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Lei n? 11/02 de 16 de Agosto O Decreto-Lei n.° 16-A/95, de 15 de Dezembro, consagra 0 direito a informagao administrativa que compre- ende 0 acesso aos documentos ndo classificados, certidées ‘ou reprodugées autenticadas ¢ aos documentos nominativos relativos a terceiros. 0 Estado democratico ¢ de direito assenta no principio da administragaio aberta como regra e estabelece as excep- goes relativas a matéria qualificada como segredo de Estado, Daf a necessidade de se concretizar ¢ desenvolver 0 Prinefpio constitucional da democracia participativa que exige da administragio pablica a prética da transparéncia administrativa e da sua sujeigio ao controlo, bem como de se regular 0 acesso dos cidaddos aos documentos administrativos, Nestes termos, ao abrigo da alfnea b) do artigo 89.° da Lei Constitucional, a Assembleia Nacional aprova a seguinte: LEI DE ACESSO AOS DOCUMENTOS ADMINISTRATIVOS CAP{TULOI Disposigies gerais ARTIGO 1° (Administragéo aberta) © acesso dos interessados aos documentos adminis- trativos & asseguredo pela administragio publica de acordo com 08 prinotpivs'da'publicidade, transparéncia, igualdade, j ithparotaliddde, colaboragio, participagio, prosse- cugio do 'intetesse piblico e-do respeito pelos direit interesses legalmenie protegidos. ARTIGO 2°, (Odjectivo) * 1. A presente lei regula o acesso a documentos relativos a actividades desenvolvidas pelas entidades referidas no sea artigo 3° ' 2. O regime de exercicio do direito dos cidadios a serem informados pela administragio sobre.o andamento dos Processos em que sejam directamente interessados e a conhecer as resolugdes definitivas que sobre eles forem tomadas consta de legislago prépri DIARIO DA REPUBLICA ARTIGO 3° (Ambitoy Os documentos a que se reporta o artigo seguinte so os que tém origem ou sio detidas por érgios do Estado que exergam fungdes administrativas e Srgios dos institutos iiblicos € das associagdes ¢ outras entidades no exercicio de poderes de autoridade, nos termos da Lei. ARTIGO 4° (Detinigies) 1, Para efeito do disposto na presente lei, so conside- rados: @) documentos administrativos: quaisquer suportes de informago gréficos, sonoros, visuais, infor- méaticos ou registos de outra natureza, ¢labo- rados ou detidos pela administragio publica, directa, indirecta e aut6noma designadamente processos, relatGrios, estudos, pareceres, actas, autos, circulares, offcios-circulares, ordens de servigo, despachos normativos internos, instru- gdes ¢ orientagdes de interpretacao legal ou ‘outros elementos de informagai 4) documentos nominativos: quaisquer suportes de informago que contenham dados pessoais; ©) dados pessoais: informagies sobre pessoas singu- Jares, identificades ou identificdveis, que conte- nham apreciagdes, jutzo de valores ou sejam abrangidas pela reserva da intimidade da privada, 2. Nio se consideram documentos administrativos, para efeitos da presente lei: 4@) as notas pessoais, esbogos, apontamentos ¢ outros registos de natureza semelhante; b) os documentos cv:ja elaboragdo nio releve da actividade administrativa, designadamente referentes & reuniao do Consetho de Ministros, bem como a sua preparacto. ARTI 5° (Geguranca interna e externa) 1. Os documentos que contenham informagées cujo conhecimento seja avaliado como podendo por em risco ou ccausar dano & seguranca interna e externa do Estado ficam sujeitos a interdigio de acesso ou a acesso sob autorizagio, durante o tempo estritamente necessério, através da classi cago nos termos de legislacdo especifica. L SERIE — N.° 65 — DE 16 DE AGOSTO DE 2002 2. Os documentos a que se refere o nimero anterior “podem ser livremente consultados, nos termos da presente lei, apés a sua desclassificagdo ou o decurso do prazo de validade do acto de classificagao. ARTIGO 67 (Segredo de justiga) © acesso a documentos referentes a matérias em segredo de justiga € regulado por legislagao propria, CAPITULO IT Direito de Acesso ARTIGO 7° (Direito de acesno) L. Todos tém direito & informagio mediante 0 acesso a documentos administrativos de cardcter no nominativo. 2. O direito de acesso aos documentos nominativos é reservado & pessoa a quem os dados digam respeito ea terceiros que demonstrem interesse directo © pessoal, nos termmos do artigo seguint. 3. O direito de acesso aos documentos administrativos compreende nio s6 0 direito de obter a sua reprodugio, bem como 0 direito de ser informado sobre a sua existéncia € contetido. 4, 0 depésito dos documentos administrativos em arquivos no prejudica o exercicio, a todo.o tempo, do direito de acesso aos referidos documentos. 5. O acesso a documentos constantes de processos no conclufdos ou a documentos preparatérios de uma decisio é diferido até & tomada da decisdo, ao arquivamento do Processo ou ao.decurso de um ano apés a sua elaborago. 6. 0 acesso aos inquéritos € sindicfincias tem lugar aps 0 decurso do prazo para eventual procedimento dis plinar. 7. O acesso aos documentos notariais ¢ registrais, aos documentos de identificagda civil e criminal, dados pessoais com tratamento automatizado em arquivos histéricos rege-se por legistagdo propria, ARTIGO 8° (Acesso aos documentos nominatives) 1. O direito de acesso a dados pessoais contidos em documentos administrativos é exercido, com as necessérias adaptag6es nos termos da lei aplicdvel ao tratamento autori- zado de dados pessoais, 2. As informagées de carkcter médico s6 so comuni- ccadas ao interessado por intermédio de um médico por si designado. 3.0 acesso de terceiro a dados pessoais pode ainda ser autorizado nos seguintes casos: a) mediante autorizagiio escrita da pessoa a quem os dados se refiram; b) quando a comunicagao dos dados pessoais tenha em vista salvaguardar o interesse legitimo da pessoa a que respeitem e esta Se encontre impos- sibilitada de conceder autorizagdo, e desde que obtido 0 parecer previsto no nimero anterior. 4. Podem ainda ser comunicados a terceiros os documentos que contenham dados pessoais quando, pela sua natureza, seja possivel aos servigos expurgé-los desses dados sem terem de reconstruir os documentos ¢ sem perigo de fécil identificagao. ARTIGO 9° (Correegio de dados pessoas) 1. 0 direito de rectificar, completar ou suprimir dados pessoais inexactos, insuficientes ou excessivos € exercido nos termos do disposto na legislagio referente aos dados pessoais com tratamento automatizado e com as necessérias adaptagbes. 2, $6 a versio corrigida dos dados pessoais ¢ passfvel de uso ou comunicagio, ARTIGO 10° (Uso itegitimo de tnformagies) 1, E vedada a utilizagdo de informagées com desrespeito dos direitos de autor e dos direitos de propriedade industrial, assim como a reprodugio, difusdo ¢ utilizagio destes documentos e respectivas informagdes que possam confi- gurar préticas de concorréncia desleal. 2. Os dados pessoais comunicados a terceiros ndo podem ser utilizados para fins diversos dos que determi- naram 0 acesso, sob pena de responsabilidade por perdas € danos, nos termos legais. ARTIGO 11° (Pubticagio de documentos) 1, A administragdo publica deve publicar, por forma adequada: a) todos os documentos, despachos normativos inter- nos, circulares ¢ orientagdes, que comportem ‘enquadramento da actividade administrativa; by a enunciagio de todos os documentos que com- portem interpretagtio de direito positivo ou descrigo de procedimento administrativo, men- cionando, designadamente, o seu titulo, matérla, data, origem ¢ local onde podem ser consul- tados. 2. A publicitjio € 6 dhiticio de documentos deve efectuar-se coth & periodicidade tméxima de seis meses © em moldes que incentivert o regular acesso dos interes- sados. CAPITULO MI Exereiclo do Direlto de Acesso ‘ARTIGO 12° (Formas do acesto) 1.0 acesso aos documentos exerce-se através de: 4) consulta gratuita, efectuada nos servigos que o detém; . b) reprodugdo por fotocépia ou por qualquer meio téenico, designadamemte visual ou sonora; ¢) passagem de certidio pelos servigos de adminis- trago. 2. A reprodugo nos termos da alfnea b) do numero anterior deve fazer-se num exemplar, sujeito a pagamento, pela pessoa qile a solicitar, do encargo financeiro estrita- ‘mente correspondente ao custo dog materiais usados ¢ do servigo prestado, a fixar por decreto-le. 3. Os documentos informatizados so transmitidos em forma inteligivel para qualquer pessoa e nos tetmos rigoro- samente coriespétideites ao do contetido do registo, sem prejutzo da dptito ptévista na alfned 6) do n.° 1 do presente artigo. \ 4. Qitando a reptottigao prevista na alfnea b) do n.° 1 do presente artigo pudlét causar dino a0 documento visado, 0 interessado, a expensas suas ¢ sob a direcgao do serviga detentor, pode promover a cépia manual ou a reprodugtio por qualquer outro meio que no prejudique a sua conser- vag. ARTIGO 13° (Forma do pedido) © acesso aos documentos deve ser solicitado por escrito através de requerimento do qual constem os elementos essenciais & sua identificagdo, bem como o nome, morada e assinatura do interessado. DIARIO DA REPUBLICA ARTIGO 14° (esponsivel pelo acesso) Em cada 6rgio da administragao publica, instituto & associagio pibtica, existe uma entidade responsével pelo cumprimento das disposigdes da presente lei. ARTIGO 15° (Resposta da sdministragio) Acentidade a quem for dirigido o requerimento de acesso um documento deve, no prazo de 10 dias: 4) comunicar a data, local e modo para se efectivar a consulta, efectuar a reprodugdo ou obter a certidaio; ») indicar nos termos do artigo 67.° do procedimento administrativo aprovado pelo Decreto-Lei n? 16-A/95, de 15 de Dezembro, as razdes da recusa, total ou parcial, do acesso a0 documento pretendido; ©) informar que no possui o documento e, se for do seu conhecimento, qual a entidade que 0 detém ‘ou remeter 0 requerimento a esta comunicando © facto ao interessado. ARTIGO 16° _Climpugnagto gracosa ¢cortenclees) imteressado pode impugnar graciosa ou contenciosa- mente contra 0 acto de ifideferimterito expresso ou técito do requerimento ou das decisdes limitadoras do exercfcio do direito de acesso, ARTIGO 172 (Comlssto de Pscatzasho) Cabe & Comnissdo de Fiscdlizdgao zelar pelo cumpri- mento das disposigdes da presente lei. . ARTIGO 18° (Composigto da Comissto de Fsalzaste) 1. A Comissio de Fiscalizagio € integrada pelos seguintes membros: 4) um Juiz da Camara do Civil ¢ Administrativo designado pelo Conselho Superior da Magis- tratura Judicial, que a preside; 3 dois Deputados eleitos pela Assembleia Nacional, refectindo uma composigao partidétia plural; ©) um professor de a Repéblica; 4) duas personalidades designadas pelo Governo; designado pelo Presidente 1 SERIE — N° 65 — DE 16 DE AGOSTO DE 2002 €) um advogado designado pela Ordem dos Advo- ' gados. . 2, Todos os titulares podem fazer-se substituir por um membro suplente designido pelas mesmas entidades. 3. Os mandatos so de dois anos renovdveis, sem prejutzo da sua cessagdo quando terminem as fungées em virtude das quais foram designados. 4, Todos os membros podem exercer 0 sew mandato ‘em acumulagio com outras fungSes. 5. Os direitos e regalias dos membros so fixados no diploma regulamentar da presente lei. 6. Nas sessSes da comissio em que sejam debatidas questdes que interessam a uma dada entidade pode participar, sem direito a voto, um seu representante. ARTIGO 19° ‘(Competéncia) Compete & comisstio de fisealizagio: 4) elaborar a sua regularnientagio interna; ) apreciar as reclamag6es que Ihe sejam dirigidas pelos iiteressaidos, ©) dar parecer sdbre 0 scesso aos documentos nomi- nativos; d) protiuiciar-se sobre o sistema de classificagio de doctitieitos; ©) dar patecer sbbte & dplicAgio da presenie lei, bem cbitid sobre a EHburdgto e aplicagdo das leis conipleitehtares; ‘f) elaborar uit reldisito atiidl sobre a aplicagtio da presente Iéi ¢ da sua actividade, a enviar & Assemibleia Nacional para apreciagdo ¢ remissio 40 Goveino para piblicagito. CAPITULO IV Disposigdes Finais e Transitérias ARTIGO 202° (Regulamentagio) A presente lei deve ser regularnentada pelo Governo no prazo de 120 dias. 127 ARTIGO 21° (Revogasto) revogada toda legislac4o que contrarie o disposto na presente lei. ARTIGO 22° (Dévidas ¢ omissées) ‘As didvidas e omissdes que se suscitarem da interpre- tago e aplicagio da presente lei sio resolvidas pela Assembleia Nacional. ARTIGO 23° (Entrada em vigor) ‘A presente lei entra em vigor & data da sua publicagio. ‘Vista ¢ aprovada pela Assembleia Nacional, em Luanda, ‘a08 23 de Julho de 2002, O Presidente em exercfcio, da Assembleia Nacional, Julido Mateus Paulo, Promulgada, aos 29 de Julho de 2002. Publique-se. O Presidente da RepGblica, Jost EovARDo Dos SANTOS. Laie 1203 de 16 de Agosto Na Repiblica de Aiigola, o Estado protege € garante 0 respeito dos dirélt8s @ liberdades dos cidaldos, criando as condigaés dtie properaldnem a stid redlizagto plena, estabe- lecendo mecariisthes ue defend a manuteng&o da legali- dade democrétiea institifda, © Estado democtdtico de direito nfo pode, em circuns- ‘tancia alguna, significar aus@ncia ou desnecessidade de controlo pelo contrfiio, tal facto exige a necessidade impe- riosa da criagdo de condigdes para o estabelecimento ¢ manutengao da ordem piblica e da seguranca do Pats, centendida como actividade permanente desenvolvida pelo Estado. Torna-se assim necessério adequar a Lei de Seguranga’ Nacional aos principios, normas ¢ regras de um Estado democritico de direito, .

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