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FACULDADE UNINASSAU

CURSO DE PSICOLOGIA

ALEXSANDRO LOPES DA SILVA

HUMANIZANDO O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA


EM ESTÁGIO NO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO JULIANO MOREIRA

JOÃO PESSOA - PB
2023

ALEXSANDRO LOPES DA SILVA


HUMANIZANDO O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA
EM ESTÁGIO NO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO JULIANO MOREIRA

Projeto apresentado à disciplina de trabalho


de conclusão de curso I do curso de
bacharelado em Psicologia da Faculdade
UNINASSAU/JP, como requisito parcial para
obtenção da nota da segunda avaliação de
aprendizagem.

Mayara Ellen Morais de Oliveira


Mendes

JOÃO PESSOA – PB
2023

RESUMO
O presente relato de experiência tem por objetivo analisar as possibilidades de
inserção de um estagiário de Psicologia no contexto do hospital psiquiátrico. Visa investigar
como é promovido o trabalho interdisciplinar, tendocomo uns dos principais focos o
tratamento humanizado dos pacientes. Para isso, se debruça sobre as atividades de
socialização como por exemplo, oficinas terapêuticas e atividades físicas. Estas
atividadessãopromovidaspelasinstituições e grupos autônomos, muitos formados por
estudantes de universidades da capital e região.

PALAVRAS-CHAVE: hospitais psiquiátricos; Humanização, Reforma manicomial, Reforma


psiquiatra

ABSTRACT

This experience report aims to analyze the possibilities of inserting a


Psychology intern in the context of the psychiatric hospital. It aims to investigate how
interdisciplinary work is promoted, with one of the main focuses being the humane
treatment of patients. For this, it focuses on socialization activities such as
therapeutic workshops and physical activities. These activities are promoted by
institutions and autonomous groups, many formed by students from universities in
the capital and region.

KEY-WORDS: psychiatrichospitals; psychology; internship; Humanization; welcome

SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 5
1.1 Justificativa...............................................................................................................................X
2 OBJETIVOS................................................................................................................................ X
2.1 Objetivo Geral.............................................................................................................. X
2.2 Objetivos Específicos ................................................................................................... X
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............... .................................................................. X
4 METODOLOGIA ....................................................................................................................... X
5 CRONOGRAMA...........................................................................................................X
6 RESULTADOS
REFERÊNCIAS................................................................................................................. X
APÊNDICES............ .......................................................................................................... X
ANEXO ............................................................................................................................... X
1.1 INTRODUÇÃO

As instituições psiquiátricas surgiram no mundo com o propósito de oferecer


tratamento e cuidados aos indivíduos que sofrem de transtornos mentais. Acredita-se que
as primeiras instituições psiquiátricas datam do século XVIII, na Europa Ocidental, como
uma alternativa aos antigos asilos e prisões que não tinham um tratamento específico para
esses pacientes. De acordo com Focault (1961), as instituições psiquiátricas foram criadas
visando "abrigar, separar, vigiar e tratar" os doentes idosos, que eram considerados um
perigo para a sociedade. No século XVIII, surge a psiquiatria como uma especialidade
médica, e no século XIX, as instituições psiquiátricas modernas começaram a ser criadas,
como aponta Carvalho e Pinheiro (2017). Essas instituições eram frequentemente lugares
de exclusão e custódia, onde os pacientes eram tratados de forma desumana.

Com o tempo, surgiram críticas ao modelo de tratamento adotado pelas instituições


psiquiátricas, que muitas vezes causavam mais danos do que benefícios aos pacientes.
Segundo Shorter (1997) as instituições psiquiátricas se tornaram "fábricas de loucos",
gerando uma abundância de pacientes crônicos que ficavam internados por longos
períodos de tempo. Desde então, as instituições psiquiátricas se tornaram comuns em todo
o mundo, sendo que a sua forma e organização variavam conforme as diferentes culturas e
contextos históricos. No entanto, Focault (1979) aponta que a sua finalidade continua a
mesma: a de controlar e normalizar os indivíduos considerados "anormais" pela sociedade,
em nome da sua proteção e segurança.

Os primeiros manicômios, posteriormente chamados de hospitais psiquiátricos,


foram construídos no Brasil no final do século XIX. O primeiro a ser inaugurado foi o
asilo Dom Pedro II em 1853, localizado no estado do Rio de janeiro, tendo como premissa
abrigar os alienados e a realocação de pessoas que eram consideradas inaptas para viver
em sociedade e exercer o seu papel de cidadão comum. As condições de estruturais dessas
instituições eram muito precárias, ao passo que a maioria dos internos nem sequer possuía
um diagnóstico de transtorno mental. Os pacientes que se encontravam nesses hospitais
eram, ''[...] epiléticos, alcoólicos, homossexuais, prostitutas, gente que se rebelava, gente
que se tornara incomoda para alguém com mais poder'' (ARBEX, 2013, P.14).

Dentre as condições estruturais, há relatos de que os internos chegavam a se


alimentar de ratos, bebiam água de esgoto e urinas, sendo constantemente espancados e
muitas vezes vítimas da morte: pelo frio, pela fome ou por doenças contraídas no local
(ARBEX, 2013). As instituições manicomiais exerciam, nesse sentido, sua função na
sociedade de disciplinar corpos e comportamentos. “Com a criação destas estruturas, pode-
se perceber a preocupação que se tinha com relação à criação de novos espaços de poder
disciplinadores e autoritários por meio de hospitais ou clínicas psiquiátricas.”
(CAPONI 2009, P. 96).

Nesse sentido, em 1970, ocorreu um movimento político e social no Brasil de


grande importância, cujo objetivo principal era a transformação da forma como as pessoas
com transtornos mentais eram tratadas. Esse movimento foi denominado como reforma
psiquiátrica, que deu início a uma série de ações e iniciativas que buscavam garantir mais
dignidade, respeito mais humanização a essas pessoas com diagnóstico de transtorno
mental. Em 1998 foi estabelecida a Constituição Federal que estabeleceu o direito à saúde
como um direito social fundamental do cidadão brasileiro, e determinou que o Estado é o
responsável por garantir o acesso universal e igualitário aos serviços de saúde. Com base
nesse direito constitucional, foi criado em 1990 o Sistema Único de Saúde (SUS), cujo
objetivo é garantir o acesso universal, integral e gratuito à saúde para toda a população,
representando um avanço no campo da saúde pública, ao proporcionar atendimento
integral e equânime a todos os cidadãos (MACHADO E TEIXEIRA, 2018).

A partir do SUS, foram criados os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que


são serviços comunitários de saúde mental que oferecem atendimento a pacientes com
transtornos mentais graves. Segundo Souza e Santos (2016), os CAPS foram criados para
oferecer tratamento ambulatorial e acolhimento às pessoas com transtornos mentais,
buscando uma abordagem mais humanizada e integrada à comunidade. Em 2001, foi
publicada a Lei da Reforma Psiquiátrica (Lei n.º 10.216), que passou a determinar a
desinstitucionalização dos usuários de hospitais psiquiátricos e o fechamento dos mesmos.
Segundo Amarante (2017), a lei foi uma conquista importante para os movimentos sociais
e para a construção de uma política de saúde mental no Brasil.

Assim, atualmente a rede de saúde mental tem passado por transformações


significativas. Nos últimos anos, vivenciamos uma mudança significativa no modo como a
sociedade encara a saúde mental. Cada vez mais, a importância de cuidar da saúde mental
tem sido destacada, e a busca por ajuda profissional tem se tornado cada vez mais comum
e aceita. Desde a instituição da Reforma Psiquiátrica, houve uma mudança no paradigma
do tratamento de pessoas com transtornos mentais, que antes eram internadas em hospitais
psiquiátricos por longos períodos tempo, e hoje com a desinstitucionalização passaram a
ter seus tratamentos sendo realizados em centro de ação psicossocial - CAPS e em suas
residências havendo mais cuidados e humanização durante o processo de tratamento e
recuperação. Com isso podemos perceber que a saúde mental vem se tornando um tema
cada vez mais relevante na sociedade contemporânea. Segundo dados da Organização
Mundial da Saúde (OMS), estima-se que cerca de 450 milhões de pessoas no mundo
sofram de algum tipo de transtorno mental, sendo que no Brasil, um em cada cinco
brasileiros apresenta algum problema psicológico (BRASIL, 2022).

A internação em hospitais psiquiátricos, que por muito tempo foi o único recurso
disponível para o tratamento de transtornos mentais graves, está sendo substituída por uma
abordagem mais humanizada e integrada (GOMES, 2021). No entanto, a situação dos
hospitais psiquiátricos no país ainda é preocupante. Segundo o Conselho Federal de
Psicologia (2019), existem cerca de 44 mil leitos psiquiátricos no país, distribuídos em 364
hospitais psiquiátricos. Além disso, a maioria dessas instituições ainda segue um modelo
asilar e repressivo, que não está alinhado com as diretrizes do Ministério da Saúde para
atenção em saúde mental (AMARAL, 2020). Ainda segundo o CFP, o processo de
desinstitucionalização, que consiste na substituição dos hospitais psiquiátricos por serviços
comunitários e de base territorial, vem sendo realizado no Brasil desde a década de 1980.

No entanto, esse processo enfrenta desafios como a falta de investimento em


recursos humanos e em serviços substitutivos, além da resistência de profissionais e
gestores de saúde mental em adotar esse modelo de atenção. Portanto, embora a rede de
saúde mental tenha avançado significativamente nos últimos anos, ainda há muito a ser
feito para que todas as pessoas tenham acesso a um cuidado de qualidade, livre de
preconceitos e que valorize a dignidade, autonomia e liberdade das pessoas com
transtornos mentais. Além disso, é preciso superar a lógica asilar dos hospitais
psiquiátricos e adotar um modelo de atenção que seja centrado no cuidado integral e na
promoção da autonomia e da cidadania dos usuários (AMARAL, 2020).

Considerando o cenário atual e tudo o que foi relatado, a reforma psiquiátrica se


mostra extremamente relevante em termos sociais e vem ganhando cada vez mais
visibilidade nos últimos anos. Seu objetivo principal é oferecer tratamentos mais
humanizados, dignos e respeitosos às pessoas que sofrem com transtornos mentais, por
meio de medidas como a luta antimanicomial e a promoção do tratamento humanizado e
acolhedor aos pacientes e seus familiares. (TAVARES; LUZIO; OLIVEIRA, 2019). Sendo
essa a justificativa social do trabalho, um relato de experiência que aborde esse tema pode
ser de grande valia para a compreensão da reforma psiquiátrica e seus desafios, trazendo
reflexões sobre a importância de investimentos na área de saúde mental para garantir um
cuidado acolhedor e de qualidade.

Enquanto justificativa pessoal, a área da saúde sempre me interessou muito e, ao


longo dos anos, tenho me dedicado a estudar e aprofundar meus conhecimentos sobre o
tema. A reforma psiquiátrica, a humanização e o acolhimento nos hospitais psiquiátricos
são assuntos que considero fundamentais para a melhoria do tratamento oferecido às
pessoas com transtornos mentais. A experiência de estágio no hospital psiquiátrico Juliano
Moreira aponta para a importância de se repensar as práticas de tratamento em saúde
mental, para promover uma assistência mais humanizada, respeitosa e que valorize a
autonomia dos pacientes

A abordagem desse tema vem tendo cada vez mais espaço na literatura científica,
uma vez que a reforma psiquiátrica é um movimento social que se consolida como um
novo modelo de atenção à saúde mental. Por meio dessa pesquisa, pretende-se discutir
como as práticas de humanização e o cuidado básico podem contribuir para a promoção da
autonomia dos pacientes e para a desconstrução do estigma em relação aos doentes. Além
disso, o trabalho buscará discutir os efeitos da reforma psiquiátrica no Hospital
Psiquiátrico, além dos desafios enfrentados na implementação das práticas de reforma
psiquiátrica, como a resistência de alguns profissionais da saúde, a falta de investimentos e
recursos adequados e a necessidade de se construir novas práticas e modelos de cuidado
em saúde mental, revestindo-se de relevância teórica.

Nesse sentido, essa pesquisa busca contribuir com o campo acadêmico e social,
tendo como problemática compreender as formas de concretização da Reforma
Antimanicomial em um Hospital Psiquiátrico. A seguir, apresentam-se os objetivos
traçados para responder adequadamente este problema.
OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

O objetivo geral deste trabalho é analisar as implicações do movimento de Reforma


Antimonicomial na assistência em saúde de um Hospital Psiquiátrico.

2.2 Objetivos específicos

1) Identificar as práticas de humanização no cuidado ofertado aos usuários do Hospital


Psiquiátrico;

2) Caracterizar as práticas de cuidado ofertado aos usuários do Hospital Psiquiátrico;

3) Refletir sobre os avanços e entraves de práticas humanizadas em Hospitais


Psiquiátricos.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A instituição psiquiátrica é uma construção social que se desenvolveu ao longo dos


séculos, tendo como principal objetivo o tratamento e a segregação dos indivíduos
considerados “loucos” ou “insanos”. De acordo com Foucault (2013), a instituição
psiquiátrica é uma forma de controle social que utiliza a disciplina para manter os indivíduos
conforme as normas sociais. Segundo o autor, a instituição psiquiátrica visa controlar e
normalizar os comportamentos considerados desviantes, em vez de tratar os indivíduos que
sofrem de transtornos mentais. Nesse sentido, a instituição psiquiátrica é uma forma de poder
que visa manter a condição que reprimir a diversidade.
Outros estudiosos, como Goffman (2009), destacam a estigmatização dos indivíduos
internados em instituições psiquiátricas. Conforme o autor, a instituição psiquiátrica é um
local onde os indivíduos são rotulados como “loucos” e, consequentemente, excluídos da
sociedade. Além disso, a instituição psiquiátrica se configura como um local de controle total,
onde os indivíduos perdem sua identidade e são tratados como objetos. Goffman (2009)
chama a atenção para a essa perda de identidade e autonomia que pode levar a um processo de
despersonalização e à internalização de um estigma social. Assim, a instituição psiquiátrica
torna-se um local onde os pacientes são rotulados como doentes mentais, perdendo o direito
de serem tratados como seres humanos.
É hierarquia de poder que existe dentro das instituições psiquiátricas, em que os
profissionais da saúde mental ocupam o topo e os pacientes são colocados em posição de
inferioridade. Essa dinâmica de poder é mantida por meio de técnicas de controle e disciplina,
como a administração de medicamentos e a restrição física dos pacientes. Em relação à
reforma antimanicomial, há o risco de que a desinstitucionalização não seja acompanhada por
políticas efetivas de integração social e de garantia de direitos dos pacientes, pois a falta de
preparo da sociedade para receber os pacientes em seus lares e em suas comunidades poderia
levar à exclusão social e ao abandono dessas pessoas. (GOFFMAN, 2009).
Além disso, Goffman (2009) criticou a tendência de substituir a instituição psiquiátrica
por outras instituições, como os centros de atenção psicossocial (CAPS), que para ele esses
centros poderiam também reproduzir a mesma lógica de controle e disciplina da instituição
psiquiátrica. Em resumo, o autor dentro da sua obra “Manicômios, prisões e conventos”, faz
críticas a instituição psiquiátrica e à reforma antimanicomial, de como é exercido o controle
total dos pacientes e como é a hierarquia de poder que existe dentro das instituições
psiquiátricas, a falta de preparo da sociedade para receber os pacientes desinstitucionalizados,
e os risco de exclusão social e a reprodução da lógica de controle e disciplina em outras
instituições.
Diante do apresentado, algumas mudanças tem sido observadas. De
acordo com Saraceno (2003), a instituição psiquiátrica passou por um processo de
desinstitucionalização nas últimas décadas. Esse processo consistiu em reduzir o número de
internações em instituições psiquiátricas e promover a inclusão social das pessoas com
transtornos mentais. Nesse sentido, a desinstitucionalização representou uma mudança
importante no tratamento de pessoas com transtornos mentais.
Um estudo realizado por Asevedo, Caldas E Dimensteins (2020) apontou que, apesar
dos avanços na desinstitucionalização, ainda há uma tendência de se internar os pacientes com
transtornos mentais graves em hospitais psiquiátricos. Além disso, o mesmo estudo
identificou que a institucionalização pode levar a um aumento na taxa de readmissão dos
pacientes, especialmente em casos de crises agudas. Para enfrentar esses desafios, é
necessário haver um esforço conjunto de profissionais de saúde mental, gestores públicos e da
sociedade em geral. É importante também serem criados programas de acompanhamento e
suporte aos pacientes desinstitucionalizados, garantindo que eles tenham acesso a tratamento
e serviços de saúde mental de qualidade e, consequentemente, que não haja regressão no
processo de tratamento.
Podemos observar uma transformação significativa nas instituições psiquiátricas, com
uma mudança em direção a um modelo mais centrado no paciente, com um enfoque em
tratamentos humanitários e eficazes. Conforme a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP),
os tratamentos oferecidos nas instituições psiquiátricas envolvem profissionais
multidisciplinares, incluindo psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e
assistentes sociais, e podem incluir diversas abordagens, como medicamentos, psicoterapia,
terapia ocupacional e outras.
As mudanças significativas ocorridas nas instituições psiquiátricas, como a
desinstitucionalização e a evolução para um modelo centrado no paciente e na reintegração
social, contribuíram para que esses espaços ainda fossem utilizados para o cuidado de pessoas
com transtornos mentais. Apesar dos avanços, ainda existem desafios a serem enfrentados
para garantir o acesso adequado dos pacientes aos serviços de saúde mental, de modo a
proporcionar um cuidado mais humanizado e eficaz. Nesse contexto, é fundamental destacar
que a reforma antimanicomial surge como um movimento essencial para aprimorar o cuidado
com as pessoas com transtornos mentais, uma vez que busca substituir a internação em
hospitais psiquiátricos por um modelo de atenção psicossocial mais inclusivo. Veremos a
seguir como foi o processo de implementação da reforma antimanicomial.

2 Reforma Antimanicomial

A Reforma Antimanicomial é um movimento que surgiu no Brasil e se espalhou pelo


mundo a partir da década de 1970, para transformar o modelo de tratamento das pessoas com
transtornos mentais, deixando de lado as instituições psiquiátricas e buscando a inclusão
social e a reinserção dessas pessoas na sociedade (PIRES, 2008). A ideia central é que as
pessoas com transtornos mentais devem ser tratadas em ambientes abertos, comunitários e
territorializados, e que o foco do tratamento deve ser a autonomia e a cidadania desses
indivíduos.
Segundo o psiquiatra e ativista italiano Franco Basaglia, considerado um dos
principais inspiradores da Reforma Antimanicomial no mundo, as instituições psiquiátricas
são responsáveis pela perpetuação da exclusão social e da violência contra as pessoas com
transtornos mentais. Em seu livro "A Instituição Negada", Basaglia afirma que "a psiquiatria é
a negação da liberdade e dos direitos humanos mais elementares" (BASAGLIA, 1985, p. 23).
No Reino Unido, a Reforma Antimanicomial também teve um papel importante. A
partir da década de 1980, o governo britânico passou a investir em serviços de saúde mental
comunitários e a desativar os manicômios. O objetivo era proporcionar um atendimento mais
humanizado e menos segregador às pessoas com transtornos mentais. Já nos Estados Unidos,
a luta contra a internação psiquiátrica compulsória ganhou força principalmente na década de
1960. Um dos principais ativistas desse movimento foi o psiquiatra Thomas Szasz, que
argumentava que os transtornos mentais não eram doenças, mas sim comportamentos
desviantes que não deveriam ser tratados com internação (PIRES, 2008).
Ainda em outros países como no Canadá, a Reforma Antimanicomial ganhou força na
década de 1970. A partir de então, houve uma diminuição significativa no número de
internações em hospitais psiquiátricos e um aumento na oferta de serviços comunitários de
saúde mental. O foco passou a ser no tratamento de transtornos mentais em um ambiente
menos restritivo e mais humano (ROBERTSON, 2001). Na Austrália, a Reforma
Antimanicomial também teve um papel importante. A partir da década de 1980, o governo
australiano começou a fechar os hospitais psiquiátricos e a investir em serviços comunitários
de saúde mental. O objetivo era garantir um tratamento mais humanizado e integrado à
comunidade para as pessoas com transtornos mentais (MCDONALD et al., 2019).
Tendo isso em vista, a Reforma Antimanicomial tem como base a humanização do
tratamento das pessoas com transtornos mentais, respeitando suas individualidades e
promovendo a sua inclusão social. Conforme a psiquiatra brasileira Ana Pitta, "a Reforma
Antimanicomial propõe a substituição do modelo de assistência centrado na instituição
hospitalar, que agrava o sofrimento, a exclusão e a discriminação, por um modelo
comunitário, que promove a cidadania, a autonomia e o respeito aos direitos
humanos” (PITTA, 2011, p. 35).
No entanto, a implantação da Reforma Antimanicomial ainda enfrenta desafios no
Brasil e em outros países. A falta de investimento em serviços de saúde mental na rede
pública, a resistência de alguns profissionais da área da saúde e a falta de apoio da sociedade
são algumas das barreiras que precisam ser superadas para que a Reforma Antimanicomial
seja efetiva (NUNES et al., 2016). No Brasil, a luta pela Reforma Antimanicomial foi liderada
por movimentos sociais, profissionais da área da saúde mental e familiares de pacientes
internados em hospitais psiquiátricos. Em 2001, foi aprovada a Lei n.º 10.216, que
regulamentou a Reforma Antimanicomial no país e estabeleceu diretrizes para a assistência às
pessoas com transtornos mentais (BRASIL, 2001).

A Constituição Federal de 1988, também conhecida como "Constituição Cidadã", foi


um marco importante na história do Brasil. Segundo Silva (2010), essa constituição
representou um avanço significativo no campo dos direitos sociais, ao reconhecer a saúde
como um direito de todos e dever do Estado. Nesse sentido, o artigo 196 da Constituição
estabelece que "a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos". (BRASIL,
1988. Art.196).
A partir da promulgação da Constituição de 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi
instituído em 1990, como uma concretização do direito à saúde estabelecido na Carta Magna.
Segundo Paim et al. (2011), o SUS é um sistema de saúde baseado nos princípios da
universalidade, integralidade e equidade, visando proporcionar acesso igualitário a todos os
cidadãos brasileiros. Nesse contexto, o SUS busca garantir assistência integral à saúde,
promovendo ações de prevenção, promoção, recuperação e reabilitação.
Um dos pilares do SUS é a implementação dos Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS), que surgiram como alternativa ao modelo manicomial de tratamento em saúde
mental. Segundo Amarante (2017), os CAPS são serviços de saúde comunitários, que
oferecem atendimento a pessoas com transtornos mentais e dependência química, visando à
sua reinserção social e o fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Esses centros
baseiam-se na lógica da atenção psicossocial, pautada no respeito aos direitos humanos e na
promoção da autonomia dos usuários.
Apesar desses desafios, e das vitorias já conquistadas, a Reforma Antimanicomial tem
sido um importante marco na luta pelos direitos das pessoas com transtornos mentais,
influenciando políticas públicas e práticas de saúde mental em todo o mundo. Como afirmou
o psiquiatra italiano Franco Rotelli, "a Reforma Antimanicomial é uma utopia possível, que
exige compromisso, responsabilidade e solidariedade para a construção de uma sociedade
mais justa e humana". (ROTELLI, 2015, p. 53).

4 METODOLOGIA
Nessa seção, você vai descrever qual o tipo de pesquisa adotou. Diga o tipo e
explique porque escolheu determinado tipo de pesquisa.
Descrever com qual material vai trabalhar (documentos, levantamento bibliográfico,
pessoas). Se forem pessoas, diga com quantas e suas características (sexo, idade, se é surdo,
série escolar, qual município). Se for em uma INSTITUIÇÃO não diga o nome, apenas
descreva as características (pública, ou privada, do Estado, do Município ou ONG, clínica
etc.). Lembre-se que para trabalhar com pessoas ou animais é necessário um protocolo do
comitê de ética e pesquisa.
Lembre-se: como você ainda vai realizar a pesquisa, todo o texto deve ser escrito no
futuro (Será desenvolvido, descreverão, observará, formarão)

Exemplo de subtópicos
4.1 Caracterização do Tipo de estudo 4.2 População e amostra 4.3 Instrumento de coleta
de dados 4.4 Análise de dados 4.5 Considerações éticas

5 CRONOGRAMA

CRONOGRAMA

ATIVIDADES MAR/2023 ABR/2023 MAIO/2023 JUN/2023

1ª 2ª 3ª 4ª 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 1ª 2ª 3ª 4ª 1ª 2ª
Escolha do Tema X
Definição do Problema X X X X X
Definição da Hipótese
Justificativa X X
Objetivos X X
Revisão da Literatura X X
Metodologia
Resultados Esperados
Referências X X X X X X X X X X X X X
Montagem do Projeto X X X X X
Revisão do texto
Entrega do Trabalho X
7 RESULTADOS ESPERADOS

Deve conter de forma concreta em que se espera alcançar os objetivos


específicos. Portanto deve existir uma correspondência estreita entre os mesmo, incluído sua
forma de expressão.

REFERÊNCIAS

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AGUIAR, DDB; SOUZA, JC Acolhimento de familiares de pacientes em um serviço de


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ANEXO

APÊNDICE (Opcional)
O anexo e o apêndice, se forem utilizados, devem estar cada um em uma página separados.
OBS: Apêndices são documentos utilizados na pesquisa que foram criados pelo autor.

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