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Reapcbh v.8 2021
Reapcbh v.8 2021
8
2021
Expediente
Sumário
Agradecimentos 4
Editorial 5-7
DOSSIÊ
A METRÓPOLE EM PRETO E BRANCO: análise das mudanças na paisagem urbana de Belo Horizonte
com base no acervo ASCOM (1947-1967)
Alessandro Borsagli 8-28
PRINCIPAIS ADQUIRENTES DE LOTES DE BELO HORIZONTE 1895-1931: segundo o índice de lotes urbanos
do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH)
Maria Lúcia Prado Costa 51-68
A VOZ DELAS: análise de discursos das representantes da ALEM no acervo audiovisual da CMBH (2001-2005)
Maria Ferraz 69-94
ENTREVISTA
Maria do Carmo Andrade Gomes 95-99
ARTIGOS LIVRES
LUGAR E MEMÓRIA: percepções e vivência escolar no contexto da modernidade no Instituto de
Educação de Minas Gerais, em Belo Horizonte (MG)
Juliana de Lima Caputo
Juliana Lima de Almeida Bastos
Yasmin Sthefany Xavier Almeida Reis 100-118
ENTRE A INTEGRAÇÃO E A FRAGMENTAÇÃO: um olhar para a relação entre Sabará e Belo Horizonte
Ana Lídia de Paula Santos 155-169
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REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513
Editorial
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Partimos para o artigo da historiadora Maria Lúcia Prado Costa, intitulado
“Principais adquirentes de lotes de Belo Horizonte: 1895-1931 segundo o índice de
lotes urbanos do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH)”, que também
tem como fonte de pesquisa os Relatórios dos Prefeitos ao Conselho Deliberativo, que
estão sob a guarda do APCBH. Em seguida, temos o artigo de Maria Ferraz intitulado
“A voz delas: análise de discursos das representantes do movimento lésbico no acervo
audiovisual da CMBH”, que estuda a documentação da Câmara Municipal de Belo
Horizonte, que está sob a guarda do APCBH e disponível para pesquisas. A historiadora
tem como fonte de pesquisa, neste artigo, os registros de falas em gravações de reuniões
da CMBH, um acervo ainda pouco explorado pelos pesquisadores.
Para além do dossiê, a revista traz artigos que refletem sobre Belo Horizonte em
diferentes aspectos, como o trabalho intitulado “Lugar e memória: percepções e
vivência escolar no contexto da modernidade no Instituto de Educação de Minas Gerais,
em Belo Horizonte - MG”, que aborda a relação de alunos e ex-alunos com o IEMG.
Também, nesta edição, temos o artigo “Uma breve cena de movimentos culturais negros
em Belo Horizonte (1995-2019)”, que apresenta as atividades culturais que ganham
cena na capital, no contexto do tricentenário da luta de Zumbi dos Palmares, sendo uma
delas o Festival de Arte Negra (FAN). Em seguida, trazemos o artigo “Futebol é paixão,
Copa do Mundo é negócio: a reforma do Mineirão pelo olhar da imprensa Belo-
Horizontina”, discussão realizada com base nos periódicos jornalísticos da época da
reforma do estádio. O artigo “Entre a integração e a fragmentação: um olhar para a
relação entre Sabará e Belo Horizonte” aborda as relações de Sabará com a capital
mineira, no que se refere à questão da metropolização. Encerrando a seção de artigos
livres, a REAPCBH traz uma homenagem da professora Júlia Calvo, da PUC Minas,
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para o seu falecido pai, Reynaldo Luiz Calvo, trazendo à luz um texto cheio de
reflexões, escrito pelo arquiteto, e guardado há muito anos em sua gaveta.
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A edição comemorativa dos 30 anos do APCBH fecha-se com duas propostas
pedagógicas de uso de documentos, na seção “O Arquivo na Sala de Aula”. As
propostas de Rúbia Dias e Lucimar Lacerda Machado Coelho foram pensadas com o
uso de documentos do acervo do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, que
possui grande potencial para professores e escolas da capital mineira, para tratar de
diversos temas com os estudantes.
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Alessandro Borsagli*1
ABSTRACT: This article approaches the transformations occurred at Belo Horizonte urban landscape
among 1947 to 1967 based on Assessoria de Comunicação Social do Município (ASCOM) collection. This
period is associated to Minas Gerais capital metropolization. In this sense, the analyses of images presented
in the ASCOM collection allowed to divide the records of municipal administration in two period, technical
and populist. The images represent are a great value for the comprehension of changing occurred in the
capital during the metropolization process, in addition, also represented a great value to visual
representation of municipal administration in the analyzed period.
Introdução
A cidade de Belo Horizonte, ao longo dos 124 anos de existência passou por
rápidas e profundas transformações de ordem urbana e ambiental, entre outras
transformações que modificaram de maneira notável a paisagem urbana da capital de
Minas Gerais. Nesse contexto, onde a paisagem é modificada e adaptada de acordo com
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Mestre em Geografia pela PUC Minas, autor do site Curral del Rey e de diversos livros sobre a Geografia
Histórica de Belo Horizonte. E-mail: borsagli@gmail.com
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considerada por parte do meio técnico científico como imagem da realidade (GOLTARA;
MENDONÇA, 2015, p.120).
Os acervos iconográficos que registram as transformações ocorridas na paisagem
de Belo Horizonte podem ser considerados reminiscências de um período de importantes
transformações urbanas, políticas, econômicas e sociais, dentro do qual as fotografias
exercem um papel muito mais complexo do que apenas o papel associado à contemplação,
tornando-se um importante objeto de análise histórica e atestando a mudança paisagística
ocorrida na capital, além de atestar, por meio da imagem, as transformações ocorridas ao
longo das décadas a partir da constante remodelação do espaço.
técnico.
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Nesse contexto, torna-se necessário ainda observar que, com o advento de novas
técnicas, a fotografia a partir da década de 1860 tornou-se cada vez mais popular no
ocidente, cujo interesse atendia não só as camadas menos abastadas da sociedade, mas
também os interesses governamentais, que utilizava a fotografia como propaganda e
registro documental (FATH, 2020). Para Mauad (2005):
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Primeira denominação da nova capital. No ano de 1901 passou a se chamar Belo Horizonte, denominação
herdada do antigo arraial do Curral del Rey, que teve o seu nome alterado no ano de 1890 para arraial de
Belo Horizonte.
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Nesse contexto, observa-se que a partir do ano de 1926, as imagens das obras
realizadas pelas administrações municipais passaram a ilustrar boa parte dos relatórios
anuais apresentados ao Conselho Deliberativo do Município de Belo Horizonte, e após o
ano de 1936, à Câmara Municipal. Os primeiros relatórios ilustrados foram elaborados na
gestão de Christiano Machado (1926-1929) e contemplavam basicamente as obras de
canalização, saneamento e pavimentação de vias (BORSAGLI, 2016a, p.123).
Muitas das fotografias, organizadas em álbuns fotográficos denominados
Calçamento de Ruas de Belo Horizonte, Obras de Canalização e Saneamento Básico de
Belo Horizonte, Aspectos da Cidade de Belo Horizonte, Conjunto de Obras Públicas e
Obras Públicas da Prefeitura de Belo Horizonte durante a gestão de Christiano
Machado, foram enviadas para diversos estados para fins de propaganda, uma vez que o
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presidente do Estado Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, dentro do acordo político entre
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São Paulo e Minas Gerais, que elegeu grande parte dos presidentes do período da
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ao longo das administrações municipais das últimas oito décadas, distribuídas de maneira
regular para os meios de comunicação da capital para fins de divulgação3.
Possivelmente, os registros feitos pela divisão de comunicação social do
município se iniciaram no período do Estado Novo (1937-1945), quando foi criada a
Agência Nacional - órgão responsável pela divulgação dos atos realizados pela
administração federal de Getúlio Vargas (1930-1945) - que produziu imagens durante os
atos do então ditador4. As primeiras imagens do acervo da ASCOM possuem certa
similaridade com as imagens produzidas pela Agência, como visitas às obras de
infraestrutura urbana e eventos específicos, como inaugurações e cerimônias oficiais.
Belo Horizonte era então administrada por Juscelino Kubitscheck de Oliveira
(1940-1945), prefeito nomeado pelo interventor estadual Benedito Valadares (1933-
1945), por sua vez, nomeado por Getúlio Vargas no ano de 1933. Ou seja, a criação de
uma divisão responsável pelo registro e divulgação dos atos municipais nesse período
está em conformidade com os planos federais de difusão e registro dos atos e realizações
federais, fato também observado por Miranda (2015) ao se referir ao surgimento de um
órgão responsável pela comunicação social do município. É importante observar também
que as novas formas de gestão municipal consolidadas após 1930, possivelmente
iniciadas na segunda metade da década de 1920, também contribuíram para a criação da
divisão municipal de comunicação social em Belo Horizonte.
As primeiras imagens identificáveis da ASCOM remetem ao ano de 1947, período
em que Belo Horizonte, pela primeira vez em sua história, realizou eleições para a escolha
do prefeito, até então nomeado pelo governo estadual.
Nesse contexto, o período se caracteriza ainda pela realização das eleições gerais
no Brasil após a queda de Getúlio Vargas, ocorrida entre os anos de 1945 e 1947, onde
em uma das primeiras imagens do acervo da ASCOM (Figura 2) é possível observar as
faixas de cunho político instaladas no vale do ribeirão Arrudas próximo à Estação
Rodoviária e o Abrigo de Motoristas São Cristóvão.
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Muitas das imagens produzidas pelas administrações municipais do período analisado ainda se encontram
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nos acervos fotográficos da imprensa escrita de Belo Horizonte, sem identificação de sua origem.
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Existem muitas imagens das visitas realizadas por Getúlio Vargas e por diversos presidentes da república
a Belo Horizonte nos arquivos da Agência Nacional, onde a similaridade com o acervo iconográfico da
ASCOM é notável.
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Legenda: Perspectiva da ponte da Rua Berilo, demolida no ano de 1981na Lagoinha, 1947.
Fonte: Acervo APCBH/ASCOM
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Legenda: Aspectos das obras de alargamento do canal do córrego do Acaba Mundo e construção da
barragem de detenção nas cabeceiras do mesmo curso d’água, 1949.
Fonte: Acervo APCBH/ASCOM
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Legenda: À esquerda: obras de canalização do córrego do Acaba Mundo no Parque Municipal, 1954. À
direita: trecho recuperado da Estrada dos Borges, bairro Santa Inês no ano de 1954.
Fonte: Acervo APCBH/ASCOM
mas também a população de rua que crescia a cada ano, em Belo Horizonte, devido ao
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acentuado fluxo, em grande parte causado pelo êxodo rural, que levava a migração de
grandes contingentes populacionais para os centros urbanos.
Legenda: À esquerda: cartaz instalado na Vila São Vicente em apoio ao trabalho realizado pelo DBP.
À direita: moradores de rua, possivelmente retirantes, sob o Viaduto de Santa Tereza, 1955.
Fonte: Acervo APCBH/ASCOM
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Legenda: À esquerda: um dos “recantos” construídos para o lazer infantil na Avenida Brasil, 1956.
À direita: prefeito e técnicos analisam o local para a construção da adutora do Rio das Velhas, [1956?].
Fonte: Acervo APCBH/ASCOM
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Legenda: À esquerda: o prefeito com uma ferramenta durante o asfaltamento de vias no bairro Padre
Eustáquio. À direita: o prefeito durante a visita do vice-presidente João Goulart em julho de 1960. À direita
de João Goulart o candidato ao governo do estado Tancredo Neves.
Fonte: Acervo APCBH/ASCOM
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Legenda: (A) Obras de aprofundamento do leito do córrego do Acaba Mundo para a sua posterior
cobertura. (B) Obras de ligação viária entre as Avenidas do Contorno e Andradas na Praça Rui Barbosa,
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1963. (C) Obras de retirada dos trilhos em trecho próximo à Praça Vaz de Melo, 1963. (D) O prefeito
Jorge Carone Filho em palestra a respeito dos resultados obtidos da exploração mineral pela Ferrobel.
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Legenda: (A) Obras de asfaltamento da Avenida Afonso Pena no ano de 1965, ao fundo o prefeito Oswaldo
Pieruccetti e o governador Magalhães Pinto. (B) O prefeito, operários e citadinos observam um curso
d’água canalizado, 1966. (C) Obras de alargamento das alamedas da Praça da Liberdade no primeiro ano
da gestão de Sousa Lima, 1967. (D) Asfaltamento de um trecho da Avenida João Pinheiro após a retirada
das árvores da via, 1967.
Fonte: Acervo APCBH/ASCOM
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Legenda: As imagens, apesar da perspectiva aproximada, são importantes para a compreensão das
alterações ocorridas na paisagem urbana da área central de Belo Horizonte entre os anos de 1947 e 1967.
Fonte: Acervo APCBH/ASCOM
Considerações Finais
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Referências
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Comissão Construtora da Nova Capital (1894-1897). Varia História, n. 30, Belo Horizonte, julho 2003.
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1945. Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 2, p. 24-45, 2015.
____. Rios invisíveis da metrópole mineira. Belo Horizonte, Clube de Autores, 2016a.
____. Belo Horizonte em pedaços: fragmentos de uma cidade em eterna construção. Belo Horizonte, Clube de Autores,
2016b.
____. Sob a sombra do Curral del Rey: contribuições para a história de Belo Horizonte. Belo Horizonte, Clube de
Autores, 2017.
GOLTARA, Giovani Bonadiman; MENDONÇA, Eneida Maria Souza. O emprego da fotografia como método de
análise da transformação da paisagem: o caso de Anchieta. Paisagem e Ambiente: ensaios. n. 36. São Paulo, 2015. p.
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KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. 3. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002.
MAUAD, Ana Maria. Na mira do olhar: um exercício de análise da fotografia nas revistas ilustradas cariocas, na
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MENDES, Ricardo. Once upon a time: uma história da História da Fotografia brasileira. Anais do Museu Paulista. São
Paulo. n 6/7. p. 183-205 (1998-1999). Editado em 2003.
MIRANDA, Thiago Henrique Costa. A trajetória e o tratamento destinado aos negativos 35mm do acervo ASCOM.
Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v.2, p.98-112, Belo Horizonte, 2015.
SALES, Álvaro Américo Moreira. Coleção João Gusman Júnior: registro das obras de saneamento de Belo Horizonte.
Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v.6, p.62-83, Belo Horizonte, 2019.
SILVA, Itállo Fernando de Freitas et al. A fotografia como recurso mediático no ensino de Geografia: a paisagem
urbana em múltiplos olhares e convergências. In: ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICA DE ENSINO EM
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TAGG, John, The burden of representetion: essays on photographies and histories. Minneapolis: University of
Minnessota Press, 1993, 188p.
TEULIÈRES, Roger. Bidonvilles du Brésil: les favelles de Belo Horizonte. Revue Les Cahiers d'outre-mer. Bordeaux:
v. VIII, 1955, p.30-55.
Fontes documentais
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1967. Acervo Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte.
BELO HORIZONTE (MG). Prefeitura. PLAMBEL: o processo de desenvolvimento de Belo Horizonte (1897-1970).
Belo Horizonte, 1979.
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Resumo: Discute-se a difusão do documento fotográfico como documento de arquivo a partir das
fotografias que se relacionam com a Praça da Estação, em Belo Horizonte, as quais estão custodiadas pelo
Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte. Para isso, são analisadas as postagens na página da
instituição no Facebook que mencionam a Praça, assim como o guia do acervo do Arquivo. Como resultado,
têm-se que os documentos fotográficos relacionados à Praça da Estação mais difundidos no Facebook da
instituição são aqueles pertencentes a fundos de assessoria de comunicação, empresa de turismo e fundação
de cultura. Todavia, aponta-se outros órgãos produtores de documentos da cidade que podem ter
documentos fotográficos da Praça, como superintendências de limpeza e de construção de obras, empresa
de transporte e secretaria de meio ambiente.
Palavras-chave: Difusão do documento fotográfico. Praça da Estação. Arquivo Público da Cidade de Belo
Horizonte.
Resumen: Se discute la difusión del documento fotográfico como documento de archivo a partir de las
fotografías que se relacionan con la Plaza de la Estación, en Belo Horizonte, que se encuentran en custodia
del Archivo Público de la Ciudad de Belo Horizonte. Para eso, se analizan las publicaciones en la página
de Facebook de la institución que mencionan la Plaza, así como la guía de la colección del Archivo. Como
resultado, los documentos fotográficos más difundidos relacionados con la Plaza de la Estación en el
Facebook de la institución son los pertenecientes a fondos de asesoría de medios, empresa turística y
fundación cultural. Sin embargo, existen otras agencias productoras de documentos en la ciudad que pueden
tener documentos fotográficos de la Plaza, como las superintendencias de limpieza y construcción, empresa
de transporte y secretaría de medio ambiente.
Palabras clave: Difusión del documento fotográfico. Plaza de la Estación. Archivo Público de la Ciudad
de Belo Horizonte.
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Introdução
conjuntos documentais custodiados pela instituição. Como esse recorte abrange o registro
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o ambiente virtual.
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construção da nova capital, uma vez que as obras que transformariam o pacato Curral Del
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Apesar de ter sido projetada por Aarão Reis em 1895, somente alguns anos mais
tarde, em 1904, é que a Praça começou a ser construída. Antes disso, o primeiro prédio
da Estação já havia sido edificado, em 1897, ano que também foi marcado pela
inauguração da nova capital, Cidade de Minas, a qual, em 1901, passou a ser designada
como Belo Horizonte (MIRANDA, 2007). Os jardins foram pontos importantes nesse
cenário, como destaca Rivero (2015) ao apresentar trechos do Dossiê do Tombamento do
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Estação.
Em 1904, o Estado entregou à sociedade os jardins de estilo inglês da Praça,
tornando o local o principal cartão de visitas da cidade, já que ali representava sua ilustre
porta de entrada (MIRANDA, 2007). O ajardinamento da Praça permaneceu sendo, por
alguns anos, alvo de políticas da capital, sobretudo porque Belo Horizonte, além de ser
conhecida por seus ideais modernos, também ficou reconhecida como cidade jardim,
devido ao seu planejamento paisagístico, o qual ainda pode ser visto em algumas áreas da
capital, como no Parque Municipal Américo Renné Giannetti (ARQUIVO PÚBLICO DA
CIDADE DE BELO HORIZONTE, 2019; RIVERO, 2015).
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modificado, em 1914, para Praça Cristiano Otoni e, em 1923, para Praça Rui Barbosa,
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Casa do Conde de Santa Marinha, o Edifício Chagas Dória, a antiga Serraria Souza Pinto,
a Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o antigo
Instituto de Química e o Pavilhão Mário Werneck. Além disso, os viadutos da Floresta e
de Santa Tereza, assim como os dormitórios e armazéns da Estação, também compõem o
tombamento, que está inscrito no Livro de Tombo n. I – Arqueológico, Etnográfico e
Paisagístico – e no Livro de Tombo n. II – de Belas Artes (IEPHA, on-line, 1988, 2016,
RIVERO, 2015).
Biblioteca Pública Infantil e Juvenil. Por tudo isso, o espaço é palco de encontro de várias
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tribos urbanas, como no Viaduto Santa Tereza, onde acontece o Duelo de MCs, entre
outras manifestações culturais (BELO HORIZONTE, 2019; MUSEU DE ARTES E
OFÍCIOS, on-line; VEIGA, 2019).
Os trilhos ferroviários ocuparam sua importância na entrada de materiais para a
construção da nova capital e de pessoas – as que vinham conhecer a moderna cidade e
aquelas que vinham residir e fazer a vida em Belo Horizonte. Todavia, ao longo dos anos,
os trilhos foram colocados à margem do protagonismo urbano da capital mineira e a Praça
tomou seu espaço como lugar de formação da cidade, lugar que já havia sido previsto em
seu planejamento inicial, lugar de encontro, de debate, de desigualdades, de vozes e
passos, lugar de passar e de ficar, lugar de ouvir o barulho do trem, dos ônibus, dos carros
e das motos, lugar de ver nossa Belo Horizonte transformando-se.
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das estruturas dos organismos produtores ou por meio de suas funções (GONÇALVES,
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1998). O quadro de arranjo configurado pelas funções é o mais aceito na área arquivística,
porque as estruturas administrativas, normalmente, mudam com certa frequência,
enquanto as funções tendem a permanecer ao longo do tempo. O quadro de arranjo de
fundos do APCBH, por exemplo, está organizado a partir da estrutura administrativa do
poder Executivo da cidade (ARQUIVO PÚBLICO DA CIDADE DE BELO
HORIZONTE, 2019), o que faz com que a instituição tenha que realizar alguma
modificação no instrumento com regularidade, devido às alterações no organograma da
Prefeitura, sobretudo a partir da posse de novos prefeitos.
Os documentos de arquivo possuem valores primários – administrativos, legais e
fiscais – e podem possuir valores secundários – probatórios e informativos
(SCHELLENBERG, 2006). Esses valores, assim como os prazos de guarda e a destinação
dos documentos, são ações definidas a partir da avaliação documental, função arquivística
que deve ser realizada por uma comissão formada por diferentes sujeitos. Em âmbito
público, o produto da avaliação é a tabela de temporalidade e destinação de documentos,
instrumento que deve ser aprovado por autoridade competente e que promove a
racionalização de recursos, na medida em que estabelece os documentos que serão
eliminados e os que serão recolhidos aos arquivos públicos, oportunizando a
transparência do Estado e a proteção de direitos e deveres.
Caso possuam valores secundários, os documentos de arquivo devem ser
preservados pelas instituições arquivísticas, as quais também são responsáveis por
organizá-los – por meio de descrições e instrumentos de pesquisa –, difundi-los, bem
como conceder o acesso aos mesmos. Esses documentos podem ser acessados por
qualquer cidadão e são usados para diferentes fins, tanto em pesquisas acadêmicas quanto
para a comprovação de direitos, atividades diletantes entre outros. Eles são usados em
narrativas históricas e, muitas vezes, são identificados como a própria memória de um
munícipio, estado ou nação.
Por muito tempo, a definição de documento arquivístico esteve atrelada aos
documentos textuais em papel, fazendo com que outros gêneros como os documentos
iconográficos e audiovisuais fossem colocados à margem do tratamento arquivístico e
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passassem a ser considerados especiais, sobretudo devido à fragilidade de seu suporte que
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demanda cuidados de preservação. Essa questão contribuiu para que diversas instituições
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corretamente. Assim, as novas leituras serão feitas a partir da âncora do contexto orgânico
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(MELO, 2019). A Praça pode ser recuperada por meio da expressão que leva seu nome
na página do Facebook do Arquivo, todavia, as postagens encontradas apresentarão os
documentos fotográficos com a identificação de seu conjunto e não como documento
ilustrativo de um texto. Até porque, os fotógrafos do poder público não fazem registros
ao léu, por motivações quaisquer, ao contrário, saem às ruas de Belo Horizonte com
determinações prescritas pelos órgãos da Prefeitura para registrar atividades do
município.
A análise, os resultados
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Coleção José Goés, não irei analisá-lo, visto que o objetivo do trabalho é discutir a
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“Z”.
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pandemia da Covid-19, época em que este trabalho foi produzido – e também de maneira
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Algumas considerações
A difusão arquivística é uma atividade que envolve poder, na medida em que são
eleitos quais os conjuntos documentais serão discutidos em eventos, que irão compor
exposições, postagens de redes sociais on-line entre outros. Dessa forma, é necessário que
as instituições arquivísticas tenham políticas institucionais que abarquem a função, de
forma que todos os critérios que perpassam sua execução sejam debatidos e planejados.
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olhares, das instituições e dos cidadãos, assim, os arquivos públicos se posicionarão como
entidades sensibilizadas com o lugar que possuem na sociedade.
Com a apresentação da história da Praça da Estação, vimos que esse espaço, desde
antes de sua fundação, foi tomado como porta de entrada e de encontro dos sujeitos em
Belo Horizonte. A questão ferroviária foi perdendo espaço no cenário da capital mineira
e a Praça tomou lugar, sobretudo, a partir dos encontros culturais que seu espaço viabiliza.
Essa nuance do local foi vista por meio da análise das postagens do Arquivo Público da
Cidade de Belo Horizonte em sua página no Facebook, já que as publicações
privilegiaram comemorações culturais, como festas juninas e carnavais.
Embora o documento fotográfico tenha esse caráter festivo, já que culturalmente
nossas comemorações são marcadas pela fotografia, é importante destacar que esse
gênero documental também pode ser empregado por outras atividades do município,
como na construção de obras, alteração no trânsito, limpeza de vias públicas, plantio de
árvores entre outras atividades. Assim ficou nítido o caráter arquivístico que o documento
fotográfico possui e que, muitas vezes, é colocado de lado por conta de seu conteúdo
imagético e por nossas memórias pessoais e coletivas.
O período da pandemia da Covid-19 tem sido desbravador, no sentido de que
pessoas e instituições tiveram que se redescobrir e criar novas formas de comunicação.
Sítios institucionais e, sobretudo, redes sociais têm sido lugares on-line privilegiados para
os arquivos públicos manterem seus discursos com a sociedade, a partir da difusão de
seus acervos documentais, produtos e serviços. Muito embora existam filtros técnicos e
sociais, como a própria estrutura política do Estado e os algoritmos das redes sociais, é
fundamental que as instituições arquivísticas aproveitem esse momento para
estabelecerem sua identidade, a partir do apontamento de seu lugar, ou seja, da área
arquivística. Por isso, os documentos devem ser difundidos sob a perspectiva arquivística,
privilegiando o contexto orgânico dos mesmos, assim como também mais fundos e
coleções devem ser compartilhados, promovendo o acesso a outros conjuntos
documentais custodiados pelos arquivos públicos.
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Main purchasers of lots in Belo Horizonte 1895-1931: according to the index of urban
lots in the Public Archives of the City of Belo Horizonte (APCBH)
Resumo: o Índice de Lotes Urbanos do APCBH, depois de revisado em 2019, permitiu o levantamento dos
15 principais adquirentes de lotes no perímetro urbano da Capital, entre 1895 e 1931. Como já evidenciado
em estudo anterior, a especulação imobiliária foi uma das atividades a que se dedicou a elite local. No
presente texto, são apresentados, o perfil dos 15 principais adquirentes, o respectivo número de lotes e o
período de aquisição deles, com base no mesmo Índice. Evidenciou-se, mais uma vez, a força da
especulação sobre os lotes urbanos, inclusive por agentes públicos ligados à Prefeitura ou ao Conselho
Deliberativo da nova Capital. Trata-se de um exercício historiográfico baseado, portanto, em fontes
primárias, sob a guarda do APCBH.
Abstract: The APCBH Urban Lot Index, after revised in 2019, allowed the survey of the 15 main buyers
of lots in the urban perimeter of the Capital, between 1895 and 1931. As evidenced in a previous study, real
estate speculation was one of the activities to which the local elite was dedicated. This paper presents the
profile of the 15 main buyers, their respective number of lots, and their acquisition period, based on the
same Index. The strength of speculation on urban lots became evident again, including by public agents
linked to the City Hall or the Deliberative Council of the new Capital. This paper is a historiographical
exercise based, therefore, on primary sources, under the guardianship of the APCBH.
Introdução
1
* Historiadora e Mestre em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável. Consultora da Bios
Consultoria. E-mail: lucia@biosconsultoria.com.br - Bios Consultoria: www.biosconsultoria.com.br
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14 Avelino Fernandes 30
15 Juventino Dias Teixeira 30
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Ela já figurava na “Relação dos Proprietários com casa em Ouro Preto com direito
a lotes de terreno para construção na futura capital, conforme a Lei n. 3 de 17 de dezembro
de 1893”, publicada no Jornal Minas Gerais, em 1895.
No Índice, o nome dele, grafado também José Francisco Macedo e José Francisco
de Macêdo, aparece sozinho e também associado ao de Alberto Gomes de Carvalho, que
figura 13 vezes isoladamente no Índice. A primeira aquisição feita por Zé dos Lotes data
de 15/05/1897 – a capital seria inaugurada ao final deste mesmo ano – e a última, de
21/11/1919. Ao todo foram 150 incidências.
As relações de Zé dos Lotes com a Prefeitura parecem variar ao longo do tempo.
Há tanto conflitos quanto favorecimentos. No Relatório ao Conselho Deliberativo do
Prefeito Silviano Brandão, de 1909-1910, há referência a duas ações movidas por Jose
Francisco Macedo e sua mulher contra a Prefeitura. Uma, em relação ao Hotel Monte
Verde e outra, referente à manutenção de posse de cafuas nas proximidades do 1º
Batalhão, das quais se diziam donos. (BELO HORIZONTE, 1910, p. 7)
Já em 1917, ele foi beneficiado nominalmente por uma lei municipal – evidência
inequívoca de seu prestígio. A Lei n. 128 determinou em seu artigo 1º:
Aurélio Lobo
Incide 86 vezes no Índice, sendo o primeiro registro em 24/09/1896 e o último em
54
07/06/1926. A maioria (76) dos lotes referentes a ele são do quarteirão 2 da XIV seção
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Legenda: Praça Rui Barbosa em tendo ao fundo o Edifício Aurélio Lobo, atual Hotel Sul
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No prefácio da mesma obra, lê-se, que a rua Teixeira Magalhães seria um dos
exemplos de alteração do traçado original da cidade para que os terrenos fossem melhor
aproveitados, favorecendo seus proprietários, “que ainda tiveram o prêmio de ter seu
nome perpetuado na geografia da cidade”. (Ibidem, p. 14)
No Índice, o marido de D. Felicíssima, Antônio Teixeira de Siqueira Magalhães,
figura como proprietário de sete lotes urbanos, sendo seis de 06/11/1897 e apenas um de
1899 - este em nome dos filhos menores Samuel, Amadeu e Colombino. Estes filhos –
sem menção aos pais – também aparecem no Índice com compradores, em 1906, de lotes
adquiridos do mesmo Antonio Antunes de Almeida, já mencionado.
O filho de D. Felicíssima, Columbino Teixeira de Siqueira, por sua vez, consta no
mesmo Índice com 19 incidências, sendo sete por herança, duas por carta de adjudicação
(ato judicial que dá a alguém a posse e a propriedade de determinados bens), duas por
doação, duas por cessão e seis por compra. Trata-se do único caso do Índice, dentre os 15
pesquisados, de menção a herdeiros de uma mesma família.
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Antonio Garcia de Paiva/ Antônio Garcia de Paiva & Co/ Garcia de Paiva &
Pinto
No Índice, as incidências somam 57, conforme Quadro 2. A primeira incidência
data de 08/10/1895 e a última de 01/02/1930.
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Legenda: a casa em cuja porta está um homem em pé era o Hotel Lima, mais tarde propriedade
do Sr. Antônio Garcia de Paiva.
Fonte: BARRETO, 1936
A empresa Garcia Paiva & Pinto é mencionada como serraria na rua da Estação,
no Almanak Laemmert, de 1911. Na mesma fonte, há a propaganda de Garcia de Paiva &
Pinto – A Industrial, serraria, marcenaria e construções, à avenida Tocantins, n. 809. O
escritor Pedro Nava também se refere à firma Garcia de Paiva & Pinto, por diversas vezes
em sua obra memorialística.
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Silverio Silva /Silvério Silva & Cia /Silveiro Silva e Alvim/ Coronel Silverio Silva
São citados 42 vezes no Índice, sendo 12 delas como empresa. A primeira citação
é de 29/09/1909 e a última, de 07/02/1929.
60
Industrial Serraria e Fábrica de Ferros dos Srs. Silverio Silva & Co. (ARQUIVO
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empresa figurava, entretanto, como um dos maiores contribuintes de Ouro Preto. Não se
identificou, entretanto, o ramo de negócios da empresa. Joaquim Severiano é citado na
“Relação dos Proprietários de casas em Ouro Preto com direito a lote de terrenos na futura
capital, conforme a lei 3 de 17 de dezembro de 1.893”, já informada.
Em 1897, Joaquim Severiano de Carvalho, junto com vários outros, foi convidado
a comparecer à Comissão Construtora para legalizar a concessão do lote na nova Capital,
em razão de ser residente em Ouro Preto.
Clemente de Faria
Consta 34 vezes no Índice, sendo duas em seu nome conjugado ao de J. Maciel de
Paiva. A primeira em 01/08/1921 e a última em 06/02/1929.
Em 1925, na inauguração do Banco da Lavoura, em Belo Horizonte, ele consta
como gerente; Major Aurélio Lobo como secretário; e Dr. Hugo Werneck como
presidente, conforme o Jornal Minas Gerais de 13 de junho daquele ano (ARQUIVO
PÚBLICO MINEIRO, 2019). Há 13 lotes em nome do Banco da Lavoura no Índice.
Quando do falecimento de Clemente de Faria em 1948, a imprensa destacava sua
atuação:
também na capital.
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se mudar da Serra para a rua Aimorés n. 1.016, teria alugado uma casa do comendador.
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[D. Diva, mãe do escritor] alugou por 25$000 uma casinha tipo B das
construções da fundação de Belo Horizonte, pequena de fachada, portão lateral
de madeira, duas janelas de frente, propriedade do Comendador Avelino
Fernandes. (NAVA, 2013 p. 250) (grifo nosso)
Temporalidade
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Os dados acima indicam que o mais longevo dos principais adquirentes foi
Antônio Garcia de Paiva e suas empresas, com 35 anos de especulação imobiliária. Em
segundo lugar, figura Antonio Daniel da Rocha, com 31 anos de atividade. Aurélio Lobo,
com 30 anos de atividade imobiliária, aparece em terceiro lugar.
Considerações Finais
Dos 15 nomes citados, não se obteve dado algum sobre o segundo principal
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especulador: Antonio Antunes de Almeida. Se não há data das suas transações, sabe-se,
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contudo, que seus 111 lotes se concentraram na XIV seção urbana, nas proximidades da
Estação Ferroviária. Quarteirões dessa mesma seção foram também objeto de aquisição
de outros proprietários majoritários.
Entre os 15 especuladores, três atuavam como agentes públicos municipais
durante o marco temporal aqui adotado. Aurélio Lobo foi tesoureiro da Prefeitura entre
1909 e 1926; José Benjamin foi membro do Conselho Deliberativo entre 1906 e 1908; e
Juventino Dias, membro do mesmo Conselho, em 1930.
Chama especial atenção o vínculo de quatro dos 15 especuladores com a
Companhia Manufactora de Calçados Sabarense: José Benjamin; Antonio Daniel da
Rocha; Joaquim Daniel da Rocha e Francisco de Assis Duarte.
Há três proprietários ligados ao ramo da construção civil e serraria: Aurélio Lobo,
Antonio Garcia de Paiva e Silvério Silva – os dois últimos também constituintes de
empresas do mesmo ramo.
Alguns nomes exerceram amplo espectro de atividades, seja no comércio, seja na
indústria, ou nas atividades beneméritas, como o comendador Avelino Fernandes ou
Juventino Dias.
Curiosamente, há intrincada relação entre alguns dos proprietários citados, como
José Benjamin e Joaquim Daniel da Rocha. Ambos compraram em sociedade 19 lotes,
dias antes da inauguração da capital.
O engenheiro Aurélio Lobo, tesoureiro da Prefeitura (1909-1926) e ligado à
atividade de construção civil, emerge, portanto, como o principal adquirente de lotes
urbanos, se conjugadas duas variáveis: número de lotes (86) e temporalidade (30 anos).
O desvelamento dos 15 principais adquirentes de lotes urbanos de Belo Horizonte,
com base em fontes primárias, procurou apontar, dentro de suas limitações, quem foram
os principais membros da elite que fizeram do espaço da cidade um negócio nos primeiros
anos da Capital.
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COSTA, Maria Lúcia Prado; SILVA, Marina Rozendo. Fontes para a História de Belo Horizonte: revisão do índice
dos lotes urbanos (1895-1929?) do Arquivo Público da Cidade. Revista Eletrônica do Arquivo da Cidade de Belo
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Maria Ferraz1*
Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar o acervo da série “Registros Audiovisuais de Eventos
Diversos” da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) através de um estudo de caso. A partir da
análise de alguns discursos realizados na CMBH por integrantes da Associação Lésbica de Minas – ALEM
(1998-2014), buscou-se demonstrar a versatilidade desta documentação. A série, que se encontra sob guarda
no Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH), dispõe de gravações de reuniões e eventos
ocorridos na casa legislativa municipal. Por isso, contém registros de falas de diferentes lideranças políticas
e sociais da cidade desde a década de 1970 até os dias atuais. O artigo objetiva, ainda, apresentar parte da
trajetória da ALEM e analisar alguns dos debates políticos que envolveram a história deste movimento
social.
Palavras-chave: Câmara Municipal de Belo Horizonte. Associação Lésbica de Minas. Arquivo.
Resumen: Este artículo tiene como objetivo presentar la serie de “Registros Audiovisuais de Eventos
Diversos” de la “Câmara Municipal de Belo Horizonte” (CMBH) a través de un estudio de caso. A partir
del análisis de algunos discursos pronunciados en el CMBH por miembros de la “Associação Lésbica de
Minas” – ALEM (1998-2014), se buscó demostrar la versatilidad de esta documentación. La serie, que se
encuentra custodiada en el “Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte” (APCBH), presenta grabaciones
de reuniones y eventos que tuvieron lugar en la casa legislativa municipal. Por tanto, contiene registros de
discursos de diferentes líderes políticos y sociales de la ciudad desde la década de 1970 hasta la actualidad.
El artículo también tiene como objetivo presentar parte de la trayectoria de ALEM y analizar algunos de
los debates políticos que involucraron la historia de este movimiento social.
Palabras clave: Câmara Municipal de Belo Horizonte. Associação Lésbica de Minas. Archivo.
Introdução
1*
Graduada em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre e doutoranda em
Página
História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atualmente, trabalha no Arquivo Público da
Cidade de Belo Horizonte (APCBH) em Convênio de Cooperação Técnica entre o APCBH e a Câmara
Municipal de Belo Horizonte (CMBH). Endereço eletrônico: mariaferraz.hist@gmail.com.
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As notas taquigráficas são as transcrições dos discursos realizados nas casas legislativas. No caso da
Página
Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), por exemplo, os pronunciamentos são revisados e as
notas disponibilizadas para o acesso público. Em acervos mais antigos da ALMG só é possível ter acesso
às notas taquigráficas, não estão disponíveis as gravações das reuniões.
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Gay”. Ou seja, uma infinidade de termos que, apesar de parecerem confusos no texto, têm
relação com a tentativa de não tratar de forma anacrônica as identidades e organizações
sociais do passado. Em alguns casos específicos acrescento, ainda, notas de rodapé para
que seja possível compreender algumas questões de época.
3
O Grupo Somos (SP) surgiu em 1978 e esteve em atividade até 1983. Foi o primeiro grupo de
homossexuais a surgir com pautas políticas definidas. No início era composto majoritariamente por homens
gays, entretanto, em 1979 surgiu em seu interior o Grupo Lésbico Feminista (LF).
4
A organização foi a primeira voltada para a pauta lésbica a ser criada no Brasil. Surgiu em 1979, ainda
72
vinculada ao Grupo Somos (SP), e esteve em atividade até 1990. Teve, ao longo da sua história, vários
Página
nomes. Enquanto estava vinculada ao Somos, em 1979, era chamada de Facção Lésbico-Feminista (LF).
Ao se tornar autônoma, em 1980, passou a ser o Grupo Lésbico-Feminista. Depois, Grupo de Atuação
Lésbico-Feminista e, em 1983, Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF).
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encontro. A partir deste evento, decidiram pela organização do III SENALE em Minas
Gerais. Tal situação culminou no surgimento da ALEM em 1998 (MACHADO, 2007,
p.110). Em entrevista de história oral realizada com Soraya Menezes 5, a fundadora do
grupo retoma suas memórias sobre a importância do SENALE para a organização da
ALEM:
(...) em 1996, aconteceu o primeiro Seminário de Lésbicas no Rio de Janeiro.
Foi o Coletivo de Lésbicas do Rio de Janeiro que organizou este seminário.
Foram várias mulheres de outros estados para lá. Nesse momento, eu estava
participando de encontros sindicais no Rio e fiquei sabendo. E, logo em 1997,
eu fui convidada para estar no II SENALE (segundo Seminário Nacional de
Lésbicas), que foi em Salvador, e eu fui falar sobre as lésbicas nos espaços de
poder. Porque, naquela época, eu já era presidente do Sindicato, e não é que eu
era a única lésbica presidente de sindicato, com certeza existiam muitas, mas
não eram assumidas. Tinha uma necessidade de se colocar uma pauta enquanto
lésbica, não somente enquanto trabalhador, não somente de reivindicação de
salário, mas de reivindicação da gente ser dona do nosso próprio corpo, não
existia esse debate. E aí quando eu volto para Minas, já com a responsabilidade
de tá trazendo o III Seminário Nacional de Lésbicas para cá, eu vim com muito
medo e com muito temor porque eu era a única lésbica, em Salvador, de Minas
Gerais. Então, tinha a responsabilidade de trazer um seminário daquele porte e
eu estava sozinha ali. E aí me deu um calafrio muito grande. Mas, naquele
momento, as lésbicas sentiram a necessidade de que fosse importante realizar
um evento desse porte para além da visibilidade, para ajudar a organizar as
lésbicas aqui em Minas Gerais. (...) então, dentro desse contexto, nós tivemos,
dentro do SENALE (do III SENALE), a fundação da ALEM. Ali, tinham
mulheres do interior, mulheres de vários lugares, e eu coloquei a necessidade
da gente se organizar enquanto mulheres lésbicas. E tinham várias mulheres de
alguns sindicatos, de algumas categorias, como professor, bancário. O pessoal
da Saúde que foi em peso, né? Mesmo de outras cidades.6
5
Entre 2019 e 2021, realizei seis entrevistas de história oral com Soraya Menezes, durante o processo de
escrita da minha dissertação de mestrado intitulada: “Em busca da visibilidade: o movimento de mulheres
73
lésbicas em Belo Horizonte (1998-2014)”. Apenas a primeira foi realizada de forma presencial, todas as
outras foram feitas via plataforma virtual (Google Meet ou Zoom). Todas as entrevistas foram gravadas e
Página
transcritas.
6
Entrevista pública de história oral realizada em 24/09/2019 com Soraya Menezes, fundadora da ALEM.
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A ALEM participou de diversas reuniões também na ALMG. Foi possível, a partir de notas taquigráficas,
ter acesso às falas realizadas por suas integrantes na casa legislativa estadual.
8
Segundo verbete disponível no site do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea
do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Convergência Socialista foi uma “Organização
política de orientação socialista criada em 28 de janeiro de 1978, em São Paulo. Uma das correntes atuantes
74
dentro do Partido dos Trabalhadores (PT) desde a fundação deste em 1980 até sua expulsão do partido em
1992, deixou de existir em 1994, quando seus membros passaram a integrar o Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificados (PSTU).” Informação disponível em:
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militante defende uma união desses grupos sociais para a construção de uma luta
conjunta.
O direcionamento de Soraya Menezes, que unifica essas diferentes pautas, se
reverberou, portanto, na atuação da ALEM enquanto organização. Principalmente por não
ser a única participante do grupo que estava em frentes sindicais e partidos de esquerda,
é possível identificar, especialmente nos primeiros anos de ação da ONG, a partir das
falas de outras integrantes do grupo, a mesma perspectiva de defesa do entrelaçamento
entre pautas trabalhistas, socialistas, feministas, negras e de diversidade sexual.
Ao analisar o contexto de surgimento deste movimento social, é possível
compreender alguns dos principais objetivos do grupo: garantia de direitos e de
visibilidade para as lésbicas mineiras. Com a criação da ALEM, buscou-se inserir essas
mulheres no debate público, realizando reuniões em instituições do Estado, organização
de Paradas do Orgulho GLBT e de Caminhadas de Visibilidade Lésbica e Bissexual,
proposição de medidas de combate à lesbofobia, oferecimento de oficinas de
autoconhecimento e de formação política do grupo e, ainda, assessoramento jurídico para
este segmento. A leitura de trecho do estatuto da ALEM permite apontar as finalidades
da organização e o enfoque nas dimensões voltadas para as lesbianidades:
Associação Lésbica de Minas, enquanto instituição social e política, é
constituída para fins de coordenação, estudo, proteção, luta, reivindicação e
representação legal das lésbicas na base territorial de Belo Horizonte e Estado
de Minas Gerais, atuando no sentido de articular e expressar o conjunto de
reivindicações deste segmento social, visando a melhoria das condições de
vida de suas representadas, a defesa da liberdade e cidadania das lésbicas e
fortalecimento da participação democrática em igualdade de condições com
outros setores da sociedade brasileira, a nível Municipal, Estadual e Federal
(Estatuto da ALEM apud MACHADO, 2007, p.118).
A busca por cidadania e igualdade para este segmento social era, portanto,
fundamental para a ONG e elas poderiam ser conquistadas, em partes, com a mobilização
junto a legisladoras/es dispostas/os a pautar o tema nas casas legislativas. Com isso, é
possível perceber, a partir de meados de 2001, a presença constante da ALEM em
reuniões especiais e audiências públicas voltadas para a discussão sobre diversidade
sexual e de gênero. Junto a outras organizações da cidade (Clube Rainbow,
CELLOS/MG, ASSTRAV, entre outras)9, este grupo ajudou a debater e a construir leis e
75
Página
9
O Clube Rainbow de Serviços, o Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais
(CELLOS/MG) e Associação das Transexuais, Travestis e Transgêneros do Estado de Minas (ASSTRAV)
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são organizações GLBTs que surgiram em Belo Horizonte entre o final dos anos 1990 e início dos anos
2000.
10
Segundo Machado (2007, p.102 e 103), há divergências quanto ao nome e a formação do grupo que
passou a se reunir a partir de 1997 no Sindicato dos Bancários. A versão apresentada por Itamar Santos é
76
que o nome correto seria o AMGLS, resultado da junção do grupo gay GURI - Conscientização e
Emancipação Homossexual - com o Grupo de Lésbicas e Simpatizantes (GLS). As integrantes da ALEM,
Página
por outro lado, afirmam que o GURI foi posterior ao Gays, Lésbicas e Simpatizantes (GLS-MG) e que,
portanto, este era o nome correto no período. Uma publicação do grupo de novembro de 1997, intitulada
Expressão GLS, se refere ao grupo como Associação Mineira GLS.
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do contexto das falas que serão analisadas na terceira parte deste artigo não pode ser feita
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O acervo “Registros Audiovisuais de Eventos Diversos” (DR.02.02.00) é composto por fitas de gravação
em áudio de três formatos: fitas de rolo, eletromagnéticas e cassete. Recentemente, também começaram a
fazer parte da série gravações nato digitais em áudio e vídeo. Para mais informações ver: APCBH,
78
Inventário do acervo da Câmara Municipal no Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, 2008.
12
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Desde 2015, vem sendo realizado o trabalho de digitalização das fitas eletromagnéticas e cassete deste
acervo no APCBH. Com isso, tem sido possível descrever melhor as gravações presentes nessas fitas e
tornar o acervo mais acessível.
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A Comissão de Meio Ambiente e Política Urbana é uma das atuais comissões permanentes da CMBH.
A depender do período que se deseja pesquisar, a questão ambiental pode estar vinculada a uma comissão
permanente com outro nome.
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outros tipos documentais e subséries, seja possível encontrar outras novas. Para ilustrar
tal situação, irei descrever os caminhos percorridos por mim na busca de documentos
sobre a ALEM dentro do Fundo CMBH.
Quando realizei minha pesquisa sobre este movimento social, o meu foco
principal era trabalhar com história oral, especialmente com as entrevistas realizadas com
a Soraya Menezes. Ao dialogar com a minha entrevistada/colaboradora, descobri que ela
havia participado de encontros na CMBH e que, provavelmente, haveria registros de sua
passagem por lá. A partir desta informação, passei a buscar no Inventário do Fundo
CMBH por palavras-chave (lésbica, gay, homossexual(is), diversidade, etc..) que
poderiam levar a documentos sobre a temática. Com isso, encontrei na descrição prévia
das fitas eletromagnéticas e na lista de projetos de leis alguns documentos que poderiam
ser interessantes. Como um fio de novelo que vai se desenrolando, cheguei a seis reuniões
onde há registros de que ALEM esteve presente. A leitura das atas foi importante nesse
processo de delimitação das reuniões, trazendo informações básicas, como data,
participantes e um resumo das falas que foram feitas. Como este acervo ainda não está
devidamente descrito e não possui transcrição, o mapeamento das atas ajudou a filtrar o
que poderia ser interessante ou não em relação às gravações.
A especificidade das gravações em áudio permite analisar para além do texto que
é falado, auxilia na compreensão da forma como determinadas palavras foram usadas e
da receptividade do discurso pelo público presente nos eventos. Aumento e diminuição
da entonação da voz, pausas, interrupções e aplausos são elementos que não podem ser
captados pela leitura de transcrições ou notas taquigráficas. Por isso, reafirmo a
importância de, quando possível, ver/ouvir as gravações e não apenas ler o que foi dito
nessas reuniões legislativas. O acervo por mim consultado não dispunha de imagens, mas,
com certeza, traria ainda mais elementos importantes caso existissem arquivos em vídeo
dessas reuniões.
Por fim, este acervo auxilia na compreensão dos contextos em que as falas estão
inseridas. Foi possível identificar, por exemplo, as razões para algumas manifestações
nos eventos, as percepções da ALEM sobre as políticas públicas direcionadas à população
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série de questões importantes que não estavam presentes nas entrevistas de história oral,
em outros documentos da CMBH consultados ou em periódicos do período.
Conhecendo a especificidade desta fonte documental e cuidando para que a
análise da mesma seja feita de forma criteriosa, como com quaisquer outros documentos,
as gravações das reuniões legislativas podem se tornar um material excepcional de
pesquisa para historiadoras/es. O importante, em todo caso, é ter um tema bem delimitado
e buscar no acervo legislativo como um todo (documentos textuais, fotográficos e
audiovisuais) para, dessa forma, constituir uma análise mais completa dessas gravações.
Devido ao espaço que disponho para a escrita deste artigo, não será possível apresentar
todos os caminhos e cotejar este acervo com outras fontes documentais. Também tive que
optar por analisar falas de apenas duas reuniões em que a ALEM esteve presente. De toda
forma, espero contribuir pelo menos um pouco com a divulgação deste acervo para que
outras/os pesquisadoras/es possam desenvolver trabalhos mais completos sobre.
14
A Lei, originária do Projeto de Lei nº 1.672/00, foi um marco importante para a cidade de Belo Horizonte.
A sua ementa diz: “Estabelece penalidade para estabelecimento que discriminar pessoa em virtude de sua
orientação sexual, e dá outras providências”.
15
O Grupo GURI – Conscientização e Emancipação Homossexual – surgiu em Belo Horizonte no final dos
81
anos 1990. Segundo Soraya Menezes, em entrevista de história oral concedida em 10/07/2020, o grupo foi
o responsável por elaborar o texto do projeto de lei nº 1.672/00.
Página
16
Em 28 de junho de 1969, aconteceu o que ficou conhecido como a “Revolta de Stonewall”, um conflito
entre homossexuais e travestis e a polícia no Bar Stonewall em Nova York. Em homenagem ao dia, a data
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ficou estabelecida como o “Dia do Orgulho Gay” e, atualmente, é denominado “Dia do Orgulho
LGBTQIAP+”.
17
As informações foram obtidas a partir da gravação em áudio da reunião (DR.02.02.00-2266) e da sua ata
(DR.01.01.04-040).
82
18
A Parceria Civil Registrada foi proposta a partir de um projeto de lei federal nº 1.151/95, de autoria da
deputada Marta Suplicy.
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19
É importante ressaltar que o tema do “Mercado GLS” gerava polêmica entre diferentes setores dos
movimentos GLBTs. Para os segmentos mais vinculados às perspectivas socialistas, a exploração do
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Neste evento, a fala da Soraya Menezes se voltou para uma série de temas: a
apresentação da ALEM enquanto grupo e suas ações; a memória da militância
homossexual do país, especialmente a do Grupo Somos (SP), e da organização da 1ª
Marcha Gay em Belo Horizonte; a importância em integrar as lutas homossexuais com as
pautas trabalhistas e socialistas; a dificuldade de aprovação da parceria civil registrada; e
o embate dos movimentos GLBTs com setores religiosos. Cabe ressaltar, entretanto, que
todos esses temas aparecem de forma misturada e que, caso a/o ouvinte/leitor/a
desconheça o contexto de suas falas, é possível que não se compreenda todos os elementos
que são levantados. Embora não seja possível, devido ao espaço, reproduzir aqui a
transcrição de todo o seu discurso, gostaria de ressaltar alguns trechos que são importantes
para analisar a trajetória da ALEM. Começaremos pelo início da sua fala:
Um bom dia a todos! Eu sou Soraya, da Associação Lésbica de Minas,
coordenadora da Associação Lésbica de Minas e também da Secretaria
Nacional de Gays e Lésbicas do PSTU. Bom... antes de tá falando um pouco
da história da Associação Lésbica de Minas, acho que é importante tá falando
um pouquinho da situação de como que tá as organizações de gays e lésbicas
do Brasil antes na década de 80 e como está agora. Bom... Na década de 80,
no Primeiro Encontro de Gays, Lésbicas, Travestis e Bissexuais que aconteceu
no Rio de Janeiro, eu acho que foi um marco no divisor de águas para a gente
estar no movimento como ele está até hoje. Teve uma plenária, onde estava
discutindo se gays, lésbicas e travestis iriam estar ajudando os Metalúrgicos do
ABC Paulista, numa greve, aquela greve histórica de 80. Então houve um
tumulto na plenária e foi votado que o movimento não iria. Perdeu por poucos
votos, mas mesmo assim tiveram 50 gays e lésbicas e travestis que entraram
na Vila Euclides apoiando o movimento e eles ficaram admirados, porque
muitas pessoas do movimento disseram que eles iam ser apedrejados, porque
eram peões, que eram operários, e, muito pelo contrário, eles foram aplaudidos
de pé. E o resto do movimento foi fazer um piquenique. Então, existe hoje um
movimento que acredita que a discriminação e o preconceito vão terminar e
vai acabar quando a gente juntar com outros setores oprimidos: mulheres,
negros, trabalhadores, assalariados. Porque se a gente não tiver uma unidade
para tá lutando contra o preconceito, com certeza, não vai acontecer nada. E,
tem uma outra parte do movimento, como a gente sabe, que é carnaval, que é...
que não tem uma discussão. (...) Que eu acho que isso tem que ser um campo,
porque quando a gente discute do movimento gay, lésbico estar nas lutas junto
com outros setores, tem muita gente que fala: “Não, nós não vamos estar
misturando política”. Mas não é… é a solidariedade que a gente tem que tá
mostrando para o setor que é oprimido também. Gostaria de tá pegando um
pouco da fala do juiz, de que “todos são iguais diante da lei”. 20 A gente vê,
claramente, até as notícias mesmo nos mostram que não é algo que acontece.
(...) E na cidadania, por exemplo, quando a gente discute de cidadania gay é
um ponto bem complexo para nós. Por exemplo, como que a gente vai estar
83
chamado “pink money” criava uma falsa ideia de conquista de direitos. Para saber mais ver: FRANÇA,
2007.
Página
20
Neste trecho, Soraya Menezes faz referência à fala do Juiz Reinaldo Portanova que também integrou a
mesa de debates desta reunião.
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Este trecho inicial da fala da Soraya na audiência pública, embora possa parecer
confuso para quem desconhece as discussões sobre a memória deste segmento, constitui
um posicionamento em direção à sua vinculação política. O evento ao qual a fundadora
da ALEM faz referência logo no início da fala é o I Encontro Brasileiro de Homossexuais
(EBHO), em 1980. Nesse contexto, o debate sobre a participação do Grupo Somos (SP)
em ações dos partidos de esquerda e na Greve do ABC Paulista, acabou por rachar este
movimento social, o que levou, após um tempo, ao fim da organização. Tal debate se
relaciona a perspectivas políticas diferentes dentro dos movimentos de homossexuais e
travestis da época em relação à integração, ou não, com outros segmentos de lutas, como
os partidos de esquerda e os sindicatos (SIMÕES & FACCHINI, 2009, p.107). Na visão
da Soraya Menezes, enquanto socialista e militante ativa do PSTU e do movimento
sindical, foi importante a participação de gays, lésbicas e travestis na Greve do ABC
Paulista. Nas entrelinhas, ela manifesta, ainda, descontentamento com a parte do
movimento social que “foi fazer um piquenique”.
Para não perder o foco deste artigo, não será possível fazer uma análise mais
completa dos debates de memória presentes neste discurso e nem apontar as visões
divergentes sobre este mesmo evento histórico. Interessa apenas ressaltar que tal narrativa
está vinculada ao grupo político do qual Soraya Menezes fazia parte. Sem a pretensão de
apontar “verdades” sobre tais acontecimentos, é relevante compreender que, por sua
aproximação com a perspectiva marxista, Soraya demonstrava acreditar que a superação
das desigualdades (socioeconômica, de gênero, de raça e de sexualidades) se daria a partir
de uma luta conjunta em que o combate ao sistema econômico era fundamental. Nesse
sentido, ela inicia seu discurso por uma narrativa histórica para introduzir o eixo principal
da sua fala, delimitando a relevância de pensar a classe social quando se fala da
84
Página
21
Transcrição da gravação de áudio do discurso de Soraya Menezes realizado em 28/06/2001 na CMBH.
(DR.02.02.00-2266).
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A memória sobre a 1ª Marcha do Orgulho Gay é, talvez, um dos temas que mais
aparece nas falas da fundadora da ALEM, tanto nos discursos realizados na CMBH, na
primeira década dos anos 2000, quanto nas entrevistas de história oral que realizei com
ela entre 2019 e 2021. Para Soraya Menezes, é motivo de orgulho que a capital mineira
tenha sido a primeira cidade em que as mulheres lésbicas iniciaram a realização do evento.
Além disso, é relevante que ela destaque também a importância do PSTU neste processo.
Demonstra, mais uma vez, a indissociabilidade da sua ação enquanto liderança lésbica e
como militante partidária. Tal perspectiva sobre a realização do evento, embora tenha
recebido alguns questionamentos por parte de outros participantes, se tornou parte da
memória LGBT local (MACHADO, 2007, p.116). De forma que, sempre que a trajetória
das Paradas é retomada, diferentes militantes reforçam a importância de a iniciativa ter
partido de mulheres lésbicas.
A relevância de marcar o protagonismo deste grupo social no principal evento do
calendário LGBTQIAP+ se relaciona, ainda, com a busca por visibilidade. No contexto
em que, nacionalmente, as mulheres se viam apagadas nos eventos mistos, era de extrema
22
Cabe ressaltar que, neste trecho, o uso do artigo masculino “o” para se referir a pessoas travestis tem
85
relação com o contexto histórico. É comum que, neste período, mesmo militantes dos movimentos GLBTs
não se referissem às mulheres travestis com artigos e pronomes femininos.
Página
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Transcrição da gravação de áudio do discurso de Soraya Menezes realizado em 28/06/2001 na CMBH.
(DR.02.02.00-2266).
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importância que a ação das mesmas fosse ressaltada. Nesse sentido, é possível
compreender o porquê de, sempre que perguntadas sobre o passado da militância lésbica
em Belo Horizonte, este segmento reforçar como indispensável as suas ações na
construção da 1ª Marcha do Orgulho Gay.
Se retomarmos o trecho do estatuto da ALEM que apresentamos na primeira parte
do texto, encontraremos entre as suas finalidades as seguintes questões: “a defesa da
liberdade e cidadania das lésbicas e fortalecimento da participação democrática em
igualdade de condições com outros setores da sociedade brasileira” (Estatuto da ALEM
apud MACHADO, 2007, p.118). Como parte desse propósito, a organização participou
ativamente de reuniões com o poder público e buscou a aprovação de medidas legais que
permitissem a conquista de igualdade e de cidadania. No período em que ocorreu a
audiência pública na CMBH, duas pautas principais eram abordadas pelos movimentos
GLBTs no que se referia a direitos: a conquista da parceria civil registrada e a
criminalização da homofobia.
O primeiro tema esteve em alta por mais de uma década e foi amplamente debatido
pelos movimentos sociais na expectativa de que o Projeto de Lei federal nº 1.151/95, de
autoria da deputada Marta Suplicy, fosse aprovado. Tal expectativa nunca se converteu
em realidade e, apenas com o reconhecimento feito pelo Supremo Tribunal Federal (STF),
em 2011, foi possível equiparar as uniões de casais homoafetivos com o casamento civil
(COITINHO FILHO & RINALDI, 2018). A outra pauta teve destino semelhante. Até o
momento, a nível nacional, não foi aprovada nenhuma norma legal que combatesse a
LGBTfobia. O que houve, da mesma forma, foi uma decisão do STF que definiu a
equiparação da mesma com o crime de racismo24.
Ao escutarmos as falas das/os diferentes integrantes da mesa na audiência pública
realizada na CMBH em 28/06/2001, é possível compreender a relevância desses dois
temas no período. Todos os discursos se voltaram, de alguma forma, para essas questões.
Principalmente porque figuravam entre os temas da reunião daquele dia. Cumprindo o
propósito do Estatuto da ALEM, Soraya Menezes também abordou tais questões no final
da sua fala:
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24
Em 13 de junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal formou maioria para equiparar o crime de
LGBTfobia com o crime de racismo previsto na Lei nº 7.716/89.
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Nós ficamos discutindo, por exemplo, a questão de cidadania, mas nós não
queremos migalhas, por exemplo, o que a burguesia quer dar para a gente. A
gente quer na totalidade. O juiz falou aí muito bem sobre a questão dos sem-
terra, sobre a questão das mulheres, dos negros e nós não queremos
simplesmente ficar pegando migalhas. Por exemplo, a lei é muito importante.
Essa lei que foi votada agora em Belo Horizonte, em Juiz de Fora, é importante
sim, mas nós não podemos ficar simplesmente atrelados na lei. (...) Porque não
adianta ter leis e mais leis se gays e lésbicas não tiverem cientes dessas leis.
Por isso que é importante a organização de gays e lésbicas, é importante ter
consciência dos seus direitos, porque senão a gente vai ter lei e, muitas vezes,
a pessoa vai ser discriminada e não vai saber o que tem ali para protegê-la. Em
relação, por exemplo, à parceria civil. (...) Várias pessoas dizem: “Olha, o
casamento... (que o pessoal nem fala parceria)25 o casamento de gays e lésbicas
é uma violência contra a sociedade”. Nós, da Associação Lésbica de Minas,
sempre temos falado que a violência contra sociedade, por exemplo, é um
salário mínimo de miséria, é o desemprego, é a fome, é o analfabetismo que
assola. [Aplausos] Isso é a violência. Quando se discute de parceria civil,
quando, na época foi implementado [o projeto de lei], houve muitas pessoas
que distorciam essas coisas: “olha... mulher com mulher vai entrar na igreja,
homem com homem... como é que vai ficar?”. Há falta de conhecimento. Por
isso que eu acho um debate como esse muito importante, quando a gente fala
para o conjunto da sociedade, para um conjunto de liderança, o quão
importante é sermos respeitados.26
No início do trecho, Soraya Menezes faz referência a duas leis municipais que
tinham sido aprovadas nos últimos anos em duas cidades diferentes: Juiz de Fora (MG) e
Belo Horizonte (MG)27. Ambas penalizam a discriminação de homossexuais em lugares
públicos e foram construídas pelos movimentos sociais. Com temática parecida, a lei nº
14.170 também foi aprovada a nível estadual, em 200228. Neste caso, houve participação
ativa da ALEM na elaboração do texto. Destaca-se, nesta parte do discurso, a ponderação
em relação à necessidade de dialogar com a sociedade sobre as normas legais.
Ressaltando a relevância tanto do debate junto ao público GLBT quanto do debate social
25
Na época, existia um debate sobre o uso do termo “casamento” para casais homoafetivos. Pelas
discussões que estão gravadas no acervo da CMBH, é possível perceber que os movimentos sociais
buscavam desvincular a união entre pessoas homoafetivas do termo “casamento”. Acreditava-se que o
casamento era ligado ao contexto religioso. Por isso, defendia-se o uso do termo “parceria” ao invés de
“casamento”.
26
Transcrição da gravação de áudio do discurso de Soraya Menezes realizado em 28/06/2001 na CMBH.
(DR.02.02.00-2266).
27
Além da lei nº 8.176/01 de Belo Horizonte, já citada anteriormente, Soraya Menezes se refere também à
lei nº 9.791, de 12 de maio de 2000, aprovada em Juiz de Fora (MG). A ementa desta última diz o seguinte:
“Dispõe sobre a ação do município no combate às práticas discriminatórias, em seu território, por orientação
sexual”.
87
28
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A lei estadual nº 14.170/02, de autoria do deputado João Batista de Oliveira, possui a seguinte ementa:
“Determina a imposição de sanções a pessoa jurídica por ato discriminatório praticado contra pessoa em
virtude de sua orientação sexual”.
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mais amplo, para que as pessoas pudessem conhecer melhor os objetivos das leis que
estavam sendo propostas.
Na sequência do discurso, Soraya Menezes rebate o argumento de que a conquista
da PCR significaria “uma violência contra a sociedade”. Voltando-se para o debate
socioeconômico, ela diz: “a violência contra a sociedade, por exemplo, é um salário
mínimo de miséria, é o desemprego, é a fome, é o analfabetismo que assola”. Mais uma
vez observamos, portanto, a vinculação entre as pautas GLBTs e os direitos sociais e
trabalhistas. Para além do texto falado, este trecho é um dos que melhor exemplifica a
diferença entre ler a transcrição ou a nota taquigráfica e ouvir o discurso: ao escutar a
gravação da fala, é possível observar o crescimento da entonação de voz da Soraya
Menezes, o aumento da comoção do seu discurso até culminar, no final desta parte, com
os aplausos do público que estava presente no plenário. Mesmo com a ausência de
imagens registrando a cena, é possível perceber, com a escuta do áudio, o aumento da
empolgação. Observam-se, portanto, as nuances da construção do discurso feita por uma
líder política experiente que, ao começar a se encaminhar para o fim da sua participação,
busca aumentar a comoção do público e causar impacto no uso das palavras. Com isso,
ela ironiza que uma sociedade marcada por desigualdades sociais veja como violenta a
possibilidade de casais homoafetivos regularizarem suas uniões e recebe, pelo menos de
parte do público presente, o apoio a este posicionamento.
Em 08 de julho de 2005, véspera da 1ª Caminhada de Lésbicas e Simpatizantes e
dois dias antes da realização da 8ª Parada do Orgulho GLBT de Belo Horizonte, houve
uma mesa de debates no Plenário Juscelino Kubitschek da CMBH voltada para a
discussão sobre as lesbianidades. Mais uma vez, a ALEM esteve presente, realizou falas
na tentativa de divulgar as ações da organização e relacionadas, especificamente, com a
questão da visibilidade, tema principal da Caminhada que estava sendo organizada por
elas. Tratando da temática, Josiane Mota (integrante da ALEM) fez um longo discurso
argumentando das diferenças de visibilidade entre lésbicas e gays, e da importância da
pauta para o segmento ao qual ela fazia parte:
(...) Eu penso que a visibilidade tá colocada sim, mas de uma maneira desigual.
Nós não podemos afirmar categoricamente que se processa de maneira igual
88
para gays e lésbicas. As lésbicas ainda não tão vivendo essa visibilidade.
Porque, se a gente caracteriza que essa visibilidade se dá da maneira como foi
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Transcrição da gravação de áudio do discurso de Josiane Mota realizado em 08/07/2005 na CMBH.
(DR.02.02.00-2760).
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assunto:
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O que eu gostaria de falar, um pouco sobre essa questão que foi colocada, do
movimento social, do movimento GLBT, GLBTS, que é o seguinte… Eu não
consigo ver as coisas muito separadas e, ao mesmo tempo, ignorar as
especificidades. Por exemplo, aqui em Beagá a gente tem uma experiência.
Quem vai pra Praça Sete e organiza atos contra violência contra a mulher,
somos nós. Greve dos professores, quem vai lá dar a cara, apanhar da polícia
junto com os professores, somos nós. Quem faz os cartazes, as faixas de
protestos, somos nós. Nós somos linhas de frente desse movimento. E isso não
tira de nós a nossa especificidade. Nós ‘tamos’ num país que não existe “outras
bandeiras” do “outro movimento”, o desemprego é uma bandeira que todos
nós devemos levantar, contra o desemprego. Porque existe um desemprego
maciço no Brasil. E tem muito gay, muita lésbica desempregada. Essa é a
realidade nossa aqui de Beagá. Na ALEM, por exemplo, a maioria são
mulheres negras. E não dá pra gente sair, por exemplo... Amanhã, na nossa
passeata, nós vamos fazer um protesto contra a corrupção, porque é dinheiro
que tá saindo pro bolso da elite política e da elite empresarial que tá faltando
na escola pública. Onde o negro, onde a lésbica e o gay tá excluído. (...) Não
dá pra ignorar esse tipo de coisa que tá acontecendo no nosso país e dizer que
são bandeiras de outros movimentos, que vez ou outra podem ser anexadas ao
nosso movimento. É tudo junto, não tem problema. A nossa campanha pela
visibilidade, tá lá: “Visibilidade! Nós estamos aqui, mas nós queremos
emprego, nós queremos saúde, nós queremos escola de qualidade pra todo
mundo”. Nós não podemos ignorar e fazer de conta que não é bandeira nossa.
Porque são cidadãos e cidadãs que vivem num país corrupto, de exclusão, cuja
maioria da população é negra e que vivem ainda como escravos, só que com
meios mais sofisticados. São meios sofisticados de escravidão que nós vivemos
hoje, né? Qualificados. E nós não podemos dizer que o movimento GLBT não
vai incorporar essas bandeiras porque tem suas especificidades. Nós não vamos
perder a nossa identidade por erguer outras bandeiras. Nós somos
trabalhadores, negros, sim! E nós não podemos ignorar isso. (...) Então eu acho
que é importante a gente continuar fazendo essa discussão dentro do
movimento e rever essas posições com relação a essas bandeiras sociais. De
fazer essa separação. Essa dicotomia, eu acho que ela não pode existir.30
Pela fala elaborada por Josiane Mota, é possível perceber que, para além da Soraya
Menezes, outras integrantes da ALEM também estavam vinculadas a diferentes lutas
sociais. Tal vinculação era característica da Organização. Ao narrar sobre a conexão com
outros movimentos sociais, a militante afirma que elas eram parte da “linha de frente” de
diversos protestos e que, assim como ponderou Soraya Menezes na audiência pública em
28/06/2001, não era possível separar as “bandeiras de luta”, pois, o direito ao emprego, à
educação e à saúde de qualidade deveriam ser pautas de todas as organizações GLBTs.
Nesta fala, destacam-se as questões raciais e socioeconômicas. Pela ALEM ser composta,
segundo ela, em sua maioria por mulheres negras, não seria possível dissociar o debate
sobre lesbianidades da questão social e racial. Para ela, o fato de se unir a outras
mobilizações não significaria abrir mão da especificidade de suas identidades.
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Transcrição da gravação de áudio do discurso de Josiane Mota realizado em 08/07/2005 na CMBH.
(DR.02.02.00-2760).
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Considerações finais
nestes mesmos eventos. De qualquer forma, o ponto central deste artigo foi apontar a
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Referências
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Público da Cidade de Belo Horizonte: 1947-2005, Belo Horizonte, 2008.
CAMPOS, Núbia Carla. A lesbianidade como resistência: a trajetória dos movimentos de lésbicas no Brasil – 1979-
2001. Dissertação (Mestrado). Políticas Públicas e Formação Humana. UERJ, Rio de Janeiro, 2014.
COITINHO FILHO, Ricardo Andrade; RINALDI, Alessandra de Andrade. O Supremo Tribunal Federal e a “união
homoafetiva”: onde os direitos e as moralidades se cruzam. Civitas. Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 26-42, jan.-abr. 2018.
FACCHINI, Regina. “Sopa de Letrinhas”? Movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 90:
um estudo a partir da cidade de São Paulo. Dissertação (Mestrado) Antropologia Social. Campinas: Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, 2002.
FRANÇA, Isadora. Identidades coletivas, consumo e política: a aproximação entre mercado GLS e movimento GLBT
em São Paulo. Horizontes Antropológicos. Porto Alegre: UFRGS, v. 28, p. 289-311, 2007.
MACHADO, Frederico. Muito além do arco-íris. A constituição de identidades coletivas entre a sociedade civil e o
estado. Dissertação (Mestrado). Pscicologia Social, UFMG, Belo Horizonte, 2007.
MENEZES, Soraya. Entrevista pública de história oral sobre a ALEM. Entrevistador: Maria Ferraz [24 set. 2019],
Belo Horizonte, 30 minutos e 44 segundos de duração, 6 páginas de transcrição.
SANTHIAGO, Ricardo. Duas Palavras, muitos significados. Alguns comentários sobre a História Pública no Brasil.
In: MAUAD, Ana Maria e ALMEIDA, Juniele Rabêlo de e SANTHIAGO, Ricardo. História Pública no Brasil:
sentidos e itinerários. São Paulo: Letra e Voz, 2016.
SIMÕES, Júlio; FACCHINI, Regina. Na trilha do arco-íris: do movimento homossexual ao LGBT. 1. ed. São Paulo:
Editora Fundação Perseu Abramo, 2009.
Fontes documentais
Ata da terceira reunião extraordinária da Comissão Permanente de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da
Câmara Municipal de Belo Horizonte, na primeira sessão legislativa. Fundo Câmara Municipal, 28/01/2001. Notação:
CMBH/APCBH//DR.01.01.04-040.
Plenário Amynthas de Barros: Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor – Homossexualidade. Fundo
Câmara Municipal, 28/01/2001. Notação: CMBH/APCBH//DR.02.02.00-2266.
Plenário Juscelino Kubitschek: Discussão de propostas dos gays, lésbicas e transexuais. Fundo Câmara Municipal,
08/07/2005. Notação: CMBH/APCBH//DR.02.02.00-2760.
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Entrevista
Maria do Carmo Andrade Gomes
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Ainda quando estudante de História na UFMG, fui por três anos estagiária do Arquivo
Público Mineiro, onde eu adquiri minha paixão pelos arquivos. Quando me formei e fui
trabalhar no IEPHA-MG, em 1980, meu primeiro trabalho como profissional foi a
participação na elaboração dos primeiros tombamentos estaduais de conjuntos
arquitetônicos em Belo Horizonte. Ainda não existia o APCBH e nossas pesquisas
realizavam-se no Museu Histórico Abílio Barreto ou diretamente nos acervos disponíveis
dos órgãos municipais, como a antiga Secretaria Municipal de Assuntos Urbanos, além
de órgãos estaduais, como o próprio APM e o extinto Plambel.
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Dossiê
Por dois períodos tive o privilégio de dirigir o APCBH: entre os anos de 1999 e 2000 e
no período entre 2005 e 2011. Foram experiências muito importantes e gratificantes para
minha vida profissional. Exerci o cargo em governos democráticos e progressistas, o que
facilitou muito o diálogo com as autoridades municipais.
Embora o APCBH seja ainda uma instituição pequena em termos organizacionais, seus
desafios sempre foram gigantescos. Estar à frente do APCBH significou enfrentar certa
invisibilidade da instituição frente às prioridades dos governos municipais, arcando com
a enorme responsabilidade de preservar materialmente, com recursos financeiros e
humanos sempre insuficientes e uma sede inadequada, um acervo documental sempre
crescente, frágil, único e de imenso valor histórico e probatório para a cidade e os
cidadãos de Belo Horizonte.
Enquanto diretora busquei estar à altura desses enormes desafios. Destaco alguns
resultados, de forma não cronológica: a construção de parcerias importantes,
particularmente com a Associação Cultural - ACAP∕BH e a Câmara Municipal de Belo
Horizonte; o recolhimento de acervos acumulados de grande importância como os
projetos arquitetônicos, BHTrans, Câmara Municipal e Cemitério do Bonfim; a
conservação preventiva do acervo audiovisual; os primeiros projetos de digitalização do
acervo; e a promoção de projetos de pesquisa, divulgação e educação patrimonial -
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É cada vez mais significativo o papel do APCBH em Belo Horizonte. Hoje o Arquivo é
referência obrigatória para quem pesquisa a história da cidade e de suas políticas públicas,
para o cidadão em busca de determinados direitos e informações, para o professor que
leciona sobre a história e a memória locais. Muitos outros usos ainda podem e devem ser
mais explorados, mas destaco a procura do Arquivo pelos próprios agentes públicos, entre
autoridades e servidores da PBH e da Câmara Municipal.
Como cidadã, eu busco ser otimista quanto ao futuro do APCBH, tanto quanto o futuro
de nossa democracia e do nosso projeto como nação, que passa hoje por uma crise sem
precedentes. Como uma instituição que sempre teve que lutar muito pelo reconhecimento
de sua importância, a APCBH desenvolveu uma musculatura e uma flexibilidade que lhe
permite sobreviver às crises orçamentárias, à carência de pessoal, numa constante busca
por alternativas para consecução de sua missão institucional.
O APCBH já é uma referência cultural na cidade, mas ainda precisa ver reconhecida sua
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RESUMO: As vivências conseguem contar histórias sobre lugares que não passam por livros, mas que
podem ser captadas e representadas através de mapas mentais que, por sua vez, mostram uma possível
relação de “lugar” ou mesmo de “não-lugar”. Portanto, essa pesquisa buscou reconstituir a relação dos
alunos e ex-alunos do Instituto de Educação de Minas Gerais com o espaço da escola, compreendendo se
existia/existe um senso de pertencimento, a partir da concepção geográfica de “lugar” (TUAN, 2012), com
a utilização da análise de mapas mentais produzidos por esses pares. Assim, reconstrói-se não só a relação
escolar, que passava por reformulações, mas também vivências da cidade de Belo Horizonte em meio à sua
modernidade.
ABSTRACT: Experiences can tell stories about places that are not told by books, but that can be captured
and represented through mental maps, which in turn, show a possible relationship, of "place" or even of
"non-place". Therefore, this research sought to reconstruct the relationship of students and former students
of the Institute of Education of Minas Gerais with the school space, understanding if there was or exists a
sense of belonging, from the geographical conception of place (TUAN, 2012), with the analysis of mental
maps produced by these pairs. Thus, we reconstruct not only the school relationship, which was undergoing
reformulations, but also experiences of the city of Belo Horizonte in the midst of its modernity.
Introdução
1*
Doutoranda em Educação Cartográfica. Mestra em Geografia. Professora do Departamento de
100
Geografia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) – Belo Horizonte/MG.
E-mail: jugrafiabh@gmail.com
2 **
Graduanda em licenciatura e bacharelado em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de
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Dessa forma, o objetivo geral desta pesquisa foi analisar a relação dos alunos e
ex-alunos do Instituto de Educação de Minas Gerais com o espaço da escola,
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Metodologia
(2007), Rocha (2007), Pessanha (2016), e Nogueira (2002, 2013). Dessa forma, o
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aprofundamento teórico sobre as postulações teóricas dos autores foi fundamental para a
construção da análise do estudo de caso da pesquisa.
Na etapa seguinte da pesquisa, foram realizadas entrevistas estruturadas com os
alunos e ex-alunos do Instituto de Educação de Minas Gerais, com o intuito de comparar
a relação vivida por cada um deles. A entrevista estruturada foi escolhida na medida em
que é “aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido; as
perguntas feitas ao indivíduo são predeterminadas” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p.
197).
A fim de analisar possíveis relações de “topofilia” - que segundo Tuan (2012, p.
19) é o “elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico” e a “topofobia”, sendo o
sentimento de medo, aversão e não vínculo ao lugar - entre os alunos e ex-alunos e o
Instituto, foi solicitada a elaboração de mapas-mentais que remetessem à memória do
espaço escolar. A metodologia dos mapas mentais foi definida, pois trata-se de uma forma
de linguagem capaz de refletir o espaço vivido representado em todas as suas nuances,
cujos signos são construções sociais, evidenciadas através de lembranças vivenciadas
pelos indivíduos, sendo essas boas ou más.
Para coletar informações com os alunos, foi realizada uma visita ao IEMG durante
o período da manhã, no ano de 2018, com o intuito de realizar as entrevistas estruturadas
e solicitar a elaboração dos mapas mentais. A identificação desses alunos foi feita pela
diretora da escola, que indicou aos pesquisadores uma turma específica para a realização
das entrevistas. Desse modo, as entrevistas foram gravadas em áudio e, posteriormente,
transcritas. Já os mapas mentais foram elaborados individualmente em folha A4, que
posteriormente foram escaneadas para compor o trabalho. Dessa forma, foram realizadas
o total de dez entrevistas com os alunos do terceiro ano do ensino médio que estavam
matriculados no Instituto no ano da realização da presente pesquisa.
Em relação aos ex-alunos, foi feita uma pesquisa prévia em grupos dispostos em
redes sociais, como Facebook, Instagram, Whatsapp etc., a fim de identificar os ex-
estudantes. A escolha dos ex-alunos entrevistados não seguiu um padrão específico, como
faixa etária, renda, local de residência, etnia e outros. Essa escolha se deu pela
disponibilidade dos mesmos a realizarem a entrevista, através de contatos prévios com
conhecidos das autoras e indicações dos próprios alunos. Ao localizá-los, foi realizada a
103
entrevista com dez ex-alunos de diversas faixas etárias por meio de áudios na plataforma
Whatsapp. Os mapas mentais foram elaborados individualmente em folhas A4,
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espaço específico, adaptado a uma função específica” (VINCENT, 1980, p. 21). Dessa
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Pós-República.
Com isso, Faria Filho (1998) elabora postulações acerca do estabelecimento do
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(Figura 1), a primeira jovem segura um martelo; a segunda, um formão; na parte central,
o sol; a quarta mulher segura um livro; e a quinta uma paleta de pintor. No outro, na
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um galho de café; a segunda, um globo; na parte central, o sol, a quarta jovem segura um
livro; e a última um compasso e um esquadro (CAMPOS, 2013).
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Fonte: (PROJETO...,2018).
(HOLZER, 1996 apud ROCHA, 2007). Essa corrente passou a ser reconhecida como
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Com isso, é possível notar que a gestão escolar influencia diretamente na maneira
como os alunos percebem a escola e seus espaços. Entretanto, o estado precário no qual
se encontram as instalações da escola também é um problema para o uso dos outros
espaços escolares para além da sala de aula. Apesar disso, a maior parte dos entrevistados
afirmou, de fato, se sentirem acolhidos pela instituição e pela comunidade escolar. Desses
alunos, confirmou-se que o tempo de estudos é um elemento relevante, ou seja, os alunos
que estudavam por um período maior de tempo aprofundaram mais nos tópicos da
entrevista, e demonstraram maior preocupação em relação ao estado do espaço físico do
IEMG.
Na produção dos mapas mentais representados a seguir, parte dos alunos buscou
representar a quadra do colégio, conforme a Figura 3. Trata-se de um espaço externo onde
muitos utilizam para práticas esportivas e outros, como um meio recreativo, visto que a
quadra possui uma localização central no colégio onde todos os alunos têm acesso e
podem circular livremente.
Fonte: (PROJETO...,2018).
dos alunos, conforme o proposto por Tuan (2012), na construção do lugar afetivo, e
Nogueira (2002), tendo os mapas mentais como lugar de vida, expressa uma relação de
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afetividade com o espaço, atribuindo a ele a qualidade de lugar. Devido às respostas dadas
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pelos alunos durante as entrevistas, por ser o espaço de convívio com colegas, uma das
justificativas mais frequentes no acolhimento e na identificação em relação à instituição,
e se destinar principalmente à sociabilidade, é possível justificar a importância afetiva
deste espaço, expressa nos mapas mentais.
Outra representação gráfica recorrente pelos alunos é a expressão do hall de
entrada do colégio e a fachada do Instituto, conforme a Figura 4.
Fonte: (PROJETO...,2018).
aprofundada, representou no mapa mental uma planta simples do colégio, sem nenhum
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tipo de detalhe, com exceção da piscina, que apresentava uma descrição um pouco mais
minuciosa do que o restante dos elementos. O distanciamento, a ausência de identificação
e pertencimento pontuados pelo aluno na entrevista se materializa numa representação
distante e pouco aprofundada, corroborando o estabelecimento de um “não-lugar”.
Nesse sentido, quando indagado acerca do sentimento que estabelecia com relação
ao IEMG, o aluno afirmou: “Ah, eu tenho raiva, né?’’ (Aluno 4). Apesar de não
especificar o motivo de tal sentimento, o aluno demonstrou desinteresse em relação à
escola ao responder às perguntas. Ele afirmou que a escolha em estudar no Instituto não
foi sua, mas de sua mãe. Além disso, o estado precário do espaço escolar também se fazia
presente na fala do aluno que, segundo ele, é “meia boca”.
Quanto aos ex-alunos, foram entrevistadas diversas faixas etárias, que concluíram
seus estudos no Instituto de Educação em diferentes momentos. Há uma grande
divergência por parte dos ex-alunos de cada faixa etária. Assim, os ex-alunos mais
recentes revelam grande descontentamento em relação à equipe da instituição e valorizam
a diversidade com a qual tiveram contato. Em contrapartida, os ex-alunos mais antigos
valorizam o tradicionalismo e carregam um discurso classicista, conforme explicitado nos
seguintes trechos: “A maior parte era da mesma classe social... era todo mundo amigo”
(Ex-aluno A). “Hoje sou uma pessoa tradicional, continuo com comportamentos
tradicionais. Sou uma pessoa bem exigente, onde que a escola nos preparou dessa forma,
ela nos engessou em relação a isso” (Ex-aluno B).
Por outro lado, o acolhimento por parte da instituição é defasado em relação aos
alunos mais jovens. Conflitos com a equipe da escola e descaso por parte de professores
e funcionários foram frequentemente relatados, como é possível observar no trecho
ressaltado pelo ex-aluno B: “Eu não me sentia acolhida quando eu tinha que resolver
alguma coisa. Parecia que tratavam o aluno como “f*, tanto faz”, mas pelos professores
eu me sentia” (Ex-aluno C).
Com isso, apesar das dificuldades e desavenças, houve apenas uma exceção por
parte dos ex-alunos quanto à identificação com a instituição, o entrevistado, que dizia não
se identificar com o colégio, se mostrou desinteressado e reproduziu a fachada do IEMG,
sem atribuir ao desenho muitos detalhes. O ex-aluno D também criticou o estado de
conservação do espaço físico do IEMG durante o tempo em que estudou na instituição.
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por parte dos ex-alunos mais velhos. O mapa mental produzido pelo ex-aluno E (Figura
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5) apresenta alto nível de detalhamento, que pode ser atribuído tanto à maior aproximação
deste aluno com a instituição, quanto um reflexo da arquitetura monumental da escola
que, na época, ainda representava um pilar da modernidade.
Fonte: (PROJETO...,2018).
Fonte: (PROJETO...,2018).
do Instituto. O ex-aluno G incluiu, no mapa mental, uma pequena legenda com os dizeres:
“Portão de acesso à quadra. Local onde o aluno Luiz foi agredido e caiu da escada”. O
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Fonte: (PROJETO...,2018).
Considerações finais
Após as análises efetuadas no IEMG, foi possível perceber que, na maior parte
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dos casos, não foi todo o espaço do Instituto que se configurou como um lugar, mas sim
partes do colégio que, a partir da ótica de diferentes gerações, eram mais percebidas e
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vivenciadas que outras. Lugar, nessa ótica, é entendido como locais conhecidos e
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estudantes possuem desse espaço. Ver um prédio como esse, construído no início da
capital se deteriorando com o tempo, impacta fortemente os envolvidos na relação com
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esse espaço.
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Resumo: Este texto é resultante do capítulo “Negro ‘Afro-Horizonte’: eventos culturais de Belo Horizonte
em Movimento Negro Educador”, da dissertação de mestrado Artes Cênicas Negras e a Educação das
Relações Étnico/Raciais em Belo Horizonte, concebida na Faculdade de Educação da Universidade Federal
de Minas Gerais, concluída em fevereiro de 2020. Os eventos culturais negros apontados na predita
pesquisa são brevemente abordados neste artigo, como parte do passado, presente e futuro da capital
mineira, um recorte historiográfico sócio-político-cultural do Tricentenário de Zumbi dos Palmares (1995)
ao Fórum Taculas (2019), assim como enaltecimento das produções negras belo-horizontinas em trajetórias
emancipatórias.
Abstract: This text is a result of the chapter “Black 'Afro-Horizonte': cultural events in Belo Horizonte in
Black Movement Educator”, from the master’s thesis “Black Performing Arts and the Education of the
Ethnic/Racial Relations in Belo Horizonte”, conceived at the Faculty of Education at the Federal University
of Minas Gerais, completed in February 2020. The black cultural events identified in the predicted research
are briefly discussed, in this article, as part of the past, present and future of the capital of Minas Gerais, a
socio-political-cultural historiographical profile from the Tercentenary of Zumbi of Palmares (1995) to the
Taculas Forum (2019), thus as an exaltation of black productions from Belo Horizonte in emancipatory
trajectories.
Introdução
Em 1995, celebrou-se 300 anos da imortal luta de Zumbi dos Palmares com o
propósito coletivo de resistência e emancipação da população negra brasileira. Em Belo
Horizonte, as atividades culturais pautadas nesse tricentenário marcaram a história da
cidade, tal como a criação do Festival de Arte Negra (FAN), idealizado por agentes
culturais negros e realizado pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. O FAN tem
119
1*
Ator e mestre em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE-
Promestre/UFMG). Idealizador e curador do Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras de Belo
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Horizonte. Também curador do 8º Festival de Arte Negra de Belo Horizonte (FAN). Atua em espetáculos
teatrais com circulação no Brasil e exterior. E-mail: denilsontourinho@gmail.com
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supracitado Festival de Arte Negra, assim como o Aldeia Kilombo Século XXI, Rede
Terreiro Contemporâneo, Mostra Benjamim de Oliveira, Solo Negro, Polifônica Negra,
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Disponível em: http://centroculturalvirtual.com.br/conteudo/1o-encontro-rede-terreiro-contemporaneo-
de-danca-2009. Acesso em: 27 de out. de 2019.
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Entre 2012/2013, surgiu a primeira Mostra Benjamin de Oliveira, criada pela Cia
Burlantins e Maurício Tizumba. O nome do evento é homenagem ao celebrado primeiro
palhaço negro do Brasil, Benjamin de Oliveira. A mostra tem programação nacional e
visa contemplar e valorizar a cultura negra brasileira, via protagonismo de corpos negros
em produções artísticas e culturais com elencos, predominantemente, formados por
negros e negras.
A primeira edição da Mostra Benjamin teve como programação de Teatro:
Besouro Cordão-de-Ouro (Rio de Janeiro/RJ); O Alabê de Jerusalém (Rio de Janeiro/RJ);
Carolina, o luxo do lixo (Rio de Janeiro/RJ); Parem de falar mal da rotina (Rio de
Janeiro/RJ); O cheiro da feijoada (Rio de Janeiro/RJ); O Negro, a Flor e o Rosário (Belo
Horizonte/MG); Zumbi (Belo Horizonte/MG); Galanga, Chico Rei (Belo
Horizonte/MG); Oratório – A Saga de Dom Quixote e Sancho Pança (Cia. Burlantins –
Belo Horizonte); Clara Negra (Cia Burlantins – Belo Horizonte); Munheca (Cia
Burlantins – Belo Horizonte); Abolição, um novo olhar (Grupo de Teatro Filhos de
Zambi, Comunidade dos Arturos – Contagem). E na área da dança os espetáculos:
Masemba (Benjamin Abras – Belo Horizonte); Aula-espetáculo de dança-afro (Evandro
Passos – Belo Horizonte); Faça algum barulho (Rui Moreira Cia. de Danças – Belo
Horizonte); Afrikar (Código Movimento – Belo Horizonte); Mulheres de Baobá
(Companhia Baobá de Dança – Belo Horizonte).
Destacar a programação da primeira Mostra Benjamin de Oliveira enriquece a
análise crítica e o reconhecimento de produções cênicas negras em cartaz na época, em
Belo Horizonte e no Brasil. Em 2018, a mesma equipe de criação e realização da
Benjamin criou o projeto intitulado Solo Negro, como o próprio nome indica, nesse
evento são pautados trabalhos em versão solo de cênicas negras.
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Disponível em: http://burlantins.com.br/benjamin/a-mostra-2/. Acesso em 27 de out. de 2019.
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negras brasileiras. No elenco dessa peça teatral consta a atriz Renata Paz, também arte-
educadora do ProJovem Adolescente. A peça Xabisa (BH/MG) também já foi apresentada
na referida mostra, mais de uma vez, nessa encenação atua Michelle Sá, arte-educadora
do ProJovem Adolescente, criadora e curadora do Teatro na Quebrada.
Teatro na Quebrada é uma mostra periférica e, assim como a Mostra Puxadinho,
levanta parcerias para a realização e manutenção das atividades. Nesse sentido, a
realização da mostra Teatro na Quebrada tem sido desenvolvida com apoio do Programa
ProJovem Urbano Belo Horizonte e suas/seus educadoras/es.
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Disponível em: https://www.facebook.com/pg/EnegreSer/about/?ref=page_internal. Acesso em: 27 de
out. de 2019.
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SegundaPRETA - 2017 10
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O Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras de Belo Horizonte surgiu
levantando reconhecimento e valorização das produções cênicas negras da capital
mineira. Premiação conceitual, reverencia a pesquisadora, artista e rainha de Nossa
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Disponível em: https://www.facebook.com/Aquilombô-Um-Arquipélago-2751510208225036/. Acesso
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Senhora das Mercês do Reinado de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá Leda Maria
Martins, e tem em estudos de Martins as referências para elaboração das categorias do
projeto cultural de honrarias.
O Prêmio Leda apresenta um tema para cada edição e desenvolve uma catalogação
com montagens cênicas negras de Belo Horizonte e região metropolitana, de todos os
tempos e estilos variados. Esses trabalhos cênicos são analisados por uma comissão júri
especializada em artes e culturas negras, as/os juradas/os fazem apreciação das montagens
cênicas de acordo com o tema e as 10 categorias: Encruzilhada – área, Direção;
Muriquinho – área, Infantojuvenil; Oralitura – área, Texto | Trilha Sonora; Corpo
Adereço – área, Dança; Performance do Tempo Espiralar – área, Performance; Lugar
da Memória – área, Cena Curta; Afrografia – área, Atuação; Cena em Sombras – área,
Cenário | Figurino | Luz; Palco em Negro – área, Espetáculo Longa Duração;
Ancestralidade – área, Personalidade | Homenagem | revelação.
Em 2017, o Prêmio Leda teve o tema Afeto Emancipatório de Nilma Lino Gomes;
em 2018, Escrevivência: escrever, viver, se ver de Conceição Evaristo; em 2019,
Exuzilhar de Cidinha da Silva; e em 2020, edição especial online, Quilombismo inspirado
no livro O Quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista, de Abdias
Nascimento.
O Prêmio Leda Maria Martins, idealizado e coordenado pelo artista e autor deste
artigo Denilson Tourinho, figura originalidade ao se desvencilhar do padrão de premiação
estruturada em categorias adjetivadas como “melhor”, e por provocar leituras e
interpretações conceituais ampliadas acerca das obras premiadas.
2018 foi o ano de estreia da Mostra Negras Autoras, realizada pelo Negras
Autoras, coletivo formado pelas artistas Elisa de Sena, Júlia Tizumba, Manu Ranilha,
Nath Rodrigues, Vi Coelho e, originalmente, com Eneida Baraúna. Esse evento se
estrutura nas questões negras étnico/raciais e de gênero, acolhendo produções artísticas e
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Disponível em: http://polifonicanegra.com/2017/polifonica-negra/. Acesso em: 08 de ago. de 2019.
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Resumo: Este estudo tem como objetivo investigar as mudanças estruturais executadas na cidade de
Belo Horizonte e no estádio Governador Magalhães Pinto, “Mineirão”, no contexto da copa do mundo
sediada no Brasil em 2014. Pretende-se analisar os sentidos históricos atribuídos pelos jornais para a
reforma ou modernização do estádio. Para isso, este trabalho apresenta a investigação dos periódicos da
capital mineira a partir da análise de diferentes veículos em busca de identificar a articulação entre a
difusão do referido tema no imaginário sobre o futebol em Belo Horizonte e as questões políticas e
sociais referentes ao contexto analisado. Como resultados, observamos o alinhamento do olhar dos
jornais com o regime de historicidade presentista.
Abstract: This study aims to investigate the structural changes executed in the city of Belo Horizonte
and in the Governador Magalhães Pinto stadium, "Mineirão", in the context of the World Cup hosted in
Brazil in 2014. It is intended to analyze the historical meanings attributed by newspapers to the reform
or modernization of the stadium. To this end, this paper presents an investigation of the newspapers of
the capital city of Minas Gerais from the analysis of different vehicles in an attempt to identify the
articulation between the diffusion of the referred theme in the imaginary about soccer in Belo Horizonte
and the political and social issues concerning the analyzed context. As results, we observe the alignment
of the newspapers' gaze with the presentist historicity regime.
O Estádio Mineirão
1
O título faz referência à fala de Sérgio Barroso, secretário da Secretaria Extraordinária de Estado da Copa do
Página
Mundo em 2011.
2
* Graduado em História. Professor de História. E-mail: bryanmartins@outlook.com.
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2014, o estádio passou pela sua maior reforma que transformou não só suas estruturas físicas,
mas também simbólicas.
Antes de poder completar 45 anos de sua inauguração, o Mineirão foi fechado no dia 6
de junho de 2010. Com um vasto público ao longo dos anos, algumas formas de convívio foram
se construindo ao redor do estádio. Pereira (2004) analisa o Mineirão como um espaço público
onde floresceram redes de sociabilidade.
Segundo Pereira (2004), nas adjacências do estádio, a concentração de muitos
torcedores ocorria em frente às barraquinhas credenciadas pela Prefeitura Municipal de Belo
Horizonte. Ali os torcedores se divertiam, bebiam, conversavam, cantavam músicas referentes
aos clubes, provocavam o adversário. Segundo a autora, os encontros eram breves, conversas
rápidas e sem abordar temas mais polêmicos, como também havia grupos que se conheciam e
se reconheciam como frequentadores daquela barraca, estabelecendo, assim, sociabilidades
específicas daquele espaço.
Podemos perceber essa sociabilidade na reportagem “Novo Mineirão mostra sua cara”
do jornal Hoje em dia do dia 29 de abril de 2011.
Todo mês junto R$ 50 para comprar ingressos para mim e minha esposa. Sei que vai
ser caro, então comecei cedo. Quero vir num jogo da Copa”, garantiu atleticano, ele
diz sentir saudade do tropeiro e do clima de amizade da barraca da Dona Naná, que
ficava em frente ao portão 12. (MORENO, 2011).
3
Para saber mais sobre os primeiros anos do esporte na cidade de Belo Horizonte, veja o estudo de COUTO
(2003).
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O Mineirão também é reconhecido como uma das causas do sucesso do futebol mineiro.
Afinal, após a sua inauguração, o Cruzeiro venceu a Taça Brasil de 1966 e a Libertadores de
1976 enquanto o Atlético Mineiro venceu o Campeonato Brasileiro de 1971. Esses, e muitos
outros títulos que vieram depois, transformaram o Mineirão, que antes era um monumento da
modernidade, em um templo do futebol Mineiro.
Para pensar este imaginário em torno do papel dos jornais para a difusão de uma imagem
em volta da reforma do Estádio Governador Magalhães Pinto, este trabalho pretende analisar
os jornais como construtores de discursos que serão aqui analisados de modo contextualizado.
Para Marc Bloch, a história consiste não apenas em saber como os acontecimentos ocorreram,
mas igualmente como foram percebidos (BLOCH, 2001).
Dessa forma, não basta saber somente que houve a reforma do Mineirão. É necessário
entender como tal acontecimento foi percebido pela opinião pública da capital mineira. Em
outras palavras, o objetivo da investigação presente neste trabalho é compreender como a
reforma foi vista, de certa forma, pelos periódicos da cidade de Belo Horizonte.
Num país onde a imprensa é livre, todos os aspectos da opinião pública têm chance
de se refletir nos jornais: uma análise bem feita, isto é, que faz uma seleção judiciosa,
que utiliza uma imprensa tão variada quanto possível, constitui, portanto, uma
abordagem qualitativa da opinião pública que não se deve desprezar. (BECKER,
2006, p. 196).
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existe em cada contexto temporal e/ou local, um presente específico. Tal presente é o que
trataremos como imaginário a ser entendido através dos periódicos.
No lugar do Governo do Estado, gestor do estádio nos últimos 45 anos, deve entrar
em campo o consórcio formado pelas empresas mineiras Egesa Engenharia e Hap
Engenharia, lideradas pela paulista Construção, em um modelo de gestão
compartilhada com clubes inéditos no país. [...] Hoje o Mineirão é um estádio
deficitário, que só em 2009 custou ao Tesouro de Minas Gerais uma suplementação
financeira de R$ 3,395 milhões, por meio da Administração de Estádio dos Estado de
Minas Gerais (Ademg), uma autarquia estadual. Para se transformar em um negócio
lucrativo, o Mineirão deixará para trás o conceito de sede de jogos de futebol para
reabrir as portas como um espaço multiuso, com centro de serviços, lojas, melhor
infraestrutura para eventos, centro de convenções e, possivelmente, até um hotel, caso
o concessionário avalie que sua implantação é viável: Só na vizinha UFMG há uma
demanda potencial de 55 mil pessoas por dia. [...] Durante as obras realizadas em 2011
e 2012, o Mineirão será transformado em um espaço multiuso com potencial de
arrecadação mensal de R$ 2,8 milhões. (EPONINE, 2010)
A partir do que pode ser observado no jornal, para obter mais lucro, o estádio deveria
criar condições para lucrar de várias formas, aproveitando da melhor forma possível seu espaço.
De acordo com a reportagem, a criação de lojas e estruturas para outros tipos de eventos é uma
saída para combater o déficit que o Estado não conseguiu.
Ainda de acordo com a reportagem, o estádio também se tornaria “palco para mega
shows''. Em outras palavras, o Mineirão, além de se tornar um centro comercial com potencial
lucrativo, poderia se tornar o destino de megashows. “O novo Mineirão colocará a cidade nos
circuitos mais importantes”. Para alcançar esse patamar de importância, algumas obras entram
em destaque como o rebaixamento do gramado, que facilitaria a entrada de caminhões para
descarregar equipamentos. Uma vez que a logística estivesse mais eficiente, mais condições de
capitalizar no Mineirão seriam abertas.
O Mineirão começava a deixar seus aspectos de Estádio para trás e os planos para
transformá-lo em Arena já começavam a ser postos em prática. Primeiro, o Mineirão deveria se
tornar um espaço comercial com capacidade de retorno financeiro para seus administradores
extrapolando sua identidade principal ligada ao esporte. Agora se tratava de um espaço multiuso
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com a necessidade de realizar eventos e estabelecer lojas para poder lucrar o máximo possível
dentro do espaço disponível.
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O Mineirão, fechado em 2010 para se preparar para a Copa do Mundo de 2014, passaria,
nos anos seguintes, por uma grande reforma física e simbólica. Dessa forma, vamos focar nos
significados que estiveram ao redor do Estádio durante todo esse processo.
Em reportagem do dia 28 de outubro de 2010 do jornal O Tempo, observamos uma
articulação temporal com a reportagem apresentada na primeira seção.
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Nesta terceira etapa, considerada a mais complexa, estão previstas três importantes
obras, como a cobertura adicional das arquibancadas e a construção de uma esplanada
de 70 mil metros quadrados no entorno do Mineirão, com área reservada para
estacionamento coberto, restaurante e lojas de serviço. (SILVA, 2010) (grifo
nosso)
torcedor, nessa nova lógica, não estaria indo mais ao estádio para vibrar com a partida, mas sim
para se entreter. Ele deixa de ser somente o torcedor apaixonado e se torna, também, um
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Além do Mineirão, quando Belo Horizonte foi escolhida como uma das cidades sede da
Copa do Mundo FIFA, alterações visando à melhoria em sua infraestrutura, segurança pública
e de mobilidade urbana começaram a ser pensadas e executadas.
O que estava em jogo na cidade nos anos que precederam a copa eram investimentos de
curto prazo que foram justificados pelo Estado como possíveis legados do megaevento.
A entrada de pessoas através do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) fez com
141
que a região tivesse uma valorização considerável. Além disso, a expansão da cidade para o
vetor norte, financiada pelo Estado, agradava os olhares do mercado imobiliário. Em
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reportagem do dia 10 de dezembro de 2012, o jornal O Estado de Minas trouxe um breve trecho
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Dessa forma, o governo está mais envolvido com a ideia de presentismo de Hartog, uma
vez que suas ações são voltadas para a maior possibilidade de ganho no mercado especulativo.
As demandas advindas de problemas estruturais da cidade acabam sendo deixadas de lado em
prol do mercado imobiliário e, dessa maneira, um planejamento de longo prazo para a melhoria
da mobilidade urbana de Belo Horizonte como um todo foi rapidamente descartado. Sendo
assim, o prometido legado para a Copa do Mundo não seria algo aproveitado por todos os
cidadãos de Belo Horizonte, mas sim por um pequeno grupo de empresários.
Na área da segurança pública, o Estado brasileiro mobilizou recursos para a integração
das forças de segurança para a Copa do Mundo. Para os jogos em Belo Horizonte, a proposta
foi criar um órgão específico, o “Centros Integrados de Comando e Controle” (CICC) que, no
caso da cidade, teria profissionais das polícias Militar, Civil e Federal, além de agentes da
Defesa Civil, do Corpo de Bombeiros e da própria Prefeitura. Investimentos de R$ 60 milhões
foram destinados à construção do prédio e equipamentos como telões, com imagens das
câmeras da cidade, 200 computadores de bordo acoplados às viaturas e um sistema composto
por um robô e um conjunto de roupas especiais para o desarmamento de explosivos (SEDS,
2012).
Para Sousa, Marinho e Shynnier (2014), a realização pacífica e bem-sucedida de um
megaevento como a Copa do Mundo, serve para os grandes capitalistas envolvidos na promoção
desses empreendimentos, como uma espécie de indicador sobre o contexto social dos países.
A preocupação com a segurança era importante por vários motivos. Primeiro, para que
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o evento ocorresse de forma ordeira e que o público dos jogos e os turistas da cidade pudessem
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ter seus direitos humanos respeitados. Segundo a segurança era importante naquele momento
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em Belo Horizonte pois imagens da cidade seriam transmitidas para todo o mundo, o que
poderia resultar em investimentos futuros.
Dessa forma, podemos dizer que os esforços na infraestrutura da mobilidade urbana e
na segurança da cidade têm um forte compromisso com a especulação financeira e com a
potencialidade da cidade em atrair futuros investimentos. Mesmo que seja importante para a
sustentabilidade da cidade, pouco foi feito para a população em geral.
Além disso, ao falar dos aeroportos, a então presidente da república Dilma Rousseff
sugeriu conceder parte das obras em aeroportos para a iniciativa privada para acelerar as obras.
Dessa forma, as transformações no Mineirão e na cidade seguiram uma lógica de
mercantilização dos espaços públicos.
Segundo Souza (2006, apud TONUCCI FILHO; SCOTTI; MOTTA, 2014, p. 27), o que
acontece na cidade é o enfraquecimento do planejamento de longo prazo ditado por
investimentos públicos e a sua substituição por perspectivas mercadófilas. Dessa forma, seriam
criados planejamentos estratégicos sobre áreas fragmentadas do espaço urbano, ações
necessárias para a cidade ou o país se inserir competitivamente no mundo globalizado.
Entretanto, esse modelo de administração urbana não é algo que a Copa do Mundo
trouxe e sim algo que ela amplificou. Essa modernização que ocorreu em Belo Horizonte não
foi algo isolado, mas fez parte de um processo em escala nacional. O governo federal de Lula
e, posteriormente, de Dilma, já haviam elaborado um projeto de equilíbrio fiscal e feito menções
a reformas estruturais que favoreciam uma política neoliberal, como as reformas tributária,
agrária, previdenciária e trabalhista (SILVA, 2002).
Para Rudá Ricci (2006), trata-se de um discurso pragmático que procura declarar
compromissos com a estabilidade da ordem econômica e política, aumentando a
competitividade internacional do país. O imediatismo do lucro, a necessidade das reformas para
agradar e estimular os movimentos do mercado financeiro foram aos poucos se tornando a cara
da política brasileira.4
Dessa forma, o Brasil estava no cenário econômico internacional e Belo Horizonte,
potencializada pela Copa do Mundo, entrava cada vez mais nessa conjuntura. Norteada por um
projeto político que não pensa no desenvolvimento a longo prazo, mas sim nos lucros
sustentáveis em um curto período, mesmo que várias pessoas fiquem de fora. As transformações
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Página
4
Para saber mais sobre os anos do Governo Lula ler: ANDERSON (2011).
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dos estádios em arenas e as reformas estruturais das cidades seguiram uma lógica de
mercantilização das cidades que estão dentro do regime de historicidade presentista.
Tal percepção pode ser encontrada na reportagem intitulada “Pontapé inicial para sediar
copa de 2014” do dia 1 de agosto de 2007 no jornal O Tempo. A matéria noticiava que a
Confederação Brasileira de Futebol (CBF) formalizava o Brasil como sede para a Copa do
Mundo de 2014. Em um evento em Zurique, o Brasil apresentava um vídeo divulgando o país
que foi comentado pelo jornal.
se alinhando com potências neoliberais. Juarez Guimarães complementa dizendo que o Brasil
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Ibidem.
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sempre foi um país cosmopolita, que nunca se colocou para o mundo com sua cultura, sua
economia e sua política. No futebol, podemos perceber como esse alinhamento se dá de forma
mais clara. As ligas no Brasil e na América Latina como um todo mudaram seus formatos de
acordo com formatos europeus como os sistemas de ligas e, mais recente, a final da Taça
Libertadores da América substituindo os jogos de “ida e volta” por apenas um jogo em um
estádio sorteado.
Juarez ainda argumenta que, ao tentar se adaptar aos “ares do mundo”, o país entra na
terceira fase do neoliberalismo em que a própria ideia de democracia vem sendo desorganizada
por programas neoliberais. O país estaria vivendo desde os anos 90 o ápice do cosmopolitismo,
em outras palavras, o Brasil não se colocava para o mundo com suas identidades, sua cultura e
sua forma de pensar, pelo contrário, sempre acabava se alinhando às demandas internacionais.
Quando o governo assinou as 11 exigências da FIFA, ficou claro um alinhamento
político com o que Juarez Guimarães chama de cosmopolitismo. O Brasil abre mão de sua
soberania para receber não só a Copa do Mundo, mas para receber a mercadoria dos parceiros
da FIFA. Além disso, o Estado isenta a organização de impostos e possíveis danos. Por fim, a
Copa do Mundo serviu, também, para o Estado brasileiro aprofundar um projeto de
mercantilização das cidades e “arenização” dos estádios.
Ainda em 2008, o jornal O Diário do Comércio debatia como o projeto do Mineirão era
pensado para receber marcas e melhorar as viabilidades econômicas.
Nota-se que a grande preocupação era tornar o Mineirão em um polo lucrativo. Através
das análises de mercado, possíveis marcas que poderiam ser associadas ao estádio e outros tipos
de viabilidade econômica tinham o objetivo de tornar o Mineirão em um negócio muito além
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do sustentável, a necessidade era torná-lo lucrativo para quem fosse administrar o consórcio do
Página
estádio.
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Tais aspectos também faziam parte das exigências da FIFA, as quais foram prontamente
adotadas desde os primeiros projetos do estádio. Por exemplo, os painéis eletrônicos de última
geração, que possibilitariam outros tipos de entretenimento dentro da arena como câmera do
beijo e momentos em que os torcedores deveriam vibrar ao aparecerem na tela.
Nota-se, portanto, no imaginário construído pelos jornais, que a modernização do
Mineirão para a Copa do Mundo significa transformá-lo em um polo lucrativo. Entretanto, não
se trata só do Mineirão, mas sim de um projeto nacional que aparece nas diversas arenas
reformadas e construídas no país.
Percebe-se uma articulação com esse imaginário no jornal Hoje em dia de 04 de
novembro de 2012 em reportagem intitulada “Caldeirão para dar Lucro”. O Mineirão seria
transformado num complexo de negócios que iria “muito além do futebol”. Dessa forma, de
deficitário, passaria a gerar lucros.
apoios e patrocínios”.
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nas mãos da iniciativa privada. Dessa forma, as mudanças foram planejadas para que se pudesse
arrecadar a maior quantidade de lucro dentro dos limites do território do estádio. Tais mudanças
acabariam, também, modificando os significados simbólicos do estádio, uma vez que seu
objetivo principal, antes, eram jogos de futebol, no novo Mineirão esse esporte seria só mais
um dos atrativos do espaço.
Gigante da Pampulha. Praticamente pronto, com mais de 96% das obras executados,
o novo Mineirão, que será inaugurado no clássico Atlético x Cruzeiro em 3 de
fevereiro, está em fase de finalização de detalhes de acabamento com a expectativa de
Página
ser muito mais que um estádio de futebol: soluções e recursos preparados pelo
consórcio Minas Arena – que o administrará nos próximos 25 anos por meio de
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parceria público-privada (PPP) com o governo de Minas Gerais – apontam que num
curto espaço de tempo ele poderá se tornar também um saudável espaço de
convivência para a família. O vasto sistema de ar condicionado em praticamente todos
os setores, lojas, bares e estacionamento (distribuído em níveis subterrâneos
semelhantes aos de shoppings) e uma inédita central de segurança dão uma ideia do
que está por vir. (FREITAS, 2012). (grifo nosso)
Esse trecho, dias antes da reabertura, já projeta um Mineirão completamente diferente
do que era antes de todo o processo, sugerindo que ele sumiu ou pouco restou do “velho
estádio”, a não ser por sua imponente grandeza. Percebe-se que há uma naturalização de um
“novo” Mineirão que abrirá suas portas no dia 21 de dezembro de 2012 e a expectativa é que
seja muito mais do que um estádio de futebol.
Nesse novo Mineirão, nota-se novamente um alinhamento a um imaginário ligado à
possibilidade de lucro quando o jornal valoriza os setores comerciais como lojas, bares,
estacionamento, ar condicionado e medidas inéditas de segurança. O conforto dos assentos,
catracas eletrônicas e restaurante com vista para o gramado, poderiam criar as condições
perfeitas para que o indivíduo pudesse consumir em paz naquele espaço. Além disso, esse texto
demonstra um tom conservador ao afirmar que o Mineirão se tornaria um lugar saudável para
a convivência da família.
Nota-se também, em reportagem do jornal O Tempo intitulada “Muito mais que um
estádio” do dia 27 de maio de 2012, certo saudosismo com o Mineirão de outros tempos.
Segundo a reportagem, o Mineirão voltará a ser, após a reabertura, um lugar de família, paz e
lazer como nos “bons tempos do Gigante da Pampulha”.
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Para acabar com a aglomeração que acontece nos momentos que antecedem os jogos
e deixar o Mineirão mais atrativo, serão criados restaurantes, lanchonetes e lojas.
Porém, a grande aposta para transformar o palco de jogos em um espaço de
convivência para a população está na esplanada que vai envolver a arena. No local,
que será liberado durante todos os dias da semana, as pessoas poderão caminhar,
correr, passear com familiares, amigos e cachorros, andar de bicicleta, patins e
skate, enfim haverá uma interação da sociedade.
“[...]. As pessoas poderão chegar mais cedo, já que terão opções. Depois do jogo,
as pessoas poderão jantar nos restaurantes e ficar nos bares por mais tempo. O fluxo
de 60 mil pessoas entrando e saindo ao mesmo tempo é muito ruim para o estádio e
para a cidade”, explicou Silvio Todeschi. (RIBEIRO, 2012) (grifo nosso).
Agora, com a nova esplanada, não haverá a obstrução dos veículos nem das escadarias
e declives em volta do Mineirão, o que vai dar um campo maior de visão e ação para
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Percebe-se, no jornal Hoje em Dia, certa articulação temporal dentro desta lógica.
Segundo a reportagem do dia 22 de dezembro de 2012 intitulada “Um novo Gigante da
Pampulha”, foi construído um centro comercial com aproximadamente cinco mil metros
quadrados para tornar as horas do torcedor na arena mais agradáveis.
O jornal não deixa claro como o novo Mineirão mudaria a forma de torcer do torcedor.
Porém, como demonstrado até aqui, tal maneira de torcer se dá através da individualidade. Os
lugares numerados sugerem a exclusividade do indivíduo. Além disso, a ideia de que o centro
comercial tornaria as horas do torcedor mais agradáveis reforça ainda mais a hipótese do “não-
lugar”.
Os jornais sugerem um novo perfil de torcedor que frequenta o estádio. Um torcedor
que tira o dia para andar tranquilamente pela esplanada do Mineirão, enquanto espera a partida
de futebol começar. Enquanto caminha, terá o conforto e a segurança garantidos pela arquitetura
do local. Os carros não atrapalhariam mais, pois estariam em um piso abaixo. Por fim, teria
sossego para poder se tornar um consumidor naquele espaço, comprando produtos das lojas
oficiais.
A matéria do Hoje em Dia se parece muito com a do O Tempo citada anteriormente.
Aqui, se ressalta também a esplanada como um local de convívio social, algo teoricamente
possível só no novo Mineirão. Além disso, para a cidade, o espaço é de grande importância,
pois teria a capacidade de atrair shows ou outros eventos (UM NOVO..., 2011).
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Considerações Finais
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presente artigo possibilitou uma análise de como a reforma do Mineirão e, em certa medida, da
cidade de Belo Horizonte, foram percebidas dentro de seu tempo pelos jornais da capital
mineira.
A partir da análise dos jornais, podemos perceber uma articulação no imaginário que se
aproxima ao regime presentista proposto por Hartog. Ao longo dos anos da reforma de
preparação para a Copa do Mundo FIFA 2014, os jornais detalharam diariamente aspectos de
como o novo estádio seria após a abertura. As descrições, em grande medida, apontavam para
um velho estádio que havia fechado as portas para dar lugar a uma arena moderna com grandes
características de um não-lugar. A arena reforçaria a ideia de um espetáculo que precisa ser
apreciado individualmente, se tornando um espaço de consumo, rompendo com as tradições de
torcida coletiva.
Dessa forma, percebe-se que o Mineirão, no imaginário dos jornais, está, em grande
medida, ligado ao regime de historicidade presentista, pois sua nova configuração preza pelo
ganho imediato em cima de um bem público. Tal perspectiva não é necessariamente boa ou
ruim, pois é preciso ser sustentável para continuar funcionando, a questão aqui é perceber quais
são os significados das ações no contexto estudado.
Entretanto, o Mineirão é uma arquitetura com mais de 50 anos de idade. Várias formas
de apropriação ocorreram ao longo do tempo. Apropriações que se chocaram com o Novo
Mineirão, aberto em 2013. Nesse sentido, uma pesquisa oral com torcedores, que frequentavam
o estádio antes da reforma e não vão mais, ou torcedores que iam e continuam indo, ou
torcedores que só conhecem o novo Mineirão, poderia render um rico estudo sobre como o
estádio é percebido.
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154
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Resumo: O objetivo deste artigo é analisar o processo de integração de Sabará à Região Metropolitana e
sua relação com o espaço da metrópole Belo Horizonte, perpassando por discussões no que diz respeito à
compreensão das novas conformações da vida em Sabará, que ultrapassam os seus limites oficiais. Para
melhor compreender o recorte escolhido, a pesquisa buscará investigar a transformação de Sabará frente ao
processo de crescimento das regiões metropolitanas, realidade recorrente em todo Brasil. Devido à
quantidade de estudos no âmbito da fragmentação e novas configurações do espaço urbano, e como esse
fenômeno também se aplica ao recorte espacial escolhido, buscar-se-á realizar uma revisão de literatura
sobre a temática da metropolização e suas repercussões. Os conceitos de integração e fragmentação
conduzirão a discussão a fim de compreender como se aplicam à relação Sabará-Belo Horizonte.
Palavras-chave: Metropolização. Região Metropolitana. Sabará.
Abstract: The objective of this article is to analyze the process of integration of Sabará to the Metropolitan
Region and its relationship with the space of the metropolis Belo Horizonte, passing through discussions
regarding the understanding of the new conformations of life in Sabará, which go beyond its official limits.
To better understand the chosen subject, the research will seek to investigate the transformation of Sabará
regading the growth process of metropolitan regions, a recurrent reality in Brazil. Due to the amount of
studies in the scope of fragmentation and new configurations of urban space, and as this phenomenon is
also applied to the chosen space, we will seek to carry out a literature review on the theme of
metropolization and its repercussions. The concepts of integration and fragmentation will lead the
discussion in order to understand how they apply to the Sabará-Belo Horizonte relationship.
Keywords: Metropolization. Metropolitan Region. Sabara.
Introdução
1*
Bolsista CNPq, Mestranda em Ciências Sociais pela PUC Minas e Licenciada em História pela Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: alidiaps@gmail.com
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conceitual no campo dos estudos urbanos. É preciso reconhecer que grande parte das
cidades latino-americanas, devido ao processo parecido de industrialização, possuem
fortes semelhanças e pontos de congruência, contudo, uma análise de caso se faz de
extrema necessidade para compreender os diferentes reflexos que a urbanização é capaz
de produzir.
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“outro”, que por sua vez não deixa de estar integrado ao todo e, somada a essa percepção,
a discussão feita por Chetry (2014) evidencia que esse processo no âmbito espacial é
como uma “fratura” incapaz de ser resolvida.
Este artigo está dividido em três partes, primeiramente será discutida a formação
das metrópoles e suas relações socioespaciais, pontos fundamentais que irão conduzir ao
conceito de fragmentação e integração e como estão relacionados ao processo de
intensificação urbana e metropolização. Num segundo momento, será abordado o caso de
Sabará e Belo Horizonte, e como os processos de fragmentação e integração se fazem
presentes a partir do crescimento da capital mineira, além de buscar entender a formação
de novas conexões entre as cidades, que extrapolam os limites físicos. Por fim, uma
conclusão para elencar os pontos de interseção dessas teorias debatidas com o caso da
cidade de Sabará e Belo Horizonte.
2
Aqui utilizo o da publicação mais recente, datada de 2018.
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colonial3, mas para compreender a construção da dinâmica urbana atual, como Gorelik
diz, as cidades latino-americanas são “realidades construídas” (2005, p.112).
O processo de crescimento das cidades brasileiras e a intensificação da
urbanização nesse território após a década de 1950 se deu a partir dos interesses dos países
ditos como desenvolvidos, que enxergavam potencial de firmar uma zona produtiva em
algumas cidades, devido à oferta de matéria-prima e mão de obra abundantes4. Contudo,
a questão da permanência do fator desigualdade é um dos alvos do debate, visto que o
processo de urbanização nos países de capitalismo periférico não ocorreu de forma
homogênea, assim essa questão se tornou um problema evidente à medida que a
população abandona os campos em direção às cidades. O crescimento rápido, intenso e
muitas vezes desordenado, contribui fortemente para a obtenção do modelo de
urbanização que temos. No caso do Brasil, é perceptível através dos dados estatísticos a
acentuação dos espaços periféricos em grandes cidades como Rio de Janeiro, São Paulo
e Belo Horizonte, e como essas localidades trazem à tona a desigualdade socioeconômica.
A explosão rápida dessas cidades acaba por gerar um inchaço das metrópoles, que
concentram serviços e maiores oportunidades, tendo como resultado um grande déficit,
seja de moradia, de acesso a serviços, de empregos, desencadeando os subempregos
(principalmente no setor do comércio informal), aglomerações e a marginalização desses
sujeitos. De acordo com Castells (2001) esse desequilíbrio urbano tem como uma das
consequências a falta de serviço para todos, fato que mais uma vez contribui para a piora
da desigualdade. Além disso, a intensificação da modernização das cidades traz à tona a
discussão em torno do agravamento das disparidades sociais, como Gorelik levanta:
“Como acelerar a urbanização sem exacerbar os problemas que estão associados ao
crescimento urbano?” (2005, p. 119). O autor ressalta a questão da necessidade dos
estudos sociológicos para que a expansão econômica não se fundasse sobre grande
sofrimento humano, mas que fossem construídos planos para lidar com essa questão.
Um dos desdobramentos dessa problemática nas cidades brasileiras é a tendência
de crescimento do espaço metropolitano. Há uma transformação nos arranjos das cidades,
3
Castells ressalta a importância de considerar o processo de colonização ibérica pelo qual os países latinos
159
passaram longos séculos, sendo inegável que boa parte dos problemas atuais são resquícios desse contexto.
Além disso, o modelo de cidade e suas funcionalidades já eram existentes nas circunstâncias coloniais,
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aumentando o grau de conexão entre elas, questão que será retomada posteriormente
nessa discussão. O grau de dependência entre metrópole e cidades menores é algo
recorrente e, no caso do Brasil, essa dinâmica ganhou tamanha complexidade a ponto de
cunhar novos conceitos acerca da disposição do espaço urbano.5
5
Para explicar melhor a questão dos espaços metropolitanos e seus arranjos, retomarei mais adiante a
ideia de arranjos urbanos discutida na pesquisa feita por Rosa Moura (2009).
6
Apresento o conceito de Região Metropolitana a que me refiro, publicado pelo Observatório das
Metrópoles: “Corresponde a uma porção definida institucionalmente, como, no Brasil, as nove RMs
institucionalizadas pela Lei 14 e 20/73 ou as atuais definidas pelas legislações dos estados brasileiros, com
finalidade, composição e limites determinados. A absorção legal do termo “região metropolitana” e a
160
corresponde a uma figura regional diferente da região metropolitana, podendo-se inferir, portanto, que não
tenha o polo na posição hierárquica de metrópole.” (PONTES; PEDREIRA, 2008, p.30)
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O que deve ser destacado na realidade das metrópoles brasileiras é que o aumento
da urbanização não se concretizou como um plano, seguiu desordenado nas cidades, fator
que impacta na transformação do espaço e está diretamente conectado à lógica da
financeirização (RIBEIRO,2018), como uma das reações nos países de capitalismo
periférico, capaz de ressoar no campo econômico e socioespacial. No estudo produzido
pelo Observatório das Metrópoles acerca das integrações dos municípios brasileiros,
destaca-se a seguinte consideração:
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A partir das colocações feitas para o contexto espacial e temporal que este artigo
trata, deve-se ressaltar que ser parte da região metropolitana implica ter considerável
densidade populacional e estar próxima à metrópole espacialmente e em fluxo de pessoas,
além de retroalimentar uma relação de dependência entre algumas das cidades
pertencentes a essa estrutura, principalmente as que possuem alta integração com a
capital. O estudo apresentado por Cano (2011) traz uma importante reflexão sobre os
efeitos do crescimento das cidades e a dinâmica financeira associada à alocação da
população de acordo com sua renda. Belo Horizonte é uma das cidades que foi marcada
pelo crescimento acelerado e pela segregação espacial desenvolvida ao longo dos anos,
dessa forma a urbanização promoveu, gradativamente, o afastamento da população de
baixa renda dos centros urbanos, e a especulação imobiliária se tornou recorrente pela
facilidade de acesso a serviços que esses espaços oferecem. Dessa maneira, as cidades
próximas aos centros econômicos e de serviços tornam uma opção mais viável para os
indivíduos que se encaixam como operário, operário-popular e popular, visto que
oferecem um custo de manutenção menor do que residir nas proximidades do local de
trabalho/estudo.
Embora boa parte das relações de intercâmbio social entre as cidades vizinhas de
Belo Horizonte já existissem, a região metropolitana só foi criada institucionalmente no
ano de 1973 através da lei complementar número 14, que considerou as cidades de Betim,
Caeté, Contagem, Ibirité, Lagoa Santa, Nova Lima, Pedro Leopoldo, Raposos, Ribeirão
das Neves, Rio Acima, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano, como parte integrante dessa
conformação. Então, compreende-se que a metrópole de Belo Horizonte passa a ser uma
cidade capital que ocupa um espaço de influência para além de sua limitação geográfica.
Como o estudo de Geddes (apud FREITAS-FIRKOWSKI, 2020) sugere, a
metropolização do espaço ocasiona a expansão em uma grande mancha urbana que
tratamos como conurbação. Assim, ao analisar a ocupação do espaço, é difícil distinguir
onde começa ou termina uma cidade, fenômeno que caracteriza as metrópoles.
163
cidade de Sabará, fundada como Villa Real em 1710, foi uma das mais relevantes
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atinge os maiores níveis das taxas citadas, mais alto dentre a classificação das cidades
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Em uma amostra feita pelo Censo de 2010 de pessoas com mais de 10 anos,
ocupadas na semana de referência, revela que no município de Sabará 33.594 pessoas se
deslocam para outro município para trabalhar, enquanto 24.779 trabalham e residem na
mesma cidade. Além disso, a pesquisa mostra a seção das atividades7, sendo as mais
recorrentes entre os que praticam movimento pendular as seguintes: comércio, reparação
de veículos automotores e motocicletas, construção e serviços domésticos, já entre os que
residem e trabalham em Sabará, as maiores seções de atividades são: comércio, reparação
de veículos automotores e motocicletas, indústria de transformação e serviços
domésticos. Esses dados são essenciais para o conhecimento do perfil dos trabalhadores
do município, de acordo com os estudos do Observatório das Metrópoles, Sabará se
encaixa como um município operário e operário popular de acordo com suas
características socioespaciais, além de ser considerado no período entre 1980 a 1991
165
7
Setor produtivo ocupado pelo trabalhador e qual a função desempenhada. Definição construída pelo
Censo de 2010.
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dados mais recentes (2015) constatam que 71,5% da receita municipal são de origem
externa, ponto que pode ser associado à dependência econômica para com a metrópole
devido à baixa geração de empregos, oportunidades de estudos e acesso a serviços mais
especializados. No entanto, esses ocorridos não são exclusivos da relação Sabará-Belo
Horizonte, sendo recorrentes em ambientes metropolitanos, considerados como reflexo
da centralidade exercida pela metrópole, fato já tratado ao longo deste artigo.
como um município de alta integração pelo censo de 2000 e mantendo essa aproximação
também no censo de 2010, como a figura 2 ilustra. A intensificação desse processo e a
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aproximação das cidades em questão podem ser lidas como reflexo do processo de
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dependência. Sabará não abriga nenhuma estrutura produtiva de grande expressão para a
região e, ao compararmos as taxas de movimento pendular, o número de entrada é
bastante inferior ao de saída, tendência recorrente nas cidades da região metropolitana e
que não exercem influência.
Considerações finais
Sabará e Belo Horizonte, a relação entre esses espaços antecede a consolidação da área
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Júlia Calvo2**,
em março de 2020
RESUMO: Esse é um texto escrito em dois tempos e a quatro mãos. O texto em si, que originou este artigo
é um manuscrito escrito pelo meu pai, falecido em 2018. A apresentação é minha, escrita em 2020. Em
novembro de 1994, Belo Horizonte passou por uma política patrimonial muito agressiva: tombou ao mesmo
tempo toda a região do hipercentro incluída como Conjunto Urbano Avenida Afonso Pena – Rua da Bahia
e Adjacências. Casas, palacetes, edifícios residenciais e comerciais, praças e outros equipamentos foram
deliberados para uma política de tombamento. No texto B.H. – Cidade Censurada, Reynaldo Calvo,
arquiteto e cidadão, reflete sobre a cidade e suas transformações e sobre a relação da cidade com o passado,
trazendo contribuições sobre as diretrizes de patrimônio e de cultura no mundo contemporâneo e em Belo
Horizonte.
ABSTRACT: This was written twice and by four hands. The text itself, which was the origin for this
article, is a manuscript written by my father, who died in 2018. The presentation is mine, written in 2020.
In november 1994, Belo Horizonte underwent a very aggressive patrimonial policy: at the same time, the
entire hyper-center region, including the Afonso Pena avenue – Rua da Bahia Urban Complex and its
surroundings with their houses, mansions, residential and comercial buildings, squares and other equipment
were deliberated for a heritage policy. In the text BH – Censored City, Reynaldo Luiz Calvo, architect and
Citizen, reflects on the city, its transformations and relationship with the past, which effectively contributes
to the guidelines of heritage and culture preservation in the contemporary world and in Belo Horizonte.
170
1
*Arquiteto premiado pelo IAB-MG em 1966 com projeto de Escola pública e no Concurso de projetos da
CARPE/IAB-MG de 1981. Graduado em Arquitetura pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1964.
Foi presidente do IAB-MG, da UIBH e do IHIM. Falecido em 2018.
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**Graduada em História e Doutora em Ciências Sociais pela PUC Minas e professora do Departamento
de História da PUC Minas. E-mail: juliacalvo1@gmail.com
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Apresentação
Esse texto BH – Cidade Censurada, nunca foi publicado. Foi descoberto pela
minha mãe, após o falecimento do meu pai no final de 2018, como um manuscrito ainda
datilografado e com destaques, correções e alterações. Nele, o arquiteto e o cidadão, faz
uma crítica aberta à política patrimonial que levou ao tombamento dos edifícios da área
central, da cidade de Belo Horizonte, em 1994, com a criação da Diretoria de
Patrimônio Cultural.
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Pena, 774 (fachada e volume); Agência do UNIBANCO – Avenida Afonso Pena, 737
(fachada e volume); Avenida Afonso Pena, 749 (volume); Lojas Hamiltom – Avenida
Afonso Pena, 771 (volume); Edifício Acaiaca – Avenida Afonso Pena, 867 (fachadas);
Rua Espírito Santo, 757 (fachadas e volume); Igreja Metodista do Brasil – Rua Tupis, 51
(fachada e volume); Edifício Parc Royal – Rua da Bahia, 902 (fachadas e volume); Hotel
Metrópole – Rua da Bahia, 1025 (fachadas e volume); Rua Goiás, 60 (fachada e volume);
Museu de Mineralogia Djalma Guimarães – Rua da Bahia, 1149 (fachadas e volume);
Rua da Bahia, 1155 (fachadas e volume); Clube de Belo Horizonte (Sociedade Recreativa
de Minas Caixa) - Rua da Bahia, 1201 (fachadas e volume); Pizzaria Giovani – Avenida
Afonso Pena, 1124 (fachada e volume); Avenida Afonso Pena, 1156 (fachada e volume);
Museu do Telefone – Avenida Afonso Pena, 1180 (fachada e volume); Correios e
Telégrafos – Avenida Afonso Pena, 1270 (fachadas e volume); Edifício sede do
Automóvel Clube – Avenida Afonso Pena, 1394 (fachadas e volume); Tribunal de Justiça
Rodrigues Alves – Avenida Afonso Pena, 1420 (fachadas e volume); Secretaria do
Tribunal de Justiça (antigo Fórum) – Rua Goiás, 229 (fachada e volume); Conservatório
Mineiro de Música – Avenida Afonso Pena, 1534 (fachada e volume); Palácio das Artes
– Avenida Afonso Pena, 1537 (fachadas e volume); Teatro Francisco Nunes (fachadas e
volume); Abrigo de Bondes Santa Tereza (integral) 3
Reynaldo Luiz Calvo é arquiteto, formado pela Faculdade de Arquitetura da
UFMG. Suas digitais e concepções estão espalhadas por Belo Horizonte de muitas formas
e em diferentes tempos. Além de projetos residenciais e obras estruturais e prédios
públicos como a Câmara Municipal de Belo Horizonte, a adequação do terminal de
passageiros do Aeroporto da Pampulha, o Hospital Belvedere. Tem histórico de
representação como suplente, secretário e presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil,
seccional de Minas Gerais (IAB-MG), Presidente do Instituto Israelita Mineiro (IHIM) e
membro de sua diretoria por muitos anos, Presidente da União Israelita de Belo Horizonte
(UIBH) e membro de sua diretoria por muitos anos. Também foi premiado pelo IAB-MG
em 1966 com projeto de Escola pública e em 1981, com seu escritório, no Concurso de
Projetos da CARPE/IAB-MG (Projeto Escola de Vila).
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3
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Disponível em:https://prefeitura.pbh.gov.br/sites/default/files/estrutura-de-governo/politica-
urbana/2018/planejamento-urbano/cca_diretrizes_de_protecao_ao_patrimonio_cultural.pdf. Acesso em:
2021.
REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513
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sentidos e o lugar nas diversas mudanças e dinâmicas que o espaço e a sociedade revelam
ao longo do tempo. As ações são importantes como garantia para que não se perca bens
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de valor para a memória da cidade, mas refletir sobre elas, em 1995 e hoje, são ainda mais
importantes. Vamos ao texto:
emergente, e com seus efeitos nas cidades, já tão visíveis na América do Norte, não
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podendo dele esperar-se uma reflexão ou forma urbana apropriada aos novos tempos.
Cidade para o qual não se pretendeu marcar por um estilo, mas com ruas de excelente
caixa, na planície aos pés da Serra do Curral, definida por um contorno do núcleo urbano,
o Ribeirão dos Arrudas e uma ferrovia, mas surpreendendo pelas perspectivas limitadas
pela topografia, chegando inclusive a aparecer barroca quando alcançando-se o topo da
larga avenida da Liberdade depara-se com uma surpresa pasmante com a bela esplanada
do palácio.
Porém nem “urbs”, nem “civitas”, mas motivo de muito orgulho dos “papudos”
como pejorativamente eram tratados pelos ouropretanos os habitantes do arraial, que via
crescer uma obra ciclópica, com as serrarias a vapor, os vários ramais ferroviários e as
grandes galerias subterrâneas. A grandiosidade necessária a uma capital, seria medida
pela beleza do sítio e pelas obras arquitetônicas a implantar, belas, porém fruto da pior
fase histórica da arquitetura que foi a do século XIX, um verdadeiro período de
desintegração, onde as construções são desprovidas de raízes na paisagem, exclusiva,
forma externa, o estereótipo morto de outra cultura. Embora não entendida senão pelos
eruditos, era decisivo motivo de orgulho, tanto pela beleza de muitas das obras
neoclássicas, como pelo troco pesado que seria dado nos despeitados ouropretanos com
sua “pobre” arquitetura, como por constituir-se na sensação de nivelamento social com a
elite.
A fraca personalidade urbanística produziu alterações imediatas, e em menos de
um quarto de século inúmeros e pomposos prédios foram derrubados e substituídos, as
secretarias foram implantadas em local diverso do projeto, as obras do parque municipal
(restaurante, cassino, observatório meteorológico) foram sequer iniciadas. A indefinição
de zonas de uso como é hoje – e isto foi bom – produziu o nosso primeiro especulador
urbano, o José dos Lotes (José Francisco de Macedo) que procurando com outros
comerciantes locais para instalar sua mercancia ia também adquirindo os lotes sorteados
para proprietários de Ouro Preto, que definitivamente para aqui não viriam. “Extinta”
após a inauguração a Comissão Construtora, o ritmo de ocupação continuou célere como
se procurasse alcançar de imediato os 30.0000 habitantes da primeira demarcação (+
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de 1940, até hoje vigente. Definia ele um centro comercial no núcleo urbano e que muito
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consolidado em 46 com Otacílio, e que muita dor de cabeça iria nos trazer, gabaritos de
altura, normas de ventilação e iluminação, enfim, “moderno”, mas ainda como quase tudo
nosso, cópia de “algo” ou de algum lugar que desconhecemos.
A verticalização desenfreada do centro gerou nas palavras de um amigo ex-reitor
uma “cidade de costas” pois só existiam fachadas de frente e fundo e a última nunca
tratada pelos arquitetos, permitia que, pela distância, se avistasse a triste perspectiva das
casas de máquinas e reservatórios (como pombais) e essas fachadas sem preocupação, e
acabamento inferior. Como náufragos urbanos como até hoje sem saber o que fazer,
caminhamos até 1976 (com ligeiro agito no cinquentenário, passando pelo primeiro plano
diretor /Sagmags que ficou no papel e com alguns outros que o sucederam) quando da
primeira lei do solo elaborada pela PLAMBEL – Plano Metropolitano de Belo Horizonte
– infelizmente de longa data esvaziado – calcado em diretrizes nacionais e metropolitanas
de planejamento (auge da ditadura) que ia implantando nas principais cidades do país as
“taxas de ocupação”, os “coeficientes” (como se esses regulassem necessidades) os
corredores de tráfego, enfim alto que respeitadas algumas peculiaridades, era genérico.
De qualquer modo buscou-se hierarquia, relações metropolitanas, revalorização
da área central, a primeira grande via de tráfego rápido que somada ao anel de contorno
isola o que antes constituía vizinhança, fragmentando o tecido urbano. Sua revisão em
1985 não trouxe nada de novo e surge agora o plano direto e a nova lei que poderão trazer
seríssimas mudanças - boas e más - no desenvolvimento da cidade, uma má lá identificada
pelo engessamento do núcleo urbano tradicional, agora chamado de hipercentro e ao
bairro da floresta (atenção, sem ser pejorativo, o nome em função do bar e bordel “Hotel
Floresta”) tudo sob uma égide presumida de preservação do patrimônio cultural. A análise
que agora faço é aplicável a todo centro urbano tradicional, centro e hipercentro, embora
em certos momentos amarre-se no antigo centro comercial e ficará claro que embora
tenhamos muito pouco da cidade original sua preservação é questão básica, mas deve sê-
lo de forma pacífica, respeitosa e não reacionária como se pretende.
Antes de tudo, a cidade é a casa do homem urbano, nosso espaço educacional,
nosso fazer, nosso viver, um “fato da natureza”, um gruta, um formigueiro, uma forma de
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arte totalmente consciente eu não diria pois seria como chutar uma bola – que contém em
si inúmeras outras formas de arte. O espaço e o tempo são reorganizados nas cidades,
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onde o homem por diferenciar-se dos animais como criador de cultura e capacidade de
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esvaziando o núcleo central liberando-o como o que para os “pobres”, deixando à mostra,
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todo (o centro) e esperar que uma mão divina ou as forças de um capital sem lucro para
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transformará num amontoado de ruínas e rapidamente morrerá como qualquer ser vivo.
Numa cidade nessas condições (museu) não tem sentido e representa um atordoamento
intelectual, mas, uma cidade que preserva com base numa “cultura” e não num “padrão
aquisitivo de vida” permitirá que cada geração possa assumir o controle coletivo de seu
passado.
Em todo o mundo, bens preservados com critério tem sido muitíssimo bem
reutilizados e ganham nova vida, mas, imaginemos nossos edifícios, em cada terreno,
onde uma fachada tradicional ou parte de seu volume, acopla-se a outra arquitetura que
com ela nada tem de comum tornando-as, as duas, grotescas ou no mínimo de mau gosto.
Pretende-se o “museu” e custo zero pela adoção de transferência do direito de construir.
Em 1933 foi realizado em Atenas – Grécia – o IV Congresso Internacional de Arquitetura
Moderna (CIAM) onde foram estabelecidos princípios para uma carta de urbanismo. Suas
conclusões publicadas em 1941, como a “Carta de Atenas” no capítulo “Patrimônio
Histórico das Cidades”, reza em alguns tópicos que extraí com comentários reduzidos:
Um dos mestres citados enxergou mais que a porta entreaberta por Paul Valéry
Dize-me (pois tão sensível aos efeitos da arquitetura) se tens observado, em seus passeios
por esta cidade, que entre os edifícios que a povoam, uns são mudos, outros falam; e
outros, enfim, os mais raros, cantam... (Eupalyos – o arquiteto). Os edifícios mudos só
merecem o nosso desprezo, fiquemos com os que cantam as grandes ideias dos homens,
esses movem, conduzem, e levam os homens. “A vida do homem é o trabalho, o repouso,
o amor, o ódio, a alegria, o pranto... e tudo isso o homem relaciona com as coisas que
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foram o cenário da sua vida”. Tentemos ficar pelo menos com o menos feio. Agora, sem
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divagações, de volta ao solo pergunto: será que não poderemos criar condições para trair
pelo menos os edifícios que murmuram?
Considerações Finais
central que foi, ao longo do tempo, fruto de várias intervenções públicas e privadas que
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Referências
ALMEIDA, Reginaldo Magalhães de. As contradições da (re)produção do espaço de Belo Horizonte. Oculum ens:
Campinas. v.14, n. 3, p. 559-575, 2017/set-dez.
BELO HORIZONTE (MG). Fundação Municipal de Cultura. O que é a política de proteção do patrimônio histórico
em Belo Horizonte, 2021. Política de Proteção. Disponível em: <https://prefeitura.pbh.gov.br/fundacao-municipal-de-
cultura/patrimonio/politicadeprotecao>. Acesso em: 14 de fev. de 2021.
BELO HORIZONTE (MG). Prefeitura. Prédios tombados guardam a história de Belo Horizonte, 2021. Disponível
em: <https://prefeitura.pbh.gov.br/noticias/predios-tombados-guardam-historia-de-belo-horizonte>. Acesso em: 14 de
fev. de 2021.
CASTRIOTA, Leornado Barci. Patrimônio cultural: conceitos, políticas, instrumentos. São Paulo: Annablume; Belo
Horizonte: IDES, 2009.
CHACHAM, Vera. A Memória Urbana Entre o Panorama e as Ruínas: a rua da Bahia e o Bar do Ponto na Belo
Horizonte dos anos 30 e 40. In: DUTRA, Eliana (Org) BH: horizontes históricos. Belo Horizonte: C/Arte, 1996.
CEDRO, Marcelo de Araújo Rehfeld. Praça Sete, Pampulha e Savassi: centralidades urbanas e modernidade
periférica na cidade de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Anablume, 2013
FONSECA, Maria Cecília Londres. Para além da pedra e cal: por uma concepção ampla de patrimônio cultural. In:
ABREU, Regina; CHAGAS, Mário. Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. 2. ed. Rio de Janeiro:
Lamparina, 2009.
MARQUES, Robson dos Santos. Região de Belo Horizonte e a urbanização: notas sobre uma dinâmica imobiliária.
In: MEDEIROS, Regina et.al. Permanências e mudanças em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p.
113-140.
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Proposta Pedagógica 1
Tema: Quem é essa rua? A escolha dos nomes das ruas como parte do processo legislativo.
Disciplina: História
Interdisciplinaridade: Geografia
Documentos
Título: Leis e Projetos de Lei transformado em leis do acervo da Câmara Municipal de Belo
Horizonte (CMBH).
Objetivos da atividade
1*
Licenciada e bacharel em História pela UFMG.
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O Arquivo na Sala de Aula
Procedimentos/estratégia de ensino
1. Mapeamento
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O Arquivo na Sala de Aula
Atividade 01
Em grupo, escolha o nome de uma rua do seu bairro e crie um personagem para essa rua.
Descreva como essa pessoa seria: Onde ela morava? O que gostava de fazer? Ela tinha muitos
amigos? Qual a idade dela? Ela tinha animais de estimação? Como ela se vestia? Com o que ela
trabalhava?
Lembre-se: quanto mais completa a descrição, mais interessante o personagem vai ser.
2. Processo legal
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Atividade 02
Conecte as palavras ao seu significado:
Atividade 03
Numere de 1-6 para colocar em ordem o processo para dar nome às ruas:
___ O vereador aceita a ___ A lei em papel segue ___ O projeto de lei
sugestão e cria um projeto para o APCBH para ser aprovado na CMBH se torna
de lei guardada Lei
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O Arquivo na Sala de Aula
Apresentar esses conceitos de forma sucinta e situar a CMBH como um local onde são
tomadas decisões referentes ao funcionamento da cidade e o ato de nomeação de ruas, como um
processo de criação de leis, consiste na segunda parte da sequência didática.
Atividade 04
Analise o projeto de lei e tente encontrar respostas para as seguintes perguntas:
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É muito importante que o professor já tenha lido os projetos e saiba auxiliar os alunos a
encontrar respostas para as perguntas. Muitos projetos não possuem uma justificativa clara, assim,
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cabe ao professor decidir incorporar esses casos da forma que são ou fazer uma seleção de projetos
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com justificativa clara que possam criar mais envolvimento com os alunos. O professor também
pode optar por escolher trabalhar com ruas de destaque que possuem nomes de personalidades
famosas, ao invés das ruas locais. Cabe uma análise da documentação previamente para concluir
qual caminho poderá ser mais efetivo.
Essa parte da atividade tem como objetivo colocar o aluno em contato direto com as fontes
históricas, não se espera que nessa fase os alunos possam compreender e interpretar textos tão
densos como os legislativos. Ao mesmo tempo, incentivar a busca pela informação e atiçar a
curiosidade dos estudantes são por si só o resultado dessa parte da atividade.
4. Desfecho
Para finalizar essa sequência, podem ser feitas algumas atividades interessantes:
A primeira consiste em uma visita agendada ao Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte.
Os alunos terão a oportunidade de ver os depósitos onde esses documentos estão guardados, além
de se envolverem com o processo de guarda desses documentos e conhecerem um pouco da
função do Arquivo na cidade.
A segunda proposta é em conjunto escolherem um novo nome para alguma rua do bairro
e entregar essa sugestão a um vereador. Esse tipo de contato pode ser feito por email. O
interessante dessa atividade é que os alunos escolham em conjunto e assinem todos juntos o
pedido de substituição do nome. O professor pode optar por sortear alguns nomes apontados pelos
alunos também. É importante lembrá-los de que a sugestão precisa ter uma justificativa plausível.
Uma última possibilidade seria imprimir um mapa no qual a escola é o centro e deixar que
os alunos a nomeie como bem entenderem. Novamente, é preciso pedir que escrevam uma
justificativa para cada uma das ruas. Esta proposta foi criada para ser uma possibilidade de
introdução de discussão sobre temas relativos à cidade de Belo Horizonte. Mas é possível extrair
muitos outros debates a partir do que foi apresentado. Também é possível adaptar a sequência
para o último ano do ensino médio, durante as discussões acerca de cidadania e democracia.
Referências
194
BELO HORIZONTE (MG). Câmara Municipal. Câmara Municipal: a voz da cidadania. Pesquisar a atividade legislativa.
Disponível em: <https://www.cmbh.mg.gov.br/atividade-legislativa/pesquisar-legislacao>. Acesso em: 14 de dez. de 2021.
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Proposta Pedagógica 2
Disciplina: História
Gênero: Textual
1*
Bacharel-licenciado em História – Doutoranda em História UFMG
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Objetivos da atividade
Procedimentos/estratégia de ensino
Como estratégia de trabalho e realização da atividade, pretende-se:
3. A partir da análise coletiva, solicitar aos alunos que apresentem os aspectos mais
significativos sobre o tema destacando os impactos da modernização para as
diferentes camadas sociais.
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Referências
AGUIAR, Tito F. Rodrigues de. Panorama fotográfico de Belo Horizonte: a imagem de um espaço em transformação.
Belo Horizonte, 2001.
ANDRADE, Luciana Teixeira de. A Belo Horizonte dos modernistas: representações ambivalentes da cidade moderna.
Belo Horizonte: PUC Minas: C/Arte, 2004.
GOMES, Ângela Maria de Castro (Org.). Minas e os fundamentos do Brasil moderno. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2005.
MAGALHÃES, Beatriz de Almeida; ANDRADE, Rodrigo Ferreira. Belo Horizonte: um espaço para a República. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 1989.
PEREIRA, Nilton M.; SEFFNER, Fernando. O que pode o ensino de história? Sobre o uso de fontes na sala de aula. Anos
90, Porto Alegre, v.15, n.28, p. 113-128, dez. 2008.
PINSK, Carla B. Fontes Históricas. 2ª. ed, 1ª. reimpressão. São Paulo: Contexto, 2008.
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