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Conteudista Associado: JOSÊ CECÍLIO NETO E LOPES

CURSO DE FORMAÇÃO TÉCNICO-PROFISSIONAL


POLÍCIA PENAL – MG

MINAS GERAIS
2023

1
SUMÁRIO

1. CONCEITO .................................................................................................................4

2. ASPECTOS HISTÓRICOS DA VIOLÊNCIA .........................................................5

2.1. Sociedades Antigas ................................................................................................5


2.2. Idade Média ...........................................................................................................8
2.3 Idade Moderna e Contemporânea ........................................................................9

3. A CRIMINOLOGIA BRASILEIRA ........................................................................ 11

4. ESCRAVIDÃO, RACISMO E SISTEMA PENAL ................................................15

5. SOCIOLOGIA DA PUNIÇÃO E DINÂMICAS DO ENCARCERAMENTO NO


BRASIL ATUAL ............................................................................................................18

6. VIOLÊNCIA: PRINCIPAIS ASPECTOS ...............................................................20

7. CONTROLE E REPRESSÃO NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE MODERNA22

8. PRINCIPAIS CAUSAS DA VIOLÊNCIA NO BRASIL ........................................25

9. ÍNDICES DE CRIMINALIDADE: DO CONTEXTO NACIONAL AO


CONTEXTO LOCAL..................................................................................................30

10. IMPACTOS SOCIAIS DA VIOLÊNCIA NA SOCIEDADE BRASILEIRA .....33

11. AS DIFERENTES FORMAS DE VIOLÊNCIA E SEUS EFEITOS ..................35

REFERÊNCIAS ............................................................................................................39

2
Ementa: Compreensão histórica, econômica e social do fenômeno da
violência. Análise de circunstâncias, causas e consequências.

Conteudista associado: José Cecílio Neto e Lopes

3
1. CONCEITO

Compreender a violência como um fenômeno cultural é fundamental. Em


função disso, é necessário entender o conceito empregado atualmente,
definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002), segundo a qual
violência é o

uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou


efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou
comunidade, que ocasiona ou tem grandes probabilidades de
ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do
desenvolvimento ou privações. (OMS, 2002 apud SACRAMENTO;
REZENDE, 2006)1

Dentro da perspectiva sociológica, a violência é considerado um fato


social. O fato social são aspectos presentes em todas sociedades. Segundo
Durkheim2, o “crime não se observa só na maior parte das sociedades desta ou
daquela espécie, mas em todas as sociedades de todos os tipos.” A violência
urbana, por exemplo, assim como todos os outros tipos de violência, pode ser
considerada como um elemento ligado a toda e qualquer sociedade. Durkheim
também afirma que a violência deveria ser analisada sob a perspectiva de fato
social, decorrente de fatores, como desigualdade, condições financeiras e
sociais, e seu uso provém da necessidade de poder que os indivíduos de uma
determinada realidade possuem.
O próprio termo violência é de natureza polissêmica, usado em
contextos sociais variados. O termo violência pode ser empregado tanto para
um homicídio quanto para os distratos do ponto de vista emocional, verbal,
sexual, psicológico. Alguns exemplos que explicitam os diferentes tipos de
violência: no âmbito conjugal, manifesta-se através dos maus tratos que podem
se materializar, por exemplo, quando a mulher é submetida a práticas sexuais

1
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
03942006000300009#:~:text=A%20viol%C3%AAncia%20foi%20definida%20pela,morte%2C%20dan
%20ps%C3%ADquico%2C%20altera%C3%A7%C3%B5es%20do Acesso em: 09/11/2022.
2
Disponível em: https://sociologiadodireitounesp.blogspot.com/2018/04/o-fato-da-violencia-
social.html Acesso em: 09/11/2022.

4
contra a sua vontade, quando sofre intimidação de qualquer natureza; no
âmbito do isolamento social, se manifesta quando se proibe o uso de meios de
comunicação; na esfera dos cuidados de saúde, quando se veta o acesso a
tratamentos, hospitais, clínicas; no âmbito profissional e quando se pratica
assédio moral.
Uma das expressões de máxima violência é o feminicídio, ou seja, o
homicídio praticado contra a mulher em decorrência do fato de ela ser mulher
(misoginia e menosprezo pela condição feminina ou discriminação de gênero,
fatores que também podem envolver violência sexual) ou em decorrência de
violência doméstica. A lei 13.104/15, mais conhecida como Lei do Feminicídio,
alterou o Código Penal brasileiro, incluindo como qualificador do crime de
homicídio o feminicídio.

2. ASPECTOS HISTÓRICOS DA VIOLÊNCIA

A violência, por ser cultural e histórica, circunscreve diversos períodos:


Sociedades Antigas, Idade Média, Antigo Regime, Modernidade e Pós-
Modernidade. No Brasil, a história foi marcada pelo constante uso da violência,
desde a colonização, quando os portugueses, no processo de submissão dos
povos indígenas, usaram de variadas formas de violência ancorados na
doutrinação religiosa, como prática de domesticação do corpo e da mente.
Embora tenha havido mudanças, é possível dizer que a violência se perpetua
até os dias atuais.

2.1. Sociedades Antigas

A desigualdade, como resultado do produto do meio, existe desde que o


homem deixou de ser nômade e, ao longo desse processo, foi possível
acumular recursos. Isso aconteceu há pelo menos 10 mil anos, com o
surgimento da agricultura, a domesticação de animais e a construção de
grupos familiares.

5
A ação do homem sobre a natureza não é pacífica, mas perpassada pela
agressividade: na caça e na pesca; na confecção de vestimentas que lhe
abrigam no frio; nos cercamentos (demarcação de territórios); no
estabelecimento dos clãs, tribos ou castas; e até mesmo na formação familiar e
na proteção de seus membros. O desenvolvimento da construção do ser
humano, como indivíduos dotados de organicidade, foi revestido sob algum
grau de violência. As grandes civilizações da Idade Antiga construíram o seu
legado não apenas desenvolvendo sistemas políticos e jurídicos, mas também
se valendo das guerras. O primeiro período, denominado de Idade Antiga,
compreende um espaço de tempo que vai de 5.000 a.C. até o século IV d.C.
Nessa época, civilizações ascenderam e caíram. Algumas estenderam os seus
impérios por vastas regiões, enquanto outras se restringiram a uma atividade
política com espaço mais restrito, mas, em regra, o uso da prática de controle
foi se aperfeiçoando de acordo com as crenças e os costumes. Com efeito,
talvez a característica mais marcante da Idade Antiga não seja os períodos de
fundamentação da pena, mas a sua forma de execução. Na China, por
exemplo, as penas variavam da pena de morte para homicídio e da castração
para o estupro. Penas como o espancamento não eram estranhas. Na Índia, as
penas de multa eram destinadas às pessoas hierarquicamente superiores, que
ficaram eximidas das penas corporais. No Egito, a revelação de segredos era
punida com a amputação da língua.(CALDEIRA, 2009). A brutalidade na
Antiguidade, com relação às penas, de acordo com os parâmetros atuais, era
de natureza vil e cruel, reproduzida e aclamada pela prática aos suplícios. Tal
prática, quando passou a ser de interesse público, estatal e centralizado, não
mais realizado por terceiros (pena de vingança privada), sugestionava uma
maior segurança à sociedade. A aplicação da pena a partir desse momento
evoluiu e ultrapassou a figura da vítima e do criminoso, tornando-se um
espetáculo executado em público para satisfação da própria população. Michel
Foucault (2002) demonstra essa natureza do espetáculo da punição na
passagem a seguir:
Enquanto era feita a leitura da sentença de condenação, estava de pé
no cadafalso, sustentado pelos carrascos. Era horrível aquele
espetáculo: enquanto em grande mortalha, a cabeça coberta por um
crepe, o parricida estava fora do alcance dos olhares da silenciosa

6
multidão. E sob aquelas vestes, misteriosas e lúgubres, a vida só
continuava a se manifestar através dos gritos horrorosos, que se
extinguiram logo, sob o facão. (FOUCAULT, 2002, p.19)

Sanções penais referentes à aplicação da pena de morte eram


bastantes comuns na Antiguidade, vistas também por diferentes modalidades:
morte precedida de torturas; morte em que o corpo do condenado ficava
suspenso em processo de apodrecimento; morte pelo fogo. Não bastava
somente privar o condenado do usufruto ao direito a própria vida, as penas
deveriam ser intensas e meticulosamente planejadas, aplicadas aos poucos,
com requintes de crueldade. A dor significava a purificação da alma do
apenado.
Pode-se citar, também, como exemplo de modalidade de pena capital o
enforcamento, a crucificação, a decapitação, o suplício da roda, a asfixia por
imersão, o enterrar vivo. Tudo revestido de teatralidade para passar aos
desavisados a lição de que o crime não compensava. Em virtude da constante
necessidade da existência de formas de controle social, em todas as épocas e
culturas da humanidade, a pena foi criada pelo homem como solução mediata
para corrigir e regular as consequências individuais de seus atos, em face de
alguma infração cometida.
É importante destacar que o controle social era baseado na regra do
mais forte, a partir da autotutela ou da submissão. Nela, a retaliação por algum
mal cometido era de cunho pessoal, traçada brutalmente pelo próprio ofendido,
ou pelo grupo a qual este pertencia, como meio de estabelecer poder e
restaurar a honra, outrora, infligida. O duelo era tido como um dos mais
aclamados meios de execução penal.
Nesse período, o Código de Hamurab ganhou destaque por ter sido a
primeira forma de normas não positivadas. Normas positivas são as que
prescrevem um comportamento fazendo incidir sobre o mesmo uma obrigação
positiva, ou seja, de modalidade normativo-obrigatória. As negativas, ao
contrário, estabelecem uma proibição, fazendo incidir um modal de valor
proibido.
O Código de Hamurabi foi o primeiro código de leis da história e se

7
consolidou na Mesopotâmia quando Hamurabi governou o primeiro império
babilônico entre 1792 e 1750 a.C. Esse código se baseava na Lei do Talião,
que punia um criminoso de forma semelhante ao crime cometido, ou seja, “olho
por olho, dente por dente”. Alguns exemplos, para ilustrar o funcionamento do
código na antiguidade:

22º - Se alguém comete roubo e é preso, ele é morto.


[...]
142º - Se uma mulher discute com o marido e declara: "tu não tens
comércio comigo", deverão ser produzidas as provas do seu prejuízo,
se ela é inocente e não há defeito de sua parte e o marido se ausenta
e a descura muito, essa mulher não está em culpa, ela deverá tomar
o seu donativo e voltar à casa de seu pai. (HAMURABI, século 18
a.C)3

Algumas informações foram compiladas nessa fase, de maneira


ilustrativa, para exemplificar os métodos usados na Antiguidade com relação às
punições aplicadas, bem como nos períodos seguintes, que permitiram o
desenvolvimento do direito no Estado Moderno tal qual conhecemos nos dias
atuais.

2.2. Idade Média

Na Idade Média, o Direito Canônico deu a tônica dos regramentos


sociais. A Igreja Católica, cada vez mais com poder, tinha suas decisões
executadas em tribunais civis, exercendo grande influencia na legislação penal
por introduzir no mundo as primeiras noções de privação de liberdade como
forma de punição. Dessa forma, ao começar “a ser aplicada aos religiosos que
cometiam algum pecado, a privação da liberdade era uma oportunidade dada
pela Igreja para que o pecador, no silêncio da reclusão, meditasse sobre sua
culpa e se arrependesse dos seus pecados” (CALDEIRA, 2009, p. 264).
Fundamental destacar que a privação de liberdade não foi imputada
somente a clérigos, mas também aos cidadãos em geral. Daquele momento
em diante, com a instauração do cárcere como penitência e meditação,

3
Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/hamurabi.htm Acesso em: 9/11/2022.

8
originou-se a palavra “penitenciária”, considerada como a grande contribuição
desse período da história para a teoria da pena. As práticas punitivas ainda
possuíam cunho perverso, mas, com o advento das prisões, criam-se novos
princípios de administração ou aplicação em seus cerimoniais, acarretando,
assim, mudanças nas penas e na forma de executá-las.

2.3 Idade Moderna e Contemporânea

Com o fim da Idade Média, inicia-se a fase da humanização da pena. O fim da


era medieval se caracterizou por um maior afrouxamento no ato de se punir, pela
aplicação de sanções penais mais suaves, com mais respeito e humanidade, com menos
sofrimento. “Esse movimento tinha por raiz a palavra ‘humano’, o que significava que o
homem era colocado no centro do universo, na condição de atenção de todas as
preocupações políticas, econômica e sociais” (ANITUA, 2008, p. 70).
Devido a esse movimento, iniciou-se, paulatinamente, a supressão dos
espetáculos punitivos, já que esse tipo de prática remetia à ideia de vilania ao
Estado e ganhava contornos de cunho negativo.
Assim, a humanidade reconheceu, através do direito penal, a falência da
pena de morte como normativa estatal. A aplicação da pena capital teve tanta
relevância, que, em certo ponto, estatuiu-se uma segunda possibilidade de
morte conhecida como “morte civil”. O criminoso perdia todos os seus direitos
civis como cidadão, mas mantinha-se com sua vida preservada. Sustentava-se,
no direito penal, a retórica de que isso era em função do próprio condenado. A
prisão representava o local onde o réu esperava a execução da verdadeira
pena aplicada: morte, açoite, mutilações, enforcamentos etc. Ainda hoje, países
com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerado alto aplicam a
pena de morte, a exemplo dos Estados Unidos, do Japão e do Catar.
Nessa fase, consagra-se a primeira noção de proporcionalidade na
aplicação penal, teoria que foi criada por Cesare Beccaria, em 1764, em seu
livro Dos delitos e das penas, considerado principal ponto de partida do direito
penal moderno. Segundo seus princípios, as penas deveriam ser realizadas de
maneira moderada e de modo a serem proporcionais ao delito cometido.

9
Segundo Beccaria:

Se fosse possível aplicar um cálculo matemático à obscura e infinita


combinação de ações humanas, haveria uma escala correspondente
de penas, da maior para a menor; mas, não sendo possível, basta ao
legislador sábio indicar os pontos principais, sem perturbar a ordem,
não decretando a delitos de primeiro grau penas de último.
(BECCARIA, 2012 [1764], p.23-24).

Além disso, atribuía a ideia de prevenção à pena. Defendia que a prisão,


apesar de servir como sanção, deveria também ser humanitária, agindo como
instrumento de ressocialização do apenado. A aplicação da pena passaria a ser
um procedimento burocrático, que buscaria corrigir e reeducar, tendo como
objetivo a reforma do infrator.
Desse modo, buscava-se manter um equilíbrio na hora de efetuar as
punições, vinculando-se pesos e contrapesos entre o crime e o criminoso e
ressocializando a efetuação do modo de punir a fim de afastar as práticas
abusivas e realizar o que seria necessário para um determinado crime, com
uma sanção que lhe competisse. Atendo-se, principalmente, ao grau do crime
cometido e deixando um pouco de lado a capacidade do criminoso, seria
possível dar-lhe alternativas que facilitariam o seu castigo: “Dessa forma, o
Direito Penal passa a ser uma necessidade do Estado, um instrumento de
preservação e de reprodução da ordem política e social” (CHIAVERINI, 2009,
p. 70).
Quando se entendeu essa ideologia, a ideia de se atribuir a
ressocialização do delinquente à pena de prisão se difundiu decisivamente em
diferentes sociedades. As prisões, além de permitirem que o criminoso não
infligisse mais nenhum mal, iriam também funcionar em favor do próprio
condenado. Contudo, pesquisas e estudos têm mostrado, desde aquele
período até os dias atuais, que dificilmente se conseguiu recuperar plenamente
o indivíduo através da cadeia.

3. A CRIMINOLOGIA BRASILEIRA

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O Brasil, até 1830, não tinha um código penal próprio por ser, ainda,
uma colônia de Portugal. Submetia-se às Ordenações Filipinas, que, em seu
livro V, trazia o rol de crimes e penas que seria aplicado no país. Entre as
penas, estavam previstas as de morte, confisco de bens, multa e, ainda, penas
como humilhação pública do réu, herança herdada da Antiguidade e Idade
Média. Não existia a previsão de privação de liberdade como pena.
Em 1824, com a nova constituição, o Brasil começa uma reforma no
sistema punitivo. Esse código se baseava no Código Francês e no Código
Napolitano para criar uma individualização da pena, com a existência de
situações atenuantes e agravantes, de modo a estabelecer um julgamento
especial aos menores de 14 anos. Além do mais, todas as penas de açoite,
tortura, ferro quente e outras penas cruéis foram extintas. As cadeias deveriam
ser limpas e arejadas e deveria haver separação dos réus de acordo com as
circunstâncias e a natureza dos crimes. Uma observação importante é que a
abolição das penas cruéis não contemplava os escravos.
Diante do exposto, a ideia da causa que motiva a criminalidade não está
elencada somente a um fator impulsionador, ou seja, o crime não decorre
apenas de um determinado segmento. É uma abordagem difícil e complexa,
pois a criminalidade no Brasil é fruto de determinados motivos que contribuem
para essa problemática social.
Com o advento do Estado Novo, quase um século depois, o então
Ministro Francisco Campos determinou que o professor Alcântara Machado
elaborarasse um anteprojeto do Código Penal. Em agosto, foi publicado o
Projeto de Código Criminal Brasileiro4. Após algumas alterações, foi
sancionado em 1940 o código penal brasileiro.
O Brasil, enquanto um projeto de pensamento social, se deu na segunda
metade do século XIX, em função da incorporação dos debates intelectuais e
de ideias cientificistas vindas, principalmente, da Europa. A escola positivista foi
a doutrina que mais influenciou parte de historiadores e cientistas sociais no
Brasil. No entanto, outras doutrinas também ocuparam seu espaço ideológico,

4
Para maiores informações, acessar https://www.aurum.com.br/blog/codigo-penal-
brasileiro/#origem-do-codigo-penal-brasileironbsp

11
tais como versões do evolucionismo, do materialismo, das teorias raciais,
dentre outras, que se fizeram presentes e marcaram significativamente o
debate intelectual acerca da sociedade brasileira até meados da década de
1930, quando se iniciou o processo de afirmação das ciências sociais, que
culminou com o surgimento da sociologia como ciência no país.
No direito penal brasileiro, a influência positivista se fez presente,
obviamente, não desconsiderando demais doutrinas. As escolas penais foram
correntes filosófico-jurídicas que buscaram firmar teses sobre o crime e a figura
do delinquente. A Escola Clássica, de inspiração Iluminista, visou propiciar ao
homem uma defesa contra o arbítrio do Estado. O Positivismo Jurídico vem
para contrapor-se ao Jusnaturalismo (séculos XVII e XVIII), que defende que o
direito é independente da vontade humana, ele existe antes mesmo do homem
e acima das leis do homem; para os jusnaturalistas, o direito é algo natural e
tem como pressupostos os valores do ser humano e a busca por um ideal de
justiça. A Escola Positivista (século XIX), corrente que defendia o direito como a
lei de único valor e emanada a partir do Estado, encarou o crime sob a ótica
sociológica e o criminoso tornou-se alvo de investigações biopsicológicas. É
importante destacar que a Escola Positivista foi um reflexo, no campo penal, do
pensamento positivista de Comte, Darwin e Spencer.
Das ideias que obtiveram grande repercussão intelectual entre as
últimas décadas do oitocentos e as primeiras do novecentos no Brasil,
destacam-se as da antropologia criminal ou da criminologia, elaboradas na
Europa, sobretudo, a partir dos trabalhos do italiano Cesare Lombroso, que
influenciou fortemente a escola positivista ou positivismo evolucionista e
acreditava que o crime era um fenômeno biológico e não um ente jurídico,
como defendiam os clássicos. O criminoso era tido como um selvagem,
portanto, já nascia delinquente. Nesse ínterim, Lombroso relacionava o
delinquente nato ao atavismo. Logo, características físicas e morais poderiam
ser observadas nesse indivíduo. De acordo com essa atribuição, o delinquente
nato possuía uma série de estigmas degenerativos, comportamentais,
psicológicos e sociais que o reportavam ao comportamento semelhante de
certos animais, plantas e a tribos primitivas selvagens (LOMBROSO, 2010, p.

12
43-44).
A doutrina de Lombroso teve ascendência sobre teóricos brasileiros,
entre eles Raimundo Nina Rodrigues, cuja atuação na Medicina Legal foi
ampla: desde a organização sanitária até a psiquiatria forense. Destacam-se
seus trabalhos sobre antropologia física e criminal e psiquiatria forense. Com
foco, principalmente, no tema da criminalidade racial, Nina Rodrigues analisou
vários casos de delitos, envolvendo negros, índigenas e mestiços, nos quais
corpos, cabeças, mentes e histórias de vida dos sujeitos eram avaliados
visando desvendar as motivações de seus crimes. O seu livro As Raças
Humanas, que o autor considerava um "simples ensaio de psicologia criminal
brasileira" (Rodrigues, 1957, p.24), foi fundamentado, sobretudo, nas aulas que
ministrava na disciplina de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Bahia.
O livro tinha como propósito apresentar as modificações que as condições de
raça imprimiriam à responsabilidade penal, assim como criticar o Código Penal
Brasileiro de 1890.5
Nina Rodrigues defendeu um tratamento diferenciado para negros,
índigenas e mestiços – produtos das chamadas raças inferiores – no Código
Penal Brasileiro. Seu argumento partia do pressuposto de que haveria uma
diferença fundamental entre as raças no que se referia à sua constituição
mental:

A concepção espiritualista de uma alma da mesma natureza em todos


os povos, tendo como conseqüência uma inteligência da mesma
capacidade em todas as raças, apenas variável no grau de cultura e
passível, portanto, de atingir mesmo num representante das raças
inferiores, o elevado grau a que chegaram as raças superiores, é uma
concepção irremessivelmente condenada em face dos
conhecimentos científicos modernos (Rodrigues, 1957, p.28).

Todas essas discussões agravaram ainda mais o processo


discriminatório no Brasil, ao considerar que, somado à ideologia lombrosiana e

5
Para maiores informações sobre Nina Rodrigues, ver o artigo RODRIGUES, M. F. Raça e
criminalidade na obra de Nina Rodrigues: Uma história psicossocial dos estudos raciais no Brasil do
final do século XIX. Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v.15, n.3, p.1118-1135, 2015.
Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/19431/14107 Acesso
em: 9 de novembro de 2022.

13
à questão de classe social, o enquadramento carcerário nacional contribuiu
muito para um sistema que prende mais preto, pardo e pobre. No entanto,
parece difícil caracterizar a presença da antropologia criminal e da sociologia
criminal no Brasil apenas como mais um caso de importação equivocada de
ideias. Distante de se apresentarem apenas como "ideias fora do lugar" ou
como simples modismo da época, as novas teorias criminológicas pareciam
responder às urgências históricas que se colocavam para certos setores do
jurídico nacional, cujo olhar sempre apresentou uma perspectiva elitista.
Diante do exposto, a ideia da causa que mobiliza a criminalidade não
está relacionada somente a um único fator, ou seja, o crime não decorre
apenas de um determinado segmento. É uma abordagem complexa, pois a
criminalidade no Brasil é fruto de diversas motivações que contribuem para
essa problemática social.
O Código Penal brasileiro foi promulgado em 1940 e passou a vigorar
em 1942, tendo, como origem, o projeto de Alcântara Machado, embasado por
uma legislação eclética que não se vinculava a nenhuma corrente ou escola
que debatia os problemas penais.
A Legislação Penal de 1940 permanece em vigor até os dias atuais e
recebeu complementações importantes, como a Lei das Contravenções Penais
em 1941, em vigor, e demais leis penais, como o Código Penal Militar e a Lei
de Execução Penal em 1984 para especificar e regular a execução das penas
e medidas de segurança.
O direito penal brasileiro atua por meio de princípios constitucionais para
resguardar os direitos fundamentais e os bens jurídicos relacionados e para
assegurar o cumprimento de todas as transações ao longo de sua evolução.
No entanto, o desenvolvimento de uma visão criminológica no Brasil é morosa.
As razões para esse comportamento devem ser analisadas, desde a opção
ideológica da criminologia crítica até as dificuldades políticas enfrentadas, que
ocasionam certa inércia de natureza sócio-cultural. A lentidão é ideológica.

14
4. ESCRAVIDÃO, RACISMO E SISTEMA PENAL

O crime é uma construção social, na medida em que as sociedades são


construídas sob bases da coisificação dos desejos e “ter” é o único verbo com
significado real para a existência do indivíduo no meio societário. Portanto, o
crime, na modernidade, também, tem uma natureza fortemente relacionada à
classe social. Claro que não se estão excluindo outras modalidades, tais como
feminicídio, pedofilia, estupro, racismo etc. A prisão, nessa concepção,
reproduz a realidade social e aprofunda a desigualdade. A verdadeira relação
entre cárcere e sociedade é entre quem exclui e quem é excluído. No Brasil,
essa é uma realidade que, desde a colonização e a escravidão, se faz
fortemente presente. Mesmo com a melhoria da filosofia do sistema penal
brasileiro a partir de 1830, a “cara” do público que frequenta as cadeias no país
tem cor. Dados do 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em
2020, confirmam que 66,7% da população carcerária são pretas e pardas.
(REINACH, 2020). Sem considerar que o Brasil tem a terceira maior população
carcerária do mundo, ficando atrás, somente, dos Estados Unidos e Rússia.6
A pesquisadora Amanda Pimentel, associada do Fórum de Segurança
Pública, tem um trabalho sobre o tema em questão e, em uma reportagem do
portal g1, diz que, além das condições que levam os negros a serem mais
encarcerados do que os brancos, existe também o tratamento desigual dentro
do sistema judiciário.

As prisões dos negros acontecem em razão das condições sociais,


não apenas das condições de pobreza, mas das dificuldades de
acesso aos direitos e a vivência em territórios de vulnerabilidade, que
fazem com que essas pessoas sejam mais cooptadas pelas
organizações criminosas e o mundo do crime. Mas essas pessoas
também são tratadas diferencialmente dentro do sistema de justiça.
Réus negros sempre dependem mais de órgãos como a Defensoria
Pública, sempre têm números muito menores de testemunhas. Já os
brancos não dependem tanto da Defensoria, conseguem apresentar
mais advogados, têm mais testemunhas. É um tratamento diferencial
no sistema de justiça. Os réus negros têm muito menos condições

6
Para mais informações, acessar https://www.bbc.com/portuguese/internacional-
58851195#:~:text=O%20Brasil%2C%20que%20ocupa%20a,primeiro%20e%20segundo%20colocados
%2C%20 Acesso em: 9/11/2022.

15
que os réus brancos.(ACAYABA; REIS, 2020)

O racismo na sociedade brasileira começa na rua e termina na cadeia ou


no cemitério. Quando a escravidão foi instaurada no país com a chegada dos
portugueses, primeiro com os povos originários, depois com os negros, trouxe
uma carga simbólica de negação do outro na sua condição mais fundamental
que é o de existir como gente. Quando o Estado normatiza o direito de
escravizar e matar, ele introduz no seio da sociedade o racismo estrutural, que
sequela essa parcela da população e naturaliza o ambiente da discriminação.
O sistema penal brasileiro tem cor predominantemente negra e é isso
que constrói a nossa realidade. Portanto, não se pode negar que a escravidão
deixou seu legado. Essa parte afeta as classes mais baixas da população em
um verdadeiro sistema que seleciona e estigmatiza os corpos negros, sendo a
extensão do período colonial até a abolição. Durante o pós-escravidão, a
população negra brasileira foi jogada à própria sorte, ficando à margem da
sociedade. Ruas e favelas se multiplicaram com pessoas que não foram
devidamente absorvidas pelo mercado. Desse modo, não houve espaço para
os negros e os indígenas, que concerne à formação da elite brasileira, fato que
reverbera até os dias atuais.
É fundamental frisar que o processo de aprisionamento da população
preta reflete decisivamente o caráter do racismo estrutural, sobretudo, na sua
condição de classe. O racismo pode ser desdobrado em processo político e
processo histórico. O racismo é processo político, porque depende do Estado
para influenciar a sociedade e é processo histórico, porque as condições para
sua instituição e permanência foram sendo materializadas ao longo do tempo.
O sistema carcerário não é apenas uma forma de corrigir um sujeito por
um ato infracional cometido, mas também é uma forma de desumanização e
exclusão da humanidade e da pessoa que venha cometer um delito. Isso se
deve, principalmente, pela próprio desenvolvimento histórico da construção das
penas no direito. Para Foucault (1987), a prisão servia para manter os corpos
“dóceis”, obedecendo às lógicas do meio social. As prisões se mostram como o
local onde a redenção e a inclusão do marginalizado se tornam verdadeiros
mitos e o número de reincidentes se transforma em regras concretas. Essa
16
precariedade do sistema prisional, mesclada com o racismo, faz com que
muitos desses “segregados pela raça” permaneçam na mesma posição social.
Mesmo dentro de um quadro geral de transformações ocorridas no
período que vai do final do século XIX ao início do XX, com a libertação da mão
de obra escrava e a possibilidade de acesso a alguns direitos, a tentativa de
um debate que tinha como centro de discussão a troca de status jurídico do
negro e, especialmente, a possibilidade do exercício da cidadania pouco
avançou. As classes dominantes dos grandes centros do país, inclusive, no
meio intelectual, impulsionadas pelas teorias da Escola Positiva Italiana, tendo
como representante o Nina Rodrigues, mantiveram a ordem anterior, ou seja,
as ações visaram reproduzir os mecanismos de discriminação já existentes.
Por isso, é necessária uma mudança profunda no pensamento político-cultural
não apenas da elite, mas de toda a população. E isso só é possível com
educação pública de qualidade e conscientização política. É fundamental
também que seja feita uma mudança estrutural do sistema penal brasileiro, em
que se adote um viés de humanização e ressocialização do sujeito,
especialmente no próprio sistema prisional, com a instituição de políticas
públicas direcionadas a essa finalidade O objetivo é implementar melhores
condições de trabalho para os agentes e estratégias e ferramentas de
reintrodução do infrator à sociedade.

5. SOCIOLOGIA DA PUNIÇÃO E DINÂMICAS DO ENCARCERAMENTO NO


BRASIL ATUAL

A expansão da violência urbana e do hiperencarceramento das pessoas


revela a importância das relações entre ordens institucionais e
desenvolvimento econômico e social. A punição é uma condição cultural,
portanto, seu papel e dinâmica na vida devem ser encarados como fenômeno
social.
Dada a complexidade em que as teias sociais vão se constituindo na

17
sociedade contemporânea, se faz necessário que os recursos, sejam eles
formais e informais, mobilizados pelos agentes públicos para a gestão do
cotidiano prisional sejam discutidos, tendo em vista as alterações que se
processaram nesse espaço, a partir da emergência de novas dinâmicas
criminais e de novos padrões de relação dessas dinâmicas com as forças
repressivas. Esse quadro se deve à decisiva presença, no final do século XX,
de grupos organizados na prisão, que vêm normatizando comportamentos,
aplicando punições aos indivíduos, competindo, portanto, com outras instâncias
reguladoras e, com isso, ampliando, simultaneamente, as malhas de controle e
punição sobre os encarcerados. Portanto, a punição extrapola o âmbito do
Estado, o agente constituído legalmente para esse fim, sendo compartilhada,
de maneira ilegal, por essas organizações que dispõem de regras e condutas
próprias e que desafiam o Estado constituído. A incapacidade da sociedade em
encontrar mecanismos eficazes de combate ao crime, bem como em produzir a
ressocialização desses indivíduos são fatores que explicam essa situação.
Analisar alternativas à prisão como única forma punitiva para
determinados crimes é algo a se considerar devido ao alto índice de
encarcerados e à ineficácia estatal. Para os pesquisadores Souza e Azevedo:

O argumento é conduzido a partir da problematização de duas


perspectivas acerca das alternativas penais no Brasil: primeira, a de
que a implementação de alternativas penais à prisão representou um
rompimento com a centralidade do cárcere na política criminal
brasileira; segunda, a de que as alternativas penais apenas reforçam
essa centralidade. A primeira perspectiva é problematizada a partir de
análises que buscaram avaliar os efeitos das alternativas penais nos
níveis de encarceramento A segunda é problematizada a partir das
análises que apontam as diversas tendências político-criminais no
Brasil, desde a emergência de alternativas penais à prisão, em
1984,e das análises que apontam as diferentes configurações
adotadas pelas instituições penais, conforme as concepções de crime
e de sujeito criminalizado que as orientam. (SOUZA; AZEVEDO,
2015, p.115)

O motivo central dessa discussão é em função da deficiência na


recuperação da maioria dos infratores em função dada a dinâmica do
encarceramento no Brasil atualmente, que acaba por tornar o presídio uma
fábrica de mais delinquentes e de injustiça, visto que os que saem, definitiva ou

18
temporariamente, por já terem cumprido a pena, retornam e, às vezes, com
outros indivíduos na condição de réu primário.
A de se considerar que a Lei nº 7.209/84 reformou a parte geral do
Código Penal e introduziu a possibilidade de substituição da pena privativa de
liberdade aplicada aos crimes culposos e daquelas de até um ano aplicadas
aos crimes dolosos pelas penas restritivas de direitos que estabelecia. Naquele
momento, as penas restritivas de direitos eram a prestação de serviços à
comunidade, as interdições temporárias de direitos e a limitação de fim de
semana. Além disso, tornou-se possível substituir a pena privativa de liberdade
aplicada, não superior a seis meses, por multa. A referida lei ampliou também
as possibilidades de suspensão condicional da pena e integrou esse instituto
às penas restritivas de direitos criadas.
No ano de 1998, em fevereiro, a Lei nº 9.605 estabeleceu hipóteses
diferenciadas de aplicação de penas restritivas de direitos quando se tratasse
de crimes ambientais. Além da prestação de serviços à comunidade e da
interdição temporária de direitos, previstas para os demais crimes, a Lei nº
9.605 incluiu como penas restritivas de direitos aplicáveis aos autores de
infrações penais ambientais a suspensão parcial ou total de atividades, a
prestação pecuniária e o recolhimento domiciliar e, nos casos em que o agente
fosse pessoa jurídica, a suspensão parcial ou total de atividades, a interdição
temporária de estabelecimento, obra ou atividade e a proibição de contratar
com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações.
O limite da pena privativa de liberdade aplicada passível de substituição nesses
casos, por sua vez, passou de um para quatro anos. Souza (2014) adianta que
a expansão da aplicação de penas e medidas diversas da prisão ocorreu após
o ano 2000. A baixa aplicação inicial poderia ser creditada a um erro de
planejamento ou implementação. No entanto, a leitura da exposição de motivos
do Projeto de Lei n. 1.656/84 permite perceber que esse não era apenas um
resultado esperado, mas desejado.
Portanto, pode-se concluir que alternativas existem e que, muita vezes, faltam
aplicação (boa vontade política) e melhor aprimoramento nas condições carcerárias
brasileiras.

19
6. VIOLÊNCIA: PRINCIPAIS ASPECTOS

O conceito de violência é considerado complexo por muitos autores,


visto que, para defini-lo, é necessário acionar vários elementos, posições
teóricas e maneiras diversas de solução ou eliminação, uma vez que, por
existirem inúmeras formas de manifestação, acaba sendo complexo apresentar
uma definição definitiva. Em uma perspectiva filosófica, a prática da violência
expressa atos contrários à liberdade e à vontade de alguém e reside nisso sua
dimensão moral e ética. Hanna Arendt se propõe a questionar a violência nos
domínios da política. Fazendo referência a Georges Sorel, a pesquisadora
afirma que os problemas da violência permanecem obscuros, havendo
consenso entre os estudiosos de que “a violência nada mais é do que a mais
flagrante manifestação de poder” (ARENDT, 1985, p.19 apud PAVIANI, 2016,
p.13)
Por um lado, o termo parece indicar algo fora do estado natural, algo
ligado à força, ao ímpeto, ao comportamento deliberado que produz danos
físicos, tais como ferimentos, tortura, morte ou danos psíquicos, e que produz
humilhações, ameaças, ofensas.
Por outro lado, é necessário elencar os principais aspectos da violência
para que se tenha uma real dimensão da sua abrangência tanto no sentido real
quanto no figurado, a fim de tipificá-la, em particular no Brasil. A desigualdade
social é um aspecto relevante a se considerar em função do alto índice de
pobreza que atinge grande parte da população brasileira:

O Brasil é muito mal colocado em relação ao índice de


desenvolvimento humano (IDH), levando-se em conta o seu potencial.
Apesar de termos um índice relativamente alto de IDH (0,761 em
2019, numa escala que vai de 0 a 1), estamos na 79º posição no
ranking. Dois fatores provocam a nossa queda no IDH: a violência e
um elemento que provoca a violência, a saber, a concentração de
renda. (PORFÍRIO, s/d)7

7
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/violencia-no-brasil.htm Acesso em:
9/11/2022.

20
Outro fator de risco que lidera as causas da violência no Brasil é a
maneira, muitas vezes equivocada, de se combater o tráfico de drogas, cujas
ações acabam por formentar confrontos entre facções criminais, dentro e fora
dos presídios, entre essas facções e as forças policiais. Essas ações vitimam
civis e policiais, em sua maioria, jovens, pobres e negros da periferia. O
combate às drogas no país tem que ser observado não somente sob o olhar
que todos envolvidos são criminosos contumazes. Fundamental reintegrar
esses indivíduos, sobretudo, os mais jovens. Muitos policiais e agentes
penitenciários moram em comunidades, onde o tráfico de entorpecentes é uma
realidade, ficam expostos em função da sua condição laboral, sobremaneira,
nas abordagens realizadas. Imperativo políticas públicas com viés de
ressocialização e fomento de cursos oferecidos aos agentes de segurança
como práticas preventivas de abordagem e conscientização de suas ações,
capazes de separ o joio do trigo.
Um segundo fato de risco que impacta os índices de violência no Brasil é
a violência doméstica e familiar, que aporta elementos de natureza física,
psicológica, moral, sexual e patrimonial. Todas essas dimensões implicam
consequência civil e penal para quem comete a violência.
Quando se discutem os aspectos da violência no país, é fundamental
destacar que se trata de um fenômeno que se manifesta tanto na cidade como
no campo, entre jovens, adultos e idosos, sem distinção de cor, raça, sexo,
credo, condição social e econômica. Entretanto, é fundamental ressaltar
também que a desigualdade da sociedade brasileira é um fator de destaque em
relação a todos esses aspectos elencados.
A violência no Brasil é uma questão de saúde pública. Segundo a
definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência se caracteriza
pelo

uso intencional da força física ou do poder, real ou potencial, contra si


próprio, outras pessoas ou contra um grupo ou uma comunidade, que
resulte ou tenha grande possibilidade de resultar uma lesão, morte,
dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação.

21
(REZENDE, s/d)8

Por fim, é fundamental considerar, quando se aborda o fenômeno da


violência, homofobia, racismo, infanticídio, xenofobia, feminicídio, fluxos
migratórios e tantas outras manifestações produzidas pela e na modernidade,
como crimes cibernéticos que dispõem de dispositivos próprios. A violência,
como conceito único, se multiplica no tempo e no espaço, apresentando
diferentes manifestações na medida em que a sociedade se torna cada vez
mais complexa.

7. CONTROLE E REPRESSÃO NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE MODERNA

O controle social é o conjunto de mecanismos de intervenção que cada


sociedade ou grupo social possui e é usado como forma de garantir o
comportamento dos indivíduos em comunidade. Esses mesmos mecanismos
servem como forma de intervenção diante das possíveis mudanças que, por
acaso, venham a se desenrolar no meio social. Nesse caso, as ferramentas de
controle social induzem a conformidade do sujeito com a sua nova realidade,
de forma positiva ou não.
A sociedade de controle ganha notoriedade no final do século XVIII e
início do século XIX. Instalou-se nessa época o chamado Poder Panóptico, cuja
ideia fundamentava-se na vigilância contínua dos indivíduos, a fim de tornar
possível o pleno controle de todos. Além disso, representava um novo ponto de
vista do poder; um poder que, em vez de punir um indivíduo que praticasse
qualquer ato ou infração, teria suas ações previstas, antevistas pelo sistema.
No ano de 1948, o escritor inglês George Orwell lançou o livro 1984 e
previu que a sociedade do futuro seria toda vigiada por câmeras. Em sua obra,
o autor destaca que as pessoas ficariam sob a vigia constante de uma

8
Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/violencia-urbana-no-
brasil.htm#:~:text=Tipos%20de%20viol%C3%AAncia&text=%E2%80%9C%5B%E2%80%A6%5D%
20uso%20intencional%20da,problemas%20de%20desenvolvimento%20ou%20priva%C3%A7%C3%A
3o.%E2%80%9D Acesso em: 9/11/2022.

22
televisão, denominada de O Grande Irmão, ou Big Brother, termo muito
difundido no Brasil devido aos realitys shows transmitidos pelas redes de
televisão brasileira, em particular pela Rede Globo, cujo programa leva o
mesmo nome Big Brother.
Nos anos 1970, o filósofo francês Michel Foucault foi um dos grandes
estudiosos dos modelos de poder da sociedade moderna, baseados na
vigilância total, com grande destaque para o panoptismo, conceito que significa
a "visão do todo" sob a perspectiva da sociedade disciplinar. O autor, em sua
obra Vigiar e Punir, descreve o objeto de vigilância:

Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar


um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar.
Pelo efeito da contraluz, pode-se perceber da torre, recortando-se
exatamente sobre a claridade, as pequenas silhuetas cativas nas
celas da periferia. Tantas jaulas, tantos pequenos teatros, em que
cada ator está sozinho, perfeitamente individualizado e
constantemente visível (FOUCAULT, 1987, p.223-224)

Trata-se do Panapticon, de Bentham, que é o modelo de um edifício


arquitetônico em que idealmente se poderia vigiar e controlar as ações de
todos os presos. Porém, de maneira ilustrativa, Foucault nos oferece a ideia do
seu funcionamento nas prisões, que simbolicamente dão a devida dimensão de
como funcionaria na sociedade de modo geral, visionariamente descrita por
George Orwell.
Contextualizar a Sociedade de Controle é importante para entender o
seu fundamento e o que existia antes. O que prevalecia no passado era a
sociedade disciplinar, cujo auge, segundo Foucault se deu no final do século
XIX e início do século XX. A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, surgiram
elementos que definiram um novo tipo de sociedade. Essas transformações
são identificadas pelo escritor Gilles Deleuze. Ele aponta mudanças ocorridas
no mundo capitalista.
Sociedade de Controle foi um termo cunhado por Deleuze para
caracterizar um tipo de sociedade, que vinha se desenvolvendo após a
Segunda Guerra Mundial como uma espécie de desdobramento da sociedade
disciplinar. Se, na sociedade disciplinar, havia em cada instituição práticas

23
isoladas, enfatizando aspectos isolados do ser humano, como a loucura, as
relações familiares, o estudo, o trabalho, na sociedade de controle, os muros
institucionais caem e a vida como um todo é organizada no campo social. Nas
sociedades disciplinares, o modelo Panóptico é dominante, implica o
observador estar de corpo presente e em tempo real a observar e a vigiar. Nas
sociedades de controle, essa vigilância torna-se rarefeita e virtual. É importante
observar que na sociedade de controle, o aspecto disciplinar não desaparece,
apenas muda-se a atuação das instituições. Só surge a sociedade de controle,
porque a sociedade disciplinar entra em crise. Segundo Deleuze, os sujeitos
não estão indispensavelmente encerrados em recintos fechados, como ocorria
na disciplinar, o controle é exercido em campo aberto. Assim, se nas
sociedades disciplinares os corpos eram moldados segundo um padrão fixo
produzido, nas sociedades de controle o modelo é renovado rapidamente,
criando-se uma necessidade de formação permanente dos indivíduos.
A filosofa Marilena Chaui, em seu livro Simulacro e poder: uma análise
da mídia, escreve com propriedade sobre os perigos da acumulação e
distribuição das informações, que tanto representa nossa sociedade atual:

Muitos têm apontado alguns dos perigos da acumulação e


distribuição das informações. Um primeiro perigo é o poder de
controle sobre as pessoas porque, a partir de informações parciais e
dispersas recolhidas em vários arquivos, é possível gerar novas
informações que sistematizam as primeiras e permitem reconstituir
hábitos, interesses e movimentos dos indivíduos, como é o caso
bastante simples da reconstituição das ações de alguém por meio das
centrais telefônicas, que podem dizer para quem alguém telefonou,
quantas vezes, por quanto tempo etc. O segundo é a posse de
informações por pessoas não autorizadas, que entram em contato
com informações sigilosas tanto no setor público (informações
militares, econômicas, políticas) como da vida privada (por exemplo,
as contas bancárias). O terceiro está na possibilidade de uso das
informações por poderes privados para controlar pessoas e
instituições, assim como para causar-lhes dano (espionagem
industrial e política, ação dos senhores do crime organizado, que
usam as informações para praticar sequestros, chantagens,
assassinatos). (CHAUÍ, 2006, p.59-60)

A vigilância de massa de todo e qualquer indivíduo é elemento


marcadamente presente nas sociedades de controle. A falta de privacidade de
qualquer cidadão atinge a todos, sejam as pessoas potenciais criminosos ou ou

24
não. As preocupações com relação à sociedade de controle dizem respeito à
maneira como ela tem se tornado invasiva, transformando-se em um controle
sem controle, pois a vida vira uma vitrine real onde, sem exceção, todos veem
e são vistos. Quando passamos em diversos lugares, é comum encontrar
placas: “Sorria, você está sendo filmado.” Trata-se da representação mais
fidedigna da sociedade contemporânea e de controle em que vivemos.
Considerando-se o mundo cada vez mais complexo em que vivemos, a
tendência é se ampliem os aparatos de controle social.

8. PRINCIPAIS CAUSAS DA VIOLÊNCIA NO BRASIL

É essencial analisar as causas da violência no Brasil sob as


perspectivas de natureza estrutural e sistêmica. São exemplos dessas
perspectivas as profundas desigualdades sociais, a falta de oportunidades para
as camadas mais pobres da população, a ausência e a negligência do Estado,
o sistema judiciário com suas falhas, o aumento da circulação de armas e o
tráfico de drogas.
A violência é estrutural, porque não é natural. Para Minayo, “caracteriza-
se pelo destaque na atuação das classes, grupos ou nações econômica ou
politicamente dominantes, que se utilizam de leis e instituições para manter sua
situação privilegiada, como se isso fosse um direito natural”.9
Já a violência sistêmica nasce da prática do autoritarismo,
profundamente enraizada, mesmo em países com legislações democráticas.
No Brasil, tem raízes históricas e socialmente produzidas na formação da
sociedade brasileira desde a colonização. A Coroa portuguesa valia-se da
violência para escravizar indígenas e negros bem como para manter a
centralidade política e a unidade territorial. No império não era diferente; prova
disso foram as rebeliões por emancipação política, como Sabinada, Farroupilha

9
Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/violencia/violencia.html#:~:text=A%20viol%C3%AAncia%20sist
%C3%AAmica%20brota%20da,encontram%2Dse%20no%20passado%20colonial. Acesso em:
9/11/2022.

25
dentre outras. Mesmo após a proclamação da República, a essência
permaneceu. Durante os períodos de ditadura (Estado Novo de 1937-1945 e
Ditadura Militar de 1964-1985), a violência também foi utilizada como
mecanismo de repressão política, mecanismo esse que não foi desmontado
inteegralmente após a redemocratização do país e a promulgação da
Constituição de 1988. Algumas práticas foram mantidas, como, por exemplo,
na abordagem do aparelho ideológico do Estado, em que a letalidade ainda é
muito alta. A violência do Brasil alimenta a ostentação de poucos com o
sofrimento de muitos, amplia as disparidades sociais, gera pobreza, cerceia
oportunidades e legítimos projetos de vida de uma minoria política e
econômica.
As causas da violência em nosso país têm na desigualdade social um
ponto significativo a partir do qual derivam-se muitas outras violências. O
machismo no Brasil é cultural, portanto, um outro aspecto a ser pontuado, pois,
em consequência disso, ocorrem muitos casos de agressão a mulheres e o
feminicídio. Um terceiro fator de risco, que lidera os índices de violência no
Brasil, é a política de combate às drogas, muitas vezes equivocada. Sobre
esse aspecto, uma das questões problemáticas diz respeito à forma como essa
política é pensada pelo Estado: no caso da abordagem, por exemplo, nao se
considera, ainda, a diferença entre traficante e usuário, o que acaba por
contribuir com o inchaço do sistema presidiário brasileiro.
Sobre a violência na sociedade brasileira, um dado relevante é que
durante a pandemia da Covid-19, a dinâmica do crime diversificou. Enquanto a
violência familiar teve um salto, as restrições de lockdown e distanciamento
social fizeram com que os crimes patrimoniais, que mais afetam a percepção
social de segurança das pessoas, diminuíssem. O crime organizado, por outro
lado, não perdeu força no período: a sua atuação em crimes nas redes sociais
com empregos de abordagens criativas e sofisticadas ganhou relevância.
Outro viés em relação à violência no Brasil que merece destaque diz
respeito aos problemas enfrentados na zona rural. A impunidade pelos crimes
cometidos, a grilagem, a ocupação predatória da terra, a falta de regularização
fundiária (um debate ainda aberto no país quanto à implementação de uma

26
reforma agrária eficiente) são fatores apontados como as principais causas da
violência no campo.
O Brasil é um país urbano, cerca de 85% da sua população vive em
grandes centros urbanos, portanto, é indispensável uma abordagem específica
sobre a violência urbana. A violência urbana é um fenômeno social causado por
problemas estruturais como as desigualdades socioeconômicas, a segregação
urbana, a falta de oportunidades de trabalho e também de acesso a outros
direitos básicos do cidadão, como moradia digna, saúde e educação:

Violência urbana é um fenômeno social que ocorre nas cidades e tem


como causas problemas de ordem estrutural como as desigualdades
socioeconômicas, a segregação urbana e a falta de oportunidades
para a garantia de uma vida digna no espaço urbano. Os índices de
violência urbana no Brasil cresceram consideravelmente a partir da
segunda metade do século XX, e a sua ocorrência é registrada em
cidades de todas as regiões do país. A solução para esse problema
demanda medidas de curto, médio e longo prazo do poder público,
principalmente aquelas capazes de assegurar cidades mais justas e
seguras. (GUITARRARA, s/d)10

Por ser um fenômeno social, a violência também apresenta uma


natureza estrutural. As manifestações de violência, em diferentes formatos e
nuances, são observadas em cidades de todo o mundo, indistintamente, sejam
grandes metrópoles globais, como, Nova Yorque nos Estados Unidos, sejam
cidades de porte médio como, Nova Lima em Minas Gerais, ou cidades
pequenas. A diferença está na proporcionalidade das ocorrências.
Por esse motivo, muitas causas da violência urbana estão arraigadas no
processo histórico de formação de determinados agrupamentos sociais,
incluindo, a constituição socioterritorial de um país, a maneira como a
urbanização se processou, e, consequentemente, a segregação do espaço
urbano. Tais elementos, de algum modo, contribuíram para o aprofundamento
das desigualdades socioeconômicas e para a exclusão de uma parcela da
população.
A principal causa da violência urbana é a desigualdade socioeconômica

10
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/violencia-urbana.htm Acesso em:
9/11/2022.

27
que se apresenta em diversas sociedades, em particular a brasileira, e se
manifesta, sobretudo, por meio da má distribuição de renda entre a população,
acarretando fome, miséria e a falta de acesso a serviços e direitos
fundamentais básicos para o indivíduo que lhes asseguram uma vida digna,
como moradia, saneamento, saúde e educação. As pessoas nessas condições
perdem o sentido de pertencimento. Em muitos casos, a criminalidade é seu
refúgio, na medida em que o Estado lhes dá as costas.
O Atlas da Violência, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), revela que foram registrados 45.503 homicídios no país em
2021, uma taxa de aproximadamente 21,7 a cada 100 mil habitantes. Desse
total, 77% correspondem a pessoas negras. É significativa também a violência
contra populações indígenas nos municípios onde há terras demarcadas;
contra a população LGBTQIA+, que registrou aumento de 9,8% entre 2018 e
2019; e a violência de gênero, que vitimou mais de 50 mil mulheres entre 2009
e 2019.
Por fim é de extrema importância compreender que para desafogar o
sistema carcerário brasileiro é necessário implementar políticas públicas de
inclusão que comecem, na ponta, a incluir os desassistidos para reduzir as
desigualdades; garantam melhores estruturas para os agentes públicos de
segurança. Além disso, é necessário um novo olhar do Estado para
compreender as violências e os crimes ocorridos no Brasil, otimizando,
inclusive os recursos gastos.
Os dados atestam a situação com números. Na sequência, mais
informações permitem traçar um panorama complementar:

Alguns indicadores mostram a precariedade dos sistemas de


contenção da violência. Cerca de 2.000 roubos ocorrem diariamente
na Grande São Paulo e em menos de 3% os assaltantes são presos
no momento do crime. Se mesmo assim há um explosivo crescimento
de nossa população carcerária é porque não basta prender. As
estratégias reativas da polícia e os métodos obsoletos de
investigação não estão conseguindo conter significativamente o
grande volume de crimes. No Rio de Janeiro, apenas 1% dos
homicídios chega a ser esclarecido pelos trabalhos de investigação,
segundo revelação do Ministério Público. Se essa "eficiência" da
polícia e da justiça for dobrada, a um custo impagável, o volume de
crimes mal será afetado. Esse retrato da impotência de nosso sistema
de controle criminal é revelador da necessidade de uma profunda

28
reforma no sistema de prevenção criminal e não apenas isso, é
necessário que as causas da violência também sejas adequadamente
tratadas, sem o que a crise da segurança pública no País não será
alterada significativamente. 11

Portanto, diante do exposto, é possível depreender que as causas da


violência são diversas: carências das populações de baixa renda, tolerância
cultural aos desvios sociais, polícia ineficiente, legislação criminal defasada,
estrutura e processos judiciários obsoletos, sistema prisional caótico, polícias
sem treinamento eficiente, salários incompatíveis com a importância de suas
funções, emprego de tecnologia de informação incipiente.

9. ÍNDICES DE CRIMINALIDADE: DO CONTEXTO NACIONAL AO


CONTEXTO LOCAL

O Brasil registrou 47.503 homicídios ao longo de 2021, equivalente a


130 mortes por dia. O número representa uma queda se comparado aos
índices de criminalidade de 2020 e é o menor registrado desde 2011. Já em
2022, o número de assassinatos no país caiu 5% nos primeiros meses. Foram
20.126 mortes, segundo o Monitor de Violência em parceria com o Núcleo de
Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O levantamento, segundo o Portal g1, considerou as vítimas de
homicídios dolosos, quando há intenção de matar, incluindo feminicídios,
latrocínios (roubos seguidos de morte) e lesões corporais seguidas de morte.
Para entender como os índices brasileiros continuam altos, a Síria, um país em
guerra, contabilizou 3.746 mortos em 2021, segundo o Observatório Sírio de
Direitos Humanos (OSDH). Esse número é consideravelmente mais baixo do
que em 2020, ano em que já se havia registrado o menor valor da última
década. Segundo esta ONG, 1.505 dos mortos eram civis e desses 360
menores de idade. Trata-se, de longe, do menor balanço de vítimas desde o

11
Disponível em: http://inf.ufes.br/~fvarejao/cs/Violencia.htm Acesso em: 9/11/2022.

29
início do conflito no país, confirmando uma tendência de queda já observada
em 2020, com 6.800 mortos, contra 10.000 óbitos em 2019. O Observatório
relata que 297 pessoas foram mortas por minas terrestres e por outros restos
explosivos.
A criminalidade no Brasil é um problema persistente que atinge direta ou
indiretamente a população. O país tem níveis acima da média mundial no que
se refere a crimes violentos.
Para o sociológo Émile Durkheim, em qualquer sociedade, seja de
qualquer tipo e de qualquer época, haverá crime, por isso ele não é algo
patológico. O delito faz parte da vida coletiva enquanto elemento funcional da
fisiologia e não da patologia da vida social. Somente em caso de crescimento
excessivo, o crime é considerado patológico. Para essa linha de pensamento
sociológico, a criminalidade é um fator que mantém a saúde pública, uma parte
integrante de qualquer sociedade, algo que afeta crenças, valores, normas e
sentimentos dos indivíduos, portanto afeta a consciência coletiva. A violência é
“um ato é criminoso quando ofende os estados fortes e definidos da
consciência coletiva” (DURKHEIM, 2004, p. 50-51). Considerando-se que a
criminalidade no Brasil oscila muito para menos e que os índices permanecem
altos, é fundamental refletir sobre se não estaríamos no estágio patológico da
vida social.
Com relação ao Estado de Minas Gerais, o índice de homicídios no ano
de 2022, primeiro semestre, atingiu números impressionantes. Segundo
reportagem do jornal Estado de Minas, os últimos dados do Observatório de
Segurança Pública da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública
(Sejusp), indicam que março foi o mês mais violento no primeiro trimestre do
ano, com 236 mortes por armas de fogo ou outros. No terceiro mês de 2022,
houve crescimento de 33% de crimes contra a vida em relação a janeiro e de
22% num comparativo com fevereiro. A matéria aponta outras questões como
fatores relevantes para se considerar o aumento da taxa de criminalidade.
Frederico Marinho, professor de sociologia da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), é integrante do Centro de Estudos de Criminalidade e
Segurança Pública (Crisp) e explica que os homicídios têm uma dinâmica

30
própria.

As variações podem estar relacionadas a motivações diferentes, como


disputas pelo controle de regiões de tráfico de drogas, feminicídio, crimes de
trânsito e outros. Assim, qualquer hipótese sobre o aumento dos homicídios
exigiria uma análise das motivações identificadas.
Os dados precisam ser estudados pelos poderes públicos e pela
universidade. Se a tendência entre janeiro e março for mantida no decorrer
do ano, observaremos um aumento muito grande dos índices de
criminalidade, em especial dos crimes ao patrimônio. (GODIM, 2022) 12

Segundo o pesquisador Marinho, a maior circulação de pessoas nos


centros urbanos pode ter relação com o crescimento da criminalidade: “A
hipótese é que a retomada do fluxo de trabalhadores, mercadorias e de
dinheiro que circulam em uma cidade grande e urbana como Belo Horizonte
após a pandemia explique esse aumento” (GODIM, 2022)13.
De modo geral, as questões relacionadas ao tráfico de drogas,
feminicídio e crimes de trânsito se destacam. Mas, o feminicídio vem
ganhando notoriedade: Minas Gerais é o estado que teve mais feminicídios em
todo o país no ano de 2021. Segundo o 16º Anuário Brasileiro de Segurança
Pública, em 2021, aos menos 154 pessoas morreram pelo simples fato de
pertencerem à condição feminina. Em relação a 2020, o aumento foi de três
casos. Já no Brasil, o Anuário aponta queda de 1,7%. Ao todo, foram 1.341
feminicídios em 2021 contra 1.354 em 2020. No topo do ranking, além de
Minas, aparecem os estados de São Paulo, com 136 casos, e Rio Grande do
Sul, com 96 casos. Na ponta oposta, está o Amapá, com 4 casos.
Considerando-se o cenário e os índices de feminicídio e o fato que
mulheres e meninas são, na maioria dos casos, assassinadas por
homens de seus vínculos familiares ou afetivos, a flexibilização da
posse de armas poderá agravar a situação. Nesse sentido, é importante a
realização de campanhas de conscientização por parte do poder público no

12
Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2022/05/16/interna_gerais,1366894/numero-de-
homicidios-em-minas-gerais-tem-forte-aumento-desde-janeiro.shtml Acesso em: 9/11/2022.
13
Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2022/05/16/interna_gerais,1366894/numero-de-
homicidios-em-minas-gerais-tem-forte-aumento-desde-janeiro.shtml Acesso em: 9/11/2022.

31
intuito de desestimular tal prática perniciosa e, em última instância, a aplicação
da Lei Maria da Penha. O feminicídio é uma doença e, como tal, precisa ser
combatida desde a sua origem.
Entende-se, portanto, que o crime é polissêmico e, para cada situação, é
necessário um “remédio” específico, com mobilização das redes de
organização da sociedade civil e com a presença do Estado para que, assim,
sejam reduzidos os altos índices de criminalidade na sociedade brasileira.

10. IMPACTOS SOCIAIS DA VIOLÊNCIA NA SOCIEDADE BRASILEIRA

A violência, quando endêmica numa sociedade, é capaz de produzir


consequências maléficas que resultam em prejuízos individuais e sociais, que
vão desde atraso no crescimento econômico das regiões e impactos na saúde
pública a efeitos nocivos à saúde física e mental das vítimas, das pessoas que
se encontram em seu entorno (parentes e amigos) e da sociedade em geral.
Com relação à vítima, segundo Christian Kristensen, professor do Programa de
Pós-Graduação em Psicologia da Escola de Humanidades da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), quem passa por
situações traumáticas corre o risco de desenvolver uma série de reações que,
com o tempo, podem se transformar em transtornos mentais. Dentre os mais
comuns, há quatro: Transtorno de Estresse Agudo, Transtorno de Estresse
Pós-Traumático (TEPT) e os quadros associados de ansiedade e transtorno de
humor. A manifestação de TEPT é uma das consequências da violência, com
alto custo em termos de saúde pública. “As pessoas passam anos sofrendo,
sem necessariamente receber o diagnóstico correto. Estudos mostram que
levam, em média, 11 anos entre a ocorrência do evento estressor e a busca por
tratamento efetivo”, destaca Kristensen.14

14
Para mais informações sobre o assunto, acessar a matéria completa publicada pela Revista

32
O que se entende por endemia é uma doença habitual que atinge
grande parcela de uma população. Epidemia é uma doença passageira ou
transitória. A violência que caracteriza a sociedade brasileira, há mais de 500
anos com a chegada dos portugueses, não é passageira, ao contrário, é
permanente, duradoura, diária. Em outras palavras, é endêmica. Faz parte do
Estado, da sociedade dominante, assim como da própria população segregada
e isolada, principal vítima de sistemas excludentes. Temos na nossa
constituição uma tradição de segregação que precisa ser repensada para que
se avance em melhorias na qualidade de vida, com índices de criminalidade
que estejam nos níveis de sociedades desenvolvidas.
Quando a violência se naturaliza, fazendo parte do cenário societário, a
sensação que se transmite é da sua legitimidade e de tudo que se relaciona a
ela. O baixo Índice de Desenvolvimento Humano do país é uma semente
pródiga para criminalidade. Os baixos salários, o desemprego e a recessão
aumentam a miséria e a violência social. A violência pode não ser desejada
pela sociedade civil, mas é desejada pelo Estado, quando não existe um
esforço nacional para se fomentar a participação dessa sociedade civil em um
debate sério sobre o tema.
A violência pode ser tomada como sinônimo de defesa. Ela é uma
agressão de defesa. Um povo desassistido, com medo, humilhado, intimidado
e atemorizado, até pela propaganda da violência, não participa da discussão do
problema que atinge a todos, sobretudo, os mais vuneravéis. Nessa situação,
consciente ou inconscientemente, parece haver uma intenção daqueles que
estão no poder a fim de afastar as pessoas da participação social, política e
econômica. Isso vem ao encontro desse sistema que privilegia uma minoria.
Por isso, a violência, muitas vezes, é estimulada por aqueles que estão no
comando para se manterem no poder. Há tanto medo nas pessoas que o
fantasma da violência indica uma presença constante no seu cotidiano.
A violência, além de ser um constrangimento físico e/ou moral, é um ato
vergonhoso presente em todos os lugares do Brasil. As pessoas saem às ruas,
pouco seguras de que irão voltar para casa. Muitas pessoas morrem e deixam

PUCRS no link https://www.pucrs.br/revista/os-efeitos-da-violencia/ Acesso em:

33
famílias em sofrimento, devido a um assalto, a uma bala perdida ou a outra
causa de violência. Há uma sensação geral de desconfiança e medo por parte
da população. A desconfiança é a moeda da insegurança no mundo atual.
Aliado a isso, formou-se no âmago da sociedade brasileira, uma
sensação de que a impunidade prevalece, na maioria das vezes. Além disso,
há os desavisados que acreditam que existe uma brecha entre a legislação
destinada a proteger os direitos humanos e a sua implementação, o que
favoreceria os criminosos. Existe uma discussão mal resolvida no Brasil sobre
esse assunto: entre os que defendem que os direitos humanos beneficiam
bandidos e aqueles que acreditam que, para que a impunidade tenha fim, os
responsáveis por crimes contra os direitos humanos devem ser levados a
prestar contas dos seus atos perante um tribunal. É essencial, entretanto,
separar os lados dessa controvérsia: direitos humanos é uma garantia de todo
cidadão e a impunidade precisa ser combatida.
É imprescindível observar que há uma discussão mais ampla, na qual a
responsabilidade é crucial na luta pelos direitos humanos. O Estado brasileiro é
responsável, perante a lei internacional, pela garantia de que o país cumpra os
tratados internacionais de direitos humanos dos quais é signatário. O Estado
brasileiro também é responsável, perante a opinião pública internacional, pois o
respeito aos direitos humanos é uma obrigação moral que perpassa as
fronteiras nacionais. Por isso, o Estado brasileiro deve prestar contas não
somente à comunidade internacional, mas, sobretudo, ao brasileiro e estar
atento a todos os impactos sociais decorrentes da violência na nossa
sociedade.

11. AS DIFERENTES FORMAS DE VIOLÊNCIA E SEUS EFEITOS

O tema proposto neste último tópico é ilustrativo, porque as discussões


anteriores foram devidamente esclarecedoras a respeito do assunto. Mas, é
importante compreender, para efeito didático, que existem diferentes tipos de

34
violência. Os diversos tipos de violência diferem a partir da forma como se
manifestam. Ocorrem a partir da utilização de força física ou poder sobre si
mesmo, pessoa ou grupo, causando algum tipo de dano. As formas de
violência podem ser classificadas como: violência física, psicológica, moral,
sexual, econômica e social. Os próprios atos de violência podem utilizar um ou
mais tipos de violência. Como, por exemplo, nos casos de violência doméstica
em que, geralmente, os atos de violência física podem vir acompanhados de
violência psicológica, moral, sexual ou econômica.
Quando alguém diz “fulano partiu para a ignorância”, pode estar se
referindo à agressão física, mas isso pode significar também gritar, bater na
mesa, ameaçar, intimidar, cercear, chantagear, obrigar a algo ou violar. Trata-se
de ignorância, de fato - no caso, dos limites da outra pessoa. É um sentido que
coaduna com a definição de violência defendida por Alba Zaluar uma
antropóloga especializada no assunto. Segundo a pesquisadora, violência vem
do latim vis, que significa força. E complementa: "essa força se torna violência
quando ultrapassa um limite ou perturba acordos tácitos, regras que ordenam
relações, adquirindo carga negativa ou maléfica.”15
Os principais tipos de violência podem ser assim classificados:
1. Violência física: A violência física ocorre pela utilização da força
física sobre alguém. Tapas, socos, chutes, puxões, empurrões ou a utilização
de algum artefato com o objetivo de impor-se pelo uso da força física, oprimir,
ferir ou causar qualquer tipo de dano físico.
2. Violência psicológica e moral: A violência psicológica e moral se
caracteriza pela utilização de palavras ou atos ofensivos como forma de
agressão. Humilhação, exposição, xingamentos, opressão e submissão fazem
com que a vítima seja coagida sem a necessidade de utilização da força física.
3. Violência sexual: A violência sexual ocorre quando os atos de
violência assumem um caráter sexual. Assédios, abusos, violações e estupros
são considerados atos de violência sexual. Esses casos ocorrem quando não

15
Disponível em: https://www.serpro.gov.br/menu/noticias/noticias-2018/violencia-nao-se-limita-
a-agressao-fisica#:~:text=Cinco%20tipos%20de%20viol%C3%AAncia,-
A%20Lei%20Maria&text=E%20que%20lhe%20cause%20dano,em%20espa%C3%A7os%20p%C3%B
Ablicos%20como%20privados. Acesso em: 9/11/2022.

35
há o consentimento entre as partes ou quando a vítima é incapaz de se opor ao
ato. Como nos casos de violência contra crianças, idosos, pessoas com déficits
cognitivos, ou temporariamente inaptas.
4. Violência econômica: A violência patrimonial ou econômica ocorre
quando a propriedade ou os meios de subsistência são negados ou retirados
por uma pessoa ou grupo. Furtos, roubos, subtrações ou impedimentos podem
ser caracterizados como esse tipo de violência. Em alguns casos de violência
contra a mulher, o agressor utiliza-se da dependência financeira da vítima para
oprimi-la e subjugá-la.
5. Violência social: A violência social ocorre pela utilização da força de
um grupo social sobre outro. Discriminação, preconceito, desrespeito às
diferenças, intolerância ou submissão de um grupo é entendido como violência
social.
6. Violência doméstica: A violência doméstica ocorre dentro do núcleo
familiar. Pode ser causada por companheiros, parentes ou tutores. Dentro
dessa tipificação, predominam os casos de violência contra a mulher e os
casos de violência contra crianças. Cada categoria recebe uma atenção
diferente do Estado a partir de leis e formas de prevenção.
7. Violência contra a mulher: A violência contra a mulher pode ocorrer
dentro das relações de conjugalidade (casamento legal ou relacionamento
íntimo) e as tipificações e punições para os agressores estão previstas na Lei
Maria da Penha (Lei 11.340/06). Entretanto, é necessário perceber que a
violência contra a mulher também pode ocorrer fora do lar ou fora de qualquer
tipo de relação de intimidade. Os atos dessa forma de violência podem ser
causados por pessoas conhecidas ou estranhos, nas ruas, em ambientes de
trabalho, em zonas de convívio etc.
8.Violência contra a criança: A violência contra a criança ocorre dentro
ou fora do lar, a partir da imposição de castigos físicos à criança. Outras formas
de violência decorrem de intimidação e persuasões.
Como forma de coibir o uso de castigos físicos contra as crianças, no
Brasil, foi publicada a chamada Lei da Palmada (Lei 13010/14). A partir dela,
agressores podem ser punidos de diversas formas. Nos casos de pais e

36
responsáveis legais, as punições podem chegar até a perda da guarda. Outras
formas de violência contra a criança são o bullying e o cyberbullying, em que
crianças e adolescentes sofrem humilhação na escola ou em redes sociais.
Não menos importante o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
regulamentado pela Lei n° 8069 de 13 de julho de 1990 é considerado o
principal marco legal e regulátorio dos direitos das crianças e adolescentes no
Brasil tem um papel importante em salvaguardar esse público.
Os efeitos da violência são diversos na sociedade e incindem,
decisivamente, sobre a vida dos indivíduos. Quando não minimizadas, as
consequências são danosas, pois, além das implicações sociais já referidas,
também provocam profundas feridas de cunho psicológico nas vítimas. O
estudo realizado pela pesquisadora Alice Barone de Andrade sobre como a
violência impacta negativamente a percepção do brasileiro sobre sua saúde
mostrou que violências comunitárias são as que ocorrem em espaços públicos
e incluem desigualdades sociais, falta de acesso à educação, à saúde, à
segurança pública e à justiça. Segundo a pesquisadora, “o sentimento de
insegurança e o medo interferem no padrão de comportamento dos indivíduos,
que podem desenvolver depressão, comportamento agressivo, transtorno de
estresse pós-trauma, síndrome do pânico e dores crônicas.” (FERREIRA,
2020)
A pesquisa foi baseada em dados coletados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), em inquérito da Pesquisa Nacional da Saúde –
PNS 2013, que contém informações da população brasileira de ambos os
sexos, maiores de 18 anos, com domicílio em todo o território nacional. Da
amostra investigada, cerca de 5,44% relataram ter sofrido pelo menos um tipo
de violência. A pesquisadora levantou a hipótese, em seus estudos, de que
sintomas depressivos tenderiam a aparecer após a exposição do indivíduo a
situações de violência e os resultados confirmaram essa hipótese, uma vez que
71% das pessoas pesquisadas desenvolveram depressão.
Desse modo, é ponto pacífico que a violência endêmica não só gera
problemas para a sociedade, mas também para a pessoa enquanto sujeito
social. A solução para esse problema deve prever a abordagem de diferentes

37
perspectivas: social, econômica, política, sistema prisional e psicológica.

38
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