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“Se a Universidade de Coimbra se afundar vai haver muita gente a

esfregar as mãos”

JOÃO GABRIEL SILVA

26-03-2007
Eduarda Macário

http://www.asbeiras.pt/index2.php?area=coimbra&numero=40481&ed=27032007
DIÁRIO AS BEIRAS - Quando tomou posse prometeu alterar os
métodos de ensino na FCTUC. O que é que já foi feito?
Está a ser feita uma alteração bastente profunda. Parte dela tem a
ver com Bolonha, mas não é tudo. Infelizmente, nós estamos a ver
em muitas escolas que Bolonha é pouco mais que cosmética. Na
FCTUC não está a ser cosmética. Obviamente que uma alteração de
métodos não se faz de um momento para o outro, mas ela já está a
ocorrer. A passagem do ensino centrado no professor para o ensino
centrado no aluno é mais do que nunca fundamental. Estamos a fazer um esforço que tem a ver
com a maneira como nós criamos condições para os estudantes aprenderem. Um esforço que
tenha em conta as condições concretas dos próprios estudantes.

É possível dar um exemplo?


Um exemplo que já é mais ou menos púiblico é aquilo que nós estamos a fazer em relação aos
estudantes estrangeiros. Em relação aos estudantes estrangeiros de língua portuguesa, por
exemplo, criámos uma provedoria porque reconhecemos que eles têm condições muito diferentes
dos outros. Se os estudantes pensarem que vêm para cá para terem insucesso, então não vêm.
No próximo ano vão entrar em vigor as prescrições. É uma lei de 2003. Nós já identificámos todos
os alunos que estão em perigo de prescrever e estamos, departamento a departamento, a
arranjar medidas que passam também por aulas específicas, por acompanhamento para tentar
minimizar o número de alunos que prescrevam . Um outro exemplo: está neste momento em
discussão na faculdade aquilo que nós chamamos sistema de qualidade do ensino.
Essencialmente, é um conjunto de indicadores, de medidas que esperamos que nos venham a
permitir detectar de forma sistemática todas as situações em que as coisas estão a correr mal.
Que barreiras tem encontrado para concretizar essas e outras medidas?
Basicamente, as barreiras dos hábitos. Não há oposição. Acho que toda a gente reconhece a
necessidade de as pessoas estarem abertas a mudanças. A diminuição do número de alunos é um
facto infeliz, a diminuição dos orçamentos é clara. Portanto, temos que pôr os pés a caminho.

Acredita então que só a alteração dos métodos de ensino poderá evitar a fuga dos estudantes para
outras universidades?
Tudo aquilo que nós aqui estamos a fazer baseia-se, podemos dizê-lo, numa crença... de que só a
qualidade compensa. Nós só conseguimos atrair alunos se tivermos uma resposta clara a uma
pergunta muito simples: qual é a vantagem de ir estudar ali em vez de “acoli”? As pessoas têm
que sentir isso claramente. Se sentirem que, de facto, entrar para a Universidade de Coimbra e,
em particular para a FCTUC, representa uma mais-valia, elas virão. É evidente que esta imagem
positiva de que vir para aqui é uma mais-valia não se constrói espontaneamente, demora tempo.
Até porque na Universidade de Coimbra temos uma noção muito clara de que ela é muito frágil
apesar dos seus 700 anos.

Frágil em que aspecto?


Frágil porque está perfeitamente definido que os estudantes a escolhem pela proximidade
geográfica e por razões económicas, pois ficarem em casa dos familiares é muito mais barato do
que irem para mais longe... onde têm muitas alternativas. Ora, das grandes universidades
portuguesas, a de Coimbra é aquela que está no distrito com menos gente. Por isso, se nós
estivermos apenas dependentes dos vizinhos, das pessoas que vivem aqui à volta, a universidade
não desaparece, mas vai mirrar.

É preocupante o número de alunos que a universidade perde todos os anos?


Sem dúvida que é. Nós estamos a perder alunos a um ritmo que não é sustentável.

Pela falta de vizinhos? Ou porque a Universidade de Coimbra ainda não conseguiu limpar aquela
ideia de estrutura muito pesada, antiga?
Será, provavelmente, uma mistura de ambas as coisas. Não há estudos nacionais, pelo menos que
nós conheçamos, que sejam muito esclarecedores sobre essa questão. Portanto, a preferência
geográfica é perfeitamente evidente. Mas há um indicador interessante: se a escolha fosse
completamente independente da universidade, a distribuição geográfica nos vários cursos era a
mesma. Ora isso não acontece. que significa que depois das preferências geográficas há outras
coisas. Há pessoas que se conhecem, há familiares e conhecidos, etc. Há, para outros, a questão
da qualidade. Essas razões tenderiam a ser independentes dos cursos, e não é isso que acontece.
Daí concluirmos que há margem para a FCTUC se afirmar, e a Universidade de Coimbra, em
particular. Estas situações de dificuldade são também uma oportunidade. E ainda bem que tantas
escolas estão a fazer só cosmética com Bolonha porque isso vai-se tornar visível num prazo não
muito longo.

Em que medida o Processo de Bolonha pode contribuir para alterar a nossa realidade?
Nomeadamente quanto à diminuição do número de alunos e na questão da qualidade?
O Processo de Bolonha veio dar uma flexibilidade à maneira como nós leccionamos. Até agora, nós

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