Você está na página 1de 11

Pedro Miguel Vieira Barros

Recensão1

“Uma Mochila para o Universo” é o título do livro de Elsa Punset, especialista em


inteligência emocional, dividido em sete capítulos e que apresenta vinte e um roteiros
para viver com as nossas emoções. Ao longo dos roteiros vão sendo colocadas questões
para que o leitor, à luz da sua experiência de vida, possa responder/meditar, pelo que é
um livro que deve ser lido com calma e talvez até de forma faseada para que se possa
fazer um caminho interior que poderá ter ecos na relação com os outros. Ser lido de uma
vez poderá tornar-se apenas mais um livro de autoajuda e reflexão sobre a vida e pouco
ou nada transformador pois o caminho do “eu interior” requer tempo, persistência,
acreditar, com avanços e recuos que devem ser vistos como positivos para o ser humano.
Neste livro a autora dá especial atenção aos fatores sensorial, emocional e afetivo
que envolvem a vida do ser humano enquanto ser social em relação consigo e com os
outros. Apresenta um estilo de escrita fluente recorrendo muitas vezes à pergunta-
resposta, o que facilita a leitura, ajudando o leitor a fazer um caminho de
autoconhecimento e de superação de obstáculos numa perspetiva de evolução emocional
e no desenvolvimento de comportamentos assertivos e positivos numa harmonização
entre corpo e mente.

No Prólogo, a autora começa por relatar uma situação da sua vida familiar para,
depois, estabelecer o paralelo entre o passado e a forma como se pode lidar com as
recordações numa perceção do que fomos e como isso tem ou não influência na visão
sobre o mundo. A frase “…não somos o que dizemos, somos o que fazemos” deixa já no
ar o assunto que se revela ao longo da leitura que se segue – as emoções. Apresenta-se,
ainda, como que um resumo e, ao mesmo tempo, o lançar de um desafio.

1
PUNSET, Elsa, Uma Mochila para o Universo: 21 roteiros para viver com as nossas emoções, Planeta,
Lisboa: 2013, 283 pp.

1
No início do primeiro capítulo, a autora parte da sua experiência pessoal e social
para lançar as pistas de reflexão dando também exemplos de filmes/livros/frases célebres
que acrescentam ênfase à reflexão. Propõe exercícios de autoanálise com perguntas
simples e diretas, seguindo-se as respostas baseadas em experiências comuns e em
experiências científicas. Neste primeiro capítulo encontramos os três primeiros roteiros
que nos falam do amor e da angústia do afastamento e das perdas.
O Roteiro 1 começa por nos falar da importância de um abraço sendo colocadas
questões e dadas respostas baseadas em experiências sociais e/ou científicas. O amor
aparece como fonte e elo de ligação entre as pessoas; mais ainda, surge a empatia como
algo que está presente nas relações e que nos leva a colocar no lugar do outro. Numa
abordagem sobre as várias ligações entre as pessoas sejam de contacto físico seja de
contacto através das redes sociais, revela-se como importante para o desenvolvimento da
pessoa a ligação que implica o toque e a atenção. Salienta-se, também, a questão do tempo
que leva a conseguirmos colocar-nos no lugar do outro e criar empatia. Assim sendo,
volta-se à questão inicial e diz-nos que o abraço deve demorar para que a ligação seja
estabelecida. Lança, também, uma questão pertinente, que à primeira vista pode parecer
simplista, mas que na era em que vivemos nos transporta para a reflexão sobre os amigos
e conhecidos. Refere que comunicação faz parte da vida do ser humano, logo a conversa
é o meio mais eficaz para que essa comunicação aconteça. No entanto, chama a atenção
para os perigos de “falar da vida alheia”, e muitas vezes apenas para ser aceite em certos
grupos, pelo que sugere que deixemos a “bisbilhotice” para construirmos a comunicação
assente no amor, na partilha e na compreensão.
O Roteiro 2 aprofunda a questão das etapas do amor estabelecendo a diferença entre amor
e paixão inicial e duradoura. O amor exige cuidado, escuta e ligação. Encontramos
descritos os estilos amorosos: erótico (centrado nas características físicas e psicológicas,
sendo apaixonados, mas não aceitam bem os defeitos do outro pois idealizam o que a
outra pessoa tem de ser), carinhoso (centrado na confiança, na partilha, no compromisso
e na fidelidade) e brincalhão (assumem o amor como um jogo e revelam pouca vontade
de assumir um compromisso com tendência para a infidelidade). A autora coloca várias
questões ao leitor com classificação de “sim ou não” para que este possa descobrir de
qual estilo se aproxima. O estilo vai depender das vivências e da personalidade, pelo que
as pessoas têm tendência a procurar alguém do mesmo estilo amoroso. Para o primeiro
encontro são deixadas algumas dicas: chamar a atenção do outro, olhar correspondido,
falar sobre algum assunto geral, gestos e palavras e mostra de desejo. Desafia a fazer em

2
conjunto uma experiência que una e estreite laços. Apresenta-se o beijo como
demonstração de afeto. Após este primeiro encontro começa a ligação que deve ser
cuidada para que possa avançar, crescer e permanecer. Se a relação não for alimentada e
cuidada pode cair no tédio e/ou afastamento dos casais. Salienta-se a necessidade de
inovação e emoção para que os casais possam estar em sintonia nos diversos níveis: físico,
mental e emocional. Aqui o enfoque vai para a atenção que poderá passar pelo
romantismo enquanto “alimento” da relação fazendo com que se sintam bem na
companhia um do outro. Por fim, são dadas pistas para que se ofereça o presente certo.
Oferecer presentes é uma forma de comunicação e de conhecimento pelo que aqui fala-
se do bom que é acertar no presente pois a pessoa que o recebe sente que a outra pessoa
o conhece e preza, sendo que quando compramos um presente para alguém também
devemos ter esse cuidado. São apresentados oito princípios para melhor escolher o que
se vai oferecer de acordo com a relação que temos com a pessoa, o bom senso e a
personalidade própria da pessoa.
O Roteiro 3 centra-se no afastamento e como lidar com as perdas colocando-nos perante
a pergunta… e quando o amor acaba? O afastamento e o fim de uma relação podem criar
dor emocional que, para ser superada, necessita da superação de alguns dos nossos
comportamentos, mas no fim pode ser a “alavanca” para a pessoa se tornar mais forte.
São apresentados vários estádios que vão desde a negação não aceitando o fim da relação,
passando pela fúria, negociação e depressão até à aceitação para seguir em frente. E no
final uma sugestão para ajudar a superar a perda. Assim sendo, o amor é uma
aprendizagem que requer esforço pois também a sociedade evolui, bem como, a forma de
nos relacionarmos.

No início do segundo capítulo é relatado algo relacionado com a vivência da


autora em família para depois, à luz dessa vivência, apresentar um breve resumo do que
se espera nas páginas seguintes. Este capítulo apresenta os roteiros 4, 5 e 6 que nos falam
sobre a mente, o medo, a vingança e a mudança.
O Roteiro 4 começa por dizer que nos apoderamos do mundo através dos nossos sentidos
e são eles que “passam” a informação ao nosso cérebro. Aparece-nos aqui a imagem da
formiga para ilustrar a forma como podemos percecionar o mundo que nos rodeia. Há
diferentes formas de comportamento do cérebro que nos podem dar ou não a realidade tal
como ela é, sendo que podemos ver apenas o que nos interessa. Sugere-se a “ginástica
cerebral” para que o cérebro deixe a rotina e possa abrir-se a novos caminhos e começar

3
a ver a vida e o mundo de outra forma. Com exercícios simples podemos treinar o nosso
cérebro para que a perceção da realidade seja mais real e vista de forma positiva. De
seguida, apresenta o medo como algo que faz parte da vida do ser humano e, em certa
medida, condiciona os seus comportamentos. O medo não pode paralisar, embora por
vezes nos faça ter comportamentos e atitudes de recuo e defesa que podem vir a revelar-
se benéficos. É necessário enfrentar os medos para poder superá-los. Refere vários tipos
de fobia que se apresentam como medos excessivos.
No Roteiro 5 o enfoque está na parte emocional, pelo que as emoções podem ser benéficas
ou prejudiciais e a forma como as gerimos é que revela o que são e como ajudam na
construção do eu. Aqui é introduzido o termo “sequestro emocional” fazendo-se a
distinção entre o racional e o emocional do cérebro com exemplos de
acontecimentos/vivências em época de Natal. A inteligência emocional passa muito pelo
equilíbrio e harmonia entre estas duas partes, racional e emocional. Destaca-se, ainda, a
questão da vingança que, numa primeira fase, pode até dar a sensação de felicidade
quando nos vingamos, mas depois ao prolongar esse sentimento vai imprimir na vida
emoções negativas e até tornar-se um ciclo vicioso. Para que se possa abandonar essa
vontade de vingança são apresentados cinco passos: respirar fundo, pensamento positivo,
escolha da felicidade, colocar-se no lugar do outro, desabafar. Há um alerta para o perigo
de ficar agarrado aos pensamentos negativos, pelo que o desejo de “desejar” mal aos
outros assente na inveja, paralisa e deve ser combatido.
O Roteiro 6 traz à reflexão a questão: É possível mudar? Claro que sim! Mas este é um
processo que exige força de vontade, quebra de rotinas e persistência no caminho. É
benéfico abandonar hábitos rotineiros que não nos fazem feliz e que nada acrescentam à
nossa existência. Não é fácil mudar, mas é possível! Colocar-se em perspetiva ajuda a
mudança e ajuda, até, a descobrir novas formas de ser mais eu e de se relacionar com os
outros e com o mundo. Mudança implica abandonar caminhos anteriores e rotineiros e
descobrir outra forma de viver intensamente com serenidade e autenticidade.

O terceiro capítulo, também começando pela experiência pessoal, fala-nos das


palavras e das emoções e de como durante muito tempo se centrou os estudos e teorias na
parte racional do cérebro menosprezando a parte emocional. As emoções fazem parte do
ser humano e são elas que nos mantêm em relação com o outro e com o mundo.
Precisamos de viver as emoções, expressá-las, geri-las e compreendê-las e fazer
aprendizagem para direcionar da melhor forma a nossa linguagem emocional. Neste

4
capítulo são apresentados os roteiros 7, 8 e 9 que nos falam das emoções na sua essência,
na sua gestão e na sua diversidade, bem como são apresentadas ferramentas para vencer
a indiferença e o medo do fracasso.
O Roteiro 7 apresenta a definição, importância e desenvolvimento das emoções. As
emoções contagiam e através delas somos também contagiados e contagiadores quer de
forma positiva quer de forma negativa e por isso o grande desafio é gerir as nossas
emoções e contagiar positivamente. Chama a atenção para a forma como podemos evitar
ser contagiados por emoções negativas que em nada contribuem para construir o caminho
do bem e da felicidade. Sendo as emoções o resultado de vivências físicas e mentais e
com as quais entramos em interação com o eu e o mundo, torna-se importante este tipo
de comunicação que se manifesta na capacidade de amar e ser amado.
O Roteiro 8 reforça a ideia de que somos seres únicos e todos temos algo único para dar.
Aceitar-se tal como é e saber o que é importante sem ser em comparação com os outros
é um caminho difícil numa sociedade que vive da imitação e da obediência. Quando se é
capaz de ser autêntico supera-se o medo da rejeição e do fracasso. Como superar o
fracasso? O medo do fracasso limita as nossas possibilidades de aceitar novos desafios e
evoluir. Não arriscar pode ser mais seguro, mas limita a superação e torna a vida mais
aborrecida. Aprender com o fracasso e não deixar fugir as oportunidades mesmo que
implique riscos é ver no fracasso uma oportunidade de crescimento. Assim, é necessário
munir-nos de ferramentas que ajudem a superar as contrariedades e desgostos, mas
também nos ajudem a fazer escolhas assertivas e inteligentes para poder seguir em frente
com confiança e determinação. É fundamental harmonizar corpo e mente.
O Roteiro 9 diz-nos que corpo e mente não estão dissociados pelo que as emoções e o
corpo estabelecem uma relação evidente que pode ser comprovada de diversas formas e
estas são aqui apresentadas. As nossas emoções são percetíveis através do corpo e da cara
pelo que o olhar mais atento do outro facilmente percebe o que estamos a sentir –
linguagem não verbal. Uma visão positiva ajuda a sentir-se melhor e a fazer sentir melhor
os outros à sua volta. São, ainda, apresentadas boas razões para rir pois rir faz bem! O
sentido de humor, na medida certa, pode ser uma boa forma de integração nomeadamente
nas relações sociais; pelo contrário, quando é utilizado com sarcasmo pode ser prejudicial.
Surgem, aqui, ideias para melhorar o sentido de humor e treinar o riso. E chorar? Chorar
pode ser por algo bom ou algo menos bom. Chorar nem sempre ajuda pois depende da
forma como se fica após esse comportamento, se somos apoiados ou se ficamos isolados.

5
O ser humano tem tendência para se fixar nas coisas más, o que impede muitas vezes de
ver as coisas boas. Torna-se cada vez mais importante compreender os outros.

Seguindo com o quarto capítulo, a autora aborda a linguagem secreta das pessoas,
propondo estratégias para comunicarmos com os outros, sem rodeios, que nos permitam
procurar uma porçãozinha de felicidade e que se cante em toda a nossa vida, pela
autenticidade que nos faz ser verdadeiros. A busca da autenticidade, alimenta o
entusiasmo pela forma como comunicamos exteriormente e como vivemos interiormente
aquilo que transporta a linguagem do nosso corpo, daí que “há que admitir que somos o
que parecemos” pelos sinais que constantemente emitimos, de forma automática, e como
tal, para haver uma comunicação perfeita, precisamos de estar atentos e ter cuidado e
escutar o outro na totalidade.
O Roteiro 10 abre-nos à compreensão da linguagem corporal e como ela traduz e expressa
os nossos “segredos”, e para tal somos convidados a uma excursão pela dimensão mais
realista de como funciona o nosso cérebro, para percebermos a diferença entre a mente
consciente (engloba tudo o que conseguimos controlar) e a mente inconsciente (a
automatização da infinidade das nossas experiências vitais). Sendo o cérebro fundamental
pela sua influência em tudo o que somos, a autora introduz-nos a partir deste momento
em momentos mais específicos, embora mais discretos e pequenos de tudo o que é a
pessoa, nos segredos da topografia humana. Diz-nos que sinais básicos podem denunciar
as mentiras que cometemos: os verbais e os físicos. Que a experiência da mentira em nós,
começa por ser uma forma de experimentar e melhorar o domínio da linguagem, mas
depois passa a uma forma de suavizar a realidade ou para tentar alcançar os nossos
objetivos. E tudo isto se reflete no nosso corpo, pelo que é muito difícil dissimular as
emoções, pois estas constituem a linguagem universal e básica da espécie humana. Mais,
todos precisamos de emoções para conviver, colaborar e comunicarmos entre nós. Entre
o segredo dos olhos, os micropuridos, as microcomichões, a verdade é que podemos ir
aprendendo as ler os sinais da linguagem não verbal, e como nos é dito, “abre um mundo
de possibilidades comunicativas que nos ajudam a compreender melhor os outros e a
expressar-nos de forma a permitir chamar a sua atenção, captar o seu interesse e poder
transmitir a nossa mensagem de forma eficaz”.
O Roteiro 11 aborda um dos maiores medos de muita gente, que é falar em público. É
importante expressarmo-nos em público, com eficácia, e por isso a autora introduz-nos
alguns mecanismos para enfrentar tal situação, começando por nos falar da procura da

6
tranquilidade, através de mecanismos e aprendizagens que nos permitam viver esses
momentos e lidar as nossas emoções com naturalidade, e daí, com descontração e leveza.
Mas vamos mais longe, a partir dos estudos que autora vai apresentando, não é de admirar
que a primeira impressão, de facto, molde a nossa forma de chegar ao próximo, e a do
outro receber. Realça a importância da Oratória voltar a ser recuperada no ensino e
aprendizagem, para que a comunicação se torne mais eficaz, evitando aquilo que nos pode
não ajudar a causar uma boa impressão. Em seguida, lembra a marca fundamental e o
gesto mais eficaz na comunicação que é o sorriso, pois é uma arma de confiança.
O Roteiro 12 coloca o enfoque na vulnerabilidade das relações entre os grupos humanos,
naquilo que se pode falar das dimensões de subordinação e autoridade, que se manifestam
através da forma de um aperto de mão ou outras formas de saudação. Ajuda-nos a ler os
sinais e gestos, assim como a compreender como usar alguns truques que sejam
fundamentais, como por exemplo, para uma entrevista de trabalho. Nestes últimos
roteiros sobre a linguagem corporal vemos como a “prova social” requer a construção de
confiança e a conquista da mesma na outra pessoa, pelo que somos encaminhados por
estratégias que convençam o outro a confiar em nós.

O quinto capítulo, já depois de levarmos alguma bagagem para enfrentar o mundo


e os outros, a autora convida-nos a concentrar na definição de objetivos, refletindo sobre
os elementos, pessoas, ideias e causas de que pretendemos ter para alcançar essa
felicidade que é o verdadeiro sentido da nossa existência. Nesta balança da felicidade,
vamos descobrindo que de facto, isto é sem dúvida o que todos procuramos, uma boa
vida, será sempre aquela que “contribuir para que a existência dos outros fosse um
pouquinho melhor... e que é mais gratificante para as pessoas dar aos outros do que
receber”. É este caminho que vamos percorrer nos próximos roteiros, que têm uma
palavra em comum - a felicidade, mas sempre a incerteza de medimos bem a balança.
O Roteiro 13 mais do que definir a felicidade procura dar-nos os elementos fundamentais
que a compõem, pois segundo os estudos apresentados, sabe-se que o nosso caminho nos
orienta com mais facilidade para a infelicidade do que para a felicidade. Mas, para não
perdermos esse barco, somos chamados a pôr em prática esses elementos (gratidão,
perdão, compaixão…) contribuindo para a felicidade pessoal e coletiva, mas acima de
tudo a busca do conjunto do bem-estar emocional e físico faz-nos gerir com alegria o
capital de felicidade, mesmo sabendo que sendo algo pessoal e subjetivo, é um caminho

7
que cada um deve empreender. Diz-nos a autora ainda que a felicidade é constituída por
uma amálgama de emoções, mas no qual nós procuremos pensar sempre pela via positiva.
Realçando que tendencialmente temos o instinto da sobrevivência, devemos procurar
impregnar as nossas vidas de sentimentos de prazer, de algo que nos arrebate, progredindo
e recuperando as ilusões, mantendo um equilíbrio fundamental entre o positivo e o
negativo, consciente de viver o presente sem se refugiar no passado ou no futuro.
O Roteiro 14 leva-nos a uma viagem interior concentrados no presente, com as
fragilidades conhecidas de todos nós em querer massacrar o futuro com a nossa ansiedade,
mas é-nos dadas algumas ferramentas para nos ajudar a viver o presente, através de
exercícios simples de “atenção completa”. Mas salvaguarda que podemos ensinar a mente
a viver no presente, mas treinar a mente é como treinar o corpo, e por isso, é necessário
um esforço constante e regular para ter uma mente sã.
O Roteiro 15 abordando os padrões emocionais que desenvolvemos na infância, mostra
que muito do que há em nós despoleta fruto do meio ambiente pelo que os nossos genes
são ativados. A verdade é que o ser humano é verdadeiramente vulnerável perante aquilo
que o rodeia e pode influenciar essa “felicidade exterior”. A autora ainda abre à reflexão
às formas distintas de perceção, devido à realidade biológica, entre os homens e as
mulheres. Abordamos a dimensão do stress e a forma como funciona o cérebro masculino
e o feminino perante determinados aportamentos. Com surpresa, a ordem do nascimento
também pode condicionar o nosso destino, dado que habitualmente os primogénitos
assumem papéis de liderança e enfrentam as situações mais difíceis, assumindo uma
maturidade e sentido de responsabilidade. Realça a dimensão dos padrões emocionais que
nos são transmitidos na infância pois são muito potentes porque se gravam de forma
inconsciente e profunda no nosso cérebro, com base num complicado equilíbrio químico,
elétrico e físico. Daí a importância de corrigir padrões negativos e educar para uma
aprendizagem positiva, nas quais a autora propõe as “oito regras do polegar para pais de
crianças felizes”, para um ensino assertivo, autêntico e verdadeiro. Neste sentido,
procura-se evitar um declínio cognitivo, estimulando e potenciando a atividade cerebral,
pela ingestão reduzida de calorias, pelo exercício físico e jogos que são vitais para manter
a saúde mental e física. Ainda neste roteiro, quando a autora nos fala dos “erros que nos
impedem de estar em forma” e de “enganar o cérebro para emagrecer” somos convidados
a programar o cérebro de forma positiva através das atividades que são boas para nós,
primando pela qualidade, e que conduza a alterações neuroquímicas que se traduzem num
benefício para as nossas vidas.

8
Depois da viagem interior, o capítulo seis, introduz-nos nos elementos e técnicas que nos
podem ajudar a concretizar os objetivos originados pela nossa capacidade de sonhar e de
criar, na “escola da sorte”. Começamos por uma verdade fundamental, de que todos temos
sonhos e que os gostaríamos de concretizar e realizar, pelo que o Roteiro 16, introduz-
nos nesses atalhos para vencer as mudanças e a preguiça para alcançar glórias. Para
entendermos este universo somos convidados a compreender a diferença entre o estímulo
ou a imitação para aprender. O estímulo é o processo de aprendizagem centrado nos
resultados das ações, enquanto a imitação é a reprodução fiel de todos os elementos do
processo. Diz-nos que os seres humanos aprendem por imitação e repetem os padrões de
conduta, fazendo parte do kit de sobrevivência do humano. Mas ao longo do seu
desenvolvimento passa da imitação para assumir outras condições de carácter emulativo.
Numa só palavra se pode compreender este desafio de vencer as mudanças e mudar de
opinião: caminho. A autora dá-nos várias pistas como a síndrome de “Eu sei tudo”, como
sinal da resistência à mudança, conhecido como “dissonância cognitiva”. Mas é difícil
assimilar outras opiniões que sejam distintas das nossas – “raciocínio motivado”, porque
como nos é dito, “os nossos cérebros estão concebidos para tomar atalhos e adquirir
informações que lhes permitam comprovar ainda mais as suas convicções”. Dá-nos um
pontapé de saída para evitar a procrastinação e assumir com verdade e coragem em
transformar o potencial, os sonhos, os planos, em algo real. Logo, é preciso deitar mãos
à obra e colocar paixão no que fazemos, pelo que a autora deixa algumas técnicas como
a do “só alguns minutos...” e a do “duplo pensamento” para manter a motivação.
O Roteiro 17 é um convite a atingir o topo da criatividade, onde somos chamados a treinar
o cérebro para encontrar construtivos e criativos para canalizar a criatividade que há em
nós, pois todos somos criativos, pois há em nós um conjunto de instrumentos cognitivos
que funcionam de forma diferente, de acordo com as nossas necessidades, e que são
polinizadores de outros campos. Para a criatividade acontecer é necessário melhorar a
capacidade de insights, através da procura da descontração e leveza no processo criativo.
A este respeito são bem interessantes os exemplos que nos são deixados no livro.
Contudo, para ser criativo, é preciso correr o risco de fazer o que outros não fazem, ainda
que seja uma coisa na aparência tão simples. Mas usemos os truques sugeridos e as
técnicas que a autora propõe, para que os sonhos se possam trabalhar, ativando as áreas
do cérebro relacionadas com as emoções profundas. Por isso, o sonho é importante,
porque não estamos limitados pelos fatores lógicos e familiares, precisando de tirar

9
partido deles, como uma “incubação de sonhos” donde tudo nasce, pois precisamos de
ajudar o cérebro receoso e reativo a saber expressar o seu caudal de energia de forma
construtiva.
O Roteiro 18 situa-nos na ideia errada, muitas vezes construída na sociedade, de que
aqueles que estão bem são pessoas com muita sorte. Mas, através de alguns estudos
percebemos que há necessariamente alguns princípios fundamentais que garantem uma
boa sorte: 1) concentre-se e crie oportunidades; 2) veja as coisas sob um ponto de vista
otimista; 3) as pessoas com sorte tomam decisões de forma intuitiva; 4) as pessoas com
sorte têm expectativas otimistas.
Estes princípios ajudam a viver procurando transformar as situações e encontrando novas
oportunidades, para que se possam realizar segredos certeiros para alcançar os sonhos que
transportamos. Mas tudo depende de nós, pois perseguir um sonho dá sentido e força à
vida das pessoas, e faz-nos felizes. Coloquemos em práticas as técnicas enunciadas para
atingir os sonhos, porque todos podemos alcançar os sonhos, quando não desistimos.

Chegados ao sétimo e último capítulo, com o título do livro, “Uma mochila para
o universo”, chegamos aos códigos para decifrar e transformar a nossa vida, pois de nada
nos adianta lamentar pelo que não fizemos, mas agradecer pelo que nos atrevemos a fazer.
Tal como nos refere a autora, “quando nascemos, trazemos duas missões urgentes:
desenvolver a nossa capacidade de amar e alimentar a nossa curiosidade desmesurada
pelo mundo que nos envolve”, e por isso, precisamos “desbravar caminhos” como indica
o Roteiro 19, rumo à vida, gerindo o stress - reação normal do corpo, uma enorme subida
mental e fisiológica que o nos põe em guarda e alerta -, para não bloquear as nossas
funções corporais. O stress acaba por seu um problema grave, mas é preciso aprender a
reagir face ao que nos rodeia, gerindo as reações. Porque a vida é por si stressante se não
aplicarmos a técnica dos benefícios que nos sugere a autora, ou não soubermos partir das
experiências negativas, buscando-lhes um sentido, que se converta em algo positivo. Na
imensidão das escolhas que temos hoje em dia, abre-se a porta a muitas decisões, nem
sempre assertivas pela multiplicidade de possibilidades que temos. Mas é bom poder
escolher, mas é necessário moderar as expectativas, porque quanto elas são altas, a
realidade quase nunca pode estar à altura e costumamos sentir-nos dececionados. E
quando elas são baixas, é provável que a vida real possa melhorá-las.

10
O Roteiro 20 já na barca dos pensamentos positivos, mostra quanto devemos ser gratos
pelos recursos da natureza que são abundantes. A autora enaltece a importância do
agradecimento e da gratidão, como instrumento que irradia alegria na vida.
O Roteiro 21 finaliza é o último capítulo desta viagem com a mochila às costas, que nos
tem preparado para o universo. Prepara-nos e consciencializa-nos para viver o presente,
mesmo sendo um desafio na sociedade em que vivemos, que nos faz estar sempre a olhar
para o passado ou para o futuro. Só com esforço e vontade podemos ir trabalhando o
nosso lugar no mundo, esta viagem que fazemos. É necessário viver com intensidade,
acolhendo a meditação ou a atenção plena, usando as tradições e técnicas orientais, que
através de exercícios simples, faz-nos ter foco. Ao concluir este capítulo e este roteiro,
fizemos uma viagem que nos fez repensar a nossa mochila de vida, mas não sem antes
recordar a importância do pensamento simbólico, convidando-nos a armazenar o que
edifica a vida e a transformar o que há de negativo em positividade.
Este livro apresenta paralelismos com a questão fisiológica, nomeadamente, ao
nível do cérebro e da parte hormonal, pelo que encontramos várias referências a
escritores/estudiosos/cientistas na área da saúde que transmitem alguns dados científicos
de estudos realizados e que suportam a reflexão. Mais, ainda, vai dando sugestões de
atividades/gestos/ideias/exercícios para concretizar algumas questões levantadas na
prática do dia-a-dia. Apresenta alguns estudos académicos que levam o leitor, ou pelo
menos tentam, a questionar-se em que patamar se situa e se é benéfico a mudança de
atitude e pensamento. Faz quase sempre alusão às redes sociais, o que poderá indicar que
a comunicação e a relação com base nas emoções também passam por estes meios
utilizados por muitos e de muitas formas. O ser humano tem necessidade de relação não
só para combater a solidão, mas também como forma de sentir-se confiante.
Podemos dizer que é um contributo positivo para que cada pessoa se possa
conhecer melhor e, através das dinâmicas e reflexões que são propostas, ir descobrindo
as emoções que em si possam estar adormecidas, contribuindo de forma positiva para a
tomada de decisões. Relembra a importância de se conhecer a si próprio para que possa
realmente conhecer os outros e dar-se a mudança.
Por fim, Uma mochila para o Universo é um livro que nos ajuda a fazer a ponte
de todo o tumulto que é a força das relações, o choque entre o exterior e o interior, e a
profundidade da mudança, da compreensão e transformação que nos envolve em busca
do sentido da vida e da verdadeira felicidade, com autenticidade.

11

Você também pode gostar