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Compreensão Histórica, Econômica e Social Da Violência
Compreensão Histórica, Econômica e Social Da Violência
MINAS GERAIS
2023
1
SUMÁRIO
1. CONCEITO .................................................................................................................4
REFERÊNCIAS ............................................................................................................39
2
Ementa: Compreensão histórica, econômica e social do fenômeno da
violência. Análise de circunstâncias, causas e consequências.
3
1. CONCEITO
1
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
03942006000300009#:~:text=A%20viol%C3%AAncia%20foi%20definida%20pela,morte%2C%20dan
%20ps%C3%ADquico%2C%20altera%C3%A7%C3%B5es%20do Acesso em: 09/11/2022.
2
Disponível em: https://sociologiadodireitounesp.blogspot.com/2018/04/o-fato-da-violencia-
social.html Acesso em: 09/11/2022.
4
contra a sua vontade, quando sofre intimidação de qualquer natureza; no
âmbito do isolamento social, se manifesta quando se proibe o uso de meios de
comunicação; na esfera dos cuidados de saúde, quando se veta o acesso a
tratamentos, hospitais, clínicas; no âmbito profissional e quando se pratica
assédio moral.
Uma das expressões de máxima violência é o feminicídio, ou seja, o
homicídio praticado contra a mulher em decorrência do fato de ela ser mulher
(misoginia e menosprezo pela condição feminina ou discriminação de gênero,
fatores que também podem envolver violência sexual) ou em decorrência de
violência doméstica. A lei 13.104/15, mais conhecida como Lei do Feminicídio,
alterou o Código Penal brasileiro, incluindo como qualificador do crime de
homicídio o feminicídio.
5
A ação do homem sobre a natureza não é pacífica, mas perpassada pela
agressividade: na caça e na pesca; na confecção de vestimentas que lhe
abrigam no frio; nos cercamentos (demarcação de territórios); no
estabelecimento dos clãs, tribos ou castas; e até mesmo na formação familiar e
na proteção de seus membros. O desenvolvimento da construção do ser
humano, como indivíduos dotados de organicidade, foi revestido sob algum
grau de violência. As grandes civilizações da Idade Antiga construíram o seu
legado não apenas desenvolvendo sistemas políticos e jurídicos, mas também
se valendo das guerras. O primeiro período, denominado de Idade Antiga,
compreende um espaço de tempo que vai de 5.000 a.C. até o século IV d.C.
Nessa época, civilizações ascenderam e caíram. Algumas estenderam os seus
impérios por vastas regiões, enquanto outras se restringiram a uma atividade
política com espaço mais restrito, mas, em regra, o uso da prática de controle
foi se aperfeiçoando de acordo com as crenças e os costumes. Com efeito,
talvez a característica mais marcante da Idade Antiga não seja os períodos de
fundamentação da pena, mas a sua forma de execução. Na China, por
exemplo, as penas variavam da pena de morte para homicídio e da castração
para o estupro. Penas como o espancamento não eram estranhas. Na Índia, as
penas de multa eram destinadas às pessoas hierarquicamente superiores, que
ficaram eximidas das penas corporais. No Egito, a revelação de segredos era
punida com a amputação da língua.(CALDEIRA, 2009). A brutalidade na
Antiguidade, com relação às penas, de acordo com os parâmetros atuais, era
de natureza vil e cruel, reproduzida e aclamada pela prática aos suplícios. Tal
prática, quando passou a ser de interesse público, estatal e centralizado, não
mais realizado por terceiros (pena de vingança privada), sugestionava uma
maior segurança à sociedade. A aplicação da pena a partir desse momento
evoluiu e ultrapassou a figura da vítima e do criminoso, tornando-se um
espetáculo executado em público para satisfação da própria população. Michel
Foucault (2002) demonstra essa natureza do espetáculo da punição na
passagem a seguir:
Enquanto era feita a leitura da sentença de condenação, estava de pé
no cadafalso, sustentado pelos carrascos. Era horrível aquele
espetáculo: enquanto em grande mortalha, a cabeça coberta por um
crepe, o parricida estava fora do alcance dos olhares da silenciosa
6
multidão. E sob aquelas vestes, misteriosas e lúgubres, a vida só
continuava a se manifestar através dos gritos horrorosos, que se
extinguiram logo, sob o facão. (FOUCAULT, 2002, p.19)
7
consolidou na Mesopotâmia quando Hamurabi governou o primeiro império
babilônico entre 1792 e 1750 a.C. Esse código se baseava na Lei do Talião,
que punia um criminoso de forma semelhante ao crime cometido, ou seja, “olho
por olho, dente por dente”. Alguns exemplos, para ilustrar o funcionamento do
código na antiguidade:
3
Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/hamurabi.htm Acesso em: 9/11/2022.
8
originou-se a palavra “penitenciária”, considerada como a grande contribuição
desse período da história para a teoria da pena. As práticas punitivas ainda
possuíam cunho perverso, mas, com o advento das prisões, criam-se novos
princípios de administração ou aplicação em seus cerimoniais, acarretando,
assim, mudanças nas penas e na forma de executá-las.
9
Segundo Beccaria:
3. A CRIMINOLOGIA BRASILEIRA
10
O Brasil, até 1830, não tinha um código penal próprio por ser, ainda,
uma colônia de Portugal. Submetia-se às Ordenações Filipinas, que, em seu
livro V, trazia o rol de crimes e penas que seria aplicado no país. Entre as
penas, estavam previstas as de morte, confisco de bens, multa e, ainda, penas
como humilhação pública do réu, herança herdada da Antiguidade e Idade
Média. Não existia a previsão de privação de liberdade como pena.
Em 1824, com a nova constituição, o Brasil começa uma reforma no
sistema punitivo. Esse código se baseava no Código Francês e no Código
Napolitano para criar uma individualização da pena, com a existência de
situações atenuantes e agravantes, de modo a estabelecer um julgamento
especial aos menores de 14 anos. Além do mais, todas as penas de açoite,
tortura, ferro quente e outras penas cruéis foram extintas. As cadeias deveriam
ser limpas e arejadas e deveria haver separação dos réus de acordo com as
circunstâncias e a natureza dos crimes. Uma observação importante é que a
abolição das penas cruéis não contemplava os escravos.
Diante do exposto, a ideia da causa que motiva a criminalidade não está
elencada somente a um fator impulsionador, ou seja, o crime não decorre
apenas de um determinado segmento. É uma abordagem difícil e complexa,
pois a criminalidade no Brasil é fruto de determinados motivos que contribuem
para essa problemática social.
Com o advento do Estado Novo, quase um século depois, o então
Ministro Francisco Campos determinou que o professor Alcântara Machado
elaborarasse um anteprojeto do Código Penal. Em agosto, foi publicado o
Projeto de Código Criminal Brasileiro4. Após algumas alterações, foi
sancionado em 1940 o código penal brasileiro.
O Brasil, enquanto um projeto de pensamento social, se deu na segunda
metade do século XIX, em função da incorporação dos debates intelectuais e
de ideias cientificistas vindas, principalmente, da Europa. A escola positivista foi
a doutrina que mais influenciou parte de historiadores e cientistas sociais no
Brasil. No entanto, outras doutrinas também ocuparam seu espaço ideológico,
4
Para maiores informações, acessar https://www.aurum.com.br/blog/codigo-penal-
brasileiro/#origem-do-codigo-penal-brasileironbsp
11
tais como versões do evolucionismo, do materialismo, das teorias raciais,
dentre outras, que se fizeram presentes e marcaram significativamente o
debate intelectual acerca da sociedade brasileira até meados da década de
1930, quando se iniciou o processo de afirmação das ciências sociais, que
culminou com o surgimento da sociologia como ciência no país.
No direito penal brasileiro, a influência positivista se fez presente,
obviamente, não desconsiderando demais doutrinas. As escolas penais foram
correntes filosófico-jurídicas que buscaram firmar teses sobre o crime e a figura
do delinquente. A Escola Clássica, de inspiração Iluminista, visou propiciar ao
homem uma defesa contra o arbítrio do Estado. O Positivismo Jurídico vem
para contrapor-se ao Jusnaturalismo (séculos XVII e XVIII), que defende que o
direito é independente da vontade humana, ele existe antes mesmo do homem
e acima das leis do homem; para os jusnaturalistas, o direito é algo natural e
tem como pressupostos os valores do ser humano e a busca por um ideal de
justiça. A Escola Positivista (século XIX), corrente que defendia o direito como a
lei de único valor e emanada a partir do Estado, encarou o crime sob a ótica
sociológica e o criminoso tornou-se alvo de investigações biopsicológicas. É
importante destacar que a Escola Positivista foi um reflexo, no campo penal, do
pensamento positivista de Comte, Darwin e Spencer.
Das ideias que obtiveram grande repercussão intelectual entre as
últimas décadas do oitocentos e as primeiras do novecentos no Brasil,
destacam-se as da antropologia criminal ou da criminologia, elaboradas na
Europa, sobretudo, a partir dos trabalhos do italiano Cesare Lombroso, que
influenciou fortemente a escola positivista ou positivismo evolucionista e
acreditava que o crime era um fenômeno biológico e não um ente jurídico,
como defendiam os clássicos. O criminoso era tido como um selvagem,
portanto, já nascia delinquente. Nesse ínterim, Lombroso relacionava o
delinquente nato ao atavismo. Logo, características físicas e morais poderiam
ser observadas nesse indivíduo. De acordo com essa atribuição, o delinquente
nato possuía uma série de estigmas degenerativos, comportamentais,
psicológicos e sociais que o reportavam ao comportamento semelhante de
certos animais, plantas e a tribos primitivas selvagens (LOMBROSO, 2010, p.
12
43-44).
A doutrina de Lombroso teve ascendência sobre teóricos brasileiros,
entre eles Raimundo Nina Rodrigues, cuja atuação na Medicina Legal foi
ampla: desde a organização sanitária até a psiquiatria forense. Destacam-se
seus trabalhos sobre antropologia física e criminal e psiquiatria forense. Com
foco, principalmente, no tema da criminalidade racial, Nina Rodrigues analisou
vários casos de delitos, envolvendo negros, índigenas e mestiços, nos quais
corpos, cabeças, mentes e histórias de vida dos sujeitos eram avaliados
visando desvendar as motivações de seus crimes. O seu livro As Raças
Humanas, que o autor considerava um "simples ensaio de psicologia criminal
brasileira" (Rodrigues, 1957, p.24), foi fundamentado, sobretudo, nas aulas que
ministrava na disciplina de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Bahia.
O livro tinha como propósito apresentar as modificações que as condições de
raça imprimiriam à responsabilidade penal, assim como criticar o Código Penal
Brasileiro de 1890.5
Nina Rodrigues defendeu um tratamento diferenciado para negros,
índigenas e mestiços – produtos das chamadas raças inferiores – no Código
Penal Brasileiro. Seu argumento partia do pressuposto de que haveria uma
diferença fundamental entre as raças no que se referia à sua constituição
mental:
5
Para maiores informações sobre Nina Rodrigues, ver o artigo RODRIGUES, M. F. Raça e
criminalidade na obra de Nina Rodrigues: Uma história psicossocial dos estudos raciais no Brasil do
final do século XIX. Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v.15, n.3, p.1118-1135, 2015.
Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/19431/14107 Acesso
em: 9 de novembro de 2022.
13
à questão de classe social, o enquadramento carcerário nacional contribuiu
muito para um sistema que prende mais preto, pardo e pobre. No entanto,
parece difícil caracterizar a presença da antropologia criminal e da sociologia
criminal no Brasil apenas como mais um caso de importação equivocada de
ideias. Distante de se apresentarem apenas como "ideias fora do lugar" ou
como simples modismo da época, as novas teorias criminológicas pareciam
responder às urgências históricas que se colocavam para certos setores do
jurídico nacional, cujo olhar sempre apresentou uma perspectiva elitista.
Diante do exposto, a ideia da causa que mobiliza a criminalidade não
está relacionada somente a um único fator, ou seja, o crime não decorre
apenas de um determinado segmento. É uma abordagem complexa, pois a
criminalidade no Brasil é fruto de diversas motivações que contribuem para
essa problemática social.
O Código Penal brasileiro foi promulgado em 1940 e passou a vigorar
em 1942, tendo, como origem, o projeto de Alcântara Machado, embasado por
uma legislação eclética que não se vinculava a nenhuma corrente ou escola
que debatia os problemas penais.
A Legislação Penal de 1940 permanece em vigor até os dias atuais e
recebeu complementações importantes, como a Lei das Contravenções Penais
em 1941, em vigor, e demais leis penais, como o Código Penal Militar e a Lei
de Execução Penal em 1984 para especificar e regular a execução das penas
e medidas de segurança.
O direito penal brasileiro atua por meio de princípios constitucionais para
resguardar os direitos fundamentais e os bens jurídicos relacionados e para
assegurar o cumprimento de todas as transações ao longo de sua evolução.
No entanto, o desenvolvimento de uma visão criminológica no Brasil é morosa.
As razões para esse comportamento devem ser analisadas, desde a opção
ideológica da criminologia crítica até as dificuldades políticas enfrentadas, que
ocasionam certa inércia de natureza sócio-cultural. A lentidão é ideológica.
14
4. ESCRAVIDÃO, RACISMO E SISTEMA PENAL
6
Para mais informações, acessar https://www.bbc.com/portuguese/internacional-
58851195#:~:text=O%20Brasil%2C%20que%20ocupa%20a,primeiro%20e%20segundo%20colocados
%2C%20 Acesso em: 9/11/2022.
15
que os réus brancos.(ACAYABA; REIS, 2020)
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sociedade contemporânea, se faz necessário que os recursos, sejam eles
formais e informais, mobilizados pelos agentes públicos para a gestão do
cotidiano prisional sejam discutidos, tendo em vista as alterações que se
processaram nesse espaço, a partir da emergência de novas dinâmicas
criminais e de novos padrões de relação dessas dinâmicas com as forças
repressivas. Esse quadro se deve à decisiva presença, no final do século XX,
de grupos organizados na prisão, que vêm normatizando comportamentos,
aplicando punições aos indivíduos, competindo, portanto, com outras instâncias
reguladoras e, com isso, ampliando, simultaneamente, as malhas de controle e
punição sobre os encarcerados. Portanto, a punição extrapola o âmbito do
Estado, o agente constituído legalmente para esse fim, sendo compartilhada,
de maneira ilegal, por essas organizações que dispõem de regras e condutas
próprias e que desafiam o Estado constituído. A incapacidade da sociedade em
encontrar mecanismos eficazes de combate ao crime, bem como em produzir a
ressocialização desses indivíduos são fatores que explicam essa situação.
Analisar alternativas à prisão como única forma punitiva para
determinados crimes é algo a se considerar devido ao alto índice de
encarcerados e à ineficácia estatal. Para os pesquisadores Souza e Azevedo:
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temporariamente, por já terem cumprido a pena, retornam e, às vezes, com
outros indivíduos na condição de réu primário.
A de se considerar que a Lei nº 7.209/84 reformou a parte geral do
Código Penal e introduziu a possibilidade de substituição da pena privativa de
liberdade aplicada aos crimes culposos e daquelas de até um ano aplicadas
aos crimes dolosos pelas penas restritivas de direitos que estabelecia. Naquele
momento, as penas restritivas de direitos eram a prestação de serviços à
comunidade, as interdições temporárias de direitos e a limitação de fim de
semana. Além disso, tornou-se possível substituir a pena privativa de liberdade
aplicada, não superior a seis meses, por multa. A referida lei ampliou também
as possibilidades de suspensão condicional da pena e integrou esse instituto
às penas restritivas de direitos criadas.
No ano de 1998, em fevereiro, a Lei nº 9.605 estabeleceu hipóteses
diferenciadas de aplicação de penas restritivas de direitos quando se tratasse
de crimes ambientais. Além da prestação de serviços à comunidade e da
interdição temporária de direitos, previstas para os demais crimes, a Lei nº
9.605 incluiu como penas restritivas de direitos aplicáveis aos autores de
infrações penais ambientais a suspensão parcial ou total de atividades, a
prestação pecuniária e o recolhimento domiciliar e, nos casos em que o agente
fosse pessoa jurídica, a suspensão parcial ou total de atividades, a interdição
temporária de estabelecimento, obra ou atividade e a proibição de contratar
com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações.
O limite da pena privativa de liberdade aplicada passível de substituição nesses
casos, por sua vez, passou de um para quatro anos. Souza (2014) adianta que
a expansão da aplicação de penas e medidas diversas da prisão ocorreu após
o ano 2000. A baixa aplicação inicial poderia ser creditada a um erro de
planejamento ou implementação. No entanto, a leitura da exposição de motivos
do Projeto de Lei n. 1.656/84 permite perceber que esse não era apenas um
resultado esperado, mas desejado.
Portanto, pode-se concluir que alternativas existem e que, muita vezes, faltam
aplicação (boa vontade política) e melhor aprimoramento nas condições carcerárias
brasileiras.
19
6. VIOLÊNCIA: PRINCIPAIS ASPECTOS
7
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/violencia-no-brasil.htm Acesso em:
9/11/2022.
20
Outro fator de risco que lidera as causas da violência no Brasil é a
maneira, muitas vezes equivocada, de se combater o tráfico de drogas, cujas
ações acabam por formentar confrontos entre facções criminais, dentro e fora
dos presídios, entre essas facções e as forças policiais. Essas ações vitimam
civis e policiais, em sua maioria, jovens, pobres e negros da periferia. O
combate às drogas no país tem que ser observado não somente sob o olhar
que todos envolvidos são criminosos contumazes. Fundamental reintegrar
esses indivíduos, sobretudo, os mais jovens. Muitos policiais e agentes
penitenciários moram em comunidades, onde o tráfico de entorpecentes é uma
realidade, ficam expostos em função da sua condição laboral, sobremaneira,
nas abordagens realizadas. Imperativo políticas públicas com viés de
ressocialização e fomento de cursos oferecidos aos agentes de segurança
como práticas preventivas de abordagem e conscientização de suas ações,
capazes de separ o joio do trigo.
Um segundo fato de risco que impacta os índices de violência no Brasil é
a violência doméstica e familiar, que aporta elementos de natureza física,
psicológica, moral, sexual e patrimonial. Todas essas dimensões implicam
consequência civil e penal para quem comete a violência.
Quando se discutem os aspectos da violência no país, é fundamental
destacar que se trata de um fenômeno que se manifesta tanto na cidade como
no campo, entre jovens, adultos e idosos, sem distinção de cor, raça, sexo,
credo, condição social e econômica. Entretanto, é fundamental ressaltar
também que a desigualdade da sociedade brasileira é um fator de destaque em
relação a todos esses aspectos elencados.
A violência no Brasil é uma questão de saúde pública. Segundo a
definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência se caracteriza
pelo
21
(REZENDE, s/d)8
8
Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/violencia-urbana-no-
brasil.htm#:~:text=Tipos%20de%20viol%C3%AAncia&text=%E2%80%9C%5B%E2%80%A6%5D%
20uso%20intencional%20da,problemas%20de%20desenvolvimento%20ou%20priva%C3%A7%C3%A
3o.%E2%80%9D Acesso em: 9/11/2022.
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televisão, denominada de O Grande Irmão, ou Big Brother, termo muito
difundido no Brasil devido aos realitys shows transmitidos pelas redes de
televisão brasileira, em particular pela Rede Globo, cujo programa leva o
mesmo nome Big Brother.
Nos anos 1970, o filósofo francês Michel Foucault foi um dos grandes
estudiosos dos modelos de poder da sociedade moderna, baseados na
vigilância total, com grande destaque para o panoptismo, conceito que significa
a "visão do todo" sob a perspectiva da sociedade disciplinar. O autor, em sua
obra Vigiar e Punir, descreve o objeto de vigilância:
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isoladas, enfatizando aspectos isolados do ser humano, como a loucura, as
relações familiares, o estudo, o trabalho, na sociedade de controle, os muros
institucionais caem e a vida como um todo é organizada no campo social. Nas
sociedades disciplinares, o modelo Panóptico é dominante, implica o
observador estar de corpo presente e em tempo real a observar e a vigiar. Nas
sociedades de controle, essa vigilância torna-se rarefeita e virtual. É importante
observar que na sociedade de controle, o aspecto disciplinar não desaparece,
apenas muda-se a atuação das instituições. Só surge a sociedade de controle,
porque a sociedade disciplinar entra em crise. Segundo Deleuze, os sujeitos
não estão indispensavelmente encerrados em recintos fechados, como ocorria
na disciplinar, o controle é exercido em campo aberto. Assim, se nas
sociedades disciplinares os corpos eram moldados segundo um padrão fixo
produzido, nas sociedades de controle o modelo é renovado rapidamente,
criando-se uma necessidade de formação permanente dos indivíduos.
A filosofa Marilena Chaui, em seu livro Simulacro e poder: uma análise
da mídia, escreve com propriedade sobre os perigos da acumulação e
distribuição das informações, que tanto representa nossa sociedade atual:
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não. As preocupações com relação à sociedade de controle dizem respeito à
maneira como ela tem se tornado invasiva, transformando-se em um controle
sem controle, pois a vida vira uma vitrine real onde, sem exceção, todos veem
e são vistos. Quando passamos em diversos lugares, é comum encontrar
placas: “Sorria, você está sendo filmado.” Trata-se da representação mais
fidedigna da sociedade contemporânea e de controle em que vivemos.
Considerando-se o mundo cada vez mais complexo em que vivemos, a
tendência é se ampliem os aparatos de controle social.
9
Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/violencia/violencia.html#:~:text=A%20viol%C3%AAncia%20sist
%C3%AAmica%20brota%20da,encontram%2Dse%20no%20passado%20colonial. Acesso em:
9/11/2022.
25
dentre outras. Mesmo após a proclamação da República, a essência
permaneceu. Durante os períodos de ditadura (Estado Novo de 1937-1945 e
Ditadura Militar de 1964-1985), a violência também foi utilizada como
mecanismo de repressão política, mecanismo esse que não foi desmontado
inteegralmente após a redemocratização do país e a promulgação da
Constituição de 1988. Algumas práticas foram mantidas, como, por exemplo,
na abordagem do aparelho ideológico do Estado, em que a letalidade ainda é
muito alta. A violência do Brasil alimenta a ostentação de poucos com o
sofrimento de muitos, amplia as disparidades sociais, gera pobreza, cerceia
oportunidades e legítimos projetos de vida de uma minoria política e
econômica.
As causas da violência em nosso país têm na desigualdade social um
ponto significativo a partir do qual derivam-se muitas outras violências. O
machismo no Brasil é cultural, portanto, um outro aspecto a ser pontuado, pois,
em consequência disso, ocorrem muitos casos de agressão a mulheres e o
feminicídio. Um terceiro fator de risco, que lidera os índices de violência no
Brasil, é a política de combate às drogas, muitas vezes equivocada. Sobre
esse aspecto, uma das questões problemáticas diz respeito à forma como essa
política é pensada pelo Estado: no caso da abordagem, por exemplo, nao se
considera, ainda, a diferença entre traficante e usuário, o que acaba por
contribuir com o inchaço do sistema presidiário brasileiro.
Sobre a violência na sociedade brasileira, um dado relevante é que
durante a pandemia da Covid-19, a dinâmica do crime diversificou. Enquanto a
violência familiar teve um salto, as restrições de lockdown e distanciamento
social fizeram com que os crimes patrimoniais, que mais afetam a percepção
social de segurança das pessoas, diminuíssem. O crime organizado, por outro
lado, não perdeu força no período: a sua atuação em crimes nas redes sociais
com empregos de abordagens criativas e sofisticadas ganhou relevância.
Outro viés em relação à violência no Brasil que merece destaque diz
respeito aos problemas enfrentados na zona rural. A impunidade pelos crimes
cometidos, a grilagem, a ocupação predatória da terra, a falta de regularização
fundiária (um debate ainda aberto no país quanto à implementação de uma
26
reforma agrária eficiente) são fatores apontados como as principais causas da
violência no campo.
O Brasil é um país urbano, cerca de 85% da sua população vive em
grandes centros urbanos, portanto, é indispensável uma abordagem específica
sobre a violência urbana. A violência urbana é um fenômeno social causado por
problemas estruturais como as desigualdades socioeconômicas, a segregação
urbana, a falta de oportunidades de trabalho e também de acesso a outros
direitos básicos do cidadão, como moradia digna, saúde e educação:
10
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/violencia-urbana.htm Acesso em:
9/11/2022.
27
que se apresenta em diversas sociedades, em particular a brasileira, e se
manifesta, sobretudo, por meio da má distribuição de renda entre a população,
acarretando fome, miséria e a falta de acesso a serviços e direitos
fundamentais básicos para o indivíduo que lhes asseguram uma vida digna,
como moradia, saneamento, saúde e educação. As pessoas nessas condições
perdem o sentido de pertencimento. Em muitos casos, a criminalidade é seu
refúgio, na medida em que o Estado lhes dá as costas.
O Atlas da Violência, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), revela que foram registrados 45.503 homicídios no país em
2021, uma taxa de aproximadamente 21,7 a cada 100 mil habitantes. Desse
total, 77% correspondem a pessoas negras. É significativa também a violência
contra populações indígenas nos municípios onde há terras demarcadas;
contra a população LGBTQIA+, que registrou aumento de 9,8% entre 2018 e
2019; e a violência de gênero, que vitimou mais de 50 mil mulheres entre 2009
e 2019.
Por fim é de extrema importância compreender que para desafogar o
sistema carcerário brasileiro é necessário implementar políticas públicas de
inclusão que comecem, na ponta, a incluir os desassistidos para reduzir as
desigualdades; garantam melhores estruturas para os agentes públicos de
segurança. Além disso, é necessário um novo olhar do Estado para
compreender as violências e os crimes ocorridos no Brasil, otimizando,
inclusive os recursos gastos.
Os dados atestam a situação com números. Na sequência, mais
informações permitem traçar um panorama complementar:
28
reforma no sistema de prevenção criminal e não apenas isso, é
necessário que as causas da violência também sejas adequadamente
tratadas, sem o que a crise da segurança pública no País não será
alterada significativamente. 11
11
Disponível em: http://inf.ufes.br/~fvarejao/cs/Violencia.htm Acesso em: 9/11/2022.
29
início do conflito no país, confirmando uma tendência de queda já observada
em 2020, com 6.800 mortos, contra 10.000 óbitos em 2019. O Observatório
relata que 297 pessoas foram mortas por minas terrestres e por outros restos
explosivos.
A criminalidade no Brasil é um problema persistente que atinge direta ou
indiretamente a população. O país tem níveis acima da média mundial no que
se refere a crimes violentos.
Para o sociológo Émile Durkheim, em qualquer sociedade, seja de
qualquer tipo e de qualquer época, haverá crime, por isso ele não é algo
patológico. O delito faz parte da vida coletiva enquanto elemento funcional da
fisiologia e não da patologia da vida social. Somente em caso de crescimento
excessivo, o crime é considerado patológico. Para essa linha de pensamento
sociológico, a criminalidade é um fator que mantém a saúde pública, uma parte
integrante de qualquer sociedade, algo que afeta crenças, valores, normas e
sentimentos dos indivíduos, portanto afeta a consciência coletiva. A violência é
“um ato é criminoso quando ofende os estados fortes e definidos da
consciência coletiva” (DURKHEIM, 2004, p. 50-51). Considerando-se que a
criminalidade no Brasil oscila muito para menos e que os índices permanecem
altos, é fundamental refletir sobre se não estaríamos no estágio patológico da
vida social.
Com relação ao Estado de Minas Gerais, o índice de homicídios no ano
de 2022, primeiro semestre, atingiu números impressionantes. Segundo
reportagem do jornal Estado de Minas, os últimos dados do Observatório de
Segurança Pública da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública
(Sejusp), indicam que março foi o mês mais violento no primeiro trimestre do
ano, com 236 mortes por armas de fogo ou outros. No terceiro mês de 2022,
houve crescimento de 33% de crimes contra a vida em relação a janeiro e de
22% num comparativo com fevereiro. A matéria aponta outras questões como
fatores relevantes para se considerar o aumento da taxa de criminalidade.
Frederico Marinho, professor de sociologia da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), é integrante do Centro de Estudos de Criminalidade e
Segurança Pública (Crisp) e explica que os homicídios têm uma dinâmica
30
própria.
12
Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2022/05/16/interna_gerais,1366894/numero-de-
homicidios-em-minas-gerais-tem-forte-aumento-desde-janeiro.shtml Acesso em: 9/11/2022.
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Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2022/05/16/interna_gerais,1366894/numero-de-
homicidios-em-minas-gerais-tem-forte-aumento-desde-janeiro.shtml Acesso em: 9/11/2022.
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intuito de desestimular tal prática perniciosa e, em última instância, a aplicação
da Lei Maria da Penha. O feminicídio é uma doença e, como tal, precisa ser
combatida desde a sua origem.
Entende-se, portanto, que o crime é polissêmico e, para cada situação, é
necessário um “remédio” específico, com mobilização das redes de
organização da sociedade civil e com a presença do Estado para que, assim,
sejam reduzidos os altos índices de criminalidade na sociedade brasileira.
14
Para mais informações sobre o assunto, acessar a matéria completa publicada pela Revista
32
O que se entende por endemia é uma doença habitual que atinge
grande parcela de uma população. Epidemia é uma doença passageira ou
transitória. A violência que caracteriza a sociedade brasileira, há mais de 500
anos com a chegada dos portugueses, não é passageira, ao contrário, é
permanente, duradoura, diária. Em outras palavras, é endêmica. Faz parte do
Estado, da sociedade dominante, assim como da própria população segregada
e isolada, principal vítima de sistemas excludentes. Temos na nossa
constituição uma tradição de segregação que precisa ser repensada para que
se avance em melhorias na qualidade de vida, com índices de criminalidade
que estejam nos níveis de sociedades desenvolvidas.
Quando a violência se naturaliza, fazendo parte do cenário societário, a
sensação que se transmite é da sua legitimidade e de tudo que se relaciona a
ela. O baixo Índice de Desenvolvimento Humano do país é uma semente
pródiga para criminalidade. Os baixos salários, o desemprego e a recessão
aumentam a miséria e a violência social. A violência pode não ser desejada
pela sociedade civil, mas é desejada pelo Estado, quando não existe um
esforço nacional para se fomentar a participação dessa sociedade civil em um
debate sério sobre o tema.
A violência pode ser tomada como sinônimo de defesa. Ela é uma
agressão de defesa. Um povo desassistido, com medo, humilhado, intimidado
e atemorizado, até pela propaganda da violência, não participa da discussão do
problema que atinge a todos, sobretudo, os mais vuneravéis. Nessa situação,
consciente ou inconscientemente, parece haver uma intenção daqueles que
estão no poder a fim de afastar as pessoas da participação social, política e
econômica. Isso vem ao encontro desse sistema que privilegia uma minoria.
Por isso, a violência, muitas vezes, é estimulada por aqueles que estão no
comando para se manterem no poder. Há tanto medo nas pessoas que o
fantasma da violência indica uma presença constante no seu cotidiano.
A violência, além de ser um constrangimento físico e/ou moral, é um ato
vergonhoso presente em todos os lugares do Brasil. As pessoas saem às ruas,
pouco seguras de que irão voltar para casa. Muitas pessoas morrem e deixam
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famílias em sofrimento, devido a um assalto, a uma bala perdida ou a outra
causa de violência. Há uma sensação geral de desconfiança e medo por parte
da população. A desconfiança é a moeda da insegurança no mundo atual.
Aliado a isso, formou-se no âmago da sociedade brasileira, uma
sensação de que a impunidade prevalece, na maioria das vezes. Além disso,
há os desavisados que acreditam que existe uma brecha entre a legislação
destinada a proteger os direitos humanos e a sua implementação, o que
favoreceria os criminosos. Existe uma discussão mal resolvida no Brasil sobre
esse assunto: entre os que defendem que os direitos humanos beneficiam
bandidos e aqueles que acreditam que, para que a impunidade tenha fim, os
responsáveis por crimes contra os direitos humanos devem ser levados a
prestar contas dos seus atos perante um tribunal. É essencial, entretanto,
separar os lados dessa controvérsia: direitos humanos é uma garantia de todo
cidadão e a impunidade precisa ser combatida.
É imprescindível observar que há uma discussão mais ampla, na qual a
responsabilidade é crucial na luta pelos direitos humanos. O Estado brasileiro é
responsável, perante a lei internacional, pela garantia de que o país cumpra os
tratados internacionais de direitos humanos dos quais é signatário. O Estado
brasileiro também é responsável, perante a opinião pública internacional, pois o
respeito aos direitos humanos é uma obrigação moral que perpassa as
fronteiras nacionais. Por isso, o Estado brasileiro deve prestar contas não
somente à comunidade internacional, mas, sobretudo, ao brasileiro e estar
atento a todos os impactos sociais decorrentes da violência na nossa
sociedade.
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violência. Os diversos tipos de violência diferem a partir da forma como se
manifestam. Ocorrem a partir da utilização de força física ou poder sobre si
mesmo, pessoa ou grupo, causando algum tipo de dano. As formas de
violência podem ser classificadas como: violência física, psicológica, moral,
sexual, econômica e social. Os próprios atos de violência podem utilizar um ou
mais tipos de violência. Como, por exemplo, nos casos de violência doméstica
em que, geralmente, os atos de violência física podem vir acompanhados de
violência psicológica, moral, sexual ou econômica.
Quando alguém diz “fulano partiu para a ignorância”, pode estar se
referindo à agressão física, mas isso pode significar também gritar, bater na
mesa, ameaçar, intimidar, cercear, chantagear, obrigar a algo ou violar. Trata-se
de ignorância, de fato - no caso, dos limites da outra pessoa. É um sentido que
coaduna com a definição de violência defendida por Alba Zaluar uma
antropóloga especializada no assunto. Segundo a pesquisadora, violência vem
do latim vis, que significa força. E complementa: "essa força se torna violência
quando ultrapassa um limite ou perturba acordos tácitos, regras que ordenam
relações, adquirindo carga negativa ou maléfica.”15
Os principais tipos de violência podem ser assim classificados:
1. Violência física: A violência física ocorre pela utilização da força
física sobre alguém. Tapas, socos, chutes, puxões, empurrões ou a utilização
de algum artefato com o objetivo de impor-se pelo uso da força física, oprimir,
ferir ou causar qualquer tipo de dano físico.
2. Violência psicológica e moral: A violência psicológica e moral se
caracteriza pela utilização de palavras ou atos ofensivos como forma de
agressão. Humilhação, exposição, xingamentos, opressão e submissão fazem
com que a vítima seja coagida sem a necessidade de utilização da força física.
3. Violência sexual: A violência sexual ocorre quando os atos de
violência assumem um caráter sexual. Assédios, abusos, violações e estupros
são considerados atos de violência sexual. Esses casos ocorrem quando não
15
Disponível em: https://www.serpro.gov.br/menu/noticias/noticias-2018/violencia-nao-se-limita-
a-agressao-fisica#:~:text=Cinco%20tipos%20de%20viol%C3%AAncia,-
A%20Lei%20Maria&text=E%20que%20lhe%20cause%20dano,em%20espa%C3%A7os%20p%C3%B
Ablicos%20como%20privados. Acesso em: 9/11/2022.
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há o consentimento entre as partes ou quando a vítima é incapaz de se opor ao
ato. Como nos casos de violência contra crianças, idosos, pessoas com déficits
cognitivos, ou temporariamente inaptas.
4. Violência econômica: A violência patrimonial ou econômica ocorre
quando a propriedade ou os meios de subsistência são negados ou retirados
por uma pessoa ou grupo. Furtos, roubos, subtrações ou impedimentos podem
ser caracterizados como esse tipo de violência. Em alguns casos de violência
contra a mulher, o agressor utiliza-se da dependência financeira da vítima para
oprimi-la e subjugá-la.
5. Violência social: A violência social ocorre pela utilização da força de
um grupo social sobre outro. Discriminação, preconceito, desrespeito às
diferenças, intolerância ou submissão de um grupo é entendido como violência
social.
6. Violência doméstica: A violência doméstica ocorre dentro do núcleo
familiar. Pode ser causada por companheiros, parentes ou tutores. Dentro
dessa tipificação, predominam os casos de violência contra a mulher e os
casos de violência contra crianças. Cada categoria recebe uma atenção
diferente do Estado a partir de leis e formas de prevenção.
7. Violência contra a mulher: A violência contra a mulher pode ocorrer
dentro das relações de conjugalidade (casamento legal ou relacionamento
íntimo) e as tipificações e punições para os agressores estão previstas na Lei
Maria da Penha (Lei 11.340/06). Entretanto, é necessário perceber que a
violência contra a mulher também pode ocorrer fora do lar ou fora de qualquer
tipo de relação de intimidade. Os atos dessa forma de violência podem ser
causados por pessoas conhecidas ou estranhos, nas ruas, em ambientes de
trabalho, em zonas de convívio etc.
8.Violência contra a criança: A violência contra a criança ocorre dentro
ou fora do lar, a partir da imposição de castigos físicos à criança. Outras formas
de violência decorrem de intimidação e persuasões.
Como forma de coibir o uso de castigos físicos contra as crianças, no
Brasil, foi publicada a chamada Lei da Palmada (Lei 13010/14). A partir dela,
agressores podem ser punidos de diversas formas. Nos casos de pais e
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responsáveis legais, as punições podem chegar até a perda da guarda. Outras
formas de violência contra a criança são o bullying e o cyberbullying, em que
crianças e adolescentes sofrem humilhação na escola ou em redes sociais.
Não menos importante o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
regulamentado pela Lei n° 8069 de 13 de julho de 1990 é considerado o
principal marco legal e regulátorio dos direitos das crianças e adolescentes no
Brasil tem um papel importante em salvaguardar esse público.
Os efeitos da violência são diversos na sociedade e incindem,
decisivamente, sobre a vida dos indivíduos. Quando não minimizadas, as
consequências são danosas, pois, além das implicações sociais já referidas,
também provocam profundas feridas de cunho psicológico nas vítimas. O
estudo realizado pela pesquisadora Alice Barone de Andrade sobre como a
violência impacta negativamente a percepção do brasileiro sobre sua saúde
mostrou que violências comunitárias são as que ocorrem em espaços públicos
e incluem desigualdades sociais, falta de acesso à educação, à saúde, à
segurança pública e à justiça. Segundo a pesquisadora, “o sentimento de
insegurança e o medo interferem no padrão de comportamento dos indivíduos,
que podem desenvolver depressão, comportamento agressivo, transtorno de
estresse pós-trauma, síndrome do pânico e dores crônicas.” (FERREIRA,
2020)
A pesquisa foi baseada em dados coletados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), em inquérito da Pesquisa Nacional da Saúde –
PNS 2013, que contém informações da população brasileira de ambos os
sexos, maiores de 18 anos, com domicílio em todo o território nacional. Da
amostra investigada, cerca de 5,44% relataram ter sofrido pelo menos um tipo
de violência. A pesquisadora levantou a hipótese, em seus estudos, de que
sintomas depressivos tenderiam a aparecer após a exposição do indivíduo a
situações de violência e os resultados confirmaram essa hipótese, uma vez que
71% das pessoas pesquisadas desenvolveram depressão.
Desse modo, é ponto pacífico que a violência endêmica não só gera
problemas para a sociedade, mas também para a pessoa enquanto sujeito
social. A solução para esse problema deve prever a abordagem de diferentes
37
perspectivas: social, econômica, política, sistema prisional e psicológica.
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REFERÊNCIAS
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aumentam 8%. g1, São Paulo, 09 ago. 2018.
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2018/08/09/brasil-
bate-novo-recorde-e-tem-maior-no-de-assassinatos-da-historia-em-2017.ghtml
Acesso em: 16 de novembro de 2022.
ACAYABA. Cíntia; REIS, Thiago. Proporção de negros nas prisões cresce 14%
em 15 anos, enquanto a de brancos cai 19%, mostra Anuário de Segurança
Pública. g1, São Paulo, 19 out. 2020.
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/10/19/em-15-
anos-proporcao-de-negros-nas-prisoes-aumenta-14percent-ja-a-de-brancos-
diminui-19percent-mostra-anuario-de-seguranca-publica.ghtml Acesso em: 13
de novembro de 2022.
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BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. São Paulo: Hunter Books
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século XIX. Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 15, n. 3,
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Disponível em:
file:///C:/Users/User/Downloads/cernunnos,+souza,+azevedo%20(1).pdf Acesso
em: 09 de novembro de 2022.
44