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NA RODA DA EXTENSÃO:
PROPOSTA PARA AÇÕES EXTENSIONISTAS NOS CURSOS
TÉCNICOS NA MODALIDADE A DISTÂNCIA
VITÓRIA
2021
TELMA CAROLINA SMITH
NA RODA DA EXTENSÃO:
PROPOSTA PARA AÇÕES EXTENSIONISTAS NOS CURSOS
TÉCNICOS NA MODALIDADE A DISTÂNCIA
VITÓRIA
2021
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)
Agradeço aos meus familiares por todo apoio que me deram para que eu pudesse
concluir este trabalho, em especial ao meu esposo Ricardo e à minha filha Isabel.
À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Danielli, que, apesar de ser uma pessoa à frente de
muitas responsabilidades na instituição, nunca negou momentos de orientação,
disponibilizando, muitas vezes, partes de seu fim de semana para isso. Ela caminhou
ao meu lado, valorizando o tema, sendo sensível à pesquisa, e buscou diversas
possibilidades de solução para os impasses que enfrentamos.
Aos professores da banca, Prof. Dr. Celso e Prof.ª Dr.ª Marize, que, repletos de
generosidade, realizaram uma leitura atenta do projeto e contribuíram de forma
definitiva para a profundidade e qualidade do trabalho.
A Mônica, Damiani e Júnior por toda a dedicação. Vocês me lembraram, o tempo todo,
da importância do tema da pesquisa. A Márcia, Mariana e Yvina que contribuíram de
forma generosa para o projeto.
Aos servidores do Ifes que dedicaram o seu tempo para validar o Produto Educacional
e fizeram contribuições preciosas de melhoria: Adelson, Amanda, Christian, Gabriel,
Geovani, João, Leonardo, Lidiane, Márcia, Márcio, Renata e Renato.
Aos meus companheiros da turma de mestrado, pois com vocês tudo foi mais leve.
Aos meus amigos Aline, Aldi, Ana Lourdes, Anna Christina, Bia, Heri, Leo, Lorena,
Michelle, Renata e Simone, que foram meus apoiadores e meu porto seguro.
E que é o diálogo? É uma relação horizontal
de A com B. Nasce de uma matriz crítica e
gera criticidade (Jaspers). Nutre-se de amor,
de humildade, da esperança, da fé, da
confiança. Por isso, só o diálogo comunica. E
quando os dois pólos do diálogo se ligam
assim, com amor, com esperança, com fé um
no outro, se fazem críticos na busca de algo.
Instala-se, então, uma relação de simpatia
entre ambos. Só aí há comunicação.
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16
1.1 MEMORIAL ......................................................................................................... 17
1.2 O PROBLEMA ..................................................................................................... 18
1.3 OBJETIVOS ........................................................................................................ 23
1.4 ORGANIZAÇÃO DO TEXTO ............................................................................... 23
2 REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................... 25
2.1 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 25
2.1.1 Bases da Educação Profissional e Tecnológica ......................................... 25
2.1.2 Bases da Extensão ......................................................................................... 29
2.1.3 Educação a Distância..................................................................................... 35
2.1.4 Instrumentos normativos e outros documentos ......................................... 39
2.2 TRABALHOS RELACIONADOS .......................................................................... 40
3 CAMINHOS METODOLÓGICOS........................................................................... 43
3.1 PESQUISA PARTICIPANTE ............................................................................... 43
3.2 RODA DE CONVERSA E ESTRATÉGIA DA TRIANGULAÇÃO DE MÉTODOS .. 44
3.3 CONTEXTO DA PESQUISA ................................................................................ 45
3.3.1 A Educação Profissional e Tecnológica no Ifes .......................................... 45
3.3.2 A integração entre ensino, pesquisa e extensão na EPT ........................... 47
3.3.3 Extensão e suas diretrizes no Ifes ................................................................ 49
3.3.4 Educação a Distância no Ifes e o Curso técnico subsequente em
Multimeios didáticos ............................................................................................... 52
3.3.5 Sujeitos ........................................................................................................... 54
3.3.6 Desenvolvimento da pesquisa ...................................................................... 55
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 93
5 PRODUTO EDUCACIONAL ................................................................................ 117
5.1 DESCRIÇÃO DO PRODUTO ............................................................................ 118
5.2 VALIDAÇÃO DO PRODUTO ............................................................................. 119
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 119
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 124
APÊNDICE A – Produto Educacional.................................................................. 128
16
1 INTRODUÇÃO
No Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), a extensão está presente nas normas
institucionais, no plano de desenvolvimento institucional e aparece na missão dessa
autarquia federal na perspectiva integradora ensino-pesquisa-extensão.
Aos poucos, a cultura institucional, que era tradicionalmente voltada para o ensino,
apropria-se de ações de pesquisa e de extensão, pois, ainda que haja necessidade
de aprofundar as possibilidades integradoras entre as três vertentes, já se podem
observar práticas de integração entre ações de pesquisa e de extensão,
principalmente em grupos de pesquisa, em dissertações e em produtos educacionais
dos programas de mestrado.
1.1 MEMORIAL
como assessora pedagógica. Dentro desse setor, foi possível vislumbrar parte das
dificuldades em se fazer extensão, já que atuar na reitoria do Ifes possibilita contato
com extensionistas de todos os campi, seja no atendimento direto nos assuntos
relacionados à assessoria pedagógica ou na participação de grupos de trabalhos e
comissões. Além disso, a pesquisadora faz parte do Comitê do Programa de Apoio à
Extensão e da Banca de Avaliadores das Ações de Extensão da Pró-reitoria de
Extensão.
1.2 O PROBLEMA
seja, se algo não está delimitado dentro do ensino ou da pesquisa, torna-se extensão;
3) achar que a extensão no Ifes é burocrática, pois precisa efetuar cadastro das ações,
prestar contas e fazer relatórios; 4) não compreender a diferença entre os tipos de
ação de extensão; 5) desconhecimento sobre as normas institucionais da extensão e
os formulários de cadastro.
Campus Centro-Serrano 0 25 00 25
Campus Viana 60 0 04 64
Cefor 22 44 31 97
Por meio dos dados da Tabela 1, que contabilizou a participação dos estudantes a
partir da quantidade de certificados emitidos, não é possível verificar se são os
mesmos alunos participando das ações em diversas funções ou se são discentes
diferentes. Para deixar isso mais claro, segue um exemplo: em um determinado
evento, é possível que o mesmo estudante participe na função de organizador e
palestrante. Nesse caso, de acordo com a Tabela 1, ele será contabilizado duas
vezes.
Além disso, era preciso saber qual o nível do curso dos estudantes e, para obter essa
informação, é necessário que seja feita busca no sistema acadêmico institucional
pessoa a pessoa e ainda deve-se verificar o período da ação para adequar de qual
curso o participante era na época, já que diversos estudantes fazem mais de um curso
no Ifes. Para aqueles que participam de cursos simultaneamente, não haveria como
ter certeza em qual curso o discente participou de ações de extensão, apenas com as
informações coletadas nos sistemas institucionais.
que 16 delas eram cursos de extensão, quatro eventos e um projeto, com participação
total de 97 estudantes, distribuídos da seguinte forma: 51 em cursos de extensão, 23
em eventos e 23 em projetos. Essa informação se destacou, pois é incomum uma
participação tão alta de estudantes em cursos de extensão. Geralmente, quando isso
ocorre, é porque esses cursos de extensão são parte de pesquisas de programas de
mestrado e esses alunos são mestrandos. Para confirmar essa informação, buscou-
se, no sistema acadêmico, cada aluno que participou das ações do Cefor para verificar
o nível do curso e obteve-se a seguinte informação, disponível na Tabela 2 abaixo:
Cursos FIC 7 4 0
Graduação 0 2 0
Pós-graduação 10 29 7
Totais 22 44 31
Fonte: elaborada pela autora (2021).
1.3 OBJETIVOS
O objetivo geral desta pesquisa é propor ações e reflexões que estimulem atividades
de extensão para o Curso Técnico Subsequente em Multimeios Didáticos ofertado
pelo Ifes na modalidade a distância. Para auxiliar o desenvolvimento desse objetivo
geral, traçaram-se os seguintes objetivos específicos: 1) entender como se deu a
evolução da extensão e da educação a distância no Ifes; 2) contextualizar os conceitos
de extensão que envolvem suas diretrizes e sua evolução histórica; 3) apresentar os
princípios e as diretrizes da extensão para um grupo de estudantes e servidores da
coordenadoria do Curso Técnico Subsequente em Multimeios Didáticos do Ifes; 4)
acompanhar a evolução da construção e da execução de uma ação de extensão
desenvolvida em conjunto com servidores e estudantes do Curso Técnico
Subsequente em Multimeios Didáticos; 5) criar um produto educacional para auxiliar
e incentivar a prática extensionista no Ifes com dicas para a EaD.
O presente texto está estruturado em seis capítulos, que buscam explicitar o percurso
da pesquisa desde a elaboração do problema até a análise de dados e a confecção
do produto educacional.
No capítulo 5, Produto Educacional: Guia para Ações de Extensão no Ifes – com dicas
para os cursos EaD, há a descrição do Produto educacional, seu embasamento, a
estratégia utilizada para sua validação.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Na revisão de literatura, serão abordados os trabalhos que serviram de base para esta
pesquisa. Esta subseção está dividida em quatro tópicos: Bases da Educação
Profissional e Tecnológica, Bases da extensão, Educação a Distância e Instrumentos
normativos e outros documentos.
filhos da classe operária a educação técnica, que, por sua vez, possuía caráter
terminal, ou seja, quem fazia o ensino técnico não ia para as universidades (MOURA,
2007).
A conquista do ensino médio integrado ao ensino técnico foi lenta e gradual e está
longe de ser consolidada, como pode ser observado nas diversas tentativas de
reformas, com destaque para a atual reforma do Ensino Médio instituída pela Lei
Federal 13.415, de 2017.
Ao mesmo tempo que são feitas reformas que limitam os conteúdos a serem
ensinados, abre-se novamente um abismo entre o ensino que é ofertado para as
elites, no qual se tem acesso aos diversos itinerários, e o ensino que é ofertado às
classes populares, em que essa escolha poderá ser limitada devido a políticas
públicas.
a) Ontológico como práxis humana e, então, como força pela qual o homem
produz sua própria existência na relação com a natureza e com os outros
homens e, assim, produz conhecimento.
b) Histórico que no sistema capitalista se transforma em trabalho assalariado
ou fator econômico, forma específica da produção da existência humana
sobre o capitalismo portanto como categoria econômica e práxis produtiva
que, baseadas em conhecimentos existentes, produzem novos
conhecimentos (LUKAS, 1978 apud RAMOS, 2014, p. 91).
Dessa forma, a integração busca romper com essa cisão gerada pelo sistema de
produção capitalista e procura proporcionar ao estudante as diversas possibilidades
de intervenção, já que, ao se entender como sujeito histórico, com direitos à
apropriação intelectual, fortalecem as suas capacidades de modificar a realidade.
Para isso, é importante que os currículos escolares proporcionem a integração de
saberes e deve ser pensado como uma “relação entre as partes e a totalidade na
produção de conhecimento, em todas as disciplinas e atividades escolares”
(CIAVATTA, 2014, p. 202).
29
Esse conceito traz em sua essência as diretrizes da extensão que foram formalizadas,
inicialmente pela Política Nacional de Extensão Universitária, Forproex (2012),
atualizadas pela Resolução do Conselho Nacional de Educação nº 07 de 2018, e
estão descritas na Orientação Normativa da Proex do Ifes nº 01, de 2020. Um
comparativo entre a forma como essas diretrizes são apresentadas encontra-se no
Quadro 4 do item 3.3.3. No entanto, para que o tema possa ser introduzido e
apresentado a partir de seu referencial teórico, no Quadro 1, será realizada a
conceitualização das diretrizes tal como descritas pela Forproex (2012, p. 30-36),
destacando a retirada da diretriz Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade,
conforme a Resolução do CNE nº 07 de 2018
Diretriz Conceito
Para isso
[...]
É importante ter clareza de que não é apenas sobre a
sociedade que se almeja produzir impacto e transformação
com a Extensão Universitária. A própria Universidade Pública,
enquanto parte da sociedade, também deve sofrer impacto, ser
transformada [...]
Assim, o autor propõe a troca da palavra extensão por comunicação, já que, para ele,
o conhecimento da universidade não deve ser estendido à sociedade ou nela
depositado, mas, sim, construído junto com ela. O saber que as comunidades
possuem também devem entrar nas escolas e, por meio dessa
interação/comunicação, desenvolver, de forma conjunta, soluções para os problemas
sociais que se apresentam.
Observa-se, dessa forma, a influência do trabalho desse autor nas definições das
diretrizes extensionistas citadas anteriormente, principalmente nas diretrizes
Interação dialógica, Impacto e Transformação Social e Protagonismo Estudantil.
A dialogicidade pode ser considerada uma concepção que permeia toda a obra
freiniana. Porém, por entender que, em Freire (2013a), o autor sistematizou
inicialmente esse conceito e, depois, em Freire (2013b), aprimorou o posicionamento,
esses dois livros, acrescidos de Freire (1983), formam a base da fundamentação
teórica sobre a importância do diálogo dentro da sua proposta e a sua influência para
a extensão.
O autor traz o conceito de Ecologia de saberes, que tem, em seu âmago, a pesquisa-
ação (que é comumente utilizada como metodologia de prática extensionista). A
Ecologia de saberes é
Da mesma maneira que Santos (2011), Thiollent (2018) traz a discussão sobre os
fundamentos teóricos e metodológicos das práticas de extensão universitária, com
destaque para as metodologias participativas (envolvendo estudantes e participação
popular) na construção ou reconstrução social dos conhecimentos de forma
emancipatória: “Levando em conta essa visão de construção social do conhecimento,
os projetos de extensão adquirirão maior adequação aos objetivos de transformação
social” (THIOLLENT, 2018 , p. 66) .
Outro aspecto destacado pela autora é o perfil do estudante da EaD, que vai desde
alunos que não trabalham, a pessoas que, por motivos diversos, não podem se
ausentar de suas casas, como pessoas com deficiência, por exemplo. Porém, ela
ressalta que, para as novas gerações, é possível que se opte pela EaD “independente
das questões geográficas e/ou falta de tempo” (SONDERMANN, 2014, p. 65).
Dentro do histórico geral da EaD, Moore e Kearsley (2008) citam cinco gerações,
conforme apresentado no Quadro 2:
Como se pode ver na Tabela 3, a educação a distância surgiu muito antes da internet,
como descrito por Passos (2018). Porém, foi a internet que possibilitou o crescimento
exponencial da oferta e da procura por essa modalidade de ensino. Hoje, é possível
realizar um curso ofertado por alguém do outro lado do mundo sem sair de casa.
Contudo, no Brasil, não se pode deixar de considerar que o acesso à internet ainda
não é uma realidade de todos, como se observa na Figura 1
Como mostra a Figura 1, no ano de 2019, apenas 55,6% dos domicílios rurais
possuíam acesso à internet. Mesmo na área urbana, que é a mais populosa, o acesso
ainda não chega a 90%. Em outras palavras, a educação a distância pode ser um
caminho para o acesso democrático à educação, porém, isso depende de políticas
públicas e de investimento em tecnologias que tornem mais abrangente o acesso à
2 https://educa.ibge.gov.br/jovens/materias-especiais/20787-uso-de-internet-televisao-e-celular-no-
brasil.html, Acesso em outubro de 2021.
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A autora ainda faz um relato sobre a da Rede e-Tec Brasil para a interiorização e
fortalecimento do ensino técnico na consolidação da educação a distância brasileira.
Instrumento Referência
Essa exigência da extensão ocorrer presencialmente nos cursos que são ofertados a
distância possui o intuito de auxiliar a relação entre os extensionistas e os atores
sociais, buscando, a partir de uma metodologia participativa, a troca de saberes, com
inserção respeitosa dos estudantes nos ambientes sociais. No entanto, destaca-se
que essa Resolução foi publicada em dezembro de 2018, ou seja, antes da pandemia
da covid-19.
No artigo Extensão para que?, Gadotti (2017) resgata a história da extensão no Brasil
e faz uma análise a partir da curricularização dessa modalidade. O autor chama a
atenção para o caráter integrador da extensão, que pode ser utilizado em todos os
níveis de ensino.
No artigo Extensão universitária: bases ontológicas, Neto (2002) faz uma construção
da ontologia da extensão desde a sua fase assistencialista até a atualidade, em que
descreve que a universidade, por meio da extensão, está “ontologicamente balizada
como trabalho social, possibilitando o direcionamento da pesquisa e o do ensino para
um outro projeto social” (NETO, 2014, p. 19).
Essa situação demonstrou que a extensão ainda não é uma cultura presente
nos cursos da Educação a Distância. Muitos bolsistas ingressaram sem
compreender de fato, em que consiste a extensão universitária e nem quais
as vantagens da participação no Programa para a sua formação
(PASCHOALINO et al, 2014, p. 1288).
42
Ainda sobre o encontro entre Paulo Freire e a educação a distância, considerando que
o autor faleceu em 1997, momento em que a EaD ainda não apresentava a
expressividade e a abrangência que possui hoje, e ainda que ele não teve nenhuma
publicação voltada para a educação a distância, foram considerados alguns estudos
sobre a sua obra aplicada na EaD.
Para que isso seja efetuado, Sabbatini (2013) destaca que o primeiro passo é ter
consciência desse problema, rever os projetos pedagógicos dos cursos e não colocar
o Paulo Freire no papel de ícone, mas rever como sua proposta pode auxiliar na
mudança cotidiana nas relações estabelecidas entre professores e estudantes por
meio dos ambientes virtuais de aprendizagem.
Isto posto, conclui-se que o referencial teórico se dará em torno da extensão e da EaD
tecnológica, tendo como base os documentos norteadores nacionais e parte do
referencial teórico que os embasaram, bem como as bases fundamentais da EPT.
43
3 CAMINHOS METODOLÓGICOS
A prática extensionista não se faz com apenas um indivíduo, mas, sim, com uma
participação/construção coletiva em prol de um objetivo comum. Ela envolve a escola,
a comunidade e diferentes tipos de saberes e desafios. Sendo assim, optou-se por
utilizar a pesquisa participante, a partir dos estudos de Brandão (2006), já que o
processo previa o diálogo em toda a sua trajetória.
O Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) existe com essa nomenclatura desde o ano
de 2008, sob a égide da Lei 11.892, que institui a Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica. Ele é a junção de quatro instituições que já
existiam no estado: Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo
(Cefetes), em Vitória; Escola Agrotécnica Federal de Alegre; Escola Agrotécnica
Federal de Colatina; e Escola Agrotécnica Federal de Santa Teresa.
46
O Cefetes, por exemplo, foi fundado em 1909, com o nome de Escola de Aprendizes
Artífices do Espírito Santo. Dessa forma, com essa união, carrega-se uma história de
mais de cem anos de existência.
O Ifes, atualmente, é composto por vinte e dois campi, distribuídos por todo o estado,
incluindo o Centro de Referência em Formação e em Educação a Distância (Cefor),
quarenta e nove polos de educação a distância e um polo de inovação. Recentemente,
foi firmado acordo com o governo federal para a criação de mais um campus na cidade
de Presidente Kennedy.
destacar outro tipo de incorporação, que possui caráter instrumental e deve afetar de
maneira metodológica a prática educativa na EPT, que é a integração entre ensino,
pesquisa e extensão.
Ainda que aquilo que é ensinado nas escolas esteja limitado em termos de conteúdo
pelo currículo, a maneira como se ensina pode auxiliar nas possibilidades de
atualização frequentes desse currículo. Ao assumir a pesquisa como princípio
pedagógico e a extensão como possibilidade constante de diálogo com a sociedade,
será possível atualizar o que se ensina e como se ensina:
Dessa forma, a integração entre ensino, pesquisa e extensão deve permear a prática
educativa verticalizada nos institutos federais, em todas as modalidades de ensino.
49
e a distância.
Interdisciplinaridade e
Interprofissionalidade
A produção de mudanças na
Impacto e Transformação própria instituição superior e
Impacto social
Social nos demais setores da
sociedade
Fonte: elaborado pela autora (2021).
É importante destacar que esse curso pesquisado teve sua criação justificada pela
experiência anterior na oferta do Curso Técnico Concomitante em Multimeios
Didáticos dentro do programa Profuncionário, parceria do Ifes com a Rede e-Tec
Brasil entre os anos de 2015 e 2017 (PASSOS; SONDERMANN; BARBOSA, 2017).
3.3.5 Sujeitos
O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos sob número de parecer: 4.416.574, em 23 de novembro de 2020, e pela
banca de qualificação no dia 24 de novembro de 2020.
Quantidades
estudantes
sociedade
Nº do Início Término Coordenador Coordenador
servidor
Tipo e título da ação
processo (2021) (2021) Geral adjunto
Ifes
Projeto
23147.002993/
Experimentando o uso
2021-93
Orientadora
dos Multimeios
10/05 19/09 Pesquisadora do projeto de 5 4 46
didáticos em uma
pesquisa
escola de ensino
médio
23147.003370/
2021-02
Programa
Coordenadora
MULTIplicação – a 07/06 06/06 Pesquisadora 20 80 200
do CTMD
extensão no CTMD
23147.003840/
Projeto
2021-19
Projeto
2021-62
MULTIplicação: Servidora da
Coordenadora
diálogos entre escola, 06/07 17/12 Coordenadoria 5 80 250
do CTMD
a comunidade e o de tecnologia
mundo do trabalho
Porém, é importante explicitar que, apesar de todo esse trabalho que foi construído (e
59
parte dele ainda está em andamento), esta pesquisa girou em torno do primeiro projeto
de extensão: Experimentando o uso dos Multimeios didáticos em uma escola de
ensino médio que estava inicialmente previsto.
A partir dessa primeira reunião, sucederam-se diversas conversas via WhatsApp para
que coordenadora e pesquisadora pudessem criar caminhos para o desenvolvimento
da pesquisa e da extensão no CTMD. Nas conversas, ficou clara a preocupação por
parte da coordenação a respeito dos procedimentos para se fazer extensão no Ifes,
em especial com as disfunções burocráticas3 que pudessem envolver o planejamento,
3 Uma dificuldade que é apontada por parte dos servidores é a necessidade de preenchimento de
formulários de cadastro e de um documento que oficialize a parceria com grupo externo ao Ifes. Resta
evidente que ter a presença de pessoas externas à instituição é fundamental para que uma ação se
configure como extensão e a formalização dessa relação, quando houver, deve ocorrer por meio de
um instrumento jurídico de parceria, conforme resolução do Conselho Superior do Ifes nº 18/2017.
No entanto, há algumas ações de extensão que vão construir essa relação a partir da sua execução
e, nesse caso, é uma opção que se apresente o termo de intenções de parcerias: “b) O proponente
pode, a seu critério, apresentar termo de intenções de parceiros, devidamente preenchido e
assinado pela organização parceira, mantendo o formato idêntico ao modelo disponibilizado na
página da Pró-reitoria de Extensão do Ifes” (ON – CAEX 01/2020, p. 5 grifo nosso). Porém, é
importante que se tenha em mente que, quando se realiza uma atividade de extensão, está se
realizando uma ação em nome da instituição e que é necessário que isso seja formalizado e
registrado para gerar segurança tanto para a instituição quanto para o público externo participante,
uma vez que, ao realizar ações de extensão, utiliza-se tempo de trabalho de servidores, instalações
60
No dia 27 de abril de 2021, houve uma reunião da coordenadoria do CTMD para tratar
de assuntos pedagógicos do curso. Nesse dia, foram disponibilizados 20 minutos ao
final da reunião para que se iniciasse uma discussão sobre a ação de extensão, para
apresentar o programa estruturante que estava sendo criado e, principalmente, para
e outros recursos que são de origem pública e sobre os quais tem-se responsabilização e se deve
prestar contas.
61
Outra questão que surgiu nessa reunião foi o fato dos estudantes do CTMD serem
muito ocupados e terem que se envolver em mais atividades além daquelas que já
são obrigados a fazer no curso. Conversou-se um pouco sobre integração e como
utilizar atividades de sala de aula para proporcionar ações de extensão. Alguns
professores citaram exemplos de tarefas que poderiam ser desenvolvidas, inclusive
dentro de exercícios avaliativos.
Avaliou-se que, para haver adesão dos estudantes, era necessário que fosse atribuída
nota para o desenvolvimento da atividade de extensão. Para mais, pensou-se como
seria a certificação e a emissão do relatório, pois, caso fosse desenvolvida uma
atividade dentro do programa, a certificação pode ocorrer para cada atividade ou, em
caso de outras ações, a certificação independeria do programa.
4 Informação verbal cedida pela Professora 2 na Roda de conversa do dia 30 de abril de 2021, aos 16
minutos.
64
Com isso, buscou-se a diferenciação do programa com as atividades das outras ações
que poderiam ser criadas e vinculadas a ele. Nessa esteira, ainda foi informado que
submeter uma ação como atividade impactaria negativamente os indicadores do
campus, já que a quantidade de ações desenvolvidas fica reduzida. Para cadastrar
algo como atividade, têm-se que considerar o tempo de duração, sua estrutura e
objetivos.
de Certificados do Ifes, já que isso deve ser feito manualmente pelo coordenador da
ação:
Aqui no Cefor, a gente “joga nas onze”, é só a gente mesmo [...] depois desse
apagão que deu no SRC. Eu tô só com uns mil e trezentos certificados pra
emitir que sou eu mesmo, não é? Não tem ninguém não, não tem bolsista,
não tem estagiário, não tem nada disso [...] (Professora 2, 2021, informação
verbal)5.
Foi discutido também qual será a função dos estudantes do CTMD no projeto de
extensão:
Quando a gente pensa no perfil do nosso aluno, ele é aquele aluno que apoia
o uso dos multimeios didáticos no local que ele está trabalhando. Quando a
gente pensa nesse papel de uma assessoria do aluno a uma escola ou Oscip,
não é que ele fique lá, assim, sem colocar a mão na massa, mas ele não é
exatamente um executor de demandas... ele pode até ajudar a fazer, mas ele
é um apoiador... ele não vai desenvolver sozinho (Professora 1, 2021,
informação verbal)6.
3.3.6.5 Atividade nº 5 – Roda de conversa com a turma que cursava o último período
5 Informação verbal cedida pela Professora 2 na Roda de conversa do dia 30 de abril de 2021, a 1 hora
05 minutos.
6 Informação verbal cedida pela Professora 1 na Roda de conversa do dia 30 de abril de 2021, aos 50
minutos.
66
A roda foi iniciada com um bate-papo sobre quais estudantes haviam participado de
ação de extensão ao longo do curso. Dois discentes manifestaram que participaram
de ações extensionistas, um em cursos de extensão em projetos de pesquisas de
mestrado e o outro em uma parceria do Cefor com a UAB.
Assim sendo, dos 19 estudantes presentes na roda, houve o seguinte resultado dessa
roda-convite, conforme Figura 7:
7 Informação verbal cedida pelo Estudante 1 na roda de conversa do dia 11 de maio de 2021, aos 3
minutos.
67
É importante destacar que não havia nenhum tipo de requisito para que os estudantes
participassem dessa ação de extensão.
Essa roda de conversa foi realizada no dia 27 de maio de 2021 via webconferência e
teve a presença dos três estudantes participantes do projeto de extensão e do
professor da escola estadual, que aqui será denominado professor colaborador
externo.
68
Nesse primeiro momento, decidiu-se por realizar a análise com o professor sobre os
dois tópicos, iniciando pelo tema Revolução Industrial. Foi perguntado ao educador
como ele desenvolve esse conteúdo atualmente:
O professor ainda falou que gosta de abordar os temas transversais que são ligados
à Revolução Industrial, tais como as questões ambientais e os direitos trabalhistas.
Ademais, ele explicou como o realiza a avaliação da aprendizagem e das atividades
propostas e que se interessava pelo momento de debate, sobre o qual avalia:
[...] através das ligações que eles conseguem fazer do tema, com as questões
atuais que nós vamos debatendo, eu consigo enxergar em que medida o
aluno foi realmente aprendendo ou não o conteúdo e fazendo esse conteúdo
se tornar algo significativo pra ele [...] (Professor colaborador externo, 2021,
8 Informação verbal cedida pelo professor colaborador externo na roda de conversa do dia 27 de maio
de 2021, aos 16 minutos e 50 segundos.
69
informação verbal)9.
Foi questionado ao professor quais são as principais dificuldades que ele possui no
dia a dia de ensino com as turmas em que ele trabalha esses tópicos. Sua resposta
encontra-se a seguir:
Então, perguntou-se se, além dessa questão metodológica, ele identifica alguma
dificuldade dentro do tópico Revolução Industrial. Abaixo, sua reflexão:
9 Informação verbal cedida pelo professor colaborador externo na roda de conversa do dia 27 de maio
de 2021, aos 20 minutos.
10 Informação verbal cedida pelo professor colaborador externo na roda de conversa do dia 27 de maio
Conforme foi avançando a conversa sobre esse tema, sobre como o professor
costuma trabalhar e sobre as dificuldades que ele encontrava, os estudantes do
CTMD realizaram diversas intervenções, propondo atividades que poderiam ser
desenvolvidas. Após amplo debate, dada a riqueza dos dois temas elencados, e
considerando o prazo de execução do projeto de extensão e que os alunos do CTMD
auxiliariam na construção do material didático, optou-se por trabalhar apenas em cima
de um dos tópicos, que seria a Revolução Industrial. Entretanto, os estudantes
propuseram que, se sobrasse tempo, eles poderiam se debruçar sobre o material
utilizado pelo professor no tópico Igualdade de gênero e fariam propostas de
melhorias, caso isso fosse pertinente.
Também foi questionado ao professor como estava a situação atual de frequência dos
seus educandos e sobre uso de plataformas, já que a escola estava funcionando com
parte das atividades de forma presencial e parte remota.
12 Informação verbal cedida pelo professor colaborador externo na roda de conversa do dia 27 de maio
de 2021, aos 43 minutos.
71
O professor ainda explicou que, nos momentos síncronos, a adesão é muito pequena,
pois uma coisa é os estudantes gastarem seus dados móveis de celular acessando
um formulário ou PDF, outra coisa é conseguir assistir uma videoaula de cinquenta
minutos síncrona. Entretanto, o professor explicou que a expectativa era o retorno
presencial nas escolas estaduais, uma vez que as prefeituras já haviam retornados.
Após essa roda, iniciou-se a discussão por meio do grupo de WhatsApp entre a
pesquisadora e os estudantes do CTMD para o planejamento das atividades.
Inicialmente, cada um iria ler e avaliar o material do professor e pensar,
individualmente, em sugestões com o uso dos multimeios didáticos.
https://docs.google.com/spreadsheets/d/1yeyeiS_E_dBnH84oteuTcyljrfZ8zzqh/edit?usp=sharing&o
uid=116264112536542643493&rtpof=true&sd=true
15 Informação verbal cedida pelo Estudante 3 na roda de conversa do dia 27 de maio de 2021 ao
primeiro minuto.
72
16 Informação verbal cedida pelo Estudante 3 na roda de conversa do dia 27 de maio de 2021 ao
primeiro minuto.
73
Porém, ao longo dos anos, essa taxonomia foi revista tanto por pesquisadores que
fizeram parte do grupo originalmente construído por Bloom quanto por novos
pesquisadores. Os estudiosos entenderam que cada um dos substantivos utilizados
na taxonomia original remetia a objetivos cognitivos no momento do planejamento,
então, uma das mudanças foi na categoria das palavras (de substantivos para verbos).
Na Figura 8, é possível ver o comparativo entre a taxonomia original e a revisada.
Para realizar esse planejamento, o grupo elaborou o seguinte objetivo geral: criar um
material utilizando os multimeios didáticos e que abarque o conteúdo relacionado aos
temas transversais meio ambiente e direitos trabalhistas na Revolução Industrial.
No dia 30 de junho de 2021, foi realizada uma roda de conversa com servidores do
Cefor com intuito de organizar como os projetos de extensão aconteceriam e como se
integrariam, inclusive o projeto de extensão foco desta pesquisa. Os servidores
informaram a preocupação de dar muito trabalho para os estudantes além daqueles
que eles já executam dentro das disciplinas. Foi colocada a proposta de que a
participação do aluno em uma das ações de extensão seria pontuada como uma
atividade avaliativa. Dessa forma, desde que o estudante participe de uma ação de
extensão na função de multiplicador de conhecimento atestado pelo coordenador da
ação, ele receberia dez pontos em todas as disciplinas do segundo semestre de 2021.
75
Além dessas ações que estão conectadas diretamente ao CTMD, também seriam
aceitas participações em outras duas ações extensionistas:
Essas outras ações de extensão poderiam inclusive ser desenvolvidas fora do CTMD,
pois uma das preocupações era os estudantes que participam como bolsistas e
voluntários em outros projetos, já que, no final de 2020, iniciaram-se dois projetos com
participação de estudantes do CTMD:
17 Informação verbal cedida pela Professora 1 na roda de conversa do dia 30 de junho de 2021, aos 26
minutos.
77
No dia 22 de julho de 2021, foi realizada uma roda de conversa com os estudantes
para a finalização do planejamento. Inicialmente, discutiu-se sobre o artigo que trouxe
o embasamento para a Taxonomia de Bloom revisada, metodologia escolhida para a
elaboração do planejamento das atividades do tópico Revolução Industrial. Porém, o
grupo entendeu que esse uso foi uma experimentação, já que se percebeu que a
Taxonomia de Bloom é um método mais complexo do que a forma como estava sendo
utilizada neste trabalho.
18 Informação verbal cedida pelo Estudante 3 na roda de conversa do dia 22 de julho de 2021, aos 17
minutos.
78
Dessa forma, compreendendo que a taxonomia seria apenas uma base para auxiliar
a construção do planejamento, o grupo reviu seus objetivos e a estrutura do que se
pretendia alcançar com o tópico a partir do amadurecimento da discussão, tendo como
base as solicitações e as observações do professor colaborador externo. O resultado
foi o seguinte:
Projetou-se então que o próprio conhecimento poderia ser trabalhado a partir do quiz,
19 Informação verbal cedida pelo Estudante 2 na roda de conversa do dia 22 de julho de2021, ao
primeiro minuto.
20 Informação verbal cedida pelo Estudante 1 na roda de conversa do dia 22 de julho de 2021, aos 33
minutos.
80
Objetivo: entender o contexto histórico em que a Revolução Industrial aconteceu, como se deu a transição da manufatura para a industrialização, os movimentos sociais e
as conexões entre a Revolução Industrial com a atualidade.
Revisão dos tópicos LEMBRAR – identificar o contexto antecedente e Pioneirismo Inglês e suas influências na Revolução Apresentação de slides (material
anteriores sua influência na Revolução Industrial Industrial pronto)
Conhecendo os meios APLICAR – descobrir a realidade histórico-social- História do movimento industrial do município de Atividade em grupo: entrevistas a
de produção do entorno ambiental atual (COMPETÊNCIA) Cariacica serem realizadas pelos estudantes
Explicar o contexto histórico do tópico e relacionar Trazer novas propostas a partir dos
CRIAR – pensar propostas de melhorias para o com a realidade atual, identificando boas práticas problemas encontrados – roda de
Perspectivas
futuro (HABILIDADE) que amenizem os problemas gerados e fortaleçam conversa (a construir pelo
as benfeitorias conquistadas. professor e estudantes)
Para finalizar e com intuito de conectar a experiência coletiva neste projeto com a
teoria da extensão, foi conversado com o grupo sobre como surgiu a extensão, sua
evolução a partir dos anos 60, a sua formalização a partir da Política Nacional da
Extensão, a integração entre o ensino, a pesquisa e a extensão e quais são os
aspectos que caracterizam a extensão (suas diretrizes). Como exercício, realizou-se
uma discussão de como esse projeto atendia às diretrizes de extensão. A partir daí,
os participantes construíram o Quadro 7.
Por fim, ficou acordado que esse planejamento seria submetido ao professor
colaborador externo e, após realizar as modificações por ele indicadas, seria feita uma
roda de conversa com os professores orientadores do Cefor.
83
No dia 22 de julho de 2021, foi disponibilizado o link do Google Drive para que o
professor colaborador externo pudesse realizar a avaliação. No dia 27 de julho de
2021, ele fez as seguintes considerações via conversa com a pesquisadora por meio
do aplicativo WhatsApp:
já utiliza nas aulas, para que eles pudessem contribuir na avaliação do planejamento
como um todo, em especial nas possibilidades de melhoria dos materiais existentes e
na proposta de criação de novos materiais utilizando os multimeios didáticos.
No dia 4 de agosto de 2021, foi realizada uma roda de conversa com a presença dos
professores orientadores e dos estudantes do CTMD. Essa roda foi registrada em
formato escrito. A Professora 4 manifestou satisfação tanto com o planejamento
quanto com a proposta de elaboração de novos materiais. Ela indicou que fosse
confirmado se não havia alunos com necessidades especiais na turma e pediu que se
levasse em consideração isso no momento de preparar o material. Também sugeriu
que as letras dos textos dos slides elaborados pelo professor colaborador externo
fossem ampliadas caso ele tenha alunos com baixa visão.
A professora 2 então disse que esses temas transversais são exatamente o foco do
trabalho dela e que ela achava que poderia auxiliar para deixar esse conteúdo mais
robusto. Como sugestão, indicou que se utilizasse os Objetivos do desenvolvimento
sustentável (ODS). Ela explicou um pouco sobre o tema e a diversidade que ele traz
para se entender que o cuidado com o meio ambiente é amplo e precisa atender a
vários aspectos, como, por exemplo, a inclusão social. Além disso, ela informou sobre
um evento que estava acontecendo acerca dessa temática naquele momento e
disponibilizou o vídeo de uma aula que ela e um biólogo (professor convidado em sua
disciplina) ofertaram sobre os ODS.
Assim sendo, considerando esse novo formato, o professor iria demorar o triplo do
tempo para aplicar o conteúdo. Acordou-se com o docente que o material produzido
pelo grupo seria disponibilizado até o dia 16 de agosto de 2021, para ser aplicado na
semana seguinte, porém, ele informou que, devido ao revezamento, teria que iniciar
os tópicos 1 e 2 na semana do dia 10 de agosto de 2021. O educador também noticiou
86
A fase de construção do material foi então iniciada, entretanto, ocorreu que os três
estudantes do projeto tiveram problemas pessoais nesse período, envolvendo
questões de saúde que ou os atingiram diretamente ou afetaram parentes próximos
que necessitavam de seu suporte. Dessa forma, ficou combinado com os discentes
que, para que o prazo fosse cumprido, a pesquisadora iniciaria a construção do
material e iria tirando as dúvidas e buscando as sugestões dos alunos, que a
atenderiam na medida do possível.
No dia 28 de julho de 2021, foi disponibilizado para o professor externo o roteiro para
que ele fizesse as contribuições e, no dia 03 de agosto de 2021, o docente concordou
com a estrutura que foi apresentada.
Para construção do jogo, foi realizada uma pesquisa em torno do material que uma
das professoras-orientadoras disponibilizou e o grupo optou pelo uso do Genially. O
modelo de jogo escolhido foi do tipo escape, estruturado em quatro fases. Os
estudantes foram acompanhando a construção do material, realizando os testes e
fazendo sugestões.
https://www.youtube.com/watch?v=uglz8O8CCZ
Vídeo
E
https://view.genial.ly/611028f42a78730da88086
Jogo cf/interactive-content-revolucao-industrial-e-
meio-ambiente
Fonte: elaborado pela autora (2021).
87
[...] E passamos pro item cinco da análise, que é que a gente aprofundou na
questão ambiental utilizando o jogo que foi montado pelo grupo. Então, nesse
dia que o jogo foi aplicado com os meninos, assim, o retorno foi muito bom.
Eles participaram bastante da aula, né? Não teve nenhum aluno que perdeu
o foco do que tava sendo feito, estavam envolvidos ali no jogo e o mais
interessante foi o final, né? Que é quando eles começaram a dar o retorno,
né? Do que eles acharam. Então, assim, até selecionei algumas frases que
eles disseram pra gente ver como foi bom o retorno, né? Um menino, quando
terminou, falou: “é, professor, legal, bem legalzinho o jogo, gostei”. Teve uma
outra fala de uma menina que falou assim: “ah, professor, você podia dar
prova sim agora, hein?” E teve um outro estudante que até comentou que um
outro professor tem trabalhado nas aulas dele desse jeito, com jogos, aí eles
falaram lá mais ou menos como era o jogo [...]. E aí ele fez essa comparação,
né? Falou: “ah, o professor tal já trabalha com isso, a gente tem gostado, aí
88
você começou a utilizar isso agora, né? Seria legal que os professores
utilizassem mais mais vezes isso”. Então, assim, o retorno foi muito bom da
utilização do quiz, do jogo, eles gostaram bastante (Professor colaborador
externo, 2021, informação verbal)21.
[...] eles citaram, por exemplo, a questão da Vale, né? Os dois acidentes
ambientais que aconteceram. Eles relacionaram quando a gente estava
trabalhando essa questão do ambiental e aí teve até um aluno que comentou
que algum parente dele era pescador lá na região próxima, né? E que
recebeu indenização lá, mas que com o dinheiro da indenização ele ia ter que
investir em alguma outra coisa senão ele não ia continuar tendo sustento e
ele até comentou que não era só uma questão de dinheiro, né? Que tinha
toda uma cultura que existia ali na região que acabou sendo perdida com o
que aconteceu [...] (Professor colaborador externo, 2021, informação
verbal)22.
[...] É, tem até uma expressão que um dos meninos utilizou quando a gente
parou pra fazer esse debate da questão ambiental, né? Que, assim, nós
estamos caminhando por um precipício e, se nada for feito, vai todo mundo
cair junto, né? Não adianta. Quem tem mais dinheiro, quem tem menos
dinheiro vai tá todo mundo sofrer com essa situação (Professor colaborador
externo, 2021, informação verbal)23.
É, eu acho que o paralelo que o aluno fez é o ideal mesmo. Eu acho que era
esse o ponto mesmo de tá ligando toda a Revolução Industrial com o meio
ambiente e eles perceberem isso nos dias de hoje, o quanto isso afeta e o
quanto que a gente está inserido nesse meio, né? Pra eles enxergarem essa
importância. Então, eu acho que com o bate-papo professor Tiago falou,
achei que o objetivo foi atingido, mesmo sem as entrevistas (Estudante 3,
2021, informação verbal)24.
21 Informação verbal cedida pelo professor colaborador externo na roda de conversa do dia 29 de
setembro de 2021, aos 8 minutos.
22 Informação verbal cedida pelo professor colaborador externo na roda de conversa do dia 29 de
15 minutos.
89
Foi solicitado ao professor que indicasse qual foi a avaliação comparativa entre o
trabalho que ele executava antes e a forma como ele apresentou o conteúdo dessa
vez:
Discutiu-se, em seguida, que o papel dos estudantes do CTMD foi além de apoiar o
professor no uso dos multimeios. Eles refizeram toda a estrutura de planejamento que
era utilizado pelo professor. Todos concordam nesse aspecto, com destaque para as
seguintes falas:
[...] não foi só uma produção de material que foi entregue para o professor
pra ele aplicar com a turma. Veio toda uma proposta de como esse material
vai ser aplicado. Sugestões aqui com cada tópico pensando em um tipo de
aprendizagem pro aluno, né? (Professor colaborador externo, 2021,
informação verbal)27.
Eu concordo também com vocês. Eu acho que vai muito além e acho que
25 Informação verbal cedida pelo professor colaborador externo na roda de conversa do dia 29 de
setembro de 2021, aos 17 minutos.
26 Informação verbal cedida pelo professor colaborador externo na roda de conversa do dia 29 de
setembro de 2021, aos 20 minutos.
27 Informação verbal cedida pelo professor colaborador externo na roda de conversa do dia 29 de
setembro de 2021, aos 23 minutos.
90
amplia até a absorção do conteúdo, né? Porque a gente sabe que, na sala
de aula, tem vários tipos de aluno e cada um tem a sua forma de aprendizado,
né? Alguns aprendem mais oralmente, que outros visualmente. Então, eu
acho que a gente diversificando o material também foi feito, a gente consegue
atingir o público todo em um determinado momento todos eles são atingidos
e acho que isso que é o mais bacana e acredito que vá além sim, só a
aplicação, né? (Professor colaborador externo, 2021, informação verbal)28.
Realmente, a fala das meninas foi muito boa e isso demonstra Telma é o
quão importante é a qualificação do professor perante o uso da tecnologia
pra que ele possa aplicar de forma qualitativa cada vez mais o conteúdo
metodológico que ele vai apresentar pros alunos, né? (Estudante 2, 2021,
informação verbal)29.
É, eu acredito que eu tenho um desafio de tentar proporcionar mais
momentos assim, né? Que até o que eu me senti meio cobrado quando eles
fizeram comentários a respeito do jogo, né? “Cê podia dar mais vezes a
atividade assim, podia dar prova assim, professor tal fez assim”. Então, eu
acho que esse desafio, né? (Professor colaborador externo, 2021, informação
verbal)30.
Assim sendo, o professor colaborador externo perguntou se ele poderia utilizar esse
planejamento/material no futuro com outras turmas ou até mesmo compartilhar com
outros professores. O grupo respondeu prontamente que sim e que seriam
disponibilizados os arquivos fonte para que o professor pudesse alterar os
instrumentos no decorrer do tempo. Um dos estudantes sugeriu que os alunos
produzissem imagens da realidade deles para ambientar o jogo, ou seja, que se
envolvessem os discentes da educação básica na produção do game.
Em seguida, o grupo fez uma avaliação crítica sobre a forma como a Taxonomia de
Bloom foi utilizada no planejamento, pois entendeu-se que não era necessário utilizar
todas as fases na taxonomia em cada tópico, mas, sim, pensá-la na disciplina como
um todo.
28 Informação verbal cedida pelo professor colaborador externo na roda de conversa do dia 29 de
setembro de 2021, aos 24 minutos.
29 Informação verbal cedida pelo Estudante 2 na roda de conversa do dia 29 de setembro de 2021, aos
26 minutos.
30 Informação verbal cedida pelo professor colaborador externo na roda de conversa do dia 29 de
futuras.
O primeiro deles foi o pouco tempo destinado à elaboração do material, pois como o
grupo se dedicou mais ao planejamento, aprendendo sobre a Taxonomia de Bloom e
como aplicá-la, restou pouco espaço para a execução do material. O período que se
tinha para atender ao colaborador externo dentro do calendário da escola estadual
também não foi suficiente para a execução, porque coincidiu com um intervalo em que
os estudantes tiveram problemas de saúde e de ordem pessoal, ficando disponíveis
como orientadores e não como construtores do material. Entendeu-se que isso foi um
prejuízo para o projeto devido à forma como o tempo foi gerido.
O outro aspecto destacado pelo grupo foi a vontade que eles sentiram de ter contato
direto com os estudantes da escola básica, já que, no projeto de extensão, estava
previsto o contato apenas com o professor. Eles sentiram a necessidade de ver como
os alunos interagiram com o planejamento/material.
Foi questionado aos estudantes do curso técnico o que eles gostariam de encontrar
em um guia que orientasse a prática extensionista:
Eu vou te ser bem sincera. Eu acho que começaria com o básico do conteúdo.
Por exemplo, o que é a extensão, quando é necessário a extensão, é onde é
aplicável [...]. O que agrega ao nosso conhecimento a extensão? Porque eu
acho enriquecedor. Juntando com a experiência do estágio que eu também
comecei e eu conseguia ver pontos, né? Assim, quase que todos os ângulos,
vamos colocar quase uma visão trezentos e sessenta, eu achei que isso foi,
pra mim, foi muito gratificante [...] (Estudante 3, 2021, informação verbal)31.
[...] eu acho que se ele estivesse de forma mais clara, um conhecimento mais
amplo [do que é extensão] ia ser mais fácil talvez de aparecer pessoas
interessadas, porque eu consigo mentalmente listar pelo menos umas cinco
pessoas que poderiam ter feito, participado desse projeto e talvez não
participaram por conta de falta de conhecimento mesmo (Estudante 3, 2021,
informação verbal, com acréscimos)32.
Pois é. Eh, Telma. Eu acho que se, desde o início do curso, nós tivéssemos
31 Informação verbal cedida pelo Estudante 3 na roda de conversa do dia 29 de setembro de 2021, aos
64 minutos.
32 Informação verbal cedida pelo Estudante 3 na roda de conversa do dia 29 de setembro de 2021, aos
70 minutos.
92
Por fim, o professor colaborador externo perguntou como funcionava a extensão, pois
ele ficou com a impressão que ela depende da iniciativa dos servidores, que não é
algo inerente ao curso, e questionou sobre o mercado de trabalho do técnico em
Multimeios Didáticos, pois ele achou que esse é um profissional muito importante na
escola, mas nunca havia visto nenhum em atuação até aquele momento.
33 Informação verbal cedida pelo Estudante 2 na roda de conversa do dia 29 de setembro de 2021, a 1
hora e 11aos 71 minutos.
93
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
O objetivo geral desta pesquisa era propor ações e reflexões que estimulassem
atividades de extensão para o Curso Técnico Subsequente em Multimeios Didáticos
ofertado pelo Ifes na modalidade a distância. Após o desenvolvimento do presente
estudo, observa-se que, atualmente, estão em desenvolvimento dentro da
coordenadoria do CTMD um programa estruturante, que possui três projetos de
extensão vinculados a ele. Além disso, existem dois outros projetos de extensão em
andamento, porém, eles não estão, no momento, conectados à coordenadoria do
CTMD, mas, independente disso, são espaços potenciais para que os estudantes
desse curso técnico participem como membros da equipe de execução.
Parte do trabalho que fortalecerá a extensão no Ifes passa pelo conhecimento do que
é a extensão e quais são suas bases e diretrizes, tal como previsto no terceiro objetivo
específico da pesquisa, que visava apresentar esses aspectos a um grupo de
estudantes e professores do CTMD.
Essa introdução é importante, já que diversos servidores e muitos alunos ainda não
sabem identificar quais são esses parâmetros e consideram extensão todas as
atividades residuais, ou seja, quando não conseguem identificar se uma atividade é
ensino ou pesquisa, nomeiam-na como extensão.
Não houve nesta pesquisa, assim como não há no trabalho desenvolvido pela Pró-
reitoria de Extensão, o intuito de endurecer o conceito de extensão ou de excluir e
95
Entretanto, como foi dito pela Professora 1, mais importante do que apresentar a teoria
da extensão, é proporcionar a experiência da extensão. Nesse caso, como o projeto
foco desta pesquisa ocorreu de forma desconectada do curso, a participação dos
estudantes era voluntária e não tinha conexão direta com nenhuma disciplina,
tampouco a pesquisadora pode amadurecer a ideia dessa participação junto aos
estudantes. Essa é uma das dificuldades encontradas pelos técnicos administrativos
quando propõem ações de extensão, porque eles não estão em sala de aula e muitas
vezes têm contato limitado com os estudantes.
A proposta inicial era que essa ação fosse coordenada por um servidor do CTMD.
Para isso, foram contatadas três docentes no primeiro semestre de 2021 para
coordenar um projeto de extensão que poderia ser desenvolvido em suas disciplinas
de acordo com as demandas sociais que já possuíssem, porém, nenhuma delas pôde,
naquele momento, assumir essa função de coordenação.
De acordo com Ifes (2020b, itens 3.2 e 3.5), podem propor/coordenar ações de
extensão na instituição todos os servidores com curso de nível superior reconhecido
pelo MEC:
3.2. A coordenação de uma ação de extensão deve ser exercida por servidor
do Ifes (ativo ou inativo), observando-se a prioridade para o proponente,
na condição de autor da proposta.
[...] são requisitos obrigatórios e específicos do proponente:
a) Ser servidor do Ifes; caso não faça parte do quadro permanente, que tenha
como coordenador adjunto um servidor do quadro permanente que assuma
as funções no caso de ausência do proponente.
b) Se apresentar como responsável pela elaboração da proposta, na
condição de autor ou orientador, e candidato a coordenador da ação.
c) Ser graduado em curso de nível superior reconhecido pelo MEC. (IFES,
2020, p. 4).
Art. 2º A carga horária dos docentes do Ifes deverá ser distribuída entre as
seguintes atividades:
I – Ensino;
II – Pesquisa;
III – Extensão;
IV – Gestão;
V – Representação institucional
[...]
Art. 5º As atividades de Extensão, para efeitos desta resolução, se
estabelecem como processos de interação dialógica e transformadora entre
o Ifes e organizações e/ou grupos sociais externos devidamente identificados,
99
Essa resolução ainda traz o Quadro 11, sobre como deve ser a alocação de carga-
horária para docentes do Ifes em ações de pesquisa e extensão:
Ou seja, de acordo com essa resolução, é obrigação que os docentes do Ifes façam
extensão, inclusive com alocação de carga horária. Porém, em seu art. 10, está
descrito o seguinte:
Ainda dentro dessa discussão, uma maneira de possibilitar que professores tenham
carga horária para a extensão é a curricularizando-a. A curricularização da extensão
está prevista como obrigatória apenas para os cursos de graduação, conforme
Resolução do Conselho Nacional de Educação nº 07/2018 e, no Ifes, por meio da
Resolução do Conselho Superior nº 38/2021.
Dessa forma, até o momento, apesar da instituição ter em sua missão a promoção de
uma educação profissional que integre de forma inovadora o ensino, a pesquisa e a
Extensão, o que está de acordo com o previsto em Brasil (1988) e Brasil (2008), essa
101
integração ainda não é realizada de forma sistematizada. Para que isso ocorra, é
necessário rever os projetos pedagógicos dos cursos e recriá-los a partir da
perspectiva da integração, pois somente assim seria possível a alocação da carga
horária para ações de extensão, ou melhor dizendo, caso haja de fato a integração,
talvez não se precise distinguir e normatizar a atribuição de carga horária para
ensino/pesquisa/extensão.
Em suma, ainda que a ideia original do projeto desta pesquisa fosse que o
desenvolvimento da ação ocorresse sob coordenação de um servidor do Cefor, a
realidade daquele momento da pesquisa não possibilitou isso. Em decorrência disso,
a pesquisadora assumiu essa função, mesmo estando distante do dia a dia com os
estudantes da turma convidada. Entende-se que, por isso, houve o envolvimento de
apenas três estudantes e isso pode ser confirmado no desenvolvimento do trabalho
junto à coordenadoria, pois, quando a extensão envolveu o grupo de forma
sistematizada, houve intensa adesão dos estudantes, como pode ser visto no
desenvolvimento do projeto Semana da integração ensino e extensão, que envolveu
44 estudantes do CTMD.
Sobre a segunda hipótese, que traz à tona a dependência dos estudantes para
institucionalizar as ações de extensão, tem-se que considerar que, apesar de serem
protagonistas de sua aprendizagem e, logo, de suas participações nas ações de
extensão, eles realmente não podem ser proponentes, devido a toda a
responsabilização que coordenar uma ação de extensão no Ifes gera, conforme
Quadro 9.
atuação prática na extensão, restando aos servidores a gestão da ação em si, que
mesmo que recebam a ajuda de estudantes, responderão institucionalmente pelo
projeto extensionista.
É possível inferir que essa não participação pode ter ocorrido principalmente devido à
sobrecarga dos estudantes com outras atividades, mas, também, porque os eles não
sabiam ao certo o que seria participar de uma ação de extensão e em que isso
implicaria.
Essa comunicação ficou prejudicada também pelo fato de a proposta ter ocorrido por
meio de uma pessoa que não estava em sala de aula com os estudantes e que teve
apenas um encontro de 30 minutos para apresentar o projeto e tentar convencê-los
da participação:
34 Informação verbal cedida pelo Estudante 3 na roda de conversa do dia 29 de setembro de 2021, aos
69 minutos.
104
Esse é o motivo pelo qual se orienta que as ações de extensão sejam realizadas de
forma planejada por toda a coordenadoria, pois, quando ela possui programas ou
projetos estruturantes aos quais podem ser conectadas outras ações de extensão,
essas atividades fazem parte do dia a dia da coordenadoria, tornam-se um projeto
coletivo, em que uma pessoa assume a coordenação, mas a maior parte da
coordenadoria auxilia na execução. Assim, quando um servidor deseja criar uma ação
nova, ele inicialmente vai considerar o que já existe e funciona e buscará naturalmente
articular as atividades.
35 Informação verbal cedida em diálogo entre estudantes na roda de conversa do dia 22 de julho de
2021, aos 78 minutos.
105
Estudante 2: Eu acho que seria muito melhor, muito legal que você pode
colocar nas suas observações é que nós, enquanto alunos do curso, sentimos
falta do estágio, porque uma coisa é você estudar a tua a teoria durante quase
dois anos e ser um curso muito extenso, foi muito trabalhoso, mesmo a
distância, o curso, ele foi... não é cansativo...
Estudante 3: Ele [o curso] é exigente, né?
Estudante 2: É, teve matérias que foram muito fáceis de serem trabalhadas,
porém, outras matérias exigiu um esforço muito além daquilo que você se
dedicava. Às vezes você se esforçava tanto achando que você tava
abafando, tinha determinadas professoras que sempre, sempre achava que
o que você produziu poderia ir além do que você tinha feito.
Estudante 1: Eu que o diga!
Estudante 3: Concordo.
Estudante 2: Mesmo você atendendo os requisitos que foram solicitados...
então, um estágio, nem que seja opcional, que a escola orientasse ou
indicasse: “Ó, tem tantas vagas de estágio pras escolas assim e assim pro
curso de multimeios, tantas horas semanais”. Eu garanto que os alunos iriam
se dedicar ainda mais pra conseguir essas vagas de estágio, porque você
poderia colocar em prática aquilo que você aprendeu.
Pesquisadora: Vocês podem fazer estágio, ele só não é um estágio
obrigatório, né? Você acha que deveria ser um estágio obrigatório?
Estudante 1: A gente acha que deveria ter as vagas pelo menos. Até as
vagas. Porque nem o próprio Ifes oferece, dentro da instituição, as vagas pros
próprios alunos [...] trabalharem a teoria e a prática, porque a gente sai do
curso sem ter... a gente monta projeto, a gente monta coisa e temos, assim,
que descabelar, entendeu? Como se a gente fosse professor...
Estudante 2: Coisa de graduação e pós-graduação...
Estudante 1: É, a gente encara o negócio, a gente monta os projetos e a gente
faz os negócios, mas a gente não tem a prática do dia a dia, a gente faz pela
nossa cabeça e, às vezes, dá certo, às vezes não dá não.
Estudante 2: A qualidade do curso foi tão boa que num deixa a desejar pra
nenhum curso de graduação ou de pós-graduação.
Estudante 3: É isso que eu ia falar, eu comecei junto a faculdade de
pedagogia e o curso de multimeio junto, todos os dois no início do ano
passado. O curso de multimeios sempre me exigiu muito mais do que a
faculdade. Hoje, eu faço estágio pelo curso de pedagogia e, hoje, tem um
mês e meio que eu tô estagiando. Hoje, eu consigo é ver como se fosse ver
com as mãos, vamos colocar assim. Eu consigo sentir o curso no meu estágio
pela experiência que eu tenho do Ifes, pelo que eu aprendi no Ifes, porém, o
estágio é pela pedagogia, não é pelo multimeios. Então, se fosse me colocar
em prática só da faculdade, a minha base seria bem menor. Eu acho que o
Ifes, o curso do Ifes, exige muito, a gente aprende muito, ele é... ele é
maravilhoso, porém eu realmente acho que é nesse ponto da gente não
conseguir colocar em prática aquilo que a gente aprendeu, teria que ter o
estágio, teria que ter uma monitoria, alguma coisa assim que desse a gente,
tá?
Estudante 1: Esse seu curso aqui é o nosso estágio, né? Nós três fomos
privilegiados. Essa extensão está sendo o nosso estágio [...] (Estudantes 1,
106
Nesses trechos, podem ser observadas duas questões a partir da visão dos
estudantes: a primeira é a densidade do curso e a segunda, a falta de conexão entre
a teoria e a prática. Considerando que se trata de um curso subsequente ao ensino
médio, em princípio, esses alunos não devem possuir, antes da entrada no curso,
conhecimentos de ordem pedagógica, seja relacionado ao desenvolvimento da
aprendizagem, de práticas educativas ou da aplicação disso por meio da elaboração
de planos de aula/ensino.
Ainda que na grade curricular do curso existam componentes curriculares que darão
uma noção desses assuntos (tais como Introdução à Psicologia para técnicos em
Educação e Práticas curriculares e metodológicas), essas disciplinas não são
suficientes para que os educandos tenham o mesmo conhecimento de um graduado
da área da educação. Além disso, esse conhecimento e essa prática fogem do escopo
do perfil do egresso do Curso Técnico Subsequente em Multimeios Didáticos, que,
segundo o PPC, é
[...] estar apto a atuar nos processos de apoio educacional no que se refere
à utilização de multimeios didáticos, bem como ser consciente das questões
que envolvam a educação e os atores do processo de ensino-aprendizagem,
visando ao desenvolvimento de um trabalho eficiente e ético (IFES, 2020, p.
9).
À vista disso, ao analisar as falas dos estudantes e dos servidores, o perfil do egresso
previsto no PPC, a base teórica utilizada na pesquisa e a atuação dos alunos no
projeto de extensão, observa-se que o CTMD está em processo de construção
identitária, pois não é claro nem para os servidores e nem para os estudantes qual é
a função de fato que eles devem executar como apoio educacional no uso dos
multimeios didáticos. Parte entende que eles devem construir o material a ser
utilizado, outra parte que eles devem apoiar o professor, orientando-o na produção:
Quando a gente pensa no perfil do nosso aluno, ele é aquele aluno que apoia
o uso dos multimeios didáticos no local que ele está trabalhando, quando a
36 Informação verbal cedida por meio de diálogo entre os estudantes na roda de conversa do dia 22 de
julho de 2021, a partir dos 56 minutos.
107
gente pensa nesse papel de uma assessoria do aluno a uma escola ou Oscip,
não é que ele fique lá, assim, sem colocar a mão na massa, mas ele não é
exatamente um executor de demandas... ele pode até ajudar a fazer, mas ele
é um apoiador... ele não vai desenvolver sozinho (Professora 1, 2021,
informação verbal)37.
Estudante 3: [...] Eu entendo que são os multimeios didáticos, porém, os
didáticos dele não é necessariamente pra um professor, você pode utilizar
pra dar palestra, pra dar pra quem quer aprender sobre multimeios e não
tecnicamente dar aula, né?
Estudante 1: Na verdade, o didático dele é isso que nós três estamos
aprendendo com você. É aplicar algum tipo de conhecimento dos multimeios
dentro de uma aplicação didática, dentro de uma aula, dentro de um
planejamento de um professor. É mostrar “ó, professor, o senhor vai pegar
parte do seu conteúdo e vai usar esse recurso tecnológico aqui que vai
encaixar no que você quer” e não o contrário, entregar a aula pronta pro
professor, é isso que a gente tá fazendo aqui agora que cê vai fazer com
professor, né? Que ele vai trazer pra gente o conteúdo e a gente entrega pra
ele um vídeo, né?
Estudante 3: É como se a gente informatizasse um conteúdo que o professor
já utiliza, a gente não gera o material, a gente não... não tem o conhecimento
do conteúdo em si. E quando ele pede pra você criar uma videoaula e em
cima de um conteúdo, independente do conteúdo que escolha, você tem que
buscar o conhecimento daquilo, porque se eu falar que o Brasil foi descoberto
do Napoleão, ele vai me ele vai falar que meu conteúdo tá errado [...].
Estudante 1: Eu acho que a gente pode ensinar ali no meio, né? É, a gente
pode trazer o professor pra perto dos recursos dos multimeios, né? (inaudível)
igual a gente está fazendo com professor, o que vale a pena utilizar, dar essa
orientação. Quando o professor não dá essa base, a gente não tem esse tipo
de conhecimento prévio dum professor de sala de aula, não tá perto de mim
dar aula, né? Pra começar, a gente nem dá aula. Aí não, eu nunca nem vi um
plano de aula na minha vida, essa estrutura que eu nunca vi. (Estudantes 1,
2 e 3, 2021, informação verbal)38.
Ao mesmo tempo em que os estudantes afirmam que não devem se envolver na parte
pedagógica da disciplina e se limitar a orientar o professor no uso dos multimeios
didáticos, em momento algum, durante o desenvolvimento do projeto de extensão,
eles se negaram a participar do planejamento do tópico. Isso fica claro nas rodas de
conversas dos dias 27 de maio de 2021, 25 de junho de 2021 e 22 de julho de 2021.
37 Informação verbal cedida pela Professora 1 na roda de conversa do dia 30 de junho 2021, aos 50
minutos.
38 Informação verbal cedida em diálogo entre os estudantes na roda de conversa do dia 22 de julho de
as empresas do entorno. Essa atividade não foi planejada com o objetivo do uso de
multimeios, mas, sim, para atender ao que se tinha estudado sobre a aplicação do
conhecimento na Taxonomia de Bloom a partir de Ferraz e Belhot (2010).
Entende-se que esse ponto não deve ser considerado como uma regra para os
estudantes do CTMD, pois os três participantes da pesquisa possuíam conexão
profissional com a área da educação, sendo um deles responsável pela educação de
jovens e adultos nos escoteiros do Brasil e os outros dois são estudantes de
graduação em Pedagogia. Foi natural para esse grupo não pensar de forma isolada
no uso dos multimeios e assumir que o seu uso implica em reestruturar a forma como
se pensa o processo de ensino-aprendizagem.
Outro aspecto que contribuiu para esse desenvolvimento foi a troca estabelecida com
o professor colaborador, tal como apontado em Freire (1983) e em Thiollent (2018),
que, nesse projeto, trouxe a demanda social. Dessa forma, com relação a essa
hipótese, conclui-se que, de fato, até aquele momento, os estudantes do CTMD
possuíam pouca possibilidade de experimentação prática a partir de experiências
proporcionadas pelo curso fora da grade curricular e, ao mesmo tempo, que a
densidade do curso somada à falta de disponibilidade de tempo por parte dos alunos,
por serem adultos e trabalhadores, torna-se o curso em si, tal como se apresenta hoje,
denso para eles, ou seja, realizar as atividades previstas na grade do curso já é um
desafio.
No CTMD não é diferente. Como foi descrito no perfil dos estudantes anteriormente,
eles são adultos e trabalhadores, não possuem disponibilidade para participar de
projetos fora do horário das aulas, pois o pouco tempo que possuem investem nas
atividades extraclasse, trabalhos em grupo e estudando sozinhos para realizarem as
entregas das disciplinas. Então, para evitar a criação de mais atividades extras,
entende-se, mais uma vez, reforçada a ideia de que a extensão deva ocorrer de forma
integrada com as atividades curriculares de ensino.
39 Informação verbal cedida pelo Estudante 2 na roda de conversa do dia 29 de setembro de 2021, aos
83 minutos.
110
No projeto de extensão desenvolvido nesta pesquisa não foi diferente, pois, apesar
de boa parte do desenvolvimento do projeto ter sido realizado com a total
disponibilidade dos estudantes, como foi descrito anteriormente, após a roda de
conversa do dia 22 de julho de 2021, os três estudantes tiveram problemas de saúde,
ou entre eles ou envolvendo familiares sob sua responsabilidade, e como a proposta
da ação extensionista era que o grupo de pesquisa construiria material e que o
professor colaborador externo auxiliaria apenas no conteúdo, esses estudantes
assumiram o papel de orientadores e o material foi construído pela pesquisadora. Ou
seja, realizar um projeto de extensão com protagonismo dos estudantes, tal como
aconteceu nesta pesquisa, exige adaptações e flexibilidade no seu desenvolvimento.
Apesar dessa resolução ser direcionada aos cursos de graduação, essa orientação
com a necessidade de as atividades de extensão serem presenciais, inclusive nos
cursos a distância, objetivava a aderência do estudante na região em que o projeto se
desenvolveria, possibilitando a vivência e a convivência com o problema diretamente.
Para que essa resolução fosse construída, houve ampla discussão nos fóruns
nacionais e no Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica (Conif). Naquela ocasião, entendeu-se que, para
que o impacto que se geraria na sociedade e na própria formação do estudante fosse
eficiente, a extensão deveria ocorrer de forma presencial.
o diálogo remotamente, pois, durante esse período, diversas ações que algumas
pessoas não haviam experimentado remotamente foram adaptadas e espera-se que
essa experiência proporcione e impulsione uma revisão do conceito de que a extensão
ocorra sempre presencialmente, pois, ao se ampliar esse cenário, aumenta-se a
possibilidade de rompimento das barreiras espaciais, proporcionando vivências que
antes demandariam maiores recursos para a sua execução.
O que foi dito acima corrobora com o que afirmam Moore e Kearsley (2010, p. 239)
sobre a Teoria da Interação na educação a distância:
Por outro lado, também há a possibilidade de que o estudante participe de uma ação
de extensão que também poderá ocorrer a distância e, nesse caso, ele que irá ampliar
a sua perspectiva local. A educação a distância tem se consolidado como uma
modalidade de ensino que não é menor ou inferior ao ensino presencial e, ao realizar
a extensão dentro dessa categoria, deve-se considerar as suas especificidades e
entende-se como um equívoco impor normativamente que a extensão, nesses cursos,
seja necessariamente presencial, pois isso equivale a ignorar o perfil do estudante a
112
distância:
88 53
Fonte: elaborada pela pesquisadora.
40 Informação verbal cedida pelo Estudante 2 na roda de conversa do dia 29 setembro de 2021, 73
minutos.
113
Constata-se que, atualmente, mais de 60% dos estudantes dos CTMD participam de
ações de extensão. Outro aspecto que pode ser observado foi que as ações
extensionistas podem ser um caminho para amenizar duas fragilidades do referido
curso técnico: a primeira está relacionada à experimentação prática dos estudantes,
que até mesmo consideram a participação nesse projeto de extensão como um
estágio (roda de conversa do dia 22 de julho de 2021). A outra fragilidade é a que
ocorre em qualquer curso técnico, pois o currículo do curso não se modifica com a
mesma dinamicidade como a que ocorre com o desenvolvimento social e tecnológico,
logo, a extensão, ao colocar os estudantes em contato com a sociedade, torna-se uma
forma de atualizar o conteúdo da aprendizagem.
O meu primeiro projeto de extensão pelo Ifes foi assim, foi por causa de uma
reportagem de jornal que eu vi sobre as meninas do morro de Vitória que
largavam o estudo, aí propus a Márcia, que é a responsável pelo projeto. Já
tá aí há três anos gerando material, curso, ganhando artigo, publicações, foi
por causa de uma proposta assim, de uma coisa real que acontecia dentro
duma comunidade carente e deu muito certo. A gente ensina programação,
né? Mas agora tá abrangendo pra o ensino de letramento computacional,
letramento digital, aí vai chegando mais gente, entendeu? (Estudante 1, 2021,
informação verbal)41.
Um aspecto que apareceu tanto nas falas dos servidores quanto na fala dos
estudantes estava relacionado ao papel do técnico em Multimeios Didáticos. A
discussão gira em torno da execução das funções desse técnico no auxílio do uso dos
multimeios. Alguns servidores entendem que esse profissional deve apenas orientar
quem o procura sobre o uso dos multimeios. Eles não teriam a função de construir
materiais, por exemplo. Outros servidores entendem que, para que eles possam
orientar, eles devem saber fazer e que, em alguns casos, devem ser os responsáveis
em construir junto com as pessoas atendidas ou até mesmo construir para elas.
41 Informação verbal cedida pelo Estudante 1 na roda de conversa do dia 22 de julho de 2021, aos 100
minutos.
114
Com relação à atuação dos alunos, apesar de se entender que a gestão do tempo no
desenvolvimento do projeto de extensão realmente foi um problema, pois foi gasto um
período maior do que o previsto no planejamento, devido aos cronogramas da escola
parceira e da própria pesquisa. Restaram apenas vinte dias para a produção do
material, que coincidiram com um período conturbado pessoalmente para os
estudantes e isso gerou uma frustração, porque não permitiu o envolvimento deles
como gostariam.
42 Informação verbal cedida pelos estudantes em diálogo na roda de conversa do dia 22 de julho de
2021, a partir dos 109 minutos.
115
de fato, isso não estava previsto no projeto de extensão. A ideia era que o apoio seria
dado a professores e foi essa a demanda recebida das três instituições. Porém,
entende-se que, ao criar um planejamento completo, com rodas de debate, entrevistas
externas, vídeo e jogo, isso suscita a curiosidade de ver diretamente qual o impacto
nos participantes, ainda mais nesse caso, em que foi dedicado um tempo grande para
esse planejamento. Dessa forma, percebe-se que é possível vislumbrar junto à escola
parceira uma nova versão desse projeto, com espaços de interação entre os seus
estudantes e os do Ifes.
Ainda sobre esse ponto, quando o professor colaborador externo começou a aplicação
do conteúdo, eram frequentes os questionamentos dos estudantes do CTMD sobre
como estava sendo o trabalho na escola, por isso, nesse momento da pesquisa, esse
colaborador foi adicionado ao grupo de WhatsApp com os estudantes, para que ele
pudesse fornecer essas informações diretamente.
Por fim, entende-se que, de fato, aprende-se a fazer extensão fazendo extensão. É o
contato com a comunidade que vai mostrar os caminhos, as necessidades. Ainda que
116
5 PRODUTO EDUCACIONAL
Esse guia foi elaborado com intuito de ser um material de pesquisa rápida e que possa
estar à disposição do público interno do Ifes. Ele foi criado na perspectiva definida em
Kaplún (2003, 46):
Esse autor define que o material educativo, aqui chamado de produto educacional,
seja concebido considerando três eixos: conceitual, pedagógico e comunicacional. O
eixo conceitual trata da investigação prévia (pesquisa temática e diagnóstica), para
quem o produto se destina, suas ideias centrais. Diz respeito ao conteúdo em si, o
que se deve selecionar e como organizar. Aplicando-o a esta pesquisa, definiu-se que
o tema principal é a extensão e o secundário, as ações de extensão. Considerando o
conceito de extensão, como fazer caminhos para extensão institucionalizada?
Mesmo assim, como previsto em Kaplún (2003), esse itinerário sofreu mudanças, já
que o guia que foi projetado seria específico para os cursos EaD. Contudo, como pôde
ser observado na análise das hipóteses iniciais, parte dessas dificuldades ultrapassam
as especificidades dessa modalidade de ensino.
O terceiro e último eixo definido pelo autor é o eixo comunicacional, que diz respeito
à relação com os destinatários, considerando o tipo de linguagem escolhida, o formato
da apresentação, a ordem que se apresenta, em suma, como se estabelecerá a
exposição, de forma que seja apropriada com a mensagem que se deseja transmitir,
levando em consideração o destinatário da mensagem. A ideia inicial era apresentar
um material que servisse para uma rápida consulta e que pudesse ser utilizado tanto
pelos gestores de extensão quanto pelos futuros extensionistas do Ifes.
O Guia para Ações de Extensão no Ifes – com dicas para os cursos EaD é composto
por 30 folhas, em formato A4 e está disponibilizado em formato digital. Está dividido
nos seguintes tópicos: introdução, conceito de extensão, áreas, diretrizes, tipos de
ações, ações estruturantes, parcerias, Programa de apoio à extensão,
curricularização da extensão, planejamento na extensão, onde encontrar os
instrumentos normativos e formulários e conclusão. Objetiva-se que esse Guia sirva
como orientação rápida para o público interno do Ifes, sendo direcionado a servidores
que desejem propor ações de extensão.
119
Parte das sugestões recebidas foram incorporadas ao produto em sua versão que
aqui está apresentada.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
120
Outro ponto analisado foi o fato de as ações de extensão só poderem existir a partir
da proposta de um servidor. Essa hipótese, apesar de ter sido inicialmente construída
como um dificultador para que os estudantes façam ações de extensão, não foi
confirmada, pois essa informação não apareceu na fala dos estudantes.
Ainda que algumas ideias para ações de extensão partam dos estudantes, elas
somente serão executadas institucionalmente se um servidor for o proponente. Isso é
importante, pois ser o proponente em ações de extensão implica em diversas
responsabilidades, como, por exemplo, a alimentação dos sistemas institucionais e
prestação de contas aos órgãos de controle, atividades que não podem ser
121
responsabilidade dos estudantes. Então, essa hipótese não se confirma, tanto por não
ter aparecido nas rodas de conversa quanto também por ter-se entendido que essas
atribuições são inerentes às ações de extensão.
Outro aspecto que é importante destacar, ainda que não tenha feito parte do escopo
da pesquisa, foi a atuação da coordenadora do CTMD como fomentadora de ações
de extensão no curso técnico. A partir dos primeiros contatos para iniciar essa
pesquisa, foram realizados os planejamentos de mais três ações de extensão no
CTMD, que, juntas, permitiram a participação da maioria dos professores da
coordenadoria, de todos os alunos que quiseram contribuir e de servidores de outras
áreas, além de diversos colaboradores externos.
No que diz respeito ao atendimento aos objetivos projetados, conclui-se que os dois
primeiros objetivos específicos (Entender como se deu a evolução da Extensão e da
Educação a Distância no Ifes e Contextualizar os conceitos de extensão que envolvam
suas diretrizes e evolução histórica) serviram para fortalecer a base teórica deste
trabalho e entender a realidade atual. Ademais, a partir dessa análise histórica, como
já foi dito anteriormente, conclui-se que tanto a EaD quanto a extensão são áreas que
foram sistematizadas recentemente na instituição e que, por isso, ainda há aspectos
em construção.
A elaboração de um guia para as ações de extensão no Ifes com dicas para os cursos
EaD não vai resolver o problema do incentivo à extensão, pois, como foi analisado
anteriormente, a melhor forma de fazer isso é por meio da prática, ou seja, aprende-
se a fazer extensão fazendo extensão. Porém, este material pretende suprir uma
lacuna existente na instituição que está relacionada às dificuldades comuns em iniciar
uma proposta de extensão, seja porque não se sabe o que é extensão ou quais são
os caminhos para iniciar uma ação.
que os estudantes dos cursos a distância no Ifes precisam de ser estimulados por
seus professores a participarem de ações de extensão e que é esperado que essas
ações ocorram dentro do dia a dia das disciplinas, já que a grande maioria desses
alunos são adultos e trabalhadores e porque os docentes têm a sua carga horária de
trabalho voltada, em grande parte, para as atividades de ensino.
REFERÊNCIAS
GADOTTI, Moacir. Extensão Universitária: Para quê?. Instituto Paulo Freire, 2017.
Disponível em: https://cutt.ly/bfKpmID. Acesso em: 11 out. 2021.
NETO, José F. de Melo. Extensão universitária: bases ontológicas. In: NETO, José
F. de Melo (org.) Extensão universitária: diálogos populares. João Pessoa: Editora
da Universidade Federal da Paraíba, 2002. 179p.