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35 - A Lei Estabelecida Através Da Fé - Parte I
35 - A Lei Estabelecida Através Da Fé - Parte I
John Wesley
'Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei'.
(Romanos 3:31)
I. Quais os meios mais usuais de 'tornar a lei, sem efeito, através da fé?
III. Nós podemos tornar a lei sem efeito, na prática, vivendo como se a fé
fosse designada para nos isentar da santidade.
2. Foi fácil, prever a objeção que poderia ser feita, e que existiu de fato, em
todas as épocas; ou seja, dizer que somos justificados, sem as obras da lei, é abolir a
lei. O Apóstolo, sem entrar em uma disputa formal, simplesmente nega a instrução.
'Nós, então', pergunta ele 'tornamos sem efeito a lei através da fé? Deus proíbe! Sim,
nós estabelecemos a lei!'.
6. Portanto, convém a todos que desejam vir para Cristo, a quem eles
receberam, assim como caminhar Nele, prestar atenção em como eles 'tornaram a lei
nula, através da fé. Para nos proteger efetivamente, contra ela, nos permita inquirir,
Em Primeiro Lugar, quais são os caminhos mais usuais para tornar 'a lei nula,
através da fé?' E, Em Segundo Lugar, como nós podemos seguir o Apóstolo, e pela
fé, 'estabelecer a lei'.
I
1. Em Primeiro Lugar, vamos inquirir: Quais são os caminhos mais usuais de
tornar a lei nula, através da fé? Porque a maneira de um pregador tornar tudo nulo, de
um só golpe, é não pregar nada a respeito, afinal. Isto será justamente a mesma coisa
que apagar os oráculos de Deus. Mais especialmente, quando isto é feito com um
objetivo; quando é feito como uma regra, não pregue a lei, e a mesma frase, 'Um
pregador da Lei', é usada como um termo de reprovação, como se significasse pouco
menos do que um inimigo do Evangelho.
4. 'Mas, embora não exista uma ordem nas Escrituras, oferecendo Cristo para
o pecador desamparado, ainda assim, não existem precedentes bíblicos para isto?'.
Eu penso que não: Eu não conheço coisa alguma a respeito. Eu acredito que você não
pode conseguir algum, quer dos Evangelhos, ou dos Atos dos Apóstolos. Nem você
poderá provar que esta tem sido a prática de alguns dos Apóstolos, em qualquer uma
das passagens em todos os seus escritos.
5. Mais do que isto, o Apóstolo Paulo não diz em suas primeiras Epístolas aos
Coríntios, 'Nós pregamos Cristo crucificado?' (1:23), e em sua última, 'Nós não
pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor?' (4:5).
Nós admitimos ao restante a causa dessa discussão; trilhar seus passos, seguir
seu exemplo. Mas apenas pregue, exatamente como Paulo pregou, e o debate chega ao
fim.
Porque, embora estejamos certos de que ele pregou Cristo de maneira tão
perfeita, como cabe ao principal chefe dos Apóstolos, ainda assim, quem pregou a lei
mais do que Paulo? Portanto, ele não pensava que o Evangelho respondia à mesma
finalidade.
(1) Ele não pregou lá, afinal; não no sentido em que falamos: porque,
pregar, em nossa presente questão, significa falar diante de uma
congregação. Mas acenando a isto, eu respondo:
(2) Suas Epístolas são dirigidas, não para os não-crentes, tais como
aqueles dos quais estamos falando, mas 'para os santos de Deus',
em Roma, Corinto, Felipe, e outros lugares. Agora, sem dúvida,
ele falaria mais de Cristo a esses do que àqueles que estavam sem
Deus no mundo.
(3) E, ainda assim, cada uma dessas, está cheia da lei, até mesmo, as
Epístolas aos Romanos e aos Gálatas; nas quais ele faz o que ele
denomina 'pregar a lei', e isto para os crentes, assim como para os
não-crentes.
10. Disto tudo, fica claro que vocês não sabem o que é pregar Cristo, no
sentido do Apóstolo. Porque, indubitavelmente, Paulo julgou que pregava Cristo,
tanto para Felix, quanto em Antioquia, Listra e Atenas: de quais exemplos, todo
homem de discernimento deve inferir, que não apenas declarando o amor de Cristo
aos pecadores, mas também, declarando que ele virá dos céus em fogo, é, no sentido
do Apóstolo, pregar a Cristo; e no sentido bíblico completo da palavra. Pregar a Cristo
é pregar o que ele tem revelado no Velho ou no Novo Testamento, de modo que você
está realmente pregando a Cristo, quando você está dizendo: 'o ímpio deverá ir para o
inferno, e todo o povo que se esquecer de Deus'; da mesma forma, quando você diz:
'observem o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo!'.
11. Considere isto bem: -- que pregar Cristo, é pregar todas as coisas que
Cristo tem falado; todas as suas promessas; todas as suas advertências, e comandos;
tudo que está escrito em seu livro; e, então, você irá saber como pregar Cristo, sem
tornar a lei nula.
12. 'Mas bênçãos maiores não atendem os discursos em que nós
particularmente pregamos os méritos e sofrimento de Cristo?'.
II
1. Uma outra maneira de tornar a lei nula, através da fé, é ensinar a fé, que
substitui a necessidade de santidade. Isto a divide, em milhares de caminhos menores,
e muitos são os que caminham nele. Na verdade, existem poucos que escapam
totalmente dele; poucos que são convencidos de que somos salvos pela fé, a não ser
que, mais cedo ou mais tarde, mais ou menos, deixemos de lado este caminho
secundário.
2. Se todos esses que são levados para este caminho secundário não se
conscientizarem de que a fé em Cristo coloca inteiramente de lado a necessidade de
manter a lei; ainda assim, suporem a necessidade de manter a fé deles de lado; ainda
assim, suporem: (1) que a santidade é menos necessária agora do que ela foi antes da
vinda de Cristo; (2) que um grau menor dela é necessário; (3) que ela é menos
necessária aos crentes do que aos outros. Porque assim são todos aqueles que, embora
o julgamento deles esteja, em geral, correto, ainda assim, pensam que eles podem ter
mais liberdade, em casos específicos, do que eles poderiam ter tido antes que cressem;
de fato, usarem o termo liberdade, de tal maneira, como estando livres da obediência
ou santidade mostra, imediatamente, que o julgamento deles está pervertido, e que
eles são culpados do que eles imaginaram estar muito longe deles; ou seja, de
tornarem a lei nula, através da fé, por suporem que a fé substitui a santidade.
E quem, alguma vez, esteve debaixo da promessa das obras? Ninguém, a não
ser Adão, antes da queda. Ele esteve completamente e apropriadamente debaixo da
aliança que requereu perfeição, obediência universal, como a única condição de
aceitação; e não deixava lugar para o perdão, quando da menor transgressão. Mas
nenhum homem, alguma vez, esteve debaixo disto, nem os judeus ou gentios; nem
antes de Cristo, nem desde então. Todos os seus filhos estavam e estão debaixo da
aliança da graça. A maneira da aceitação deles é esta: A livre graça de Deus, através
dos méritos de Cristo, perdoa a todos que crêem; que crêem com tal fé, que, operada
pelo amor, produz toda obediência e santidade.
4. O caso não é, portanto, como vocês supõem, que os homens foram, alguma
vez, mais obrigados a obedecer a Deus, ou a executar as obras da Sua lei, do que eles
são agora. Mas nós poderíamos ter sido obrigados, se nós estivéssemos debaixo da
aliança das obras; se tivéssemos realizado essas obras antes da nossa aceitação.
Considerando que agora todas as boas obras, embora tão necessárias como sempre,
não são anteriores à nossa aceitação, mas conseqüentes a ela. Portanto, a natureza da
aliança da graça não dá a vocês fundamento; nenhum encorajamento, afinal, para
colocarem de lado qualquer insistência ou grau de obediência; nenhuma parte ou
medida de santidade.
5. 'Mas nós não somos justificados pela fé, sem as obras da lei?'. Sem dúvida,
que somos; sem as obras, quer da lei cerimonial ou moral. E, por Deus, todos os
homens estivessem convencidos disto! Com certeza, iria impedir inumeráveis males;
o Antinomianismo [Doutrina de que, pela fé e a graça de Deus anunciadas no
Evangelho, os cristãos são libertados não só da lei de Moisés, mas de todo o legalismo
e padrões morais de qualquer cultura], em particular. Porque, falando de uma maneira
geral, foram os fariseus que se transformaram nos antinomianos. Seguindo a um
extremo tão palpavelmente contrário às Escrituras, eles fizeram com que outros
seguissem para o lado oposto. Estes, buscando serem justificados pelas obras,
aterrorizaram aqueles por permitirem algum espaço para eles.
6. Mas a verdade se coloca entre ambos. Nós somos, sem dúvida, justificados
pela fé. Este é a pedra angular de toda construção cristã. Nós somos justificados, sem
as obras da lei, como uma condição prévia da justificação; mas elas são os frutos
imediatos daquela fé, por meio da qual somos justificados. De modo que, se as boas
obras não vêm em seguida à nossa fé, até mesmo toda santidade interior e exterior, é
claro que nossa não vale nada; nós ainda estamos em nossos pecados. Portanto, já que
somos justificados pela fé, até mesmo por nossa fé, sem as obras, não existe
fundamento para tornar a lei nula através da fé; ou para imaginar que a fé é uma
dispensação de algum tipo ou grau de santidade.
7. "Mais do que isto, Paulo não disse expressamente, 'Aquele que não realiza,
mas crê Nele, que justifica o impuro, sua fé é contada como retidão?'. E não se
conclui disto que a fé está, para o crente, no lugar da retidão? Mas, se a fé está no
lugar da retidão ou da santidade, qual a necessidade que existe desta também?"
III
1. Existe um outro modo de tornar a lei nula, através da fé que é mais comum
do que, até mesmo, a anterior. E que é fazê-lo na prática; torná-la nula de fato, embora
que não em princípio; vivendo como se a fé fosse designada para isentar-nos da
santidade.
2. O estar 'debaixo da lei', pode aqui significar: (1) estar obrigado a observar o
cerimonial da lei; (2) estar obrigado a aceitar toda a instituição mosaica; (3) estar
obrigado a manter toda a lei moral, como a condição de nossa aceitação por parte de
Deus; e (4) estar debaixo da ira e maldição de Deus; debaixo da sentença da morte
eterna; debaixo do sentido de culpa e condenação; cheio de horror e temor
escravizante.
3. Agora, embora um crente 'não esteja sem lei para Deus, mas esteja debaixo
da lei de Cristo', ainda assim, do momento em que ele crê, ele 'não está debaixo da
lei', em qualquer um dos sentidos precedentes. Do contrário, ele está 'debaixo da
graça'; debaixo de uma dispensação mais benigna e graciosa. Uma vez que ele não
mais está debaixo da lei cerimonial; nem debaixo da instituição mosaica; uma vez que
ele não é obrigado a manter, nem mesmo a lei moral, como uma condição de sua
aceitação; então, ele está livre da ira e da maldição de Deus; de todos os sentidos de
culpa e condenação; e de todo aquele horror e temor da morte e inferno, por meio dos
quais ele esteve toda sua vida, quando da escravidão. Agora ele pode executar (o que,
'debaixo da lei' ele não podia) a obediência desejada e universal. Ele não obedece
mais por causa do temor escravo, mas por um princípio mais nobre, ou seja, a graça
de Deus, dominando seu coração e fazendo com que suas obras sejam forjadas no
amor.
4. Será que esse princípio evangélico é menos poderoso do que o legal? Será
que nós somos menos obedientes a Deus, através do amor filial, do que quando
tínhamos medo servil?
Seria bom, se este não fosse um caso comum; se este Antinomianismo prático;
este caminho desapercebido de tornar a lei nula, não tivesse infectado milhares de
crentes.
Vocês são assim ainda? A consciência de vocês é tão cuidadosa agora com
essas coisas, como ela era até então? Vocês ainda seguem a mesma regra no
mobiliário, e no vestuário, desprezando toda ostentação, toda superficialidade, todas
as coisas inúteis, todas as coisas meramente ornamentais, por mais que estejam na
moda? Antes, vocês não têm recuperado o que vocês, uma vez, deixaram de lado; e o
que vocês não poderiam, até então, fazer uso, sem perturbar suas consciências? E
vocês não aprenderam a dizer: 'Ó, eu não sou tão escrupuloso agora?'. Em Deus que
assim fosse! Porque então, vocês não pecariam; 'não porque vocês não estão debaixo
da lei, mas porque estão debaixo da graça!'.
Vocês agora menosprezam o louvor como veneno mortal, o qual vocês nem
pode dar, nem podem receber, a não ser na pureza de suas almas? Vocês ainda temem
e abominam toda conversa que não tenda ao uso da edificação; e trabalham para
melhorar cada momento, para que ele não possa passar sem torná-los melhores do que
ele encontrou vocês? Vocês estão menos cuidadosos quanto ao gasto ambos do
dinheiro e do tempo? Vocês agora não podem dispor de ambos, como vocês não
poderiam fazer outrora? Ai de mim! Como aquilo que poderia ter sido para a saúde,
provou ser para vocês uma chance de queda! Como vocês puderam 'pecar, não
porque vocês não estavam sob a lei, mas porque vocês estavam sob a graça?'.
7. Deus proíbe que vocês possam continuar desse jeito, e 'transformar a graça
de Deus em lascívia!'. Lembrem-se quão clara e forte convicção vocês tiveram, no
que diz respeito a todas essas coisas! E, ao mesmo tempo, vocês estavam
completamente satisfeitos com aquele de onde procedeu aquela convicção. A Palavra
disse a vocês que vocês estavam iludidos; mas vocês sabiam que se tratava da voz de
Deus. Nessas coisas vocês não eram tão escrupulosos, então; mas agora vocês não são
escrupulosos o suficiente. Deus manteve vocês mais tempo naquela escola dolorosa;
para que vocês pudessem aprender aquelas grandes lições mais perfeitamente. E vocês
já se esqueceram delas? Oh! Reúna-as antes que seja muito tarde! Vocês já não
sofreram muitas coisas em vão? Eu confio que ainda não foi em vão. Agora usem a
convicção, sem a dor! Pratiquem a lição, sem o castigo! Não deixem que a
misericórdia de Deus pese menos para vocês agora, do que sua indignação veemente
fez anteriormente. O amor é uma razão menos poderosa do que o medo? Se não, que
seja uma regra imutável, "Eu nada farei agora que estou 'debaixo da graça', que eu
não me atrevi fazer, quando estava 'debaixo da lei'".
[Editado por Josh Williams, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa, ID), com
correções de George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]