lll qlWldo.., proc mou a . em 1910, o Bn:tll
r WD ~OI, - OI J>Adra da Provfo p,ortllf\l • am rio Norte, -
J'c:mamb11co,nn CearS e .,. Bahi•, e= ,mu eolq:i01 J16r..1a educaclo
AS ORIGENS DAS lNSTITUIÇõES ESCOLARES 349

Em t6da essa obr de ensino e de cultura, que se desenvolveu num ritmo


irregular, sob o influxo da iniciativa privada, o govêrno imperial exerceu um
papel mais incentivndor do qae empreendedor, que apresentava qualquer coi
de patriarcal na assis blcia dada às instituições espirituais. Sem dúvida
PEDRO II revelou sempre um extraordinário interêssc pelas coisaa do espúi.to
uma notável atra o pela inteligmcia, acercando-$e, para admirá-los e ouvi-los,
de sãbios, pensadores e artistas. Conta-se que, interrogado por FREDERICO ll
aôbrc auaa rclaç com Lufs XVI, da França, o grande D'ALENBBRT respondia
ao reí da Prússia: "eu não o vi senão urna vez quando mo apresentaram,
gundo o costume, depois de mi.oba e1eição para a Academia Francesa". "E
que vos dias ~le7" - "Não me falou", respondeu D ALEMBB.RT."Mas, re•
plicou-lhe FREDERICO,a quem êle fala ent,ão ?" O Imperador do Brasil, ao
contrário, n·io costumava esperw:-1 para lhes falar, que o procurasse um sábio
um filósofo ou um artista; ia-lhes freqüentemente ao encontro, tomando a ini-
ciativa de visitar, em Paris, o poeta Vf'roR HuGo, ou dirigindo-se, no Río de
Janeiro, ao explorador Capit>ão RICHARD BURTON, para se entreter com ele,
em palestra cordial, numa noite de recepção no Palácio de São Crist6vio. :tle
traz sempre o e tímulo de sua palavra ou de sua presença a todos os homc-naque
trabalham ou a tôdas s instituições em que se realiza um grande csf6rço cm
prol da cultura e da educação. As suas visitas ao colégio que tomou seu nome.
eram freqüentes, e muitos outros lograram a honra da presença imperial como
o Externato Aquino que visitou em 1875 e o Colégio do Caraça que procurou
conhecer, na sua viagem a Minas Gerais em 1882 assistindo às principais
aulas do colégio e do mioário. :!te animou as letras, as ci!nciaa e a artes,
não sõmente com a ação catalítica de sua presença, nas festas de arte ou de
espírito, mas fazendo publicar obras às suas expensas, subvencionando viagens
de estudos ao artist da Academia Imperial de Belas~Artes ou do Conser-
vatório de Música e valorizando, pelo seu er.emplo, as atividades intelectuais.
O Instituto Hist6rico e Geográfico Brasileiro, fundado cm 21 de outubro de
1838, não teve maior pro e or do que PEDROIl, que assistiu e presidiu a 506 d
suas sessões em 40 anos, lhe re.z valiosas doações de obras e manusaitos e ainda
exilado, em 1891 pouco antes de sua morte, lhe legou a sua biblioteca particular
e uma coleção preciosa de retratos, gravuras e mapas antigos. Certamente.
a função de MECENAS ninguém a exerceu com mais naturalidade e elegância
moral do que êsse monarca ilustre e magnânimo: podia já ser muito para as
ci@ncias,as letra!! e as artes o apoio constante com que as incentivou o Impe-
rador, mas cr muito pouco para as responsabHidades de um homem e um Chefe
de Estado. No entanto., foi devido em grande parte a êsse estimulo caloroso
que p 1deram desempenhar, em todo o Império, uma alta função cultural as
grandes instituições como o Museu Nacional, o Observatório Astronc!imico,
o Instituto His 6rico e e Bibilioteca Nacional, - uma das mais importantes
senão jã a maior do continente americano. 28 O Instituto Histórico Brasileiro

A Blbl N onal, cv.i• orli:-en1 remmitam ■ 1814, qwando o Priná.p: Reamte D. ]OÃo abriu ao
p blh:o• BibUoa,c 60 mJI volwn q e cm 1808 trOW1era do luino. foi tala oo io d Jane!to.
DO HOQ>ital dos o. COlu "tufda inicu.lm.ent:e d!:nc ootávd llttrVO d • prov
Biblioteca Rw do Pllllido da ,\JU!l,9 e IOKO~ i -. instituição criada p« D. Jolo
bliottta foi. d • ntcmente, ■ trav& d.e maio de um 9éculo, com milhar de
~tanm ■o llt\l primitivo patnm6 por ID'!Ío de ~. lepdCIS e~- Km 1812 r
,. 6 3tt volum. que ocrtdlCcnlm ao Conde d BA.IICAe, cm 1838, pa;
perial ,n obru. drca de s de. José BmnPÃCJO, D
pd m , _,,.. 1816, Jã e.rin&:i• a n
qwa .,,. • .~s-
de Uot:cca que honr■n11, vcu Me. q,,alqner cidade oau,-
son nd th t. 11791. A Biblii:ncalmperialq=
to, de 1116, "íraoqucad& ao p6bli<:o d.e dia e• tarde.•
de e9tudanto e paq11 Nd« ". &m 11154í<>iírrqilent<ed& p...- 9 tl4 leitores. lttn 1189, qu,,d_o R pcoclamoa
• RepGbl.lc., a BlbUorec■ lmpenal que pu ou a denominar-se Bibliotera N.donal, Jl Ilia 170 6l
a'bran& 21 118d11P,1ieetn e 1 746 Ut'm~ da Flor■ Brullian I d Snx un
895 d SO mil tampa e 12 mil malllllCritos". Entre .. .,... nqueu,, C'Ollll
obru •o , em prim • odl~o, en,,onira.-e uma du bflillu ktinaa tm,.._. cm
:350 A CULTURA BRASILEIRA

cuja casa tradicional é habitada por sombras ilu trcs, e que boje possui uma
biblioteca de 80 mil volumes, 50 mil manuscrito e a melhor coleção de mapa.a-
do pars (3 míl), faz da publicação de sua revista, editada regularmente desde
sua fundação em 1839, uma obra não s6 de estímulo dos estudos históricos
despertando e atraindo vocações, mas de propagação da cultw-a nacional no
pais. A Revista do Instituto que publicava em 1889 os volumes 79 e 80
(Tomo 52), quando se proclamou a República, e que cm 1938 por ocasião do
seu centenário, jã contava com 168 volumes al de 28 especiais; o Arquivas
do Mu eu Nacional, - revista criada em 1876; os Anai do Ob ervs.tório
A tron6mjco cujo primeiro volume surgiu em 1882, po.r iniciativa de E. LIAIS,
e os Anais da Biblioteca Nacional, cuja publicação se iniciou em 1876 e já es-
tava no XIII volume em 1890, constituíam as melhores font s d estudos nacio-
nais e outros tantos focos de irradiação das atividade culturais no tempo do
Imp rio. Sob o impulso de vocações isoladas, mas tenazes, e ao calor do apoio que
lhes dava PEDRO II, criando uma atmosfera espiritual, d Sj!nvolveu-se, nesse pe-
dodo, uma eflorescência de cultura que a história do pais ainda não conhecia. Foi
também a partir de 1876 que, por iniciativa de LADISLAU NETO, seu diretor
(1874-93), o Museu Nacional, abrindo cursos de ci ncfos e uma série de confe•
t1 ncias públicas s6bre botânica e zoologia antropolo ia e fisiologia, lançava,
com uma plêiade de colaboradores, LACERbA, NlOBEY RODlUGUES PEIXOTO
e COUTY, fisiologista francês, a semente de que devia brotar cm fru os de pes-
quisas o interêsse pelas ciências puras. Com o mesmo z lo e a mesma solici-
tud com que participava em 1856 das r-euniõcs da Socied de Peles a Cien--
tífica, pr idia habitualmente a sessões do Instituto Hi t6rico, inaugurava
expo,i,;- de e, velava pelas instituições de ensino ou es ipencliava publi•
caçôes e viagens de estudos, o Imperador acompanhou de perto, assistindo a
diversas conferen •as, essa iniciativa de extensao cultural e em prol dos estudos
científicos desinteressados.
,._ Mas, não s6 em derredor dêss.es gestos. freqüen emcn e ridicularizados,
se abria um largo vazio de indiferença e de desdém como ainda (e daí a, descon-
fiança que suscitavam e que era explorada nas lut.as políticas) não se registrava,
na ação, um vigor correspondente à acuidade do in er e intelectual, revelado
por t as as formas. Nenhuma concordância, de fa o, entre as atitudes
pessoais do Imperador e a política imperial de educa ão. Nenhum esfôrço
realmente fecundo que lograsse inclinar a atenção do público intelectual para
as ci!ncias da natureza e pata o trabalho científico. N nhuma inicia iva, da
parte do govêrno, para converter a opinião pública à idéia da utilidade, da
necessidade mesma de se orientar num sentido diferente a ensino nas escolas.
que se desenvolviam segundo um ritma de evolução particularmente lento e
continuavam a preparar, não para a vida, em sua manifestações diversas,
mas õmentc para as profissões liberais. Peado p lo Ato Adicional que lhe
paralisava qualquer ação decisiva sôbre as províncias; alhido pelas lutas de
partidos que se revezavam no poder, dando lugar a sucessivas mudanças de
minist rio ; dominado por problemas prementes, como a manutenção da ordem,

por GUTlUI' 462, na - prilncino ~ e du out:r exem !,ora_ A


bret -.ade b~e a mab de 5 - DNde 1876,
8 Biblh>t~ Nacion9J d~ p:,:i,knte
a em 1940 ~ q.u, c,omtituem do Pela
d a<:i-1 que ji .., c:ocsidcr■.,._ !.riN do Sul,
coaio. c.u~ outro.. Fm J• ■ ro
111139-46', um dot fundr.lon,, do • ,, 6ri cmn BAJl:IU<l'O
(1846-531, Jlrel C,.,Cn.o DI Mo,,n...,.n,. (ISS3-70l, R..ulll GALVÃO (t 70-1 21, S.U.OAlfflA PA ÔA'"A (184!1),
1'1.&ltllllA OI r.LO, MuolJD. Cfcfll(> I.Ux.to Br.H'Rll"O e Rl>OOUt'O 0A1CIA. ·rne-iroa ditttO(, bi-
blioc«iriot '°"'"' Frl"i OUOÓ1UO Jiil Vm;.u e e. P. JOA,QUN DÃMA.IO. A Naci ,, hoje ,ob a
utrcinldadc •ui da
dircçlo do snndc hiatoriado,- RoDOLPO0AJ<CtA, aclia- i taiad• h' c&ca d..
■ vcmld• Rio B•ao , e,:n ntuo,o edíflcio, já porém ■c:11nh■do pa,. d~lto da e cm~e. e c:r-e,cc,:llc,
de im de tOd■ •ordem.e, inadcqw,do l lbn~ ntltural qu.e a blbU 6 ch■:nmda a~. como wa
cenuu de pc111u.i de c;u.ltw:a Ot•dria e dcnt1í1m.
AS ORIGENS DAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES 351

o refreamento daa reivindicações regiona.is, a Guerra do Paraguai e, afinal, a


Campanha da Abolição que no último decênio empolgava todos OI espúitoa,
o gov~o não podia realmente contar, para o trabalho constru •vo, senao com
os perfodoa de tr~as'' que lhe abriam as dificuldades d.a politica in ema e
exterior do pais. Em uma dessas pausas, que foi o govêrno de conciliação.
do Marque. do PARANÁ,- o "ponto culminante" do Império, no dizer de
EUCLID.88 DA CtTNBA,ou ºo divisor d~ águas", a qüe se rd'cria JOAQUDI NA-
BUCO, põde desenvolver uma intensa atividade de revi.sao e de reconstru - o
do aparelhamento educacional. 1tsse esfôrço concretizou-se nas reformas de
Lufs P&RBIRACouro FERRAZ,Visconde de BoM RETmo, o organizador, que,
pelo decreto n. 0 1 331-A, de 17 de fevereiro de 1854, estabeleceu medidas con-
cernentes ao ensino primârio e secundário no Munidpio da Côrte e deu nova
estrutura ao Colégio Pedro 11 e ao ensino superior do Império. Mas nenhuma
de suas disposições introduziu no sistema qualquer inovação de vulto nem fêz
infletir de sua linha dominante, literária e acadêmica as formas de nossa edu-
cação. it pela ação francamente progressista do Visconde do Rio BRANCO
(1871-76) que, sem romper a continuidade da cadeia de tradições, surge, com
a Escola de Minas cm Ouro Prêto, um ponto culminante fora da linha axial
de nosso desenvolvimento. Sob o impulso do Conselheiro JoÃo ALFREDO, que
propunha em 1874 a criação de escolas profissionais, bem como a fundação de
bibliotecas populare , o ensino jâ parecia orientar-se no sentido de nossas ne-
cessidades econõmicas e sociais, extraviando-se, em diversas iniciativas, de sua
direção tradicional.'9 O grande estadista, Visconde do Rio BRANCO, que, no
conceito de EucJ.IDES DA CtTNBA,mais nos aproxunou da civilização, engenheiro,
professor da Escola Central de que foi diretor, reorganiza em 1874 essa escola
que passou a denominar-se Politécnica, colocando-lhe à base dos trb CUJ"$01 de
cspecializ:ação, de engenharia civil, de minas e de artes e manufaturas, os cu
gerais de cibtcias fisicas e matemáticas e de ciências físicas e naturais; e cria,
afinal em 1875 a Escola de Minas, instalada em Ouro Pr~to a 12 de ourubro de
1876 e cujas origens rem.ontam aos cursos de metalurgia, criados por decre o
da Regatlcia cm 1832, e que ficaram por instalar durante 45 anos... Quando
ae consideram êss longos retardamentos, essas legislações "provisória " e
essa mesqufobez na consignação de verbas para o desenvolvimen o do ensino
cienúfico, puro ou aplicado, pode-se duvidar que os homens pollticos do Im-
pério tivessem plenamente consciência do alto interêsse das in "tuiçõ des-
tinadaa a favorecer ·os trabalhos científicos e o ensino que se liga e essa espécie
de atividades intelectuais. Se a Escola Politécnica, porém, foi realmente or
ganizada, já com o objetivo de se fazer dela um grande centro não s6 de edu-
cação profissional superior mas também de difusão "dos inais elevado con.heci-
mentos teóricos das ciências exatas", onde se fêz sentir mais fortemente e mio
do reformador é na Escola de Minas que entregue a um chefe de escola como
HENRI GoRCEIX, não tardou a trs.nsformar-se num instituto notável de pre-
paração de especialistas em mineralogia, geologia e mines. Com esse refor-
ma, - a de mais alto inter~sse científico, entre tôdas as que se empr enderam
no século XIX -, antes se alargou do que se rompeu o círculo de prq,araç o
profissional em que enclausurou o ensino superior e em que o mantiveram

211 Mo • mannn til au imlihnnte ■ ln


• • lNd la Ap'leol■ d■ Babia, íund•d■ pelo Imperial 1
e· " o da 1.a· ""º munidpio de S. Fr■n,:i
•m d.e ~ent,r;...., ei,6nomoa. mo r • •
dlfi Pecha<! ■ • em 1901, por íalta , ~
liW'■ do eo,,en>o do Ed:ado q- vcl>do-sc obripdo
por • ia, • tra...r<:riu ao r;cwb-no íedcnJ, llOb cu,J ■
bd Ap1cultuni o Dr. Piruto Tor.llDO Em 19Jl ent,,ou em ocw■ cri • , per•
..,._ndo h■ • " rnor-n■r ■o rovtma do Ertado que rn■udou r taw-6.1■ e• m•ntevc, -
lnterntpçlo. ■ tt 1931, quando rol tr■mr da pelo lntenrent:« L.EOPOI.DOAMA&AL pars • 1:1 pcderi• de lml-
ç■ntn, oa Capital. &m S. lko o dll1 L■Je,i, de novo aob ■ jurui:liçi,o do caverno íedcnl, ■c.b ■-.c, atualm.t'.ot■
o Apftadludo Al)1c:ol■ HSfrsjo de C■rvàlho".
z A CULTURA BRASILEIRA

s reformas liberais de LEÔNCIO DE CARVALHO, o ino ador de e.D.Sinomais au-


dacioso e radical do período do Império. O liberalismo que ofre um impulso
vigoroso na Regência e uma queda, ainda no domínio educacional, com o
decreto de COUTO F'ERP..AZ (1854), teve uma violenta reprise com os decret09
de 20 de abril de 1878 e de 19 de abril de 1879, com que se aboliu a obrigato-
riedade do en ino religioso no Colégio Pedro II permitindo- aos acatólicós
receberam o grau de bachar-e] sem o curso de instrução r ligiosa, com os quais,
b a inspiração das prãticas alemãs e anglo-sax6nicas, se ini.1:ituiu, num país,
de liberdade até a licença, a liberdade de ensino (primário e secundário no Mu-
nicípio da Côrte) e de freqüência dos alunos das faculdades oficiais.ªº
Se tivermo , porém, o cuidado de examinar essas e outras reformas, desde
as de Couro FERRAZ, o organizador, até as de LEÔNCIO DE CARVALHO, o ino•
vador, que mais se afastou dos moldes da Universidade de Coimbra, não n0s
será poss[vel reconstituir, através delas, as diversas fases ou as variações de
uma poUtica definjda de educação. O que elas acusam geralmente, no que
têm de substancial, síi,o as influências transit6rias dos gabinetes ministeriais
que, a não ser o do Visconde do Rro BRANCO, não fizeram mais do que conservar;
aperfeiçoando-as, as instituições fundadas por D. Jo7io VI ou criadas no pri-
meiro Império, corno os cursos jurídicos, ou na Regência, como o Colégio PEDRO
II. enhum programa político sério, supondo urna anális tão completa e
precisa quanto possível do meio sôbre o qual se pretendia agir ou o conheci-
mento d suas leis de evolução. Nenhum projeto de reforma geral com unidade
or:;tãnica de concepção e de plano. Faltava solidez própria baJSedessas
iniciativas oficiais que, limitadas ao ensino superior do Imp&io e ao ensino
primário secundário da Côrte, eram como que empresas que se propusessem
a levantar, sôbre velhos alicerces de pouca profundidade, uma larga e pesada
construção. Foi o Conselheiro RODOLFO DANTAS, o primeiro que, no seu re-
latório de 1882, atingiu com audácia e lanrueza de vis s o âmago da questão,
quando fazia sentir a necessidade de uma "cooperaç o dos poderes guais (co-
opcraç-o a que não se opunha, a seu juízo o Ato Adicional) na obra múltipla
e imensa ao en ino para o qual é e será por muito empo insuficiente o circulo
dos recursos provinciais". O projeto de reforma qu apresentou ao Parlamento
e não chegou a ser discutido, foi estudado por uma comissão especialmente
nomeada a 12 de setembro de 1882 pela Câmara de Depu dos. Relator dessa
comissão, Rut BARBOSA escreve o famoso parnc r n.11 64 com que jus 'fica
o projeto de lei, "maravilha de ciência e de consciência'' na opinião de AFRÂNIO
PEIXOTO "magnífico e substancioso documento, que 1 no dizer de RAJA GA-
BAGLIA, honraria a intelectualidade da mais erudita assembléia de qualquer'
país do mundo". Mas, nesse parecer que, do ponto de vista da forma e da eru-
dlção, é realmente uma obra-pritna, como o do ano eguinte, relativo ao ensino
primário, o que se justifica não é um plano de reforma ajustado à realidade

IIO A parte rellltive ill refon::ut das faculdad de mediclN, 11 Laô!fcro o•


CAaYA.1.80,f d id ao Vi Ol'.lded" S.-Ul6U., profi or ditttor d.11tt Rio de Janeiro
O V-t!COnde& SAB6u. «:aja odo a.aia
ria sidoe=qado, em 1S71 idn.11
d.li Eu,opa. De volta de aua via& a cr-
na França, ltâlia, Ãwtria, AI !oram
tam para ntud.ac o ,ensino de . ent"
~ 111711, CTO D!I C.o.av.u.Ho, :ioi.tro do de.,,.
um r • 'bucado .tlbn: o crul110 li....., que a e o V"ucoode
e Cl'I í:oprc:uo dou. mesn dq,oia, abril de 11179;lllguat SU•
pun era o primeiro ~ no caminho d.a d na mloha opiJ>lao, fol l'.I
da o rJn« ADd e m,. retóri.:a o tar
aind \cnu~ do ·IIO ,ups,cr, o n!CI
prop6t a ~ dr uma universidsd.c com, meio d b ove.no
f d01 terrenos, ,_...,;wu plano! e co:neçou os tnbalhos'º. IA, l'a/011161 da MUk.ir..-.
9. ln "Lc. 8r&U cn 1839", de Sant'Aona Nai, Paru, una vu, par&n, f"ICII,,. eJD
pt~,:to • id • da unlvenidadc, que devia smv,- ainda em III pr 611:ima va, c:omo 11C1Dpa
~. M ala do Tro110, que !ai ,. deopedlda da monarqu!a.
AS ORIGENS DAS INSTITUIÇõES ESCOLARES 353

nacional, mas um plano ideal e teórico, em que se coordenam, por uma espécie
de ecletismo, elementos e instituições discordantes, inspirados nos meios sociais
mais diversos, como a lngla erra, a Alemanha e os Estados Unidos. Com a
sua notável erudição pôde Rui BARBOSA reunir nesse trabalho parJamen ar,
-um volume de 378 áginas in 4.0 -, a mais completa documentação rela-
tiva às instituiçoes de cn ·no em alguns dos países mais adiantados da época,
e apresentada com aqu la lcgància e pureza de linguagem que er m peculiares
ao grande orador e con tituiam um de seus maiores atrativos. lmpeJjdo, sem
dúvida, por um idealismo ardente e generoso, que não lhe permi e tomar p6
na realidade, e deixando-se dominar pela sua erudição e eloqüência que o afastam
do espírito crftico, erguendo, acima do valor ideol6gioo, o valor lited.rio e -in-
formativo de eu parecer, prefere o eminente relator as largas esquematizaçõ s
teóricas à observação objetiva dos fatos e à reflexão sôbre êles. !le propõe
todo um plano sob a forma de reorganização, depois de traçar um rápido es-
bôço da hist6ria do ensino no Império e levantar quadros estatísticos das pro-
víncias, mas sem proced r a um inventário do estado material, social, econômico
e moral do país, e sem tabelecer antes a finalidade pedagógica, cial, e po-
lftica, a que devia orientar-se tôda a estrutura do sistema e para a qual deviam
convergir, coord nadas e ubordinildas a uma unidade fWldam tal de prin-
dpios as euar ia tituiçoe escolares de vária natureza e de todos o níveis. Ma
é preciso reconhecer que na laboração do seu parecer, em que abriu novas pers-
pectivas à educaçao no Brasil, alargando o seu horizonte mental em outras
direções, o vigoroso batalhador das campanhas liberais, se podia e d •a procurar
no meio social brasileiro as bases e as sugestões para a sua construção, não
podia encontrar n!le um pensamento pedagógico nitidamen e- formulado, cm
que se firmasse, nem uma corrente de idéias em que se deixasse arrebatar. ''Em
todo o período do lmp •o ou seja em 67 anos, informa-nos Lo RNÇO FILHO,
apoiado em dados oficiais, s6 computaram 193 trabalhos' ... e "a 1882,
decorridos ai de 70 anos depois da primeira publicação (1812), a bibliografia
pedagógica se re umia quase que em relatórios oficiais, de escasso valor dou-
trinário, e às vhes mesmo informati o, ou discursos de propaganda' . Ainda
no período de 1862 a 1886 em que figura o maior número de obra (147) publi-
cadas em 25 anos, no Impêrio, e quase quatro vêzes superior ao de livro ôbrc
educação editados nos cinqüenta anos anteriores, e em qu apareceram Q pri-
meiros trabalhos sóbre criação de W1iversidaàes (1873), a idéia de um plano
nacional de ducação (1874), e o ensino profissional (1876), não se d enha com
nitidez nenhuma corr n e de pensamento pedagógico. São tedas, obras mais
ou menos eruditas, geralmente livrescas.sem vistas gerais e sem esplrito crttko
e construtivo. Para estudar um assunto, bastava insinuar-se ntre os livros,
manuseâ-los e confrontá-los, opô-los às vêzes uns aos outros, r colher dados
e indicar soluçõe ideais e, depois de um passeio mais ou menos longo pelos
países europeus, aturar a obra de erudição e pulverizá-la de reflexõ s pessoais.81
O parecer de Rui ~. de lc mttodo uma aplicação luminosa que reflete, com a
mentalidade da poca, a fôrça poderosa dos seus ideais e do u talcn o. O
contraste en r a altura do ideal e a realidade qu_eo rejei ava ou em que se ia
inserir, deformando-se, foi aliás, com o seu temperamento combati o a caus

81 Ao ccnlrlrio da impr 4c ca.riiter ,~ai e ·pol!tico, que teve um 119pel o lmportan no domln o
da lltawtura, a lmpr dld.6 • • que ·u • put.r de 1875, nãQ checou • estimular a
s,edaiõa:ia. no rimo quartd do o e nunca trte butant:r tmpon
pera 't,w e caoal CO<ffnta de e:nto no dom.mio d.a_ edacaçio. A primeira pub'
devw à i.oiciariYA de ~41U Loz, "lw>dador. no Bc-,wl. da. impr=- dld.6tic&"', • r ta A t,, trvi,lo
Ptí.blictJ, nn que c:o1 tam eotri ou oe o Bati, de MA.CAÓBAs, Ya.u:B.nro D1l CAAYAl.80 o Cantelhr
J. LrllllA'l'Q 8 . O.. outru publ , como O En ino e a R#,pisra da Li do En ino. am Nlitad 1
no Rio dJ! Ja.oe-lro, l6d• efmin-u, • que teve .1Mhr repercunão íoi esta 0ltima, cm QIR ricw, \laJ1I tr■balbOt de
Rooouo DAMT.Ue Rur .BAIIIIO A. Nenhum• dela , p::irfm, rcprest:,tnva dctcnníoada knd • peda 6ai nem
tra.balhava J)O( dC'llpn:ndeTda 0\8.IU de ldEu.t,etip,,, ou nova., llS divasa, COfrfflta, ■ioda nddloldt,1 de op nllo.

-23-
3S4 A CULTURA BRASILEIRA

principal da a ºtude um pouco irônica. qoase s mpre sarcás ·ca que mascarava
a sua amargura dian e da resistência do meio ao plan.o de wn espírito animado
de uma fé robusta na vida e nos valores espirituais que a transcendem e a cujo
calor se forjaram as armas para as suas melhores campanhas,
A im, ao findar-se a monarquia, as aspiraçoes vagas e difusas em matéria
educacional concentraram-se, tomando corpo no projeto RODOLFO DANTAS e
no parecer com que, em 1882, Rm BARBOSA o jus ºficou, tran íormando-o quase
em outro projeto, e na "Fala do Trono" na sessão solene de bertura, em 3 de
maio de 1889, da última sessão do Parlamento do gundo Imp'rio. Nessa
derradeira ''Fala" solicitava o Imperador a criação de um Minis é.rio destinado
aos negócios da instrução pública, a fundação de scolas técnicas "adaptadas
às condições e conveniências locais", a instituição de duas universidades (uma
ao sul, outra ao norte do país), bem como de faculdad s de ciências e letras,
ertl algumas províncias, e vinculadas ao sistema universitário. Todo êsse sis-
tema proposto pelo Imperador e que teria por cúpola as du~s universidades,
"centro de alta organização cientifica e literária 1 de ond partisse o impulso
vigoroso e harmônico de que ta.,to carece o ensino'' segundo a palavra oficial,
e as n aria • livre e firmemente na instrução primária e secundâria", difun-
dida largamen pelo território nacional. Mas o fruto, em que se transformara
a floração legislativa de indicaçoes e projetos, não es ava bastante maduro
para que a mão irresoluta do Imperador o d rendesse com facilidaáe ...
Devia levar ainda quase meio século para amadurecer, e não tanto que se pu-
d des acar depois de 1930, sem a violência de uma Revolução. As aspi-
raçõc larga e ambiciosas, daquele projeto de 1882 e da úl ima "Fala do Trono"
em 1889, não ºnbam para apoiá-las nem uma mentalidade nova nem uma
realidade social, maleável e plástica, nem um sur o conômico que favorecesse
profundas transformações no sistema educativo. A cultura já a "uma cul-
ura brasileira" ap de todos os empréstimos feitos cultura do Ocidente,
mas a mentalidade permanecia a mesma, li erária e re órica ão atraída para
e erudição livresca quanto divorciada do espirita crítico e experimental: ainda,
preferíamos, com a gramática e o latim (e por mui o tempo ha iamo de pre-
ferir), os pur'e de batatas, dos ccnvalescentes e dos velhos, ao regime de carne
crua dos povos jovens e fortes. Se o sistema de ensino, montado para preparar
o homem a uma tarefa única, erigia acima de um ideal de homem completo,
o do "profissional", ou de um grupo de ideais e peciais, - os das profissões
liberai , a predominância, na vida intelectual do pats, da atividade literãria,
jornaUstica e política, oferecia uma válvula de escapamento ou um derivativo
a esse tipo de especialização. O brasileiro reagia, porém. contra a profissio-
nalização do ensino e da cultura, ou caindo, por falta de base filosófica e cien-
tífica, nas generalidades brilhantes, oo entregando-se a ssa erudição fácil,
a que se referia DE Fo~. 'de revendedores de grego e de latim ', ou evadindo-se
para a lit ratura de ficção. bo ponto de vista da quantidade, não c.ra superior
ao s u valor qualitativo, a herança cultural e pcdag6gica do Impfrio. Para
uma população de quase 14 milhões a matrícul geral nas escola primárias
era pouco mais de 250 roí! alunos, não chegando a 300 mil ou a menos da una
parte da popu]sção em idade escolar o número de tudan cs matriculados
cm tõdas as escolas dos diversos tipos e graus, existentes no pais. Certamente
se quadro geral de instrução nc Império não era uficiente, nem pela extensão,
nem pela variedade, nem pelo nível do ensino, para de ·nar a agitação in-
telectual que se produzia, nesse período ou a plêiade de bom os que nêle sur-
giram, como para citar apenas alguns, um Tô Ho , médico, um ANDRÉ
REBOUÇAS, engenheiro um TEIXEIRA DE FREITAS, jurista; um Go ÇALVES
DIAS, na poesia, um JOSÉ DE ALENCAR, no romance ou um RUI BARBOSA, na
A ORIGENS DAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES 355

eloqüência; um matemático do valor de Gmms DE SouSA ou um bo ânico da


capacidade de FllIRE ALEMÃO. Mas, no conjunto da vida social, múl 'pla
e complexa, a educação cristalizada cm instituições, não é senão um dos nume-
rosos fatôres que influem sôbrc a formação do individuo e o desenvolvimento
da.e sockdadea. N e processo continuo que vai do berço ao túmulo, e se iden-
tifica com· a própria vida, a escola, - uma das agências sociais de educaçao,
coopera não só cem a famllia e a igreja, mas com as sociedades culturais, as
conferência públicas e as bibliotecas,n para formar o indivíduo, sujeito às mai
diversas influências, ainda epi116dicas, como a leitura de um grande liyTO, um
contato pessoal fecundo ou uma viagem de estudos, suscetíveis de acelerar
o ritmo ou desviar a dir ção de seu dese:nvolviment-0intelectual. Aliás, se a
escola que não pode ser superior à sociedade que a organiza, tende a deixar mais
profundamente a marca de sua influência nas -individualidades m dias, à sua
ação modera.dora reagem as naturezas ricas, superiormente dotadas, elevando-se
acima do meio peda, 6gico e social em que se formru-am e às vêzes opondo-se
francamente aos seus ideais e às suas tendências. lt preciso levar ainda em
conta o poder de auto-aprendizagem das individualidades excepcionais: a cul-
tura eleva-se, como um Aeyser, para os que a perfuram através da rocha da
inércia, quando estimulados pelo poder criador e indagador de uma natureza
de grandes recurso . O próprio impulso que tiveram as ciências ft ic:as e mé-
dicas, na Europa nos séculos XVI e XVI1, se excetuarmos a Itália, elas nao
o receberam d universidades, "pouco apressadas, escreve STEPHEN D'lR Y,
em se apoderarem do ensino cientifico, por não lhes perceberem a utilid de
imediata, - a das humanidades era mais evidente-, e não lhes apanharem a
importância. 13 :!sses fato e essas reflexões nos ajudam e compreender como
um pai pôde, durante o século XIX. entreter a sua civilização e fazer prosperar
a sua cultura, sem possuir o que nos grandes _paísesdo mundo, naquela época,
C1'ao próprio instrumento dos progressos literários, filosóficos e científicos:
as universidades.

82 A.oblblloteçu e ~mitrOOI d. ldturu, u atividades do com&cio das livrarias e •• confer!nc •• p6b11ca,,


que conatltuem ua, atiraulaate atividade llltclcctual, oontribuham, em lal"g• medi.da, à er.lOlllo e: difualo de
id6iaa e I orientaelo d nptrltol. 01 brHUci•m oultO!I que em geral.·"' con•erva'lam mni rCNlcptlvo1do que
crladOl'eo, tinhllffl. o 1&tto e ■ palitlo do, llvroa. Nlo er-am rars.• a,, .bibliot...,., partkularc,i, e al1umH IIXC:lcntu,
ao Rio de J■ aelro e em virt■a capltoi1 de Provlnciu, como São Páulo, Ouro Pr!to, Bahia, Of'te.le.oe,Recife
". Sio Lu!1 do Muan'b.lo, O lm,rerAdor que foi um dOI mm• tuntµOIIM bib116íllos do ,eu tempo .. pon11la no P'll6clo
de São Cri1t6vlo, para ut1ar.11~0 do aou1 101toa litet'Ar!OI e cieatfílÇO'i, 1:!Ulr;nific"biblioteca ~culllr, 11.vallad ■
ern 150 mil volumet, e e9pu de ri'llllliar, a certol ·aepectoô, com ■ melhc,r bíbliotcca põbllc■ da caplt■l e.lo lm,-
p&;o, No Rio de Jaactró, - o ·principal a:ntro da vida intol•ctual do pa(1, com -111■1 c•cob1, ª"""j0tnal1, IU~•
livrariu e oíjdnu tlp01!,1'6flu.,, mcoatravam-R c!rca de 13 bibliote<:a,,, algumas de ·primeira ardem, ft ■ nrau ada1
ao p6.bli.co, al6m da 13lbllot1tea lm~I com perto dc 171 n,.it volume, cum precio,o ap6Uo de t.rldadet b bllo-
pftcu, .mapa, e muullerlt01. Eram claa a biblioteca do M11KUln:ipcri-1, • do rn,tituto Ifillt6rico e O,io1rlrlco,
a&. F■ culd■de de Medldn■ q • em JIUJ1 apreaento.'la um KetvodJ,32 57S vnlume,,; a Blblloti!ica MuRlcipal, -
1!E'!l'd-. maio fti,quen.tadu. -, {\Iodada em 1874 pela Clnu ..-a Municipal <:loRio de Jandro, pOI" prOpOtt■ do
C~ JOÃO AJ.Putio, iu,uaurada no mctmo ano com l2 mil volumes; a do Coovcnco dOI &nodltin01;
a do,BflÍl'o lâtcrirlo JLr1 - ~ lit•iri■ aiada cm 1859 e que: c:ootav• com cerca d" 7 mil volurn ;
a do<Jallillcte Partuirue. dc Le tur■• rw:wado cm 11137,e jã CDl 1884 r:om.uma .,.plmdld■ c:ol<Çiode 50 adi voluma,
imtalada dnde 1.881, ca, p,-~o p,-6prio à rua Lu1a de. Camõeo; e a d■ Socicda:ie Pmmol(JcA do E...ino fund■da
pelo 'Comelhein> M.utuin. PIIAJlcnc:o Collll&lA., que em 1874 lnm<m a imo::iarlva da iDltihll J.o d las, dlf
uma blbliotc:ca q11e chq:O\l • acumo.1..- 6 alll 'lolwnel, e: de um■ ,&-ie (1874--861 de CODferhlda. p6blicu. S..
1e ■c:raocern:■rcm u bibli~ npcdalladaa, como • d.a Academia de Btlu-Artts. do C at«io ck f ca,
a da. Eacola Polj ·.,., e • da illtar e • de M&rinhs, -~ um tat:al de 14 bibr otcc■1. com ..,.;, d•
500 mil • uma que fulam elo Rlo d Janc:lro o mefor ccntn> bibliogrâfiro do p&h. O movimcr,to e 't.,.._
cvtidiaam ""™"■ c:o•nteotc:mt:au:; a Biblioteca l111peri,alcm 1887 fui risà■da P« 15 mil b:i e• da uh■,
~ ~o p(ibl~ 1 1. JI podia rq:i,trar em 1~7 UIJlll ft~fr!ncia dc_J 624 lritm;et.. Mu tsae ~ov ra.c-G.to
altamente lintom,lÚCQ, ■Ia.d ue de maiOI' vulto oo Rio de Jaiietm,, cst,,ruiia-ae por di•enu pr<W!QCI& AI m
d,u blblJ.otccu ord m • , com:an o Brul1 com a da Fa..--ulda.dc-dcDlrcit<>, 01> Recife: • da cw o
de Kodicina, d■ ' ;a la de , cm Oaro Pr!to, que tinh9. ■inda uma bibllot«a pllblka d 2 '11
..oi.uma, e com a do Jraciildad de Direita de Si.1>Pa<>b, cujo prim,ico c:a~o aparcccu cm 1884. AJ1wna1
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356 A CULTURA BRASILEIRA

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ne"lro, 1935.
CAPÍTULO UI

A descentralização e a dualidade de sistemas

Estrutura social e econômica em transformação ,_ O primeiro surto


industrial e a abolição da escravatura - Mudança de regime político - A
Republica e o triunfo do princípio federativo - A Escola Militar e a influ!ncia
das idéi11s-positivistas - A reforma de BENJAlflM CONSTANT - A separação
da Igreja e do Estado - A concorrência das esco)11sprotestantes e a penetração
das teorias pedagógicas americanas - A descentralização e a dualidade de
sistema, - O sistema federal, constituído do ensino secundário e superior -
O Instituto de Man.guinhos, centro de pesquisas científicas - ás sucessivas.
reformas do ensino secundário - A expansão paralela. e irregular do,s sistemas
estaduais - O desenvolvimento do ensino primário e normal nos Estados -
O impulso que tomou a instrução em São,Paulo, novo centro da vida econômic.a
do pais - Novas escolas superiorel!, para as carreiras lib~ais - Iniciativas
isolada11 no ensino técnico e profissional - Uma análise da cstrutur,i do
sistema educativo em formação - Dualidade no sentido vertical - Sistema
de. educação popular e de formação de elites - Burocratização e estratificação
do sistema escolar - A reação contra a escola tradicional e o movimento
r-efürmador - Novas tendência9' do pensamento pedag6gko - Por wna po-
lítica nacional de educação.

E M NENHUMA época do século .XIX, depois da Independência, se pre-


par~am e se produ~ram aconteciment~s tão importantes ,para a vid_a
nacional como no último quartel dêsse seculo ern que se venficou o pn-
meiro surto industrial, se estabeleceu uma politica imigratória, se aboliu o
regime da escravidão, se iniciou a organização do trabalho livre e se inaugurou,
com a queda do Império, a experiência de um novo regime polític0, , É, de
.fáto, em 1885 que se esboça o primeiro surto industrial, situando-se no decênio
de 1885-95 o período em que as indústrias do país atraem a maior soma de
capitais em t-0do o século XIX: dos capitais invertidos nas indústrias nacicnais
até 1920, segundo se conclui do recem:eamento realizado êsse ano, 23 % foram
1;tplicadosnaquele decênio, quando anteriormente a 1885 não haviam sido em-
pregados senão lO.% e, posteriormente, de 1895 e 1905, não atingia a 11 a per-
centagem, para subir novamente a 31, entre 1905 e 1914, e a 2S, entre 1914 e
1920, de que data a época mais importante na evolução industrial do país. 1tsse
primeiro surto industria], de 188S, seguido logo de um período de declínio, se
não foi bastante para determinar uma vigorosa transformação de estrutura
econômica e introduzir um ritmo novo de vida, jã indicava que a população_,
aumentando, se urbanizava, e tendia a alargar-se a clientela para os produtos
manufaturados, nacionais ou_ estrangeiros. O país, jovem, ligado à tradição
e à rn~a do trabalhe agrícola, afirmava pela primeira vez, nos grandes centros,
358 A CULTURA BRASILEIRA

a sua vontade de industrializar-se. A campanha que condenava a escravidão,


impelia, por u lado, a organizar o trabalho livre, favorccendo as correntes
imigratórias e aplicando somas considcrâvcis à imigração. Em 1876 a política
imigratória toma um grande impulso, com as entrada de 30 567 imigrantes,
dos quais ap oas l 303 para São Paulo; em 1881 instala essa provinda os ser-
viço de imigração, subvencionando a entrada de imigrantes; em 1888, em que
e extinguiu o trabalho escravo, dão entrada no país 133 253 imigrantes, dos
quais 91 826 para a província de São Paulo, d nvolvcndo-se, no decênio de
1888-98, o surto tomado pela imigração européia nas províncias meridionais.
Mas, como a imigração atrai a imigração, ao lado da imigração de traba-
lhadores agrícolas, subsidiada pelo govêmo central e pelo da província de São
Paulo, intensifica-se a vinda espontâneâ de imigrantes de diferentes camadas
sociais e especializados nas mais diversas ocupações. Cer amentc, ao ser abo-
lida a escravatura, em que se baseou dmante três séculos, encontrou-se a socie-
dade brasileira, como observa MAX LECLERC, "sem alicerces, atacada pelos
males que acarreta a sujeição do homem ao homem, e procurando uma nova
forma e uma nova base"; e, trocando um regime bárb ro pelo desconhecido,
sem uma preparação seriamente conduzida, não conseguiu restabelecer-se da
perturbação crônica da economia oacicnal, agrave.d pelas dificuldades decor-
rentes da abolição e da substituição do trabalho escravo pela atividade do
homem liVTe.1 No entanto, o início do surto industrial em 1885; o vigoroso im-
pulso civilizador devido à imigração; a supressão do regíme de escravatura que,
ainda quando realizada de repente, como nos Estados Unidos coincide com
um grande aumento de produção, e a nova economia do trabalho livre contri-
buem para as transformações de estrutura ecoo6mica e social, que não podiam
ficar sem efeitos sôbre os hábitos e a mentalidade, obretudo das populações
urban . A ucessão rápida d.êsses fatos, de que jã fazemos uma idéia dif e-
ren e à luz a que os novos historiadores os viram; as suas ações e r ções recí-
procas e a intensidade de suas repercussões õbre os centros vitais do país
deviam impor ao novo regime político um enorme esfôrço de adaptação para
encontrar o equilíbrio que instintivamente teria que procurar, cm face de \lilUI
série de situações subitamente criadas e mal compreendidas, cm tõda a extensão
de suas conseqüências.
Entre os fatos, porém, que mais influenciaram a atmosfera em que ocorreu
o ~dvento da República, aponta com razão AzEVEDO AMARAL, como um dolJ
mais importantes, "a ascendência que as idéia f déralistas haviam conquistado
ôbre o espírito da camada dirigente do país". Os outros dois elementos que se
vinculam a êsse ponto capital, eram, a seu juizo, a de organização d economia
agríool em mujtas regiões do país, "como efei o da abolição realizada em um
ambiente demagógico e sem que o poder público tive e tomado as medidas
imprescindíveis para a substituição normal do escravo pelo trabalhador liVTe",
e a questão militar que, "trazendo o Exército contra a sua vontade para a arena
política, conferia automàticamente às classes armadas uma função decisiva na
plasmagem da nova ordem nacional' .2 O triunfo do principio federativo, com
a mudança do regime político, não só consagrou mas ampliou o regime de des-
centralizaçao estabelecido pelo Ato Adicional de 1834 e. jogando a educação
fundamen a1 (primâria e secundária) do plano nacional para o planos locais,

Laa..s.c - Lettre da Br&ul. Cao. XI. L'ap,it p11b e. L" ta


203-230, Ubrairie Plnn, PIU'it, 1890.
2 A%SV&DO Alf.A.IIIAL - Evolu~o átt poJJtica upablic.antt. ln "Cllltun: Polftlc•"• ano 1, 3. Maio
do 1941, Rio d Jane.ito,p6g1. 1S4--172.
A DESCENTRALIZAÇÃO E A DUALIDADE DE SISTEMA 359

subtraiu à esfera do govêmo federal a organização das bases cm que se devia


assentar o sistema nacional de educação. Sob esseaspcc o, a Rcp(iblica foi
mais longe, cedendo às aspirações feder.alistas, quase reduzidas no antigo re-
gime "à 6rbi a prõpriamente pol{tica da vida regional", e dilatadas, no período
republicano, aos domlnios da administração, fortemente centralizada pela
pollticaunitâriadolmpério.Asprovfnciasqueentãodesfrutavamprivilégiosdena-
tureza politica, observa A.zEVEDO AMARAL, "tinham.a sua administraçao interna
colocada na esfera do govêmo que do centro regulava o ritmo das mais íntimas
atividades administrativas e econõm.icas de cada província". A idéia em
marcha, da unidade de direção do ensino 3 ou, ao menos, da interferência do
governo central na educação primária e secundária, foi paralisada, no seu de-
senvolvimento, pela vitória obtida, com a mudança do regime, pelas reivindi-
cações autonomistas, de que São Paulo se tornara, por fôrça de sna expansão
econômica, um dos principais focos de irradiação.
Do ponto de partida, - a Convenção de Itu e o Manffesto de Campinas,
publicado em 3 de dezembro de 1870 -, ao triunfo definitivo, em 1889, a marcha
evolutiva da idêia republicana, a que vieram imprimir novo jmpulso a questão
religiosa, a abolição do elemento servil e a questão militar, se desenvolveu no
mesmo ritmo em que avançavam as aspirações f edcralistas, no sentido de uma
ampliação de autonomia poHtica e administrativa das províncias. Sob o in-
fluxo dessas idéias vitoriosas, a Constituição de 24 de fevereiro de 1891 institui
a forma federativa e retoma a tradição do Império que vinha do Ato Adicional
de 1834 transferindo a instrução primâria aos Estados, aos quais ficou asse-
gurada a organização do en ino m geral e reservando-se, mas não privativa-
mente, a atribuição de cri.ar instituições do ensino secundário e superior nos
Eatadoa e prover à instrução no Distrito Federal, antigo Munidpio Neutro.•
A instrução secundária e superior na capital do país foi posta diretamente sob

1 A ld • d 1&11.id.adee dlr-~lo c,u d orientado do ftHino jA "1Dhll eendo pl'OP\I llO t pbio, u
aecvndametade do ekulo xtX, po,,- ai m.at dQ mal ~nentes fifflnl• polltic, que abordaram a. prob~•
de ed- . Brn 1 4ll, Go1'1Ç.U.IID01 , ooda e to6bgo, coocl<úa d•• o~ fd at11 ...., vt.u-m de
lnqx,çlo provlnciu do Norte, do Pirr6 l B hl• pd,r nece.,idade de. "m•~llo d u:m centro d vnld.•de de açAo
e W>iConnlcaciodo eNlnn em tod.o o lm rio". E•• qu""tAo foi retomad•" d=volvfd.a com luddu e b vba
meuno «ND vttm!nda pelo Coo lb ro t. DATO B.ullOSO em 1867, P'>I" Jo.lo kl'UOÓ, am 1174. e, em l.8&2
pelo Cooulheiro RODOLPO DANTAt. Minittro do 1':op&lo. TA.VUSI B.ur01. que l,rma,,. pela completa ao•
totl.Olnl. doe pode,; toe.li, . ■brla uma. C11:ccçloquanto •o «01ioo, declara,ulo aedter º'p•r• ccrt:OI n111 o c:oucur o
do próprio covéc"no ce:rat, ao m,:001 em favor d meoQfCI.prov1Qciu ~ dan.nte o perlodo deis primeir1>1eoHlo.".
mo 6 men111J'.ll"ed10JoXo AI.Pll&Doque no aponta, cm apOio wi doutrínn lote.-venclonlsta oontr• •• t:end~ncl- ■.
11111plame11te det cotre.liudotaa, o ,:,~emolo da Jn~l•ten'.a ouja polftka, eob t .. c 119i,c,cto,JI nlo con1l1tla ern ''ca•
treitar • e■íer• do E tlldo, em munlc(paU..11r,em ludhrldwdíl!lll' • i!l.lltruçlio ptibllca, mM, .11.o'cntdlrl.o cm. ro.-tU'icar
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o pano n-=-a di~o u fra.oque~h daceatr■UA.doraa do Atz> Adlci.,.,al"' {p' . 9-10. Fu o MI.nutro do
lmp&i,o o .,-.1,1to e o proo nad.or "de uma lntcl'feret,c;,r ativa do Eor■ do 01111 ncc6cioo do cnalno papulu-, olo
co11trariaodo u pren"Oltalivu beoHtcu da admlnl•~o local, ma eltimul,rodo-. -pela fOrcado pio e pela.
t,tmmr.cns de um,, cola~ pOaiHv•"· 1t da mesm• opiaião R:oT BA-oou q odo, apoiado 009 C(""lpl"'
do. ~ Unldoa e da Ãtl'eotiu. 1 dnu rep6.bficas rcd...,.is, rcclmno. • inte,rvc,nçlo n.ed 1, ª" ,ÍIHtiÍQI, em
íAmOeO par , o projeto pre■enQQo l Clmvw. d01 Deputados em 111&3,como rel tor da o de l'.no:tnç o
Póblla. Rua coma e Cavortvd • um.a ''polltlca nadou! de cdlllC■.tílo~, qw, """'" oh "da por....,. h>t•••ven o
direta ou pa- wna. col bando da ..,,,&-ao ceral. qw,1,roc, • .., ou: ec -ort~ padrn, de c tro i.uia, fede·
ra1l4U Yit q -i,.,.m por Impor • d-tnllucã" completa. qw, o • ·~ rc cratlvo repraenlll
deart:lc:uJ lida o entlno na eombinsclo irrtirldal complicada das atnõui~ con • oul • respeito da m •
trueio oaclonal. IV. Pata DII Ar.niu.t., C.'{11t,ucUo.n pub/iq,ie au 816111. Rio de Jandro, 1819, J>'c'• 533;
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de i.. • ~ de enalno ff<Nftdlrlo ,.rperi.or """ E.tlld°"" e prOV<:r li !1>11 no Diltrito Fodcnol (llrt. 35,
aa. 3 e ~). S.tabcl«:I• ainda a lirkldad dn m,ino admmbtrado noa es,;abela:imc:ntoe p6blic:oo (art. 72, n.• 6)
• ca,antla, o padip-afo 24 do ■.rt. 72, "o fivre erclcio de qualquer prt>fisdo mc,nJ, n tual e IJ>dutlrilll".
Piw ·poaca d~ç&,s, <=qjlllJU1 oa C tuli;lo de 91, ficaram rc,p,,rtldA da qalD forma ... atribui
do prinu, da Uni.lo e: dot ovemm ntdwt.i" •J Unib compe:ti■ printivam ot. lc:ahlar oAbreo cmla.o Ili•
pi,riof li.ti ca,pltal da Rep6bli"", cabc.llJfo.Jhe, m o&o privativa.mente, cri..- in1titul de enmAO•ecumUrk• e:
IOpc:fW ooa s.tiidm e prov..- à imtru~i, 110Oi trito Feihral; b) aaa Elt:■d.os N l!CfflUl cq:anira, .,. .eu. •i ►
umu -'alce completoo; e) D.O Dbtrito Fcderlll, perta,da o c:0su10au.pcrior l. ale& do i.odmo do pafl. •
360 A CULTURA .BRASILEIRA

a jurisdição do govêrno central que transferiu (lei de 20 de novembro de 1892)


à 6rbi dos poderes municipais do Distrito o ensino primário e profiesional
que e tav , quanto ao Município Neutro, a cargo da União no l'mpério. Em
vez de arredar os obstáculos ã organização de uro sis ema g ral, a República
não fêz mais do que agTavá-los, repartindo entre a União e o Es ados as atri-
buições na esfera da educação e renunciando expllci amente ao dever que lhe
indicavam a& instituições democráticas de dar impulso traçar diretrizes à
i::ofüca de educação nacional. Com a descen ralização impost pela vitória
das idéias federalistas: com a desorganização ccnõmica resultante da abolição
do el mento s rvil, e com as lutas que se seguiram para a consolidação do novo
r gime, transferiram ao primeiro plano as questõe!l enciais de ordem política
financ ira, a educação e a cultura, que só se expandiram nas mai importantes
regiões econômicas do país, como São Paulo, puderam seguir, s m transfor-
mações profundas, as linhas de seu desenvolvimento tradicional, predetermi-
nadas na vida colonial e no regime do Império. j'Os mai~ altos elementos his-
tórico (do des nvolvimento cultural) não residem, escreve LAMPRECHT,
na constituição política, na e:.trntura social ou na vida econômica, mas na
atividade da moral, da religião, da arte e da ciência. Ainda que tivesse razão
de ser o materialismo histórico, seria preciso classificar as idades da cultura,
não segundo sua raiz, mas se.,aundo sua flor''. 5
Se tivéssemos de classificar a cultura do Brasil dessa época, o.ão pela raiz,
mas ela flor, não pelas tran~formações econômica e políticas que então se
operaram, mas pela classe dirigente que fizera a República e vinha do Império,
não se poderia separar em duas, corresponden es aos dois regimes, as fare! de
evolução da cultura. No perfodo republicano, ao meno atê a guerra européia
191 18, proje ou-se, de fato, com seus caracteres, o tipo de mentalidade e
de cultura que se plasmou na fase colonial e em todo o Império. O mesmo
espiri o literãrio e liVTesco;a mesma falta de audâcia con trutiva e a mesma
preocupação cessiva de fórmulas jurlclicas, o de formalismo e de "juridi-
cirmo", nas expr ssões de JOSÉ MA.RIA BELO. 1l; êsse ~pirita que se reflete na
Constituição liberal de 1891 e vai dominar ôda a legislação e colar, com ex-
ceção da primeira reforma de BENJAMIM CONSTMT, fortemente influenciada
por algumas idéias positivistas. Ao lado da mentalidade humanfstica. retórica
e jurídica, da grande maioria da elite dirigente educada no antigo regime er-
guia-se, com suai: tendências científicas e seu corpo de doutrinas, a mentalidade
posítivista, quase sectária, que se introduzira no Brasil, nos meados do século
XIX e que, através das disciplinas matemãticas, havia conquistado as simpa-
tias das gerações mais novas dos militares. Essas duas mentalidades, tão di-
v rsas e freqüeo emente em conflito encarnavam-se, como em duas entidades
supremas, em Rtn BARBOSA, a figura principal do 1.0 Ministério rcpubUcano,

, 11\11nlo imDllnha, prover à. i tru


nluo('I~, ·moltàa" e ·mralcla. d tfb
tório do ptJ d<>e,w,io sc:;u
ompktos; cl e doi~ tipos de ore
o cnsl-,c, periar, e o,:,tra, d ino
e ~11lu.r, no Distrito F çlio
1 arthth, rol tnnsíaide PMB 1872,
trito Fcdcnl, 9C f~,1
idpat, e • dl>eo.iw !tt'.ltld qna
no do , com _. d um
°'"l, CU.VIU!l li ~ du ruldc
., dcmoer ~ do ensina. •
TII.IZII...., BuNl>ÃO, .. ,.tribulndo aoa Elibl<ios a insmiçio pn te o
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A DESCENTRALIZAÇÃO E A DUALIDADE DE SISTEMAS 361

e em B JA.M.IMCONSTANT, um dos primeiros adeptos da filosofia positivista


no Brasil, e proclamado, devido aos seus serviços, pela AssemblSa Cons "tuin-
te, o fundador da República. A influência do positivismo, do mai ortodo o
como o de LAFITI'E, representado por MIGUELLEMOSe TEIXEIRAMENDES,
ou do mais-her~ •co, qual o de LtTTRÉ,que penetrara pela filosofia matemática
nas novas gerações de oficiais, ultrapassara a 6rbita dos debates de idéia , oas
academias civis e militares, para colhê., no seu raio de atração, as esferas po-
líticas, na fase inicial do p rfodo republicano.o Se a República feder tiva no
B~ ·1 não lhe deveu a exist&lcia, como observa Rm BARBOSA; ae ela decorre
d4 constituição de HAMILTONe não do catecismo de COMTE'',ela não foi SÕ·
mente "a anima vi/is do empirismo comtista", mas, com tõdaa as complicações
e com a impopularidade que lhe deveu, teve, na ideologia definida e na moral
severa dos positivistas como nas suas tendências às formas de disciplina até a
opressão, um dos fat6res que mais eficazmente contribuíram para quebrar o
lmpeto das fôrças demagógicas e assegurar a estabilidade das novas institu çõee.7
O que deu ao núcleo comtista "um poderio desmedido naquele momento
'hist6rlco", não foi apenas a posição singular em que se encontrava a corrente
positivista, "pela ausência de fôrças intelectuais que a contrabalançassem",
como escreve AZEVEDO AMARAL, mas ainda o prestígio e a a.utoridade a que
ascenderam o Ex~rcito e, nas classes armadas, a geração mais jovem de ofi-
ciais. O crifício e as gl6rias da Guerra do Paraguai, "a desarticulação do
dos militares da Escola Central para uma academia especializada", e aind
a questão militar que atraiu o Exêrcito para a arena politica, d pertando-lbc
a consciência de um papel histórico numa nova ordem nacional concorreram

Y mi d m e de A. CO'fft ...., l!S?, dividili-, como


qu cwtodOQ•, a de P11tJt:RSLAnn:a. que acei u •
e an~onnou 11U11Y Rita t<0m ""'1 mlto ~ i
lt. ct. Co.rn brc a Ol'glmiuçio polltica e reli IOM da
alra,, prb,cfpi r11ndam tal,. com a :.lutsm~tc f°lllot e invari.livei,. Entre priacio4
pre:,,do de t&cb pe,q\ll • qll \l(tnpoun "' ÍClll>fl'IC1>DB, a lei do, trb esbd •• dJviw ri nd era COPCf' •
e abo- . a da l'k ~ hlttff,quica dn ei!nrui abotnrta. -.,indo sua onie d comolmdadc: ente
e de c:nttalidadc d.ecruc:cn • ~ du.• CO<TCntel era Ql.lC .., diYi:!iu a ramffi.a de AUOUITOCOVTa, dcpOII
da morte d teu l\indador, tavam cn o rcpre9ent.tld11.1no Bruil, pdo, dnl.1 grupt:11,o da EIK"Ol ■ Mlll r. ~m q e
prcdomlnAv■ a CON"cne do S. t.lTT~t, e o do,, civi•, em que a escol• ortodo;u recru mil o(lm de deptci..
O o6d de dite potltivl1t:11 rannndo na E11COIMUitar, ..,t, a i,:rllu!nd ■ de B&>U"'"™ COlflTA1'"',cujo primeiro
coo to com • mo, n, d• Co11n, t:11bc:lecl'10atrav& das dh,,ípli!Ulll mat.,mlticu, parecer fflontar ■ 1857.
íiliava-# quuc lntclr•mentc ~ eacol de R. t.rTTll.i, eoqu&nto se me.ntioba fiel l eotTeoh de Pr11111111 Lo1TTS,
9 ,;rupo ch.cflado por MIOUIII.t.111110e TSIXlll'WAM&NnES. "Maâ de uma vu (c..:rev RUt BMIIOU, rcífflndo,te
• BIIMJIJolThf CON r.unl lotlmld•d l!c eirpan1!1a com que me hOOJ'■v■• me falou nu oxcomunhllc, que o oe•
pare.v■tn de ,e11 COl'Tc1111io1"1Arl0t, dell)1r,u\do-1e extremado da ortodoxia e man!fc1tando-me cu l,..oírimento
.coo~•• exli:éoaiDI dJ1 l~r~a pollllo•nte". (Rui BARBOSA,Confer~cia proounclad cm 22 de fevereiro de 1803,
no Ttatro de 510 Jollo, da Cidade do Salv.dor, oa Bahia. ln "D1icur1011e Confcr~ncla1". Pórto 1931, pAg!ou
343-344).
7 Em J coorutncln prof'ttid ■ .,. Cidiidc d.o S!llva.dor, ncqa R111 BAJtBOtAao pooitlvi1mo
••o paJ)CI pr Ido por ele a 11 mCffllo oa tra<aição republicana"': afirma a ,t&i •
: .loclu locon com ltmo e 0t ~timcnt05 do pat,; e, qUUlto ao que « por lato ma •
atol, il lm betlt çb de uma rcligflio tradirtooal, como a cat6lica, velha de m&led ,
no e,.. li. JM!I veTI!Jld• l)(ll" Cown:, que .e camcçsvi, • p rcu r Mtre
tlmidamcnle '"nlo hn • • raça venha • ·trocar tAo cedo (•k) pc.1 rei olao da
a rc,llgi o Pa,-e üc, • escola de Come no &HII d
de • tcm6 •losof'1SJD0, mu uma 01tta... que uma col •
qve r fda pUlP,na,.,.,,.,huiyâ intolCNlnt.1!'". Do ponto de v o,
o poá • t~ador dq idEia.s libera ,:, ot0.
COIU a n f&na, que a teocracia llà 1)1'6•
■d~. As pili:ãü p-,tf ~e
• • lil>ttal, alo lhe pc:rmitinam -.:r C'Olll dau com
com t&da ■ intol«lacla de ""'1 • c,e o
"11111 fermento dãsolvent1! pano o r Yd
• que eerumentt não deve a Reoliblica • 1 "um
e IC\l cnlto da ardem, da autoridad , d ·.,. Doa.
21e O'J.,-adora do posffivim,o. O f'C?Ubl!canilmo d ~ cm q e
ec n ..,., e ■rmalib, na iuci ■ e ao pooili , ai
poa tanto malt pe,igooa q1U10~ a üattnoidadc do
de liberdade rica e «-b,njca, .-..duriodo a
a tran,torma, o mti C-tillliçio de 91. º'F e
póblit-a IC (.,.-.....,., A:. Y&DOAIIA•AL) .. ldwe adiu de um au ta
rcpublicaoo, aUtOfltarl QU r no,, pri e.um d ■ DOY■ ~ Ivo o
do re imc e de rcpr .. ilo cnru da C6rçu anarqoilant"" de todo o 11tnert1''. (AnvaDO d■
poUtl.,. ropublicane. Aoo I, n.• 3, 0>aio de 190., Rio de Janeiro, pia:. 164).
362 A CULTURA BRASILEIRA

para desenvolver não sàmente o sentimento e o orgulho de classe, mas ainda


a vontade de influência e de ação poUtica, albn da e.:fera pecffica de suas
atribuições. Com a criação da Escola Militar em 1874, "os engenheiros mi-
litar , escreve JOSÉ MAluA. BELO, adquiriam no país de doutores o melhor
direi o de incluir-se na elite da cultura oficial. A turquesa de us anéis sim-
bólicos valia bem ou mais do que o rubi a esmeralda e a safira do juri tas, dos
m6dicos e dos engenheiros". Quando, pois, as idéias positivistas penetraram
na Escola Militar e conquistaram a adesão de um grupo de oficiais, sôbre os
quais se exercera a influência de BENJAMIM CONSTANT, a juventude militar jã
havia adquirido uma consciência mais viva e larga do papel das ela es armadas
e, com ela, um novo impulso para a ação. A filosofia de COMTE apenas forne-
cera a essenúcleo de elite, com um elemento de coesão a mais, as diretrizes es-
pirituais e polf ticas dos jovens oficia.is do Exêrcito, que seriam "os mais ardentes
conspiradores republicanos". A geração de matemáticos, formados sob a in-
fluência positivista na Escola Militar, como BENJAMIM CONSTANT, ROBERTO
TROMPOWBXY e SA.MUll:L DE. OLIVEIRA, preparava, nesse centro de irradiação
do comtismo, uma plêiade de moços, cuja cultura ciendfica, em vivo contraste
"com o bcletrismo superficial que caracterizava a grande maioria da classe
dirigente do Império", os tornava no momento, como pondera justamente
AzEV.EDO AMARAL, "uma fôrça não apenas espiritual do Ex~cito, como também
de atuação considerável no conjunto da vida nacional".
A repercussão das idéias positivistas e a influblcia do grupo comtista no
plano educacional, ainda que superficiais e passageiras nos cus efeitos, tor-
navam-se tanto mais fáceis quanto a primeira reforma do ensino na República
devia cr planejada sob a inspiração de BENJAMIM Co !l'~T. Ministro da
Instrução. A 19 de abril de 1890 foi, de fato, criado pe1o go b'no da Repú-
blica o esdrúxulo Mini tério da Instrução, Correios e Tel grafos que, além de
trazer um vtcio original de oiganização, abrangendo, na mesma pasta, um
corpo de erviços públicos, tão diferentes e disparatado , parecia ser "um puro
expediente político", utilizado para desviar delicadamente da pasta da Guerra,
no gov~o provisório, o grande professor da Escola Militar e a personalidade
de maior influência junto às gerações mais jovem, de oficiais do Exército. Tinha,
porisso, de durar pouco, e efetivamente pouco durou o novo ministério que
deixava de e:xistir a 26 de dezembro de 1892, transferido para a pasta do In-
terior e Justiça os negócios da instrução. O primeiro ministro da pasta, Bl!:N-
JAMIM C0NSTANT BOTELHO DE MAGALHÃES, empreendeu, nesse período, a re~
forma de tôda a instrução pública, desde a primária e secundária do Dietrito
Federal, até o ensino superio.r, artístico e técnico, m todo o território do pafs.
Reformou as Faculdades de Direito e de Medicina, a Escola Politécnica, do
Rio de Janeiro, a Escola de Minas, de Ouro Prêto, e a Escola Militar; a Aca-
demia de Belas-Artes, que tomou o nome de Escola Nacional de Be1as-Artes,
o Conservatório de Música que passou a chamar-se Instituto Nacional de Mú-
sica, O Imperial Instituto de Meninos Cegos, denominado então Benjamim
Constant, e o Instituto de Surdos-Mudos. Não houve, como se vê, uma ins-
tituição que não tivesse sido colhida pelas reformas do 1.0 Ministro de Ins-
trução da República; e, se quase tôdas elas acusam em maior ou menor grau
a iníluéncia das idéias positivistas, foi na rcoJ"ganização do Col~o Pedro II,
-ou Ginásio Nacional, segundo a denominação com que o reba ·zou o novo
regime-, e da Escola Normal do Distrito Federal, cm que deixaram vinco
mais profundo algumas das ídéías do filósofo francês. Embora "discípulo
refratíuio ao jugo de ~ escola" e, certamente, extremado da ortodoxia, nas
ezpressões de RUI BARBOSA, o reformador da instrução deu às suas inovações
A DESCENTRALIZAÇÃO E A DUALIDADE DE sr TE.MAS 353

um forte colorido positivi ta, maa não se pode dizer que as tepha orientado no
verdadeiro sentido das id~as filosóficas e pedagógicas de AUGUSTO CoMTE
.freqüentemente mal interpretadas por seus adeptos brasileiros.
Segundo o depoimento pessoal de RUI BARBOSA, não conhecia BENJAMIM
CONSTANT a política de COMTE; e as reformas do ensino primário, normal e
sccundârio, constituem a prova evidente de que o Ministro da Instrução uim.
bufdo mais do que penetrado das doutrinas pedagógicas e filosóficas do posi-
tivismo comtista", como observou JoSÉ V:inússnm, não refletira suficien e-
ma e sõbrc a concepções de educação que estavam apressas nos tratados
de filosofia e polftica positiva ou se podiam deduzir d&se sistema filosófico.
Nada, de fato, mais contrário às doutrinas pedag6gicas de CoMTE do que in-
cluir qualquer das cietlcias da classificação positivista no plano de estudos,
destinado aos meninos de menos de 14 anos, e que devia ser antes de caráter
eetEtico e baseado na poesia, na música, no desenho e no estudo das línguas.
Ora, no plano de ensino organizado em 1891, já figuram, nas escolas do 1,0
grau (para alunos de 7 a 13 anos) as ciências físicas e naturais, e nas do 2." grau
(para os de 13 a 15 anos), a aritmética, álgebra, geometria e trigonometria,
a1Em das ciências fisicas e naturais. Introduzindo no ensino normal e secun~
dário õda a série hierárquica das ciências abstratas, segundo a classificação
de CoMTE, e sobrecarregando com a matemática, elementar e superior, a as-
tronomia, a fisica, a qulmica, a biologia, a sociologia e a moral, rompeu o refor-
mador com a tradição do ensino literário e clhssico e, pretendendo estabelecer
o primado dos estudos científico , não fêz mais do que instalar um ensino en-
ciclopMico nos cursos secundários, com o sa.criffcio dos estudos de lfogu.as e
literaturas antigas e moderna . De tôdas 11s reformas e criações de BENJAMIM
Co STANT a mais importante, porém, "para o novo regime de completa des-
centralização, foi, como escreve Jost VERÍSSIMO, o Pedagogium, no pensamento
.que criou, destinado a servir de centro impulsor das reformas e melhoramentos
de que carecia a instrução nacional, e de centralizador de quanto pelo Brasil
se íizessc em matéria de ensino público. Qual era fundado, e vindo a d en-
volver-se êsse instituto teria a mesma função do Bureau oi Education dos
Estados Unidos e poderia ser, como &te efetivamente tem sido, o agente da
unidade na variedade da instrução pública nacional, e assim wn poderoso fator
da mesma unidade nacional".V

8 Nem ■ edu1:11çl'opu..,m nte alontlOca, nem o domínio da edacaçl.o 11tlo ltttado, nem ■lndn ■ Impor•
,taiJ.cla que .., deu, na refonxia Beajamlm Con1tant, ao moino ouperior, d.e e1pec{alllllçl1> proíluíonal, encontram
juatir1c.çlo oa, ldtl.a peda1·61lc■• de A. Covrc, que Dio 1onltara. pllnl a. humanidade um• cducaçii<> ex~u•i•
,ramait,, dcntlfka nem e&pcrava da inldativa ou da intervenção do irov!rno a rcaUzaçtu de • u plaoo de ensino.
AI i.rand e.coln. essa,, nlo o Jul •41• f•vor Y'Clment~ não viam el ■ 1, •e,un o C<»ffll, tenlo u espec{•li•
dl~ e n o rornam flefllo mcl.,._•úbiua 1 p6de:, de momtral intde,;tww, obtidoa por uma cultur■ lo~. No
mtcma de cdu. ç que lle dcspn,nde ae ua obra, como ml>litron.ALl<nll BDn'Ulfl:>, "• Qea~ CA:hah,amtn!C
íanilll■r a lutamente t n •t6 .,. 7 ou 8 anm, deve CODAi!ir oobremdu na cultura d.,. aentido.. no
deaeovol,nmcnto da d trna aatutc 1, ~t
d~
""°" o.a aquuição de bana h'bi
perlodo. °"9 7 ou 8 &IIOI •ti a puberdade, • educação. sem cena,
• A m dev • ■ll:ll dlreeto
d.e- dum& ca e dlr:l&id• pcJat m
ff tornM IDC:ÍO etn,tlca, "m 'to Uvr ■l.rt,cb,, mu nlo ntais int,:ina:,ent-, -lànm", aa-i tttica, fQrnUon-
do-lhe a bue do emmo • poet'.UI, ■ mõ•lca e o d~ Dn,antt, ~ per{odo, a ~" ' o predominan.temente
aJ't&tko procilo acrcsccntar o cst'ldu de Uugua . o meni110 Diu deveria. aind.a ouvir falar de qualquer da■
- dtacl■- 41 famosa claMincaçlo. S6 C11.tlo,• npda • ia.de de 14 ou 15 aGOI, e dep,OI d Iniciado nu arta· e
au ~ i que d"ve começar ■ instru_~o cicntif"rca: daa ci.~ íand■.m~ , fl. nlu be at! - idad"
-.lo o qu preadeepontlDc.m nte l)Oi' oawllo doe eerclcioe a.ü:o■, doe uífciaa e t■ mblm da IU'ta, que
ruem lameotc ■lgun o,mprátim"' d!ndas. A cdu,,a~ ■ partir doa 15 anue, ''j6 lllo acr6 dom&-
tica, mu p6bllca: uAu pc,,tt.ln I rnH tltttm6t:lca: el■ ~áe-:rup,,t,.■mcnte o quadro .hio:,J,rquicu"°"'tivlli:a
da • a crdem 16zjc:a de .,... nu ç&o''. Nu i ■tema pedag{igioo de Cown, qu" n"lo (u. ma.i9 do qu
•"-tbu u ld6■1 de PI-ATlo, lcv■odu cm couta"" pr<>Uall!Ol-du ci!ncla , E-. parte da cdDcaçlo • lmlca
imediatamcnt.e ru!Wm: ••• cd11c:■çlo dom ca orcrcce clific:uld■dc:a nm1pcrivd•, par ue p&: - educai:Ao
da mulher do povo q~ tamaa ainda I d tc:r r..u...lu e uma cooper11"10 do 1Ueio /amlllar que pode. no ettado
atll■I de - cu.tuma, _,. por um umpiL A■ joven, n,cebai'""' • mesma [Mtru!;lu CI\IC .,. .,.pa..,.-,
lldirali,cntc ~ q11A1:1tul pane dcutlr..,.". {ÃLSXIli BlPalt.u{D, C/n reformef ur d'U-.tion. ln
'NOU'ftll 'R6vue'', J5 J■uvic:r, 1891).
t Jod VUllSJllO, A in•t•~ (IS00-1900). m. Rep6bliCL &stadoabW
11°<.bUr:a (18~1900) Pq. U,
ln "Ll,rro do Cei:it.eo.irio", lmprcnu, Naduaal, Rlu ck Janeiro, 1900.
364 A CULTURA BRASILEIRA

Mas essa excelente instituição a que se atribuiu um papel da maior im-


portência, no vasto plano de reformas de BENJAMIM CoNSTANT, transferida
para a Municipalidade, não tardou a extinguir-se, de apar ccndo com ela o
único 6rgão de coordenação e de contrôJe das a ividades pedeg6 •cas e cultura.is,
do país. Não foram mais bem sucedidas as outras inicia ivas e reformas, al-
guma das quais não chegaram a ser postas em prá •ca como a da Escola Po-
lit~cnica, do Rio de Janeiro, e a da Escola de Minas, de Owo Pr to ou foram,
abandonadas, depois de sofrerem alterações e mutilaçoes, como as do ensino
secundário e normal, que apresentavam um traço mais acentuado da influ-
ências positivistas. Apesar de sua moderação. não soube BENJAMIM CoNSTANT
resistir à tentação intelectual de enquadrar as reformas na doutrina de CoMTE
caiu cm algumas das armadilhas que o espírit-0de sis ema se compraz em lançar
sob os passos daqueles que se deixam embriagar pelo seu vinho' capitoso. As
reformas, sobretudo do ensino fundamental, primário e secundário, aliás acer-
bamente criticadas, como as do ensino normal e militar, pelos positivistas or•
todoxos do Brasil, 10 não só marcavam uma ruptura com a antiga tradição do
ensino humanístico, predominantemente literãrio, como traziam o caráter de
inovações tendenciosas, levantando a suspeita de planos fechados ou cons-
truções completas com que se iniciavam as sist matizações escolares e que per-
tenciam ou e supunha pertencerem à imaginação ou ao pírito de sistema.
A &s planos fechados e rígidos opunham-se a tr diçào, cuja continuidade
ameaçava romper-se com as inovações de inspiração positivista, as formas su-
c ivas, mas imprevistas, que criava a evolução econõmica, social e política,
do paíe, e que tendiam a transtornar as concepções vi •onadas, dentro de um
sistema, para um instante determinado, e a reação das teoria contrárias, fora
ou dentro do campo da Igreja Católica que mantinha cm face do positivismo
uma atitude de hostilidade ou, ao menos, de prevecções. A Igreja que se re-
traíra, diante das umilhações sofridas, no incidente com os bi!po de Pernam-
buco e do Parâ, nem podia reaproximar-se do ov o imperial, d vida à vi-
tória realista na questão religiosa, nem se dispunha a estabelecer contato 1!lais
intimo com o govêrno republicano, acusado de ateí mo e suspci ado de ter
caído na órbita de influência dos dois grupos positivistas.
Com a separação da Igreja e do Estado e a laicização do ensino adminis-
trado nos estabelecimentos públicos (art. 72, n. 0 6, da Constituição de 91) e,
portanto, com o agnosticismo da constituição republicana, a política escolar
da Igreja que até então exercera quase o monop6'Hode direção espiritual, sofria
os primeiros golpes que a orientação comtista das reformas educacionais, no
gov~mo provisório, não fêz senão acentuar, deslocando a influência clerical
para um plano secundário. A reação contra a ideologia leiga consagrada pela
Constituição e a i tervenção dos positivistas na moldagem da nova ordem
educacional, ainda levaria algum tempo para se or anizar, e, relativamente à
supressão da escola púbüca confessional, não se tomou eficiente senão cêrca
de 40 anos depois, quando novmnente ob eve o restabelecimento do ensino re-
ligioso nas escolas. E que e catolicismo, como ob rvou RUI BARBOSA, não se
fiz-era no Brasil como se fêz nos Estados Unidos 'p la necessidades de luta,
uma reli ·-o por assim dizer nova" e, além de desabi ado a lu ar num país
tradicionalmente católico em que não se armavam rcsist&lcias poderosas ao
predomlnio da Igreja, não dispunha, por essa época, de um clero com bastante
influblcia nas consciências e fôrça na sociedade, para desencadear uma reação
eficaz e de grande envergadura. Mas, dentro do novo regime em que o Estado

10 R. Tl:rxl.rltA Mam,u A pollfica positl•• ., o Relulam nlo dtH escc/a, do Edtoilo, Rlo ae
T ,..,J 1/IQn
A DESCENTRALIZAÇÃO E A DUALIDADE DE SISTEMAS 365

• stituiu o sistema de neutralidade escolar, a escola que antes se d volvia


à sombra da Igreja, religião oficial no Império, continuou a progredir pela ini•
ciativa privada e sob o impulso de diversas ordens religiosas. No país jã divi-
dido entre diferentes crenças, nenhuma das quais chegava ainda a disputar a
primazia da Igreja, d tacavam-se nltidamente os dois pontos de vistas con-
fessionais, - o católico e o protestante, desenvolvendo-se um ao lado do outro.
à sombra do principio constitucional da liberdade de pensamento e de crenças,
e tendo, entre ambo , a instituição inte.rconfenional, a escola leiga, neutra, do
ensino público, ob a influência efêmera das idéias positivistas. 11
A paisagem colar e cultural tende a diferenciar-se daí por diante, não
a6 cm conseq_Oênciada separação da Igreja e do Estado e da liberdade de crenças
e de ensino, como ainda pela concorrência que já se esboçava, das escolas pro-
testantes, com que já se haviam pôsto em presença e mesmo em conflito dois
pontos de vista confessionais, ou dois sistemas pedagógicos, não antagónicos,
mas diversos. A luta no terreno educacional não se devia travar apenas entre
o Estado agn6 tico que se mantinha fiel às afirmações de neutralidade con-
fessional, e a, concepção da pedagogia católica, senão também, no campo reli-
gioso, entre· os dois pontos de vista confessionais. A concorrência da e cola
leiga e da escola confessional, de um lado, e, de outro lado, no domínio da es-
cola coofcs ional, a competição entre as duas concepções escolar , - a cató-
lica e a protestante. Se compararmos a mentalidade proveni e das e colas
leigas com a que forma, nas escolas confesMonais não podemos deixar de re-
conhecer com PANDtÁ CAL6oERAS a importância que êle assinalava cm 1911
e os fatos confirmaram, do 'problema político interno criado pela separação
da Igreja e do Es ado e oriundo do conflito possível entre o coocci o eo16gico
do homem e da sociedade e a mentalidade que presidiu à organização repu-
blicana e até bojes mantém na suas leis organicas; conflito que pode romper
(e que efetivamente rompeu podemos acrescentar) na luta pela vit6rie entre
os dois ideais, quando das escolas, leigas umas, confessionais outr86, sairem
e pelejarem os diretores da politica nacional de amanhã, reíletindo a c-0ntenda
mais funda ntre estas duas concepções da própria vida".lZ Nã.o lhe parece,
porém, que tal divergência seja de recear quanto às escolas filiadas às inúmeras
variações protestantes. E CALÓGERAS explica: "Cisma aberto em ncme da
liberdade individual na int:erpretaçãc dcs textos sagrados, seu princfpio essen•
cial age continua e perpêtuamente como fermento para sem c ssar favorecer
e alentar nova correntes relígiosas e autorizar a mutabilidade do dogma,. Não
permite, por anto, •a grande centralização confessional que dâ ao catolicismo
e seus 6rgãos de ação o poder e a preponderância que têm na vida espiritual
dos povos. Além disso a endencia analítica do protestantismo e a austeri-
dade de seus hábitos mentais coincidem por demais com os característicos do
espírito de investigação científica para que não se deem entre os dois alianças
tácitas e compreensão reciproca. Ao dogma sempre aberto à corrigenda in-
dividual corresponde o conceito moral em via de constante melhoramento
progressivo".
lt por isto, devido a essa coai tência simpãtica de laicidade com as con-
fissões derivada da reforma, que as escolas protestantes tiveram no regime
republicano, os rápido progressos que lhes abriram. na hist6ria da educação

11 P. A«.IIOV1UBAfffV•. A lft•fru~o póbHca • a Repúbliea. AI rd'crm... d& 1 de B&NJAWtM


Cotm'Alff e• c:ritlcul.,. poel rill'AtOfflld-. (1891>-l89ZJ. ln ''O Estado de SAo Paulo", 16 outubro de J 41,
li J. PAH1>1' c.u.6a81U.1. O• jHult • • o eiuino. lmpc-cusa Nacl""81, Rio de: J&Dáro, l!U 1, c:11,p.V,
pq. S3.
366 A CULTURA BRASILEIRA

do país, não só um lugar indisputável mas uma fa fecunda de atividades


renovadoras. Foi cm grande parte através das colas, sob a influE.ncia direta
de mini tro e educadores protestantes da América do Norte, que se processou
no Brasil a propagação inicial das idéias pedagógicas americana que come-
çaram a irradiar-se cm São Paulo, com a fundação da Escola Americana em
1871 e do Colégio Piracicabano em 1881 e que, antes de reíletircm no movi-
mento de reforma de CAETANO DE CAMPOS, CESÁRIO MOTA e GABRIEL PRltsTES
em ão Paulo (1891-95), haviam inspirado a reformas de LEÕNCIO DE C.U·
VALHO (1878-79) e o parecer de Rur BARBOSA (1882-83). jã modelado pelas
idéias americanas e alemãs. Entre os núcleos principais de influência pro-
testan e e americana, 13 destacavam-se então, em Minas G :rais, o Colégio Gran-
bery, fundado em Juiz de Fora, em 1889, e em São Paulo, a Escola Americana
que data de 1871, e em que teve sua origem o Macken.zie College, pelos acrés-
dmos ucessivos de outros cursos, como o secundário em' 1886, a Escola de
Engenharia, em 1896, - época em que o estabelecimento ornou o nome atual,
- e em 1902, a Escola de Comércio. Fundadas sobretudo pelas igrejas Me-
todista e Presbiteriana, essas e muitas outras scolas filiadas às diversas
corrent protestantes, trouxeram úma contribuição ponderâvel à educação
feminina: introduziram a coeduca.cão dos sexos estabelecendo classes mistas
desde 1871 em todos os cursos do Mackenzie e em outros institutos: concor-
reratn para renovar os processos didáticos, ao sõpro das idéias, ntão impor•
tad s da t cnica pedagógica norte-americana e, por muito cmpo, e tornaram
uma das pouca íôrças renovadoras do ensino, - essas fôrças vivazes que en-
tretêm contra o rcsfriatnento moral pela uniformidade e pela rotina, a tempe-
ratura das instituições espirituais.
Mas, à parte o laicismo, a infiltração da idéias po i •vi as e o movimento
reno ador de São Paulo, limitado ao ensino primário e normal e sob a influ-
encia das t cnicas pedagógicas americanas, todo os outro fatos relativos à
educa o e à cultura acusavam, no último decênio do culo XIX, a sobrevi-
vência das tradições do regime imperial. Nenhuma modificação medular na
polttic educacional do Império; nenhuma criação de co1as técnicas profis-
sionais correspondentes a cert~ objetivos especificados do inter e nacional,
nem qualquer tentativa séria para a instituição de cursos de cultura livre e
desinteressada. A sombra da política de neutralidade e colar, continuavam a
ijorescer as escolas regidas segundo as concepções cat6licas, qu dominavam
aliás, pel fôrça da tradição, as próprias escolas públicas apesar da supressão

IS A penetra~ da CICOlu protestaJJtcs, iniciada oo 6ltimo quartd do I ulo XIX, 16mentc oo 1b:ulo
atual -põc)c ■lat,ar • 1ua csf('fa de ação e ganha< bastante profundJd• e para ptodum OI eeu1 e!el~ e influir
,ea!me.nie o.a renovacilo da ~nu.tidade educaciow e dOI pro,:asot de emillo no p;,(,. Ahulo multo llmítadu
.,.. 6rbita ,wi lnflu • . u poucu escola• de iniciativa pc-ot~tantl!, ru Ali , n dcdruo •ntc:rl t. Repóblica
(1180-1 ), pteparanrn o camp0 a ~ do movl~to d.e pcn~tr•çl.o oa primc!Ta dEc d• do ~odo
repobli<,IIAO, A •~ d lgr~• e do Rotado eou1.u ,,.... ~Q!n , - • liberdade do cwto e de crco~.u
• • lalddade d eteola pOblica, con.ttlbulram ~ ~ dc:scaYOl.vtmcnto que, • partir da Repóbllca, ~ Ilido
vd, nlo .& o poolO de ta q otita.livo --. o cracimeoti> nurn~ico d cacol •• q oto blmb&n do
ponto de da qualidade dn imtalações, d,>J mttado, óa' e do tn lbo oca vo, em cra.l, em todoe
OI pua do cnstDO. Foi, p0rim, • Igr~a MdDcfiolJl que tev oo Bnuil o papel Ili la Importante M d.om!nio do
• tivu 6pc:u c..lturai.L N01 fim do Imp&io foudan, a ler~ ta d0t1 col~ • o Pirad bano
em Pa 1 1), e, em Põno Alqr-e, o Colqio Amcrica110 (1 5). Na pnmc,1.._dbda da R blica d.o
~. pan rne:ninaJ. a Escolado Alto (1892-95, e10 Sa11ta Teresa e q u • lilnriOftV no a11ti.-o Colqio
r>roiit-, do Rio de J~ro: o Coiqjo Min=iro 891-1914 , em Jw d. tr : o Colqio Ama-icaao Flur:nincm<:
(1 l-19\Sl o Colqio Amc:ricarlo, de Pttr6pol,a 89.5-1920) qu~ íecharam. todca. 11 d lnd. • e o
io C10dltta {1899). em Ríbeitb Preto. Pant. h fund.,,,rao:t. aioda n pcriodo. o Col o Gn;obery
(1 I}, que 1917, J' aprexnlaff ~ compl.tta, com. cunoe prim,rio, Arlo, comadal,
~ 6GJcoe 11Uperior,e o Cot ·o Americana, de Taubn!. q_uo tw d~ (li 5). tarde, e ji
o a , wrcü-ar.o DUlnS imâtuls;&s. por imci■tin da l&rcJa Me ta, trb d ti das a meaiau, o
lMbda BClldril<. foodado em 1904, -=. Belo HocboD~; o CoU • Smne.t o oo Rio d J&QC!ro
a;n 1921, e =que:"' fundiram o Colqio Americano Pl.umU>cneoc o de Pctr6 , o Col lo Centco6rio, iv.aa•
JUBd.o cm 1912, Cftl Santa • • no Rio Grai>de do Sul; e trb, pen bon:wit, todoe oo o Grande, do Sul, o
Col lo Unilo (1907l, deUrulU&iana, olo.tituto Gmui&I (11110),dc P no Fuado, eo P6rU> AI C e (1'!119),
un, dot mah lml)Orianm oatltutos de enaino daquele 1ü da. (Cir. J411U K&KnDY, Clnq •nt• •noa da m••
todhmo no B,ulJ. ltnprdll& M.ctodl1ta, Sio P. ala, 1928).
A DESCENTRALIZAÇÃO E A DUALIDADE DE SISTEMAS 367

do ens_inoreligioso. Da influência efêmera do positivismo de que se marcara


a legislação escol.ar de BENJAMIM CONSTANT, não tardaram a apagar-se os úl-
timos vestígios, sob a ação demolidora ou reconstrutora de reformas ucca.sivas.
A penetração das escolas protestantes, que se conrlituiram o principal foco
de irradjação da idêias americanas, iniciando-se lentamente no 6ltimo quartel
do século, con ·nuava a d envolver-se com mais intensidade na República,
sem que elementos adventícios tivessem, porém, tempo suficiente para
se .incorporarem à cultura nacional ou exercerem sôb.re ela uma real inflabcia
no sentido de orientá-la para uma nova djreção~ As continuas migrações que
ae estabeleciam no sul e atraJam, arrastando nas correntes imigratórias, artistas
e profissionai estrangeiros, ou se concentravam nas fazendas e em pequenos
burgos, como os de Santa Catarina, ou se dispersavam pelas cidades, diluindo-se
na massa das populações brasileiras. A mescla das gentes, a variedade de
origens nos usos e todos essescompostos, não radicados, de culturas e tracliç5es
de'lfiam ainda levar muito tem,po para modificar o tipo tradicional de cultura,
saturado de espírito literário e jurídico, que se havia formado, através de mais
de três s~cufos, como wn. todo compacto e homogêneo capaz de resistir à
influência civilizadora de outras correntes.
Se, pois, já s desenha a diversidade de tendências, sob a pressão de causas
econômicas, políticas e culturais, é certo que o Brasil de 1891 conservava, como
observa .AzEVEDO AMARAL,e, ainda havia de manter por muito tempo, "os
6ltimos vestígios das taras coimbrescas", e continuava "nutrido espiritualmente
apenas pela cultura superficial que o beletrismo e o arcaísmo filo fico e jurfdico
ainda mal abalado pelos golpes de ToBIASBARREn>haviam cntrctid.o durante
ó Império". Com a vitória das tendências centrifugas dos regionalismos e a
expansão crcsccn e das autonomias estaduais, não s6 não se criaram. por ini-
ciativa dos E dos, novas instituições de cultura, fora do domínio das pro 1ssõca
liberais, como ainda tomou impulso o desenvolvimento das escolas de ensino
superior profi ional e, sobr tudo, das escolas jurídicas, que não tardariam a
espalhar-se por todo o pai . Para oito faculdades livres de direito que se criaram
durante os primeir~ 20 anos da República, - duas, no Rio de Janeiro, e a da
Bahia, fundadas em 1891, a de M"mas Gerais, que data de 1892, a de Fortaleza
(1907), as do Parã, Manaus e Põrto Alegre, - não se fundaram se.não ês es-
colas de engenharia, - a Escola Politécnica (1893) e a Escola de Engenharia
do Mackenzie College, criada em 1896, em São .Paulo, e outra ina alad por
iniciativa particular no Rio Grande do Sul, al~m de uma Escola Superior de
Agricultura (1910), uma de Medicina Veterinária e o Instituto de Química,
no Rio de Janeiro. A descentralização, consagrada na Constituição tomada
de empréstimo, quanto ao regime parlamentar, ao sistema inglês, e quanto ao
princípio federativo ao modelo dos Estados Unidos. veio demonstrar, na orga-
nização dos dois istcmes escolares que se ~eçam a defrontar, o predomínio
sem contraste da mesma mentalidade que provinha do lmp&io e marcava com
suas velhas caracterfsticas as formações ~lares paralelas. De fato, a dua-
lidade de is temas que deu lugar o regime de descentralização, - o sistema
'federal cons "tufdo do ensino secundário e superior, e os estaduais, com posai-
bi:lidadca legais de ins ºtufrcm escolas de todos os graus e tipos - não s6 man-
teve e acentuou a linha de demarcação entre as profissões liberais e as ativi-
dades manuai e mecânicas, como também facilitou a reprodução, ~os Estados,
da organização colar tradicional, multiplicada em exemplares, mais ou menos
evoluídos, mas todo decalcados no velho modêlo do período imperial.
A endência baseada na tradições acadêmicas e nas profissões liberai con-
tinuou a desenvolver-se já agora pelo duplo impulso que, sob o mesmo espírito
36 A CULTURA BRASILEIRA

lhe vinha das antigas eacolas federais fundadas no Imp'rio e das novas insti-
tuições do mesmo tipo que surgiam em vários pontos do "tório do pafs, por
iniciativa particular ou dos governos estaduais. Por forma, em lugar de
um ação úruca aercida peJo poder central, que orientava a di, eia tôda a
polt •ca e colar na direçao das carreiras liberais &abre a base do tudos li e-
rlu'lios, irrompeu, com o regime de descentralização, uma pluralidade de ações
regionais, não divergentes mas concordantes: as ações correspondentes a cada
um do Estados, dominados pela velha mentalidade coimbrã e influindo de
perto, na mesma direção, sôbre uma grande variedade de núcleo culturais. S6
essa educação de base literária - clássica e de preparação para as profissões
de advogados, médicos e engenheiros, conferia aos brasileiros um título, os
el vava em dignidade social e ficava sendo ainda o caminJ10 dos cargos impor-
tantes. A preeminência dos estudos literários :11ôbreos estudos científicos per-
manecia tão fortemente marcada, no sistema cu! ural do país, que ainda cons-
tituíam e deviam figurar por muito tempo, como instituições solitárias,. sem
irradiação, as raras escolas ou institutos prepostos ao nsino científico, não
aplicado, ou a pesquisa no domínio das ciências na urais. A reforma do ensino
s cundário e normal, sob a inspiração de BENJAMIM CONSTANT, deu ao ensino
propedêutico e ao de formação profissional do professor um caráter mais enci-
clopédico do que cientifico. A não ser ao dominio das m temáticas, em que
influlra a filosofia positivista, concorrendo para o des volvimento dêsses
cs d , nas academias civis e militares, não trouxe o positivismo ao Brasil
qualquer contribuição ponderável ao progresso das ciências. :e:que, conforme
já observamos, o positi'vismo penetrara no país, não como um "m • odo de
in e:stigação" mas como uma maneira de pensar que poderia chamar cien-
tlítca ou mesmo empírica, e sobretudo como uma filosofia ial, política e
reli ·o , que teve e ainda tem os seus partidári . :t positivismo que é
um mEtodo e não uma doutrina; que parece repudiar o a priori e pre ende
proceder por via experimental e não more g ometrico; e que inspirava,
como 1 bra STUART Mn.L, numa doutrina geral que Co TE aprend<.'ra no
m! odo d s ciências físicas e nos escritos dos filósofos an eriores; e, e teve
us adeptos no Brasil, nem lhes penetrou mui o profundamente o espíritos,
nem e estendeu bastante para exercer influência sensivel no desenvolvimento
do pirite crítico e experimental e do gôsto das ciências exatas.
Nenhum instituto, de fato, foi criado nesse largo período, para as diversas
culturas cientificas, sem idéia de aplicação profissional: e, no domínio das es-
colas técnicas, especiais, as poucas iniciativas, dispersas e isoladas, nem denun-
davam qualquer plano de conjunto, concebido de ac6rdo com uma nova polí-
tica de educação, nem exprimiam ou lograram suscitar um movimento de in-
ter@sse pela cultura técnica, agrícola e industrial, econômica e ocial no país.
Entre o doi tênnos 'literário-jurídico'' e Jlprofissional-utilitário", dominantes
cm todo o Império, começa a intercalar-se tôda uma gama de t rmos ioterme-
diános que ainda gravitam de preferência em tômo do termo médio "literário-
profü.siooal" e que é o traço característico mais acentuado de nossa cultura e
de nosso sis ema de educação. A própria Escola de Manguinhos, como se
chamava o Instituto Soroterápico Federal, criado em 190 e que se transformou,
em 1907, no Instituto de Patologia Experimental, sob o nome de O VALDO
CRUZ, foi, nas suas origens, uma instituição destinada à preparação de soros
anti- tosas e ao combate da peste bubônica que irrompera em tos e amea-
çava ender-se a outras regiões. Não nasC%U se ins ºtuto, que e tomou o
maior centro de pesquisas no Brasil, de qualquer plano deliberado de uma
polltica governamental, interessáda em promover o progr dos estudos ci-
entíficos. A necessidade de enfrentar duas terrívei moléstias, nos seus surtos
344. BENJAMIM CONSTANT 80Tfll.WO DE 345. A. CAETANO OE CAMPOS, midico e
MAOALHÂES, ilustre professor da Escolti Militar, educ:ador eminente. um d0$ che.fe11 do movi ..
aunidro da lnstruçõo, Correio• e Telé/lralos, mento renovador d~ S. Paulo (1891-1895),
wjas relor-mu escolarc•, empreondidtts entre limitado oo en,ino p.rimá.rio e normal e sob 1t
1890 e 1892, oeusrun tôd«1, em maior ou inlluôncia das técnicos pedoi6gica1 ameriea·nas.
menor ,,au. o influência da.s ldéitu positivistas.

3~6. O Colé/lio Granbory, de Juiz do Fora, em Minas Gerai,, criado em 1889, e uma d<1smuita• escol,r1 de /nlciat/vs orote,tanle, fundadas
no último QU4rlel do ,éculo XIX e com ,u qua.i1 &e processou, no Bra,i/," propa/1•.ão dar idéia, poda/lÚl/ic,u americana,,
347. CESÁRIO MOTA, Secretário de Estado,
que auxiliado por CAETANO DE CAMPOS e
GABRIEL PRE.S"tES1 promoveu em S. Paulo
(1891-1895) o mais fecundo movimento de
rcform11 do primeiro decênio da República.

348. Aspecto da biblioteca da


ma.is antiAa. Escola Normal de
S. Paulo, ainda instalada no
edifício construído em 1894 e
ampliado em 1936-1938.

349. Outro aspecto da biblio-


teca da antitJa Escola Normal1
hoje Escola Normal Caetano rle
Campos, instalada, desde 1894,
110 rtovo edifício mandado cons•
trt.tit pelo primeiro ,éovêrno
paulista, no regime republicano.
.,,.

350. A 6""'1, PoU1écniu de S. Pauto, lundoda ém 1893, que ~ra:d..u de 1rl1 ano, • EJcola de
E1'1«1Mria do Maclcenzie Colle,e, criada em 189~. - Foto Ll11r:RMAN.

351. A 1!:•eolo da MQJ1/luinhor, crinda t!m 1901. o cue •e transformou, cm 1907, no lnStitulo de Potolofia
Expcrlm"nla), sob o noma do OSVALDO CRU%, •eu fundador, o Arondc $Dncador-do Rlo do J;Jneiro.
Foto V11t.TEI\ SALES. Trnvel ln Brazil, vol. 2, n. 0 2, pi,~. 12.
35'.2. Instituto d• Men,uinhol;. qua 1,eve u,n papel pa,1íc11/a1mtnu, impo,tant~ "" conqui,111 o propn,11clfo
do up,rtto e..,r.nt.il,eo e e.xperimentâl. Soln d<' lututa ~ b,bllotêai.
Foto da Seqiio Fotc>&rãfica do ln,ti1u1-, O,vuldo Cru&.

353. ln11ttuto d~ M,.n,uinho,,


que ,,,.,,,,.nwtdo t'm /907,
tomou o nome dr Ol~•ldo Cruz.
Golerru do 3.• pav,rn.cruo. -
Foto d8 SW(•o Fototrifica tio
Jnniluto Ow11ldo Cruz.
J54. Er,lTÁCJO PUSOA. nunrslrc, no to"lrno
de CAMPO SALES • outor do C.Sdi,fo de E:,wno
qvo .,,,~.,, ""' vtlJOr do 1901 « l 91 O.

355. RIVAOÁVIA CORAF-IA, quft promoveu n


"lei o,,ânic.a do ~ntino'' (docrtto do S de
.:,bril de 19111, do um r•dlc•ll,mo aeclÁrlo,
rt!Ílr:tindo a oricntuçlio po,ltJ"ullt f"ntio
domim,ntc no Rio Gr•11d• do Sul,
356. lnslituto Allronômico de Campinas, o qual criado em 1887 pelo Aovémo imperial, foi transferido iá no período republicano (1892)
para o E,tsdo de S. Paulo e teve em J. W. DAFERT, o ,eu primeiro diretor (1887,1898). Anti/lo edifício. (1920).

357, Escola Superior de AAticultura Luís de Queirós, de Piracicaba, crinda em 1901.


T~1cho do parque e, ac; fundo~ o P.difício prmcipal.
358. EK:01• SuJMrior d" Airic.ultur• Luí, dff Ouf!irós. C•dttir.tt do Cienêtica e Lffbor•tÓrio para
IÚUtt0$ - uma dr, IUIU ma.i.s recenlu iniciativas.
359. A Escola d" Comércio Áfv11r~$ Ponteado, (undttdtt cm 1902 e U.truJ das primoi-rn.r in:,titu;,;Õ-0.f
do onsfno comcrcfol, ctiadnt no Btn~il.
J60. NILO PE.ÇAMIA, em cujo 1<>v;,,no (1909-1910)
H cr,ar•m EM:f>la, d• Apr~nd,u:s Ar11/1c;e3 nas
~,,.,,.;. doa Estod,,..

361. A Etco/11 Profi,sfonnl


P•ulo do Prontin, do Di,trlro
F,xJornl, de,1/nadn à educn~ào
dt1méstic11 e pro/i,:s/onnl de
moç.tt, já om 1eu1 novos cdi.
licioa cony1ru1d0$ e: in,rallldos
nn ttdmlnlatrl!~<io
A ntõnio Prado
Júnior (1926-1930).
362. H&JTOR LIRA. Qande idemista. q:;" fundou, em l9'14,
• Anociaçio Brasileira de Educaçiio, - imtituiç.io no,á.,,el
pt1IO pttpel qu.e ettreeU. pro:move:nào e atrmulondo o, movi ...
mcnt0$ de cultura e de renovação ~KO/ar no p.itÍ'I.

363. EscolaE11tláo. Urúácn. do Disrriro Federal, construída no es,ilo rradicJON1I br,uileiro.


U'""' da,s /..cl,ada, lareuús. - Foto NtCOL.AS.
364. Escola Uru,uai. do Distrito Fede-ral, construção em Vártoa blocoa (1928-1930). Vi~ln /aforai tomar/a
do páreo da e$"cola, uma dtJ$ maiororS cdific.ntlti~ na administTaf;no Antônio Prado Júníor.

365. Ercola para débeí• {rsíco,, "" Ouínltt da 8011 Visfa (Di$lri/o Federal, 1926-1930), Oatma
e fome de um do• páleos. - Fo10 NICOLAS.
366. Grupv E!.col.1r Pttrirc Correia de Almc-idn, d1> Belo Horizonte, cm M;rws Cor:,is, 01":dc o tnovimcnlo nmovndor do ensino to,nou ~"Jotúvel ,'mpulso
com FRANCISCO CAMl'CS e MÁRIO CASASSANTA (1927•1930). Fiichada princ:ipr1J.
367. Grupo Escolar Pedro li, de Belo Horizon,e, um dos mais impor,antes edifícios escolares construídos na administração Fllrncisco Campos,
SP:Cretório de Estado, t:m Minas Gerais. Gele,-ias e p.tÍtco internv.
oisfi\:(C"(Or~B.Al,.
" PR0JCé:TG- PAllA A 1'.SC.OLA NORMAL -DO>!'
........ ,

368. Escola Normal, depois Instituto de Educação do Distrito Federal. Edifício construído de
1928 a 1930 na administração Antônio Prado Júnior.
Desenho. Arquitetos CORTEZ e BRl. 1 NHS.

369. A Escola NormtJJ do Discrito Federal, que em LQ33 tomou novR nr§anizacão sob
o nome de. ln.-;t;tuto de Eclucaçâo. Aspecto do páteo claustral.
Desenho. Arquitetos CORTEZ e BRUHNS.
370. A .nova Escola Normal do Distrito Federal reor~anizada pelas reformas de 1928 e 1933, e jnstalada em seus novos edifícios
construídos na âdministrnçl10 Antônio Prado Júnior (1926.1930). Vista de conjunto,
Aerofoto S. H. HOLLAND, Rio de Janeiro, 1930.
371. A novo Eicolo Normal do Distrito Federal, reortani,ad:, em 1928 c m11u 111,dc, cm 1933, quando
tomou o nome do Instituto de Educação, e instalada em .seus novos edilicio.s acabados- de construir cm 1930.
Pôteo central visto de urna da.s a«lecias do pavimento térreo,
Foto NICOLAS, Rio, 1930,

372, Esooln Normal do Distrito Federal, hoje Instiwto de Educaçiio, Ginásio poro exercício:; lisicos, com
a sua maAnílica sala de aparelhos, banheiros, v(~stiátiolt o ~aferias.
Foto NICOLAS, Rio, 1930.
373, FIIAl'ICIISCO LUlS DA SILVA CAMPOS, um dos líderes da Revoluçiio do 1930,
orlmoiro Minl~t,o dtt Educaçiio e Saúde. autor da mah importante rclorm•
de, r:naino .vocundárfo o woe.rior (1931), no reaime republicano.
374. O Instituto BiolóAico de S. Paulo, criado em 1928, por iniciativa de ARTUR NEIVA, anli,!lo assi.lenle-chele do Inslilulo Osvaldo
Cru,, e reorilllnizado pelo professor ROCHA LIMA, seu atual rlirelor e que foi também um dos cofoboradores de OSVALDO CRUZ. Vista ilera·/.

375. O lnstituto Biol6tico de S, Paulo, irtlnde Instituição de estudos e pesquisas cientilfotJS.


no domínio da patolog.;a de todos ô:1 .seres vivos, animais e veAetais. sobretudo dos de maior
jnterêsse p&.ra. o homem. Fachada. principal.
3 76. lnstiluto BiolóAico de S. Paulo. Uma de suas fazMdas experimentais.

377. O Instituto Biológico de S. Paulo, um dos maiores cenfros de pesquisa e de c.aráter técnico exi$tentes tta América e, como o
Instituto Osvaldo Cruz, já com renome universal. Aspecto de um de seus Jaboratóri0$.
li 1

3 78. O Jnstiiu10 AAronômico de Campinas, hoje um dos maiores centros científicos e técnicos. prepostos, ·no Bi·11sil, à investigação d
problemas de biologia. vegetal. Um dos nov-os prédios construídos ao lado do antigo ediffcio.

379. lnstitu(o Agronômico de C~1mpinas. no Estado de S. Ptwlo. Vista de um ripAdo.


380. O Observató,.io Astronômico de S. Paulo, em suas no ·~se excelentes instnlações. Vista do conjunto_ <los_e_1ilj_~os.
Foto da ENFA.
381. A F,,c~ldodo de Filosofia, Ciencias e Letr11$ dn Univ,:rtJidadc do S, Paulo, - 11 orimeira, de iniciativa oficial, luncloda 110 Brtr,U. Aapecto do
um de .sou, odllfo,'oi, v-.,ndo ... u IJíl ualufm, do Cadeira de Botá.nica.
l"olO LJOJ:(RMAN, s. Pouto. 1942.
382. A pri~ira F11C1Jldadede Filt>J<>lia, Ciências e WltM, - • da Univeraidado de S. Paulo, «ill4•
no B,,..11 pelo decreto de :lS de janeiro de 1934. A•pecto do Muuu de M,nualo,ia
da Cadeira de Mineraloiia e Perro,rafia.
Foto LrBEJL\tA.'<,S. Paulo, 1942.

383. Faeuld11d• de Filosofia, C/Snciu o Letras da Univttsidade de S. Paulo. em que, ,ob ll orlonfaçiJo
do proff,nor•.1 01tr•nA0Jros e naeionai1 1
te tem lorm.ado um,erplêiade de po1qui1ado10.6 d• pr-imeira
ordem. Um dot laboratórios de Biololi•.
Foto LTHRMAN, s.Paulo, 194l,
...
~ ~
. ']
'
- 1
'

384. O Instituto de Educação da Universidade de S. Paulo, donde saíram, em l 937> deDOis de le:em cursa.do a Faculd~'11C de Filosofhi, os pl'Ítnciro.s
professores de onsino secundário lorn,ados no Brasil. Fachada principal.
385. Instituto de Educoçêo do Universidade de S. Paulo. criado em 1933 e extinto em J93R.
Aspecto do Museu de Ernot,rnl.'a. da Ca:Je.'ra de Soc:oloAi:J Educac:·onal.

:i86. O novo e magnífico edifício da. Biblioteca Pública Municipal, cm que se incOr!Jorou a Biblioteca do Estado, em J 937, e se instituiu
a primeira Escola dé Biblioteconomia do país. Vista de conjunto.
GUSTAVO CAPA'N.êMA, a quem .se devem numerosas reformas, jniciativa.s culbrais
e
387. O Ministro
e Saúde
realizações e1 entre estas. a con~fruçJo do odifído do !Winistério de Educa~o
e de diversas Escolas Técnicas, no Brasil.
388. Ma.quette do od,lic:lo do Mmiat~rio de Educação e SJJvde, Rio de Janeiro.
Foto do Serviço d• Doc:umentaçAo do Minlstc\rio de Educação e Saúde, 1942 •
,.

389. "'Moça reclínoda'', escultura de CELSO ANTÔNIO, em Aranito cinz.enfo, para o jardim sus!)enso do novo edifício do Ministério de Educação.
Foto do Serviço de Documentação do Ministério de Educação ~ Saú<le.
~ESCENTRALIZAÇÃO E A DUALIDADE DE SISTEMAS 369

epidemicos, impõe criação de uma instituição de finalidade prática imediata


qoe OsvALDO CRUZtransformou, dilatando-lhe o campo de trabalhos, no ma.is
importante institu o de moléstias tropicais e de pesquisas no domínio da zoo-
ogia m&.lica e da medicina experimental. A autoridade e o prcatfgio de Os·
VALDO CRUZ, fortalecidos com a vi ória magnífica que obteve na luta travada
contra a peste e a febre amarela, permitiram-lhe a conquista dos m io, para
essa ext:raordinãri fundação, em que agrupou um punhado de oito disclpulos
e colaboradores de primeira ordem, e que não se tardou a transformar numa
eec:ola de pesquisadores e num foco de irradiação do trabalho cientffico e doa
~todos das cienciaa experimentais.
Mas, as atividades cientificas no Brasil, embora tenham largado notà•
velmcnte, com a criação do Instituto de Manguinhos, o domínio da pesquise
positiva, continuaram dispersas cm instituições especiais de vãrias naturezas,
-muaeua, eataçõcs experimentais e laboratórios-, que não serviam ao en-
sino nem se enquadravam no sistema prõpriamen1:e escolar da Nação. Elas
~tÜstaram, sem dúvida, sob a lúcida inspiração e pela vontade obstinada de
OsvALDO CRUZ, mais um campo de aplicação do espírito e dos mHodos cien-
tfficoa que o fundador do Instituto de Manguinhos, de volta ao Brasil em 1899,
trouxera de sua permanancia, durante três anos, no Instituto Pa teur, de Paris.
he movimento de conquista do espírito científico, não chegou, por~m, a abraneer
no.seu raio de influencia o ensino superior que se desenvolvia dentro doe quadros
tradicionais, em um esfi rço realmente fecundo para enriquecer a herança
cultural e transmitir, com o culto pelas ciências, o gôsto da observação e da
czpc:rimentação. De fa o, enquanto por essa época s6 numa cacola superior,
- a de Medicina, da Bahia-, se realiza um vigoroso trabalho neaae sentido
com a atividade cientííica desenvolvida por NINA RODRIGUES,durante todo
o período em que prof< u os cursos de medicina legal (1891-1905), em cinco
instituições extra-escolares é que tomam corpo as investigações limitadas ao
reino du cimdas naturais. O ilustre professor maranhense. inaugurando uma
nova {ue na evolução da medicina legal no Brasil, e criando a cham da "es•
cola baiana", que nos deu um ÃBRÂNlo PEIXOTO,um D16oENES SAMPAIO, um
Osc.u FREIRE e seus disclpulo , pode considerar-se o criador do único núcleo
de pesquisadores que, nesse per{odo, se formaram em escolas de ensino superior
do pai9. ~ nas instituições culturais de ciência aplicada, que tomam impulso
as atividades de pesqui a quase adstrita, às ciências naturais, e realizadas ou
conduzidas por homens de exceção, estrangeiros ou nacionais, êstet1~quase todos
de formação estrangc,ira; um EMÍLIO GoELDl, zoólogo de renome universal,
do Museu Paraense, fundado em 1885 e que tomou cm 1900 o nome de seu
fundador (Museu Gocldi); um F. W. DAFERT, o primeiro diretor (1887-1898)
do Instituto Agronõmko, criado em 1887 pelo govêrno imperial cm Campina ,
e transferido, j(l no perfodo republicano, para o govêrno de s~o Paulo; wn
HERMANN VON IHERING,no Museu Paulista, fundado cm 1893 e de que foi
o primeiro dir or o no vcl zoólogo alemão; e, entre os brasileiro , tim BAR-
BOSA RODRlGUBS, o grande botânico do Sertunt Palmarum, no Jardim .Bo-
tânico que p u a dirigir cm 1890 e OsvALDO CRuz wn grupo de colabora-
dores, no Instituto d Manguinhos.
Por mais importan e qu tenha sido, - e foi verdadeiramente notável a
vãrios aspecto -, a obra cmpreer.dida neste instituto de peaqui , e por
mais útil e fecunda, a atividade realizada nessas diversaa instituições culturais,
7ca:i.tros de inv s ·gatõcs abrangendo setores diferentes das ciências da na-
tureza. . elas não denunciavam êsses progressos que ºpressupõem transfor-
mações d mentalidade ou de poUtica de cultura: produtos, isolado e disp raos,

-24 -
370 A CULTURA BRASILEIRA

de esforços individuais., viviam do impulso que davam às suas preciosas ati-


vidades, orientadas em diversos sentidos, es cspúitos raros, atraídos para as
pesquisas e os trabalhos originais. Algumas delas, c<>moo Instituto Agronô-
mico de Campinas e a Escola de Manguinhos foram, nas suas orioens e nos
seus propósitos, instituições destinadas a atender a ncc "dadc da saúde e da
economia nacional· e outras tanto deviam seu 'to, no campo das ciências na-
A

turais, ao ~fôrça pessoal de individualidad determinada que o afastamento


de um DAPERT, de um GoELDI ou de um VON IHEamo bas ou para provocar
um d vio na linha de sua evolução ou uma queda brusca no ritmo de seus
trabalh01. ltsses fatos demonstram à evidência que na fase inicial do ciclo
republicano, nada se empreendeu_para mudar a mentalidade da eli e dominante,
por meio de grandes escolas prepostas não sbmen a formar especialistas alt-a-
mente qualificados nos diversos ramos do saber humano como também a pro-
mover os progressos das ciências pela pesquisa desint ressada. Do ponto de
vista cultural e pedagógico, a..República foi uma revolução que abortou e que,
contentando-se com a mudança de regime, não teve o pensamento ou a decisão
de realizar uma transformação radical no sistema de ensino, para provocar
uma renovação intelectual das elites culturais e políticas, nece árias às novas
instituições democráticas. Nem o sistema de ensino superior que mantém o
caráter quase exclusivamente profissional, se enriquece de instituições de alta
cultura, como seriam as faculdades de filosofia e letras e a de ciências, em que
se un· e a pesquisa teórica à função do ensino, nem inicia p la ba a pene-
tr ção do espírito científico mediante a reorganização, brc novos fundamentos
e com uma orientação nova, do ensino secundário em que as ente normalmente
a superestrutura do ensino superior, aplicado ou não, profi ·onal ou desin-
tCJ1 ado.
Se. de fato, no sistema escolar persistia essa falha capital que é a ausência
d universidades ou dessas altas escolas, cujo pap 1 pedagógico torna função
da pesquisa, o ensino, que reside à base das escola de fonnaç o profissional,
continuava reduzido à função subalterna de preparação para o curs01 supe-
riores. Não se resolveu neni se p6s em via de solução n bum dos problemas
fundamentais ligados à reorganização de nosso nsino secundârio, como um
plano de e tudo1., regulares e met6dicos, antes de caráter formativo do que
aquisitivo, e destinado a ministrar a cultura geral indispensável às especiali-
zaçõe ulteriores. Sem escolas prepostas à formação uniforme dos professores
secundários, quase todos auto-didatas ou recrutados, como no Império, no:1
quadros das prcfissões liberais, o ensino secundário não podia ap.resentar, como
não apr entava, êsse poder educativo e essa eficiência cultural que provém
da ação lenta de um curso de estudos prolongado e d interes ado, e tanto
mais ficaz quanto exercida por um conjunto de mestre preparados num am-
bient comum e, portanto, portadores do mesmos ideais de vida de educação.
Nenhuma da reformas até 1930 encarou n procurou resolver êsse grande
probl ; e exatamente na falta de um corpo de prof or de carreira, for-
mados sob orientação uniforme, em escolas de alto n{vel ~ que ,e podem busau-
origen de muitas das dificuldades em que e esbarravam, na ua execução,
os forço mais honestos de Teorgan:ização do en ino secund rio. Do ponto
de vi ta de estrutura, o nosso ensino médio, herdeiro e continuador dos colégios
dos j uíta , mantinha-se mais ou menos fiel às suas origens la ·nas pura-
men literárias e guardava, sem modificações enoa1s, não o plano tra-
dicional de e tudos o mesmo espírito e o m mo caráter que lhe imprimiu o
Império, sem conservar a eficiência que constituta o prestfgio do Colégio Pedro
ll, no r gime antigo. A questão que por tõda parte se agitava, da preemi-
A D SCENTRALIZAÇÃO E A DUALIDADE DE SISTEMAS 37l

n!ncia dos estudos li erários sôbrc os estudos científicos. permaneceu sem ao•
lução atrav9 do plan dos diversos reformadores. legisladores ou Micistros
'de Estado.· que se abstinham de examinar, para optar por wna delas, qualquer
das soluções propo ta para a pendência, velha de um sécnlo, e que consistiam.
ou na criação de dois tipos de ensino (sistema de bifurcação), um com a pr -
ponderãncia das letras, e outro com o predomínio das ciências, dcs cando-se
os doia ramo de um tronco comum; ou na estreita associação dos estudos lite-
rários e científicos, com a qual se pretendia pôr no mesmo pé de igualdade as
duas culturas; ou ainda na penetração do espírito científico em todo o ensino,
inclusive o das te as.
Não era certamente nem podia ser pelas nossas reformas, num paí sem
tradições cientfficas 1 que se havia de tentar essa última solução, a mai lógica
e e mai completa, j ventilada a êsse tempo, para que "o triunfo do espírito
cientifico assegurasse a unidade do ensino de cultura, empuxado, desde um
século, entre a cultura tradicional das humanidades literárias e e cultura .nova
das ciências". Mas qualquer das duas primeiras soluções já haviam sido lon-
gamente experimentadas em países coroo, para citar apenas dois, a França,
que adotou o sistema das ramificações sôbre uma base comum, e a Alemanha
que procurou o equilíbrio das letras e das ciências, não em um só tipo de escola
(ensino unificado) mas pelas diversas categorias fixas de ginã ios correspon•
dentes às correntes diversas, igualmente poderosas (letras clássicas, te· as mo-
dernas e ci~cia ), que disputavam o predomínio, na luta para a conquista
do ensino secu.ndârio. '8 que, na República, as sucessivas remodelai;õe8 do
ensino secundário, - regimes de ensaios arbitrários e parciais, 14 oscilavam
quase t6das, sem largueza de concepção e de vistas e pr&as ainda às qu ões
mais elementares de organização, entre o regime de preparatórios e o curso
seriado com escala pelos exames parcelados, e entre o sistema do ensino oficial
(com o ensino padrão e os colêgios equiparados) e o ensino inteiramente livre,
como o que tabel ccu a Lei Orgânica em 1911, que desoficializou o nsino
e ins 'tuiu o regime das amplas autonomias. De tôdas essas reformas, as dua

JC Se m vm .. &1 reforma, do emmo leCW>dirio, "" primeiro perfod.o r<!pllbl' o, wriíi o•


qnce, • alo ter • de 81LNJAMIM CoMrrAlff. acnhWDII dela• mtroduÊu. alteração oub,tancial oa ua u-utura ln,
ttnaa nem proau"OIJ """1rpu de 11010011 gia"1oo o eu eatlter 11stilit6no nem cuidou da í0f11!/lçlo do maglet&rlo
-,indlrlo. T6da1 du moot:r,aram grllndc be,h;11clo, ai~ de ·abS<>h1t1o •uaer,ci de npfrlto de coatlDu d d.e-,
DO atudo e na.■ 10lu doa pi:obt,mu, íw:ide,mentala de org1toi2J<çio d.o enoitlo, A. dl11cr1encl1 d "lJloilo co-
meç,1V10rn• ta.b le«>".. quanto à pr6prla obnptorledld,: do eur,io tcriitdo e "'"'9mO -61:ore·• dnr■ç:llo do eur■D
que, fbf•da em ...i,,, llDOIIao t:emi,o do lmp&io e oa refonna Benjamim Co!llltant (lMO), se redudu p,1rt11cl1 ano,,
no CMl10 Bplt6do Pnwoo que eatcve em vl1j,or-de 1901 ■ 1910, <: a S •nos na ld C&rloe Mulrnlll1tno (L!:1.15),p1ta:
.., elev..,. de novo • tete •no■ •l.\mente na refcrtn■ Ftancíoco C■mpos (1!1311,- a m•it Importante dentro tõdu u
ttfonruo• que ,e ctmprcend.Ct'■ tl\ no rcf(l.m, republicano. A «fiação obrlgatõria que rc■ parcce depol de 111101:01 e
recuoo, - rcíOl'tll ]ollo Lut. Afv (1925), IIÕmente então.., tornon id~a vencedor■ "b ore lme de Jll'Cp&r■t6tl011,
cm que "" debateu, durante cb-ca d 40 anc,,,, o eo ·no HCUndirio. A reforma Bcujamlm Con tallt (decreto de
1 de aovcmbro de 1890), que atrodwriu no Giobio .N•c:iao-3, antigo Col6gío ,Pedro ll, cõd1 • .&I hler'1qu\ca
da citnclat ■ b■tr■ •• l!el{undo • c1■n1r1C&çllo de Cmna., estaJ:iel«eu, •o l•do do cuno do b110,h1te.Ladom letr•••
em 7 m100, no Qln o N on.J, o "a.ame de madureza", COD!lopnwa da c■ padlÍllde lotei t'U.ald .. alun011 no
fim do■ Clltudo■ . Mt.1 med ■ qu MO _foipoatll cm p'litica. on foi m.i ezecu quando • real • ai,, ■e•
.,melo ot.enoav■ }0$" Va.d.-JMo d • dcpO!o, coe:riltia com o regime: doo ,..,..m parc:dadm, pr,:J: do pelo
1Uioc-aCbber No Cõdl. a do Bnslno d 1901 (dcc. n.• 3 890, de l.• de jane:in:i de. 19D1), d boc o pelo M1nlrtro
BPtTJ.mo PIIDoA, no aovtmo e...- S.u.as, 11U1Dtzve-.oe, ■o lado do cuno .eriaclo (com ou or_m b&ch■rd.a o)
a • de p,q,■ra que r tia • • t6daa .. !avenidas. Inslituia--, por c6dl;a, o • me de
eqm~ d .. c:.olfc,m parúcuw , aJ tJld,. ao pa.ula fmcral e fqcali;md.,. ~lo ov ao R p6bf .
Noilnuna mucl&oça redlc&I opc,"Oll, P« refOffllll, ao ensina secundirio. C\lj■ una o .., modir,cou
tamb6m. m■a Qll #1'N um Sol p,-oíua o com • lei Rivadáv:i.& Correia, de wa ...dk:alha>o o. A~
"'lei cqlaica da am " (d o da 5 de: abril de L91lJ. rdlctiado • ari-t■i::1<> ~tivuta dOltlluo oo Rio
Of"IDlk 4o Sul \Ndruiu o lme .o • livre. 1ubtramdo ao Rst:ado • i11h:rfermáa domímo ed~.o.
aitatam o aaa,e v , prlmiu m • e, pram~o • autom>mia du Coap'l'l"içõ,:1, d ~oa o
.-"'- do • to de 1e • na • ia- dm imtit:utc. superi,:r- I..an&e d • .-erre., c:oatribulu
- rdon:aa _.. ka,tuar • d~ • que d--■ o emino .--undArlo, quer IOb o coe doo PI"·
cádm, CJ"CI' & 1 eJllllll madorea, qua ~ o sisb!ma du equi~ tardou,~ ia.o,
au • coaa a kl e■rl.. Iiano 8 de nw,;o e 1915). que ruQWnN • si~ taiar e te0Íicialiao11
o ""8ÍIIO ~o. com 5 nm cuno, m■otendo, i,mim, °"alilme1I de pr~ em c:ol • potttlc:ulu ,
~ a.- DOlDClld pelo o Supcriar do Bn.ino, - institiliçio a:i■da pm reforma vadlvla C!on-d•
e a qu,, o 1111. 11 de.te d to (S de abril de 1911) trib,illl • função íi9CII do s.talo, N■ n:fcrm11 Joio l.
Aln11, tambtm dwn■da RocM Va• IJJ de J•.oelrnde 1925), que vigon,n •t6 1930 pcevaleceu ~l • iaçla
~. 11h .., p,:nn o, KDh o■ q,:,e nele: 1e bavianl li~ o regime de pn,pa.n1 6ri•, fartcmuite
■poi■do IIWH tndlcAo de QU&!IO um ulo.
37 A CULTURA BRASILEIRA

•cas que corr~ponderam a um sistema de idéias e trouxeram, como ressões


do positivi o no Brasil, um conteúdo filosófico, mais ou enos definido,
Reforma Benjamim Constant em 1890 e a Lei Or Anica, de RrvADÁvtA
CORREIA, em 1911, foram, no entanto, pelo seu caráter de espírito de sistema,
as mais radicais e as mais distanciadas do meio a que destin vam. Aquela,
prc cndendo, sob a influbicia das idéias positivistas, d um carâtcr científico
ao plano dos estudos secundários, não fêz mais do qu con tituir um tipo de
en: • o enciclopêdico; e esta, que não chegou a atin • , co o a de BENJAMIM
Co STANT, a estrutura do ensino secundãrio, ·rou-lh o cunho oficial, sub•
traindo-o à interferência do Estado e reinstaurando por lei o regime de livre
competição ou concorrência que se estabelecera sob a pr o da circunstãn•
•as, cm todo o Império. -
Reduzido, no plano federal do ensino, ao Ginásio Nacional, que ainda val-
aria a er denominado Colégio Pedro II, submetido a provas e contraprovas
de reformas em cada decênio, - e duas separadas ap nas por cinco anos-. o
ensino mêdio ou de cultura geral não encontrou na República, até 1930, um le-
gislador que, pondo ordem na confusão, lhe desse uma es ru ura, sólida e fle-
xível a um tempo, adaptada tanto aos seu.-sfin como i\s necetsidades e aspi•
rações ociais da época e do meio. O regime que perdurou at 1925, de prepa-
ratório e de "exames parcelados", retardou por cêrca de 40 anos a substituição
definitivo. do estudos fragmentários por estudos is ematizado , a que era
pre posslvcl fugir pela porta aberta da concessão aos tudantes de pres-
tarem exames de matérias isoladas ou de grupos de disciplinas. Sob a vigência
do r • e d preparatórios ou do sistema equiparações o ensino ccun-
dârio que e ministrava por um único estabelccim to r d ral e alguns pouC06
man "dos por Estados, tinha d.e desenvolver- ante, sob o impul gC"Deroso
das inici tivas pa.-t:iculares, religiosas e leigas, cujo m rço n-o foi bastante
para o tornar acessível senão a uma certa parte da s •cdade e a uma pequena
fração de adolescentes. Do ponto de vista qualitativo, as colas que então
criaram ou se desenvolv~ graças aos esforços d instituições particu-
lares, muito pouco contribuíram para a renovação do espirita e dos métodos
do ensino secundário do país: obrigadas a subordinar-se diretrizes dadas e
aos quadro esquemáticos, excessivamente rígidos, fixados pela legislação fe-
deral, que dispunha não só s6bre planos de estudos m s sõbre horários e pro-
gr mas, não puderam essas escolas organizar- e livremente e servir de labora-
tórios de experiências, com seu sistema e seus método, próprios, em que viessem
inspirar-se ou colher elementos de orientação as futuras reformas. A educação
feminina em nível secundário toma impulso nas escolas normais, nos colégios
de freira e cm outras instituições particulares de ensino, que jã se franqueavam
mulher desde os fins do século passado e sobretudo no 'culo atual, em que,
em 1907, como nos lembra FR.ANctscoVENÂNCIO FILHO, "conclu(am o curso
cundário do bacharele.do em letras as primeiras duas jov ns que a ae se aven-
turaram ', 1~ A expansão do ensino e- da cultura fazia-se, porêm, graças não
somente à iniciativa particular, nos dorninios do ensino cundârio mas sobre-
tudo o desenvolvimento de organismos independent , - os sistemas escolares
aduais que se estabeleceram segundo o odêlo do sistema de sino no pc~
nodo impcria.l, mais do que segundo um plano de conjunto.
A formação dos sistemas escolares estaduais qu começaram a organizar-se
paralelamente com o istema federal, - limi do e ao ensino cund.ãrio
e upaior- e cuja evolução era particularmente r; vorecida pelo regime de
A DESCENTRALIZAÇÃO E A DUALIDADE DE SISTEMAS 373

autonomia e dcscentrali%ação política e administrativa, proccasava- e, o


tanto, irregularmente segundo as grandes diferenças de nível econõmico e cuJ.
tural, entre os cliv Es dos da União. Não rose desenvolvia com evidente
irregularidade, li ada esses desníveis econômicos e culturais nas várias rc•
giões do país, mas sempre nas direções tradicionais e com uma intensidade maior
no domínio do ensino primârio e normal, que entra numa fase nova cm alguns
Estados, como cm o Paµ]o, na administração de CESÁRIOMOTA,no Distrito
Federal antigo Município Neutro sob a influência inicial de MEDEIROSE AL-
BUQUERQUE, e em Minas Gerais, com JOÃO PlNBEIRO DA SILVA, na presidência
do Estado. O que nos legara o Império. a êsse respeito, foi, nas expressões
duraa mas exatas de A.zEVEDO Sooxt, "uma instrução primAria dcficicntÍI•
sana,falha e andrajosa, em quase todo o território nacionaJ".l• Mas, com
todo o eafõrço que se realizou em vários Estados, não se modificou scnslvel-
mente a situação anormal em que nos deixara o Império e nos manteve a Re-
pública, a julgar pelos dados impressionantes aôbre a percentagem de anal-
fabetos, que, apreciada em ,66,4 em 1872, em 67,2 em 1890, baixou apenas a
58,8 em 1900, para se elevar a 60,1 cm 1920, isto é, trinta anos após a insti-
tuição do regime republicano. Em alguns Estados parece ter havido mesmo
um ~troccaso, como na Bahia e em Pernambuco, "grandes elementos da União
que, no Império, s gundo observa APRÂ.NloPEIXOTO, gastavam 25 e l5 por
cento, respectivamente, de suas rendas com a instrução e na Rep6blica, vieram
apenas a despender com isso 3 a 5 por cento de suas rcc~tas• . A extensão
geográfica do país, em que enquadravam populações amuradas em mn iso-
lamento cultural quase completo, a insuficiência das comunicação locais e
atrema rarefação demográfica que tomariam' necessária a criaçao de enorm1:
quantidade de estabelecimentos escolares, para fazer baixar notàvelmente
percentagem de analfabetos, constituem. com a mesquinhez dos orçamentos
da maioria dos E ados as causas principais da lentidão em que se arrastava a
educação popular na maior parte das unidades da Federação. Transferida
Beta.dos a atribuição do ensino primãrio e despojado, cm conaeqíl~cia, o go-
Yho central de qualquer influ eia positiva sõbre êsse domínio essencial do
emino, aa escolas primárias e normais, financiadas pelos Estados, ficaram na-
turalmente condicionadas, na sua expansão quantitativa e o seu desenvolvi-
mento, às condições econ micas de cada região.
Foi em São Paulo para onde se deslocou o centro da vida cconõmica do
país, que tomou maior impulsa a instmção nos seus diversos graus e moda-
lidades. A polftica adotada de financiamento da imigração que passou a ser
subsidiada pelo Estado, a partir de 1886; as novas perspectivas que ae ras-
garam ao trabalho de colonos, com a abolição do elemento servil, e o desenvol-
vimen o da lavoura. cafeeira que atingiu em 1895 um dos seus pontos culmi-
nantes com a grande alta do preço do café, concorreram poderosamente para
atrair a essa região do país e nela fixar as maiores correntes de imigração. En-
quanto pelos outro Estados da União se repartiam em 1891 e em 1895, res-
pectivamente, 108 072 e 27 620 imigrantes, canalizavam-se s6 para o Estado
de São Paulo 108 688 rangeiros, em 1891 e 139 998, em 1895, ou ejs nes
ano, .uma êorre:nte imigratória de volume cinco vêzes maior do qac a que se
dispersou por outros Es ado . Essa situação âe prosperidade que se prolongou
até 1928, na economia rura] com fundamento na lavoura do café, e a que o
surto das indúatrims sobretudo a partir de 1918, devia dar um impulso vigo-
roso, permitiu ao Es ado de São Paulo organizar cm bases maia s61idas e lar s

18 A. .A. li~ ÃZZV&DO SOl:,11 , D probfem• da dw:.a,60 nauonai Rio d,: Ja..ciro, T,p. do "J I do
Ccm&cio", 19ZG, pls, li.
374 A CULTURA BRASIL IRA

o u sis ema de educação. Desde 1890, em que urgiu a primeira reforma


de ensino primârio e normal, entra a escola de formação de professor pri-
mário em uma fase nova,-uma das mais brilhantes de :ua história-, sob
a orientação de TÔNJO CAETANO DE CAMPOS, m ·do, no u esf6rço reno-
vador por M.ARlA Gt:JII.HERMINA LOUREIRO DE ANDRADEque ve quatro
anos dando nos Estados Unidos e M"tsS MARCI.ABROWN, ex-diretora de
uma Escola onnal em São Luís, em Massachu tts, e de uma hiAh-school
em Molden, perto de Boston, nos Estados Unidos. E dua prof; sor s, -
uma, br ilcira, que aperfeiçoou os estudos na América do Norte, e outra, edu-
cadora procedent desse país, haviam sido indicadas p lo doutor HORÁCIO
LAN , da Escola Americana, para colaborarem com CAETANO DE CAMPOS,
diretor da Escola Normal, na direção das escolas anexas ( colas~mod@lo)que
serviam de campo de aprendizagem prática do prof; or e de experimentação
de novos métodos. Em 1892, sendo presidente do Estado BERNARDINO DE
CAMPOS, promulgou-se a lei que reorganizou o ensino público (8 de setembro
de 1892) e que foi regulamentada a 23 de novembro de 1893, já sob a inspi-
ração de CESÁRIO MoT~ que a 8 de fevereiro d e ano sue dera, na pasta do
Jntuior, a VICENTE DE CARVALHO.
Foram então criadas, por essa reforma, mais tr colas normais alêm de
escolas complementares e ginásios; reorganizaram-se os serviços de inspeção
do ensino; inauguraram-se vários grupos escolares· e a E cola Normal de São
Paulo, cujo curso passou a ser de quatro anos, instalou- e, em 1894, no novo e
andioso edifício, em que ainda boje permanece, depois de sofrer acréscimos
reforma . lt movimento Temodelador, inspirado pcl s id • s e téa\icas
peda 6gicas norte-americanas, prolongou-se até os prindpio do s«Ulo atual;
pela ação de um grupo de educadores, como GABRIEL f>REsTES que sucedeu a
C TANO DB CAMPOS na direção da Escola ormal, e OsCAR TBoMPSO que,
tendo substituído, em 1893, Miss BRo a umiu cm 1909 a direção geral
do ensino público em São Paulo. Se cabe, porém, a se Estado a precedência
que ·, reivindicava CAETANO DE CAMPOS de "haver criado a escola pública
do sino reformador" e se em São Paulo é que s tomou. mais viva a cansei~
nci de que para ser senhor da juventude é preciso ser senhor dos educadores
cuidar, portanto, da formação dos mestres, êsse novo espfrito, além de limi-
tado às écnícas pedagógicas, nao ultrapassou, nos cus fmpetos de reforma,
domfoios do ensino primário e normal que fecundou por 'muitos anos. No
utanto, o espírito de iniciativa e o interêsse pela cultura, ainda que no mesmo
sentido tradiciona1, manifestam-se em outros setores. Em 1892 é criado o
Instituto Bacterio16gico, cuja direção foi confiada a Flfux LE DANTEC, ,por
:indicação de PASTEUR, e em 1893, a ADOLFO LuTz: cri.am-s em 1893 a Escola
Politécnica e o Museu Paulista, que se inaugura em 1895;. o Instituto Agro-
nômico, estabelecido em Campinas pelo govêrno imperial em 1887, transfere-se
em 1892 para o domínio do Estado; 1i surge em 1896 a E col de Engenharia

li O lDa.ltuto Ap'oa6mko do fut>Ylo de São Pa\llo l&Çl.o Agroo&biQ de


lnlthdQ do Comdhciro A."C'IÓSlO Plw:io, ~ criad.a POf' d
l, era 27 de junho d.e ~?, pan o fim de "%6-lo "'
o ô-no da m<rnarqnia o Prof. ir. W. Du Í.Dn•
Qf'a41<:• adrníDn~ 887~1897 or "6brc
• O decttto foicnd de 8 de fevcmro ~
Estado de Sio Paulo, c,om a dcnom "mto AçonOmlCQ,
vt:T"ba mwa.l de 1.5 cantos -para o ICll !Nltdo. uc, tueedcu_ 11
d!R(:lo do lnrtit:uU>, " ~ o c:mso <:m. c:ari: lnt íreate ct....
e " 1C110"8TAVO D'0%lt4 (1893-19 • P-'-M
fl 09--24/. Auumiu-lhe -. direção, daru: ig24, Taonv.11:aToo e e:aheb:o acr6-
~ • c:ontinnldade de nu. pr-ozr~ - o pctfodo de 17 •-• e um dol maia vi1armo
imp priminm ao l!Utiti.bJ cl6de • sua f-wld.açlo. Bm de bco do 1!127, pd• ld n.• 2 221-A,
li" AIIJ"(ID.6micopor un,a de •ua mlli imparta.a.t '" faf"IJI• , qiu, lhe atlnllo tb:l• • catrumra,
ciribllindo-lbe o. RtViç,:,. dmtíCieo- c tkniccs em oito ~: IJ d quf ■t:rlcola e. t allllical 2) de
~- $) de hamcul~ ') d<: r;cu&ica: S) d.e botlnlca: 15)de c1>tomol~u •pi ; 7' da barte.-
A DESCENTRALIZAÇÃO E /. DUALIDADE DE SlSTEMAS 375

do Mackenzie Colleg_e;fundam-~ cm 1899 o Instituto de Butantã, cujaa ati-


vidades científicas se iniciaram sob a direção de VITALBRASIL e em 1901 a
Escola Superior de Agricultura em Piracicaba, e no ano seguinte, cm 1902,
instalam-se as duas primeiras escolas de comércio - a do Mackcnzfo Colleg
e a que tomou o nome de ÃLvARES PENTEADO. Aa duas primeiras escolaa
técnico-profissionais, uma masculina e outra feminina criadas no Brás, datam
de 1911 e de 1913, a primeira Faculdade de Medicina de São Paulo. Em todo
esseaparclhamcn o cultural, o Instituto Agronômico, destinado ao estudo dos
problemas ligados agricultura; a Escola Superior de Agricultura Luis de
Queiroz, preposta à formação de administradores agrícolas, técnicos para ser-
viços agron6micos e agr6noroos, e o Instituto Biol6gico que, na endo de uma
oomisaão de tinada a dar combate à broca do café, se transformou, em 1928,
numa instituição permanente de defesa agrícola e animal, repr entam um
esf6rço verdadeiram nte notável para ligar estreitamente o ensino e a pesquisa
à produção agncola do Esta.do e à economia nacional.
Mas, se essas instituições destinadas ao ensino e à pesquisa cientifica de
interesse para a produção vegetal e animal começaram a enriquecer o sistema
cultW'al de São Paulo, onde tomaram incremento a agricultura, o comércio e
a indústria, êssc movimento de especialização, correspondente a uma. comple-
xidade maior de estrutura, não se estendeu aos outros Estados, que e manti-
veram mais ligados às tradições escolares do paí:.. No próprio Estado de São
Paulo que, sob o impulso da lavoura, se transformava em ritmo mais acele-
rado e cm que novas escolas écnicas e institutos científicos criaram para
suprir as lacunas do ensino tradicional das velhas faculdades, muito pouco se
f'êz para introduzir um no o espírito e orientar parte da mocidade que se d -
tioava às escolas uperiores, para a instrução técnica, sobretudo agrícola, e
pera as cola de comércio. :tsEe Estado .mantinha, como os demais, um en-
sino, no seu conjunto, acentuadamente tradicional, embora mais rico e dife-
renciado que achava, cm quase tôdas as suas instiblições, singularmente
afastado tanto das necessidades do meio como das condições da. vida moderna
que já envolviam, modificando-as, as suas atividades econômicas fUDdamentait.
O ideal de 11homem culto" permanecia, ao menos até à guerra mundial de 1914,
o mesmo que predominava no Império; e as escolas superiores destinadas às
carreiras liberais, satisfaziam a essas aspirações dominantes, no meio social cm
geral e, especialmente, naa famnias dos senhores de engenho, fazendeiros e ea-
tancieiros, como da burguesia urbana, que continuavam a ver nas profissões
de advogado, médico e engenheiro as ocupações mais nobres e, nas escolas
superiores de formação profissional, uma escala de ascensão social e polltica
de seus filhos. Num meio cm que o titulo de doutor ainda era um ornamento
76 A CULTURA B ASILE RA
-------------
para os rico senão uma recomenda~ão a mais para a política e a alta adminis-
tração pública, e um instrumento de ascensão, para a famílias que se aspiravam
elevar-se na hierarquia social., nem a pesquisa cicn 'fica desinteressada nem
a cultue técnica podiam passar fàci1mente ao primeiro plano das cogi ações
candidatos às escolas supt;riores. os pequenos focos intelectuais inde-
pendentes que se formaram e passaram a gravitar como satélit em tõrno do
princip centro de ensino e de cu tura do pafs, não tra: va, geralmen e, de
enriquecer e ductilizar o sistema escolar e reformá-lo segundo novas neces-
sidad uma nova concepção de cultura, mas de organizá-lo nos moldes do
ensino superior, que vinha do Império e se constituía das tr faculdades tra-
diciohai .
As duas faculdades de direito, criadas em 1827, acre centaram-se, a partir
de 1891, me.is dezessete. instituições de ensino jurídico, das quais somente três
são posteriores a 1930; às duas antigas faculdades de medicina, cujas origens
remontam aos cursos médico-cirúrgícos criados no tempo de D. JoÃo VI, jun-
taram-se novas escolas dêsse tipo, perfazendo um total d onze, em 1940; e
oito escolas de engenharia reuniraro~se, de 1891 a 1914, às duas que nos legou
o regime imperial, - a Escola Politécnica do Rio de Janeiro e a de Minao, de
Ouro Preto. tsse fenômeno de multiplicação ou de "cogumclagem" de es-
colas superiores para as carreiras liberais, e a repartiç- o geográfica, muito de-
sigual, d estabelecimentos que, com raras exceções (a Escola de Enge~
nharia, de Juiz de Fora, cm Minas e a Faculdade de Direito, em Campos, no
Estado do Rio), se concentravam no Rio de Janeiro ou s distribuíam pelas
capt dos Estados, bastariam para provar a pe:rsistblcia da mentaJidade
criada no tempo c!o Império, ç que se formou. e de~volveu à sombra das
velhos faculdades do país. As preferências da mocidade e das famílias vol-
aram-s t&ias ainda para as faculdades de direito e de medicina, man endo-se
as de engenharia com ama freqüência inferior de estudan es, jã pelo caráter
mais "técnico' dessas escolas, já pelas poucas perspectiva que se abriam, nas
condições econômicas e industriais da nação, às atividades de engenhei.o, já
ainda talvez por não conferirem elas o titulo de doutor que expediam as de
medicin e a tradição estendeu aos bacharéis em direito. Ae elites culturais,
politicas administrativas, constituídas, em oua maior parte, de bacharéis e
doutores, marcavam o estilo de nossa cultura, cujos lradições se condensavam,
como em núcleos de resistência às idéias inovadoras, no patriciado rural e na
burguesia urbana, As novas ídéias, aa teo •as itnportadas e as reformas mais
audaciosas fundiam-se ou se dissolviam ao calor da famOia, que era a insti~
tuição social mais estável e ,conservadora da sociedade em formação, como das
velhas escolas destinadas a fabricar profü!sionais, donde safram as elites domi-

18 O r6tt o entre o l1l1mc:rode.imtitutoo de pcaquias, criado, entre l8!10 1930, o tlu cacola d<S-
tinad l prcpare;lo pua pr,;,f'"a:meoli~ cm lguâ1 pcrlodo, DJORTII à cv!d oda o prmominio qwuc qbllllluto
&.tu .t.bro "tu1~ cm qac ! e<mfecida a prioridade à livre -poquiM, "°' dolnloio. dll ci&,cla aplitad&.
p..,.. li n• "tu °' d ordem, fwtdadm de 1890 "1930, e dm q • S em Slo P!lulo. ~.., 33 CKolu 110•
~ pni{i icaaio, 8 de ml!ldicina, 8 de engenharia e 1.7 de illrcita. Fonim, de rato, atllbcl id ", ucuc pcrlO<!o,
• íu:ulda dl! ; 'na, de Plim> Ak::,c (l.897), de ina Gcrait, cm Bdo te /l!lll); do Puanà, em
Cuti ba, (1912), ~ em. 1922; de São Paulo (1913); do Rcc:ifc, de •• e. 110 Dia to Fcdcnl, ■ e
Cl e ■ de Medicina c ~ do l,qtituto ~. A kl■d P :uliwt■ de M,,di •
de SAo de 1933. As ~ de ~ crmla.l d.e l O o 1 30, ■ Polit:6c d■ Bahia que,

d
aDd■d■
:■ P i
1887, realma>tc a6 ia.a~ os sc:uo CUffll9 cm 11197e fc,I
de, SioPJmlo (1893); ■-do MadciODZicC
o•~• = llllS ~ •
e, de Slo P■ulo (1896); ■ o Parto >Jeire
~mue fe-
895);
■ do Reclre, - P haco (189 : a de Miau Ger■l:s (1911); ■ do Paran.6, Cun (1912) e■ d Juu de
Jl'ora,cm 1!'14, pcd'ua,do um total de 8, com uclu;ooo da de BB cQbuu do Rio de J'llleffl) e ■ de l4iD■a,
en, Duto Pr! . ítt e:• 14 í■cuJdades de direito que a;c in.titufnm. """ primcír1111 q11oattBt■ ■.DOI do ~Íllle
republicano, íwiclOIDAU\ainda 7, a •ber, a do lliflrito Federal {1891), ■-~tr IICU!dllll.N■cío""1 e Dittito;
a d■ ' (18111);■ de M"ma Gerais (lll!nr, 11do Cear,\ (1903); ■ do Arnm:OBU (1910), ■ do P :nA(11112)e a
de Oolá (11121),quc, 11c:relàdu du <:9COl■-s f\mdadH pootcfonneu ■ 1930, - ■ do Pl■ul e, a de Ahlgo111(1931
■ de Campm, n;o i:.do do Rio (F~c de Dmto Cl6vi1 Bevili , ■tio tm o odmcro de 10 faculdades
de dlr, r.q, DO\' OII 1'Z, eoni u ,-caldadas 1ndiciun8it, do Rocil'c e Slo Pau.to.
A DESCENTRALIZAÇÃO E A DUALIDADE DE SlSTEMAS 377
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nantes e em tôrno das quais gravitavam as aspirações da juventude e se agru-
pavam os núcleos de interesses das classes sociais mais elevadas. Aa antigas
faculdades continuaram, pois, a ser os principais focos de penetração da cul-
tura tradicional como os centros de estudos em que se formaram, através de
gerações, numerosos trabalhadores de espmto que deram ao Brasil uma irra-
diação às v!zes bastante intensa para ultrapassar as suas fronteiras.
Não é, pois, de surpreender que, com essa mentalidade jurídico-profis-
sional, voltada inteiramente para as carreiras liberais e para as letras, a poll-
tica e a administração, continuasse o ensino técnico, assim como o científico,
relegado para plano secundário. A abolição do regilne servil não acarretou
como não podia acarretar de momento para outro a transformação da menta-
lidade que com @lese formou, de descaso pela ciência e pela t~nica e desprezo
pelas atividades de base manual e mecânica. Nem a estrutura industrial que
apenas começava a edificar-se em algumas regiões, como Rio de Janeiro e São
'Paulo, podia elevar ao primeiro plano das preocupações políticas, na organi•
zação dos sistemas escolares, as diversas culturas técnicas que visam pôr ordem
na ~onomia da o.ação, pela prática da orientação profissional e da aprendi•
zagcm racional e pela adaptação dos homens ao material e às tarefas indus-
triais. Faltavam ademais no Brasil as tradições sólidas e disciplinadoras das
corporações que, fücando a duração e as condições do aprendizado para cada
oficio, mantiveram, na Europa, através de gerações, a efici~cia e o prestígio
de algumas atividades técnicas que penetraram, como sobrevivências, o sis-
tema do mecanismo estandardizado e da produção em série, características da
evolução industrial do mundo. As.."llllnão se apresentavam ainda os problemas
do ensino técnico sob uma forma concreta, a um tempo mais palpãvel e maia
eficaz, para interessarem vivamente às classes eultas: a burgUcsia, por tôda
parte, com o sentimento muito vivo das realidades que lhe dã o hãbito dos
negócios e com o ap@go às tradições e aos valores, que correspondem aos seus
interesses materiai:3, tende a ligar o problema da instrução às suas necessidades
e preocupações dominante,,, e, embora a elite quç a representa, o transponha
acmpre em termos de interesse geral p~ra dissimular o seu cgolsmo, não o re-
aolve nunca de outra maneira senão no sentido de seus interêsscs particulares.
No entanto, não faltaram iniciativas isoladas, públicas e particulares, no do-
sntnio do ensino técnico e profissional, em que São Paulo foi tamb~m o Estado
abridor de caminhos, mas aem bastante convicção e impulso para prosseguir
na obra de que apenas, por essa época, se lançaram os fundamentos. O Liceu
de Artes e Ofícios que, embora criado ainda no Império, em 1873, se consolidou
para entrar na sua fase mais fecunda depois de 1895, com a administração
Ramos de Azevedo; a Escola de Agricultura Luís de Queiroz, de Piracicaba
(1901); a Escola de Comércio Alvares Penteado (1902) e ·as duas primeiras es-
colas profissionais, maxulinas e femininas, instaladas em ~ão Paulo em 1911,
são outras tantas iniciativas que prometiam multiplicar-se e jmpor com o tempo
a organização de um plano de conjunto e de mais larga envergadura, com uma
unidade de orientação. Mas elas permaneceram no Estado, durante largos
anos, como instituições dispersas e solitárias.
Por essa mesma época, em 1911, no Distrito Federal, ÁLVARO BAnST.A
empreendia a organização do erurino técnico e profissional, criando vãrias es-
colas, entre as quais a Escola Sousa Aguiar, sob a orientação de CoIUNTO DA
FONSECA, entra numa fase ativa de experiências renovadoras. A Escola de
Artes e Ofícios Venceslau Brãs, fundada em 1919 pelo govêmo municipal, para
formação de mestres e contra-mestres, transfere-se mais tarde para o govêmo
da União com objetivo de formar professores para as escolas de aprendizes
7 CULTURA BRASILEIRA

artífices, criadas pelo govêmo de NILO P.EÇANBA(1909-1910) na capitanias


dos Estados e destinadas à educação profissional das crianças pobres. Essas
colas de aprendizes artífices e os patronatos agrícola , dependentes do Minis-
t&io da Agricul u.ra, como à Escola Superior de Agricultura fundada em 1910
no Rio de Janeiro, foram as mais importantes senão a: únicas criações do go-
vb-no federal que não soube, também êle desenvolver e articular a obra ini-
ciada, a partir de 1910, em quase todos os Estados da União. Em Minas Gerais
criaram-se mais tarde a modelar Escola Agrícola, de Viçosa, sob a orientação
de ROLPHS, pecialista norte-americano, con atado, que formou escola e a
quem sucedeu, na direção, BELO LISBOA, e o Instituto Eletrotécnico, de Ita-
jubá, instituição particular fundada por TEoDOMIRO SANTIAGO. Se se acres-
centarem a as instituições a Escola Doméstica, de Natal, no Rio Grande
do Norte, d vida ao impulso generoso de HENRIQUE CASTJUCIANO, e algumas
dezenas de escolas comerciais, quase tôdas de iniciativa privada, ter-se-á o
quadro do ensino t~cnico-profissionál, deficiente e precário, sem articulações
com o sistema educativo, no seu conjunto, e sem ligação com as indústrias.
De fato, nesse sistema em formação, em que predominavam, como era natural,
as escolas e institutos agrícolas entre os quais cumpre lembrar o Instituto Borges
de Medeiros (de agronomia e veterinária) no Rio Grande do Sul, nenhum es-
fôrço se realizou para resolver o problema das relações entre o ensino profis-
sional, tratado isoladamente, e os outros ensinos nem para estabelecer um
contato mais tntimo das escolas industriais com os meio profi ionais interes-
sad , nem ainda para conjugar racionalmente ciência e técnica e ensinar o
lugar de cada indústria no conjunto da vida econômica, o proo us das dife-
rentes produções e sua dependência mútua, e a tecnologia geral dond derivam
t6d as técnicas particulares.
A dispersão dessas e outras instituições que surgem isolad s, não chegam
a quadrar-se em nenhum sistema, provém, sobr tudo, do caráter fragmentário
das iniciativas e reformas e da completa ausência de uma poUtica de educação.
Nenhuma dessas reformas que eram as vêzes precedida de con ultas a figuras
repr tativas do magistério superior se estabeleceu s0brc dado objetivos
colhidos cm inquéritos e na investigaçã~ direta das condições especiais do meio
a que deviam servir as instituições novas ou reorganizadas conforme um plano
de conjunto. Uma análise, ainda que sucinta da estrutura do sistema educa-
tivo em formação, no período republicano atê 1930, mo tra à evid~ncia que,
de um lado, a falta de diretriz.es uniforme:;ide uma po1ttica scolar e, de outro·, a
multiplicidade de sistemas a que deu origem a autonomia polttica e adminis-
trativa dos Estados, acabaram por quebrar, não a unidade fundamental do
espirito, estreitamente ligado à tradição, mas a unidade de estrutura da edu-
cação nacional. :ltsse sistema escolar, tanto no plano fed ral como nas diver-
·ficaç6e regionais, era um herdeiro de tradições muito complexas que s com-
binaram e e fundiram provenientes das experiências tri eculares da Colônia
d s atividades culturais do Império. A linha de resist ncia s inovações, mais
ou m os forte gundo as ordens de ensino, traduz fielmente a ura dessas
tradições sociais e religiosas. literárias e profissionais. ão era pràpriamcnte
uma politica escolar, consciente e refletida e nitidamente formulada, mas a
r qua mecânica da tradição que residia à base, como um elemento pro-
r, do desenvolvimento das escolas uperiorcs des ·nada à preparação
p as profissões liberais e de que se multiplicaram exemplar por qu
todos Estados onde começava a tomar impulso a instrução. O afluxo de
candidatos a êsses institutos não apresentava iinais de dccrcscer; e, como o
núm o das admissões, condicionado apenas às pos: ibilidadcs materiais de
cad faculdade, não se limitava, tendo-s cm vi ta as nece idad do país e
A DESCENTRALIZAÇÃO E A DUALIDADE DE SJSTEMAS 379

a colocação dos diplomados, não se tardou a verificar o congestionamento das


carreiras liberai.a, muito cedo saturadas, apesar de transbordar dm quadr
profissionais pare ou_tras atividades, sobretudo políticas adminis ativ e
jórtlalfsticas grande número de bacharéis e doutores.
Se as portas das escola normais já se franqueavam inteiramente às mu-
lheres, que passaram a dominar o ensino primário, como seu próprio elemento,
e começaram a figurar, mbora em percentagem extremamente reduzida a •
1930, nas colas undâries, as das escolas superiores lhes permaneciam ainda
pràticamente fechadas. 19 :6:que os cursos de preparatórios e os ginãsio, des-
ligados das colas primárias, continuavam, na sua rmalidade utilitária, a ser•
viço das colas superiores, em que se preparavam os candidatos às profissões
liberais, reservadas ntão exclusivamente aos homens, e onde se recrutavam as
elites culturais do pafs. Assim, pois, se examinarmos a organização vertical
dos sistemas cacolares, da União e dos Estados, serâ fâcil verificar, em cada
um deles, uma dualidade de sistei;nas, sobrepostos, constituindo dois mundos
que se mantinham separados desde o Império, e entre os quais a República não
procurou lançar as pontes de ligação: o ensino primário, normal e técnico-pro-
fissional, de um la.do e o ensino secundário e superior, de outro, ou por outras
palavras, o sistema de educação popular e o de formação de elites. Certamente
muito pouco e f , de plano deliberado, para cobrir o abismo que separa as
camadas popular e as camadas cultas do país, cuja população foi e é ainda
caracterizada por aordinãrias desigualdades de cultura segundo a regiões
e as classes. Enquanto a cli e das grandes cidades participava muito ativamente
da vida in elec ual do ocidente europeu, permaneciam inteiram te incultas,
na sua maior parte, as lll8Slt8S populares. a cuja instrução não se deu o impulao
correspondente ao u grande desenvolvimento demográfico. , de uma
parte. a pluralidade do focos de instrução que resultaram do centrifugismo
estimulado pelo regime das autonomias e, de outra, a pen tração crescente das
mulheres e a su larga e generosa contribuição no domínio do ensino primArio,
confiado aos Estado , e de que os homens já começavam a desertar, cont:ri-
buiram para reduzir anto os desníveis culturais de uma região para outra,
como o divórcio ntr as classes populares e as camadas cultas da Nação.
A substituição de um único centro orientador, em matéria de en ino, por
uma grande variedade de focos de irradiação escolar, se teve a vantagem d
desenvolver o ensino em superfície e de aproximar as camadas populares e
cultas, cm várias regiõ s do pa!s, concorreu para retardar a formação de um
sistema educativo nacional, como para criar novos centros de resistencia ao
progresso das idéias inovadoras. A idéia em marcha, desde o Império, de uma
educação nacion 1 foi, de fato, paralisada pela vit6ria do federalismo na Cons-
tituição de 91 que deferiu aos Estados a atribuição do ensino primário e lhes
n:conheceu o direito de organizar os seus sistemas escolares, sem fixar preli-
minannent as diretrizes de uma política de educação. Tudo daí por diant ,

IO &)mente 1 1. comoj tivano. ocaaiio de oboen,u, bacharela,,Jm- cm letru u d primár


,io,;a,a que -=-clulra.m os • doe vlos. A edl:ICl!pio fe,:niniQ,i ~ dada mtAo q exdut ,,_
ios ~ ord relici_,, ·lllldu, aa maior parte. de IJ"mellllXO estrur&ciru.eobrcmdo C.--1 e
~--. e --,ln prot ta.ai e. partanm, em acolu coQfenianau. Boa ~ ,
oa particular craxn mul.bctQ, que ac cooce:ntravam ..._ el'Cdu IIGClllaÍJI, ~ l f<lftll&Çb do ma-
ptfrio pr-1.,úrio, e C1C01upror· • ,duc:haina.du•'luus.dom&ticu". NoBruil, ■tU930, do b.ffiam ■inda
• m11lhc:ra conqlllstaclo o acu lupr no cuino wperior e~. No. pai- eur,~11, • , era muito
reduzido, ...,. fim do '6:ulo pa.-clo, o o~ de mulheres que freqilentavam etCOl■a IUpo,riora. N■ ira,,ca..
pcw lo. cm l 91, h■vi■ matriculado ou C9Colao de eiaino auperi« cm Parla 10 518 cstl>d■Atca, dai qu■ie
J 091 11.e ~ de Lca-■1, 66 oa de Ci.~ e os demaia dilmõwdoe pcw virioe outrca 111~••--to•
de emiao. Nio te contavam. naq ela& tu. maia de 252 m.ulb.....,. du qaala 105 fran , u dcm■lo
tr■ncdru. Aa mulher que JA h ■ • coriqllist■do n11Fr~ o seu lugar unlvttt:itirio, nllo o Unhlun,
obtido alnd• n■ Alcmanh
380 A CULTURA BRASILEIRA
---------------
no domínio educacional. teria de desenvolver- e como desenvolveu, sob 11
pr ão da circunstâncias locais que va.'"iavam de uma região para a outra, e
iam desde as condições demográficas e econômicas e as difcr ça.s de nível
cultural até a diversi de de tendencias dos go ernantes e flutuações das
reformas, empine.as e fragmentárias, em que tão profundamente expnmia a
descontinuidade da administração. Depois que. com a ua tran crência para
jurisdição do govêmc do Distrito Federal, e desviou de us fin n "anais
o Pedagogium, - instituição criada em 1890 por BENJAMIMCoNSTANT como
órgão central de coordenação das atividades pedag6gicas do país, só em 1911
surgiu, com a Lei Orgânice, o Conselho Superior do En ino a que &edevolveu
a função fiscal do Estado (arts. 5 e 13) e que, transformado em 1925 pela re•
forma Rocha Vaz em Conselho Nacional do Ensino, não alargou as suas atri-
buições técnicas e fiscais além do.~ domínios do ensino superior e ccundário.
Na sua organização primitiva (art. 12 do decr. n. 0 8 659), o Conselho Superior
do Ensino compunha-se dos diretores das escolas federa.is de direito, medicina,
engenharia, do Colégio Pedro II e de um docent de cada um d~sse estabele-
cimento . Não se propunha nenhuma ação orientadora e fiscal sôbre os orga-
nismos escolare estaduais, aos quais se conferia uma liberdade ainda mais
ampla pela Lei Orgânica, embeb!da nas tradições do liberalismo que levou às
ú1 • as conseqüências, na secular reação contra a polftica "centralizadora e
rc 6grada" que dominou o país no Império e se prolongou, ainda na Repu-
blica, em relação às instituições de ensino federais ou reconhecidas pela União. O
Ministmo do Interior, a que estavam afetos o neg6cios do ensino, não admi-
nistrava enão o ensino secundário e superior, não tendo qualquer influência
no domínio cial, -do ensino primário.
Podia parecer ' primeira vista que as poss·bilidad aber as p la Consti-
tuição de 91 de organizarem os Estados os seus sistem s escolares, d rn lugar
à criaç o de foco de renovação de cultura e de ensino. Como, porém, as novas
ins "tuições escolares foram criadas por iniciativa ou sob a inspira -o das elites
ue provinham das antigas facuJdades e tinham a m ma mental.id de e for-
mação cultural, essessistemas educativos vieram a ser outros anta instru-
men os, não de renovação, mas de conservação e difusão do tipos de ensino
tradicionais e das velhas culturas. A tradição conetitula um elemen o não s6
organizador mas solidificador de estruturas ainda mal assentadas que se iam
conformando, à medida que se desenvolviam, às id~ias dominantes e aos tnoldes
do sistema federal, fundidos no Império. Certamente, os sistemas cstaduait,
novos, em via de crescimento e de formação, apresentavsm uma plasticidade
maior, e foi da periferia para o centro, do Distrito Federal e dos Estados para
o govérno da União que partiram os primeiros movimentos de reforma e re-
co strução geral. Mas, a identidade de concepção de cultura a pobreza dos
orçamento locais a pressão do aparelbamen o burocrático e fiscal do ensino,
entravando as iniciativas e instalando a rotina, ac-eleraram o processo de es-
tratificação e burocratização dêsses sistemas em que, pesar d novos tambêm
se aquartelaram, como no sistema federal, as fôrças con ervadora e, por vêzcs,
reacionárias. A velhas faculdades, tantas vêz refonnad reorganizaram-se
sem perderem a sua fisionomia original e a sua tradicional constituição orgâ-
nica, e os novos tipos de escola. tanto aqaelas em que &e conferisse a prioridade
pesquisa, como as al~as escolas técnicas, considerada in tituições de luxo,
contavam com a indiferença se não esbarravam n oposição dessa li e qlle
se recrutava, através de gerações, nz: facaldad s criada com a função de formar
profissionais. Dir-se-ia que considerá: amos qu devia durar empre e sis-
tema escolar, correspondente a uma estrutura econômica, social e política, já
em franca transformação: nós quase o julgávamo permanente, es atutãrio.
------ . AD CE TRALIZAÇ.ÃO E A DUALIDADE DE SISTEMAS 81

Não tiveram outra origem senao na mentalidade tradicional e na bw-ocr cio.


que estabeleceu, sufocnndo tMas as energias renovadoras, a preeminbicia do
poli •co sõbrc o administrativo e do administrativo sôbre o técnico, a resist&lcia
secular e as oposiçõe radicais à criação de universidades e altas escolas que
Tecolbesscm e man ivessem antes de tudo os previlégios da pesquisa desin-
teressada.
Essa situaç- o, porém, de tabilidade e de rotina não devia prolongai--
por muito tempo. A variações da população e a evolução da vida ecooõmica
cm conseqü!ncia do surto industrial que se verificou, depois da guerra de 1914,
tinham de acompanhar-se de um conjunto de transformações e crenças carac-
terlsticaa da vida odal brasileira, nos principais núcleos de concentração hu-
mana. como São Paulo, Rio de Janeiro e outros, mais acessíveis às influencias
da civilização ocidental. A guerra européia, com tôdas as suas conseqOendas
econômicas, sociais e políticas, estendia, além do continente em que deflagrou,
êsse estado de inquietação e de revolta, de esperanças e de aspirações, de von-
tade de destruir e de impulao reconstrutor que provocou por t6da parte, de-
sencadeando novas fõrças e suscitando novas correntes de pensamento. "Os
sucessos que se desenrolam no Velho Mundo, durante a conflagração e em con•
seqüência dela, - a democracia de WILSON, o socialismo da Alemanha e da
Austria, o bolchevismo da Rússia, o fascismo da ltãlia, são de tal modo impor-
tantes, violentos e precipitados, (lembra MÍLTON RODRlOUES} que empolgam
a atenção do mundo e, no Brasil, a opinião pública é fortemente sacudida por
aes'' .•o Se a opinião pública, abalada e desagregada pelos choques sucessivos
d es acontecimcnt , não chega ainda a dividir-se cm correntes nitidam te
diferenciadas, é certo que começam a propagar-se um sentimento cada vez maia
vivo de desconfiança em relaçao ao antigo estado de coisas e à id~as estabe•
teci.das e uma aspiração, vaga ainda quanto ao conteúdo e ao sen •do das r •
formas, mas nem por isto menos vigorosa quanto à vontade de destruí -o e
de mudanças econômicas, sociais e políticas. As revoltas de 1922 e 1924, qu
se sucedem nesse pcrlodo e eram acompanhadas pelo povo se não com um mo-
vimento de solidariedade, ao menos com simpatia e interbs , coos "tufam sin-
tomas extrcmamen e vivos e marcavam as fases de desenvolvimento dessa
mentalidade r voluciooária que se vinha formando numa atmosfera carr gada
de eletricidade e teri de desfechar, em 1930, nwna revolução de maior enver•
gadura. A guerra de 1914, com todo o cortejo de suas devastações e conseqüên-
cias tremendas, havia também contribuído poderosamente para elevar ao pri-
m,eiro plano das preocupações sociais e políticas as reformas educacionais com
que se sonhava forjar uma humanidade nova e em que se concentravam as úl•
timas peranças de uma vida melhor, da restauração da paz pela escola e da
formação de um novo esptrito, mais ajustado às condições e nec sidades de
um novo tipo de civilização.
Em 1918 rompia a Inglaterra êsse movimento de reformas com o &lu-
ca tion Act de lord FlsHER; em 1919-1920 iniciava-se, per uma série de me-
didas converge.ntes, a execução progressiva da grande obra planejada por Orro
'GLOECKEL, cm Vtena; lo o a eguir a Prússia e os Estados Alemães empre-
endiam, de 1922 a 1925, a reorganização de seus sistemas escolares, dcsmvo1-
ve:ndo-se, sob Constituição libc:raJ de WEIMAR, uma a •vidadc extraordinária
de estudo , pesquisas e experiências pedagógicas; L:toN BÉRARI>levava a d -
bate, em 1923, na Câmara de Deputados, uma nova reforma d •

:io M(L'ION DA SILVA RODIUOU ... Bdueor;Eo mpar&da. Tead~ ., orpnl larea. Comp.
Editafa Naci-a. SI.o Palllo, lll3$, p . 268.
382 A CULTURA BRASILEIRA
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França,:u e nesse mesmo ano, 0:ENTILE traçava o plano de reconstn1ç.ão edu-
cacional da Itâlia fascista e LUNATSCHARSKY, auxiliado por KROUPSXAIA, ata-
cava igual problema na R6ssia comunista pela mais audacio a e radica] de
tõda a reformas que então se reafu!aram suscitam por ôda part.e inicia-
tiv melhantes de reorganização do ensino em todos os seus graus, de acõrdo
com 8.J novas correntes de idéias e os novos regimes polí •cos. M , ao mesmo
tempo qu a questões sociais, políticas e p dag6gicas rompendo os círculos
res • os em que se debatiam, de fil6sofos, homens de cimcia, reformadores
e polfticos, passavam a interessar a opinião pública do mundo e volviam o
Brasil na órbita de suas influências, entrava o nosso país numa época de trans-
formações econômicas, devidas não s6 aos extraordinários progressos da ex-•
ploração agrícola e à grande alta dos preços do caf , como ao maior surto in-
dustrial que se verificou, na evolução econômíca da Nação. A int n idad das
trocas e onõmicas e culturais, o desenvolvimento da imigração de povos de
origens diversas e o crescimento das aglomerações nrbanas, pelos quais se ex-
primia vigorosamente o impulso tomado pela indô.stria nacional, depois do
conflito europeu, criavam o ambiente mais favorável à fermentação de idéias
novas que irradiavam dos principais centros de cultura, tanto da Europa como
dos Estados Unidos. A tendência de concentração urbana anunciava-se com
vigor em Recife e sobretudo no sul, no Rio de Janeiro em B lo Horizonte,
Santos e P6r o Alegre, sem falar em São Paulo, cujo crescimento s6 é igualado
pelo de Chicago e de Sidney e atinge proporçoes inesperada . A população da
maior cidade do planalto duplicou, de fato, em menos de dez anos, elevando-se
de 3 O mil habitantes, em 1920, a perto de 800 mil, em 1930 e atingindo em
1934 a m&s de um milhão (1 033 202) dos quais, n ano, cerca de 200 mil
(190 219) "ºas já empregavam suas atividades na indústria, 84 699 traba-
lhavam no comércio e 26 543, em serviços de transporte.
Foi n e ~ te de agitação de idéias, de tran formaçoes econômicas
e d expansão dos r- ros urbanos, que se iniciou no planal o e no li oral, para
propagar pelas pri ::ipais cidades do país o movim to reformador d cul-
tura e da educação. O primeiro sinal de alarma que no colocou francamente
no caminho da renovação escolar, foi a reforma empreendida em 1920 por AN-
TÔNIO DE SAMPAIO DÓRIA que, chamado a dirigir a instrução pública em São
Paulo, conduziu uma campanha contra velhos métodos de ensino, vibrando
golp s tão vigorosamente ap1icados à frente constituida pelos tradicionalistas
que panos inteiros do muro da antiga escola deviam d smoronar. Mas, não
$6 as r sistências eram ainda muito fortes para que a obra, encetada e inter-
rompida no primeiro ano, pudesse desenvolver-se e produzir todos os seus efeitos
como também, ainda que fugindo à orientaçao purament administrativa,
e reforma, limitada ao ensino primãrio, concentrava o us melhor esforços
na ansformação de métodos e técnicas de ensino. Em 1924, LOURENÇOFILHO,
no Cearâ, a que foi chamado para reorganizar o en ino primãrio: ANfs1O TEI-
XEIRA, na Bahia, onde ensaia as atividades de reformador que deviam desen-
volver-se, em tõda a sua plenitude, no Distrito Federal (1932-35), de volta de
sua viagem de tudos aos Estados Unidos: CARNEIRO L -o. no Rio de Janeiro,
e L1siMAco DA COSTA, no Paraná, já se orientam r uma a o, variâvel no
grau de intensidade. como no conteúdo e nos objetivo , para a renovação es-
colar, semeando novas idéias e têcnicas pedagógicas, promovendo realizações
e organizando plana! de reformas. parciais ou globais, ma &ia limitadas
ao ·no primário e aos seus problemas fundamentais. Não faltavam, aqui
e ali, iniciativas particulares, como para citar uma da primeiras e de sentido

1 L BbAao, 1'0111 la R6fonne clauique. PariJ Lihraúi Collo, li2S.


Á DESCENTRALIZAÇÃO E A DUALIDADE DE SISTEMAS 383

mais corajosamente renovador, a Escola Regional de Meriti, fundada no Es-


tado do Rio, em 1921, por AR.MANDAÃLVARO ALBERTOque se alistava entre
oe pioneiros da educação nova no Brasil. As atividades reformadoras no do-
mfnio do ensino público, se chegaram, porém., a constituir vârios focos de re-
novação, não lograram, algumas delas, impedir que os problemaa de arquite-
tura administrativa mascarassem os problemas mais importantes da reforma
pedagógica entraVI da pelos governos, no Paraná e no Rio de Janeiro, e não
conseguiram, a: outras, firmar a posição dos reformadores contra a resist eia
oposta pela tradição e pelas novas investidas das fôrças conservadoras que não
tardaram a reconquistar o terr<eoo.
Aliás, nao traduziam essas reformas uma política orgânica traçada pelu
elites governantes, mas antes as tendências pessoais de educadores determi-
nados, que agiam por sua própria conta, orientando, no sentido das idéias novu,
aa suas iniciativas a que sucediam contra-reformas, de volta ao passado. Essas
perplexidades radicais provocam no Rio de Janeiro e em vários Estados, como
São Paulo, um movimento pendular da educação, desde 1920, de uma polftica
reacionária para uma poUtica renovadora, e desta para aquela, levando anos
o pêndulo para e achar novamente no ponto morto, isto é, no momento em que,
incapazes de fazer a sua própria política, com o apoio dos reformadores, e re-
cusando-se a fazer a poUtica dêstes, os governos preíeriam nada alterar, nesta
ou naquela direção. Faltava evidentemente, na ausencia de uma política es-
colar oficial uma fõrça de aglutinação dêsses grupos esparsos de educadores
novos que. mal s formavam, já ameaçavam desagregar-se, e cujos su ••
na ad.ministr ção escolar, permaneciam em função de sua autorí de e pres-
tigio pessoal e, portanto, de vários fatôres que os obrigavam a uma tática muito
complexa para fazerem prevalecer os seus ideais, A Associação Brasileira de
Educação, íundada em 1924 pelo grande idealista que se chamou HEITORLIRA,
desempenhou papel congregando os educadores do Rio de Janeiro, pondo-os
em contato un~ com os outros, abrindo oportunidades para debate largo sõbre
doutrina e as reforma , frcqüentemente de um conteúdo intelectual oonfuso
e contraditório, e convocando-os para congressos ou coofereticia de ucaçâo.
das quais tr , a de Curitiba, em 1927, a de Belo Horizonte, em 1928, e a de
São Paulo, cm 1929, se realizaram antes do advento da Revolução. Inau-
gurou-se, depois de 1922, a época das conferências educacionais. Para. um con-
gresso de instrução que se projetou, em 1883, e não chegou a reunir-se na Cõrte,
- a únioa iniciativa desse gênero em todo o Império-, sendo que dessa data
até 1922 não e promoveu uma só conferência de educação, realizaram-se de
1922 a 1937, nove cooferbtcias, duas de iniciativa oficial, a de 1922 que se reuniu
eob a preaidencia de ALFREDO PINTo, no govêrno de EPITÁc.10 PESSOA,para
estudar a in ervenção do govêmo federal no ensino primáric 22 e o Congresso
do Ensino Superior, que se reuniu em 1927, em comemoração da primeira
centúria da fundação dos cursos jurídicos, e as outras sete, convocadas pela
Associação Brasileira de Educação. Essa sociedade de educador , - a pri-
meira que instituiu oo Brasil, com caráter nacional, foi, cm dúvida. um dos
instrumentos mais eficazes de diíusão do pensamento pedagógico europeu e
norte-americano, e um dos mais importantes. senão o maior centro de coorde-
nação e de debate& para o estudo e solução dos problemas ed.ucacionai , ven ••
lados por tõda. as formas, cm inquéritos., em comunicados à imprensa, cm
cursos de férias e nos congressos que promoveu nas capitais dos Esta.dos.
384 A CULTURA BRASILEIRA
-------
As novas coTTen es do pensamento pedag6 •co que já s esboçavam em
publicações, bre temas especiais, como os trabalho de CARNEIRO LEÃO sôbrc
educaç o rural (1918), de MEDEIROS E ALBUQUERQUE ôbre a questão dos
t.est (192 ) de A TÔNIO Mo ITBIRO DE SOUSA e de Jo AUGUSTO 21 tendem
a definir-se em São Paulo, no primeiro inquérito que se realizou s6bre a ins-
trução pública em geraJ, nesse Estado. De fato, em 1926 o autor desta obra,
cn o redator d'O Estado de São Paulo, organizou e dirigiu, n grande
diârio o maior inquérito que se promoveu entre professor , bre o ensino de
todos os graus, orientando os debates nos seus artigos de introdução e nos seus
questionãrio , comentando os depoimentos nos seu ar ·gos finai , levantando
as qu tõcs educacionais de maior interesse e encarando-a 11, como o fizeram
lguns professores interrogados, não somente do ponto de vista pedagógico,
mas ainda sob seus aspectos filosóficos e sociais.24 Nesse largo inquérito, ori-
entado e dirigido, e que é certamente "um dos mais importantes documentos
na história do movimento de renovação escolar que tomou corpo em várias
grandes reformas', quais as do Rio de Janeiro (1927-30), de Minas Gerais
{1927-30). de São Paulo (1931-1932 e 1933)1 do Rio de Janeiro (1932-1935),
Pernambuco (1932-1935), entre outras, separaram-se então, como num divisor
de águas diferenciando-se nitidamente as duas grandes correntes que se teriam
de defrontar, daí por diante, nas maiores campanha em prol da cultura e da
educação nacional, nestes últimos quinze anos. 1tlc marca efetivamente, se-
gundo j& observamos, 'um período agudo na fermentação de idêias com que,
nos d.omtnios da educação, já se processava um movimento francamente rcno--
dor igual ao que se manifestara na arte e na literatura que culminou na
Semana da Arte Moderna, realizada em São Paulo. Em outros setores da vida
social r pirava-se a mesma atmosfera de batalha. ~s Foi, porém, na reforma
de ensino empreendida no Distrito Federal, em 1927-30, pe o autor dêsse in-
quérito, que se acentuaram com mais precisão e vigor as grand linhas dire-
•~cs, e tão nl •damen e definidas, que jâ se anunciavam naquela ampla son-
dagem de opmião e orientaram as mais importantes cntativas de renovação
,e recon trução educacional no país. Por essa mesma ~poca, cm 1927 FRAN-
CISCO CAMPOSe MÁRIO CA.sASSA:NTA, em Mina Gerais integrando- resolu-
tamente no movimento renovador de que assumiram a lider ça nesse Estado,
realizaram uma das reformas pedagógicas de maior alcance, 211com que e deu
um notável impulsão à instrução popular, s renovaram o pro ramas pri-
mârios s enfrentou o problema da formação e do apedeiçoamento do p(O-
fessorado primário.
M s, certamente, pelas formiâáveis fô:rças morais que mobilizou, pelo mo•
vimento de idéias e de opinião que desencadeou, pela rapidez com que se di~
fundiu e, obretuóo, pela audácia e largueza de sua construção e pela extensão
do campo qu abrangeu, 27 a reforma do ensino no Distrito Fcd ral (1927-30),

l!3 A duc,..,~Bo. revi ta lnCJlSl!ll~


J Miro e d riit (Xlr" Jou~ At1ousro, jornafuta.
l dcfa,, chi '
e polítl~. que foi IIOV
~ "ºdorerdo••u, ~ • íLLl'1dl!d e:r:ra
1922 no Rio
Rlo OTandcdo Norte e deputado
íedaal por Bat do.
• FUHA1ft>O 11• Aa>BDO, A ed=af,ào públi~ .:n Slo Paulo. Pro e dl . JDq\l&ito
"0 Estado de Slo Plwlo", eu, 1926. S&it Btasiliaua, vol. 98, Componh Editara a.dona!, Silo Paulo.1937.
Fg õ1)() o~ A:Ivr:110.
A 6/u=~o pí',b/i= em ~o P uJo. Prob•- • di u . Jo urrrtro-
", p . XXIX, ~ Paulo, 1937.

•• 11'.aAltCUCO
Cuaos, Bduts.,;Io e cuUura. ]otl. OI pio Ed.itOn, Rio. 1940.
'J7 O que Cal• cam~ que~ cosa rd~ I.OVUIIÇO Fn.R , um doa
• •t.en e .-&~ depois ~ r:-efc:riJ'fl.lÓblaÇÃl> 1.Uonl e matnul cm q ae mcootr•nm
no Distrito l!'edl:nl, quando o práessa: vindo ck Siio Paalo -.umlu " ~ do no " propõe
,-rpiu.a.. " u o ~ofe.« que i:a de São P•olo (c:omenia Lo111t&NQO P:lulo) olo ifttln:iidou com • ea-
d m.elca dcmomtr•d~ Tocado de um imp~tuOIO idd,.,,..., o • l'llllKtJIIDO 11& A.nvaoo pn,p6t om
• hft-6icD!ar :dlo total do aparaho, desde ~ ·ai:u1,ar l 110ffll61.r l&odo tamb&,o
.. l tltu profi ana do D' trito. E.iu proposta que COGatl ·u u a.oto.,,.-qj :o, lmc!.t:c cxplieado
.- dd""1ldo por tle ~te comiuões do Camdho Mua.idpal, ru 1onir ■ multDI pcltl ■:w!Ad• que emcrrav•
ou pda lo~enu.14adede• ltfuunaa pra--._ o Coiac:lho aceii:ou cm • r~ a-lhe, pela
A DESCENTRALIZAÇÃO E A DUALIDADE DE SISTEMAS 385

foi, de tõdas as que se realizaram no país., a mais vigorosa, a mais revolucioná.ria


. a de maior repercu - o, compreendendo no seu raio de influ&lcia q todos
os Batadoe. Foi por reforma, - "uma verdadeira revolução que ae operou
o pais' n opini o de LioN WALTHER.do Instituto J. J. Rousseau, ou. no
julgamento de AD. FERRI&RB, diretor adjunto do Bureau Intcrna.cional de
Educação, "uma das obras mai notáveis de nosso tempo", que despertou,
n.o Brasil, consciE:nciaeducacional e se inauguroll uma nova polltica de edu-
cação. "A sua fôr de r • ência e de expansão a reforma de 1927 a cztraiu
antes de tudo, como já tivemos ocasião de escrever, de aua idcolo • clara,
firme e francamente reoovadora, ~ ~ código uma obra de síntese, afirma-
tiva reconstrutora, inteiramente dominada por uma nova concepção de vida.
O sistema ea-colarque a reforma instituiu, procede de uma filoso_fiaque lhe cor-
responde, dando-lhe unidade de concepção e de plano e fazendo passar sôtire
êle, em seu conjunto e em todos os seus detalhes, um largo sõpro de renovação
pedagógica e social. lt nesses novos ideais de educação que se t!m de buscar
os prindpios fundamentais que presidiram à organização do istema escolar,
ajustado como um aparelho técniço, no seu conjunto .sistemático de medidas e
instituições (escolares, peri-esco1ares e post-escolares), aos fins pedagógicos e
sociais, claramen e formulados, a que se propôs servir. A radical transfor-
mação de processos em que importou a reforma, proveio, pois, da nova finali-
dade (social, democrática nacional) atribuída ao sistema de educação e, por-
tanto, da própria filosofia de que e desprendeu". 2 Não foi uma reforma "de
superfície' , de catá er administrativo ou de pura cenovação de técnicas, ma
uma reforma radical, fci cm pcofundídade. e montada paca uma civilização
industrial, e cm que, ornando-se o sentido da vida modem.a e das necesaidadca
nacionais, ae procurou r lver questões de técnica cm função de uma nova
amcepção da vida e d cultura e, portanto de novos princlpios e diretrizes de
educação.
De car: ter local nas sua orig~ mas nacionais nos seus propósitos e
nos us efeitos, e reduzidos ao ensino primário normal e técnico, a que aliás
a Carta Org ica do Oi tri o Federal limita~ as atividades do gov&no, no
domínio da educa o pública, essas reformas, porém, a de Minas Gerai e CS·
pccia1mente a do Rio de Janeirc, marcavam, pela sua significação e ua& re-
percussões, a fa e mais importante do desenvolvimento de uma polltica nacional
de educação. A idéias renovadoras que adotaram e sacudiam o sistema e •
colar nas suas bases, deviam circular em sentido vertical como uma nova seiva
que subisse do ensino primário e normal, para atingir, provocando movimentos
de reação, as superestruturas do sistema escolar, - o ensino secundãrlo e su-
perior, que se mantinham até então rebeldes e quase inacessíveis à corrente
de renovação qu se propagava pelo país. Mas antes dessa circulaçao vertical,

v .. a ..,., aatorh&d da maioria e minoria, .. clogi05 • que tinh!l direito. O projeto pa e>u primeira■ dil•
c:,a6a; 11.11tc:n:dn, podm, rompe• ..,.;ori,a em desabotinada opc,■lçlo idBu qac dante■ plaadir .& 111'
o Sr. FUN.uroo ti ÃUV&DO,d 010 d íll.Rr lldtniniatn,çio e aAo poUtk,a, repelira M tr&OMI I qvc N lhe
ofereciam • tr6co d.a ■pronçlo ri-1. B Yiu•.c entio uma cola ía=-nti■aima: • mi.,-ia • p pdo prQjl!tO
&CWffD&ml'!Dtal. a im a ti•lo, e ■ opuriio p6blb, já pd00i 6qioe do prof-.. o, Jl pelu ->dai~
iatmectu■b,. cwcmJr. maioria pol de■ do l~o do Diamto. o Sr. Fw.llBAJIJ>O DS AQV'IJ)C) fula publ
-. nat. que ere um daal'lo l om.bridade d .. homena qw, o c<>mpUl>h,■.tn: ºSe • morma en. boa, • altan
o. mtereaa p6 • •cw ;R defrituoa. que- a.~; lmprat.hd. q •
d ver'.- h per II e para • n.ad■ pedia, nad.a a,retel>dia e, po.- ino mamo. a:lo tnin an coacha
era ac cn

.._,.,.
de e■p6:ic uma. A ca pa.Dba d• ünpn:m■, xm ~ de lim '6 jcmw. foi -4mir6 A A.-oclaCSO
de Bducaçlo, a LI de Dd"aa N ·a,oa1, o Rotaty ctub, - par• citar apma,, .,. o: • d msicr alo
~ n:iamffttac■ m pela ~ du dtiu do projetn. A Coafcd:aàa NIICi I d Bd\lC8'IO q pcl■
priz,,<:,m. va • em Curitiba, por oc:a-'io d.a f.-c maia aguda da camp1oba, emitia o v«o .,...._
e mtm16■tko pela obnt que nJo via apeou o apenciço■mcnto d.o eosioo - capital paf do maa - o

..,, ed .,. q11 a n:(cnoa proJctloda devia abri,- ao campo da edncapo llllàoo..i. V af1Ml • -.ildad
e • c:wtura e o o lllu.aids-1 dan .., apapr du IURS o Pl"!>idP aprondo l ". ~ço ~o.
O Bnai.no no Di t~,to Pad ral. A arma Funaodo ck Aa:vt!do.. ln ••o Solo P " U de
junho de ata).
18 ll'DN DO 1> ABY&oo, No oa,nil\hO e novos ffrtg, A nova pol • d ucado ao Bnwt.
Com.p. Sdi-■ N onat. Slo P.o.lo, 1931. p6&,. 19.

-25-
385 A CULTURA BRASILEIRA

naturalmente mais lenta, elas já começavam a desenvolver-se em sentido ho-


rizontal difundindo-se pelo país, sobretudo do principal foco de irracliação que
era o Rio de Janeiro e alargando cada vez mais, por div E tados, o seu
raio de influ!n.cia e de ação. Para êsse fim concorreram a Conferências Na-
cionais que a Associação Brasileira de Educa ão promoveu nas capitais e se
iniciaram pela de Curitiba, em 1921, isto é, no mesmo ano em que rompiam no
Distri o Federal e em Minas Gerais os dois maiores movimentos de r ovaçao
colar que s p.roduziram, no Império e no perlodo r ublicano. As conferên-
cias anuais, convocadas por essa sociedade de educadores, aproximando pro-
fessores de todos os graus de ensino e de todos os Es dos, criando uma atmos-
fera favorável ao debate de idéias e promovendo a expan -o dos ideais das re-
formas mpr endidas em alguns dos principais centros de cultura, atingiam
objetivos eminentemente nacionais, concretizando o sonho de seu fundaàor
HEITOR LIRA, quando pensou em tornar móvel a sede da As ociação que, no
eu plano primitivo, deveria reunir-se anualmente cm um dos Estados, "ora
ao norte, ora ao sul, ora ao centro, de modo a realizar uma verdad ira trans,.
fusão de id~ias e de sentimentos' 1 ,20
Para apreciar devidamente a função quase singular que exerceu a Asso~
ciação Brasileira de Educação estabelecendo entendimentos recíprocos e pro-
vocando por tôda parte um despertar do espírito e a con&ciência de urna uni-
dade poUtica, bastará lembrar que, no domínio essencial d educação popular,
o governo da República só teve, em 40 anos, duas iniciativas mandando em
1918 fechar escolas alemãs no sul e subvencionando o ensino primârio no Pa-
ranà, Santa Catarina e Rio Grande, para combater, no ioterêsse da unidade
nacional, a infiltração germânica, e convocando, em 1922, no govêrno
EPITÁClO PESSOA, uma conferência oficial para estudar e intervenção da União
no ensino primário. 3º Essas reuniões periódicas, interestaduais, "aproximando
educadores de todos os Estados e congregando-os em diferent centros de cul-
tura do país, contribuíram evidentemen e, como j ob ervamo , para a aqui-
ai ·o de pontos de vista novos, a reconstrução de opioiõe e a expansão do
movimento de renovação do pensamento educacional br ileiro. A idéia de
uma nova poütica educacional (escrevia em 1932) des nvolve•se cada dia mais
sob o influxo dessas aproximações e de tentativas locais de r organização, com
o ritmo e a fôrça de uma corrente que vai cavando o seu leito e carreando num
impulso irrcsis vel tôdas as fôrças vivas do magis ério nacional. 31 Poàfamos

2i Jl'AAMCl'BCO
V'JCNÃNCIO
FILHO, l!.du a~o, lV. ln "Cultur11 Polftlc11'', •oo J, o.• 4, juuho de 1941,
p4g, 255.
30 Enquanto ,., debo.tia a velha questão constitucion1J. - q11e e prolon11ou por todo o tempo em quo
catevo tlm vi,ior • Con1tituição de 91 -, co[)tinli!lVtlm • ílc,re.«r em vArl01 S.tovlot do 1ul 11•cacotu alemlla
tt■Jl1rw , cujo ensino elcmentar e ttcuo<!Ario ioe- mfulstrav& em U11ua eatt•naelr• por profouorcs c,trangelroJt.
A açola prim6r\a, uc E por tltd• psrti, o fermento maia ativo dn unld•d n•clonal, p rman la, em divtta0e
~t•d , nlo ,6 1ujclta a influencia estranhas mu iotcitament~ ubmetí •o c:ontr61 de ouu • n.ot . ~
■ ltu lia 110õm 1 deconcntc jt, dos progr_.,,. dessa, es<:01••·J6 da 1ustnd quu 'li, em cert • r-eiioes e ci-
d de,. dt e 1111 b ll•lru. tomaY11,.., ceda va mai, gmvc e d luçi e■ • e r:nn• dlíldl e compleu, i especa
de que 01 Juri,tu in upretes a. Constitt!içila verifica....,.,,. pou_ibllidedt cons lllc: onal d o gov&no federal
Intervir no m1lno pmn6rio doo Estados. ainda que para r lv,.,. probl mat ln mo.meote lipd à unidA<le e
dcíua Meloa.ais. LINCOUf, quando na guerra de stteslio, foi fruo do pcw partld ,,,. polltk:OI • r tabclec.e,- o
r lme •onnltuclowol. eonta...., quer~""• rct ndo: "A Unilof mai1 nlip.a do t)IIC • Comtiruição'". O
rrill mo jurfdlco no Bra l innrteu os mmos do pl"Obkma. pondo o.ncr6pu1 na derca d• Conni íi:lo de 91.
ecima d,. intu 1uprcm~ da União... Oepois de~ rc/crir li atl,o lc e. lotc .... mcntc ..JmU..dan realized$
com 111•ndc ebundlncla de •~ pdm ame-ic:aDõt do nortt, o6o no lzn.J>«r•ntc de to<\19 8-dm.
Impor fc de rttrlt6rios. El:>""1, - umn hotu o P c{f"-, d q podcr..,..m tm 1 8 e
tav com a imtruçã:, primária cm 1910 m,,u do q_W! o &cada de SI" P•ulo -. e.-.mta AFIIÃNto
DIIICilfC ,_ e,cnlpulo. constituciaaa. de que dd dom partldO! blieano,.
f><'QU m.. , de Ha-Yal. pare 1 000 criaoçu • lo• . rlvain ,u n dlti 17 600 ja-
• SOOchincas. S 300 ponµcul!$M. 3 300 bava.laou e 100 ma ç , " a.cm.r, - coaclu, A-'tl.Nto
o, - OI mc:ai,.... "'-""' CIC:llas. fazem emericanor. qu co tr9 " - que tan rndindtta de
OCIII Jtad • n,.u driJal.mca ■ A,,!,,m.nha e a ltãfi■ illmvlrClll cm l' e. rnciaGaJ!do
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., 36.
A DESC NTRALIZAÇÃO E A DUALIDADE DE SISTEMAS 387

estar e, de {ato, ainda catávamos longe de uma política nacional de educação,


~jo.a prindpios fundamentais informassem de alto abaixo a organização de
todos os sistemas escolares e que atendesse não s6 às exigências de uma soci~
dade nova, de forma indu.rtrial, em franca evolução para uma democracia aociat
e econbmica, como tamb6n às condições espeáficas do meio social brasileiro,
ainda nao profundamente atingido pelos efeitos da re'volução industrial.
as grandes reformas e as oonfer!ocias pedagógicas em que palpitava ama nova
oon~ão de vida, e que pTocuravam romper os círculos restritos de certos
tipos de ensino oo de regiões determinadas, para abranger o siste escolar
geral, em todos os ua graus, indicavam, através de dificuldades • cnsas, a
"marcha resoluta para uma política nacional de educação. A unidade orgânica
dessa polf tica escolar, ou deveria partir do alto e ser imposta por uma revolução,
nos limites e egundo as direções de uma política geral, ou se teria de elaborar
lent~cnte, sob a pressão dos fatos, quando ~ fusão espiritual do povo tive se
atingido maior grau de intensidade, unindo mais intimamente essas sociedades
esparsas, afiliadas pela língua e pela religião, misturadas pela mestiçagem e
pelas migrações internas, mas ainda não anastomosadas pelos comércios intra
e internacionais e pelos empréstimos que pressupõem, de novas écnicas, novoa
hábitos de vida e novos ideais, correspondentes a um novo tipo de civilização.

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3 - Anni da Conferblcia Inta-E--.taduat do Ensino Prim&rio, io, 19'22.
CAPÍTULO N

A renovação e unificação do sistema educativo

O movimento de renovação educacional •e sua repercussão no Brasil - A


:reforma de 1928, no Distrito Fedeieal - A revolução de 1930 - Cria-se o
Miniatm.o da Educação - A :reforma Francisco Campoe - A reorganização
do ensino .secundário e superior - A questão do ensino :religioso - A Igreja e:
o Estado - O Manifesto dos pioneiros. da educação nova - A V Confer~cia
Nacional de Educação - Pela reconstrução educaciopal do Brallil - Conflito
de tendências - A política escolar do Distrito Federal (J932-35) - No\>a,s
in.stituições cultw-&s e cientfficas - A fundação da Universidade de São Paulo
- A primeira Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras - A Universidade do
Distrito Federal - Constituição de lli de julho de 1934 - A ~o quanti-
tativa do ensino -SCa1Ddário-· Processo de democ:rat:iza.ção- Os i:,.rimeiros
professores de ensino secµndário form(idos no Brasil - O regime implantado a
10 de povembro de 1937 - Tendtnoias à unificacão do ~tema educativo -
Renascimep.to do espírito nacionalista - A Universidade do Brasil - A Facul,
dade Nacional de Filoaof'ta- Os novos elementos de ezpansâo e unidade cul·
tural - O mcrrunento bibliotecário - Rádio-difwião e c:iJlema educativo -
A atividade cultural do Ministério da Educação - Para a defesa de nossas
tradições artíi;ticas - A organização dos serviÇOSde estatística nacional.

T EM-SE considerado como um ponto culminante, no movim.ento de reno-


vação educacional n~ ~rasil, a ref~rma _de_1928no Disf:?t~ Federal, ~ue
se tomou o foco mais mtenso de UTadiaçao das novas idéias e técmcas
pedagógicas. Alguns historiadores da educação não hesitaram mesmo em
afirmar que, com a reforma consubstanciada no decreto n. 0 3 281, de 23 de
janeiro de 1928, se entrou resolutamente numa fase nova da história da edu-
cação nacional.! Seja qual fôr·, porém, o ponto de vista que se tenha de adotar,
na apreciação dessa reforma, é certo que, segundo o julgatnento de autoridades

1 "Em visita híi pouco feita ·,a divenu· escolas do Distrito, ._ agora renovada, - ~ então o
Prof. LoUUNOO Fu.Ho, - tive a impraoio de que do 16 está em marcha a vigorc>911. idtia da tramfon1U1çâo
dia diaAmlca do enamo, tmperrada t1U1JJA rotina de: da:&>i.ae, JJ!U a coqvicçlo de que a tranaforo:i.-~ 1ttalttial.
do ·•parelho cecólar oe fará de um mbdo quaae completo na CQff.,nte admlnistrai;lo. Ülidllm..-e °" pceparativoa
de ca,atruçiio de cmco grandes pr&li011 para crupc,a CIICOlarc:a.Gfaam- 01 ~- da eecola nonnal. que
-•• aeganQQ o proj$ aprovado, o maio,, e o IIIIÚll bem instalado instituto do 1ea«o q ~ do Sal. Re•
-R•k: o mobiliúio e 011utemlli011 diditiC09,., &, outra coi• nil.o f'12eae a ref<rma, i- ji teria maplfico. Ela
(u IIIÜ, AO enfallto, e de modo eçleudido. Po.- deliberação oficial 11'.CÚnem•oe011 poor....,..,. em c:unoe de c,ape.
cialiaç4o. B em CW'aOI- awclliatm, a Aloociação Brasileira de RduCll&lo realin. padeiltémente llDIA dae fwlçõn
UDivereiUriu que a Uuiviouidalle do Rio de janeiro ainda nauiniciou: & da comW>icaçlo da cultura mpcriot
ão pt'Of~o primúio; que aJ)TÍJJlo,-aa eu ■ cultura, al■rv:a as 1\181 viatu filoaóf"1Ct111
e euaaia aa.novu dC1CObertlo.t
d'a tá:nka cientffi<'a... O Sr'. 'Flr:1uu.i,oo ns AffVBOO te.o -.bido agir Cot!l ni.-o de me.tre, e os del1loealb,e ~
pician,m opom111ida<1c:a que nem ■empce a,parecem junta,,; decido füme d!I-Prefeitura do Diatrit,o em fazer admi·
~ e uio pclftica;.fermentasão de idtiu, 110 eeio do profeaorado, que YÍDha M!tldo preparada p,,la ~
J!ltaUe:lt■ de Eclucaçlo, e j/, illf',ltrada :na administração aumior atE certo ponto; c011.'iaoça em brev,: cooquiatada
ilõ pcU,Ji<o e do profe.eorado... Nilo b.à dúvida de que: ..a obra marcará uma {ue nova -Ot>· l!D8iao popular no
390 A CULTURA BRASILEIRA

nacionais e estrangeiras, ela marcou, nos doaúni da educação, um período


Tevolucionário, não só pelas>-idéias francamen e renovador que a inspiraram
e que, por ela, entraram em circulação, como pela fermentação de idéias que
provocou e pelo estacío social que estabeleceu, de trepidação dos esplritos, de
sõf'Teg impacíenci e de aspirações ardentes. Nenhuma outra, de fato, até
1930 im rimiu ao nosso sistema de educação uma direção social, tanto quanto
nacionalista, mais vigorosa, nero levou mais em conta, no conjunto como noa
seus detalhes a fwição social da escola; nenhuma outra a endeu mais ao enri-
quecimento interno da escola e ao alargamento de eu raio de ação; nenhuma
outra procurou articular mais estreitamente as atividades escolares com a fa~
mflia, com os meios profissionais interessados, com a vida nacional e as neces-
sidades e condições do mundo moderno. Atribuindo novos fins nacionais,
sociais e democráticos, ao sistema de educação, procedeu o reformador à re-
novação das técnicas e dos processos que deviam variar, como instrumentos,
cm função dos objetivos que ~e propunha atingir e que atuavam sõbre todo o
conjunto, e se esforçou por fornecer, pela reforma, às escola de todos os ,graus
e tipos uma base concreta, de serviços técnicos e administrativos, para uma
educação mais eficiente e que .realmente se estendesse a todos. Assim, pois,
aliviando a escola do pêso morto do ensino tradicionaJ· reagindo contra os fins
puramente individualistas da escola antiga; erguendo ao primeiro plano de suaa
preocupações os princípios da ação, solidariedade e cooperação social; que-
brando, para articulá-los uns com os outros, as barreiras que separavam 06
diver s ensinos, e introduzindo novas idéias e têcnicas pedagógicas, a reforma
de 1928, no Di trito Fed.eral, inaugurava efetivamcn e uma nova política de
educa o no Brasil.
O que por essa reforma. baseada nwna concepção dcmocrá •ca da cxis-
t cio e no respeito da pessoa humana, se pretende alcançar. n.a capital do
país, ra aquela "educação aniversal a que se refere J. DEWEY e que põe ao
alcance d todos as suas vantagens e satisfaz à imensa variedade das exig ncias
sociais e das necessidades e aptidões individuais ou, para empregar as suas
p la s ' o panorama de uma vida mais ampla e rica para o homem, em geral,
uma vida de maior liberdade e de iguais oportunidades para todos, a fim de que
cado um possa desenvolver-se e alcançar tudo o que possa chegar a ser". A
vigorosa afirmação dos principias fundamentais por ue se norteou essa re-
forma; as polêmicas apaixonadas que se levantaram em tôrno dela e o movi,
m nto de idêias que suscitou, prpduzindo uma ruptura da unidade do pensa-
mento pedag6gico, dominante desde o Império, deram-lhe um tal impulso e
tão rande poder de desenvolvimento que pôde repercutir fortemente, co-
lhendo-os no seu raio de influência, sõbre diverso Estados da União. Na tem-
pestade de protestos e aplausos, na corrente de entusiasmo ou na avalanche
de criticas que levantou por tôda parte, não e p e deixar d reconhecer antes
o choque de conflitos ideo16gicos do que wna simpl reação diante de uma
reforma com que o Br-8$il se integrn,va ao movim to de renovação escolar
que e vi ha desenvolvendo em alguns países europ u e am ricanos. 1 Não

il. A ~o que prop, da e,,co!.a primirú, (qu .. niia f • do eotino, mcr livrnco ou icltdccmaliJl;a)
prúnàm """• cm donrmeotos oi-.cials oo ~ A u do '-lho". • "e,cala-com1111idade''• o
\O'lwllta de wna nov• ~ - do oapoatm c:apiboia utraordlniria rc~ tEcalc:ae 90Cis1
do e 'ao... (Cft, t.ovu,rco Fn.ao, O eiu,"no no Dist.r-ila P<>dtU#II A mo, lrcroa.o.do de At>:vodo. ln
"'O K,t,,do d Paulo'', edição de 15 de jm,ho de l!Jll .

o que ~ todo,, os que tiveram oponumdade de obra, que ra; cntl.o cDlftl!uda
e t b odoo peda& polm u,u>dcs jornais ~o Rio Janeiro. PDI' bcime cmiQa1ta, CIU'alllcina
e ud •:b, por RIIUID,I• d11.1maiores airtondadea -e10, dominl<>1d,o educaçlo. (V . .obre o Lo!nPl'Ç0 Fll:,BD,
O tuino no Di■ tr/to F■d rAJ. A reforma Perna.ado de lucwedo, /n "O Betado de D P■ulo"1 15 de junl,o
de 192 : ltV&aMDO e... cnvs:u,. d.ixun<> p.-onuaciado" 21 de drsembto de 192!1. em nome Crooloa Pedll,:6-i&:11
da
pdia NOT'", .., 1.ez i1111uc,irada• E~ção Podq6it«,a do D1 tnto Cl'lll. fo " ct:ün dei Bducaç51>
1>6blicl", abril-jwiho de l.930, Rio de JtmVO, Bcllllil,p6cw-2S6--2St: MAM:IBI. BU.Nd.DU (cx-miailtro do Uruc-
A NOVAÇÃO E UNIFICAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO !Ull

ae comprometeu, com ela, apenas a posição dos rcformadorct presos a fór-


mulas t~cnica e a um tempo dogmáticos nos seus princlpios e empiristas na
aua ação; foram os próprios sistemas escolares tradicionais que se abalaram
nos seus fundamentos. Certamente, com a reforma do ensino de uma cidade.
e constrangida pela Carta Orgânica a encerrar-se nc'.»slimites do ensino pri-
mãrio, normal e profi 'onal, nao se quebrou, nem se podia quebrar, casa uni-
dade que existe cm cada cultura, dando-lhe um caráter próprio. como a forma
e o espírito de uma fase dessa cultura em que se modelem as novas aquisições
que surgem ou são importadas. Nem as suas repercussões fora.m muito pro-
fundas a não ser CDl alguns pontos do território nacional, mais ao alcance de
auas influencias. Mas, nas regiões de população mais densa e de uma civili-
ração maia industrial e urbana, criaram-se por êsse e outros movimentos sub-
seqüentes de renovação intelectual, artística e pedagógica, diversos centros
culturais que tiveram como ponto de partida o Distrito Federal, Minas Geraia
e São Paulo (o centro-sul) e de que se irradiaram, por algumas zonas culturais,
na perif cria, essas novas idéias e tendências tanto mais fracas e menoa generali-
zadas quanto maia ae distanciavam dos principais focos de elaboração e de
difusao da cultura nacional.
O mo ·mento de reformas escolares, que se empreenderam, em 1928, no
Distrito Federal e de cujas diretrizes e realizações nos fornecem completa in-
formação vária obras e documentos. 3 não pode ser estudado isoladamente,
mas no complexo de uas causas, ligações e conseqüências e, portanto, como
um dos "aspectos" e uma da fases do pr~ revolucionário que se de$C:Dvolvia
no pais, desde 1922, e que devia desfechar na revolução de 30. Pode-se admitir
que a reforma de 1928 tenha sido, como já se escreveu, ' um movimento ideo-
lógico de grande envergadura que abriu para o país e para o problema da edu-
cação nacional perspectiva in ciramentc novas, colocando o Brasil na corrente
de idéias defendidas pelas maiores figuras de filósofos e técnicos de educação".'
Mas se ela foi "a geratriz do grande movimento renovador da educação no
Brasil", foi também uma das manifestações ou um "sintoma" do novo estado de
coisas que se estabelecera, sob a pressão de causas econômicas, sociais e polf-
ticas, e dessa fcnnentaç o de idéias que, depois da guerra de 1914, se ala ava
por todos os donúnioa culturais. A mobilidade e as variações da população,
devidas não s6 às correntes irnigrat6rias, mas as próprias migrações internas,
especialmente para a região meridional; o surto de industrialismo dos Estados
do Sul e, sobretudo, de São Paulo, para onde já se deslocara o centro de gravi-
dade demogréfica do pafs, e para os quais afluiu a população atraída como por
um ímã irr sistível, polarizado em melhor padrão de vida e salários mais altos;

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p._ 27, Rio 44 Janwo, 1938.
92 A CULTURA BRASlLElRA
-------------- ----------
as evoluções da vida econômica e a agitação de id i s que e propa avam da
Europa e dos Estados Unidos, acarretavam tranaformaçõc da mentalidade,
como deviam dcte:nninar as de instituições e crcnç características da vida
br ·tcira, criando uma atmosfera francamente rcvoludonária nos grandes
eco urbanos. A Revolução de 30 foi, n processo revolucionário, uma
das fases culminantes e decisivas. Preparada e desencadeada, porém por uma
aliança de grupos políticos de tendências as mai diversas, que s disputavam
a primazia foram sendo, uns ap6s outros, anulados pela própria revolução,
e não trazendo, porisso mesmo, para impô-lo e executá•lo, um progi:ama politico
definido de ação escolar e cultural, ela não eve uma orientação unüonne,
mas teve, d inicio, dois efeitos de grande alcance, no domínio da cultura e da
educação. Intensificando a mobilidade social ou, por outras palavras, a mi-
gração de pe8808S,como de idéias e de traços culturais, de um grupo ou de uma
class . social para outra, e elevando ao poder Hhomens novos", nem sempre com
idl:ias firmes, mas com menos compromissos, trouxe, entre outras conseqüências,
uma rápida mudança social, a desintegração dos costumes tradicionais do velho
padrão cultural e maior complexidade nas relaçõe sociais; e, rompendo as
linhas da clivagem social entre os vários grupos e cl s s, contribuiu podero•
samen e não s6 para uma ' democratização ' mais profunda como também para
um intensidade maior de trocas econômicas e culturai .
As idéias novas, já em circulação, difundiram- e com mais rapidez quer
pelo impulso que lhes deu a própria mobilidade social, favorecida pela revo-
lução e por sua conseqüências, quer pela demora na elaboração dos princípios
fundamentais de uma nova politica nacional de cultura, entrando em contatos
freqüentes que facilitavam tanto as fusões e in erpenetraçõcs, como oo con•
flitos de culturas e tendências diversas. Nessa atmosfera de eferv ência de
idéias, LoUR NÇO Fn.uo que fundara em 1929, numa casa edit ra de São Paulo
a c:icelentc Bibliot ca de Educação, publica a sua lntrodu,~o ao estudo da
Escola Nova (1930), - o melhor ensaio em língua portugu brc as bases
biol6gi p icológicas das novas teorias de educação; e o autor desta obra
que cm 1929 justificava em um de seus livros a reforma do ensino, de que teve
a iniciativa e a responsabilidade, no Distrito Federal (1928) traça em Novos
caminho novo fin5 {1931) os princípios por que se orientou a nova política
de educação, adotada na reforma escolar da capital do país e funda em 1931
uma Biblioteca Pedagógica Brasileira, de que as Atualidades PedaAó,icas
constituem uma das sêries principais,5 Nesse mesmo ano, tr s representantes
do pensamento católico criticam acerbamente as novas tendencias em um fo.
lheto P daAoAia da &cola Nova, editado pelo Centro D. Vital de São Paulo.
No domínio das realizações, sobrepujam a tôdas as outras iniciativas dos Es-
tados, as reformas parciais empreendidas em 1931 em São Paulo por LouREtfÇO
FILBo que reor.ganiza e d~volve os serviços técnicos, entregando-os a a_s.
iatcn es especializados· define e articula melhor os serviços admini trativos,
instala Biblioteca Pedag6gica Central; faz publicar sob o novo título de &-
cola Nova a revista mensal que se editava sob o nom Educação, reservando
cada um de seus números ao estudo especializado de determinado assunto;
reform o ensino normal e profissional; in "tui o uso dos testes para a organi-
zação da elas eletivas e imprime vigoroso impul o ao cinema ducativo, aos

V. Bibliolf!Clf d• EduCll~o. fUDdada cm 1928 e arp.o' pc LoullWlço tUIO. At\lalmecte


o wnce. Edíun pr~ Comp. Uclboramento. de Slo Paul • 1zmb Inc:,o,rp«aca),
P•lllo- ; .Atu•Udttd PedaP,gicas . ..&ie llt (j6 <"<>lll 30 volwn ) da i oc«a Pcda16aka Bruüeira
.P.B.}, fund•da cm 1 ~J e dirig:id. ~ FxluiAJ<DO oa Anvsoo, titllf.da de cinco Krl.ca: 1. Litefttura
la(iu,til; 11. Livr09 OfdAtleoe (INlllll&ÍI, livr.,..tei:to. e Uvrot-fcmtca ; m, A Hdlldn cdaaõtlc:u (deatinada
l íarmaclo cultural e praflaiocllll do p.-ofes:10r); IV. Iouciaelc> Cle:nt:IJ'ka,e V, Bt illal:ul. Compaohill
S41t- Nacional, o Paulo, 19Jl-l'M2.
A RENOVAÇÃO E UNJFICAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO 393
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serviço de esta ica e às associaçoes periescolarcs. 1 Embora tenha ficado
muito curta a cxperiEncia (1930-1931) para que se pud e estimar com pr -
cisão o conjun o de seus resultados, foi certamente a reforma Lot1ll ço Fn.Ho,
cm São Paulo, no primeiro ano do govêmo revolucionário, uma d iniciati a
mais important integradas no movímento renovador da educaçio.
Mu, com cr bte. - o de facilitar e intensificar a citcul o de id • s
e as trocas culturais-, um dos efeitos imediatos e um dos maia fecundos da
Revolução, que contribuiu para a propagação de todos os ideais rcvolucio-
nérioa, tev.e ela outra conseqüência que não podia ficar também sem profunda
repercu o nos domfnios da vida cultural e pedagógica do pah. Trazer, não
trazia a Revolução, que desfraldou o estandarte liberal, um programa de po-
Utica eacolar nltidamen e formulado ·ou mesmo iml)lícito num plano de reor-
gani.tação nacional que se propusesse executar quando a armas vitoriosas
concentrassem naa mãos de seus chefes os poderes da Nação. Nem prevalecia,
a não ser em alguns dos grupos revolucionários, de tendências mais ,avançadas,
a id~a de que a posse do poder formasse a condição suficiente para grandes
transformações eoclaia, econômicas e pedagógicas. No entanto, já se havia
aiado uma conaci@nciaeducacional; e algumas aspirações de cultura, Cômo a
criação de um Ministério de Educação, a reorganização do ensino secundário
e superior e a instituição de universidades, já se integravam no programa de
uma corrente bastante forte para deixar de influir sôbre o gov&no revolucio-
nário, e encontravam, no novo ambiente, as condições mais favoráveis a su
execução. O Governo Provisório criou, de fato, em 1930 o Ministério de Edu-
cação e Saúde que. segundo vimos, não foi mais do que um acidente cpi •oo
e passageiro nos começos da República, e veio a constituir-se, com a solidei e
os prog:rC880S de sua organização, um dos ministérios mais importan es no
gov&no revolucionário. No eminente reformador do ensino primário e normal
de Minas Gerais, o Sr. FRANCISCOCAMPos,- um dos líderes da Revolução
encontrou o chefe do Gov!mo Provisório, Sr. Dr. GETÓI.10VA.RGAS, o bom m
talhado pc-la aua intelig@ncia e pela sua cultura, como por eu prestígio no
novos quadros pollticos, para assumir o cargo de Ministro de Estado do N e-
g6cios de Educação e Saúde Pública, de que tomou posse no dia 18 de novembro
de 1930, afirmando, na sua incisiva alocução, que sanear e educar o Brasil cons-
titufa "o primeiro dever de uma revolução que se fêz para libertar os brasi-
leiros". A primeira reforma que empreendeu o novo Ministro e, sem dúvida,
a de maior alcance entre tõdas as que se realizaram, nesse donúnio, em mais
de quarenta an de regime republicano, foi a do ensino superior, que FRAN-
CIICO CAMPOS reorganizou em novas bases e com grande seguran a e largueza
de vista
A parte central dessa reforma traçada no decreto n.º 19 851, de 11 de abril
de 1931, e verdadeiramente inovadora de nosso aparelhamento de cultura é
o estatuto das universidades brasileiras em que se adotou "como r ra de or-
ganização do ensino uperior da República o sistema univerai ·o", e s exigiu
para que funda e qualquer universidade no paí , 'a inoorporaçao d , pelo
menos, tr insti ut de ensino u_perior, entre os mesmo incluídos os de Di-
reito, de Medicina e de Engenharia ou, ao invés de um dêles a F culdade de
Educação Cienci e Letras". Esta última partic:u1armente, escreve FRAN-
c1sco CAMPOS,referindo- à nova organização da Universidade do Rio de
Janeiro, 'pela alta função que exerce na vida cultural, é que dã, de modo mai

8 86bl • •dn:imlatncJo de: LoUXs.Nço Jl'11.110 (1!1311--31). v. Anu.irjo do E.:iUJno do &111do d Silo
JllNlOII, 193S-1936, Sio Paúlo - &uil, p .... 211&-3117,
Paulo, «&•Ilhado p,,lo Pror. À. l . Dll A1.Ml!-DM
S9,4 A CULTURA BRASILEIRA
-------------
acentuado, ao conjunto dos institutos reunidos em Universidade, o caráter
propriamente univennt.ário, permitindo que a vida universitária transcenda os
limites do inter e puramente pr-ofissional abrangendo em todos os eus as-
pectos, os altos e autbiticos valores de cultura que à Universidade confere o
ãter e o atributo que a definem e a individuam". A endia-sc dêsac m.odo a
uma viva aspiração, velha de um século, e pouco antes claramente formulada
defendida com ardor em artigos e depoimentos do inquérito brc a in trução
pública em São Paulo, organizado e dirigido em 1926 pelo autor desta obra,
e no inquérito promovido em l.928 e 1929 pela A ociação Brasileira de Edu-
dação sõbre o problema universitário brasileiro.? Não se instalou a Faculdade
de Cieticias, Letras e Educação que se criou por aqu le decreto e devia orga-
nizar~sc como a espinha dorsal da Universidade do Rio de Janeiro, limitacla
até então ao ensino de direito, de medicina e de engenharia; mas, com. o pri-
meiro Estatuto das Universidades brasileiras, se abrirnm o.s mais largas pers-
pectivas não s6 à formação do magistério secundârio como ao desenvolvimento
da cultura nacional sob todos os seus aspectos. O govêmo que instituiu o en~
sino universitário no Brasil, não podia deixar de enfrentar a reconstrução do
ensino ecundário, sôbre cuja solidez e eficiência repousa todo o ensino de ní.vel
superior, profi sional ou desinteressado: uma semana depo.is, a 18 de abril de
1931, assinava o chefe do Govêmo Provisório, por proposta de FRANCISCO
CAMPOS,o decreto n.0 19 890 que imprimiu ao ensino secundário a melhor
organização que já teve entre nós, elevand~o de um implcs "curso de pas-
sagem" ou de instrumento de acesso aos cursos superiores, a uma instituição
de caráter eminentemente educativo, aumentando-lhe para sete anos a duração
do curso e dividindo-o em duas partes, - a primeira, de cinco anos, que é a
comum e fundamen al, e a segunda. constituída de um curso complementar, de
dois anos, d tinada a uma adaptação dos estudantes às fu ura especializações
p oíi.ssionais.
A criação de um Ministério especializado para os •ços de educação e
saúde, e a mudança pela de "educaçãoº da etiqueta ministerial 11instrução" ou
"instrução pública'', com que, nos começos do regime (1890) organizou o
Ministêrio ocupado por BENJAMIM. CoNSTANT, e que sempre acudia, como a
d nominação mais apropriada, tôdas às vêzes que surgia a idéia da restauração
dcs a Secretaria de Estado, denunciavam, certamente, uma consciência edu-
cacional mais profunda e um interêsse mais vivo pelos problemas da educação
nacional. A&reformas do ensino secundário e superior de que tomou a inicia-
tiva o Governo Provisório nos. seus primeiros mese.s,confirmavam as esperanças
de que se transferia afinal ao primeiro plano das preocupações políticas a re-
construção do sistema brasileiro de educação. A agitaçao de idéias que, havia
uase dez anos, lavrava cm tôrno dos problemas pedagógicos e culturais, atingiu,
urém, o seu maior grau de intensidade, não com essas reformas com que se
sa 'sfaziam algumas velhas aspirações já claramente enunciadas, mas com a
r jcição pelo novo govêmo, d2. poUtica de neutralidade colar consagrada

7 PIUllfAICOOot AD.vsoo. A odu°CDl;EopÚblica em Siio Paulo. Prnb e dl loqu&i:to


s-- "0 E1 do de P• o·•. cm l9M.. Taa!1l'â parte. Bo ·ao .aecundirio e 1upcrior, p6p. 2.81-44 S&;e
nraJrlua'na, .,oi. 9 • p. iton N'9oional. São Paulo, 1937; clr. O ptobl m• un_ir NitArio bra.ilei.ro.
1.Dquhito promo-rido pel• Seçlo de Bnsino T&mco e S p:t"lor da çlo B,ull ta de Bdll&la(io. ''A
~=-<1.1:nia,dora - S. A.", n,- o Jm~. 35, Ril>, 1919.
V. Orl•ni• o do endno securuürio I. zx:pos;cJo de • •P" tada ao &-. Cbm
do G""erno Provu6rio pelo Kxi:no. Sr. Mhn,tro de Rstado Dr. P~ c.iom. U. ~ to ia.o 19190.
11 de ■brlt de 1931. m . .Procnmu de eml=. Pub1lcaçio do lawio de 8d e S.6de Pó:
1m N.cioo.al, Rio de Janelto, l931: OtAaaiz11,~So do n•lna eupt1rlot. l. ltl<podçlo de motivoe ■pn,-
iada ao BxJno. Sr. Cbefe do GDYtm.o Provioócio pelo &xi:no. Sr. • Iro dJ, lbtado, Dr. Flu.Hcnc:o ~.
U. Dec:tttD 11.• 19 8S1, e li de 1br-il de 1931;.Fa.i.NOtJCO C.U.ror, Eidur:.oolo • ewture ,..i 4S-S8; Sll-104;
117-119. l.lffll a J Olímp o, Rio de JII.Qciro, 1930.
A RENOVAÇÃO E UNIFJCAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO 395

pela Constituição de 1891, e a instituição do ensino religioso n_asescolas pú-


blica . O decreto do Gov&-oo Provisório, instituindo nas escolaa oficia.is o
-ensino religioso facultativo, que fazia parte integrante e fundamental das rei-
vindicações católicas e da polltica escolar da 1greja, forneceu mat&i.a para de-
bates longos e acirrado aprofundando a linha de demarcação entre a masor
parte dos reformadores, em cujo programa figurava a laicidade do ensino, e os
educadores cat6licos que tomaram posições na defesa de pontoe capitais do cu
programa escolar, e, especialmente, do ensino religioso nas csoolas públicas.
dout::riJlascatólicas em mat&ia escolar já haviam sido enunciadas com vigor
e precisão no C6digo de Direito Canônico, promulgado cm 1917 e ainda maia
recentemente, na encíclica de P10 XI (1929)~em que reaparecem os prindpios
jé. assinalados nesse Código e se proíbe aos católicos a freqil eia àa escolas não
a6 bostia às suas crenças mas mesmo àquelas que tivessem por programa a neu-
tralidade escolar em matéria religiosa. A Igreja que se havia mantido em ati-
tude de espectativa senão de desconfiança, em relação ao movimento de r •
formas pedagógicas, lançou-se na batalha, desfechando uma ofensiva contra
oa últimos reformadores que aliás nunca admitiram "f6sse permitido a08
professores ofender, de qualquer modo, os sentimentos religiosos dos alunos'',
mas cuja atitude, em face dessa questão de neutralidade escolar, atraia sõbre
eles a suspeita, raramente fundada, de defenderem doutrinas materialistas
ou cztrcmadas.
!ssea dois grupos entraram francamente em conflito, não s6 quanto a
pontos de vista doutrinários, reJativos aos problemas pedagógicos e às relações
entre o Estado e a educação, mas particularmente quanto à execução do decreto
.Obre o ensino religioso qu.c ocorreu a princípio numa atmosfera carregada de
suspeitas e de prevenções. Em 1931., publicava o Centro D. Vital, num pe-
queno volume, uma série de artigos de combate, sob o título de Pedagogia da
&cola Nova,· TRISTÃO DE ATAfDE lançava o seu livro Debate pedaA{,gi.cos •
o Pe. LEONEL FRANCA ilustre jcsufta retomava em sua obra fundamental
Ensino relitioso e ensino leiAo, a questão do ensino religioso, estudando-a
a tôdas as luzes e com abundante documentação; e reu.oia-se, na Cúria Metro-
politana, da capital paulista o primeiro Congresso Católico de Educação, pro-
movido pelo Centro D. Vital de São Paulo. 11 Na maior parte dos trabalhos
que então se publicaram, como nas teses defendidas nesse Congresso, as idéias
mais ardentemente combatidas pelos cat6licos que definiram a sua posição em
face do Estado e da escola oficial, foram a da laicidade do ensino, a da coedu-
cação dos sexos e a do monop6lio da educação pelo Estado. As pretensões
totalitárias do Estado em matêria escolar pareciam, no entanto, encontrar a
mesma resistência da parte dos católicos corno de vã.rios lfderes e reformadores
que. nem pelo fato de julgarem a educação uma função eminentemente pú-
blica, se mostravam dispostos a ceder às concepções totalitárias e entaculare•
de certos regimes, entre ôs quais tõda a educação da mocidade é empalmada
pelo Estado, e tanto a personalidade humana como a vida do espírito não en-
contram o ambiente favorável ao eu desenvolvimento natural aos seus pro•
gresso em tôdas as direções. A luta que daí por diante se travou em t6ruo das
ndvas formas e dos novos ideais de educação e que era feita em parte de di-
vergências reais, em parte de incompreensões recíprocas, devia prolongar-se
abertamente por quas sete anos, assumindo extrema acuidade em diversas

li l'•d.a,Olia da ~/a No"• Edlplo do Ca,tn, I). Vrtal d !mo Pal))o, 1931; ~ de Bdll<:Sc-Ao
proma,,ido pelo Centro D. Vital de 8lo Pawo e rcsilado oo dia 11 de ootubro de l!lll oo ..ao DObl,:o da Cllri•
lletrvpolltan-.. Bdil:lo do C=tro D. Vital de Slo P•ulo, 1923; Pe. Lllo11U. F'IIAffc.t., &túno relifíoao • .,., ino
1-110. Rio, 11131;TllUTlo Dr. AT.ún D bala pt>da,J6fi~ Rio, J9Jl: e&. Oa prabt mo da edu o
,.. Con1tltuiglo M.cm.arial •Jll"CKD.tado a, ComiNlo Col>ttitui.nee e ubacnto por D - pro(-
iDtd • c:a do o· trito F"'1.nl e doo Sou.doo. ln ~Jon>al do Bruil", o de J•oó:o, l de C,m,rcin,
de 1933.
396 A CULTURA BRASILEIRA

s u desenvolvimento. Ainda no memorial que mais tarde, em 1933,


entadc à Comissão Constituinte I"esumiam os cat.6licos, numa çao
rena, as suas reivindicações principais, pedindo, entre ou as medi.das.
se considera a religião como matéI"ia de ensino nas escolas públicas (art. 4."J
para alunos cujos pais ou tutores bouv em manifi tado explicitamente
a sua vontade a respeito{§ 1.º)e proclamando (art. 2, l. ), sob o fundamento
de cr a família anterior ao Estado, que aos pais incumbe o dever e assiste_o
direito natural de educar os filhos, podendo cumprir dever nas colas pú-
blicas, nos estabelecimentos particulares ou no lar domé tico.Jº
Foi, pois, a questão do ensino religioso, reposta pelos reformadores, que
d encadeou ou tomou mais áspern a luta que se não teve por fim, teve certa-
mente, como uma de suas conseqüências, criar uma incompatibilidade quase
irrcdut{vel entre a idéia religiosa e a idéia renovadora da educação. Nos co-
meços do regim , quando a Constituiçao de 1891 consagrou o princípio de lai-
cidade do en ino, a campanha contra a política d neutralidade escolar ha:via
produzido efeitos semelhantes. A luta que então se travou parecia ter po.r ob-
jetivo, no seu esfôrço, criar- entre a idéia religiosa e a id~ia republicana um fõsso
cada vez mais profundo e ruinar assim, na alma popular, com o concurso dàs
poderes públicos, as crenças tradicionais da ação. Tão longe, porém, de
combat~-las estavam os reformadores de 1928, no Distrito Federal e cm Mitlas
G tais, que, por várias vêzes, fizeram sentir em di cursos e entrevi a a neces•
sidade o deveI" de o Estado respeitar as fontes de vida moral e religiosa em
que tanto homens alimentam a mergia necessária para dedicarem melhor
ao in er e geral e ao serviço público. Retomando o princf pio d laicidade,
aliás na vigência do I"Cgimeque o instituiu (estava ainda vigor a Consti-
tuição de 1891 , de forma al..auma confundiam ou pretendiam confundir a im-
parcialidade entre as diversas confissões religiosas cm uma nação cm que já
não existia a unidade de crenças, com o "laicismo•· que faz da irreligião uma
espk:ie de religião do Estado. Como quer que ja, as divisões e acentuaram
de tal maneira que nãQ foi possível estabelecer uma zona de concordância"
entre os dois grupos, na IV Conferência Nacional de Educaçã.o, reunida de
13 e. 20 de dezembro de 1931, e a que o chefe do Govêrno Provisório e o Mi~
nistro da Educação e Saúde confiaram a incumbência de definir os princípios
da educação" e a "fórmula mais feliz" em que se pudes e xprimir a política
escolar da R volução. Os debates travados em t6mo das questõ fundamentais
postas pelo govêrno da República evidenciaram as dificuldades em que a As-
sembl~a se encontrava para resolvê-las e que a levaram a deixá-las sem res-
po ta, para ma éria de discussão em novo Congresso. Já não se podia alimentar
a perança, aliás ilusória, de se éonstitufrem os educadores numa organização
que f6sse não um "partido", mas uma "associação nacional" cm que se agru-
passem odos, em distinção de religião e de partido, ara traçar uma po·
Utica escolar e cultuI"al que fôsse o programa do govêmo, na p rte educacional.
para a obra de I"eorganização do país.
D a simação de perplexidades e besitaçõ como de u peitas e diver-
gências, é que nasceu, num dos grupos em que dividiu a assembléia a idéia
de confiar o autor desta obra a incumbência de, como I"eformador e intérprete
d nova corrente de pensamento pedagógico ,"consubstan ·ar num manifesto
os novos id ais e fixar dessa maneira o sentido fundamen al da política brasi-

10 V. Oa problem11a d• educar;Ko na Comtilwr,So. Mc:mon. 1 •


e Nbla-lto par Dllfllcroeo& proíesaoru e illtdoctuais católicos do Oi trito ed ai
Br..U", lo d<: J miro, 3 de fevereiro de 1933.
----~RENOVA<;_!-0 _!. UNIFICAÇÃO 09 srSTEMA F:_DUC.ATtvO 397

leira de educaçâo". 11 Essa resolução da corrente ideológica, cujos princípios


e aspirações NÓBREGA DA CUNBA e FROTA PEssoA, entre outros d fenderam
com ardor e preci - o, foi comunicada ao reformador do ensino no Distrito F •
dera!, que cntao se achava em São Paulo e aceitou a missão cm que o inves-
tiram e a tarefa que lhe r CTVaram os partidários, naquela a mbl~ia, de uma
nova politica de educação no Biasil. 1- No manifesto dos pioociro5 da educação
210va, apresen do ao povo e ao govêrno e publicado em 1932 no Rjo de Ja•
nei:ro e cm São Paulo, com a assinatura de nwnerosos prof or , lançaram-se
,,_,_ diretriz d uma polttica colar, inspirada em novos ideais pedagógicos e
IOdais e planejada para uma civilização urbana e indus ria), com o objetivo
de romper contr a tradições excessivamente individualistas da polltica do
pe{a, fortalecer o lac;os de solidariedade nacional, manter os id ais democrá-
ticos de no o antepa ados e adaptar a educação, como a vida, "às transfor-
mações sociais e econômicas, operad;as pelos inventos mecânicos que governam
aa fórças na urais e r volucionaram nossos hábitos de trabalho, de recreio, de
comunic.a.ção e de intcrcãmbío''.ts A defesa do principio de laicidade, a nacio-
nalização do cn ino, a organização da educação popular, urbana e rural, a re-
erganização da estrutura do ensino secundário e do ensino técnico e profissional,
a criação de universidades e de institutos de alta cultura, para o desenvolvi-
mento dos studo d interessados e da pesquisa científica, consti uíam alguns
dos pontos capitais dêsse programa de política educacional. que visava forti-
ficar a obra do ensino leigo, tomar efetiva a obrigatoriedade colar, criar ou
estabelecer par as crianças o direito à educação integTal. segundo ua& ptidõca,
facilitando-lhes o cesso, privilégios, ao ensino secund rio e superior, e
alargar, p la reorganização e pelo enriquecimento do sistema colar, a ua
esfera e o seus m ios de ção. E, como hoje mais do que nunca o ensino m
geral pode ser comparado a um jõgo de xadrez em que 'o deslocamento d
um pião acarre a uma mudança geral da situação sôbre todo o tabuleiro",
procurou-s cstabcl er uma como que orquestração' do is ema lar, no
sentido d articular e harmonizar tôdas as peças do sistema levar em conta
as mú uas repcrcusaõcs do ensinos dos diversos grau e tipos e as r 9 d s
instituições umas sôbre outTas.
S ja qual f6r o ponto d vista em que nos coloquemos, para apr ciar •
docurn nto qu nos poderá levar a combatê-lo ou a apoiá-lo, não e pode
contestar que no manifesto de 1932, - "A reconstrução educacional no Brasil'',
se analisa o problema da educação nacional sob todos os seus aspectos, se d •
finem os prindpios e se traçam, pela primeira vez, as diretrizes d um pro-
grama geral de educação, cujas peças articuladas entre si, num plano siatemã-
tico, são subordinadas a finalidades precisas que atuam sôbre todo o conjunto.
Já havia chegado ertamcnte, - escrevíamos em 1932 na in rodução a e
documento público, - "o momento de definir, circunscr v r e dominar o pro-
grama da nova política educacional por uma viste orgânica e sintética d s
modernas teorias da educação, na qual, extraída a ~ncia das doutrinas, e
estabelece o novo sist ma de fins sobreposto ao sistema d meios propriado

li óa•&OA D CIINKA, ,4 re•olu~!!o ,- • ~dUt:4!,M>. Of'icimn d/ic,a1 do "01M10


J , 1 2.
12 N n, oluçllo ia • t!du<'a~ Ofi • cr• do "o.irio ~ N"odci••••,
Rio. 1932 pli~ mesa e à a.uembllia da IV C<míttbaa o,
J: e p S~! carta, datada de 24 de d o t.-
d..C. e. Ã o.- CUXll4, ner,d.,,.,io IIO aptlo q.ae foi Vali·
~ d sna11ifato d • • da ed çAo ..-a.
JJ I no Br ·1 Ao povo" ao eov&no. MADlfato p,
n Com l's_.,. ..,.oo ns Azavmo (pip. 7-30). Em apmâ_, A noV11
S.bOço dr wn proanm• cducac:ional ntn.ldo do m1Loifetto. P6 . lll-117. Corop. Bdi , o
Paulo 1932.
398 A CULTURA BRASILEIRA

aos novo fins necessários para realizá-los". 1 A id'ia de um sistema com-


pleto de educação com uma estrutura orgânica, e a construção, em conseqilên~,
de um sistema de ensino, flexível e tanto quan o possível uniíicado em todos os
e.us e no qual teoria e prática são estreitamente conjugadas; a unidade de
um política nacional, dominando, pelos prindpios e ormas gerais ix dos
pela União, ariedade dos sistemas escolares rcgionai ; o pap 1 que atribui
ao Estado, como órgão verdadeiramente capaz, na condiçoes a ais, de rea-
lizar o trabalho educativo; a prioridade conferida ao rincípio de atividade e à
liVTe uisa; a penetração de todo o en~no pelo espírito científico e a rees-
truturaç o do ensino secundário em vista do desenvclvimento do ensino téc~
oioo e profi sional, dão a êsse documento público uma importância que n o se
pode deixar de reconhecer e ainda não foi devidament apreciada ne.s suas
conseqü ncias reais, não só no domínio do pensamento brasil ·ro, em matéria
escolar, como também no terreno das realizações, ·sob a influência direta, con-
fessada. ou não, de muitos de seus princípios fundam ntais. "O grupo de edu-
cadores, que acaba de lançar o manifesto, contendo o esb(Jço de uma po1ítiça
educativa, abriu uma nova fase de ação construtora no domínio das idéias",-
ob rvava em 1932 AzEVEDo AMARALque reconh! eia, n sse m smo artigo, ter
sido o manifesto "o primeiro- pronunciamento de .poentes da cultura nacional
no sentido de determinar diretrize!:' nítidas à solução de um problema, nesse
período de necessária renovação da vida brasileira' . 16 Não foi o man.ifesto
apenas um "declaração de princlpios" que teve uande repercussão e suscitou
numero~o debates; nem sõmente um documento pelo qual um grupo de edu-
cador tomou posições em face dos mais graves problema da educação na-
ciona1; ma ainda um vigoroso esfôrço para constituir uma nova política edu-
cadonal e propor à execução um dos mai largos planos escolares que já !e tra-
çaram no Brasil.
A IV Conferência, em cujos debates se levantou a idéi de uma declaração
de principios e de m programa de polí 'ca educacional; o manifesto doe pio-
neis, s da educação no a lançado logo depois em 1932, e a V nfcrencia Na-
cional d Educação que se reuniu em Niterói nos 61timos dias d~ e ano, e foi
e mais ootãvel das que se realizaram por iniciativa da Associação Bras·leira
de Educação, constituíram, sem dúvida, o ponto culminante da grande cam-
panha, iniciada com a reforma de 1928, pela renovação p dag6gica e por uma
política scole.r de caráter nacional, nas 1inhas gerai de eu plano e nos seus
objetivos essenciais. Nessa Conferência, realizada sob o pa rocinio do govêrno
do Estado do Rio, quando era diretor geral de instrução CELSO KELLY não
se colheram somente os proveitos que se obtêm nesses ncontroo periódicos, e
consistem, sobretudo, num alargamento de horizonte mental e numa aproxi~
mação maior dos homens para mútua compreensão: "o conhecimento pessoal
direto de pessoas ocupadas no mesmo oficio, que se d ccnbeccm ou ro· 1 se
conhecem, estreitando simpatias alicerçando amizades, tr 1 çando anseios
comuns plantando na imensidão dêsse Brasil dis enso, segundo a expressão
vigoiosa de FRANCISCO VENÂNCIO Fn.ao pegões firmes de uma pon e de co-
op - e lidariedade à obra urgente da edu ção dos brasileiros". Tendo
como objetivo principal senão único, apreciar sug ões de um poli ica escolar
e de um plano de educação nacional para o an e-projeto da Coas ·twção, a
V Conferblcia reunida em iterói discutiu e aprovou, d is de longo estudo
pela Comissao dos 32, o plano da educzção nacional, la ado ela Comissão

H A recon11rui:lro educaeion11I no Brasil. Ao povo e ao 1ov&oo. .-.,ü~to do. plondr da educa~


aova. Comp. Bdltor• N .clonai, Siio Paul:,, 1-932, p{,i:, 23.
16 Aian:oo AM:ALu., O Estado e a l!duu,;60.. ln "O JCll"D8I",do Rio de: J1.Dt'lro, d~ 27 de março
de 11132.
A RENOVAÇÃO E UNIFICAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO 399

dos 10, e destinada à reconstrução em novas bases do sistema de educação


e cultura no pa!s. A Comissão dos 32, a cuja prcsidblcia foi elevado o autor
deata obra que já fazia parte da Comissão dos 10, teve como relatores Lou-
RENÇO Fn.Bo, o reformador do ensino em_São Paulo cm 1931, e A.NfSio TEI-
XEIRA, que já se empenhava a fundo nas reformas escolares do Diatri o Federal.
As diretrizes por que se orientou o novo programa educacional; os deb t
iniciais que provocou o exame de um problema verdadeiramente complexo
como o da educação e a intransigência na defesa de pontos de vista divcrgcnt
tenão opostos, acentuaram a cisão que logo se declarou, na segunda sessão
plenária, e que deslocou para a nova corrente do pensamento educacional o
predomlnio na assembl~ia, com a renúncia do presidente FERNANDO DB .MA-
GAI.HÃES e a aclamação do nome de LotmENÇO Fn.Ho, para substituJ-Jo, na
direção de seus trabalhos.
:!sses dois grupos mantiveram-se abertamente em oposição at6 1937, -
ano em que o golpe de E~tado cortou pela autoridade o conflito, amainando aa
polêmicas, arrefecendo e.s paixões e impondo, como linha de conduta, no domínio
educacional, uma poHtica de compromissos, de adaptação e de equiUbrio. Nem
por ter atingido o seu período de maior acuidade entre 1928 e 1933, deixou de
desenvolver- e esse conflito de tendências, variando a luta segundo as regiões,
o grau de preparação do professorado e segundo a natureza e intensidade das
resistências. Não se pode, porém, circunscrever o domínio dessas luta , no
terreno pedagógico, a uma discordância ou oposição entre a poUtica escolar
da Igreja e a nova poUtica de educação, que adotava, como pontos de programa,
alguns princfpios repelidos por aquela, como a coeducação e a laicidade do
ensino. E s lutas complicaram-se, sem dúvida, tomando-se mais ásperas
e acesas, no seu desenvolvimento com o conflito de ideologias, de esquerda e
de direita, comunistas e fasei as, que fundaram na Europa, sõbre o regime de
um partido e cm nome de um ideal de classe, de raça ou de nação, o Estado to-
talitúio destinado a fazer a guerra ao capitalismo ou ao marxismo e qu então
repercutiu no Brasil mais ou menos violentamente, pela organização e pelas
atividades de partido extremistas. Mas, desencadeadas pela reação da Igreja
contra algumas das idêia reformadoras; sacudidas e turvadas pelo choques
de doutrinas extremadas, e de tentativas de infiltrações de partidos subver-
sivos, essas campanhas de renovação escolar tiveram, nas suas origens, e con-
servaram, em todo o u curso, a oposição, que ê um fato normal e constante
em tôdas as ociedades, entre novos e velhos, entre tradicionalistas e renova-
dores, e que, tendo-se mantido larvada ou mal dissimulada no primeiro mo-
mento, se tornou aberta quando surgiram as circunstâncias favoráveis às re-
pres6.lias e à r si t@ncias. No livro O rejuvenescimento da polftica, em
que se publicou, em 1932 o inquérito feito na França entr intelectuais que
não podiam ter nem menos de 30 nem mais de 40 anos, e ntre os quais figu-
ravam DANIEL RoPs, ANDRÉ WURMSER, PIERRE CoT, MARCEL DÉAT, ROBERT
OARRtc e outros, í!z-se sentir em diversas respostas a r js ência apre cntada
às inovações p los v os como a necessidade de se combater a intervenção doa
velhos na poli ca, que dificuJ am a renovação de todos o valor .•a "A re•
voluções estão cheias de velhos que impedem a obra renovadora (o
um); ~ preciso, pois, rejuvenescer a revolução para que se rejuvenesça polí-
tica. Homens moços e realizadores para as posições, reclamava ou o. Es-
tamos em face de um conflito entre duas mentalidades, uma que luta porque
está morrendo, outra que luta porque está nascendo", conclu!a um terceiro,
por outras pala as que ôdas indicavam o obstáculo às vêzes in enclvel oposto
pela rotina e pefa tradição à instauração de idéias renovadoras.

18 V. Lo R•.i uni ,ar~nl de la po/ítivu~, E'diticn R. A. Ccrrda, Pari1, 1!132.


400
--------- A CULTURA
- ----- BRASILEIRA

p crítico, profundament conturbado, ma renovador e fe-


ucedera a um longo -período orgânico, de domin.io da tradição, e
idéias tabclecidas, a vida educacional e cultural do país carac erizou-se
la fragmen açao do pensamento pedagógico, a princípio, numa dualidade de
rren e depois numa pluralidade e confusão de doutrinas, que mal se en-
cobriam sob a denominação genética de "educa ão nova ou d " cola nova",
usce 'vc-1 de acepções muito diversas. a oposição da política colar
1

d lgr ja; a coincidência no tempo do movimen o de reformas pedag6gicas


da propagação de doutrinas extremistas· a própria impr ci o ariedade do
con eúdo conceptual de "educação nova', a rea~o dos nscrvadores a odo
o transe, entre cujas idéias e as dos renovador vai a m ema distância que
e ·s entre r pouso e movimento, estagnação e pr gres o, tudo isso concorreu
para d envolver aquêle estado de espírito a que TBIBAVDT chamou o ' sinis-
trismo'', imanen e à sensibilidade da maioria dos homens ou a intimidação que
xerce s6bre seus espíritos a só palavra de "esquerda' , corn suas variante~ como
idéias novas', "idéias avançadas', t'idéias larga ", tôda uma série de fór-
mulas s télit s. Não s6 se alargava, por essa forma, como s tomava cada vez
mais scnsfvel a zona de "pensamento perigoso ' que xiste em qualquer socie-
dad e que variando conforme as épocas e os lugares endc sempre a ampliar-se,
no períodos críticos, de mudança e de transformações sociais. A zooa de pen-
am nto peri oso, estendendo-se, ameaçava abranger agora, den o de suas
fronteiras, as aspirações da "escola nova" e de um modo 0 eraJ, as novas idéias
d ducação. E mais ainda, o próprio pensamen o, o espírito crí •co e a 1ibcr-
d d d jufzo. Pois como observa Louis Wmm "não são omcn e certos temas
que lc am o ' sinal de perigo' isto é aqu@I que a sociedade ou os elementos
que a dingem, coruiideram tào vitais e por conseguinte, tao grados que não
tol a sejam profanados pela discussão. O pensamento ambém, - o qu não

li fato, pcx "cd s;io nova" pauo-..t- a julgar t&la " d em qm


nl>'Od1111ramI e tk:cricas novu (cmno mE~ a prova, tradicioaab pd011
t c:11,a ad puclo do cmiioo à, {aac:,, de d.cr..s>volvimento e • v u. que trouxenem, .na n•
ar anlnçlo de CIU\ltura ou num p""""'3Q de, e:naioo, o tio dca no-,idadc. A spr lo, ai ú vo,aa ir:upreciaa
no ro c:ont lido, pod a abran er toda., u formu d~ educa~o 11uc leva.~1ero em c,oata u NlffentN pedag6;Jeu
modem • e • neccaidad<'9 dn crianças. i: por ;,to que se viu. ílgurwttn, no mctmo pia , priacfpi011
1 vtr..., d v co ,.., o opoetoa, como por es-emplo, a ldt1- de que a e d ca o feita
do eu.a n.cdlda (''individualini;io" do en.nno) e • d organi.nçlo d• du por
medhlat bJrtivu ou tro de intelig~da e de aproveitamento. Proccaaoa • vbct ado•
tadoa ou rxpcrimcnt.ados, 1cm ~ •tender aos f'Ull pedag6gicos e •ociai• o qu . e. mentol"
ou niclDOde educ:er o. Parece-no,, poi,. qu.c, ,e quilermoo reatltulr a IMIC;q>l'Cull<> cODfuta e deturpe.da, de COD•
ceOdo v41i vcl ,e contmdít6rio, u 111!1.1 signifieaçõc• mnia honcaw, temos de dl1tln1Xu.lr•D mena. duo fonna,
cl eduaaç uova: uma, i111pit■da. poise noyu idfu.1 bío-paieol6gkn8 do crlanç.t1 e na, concepçõet funcional, da
educaç o e outra, li11•d• li evolução doa c:oohedmentoa e dai iil~at aocl1 - 1u1er da, por uma com:c,pçllo maio
nlrid• do pupel d11ecola como instituição •ceia\, e 11m11cOOJclen.:ia m1ia viva da necn11 dado de a.rtic:ular 1, eacola
com o melo e llc adaptl•IM lia condiç&s de uma oova dvilínsl\O, Aquela, de tcndloclu lodlvlduall1ta1, tomando
como ponto de putlda o indlv!dllD para a org&ninçio eh c..:ola; e ta, de orú:o àt v&ct mamo ao-
ci.J da e munidadc para ■ f=aeio do indiv!duo: u.m■, v!J&ndo do coa\no, lato t.
OI aprendiiragem e os mEtodos do trabalho eac:olar: e • outra, dlrl atrutura da
melllor dap ç~
c1<:olll11111'11 o ,ieu. meio tocial. Coocepç;;e,,, e on cu e cc:tlvcí.s de con,
duzir ' Ul[a>ta, mH que cm certo oentido complebml e, em o tio opoet;u por
,..l:'llf 011eocola oov11.,na sue primeira , 11'.o.C&."-1' t01, AA haa1U., cntne
n>, arienta,« pcloa seguintes prind • 1) maior Ubffdade ~ a ~.
qu pc,rdon■r condições~ favoriivci1 to natunl, pela atividade· &ne
e ro ndpio de ■tividad~ (m&odot ti e in.oplnodo ao
criança E "um catl: esscncialrucntt a dCHDvolvcin pelo e o:rddo"~
,: 3) o ..,.peito da on,in&bd-.le ~ &, c:ad.. criança ""'""'loe:x;.a. o" do ,
e a cada llffl l dc,,ida. a cdutt.Ção q •• de que fala
eia oão é ~• 11m "dacuvol • , 1:11.mbhTi
• que • criança. vá pai uc da encontra
o E J.aboriou. De ccrtu modo, t li tur-. da
·•. A educaç§o nova. sua iarllo e aio ao
o ■oeettto, proc::l>raOdooio oec:asid.ada uo aD'11v& da•
tambEtn O<J:11~ ■ Cl00la COOlO u h•ftw-;hule, de
la RCUDd.o os prindpios de JIOlidari pardal do U>di•
vlduo, ,-. o bem vo.. O. ideais iDcfividualirtu, da li llbcn:a(lo da
criaoça, pcclocafatço coaJucado do mltado ci=tlf":aco e da ~ 6ltl&as
u, a chocar com o, ideais ~ e. do trabalho e
da m:ola-comu dadc (Sohu/'9meinde), org,aui-.da• para dacn dtnciu coopcnadora
" criadar .a, ~on(l.....;.1a à cultura e 1kl9 dew:Tes d adultot.
A RENOVAÇÃO E UNIFICAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO 401

e reconhece oom a mesma facilidade, - ainda quando não existe censura, ~


causa de transtornos e em determinadas condições, perigoso e ubvcrsivo. Com
efeito, o pensamento ~ um agente catalizador capaz de desagregar a rotina,
de desorganizar os oostu:mcs, de abalar a fé e propagar o cepticismo''. 1
Mas, apesar d es ado de espírito que se desenvolveu, sobretudo e partir
de 1932, com a publica ~o do manifesto e a vigorosa ofensiva renovadora da
V Confer!ncia Nacional de Educação, e com que se pretendeu deturpar, por
todos 01 meios, a obra de reconstrução educacional do país, mo sofreu deafa~
lecimentos a campanha iniciada com as reformas de 1928, no Distrito Federal
e em Minas Gerai• e prosseguida cm 1931, no Estado de São Paulo, logo depois
da revolução. Elementos de vanguarda tomavam posições na imprensa do
paíe,.e esped lmcntc no Rio de Janeiro onde, no Diário de Not1ciH, de 1931-
1934 CECÚ.IA MEIRELES, com suas crônicas finas e mordazes, e NóBRBQA DA
CUNHA, com sua atividade sutil e de grande poder de penetratão, Azll:VEDO
AMARAL, cm O Jornal, com sua dialética persuasiva a serviço de um pensador
robusto, e, mais tarde, J. G. FROTA PESSOA, que desde 1933 rezde sua coluna
no Jornal do Bra il uma trincheira de combate, pela sua lucidez implacável
e pela segurança de seus golpes, traziam novos estímulos e acentos novos a
essa campanha, cujo conteúdo não se esgotava sôbre o plano cultural, e ao
longo de cujo desenvolvimento vibravam com ums fôr~ sustentada um cspf-
rito moderno e um ntimento profundamente humano. No dominio da rea-
lizações, não paralisou o surto reformador que teve novamente no Distrito
Federal, com A.NfsloTEIXEIRA(1932-35), e em São Paulo, com o autor desta
obra (1933) e com o Prof. A. F. ALMEIDA JÚNIOR (1935-36), algumas fases das
maia importantes no proce!l80 de sua evolução. No Rio de Janeiro, ANfsro
TEIXBmA, chegado ainda recentemente da Aroêrica do Norte e, cm São Paulo,
o eator desta obra procuravam, em grandes planos de refonnaa, orgânicas e
robustas, injetar na realidade tudo o que, naquele momento jã pudesse suportar
de sua doutrina ·e de a us princlpios. Foi peta ação vigorosa de ANfsro TE1-
XElRA que se acentuaram, na política escolar do Distrito Federal as influencia
das id~ias e técnicas ped g6gicas norte-americanas, já enunciadas na reforma
de 1928, 19 e tiveram um desenvolvimento verdadcirament notável os se.rvi90.t
educacionais, pela criação de novas instituições de grande alcance, pelos novos
métodos de administração escolar e por uma aplicação mais larga dos métodos
científicos aos problemas de educação. Ao tomar posse do cargo de diretor
geral da Instrução, em 15 de outubro de 1931, define claramente a sua atitude
no discurso que então pronunciou, declarando-se solidário com a nova politica
educacional, cujos alicerces se lançaram com a reforma de 1928, no Distrito

li KA,a. M,vnc· ni, ld.aloll• y utopia, Jntrodud6n ala eociola&la dei coaodmlento. Vcnio,i apdola
de S.U.'IA.DOll &Qu,.vUJUA, lfoodo d Cllltu.ra Economlc:a. Mulco, 1941.
10 A. iDllutnclh do pncm• mo e du ldBu nortc-amcriCADM o6bre ■ CGrTcnuomala ■v■.l!Pd■ do pen,
-to edue:acloo■ I ran.m tio ~eran~ que a mui- ·pareceu • ..educ■çio DOV11" um cuo l'lcameote
~ ou a.m produto da a.0.ls■i;lo que te VdD forma.ado .,.. .Eff.ttdoeUnldoe. Entretanto, como •
P. p,.trCOfflfST, "Dia 11CCrtado r■---d■ ecluao,;io nova uxn auo p,inunc11 • 11C1D •nclo-
to q1u ■ AI w coloca l tala da liBt■ (re{ere-« o autor citado l l.• Coa! ta.:i. Locamo)
e a Sa!ça romlnlca ai e Ll (1.lp ~ de~ Nova) ■1&uns de - c.b coo•
c:ordam com l"I'■ RVOl!ldooAria pafKI de civilmlção e de cultura ao difcrmta, como ■ ••
■ lDC toT-a e eia K tad Oaidcia, ■o p.no que ou.troa p&t.es como • França, • parecem _,.,lhe rdre.t!riod
~ ti , no i o e pela m 11111ruão, ■ mesm■ coioa? Seria e.... um belo motivo de par■ -
d61 oe compcteo.tt9. Em IXldo o CMO, a.la a:e poder, ver o.a ed~ a<m1 • -1f'ClltaÇl,o . .,. um
ternpenm nadoa&l. A l.11/h.1 Blbldoo Unldm l iDamta.thel D1o .,_re porque abuDd.ull em
a;p,!fl • e , t pn,ci90 ., .-quecer a>davia qw, o ~to pod=-» de ]. Dswn foi uma
fon do mDY'lmmto. ai tio f«- dba-- que o mundo~ ■ ■mcricamar-? V ~
nrd.■de. N■ F tr■r íàc:ilmeote advenàri:,e da ,:,dJ>C8~º oova, OI qa■ia poria I timu ..
-. • , ddeDdC1>C1,o ■ tndldan■l c:u1n,ra latioa caotra o prao,u,tiamo juv ■mcric:a R-
a:plkar porque pef- de velha cultun ori~ eomo •~e• AJ.era.■Dha, do Ndu.âdo. pelo •
camamo.0 bom bito du ldtlae IIOY■I nlo dc,p=adc apc,,.as, pc,,aõ CU, d■ hettmONa dCII 8at■dol O 00
IIIIUDdo:hiautra mehpro(llada,, mab bQtDAD.U:nJ.<>lumamoda ■pcnu". (J'. P'AUCONNfl, O Conir o
da Bducal,l'o No~•. ln "0 B.atMlo d Slo P ;ulo", maio, 192<1;cfr. Fal.KCIICD V&NlNCI0 P'n.ao, Contribui o
.......-kana • adue11~0. Edl o "LI~ d■ y;da a.rnericana". i. Rio de J■nàro. 1941),
402 A CULTURA BRASILEIRA

Federal, e anuncia os seus propósitos de desenvolver em atensão e em profun-


didade aquela obra, naturalmente incompleta, e acolhida pela capital do país
ºcomo um fruto longamente elaborado que vinha ao encontro de uma cons-
cieilcia educacional dinâmica e moderna que a reforma avivou e fortaleceu".
Aceitando porém, a nova orientação de politica educacional, nos seus
fins ociai e democráticos, formulados em 1928, empreendeu de 1932 a 1935
umas ie de reformas e iniciativas, com que i.mprio:uu um novo impulso ao ~is-
tema escolar do Distrito Federal e lhe deu, por um conjunto de medidas, uma
la 'tude de ac.ão que não lograra até então pelas reformas anterior . Com a
fõrça criadora de seu espírito empreendedor e a liberdad de iniciativa, s6 pos-
sível com a Revolução de 30 e a ah.rogação da Lei Orgânica, ampliou e desen-
volveu o sistema escolar, para torná-lo quanto possível completo; promoveu o
enriqu cimento do programa escolar e a especialização dos professore primá-
rios para melhor realizar os fins já formulados; elevou o ensino técnico e pro-
fissional ao nfvel do ensino secundário (até o 4." ano), articulando-o com o en-
sino secundário geral, com o fito de permitir a sua equivalência cultural e a
transfí rencie de alunos de um curso para outro; reorganizou o ensino normal
com o objetivo de erguer a nível superior a formação profissibnal do mestre,
com base nos estudos propedêuticos ou de cultura geral; criou a Universidade
do Distrito Federal (1935) constituída de cinco escolas, e remodelou o apa-
relhamento têcnico dos serviços de administração do nsino, com o fim de
habilitá-lo a preencher as suas funções técni e de pesquis cientifica e as
funções administrativas. Enquanto se processava, por iniciativa de ANts10
TEIXEIRA, 1º essa vigorosa transformação do sistema escolar do Rio de Janeiro,
realizavam- e outras obras de renovação, no Ceará, com Mo mA DE SouSA,
cm Pernambuco, sob a inspiração de ANÍBALBRuNo,2 1 no Paraná e, sobretudo,
no Estado de São Paulo, em que o autor des a obra novamen e chamado ao
to d diretor geral de Instrução, em 1933, empreendeu em seis m a re-
forma completa do aparelhamento escolar e fêz baixar m 21 de abril de 1933,
e dentro das diretrizes essenciais do movimento de reconstrução escolar, o
C6diAo de Educação do Estado. Entre as reformas de que tomou a inicia-
tiva e que abrangeram os diversos graus e tipo de ensino, figuram a que im-
primiu uma orientação nova à educação rural, mediant a criaç o das granjas-
escolas e das missões técnicas e culturais; a .remodelação dos serviços adminis-
trativos e têcnicos, com o objetivo de estabelecer processos cienUficos para a
oluç.ã.odos problemas de administração escolar; à reorganização da estrutura
das escolas normais, levantando a formação profissional do professor primário,
em curso de dois anos, sôbre uma base proped utica (curso fundamental de
cinco ano ), como suporte de uma especialização profissional, com orientação
filosófica e espírito científico, e a criação do ln ti uto de Educação, para o
aperfeiçoamento e especialização de professores primários, e formação de admi-
nistradores, escolares técnicos e orientadores de eosino.n

Tst:DUA, Di9cuno de p<me no"""-º de dlttt<ir &CNll


A• diretrizH da •-111 no •· ln "Boletim d,e Bd o Pública".
pq,. 1-24; O li.tema lar do Rio de Janeiro.. fn "Boktlm d ~ Pilbl ". Ao Ill, 1>1. 3 ,e 4
,~o de 1932, . 307-3711; Edu=~ Pública, ua Ollanire~o • •dmlnl rr o. Rio. 1934;
Bm marcha,,_,. • d•mocraci ... Ã margem dos Rstlldo, Un • ·t6•• OuaJ't , ·?, 19J4: BdUC4,:lo
par• • deo,ocnda,
3 e 4, Julho-deambro, 1932; Ano m. =
Rio, 1936: cfr. "BoL-.im de Bduc:11ç&oPlí
5 ., 6, janeiro-junba, 1933;
". 11. . 1 2., jaoclro-ill4ho, l!U2:
III, ru. 7 e. 1, Junho.d • b<-o,l9)3.
11 V. Boletim de &:fucag,60. Anaffi. N_s.3 e4, m!lf'Ço-junhod 1933; Aao IV. tu. Se ,Junho-daembro
de 19341 V, o..• 1, denmbo-o de 1936. Dittt.oria_ Tfco.k:a de uaçlo. R "• P nambuco.
22 V. C6dlfo d Edu o do Estado de São Palilo ~ n.• S 814, de 21 do abril de 1933, lm-
~ Oncial do ltetado, SI" Pawlo, 1933; Arúninlst.c11~ do l'_ro(. Fernando d• Ar; do !de 11 de janeiro
• 27 de Julho de 1933) in "Anuirio do Ensino do tt.tado de • Paulo'", Cll'i,llnlz do pelo Prof. A. F. Al.lumà
Jíhuox, ~ do E no, 1935-1"6, São Pau.lo-Bra:all, !>4Jta. 327-345: Arqul~o do lndltuto de Educar,60,
ArJD I, n.• 1, ac:tttnbro de 1935: Ano u. n.• 2, -•etembc-o d-e i936: Aoo m, o.• 3, mllrÇO de 1937; An" lD, n,• 4,
M bro de 1937,
A RENOVAÇÃO E UNIFICAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO ~3

O impulso dado em 1928 à campanha renovadora do ensino proasegu.ia,


como ae ve, e devia prosseguir atravês de tôdas aa dificuldades e incompreen
e com fôrça bastante para transladar a Juta do terreno das id~ ao das ini-
ciativas e realizações no domm.io da educação primária, normal e profissional,
em vários Estados. Ainda no bienio de 1935-36 desenvolvia o Prof. A. F.
AummA J'ÓNIOR,na direção do ensino em São Paulo, uma atividade fecunda,
inteiramente orientada no sentido da nova política educacional de que foi um
dos pioneiros e cujas diretrizes fundamentais se traçaram, com a sua solidarie-
dade, no manifesto lançado cm 1932 por um grupo de educadores brasileiros.
Poucos, mesmo entre os elementos de vanguarda, terão p6sto mais objetiva.-
mente e analiaado com mais lucidez do qu.c êle o problema da educação rura121
e sentido mais profundamente a necessidade de reagir contra uma educação
sem relações vitai com as exigências do meio social e com os imperativos e
as condições do mundo moderno. Movendo-se dentro do C6diAo de Eduoaçlo
em que colaborou em 1933 e que traduzia aspirações comuns à nova corrente
do pensamento educacional, enfrentou o grave problema das edificações esco-
lares; procurou dar às questões de organização do sistema escolar um trata-
mento cicntffico, encarando-as como problemas técnicos e segundo prindpio
mais definidos; promoveu conferências e cursos de administração escolar e,
com o objetivo de fazer ministrar um ensino tirado da vida e confrontado com
a vida, reorganizou os programas intelectuais, extraindo-os das realidades am-
bientes e simplificando-os cm beneficio da educação flsica da formação do
caráter e d01 valores pirituais.2 4 Depois dessas e outras iniciativas, pareceu
declinar, no Braail, a campanha de renovação escolar que se vinha desenvol-
vendo com um crescente intensidade havia mais de dez .anos e que, como .sa-
bemos, veio à hora, caindo como um fruto maduro da árvore do espirita moderno
e que, a seu turno não cessou de dar frutos saborosos e amargo e muita v!zes
contraditórios. que tavam à frente do movimento não julgavam -o de-
feituosa e arcaica a estrutura do cosino, em seus diversos graus, que não achassem
possfvel melhorá-la definitivamente sem uma reforma tão geral e profunda que
importasse numa verdadeira revolução. Onde quer que lhes iam parar àa
mãos as alavancas do comando, lançavam-se à obra reformadora com uma fê
e uma tenacidade que não podiam deixar de ter repercussões em todo o sistema
de ensino e de cultura do pais. Mas, nacionais no seu esptrito e nas suas fina-
lidades, e visando sempre instaurar uma política nacional de educação, essas
reformas, confinadas nos limites de uma região, não exerciam nem podiam
exercer, por serem locais, uma ação direta e profunda senão em determinado
sistemas escolares, no Distrito Federal. e dos Estados.
Na ordem educacional o govêmo revolucionário da União, até 1934, como
o govêrno constitucional de 1934 a 1937, solicitado por fôrças antagônicas,
embora sentisse a nec idade, não reconhecia a oportunidade de um csfõrço
coordenado e geral, com que se transferisse para o plano nacional o espmto
de renovação escolar de que deram provas os reformadores e que oao pocr
esgotar-se cm experieitcias isoladas e fragmentárias. Além disso, o lmpeto
renovador que, partindo de baixo para cima, se traduziu em reformas do maior
alcance, no domínio do ensino primário, normal e profissional, nao conseguira

23 A. P, AwomA. Jllmoa, A .«ole ,weJ. ln ,.Anufino do&nainodo B9teda


cqanlDdo par A. 'B, ALll&ll1.AJOMl Diut« Geral do Enmno, pigs. IBG-226: ~
bl•=- d• educa~ rural. Conícrtocie proounrime no Rio de Janeiro a 17 de
e eeua probjemu". Comp. Bdit.ora N-OD&I, Slo Paulo, 1937. piigL 4S-7S.
na dlreçio do mamo
:H V. ~ u atlYided do f'N)(. A. F. ALKKIDA J1'mo111-, Paulo, o """'-".&rio
do Koa1Dodo Ettado de o Paulo", orprú.udo o« A. F. ALKSIDA Jlhuo D\retor Geral do Boaülo l93W6,
Slo Pewo- • • P4•• ,2113,
404 A CULTORA BR SILEIRA

ainda penetrar com a mesma fôrça o ensino secundArio e upcrior, que perma-
neciam quase impermeáveis ou inacessíveis ao movimcn o de r,enovação edu-
caóonal. Certamente, o impulso que tomaram o an •g Instituto Agronômico,
de Campina , o Institu o de Higiene e o I stituto Biol6gico de São Paulo,
aiado por inica ·va de ARnJR NEIVA, e que se tornou, sob a direção de ROCHA
LIMA,um dos maiores centros científicos prepo o , na América, à investigação
de problemas de biologia vegetal e animal,-6 como a criação de novas insti-
tuições culturais e científicas, quais a Escola de ·ologia e Pou~·ca (1932),
cm São Paulo e a Escola Nacional de Química (1934), no Rio de Janeiro, coos-
titu{am sinais dos progressos que fazia e penetração do espírito científico na
cultura nacional. O ensino superior continuava, por m, r duzido ao ensino
dirigido no "interêsse da profissão", nao no inter sse intelectual do individuo
nem em proveito da ciência, cujo desenvolvimento, se renlizava antes nos ins-
titutos de ciência aplicada, onde a necessidade de enfrentar pr,oblemas urgentes
ligados à economia nacional orientava os trabalhos para a indagação científica
original, em vários domínios. Nada se havia tentado, no terreno das reali-
zações, para que êsse movimento de conquista do espíri o científico se fôsse
acentuando em nossa pedagogia, e penetrasse todo o ensino, provocando no
ensino superior, com o mesmo espírito, as r ormas que se empreenderam na
educaç o fundamental. e popular, confiada ainda e. clusivamentc aos Estados.
:E:que a camada intelectual. recrutada através d mafa de um s culo, nas es-
colas profi ionais {direito, medicina e engenharia) e que d frutava, numa
sociedade tática o monopólio na formação tanto das elites como da concepção
de cultura, apresentava um pensamento "escolástico", i o ê, acadêmico e sem
vida, que se opunha, pela indiferença ou pela hostilidade às transformações
profundas do si tema de cultura e do ensino superior no país.
Se essaa elites, recrutando-se em camadas sociais e i uac;õcs que variaram
con tantemente não constituíam nem podiam coo ·tuir uma camada cerrada
e ei ente organizada de intelectuais, não é m verdad que, com uma
forma,ão cultural orientada no "interêsse da proft ão' , haviam adquirido e
conservado sses modos e formas de pensamento e e xp 'ência, ligados a
uma formação tradicionalmente profi sional que a i abilitava a dominar
do lto e em todos os seus aspectos os problemas d ducaçao e de cultura. Elas
nunca tiveram, porisso, uma consciência viva e, mui. o menos, profunda, da

25 O tn,Ututo B)o16gico, criado cm 11128cm Si!o Poulo, por lnlcl1.tlv• de ARTU"II NIIJVA, qne prea\día
l Comlu o ti,:_nlca dcttlllDda a dar combate li broca do caf6, leve corno cu primeiro dltdtor, contro~do para
OC'IAAb6-1o o antl~o 111 !,tente-chefe do Initituto O1valdo Cru~. do Rio tle Janeiro, Suudou • ARTUR NJUVA,
a qude cor110, O Prof. ROCHA Ll),IA, que foi também uro d01 colaborAdQl'OSde OàVAt.00CRUZ e, tendo eido
proí .. ,or no lnatltuto de Mol~tia, Tropi<:a1,is,em Bambur o, e l'unç de vk~irctor do novo
lna luto, fundado cm Slo PQ.u)O. Imt!tlado hoje n11t11 cdHlcio o.,ta pror,Of , con1tru(do M·
peclalmenti! p r• ~ .. in tltuto dc ertud.o. e pesquiul clcntl 11 e 't\1)0 e •t o, c:omo informa
o ,cu atual dlrct-x-, "'desde" ínvc,iti ção d03 p<oblemao ttuh 11 o do qualquc,- mo.! '\ue ameace
d , PN,lud ou desvalorizar as f- de dq11ez ali a e n pccuArla. O eut0 de aua
atlv ade con tltvído pc.la tn,-eatlgação cientlílca no tcrr t 011 01 ocr vi,,.,., anima.,, e
v etalil, e e,iped,,.tment:e d•qudes de Cll!li<r utilid•dc ou ío em. Centro do campo vuta da
peto1Cllla comparada, coaantra-sc a principal tividnd~ clcatfríca do lnnltuto ao tudo d s pn1• e doea.ças
• pricneiro e mar, ;mp«tantc cam;,o e:x o para o fnatituro cm 1 37. - a
". situada ou ime:iia.Çilcs de
• ,quc.E.c=queo • tod.,.
titut<> Bi<>16ii<>oCunci . aa>logla
tolo;]:' e:• de PamiO!IÍA V e,pcc:i.lllul~ 'tulçio
O seu corpo d1' ci:coti,tas aend.o
42 • tmtes, •bntn e nmnes de de for•
~ C DO "51:rlllJ:ll:dro. p lli,ntõeo,
v t:,., qwtb te dt:Otllcam a d • febre
a ~ do CJ1 l0-,1oa1<1billlaçl da mor-
• nos ~ rcbomhos de Andtadioa: de mais
tta~. coma o "Tr:,tado uH rc••
1 n.dmt:rial, comJIO'(Wlldaspor ut dcn:lnadot • que im=-tam
• . f o Imtit:utD :Biolódc:o lllo wn mal ~ OI de l)HIIUÍn e dc ca-
1\cnle na Ani&ica. e j& =.ttnome anivtnal. Allm de wn,, re1r ta racoa.l O Biol6Sieo, c.crita
cpoot■ ao rim de -1>elcca- a aproxiro4çlo ent:tt o laboratório e criadora, ma.nL o Instituto
quivo•, rm•l& de gn,nde impartàacia, qu 1e pubUc11mOI trabalbOI oriç A8i,i de pc&quiu.
....U..dol nu dlvena1 ICÇÕQ dcnA inltitui('ão.
A RENOVAÇÃO E UNIFICAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO 405

necessidade de criação de instituições universitárias no Bcasil, calcando- em


formas antigaa ou modelando-as segundo formas novas. Quando dizemos
''universidade", não qu remos significar senão uma certa maneira de organuar
mstitucionalmente os conhecimentos, para elevâ-los ao maia alto nível, de
coordenar as investigações, de promover os progressos da ciência, de difundir
a cultura e utilizar tudo isto em proveito da comunidade. Acresce que, ae a
organização do ensino primário e normal, ainda recente, - pois não contava
a rigor maia de 40 ano , - e, portanto, mais flexível e plástico, ae sujeitava
oom menor oposição àa investidas reformadoras, o ensino superior, de tipo
proí1SSional, velho de mais de um sécu1o, e o ensino secundário e .humanístico,
de tradições tri eculares, opunham pelas suas tradições intelectuais, uma re•
eist!ncia mai forte às inovações. Mas êsse mesmo grupo que se batia arden•
temente pela reconstrução educacional do país, insistia sõbr a necessidade
de uma reforma radical do ensino e pela introdução, no sistema, de escolas de
pesquisa livre e de altos estudos. Todos nós sentíamos que, se já havíamos
começado a introduzir, estâvamos ainda muito longe de haver introduzido o
método científico no ensino conforme um grau que se aproximasse do papel
por êle representado na formação atual de nossas vidas. Daí a iniciativa que
teve o gov~mo de ARMANDO SALES DE OLIVEIRA de fundar, pelo decreto de 25
de janeiro de 1934, a Universidade de São Paulo, constitnida das escolas u-
periores profissionais exist t , de uma Faculdade de Ciências Econ6micas,
de uma Faculdade de Educação e da Facu1dade de Filoso11a, Ci!nciaa e Letras,
segundo plano elaborado por uma comissão de que foi relator o autor desta
obra e fazia parte, entre outros, JÚLIO MEsQOITA FILHO, o mais ardente pro-
pugnador da idéia da criação de uma universidade em Sao Paulo. Jã o Gov~o
ProviJ6rio, por proposta de F'RA.Nc1scoCAMPOS, instituíra o regime universi-
tário e baixara, em 1931, o pr..meiro decreto, regulando as universidades bra-
me.iras. Um grande pa I sem dúvida, na política escolar da Nação.
Foi, por~, Universidade de São Paulo a primeira instituição em que
se verteu, no Brasil, a caudal de inquietação que os homens possuem cm face
da natQ.reza, da vida e de cus problemas, e que nasceu, como a Academia Pla-
tônica, na Grêcia, e Universidade, na ide.de média, da convicção de que homens
de responsabilidade cultural devem ser despertados interiormente para a es-
peculação, a pesquisa e o m6todo experimental ou, em poucas palavras, 11para
viver da verdade e de sua investigação". 2& Eminentes professores e alguns
entre os mais notá.veis em suas. especialidades, foram contratados na Fr~nça,
Itália e Alemanha para professar cursos na Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras, cuja direção o govémo de São Paulo confiou a TEODORO RAMOS, pro-
fessor da Escola Politécnica e um dos maiores matemáticos brasileiros. Em

ff A pnmdni unl11cnid• que N erlou no Br-,ll, foi a Uoiv<:nid•de do Rio de J•.11elro, em "1rtudt1do
decreto a.• \4 343, de 7 de ..,t mbto d.e:lllJ0, d.o Presidc11te BP1dc10 P'PIIO&.,refc:rendado ,xlo mio tro AUUno
PINTO. .Mu, - Oolnn ~"• c:oJ01B tahrtt>t Conm •~01 pdo decreto a.• 14 sn. de U de deumbro
de 19:20, a- lmtftutoo ,raperiarea de r~ - • Pe=ld■ e
de Dird do Rio de Janeiro. o,,m importou em cnodif'ICllç&)«-•
--1 ao ,uperior do país. .Em !Wo H«book. awatarde. foi
f l'nltNTU, a 'Onivcnid.ade de • p-apada.t
• F Bagl'Dharia, cxbtcatca na ~pi tento de
7 de 've-aid,,de e Que, ,.,.,;nado pdo r •
rendado par FIIANC.IICOcuao._ oc:DblUIIJI akc:raç5o wbebmcial N re.úboo q...,
~ ... IIO , com • estrutura e O!I mEtadoa tra •
que iAb'Odudu ,,u e de Gt!:nlll, foi a 11J
apoiadacm wn o grande JlrOlllnedade imó,,ci e de um
do~ Pode .ee,p:ü, a!irm• que, ec ■ e:rd■deira orc;aoiza,;lo miivcni oo
19 8Sl, 11 de abnl do 1931, do chefe do ODYmlO Pro..ú6rio. o.-.Gntluo V
cua-o., • itro de &duui;l.o, • primd:9 uiuva'lid.ede qwe teve. o .Bntil. criada com
arcalllla.çloDOY■, e J b o rqlmc bdcddo por f:a.e drcreto, foi a de Slo Palilo.
ctcriores, de Cri o marcad■ml!l!I ttad.ldoDal. embora IOb uon. -rubrka, anlAa1a• ,
criado• 2S de Jao de 1934, de ac:õrdocom o deo:reto federal, qUJ: ""tão entrou r
... ente • locarpor çao, 110cra:anltgio lllllvcntt:Ario, de uma Fa.culdade de .Filoeofla, Ci panou
• c:Qllltlw.ir a 111edlllado llat-., coino tamb&D a J'l'COC\lpação dominante da p.,.q 01 atud.-
406 A CULTURA BRASILEIRA

1935 ANlsro TEIXEIRA criava a Universidade do Di trito Federal, constituída


de cinco escolas, - a Faculdade de Filosofia e Letras, a de Ciblcia , a de Eco-
nomia Política e de Direito, a Escola de Educação e o Instituto das Artes, tendo
enviado à Europa AFRÂNIO PEIXOTO, nomeado Reitor, para contratar uma nova
mi ao de professores estrangeiros. Essas duas Universidades, - a de São
Paulo, cuja Faculdade de Educação foi extinta em 1938 e na qual a Faculdade
de Filosofia têve a ponto de perecer à míngua de recurso (1938-1940) e a
Universidade do Distrito Federal, absorvida cm 1938 pela Universidade do
Brasil, - tiveram a sua evolução atropelada de dificuldades, em parte decor-
rentes da mentalidade utilitária e profissional, ainda dominante no sistema de
ensino superior, e em parte resultant~ do próprio "clima histórico" em que
nasceram. O advento das universidades no Bra i1 coincidiu, de fato, com a
maior crise de espírito que registra a história do pensamento humano, com a
crise das universidades ocidentais e da própria id ia ' o:niversit'âl-ia", e com a
formação dos Estados totalitários e o desenvolvimento dos nacionalismos, de
formas agressivas. "A oscilação do navio, na bela imagem de PAUL VALÉRY,27
foi tão forte que as lãmpadas, as mais bem suspensa , foram afinal derrubadas''.
A profunda inquietação do espírito, cujas origens remontam à ruptura da uni-
dade de pen amcnto e do monopólio intelectual da Igreja, atingiu ao máximo
com as descobertas científicas, as transformações técnkas e econômicas, e o
conflito de ideologias extremadas. Ao movimento espiritual, caracterizado
pela cultura humanística e pelo sentimento humanístico da vida, que se cor-
porificou nas primeiras universidades ocidentais, no s6culo XII, e sob cujo
impulso renovado (o néo-humarusmo de 1800) surgiu a universidade alemã
moderna (sécu1o XIX), sucediam agora a reação dos estudos especiais, mar-
cados por um alto grau de tenacidade, a glorificação d especialistas e o es-
fõrço para erguer ao primeiro plano os conhecimentos e os métodos técnicos
em lugar da cultura e da pesquisa dcsin ercssadas. E, por fim, as lutas po-
líticas, travadas no mundo ocidental em tôrno das universidades, rusputadas
por grupos diferentes e antagônicos, que se forçavam por tran formã-las em
trinch ·ras de combate ou instrumentos de poder politico (in trumentum
re,ni}, tendiam a suprimir a vida pura, alta e livre, do esp(rito e a prioridade
conferida à livre pesquisa, e a incluir, sob a rubrica de "p nsamentos perigosos",
a indagação filosófica e as investigações econômicas, políticas sociais e às vêzes
mesmo biológicas, estreitando cada vez mais o campo de inveatigação cientf-
fica original.
Não foi, nem podia ser muito diversa a atmosfera social que envolveu
os trabalhos da Assembléia Constituinte, e em que se vinha processando uma
ebulição intelectual, feita de todos os fermentos filosóficos, científico!!, políticos
e peda 6gicos que eram capazes de cuttivâ-la. Entre dllvida e esperanças,
reuniu-se em 1933 a Assembléia encarregada de elaborar e promulgar a nova
carta polftica e restabelecer a ordem constitucional que revolução de 1930

d • • d- ali do eopfnto da )d fcdcnl q yc:n;aaa.a . o Oovemo ~


'l'hdrlo da Rep(ibllca ioltimiu m> 1931 o <qir:nc unin:nitfrio, foi Paulo que ou cm 1931 • inicia •
de ti•l.o, plenitude. Anlel de se criar, cm 1937, • PIIC'.Uldadc Nadooal de r.i-f"IA, AlftsJo TElJIDU
fundava • Unl..-.:ni<b4c do Oi.mto Federal. com ama e.ttrutw:a IIOYII ao ano da r~ da Uol-
dad de Paulo. !. i:w • n:co1>h.C!C:cr, porfm, qvc • • tiva, 11 movlm to de •~çlo e de
~amento do o mperlor-, m,bora com um •· t~ r~o. coube • or cm Seocdi 011, IOb n,jca au,pkioa
criou cm o P :ulo, cm 190&, por: iniciativa ~ D. lollGU&L uu, • J'KO!dade d fia de Sllo Bento,
'"4a cm 1911 l Unfvcmdllde C.t61íca de .Louv • • ) e ida cm 1934 ~lo covfmo fedtta.l.
d~ de 11mpliadae adaptada cm coaíormidadc coa, o decnto federal qu rqula • orpniu,e:lo !"acuidades
d.,... Dllhlraa. . a~ Vu.NA, Or4arú ... cllo Ullff'er itúia no BratJI, J e n in "Joma.l do Com&cio",
do R o de Janeiro, 24 e 31 de março de 1940).
t7 "L'qKillation du narire a êté •I forte ql.HIIle l•mpe I ml•uir tu~ndu •• ••mi .il la fin
••n~e,■6"". (PAUL VAJ.ÚY - La câsti âe l'e•prit).
A RENOVAÇÃO E UNIFICAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO 407

supnnuu e por cuja restauração deflagrou em 1932 a de São Paulo. Nova


Constituição 1- foi. de fato, o grito de combate qur: levantou o E tado de
São Paulo contra o Govêmo Provisório. A composição heterog&lca da Cê.mata
em que conquistaram posições elementos, influentes do regime anterior a 30;
a confusão doa debates, cm vigor e sem elevação, e a atitude da Aescmblea
que não soube ou não põde tomar pé no tumulto das di'\' gencias e das paixões,
conoorreram por&n, para desenvolver em muitos o cepticismo provocado pela
multiplicidade e oposição dos sistemas e para estimular, na maior parte, como
uma aoluçio heróica, o impulso a êsse misticismo que caracterize as q>ocas
vigorosas e to alitárias. O processo revolucionário prosseguia nesse perlodo,
de 1933 a 1934, o seu curso normal, que avançava stibterrAneamente, em ritmo
menos rãpido. mas certamente mais poderoso, enquanto à supcrfidc se diacu•
tiam os problemas de organização nacional e as soluções que deviam enquadrar~so
na futllra Constituição , . . A produção intelectual e literãria, dessa época,
não s6 constituía um dos sintomas mais vivos do espírito dominante, crftico
e dcmolídor, como também contribuía para desenvolvê-lo, aguçando a sua
sensibilidade e acentuando as suas tendências. O que, nessa produção, pre-
domina, aao realmente os saias sociais e os romances dolorosos e sombrios,
em que se estudam a paisagem social do Nordeste, a vida da pequena burguesia,
o meio fabril e os asp ctos ligados à cultura da cana, e com os quais se exacer-
bava a sensibilidade revolucionãria, preparando os corações para a revolução.
As reivindicações autonomistas dos grandes Estados, os conflitos entre as ten•
dencias centralizadoras e descentralizadoras, e os choques das ideologias a•
tremistas, de esquerda e de dir ita, se encarregariam mais tarde cm fuer pasaar
a revolução cm matcha, dessa fase idílica à sua fase violenta, em dois movi-
mentos sucessivos, a curtos intervalos (1935-1938) e oricntadoa em direções
diversas.
Em meio dessa anarquia mental e polltica encontrou, por6m, a Assembl&
Conatituinte eguros pon os de apoio, em matéria de polltica escolar, nas fôrças
que vinham trabalhando pela reconstrução educacional do Brasil e haviam
chegado a resultados positivos, em numerosos estudos que poderiam servir de
norma inspiradora para a futura Carta Constitucional, em elaboração. O ter-
reno havia sido longamente preparado para êsse fim, na campanha de reno-
vação pedagógica e cultural, por uma série quase ininterrupta de debates,
iniciativas, conferências e esboços de planos, em que as quest6ea fundamentais,
examinadas a tõda as lu.zes, foram postas em têrmos de solução, e alguns dos
quais constituíam propostas expressamente formuladas para o capítulo rela-
tivo ao problema, na Carta Constitucional do país. Em 1932, na V Confe-
rencia Naciona] de Educação que se reuniu em Niterói, foram aprovados, após
•go exame, o ante-projeto do capitulo "Da educação nacional" para a Cons-
tituição brasileira, e o esbõço do plano nacional de educação, e em fevereiro
de 1933, no memorial apresentado à Comissão Constituinte, os católicos re--
umiam em quatro artigo e respectivos parágrilf os as sua principais reivin-
dicaçõea,U jâ ardentemente defendidas no Congresso convocado com intuito
de contribuir para orientar a consciência católica em mat&-ia de educação e
realizado a 17 de outubro d 1931, na Cúria Metropolitana por iniciativa do
Centro D. Vital de São Paulo. No symposium de 13 a 23 de dezembro de
1933, organizado pelo Departamento do Rio de Janeiro da Associação Bra!.i-
leira de Educação, o conselho diretor discutiu também o assunto cm sucessivas

Cfr. O !'.'º"' mu d• edu~o n• eo,,.titulo,Eo. Memorial çretent,,do pdoe cat6llcol • Comi.ao


em..tltulntc. ln' Jornal do Srull'". Rio de Janeiro. 3 de f~ de 19311; O ,wor.i ata dueit~onal • • no •
Coruf/tul o. Oraanbado pela A,oodaçlo Bruileira de Ml>caçlo. Campuahla Bdltora N~ Slo Palllo,
1934.
408 A CULTURA BRASILEIRA

rcuoiões, conchúndo pela redação final de uma proposta que s baseou, em grande
parte, nos ante-projetos elaborados na V Confer ncia, de Ni crói, e cm que se
sintetizaram as aspirações unânimes daquela sociedade de educadores. Foi
sob essas influências que se elaborou o capítulo II, "Da educação e da cultura",
da Constituição de 16 de julho de 1934 em que, ao lado de "disposições impró-
prias a um cxto constitucional~ contrarias entre si e inconvenientes ao ensino"
se encontram pontos fundamentais das reivindicaçoes católicas, como o ensino
religi nas escolas, e diversas das aspirações mini.mas por que se vinham ba-
endo o pioneiros da educação nova no Bra iJ. As duas correntes mais vigo-
rosas do pensamento pedagógico e, sobretudo, a dos r formadores, cuja cam-
panha ofcrecia tõdas as d.itkuldades das obras novas e fortes e esbarrou em tôdas
as incompreensões, cruzaram-se, por essa forma, não s6 nas proposições apre-
sentadas na Assembléia Constituinte, senão tambêm na Magna Carta que
resultou de seus debates e em que se consagraram, como grandes conquistas
do movimento. algumas das teses capitais prepostas ao fim de instituir uma
poUtica nacional de educação, segundo princípios e em bases modernas.
A Carta de 1934 instituiu, de fato, medidas que assegurassem uma política
nacional cm matéria de educação, atribuindo à União a competência privativa
de traçar as diretrizes da educação nacional (cap. l, art. 5.0 , XlV) e de fixar
o plano nacional de educação (art. 151). Aos Estados competiria, segundo o
art. 151, organizar e manter os seus sistemas educacionais, respeitadas as dire-
trizes definida pela União. Estabelecendo que ao governo central caberia
•r~ar um plano nacional de educação comprcen ·vo do ensino de todos os
grau e ramos, comuns e especializados, e coordenar e fiscalizar a sua execução
cm todo o tcmt.6rio do país" {art. 150); criando o Conselho acional e os Con-
elhos Es duais de Educação (art. 152) e determinando a aplicação de nunca
menos de 10 % da parte dos muniápios e nunca menos de 20 % da parte dos
E tados, da renda resultante dos impos os, ''na manu enção e no d nvolvi-
m to dos sistemas educativos" (art. 156), a Cons • ·ção de 16 de julho de
1934, fazia o país entrar numa política nacional de educação de conformidade
com os postulados e as aspirações vitoriosas na Conferência d Niterói em 1932
e no manifesto dos pioneiros, pela reconstrução educacional do Brasil. Os
sistemas escolares estaduais, segundo essa nova polltica escolar que a Cons-
tituição adotou, não seriam senão variedades sôbre o fundo comum de uma
espécie: sob t6das as dissemelhanças de estrutura do ensino, nesses sistemas
variáveis com as condições regionais, deveria perceber-se não sõmente uma
''certa tonalidade fundamental", mas a unidade poUtica exprc99a nas diretrizes
estabelecidas pela União. As próprias tendências de organização racional,
s6bre base de inquéritos e dados estatísticos, e de seleção por meio de medidas
objetivas, (srt. 150, letra e), - uma das mais deras aspirações da campanha
de renovação educacional -foram consagradas em disposições da Consti-
tuição de 1934, que se manteve, em quase todos os seus artigos, na órbita de
influ~cia dos iniciadores do'movimento de reformas da educação brasileira.
Mas, além da instituição de uma polftica nacional, capaz de estabelecer
a unidade de fins e de diretrizes na variedsde dos istemas escolares, e dos prin-
cípios que consagrou, de "racionalização" ou de reor aniz:ação do sistemas
educacionais, em bases científicas, de estudos, inquéri os e dad0$ objetivos,
tabeleceu ainda a Carta Constitucional os fins democráticos da poUtica es-
colar do pa{s, reoonhecendo na educação 'um direito de odos" (art. 149), ins-
'tuindo a liberdade do ensino em todos os graus e ramos (a . 150, u.n1co,
allnea ), a liberdade de cátedra, a gratuidade e obrigatoriedade que deviam.
estender-se progressivamente do ensino primãrio integral ao ensino educativo
ulterior, a Ílm de o tornar mais acessível (art. 150 único, a e b), e criando
A RENOVAÇÃO E UNIFICAÇÃO DO SlSTEMA EDUcATIVO 409

os fundos especiais de educação, parte dos quais (art. 157) ae aplicaria a alunos
necessita.doa, mediante assistblcia sob diversu formo e bõlsas de tudo.
Essas tend@ncias democráticas que se tornariam ainda mais acentuad na
Constituição de 19371 nio correspondiam apenas às aspirações nltidamente
formuladas no movimento de renovaçao educacional, mas ainda a um processo
real de democratiza~ão que atingiu sobretudo o ensino secundário, tomando
estrcmamente diflcil a reorganização de sua estrutura em bumanlstica
De fato, em vez de um ensino de classe, para uma pequena fração ela população
adolescente, recrutada geralmente na burgµesia, o ensino secundãrio tomou-se,
pela ma extraordinária extensão, senão um "ensino para o povo", ao menos
um ensino de caráter mais democrático, aumentando-se de 1930 a 1936, de
40 mil a cerca de 160 mil e, portanto, quadruplicando o número de alunos, en-
quanto a população se el.cvava de 34 para 38 milhões, no mesmo per(odo. Se
eram poucas as rnoças que conclufam o curso de bacharelado cm letra at~
19301 o número delas passou a equivaler ao dos rapazes, em muitos colégios ou
cursos que se abriram por todo o país e cujo número, sõmente em São Paulo,
e, sem contar os particulares, subia de 5 em 1930 para 58 em 1940, entre gi-
núi.os mantidos pelo Estado e por municípios e cursos ginasiai anexos às
escolas normais es aduais ou municipais. Mas, como êsse •prOCC8SO legitimo
em si mesmo, da democratização, que inicia as massas na cultura, aprese~ta um
aspecto negativo, rporquanto fica rebaixada a qualidade do cmino, permane.
cemos em face de um dup1o movimento em sentido contrãrio: de um lado,
fenômeno de democratização pelo qual as massas não s6 adquirem novas ne-
cessidades intelectuais como também começam a exercer dommio s6bre a cul-
tura e adaptar esta a seu nível; e, de outro, um movimento de reação no sen-
tido da cultura humanística que nunca foi democrática, e em íe.vor de uma
prepara o regular e aistcmãtica. em nível universitário, dos candidatos a
e grau de ensino, dos quais a primeira turma de profeseores diplomados
ao Brasil obteve m 1937, pela Univc~rsidadede São Paulo, a licença do magis-
tério secundário.
Se, com o golpe de Estado que instituiu, no Brasil, a 10 de novembro de
1937, um regime autoritário e unitário, entrou em declfnio a campanha que se
vinha desenvolvendo pela renovação educacional, é certo que algun de seus
prindpios foram consagr"dos na nova Constituição promulgada pelo Presiden e
da República e assinada por todo o Ministério. O estado de attio ou de guerra,
como lhe chamaram, e em que viveu o país, de 1935 a 1937, e o golpe de fôrça
que pôs êrmo ao regime constitucional de liberdades públicas, impediram efe-
tivamente que, em matéria de poUtica escolar e cultural, a balança acusasse
o péso real dos contendores; e a politica adotada pelo govêrno da União juJgou
poder fazer a conomia do conflito, nesse e em outros domínios, pelo conhed-
mento e pelo cquiUbrio das f6rçai, antagônicas. A nova Constituição, outor•
geda em 1937 reafirmou, com efeito, levando ainda mais longe do que a Cons-
tituição de 1934, as finalidades e as bases democráticas da educação nacional,
não s6 e tabeleccndo peJo art. 128 que "a arte e a ciência e o seu ensino são
livres à iniciativa individual e à de associações ou pessoas coletivas, públicas
e particulares", como também mantendo a gratuidade e a obri atoriedade do
ensino primário, instituindo, em carãter obrigatório, o ensino de trabalhos
manuais em tadas as escolas primárias, normais e secundárias e, sobretudo,
dando preponderância, no programa de política escolar ao ensino pr~voca-
cional e profissional qu destina "às classes menoê favorecido e 6, em ma-
téria de educação, o primeiro dever do Estado" (art. 129). Sob aspecto
a Constituição de 1937, rompendo com as tradições intelectualistas e acad~
micas do pais e erigindo à categoria de primeiro dever do Es ado o ensino t~-
nico e profissional, pode-se considerar a mais democrãtica e revolucionluia
410 A CULTURA- BRASILEIRA

das lei que se promulgaram em matéria de educa -o. Revolucionâria, não


&6nos objetivos que teve cm vista, de educar a mocidade pelo trabalho, como
também no meios que adotou para atingi-los, e que constituiriam transfor-
mação radical na estrutura do ensino profissional, pela ligação orgânica da
teoria e da prática, assegurada pela apJicação imediata da liçõe ao laboratório,
pela organização de trabalho, nos campos e nas oficio.as. e pela colaboração
obrigatória, das indústrias e do Estado na preparação de opcrârios qualificados.
O sistema de aprendizado com o mestre - sis ema, que vinha desde a idade
m •clia e s transferira para a esco1aprofissional, de tipo tradicional, organizada
para a necc idades da manufatura, - era, como ainda é, o de nossas poucas
escolas profissionais, extremamente custosas, que aqui como por t6da parte,
oferecem condições diversas das da produção e um ambiente de todo diferente
do das fábricas a que se destinam os alunos.
A Constituição de 1937, sem rejeitar os institutos de ensino profissioi:ial
mas, ao contrário, estabelecendo como um dever do Estado fundã-los e sub-
idiar os de iniciativa dos Estados, dos municípios e das associações parti-
culares, inaugura o regime de cooperação entre as indústrias e o Estado, quando
cstatui, (art. 129) que "é dever das indústrias e dos sindicatos ecoo6m.icos
criar, na esfera de sua especialidade, escolas de aprendizes destinados aos filhos
de seu operários ou de seus associados" J ao foi menos preci Constituição
de 1937 quando seguindo a êsse respeito as tendências jé consagradas na Carta
Constitucional de 1934, determinou que compete priv tiva.mente à União
''fixar as bas e determinar os quadros da educação nacional, traçando as di-
retrizes a que deve o ecer a formação física, intelectual e moral da juventude"
(art. 15, n. 0 IX). Essa disposição com que se reafirmaram e e ampliaram os
princípios fixados na Carta de 1934 (art. 5.0 , XIV e art. 150), assinala a vitória
defüli ·va de uma política escolar com caráter nacional, n us prinap10S e
nas suaa diretrizes fundamentais, estabelecidas para todos os graus e tipos de
ensino, de maneira a favorecer no país uma educaçao bastant livre para res-
peitar as diversidades, mas bastante forte para fazer progredir a obra comum
no respeito dessas diversidades. Dêsse ângulo de ob ervação verifica-se que
as duas Constituições, a de 1934 e a de 1937, se orientaram nwna direção única,
ao decidirem romper sem reserv-a contra o abstencionismo tradicional da União,
em matEria de política escolar, atribuindo-lhe a competência privativa de fi1'ar
as bases, determinar os quadros e traçar as diretrizes da educação nacional.
Depois de um longo período de mais de 40 anos, em que os Estados, grandes
ou pequenos impelidos por um federalismo excessivo, entendiam "viver sua
vida", e em que as formações locais, os usos, as resis tncias e os traços de ca-
ráter de cada região e afirmavam ao ponto de fazerem frente ao poder federal,
criando um "imperialismo de campanârio" entram francamente numa ex-

21 P d, ld n.• l 238, de 2 de msio de 1939,


merendado pe.l do Tr•b.ll>o e da Sd~o. t'Cf e GUITA o
CA.P,\l'l&KA, r,cou aiDdaabl ecido que n fá:brlcas cm q tcrlo cuno
de ■ pc:rfc,' • para adultos e me:>arc1, r-,,
• --.,o dat ln l o, lod6nri!l e Com. • urde.
• J7 e maio de I u,... ~ intcr,m to db9ea
de ■ pe'i onaJ. ■ qucoemCfeod<CJ'.et,u:vJ 2 . ~da
Com o. compoatll de am mu,bros. das ~ ~ aomead Mí1tdsti&io ,:. e trt..
pdo do Tra ' uu atividades, sob a pnsid!nc:ia do do o;,.
trito
de ~
c,nl, °"·
]OAQOlKF..U.U. o• Gó Fn.ao, par'■ n:lat
lei o.0 l 238. cu.ia claboraçlo lhe í6n confiada,
b&lhoa. o ■nt,e.l'l'OJrto
podm, ■ oer aprovado
que -pn,c:ede o ante-projeto, apttKDtado pela loter-.min urial, depoia
a■ e inv ti~, c,omfüui ~ anáii,e ~ e obje ·v• do problema que teve do ■ n:,inv, para
ponho • .u. ml...-0. (V. Ap,:endiz111,em nl11b~l«lml'J1tc:>11 Jt'tdu1tr1'■/1 C
nc:>11 ..a.o Inter•
nome•d■ ps<• rcol[Wllmmtm- o fwicioruuDento de c:uno,i de ■prrídçmmmto loduttrial. JOAQUUl
F.uu 0611, rd■ tor. Rio de JII.DCÍt'O, 1939).
A RENOVAÇÃO E UNJFICAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO 411

perieticia nova, com o estabelecimento de um regime de unidade e de centra-


lização que trouxe consigo a sançao de um poder forte, a abolição das barreiras
interiores, a copenetração dos costumes, das legislações, doa negócios p6blicos
e, particularmente, dos sistemas de cultura e de educação. Essa política sin-
gularmente favorecida numa ~poca cm que a ciência, com as invenções do
râdio e do aeroplano, abateu tõdas as barreiras que se opunham às comuni-
cações e aos transportes, esbarrava sem dúvida em resistências loca.is e parti-
culares que acabariam por ser vencidas, maia do que pela fõrça, pela doçura e
pelo t.empo, como pela cooperação inter-administrativa dos Estados e da União.
A reorganização dos sistemas de ensino, estaduais e municipais, dentro do
novo regime autoritãrio instaurado pelo golpe de Estado cm 1932, poderia pro-
cessar-se, sem dúvida, ou por "imposição" de uma polf tica escolar adotada pela
União, ou mais lentamente "por um plano de coordenação de objetivos, de pa-
dronização de processos e de cooperação de recursos técnicos e financeiros", a
que se refere LoURENÇO FtLHO, na sua introdução ao estudo sõbre a situação
1erllldo ensino primário. Que não era possível ''continuar a União indiferente
à elttensão do mal que naquele terreno (o do ensino primário) nos aflige.", e
que cumpria combat!-lo por todos os meios, seja o da intervenção indireta, e,
ae conveniente, a direta, jã o r~onheeera FRANc1scoCAMPOS na incisiva oração
que pronunciou a 18 de novembro de 1930, ao tomar posse no M'inistério da
Educação e Saúde, 10 e o proclamou várias vêzes o Ministro GUSTAVO C.APANEMA
em discursos e entrevis as. "Providência inadiável, a ser, portanto, tomada,
-observava êsse Mmistro, em 1937, ~ é a elaboração de um c6dígo das di-
retrizes da educação nacional . . . Serão aí (nesse corpo único de lei) estabele-
cidaa as diretrizes ideológicas, sob cuja influência tôda a educação será realizada,
e ainda os princípios gerais de organização e funcionamento de todo o apare-
relhamento educativo do pafs" .31 Anunciava entio o M'tnistro de Educação
e Saüde o propósito do govêrno federal de submeter o Código que já estava
..aendoorganizado à apreciação de uma Conferência Nacional, em que se repre~
sentariam, pelos seus técnicos, tôdaa as unidades federadas. Os atos do go-
verno central, desde 1934, indicavam expressamente antes a adesão à idéia
de 1UJl plano de cooperação inter-administrativa do que a vontade de impor
uma determinada politica educacional, como se pode inferir, segundo lembra
LOURENÇO FJLBO, 32 do texto do decreto-lei n. 0 24 787, de 14 de julho de 1934,
que autorizou a convocação e fixou as bases da Convenção Nacional de Edu-
cação; da lei n. 0 378, de 13 de janeiro de 1937, que dispõe sõbrc as Confer~cias
Ne,cionais de Edu,cação; do decreto-lei n,Q 580, de 31 de janeiro de 1938, que
criou o lnstituto Nacional de Estudos Pedagógicos·: do disposto no decreto-lei
n. 0 868, de 18 de novembro de 1938, que instituiu a Comissão Nacional de
Ensino Primário; e ainda, - podemos acreseentar, - da convocação dt 1 Con-
ferencia Nacional de Educação, em conformidade com o decreto-lei n. 0 6 788,
de 30 de janeiro de 1941, e entre cujos fins se inscreveram os de estudar as bases
de OTganização de um programa, sintese dos objetivos da educa,Ção nacional
e dos meios de atingi-los pelo esfôrço comum da ação oficial e daa iniciativas
particulares.n

Ili h.ufct~ Cüooa, Bducagla " oultura.. Pm.e ao Mlnkt&io de Kducaç.lo e Sa6de.. Dllcurw
IJl'OQWICÍlldo 18 de oovcmhra de 1930. P,1 ll7-119. Livraria ]OK Oltmplo Bdlt&a, Rio de J1111dto,t!H0.
81 OtnT4V0 CUA.HPot.A,l'anor•m• d11 ed~o 1111eion,.J. /u ro!IQ~ a OI prop&ltot do r.wtroo
fadenl. DlacGnO pronuociado na corncm-çlo do Caltzdrio do Colqio Pedro lL ln ••Jornal do Comb-clo",
RJo d Ja.nclro, U e 1◄• d.e dcxmbro de 1937.
U LoU!Ulfço J!'tLuo, Inrraduglo •o • tudo 86bre a llitu~o ,-.,.,, do 11.n /no pri.múio. P6p. U►S3.
to NadOGlll de OI Pcd . ''Boletim 11.• 13º. R;o de Jaa,ciro, 190.
83 O IDltituto a.donal de ltamdol Peda ~ (LN.&.P.), aiado pelo d, 1d a.• SS0 de 30 de julho
de 1938, COl'TapOQde, ..,b c:atm • pc,ctDe, ao tlp ~agillln • que, - d.li Rep6bllca., o d~o
a.• 667, d 16 de ,.g&to de l 90 atribuhi • rw,s:1.~ de "cortro 'J)l'Opll).or du ftfcnnu e mdhanma>taa de que
.,..._ • educa~ uadooaJ". A poUtica d-1nlbadon. que~• CamtlllliCAo " 11191,aAo permitia
412 A CULTURA BRASILElR

A cooperação inter-administrativa, no regime de centralização política,


se não foi, pois, uma «conquista da revolução", marca uma fase na evolução da
id&a de uma poUtica nacional de educação e cultura, e é ccrtrunente a seqü~cia
natural dessa marcha para a unidade que ê tôda a his 6ria da rcvolu - o de 30
e teve o seu ponto culminante no golpe de estado e na Cons • uição de 1937:
aglomerar, aproximar, assimilar as unidades federadas, num cspmto de co-
munhã.o nacional brasileira, tal foi a tarefa principal do gov&no que instituiu,
com o novo sis ema político, e começou por fortificar a autoridade do poder
central, alargar as fronteiras, abolir as distinções locais e fundir, numa ação,
oe Estados e as comunidades rorais e urbanas. A unificação dos sistemas edu-
ca ·vos, não pela identidade de estruturas do cnsinot mas ela unidade funda-
mental de diretrizes, ou por outras palavras, o en ino público organizado se-
gundo uma política geral e um plano de conjunto, é um dos meios, certamente
o mais poderoso e eficaz, de que pretendeu utiJizar-se o novo regime, para rea-
lizar uma obra de assimilação e reconstrução nacionais. 'l'omando de uso
obrigatório em todo o país a· bandeira, o hino, o escudo e as armas nacionais,
ao mesmo tempo que suprimiu outras bandeiras, binos, escudos e armas (art. 2.0);
atribuindo privativamente à União fixar as bases e traçar as diretrizes da po-
lítica escolar (art. 15); pondo sob a proteção da Nação, dos E tados e dos mu-
nidpio os monumentos históricos, artísticos e naturais e e uipare,ndo os aten-
tado contra ~les aos cometidos contra o patrimônio nacional (art. 134), a
Constituição de 1937 fazia vibrar com uma fôrça vigorosa o entido nacionalista
em que inspirou, e fixava aspectos fundamentais dessa s nsibilidade, através
dos quais tocamos a um temperamento cole ·vo e talvez, mai longe ainda,
a uma vocação nacional, cujo conteúdo não se gotou s6bre o plano político.
O govmio da União, retomando a política tlmidamcn e ensaiada m 1918,
d en olveu d e 1937 uma ação intensamente nacionalizadora das escolas
no sul do paf e, especialmente, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul,
e, enfrentando fortes organizações que recebiam subvenções e influências es-
trangeiras, promoveu, por um conjunto si temático de medidas, a adaptação
dos imigrantes e seus descendentes ao meio nacional. E obra de n cionali-
zaçao. em mais larga escala, o govêmo federal a empreendeu com vigor e con-
duziu metôdicamcnte, quer amparando a iniciativa dos Estado , como o Rio

vi.n1a11e • tn,tttuiçlo do Ped•aog\um que, em 18915,p11Mou c:om nn, mal• l'ritoo I Jurl1dfçfto do 1ovi!mo do
Dlatrlto edcral e rot ex-tinto em 1919,"jli d.,.,irtuado cm 1,rua objetivo, naclóoalt. O l'eRÍn1c de eentraf!nçlo,
ln~tltuldo • 10 de novembro de 1937, foi uma dH cauSRa que m•i• ctintribufr m etn o OOJ'e1clmcnto da nova
eitercidp1 c:urnul11tlvornente com flR udmlnlot:rotiviu
ID.1titufçllo o que 1e tr1LI111feriwmIII utribu,ii;õeo de pc,,qul1111,
pel Diretoria N'acloa..l de Educar;.io. Criado o Instituto N c:lon I d Pcdar01t11, dr:itlnudo • reallh~ invesH-
ltPÇl!et10br Dt problem.u de cn1inp ooa !leuJ diferentes aapcc:too,(Art. !9, da lcl n.• 378- d U de Jo.nt\lro de 1937),
foi t.nn J~lldo ~ 1938 no atwll in.tituto Nllcional de E,tudoe Pc.S. coMtltul o "centro de utu.d011
de tOdu M q11 ttllee educ:t11doru1ts,relacforu,ci4s com oe trabalhoe do Bdu çk" (ut. 1.• do de-
cret.C>.lc\ri.• S O,ele O de liúho de 1938 . .S,se ln.tituto tem por fim, da o 11.rt.2,0 do ref.,,.fdo decreto,
"orpnlAi' docun,eotaçlo rclativ• à .hUltória eª" eatudo atual d.li dou , bem como
do.e dlfcnota, e1pkie1 do IMt:lt-.ilçõo educati-.; .....,1:cr lnt:cr~àm nata do ee,.
·tr,u, ; Pf'OfflOVff aqu&it petqDÍJ&I sõbre todo,, 011 ~bl bem como
IO&o ..,étod e pn,ccu pedq6!:lc~; prociovcr invcatlga cdUCl!çlo,
bem como rel•tl-n ~ problema da ori=ts\;ffl> e oa serviço■
ou partkut.N,, de ed~ e pr6tica pe-
~ mb«dinado ao MiDistáio a bibliouca
' doía scrvíç<,e e quatro ç&o e• de
tuda,s dirctOIJd,, d e Sclrçlo
• à~~ com
pffSidido pet;, Dr. Luh
mm!D do f=ci •
o Prof. Lo~ 1'lul rekçlo
e Ortlvidadcs~6gicn ~ na-
eo,iuo. de ~ de. dd Serviço
e orpru~d~ridl d lc&
toe. Os boletim que edi "ocpnl-
mirio e aarmal", cm cada Emldo, . ~ e da.
1)Ub1icaçlle,.de alto val« informa du averti •li6ea
• , metbdicamente c:ooduzjdu, saa atratura, pd.-
pw e pclJI •ua $Upcrlor orienta~. ec:r.ic:«olllftltc olo 16 o ótslo ntral, ma■ o
111.i. U'ilJ)Crtllnteln,titut,o do paf1, destinado a inqul:ritos, doa e pc,aq rc pN) 1 ma. do anlao, am
- dlv- •~· (V. fn.tituto Naciomú de &tttcúu Pedeg6 n,vím "KduClltlo" - 6rc!lo
da ~ Br..udra de Bducaçllo, a.• 7, jul.ha - 11140,p . 17-l e 27).
A RENOVAÇÃO E UNIFICAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO 413

Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Eapúito Santo, onde.
desde 1937 a 1941, foram fechadas 774 escolas particulares "desnacionalizantesº
e- substituídas por 885 escola públicas, abertas nos mesmos locais, quer con-
cedendo cm 1940 auxílio especial a êsses Estados para a c.onstrução de prédios
eaoolarea na aglomerações de população estrangeira, quer dando nova organi-
zaçao aos núcleos coloniais, cuja fundação se condicionou às aigetlcias do in-
ter e nacional 84.
Mas, se cm ma éria de ensino "a questão capital cujo vulto reclama es-
forços correspondeu cs à envergadura e proporções de seu tamanho", continuou
a ser, segundo a opinião e os votos de FRANcxsco CAMPosem 1930, a do en-
sino primário, não s limitaram as atividades da União e dos Estados, n se
período, à solução do problema fundamental da educação das massa . Certa-
mente, a análise sucinta da situação geral do ensinb primário, nos últimos dez
anos, demonstra, como jâ assinwou LOURENÇO FrLHo,35 um desenvolvimento
notável das escolas primárias que, de 27 mil, em 193_2,passaram a mais de 40
núl em 1939, elevando-se, em oito anos, de 56 mil a cêrca de 78 mil o número
de professores em serviço nas 40 mil escolas· do país, com três milhões e meio
de alunos inscritos. Não foi ainda menor, guardadas as devidas prbporções,
a expansão quantitativa das escolas de ensino secundário que, cm dez anos,
tiveram um cr cimento superior ao que se pTocessara, em um século de inde-
pendência, e denunciaram nesses progressos a tendência do gin sio a trans-
formar-se de um curso propedêutico para o ingresso nas faculdades, em um
colégio para o povo. e cr • ento numérico, de certo surpreend te, res-
tabeleceu, agravando.as, os problemas de estrutura do cnaino ecundário, cuja
finalidade, agora tão ampla como as atividades de nossa complexa vida mo-
derna, como observa JOHN DEWEY, já não pode ser a mesma do tempo em que
as academias aistiam tão sõmcn e para os filhos dos que receberam uma ins-
trução clá ica. Ainda qlle não se possa comparar com o surto que adquiriram,
nesse período o ensino primário e o ensino secundãrio, o ensino superior, por&n,
profissional e desinteressado, teve então um desenvolvimento quan "tativo que
não pode ficar sem efeitos antes sôbre a ex.tensão do que sõbrc o apuramento
da cultura do pai , cuja qualidade é duplamente ameaçada, nos sistemas edu-
cacionais, pelo rápido crescimento numérico das escolas secundárias e con e-
qilente rebaixamento de nível nos estudos propedêuticas e pela proliferação
das escolas superiores em geral e, especia:lniente, das faculdades de filosofia,
enxertadas em antigas organizações educacionais, de iniciativa prívada.
Essa crise da cultura qualitativa que se observa por t6da part.e, não é
um produto apenas da redução progressiva do campo da "liberdade de espí-
rito", sob a pressão dos fenômenos de concentração do poder do advento das
ditaduras da querda e da direita, e das tendências do •Estado totalítário. ou
do Estado concebido como um fün em si mesmo e dotado de atribuições para
estender a sua influ!ncie a é o mais íntimos recantos da vida dos indivíduos
e das coletividades humanas. Universidade implica a idéia de. univer alidade
e reclama o livre exame, como obra cujo impulso criador se apóia e se alimenta
na liberdade, tomada em sua plenitude, de crítica e de investigação. Do ponto
de vista sociol6gico, a aise se explica, também, segundo NICOLAS BAlu>IAIEll'F,
pelo fato de que um prin pio aristocrático, - um prinápio de qualidade é
inerente a tõda cultura uperior, e que êsse principio se encontra gravemente
ameacado por um pr o de democratização e de nivelamento pelo domin.io

lt P1:0Jl0 Co\l.lnllOI BOIODI, A.a uco/u utranpirAS e a naaitma/hq6o do •n.oino AlJunaMputO,I


dcp.,ocue=a. ln ''I" "• re-vwt. bruilein de educação, ano tv, tetembro do 1941, n.• 38, p6c,. 48•Sl.
85 Sita,ap6o t-,aJ do •n.;'no p,/mhío - Introd-..çio pelo Prof. LolJ'UtHOOlrn.ao, ~ !1-5', Ia.a-
dtuto Naciocw de &.wdot P 6&ic:'ot,
uBoktltil o.• 13", Rio de J-=in>, 11M1.
414 A CULTURA BRASILEIRA

d m . Ora, êsse extraordinário crescimento quantita ·vo do ginásios e


a "cogumelagcm" de faculdades de filosofia, de iniciativa p ·cu.1ar,num paía
em que mal se podiam manter quatro ou cinco escola de alto ruvel, se, de um
lado, conoorrem para fazer entrar senão a massa, um "maior nwnero" em ~
munh o com a cultura, tendem a rebaixar a cultura, arrastando-a no torvelinho
da mediocridade social e adaptando-a ao ruvel das ma sa , • sua necessidades
e aos seus gostos. Talvez devido a essas novas condições de cultura e à difi.
culdade de conter o ímpeto dêsse processo de democra •za ão, o impulso oficial
dado s universidades, demorado e sem vigor, não correspondeu às peranças
que suscitou a instituição, em 1931, do regime universit rio no Brasil. De
fato, das quatro universidades existentes no país, - a de São Paulo, criada
em 1934, a do Brasil, em que se transformou a do Rio de Janeiro em 1937, a
de Põrto Alegre e a de Minas Gerais, - apenas a duas primeiras apresentam,
como parte integrante do sistema universitário, uma Faculdad de Filosofia,
Ciências e Letras, preposta ao duplo fim de desenvolvim nto da cultura filo-
sófica e científica e de formação de professores secundárioa. 3& A Faculdade
Nacional de Filosofia, criada pelo decreto n." 452, de 5 de julho de 1937, que
organizou a Universidade do Brasil, antiga do Rio de Janeiro, instalou-se so-
mente em 1939, quando, pelo decreto-lei n. 0 1 063, de 20 de janeiro dêsse ano,
se transferiram para essa hniversidade. vârios institutos e cursos que compunham
a do Distrito Federal, fundada em 1935 e extinta por êsse decreto. A criação
da Faculdade Nacional de Filosofia, para a qual foram contratados professores
estrangeiros: a absorção da Universidade do Di trito Federal pel do Brasil,
e a fundação, em 1940, da Univemdade Católica, no Rio de Janeiro, foram,
com a instituição da Universidade de São Paulo, em 1934, e da do Distrito
Federal, em 1935, os fatos mais importantes com que se assinalou, na evolu.Çâo
da id •a universitária, a transformação extremamente lenta do en ino superior,
orientado para os altos estudos, sem preocupa~ões utilitária , e para a pesquisa
científica original.
A tendblcia à expansão do ensino médio, que se tem alargado à medida
que se tende a rêd.e de escolas primárias, despojando-a cada vez mais do
carã.ter de ensino de classe (ginásio de tipo clãssico), e a lentidão dos progressos
do em,ino universitãrio, apesar do esfôrço desenvolvido no entido de elevar
o ntv 1 de cultura, mostram a dificuldade extrema da tarefa que nos impusemos,
estes último anos: o ajustamento de duas épocas e duas histórias inversas.
Certamente a fôrça que adquiriu ·essa expansão cultural, contribuindo para
achegar as massas às fontes de cultura e elevar-lhes o nível de conhecimentos,
não deixará de concorrer para reduzír, senão para soldar, com o tempo, a rup-
tura entre o criadores e o povo, e preparar essa cultura de mandato social,
que admite e supõe o princípio qualitativo e, sendo obra aristocrática, é, na
verdade, obra de todo um povo, - "duplo caráter que é profundamente, ine-
rente às época orgânicas". Mas, essa extensão de ensino e de cultura que é,
como vimos, um processo de democratização, não e r iz s ão a preço do
nível cultural, por uma redução da qualidade ou um nivelamento por baixo,
em que o antigo privilégio das elites cristalizado para seu próprio uso, aca-
baria por ceder e estender-se ao público mai largo da socied d democráticas.
O d volvimento da cultura em sentido vertical colide com casa tendência
extraordinária à expansão cultural, para que concorreram os progressos de
velhos recurso e t cnicas de publicidade (o livro, a revista e o jornal) e a cujo
serviço as d cobertas e as invenções puseram novos e poderoso in trumentos

3 !'l:IIIUNOOtis Ã%JIVU)O,O magüt6rio aecunrlh/r,., DiK'UJ"IOpr0aundado na 1olcnldade de tar-


matuna da 1,• turm• de profeuoree do awno ...:und6rio, • 21 de •bril de 1037, ao ullo o bc-ccb Faculdade de
Modld.u, " letim n. 13", S.C..ctari■ ca Rducacãa e da Se6d• P6bllu, 1037, Sio Paulo-BtaaiL
A RENOVAÇÃO E UNIFICAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO .fl5

de irradiação e assimilação de idéias, sentimentos e aspirações ou, em poucas


palavras, de uma cultura comum, acessível a todos. O movimento editorial
aumentou, de fato, considcràvelmcnte,11 multiplicaram-X as caaaa cdit&-as,
cajo nwnero atingiu a 171, cm 1937; subiram, nesse mesmo ano, a 2 044 as ti-
pografias; passou a imprimir, na capital do país, com tanta abundància que
em 1939 ec elevou a 797 o número de obras publicadas, e a6 uma empr&a cdi-
tôra conseguiu, a partir de 1936, guindar a sua produção anual a drca de 2
milhões e meio de exemplares; e o comércio de livraria atingiu cm dez anos uma
intensidade surpreendente, quer na venda de livros publicados por empresa.
nacionaia, quer na colocação de obras importadas, não só da Europa, mas doa
Ettadoa Unidos.
A diíuaao da imprensa e a floração de revistas, de vários tipos, nio con-
correram menos do que o comércio nas 1 179 livrarias arrolada em 1937, para
hae movimento de expansão cultural, de uma região para outra e por tódas
as camadas sociais. Se em 1912, segundo os dados estatísticos, circulavam no
país 1 377 peri6dico1, dos quais 1 275 fWldados depois da proclamação da
Rcp6blica, essenúmero havia dobrado cm 1937, em que a6 a capital apresen-
tava nada menoà do que 161 jornais, dos quais 21 diários e 14 com uma circu-
lação superior a 50 mil exemplares. O Distrito Federal, o Estado de São Paulo,
~ o Di~rio e O &tsdo de São Paulo, que chegou a ter uma circulação de
80 mil, Pernambuco e o Rio Grande do Sul continuam a manter a sua posição
na vanguarda do jornalismo brasileiro, com jomaia de primeira ordem, cuja
irradiação e influencia ultrapassaram às vêzes as suas fronteiras.• A Associacio
Brasileira de Imprensa que ' o principal órgão dos que ac dedicam às a ·vt-
dades de imprensa, em hoje a aua sede, devido ao impulso tomado pelo jor•
nali.smo brasileiro, num magnifico cdificio, -a "Caaa do Jornalista", eapcci-
almentc construido e instalado no Rio de Janeiro, para tõdas as funções têcnicas
e sociais de um aparelho central dessa natureza, destinado coordenação dai
iniciativas e ao cume dos problemas que interessam aos trabalhadores dos
jornais filiados a Associação, de caráter e finalidades nacionais. Se ae
acrescentar, a todos essesel cotos propulsores da difusão de cultur , a ação
exercida pela, aocicdades literária , pelas numerosas associaçõcade intercâmbio

17 Ainda nlo ae collpram, ao BruU, oa dada. estat!aticoa re:latiYOeà pnxiuçlo de U-, pcw ••uatoa,
aae di..-a -• cdlt6ra1, • 11ua circu.laçlo·c di•tribuiçlo pela■ difeRata rqi6a do pa(s. BeeantaU,tka ~
-mmte Otll nlo 16 pva apreclaçlo de virioe a1pcctoe de cultura, c,Ql)lo~ atudoe ,Obre •• npkl
de IIYTode ma c,c, tlr■t:em e, pottanto, de maio, aceltaçlo, a dlvcrlidade doa "píabllcoa" a:la.:entn • a capacldad•
e dlttribwçlo a:eo&rAflc•de cormuno dl! produçlo editorial, didâti01, Uterlri• e clent!Oar, M••• que o movlmoilto
editorial no p,rf1 ,e dotfl11volveu,de modo no~vel nffta 20 e, particularmente neeta 6ltlm011 to anot, alo h'
-bi:a de dOvid11, But\l con1idcrar que, all:m daa anti1 .. caw edltõru, como • Livraria J!'raocuco Alva,
hoje Paulo lu, vedo e Companhia, • Livr•ria Qarnier, •tualmente Briguiet>Garníu, ec fundaram mal, Rt
91DP'•• vadaddrammt m.porU,ota, • Companhia Mr:lho,ramentoa, que ec dedlc:e IIClbc-etudoa llvroe d •
di&a., • Companhia Editora N•clonaJ c a LiVl'UÚI Acadhllica (Sartlva), em Sio Paulo; • P'rclta Butot, que
oe ""'apc,dalluodo em obrai J11r1dlci111, • Guanatrar.. mala conhecida pdoa MUI livrca do l!Mdldll■, e • L YTri•
Já Ollmplo BdltOr , a Rlo Ja,,evo, e • Liwari• do Globo c:m ~ Alc&re, eem cootat fl"IDdo a(lmero de
cua eclitO..U.eapalbllda■ pelo paf1. A prodQClo atinip11 tau propotÇQel que a6 oa Companhia Bdltora Naclooat,
uc:a,deu • 2 e 480 mll nemplarft, em 1!136,perma.aec,er:,doentff 2 mílhaa e 300 mil 2 aillb6el o 500 mil
• i,roduçlo aauai. no, dJ:rco llJ1CIII wnra atl: 941, •i-r das proluJ:Nlu C011,1Cq0eoduqu tona 'l.• swrr-
mlmdiaJ tbbn a nd01i:rla • o combclo d 'livro,. N- pertodo, • Compulila Bdlton1 Nadoaal, cnln caju
lnldativu n • llrHJll■ n■ , - biblioteca de atudot naciooail, ~ maia d■ 200 YOI , ..m de,
cfnio (1931 1), eh ou • rua ediçlo com cir-ll«emde 20 mil e. dc outl'O livro, CIP v6rial • a:n pcdor
a 4S mil cicmplM . Qu■Ddo compa, ei-. atimaoa, alada muitD redtuid , cem ca dat
• uno, , q v tn mil e d mtl esc:mp1ttra. aão 1: poafyd d-i.cccr a ma lil)im,~io
ma>to torial. dbta -. IICID P'~ta - !üat:6si.ada bld6.tria do IIYl'O DO Br
U caberia c:ertan-ltc. - limita de ama obn de .to- • c:ltacAo d tOdM .. n..,... q
daata<:aram, oob aJcum.. pect'OII, ao Jornaliamo do pc,rlado republicano.. AWa Dia t rcdmldo o aCuncn, da pro{le-
dc outnl caruiru e da b de Wru que ronm "rpi,õr!ical'llf'O~ jDl'1lAliltu, • prwlo nela
p6btica. c,am • qoal • abriam e _,...,.a, IUáa ._tividada de iulprc:a.a. Maa, =tno CII s,aoxl Jornallltaa
.,de proll "nlo ' poalv 1 _, OI nocaa OuaJreS de QmJm1C1) ~" io, 113 l!112), J6
ae lm aa eaalpanba abol • • ta repub1ianla; ALcumo GU&JJUUA (Baado do Rio, 1 5-1911);
Jod CAAOI RoDIIIOUU (Ltado do , 11144--1923),dlretar da "Jornal do Cam&do''; ZOUUDO s.,u~o,n ..
• Joio L4o& de "0 Pai ": Nl)O Blffoc:ouu, fw:tdAldore dirttardo "Carmo da "; JOu Mslqun4.
de "0 S.tlldo de Slo Pllulo" 1 e, m.ia l"IOCeDU:mCD~ Jod SDu.UIIIOMAcmo &M.u:9. fuadador e difftor de ••o
l.alpwcial", conto JUoo, do 'c«nio da lrlaohl", e Alm Cll,t,TUU81lW11>,um doa a,,al■ IIOt6 JOrtlaJlotu
que Jl ln'e o Braail, fundador da. MDl.6ri01ÁNOC:bldoe",- a maia - e pod..- rMe udooal de jorm.11,
f"..i- e e,mollal d riditt, ~ pelo pala.
4115 A CULTURA BRASILEIRA

cultural, e pelas exposições e congressos de todos os tipos, científicos, tEcnicos


e pcdag6gicos,11 que tbn secundado as tentativas de simplificar, coordenar e
organizar mais logicamente, ou mais econômica.mente, todo o nosso sistema
de ensino e de cultura, poder-se-á apreciar melhor o qu_ereprcsCDt.aêss esfôrço
constante de intcrpenetraçao de idéias e de assimilação, sôbr-e que se devem
apoiar, como numa base mais larga, as elite$ que a sociedade reclama e se terão
de preparar, no país, para tôdas as grandes tarefas. brc a base dessa cul-
tura que se generaliza, e cujo nível, porisso mesmo, se abaixa automàticamentc,
mas de que já resultaram um acréscimo de fôrça e uma sondagem mais pro•
funda de vocações, as elites que se erguerem, mais numerosas, encontrarão apoio
e receptividade, por uma comunhão maior das massas com a cultura, para
fazerem penetrar de um pensamento mais alto e refletido tõda a vida nacional,
Dasse movimento de expansão cultural, com que se alargaram os nossos
costume e as nossas maneiras de pensar e de sentir, e se propagou por tõda
parte o gõsto da leitura, um dos [ndices mais expressivos foi, certamente, o
impul o que tomaram as bibliotecas públicas no pats. A análise, ainda que
sucinta, do movimento bibliotecário, para o qual tão eficazmente concorreram
as nova teorias pedagógicas e uma consci~cia mais viva do papel das biblio-
tecas, como elemento auxiliar de educação, não nos revela ap nas um ciresci-
mcnto numérico dessas instituições, mas um esfôrço, no Ave! em alguns centros
como São Paulo, para reorganizã-las no sentido de as tomar mais úteis e aces-
1ivci ao público e de dar orientação uniforme aos eus serviços técnicos de
cabllogação e de classificação. De 456 existentes no Brasil, em 1912, - entre as
quais as instituições fundadas antes de 1821, como a do Convento do Carmo,
no Rio (1545), a do Mosteiros de São Bento, do Rio, Bahia e Pernambuco,
caja origens remontam ao século XVJ, a do Seminârio de Mariana, cm M'mas
Gerai , que data de 1748, e a Biblioteca Nacional criada cm 1810, - subiu
o número de bibliotecas a 1 527 em 1929, com ctrca de 9 milhões e cem mil
volumes, e, cm 1935, a 2 312, com exclusão das coleções das escolas primárias.
Em 1938, as biblioteca públicas ou semi-públicas, cxistcnt nos mume1p1os
das capitais e mantidas pelos governos e por instituições particulares, ele-
vavam-se a 192, registradas pelas estatística , que não incluíram. n e número,
nem as bibliotecas d.e propriedade e uso individual, nem as escolares ou de
estabelecimentos de ensino primário, secundário ou superior, oficiais ou parti-
culares. Dessaa bibliotecas. pelas quais passaram 949 460 ou cêrca de um
milhão de consulentes, 48 estavam instaladas em Põrto Alegre que figura em
prímeiro lugar; 47, em São Paulo; 17, em Recife; 14, em Florianópolis, onde
se acha a excelente Biblioteca Pública do Estado, velha de quase um século
(pois foi criada cm 1854) e com mais de 30 mil volumes; 13, cm Salvador e as
restantes, espalhadas pelas outras capitais. As estatfsticas das obras consul-
tadas denunciam não somente um notável alargamento de cultura e maior
variedade de tendências e ambições intelectuais, como ainda o interesse cres-
cente pelas obras norte-americanas, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro,
graças inílu@ncia das idéias norte-americana no movimento de renovação
educacional, ao impulso que tomou sobretudo depois da guerra (1939), a po-
U •ca pan-amcricana, à penetração dos romances, de autor anglo-saxônicos,
escol dos pelos grandes filmes, e à criação em 1938, de instituições como o
Instituto Brasil-Estados Unidos, fundado no Rio de Jan iro, e a São Paulo
União Cultural Brasil-Estados Unidos, que se inaugurou nesse mesmo ano em
São Paulo, com o íun de facilitar a cooperação intelectual e promover, entre
os dois país , um melhor conhecimento e mútua compreensão, por meio de
confer~cias, exposições de livros americanos e outras iniciativas culturais.

19 Lou.: ço Jlnio, Con11,...- • conf.,6nciu d• eduQp6o ~ rcx b t.6rica). ln nviahl


"lJonae ", .• 41, AAo IV. ne-bro, ™t, 9'&t. 5-17.
A RENOVAÇÃO E UNIFICAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO 417

Onde, por&n, adquiriu maiores proporções o movimento bibliotecário foi


pa cidade de São Paulo, CQjo govêmo criou em 1935, no Departamento de
Cultura, a Divi o de Bibliotecas, a que estão subordinadas a Biblioteca Pú-
blica Municipal a Bfülioteca Infantil e a Escola de Biblioteconomia; reorga-
nizou a Biblioteca Pública Municipal, que foi fundada em 1925, e a cuja coleção
de 67 277, cm 1938, se acr ccntou o acervo de 40 mil volumes pertencentes
à antiga Biblioteca Pública do Estado; instalou a Biblioteca Infantil e instituiu
a primeira escola de biblioteconomia, em que pudessem preparar-se os can-
didatos à1 diversas atividades técnicas ligadas à profissão e que, tendo inaugu-
rado 'OIcursos cm 1937 com 215 estudantes, jâ cm 1939 graduava 65 bibliotc-
drios. Para a instalação da Biblioteca Pública Municipal, cm que se incorporou
a do Estado, pelo decreto n.º 2 839, de 5 de janeiro de 1937, fb construir o
governo da cidade um magnffico edificio, com capacidade para SOOmil volumes,
e de acõrdo com tõdas as exigências higiênicas e técnicas das grandes construções
'modernas destinadas a bibliotecas públicas. A lei estadual de 1937,- uma
"" maiores conquistas do movimento que se r~zou em São ·paulo, - regu.101,1.
j,'"e:zerclcioda profissão de bibliotecário, estabelecendo entre outras exigblciaa,
o curso eapeciali2:adoem escolas de biblioteconomia e criou o Conaelho Biblio-
tecério do Estado, com os objetivos de coordenar o trabalho e promover a or-
ganinção do Catâlogo Coletivo de tôdas as bibliotecas estaduais e municipais,
e ainda das particulares existentes no Estado e dispostas a colaborar nesaa
obra comum de uma completa bibliografia local.40 Pof' sua vez, o gov&no da
União, pela lei n. º 3 78, que deu nova estrutura aos serviços do Ministério da Edu-
cação e Saúde, criou em 1937, com a função de organizar a Enciclopédia Bra-
sileira, o Ins 'tuto Cairo que, transformado em Instituto Nacional do Livro
pelo decreto-lei n." 93, de 21 de dezembro dêsse ano prosseguiu na tarefa de
incentivar a organização e auxiliar a manutenção de bibliotecas públicas em
todo o territ6rio nacional, tendo favorecido o estabelecimento de cêrca de 100
dCIIILIinstituições, mediante a distribuíção de mais de 20 mil volumes.
Mas, entre os principais elementos de difusão e de con ervação de cul-
tura, os que maia concorreram, nestes últimos anos, para as transformaçoea de
mentalidade e de hâbitot de vida, no Brasil. foram incontestàvelmente o cinema
e o rádio, que exercem por tôda parte profundas influencias no sistema de
relações humanas. De t&ias as invenções do espírito cientffico, o cinema e o
rádio não são apenas aa mais belas, as mais carregadas de espirita poético e
as que abrem novos horizontes à arte e ao pensamento; Poderosos inatru-
"1XM!IP,foaeducativos e culturais, de informação, de propaganda e de ensino, fa-
t&-es de educação popular, de primeira ordem, pelo seu extraordinArio poder
de áugestão, desempenham um papel tão importante que a sua influência não
s6 e pode comparar, mas jã se considera superior à do jornal diário, sobretudo
em países onde são ainda numerosos os iletrados. Arte maravilhosa que com-
pendia tõdas a.aoutras, aliando o som e a imagem, a beleza das linhas e a do
movimento e, talvez ainda, a côr e o relêvo, se pode ter, conforme os casos, seu
poder educativo utilizado num sentido desfavorável à mútua compreensão dos
povos, nenhuma outra conseguirá transmitir, como o cinema, e sentimento
de universalidade e de identidade da espécie, com qne se alargam as concepçõca
de vida, pondo-se sob os olhos, transportada de tôda parte, a realidade prc-
ec:nte, na sucessão trepidante dos acontecimentos, na diversidade pitOfC9C8.
dos cenários naturais e na multiplicidade de tipos e paisagem sociaia, atrav&
da variedade de cajas formas apresenta a unidade fundamental do esphito

to Doaonn' O•on, Blblloloca do RJo de ],u:,oirQ • de Sl'o P«ulo • o mow/monto blbtloloc.A.rlo


da oaplta/ P■ UlillL Coníerb> • r. e. em New-0.rl- LDUUiarul,Rn:ad.01 Unido,, - l939. Traduçip de
ll'llAHCUCO 0.11 Aavco. Separata da "'Rev-i■ta do Arquivo", n.• LXVllL Depa,tammto de Cllll:unl, 81a
Paulo, 1940.

_.,,_
418 A CULTURA BRASILEIRA

humano. ~ssc alargamento de horizonte mental, acima de elas es e de fron~


teiras, uma vez que se vem operando pelo cinema em que o filme americano
em um lugar preponderan e, tinha de realizar-se, no entan o, como se realizou.
sob as influencias imediatas do pensamento e dos costumes americanos, já
p lo domúuo dos Estados Unidos na indústria do cinema, já pela superioridade
cnica e artís •ca de seus filmes, já pela ação modeladora ôbre as massas po-
pulares, e resul ante da "produção em série' das pelkulas americanas. A pro-
pagação do rádio e do cinema por quase tôdas as cidades do pais não podia
deixar de ter consideráveis repercussões sôbre a cultura brasileira e os costumes
nacionais contribuindo notàvelmente não só para modificá-los como também
para, acelerar se processo de assimilação em que in rvi ram, há pouco mais
de vinte anos, êsses dois meios de expressão do pen amento e de expansão da
cultura, sob tôdas as suas formas. A rádio-difusão que, de fato, se iniciou no
Brasil em 1919 com a primeira estação, - a Rádio-Clube de Pernambuco~
e tomou impulso em 1923 com a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada.
com intuitos puramente culturais, por ROQUE'rTE PINTO, - o pioneiro da
tádio-cultura no pais-, e HENRIQUE MoRIZE, e transferida mais tarde para o
gov 'rno federal, s6 se desenvolveu, na realidade, e de maneira surpree,;,dente,
depois da revolução de 1930 e, sobretudo, da de São Paulo em 1932, em que
o rádio exerceu papel proeminente na propaganda da revolução.
Foi por época que se baixaram os dois mais importantes decretos,
dos quais um r gulava os serviços de rádiodif usão, reformando a primeira lei
sõbre a matéria (1924), e o outro, a distribuição de freqüências, concedidas ao
Brasil pela Convenção Radiotelegráfica Internacional. Surgiram dai por di-
ante ·novas e grandes estações transmissoras que em dezembro de 1939 já se
elevavam a 64, no Brasil, sendo 39 em São Paulo ( O, na capital e 29 no in-
terior); multiplicaram-se os aparelhos de rádio, dos quais em 1939 foram regis-
trados 357 921 no país e 115 042, em São Paulo, e portanto, quase um têrço
do otal de aparelho então existentes; criou-se o Serviço Nacional de Rádio-
difusão Educativa, em que reaparece a idéia da aplicação do rãdio a fin edu,•
ca ivos, urgida pela primeira vez, na legislação brasil ira, com a reforma do
en ino no Distrito Federal em 1928;tt fundaram-se novas sociedades de rádio;
instituiu-se a "Hora do Brasil" e organizou-se, no Depar aroento de Imprensa
e Propaganda, a Divisão de Rádio, sob cujo contrôle e fiscalização ficaram
tõdas as tran missaras brasileiras. O cinema que se introduzira no país muito
entes do rádio, nos princípios dêste sêculo, adquiriu um impulso extraordinário.
nos últimos dez anos, realizando-se em 1938, em que já se contavam 316 salões
e cinemas, só nos municípios das capitais, 195 647 esp táculos, para cêrca de
4,4 milhões de espectadores. O desenv:olvimento foi tal qu jâ em 1932, pelo
decreto n.u 21 240, de 4 de abril dêsse ano, teve o govêrno federal de nacio-
nalizar o serviço de censura de filmes cinematogrãficos, criando uma taxa es-
p cial e tab tecendo outras medidas legislativas t nden es a re.gular o pra.
e so d exame do filmes e a promover a nacionalização de seus serviços. Ainda
que utilizado oficialmente no Distrito Federal pelo decr to que reformou o
ensino na capital do país, - e foi a primeira lei que d tenninou o emprêgo

U A r,r{Jndn lei Jll"OIDlll;.111!,i no pah s6bre o r6dio e o dllt:n)a educativo oí efe 1/Uftfflfe o d«reto
0

11.• 3 , dt 23 de J•~ de 192&. qoe rd'onnou o ~oo oo Oinrito F ttal e, r • r lam.enr..So ~lo dcettto
• 2 ~O. de 2'.l de o emb<o do mesmo ano. O Título JV, ''do cinema "do r&dio", do primeiro docreto,
n.• 3 UI, •li" ta dois ••tiir.o, e um ~aro: no art. 296 ie ota~l- q~ t as ncola, "U:rl.o de:s.
tlnad•l nrta~deal)lll'dboa de prcdcçâ<i í,n e anima.da pano fin.t mcranlffltc ucaúvoo, bun coma llll-
tal •dcapardhoodcr6d~w..Conlae.1llro-[abmu,,-;c,p,eloart.297, cr,a.......,, io-acolJi,com aa~va
taç1o trana ia«a, d tiMda l imuli!ição iri6ria, pa.;a aa ncola• e para o pllblko, de b nOI e caaç6a CICClarc:s,
da bon, Cll'klal, do bolttim de atos" imtrui;ôes da Dirdaria 0"'1ll, de, tod,- OI au1111to, de lntu~ do ,mi:ioo,
llçh artl,tlcu de cariter educativo. No Titulo JV do dcc:rcro n.• 2 940, E rqulameotada • aplicação
do ciner.na a nu ~w:atiYOI (a.rtL 633-<>351.fixain-sc as OQjC..... t 11t:d6 orsan Hção li R6dlo-E la farta. 536-647),
c,ladJ, pelo dc:crcto 9"" reforaiou o cn.mo no Ilittrito F~ pOI" iolçla vi a 10b a rnpGDMbilldade do autor
desta obra.
A RENOVAÇÃO E UNIF CAÇÃO DO SISTEMA EDU TJVO 419

do cinema para Íl.ns colares, - e em São Paulo, pelo decreto de 21 de abril


de 1933 que aprovou o C6digo de Educação, o cinema educativo mente
cm 1934 vcio a interessar realmente ao govêmo da União que instituiu medidas
concernentes à utilização, circulação e intensificação de filmes escolares (de•
ereto n.0 24 651) e aiou, pela lei n. 0 378, de 1937, o Instituto Nacional d Ci•
nema Educativo com o fim de coordenar a aplicação do cinema educa ·vo e
promover a sua divulgação por tcdos os meios.42
:I'õdas essas atividades de cxtemão cultural para as quais concorreram.
em partes desiguais e com ritmos diferentes, o Estado e a iniciativa pri ada, o
governo c ntral e as diversas unidades da federação, se não tiveram tôdas a
sua origem, encontraram sempre apoio e repercussão favorável no Ministério
de Educação e Sa'Úde,que foi, com os do Trabalho e da Aeronáutica, uma das tres
grandes Secretarias de Estado criadas pelo govêmo implantado por duas re•
oluções. De 1930 a J.934, o novo Ministério não pôde desempenhar todo o
J?.8PC1 que lhe estava reservado na política nacional do gov@rno.re\l'olucion,ário,
pelo fato de formar ainda, na sua estrutura primitiva, elementar, antes uma
justaposição de partes do que propriamente uma verdadeira conexão em que
cada um dos serviços de ensino e de cultura, hierarquizados entre si, tivesse o
aeu lugar e o seu papel, em conformidade com a importância e a variedade de
eu.as funções écnica , administrativas e culturais. As atividad de ensino e
de cultura haviam adquirido ademais um tal desenvolvimento que rom.pecam
os quadros da organização primitiva, exigindo a reforma de alguns erviços e
a cria - o de outros 1 para que o Ministério pudesse projetar a ação coordena•
dora em todos os sctore da cultura e da educação nacioneJ. Foi eu.tamente
o que teve em vista a lei o. 0 378, de 13 de janeiro de 1937, que, por inspir ção
do Ministro OUS'l'AV0 CAPANEMA, deu nova organização mais completa e mais
larga. ao Mini &ío de Educação, abrindo-lhe possibilidades, para uma açao
fecunda e orientada no sentido de estudar e pesquisar os problemas t&nicos
postos pelo cresc ntc desen olvimento das instituições pedagógicas, de coor•
denar as atividad di ersas e às vêzes contraditórias, e uscitar, precisar e
enriquecer as iniciativa& cul urais em todos os domínios. "'Nos documentos que
acompanharam o projeto governamental ao poder legislativo, - esc.rcv o
Prof. LoURBNÇO FILHO, - encontra-se claramente definido novo espírito.

'2 A ul.illnclo do cinema no imaino ., na peaquisa c:ientffic:acomeçou • ser pc-aticad• no Mu•co N■c:lonaJ
que lnauautou, e,n l!110, • awi ntmoteça, enrlquci:ida cm 1912 ca,n o, primcir011nlruC!t dot lnd.lo,i Namblqu TH
que RoQúBH PINTO trou~e do Rondõnia e os admir6vei, pellc:úlu ~m que a Coml1 o Rondoi:i dacument•v•
•• a,ua, explornv a ec<:>arArlc , bot6nka1, i00l6gica~ e etnog•âfk,... Em outrat ln1tllulo~e1 d.e 01ino o cul•
tura realiearam• o po1tcrlormcnt tenta ivu para o emprego do cinema educ■tlvo. Sõmente, por6m, tro 1!1211,
iniree • primei•• lcl Obre o empré o do cinema para fina cscolare:s: o autot' desta obra, cntA i:llrctor 1eral da ln •
tnlÇlo P6bUca do OI trito Fed~al, detennioou e •~lou a sua. utilizaçAo cm t&da, •• e col • d ■ caplt•I do par,.
(Decreto n.• 3 281, de 23 de Janeiro de 1928, arta. 296-297; e decr•to n.• 2 940, de 22 de novembro de 102 ,
arta. 6".-63S . Em 1 29, por lnlc tiva da Dir.:tori Oernl d• ui,lruçã:, lnau utou..., oClcWmcntc • J,• lbpoalç o
de dnema.tacrl/lA Et.lucath, , cuja 011•0lc o ateve • cargo de Jõ11n.u SBIQtAIIO,wn do. Iniciador d e
movimeoto. Sob 4 in pire , o de ANr.'lo TllfxBlltA criou- ... pouco dcpoi , en:i 1932 (dcen n.• 3 763, de l.• do
fcnttlro de 1112) • D vlsl.o do Clntma Educativo. Neee m=-tt10 llitO, o decreto n.• U 2 O, do 4 de ■ brll, do ~o•
y faicnl ion■liJõu o ~ de cCMura doe íill'IIC9 cinematcgrifico,. No &a o de o P ulo o cri. d
a■ • de ·o Cinema Edw:.tl.vo pelo ecroto n> 5 884, de :U d.cabril de 1933, que, 1 tln.Jo o c.6dllo
de Eduea o, ci.borado porlnldlt v■ e aob ■ cricn çi<,dcF!!:RNAm>OD~ Az•VSDO.No d o n.• 24 651, de
10 d.e Jlllho de 1934, que criou no M • o d■ Juniç■ o l)r,pertameuto de Propqa.mb e Difu Cultural, et•
c.~1-- m • lart:. , ali •· b. c,l, rcferenm à ~. cin:ulaçll> e lnblu~c:a d fil
educativo■ . A cn çlo, m, l!IS7, do lnotitu N■d I do Cio.em.a &luúti90, pela lei 11.• 37 ,
alliutlo D t&fo de ltducac:Ao ., Sa6dc, ma~, oa cvula,;b da id . uma d ltU8I ( amnl~tc:a.
lMtituto, cf~ foi coníieda a ROQUfflt PtNTo, - um dos piooeiroe do mMGlCQtQ em'ª""" do
ciDcm.■ ncolu, - tem por nm arp1úa11 e cdltar mmes edll01ltivm br■.sildroe: perm r c6pl d íl<0 edl•
tad ou d.e ou a.: editar e pcri:nu • • ou filme, ""'"'""• cam aula,, caníu I tN ; 11r1.•
- fitmotirca educa ""• 1)81'11 IIO"'liraca lmtltutoo de cll$Ílll>,e pubfie■r uma n,vi COlllUIIJa(la■ CÜletn■,
f"~o e ao r6dio, r,p • , aplica à e à eduaação. Embora ala,b, r te, - p oAo
• cuxoano,, - o Jnstltu N onsJ d, Ciuem• &:lac:ati"" ;, editou cerca d ~ m ; ap,■tdhou e
para r- u lnf,orawc:,M:se aclatecin,enta■ re\ativot ao cineius,. C9COhr,em 1:6-iu u uu ■ ; orpollou
uma blbl pcd,allada em e re.i, • cinemar,zráEicu e recolhcll, uot arqu.lv , co,irden■nd<Mlt,
..iio.t c:o<11ribul que te eocootnvam dº pcnall, No domlnfo da pe,q • pcoude11 • 01 pro•
blemu U ■d a lar do OlllMI ■ ub•t ■ ndvd, de Ui mm; realizou euallJI ■6btt o filme de 16 mm,
cm c6rc:a netursi1, e pe,quiaa de fcmtuc. c,rperimcntal !l6btt a pr0ll6ad■ do ,dl....,. nadlXlal cm divCl'IU 1
do pala. ter,. J6NA.TAI~ltANO e hAMCJIICO Vad,JICIO Fn.iro, Cinema .,Ju.,.,;60: MltlfDa 0& IUllltl)A,
Cin•m• con1,e o,'namal
A CULTUR BRASILEI.RA
420
----- ----- - - - .

a destacar três pontos essenciais: o de uma tcnd! cia de racionalização


da edmini tração; o de maior projeção nacional do serviço do Ministério;
o de mais larga compreensão das funções da educação colar extra-escolar.
Classificavam-se os vários órgãos e serviços em cate orlas distin • dividia-se
o p • cm regiões d administração da educação; defi ia-se a ç-o suplementar
da União matéria de ensino e de educação e estabelecia-se um instituto
destinado a pesquisas pedag6gjcas; criavam-se por fim serviços para o estímulo
e desenvolvimento de instituições de educação que não impt ente as escolas...
A nova estrutura do Ministério definia, enfim, a polltica de educação a ser
desenvolvida em um largo plano de coordenação nacional dos crviços de en-
sino propriamente dito e dos de cultw:a nas suas variadas formas". 43
O Ministério de Educação preparava-se para ser, depois da reforma de
1937, não somente um órgão de sondagem central, para a pesqwsa. metódica
com o fim de estudar e investi_gar o crescimento normal, graças ao qual as ins-
tituições realizam o plano de que procedem, mais ainda o centro de coorde-
nação das atividades culturais no 111agníficodesenvolvimento de tôdas as fôrças
vivas da Nação. O seu programa, extremamente ampliado, de ação educativa
e cultural, abrangendo o ensino de todos. os graus e tipos, e estendendo-se sôbre
t6das as formas que pode revestir a cultura, vem todo éle, marcado de utn ca-
ráter emine temente nacional, senão nacionalis , que ressalta das f'tnaHdades
fundamentais de todos os seus serviços, dos cus planos de coordenação de.
atividades. e do espirita com que se organizou, n-o s6 ara favorecer a conti-
nwdade e os p ogressos da cultura, mas para r • a ar, pondo-os ob a pro-
e o do Estado, de acõrdo com o preceito constitucional Con . de 1937,
art. 134), os elementos subsistentes da tradição hi 6rica e artís •ca do país.4'
Nada de rígido, nessa organização; nada de está ·coou fixado, mas tudo esta-
"do à maneira de experiências como um apêlo constante a p e.guir a
obra ue e começou e a acelerar o ritmo dêsse proc so de expan o que, através
de múltiplas ob cnridades, rasgou por seu impulso criador, nov s perspectivas
oao à as imilação da populações brasileiras. as diíerenciaçao de valores

• LoUtDIÇO JIU.Ro, 'I'ondlir,p~s da e-duc:ar,Ho br111Ulslr11 8ibC d.o ~u (:lo, vlli. 29, Con,.
ahla 'M lharameotOII d Paulo, ~ Paulo.Rio (1-.-n, dau, ), , 41.
4f hi>l'OJ'tan= imtitu:too criadot em 1!137 pelo goverm, i era din o ai> Miolstki<>
de Bduc11 de 6, de fato, o Serviço do Patrim6'1i.o Hi1t6rlco e Ar lat,I o ctn u.c •• tnn1íormo11.
amplland cll.l On• e oa "ºª C!Stmtnra. a anti ,r l n1potorl de Moolim 1r::lonal1. P e•n dlJOcr
qua 16 cnt' o " corporlncou em uma org;mi.zação eficiente • id6ia do prlmelro 11prtte!\! do ein ll>U li
C6t111>rall'~i,ral pelo deputado J>CS'DlO.lnbocano Lul! Cl!DRCI,ollbr<: <L de~ do trlm011lo hl~t6rlco e artl,ti<:n
do palt, e naufdo de perto, em 19is, 1'127 e 111ia por Mlna., 811111,e Pern111nbueo re1peotlvame11te, ujo1 go-
vert101 cnlcllU' m do problem. , promovendo o eBtudo e P elaborat o de lcim oom o m mo objetivo. Km 1933,
pe,o decreto n,• !12928, de 12 de j11lho d!!i1e ■no, o g-ov&no feder I inlci obr• a que- cvoria dar r.uai, tarde
maior" propof , mdndo em Mon\)mento Nacional a vclbu cidade mln ir• do Ou.ro Preto, - verdadeiro
mu •u ao ar livra, pd.o valor histó,ico e lll"tt:ltico de ruas p11isegen1 urb11na1. Com o decreto n.• 24 735, de l4
de julho de l934 que criou• lMpetoria dos Monum~ot<n Nacional~. com u· o MllSea Hllt<,rlco,
la.o;at•m•M u bcu • do oiotema rle proteçãQ do patrlm~nlo hlit6rlc:o e , 1t 1c l11tem.11Dr•
1anJ100- eob o nome de "Serviço do Patrim?opio Rí,t6ríeo e projeto, oubmotldo
pdo Presidente d!l R"!IAbUca li •p•~~.,. do Congreao, nil r ter aobrevlnd'D o
aolpe c1<! l!!tbld.O qut rm 1,937 lmplantDll no,ro n,time, dlnPI Coo tlnicfoul
de 10 de oovcmbro de l937 deu. impubo notã.vcl li id& em 'o., rnonwnentos
hlllt6rlcoo, IU't1i coe • naturais, qãm como u pa· gcru ~ natures...
11oam da p,-~ e d cui~opeciais da ção, dot contt•
moo=tae •·.,.-.o cqulpcin,dos '"'" cometido, cm, pdo Minúttrio
d.a • e e o nt~projeu,, que vinl>-.1CDdoa o oo decreto-lei
n.• de 11.0<1embco de 1937, QtlC CUUlPill II an • ao n.irtmo
ele e S.llde, o acrvi.co e,peciaf de P'~ do Entre os tra•
balho, rttllut!o, pdo novn Sa-viço, cuja im;,on:l • oq com.eçou
• lmntar de !Ma • riqu birt6rit::e a a:rmtíea do ~ da valor
o, dNdc oa ronjun:m m~ variedade
, ra~o e • conventos.
e outnu ohr,q ciue j6 pla11tjament.o
de idmcia, criado em 1938. ta e cadeia
de em ~ :,w. .na Rio m,P<TW,que""
acha perialdeP~c m,noRio,e.dt
N'-" Rei • • oa 13ahia, em roe ainda de "5ffld.os e dr ·coe Arthtko
Nwona.l pub~ e: ccl<'tltc rcvut11. - a "Revista do • te bá ·co e
do,;:omc:nt co,no o Ou(,. do Ou.ro Pr4to. d: M.uron. &.w&IllA, o Di,rlo lnt/m,:, rio ona•nh11iro V1>uthi•r.
dr 011.aUTo hnu. a Arte indifena da A.m,udrua, dl.' ln Al-•Cflro TOnu, e Bm t6rno d• hl t6rie
do •b•rl, d ZollOAITRO P.u:1oa. (Cfr. AroN$0 Altusos 01< MEt.0 u.1tco, Ar , /red ~•o naoioftelismo
CaD.Cut 1"'00111>1:iad.a CIO Slo Paulo a 31 de-nwo de 1941. ln "0 &1tai10 de o P ulo", S d~ J• elro de l!141l,
A RENOVAÇÃO E UNIFICAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO 421

culturais. Todo êsse movimento de renovação e de extensão do ensino, como


da cultura em geral, jé. nos deixa, de fato, muito longe da aociedade antiga,
imperial e republicana, feita, até à primeira guerra mundial (1914-18), aõbre
wna lei de conformidade, cm que as nuanças então nascentes de idéias e de
.entimen os oão chegavam a definir-se e a- adquirir prestígio e influblcia pon-
derável, ainda nos Es ados mais evoluídos. A diversidade de campos de in-
vestigaçao que solicitam curiosidades e vocações, a riqueza de pontos de vista,
. a abundància de personalidades distintas., a variedade dos gostos, dos sonhos
e das ambições intelectuais, tudo isto testemunha, numa multidão de el.ementoe
vagos e incoerentes, a vitalidade da nação que, 110b o infhuo daa iniciativas
oficiais e particulares se des volve, - para empregar uma imagem feliz, -
"semelhante a um grande rio alimentado por numerosos afluentes ou compa-
ri.vel ainda a essas árvores que produzem tanto mais frutos quanto maior o
número de seus ramos".
As transformações políticas, sociais e econômicas e os problemas que sus-
citaram; o desenvolvimento e a comp1Cltidadecrescente dos serviços públicoa
que exigiam uma completa remodelação do aparelhamento administrativo,
não podiam deixar de avivar a consciência da necessidade das pesquisas esta-
tfaticas, como base objetiva ao estudo e à solução doa problemas nacionais. O
homem de govtmo e o administrador, mais do que em qualquer época, sen-
tiram-se impcJidos para uma atividade realista, de política positiva, orientada
pela observação dos fatos sociais, traduzidos em têrmoa numérico e portanto,
pela apreciação estatística, objetiva, da comunidade brasileira e dos serviços
públicos destinados a satiafazer às suas necessidades fundamentais, em todos
os dominios de atividade.s hwnanas. Era preciso tomar oonsciencia dos pro-
blemas do país, para poder res.olvê-los, reduzindo ao minimum o insu os
e: as desilusões, os desencantamentos e as ruínas, a que se expõem os governos,
sonhadores de coisas grandes, mas pouco calculadores dos obstâculos e cuja
precipitação os impele mui as v&cs contra os próprios objetivos. Numa êpoca
em que ae complicam os problemas e se faz apêlo aos homena dinâmicoa, cujo
maior defeito, capu de perdi-los, é exatamente o desequiliõrio entre a imagi-
nação e a realidade, a estatística surgiu aos olhos de muitos, não B6 como um
"prOCCE'.80 de pesquisa" e uma "apreciação objetiva de tudo quanto intereaaa
à sociedade e possa ter, quantitativa e qualítativamente expressão numérica",
mas como o meio mais eficaz de prientat o estudo e as soluções doa problemaa,
refrear as impaciências e conter, nos limites do possível, o ímpeto construtor
dos homens de ação. Acresce ainda q_ueas modificasões que se operavam sõbre
a vida econômica, sõbre a densidade, distribuição e movimentos da população,
sõbre as profissões e as camadas sociais e na estrutura pedag6 ica antiga, am-
pliaram eruaordinàriamente o campo de investigação estadstica, exigindo um
gtande esfôrço para o desenvolvimento, coordenação e uniformização dos ser-
viços estatisticos do pafs.
~- Eata foi a obra_, admir-á~v
ff• ...e1 a._..todosos ~espeit~:--d~ TEIXEIRA DE F'REITA •
.......
que re omou com notável vigor a grande campanha encetada por BuLBõU
CARVALB0 46 e em quem o govêrno revolucionário encontrou o mais s61idoponto
de apoio e o mais esclarecido orientador para as suas iniciativas dirigidas no

46 Ot sttVI de cotoU.tic,i tomu•a1 o u primeito impumo a.o Bnwl com a ,-pnh■çlo...., 1907.
da p Dht a Geral de R•t11U1tlea qul!' foi alada erri 1871 e premdiu o le,nu,tll.McDto doo~ detJLoc,<lí"
ralludot 1172 e !890. No rtipme imp<Ti■ I, u atividada cstatútic.■o de maior lmp<rtbci■ ffdmir■m••
■o .-e«--to de 1872, - o õoko que oc rali:.ou oease penado, - quaodo a lei prom\llpda c:m1870 Pft'I·
CffYia o lcvall.bmcnto de ~ d~: ao """° da popnlatl<, do Monidplo Nevti-o DO ano anterior. e
• lllaumu tcoutivu de ora niu,1o de t ~lu esatlsticu, .levad"9 • efeito em dl,,_ prorinda. Dcpc,ia
do _m.,ato de. 11190,alo cmpr ilV o covêrno íêdaal. no regime repu1'11c■i10, KO&o,. - a-a.lo de
1900 e de. l920, abnco cudo e 11.ltimo,■l!m do dlmpu.to dnnogfd''"tco, ~ lnqu&;ti,■ bn, • azrkvltura
e a ltJdCb • u. .Roorc•nlnda cm l 07 • Dirrtori■ Ga1ll de, Eatathtic■, iniciou ~ a dlteçlo de. Jod Lub
S..Llo ria BULM6a CuY.u.ao, "l'und-4or da B1t1rll tia G..-.1 B.ruilc:in", o:auar, d 111 atividade. c,o.
• do mediante ... no illqu&it.o .. iAformaç&o, ttl■tivaa •o ....;ao em todo o t.errit6ril> _,.,.,.J; put,tic:,u,do e,m
422 A CULTURA IRA
-·--------
sentido de organizar racionalmente o sistema nacional do serviços tísticos,
bre a base do regime de cooperação inter-adminis ativa, lançada no primeiro
ano da Revolução. A Revolução de 1930 marca, de fato, uma nova era na
stat:ística brasileira.o O Convênio Estatís ·co, coo tante d 27 cláusulas,
firmado m 1931, no Rio de Janeiro; a criação do Departamento Nacional e
de diversas Diretorias de Estatísticas nos Miníst&io da República; a orga-
nização, p lo decr. n. 24 609, de 6 de julho de 1934, do Instituto Nacional de
Estatís •ca que transformou no Instituto Brasileiro de GeogTafia e Estatís-
tica, pelo decreto-lei o.ª 208, de 28 de janeiro de 1938; a criação ou a reorgani-
zação do Departamentos Estaduais de atística que se foram filiando a esse
Instituto e o desenvolvimento do ensino de estatístic pela criação de cadeiras
de sa matéria, nas faculdades de filosofia, constituem outras tantas conquistas
na evolução da id~ia e da coordenação das atividad s tatísticas, cujos resul-
tados foram reconhecidos pelo VIII Congresso Cienttflco Americano, reunido
em Washington, em 1940, "de grande interesse e de muita importância para
as estatísticas das outras nações americanas". A vitória do 1·egimc,por que se
bateu TEUCEIRA DE FrullTAS, de "cooperação inter-adminls retiva", - o mais
adequado aos Estados federais ou_de forma fi derativa como o Brasil, concre-
tizou- e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís ·ca, que é um órgão
cen aJ e um sistema orgânico tão completo quanto possível estabelecido pela
convergência de esforços da União, dos Estados e dos Municlpio , na coorde-
denação e sistematização dos serviços da estatística n cional. Para o êxito
da de obra confiada à instituição nascente concorreu, de maneira notável,
J. C. D& MACEDO SoARES, seu presidente desde o início, e que já na época de
sua fundação torca.ra, como chanceler, no Ministúio das Relações Exteriores,
a iniciativa de r olver o problema referente à cocrancia dos resultados da
contribuição brasileira à estatística internacional. O recenseamento que se
realizou em 1940, dirigjdo pela Comissão Censitãria Nacional, b a presidência
de J. CARNEIRO FELIPE, nos dá a medida dwe trabalho preliminar de orga-
nização, na amplitude de seu plano censitãrio e na segurança de seu métodos
d esquisa; previsto amadurecido, largamen e r par do por uma constante

l!ltGo voh:un B•t•tlltlo,, d.., Tn11tru~o, cmguc ac rtwlireo, 011tt:tultadot daqucJo oqu&ito, pr tdldOI Jc loap r
a lellte latroduçlto l'O' On11:1.BoRDl!.\UXRãao, e preparando o levantam nto do e: ,1.,:idcmQV6fico de 1920, que
foi o mau. Importante do, reccn.eam~tM que ,e realliarllffl no Imefrio o na Rcp6!illca. 11tE Rcvolu,;la. (C&.
Bt11.11CiuCA.RV.U,l(O,B•tatlstien, mi.todo e a:plic11Qito.Rio de /onciro, 1!13~). F por6m, A partir do 1930,
que 01 Kl'Vl'1)<1c•tatl,ticO!I adquiriram um deseovolvhoento vart.1.adel!'11mc.ntc notl'lvcl, com a crlaçlo, em 1931,
do Depart■ mcmto Nacloo J d.e l!:1Uttstica, em-que ,e fuodlrotm, em 1932, • aatlea Diretoria. Oer l de Eablthtlc ■
e II Diretoria de Esu.tlatlca Comercial, c:,ti'os serviço, hllvillm sido oranolHd01 cm 1900 e d11D!roton■ Oeul de
toJ'orm■~, S1tatf1tica e Di,;,ulgaçã"o, no MinistEdo de Bd.uc.clo e 8 6 e (d- to n. 19 60. de S de janeiro
de 19 1) e, em 1934.• eo,n 01 deaetot que i.,.tib,S.ram o Oirctoria de Jl:,tatfttlca d Ptoduçlo, no Mioist&io da
A.,-lcultur■, a de Kat.aU ti J!;coobmic:ae Firumcára, no de Faz de. no do Tra-
b&lbo, Iod4 trili e: Com&cio e a de Estatística Ger.,.1do Mfo.bt!r reoultao~•·
da tração em 1034, da Departamento NacioosJ, cri.ado e • divrnoa
Mia ot. Tód• - l"lit i;io q11t revela. um illtertee o redera!.
eulmiaou o, pc1 decreto n.• 24 609, de 6 de j c:1-. (hoje
tmtituto de~"' e Esran.tial. "ujo pro· 'outcrial
coov !)Cio eotA ministro Jc~ T.lvo oer "ª
articula~ e coopcncAo da trb ordem edminiltratio od
• e fattr ~ ou orie.n atame:oto
• qc:ioamu. ~.
bu,c:srm, • e
escolares e c:,::i,,xas, j o "'todo•
" br • ei,-a•.t. 11C reuniu.
• inqu.&itm m11 • M~•.-atr. rqular do
Anuú/o &1atla'1co do Br1> il r de sua.o.'2.2SO'J>V'& ci'G, - :a
,alia; p,o::noveu a mação mt11or • e do ■
de ettat!stica, filiado. a::, 1m • ea..i •
CIJuRnto Fax.~ o r~ca=11to na 'tiria de
completa e peôcita que ji n:aliso ao . IUI .Jl iro d•
~o r. o Manic1pio. Serviço OrMko do l. )3. O. E,, Ave 4 P t.eur, 40.. Rio de Jandtb
lfll; · tka. Serviço Gráfico do L B. G, S., Rio de Ju1 , 1941 .
ti G~o O. JAJmo,. A adminh&~.ão piibüCJJ o • tallalica de um 6r\:ào
Alnl de atiu:lltlca DO quadro da ~ do g:o'i&-DOOet6Jlo v.,...O pap,,l
. 1. P .. • '
Rio de Jueiro, 1941.
A RENOVAÇÃO E UNIFICAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO 423

conjugação de esforços, representa, de fato, a maior e a mais completa colheita


de dados q\le se realizou no Brasil, para revelar, numa imagem fiel, a nação
a ai mesma, sob todos os aspectos de sua fisionomia particular e na variedade
de suas formas de vida, de cultura e de produção.

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- O problema educacional e a nova Constituigllo. Assocla.ç o Bratilclra de Educação.
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CAPÍTULO V

O ensino geral e os ensinos especiais

O ensino e a cultura à luz de seu desenvo1vimento histórico - A henu~ça


cultural do Brasil - O alargamento, no sistema, do ensíno geral ou comum -
O ensino primário, segundo os dados estatísticos - A extensão quantitativa e
o rebaiumento de nível do ensino secundário - 0a ensinos especiais - Pre-
domin Ancia daa escolas de preparação para as profissões liberai, - O ensino
militar e naval - O desenvolvimento industrial e as novas exigências ~cnicaa
dà sociedade em transformação - As escolas profi~ioruús, agrfcolas, co-
meroiaia e induatriais - Cultura industrial e fonnação têcQica e profissional -
A cooperação das oficinas e daa fábricas na educação profissional - A hierarquia
dos tipos profissionais - A.s universidades e a formação das elites culturais,
tknicas e poUtieas - A missão das escolas de altos estudos e de pesquisa de-
sinteressada - Especialização profissional e especialização científica - A
cultura es~tica - A formação pedagógica dç, professorado de todos os graua
- na uni.dade do ensino para a unidade intelectual do Brasil - A politica
nacional de educação e cultun1.

N AS PAGINAS anteriores, nem muito densas nem demais técnicas, em


que reflexões e juízos se misturam a uma documentação abundante,
mas infelizmente desigual e heterogênea, traçou-se, em resumo, o quadro
da evolução cultural do Brasil e de suas instituições pedagógicas até alcançar
a sua estrutura atual. Mas, se nessa síntese sôbrc a cultura e a educação no
pais, o quadro geral é histórico, êle não se construiu sôbre o plano cronológico,
estreito, dos puros historiógrafos, mas, ao contrário, com espírito sociológico,
de análise e de interpretação, que nos permitisse desprender da rêde complexa
de fatos, iniciativas e reformas, o movimento de idéias e os fenômenos mais
significativos que nos parecéram dominar !l educação nas diversas fases de seu
desenvolvimento. Nesse estudo analítico e genético a um tempo, em que se
procurou remontar às origens das instituições e estabelecer, através de sua evo-
lução, as tendências da educação moderna, fixaram-se o caráter da cultura
brasileira, suas relações com o estado social de cada época e as influências euro-
peizantes, geralmente tão retardadas, que sôbre ela exerceram as conentes
gerais do pensamento no mundo ocidental. Tôda a cultura brasileira, no pe-
riodo colonial como no século XIX, está nos lineamentos que dela traçaram
os jesuítas, com o seu notável ensino de humanidades, de efeitos tão profundos
e persistentes que, longe de se apagarem, durante a sua ausência de mais de
80 anos (1759-1843), se fizeram sentir fortemente, secundados pelas irtfluências
francesas, através do Império e readquiriram um vigor novo, em parte do pe-
nado republicano. A cultura que se granjeia, pelo ensino geral ou comum;
de grau médio e sem nenhuma idéia de especialização, constituiu, de fato, a
426 A CULTURA BRASILEIRA

camada intelectual mais densa e mais rica, nos seus aspcc os litcrârios, até os
fins do 2.0 reinado. A documentação sôbre o ensino jesuítico na vida colonial
e, mai tarde no último quartel do século XIX, permite-nos descobrir o pri-
meiro foco que acendeu, nos rudes tempos da Colônia, e companhar, através
de sua irradiação, essa luz que nunca se extinguiu, e que se propagou, nas elites
intelectuai , com uma grande intensidade, de uma a outra geração.
Foi tão poderosa a penetração dêsse tipo de cultura, bu.maoística e lite-
rária, qu a carreira eclesiástica, donde partiu, passou a er procurada como um
dos meios mai eficazes para conquistá-la. e as próprias profi õc liberais, de
advog; dos médicos e engenheiros, nela julgavam encontrar não somente o
suporte e o uilíbrio indispensável à especialização profissional, mas um orna-
mento a mais, o brilho com que se enaltecia a sua autoridade, e a fôrça expan-
siva capaz de lhes dar maior projeção. A carreira ecl siástica, escreve Vn.HENA
DE MORAIS, "era, de fato, nos conventos quase a única que se abria aos filhos
do povo 1 alguns dos quais nela entravam sem o menor espírito religioso, com-
pelidos às vêzes pelos pais como um bom meio de adquirir ciêncía e de galgar
honras e posições". Ainda quando, se criaram no tempo de D. JoÃo VI as pri-
meiras escolas médico-cirúrgicas e as de engenheiros militares e se fundaram,
já no 1.0 reinado, em 1827, os cursos jurídicos, a nossa cultura superior que
atê 1830 quase dependia ainda de Coimbra, não perdeu, peJo seu caráter pro-
fissional, mais acentuado, nem êsse g6sto da cultura geral, .nem se espírito
literário, nem esse gongorismo erudito, nem essa curiosidade mais extensa que
aos leva a interessar-nos, ainda que superficialmente, pelos problemas mau
variados. Os padres, - os grandes representantes da men tidade até o 2.0
rci11B.do,conforme no lembra CAPISTRANO DE ABREU - foram então subs-
tituídos, no cenário, pelos bacharéis formados nas Academias de São Paulo e
de Olinda mas estes como os médicos e engenheiro , raramente sacrificaram
letras ao cuidado de se aprofundar na sua especialidade, cedendo menos
ao d jo de confinarem do que ao ideal de serem "completos ' à maneira
da ~oca, e à necessidade de colocarem a sua profissão num quadro mais geraJ,
ampliado pelo estudo literário e pela leitura de livros que formavam o fundo
dn cultura humana.
Tudo o que mais de um século de ensino superior pt"Ofissionalproduziu no
campo da especialização, jurídica ou médica e tem escrito ne sa grande pãgina
das conquistas do homem no Btasil, "não deliu dêsse- palimpsesto humano,
para empregar uma imagem de RUI BARBOSA, as suas legendas primiti\Tas" ..
Sob o qu.e a cultura específica escreveu,. ainda que com a precisão de um LA-
rAU:TJt Rooarou&s PEREIRA ou a lucidez de um TEIXEIRA D-E FREITAS, mal
dissimula a cultura literária, de fundo humanístico, que recolhemos dos
jesuítas e con ervamos através de quase quatro séculos, como a herança cul-
tural do Brasil. O brasileiro podia ter a profissão qu quis e (e os que po-
diam, pela natureza ou por seus recursos, não aspiravam scnao uma profissão
liberal), mas não devia Yenun.ciar aquilo a que ALFo o REYES na Homilia por
la cultura chamou a ''profissão do homem' , isto e, o timento do humano,
os estudos d •nteressados e o culto pela idêias gerais, que são o que hã de
verdadeiramente humano em nós e são em n6s o que hã de verdadeiramente
social. a afirmação nos leva a análise da cultura brasileira, julgada
pelos seus melhores produtos da época (na Colônia e no Império), não é outra
a conclusão a que chegamos, pelo estudo da "tábua de valores', que os mesmos
criadores da cultura aplicaram a êsses produtos e da qual no dá uma idéia
precisa, completando o critério daquela cultura, o exame da critica, na acei-
tação e no julgamento das obras dêsse tempo. Por seus contornos, pela ua
O E SINO GERAL E OS ENSINOS ESPECIA1S 4-27

estrutura e pela sua forma. senão pelo seu espírito variável conforme aa épocas,
quase tõdas a obras do século XIX, se não se inserem na tradição espedfi~
mente francesa do humanismo jesuítico, denunciam o predomfnio da cultura
literária e das id •as gerais na educação, provenientes uma e outras do ais ema
colonial do ensino j uítico e. das influências do pensamento e, sobretudo, da
literatura francesa oo Império. O nosso intelectual, ainda que julgado ºdentro
de sua profi ão" era o contrário de um especialista; e o valor de suas obras,
embora de sua especialidade, se aferia, particularmente, pelas auaa qualidad
literárias, pela riqueza das L mbranças e pela erudição.
Certamente é p as idéias gerais que nós saímos de n6s mesmos, no des-
prendemos de noS11aespecialidade profissional e nos elevamos acima de nossas
ocupações cotidianas. E êste é um dos benefícios que oos trouxe o n0910
1istema tradicional de instrução, com seu caráter menos utilitário, menos pro-
fissional, maia geral, senão verdadeiramente humano, pe1a base do ensino se-
cundário e eob a pressão da concepção de cultura e das idéias difusas na atmo -
fera cultural do pafs. A unidade espiritual que a pluralidade das culturas
regionais, alimentadas pela distância e pe1o isolatnento, jamais fragmentou
e que era favorecida pela interpenetração dos dois mundos, pedagógico e reli-
gioso, foi também sem dúvida outro efeito dessa cultura geral eminentemente
uniformizante e assimiladora das classes intelectuais. Mas não se pode deixar
de reconhecer que a ela ~ que se prendem algwis dos maiores defeitos de DO$Sa
cultura, - a tendência exc ivamentc literária, o gôsto da erudição pela eru-
dição, o pendor ou a resignação fãcil às elegâncias superficiais do academismo,
o desíntcr se pelas ci ncias experimentais a indiferença pelas queatõet tk--
nicas,l e ainda o divórcio entre o povo e os criadores intelectuais na poUtica,
na literatura e nas artes. Se as grandes figuras representativas d "pode
cultura precisavam a bist6ria pela erudição, vivificavam a erudição pela lite-
ratura e adquiriam formas de um notável equilíbrio, limpidez e precisão. o
desenvolvimento dogmático e oratório, quase sempre romântico, du obras
d&se tempo {refiro-me ao s&=uloXIX), de que resultam maia BOmbrasdo que
claridades, acusa uma end!ncia de discussão do abstrato no abstra o, a con-
fusão do real e do imaginârio, o primado das letras sõb:re a ciência, do ideal
sõbre o método, do ~p{rito dogmático sôbre o espírito critico e de investigação.

1 1tatco •mb nt culh1ral qu dh'iee o homem ao Bt11ail, e.e "paideú11111",para eaiptepr • zpr o
d Plt0IIIINIUI, que com ela c!le.lgn• • "■Iro• da cultura'', noa foi tr■mmltldo evidentemente do Portupl, atN.vl,1
doe Je111lta1o d011colonindorow portu~•- A rncatalid11.dc qae atravau o homem n• Col6ni1, lnn11enc and0•0
poduosamontc, a mc:am111 que domina a Mel:l'ópole. Portugal que, no qulnhoa.tii11101 _"aeomp11nbo11o melho•
-■pinto europeu". viu catanCRt • rooee de rcnovagão io.teTeetua!,.uo lei1eentia.rno, cllia ru,tõrla, nene pa(1, como
ewcrevc ANT01110S1h1010, "o esp,:t6culo do e1tiolamento d• mentalidade portueuba". &nquanto no aEculo
XVlt e XVlll III propas•v• ~lot outroe p•t.n d4 Europa o e9pírito crltico e experimental, de livre examo e de
iovestigação, • penhuul• lb&ka mantioha..ae fora daórbita das nova. innu!nd-. e iu>pcn tr6vd •o bll.D\&JÚpDO
crfdco e cienttl'ico q1.1eui&ia ao prim~ro pl•tlO • experilncla e a vida, a observ çio imediau d•• rcalldadet, •
pnqulaat e ,.. renane. pcq 11, • ,ob cujo inflwt0 e operava uma vM"dadeira rcvolaçlo cwtur'al 11<>velho coo•
l>llc:llte. (Cfr, Al'llOMto SP010 - lfnu,011. O problema. da cultura em Porblgal. Tomo tr, Nova,
JJeboa, 192-9). Com um■ b=-i vcc:mhlc:ia, Josli AoolTllmO DJI MA.cE>o rd'eri>.e, ela ·ncaodo-o CQCll morda•
cidade, ''ao fatal 1tculo de 1ci ento.'', cm que Ponu,;111joi..,. havia tormdo um "•!luartdamr:ato do fana ti o".
Mio ltio dwu c,n:,nsiil5a de M flJtO DO Quli:lff.U.. - critica l ma,talidadc ponlJCllâa doe .ui
ZVIl e XVID, cm qu , na ~ula ib&lc • "• uma &eniçilo de fil6tofoe, de úbi011 e de artlltu i:rlad«es •
• tn1>o vulpr d eruclitoe oeai mtlca. dOI'acad • , doe imitadoru... na õ.ltimtlt llkal nlo ll"ldiulu
a .Pcmmula um 6oico "-"' pai« que 1e paga p6r ao lado doa grand criadora da mad.ru; Dlo
■-iu da Pcn!oaula 116da c,aodc,, deac,..aiertas mtdec:roais que ■ maior honn. do plrito ~". "-
,dànDu rcY011ucl11ffliriu do M.qu de Pc»m.\L, com ,epaCUBÕcs tud1n e ín>u::lal o■ CGl6ala, q....bnu:■m
q- àtilma.tc na muralha d rain • do eap(rito medicnl qu,e da univeraídadc e col 1 em
• ~ por dcó uloe, difu.odita .Obre u efu:es do pab, opoodo o h ■ri,itoecEJic,o 1, u
pior ddcrm■(&o) ccmtr& o homem do -petiaaJ!lm.tG galil6co, do homem m eva! contra o !rito m
que 1e Clllti,rou. b • infl d o:miao que ttcr:blva aa rotina teol6dc&, foi o &bato da f6rmuwi tilt
tip■dq e ■ • , o dileta,, cn>dito, o t:on> a.POIDi&:ia>e ret6rico qu,, rcvduam a ID9llcirs &.Y«ita
, - dedu: n. • p,lori - e a eultuta cor-rapoadca:tc. en:aai.,..,,ente YCrba1, - cootnplfo dOco.
A• • enci.a olo - p■r■ t ....,. ■vcntvr■ de criação e de cl:9eobrimciw>, W11 ta,11n1.111et1U> de
cti.■J&ica, quando aAo um mpl apatalho de regutro de ÍmJJR91ÕeS e de ldtur■a, pa,-. comcotiri e obru de
cn,dlç1o. H hum to c:rl co oem m cri■dcr, de d!mda, de inq~ de paqula■; ..
lim.6ri .. , erama e ruo1 , purameotle ronu■tistu ■c11.b■riam tomaDdo a primada.- c:wtvr■ "■-poll.oa''.
da forma i •• 16 a cultur■ clioni.S-. mocada por um.■ Filosol"ia h • J,l rls;ida e 11b. qa
M larM .. m clbld■ haviam d pojado do seu conteddo de aperi~a bwrl&A&.
42
-- A CULTURA
---- B ASlLEIRA

elit encontravam no meio a que e diri • m, - camadas mais ele~


vadas do meio urbano e mral,-um quadro qu s ada atam n e a
seus go tos e a seus talentos, e se sentiam cm harmonia com o ueno púb]ico
de cu.ltur que era o seu, - o único realmente para o qual ac ·tavam escrever
fal r, das cã edras. da tribuna parlamentar, do livro e do jornal diário. Em-
bora desempenhasse um papel social e servisse à cole "vidade, • do à car-
reira eclesibtica, e depois à vida pública, no l.' 1 e 2.0 r ·nados, nenhuma fõr~
tinha, porém, a cultura para operar entre as elit s e es camad s populares,
a fusão capaz de transformã-la de uma expressão de castas superior a que
faltava bas ocial, numa cultura coleti a com o duplo carâter de obra aristo-
crá 'ca e obra de todo um povo ...
!sse tipo de cultura geral que se vinha desenvolvendo desde o alvorecer
da sociedad colonial até o crepúsculo do Império, ou, mais rigorosamente,
do século XIX, correspondia não só a.o ideal de uma época (s cutos XVI e XVII)
como às próprias condições sociais e econômicas do meio a que se transferia
e que, se n o a determinaram, lhe prepararam um clima favorável ao seu de-
senvolvimento. A cultura humanística, que nunca foi democrática, satisfazia
aos gostos de uma aristocracia rural e da burguesia urbana, que nela procuravam
exatamente esse princípio de refinamento ou de qualidade, inerente a tôda
cultura superior, e com que se marcava mais fortemente a distinção de classes.
Floresceu à ombra da casa grande, na primitiva cstrutw·a da familia patri-
arcal, com us senhores de engenho e seus filhos, padres e doutores e instalou-se
no obrado, quaudo iniciou. por efeito da urbanização, como o erva Gn,
BERTO FREYRE, a separação dos dois tipo de famOia, - familia patriarcal
dcsagrcg da (sobrado) e a familia operária incipiente mocambo), mantida
essa qua e no mesmo obscurantismo em que se arras ava escr varia das scn-
ralas e das cidades. Com a expulsão do jcsuít , cm 1759, as reformas pom-
balina a criação do ensino superior profissional, esp • •z do, nos princípios
do s~allo XIX, ameaçava entrar numa fase crltica a tradição do ensino huma-
nístico no pais. Mas a influência dos padres-roca e capelães e das ordena
religiosas, qu conservaram a lienmça do e sino jesuítico; a repercussão tardia
das reformas de POMBAL na Colônia; a instituição, com a i dependetlcia nacional,
do regime parlamentar e as influências crescentes da literatura franc sa con-
trlbufram não s6 para manter, como também para d envolver, numa civili-
zação "liberal", bas ada na escravidão, êsse ensino 'de classeº que, sôbre ser
uma f6rça hierárquica e conservadora, áava à política, na sua experiência par~
lamentar, o brilho das letras e da eloqüência, e constituia a escola a que a atraiu
a nec ssidade de exercer as fllllções dialéticas do espírito.
A profissionalização do ensino superior, com criaç~o por D. JOAO VI das
scola de medicina e de engenharia militar, e com a fundação dos cursos ju-
ridicos m 1827. foi contrabalançada, nas suas influência orientadas no sentido
d& 'especialização' , por vários fatos, entr os quais a persistência do mesmo
ideal de ·po humano a função cultural que foram chamadas a exercer sobre-
tudo academias de direito. ao lado de sua fu.oção edfica, profissional,
por falta d escolas superiores de cultura livre e desinter da e ainda a cir-
cunstância de ser nos elementos formados por a escolas que e r crutavam
os bom para os altos po...tos do magis ério, da poli ·ca.e da administração.
No lmpE •o, a: grande reformas do ensino visa am, em co üência, as es-
colas superior de tipo profissional e o Col' ·o P o II, erguido à ca egoria
de uma esp ·e de faculdade de letras· e foi exatamen e n e período que ti-
veram sua época de maior brilho e florescimento e colégio e s instituições
particular s de en ino secundário. Com a abolição do regime da e eravidão
O ENSINO GERAL E OS ENSINOS ESPECIAIS ◄29

e o advento da República. em 1889, as novas instituições determinaram a a-


pan ão liberal do ensino geral ou comum, de grau primário, cuja história, o
apagada no Impêrio, começa a desenvolver-se nos Estados, sob o influxo dos
ideais democráticos, e assinala não sõmente por um notável CT cimento
quantitativo como tambêm pela introdução, no ensino elementar, de nov
forma e novos métodos de educação. Se,, por um lado, a maior clifu o do
ensino primário, confiado aos Estados pela Constituição de 91, foi um progr
sensível da evolução liberal e democrática. por outro lado, o gov o federa),
republicano, reservando-se o direito de legislar sôbre o ensino secund'1rio e
, 1uperior enquanto abandonava aos Estados a educação popular, estabelecia
nessa distribuição de funções uma hierarquia de valores, contrâria aos ideais
eip nome dos quais e constituiu. Ao mesmo tempo, porém, que, partindo da
periféria politica e, sobretudo, de São Paulo, de Minas e do Distrito Federal.
se intensificava êsse movimento de reorganização do ensino geral pela base,
- estágio preparatório de uma democratização da cultura-, o ensino secun-
dário que ê ta,mbêm, pela sua natureza. de cultura geral, começava a perder
lentamente, através de sucessivas refon:nãs, o caráter de "ensino de classe",
que ainda subsistiu, no entanto, sem o mesmo vigor e sem o mesmo brilho,
durante o 40 anos ou na primeira fase do período republicano.
A partir desta situação, criada em parte pela polltica educacional adotada
na Carta de 91, tinha de desenvolver-se. como de fato se desenvolveu, um pro-
cesso duplo que levou direito a uma democratização de cultura: um, por ini-
ciativa oficial, outro, fora dos quadros estreitos do ensino publico organizado.
O alargam to, no istema de ucação, do ensino comum fundamental (ensino
primãrio), promovido pelos Estados, não s6 estendia, ' um mirúmum de cul-
tura geral' a uma população cada vez maior, como também estimulava o de-
senvolvimento quan itativo das escolas secundárias, pare atenderem ao nú.mero
cr"CSCCDte de candidatos esco1as destinadas à preparaçao para as profissões
liberais. A falta de iniciativas do govêmo central, que limitava a promover
reforma do ensino ecundário, sem aumentar o número de escolas d tipo,
tomou novo incremento a cooperação particular, leiga ou religiosa, que, n
domínio trouxe, pelo volume de suas fundações, uma contribuição muí o U·
pcrior à das colas oficiais da União e dos Estados. A quantidade crescente
de candidato ao colégios e ginásios formava, com suas famílias, um clernento
móvel inquieto que entrava a reagir, contrabalançando-as, contra as reformas
escolares tendent a devolver ao ensino secundário o caráter particularmente
humanístico que constituiu a sua tradição na Colônia, com os jesultas, e reza
aua glória, em odo o perfodo do Império. Não s6 por efeito da ext nsão geral
da rêde escolar, mas sob a pressão das idéias americanas, infiltradas atrav&
de escolas protestan , o ensino secundário afirmava lentamente as suas ten-
dências utilitári s e pragmáticas, que repercutiam tanto sõbre as finalidades
e a estrutura do ensino, quanto sóbre a duração do curso, obrigando o governo
federal a reformas constantes, com o objetivo de readaptação do ino eecun-
dflrio à.s novas condições e cxig!ncias da civilização atual. Mas, não e pode
contestar o papel que teve, nessa evolução, o crescimento nwn&ico das wú-
dades escolares, j bastan e acentuado no primeiro quartel d te culo, e tio
vigorosamente impelido depoi de 1930 que, no qüinqü!nio de 1932-36, indicava
a maior fõrça de expansão, verificada no país da rede do ensino comum pri-
mário e secundãrio. •

li Tanto o prim6rio, COl'QO o e:mioo 9eCUDd6rio, que ae destiswn a m1,a1- cuir:ar. 1 a1


.,..,.um. inculcaad aqu u P<lam=tais, e dando ~t,e., • cultura buma dca, tiveram. 1930 • 1940,
o =-dor d-YOlvlmmto que tcc;ub'OU no pa:11.em i&ual ~ado. em Qualctaer i da hút6ria de U•
UçAo. p..,.. apttdaraui. h.or os dad01 ~ta tico,, referentes • &te perl.odo, f pn,d,o td em ta • cl tinçb
cn: "o ino t UAdlrlo", ~Cflte dito, e o "ea,íno de squndo &nu" ou Edlo, ltl\lftdO • n a.o
datura •tat{rtlce, ao puo0 Q • upr o "'emino ICCUOdirio" dc:sil'lll apec;.JP>eOtc o e.u no mio. tndo •
430 A CULTURA BRAS LEJRA

e proc o, legítimo em si mesmo, da democra "zação que inicia as


massas na cultura, apresenta sempre, como já notamos, um asp o negativo
r-calizando-se a preço da qualidade que fica rebaixada em con ileitcia. e as
escolas secundárias, em que se ministrava o "ensino humanístico", professado
nos colégios de padres e nos ginásios ou liceus do país, j{i ~o longe do ideal
literário clbsico, a que se subordinavam. no Império, por fórça da tradição
do nsino jesw •co e da concepção de cultura ainda dominante no sEculo XIX.
não d ocratiz.aram tanto que possam considerar-se uma "escola para o
povo", nem pela sua expansão quantitativa (552 escolas secundárias, m 1936,
para 35 555 primárias, no mesmo ano), nem pelos seus objetivos e pela sua
organização. Bloqueadas pelo seu pr6prio crcscimen o, que não lhes permite
nem aparelhar-se com eficiencia, nem recrutar com segurança o seus profes-
sor , colhidos pelo geral numa grande variedade de meios profissionais; tra-
balhadas, na sua estrutura interior, por novas tend ncias e pela introdução
de novos elementos culturais, entraram certamente por um pertodo crítico
de transição 1 uma de cujas conseqüências é um rebaixamento de o ve] de ensino
e uma diminuição de '(qualidade" da cultura que são chamadas a ministrar,
dentro de sua €inalidade específica nos sistemas de ducação. Entre dois
id ·s diferentes, mas não opostos, oscilam hesitantes, a& reformas escolares,
esquecidas geralmente de que não é pelo seu conteúdo, - pela matérias que
se ensinam - mas antes pelo :;:euobjeto, isto é, o espirito com que são minis-
tradas, que se deve definir um ensino humanístico, uscetível de revestir
nova formas. Sem perderem o seu caráter original, o qu constitui sua função
própria e lhes confere uma unidade profunda e orgânica, - "formar o espírito
dos joven , dar-lhes uma cultura geral e fazer dé!l homens que cultivem tudo
quanto enaltece o homem", - encontrarão escolas de ensino secundârio
a novas formas de bumaniroio, ainda mal prefiguradas, que d m urgir dentro
do trito do tempo e nas quais, - se se ampliou o conteúdo da cultura e se
o s u conceito se transformou, - se refletirá, como numa imagem vi a, a civi-
lização atual.
Mas, a civilização mode.rna, de caráter eminentementi industrial e técnico,
é a época da especialização, e a especialização no Brasil, restrita no domínio
da educação, ao en!>inosuperior profissional, duran e todo o lmp rio, se iniciou
no campo das profissões liberais. Daí ao menos m parte, o conflito entre as
tendências atuais do ensino secundãrio e as suas tradições triss culares que
dêl fizeram, na Colônia, Uill ensino de humanidades, com finalidade em si mesmo
e, no Império, ligando-o exclusivamente às profissõ s liberais a que dava acesso,
lhe conservaram o caráter humanístico e lhe acen uatam, or sse caráter como
por aquela ligação, os aspectos de uma cultura anti-democrática ou de privi-
legiados. Ao contrário da América do Norte, em que a bis 6ria do ensino su-

e n0t ll«u , ••....,i_110 tieula..-in.e:itt' htt!Iúnlstico", Mm clUJll d•• e,,,,ob l)"O!iulon1t. mEdiu, a
no•4e:n,1no dt: aegundo grau .. ou eo.s'no médio Rt"lte A.a. n, como obt,crv ■ P. A:lllOUII& r:o■ , ºpera
r 1111TIUJI,l<Yolldo-« cm comidaa.ção u idade, d011 atvdJu>tn e nlo n NTua do en ·no". Dcoi,1;oaudo
11m o o ccuino lntena.ediAri!>, entn o primm,;, e o supa-i , e q K d till4 • jcwccu de 12 • 1 lljlOI,
• prlrwir• cs-pc (ensino u-ndirio) te= um Kntido li!S 1 , unlicando um I"' e no o 2.• vau lo enoino
b,,11,,ranlia:lc:o),
e• nde (msíno de 2.• çan 0tt mMio) "indlc • f ou impllce ■ n ffl o de fu.odlr CID um
-6 tipo tOdQ v■rl dea d" ensi:>o disp=sado ,,,_ dequda Idade", ~o dadoa
ntalf tico■. o q loqü!nio de 1932-1936, o cm:in.> l)rimi.-ia cresreu e 100 p 139" o c1niao ei:und4rio de
100 pera 149, i, u un:idad escolares ~ qac a-am 17 662, cni 19.52. aub' m a 3S 5, cm 1936; e
C'IC'daJde no cc rio p■HUBJ!l d.c 3!14, cm 1932. ■ Sl2 cm 1936, • ndo om aumento de isa
11.Dldad cinco ■ Em 1938 11ma!riQili;, fiai ett:Obt prim ia , de UHlno CCIDWU upletl\' ■liD~Ja ■o
toul de 3 110 000 ahll'.IOI oo. m•ÍI pn,cis3meD • 3 111!1 784, CODtnl l O 000 no ano llten!lf •• 'P-to. de
mn ■AO para oui:ro, am aa&dmo de mait de 232 .mil ■lumi■ niatri~oo, "ou acj ■ -um ■umenta rela wode 8,S ,
j ma obtC!"Yado cm d • =1cias .-,guid D&S catathtiaui btawc:lr de i e. rwu v wnbbn nu
~ OUb'Ot p■ltn". A matr • subiu de pou,:o mais d.e 2 • cm 1932 pata ehca de 3 mt'lb " t 10 mil,
o d 19.J , rcftl ndo mn ~to de 50 li' em r ç.lo ade primeiro tot■l ou do 40 Sl, .. levarmoa
ffll o men CIO %1 da ~ teta!, aaqude mo perlodo. Por m I ll•bi nt . cm 1932, -6
.,_u!amoo SO■luno,, matrü:oledm: cm J937, esse llllmcro aablu • 62 •• t.m 1938, •tin u ■ 70, - o qu ,-,;prr:scata
wn co,, d<'.l',vcl crc:teimesuo da rede c,:ob.r, de emioo primltio, comum e uple i-.ro. e o mlliar vmf,e■d~. cm
1u•I per-lodo. n011 6hiraoo cinq enta ...,_ (Cfr. O onaino no Br■•il no q Jnqll•nlo 193'1-36 ln.atituto
Naclcmal dct Ea Pedatõeicoa. "Boletim o.• 1", .Rio de Janeiro, 1939).
O ENSINO GERAL E OS ENSINOS ESPECWS 431

perior está cstreitamen e ligada à da religião e da organização das igrejas, sob


a influ&tcia daa diversa confissões religiosas, é a história do ensino secundário,
e não a do ensino superior, que se ligou, no Brasil, desde o inicio do per{odo
colonial, à bis 6ria da religião, e, mais particularmente à dos jõuftas. Sob
&te lngu]o a organização do ensino superior profissional, no tempo de D. JoÃo
VI, pode er comid rada como uma reação ao ensino jesuítico, de cultura geral,
ou uma "revolução pedagógica", provàvelmente inspirada na poUtica colar
da Revoluçao francesa. Certo, as escolas médico-cirúrgicas e a escola de en-
genharia militar, m como as de economia e de agricultura, que não deitaram
núzcs, foram instituídas pelo Estado com o objetivo de recrutar o pessoal di-
rigente de vârios serviços públicos: cirurgiões, engenheiro militares e adminia-
uadores coloniais. No cn anto, a aus&icia, no govêmo de D. JoÃo VI, da
id6a de criação de uma universidade; a fundação de escolas superiores, isoladas,
fora de organismos universitários, e estreitamente especializadas, e o desinte-
r&se pelos cursos juddicos que s6 foram fundados em 1827, já no primeiro
reinado, acusam uma influência retardatária dos homens da Revolução, filha
da EnciclopMia, salda da filosofia do século XVII, os quais aboliram as uni-
versidades, suprimindo-lhes até o nome, e, embora tivessem do ensino superior
uma concepção extremamente larga, como observa JACQUES CAVALIER, "não
acharam nem o tempo nem os meios de a elaborar, e se orientaram, ao cbn·
trário, para uma concepção muito difcrente, a dos estabelecimento r tritoa,
consagrados cada um a uma disciplina particular e sem laço uns com os outr03º,•
De tõdas as faculdades, criadas nos princípios do século XIX e adminis-
tradas inteiramente e diretamente pelo Estado. as que tomaram maior impulso
foram as de direi o, cm Recife e Olinda, já pelas mais treitas ligações que
eeu plano de estudos comportava com os tudia genera/ia, com ba e no latim,
no grego, e na re órica, já pelas perspectivas que os cursoo jurídicos, destinados
à preparação profi ional de advogados, abriam ôbre outras carreiras como
a do magistbio e a do jornalismo da política e da administração. Mas se
essas escolas brilhavam com um brilho mais intenso, tâ<ias elas, - as de direito,
de medicina ou de engenharia, desenvolviam a sua influência e a ua ação in-
telectual, notável a lguns aspectos, mas pelo próprio fato de sua estreita espe ..
ôalização profissional, não lhes foi fácil abrirem-se "às disciplinas novas que o
progresso das ciências faz nascer e de estenderem o seu campo de açao". A
ausência, no sis ema de en ino superior, de faculdades de filosofia e letras e
das de ciências, destinadas a favorecer o ensino e a pe.squisa cientifica, deixou
a nossa cultura, em todo o Império e durante mais de 40 anos de regime repu-
blicano, quase completamente fora do movimento de removação cientifica que
'Se operava no mundo ocidental. Nenhuma escola de especializaçao intelectual
e cientifica em todo o Império; nem qualquer especialização t cnica, de real
~-hnportância, pois ela apenas se esboça, nas escolas de artes e ofícios, de inicia-
tiva particular, e não passa de ensaios isolados e fragmentários. Se, pois, às
eoolas de ensino profissional superior, - direito, medicina, farmácia e engc
mharia, se acrescentarem as de ensino artístico, - a Academia de Belas•Arte11,
e o Con erva 6rio de Música, ter-se-á o quadro completo da organização doa
ensinos especiai nessa ociedadc baseada na conformidade e no trabalho servil,
tem vida industrial e de necessidades elementares, em que a educação come-
çava a diversificar-se segundo as profissões liberais e não podia complicar-se
aenio mais tarde, em razão da complexidade maior da vida ocial.

1 JACQUU CA•.u.ru. L'or4•niution do l'enwitnement auplrieur e.,, F,•ne.. ln "L'arcu t


d, l'enai ent eup&ieur". 1, ~L l 03-J 6 7. lrutitott lnunia&u.1 de Cooperatiaa lJlt e.
• ca.don., Pari,. 1936,
f De r._o, .,. c:aplt,t.l do Jm • an 1874, entre <Ili tttabd«imaltol de cap«l&I, &)fui d• Faculdade
Xeclk:lna, dAIltecole Ccntnl e d• &KOla Militar, do o:ittia:m etd.o um ln 'tu Coma-dai,~ 38 alua a,
ao domtolo do r:Gelno artl lco, o Liceu de Mtc:'9 e Oflcloa, fmlilado em 1'56 e que, ''oucido tre dHd •• pe.
.ftll'UM'll, lu OII, -olou '°"'°" AllOI", a Acadc.mia Imperial de Bclu-Artee, com uo UUDOIe 57 ouvlnt • o
•~ A' CULTURA BRA SILBIRA
'-'----------------

NUJDa' sociedade. de est:ru ura econômico-ind triaJ, tão rudimentar a~


época em que se verificou o primeiro grande urto das indó trias no pa{,.
oiio podia, pois, surpreender o predomínio que mantiveram, atr•\rés da Repú-
blica. '&S carreiras liberais, e, em conseqüência as escolas de prepai;ação para
essas profissões. Ainda em 1932, em São Paulo, - o maior centro agrfcota
e o mais industrializado de todos os Estados da União - enquanto se formavam
147 profissionai pela Faculdade de Direito; 72, pela E cola Poli ~ca e pela
Escola de Engenharia do ~Iackenzie College; 49, pela Faculdade de Medicina
·e 127 eL Escola de Farmácia e Odontologia, o número de diplomados pela
Escola Superior de Agricultura atingiu apenas a 22 e não cb garam enão a
? os que concluíram o curso na Escola de Medicina Veterinária, de São Paulo.
Nenhuma escola ainda, de ensino técnico ou industrial, de alto n1vel; nenhuma
escola oficial, até 1934, destinada à especialização intelectual e científica, ao
nsino e à pesquisa a um tempo. As escolas prepostas à preparação de profcs-
30res primários (escolas normais), as técnico-profissionais e as de comércio,
já' em grande número, mantinham-se em n(vel secundário, no seu plano de
estudos. Se confrontarmos os dados colhidos pelos recenseamentos gerais de
1872, 1900 e 1920, referentes à atividade da população do Brasil, verificamos
que, de 1872 a 1920, aumentaram sempre os coeficientes, por mil habitantes,
das profis ões liberais· e êste crescimento ainda é atestado, de modo expressivo
e i,niludtvel, pela estatística das escolas destinadas à preparação para essas
profissões e segundo a qual, em 1940, existiam 19 faculdades de direito, 11 de
medicina, 12 de farmácia e odontologia, e 11 de engenharia, para S de agri-
cultura ou agronomia, 2 de medicina veterinária. 1 de quírnic.a e 3 faculdades
de íilosofia, ci&lcias e letras, em todo o país. Ma , a prepoodc:râocia acen-
uada d s profissões liberais, não se aplica apenas pelas condições de meio,
sociais e econômicas, que particularmente a favoreceram, e pela radição se-
cular que aprisionou, nos quc1dros do ensino profissionnl d tinado às carreiras'
liberais, todo o ensino superior do país, mantendo-o tão indiferente à c,pecia-
lização in clcctual e à pesquisa científica, quanto hostil id ia da reunião de
faculdades num corpo universitário.
Se, no Impêrio e ero parte do período republicano, tiveram essas escolas
uma função suplementar,- a de alimentar a inquietaç-o piritual, mant:err
a cultura em nível mais alto e alargar os horizontes, - o que explica a sua prp•
jeção intelectual e social. longe de diminuir aum ou realmente, na civili-
zação moderna, a função dos profissionais, para cuja formação se organizaram,
e cujo papel ' cada vez mais importante, nos limites es citamente definidos
de sua especializações e de seus trabalhos técnicos. Com o aparecimento,
depois de 1932, de novos tipos de escolas superiores, destinadas à pesquisa e
aos altos estudos já não poderia ser tão acentuada aquela função supletiva
que, em mais de um século. foram chamadas a exercer, dentro de sua finalidade
especifica, e que provinha tanto da atmosfera de cultura geral cm que se t,a ..
ohavam, constantemente renovada pelos estudos humanísticos dos colégi011
de padres, no Império, como por um proc so de "compensaçãoº, com que'
supriam as deficiências de nossa cultura ~upcrior. e ainda pela própria natureza:
das profissões para que preparavam. - sobretudo d m clicoo e advogados

atllrlo de MIi • , com 70 atudmi:es e 31 auvio _por


d doi• tipo. de aitlao, icnl ou comum e
oltidnnai~ orin>Uld.u • pn:pora~o J)at"ao tacerd6do. T nquadra..-
hucb de "cotiDD upccialu, - u:,renão um", - 4o
i • • tio, • ubc:r o c,uiQO pri • • , dez»•
1 •tu.ah, ºc.o.tin.o es~ar r:,... a,Pecia1•-. l•
A>e;1 mcDtau ou íwcas, e 1ti..rd•d po, DA<>
AO Jmpfno otu o dr Ce,:oo e o de Surdos-Mudm q •• tt_ aiqu ,
:SS, e bt J r11 um.a popuh.~ID de ineis de 12 ma e 10 rull 1urd ,m r rd• -g.
rica ~1.111•pllr Pllla Dr. Aul:sa>A oa obra a que j6 tcmm fe:i o v6rl r,r.,. ao. ( 011 pqblht11•
,u B,li.Jt Hl1t0\te - ~º"- lm;p. o. ~" FI • Ou..tdor, 31, Rio de J•otlro, 1189. •
390. "McÇJJ reclinada"', esculturo de. CELSO AN"J;'ÔNJO, em granito cinzento, para o jardim
suspenso do novo edifício do Ministério de Educação. Detalhe.
Feto do Serviço de Documentação do Ministério de Educaç{io e Saúde.
391. ColéA,io S, Luís, dos padres jesuUas, transferido de Itu parn S. Paulo, em 1918, e jti co,n 75 ano.s de serviços prestados à educação da mocidade brasileira.
391. L.i«u NtKtan•I R,o Br•nco, o,m São Pm,lo. fundado p0r A.VTÕ~I0 DE SA~tl'AIO l)ó1>1\, ,. um do,
pnnop.111» u1.abeloàmen1os paniculares- de en,ino iltalnd&rio no ,,..,_.

393. Lie4!u N1teion11/Rio Brnnco de S. Paulo. AgpéCtO do blblloteca.


394. Colé/liO S a n to
Inácio, dos padres da
Companhia de Jesus.
Rio de Janeiro. Vista
do páteo interno.

395. Faculdade de Di-


reito de S. Paulo. Vista
do páteo cenfra.l. re-
c.onstroído na simplici-
dade severa de suas
linhas prim;tii·as, do
nnriJlo Convento de
S. Francisco.
396. Faculdade Na-
cional de Direito do Rfo
de Janeirô, hoje ínstã-
lada no edifício do
antí40 Senado, primiti~
vamenté Palácio do
Conde dos Arcos.

39,. Faculdade de Medicina da Universidade de S. Paulo. Vista de conjunto do prédio, antes da construção do Hospitt,/ ele Clí11icas.
398. Hospital de Clínicas da Faculdt1de de Medicina da Universid8de de S. Pnulo. Vi.sta tomadrt de avião .
.Foto dn ENFA.
39!1. Faculdade do Mcdiclna da Unlv1tr,idado do Min,u G1m1ir, em B,-lo Horizonte. Fachada print:il>"I
Foto L&ONAR.
400. E,cola de EnAenharia de Pôrto AleJlre, no Rio Grande do Sul. Instituto de Engenharia. Fachada principal.

401. Escola de EnAcnharia de Pórto AleAre. Instituto Astronômico. Secção de MetcoroloAia e Parque M!:leorolóéico.
402, Edí(fcio do E:>CO!a Milirar do Rio de Janeiro, constrúufo no R.,.,en,.,, Distrito Federal.
403. Escola de Estado Mllior, instafodn em gra.ndioso edifício, à Praia Vermelha, no Rio de Jane:ro.
Foto VOSYLitJS. Coleção do Serviço Nacional de Recenseamento.
404. Escola T•ecmca
• do 'Exe.t'ciio
• p à p T8l8 • Vermelha , no Rio de J a.n~íro
Foto ' destinad•
RosENB AVi:R. ~ j;
form.a.ção de entenheiro.:, militares especializados,
405. A ant.i4s Escola Naval, cujas origens remontam à Academia Real de Marinha fundada em 1808,
por D. JOÃO Vl. Vista aeral dos seus edifícios na ilha das Enxadas.
Foto da Escola Naval.

406. Escola N.-:,val do Rio de Janeiro. Páteo amtral do rtovo e suntuo:i:o l!di!ícioJ construído n,1
1/ha de Ville;Jailft1011, hoje ligada ao ccntinent~.
Foto da Escola Naval.
407. A E$COltt Nacion1tl de Bcln6 Arttts, no $OU novo &dilído construido depois da tra.ndormaçio do Rio do
Js.neho e dtt 11berturo do Avtmidn Rio Branco, «ôlundo o• plano. urban'Ístic:os de P.e:RltlRA PASSOS.
408. Escola Superior de A4dcullurn Luh de Queiroz, em Piracicttba, no Estado de S. Pau.lo. Edifício principal.
409. Escoltt Técnica Nacional, do Di1trito Ff)do.r11J,- uma d•• Rran:Je, cscolo.s técnicas do plano si.rtcm&ttco do cn,lno lndu1trlnl,
projetado voto ,Ovômo dn Unllio o e,t11bolocido 1>0l0 decreto•loi de 30 de Janeiro do 1942,
Foto do Serviço de OM.umontoçllo do Ministério do Educação e Saí.de.
410. Escola Técnica NaciOnlll do Distrito Federal. Uma dãs Aalerias do páteo central.
Foto do Servi~o de Documenta~ão do Ministério da Educação e $aúde.

411. Escola Ticnica de Vitóri;;;, no Espírilo Snnlo. v; ...,,a de conjunto.


foto do Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Saúde.
uma das escolas destinadas, seJundo o plano de ensino industrial dt1 União, à
112. Escola Técnica de Curitiba, no Paraná, -
formação de artífices e de me.strcs de oficio, nos diversos $Ctores indu&tria.is.
Foto do SeMço de Documentação do Ministério da Educação e Saúde.

da éadeiro de ioo/oJ/d.
413. Faculdade de Filosofia, Ciências e LctrM da tfn!vcrs!dade de S. Paulo. tlm dos iobora/6rios
Foto LIBERMAN, S. Paulo, 1942.
414. ln.stituto de Educação do Rio de Janeiro, construído em 1928-1930, reorianizndo em 1933 e destinado
it lormoçiio de professores prímários e de ad1ninistrndores escolares e de oiientadores de enss:no.
Foto NICOLAS, Rio, 1930.
415. I n s ti t II to de
Educação do Distrito
Federal. Uma das nm-
pfos Aalerias d'? terceiro
pavimento, abrindo para
0 suntuoso pdteo central.
Foto NICOLAS,
Rio, 1930.

416. I n s t i.t u I o de
Educação, em Sa.Ivador,
Bahia com suas exce-
lentes' ; n s t a 1 a Ç õ e. s
modernas. - F oto
VOLTAlRE FRAGA. -
Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatist.ica.
417.. Escola de Educa~o Física do Exército, o mais importante centro e loco de irradiação da. educação
físics nacional, Edifício prinCij;al, junto à Forvtâleza de S. João.- Rio de Janeiro.
Foto do arquivo da Escola de Educação Física do Exército,

418. Escola de Edt:ce.çâ.o Física do Exército junto à Fortaleza. de S. João, - escola pioneira do movimento
em lavor da educação física no Brasil, Conjun.to de pórticos e tôrre de HeSl';RT.
O ENSINO GERAL E OS ENSINOS ESPECIAIS

0s membroe daa prof181ÕC8 liberais, obrigados a estudos mais longoe, não ainda
demasiadamente especializados, nao só tiveram tempo de se cultivar e de CB·
tender oe seus conbecimentoa gerais, como também (o que ~ verdade sobre-
tudo para os horncn das leis e para os médicos) estavam mais cm contato
com a vida, chamad como são, proí1ssionalmente, a examinar problema
mais complexos, a ver de perto sofrimentos e a considerar o homem na aua
üitcgralidadc. Daf talvez a menor contribuição, a êMe respeito, do engenheiro
que, não lutando as mais das vêzes senão contra a matéria, tende mais íàcil-
oiente a confinar-se, pe1a especialização, no domínio estreito cm que trabalha.
e a eaquecer o humano para nao ver senão o rendimento técnico. Mas, ae ac
redUZ1u função cultural sup1ement:aJ"que exerceram. a nossas escolas su-
periores tradicionais, di1atoa-sc a importância de sua função espedfica: ao
h~em do direi o abrem-se, numa época de profundas transíormaçõc:a poll-
ticas, juridicas e sociais, os mais vastos campos de estudos, de exploração e
de q-abalbo reconstrutor; ao médico, chama-o, reclamando-o aos milhares, para
um rude esfõrço, a orianização urgente da luta pela saúde e pela vida, nu
pop1J}açõcsrurais como nas aglomerações urbanas, nos campos como na cidade
moderna brutalmente edificada sôbre o enorme a<cscimento industrial; e, quanto
ao qenheiro, ~ cada vez mais largo o domínio que se oferece a diveraaaea,.
pecialidadca técnicas, na civilização mecânica e industrial, que surgiu do pro-
gresso du ci~ciaa e de suo.s aplicações a tôdas as atividades humanas.
Mas, entre os ensinos especiais, criados no tempo de D. JOÃO VI que pro-
moveu a. "profi ionalização" do ensino superior, foi a instrução milit:aJ",para o
Ez&cito e a Armada, a que exerceu menos influência e teve, no Império, pro-
gressos maia lentos. Não éramos, como não aomos, um povo de-conquistadores,
em luta com um meio hostil e impelido -para uma polltica imperialista de ex-
pansão e, portan o, com uma predestinação geográfica biat6rica para a caneira dat
armas. Se não tínhamos vocação nem tradições guerreiras, nao datavam ee.não
do primeiro quartel do culo XIX, oom D. JOÃO VI e, maia particularmente,
com a Indepcndencia, as nossas preocupações com o ensino militar e naval,
aistemàticamen e conduzido, num plano em que se atendessem às exigênciu
da defesa nacional. De Portugal não havíamos recebido uma hCTança de cul-
tura militar; nem as condições da época e de nossa formação nos impulC'fam
a necessidade de construí-la, nem os recursos econômioos nos permitiam a or-
ganização de uma grande máquina de guerra, com a sua indústria e o seu ,ensino
respectiv06. Serti poriasa, sobretudo, que o ensino para a preparação de oficiai,
e engenheiros militares, enquadrado em escolas de cultura geral e especial,
civil e militar a um tempo, levou mais de 60 anos a adquirir autonomia e fisio-
QQmia pr6pria, no sistema de educação nacional. A Real Academia Militar,•
fundada pelo Prlncipc Regente D. JoÃo VI, nos moldes daa escolas francesas

-21-
43 A CULTURA BRASJL IRA

que exerceram acentuada influência em nosso ensino militar, a. avés de mais


de um século, destinava-se, de fato, antes de tudo, a formar oficiais e enge-
nheiros militar e também, a partir de 1839, cm que foi criado o curso de en-
genharia civil, a formar os quadros de engenheiros militares e dos serviços pú-
blicos. Na lenta alução dêsse tipo de ensino superior profissional, podcm-s
destacar quatro fases distintas: 1) desd a fundaçao da Real Academia Militar.
cm 1810, a é a separação dos dois cursos, civis e militares, em 1874, com odes-
dobramen o da antiga Escola Central na Escola Politécnica e na Escola Militar,
como ins "tuições autônomas; 2) dessa época até a criação definitiva da Escola
de Estado Maior, cm 1905· 3) de 1905 atê 1930, pcriodo que assinala com a
vinda da missão franc sa, uma nova era na história das instituições militares;
e 4) de 1930 cm diante, em que ó ensino militar adquire o maior des volvimento
que registra a história do paíir e que se caraderiza p lo enriquecimcn o e pela
maior complexidade das instituições como pela tendência crescente à especia-
lização e à .mecanização.
O curso de Estado Maior que surgiu pela primeira vez em 1839, ao lado
dos cursos das diferentes armas (infantaria, cavalaria, artilharia, engenharia),
quando a Imperial Academia Militar se transformou na Esoola Militar, tinha
como objetivo escreve TASSC> FRAGOSO,"formar não oficims habilitados no
conhecimento da tática e da estratégia capazes de auxiliar o chefe no comando
dos exêrcitos em operações, porém versados principalmente em topografia e
geodé:sia e, por conseguinte, aptos para fazer reconhecimentos e organizar a
cartografia necessária na paz e na guerra". Embora em 1858, com o decreto
n. 0 2 116, de 1.0 de março dêsse ano, as duas escolas, - a Escola Central em
que se transformou a Escola M'ilitar e a Escola Militar de Aplicação, criada
cm 1855 (Escola de Aplicação), ambas dependentes do Ministério da Guerra,
-já "começa cm a orientar-se para novos destino ", somente em 1874 se
separam definitivamente os dois campos de estudos civis e militares, transfor-
mando-se a E cola Central na Escola Poli écnica, e reorganizando-se, indepen-
dente desta, a Escola Militar, como escola de preparação de oficiais. Tra-
tando-se de uma reforma que se empreendeu, logo depois de terminada a guerra
do Paraguai, feita durante cinco anos, "cm pais trangcíro a que levamos mais
de 100 mil homens uma poderosa esquadra", é de sw-preendcr que nada tenha
lucrado com ela o ensino militar, a não ser a dissociaçao das duas escolas, antes
produto de urna evoluç.ão normal do que conseqü&lcia dêsse grande aconte-
cimento. O general TASSOFRAGOSO explica o fato não s6 por continuar o ensino
das escolas a er feito por oficiais que pão haviam participado da peleja, senão
também pela tendência poütica do movimento republicano em deprimir aquela
guerra, como tôdas as obras do Império. t êsse, porém, o da separação

". N 1ran.totm.11olla de !Tut'w'a do ensino militar,•~ em 11114,1918 e 1919, "11",Udaa S.:01


d,e Ettado Maior u ■IIQ linbu 11a-au" . .Foi,-pa,-ém, COIJIa vindll dn M1ado p.,.._ que im~urOII, -.w,do
oi:.rv. Tu,o , uma UOVII era na histõria da im "hl" militara. "Criou- 1111to(d.o -palavn,, • l
de Apcnei~to de Oíltiais, pm, 1! r<enrio da Uitic:11 .,,....., e a Ec1lla de lo~tacla; d ORO•
vat-n:u-- a Etcola de Vcrcri.airia: procurou-,.e compleur e•~ ·çou o c.o.■ in.o de oua-.. ~ como o d.e
Sa6dc e d" T~ e, oobntado, pode,.ai: dizlor qw, ac alou. ~re a Eaco1a. de :S.tlodo oc:••. Depou
da revoluçlo de Ili O - \IJ:a impuJao vigoroso o ensino militar no Sruil.: tt0r ..,_· -« • -• do
Rcalcog!>, prc:E a mlldar- .,.... 'R.eioe:ode:,- cac<>1a dc CIUIAO uperior prof"í.Akmal, de quatro ._ prcpootll
.li tonn.çlo de oficiala da qu.atro 11111.u fuúa:ntaria, an:llbaria, cavalarilt l!IJllcnhuia) e qual .., oob<~
a Ex:ola . Arm (1 a.oo , que p,-te o accao atl; carond, a la de Batlldo .Mo.ior (S a-). ado CW"IIO 6
condiçlo il:ldilpendm l promcçào • general e o Clll:IO de Alto Comando (l ano, d wu,do 10 apcrfc:l~to
de Cllf'OON e 1'c:11C111i : ínicla uma faK oova a E1eo1AT«.nka, paro '-' íDnDlli;lo de ~~enbcitoa mil rc:1 ~ia-
tiiadoa: awp-oe n .. telU plano, a &tcola de Ge6iu,ofo,,: •dquiro notlvt"I volvimento • kol• de AVJ•C-0,
ubcxdiJ:uld.,,•g«a a.o Minbt&io da Aeranâuti"", que & criou ,:m 1!140;r,:far1JJA1n•.e•• c,eolq p<q:,D111:Q 110eaaino
dm ICl"01ÇOI d 6dc, de vcta:iniria e de icleadb>cia, crinn- ou ampU&m• e u "IICOlu ou ccnt.-oo d.e i truçio,
datiDadm ■ o ap,ndçaamcnto e eapedalimção de m,d.1iJ {Reaola d Ãrtilhari.a de Coais, dt>Mot,o..meca,,.ip~}.
a íaM: maia iAt- e CCCUDda de renOV11ção c&:aica e de espcdalinç.la tõdu u ~ (Cft. ~ c«oncl
JOAqVDI QUQ OA , A ~olu~iro do enafoo mi.fitar no BrHil l.t, "Anokio da _ .. ,
n.• l, 1914, p6p. 9-58; J. CAaLol M&ltnns, Origem d• .E-l• MiUt ■ r. ln "Revista da lta<", Ano
XIV, 11.• 27, apto 1934. pi 60-62; A. 5.ül('AlO ~aA, O en•lno militar no Br•/JJI. In ''Re-
vista Mlliw". 193 , T.ueo Fu..ooeo, O en~no militar.,• E-.:.ola de &t11do M11ior. Couíertnd.11 prorwoclada
cm l 31 na Bacol ■ de rado Maior. I.n ~ "N çl.o Armada", a.• 5, abril de l-940),
O ENSINO GERAL E OS ENSINOS E PECWS 435

das duas escolas em 1874, o momento culminante no século XIX, da evolução


d.o cnaino militar que em 1889 dã um passo decisivo, com a criação da Escola
Superior de Guerra· se d envolv com a reforma Benjamim Constant, que
na justa observação de TASSOFRAGOSO, previu 'uma s6lida preparação teó-
rica", mas sem o complemento de um perfeito ensino prático, e entra afinal.
em 1905, numa nova fase no sen "do do progresso com a criação da Escola do
Estado Maior 1 dentro de um novo plano de estudos mais adequado à finalidade
especial des38 instituição.
Se certamente não Coram sempre as mesmas, não tiveram efeito menos
profundo, no seu proc o de evolução, as dificuldad e vicissitudes por que
paasou o ensino naval, des ·nado à formação de oficiais de marinha, desde qu
ac fundou, por iniciativa de D. Jolo VI, o primeiro instituto dêssc gênero, no
Brasil. A Academia Real d Marinha, cujas origens remontam a 1808, e que
funcionou durante mais de trinta anos nas hospedaria do Mosteiro de São
Bento, mudou várias vêzes de nome, sem grandes alterações na sua estrutura
de ensino. Em 1832, a Escola Imperial de Marinha se incorporava à Escola
Militar de que novamente, em 1833, se desprendeu, sofrendo em 1832 e em
1839 as reformas mais importantes por que passou no período do Império, e
até às modificaçoes introduzidas em 1891, nos principias do regime republi•
cano. A organização do ensino naval em instituto aut6no.mo desde o início
de sua fundação, e por tôda e sua hist6ria, mais que secular, e excetuarmos
o pequeno penado crítico de 1832-33; o caráter prãtico e mais eapccializado
que tomaram &ses estudos, sobr-etudo a partir de 1839; as viagens de instrução,
a bordo de navio armado em guerra, com as quais se completava o ensino e se
abriam aos futuros oficiais horizontes mais largos e maiores possibilidades d
contato com culturas dif erent , e o papel que a Marinha desde a Indepen.
dencia, foi chamada a exercer, contribuíram, em grande parte, para manter
em nivel mais alto o ensino na al e quebrar as reaiste.ncias ou as dificuldades
que as condições do meio a.inda opunham à sua renovação e ao seu desenvol-
vimento. e No período republicano, desde 1891, - data da primeira reforma

A Al:a4emlaReal de u.inboo, fundad. em 1808 por D. Jo.Xo ~ in.dalou- , u,o, com ■ Coon-
panhla do. Guan!Aa-~ _.... hwpodariQ do M'ootcin> ~· São Bento. :Pol ~ que runc:i<mou■
Acadcml■ d M■rlnha dc,dt llOl[I ■u 1832, quaado -- 2->la, fundindo...: com ■ A&:■dam■ Milii:.r, oe tnm-
Jcria par11 o L■.r-so de SJo Pl'"■lldaco d P■ al■, daodc DOvamentt voltou, quue doía ano,, depois, para o Mootd:ro
de S1o Bento (i833-183!1). lt.a:i. 182J, 6ac atabdecim.c:uto de ú:iatruçio naval paaoa ■ deflom.ln■r·« Acadctai■ •
Jil'■don■ I e Real de M■riDh■ e, dcpo1- d■ p,oel■m■çio da lfldependlncla, Ac■dc:cnl ■ Nadoo■I e Illll)O:ri■I de
Marinha.. O decreto de 9 de m■rco de 1832, ■11ín■ do pela .Regffld■• rcfonnoa ■ Ac■dtm1.la M"ditar d■ C&t,,,
incorponmdo nela ■. d01 01.1■ n1 ... -Muifth4 e d■nd<>-lbe aovoa· estl!t\ltDs. N• Aca.demia Mllit■T e de M'.lll'lnh■
que re.ult:011 d""u. lncorporaçl.o, cm J 832, ,e,uin■ \PIUD- "u ci~.u matem6ticu c millt:■ceo, bem como o detellho
~i,o aQOoficiei• do li:drclto, J,brinha En1e:nh■rl ■, e e.a,."""' quatro cl- . .,.....,.,t,de". A Ai:■lle.inin, dJ.
vidlda pela D.ov■ ot&llDl,..~o ,:m q,..tro e.....- clentlficot, 1) o curao mátem.6tico, d 4 a1101, 2) o cu.roo mlUt■r,
3), o de ponte. e c.■l;■dH, e 4) 11 de co111truclo naval, bt:ea tr&i últimoe, de dob &1101, pllPOll • fWlcionar com
IS prof_.,. e 17 oubstltatlll, "= OI me.mOI ardem.doe e l)l'ar0&atívu 111:1iloall• b que ~bem e teir. OI
lentee d cur-jw1dl<'OI, de Olilld■ e do Slo P•ulo" (art. 10). Pelo ru:crcto de H de du,:mb<o de 1833, maz>dou.ae
•-bclcccr "oo p6 cm qw: .e ■cbaV11m", ■ Academia de Marinha. e• Comp■flhí■ 11.otOwu-du,M■rlllh■• antes
ela fuiao daeradiwl., pelo referido decreto de !I de março de 1832, rcvatc:ftdo l Aca .emi• d.e ~ como
fmd 'elo ut6oom■, la..,.. pri.a:,.i·.,.. m.~..., Mo.b,iro de. São Bento. O r-ecuJ.a.a:,.mtobeindo pelo
d o.• 27, de l de jaaeiro de: 1839, lnDllícre ■ Ac■d.emia do::Marinb■ pU"■ bordo d um nvlo d a-•
{■ _., p o • cmd.e, - tem- d d ~ • ÍICI' aqaarttladOI OI d l)ll1ae Q\le • freq!tmt■ nm.
=o iD~. ~.hmn■ gnade Tcfonn■ "" open,a no emiDo DBval, dur■abo o m.•rcil>■llo. Sm 1866, • Eec:ol■.
d Marinha, cvJ• •ulu enm mtlo lnqOcou.du pc:.- 94 alunos (71 &1pÍra,Dla e 23 dvit), Ul44tlnh■ WD r:mao
te6rico 1tn1 • pdtico, de 4 -• de ,:ui, • tlllld■ mema.is e diacipliDu • (auoaallli■ c....,. ■plic:a$&,o
l a.■v $, boo.l!ltica,t&tica o■ v■J, trabalho■ hidrocrtfico1, ~"'• milquia■a v■ p« plicad l""
e com1n,1~ ... ,,.ri, tendo o emtno, no 61 mo ano, fc:m, cm n■vio VJDJt.dor:,o iiw,,T■ e danu1te Yiq,.,... dc loaao
c:ureo. H.avi■ ainda ■ Eacol■ PrAt,ca do Anllh■ri• de M■nnha. Em 18ll6, M>b■ dcru:imiaaclo que ainda boje
~ d a-la Naval, rcwiem..., • Etcol■ de M■rmba e o ColEvo Na""1. Pelo d«rcto a.• 1 256, de 10 de
;iaadro de 111111. r--a;an!SOU"IC ■ Na.v■I, qgc ■iude fuoci.QU2V11,º°" ,n cclinda■, Da llh■ da• .&Qnd■ 1,
• ntra.tar■ de enalno se divldíu cntSD ftl'I doi1 cur..: 1) o C1JnO prMo de wo ano· li) o c-urwo1uperi.,,.,
de 4 , ecndo de 3, par■ ot,apir■ arc.1. e de wn ■no, par■ oe gw,rdaa-marinba, ■Junot. ~ c:uno completava e
coa,'Q 'rili1- de l:o.trvp.o, de 3 ,n_, "Apeear du rcformu por qaco .. ú]tia,.,. aa011 tem pe.■ do"', oesulldo
proc1a,:uv■ ord■.t6riomlabteri ■ld l .9l!nloR ■c:hav■■in.da-eecola"àalturad. auullm W'eaCIDOUJ:JGep■ild".
Fc,i DO prb:aà,ra qu.ut,oJ do akulo ■ l\W .... da.u ■dmmistraçõa. de Ai.KXANDENO 1'111iU.gJ(CAA, "llllbrcmdo,
- 611:!modecâ,io 1!130-1940, que o ca oo naval ■dqlliri11 m■íor oomplaidade de atnltur• o::re■li1011 propeao
m■& ripido,i, per■ oe qo;wa cootribulu., ,:.a,. l■rs.■ medida. a missão nav,,J amaic■na. A Eecol.■ Naval ach■ .. e
boje 1oat■l■dli aa. ~ odiftcio. qaQ o 1ovin>c! G&Túuo VAJnl.U fb, conatrwr, - ilha de. Villep.i ,
~ - te por UIJI atbTo, (Clt. A. Z. FOffDCA.Cosu, EsbdQo lus~tloo da Auidemio dr, Marlnh■ .
1873; .Etuun-o Suu., E,,,co/a Na aL S.,, ttniri.o, 1908; LvCAS ALzlcA.-.Borra.ux, A /a Naval. Seu bia-
t6rico (l?Cll-1937}. 1.• putc -Da~ i:rnilorid..se de: PEDXO IL lll1prcn1a acioa■ I, Rio de Janeiro, 1910),
4 6 A CULTURA BRASILEIRA

do ensino naval nesse regime. - até 1930 o ensino naval que, em 1916 ainda
se reduzia à Escola Naval mais que centenária, e às colas de aprendizes ma-
rinheiros, tomou um impulso maior, não devido às sua diversas reformas,
das quais uma das mais importantes foi a da adrnin.í ação de AL~RINO
DE ALENCAR, como tambêm pelas iafluencia da misse.o naval americana. O
:nsiilo militar e o ensino naval entraram em um fi ova, respectivamente
com a missão franc para o Exército, e a nússão americana, para Armada,
a cuja tradições já ilustres, apesar de recent ,7 faltara até então, para enri-
quec -la , a experiência dos grandes mestres trangeiros.
Sem dúvida, a Escola Militar, escr v TASSOFRAGOSO, "já existia com
um plano de tudos aceitável, mas faltava-lhe o cencial: professores com-
petent e autorizados para ensinar-nos a arte de comando... Seus antigos
prot ssores, verdadeiros· auto-didatas, buscavam nos livros, com louvável em-
penho, o ensino que deviam transmitir aos aluno , mas falavam de operações
a que jamais haviam assistido. Devemos confessar (conclui. o ilustre militar)
qu s6 aprendemos realmente o serviço capital de Estado Maior, isto é, a arte
de dirigir tropas e provê-lasJ depois que a rnis ão no-lo nsinou''. As mis~
militar e naval, depois da primc;ira guerra mundial; a xpcriência da revolução
de 30; o surto que tomou o militarismo no mundo e as .jgéncias imperativas
da det nacional impuseram uma renovação to al da t~cnicas militares e
do eu ensino que, complicando-se a cultura e a arte da . erra, complicaram-se
na mesma medida. Inaugura-se então depois da revolu o de 30, no govêrno
do Presidente GETÚLIO VARGAS, o período, cert ente mais brilhante e fe-
cundo do ensino militar e naval que se aperfeiçoam e se desenvolvem, nos di·
versos domínios de suas especializações. Para remediar a sua primi ·va rigidez 7

suprir uas lacunas e seguir a evolução da ciência e da éc:nica que tendem a


p •alizar- e cad.a vez mais, e também para estenderem o s u campo de ação.
instituições de instrução militar e naval foram conduzidas a constituir-se
em organi os novos, mais maleáveis, talvez mais r • os, mas por certo mais
adap dos às necessidades mod.ernas. Nao é só a organizaç-o do ensino que se
enriquece s amplia na comp1exidade crescente de seus institutos novos ou
r organizados, prepostos à formação de oficiais das diversas armas, ao seu
aperf •çoamento e especialização, como ao domínio da arte de comandar (Escola
de E tado Maior), ao conhecimento da tática anitária ou do mecanismo da
·intendencia. Não é menor o impulso no domínio das realizaçõe materiais;
criam-se escolas de aeronáutica; instalam-se as primeiras fábricas de aviões;
n ram m franca atividade os estaleirns de cons ruções navais e levantam-se,
em Resende e na Ilha de Villegaignon, rnagnificos edifícios, para a ínstalação
das escolas tradicionais, destinadas à formação de oficiais do Exército e da
Marinha nacional.
Durante mais de um século, desde que fundou ó lmp6rio, essas duas
carr iras mili ares e as profissões liberais eram a únicas que tavam ao al-
c3nc dos brasileiros, mediante educação sup rior: as at ·vidadC$ técnicas, ro-
tineiras ou ainda incipientes, nem exigiam preparação especial nem exerciam
sôbr a mocidade a menor atração. Quando proclamou a Independência,
as formas da economia do B.rasil semi-feudal, construído sõbre o regime da
cravidão, ainda não haviam sido deslocadas pela revolução industrial que
com ou a rocessar-se lentamente nos fins do século ado. A partir do
momento, porém, em que a sociedade brasileira ati:D ·u um certo grau de dife-
r nciação, a cducaçê.o fundada essencialmente na dis • d ela , e com
uma base extremamente reduzida de ensino comum, entrou também ela a di-

7 RsHluouw. 8o1Tt1JJC, 0& nosaQ,; almiran ~- 8 um~: Lu A. Bot:Yux, ftl,"ni•lto• dtt •rinh•
- 2 volu.m
O ENSrNO GERAL E OS ENSINOS ESPECIAIS 437

versificar-se segundo as classes e profissões, marcando desde logo o seu sistema


pela tendmcia às carreiras liberais. A esp..."Cializaçãoprofissional, no sentido
desaas carreiras, não era, no entanto, ditada apenas pelas necessidades sociaís
do meio, mas correspondia também à maneira pela qual o trabalho social era
dividido e organizado, nesse momento da história da civilização (referimo-nos
aos princípios do sêculo XIX), em que nem as ciências eram bastante apro-
fundadas, nem bastante extensas as aplicações que delas se faziam à indústria,
e, portanto, os programas das escolas superiores podiam abranger o conjunto
dos conhecimentos. O tipo de instrução e cultura, baseado sôbre as humani-
dades e orientado para as profissões liberais, era o que reclamava essa sociedade
que nos revela uma viagem, a cem anos, pelo Brasil, - sociedade trabalhada
por dissidenciaa poltticas, mas de uma população, mentalidade e costumes con-
formes, com um rudimentar sistema econômico, semelhante nos seus caractcrea
meriores e na sua organização interna, com suas liteiras e diligencias, com suas
tropas e carros de bois. e sem diferenças muito acentuadas entre a vida dos
campos, das fazendas e dos engenhos, e a das grandes aldeias, que eram as sua&
cidades de sobrados, tranqüilas e sonolentas.
As atividades no campo industrial, quase inteiramente dominsdo pelos
escravos e mestiços, continuavam ainda reduzidas aos engenhos de açúcar, à
extração do ouro, nas Minas Gerais, e a pequenas indústrias, com seus núcle~
e concentrações de artífices. A indústria que repontara, com o apoio do braço
escravo, no fabrico do açúcar, no século XVII, e na explora?o do ouro, no
século XVIll, empreendida cm larga escala, mas segundo os velhos processos
importados pelos portugu&cs, pode-se dizer que estava ainda, no século XIX,
no período crepuscular, menos que na ante-manhã, vegetando na rotina e na
tradição. Do sistema de trabalho baseado no regime servil, e do predomlnio,
em conseqil!ncia, do elemento escravo nas atividades manuais e mecânicas,
herdara essa sociedade apenas emergida do coloniato, o desinterêsse senão a
repugnância pelas profissões têcnicas e pelos trabalhos físicos. As artes e os
oficios, relegados pelo geral a escravos, mestiços e estrangeiros, eram aliás,
em todo o pertodo colonial, como observa FRANCISCO MoNTOJOS, "privilégio
dos imigrantes que avaramente transmitiam os seus conhecimentos, sonegando
muitas vêzC$ a verdadeira técnica aos aprendizes, - técnica a que davam o
nome de "segredos do ofício". Nas tendas, com mestTesincompetentes, a apren-
dizagem se fazia de modo empirico e sem finalidade educativa". A fôrça do
preconceito, cm relação ao trabalho de base manual e mecânica, socialmente
pouco estimado, por ser tido como pr6prio de escravos, não podia deixar de
opor-se, nessa sociedade de elites acadêmicas, à propagação do ensino técnico,
agrícola, comercial e industrial, que não encontrava, no desenvolvimento das
indústrias, um elemento para vencer aquela prevenção herdada do sistema
colonial de ensino e de cultura e poderosamente tavorecida pelo sistema eco-
nômico, agrícola e escravocrata, dominante, ao longo de todo o Im~rio.
Diante das necessidades sociais e da mentalidade corrente que reinava,
nessa sociedade liberal, de economia agrícola e de hábitos coloniais, organizada
sõbre uma lei de confonnidadc e preocupada com as suas criações literárias e
jundicas, não se tomava possível nenhuma reação verdadeiramente eficaz em
favor dos oflcios e profissões industriais. Certamente, jâ na 2.• metade do
s6culo XIX, tomou-se tão considerável, na Europa e na América do Norte,
o desenvolvimento das ciências e se estendeu por tal forma o domlnio de suas
aplicações que começaram a surgir novas escolas especializadas e o próprio
ensino, no domínio técnico, tendia a diversificar-se, tomando por base uma
indústria ou grupo de indústrias. Essa especialização de ensino que se ligava
menos à distinção de classes do que a uma crescente diversificação profissional,
43 A CULTURA BRASILEIRA

corr pondia ao extraordinário desenvolvimento d indústria , ao aperfeiçoa-


mento e especialização cada vez maior das téaúcas e ao favor de que pas-
saram a gozar essas carreiras, em vários paises. como AI manha. a Inglaterra
e o E ados Unidos. Mas, no Brasil, a escravidão co tituía ainda uma bar-
r ira insu rável ao desenvolvimento da agricultura e das artes e profissões
industriais. Por todo o Império e em grande e do período r publicano, a
o ganiza o econômica, antes e mesmo depois da abolição do regime da escra-
a ura não oferecia nenhuma base de ação indu trial dond parti e esse im-
pulso que já revolvia a sociedade de algwnas nações, levando-as, pelo desenvol-
vimento que tomaram as indústrias, a diversificar a educação não s6 de uma
ela s para outra, mas, dentro da mesma class segundo a vari dade de car-
reira e profissões. É êsse estado de coisas, mais que a imprevidência dos
1ovemos, que explica a odisséia dessa ''loucura sublim ", como qualifica Rut
BAJmOSA, na sua expressão enfática, à instituição, fundada m 1856, do Liceu
de Artes e Oficios. "Nascida entre desdéns (escrev Rur BARBOSA, traçando
um quadro sombrio que ficou sem repercussões) p regrinou, lutou, esmolou
longo anos: subiu a escada do poder indiferente, mais dura, mais avara, mais
humilhadora que aquela cuja :reminiscência amarga nos verso de DANTE~
desceu, muitas vêzes despedida como a indig!ncia menosprezível da mendici-
dade ociosa, ou inútil. Orç-amentos e ministros houve que nio tiv am para
ela a miséria de tres contos de Téis, - êsse ridículo, uma gratificação de secre-
taria. Graças a essa vergonha. merc de cidadãos em luz d governos sem
pr ·d~cia, a sua lâmpada chegou a apagar-se temporàriamcn e para o povo".•
A sociedade imperial rolava sôbre si mesma e parecia uilibrada, quando
dou elementos vieram perturbBT êsse cquillbrio, - a imigração e a abolição do
eJemcnto s rvil, - mas quase indiferente à técnica, cujos progres s cm outros
pa{ ea apenas lhe excitavam a imaginação. Na República, durante cêrca de
30 anos, a sociedade brasileira com uma indústria penas formação, não
põd nem pretendeu assimilar. a não ser no domínio agrlcola a t~cnica moderna
que achava em progressão r-ãpida e constante enquanto a ocicd de parecia
fixada em limites e quadros que julgava imutáveis. E tod ainda contavam
histórias de sua infância, sua primeira viagem em caminho de f rro eu des-
lumbram to quando a eletricidade sub tituiu o óleo o gás seu temor quando
la primeira vez tinham ouvido, à extremidade de um fio, a voz humana.
A cultura científica e a cultura técnica ainda eram muito pouco espalhadas
na burguesia, como nas elites intelectuais e dirigent s, qu se contentavam,
em geral, d admkar em bloco, de maneira literária, as "maravilhas" da ciência
e da t~cnica, sem nenhuma preocupação .real d alargar, no pafa, o campo de
suas aplicações. A própria mocidade, de lumbrada pela técnica, - que se
lhe afigurava, através dos romances de JÚLIO VERNE, maravilhosa, poética,
humana, - mas ainda fortemente atraída para as carr iras lib rais, não experi-
mentava na sua admiração romântica pelas transformações surpreendentes,
d qu surgia a civilização industrlal, nem melancolia nem inquietação diante
d tan s mudanças, como se não tive~se a menor cons iencia da ameaça que
sõbre as velhas coisas, - tradições e insti uiçõcs, - nem dos pro-
de ordem moral e política que já suscitava por tôda part a revolução
iod strial.
preponderância da econOinia agr· ·a qu ind • a coluna
mestre d todo o nosso sistemg_ econômico: a in uficiêo ização do
tr balho industrial. apenas em esbôço a in odução. •oda muito recente,
d no a t'cnica, n-o justificavam. de fato, a especialização do e sino écnico

t BARBO , o; ur•o pronundado no Liceu de Art • Oflc., 1. ,rm 23 1 nnvem\,To de 1881,


/n "0,,a do A, tolo", ,. 69---113. Edição d "Re • de LltJ p.,,. U!',U ", Nio de Jnnel,_,, 1913,
O E SINO GERAL E OS ENS1NOS ESPECIAi 439

u a criação de nova escolas especiais. A diferenciação profissional, no do-


m.Inio da cultura tttnica, tinha de começar, como efetivamente começou, pelas
escolas agrfoolas a princípio por tentativas que visavam o estabelecimento
dbse tipo de ensino, como, em Minas Gerais, a criação da Escola Agrkola, cm
Juiz de Fora devida a esforços de MARIANOPRocóPIO, e os institutos de
Itabira e de Ubcraba, "que tiveram por algum tempo a inspeção de HENRI
GoRCEIX ', e mais tarde, com a instalação de grandes escola de agricultura,
em Mina Gerais e em São Paulo. Criaram-se então, cm 1901, cm Piracicaba,
a Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz, cuja fundaçâo em São Paulo
fôra autorizada em 1892 (lei n. 0 26, de 11 de maio de 1892), com dez estações
experimentais, e, cm seguida, a Escola de Agronomia e Veterinária, de Pôrto
Alegre, e, em 1917, em Viçosa, a Escola Superior de Agricultura e V terinária,
de Minas Gerais. A escolas de comércio, para o ensino elementar .e m6dio.
e .raras eacolas superiores, como a de Pôrto Alegre, escoltavam d perto ases-
colas agrtcolas. 0 No domtnio da cultura industrial e da formação t~cnica,
al~m de e colas cuja necessidade ainda não se fazia sentir e que tiveram, por
isto, curta duração, criaram-se as escolas de aprendizes arttfices, instituidas
por NILO PEÇA.NHA em 1909 (decreto n. 0 7 566, de 23 de setembro de 1909),
em número de 19, uma em cada..Estado, com exceção do Rio Grande do Sul,
onde ficou mantido como in tituto congênere, o Instituto de Parobé, fundado
em 1908, anexo à Universidade Técnica e devidamente subv ncionado pela
União; os Institutos de Montauri (de eletricidade e mecânica), de Qu.tmica
Industrial e Borges de Medeiros (de Agronomia e Veterinâria), que consti-
tuíam a Universidade Técnica do Rio Grande do Sul e o Instituto Eletrotéc-
nico, de Itaju - iniciativa devida ao entusiasmo ardente de TEoDOMIRO
SANTIAGO. N terreno, porém, ainda não havtamos ultrapassado os limites
das escolas profissionais, de tipo tradicional e de nivel primário e m&iio, que,
al&n de terem uma organização arcaica, não apresentavam, mesmo em São
Paulo um cr cimento quantitativo que denuncia uma forte div não da
linha normal seguida, at:Tavésde mais de um século, pela política lar do pw.
Ais grandes mudanças .não sobrevieram senão depois de 1930. J em 191
1920, depois da primeira guerra mundial, que trouxe, entr suas repercussões
sôbre o Brasil, oomo por tôda parte, maior variedade de pontos de vista e a.
divisão das elites in electuais, que tomaram posição em entidos diferentes,
---------
440 A CULTURA BRASILEIRA

o prime.iro surto industrial contribuiu para arg as n~ maneiras de pensar


e de tir, para modificar, sob vários aspecto , a fisionomia da Nação. Entre
os diversos fatores que concorreram para as transformações que ao e ve~
ri.ficaram figuram o surto industrial que decorreu em p e da nc
pela guerra e suas conseqüências; o fenômeno de concentração urbana
observou com mais intensidade no centro-sul io, São Paulo e Minas),
como tam no Rio Grande do Sul e em Pernambuco e a direção para São
P uJo, não s6 das correntes imigratórias que já afluíam brctudo para êsse
Estado; como do movimento interno de migração. D fato, e no primeiro
lustro {192 1925) chegavam a São Paulo 279 540 p oa&, das quaís 204 950,
vinda da Europa, e 74 590 elementos nacionais que provinham às centenas,
de quase todos os Estados do Brasil, às estações do Norte e da Sorocebana,
no qüinqüenio seguinte (1925-29) São Paulo re<::ebia461 668 imigrantes, dos
quais 171 727 brasileiros. Foi nesse período e sob a pressão de seu desenvolvi-
mento industrial, e não em 1909, como proclamava ROI BARBOSA, com mais
visão profética do que sentido da realidade, que •cuma estupenda metamorfose
à yankee transformou em ·capital magnffica" a cidade de São Paulo, em que
s6 en o verdadeiramente se começava a sentir "o cr cer da fôrça, a exube-
T ncia da civa, o arnôjo da vida, na intumescência do ejos misteriosos que se
debruçam para o berço das raças predestinadas". 10 Mas foi no dcc nio de 1931-
41, com o d envolvimento crescente da indústria e o ap rfeiçoamento das
t&nicas, que chegaram a influir vigorosamen e, no sentido de uma nova civi-
lização, as fôrças econômicas novas, já coordenadas pela atividade condutora
dos capitães de indústria e bastante poderosas para suscitar, no ílw::o e refluxo
da vida econômica industrial, problemas técnicos, s •ais e políticos apenas:
p,,.___,.,,,.,.
dos pelas gerações anteriores.
ão ~ somente a paisagem social e econômica que transformou, nesse
último decênio. Com o início das restriçõe imigrnt6rias, a partir de 1930,
o movim nto de migração interna que se vinha intensificando desde 1920
tomou as propor_ções de uma impressionante d locaç.âo de massas humanas
de odo os Estados brasileiros em direção à lavoura do sul, e, especialmente.
de São Paulo. Desceu, em conseqüência, a den idade demográfica de alguns
Estados, como o Pará e sobretudo Alagoas que era, em 1920 um dos Estados
de população mais densa, e no qual o censo de 1940 encontrou cerca de 20 mit
habitantes a menos do que na anterior operai;;ão censitária, devido em grande
part , ao afluxo de fa111íliasalagoanas para São Paulo, no últimos vinte anos.
O fenômeno de condensação urbana adquiriu uma intensidade sem precedentes
n história do pais, desenvolvendo-se notàvelmente as populações de Põrto
Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Recife , mais que t as, a do Rio de Janeiro
São Paulo. O confronto entre os resultado do Recenseamento Geral de 1920
os d dos preliminares do de 1940 revela que, enquanto em 1920 se apuraram
648 153 unidades agrícolas, o total de boletins dês inquérito, em 1940, ascendeu
a 1 898 200, quase o triplo portanto, e. quanto à indústria, o número de uni-
dad r enseadas subiu de 13 336, em 1920 para 44 359, em 1940, além de
3 788 de tran portes e comunicações. Se tomarmo , pru-a emplo, um Estado
cm pi na rogressão como São Paulo, qae participa com mais de 44 % no valor
da produção industrial do Bra..c:il,e outro, ainda na fas inicial de ua indústria,
como Goiâs, verificamos nas cifras do censo geral, dois aspectos d extra-
ordinãrio desen olvimento: em São Paulo, em cuja indústria já raba)havam,

IO Rui B os,.,Di~ur110 pronunciado mo Peculd,11.d de Oir /lo, ln "lt


de lo P lo". C,, GQtU , 190 , Siic, Paul<>, p,Ítt. 117- l.
O E. S O GERAL E OS ENSINOS ESPECiiU

em 1941, m ·s de 800 mil operários especializaqos, o número de fábricas, só


na capital, elevou-se a 8 016, nesse ano, e só uma das cidades goiana apresenta
boje maior movimento industrial do que todo o Mtado em 1920, quando havia
cm Goiás 16 es belecimentos manufaturei.ros em que trabalhavam 2 op •
rários. Por outra parte, os sucessos do socialismo depois da guerra mundial
e as novas ideologias de direita e de esquerda, vieram mudar completamen e
o caráter de no as lutas polfticas e operar, de 1930 a 1937, novos reagrupa-
mentos de par •dos.
O problema de educação que ficou em foco, desde 1920, passou a pr ocupar
a todos; e se coloriram das novas idéias sociais e políticas as reforma e cor-
rentes pedagógicas que representavam a variedade de pontos de vista e a di.-
venidade enão o conflito das doutrinas. Mas, de todos os problemas que se
estabeleceram com maior acuidade, e cujo estudo e .solução começaram a im-
por-se sob a pressão das coisas, o que adquiriu maior importância foi o da cul-
tura industrial e da formação técnica, por meio de escolas profissionais, de grau
primário, médio e superior e de escolas especializadas (como m~cênl.ca. qu[-
mica e eletricidade), em que se dessem um ensino teórico dessa ci ndas e um
ensino técnico sõbre a indústrias às quais deviam aplicar-s os seu princípios.
Foi por essa êpoca que se criaram instituições do tipo da Escola Técnica (de
quimiotéaiica e etetrot~cnica) do Mackenzie College, fundada em 1932, e tomou
impulso, aobretudo no Distrito Federal e em São Paulo o ensino profissional
que, no qüinqü!nio de 1932-1936, atingiu, nas suas diversas modalidades (co•
mcrcial, êcnico-industrial, doméstico e artístico) o crescimento d 100 para
174, em núm os {nelices, "realmente expressivo de uma nova endência da
mocidade p~ os estudos de iniciação e preparação para ó trabalho". 11 No
dominio fcd.eral, vãrios atos indicam claramente as novas eodências que j
se e.aboçavam em reformas locais e rea1izações de caráter particular, e de que
constituirun sintoma dos ma.i característicos o movimento de despesas dos
Estados e do Distrito Federal e os cuidados crescentes com o ensino profi •
aional que passou, em 1940, de 4 % para 8 % do total das dotações des "nadas
às escolas. O governo da União que, desde 1910, subvencionava o nsino co-
mercial, cujo desenvolvimento se devia à iniciativa privada, estabeleceu em
1931, para &se tipo de ensino, inteiramente reorganizado, uma fisc.alização
nos moldes da inspeçao do ensino secu.ndário,12 organizou, em 1934, n reforma
do Ministúio da Educação e Saúde, a Superintendência do Ensino Industriei

Ü O e,uino no JJrt1ill nq q/Jinqilfn/o de 193'1-1936. lo.otituto N•cloftlll Jc Utuldos Ped11g:õgteo,,


"'Bcltet.lm n.• I ". 1939.
12 O ffl loo corno:rci•I de que nlo ee encontram quaí"4uer iniciativa de c:.c,rtovulto no fml)ff o (DIO •e
tem noticia ten o de UIDJI "aula de .:om&do", c:ríada por lei, e de. um Irutituto Co.mcn:l&Ique, CtO 1874, •P"e•
~- 311aluno,), eomcçou, na vfflledc, a desenvolve,--~ l'lO lkulo atual. ForAru, de rato, l'\u1tladu t6mcat
an 1902 .. duu JlfUDd.,.. col de com~a. - a kademiA de ComEcclo, do Rio de J•oe ~o, de \nlciatiV11
do Dr. CA.lloa,o MJlNDIISD& AI.MlllDA, e ■ E9cola Pritica de Com&cio. c:m S o P■ulo, qu tGnlOU o nom do
-..,,,a. Ãlvarn Pffltudo. Em 1905, o Comdheiro R01>&fGllUAI,'"'' eutãc, preaídcntc da R'!P°bllc:■, &114:lon
■ priméni b com&cio, dedan,:ido .,._. du.u er.olaa, de utílid■d pd l;ca e r
- de c■c conferiam. Squjnun-.c, enimalad•, poc- e.te decreto, Olll>'
~ Km 1g2<5foi modiricada pelo decr o n. 17 329 • tur•
do i-no de ·o, h ncoohecimento of'"ióal. A t ·quer
ao Distrito 'r&çio de ~ nz AzsVJtOO,deu aova
s.c'Dla de qwe, reformada ainda um;o v=, na • • • tr
11133,a
rd'annu por q
~"° ~.
imit:ltujçõe, de
comercial, r.,;. per&,,. • do
no Rio de Jaociro.
Fulfcuc:o
tllll 1931, pelo o-lhe DOY11 oneotaçAQ e~.
lianal e c:atillbcleci:o illoOLU:aiçtlopara nailu de com&ào. p;
1 o propcd ' , de trà ,..,.,.; e 2) o
ano; na~ de gu,uda-fum» e de •
tador, de trb---. 8- catr,,tuno do
-.e com o cono su-paiar de~
q oma ~ perito<oatador ov. de atu6rio..
coof'crido o dlpl cl ~ Aa e,c,olu e~ •
~ do M.in que tem aa Oi\lislodoEmino Comercial
orimlaçlo de toei de comm::lo no pai",. (Cft. Jo«ui Mo11TVU.O Cor11fd r■~ e6br• o J>a -
ado• o p.r n are•' bra1ileiro In "Il~ Sraallclra'l, nllm.u 111,ano , ■n ro,
!fU, pjlga. ~H7 .
442 A CULTURA BRASlLEIRA

em que s tTansformou a lnspetorià do Ensino Profissional-Técnico, instituído


cm 1932· criou, nesse mesmo ano a Universidade Técnica Federal (decreto
n.• 24 738, de 14 de julho de 1934), da qual passou a fazer parte a Escola a-
cional de Qutmica, organizada em 1933 pelo decreto n. 0 23 172, e que foi extinta
em 1937, incorporando-se os seus institutos à Universidade do Brasil: e procurou
por diversas formas, nem sempre as mais seguras, o novo caminho qu lhe apon-
tavam a conccntraçao industrial em diversos centros urbanos e a endêocia
cr en e de especialização e diferenciação profissional.
t, sobretudo, a partir de 1937, porém, que o gov o federal entra resolu-
tamente nesse novo caminho imprimindo novos rumos política colar e
inaugurando a fase mais brilhante e fecunda, no dominio da ducação profis-
sional, em seu diversos graus e em tôdas as uas formas. Os discursos do pre-
sidente GETÓLIO VARGAS mostram com lucidez, em vários trechos incisivos e
de um alcance que não é preciso encarecer, essas tendências como a sua própria
orientação pessoal, dirigida francamente para a educação técnica profissional
do país. A Constituição de 10 de novembro de 1937 consagra, no art. 129, a
nova orientação da politica educacional. ~sse artigo de uma importância
capital, não s6 por ser uma vigorosa expressão dessa nova tendência como
pelas medidas que estabelece para a organização do ensino profissional e seu
desenvolvimento. ''O ensino prevocacional e profissional destinado às classes
meno favorecidas é, em matéria de educação o primeiro dever do Estado.
Cumpre-lhe dar ecução a êsse dever, fundando ins "tutos de ensino profis-
sional e ubsidiando os de iniciativa dos Estados dos Municípios e dos indiví-
duos ou. associações particulares e profissionais. ~ dever d s indústrias e dos
sindica econômicos criar na esfera de sua especialidade, colas de apren-
dizes, destinadas a seus associados. A lei regulará o cumprimento dêssc dever
e os poderc que caberão ao Estado sôbre esses las bem como os awu1ios,
facilidades e ubsídios a lhes serem concedidos pelo poder público" (art. 129).
Ficaram, pois, traçadas por essa forma na Carta Constitucional, as dire~
da política colar, com que se rasgaram novas perspectivas no que concerne
nto ao alargamento do campo da educação profissional, como ao seu processus
de adapta ão às mudanças sociais, decorrentes do desenvolvimento das indús-
trias, da divisão e racionalização do trabalho da multiplicação das profiS9Ões,
da organização dos sindicatos, e, portanto às necessidad novas dos indiví-
duos. A modificações das condições industriais, tais como o aperfeiçoamento
e a extensão do trabalho da máquina e o emprêgo de proces os de fabricação
cientifico , alteraram as necessidades profissionai que nao podiam ser aten-
didas com as escolas profissíonais de velho tipo, sem artkulaçao estreita com
as índústrla . '
Daí, a resolução do Estado, de acôrdo com o estatuto constitucional, de
r organizar em novas bases todo o aparelhamento do ensino técnico e profis-
sional, para ajustá-lo às necessidades agrícolas, com reiais e industriais, como
de determin a cooperação dos sindicatos e das fábric s na ducação profis-
s· onal, pela cris.çao e manutenção, nos estabelecimen os fabris, de e colas para
apr dizes d cursos de aperfeiçoamento industrial ara adul o e menores. 13
O plano si temático de ensino industrial projetado pelo govêmo da União, -
e não é m os compreensivo e eficaz o-programa do ensino ag,-ícola u -abrange

U JOAQtlW AJl'.U.
Góa Fu.iro • to<-', A •Prendha~m no
c:rial n cada p,tni regiiliune:11:a!" o fuoéona1:1mto d"
Rio de J • l939.
U'- • .,_.lo, com a
l\an Ili peri_or de Agrle,:dtw•, di, Piracicaba, , mai taf'di,,
" d lotlitnto Borges de Mcdcir"" {de a, onon,i• e tt-in o Sul, da Rlcob
11pcn Iria-d ira e Vetcriniria, de V-~. em Oua , do e , ~ Tapera em
Ptrn tn ou t•mbl:m, natc dedni<>, um impuloo vl...:oroood , "· A antip ir...
col8 ele A&rlc:ultura, do Rio de Janeiro, de:sdobrou-,c m 1933, 11C10ll&l de Vclerln6ria e no.
EN 'I O GERAL E OS ENSINOS ESPECIAIS 44J

escola . d cur reduzidos ou completos, destinados à formação d artífices


nos divcrs.os ores industriais ou sejam os liceus industriais em que e trans*
formarão as escol.as de aprendizes artífices, criadas em 1909; escolas prepogtas
à preparação do mes s de ofício e ainda as escolas técnicas que bn por fim
a formação do técnico, elemento intermediário entre o artífice e o genh iro.
k colas industriais receberão, segundo êsse plano, já decretado pelo mo
federal (decreto-lei n. 0 4 073, d 30 de janeiro de 1942}, os alunos que tenham
curso primário e qu , enninado o dos 1iceus industriais, poderão ingressar nas
escolas t cnicas, aberta ainda aos estudantes vindos das escolas secundári8.!I.
Para a execução do plano aprovado pcla lei orgânica do ensino indU5trial, já.
haviam sido contratados, em 1941, na Suíça, 44 especialistas a que reunirão,
par completarem o quadro de técnicos estrangeiros, 25 engenheiros ou écnicos,
contratados no Estados Unidos para o fim especial de orientar o ensino indus-
trial, naa· próprias indústrias, e dirigir seções ou reger cursos na primeira es-
cola técnica federal a ser instalada na capítal do pais. Em 1939, já estavam
concluídas as obras do Liceu Industria] de .Manaus com uma área de mais de
20 mil metros quadrado e perto de 6 mil de área construida, com capacidade
para 400 alunos· e outras por terminar, com iguai instalações e segundo o
mesmo tipo do Liceu de Manaus, para o funcionamellto do Liceus Induatrws,
de P lotas, no Rio Grande do Sul, de Goiânia, em GoiAa, de Vitória, em Ea-
pú-ito Santo, e de São Luis do Maranhão. Além da Escola T~cnico-Induatrial
que será instalada no Rio de Janeiro, decidiu o govêrno federal criar e mante
uma outra cm São Paulo, com dois cursos, um fundamental, de , e um superior,
de 3 anos destinados respectivamente a formar técnicos industriais em di-
versoe setores promover a alta especialização, preparando pcciali tas cm
vários ~ de indústria e de atividades do ensino industrial.
Mas, por maiores progressos que tenha feito a especializa -o profi ional,
cm com qüblcia da divisão do trabalho social e das modificações operadas
pelos fenõmenos de urbanização e industrialização, não s pode afirmar que
d~lea tenham X' ultado variações acentuadas na hierarquia do tipos proí11-
sionels. Se é verdade que a educação se tomava uma ' função pecializada'
à medida que a sociedade: se: diversificava em classes e grupos profissiona.ia,
não menos certo qu e sas 'educações especiais , divergentes somente a partir
de um certo pont aquém do qual elas se confundem, - a educação comum -
se erguiam, nos sistemas escolares, sôbre uma mentalidade: coletiva, que per-
manecia essendalmente a mesma, sob vários· aspectos. Sob essa variedade
riqueza d ipo de educações especiais, a cuja base reside o processo de frag-
mentação da socieda.de geral em maior número de grupos funcio.nais, oom

de A,ron 8Cllt3Dde FUNAlfl>O CosTA, no Miiü.t&lo clA ricultun 11937-1941)


a- km 47, da cstsada Rio-Silo Pa.ulo, o. edilldoe de.tinad .. il U\ltlltaç'lo
orno tam:Mm das depeDd&lcia1 do Centro Nlldooa.1 d. B.nlulo e Paiqll 1A1
oe o. !HJ)eetos, roram c:onotrufdo rqllDdo ••wn plano p11
• con.ot:ituiçio do gn.ndjoeo JIU'l
&11~0 do ""1Sino ag,ic,ala, comp,u,:,dmdo dj
<1 .. indivíduos an;,lfabetoo; ou cam luatni(lc> pritúria lncompkta,
prinoo,.n,gnlar. e que • • °"• admi•
eue plano, .eriam instalBd
<ffl.1.1mblio de agru:ultura, o.
·.,,,~b)c·
Wltro ano&. .K.aa at:rut.ur•. cuj
a<:rvi~ de rmnento •ul<:Gla. e
• cs, de açanomia, devia tu co<Do
de e ai;r<m6mico .,
- • ~ irrailia.çia eh,
Dr&A moei de padrão pu3
d P-•nd ud te plano, abna:11<:ndoo ensino ■uf,;:ola""' toll
o Rio de í&ico, em tod .. 01 Kot.d01, U>dicam nftid8cnmc ., u d
Varl'u, ""' rclAç:lo ao eu no prol1 ·ooa1 t&nico e, especialmente. a.o im11no • IJl1lO
Coff4 - Conf.,..!nc:ia p,oounciada 11a eomemorac:io do d=&io do govlrno da . On l o
r.la AgrkuJ •· la,~cnM. Ofl J, Rio Jc JamciJ-o, 1~1).
A CULTURA BRASILEIRA

ocup ções, end ncias e modos de vida àiferen , su a, embora em pro-


esso de mudança, mais ainda resistente, êsse velho ideal que vinha de uma
tradição ular, e que a sociedade procurava r izar em u membro por
via da educaçao. Ora êsse sistema de educação que e transformava ou, melhor
se enriquecia de escolas especializadas de cará t ico, obr as à edu-
cação comum, que é também função do estado social, orientava, pela base,
no ensino primário e médio, quase segundo a m ma concepçao q_ue a nação
faria do homem, no tempo do Império na República, que refletia suas
nec idades, sua mentalidade especial, seu passado hi t6rico. Até a guerra
mundial d 1914-1918, nenhuma profissão, de fato, mais que a dos advogados,
médicos e engenheiros, pareceu carregada de maior atraçõ s e de roais e-
guras promessas. As profissoes que eram escolhidas, não segundo o grau e
tipo de inteligência q e exigiam, mas segundo os quadro sociais a mentali-
dade dominante, diversificavam-se .conforme os meios, variando de uma classe
a outra, e servindo as carreiras liberais como escadas de ascensão social, en-
quanto as atividades manuais e mecânicas se resel'Vevam aos indivíduos e às
cam da sociais inferiores. Acreditava-se ainda ser n cessário não tanto um
"tipo diferente" quanto maior- dose ou grau mais alto de inteligência para o
exercício de uma profissão liberal do que para os ofícios e as profissões indus-
trializadas.
Certamente, o homem em, nas profissões liberais, como observou LÉO
WALTBER, "mais liberdade de escolha dos meios que o conduzem a um sucesso
profissional, - o que não acontece nos oficio industrializado , onde o tra-
balhador tá mai estreitamente submetido a técnica bem d cnninadas nas
quais nada pode modificar'. 15 Mas era menos pelo tra lho de carãter mais
in electual qu exigiam, do que por serem "socialmente" ma.is reputadas, que
profi ões continuavam a exercer um grande pod cie atração. Além disso,
como durante quase um século as únicas colas superiores existentes no país
eram as que se destinavam às profissões liberais, não abriam outras pers-
pcc ·vas para os jovens senão essas carreiras, de ativid des puramente ou -pre-
ponderant mente intelectuais. Para um pai, fazendeiro ou comerciante, fazer
de eu filho bacharel ou doutor, era elevar-se socialmen e. Os jo ens, formados
nessas escolas, traziam em si tôdas as promessas, as mães, para suas filhas,
nao sonhavam senão com êsses maridos, bacharéis médicos ou engenheiros.
Na hierarquia comercial ou rural, ainda que não crcesse a profissão, o bá-
charel ou doutor ocupava um grau mais elevado. S a maioria ambicionli!,va
exercer a profissão, todos desejavam o título. Tomar~se engenheiro civil,
naval ou mi1ítar, não chegou, porém, em qualql1er época de nossa história, a
ser a ambição dominante, como se depreende do confronto, ano por ano, entre
1828 e 1930, jã do número de escolas politécnicas em relação às de medicina
e direito, jâ do número de alunos diplomados pelas diversas escolas destinadas
às profi ões liberais.te Os engenheiros, que desde a soei dade imperial sempre

Ili Lfo:t W.u. , Ori ntafion profu!lr'on,ufe •~ t111tiõr 1/be, f• . é111d p ,y4holoJ,iqu •
Iklladlawt-Nlaúé S. A., eudlatd-Paris VIh.., 1936.
JO Se ~. con,o cm,:nplo u est.!lt&tic;a. rtla • à • ed CO\\!titu1d
• tntd~is de easino 111prrioc - a :Faculdade d , fu , de
e• Faculdade de M.edk-ial>,fundadu em 191 l, e 1911 e 1911.
·vo deem~ d,,. e , .t>brc de
• compaacuti,-, do s· -• foram de Mina,
• 2:3 S79, de 2:1 de março de IDJ. diapunham de c,ror ea d.e pri.
_;,. cwdcm, como Tffo l"Ul.obeto, AI.= ~IJt.-\, ErrivÃO D Pooi:inai., o- ONUO.
CUCO BaAN1'e M.Ãll.lo Cl.a.us.urrA, na Feculdade de Ofrcito: Bo,oa IM COffA, B VrAK ... Au1ISDO
A e OT.lvro M.AJ[IAL;llAJ!:.S, na de edià:m; e ÃJ.vMCO Sn.VEIIIA, , Ldc:10 S
cntte outn:a, aa • Pois. o q6mero de .illn09 ae:uldado to. d~
1113$• 19401 • ffldC'U 735, e o de foonadCII pda Faculdade e M ,mato Dia pe.sPIT&m.
de 9._
oa diplamaa.. pda Sacola de Engeaharia. no mc:s:no paiodo, A 1cior>ü d diplomlldos
par íllÇ\l)dada de dltrito ou de medicina ~bre a, fonnadoi por ca: ~ tenh ria, mantêui-,
qlliDq !nlo, em qu~ .., verificou não u ta-cm 11lterado nem nat U.nivcnid de. do Rio
de JIUldto.de Slo Paulo e de Põrto A.lq;rc, u preíeréocio dOJ o
O E S O GERAL E OS ENSINOS ESPECIAJS 445
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foram socialmente timados, disputam agora, na hierarquia in crprofissional,
a primazia aos bacharéis e aos médicos; e, se as idéias cientistas e tecnol6gi
ainda não triunfaram, não sõmente se percebe maior entusiasmo pelas apli-
catões das ci@:ocias,como também tendem a valorizar-se cada vez mais os t c-
nicos agrícolas e industriai , uma época em que e alarga constantemente o
campo de suas atividad , encontram as ciências cada dia novas aplicações,
se desenvolve indústria e criam-se novas riquezas. Ao lado das profissões
intelectuais de tradições enraizadas e que não apresentam sinais de decltnio,
começaram as profissões e as co]as técnicas a exercer maio.r atração õbre
a mocidade e a gozar de maior prestigio social, decorrente da ação dos aper-
feiçoamentos dos s rviços técnicos, em todos os ramos de atividades agrícolas,
comerciais e industriais.
Embora a especialização intelectual e científica tenha tomado maior im-
pulso depois de 1930, com a criação das universidades brasileiras, não alcançou,
nesse decêniQ (1931-1941), o desenvolvimento e o favor público qu granjearam
as culturas e as escolas técnicas. :t que as primeiras universidades do Brasil,
organizando-se segundo o re'gime instituído em 1931 pela r forma FRANcrsco
CAMPOS,ma fundadas em 1934, 1935 e 1939, nasceram e se formaram, numa
atmosfera desfavorável, carregada de hostilidades e prevenções. Numa poca
que se caracteriza pela preponderância da civilização material e em que a base
de todo o nosso siatema tende cada vez mais a ser a de uma técnica as escolas
especiais e têcnicas começaram a adquirir por tôda part maior inflaenci ,
senão predomínio quanto declinava, ao menos no ocidente uropcu, o pres-
tígio das universidades, ainda modeladas conforme os tipos tradicionais. Alêm
disso, a democracia que funda sôbre o conhecimento e a razão e que foi, no
terreno político, segundo observou FRANCISCO CAMPOS,'a forma assumida pelo
cspirito que pr idiu ao desenvolvimento das ciências e à revoluçao industrial",
entrara, d~is d primeira guerra mundial, em uma crise gra que ~rcutiu
no Brasil se ac tuou no último decênio. Ora entre a democracia que, endo
relativista, pluralista e céptica, "exclui os pontos de vis a a lutos, assim como
todos os onismos", e as universidades que, prepostas ao progr das cimcias.
s6 se desenvolvem num clima, não de crença numa verdade, mas de pesquisa
de vcrdad , e portanto, de espírito de inquietação, dúvida e relatividade,
existem tão íntima dependência e uma relação tão essencial que os desenvol-
vimentos e as cris do processo democrático se acompanham sempre do pro-
gresso ou das decad!ncias das instituições universitárias. Se acrescentarmos
ainda que o processo de nivelação pelo dominio das massas que começavam,
também entr n6s, a entrar em maior comunhão com os conhecimentos hu-
manos gerava por tôda parte uma crise de cultura, ameaçando grav mente
o princípio ari tocrático ou de qualidade, "que é ínerente a tôda cultura su-
perior'', ter- e-â o quadro so "al quase completo da época em qu se criaram
as primeira universidades brasileiras.
Aliás, jã por vária vêzes foi notado o contraste entre o ntusiasmo com
que as naç- , abrindo-se à correntes de influência ocidental, aceitaram os
conhecimentos e os m~todos técnicos europeus, e a forma prudente e r et-vada
com que passaram a cultivar a filosofia e a pesquisa cientffica, obretudo no
domínio da ci cias sociais, políticas e economicas. o entanto, com as pri-
meiras facuJdade.s oficiais de ítlosofia, ciências e letras que se criaram, 17- a

17 A pnmeira wnv e que"" íuadoo 00 Br-..il íoi • do Rio de Janâr-o, c:rl.d.i pdo eto o.• 14 343.
11120e ~- o.ese mamo ....,, pelo dc.:ttto n.• 14 572 que Ih apn,vou o. .. iawtaa.
par loldath,a d sm!M PDa.Nnl.. cm Bdo Hori te, • Ot1 vel'llidade d Mlou Ocnla.
O d.ecs-etoque • tulu íol ruido ■ 7 de sc.-bro pelo ~cote m
ANTÕNlD c..ui.o. e o por h.uc-
coco CAKl'OL , tanto • Uoivcraidade da Rio de J--.ro coma • de Oerab, • cmutitu!re.m
pelt. aimpl reuoilo dOI a-, icutituloa b"IIÓJÔOllllÍS
de íormaçb profmionaJ. ■ Faculdade de Dil'elto, ■ de M e a■
t: ■ ~ de EDai:olw'í• (ou ~ cot:lo exbteutes. Ncabw:a untituto de alta .. padall&■~ lDulnc:tual
A CULTURA BRASILEIRA
446
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de São Pa lo. cm 1934, a do Distrito Federal, em 1935, a da Universidade
do Brasil. em 1939, não só se diferenciou e complicou o nosso si tema de en-
sino superior, até então enquadrado exclu ·vamen e pela colas profissionais,
como também se iniciou uma transformação da mentalidad e ra aram
novas .P rspectivas à cultura superior do país. Não foram apenas novos campos
que se abriram à especialização intelectual e científica, as um novo esptrito
qu se infiltrou em nosso sistema de cultura e de ucação. A cultura filosófica
e cientifica, até e sa época, não se fazia entre nós senão por grandes esforços
e com tõdas as d Nantagens do auto-didatismo, ou nas escola uperiores pro-
fissionais, sob a influência direta de professores de valor ccpcional pela sua
largueza e lucidez de vistas. Raramente procuradas, a especulação filosófica
e es atividades científicas, quando se reduziam a um puro dile antismo, não
constitufam mais que uma "diversão'' transitória da linha profissional deter-
minada pela fôrça de uma vocação irresistível ou sugerida assegurada, em tal
ou qual carreies, por apoios puramente ocasionais. A atividade intelectual,
filosófica ou cientifica, não era considerada, por essa forma, uma disciplina de
trabalho metõdicamente conduzida, desde os bancos escolare , ma uma ''aven-
tura de talento", nas suas incursões às vêzes brilhante , s mpre superficiais.
por caminhos de conhecidos. Nenhuma consciência adquirida nas escolas, de
que, assim como a vida espiritual exige um perpétuo esfôrço para pôr a alma
cm pr enç e na posse de si mesma a carreira cientifica impõe uma disciplina
qua3C a cética na prática habitual dos métodos obje ·v d investigação, de
conhecimento e de verificação experimental. O que quase nunca passou, entre
nós, de uma aventura de inteligência, devia tomar-se, sob a pressão do novo
ambiente cultural, uma disciplina severa mas fecunda, orientada no sentido
de csenvolver, com o espúito crítico os mé odos ci tffi
Qu a ausência dessas escolas de altos tud e de pesquisa desinteres-
da representava uma falha das mais graves em nosso istema cultural, ficou
demonstrado ainda por dois fatos, cada qual mais significativo, quando se
criaram em 1934 e 1935, as duas primeiras faculdades de filosofia, ci!ncias e
letras, mantidas p lo Estado. Nunca tivemos consciência ão viva da esc.assez,
no pa{s, de homens realmente eminentes nos vârios domínios da esp cialização
int lectual cientifica, e que fôssem capazes, pela solidez d sua cultura e pela
eílciéncia de seus métodos, de inaugurar cursos no novo instituto universitário.
Foi preciso recorrer, para o magistério de quase tôdas as disciplinas, às missões
de professores estrangeiros, - franceses, italianos e atemãea, - contratados
em s us países, para a Faculdade de Filosofia, Ciências Letras, da Universi-
dade de São Paulo, e para a Faculdade de Filosofia Letras, a de Ciéncias

e d«idrk• H noorporou I\CNel univeni áti.oo. 8 de 1931 q e dnta • ..,, .iln


oraim.i.11:D,O!I verdld ra:men
u.olvo:rit6rbt do BTuíl, Ül tu1d.a pelo decreto n.• 1.98$1, de 11 e •brU de 1g31,.. do pala Cb te do Oavbo
Provi o, o,,, Gn11uo VIJU)AJ. e referendado i,elo Dr. Ful<c11Co c.u.,o.. Mlolatro de ucaçilo e S.údc:.,
~mbanl Oalvcnldade do Rio de ].uici.ro te tittue ~do, pelo decreta n.- 1 852, CIIMIlhe d~ mw11 Or"plli•
çAo. wm, Fac~ de Ed~. Ci&das e Letra,t. eotre 011ttu , cheiou • lmtalada •tA 1939
l'lOII tu ~o. Ã Universidade de Minas Gerai.,, criada""' l.!127, e rc cwu , d ac6rdo com a lei
(. \, 1933, foram ncorpon,<hte, ...-e WlD, pelo d«t'Cto estadual .n.• 21 57 , 23 da m&rÇ'O, • FIICUld-.tc
de ' , • úc cdidn■, e • ~ d.e Engenb,uia, que alada h.ojc ~ o. 6n' ina tutoa a,mpoocnto d e
un:I ,t6rio. A primeira Facal:dade de Fílmof'sa, Cituda e Lctr .. , ruadada oo b, por- ·•tiva
oficial, foi • do Betado de S3o Paulo, aUda e matai.da no adr11a AJDIAl!ll)O s.u.u, e i-,>oi ada• O.Divcnidede
Paulo inltitulmi pelo decreto Cftadaal n.• lí 283, de 5 te. .I to de l 4, e -.mt fOl1lm •pn,-
,. pdo ernofederal. pelo d«reto n.• 39, de 3 de Btm1~ro do DIC9IDOllllO, O d •Uldual a. S 758,
de 2 de imvembr-o de 193-4,que criou • llmversid■dc d.e Parta Aletue.lndul, m- o. ett.• • mtOJ que a
c,aaatihlen, wn■ FacwdA!de de ltdae■cik>,, Ciê:i<::iQ e L<rtrao (ut. 2.•, •· por iiut■l■r. S6axn e, pau.• U.ni•
e d S&o Psulo. criada m1 1,934, e • do Bruil, - ffll que w era fanna11. cm l l7, • u..i~ do
Rio de J dro q abmrv<eu • do Distrito Federal, fo.Dd9d8 e:x, 1 35, - di, , RU , de i titu' s
de ai Uldoli e de paquisa ~a. DOOtlivcrsam domlnioa d■ dbcla pur■. A16m da P'euld.ade de
P'u-oa d Slo lkllw, 1'11.odedaem 1908. quando s6 funciOD.llvam o, C\U'tw de flJo,o('la e de 1e d6Dicu,
da BM:o\8Uvre de Soc:{olCJliae PoliticJJ, criada cm 1932, t:a.ro CID Paúlo, - r nd o. depoil de 1!139,
pai' inlcl v• particular, o lnltituto Santa Onula (l.l'■culdade de IICII,~, C e Lctru), nG Rio d Janeiro,
o 1 ·tu picntuce (Jnmt:ub:I SnpeciordeP og;., Cifudu el.etrea). du Cóncp• nta ""~i.nho,
, VD J , • FOR11ldadcde 'Filoemia, CiêDc'..u e Lctru, da Orriv ld ti C.t.6llca do 6rui\.
O ENSINO GERAL E OS ENSINOS ESPECIAIS 447

da Univcr idade do Distrito Federal, criada em 1935 e cujos institutos foram


incorporados, pelo dccre o n. 0 1 063, de 20 de janeiro de 1939, a Universidade
do Brasil. professor: alguns dos quais verdadeiramente notáveis como
um GLEB WATBAGIN e um LU101 FAN'rAPPIÉ, entre os italianos., wn H.EINRICB
Rs:EIMBOLDT e um ERNSTBRESLA.u,entre os alemães, um RoB GA.R.R.Ic
e um EMILE CooRNA RT, entre os franceses, para citar apenas nom entre
oe primeiros especialistas contratados, trotUeram, de fato mais do que a con-
tribuição de aua cultura, um novo espírito e novos métodos de abalho, des-
tinados a aperfeiçoar e revolucionar os processos de ensino e as t&nica usuais
de pesquisa e de investigação. Não era êsse um fato que nos pudesse urprc-
cnder, -pois foi vã.rias vazes assinalado, ainda no decênio anterior à criação
das universidades, nos inquéritos que promo~eram O Estado de Siio Paulo,
em 1926, sob a direção do autor desta obra, e, em 1929, a Associação Brasileira
de Educação.is Mas, com êle se confirmou, em todos os pontos, a análise,
severa apenas na aparência, dos poucos que estudaram a tôdas as 'luzes o pro-
blema do nsino superior e apontaram, desde o Impêrio, a grave falha das uni-
versidades, cm nosso sistema de cultura. Se, no dominio das ciências aplicadas
já se haviam des nvolvido, antes do advento das universidades em 1934, as
seções de pcsqui~ e de experimentação em diversos institutos, e se no Insti-
tuto de Manguinbos as atividades de pesquisa jã haviam transformado essa
escola de patologi experimental no maior centro de formatão e de irradiação
de cultura científica no pais, quase tudo ainda estava por fazer nos diversos
ramos d ci&lcia pura, em que, com exceção das ciências naturais, sempre
rarearam as contribuições originais de brasileiros.
Nesse regime em que os problemas suscitados pela sociedade 'continuavam
entregues aos práticos cm técnica e aos técnicos sem ci!ncia", e em que do-
minava o inter prático utilitário do ''profissionalismo", cultivado atrav&
de maia de um s.€culo pela escolas superiores de tipo profissional não com-
preendia fàcilmente que o estudo e o emprêgo das ciências aplicadas depen-
diam do conhecimento e dos progressos das ciências puras. Da1 a rcsist!ncia
que tiveram de enfrentar, desde o início, as-faculdades de filo ofia e este é um.
dos fatos a que me referia), e que contribuiu extraordinariamente para retardar
o seu desenvolvim nto ou para deturpá-Ias nas suas funçõe essenciais. Todos
os que lutaram pela sua criação ou se esforçaram por mantê-las, transtornando
com o seu espú-ito crfüco a ,tradição estabelecida no ensino superior, traíram
contra si a coalisão dos sistemas feitos, das idéias preconc bidas e das inércia
dissimuladas, e gastaram a vida em batalhar, como inovadores, em prol dessas
instituições, cujo papel pedagógico devia estar em função da pesquisa e da
descoberta de novas v rdades. O profissionalismo tradicional do ensino su-
perior, erguendo ao primeiro plano a ciência aplicada e habituado a tr inar
a eu.a clientela para as carreiras da vida prática, acolhia com desconfiança e
prevenções a novas faculdades, às quais a prioridade conferida à pesquisa
livre e a aus!ncia de finalidade prãtica imediata davam aos olhos de profis-
aionais, as apar!ncias de instituições de lo:xo. Como não havfamos tido até
então a grande.s escolas pelas quais se transmite atrav de gera - ,
herança da p uisa cientifica, não se formara ainda a consd!ncia de que E a
pesquisa a carac erística das universidades e de que não é poss(vel criar- e

li C(r. ,.._ANDO o• A.Bvs;oo, A ~duearZo p(d;Hca em SSo Pau/o. Prob e ~. lo·


q11f:rito pars "O godo d o Paulo", ao 1g26. Tef"ceira partr. O enúno ucuruUrio • ,11p,ulor. pap.2 7-
4S1. slric 8null1ana, Vol. Com~ia Bdit.ora Naci<asl, São Paulo. 1937; O probl•ma. ...,;,, ail/1110
bra&iJ iro. Jnqu&ito p,'OO)OVidopela Sc-çlo do Bllli:no 1't=ico e Superior da Aa«uçlo Bruílcb de Educaçlo.
.. ,. BacedcmadOl'tl S. A."'. , •1g29.
'6 A CULTURA BRASILEIRA

s ão pelo tudo e pela investigação da ciência pura o ptrito científico, isto


~, a indagação completamente objetiva e livre de quai uer considerações que
não cjam a in estiga_ção e o descobri.mente da v rdade.10
o tanto, apesar dessas e outras resistênci , a Faculdade de Filosofia
de São Paulo, de tôda.s a mais antiga, apr entava em 1942 oito anos depois
de su fundação, os caracteres de uma vida pr6pri i ão igorcsos de
vitalidaae que jã não se falava em consolidá-la, mas m promover-lhe os pro-
gressos, de acôrdo com as suas funções esp cificas, no • tema universitário.
m 1941, o núm o de alunos matriculado nas sua diver s s çõcs ascendia
a 530, al m do 350 que se preparavam para s us cursos no Colégio Uuiversi-
•o; e as inscrições de candidatos aos exames vestibulare$ em 1942 atingiam
a 408, numa afluência extraordinária só verificada até então nas principais
faculdades de direito. Embora a proporçao entTe os tudante .que procuram
assuntos de cultura geral e os que se dedicam às cieucia aplicadas, se tenha
mantido francamente favorável a êstes últimos, sendo e rca de 3 para 1, é certo
que melhorou sensivelmente, como se pode inferir das matriculas em. 1941
1942, n s diversas faculdades de filosofia., ciências 1 tra e, especialmente,
na de São. Paulo. Ao lado da especialização profi ional, com çava a desen-
volver-se e tomava o seu primeiro impulso a esp cialização intelectual e cien-
tifica, sobretudo no domínio das ciências risicaa qum1icas, em que surgiram,
formado pela Faculdade de Filosofia de São Paulo, lisicos como MARCELO
DAMY DOS SA TOS e MÁRIO SCHÓNBERO, cujo trabalhos s bre física experi-
m tal e física matemática tiveram grande repcrcu - o nos meios científicos
intemacionais. 20 O primeiro,. licenciado em 1936, ob ev no ano guinte o
premio Wanderley de Física, pelo seu trabalho 'Um eletrõmetro termoiônico
com método de compensação''; e, pelos seus estudo sôbre radiação e as téc-
nicas empregadas nesses estudos, a impo tante bôlsa do Briti h Council, para
a da de um ano cm Cambridge, onde foram notáveis suas p u:isas sôbre
um novo método de registrar a passagem de corp6.sculos c.6smi (Mé odo de
Mui ·vibrador) adotado já por alguns fisicos na Inglaterra e nos Estados Unidos.
O egundo, MÁRIO SCHÕNBERG, deveu às suas primeiras publicações, em 1936
e 1937, um convie para trabalhar com DIRAC, cm Cambridge, e FERMJ, em
Roma, ambos deten ores do prêmio Nobel; recebeu a b6lsa de estudos "Gug-
genheim Foundation" e realizou entre outros trabalhos. já em nfunero superior
a 40 estuco Obre a função ó de DIRAC, a função de GREEN as aplicações do
cálculo pinorial à fisica, a radiação cósmica u1tra-mo1 e 11 radiação meso-
trônica, e uma valiosa contribuição à teoria das trêlas novas.

10 "Embor r<eonb<Cetldo o vafa, pnâtico d11 verdade, - cvc ll'RANO.li!CO C.uu,os. co.m uma not6vcl
pc«:ialo, - n o hA de Iler por fie CJll"-a univenidadc a investi e, a u,qut". Na lnve:,tl aç o da verdade.
outro lntcrf e que n teia o dela. ao lo-.,& de cootribulr pua o ,cu d~obrimuto, "6 contnbulrA l""'" cobri-la
com o aou v u .,, d ri ur6-1a ou conton:et-lhe e deformar-lhe ■ race. A qulm ca olo e deKnvolvcu enquanto
o lotuta que ptalJJ pc,,qu.i... era um interna.e de anl.em puramco prA • . corno o d cranríarmar outro.
a;ictab an ouro· 11 mcdicin.. por ,..,.. vo permancC'CU eatadonári enquanto u ci • 1 r,,:ecltnlcu não CJJl&G.
dparam do Inter prAt:ko, ilifcnnoiando-oc cm disclpllna, autón t de c.,itc:r u6rio:o. li.aci • • •
&Ulda """""' cm e1bldo rndiment,rr e emb.-ionArio. Cffffl•DO e cl11 lvatl\Cllt.e ntcr pri~ de
t6da, • ord q PA on io~ga~ c pela p,6pria. natura. de u obJ . interlettm com o l11t,e:,~ l)Ura.•
rocn te6rkopcl verd ec:omo~adecpdoscunalardc~". ,., • ..,..,....,,0C,uuo1 - Dlnunoprof..-ido
1 33 u enc de re■bcrtur.t d= cunoo wuvc:rsitiri..._ ln "J na1 do Com&clo", Rio de J.&J>ciro,
dcbW"ÇO 1 33).
20 Em maia um si,cu1o, dellk que [ai instituído o
~ fKU!dlldc:s lllb!l , do Rio e da Blih.i.a cua citnc:üo foi cllltivllda c::il:rc epc como "m ~&ia
de mi ". O primeiro prol, da Clldein, criad2 pela rcíanna de 3 d outubro d.-1 ll , foi VtCJCtTll 1<1:JUU:UIA
llll Mt.o,u.ala, cinJt " formado~Eiieola de Bama em UIU e o em 1133 c:ooc . A Academia
Milhar ve c«no f'Offldro pn>fcnor de fuic:& e • • Frei Cunóo10 111..VU 5...._ o. &ntre OI que mais
deetacwllm, 00 ma\'!lstlno dc:ss:l duoplma,
1>• P ULAC1Nx,u,o nsos-18 /, de
IUI Facwdllde dc
Gcn~. que x d tcn>u pela
do Rlo dc Jandro.
Jade de •
n,....,,.
F'Lu<CISCO
de P ri e dêxou
trabalhas; A.lffõ. to TT/Jlr.tt e :F. 1.uA.IETa.ROlJIUOUU PUUAA (Ili 7-1036 que-, cm OQtrU =~
"COID \18 l6lldo C:Wtunl m•tcmitica e rara habilidade expcritnen 1. tel'la d.o (..i:rcvc Jl'uHCIICO Vlt!tlJ<CIO
Fu.ao) um de o- r no sentido c;u.w d• cxpl"Qllo··. Foi 4r1.ran Rouarova PU&J:8A quem mc,nto
P'llcul , m.;, IIH>dono dOJ labonlmru>t de fTm:a na Bru . mpllaJo o ~rlq do mais tarde por
C....llLOICl<AOA.1FU.HO. cstrd ilustrco tivenm,oas outroo ceott-ot de cnsioo d■ Nalca, • ■ 11ti la MUitar,
Qll !Ntufarmou o. !kcol• Central; a ~ Polit6:nica, a.da cm l87S; • o de MJnu, de Ouro Preto,
O ENSINO GERAL E OS ENSINOS ESPEC1AlS 449

Mas, se os mais notáveis progressos se realizaram no dom!nio da física


em que o menos dois di clpulos formados sob a direção de Gura WATBAOJN,
são julgados pelo grande mestre em condições de suceder-lhe na cátedra e
nos laboratórios, a influências da nova orientação também s fiz am sentir
nos demais s tores de estudos. Em todos os outros departamentos daa ciên •as
químicas e naturais, como nas ções de ciências sociais, de geografia e d
bis 6.ria, e naa de letras clássicas e modernas, se vai formando, sob o influxo
das faculdad de filosofia, e de alguns eminentes mestres estrangeiros, criadores
de escola, wna plêiade de novos valores em domínios atê há pouco tempo qua
inexplor dos no pais. Apesar da prudência e -reserva com que se passou a cul-
tivar a investigaçao conõmica e social e que foram impostas pela contingências
políticas, as próprias ci ncia sociais em que, pela sua natureza, e alarga a
zona de ' pensamentos perigosos", adquiriram, no último decênio, um d n-
volvimento em precedentes em nossa hist6ria cultural. Por tôda parte, aliás,
sobretudo nesta fase de paixões políticas desencadeadas, como observou iours
WIRTH, se encontram exemplos. da diferença existente "entre o efeitos dos
conhecimentos das ciencias físicas e das técnicas e a atitude que se assume a
respeito d!les, por um lado, e os efeitos da ciência social e a atitude em face
dela, por outro". Em todo caso, sejam quais forem as restriç que tenham
sido imposta pelas circunstâncias ao desenvolvimento d~tes ou daqueles
domínios de estudos, filos6ficos ou sociais, tem crescido muito o número de
especialista , nos vários setores da especialização intelectual e cientffica, d en-
volvida e intensificada pela raras escolas de altos estudos e de pesquisa desin-
teressada. Se a variedade dos indivíduos é necessária ao progr o da a ·vi-
dade humana e e, quanto mais indivíduos concorrentes, mai fecundo é o tra-
balho nacional, as universidsdes brasileiras que se ins "húram depois de 1934
já começaram a prestar inestimável serviço ao Bttasil, respondendo à procura
sempre maior de homens de ci&lcia e de técnicos, não somente preparando
maior número d espcciali tas, mas também aperfeiçoando u material
e seu pessoal docen e, de maneira a formar homens munidos dos melhores CO•
nhccimentos científicos e t~cos.
De tôd.a a profissões superiores as que tomaram maior in emento com
a criação das univer idades no Brasil, foram certamente as ''profissões gn6s-
ticas", se assim podemos definir, segundo a classificação de LIPMANN,21 as de
pesquisa científica, isto é, aquelas exn que a atividade intelectual que consiste
em observar, comparar e distinguir, é dirigida para o conhecimento do mundo
objetivo. A preparação para as chamadas "profissões liberais", de preponde-
rância intelectual, permanece, no entanto, pela guantidad, e pelo predomínio

cuju od&et11 tc01onta.m • 187S; • kola N'•v•I " •• diveraa.s faculdadet de medlcin& "9c:Olu de 01enh a qu_c
~ fundaram. depoi, que inatitulu o •~•l'IIC rf:J)U_bl!cano. O Conselheiro Soou. Pmu<OA. (Jtplf olo Cindido del,
o prim 'ro prol, O( • la Polltbica (1815 wido da &eola Central, foi o lnlciador ílolca ""1)Crioumtal
no :a U. ~OUll MolUD (1850.--1930), mcteorologma de grande valor. que rc&cu • cad&11 de flaia na
S.C,111&Pollt ka, h<l!e equipada 4e um labor 6rio tido corno um d,. mais bem apaclbado. do paio: AUOOl'TO
RuBolA DA U.VA (1860-11>39), com ma' de ,,o •n.oe de- mag:ist&io na ,&cola de ; 0.C..A Nsn.u. DIP:
Oovvau., um doa - Dllliora -· do ColEalo Pedro TI. P&DJto B.U.HTO 0.U.VÃO. m uc .i- rc•
pulado, no IICII tempo; ADouo o:n. VIU:Clllo. da Booc:olaN....,.J.1"'0f- de 1891 • 19U. foram o .,. tu>t011
prd qua COOCOi1aa.llllpua volver e devv a um llfvd mais alto o d d
dlferesita • Slo o c:ontempc,,-lDale. ea.ttt ootma -tr .. tamb&n de ~ r po~ , DuLC 10
P-., da Ptill ' a, do • d Jaaciro; AD~ lob:Nu:u » ~. da 8-:ala N va1
ffllft - mala j • LUfl e DOPuDO, da Becola P<llitEanca de Sio Paulo. IC conho.«, par • cm
todo pc:riodo alf 1 36, aaihuma Calltribuiclo origim,J no dcmúmo da r ' ,... anB"tlftffl'W.
Cem• cria(lo da KDldade de Pi • d sao Paulo.~ 1934, ina~-- uma nova t .,. cvol çAo
de- .. • e D Bnail, ~ primeira ~. -- pretent>,, peI<. - •- major CCQl;rt;l!f íic.oo
do mimdo. ltm Jll37, doi. brui , c.u.o ~ DS Souu 8ÃlffOS. pa: ta. de Cam OU, e MJ.a.ro
-• pona.a,~, &111bw na.ddoa cm 1914. e que fizcnm> x,q 01 - Faculdade, oob • cri •
taçio do pn,í_. ltaf"iano 01.U W,U'K.o.OI!f, llÚcMtmoo Bt..,,;J as pimeira ativldadta ' tll',aa q e !ovaram
ca- repen:u.lo Doe 1 • Todos ,_ lnlbalhoe dn:a de- ◄O. de M.4•CU.O D,un OOI 8.urTOI de-
aoc.m. aa Q1.sa WATIIAGl!II. um cspfrito crimür DDtãvd e u,- prolunda cultura f , a1fm d~
rDellW, publica de alto valor âentU"u,o, de Waao ~ua. jl D -·
pcnoàan.te de inv 'pdor e ua>e cultura iovuJ&u DDI yfirl ramoe da rutffld

21 La1,,Ufll, Pqcholo,,·• d•r Buuf. . Pr.&, ◄13.

-2'-
450 A CULTURA BRASILEIRA

das escolas dêsse tipo, o núcleo de formação e de rcsistblcia do sistema univer-


sitário. Em duas universidades, como a de Belo Horizonte, de tipo clusiva-
mcntc profissional e a de P6rto Alegre, em que as ~colas de preparação para
as carreiras liberai e as de ensino técnico superior integraram no mesmo
organismo, não foi instalada a faculdade de filosofia, ciblci e letras, que só
existe na Universidade do Brasil e na de São Paulo. Escolas d tinadas às
'profissões simbolizantes,. ou às atividades artísticas em que 'o trabalho psí-
quico consiste em projetar no exterior, por meio de símbolo , o qu o artista
sente", anexaram-se ao território universitário na Universidade de Pôrto
Alegre em que figura uma Escola de Belas-Artes, e na do Brasil, - o istema
u.nivcrsi rio mais rico e complexo do pais, - m que incorporaram, em
1939, a Escola Nacional de Música e a de Belas-Artes. Na Universidade de
São Paulo, como na de Belo Horizonte, não se estenderam o ben ficios e as
vantagens do regime universitârio a êsses setores da cultura têtica, que per-
manecem fora da órbita de sua influência. As profissões técnicas, - essas
que visam. modificações e transformações no mundo exterior, - não estão for-
temente representadas senão na Universidade de Pôrto Alegre em que, além
da Escola de Engenharia que figura em cada uma das quatro universidades
oficiais se incorporaram os estabelecimentos superior de ensino técnico, per-
tencentes antiga Universidade Técnica daquele Es ado. A primeiras uni-
versidades brasileiras constituíram-se, como se vê, segundo o padrão ocidental
europeu, e por meio da coordenação e subordinação num sistema único, dos
institutos superiores existentes, variáveis conforme as r giõcs, e entre os quais
é uma constante a presença e o agrupamento das tr escola destinadas à pre-
paração para as carreiras liberais.
N período de transição entre formas organicas e trawcionais de uni-
v "dades e "o bôçoembriogênico de novas estruturas que se plasmam através
de entativas e experiências mais ou m os contraditórias' , a universidades
brasileiras, ajustadas inicialmente ao padrão europeu e ujeitas a uma influ-
ê.ncia direta e uniformizadora do govêmo central, hesitam à procura de novas
formas, mai adaptadas não só às necessidades da ~poca, enão também às pe-
culiaridades econ6micas e culturais de cada r gião. Não ~ que não cnba sido
larga a concepção de eruiino superior que presidiu à formação das universidades,
e, p cialmente, à primeira lei, assinada pelo pr ident GM'ÚUO VARGAS~ e
que instituiu, em 1931, o regime universitário no Brasil. Teoricamente, para
o legislador, como para os que propugnavam a sua criação, a universidade se
encarava como ''um organismo compreendendo o conjunto de tc~ldasa ciências
e de suas aplicações, abrangendo tudo o que pode s r objeto de estudos, de
p squisa e de ensino, - letras, ciências e artes técnicas, - com tantos com-
partimentos quantas as disciplinas especiais, compartimento não separados,
mas, ao contrário, reunidos na unidade geral da ciencia". Mas, prim •ro
lugar, ela tinham de forçosamente organizar-se m tôrno dos núcleos primi-
tivos, constituídos invariàvelmente de escolas pr as preparação para
profi básicas e indispensáveis, e cuja solidez, assegurada pela procura
constante de candidatos, se apoiava numa tradiçao secular em relação à car-
reiras liberais. Elas reuniram e guiaram tudo quan o ae encontrou no seu
campo de atração e constituem ainda, com exceção de dua imples conjuntos
de escolas ocacionais, destinadas ao treinamento de eatudant para o exer-
dcio dessas profissões. Em segundo lugar modeladas desde o princípio se-
gundo o tipo europeu, a tendência, pela configuração que tomaram era a de
acrescentar às escolas de tipo profissional a facuJdad de filosofia e letras e
de ciência , de acôrdo com os padrões em que
qilência, de se mostrarem mais ou menos refratárias escolas de outros tipos,
como as destinadas à cultura estética ou à cultura técnica, cujos progressos,
O ENSINO GERAL E OS ENS.JNOS ESPECIAIS 451

s6 possíveis quando a indústria do pais se apresentasse mai fortemente equi


pada e hierarquizada não justificavam a criação e a incorporação de altas
escolas técnicas. Podia-se acrescentar, - para explicar a lentidão de progres
e a hesitação das univer idades em busca de novas estrutura , - não só a
tendência uniformizadora do poder central, como o fato de que as repercussões
dos ideais correspondentes a uma nove concepção de vida de cultura se ma-
nifC8tam em primeiro lugar na cultura de vanguarda, antes de descerem ao po-
lítico para as grandes obra de reconstrução.
M.as, não foi sàmcnte nos vârios domínios doo conhecimentos filos6ficos,
cientificos e literários, que a especialização começou a desenvolver-se, no úl-
timo decênio, sob a influência ou fora da órbita das universidad . Também
no campo pedagógico ou da preparação profissional de pro~ ores, repercutiu
êsse movimento no sentido da especialização. Escolas de preparação para o
magistério, não havia no pais, a não ser por algumas experiências isoladas,
senão as chamadas "escolas normais", prepostas à formação de professores pri-
mârios, e cujos progressos se iniciaram realmente depois de 1889, sob o influxo
e ao calor dos ideais republicanos. Essas instituições que existiam em todos
os Estados e receberam, a partir de 1928, no Distrito Federal, os primeiros
golpes na sua estrutura tradióonal, foram reorganizadas, pelas reformas que
sofreram cm 1933, no Rio de Janeiro, com ANísro TEIXEIRA, e em São Paulo,
por iniciativa do autor desta obra orientadas ambas no sentido de separar
os dois cursos, prop dêutico e profissional, e de pôr à base da formação do
magistério primário o curso ginasial (secundário), exigido para. a admissão
às escola superiores. Para o magistério secundário, de nível mais alto e de
mais graves responsabilidad , não se exigia, porém, a preparação especial que,
há mais de 50 anos, se reclamou e se impôs para o professorado primário. Desde
o Império até à fundação, em 1934, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
de São Paulo, - a prim.cira que se instalou no país, por iniciativa do Estado,
- as escolas secundárias, como tivemos ocasião de salientar, ''ou eram campo
de aprendizagem e de cxperiencia de egressos de outras profi - e de auto•
didatas, - mais tarde, às v!zes professores ilustres à custa de seus esforços:
ou tinham de ser, - o que é pior, - acampamento de moços procura de
cmpr!go, para continuarem seus tudos, e de profissionais, cm infcio de cat·
reira, até tomarem p' na sua profissão '. 22 Depois de uma preparação regular
e sistemática na Faculdade de Filosofia, de São Paulo, que se mantinha ainda
dentro de sua finalidade stritamente cultural e científica, e no Instituto de
Educação, onde fizeram sua formação pedagógica, obtiveram, porém, em 1937.
a licença do magistério os primeiros professores licenciados, no Brasil, para o
ensino secundârio.
Com êsse acontecimen o inaugurou-se, de fato, uma nova era do ensino
secundário, cujos quadros doceot constituídos até então de egressos de outras
profi sões, auto-didatas ou prãticos experimentados no rnagistêrio, começaram
a renovar-se e a enriquecer-se, ainda que lentamente, com especialistas fonnadoo
nu faculdades de filosofia que, alêm do encargo da preparaçao cultural e cien-
tífica .receberam por acréscimo o da formação pedagógica dos candidatos ao
prof. rado do ensino secundário. Pouco depois tomava incremento a obra
iniciada, para a preparação de professores de educaç.ão física, p la Escola d
Educaçao Física do Exército que, criada ero 1929 e reorganizada, depois da
Revolução de 1930 na administração do general LEITE DE CASTRO, foi transfe-
rida para os edificios que tbe r ou o govêrno, junto à fortaleza de São João,

22 l!'uNANDO .,.. Anvnio. O tn11li tlâo -u11dwo. DÍIICanO proowiciado !18 mldde de roe•
matun, d.a I.• turma de lWof- do • MllCUUd.6rio,
• 21 di,.abril de 1!137, DO alAo nobre da. Faculdade
de lledldll Secretaria de 2d111Caç&oe Saõde. Dircbia do Snt:iµo, ''Boleúm a.• 13''. Slo Pau.lo - BrQll,
1937,
452 A CULTURA BRA ILEIRA

no Rio de Janeiro. Duas outras escolas, - a de Educação Ffsica, criada em


São Paulo em 933 e instalada em 1937 e a Escola Nacional de Educação F'tsica
e Esportes, incorporada à Universidade do Brasil, foram fundadas para es-
tender ao campo civil a ação desenvolvida, sobretudo no domfnio militar, pela
E cola de Educação F'ISica do Exército, pioneira d movimento no Brasil
e, por vários anos, o principal centro e foco de irradiaçao da educação física
nacional. Não se reduziram, porém, à preparação cultural e profissional de
prot res de ino secundário, e de educação física os forças do govêrno
da Uniao e do governos estaduais para a formação de prof or especiali-
zados, noa div sos domínios das atividades do magi tério. De tôda as inicia-
tivas empreendidas para a formação de mestres de oficios, - e das quais, antes
de 1930, a mais importante foi a antiga Escola de Arte e Oficios Venceslau Brás,
cedo transferida da União para o govêrno do Distrito Federal e desvirtuada
de ua finalidade, - nenhuma sobreleva à do govêrno do presidente GETÚLJO
VAROAS, q1,1eno decreto n. 0 4 073, assinado a 30 de janeiro d 1942,,estabeleceu
nos seus 80 ar igos as bases e o regime do ensino industrial, destinado à prepa-
ração dos trabalhadores da -indústria e do de transportes, dando às escolas
técnicas, entre outras funções, a de formar mestres de offcio e professores
e pecializado para os liceus industriais.
Tôda sa diversidade de intei<êsses de tend ncias e de ambições, essa
busca constante de novos caminhos e essa fascinação de horizon es largos ou,
por outras palavras, essa crescente diferenciação nos domínio científico e
literário, técnico e pedagógico, não podiam deixar de modificar sensivelmente
a pai gem cultural do país, quebrando-lhe a monotonia enriquecendo-a
de nov aspectos. Em lugar de uma sociedade muito homogenca nas suas
concepções de vida, na sua mentalidade e nas ua ocupações mais el adas,
começou a surgir, ainda que lentamente, e limitada às principais aglomerações
urbanas uma sociedade mais diferenciada, pela divisão do trabalho social;
cm lugar do bi-cefalismo, de uma cultura literária e profi ·onal Uurídica e
médica), d mandato social, que se desenvolveu d e o primeiro Império até
à revolução de 30, - uma cultura de base mais cientifica e de elites mais va-
riada na sua composição; em lugar de uma cultura uniforme, brilhante sem
dúvida, mas excessivamente romântica, cristalizada em t6rno d s focos que
s ecend ram, com as escolas superiores de tipo profissional e, sobretudo com
as faculdades de direito, uma cultura que procura afirmar-se e tende a diferen-
ciar-a , m variações importantes das es-péci s-tipo e de personalidades dis-
tintas,, renovando-se em função· do meio e do clima histórico. Sabemos em que
medidas es missões de professores estrangeirns e as bõlsas e viagens de estudos
à Europa e à América do Norte, contribuíram para alargar os nossos horizontes,
rasgar perspectivas livres, indicar caminhos que conduzem à alta especiali-
zação, e abrir a zona de cultura, em que se alimentam as novas gerações, não
s~m n e sôbre as letras, mas sôbre as matemáticas e s ciertcias, não s6 sôbre
o passado, mas também sôbre a vida do presente que é matéria do futuro. 23
~. cm grande par e por essas influências de rof or eminente , de várias
origens, contratados no estrangeiro e pela ação a di tAncia de universidades
europ • s ou americanas, s6bre jovens licenciado , enviados para se aperf ei-
çoarem nos estudos, que a mteligência brasileira conseguiu estender o cu do-

23 O. cur-.. ca Faculdade de F'lw.ofüi Ci&ida.o e Lctru, de Slo Pa , • cm LgJ4. ío,nu,i inau,


proli
.., - aao. por pro(ca,,ore,i C1tnmgeinta cao1ntad,- 1111 ~.
doa qua , r,.,._; 4, ltaliam>a e 3, alcmlea. Eu, 1!13$tr,
J • e Altmanha. Eram
"ª Bo.,n:, eoaua
"° toda 13
o pan 11 íiloaoí"ui,
f IVbm o por ]IIAN MAU t, QJ1C rege es.a cadrini até boje; a P. A U1P B.uTtl>&, proíeuor de IOCiolOlia
detd 11134,,relo reunir-.e cm 1935, CI.AOD1< Uw..ST'ltAua, etn61 o Cra,:,ch, a quan cu oou B.uTmz,
11131,e que f at,,almct1tle prof....- e um d,- diretora da &.:ola Llvn: de Altm ltltudo,,, cm Nova York, 1>0I
~OI Uald ... O prof...,.. ERMS1'M.ul=s, de~•• foi Mnlntado 11136,pua u EaHIT BRULAU,
qu fa.lc,ctta em m,uo de 1935; Pmtitl! Momnuo foi incumbido, em 1935, do""".., do r:oan,r,. l'úica.e buman11,
cm lurv de PIUU DJNOlfTAIN:U q1.1cec retirara para Bw-opa. depo de 1UDUQ de ~• ~m Slo Paulo
O ENSINO GERAL E OS ENSINOS ESPECIAIS 453

mfnio e dilatar o raio de suas aventuras. Já não são raras, de fato, a publicações
e monografias em que aparecem, com algumas vistas e mesmo contribuições
originais, e, cm graus diferentes, um individualismo fundamental, um lrito
critico e científico, até certo negativismo talvez mórbido, um respeito mais
profundo pelas idéi claras, o ºgôsto da objetividade e da análise e mesmo da
subtileza, aguçado por um sentido mais penetrante do complexo.
E tend eia à especialização, em todos os domínios, e de que já come-
çamos a colh r os primeiros :resultados, foi, porém, aoompanhada do maior
esfôrço realizado, na história da educação nacional, em prol da unidad moral
e espiritual, pela unidade de ensino, nas SUB$ diretrizes essenciais. Pela pri-
meira vez, o govêrno cen al, cuja influência se projetou sôbre tôdas as orga-
nizações regionais, cuidou seriamente do problema da educação popular e da
formação de um. magistério primário nacional, por meio de uma organização
uniforme das escolas normais, a qual permitisse a circulação horizon ai de
estudantes, por transferência, e a de professores primários de um para outro
Estado da União. Reorganiza-se sôbre as mesmas base , em todo o país, o
ensino secundário, oficial ou particular, que é diretamente fiscalizado pelo
govêrno federal, e cujo corpo docente se vai renovando, aos poucos, com pro-
fessores formados, sob uma orientação comum, e licenciados pelas faculdades
de filosofia, ci!nciaa e letras. A extinção dos colégios militares, - dos quai
resta o do Rio, criado em 9 de março de 1889 e reorganizado pelo decre o n. 0 371,
de 2 de maio de 1890, ma já prestes a passar, como tudo indica ao Minist&io
da Educação, - ende a completar essa obra de unificação do ensino cundário
no Bra ·1. em é sõment por essas e outras medidas postas em prática, no
plano da polltica lar, qu sentimos a fôrça senão a impetuosidade dessa
vaga uniformizadora que tomou corpo e se alteou sobretudo depoi do golpe
de Estado, de 1937, com o regime instituído pela nova Constituição. Cer-
tamen e, t s as disposições das leis e decretos federais visando coorde-
nação dos ensinos, à continuidade e à interpenetração das educaç- , esco]ares
e post- colar s e ao des volvimento dos auxiliares mecânicos postos a s rviço
dos ideais nacionai , t~ concorrido notàvelmente para se instituir, em bene-
ficio da unidad espiritual e moral do país, uma política nacional de educação.
Mas, se seguirmos de perto essas pu1sações da consciência nacional, que pro•
cedem, por tôda arte, dos acontecimentos econômicos e saciai , mais pro-
fundos do que o jôgo aparente das fôrças políticas, encontramos, como ele-
mentos de apoio e de propulsão de tôdas as iniciativas uniformizadoras, as
maiorea facilidades de comunicação e de transportes, as llnhas de navegação
aérea, que jã cortam o país em quase tôd.as as direções, e os traordinários
progressos da rãdiodifusão que permite levar, em fraçoes de segundos, a voz
do govêmo da União à's regiões mais distantes e antes quase inteiramen e iso-
ladas, do território nacional.

eaRo-0.utJUC cucm 193SoProí . .Pn~ Hooac.u>Ê,,siibstit.ufdo ..,.. • ,110rAl.JJa&080l'ltt>N,


atual pro(- U.,.-ia e fita-atura r,..__ Bnt:re os profeanres e<mtntad- noe do.a primdrm .,_ da
Faculdade, como LUlGI FANUPPd, italiano, na ....U.C
WADIAO.llll, alil:IM!o Italiano, Dà fisica; H&uouca. R ,
ir..wn W1 n, também alemão, aa ,
na llnntvn, entre outroL Sm 1935 foi conlntlldo e:roPortngal, JJIITll • cadeira d.e !ilolo,: •
r._. vu (1935-36), a gucm sua,dm, em 193 , o prc(CIIGI' F'n>ltl.1No Jhous:iuoo.
A ' t6ria da Clvilluçlo AmcrlcaAa attv,e, ele 1936 a 1940, • c..-eodo Prof: P,un.. V
americano. ainda, pn,f<SUndo c:unm ua Faculcadc de F~&a
proli dead,e o primeiro DQ lll!:gQ!lidoano de,._~
Fli!Clllde4e, d m aslM:cntes ele labnl1tóriao, - -4S.pro(i
di • m.:,,or o ffl09im=to de pn,feacns e eatudaht.<s '.ldJ'Oeque cftÍYO'iUD
çO&mcnto e de ,apeci•tinçiio, foi c:aaataate o iD~ ~lu
de eonadol. tivera.m b61aa• de estudm U liccuciadm, doa quaúa 3, por dua1
~ ~ .. na Fr•Gc,,, olt ntudant .. , na ln&latcrra. um,_... lt6li,,, um, e oc ..,_ Et Unldoo, onda •
-.ch•m ainda d ~~ J dOI e pa,- 01>:lc1.edirigiu • conulte de .. tud.Jttft, depob que• 2.• l\ltt'T& mw,d a l
-u emamentc d.irf l • l)OIJl&A~ para .. tudoo, cm ~ ~-
454 A CULTURA BRASILEIRA

A ci!ncia e a indústria, submetendo a natureza, dominando o espaço e


reduzindo as distâncias, vão, de fato, secundando a obra de unificação politica
e piritual, einprcendida pelo govêm.o cm todos o se ores; no campo da ad-
ministração, pelo Departamento Administrativo do Serviço Público; no do-
mínio estatlstico, por iniciativa e sob a inspiração do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística e, no terreno pedagógico e cultural, pelos órgãos de
ori ntação, de cultura e de pesquisa, do Ministério da Educação. O rádio e
o aeroplano, de tõdas as descobertas e invenções modernas, são as que mais
contribuíram para aproximar e assimilar as populações bra ileiras entre si;
constituindo, sem dúvida os mais poderosos instrum n os d que o Brasil se
vem aparelhando para vencer o seu principal inimigo, - a e en ão. As fitas
branca ou vermelhas das estradas que rasgam as planícies nvolvem a cin-
tura de nossas montanhas, e em que, quase por tõda parte, já circula, com o
automóvel, a velocidade libertada dos trilhos; as. estações de broadcasting,
cujos progressos foram notáveis nesse decênio e, sobretudo a partir de 1932,
pelo papel importante que tiveram na revolução de São Paulo, e o campos de
aviação que surgem por todos os ventos, provando um oível mais alto de mo-
bilidade social, de valores e de pessoas, aproximando cada vez mais a cidades
como os s rtôes dos principais focos de civilização no país. A campanha de
unificação, fortemente apoiada pela introduçao das técnicas modernas de in-
dústria e de transportes, precedeu por essa forma e vem coitando de perto
a legislação; e, aotes de entrar nas leis, que a favorecem, r ulam e disciplinam
já havia penetrado nas consciências e nos costumes a idêfa da unidade nacional.
im, pois, enquanto a evolução individual se realiza no ntido da especia-
lização e s processa, nas regiões de civilizaçao urbana e industrial, uma diver-
sificação cada vez maior de funções, as variações individuais que se alargam
e se multiplicam, são contrapesadas pela democratização social, e a comuni-
dade evolui no s tido de uma igualdade e de uma uniformidade crescentes
de odos os seus membros. A idéia em marcha, nestes últimos quinze anos,
de uma poHtica nacional de educação e cultura, nunca teve condições mais
favorâveis para o seu desenvolvimento, como para a extensão dos serviços
educacionais com que em 1940 as despesas pública já ascendiam a 20,03 %
da receita para tôdas as unidades da Federação.
Mas, se numa assimilação progressiva da coisas ntre si, numa genera-
lização cada vez mais compreensiva, num esfôrço incessant para a unidade, é
que consiste a obra da inteligência, êsse enorme trabalho realizado pelo poder
central tem sido, no terreno politico, senão também no jõgo das fôrças, cul-
turais um dos mais fecundos e apropriados para usten ar, cm deixar de n-
riquec •la, a herança sagrada, que deve er imor 1, de nossa história e de
nossa tradições. Ao contrário do que se deu em palscs de civilização mais
antiga, a sobs ituiçao do utensílio pela máquina, a renovação, cm conseqüência,
dos métod de produção, o conflito entre o econômico e po1í •co, a concor-
rblcia da democracia liberal e do socialismo, e as r crcussõcs profundas da
industrialização e da vida urbana sôbre a organização da família e da proprie-
dad não fizeram voltar o Brasil às formas comunitárias dos empo primitivos.
As transformações econômicas e sociais têm- operado sem o sac:riffcio dos
valores universais, enão especificamente c:ris - ao menos totalmente hu-
manos, cuja persistência autoriza a crença a que refere GILBERTO F'REYRE,
"na renovação da cultura sôbre base ao mesmo tempo p analista socialista,
universalista e regionalista". Certamente tôda a es atura ec nômica, po ítica
social, nessa fase nova da humanidade, e v m tr sfonnando tambfm ntre
6s, mas por uma revolução incruenta; e a mudança a qu assis ·mos, no país,
O ENSINO GERAL E OS ENSINOS ESPECIAIS 455

de um ai tema social estratificado para outro com um grau mais elevado de


mobilidade, e realiza em o menor sintoma de degencresdncia dos instintos
sociais superiores e d es valores humanos que constituem uma das caracte-
rísticas fundamentai de nossa cuJtura e civilização. Nenhuma doutrina que
desconheça uma metade do homem ou que, exagerando o aspecto ~co da
civilização, estimule velhos instintos gregários e prepare hordas de bárbaros
mecanizados inscreveu- até hoje nos planos da política nacional ou de qualquer
dos programas de uma política de cultura e de educação. Uma e ou a, inti-
mamente articuladas, - porque tõda política escolar varia em função de uma
política geral, -não entraram no seio do movimento senão para encontrar,
suscitar e desenvolver as aspiraçÕes personalistas e comunitárias, que nenhuma 1

deformação transitória poderia abafar inteiramente, para procurar um socia-


lismo qu~ saiba combinar a pessoa e a comunidade, e para lançar à base da
educação e da cultura, a liberdade de consciência e o respeito aos direito e à
dignidade da pessoa llumana.

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1940.
,
Indica· de nomes
Índices de nomes

Asuu, Brício, 202. ALVARENGA, Silva, 169, 18ô, 181, 209, 313,
Ammu, João Capistrano de, 13, 19, 27, 45, 323.
46, 60, 150-, 110, 175, 176i 195, 196, ALVES,Castro, 169, 173, 184, 187, 188.
207, 234, 318, 322, 325, 426. ALVES, Conselheiro Rodrigues, 98, 163, 231,
Aimltu, Casimiro de, 185. 441.
Amum, Sílvio Fr6is de, 36, 234, ALVES,Hermilo, 76.
ADAMI, Hugo, 272. ALVES, João Lufs, 146, 371,
AFoNSO,Barão de Pedro, 231. ALvM, Francisco, 192.
AGACHE, Alfredo, 11. ALVES, Totnaz, 346.
AGASSIZ, E. Cary,. 25, 36. ALVIM, Cesário, 231.
AGASSIZ, Louis, 25', 36, 219, 225, 279, 342. AMAoo, Genolino, 174, 198.
AGOSTINI, Ângelo, 265. AMAoo, Gilberto, 92, 93, 94. 97, 101, 162,
AoUIAR, Rafael Tobias de, 158. 163, 198, 224.
Anute, Matias, 170, 179, 180. AIIAoo, Jorge, 120, 201.
ALB.E.aro, Armanda Ãlvaro, .383. AMARAL, Afrênio, 232.
ALBBRTO, Caetano, 155. AMAR.u.,Amadeu, 201.
ALBUQUERQUE, Lucllio, 257. AMARAL,Azevedo, 330, 340, 358, 359, 361,
AI,BUQUERQUE, Medeiros e, 202, 373, 384. 362, 367, 398, 401, 456.
ALEGRE, Manuel de Aratíjo POrto, Barão de AMARAL, Francisco Pedro do, 257.
Santo Ãngelo, 187, 188, 255, 256, 259, AMARAL,Tarsila do, 272.
260, 261, 265, 333. AMÉRICO, Pedro, 169, 243, 260, ·261, 26-2.
ALEMÃO, F,ancisco V.reire, 213, 214, 219, AMotoo,. Rodolfo, 261.
223, 3$5. A.NCHlETA, Padre José de, 125, 127, 129, 176,
ALEMBl!.RT, D' 349. 177, 178, 254, 287, 289, 290, 291, 309.
ALENCAR,Alexandrino, 436. ANDERSEN,284.
ALENCAR, Jos~ de, 29, 169, 173, 185, 186, ANDRADE, Almir de, 116, 200, 203, 241,
188, 189, 201, 268, 354. 283.
ALENCA.~, 1~ Martiniano de, 139. ANDRADE, Carlos Drummond, 201.
ALltNCAR., .Oto de, 227, 228. ANDRADE,Conselheiro Nuno Ferreira <de,,346.
ALEXANDRINO,Pedro, 272. ANDRADE,Gomes Freire de, Conde de Boba-
ALPREDO,João, 343, 351, 355, 359. del.a, 325.
ALLPORT, 218. ANDRADE, Maria Guilhermina Loureiro de,
ALMEIDA, A. Osório de, 233, 423. '374.
ALMEIDA, Belmiro de, 262, 263. ANDRADE,Mário de, 182, 200, 253, 254, 255,
ALMEID4,Cê.ndido Mendes de, 441. 266, 267, 280, 269, 275, 276, 277, 283,
AL!O!IDA,Figueira de, 423. 284.
ALMEIDA, F. J. de Lacerda e, 170, 210, 234, ÃNPRADE, Murici, 203.
317, 323. ANDRADE,.Oswald. 58, 200.
ALMltt~, Guilherme de, 200. ANP.du, General, 76.
ALMEIDA, J. R, Pires de, 319, 356, 359, 388, ANDREONl,José António - .Antonil, 63, 179.
432. ANliANGUERA, 55.
AI.latoA, Jos~ Américo de, 201, ANJos,.Augusto dos, 194.
ALMEIDA, Manuel Antônio de, 189. AQUAVIVA, Padre Geraldo Clâudio, 299, 300.
ALMEIDA, Mário de, 278. AQUINO, João Pedro de, 346, 347, 356.
ALJl,IEIDA, Miguel Osório de, 213, 24:Z, 333, ARAGÃO, A. F. Muniz, 240.
455. ARAGÃO, Henrique, 232.
ALMEIDA, M. Lopc:s de, 3J7, 318. ARANHA,Graça, 200.
ALKBIDA,Ren.afo, 276, 282, 283. ARARIPE,JwtOR, 196, 199.
ALMEIDA J'dNJOR. 243, 261, 262, 264, 266. ARAÚJO, Nabuco de, 226.
ALMEIDA J'ÓNlOJl.,A. Jr., 230, 393, 402, 423. AR.cos, Conde dos, 90.
464 A CULT-URA BRASILEIRA
----------
AK:INos,Somu:NHo,Afonso, ou Afonso Arinos BARUTO, M6tio, 83.
de Melo Franco, 40, 45, 49, 50, 60, 77, BARRATO, Paulo, 201.
86, 106, 122, 284, 420. BAaJtgto, PUnio, 139, 1S5, 171, 202.
AUNos, Afonso, 198. B.UUl:&TI>, Tobias, 154, 169, 173, 187, 191,
AR:m'ór.uru, 222. 192, '239, 240, 241, 367.
AalndTna, 9, 208, 299, 309. BARaoa, Andr! de, 140.
AJuoTAGS., 131, 208. BARROS,Francisoo Rqo, Conde da Boa VI.Sta,
MOUCA, J• Pereira, 249. 158.
AaQUUW,U, 220. BARROS, João de, 40.
Aa.aÃ.aJDA,Dom Frei Antônio de, 135, 333, BAJIROSO, Conselheiro Libento, 331, 335, 336,
348. 343, 345, 353, 3S6, 3S9.
A&sls, Machado de, 173, 192, 196, 197, 198, 13.utaoso N&TO, 268, 278.
201. BAsTARD, 20.
ATAfDs,Manuel da Costa, 249. BASTlDE,Paul Arbousse, 3, 4, 5, 6, 11, 237,
Aoouno, J~, 384. 243, 283, 365, 423, 430, 452, 4S5,
Aut.BTE, Caldas, 2. BASTUJ&,Roger, 82, 237, 247, 248, 252, 276,
AusroatStLO, Antônio, 166, 168, 171. 283, 452.
ÃVJU, G&J'cia D', 45. BAnos, Tavarca, 37, 93, 173, 189, 190, 192,
AHVEDO, Alo{sio de, 193, 198. 199, 330, 340, 343, 359.
AZEVEDO,Alvares de, 184, 185. Butts, H. W., 2S, 28, 215, 217.
ÃZBVBDO, Aroldo, 7.7. BATISTA, Alvaro, 377.
ÂOVltDO, Artur, 201. BATISTA, Jos~ Luiz, JS9.
Aav1too, Fernando de, 93, 187, 190, 200, B&H1UNO,Mário, 350.
203, 236, 274, 283, 384, 387, 389, 390, BELL, Gtaham, 224.
39), 392, 394, 397, 403, 414, 423, 441, BELO, Jos6 Maria, 21., 263, 360, 362.
447, 451, 455. Bla.MONT&, 266.
AnVU>O, Francisco, 417. B~oMANN, Tõrben, 211.
AzEVJIDO, J, L~o de, 44, 178, 203, 318. Bll.RNAlU>&LLI, Henrique, 243, 261, '263, 264.
AnVU>O, Luiz Heitor Correia de. 255, 276, BERNUI>.SLLl,Rodolfo, 2S7, 271.
277, 282, 283. BUNAJID.U, Artur, 439.
Auva>o, Maoucl Ant6oio Moreira de, 255, BB.RNAlU>U, Manuel, 390.
301, 305, 319. Bl:Jv.Bo, Lcon, 381, 382.
ÁZ&Vll:DO, Ramos de. 377. BEIUIIBT, 374.
BER1'RA.ND, Alu, 363.
B&VU.AQUA, Alfredo, 267.
BEVILAQUA,Clóvis, 155, 171, 337.
BABJN-z1', 2U. B_avii.A.QUA, Otãvio, 267.
BA.CR, J, S., 243, 255, 276. BlCAI.BO, Frandtco, 1S9.
BACIJUUSJUl,Evcrardo, 390. Bn.Ac, Olavo, 193.
Bt.OOH, Francis, 300, 3ll. BtsPo, Marcelino, 230,
BADAJtó, F., 146. BITTENCOORT, Edmundo, 41 s.
BAD.u6, Lfbero, 183. BLACKB, Vidal de la, 24, 77.
BABNA,Mopteiro, 43. BLAllA, Amoet, 7.
BA.LDus,Herbert, 4, 34, 37, l.22, 237, BLAD, Inoc!ncio Sacramento, 217.
BALENA, Alfredo, 444. Bt.ANCSAR.0,Rooul, 52.
BALltOUR, A., 2. BunONAU, Hcrmann, 348.
BALLIUJ1t,Jacques de la, 140. BLUTEAU, R., 2.
BANDIURA,Manuel, 133, 186, 189, :201, 203, BOCAlUVA, Qulntino, 415.
284, 303, 420. BOHME, 243.
BANDIURA,Sousa, 159, BO!TlltJX, Hcnriguc, 436.
BANXS,Joseph, 208. BotTJ?tJX, Lucas AlcsPndre, IJ35, IJ5S.
8.AJtBOSA, Cõnego J1U1uário da Cunha, 137, BoNlm4, Manu_el, 46, 101.
138, 183, 342, 350. BoNP"lM, Pedro Colhciros, 413.
BAasoSA, Domingos Caldas, 180. BONAPARTtt,129, 160, 325.
BA1l80SA, DOlllingos Vidal, 152, 323. Bomrus, J., 206.
BAJt.BOSA, Frutuoso, 135. Boll.ZLY, J. Bçtiste, 260.
BAJUIOSA, J• Rodri&ues, 267, 282. Bouo11m11, .ISO,
13Alt8ou, Rui, 96, 98, 130, 154, 155, 165, BoRoltS, AbDio C&ar, Barão de M•ca-úbas,
168, 169, 173, 187, 188, 190, 208, 222, 332, 346, 353.
225, 230, 231, 265, 321, 342, 346, 353, ~lU, Tomaz, 108.
354, 356, 360, 361, 363, 364, 366, 426, BORLANDI, Franco. S3.
438, 440. 455. BolU'lr:, Etimne, 452.
8.HCA, Conde da, 256, 349. BouoA.JNVU.U, 208.
BAJwwUP, N"lCOlas.413. Boucu.t, e .. 87, 104, 120.
BARLEvs, Oupar, 207, 220, 245, 283. Bol.JTR!AU, 158.
BARRETO, J. de A. Alves Branco Muniz, 351. BOUllDI:L,Jean de, 129.
BAJI.Rs-TO,Lima, 198, 201. Bountv, E., 104, 108, 117, 118.
BMUt&TO,Luis Pereira, 143, 162, 170, 230, Bosco, D., 136.
240, Bovn, Armand, 164-, 400.
tNDICE DOS NOMES 465

Bue&T, Augusto, 157. CulPos, Gonzaga de. 24, 25, 159, 219.
BRAGA,Erasmo, 141, l,42, 146. CulPos, Humberto de, 30, 71, 90, 99, 10.5,
B11AOA,Francàco, 268, 278. 106, 177, 180, 199, 202, 203, 294.
B11AGA, Teodoro, 280. CAMPos, J. J. Carneiro de, 183.
BltANco, Barão do Rio, 92, 98, 131, 144, CAMPos, Murilo de, 147.
lSS, 169, 195, 224. CI.N'EcA,Frei Joaquim do Amor Divino, 135.
BRANCO, V11COnde do Rio, 139, 224, 339, CÂNDIDO, Fr-cilc:o de Paula, 448.
351, 352. CAP, L., 241.
Blwmlo Jtbno1t, Ant&io, 143, 24-0. CAPANEMA, Gustavo, 410, 411, 419, 423.
Ballm>Io, Mmio, 317, 318. CAPANmu., Schw:h, Dario de Capanema.
BJt,un;>Xo,Teixeira, 356, 3S9, 360, 388. 93, 219.
BJIAN'Olo J1'Nlo.R, Francisco Antõnio, 240. CAPElt, Kard, 75.
BLu/Nat, J. C., 217, 219, 22S. CAR.onr, Padre Fernão, 40, 176,178,308,318.
BRANDT,F. Caldeira, 93. CAJwoso, Lúcio, 201.
BBANT, Franci1100, 444. CAR»oso, Vicente Licínio, 36, 56, 60, 1.01,
BlllASIL, T. Pompeu de SoUlla, 356, 388. 199, '203, 227, 423.
BRA.m., Vital, 232, 37S. CARLOS, Antõnio, 405.
BRAYNBR, Padre Joa6 Moria, 135. CAJtr.os, Frei Francie00 de S., 135, 188, 181,
B1111!:AL,Michel, l. 183.
BRBCHltRltT,243, 271, 275, CARLOS, J., 26S, 266.
BJtaSLAu, Emett, 447, 452. CMNBIRO, Major Gomes, 234.
BRKTAI, Rodrieo J. Ferreira, 249, 283. CARRAZO?U,Andr6, 86.
BJUTo, Farias, 205, 240. CARVAI.BO,Alfredo de, 206, 217.
BJUTO Laurindo Abelardo de, 344. CARVALHO, Arnaldo Vieira de, 163.
BJUTO, Satumino de, 159. CARVALJIO, Carlos de. 15S.
BllOWNlt, Mai-cia, 374. CulvALBo, Delgado de, 22, 23, 2♦, 221, 234,
·BJttnuq, 210. 236,
&UNO, AnJbal, 402, CARVALHO, Feliàbcrtx), 353.
BaUNBLBSCBJ, 247. CutvALBo, PUvio, 215.
Buccm., 23. CARVALHO,Joé Leandro de, 257.
Btn.NO, Pimenta, 15S. C\RvALHO, jOR Luiz SaiJo de BulhZica, 236,
Bua&uT, 158. 42L
BUUlõa, Dom P'rei Micucl de, 304, 312. CAltvALBo, Lc:&ic:io de, 333, 339, .344, 352,
BUJUICJLUID'r, 6. 366.
BUJU.AKAQUJ, C&ar, 213, 219, 228. ~ALRO, Odando M., 36.
BURTO!f, Capitão Richard, 223, 322, 349. CAltvALB.o,Roaald, 80, 105, 181, 196, 193,
199, 203.
CilVALRO, Vu:entc de, 193, 194, 374.
CABANEL, 262. CA.SAI>O, Romão Elói, 325.
CAaltLo, Soarea, 41. CASAL, Aires do, 88.
CABRAL, Pedro Ãlvarea, 211. 126, 175. c,sassANTA, M&rio, 384, 444.
CA.an.u., Luiz Gonzaca, 318. CüTAG,Nln'O, João Batista, 263,
CABRAL, Pereira, 219. CAsTBLNAU, 218, 266.
CA.B-.U.,Vale, 176. CA.STJt.HOS, Antõnio Feliciano, 186.
CALDAS,Padre Sousa, 138, 181, 182, 183. CASTILBOS,Jo~ Feliciano, 186.
CALDAIJÓNlOR, AntOnio Pereíra, 147. C"8Tll.Bos. J6.lio, 121.
CAIJIBIROI, Antônio Pereira de Sousa, 449. CASTRO, Alolllio de, 168.
CALIXTO,Benedito, 2151,272. CASTRO,Eug~io de, 46, 'l03.
CALIION, Mi&uel,233. CASTRO,Francisco de, 161, 168.
CALMON,Pedro, 14, 43, 45, 47, 77, 83, 85, c.urRo, General Leite de, 4S1.
87, 89, li33, 153, 166, 171, 196, 292, 29S, CJ..snto, Jac6 de, 311.
301, 302, 303, 318, 345, 346, 347, 356, CAsmo, Leandro de, 322.
387. CASTRICLUIO,Henri.que, 378.
CAI,ÓOBR.U,J. Pandill, 14, 19, 44, 60, 101, CAVALCA.NTB, D. Joaquim Arcoverde d.e
159, 196, 318, 365, 387, 4S5. Albuquerque, 144.
CALVINO,127, 129, 140, 207. CA.v.u.c:ANTJ,Oi, 267, 272.
Clllu.A, Manuel de Anuda, 137, 214, 326. CAvA.l.CAN'm, Uchoa, 374.
CAK.utco, Jorad de, 201. CAVALlD, Jacquca, 431.
CAKUOO, Teodureto de, 374. CAXIAS,Barão de, !>'l, 260.
Cüm.o, Luis, 4S. CEoao, Luiz, 421.
c.umnu.,Pero Viu de, 126, 175. CHAGM, Cai-los, 165, 232, 233.
CAMJJOfOÃ, Joaquim Monteiro, 214. CHAGASF'D.Bo, Cai-los, 448.
C.Wõu, 134-,175. CHANBDJ-AIN, Henry, 258.
CAMPOS,A. Caetano de, 366, 374. CllAPTAL, 211.
CAMPoa,Bernardino de, 374. CE.o\RCOT,223.
c.uao.,Ernesto de Sousa, 423, 456. CRAVES, Manuel JOK, 344.
C,ua,os, l!'ranc:itc01 236, 267, 371, 384, 389, CRsvlutl., Júlio Lc, 260.
393, 394, 405, 411, 413, 423, 441, 445, Cm.Al'ARELLI, Luiz, 267.
455. Cmco, Padre, 145.

-30-
4 A CULTURA BRA S l LEIRA
----------
Cfc o. 150, 212. CxuTo, 361.
Cfcao, uel, 350. Crun.s, Gast , 36, 02.
CI.APARb>&, Ed., 400. Cllt7Ui, Louis, 220, 221, 222, 356.
CLAUDE, Gmrces, 59. Caoz, Dom Ftti M,a,nuel da, 304.
Cu. , Pet:er, 218. Cauz ~ do, 7 • 49, 163, 165, 169, 170
Cl.AV&UN, Padr Júlio José. 332, 346. 171, 205, 22 , 'l30, 231, 232, 233, 368,
T lW, Papa, 137. 369,
CI.Llo!Nn xrv, 304, 311. CUBAS, Braz, 63,
Ct.slmNT&, J , 155. CuNBA, Eucll ct da, 20, 21, 24, 31, 35, 36,
Cuau, G brie1 thieu de, 49. 55, S6, 60, 73, 76, 90, 91, 101, 114, 128,
CoAJtAC(, Vivaldo, 120, 121, 455. 143, 158, 159, 165, 168, 169, 173, 182,
COCBUNB, Tomaz, 158. 183, 197, 198, 203, 211, 21S, 'U6, 219,
Con.ao, Duarte, 62, 176. 224, 226, 233. 234, 239, 240, 2S8, 32S,
COELHO,Jorge Albuquerque, 176. 348, 3S1.
CO&l.80 N&TO, 193. CUNBA, Dom tuit da, 311.
CoDitDRA,Frei Henrique de, 126. CUNHA.,ll'ernandca da, 190.
Cot.AJAMt1,N., 34. CUNHA,Jo quim Marquca da, 434.
COL8ACmNI, 237. CUNHA,Nóbrega da, 397, 401.
COMNERBQN', Ph., 208. CUSTÓojo, Frei, 135.
Co'MTB,47, 143, 227, S61, 363, 364, 368, 371.
CON'DORC!T,324.
CONPCCIO,33. DAP,ERl', F. w., 369, 370, 374.
CONIONl, 260. DAMÁSIO,Leõnidlll, 164, 219.
Co STATT, 211. DÃMASo,C. P. J quim, 350.
COORf'/A&H,Emile, 447. DA.IIJ>lER, 208.
CORDEIRO,C31irto, 26S, 266. DANTA, Con clheiro Rcdol(o, 343, 3S2, 3S3,
C0 OT, 260. 354, 359.
Co~. Coo elhriro Manuel Fran.àsoo, 355. DANTE, 33.
Cou&IA, endcs, 33. OARPOUX, 227.
Co11U:1A 1 Raimundo, 193, 194. DAR , Charl , 21s. 2\7.
Cousu., Rivad via, 371, 372, 388. DANTEC. F8ix Le, 37 •
Coll.UlA, Sampaio, 159, 163. DAVID, 2S
Couzu., Viriato, 138, J , 306. DZAT, Mam:1, 399.
CoRJtUA Pn.Ho, V. 93, 159, 241. Duu-r, J. B., 73, 25 . 258, 159.
Cou1oao, 279. DE CAJU.1,Oilcno, 60.
COSTÀ, inaldo, 99. DEOu, Edirar, 252, 261.
COSTA,Amoroso, 116, 227, 24L D&nON'l'AIN , Piem:, 77, S .
COSTA,A. Z. Fonseca, 435. O&LA.ROCBlt, 260.
COSTA,Jo Ba sta da, 243, "257, 263, 64. DE1.&SS8RT,42.
COSTA,Bartolomeu da, 2S0. DE'I.Hosum, Florian, 127.
COSTA,Boritet da, 444. OEND, D., 316.
COSTA, Cl6udio Manuel da 152 169, 181, D NlS, Ferdinand, 195, 203.
182, 306. Dnev, Orvílle, 164, 219, 225, 228.
COS'TA,Dom Antônio de Macedo, 189. OESCA.RTltS, 208,
COSTA,D. Duarte da, 289. DEUS, Frei G sper da Madre de, 4J.
COSTA,Femandc:11 d8, 222. DEWEY, John, 390, 400, 401, 413. ,
Co11TA,Fernando, 439, 443. DIAS, Ezequiel, 232,
CosTA, Rip611tx>da, 183. Du.s, F. Correia, 280.
COSTA, J. Cruz 239, 241. D1AS,Fcmi'lo, 67.
COSTA,Li tmaco, 382. DIAs, Gonçalv ,, 173, 181, 184, 185, 186,
CoaTA, L6cio, 257, 275. 187, 18 1 195, 219, 237, 354, 359.
COST:A,Manuel Meneses da, 249 257. Dw, Mário Vi n 171, 242.
COITA, Zeferino da, 261. Draz. 40.
CosffR, Henri, 134, al6. DIRAC, 448.
COT, Pierre, 399. OODSWORTR, Henrique Toledo, 424.
CoUNTRY, Loui , 213. DóJUA, Ant io mpaio, 382.
Cotl OT, A., 80. DóJw., ollc, 333, 356, 387.
CoU"l'l'N'BO J01~ Joaquim da Cunha de Uo AS FILHO, J., 146.
Azercdo, ou Bi,po Azeredo Coutinho, DR.u:N'aRT, F., 221.
134, 150, S3, 314,321,323 324,325,344. DIUENDLB, Tomãs, 260.
CoUTtNRo, D. Francisco de LanlJs de Faria, 0-trART&,Nestor, 92, 101.
314. Dtl8ol.S, J., 34.
CoUTOfHO, Joio Pereira Ramos de· Azevedo, Du Bo Reymood, 264.
324. Dtrc:o, Adolfo, 214, 217, 22 .
COUnNUO, Lino, 328, 344. DUKONT, Alberto ntoa, 220.
COUTO,Almeida, 160. DU&ÃO, Frei JOH de ta Rita, 131, 169,
CoUTO, Miguel, 16), 168. 179, 180.
CoOTY, Loui , 350, OVRXEl&[M,Emile. 3, 10, 12, 19, 62, 77,
CRUPO, Gon~vea, 194. 103, 281.
NOJCE DOS NOMES 467

ECBAVAJUUA, Salvador, 401, FOHTES, Hermea, 200.


ECXHART, 2 3. FORNARJ,Ernani, 201.
EcurooT, Albert. 245. FoURCROY, 211.
EcooUT, Gubrandt, 245. FOURIER, s. Pedro, 146.
b110Jf, 220. FOY, W., 4.
EmrnNIX>, Luiz, 77. FBAG,l, Clemcnlino, 168.
ERRJtN'llaICR Paul, 245. FRAGOS(), Ta&SO,433, 434, 456.
Elcm. R, 216. .Flwi:CA. Ant.6nio FerTeira, 342.
EnflnIN, 227, 233. FRANÇA, Eurico Nogueira, 277.
EI..LBNY,221. "F!wiÇA JómoR, Joaquim J<>Kda, 188, 201.
ELus JONio Alfredo, 37. F'RANC.\, Padre Leonel d.9. 145, 146, 239,
Escaw.101:, O. L. von, 21 . 241, 387, 395.
EIQVILO, 33. .FJiANc&, Anatole, 222.
E8PfNOLA, Bonfim, 342. F:RANco, Joaquim 269.
ESTaADA, L. Gonuga Duque, 282, 283. ~. Alfred, 276 277.
F'RANCOVlTCB, Guilhermo, 241.
E'u:DERJCO O 349,
FACCH1NE?Tl, Nicolau, 260. FHEEZE, 346.
FAOUET, E., 14, 101, FBEIRE, Junqueira, 184, 185.
FAl'VJJ!:, J. M., 166. FREIRE, Laudelir)o 1 282, 283.
B.uclo, Valdemar, 410. ~. Oacar, 161, 1651 171, .229, 230, 369.
FANTAP.Plà, Luigí, 447, 453. ~. V. da Silva, 456.
FAJUA, Alberto, 60. Fu:IRE, Junqueira,, 184, 185.
FAJUA,Francisco de, 305. FnfTAS, AU&UltOLui& dei, 261.
FAJUA, Otãvio, 201. FRE.Ius, Teinira de, 155, 169, 354, 426.
P&UCON'NST,P., 12, 400, 401, F'R.En'AS, M. A. Teixeira de, 236, 391, 42!,
l!'AVU:O, F1-mfnío, 230, 231. 422, 456.
Fuvu, Lucien, 75, 89. FREYCIHEt, 266.
FEIJÓ, Padre António Dioco, 91, 137. 138, ~z. Gilberto, 27, 29, 30, 32, 37, 40,
158. 41, 43, 60 fi<t, 65, 67, 72, 74, 77, 83,
Fa:LZ)Nd 1 218. 84, as, 90, 101, 105, 1oa, no, 130, 132,
FELP'lt, J. Carneiro, 233, 236, 422. ll6, 142, JSO 151, 152, 153, 157, 158,
FlllUO, 448. 160, 169, 171, 178, 199, 207, 235, 237,
hRNANDEZ, Locenro, 277, 278. 245, 248, 283, 292, 29S, 296, 301, 307,
Faut.U, J. Ssmpaio, 36, 221, 242. 308, 309, 310, 315 318, 322, 324 325,
F&IULU, Luiz Pedreira dD Couto. 'Bar do 334, • 347, 3S6, 420 428, 454.
Bom Retiro, 336., 337, 338 339, 344, FREIRE, Luiz, 241.
351, 352. FllOB.Dm1S,427.
Dlt.U, M. mpaio, 34, 221. FRoNTIN,Paulo de, 159.
FmlllllA, Alezandre Rodricues, 1'60, .210, P'uLGJ:NCJo,Tito, 444.
214, 234, 237, 323.
FnuutA Paulo doa Santot, 325.
Fnu:IRA, Rodrigues, 323. GABAGJ.lA,Eug!Dio de Barros Raja, 219, 234,
Fn1nu:, lnnãoa, 256. 333, 352, 356, 388.
l!'uuui'lax, A., 385, 391 400. GAL-LET, Luciano, 267, 278.
FIOHTE, Cí. GALTON,Fran.cía, 169.
Fnr.ssmoo. Ch., uo. G.u.vXo, Pedro Barrelo, 449.
FIGUEIREDO, Antero, 126. GALVÃO, Ramiz-, 350.
FIOUBllUl:DO, Anttinio de Carmo Pinto de, 257. GAM.A,José Baamo da, 181, 159, 180, 18\,
FIOUBlllEDO, Aur6lio de, 2Cíl, 806, 326.
F1ou1muwo, Fidelino, 453. GAMA, Ulio, 222, 227, 228.
E'lot111:tuoo, FlAvio Poppe de, 136. G.uu, Lopes, 184.
PlGUBl1UWO, Jackson, 145, 209. G.uu. Jo-...é Saldanha, 210.
l!'IOV&ulllDO, J. Lima, 77. G.u.A., Saldanha da, 214, 350.
Fnn.,.y, 163. G.uu, Vasco da, 28, 54.
F OT, Jean, 33, 34 G.umAVO, Pero .Mlip;lllãJes, 17 5.
F'IIICIRR,Lord, 381 GABClA, Padre JOflt M uácio Nunes, 138
Fl..uolAJuOlif, 224. 243, 250, 254, 255, 2515, 259, .266, 267,
Fi.Avtur, Uon, 222. 278.
Pu:lUl8, Henrique, 265 26 . GARCIA, Rodolfo, 122, 176, 1915, 217, 318,
Fo&, De, 354. 3S0.
FONHCA, Corlnto da, 377. GAl!DNJ!Jl George, 217.
FoNHCA, FJ6vio da, 232. ÔAl!lllc, Roberto, 309, 447, 453.
FoN CA, Luh Carlos da, 168. GA.smNDI, 208.
FONUCA Fwlo, O. da, 241. GBHTIX.~.382.
FOlfTAUIIB, 258. Gms, Andr!, 201, 244.
FONTAJNIIA, Guilbenne, 267. GIOKINI, Joeé, 356.
FoNTD, Amando, 201. GLAZI_OO,A. F. M.aric, 215, 275 279.
F na, Card010, 232 233. Gx.oECDL, Otto, 81.
468 A CULTURA BRASILEIRA

G llALU, fs, 278. HEffltY, M. Charles, 226.


Goa &AU, Conde de, 224. HuD.&11, .
0oBBl$, Vit6rio, 272. 137.
Hl:R.U(,
GooóJ, Alcidea, 31. HoERNs, P. e., 36, 214, 232, 2.42.
Gom.Dt, Emllio, 2J5, 217, 369, 370. Ho 10 , Sérgio Buarque de, 101, 107, US,
GoUJU, 6, 101. 116, 122.
GorcocHBA, Castilhos, 120, 121. Ho , S es T 1, 161, 184, 3S .
G61 , Fn..ao, Joaquim Faria de. 410, 44 . HORÁCIO,1S0.
GOLICJmfWllD1U, 3. Hom.s.AY,B rdo 233.
Go Carlos, 170, 243, 267, 268. 275, 276, HOURCAD PÍCJTC, 4S3.
277. H11B RT 1H. 34, 107, 228.
Go , João Bati ta, 249, HUBER, Jacques 228.
GoNJtS., Sal , 163. H1JDSON, 25.
omms, J. Florencio, 23"2. Huoo, Vítor, 187, 223, 349.
GONÇALVU, Francisco Reb~lo, 453. HtlV.BOLI>T,6, 7, 208, 2ll, 216.
GONÇALVEI,RI rdo, 200. HUXLEY, Aldous, 201.
OONZAOA,Tomaz Antônio, 169, 181, 182. HousT0N, Elsie, 2S3,
OORCRIX, Claude Henri, 164 219, 225, 326, HtrSSAK, Eugenlo, 22S.
439.
O0OI.11.RT, Jorge Sales., 122.
Goov&rA, Andrl: de, 302, 316. lElBRrNC, Adolfo von, 214, 215, 369, 370.
GOCVElA, Diogo de, 288, 316. IHD:RING,Hermann von, 21 S, 228, 23S, 369.
Oouv1nA, Nabuco de, 136. INCRES, 260,
OOUVBl'.A, Nerval de, 449. INOC!NClOx, Papa, 140.
GaX, Padre Lw da~ 288, 307. IRN'Ã, Conde de, 137.
GRA~,F.,4. IDAY, Stcphen d', 327, 3S5.
GAAHAM,Maria, 275. IBAB&LPrinc , 273.
GRANATO, Lourenço, 374.
GRB" , 448.
GRIGÓlllOXV, 129, 297. JAJWt, A., 119.
Guoo Y, J. w.. SJ. JAJU>n.t,G letal, 159.
CbJ:BCO, Agripino 199, 202, 203. JARI>ot. Germano G., 422.
GRDOI, J0flt', 260, 263. JARDDI, Luiz, 283.
GaOPP, Darothy M., 417. Jolo Ul, D., 289, 290, 310, 316.
Gaaa, Keneth G., 141, 146. JOÃO v, D., 179, 220, 311.
GUA.O-aL.UP , Dom Frei Ant&l.io, 303, 333. JOÃO VI, D., 56, 57, 58, 73, 89, 90, 133, 135,
Gt1A.t.n1tTI> Padre João, 145. 141, 154, 156, 157, 1S8, 160, 164, 182,
GUANABA.RINO, , 282. 183, 205, 206, 211, 213, 218, 225 228,
GtrAIOfJDJ, Camargo, 277, 278. 151, 2S3, 254, 25S, 256, 257, 263, 266,
GV'BUA, Grea;6rio de Matos, 131. 133, 152, 69, 279, 314, 31 s, 321, 324, 325, 326,
169, 173, 177, 182, 306. 327, 328, 329, 831, 332, 338, 348, 349,
Gumo, Ãngdo. 263, 282, 283. 352, 376, 426, 428, 431, 433, 43S.
Gun.LOlBL, Joaquim Cindido, 258. JoBlJ(, J. M. Cruz, 166.
OUtM.ARA&NS, Alfonsus, 194. Jost t, D., 180, 209, 313, 316.
GtnMARÃBS,Argeu, 282, 283. JoYc.s, James, 201..
0lln.tA.RÃltll, Bc:mat:do, 187, 189. JUNOT, General, 210.
0tJtMARÃJt9, Luiz, 194.
G'uU4A.RÃBS, Renato Alves, 24!t
GtnRAUil, Paulo, 52. KANT, Emmanuel, 6.
GuwXo, AlCDndre de, 152, 170. 1781 300, KELLY, Cel o, 398.
303. IOI.NNKDY, J inca, 366, 387.
GUDIÃO, Padre Bartolomeu Lourenço de, KoPu:, 346.
138, 1S2, 170, 178, 20S, 210, 220, KOSTBR, 216.
Gvrun1&11.o, 350. KRoe»B.R, 3.
3 6.
KaODt>llLUA,
Ferdinando, 260.
.ltRtJIOlOt.T:Z,
H.ucltEL, 215. KRun, M. Ml&Uel,406.
BA.lm.TO , 361. KUHLIIANN,
214, 228.
41.
11:J..MAlifN,
HA.NmNs.Frank, H., l4.
B.umse, Wolf&lll1&Hofrmann, 283. LA BARDINNAJS, 133 208.
B.uTT, Carlos Frmmro. 21, 219, 225, 346. LA.aouauu V., 423.
HARV&Y,208. LA~, Anttm.io Correia de, 214.
BAURll, 33, 34. L&e&RDA, Bati , 213, 228.
HAVY, 211. LACERDA, Dom cdro Maria de, 136.
HA , 2S5. LADISUu, NaTO, 213, 223.
HnMutca • 218. LilT, Conde Carlos de, 134, 199, 239.
B&LMOT, H., 26. l..u'AYETrB, 340.
B&NRlO11E, Cardeal D., 301. LAl'l'M'B,Piene, 143, 361.
NDICE DO NOMES 469

LAGOA, Rocha, 164. LnlA, Rocha, il2, 404.


LAJ&,Alíredo Fem:ira. 279. Ln1A, Silva, 160, 163.
LA.Js, Joio, 415. LIWA SoBRJNB:o,Barbou., 42,
~. Mariano Proc:6pio V~.a. 93, J 59, LINCOLN, 386.
273, 279. LINN:lro, 30, 40.
L.u.o Charle5. 244, 2 . LIPKANN, 449.
LAlmu:r, J., 33. L'IPiülaf, Edmund voo. 41.
LàMPUCHT, Carlos, 360. LIRA.A. Tavares, 80, 102.
l.AJg, Hortcio,374,. LIRA, HeitoT", 101, 217, 242, 3B3, 386.
LANCASTD, 329. LIIBOA, Alfredo, 159, 221.
LANos, Francisco Curt, 277, 283. LISBOA, Ant6nio Pranc:isco, o AI Uadinho,
1.1.N0SDOU,213. 69, 13!3, 243, 24 , 2S0, 271.
LAó-Td, 33. LllBOA, MiiUcl A.O'oj do, LS9.
LATD, M. Minan. de Barros, 68 69, 72, 77, LISBOA,João Francisco, 184, 226.
111, 112, 116, 122. LISBOA, J. C. Belo, 378, 387, 455.
l.APoUGII:, 30. L1moA, João Eat.anislaa da Silva, 3116,
LAVOlllUtR, 211, LISBOA, Jo~ d.a Silva, Visconde de Cair11.
LAVRADIO, Marqu!e de, 209. 73. 211, 324, 325, 326.
LLU., Jo~ Mariano, 152. LISBOA, Manuel Francisco, 249.
LBÃO XltJ, 137. LlTTRt, E., 143, 361.
Ldo, A. Pacheco, 215, 228, 229, 232. LIV1NGSTONE, :no.
Ldo, Carneiro, 382, 384-. LoBATO, Monteiro, 23, 200, 202, 262, 274.
LU:0 1 Souaa, 284. Lõeo, Aristidea, 267.
L1tBHTON, Joaquim, 73, 2S5, 2S6, 2S7. L6eo, Bruno, 213.
UCLUC, Mu, 295, 335, 339, 358. Loc>.lu.E, Oliveira, 221.
L&Do, Gonçalves, 183. l.ouG.DN, Al1-'to, 215, 228.
l.aolAH 1 14,6. Lorou. Inicio de, 127, 131, 287, 290, 291,
L:ndo, C. Melo, 25, 36, 214, 234, 242. 297, 299, 300, 303, 309.
LEI , Padre Serafim, 77, 126, 128 130, LoMONACO,279.
131, 146, 160, 171, 288, 292, 299, 301, LôPES, B., 194.
307, 308, 309. 310, 319. LoPas, lldefomo s· , 9l.
UlTS, Teixeira 93. LoPn, Luiz Simões, 412.
L&IT& Fu.llo, Solidtm.io, 37, 122. LoPES, Raimundo, 234, 237.
LDo:, A. Bctim Pai.. 18, 213, 241. LoRONHA, Fernando de, 40.
Laa:, P. G. P , 228. LossmR, Jean, 8.
Luoa, A1ht de, 222. LotmmXA, Chestmir, 237.
Loos, D. Pranc:iaco, 323, 324. Lommrço, Irmão.31.
LD&.01, Joio de Brito, 60. Lo~ço Fwm, M. B., 3S3, 382, 3
!.&Moa,Miguel, l4S, 24-0, 361. 387, 390, 392, 393, 411, 413, 416, 419
I.Dota, Carl01 (Gil), 265, 266. 423, 455.
LaNou1, R., 9. Lowm, 3.
l.soNCAVAJ.LO, 268. LoWRlEI, S. H., 4, 98..
ldoNf, Raul de, 200. LUBAKBO,M.anu , 77.
LEOPOLDINA,Princesa, 216. LUBXR, M., 40,
LERNER, Armand, 18. Ltnz XVI, 199, 349.
Luv, Jean de, 106, 140, 176. LUND, Petcr Wilhelm, 205, 218, 219.
LJ:B&A,Clado Ri~o de, 284. LlP-{AUCHARSl:Y, 38:l,
LE88A, Pedro, ISS. LuTz, Adolfo, 163, 214, 230, 231, 374.
L.11:TJtOCQUll:R,Yvea, 53. Luz, Alambari, 353.
L:s,vv, AlCUlldre, 267, 268. LlJZURIAGA, Lourenço, 391.
L&VY•STRAUSS,CI udc, 238, 452.
LIAtl, Emonuel, 21, 220, 221.
LDU, Agostinho de Sousa, 229. MAC.&OLAY, 348.
LIMA, Alceu AmOl'OSO,- Trittão de Ata.fdc MACBDO, Joaquim Manu 1 de, 188, l9S.
-. 110, 122, 145, 192, 199, 203, 395. MACBl>O,JosE Agostinho d , 427.
Lnu., Ara6jo, 220, 329, 333. MA.CBADO, J. Alctntara, 60, 122, 230.
LIMA-, Aucuato de, 194. MA.CBADO,Bruflio, 290.
Lnu. Jt1Htoa, Au o d . 189. 247, 250. 253, MACHADO,Gilka, 201.
282, 284, 296. MA.ê&WO, Pinheiro, 98.
Lnu, B_arboaa, 286. MACIEt.-, J~ Alvarcis, 152, 323.
LDCA.,Correia, 259. MADUREDtA. Padre, 146, 300, 301, 319, 347.
LDIA, Costa, 232. MAG.U,Bhs., Almeida, 161.
LDIA, Duarte, 99. M.1.ru.1.siu, Bullio de, 36, 9, 101, 147, 196,
Luu., Hcrm , 143, 2'4 . .MAGALBÃU, Benjamim Cocuta.ot Botelho de,
LDIA, Jor e de, 201. 240, 337, 338 357, 360, 361, 362, 363.
LIMA, J. Corr, • , l57 259, 271. 364, 367, 368 371, 372, 380, 394, 433.
LIIIIA, ud de Oliveira, 60, 77, 102, 122, MA.GALBÃ&&, Fernando de, 71, 338.
150, 169, 171, 196, 223, 24S, 324, 325, MAGALBÃU, Pernão de, 28.
326. u, General Cou o d , 234,
M.A.GA.LBÃ n .
470 A CULTURA BRASTLEIR

MAG u, GonÇal es, 184, 188, 333. toine, 19.


AGAJ. Ot!vio, 444.
, ME;: t, éli , 80.
OALBÃ&S, Vicente Fcnrir-a de, 448. MJtsQUJTA, Cart , 267.
MAoALRia JdM:OR, Raimundo de, :!Ol. M!.aQUlT , Júlio, 415.
MAu, Jox Joaquim da, 152. OUIT P'rl.Mo, jÍllio de, 405.
MAINI, Sumncr, 254. P dre, 13S.
!1.Gtn:Lllruo,
MA.lOR, to, 2 . ~Gou. Leopoldo, 267, 268.
.uoms, Eduardo, 242. Mn.Amtz, , 267.
MAN , Edouard, 261. [LL, Stu , 368.
MANNH Karl, 401. ll.LJ'. T, 158.
MAlt.A.NRXo,JerOnimo AlbuquC!'que, 131. MII.LI&T, Sérgio, 2 1 262, 272, 2 2 284,
MARCO.RAVB, l60, 206, ll07, 307. MINARDl, 260.
Milcnovz, l 63. MIONO.N, Frnnci,co, 277 278.
MARCUS, Emest, 452. MIRANDA, A cnor A., 36.
Muu, D., 324. MatANDA, Pontn dei, 236,
MARJA, Podre Júlio, 144, 145, 146, 319 MOACIJt, Primitivo, 332, 356, 388, 423.
356, 387. MONBBIO, ierr 1 49, 53, 78, 452.
MARtALYA,Marques de, 257. MoNLBVADlt, Franciaeo Po.ia Leme de, 159,
MAk 'A.NO FlX,!:10,Jos6, 247, 249, 250, 253, Mo?tti&RltA'l'&,Frel Càmllo de, 350.
257, 263, 271, 274, 282, 284. MoNr'ALVBRNl!: 1 Frei. Fronclsc:o de. 135, 137,
M.AllQVU1 Xavier, 189. 138, 140, 183, 239.
MunmA.u, François, 249. MoNT.EUlO,Arlindo C mllo, 2512,
.MARTINO,Ãngdo de, 260, MONTEIRO,Jo o, 1S5.
MAR1'1NI, Judite, 749. MO.NTli::l~O. Tobia , 101, 1
MARTIN9, J. CIU'lO , 434. MoNTUQIJI.EU, 83.
K,,RTrNII, Luiz, 260, 262 282, 284. MONTOOLPUl:R,'220.
ILuTtNa, Sil eira, 190. MONTIGNY,Ora.ndjcan de, 243, 2S6, 258, 259,
MART , Tal 232, 233, 242. 265 273.
MAltTIUS. Voo, 37, 83, 266, 326, 349. 'MON'TOJOS, Franciac:o, 423, 437.
MAll, Burle, 277. MONTUBLO,Jo,~, 441.
A.O , 268. MOJWS, A. J, Melo, 137, 319.
M.ITOI, Anlbe.l, 242. MORATS, Benjamim, 147.
K.\TOI, Bclfort de, 221. MQllAII, E. V"tlhen de, 131, .147, 196, 319,
-rm, Frei Eu~bio de, ou Frei Eusébio dB 26.
ledJlde 131, 133, 1S1. 177. 306. Mo-.us, José Maru: e, 319.
os, ]DR Veds$imo de, 192, 196., 204, MoaAla, Prudente e, SIS, 98, 230.
31 , 316, 319, 356, 363, 371, 388, 24. otilS, 'mundo, 36.
M.ATos, M6rio, 203. MORAIS, Ruben.s Borba de, 66, 77, '235.
M:AuGU'i, Jean, 4S'2. Mounv., loe, 214.
MAuu., Oto, 36. MoRJttRA,1 Carvalho, B o do Penedo, 155.
MAU , 3, 4, 6, 10. MOlllli, Julinno, 208, 210, 219, 230, 242.
M4.XDULtANO, Pnncipe de Wied Ncuwi.ed, M'OREL, 158.
135. MORlZS, Henrique, 4, 36, 221, 449.
MA UllUA:NO, Carlos, 257, 33 , 371. Mon., Agostinho Jo1~ d•, 259.
MAW!l, 216. MOTA1 Artu(, 204,
MBDRADO, Arquies, 16-1. MOTA, C sá.rio, 366, 373, 374.
MEit:.Lll:T, A.• 1. MoTA, Otoniól, 141.
Cecflía, 201, 401.
M.1n111:J.,1t&, MOZART,255.
M1W1.Bus,J. e. Soares, 166. MUHLMANN,W., 34.
Mx!RBLltS,Vítor, 743, 260, 261, 262. MULLER, Augusto, 259.
M&LO, A. da Silve, 456. MVl.oL.&R,Fri , 21S.
Ma.o Antõnio Manuel de, 221. MUNn, 63.
Mno, Bcmlll'do Vieira de, 88. MURU.O, 279.
M&LO, J. M. i eir de, 90 9t. MtmTlNIIO, J quim, 6.
o, O. T. Pereira de, 284. MUSSOR0SKY, 277.
, J~ CardOIIO Pereira de, 34J.
o, Pereira de 276, 282, 284.
, Teiuira d 350. llCO, Jo quim, 101, 105, 155, 169, 173,
M.KNÓRJA,
M
Arquimedes, 257.
, João, lSS.
187, 190 192, 196, 301,
1 267
351. º·
MDID , Odorico, 1&4. ., o.
D , Tcí.xeira. 143, 240, 361, 364. 7, 48, S.4, 55, 60,
28, 29, 37,
M°EMDO • lho de, 152. 117.
M , ÇA. Ed&ar Su.sscl.ind, l36, 204. u, a.wic::io d , 135, 140. 160, 206,
DO ÇA, J uim Afberto Ribcito de, 143. 207 1 2°" 24S.
DON , Lú 'o• 192. NAIT R, 213, 216.
-as:1, EmOio de, 194. NAVAll o, J o de Alpilew:ta, 287, 289.
NMU, Furtado de, 146. NE.IYA,Artur, 13S, 171, 204', 213, 214, 7.23,
aa, Luiz da Cunhe, 182. 232, 233, 242, 404.
fNDICE DOS NOMES 471

NU()IIUC O, Alberto, 267, 268, PED:OTO, Inicio Joet Alvareoga, 131, 152,
am, Adal&i , 201. 169, 181.
NDJ, Fernando, 236. PBl:XOTO, RodJicues, 350.
NB.Rl, San a, 356. PENA, ComWo, 201.
Nav~ . Si ' undo, 255, 256, 366, 267. PDIA, Ferreira, 21S.
Nsvu Bacta, 444. PENA, Luiz CadOI .ao.■,m,u, 188, 201.
N&WTON, W8. PMALVA, Gastão, 249.
Nsvu, • dano d , 275. Pncma, 2S8.
N1cúoto, A,, 8. PmlEDI.A, Alves, 444.
Nunaam, F., 22♦. PBREDtA, Antõnio Padfico, 171.
NDIUE.Nl)AJO, Kurt, 237, 238. PltltZlltA, Antônio de Si, 267.
NlDT, 18. PnmJtA, Astroiildo RodriiuH, 37.
NdBUOA, Padre Manuel da, 127 128, 1291 PnmtA, Bento J•, 343.
176, 287, 288, 290, 293, 307. .PmlBDtA, Dulddio, 449.
NOGUBJ.'JtA, Almeida, 171. PEDIRA, Eduardo Carlos, 141.
NONATO, Orosunbo, 444. 'PBREIRA,Esteve,, 151.
NOJUlANO, J. F., ♦?, 60, 101. PllBDtA, J~ Clemente, 72.
NC>a01'RA 1 Santoe, 60. PllxIRA, Francisco Laíaye e, RodriCiJes,
Novicow, 173. 426, 448.
NUNltl, l..eonll!'do, 289. P&REtKA, Lafayette Rodrigue~ Conttlheiro,
155, 340.
PERBJRA, L1lcia Miauel, 204.
Os.uiTO, Antõnio, 1?l,
PxREIRA, Miguel, 161, 170.
OLJvllmA,Alberto de, 193. PDEIRA Padre Bento ]DR, 343.
OLJnDIA, Adalberto Nléneac de, ♦49. PEUT, 425.
Ouniu, Amuu:ido d Sales, 235, 405 l'xRftNCII, Andrade, 161, 352.
OunDtA, Cindido B ti ta de, 221. PEssoA, Epiticio, 257, 371, 383, 386, 405.
OUv&DlA, E\lllbio de, 60, P!lssoA, J. G. Frota, 391, 397, 401, 423, 455.
OuvzJ.'JtA, F,nuu:isco de P ula, 219. PB:z!tttAT, 257.
OLJnutA, Joio Pemande11 de, 69. P1CA11ÇO, J~ Corre.ia, 160.
OUVWJ:RA, Joio RamOI de, 93. PrCCBl.\., Mcnotti del, 200.
Ol.Ivm:ltA, Manuel Diu de, 257. P1CJCEaJNG, 18..
OuvzmA., 5-mucl de, 362. Puu;znm.. FrancilCO Mcndee, 405 44-4, 44S.
Oa:aJoJrY, o., 218. Pnamllto, Bordalo, 265, 266.
Osntooolurr, 96, 9'1. Pm&Bmo, JoiQ, 76.
OlwAU>, Henrique, 267, 268, 276. Pl:mmoto, Cllaego Fernandes, 301.
Orb10, Rod.ri&O, 301, PINIDDIO, J~ Feliciano FemandCI, VIICOl:lde
Oro C. B. 1 159. de S. Leop0ldo. 1S2, 329, 332, 336, 337.
Oram, Teófilo, 93, 159. PINro, Alfredo, 383, 405.
PINTO, E. Roquette, 37, 213, 234, 212, 253,
PAIVA, T credo de, 221. 276, 419, 424.
PAIXÃO, M6cio da, 204. PJNTo, Est!vão, 37, 444, 453.
PALUTJIJNA, 255. PINTO Ci&.u!, 232.
PAI.Jl&TA, Francítco de Mdo, ♦9. Pmro, Oliverio, 136.
PALLJàRB, Armand Julllcn, 257. Pnm>, O. de Oliveira, 214.
PAJtAfso,Padre, 76. Pio XI, 395.
PAJtANÁ, Marq,u& do, 336, 338, 339, 361. .PIRASSIJlllUNGA, A. Sampaio, 43'4.
PAJUtl.lRAS, Antõnío, 261, 263. PntBNNE, Henri, 7♦.
PARUIRAS, Edg t, 272. Pmh, Padre Heliodoro, 319.
PAIOAl., 227. Piso, Wílhdm, 160, 206, 207, 307.
.P.u&oa, Guimar es, 194. Plz.utRo, Camile, 261 .
PAIIISOI,Pereira, 74, 159. PlssJS, 218.
PA1180N, M , 374. PlrA, Rocha, 179, 306.
P.uraua Louís, 224, 230, 231, 374. PlUNGA, Con lheiro EpiíAnio Clndido de
PAULRN, 400. Sou.aa, ♦49.
PAT&UON, 160 163. PI..uuu, Bar o de, 333.
PAULO m 127, 287 PLATÃO, 363.
~. Nilo, 378, 439. POMBAL, arqu de, 132, 134, 136, 14♦,
Paaot.T, Teodoro, 215. 153, 160, 1 , 20, 209, 210, 287, 288,
Pl:J>DMSDt.U, ul, 26S, 2 304, 3ll, 312, 313, 3 4, 316 323, 52♦,
Pl:J>JtO 1, ♦9, 89, 90, 137, 183,' 212, 213, 216 334, 346 3♦7, 1·27, 428.
258, 259, 279, 329, 336, 348. PolNCAd, Henri, 227.
Psoao u, 90, 92, 94, 115, 137, 157, 195, POKP&, Raul, 191, 193, 19 .
• 215, 21 , 221, 223, 260, 264, 268, 269, Po11P&u, Guilherme, 67.
279, 301, 321, 332, 344, 349. PoRTINARJ, Clndido. 243, 262, 272, 275, 281.
PslxOTO, Af't&nio, 18, 19, 23, 24, 25, 33, 36, Pô:RTo, Auraio, 45, 85, 89.
70 161, 168, 177. 181, 192, 193, 204-, PoRntGAL, Marc01, 2S5, 256, 266, 267.
229, 230, 290, 3S2, 356, 369, 373, 386, PoRTOGAL, Manud de Caat:ro e, 295.
388 O , 423. PORTUGAL, Tomb Anl6nio d Vila Nova, 213.
472 A CULTURA BRASILEIRA

Poff, Ft1UU, 207, 245, 284. Rnmllo, J6lio, 141, 193.


PosT, Pictcr, 207, 244, 245. Ruuttlto, Lconklio, 147, 230.
P1tADBJt, Carlos Simão de, 256, 257. .R:omnto, Paulo de .Assis, 3117, 423.
PRA.Do,Antõnio, 75. RIBURO, Samuel, 202.
PRA.oo,A. Almeida, 45S. Rt8BllNTIIOP, MJle. 143.
PRA.Do, Eduardo da. Silva, 134. 173, 191, RleOT, Th., 107.
269, 270, 278, 280, 284. RICAJlOO,Cassiano, 200.
P1w>o, J. F. Almeida, 37. RJCCAn, 227.
PRA.Do,Luiz CintT11do, 449. RlCJmT, Ch., 222.
PJt>.Do, Paulo, 105, 106, 112, 121. RIJO, Vicente ou Vicente Rodrigues, 288.
PliDo Jtmtoa, Caio, 78, 102. RIVARA, João Caetano, 325.
~TA, Catta, 166. RrvsRA, Diego de, 272.
Pauns, Gabriel, 366, 374. ROCHA,Justiniano J~ da, 184, 333.
Pal:uJ1.By, 211. Roomoua, Antõnio Fernandes, 249.
Pamro, Manuel, 88. RODRIOUU, Coelho, 155.
PROUST,Marcel, 201. RODRJGU'JtS, Francisco, 319,
PuccINT, 268. RODIUOUJtS, J. Hon6rió, 78, 245, 246.
Pu)OL, 346, RODRJQUl!S, João Barbosa, 214, 228, 225>,369.
RODRJOIJJtS, Jos6 Carlos, 148, 415.
RODRJOUES,Milton da Silva, 112, 115, 117,
QUJtlROZ, Raquel, 201. 122, 314, 324, 381, 388, 423, 456.
QUEIROZ Fu.no, A. de, 196, 197. Rooruoo.ea, Monsenhor Paula, 145.
QtmNTAL, Antero do, 212, 427. RODJUOIJ&S, Raimundo Nina, 29, 30, 37, 160,
QonrHo, Manuel Raimundo, 284. 169, 205, 228, 229, 230, 237, 369.
QIJllffAS, Amaro Soares, 102. ROt.PB.S, 378.
Quuml.tANO. 1S0. RoLLANtl, Romain, 243.
RmattRo, S!lvio, 169, 183, 196, 204, 239.
ROMNY,0. P., 258.
RABBLAts.277. RoNDON, General Cindido, 214, 233, 234.
R.utno, Jacinto, 2S&. RoPS, Daniel, 399.
RAxALao, João, 62. ROQl11tTT&, Paulo, 213.
RAMOS, Artur, 30, 37, 122, 230, 237, 253. ROSA, Santa, 262, 272.
R.ulos, Gracillano, 201. RosJtNF&LO,Paul, 277.
RA.Mos,Teodoro, 1S9, 222, 226, 227, 405. Rosst, PeuJo, 272, 280.
~ozt., Alberto, 36, 43, 44, 48, 49, 60, 72, ROSSINI, 25S.
78, 159. RODSS!i!AO, J. J., 385,
RANGJtL, Godol'rcdo, 102. RvB.ENS,279.
R.uoso, Antõnio, SS. R11B11m,Carlos, 284.
RATZBL,F., 8, 19, 32, 86. RUGEN?IAS, Joio M.:JuTlcio, 122, 1.38, 258.
RAWITSC:Bn,FBix, 453. Roux, Emílio, 231.
bB!Lo, Marques, 201.
bBOITÇAS, Andr~, 159, 183, 268, 346, 354,
REl>ONt>O, Garcia, 168. SÁ, Estâci.o de, 128, 138, 307.
R.tGo, Costa, 133, 135. SÁ, Mem de, 63, 128, 1.29, 140, 290.
Rtao, J0$6 Lins do, 201. SÁ, Padre Antõn!o de, 177.
Rioo, Jo~ Ricardo de Sá, 76. SABÓlA, Barão de, 338, 352, 356, 389.
Rtoo, Otiel Bordwux, 387, 388, 422. SABÕIA, Vicente, 161.
.RJt11, Aarão, 76, 159. s.,.cRA.M&NTO, Frei Leandro do, 214, 226 .
.RJt1s, Almeida, 271. $AWT•Hn.Auut, A. de., 36, 78, 96, 102, 210.
RltIS, Álvaro, 142. 217, 295, 331.
RIUS, Miranda, 106, 236. SAun-Hll.ADlE, Geoffroy de, 210.
Rs.rs. Pereira, 227. SALAMOND, Eduardo, 415,
Ra1s, Silva, 2S5. SAus, Campos, 98, 371,
làIB, T. Furtado, 242. SAJ.GAI)(), Plínio, 201.
~.245. S.U.ouÃo, 136.
Jà.Nt>oN, Fran.cisco Leandro de Toledo, 152. SALVADOR, Frri Vicente do, 41, 131,176,306.
R.&lmoN, J~ Aroucbc de Toledo, 72, 152.. SAKPAJO,Alberto J., 213, 234, 242.
RBKODt, August, 261. SAxl>AIO, Di6genc:., 230, 369.
.RJty, AbeJ, 238. s.ut:P.1.10, F. Nert'u, 273, 274.
Rua, Alfoo10, 426. SAIO'AJo, Fn:i Ftancisco JC11Us,135, 183.
RUBND"B, Conde, 251, 323. SAMPAIO,Frei Santa Teresa de Jesus, 135,
RlmnmoLt>T, Hcinrich, 447, 453. 137, 138.
RIBA!, Emllio, 163, 230. SAMPAIO,Teodoro. 177.
Rm&I.RO, A. Miranda, 36, 213, 214. SANamz, Edgar, 204.
RIBSIJlO, Assis, 159. SANTIAOO, Tcodomiro, 378, 439.
RJaBUo, Domingoa, 141, 1◄7. SANTol, J. Fcllcio dos, 60, 155.
Rmm:RO, Ernesto Carneiro, 346. SANTOS,Fellpc dos. 68, 88, 89.
RIBEJ:RO, João, 14, 196, 234. SANTOS,Francisco MarquN dos, 251, 2S7,
RlaSUI.O, Joaquim, 77, 245, 284, 2S2, 284.
1NDJCE DOS NOMES 473

IAln'os, Joio Caetano dos, 188. Sa.&ns, Gabriel, 40, 45, 301.
SAim>a, J Antõnio do • 249. SoAe;S, J. C, de cedo, 236, 422.
Suffol, Lúcio Josf dos, 444. SoARn, José Eduardo de Macedo, 41S.
Bum,a, o Dami de Sousa. 448, SoARES,Teinira, 159.
s»m>s, Marqu de, 2S7. Son!ra, A. A. de AR-vedo, 373 387.
&im>I, . P. d Olive!r , 356. Soou, ébon Wemeck, 102, 196, 20.,
SAlm>e, Tomi1 Gomes dos, 26C. SoUSA, Ant6oio Franciaco de J?aula, 1S9.
SUTAXIN'I, Ant6nio, 448. So!JSA, Antõnio teiro de, 384.
Scaa-1••· 6. So1BA, Cn1% e. 194.
Scmo:ur, 237. Sous&, Gabriel Soares de, 37, 40, 4S, 17S.
ScBnm>T, AfOl'.lto, 201. So11SA, Irincu EvAnicliata de, Bar1o de
SamlmT, Auaust:o, 201. Mauá, SO, S6, 57, 93, 15S, 1S8, 1S9.
ScswACU, C. A. Guilherme, 21S Sot1S.A, Joaquim Gomes dt, 205, 226, 22 ,
SUABCK, 206. 35S.
SaOALL,Lazar, 272. Souü, José Paulino Soarea de, 332, 343.
SaoSL, Gerardo, 391. Souu, Luiz Vasconceloe e, 160, 323.
SsoUitO, Vi1conde de Pt°lrto, 41, 19S. SooSA, Manuel de, 21!1.
Ssu.ow, voo, 213, Souu, Martim Afonso de, 41, 62, 6 , 64, 80.
SBN'A,Coat:a, 159, J64. SoUSA,Moreira de, 402.
Sáo10, Antônio, 2g7, 299, au, 427. SOUS,A., Otávio Tarquínio de, 202.
8B1UtANo,Jõnata1, 81, 144, 147, 196, 204, SouSA, Pero Lope,9 d11, 175.
242, 290, 319, 388, 419. SoUSA., Tom~ de, 4S, 63, 81, 1:17, 281,
SmulÃO, Frei Custódio Alve11 1 13S, 213, 214, SouSA, Washington Luis Pereira de, 23'4,
228, 448. 235.
Ssvuo, RJcudo, 274. SotmNBA, {Joaquim Gome, de Soun.), 169.
SaàUDtN, 232. SouTHBY, Roberto, 127, 129, 177, 180, 19S,
SB.A.w, Bernard, 168. 326.
SJuw, Paul Vanorden, 453, SP.BHGLD, 270.
SclloNBDO, Mirio, 449. SPINOLA, Bonfim, 342.
SIC&JII>,233. SPix, von, 37, 83, 216, 266, 3'49.
SDGnul>, Andr6, 22, JS, S9, 122, 281. SPRUCJ!:, Ric:hard. 217.
SIOAUD,J. F., 1 ST.u>BH, Hans, 176.
SILVA, Antbnio Carla. de Andrada e U2, Sttmu, Xarl von den, 237.
170, 210, 329, 333, 344, 446. SmPH:aNso 61.
SlLVA, Antõnio de •-. 2, 180, 326. SrocxLu. AleDndce, 76.
Sn.YA, Ant6olo J~, 173, 178, 179. S~ G:arção, 324.
Sn:u, Auausto Barbosa da, 164, 449. STocus,226.
811.vA,Betteo da. 265, 269, 333, 536. Snu.u , 268.
SILVA, D. Duarte Leopoldo e, 146. S'O!Owmo,F., 243.
Sn.VA, PtllllcflCO Manuel da, 2S6. 267, 277. SWAlNSON,217.
SILVA, Pnmc:iacaJ~li• da. l!M.
SU.VA. Henrique Joé da, 2SC5, 257, 2S8.
Su.vA, Joio Mcnde1 da, 178, 179. T~YRAND. 199, 2S6.
Sa.n, Joio Pinheiro da, 373. T.a.QúBS,Pedro, 306.
SILVA, Joaquim Caetano da, 195, 333, 340. TAUNAY,Afonso, 32, 49, 60, 67, 77, 196, 220,
81LVA 1 Joaquim Carnelro da, 249. 234, 235, 242 284,
SILVA, Joll6 BonifAc:io de And.rada e, 91, TAUNAY, Alfredo d'Eecragnolle, Vwconde da
137, 152, 170, 187, 190, 211, 212, 213, Taunay, 189, 268, 3'46.
226, 323, 829, 332, 342, 349. TAUNAY, Augusto Miuia, 2S6, 257.
SU.vA, Lafayette, 205. To\l1NAY,Féli'~ Emfüo, Bar o de Taunay,
SU.VA, Luil Alvea de Líma e, Duque de 73, 256, 258, 259, 279.
Caxiu, 911. TAUNA.Y, Nicolau Antônio, 256, 257, 25
Sn.vA, Martim Jl'rçicisco de Andrada e, 152, TAUTPBOEU&, Barão de, 346.
170, 210, 342. TAV.UU, Eduardo, it7.
SILVA, Moadr, 159. TAVARBS, Muniz, 139. 32 ♦.
Su.VA. N011.1cir da, 237. TÁVOitA, 331.
SILVA, 09car Pereira da, 261, 456, 457, TÁVOllA, Franklin 183, 189.
SILVA, Plrajl da, 83. TÁvou, Ju.arcz do N scimento Fc:rn.andee,
Sr:LVA, Valentim da Fon.a«a e, Mestre 422, 439.
Valentim, 243, 2S0, 271. Tut, Barão de, 221, 3S6.
&a.vADO, Am&ico, 221. T1!:IxEmA,Anfsio s., 382, 389, 391, 99, 401,
Sn.vmtA, Ã1vat0 da 2l4, "44. 402, 406, 419, 424, 441, 451.
SDIOND, 163. TnulltA. Bento, 131.
SDlmn, L. V,, 166. TBIXEDtA, Gomes. 2:17.
SDIONaH, Roberto, 26, 29, 32, 41, 42, 44, TmxlmtA, Osvaldo, 176, 272.
46, 47, 51, 52, S6, 58, 59, 60, 102, 45S. Tm.za, Carlos J~ da Silvu. 3 .
SIQu&IllA, José, 253. TBAYER,Nathaniel, 219.
km!, Herbert, 349. Tlmvrr, An~. 176.
SIIITR, Roberto e., 247, 249, 2S2, 272, 284. l'Jmn,, Erater, 32,
474 A CULTURA BRASILEl'RA

TBl:aAUDltT 400. VI.ANA, Gupar, 232.


TmRJ!!, Artur, 164. VI 'NA, Hélio, 319, 356, 388,
TJJOIIPSON Oscar, 374. VIANA, Olivcinl, 30, 37, 61, 63, 64 66, 70,
TmmNwALD, R., 4-, 34. 74, 78, 92, 97, 169, 199, 237.
T1GR1l:, Bastos, 266. VI.ARA, Ulisses, 342.
'l'nüm>RO 1 ( 84. VIANA, Vítor, 93.
TINTOUTO, 279. V1c&NT , Gil, 179.
Tol.1.EN'All, 324. V1&GM, Frei G1'e&6rio Jo é, 3S0.
TONNELAT, E., 5. VmlllA, Cel,o, 91, 102.
Tõun, Alberto, 97, 199, 421 424. VmIRA, Hcrm.es, 284.
TÕJlUS, Antõnio, 199. VtBDIA, J. Fernandes. 140.
Tõ_nu, Helotsa Alberto, 213, 237, 420. Vrl!IRA, Joaquim Meucse. de, 347.
'l'JtAJANO, 141. VIEIRA, Padre Anttinio, 88, 130, 131 1 133,
TlivASSOS, Lauro, 232. 134, 135, 1S2, 169, 177, 180 184, 293,
TaàvASIOI,Mério, 20, 21. 300, 306.
TltoM:Pownv, Roberto, 362. Vnuu Fni Domingos, 2.
Tlnucn, F. J., 47. VtElRA Poim, 280.
TTLOR, E. B., 2, 3. V!0NOLA, 259.
VILA-Lõsos, Hci.tor de, 243, 2 76, 2 77, 278.
Vu,A~ES, Décio, 261.
UKERBS, William, 49, VlLBENA, Luiz dot Santos, 3l!l.
URDAM,2l6. Vn,LAlt, Picrc:e, 53.
UTRA, Gu8tovo D', 374. V:n.-t.l!:GAlGNON, 129, 140.
VIH&T,Henrique Nicolau, 260.
VITAL, Dom, 139, 169.
VACCilI, Pietto, 53, VIT&llBO, 2.
V.Al.BltT, P ui, 406. VOLPJ, A., 272, 280.
V,U& ]lhnow, Paulo do 2n VOLTA, 211.
VAUl'lli, Spencer, 171. VOLTOLINO, 265, 26
VAJUU.A,Fagun Cll, 184, 185.
V.ua.u, Get'l.'llio, 393, 405, 410, 422, -1-37,
442, 443, 446, 450, 452, 456. WAGNER, Ricardo 264, 268, 276.
VA.RNJIAGEll, A. Francisco de, 176, 195, 2fl9, WAGND, Zacarias, 245.
218. WALLAC&, Alfredo Ru, el, 36. 217.
VASCONCU.O , Alfredo Fmim di:, 267. WALLAC&, 21.
VASCONca.os, mard.o Pereira de, 72, 91, W.u.n;R, Leoo, 38S, 444.
183, 190, 329, 333. WATR.RTO , 2l6.
V.ucoNCELO, Diogo de, 249, 284. WATACmN, Gleb, 447, 44 , 4S3.
VA.SCONCB.l.OI, D. Lu.b de, 209, 213, 313. WATJEH, Hennann, 41, 24'l.
VASCOCELOS,Padre Simão de. 64, 128, 133, Wae.u, Adna Fcrrin, , 61.
J 76, 178, 253, 290, 319. Wuu, O., 221.
V tJTHJU, Louis Leger, 157, 158, 171. WSClBN'n. 1 A., 18, \9.
VAZ, .Rocha, 338, 371. W&INGAATNKR, 262. 264.
Vacmo, Adolfo dei, 449. WUNu, Abraham, 'lll, 213.
V&lOA,Evaristo da, 91, 183. WE'nll!RELJ,,, 266.
VELASQOl:Z,276, 277, 279. WtLI.EB.tS,Emflio, 4, 236, 456.
Vat.080, Frei Jos6 Mariano da Conceição, WILSON, 381.
138, 210, 213, 214, 234, 325. WIBSLER, Clark, 2, 4.
VaNÃ:NClo F11.110, Francisco, 219, 220, 372, WIRTH, Louis, 400, #9.
386, 398, 401, 419, 448. WOLFF, Ferdinand, 204.
VDCIANl, Capitão, 295. WoaMS, Gastão, 272.
VBRDI, 268. WuCmtUR, 160, 163.
Vni o, .8:rico,201. Wu _su, Andn, 399.
VatG.\M., Telmo, 201.
VP.a!B, Júlio,
VDMn, .Horace, 260. XAYBR, S. Fr cisco, 127.
VUNEY, Lui.r An • , 311. XA.vtn, José Joaquim~ ilvu, o 'l'iradcntes,
VIANA, Bacta, 444. 68, 88, 89, 182.
VlAHA, Bar , 406, 423.
VlAl'fA, Ernesto da Cunha de Araújo, 83.
VIANA, Fcrrclr , 190, 224. ZANtNJ, M., 280.
VIANA, Frutuoso, 278. ZWJNGLIO, j 27.
,.
lodice de assuntos
Índice de assuntos

AboJlçKo, 358, 3S9, 373, 371.


conseqüências da-, 95.
expanaão do ensino primário e a -, 429.
mentalidade escravocrata e o ensino tEcnico, 336.
romantismo e o ideal abolicionista,. 187.

Abolicionismo, V. Aboliç§o.
Academia
~ de Belas-Artes, 264, 268, 362,
- de Belas-Artell da Bahia, 270,
- de Belas-Artes de Belêm, 269.
- de Belas-Artes de Belo Horizonte, 269.
- de Belas-Artes de Manaus, 269.
- Brasileit$. de Ciencias, 209.
- Brasileira de Letras, 192.
- de Cíencias de Paris, 226.
- Ciéntífiea, 209.
- Imperial de Marinha, 433.
- de Marinha, 327, 43S.
- Médico Ciríirgiea, 211.
- Militar, 211.
- Militar da C&te, 433.
- Militar e de Marinha, 433.
- Nacional e Imperial de Marinha, 433.
- Nacional de Medicina, 166, 209.
- Naval, 157.
- Real de Marinha, 157, 435.
Real - Militar, 157-58, 327, 433.
Real - de Pintura, Escultura e Arquitetura Civil, 328.

Jlçúcar
- e- a agricultura latifundiária, 41-42.
civilização do-, 41-43.
desenvolvimento teenol6gieo e monocultura da cana-de-151-52.
estrutura da primitiva sociedade colonial e o-, 82-84.
origem da cana-de-, 41.
produção, estatfstiça. 42.
V. ErÍAenhOlt

Africanos
o catolicismo e os-, 132-33.
escravidão, V. Abolição. Escravid6o NeAra.
música popular brasileira e os-, 253-54.
população africana no Brasil, 28-30.
V. Assimilação.

Al,ricultura
cana-de-açáear, V. Açúcar.
cafê, V. Café.
Cenh'o Nacional d.e Ensino e Pesquisas Agron6micas, 439.
47 A CUbTtJRA BRASILE RA
-------
~dcultura
c:olvara, destrwção da floresta pdo fogo, 49,
conquirta do tolo, 85-86.
en&cnho, V. Entenho.
íumo, eatatíltica de -produção, 42.
:voura e o, jesuítas, 307-09.
monoc:ultura, V. Morroculfura..
Pa.tmnatm Agrieolas, 378.
policultura, 52-53, 375.
propriedades q,icolas, V. Propriedade.
Real Horto, 212.
V. Botani . B&cola, Econonua, EstaJ.btica.

Al.ronomia, V. A''ricultura..
Amerlndio1 1 V. Ae inula,;Ko. Inditena.s.
Analfabetismo, e tatística, 373.
Antropolofia 22.9-30.

Ar istcx:rac.r•
- rural, na sociedade colonial, 85-86; e o regime monArquko, 9o-4t.
- tcrritonal, fôrça conservadora na República, 95-96,
eiclucaçl!oiuistocréti . 334.

Arquitetura
casa colonial, 25:z...,53_
- col nial, n-o cimento, 274-75; 'função" do, elemm arqwtet6nieos, '175.
- i:ooderna, 275.
- t giosa, 246; e a-civil, 252.
arte d01 jardins e a-, 275.
'campenha da - tradicional", 274.
claumos do Nordeste, 248--49.
deKDvolvi.a:iento urban.o no século 10t e a-, 273-74.
içcju e convaitos da Bahia, 135.
V. AcadfllZlia. Arte, Escola, Liceu, Museu Sam«Jttde.

Arte
amaduredmen artial:foo do país, 281.
aparecimento d.a - no Braail. 246.
pogeu artfstico e apogeu econômico, 2.43.
arquitetura, V. Arqttitetuza.
- aplicada, 265.
- aplicada à. indústria, 279-80.
-, um fator de documentação cultural, 243-44.
- dos jtl.l'dina e a arquitetura, 275.
tea populares e artes indígenas, .261}-70.
caricatura, V. Caricatura.
centros de cultura utiiltica, 264;270.
cera.mica, 271,280.
critica artl.stíca,, 281-.83.
dcacentralização poUtica e a-, .269.
desenho, V. Dea.en.ho.
desenvolvimento da - dutante o dominio holand~, 244--4 .
mucaçlo Cttttica do povo, 280--Sl.
tura, V. E:ecu/tura.
estilo barroco, V. BsrTOCO.
czparuio a.rtbtiea, 269-71.
loflueiicia francesa e a - colonial, 256--59---265.
movime:nl'O artútico moderno, 282.
mÍISÍca.,V. Mf,aie11.
ouriveaaria, 251-52-271.
pmtwa., V. Pintura.
p6blico e o artista, 278--81.
Rcp6bl.ica e o desenvolvimento da -, no Brasil, 244.
Serviço do Patrimõnio llist6rico e Ar:tistico Nacional, 421.
T~dca, 24~50, 271.
V. lt'A•titu~ artistica,.
!NDICE DE ASSUNTOS

Awirnil o
- d dita e cultura jcaul ·ca, 152.
- ttnica 2g....30,33-34, 82, 104---07.
- IOCial,22, 29, 33-34, 81-82, 104--07, 152---53,178.
coJumim o a-, 178,
contatoe liD ticos e a llnlU,8 vernácula, 173--79.
cultura nacional e at culturas i~ca e angl~ca. 22; e aa cultur :unerindia, af:ri.
cana e ibérica, 82, 104--07; e a cultura sdardínic:a, 152.
mic,enaçã_o e a ditU1ncia l0cial entre senhores e escravos, 81-82.
nacionalização du escolu do u1 do pats, 413.

.Auac~o
- dos Artisw Br ileiros, 280.
- do, Artistu Pl6aticos de S. Paulo, Z80.
- Brui.lcir de Educação 383-84, 385, 386 391, 394.
- Brasilelra de Imprensa, 41S.
- Bra,iteíra de M<islca, 278.
- dos Geógrafo• Brasileiros, 236.
assoclaçc5escientmoa,, 166.
auociaçiles proflasionais, 166.
Inltituto "B.ruil-Estados Unido,", do Rio de Janeiro, 416.
União Cultur 1 11Braail-E,tados Unidos" de S. Paulo, 416.

Adronomi11
- no Brasil, 220-22,
o~ tõrios. V. ObAr,at6rio.

Amidade cie.ntllica
11.11b'opoloeia,229-30.
utroaomia, 220-22. V. 01,..,ervatório.
- de brasilômt e de eatranCCU'03no Brasil, 222.
- dunmte o miniat&io do V~ do Rio Branco, 22+-25.
- no pcrfodo boland&, 206-07.
botlnica, V. Bot~.
Concreuo Cientifico Americano, (vm), 42.3.
cur101S de c:imàu no Ml.lleU Nacional, 3SO.
desenvolvimCDto da- no Brasil, 205-34.
D. Pedro 11 e a-, 223-24, 349-S0.
Endclopblia Brasileira, 417-.
''Recota Baia"n" e -, 369.
Escola de Minu Cffltro de pesquisas científicas, 158, 164.
eatudo1 cientfficoa e o, estudos literários 368; e a reforma da Univcnidad de Coimbre,
317; e a lavoura cafeeira, 375.
espediçõea, V. &./J dlç8o.
filooofia o-, 2.38-·U,
fúlca, V. Flsica.
&COO'afia,V. Geo,ra/io..
ceotogi11e palcontologi , V. GooloA,ia, Paleontolo~ia.
imtituiçõea cicntffica, e D. João V1, 211-14: utilitarismo das, 368; e • a.neforrne'6es
eociaa, 438.
JOIE Bonifácio e &UJl -, 210-11.
matcmli •e&, 226-27.
medicina. V. Medicin11.
mislões, V. MíNl!Sea ciantífit:1U.
natura&.t:u cttro.o eir011e • -, 207, 213-18.
objctivid~c na, US-14, 159-60.
produçio liten\ti:a e a produção cientifica, 205--06.
rd'cnna pombalina e a-, 209.
rcvolu cicntU'ica e o Bruil, 208.
flJIDJIDtismo e a-, 223.
aocíoloida, 236-38.
~antes &anccees e • -. 208.
V. &;ade.mi 11, Eaoo/a, Facu/d11de. lnstitu to. Soc:iedtKle.

AU4ntioo
o- e civ!Uraç o brasileira, 19-20.
80 A CUI.,TURA BRASILEIRA

Barroco
esb1o, 246-48.
civil o absolutismo polftico, 252.
clallltroe do Nordeste e o-, 248.
diferenças rcgionai.! no-, 247-48.
B1bb.ot«a.
- "de Ed11 c;ão" (Cia. Melhoramentos), 392.
- Infantil de S. Paulo, 417.
- Nacional, 211, 229, 326, 349, 350.
- "Ped e-6gica Brasileira" (Cía. Editara Nacional) 392.
- P6bllca, 2ll.
- Municipal de S. Paulo, 417.
bibliotecaa, 229.
Con ho Bibliotecério do Estado, 417.
eultur intelectual e as bibliotecas, 355,
Escola de Biblioteconomia, 417.
movimento bibliotccârio, eStiitísticas, 417; na cidade de S. Paulo, 417.

BoMnicn
- ·no Brasil, 213-14.
Jardim BoUnico do Rio de Janeiro, 135, 369.
Real Jardim Botmico, 2U, 228-29.
V. Atividade científica.

Bu.rfueai
- na sociedade colonial. 84.
desenvolvimento da - 1185 cidades, 84-,85,
msino t~co e a-,377.
jeeuftaJ e • - urbana, 308.

Ca/6
atração de imigrantes europeus pelo -, 50.
dviliAçito urbana e o-, 74-75.
de110C8r0entodo mo econômico e o-, 4~.
esta rica do- 50.
eatrada1 de ferro e a produção cafeeira. .50-51.
e,trutura econõmica do 1mp&io e o-, 49-50.
eetudos científicos e o-, 375.
cxp o tica em S. Paulo e o-,.270-7L
onremdo cafeeiro, SI.
Cana-de..,,gúcar, V. A~i:ícar.

c.i,e//[es, V. Clero.
Capitom'aa heredftlJria,, 80-81.

Caraça, Col6tio do, 136, 331, 346.

C.Ater
lln&l1e do - coletivo, 104.
ços rundarnentals do - brasileiro, 43, 107-21.
V. Mentalidade.

Car • fura
o desenho humaristico, 265.
cari wri aa, 265.
Casa, V. Babitaç.60.

Ca -Granel
capelães da - 133, 296.
a-, c:ar ctcrl$t:ica da paisag=i cultural, 43.
a 1 tja e a-, 296-97.
ação d jesuítas na - 296,
V. EnQonho.
fNDlCE DE ASSUNTOS 411

C.tequ
- da coltmia, 288,-,89.
c:olumln:i,l7 8.
jeawtu e 01 valores nativoe, 292.
tndi01 e • - 310.

Caloliciamo
cateque11e V. C..tequ .
Campanhja de Je5U9, V. ]~altas.
ConcDio de Trento, 127.
conve:ot0111 da Bahia, 133, 135-36.
crise da lpeja braaileira, 145-46.
cultura brasileira o-, 131-32, 134-35, 145-46.
disciplina moral cat6Uca e 01 jeauftas, 294, 297-98.
doutrina peda16gica católica, 395-96.
e:ICQIUe o -, V. E«Jo!aa.
anmdea figura■ do -, da atualidade no Brasil, 14S-46.
igreju da Babi , 133.
lnllueticias afto.fndiaa e o-, 132-33.
ln1tituiçõe1 de enain,o o-, V. CoJt.gio, &cola, Liceu, Seminirio d Olinda.
jnufta1, V. Jeaulta.a.
laiciaçio do Eatado e o-, 143-44.
Uberdade de culto, 139-40.
mentalidade cat61ica, 145-46, 298.
milll&:s e o - 129-30.
moateiroa, 136.
movimeu o pedagógjco e o-, 395-96, 399.
aradora eacroa d pcrlodo colonial. 134-35.
ordem e conir· çõea, V. Ordena eatólicaa.
ped8&0lia cat611 , 36S: e pedagogia protestante, 348.
poli ·c:a ctCOlar d IsreJ , 395.
polltlc:a de trami tncia do -, 132-33.
Queat o Reli asa, 137-38.
ICDlÍ.IWiOI e o liberaJimto, 134. V. Seminhio de Olirtda.
uniio Estado-Iaieja, 137-40.
V. CJ ro, Reli~o.
Ce,-&mic:a,27l,280.

c.ntraJ~, V. Unidade.

C.ntro.
- Art11tico Juvmtaa, 280.
- D. Vital de S. Paulo, 395-96, 408.
- Nacional d mrino e Pesqui1a11Ag,ronâm.kas, 439.
centros de cultura ard■tka., 263-64, 267.
Cida.dea
atividade paltoril e o deacnvoivimento das-, 69-70, 71,
bw-KUesi• d 1 -, 84-8S.
-. capitah polfticas, 74-7S.
- oent:ros de cultura intelectUal, 9-10.
- "fortalen.", 62.
- do litoral, 71-72.
- e o movimento rd'onnador da educação, 382.
- nu rqi&s du minu, 67-68, 69-70.
- do comparadas ãs do litoral, 71-72.
dCRnvolvimqito das - no sEculo XIX e a arquitetura, U3-74.
ngenbol e as-, 64.
trutura social oaa -, 84-85.
evolu e íunçio dai-brasileiras, 62-71.
ramruu~triareal e operAr:ia e a urbaniza:ção, 42&.
fat:Ores de de,cnvolvimento da civilização urba.o.a, 74-77.
habitação nas-, 67, 72, 85,252. V. Habit:a,;Ho.
j l e t,w,auc,ia urbana, 308-09.
nüpaç6os •• -, 74, 440,

-3i -
482 A CULTURA BRASILEIRA

Cidades
nfvel lntel«tual da classe média urbana, 34o--41.
onc-em du - bra.sitciras, 66.
paisqem urbana_ e rural no Brasil, 53.
popui.çio das- 001 s&:ulos XVJ e xvn, 64; de S. Paulo, 382; de Recife e Olinda, 65, 244-46.
topoofmia dll$ -, 66. •

Cinoma
Divisão do - Educativo, 419.
funçio educativa do-, 418.
Inltituto Nacional do - Educativo, 419,
Serviços de Rádio e-Educativo, 419.

Ci'rilisaç&o
carllter cristão da- nacional, 142.
- do aç<.tcar, 43.
- da étca pa1torit, 86-87.
- do couro, 45-46.
- ind(aena, .%-36.
- ocidental, 36.
- do ouro, 44-46.
- portu&ueu e os jesuítas, 293-9·7.
eonoe:ito de-, 1-1 t.
ratõres do desenvolvimmto da - urbana, 74--77.
influfnc:ia.$ amcrlndia, africana e ib&ica na-brasileira, 82, 104-07; ibh-ica e 1n.1lo-sax()..
nica na - bmslleira, 22; scfardfnica na - btasileira, 151.
V. Cultura, Mentalidade, Socz'edade.

Cifnci,a, V. Atividade cienttfica


Cl•-
arittoc:racia, V. Aristocrar:ia.
asicenalo de meniços e evolução politica, 34o--4l.
ascensão IOciA1do baehareJ, 152-53, 301, 44S, do clErigo, 152-53; e o &rau de Mestre cm
Artes, 301; e u profissões liberais 376-77.
burcuctia, V. BurguMia.
- cconõaúcas e a literatura, 173-78.
cultura humanfltica e u - sociais, 427.
dcaccntralização do ensino e a apronmação das camadas populares e cultas, 379,-.80,
divcraificação da educação e a diferenciação de - sociais, 337, 437.
ed11ca_çãopopular e a formação de elites. 378-79.
elite intelectual, classe dirigente, 33S.
cnslno aecu.nd6rio, ensino de classe, 4~8.
inatividade "sinal dl? ela~", 83,
literatura "sinal de classe'', 174.
mWtll.l'CIe a filosofia. de Comte, 367.
vida econômica do pafs e as - soc.iais, 53-54.
V. Pro/isslJes.

Cl•ro Católico
c:apclileadas Casas Grandes, 132, 296.
cultura humant.stica e a carreira ec;lesiáStiCll, 426
desnacionalização do -14S.
id6u libera.ia e o-, 323.
Interpenetração doa mundos clerical e pedagógico, 348-49.
letras e o - 13+-35.
laic:lnçio do Estado e a atitude do-, 143-45.
unidade cultural e os capelies., 3H-l S.
V. C.toliçismo.

CoUlio
- AbOio, 346.
- Americano Ftwninensc, 366.
- Ammcaoo (PctnSpolit), 366.
- Americano (Põrto Alegre), 348.
lNDICE DE ASSUNTOS

CoMAio
- Americano (Tauba , 366.
- Bconctt • de Janeiro), 366.
- Brandio, 332.
- de Campinu, 34~.
- de Cmnpo Belo, 346.
- do Caraça. 136, 331, 346, 347.
- do Cm trio • Grande do Sul), 366.
- de Coocc:mbu do Campo, 346.
- Oranbcty, 366.
- du Inn Marcelin 1 1 146.
- dai lrm do Sqr o Cora.Ção de Jesus, 146.
- Jaa ta Heodru (Belo Horizonte), 366.
- doe JCIU.lta (Destb'ro), 346.
- do Dr. Kopke, 3◄6.
- Mencsa Vieira, 332, 346.
- Metodi1ta (Ribeirão Prtto), 366.
- Mineiro (Juiz de Fora), 366.
- Navol, 435.
- de Nossa Senhora d Sion. 146.
- dea Oi.scaux, 146.
- Pedro li, 332, 333, 362, 371, 372, 428; e a educação ari,tocr ca, 332; e o en ino sec1m-
d6rio, 344; e o enaino reliapmo, 35'2; ginúio de tipo c:lâS9ico,334.
- Piracicabeno, 348, 366.
- Proares80, 346.
- de s. J (Ba • ), 346.
- de S. Lufa, tu), 332, 346.
- de S. P ulo, 289.
- de S. P de AJcln , 3 6.
- Stall, 346.
- U • o (Urquai.ana). 366.
·•oo1 • " doe jeswtaa, 288, 300-08. 348.
• • col ·ot lei e protestantes, 34S--.9.

c.alon.i•~
eapitanw bc:reclitiriaa, 80.
ccntrali.ieçio e descentralização política e o início da -, 81.
- do Bra1íl e da Am&ica do Norte, 47-➔8.
- portu,um, 28.
- e 011 buiddnntet, 88.
- e a conquilta do eolo, 85-86.
Governo Geral de 1549 e a-. 81.
Jnfdo da- no Brasil, 80-Sl.
minerai;: o, in~ntivo para a -, 45-46.
Scrr do Mor e -, 19-20.
t:ropeiroa e a -, 89.
V. lmiira,;;60. Populap8o.
Comlroio
c:iviliu o urban e o - ,74.
C6illgo comercial, lSS.
- do pau-brasil, trifico e monop61io, 40.
Companhia das !ndias Ocidmtma, 140.
emino comercial, 439,4-41. V. E«ola, Ensino-
transporte e o-, 54-56.
Coatpanhi• da JMU•. V. Jesulto
Comuruc:aip6o, V. Mei~ de Comunicaç6o
CGnd~ natur,u·•
clima e -, 23-24.
c:oet:as, 26.
íauna e -, 2S.
flora e ae -, 24-2 .
frc:mte:iru 1eogréíica , 4 7.
geoloapa, 2H6.
484 A CULTURA BRASILEIRA

Condis/Jos naturai&
meio fisico, .
rcl!Yo e -,, 22-23.
ttotia das 1 - continentais. 18 21.

Cori(er nci

- Nacionais de Educação 383, 386, 411-11.


Quarta Confcr!ncia Nac:iooal de Educação, 396, 98.
Quint Confcr!tlcia Nacional de Educação, 398, 401, 4

Co~ 111ç6 s cat6b"ca11, 134-36.

Con,re.-
- Nacionais de Educação, 383, ô86,
debates de questões educacionais, 384, 386-87.
vm Congresso CíentUioo Americano, 422.
Con rv,-t6rio
- Dro.mático e Musical de S. Paulo, 270.
- de Mõ.ska, 267, 362.
- de Música de Pôrto Alegre, 270.
- de Mdsica. do Recife, 270.

Conatitu~o
AaemblEia C tituinte de 1933 e a Icnovação pcd e cultural 407-09.
- de 16 de julho de 1934 e a educação nacional, 408--09, 4ll.
- de 1937, 410; e a educação profüsional, 42-43.
- de 24 de fevereiro de 1.891 e a democratização do ellllÍno .ecundirio, 429; a desceq.
tralização do cntino primário, 359-60, 379-80; e expan o do en.aino primmo. 419:
ea lzeção do ensino na Rcp6blica, 359-60; e poUtica. UC3c:ion 1, 379-30.

Con entoe, 133, 13S.

Cdrtc
Academia Militar da-, 435.
i:h ada da - portuguba ao Rio de Janeiro 326.

Criae
- da lgrcj brasileira, 143-44.
- de 1929, 99--J00.

Cri,tianiamo. V. Catolloismo, Protestantismo.

Critica
- artS tlca, 281-83.
ctpirito cntico e pensammto pcdagógi_codurante o Imp&io, 353.

Cultur
artt- e a - francesa, 2S5-59, 263.
Aaem Ilia Constituinte de 1933 e a rcnov ção cultural, 07-08.
"Bíldung", 6.
Q olicwno e • - nacional. 131-32, 13~36, 145-46.
e-ent:rosde - artistica, 264, 269--70.
conceito de-, ,..g_
ceito de - brasileira, 10-12.
- científica .no BnMil e a reforma da Uoivenida e d Coimbra, 317: e a tran
IIOda.l,438.
onial, 131-32, 209, 309; obscurantismo do Bra:til na ~ colonial, 2051.
- d elites e do reato da popula_ção, 337.
- de ter enciclop&lico, 165-66.
- holandesa e a - portuguêsa, 246-4 7.
- humanflltic:a, V. HumanitUno.
tNDICE DE ASSUNTOS 485

Cultura
- lndí&co.a, JS.
- jurfdica, 155.
- qualitativa, 413.
"Cultura tipoº, 6.
Departamento de Proparand• e Difuaão Cultural do Ministério da J . 41 .
D. Joio VI e a - espedaliz:ada, 156-57, 327, e a cultura 1eraJ, 1 2--83.
10 de Novanbro de 1931 e a política c::ultural, 409-10.
evolução da - btuilcira: o lmp&io e a República, 36()-{jl,
iniciativa privada na - nacional, 327-'lS,
jCIUStu e a - br silein, V. J ,ultltlf.
"K.ultur", 5-6.
"Kulturlcreíae", 4.
' K.ultunchích c:o", 4.
liberalillno e • paiaaeemcultural brasileira, 322:....2s.
nfvel cultural e liatem.aa e,colarea, 372-73.
or.-ni.n.ção econ6mica e o tipo de -, 437.
poUt:ica nacional de educação e -, 454.
proteatantinno e a -braai!einl, 141-42.
rmes biat6rlea1 do desenvolvimento da-, 425-26.
reliclão e a -nacional, 127-28.
Repóbllca, do ponto de vista cultural, 370.
Scmin6rio de Olinda, aua influencia cultural, 318. V. Seuiin&río d O/lnd
Sociedade de - Artfatk.a, 2 70.
unidacl cultural do pala, V. Unidade,
univenidadc1 e a formação d.e elites culturais, 445, seu papel tm nosso sinerna
cultural, +15-➔7.
V. Aaaimilaç6o, Civili.._ o. Edu~, Mfnttalid.ade, PTOfíu&o.
DamocrKi•
- Administrativo do 8a"viç,o P6blic~, D. A.. S. P., 412, 454-.
cultura humanfstica o esp{rito democrãtico, 428.
dcmoaatiuçio da emioo, 409-10, 414i 429.
detc:c:ntralização do msino e a pro:mnação de classes sociais, 379.
D..mo,r.JÚI.. V. Popu/~.
~4U71ento
- Administrativo do Serviço Públioo, D. A. S, P., 412, 454.
- Mwúcipal de Cultura de S. Paulo, 236.
- de p&&anda e Difuaio Cultural do Mínistmo da Juatiça, 418.
DeNnho
caricaturis , 26~.
- hwnorit •co e carie-atura, 266.
Eecola de - e Plntur11 de Curitiba, 269.
V. Arte.
DJ'.amantes, V. Mt'n.as
Direfto
acendo IOCial e o gr,u de bacharel, 152-53, 301, 444.
• cultura jurídica, 155, nucimcnto, 166; e a cultura humarús ·ca e liter ril!, 426.
dittç.io potrtica do pab e 011 bachar!is, 162-63.
Faculdades de - no paf,, 338.
influencia d• mentalidade juridiea e profissional, 377.
mentalidade jurldJca na lqí.slação e,colar a partir de 1891, 360.
prepondcrlncia do juridico a&bre o econômico, 163.
prestf&io do charcl, 161.
V. Le,ia/lJÇID.
Economi•.
atnçio de ÍD:Ú(P'antcseuropeus e a -, 50-51.
c1Mlel eoonõmi e a literatura. 173, 178.
claucl sociail e a vid eeon&nica do país, 52-53.
deeenvolvim.cnt.o tccnoJócico e o çúc:lr, 151-52.
dcaintertae '®D&nioo, 112-13.
di o do trabalho e hierarquia de tipos profissionais, 443.
- no dcdnio de 1931-41, 439-40,
escravidão nqra o trabo.lbo livre, 52, 358.
486 A CULTURA BRASILEIRA _______ _

&:o/'Jomill
evolução de idSJu educacionais e trânsfonnações ecoo6micas, 38'2.
Facul~e de-, Polltica e Direito do Distrito Federal, 406.
fronteiras econõmicas. 47-18.
org-anuaçâo cc:onõmica e divenificação.educacional, 437: e divenificeção profüsional,
438; e o tipo de cultura, 437.
pequ.ena propriedade e a-. 99--100.
sistema educacional e a evolução da vida econômic:8, 3811 391; e o nlvel ecnnõmico e cu}.
tural, 373-74.
IOciedadc colonial: sua estrutura e a - do a'6car, 82-35.
1wt0 industrial e os novos problemas, 98-99, 358, 440-41.
rdasc!es entre o apoeeu ecoaõmico e o apogeu artbtic:o, '248,
V. A.lrieultura, Comércio, Estatí-,tica, Gado, lnd6str,'r,,.

Educa~

~ação Brasileira de-383--84, 385, 386, 391, 394.


"Biblioteca de-', (Editada pela Cia. Melhoramento. de S. Paulo), 392,
"B.ibl.ioteea Peda16itica Brasileira" (Editada pela Cia. Editora Nacional), 392.
b61Jaa de catudos -para a América do Norte, '452; µara a Europa, 4S2: para a Universidade:
de Coimbra, 3)7.
centrali.io!,llo e descentralização educacional ,V. Unidade.
cinema educativo, V. Cinema.
conve,aos e confer!ncias de-, V. Conferências, Con~tf/8ll0~.
debates de quenõea de -384, 386-87.
dlvcnidadc de- das várias classes sociais, 334-37, 340, 37~, 379, 436.
- catEtica, 280-St.
- fmúnina, 372, 379.
- humanhtica, V. Humanismo.
- jesultica, V. Je.uftas.
tducadocca proteStantes e idéias pcdag6gica.s amc.dcanas, 366.
"Edw:ation Act'', de Lord Físher, 381.
Cltatfstíca da-, V. Eat.att.tica...
cxpanüo d01 ccntroS urbanos e o movimento n:fonnndor da-382.
accllllO de bacnar6s e doutotts, 162.
função tocial da dlc:Ola. 354-55.
cr-andcs tducadorcs brasileiros, 341, 373-H.
vaus de bacharel e de Mestre cm Artes e ascensão soei.ai, 1S2-53, 301.
lrreja, IUA polftica escolar, 395; e as reformas pedai:õcica.s, 3%-99, 400. V. C.folici.!Jmo,
Proteatantiatno.
iniciativas privadH e a-, 349.
ío,trução e manifatação cultural no Império, 3S4.
interpenetração do mundo elcrical e do mW1do pedagógico, 348-49.
lcgis)Q~ito nacional e a-, V. Conatituiçlo. Legitlaç6o.
Manifcato doa, pioneiros da educação novs, 397-98.
Ministério da Educação e Saúde, 393, 396,411,442, 417, 419, 420-:11.
Minist~rlo da Instrução, Correios e Telégrafos, 362.
nacionali11mçãodas escolas do sul do pais, 41 L
novu cc;,rrentcs pedagógicas, 384-87.
novos Ideais pedagógicos cm Portugal, 3·12.
Fedagocium, 380; e a unidade do ensino nacional, 363.
polltica educacional e cultural, 454-455; condições de JUa unidade: orglnica, 387; como
f'unçio da política cm geral, 454.
polltica educacional e a Independ!ncia, 328-29.
polltica imperial de - e as atitudes pessoais do [mpcrodor, 35()-Sl.
polltica ponu.cu~ e a - no Brasil, 302-06.
projct01 de reforma, V. Reforma educacionllÍ.
J)l'OÍCAOn:S c:stran&ciros, Missões 237-38, 446, 453.
rldio tducativo, V. RMio.
reformas educacionais, V. Reforma edu~ona/.
rcl.ia,ilio,V. C.toliciMno, Pro~stantismo, Re.Jigiil.o,
rcnovoçio da- e a Assembléia Constituinte de 1933, 40i; e a polltica Pan.americana,
416; e o Seminário de Olinda, 324-25. V. Reforma educaeional.
revolução de 1930 e • -. 392-94, 3.96, 398-402.
sistemas escolares federais e estaduais, 380; e as transformações poHtíc::ls da Europa post•
cucrra, 381; e o nivcl econômico e cultwal, 373-74.
wúvenidad~, aeu papel, 355, 445, 447. V. Univeuid•des.
V. Cultura. Ensino, 8'oola, TnstituiçlSes Ped~6giC1Js, lAgis/açlo, ProfisslJM, Uni•
veraldade.
lNDICE DE ASSUNTOS 4 7

EJitH
'milaçio d -, 152.
diriam~. uma elite intelectual, 375.
entre a cultura das-e
cli(e:rença d.o resto da população, 337.
educação popwar e a formação de-, 379-80.
~cao das-, 132.
9epq çio -in ec:tuais, 169.
univenidad , eeu papel na formsção das - culturai . 445.
Ertfenllari•
E cola d -, 376. V. &cola fn:th'tuto.
- e eatudoe objetivos, 159.
oj o eocial do engenheiro 159, 162, 376, 444.
vultol d• -110 Bruil, 1S9.
Bn,e~
ddade1 e OI -, 64.
-, fOCOI d mettlçagcrn, 294.
-, f6brkas " fortel1111a1,8
senhor de Cil&cnho e o jesuita, 295.
V, Casa Grande.

Bn.aieta , 197-98.
Eneino
aulaa e cola rieias, 313, 315-llí; sua orientação e a estrutura da soclcd de col nial
321-U.
centralizaçio desccntralizaçao do-, V. Unidade.
aino1 de d&! • pw-aa no Muaeu Nacional, 350.
danocra do-,409-10, 414; do-eecrmd.6rio e a Constituição d 91, 429.
- HJ)fflal, 362, 432; Imperial lnatituto de Meninos Cqoe 362; Instituto de Ce&os, 431-32;
Ioatituto de Surdoe Mudoe, 362-, 431-32.
- feminino aecundArio, 372, 3711, 1-09; feminino superior, 379.
- hamanil ·co, V. Hu:m.anismo.
- je.uf ·co, V. J ult.a.
- militar, 431, 433-37.
- naval, 433-37.
- nonnal, 374, 403--04; 453: formação de profCIIOreS primários, 450; forma o de profea-
.orea 8CCl.&Od.6riot, 450-51; frcqüenda feminina, 379; a pcd oeia norte-amcri•
CAM, 365-75.
- objetivo e a Eacola d Minas de Ouro Pr~to, 341, 351.
- primArio, 373, 403, 408-09, 412-13; deecentr-alização do- e a conltituiçllo de 91, 359,
37M0; durante o Império. 335; cúatíltica do -335, 344, 312-13, 429; apendo
do -, '429; forma~o do professorado de-, 429; intcn-ençlo da Unllo no -386;
- jesultico, 291-92; tipo de - conf'1ado àtJ provinda,, 343.
- secund6rio, 344-47, 371--72, 404, 409, 413, democratização d.o-, 429: " - e cl&.IISC",
42P; 01tati1tica do -, 430; e:r;p31111ão, 409; - feminino, 3 72, 3011, 4QSI; ionnaçio
do profesaorado de- ,451;.- jesuftico,. 2gg...300,301-02, contr61e do fl0vho central,
359-60; lnnu~cia relíaiosa no-, 431; ínatitutos particulRrea, ~7; -e 01 la•
,r■riltu, 34 7-48; - e oc liceus, 345; rebaixamento de n!vel no, 429; r formu do-,
380, V. Reforma educacional; e os salesianos e benediúnos, 348; - de po dú-
1ico, 344.
- superior, 393-94, 404-05, 409, 413-14, 445--51. 453; durante o Imp&io, 338-39, 3-40;
cstatfltica do -156, 336, 338, 376., 43~, 444, 448; f"reqüb\eia femini.nli no -379:
-e o ovb-no da União, 359-60;-jcsuftieo, :zgg...300,301;-prormion , 426-27;
431-32; prortuian.al de buc literária, 367-Q; profitSionalizaçio do-. 327-28,
368, 42 29, 432-33; reforma do-, 380. V. Rf!lorma Edu ·on.1.
- tk:nlco e pro I ional, 377-79, 4-04,410, 441-42, 442-<t3, -e a burfuelia, 377:-co-
mcsdal, 439, 441-42: - e a con,t:ítoição de 37, 442; açio d I hricu e oCi-
dn 442-43; esta • ticas do- 443--+4; - no lmp&io 336; industrial, 443-4S:
• m ....talid..-11' l'l'Cr,lvncra a, 337; - t'ffl s. P , 43 ; - qapcs;i,r ltevoh
íran , 431.
cspedalizaçio do - e o d=volvimento das indústrias, 437, 4 1-442
IOCiaJ, ... 3-44.-
apanslo - d 11n portuguêsa, 292, 296.
finalidade prof"i .OIW do-,154.
Fran • . 01 o o - apoio à R~forma de Pombal, 316.
laláu o do-. 364-65, 366-67, 396-97.
488 A CUL'l'URA BRASILEIRA

Enllino

literatura ped •ca, 353.


nwtrfcula ceniJ em escolas primárias no fim do Jmp&io, 3S .
metodo de Laocaster, 329.
pcda&OCi cat61Ia e pedagogia protestante, 36S.
pemamento pedagógico no Império, 353.
P'OCJ'CSIO do - cm S. Paulo, 343-44.
ralies b.ist6ricu do deacnvolvimento do-, 42S-26.
refonnaa cducacionm, V. Reforma educacional.
tipo d irutroção e a organização da sociedade bruileira ,436-37.
tranúorma o soc:illle o desenvolvimento do- t&nico. 437 O· e a c,pccial ração do-,
443--+4.
V, Cultura. EduCaf;Bo, Escola., Institu~ 'Ped 16 ·ca,, l.eli1S/aç80, Proliaslfe .
Unireraidad .

Ateneu SerKipano, 346.


''colqio•" doa jc.'luitas no Império, 348.
CW1101 de Alto Comando, 434.
- A&rfcola de Juiz d.e Fora, 439-.
- Açfcota de Viçosa, 378.
- de Agricultura e Veterinária de Olinda, 146.
- de Aiironomia e Veterinãria de Pôrto Alegre:, 439.
- do Alto (Rio de: Janeiro), 366.
- Amcrican , (S. Paulo), 366.
- d Aperfc:içoam.ento de Oficiais, 34.
- de Aprendizu e Artfíices, 378.
- das Armas, 434.
- de Artes e Oftcios "Vcnc:cslau Brás', 377.
- de Artilbari de Co.tta, 34.
- de Aviação, 34.
' • " e sua atividade cientií1c:a, 369.
- ''baiana" de pintura, 264.
- de Bel s-Artt:s de S. Paulo, 269-70.
- de Belu-Artcs da Universidade de Pôrto Alegre, 450.
- de Biblioteconomia, 417.
- Central, 22S, 433.
- Central do Rio de Ja.ncico, 2U.
- d Com&cio Alvares Penteado, 375, 377.
- de Com&cio Amaro Cavalcante. 441.
- de Com&-cio d.o Mackenzie College, 375.
_, de De!Jenho e Pintura de Curitiba, 269.
- Dom&tica de Natal, 378.
- de Edue11çã Física do Exército, 452.
- de Educação da Univcr1idadc do Distrito Federal, 406.
- de Engenharia do Mackew;ie College, 367, • 75.
- d.e Ena;cnbaria de Minas Gerais, 444--45.
- de Engenharia da Univenidadc de Põrto Alegre, 4S0.
- de Estado Maior, 434, 436.
- de Geógrafos do Ex&-cito, 434.
- de lntend!nda, 434.
- Livre de 'otogja e Polltica de S. Paulo, 110, 236, .<104.
- d Marinha, 43S.
- de Medicina da Bahia, 369.
- de Medicina Vetcrinhia do Rio de Janeiro, 367.
, 1S7, 225-26, 362.
- Mili do Rio d.e Janeiro, 434.
- Militar de Põrto Alearc, 434.
- de • , 156, 163-64, 225.
- d Min d Oum Prêto. 341, 352, 364, 3i6.
- de Moto-Mcc:anizaçio, 434.
- Nacional d Aet,mooüa, 439-443.
- Nacional de Belas-Artes, 362.
- Nacional de Belas-Artes da Univcmdadc do Br 50.
- N cional d Edu, ção F'isica e Esportes, 4S2.
- Nacional de Música da Universidade do Branl, 267, S0.
- N cional de Química, 404, 439, i 'l..
NOICE DE ASSUNTOS 489

Ba::ola
- N cional de Vetcriniri , 439, 442.
- Naval, 435-36,
- NomlAI de S. Paulo, 374.
- Politknic:a do Rio Grande do Sul, 367.
- Poli &:nica do Rio de Janeiro, 1S2, 225--27, 362.
- PoUtknica de S. Paulo, 367, 374.
- Pritica d Artilharia de Marinha, 435.
- Profi ioml Sousa A&uiar(Distrito Federal}, 377.
- Real de Cib:ic::lu, Artes e Ofícios. 2S6, 328.
- Recional de Menti, (Estado do Rio de Janeiro), 383.
- Superior d Aericultura "Luís de Quciroi", 375, 378, 439
- Superior de Acricultura e Veterinária, 439, 442.
- Superior de Açieultura e Veterinária de Minas Gerei , 439.
- Superior de Guerra, 434, 435.
- Tknlca do Ex&cito, 434.
- Tknica do MackC'IUie College, 441.
- de Vetcrioiria, 434.
- de Veteriniria de Olinda, 146.
cscolat de altos estudos, missão das., 446-47.
escola• de aprendiz'ct e artífices, 439, 442-43.
"escola•" artfaticas e dcaccntrali.ração política, 269.
caootu de enrenharia, 376.
C8COlaanoa mosteiroa, 135-36.
CICOlu p.rofialionall, açkolas, 439;-de comércio, 441· -indurtri is, 439.
CICOl.uprotestantes no rccimc republicano, 366.
ocolaa do 1ul do pata, nadonalizaçio, 412-13.
eta> superiores, noVOI tip01, 432"; predomfnio, 449.
ocolu 1Upcriorcs proíwionai.s no Império, função, 431-32.
esta ·ca e9e0Jar, V. E.tallatica.
Kztemato Aquino, 346.
fun"° IOCiald -, 3S5.
imtituiç&. particulares de ensino .secundário, 346--49.
Mackimlie Colleae, 141, 348, 367, 375-76, 441.
P&to AJqrc Colleae, 3645.
primdr ~ do Bruil, 131, 211-12, 288, 291 348.
mtemas Cl!C'Olarcs e o nfvel ec:on&nico e cultura!, 373.
V. &!~. Enaino. ln.titu~ Peclqógkas, Le1ruaç1o.
Eaco/htica
cultura - do perf o colonial, 209-1 L
mentalidad -n Pmln ula Ib&ica, 297.

E«z~id6o Ne'1-a
abolicionilmo, V. A~o
atividade induatrl I e os c1cnwos, 53, 437.
dcaenvolvim.ento da auic:ultun1 e a-, 437.
Cltnltura ccon&mica colonial e n -, 41-42,
attrutur social colonial e a-, 82-83.
Introdução da-, nQ Bruil, 43.
trabelbo llvrc -, 358.
mentalidade tlCJ" vocrata e o ensino t~nico, 335-36.
m.ilda:enaçio e diaUncia social entre senhores e escravos, 82-83.
V. A/ria.no A imiJaç6o.

&lcultur•
Aleijadlnho, 24g...50, 271.
- doe ela~ do Nordeste, 247-48.
- moderna, 271.
- l>anoca, 246---48;barroco civil e o absolutu.mo político, 252: diferen r giona.is na
-, 247-48.
renuc:lmcntoda-, 71.
tcriu ' , 249-50, 271.
V. Arte, ln tituiç/See arti11ticaa.

&pirito
al&lblcia de - de coopera o, 115.
- católico, 288; rmascimmto do -, 145.
490 A CULTURA BRASILEIRA

E@lrjto
- critico e a biblioc:rafia pedagógica brasileiro oo Im lo. 3S3.
- emoc:rtia, e o ensino Jmrnan:ístico, '28,
- nacional, V. Unid•de.
- federativo, ~91, 3S&-59.
V. entalt'dad , Caráter.
EapiriHerno
exs)IU)IJio do-, 142.
Federação espfrita, 143.
ütadilllH
• cloqülncia parlamentar, 19Hl.
- do Império, 91-92.
&tati.tica
biblioteca , movimento, 416-17.
dcacnvolvimcnto da - e a Revolução de 1930, 421-2 2.
- dem<>u6fica, V. Popula~o.
- do nsino, analfabetilmo, 373;- primário, 44, 354, 413, 429-30: - profissional, 440;
- eecundário, 440; - superior, 156, 336, 338, 376, 432 4441 4411.
- da dlfu,ll.o d.e jornai.s, 415-.16.
- da difua o de revistas brasileira&, 415-16,
- du eacol de preparação às profiuões lib~r is, 432.
- de imlaro,ntes, 358, 373, 43MO.
- de ind61trias, capitais invertidos, 357; m.iio-dc-obr . 437, 3 O; produç o, S7-59,
440; de propriedad.es, 440a-41.
- do movimento editorial de livros, 415.
- da prod de açúcar, 42.
- d produçio de ~ 4~50.
- da produção de couros, 46.
- da producão de diamantes, 44.
- da prod de fumo, 42.
- da prod o de ouro, 44.
- de i-opricdadei •&ricola~. 99, 440-41.
- de ràdios transmiSIOrCS,417-18.
- dot templos e rdiKiões, 141-42,
lnltituto • eíro de Geoc:rafia e Estatística, 23 , 22, 45 .
rcecnseamcnto, V. Popu~o.
ICJ'Viços atl ticos, 421-22.

&trad11.1, V. M io dt: comunicaçJio.


Etno rali
catudoa tnogrâficos no Bresil, 234-35.
Sociedade de Etnografia e Folclore, 236.
V . .Mu u.

EtnoloAi
estudos etnológicos no Brasil, 234-35.

Ezp«Jif;&
Eli:pediça.o Agoni:r, 219, 225.
Ezpedição dentmca das províncias do Norte 225.
Erpcc~io Marchou:x-Simood, 163.
E2pedi Th yer:, 219.
V. Mi sães cientificas.

Foauldade
- de Direito d Bahia. 367.
- de I)jrcito de Fortaleza, 357.
- d Direito de Manaus, 367.
- de Direiro de M'Ulas, 367, 444 '445.
- d Direito de Olinda. 154, 21.3, 31.
- de Direito do Pará, 36i.
- de Direito de Põrto Alegre. 367.
- de Direito do Recife, 336, 431.
- de Direito do Rio de Janeiro, 367.
ÍNDICE DE ASSUNTOS 4!11

F. culd d
- deDireito de S. P ulo, 154, 213, 336-37.
- deEconomia, Política e Direito da Universidade do Distrito F'Cdual, 406.
- d FilolOf".. , Ci61ciu e Letn.t da Universidade do Diatrito Fed , 406, O 7.
- deFi1o9o ia, Ci!nc:io e Letras da thúvcrsiwide de S. Paulo 236, 406. 13, 446,
448, 450, 4$1, 4S1.
- de Filolofia de S. Bento, 406.
- de Medic:ua d Minu Gerais, 444, 446.
- de Medicina de S. Paulo, 37S.
- NllC:ional de Filo.afia, 406, 414, 4-16.
faculdade, de direito, 155-56, 336.
faculdad de mc:didna do país, 33&-376.

Familia
açio edu tíva doa jesuitaa e a - patriarcal, 295.
domfnio du ".,-ande, familiai", 99--100.
- oper&ria e a urbaniJ111çilo
1 428.
- patriarcal a cultura hwnanlltica, 428; e a urbaniJJaçio, 428,
aolldu e coe& o da - bro,sileira, llS.

Filosofia
dencia e-, 238-39.
- IICOlútíca, influbtcl., no Brasil 131-32-, 297.
- de Pariu Brito, 241-42.
- poeitivilta, V. PoeitíYi.vno.
Fieoo
impllato do quinto, 44.
Nblfdio literirio, 313.

FWc.
- no Br..U, 719-20, 449.
fllieos no Brui.l, 227-2

PokJor
&>ci de de .E

Franco-ntaçonaria
Jueóp o de ltamM, 137.
Grande Oriente, 137.
hj1t6ri da-, 137.
id.eaia líberal1 e -, 323.
uni o, IrreJ e E~t do e a-, 137-38.

FronteittH
- ccon6mlt s e gcogrâficas, 47-48.

Gado
ir p toril, 85,
a da TetTc, 4S.
couro, cl 'liza o do-, 4H6; cs.t.atistica da produção do-,%.
criaçio do - e III ocupa do sertão, 45-t6.
- v on1ffll no Bruil, 45.
pu reio e as formaç,ões urbanas, 67-72.

Grau
- de b barel, e unsão IOCial,152-53, 301, 443-44; e a direçio polftica do s, 16'2-64.
- de m trc cm artes e llSOC114- .social, 301.

Geofra/ia
itineriria e geolócica, 22S.
estuda. e fleot no Brasil, 23'4-35.
fról'ltcira 1eoç • fl . 47-48.
492 A CULTURA BRASILEI R.A

G r&li
e6craíos br ilciros, 234-35.
Gru do M.quinl e do Sumidouro, 218.
JMtituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 236, 42 , 4 .
Inati to Hist6ri00 e Geouãfico de Pernambuco, 135.
Illltituto Hilt6rico ~áfico Brasileiro, 349.
V. Co.nd' n.aturllis.

Ceolo,ia e Pll/eonroJoAja
ecológicas do Brasil, 25-26.
ettud de-no Bra11l, 217-19.
V. Geofrafia.

Gini io
- BaiMO, 332,
- de Barbaccn , 332.
- do Rio de Janeiro, 332.
&iniaioa evan,~tieo1 da Bahia, 141.
V. lnat/tuiçlSes pedalf,,icas.

Gov rno, V. Polftica

Guerra
- dos FaJTapos, 91-92. .
- curop&I e o • terna educacional brasileiro, 3 1-J9L.
- do Par ual, 91, 433.

H•bit•o

coJonial, 152-53.
C&M em S. Paulo, no século XVJJ, 67.
urbana, 85.
tipo de-UJ'bana, 73.

81' t6ri•
litcra e -, 196-97.
Serrioc, do Patrimõnio Hist6rico e Artístico Nacional, 420"-21.
V. Instituto, Muaeu.

Humanismo

carreira cclcai tica e o-, 4.26.


C&TTcirajw1dica e o -, 426.
cultura literária e o -, 426-28.
difcreociaçio recional e-, 132.
di1tintlo de claeses IIOciais e-, 427-28.
enaino humanístico e as reformas de Pombal, 427.
ctp{rito demoaA.tico o-. 428.
estudos bumanisticos e a Provincia de Minas Gerais, 347.
familia p-.trlarcal e o-, 428.
jsulta• e o-, 298, 304, 306-07.
mentalidade hwnarustica e mentalidade positivista, 3~1. 3
unidad cultural na 'onal e o-, 132-33. 152, 427.

lv,,j

ailc da- aileira com o advento da Rep6blica. 14 6,


- ca • , V. C.tolicismo.
- ilra.eli 1 142,-43.
- ortod , 142.
- poaitivina, V. Positiviszno.
- protcttantc, V. ProtNtanti!!mlo.
Uni.ão Icrcj -Estado., 137-38.
unidade cultural do pais e a-, 314---15.
V. Reb'li6o, Jesulta .
ÍNDICB DE ASSUNTOS 493

lmi,caçlo, V. Popu/~

l01pse11u
A-, ao perfodo republicano, 41S.
Anociação Br • eira de-, 41S.
difusão da -. 202.
- .cq:ia, 211.
lmprmlo N cional, 325, 326.
lmpresllo Rqia, 325, 326.
liberdade de - e OI movimcatos -políticos no lmp&i.o, 1
V. Jorn.lÚ.a, Revi ta,.
lndio,, V. lrtdl~ na

lndltena
artes populnre • e rtcs -, 2159-70.
chrilização ind!gena, 3S-31i.
dofelt8 doa - e oa jesufto1., 130-31.
- e o c:atoliciuno, 133-34.
m(ísica popular, lnflu&lci11afro-india, 254-55.
população indfgen , 28-31.
reduções, 310.
temaa - e o romllllfümo, 185-86.
oa valorea nativoa e OI jesuítas, 292.
V. .baitnila,;60.

lndiriduali•mo
- lx'uilciro, 44, 114-17.
relação individuo-E tado, 117-18.

l.ndústri
c:api.tailinv na-. 357.
coopere da - na edu ção profisaioaal, 442.
desenvolvimento da - .no Brail, 55-57.
apcciallzaçio prol'islional e • -, 437-38.
energia motora S7-$8.
escolat profiswionaia industriais, 438-39_
e,cravoa e mtstiços na ind6stria, 52, 437.
cspec:ialinção do en ino e a-, 437-43.
esta ·ca industrial, V. &tatlstic.a.
- ext:rativ , V. Miciera~o, Minas.
- complementar da monocultura, Sl.
industrioli mo, 56-59; condiÇÕCIIindiipemráveli, 58-59.
índ6~tri.as regionais, 269-70.
je&ulta.ae - 307-08,
liceus industriais, V. Liceu.
nuncrai;iio, V. E,tatlatica, Minas.
reprodução induatriql de objetos Qrtisticos, 280.
Superintend&lcia do En.sino Industrial do Minntério da Educaç o e Saúde, 441-42.
l'Urto lnd111tríalde 1914 e 1920, 3S7i e a fisionomia da nação 4311-39;e o, novo, problemas,
441-42; - em S. Paulo, 98-99.

In1titui'3f, artl•ti , V. ÃDademia. Arte, As.,ociaç!'o Centro, Co~r,at6rio, &,cal.a.,


lnstltuto, Liceu, Mu.ea, Soei_edade

Jnetitu~ ci n.tllioa11
primeiras-e O. João VI, 211-12.
V. kad mia, Assoo~, '&Jco/a. Ia.,tuuto, Mu11e<1,Ob ervat6rio, Soeiedad .

ln#ltituiç&n pedall,lica , V. Academia, Colétio, Escola, Fa,.;u.ldad , Gin• ·o; ln1iitvto.


Liceu, Univeraidade

Jn.tituta
Imperial - de Meninoa Ce&<,s,362.
- Apicol11 de Itabir , 439.
- Agricol.a de Uberaba, 439.
494 A CULTURA BRA.SILElRA
----------
Instituto
- de Acronomia e Veterinária "Borges de Medeiros". 378, <;39.
- A&ronõmico de Campinas ou do Estado de S. Paulo, 370, 37+-75, '404.
- de Artet da Universidade do Distrito Federal, 406.
- Bacteriol6gfoo, 375.
- de Belu-Artes de Pôrto Alegre, 269.
- B!o16c:icode $. Paulo, 375, 404.
- Brasil-Estados Unidos do Rio de Janeito, 416.
- Brasileiro de Geognma e Estatística, 236, 422, 454.
- But1mti. 375.
- Cairu, 417.
- de Cqos, 432.
- de Educação, 403.
- de Eletricidade e Mec:Anica de Montauri, 439.
- Eletrot6cnico de Itajubã, 378, 439.
- Fluminense de Agricultura, 228.
- Gamon, 141.
- Ginasial (Passo Fundo), R. G. do Sul, 366.
- Granbery, 14l.
- de Higiene de S. Paulo, 404.
- Hlat6rico e Geográfico de Pernambuco, 135.
- Hl,tórico e Geo.gr6fic:o do Rfo de Janeiro, 349,
- Histórico de S. Paulo, 235.
- lmperial Artbtico, 265.
- de Mani\,Ü.nhot, 164-65, 231-34, 26&-69.
- de Molé.ltias Tropicais, (Hamburgo), 404.
- Nacional de Cinema Educativo, 419.
- Nadonal de Estudos .Pedagógicos, 412,413.
- Nacional do Livro, 417.
- Nacional de M6sica, 267, 270, 278, 362.
- de Paro~, do Rio Grande do Sul, 439.
- Polit6:súco de S. Paulo, 158.
- de Quimica lndurtrial, 439.
- de Qufmica do Rio de Janeiro, 367.
- de Surdos-Mudos, 362, 432.
in1dtutos dent!fioos, sua imalidade utilitária, 363-69.
inrotuto, particulares de ensino secw>dáno, 345-49.
mstituta. de pesquisa e escolas para profi!lsõcs libcrait, eatatfstica, 376.
J111dim
arte do, jardíns e arquitetura, 27-5.
- Botlnic:o do Rio de Janeiro, 135, 369.
Real Horto, 211.
Real Jardim Botlnico, 211, 228-29.

Je11ultae
aeairnilação das elites e a cultura dos -152.
burguesia urbana e os -, 308.
casa grande e os-, :1.94-97.
"col~o" dos-. 289, 300--02, 308, 348.
Co.mpanhia de Jesus ~o Bra.sil, 127-32, 348 grandes vultos, 288-89; hiat6rico, 187-88,
297-298.
cootinuadore, da obra dos-, 321-22.
cultura brasileira e os-, 425-26.
cultura doa-, 298.
deíeu doe 1elvfcolas e os -, 12~30.
edueaçio colonial e os-, 303--07; e a apu1siio dos-, 134, 312-l7, 321-22.
c:mino doa-no Brasil, 29&-07; elementar, 291; mldio e 1operior, 298-300; 306--07; reai;ão
ao, 152.
cirpultio dol-, cm l7S9, 312-17, 321-22; e o novo rumo da cultura bruíleira, JS3-S4; o
mtcma de educação rolon.ial e os-, Jn-22.
J,umaniam., e os-. 298, 304, 306-09.
indCaatria e oe -, 307--08.
- e o Col~io de S. Paulo, lúst6cico, 289.
- e os valores nativos, 292.
lavoura e os-, 307-08.
Unaua tupl e os-, 177-80.
miat&s de-, 127-29, 288.
lNDJCE DE ASSUNTOS

/flJtlUlt•
m· o civilizadora dos-. 29&--300.
moral 01-, 127, 293, 299.
DKionalidade doa - e coloniD1~ C$U3ngeir~, 34i
"Ncwum Orcanum" e os-, 311.
opiniio curop6a 16btc os-.310-11..
Padre Josi d.e Anchieta, apoltolado 290--!11· biografia 289--90.
penumcnto 16sico d01 - e dos enciclopedistas fnm , 317-18
politica d011prlmeuw ovcmadores e os-, 128-129.
poUtica edu cional d011-, 291-96, 309.
·poUtica de Pombal e os-, 311, 313.
propqa o da 'vilba -o portu(U&a e. os-, 2.93 296-98.
"Ratio StudiOl'U.ffl", 21>!>.
n:d.uçõet de fndi01, 31o.
aemin6rloa e 011 -, 303-04.
tradição cultural dos-, 318.
unidade r,acion 1, unidade cultural e os-309-10
unidade polltico, e o apostolado jesufüco, 291.
"verdadeiro mHodo de estudar'', 31 L
vida doa - cm Picatinin&B., 128,
Jornal•
"Aurora Flwnlneose", 183.
"DiúiOI Aaaociados", 415.
"Dwio de Notlclll.f" (Rio de Janeiro) 401.
''Di6rio de S. Paulo", 41S.
"Oiirio Oíicial do Imp&io", 3-26.
"Di!rio do Rio de Janeiro", 32S.
dif d01-, esta ·ea, 4·15-16.
"Gazeta do Rio d Janeiro'' 3:15.
"Jornal do S lil", 401.
"Jornal do Com&cio", 415.
jomal, demento de raio e Wlidndc cultural, 415-16.
'-0 Baiano", 183.
'-0 Correio da Manhã", 41 s.
••o Eatado de S. Paulo', 41.5.
"O lmpar "ai", 415.
"O Jornal", 401.
"Obec:rvadorCon.ltitudonlll", 183.
"0 Tamoio", 183.
"0 Univerul", 1 3.
Jorn~•mo
Grande, firuru do, - no per1odo republicano, 418.
NrtO do-, e B liberdade de lmprenaa, 183-84.
V, Am,oo/ag.fo, lmpron04, Jornaio.
úaroura, V. A,ricultur11.
~,.,,~o
Admfojstra,;•o do Ensino
Ato Adicional de 1834, tranaferc para os Estados a instrução prim ia, JS9.
Dec:retm de 20 de abril de 1878 e de ui de. e.bcil de 1879, abolem a obri1111toriedadedo
cn ·no teli&JOIO no Co!Egio Pedro n, 352.
Dea-eto n.• 331-A de 1854, cria o Conselho Diretor da lnst:ruçao Públi , 344.
Dcerct:o n.• 667 de 16 de eg&sto de 1890, aia o uPeda&ogium', 411.
Decreto o.• 3 890 de 1 de janeiro de 1901, institui o C6dígo de Ensino, 311.
Dec:rtto o.• l 270 de 10 de jeeiro de 18'91, Rc!omw ~•mim Conltant, 338.
Decreto d S de 11.btilde 1911, R.eforma Rivadãvia Coneia, 371.
Dea-c o n.• 11 SJO de 18 de março de 1915, Reforma Cwlos Mu:imlliano, 338'
Dec:r-eto n.• 16 782 de 13 de janeiro de 1925, .Refonna Rocha Vaz, 338.
Dea'ffo n.• 3 281 de 23 de jruieiro de 192&, reforma o enaino p6blieo no Diltrito
Federal, 389,-91.
Deu n.• 2 940 de :12 de deumtn-o de 1928, Tegulam.cnta a 1 • bbic111 do cnsin.o
p6blico, no Distrito Federal, 391.
Decreto o. 19 890 de 19 de abril de 193l, refonna Francisco de Camp0, 1 394.
Decreto estadual n.• 5 884 de 21 de abn1 de 1933 {E,tado de S. P wo) organlui o
C6dl o d Edu«iÇio, 419.
496 A CULTURA BRASILEIRA

Administrapão do Enaino
Decuto n.• 24 787 de 14 de julho de 1934, fixa bll!I da Convenção N;Jcio.ll.âl
de Educação. 41 L
DN:rrto n." 580 de 31 de janeiro de 1938, cria o ln.stituto ·ona1 de Ertudos
Pedag6giws, 411.
Decreto n.• 868 de 18 de ncvcmhto d.e 1938, ios "tu.i Com~ Nacional do Ea-
irino Primário, 411.
Decreto D,º 6 788 de 30 de janeiro de 1941, canvQCII 1 Conícrência acion-1 de
Edu.cação, 411.
Lei n.• 378 de 13 de janmo de 1937, a:ia no Minist 'o da Educe.ção Sa6de, o Ina-
tituto Nacional de Pedagogia, dispõe sõbrc a.s Conícrtneia Nacionei de Educação,
etc., 419.
Di~erM>lil
C6digo Civil, 155.
Código Comercial, 155. _
con olidação das leis ciyis, 155.
oonstituii;ões, V. Con/itituiçilo.
Decreto de 28 d.e fevereiro de 1808, franqueia O$ portot do Br ,il nflvegaçã.o e ao
com6rcio exterior, 211.
Decreto Imperial de 27 de junho de 1887, cria a EBtaeiio A!Cl"onõmicade Campinas,
374,
Deaeto de 8 de fevereiro de 1892, transfere a Esta,; o A12r ntimict1 de Campinas para
o domfnio do Estado de S. Paulo, eom o nome de Instituto A onõmico, 3 74.
Decreto n.0 3 i81 de 23 de janeiro de 1928, arts. 2.96, 297 e
Decreto n. 0 2 940 de 22 de novembro de 19281 arts. 633 635, r gulament.am. o
empr!go do cinema para fiDll escolares, 419.
Decreto n." 3 763 de l de fevereiro de 1932, cria, no Distrito Fed.eral, .a Divisi.o
do Cinana Educa.ti\i'O, 419.
Dcaeto estadual n. 0 S 447 de 29 de março de 932 (Estado de . Paulo), rcfonna. o
Instituto Auonõmioo, 315.
Dcae o n.• 24 609 de 6 de juJho de 1934, cria o ln • uto Nacional d.e E tati. tiea.,
422.
Dea-rto p.• 21 240 de 4 de abril de 1932, nacionaliza o sctviÇO d a dos filmn
cinmiatogrifi.c:os, 419.
Decreto a.• 22 928 d.e 12 de jlllho d.e 1933, ansfonna C11ll Monumento Nacional -a
cidade de Ouro Prêto, 420.
Decreto n, 0 24 735 de 14 de julho de 1934, cria a ln pc • do, Monumento, Na•
danais, 420.
Decreto estadual n. 0 7 312 de 5 de julho de 1935, refonn o ln.stltut<i Agronômico,
375.
Decreto n. 0 24 651 de 10 de julho de 1934, crio o partamento d Propaganda e
Difusão Cultural no Ministério d11 Justiça, 4-19.
Decreto-lei n.º 25 de 30 de novembro de 1937, cri o Serviço do Patrimônio Híst6rioo
e Artlstico Nacional, 420.
Oecrtito estadual n. 0 2 227-A de 1937, reforma o ln9 ltuto Agronômico, 375.
Bnsfoo Come,,;jaJ
Decreto n. 0 17 329 de 1926 reorganiia o ensino co nerci 1 feder 1, 441.
Decreto n.0 20 1S8 de 1931, reorganiza o en5Íl\O comcréial federal, 441.
E:n in.o militaT
Cart de lei de 4 de dezembro de 1810, fund a Real Ac de-mie.Milit.or, 433.
Decreto o. 0 1 536 de 25 de j_at_,eirode 1855, cria E Militar de Aplicação, 493.
Decreto n. 0 2 ll6 de 1 de lll8l"ÇO de 1858, recx-a:an~ .Eecol Militar, 433.
Da:reto n. 0 5 600 de 25 de abril de 1874, transíorm Exala Central Militar em
E,oola Politécnica., 433.
Dcercto n." 330 de 12 de abril de 1890, reor-ga.niza E.cola.li Militares do Rio de J•·
nciro e de P6rto Alegre, 433.
~to n. 0 1 256 d.e 10 de janeiro de 1891, rcorgan'ir a Escola v:al, 435.
Ena,'no auporior
D eto de 1 de abril de 18.13, eria a Acadunie M.&:UcoCiruritica, 211.
Carta Régia de 11 de ag&to de 1827, cria dois runos de dl!nci jurfd.ico-sociai.3, 336.
Decreto n.• 1 38ó de 28 de abnl de 1854, dã novu organ· o a011 cunos jurldicm,
336.
Decreto n. 0 1 134 de 30 de D1lll'&'Ode 1853, tr:1.n&fcre a Faculd de de Direito de
Olinda para Recife, 336,
lNDICE DE ASSUNTOS 49'1

En.ino euperior
Decreto n.• 1 386 de 1853, rcm-ganiza oe CUfllOS jwidfooe, 336.
Deaeto n. • l 387 de 28 de abril de 1854~ reorganiza dlWI (acuidadesde n:iedi·
cina do lmp&io, 338.
Decreto n.• 7 247 de 19 de abril de 1879, ref'on.u o eMino m&iico, na Reforma Le-
&ncio de Carvalho, 338.
Decreto n.• 8 02.4 de 12 de março de 1881, reforma o ensino m.6dko, 338.
Decreto n.• 8 918 de 31 de março de 1883, l"Cformao ensino mbiíco, 338.
Decftto de 25 de outubro de 1884, .reforma o eo4ino m.&lico, 338.
Decreto estadual n, 0 l 266 de 18 de fevereiro de 1905 (Estado de S. Paulo), reforma
Escola Aif{cola Luis de Qucirw:, 439.
Decreto estadual .o.• 1 536 de 1922 e 3 070 de 1919, reformam E1COt. Agrfcola Lw
de Queirm, 439.
Decreto n.• 19 8S1 de 11 de abril de 193-1, organiza o enaino WÜVttait6rio, -446.
450.
Decreto n. 0 19 852 de 11 de abril de 1931, organi2a a Universidade do Rio de Ja-
neiro., 446.
Dec:rcto e1taduid n," 22 579 de 27 de· março de 1933 (Estado de Min Gerais), cria
a Universidade de Minas Gerais, 446.
Occi:eto n.0 23 172 de 1933, cria a Escola Nacional de Qulmica, 442.
Decreto estaduol n.0 6 ~83 de 25 de janeiro de 1934 (lts~o de S. Paulo), cria a Uni•
veraJdadc de S. Paulo, 338.
Decreto n.• 5 758 de 28 d.e 11ovClllbro de 1934, cria a Unívcraidadc de :Põrto Alegre,
446.
Decreto n.0 24 738 de 14 de julho de 1934, cria a Universidade TEcnka do Dbtrito
cdcral, 442.
Lei n.• 4S2 de S de julbo de 1937, organiza a Universidade do Bruil e cria • Faeul-
dade N1.clonaJ de Filosof"14.414.
Lei estadual n.• 1578de 1901, (Estado de S. Pa.nlo), cria • Escola Supmor de Acricw•
tuna de Pira.cica.ba, 439.
Lei estadual n.• 2 111 de 1925 (Estado de S. Paulo), estabelece 01 tftwoa e ,erern axi-
ícrid.01 pela Eac:ole Aaricola Luís d.e Queiroz. 439.
Bnsmo t6cnico profi■sianal
Decreto o.• 4 073 de 30 de janeiro de 1942, orpniza o cn.àn.o ticnico pttdlaioaaJ, 443.
Lil»r-1ismo
biopafia de Azcredo Coutinho, 323.
clero e o-, 3~2-U.
Franco-Maçonaria o -, 323.
lucj• e o-, 133-34.
lnconf'idblc:ia Min~ e o -, 323.
palaa.1 m cultunll do Brasil e o-, 322-2 ....
unidade nacional e o -, 330.
L.ioeu
- do Arte• e Ofído• do Rio de Janeiro, 265, 269, 377, 438.
- de Artca e Oflcioa de S. Paulo, 269.
- d Artes e Offcios do Recife, 269.
- de Artes e Ortcios do Sa&J"adoCoração 4-e Jesus, 136.
- lnduab'ial de OoiAnia, 443.
- Induatrial de Manaus, 443.
- Industrial de Pelota11, 443.
- Induatrial de S. L~a do Maranhão, 443.
- lnduatrial de Vitória, 443.
liccus e o ensino sa:undário, 345.
liceus i.ndUltri.ais, 442-43.
Lln4ua
columim e a - vernicula, 178.
conmtos lincüútie01, 177-78.
dife:renc:iapio ling(Uati.c:ee diferenciação .-oc:ial, 177-78.
cclcsib 'cose a-vcmkula, 134.
ino e 9p da - partu~ 292, 297.
Jatim, 307, 309, 313.
lfn&UU populares, 177-78,
liDrua tupi, 309, 313; e o jc.ufta, 176-78, 17~80; e a portucu , 179-80.
rcaçlo nacio lista no dominio literário e liogúístico, 18H7.
unidade nacional e o vem culo, 133-34.
Reforma Pomball.oa e • -, 209,

-82-
CULTURA BRASILEIRA

Literatur
etnia Brasileira de Letras. 192.
atmoafen IOcial e a - c:oloiÚa.l, 175-76..
autores e u preferâu:ias do públicn. 102--03,
carã ,:r llllitano da - brasileira, l 7S-17.
cmTCÍnla eclcsinstica e jurfdica e a culhml lit , 26.
ciend.a, e le , 168-69, 368.
conaeqú!ncw do artiíiciafis:mo litcrãrio, 174-75.
cultura human{ tica e literãria, 426-28.
D. Pedro 11, aua influmcia na-. 349.
diferenciação econõmica e as elites litcririas, 174, 178-79.
cnsa.{atu, 188-90
ensino profinional superior d.e base literária, 368,
Hist6ria -, 194--96.
ideal abolicionista e a-. 187-88.
- pcdaaógica, 353, 386; no Império e o esptrito critico, 353.
- pol!tica, 183-84.
- popultu', 202-03.
-, eioal de clasae, 174-75.
moderniataa, l.99--02.
movi.mcnto anti-romAntico, na -, 192-93.
novos nimo do -e o movimento de 1922, J99--0 .
oratória, 133-34, 190-91.
panfletArios, 199
ptU'lUlsian , V. Parnasianos.
poeta d Inc:onfid~cia, 181-82..
prestf&io de -, e u espedalizações prot&ssionais, 167-<i9.
produ o cientifica e produção literária. 205--06.
n:alilroo na-, 188-92.
ritmo da-. 239.
romance, 200-02.
romantismo no Bruil, 184-88.
d 177.
Sociedade Literária do Rio de Janeiro, 209.
IOciedllldesllterérias e o intercãmbio cultural, 41S-t6.
tcnd!i:i ' da - atual, 200--02.
unidade cultural nacional e. a cultura litediria, 427,
V. Academia, Faculdade, Vida Intelectual.

Linos
"Biblioteca de Educação" (Editada pela Cia. Melhoramentos), 39:Z.
"Biblioteca Pedagóii.ca Brasilêira" (Editada pela Cia, Editoro Nadooalj, 392.
Instituto Cairu, 419.
Instituto Nacional do Livro, 417,
novo elemento de ezpansão e unidade cultural, 416, ;
movimento edltorioJ do-, est11.tlstica,415.
V. Biblioteca.

Nan'nh•
Col~&ioNevai, 436.
Compaohia de Guardas-Marinha, 435.
e:nsino naval, 433,-.37.
o Nav Americana, 436.
V. Acadeznia, &,ool,a, Navelaç6_o.
Jl.atemJ.tica, 22S-28

Modici.1'111

inter p<>r estudos objetivos na-, 160--61.


- eXperi.mcatal, 230-33.
- 1 , 229-31.
prealfcio IOcia1 do rn&lic:o, J61..g2, 376.
os ld'ardin1 e a-, 160.
Sociedade d.e-, e Cirurgia do Rio de Janeiro, 166.
vul oe da-, no Brasil, 16o-61.
V. Academia, B,,cola, Faculdade., Insh·tuto.
1NOTCE DE ASSUNTOS

/Jtleioade comcuricaao de idli1&11


cinema eduea ·vo, V. Cinema.
rfldio, V. RMlo.
Serviço d ~ 431.

111 d 0001un~ inaleriais

o aumento doe - e a unidade nacional, 454.


ea1radaa e a lavoura cafeeira, 52-53.
ferrovias do B.ratil, St-52, S.S-56, primeiros pJ"ojetoa e reallaações, 1~.
navegaçlo cos e:lta, 19, 54.
navecaç- o nav:ial, 54-55.
p0rtt>1 fluviais, 54-55.
renovação dos-, 74.
rios bre.sileirot, sua crtenlio navegável, 55.
b'anaporte oom&do, 55-56.

llentalidade
atitude em face doe bOJ'.l'lens
de inteligência e d8I- coil8I do csplrito, 174-75.
atitude em face da detida, 169-70, 222-23, l38.
carétu coletivo, 104.
deelnterbse econõmico, l 11-12.
espfrito d cooperação, 115-16.
hospitaJidade, 109-11.
inclina O pelo tml>fe&O p~bJico, 162.
individwill1Jno, 43.
innoblcia da cultura adardlnica na - brasileira, 151.
intdi1es>cia1 113-14.
- bruilein, 427,
- eat6liea, 144--46",297-9
- da zona do o e da zana litorlnea, 69-71.
- escravoa-ata e o ensino t&:nioo, 336.
- ete0lútiea na Paúmula lb&ica, 297.
- bumamrtiea e positivista, 360-(iL 364.
- jwfd.ica na legjil ção acolar de 1891, 360.
- jurfdico profi 'onaJ, 376.
- portu1Uba, 427.
- proteatante, 297-98.
- retórica no reaitne imperial e 01 problem.ia da vida nacional, 341.
objetividade, 113, 159.
patriotiamo, 118-19 1 153.
peni b'lcia, 113-14.
posltivmno e a - bra1ilcira, 366-67.
relor o indivfduo-Eatado, 117-18.
romanti1mo polftlco e a - brasileira, 342.
.aeneibilld.ade, 113.
tend~cia ao igualitariamo, 116.
traços psicol6gicos dAI raçaa formadora, da etnia nacional, JO~S.
tranafonnaçõea da - brasileira, 121.
valoriza o do prcatf&io pe.19oaJ,117.
verbalilmo, 222-23.

atividade industrial e oe e.ea-avoe e-, 437.


estrutura IOcial na Colõnia e a miacigenação, 82-85.
~ ttntrol de mesti~ em, 264.
1/lilitar
de Alto Comando, 434.
ensino militar, 433-3S. V. Academia, &cola, IAiialaplo.
fil010rt.a de Cmn e a e, 36t-6l.
Mi MUitar Francesa, 434-36.
Sc::rviçode Tranflf! • , 434,
V. Academia, E.cola. lAiielaçllo, Marinlui-
soo A C LTURA BRASILBJRA

Mina.a
cidad das regiões das-, 67-69.
d loc:amc:nto do eixo político e a-, 45.
dwnantee, estaw:tica da produção, 44.
Escola de- ,157-58, 163-64, 22S-26.
ICOla de-de Ouro Pr~ 3M, 376; e o cnaino objetivo 341, 351.
imr,õsto do Quinto, 44.
incentivo para a ocupação do solo. 43-44.
minera , 60-61; no período colonial e suaa ~ , 44; e o is;ualitarismo, 87-88 •
o individualismo brasileiro, 43; e os movimentos mi tório, in emos, 43-44.
ouro, tí rica da produção, 44.
aeatimmto nativista repuhli=.o e a núnC'f'fli;io, 1B0.

MineroQJ'o, V. MinH

M.ineraJoaia
c:rploração das grutas do Maquiné e do Sumidouro, 218.
Escola de Miaaft e os especialistas cm-, 225-27.
V. Minai.

Miulo d Artiataa Fr11.nuaes, 25~59.


Mi/Ido Militar Francesa, 43+-36.

Miulo Na-,aJ AmeriC4UJ.II, 435.


Miado Tknlca Francesa, 158.

MJ»fSe• cientJJica.1
são do Barão de Tdé, 22L
Mi~ holandcsa1, 152, 206-01.
~ de L. Cnih, 221.
de Oliffira Locaille, 2:U.
V.~o.

N.i • de pro/euora e,itc~oa. 236-3B, 446-47, 452- •

NiNIJM reliaioaa,
- cat6Ucu, 127-31.
- Je,wticaa, 127-31, 28B.
- proteatantes, 129, 14G-42.

Moderniam.o
- na arquitetura, ~75.
- na c.scultura, 271-72, 275.
- na literatura, ll»-03.
no movimento artístico geral, 2B2.
- na m<isica, 276-78.
- na pintura, 271-73, 275.

Mi,.n ultur11.
- do aç(i.car e a iod6:stria cmnplcmentar, 51: e a pcquma propried de, 99.
- substitu.lda pela policulr::ura. S2-53.
- e a tccnolQlia, 151-57.
Modeito8
- e conventos, 13S-36.
- e eacolat, lJS-36.
Mosteiro de s. Beato, 4SS.

Mulh :r
condlçlo IOCiaJda - no período colonial, 2!14-Slõ.
educa o feminina, 3B1; de mvél aecundário, 372.
NDICE DE ASSUNTOS 501

Mulher
Bicola Dom& ·a1 de Natal, 278.
fr~üenc:ia íeminiD1 eeooiaa normais, 379; M escola.s 1ttUDd6riu, 372, 379, 4-09;à e.colM
supcriOl'es, 3751.

American Museum oi Natw"al Hi ory, 2.


- de Arte Rdiciou, 420.
- d.e Copenharue, 218.
- de Etn a_f'lade Colõnia, 4.
- Et.nogrUlco de Copenha&ue, 245,
- Hilt6rico Nacioru1J, 2.85.
- Imperial, 225, 2751.
- da lneonfid!ncia, 420.
- Mariano Proc6pio de Juiz de Fora, 279.
- dae MillÕel, 279.
- de Moldaaem, 420.
- Naclonal1 349-50.
- Nacional de Artea do Rio de Janeiro, 279.
- do Ouro, 420.
- Paracose, 369.
- Paulina, 3651, 374.
- Real, 211. 213.
- da Univertidade de Oxford. ,'l.

li(,,~

A9110Caça,oSr "leira d -, 278.


atividadel mmicaia, 278,
evolução d.a- bruile:ln, 266-70, 275-78.
inllublda relnol e afn:,-lndia, 254.
- artiltiea brlllileirl e o espírito rdigjoao, 253, 255.
- moderna, 277-78.
- popular brarileira, 253-54, 276-'18; e a - artlltica, 276; influ eia rcinol e ln.dia,
254.
- taera, 254-55, 266.
- linlõaiu de clman, 277.
Padre Jmt Mawicio, 254.
reviltu a.rtb 'co,muai.am, 278.
Sociedade de Concc:rt01 Sinfõnicoe, 270.
Sociedade de Cultura Art:tstica, 270.
V. Arte, Co.nMt,-.,et6rio. Baco/a. Inetituto, Ridio.

l'l•tur•li•t••
- catrllllgeiros, 2071 213-14.
- inflhe,, 208.
N•vo,~o
- eoeteira, 19-20, S4.
- fluvial, 54--55.
- portoa fluviaia, 54-SS.
rioe brulleiroa, encolão navqével, 55.
V. Rioa, Marinha, M ,ioa do com~o znateriai

01-anat6rio
- Altronõm co, 349.
- Imperial do Rio de Janeito, 220, 221.
- primeiro- do Brasil, 220

Onhn• e,at6/ic.a , 134-36.


Beneditina, Luam e Sale$iana, 348.
c:...melita, Franciscana, 316, 3211.
V. Juulb11.
Ouro. V. M,'n ..
S02 A CULTURA BRASILEIRA

Oc1ríYN11Tia,.
271
- no Braail, 150.
- tn"butmia da lgn:ja. 250.

'PaJl•.americaniamo
lnltituto Brasil-Estados Unidos do Rio de Janeiro, 416.
renovação educacional no Brasil e o-. 416.
União Cultural Brasil-Estados Unidos de S. Paulo, 416.

Panf/et4rioa, 199.

Parnaaia.niuno, 193--94.
- como reação ao rcnnantiamo, 193-94,
\\ltima geraÇiio de pamuianot, 199-00.
V. Literatura.

Partidoe poUtiCIJII
ané.lbc dos-, 97.
auablcia de -, 96.
partidos oo:naervador e líbes-al, 92.
- nacionais durante a República, 96.
- rqtionaia durante a República, 97-98.

Pa.torejo, V. Gado

Patronatoa ~rlool.aa, 378

Peda,o,ia, V. Edut:.111;Lo, Ensino, 12cola.

Pintura braai/LJi,11
"eacola baiana", na-. 264.
evoluçio da-, 257-64, 272-73.
p-ande:s pintores bralileiroa do skulo Xl.X, 260-62.
modernismo na-, 271-13, 27S.
paúa&itt•• da-, 263.
- hlnóric.t, 26o-62.
- de costumes., 266.
- reali1ta, 262-63.
- de tradição nacional, 162-64.
tema bíblico na,-, 261.
temu patriótico na-, 260-261.
V. kte, In11titu,'çl!Je3 artís.ti=.

PoJJtica
abolicionismo, V. Abolição.
a.bsolutlsmo polftico e o barroco civil, 252.
Aacmbl& Constituinte de 1933 e a renovação peda16ric:i e cultural, 407.
Ato Adldoruil, V. LeiiaJa,;lio.
c:mtraliração e de1ccntralização -, V. Unidade.
cooccpçi5es realista e romAntica da-, 93-94.
Coofedcraçilo do Equador, 135.
Conrtituipõc,, V. Cortsti~o.
deslocamento do eixo político e a mineração, 44-45,
cduação - e os wtdcctuais. 161-62.
''Eduaiticm Actº, de Lord Fishcr, 381.
Citados centrais, seu papel, 96.
cvoluçio - e ascensão de uma classe de mestiços, 342.
íedcralilmo, V. Siaterna. federativo.
Guerra dos Famipos, 91.
Guerra do Parquai, 94, 433.
Inconfidencia Mineira, 153, 323; nativismo e a-, 180; poetas de-, 180-82; Museu da
Incon!'idencia, 420.
Independ~cia ~ a. nova -de educação, 328-29
lNDICE DE ASSUNTOS 503

l'olltica
jetUftal e- colonial, 128--29; e a -de Pombal, 311, 313; e a unidade-, 291.
lcil, V. lAlial~.
litcntura -. 1 -84.
putjdoe poUtic:os, V. Partid- poJJticos.
- d educa o, V. &Ju~, &forma educaciona!.
- d eduaiçio em função da - ,erat. 454-SS.
- pan-americana e renovação educacional no Brasil, 416.
poaitivilmo, influmd.a intelectual, 1~.
quad.r0s eovemamentail, aittrios de organização, 163.
realismo na-, 93-94.
Rebelllo Praíeir , 91.
Reforma balina, V. Reforma. educacional.
Reameia, g1.
relaçio indMduo-Estado, 117-18.
Rep6bllca, V. Repflblica.
revolt • e revoluçõca, V. Revolta,.
romantismo -1 91, 342.
eurto indu1trial em S, Paulo, (1920) e a-, 98-9!1.
tratadoe, 88-89.
unilo I~a-Eatado, 137--.o.
unida.de-, V; rJnkl.ad•.

l'opul~o

africanoe, 28-31.
amenndiol, 2S-.3l.
colonol alemles, 33.
coloool ap0Qbea, 33.
C-.omiaaioCcnaiúria acional, 236, 421-22_
compoação da-, 3S.
dmsidlde de-, 35, 39.
europeu , 2g..30, 51.
imisraçlo a vida mbaa, 72-73, 43,MO; imigração branca, 32, 72-73; e cuJ n.acion.al,
3S8, 367, 373, 382, 392; cstatfatica, 358, 373, 440-♦ L
mlaraçõcs i.ntcm&1 eu cos:11:cntraç&s nrbarun, 44H3: e a mineraçlo 43-48.
movimentot de-, 31-33, 74.
- da cidade de S. Paulo, 382.
- du cidadca noe tkulot XVl e xvu, ~5.
- tlODlar, V. &t•tl•tica.
ll~entc de 1920, 31; de 1872, 31; de 1940, 31, 35, 37, 3!1, 236, 4:it-22.

Poaititriamo
claae militar e o - 361-62.
hiatória 4o -, l '43,
influencia tclcctual e o Polltica do-, I i~-44.
mentalidade huma.nl1tica e positivista, 143-44, 364,
- e a mentalld.11dcbra1íleir11,368.
"Rdi,-1 o da hunui.nid de", 143-44.

Proliu&I•

auociaçõcs profissionai , 166. V. Associação, Soc,"et:J.ade.


car6ttt proíisriooaJ de nossa cultura, 166-67.
carrdru eclc "Aaticu e liberal e a cultura humamstica e litcr . 42 .
de9CUO pelo trabalho me.m1al, 151-52, 376, 427, 436-37.
capcciall%a prof' ·ona1, 432-33; e o industrialismo, 437: a ani eron6mica,
439-40; o prcrngio litcrario, 166-69.
cmpc o pilblico, 16:1.
enaino profi ·oo.al, V. Bna.ino, 1natitu,"~s Ped ~-
hierarquia d tipoe profissionais e a d.ivbão de trabalho, 442-43.
mentalidade jwidico-profissionaJ, 376.
mWtarumo e o positivismo, 362.
- liberais, dl!Vntin!& das, 162, 165; cstatí.sticas de escolas, 432; e a ucenaio IOdal, 339,
37S; prcdomfnio du escolas de, 44g...50;e o prestlgjo l0cial, 160-61, 16 2, 377, 443--44:
e u ''proí°&1.ae. 6tcis", 1S6-S7; supremacis. das, 161.
prof' onallzaçlo do ensino superior, 329, 367, 428, ,433,
504 A CULTURA BRASILEIRA

l',opriedad
ii;:rande-, sua divisão e: uma nova foana de habitat 53.
a pequena-, fat6rc:sde lleU aparecimento, ~100.
propfied es grfcolas, estatística, 99 440-41.
pn,prl industriaia, cstatístia, 441.

l'rot ta.ri i&tno


cultura br • eira tn1>utmia d05 - 141-42.
educadores pc-oteltantes. 365-66.
escola pro ntcs no rc:gimc:repq_blicano, 366, V. lrutituiç& pedttl{>lica .
biltóri• do - no Brasil, 140-42.
Jsreja de Genebra, 129.
Igreja metDdiata no Brasil, 366.
mentalidade protestante, 297-98.
milll&s protestantes, 12-9, 140-42, e a Companhia das fndi Ocidentais, H0.
c;,bra cultural do - no Brasil, J..40.
pedagogia protc1tante 36H6; e a pedagogia católica, 348-49.
primeiro, col~os protestantes oo BrA'!il, .'.l4R.
Rcfonna, repercussão no Brasil, 129.

Público

edu o ~tica do-, 280-Sl.


lite cultural e o-, 426-27.
ioclinação pelo empr~o -, 162,.
o- e o • ta, 278-79.

Qulauc.a. V. kad mia, &icola, Faculdade ln tituto.

~.V.A ,müaç6o, Populdo.

R4dio
aparclhol de-, esta_tfltica, 418-
E ridio-transrni.nonis, estatística, 41IJ
função educativa do-, 417-18-
"Bora do Bruil", 418.
- Ch1-bede Punambuco, 418.
Serviço N ·ona1 de-difusão educativo, 418.
Scrvicoe de-e Cinema educativo, (S. Paulo) 418-19.

Rwiamo

preeur10re1 do-, 190.


reaçio ao rornantismo, 192-93.
- no Bratil, 191-93.
- na pintura, 262, 264-.
- polrtko, 93-94.

Reforma educa.cional

Jsreju e aa reformas pcdagõgicaa, 394-96, 399-01.


Ma.niíetto doe Pioneiros da Educação Nova, 397-99.
projeto de ~forma do Con$elheiro Dantas e a mentAlld.ede da tpoca, 353; e o parecer de
Rui Barbou, 352-54, 359.
pn,je d -. 361-62.
d Antsio Tei.uir-a, na Bahia, 381.
- de Benjamim Constant, 360, 363-65, 367, 371.
- de Carneiro Leio, no Rio d.e Janmo, 382.
- no Ccnr6, de 1924, 382.
- no Ol■trito Federal, l932-35, 382.
- de Fernando de Arcvcdo, no Distrito Federal, em 192 , 3 S, 118-91, 1&-42; ~
li.se crl ·ca da-, 385-86.
- de Gus vo Capanema, em janeiro de 1931, -420-21.
- d Listm co da Costa, no Paraná, 382.
- de Pombal e o ensino humanistico, 428; e o en ino medio e uperioc, 315: os fronciacanaa
e o ensino após a-, 316: u:flexo no Br: ·, i10-11; e a unidade peda 6'ica. 316.
- ffll S. Paulo, de 1920, 38.2;movimento de - e aa idB.as pcd 16fic:a1 ameri nas, 366-67.
tNDICE DE ASSUNTOS 505

Reloura• educac.ion&J
rd'orma Carlos • o. 37L
ftforma de 1928, IWI rcpa'CWSâo no Brasil, 391--92.
ref'onn.u de eruino upaior e aecund6.rio, 379; do ensino induatrial, 4-0H)2; nova, t6::ni
ped416gica1, 382-83. 384-86.
reforma cduaLcionaia cm Minas Gerai , em 1927, 384.
Rd'orma Franc:iaço Campos, 371,
Relonn. Rocha Vaz, 38-0.
R..Uv~
caritcr crlatão da cíviliza~o nacional, 140-U.
cultura bruildni, influ!Dda da-, 127-28, 131-32, 134-35.
maino 1CCUnd6rioe • obrigatoriedade do ensino rcliciOIIO, 352.
I,reja Iva tita, 142.
Iveja Ortodon, 142.
laicização do ensino, 364-65, 366, 395~.
liberdade da culto, 140.
maçonari , V. FrancerMaçon,uia.
Museu de Arte Rell1ri01a, na Bahia, 420.
m6aica, V. Mú,.ica.
píntura, tema blblico, 11151.
- católica, V. Catolioiamo.
- politiviata, V. P01Jitiviamo.
- proteatantea, V. Proteatantiamo.
Sociedade Mmp1[qu ca, de S. Paulo. 143.
Teoeofia no Bruíl, 142. •
Rç,<,büu
advento da-, 358; e a npamão do elllino primArlo, 429.
• ·a temtorial, fõrça conservadora, 95-96
manifesto republicano de 78. 94.
- como vitória d cluae mtdia 9S.
-, íue da evo uçlo d.a cultura braailcin, 360.
partido. po1I • na -, 96-98.
- de Piratioi, 92.
- do pontlo de vb cultural e pcdaaqpco. 370.
Rffiatu
"Cerea", 439.
difualo, ettalíl ·ca, 415,
Reviata Ac..dbnlca, 337.
"Reviata do Serviço'', 420.
- artiatico-muslcal,, 278.
- novo elemento d.a cz:panaio e unidade cultural, 415-17.
Rnolt••
Rebelião Pr•icir , 90.
- de 1g22 e 1g24 e a atmosfera social, 381.
Revolução de J930, pr00CtSO de dcaeovol.vimcnto, 10-0-01, e a ettatlatica bra.Uclr , 411;
e• literatura, 201; e ot problemas de ordem IIOci.al,politiu e cconõmk■, 235: e o ai>
temo educ dona!, 392-417; e a vida intelectual, 170.
Rio■

rio Am.uon , 20-2J.


rio S. P'rancisco, rio d unidade nacional, 27.
- de pcuetraçlo, o Tiete, 27.
V. Neve~-
Ranwnce
inllu&ici atnngeita no - nacional, 101-02.
neo-naturalismo, 201.
- paicol6cico, 201-02.
Roaaantiamo
ideal aboUdooltta e o-, 187.
movim nto ■ nti-romlntico, 192.-93.
506
------------- A CULTURA BRASit.EIRA
-----
Rormmti mo
denúfí
pc:ilQUlilal e o-, 222-24.
pcecunon:s do-, 181.
ra de cariter realista. 192--93.
reação parn.aliana, 193-94.
- no Brasil, 184-89.
- 118 m6sia., 267--68..
- político, 93-94, 342.
kTou indígenas e o-, 185-8fi.
Saúde p<Ablu
combate à febre amarela, 163.
obra de IJlllleamcnto, 231.
Revolução de 1930 e a -, 235.
''Serviço, de aa(íde para militares", 434.
V. J_n•titvto.
Semin~rio de Olinda, 150, 153, 162, 314, 318. 323-2
~CTcdo Coutinho, b'iOiJ'efia de, 323.
dccadblcia do-, 344.
influencia cultural do-, 317-18.
Jiberall1mo e o-, 325.
novas tend!ncias pcdag6gica11 no-, 323-24.
rra do Mar
t
- e a coloninção do Brasil, 20.

r't6
mentalidade w cidades do-, 70-71,
ocu do - e a c:riaçiío do &ado, 45--46.
oriaem da palavra-, 48.
Sin ate ff/!Clerativo
id~a federal.is , 96, 100, 358, 359; deaagrciiadora d \ln· nacion , o-91; no Ma.nifeeto
Republicano de O 94.
V. Unidade.

"edad
- br: sllcira, um qTegado de sociedaCCi múltipla,, 343.
diferenciação social e diferenciação lingüística, 177-78.
tratificaçio aocia1 e estratificação étnica d~ - colonial, 8HS3.
evolução da - brasileira, 80-101.
igv. Jitarlamo e centralização da-, 100-01.
exploração de minas e novos tipos de-, 87-88.
Revoltas de l 922 e 1924 e a. atmpsfera social, 381.
- 13r iloira de Beh1s-Arlcs, 280.
- Colonial, divisão, 85; estágio prê-social, 80; e trutura econ.õrolc da-, ♦l; estrutur11
social, 81-84; do interior e litorcana. 84-85; sua moral, 127-28.
- de Concertos Sinfônicos, 270.
- de Cultura Artística, 270.
- de Etnografia e Folclore, 236.
- Llter6rla do Rio de JenciTo, 209.
- de MedicilUI e Cirurgia do Rio de Jancico, 166.
- Metapsfquica. de S. Paulo, 143.
- de Sociol • , 236.
IOCi de$ científicas e associações profissionais, 166.
'edad~ litcririas e o intcrcAmbio cultural, 416.
·pode instrução e a organização da-, 436-37.
• IOci • no Sra • 81-82, 85-86 89, 120-21.
ttamform social e a cultura cicntlfica, 439; e o eNino ko, 4 ~O: e a CSJ:ICCiiah
ação do eo ino, 442.
V. Cidll.dea, Cla

'oJogia
de9Cnvolvimcnto d - no Brasil, 236-38.
Soc:icdaded -, 2-36.
tNDICE DE ASSUNTOS 507

TNtro, 302-03
evolu o do- no Bruil, 11g...go_
- Munk:ipa.l do Rio de Jmeiro, 278.
Templo
atetfJ • 141, 143.
- cal611ccs. 133.
Teoria da tran IIIIOl1e oontinentai•, 18, 21..
TeoflOfi , 142.
Tipoe -,,,;;,·.;•, 8Hl2, 85- 6, 89, U0-21
Tratado
- de Madrid, 89.
- d Santo ndeCooeo, 89.
- d .. Torde1ilhft1, 88.
Unidade
- cultural, e os capelães, 31.5; e a Iueja, 314; e os jceufta,, 3~10; e os liV'r01,joma.il e
revittH ◄15-16.
- e detcentralin.çlo educacional, 331, 358-59, .378, 382, ◄ 10-12, 419; e a aproximaçiko
du camada• IOCiail, 379; e o "Ato Adicional", 330-31, 339,343, 35MO; e a cana•
tituiçlo d 1891, 359,379, durante o ah:wo XIX, 331-32; e o ''Pedqociwn", 363;
e a Ref'orm de Pombal, 316; e a unidade intelectual do Bruil, 4S4.
- e dCICffltral.i.aaçiOp0Utica, 96, 100-01; e o 8J)09tOlado jesuftico, 291-92 e • arte, 269:
e o ilualituismo, 101; e o inicio da c:olonua_ção,81; e o eecundo lmp&io, 92,,-93.
- n cionel, pfrito de, 88-92, 196-98 e as bandeiras, 88 e a cultura bumanlltlca e llte•
riria, 427-28; e o federalismo, ~1, 91-96, 35&--59;e idtiu libcraia, 330; e os
jesuf , 3~10; e m meios de comunicação, 454; a miiierac;i,o. 180· a nadooa•
lwlçlo dat do suJ do pa{a, 412-13; e o vemkulo, 13◄.
UnJ,,ereidade
- AJeml, 401.
- de Belo Boruonte, 45 .
- do B • , 406, 414, 442, 446, 452.
- Católica do Rio de J111eiro, ◄ 14.
- de Coimbra, 132, 1S2, 209, 30:t 314, 3lírl7.
- do Di1t:rito Federal, 402, 406, 414, 446.
- de • Oer&it, 405, 414, 4+5, 446.
- de Pàrto AJCFe, 236, 446, 450.
- do Rio de Janeiro, 236, 332, 405, 446.
- de S. Paulo, 212, 236, 37S, 40~. 414, 439, 445-48, 4S1-52.
- T6cnica Fedoral, 442.
- T6cnica de Põrto Alegre, 450.
- T~lc:a do RJo Grande do Sul, 439.
unlveraid de,, braaileiraa, 394, 397, 405-0õ, 44írSI, 450-51.
universidade, e a formação das elites culturaie, 4◄ S.
universi de■, eeu papel no n01a0 sirtema cultural, 4-44-45, 4◄6-41.
univeraidadea oddentai 406-414.
Vi-.},mi • fra.n , 208
Víd11 inreJ tual
elite, intdectua: , V. Blit .
formação intelectual eminentemente literária, 150-SL
nova orlmtaÇio intelectual, 163-65; e a Revolução de 1930, 170.
oblcurantiamo do Bruil colonial, 142-45, 209.
positivmno e a-. 143. -
proflu&. liberaia, V. Pro/i.ulles.
protatantismo e a-, 140-42.
tranlforma~ econ&nicas e evolução das idéias, 382--83.
verbalwno, 212.
V. Ati 'idade Ci ntlliea, Cultura, Irutituil;lfes Pedq6lic- ■, Lit ratura.
Zoolollo
- no Brasil, 214-1S, 216.
.,
lodice de gravuras
índice- de gravuras
PARTE I

CAPrI'ULOI - O país e a raça

1. Paraná Curiaú (Rio Negro). Espessa floresta ribeirinha; ilhas com lagunà.s e lagos.
RICB, Hamilton. Ez,ploration en Guyane Br&iiHennB. Prancha XV.
2. Vegetação denta, Clll'actenstica das, ilhas do baizo rio Negro.
Rtcz, Ham.ilton. Eiq,lotation en Guy,!llle Brlisüienne. Prancha XXllI.
3. Bmo rio Negro. Troncos e ramos caídos por efeito da er011ãodas águas.
RlcB, Hamilton. Erploration en Guyane Brésilienne. Prancha XXV.
4. Maloca Shiriana, no igara~ Linepcnone (Uraricuera).
RtCE:, Hamilton. Eiploration en Guyane Br&iüenne. Pranoha LXXlIJ.
S. Vista acima da g!ll"ganta de Kulaihia, _para sudoeste.
Rtc&, Hamilton. Exploration en Guyane Brésilienne. Pr.anch.a XC.
6. Trecho do rio Amazõnas, nas vi%inhanças de Faro.
Foto REMBRANDT.
7. 'l"recho do rio Amazonas, nas virinbanças de Faro.
Foto REMBRANDT.
a. Trecho do rio Amazonas, nas vizinhanças de Faro.
Foto REMBRANDT.
9. Camaubal em Parnaíba.
Foto RlumRANDr.
10. Doía juazeiros; árvore que resístem às mais longas -secas.
Paisagem do Piauí.
Foto O. DOKINGtms. Travei in Bra•il, vol. 2, n. 0 2, p/JI. 20 .
.11. Canal de Iuna, nas cercanias de Bel&n do Pari. Um igara~.
Foto REMBRANDT.
12. Camaubal.
Foto REMBRANDT.
18. Cactus. Planta característica das regiões do N ordeate.
Foto do Departamento de A,l,ricultwa. Brasil. TrBPel in Bruil, vol. 2,
n. 0 2, pág. 19,
14. Praia da areia preta, em, Natal.
Foto REIQIRANDT.
15. O pico do Jaraguá, no Estado de S. Paulo.
16. Serra divisória entre S. Paulo e Minas. São Bento do Sapucaí.
Foto da ENFA.
17. Serra dos órgãos, vista do alto de TcrC$6polis,
Foto ToRRJ MAccm. Fototeca Central do Conselho Nacional de Geotrafia..
18. Rio Para!ba, peno de Taubatê. Estado de S. Paulo.
Foto da ENFA.
19. Ponta da Jur6a. Iguapc. Estado de S. Paulo.
Foto da ENFA.
20. Catarata do Iguaçu ou Santa Maria. Rio Iguaçu.
Foto TourinA Club. Fototeca Cen.tral do Conselho NaçjonaJ de GeoArafia.
21. 1ndio Mayongong, caçando.
Rtc.B, Hamilton. ltrploration e.n Guyane Brésib.enne. Ptanclia CXV.
512 A CULTURA BRASILEIRA

22, Jovem lndío Mayongong Kujwná, armado de um arco , OechaJ.


Rlcit, Hanu1ton. Exploration en Guya11 Brúllienn . P ncha CXIV.
23, Chefe Tuc:a.no da rcgjão do rio Negro.
Foto do Gabinete de Etnoüaíi.a da Fac.uldad de Filoa,fia d S. Paulo.
24. C•bena do lndios .akns em Tokmma..
RlCJt, Bam.i/ton. /üplorlf.tion en Guy n Br ili nne. Pra-OJ:.ha CXXX.
25. lndfo Parintintim do tio Madeira.
Foto do Gabiriete de Etnolraíia da. F, culd d de Fil~fia d S. Paulo.
2 . "M ·ço•·. Õlco de CÃNDmo PoRTINilL
Propriedade da Pinaooteca de S. Paulo.

CAPÍTULo n - O trabalho humano


27. e a Grande do Engenho de Magaípe, constru~ do ulo xvn.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Sema/3.
28, Engonho de Mandioca. Óleo de Euotmo BRocos,
Foto REMBaANDT.
29, Antiga Fazenda. Itaborai, Estado do Rio.
Foto STILLE. Coleçllo da. FaÇU/dade de Fil'"olia d S. Paulo.
30. M6quinaa agrícolas antigas.
Pavilh6o do Museu Paulista. Foto do Muaeu Pauli ta.
31 . Pwso de uma ttopa (princípios do s!culo XIX).
RUOENDA6,J. M. -Voya,qe P.itloresqu u Brhil. 18Jj, Prancha 3/19.
l. Liteira para vi11gcns.
Dlllt&'t, J. B. - YoyaAe PittoLesqu t Hi1toziqu au Br il. 1834, ll
voJum_e. Pra.nclut. 16.
3. Lavagem de ouro. perto de It.:acolomi (princípios do ~o
Ruo.-sM>AS,J. M. - Vo:,-8'9 PittorMqu u Br il, 1835. Prancha 3/12.
34. Oarimpciros. Mato Gt-osso.
Foto REMBRANDT.
35. Garimpeiros. Mato Grosso.
Foto REMBRANDT.
36. Tecedeira.
Foto da Cadeira de Geoúalia do Br111il da F uld d d Filo«J/ia de S.
Paulo.
37. mo tcrtaneja no trabalho junto ao tomo.
Foto da Cadeira de Geo,qrafía do Bra iJ da Faculd de d Filosofia de S.
Paulo.
38. Cesteiro.
Foto da Cadeira de GeoAralia do BrasJI d.!J F.aeuld d da F1'/°'10fit1 de S.
Paulo.
39. Jan da e jangadeiros, na praia de Cabedelo. ParaJba.
Foto ColeçJlo Panair. Fototeca Centeal do Con lho Nacional d Geolrafi._
40. Embarcações a vela, em S. Luís, Maranhão.
Foto Col~o Panair. Fototeca. Central do Con&alho N cional de Geolralia.
41. Mercado ao ar livre, no pôrto de "Ãgua de Y:enlnot'', Bahia.
Foto KAB.AN. Travei in Brasil, -,oJ. 2, n.• :J, pl,I. 3.
42. Mercado em Salvador. Bebia.
Foto Vot.T/JllB hAGA. Urba Sahador. ln tituto Brasit iro de Gt10,ral.ia
e Estaiística.
43. de MAuÃ, figura singular que, de 1850 a 1870, pr0CW'OU por tõdas a, formu
IIC."Ollde
incutir n.o meio brasileiro um cspirito industrial, pramo cndo • conttrução de es--
tradu d.e ferro, de partos, de fábricas e ciros.
Foto da Coleção Companhia Melhorarnentc» de S. Paulo.
44. Viaduto da estrada de ferro eittt S. Paulo e Santoa.
Tr eJ in BTtuil, vol. I, n. 0 3, pi, . 10.
45. Alto da Serra, Santo André. Estado de S. P ulo.
Foto da ENFA.
1NDICE DE GRAVURAS 513

46. Rcpi: nova da Light. E tado de S. Paulo.


Foto d4 BNFA..
47. Viata de um terreno de secagem de café. Emulo de S. Paulo.
Trav 1 in Bra..il, vol. 1, n. 0 3, p4'. 1.
48. Fazenda San Clara, em Dourado,. Estru:1.ode S. Paulo.
oto da l!.NFA. Foto eca Central do CoDNlho Nacional de Geoarefui.
9. U&ina Monte Alep-c. Piracicaba. Estado de S. Paulo.
Foto da ENFA.
50. Dama. Tam ·o. Ara:raquara. Estado de S. Paulo.
Foto d ENFA.
51. F6bde GoodyC1ll', S. Paulo.
Foto d BNFA.
52. Fibrica de juta. Tautm,t~. Estado de S. Paulo,
Foto da ENFA.
53. Belo panor ma da principal via de comunicação entre Rio e Pet:r6polia.
Foto PRlt~SlNO, Travei in Buu1il, vol:ll ,!~
n. 0 3, pá,. 16.

CAPÍTULO m - As formações urba~as


54. Recife, aspecto da cidade antiga.
Foto Srtus. CoJ~o da Faculdade de Fl1~fia de S. Paulo.
55. Cu tolonlal à rua Carlos Gomes (cocsiderada monumento nacional). Salv dor, Bahia.
Foto VotlrAnut FRAGA. Arquivo do Instituto Brasileiro de oeo,ralia e
&tat1:stü:a.
56. Anti ladeir de N. S. da Conceição da Pra.ia. Salvador, Bahia.
Foto Vot.TAtll& FRAGA. Arquivo do Instituto Bcaslleiro fh GeoArafiA •
tatlatiu.
57. Owo Preto. Praça Tiredcntes.
Foto Rluiio Im:onlidhu;ia de Minas Gerais.
58. Owo Pr , specto pe.rcial.
Foto Rjdio Tnoonf.idência de Mi.naa Geraia.
59. João del-Rei. em Minas Gerais. Ao fundo a lg,-eja do Carmo.
Foto ~Tn.t.B. Col~o da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
60. S. Joio del-Rei, em Minas Gemi!. Rua colonial e ao fundo a l&reja do Carmo.
FotD StlLLlt. Col~o da Faculdade de Filoaolia de S. Paulo.
61 . S. Jo o del-Rei, em Minas Gerais. Velhà ponte e um obrado do tempo do Impfrlo.
Foto STfLLE. Coleç.60 da FaGUldade de FilotFOfia de S. Paulo.
62. S. João del•Rci, m Minas Gerais. Sobrado do tempo do Impúlo.
Foto S11.1.1:e, Coleçll.o da Faculdade de Filosofi'a da S. Paulo.
63, Sobr do da .!pocQ imperial, cm Mariana, Minas Gerais.
Foto STlLLS. Coleç.60 da Faculdade de Filosofia d S. Paulo.
64. Rio d Jenéu-o. Aspecto da cidade colonial, vendo- e a Porta d Iitrej do Cnrmo.
Foto STt.Ll.Jt. Coleçito da Faculdade de Filo!K>li de S. Paulo.
6S. Rio nito, Est do do Rio. Vê-se a lgreja dominando a vida ur o.
Foto STlLLE. CoLB&iio da Faculdade de Fiios,ofia de S. Paulo.
66. Rio de Janeiro. Rua Direita.
Ruourou, J. M. - Voyqe Pittoresque au Bcilsil. 1835. Prancha 3/13.
67. Lario da Carioca. Rio d Janeiro. Quadro de N.lCOl.ASTA11NAY.
Foto CARLOS.
68. de to António. Rio de Janeiro. Õlco de NtCOLA.6T OHAY.
Foto CAllLOS.
69. Ubatuba. V'ista ,era1.
Foto da 'ENPA.
70. Manaus, vista parcial da cidade.
Fotot; C.entral do Conselho Nacional de Gi,o,ra/ia,
71, Salvador, Bahia. Praça Castro Alves.
Foto VOJ.TAIRJIFu..GA. Instituto BrHileiro de oeo,ca/ia • &tatlstica.

-33-
514 A CULTURA BRASILEIRA

72, Salvador, .Bahia. Praça Pedro II.


Foto VOLTAIRE PRAGA.Instituto Bra~J.eiro d Geografia
73. Rio de J eiro. Vista do Centro w:bano.
Fo1o REM:lm.umT.
74, Rio de Janeiro, Praça Paris.
oto Rn.tBllANM.
75. Rio d.e Janeiro. VtSts do Pão-de-Açúcar.
Foto REMllRANDT.
76. Jui% de Fora. Minas Gerais. Vista parcial.
Foto Postal. Fototeca Central do Conselho NadoruJJ d Geogrs/ia.
77, S. Paulo. Aspecta da cidade, vendo-se o Parque Anhangaba6, o novo Vi.aduto do Châ
e, ao fundo, o Teatro Municipal
78, S. Paulo. V'i.51:ado centro da cidade, com seu principal bloco de construções modernas
e, ao fundo, o bairro industrial do Brás.
79, POrto de Corwnbá. Mato Grosso. Vista parcial.
Foto S. G. E. F. Fototeca Central do Comtelho Nacional de GeoAralia.

CAPÍTULO IV - A evolução social e política

80, ortaleza de Monte Serrat (que data da 6poca d inv o holande,aa), Salv dor, Bahia.
Foto VOLTAIRE hAGA. lnsti'tuto BraMleiro d Oeotralia E-statisti'ca.
81. Fortaleza de Santo Antônio (1772) em Salvador, Bahia.
Foto V01:tAlllE FRAGA. Instituto Brll.Sil, iro de Geolfr fia e E taUstica.
82. talha dos Guararapes. Ôleo de VÍ1'0R MatRELES.
Foto~.
83. A partida da Monção. Ô!eo de ALMBIDA JlÍNIOR.
Foto do Museu Paulista.
• Bandeirantea. Óleo de HENRIQUEBUNAJtl>ELLJ.
Foto CARLOS.
8S. Os primeiros povoadores e F-~Ão DWI PAill L &.
Peristilo, lado esquerdo do Mu u P41.lú':Jt. Foto do Mu 1,1 Paulista.
86, Pal6cio da Justiça, que data de l.660. Salvador, Bahia.
Foto VOLTAIRE FRAGA. Instituto BrHileiro d Geografia e Est tlstica.
87. Ouro Preto. Pra~a Tiradentflc$.
Foto RAdio Inconfidênc:ia de Min1111Gerais.
88. Pnnteon d lnconfid~ncia (antiga penitenciária). Ouro P,reto.
Fofo R/Jdio Inconfidência de Minas Gerais.
89. Antice Pal6.cío do~ Vice-Réis e Pâlácio !mperial (hoje Depart menta dos Correios e
Tel~grafo ).
Foto STlLLE. Coleção da Faculdade de Filo oli.a de S. Paulo.
90. D. JOÃO VI. Ôlco anônimo, t~vcz de Josi LBANl>RO o& CuvALHO. Igreja do Rosârio,
Rio de Janeiro.
Foto VOSYLros. Coleção do Serv~ Nacional de Rccen3 amento.
91 , hldependmc:ia ou Morte, Óleo de PEDRO AMliRJco.
Reproáw;Jlo da tela que se conserva no S :/Jo d Honra do Muaeu Pauli ta.
Foto do Museu Paulista.
92, Jos-t Bo Ãc10 1>1t Am>RADA~ Sn.vA, o patriarca da Independ&lcia.
Foto do Museu Paulista.
93. o de PEDRO I. Ôleo de J. B. DURET.
FooRDmRANDT.
94. Pal ·o de Aclamação em Salvador, Bahia.
Foto VoL'IAIRE FRAGA. Urbo Salvador. lmtituto Bra&ileiro de Geogrs/ia
e &tatirtica..
95. PEDRO Il, entea de maioridade, em 1840.
96. P RO IJ, .Imperador. Óleo de PEm.o AM:f.Rico.
Foto RnmRANDT.
l DICE tiE GRAVURAS SlS

97, Batalha do Ava!. Õlco de Pm>llO Aláluoo.


Poto Rnl.mwmr.
98. Batalha naval do Ri cbudo. ôleo de Viro.a ~lllUS.
Foto RaalliHM.
99. Duque de Cuias, o Pac:if'u:ador(Lufs ALVES DB LDu E SILVA, • de Janeiro, 803-1 O),
que, pela obra incstimAvcl de militar e político, pacificando provfncia, vou e
coa,olidou a unidade da Pátria.
Fato da ColeçXo Companhia Melhouunento de S. Paulo.
100. General MANvn Lufa OsóRIO, Marquês de Erval (Rio Grande do Sul, 1808-Rio de
Jancir-o, 1879) 16ria do a&cito nacional e um dos heróis da guerra do Parqual.
Foto da ColepHo Companhia Melhoramentaa d S. Paulo.
101• Almirante Barroso (FRA.Nc:iscoMANuEL BARitoso, Barão do Amuonall, Portu
1804-Uf'Ui'(lal, 1882), vencedor da batalha do Riachuelo, ''um doía mai.orea fel
navais de que reza a b.istória".
Foto da ColapHo Oompanh.ia Mellioramentr» de S. Paulo.
102. Almirante, Merqu~ de Tamandar! OoAQUIMMARQUES LJSBOA, Rio Grande do Sul,
1807-Rio de Janeiro, 1897), um dos grandes vultos da marinha nacional.
Foto da Co!e,;60 Companhia Melh.oraménios do S. Paulo.
103. Catedral de Petrópolis., na qual jazem os TeStosmortais do Imperador PEoao II e da Im-
peratriz.
Foto PJu:tBJNG. Travel in Brazil, vol. I, n.• 3, pt.l. 19.
104. B.&NJAIIDI Co STANT BMBUrO DB MAoAI.BiE8, o fundador da Rep(lbllca,
105, O Conaelbeiro Rtn BAReou, o principal autor da Constituição de 1891,
Fatolr•fi• do Govár.no Provis6rio,
da 4S_poc:a 1890.
106. Bar o do Rio Branco (Jos:t Muu. DA Sn.VA PARANB:OS, Rio de Janeiro, 1 S-1912),
notivd • oriador, &eógrafo e diplomata, o 'De Terminu," do Br , na u-
p«:Allo de Rm BA.RBOSA.
Foto da C,oJ~ Companhia Melhorazn.enh» de S. Paulo.
107 O Conselheiro RODlllGtrU Auru, que pr-esuiio ã·transform çio da cidade do Rio de J
neiro, com o Prefeito F. PnEutA. P..usos e à obra de atin o d febR amarela com
08vALOOCltlJ'Z.

CAPÍTULOv - Psicologia do povo brasileiro

108. Cabeça de mdio. Afrescode ClNDmo PõR7DURJ.


Foto Vornn,a, Propriedade do Sr. MÁIUO 'DB ANDRAD.S.
109. lndioa. Estudo para um dos afrescos do Ministério da Educação e Saúde.
Foto VOSYUU8.
110. lndio mocho.caria e camaçaa.
RtJOENDAS, J. M. - VoyaAe Plttocesque au Br61il. 1835. Pranah• :J/3.
111. Caçador.
Coltl960 do Bibb·otec.a MunicjpaJ de S. Paulo. RUGBN'DAS, J. M. - VoyaSe
Pittore que au Brê~L 1835. Prancha a/n.
12. Negro. Ôleo de CÃNl:>100PoRTINAlU,
Foto VOIYLIU6. Propri«Jade do Sr. C.UU.oa DJtUKON'D DB ANDu.ot.
U3. FsJtNÃO Dw P>.11L1nm. Estátua par Lms BRJZZ01.A2A.
Foto do Mue11u Paulista.
114. Arrrõ 10 TAv#JlU. Estátua por tuts BimzolJJIA.
Foto do Muaeu Paulista.
115. Jantar.
D llff, J, B. - Voya,te Pittoresq_uo et Histarique au Brwl. 183'. U
volume. Prancha 1.
116. Uma ecnhoni brasileira na intimidade.
DUDT, J. B. - Voya.ge Pittoresq,ue et Hi toricu,, au BrNil. 183#. II
olume. Pca.rn;ha 6.
117. P'a.mDiade Cuendciroa, princípios do akulo XIX.
RuOBM>AI, J. M. - Voya.re Pittôreaque au BrA ,JJ. 1835. Prvaoh• J/16.
5l6 A CULTURA BRASILElRA

18. Uma senhora iodo à missa. carregada numa caddrinbo (com~ do k-ulo XIX).
DEBUT, J. B. - Voy~ Pjttoresq_ue et Historique a B1é íl. 1834. Ill
volwne. Pra.ncha_ S.
ll9. Um manhã de quarta-feira santa, na lKJ'eja.
DEBRET, J. B. - Voyage Pittoreaque et Hi.toriqu u Brúil. 1834. m
volume. Prancha 31.
120. Vendedor de flores à porta de uma Igreja.
DEllRl!:T,J. B. - Voy4Ae Pittore que et Biatoriqu au Brê,iJ. 183,. Ili
volume. Pranclla 6.
121, Um funcion6rio do govetno, saindo de casa acompanhado de sua fam.Oia.
D~T. J. B. - Voya,ge Pitto1esque et Bistodque au Bré il. 1834. ll
voluma. Prancha 5.
122, Habitante$ de M'mas, princípios do sêculo XIX.
RtroBNDAS, J. M. -VoyaAe Piftor aque au Stl,l!U'I. 1835. Pra.richa 2/18.
123. Costumes de S, Paulo.
Ruo&NDAS, J. M. - Voyaite Pittoresque au Br6aiJ. 1835. Prancha 2µ7.
124. Famru.a de fazendeiros ..
RUOENDAS, J. M. - Voyage piftoresqu .au Br'11il. 1835. Prancha 3/17.
125. Jangad iro .
Arquivo do Instituto Brasilei,o de Gt10~ali Eat.atlatica.
26. Vaqueiro do Maraj6.
Arquivo do Instituto Brasileiro de Geoa·r fia &to.tlstica.
127. V que-iro do Nordeste.
Arquivo do Instituto Brasileiro de Geojrai.i e B t frtica.
12B. Vaqueiro de Goiás (Habitantes de Goiás).
Rua , J. M. - Voy4Ae PittorNqUe u Brwl. 1835. Prancha. :J/1!1.
129. Colona. Tempera de Ch.-omo PoRTINARI.
Foto REMBRANDT. Propriedade do Sr. MÁJUO DE ANDJJAD2,

130. Tipo de gaCicho.


Arquivo do Instituto Brasileiro do Geopali e tatl:!tir:.a.
131, Tipo de gaúcbo.
Arquivo do In.stitu.to Brasileiro de Geolrafi Es-tatlstica.

132. M pa da densidade da populai;ão do Brasil, por munidplo cm tcmbro de 1940.

PARTE II
CAPÍTULOt - As instituições e as crença religiosas

133. Pe. Jos.t DE A.NcumTA, s. J.


(Candrias, 19-IJI-1534-Espídto Santo, Brasil, 9-Vl-159'1). ReproduçHo
do Gabinete de Etnoiralia da Faculdade do FilOtKJíia de S. Paulo.
134. A primeir11 miasa no Brasil. Óleo de ViTOR MEIRm.llS.
Foto REJIBRM'D't.
135. Matriz e residmcie dos jesuitas em Rcrigtiba, boje Anchieta, ptrito Santo.
(É própria. casa prunitiva. re/SI ura.da, onda a:ueto 1mUI cela do
Anmde @óst.olo).
136. Pe. MANtnu. DA NÓlllmG.A,s. J.
&fundo uma escultura convem:.ional de FltulCLSco FRANCO, publicada
por SltRAE'D,l Llun. Dese_nho d• GISELDA LoPu DA SILVA.
1.37, Frontisp cio da ediçiío de 1836 do Cateciamo Brasll{co do Pe. ANTõmo og ARAóJo.
138. -ottimo Tamoio. Quadro de RODOLFO AllotDo.
Foto REMBRAND.
139. Pc. AATÕNIOVt'BIRA. (Lisboa, 1608 - Bahia, 1697), jc:sul' coro S0 anos de servioos ao
Brasil e o maior pregador que se exprimiu cm llngu portuguba.
140, cristia da Catedral Salvador, Bahia..
Fo o VOLTAIRE hAGA. lni!titu.to BrHileiro d• GflOltlÚia e E.statil!tÍCA.
1NDICE DE GRAVURAS 517

Hl. Cl o do Convmto S. Fcancisco. Salvador Bahia.


Foto Vot.TAIJlE Fua.L Instituto Brasileiro d Geop-afia e &tatfs i .
142. Igreja e ostei.ro S. Ben o. Salvador, Ba1iia.
Foto VOLTAIRE bAGA. Urba Salvador, lnati.tuto Bra.Uairo de Oeofrafia
• &t t1stica.
143. Irrej• da rua d PanG11 (RCUlo XVIIl}. Salvador, Bahia.
Foto VOLTAIRB FRAGA. Inst,:tu.to Braaileiro de Geografia e &tafld.ka.
44. Ouro Preto, pect:o parcial. VJ.Statirada do ãtrio da Igreja S. Francisco de Pau!L
Foto RAdiD Inconfidência de ~ Gerais.
45. S. Joio d.el-Rci. Igreja S. Francisco de Assis.
Foto RAdio lneon/id~ncia de Minas Gerais.
146, S. J o dd-Rei. [greja S. Francisco de Assis. Outro aspec o.
Foto R!dio Ineon!idân.cis de Minas Gerais.
147. Ouro Pre o. Igreja Nossa. Senhora do Carmo, altares laterais,
Foto /Udio lnconfid8ncia de Minas Gerais.
148. Portal de Igrej , S. João dei-Rei.
Foto STILLE, Colegllo da Faculílade de Filoso{la dtJ S. Paulo.
1451. S.. Jo o dd-Rei, Matriz.
Foto &rn.LE. Coleç6o da Faculdade de Filo1JOf.ia dtJ S. Paulo.
150. S. JoiD del-Rei. lgrej do Carmo.
Foto STrLL&. Coleção da Faculdade de Filosofia de S. Paulo.
l51. Tiradentet, M triz. Detalhe do órgão.
Foto RI.dia lnoon/id~ncia de Minas Gerais.
152. Tirad ~- triz. Re bulo e teto do aluu--mor.
Foto .RAdio lncon/idência de Minas G_enis.
W. .M.laruma. Igreja do o.
Foto STlLLB. Colet;So da Faculdade de Fi10&0úà d S. Pllulo.
154. Altar da l&reja d.a Boa Morte. Rio de Janeiro.
Foto $TtLLZ. C.0Jet;6oda Facu'fdade de Pi.IMofia de S. P u.lo.
155. Jgej1. de S. Frandaco de Paula . .Rio de Janeiro.
Foto Snu.it. Coleç6o da Faculdade de Filosofill d S. PllUlo.
156 Icrej de s. Bento. Olinda.
Foto Snl.LB. Coleç&o da Faculdade ds Fil.o:,ofi,. de S. Paulo.
157. Colheita de C90lola, para a festa do Divin.o.
D!BRBT, J. B. - Voyage Pittorasque et Histarique au Brliail. 183'. III
volume. Prancha !19.
158. Conf6rto. Qu dro do pintor baiano PR.ISCILtANOStLVA.
Foto VOLTAIRE FRAGA. Instituto Brasileiro de Geotralio o &tattstica.
159. Sé de Olind , Pçrnnmbuco.
Foto Sru,ui:. Coleçilo da Faculdade de Fil~ofia de S. Paulo.
160. D. Frei V1TA.L DE Ot.IVEI.RA, bispo de Olinda,
61. D. ANtÕ.NlO O& MACEDO COSTA,bispo de Belém.
162. la,f:ja Unida. le,:eja Cristã PreibitcriaJJa de S.. Paulo. Um dos bel temJ1l01 do pro-
testa.ri amo no Brasil.
163. Templo Beth-I r el. Projeto da Sinagoga de S. Paulo, em con.strução e j qua con-
urdo.

CAPITULOD - A vida intelectual. As profissões liberai


164. A Univeraidade de Coi.Dlbra, 01Jde 110 período colonial iam bachan:lar-ac os que estu-
d vam com os padres da Companhia.
Foto RAnButo. ln História de .Portugal, de D.ualo Pmtu, pàg, 604.
165. Faculdade de Direito de S. Paulo, antigo Convento de S. Franci,c;o, crn que Co.iiDSt:Alado
e funcionou, desde 1827, o curso jurídico.
166, A Faculdade de Direito de S. Paulo. Edifício remmr do no estilo t:radicion.al bra ileil'o
e no mesmo local, no largo S. Fra11cisco, em que se iuatlgW"Oue func:ion , detde 11
W1 fundação, O curso juridico criado em 18:l7.
518 A CULTURA BRASILEIRA

167. O osteiro de S. Bento, em Olinda, onde foi primitivamente instalado o curso juádico,
fundado em 1827.
168. Faculdade de Direito do Recife. Fachada posterior e entrada da Biblioteca.
169. TlttxBIRA DE FREITAS,autoc da consoli - das leia civi•, ''o maior monumento jurl-
dico qu o lmp&io nos legou".
170. LAJ'AIBT& RODRIGUES Pnmu • as, 1837- ·o, 1917). Civilista e uma das maiores
culturas jurfdicas do país
171. RU'l BAJlBOU • , 184l>-Petropolis, 1923}. Jurut de DO vcl 68bcr e um dos maiores
advogados do Brasil.
Foto d11 Coleção Companhia Mel.h.oriunento, d S. Paulo.
172. CLÓVJSBIWILAQUA, "de cujas mãos saiu, para a sagra o Jernl, o projeto definitivo do
Código Civil Brasileiro".
173. Pl!I0ROLitSSA(Sm'o, Mina$, 1859-Rio, 1921). Profe or, Julz e escritor de direito.
'174, Jo!o MENDES, advogado, professor e juii.
175. A Escola Central, que se tran$!onnou em 1874 nii Eecola Politl:cnico. (Hoje Escola Na-
cional de Engenharia).
176. J\Nod REBOUÇAS, uma das maiores figuras da engcnhari nacional.
177. PAULO DE FRONTlN' engenheiro urbanista e fcrroviluio, entre cuj s obras avultam as
realizações de planos urbanísticos na cidade do Rio d Janeiro e duplicação da
linha, na serra do Mar, da Estrada de FeTrO Central do Br :ril.
178, FR.A.NciscoPEREmAPASSOS, engenheiro. prefeito e remodcl dor d cl de do Rio de
Janeiro, que começou a transformar, no govêmo Rodriguet Alve , de uma velha ci-
dade colonial numa das maiores metr6poleii modem .
179. &TmlHlNO DE BJUTO, um dos nomes mais ilustres da cn1enharia jtflria no Brasil.
180. FRANCISCO
BICALHO,notável cm engenhari de portos.
181. T&ruIRA SoARES,que projetou e executou o plano da Estr de Ferro Curib°l,a-Pat'a•
naguá, admi:rávcl pelas suas obras de ~ e pelo RU traçado.
182. FRANCISCO PAIS LJWE DE }6'O.NLEVAD ' cngcnbeiro que, concebendo e começando a
executar, em 1913, com uma sábia orientaÇio, o pl o de eletri.fi ção d Companhia
Pauli de Estradas de Ferro, se tornou ''o pioneiro e o iniciador da tração elétrica
pcaada no Brasil".
183. i' culdade de Medicina do Ri.o de Janeiro, já no eu novo ed.iflcio Praia Vennclba.
Foto Vosvuus. Col~o do Servi(}O Nacion,d d Recen.soamento.
184. A Faculdade de Med.icitia da Bahia.
Foto VoL'l'Al.RE FRAGA. Vrbo Salvador. Instituto Bro ileüo de GooAra.lia
e Estatística.
185. F C'Llldndede Medicina ele Pôr to Alegre, no Rio Grande do Sul. FscMtla principal,
186. FMNCISCO DE CASrno (Bahia, 1857-Rio, 1901). Grande médico e professor da Pa•
culdade de Medicina do Rio de Janeiro.
187. ARNALDO VIEIRA D!. CARVALHO, mEdioo-cu:urgi·o, fundad r e prim iro diretor da Fa-
culdade d Medicina de S. Paulo.
188. M.toUEL COUTO,médico e professor de clínica na Faculd d de Medkin do Rio de Janeiro.
189. M.I0UELPOEIRA, da Faculdade de Medicina do Rfo de Janeiro.
190. OsvALDO cav.z, higienista, saneador do Rio de J eira {1902- 906) e fundador do Ins-
tituto de Manguinhos.

CAPÍTULOm - A vida literária

191. ~·a:iilo do rono do "Scnnam. que pn:gaa o ANTÕNIO Vunu. ao cntên'o d~


OSllOS dos enforcados", Lisboa, 17SJ_
192. P61pito da Igreja da Ajuda em quê pregou o P~ Ant io Vi • vador, Bahia.
Foto VOLTAIRB FRAGA. lnatifuto Brasileiro d Geo ,afia e &tati&tica.
193. Reprodução fac-similar do fronfisp!ció do poema Car ruu de SANTARITA DURÃO
Liaboa, 1781.
194. 'F.o-aimile do frontispício do Un.,auai, poema de Josi B.UtLJo DA AM.A. Lisboa, 1769.
lNDICE DE GRAVURAS 519

195. A pootr de Mruillo, cm Ouro Prêto. Aspecto parcial.


Foto Rádio lncorúidência de Minas Gerai.a.
196. Go ÇALVU DrAs aranhão, 1823-naufrágio nas c:ostas do Maranhio 1864). Orande
poeta cional.
D nho de J. WASH RODRIGUES.Arquivo d'O Es o de S. P ulo.
197. CABmo ALvu (Bahia, 1847-1871).
Desenho de J. WASB RODlllGtmS. Arquivo d'O Estado de S. ulo.
198. Jost .DE AlZNCAR (Cearã, 1829-Rio, 1!177). Dramatm10, roman • , pol.ítico e ju-
ri.,mnll\llto.
Foto da Col~o Ccnnpanhia Melhoraznenfos de S. Paulo.
199. Rcpn,dução r e-similar do rosto do livro Yale do Ant.uonas de TAV.ul.BS B.\ST'OS.Edição
de 1866.
!ZOO, JOAQUDI NABUCO (Joaquim Aurélio Nabu.co de Ara-6jo, Recife, 1849-W ahington,
1910). Pol!tico, or dor parlamentar, diplomata e historiador.
201. A vitória de JOAQUllll ;NABUco, deputado abolicionista. Trazendo de novo ao pru-Ja-
mcnto o seu lcgftimo dcpl,\tado do -primeiro e quinto di.strlto,, a briosa Prov.lncia de
Pernambuco d uma tremenda lição aos negreiros da CAmara, representadoe pelo
1cu chefe.
D nh.o do ÃNOIILOAooSTIN1,na Revista Ilustrada, de 13 de junho de 1885.
202. O Conse.lheiroRtn :BARBOSA, redator-chefe do Difuio de Noticias.
D enho de ÂNGELO AoOSTINt,na Revista Ilustrada, 1888.
203. A Academi Br sileira de Letras.
Foto VOSYLJVS.Coleção do Servis;o Nacional de Rec nse menta.
204. Ot.Avo Bruc (Olavo Brã Martins dos Guimarães Bilac, Rio). 1865-1918. Grande poeta
Lfrico.
Foto da Coleç6o Companhia Melhoramet:1~ de S. Paulo.
205. VlcnrTS Da CAR.vALBo(S. Penlo, 1866-1924}, um dos maiores Uri009 bruileiros.
206. JOÃO CAPlffRANO DW.ÃBJlEU (Ceará, 1853-Rio, 1927).
207. SÚ.VJORo o ( ílvio VIISCOllcclosda Silveira Ramoa Romero, Sergipe, 1851-Ri.o,
1914), a quem se deve a maiar coattibuição ao desenvolvim da his da ~
ter; twa ailcira.
208, F. .. imile d wna carta de Coelho Neto.
Arquivo da funllia Coelho Ne.to.
209. O Museu Pauli ta, o maior centro de documentação e de pesquisas da história do Brasil
e, especialmente, de S. Paulo. Parque do lpinlnga, S. P ulo.
Foto do Museu Paulista.
210. Ml,ClW)O D Assis (Joaqlllll\ Maria l.\'lachado d Assis), ll08 25 an
211. MACHADO D& Assis.
D J. WASB RomuGUE/l. Arquivo d'O EstDdo de S. Poulo.
nho do
212. Et1c1:.101ts DA C'ONIIA(Estado do Rio, 1866-Rio, 1909).
213. Hermll d EUCLIDES DA CuNHA, em S. Josê do Rio Pardo. Ea do de S. Paulo.
:114. Aspecto do jardim margem do rio Pardo, em S. Joo6 do Rio Pardo, Estado de S. Paulo
onde e veem a berma de EUCLIDES DA ClJNliA e o abrigo da choup em qu.e es-
creveu O Se,taes.
215. B • I!: TO DB CAMPO (Maranhão). poeta e cronista, mestre da llnguo e d trlti

CAPÍTULO IV - A cultura científica


2Hi. F. -.aizruJ do frontispicio de Historia Naturali Bratn7iae, de Piso B MA.ltCORAVE.
2J7. BARTOLO U Lotm.ENÇO .DB GuSllÃo, o "Padre V0111dor",ao qual a, .uas experi!:ndas
do aa-óstato assquraram am lugar entre os anteci imortais da avi o.
Sa1Jl Barlokuneu de Gusznâ'o, do Museu Paulista, vendo-.- ao centro
o retrato do wentor brasileiro. Foto do uaeu Paulista.
218. Jost .Bom,.(oo l):g ANDRADA E SILVA (Santos, 1763--Rio, 1838), prlmtiro prof5SO.r
da cadeira. de metalutgia da Univemdadc de Coimbra, mineralogia de arande valor,
"o maior e o mais culto dos brasileiros de seu tempo''.
Foto d Co~ Co/:npanhia Melhoraznen de S. Paulo.
520 A CULTURA BRASILEIRA.

219. O Conselheiro FRA.NClSCO FHEmB AL!DlÃo .aotávd botAnico, mestre de botAnka na Es..
cola de Medlcina e diretor do Museu Nacicmal (1866-1874).-
220. J 8AJmosARo1>RIGUES,"o mais notável botta.ico que o Brasil possuiu depois de FlmmE
Al.Bldo", diretor do Jardim BotA.nico (1889-1909) e autor do Sartum P"1.maruzn.
22 l, AúPio IR.ANDA RI:eBJRo, icti6logo consumado e do, zo6lo l1&1Cidos no Brasil, talvez-
o mruor de todos.
222. Aooi:,o LUTZ (18S5-1940), que trouxe contribuições valio a no domínio• da zoologia
pura e da zoologia médica.
:nl, EM:h.10 O01!.Ll>J,fundador do Museu Paraen.se, 1c Museu Gocldi 1 e autor de Os
Mamlleros d.o Brasil (1893} e Aves do Braail.
224·, JACQUES Htral!.R, botA.nico, suíço, que trabalhou no Mu eu enae, e um dos natura-
listas estrangeiros que mais se consagraram à nossa terra e ,ao tudo de suas
riquezas naturais.
225. HlUUlA.NNVON IBRRING,fundador do Museu Paulista, de que foi diretor (1894-191S)
e um d s maiores autoridades do mwido na sua apecialidad {moluscos).
226, FRITZ MOJ.LltR, "o príncipe dos observadores", no conceito de DARWIN,e um dos maiores
naturalistru1 do século com 45 anos de Brasll e de. scrviçoy cit:ncia e ao país.
227, PETER WILllELMLtrnn (Dinamarca, 1801-Lagoa Santa, Mlnas Gero.is, 1880), um dos
sâbiOll mais eµúnentes no domínio da paleontologia, ramoso pel s suaa pesquisas
■õbre f6s,ei.s, no vale do rio das Velhas.

228, LoUl& AGASSIZ(1807-1873), naturalista suíço que chefiou Expcdiç o Tba,yer (1865-66)
e iniciou ''uma nova ~ no estudo da geologia entre nõs".
229. CBARLEsFRBDERic HAR-TT {1840-1876), sãbio e.mericano que res parte da "Thayer
xpedjtion", completou, cm 1867, o _reconhr:cimento geológico do litoral (do Rio a
Pernambuco) e publicou, em 1870, a obra mais importante do ~o do sõbre
a geologia brasileira.
230, Oavn.L& A. Oll.BY (1851-1915), c:olaboradOC'e continuador de Qwu.8s FR.U>nJC
HAaTT, na organização do serviço geol6gico geral (1873,1878) e a ~j compe meia
foi conf'iada a direção do serviço geológico e mineral6jpco do Bruil, d novo organi-
zado em 1907.
231. Lufs Fn.lPP& GoNZA<l-' D& CAm>os (1856-1925), eolóio brasileiro, colabor.idor de
OltVILLEDER.BY(1907-1915) e autor de trabalhos importantes.
232. JoBN C. BRA.NNER, um dos discipulos e co boradores de C. FRBDRJUC HllRtt, na orga.•
nuação dos servir;os e no d.esenvolvimcnto dos estudos 1eolóii ao Brasil.
233, A B&TD«PAlS LEMB, ge6logo do Museu Nacional e autor de cxcclcnta monog;rafiu
sõbrc a teoria do deslize dos continentes, de WllGENBR,estu em fuce das obser-
v gõcs geológicas concem.entes ao Brasil.
234. PEDRO ll, animador e cultor das ciências, o qual, no seu longo reinado, se encontra à
frente de tõdas as iniciativas de interesse cienUfico no Bt sil.
Foto da Coleçí!o Companhia Melltorar:nentos de S. Paulo.
235, Sala consagrada: a SANTOSDUMONT.
S :la B-9, do Museu Paulista. Foto do Mu u Pauliata.
236. SANtos OUMON'T'(Minas, 1873-1930) a quem !iDJSON chrunou "o b ndcirantc doa ares",
e o quem cabem duas inv~, - a da dirigibilidade do "maia leve" a da ascensão
do "mais pesado".
237. Louu C■ULS (1848-1908), astrônomo belga, egw, o diretor do Ol»crvat6rio Imperial
do Rio d Janeiro (1884-).908), em que auced ao blo fraDCb UEL Lws
(187 1884).
238. HBmuQVB MoruzE {1860-1930), professor de física e de meteorologia,
vat6rio Nacional, desde 1908, a quem se devem a primeira or
·ca nacional e uma notável monografia sObrc O Clima do BraaiL
239. VrlCONDBDO Rio BRANco, em cujo minis &io ru isaram as maís importent ioi-
ci tivu rd'onna , de inta-êsse cientifico. no pc:rfodo imperial.
240. A I de Minas de Ouro Prêto, criada em 1875 oo ·o Rio Branco e instalada
no antigo Palácio dos Gov=dores, que se , 90b adir de Hllmu OoRCBlX,
o maior centro de alta cultur-a, no filtimo quartel do eéculo XIX.
141. Ih 1 Goac1mt, organizador e prime.iro dir or da Escola de Miou de Ouro Prtto, cria-
dor de escola, sob cuja orientação se formou uma gera o no vc1 de especialistas
em mincralog:ia, geologia e mi.ruu.
lNDICE DE GRAVURAS 521

242. Euoimo H'DSSA.lf(18S8-19ll), petrógnlfo e lllllllUldol-e colaborador d HDIRI GoRcztt,


nu pe,quiaos geol6ficas e no estudo das riquezas naturais d.o Brasil.
243. JOAQUUI Oo s o Soou. 829-1863) natural do Maranhão, o maior matemãtico
do B U.
244. MUKU acional do Rio de Janeiro (antigo Museu Real e Mu. u Imperial} çande ccn•
tro de pesquisas e de trabalho científico, instalado, dme 1892, no an • o Pnl!cio
Imperial da Quínta da Boa Veta.
Foto do Museu Nacional.
24S, useu a ·ona1. S la de Etnografia.
Foto do Mu eu Nacional.
246. Museu Nadonal. Sala de esqueletos.
Foto do Museu Nacional.
247. RAnroNDO NINA ROORJGU.ES1 natural do Maranhão, com o Qual e inBU1111'8 uma nova
fa e n volução científica da medicina no Brasil.
-248. Instituto de Manguinbos, hoje Instituto Osvaldo CR1J1,fw1d11doem 1901, o maior
centro de peaquiepa cientfücaa do pais, no donúnio da patoloeia c.1:perimental.
Foto da. Secg6o Fotoar/Jflaa do Instituto Osvaldo CrUJ1.

249. Biblioteca NaciOJ>aldo Rio de Jlll)eiro, a mais .importante e a mais rica da Am6rica do Sul.
Foto VosYLJUB. Co/eçJio do Serviço Nacional de R~ m nto.
250. OsvALDO Cauz (1872-1916) no seu laboratório no Instituto de Manguinhot. Rio de
Jllll.eiro.
Foto J. PtNTo.
2S1. CAJU.OSCBAa.u, disdpulo de OsvALDO Cauz, que em 1909 conquista para o Jn 't\.lto
de guinbos o aeu maior triunfo com o trabalho sôbre a Tripan09IODliue amai•
cana e o .eu 1cote prcpagador (Ti:ypanossoma Cruzi).
Foto J . .PINTO.
252. O ln, 'tuto Bu n , fundado cm 1899, cuja fase prq>ri.amentc cie.oWica, iniciada, entre
1901 e J902, por VtTALBRASIL,seu primeiro diretor (1899-1919) e dcxnvolvida
em 1913 Por J. cio GollES, tomou um impulso not.Avd, a partir de 1918,
corn An!Nto AM.ulAL
2SJ. General Joú Vu:mA Couro n& MAGALHÃES (Minas, 1837-Rio, 1898), scrtan· e
6grafo, autor de Via4em ao AraAuaia e de O SelvaAt,m.
Foto do Gabinete de Etnotrafia da Faculdade de Fi/oa,o/ia da S. P ulo.
2S4. General CÃm)ll)() MAluANO DA SILVA RON.DON, desbravador e civill dor do sertão
durante 38 anos, (1892-1930); chefe das expedições cient!ficss braslleiru (Comi -o
Rondon) que mais concom:ram para o desenvolvimento da história n tural, en e nó .

CAPÍTULO V - A cultura artística

25S. Igreja da Ordem Terceir dc S. Francisco. Maravilhosa fachada em cantaria, en1 estilo
barroco. Salv dor, Bahia.
Foto VOLTAlRII: FRAGA. In~tituto Brasileiro de Geo(lr fia e Estatratica.
256. Igreja de S. rancisco. Interior da Igreja. Salvador, Bahia.
Foto VOLTAJRS FR.AOA. Instituto Bcameiro de 0eo,ralia &tatlatica.
2S7. Motteiro do Carmo. Sacrist.ia.. Salvador, Bahia..
Foto VOLT~ F'JuGA. Instituto Brasileiro de Geopafia e &tatf tica.
158. Icreja de S. Francisco. Ast,ecto da sacristia.. Olinda.
Foto S'TtLL'&. Coleçllo da Facaldade de Filosofia d S. Paulo.
2S9. Jpeja de S. Pedro. Parte do magnífico portal Recife.
Foto Snu.&. Cole,;60 da Faculdade de Fik»olia d.e S. Paulo.
260. M e.iro & S. Bento. O majestoao altar-mor. ffio & Janeiro.
Foto Sm.u:. Coleç6o da Faculdade de Pil0$0/ia. de S. Paulo,
261. Mosteiro de S. Bento. Vista de um altar lateral e do c&-o. Rio d J dro.
Foto STILL&. ColeçSo da Faculdade de Fi/oao/:ÍJJd S. Paulo.
262. M01tciro de S. Bento. Sacristia..Rio de Janeiro.
Foto STW.ll. Cot o da Faculdade de Fik»olia d• S. Paulo.
522 A CULTURA BRASlLE IRA

263, l ·a de N. S. do Canno. F2ch:ada principal, Rio de Janeiro.


Foto STILLE-. Coleção da Faculdade d FilDsofio d S. Paulo
2 eja de . S. do Carmo. Aspecto do altar-mor. Rio d.e Janeiro.
Foto Sm.t.E. Coleção da Faculdt1.de de Fil0$0/ia do S. Pau/o.
265. Icreja de N. S. do Carmo. Vuta. de um altar. Rio de Janeiro.
Foto Sm.t.E. Cohlção da Faculdade d Fila.,li de S. Paulo.
266. T&rejade N. S. do Canno. A magnífica pia atismaL ·o de Janeiro.
Foto STILLE. CoJegffo da Faculdade de FiJOBOli de S. Paulo.
2 7. Igreja de Santo Antônio. Sacristia. Rio de Janeiro,
Foto STJLLE. Coleção da Faculdade d lJilosofi d S. Paulo.
268. l&Tej• de Santo Antônio. Outro aspecto da sacristia. Rlo e Janeiro.
Foto STJLLE. Coleção da Faouldade de Filo o/la de S. Paulo.
269. I ja de N, S. do Carmo. Pórtico. Ouro Prêto.
Fofo Rll.dio Inoonfídéncia de Minas Geraii,.
270. I&rcja d N. S. do Carmo. Detalhe da capela-mor. Ouro Pr~to.
Foto Rll.dio Inoonfidência. de Minll.8 Gerais.
271. l&Teja do Ro&ário. Aspecto externo. Ouro Pêrto.
Foto Rádio Inconfidência de Minas Ger is.
'272, Matriz. Detalhe da. cal)ela-mor. S. João del-Rei.
Foto Rll.dio lncon/idêrwia de Minas Gerais.
273. 1 ja de S. Francisco. Aspecto atemo. S. João dd-Rei.
Foto ST1LLE. CoJeç&, da Faculdade de FiJo,oJia d S. Pauto.
27 . triz. Retábulo do altar-mor. Tiradentes.
Foto Rádio Inconlidkw.,'a de Minas Gerai .
275. triz. Colunas e cntablamento do altar-mar. Tiradentes.
Foto Rádio lnooniidência de Mina Ger i,.
276, Igreja de N. S. do Carmo. Púlpito em pedra-sa -o de autoria o ALJU,ADlNBO. Ouro
Pr!to.
Foto Rl.dio Inconfidência de Mina3 Gera1a.
277. Um doa profetas que o ~JADINHO esc:ulpiu em pedra- paro. a ermida de Con-
gonhas do Campo, em Minas Gerais.
Foto Sl'JLLlt. Coleção da Pacr.Jldade de Fil050fia de S. Paulo.
278, Es tu do profeta AMOS,esculpida na pedra brasileir por AATÓ o FMNcrsco LISBOA,
o Al.JtlJADINHO, Santuário de Congonbas do Campo, cm Minas Gerlli$.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade d Filosofia. d S. Paulo.
279. P dre Jost MAURÍCIO na cfute de D. JOÃO. Quadro de HitmtlQll& B RNARDELU.
Foto Vosnrus. Coleção do Servir;o Nacional de Rec m.1aniento
230. Porta central da Academia Imperial de Bela1-Artes. Projeto de GRANDJJM.N DE MON·
'l'IONY, arquiteto dn Missão Francesa.
Foto Snu.E. Coleção da Faculdade de Filosofi d S. Paulo.
281. Auto-carie.atura. Desenho de PEDRO AMtruco.
Foto CAJ!.LOS.
282. Lenhador bnuilciro.. Quadro de AL IDA JtmtOR, o mnioc p ntor bra ºleiro do século
do.
Foto RlrxBRANDT.
283. Caipiru aceando. Óleo de AI.lu:IDA J lOL
Foto RmalRANM'.
284·. DHam!O do mod!lo. Óleo de ALKEmA JI} 101t.
Foto CAJU.OS.
285, pucaiciros engalanados. Ôlro de J. BATTSTA DA Cos'rA.
Foto RDlBRANDr.
286. Volt.a ao curral. Paisagem de J. BAnstA DA COSIA.
Foto REM:BRANDT.
:187. Naturcn morta. Óleo de PEDRO ALEXA.Nt> o.
Foto RlwBRANDT.
tNDlCE DE GRAVURA 533

288, CARLos (Campirul.s, 1836-Belbn do Pará, 1896), um doa sramJei melodi do


96culo XIX e um dos maia poderosos artistas que o Brasil j6 prodmiu.
Foto de Cole,;lo Companhia Melhora.ment05 d S. Paulo.
289. aqu tte do monumento "As Bandeiras". Trabalho .DOü.vd do CICUltorV1Toa BJa.-
CltXaltf.
290. Detalhe do Monumento "Aa Bandeiras''. de VfroR 8ucBEu1'.
291, c:.n. Õleo de CÃNDJX>O PoRnNAJU, uni dos grandes pintores brasileiros e o maà vico-
ro90, dentre 01 modernos.
Propried de do Museu de Belas-Arte do Rio de Janeiro.
292. s. Jo'"o. Ôleo d.e C.bn;>mo PORTtNARI.
Foto VoSYl.11.1&,Propriedade do Sr. CARLOS GUTNLE.
293. Compo ·çao. Ôlco de CÃNDmo P0Rt1N,UU.
Foto Rs.MBRANDT. Propriedade do Sr. MÁRIO DO: ANDaADl!!i.
294. HetTOR VU.o\ LÕBOB (1890), o mais alto exponente no Brasil da m<mca moderna, de
inspirai; o folclórica, e um dos maiores compositores d~ duas Am&-icaa.
2!ilS. G0NZAQA OUQUB EIITRADA, crltil:o e biBtoriados de arto. óleo de ltLTCRU VfscONTl,
Foto CARLOS.

2!Mi. Mapa das :r:onesde de:nsídadc cultural do Brasil e sua irT d.i çiio aproximada,

PARTE m
CAPfTULo I - O sentido religioso da educação colonjaJ
297. Pá&ina
de rosto da l.• edição da Arte de Grarzunatica de li~ mais uMC/a na c:oata
do Bra .il, de Jod S. J., o primeiro e o mais completo d01 cnaaios
DE ANCBIBTA,
de • ção gramatical da lingua tupi. Publicado em Coimbra, em 1S9S.
Fotoc6pi do Gabinete de ÉtnoA,caf'ta da Faculdade d Piloaoli d S.
Pau/o.
298. ~ de r01to do Vocabulario na linAua brasilica, wn dol mais reposit6rim
da tenninoloeia tupi no RCU1oXVII. De autor dC9001lbecido,tru data de 1621.
Foi publicado em 19,38.
Fotoo6pia do Gabinete de EtnoA,calia. da. Faculdade d PilOMJfia de S.
Paulo.
299. P lna final d.o Vocabulario na lingua brasilica, de 1621 de autor detCOnhecido, es-
aito cm P.iratininga e publicado por PLhno Amou., cm 1938.
Fotoc6pi do Gabinete de Etn.ografia da Faculdade d Filosofia de S.
P4u/o.
300. Pãgina de i:oato da 1.• edição da Arte da língua brasilica do Pc. Lufs Frotr&DlA(1S76)
( ?)•1643), excelcnt contribuição para o estudo do tupi falado no nor do Brasil.
ublicRdQ prnvlwelmente e,n Hm~ Jt~empl~ e ·~tente n ibliotec Nacional
de Liaboa e dnlco em todo o mundo (cf. S&RAFIMLEITE),
Foto do Gabinete de Etnografia da Faculd de de Fílosolia d S. Paulo.
301. lKt'eja do antieo Colégio dos Jesuítas. Salvad.or, Bahia.
Foto VOLTAIRE FRAGA. I~stituto Bras11eiro de Geografia e &tatJstica.
302, Col~gio Santo Wdo, em S. Paulo. no século XVIII.
In /levi ta do Serviço do Patz-imdnio Histórico e Artfstioo Naç.ional,
n.• 4 1940.
303, Anti Matriz e Colqio S. Miguel do& Jesuítas, em Sant01. Quadro de B iJTO e,._.
LDCTO.
3 • An. o Cotqio N. S. do Tttço, dos Jesuítas, em Paranqui.
Foto HJtSB, pert~nte a.o Arquivo do Serviço do Patrimdnio Hist6ri'co
e Artt tia, Nacional.
J0S. Colqio N. S. do T~. dos Jesuítas, em Paranagu!. Accad do ustro.
Foto Bus, do Arquivo do Serviço do Pa.hilntlnio Hi t6rico e Art1:itico
Nacional.
306. Col ·o N. S. do Tbl;:o, dos JCSllft:u.em Panmagui. Pitio clauatral, vi o e uma das
amadaa.
Foto C#Jdido pelo Dr. DAVI CARNltlRO, hi•toriador e diretor do Mu u
Corwiel Do.vi Carneiro, Curitiba, Para.ni.
524 A CULTURA BRASILEIRA

307. J&rej S. Fr8l'lcisco, construída ei:n 1606. Recife.


Foto STILLE. Colet;ãD da Faculdade de Filosofi d S. P ulo.
308. 1 c:j S. Franci~. Sacristia. Recife.
Foto &tlu.E. Coleção da Faculdade de Filmo/ia de S. Paulo.
309. Icrej S. Francisco. Um aspecta do interior . .Recife.
Foto STn.L:E. ColeçXo da Faculdade de FilOYJfi d S. Pa.ulo.
3 O. .lçeja S. Pedro. Fachada priDcipal Recife.
Foto Sn:LLE. Co/eç$o da Faculdade de Fil<»Oli d S. P;;,.ulo.
311. Con\lento S. FTancisc:o. Aspecto do pâtio clausb"al. Olinda.
Foto STILLE. Coleção da Faculdade de Fil0t10fia do S. Paulo.
312. Convento S. Francisco. V1,9tade conjunto do prEdio. Olinda.
Foto STn.LE. Coleção da Faculd.e.de do Filosofia do S, Paulo.
313, Convento S. Francisco. Aspecto da sacristia. Olinda.
Foto STILL:2. Coleção da Faculdade de Filo,ofio. de S. Paulo.
314, Igreja S. Francisco de A.~~ls,em S. João dei-Rei.
Foto STJ.LLE. Coleyão db. Faculdade do Fi'/osofia de S. Paulo.
31S. Universidade de Coimbra, em Portugal, cujo papel foi o ,importante na formação das
cliti:s brasileiras. Fachada do porte.
In.. Hist6ria de Portugal, de DAMIÃO P >l , pAA, 605.
Foto R>.sT"RtRo,.
31 , minruio de Olinda, criado pelo bispo AzE.REDOCOUTINHOe ins al do em 1B00no antigo
ediftcio do Colégio dos Jesuítas.
17. Seminlrio N. S. da Boa Morte, de Mlll'iana, cm Mína.s Gerai,.
Fotocópia de tuna litopafia da obra "Vi m pelo Bra11iF',d B. BUR-
N.ElSTER, Berlim. 1653..
318. Semin!rio . S. da Boa Morte, de M.arian E!tado atual.
Foto lkss, do Arquivo do ServiyO do Patritn6nio Hi1Jt6n"co e Artlstico
Nac~·onal.
319. Seminirio d M•trUtna, em Minas. Oatro aspecto d~ seminário, oo eatado atual.
320. ScminAriode M.lrit!ma,que foi, desde os fins do s6culo XVIII e por todo o período imperial
o maior antro de estudos humanísticos, cm mos a.i-..

CAPÍT1JLOn - As origens das instituições colar

321. Pac• imile do rosto c;fo hvro A A,ra.tidão pecna.mbt.Jedna. ao eu nf< itor o Eraio e
Rrn.o. Senhor D. Josl, Joaquim da. Cunha de horedo Coutinho, cn -O bispo
d'EI s, em Portugal, anti_gode Pemarobuco, fuo edor do Semi11llrioEpiscopel d!'!
Oliod (1B00),q1.11: se tornou o foco de irral:li~i!o de idéias li ernlAe da nova ordem
w-o~ía no Brasil. Edição de 1808. Lisboa..
Do (!fl(emplar da Biblioteca Lamet,o, hoje inco1porodo. d Biblioteca. Central
da. Faculdade de Filosofia da S. Paulo.
322. D. JOÃO VI, o fundador de in~tituições. Desenho de J. B, D&a T.
Gravura da C. S. PRAI>m.R.Impresso por CHARDON. ColoçBo do MuBeu
Paulista.
323. Fl .o•simi/o do frontispício do livro &pirita de Vieira ou S leta, etc., p0f' Jost DA
SlLVA LISBOA, publicado cm 1821, no. Impr o R~gia, - únic existente no Rio
de J neiro atê 1821,-aiada pelo decreto de D. JOÃO VI, de L3 de Maio de 1808
que ssinalou "a introducão pcmianmtc d imprcn no B li''.
Do ,u.emplar da BibliDteca Ltune,O, hoj incorpor da Bibliot- Centra./
da Faculdede de Filosofia de. S. Paulo.
324. R.eproduçio fec-similar do rosto do livro Anna da Capitania d S. Pedro, pelo de-
,emburgador Jost F8'LIC1ANO FUNANDBS PoreJUJIO, publícada cm 1819, na
1m o Rq;ia, criada em 1808 poc D. Joio VI e que u o dcnominar"3e lm-
aeional, cm 1821.
Do e:xernplar perterroente à antita Biblioteca Lam ,O, hqj inoarPQ:T da
Biblioteca Central da Faculdade de FilO:IOfi de S. P ulo.
325. A an ·ga Escola Militar do Rio de Janeiro, cm que tTansfonnou cm I S8, a Escola de
Aplicaçã.o do Ell:êrcito, proveniente rotno a Escola Central, da Academia Real Mi-
liw, funda.da por D, JoÃoVI e que, instalada inda no Rcalen&o, dcvc mfttir-se
para cus novos edifícios, em Resend.c, no E do do Rio.
INDICE DE GRAVURA 52.S

326. O Colqio do Caraça, que tomou o llOIIle à setTB do Cara , cm Gerais, fundado
pelos padr lciuris m1 1820, famoso pelo rigor de sua diaciplina e como ceotro de
udos humanísticos.
3 7. D. Pai o U, patrono do Colégio Pedro n, em 1837. Desenho de Luls Aumro Bou-
LANO
Cole,,;8o de hANCTiiCO MARQOBS DOS SANTos. Clichl d• MAmw. Pnn'o
0A. AR,

328. B ARDO .P!:&aaA os VA.SCONC.liLOS,ministro do lmp&io, que referendou o decreto


de 2 de dercmbro de 1837, com o qual se fundou o Colqio Pedro n, ba:' o por
PEDAOÃJtAÓJO LWA, regente interino, cm nome do lmpcr: or e Senhor D. PEDROU.
329. Frei ANTõmo DJt AJtRÁBmA, bispo de Ancmúria. primeiro Reitor do Colqio Pedro J 1
(1838-39), substituído cm 1839 quando pediu exoner ção, por JOAQUTMCA&TANO
DA SU.VA(1839-1851). Água forte de MODESTO BROCOS. Colcç·o da Bibliot ca Na•
cional.
330. Col~o S. Luf , dos padres jesuítas, primeiros mestres do Brasil_, fund o em 1867, em
Itu, no Estado de S. Paulo.
331. A Aoademlil Im-perial de Belas Artes, do Rio de Janeiro. Projeto de GtMNOJ&.Q; o&
MONTJG'IO', arquiteto da Missão Francesa que veio ao Bra.ail em 1816 (Ewírcio em
que m i1 tarde ,se instalou o Ministério da Fazenda).
Foto STILLE. Cole,;;60 da Faculdade de Fil0110Iia d S. PD.ulo.
332. MANUU. D ARAltJOPõuo ALEGRB, barao de Santo Ãngelo (1806-1879), poeta e
pintor, proíCISOI'e primeiro diretor brasiléiro da Academia Imperial de Belas-Artes
Retrato de P!.DRo AM:btco
Foto CARLOS.
333. ABb.10 Cta.ut Bo.Ro barão de Maca'6bas (Bahia. 1824-1896), mEdico e crandc educador
com mais de O anos de serviços à educação nacional.
33-4. JOÃO Pm>RO Z>J: AQ o, engenheiro, f1mdadoc do Encmato Aquino (1867 pelo qual
panaram durante mais de meio s&:ula, milhares de estudantes, e em que Ru1 BAR-
se inspirou e collml dados para o seu plano de reforma. em 1882.
33S. Colqio Anchieta. fund do pelos padres jesuítas, em 1886, em Nova Friburgo, no Eatado
do Rio, e um dos mais importantes estabelecimentos de cnsillo Sffllnd6rio do pafs.
336, Pm>RO II, que aempre revelou estraonlmário inter pelas coi do esp rito e foi UO'l
grande incentivador da obra de educação e de cultura. R to oficial de pouca di-
vul&a
337. Mueu Na 'onnl, antigo Museu Real e Museu Imperial, fw,dado por D. JOÃO Vl, e em
que, a partir de 1876, e por iniciativa da I.ADISLAoNSTo, eu diretor (187 1893 ,
ae reali.zo.ram cursos de ciências e confer~ciaa p6bl.ica1.
Fototrafia do anti~ edifJcio em_ que foi pdmitivam nta in11talado o
Museu Real, e que depois foi ocupado pelo Arqulvo Nacional, co.m a
transf{lrência do MuBeu Nacional, em 189', p1Ua o PiúAcio lmp riaJ
da Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro. Cópia lotol,rdfioa do Ar-
quivo Nacional.

SS8. Fac- uni/e das allllinaturas de El-Rei D. Joio VI, o fundador de institulçi5es, de D. PEDRO
1, à oiador dos cursos jurldicos no Brasil e de D. PlW:ROIl, cujo nome e acha liiiado
a t&iaa u inici tivas de caráter cieµtífico, no sEculo passado.
339. Vl9QONDE oo Rio BRANCO, em cujo ministério (1871-1876) 1ur1ie a Escola de Minas
de Ouro Preto, criada em 187S, e se realizaram reformaa e iniciativu do maior aJ.
amee para a dviliz.a o brasileira.
3-40. HsN1U Oo cnx (1842-1.919),franc!s. organizador e primeiro dltttor da de Minas
de Ouro Pr to.
341. JOAQOIM CÃNDl.DO DA CosTA SENA (1852-1919), mineraloai a e ermrodire da
Escola de Minu de Ouro Prit.o.
342. O comelhciro Rut BARBOSA,autor do famoso parecer n." 64, com que justificou, com.o
relator da comissão nomeada em 12 de setembro de 1882, o proj de reforma apre-
aentado pelo conselheiro DANTAS..ua CAmara dos Depu~oa.
PotoSrai,-,. do 1918 .
.543, O con elheiro lAONCIO Z>E C.utVALHO, ministro do Império, o inovador, au or de r
formu de carltcr radical (1878), inspiradas nas idE:í1.1libcnl1.
526 A CULTURA BRASILEl

CAPÍTULOm - A descentralização e a dualidade de i.stemas

344. BE 'JAMIM CONSTANTl3o'I'&ul:oDE MAoarniEs, Uuatre proíesaor d• EM:ola Militar,


ministro da Instrução, Concios e TtlEgrafos, cujas rd'orm.u escolares,· empreen-
didas entn 1&90 e 1892, acusam t6da$, ero maior ou enor arau, infloblcia das
id!ias posi • • tas.
345. A. C.U.TA? o .D!: CA.MPos.m&iico e educador eminente, um d0$ chefe, do movimento
renovador de S. Paulo {1891-1895), limi do o enaino prim(Arioe nannal e 90b a
lnflublcia das têcnicas pedag6gicaE americanas.
346. O Col~o Gt-anbery, de Juiz de Fora, em Minas Gerais, criad.o cm 1889, e urna dlis mui-
escolas de iniciativa protestante, fundadas no último quartel do Reulo XIX e com
as quais se proce:1Sou,no Brasil, a propagação das idéias pcdae6&i s americanas.
347. CESÁRIOMOTA, Secretário de Estado, que auxiliado po, CA T~O .DBCAMPO!e GABRIEL
PRBSl'ES, promoveu em S. Paulo (1891-1895) o mai, fecundo movimento de reforma
do prirr\eiro decênio da República.
348. A!pecto da biblioteca da mais Jilntiga Escola Normal d S. Paulo, ain.da in11talada no
cdlFlcio construído em 1894 e ampliado em 1936-1938).
349. Outro pecto da biblioteca da antiga Escol.a Normal, hoje Escol Normal Caetano de
Campoa, instalada, desde 1894, no novo edif.ício mand do construir o primeiro
gov!mo paulista, no regiro.e republicano.
350. A ola Polit~ca de S. Paulo, funda.da em 1893, que precedeu de tres anos a Escola
de Eogellharia do Mackenzie College, eia.da em 1896.
Foto LreERKAN.
351. A la de gumhos. criada em 1901, e que se transformou, em 1907, no Io.!tituto
de P tologi.a .Erperimcntal, sob o nome de Osvaldo Cruz, seu fWldador, e grande
~ador do Rio de Janeiro.
Foto VÃLttR 6.A.LEs.Travel in Br:uil, rol. 21 11.• :J, p . 12.
352, ln ºtu o de Mangoinhos, que teve um papel particulan:nente importante n conquista
e propag çào do espfrito cientifico e CXJ)Cri.men 1. Sal de lei e biblioteca.
Foto da ~ Fotopéíica. a•o ln•tituto O aldo Cnn.
3S3, Instituto de anguinhos, Q.Ue reorganizado em 1907, tomou o nome de Oivaldo Cruz.
Galeria do 3.• pavimento.
Foto da Seçi'o Foto/jcá/ica. do Instituto O~aldo Cruz,
354. El'tTÁCJO PESSOA, ministro no govérno Camp06 Sales e autor do Cõdi o de El\SÜ:loque
esteve em vigor de 1901 a 1910.
35S. RtvAOÁVIACORREIAque promov~u a .,lei orgê.nica do ensino" d cr de S de Abril
de 1911), de um radiçalismo sectãrio, refletindo ori ntasilo positivista então do-
.minante no Rio Grande do Sul.
356. lnBtituto Agronômico de C;m1:pinas, o qual criado em 1887 pelo governo imperial, foi
transferido já no período republicano (1892) para o E~tado d S. Paulo e teve em J.
W. DAFERT, o seu primeiro, diretor (1887-1898), Antigo echffcio 1920).
357, Escola Superior de Agricultura Luís de Queirós, de Piracicaba, c:ri d cm 1901. Trecho
' do parque ·e, ao fundo, o edifício principal.
358. Escol Superior de Agricultura Luís de Queir6 . Cadeira de Genêtica e Labora.f6rio
paro alunos - uma de suas mais reantes iniciativ •·
59. A EICOla d.e Com&cio Alvares Penteado, fundada em 1902 e wna da primeirrui insti-
tuíç&s de ensino comen:ial, criadas no Bl'8Sil
360, Nq.o P&ÇANBA, em cujo govêmo (1909-1910) se criaram Esoo1as de Apn!ndizes Artí-
1 f"ices nss• capitais dos Estados.
361. A Escola Profia&onal Paulo de Frontin, do Distrito Federal, destinada edw:ação do-
m&tica e proíissiODal de moças, jâ em SCUJII novos cdif'fcl con dos e i.n.ffalados
na administração Antônio Prmio J!mior (19 6-1930).
362. Hlltro LTRA.,grande idealista, que fundou, cm 1924, a IVIIOClaçaO Brasileira de Edu-
cação, - instituição notáva _pelo papel que eurceu, promovendo e estimulando os
movimcn os de cultura e de renovação escolar no paíl.
363. la Estados Unidos, do Distrito Federal. construida no e tilo tradicional brasileiro.
Uma daa rachadas laterais.
Foto NrcoJ..U,
lNDICE DE G"RAVURA S 527

364. Etcola Ut\llUAÍ, do Dietrito Fedc:ral, construção cm vhios bloooe (,1928-1~0). Vi.ta
lateral toma do pãtio da escola. uma das maiora edifi na adminbtr ção
Ant.6nio Prado J6nior.
365, E«:ola pera d!beia flsicos, na Quinta da Boa Vista ºto Federal, 1926-1930). e;..
lerl. e fonte de wn d.os pãti01.
Foto MC01.U.
356, Grupo Escolar Padre Correia de Alml9da, de Belo Horimnte. em Mlou Gerais, onde
o movimento renovador do ensino romou notável impulso com F'RANc1scoCuo>os
e Mwo CAB.ASSANTA (1927-1930). Faebada principal
367. Grupo Eacolar Pedro n, de Belo Horizonte. um dos mais imporw1tca edifTcio, escolares
conltrUfdoa na administração Francisco Campoa, SccrctArio de Estl!lido, em Minas
Gerai.e. Galeri e pátio interno.

CAPfTULO IV - A renovação e unificação do sistema educativo

368. E1C:1ola
Normal, dcpos ln9tituto de Educação do Distrito Federal. Ediffcio construído
de 1!128a 1930 na adminiatração Antônio Prado J6nior.
Deeenho. hquitetoa CÓltTEZ e BRUBNB.
369. A Etcola Normal do Di$rito Federal, que cm 1933 tomou nova oriani'1oç o, aob o nome
de Instituto de Educação. Aspecto do pátio claUBtr-al.
D nbo. Arquitetos COR'l'EZ e BRUBNs.
370, A nova E cola Norm&J do Distrito Federal reorganizada pclna reformai de 1928 e 1933,
e instalada cm eeu.s novos edifícios constnrldos na adminittra o Antõnio Prado
J6nior (1926-1!>30).Vu; a de conjllllto.
A :rofoto S. H. HoUAND, Rio creJaneiro, 1930.
371. A Nova Eacola Normal do Distrito Fed.cral, reorganizada em 1928 e mautarde, cm 1933,
quando tomou o nome de Instituto de Educação, e instalada. em UI novoe edifldoe
ac:abad01de construir cm 1930. Pátio central visto de 1lllla du galc:rlu do pavi.
menta t&reo.
Foto ICOLM, Rio, 1930.
372. Elcola Normal do Dmrito Fedcra1, boje Instituto de Educa . Oinúio para excrdci
fbicos, com a ,ua magnífica sala de aparelhos, banheiros, vcat.iiriol e galeriu.
Foto NICOLAS, Rio, 1-930.
373, FuNctsco Luís J>A. SILVACAMPo$,um dos lideres da Revolução de 1930, primeiro
Mlnietro da Educação e Saúde, autor da mais importal'lte reforma de msino eecu.o•
dirio e upcrior (1931), no regime republicauo.
374. O Inatituto Biol6gi00 de S. Paulo, criado cm 1928, por inidativa de Aa.Tuit N'&IVA, an-
tigo &11istente-c:hcfedo Instituto Osvaldo Cruz, e reorganizado pelo proícnor ROCHA
Luu, ■eu atual diretor, e que foi tambtm um dos colabor dores de Osv,\1100 Cauz.
Viet gCT 1.
375, O Instituto Biológico de S. Paulo, grande instituição de estudos e pesquisas cientffic ,,
no domínio da p tologia de todos os serea vivos, animais e vegetais, sobretudo do
de maior ir1,terbac para o homem. Fachada prinopel. •
376. Instituto Biol6a;lco de S. Paulo. Uma de suas fazendas aperiment is.
377. O In1tituto Biológico de S. Paulo, um dos maiores centros de peaquisa e de car6ter técnico
cziatente na Am&ica e, como o Instituto Osvaldo Cruz, jA com renome WJiveraal.
Aapcc:to d~ um de 11eu.slaboratórios.
378. O Imtitu o A&ron6mico de Campinas.. hoje um dos maioccs centros cicnt:Uicose tknicos,
prepostos, no Br sil, à investig~ de (ll'Oblemasde bioloeia vegcbl.L Um dos novos
prMi01 conatruídos ao lado do antigo edifício.
37D. ·tuto Açonõmico de Campinas, no Estado de S. Paulo. V11 de um ripado.
380. O o at6rio Aatronõmico de S. PauloJ em suas novas e ac:clcnt lnst.ala~ VISla
do conjunto dos cdiffcios.
Foto da BNFA.
381. A Faculdade de Fil090fia, Ci~ e Letras da Univer-ádade de S. Paulo, - a primeira,
de inl.dativa oficial, fundada no Brasil. Aspecto de um d • d , codo-x
aturai da, Cadeira de BotAnica.
Foto LJB1tJDUN, S. Paulo, 1942.
528 A CULTURA BRASILEIRA

382. A primeira Faculdade de Y:tlc;,sof-ia,


Ci~ci s e Letru, - da Univenid de de &. Paulo,
criada no Brasil pelo dcaéto de 25 de Janeiro de 193 . Aapecto do u de Mine-
ralogia da Cadeira de Mineralogia e Petrografia.
Fo o LreltRJU , S. Paalo, 194'1.
383. Faculdade de Filosofia, Ciências e Ldraa da nivcnid de de S. P ulo, cm que, sob a
orien -o de pro{cs:iores es~ • e acionais, ae tem formado uma plêiade de
peaquisadores de primeira ordem. Um doa labora 6ríos de Biol
Foto Liberman, S. Paulo 1941.
384. O ln 'tuto de Educação da Universidade de S. Paulo, donde
terem c;urgado a Faculdade de Filosofia, prim rof'.
• formados no Brasil. Fachada principal.
38S. Instituto de Educação da Universidade de S. Paulo, criado em 1933 extinto em 1938.
Mpecto do Museu de Etnografia, da Cadeira de 'oi ia Educacional.
386. O novo e magnífico edifício da Biblioteca ~blica Municipal, em qu se incorporou a
Biblíotcca do Estado, em 1937, e se instituiu a primeira ola de biblioteoonomia
do pafa. Vista do conjunto.
387. O Ministro GUSTAVO CAPANEMA,a quem ge devem numcroiaB refornms, iniciativrui
cullwaio, e realizações e, entre estas, a construçi<o do edlfício do Ministério da Edu-
tia_çêto-
1: Saúde e de divers:.s Escolas Técnicas, no Br eil.

388. M11qu11t'tedo edifício do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro.


Foto do Serviço de Documentsg6o do Mini t rio d Educ ç.60 11Saúde,
1942.
389, ''Moço reclinada", cscultwa de CELSO AJ'ilTÕNlo, em granito .cliu nto, para o jardim
uspenso do novo edifício do Ministério da Edu o.
Foto do Serviço de Documanta.ÇZo do Miro'st n'o d Educaçtfo e Saúde.
390, "M reclinada", C9CU!tura de Cei.so ANl'ONto. em Dito cinzen o, o jardim
susperuo do novo edifício do llinistério da Edu çio. DeUUbe.
Foto do Serriço de .Docu:rnentaçiio do M1ni•t rio da Educaç§o e Saúdo.

CAPÍTULO v - O ensino geral e o ensinos especiais


391. Colqio S. Lu~, dos dres jesuítas, transferidos de Itu para S. Paul , em 1918 e jã com
7S anos de serviços prestados à educação da moc:idad eira.
392. Liceu. Nacional Rio Branco, em São Paulo, fundado por AI.TO• o o 6.uc>AlO DóRIA.
e um dos prim:i-paisestabelecimentos particulares d ino sccund'-rio no pa!s.
393. Liceu Nadooal Rio Branco de S. Paulo. Aspecto da biblioteca.
394. Cot4io Santo Inácio, dos padn:s da Cotnpanhi de J • de Janeiro. Vista do
pâ o interno.
395. Faculdade de Direito de S. Paulo. Vista do p{ltio ccntr 1, rccon&truldo na simplicidade
severa de auas linhas pri1Pitivas, do antigo Convento d S. Frclllcisco.
396. F culdode Nacional de Direito do Rio de Janeiro, hoje l11!1taluda110 ediflcio do antigo
Senado, primitivamente Palácio do Cond do Arcos.
397. Faculd de de Medicina da Universidade de S. Paulo. Vi a de conjunto do prédio, antes
da construção do Hospital de Clínicas.
398. Hospital de CUnie3 da Faculdade de Medicina d Unlvttlid de de S. Paulo. Villta to-
mada de avião.
Foto da ENPA.
399. Faculdade de Medicina da Unives-sidade de Ger is, em Bdo Horizonte. Fachada
principal.
Foto LEONAR.
400. ElCOlade Ellit1lh.3ria de .Pôrto Al~, oo Rio Gran e do Sul ln "tuto d.e Engenharia,
ada. principal.
401. Eecola de Engenharia de P&to Alegre, Lu "tuto onômjco. Scçio de Meteoro-
loeia e Parque Metemo16gico.
402. EdiCfóo da Esco Militar do Rio de Janeiro rnri1t:t1"u1110 no Realen&o. Distri o Federal.
403. Eecol de Estado Maior, instalada em grandioso edif{ ·o, Pr • Vcrmelhtl, no Rio
de Janeiro.
Foto Vosvuus. Coleç§o do Serviço Nacion•I de R n,3 am nto.
tNDICE DE GRAVURAS 529

404. Elcola Tfc:niea ao Eit&cito, à Praia Vermelha. no Rl.o de Janeiro, d tio.ada à !.onnaçio
d.e en&enheiroe miliwea apecialil"Sd<JS.
Foto RODHUUD..
'405. A anti1• &.cola Naval, cuju ori&ms renontam l Acadcmla Real de Marinha, íundada
em 1808, par D. Joio Vl. V"istacerw doe 1eU1 ediflciol na Uba du Enudu.
Foto da EM,ah, Nar&J. •
'406. Escola Naval do Rio de Janeiro. Pitio central do novo e NDtuolO ediltcio consuu!do
na Ilha de V-ill~aicn.an, hoje ligada ao omtinentc.
Foto da 8-,oü Nua!.
407. A ltlcola Naeiorw de Belas-Artes. no seu novo ediílcio con1ttufdo depob da tr&Nfor•
maçlo do Rio de Janeiro e da abertura da Averuda Rio Branco, IC'(Ulldo01 plano.
urbanlatiooe de Pa.lt&utA P.4SSOL •'
408, &cola Superior de Airlcultara Luf■ d,: Queiroz, em Pinlcieaba, no Estado de S. Paulo.
Edüfeio principal.
409. Etc0la Tknica Nacional, do Distrito Federal, -urna das l(l'ande, eaoo1- tknica1 do.
i,lano ■iatem6tko de ensino industrial, projetado pelo ,;ovetno da Uniio e catabele•
ddo pelo decreto-lei de 30 de Janeiro de 1942.
Foto do S.rF}eo de Docum.entaç6o do MiniatlJrio da P4uc.e6o • Saade.
♦10, Eec:ola Tknica Naàonal do Distrito Federal. Uma du galerias do p6tio central.
Foto do s.~Íf:O de Document~o do Mini•tlirio da Bducaçao e S.úde.
♦ ll, Rico!• T!cnlca de Vit6ria, no Eaplrito Santo. Vista de 1conjunto.
Foto do S.rv.iç,o da Docume.ntaç6o do Miniat,rio da &Juc.çlo e S.6da.
412. .Eecola Ticnica de Curitiba, no Paraná, - Ullla das eacola.s dcttwad , ICfWldO o plano
de emino industrlal d União, à íonnaçio de artifiea e de mem-e. d offdo, noa
divenoa tctora industriais.
Foto do Sar.i,;;o de Documen~ do Mini•t6rio da &Jucaao • Saúde.
413. Faculdade de Fil010ria. Citncias e Letru eia Universidade de S, Paulo. Um dos i.bo-
rat6rioe da Cadeira de Zoologia.
Fofo LUIUKAM, S. Paulo, 1941.
414. lnttituto de Educaçio do Rio de Janeiro, conatruído em 1928-1930, reorianizado em
1933 e d~o l formação de profesaores j)ri.mjrios e de adm.inistradocn etCOiarH
e de orientadorea de ensino.
Foto Nrcot.U, /oo, 1930.
415. lnlt:ituto d. Educaçio do Distrito Federal. Uma du ampla caltrlat do terceiro ~-
vimento, abrindo para o mntuoao pãtio central.
Foto NICO.UI, Rio, 1930.
4U5, ln ■dtuto de Educa~io, em Salvador, Bahia, com cteelentca in tala;&■ modcma1.
1ua1
Foto VoLTAlltlt F.RAGA. Inatituto de a.o,,a/ia
BuuiJeiro • &tatlsticll.
417. .E.cola de Educação Ffsiea do Ex&c:ito, o maia importante centro e foco de iNadiaçio
da. cduce.çio fltica nacional. Ediffcio principal, junto à FortaJezll de S. Joio, Rio
de Janeiro.
Foto do Arquivo da EN:ola de &lucaao P'I1ica di:JE11lroito.
418. E cola de Educação Flsica do Eit&cito junto à Fortalen de S. Joio, - c,cola piorieira
do movimento em favor da educação física no Brail. Conjunto de pórtlcoa e tõrtt
de lbaoT.

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