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Vamos supor que seu cunhado tenha decidido trabalhar sozinho nessa
empreitada; ele não quer sócio. Nesse caso, para conseguir dinheiro, ele terá
que fazer dívidas. Poderá chegar até você e tomar seu dinheiro emprestado,
mais uma vez, por determinado período de tempo, digamos um ano, e
promete-lhe um rendimento maior do que você teria no banco, que,
digamos, seja 4% ao mês. Muito bom não?
Diante dessa situação, e tendo em vista que o primeiro negócio deu certo,
vamos supor que você tope o negócio. Como formalizar isso? Vocês podem
fazer um contrato e ele pode assinar "notas promissórias", que são
documentos que o tomador do empréstimo assina, para documentar a
dívida. Essa documentação é muito usada quando alguém toma um
empréstimo.
Normalmente, os empréstimos feitos a pessoas físicas são formalizados por
contrato. A fim de facilitar a negociação e complementar a documentação, o
tomador do empréstimo assina as notas promissórias, documento válido e
existente, que pode ser levado a cartório para protesto, segundo as leis,
normas e costumes no Brasil.
Com isso, você acaba de fazer uma aplicação em um instrumento de renda
fixa, ou seja, uma aplicação que não lhe dá direito à sociedade na empresa.
Vale ressaltar que esse investimento é normalmente chamado de "renda
fixa", porque no vencimento já se sabe qual será a renda, ou o lucro.
Quando a taxa de juros é predeterminada chamamos de uma operação
"prefixada".
Em nosso exemplo, o juro é de 4%. Se calculado de forma composta, isso
significa que o valor do rendimento será de 60,10%, ou seja, se
emprestarmos R$ 20 mil a nosso cunhado, receberemos R$ 32 mil.
Note que o empréstimo foi feito de forma prefixada, ou seja, estou
emprestando hoje e já sei que vou ganhar R$ 12.mil em um ano. O valor do
retorno já é conhecido, ou certo. Podemos dizer que essa aplicação tem
"renda certa" se, e somente se, nosso cunhado pagar o empréstimo no final
do ano.
Quais são os riscos desse investimento? Existem dois: o risco de crédito e o
de mercado. O risco de crédito é definido pela possibilidade de o tomador
do empréstimo não pagar, nem o principal (o valor emprestado) e nem o
juro, em nosso exemplo, de R$ 12 mil. O outro riso é o de mercado, que é
caracterizado pelo fator "renda certa". Vamos supor que a inflação volte a
subir e que atinja algo próximo de 50% ao ano. Nesse caso, perderemos
dinheiro, pois a inflação comerá a maior parte do juro recebido.
A fim de evitar esse risco de inflação, alguns empréstimos, principalmente
os de maior prazo, são atrelados a índices de preços, como o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Normalmente, o
empréstimo é corrigido pela variação do índice em determinado período e
acrescido de juros.
Embora essa operação esteja classificada dentro do segmento "renda fixa",
ela não oferece uma renda conhecida, ou certa. Esse investimento é
chamado de pós-fixado; só saberemos quanto ganharemos no final, ou
vencimento, do contrato.
Como você deve ter notado existem duas famílias de renda fixa. A primeira
tem juros prefixados, já sabemos quanto iremos receber no vencimento da
aplicação. A outra é pós-fixada, só saberemos quanto nosso dinheiro
renderá no vencimento da aplicação. Lembre-se disso pois essa diferença é
importante.
Portanto, quando investimos em uma empresa, ou emprestamos nosso
dinheiro sem nos tornarmos sócios, estamos realizando um empréstimo de
renda fixa, que pode ser prefixado, em que já sei quanto vou receber no
final, ou pós-fixado, que significa que só saberemos quanto iremos receber
no final ou no vencimento do empréstimo. A vantagem de uma aplicação
pós-fixada é que ela está, normalmente, protegida de alta na inflação. A
desvantagem é que, se ocorrer queda na inflação, ou nas taxas de juros,
nosso rendimento será menor.
Vamos supor que nosso cunhado nos fizesse essa proposta: você me
empresta R$ 20 mil hoje e pode escolher se você quer receber R$ 32 mil no
final ou então eu te pago R$ 9.500 mais o que der a inflação no período,
ambos em um ano. Qual deles você prefere?
Difícil pergunta, não? A resposta depende de quanto você espera que a
inflação seja para o próximo ano. Se você espera uma inflação em torno de
10% para o próximo ano, seu dinheiro será corrigido para R$ 22.000,00;
acrescido dos juros de R$ 9.500,00, totalizará um recebimento de R$
31.500,00; R$ 20.000,00 serão o principal e R$ 11.500,00 resultantes dos
juros mais a correção do principal (valor emprestado) pela inflação. Nesse
caso, a opção prefixada seria melhor.
Se a inflação fosse de 15%, a história seria outra. Seu dinheiro seria
corrigido para R$ 23.000,00; somando-se a isso o juro prometido, teremos
R$ 32.500,00; portanto, R$ 500,00 a mais do que a opção prefixada.
Voltemos à pergunta anterior. Qual das duas opções é a melhor? A resposta
é: Depende. Se você acha que há grande risco de a inflação subir, a pós-
fixada é melhor; caso contrário, a prefixada é melhor. Só saberemos
realmente qual delas é a melhor daqui a um ano.
Existe ainda outro risco importante, o de liquidez. Vamos supor que você
tenha optado por fazer o empréstimo prefixado. Seu cunhado assinou uma
nota promissória no valor de R$ 32.000,00 para vencimento em 360 dias a
contar de hoje. Vamos supor agora que já se passaram 90 dias e você tem
um problema: seu carro foi roubado e você, que não tem seguro, necessita
de dinheiro para comprar outro. O que fazer?
O que você pode fazer é tentar vender a nota promissória que seu cunhado
assinou para outra pessoa, mas isso será difícil. Você tem um investimento
sem liquidez, ou seja, você não consegue transformá-lo em dinheiro
rapidamente.
Vamos supor que, em vez de ter emprestado seu dinheiro para o cunhado,
você tenha feito um empréstimo para o banco Bradesco, a uma taxa de
20%, por exemplo.
Bancos não emitem notas promissórias, mas Certificados de Depósitos
Bancários (CDB), que são similares em diversos aspectos. Nesse caso, você
teria um CDB de um banco de primeira linha em mãos e poderia vendê-lo
para outra pessoa, ou até mesmo para o próprio banco.
Nesse caso, o valor final do CDB seria de R$ 24.000,00 e ele estaria
valendo hoje algo em torno de R$ 20.932,70, desde que a taxa de juros hoje
seja igual 20%. Mais adiante, veremos por que o valor dos investimentos
em renda fixa pode variar.
O importante aqui é entender que vender um CDB de um grande banco não
é problema é apenas uma questão de preço. Quanto você consegue receber
pelo seu CDB. Comprar um CDB de um banco de primeira linha não
apresenta risco de liquidez. Já a nota promissória de seu cunhado não teria
essa mesma facilidade. Um dos motivos de o banco pagar tão menos por
seu dinheiro, apenas R$ 4.000,00, é reflexo, também, desse risco de
mercado. Como o Bradesco oferece menor risco, o retorno que ele paga
também será menor.
Renda Variável
Agora, vamos supor que seu cunhado decida que não vale a pena tomar
dinheiro emprestado. Ele quer um sócio. Para viabilizar a venda da
sociedade, ele cria uma empresa de capital aberto, chamada Transportes Do
Cunha S.A. (em tempos de lava-jato o nome não podia ser melhor...), e
emite 40.000 ações.
As ações são representações de parte da empresa e quem compra as ações
torna-se sócio. Se a pessoa tiver mais do que 50% das ações, ela será sócia
majoritária e controladora, ou seja, o sócio principal e quem decide sobre a
vida da empresa.
Vamos supor que essa empresa emita 40.000 ações e que você compre
19.000, sua irmã compre 999 e seu cunhado compre as 20.001 restantes.
Vamos supor também que o valor da ação seja de R$ 1,00.
Dessa forma, você torna-se sócio, acionista, da Transportes Do Cunha S.A.,
gasta R$ 19.000,00 para comprar suas ações e seu cunhado será o sócio
majoritário e controlador da empresa recém-criada.
Quanto você ganhará com esse investimento? Impossível saber. Se a
empresa for mal, ela pode falir e você perderá todo o seu dinheiro. Em caso
de falência de uma empresa tanto as ações quanto as notas promissórias
perdem todo o seu valor. Em caso de fechamento de uma empresa não há
praticamente nenhuma diferença em relação à compra da nota promissória e
de uma ação. Ou seja, nesse caso, tanto faz ter investido em renda fixa
como em variável, você não iria receber seu dinheiro de volta.
Entretanto, se a empresa estiver mal, tendo prejuízo, pode ser que suas
ações percam praticamente todo o valor. Já seu empréstimo pode ser pago,
no todo ou em parte. Vi isso acontecer algumas vezes: a renegociação de
dívida em que o devedor, normalmente em situação financeira delicada, tem
parte de sua dívida perdoada caso ele pague o restante. O credor, na
tentativa de salvar algum dinheiro, concede um desconto para o pagamento
da dívida.
Nesse caso, seria como se você aceitasse receber R$ 20.000,00 de seu
cunhado e rasgasse a nota promissória. Melhor isso do que nada...
Vamos voltar ao exemplo da ação. Bem, você agora é detentor de algumas
ações da Transportes Do Cunha S.A.. O que você ganhará com isso?
Investimento em renda variável, ações, possui chance de ter duas fontes de
renda, participação no lucro da empresa e valorização da ação.
Vamos supor que seu cunhado seja bom no que faz. Logo no primeiro
semestre a Transportes Do Cunha S.A. tem um lucro de R$ 4.000,00. Ele, a
fim de deixar seus acionistas alegres, decide distribuir esse resultado a
todos os acionistas.
Ele irá então, como se diz, pagar dividendos, ou seja, repassar o lucro
obtido ao acionista. O dividendo é muito importante para o investidor, pois
ele é a remuneração pelo capital (dinheiro gasto na compra da ação).
Existem empresas que possuem a política de distribuir dividendos sempre,
como forma de remunerar o acionista. Outras empresas pegam todo o lucro
e reinvestem no negócio fazendo-o crescer.
Devemos ressaltar que, por motivos tributários, no Brasil é possível a
empresa pagar "juros sobre capital próprio", que tem uma carga tributária
menor, mas está limitado a um valor máximo por ano. Vamos só registrar
essa possibilidade sem entrar em detalhes, pois para o investidor a diferença
é pouca. O mais importante de tudo é que a empresa esteja dando lucro.
Além dos dividendos, o acionista ganha, ou perde, dinheiro com a
valorização da ação.
Inúmeros fatores causam oscilações no preço, ou valo, das ações. A grande
maioria está relacionada à capacidade de a empresa crescer e gerar lucros.
Ninguém quer ficar sócio de uma empresa que não tem boas perspectivas
de dar lucro no futuro. Ou, pelo menos, deveria ser assim, não é verdade?
É curioso observar que algumas empresas decidem não distribuir todo o seu
lucro e investem em seu próprio negócio os resultados positivos, ou seja,
promovem o crescimento. Esse fato quase sempre faz com que suas ações
se valorizem, pois, entrando mais dinheiro no negócio, mais máquinas,
imóveis e equipamentos são adquiridos, o que, além de aumentar a
expectativa de resultados futuros positivos, faz com que o valor total da
empresa cresça. Como o número de ações não cresce, o valor da ação
deverá subir.
Resumindo, quando a empresa está crescendo e tendo lucro, enfim, quando
ela é eficiente, seus acionistas ganham dinheiro tanto na forma de
dividendos quanto pela valorização de suas ações.
Normalmente, países com alto grau de crescimento apresentam excelentes
oportunidades de investimentos em renda variável.
Como o acionista é de certa forma responsável pela gestão da empresa,
lembre-se de que todo acionista é sócio do negócio; em caso de problemas e
fechamento da empresa, eles serão os últimos a receber. Primeiro, paga-se o
governo (com prioridade para os impostos), depois empregados (salários),
fornecedores, credores (quem emprestou dinheiro para a empresa na
modalidade de renda fixa) e só então, se sobrar algum dinheiro, os
acionistas recebem seu investimento de volta. Primeiramente, os
preferenciais e depois os ordinários.
Vale lembrar que no Brasil existem dois tipos de ações, que são as
preferenciais (PN) e as ordinárias (ON). Os detentores das ações
preferenciais não podem participar nas decisões da empresa, não podem
eleger membros e diretores, enfim, eles não podem mandar na empresa.
Quem manda e tem direito a voto nas decisões importantes, incluindo
demitir e nomear diretores, conselheiros e presidentes, são os detentores das
ações ordinárias.
Se, após o pagamento dos acionistas preferenciais, ainda sobrar algum
dinheiro, os acionistas ordinários recebem. Devemos esclarecer que essa
diferenciação entre preferenciais e ordinários não é uma prática comum em
outros países e existe movimentação para acabar com isso aqui no Brasil.
Esse investimento apresenta também riscos, como em renda fixa, que pode
ser de natureza de crédito, mercado ou liquidez. Quando uma empresa
possui dificuldades para pagar suas contas, ou está com problemas de
crédito, sua ação perde valor muito rapidamente.
No início de 2016 vimos uma rápida e forte queda no valor das ações da
Petrobrás, em grande parte causada pela enorme dívida contraída e pela
incapacidade da empresa em cortar suas despesas e fazer o lucro cresce.
Com a mudança de governo e, principalmente, mudança na diretoria da
Petrobrás, o valor da ação subiu, na expectativa que a empresa voltasse a
ser lucrativa.
Empresas em dificuldade são investimentos de alto risco. Para que esse tipo
de investimento valha a pena, a ação tem que estar muito barata e o
investidor tenha condições de assumir o risco de perder todo o seu dinheiro.
As ações estão sujeitas a inúmeras intempéries; por exemplo, a taxa de
câmbio. Se ela sobe, prejudica as empresas que dependem de importação e
beneficia as exportadoras; portanto, o valor da ação das primeiras cai e o
das outras sobe. Já se o dólar se desvaloriza, ocorre o inverso.
Se a economia dá sinais de fraqueza, o valor das ações das empresas tende a
cair, pois suas vendas devem piorar e os lucros devem ser menores. Crises
internacionais afetam muito os preços das ações; investidores receosos de
grandes perdas vendem suas participações e buscam investimentos mais
seguros, fazendo com que seu preço caia.
Como podemos notar, inúmeros são os fatores que causam oscilações nos
preços das ações; o "mercado" influencia muito o valor de nossos
investimentos.
Finalmente, o risco de liquidez também está presente; ações de empresas
menores e menos conhecidas representam maiores riscos. Vamos supor que
seu cunhado, embora seja muito bom, esteja tomando atitudes com as quais
você não concorda, como, por exemplo, ele quer diversificar e vai comprar
aviões para transportar passageiros.
Você pode acreditar que transporte rodoviário seja bom, mas aéreo? Você
acha que tem muito risco. Então, você decide que não quer mais a
sociedade com ele. Para quem vender suas ações? Sem dúvida, vender
participações em grandes empresas, por exemplo na Vale do Rio Doce, é
mais fácil. Portanto, o risco de liquidez também influencia o preço da ação,
quanto maior ele for, ou quanto mais difícil for vender a ação, menor será
seu preço.
Tudo bem, sei que isso é um pouco complicado; entretanto, esses conceitos
apresentados são importantes. Devemos lembrar-nos de que, diferentemente
do credor, o acionista é sócio da companhia e só terá sucesso em seu
investimento se houver geração de riqueza.
Antes de prosseguirmos, mais duas coisas importantes: a diferença entre
cota e ação e a subscrição de ações.
Nosso cunhado, ao abrir a empresa, muito provavelmente iria emitir cotas
de participação e não ações. Emitir ações é complicado e caro.
Normalmente, o capital de pequenas empresas é em forma de cotas.
Já empresas maiores emitem ações; existem inúmeras vantagens, que não
iremos discutir aqui, e inclusive há a possibilidade de se fazer a abertura de
capital, que significa possibilitar a negociação de suas ações em Bolsa de
Valores.
As ações das grandes empresas são negociadas em bolsas e por isso são
chamadas de "empresas de capital aberto", ou seja, qualquer pessoa pode
participar em seu capital, bastando comprar ações. Para quem se associa a
companhias de capital aberto, a principal vantagem é poder vender sua
participação relativamente fácil (ou seja, baixo risco de liquidez). A
participação em uma empresa que tem obrigação de publicar seu balanço e
tornar públicas inúmeras decisões e estratégias é outra vantagem.
Normalmente, essas companhias de capital aberto, quando vão investir para
ampliar seus negócios, fazem-no emitindo mais ações para ter o dinheiro
para sua ampliação. Nesse caso, os atuais acionistas possuem preferência na
compra dessas novas ações, o que é conhecido como direito de subscrição.
Quase sempre esses direitos possuem valor, pois normalmente a empresa
emite ações a preços inferiores aos preços praticados no mercado. Portanto,
direitos de subscrição de ações são mais uma forma de remunerar o
acionista.
Conclusão
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