08/09/2022 17:37 Gorbachev: catalisador conflitante do fim da Guerra Fria | Conselho de Relações Exteriores

Gorbachev: catalisador
conflitante do fim da
Guerra Fria
Mikhail Gorbachev será lembrado no Ocidente por
lançar as bases para relações mais construtivas para
facilitar o fim da Guerra Fria, mas difamado na
Rússia por acelerar o fim da União Soviética.

Artigo de Thomas Graham

31 de agosto de 2022 10h45 (EST)

O líder soviético Mikhail Gorbachev acena durante o

desfile de 1º de maio na Praça Vermelha de Moscou
em 1991. Wojtek Laski/Getty Images

O último líder soviético, Mikhail Gorbachev, chegou ao poder em 1985 determinado

a transformar uma União Soviética estagnada em um país socialista dinâmico,
próspero e poderoso; ele nunca desenvolveu um plano coerente e concreto para
fazer isso. Em vez disso, ele improvisou à medida que o terreno político e econômico
mudou ao seu redor. Isso abalou os linha-duras que pensavam que ele estava
destruindo a União Soviética e consternou os reformadores que temiam que ele
estivesse indo devagar demais para salvar o país. Depois de seis anos, os linha-duras
tiveram o suficiente: eles não conseguiram derrubá-lo em uma tentativa de golpe
mal concebida em agosto de 1991, mas o feriram o suficiente para que os
reformadores pudessem tirá-lo do poder no final daquele ano - como o país que ele
procurou reviver entrou em colapso, e uma nova Rússia emergiu.

No entanto, durante seus seis anos no poder, Gorbachev realizou coisas

https://www.cfr.org/article/mikhail-gorbachev-death-conflicted-catalyst-cold-wars-end 1/5
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extraordinárias em casa e no exterior. Ao mesmo tempo, ele desencadeou forças que

não podia controlar e que remodelariam seu país e o mundo, às vezes de maneiras
que ele não desejava.

Em casa, ele acabou com o domínio do comunismo sobre a sociedade soviética,

embora essa não fosse sua intenção original. De fato, quando assumiu o poder, ele
era um comunista resoluto que pensou que poderia reviver o espírito leninista
original, introduzir eficiência na economia planejada e garantir que a União
Soviética entraria no próximo século como uma superpotência. Mas como a reforma
estagnou, ele passou a ver que o próprio comunismo estava na raiz do problema, e
ele não vacilou com as implicações. Ele finalmente abandonou o marxismo-
leninismo e começou a desmantelar o poder do Partido Comunista em favor de um
sistema político mais aberto. Sua insistência em que os líderes prestassem contas ao
povo (ele imprudentemente abriu uma exceção para si mesmo) levou às eleições
mais livres e justas da história soviética (e pós-soviética).

No exterior, Gorbachev entendeu que precisava reduzir as tensões da Guerra Fria

com os Estados Unidos para que seu país pudesse se concentrar na reconstrução
interna, incluindo a reforma de um complexo industrial-militar exagerado que
pesava na economia. Mas sua maneira de reduzir a tensão rompeu com a tradição

https://www.cfr.org/article/mikhail-gorbachev-death-conflicted-catalyst-cold-wars-end 2/5
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soviética (e russa). Ele rejeitou a busca da superioridade militar e se contentou com a

suficiência; abandonou a abordagem revolucionária marxista baseada na classeaos
negócios estrangeiros em favor da busca de valores humanos comuns; apoiou um lar
europeu comum baseado em normas compartilhadas (ele diria “democráticas”); e
estava comprometido com a resolução pacífica de controvérsias. Ele reconhecia a
liberdade de cada país para escolher seu futuro político, uma renúncia implícita à
Doutrina Brejnev, que afirmava que Moscou tinha o direito de usar todos os meios
necessários, incluindo a força, para manter um país no campo socialista. Esses passos
permitiram a Gorbachev encontrar um terreno comum com os presidentes dos EUA
Ronald Reagan e George HW Bush e negociar um fim pacífico para a Guerra Fria em
1989.

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Curiosamente, as conquistas de Gorbachev foram possibilitadas por um ponto cego

político, incomum para um líder soviético. Ele nunca entendeu o poder do
nacionalismo pulsando em toda a vasta esfera soviética. E por isso ficou surpreso
quando os nacionalistas exploraram sua política de glasnost — que significa abertura
ou transparência — para reviver narrativas que desafiavam o controle de Moscou
sobre as repúblicas étnicas que formavam a federação soviética nominal. Ele
pensava, ingenuamente, que as reformas na Europa Oriental seriam baseadas em
uma afeição pelo socialismo genuíno que ele estava promovendo, e não em um
sentimento nacional que buscaria escapar do domínio opressivo da Rússia. Ele foi
pego de surpresa durante a revolução de 1989, quando os antigos líderes comunistas
radicais foram substituídos não por figuras reformistas em seu próprio molde, mas
por nacionalistas anticomunistas.

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Thomas Graham

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Gorbachev provou ser um líder soviético (e russo) único, na medida em que se

recusou a usar a força para salvar posições soviéticas na Europa Oriental ou sua
própria posição em casa. Ele rapidamente se desassociou da violência inspirada em
Moscou contra a Geórgia e os estados bálticos quando a União Soviética começou a
se desfazer. Mais importante, ele recuou de usar a força para preservar a vasta zona
de amortecimento na Europa Oriental que Joseph Stalin havia construído a um custo
tão grande em sangue e tesouros no final da Segunda Guerra Mundial. Gorbachev
estava certo ao supor que o uso da força minaria fatalmente seu programa de
reformas; no entanto, nenhum outro líder soviético ou russo teria exercido tal
contenção durante um período politicamente perigoso.

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No Ocidente, Gorbachev será lembrado por seu papel em ajudar a acabar com a
Guerra Fria , sua vontade de romper com as tradições soviéticas e russas e seus
esforços para relações mais construtivas com os Estados Unidos. Na Rússia, ele foi
difamado por perseguir políticas que levaram ao desaparecimento de um grande
estado russo disfarçado de Império Soviético, que o presidente Vladimir Putin
passou quase um quarto de século tentando reconstruir. O tratamento dado à morte
de Gorbachev provavelmente destacará o abismo que agora separa a Rússia do
Ocidente, algo que Gorbachev passou seu mandato tentando superar.

https://www.cfr.org/article/mikhail-gorbachev-death-conflicted-catalyst-cold-wars-end 4/5
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