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Código de Ética e de Conduta do Nutricionista

Conteudista: Prof.ª Carolina Bulgacov Dratch


Revisão Técnica: Fernanda Trigo

Objetivos da Unidade:

Apresentar e permitir compreensão crítica-reflexiva dos conteúdos (capítulos,


artigos e incisos) do Código de Ética e Conduta referentes a responsabilidades
profissionais, relações interpessoais, condutas e práticas profissionais e meios
de comunicação e informação, associação a produtos, marcas de produtos,
serviços, empresas ou indústrias, formação profissional, e pesquisa e relações
com as entidades da categoria.

Capacitar o estudante na identificação de possíveis infrações ao Código de Ética e


Conduta do Nutricionista.

ʪ Material Teórico

ʪ Referências
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ʪ Material Teórico

Código de Ética e de Conduta do Nutricionista:


Responsabilidades, Relações
Interpessoais, Condutas e Comunicação

Contextualizando o Cenário
Todas as ações realizadas em sociedade necessitam ser norteadas por questões éticas. Para além
de nossa capacidade de estabelecer relações, discernir sobre o que é certo ou errado, a
convivência de maneira harmoniosa carece de parâmetros. Nas práticas profissionais, esses
padrões estabelecidos de ação são ainda mais importantes, protegendo toda a sociedade e
pautando o profissionalismo. Para todas as profissões regulamentadas, o documento maior de
orientação é o Código de Ética, que fica a cargo dos Conselhos de Fiscalização Profissional para
sua elaboração. Aos profissionais, cabe conhecer e cumprir as ações propostas nesse código,
para que toda a sociedade possa colher os frutos de uma atuação laboral justa e segura.

Na área da Nutrição, a elaboração do Código de Ética e Conduta do Nutricionista ficou a cargo do


Conselho Federal de Nutricionistas. Nele, estão contidos diversos assuntos que pautam as ações
diárias de atendimento clínico, oferecimento de refeições coletivas, saúde pública, entre outras
áreas de atuação. Responsabilidades profissionais, relações interpessoais, condutas e práticas
profissionais e meios de comunicação e informação serão tratados nesta Unidade, com base no
Código de Ética do Nutricionista e legislações correlatas, guarnecendo os estudantes de
informações seguras para embasar sua futura atuação profissional.

Diante desse cenário, o Código de Ética da profissão desempenha qual função atuação dos
profissionais? Além disso, quais são as orientações do Código de Ética e de Conduta do
Nutricionista referentes à utilização de marcas, à formação profissional, à pesquisa e às relações
com as entidades da categoria?

Responsabilidades Profissionais
Podemos definir responsabilidade profissional por meio do reconhecimento que os atores
sociais atuantes têm em relação ao papel que desempenham na sociedade em que vivem. Os
conhecimentos adquiridos durante a formação profissional serão então aplicados na sociedade,
em pessoas reais, e esta aplicação precisa ser pautada em bases sólidas para que possa
proporcionar os maiores benefícios possíveis. Reconhecer suas habilidades e competências faz
parte da responsabilidade profissional, além da busca pelo aprimoramento destas capacidades e
relações interpessoais, tanto com aqueles que serão atendidos quanto com os demais colegas de
trabalho.

Figura 1
Fonte: Getty Images
Proatividade, dinamismo e ótima performance podem ser considerações modernas de
responsabilidade profissional por alguns, mas também pode ser interpretado por outros apenas
como um plus na atuação. Os objetivos dos comportamentos citados anteriormente deverão
promover, além do bom desempenho profissional, o crescimento da equipe e excelência no
atendimento prestado. Uma visão sistêmica é um fator importante para o bom desempenho e
responsabilidade profissional, pois ela proporciona o entendimento do todo e das partes, sendo,
assim, de interesse de todos os profissionais que buscam uma atuação comprometida.

Capítulos, Artigos e Incisos


A responsabilidade profissional se relaciona completamente com os Códigos de Ética das
profissões normatizadas, pois neles estão contidos parâmetros para uma atuação justa e segura,
tanto para profissionais quanto para a sociedade.

Conhecer o Código de Ética e Conduta de sua profissão é um ato político, pois ele irá nortear toda
prática da vida profissional de um ser humano e garantir que sua atuação seja ética. Segundo o
Conselho Federal de Nutricionistas, o Código de Ética tem como objetivo garantir que os
princípios da Nutrição sejam respeitados e valorizados, e que a soberania e a segurança
alimentar e nutricional sejam premissas na atuação dos nutricionistas (CFN, 2018). O Código de
Ética e Conduta do Nutricionista atual está baseado na Resolução CFN n. 599, de 2018, após
várias discussões entre conselheiros e profissionais de todo Brasil. O processo de edificação do
documento foi através de uma política de construção coletiva, dialogando com a sociedade e os
profissionais, aproximando todos da participação social, indispensável para a apropriação.

Leitura
Código de Ética e de Conduta do Nutricionista
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ACESSE

Saiba Mais
O Código de Ética em vigor antes de 2018 era datado de 2004 e vigorou
por 14 anos. Não só os profissionais inscritos nos CRNs devem
conhecê-lo, mas também estudantes, para que em sua futura atuação
profissional possam exercer suas atividades de maneira ética e
regulamentada.

Os pilares do Código são: direito à saúde e direito humano à alimentação adequada e segurança
alimentar e nutricional de indivíduos e da coletividade; respeito à vida, à singularidade e
pluralidade, dimensões religiosas, de gênero, de classe social, raça e etnia, à liberdade e
diversidade de práticas alimentares, sem discriminações; atenção nutricional deve ultrapassar o
significado biológico da alimentação, considerando dimensões ambientais, culturais,
econômicas, políticas, psicoafetivas, sociais e simbólicas; exercer a profissão de forma crítica e
proativa, com autonomia, liberdade, justiça, honestidade, imparcialidade e responsabilidade,
ciente de seus direitos e deveres, não contrariando os preceitos técnicos e éticos (CFN, 2018).

Em relação à Responsabilidade Profissional, podemos ainda citar o próprio texto do Código de


Ética e de Conduta do Nutricionista. A Unidade Responsabilidades Profissionais dispõe, no
contexto do exercício profissional, que o nutricionista pautará sua prática nas
responsabilidades que seguem no Quadro 1.

Quadro 1 – Artigos do Código de Ética

Direitos

É direito do nutricionista recusar-se a exercer sua


profissão em qualquer instituição onde as condições de
trabalho não sejam adequadas, dignas e justas ou
possam prejudicar indivíduos, coletividades ou a si
Art. 10
próprio, comunicando oficialmente sua decisão aos
responsáveis pela instituição e ao Conselho Regional
de Nutricionistas de sua jurisdição e respectiva
representação sindical.

É direito do nutricionista prestar serviços


Art. 13
profissionais gratuitos com fins sociais e humanos.

Deveres

É dever do nutricionista ter ciência dos seus direitos e


deveres, conhecer e se manter atualizado quanto às
legislações pertinentes ao exercício profissional e às
Art. 15 normativas e posicionamentos do Sistema CFN/CRN e
demais entidades da categoria, assim como de outros
órgãos reguladores no campo da alimentação e
nutrição.
Direitos

É dever do nutricionista manter o sigilo e respeitar a


confidencialidade de informações no exercício da
profissão, salvo em caso de exigência legal,
considerando ainda as seguintes situações:

I – Impedir o manuseio de quaisquer documentos


sujeitos ao sigilo profissional por pessoas não
obrigadas ao mesmo compromisso. Caso considere
pertinente, o nutricionista poderá fornecer as
Art. 20
informações, mediante assinatura de termo de
sigilo ou confidencialidade pelo solicitante;

II – Respeitar o direito à individualidade e


intimidade da criança e do adolescente, nos termos
da legislação vigente, em especial do Estatuto da
Criança e do Adolescente, sendo imperativa a
comunicação ao seu responsável de situação de
risco à saúde ou à vida.

Fonte: Resolução CFN n. 599/2018 (adaptado)

Infrações e processos disciplinares


Conhecer os parâmetros para atuação profissional contidos no Código de Ética e de Conduta
(CEC) do Nutricionista é um dos pontos fundamentais da responsabilidade profissional. Porém,
para além do que se pode ou deve fazer em relação ao desempenho da profissão, é necessário
conhecer a fundo as infrações e processos disciplinares para, assim, evitar cometê-los.
Figura 2
Fonte: Adaptada de Getty Images
Um bom parâmetro para conhecer os processos disciplinares é conhecer o fluxograma de
denúncias praticado pelos Conselhos Regionais de Nutricionistas, que normatizam como deve
ser o procedimento. Veja a Figura abaixo.

Figura 3 – Fluxo de denúncia


Fonte: Adaptada de Conselho Regional de Nutricionistas 8ª região

Analisando o Figura 3, podemos perceber o caminho trilhado, desde o recebimento de uma


denúncia de infração, dos artigos do Código de Ética e de Conduta do Nutricionista, até o
processo disciplinar. Cabe ressaltar que, em todo processo disciplinar, o profissional terá
direito a ampla defesa e contraditório, ou seja, relatar sua versão dos fatos ocorridos e contrapor
o que lhe for acusado como ato infracional. Inclusive, caso seja necessário, e de acordo com a
gravidade da infração, o profissional poderá elencar um advogado para auxiliá-lo em sua defesa.
Perceba que são várias as possibilidades de ações a serem desempenhadas desde o recebimento
de uma denúncia. Logo, uma suposta infração não gera necessariamente um processo
disciplinar, mas um fluxo de tomadas de decisão conjuntas da Comissão de Ética para
averiguação. Cabe também ressaltar que além dos Conselhos Regionais de Nutricionistas, o
Ministério Público e o Sistema Judiciário também podem instaurar processos.

Ainda falando sobre responsabilidade profissional, o capítulo I do CEC traz os seguintes


apontamentos relativos às sanções na prática profissional dos nutricionistas no Quadro 2.

Quadro 2 – Artigos do Código de Ética

Vetos

É vedado ao nutricionista praticar atos danosos


a indivíduos ou coletividades sob sua
Art. 23 responsabilidade profissional que possam ser
caracterizados como imperícia, imprudência ou
negligência.

É vedado ao nutricionista permitir a utilização


do seu nome e título profissional por
Art. 24
estabelecimento ou instituição em que não
exerça atividades próprias da profissão.

É vedado ao nutricionista instrumentalizar e


ensinar técnicas relativas a atividades
Art. 25 privativas da profissão a pessoas não
habilitadas, com exceção a estudantes de
graduação em Nutrição.

Fonte: Adaptado de Resolução CFN n. 599/2018


Observa-se a necessidade de conhecimento do Código não somente na atuação profissional,
mas também nas redes de ensino de Nutrição. As discussões enriquecem a profissão e tornam
os estudantes e profissionais atores ativos na construção de uma sociedade mais ética e
comprometida.

Figura 4
Fonte: Getty Images

Leitura
Guia de Princípios de Ética e Conduta para Acadêmicos de Nutrição
Para orientar a conduta dos Acadêmicos em Nutrição, em 2021 foi
publicada a primeira versão do Guia de Princípios de Ética e Conduta
para Acadêmicos de Nutrição. O documento contém diretrizes
essenciais para a conduta ética no âmbito acadêmico e que facilita ao
estudante a transição e ingresso na vida profissional.

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Em relação às infrações e processos disciplinares relacionados à responsabilidade profissional,


cabe ressaltar do texto do próprio CEC, em seu capítulo IX – Infrações e Penalidades no Quadro 3.

Quadro 3 – Artigos do Código de Conduta

Infrações

Art.95 Àqueles que infringirem as disposições e preceitos


deste Código serão aplicadas sanções, em
conformidade com as disposições da Lei n. 6.583, de
20 de outubro de 1978, e do Decreto n° 84.444, de 30
de janeiro de 1980.

§ 1º Salvo os casos de gravidade manifesta ou


reincidência, a imposição de penalidades obedecerá à
gradação fixada na lei, observadas as normas
editadas pelo Conselho Federal de Nutricionistas.
Infrações

§ 2º Na fixação de penalidades serão considerados os


antecedentes do profissional infrator, o seu grau de
culpa, as circunstâncias atenuantes e agravantes e as
consequências da infração.

§ 3º As penas de advertência, repreensão e multa


serão comunicadas pelo Conselho Regional em ofício
reservado, não se fazendo constar dos assentamentos
do profissional punido, senão em caso de
reincidência.

Fonte: Código de Ética e de Conduta do Nutricionista (adaptado)

Relações Interpessoais

Capítulos, Artigos e Incisos


No Código de Ética e de Conduta do Nutricionista, existe menção à relação interpessoal
norteando a atuação profissional. Ela é definida como as relações estabelecidas entre
nutricionistas entre si, com outros profissionais, estudantes, pacientes e qualquer outro ente
que esteja envolvido no desempenho da atividade profissional, inclusive docência. O capítulo
referente às relações interpessoais é o II, e os artigos decorrentes são:

Quadro 4 – Artigos do Código de Ética

Direitos
Direitos

É direito do nutricionista denunciar, nas instâncias


competentes, atos que caracterizem agressão,
Art. 27 assédio, humilhação, discriminação, intimidação,
perseguição ou exclusão por qualquer motivo, contra
si ou qualquer pessoa.

Deveres

É dever do nutricionista fazer uso do poder ou


posição hierárquica de forma justa, respeitosa,
Art. 28 evitando atitudes opressoras e conflitos nas relações,
não se fazendo valer da posição em benefício próprio
ou de terceiros.

Fonte: Resolução CFN n. 599/2018 (adaptado)

Infrações e Processos Disciplinares


Em se tratando das infrações e processos disciplinares, podemos citar dois artigos do CEC que
guiam as ações pertinentes às relações interpessoais. A partir deles, faremos uma ponderação
sobre:

Quadro 5 – Artigos do Código de Ética

Infrações e Vetos
Infrações e Vetos

É vedado ao nutricionista praticar atos que


caracterizem agressão, assédio, humilhação,
Art. 29
discriminação, intimidação ou perseguição por
qualquer motivo contra qualquer pessoa.

É vedado ao nutricionista manifestar publicamente


posições depreciativas ou difamatórias sobre a
Art. 30
conduta ou atuação de nutricionistas ou de outros
profissionais.

Fonte: Resolução CFN n. 599/2018 (adaptado)

Citados estes artigos, cabe realizar reflexões acerca deles: eles são exatamente o contrário dos
direitos elencados no tópico anterior, prevendo que não é possível praticar atos (art. 29) que
ferem a dignidade de outras pessoas enquanto no exercício da profissão e, ainda, coibindo a
manifestação pública (art. 30) de profissionais da Nutrição deposições que possam difamar
outros atores sociais. Esses artigos defendem a liberdade de expressão, porém sempre com
parâmetros éticos, pois podemos imaginar que muitos profissionais têm posições sociais que
alcançam diversas esferas e um grande número de atores sociais, sendo assim, cabe refletir
acerca dos comentários feitos em todos os meios de comunicação, sejam verbais ou escritos, em
forma de imagens ou outros meios, que, quando feitos em contradição a esses artigos, podem
ferir a dignidade de outras pessoas.

Condutas e Práticas Profissionais


Figura 5 – Ética de trabalho
Fonte: Adaptada de Getty Images

“Prometo que, ao exercer a profissão de nutricionista, o farei com dignidade e eficiência,


valendo-me da ciência da Nutrição, em benefício da saúde da pessoa, sem discriminação de
qualquer natureza. Prometo, ainda, que serei fiel aos princípios da moral e da ética. Ao cumprir
este juramento com dedicação, desejo ser merecedor dos louros que a profissão proporciona”.
Este é o juramento do nutricionista e foi instituído pela Resolução CFN n. 382, de 27 de abril de
2006.

Capítulo, Artigos e Incisos


Quanto às condutas e práticas profissionais, sabemos que o assunto versa sobre inúmeras
questões que podem nortear a prática profissional, inclusive no dia a dia. Esses conceitos gerais
se alinham com os princípios fundamentais do CEC do nutricionista e necessitam de atenção
ponto a ponto. Eles são um grande bloco de artigos dentro do Código, pois representam as bases
para uma atuação sólida e ética. Vejamos os artigos mais importantes sobre esse âmbito no
Quadro 6.
Quadro 6 – Artigos do Código de Ética

Direitos

É direito do nutricionista realizar suas atribuições


Art. 31 profissionais sem interferências de pessoas não
habilitadas para tais práticas.

É direito do nutricionista ter acesso a informações


referentes a indivíduos e coletividades sob sua
Art. 32
responsabilidade profissional que sejam essenciais
para subsidiar sua conduta técnica.

Deveres

É dever do nutricionista realizar em consulta


presencial a avaliação e o diagnóstico nutricional de
indivíduos sob sua responsabilidade profissional.
Art. 36
Parágrafo único. Orientação nutricional e
acompanhamento podem ser realizados de forma não
presencial.

É dever do nutricionista respeitar os limites do seu


campo de atuação, sem exercer atividades privativas
Art. 40
de outros profissionais.

É dever do nutricionista colaborar com as


Art. 43 autoridades sanitárias e de fiscalização profissional,
prestando as informações requeridas.

Fonte: Adaptado de Resolução CFN n. 599/2018


No primeiro bloco de artigos (Art. 31 a 35), sobre condutas e práticas profissionais, podemos
refletir sobre a soberania e autonomia da profissão. Os pacientes, clientes ou atores sociais
envolvidos no processo de atendimento, nas mais diversas esferas da atuação profissional,
estarão cobertos pela autonomia segura e pautada em pesquisas e estudos dos profissionais, ou
seja, seu saber profissional inerente à formação para ter o resultado eficiente e ético.

Já o artigo 36 traz resoluções acerca do atendimento presencial, bastante discutido atualmente,


com o surgimento da tecnologia da informação, que permitiria, a priori, atendimento realizado a
distância, porém, segundo o CEC, isto não é permitido no exercício da profissão de nutricionista.

No segundo bloco de artigos (art. 37 a 43), temos as responsabilidades em relação à


individualidade de cada paciente, a compreensão e visão do todo no atendimento nutricional, os
conhecimentos técnicos, sempre atualizados visando o melhor atendimento possível, bem
como o encaminhamento para outros profissionais que possam garantir melhores resultados
numa atuação conjunta e multidisciplinar.

Pudemos perceber que esse bloco de artigos, constantes das condutas e práticas profissionais,
abarcam uma série de situações que poderão ser encontradas no cotidiano do nutricionista e
esclarecem uma porção de dúvidas sobre como agir frente a estas situações. Certamente
teremos inúmeras outras demandas que não estão contidas neste capítulo, e que poderão ser
tratadas de duas maneiras: poderão estar descritas ou esclarecidas em outros capítulos ou
poderão ser levadas até as Comissões de Ética e Conduta de cada regional para discussão e
esclarecimento. Essa é a importância de conhecer e praticar o Código de Ética e Conduta.

Saiba Mais
Segundo o CRN8, fica normatizado que a solicitação de exames
laboratoriais necessários ao acompanhamento dietoterápico é
atividade do nutricionista, estabelecida na Lei Federal n. 8.234, art. 4º,
inciso VIII. Contudo, a solicitação de exames para diagnóstico
nosológico (doenças) é privativa do médico, de acordo com a Lei
n.12.842, de 10 de julho de 2013.

Infrações e Processos Disciplinares


Ao analisar as infrações e processos disciplinares relacionados às condutas e práticas
profissionais do nutricionista, temos nove artigos que vetam ações no âmbito profissional.
Esses artigos regulam a maioria das áreas de atuação do nutricionista e garantem ações éticas
no campo da alimentação e nutrição. Observe alguns artigos do Código no Quadro 7.

Quadro 7 – Artigos do Código de Ética

Vetos

É vedado ao nutricionista atribuir a nutrientes,


alimentos, produtos alimentícios, suplementos
Art. 44
nutricionais e fitoterápicos propriedades ou
benefícios à saúde que não possuam.

Art. 46 É vedado ao nutricionista induzir indivíduos ou


coletividades assistidas por um profissional, serviço
ou instituição a migrarem para outro local, da
mesma natureza ou não, com o qual tenha qualquer
tipo de vínculo, com vistas a obter vantagens pessoal
ou financeira.
Vetos

Parágrafo único: o nutricionista pode informar aos


indivíduos ou coletividades, em caso de saída ou
mudança de um serviço ou instituição para outro
local, da mesma natureza ou não.

É vedado ao nutricionista, no exercício das


atribuições profissionais, receber comissão,
Art. 49
remuneração, gratificação ou benefício que não
corresponda a serviços prestados.

É vedado ao nutricionista delegar suas funções e


Art. 52 responsabilidades privativas a pessoas não
habilitadas.

Fonte: Resolução CFN n. 599/2018 (adaptado)

Esses artigos normatizam tanto as relações com clientes ou pacientes quanto questões
relacionadas a empregabilidade, e ainda regulam sobre o campo dos alimentos, sendo este um
dos principais objetos de trabalho do nutricionista, gerando proibições relacionadas à indústria
alimentícia, por exemplo, ou ainda a cobrança por serviços prestados de maneira gratuita, na
rede pública de saúde ou no atendimento da rede particular de saúde. Importa salientar o artigo
52, no qual fica especificada a proibição de delegar as atividades privativas a outro, sendo este
não habilitado para tal fim.
Saiba Mais
As infrações cometidas no exercício da profissão de nutricionista têm
um artigo específico no Código de Ética e de Conduta. Este deixa claro
quais são as possibilidades de penalidades após o julgamento do ato
infracional. No art. 45, as penas disciplinares são as seguintes:

I. Advertência;

II. Repreensão;

III. Multa equivalente a até 10 (dez) vezes o valor da anuidade;

IV. Suspensão da inscrição e proibição do exercício profissional pelo prazo de até 3


(três) anos;

V. Cancelamento da inscrição e proibição definitiva do exercício profissional.

Meios de Comunicação e Informação


Vivemos a era da informação. O advento da internet, aliado à rede mundial de conexão,
trouxeram uma série de questões para o plano social atual. Podemos dizer que não houve uma
profissão sequer que não sofreu alterações em seu modo de operação com o surgimento das
tecnologias da informação. Os dados, hoje, viajam o mundo numa velocidade espantosa,
gerando consequência nem sempre profícuas.
Profissões, como a de carteiro, que não lidam muito com tecnologias, quase foram extintas,
ficando a cargo de correspondências que vêm minguando e encomendas que necessitam deum
serviço de transporte e entrega; com a Nutrição não foi diferente. Criada anteriormente ao
surgimento em massa da tecnologia da informação, ela teve que ser atualizada e muitos
procedimentos sólidos foram revisitados e adaptados aos tempos modernos.

O Código de Ética atual da profissão teve alterações importantes no ano de 2018 e uma dessas
alterações diz respeito aos meios de comunicação e informação. Na década de 80, por exemplo,
quando muitos profissionais de Nutrição começaram a se destacar e trazer a atividade de
nutricionista à tona, os meios de comunicação ficavam restritos a televisão, rádio e cartas, tendo
assim um círculo restrito de ação. Nos dias atuais, podemos nos conectar com pessoas, ou até
pacientes, do outro lado do mundo com muita facilidade. Empresas do ramo da alimentação e
Nutrição podem alcançar milhões de potenciais consumidores em uma rede social, por exemplo.

São tempos em que a ética, além de se adaptar, tem que ser discutida com maior força e
seriedade, pois as tecnologias da informação abriram brechas para muitos comportamentos que
não necessariamente têm comprometimento moral com a sociedade. E, por ser um campo de
incertezas e mudanças rápidas, torna-se um campo minado de possíveis infrações e desrespeito
às profissões, além de trazer à tona uma série de profissionais que, por desconhecimento ou má
fé, acabam por praticar atos ilícitos.

Reflita
Como cidadãos de uma sociedade conectada, temos responsabilidades
sobre as informações que veiculamos. Assim, como profissionais, qual
é a nossa responsabilidade pelo o que repassamos?
Capítulo, Artigos e Incisos
Com a modernização do CEC, temos artigos e incisos que tratam sobre os meios de comunicação
e informação atuais. Em seu prólogo, no capítulo IV, são citados os principais meios de
comunicação e os artigos que seguem, além de estabelecer os padrões de conduta que devem ser
aplicados neles. Vejamos o que dizem os artigos sobre comunicação e informação para
nutricionistas:

Quadro 8 – Artigos do Código de Ética

Vetos

É direito do nutricionista utilizar os meios de


comunicação e informação, pautado nos princípios
Art. 53 fundamentais, nos valores essenciais e nos artigos
previstos neste Código, assumindo integral
responsabilidade pelas informações emitidas.

É dever do nutricionista, ao compartilhar informações


sobre alimentação e nutrição nos diversos meios de
comunicação e informação, ter como objetivo
principal a promoção da saúde e a educação alimentar
e nutricional, de forma crítica e contextualizada e com
respaldo técnico-científico.
Art. 55

Parágrafo único: ao divulgar orientações e


procedimentos específicos para determinados
indivíduos ou coletividades, o nutricionista deve
informar que os resultados podem não ocorrer da
mesma forma para todos.

Fonte: Adaptado de Resolução CFN n. 599/2018


Os direitos contidos neste capítulo estão fortemente ligados ao acesso a informações científicas;
à divulgação de feitos profissionais que possam agregar valores positivos na atuação; e
conhecimentos adquiridos, desde que com veemência dos participantes e respeitando os
conceitos de bioética em pesquisas. Outros dois pontos importantes a ressaltar sobre o assunto
em voga são a comunicação, que pode promover hábitos alimentares saudáveis, e a
responsabilidade pelas informações veiculadas.

Ter em mente esses comportamentos engrandece a profissão e garante que, numa ode de
informações não confiáveis, possamos ter informações de profissionais confiáveis.

Filme
O Mínimo para Viver (2017)
Questões de ética e bioética estão presentes de maneira bastante
contundente no filme a seguir, dirigido por Marti Noxon e exibido pela
Netflix. Abordando distúrbios alimentares, o filme retrata a vida de
uma jovem com anorexia nervosa e de um médico pouco ortodoxo,
levados a discutir a fundo as dietas e comportamentos alimentares da
juventude.

O Mínimo para Viver | Trailer principal | Net ix


Infrações e Processos Disciplinares
Nas infrações e processos disciplinares relacionados aos meios de comunicação e informação,
podemos elencar os artigos do Quadro 9, contidos no CEC, como norteadores da atuação
profissional do nutricionista, sendo, segundo dados do Conselho Federal de Nutricionistas, as
infrações com maiores números atualmente. Os artigos no Quadro 9 trazem luz sobre este
assunto.

Quadro 9 – Artigos do Código de Ética

Vetos

É vedado ao nutricionista, na divulgação de informações


ao público, utilizar estratégias que possam gerar
concorrência desleal ou prejuízos à população, tais
Art. 56 como promover suas atividades profissionais com
mensagens enganosas ou sensacionalistas e alegar
exclusividade ou garantia dos resultados de produtos,
serviços ou métodos terapêuticos.
Vetos

É vedado ao nutricionista utilizar o valor de seus


honorários, promoções e sorteios de procedimentos ou
Art. 57
serviços como forma de publicidade e propaganda para
si ou para seu local de trabalho.

É vedado ao nutricionista, mesmo com autorização


concedida por escrito, divulgar imagem corporal de si
ou de terceiros, atribuindo resultados a produtos,
equipamentos, técnicas, protocolos, pois podem não
apresentar o mesmo resultado para todos e oferecer
risco à saúde.

Art. 58
§ 1º. A divulgação em eventos científicos ou em
publicações técnico-científicas é permitida, desde que
autorizada previamente pelos indivíduos ou
coletividades.

§ 2º. No caso de divulgação de pesquisa científica o


disposto no artigo 58 não se aplica.

Fonte: Adaptado de Resolução CFN n. 599/2018

Numa rápida excursão às redes sociais, ou em buscas breves utilizando, por exemplo, as
palavras “antes e depois”, certamente encontraremos inúmeras fotografias de pessoas com
momentos diferentes de processos de dietas, principalmente com foco no emagrecimento e
ganho de massa muscular. O CEC deixa claro, através do artigo 58, que ainda que o nutricionista
tenha autorização de seus pacientes, não poderá se utilizar deste meio de informação para
promover sua atuação profissional; caso o faça, incursionará em ato infracional, sujeito a
punição. Fica claro no artigo que, até a foto do próprio profissional, em ações de antes e depois,
ou seja, comparativas, são proibidas. O artigo 16, que cita a responsabilidade do profissional na
divulgação de informações e seu compromisso com a promoção da saúde, torna a infração ainda
mais sedimentada, cabendo salientar que cada ser humano pode reagir de maneira diferente a
um tratamento ou dieta, sendo, assim, não ético utilizar-se de modelos de ação e reação para
fomentar técnicas de atendimento ou procedimentos.

Outras questões que ferem o CEC são relacionadas ao atendimento gratuito para promoção de
locais de comercialização de alimentos ou suplementos, como, por exemplo, avaliação
nutricional gratuita em farmácias e lojas de suplementos alimentares para atletas, bem como o
sorteio de atendimento, principalmente com divulgação em redes sociais, para promoção de
blogs, marcas ou locais de venda de produtos relacionados a alimentação e nutrição. Segundo o
artigo 60, que segue na sequência do CEC, somente poderão ser realizadas estas ações nos
seguintes parâmetros: caso o nutricionista seja contratado pela empresa ou indústria para
desempenhar a função de divulgação de serviços ou produtos de uma única marca, empresa ou
indústria, esta deve ser voltada apenas a profissionais que prescrevam ou comercializem os
produtos e vedada aos demais públicos; quando da prescrição dietética, orientação para
consumo ou compra institucional, havendo necessidade de mencionar aos indivíduos e
coletividades as marcas de produtos, empresas ou indústrias, o nutricionista deverá apresentar
mais de uma opção, quando disponível. Não havendo outra opção que tenha a mesma
composição ou que atenda a mesma finalidade, é permitido indicar o único existente (CFN,
2018).

Pudemos perceber, ao observar os artigos do Código de Ética, a importância de conhecê-los,


pois assim ficamos munidos de informações seguras e de fontes confiáveis, como são os
Conselhos Federal e Regionais, bem como os documentos e leis acessórias para a atuação
profissional comprometida.

Saiba Mais
Além do Código de Ética e de Conduta do Nutricionista, outras
legislações são utilizadas como norteadoras ou auxiliares nas ações
infracionais. Código de Defesa do Consumidor, Código Civil Brasileiro
e Código Penal poderão ser utilizados na busca por processos éticos e
que cumpram plenamente as legislações brasileiras.

Código de Ética e de Conduta do Nutricionista:


Formação, Pesquisa, Relações com as Entidades da
Categoria e Setor Privado

Associação a Produtos, Marcas de Produtos, Serviços, Empresas ou


Indústrias
É possível se associar a produtos, marcas de produtos, serviços, empresas ou indústrias Essa
pergunta sempre é feita pelos nutricionistas e outros profissionais de saúde. No entanto,
devemos estar atentos para o que nos orienta o CEC.
Figura 6
Fonte: Adaptada de Getty Images

Um profissional de saúde, ao se associara um produto, marca, serviço, empresa ou indústria,


pode influenciar diretamente a população em suas escolhas. Por isso, a maioria dos códigos de
ética dos profissionais de saúde são rigorosos sobre esse aspecto. A indicação de marca
específica retira a autonomia do paciente e ainda agrega lucros a uma única empresa. Assim, é
importante conhecer qual é a orientação legal em relação a esse assunto.

Reflita
Como manifestar a preferência por uma marca específica de
suplemento alimentar em uma rede social pode caracterizar uma
infração ao Código de Ética e de Conduta do Nutricionista?

Capítulos, Artigos e Incisos


O capítulo V do Código de Ética e de Conduta do Nutricionista trata da associação do nutricionista
a produtos, marcas de produtos, serviços, empresas ou indústrias. Nele, encontramos um
direito e seis vetos que orientam o nutricionista para a adequada condução dessas questões na
prática profissional. Na Tabela 1, são apresentados de forma comentada os artigos desse
capítulo.

Tabela 1 – Associação do nutricionista a produtos, marcas de produtos, serviços, empresas ou


indústrias

Art. 59 – utilizar de embalagens de produtos, de mais


de uma marca, para atividades de orientação,
Direito educação alimentar e nutricional em atividades de
formação profissional, a fim de não configurar
conflito de interesse.

Vetos Art. 60 – prescrever, indicar, manifestar preferência


ou associar sua imagem, de forma intencional, para a
divulgação de marcas de produtos alimentícios,
suplementos nutricionais, fitoterápicos, utensílios,
equipamentos, serviços, laboratórios, farmácias,
empresas ou indústrias ligadas às atividades de
alimentação e nutrição, com o objetivo de preservar a
autonomia do indivíduo e coletividade. Outras
orientações descritas pelo artigo são:
I) as formas de divulgação, incluindo
vestimentas, adereços, materiais e instrumentos
de trabalho com a marca; sendo que os
nutricionistas com vínculo empregatício em
empresa ou indústria estão excluídos desse veto;

II) há exceção caso o nutricionista seja


contratado por alguma empresa ou indústria para
realizar a divulgação de serviços ou por alguma
marca específica, desde que essa atividade seja
voltada apenas para profissionais prescritores ou
comerciantes;

III) a necessidade de apresentar mais de uma


opção de marca; e, em caso de composição
exclusiva, o nutricionista pode, então, indicar
uma marca específica.

Art. 61 – realizar a associação de consulta


nutricional com prescrição dietética em locais que
comercializam alimentos, produtos alimentícios,
suplementos nutricionais, fitoterápicos, utensílios ou
equipamentos ligados à área de alimentação e
nutrição.

Art. 62 – venda casada, ou seja, atividade do


nutricionista vinculada a produtos alimentícios,
suplementos nutricionais, fitoterápicos, utensílios ou
equipamentos ligados à área de alimentação e
nutrição.

Art. 63 – realizar e publicidade ou propaganda em


meios de comunicação para fins comerciais, de
marcas de produtos alimentícios, suplementos
nutricionais, fitoterápicos, utensílios ou
equipamentos ligados à área de alimentação e
nutrição.

Art. 64 – receber de patrocínio ou vantagens


financeiras de empresas ou indústrias ligadas à área
de alimentação e nutrição; sendo exceção o caso do
nutricionista contratado pela empresa.

Art. 65 – promover, organizar e realizar eventos


técnicos ou científicos com patrocínio, apoio ou
remuneração de indústrias ou empresas ligadas à
área de alimentação e nutrição que não atendam aos
critérios estabelecidos pela entidade técnico-
científica e quando configurar conflito de interesse; é
exceção o caso de nutricionistas com atribuições em
comissão científica ou na organização de eventos
multiprofissionais.

Fonte: Resolução CFN n. 599/2018 (adaptado)

Infrações e Processo Disciplinar


De acordo com a Resolução CFN n. 321/2003, constitui-se uma infração quando o nutricionista
desobedece a uma normativa do CEC. Para entender melhor como ocorre essa situação,
apresentamos um caso fictício de infração ao capítulo V.

Caso
Denúncia ex o cio e anônima, diz que R. S., nutricionista, possui consultório de nutrição
instalado nas dependências de uma loja de comercialização de suplementos alimentares e de
produtos naturais. Trata-se de colaboração mútua, ou seja, a loja indica o nutricionista e o
nutricionista indica uma marca de produto específica comercializada na loja. Além disso, ele
expõe, em sua mesa de consultório, embalagens dessa marca de suplemento alimentar para
aumento de massa muscular.

Indício de Infração
De acordo com a Resolução CFN n. 599/2018, artigo 60:

“É vedado ao nutricionista prescrever, indicar, manifestar preferência ou associar

sua imagem intencionalmente para divulgar marcas de produtos alimentícios,


suplementos nutricionais, fitoterápicos, utensílios, equipamentos, serviços,
laboratórios, farmácias, empresas ou indústrias ligadas às atividades de
alimentação e nutrição de modo a não direcionar escolhas, visando preservar a
autonomia dos indivíduos e coletividades e a idoneidade dos serviços.

I – Inclui-se como formas de divulgação a utilização de vestimentas,


adereços, materiais e instrumentos de trabalho com a marca de produtos ou
empresas ligadas à área de alimentação e nutrição. Excetuam-se profissionais
contratados por empresa ou indústria durante o desempenho de atividade
profissional para esta contratante.

- RESOLUÇÃO CFN n. 599, 2018, p. 20-21

Da mesma forma, o artigo 61 manifesta indício de infração:


“É vedado ao nutricionista exercer ou associar atividades de consulta nutricional e

prescrição dietética em locais cuja atividade-fim seja a comercialização de


alimentos, produtos alimentícios, suplementos nutricionais, fitoterápicos,
utensílios ou equipamentos ligados à área de alimentação e nutrição.”

- RESOLUÇÃO CFN n. 599, 2018, p. 21

Processo Disciplinar (PD)


O processo disciplinar obedece a quatro fases: instauração, instrução, julgamento e penalização.
Todas elas estão descritas na Resolução CFN n. 321/2003. Dessa forma, a denúncia do caso foi
recebida pelo Conselho Regional de Nutricionistas e devidamente analisada pela presidente. Por
constatar indícios de infração ao CEC, o processo foi instaurado.

Na fase de instrução, o representado apresentou sua defesa por escrito, na qual descreveu que
realizava, eventualmente, alguns atendimentos nutricionais em uma sala cedida pela loja de
suplementos alimentares e que as embalagens utilizadas eram organizadas pela loja de
suplementos.

Na tomada de depoimentos, o representado relatou que tinha um “acordo de boca” com a loja de
suplementos: a sala era utilizada três vezes por semana para atendimento nutricional, sem
nenhum custo. Em contrapartida, ele divulgava marcas específicas de produtos alimentícios aos
pacientes atendidos e sugeria que fossem adquiridos naquele mesmo estabelecimento. Relatou
ainda que todo mês era uma marca diferente, sempre o produto considerado o lançamento do
momento. Ele ainda relatou não ter conhecimento do Código de Ética e de Conduta do
Nutricionista. Por isso, não sabia que realizar atendimento nutricional em loja de suplementos
alimentares e divulgar marcas específicas de suplemento alimentar era vedado. O representado
não quis arrolar testemunhas no processo disciplinar.

A Comissão de Ética analisou as provas documentais e a tomada de depoimentos, evidenciando


que o nutricionista R. S. infringiu o CEC. Desta forma, a Comissão encerrou o processo
disciplinar, concluindo que ele havia infringido o Art. 60, inciso I, e o Art. 61 do CEC, propondo
aplicação de advertência.

O plenário do CRN analisou o relatório conclusivo e designou um conselheiro relator para o


processo. Na sessão de julgamento, o plenário acatou por unanimidade o voto do relator, julgou
procedente a denúncia e propôs aplicação da pena de advertência. O representado não
protocolou recurso voluntário e foi penalizado.

A partir desse exemplo, é possível perceber que é vedado ao nutricionista a divulgação demarcas
de suplementos alimentares. Nessa prática, o profissional deve realizar a prescrição dietética da
composição/fórmula do suplemento alimentar. Quanto à realização de atendimento nutricional
dentro de lojas de suplementos alimentares, esta ação é igualmente vedada, porque sugere ao
cliente/paciente que a aquisição dos produtos seja realizada naquele estabelecimento, o que
impede a autonomia da decisão do local de compra.

Pesquisa
A pesquisa é uma subárea da área de Nutrição no ensino, na pesquisa e na extensão. No entanto,
o nutricionista que atua em qualquer uma das áreas tem o direito de realizar pesquisas
científicas relacionadas a sua área de atuação, promovendo o intercâmbio técnico-científico.

A Nutrição é uma ciência que estuda a relação do homem com os alimentos e está em constante
avanço. Assim, o nutricionista deve acompanhar e fazer parte desse avanço com a realização de
pesquisas. Além de agregar valor ao local de trabalho ou acadêmico, a pesquisa científica
desenvolve a curiosidade do pesquisador, a valorização profissional e muitos benefícios à
sociedade.
Figura 7 – Nutricionista pesquisadora
Fonte: Getty Images

Saiba Mais
As pesquisas desenvolvidas pelos nutricionistas são muito
importantes para a área da saúde. Por exemplo, algumas delas voltadas
para a nutrição hospitalar constataram melhoria na qualidade de vida e
no tratamento de pacientes oncológicos.
Capítulo, Artigos e Incisos
O capítulo VII do CEC aborda a pesquisa, trazendo um direito, três deveres e dois vetos que
orientam o nutricionista à prática. A Tabela 3 apresenta os artigos desse capítulo de forma
comentada.

Tabela 3 – Ética na Pesquisa em Nutrição

Art. 78 – realizar estudo ou pesquisa dentro ou fora de


seu local de trabalho, objetivando benefícios à saúde
dos indivíduos e coletividades, a qualificação de
processos de trabalho e a produção de novos
Direito conhecimentos para a nutrição.
Uma observação importante desse artigo é que toda
pesquisa ou estudo realizada deve ser autorizada pela
instituição e, quando necessário, pelo Comitê de Ética
e Pesquisa.

Deveres Art. 79 – respeitar o meio ambiente, os seres humanos


e os animais envolvidos bem como as normas
vigentes.

Art. 80 – referenciar, com autorização do


responsável, quando utilizar informações não
divulgadas publicamente.

Art. 81 – ao publicar ou divulgar resultados de


estudos financiados ou apoiados por
indústrias/empresas ligadas à área de alimentação e
nutrição, assegurar a imparcialidade na metodologia
e nos dados, garantindo a divulgação da fonte de
financiamento ou apoio, e declarando o conflito de
interesses.

Art. 82 – omitir citação de terceiros que tiveram


participação na elaboração de produções técnico-
científicas.
Vetos
Art. 83 – declarar autoria de produção científica,
método de trabalho ou produto do qual não tenha
participado efetivamente.

Fonte: Resolução CFN n. 599/2018 (adaptado)

Infrações e Processos Disciplinares


Uma infração é constituída, de acordo com a Resolução CFN n. 321/2003, quando o nutricionista
desobedece a uma normativa do CEC. Para entendermos melhor como ocorre esta situação na
prática, apresentaremos um caso fictício de infração relativo ao capítulo VII.

Caso
De acordo com uma denúncia particular, uma nutricionista, em um congresso científico de
Nutrição, declarou autoria em uma pesquisa sobre o café brasileiro, na qual não realizou
nenhuma participação com o grupo envolvido.

Indício de Infração
Segundo o Art. 83 da Resolução CFN n. 599, “é vedado ao nutricionista declarar autoria à
produção científica, método de trabalho ou produto do qual não tenha participado efetivamente
da produção ou construção” (CFN, 2018, p. 25-26).
Processo Disciplinar (PD)
Seguindo o processo disciplinar de forma legal, a denúncia foi recebida pelo Conselho Regional
de Nutricionistas e devidamente analisada pela presidente. Por constatar indícios de infração ao
CEC, o processo foi instaurado.

Na fase de instrução, a representada apresentou sua defesa por escrito, alegando que realmente
não participou das etapas da pesquisa científica realizada pelo grupo de trabalho, mas que
emprestou ao grupo alguns livros sobre o assunto. Por isso, sentiu-se parte do trabalho e se
sente autora.

Na tomada de depoimentos, a representante declarou que a representada apenas emprestou


livros sobre o café brasileiro, mas que não participava do grupo de trabalho, não escreveu nada
sobre a pesquisa e também não foi convidada a participar. A parte representante não arrolou
testemunhas.

Por sua vez, em sua tomada de depoimentos, a representada alegou inocência, declarando que se
achava parte do grupo uma vez que, além de emprestar os livros, também explicou ao grupo
algumas curiosidades sobre o café.

Em depoimento, a testemunha da representada, que é amiga da nutricionista, disse que a


representada tem curso de barista, entende muito de café e possui vários livros sobre o assunto.
Alegou ainda que se recorda de a representada ter emprestado livros sobre o café brasileiro para
o grupo de trabalho científico, mas que não tinha conhecimento de outro tipo de participação da
nutricionista na pesquisa.

Após análise de provas documentais e depoimentos, a Comissão de Ética evidenciou que a


nutricionista infringiu o Art. 83 do CEC e propôs aplicação de repreensão. O plenário do CRN
analisou o relatório conclusivo e designou um conselheiro relator para o processo. Na sessão de
julgamento, o plenário acatou por unanimidade o voto do relator e propôs aplicação da pena de
repreensão. A representada não protocolou recurso voluntário e foi penalizada.
Assim, a partir desse exemplo, vemos que o Código de Ética e de Conduta do Nutricionista veda a
declaração de autoria à produção cientifica da qual o nutricionista não tenha participado
efetivamente da produção ou construção. Além desse artigo, podemos citar também a Lei n.
9.610, de19 de fevereiro de 1998, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos
autorais. Neste estudo de caso, então, ficou provado que a representada não era autora do
trabalho científico.

Relações com as Entidades da


Categoria
A Nutrição é representada por três entidades de classe: os Conselhos Federal e Regional de
Nutricionistas, os sindicatos e as associações. Os Conselhos Federal e Regional de Nutricionista
têm como finalidade orientar, normatizar e fiscalizar o exercício profissional do nutricionista.
Figura 8
Fonte: Getty Images

O nutricionista deve conhecer as entidades que representam sua profissão. Dessa forma, terá
consciência de suas atribuições, seus direitos e deveres e proibições, assim como entenderá que
todas as entidades trabalham com o intuito de valorizar o nutricionista e de proteger a
sociedade.

Capítulo, Artigos e Incisos


O capítulo do CEC que trata das relações com as entidades da categoria é o capítulo VIII. Nele
constam três direitos, três deveres e um veto que orientam o nutricionista sobre como deve
seresta relação. A Tabela 4 traz os artigos desse capítulo de forma comentada.

Tabela 4 – Ética nas relações com as entidades da categoria

Direito Art. 84 – fazer associação, exercer cargos e


participar de atividades de entidades da categoria
que tenham por finalidade aprimoramento técnico-
científico, melhoria das condições de trabalho,
fiscalização do exercício profissional e garantia dos
direitos profissionais e trabalhistas.

Art. 85 – requerer desagravo público ao Conselho


Regional de Nutricionistas quando ofendido no
exercício da profissão ou em razão dela; ou seja, o
nutricionista pode solicitar reparação de ofensa ou
dano moral por meio de retratação.

Art. 86 – formalizar junto ao Conselho Regional de


Nutricionistas de sua jurisdição a ocorrência de
afastamento, exoneração e demissão de cargo,
função ou emprego em decorrência da prática de
atos que executou em respeito aos princípios éticos
previstos.

Art. 87 – estar regularmente inscrito no Conselho


Regional de Nutricionistas de sua ou de outra
jurisdição, caso tenha inscrição secundária.

Art. 88 – cumprir as normas definidas pelos


Conselhos Federal e Regionais de Nutricionistas e
Deveres atender, nos prazos e condições indicadas, a
convocações, intimações ou notificações.

Art. 89 – fortalecer e incentivar as entidades da


categoria, objetivando a proteção e valorização da
profissão e respeitando o direito à liberdade de
opinião.

Art. 90 – valer-se de posição ocupada em entidades


da categoria para obter vantagens pessoais ou
Vetor financeiras, diretamente ou por intermédio de
terceiros, bem como para expressar superioridade
ou exercer poder que exceda sua atribuição.

Fonte: Resolução CFN n. 599/2018 (adaptado)

Infrações e Processos Disciplinares


Para entendermos melhor como ocorre uma infração ao que está disposto no capítulo VIII,
apresentamos um caso fictício
Caso
Através de uma denúncia funcional, durante uma visita fiscal, foi identificado que a única
nutricionista do hospital infantil do município não possuía inscrição no Conselho Regional de
Nutricionistas e que atuava neste local há dois anos.

Indício de Infração
De acordo com o Art. 87 da Resolução CFN n. 599, “é dever do nutricionista, ao exercer a
profissão, estar regularmente inscrito no Conselho Regional de Nutricionistas da sua jurisdição
e em outra jurisdição, caso tenha inscrição secundária” (CFN, 2018, p. 26).

Processo Disciplinar (PD)


A denúncia foi recebida pelo Conselho Regional de Nutricionistas e analisada pela presidente.
Por constatar indícios de infração ao CEC, o processo foi devidamente instaurado.

Na fase de instrução, por escrito, a representada apresentou sua defesa, na qual alegou que
realmente não tinha inscrição do Conselho Regional de Nutricionista por descuido e
esquecimento.

Na tomada de depoimentos, alegou que, com a correria do dia a dia, não conseguiu realizar a sua
inscrição, que atua na área hospitalar há dois anos, atendendo crianças com deficiências
múltiplas e com várias restrições alimentares, e que tem intenção de proceder com a
regularização da inscrição.

A Comissão de Ética analisou as provas documentais e o depoimento, evidenciando que a


nutricionista infringiu o Art. 87 do CEC e propôs aplicação de repreensão. O plenário do CRN
analisou o relatório conclusivo e designou um conselheiro relator para o processo. O plenário
acatou, na sessão de julgamento, por unanimidade o voto do relator, julgou procedente a
denúncia e propôs aplicação da pena de repreensão. A representada não protocolou recurso
voluntário e foi penalizada.
Com base nesse exemplo, podemos notar que atuar sem a devida inscrição no Conselho
Regional de Nutricionistas é uma infração determinada pelo Art. 87 do CEC. Além de infração
disciplinar, é também um ato de desvalorização profissional. Vale ressaltar que, de acordo coma
Lei Federal n. 8234/91, a designação e o exercício da profissão de nutricionista são privativos aos
portadores de diploma expedido por instituições de ensino superior em nutrição reconhecidas e
regularmente inscrito no Conselho Regional de Nutricionistas.

Em Síntese
Conhecemos um pouco mais sobre o Código de Ética e de Conduta do
Nutricionista. Através da apresentação comentada dos artigos, ficou
evidente que manifestar a preferência por uma marca específica de
suplemento alimentar é uma infração ao Código de Ética e de Conduta
do Nutricionista e o profissional pode responder por um processo
disciplinar. Isso porque essa ação por parte do profissional caracteriza
interferência na autonomia do paciente/cliente.

Ao final, vimos também sobra a importância das entidades que regem a


atuação do nutricionista: os Conselhos Federal e Regional de
Nutricionistas, os sindicatos e as associações. Através desse saber, o
profissional da área ganha poder de atuação, tendo noção dos seus
deveres e limites. Todos esses fatores contribuem para a nossa
valorização profissional e para nossa boa atuação na sociedade.
2/2

ʪ Referências

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