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Iad I
Iad I
A sanção positiva compreende-se como uma sanção que nos beneficia (subsídios,
isenções físicas), tem função proporcional do direito, e a sanção negativa que impõe
sempre algo desagradável a quem as sofre, normalmente são posteriores á prática de
um determinado fato ou á definição de uma certa situação, mas que podem ser de
caráter cautelar (multas, penas de prisão, declaração da nulidade de um contrato),
nem sempre as sanções negativas envolvem o recurso á força, á coação, são sanções
com função repressiva ao direito. Autotutela: não é permitida no ordenamento
jurídico português, contudo, pode haver casos de tutela privada como a: legitima
defesa, ação direta e estado de necessidade. Heterotutela: abrange os meios de
garantia. Podem ser preventivos, compulsivos, reconstitutivos, compensatórios e
punitivos, para além dos que passam pela recusa de efeitos jurídicos a determinados
atos. Feito pelas autoridades oficiais e não pelos lesados. Sanções preventivas - são
medidas destinadas a impedir a violação da ordem jurídica. Atuam para prevenir a
inobservância das normas jurídicas, principalmente quando o receio é justificado à luz
de anteriores transgressões. As autoridades publicas que condicionam, limitam e
fiscalizam a ação dos particulares desempenham um papel de relevo. Ex: inibição do
exercício da tutela a quem praticou crimes que façam temer o seu mau exercício, na
inabilitação para o desempenho de funções publicas, em consequência da prática de
determinados atos delituosos. Sanções compulsórias ou compulsivas - procuram
compelir o infrator de uma norma a adotar a conduta devida, cessando a violação em
curso, e que, por conseguinte, cessam logo que esta termine. Ex.: sanção pecuniária
compulsória (constrange o incumpridor de uma obrigação, com certas características,
a pagar uma determinada quantia pecuniária por cada dia de atraso no cumprimento)
ou com os juros de mora no campo do Direito Fiscal (LINHA 2, particulares com o
Estado). Sanções reconstitutivas - são medidas de garantia tendentes ao
restabelecimento da situação que existiria se a norma jurídica não tivesse sido violada.
A reconstituição pode ser feita de várias formas, mas o direito privilegia a
reconstituição em espécie ou in natura, porque pretende alcançar a reposição da
situação anterior sem o recurso a qualquer bem inexistente à época (ex.: se alguém, de
má fé, constrói uma obra em terreno alheio, o dono deste último tem o direito de
exigir que a mesma seja desfeita e o terreno restituído ao estado primitivo, a expensas
do autor da obra). Fala-se também na execução: nos remete para o direito das
obrigações, trata-se de impor a realização da prestação imposta pela norma ofendida.
Se o devedor não cumprir a obrigação que contraiu de entregar ao credor uma coisa
determinada, este pode exigir o cumprimento da prestação em falta, mediante a
entrega dessa coisa. E por fim a indenização especifica através da qual a reposição da
situação consegue-se através de um bem que, não sendo aquele que foi efetivamente
danificado, está em condições de o substituir, desempenhando a mesma função (ex.:
alguém que se vê obrigado a restituir um objeto igual ao que destruiu). Sanções
compensatórias ou ressarcitórias - pensadas para os casos em que não é possível
restabelecer o status quo ante e em que se tenta por isso reproduzir uma situação
valorativamente equivalente, posto que diferente. Para tal, obrigam o transgressor a
ressarcir o lesado pelos danos causados - tanto os diretamente emergentes da lesão,
como os que resultam da cessão de lucros (danos emergentes e lucros cessantes) –
isto é, a torná-lo indemne (sem dano). Quando, em rigor, os danos não sejam passíveis
de uma indemnização em sentido estrito, por terem uma índole pessoal ou não
patrimonial, alude-se antes a reparação ou compensação da dor ou desgosto sofrido.
Sanções punitivas - são as mais pesadas porque acarretam um mal para o infrator,
privando-o de bens como a liberdade e o patrimônio e, em alguns países, a própria
vida. Podem ser: criminais: sanções privativas do direito penal, que só intervém em
última instância, para defender os bens jurídicos fundamentais da comunidade,
quando tenham sido ofendidos com culpa, e tendo em vista a prevenção do crime em
geral e a ressocialização do agente infrator. Contra ordenacionais: nascem da
administração pública e punem, com multas, certas condutas que lesam interesses
fundamentais (ex.: violações das regras de trânsito). Civis: pertencem ao direito civil e
ocorrem em caso de verificação de comportamentos indignos (caso da incapacidade
sucessória de alguém, por motivo de indignidade). Disciplinares: aplicam-se à infração
de deveres por parte de determinadas categorias profissionais, no exercício das
respetivas funções (ex.: repreensão, suspensão, despedimento). Ineficácia jurídica -
costumam ser diferenciados os casos de inexistência jurídica, de invalidade (que
compreende a nulidade e a anulabilidade) e de ineficácia em sentido restrito.
Inexistência: Um casamento celebrado sem a declaração da vontade de um dos
nubentes não produz qualquer efeito jurídico, considerando-se que nem sequer ocorre
qualquer materialidade do ato jurídico em causa. O mesmo é dizer que um tal ato, em
rigor, não existe juridicamente. Invalidade: Quando um ato materialmente existente
está inquinado na sua validade por um vício, também deixa de produzir efeitos
jurídicos por invalidade. Se se ofenderam interesses públicos a invalidade assume a
forma de nulidade, podendo ser invocada a todo o tempo, por quaisquer interessados,
e declarada oficiosamente pelo juiz em tribunal, se dispuser dos elementos que a
certifiquem. Acarretando a violação da norma uma lesão a meros interesses
particulares, a sanção de invalidade consiste na mera anulabilidade do ato, carente de
invocação pela pessoa ou pessoas a favor de quem foi estabelecida, sanável pelo
decurso do tempo e a confirmação dos interessados, e insuscetível de declaração.
Fala-se ainda de ineficácia em sentido restrito naqueles casos em que o ato
transgressor não produz total ou sequer parcialmente os seus efeitos. A ordem jurídica
apresenta, ao lado da função primária ou prescritiva, uma função secundária ou
organizatória, no âmbito da qual se volta para si própria a fim de se auto-organizar
para conseguir subsistir. a ordem jurídica cuida precipuamente de si mesma, é obra
humana, o homem é ab origine, um ser deficiente o nível biológico-instintivo e por isso
tenta minimizar essa sua natural incompletude. Ela volta-se para si própria a fim de se
auto organizar para conseguir subsistir. A ordem jurídica é, portanto, um artefacto
cultural, que se destina a proporcionar ao seu demiurgo uma ordenação que ele
naturalmente não tem. A ordem jurídica procura também reorganizar-se
continuamente, precisamente porque ela integra uma multiplicidade de exigências e
de elementos entre os quais podem surgir incompatibilidade ou contradições.
Percebe-se a importância da coerência e da unidade sistemática, porque sem ela a
ordem jurídica não constituiria sequer uma “segunda natureza” de caráter cultural,
viabilizadora da coexistência humana. Por outro lado, o direito está na história, no
tempo e, como tal, as normas modificam-se, pelo que a sucessão de critérios pode não
coincidir com a sucessão das relações que aqueles são chamados a regular. A ordem
jurídica manifesta uma dialética entre estabilidade e evolução, permanecer e devir. As
revoluções se apresentam como tentativas de dar saltos na história, mas mesmo
quando ocorre uma destas ruturas, depois que passa o momento homérico (heroico,
em que tudo parece possível), logo se manifesta a densidade da história e se tende à
estabilidade. O certo é que a história não desenha uma linha composta por traços
descontínuos. Em relação a função secundária da ordem jurídica, há por vezes nela
critérios que se mantêm formalmente em vigor para além do seu tempo ótimo, que
insistem em permanecer mesmo quando já não respondem, por razões normativas ou
práticas, aos problemas da vida juridicamente relevantes. Como não pode haver aqui
qualquer rigidez, a ordem jurídica tem que resolver também essa dificuldade. A ordem
jurídica organiza os modos da sua própria realização, quando diz quem soluciona os
mencionados problemas juridicamente relevantes. Normalmente são dissidentes
institucionalmente legitimados que se desincumbem dessa tarefa, recorrendo, em
regra, ao direito pré-objetivado. Ela cria, portanto, órgãos a quem comete as funções
implicadas: os tribunais, os órgãos de administração, certas entidades privadas quanto
ao poder legislativo cuja atuação é igualmente balizada pela ordem jurídica. Compete-
lhe criar os mais dos critérios que os tribunais e a administração depois mobilizam. Os
órgãos de constituição da ordem jurídica são dotados de uma certa competência (que
problemas eles podem resolver?) que devem exercer de um modo determinado (como
devem eles proceder?). O processo racionaliza a ação dos órgãos (torna-os mais
eficientes na realização do seu objetivo) e controla o próprio órgão (ao definir os
termos da sua atuação). Ele constitui, portanto, um modo de controlar determinado
poder. Pode haver ordens jurídicas sem critérios predisponíveis (Common Law), mas
não sem um processo. O processo não só concorre para racionalizar a decisão, como
para garantir às partes, com transparente visibilidade, uma adequada participação na
respetiva obtenção dos seus interesses. Tipos de problemas que a ordem jurídica irá
resolver e as propostas que apresentam permitem uma classificação que se estrutura
em 3 momentos (ou 4 se olharmos para Castanheira Neves): Procura da unidade
sistemática- conjunto de regras secundárias que visam obviar as contradições
normativas que há poucos falamos, coerência entre critérios jurídicos primários em
vigor para a assunção de um específico problema jurídico; Hierarquia das normas-
ocorrência sincrônica, há várias projeções dessa hierarquia na constituição (art 112,
n1,2,3- função hierárquica- atos normativos; art 119), sabemos que uma
regulamentação não pode prevalecer sobre a lei, se o regulamento desobedecer a lei,
a lei prevalece. (art. 164; art. 165- reserva relativa...) - a lei superior derroga na lei
inferior, a lei especial derroga/ prevalece a lei geral. Concorrência da lei do tempo- por
lei que pode resultar em que toda uma certa relação jurídica pode ser estabelecida em
um determinado momento, e desenvolvendo essa relação ao longo do tempo (...) (art.
12 CC e art. 13 - alterações de lei no espaço); Desenvolvimento constitutivo-
necessidade da ordem responder o problema da sua constituição e da reconstituição, e
da vigência; 1º - como se produz o direito positivo (...) (sobre fonte de direito: art1,
art2, art3 (valor jurídico), art. 4 (valor da entidade); será que a norma jurídica pública
no diário da república, será que as normas gerais entram em vigor no dia da sua
publicação? Não ( art. 5, nº 1, nº 2 - entre a publicação e a vigência é necessário um
tempo determinado na lei), tempo mínimo é 24h - procurar os nomes da cessação da
vigência das leis. A ordem jurídica não define apenas uma normatividade (através da
função primaria), ela auto organiza-se através da função secundaria e essa auto-
organização é fator da sua própria subsistência como ordem. A especificidade desta
função de auto-organização é tão essencial ao seu funcionamento eficiente que alguns
autores sustentam mesmo ser ela a decisivamente caracterizadora da ordem jurídica.
Ela tem que estabilizar a sua dinâmica pois só assim garantirá a sua subsistência.
Referidas as funções primária e secundária da ordem jurídica poderemos agora olhá-la
como um todo e apontar-lhe notas caracterizadoras. A ordem jurídica é desde logo
uma ordem. Há sempre notas elementares a sustentar a complexidade das coisas. Por
exemplo, como se sabe, a lógica apofântica define as estruturas de um pensamento
formalmente constante e na sua base estão, entre outros, os elementaríssimos
princípios da identidade e da não contradição: A = A. O que parece banal não deixa,
portanto, de ser essencial, pois só respeitando estes princípios se pode discorrer
daquele modo. E esta mesma observação é transferível, mutatis mutandi, para o nosso
problema. Na verdade, ao afirmarmos que a ordem jurídica é um cosmos, estamos a
dizer que ela não é um puro caos, e isto é importante. Pois estamos com isso a
sustentar que ela garante a compossibilidade de vários fatores – o que corresponde a
uma exigência da praxis. A ordem jurídica, por ser ordem, evita e sana indesejáveis
contradições (exemplo: não se pode julgar hoje um determinado caso de um certo
modo e amanhã decidir um caso em tudo análogo, sem que tenham entretanto
intervindo quaisquer mudanças justificativas da alteração, de um modo diferente;
instaurar-se-ia a insegurança, não se garantiria nem a previsibilidade, nem a igualdade
na vida social – e os referidos resultados inaceitáveis são logo extensamente
prevenidos pelo facto de a ordem jurídica se perfilar como uma... ordem). A ordem
jurídica apresenta-se, pois, como um todo tendencialmente coerente. E, por outro
lado, traduz um esforço cultural necessário para compensar o carácter
ontogeneticamente deficiente do homem: este inacabamento (esta só parcial
ordenação) do homem a nível biológico-instintivo, impõe-lhe a projeção numa
“segunda natureza”, ou a adoção de um “hábito natural”, que o ordene
adequadamente – e a cultura é precisamente um esforço que visa este objetivo. Ora, a
ordem jurídica, integrada como está nesse universo, traduz precisamente um
empenho do homem destinado a possibilitar a instauração de uma convivência de
rosto humano. Caráter comunitário da ordem jurídica - a ordem jurídica constitui um
esforço tendente a assegurar a integração comunitária, pois representa uma instância
de controle da vida em comum. Nós não estamos uns ao lado dos outros como
mónadas solitárias, antes somos uns com os outros, e a ordem jurídica define, desde
logo, o comum normativo de uma comunidade concreta. É sobretudo quando referida
aos valores que materialmente a fundamentam que a ordem jurídica aparece como
um autêntico integrante comunitário. Objetividade da ordem jurídica - a ordem
jurídica integra o nosso horizonte cultural e, por isso, a “segunda natureza” do homem
e isto significa que a ordem jurídica constitui para nós um mundo particular com que
deparamos, ao lado de outros, como o mundo biológico, o sociológico ou o cultural
geral. A ordem jurídica nos aparece como um mundo que se nos depara, estamos a
reconhecer-lhe uma objetividade: a ordem jurídica “está aí”, para nós, como a
natureza, com sua heteronomia, estando nós nela, ela existe independentemente de a
querermos ou não. A ordem jurídica não é um objeto qualquer, a sua objetividade
apresenta, desde logo, uma autossuficiência (ela existe por si só) podendo, por isso,
qualificar-se como autárquica. A autarcia da ordem surge como uma exigência da
própria objetividade, a subsistência da ordem jurídica assenta nas suas próprias forças,
das quais ressalta o caráter autárquico da respetiva objetividade. Com que
legitimidade a ordem jurídica apresenta uma objetividade autárquica? Quando
falamos em legitimidade da ordem, já não tocamos a sua mera realidade, mas
autenticamente o seu sentido, que remete a uma validade. A legitimidade da ordem
jurídica consiste na sua justificação pratica para os respetivos destinatários, para a OJ
não somos apenas objetos, mas autênticos sujeitos, pois o direito é um modo de
mediação de sujeitos como o mundo. Por um lado, a ordem jurídica na sua existência,
na sua realidade, apresenta ao nível institucional, uma objetividade autárquica.
Deparamo-nos, portanto, com a ordem jurídica como autossubsistente, isto é assim
porque mediante à ordem jurídica tem de se resolver o problema da sua legitimação.
Por outro lado, intencionalmente e ao nível do conteúdo, a ordem jurídica apresenta
uma objetividade dogmática. O homem está na história num permanente esforço
critico de novos caminhos, neste sentido, a pratica apresenta uma ineliminável
dimensão dogmática. Na verdade, todo o universo pratico cultural tem referentes que
se postulam e constituem pontos de partida para as ações que o entretecem. No
horizonte da prática, o homem tem de agir, tem de tomar decisões, esta última nota
não invalida a inamissibilidade de uma dimensão dogmática da prática humana (a
pratica humana tem pressupostos dogmáticos). Nas ações/decisões, o homem não
parte do nada, mobiliza esta experiência culturalmente transmitida, vai reconstituindo
a sua subjetividade e o seu mundo. Contudo, podem apontar-se razões culturais e
políticas que parecem repelir o que acaba de se afirmar. Efeitos práticos da ordem
jurídica: Racionalização - a ordem jurídica se traduz em um esforço de racionalização,
esta exigência significa nuclearmente a articulação horizontal de fatores diversos numa
certa conexão unitária que no limite se nos apresentará como sistema. O homem
invoca a razão quando não se contenta com o dado empírico e antes procura situá-lo
num quadro que lhe confira um sentido. O homem sendo um ser livre, não codificado,
é necessariamente um ser dispersivo, podendo ser milhares as suas intenções.
Todavia, o homem não quer que o seu comportamento seja contingente e, para isso,
tem que fazer um esforço cultural de racionalização, tem que empenhar-se em
disciplinar o seu agir. A ordem jurídica é uma das expressões do esforço cultural que o
homem faz para vencer a anarquia resultante da sua natural dispersão, pois constitui
um fator de racionalização da ação, visando dar-lhe coerência. O homem se projeta
numa “segunda natureza”, em que se recria, destinada a instituir a determinação onde
reinava a indeterminação, a substituir o caos por um cosmos, ou seja, isto é
racionalizar o seu mundo. A ordem jurídica traduz e impõe uma exigência de
racionalização, qualquer que ela seja. Institucionalização - a racionalização tem como
consequência a institucionalização. Mas o que é uma instituição? institucionalizar
deriva de in status, e isso significa entrar naquilo que persiste, pois, o status é
precisamente aquilo que conseguiu organizar-se para subsistir. Institucionalizar é,
portanto, estabilizar as ações. A ordem jurídica como instituição que é, define, assim
padrões de comportamento subsistentes, com sentidos e com valores simbólicos, pois
o homem se liga às instituições certos valores por referência aos quais se compreende.
A instituição (especificamente a ordem jurídica como instituição) é um padrão
estandardizado de comportamentos que assimilou determinados valores. A ordem
jurídica constitui, se quisermos, uma grande instituição, que se desdobra em pequenas
instituições (no Direito da Família, Direito Penal, Direito administrativo, etc.). Sendo
assim, a instituição é sempre, portanto, uma organização estável dos comportamentos
e, neste sentido, é uma permanência no tempo: havendo uma instituição a natural
diversidade dos comportamentos tem um referente que os coordena. Uma cultura
identifica sempre um limite. São várias as culturas que convivem sincronicamente e
inúmeras as que já se sucederam diacronicamente, e. sendo assim, o homem que
fizesse a síntese de todas elas, seria “mais sábio” do que aquele que vive imerso numa
só cultura. Cada cultura representa uma restrição à liberdade do homem e isso leva-
nos a uma dialética necessária: o homem, porque é livre, cria as instituições,
instituições que por sua vez limitam a liberdade. Manifestam-se, pois, duas dimensões:
a liberdade (autonomia do homem) e a comunidade (uma vez que as instituições são
sua expressão). Essas duas dimensões, porque se possibilitam reciprocamente,
articulam-se dialeticamente: como sabemos, o mundo vai se institucionalizando e as
instituições desoneram o homem do esforço requerido por um permanente exercício
da liberdade. A institucionalização limita, portanto, a liberdade, mas sem ela a
liberdade não poderia realizar-se, pois consumir-se-ia a si própria. A instituições
também estimulam o exercício da liberdade, para se dinamizarem, e a liberdade, não
deixa de igualmente recear a abertura que a predica, para se viabilizar. Sendo assim
existe uma dialética entre Liberdade e Comunidade. A instituição ao mesmo tempo
que deixa de enquadrar a liberdade, não é mais interiorizada e o resultado é o
definhamento da dialética entre a liberdade e a comunidade. Em suma a ordem
jurídica também é uma instituição e as instituições são necessárias pois compensam o
homem das sua naturais indeterminações, aberturas e mutabilidade. O homem tem a
necessidade da comunidade em que vive. Por isso podemos afirmar que a comunidade
é autenticamente a dimensão e condição de humanização do homem. Somos
simultaneamente seres sociais e associais, então se absolutizarmos qualquer dos polos
desta relação desfiguramos a “associal sociabilidade” do homem: o polo de afirmação
apenas da comunidade é o ideal de todos os totalitarismos e o polo da total negação
da coletividade, em nome, da liberdade inconfinada, corresponde ao ideal anarquista.
Como resolver essa dialética? Criando instituições que reconheçam e integrem
equilibradamente a comunidade e a liberdade e a ordem jurídica é precisamente uma
dessas instituições. Ou seja, pelo fato de sermos mutáveis e indeterminados e
simultaneamente sociais e associais é necessária uma ordem que integre essa
dialética, ora, é precisamente esta a missão da ordem jurídica que tem esse efeito de
racionalização institucionalizada dos comportamentos interferentes.
Segurança/previsibilidade - a segurança reside no fato de conhecermos
antecipadamente os efeitos dos nossos comportamentos juridicamente relevantes e
dos outros que connosco vivem. Sendo assim o direito condiciona cada um de nós,
pelo que podemos prever os resultados dos comportamentos sócio juridicamente
interferentes. O imprevisto representa sempre uma agressão, gerando a insegurança e
a ordem institucionalizada nos diz com o que podemos contar e, portanto, transmite-
nos segurança. Permite que calculemos as consequências dos nossos atos, adverte-nos
antecipadamente do que nos espera e isso, ao fazer com que possamos organizar e
programar a nossa vida, nos dá segurança (a previsibilidade). Liberdade como
responsabilidade e não como arbítrio - devemos nos perguntar se tem sentido falar em
liberdade depois de termos sublinhado a importância da institucionalização e da
segurança, a resposta para esta pergunta é sim, faz sentido, pois o homem só
concederá um lugar à liberdade se consentir em limitar a liberdade, para que um não
esteja sujeito ao arbítrio do outro, temos todos que aceitar submeter-nos a certas
regras e uma regra corresponde sempre a uma limitação, teremos que acordar em
definir o licito e ilícito e aquele que ultrapassar o limite do licito transpõe a barreira da
sua liberdade societariamente consonante, ao mesmo tempo que limitamos o outro,
estamos a preservar a liberdade que com ele se cruze e vice e versa. Ou seja, a pratico-
consonante limitação da liberdade é uma garantia da própria liberdade, e a
institucionalização limita a liberdade para a salvar em termos praticamente razoáveis.
Significa isso que a liberdade juridicamente relevante é sempre uma
proporcionalmente igual liberdade para todos e que o direito deve ser um fator de
oposição aos obstáculos que se deparem à realização de uma praticamente adequada
liberdade geral. A paz e a justiça (paz como antecipação regulativa) - nós estamos em
divergência (conflito de interesses) uns com os outros e o direito define uma tabua de
valores que nos integra (pense no direito penal), fixando meios para o seu
cumprimento e criando órgãos imparciais para os fazer respeitar (os tribunais), assim o
direito limita o poder e impede o uso da forca privada para a realização dos direitos, e,
portanto, garante uma convivência pacifica. Em outras palavras, enquanto a ordem
jurídica se revelar valida e eficaz, vai resolvendo adequadamente os conflitos
resultantes do nosso encontro no mundo, e, nessa medida, é fator de paz. O seu
sentido positivo advém-lhe por mediação da justiça, só então estaremos diante de
uma paz fundamentada em termos de validade, porque só então estaremos uns com
os outros como pessoas, conotando aquele topos não apenas como ausência de
qualquer forma de violência intersubjetiva, mas igualmente a presença da solicitude
circunstancialmente devido ao outro, quem quer que ele seja. Numa tradição que
remonta a textos bíblicos, a justiça é apontada como “o caminho esquecido para a
paz”, ou seja, o direito é uma via de substituir a forca bruta pela razão, pois num
tribunal as partes não utilizam a forca, mas argumentos, sejam eles já instituídos ou
novos. Mesmo em caso de conflito aberto entre as partes, o direito preordena-se pela
paz, pois resolve o problema a favor de quem tiver a razão argumentativamente mais
forte e não quem lançar a mão da força empírico-factualmente mais bruta. Por outro
lado, o direito será tanto mais logrado quanto mais prevenir, em vez de apenas se
limitar a resolver conflitos. O efeito societariamente mais importante da ordem
jurídica é o da prevenção de conflitos, pautamo-nos por esse “principio da ação” e
compreendemos que a ordem jurídica é um decisivo fator de paz. Por todos os
esclarecimentos disponibilizados até ao momento, procuramos ainda determinar qual
é o sentido do direito; o nosso problema é, portanto, o da determinação do sentido do
Direito “para nós” e não apenas o da definição de um seu hipotético sentido “em si”
Tudo o que dissemos até agora não nos permite revelar o sentido do Direito, ou seja, a
circunstância da OJ ser uma Ordem, não garante que se lhe deva reconhecer o sentido
predicativo do Direito; isto porque uma coisa é a explicação do Direito a partir da mera
enumeração horizontal e aditiva dos
fatores que formalmente o identificam, outra é a compreensão do seu sentido. Não
podemos ficar pela exterioridade do fenómeno da OJ para compreendermos o sentido
do direito; o que significa que não podemos aludir a uma mera referência à Ordem em
que o Direito objetivamente se integra. O apuramento do sentido traduz a
compreensão de um fenómeno na sua interioridade (e não na sua objetiva
exterioridade); ora uma interioridade só pode ser compreendida por outra
interioridade (compreender é bem diferente de explicar). Cumpre-nos esclarecer o
seguinte: não há Direito sem Ordem (sem a estrutura, as funções, as notas e os efeitos
a que aludimos); a existência de uma Ordem é, portanto, condição necessária do
Direito.
Ordem jurídica
Plano formal ou
institucional
Só este plano é
insuficiente para dizer
Juridicidade (sentido do que estamos perante
Direito) uma ordem jurídica
Plano material ou do
conteúdo ou Sistema jurídico
intencional
Para já, sublinhemos apenas a ideia de que o Direito, sendo embora uma ordem, não é
uma ordem qualquer. O Direito é uma ordem com um certo sentido, razão pela qual
nós não poderemos ficar pela mera consideração analítico-descritiva. Dito isto,
vejamos agora quais as notas determinantes do sentido de uma ordem
autenticamente de Direito. Estamos perante uma Ordem, mas será uma ordem de
Direito? Ora, o Direito (a Ordem autenticamente de Direito) tem uma carga axiológica
que o Homem, enquanto sujeito ético, assume. Uma Ordem, tal como a descrevemos
até aqui, não define objetivamente o Direito. A OJ atentas a estruturas, as funções, as
notas caracterizadoras e os efeitos, que conhecemos - manifesta uma insuficiência
objetiva, pois não basta só por si, para nos revelar o sentido do Direito, isto porque
existem Ordens que prevalecem, não a nossa adesão, a nossa repulsa (afastamento).
Exemplo: Pense-se na Máfia. Trata-se de uma organização com poder, ocupa um
território, que domina (os gangs dividem o respetivo espaço de influência), tem regras,
agentes hierarquicamente escalonados, tribunais, instâncias de execução de sanções,
garante a segurança (dentro dela as pessoas sabem com o que podem contar) e até a
liberdade (pois, submetendo-se a ela, uma pessoa garante a vida - e se o que assim se
exprime é a liberdade degradada, não deixa, paradoxalmente, de ser uma liberdade
importante). Em suma, é uma ordem formalmente integrante e que racionaliza
institucionalizadamente o espaço das pluridependências que domina, mas, se nos
interrogarmos sobre o mérito material (sobre o sentido) dessa ordem, nunca
ousaremos qualificá-la como de Direito. É que, perante uma ordem deste tipo o
homem é mero instrumento de um poder e não uma pessoa, ou seja, um sujeito com
uma inviolável autonomia e dignidades éticas. Será que podemos resolver o nosso
problema referindo a ordem jurídica á estadualidade? O Direito vive como que em
conúbio com o Estado há já alguns séculos. Não bastará a qualificação de
estadualidade da ordem para a reconhecermos como genuinamente de Direito?
Podemos antecipar a resposta, de forma negativa, ou seja, não basta a qualificação da
estadualidade da ordem para reconhecermos como de Direito porque facilmente
concluiremos que, não obstante o Estado ocupa um lugar importante. A Estadualidade
não é característica necessária nem suficiente da juridicidade de uma ordem
socialmente reguladora. O Estado e o Direito são realidades diferentes. A equiparação
entre a ordem normativa do Direito e a ordem política do Estado não é, portanto,
exata por 3 razões basilares: 1. O Direito e o Estado não se identificam 2. A Ordem de
Direito não é exclusivamente criada pelo Estado 3. O poder político que o Estado titula
não é fundamento da Ordem Jurídica (sendo, pelo contrário, a juridicidade
que fundamenta materialmente a estadualidade). Direito e Estado não se identificam:
Distinção Estado Direito
Distinguem-se O Estado (como E se como o Estado
culturalmente, desde logo institucionalização da Moderno surgiu um certo
porque têm histórias decisão política, tipo de Direito (o Direito-
diferentes. autonomizada da legislação) a verdade é que
sociedade civil e antes dessa época, já
tendencialmente existia Direito (ex: Direito
absorvente de toda a Grego e Direito Romano);
prática) é uma “invenção”
recente, nasceu na Idade
Moderna;
O Estado e o Direito não se O Estado é uma O Direito é uma ordem
identificam intencional - organização de poder (o normativa (remete a um
materialmente. seu referente é a política); sistema de princípios, que
afirmam uma validade);
Critério Fundamento
Um critério é uma regra técnica; O Fundamento é aquilo que justifica o
critério;
Um técnico sabe que para resolver É rigorosamente, o apoio em que ele
adequadamente um certo problema deve materialmente se baseia, o “alicerce” que
lançar mão de um determinado modelo intencionalmente o legítima.
operatório;
EXEMPLO: um eletricista sabe que só
conseguirá eliminar um curto-circuito de
afastar os fios que indevidamente
contactam; mas não tem que conhecer as
leis da eletricidade, pois o técnico que é,
não lhe compete a problematização dos
fundamentos físicos dos critérios com que
opera. Por outra palavras do eletricista
espera-se o “saber fazer”, predicativo de
uma mera “competência” funcional; ao
físico exige-se o “saber porquê”,
implicante de uma genuína capacidade
justificativa.
A sociedade é mais do que a soma das Por outro lado, esse comum não pode ser
nossas individualidades (e é assim porque tão denso que esmague a individualidade
ela não identifica um mero atomismo de de cada um dos membros (recorde-se que
individualidades), constituindo antes uma é precisamente isto que acontece sempre
teia definida pela interferência das nossas o “centro principal” da sociedade
ações; “domina e satura a respetiva periferia”-
sirva-nos de exemplo “ a estrutura de
todas as sociedades totalitárias do século
XX”;
A sociedade não é apenas a mera Nesta outra hipótese teríamos só uma
justaposição de isolamentos: nesta “massa” em fusão e não uma sociedade,
hipótese, estaríamos diante de uma mera pois esta pressupõe a existência de
acumulação de solidários o que não seria autênticas relações entre os socii e,
bastante para criar uma comunidade, pois portanto, a sua autonomia.
esta define um espaço comum integrante
de todos;
É, pois, entre as duas coordenadas acima referidas que se constituirá uma sociedade.
Todavia, estas coordenadas, na sua dinâmica, manifestam uma tensão e é por isso que
há sociedades em que uma delas (qualquer que seja) se hipertrofia e avantaja à outra
(exemplo: numa sociedade totalitária, a segunda coordenada que relevámos tende a
asfixiar a primeira; e numa sociedade inspirada por um liberalismo radical, é o inverso
que se verifica). Mesmo sem estes excessos a sociedade nunca consegue eliminar a
atrás referida “insociável sociabilidade” do homem. E é assim porque nós somos seres
centrífugos (somos seres de liberdade individual) que convivem num horizonte
centrípeto (a sociedade chama-nos a si, pois precisamos dela par nos realizarmos
humanamente ). De um lado somos insociáveis, do outro sociáveis - e a dinâmica da
história resulta desta (e é animada por esta) tensão. Como já referi a sociedade
integra-nos - importa apurar o modo desta integração. E aqui afirmam-se duas
compreensões distintas da sociedade. Uma delas (a mais antiga) centra-se na ação
individual e é a partir desta que pretende aceder à compreensão do todo; a mais
recente, todavia, a tendência dominante é antes a inversa - a de partir do todo das
interações estruturaras para a ação individual. Por outras palavras levantado a questão
acerca da caracterização da sociedade encontramos vários autores que procuram dar
reposta para o problema de equilíbrio entre o “mundo coletivo” e a integração da sua
convivência; o homem é um ser que simultaneamente convoca uma tendência para a
socialização e para o isolamento procurando respostas na sociologia encontramos
duas perspetivas: 1.
Perspetiva de ação (Max Weber); 2. Perspetiva do sistema (Parsons, Luhmann):
Exemplo: Não deve qualificar-se como Coloca-se assim, uma outra questão: como
ação social o facto de um de nós se será que uma dimensão estática
encontrar, ao lado de outra pessoas, na fila (constituída pelas estruturas as que
para o autocarro pois o que aí se nos aludimos) se articula com uma outra
depara é uma acidental justaposição de dinâmica (com o mundo não pára) ?
discretas ações individuais; neste quadro,
não há, em princípio qualquer particular Parsons entende que a “função” se
relação entre os candidatos a passageiros, encarregaria de resolver a questão, pois a
que nos autorize a falar, no sentido função identifica, precisamente, o
explicitado, em ação social, já que aquilo dinamismo possível dentro de uma
que cada um está a fazer ao lado do outro determinada estrutura. E daí que a
pode igualmente fazê-lo sozinho. Se, sociedade, no seu conjunto, consista na
todavia, um se dirigir ao outro e este der definição de estruturas funcionais.
conta da interpelação, então sim, já um e
outro se condicionam reciprocamente,
pois já há interação ou troca de sentido de
ambos (mesmo que o interlocutor
concretamente interpelado não
responda...)
Permite-nos compreender
facilmente que a política
traduz a organização, em
termos estratégicos, da Cultural = Sistema de
sociedade para esta se valores, aos sentidos, aos
O interesse tem a ver com a afirma com tal. É, pois, pela referentes de significação
nossa relação com o mundo; dimensão política que a humana de uma sociedade -
é o que “inter-est” é o que sociedade define, ao particular “modo de
está entre nós e o mundo; estrategicamente, os seus vida” (ao “modo especial de
objetivos fundamentais. pensar, sentir e agir”) que
Por seu turno, o poder nela se vai instituindo.
representa como que a
encarnação da política -
corresponde à
institucionalização da
dimensão política de uma
sociedade
O interesse é, portanto,
aquilo que nos liga ao
mundo, olhando este como
objeto de uma apetência
EXEMPLO: um livro serve-
nos para alguma coisa por
isso podemos dizer que nos
ligamos a um livro com uma Percebe-se, por isso, que os
determinada apetência, ou mais dos referentes
com um certo interesse, culturais sejam herdados -
porque com o livro embora, voltamos a insistir
satisfazemos certas estejam sujeitos a uma
necessidades; permanente revisão
Isto significa que os reconstitutiva e mesmo,
interesses fazem com que muitas vezes, se constituam
manipulemos o mundo. E, é ex novo em resposta a
assim, até os outros podem inovadoras experiências
se objeto de interesse, pois problemáticas que o exigem.
podem ser manipulados.
A economia é precisamente
o estudo da escolha dos
instrumentos de
mobilização dos bens de que
há carência para dar
satisfação às necessidades,
isto é, para dar resposta aos
interesses
O que tem o direito a ver com estas dimensões ? Essas três dimensões são diferentes,
embora coligadas. Apresentam-se como fenomenologicamente distintas, pois
correspondem a sentidos diferentes da nossa posição no mundo e, acentuámo-lo
igualmente, como irredutíveis. E sendo elas assim dimensões distintas, como é que se
articulam reciprocamente? Ora um dos articulantes desta pluralidade de dimensões é
o Direito. O Direito é assim critério sobre os interesses, no quadro de um poder, e para
cumprir essa tarefa mobiliza alguns valores. O Direito pode, por isso, dizer-se um
sintetizador seletivo de todos os elementos mencionados, embora, como veremos, ele
se afirme aí com uma intenção própria. Significa tudo isto que o Direito ajuíza do
mérito relativo dos interesses, que é instância crítica do poder e que, para realizar
estes objetivos, mobiliza alguns valores deixando outros de lado (e por isso o dissemos
critério seletivo). Na Lição anterior olhámos a sociedade como resultado das estruturas
a que aludimos (dos estatutos e dos papéis) e do irredutíveis elementos materiais que
mencionámos (dos interesses, do poder e dos valores). Nesta via surge uma segunda
pergunta: Será o Direito uma pura função dependente da sociedade? Há teses que o
sustentam, isto é, que respondem afirmativamente àquela interrogação. Para essas
orientações o Direito seria um mero resultado dos elementos materiais
irredutivelmente constitutivos da sociedade. Significa isto que existem correntes
defensoras da ideia que o Direito depende em exclusivo da economia ou da política ou
da cultura. Comecemos então a caracteriza sumariamente cada redutivismo: A
redução do direito ao económico - para o economicismo que sustenta a redução
econômica da normatividade jurídica o Direito é a mera expressão normativa das
relações económicas, não traduzindo mais do que a normação do económico. É esta a
posição do marxismo originário, (que teve o seu contributo para a redução aqui
enunciada) em seu entender, seria a “estrutura económica da sociedade”, a sua “base
real”, que determinaria todas as dimensões de “sentido” e de “valor” da vida
humana”- desde a sua consciência individual à super estrutura jurídica e política que se
viesse a institucionalizar. Para Marx (em virtude do positivismo material) a
infraestrutura é que seria a causa nuclear de todas as dimensões da vida
societariamente significativas: cada cultura seria determinada pelas “relações de
produção” constitutivas da mencionada “estrutura económica da sociedade” de modo
que o Direito, como vetor integrante da referida superestrutura, não passaria,
igualmente, de um segregado da aludida infraestrutura e outro tanto se poderia dizer
das ideologias, pois estas, de um ponto de vista cultural, não são mais do que
tentativas de justificar os interesses. Em suma: desta perspetiva, o económico seria o
elemento determinante, e o Direito, como estrato integrante da superestrutura, seria
determinado por aquela infra- estrutura. Todavia, o marxismo foi abandonado, a
pouco a pouco, este economicismo linear, que sustentava haver relação direta entre a
economia e a cultura. O económico (por si só) ganhou então importante relevo nos
séculos XVIII-XIX em estrita articulação com o individualismo capitalista surge desta
ideia um importante movimento de um modelo teórico - “Law and Economics”
segundo o qual a economia é um elemento dominante e determinante da História. A
racionalidade da esfera económica assenta na mera eficácia pragmática de caráter
funcional e instrumental com base numa relação meio fim. Ora, se a realidade social
fosse totalmente dominada pela economia haveria apenas uma única racionalidade: a
racionalidade puramente técnico- funcional e podia resultar no perigo da
instrumentalização do Direito aos interesses. Em conclusão podemos dizer, em
relação à apreciação crítica da teoria redutivista do Direito à Economia: o jurídico
também atua sobre o económico, como é reconhecido pelo próprio pensamento
marxista. O tipo de relação entre a esfera do económico e a esfera do jurídico tem
variado de época para
época. Se a intencionalidade (que condiciona a racionalidade) de ambos é igualmente
diferente (a do económico centra-se na eficiência, enquanto que a do jurídico tem
como núcleo a validade), então tudo isto mostra que o económico não é o seu
determinante exclusivo; podemos concluir que o económico não reduz, nem
teoricamente nem ao nível da análise histórica, nem atendendo à intencionalidade os
dois domínios em controlo: o ético-jurídico, tendo, contudo, que contar com ele. A
redução do direito ao político: - Para a concessão, o Direito seria somente a
concretização da voluntas (vontades) política constituindo como que “a política
noutros termos”, ou seja, o Direito seria apenas uma política concretizada em normas.
O político é assim o húmus axiologicamente densificante e fundamentante da prática
de qualquer comunidade concreta. Ora a política é diferente: em termos
esquemáticos, diremos que esta identifica um programa finalístico, que tem a sua
estratégia e que é assumido por um governo. A política alimenta-se decerto daqueles
valores a sua manta nutriente é também o húmus a que acima referi. E daí que sejam
sempre possíveis várias políticas no quadro de um mesmo horizonte político (exemplo:
cada partido interpreta diferentemente os consensuais valores capitais de uma
comunidade; as mais das formações políticas invocam os mesmos valores, mas depois
adotam, para os realizar, uma estratégia diferente, porque se propõem fins também
diferentes, isto é, porque
adotam políticas diferentes). Dito isto questionamos: será o Direito redutível à
política?
O direito (como de resto, a própria politica) cabe no político, pois é aí que ambos (que
tanto o direito como a politica) encontram o húmus em que radicam. O que está em
causa é, portanto, apurar se o direito não passa da politica traduzida em normas. A
política (como aqui estamos a retratar) remonta à Idade Moderna, pois foi com a
emergência do Estado Iluminista que ela se automatizou na sua unilateralizadora
significação. A política libertou-se então da religião, da ética e do direito que eram os
referentes culturais até essa altura dominantes e que, no seu conjunto, compunham a
chamada filosofia prática. A automatização da política coincidiu com a afirmação do
Estado Moderno, do Estado que assumiu a titularidade de toda a prática da
comunidade e, portanto, também do direito. Foi, pois nesta época que se cedeu a
tentação de reduzir todo o universo prático à política. Com o Estado Moderno o Direito
passou a ser legislação, primeiro, como mero enquadrante racionalizador das
liberdades e ainda como fator de limitação do poder do Estado mais tarde ainda como
critério orientador das próprias ações concretas (pura emanação da voluntas política)
e deriva desta circunstância histórica a tentação de reduzir o direito à política. Esta
concessão conhece várias modalidades da redução do Direito à política: o legalismo
normativista, segundo o qual o Direito é o regulativo instrumental de objetivos
político-sociais; o funcionalismo ideológico-político, que entendia o Direito como uma
política; Sobre estas modalidades podemos apresentar uma crítica em dois planos:
Plano institucional - o Estado invoca o poder para se legitimar e a normatividade
necessita também do poder para existir e para subsistir. Contudo, hoje, revela-se o
poder, mas não podemos deixar de lhe impor limites, uma limitação do poder em
nome do Direito. O problema da tensão entre o poder e a validade. Esta é a ideia do
Estado de Direito material, segundo a qual a juridicidade do fundamento material do
poder e após uma análise institucional. Chegamos à conclusão de que o Direito não se
pode reduzir à Política nem ao Poder. Plano intencional - teremos que invocar que a
política e o Direito têm racionalidades diferentes, isto porque são realidades
historicamente diferentes e visa objetivos diferentes, logo impõem-se não concordar
com a redução do Direito à prática, isto porque o Direito distingue-se da legislação
política e o pensamento jurídico apresenta um auditório argumentativo e dimensões
materiais que impõem-se sua distinção do poder político. Podemos concluir que o
Direito se distingue da legislação política quer do ponto de vista histórico quer do
ponto de vista intencional, razão pela qual não podemos afirmar uma redução do
Direito à política (ao poder). A redução do direito ao cultural: Direito assimila os
valores que compõe a ordem axiológica da comunidade e condiciona os problemas
concretos da mesma comunidade em que se insere, contudo, “o Direito só poderá
existir ser for verdadeiramente vigente”, ou seja, é a normatividade que constitui uma
dimensão real da prática concreta; a vigência é a síntese da validade e da eficácia. Uma
Cultura, só será vigente quando se nos apresenta como efetiva dimensão de sentido
de uma certa prática, conformando a dimensão axiológico-intencionalmente e
histórico-socialmente a pluralidade das manifestações existencialmente predicativas
de uma determinada comunidade. De acordo com o Dr. Castanheira Neves o Direito é
um dever-ser que é, ou seja, “uma normatividade (uma validade ou dever-ser) que tem
que ser, ou seja, que tem que se concretizar na prática e que, portanto, é”. E está
aparentemente contraditória formulação traduz uma dialética em que não nos
cansamos de insistir: o Direito é dever-ser, porque é uma intenção de validade que
transcende os factos sociais para poder ajuizar deles; mas o Direito é porque apresenta
como outra irremissível nota caracterizadora, para além da mencionada validade, a
eficácia. Crítica: contra o jus naturalismo (ao centrar-se num puro Direito ideal, nega o
seu condicionamento histórico e, portanto, constitui a expressão exemplar do
redutivismo que estamos a considerar) repousa em três argumentos: argumento
antropológico; argumento ontológico; argumento metafísico.
Em suma significa que o homem não traduzia mais do que uma auto compreensão, o
que significa que o homem projeta no ser a sua própria racionalidade compreende-se
que o homem do jus naturalismo era um ser contemplativo e por isso, teorético.
Diferentemente, o homem sabe que a transcendência não é totalmente transparente.
Hoje essa transparência é para o homem uma tarefa a cumprir, logo o homem na sua
prática tem consciência da sua finitude, percebendo que é um ser histórico e por isso,
pretende tomar posições sobre si próprio. Numa palavra síntese: contra a
antropologia-clássica afirma-se hoje a pessoalidade do Homem; contra a ontologia
clássica, afirma-se hoje a historicidade do ser; contra a metafísica clássica afirma-se a
transracionalidade da transcendência. Temos deste modo justificada a inconcludência
(afastamento) do jus naturalismo e como foi esta a orientação que circunscreveu o
Direito ao Axiológico-Cultural, é que o Direito, embora não alheio a valores, pois é
deles que radica a sua dimensão de validade, não se reduz a eles. O Direito para se
afirmar como tal também deverá ser eficaz, pois só assim pode ser considerado
vigente. Em conclusão, o Direito não se reduz nem ao económico, nem à política, nem
ao axio-cultural. Tendo assim respondido negativamente à segunda interrogação posta
(será que o Direito é uma mera variável dependente de qualquer um dos elementos
materiais irredutivelmente constitutivos da sociedade?), podemos formular assim uma
terceira pergunta: que papel tem o direito na sociedade? Ou qual a função específica
do Direito no atual contexto sociocultural? Ver sebenta Ana Andrade lição 8
Sabemos que o Direito é o ultimo ponto de Sendo o direito uma instância regulativa
apoio em que todos nós podemos apoiar. então o conjunto de princípios e valores
Ora o direito se objetiva, torna-se um que entretecem essa trans-objetividade
critério positivo para a resolução dos funciona como instância de validade e
problemas. Mas antes de se objetivar, é já critica da nossa convivência social e do
uma apelo, um horizonte de sentido, um poder politico. O direito aparece como
regulativo intencionado, não é apenas um ultimo critério das validades comunitárias
conjunto de normas. Por ser um dever, suscetíveis de serem qualificadas como
transcende o que é em cada momento. Por universais. Enquanto ponto de encontro
isso a própria ideia de direito, valores e comum que nos ajuda a compreender a
fundamentos, regulam o que o direito vai própria divergência, o direito desempenha
sendo: é um constituendo reconhecido uma autêntica função instância
pelas próprias ideias. viabilizadora de uma efetiva comunicação
intersubjetivamente significativa. É uma
verdadeira instância critica Apesar de não
dispor de forças armadas, nem por isso
deixa de conseguir, através dos seus
princípios, assumir-se como a má
consciência do poder