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DR

O DR é um conjunto de normas ou regras jurídicas que vigoraram no mundo romano


desde a fundação de Roma (753 a.C., segundo a tradição) até 565 (ano da morte de
Justiniano, Imperador do Oriente). Segundo o critério jurídico interno, assinalam-se as
seguintes fases de desenvolvimento do DR: 1ª fase – Época Arcaica: decorre entre 753
a.C. (fundação de Roma) e 130 a.C. Em 130 a.C. surgiu uma nova lei, a Lex Aebutia de
Formulis (novo sistema processual Agere per Formulas (processo das fórmulas) que
afastou o sistema processual antigo Legis Actions (ações da lei), esta substituição
permitiu um enorme avanço e desenvolvimento do DR). Esta época era uma época de
um direito rudimentar, embora num desenvolvimento constante, em que ainda há
uma mistura e confusão dos domínios religioso, moral e jurídico, até porque, durante
muito tempo, eram os colégios sacerdotais que tinham a missão de revelar o conteúdo
de todas as regras. 2ª fase – Época Clássica: decorre entre 130 a.C. e 230. Em 230 o
processo das fórmulas foi substituído pelo sistema processual da cognição
extraordinária (Cognitio Extra Ordiem). A época clássica subdivide-se em três etapas:
época pré-clássica ou clássica inicial; época clássica central e época clássica tardia. Na
época pré-clássica a jurisprudência romana (atividade do jurisconsulto) teve um
desenvolvimento acentuado, ou seja, houve um crescimento da atividade de
jurisprudência romana, já afastada do domínio dos sacerdotes. Esta época decorreu de
130 a.C. até 30 a.C. A época clássica central decorreu de 30 a.C. até 130 e é marcada
pelo esplendor do DR, fase de maior rigor e perfeição, a que consegue chegar a um
equilíbrio perfeito entre o casuísmo e os princípios e regras jurídicas. Por influência do
jurisconsulto são criadas novas ações que ajudaram a modernizar o DR e a dar
respostas a situações complexas da vida social; conseguiu fazer uma perfeita
estilização da casuística (tarefa de que perante uma situação que se tem de avaliar,
saber distinguir o que é relevante do que não é). A época clássica tardia decorre de
130 a 230. Há uma decadência do DR: a iurisprudentia, feita pelos jurisconsultos,
começa a revelar uma menor criatividade; há uma tendência para a pura exposição de
matérias e os jurisconsultos voltam-se para o direito público, o seja, para os ramos do
direito ligados ao aparelho do Estado, como o direito administrativo, o direito penal ou
o direito fiscal, num fenómeno de burocratização da iurisprudentia, esta é uma fase de
poder absoluto de Imperador. 3ª fase – Época pós-clássica: vai de 230 a 530 e está
longe de ser homogénea. Divide-se em duas fases: a primeira vai de 230 a 395. Em 395
o Imperador divide o império em duas partes (parte oriental e parte ocidental), é uma
fase caracterizada por uma patente de confusão de terminologia, de conceitos e de
figuras jurídicas. Nesta fase, por exemplo, os conceitos de posse e de propriedade são
confundidos. A atividade dos jurisconsultos decai enormemente e dedicam-se á
elaboração de documentários e resumos reveladores de uma ciência jurídica simplista
e até elementar. A segunda vai de 395 a 530. No Ocidente verifica-se o fenómeno
conhecido como vulgarização do DR, o DR vulgar era um direito marcado por uma
confusão, há uma simplificação de conceitos, uma confusão de noções e há o
predomínio do aspeto prático sobre as categorias lógicas, ou seja, era um direito de
pouca elaboração científica, teórica, que iria sendo construído face às necessidades do
quotidiano, sem grande atenção a uma elaboração intelectual prévia. Esta
desconsideração das categorias lógicas e teóricas face ao aspeto prático leva a uma
confusão de conceitos. No Oriente verifica-se o contrário, há uma reação anti
vulgarista em que se dá uma particular importância ao aspeto da elaboração teórica do
direito e isso é alimentado por três escolas jurídicas: a escola de Constantinopla, a
escola de Alexandria e a escola de Beirute, que fizeram estudos jurídicos muito
profundos e tiveram uma reação contra o abastardamento do DR. Foi uma época
marcada pelo classicismo (retorno á pureza do DR clássico) e a helenização (influencia
da filosofia grega). A época justinianeia inicia-se em 530 que é o ano em que o
Imperador Justiniano (Imperador da parte Oriental) encarregou o jurista Triboniano de
elaborar o Digesto. Triboniano era um magistrado, uma figura politicamente
importante. O Imperador encarregou-o de presidir a uma comissão de juristas e que
fizesse uma compilação do mais importante das obras dos jurisconsultos da época
clássica, essa compilação ficou conhecida como digesto. E vai até 565 (ano da morte do
Imperador Justiniano). Características desta época: mantem-se o classicismo e a
helenização. Foi nesta época, por iniciativa do Imperador, elaborado o Corpus Iuris
Civilis, que foi uma coletânea que compilou e atualizou o DR e é graças a ela que as
gerações futuras conheceram a grande maioria do DR. Segundo o jurista clássico
Ulpianos, existem três princípios jurídicos fundamentais (Ius Praecepta): Honeste
vivere , suum cuique tribuere e altere non laedere. Honeste vivere (viver
honestamente) significa que as pessoas devem agir de acordo com o direito, não é a
lei, é a lei, mas não só a lei, é viver de acordo com a lei sem que se abuse do direito.
Suum cuique (atribuir a cada um o que é seu). Altere non laedere (não prejudicar os
outros) não se deve lesar os direitos dos outros. Estes princípios são essenciais a
qualquer ordem jurídica e, sem eles, as normas não são de direito. Distinção entre
direito público (Ius publicum) e direito privado (Ius privatum). O direito público é o
direito que regula a organização política (Res publica) e o funcionamento dos poderes
públicos nas relações internas ou internacionais. O direito privado é o direito que
regula as relações entre particulares, o que pode abranger relações entre o poder
público e particulares, quando o poder público não surja investido de poderes da
autoridade, ou seja, não há uma relação hierárquica, há uma relação de paridade. Três
conceitos muito importantes no DR que mostram que o DR era muito complexo e ,
para ele, o direito não era igual á lei, esses conceitos são a noção de Ius civile, Ius
praetorium e Ius honorarium. O Ius civile era o direito próprio da cidade de Roma e
exclusivo dos seus cidadãos. Era um direito formalista e rígido e que regulava as
relações jurídicas em que intervinha o chamado paterfamilias (cidadão romano que
tinha a máxima esfera jurídica na sociedade romana). Era aplicado a partir de 367 a.C.
por uma magistratura criada para administrar a justiça, o chamado pretor urbano.
Inicialmente as funções do pretor urbano eram restritas, limitando-se a verificar se os
particulares atuavam de acordo com o direito, ou seja, com as normas do Ius civile.
Progressivamente, o pretor urbano começou a corrigir os rigores do Ius civile e até a
integrar as suas lacunas. Ao atuar assim, os pretores urbanos, acabaram por criar o Ius
praetorium e assim surgiu o dualismo Ius civile/Ius praetorium que marcou todo o DR,
no entanto, foi um dualismo harmonioso pois era o mesmo magistrado que aplicava
ambos os direitos. A jurisprudência clássica também é importante, pois ajudou os
próprios pretores a aperfeiçoar a sua própria atividade. Aqui vemos que o direito
sempre esteve longe de se identificar apenas com a lei. O Ius honorarium era o direito
criado por certos magistrados através dos seus edicta (programa de atuação dos
magistrados através do qual mostravam como iam atuar). Os pretores criavam direito,
os edis curuis, tiveram um papel importante no contrato de compra e venda. Chama-se
Ius honorarium porque as magistraturas da República Romana não eram remuneradas.

Ius honorarium

Edis curis

Ius praetorium

Ius gention (direito das gentes) e Ius naturale (direito natural): Ius gention – de acordo
com p chamado princípio da personalidade do direito, o Ius civile era o direito próprio
da cidade de Roma, colocava-se, contudo, o problema do relacionamento com outros
povos, para o qual se recorria a tratados internacionais (acordos entre diferentes
Estados, povos). A expansão de Roma tornou esta solução impraticável e, por isso,
surgiu o chamado Ius gention (direito das gentes) que regulava as relações jurídicas
entre diferentes povos. O Ius gention era composto, por um lado, por normas do Ius
civile romano que pudesse, pela sua semelhança com os direitos estrangeiros, ser
aplicadas indistintamente a cidadãos romanos e a peregrinos (estrangeiros, pessoas de
outros povos). Por outro lado, também era composto por normas costumeiras que iam
surgindo nos contactos mercantis. A partir de 242 a.C. foi criada uma nova
magistratura, o chamado pretor peregrino que aplicava o Ius gention às relações entre
os peregrinos e até às relações dos peregrinos entre si. Havia uma distinção entre Ius
gention e Ius civile que desaparece em 212 a.C. (Imperador Antonio Caracala promulga
uma lei, uma constituição imperial, através da qual estende a cidadania romana a
todas as pessoas que estavam no Império Romano, passavam a ser regulados pelo Ius
civile romano). Ius naturale: o Ius gention apoiava-se na chamada Naturalis ratio, ou
seja, na ordem natural das coisas, a realidade objetiva das coisas e, por isso, era
composto por instituições jurídicas comuns a todos os povos. É assim, neste sentido,
que também se fala de Ius naturale para designar o Ius gention. Com a penetração do
cristianismo, especialmente na época justinianeia, o conceito de Ius naturale começa a
divergir do conceito de Ius gention, deste modo, o Ius naturale começa a receber um
conteúdo teológico, ou seja, um conteúdo religioso e passa a ser um sistema ideal de
normas que contém as exigências abstratas de justiça. No fundo, é uma ordem jurídica
ideal, que transcende o direito positivo (direito que se aplica). A escravatura é
reconhecida como uma forma de Ius gention, mas não de Ius naturale, porque como
todos os homens nascem livres, não fazia parte desse sistema ideal a escravatura.
Conceções jurídicas modernas aplicadas ao DR: direito objetivo e direito subjetivo. O
direito objetivo é um conjunto de normas jurídicas que disciplinam a conduta humana
em sociedade e é nesse sentido que os juristas romanos usavam os conceitos de Ius
civile, Ius praetorium e Ius gention. O direito subjetivo é um poder de atuação ou uma
faculdade que a ordem jurídica reconhece aos particulares, por exemplo o direito á
vida, o direito de propriedade, direito á integridade física. Os juristas romanos também
usaram a palavra Ius (direito) neste sentido de direito subjetivo, por exemplo quando
formularam a muito conhecida regra de Nemo plus iuris (ninguém pode transferir para
outra pessoa mais direito do que tem). Direito comum (ius commune) e direito singular
(ius singulare): o direito comum é o conjunto de normas jurídicas que têm um carácter
geral, isto é, aplicam-se a uma série ilimitada de casos juridicamente prefixados, assim
é o direito aplicável á generalidade das pessoas ou coisas. O direito singular é aquele
que afasta o direito comum quanto a certas pessoas ou coisas devido a uma especial
utilidade. É evidente que o direito comum tinha utilidade, mas para uma certa
categoria de pessoas ou coisas encontrava-se um especial fundamento, uma especial
razão, para afastar o direito comum. O Ius singulare tem uma ratio iuris própria e isso
levou a que se entendesse que não podia ser aplicado por analogia. Organização
política de Roma: a Roma primitiva teve como regime político a monarquia que se
desenvolve de 753 a.C. até 510 a.C., a figura principal era o rei de Roma, tinha um
cargo vitalício (até á morte). Havia também o senado, composto por 100 senadores
que tinham um poder político. Também havia os comícios onde estava representado o
povo romano. A seguir vem aquele regime que levou á posteridade aquilo que se
conhece do DR, a república romana (510 a.C. até 27 a.C.). Em 510 a.C. há uma
revolução que depõe o último rei de Roma e é instaurada a república romana. A
organização política da república romana assenta em três pilares fundamentais, ou
seja, órgãos constitucionais da república romana: as magistraturas; as assembleias
populares, chamadas comícios, que tinham o poder legislativo, a estes deve
acrescentar-se os chamados concílios da plebe, onde tinham assento os plebeus que
eram cidadãos livres mas que a partir de certa altura passaram a ter o poder legislativo
equivalente ao dos consílios; o senado – era um órgão colegial composto por mais de
uma pessoa, mas que tinha, acima de tudo, um poder social, nele tinham assento as
pessoas mais importantes de Roma. O principal papel do senado era conferir á lei dos
comícios a chamada autoritas partum (autoridade dos mais importantes), sanção se o
senado não desse essa aprovação aos comícios ninguém a iria seguir. O primeiro
regime da república romana é o Principado, em 27 a.C., a república romana, no final da
era cristã, atravessa uma crise, em que Júlio César se torna ditador. Em 27 a.C. Octávio,
sobrinho e filho adotivo de Júlio César, torna-se prínceps. O prínceps acaba por ver lhe
concedidos, pelos concílios e pelo senado, certos poderes para ele resolver a crise em
que se vivia. Os restantes órgãos da república romana mantêm-se, mas o prínceps é
superior a eles tornando-se Imperador. O poder legislativo torna-se dos senados e os
senados transformam-se em meros funcionário burocratizados do prínceps. Este
processo de transformação acaba por culminar, em 284, com o chamado Dominado. O
Dominado (novo regime) é fruto do esgotamento do sistema constitucional da
república. Em 284 Diocleciano é designado Imperador pelas suas tropas e lança as
bases de uma monarquia absoluta com concentração total dos poderes políticos. O
Imperador é visto como senhor e Deus, o seu poder é justificado até por uma natureza
divina. Esta tendência vai contrastar-se totalmente com o Imperador Constantino. As
magistraturas da república romana: as várias magistraturas tinham na organização
política da república a função de governar, tinham o poder executivo. Os magistrados
não eram remunerados e, por isso, o seu cargo definia-se como honor, como honra, e
daí vem a expressão que ainda hoje é utilizada cursos honorum ( a carreira política).
Por ordem decrescente de importância era este o cursos honorum das carreiras
políticas: censores, cônsules, pretores, edis curuis, questores. Os censores tinham
como principais tarefas administrar o ager publicus (bens públicos) onde se incluíam
vastas terras; organizar o recenseamento dos cidadãos romanos para efeitos eleitorais,
tributárias e militares, eram eles que organizavam a lista dos cidadãos para saber
aqueles que estavam aptos. Eram eles que tutelavam a moralidade pública, eram eles
que pugnavam pelo respeito pelos bons costumes. Os cônsules eram os sucessores da
figura do rei e tinham como funções comandar os exércitos, convocar o senado e os
comícios e, até 367 a.C., administrar a justiça. Os pretores tinham as mesma
atribuições dos cônsules, mas com estatuto inferior e na dependência deles. O edis
curuis tinham tarefas administrativas ligadas á limpeza pública, á organização do
trânsito, abastecimento público de cereais, fiscalização de pesos e medidas e
organização de espetáculos, tinham ainda uma função muito importante, eram eles
que inspecionavam os mercados. Os questores administravam a justiça criminal, eram
eles que levavam a cabo a perseguição criminal e ocupavam-se ainda do erário
público. Estas eram as magistraturas ordinárias. Magistraturas extraordinárias: Ditador
– era nomeado por períodos de 6 meses para fazer face a situações de calamidade e
grave crise económica, nesses 6 meses concentrava em si todos os poderes que
exercia com independência e irresponsabilidade, não respondiam pelos atos contrários
á lei. Os poderes dos magistrados romanos eram três: a Potestas, o Imperium e a
Iurisdictio. Potestas – é o poder de representação do povo romano e todos os
magistrados o tinham. Imperium – é um poder de soberania que permite dirigir um
estado, comandar o exército e administrar a justiça; os cônsules, os pretores e o
ditador eram os magistrados que tinham este poder. Iurisdictio – poder de administrar
ordinariamente a justiça, os pretores nas causas cíveis (causas entre particulares),
tinham este poder os edis curuis nas causas que estivessem relacionadas com a
administração da cidade e os questores nas causas criminais. Limites aos poderes das
magistraturas ordinárias (quem desempenhava cargos de governo tinha o poder
limitado, não fazia o que pretendia nem á sua vontade): 1ª temporalidade – em regra,
o cargo era exercido por um ano, com a exceção dos censores que o exerciam por
cinco anos; 2ª colegialidade – dentro de cada magistratura o poder era exercido por
dois magistrados, que tinham um poder sobre as decisões do colega; 3ª pluralidade – o
governo está dividido por várias magistraturas; 4ª provocatio ad populum (chamar
para que se mexa, povo) – faculdade que qualquer cidadão romano tinha, de recorrer
aos comícios quando uma magistratura lhe impusesse uma pena; 5ª responsabilidade
– respondiam pelos atos que praticassem contrários á lei e ao direito, se algum
magistrado cometesse um atropelo ás normas jurídicas respondia por isso. Fontes do
Ius Civile de Roma (fontes do DR): fontes do direito – esta expressão é metafórica, ou
seja, é de onde nos surgem as regras das normas jurídicas. Esta expressão pode ter
três sentidos: fontes existendi, manifestandi, cognoscendi. Fontes manifestandi – eram
os modos de formação das normas jurídicas, ou seja, a maneira, a forma como surgiam
as normas do direito. O costume, as leis dos comícios, os plebiscitos, os
senatusconsultos, as constituições imperiais e a jurisprudência romana, eram estes os
modos como se criavam direitos em Roma. Fontes existendi – eram os órgãos que
produziam as normas jurídicas e, assim, o povo, os comícios, a plebe nos chamados
comícios da plebe, o senado, o imperador e o jurisconsulto eram fontes existendi.
Fontes cognoscendi – aqui as fontes são os textos que contêm as normas jurídicas, por
exemplo corpus iuris Civilis. Até ao final da época clássica, 230 a.C., as várias fontes
manifestandi coincidiram entre elas e tinham a mesma forma administrativa. Começou
a haver uma centralização política do direito e isso levou a que a única fonte passasse
a ser as constituições imperiais. Fontes manifestandi do Ius civile (quais os modos de
formação do Ius Civile?): costume – surgem três conceitos: 1º o conceito de mores
maiorum, consuetudo e usus. Mores maiorum – nos três primeiros séculos de Roma o
DR era constituído, fundamentalmente, pelos chamados mores maiorum que eram
uma tradição de comprovada moralidade que englobava os valores e crenças da
sociedade romana, regras jurídico-religiosas. Vão sendo introduzidos nas leis, com
especial destaque na Lei das XII Tábuas (primeira lei escrita que se conhece de Roma),
450 a.C. Consuetudo – já é uma figura de total laicização do direito, sem conotações
religiosas, é estritamente jurídico, é o costume como o conhecemos. Notas
caracterizadoras: 1ª é uma prática constante; 2ª essa prática é levada a cargo por largo
tempo; 3ª é levada a cabo pela generalidade das pessoas que participam duma certa
relação social; 4ª essa atuação é levada a cabo com a convicção de que é obrigatória,
como se se tratasse de uma lei. Sem estas quatro notas caracterizadoras não há
costume. Evolução da eficácia vinculativa do costume (consuetudo): numa primeira
fase o costume tinha a mesma força da lei e, portanto, a lei podia revogar o costume,
mas o costume também podia revogar a lei, ambos acabavam por ser expressão da
vontade do povo de Roma. Todavia, na época pós-clássica o Imperador Constantino
determinou que o costume não podia prevalecer sobre a lei e o costume passou a ter
um papel subsidiário face á lei, significa que o costume só pode ser aplicado na fata da
lei. Usus – é o simples hábito de agir que não é acompanhado de qualquer
obrigatoriedade; não é costume, logo não é fonte de direito. A mais importante das
leis dos comícios de Roma é a Lex Rogata (lei rogada). A Lex Rogata era uma
declaração solene com valor normativo (regra)feita pelo povo romano reunido nos
comícios e que aprovava uma proposta apresentada por um magistrado que presidia e
que o senado, posteriormente, confirma. Existe uma relação trilateral entre os três
órgãos – magistrado propõe, assembleias aprovam e senado confirma. Processo
formativo da Lex Rogata, ou seja, fases de formação da Lex Rogata: eram seis fases:
Promulgatio – era a fixação do projeto de lei num lugar público para que todos ficasses
a saber o que pretendiam que fosse aprovado; Conciones – eram reuniões em praça
pública para discussão do projeto; Rogatio – era o pedido do magistrado que fazia o
projeto, no sentido da sua aprovação; Votação – numa primeira fase essa votação era
oral, mas depois tornou-se por voto escrito e secreto; Aprovação pelo senado – o que
tinha sido aprovado pelo povo tinha de ser confirmado pelo senado, que concedia a
auctoritas patrum (não era uma sansão jurídica mas sim um sansão social); Afixação –
uma vez aprovada a lei, ela era afixada publicamente, em tábuas de madeira ou
bronze, para que todos ficasses a conhecê-la e a pudessem cumprir. Estrutura da Lex
Rogata (partes em que se dividia uma Lex Rogata): eram três: Praescriptio – era um
prefácio da lei, uma introdução da lei, que continha elementos como o nome do
magistrado que propunha, o lugar e data da votação ou o primeiro cidadão que votou;
Rogatio – era o texto da lei, a parte expositiva; Sanctio – era a parte da lei em que se
fixava os termos da sua eficácia jurídica, ou seja, como é que ela ia produzir efeitos.
Quanto á sanctio podiam-se distinguir três tipos de lei: Lex perfecta (lei perfeita) – era
aquela que declarava nulos ou inválidos os atos contrários, ou seja, os atos praticados
contra o teor da lei, não produziam efeitos; Lex minus quam perfecta (lei menos que
perfeita) – não declarava a invalidade dos atos que lhe fossem contrários e, portanto,
eles produziam todos os seus efeitos jurídicos, mas eram aplicadas penas aos
transgressores. Lex imperfecta (lei imperfeita) – nestes casos a lei não estabelevcia
qualquer sansão pela prática de atos contrários a ela, contudo, não deixou de ser
campo de atuação do pretor, ou seja, perante essa lacuna do Ius Civile ao não
determinar uma sansão, muitas vezes, atuou o pretor. No ano de 438 o Imperador
Teodósio II estabeleceu, através de uma constituição imperial, que, em regra, as leis
eram perfeitas, ou seja, na falta de outra determinação, os atos contrários á lei eram
inválidos e não produziam quaisquer efeitos jurídicos. Plebiscito – era uma deliberação
da plebe que reunia em assembleia, o chamado consílio da plebe, aprova a proposta
de um magistrado (tribuno da plebe). Evolução do caráter vinculativo dos plebiscitos:
numa primeira fase o plebiscito não tinha eficácia vinculativa, a plebe podia deliberar o
que entendia que não devia de ser seguido, todavia, em 449 a.C. uma lei, a Lex Valeria
Horatia de Plebiscitis atribuiu caracter vinculativo aos plebiscitos face aos plebeus.
Finalmente em 287 a.C. a Lex Hortensia de Plebiscitis determinou que também os
patrícios ficavam vinculados pelos plebiscitos e, portanto, o plebiscito acabou por ter a
mesma eficácia das leis dos comícios. Senatusconsultos – eram uma deliberação do
senado, inicialmente tratava-se de uma deliberação puramente consultiva, ou seja, um
mero parecer, todavia, na fase do Principado o poder legislativo vai-se deslocando dos
comícios para o senado e assim os senatusconsultos passam a ser deliberações
legislativas do senado, ou seja, leis feitas pelo senado de Roma. Na prática, o senado
era uma caixa de ressonância do prínceps e resume-se a acolher as propostas feitas
por ele e chaga a um ponto em que vai aprovar tudo o que lhe é proposto, ou seja,
nunca teve iniciativa legislativa própria. Constituição Imperial – podemos definir como
a lei que manifesta a vontade jurídica do Imperador, a constituição imperial acaba
mesmo por se tornar na única fonte do Ius civile, na fase do Principado. Tipos de
constituições imperiais: Edicta – disposições gerais do Imperador, dirigidas a toda a
população. Decreta – sentenças judiciais proferidas pelo Imperador, aplicáveis ao caso
concreto, mas que eram depois aplicadas a situações semelhantes. Rescripta – eram
respostas dadas pelo Imperador a consultas jurídicas que lhe eram dirigidas por
magistraturas, funcionários imperiais ou até por particulares. Mandata – eram
instruções do Imperador em matéria administrativa. A última fonte do Ius Civile é a
Jurisprudência – ciência do direito, fruto do trabalho dos jurisconsultos, que vão
interpretar e desenvolver o direito adaptando-o às exigências de cada momento;
desenvolvia uma atividade criadora de direito, não era meramente cognitiva. Funções
de jurisprudência: Respondere – resolução de casos práticos através de pareceres, os
chamados responsa, em resposta a questões colocadas por particulares ou por
magistrados permitia corrigir o Ius Civile +. Cavere – aconselhamento dos particulares
quanto á realização de negócios jurídicos, ou seja, atos jurídicos que iriam produzir
determinados efeitos. Agere – era o aconselhamento dos particulares em matéria
processual. Duas grandes escolas jurisprudenciais que marcaram o DR, na época
clássica foram: a escola Sabiniana e a Escola Proculeiana. A escola Sabiniana foi
fundada por Capito, mas ficou assim conhecida graças a um dos seus juristas, Sabinus.
Já a escola Proculeiana teve como fundador um conhecido jurisconsulto, Labeo, mas
deve o seu nome a outro dos seus juristas, Proculus. A escola Sabiniana geralmente era
mais tradicionalista e cautelosa, já os Proculeianos eram em regra mais audaciosos e
inovadores. Ex.: para determinar a capacidade de agir, ou seja, o poder atuar
juridicamente por si mesmo, os jurisconsultos romanos procuraram determinar se já
tinha ocorrido a puberdade (possibilidade de procriação), os Sabinianos defendiam
que para determinar se alguém já era púbere devia-se recorrer a uma inspeção
corporal, mas isto conduzia a uma grande variabilidade de resultados e, por isso, os
Proculeianos, para resolver a grande variabilidade de resultados, fixaram a puberdade
aos 12 anos para as mulheres e aos 13 para os homens, e foi esta a solução que
acabou por prevalecer. Corpus Iuris Civilis: o Imperador do Oriente (Justiniano)
concretiza uma velha aspiração, que é a reunião num só corpo dos iura e das leges.
Iura – soluções jurisprudenciais escritos dos jurisconsultos. Leges – constituições
imperiais, leis dos Imperadores. Só surge em 1583 uma edição, devido a um
jurisconsulto, e é aí que, pela primeira vez, aparece a designação Corpus iuris Civilis. O
Corpus iuris Civilis não é atual, mas ainda assim, apesar de ser um conjunto de fontes
de épocas diferentes, tem um caracter orgânico e unitário. O Corpos Iuris Civilis tinha
quatro partes: Institutions – tratava-se de um manual elementar de DR, destinado aos
estudantes que iniciavam o seu estudo do direito; estavam divididas em quatro livros.
As instituições de Justiniano basearam-se nas instituições de Gaius. Digesto ou
Pandectas – trata-se da compilação de fragmentos extraídos das obras dos principais
jurisconsultos romanos da época clássica e está dividido em 50 livros; é a parte mais
importante do Corpus Iuris Civilis. Codex – é uma compilação de constituições
imperiais promulgadas desde o Imperador Adriano até Justiniano. Novellae –
compilação de constituições imperiais promulgadas depois do codex. Defesa dos
direitos: numa primeira fase, verifica-se um sistema de autodefesa ou autotutela de
direitos, este sistema de tutela privada de direitos contem em si mesmo as sementes
da sua ineficácia, porque vai prevalecer sempre o mais forte. Progressivamente,
evoluiu-se para um sistema de tutela pública de direitos, em que é o poder público que
resolve os litígios entre os cidadãos, e assim a autotutela do direito fica reduzida a
situações excecionais. Ação (actio) (meio de tutela pública): instrumento jurídico que
permite a uma pessoa obter, perante os órgãos judiciais, a tutela de um direito
previamente reconhecido pelo ordenamento jurídico, ou de uma situação de facto,
que o magistrado considera digna de proteção no seu edictum. Classificação das ações:
1ª – distingue ação civil (actio civilis) e ação honoraria (actio honoraria) – esta
classificação tem na sua base a fonte da tutela jurídica que a actio materializava, assim
a actio civilis era outorgada pelo Ius Civile. Já a actio honoraria era concedida por
magistrados com a finalidade de proteger situações de facto (da vida social), que o Ius
Civile não contemplava ou contemplava de forma incompleta. Dentro da actio
honoraria podemos ainda fazer a distinção entre ações pretórias, que eram concedidas
pelo pretor na sua tarefa de administração da justiça, e ações edilícias, que eram
concedidas pelos edis curuis, nomeadamente no âmbito do contrato de compra e
venda. O edil curul tinha a função de fiscalização dos mercados. 2ª – distinção entre
ação real (actio in rem) e ação pessoal (actio in personam) – é uma classificação
baseada no direito subjetivo, tutelado pela actio. A ação real protegia os direitos reais,
ou seja, direitos sobre coisas, faculdades derivadas de relações familiares e direitos
sucessórios; as ações reais afirmam de forma absoluta e categórica um direito, pois
estão em causa direitos absolutos, isto é, que podem ser exigidos contra qualquer
pessoa; as ações reais podem ser instauradas contra qualquer pessoa que lese o
direito que a actio visa proteger. Ex.: 1º a ação de reivindicação (rei vindicatio) –
permitia ao proprietário recuperar uma rés (coisa) que lhe pertence, contra qualquer
pessoa que o privasse dessa rés; 2º a ação de petição da herança (hereditatis petitio) –
permiti aos herdeiros reclamar os bens hereditários contra qualquer pessoa que os
ocupasse. A ação pessoal era aquela através da qual se demandava uma pessoa que
tinha assumido um dever ou obrigação perante outra pessoa e, por isso, apenas
permitia demandar a pessoa obrigada. Esta distinção entre ação real e pessoal do DR
está na base de uma importantíssima distinção no direito privado: direitos reais e
direitos de crédito. Os diretos reais são direitos sobre coisas e por isso podem ser
invocados contra qualquer pessoa que os lese, são, pois, direitos absolutos; as
faculdades que compõem os direitos reais podem ser realizadas sem a cooperação de
outras pessoas, todas as outras pessoas têm a assim uma obrigação de não interferir
no exercício do direito e, portanto, trata-se de uma obrigação universal e de conteúdo
negativo. Já os direitos de crédito só podem ser invocados contra quem assumir uma
obrigação, um dever, ou os seus herdeiros; a satisfação do direito de crédito depende
sempre da cooperação de quem assumir o dever, e tanto pode corresponder uma
obrigação de conteúdo positivo, isto é uma atuação, como também podem ser de
conteúdo negativo, como a abstenção e o não fazer. Ação de boa fé (actio bonae fidei)
e ação de direito estrito (actio stricti iuris), esta distinção corresponde àquela que opõe
os contratos de boa fé e os contratos de direito estrito. Contratos de boa fé –
produziam obrigações cujo conteúdo se determinava, não apenas pelo acordo das
partes, mas também com recurso aos valores da honradez, da fidelidade e da lealdade,
o devedor está obrigado a tudo o que se exige a uma pessoa honrada, fiel, leal,
honesta e que terá de ser concretizado segundo as circunstâncias de cada caso
concreto. Contratos de direito estrito – eram aqueles contratos cujo conteúdo estava
precisamente determinado no acordo das partes e, isso que foi acordado, deve ser
observado rigorosamente. Ação de boa fé – era aquela que tutelava contratos de boa
fé e na ação o juiz devia concretizar aquilo a que o demandado estava obrigado,
considerando as circunstâncias do caso concreto e aquilo que exigiam a cada parte: a
lealdade, a honorabilidade e a fidelidade á palavra. O juiz deve atender mais ao que se
quis dizer do que aquilo que foi dito (frase dos contratos de compra e venda, inserida
no Digesto). Ações de direito estrito – eram aquelas que tutelavam os contratos de
direito estrito; nestas ações o juiz limitava-se a apreciar se existia ou não obrigação, ou
seja, se as partes tinham ou não criado obrigação sobre elas, e na sentença que
proferir não deve apreciar outras circunstâncias que tivessem influenciado o
surgimento da obrigação ou o seu conteúdo, como, por exemplo, o medo, o dolo, um
pacto de não pedir ou uma compensação de créditos. Distinção entre a ação direta e a
ação útil: a ação direta era aquela concedida às pessoas e nas circunstâncias para que
foi criada. A ação útil era aquela concedida a pessoas diferentes ou em circunstâncias
diferentes daquelas para que foi criada. No fundo, uma ação criada para certas
pessoas e certas circunstâncias era estendida a outras pessoas e outras circunstâncias,
são, pois, ações do pretor, criadas pelo pretor para tutelar situações que o Ius Civile
não previa. Distinção entre ação direta e ação contrária. A ação direta é a ação pessoal
que emerge de um contrato para tutelar as obrigações que logo á partida nasciam
desse contrato. Ação contrária – em certos contratos as obrigações só surgiam para
uma das partes, eventualmente, e apenas no decurso do contrato, ou seja, durante a
execução do contrato, ou seja, durante a execução do contrato, se de facto a
obrigação acabar por surgir, chama-se ação contrária á ação pela qual o devedor vai
ser demandado para cumprir, estes contratos são os chamados contratos bilaterais
imperfeitos. As ações eram concedidas no âmbito do sistema processual e o processo
civil romano conheceu dois sistemas: numa primeira fase, o sistema da ordem jurídica
privada (ordo iudiorum privatorum), e numa segunda fase o sistema da cognição
extraordinária (cognitio extra ordinem). Sistema da ordem judicial privada – marcou as
épocas Arcaica e Clássica e revela que a administração da justiça ainda não é
plenamente assumida pelo Estado, embora já esteja afastada a justiça privada, ou seja,
a autotutela de direitos. Este sistema abrange quer o processo das ações da lei, quer o
processo das fórmulas, decorrendo ambos em duas fases: in iure e apud indicem. In
iure – era presidida por um magistrado, especialmente o pretor, que ouvia as
alegações das partes e depois concedia ou denegava a actio pedida pelo demandante.
Apud indicem – era presidida por um juiz (índex) que era um particular escolhido pelas
partes ou nomeado pelo magistrado, não era funcionário, era um particular com
conhecimentos jurídicos. O juiz emitia uma sentença (sententia) sobre o litígio (causa)
consoante se provassem ou não os factos alegados pelas partes, ou seja, acima de
tudo, o juiz tinha de avaliar provas. Sistema da cognição extraordinária – este sistema
ainda surgiu no Principado para processos especiais, mas acabou por se tornar, na
Época pós-clássica, o sistema processual geral, suplantado o sistema anterior. As fases
processuais anteriores desaparecem e todo o processo é agora dirigido por um
magistrado que é um funcionário estatal e, portanto, agora toda a administração da
justiça pertence exclusivamente ao poder público. Sistema processual das fórmulas –
foi o processo da época Clássica e foi o mais importante para o dinamismo do DR. Em
130 a.C. a Lex Aebutia de formulis reconheceu legislativamente o processo das
fórmulas que acabou por se tornar o processo usado pelos cidadãos romanos. O
processo das fórmulas assentava numa solenidade, a chamada fórmula (documento
escrito que fixava os termos do litígio e designava o juiz a quem era ordenado que
condenasse ou absolvesse o demandado, conforme se provassem ou não os factos
alegados pelo demandante). Partes da fórmula: a fórmula processual era constituída
por partes ordinárias, ou seja, que em regra existiam, tinham de estar presentes na
fórmula, e podia também ser composta por partes extraordinárias, ou seja, constavam
da fórmula consoante o pedido das partes. Partes ordinárias: intentio – era a parte da
fórmula onde se apresentava a pretensão do demandante. Condemnatio- era a parte
da fórmula na qual um magistrado incumbia o juiz de condenar ou absolver o
demandado consoante se aprovasse, ou não, o seu conteúdo da intentio; essa
condenação era sempre pecuniária, ou seja, era sempre em dinheiro. Partes
extraordinárias da fórmula: exceptio – a exceção consiste em factos alegados pelo
demandado que não negam os factos alegados pelo demandante, mas que, se forem
provados, paralisam a ação, por outras palavras, não negam os factos alegados pelo
demandante, mas impedem o efeito jurídico pretendido pelo demandante. Proteção
jurídica extraprocessual, ou seja, fora do sistema processual – nem sempre a atividade
do magistrado, especialmente o pretor, decorria no seio do sistema processual, com a
conceção ou denegação de uma actio, por vezes, o pretor intervinha,
administrativamente, protegendo direitos e posições jurídicas fora do sistema de
ações, com a finalidade de facilitar o funcionamento do processo ordinário de impor a
paz durante o processo, ou até de evitar um litígio. O pretor concedia três expedientes:
a restitutio in integrum; a missio in possessionem e o interdictum. Restitutio in
integrum – era um expediente utilizado pelo pretor que, por motivos de equidade
(justiça), declarava que um certo ato jurídico, plenamente válido e eficaz, segundo o
Ius Civile, não produziria efeitos. O pretor só utilizava a restitutio in integrum se
estivessem preenchidos três requisitos: 1º - a estrita aplicação do Ius Civile conduzia a
que alguém sofresse um prejuízo; 2º - existir uma causa justificativa; 3º - não existirem
outros meios jurídicos que permitissem reparar aquele prejuízo, pelo que a restitutio
in integrum tinha um papel subsidiário. Quanto ao segundo requisito, o edictum dos
sucessivos pretores apresentava várias causas justificativas para ser concedida a
restitutio: restitutio in integrum ob errorem (tem que ver com o erro); restitutio in
integrum ob dolum (tem que ver com o dolo); restitutio in integrum ob fraudem
creditorum (tem que ver com a fraude dos creditários); restitutio in integrum ob
metum (tem que ver com o medo). Restitutio in integrum – era concedida pelo pretor
a quem tivesse cometido um erro essencial em matéria negocial ou processual. O erro
é um vício da vontade e que consiste na ignorância ou falsa ideia de quem manifestou
a vontade, por outras palavras, a pessoa que manifestou a vontade apenas a
manifestou porque achava que alguma circunstância de facto ou de direito era
diferente da realidade e apenas manifestou aquela vontade por isso, se conhecesse o
verdadeiro estado de coisas, não teria manifestado aquela vontade ou então era
manifestada em sentido diferente. Perante um erro, o pretor, concedia a restitutio in
integrum ob errorem declarando não reconhecer efeitos ao ato jurídico praticado com
base no vício, por exemplo: A compra a B um relógio de prata dourada pensando que é
de ouro, A só comprou aquele relógio porque pensava que era de ouro, se soubesse
que era de prata não o tinha comprado. Restitutio in integrum ob metum – era
concedida a quem praticasse um ato jurídico por ter sido gravemente ameaçado e aqui
surge-nos o conceito de medo ou coação. A coação é outro vício da vontade que se
traduz na ameaça de um mal grave contra uma pessoa, seu património ou família, para
que ela manifeste a sua vontade num determinado sentido, se não fosse aquela
ameaça, a pessoa nunca teria manifestado aquela vontade ou manifestava-a num
sentido diferente. Para que se considerasse estar perante uma coação, a ameaça tinha
de ser injusta, grave e atual. Injusta – contrária ao direito, não comete coação aquele
que ameaça o devedor de usar os meios que a lei lhe concede para cobrar a dívida.
Grave – tem de ser suscetível de impressionar um homem firme. Atual – tem de existir
efetiva ameaça não basta uma suspeita, se alguém praticasse um ato jurídico porque
foi coagido a isso, o pretor concedia a restitutio in integrum ob metum, que não
reconhecia efeitos a esse ato, por exemplo, A doa a B um cavalo apenas porque B o
ameaçou com uma faca apontada ao pescoço. Restitutio in integrum ob dolum – era
concedida a quem praticou um ao jurídico em consequência de um engano que viciou
a sua vontade, ou seja, alguém foi enganado, isto remete-nos para o conceito de dolo.
O dolo é outro vício da vontade que consiste numa maquinação usada para enganar
alguém, um artifício para levar uma pessoa a manifestar a sua vontade em sentido que
numa manifestaria, se soubesse a verdade; é um erro induzido, por exemplo, A falsifica
os rótulos das garrafas de vinho que vende a B, convencendo B de que se trata de
vinho de uma excelente colheita, quando na verdade não é. Não se deve confundir o
dolo, como vício da vontade, com o chamado dolus bonus (dolo bom), que é mera
habilidade, ou engenho, que se utiliza na conclusão de um negócio e que faz parte do
normal do comércio, não tendo efeitos jurídicos. Restitutio in integrum ob fraudem
creditorum – o pretor concedia esta restitutio aos credores que fossem prejudicados
por atos praticados pelo devedor, com a intenção de, fraudulentamente, criar, ou
aumentar, a sua insolvência (incapacidade de cumprir as suas obrigações, por falta de
património), nesse caso, o pretor declarava não reconhecer efeitos jurídicos a esses
atos, que visavam defraudar os credores. Missio in possessionem (colocação na posse)
– era um expediente através do qual o pretor autorizava uma pessoa a apoderar-se
dos bens de outra. A missio in possessionem podia ser decretada pelo pretor com uma
das três finalidades: finalidade de coação – com a missio in possessionem podia visar-
se constranger alguém a fazer ou a não fazer algo, ou seja, enquanto a pessoa fizesse,
ou não, algo, um terceiro ficava com algo que era seu. Finalidade de conservação como
garantia patrimonial – aqui a missio in possessionem protegia as legitimas expetativas
de alguém sobre um património, impedindo a sua dispersão, ou mesmo
desaparecimento. Finalidade de execução patrimonial – o pretor podia decretar uma
missio in possessionem como forma de o credor apreender bens do devedor e, através
deles, satisfazer o seu direito de crédito, nomeadamente vendendo-os. Interdictum –
era uma ordem sumária (rápida) dada pelo pretor para que alguém fizesse, ou não
fizesse, algo visando, com isso, resolver-se rapidamente um litígio, combatendo-se a
perturbação da paz social. Deste modo, o litígio ficava, temporariamente, resolvido,
sem prejuízo de, posteriormente, os interessados recorrerem á via judicial, ou seja, ao
processo/sistema de ações. Talvez a mais importante área de aplicação do interdictum
fosse a da tutela da posse. A posse é o exercício de poderes de facto de uma pessoa
sobre uma rés (coisa), comportando-se como se fosse proprietário dessa rés, na
verdade pode, ou não, ser proprietário, mas comporta-se como tal e reconheciam-se
determinados efeitos jurídicos a essa situação de facto. Para tutela da posse, o pretor
podia conceder um interdictum de retenção da posse ou de recuperação da posse.
Interdictum de retenção da posse – visava que a posse fosse mantida ou conservada
sem turbações, por exemplo ordenando a alguém que deixasse de perturbar a posse
de outrem parando de deitar detritos para a sua propriedade. Interdictum de
recuperação da posse – tinha como pressuposto que a posse tivesse sido esbulhado ao
possuidor, ou seja, a rés que possua foi-lhe retirada e o pretor ordenava a sua
restituição. Direito das obrigações: obrigação ou obligatio é um vínculo jurídico por
virtude do qual uma pessoa, o chamado devedor, está adstrita (ligada, comprometida)
para com outra pessoa, o chamado credor, á realização de um determinado
comportamento, a chamada prestação. Distinção entre obrigações e direitos reais - o
credor apenas satisfaz o seu direito de crédito através da realização da prestação pelo
devedor; já o titular de um direito real, nomeadamente o direito de propriedade,
satisfaz o seu direito através da sua atividade direta sobre a rés. Os jurisconsultos
clássicos apontaram três possíveis objetos ou conteúdos das obrigações: dare (dar),
facere (fazer), praestare (prestar) e, portanto, o comportamento a que o devedor
estava vinculado perante o credor podia constituir um destes três objetos ou
conteúdos. Dare – trata-se da constituição ou transferência de direitos reais, ou seja,
obrigação de transferência da propriedade de uma rés (coisa), por exemplo contrato
de compra e venda. Facere – realização de qualquer atividade que não fosse um dare e
que podia até consistir num non facere, ou seja, um não fazer, uma abstenção.
Praestare – podia identificar-se quer com dare, quer com facere, mas significava,
muito especialmente, assumir a garantia de uma obrigação. Para que o vínculo
obrigacional produzisse os seus normais efeitos jurídicos era necessário que o
comportamento a que o devedor ficava adstrito obedecesse a certos requisitos
(requisitos de validade do objeto ou conteúdo das obrigações): possibilidade física e
jurídica, licitude, determinação ou determinabilidade, patrimonabilidade. Possibilidade
física e jurídica – a prestação tinha de ser possível física e juridicamente, ou seja, o
devedor devia conseguir realizá-la em termos naturais e em termos jurídicos, assim
não era válida a obrigação de o devedor fazer algo que as leis ou regras do mundo
natural não permitisse, como, por exemplo, colocar o oceano atlântico dentro de uma
chávena de café (de acordo com a natureza das coisa é impossível); alguém obriga-se a
pintar, pela sua própria mão, dois mil quadros da paisagem de Coimbra para entregar
amanhã de manhã. Também não é válida a obrigação de fazer algo que não é
permitido pelo sistema jurídico e seus conceitos, como, por exemplo, transferir a favor
de alguém o direito de propriedade de uma coisa de que essa pessoa já é proprietária.
Licitude – o comportamento a que o devedor ficou vinculado não podia contrariar nem
o direito, nem a moral, assim, por exemplo, era inválida a obrigação assumida por
alguém de matar ou furtar, pois eram comportamentos proibidos por ordens jurídicas.
Também era inválida a obrigação de alguém se prostituir, pois ofendia profundamente
a moralidade romana (bons costumes) romana. Determinação ou determinabilidade –
a prestação a que o devedor ficava adstrito devia ser perfeitamente determinável, isto
é, devia constituir num comportamento perfeitamente individualizado, por exemplo,
entregar vinte litros de vinho branco que se encontram numa determinada pipa. Se a
conduta não estiver determinada, a obrigação poderá ainda ser válida se, pelo menos,
for determinável, ou seja, existam critérios suficientes para, futuramente, se
concretizar a prestação, por exemplo as partes estabelecem que o valor a pagar pelo
devedor será aquele que vier a ser fixado por um terceiro, assim não é válida a
obrigação de alguém, pura e simplesmente, entregar vinho sem outra especificação,
pois não se consegue concretizar qual o vinho a entregar ao credor. Patrimonabilidade
– a prestação tinha de proporcionar um benefício económico ao credor, e se não se
traduzisse num benefício dessa natureza a obrigação não era válida. Assim se o
comportamento do devedor a que se vinculou perante o credor não obedecer a estes
requisitos, a obrigação é inválida e não produz efeitos jurídicos, logo, o credor não
pode exigir ao devedor a satisfação do crédito. Fontes das obrigações – são os factos
que criam, ou que geram um vínculo obrigacional entre duas ou mais pessoas. O
culminar da ciência jurídica romana encontra-se nas instituições de Justiniano, que
eram quatro: contratos, delitos, quase contratos, quase delitos. Contratos – acordo de
vontades de duas ou mais pessoas previsto e protegido pelo Ius Civile e que visa
constituir entre elas uma relação obrigacional; é, de longe, a mais importante das
fontes das obrigações. Delitos – atos ilícitos dos quais resultava para o seu autor a
obrigação de pagar á vítima uma pena pecuniária. Quase contratos – atos lícitos, mas
que, sendo unilaterais, não eram contratos. Quase delitos – eram atos ilícitos, mas que
eram sancionados, não pelo Ius Civile, mas pelo Ius Praetorium, e que implicavam,
para os seus autores, o pagamento de uma pena á vítima (em dinheiro). Qualquer
contrato é constituído por dois elementos: a causa e a conventio. Causa – é a
finalidade social e económica visada pelo contrato e que é reconhecida pelo Ius Civile.
Conventio – é o acordo de vontades das partes, que converge para um mesmo fim,
que é a causa. Nas fontes romanas, a classificação dos contratos é uma classificação
que divide os contratos em quatro categorias: contratos reais, contratos consensuais,
contratos verbais e contratos literais. Contratos reais – eram aqueles em que ao
acordo de vontades das partes tinha de acrescer a prática de um ato material
respeitante á rés, objeto do contrato. Contratos consensuais – eram aqueles contratos
que produziam plenamente os seus efeitos apenas com o acordo de vontades das
partes, sem qualquer outro requisito. Contratos verbais – eram aqueles cujo acordo de
vontades só produzia efeitos se fosse manifestado oralmente em obediência a uma
fórmula pré-consagrada. Contratos literais – eram aqueles cujo acordo de vontades
tinha de constar num documento escrito (litera). Classificações modernas dos
contratos: contratos unilaterais, contratos bilaterais ou sinalagmáticos e contratos
bilaterais imperfeitos: são unilaterais os contratos em que só uma das partes tem
obrigações, ou seja, o contrato só gera obrigações para uma das partes, por exemplo
contrato de mútuo, stipulatio. São contratos bilaterais ou sinalagmáticos aqueles
geram obrigações para amas as partes, sendo que a obrigação de uma parte é a razão
de ser da obrigação da outra, por exemplo contrato de compra e venda, locação e
sociedade. É nos contratos bilaterais ou sinalagmáticos, devido a essa correspetividade
das obrigações das partes, que surge a figura da exceção de não cumprimento dos
contratos, ou seja, a exceptio non adimpleti contractus. Segundo esta regra, a parte
que ainda não satisfez, ou, pelo menos, não ofereceu a sua prestação, não pode exigir
á outra parte que satisfaça a sua. Contratos bilaterais imperfeitos – são aqueles que de
inicio geram obrigações apenas para uma das partes, embora durante a execução do
contrato possam surgir obrigações para a outra parte, por exemplo comodato,
depósito, mandato. Contratos do Ius Civile (aplicados apenas aos cidadãos romanos) e
contratos do Ius Gention (aplicados aos vários povos). Contratos de boa fé e contratos
de direito estrito. Contratos onerosos e contratos gratuitos: os contratos onerosos são
aqueles em que há uma perda patrimonial para ambas as partes, ou seja, ambas as
partes, ao realizarem a prestação, a que estão adstritas, sofrem uma perda patrimonial
a favor da outra parte, por exemplo contrato de compra e venda, locação, sociedade.
Nos contratos gratuitos só uma das partes sofre perda patrimonial a favor da outra, ou
seja, ao realizar a prestação a que está vinculada, essa parte sofre uma perda
patrimonial a favor da outra parte, mas nada vai receber, por exemplo comodato,
depósito. Contratos reais: são aqueles que para a sua conclusão exigem além do
acordo das partes a prática de um ato material relativo á rés a que o contrato diz
respeito, esse ato material podia ser uma datio ou uma traditio. Datio – transferência
da propriedade da rés. Traditio – transferência da posse da rés ou até da sua mera
detenção. O mútuo era um contrato real unilateral e de direito estrito, através do qual
uma pessoa (mutuante) transfere a favor de outra pessoa (mutuário) a propriedade de
uma rés fungível e o mutuário se obriga a restituir ao mutuante outro tanto do mesmo
género e qualidade. O mútuo era constituído por dois elementos: a datio rei e a
conventio. Datio rei – consiste na transferência da propriedade de coisas fungíveis. As
coisas fungíveis são as que não têm individualidade própria e são determinadas por
características genéricas e pela indicação de uma quantidade (peso, número, medida),
por exemplo os géneros alimentícios; o dinheiro. Como as coisas fungíveis não têm
individualidade própria podem ser substituídas por outras do mesmo género e
qualidade. Conventio – era o acordo de vontades das partes pelo qual o mutuário se
obrigava a restituir ao mutuante o chamado tantundem, isto é, igual quantidade de
coisas do mesmo género e quantidade. O mútuo no DR é um contrato gratuito, pois,
em principio, só o mutuante sofria uma perda patrimonial, a favor da outra parte
quando realizada a sua prestação, pois, em regra, o mutuário não ficava obrigado a
pagar juros, por outras palavras, em regra o contrato de mútuo não gerava a obrigação
de o mutuário pagar juros. A obrigação de pagamento de juros a cargo do mutuário
não era gerada pelo contrato de mútuo, mas por uma relação acessória criada por um
contrato verbal, a stipulatio, que neste caso se designava stipulatio usurarum. Houve
sempre no DR uma preocupação de limitar os juros e o Imperador Justiniano fixou
como regra geral 6% de juros ao ano. Era proibido o anatocismo, ou seja, os juros não
venciam juros. Eram admitidos quatro casos de mútuo oneroso, ou seja, o próprio
contrato de mútuo criava a obrigação de o mutuário pagar juros ao mutuante,
dispensando-se, assim, a stipulatio usurarum: 1º o mútuo de mercadorias, como, por
exemplo, trigo ou cevada. 2º o mútuo concedido por uma cidade. 3º o mútuo
concedido por bancos. 4º o chamado foenus nauticum. O foenus nauticum era um
empréstimo feito a armadores ou comerciantes para financiar viagens marítimas, o
mutuário tinha a obrigação de restituir o montante que recebeu quando as
mercadorias chegassem ao destino. O risco de as mercadorias não chegarem ao seu
destino onerava o mutuante que podia ficar sem reaver o que emprestara, se o navio,
por motivos furtuitos, não chegasse a bom porto. Ora, para compensar esse risco do
mutuante, eram estabelecidos a seu favor juros muito elevados. Tutela das partes -
para exigir o pagamento do capital, o mutuante dispunha de duas ações: para o mútuo
de dinheiro, dispunha da actio certae creditae pecuniae; para o mútuo de rés fungíveis
diferentes de dinheiro, dispunha da condictio certae rei, mais tarde também conhecida
como condictio triticaria. Já para exigir o pagamento dos juros quando fosse necessária
a stipulatio usurarum, o mutuante dispunha da actio ex stipulatio. O depósito era um
contrato real bilateral imperfeito e de boa fé, através do qual uma pessoa
(depositante) entrega a outra pessoa (depositário) uma rés móvel para que a guarde e
restitua num determinado prazo, ou quando o depositante a pedir. O depósito era um
contrato gratuito. A guarda da rés pelo depositário não era remunerada e se o fosse,
não se tratava de um contrato de depósito, mas de outra figura, como, por exemplo,
uma locação de serviços. Era um contrato bilateral imperfeito, pois ao ser celebrado
apenas gerava obrigações para o depositário. Obrigações do depositário: 1º guardar a
rés sem a usar. Se o depositário usasse a rés estava a cometer um delito, o chamado
furto de uso ( furtum usus) e incorria nas respetivas penas. 2º restituir rés no final do
prazo determinado pelas partes, ou quando o depositante lha pedisse; essa restituição
abrangia os frutos e acessões da rés. Se o depositário se apropriasse da rés cometia o
delito de furto. No decorrer do contrato podiam surgir obrigações para o depositante:
1º reembolsar o depositário pelas despesas que fez com a conservação da rés. 2º
indemnizar o depositário pelos prejuízos que a rés lhe causasse. Tutela das partes – o
depositante tinha á sua disposição, como meio de tutela, perante o depositário, a actio
depositi. Já o depositário tinha á sua disposição a actio depositi contraria, para exigir
ao depositante um reembolso de despesas ou a indeminização de danos. O depositário
dispunha, ainda, como meio de tutela privada, e como forma de pressionar o
depositante a cumprir as suas obrigações, do chamado Ius Retentionis, ou seja, direito
de retenção que lhe permitia não restituir a rés até que o depositante o reembolsasse
de despesas ou o indemnizasse de danos sofridos. Afastam-se, em alguns aspetos, do
depósito típico as seguintes figuras especiais de depósito: 1º depósito necessário ou
miserável – surge em situações em que o depositante não pode escolher livremente o
depositário, como um incêndio, um naufrágio, uma revolta popular, uma invasão.
Nestas situações, para que o depositário não se aproveitasse da desgraça alheia a sua
responsabilidade era elevada em dobro. 2º sequestro – é o depósito de uma rés que é
objeto de litigio. O depositário (sequester) recebia a rés e obrigava-se a restituí-la a
quem vencesse o litigio ou viesse a estar em certas condições. 3º depósito irregular –
era o depósito que tinha como objeto coisas fungíveis, ou seja, neste tipo de depósito,
o depositante, transferia para o depositário a propriedade de rés fungíveis, obrigando-
se o último a restituir outro tanto do mesmo género e qualidade. Durante muito
tempo a jurisprudência entendeu que se tratava de um contrato de mútuo que era um
contrato de direito estrito. Nos finais da época clássica, começou-se a configurar estas
situações, talvez por influência oriental, como depósito, o que poderia ter significativas
diferenças práticas, porque o depósito era um contrato de boa fé, tutelado por ações
de boa fé, nas quais se podia exigir, nomeadamente, o pagamento de juros que as
partes tivessem convencionado, sem a necessidade de uma stipulatio usurarum. O
comodato era um contrato real bilateral imperfeito e de boa fé, pelo qual uma pessoa
(comodante) entrega a outra pessoa (comodatário) uma rés para que o comodatário a
usasse gratuitamente durante certo tempo e do modo acordado. O comodatário, tal
como o depositário, tornava-se um simples detentor da rés, mantendo-se a
propriedade e a posse com o comodante. O comodato era um empréstimo de uso, ao
contrário do mútuo que sendo um empréstimo transferia a propriedade da rés para o
mutuário, pois tratava-se de rés fungíveis. Já no comodato as rés em causa eram rés
não consumíveis. Admitia-se, contudo, que o comodato tivesse como objeto rés
consumíveis, nos seguintes casos em que, no fundo, as rés consumíveis acabavam por
ser tomadas pelas partes como coisas não consumíveis: 1º para o comodatário as
ostentar apenas perante terceiros, ou seja, uma finalidade ad pompam vel
ostentationem. 2º quando a rés é apenas um objeto de estudo, por exemplo moedas.
O comodato era um contrato gratuito e assim se distinguia da locação da coisa. O uso
proporcionado pelo comodante não era remunerado pelo comodatário, e, portanto, só
o comodante tinha perdas patrimoniais. Tratava-se também de um contrato bilateral
imperfeito, pois, de inicio, gerava apenas obrigações para o comodatário, a saber: 1º
usar a rés de acordo com o que fosse convencionado com o comodante. Se usasse a
rés para outros fins, cometia um delito, o furto de uso, e incorria nas respetivas penas.
2º não deteriorar a rés, ou seja, devia mantê-la no mesmo estado. 3º restituir a rés ao
comodante nas condições em que a recebeu. No decurso do contrato podiam surgir
obrigações para o comodante: 1º reembolsar as despesas que o comodatário tivesse
feito com a conservação da rés. 2º indemnizar os danos que a rés tivesse causado ao
comodatário. Meios de tutela: para tutelar o comodante face ao comodatário, era-lhe
concedida a actio commodati. Já para que o comodatário pudesse demandar o
comodante exigindo-lhe o reembolso de eventuais despesas ou indeminização de
eventuais danos existia a actio commodati contraria. O comodatário podia, ainda,
exercer o Ius Retentionis (direito de retenção), não restituindo a coisa até que as
despesas lhe fossem reembolsadas ou os danos indemnizados. Contratos consensuais
– eram aqueles cuja conclusão se bastava com o acordo de vontades das partes. O
contrato de compra e venda (emptio venditio) era um contrato consensual bilateral ou
sinalagmático e de boa fé, através do qual uma pessoa (vendedor) se obrigava a
transferir a favor de outra pessoa (comprador) a posse de uma rés e assegurar-lhe o
seu gozo livre e pacifico, ou seja, poder beneficiar da rés e ficar com os frutos. Em
contrapartida, o comprador obrigava-se a dar ao vendedor uma determinada quantia
em dinheiro (preço). No DR os contratos não transferiam o direito de propriedade,
apenas produziam obrigações, logo, pelo mero efeito do contrato de compra e venda,
o comprador não se tornava proprietário da rés, e, assim, era válida a venda de coisa
alheia. Caraterísticas do contrato do contrato de compra e venda: conventio – acordo
das partes que fazia nascer obrigações pra ambas as partes. Rés – objeto do contrato.
Preço – quantia em dinheiro que o comprador se obriga a pagar ao vendedor.
Obrigações do vendedor: 1º - transferir, a favor do comprador, a posse livre e pacifica
da rés, essa posse devia permitir a aquisição da propriedade da rés por usucapião (1
ano para coisas móveis e 2 anos para coisas imóveis); 2º - responder por evicção. O
vendedor podia ser responsabilizado pelo comprador se antes do prazo de usucapião
fosse oposta ao comprador uma sentença que o privasse da rés, reconhecendo a um
terceiro um direito, nomeadamente de propriedade que impedisse o comprador de
possuir. Requisito para a responsabilização do vendedor era que o comprador o tivesse
chamado ao processo e ele não evitasse a sentença desfavorável; 3º - cuidar da rés até
á sua entrega; 4º - responder por vícios ocultos e não declarados da rés. Sucedia
frequentemente que a rés vendida sofria de defeitos ocultos, isto é, que não se viam e
que diminuíam a sua aptidão. Os edis curuis na sua função de fiscalizar os mercados
disciplinaram a responsabilidade dos vendedores pelos vícios ocultos e não declarados
de que sofressem os escravos e o gado vendido, assim, o edictum dos edis curuis
estabeleceu que os vendedores deviam declarar todas as doenças crónicas e defeitos
não aparentes, bem como responsabilizarem-se perante o comprador em como tais
vícios não existiam. Portanto, se o vendedor não declarasse os vícios ocultos dos
escravos ou dos animais, mas eles acabassem por surgir, o edil concedia ao comprador
uma de duas ações á sua escolha: a actio redhibitoria e a actio quanti minoris. Actio
redhibitoria – esta ação produzia a extinção do contrato, com os seguintes efeitos: o
vendedor era condenado a pagar ao comprador o dobro do preço da rés, a menos que
preferisse pagar o preço com juros. Já o comprador era condenado a restituir a rés.
Actio quanti minoris – possibilitava ao comprador a redução do preço para que este
ficasse de acordo com o verdadeiro valor da rés. No direito justinianeu esta disciplina
dos vícios ocultos estabelecida pelo edil curul para a venda de escravos e gado foi
estendida às vendas de quaisquer rés. Obrigações do comprador: 1º - pagar o preço,
transferindo a propriedade da pecunia (do dinheiro) a favor do vendedor. Se não o
fizesse após receber a rés ficava obrigado a também pagar juros pelo atraso; 2º -
receber a rés a pedido do vendedor e se recusasse devia indemnizá-lo pelos danos
causados, como o atraso; 3º - responder pelo risco (periculum est emptoris – o risco é
do comprador). Perante a ocorrência da perda ou deterioração por caso furtuito ou de
força maior, isto é, circunstancias inevitáveis e que se impõem á vontade humana,
como por exemplo tempestades, sismos ou guerras, que impedissem a entrega da rés
ou, pelo menos, a entrega da rés sem deteriorações, havia que saber se o comprador
continuava obrigado a pagar o preço, a resposta dos juristas romanos foi positiva, ou
seja, o comprador continuava obrigado a pagar o preço, ainda que a rés tivesse
perecido ou se tivesse deteriorado. Tutela das partes: o vendedor tinha á sua
disposição, para responsabilizar o comprador por não cumprir as suas obrigações, a
actio venditi. Já o comprador dispunha da actio empti, para responsabilizar o vendedor
se não cumprisse as suas obrigações. A locação de coisa , ou seja, a locatio conductio
rei, era o contrato consensual, bilateral ou sinalagmático, oneroso e de boa fé através
do qual uma pessoa ( locador) se obriga a proporcionar a outra pessoa (locatário) o uso
de uma rés durante certo tempo e mediante o pagamento de uma retribuição que, em
regra, consistia numa quantia monetária certa (merces). Obrigações do locador: 1º -
proporcionar ao locatário o uso da coisa, no tempo e condições acordadas; 2º - fazer
as reparações necessárias para evitar a perda ou deterioração da rés; 3º - reembolsar o
locatário dos gastos feitos em reparações necessárias á conservação da rés.
Obrigações do locatário: 1º - pagar a merces; 2º - conservar a rés tal como lhe foi
entregue e dela não fazer um uso reprovável; 3º - indemnizar o locador pelos danos
causados na rés; 4º - restituir a rés no final do prazo acordado. Segundo o DR o risco
onerava o locador, ou seja, periculum est locatoris, isto significa que se a rés locada
fosse destruída por um evento a que a vontade humana não pode resistir, era o
locador quem sofria o dano, pois o locatário só tinha a obrigação de pagar a merces
pelo tempo em que usou a rés, assim, o contrato de locação caducava, extinguindo-se
tal como se tivesse decorrido o prazo. Se o locador vendesse a rés a um terceiro antes
de terminar o contrato de locação o comprador podia despejar o locatário privando-o
da rés, isto explica-se porque o locatário não tinha sobre a rés um direito real, ou seja,
um poder direto e real sobre a rés, tinha apenas um direito de credito face ao locador,
assim, se fosse despejado pelo comprador, o locatário nada podia fazer para impedir o
despejo, podendo apenas demandar o locador para que este lhe indemnizasse os
danos sofridos. Esta regra é conhecida como emptio tollit locatum (a compra quebra a
locação). Tutela das partes: o locador dispunha da actio locati para responsabilizar o
locatário. Já o locatário dispunha da actio conducti que lhe permitia responsabilizar o
locador. O contrato de sociedade (societas) era um contrato consensual, bilateral ou
sinalagmático, oneroso e de boa fé através do qual duas ou mais pessoas (sócios) se
obrigavam entre si a pôr em comum bens ou trabalho para obterem uma finalidade
patrimonial comum, essa finalidade tinha de constituir para todos os sócios uma
utilidade ou vantagem de índole patrimonial, deste modo, não produzia efeitos o
contrato de sociedade que reservasse para uns sócios as perdas e para outros sócios os
ganhos, ou seja, a chamada societas leonina que não era admissível porque punha em
causa a finalidade que o contrato visava. Já era admissível uma diferente participação
nos ganhos e nas perdas. Se as partes nada acordassem a divisão de ganhos e de
perdas era em proporções iguais. Obrigações do sócios: 1º - contribuir com rés ou com
trabalho, conforme acordado no contrato; 2º - gerir os negócios da sociedade segundo
os fins para que a sociedade foi constituída; 3º - reembolsar os outros sócios pelos
gastos que fizessem com a gestão da sociedade; 4º - indemnizar danos sofridos por
outros sócios com a gestão da sociedade. Meio de tutela: para demandar um sócio que
não cumprisse as suas obrigações e assim responsabilizá-lo era concedida aos outros
sócios a actio pro socio. O contrato de sociedade extinguia-se com o decurso do prazo
acordado ou quando fosse obtido a finalidade estabelecida pelos sócios, todavia, o
contrato de sociedade tinha na sua base uma relação de confiança ou fraternidade
(fraternitas) entre os sócios, atendendo a essa fraternitas entre os sócios, o contrato
também se extinguia pelas seguintes causas: 1º - renuncia de um dos sócios; 2º -
morte de um dos sócios; 3º - má condição económica de um dos sócios; 4º - pelo
exercício da actio pro socio, pois era sinal de que acabara a fraternidade. O mandato
era um contrato consensual, bilateral imperfeito, gratuito e de boa fé, pelo qual uma
pessoa (mandante) encarregava outra pessoa (mandatário) de realizar uma atividade
no interesse do mandante de uma terceira pessoa ou de algum destes e do
mandatário. O mandatário obrigava-se a realizar tal atividade gratuitamente. A
prossecução da atividade do mandatário devia satisfazer um interesse ou do
demandante ou de uma terceira pessoa ou de qualquer deles e do mandatário, mas
não um interesse exclusivo do mandatário, se o interesse fosse apenas do mandatário
não havia contrato de mandato, mas um simples conselho. O mandato era um
contrato bilateral imperfeito e, por isso, de inicio surgiam obrigações apenas para o
mandatário: 1º - realizar a atividade segundo as instruções do mandante ou, na falta
destas, segundo a natureza da atividade a prosseguir; 2º - prestar contas da sua
atividade ao mandante e se dela resultassem direitos em relação a terceiros, o
mandatário devia transmitir ao mandante as correspondentes ações. Para o mandante
podiam surgir obrigações no decurso do contrato: 1º - reembolsar ao mandatário
gastos que tenha feito com a execução do mandato; 2º - indemnizar o mandatário
pelos danos que tenha sofrido com essa execução. Tutela das partes: ao mandante era
concedida a actio mandati para responsabilizar o mandatário que não cumprisse as
suas obrigações. Já ao mandatário era concedida a actio mandati contraria para exigir
ao mandante o reembolso de gastos feitos com a execução do mandato ou a
indemnização de danos que o mandato lhe tenha causado. (MATÉRIA QUE PODE SAIR
NA QUESTÃO DE DESENVOLVIMENTO)

Em 15 de dezembro de 201 Titius paterfamilias romano acordou com Sempronius,


também paterfamilias, disponibilizar-lhe o escravo Bada e, em contrapartida, que
Sempronius lhe pagaria 400 sestércios por mês

a – Sempronius usou o escravo, mas nunca pagou qualquer quantia. Como poderá
Titius reagir?

R.: contrato de locação de coisa

b – Suponha agora que o escravo adoeceu, ficando diminuído nas suas aptidões
laborais e Titius recusa-se a tratá-lo. Quid iuris

R.: Era obrigação do locador fazer as reparações necessárias para evitar a deterioração
da rés, o que Titius não fez, logo Sempronius poderia responsabilizá-lo através actio
conducti.

Titius e Sempronius acordavam explorar um estabelecimento de venda de peixe.


Estabeleceram para isso que Titius contribuiria com 300 mil sestércios e que
Sempronius contribuiria com trabalho.

a – Suponha que Sempronius nunca contribuiu com o seu trabalho, alegando que
estava cansado de ser peixeiro.

R.: contrato de sociedade

b – Os ganhos decorrentes das vendas da peixaria e as


No dia 14 de dezembro de 150 Titius encarregou o seu grande amigo Sempronius de
transportar uma gaiola de faisões até á cidade vizinha e entregá-la á sua irmã. Na da se
estabeleceu quanto a remuneração de Sempronius porque eram muito amigos.

a – identifique e caracterize a figura jurídica aqui presente.

R.: mandato

b – Suponha agora que Sempronius resolveu deixar a gaiola em casa e foi para um
baile, não entregando a gaiola no momento acordado. Quid iuris

R.: Do contrato de mandato surgia a obrigação de levar a cabo o que se acordou, o


mandatário violou a sua obrigação e, por isso o mandante podia demandá-lo usando a
actio mandati.

Os contratos verbais eram aqueles cujas vontade das partes se manifestava oralmente
através de palavras solenes estabelecidas pelo Ius Civile. Já os contratos literais eram
aqueles cujo acordo das partes era redigido por documentos escritos. Através da
stipulatio uma pessoa (stipulator) perguntava a outra pessoa (promissor) o seguinte:
“Prometes dar-me x?” ou “Prometes fazer x?” e o promissor respondia: “Prometo”,
portanto, podemos dizer que a stipulatio era um contrato verbal composto por uma
pergunta e uma resposta da união das quais nascia uma obrigação para o promissor, a
obrigação de dar alguma coisa ou fazer alguma coisa, a favor do stipulator. O mudo, o
surdo, uma criança ou ausentes não poderiam celebrar o contrato de stipulatio. A
stipulatio era também um contrato abstrato ( aquele cuja causa, ou seja, o fim
económico e social que prossegue não é conhecida, porque não decorre do teor do
próprio contrato) uma vez que não tinha uma finalidade conhecida, podia ser utilizada
para os mais diversos fins. Os pactos eram os acordos de vontades que não eram
contratos, porque não eram contratos reais, verbais literais e consensuais previsto
pelo Ius Civile, quando se estabelecia um acordo de vontades fora das figuras contidas
nesta quatro categorias, não se tratava de um contrato, mas de um pacto. Os pactos,
em regra, não geravam obrigações e não eram tutelados por ações, permitiam apenas
a defesa por exceção (forma de defesa em que o demandado não nega os factos
alegados pelo demandante na ação, mas invoca determinado facto que tem o efeito
de paralisar a ação, por exemplo um pacto de non petendo). Só numa situação podiam
os pactos ser invocados como fundamento de uma ação, eram os pactos celebrados ao
mesmo tempo e como parte acessória de um contrato de boa fé, aí o juiz podia
conhecer o pacto, na respetiva ação de boa fé, como elemento do contrato celebrado.
Apesar daquela tipificação dos contratos presentes no Ius Civile, que os dividia em
contratos reais, consensuais, verbais e literais, foi sendo conseguida a proteção jurídica
a determinados acordos de vontades, os chamado contratos inominados, que eram
relações de natureza obrigacional cujo vinculo jurídico surgia quando uma das partes
realizava a prestação a que se tinha vinculado, perante isso, essa parte podia exigir da
outra aquilo a que ela se obrigara e assim para haver um contrato inominado era
preciso estarem presentes dois elementos: 1º - Conventio, ou seja, um acordo de
vontades em que cada parte se obriga a dar determinada rés ou realizar certa
atividade, a favor da outra parte; 2º - Execução de uma das prestações, ou seja, uma
das partes realizava a prestação a que se tinha obrigado. A tutela jurídica que se
concedia a estes contratos acabou por se materializar numa ação geral (actio
prescriptis verbes, ou seja, ação de palavras prescritas) que permitia exigir ao outro
contraente a realização da prestação a que se obrigara. Dois destes acordos tutelados
como contratos inominados, dado a sua frequência social, acabaram por ter um nome:
a permuta (permutatio) e a transação (transactio). A permuta era o contrato através
do qual uma pessoa dava, ou seja, realizava uma datio, uma transferência de
propriedade, de uma rés a outra pessoa para que esta lhe desse outra rés, ainda hoje
tem grande importância. A transação era um contrato inominado através do qual as
partes poem fim ou evitam um litigio mediante recíprocas concessões, ou seja, era
uma figura usada para pôr fim a querelas, a litígios, a disputas. As partes da transação
obrigavam-se reciprocamente a determinadas concessões e quando uma delas
realizasse, de facto, essa prestação através da qual tinha transigido perante a outra, a
partir daí podia também exigir á outra que realizasse também aquilo a que se tinha
obrigado e se não o fizesse podia responsabiliza-la através da actio prescriptis verbis, é
também um contrato que ainda hoje tem grande importância, especialmente a
transação judicial, ou seja, feita no âmbito de um processo que decorre em tribunal e
através do qual as partes poem fim a esse processo, ou seja, chegam a um acordo para
que o processo termine, acordo esse que é homologado pelo juiz. O delito era um ato
ilícito, ou seja, contrario ao ordenamento jurídico, sancionado com uma pena. Os
delitos podiam ser públicos (eram aqueles que ofendiam a comunidade romana e
designavam-se crimes) ou podiam ser privados (eram atos ilícitos que ofendiam um
individuo e eram punidos com uma pena privada de caráter pecuniário, ou seja, eram
fontes das obrigações porque ao cometer o delito o seu autor ficava obrigado a pagar
uma pena pecuniária á vitima). O furto era um apoderamento fraudulento cometido
para se obter um lucro, o uso de uma coisa ou a posse de uma coisa, para que se
considerasse que tinha sido cometido um furto era necessário que estivessem
preenchidos dois elementos: um elemento objetivo e um elemento subjetivo.
Elemento objetivo ou concretatio rei – tratava-se da conduta levada a cabo pelo ladrão
(fure) e que pode consistir num de três comportamentos: podia ser uma ablatio, um
furtum usus ou ainda um furtum possessionis. A ablatio era a subtração de uma rés
corpórea móvel que se encontrava no património, na posse, ou na mera detenção de
outra pessoa. O furtum usus era o uso ilícito de uma coisa alheia. O furtum
possessionis consistia na tomada indevida da rés, e, por isso mesmo, podia ser
praticado pelo próprio proprietário da rés, se a posse da coisa pertencesse licitamente
a outra pessoa. Elemento subjetivo – era necessário que, para além do elemento
objetivo, se tivesse a intenção de lesar a outra pessoa. Quanto á pena o furto podia ser
de dois tipos: furto manifesto ou furto não manifesto. O furto manifesto (furtum
manifestum) era aquele em que o ladrão era surpreendido a praticar o furto,
inicialmente era puído com penas extremamente cruéis, mas na época clássica era
aplicada como pena o pagamento do quádruplo do valor da rés furtada. O furto não
manifesto (furtum nec manifestum) era aquele em que o seu autor não era
surpreendido a praticar o delito, foi sempre punido com uma pena de pagamento do
dobro do valor da rés furtada. Para exigir o pagamento da pena pecuniária a vitima do
furto dispunha contra o ladrão da actio furti manifesti se o furto fosse manifesto e da
actio furti nec manifesti se o furto fosse não manifesto. O dano causado com injuria
era um delito que consistia na produção culposa de um dano em coisa alheia e foi
disciplinado pela Lex aquilia de dano que consistiu num plebiscito, votado em 287 a.C.
Foi a lex aquilia que concedeu uma proteção geral aos proprietários que sofressem
prejuízos nas suas coisas, essa tutela era concretizada através da actio lex aquilia. A lex
aquilia continha três capítulos, mas só interessam o 1º e o 3º. O 1º capitulo estabelecia
que se alguém matasse um escravo ou um animal quadruple alheio que pertencesse
ao gado doméstico, o autor dessa ação estava obrigação pagar ao lesado o maior valor
que a rés atingisse durante o ano anterior á sua morte. Já o 3º capitulo estabelecia que
se alguém incendiasse, fraturasse ou por qualquer modo deteriorasse uma coisa
alheia, animada ou inanimada, o autor tinha a obrigação de indemnizar o proprietário
pagando-lhe o maior valor que a rés atingisse nos últimos trinta dias. Requisitos para,
segundo a Lex aquilia, haver dano causado com injuria: 1º o dano devia decorrer de
um comportamento anti jurídico, ou seja, uma injuria; 2º o dano devia ser produzido
pelo seu autor através de um contacto material direto sobre a coisa, ou seja, um dano
corpore corpori; 3º o autor devia atuar com culpa, ou seja, de uma forma censurável,
sendo que a culpa poderia consistir tanto em dolo (intenção de causar o dano) como
em negligência (falta de cuidado que vai causar o dano, embora sem intenção de
provocar o dano). A jurisprudência romana acabou por sugerir ao pretor a extensão da
proteção aquiliana, ou seja, da disciplina da Lex aquilia a situações que a Lex aquilia
não previa, e assim, fora concedidas, pelo pretor ações por ele mesmo criadas, as
ações pretórias, que tutelavam situações que o Ius Civile não contemplava, assim, em
primeiro lugar podemos indicar danos não provocados diretamente por uma ação
corpórea. Em segundo lugar através dessas ações concedidas pelo pretor também
passaram a ser tutelados os danos causados a quem não fosse proprietário, mas tinha
um direito sobre a rés. Em terceiro lugar também foram tutelado pelo pretor os danos
resultantes de lesões corporais em pessoas livres, ou seja, não eram só danos em coisa
alheia, mas também danos que as pessoas livres sofressem no seu próprio corpo.

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