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Provas Discursivas:
Estratégias
Brasília/2015
João Dino dos Santos
Provas Discursivas:
Estratégias
Brasília/2015
SANTOS, João Dino dos.
Provas Discursivas: Estratégias
João Dino dos Santos.
p. 103
ISBN: 978-85-69303-10-7
A
tendendo ao honroso convite do autor dessa obra de Língua Portuguesa,
voltada à clientela de Concursos Públicos, para que redija o Prefácio da
obra, faço-o com grande prazer, acompanhado de pequena preocupação.
Explico-a: após revisar modelos desse gênero textual, verifico que na Sociedade
de Informação, cada vez mais competitiva, compacta e, não raro, anódina, o gênero
prefácio está encolhendo.
Há sempre muito a dizer, porém o espaço reservado para isso, por razões óbvias,
é pequeno. Contudo reflito, não é também a brevidade uma virtude na escrita? Aceito o
desafio. Em consequência é melhor pôr mãos à obra, começando pelo mais importante
neste gênero – o autor e a obra.
Conheço o professor Dino pelo menos há duas décadas e o considero um
amigo. Ex-aluno da UnB, mestre em Linguística, é ainda vitorioso no acesso ao
Serviço Público, mediante concurso. Carioca típico, operoso, comunicativo, sempre
transparecendo bom humor em relação à vida; tem conseguido ampliar e especializar
suas experiências profissionais, sem afastar-se do magistério, prova contundente de
que se trata de um vocacionado, incurável.
É ele, tipicamente, um autor capacitado para a obra que escreve. Na rotineira
literatura dos concursos públicos, soube pinçar e pesquisar um assunto bem específico,
do qual tratou com o espírito de crítica construtiva. Penso ter ele alcançado tanto o
interesse dos concursandos, quanto de docentes e de pesquisadores.
Ao refletir na atuação das Bancas de Concurso, não poderia eu omitir seu
importante papel de renovação na avaliação didático-pedagógica do ensino de
Língua. Elas acompanharam e divulgaram as mudanças de paradigmas no ensino de
Português, ocorridas, principalmente, nas últimas décadas do século XX. Renovaram
o sentido do estudo da gramática, não mais como um fim em si mesmo, mas como
meio de se alcançar um fim, qual seja o domínio da leitura e da produção de texto como
objetivo precípuo do ensino de Língua.
Também não se pode negar o aprimoramento de cuidados técnicos no output
da avaliação nela incluída a divulgação de gabaritos e os critérios de correção. Nem
poderia ser diferente, porque muitas instituições de realização de concursos em todas
as etapas estão relacionadas à própria Universidade Pública e contam com a atuação
de muitos de seus docentes como é o caso da UnB. Já temeroso em relação ao espaço
gráfico que me foi destinado, apresso-me em situar agora a obra.
O autor dividiu-a em 4 partes: a primeira que dá título ao livro é, certamente,
a de interesse mais atual, passível de análise dos últimos tipos de produção de
textos, cobrados por determinadas Bancas já nesta primeira década do século
XXI. As propostas, segundo minucioso trabalho de pesquisa do autor, apresentam
como novidade a inserção de textos discursivos e não só de temas abertos como
acontecia anteriormente. Segundo o autor, o quadro atual indica certa predominância
da primeira tipologia sem que isso signifique o desaparecimento da proposta do tema
aberto, principalmente no concurso de nível técnico. Há, em relação a essa parte, uma
discussão rica com vários desdobramentos.
Não quero aqui me antecipar e cortar o prazer da surpresa e das reflexões que a
leitura do livro trará em relação a essa questão.
A terceira e a quarta parte do livro focam assuntos indispensáveis à boa produção
de texto: a necessidade do estudo da paragrafação e da prática de resumos. Tudo, de
acordo com a expressão camoniana, “com engenho e arte”.
O ponto seminal de sua contribuição consiste em encaminhar uma discussão
qualitativa sobre o tipo de tema redacional. Nas próprias palavras do autor: “passar do
perfil mais geral para o mais técnico”.
Com a leitura, fica notório que essa mudança não está sendo feita ainda de
forma taxativa, diria mesmo que ela parece ter uma intenção experimental, tentando
ainda obter um quantum satis entre os dois polos. Daí a oportunidade de abrir-se essa
discussão não só aos candidatos, mas também a docentes e pesquisadores.
De minha parte, além do evidente domínio da língua em sua estrutura formal, impõe-se
levar em conta não só valores explícitos, mas também implícitos, contextualizações
no tempo e no espaço; exposições e argumentações e intenções, refletindo o espírito
crítico indispensável na produção do texto, sempre guiados por atitude ponderada.
Está aberta a questão.
Apresentação
Prezado(a) aluno(a),
A prova discursiva é ponto decisivo nos concursos públicos, no vestibular e no
PAS, o que torna a habilidade de redigir mais importante a cada ano. Só as pessoas
capazes de expor pontos de vista e conceitos, com organização lógica e domínio da
língua, conseguirão ingressar nas carreiras públicas e nas universidades.
Por isso, entendemos fundamental que, para confeccionarem as provas
discursivas, os alunos precisam de estratégias em relação tanto à organização lógica
do pensamento quanto ao uso adequado do idioma. Com estratégias bem definidas
para decodificar o comando de prova e para construir os parágrafos e os períodos, a
probabilidade de o candidato ser aprovado e classificado aumenta de forma substancial.
Este trabalho é um ensaio sobre estratégias de construção de textos, porque
se baseia na experiência de mais de uma década ensinando Produção Textual e
aprendendo com as dificuldades dos alunos. Se alguma valia há no presente trabalho,
decorre da maravilhosa troca de ideias com os nossos alunos e da tentativa de
oferecer-lhes respostas objetivas para as dúvidas apresentadas.
Nós partimos de lições colhidas em grandes mestres, tais como Othon Moacyr
Garcia, que nos deu a primeira versão sistematizada da construção textual, com a
apresentação de vários feitios de parágrafos e períodos. Do nosso ponto de vista, esse
manual, editado pela primeira vez na década de sessenta, permanece como referência
maior para quem deseje se aprofundar no tema dissertação.
Embora, no seu tempo, não se falasse da sintaxe gerativa, Othon demonstra como
o Português, a exemplo de outras línguas, é sistêmico, e, para dominar a expressão
escrita, o candidato precisa conhecer as estruturas frasais, os articuladores textuais e
as concepções dos parágrafos.
Para nós, a percepção de Garcia foi de fundamental importância, porque reforça
a ideia de que, na estrutura profunda, as línguas são semelhantes. Se o Português,
assim como todos os idiomas, tem a finalidade de expressar o pensamento e, se este
é atributo da mente humana, há forçosamente um ponto em comum entre todas as
línguas, uma gramática universal, atributo da nossa espécie.
Por isso, compartilhamos da convicção de que a competência linguística para
expressar o pensamento na modalidade escrita decorre do conhecimento aprofundado
dos recursos existentes na língua, do acervo de palavras e expressões, nas múltiplas
categorias. Para dar vida às ideias, com segurança e destreza, o candidato deve
aprender a desmontar textos, selecionar vocabulário, entender a articulação das
frases, períodos e parágrafos.
A título de exemplo, vale refletir sobre quantas formas existem de expressar
adversidade no Português: “mas”, “porém”, “todavia”, “entretanto”, “no entanto”.
Poderíamos encontrar mais algumas expressões, que traduzem a noção de
adversidade, mas estas não são infindas, porque o sistema lógico precisa ser fechado;
caso contrário, o domínio coletivo do idioma seria impossível.
Por outras palavras, a língua pode ganhar vida por meio de infindas combinações
resultantes da criatividade dos falantes, mas estas estarão limitadas pelas categorias
lógicas do pensamento e pelas estruturas da língua, circunscritas a um domínio comum
à coletividade dos falantes. Diferenças há entre o Português do Brasil e o de Portugal,
sobretudo no vocabulário, mas as duas modalidades não se apartam, porque estão
unidas pelo sistema lógico.
Se um falante produzir um enunciado fora das estruturas lógicas possíveis no
idioma, estará potencialmente rompida a comunicação e colocado em risco o domínio
comum da língua, que convalida o que se aceita, ou não, como pertencente ao sistema
morfossintático e semântico.
Assim, escrever bem, no campo técnico e administrativo, decorre de muita
transpiração, mais do que inspiração, no entanto o esforço não pode ser aleatório.
Para atingir nível de excelência, o candidato precisa revisitar os bons textos de quem
já obteve aprovação, para colher verbos, conectivos, expressões; enfim, ganhar trato
com o idioma, conhecê-lo de forma sistêmica. Esse é o atalho para o sucesso.
Para ensinarmos nossos alunos a organizarem o pensamento, partimos de uma
máxima de René Descartes: “duvido, logo penso; penso, logo existo”. Se refletirmos
um pouco sobre a produção textual, veremos que sobretudo os textos técnicos,
administrativos e acadêmicos são gerados a partir de dúvidas de inquietações, mesmo
se o objetivo for estabelecer um conceito.
Para nós, o planejamento de qualquer texto começa por perguntas simples: o que
desejamos informar ou conceituar? O que desejamos defender ou argumentar? Se
lançarmos um olhar atento ao comando de provas em diversos concursos, veremos que
os temas podem ser convertidos em perguntas, por meio de um pronome interrogativo
ou o artifício da pergunta sim ou não.
Veremos também que os roteiros transformam-se facilmente em perguntas
capazes de organizar o pensamento e garantir a sequência adequada da dissertação,
argumentativa ou expositiva. O caminho para a coerência está nas respostas às
perguntas formuladas direta ou indiretamente pela Banca.
No campo da organização lógica, também procuramos absorver, na medida do
possível, outro livro bastante tradicional: Pensar com Conceitos, de John Wilson. As
lições desse professor da Universidade de Oxford são primordiais para quem deseja
conhecer o feitio do texto argumentativo, da arte de comparar ideias para se posicionar
diante delas. A habilidade de criticar, em grande medida, resulta da comparação entre
conceitos, do confronto entre argumentos.
Temos de agradecer a duas pessoas que nos incentivaram muito e nos trouxeram
importantes contribuições com seus respectivos livros: primeiro, a Professora Enilde
Leite de Jesus Faulstich, que, em Como Ler, Entender e Redigir um Texto, traz uma
contribuição primordial ao entendimento da lógica da construção textual ao comentar
as Capacidades Cognitivas de Bloom; segundo, ao Professor Sérgio Waldeck, que,
em Leitura e Produção de Textos, parte das funções da linguagem para nos ensinar os
caminhos da dissertação e do resumo.
Precisamos agradecer, também, ao Professor Luiz Serra que, além de revisar
o presente trabalho, tem sido um incentivador incansável e amigo de todas as horas.
Queremos ver, em breve, o seu livro de Gramática Aplicada ao Texto, que, pela
simplicidade e objetividade, terá grande acolhida. Mas o agradecimento maior é para
os nossos alunos, que nos inquietaram com perguntas, que nos colocaram gentilmente
contra a parede. Sem eles, nada seria possível, porque a dúvida indica a trilha do
conhecimento.
Provas Discursivas: estratégias é um livro que deve provocar polêmicas e
questionamentos; mas, como o maior legado do século XX foi a relatividade dos
conceitos e teorias, nem de longe nos passa a pretensão de esgotar campo tão fértil
como o da Produção Textual. A cada dia, alguém nos pergunta algo inusitado, e, no
desejo de oferecer a resposta, continuamos a pesquisar e a trocar ideias com os alunos
e candidatos. Estes, sem dúvida, têm sido a maior fonte de saber de que dispomos.
Você verá que o livro se divide em quatro partes, com absoluta independência
de cada uma delas. Por outras palavras, é possível seguir a sequência natural, com
a leitura da primeira à última parte. Mas é possível começar pela segunda parte ou
pela terceira, de acordo com a dificuldade específica e o amadurecimento de cada
candidato. O nosso compromisso foi o de apresentar, de forma franca e aberta, um
conjunto de estratégias para a organização do pensamento, geração de parágrafos,
enunciados e resumos.
Começamos por comentar as diferenças entre os editais de cada concurso no
sentido de situar o candidato quanto à tipologia de prova a ser enfrentada. Na segunda
parte, falamos de diversas estratégias de construção de parágrafo, para, na terceira
parte, tratarmos da geração de enunciados. As estratégias para a construção de
resumos constituem o último capítulo do livro.
Com os comentários sobre as provas discursivas em diversos concursos,
compreenderemos melhor as características das redações argumentativas e
expositivas conceituais. Embora tenhamos partido dessa divisão clássica, devemos
ressaltar que as modalidades textuais não podem ser vistas como estanques.
A narrativa, por exemplo, pode ser ponto de partida para a análise e o
posicionamento, e estes para se veicular uma informação ou formular um conceito.
Embora o mais justo seja falar em tipologia preponderante no texto, conhecer as
características das duas modalidades é fundamental para estabelecermos estratégias
voltadas à organização lógica do pensamento e à expressão escrita em língua
portuguesa.
No segundo momento, falamos das estratégias de construção de parágrafos.
Partimos das sugestões de Francisco C. de Souza e Rubens Pantano Filho, em
Vestibular da Unicamp, provas resolvidas, e nos baseamos na experiência acumulada
pelas respostas a inúmeros questionamentos dos nossos alunos. Mais uma vez,
assumimos o risco de oferecer uma resposta mais prática, que conduza o candidato
no momento da prova.
Ademais, queremos conversar com vocês sobre como gerar enunciados com
base em 9 regras práticas para tornarmos os textos claros, objetivos e concisos.
Sempre é válido lembrar que as dissertações são corrigidas quanto ao conteúdo e ao
uso adequado do idioma. Em outras palavras, precisamos cuidar do conteúdo e do
uso formal da língua, sobretudo se o desejo for tirar uma boa nota na prova discursiva.
Por fim, apresentamos um conjunto de estratégias para a confecção de resumos,
uma modalidade que tem sido cobrada em alguns certames, no de Consultor Legislativo,
por exemplo. Além disso, saber resumir é muito útil como ferramenta para estudarmos
e retermos o conteúdo das diversas matérias.
Temos certeza de que você melhorará muito a capacidade de redigir com coerência
e coesão, segurança e destreza, depois de percorrer as páginas deste livro e aplicar as
estratégias propostas à produção de dissertações e resumos. Sempre é válido buscar,
também, informações em outros autores para você chegar a um entendimento mais
sedimentado sobre o assunto.
Boa sorte!
Prof. João Dino dos Santos
Sumário
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 18
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 98
BIBLIOGRAFIA....................................................................................................... 100
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Provas Discursivas: Estratégias
Introdução
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Provas Discursivas: Estratégias
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20
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Provas Discursivas: Estratégias
ESTRATÉGIAS DE ORGANIZAÇÃO
1ª Parte
LÓGICA DO PENSAMENTO
Você que acompanha os concursos públicos no Brasil já deve ter percebido que,
com frequência, os candidatos têm um bom desempenho na parte objetiva, mas, às
vezes, perdem o certame na prova discursiva ou caem muito na classificação. Como
enfrentar a dissertação e garantir a aprovação é um ponto inquietante para os candidatos,
que deve começar a ser vencido pela distinção entre textos dissertativos argumentativos
e expositivos “conceituais”.
O termo “conceituais” parece-nos adequado para mostrar o escopo da prova
discursiva em concursos nos quais a Banca estabelece como conteúdo itens específicos
do edital em contraposição a um tema em que se pede o posicionamento do candidato
sobre determinada situação hipotética, por exemplo. A interpretação do tema e a forma
de a Banca apresentá-lo requerem tato e bom senso dos candidatos.
Quando a prova é de natureza conceitual, os examinadores têm em mente avaliar
a capacidade de conhecimento do candidato acerca de conceitos e características
de determinada matéria: Auditoria, Direito Administrativo ou Controle Externo,
por exemplo. Mas é oportuno mencionar que não há uma fronteira absoluta entre a
exposição e a argumentação, mas o predomínio de uma modalidade em relação à outra.
Nesses casos, quando os examinadores elaboram as questões discursivas, têm um
raciocínio sistêmico e esperam que o candidato demonstre, na sequência de elaboração
do texto, tudo que julgaram pertinente de acordo com a planilha de correção.
Apresentada por ocasião da divulgação dos resultados, a planilha e as notas podem
trazer algumas surpresas, sobretudo se o candidato não raciocinar de forma sistêmica
na hora de elaborar a resposta.
Queremos facilitar o entendimento desse exercício de ajuste entre a percepção do
candidato e a expectativa do examinador. Em alguns casos, isso pode transformar-se
em verdadeiro exercício de clarividente, porque nem sempre o que o candidato pensa
é o que o examinador quer. Com o perfil de provas mais técnicas, se o examinador
não amarrar bem o comando geral da prova – eixo horizontal – com os itens a serem
tratados no corpo do texto – eixo vertical –, o candidato terá uma margem de dúvida
considerável, o que pode resultar em baixo desempenho.
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Provas Discursivas: Estratégias
Em casos recentes, como o da prova do MPU, por exemplo, elaborada pelo CESPE,
parece-nos que foi exatamente isso que ocorreu. E a Banca pode ter errado duas vezes:
primeiro, porque a delimitação da tarefa não foi capaz de conduzir os candidatos à
expectativa dos examinadores; segundo, porque, diante de tal fato, a Banca não teve a
percepção de reavaliar o comando e acolher outras abordagens igualmente válidas para
o tema, conquanto diferentes da expectativa inicial.
Outro caso foi o da prova discursiva para analista judiciário, área administrativa,
do concurso para o STM, também elaborado pelo CESPE, que reprovou número
considerável de candidatos. A prova apresentava o seguinte texto motivador:
Considerando que a situação hipotética descrita acima tem caráter motivador, redija um
texto dissertativo acerca do seguinte tema: TRANSPARÊNCIA DA GESTÃO FISCAL.
Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
• normas vigentes sobre a transparência da gestão fiscal;
• empecilhos à consolidação de uma gestão transparente;
• papel do planejamento no objetivo de transparência.”
No nosso entendimento, o texto motivador não poderia ter sido ignorado pelos
candidatos, porque, embora a lei preveja situações em que a licitação possa ser
dispensada, a compra sistemática sem licitação é um indício de o gestor ter faltado com
transparência fiscal. A aprovação das contas do prefeito pela Câmara de Vereadores, por
sua vez, é nítido empecilho à consolidação da gestão transparente, porque o Legislativo
não exerceu o dever de fiscalizar.
Em provas como essas, entendemos que o candidato tende a conseguir melhores
notas se partir da situação hipotética para cumprir o roteiro demandado pela Banca. Na
prática, a prova se transforma em um exercício de escrita a partir de um exercício de
leitura, em que o texto motivador delimita a discussão e conduz o candidato a aplicar
o conhecimento adquirido à análise de um caso. Isso parece-nos ocorrer mesmo se a
Banca disser que o texto é unicamente motivador.
Em provas com roteiros ou com textos motivadores que possam ser reduzidos a
roteiro, o caminho para as notas mais altas é fazer do comando da prova uma espécie
de questionário a ser rigorosamente respondido, como um velho e tradicional dever de
casa. O candidato deve, em primeiro lugar, ver se existe uma pergunta de natureza geral
a ser respondida ou se existem duas ou mais perguntas de natureza geral.
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Provas Discursivas: Estratégias
É fácil perceber no texto da página 24 como isso ocorre, embora, para boa parte
dos leitores, isso não seja percebido na primeira leitura. Mas veja, por exemplo: o PPA
é um plano de execução de médio prazo, elaborado pelo Poder Executivo, no primeiro
ano de governo e que abrange os programas, planos, projetos e atividades a serem
executados em um período de quatro anos.
Ora, a primeira parte do trecho caracteriza o que é o PPA. Por isso, o uso do
verbo “ser”, de natureza conceitual, porque se o desejo for apresentar o conceito de
determinada noção, nada mais razoável que dizer: “x” é...
Todavia, poderiam ter sido utilizados outros verbos capazes de denotar a mesma
ideia, por exemplo:
• O PPA constitui-se num plano de execução de médio prazo, elaborado pelo
Poder Executivo, no primeiro ano de governo.
• O PPA revela-se como um plano de execução de médio prazo, elaborado pelo
Poder Executivo, no primeiro ano de governo.
Ou
... que tem por finalidade abranger os programas, planos, projetos e atividades a
serem executados em um período de quatro anos.
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Provas Discursivas: Estratégias
Argumentação Apresentação
em defesa de de conjunto de
tese explícita informações sem
defesa de tese
Apresentação
Análise de de um conjunto
situação hipotética de conceitos sobre
com posicionamento determinado tópico
técnico / jurídico do edital
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Provas Discursivas: Estratégias
Candidata 1
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COMANDO DA PROVA
Uma das discussões centrais na análise das políticas públicas refere-se aos desafios
para transformar as decisões tomadas em intervenção efetiva na realidade. Analise os
desafios à implementação de políticas públicas no Brasil. Para isso:
1. Descreva rapidamente o modelo “top-down”;
2. Descreva sucintamente o modelo “bottom-up”;
3. Descreva o modelo interativo-iterativo e comente suas vantagens em relação
aos dois modelos anteriores;
4. Descreva o papel da burocracia de nível de rua no processo de implementação.
Candidata 2
Gestora
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Provas Discursivas: Estratégias
Candidata 3
Gestora
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Provas Discursivas: Estratégias
Candidata 4
Gestora
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Provas Discursivas: Estratégias
Parece-nos evidente que, ao contrário dos temas mais abertos, em que diferentes
abordagens são permitidas, nesse tipo de questão do Senado, a tendência é haver apenas
uma resposta conforme os conhecimentos técnicos de determinada área. Devemos
lembrar, todavia, que, em concurso recente para a área de Direito, o examinador pediu
um confronto entre a doutrina e a jurisprudência. Ainda assim, a liberdade do candidato
– a discricionariedade – é bastante limitada, porquanto o posicionamento deve estar
embasado em conhecimento técnico e/ou jurídico.
Vejamos dois exemplos de dissertação do Concurso para o TCU ACE 2008 –
Gestão Governamental, realizado pelo CESPE/UnB:
QUESTÃO 1
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Provas Discursivas: Estratégias
Na verdade, a Constituição realça que o Tribunal de Contas não tem apenas funções
jurisdicionais, mas igualmente funções de outra natureza, nomeadamente “dar parecer
sobre a Conta Geral do Estado”. Além do mais, a sua competência constitucionalmente
fixada pode ser ampliada por via de lei, dispondo expressamente a Constituição neste
sentido.
Em conclusão, o Tribunal de Contas é, estrutural e funcionalmente, um tribunal,
mais propriamente, um tribunal financeiro, um órgão de soberania, um órgão
constitucional do Estado, independente, não inserido na administração pública, em
particular, no Estado/Administração.
QUESTÃO 1
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QUESTÃO 2
Candidato 1
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Texto Motivador
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A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO
(ESTRATÉGICO, TÁTICO E OPERACIONAL) PARA O SUCESSO
DA REALIZAÇÃO DA COPA DO MUNDO DE 2014 NO BRASIL
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Provas Discursivas: Estratégias
Candidata 2
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Provas Discursivas: Estratégias
Nesta prova, faça o que se pede, usando o espaço para rascunho indicado no presente
caderno. Em seguida, transcreva o texto para a FOLHA DE TEXTO DEFINITIVO DA
PROVA DISCURSIVA, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de
texto escritos em locais indevidos. Será desconsiderado, também, qualquer fragmento
de texto que ultrapassar a extensão máxima de linhas disponibilizadas.
Na FOLHA DE TEXTO DEFINITIVO DA PROVA DISCURSIVA, único
documento que servirá de base para a avaliação da Prova Discursiva, escreva com letra
legível e respeite rigorosamente as margens. No caso de erro, risque, com um traço
simples, a palavra, frase, trecho ou o sinal gráfico e escreva em seguida o respectivo
substituto. Atenção: parênteses não podem ser usados para tal finalidade.
Uma empresa contratou determinado especialista para que, auxiliado por equipe
técnica profissional, elaborasse laudo acerca das condições de temperatura e de volume
de som de certo ambiente de trabalho nas instalações da empresa. A encomenda da
avaliação foi motivada por reclamações dos funcionários que trabalham nesse ambiente,
segundo os quais a temperatura e o volume de som no local estariam supostamente
muito acima dos níveis permitidos em lei. Após prévia avaliação da área em questão,
e preocupado em fundamentar seu laudo em dados técnicos suficientes, o especialista
solicitou à equipe técnica que realizasse medidas da variação de temperatura e volume
de som no ambiente ao longo de um dia de trabalho típico. Os dados resultantes dessas
medidas, por recomendação do especialista, deveriam ser transpostos para formato
digital e gravados em um computador para processamento e interpretação posteriores.
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Candidato XXX
Cargo: 16 – Analista de Engenharia Elétrica/Perito
ASPECTOS MACROESTRUTURAIS
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ASPECTOS MICROESTRUTURAIS
Tipo de 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3
Linha→
Linha 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0
Grafia / Acentuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Morfossintaxe . . . 1 . . . . . . . . . . . . . . . 1 . . . 1 . 1 . . . .
Propriedade vocabular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
RESULTADO
Nota no conteúdo (NC = soma das notas obtidas em
9,60
cada quesito)
Número total de linhas efetivamente escritas (TL) 30
Número de erros (NE) 4
NOTA NA DISCURSIVA – CARGO 16: ANALISTA
9,33
DE ENGENHARIA ELÉTRICA/PERITO
NOTA FINAL NA PROVA DISCURSIVA 9,33
Candidato 1
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PROVA DISCURSIVA
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inferior a 10%. Isso porque se propõe a oferecer, durante o prazo em que o adolescente
estiver internado, educação escolar e profissionalização, inseridas em um projeto
de atendimento pedagógico e psicológico adequado à sua condição de pessoa em
desenvolvimento e voltado à sua reinserção social.”
Cleide de Oliveira Lemos – “Reduzir a Idade Penal é a Solução”, in: UnB Revista
dezembro 2003 – março de 2004, página 19, com adaptações.
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Provas Discursivas: Estratégias
Nesta prova, que vale dez pontos, faça o que se pede, usando os espaços indicados
no presente caderno para rascunho. Em seguida, transcreva o texto para a FOLHA DE
TEXTO DEFINITIVO DA PROVA DISCURSIVA, no local apropriado, pois não será
avaliado fragmento de texto escrito em local indevido.
• Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de trinta linhas será
desconsiderado.
• Na folha de texto definitivo, identifique-se apenas no cabeçalho da primeira
página, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca
identificadora fora do local apropriado.
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Provas Discursivas: Estratégias
§1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena
liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social,
observado o disposto no art. 5.º, IV, V, X, XIII e XIV.
Art. 5º
[...]
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem.
Candidata 3
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Provas Discursivas: Estratégias
Como você pode observar, o primeiro item da planilha de correção não aparecia
no comando da prova, o que foi objeto de recursos, inclusive pela candidata em tela,
porque não seria possível deduzir a intenção do examinador para que o candidato
tratasse o contexto no qual fora aprovada a lei de imprensa.
Vale ressaltar, conforme observamos anteriormente, que os candidatos não
podem ignorar os textos motivadores, porque estes têm o objetivo de delimitar o tema,
direcionar a discussão. À época do concurso, ouvi muita gente dizendo que, como
os textos deveriam ser considerados como unicamente motivadores, fizeram o tema
centrado na liberdade e na responsabilidade no Estado Democrático de Direito, em
sentido amplo.
Para nós, o caminho era outro, porquanto os textos motivadores direcionam a
discussão para a liberdade e a responsabilidade da imprensa. Tanto é que o primeiro
item da planilha de correção cobra essa percepção do candidato ao falar da Lei de
Imprensa. Todavia, não entendemos justo cobrar do candidato que falasse do contexto
político do surgimento dessa lei, porque não há elementos no comando da prova para se
chegar a esse entendimento.
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TEXTOS MOTIVADORES
Considerando que as ideias apresentadas nos textos acima têm caráter unicamente
motivador, redija um texto dissertativo, posicionando-se acerca do tema a seguir.
Candidato 4
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Provas Discursivas: Estratégias
ESTRATÉGIAS DE GERAÇÃO
2ª Parte
DE PARÁGRAFOS
I – O Parágrafo
O parágrafo deve ser visto como um texto breve, gerado a partir de uma ideia
central, tópico-frasal, que se desenvolve por meio de relações lógicas pertencentes à
coordenação e à subordinação, de forma semelhante ao que fazemos na geração de
períodos. Ora, se numa dissertação para a área de urbanismo, para o Governo do
Distrito Federal, por exemplo, determinado candidato lançasse a seguinte ideia como
tópico-frasal:
Nas últimas duas décadas, o Distrito Federal teve uma expansão urbana sem o
devido controle das autoridades públicas.
Nada mais natural que se explicasse como isso ocorreu e as implicações dessa
expansão, mais ou menos, assim.
Observe que o parágrafo foi gerado a partir de uma indagação implícita, como
se caracteriza o processo de expansão urbana no Distrito Federal nas últimas duas
décadas? Como resposta, apresenta-se a descrição do processo de ocupação urbana, a
postura do GDF e a consequência disso.
A estratégia básica para a construção de parágrafos é fazer uma afirmação ou
negação logo no início e desenvolvê-la por meio de causa, efeito, finalidade, adversidade,
entre outras categorias lógicas. Quando lançamos uma ideia para desenvolvê-la, em
seguida, utilizamos a modalidade dedutiva de raciocínio, mas é possível proceder do
particular para o geral, ou seja, construir o parágrafo de forma indutiva.
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Vale observar e fazer um acervo dos verbos e conectivos lógicos utilizados em cada
parágrafo, porque essa percepção ajuda a entendermos como os períodos e parágrafos
nascem no papel. Na verdade, os parágrafos a seguir poderiam ter a estrutura lógica
de construção aproveitada em diferentes contextos, desde que o desejo fosse expressar
algumas das relações exemplificadas.
Vejam que cada tipo de parágrafo é gerado a partir de uma noção, que, na essência,
é genérica e aplicável a qualquer contexto em que seja possível duplicar a mesma
estrutura lógica de pensamento. Afinal, nós podemos concordar com diversos pontos
de vista e discordar de outros tantos, por exemplo, ou comentar determinado relato, ou,
ainda, apresentar as condições para que determinado evento ocorra.
Se os alunos se exercitarem produzindo diferentes parágrafos baseados nas
concepções exemplificadas, aumentarão muito a destreza na construção dos parágrafos,
que devem servir como um ponto de partida. Com o tempo, a tendência é os alunos
abandonarem os modelos, porque a destreza do pensamento já não torna estes
necessários.
A redução da idade penal deve ser adotada no Brasil, porque é uma forma de
coibir a delinquência juvenil e reduzir o crescente número de crimes cometidos por
adolescente. Se isso não for feito, estes continuarão a matar sem piedade, porque não
são alcançados pela lei como os adultos. Não importa a gravidade do crime, depois de,
no máximo, três anos internados, de acordo com a legislação em vigor, estarão soltos
para praticar novos crimes.
Encontrar o amigo de todas as horas tem-se tornado cada vez mais difícil no
mundo de hoje, porque a competitividade e a luta por um lugar ao sol fazem com que as
pessoas sejam fechadas e, muitas vezes, individualistas. Por isso, é preciso avaliar bem
a pessoa antes de se desabafar ou tê-la como verdadeira amiga.
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República é parte legítima para não só apresentar projeto de lei em matéria educacional,
mas também para solicitar a tramitação em urgência. Esta, de acordo com os dados
apresentados ocorreu de acordo com os prazos previstos.
A redução da idade penal não deve ser adotada no Brasil, porque o sistema de
encarceramento tem-se mostrado ineficaz na recuperação do detento e na reintegração
deste à sociedade. Inserir os delinquentes no atual sistema prisional seria apenas
introduzi-los na escola do crime em que se transformaram as penitenciárias brasileiras.
Se agir dessa forma, o Estado apenas confirmará a incapacidade de acudir milhares
de jovens que, na maioria das vezes, acabam por delinquir em razão da falta de
oportunidades para o pleno desenvolvimento intelectual.
O conceito de saúde defendido pela OMS é um bom exemplo de que não adianta
gastar horas em academias malhando o corpo se a mente não anda bem. Para estar
saudável, o indivíduo precisa preocupar-se com a forma física e com a alimentação, mas
é necessário, também, ampliar as relações interpessoais, cultivar uma atitude positiva
em relação à vida.
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Provas Discursivas: Estratégias
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A ofensiva terrestre da Otan contra a Iugoslávia não teria sido tão fácil quanto à
da Guerra do Golfo contra o Iraque. Ao contrário do Deserto, que não oferece abrigos
naturais ou esconderijos ao inimigo, os Bálcãs são montanhosos e favoreceriam à
guerrilha e às emboscadas. Assim, no caso iugoslavo, a ofensiva poderia ter significado
inúmeras baixas às forças aliadas.
Se o desejo do Governo for acabar com a miséria que atinge milhares de brasileiros,
será preciso investimento maciço na área social. A curto prazo, isso significa, criar
frentes de trabalho urbanas e programas de cestas básicas; que garantam a sobrevivência
com dignidade mínima. A médio e longo prazo, será preciso oferecer bolsas de estudo e
auxílio para que as famílias mantenham os filhos na escola e vislumbrem a perspectiva
de relativa ascensão social.
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Provas Discursivas: Estratégias
A Introdução
Quase todos nós já ouvimos falar que um texto deve conter introdução,
desenvolvimento e conclusão, mas a função de cada uma dessas partes nem sempre
fica clara. Quando precisamos produzir um texto, muitas vezes, não sabemos por onde
começar e como começar ou aonde queremos chegar e como terminar.
Observe os diversos textos em jornais e revistas e você vai ver que cada um
deles se inicia de um modo diferente. Há um denominador comum entre eles, porque,
independentemente do autor e da paragrafação adotada, as primeiras linhas dos textos
destinam-se a situar o leitor em relação ao tema a ser tratado e a apresentar a informação
principal, no caso da modalidade expositiva, ou a tese, na modalidade argumentativa.
Além disso, costuma-se mostrar os eixos de construção do desenvolvimento do texto
nessas primeiras linhas, que, na maioria dos textos, constituem um parágrafo: a
introdução.
Há uma diferença, entretanto, ao se construir a introdução do texto argumentativo
se comparada à do texto expositivo, embora não se possam separar as duas modalidades
de forma absoluta. No texto expositivo, o candidato deve enumerar os aspectos
principais a serem tratados no desenvolvimento, porque a Banca tem a expectativa de
que, lançada uma pergunta, os candidatos tratem de cada um dos pontos selecionados,
demonstrando conhecer o conteúdo.
No caso do TCU, por exemplo, se a pergunta versa sobre as diversas modalidades
de licitação e as respectivas aplicações, espera-se que, na introdução, o candidato
assinale quais são as modalidades, para, no desenvolvimento, mostrar a aplicabilidade
de cada uma delas. Trata-se de um roteiro do texto, mas, dependendo do número
de itens solicitados pela Banca e do número de linhas disponíveis, é possível que o
primeiro item faça o papel de introdução; os seguintes, de desenvolvimento e o último,
de conclusão; como se o candidato respondesse um questionário.
Na modalidade argumentativa, o procedimento é diferente, porque a introdução
deverá demonstrar que o aluno foi capaz de compreender os textos motivadores
escolhidos como pontos de referência para a análise e delimitação do tema. Assim, a
introdução deve direcionar a tese para o contexto em análise, que emerge da síntese das
ideias principais dos textos motivadores. Isso não significa transcrevê-las, mas retomar
as palavras-chave para contextualizar o tema.
Em seguida, o candidato deve posicionar-se a respeito do assunto e apresentar
dois argumentos de sustentação, ou seja, fazer um triângulo de argumentação. Essa
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percepção é fundamental, porque, se a introdução for bem produzida, ficará mais fácil
fazer o desenvolvimento do texto, já que este retoma os argumentos de sustentação do
posicionamento, para expandi-los por meio de novas relações lógicas.
Costumamos dizer aos nossos alunos que, diante de um tema sobre a eficácia da
redução da idade penal como mecanismo eficaz para coibir a delinquência infantojuvenil,
o candidato pode concordar e apresentar dois ou três argumentos de sustentação da sua
tese. Todavia pode discordar e apresentar um argumento, para depois sugerir outra
solução e sustentá-la com mais dois argumentos. O importante é criar um triângulo de
argumentação, para expandi-lo no desenvolvimento.
Em concurso realizado em 2002, para os cargos de agente e escrivão de Polícia
Federal, respectivamente, a Banca ofereceu dois temas sobre a violência, mas
contextualizados de forma diferente. O primeiro era “o combate à violência deve ser
feito com imparcialidade e respeito ao ser humano”. Nos textos motivadores, o candidato
encontrava um comentário sobre o comportamento da sociedade em relação à figura do
vagabundo... do trabalhador que não deu certo, do criminoso em potencial... pessoas...
mais sujeitas à perseguição e à punição; e um excerto da Constituição sobre a igualdade
de todos perante a lei e a vedação da tortura. Por outras palavras, era necessário discutir
o tema considerando esse cotejo entre a lei e o comportamento social.
O segundo tema, para escrivão, era “a violência tem várias causas e modifica os
costumes da sociedade”. Nos motivadores, o candidato encontrava dois comentários,
um sobre a sociedade que estimula o desejo de ter por meio do consumo, mas, na qual,
uma enorme massa de excluídos dribla a fome diariamente, e grades nas casas e policiais
nas ruas não resolvem o problema da violência; e outro sobre o comportamento das
últimas décadas nas grandes cidades, onde as pessoas abandonam a rua como espaço
de convivência e lazer e se confinam em espaços fechados, privados e seguros. Embora
a palavra-chave dos dois temas seja violência, a tese do candidato deve ser direcionada
a contextos bem diferentes.
Além da tese, é importante para o candidato apresentar os dois argumentos
principais de sustentação, a serem trabalhados no corpo do texto – triângulo de
argumentação. Quando o candidato se lembra de um fato, um episódio ou uma citação
adequada ao tema, pode empregá-la como forma de trazer o leitor para dentro do texto,
antes de lançar a tese e os argumentos de sustentação. Para falar da miséria no Brasil,
nada melhor que começar um texto descrevendo a vida de uma família que vive numa
palafita, por exemplo.
Em diversas universidades e concursos, no lugar de apresentar o tema da redação
por meio de textos motivadores, coloca-se apenas uma frase, “Um robô em Marte”, por
exemplo. Assim, a introdução deverá delimitar o enfoque da redação, que pode variar
bastante, de acordo com a bagagem intelectual de cada candidato. Uma vantagem do
tema apresentado na forma de frase é que há pouca probabilidade de fuga ao assunto.
Outro ponto fundamental, no novo contexto das provas de natureza técnica, é
compreender que nem sempre será possível fazer uma introdução formal do texto,
sobretudo quando o examinador apresenta um número muito grande de itens a serem
trabalhados, ou traz reduzido número de linhas para se elaborar respostas a três
perguntas, por exemplo. Neste caso, entendemos melhor ir direto ao ponto, como se o
candidato respondesse a um questionário, porque precisamos compatibilizar o espaço
disponível com o conteúdo da questão.
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O Desenvolvimento
Texto 1
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Texto 2
Texto 3
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A Conclusão
A conclusão, por sua vez, funciona como arremate do texto. Nesse ponto, pode-se
apresentar a solução para o problema analisado, compará-lo com problema semelhante
ou reforçar os pontos de vista apresentados no desenvolvimento do texto. Comparando
a revolução genética deste final de século com a revolução nuclear da primeira metade,
por exemplo, poderíamos mostrar que elas guardam certa semelhança, pois ambas
trouxeram esperanças e temores à humanidade e dependem da forma como o homem
as utilizará.
Poderíamos dizer também: a clonagem pode significar a cura de diversas doenças
genéticas e garantir ao homem longevidade maior, desde que a pesquisa se paute pela
ética e respeito ao ser humano. Com a energia nuclear não é diferente, porque ela
possibilitou a criação da terapia de radioisótopos, mas trouxe o pavor da guerra nuclear
e, agora, de acidentes. Embora seja possível terminar o texto com uma indagação, como
forma de manter a discussão em aberto, essa técnica não costuma ser bem acolhida
pelas Bancas.
No texto expositivo, não há uma proposta de solução a ser ofertada e o texto
termina à medida que o candidato cumpre a tarefa de tratar de cada um dos temas.
Como arremate, no caso de uma prova para analista de controle externo, por exemplo,
vale retomar a correlação entre as modalidades de licitação e a finalidade de cada uma
delas ou reforçar as características de cada um dos itens abordados no desenvolvimento.
Mais uma vez, o candidato deve ter muito cuidado com o comando e o número de
itens propostos pelo examinador, porque, numa prova de 30 linhas, se tirarmos 5 para a
introdução e mais 5 para a conclusão, restam apenas 20 para o desenvolvimento. Assim,
é possível nos vermos com uma bela conclusão, mas um desenvolvimento ruim diante da
falta de espaço para descer aos pormenores exigidos pela Banca. Em provas de natureza
técnica, é preciso bom senso para julgar se haverá, ou não, uma conclusão formal, ou
se a resposta ao último item lançado pelo examinador fará esse papel, antecedido por
uma expressão de natureza conclusiva: “por fim”; “finalmente”, “cabe tratar ainda da”.
Nos relatórios e pareceres, também é possível estabelecer um fluxo de construção
textual em cada uma das partes, que pode servir para o candidato desenvolver espécie
de máscara, muito útil em certames com esse tipo de texto. Por outras palavras, embora
o conteúdo de cada relatório e parecer seja específico, a forma de montar o texto e
desenvolvê-lo segue um padrão estabelecido, que deve ser respeitado pelo candidato, se
o desejo for lograr aprovação.
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ESTRATÉGIAS DE GERAÇÃO
3ª Parte
DE ENUNCIADOS
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Provas Discursivas: Estratégias
8) Livre o texto do excesso de que, seu, sua, um, uma, advérbios terminados em
mente, e figuras hiperbólicas, tais como, “a mais profunda consciência”;
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Provas Discursivas: Estratégias
A Frase Declaratória
Há um mês, ...
... até que alguém chegasse a completar a volta ao mundo em um balão sem escalas.
..., que foi responsável pelo Holocausto judeu na Segunda Guerra Mundial, ...
... de que eles são capazes de reproduzir seres vivos como máquinas xerox.
Nenhum dos fragmentos acima tem sentido completo, embora tragam importantes
informações. Isso ocorre porque existe um requisito fundamental para que qualquer
período faça sentido em língua portuguesa – e decerto em todas as línguas –, qual seja,
a presença da frase declaratória, que pode ser definida como um enunciado de sentido
completo, em que se afirma ou nega alguma coisa.
Cabe ressaltar que, no enunciado “o Governo deseja que a miséria seja erradicada
do Brasil”, por exemplo, temos duas orações, mas apenas uma declaração de sentido
completo. Adotamos a terminologia frase declaratória, uma vez que o conceito de frase
engloba o sentido e o de declaração abrange a sintaxe.
Observe o que ocorre quando agregamos a frase declaratória aos fragmentos
anteriores.
Nos comunicados divulgados nos últimos dias, o Governo japonês não tem
admitido que o país venha sofrer um holocausto nuclear.
Há um mês, estivemos em Goianésia para dar um curso sobre redação
parlamentar, no I Encontro de Assessores Parlamentares do Vale do São Patrício.
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Provas Discursivas: Estratégias
Na linguagem falada pelo povo, é comum dizer que o verdadeiro pai é quem
cria, acompanha o rebento desde a hora do nascimento até os primeiros passos.
Aurélio Miguel dedicou-se dia e noite à arte do judô, para conseguir ser
campeão.
Foram inúmeras as tentativas até que alguém chegasse a completar a volta ao
mundo em um balão sem escalas.
A clonagem é um importante avanço para a medicina, porque pode possibilitar
a cura de doenças como o câncer.
Fugindo radicalmente dos padrões convencionais de Hollywood, o Carteiro e o
Poeta conseguiu, com sua carga de simplicidade e emoção, transformar-se num dos
grandes sucessos de crítica e bilheteria.
Adolf Hitler, ditador alemão, que foi responsável pelo Holocausto judeu na
Segunda Guerra Mundial, acreditava na possibilidade de melhorar as raças por
meio de cruza genética.
Foi Dolly, uma ovelha de sete meses, que deu aos cientistas a certeza de que
eles são capazes de reproduzir seres vivos como máquinas xérox.
Com medo de ser morto pelo governo norte-americano, Saddam Hussein chegou
a espalhar diversos sósias em todo o Iraque, mas isso não foi o suficiente para se
livrar da morte.
A relação entre a frase declaratória com as demais frases do período pode ser
dividida em duas categorias lógicas, quais sejam: a coordenação e a subordinação. A
coordenação ocorre quando uma frase declaratória se agrega a outra frase declaratória.
A subordinação ocorre quando o sentido da frase declaratória é completado pela frase
a ela subordinada.
A Coordenação
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Provas Discursivas: Estratégias
Essa oposição de sentido é que leva as frases a serem unidas pela conjunção
adversativa “mas”. Isso quer dizer, também, que, quando desejarmos unir dois
argumentos de sentido oposto, deveremos fazê-lo por meio de uma conjunção
adversativa. Da mesma forma, quando tivermos dois argumentos que se somam,
deveremos uni-los por meio de uma conjunção aditiva, “e”, por exemplo.
Vejamos alguns exemplos desses dois processos típicos da coordenação:
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A Subordinação
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Provas Discursivas: Estratégias
Aurélio Miguel dedicou-se dia e noite à arte do judô, para conseguir ser campeão.
A fim de que se tornassem vencedores numa eventual invasão da Iugoslávia, a
OTAN e os Estados Unidos teriam precisado de três soldados para cada um do exército
de Milosevic.
Caso não se descubra uma vacina contra a AIDS, nos próximos anos, esta doença
continuará avassaladora para a África.
Quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, pensou tratar-se de uma ilha.
Mal começou a corrida em Ímola, dois pilotos já estavam fora da prova.
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Provas Discursivas: Estratégias
O Brasil poderá ser campeão da Copa do Mundo de futebol mais uma vez. Isso
ocorre porque reúne em seu time muitos dos melhores jogadores do planeta.
É preciso descobrir uma vacina para a AIDS. Caso isso não ocorra, a doença
continuará a ser avassaladora para a África.
Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil em 1500. Quando isso ocorreu, pensou
tratar-se de uma ilha.
Adolf Hitler, ditador alemão responsável pelo Holocausto judeu na Segunda Guerra
Mundial, acreditava que era possível melhorar as raças por meio de cruza genética.
Quem acredita, acredita em alguma coisa; logo, a frase “que era possível melhorar
as raças por meio de cruza genética” completa o sentido do verbo acreditar.
Grande parte dos brasilienses teme que o crescimento da Capital acabe por tornar
a violência incontrolável.
Vale a pena consultar a gramática e verificar outras relações lógicas possíveis
entre os períodos.
a) Apositiva:
Para quem utiliza a Internet diariamente, uma constatação salta aos olhos: têm
aumentado os golpes e crimes praticados por meio da rede mundial.
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Provas Discursivas: Estratégias
Pedro Álvares Cabral, que pensava ser o Brasil uma ilha, batizou-o Ilha de Santa Cruz.
IV – Texto Complementar
A Musicalidade Textual
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João Dino dos Santos
Provas Discursivas: Estratégias
Algum tempo hesitei se deveria abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim,
isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto
o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a
adotar diferente método: a primeira é que não sou propriamente um autor defunto,
mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o
escrito ficaria, assim, mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a
sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e
o Pentateuco.
Agora vamos pegar uma ideia totalmente diferente e tentar expressá-la com os
mesmos recursos do mestre Machado;
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LÓGICA DA CONSTRUÇÃO
DAS FRASES E PERÍODOS
QUE
OU
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Provas Discursivas: Estratégias
Regras 3 a 7
a) Observe o trecho abaixo, extraído de uma dissertação que obteve nota máxima.
Veja se você consegue entender o parágrafo e discuta com o colega ao lado se
haveria algo para torná-lo mais claro.
b) Observe este trecho adaptado com base em notícia publicada sobre a Líbia.
O líder líbio Muamar Kadafi demitiu o enviado da ONU no país. O enviado havia
se voltado contra o regime. As Nações Unidas ainda não aceitaram a mudança.
De acordo com Martin Nesirky, porta-voz da ONU, o ditador enviou uma carta
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João Dino dos Santos
Provas Discursivas: Estratégias
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João Dino dos Santos
Provas Discursivas: Estratégias
Como retoque final, devemos recuperar o nexo causal entre o primeiro e o segundo
períodos e acrescentar a expressão “por isso, no início do segundo período. Para não
ficarmos com dois demonstrativos em um único parágrafo, é importante substituir a
expressão “além disso” por ademais. Teríamos então:
Entendemos que esse novo formato torna o texto mais fácil de ser lido, porque
eliminamos o excesso de subordinação. No parágrafo sobre Kadafi, o problema
é inverso, ou seja, a sucessão de frases curtas com informações correlacionadas ao
mesmo assunto leva à repetição de palavras. Portanto, poderíamos agrupar melhor as
ideias, por meio de conectivos, e dizer:
O líder líbio Muamar Kadafi demitiu o enviado da ONU no país, que havia se
voltado contra o regime, mas as Nações Unidas ainda não aceitaram a mudança.
De acordo com Martin Nesirky, porta-voz da ONU, o ditador enviou uma
carta a Nova Iorque, em que afirmava não reconhecer mais o Embaixador e o
Ex-Chanceler Adburrahman Shalgham e o Vice-Embaixador Ibrahim Dabbashi
como representantes da Líbia. Shalgham e Dabbashi deram apaixonados
discursos, condenando Kadafi como um tirano e pedindo, também, a aplicação
de sanções ao regime. Para o lugar do embaixador, Kadafi nomeou Ali Triki,
Ex-Ministro das Relações Exteriores e Ex-Presidente da Assembleia Geral da
ONU entre 2009 e 2010.
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Provas Discursivas: Estratégias
até dez linhas, num encadear de ideias e argumentos, em enunciados compostos por
coordenação e/ou subordinação, como, por exemplo, o trecho inicial da carta de Pero
Vaz de Caminha ao Rei, sobre o descobrimento do Brasil.
Posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim, igualmente, os outros capitães
escrevam a Vossa Alteza, dando notícias do achamento desta vossa terra nova,
que agora nesta navegação se achou, não deixarei de também eu dar minha conta
disso a Vossa Alteza, e creia que certamente nada porei aqui para embelezar e
nem para enfeitar, mais do que vi e me pareceu. Portanto, Senhor, do que hei de
falar começo o digo: [...]
Senhores:
Não quis Deus que os meus cinquenta anos de consagração ao direito viessem
receber, no templo do seu ensino, em São Paulo, o selo de uma grande bênção,
associando-se, hoje, com a vossa admissão ao nosso sacerdócio, na solenidade
imponente dos votos em que os ides esposar.
Não é difícil perceber que as construções longas são bem mais difíceis de serem
compreendidas, porque existem inúmeros argumentos colocados ao redor de uma ideia
principal, ou diversas frases declaratórias colocadas em uma sucessão de afirmações
e negações, ou, ainda, vários argumentos colocados antes da oração principal. Hoje,
à evidência, alguém que escreva dessa maneira encontrará certa dificuldade em
transmitir as ideias, porque o mundo contemporâneo, ágil e marcado pela comunicação
em tempo real, parece exigir pensamentos mais objetivos e concisos, que facilitem a
compreensão entre emissor e receptor.
Isso não significa, entretanto, que devamos nos expressar numa sucessão de
períodos simples, como ocorreu no parágrafo sobre Kadafi, sem o uso de conjunções
e conectivos lógicos, porque isso quebraria o princípio de hierarquização das ideias,
fundamental no processo de comunicação. Qual seria, então, o melhor caminho para
encadear as ideias, garantindo-se o bom fluxo, associado à leveza e à musicalidade do
texto?
De modo geral, entendemos que ainda predomina, no português moderno, o
estilo machadiano, ou seja, o equilíbrio entre períodos simples, mais adequados ao
início ou ao final do parágrafo, combinados com períodos compostos por coordenação
e subordinação, mais próprios ao desenvolvimento. É possível, também, construir
uma sequência de períodos, todos compostos por coordenação ou subordinação, mas
sem exceder a quatro ou cinco argumentos em cada enunciado.
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Provas Discursivas: Estratégias
Para transitar de um estilo ao outro, basta você entender que os períodos podem
ser simples ou compostos e que estes se dividem em coordenados ou subordinados,
mas as ideias, por si próprias podem ser expressas em qualquer modalidade de período,
respeitadas as regras de construção frasal.
Além das conjunções e pronomes, existem diversas expressões que podem ser
consideradas articuladores textuais, ou seja, constituem acervo de vocabulário capaz
de nos ajudar a montar períodos, parágrafos e textos. Você encontra abaixo uma série
desses mecanismos lógicos que facilitam a expressão do pensamento e demonstram que
a língua portuguesa funciona de forma semelhante a qualquer outra língua moderna.
a) Relacionadas a tempo
b) Relacionada a lugar
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Provas Discursivas: Estratégias
– A questão do(a) ... tem sido motivo de amplo(a) debate / discussão / polêmica
no Brasil. Entretanto / contudo / no entanto;
– Um dos assuntos mais polêmicos no cenário mundial é a hegemonia norte-
-americana;– Existe consenso de que a liberdade de alguém começa onde a
de outrem termina;
– Se o desejo for discutir a questão do preconceito no Brasil, é preciso
reconhecer que...;
– Para analisar a questão do racionamento de energia, é necessário...;
– Um dos assuntos mais complexos do mundo moderno é a violência contra
a mulher;
– O princípio do estado de direito é amplamente reconhecido no mundo.
2. Expressões de Comparação
3. Expressões de Contraste
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4. Expressões de Adição
– Além disso / Afora / Ademais / Mais adiante / Outro exemplo a ser examinado
é / Outro aspecto importante...
– Nesse contexto, pode-se referir... / Um exemplo pode ser dado com... / Pode-se
considerar como exemplo...
7. Expressões de Generalização
9. Expressões de Sequência
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Provas Discursivas: Estratégias
Queísmo
Comentário
O trecho que você leu acima fez parte de uma prova discursiva para o cargo de
Agente de Polícia Civil. Era a terceira tarefa, que propunha a reescrita do texto de
modo a se eliminar o excesso de quês. Se interpretarmos o comando, sobretudo a
ideia de excesso, poderemos manter um ou outro dos quês se for necessário, para não
fugirmos muito da estrutura original.
Antes de nos lançarmos à tarefa, vale tecer alguns comentários acerca do
“queísmo”. Muitos alunos, quando instados a fazer correções, como a proposta na
prova de Agente de Polícia Civil do DF, querem substituir “que” por “o qual” ou
outro conectivo, mas essa estratégia não resolve o problema. A questão não é
apenas relacionada à produtividade do “que” – com diversas funções na língua:
pronome relativo e conjunção integrante, entre outras –, mas também ao excesso de
desdobramentos que dificultam a leitura.
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Provas Discursivas: Estratégias
a) Na sua segunda tentativa de quebrar o seu recorde no salto triplo, o atleta torceu
o seu pé, porque o seu tênis escorregou na linha ao se lançar ao seu primeiro
salto.
b) A redução da idade penal não é e nunca será inequivocamente a solução para
os desvios de conduta de adolescentes infratores, uma vez que a ineficácia
do encarceramento já restou inarredavelmente provada. O problema só será
solucionado definitivamente com a inclusão social do jovem por meio de acesso
à educação, à cultura e ao lazer, o que lhe proporcionará, indistintamente,
no futuro, trabalho digno e, no presente, o distanciamento das drogas e do
cometimento de atos infracionais.
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João Dino dos Santos
Provas Discursivas: Estratégias
Vez por outra, temos alguns alunos que insistem em utilizar uma série de advérbios,
com o intuito de reforçar determinado ponto de vista, sobretudo os advérbios terminados
em “mente”. Empregam historicamente, cientificamente, obviamente, totalmente,
atualmente e seguem pensando que, assim, terão mais condição de convencer o leitor
acerca dos argumentos apresentados na dissertação.
Ledo engano, quem utiliza advérbios terminados em “mente” o tempo todo (pelo
menos um a cada parágrafo) tem dois problemas: primeiro, a terminação “mente” cria
uma sorte de eco no texto que parece repetir “meente”; segundo, na maioria das vezes,
o sentido do advérbio não carreia em si informação verdadeira ou dá ao texto tom
pedante.
“Historicamente, o Brasil tem sido um país sem guerras ou conflitos” é um
enunciado que pode parecer forte, mas contém um erro factual, porque passa a
impressão de não termos enfrentado guerras ou revoluções ao longo de nossa história.
Com efeito, como qualquer outro povo, atravessamos os tempos com inúmeros conflitos:
a Revolução Farroupilha, a Guerra do Paraguai, Canudos e tantos outros episódios de
confronto entre nossa gente.
Raciocínio semelhante aplica-se ao uso de “cientificamente”, com o intuito
de provar determinada concepção: cientificamente, já restou comprovado que a
penitenciária não recupera o preso. Será mesmo verdadeira essa ideia? Claro que não,
pois é possível a reeducação do preso e a reinserção na sociedade, desde que haja
mudança no sistema das prisões.
“Obviamente” apresenta certa dose de comportamento pedante, porque se
determinada ideia pode ser óbvia para alguém, pode não o ser para outra pessoa,
sobretudo no mundo de hoje, em que o conhecimento humano é tão vasto e amplo.
Portanto, evite advérbios terminados em “mente”, porque você cansa o leitor e não o
convence como pode parecer a princípio.
Outras palavras que tendem a se repetir no texto são o “que” e “seu, sua”. Há
candidatos que usam tanto que no texto que fica difícil entender o que eles querem
dizer com o que expressam. É tanto que que fica impossível entender o enunciado, mas
não adianta fazer como já me disseram algumas vezes: vou trocar o “que” por “o qual”
e, pronto, o problema estará resolvido.
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Regra 9: Gerundismo
Comentário
Porque se esquecem das diversas conjunções que podem ser utilizadas no lugar do
gerúndio e contribuem para a elaboração de enunciados com mais objetividade, clareza
e concisão, atributos fundamentais na modalidade culta da língua.
O Gerúndio Adverbial
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Enunciados Ambíguos
Esperamos que todos, vocês, tenham aprendido as regras para obter clareza,
objetividade e concisão e que, agora, consigam melhorar o desempenho na hora de
organizar os textos e colocar as ideias no papel. Nós sabemos que a habilidade de gerar
enunciados, requer tempo para ser desenvolvida, mas, com os exercícios, aumenta a
possibilidade de você estar entre os nomeados no próximo concurso.
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ESTRATÉGIAS DE CONSTRUÇÃO
4ª Parte
DE RESUMOS
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Quanto mais o texto for técnico ou científico, mais atrelados ficaremos à rede
lexical de base, à terminologia. Portanto, o candidato deve ser criativo ao captar
as ideias principais do texto e ao reorganizá-las no novo texto mais sintético. Nada
de piruetas e invencionices só para não usar os termos empregados pelo autor, mas
vale empregar verbos com o mesmo sentido e preferir adjetivos em relação a orações
adjetivas. Enfim, a tarefa do resumo é sintetizar e, para isso, o candidato precisa ter
domínio do idioma.
Outra pergunta frequente é se o resumo deve ter apenas um parágrafo. A menos
que o comando da prova determine a elaboração do texto em apenas um parágrafo,
isso não é uma regra geral. Precisamos entender que, em razão do processo de síntese,
a tendência é o resumo ter um número de parágrafos menor quando comparado ao
original.
Se fizéssemos o resumo com o mesmo número de parágrafos, provavelmente
teríamos uma sucessão de períodos com uma ou duas linhas, todos resultantes dos
tópicos-frasais do texto original. Quebraríamos, assim, um dos princípios do resumo,
que é o da reorganização sintética dos argumentos em torno da ideia principal, como
dissemos, numa relação de ¼ a ⅓ do original.
Vale ressaltar, em termos da fraseologia, que, se um texto pode ser resumido,
é porque a linguagem humana apresenta como uma das características principais a
hierarquização das ideias. Quando falamos ou escrevemos, podemos perguntar,
exclamar, dar uma ordem, mas, na maioria das vezes, declaramos alguma coisa, ou
seja, afirmamos ou negamos, para, em seguida, desdobrar a ideia – é possível fazer o
inverso também.
Se transferirmos essa noção para o período, vamos compreender melhor a gramática
tradicional, porque as declarações que fazemos, na maioria das vezes, equivalem à
oração principal. Isso quer dizer que, se nos mantivermos atentos às orações principais
de um texto, provavelmente conseguiremos captar as ideias essenciais e fazer o resumo.
O processo de hierarquização da linguagem, também, permite-nos dizer que, em
cada parágrafo, sempre encontraremos uma sentença – declaração – mais importante se
comparada às demais orações, ou seja, o tópico-frasal, conforme ensina Othon Moacyr
Garcia, em Comunicação em Prosa Moderna.
O renomado autor observa que, em boa parte dos parágrafos, a probabilidade é
encontrar o tópico na primeira sentença, porque tendemos a empregar mais o raciocínio
dedutivo que o indutivo. Por outras palavras, costumamos mais declarar algo e desdobrar
essa ideia do que desdobrar a ideia para depois declarar. Antes de colocarmos a mão na
massa, vale lembrar que os desdobramentos do texto costumam vir introduzidos pelos
conectivos lógicos, sobretudo pelas conjunções.
Outra percepção dos textos, que ajuda muito na hora do resumo – e também para
planejarmos as dissertações ou fazermos mapas mentais – é montar uma rede lexical
com as palavras-chave, uma espécie de árvore, com as palavras que deram origem às
ideias centrais do texto.
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Provas Discursivas: Estratégias
Lucrécia Bórgia
Ela era jovem, bela e rica. As qualidades de Lucrécia Bórgia, uma das damas
mais famosas da Renascença italiana, não foram, no entanto, o motivo por seu
nome ter ficado gravado na história. Isso é o que vai mostrar o documentário
Lucrécia Bórgia, que o Mundo exibe este mês. Filha do papa Alexandre VI e irmã
do sanguinário César, Lucrécia ganhou notoriedade por ter sido uma envenenadora
contumaz. Diz a lenda que ela deixava cair de seu anel, em muitos copos inimigos,
o veneno mortal cantarela, preparado especialmente para ela pelos alquimistas do
Papa.
Temas de diversos livros e óperas, Lucrécia era de origem espanhola e teve
uma vida marcada por assassinatos e intrigas familiares. As más-línguas dizem,
ainda, que ela teria tido um relacionamento incestuoso e doentio com o pai e com
o irmão. Casada três vezes em uniões arranjadas, Lucrécia terminou a vida ao lado
de Alfonso d’Este, Duque de Ferrara. Embora a reputação dela esteja longe de ser
positiva, alguns historiadores ressaltam seu esforço na tentativa de estimular as
artes e as atividades filantrópicas. Tratava-se de uma personalidade e tanto.
Crocodilos à solta
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Provas Discursivas: Estratégias
ferozes gentis
com mas com
outros os
animais filhotes
Repare que a maioria das palavras são substantivos ou adjetivos, embora, aqui
e acolá, possamos usar verbos, sobretudo no infinitivo. Isso ocorre porque a finalidade
dos substantivos, no plano morfológico, é exatamente dar nome às realidades materiais e
imateriais, concretas e abstratas, e a do adjetivo é qualificar, atribuir características a essas
realidades. Se você tentar fazer esquemas lógicos dos textos, em geral, é bem provável
que chegue a redes lexicais, marcadas pela presença maior de substantivos e adjetivos.
Quando os verbos aparecerem, haverá uma tendência a usarmos o infinitivo, que,
no português, pode ser utilizado com valor nominal, assim como o gerúndio na língua
inglesa. É interessante observar que os resumos e esquemas lógicos são relativamente
fáceis de montar, mas, muitas vezes, não conseguimos fazer o percurso inverso, ou seja,
sair do esquema, passar por um resumo ou visão sintética do assunto e chegar a um
texto de vinte ou trinta linhas.
Agora, faça um resumo do texto Crocodilos à solta, e compare com as versões
abaixo. O texto chega a 160 palavras aproximadamente, portanto, a síntese deve ter
entre 40 e 50 palavras, ou seja, de ¼ a ⅓ do original e, com alguma variação, você
chegará ao seguinte:
Versão I
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Versão II
Repare num aspecto e talvez essa tarefa comece a se tornar mais fácil. As
palavras do esquema são substantivos e adjetivos, certo? Agora, veja quais os dois
outros tipos de palavra que mais aparecem no resumo... Percebeu? São os verbos
e os conectivos lógicos. Sabe por que isso ocorre? Porque os verbos nos permitem
agregar os substantivos e adjetivos no plano oracional, ou seja, permitem construir
as ideias no papel. Sem verbo adequado ao que desejarmos dizer, jamais sairemos
da estaca zero. Ter um acervo verbal para expressar nossas ideias é, portanto,
fundamental.
Se o verbo permite construir a oração, os conectivos lógicos constituem a
principal ferramenta para desenvolvê-la em qualquer língua moderna. Não dá para
desdobrar o pensamento sem compreendermos que o ser humano, ao raciocinar,
pensa com causa – porque, consequência – assim, tempo – quando, finalidade
– para, oposição – porém, e todas as demais categorias lógicas do pensamento.
Assim, trabalhar no plano das conjunções é compreender como o cérebro funciona
ao utilizar a língua como instrumento de expressão.
E a diferença do texto sintético para o integral? Você consegue perceber o
que acontece? Acertou... o texto integral parte do mesmo esquema lógico, mas
acrescenta mais desdobramentos às ideias de base. Se você perceber esses aspectos
do pensamento e da utilização da linguagem humana, vai dar um salto qualitativo
muito importante no processo de construção e intelecção dos textos. Tente fazer o
mesmo exercício com o texto “Sagaz envenenadora”.
Entendemos que, agora, você dispõe de diversos elementos para compreender
a técnica de resumo. Isso vai ajudá-lo(a) em provas e na hora de estudar e fazer
mapas mentais. Vamos a algumas provas aplicadas em concursos públicos.
Vejamos um texto que foi objeto de concurso para Agente de Polícia Civil do
Distrito Federal, realizado pelo NCE-UFRJ.
PROVA DE REDAÇÃO
ITEM A:
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TEXTO I
Vamos agora tentar aplicar os princípios do resumo ao texto ofertado pela Banca
do NCE e ver até que ponto funcionam. Se contarmos o número de palavras por linha e
multiplicarmos pelo total de linhas, veremos que o texto tem duzentos e setenta palavras
aproximadamente.
Nosso resumo deverá conter, portanto, entre sessenta e cinco e noventa palavras,
ou seja, a cada três linhas, reteremos em média de treze a dezoito palavras. Esses
parâmetros são importantes, porque, muitas vezes, há determinada ideia que ficamos
na dúvida de a incluir, ou não, por motivo de espaço. Ademais, a Banca estabeleceu
o limite máximo de cinco linhas. Com essas diretrizes, procure elaborar o resumo e
compará-lo com a nossa versão.
Vamos lá, então! No primeiro parágrafo, é fácil constatar que o autor construiu um
período único, de “até” a “morte”, cuja declaração essencial está na oração principal:
“até os últimos tempos da história da Grécia e de Roma, vemos persistir entre o vulgo
um conjunto de pensamentos e costumes”. Ora, as perguntas imediatas que nos fazemos,
para compreender o resumo, são: que costumes e pensamentos eram esses? E qual a
finalidade deles? Se enxergarmos o texto dessa forma, poderemos chegar, grosso modo,
à frase síntese seguinte: na Grécia e na Roma antiga, havia costumes e pensamentos que
mostravam a opinião do homem sobre a natureza, a alma e a morte.
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Provas Discursivas: Estratégias
Resumo
Agora, vamos ver a mesma técnica aplicada a um texto da prova de 2002 para
Consultor do Senado Federal, realizada pelo CESPE/UnB
Texto II
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Provas Discursivas: Estratégias
Quando é dada uma ordem a uma máquina, a situação não difere essencialmente
da que surge quando a mesma ordem é dada a uma pessoa. Naturalmente, há diferenças
de detalhes nas mensagens e nos problemas de comando não apenas entre um
organismo vivo e uma máquina, como dentro de cada classe de seres, quer animados,
quer inanimados.
As ordens de comando, por via das quais exercemos controle sobre nosso ambiente,
são uma espécie de informação que lhe transmitimos. Como qualquer outra espécie de
informação, essas ordens estão sujeitas à certa desorganização em trânsito. Geralmente,
chegam a seu destino de forma menos coerente — e, certamente, não de forma mais
coerente — do que quando foram emitidas. Em comunicação e controle, estamos sempre
em luta contra a tendência da natureza de degradar o orgânico e destruir o significativo;
a tendência, conforme nos demonstra Willard Gibbs, de aumento da entropia.
Gibbs considera não um mundo, mas todos os mundos que sejam respostas
possíveis a um grupo limitado de perguntas referentes ao nosso ambiente. Sua noção
fundamental diz respeito à extensão em que as respostas que possamos dar a perguntas
acerca de um grupo de mundos são prováveis em meio a um grupo maior de mundos;
essa probabilidade tende a aumentar conforme o universo envelhece. A medida de tal
probabilidade denominamos entropia, e sua tendência característica é de aumentar.
O homem está imerso em um mundo ao qual percebe por intermédio dos sentidos.
A informação que recebe é coordenada por meio de seu cérebro e sistema nervoso até,
após o devido processo de armazenagem, coleção e seleção, emergir através dos órgãos
motores, geralmente os músculos. Esses, por sua vez, agem sobre o mundo exterior
e reagem, outrossim, sobre o sistema nervoso central por vias de órgãos receptores,
tais como os órgãos terminais da cinestesia; e a informação recebida pelos órgãos
cinestésicos combina-se com o cabedal de informação já acumulada, para influenciar
as futuras ações.
O funcionamento físico do indivíduo e o de algumas máquinas de comunicação
são muito semelhantes no sentido de tentarem dominar a entropia, por meio de um
mecanismo do tipo feedback. Tal realimentação ou autocorreção parece ter-se tornado
norma tanto nos organismos inanimados como nos vivos. Em ambos, notamos a
existência de um instrumento especial para coligir os elementos do mundo exterior e
incorporá-los ao indivíduo ou à máquina. Em todos os casos, as mensagens externas
são transformadas para a assimilação, de acordo com os aparelhos internos que os
assimilam.
Tais transformações permitem à informação obtida uma integração no organismo
assimilador, a ponto de passarem a ter uma influência imediata nos novos desempenhos
do conjunto. Tal desempenho, quer na máquina, quer no animal, faz-se efetivo em
relação ao mundo exterior, não se resumindo apenas em formulação do novo tipo de
desempenho proporcionado, mas com um verdadeiro comando e registro do instrumento
regulador central.
Nenhuma teoria da comunicação pode, evidentemente, evitar a discussão da
linguagem. A linguagem é, em certo sentido, outro nome para a própria comunicação,
assim como uma palavra usada para descrever os códigos por meio dos quais se
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Resumo
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Provas Discursivas: Estratégias
Conclusão
Prezado(a) aluno(a),
Ao terminarmos este livro – mais um ensaio pelos riscos de lançarmos
nossa ideias e pelas polêmicas a serem suscitadas – queremos apenas ter a
certeza de que sinalizamos para os alunos com algumas estratégias, para a
construção de textos, capazes de conduzi-los por um caminho mais firme e
concreto. Cremos não faltar com a modéstia em dizer que, ao longo de mais
de uma década, temos obtido muito sucesso com essa forma de preparar os
alunos para as provas discursivas.
Em 1985, quando decidimos fazer novos concursos públicos para
ascender profissionalmente, encontramos muitas barreiras, sobretudo na hora
de escrever, de organizar as ideias e colocá-las no papel. Encontramos grande
alento nas obras do Mestre Othon Moacyr Garcia, Comunicação em Prosa
Moderna, da Professora Enilde Leite de Jesus Faulstich, Como Ler, Entender e
Redigir um Texto, do Professor Ségio Waldeck, Leitura e Produção de Textos,
e, mais recentemente, do Professor Jorge Leite, Texto Acadêmico. Todos são
livros que merecem, ainda hoje, a devida atenção dos candidatos desejosos
por se refinarem na arte de escrever.
No Brasil afora, é provável que diversos outros professores estejam
preparando livros e apostilas sobre a elaboração de textos tanto no meio
acadêmico quanto na área de concursos públicos. Por isso, entendemos que os
candidatos devam permanecer atentos às novas publicações para se manterem
atualizados em relação às provas discursivas. As mudanças nas últimas duas
décadas foram significativas, e esse ritmo deve continuar nos anos vindouros.
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Forte abraço!
Prof. João Dino dos Santos
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Bibliografia
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