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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
EQUIPE REGIONAL DE TURMAS RECURSAIS DA 5ª REGIÃO
GERENCIAMENTO DE CONTENCIOSO

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DO(A) TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS
DO ESTADO DE PERNAMBUCO

NÚMERO: 0502295-87.2020.4.05.8305
AGRAVANTE(S): INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
AGRAVADO(S): AROALDO BEZERRA CAVALCANTE

INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, pessoa jurídica de direito público,


representado(a) pelo membro da Advocacia-Geral da União infra assinado(a), vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, interpor

FUNDAMENTADO NA SÚMULA 281/STF

AGRAVO em face da decisão que inadmitiu o RECURSO EXTRAORDINÁRIO interposto pelo


INSS, requerendo o seu regular processamento e encaminhamento ao C. Supremo Tribunal Federal para
todos os fins de direito, com fulcro no art. 1.042 do CPC/2015, bem como nos arts. 313 e seguintes do
RI-STF.

Preliminarmente, esta Autarquia Agravante requer a V.Exa. que reconsidere o despacho,


reformando a decisão ora agravada, pelos fundamentos e razões de fato e de direito aqui expendidos.
Caso entenda pela manutenção do v. despacho, protesta-se pela incontinente remessa do presente
recurso ao Colendo STF, a quem caberá a decisão final acerca da matéria.

Nestes termos, pede deferimento.

Recife, 07 de dezembro de 2021.

ANDRE FERREIRA CARNEIRO


PROCURADOR FEDERAL

RAZÕES DO RECURSO

Colendo Tribunal,
Excelentíssimos Senhores Ministros,
Excelentíssimo Ministro Relator:

I - RESUMO DOS FATOS

O presente agravo insurge-se contra decisão do Juiz Presidente da e. Turma Recursal de


origem que negou admissibilidade ao recurso extraordinário interposto pelo INSS em face de acórdão
que reconheceu a possibilidade de enquadramento como tempo especial de período de trabalho na
atividade de vigilante/vigia, por periculosidade, após o advento da Lei n. 9.032/1995 e 9.528/1997, de
modo a conferir ao segurado do Regime Geral de Previdência Social o direito à percepção da excepcional
aposentadoria especial prevista no atual art. 201, §1º, da CF.

O acórdão alvo do recurso extraordinário recorrido está fundamentado em precedente da


Colenda Primeira Seção do STJ, que no bojo do Recurso Especial Repetitivo nº 1831371/SP , firmou a
seguinte tese (TEMA 1.031):

“É admissível o reconhecimento da especialidade da atividade de Vigilante, com ou sem o


uso de arma de fogo, em data posterior à Lei 9.032/1995 e ao Decreto 2.172/1997, desde que haja a
comprovação da efetiva nocividade da atividade, por qualquer meio de prova até 5.3.1997, momento
em que se passa a exigir apresentação de laudo técnico ou elemento material equivalente, para
comprovar a permanente, não ocasional nem intermitente, exposição à atividade nociva, que coloque
em risco a integridade física do Segurado”.

Por ocasião do exame da admissibilidade do(s) recurso(s), o insigne Juiz Presidente da


Turma Recursal de origem inadmitiu o EXTRAORDINÁRIO manejado pelo INSS, ao argumento de que
seria incabível o referido recurso no atual estágio processual, pois estaria encerrada a jurisdição da
Turma Recursal.

Com a devida venia, demonstrará o Agravante, em breves linhas, o equívoco da respeitável


decisão agravada, porquanto, está cristalizado em entendimento sumular do e. STF a impossibilidade da
interposição simultânea de incidente de uniformização e recursos extraordinário, de modo que, a
interposição deste recurso só teve vez quando da inadmissão definitiva daquele.

II - CABIMENTO DO AGRAVO

O presente agravo funda-se no art. 1.042 do Código de Processo Civil, de 2015, que assim
dispõe:

Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal


recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo quando fundada
na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento
de recursos repetitivos.

Ao comentar o art. 542, §1º, do CPC/1973 (atualmente art. 1.042, do CPC/2015), os insignes
processualistas NELSON NERY JÚNIOR e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY assim se posicionam
precisamente a respeito do alcance desse juízo de admissibilidade[1]: Decisão do tribunal a quo. Ao
tribunal a quo cabe tão-somente verificar se estão presentes os requisitos formais do RE e do REsp. A
efetiva violação da CF ou a efetiva negativa de vigência da lei federal são o mérito do recurso, cuja
competência para decidir é dos tribunais federais superiores (STF e STJ). É vedado ao tribunal de origem
dizer se houve ou não violação da CF ou que não existiu negativa de vigência da lei federal.

Portanto, absolutamente cabível o presente agravo (inominado/legal) porque interposto em


face de decisão do órgão a quo que nega admissão a recurso extraordinário, por fundamento de
natureza processual.

III - DO CABIMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO – VEDAÇÃO À INTERPOSIÇÃO


SIMULTÂNEA DE RE E PU – SÚMULA 281/STF.

Do relato feito acima, viu-se que o fundamento para a inadmissão do RE interposto pelo
INSS foi a alegação que seria incabível o referido recurso no atual estágio processual, pois, como
interposto depois da inadmissão de pedido de uniformização (PUN) nacional dirigido à TNU, estaria
encerrada a jurisdição da Turma Recursal.

Com a devida venia, a decisão agravada diverge frontalmente da tese jurídica objeto da
SÚMULA 281 do STF.

Ora, na espécie, o acórdão recorrido da Turma Recursal decidiu sobre questão de direito
que, à época, estava com RESP REPETITIVO aguardando julgamento pelo e. STJ – TEMA 1.031:
“Possibilidade de reconhecimento da especialidade da atividade de vigilante, exercida após a edição da
Lei 9.032/1995 e do Decreto 2.172/1997, com ou sem o uso de arma de fogo” - portanto, obviamente,
que o INSS elegeu viável o pedido de uniformização nacional à TNU, caminho indispensável para o
acesso ao STJ (art. 14, §4º, da Lei 10.259/2001) e, ao fazê-lo, não poderia, simultaneamente, interpor
recurso extraordinário, pois para isso precisaria antes esgotar a instância ordinária.

A Súmula 281 do e. Supremo Tribunal Federal estabelece que “ é inadmissível o recurso


extraordinário, quando couber na Justiça de origem, recurso ordinário da decisão
impugnada”

Este e. STF tem inúmeras decisões na qual assentou não ser cabível recurso
extraordinário interposto concomitantemente com o pedido de uniformização de jurisprudência,
devendo ser interposto somente após o julgamento do incidente para que não seja atraída a incidência
da Súmula n. 281, in verbis:

EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Juizados especiais.


Interposição simultânea de recurso extraordinário e de incidente de
uniformização de jurisprudência. Ofensa ao princípio da unirrecorribilidade
recursal. Não esgotamento das instâncias ordinárias. Súmula nº 281/STF.
Precedentes. 1. A interposição simultânea de recurso extraordinário e de incidente
de uniformização de jurisprudência, ambos com o objetivo de reformar o mesmo
capítulo de acórdão de turma recursal, ofende o princípio da unirrecorribilidade
recursal. 2. Incide no caso a orientação da Súmula nº 281 do Supremo Tribunal Federal,
ante a ausência de esgotamento das vias ordinárias. 3. Agravo regimental não provido, com
imposição de multa de 1% (um por cento) do valor atualizado da causa (art. 1021, § 4º, do
CPC). 4. Havendo prévia fixação de honorários advocatícios pelas instâncias de origem, seu
valor monetário será majorado em 10% (dez por cento) em desfavor da parte recorrente,
nos termos do art. 85, § 11, do Código de Processo Civil, observados os limites dos §§ 2º e
3º do referido artigo e a eventual concessão de justiça gratuita. (ARE 1249611 AgR,
Relator(a): DIAS TOFFOLI (Presidente), Tribunal Pleno, julgado em 13/03/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-074 DIVULG 26-03-2020 PUBLIC 27-03-2020)

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


INTERPOSIÇÃO EM 23.04.2019. APRESENTAÇÃO CONJUNTA DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
E DO INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO. AUSÊNCIA DE ESGOTAMENTO DA INSTÂNCIA
RECURSAL ORDINÁRIA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 281 DO STF. PRECEDENTES. 1. A
jurisprudência desta Corte possui entendimento consolidado no sentido de que a
interposição simultânea do recurso extraordinário e do incidente de
uniformização evidencia a ausência de esgotamento de instância, apta a ensejar
a abertura da via extraordinária, nos termos da Súmula 281 do STF. 2. Agravo
regimental a que se nega provimento, com previsão de aplicação da multa prevista no art.
1.021, §4º, CPC. Inaplicável o artigo 85, § 11, do CPC, porquanto não houve condenação do
Recorrente em honorários na instância de origem. (ARE 1178045 AgR, Relator(a): EDSON
FACHIN, Segunda Turma, julgado em 14/02/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-041 DIVULG
27-02-2020 PUBLIC 28-02-2020)

Agravo regimental em embargos de declaração em recurso extraordinário. 2. Direito


Processual Civil. 3. Interposição simultânea de incidente de uniformização e recurso
extraordinário. 4. Supressão de instância. Súmula 281 do STF. Precedentes. 5. Ausência de
argumentos capazes de infirmar a decisão agravada. 6. Negado provimento ao agravo
regimental. Majorado, em mais 10%, o valor da verba honorária fixada anteriormente.
(RE 1218306 ED-AgR, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
15/05/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-129 DIVULG 25-05-2020 PUBLIC 26-05-2020)

Recentemente, no ARE 883.782/PE, o Plenário deste e. STF, confirmou o enunciado sumula


281 da sua jurisprudência, no sentido da impossibilidade de interposição simultânea de recurso
extraordinário e de incidente de uniformização, extraindo-se da leitura do inteiro teor do acórdão, em
especial do voto condutor do MIN. ALEXANDRE DE MORAES, relator designado para o acórdão, e do voto
de adesão do Min. DIAS TOFFOLI, que a referida súmula permanece hígida quanto à hipótese em que a
interposição simultânea de RE e PU se destina a reformar o mesmo capítulo do acórdão, como é o caso
examinado.

Ora, se era cabível o PUN – questão aguardava definição em RESP REPETIVO – e é vedada a
interposição simultânea deste incidente com o RE, agiu adequadamente o INSS ao interpor,
primeiramente, o incidente de uniformização à TNU e, apenas quando concretizado que este foi
definitivamente inadmitido (em decisão colegiada proferida em agravo interno) em razão de
superveniente decisão vinculante do STJ em RESP REPETITIVO com fundamentação CONSTITUCIONAL,
apresentou o recurso extraordinário.

Diante da Súmula 281/STF, não se pode confundir o regime do PU e RE com o do RESP e RE,
pois neste caso cabe a interposição simultânea e naquele não, de modo que o interesse de agir na
interposição de RE, no âmbito dos JEFs, surge em oportunidades diferentes, desde a prolação de acórdão
da Turma Recursal de Juizados Especiais Federais, ou, quando manejado PU, a partir do julgamento
definitivo deste, o que pode ocorrer perante o STJ (PUIL), a TNU ou a própria Turma Recursal de origem
se esta não admite o PU na forma do art. 14, §3º, do Regimento Interno da TNU, segundo o qual a
decisão preliminar de inadmissão de PU fundamentada em tema submetido a julgamento em regime de
repercussão geral, RESP REPETITIVO e representativo de controvérsia, desafia agravo interno que será
julgado pela turma que prolatou o acórdão impugnado, mediante decisão irrecorrível..

Diferente do rito comum que admite expressamente a interposição simultânea de RESP e


RE, no âmbito dos JEFs, a via do Recurso Extraordinário depende do esgotamento do manejo do
incidente de uniformização, quando cabível, sob pena de não restar caracterizado o esgotamento da
instância ordinária.

Assim, o presente agravo merece provimento para restar processado e julgado o recurso
extraordinário cujos fundamentos passamos a reforçar.

IV - DA QUESTÃO CONSTITUCIONAL OBJETO DO RE

Inicialmente, destaque-se, até para lembrar a existência de repercussão geral, que a


questão ora examinada tramitou no E. STJ pelo rito do Recurso Especial Repetitivo, representativo de
controvérsia (TEMA 1031).

Ora, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça a questão de direito examinada foi decidida
com fundamentos constitucionais. Mais do que isto. O Tema repetitivo STJ/1031 foi construído
expressamente sobre a interpretação do Superior Tribunal dos artigos 201, §1º e 202, II (este na redação
anterior à EC 20/1998) da Constituição Federal, assim como na Emenda Constitucional 103/2019.
Nesse sentido, o item 6 do Acórdão do STJ faz expressa remissão aos artigos 201, §1º e 202,
inciso II, da Lei Maior:

“6. Contudo, o art. 57 da Lei 8.213/1991 assegura, de modo expresso, o direito à


aposentadoria especial ao Segurado que exerça sua atividade em condições que coloquem
em risco a sua saúde ou a sua integridade física, dando impulso aos termos dos arts. 201, §
1o. e 202, II da Constituição Federal. A interpretação da Lei Previdenciária não pode fugir
dessas diretrizes constitucionais, sob pena de eliminar do Direito Previdenciário o que ele
tem de específico, próprio e típico, que é a primazia dos Direitos Humanos e a garantia
jurídica dos bens da vida digna, como inalienáveis Direitos Fundamentais”.

Outrossim, no voto do Ministro Napoleão Nunes Maia Filho (relator) foram apontados
expressamente os seguintes dispositivos constitucionais para lastreio da tese:

“21. Contudo, o art. 57 da Lei 8.213/1991 assegura expressamente o direito à


aposentadoria especial ao Segurado que exerça sua atividade em condições que coloquem
em risco a sua saúde ou a sua integridade física, em harmonia com o texto dos arts. 201, §
1o. e 202, II da Constituição Federal.
22. Vale aqui lembrar que na recente reforma previdenciária, ocorrida em 2019, o texto
original da PEC 6/2019, mais uma vez tentava extirpar a possibilidade de reconhecimento
da atividade especial em razão da periculosidade, contudo, o texto foi suprimido pouco
antes da votação final da EC 103/2019, tornando possível o reconhecimento da
especialidade por fatores a serem definidos por lei, o que torna ainda possível o
reconhecimento da especialidade decorrente da submissão a situações e/ou elementos
perigosos”.

Já no voto vista da Ministra Assusete Magalhães foram apontados expressamente os


seguintes dispositivos constitucionais:

“Na ocasião, observou o Ministro GURGEL DE FARIA que a Emenda Constitucional 103/2019
poderia, em tese, repercutir na proposta apresentada, chamando atenção para a
necessidade de se debater o tema sob tal aspecto.
...
Não há, portanto, sob esses aspectos, nada a acrescentar.
Por outro lado, observou o Ministro GURGEL DE FARIA que a recente Emenda Constitucional
103/2019 não faz referência à integridade física, como ensejadora de condição especial de
trabalho.
De fato, o § 1º do art. 201 da Constituição Federal, antes da referida EC 103/2019, rezava
que "é vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de
aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos
de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade
física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos termos definidos em
lei complementar".
Todavia, a EC 103/2019 deu nova redação ao § 1º do art. 201, suprimindo a expressão
"integridade física", além de acrescentar o inciso II, nesses termos:
"Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
(...)
§ 1º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de
benefícios, ressalvada, nos termos de lei complementar, a possibilidade de previsão de
idade e tempo de contribuição distintos da regra geral para concessão de aposentadoria
exclusivamente em favor dos segurados:
(...)
II - cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e
biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por
categoria profissional ou ocupação".
Como destacou o Relator, o texto original da PEC 6/2019 – que resultou na EC 103/2019 –
continha, no art. 201, § 7º, II, expressa vedação à aposentadoria especial por
"enquadramento por periculosidade", in verbis:
"Art. 201. O Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação
obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, atenderá
a:
(...)
7º A lei complementar de que trata o 1º poderá estabelecer idade mínima e tempo de
contribuição distintos da regra geral para concessão de aposentadoria exclusivamente em
favor dos segurados:
- com deficiência, previamente submetidos à avaliação biopsicossocial realizada por equipe
multiprofissional e interdisciplinar;
- cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes nocivos químicos,
físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedados a
caracterização por categoria profissional ou ocupação e o enquadramento por
periculosidade;
(...)".
Tal referência à vedação ao "enquadramento por periculosidade", para fins de
aposentadoria especial, foi suprimida, no art. 201, antes da votação final da PEC 6/2019,
que resultou na EC 103/2019.
Assim, em que pese a atual redação do art. 201, § 1º, II, da Constituição Federal, dada pela
EC 103/2019, a matéria relativa à aposentadoria especial, na forma da EC 103/2019, não é
auto-executável, estando a depender de lei complementar regulamentadora, de tal sorte
que subsiste a legislação infraconstitucional, que prevê, no art. 57 da Lei 8.213/91,
aposentadoria especial pelo trabalho em condições que prejudiquem a integridade física,
bem como no seu § 4º, que "o segurado deverá comprovar, além do tempo de trabalho,
exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes
prejudiciais à saúde ou à integridade física, pelo período equivalente ao exigido para a
concessão do benefício".

Desta forma, o Tema Repetitivo STJ/1031, fundamento central do acórdão recorrido,


lastreou-se na redação originária do artigo 201, §1º e 202, II, da Constituição Federal, bem como no
texto do artigo 201, §1º antes e depois da reforma implementada pela Emenda Constitucional 103/2019,
em especial no voto vista da Ministra Assusete Magalhães.

Deste modo, é indiscutível que qualquer decisão de última instância que adote o Tema
Repetitivo STJ/1031 enseja a interposição do Extraordinário com lastro no artigo 102, inciso III, letra A,
da Constituição.

Assim, o cabimento do Recurso Extraordinário se verifica nos presentes autos.

IV.1 DISTINGUISHING: hipótese diversa do ARE 906569-RG/PE (Tema 852) e do


ARE 1186713/DF

O INSS tem que a violação constitucional se deu de forma direta e não meramente reflexa
ao texto constitucional, máxime em Tese Repetitiva de vultosa repercussão geral.

De seu turno, não se desconhece a jurisprudência do STF que não admitiu no passado
Recursos Extraordinários que versaram sobre o enquadramento do tempo especial por agentes nocivos
por se tratar de matéria infraconstitucional, nos termos do Tema 852 em Repercussão Geral, de
17/09/2015:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO.


APOSENTADORIA ESPECIAL. CONVERSÃO DO TEMPO DE SERVIÇO. CARACTERIZAÇÃO DA
ESPECIALIDADE DO LABOR. ARTIGOS 57 E 58 DA LEI 8.213/91. 1. A
avaliação judicial de critérios para a caracterização da especialidade do
labor, para fins de reconhecimento de aposentadoria especial ou de conversão de tempo de
serviço, conforme previsão dos artigos 57 e 58 da Lei 8.213/91, é controvérsia que não
apresenta repercussão geral, o que inviabiliza o processamento do recurso extraordinário,
nos termos do art. 543-A, §5º, do Código de Processo Civil. 2. O juízo acerca da
especialidade do labor depende necessariamente da análise fático- probatória, em
concreto, de diversos fatores, tais como o reconhecimento de atividades e agentes nocivos
à saúde ou à integridade física do segurado; a comprovação de efetiva exposição aos
referidos agentes e atividades; apreciação jurisdicional de laudos periciais e demais
elementos probatórios; e a permanência, não ocasional nem intermitente, do exercício de
trabalho em condições especiais. Logo, eventual divergência ao entendimento adotado pelo
Tribunal de origem, em relação à caracterização da especialidade do trabalho, demandaria
o reexame de fatos e provas e o da legislação infraconstitucional aplicável à espécie.
INEXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. (ARE 906569
RG, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 17/09/2015, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-192 DIVULG 24-09-2015 PUBLIC 25-09-2015)

No entanto, note-se que o caso concreto avaliado no Tema STF/852 em Repercussão Geral,
oriundo da Turma Recursal de Pernambuco, avaliou o tema apenas no aspecto legal (artigos 57 e 58 da
Lei 8.213/91 e rol exemplificativo de agentes nocivos), e não constitucional.

Veja-se a Ementa da decisão:

“PREVIDENCIÁRIO. CONVERSÃO DE APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO EM


APOSENTADORIA ESPECIAL. ELETRICIDADE. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DA
EXPOSIÇÃO À TENSÃO ELÉTRICA SUPERIOR A 250 VOLTS. SUPRESSÃO PELO DECRETO
2.172/1997 (ANEXO IV). ARTS. 57 E 58 DA LEI 8.213/1991. ROL DE ATIVIDADES E AGENTES
NOCIVOS. CARÁTER EXEMPLIFICATIVO. EPI INEFICAZ. RECURSO DO INSS IMPROVIDO. (eDOC
40, p. 1)”

Já o Tema Repetitivo STJ/1031 trouxe diversos fundamentos da Constituição Federal (artigos


201, §1º e 202, II, este na redação anterior à EC 20/1998 da Constituição Federal, assim como na
Emenda Constitucional 103/2019), devendo ser feito o devido distinguishing com o Tema STF/852 em
Repercussão Geral e demais precedentes que não reconheceram o enquadramento dos agentes nocivos
da aposentadoria especial em razão da tese ter envolvido apenas a análise da Lei 8.213/91.

Ademais, o Tema Repetitivo STJ/1031 não envolve a reapreciação de fatos e provas, por se
tratar de tese jurídica sobre os vigilantes, tanto que o STJ o conheceu em sede de Recurso Especial, em
que também é defeso o reexame de fatos e provas.

Por tudo isso, é evidente que o Tema Repetitivo STJ/1031 foi expressamente lastreado em
disposições expressas da Constituição Federal de 1988, devendo ser admitido o Recurso Extraordinário
que ainda possui enorme Repercussão Geral de âmbito econômico e jurídico, diante da multiplicidade de
ações previdenciárias da mesma natureza de milhares de vigilantes do Brasil.

Tomemos ainda outro exemplo que trata expressamente dos vigilantes. Cuida-se do ARE
1186713/DF, em que o Recurso Extraordinário do INSS contra decisão da TNU que concedeu a
aposentadoria especial em favor de um vigilante não foi conhecido pela Suprema Corte por não se tratar
de decisão com lastro na Constituição Federal de 1988.

A própria decisão da lavra do Ministro Ricardo Lewandowski narrou a decisão da TNU que se
norteou apenas na legislação infraconstitucional:

“Colhe-se do “voto-ementa” do acórdão recorrido as seguintes passagens:


‘3. A questão foi examinanda recentemente em várias oportunidades pela TNU que firmou
entendimento no sentido de que é possível o reconhecimento como especial do tempo de
serviço do vigilante mesmo após a edição do Dec. 2.172/97, desde que demonstrado a
submissão ao agente periculosidade, ou seja, uso de arma de fogo, valendo transcrever
trecho do decidido no PEDILEF 05207198120094058300, segundo o qual "a jurisprudência
desta TNU encontra-se alinhada com a do STJ, no sentido de que, por ser meramente
exemplificativo o rol das atividades nocivas à saúde, é possível o reconhecimento de tempo
especial prestado pelo vigilante com exposição ao agente nocivo periculosidade em data
posterior a 05/03/1997, desde que haja laudo técnico comprobatório do evento,
independentemente de previsão específica na legislação. Nesse sentido, conferir: TNU,
PEDILEF 50138641620114047201, relator juiz federal Daniel Machado da Rocha, DOU
06/11/2015; STJ, REsp1306113/SC, Rel. Ministro Herman Benjamin, la Seção, julgado em
14/11/2012, DJe 07/03/2013; EDcl no REsp n. 1109813 / PR, 6° Turma, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, DJe 27/06/2012." No mesmo sentido precedentes do TRFl° (Cf. AC
0000041-73.2012.4.01.3300/ BA, Rel. JUIZ FEDERAL FABIO ROGERIO FRANÇA SOUZA, la
CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE JUIZ DE FORA, e-DJFI de 22/09/2016).
Portanto, é de se reconhecer o acerto da interpretação e aplicação da lei federal respectiva
pugnado no incidente de uniformização, dando-lhe provimento no particular. É o caso,
contudo, de aplicação de solução nos termos previstos no enunciado da questão de ordem
n. 20 da TNU, com a anulação do acórdão recorrido e retorno dos autos para novo
julgamento a partir dos parâmetros fixados nesta decisão. Note-se que o acórdão recorrido
pôs de lado a questão da análise de prova, que constituiu fundamento da sentença em
primeiro grau, julgando com base no fundamento atacado neste incidente (questão de
ordem n. 20: Se a Turma Nacional decidir que o incidente de uniformização deva ser
conhecido e provido no que toca a matéria de direito e se tal conclusão importar na
necessidade de exame de provas sobre matéria de fato, que foram requeridas e não
produzidas, ou foram produzidas e não apreciadas pelas instâncias inferiores, a sentença
ou acórdão da Turma Recursal deverá ser anulado para que tais provas sejam produzidas
ou apreciadas, ficando o juiz de 1° grau e a respectiva Turma Recursal vinculados ao
entendimento da Turma Nacional sobre a matéria de direito.(Aprovada na 6° Sessão
Ordinária da Turma Nacional de Uniformização, do dia 14.08.2006)” (págs. 153-154 do
documento eletrônico
4). Nesse contexto, observa-se que o Tribunal a quo decidiu a questão posta nos autos com
fundamento na interpretação da legislação infraconstitucional aplicável à espécie (Decreto
2.172/1997), de modo que eventual ofensa à Constituição, se ocorresse, seria indireta, o
que inviabiliza o recurso”(.ARE 1186713 / DF - DISTRITO FEDERAL, Relator(a): Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, DJe-254 DIVULG 20/11/2019 PUBLIC 21/11/2019)

Desse modo, é evidente que estes precedentes de não admissão de Recurso Extraordinário
não se aplicam ao Tema Repetitivo STJ/1.031, pois não abordaram o enquadramento constitucional da
aposentadoria especial por risco em favor dos vigilantes.

De outro lado, conforme demonstrado, no Tema Repetitivo STJ/1031 a tese foi construída
sobre o artigo 201, §1º e 202, II, da Constituição Federal, bem como no texto do artigo 201, §1º antes e
depois da reforma implementada pela Emenda Constitucional 103/2019, em especial no voto vista da
Ministra Assusete Magalhães.

IV.2– REPERCUSSÃO GERAL

Conforme previsão do § 3º do art. 1035 do Código de Processo Civil, a questão


constitucional versada em recurso extraordinário apresenta repercussão geral quando possuir
relevância do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapasse os interesses
subjetivos da causa.
As causas previdenciárias tendem, naturalmente, a extrapolar os limites do caso concreto. A
generalidade própria das regras previdenciárias atende, sobretudo, às orientações constitucionais de
igualdade e impessoalidade, e a norma interpretada ou reinterpretada consequentemente se generaliza
e alcança todos os segurados – mormente na presente hipótese, em que houve a fixação de tese, pelo
STJ, em regime de julgamento de recursos repetitivos.

Dito isso, evidencia-se, de início, a repercussão econômica da questão constitucional


versada no presente recurso. Com efeito, a interpretação “conforme a Constituição” do art. 3º da Lei
9.876/99, a fim de garantir ao segurado o direito de opção à norma mais favorável dentre as regras “de
transição” e “definitiva”, exigiria do INSS expressivo acréscimo nos recursos necessários à manutenção
do sistema de Previdência Social brasileiro.

Conforme a conclusão da Nota Técnica SEI 3/2019, da lavra de órgão do Ministério da


Economia, “a concessão do benefício de Aposentadoria Especial para vigilantes, independentemente do
uso ou não de arma de fogo na atividade laboral, irá gerar impactos significativos pelo lado da despesa
ao FRGPS, que pode chegar, em termos reais, a um valor superior a R$ 154 bilhões, diluídos ao longo de
um horizonte de tempo de 35 anos, sem considerar a dinâmica de reposição do mercado de trabalho
dos vigilantes”.

Observe-se que a Nota Técnica da Secretaria de Previdência não considera os impactos


fiscais relacionados a outros benefícios previdenciários, tais como pensão por morte.

Há que se ter em conta, ainda, o impacto operacional sobre o INSS, com transtornos nas
rotinas de concessão de benefícios e consequente incremento de despesas de natureza operacional.

Acaso a tese firmada pelo STJ no Tema Repetitivo 1031 prospere todas as profissões que
exerçam atividades de risco reivindicarão ao Poder Judiciário a concessão da aposentadoria especial, a
exemplo doque se vê nos presentes autos.

Trata-se do efeito psicológico manada, em que as pessoas tendem a repetir as ações


perpetradas por outras pessoas em mesma situação ou em casos similares, o que pode devastar o
equilíbrio financeiro e atuarial da Previdência Social.

Isso porque a ratio essendi da tese do Superior Tribunal não se limita aos vigilantes,
podendo ser aplicada a qualquer profissão cuja atividade seja arriscada, como infelizmente já vem
sendo concedido por diversos órgãos do Poder Judiciário.

De efeito, alguns outros exemplos de concessão judicial de aposentadoria especial por


atividade de risco sem a exposição permanente a agente nocivo à saúde já se apresentam com
concessão de outros órgãos judiciais, e sobre estes precedentes tornaremos a eles ao final da presente
exposição.

Do ponto de vista político, há repercussão geral porque a manutenção e aplicação da tese


repetitiva em referência causariam dificuldades intransponíveis à manutenção do pagamento dos
benefícios previdenciários em geral, tendo em vista que seria acrescentada nova despesa a uma
Previdência Pública já há muito deficitária e que, inclusive, foi objeto de recente reforma legislativa.

Por fim, sob o ponto de vista social, não se pode subestimar o impacto da demanda por
revisão – cuja avaliação possui elevado grau de complexidade – sobre a análise dos demais
requerimentos de benefícios nas Agências da Previdência Social de todo o país. Trata-se de demandas
concorrentes entre si, que dependem, portanto, do mesmo conjunto de servidores. A consequência
óbvia é o aumento do volume de demandas no INSS e, por conseguinte, o represamento de benefícios.

Ainda sob o ponto de vista social, importa ressaltar que a previsão expressa na Constituição
Federal do direito à previdência social como direito social (art. 6º) e do sistema de Previdência como
componente da Ordem Social (Título VIII, Capítulo II, Seção III) já implica, por si só, existência do
requisito da repercussão social nos recursos extraordinários interpostos pelo INSS, uma vez que é essa
Autarquia a entidade que, na ordem social brasileira, tem a finalidade específica de prestar a
previdência pública, finalidade esta que será extremamente prejudicada se deferida a pretensão
deduzida em demandas como a dos presentes autos.

Demostrada, portanto, a repercussão geral, merece ser admitido o presente recurso


extraordinário, remetendo-se os autos ao e. Supremo Tribunal Federal para conhecimento e julgamento
da matéria constitucional em discussão, ou sobrestamento, na origem, enquanto é processado o RE
interposto pelo INSS em face doa córdção proferido no RESP REPETITIVO (TEMA 1.031).

IV.3 – DAS RAZÕES DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

A aposentadoria especial foi reconhecida administrativamente ao vigilante por equiparação


ao guarda (Código 2.5.7 do Decreto nº 53.831, de 1964) com o uso de arma de fogo até a véspera da
vigência da Lei 9.032/95 (28/04/1995), situação na qual restou extinta a concessão de aposentadoria
especial por categoria profissional sem a demonstração da efetiva e permanente exposição a agente
físico, químico ou biológico nocivo à saúde do segurado.

Em seguida, a vedação de concessão da aposentadoria especial por categoria profissional


foi introduzida no texto constitucional pela EC 103/2019.

O Tema Repetitivo STJ/1031 promoveu a concessão de aposentadoria especial à categoria


profissional dos vigilantes, com ou sem o manejo de arma de fogo, em razão da PERICULOSIDADE DA
PROFISSÃO, esbarrando no texto do artigo 201, §1º, da Constituição, quer na redação anterior, quer na
redação posterior à Emenda Constitucional 103/2019.

Por sua vez, também esbarra no texto constitucional vigente entre 05/11/1988 e 15/12/1998
(antes da Emenda 20/1998), pois previa da mesma forma o artigo 202, II, da Constituição, a concessão
de aposentadoria no RGPS“após trinta e cinco anos de trabalho, ao homem, e, após trinta, à mulher, ou
em tempo inferior, se sujeitos a trabalho sob condições especiais, que prejudiquem a saúde ou a
integridade física, definidas em lei”, não autorizando a aposentadoria no RGPS por risco, no que foi
regulamentada pela Lei 9.032/95.

Apesar do esforço argumentativo do STJ, é nítido que se trata de concessão de


aposentadoria especial por categoria profissional que exerce atividade perigosa, considerando que não
se trata de exposição a agentes nocivos à saúde (físicos, químicos ou biológicos).

Esse posicionamento da Corte Superior é muito claro na seguinte passagem do voto do


Ministro Napoleão Maia:

Com o advento do Decreto 2.172/1997, a aposentadoria especial sofre nova alteração, pois
o novo texto não mais enumera ocupações, passando a listar apenas os agentes
considerados nocivos ao Trabalhador, e os agentes assim considerados seriam, tão-
somente, aqueles classificados como químicos, físicos ou biológicos. Não traz o texto
qualquer referência a atividades perigosas, o que à primeira vista, poderia ao entendimento
de que está excluída da legislação a aposentadoria especial pela via da periculosidade.
Essa conclusão, porém, seria a negação da realidade e dos perigos da vida, por se fundar
na crença – nunca confirmada – de que as regras escritas podem mudar o mundo e as
vicissitudes do trabalho, os infortúnios e os acidentes, podem ser controlados pelos
enunciados normativos.

Contudo, o art. 57 da Lei 8.213/1991 assegura, de modo expresso, o direito à


aposentadoria especial ao Segurado que exerça sua atividade em condições que coloquem
em risco a sua saúde ou a sua integridade física, dando impulso aos termos dos arts. 201, §
1o. e 202, II da Constituição Federal. A interpretação da Lei Previdenciária não pode fugir
dessas diretrizes constitucionais, sob pena de eliminar do Direito Previdenciário o que ele
tem de específico, próprio e típico, que é a primazia dos Direitos Humanos e a garantia
jurídica dos bens da vida digna, como inalienáveis Direitos Fundamentais.

Nesse sentido, como não poderia ser diferente, posto que inexiste, o Acórdão do Tema
Repetitivo STJ 1031 em nenhum momento aponta a exposição permanente do vigilante a um agente
nocivo físico, químicos ou biológico prejudicial à saúde, sendo uma clássica hipótese de aposentadoria
especial por atividade de risco profissional, que não encontra guarida no Regime Geral de Previdência
Social no texto constitucional, haja vista que somente se admite um regramento especial de
aposentação por lei complementar na situação de agentes nocivos físicos, químicos ou biológicos ou na
situação de pessoas com deficiências nos termos do artigo 201, §1º, da Constituição, quer no texto
anterior, quer no texto posterior à Emenda Constitucional 103/2019.

Em síntese, o que pretende demonstrar a Autarquia de Previdência é que a aposentadoria


diferenciada de que trata o artigo 201, §1º, da Constituição apenas abarca a aposentadoria especial por
agentes nocivos químicos, físicos ou biológicos, não havendo amparo na Lex Legum para a concessão no
RGPS de aposentadoria especial pela periculosidade da profissão, quer na sistemática anterior, quer na
sistemática posterior à EC 103/2019.

Da mesma forma, entende o INSS que mesmo que houvesse amparo constitucional para a
concessão no RGPS de aposentadoria especial por atividade perigosa, a sua concessão dependeria de
aprovação de lei complementar, que nunca foi editada para beneficiar os vigilantes ou qualquer outra
categoria profissional que desenvolva atividade perigosa.

Isto com lastro na própria jurisprudência do STF, posto que a aposentadoria especial é a
exceção, não podendo se tornar a regra geral de aposentação, de modo que não é possível ao Poder
Judiciário criar no RGPS novas hipóteses de aposentadoria especial sem a expressa autorização
constitucional e sem a edição da correspondente lei complementar de regulamentação, respeitada a
regra constitucional da contrapartida que rege todo o Sistema de Seguridade Social.

IV.4 - DA INEXISTÊNCIA DE EXPOSIÇÃO A AGENTE NOCIVO FÍSICO, QUÍMICO OU


BIOLÓGICO. CONCESSÃO DE APOSENTADORIA ESPECIAL POR CATEGORIA PROFISSIONAL QUE
EXERCE ATIVIDADE PERIGOSA
Em primeiro lugar, é curial se diferenciar o agente periculoso de atividade perigosa
propriamente dita. A eletricidade em altas voltagens, por exemplo, é um agente físico perigoso que pode
gerar grandes males à saúde se houver um contato acidental, inclusive o óbito do segurado.

Por outro lado, existem profissões de risco em que não há uma exposição permanente a
agente físico, químico ou biológico acima do padrão regulamentar. É o caso da atividade dos vigilantes e
de inúmeras outras atividades categorias profissionais.

Com propriedade, à luz do artigo 201, §1º, da Constituição, a nocividade por exposição
permanente a agentes físicos, químicos ou biológicos nas situações regulamentares é que deve dar
ensejo à concessão de aposentadoria especial no RGPS, não se confundindo com as atividades perigosas
sem exposição aos citados agentes, a exemplo das atividades descritas nos anexos da NR 16, como
ocorre com os vigilantes, dando ensejo apenas à percepção do adicional trabalhista de periculosidade.

Na realidade o Tema Repetitivo STJ/1031 promoveu a concessão de aposentadoria especial


à toda uma categoria profissional de vigilantes, com ou sem o manejo de arma de fogo, em razão da
periculosidade da profissão, esbarrando no texto do artigo 201, §1º, da Constituição, quer na redação
anterior, quer na redação posterior à Emenda Constitucional 103/2019.

Veja-se a evolução do texto do artigo 201, §1º, da Constituição Federal:

“§ 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de


aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos
de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade
física, definidos em lei complementar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de
1998)
§ 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de
aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos
de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade
física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos termos definidos em
lei complementar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)
§ 1º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de
benefícios, ressalvada, nos termos de lei complementar, a possibilidade de previsão de
idade e tempo de contribuição distintos da
regra geral para concessão de aposentadoria exclusivamente em favor dos segurados:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
- com deficiência, previamente submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por equipe
multiprofissional e interdisciplinar; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
- cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e
biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por
categoria profissional ou ocupação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)”.

A primeira redação do §1º do artigo 201 da Constituição foi dada pela EC 20/1998 que o
inseriu. Nesta situação, o tema já era regulado pelo artigo 57 da Lei 8.213/91 que foi recebido com o
status de lei complementar.

Após a EC 20/1998, nunca foi aprovada uma lei complementar para regular a concessão de
aposentadoria especial (exceto pessoas com deficiência: LC 142/2013), de modo que seguiram em vigor
os artigos 57 e 58 da Lei 8.213/91:

“Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta
Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a
saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos,
conforme dispuser a lei. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)
Art. 58. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de
agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física considerados para fins de
concessão da aposentadoria especial de que trata o artigo anterior será definida pelo Poder
Executivo. (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 1997)”

Dessa forma, note-se que o texto do parágrafo primeiro do artigo 201 da Constituição
seguiu a sistemática já adotada pelos artigos 57 e 58 da Lei 8.213/91, cujas condições especiais que
prejudicam a saúde ou integridade física que dão azo à concessão da aposentadoria especial são
somente pela exposição aos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou a associação desses
agentes com aptidão de causar prejuízo à saúde ou à integridade física.

Destarte, mesmo no texto constitucional anterior ao advento da Emenda 103/2019, somente


havia base constitucional no artigo 201, §1º para a concessão da aposentadoria especial pela efetiva
exposição a agentes nocivos físicos, químicos ou biológicos ou à associação destes agentes com aptidão
de causação de danos à saúde ou integridade física do segurado.

O mesmo ocorreu no texto anterior à Emenda 20/1998, regulamentado pela Lei 9.032/95,
pois previa da mesma forma o artigo 202, II, da Constituição a concessão de aposentadoria no RGPS
“após trinta e cinco anos de trabalho, ao homem, e, após trinta, à mulher, ou em tempo inferior, se
sujeitos a trabalho sob condições especiais, que prejudiquem a saúde ou a integridade física, definidas
em lei”, não autorizando a aposentadoria no RGPS por risco.

Ademais, mesmo que se entenda que em tese fosse possível a concessão de aposentadoria
especial por atividade perigosa no RGPS, a concessão do benefício apenas pelo risco da atividade
demandaria a edição de lei complementar, conforme determina o texto do artigo 201, §1º, da
Constituição, que jamais foi editada pelo Congresso Nacional[2].

Logo, a concessão da aposentadoria especial sem a situação de nocividade fruto de efetiva


exposição aos agentes químicos, físicos ou biológicos, mas apenas pelo perigo da profissão, mesmo que
fosse cabível no espectro do artigo 201, §1º, da Constituição, somente poderia se dar por intermédio de
lei complementar e não por uma extensão judicial.

A partir do momento em que o Colendo Superior Tribunal, ao julgar o Tema Repetitivo 1031,
estendeu a aposentadoria especial a milhares de vigilantes do país, com ou sem o manejo de arma de
fogo, permissa venia, cometeu a Corte Superior dois equívocos jurídicos que inclusive afrontam a atual
jurisprudência do Plenário do STF:

Ultrapassou os limites de concessão da aposentadoria especial por agentes nocivos de que


trata o artigo 201, §1º, da Constituição, infringindo também o Princípio da Legalidade Estrita e a regra
constitucional da contrapartida que a Previdência Social deve respeito, na medida em que criou uma
despesa continuada multibilionária no orçamento da seguridade social, que deverá agora ser postulada
por todas as categorias profissionais que exercem atividades arriscadas;

Mesmo que em tese o artigo 201, §1º, da Constituição permitisse a concessão da


aposentadoria especial no RGPS por atividades perigosas, houve afronta ao Princípio Constitucional da
Separação dos Poderes, pois a competência seria do Congresso Nacional por intermédio de lei
complementar, observada a regra de contrapartida, com o direito constitucional do Presidente da
República de veto do PLC.

Reprise-se a passagem do Acórdão do Tema Repetitivo STJ/1031 – fundamento central do


acórdão recorrido - que ultrapassou a permissão constitucional da aposentadoria especial para inserir de
modo inconstitucional a aposentadoria por atividade perigosa no âmbito do RGPS:

“5. Com o advento do Decreto 2.172/1997, a aposentadoria especial sofre nova alteração,
pois o novo texto não mais enumera ocupações, passando a listar apenas os agentes
considerados nocivos ao Trabalhador, e os agentes assim considerados seriam, tão-
somente, aqueles classificados como químicos, físicos ou biológicos. Não traz o texto
qualquer referência a atividades perigosas, o que à primeira vista, poderia ao entendimento
de que está excluída da legislação a aposentadoria especial pela via da periculosidade.
Essa conclusão, porém, seria a negação da realidade e dos perigos da vida, por se fundar
na crença – nunca confirmada – de que as regras escritas podem mudar o mundo e as
vicissitudes do trabalho, os infortúnios e os acidentes, podem ser controlados pelos
enunciados normativos.
6. Contudo, o art. 57 da Lei 8.213/1991 assegura, de modo expresso, o direito à
aposentadoria especial ao Segurado que exerça sua atividade em condições que coloquem
em risco a sua saúde ou a sua integridade física, dando impulso aos termos dos arts. 201, §
1o. e 202, II da Constituição Federal. A interpretação da Lei Previdenciária não pode fugir
dessas diretrizes constitucionais, sob pena de eliminar do Direito Previdenciário o que ele
tem de específico, próprio e típico, que é a primazia dos Direitos Humanos e a garantia
jurídica dos bens da vida digna, como inalienáveis Direitos Fundamentais”.

Com o advento da EC 103/2019, o impedimento à concessão da aposentadoria especial por


atividade perigosa no RGPS se tornou ainda mais evidente, tendo sido incorporado o texto que já existia
no artigo 58 da Lei 8.213/91.

Agora, para espancar qualquer dúvida, o artigo 201, §1º, da Constituição expressamente
admite a aposentadoria especial somente em favor de segurados “cujas atividades sejam exercidas com
efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses
agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação”.

E ainda tem mais. A vedação de concessão de aposentadoria especial por categoria


profissional ou ocupação passou a constar expressamente do texto constitucional, reforçando a
sistemática inaugurada desde a Lei 9.032/95, que somente admitiu a aposentadoria especial pela
exposição permanente a agentes nocivos físicos, químicos ou biológicos ou associação destes agentes
previstos em ato regulamentar.

Dessa forma, a concessão da aposentadoria especial a todos os vigilantes que exercem a


profissão, inclusive os que não portam arma de fogo, além de se caracterizar com uma concessão do
benefício por periculosidade sem a nocividade pela exposição permanente a agentes físicos, químicos ou
biológicos, ainda esbarra na atual vedação constitucional de concessão da aposentadoria especial por
ocupação ou categoria profissional.
IV.5 - DA IMPOSSIBILIDADE CONSTITUCIONAL DE CONCESSÃO DE APOSENTADORIA
ESPECIAL POR ATIVIDADE DE RISCO NO RGPS E A SUA DISTINÇÃO DO RPPS

Outro argumento inabalável que afasta a possibilidade constitucional de concessão de


aposentadoria especial no RGPS somente pela atividade laboral de risco é a comparação com a
normatização constitucional do RPPS.

Diferentemente do RGPS, no RPPS há autorização constitucional para a concessão da


aposentadoria pela atividade de risco, pois objetiva dar uma regra especial de aposentação para as
carreiras da segurança pública.

Veja-se o artigo 40, §4º, da Constituição, na redação dada pela EC


47/2005:

“§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de


aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos
termos definidos em leis complementares, os casos de servidores: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 47, de 2005)
I portadores de deficiência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)
que exerçam atividades de risco; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)
cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)”.

Note-se que o inciso III artigo 40, §4º, da Constituição (redação da EC 47/2005) possui a
mesma redação do artigo 201, §1º (redação da EC 47/2005):

“§ 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de


aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos
de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade
física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos termos definidos em
lei complementar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)”

Ora, se a redação do artigo 201, §1º, da Constituição, que trata da aposentadoria especial
no RGPS, possui a mesma redação do artigo 40, §4º, inciso III (atividades exercidas sob condições
especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física), cuidando da aposentadoria especial no
RPPS, não teria razão de ser o artigo 40, §4º, inciso II da Constituição, permitir por expresso que a
atividade de risco também gerasse aposentadoria especial na Previdência do Servidor Público.

Dessa forma, se fosse a intenção do texto constitucional que a expressão “atividades


exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física” englobasse a
aposentadoria especial por atividade de risco, não haveria razão de aprovar inciso II do artigo 40, §4º,
da Constituição, que por expresso autorizou a concessão de aposentadoria especial por atividades
perigosas no RPPS para beneficiar as carreiras da segurança pública.

Com o advento da EC 103/2019 isso se reforçou ainda mais. Isso porque o RPPS manteve a
previsão constitucional da aposentadoria especial das atividades de risco passando a listar as carreiras
de segurança pública, agentes penitenciários/socioeducativos e policiais da Câmara dos Deputados e
Senado da República (somente estes, em rol taxativo) que farão jus ao benefício no artigo 40 da
Constituição:

“§ 4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do respectivo ente federativo
idade e tempo de contribuição diferenciados para aposentadoria de ocupantes do cargo de
agente penitenciário, de agente socioeducativo ou de policial dos órgãos de que tratam o
inciso IV do caput do art. 51, o inciso XIII do caput do art. 52 e os incisos I a IV do caput do
art. 144. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)”

De outro vértice, no RGPS o texto constitucional do artigo 201 foi ainda mais detalhado
passando a exigir a exposição a agentes físicos, químicos ou biológicos prejudiciais à saúde para a
concessão da aposentadoria especial:

“§ 1º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de


benefícios, ressalvada, nos termos de lei complementar, a possibilidade de previsão de
idade e tempo de contribuição distintos da regra geral para concessão de aposentadoria
exclusivamente em favor dos segurados: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
103, de 2019)
...
II - cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e
biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses
agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou
ocupação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)”.

Acaso fosse a intenção do poder constituinte constituído de estender a aposentadoria


especial no RGPS para as atividades de risco ou para algumas categorias profissionais o teria feito
modificando o texto do artigo 201, §1º, II, da Constituição com uma ampliação, e não o restringido ainda
mais em comparação ao texto anterior, inclusive proibindo o enquadramento por profissão ou ocupação.

Inclusive, no julgamento do MI/Agr 833, de 11/06/2015, que negou a concessão da


aposentadoria especial por atividade de risco no RPPS em favor dos Oficiais de justiça, na manifestação
do Ministro Roberto Barroso em debate de 20/10/2014 (que depois lavrou o voto vencedor) foi dito que
não há aposentadoria especial por atividade de risco no Regime Geral de Previdência Social:

“22/10/2014 PLENÁRIO MANDADO DE INJUNÇÃO 833 DISTRITO FEDERAL DEBATE O SENHOR


MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO

Senhor Presidente, um breve comentário. Eu vejo a seguinte dificuldade. Do ponto de vista
do Ministro Teori, ele menciona a Lei nº 8.213, que é a Lei da Seguridade Social, § 3º. Mas o
§ 3º da Lei refere-se à aposentadoria, prevista no § 4º do artigo 40 da Constituição, por
insalubridade, e não por atividade de risco. Por isso que, na ocasião, quando nós
sumulamos, nós limitamos. Portanto, na verdade, o que Sua Excelência está propondo não
é propriamente uma aplicação subsidiária da Lei nº 8.213, é a previsão de uma nova
hipótese, que não é de insalubridade, mas de risco, que a meu ver não está coberta pela
Lei nº 8.213.
Eu não seria totalmente infenso à tese de que o servidor possa demonstrar, em situações
concretas, a existência de risco. Eu apenas vejo com uma certa preocupação que, sem lei -
aí, o juiz da baixada fluminense, onde a criminalidade é mais acentuada, ele vai pedir a
aposentadoria especial, o juiz da capital, não; ou então, ele vai contar como tempo de
aposentadoria especial o período em que serviu na baixada -, eu acho que nós vamos criar
uma imensa dificuldade operacional para o regime próprio da Previdência, que já não é um
regime abastado. De modo que eu, entendendo e respeitando as razões, penso que, sem
lei, nós vamos criar uma dificuldade operacional para a Administração, porque toda e
qualquer carreira, seja juiz, seja Ministério Público e, depois, motoristas de ônibus públicos,
porque sofrem muitos assaltos, também vão pedir, enós vamos ter uma sociedade em que
todo mundo tem aposentadoria especial”.

IV.6 DA JURISPRUDÊNCIA DO STF SOBRE A APOSENTADORIA ESPECIAL PARA


GUARDAS MUNICIPAIS E VIGILANTES NO RPPS E SUA APLICABILIDADE AO RGPS

Mesmo no RPPS, em que o texto constitucional vigente entre a Emenda 47/2005 e a


Emenda 103/2019 (art. 40, §4º, II) admitiu a aposentadoria especial por atividades de risco, o STF não
reconheceu a extensão deste regramento diferenciado de aposentação sem a edição de lei
complementar de regulamentação.

A principal situação se refere aos guardas municipais. Veja-se o quanto firmado pelo
Plenário do STF no AgRg no MI 6.770, de 20/06/2018:

“DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO EM MANDADO DE INJUNÇÃO. GUARDA


MUNICIPAL. ALEGADA ATIVIDADE DE RISCO. APOSENTADORIA ESPECIAL.
Diante do caráter aberto da expressão atividades de risco (art. 40, § 4º, II, da Constituição)
e da relativa liberdade de conformação do legislador, somente há omissão inconstitucional
nos casos em que a periculosidade é inequivocamente inerente ao ofício.
A eventual exposição a situações de risco a que podem estar sujeitos os guardas
municipais e, de resto, diversas outras categorias, não garante direito subjetivo
constitucional à aposentadoria especial.
A percepção de gratificações ou adicionais de periculosidade, assim como o porte de arma
de fogo, não são suficientes para reconhecer o direito à aposentadoria especial, em razão
da autonomia entre o vínculo funcional e o previdenciário.
Agravo provido para denegação da ordem”.

De efeito, nem mesmo no RPPS, que possui previsão expressa de aposentadoria especial
por atividade de risco, o STF estendeu o regramentos dos policiais (Lei Complementar 51) em favor dos
guardas municipais.

Ao revés, o STJ no Tema Repetitivo 1.031, ampliou as regras de aposentadoria especial por
agentes nocivos no RGPS aos vigilantes, sem a previsão constitucional de aposentadoria por atividade
de risco neste regime previdenciário e sem a existência de lei complementar autorizadora.

Convém transcrever passagem do voto vencedor do Ministro Roberto Barroso no AgRg no MI


6.770, de 20/06/2018, que aduz se tratar de tarefa do legislador a extensão de regras especiais de
aposentação, e não do Poder Judiciário:

“Nós travamos essa discussão, em outro momento, relativamente a outras carreiras, uma
delas a de oficiais de Justiça, a qual os seus integrantes pontualmente estão sujeitos a
agressões físicas e até a casos de óbito.
O que decidimos naquela ocasião? Decidimos que as atividades inerentemente perigosas
são as alcançadas pelo art. 4º, II, da Constituição Federal e que o art. 40, § 4º, II, dependia
de integração pelo legislador para que aquelas carreiras fossem beneficiárias da
aposentadoria especial.
É bem verdade que criamos uma exceção, a hipótese dos guardas penitenciários, porque
consideramos ser uma atividade inerentemente perigosa.
Quanto aos guardas civis, os Ministros do Supremo Tribunal Federal sempre entenderam
que, à míngua de atuação do legislador, não era possível dar este benefício. Na verdade - e
gostaria de insistir -, reputo legítimo que o legislador faça, mas considero perigoso que o
façamos por decisão judicial.
Decidiram, no mesmo sentido do meu pronunciamento, a Ministra Cármen Lúcia, o Ministro
Edson Fachin, o Ministro Ricardo Lewandowski, a Ministra Rosa Weber, o Ministro Gilmar
Mendes e o Ministro Dias Toffoli. Portanto, reiteradamente, temos decidido nessa linha.
Eu penso que o problema de se abrir uma exceção aqui não é irrelevante. Temos adotado
no Plenário uma posição de grande autocontenção no tocante à concessão, sem lei, de
benefícios a servidores públicos. A primeira consequência, eu penso, de uma extensão
dessa benesse a uma categoria, sem lei, é que virão as próximas. Em seguida, os
motoristas do setor público irão demonstrar que eles têm um índice de morbidade e de
letalidade muito maior do que dos outros servidores do setor público e haverá o risco de,
também sem lei, estender-se. Aí virão outras categorias que vão ser capazes de
demonstrar, empiricamente, que há mais letalidade ou maior número de acidentes nessas
categorias.
Dessa forma, vamos criar um regime de concessão de aposentadoria especial por via
judicial, que eu considero perigoso.
Como os argumentos que o Ministro Alexandre de Moraes acaba de enunciar são
relevantes, acho que o legislador pode e deve fazê-lo, incluir os guardas municipais, mas a
lei recentemente editada, que cuidou de segurança pública, que poderia ter feito isso, não
o fez. Portanto, o legislador tomou a decisão política de não dar um regime diferenciado
para os guardas municipais.
Eu queria deixar claro que não tenho nada contra os guardas municipais e nada contra o
legislador reconhecer que seja uma atividade de risco e dar essa benesse, mas vejo como
um risco começarmos a conceder esse tipo de benefício por via jurisprudencial”.

Vale registrar que as decisões do STF que negaram no RPPS a concessão de aposentadoria
especial por atividade de risco também abarcam os vigilantes. Nesse sentido, transcreve-se
passagem do julgamento do MI 7.281, julgado em 21/02/2020:

“Constato que, em 11.06.2015, o Plenário desta Corte finalizou o julgamento dos MIs 833 e
844 (Informativo 789), oportunidade na qual denegou as ordens impetradas, em face de
suposta omissão referente à regulamentação do artigo 40, § 4º, da Constituição Federal.
Na ocasião do julgamento desses mandados de injunção, formou-se o entendimento de que
a expressão “atividades de risco”, contida no artigo 40, § 4º, II, do Texto Constitucional, é
aberta, ou seja, os contornos de sua definição normativa comportam relativa liberdade de
conformação por parte do Parlamento, desde que observada a forma das leis
complementares.
Assentou-se, também, que a existência de gratificações ou adicionais de periculosidade
para determinada categoria não garante o direito à aposentadoria especial, pois os vínculos
funcional e previdenciário não se confundem.
Assim, o estado de omissão inconstitucional ficaria restrito àquelas atividades em que o
risco seja inequivocamente inerente. Isto porque exposição eventual a situações de risco,
como no caso de fiscais tributários, não garante direito subjetivo constitucional à
aposentadoria especial. Este tem sido o entendimento desta Corte ao julgar mandados de
injunção impetrado por diversas categorias, como guardas municipais e vigilantes”.

De efeito, o Plenário do STF no julgamento do MI/AGR 6.865, de 29/11/2019, negou a


concessão de aposentadoria especial no RPPS a um vigilante de Universidade Estadual no Distrito
Federal:

EMENTA AGRAVO INTERNO EM MANDADO DE INJUNÇÃO. LACUNA REGULAMENTADORA DO


ART. 40, § 4º, II, DA MAGNA CARTA. REDAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº
47/2005. EXERCENTE DO CARGO DE VIGILANTE EM UNIVERSIDADE ESTADUAL. ATIVIDADE
DE RISCO. APOSENTADORIA ESPECIAL.“PERICULOSIDADE INEQUIVOCAMENTE
INERENTE AO OFÍCIO”. NÃO
CONFIGURAÇÃO. 1. Ao julgamento dos MIs nºs 833 e 844, o Plenário deste Supremo
Tribunal Federal firmou o entendimento de que a expressão “atividades de risco”, veiculada
no art. 40, § 4º, II, da Carta
Magna, na redação dada pela EC nº 47/2005, por sua natureza aberta, a apontar para a
existência de significativa liberdade de conformação por parte do legislador, só revela
omissão inconstitucional, suscetível de ser colmatada em mandado de injunção, no caso de
periculosidade inequivocamente inerente ao ofício. 2. Na espécie, o agravante exerce o
cargo de vigilante em universidade estadual, integrando, pois, categoria profissional cujo
leque de atribuições especializadas, por não permitir direta ilação no sentido da presença
de risco inerente, conjura a concessão da ordem injuncional pretendida. 3. Agravo interno
conhecido e não provido. (MI 6865 AgR, Relator(a): ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado
em 29/11/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-282 DIVULG 17-12-2019 PUBLIC 18-12-2019)

Existe ainda um caso julgado pelo STF referente ao RPPS do Município de Jacareí (SP) em
que o Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu a aposentadoria especial aos guardas municipais não
por atividade de risco, e sim por suposta atividade prejudicial à saúde e à integridade física, igualando
neste ponto a análise com o Tema Repetitivo 1.031/STJ.

Trata-se do RE 1.282.074, julgado em 20 de agosto de 2020, em que foi provido o Recurso


Extraordinário interposto pelo Município de Jacareí. Eis a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo que
foi cassada pelo STF.

“Guarda Civil Municipal. Aposentadoria especial. Documentos que comprovam que exercia
função em condições especiais prejudiciais à integridade física. Direito à aposentadoria com
critérios diferenciados prevista no art. 40, § 4º, III, da Constituição Federal. Desnecessidade
de que o dano à integridade física se concretize, bastando que as condições de trabalho
sejam aptas a possibilitá-lo. Ausência de conflito com o decidido pelo C. STF nos agravos
regimentais nos Mandados de Injunção 6770, 6773, 6780, 6874 e 6515, que trataram
somente da impossibilidade, por mora legislativa, de extensão das disposições da Lei
Complementar 51/89 aos guardas civis municipais, não impedindo que o direito à
aposentaria diferenciada seja reconhecido em situações concretas com base em provas do
enquadramento nas hipóteses do art. 40, § 4º, III, da CF”.

Neste caso, o STF rejeitou a concessão de aposentadoria especial aos guardas municipais
pelo enquadramento do artigo 40, §4º, inciso III, da Constituição (condições especiais que prejudiquem a
saúde ou à integridade física), que é o lastro constitucional da decisão do STJ no Tema Repetitivo 1.031
(artigo 201, º1º, da Constituição):

RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. GUARDA CIVIL


MUNICIPAL. APOSENTADORIA ESPECIAL. AUSÊNCIA DE LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA.
IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.215.727.
TEMA 1.057 DA REPERCUSSÃO GERAL. SÚMULA VINCULANTE 33. INAPLICABILIDADE.
INOCORRÊNCIA DE ALTERAÇÃO DO QUADRO COM O ADVENTO DA EMENDA
CONSTITUCIONAL 103/2019.RECURSO PROVIDO”.( RE 1282074 / SP - SÃO PAULO,
Relator(a): Min. LUIZ FUX, DJe-209 DIVULG 21/08/2020 PUBLIC 24/08/2020)

IV.7 DA EXTENSÃO DA TESE PARA TODAS AS PROFISSÕES DE RISCO – EFEITO


MANADA

Como dito no início deste recurso, acaso a tese firmada pelo STJ no Tema Repetitivo 1.031
prospere todas as profissões que exerçam atividades de risco reivindicarão ao Poder Judiciário a
concessão da aposentadoria especial.

De efeito, alguns exemplos de concessão judicial de aposentadoria especial por atividade de


risco sem a exposição permanente a agente nocivo à saúde já se apresentam com concessão de outros
órgãos judiciais.

Como exemplo, em 27/10/2020 o TRF da 4ª Região concedeu aposentadoria especial por


atividade perigosa em favor de um segurado entregador de gás GLP:

PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. TRANSPORTE DE LÍQUIDOS


INFLAMÁVEIS. PERICULOSIDADE. APOSENTADORIA ESPECIAL. CONCESSÃO. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS RECURSAIS. TUTELA ESPECÍFICA. 1. A
jurisprudência do TRF4 se firmou no sentido de que, ainda que não haja previsão expressa
em normas específicas, tratando-se de periculosidade, basta que o segurado esteja
submetido a um trabalho de risco.2. O transporte de material líquido inflamável é
considerada atividade perigosa e dá ensejo ao reconhecimento da especialidade do labor,
na medida em que sujeita o segurado à ocorrência de acidentes e explosões que podem
causar danos à saúde ou à integridade física 3. Comprovada a exposição do segurado à
periculosidade, deve ser reconhecida
a especialidade do respectivo período, sendo irrelevante o uso de EPI ou EPC. Nesse
sentido: Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (Seção) nº 5054341-
77.2016.4.04.0000/SC, Relator para o acórdão Des. Federal JORGE ANTONIO MAURIQUE,
maioria, juntado aos autos em 11/12/2017.4. Comprovada a exposição do segurado a
agente nocivo, na forma exigida pela legislação previdenciária aplicável à espécie, possível
reconhecer-se a especialidade da atividade laboral por ele exercida.5. Tem direito à
aposentadoria especial o segurado que possui 25 anos de tempo de serviço especial e
implementa os demais requisitos para a concessão do benefício.6. Verba honorária
majorada em razão do comando inserto no § 11 do art. 85 do CPC/2015.7. Reconhecido o
direito da parte, impõe-se a determinação para a imediata implantação do benefício, nos
termos do art. 497 do CPC. (Processo nº 5000775- 48.2019.4.04.7005-PR)

No mesmo sentido o TRF da 3ª Região em 25/11/2020:

E M E N T A PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE APOSENTADORIA POR TEMPO DE


CONTRIBUIÇÃO PARA APOSENTADORIA ESPECIAL. NATUREZA ESPECIAL DAS ATIVIDADES
LABORADAS PARCIALMENTE RECONHECIDA. TRANSPORTE DE BOTIJÕES DE GÁS GLP.
ATIVIDADE PERIGOSA. VINTE E CINCO ANOS DE ATIVIDADES ESPECIAIS, CARÊNCIA E
QUALIDADE DE
SEGURADO COMPROVADOS. 1. A aposentadoria especial é devida ao segurado que tenha
trabalhado durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme o caso,
sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física (art. 64 do
Decreto nº 3.048/99). No caso, necessária, ainda, a comprovação da carência e da
qualidade de segurado. 2. A legislação aplicável para caracterização da natureza especial é
a vigente no período em que a atividade a ser avaliada foi efetivamente exercida, devendo,
portanto, ser levada em consideração a disciplina estabelecida pelos Decretos nº 53.831/64
e nº 83.080/79, até 05.03.1997 e, após, pelos Decretos nº 2.172/97 e nº 3.049/99. 3. Os
Decretos nº 53.831/64 e nº 83.080/79 vigeram de forma simultânea, não havendo
revogação daquela legislação por esta, de forma que, verificando- se divergência entre as
duas normas, deverá prevalecer aquela mais favorável ao segurado. 4. A atividade
desenvolvida até 10.12.1997, mesmo sem a apresentação de laudo técnico, pode ser
considerada especial, pois, em razão da legislação de regência a ser considerada até então,
era suficiente para a caracterização da denominada atividade especial a apresentação dos
informativos SB-40 e DSS-8030, exceto para o agente nocivo ruído por depender de prova
técnica. 5. É de considerar prejudicial até 05.03.1997 a exposição a ruídos superiores a 80
decibéis, de 06.03.1997 a 18.11.2003, a exposição a ruídos de 90 decibéis e, a partir de
então, a exposição a ruídos de 85 decibéis. 6. Efetivo exercício de atividades especiais
comprovado por meio de formulários de insalubridade
e laudos técnicos que atestam a exposição a agentes físicos agressores à saúde, em níveis
superiores aos permitidos em lei. 7. No caso dos autos, os períodos incontroversos em
virtude de acolhimento na via administrativa totalizam 34 (trinta e quatro) anos, 06 (seis)
meses e 27 (vinte e sete) dias (ID 132156422 e 132156437 - fls. 03), tendo sido
reconhecido como de natureza especial os períodos de 20.09.1982 a 10.03.1986 e
01.02.1988 a 28.04.1995 (ID 132156421 - fls. 51/54). Por sua vez, no período de
29.04.1995 a 12.02.2014, a parte autora, nas atividades de ajudante de motorista e
motorista operador de caminhão no transporte de botijões de gás GLP (ID 132156421 - fls.
48/50), exerceu atividades consideradas perigosas segundo a NR-16 Anexo 2 do Ministério
do Trabalho. Assim, deve ser reconhecida a especialidade dos períodos apontados, uma vez
que comprovada a execução de atividades perigosas. Ressalta-se que inexiste óbice para o
reconhecimento de atividade especial com base na periculosidade, mesmo após
05.03.1997, conforme entendimento consolidado pelo C. STJ. 8. Somados todos os períodos
especiais, totaliza a parte autora 29 (vinte e nove) anos, 06 (seis) meses e 02 (dois) dias de
tempo especial até a data do requerimento administrativo (D.E.R. 12.02.2014). 9. O
benefício é devido a partir da data do requerimento administrativo (D.E.R.) ou, na sua
ausência, a partir da citação. 10. A correção monetária deverá incidir sobre as prestações
em atraso desde as respectivas competências e os juros de mora desde a citação,
observada eventual prescrição quinquenal, nos termos do Manual de Orientação de
Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal, aprovado pela Resolução nº 267/2013,
do Conselho da Justiça Federal (ou aquele que estiver em vigor na fase de liquidação de
sentença). Os juros de mora deverão incidir até a data da expedição do PRECATÓRIO/RPV,
conforme entendimento consolidado pela colenda 3ª Seção desta Corte. Após a devida
expedição, deverá ser observada a Súmula Vinculante 17. 11. Com relação aos honorários
advocatícios, tratando-se de sentença ilíquida, o percentual da verba honorária deverá ser
fixado somente na liquidação do julgado, na forma do disposto no art. 85, § 3º, § 4º, II, e §
11, e no art. 86, todos do CPC/2015, e incidirá sobre as parcelas vencidas até a data da
decisão que reconheceu o direito ao benefício (Súmula 111 do STJ). 12. Reconhecido o
direito da parte autora transformar o benefício de aposentadoria por tempo de
contribuição atualmente implantado em aposentadoria especial, a partir do
requerimento administrativo (D.E.R. 12.02.2014), observada eventual prescrição
quinquenal, ante a comprovação de todos os requisitos legais. 13. Apelação parcialmente
provida. Fixados, de ofício, os consectários legais. ( Apelação Civel 5004572-
03.2019.4.03.6183)

Dessa forma, acaso confirmada a tese firmada no Tema Repetitivo STJ/1.031, além dos
nobres vigilantes e dos entregadores de gás, também motoboys, trabalhadores da construção civil,
motoristas de ônibus e caminhões, aeroviários, limpadores de vidros de edifícios, pintores de fachadas
de edifícios, mergulhadores e todas as profissões que demandem um risco anormal no âmbito
profissional baterão às portas do Poder Judiciário em busca da aposentadoria especial pelo perigo da
atividade laboral, que poderá passar de circunstância excepcional à regra geral.

Por seu turno, em 24/02/2021 o TRF da 4ª Região acolheu a tese da concessão da


aposentadoria especial após a Lei 9.032/95 em favor de motorista ou cobrador de ônibus e ajudante de
caminhão por penosidade:

PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. PENOSIDADE. MOTORISTA E COBRADOR


DE ÔNIBUS. PROVA PERICIAL. ATO ESSENCIAL. NECESSIDADE DE REABERTURA DA
INSTRUÇÃO
PROCESSUAL. ANULAÇÃO DA SENTENÇA.1. A possibilidade, em tese, do reconhecimento do
caráter especial das atividades de motorista ou de cobrador de ônibus, bem como de
motorista e de ajudante de caminhão, em virtude da penosidade, mesmo nos períodos
posteriores 28/04/1995, foi reconhecida pela 3ª Seção, que vem assegurando a realização
de perícia judicial para tal finalidade (IRDR 5033888-90.2018.4.04.0000 (IAC TRF4 - Tema
5).2. Sendo a realização de prova pericial ato essencial para o deslinde da lide, impõe-se a
anulação da sentença a fim de propiciar a reabertura da instrução processual (Apelação
Cível 5001409-13.2020.4.04.7101-RS)

Destarte, além da tese no Tema STJ 1031 da concessão da aposentadoria especial por
periculosidade, já existem decisões judiciais perpetrando uma nova ampliação inconstitucional para as
situações de penosidade.

Mais uma vez convém transcrever passagem do voto vencedor do Ministro Roberto Barroso
no AgRg no MI 6.770, de 20/06/2018, com nítida preocupação da extensão de tese judicial a todas as
categorias profissionais de risco no âmbito do RPPS (efeito manada):
“Eu penso que o problema de se abrir uma exceção aqui não é irrelevante. Temos adotado
no Plenário uma posição de grande autocontenção no tocante à concessão, sem lei, de
benefícios a servidores públicos. A primeira consequência, eu penso, de uma extensão
dessa benesse a uma categoria, sem lei, é que virão as próximas. Em seguida, os
motoristas do setor público irão demonstrar que eles têm um índice de morbidade e de
letalidade muito maior do que dos outros servidores do setor público e haverá o risco de,
também sem lei, estender-se. Aí virão outras categorias que vão ser capazes de
demonstrar, empiricamente, que há mais letalidade ou maior número de acidentes nessas
categorias”.

V– DA RAZOABILIDADE EM AGUARDAR O PROCESSAMENTO DO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO DO INSS NO RESP REPETITIVO 1031.

O caráter repetitivo da presente demanda é inconteste e já foi reconhecido pelo e. Superior


Tribunal de Justiça quando da afetação do Tema 1031 de seus recursos repetitivos.

Neste sentido, considerando-se a natureza repetitiva da matéria em debate e a


plausibilidade da tese recursal ora exposta é razoável e prestigia a isonomia jurisdicional – a evitar o
trânsito em julgado de decisões em ações individuais em sentido divergente do resultado final do
representativo de controvérsia em curso - que seja restabelecido o sobrestamento do presente feito, e
os demais que versem sobre a questão nesta Turma Recursal, até o processamento e julgamento do
RECURSO EXTRAORDINÁRIO DO INSS NO RESP REPETITIVO 1031, interposto em 17/03/2021, conforme
disponibilizado na consulta pública do STJ[3].

Ora, os processos pendentes que versam sobre a matéria em discussão nestes autos já se
encontravam suspensos por determinação do Ministro Relator do Recurso Especial Repetitivo, a partir da
decisão de afetação. Daí porque se fala em simples reestabelecimento da suspensão outrora já
determinada.

De fato, em matérias repetitivas que possuam fundamentação infraconstitucional e


constitucional, aptas a ensejarem a interposição de recursos especial e extraordinário repetitivos,
parece estreme de dúvidas que a determinação encartada no art. 1.037, II, do CPC/2015 deve produzir
efeitos até que seja definitivamente apreciada a questão no âmbito do Supremo Tribunal Federal.

Portanto, a suspensão dos efeitos do acórdão impugnado atende à ideia de gestão


processual, na medida em que assegura solução uniforme no âmbito dos tribunais de superposição (art.
926 do CPC/2015).

VI- PEDIDO

Diante da demonstração do mais completo desacerto da r. decisão agravada, o INSS


requerer a essa Excelsa Corte que se digne de conhecer e acatar as razões apresentadas, para dar
provimento ao presente agravo para que seja conhecido e devidamente apreciado o recurso
extraordinário interposto, uma vez que restaram devidamente atendidos os requisitos de
admissibilidade legalmente exigidos.

E, uma vez admitido/conhecido o extraordinário, roga o INSS seja dado provimento ao


recurso extraordinário, a fim de que seja reformado o acórdão da e. Turma Recural de origem com
fundamento em acórdão proferido pelo e. STJ em recurso especial repetitivo, fixando-se tese, em regime
de repercussão, geral no sentido de que não há base constitucional para a concessão de aposentadoria
especial pelo risco da profissão no RGPS, que somente autoriza ao legislador por intermédio de lei
complementar a conceder regras diferenciadas de aposentação às pessoas com deficiência ou em favor
dos segurados com exposição permanente a agentes nocivos químicos, físicos ou biológicos ou à
associação desses agentes previstos exclusivamente em ato regulamentar”.

Nestes termos, pede deferimento.

Local e data da juntada.

JUAN PABLO COUTO DE CARVALHO


Procurador Federal
[1] Código de processo civil comentado: e legislação extravagante: atualizado até 7 de julho
de 2003, Nelson Nery Júnior, Rosa Maria de Andrade Nery. – 7ª. Ed. rev. e ampl. – São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2003, página: 936.
[2] Registre-se que o Governo Federal entende que não há base constitucional para a
edição de uma lei complementar para a concessão de aposentadoria por atividades perigosas no RGPS,
conforme a Nota Técnica SEI 37.018/2020-ME que aduziu que “é importante destacar que o Projeto de
Lei Complementar n° 245, de 2019, de autoria do Senador Eduardo Braga, em que pese ter sido objeto
de discussão pontual com o Poder Executivo, não representa o entendimento desse, haja vista que a
previsão de aposentadoria especial para agentes periculosos nos parece contrariar a previsão
constitucional trazida no art. 201, §1º, II, com redação dada pela EC nº. 103, de 2019. Assim, o projeto,
para prosseguir, necessitará de grande debate e de eventuais ajustes para que reflita o posicionamento
registrado na presente Nota Técnica”.
[3] https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?
tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201901842994
texto...

Recife, 07 de dezembro de 2021.

ANDRE FERREIRA CARNEIRO


PROCURADOR FEDERAL

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