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Dia de frio

Tem gente que gosta de um dia de frio e tem gente que odeia. Eu por exemplo
prefiro o frio. A vantagem do frio é que não nos faz suar, já o calor nos faz escorrer
de suor! Mesmo sentado lendo um livro num dia quente você acaba lavado. No calor
tem a vantagem de não precisar usar dez quilos de roupas.

Quando chega aquele dia, aqueles que você precisa sair para trabalhar, que só
de pôr a mão para fora da janela congela, você inicia a busca pelo agasalho há
muito guardado. Joga as roupas na cama, na televisão, no chão e até mesmo na
cama do cachorro. Quando acha aquela jaqueta que não via a luz do sol há meses
nota-se que está manchada. Daí emburrado você diz:

Justo no dia que eu vou usar...

É a vida!

E quando você está atrasado e acha um agasalho guardado sujo que já estava
pretendendo usar há três dias!? Aí começa o desespero:

Meu Deus! Tô atrasado já faz vinte minutos e ainda por cima me acontece uma
coisa dessas! Nessa mesma hora tudo e todos viram alvo de xingamentos! A
primeira pessoa que aparecer já é alvo de insultos mentais! E o pior de tudo é que a
roupa que seria usada já estava nos seus planos do dia.

Vestido. Pronto para sair. Abre a porta de casa.Vem um vento com a força
equivalente de uma turbina. Daí você percebe que é melhor pôr uma touca senão o
sangue da testa empedra!

De volta à casa, à procura da bendita touca, você se depara com um quarto todo
bagunçado devido à busca do agasalho... Com a vista do quarto em pé-de-guerra já
vêm a cabeça idéias de auto-ajuda e de conforto: “Quando eu chegar, eu arrumo
toda essa zona... Vai ser rápido.”. Não só é uma ilusão – pois o guarda-roupas
inteiro foi vasculhado – como também é uma desculpa preguiçosa! Mas quem é que
não tem essa “auto-ilusão”?? Eu sou uma das que tem. E no final das contas eu
acabo nem arrumando, e fica até quatro dias com a bagunça.

Bem no fundo do guarda-roupas está lá a touca! Limpa e sorridente. Que


também não via a luz do sol.

Com ela na cabeça, finalmente você está pronto para sair de casa e ir trabalhar.
Quase chegando à porta, percebe-se que é melhor ir de carro mesmo estando
agasalhado até o nariz. Mais uma tarefa: achar as chaves. Geralmente quando
chegamos à casa jogamos a chave do carro em qualquer lugar, principalmente
quando estamos cansados. É esse o problema! Depois pra achar é um sacrifício!
Para um resultado de busca mais rápido e eficaz, você para e começa a meditar
para se lembrar onde estão as chaves. Às vezes funciona. Às vezes não.

Achou as chaves e está pronto para sair. Confere se tem algo no fogo, se as
janelas estão fechadas para o caso de chover – para piorar ainda mais, frio e
chovendo - .

À cinco passos da porta da frente você ligeiramente e automaticamente olha


para a estante da televisão, e vê o calendário.

Unindo o útil ao agradável, olha-se a data. Conferindo a data, não só da uma


tremenda raiva mas como também você fica pensando o quanto teve que lutar, só
para achar as roupas adequadas para sair. Essa raiva dá-se pelo motivo de que,
apesar de tudo, você não precisava sair para trabalhar! Porque é Domingo.
Ferrara

Publicado no Recanto das Letras em 25/05/2007


Código do texto: T501196

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