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Se você está se divertindo vivendo sua vida de solteiro em

sua cidade natal do Alasca e do nada uma mulher aparece


segurando um bebê que ela insiste que é seu, você precisa de
um plano – um plano de nascimento.

Etapa 1 – Levante sua mandíbula do chão.

Etapa 2 – Descubra a idade do bebê – faça as contas.

Etapa 3 – Tente lembrar a mulher e, com alguma sorte, o


nome dela.

Etapa 4 – Verifique se ela não está confundindo você com


seu irmão gêmeo.

Etapa 5 – Ignore a carranca de suas cinco irmãs enquanto


sua família inteira assiste o drama se desenrolar.

Há apenas uma coisa que você não deve fazer.

Etapa 6 – Não pense que ela está lá porque quer que sua
filha te chame de papai. Você só vai acabar decepcionado.

Hora de descobrir um novo plano –


que mude de ideia.
Eu levanto Calista mais alto no meu quadril enquanto
nossa mala bate no gelo meio derretido enquanto a arrasto pelo
caminho singular que leva à porta da frente do Bed and
Breakfast Cozy Cottage.

Este é o lugar mais barato para ficar em Lake Starlight.


O lugar não parece tão degradado quanto eu esperava. Na
verdade, parece bem cuidado, mas um pouco... peculiar. Não
sou uma pessoa que julga – não com meu próprio passado
sendo o que é – mas a maioria das pessoas não combinaria o
lado rosa com o amarelo. A infinidade de gnomos de jardim e
esculturas de metal saindo dos pedaços de neve ao redor do
quintal aumentam o fator estranho. Não me lembro delas nas
fotos da internet quando fiz a reserva, mas isso não faz
diferença.

Estou aqui por uma razão e apenas uma razão – para


rastrear o pai da minha bebê.

Deus, isso soa tão clichê, mas é verdade.

Denver Bailey.
Meu caso de uma noite virou pai da minha bebê.

Não tinha intenção de procurá-lo. Não foi até a foto dele


aparecer em todas as notícias quando um avião desapareceu
no Alasca, carregando um famoso produtor musical de
Hollywood, que eu sabia onde poderia encontrá-lo. Denver era
o piloto e foi quando soube o sobrenome dele.

Mas agora, seis meses depois, aqui estou em sua cidade


natal. Só porque preciso de algo dele.

A confusão de Calista me tira dos meus pensamentos e


paro para reajustá-la. Não tenho chance de bater antes que a
porta se abra, revelando uma mulher que espera.

Ela é de meia-idade, talvez com cinquenta e poucos anos,


vestindo uma bata africana colorida com legging preta. Seu
cabelo preto e cinza, na altura dos ombros, se destaca por
baixo do lenço enrolado em volta da cabeça. Ela agita
freneticamente as mãos secas cobertas de tinta. A cor rosa
neon da tinta é destacada por sua pele escura.

— Oláaaaaa, — ela diz com um enorme sorriso no rosto.


— Você deve ser Harley!

Ela pisa na varanda e envolve minha filha e a mim em um


abraço. Minhas costas enrijecem e solto um suspiro de alívio
quando ela se afasta, direcionando sua atenção para Calista.
— Olá, coisinha doce.

A vejo pegar Calista e meus braços instintivamente se


estendem para agarrá-la de volta, mas a mulher a puxa com
segurança em seu peito. Abro a boca para dizer algo, mas ela
me para novamente.

— Traga sua mala. Você vai ter sua morte aqui. Ainda não
é primavera. — Ela se vira e entra na casa com minha filha. —
Esta é sua primeira vez no Alasca? Como foi seu voo? O que te
traz aqui? Sou Selene, a propósito, como a deusa grega da lua.

Meu cérebro gagueja para acompanhar a divagação dela.


Não tenho ideia de qual pergunta responder, então arrasto
minha mala pela porta e a fecho.

Selene despe Calista de seu casaco pesado.

Espio o que será nossa casa pelos próximos dias. O


interior é tão colorido quanto o exterior. Pinturas a óleo
abstratas brilhantes cobrem as paredes e bugigangas decoram
todas as superfícies disponíveis, o que será um pesadelo agora
que Calista coloca tudo em sua boca.

— Você pintou tudo isso? — Pergunto a Selene que está


fazendo cócegas em Calista sob o queixo, mas Calista não está
rindo. Está olhando para ela como se tivesse acabado de sair
de um OVNI.

— Eu fiz. Não sou apenas uma amante das artes, mas


também sou uma artista. Também fiz todas as decorações de
gramado que você viu lá fora.

Sorrio. — Legal.
Um silêncio constrangedor paira sobre a sala e aproveito
o momento para colocar outra palavra antes de Selene começar
de novo.

— Foi um longo dia de viagem, então acho que vamos nos


deitar um pouco antes de sairmos para fazer algumas coisas.

Selene franze a testa. — Eu posso mantê-la comigo se


você quiser descansar.

Ela parece genuína, não como uma assassina maluca que


machucará minha filha, mas não vou deixá-la com alguém que
não conheço.

— Tudo bem, ela também deve tirar uma soneca. —


Estendo a mão para levá-la de Selene. — Acho que vamos nos
deitar. Vou pegar minha bolsa e desfazer as malas, se estiver
tudo bem?

— Claro. Sem problema algum. O jantar é às cinco. Isso


é muito cedo para você? Sou madrugadora, o que significa cedo
para dormir, mas sei que algumas pessoas preferem comer
tarde.

Calista lamenta porque, neste momento, já passamos da


hora da soneca, então a levanto no meu quadril na esperança
de acelerar essa conversa. Preocupei-me em ficar em uma
pousada em vez de um hotel por causa da falta de atenção dos
proprietários e de outros hóspedes, mas não é como se tivesse
dinheiro para gastar no Glacier Point Resort.

— Cinco está ótimo.


Selene bate palmas e assusta Calista. — Perfeito.
Estamos comendo macarrão de abobrinha com molho pesto de
abacate. Tem um gosto melhor do que parece, prometo.

Sorrio e vou em direção à escada. Acho que vou pegar


algo para comer enquanto estivermos fora.

— Você está no quarto azul claro.

— Obrigada.

— A propósito, qual é o nome da sua filha?

Eu paro para encará-la. — Calista.

— Calista. — Ela sorri. — Mais linda. Você sabia que esse


é o significado? Na mitologia grega, Calista era uma Arcádia
mitológica que se transformou em uma ursa e depois na
constelação do Grande Urso. — Ela termina a conversa em
conversas de bebês, como se estivesse dizendo a Calista em vez
de mim.

— É bom saber.

Meu peito pesa enquanto subo as escadas. Espero que


minha filha seja uma ursa porque precisará ser feroz pelo que
virá pela frente.
Selene estava certa. O jantar ficou melhor do que parecia.
Pego nossos casacos e abotoo Calista para me aventurar a
descobrir mais sobre Denver. Lake Starlight parece ser uma
cidade pequena onde todos se conhecem e espero encontrar
alguém que possa me dizer onde ele mora ou fica.

Por sorte, o Uber me deixa no centro da cidade em frente


à loja de ferragens local, a Hammer Time. Bem, ele era bom
com as mãos. A memória de seus hábeis dedos calejados sobre
meus mamilos surge, mas balanço minha cabeça para afastar
esses pensamentos.

A campainha toca na porta quando entramos. Uma vez


dentro, inspiro profundamente, amando o cheiro de madeira
cortada e materiais de construção.

— Posso ajudá-la a encontrar alguma coisa? — Um


homem está de pé atrás do balcão com um sorriso genuíno.

Retribuo o sorriso e caminho, dando uma rápida olhada


em seu crachá. — Oi Jack. Isso vai parecer estranho, mas
estou imaginando se você pode me dizer onde posso encontrar
Denver Bailey.

— Bem, conversei com Austin mais cedo e ele tinha


alguns grandes planos hoje à noite, mas todos eles se
encontrariam no novo restaurante de Rome. Olhe para o pátio
da cidade. Ainda não está aberto, mas tenho certeza de que se
você bater, eles o ouvirão. É só descer a rua à sua direita
alguns quarteirões. O restaurante se chama Terra & Mare.
— Ótimo, muito obrigada pela informação. — Me viro e
vou para a porta.

— Ei, qual é o seu nome? — Jack chama.

— Não é importante, — digo, a campainha da porta


tocando quando saio.

Cutuco Calista na barriga. — Sua mãe tomou uma


decisão inteligente entrando naquela loja. Jack é como uma
enciclopédia.

Ela ri e beijo sua testa.

Enquanto ando pelas ruas do lago Starlight na direção


em que Jack me enviou, meu estômago revira e a bile rasteja
na minha garganta. Calista se ocupa olhando para o céu e, de
vez em quando, estende a mão para pegar flocos de neve.

Minutos depois, o letreiro Terra & Mare, em caligrafia


dourada com fundo marrom, aparece. É definitivamente um
lugar elegante. Quando olho para dentro, o restaurante está
vazio, exceto por uma mesa comprida no centro, cercada por
um monte de gente.

Não vejo Denver, mas as costas de alguns caras estão


para mim, então ele pode ser um deles. Faz mais de dois anos
desde que o vi, então, estou tendo memórias confusas na
melhor das hipóteses. Mais do que ele se parece, o que mais
me lembro da nossa noite juntos é como ele me fez sentir.
Inspiro profundamente, lembrando-me das razões pelas
quais estou aqui. O vento aumenta quando abro a porta e um
chiado frio viaja para o restaurante quente. Todas as cabeças
se viram simultaneamente em minha direção.

Rapidamente pego cada um deles enquanto passo em


direção à mesa. Procuro cada um deles por familiaridade, mas
quando meus olhos pousam em Denver, meu coração bate três
vezes.

Todas as memórias daquela noite e o que me atraiu para


ele correm em minha mente. Sua boa aparência e olhos
castanhos. A maneira como seus braços e peito preenchem sua
camisa. Como a barba em seu rosto raspou contra minhas
coxas.

Mas ele claramente não está na viagem pela memória


comigo porque não há reconhecimento em seu rosto, o que
alimenta minha raiva.

— Sinto muito, esta é uma festa particular. Apenas


família, — diz uma mulher bonita loira, deslizando para fora
da cadeira.

— Bem, então acho que estamos no lugar certo, —


reclamo.

Todos na mesa trocam olhares de confusão.

Um homem de uniforme de chef emerge da cozinha,


atravessa a sala de jantar carregando um prato de carne.
Espere... o que diabos está acontecendo?

Olho do chef para Denver.

O chef não me nota, colocando a bandeja no centro da


mesa. — Por que todo mundo está tão quieto? — Ele pergunta,
seguindo o olhar dos outros para mim e Calista.

Minha boca cai aberta e levo Calista mais alto no meu


quadril. — Há dois de vocês?

Denver inclina a cabeça e o chef dá a volta na ponta da


mesa, aproximando-se.

— Sinto muito, como posso ajudá-la? — Ele pergunta. O


fato de não haver reconhecimento nos olhos do chef alimenta
minha raiva como gasolina jogada no fogo.

Meus olhos se estreitam. — Você pode me dizer qual de


vocês é o pai da minha garotinha.

A cabeça de todos à mesa oscila de um homem para o


outro.

Olho do chef para Denver, que ambos expressam pânico.

No que me meti?
— Qual de vocês é Denver? — A mulher olha entre mim e
meu irmão.

Não tenho vergonha de admitir que o alívio me envolve


como aquele cobertor pesado que Savannah comprou para si
no mês passado. O alívio é profundo que não tenho ideia de
quem é essa mulher e, com um rápido cálculo da idade de sua
filha, é fácil descobrir que eu estava na Europa quando ela foi
concebida.

Ponto para mim.

Não tanto para o meu irmão.

Meu irmão olha de volta para mim, lentamente se


levantando da cadeira e caminha na direção dela como se
estivesse prestes a ser enviado para a cadeia sem chance de
liberdade condicional. — Eu sou Denver. Você é...?

Ela inclina o quadril para mais longe, erguendo uma


sobrancelha. O bebê puxa seus cabelos, mas ela
distraidamente abaixa a mão sem reclamar. — Realmente? Sei
que nós dois tivemos pouca conversa naquela noite, mas
pensei que você se lembraria do meu nome. É a Harley.

Harley? O nome rola na minha cabeça. Não. Não sou o


pai do bebê.

Está claro como Denver continua se virando na minha


direção com seu olhar suplicante perguntando 'é sua, certo',
ele também não tem ideia do que diabos está acontecendo.

Se nenhum de nós a reconhece, então talvez nós dois


estamos livres. Talvez estejamos sendo esquecidos. Isso é
totalmente algo que Liam faria.

Meus olhos se voltam para ele. Ele se recostou com os


dois braços apoiados nas costas das cadeiras. O sorriso da vida
é ótimo, espalhado por seu rosto, diz que está gostando disso,
mas ainda há uma nota de surpresa em suas feições que me
diz que essa não é uma brincadeira de primeiro de abril da
parte dele.

No momento em que vasculhei a sala para garantir que


nenhum outro idiota da minha família achasse engraçado fazer
uma brincadeira, examino vovó D duas vezes porque esse seria
o seu prato cheio. Pedir que uma mulher entre, finja e depois
ensine-nos sobre sexo seguro e como, se não começarmos a
nos estabelecer, esse dia provavelmente chegará.

— Rome, — o apelo suave de Denver traz minha atenção


de volta para ele.

Merda, ele quer ajuda. O que deveria fazer? Ele a fodeu.


— Escute, — digo, dando um passo à frente. — Acho que
talvez você tenha a pessoa errada.

Os olhos de Harley se estreitam e sua cabeça chicoteia


em minha direção. — E você é?

— Rome Bailey. O irmão gêmeo dele.

— Não sou cega, — ela murmura.

Abstenho-me de lembrá-la de que foi ela quem


perguntou. Esta é uma situação estressante, então mantenho
meu sarcasmo para mim mesmo. — Se ele achasse que era o
pai dessa pequena, diria.

O bebê interrompe toda a tensão dramática dando


tapinhas no rosto da mulher repetidas vezes, dizendo: —
Mamãe. Mamãe.

— Você gostaria que eu a levasse para que você possa...


— Brooklyn contorna a ponta da mesa com os braços abertos.

Harley gira para que o bebê esteja o mais longe possível


de seu alcance.

— Ou não. — Brooklyn gesticula no ar e se senta em uma


cadeira vazia. Ela está mais perto agora e a vejo vasculhar o
rosto da menina em busca de alguma semelhança com os
traços de Bailey.

A menina é adorável e estou totalmente a bordo para


interpretar o tio favorito. Seu cabelo não é loiro como o da mãe,
é castanho claro, mas os olhos são da mesma cor verde que os
da mãe. Suas bochechas gordinhas estão rosadas por estarem
do lado de fora. Ela pega uma de suas luvas e a joga pela sala,
atingindo Savannah no rosto.

Minha família ri e Savannah atende, lentamente se


aproximando de Harley como se ela fosse um tigre faminto que
quisesse se banquetear com todos nós.

— Obrigada, — diz Harley, segurando a luva na mão. A


garotinha tira a outra e a joga, para que caia no molho de
creme que eu coloquei antes.

— Vou limpar isso. — Minha futura cunhada, Holly, pega


e vai para a cozinha.

— Não é... — As palavras de Harley morrem em seus


lábios porque Holly vai fazer isso, não importa o quê.

— Onde estávamos? — Harley pega a mão do bebê no


rosto, beija a palma da mão e a coloca ao seu lado, em seguida,
vira os olhos verdes do meu jeito. — Como seu irmão Denver
está se fazendo de bobo, deixe-me informar a todos. Nos
conhecemos em Seattle há pouco mais de dois anos. Ele tinha
uma escala e entrou no bar em que eu trabalhava. Ele ficou
parado depois da hora de fechar. Uma coisa leva à outra e esse
é o resultado do nosso caso de uma noite. — Ela assente com
a cabeça para o bebê que agora está olhando para mim com
muita atenção.

Denver levanta as mãos no ar como se estivéssemos no


escritório do diretor na escola novamente. — Eu não estava em
Seattle há dois anos. — Ele procura uma testemunha ou
alguém para concordar com o que afirmou. O que estamos
fazendo com Maury Povich aqui?

— Você tem certeza de que se lembraria? — Austin


pergunta.

Denver se vira para o nosso irmão mais velho com uma


careta como se estivesse perdendo o cartão de homem assim
que descobrirmos essa situação.

— Porque acho que me lembro se fizesse uma viagem


para... — Denver continua, declarando fatos sobre como não
poderia estar viajando quando o bebê foi concebido. Todos
sabemos que ele raramente sai do Alasca, pois sua agenda
pode ser cansativa e ocupada. O homem ganha a vida como
piloto de caça e noventa por cento de seus negócios estão no
Alasca.

Quando minha família começa a discutir e a mulher fica


quieta, os pelos da minha nuca se arrepiam.

Seattle? Escala? Dois anos atrás?

Porra.

Denver pode não ter estado em Seattle, mas eu estava.


Tive uma parada antes de voar para Nova York e depois para
Florença. Houve uma tempestade de neve no leste e lembro-
me de estar chateado com isso porque tive que ligar para o meu
novo mentor na Itália e dizer que chegaria um dia atrasado.
Examino a mulher na minha frente novamente. Seus
olhos verdes de boneca tiveram que ser o que me capturou
primeiro. Me lembraria disso, não? O pensamento desencadeia
algo em minha mente e o déjà vu me bate como um tijolo na
cabeça. Já disse isso para alguém antes – olhos de boneca.

Minha mente estava em todo lugar naquela noite. O medo


de que meu mentor diria o inferno comigo. O medo de deixar
minha família por tanto tempo. O medo do meu sonho estar a
apenas alguns voos de distância, mas atrasar mais uma vez.

— Puta merda.

A cabeça de Denver se vira com os olhos arregalados e


empalidece quando ele vê minha expressão. — Você?

O som de uma cadeira raspando o chão quebra meu


transe. Austin se levanta, caminhando até nós. — Tenho
certeza de que podemos descobrir o que está acontecendo aqui,
— diz ele, assumindo o controle.

Estou surpreso que Savannah não exigiu um teste de


paternidade e a expulsou antes que novas conversas comecem.
E não ouvi tanto silêncio de vovó D desde o funeral de nossos
pais.

— Posso falar com você lá atrás? — Pergunto a Harley.

— É admirável que você queira ajudar seu irmão aqui,


mas Denver é o pai. — Seus olhos se estreitam em Denver e
ele tosse como se pudesse vomitar em todo o meu novo andar.
— Sobre isso...

Ela inclina a cabeça, esperando que eu preencha os


espaços em branco. — Eu o vi no noticiário. Ele é o piloto e, ao
contrário dele, lembro-me de seu rosto e seu nome, — ela
finalmente diz quando se cansa de esperar que eu fale
novamente.

— Bem... — Passo a mão na parte de trás do meu pescoço,


apertando o suficiente para me estimular a falar a verdade.

Denver olha para mim, seus olhos demonstrando que ele


não vai assumir isso.

— Eu te dei o nome dele em Seattle. — Respiro


novamente. — É isso que costumávamos fazer quando éramos
mais jovens. Ele dizia às meninas que era eu e eu fazia o
mesmo. É estúpido, eu sei.

A sala inteira geme. Sussurros começam entre todos eles


questionando quando eu cresceria.

Ela pisca algumas vezes olhando entre nós dois. Para


uma nova mãe, ela já tem o olhar decepcionado. —
Inacreditável.

— Não pensei que nos veríamos novamente.

— Então, por que me deu o nome do seu irmão gêmeo?


— Ela balança o bebê para descansar no outro quadril como
uma profissional. Claro, ela é profissional e faz isso há algum
tempo.
É então que me dá conta de que sou pai e que minha filha
está bem na minha frente. Um sentimento pesado invade meu
peito e, antes deste momento, se você me perguntasse, eu teria
dito que é porque não quero ser pai. Mas, em vez disso, é o fato
de eu ter perdido muita coisa na vida da minha filha.

Um milhão de perguntas sacode meu cérebro. Por que


Harley está aqui agora? Por que não antes? Ela está aqui por
dinheiro? Está me procurando há dois anos e quer um
relacionamento? Como uma família instantânea. Não sou de
me acalmar. Independentemente disso, precisamos esclarecer
alguns pontos agora e a última coisa que quero é que minha
família esteja mais envolvida do que já está.

— Podemos conversar? — Dou um passo em direção a


Harley e a bebê.

Holly corre com uma luva limpa e Harley lhe agradece


com um meio sorriso hesitante.

— Não há necessidade disso. Tudo o que preciso de você


é uma amostra do seu DNA. — Ela muda o bebê novamente e
vasculha sua bolsa, entregando um cartão para mim. — Vá lá.
Eles têm as instruções.

— ESPERE! — Eu chamo.

Ela para, mas não se vira.

— Qual é o nome dela?


A sala silencia e ela faz uma pausa por um momento,
como se não fosse me contar.

— Calista, — finalmente diz e sai como se não tivesse


acabado com a minha vida.
Esperei até virar a esquina da Main Street, do lado de fora
de uma lanchonete, antes de encostar as costas na parede e
finalmente respirar.

— Querida, isso pode ter sido a coisa mais difícil que a


mamãe já teve que fazer. Bem, além de todas as horas de
trabalho, mas tenho você, então foi uma vitória.

Calista ri e dá um tapinha nas minhas bochechas como


estava fazendo no restaurante. Amo o fato de que ela, sem
saber, me impediu de ficar louca depois de descobrir um novo
fato sobre seu pai – ele é um mentiroso.

— Oh, já vi esse olhar antes. — Uma mulher de cabelos


loiros me surpreende à minha direita. Ela está de uniforme
turquesa de lanchonete com franjas de bolinhas cor de rosa na
gola e nas mangas. — Entre. Pie é meu.

Seu sorriso é acolhedor, e agora, depois de um monte de


olhares de julgamento de estranhos treinados em mim, poderia
usar alguém que poderia ser do time Harley. No mínimo, ela
tem torta. Olho para o crachá preto e encontro 'Karen'
impresso lá em branco.

— Obrigada. Torta parece ótimo, mas eu mesma


comprarei. — A sigo pela porta aberta.

— Você pode acreditar que temos neve tão tarde no


inverno? Acho que é o que ganhamos por viver no Alasca. Você
é nova na cidade? — Karen pega um cardápio e levanta uma
cadeira alta, levando-nos a uma mesa nos fundos da
lanchonete. — Posso? — Ela pergunta, estendendo as mãos
para Calista.

Ela só está ficando mais pesada e essa senhora parece


que conhece minha luta, embora não saiba nada sobre ela. —
Obrigada, — murmuro, entregando Calista e tirando o casaco
agora molhado.

— Oh, ela é adorável. Continuo incomodando minha filha


para me dar um neto.

— Incomodar é leve. Ela acabou de ficar noiva. Dê-lhe um


minuto. — Um homem atrás do balcão circula com um sorriso
caloroso e acolhedor, obviamente provocando Karen.

Ela o afasta e revira os olhos. Ele assente como 'me


escute.

Eles são fofos.

— Enfim. — Ela prende o cinto em volta de Calista e


bagunça os seus cabelos. — Que tipo de torta você gostaria?
Olho para o menu. A refeição que Selena fez foi melhor do
que eu pensava, mas estou com fome. Ou minhas emoções
estão morrendo de fome. Não é sempre assim? — Vou pedir um
pouco de batata frita e a torta de mirtilo? — Pergunto a Calista,
cujos olhos estão ocupados olhando para o homem no balcão.

Me viro para encontrá-lo cobrindo o rosto com as mãos e


enfiando a língua para fora quando as remove. Calista solta
uma risada que soa por todo o restaurante.

— E sou eu quem quer tanto um neto, — Karen ri,


balançando a cabeça para o homem. — Eu volto já. Para
beber? Café?

— Por favor. Descafeinado embora. — Longe vão os dias


em que eu poderia beber cafeinado depois do jantar. Quando
seu horário gira em torno de uma criança de dezoito meses, é
cedo para dormir, cedo para levantar.

Ela assente e desaparece.

Ouço o homem atrás de mim conversando com Karen


sobre como Calista é fofa. Procuro minha bolsa para pegar seu
livro de pano macio e colocá-lo na frente dela. Ela
imediatamente toca a vaca que está bordada lá e diz ‘moo.'

— Ah, ela já conhece os animais? — Karen vira a xícara


sobre a mesa e enche o café. — Lembro-me de estar tão
preocupada com minha filha atingindo todos esses marcos.
— Sim. Nunca pensei que estaria recitando o alfabeto tão
cedo e esperando que ela apertasse no local certo. Quero dizer,
ela nem usa banheiro ainda.

Karen ri. — A pressão sobre as mães é intensa. — Ela


olha minha mão enquanto pego o açúcar. — Mães solteiras,
especialmente?

Recuo minha mão por um momento. Esta mulher é


observadora. Lembro-me de que não posso confiar em
ninguém nesta pequena cidade. O que eu estava pensando?

— Na verdade, podemos obter nosso pedido? — Pergunto.

Ela franze a testa e olha para o homem que suponho que


também esteja olhando para nós. Não é Seattle, é uma cidade
pequena no Alasca. Eles provavelmente já sabem como entrei
em um restaurante para encontrar o pai do meu bebê. Tenho
certeza que a palavra viaja rápido por aqui.

— Sinto muito. Não tive a intenção de bisbilhotar. —


Karen leva a mão ao coração. — Eu era mãe solteira e só queria
ajudá-la. Isso é tudo. Me desculpe se exagerei. Mas, por favor,
fique tranquila, coma suas batatas fritas e deixe Brian manter
Calista ocupada com seu brinquedo, para que possa ter um
momento para si mesma.

Seu sorriso gentil confirma minha reação interior lá fora.


Ela é uma boa mulher. Sempre vou com o que sinto no meu
coração sobre as pessoas. Metade da razão pela qual fui para
casa com Denver, err... não, Rome. Cara, isso vai levar algum
tempo para me acostumar. Quantas cartas comecei
escrevendo o nome ‘Denver’ no topo nos últimos dois anos?

— Obrigada, — digo a Karen, principalmente para que


pare de me encarar com pena.

Costumava zombar de alguém olhando para mim como


se eu fosse algum tipo de projeto para eles, mas se ela está
dizendo a verdade e era mãe solteira, então entende que nos
últimos dezoito meses a única paz e sossego que tive foi
quando estava na escola ou no trabalho. Não que mudasse
alguma coisa.

A cabeça de Calista cai para trás, rindo de quem acho que


é Brian. Sorrio imaginando como são as pessoas dessa cidade,
sobretudo, porque somos estrangeiras aqui. Tudo o que
sabemos é diferente e ainda somos apenas nós.

Meu telefone toca dentro da minha bolsa de fraldas, então


a abro.

Miranda: Você fez a ação?

Eu: Você diz isso como se fosse uma experiência


agradável.

Miranda: Você está disponível para conversar?

Eu: Não. Muitos ouvidos onde estou. Mais tarde?

Miranda: Mas você o viu?

Eu: Por ele, se você quer dizer Rome, não Denver, sim.
Miranda: Eu me perdi?

Eu: Denver é Rome. Eles são gêmeos que gostam de


brincar com as mulheres com quem dormem.

Miranda: Como eles trocaram de lugar em você no meio da


noite?

Às vezes me pergunto sobre Miranda.

Eu: Saberia se alguém trocasse de lugar.

Miranda: Mas se eles são idênticos, pense nisso. Você


está desmaiada na cama de um cara e então ele desliza para
fora do quarto e seu irmão IDÊNTICO entra. Quero dizer, você
disse que vocês fizeram isso quantas vezes naquela noite?
Sempre pensei que você estava exagerando. Quero dizer, para
um homem.

Eu: Obrigada por me levar em uma viagem pelo seu


cérebro distorcido.

Miranda: A qualquer momento. Você sabe que minha


ilusão é sua ilusão.

Eu: Acho que ele tem uma família grande.

Miranda: Gêmeos idênticos têm o mesmo DNA? Como você


realmente saberia com certeza se era Denver ou Rome?

Reviro meus olhos. Minha melhor amiga tem dificuldade


em permanecer no tópico.
Eu: Não faço ideia, mas como só dormi com um deles, não
estou preocupada com isso.

Miranda: Como está Calista? Sinto falta da minha garota


gordinha.

Olho para encontrá-la agora brincando de esconde-


esconde. Ela é o sonho de um sequestrador. Só é preciso um
jogo de esconde-esconde e está apaixonada por você. Vejo que
o homem agora está de volta ao balcão, fingindo que está
subindo uma escada rolante ou descendo uma escada. Ele está
trazendo as grandes armas.

Eu: Ela está bem. Já tem admiradores.

Miranda: Claro que sim. Estou lhe dizendo, ela partirá


corações.

Concordo e começo a digitar minha resposta.

Eu: Só preciso sair desta cidade...

Dane-se. Pressiono o número dela, que atende.

— Não posso continuar mandando mensagens para você.


Estou exausta e meus dedos doem, — lamento.

Karen desliza as batatas fritas na minha frente e


silenciosamente aponta para o ketchup em cima da mesa.
Então, se senta e pega um garfo limpo, colocando uma torta
nele e estendendo para Calista.
Calista vê e seus olhos se arregalam imediatamente.
Sério, a aviso o tempo todo sobre estranhos e como ter cuidado
com alguém que não conhecemos.

— Você parece cansada, — diz Miranda.

— Estou, mas voltarei para casa em breve.

— Quando? — Miranda pergunta e posso dizer que estou


no viva-voz agora. Ao fundo, ouço música suave e alguns
grunhidos e gemidos.

— Estamos sozinhas? — Pergunto.

— Não se preocupe, meu cliente tem fones de ouvido.

Rio.

Ela está de volta a Seattle a mais um passo para se tornar


uma massoterapeuta registrada e estou aqui no Alasca
tentando que o cara que me deu o nome errado, possa fazer o
exame de DNA.

— Nem quero saber como você conseguiu me enviar uma


mensagem. Vou deixar você ir. Podemos conversar amanhã. —
As batatas fritas estão chamando meu nome e servindo como
uma distração bem-vinda da curva que a vida me jogou.

— Sim, provavelmente deveria ir. Não acho que esse cara


entenda que não é um salão de final feliz.
Ouço a voz do homem, o que me faz pensar se ele
realmente estava com os fones de ouvido ou não. Eles
começam a discutir, e desligo para apreciar minhas batatas
fritas gordurosas em silêncio. Bem, não calados, porque Brian
trouxe uma cadeira e, juntamente com Karen, estão gostando
de divertir Calista. Eles fazem o trem e o avião com minha filha
se abrindo como se fosse o bebê mais fácil de todos os tempos.

Tente alimentá-la com abóbora ou feijão verde para ver


como ela é ‘acolhedora’.

— Era uma amiga? — Karen pergunta, seu olhar caindo


para o telefone.

— Sim. — Mergulho minha batata frita no ketchup.

Olho em volta da lanchonete, imaginando que essa


mulher deve ter outros clientes, mas todos os estandes estão
vazios, então acho que tem o tempo todo no mundo.

— Ela é daqui?

— Não. — Balanço minha cabeça.

— Manda? — Calista aponta e grita quando meu telefone


acende com a foto da minha amiga.
Clico no botão ignorar antes que eles possam seguir sua
linha de visão.

— Você é nova no Lake Starlight? — Karen pergunta, mas


há hesitação em seu tom. Está preocupada que vai me
assustar.

— Estou aqui apenas por alguns dias.

— Pensei assim. Me lembraria desta pequena. — Karen


se aproxima de Calista e torce o nariz.

Sorrio. Brian parece estranhamente familiar. O conheço?


Claro que não.

Nós três nos sentamos lá enquanto como minhas batatas


fritas e deixo Calista ser nosso entretenimento. Às vezes é mais
fácil com ela por perto, já que consegue tirar a pressão de ter
conversas embaraçosas com as pessoas.

— Você está ficando no Glacier Point? — Brian pergunta.


— Nós sabemos o...

— Cozy Cottage B&B, — digo antes de perceber que dei a


essas pessoas as informações que poderiam ser usadas para
nos rastrear.

Ok, Benson. Acalme-se. Este não é um episódio de Law &


Order: SVU1.

1 (Law & Order: Special Victims Unit, é uma série de TV americana de gênero policial).
— Oh, Selene é a melhor. Ele estudou no colegial com ela,
— Karen aponta para Brian.

— Ela sempre foi excêntrica, mas é gentil. Tenho certeza


que você vai aproveitar a sua estadia, — diz ele. — Além disso,
ela está nos arredores da cidade, de forma que você não seja
incomodada por todos os turistas.

— Turistas? Lake Starlight é uma cidade grande o


suficiente para isso? Parece pequena. — Mordo uma batata
frita, sem saber por que estou fazendo perguntas que não me
importam.

Karen olha de volta para Brian. — As pessoas gostam de


cidades pequenas. Mas com a neve ainda chegando, meu
palpite é que o Glacier está cheio. Wyatt estava me contando
outro dia sobre reservas de discos neste inverno...

Karen assente com a cabeça para ele. É claro que devem


conhecer o dono do Glacier Point.

— E com todas as lojas do centro, tenho certeza de que o


novo restaurante do meu sobrinho chamará atenção. Ele
estudou artes culinárias na Europa antes de voltar para casa.

— Sobrinho? — Engasgo com a batata frita, tossindo para


recuperar a batata.

Brian me dá um segundo para me recompor antes que ele


continue. — Sim, ainda não abriu. Na verdade, ele está tendo
toda a família por lá hoje à noite, mas Karen foi chamada no
último minuto e agora somos uma dupla...
— Eu disse para você ficar lá, — diz ela, balançando a
cabeça para ele de uma maneira que mostra que tentou mais
do que algumas vezes.

— Não sem você. Vamos experimentar juntos, — ele dá


um tapinha no joelho dela, e vejo o olhar, como se ele fosse seu
salvador.

Como deve ser esse sentimento? Não saberia. Só tinha a


mim para confiar.

— Qual é o nome do restaurante? — Pergunto.

Certamente, existem dois restaurantes prestes a abrir


que tinham uma grande mesa cheia de pessoas hoje à noite,
certo?

— Terra & Mare.

— Denver, err... Rome é seu sobrinho? — Pergunto,


pegando o livro de Calista e jogando-o na minha bolsa de
fraldas.

— Os dois, sim. — Ele sorri como um pai orgulhoso. —


Você os conhece? — Seu olhar cai para Calista.

Pego nossas jaquetas, balanço minha bolsa de fraldas por


cima do ombro e a pego, mas seu cinto a mantém contida.

Ela canta 'Mama' repetidamente e começa a chorar.

— Aqui. — Karen desafivela a alça. — Estamos perdendo


alguma coisa?
Olho para trás, libertando Calista, meu coração
disparado enquanto a balanço em meus braços.

— Obrigada por tudo, — digo, pegando dinheiro na minha


bolsa e jogando-o no estande.

— Espere, — Karen grita, mas abro a porta e ando o mais


longe que posso.

Paro quando chegamos na esquina para colocar Calista


no chão e vestir o casaco. — Se você não fosse a pessoa mais
importante do mundo para mim, nunca teríamos chegado
aqui.

Pego Calista, sua cabeça caindo no meu ombro, e peço


um Uber, desejando que pudesse me levar de volta a Seattle
hoje à noite. Ser adulto é uma merda!
Eu fico de queixo caído, observando a menina olhar por
cima do ombro da mãe, os olhos verdes arregalados de
curiosidade quando elas saem do meu restaurante. As bordas
do pequeno cartão cutucam minha palma quando as esmago
com o punho.

— Que diabos é isso? — O olhar de Denver cai no cartão


que agora é uma bola de papel. Abro a palma da mão e ele tira.
— É para algum lugar de diagnóstico em Anchorage.

Austin tira dele, mas Savannah rapidamente pega de


Austin. — Estou ligando para o tio Brian.

— Não. — Coloquei minha mão no ar. — Este é o meu


negócio e gostaria que continuasse assim.

— Rome, querido, você precisa de sua família em um


momento como este. — O lado gentil e amável de vovó D está
se revelando, o que mostra a gravidade dessa situação.
Raramente é assim, e, se a memória serve, geralmente só a
vemos por alguns momentos no Dia do Fundador, todos os
anos, quando nos lembramos do que perdemos no início.
— Só preciso de tempo para pensar.

— Pode até não ser seu, — diz Savannah. — Talvez seja


por isso que ela está enviando você para fazer um teste de
paternidade. Você pode ser um dos cinco.

— Savannah, — zomba Brooklyn. — Este não é um


episódio de Maury Povich2.

— Sav está certa. Sério, Rome nem a reconhece. —


Phoenix pula em minha defesa.

Acho que me lembro dela. Mais ou menos. Tipo. Aqueles


olhos. Conheço aqueles olhos. Corro meus dedos pelos meus
cabelos, expelindo uma respiração longa e profunda. Denver
chuta uma cadeira e empurra meus ombros para baixo. —
Senta.

Obedeço a sua ordem.

— Rome estava em Seattle. Ele admitiu, — diz Juno.

Se minhas irmãs não pararem de discutir agora, minha


cabeça vai literalmente explodir.

— É meu. — Estendo minha mão para o cartão e


Savannah o passa. Girando-o na palma da minha mão, tento
descobrir um plano. Sou um cara do plano. Não é como o plano
da vida, mas quando sou arremessado fora da velocidade, sei
como reagir. Desculpe a analogia do beisebol, mas quando você

2Maury Povich é um talk show de tabloide americano em que um dos temas são testes de
paternidade.
cresce praticando o esporte toda a sua vida, relaciona tudo
àquele jogo, quando tem meio segundo para decidir se está
balançando ou não.

Eu não era tão bom quanto meu irmão Austin, mas


estava de olho na bola. Fora da velocidade, pare até cruzar a
placa. A bola olha para levá-lo por dentro. Isso é como uma
partida selvagem que não vi que me atingiu bem no capacete.
Agora, estou deitado no chão coberto de terra tentando
descobrir se ainda sou aquele cara que pode dar um passo.

— Você está bem, cara? — Denver pega uma cadeira.

A voz de Denver chama minha atenção ao olhar para o


chão entre as minhas pernas.

Olho para o meu irmão. — Tem que ser uma piada, certo?
— Olho para o cartão. Exame diagnóstico.

Denver pressiona os lábios, mas não diz nada. Ele não


precisa. Não somos apenas irmãos, mas somos gêmeos.
Gêmeos telepáticos não assustadores, mas tendemos a saber
o que o outro está pensando.

— Não entendo. Por que ela te localizou se ia fugir? —


Liam pergunta.

— Porque ela quer dinheiro. É por isso, — diz Savannah.

— Você é muito cínica. — Liam revira os olhos para ela.

— Sou realista. Ela ficou sabendo que Denver é um herói


e, como idiota aqui usava o nome de Denver, provavelmente
pensou que Griffin Thorne deu a Denver muito dinheiro para
salvar sua vida. Ou ela descobriu Bailey Timber e tem a
impressão de que temos milhões.

— Deve ser coisa da sua cabeça. — Liam balança a cabeça


e se aconchega na cadeira. — Acho que é a hora dos garotos.

Graças a Deus por Liam.

— Você quer que eu tire todo mundo? — Denver


sussurra.

Não digo nada além de expressar meus sentimentos


apenas com o rosto.

Com alguns abraços e tapinhas nas costas, minhas irmãs


e Holly vão embora. Uma onda fria de ar flutua através do
restaurante enquanto Brooklyn mantém a porta aberta e
espera por vovó D. Ela espera porque agora vovó D está de pé
na minha frente, esperando para dizer algo. Solto um suspiro
e levanto a cabeça para olhar para ela.

— Não posso dizer que não avisei. — Ela olha para mim.

Concordo.

— Os Baileys cuidam do que é deles, Rome. Espero não


ter que lembrá-lo disso, se essa garotinha for uma Bailey. Você
precisa descobrir suas prioridades rapidamente.

Aceno de novo e recebo um tapinha na minha bochecha.


— Primeira bisneta, Ethel vai ficar com ciúmes. — Uma mola
cresce em seus passos quando sai pela porta.
Pelo menos um de nós está feliz, mesmo que seja apenas
por despeito.

Felizmente, são apenas os caras que restaram – meus


irmãos Austin, Denver e Kingston, juntamente com o
namorado de Brooklyn, Wyatt, e meu amigo Liam, sentados ao
redor da mesa.

Não me incomodo em dizer nada a eles, mas apenas vou


direto para trás do bar, pegando um copo e uma garrafa de
Jack e enchendo o copo pequeno com líquido âmbar, antes de
jogá-lo na minha garganta.

— Não foi isso que colocou você nessa bagunça? — Austin


diz, do outro lado da sala.

Paro o que estou fazendo e dou a ele o melhor olhar de


'foda-se' que posso reunir.

— Que tal ser um irmão em vez de um pai hoje à noite, —


zombo.

Denver dá um tapinha no ombro dele e se senta no banco


da frente de mim. Coloquei um copo para ele, o qual observa
enquanto o encho. — Se tem uma noite para tomar uma, é
agora, — diz ele, bebendo o uísque.

— Me sirva um também, — diz Kingston.

— Não me deixe de fora, — diz Liam.

Um por um, cada um deles se senta nos bancos do bar


na minha frente.
Alinhei os copos em uma fileira e sirvo a todos nós, em
seguida, deslizo um na frente de cada um deles.

Sem palavras, erguemos os copos à nossa frente e


engolimos nossas doses.

Kingston faz uma careta. Ele ainda prefere o sabor da


cerveja ao do whisky. Felizmente, não pediu uma dose. Se
tivesse, teria que pegar sua identidade Bailey. Ainda não é
verão, para que ele possa viver um pouco, antes que seu
obsessivo condicionamento físico para combater incêndios o
domine.

— Então, você acha que é o pai? — Pergunta Kingston.

— Poderia ser. — Suspiro. — Provavelmente. Não a


reconheci a princípio porque ela estava com os cabelos presos
na noite em que nos conhecemos e com mais maquiagem, mas
dormi com alguém em Seattle, no período que ela
provavelmente ficou grávida.

Todos os caras concordam lentamente com os lábios


pressionados.

Recebo seus olhares simpáticos. Nenhum deles quer fazer


contato visual direto comigo. Desde o momento em que você
começa a fazer sexo, esse é praticamente o seu medo número
um como homem: uma garota aparece dizendo que você é o pai
do seu bebê.
Todos, exceto Austin e Wyatt, porque provavelmente
receberiam uma criança em suas vidas neste momento. Eles
estão estabelecidos.

Ainda durmo em um colchão no chão. Nenhum quadro.


Bem ali, enfiado no canto com o fio do meu telefone na tomada
mais próxima. O apartamento improvisado acima do
restaurante é menos do que estelar. Tornar o apartamento
decente fazia parte do meu plano. Bom o suficiente para ter
meninas voltando. Tudo isso parece estúpido e infantil agora.
Um pai deveria ter suas coisas juntas. Uma maldita estrutura
de cama, pelo menos.

— Savannah está nisso. Ela ligará para o local do exame


logo de manhã e descobrirá como podemos obter os resultados
do DNA o mais rápido possível, — diz Austin.

— Não há nenhuma surpresa nisso, — murmuro.

— O que você acha que ela quer? — Pergunta Kingston.

Ele parece o mais forte. Com quase 21 anos, está apenas


começando sua vida de solteiro. Tenho certeza de que recebe
muitas ofertas quando está lutando contra incêndios. Então,
novamente, Kingston não é Denver ou eu. Ele sempre foi mais
como Austin.

— Não faço ideia. Não chegamos tão longe. — Pego a


garrafa de uísque novamente e me sirvo outra dose. Denver
desliza seu copo. Ninguém quer me deixar passar por essa
merda sozinho. Estou perto de todos os meus irmãos, mas
somos gêmeos. Nossa conexão está em outro nível.

Juntamos nossos copos e os engolimos de volta, o líquido


não queima mais enquanto escorre pela minha garganta.

— Sempre disse a vocês que aquele joguinho que vocês


fingiam ser o outro voltaria e morderia a bunda de vocês, —
diz Austin.

— Vamos, cara, você não pode ser gêmeo e não fazer isso,
— Wyatt ri.

Estendo minha mão pelo balcão, e ele me bate com o


punho.

— Isso não fez nada comigo, exceto me fazer quase mijar


nas calças por cinco minutos. — Denver se inclina para trás e
chama minha atenção. — Desculpe, cara, — diz, com culpa
cobrindo suas feições.

— Talvez sim, mas você tem 25 anos. Hora de crescer, —


Austin diz na voz de pai que ele aperfeiçoou nessa década,
desde que nossos pais faleceram.

— Eu tinha 23 anos quando fiz isso, — argumento o


ponto discutível. — Não importa. O que está feito está feito.

Meu queixo se contrai com a pressão de fechá-lo, então


não digo algo que me arrependa. Sei que meu irmão mais velho
não pode se conter. Ele foi forçado a desempenhar o papel de
pai, mas agora não preciso da palestra. Preciso que alguém me
diga que tudo ficará bem, que posso lidar com isso, que se esta
for minha filha, não serei um pai de merda.

Libero meus dedos doloridos agarrando no pescoço da


garrafa de uísque.

— O que você vai fazer? — Liam pergunta.

— O que eu posso fazer? Vou descobrir se sou o pai dela


e se sou... não sei. Acho que vou descobrir a partir daí.

Sempre fui o cara que está confortável em passar a vida


toda, mas não há como voar cego sem um plano nessa
situação. Se eu estragar a vida de uma garotinha, não há
desculpa suficiente para compensar isso.

Vovó D está certa, preciso esclarecer minhas prioridades.


Na manhã de hoje, estou agradecida por estarmos fora do
horário normal de Calista, porque desfruto de uma xícara de
café quente no pátio dos fundos da casa de Selene, com as
montanhas como minha visão. Minha mente está uma
bagunça confusa da noite passada. Meu maior
arrependimento é sair daquele restaurante como uma covarde.
Eu deveria ter mantido minha cabeça erguida e contado tudo
a ele.

Então, novamente, ele não nos perseguiu. Não esperava


que o cara que me deixou com apenas uma nota esfarrapada
no travesseiro na manhã seguinte, pulasse de alegria por ter
uma filha com uma estranha.

Secretamente, espero que ele seja o cara que eu pensava


quando encontrei o bilhete, porque estamos aqui por apenas
uma razão e não é para convencer o pai de Calista a se tornar
um elemento permanente em nossas vidas.

— Oh, querida, deixe-me colocar na lareira a gás. —


Selene sai, seu cabelo escuro listrado de cinza puxado para
trás e vestindo um par de calças de pijama coloridas
estampadas, presas em sua cintura pequena e uma camiseta
com um suéter cardigã por cima. Ela clica na lareira a gás na
frente e o calor das chamas é agradável.

— Obrigada.

— Você chegou tarde da noite passada. A pequena ainda


está dormindo? — Ela se senta na cadeira ao meu lado,
deslizando as pernas para que fiquem embaixo dela. A tinta
seca em suas mãos confirma meus pensamentos de que ela
estava trabalhando esta manhã.

Meus olhos caem no monitor de bebê ao meu lado. — Sim.


Você está pintando? Eu ouvi Neil Young tocando. — Tomo meu
café.

Selene é alguém que eu gostaria de ser às vezes. Me


pergunto como ela foi educada para permitir-lhe a liberdade
que parece vir naturalmente dela. Ela faz o que quer e parece
não dar a mínima para o que os outros pensam. De certa
forma, somos parecidas. Faço o que quero, sem pedir
permissão ou me importar com o que os outros pensam, mas
estou sempre tensa, ansiosa... nunca suave como Selene.

— Minha tia me viciou quando era jovem. Neil sempre faz


meus surtos criativos fluírem. — Ela olha para o chá. — Sou
uma forasteira, se você não descobriu isso.

— Forasteira?

— Não fui criada aqui. Embora às vezes eu sinta vontade.


Olho para uma estátua com uma bola turquesa no topo
que está no quintal. — Você gosta disso aqui?

— Adoro. Tenho certeza que você também.

Tomo meu café. — Só estou aqui por um dia. —


Principalmente porque nunca viajaria mais de dois dias
seguidos com Calista, a menos que quisesse me torturar.

— Espero que você aproveite hoje para se divertir então.


— Ela olha timidamente. — Não gosto de bisbilhotar, mas
posso perguntar se você está aqui a negócios ou lazer?

Levanto uma sobrancelha. Ela pode parecer um pouco


vaidosa, mas não sinto que seja uma mulher fácil de vestir.
Selene sabe tão bem quanto eu que uma mulher não aparece
vestida de jeans e um suéter com um buraco na axila e um
bebê no quadril para os negócios.

— Não mesmo.

Ficamos em silêncio, ainda nem um pio do monitor.

— Tudo bem... — diz.

— Selene? — Há algo que ela não está dizendo.

— Lake Starlight é uma cidade pequena e, bem, as


pessoas descobrem bem rápido quando há alguém novo na
cidade. Alguém te viu e tirou uma foto e, bem, existe essa coisa
de blog on-line. Eu realmente não a segui, mas estava
entediada esta manhã esperando que uma parte da minha arte
secasse antes que pudesse começar em outra camada e...
bem...

— E bem o que?

— As pessoas estão especulando sobre por que você está


na cidade.

Levanto-me, meu café derramando no processo enquanto


o coloco sobre a mesa. — Pensei que essa cidade era um pouco
maior, de modo que não reconhecessem alguém novo a partir
do momento em que pisou na calçada.

— Você pensou. — Ela se levanta, mas é capaz de manter


a xícara de chá na palma da mão. — Sou grata por não ter blog
quando apareci, de qualquer forma, isso não é sobre mim. Jack
disse que você perguntou sobre Denver Bailey e os Bailey são
um grande negócio por aqui.

Afasto minha linha de visão da bola turquesa para ela. —


O que isso significa?

Ela suspira. — Eles são donos da Bailey Timber, que


financia grande parte da cidade. Você acrescenta o acidente
dos pais e, bem, acho que a cidade quase parece que é nossa
responsabilidade. Acho que é uma coisa de cidade pequena.
Minha filha é boa amiga de Kingston Bailey... ele é tão gentil e
doce. — Ela acena com a mão na frente de seu rosto no sentido
de como 'eu sou boba'. — Não tenho ideia do por que estou
dizendo isso, além da minha curiosidade de saber por que você
apareceu no Lake Starlight para uma estadia de duas noites e
sua primeira linha de negócios era rastrear Denver Bailey?

Meu coração afunda. Essa mulher na minha frente sabe


mais sobre o pai de Calista do que eu. O que isso diz sobre
mim como mãe?

Diz que não sei que tipo de genes ele pode transmitir à
minha filha. Como a deixaria viajar pela vida sem nunca
conhecer sua composição genética ou histórico médico de
família? Ela me perguntaria como tinha cabelo castanho e qual
era o meu plano? Diria a ela que pintei o meu? Essa é toda a
razão pela qual estou aqui – para obter respostas de quem era
o pai da minha bebê.

Selene espera pacientemente e não tenho certeza se


espera que eu responda. Ela é dona de uma pousada, não
minha terapeuta.

Não lhe devo nada, é o primeiro pensamento a passar pela


minha cabeça. Então percebo como estou me sentindo
sozinha. Claro, tenho Miranda e Shane em Seattle, mas ela
está seguindo em frente com sua vida e prestes a obter sua
licença de massoterapeuta, enquanto eu tive que tirar uma
folga porque tenho uma creche para pagar. Miranda não foi
estúpida o suficiente para ser engravidada por um estranho.

Eu odeio quando penso assim, porque me faz sentir que


não queria Calista. Não sabia que a queria até confirmar que
ela estava crescendo dentro de mim. Desde aquele momento,
sabia que faria qualquer coisa pela minha filha. Sacrificaria ser
uma massoterapeuta por ela. Inferno, se não precisássemos de
dinheiro para sobreviver, sacrificaria tudo, mas a vida não
funciona assim.

— Mais café? — Selene atrapalha as divagações na minha


cabeça.

Selene seria mais barata que um psiquiatra e ela não


parece ser uma pessoa julgadora.

Balanço a cabeça. — Pensei que estava aqui para Denver,


mas acontece que estou aqui para Rome.

Ela faz essa coisa baixa, uh-huh, como ela entende


completamente, o que me faz supor que ele tem uma reputação
nesta cidade.

Meus olhos examinam o monitor. Ainda em silêncio. Acho


que não posso evitar essa conversa usando Calista como
desculpa.

— Rome é o pai de Calista. — É estranho dizer isso em


voz alta.

— Oh, — Selene diz que está tentando agir com


indiferença, mas posso dizer que está animada por ser uma
das primeiras a saber.

— Ele não sabia sobre ela até a noite passada e eu só


estou aqui pelo seu DNA. — Tomo meu café, a bola turquesa
chamando meu nome mais uma vez. Por que é tão atraente?

— Por que o DNA dele, se você sabe que ele é o pai?


Dou de ombros, realmente não querendo entrar na minha
história de vida inteira e na de Calista. Não é necessário que a
nossa história acabe sendo fofoca, com pessoas tirando fotos
sem permissão. Deveria pedir a Shane para examinar as
implicações legais disso.

— Oh, você não precisa me dizer.

Aceno como agradecimento, embora sinta que posso


confiar nela.

Outro longo período de silêncio se segue. Odeio silêncio.


Isso significa que alguém não quer lhe contar uma coisa ou
você se sente desconfortável com a presença deles. Lembro-me
do silêncio de minha mãe adotiva quando faltava uma semana
para completar dezoito anos. Não que pensasse que ela
gostaria que eu ficasse depois que os cheques parassem, mas
poderia ter trazido isso à tona antes de arrumar minhas malas.

— Sinto que preciso prepará-la para o que vir aqui pode


trazer. — Selene se senta na cadeira ao meu lado e sigo seu
exemplo. — Você disse que só quer o DNA dele, mas posso lhe
dizer que não é só isso que você vai conseguir.

Sento-me ereta. Não há como negar que esta senhora tem


informações de que preciso. — O que você quer dizer?

— Eu te disse que os Baileys são os próprios Bailey


Timber. Existem nove irmãos no total. Dois pares de gêmeos.
Rome e Denver são um deles e, em seguida, as mais novas são
um casal de gêmeas, Sedona e Phoenix.
Aceno lembrando as duas meninas que pareciam iguais
no restaurante, embora todo o confronto seja um borrão.

— Então tem a vovó Dori e como digo isso


educadamente... ela é uma intrometida. Se ela descobrir sobre
você, bem, o fato de ter uma bisneta não será ignorado. — Ela
coloca a mão no meu joelho.

Meu coração se aperta, porque a avó estava lá ontem à


noite. Todos eles estavam. A família inteira.

— Você acha que eles vão tentar tirá-la de mim? — Bile


sobe na minha garganta. Como não considerei isso antes de
vir aqui?

Pensei que estava me aproximando de um cara que não


se importaria em dizer adeus depois que dormimos juntos. Não
é exatamente um presságio de um homem que pensava em
compromisso.

— Não. Eles não fariam isso, mas...

— O quê? — Sento-me ereta, meu peito contraído fazendo


minhas respirações crescerem rasas.

— Eles vão querer fazer parte da vida dela. — Ela diz como
se tivesse acabado de me dizer que tenho câncer.

Para mim, parece que é assim. Você não sai do sistema


de assistência social com bordas opacas. Você sai com
cicatrizes e bordas mais nítidas que um pedaço de vidro. Você
corta primeiro e faz perguntas depois. Selene parece me
entender mais do que qualquer outra pessoa que já conheci.

E Rome? Ele é o pai. Na noite passada, parecia que ele e


Denver estavam dispostos a discutir sobre quem teria que
aceitar a responsabilidade de me engravidar. Ele nem se
lembrava de mim, o que significa que sou apenas mais uma
numa longa fila.

Selene solta uma risadinha suave.

— Se você ficar por aqui, Calista terá um tio Denver


amoroso, porque Rome e Denver são a mesma coisa. E sim, os
dois têm reputação nesta cidade. Nenhum deles é do tipo de
relacionamento. Então, pode muito bem ser que Rome não
queira ser pai de Calista. Mas eu ficaria surpresa.

Falando no diabo, minha filhinha murmura através do


monitor, mexendo antes de acordar completamente.

Como ele poderia não querer a filhinha dele?

Não pense isso. Se tivermos sorte, ele não quer sua filha.

Mas então ela poderia crescer com problemas com o pai


e...

Paro a guerra na minha cabeça. — Vou buscá-la.


Obrigada pela informação, Selene.

Ela sorri e me segue de volta para casa, caminhando em


direção a sua grande janela da frente.
— Hum... Harley, — diz ela, olhando pela janela.

— Sim, — digo, um pé na escada.

— Rome está aqui.

Minha garganta se fecha e estou com vontade de correr


e agarrar Calista, rastejar pela janela no andar de cima ou
empurrá-la em seus braços, dizendo-lhe que tolo ele seria por
não a amar.

Porra, preciso compartimentar esses sentimentos


correndo pela minha cabeça. A veracidade de Selene faz minha
mente vacilar sobre o que realmente vim fazer aqui.

— Você pode segurá-lo? — Pergunto.

— Oh, querida, você sabe que posso. — Ela pisca,


pegando os dois lados do casaco e envolvendo-o no meio.

Quando estou no topo da escada, já está resolvido. Vou


pegar o DNA de Rome Bailey e dar o fora daqui, sem deixar
rastros para ele seguir.
Graças às boas pessoas de Lake Starlight, não demorei
muito para encontrar Harley. Faço uma oração silenciosa pela
mãe de Holly, Karen, por enfiar o nariz em negócios que não
são dela e que meu tio Brian gosta de se gabar de suas
sobrinhas e sobrinhos para quem quiser ouvir. Isso me fez
encontrar Harley e Calista bem fácil.

Andei de um lado para o outro com dor de cabeça durante


a maior parte da manhã porque não fazia ideia de quando seria
uma boa hora para parar. Quando um bebê acorda? Foda-se
se eu sei.

Passo pelo gramado do Cozy Cottage B&B, cheio de coisas


que Selene chama de arte quando meu telefone vibra dentro
do meu bolso. Pego o casaco e vejo o nome de Savannah na
tela – novamente – e a envio para o correio de voz – mais uma
vez. Ela está no modo resolver o problema, mas não há nada a
fazer até que eu saiba exatamente o que está acontecendo.

Enfiando meu telefone de volta na jaqueta, levanto a mão,


mas antes que possa bater, a porta se abre e Selene aparece,
vestindo calças brilhantes e um cardigã. Há uma mancha de
tinta no cabelo e pequenos pontos no suéter. Sempre fazendo
algo com as mãos.

— Rome, que surpresa! O que você está fazendo aqui? —


Ela pergunta. Duvido que seja uma surpresa. Ela tinha a porta
aberta antes de eu me anunciar e, olá, aqui é Lake Starlight, a
terra do Buzz Wheel. Os rumores já estão se espalhando, mas
nenhum nome foi dado. Graças a Deus.

— Ei, Selene. Como você está? — Minha mão cai na parte


de trás do meu pescoço, minha dor de cabeça agora irradiando
para minha espinha. Maldito uísque, nada de bom vem disso.

— Estou bem. Estou preparando algumas peças para o


Mercado dos Fazendeiros neste verão. — Ela se inclina contra
a moldura. — Você está interessado em ver alguma coisa para
o restaurante?

Ela está me bloqueando, o que significa que ela sabe.


Harley disse ou ela é uma detetive como todos os outros
residentes em Lake Starlight, e me colocou como pai.

— Hoje não. Harley está por aí? — Enfio minhas mãos


nos bolsos da minha calça jeans, balançando de volta no meu
Converse.

— Oh. — A mão dela chega ao peito e um sorriso se


inclina nos cantos da boca. — Não sabia que você conhecia
minha hóspede?
Selene não gosta de mentir, então minha suposição é que
ela sabe tudo até o fato de eu ter dado o meu nome errado a
Harley.

— Podemos continuar fingindo que você não sabe por que


estou aqui ou você pode me deixar entrar para conversar com
a Harley e nós vamos descobrir isso.

O menor dos sorrisos inclina os cantos dos lábios de


Selene, que se afasta da porta, me permitindo entrar. —
Sempre gostei de você, Rome. Como está a vovó Dori?

Esqueci o quão cheio de bugigangas é o lugar dela. É


como um filme de terror. Não posso deixar de sentir que todas
as figuras assustadoras estão me encarando, a segundos de
ganhar vida e me atacar.

— Ela está bem. Não ficaria surpreso se fosse a próxima


a aparecer na sua porta.

Selene ri. — Bem, ela é sempre bem-vinda.

— Como está Stella? Ouvi dizer que está de volta à costa


leste recebendo seu diploma?

Odeio essa conversa fiada. Não que eu não me importe


com o que Stella ou Selene estão fazendo, mas realmente só
quero falar com Harley.

Stella é uma amiga de Kingston que costumava ficar em


casa o tempo todo quando Kingston e seu amigo Damon
pensavam que podiam ser estrelas do rock.
— Sinto muita falta dela, mas ela está onde precisa estar.

Concordo com a cabeça. Todos em Lake Starlight sabem


que Stella deve estar o mais longe possível de Kingston e
Damon. Os três juntos simplesmente nunca funcionaram.

O grito de uma criança flutua escada abaixo antes de


Harley aparecer na esquina com Calista no quadril. Ela está
chorando, seu lábio inferior fica tremendo enquanto lágrimas
correm por suas bochechas.

Meu peito aperta e sou superado com a necessidade de


tentar acalmá-la, fazer o que for preciso para fazê-la feliz.

— Ei, — diz Harley, nada surpresa em me ver. Ela para


no pé da escada e olha de Selene para mim e para trás.

— Alguém não está feliz, está? — Selene diz e estende a


mão para limpar uma lágrima da bochecha de Calista.

Harley fica tensa e segura Calista no quadril um pouco


mais forte.

— Ela está com fome. Está fora do horário, o que


significa... — Harley para de falar, ajustando Calista no
quadril.

Claro, apareci aqui no pior momento possível. Deveria ter


consultado uma mãe, mas não conheço nenhuma e, como a
minha está descansando no Union Cemetery, não tenho
ninguém para pedir conselhos.
— Desculpe, deveria ter ligado, — digo, me sentindo um
idiota, exceto que Harley nunca me deu o número dela de
qualquer maneira.

— Por que não alimento Calista e vocês dois podem ter


um pouco de privacidade? O caminho está livre de neve, já que
está derretendo e é um bom dia.

Selene está certa. A primavera ainda não chegou, mas


parece bastante agradável depois do longo inverno que
passamos.

— Eu não sei... — Harley parece hesitante em ceder sua


filha – nossa filha? – para Selene, mas a conheço, sei que é
uma boa pessoa.

— Selene pode lidar com isso, — digo, não tenho certeza


se ela vai me chutar por falar o que penso. Não me lembro bem
daquela noite e sei que ela está na vantagem porque ela sabe.
Geralmente do meu jeito é mais fácil e agradável.

Os lábios de Harley se apertam por um segundo antes de


passar Calista para Selene.

— Queijo grelhado e um pouco de molho de maçã são


bons para ela? — Calista encontra a tinta seca no cabelo de
Selene e se fixa nela.

— Sim, ela vai gostar disso.

— Ok, então, vocês dois conversem. Estaremos na


cozinha. — Ela começa a se afastar, mas Harley a impede.
— Apenas certifique-se de abrir o queijo grelhado para
que o interior não esteja muito quente para ela.

Não tenho certeza se Selene precisa da orientação, mas


é gentil o suficiente para concordar antes de desaparecer nos
fundos da casa.

— Ela tem uma filha crescida, — digo com a esperança


de que Harley fique à vontade, mas sua cabeça se move na
minha direção e o olhar em seu rosto me faz querer cobrir meu
pau e cruzar as pernas apenas para ter certeza.

Há um segundo de silêncio constrangedor entre nós antes


de falar novamente. — Você tem um casaco?

— Ah, certo. — Ela caminha até o armário do corredor e


tira um casaco preto. Luta para colocar o capuz no suéter que
está vestindo por baixo do casaco, então passo atrás dela para
ajudá-la.

Ela cheira a um prato de frutas – frutas com um toque


cítrico. E sua pele é tão macia na parte de trás do pescoço
quando escovo o cabelo para o lado e me abro para puxar o
capuz para debaixo da jaqueta. Má jogada da minha parte,
porque agora meu pau se animou e está no modo ativo.

Foi exatamente isso que me levou a essa situação em


primeiro lugar.

Limpo minha garganta e dou um passo para trás.


— Obrigada, — diz ela com uma voz áspera. Ela sabe?
Sentiu isso contra a perna? Realmente preciso me segurar
aqui.

— Não tem problema. — Faço um sinal para ela ir à


minha frente pela porta. — Podemos seguir o caminho até a
lateral da casa e chegar ao quintal.

Quando voltamos e observamos o quintal de Selene,


repleto de vários jardins, caminhos e fontes que ainda não
estão funcionando, Harley para por um minuto. — Este é um
bonito cenário.

— Espere pelos meses mais quentes. Muitas pessoas


vêm aqui para fazer as fotos do casamento. — Selene não
apenas gosta de arte, mas também tem um dedo mestre para
decoração. Lembro-me dos arranjos de flores que caíam sobre
os caixões dos meus pais, cortesia dela.

— Eu posso ver o porquê, — diz ela.

Andamos lado a lado pelo caminho por alguns segundos,


nenhum de nós dizendo uma palavra até que não aguento mais
o silêncio.

— Vou começar com a pergunta óbvia... como você me


encontrou? — Assim que as palavras saem dos meus lábios,
percebo como elas devem soar. Deus, estou estragando tudo
isso. — Não falo por mal, juro.

Ela ignora meu recuo. — Bem, quando pensei que seu


nome era Denver...
— Antes de continuar, tenho que me desculpar por isso...
de novo. Não sei por que te dei o nome dele. Não fui eu mesmo
naquela noite. Estava chateado com o atraso do meu voo e
estava me afastando de casa e bem... apenas escapou. Na
época, não sabia que acabaríamos indo para casa juntos...

— Está bem. A verdade é que se você não tivesse me dado


o nome dele, provavelmente, eu não teria encontrado você.
Como disse, o vi no noticiário quando o avião caiu com o
produtor musical. — Ela enfia as mãos nos bolsos.

Aceno, lembrando. Foi notícia nacional por um minuto


quente por causa de quem era o passageiro de Denver.

— Espera. Isso foi há mais de seis meses. — Minha testa


franze.

Ela olha para longe de mim.

Paro de andar quando a realização me ocorre. — Você não


tinha a intenção de me deixar saber que eu tinha uma filha,
não é? — Um buraco negro se abre na boca do meu estômago.
Talvez eu não seja o único que precise me sentir culpado aqui.

Ela se vira e me encara, soltando um suspiro. — Olha,


não estou aqui para acabar com sua vida. Entendi que apareci
aqui do nada e que você não esperava que isso acontecesse.

Estou tão confuso. Passo uma mão pelo meu cabelo e


tento resolver isso na minha cabeça. Sei que estou de ressaca,
mas não consigo entender o que ela está dizendo. Ela viaja de
Seattle até aqui para me confrontar com o fato de eu ter uma
filha e, no entanto, não querer que eu faça parte da sua vida?

— Não entendo. Para que você está aqui? Dinheiro?

— Dinheiro? — Ela recua de um jeito que você acha que


ofereci uma nota de vinte para me chupar. Minha própria raiva
parece veneno no final da minha língua, então é melhor seguir
com cuidado aqui. Não é assim que quero começar meu
relacionamento de co-parentalidade com uma mulher que mal
conheço.

— Eu preciso de algo de você. — Ela dá um passo à frente.

— Você não tentou me encontrar para falar sobre o bebê.


Então, quando acontece um milagre, espera seis meses antes
de vir aqui. Acabei de perguntar sobre dinheiro e, pela sua
reação, fica claro que não é por isso que você está aqui. Não
entendo o que está acontecendo aqui, Harley.

Suas costas endurecem. — Mesmo se eu tivesse tentado


encontrar você, ROME, não teria conseguido, porque você me
deu um nome falso. E olá, eu não tinha sobrenome. Sua
pequena anotação fofa no travesseiro de manhã deixou
convenientemente um número de telefone? — Ela circula, a
mão no quadril. Na minha experiência com minhas irmãs,
nada de bom vem da forma como se posiciona. — Precisei de
seis meses porque não sabia o que fazer. Não quero seu
dinheiro de pena jogado em mim. Estamos indo bem. — Ela
gira de volta e sai mais adiante no caminho.
— O que você precisa de mim então? — A alcanço.

— A mesma coisa que disse ontem à noite. Seu DNA. Seu


histórico médico. O histórico médico da sua família.

Torço minha testa. — Ok, mas você pensou que daria a


você sem nunca querer um relacionamento com minha filha?

Ela olha de lado para mim. — Achei que ficaria agradecido


por não ser sobrecarregado. Não parecia ser um homem de
família.

O olhar de nojo em seu rosto me fez querer lançar pedras.


Ela foi uma participante disposta naquela noite. Posso não ter
me lembrado dela imediatamente, mas quanto mais vasculho
meu cérebro, mais volta para mim e me lembro distintamente
da mão dela na minha calça antes mesmo de entrarmos no
meu quarto de hotel. Ela sabia o placar antes de entrar lá
comigo.

Mas isso não vai nos levar a lugar algum, então não posso
dizer isso agora.

— Talvez você tenha pensado errado. Então, você quer


esse histórico médico para quê?

Tenho a sensação de que não é só Calista que tem as


informações quando crescer. Quero dizer, uma mulher que
optou por esconder o fato de eu ter uma filha por seis meses
depois de me encontrar, não está vindo para cá e arriscando a
chance de poder argumentar sobre os meus direitos dos pais
apenas para que nossa filha saiba de onde ela tirou o cabelo
castanho.

— Minha... — Harley olha para o chão por um segundo


antes de levantar a cabeça e encontrar o meu olhar. — Quero
dizer, nossa... filha... está doente.
A cor drena do rosto de Rome como se eu lhe desse um
soco no estômago, ou mais abaixo. — Calista está doente? —
Ele diz suavemente como se estivesse fazendo o possível para
envolver-se com essas novas informações. Sua reação me pega
de surpresa.

Talvez eu não devesse ter deixado escapar. Claro, não


esperava que ele me localizasse aqui, então não estou
exatamente preparada. Era para ser um tipo rápido de
conversa, 'não se preocupe, não quero mais nada de você, e te
vejo você mais tarde'. Era para ser fácil, porque o homem que
conheci há dois anos me agradeceria por não ter sua vida
arrancada por uma criança e uma mãe de bebê. Mas o
desespero no rosto de Rome conta uma história diferente. Seus
olhos chocados para a aparência de fantasma dizem que,
assim como tudo na minha vida, isso também não será o
planejado.

— Quer sentar? — Pergunto, encontrando um banco com


vista para o local que acho que a maioria das fotos de
casamento são tiradas. Não há flores nem hortaliças no
momento, mas há uma linda árvore que imagino que seja linda
no verão com a hera subindo pelos galhos.

Ele hesita por um minuto, mas acaba se sentando ao meu


lado, optando por sentar na beira do banco de madeira, os
cotovelos apoiados nos joelhos, os olhos no chão duro abaixo
de nossos pés.

— Ela só foi diagnosticada recentemente. Calista tem a


doença de Von Willebrand. Não é super sério, mas… temos
sorte de ter descoberto cedo. Uma vez que ela começou a andar
e se mover, hematomas começaram a aparecer em seus braços
e pernas. Surtei, mas meu médico me disse que estava
exagerando. Minha intuição me fez voltar. Finalmente, quando
ela teve um sangramento no nariz que eu não conseguia parar,
fui a outro médico que levou minhas preocupações um pouco
mais longe e a testou.

— Não entendo. O que exatamente é isso?

— É um distúrbio de coagulação. Ela está produzindo as


proteínas que todos produzimos, mas as dela não funcionam
bem. Existem diferentes níveis em que você pode estar, Calista
é um nível dois.

Ele passa a mão pelos cabelos grossos. — Existe uma


cura?

Balanço a cabeça. — Não, ela viverá com isso a vida toda.


À medida que envelhece, terei de informar os cirurgiões se
precisar fazer uma cirurgia e se a menstruação dela ficar muito
intensa, o que terei que resolver quando atingir a puberdade.
Ela pode viver uma vida normal, existem apenas precauções
que precisam ser tomadas, mas...

— Existe um remédio que possa tomar? Alguma coisa


para fazer desaparecer? — Ele pergunta, um vinco entre os
olhos.

Estou sem palavras por um instante, mas rapidamente


volto a pensar. Ele está realmente... preocupado? Tinha
certeza de que iria dar de ombros e acho que estava apenas
usando a doença de Calista como uma maneira de obter seu
DNA e forçá-lo a pagar pensão alimentícia. Mas não acho que
ele esteja pensando assim. Acredito que está honestamente
preocupado com a minha... nossa filha.

— Não, mas sinceramente ela está bem. Quero dizer, se


sangrar, tenho que ser cautelosa. Algumas pessoas passam a
vida inteira com isso e nunca sabem. Você poderia ter.

Ele estreita os olhos para mim. — Eu saberia.

— Não, necessariamente. O médico disse que


provavelmente veio de um de nós e fui testada. Não tenho.

Ele fica parado na minha frente, me olhando de vez em


quando.

— Então, você está aqui para me culpar pela minha


genética, porque lhe dei essa doença, assim, nossa filha terá
que viver com uma doença o resto de sua vida?
E lá vai o Rome calmo...

— Não estou culpando você, estou aqui, então saberei o


que ela tem que enfrentar daqui para frente. Então, não vou
me surpreender novamente. Então, ela terá um lugar para
procurar respostas, se necessário, no futuro. — A raiva do meu
tom reaparece.

Tenho que lembrar que tive dois meses para processar


isso, enquanto ele acabou de saber que tem uma filha, e,
ainda, com uma condição médica.

Ele se senta novamente. O que agradeço.

Odeio quando as pessoas andam na minha frente. Isso


me deixa nervosa por dentro. Uma vez tive um pai adotivo que
fez isso do outro lado do sofá, enquanto ditava minhas
responsabilidades para o dia seguinte em casa.

Envolvo meus braços em volta de mim, odiando ter que


mostrar minha alma para um estranho, mas, se quero que ele
coopere, preciso fazê-lo entender. — Cresci pulando de um lar
adotivo para outro.

Seus ombros caem e vejo a pena queimando em seus


traços perfeitos antes que possa dizer para não sentir pena de
mim. Estou bem. Em um lugar e feliz.

— Não sei muito sobre a história da minha família e,


quando percebi que havia algo errado com Calista, havia
muitas consultas médicas. Cada um queria um resumo
completo da história da família materna e paterna de Calista...
Não tinha nada a oferecer. Nada. Me senti impotente para
ajudar minha própria filha e prometi a mim mesma que nunca
mais estaria nessa situação. Então, estou pedindo para você
fazer o teste de DNA. Juro que não queremos nada. Calista e
eu vamos embora amanhã, e você pode abrir seu restaurante
e continuar sua vida.

O vejo me olhar, seus olhos estreitados com um brilho de


raiva. — Você acha que sou o tipo de cara que acaba de
descobrir que tem uma filha e não cuida dela?

Fico de pé, enfiando as mãos nos bolsos do casaco. — Não


quero o seu dinheiro.

— Que pena, — diz ele, sua voz subindo.

De repente, estou muito feliz por estarmos tendo esta


conversa do lado de fora, para que Calista e Selene não
precisem nos ouvir discutir.

— Não quero acabar com sua vida. Esse não foi o objetivo
da minha vinda.

— Então, sei que disse isso. Muitas vezes. Apenas uma


amostra da minha saliva e você irá embora, certo?

— Certo. — Concordo.

Ele é tão rápido que recuo com medo do que vai fazer.
Suas mãos caem para os lados quando olha nos meus olhos.
Há aquele olhar de pena novamente. UGH!
Ele enfia as mãos nos bolsos da calça jeans. — Não sou
esse cara. Não posso continuar minha vida sabendo que tenho
uma filha por aí e não faço parte da vida dela.

No fundo, sabia que isso era um problema assim que


entrei naquele restaurante e encontrei todos os membros da
família lá para comemorar a abertura do restaurante. Esta é
sua cidade natal, não apenas um lugar em que ele estava
escondido durante nossos anos separados.

Quão estúpida sou por não fazer mais pesquisas?


Quando sua filha está doente, você não pensa racionalmente,
apenas faz o que precisa, para garantir que eles tenha tudo
que precisa. E ela precisa do DNA de seu pai.

— Sinto muito, mas moramos em Seattle. Realmente não


vejo como isso vai acontecer.

Ele me dá um olhar vazio como se estivesse em choque e


não entendesse as palavras que saem da minha boca. Pelo que
me lembro quando nos conhecemos, ele era um cara que
nunca ficava sem palavras.

— Acho que precisamos fazer isso acontecer. Se o teste


de DNA disser que eu sou o pai de Calista, tenho direitos.

— Se? Você acha que durmo por aí e não sei quem é o pai
da minha bebê? — Levanto as duas sobrancelhas, esperando
por sua resposta. — Provavelmente porque agora que você
descobriu que sou uma criança adotiva, você assume que
tenho todos esses problemas e durmo com homens porque
estou procurando alguém para me amar, já que não cresci com
alguém que me amou incondicionalmente. É isso?

— Não! — Ele se aproxima.

Eu dou um passo para trás.

Ele solta um longo suspiro torturado. — Não acho isso.

— Oh, está certo, você não se lembra de mim.

— Lembro sim

Arqueei uma sobrancelha.

— Quero dizer que estou começando a me lembrar. Seus


olhos. Me lembro deles e Deus, sei como diabos parece que não
me lembraria do seu nome. Mas eu estava uma bagunça
naquele momento da minha vida. Era uma pessoa diferente
antes. Mas quanto mais penso nisso, mais lembro da noite que
passamos juntos.

Lembranças. Uma noite em que me lembro praticamente


de cada segundo, com total clareza, é embaçada, na melhor
das hipóteses, para ele. Quando estávamos no meu carro
saindo do bar, a tensão sexual estava em dez e o queria como
meu próximo suspiro. Acho que esqueci que a quantidade de
álcool deve ter obscurecido seu julgamento naquela noite.

— Bom para você, mas não me importo se você lembra ou


não.
— Você parece decidida a jogar a coisa do nome na minha
cara sempre que puder. Parece que você está chateada por não
me lembrar de você. — Os cantos dos lábios dele se inclinam
levemente.

Eu tenho a impressão, naquela época e agora, que Rome


normalmente não é tão sério assim. Parece que ele não quer
sentir as emoções percorrendo seu sistema.

Olhe para isso, temos duas coisas em comum agora.

— Basta fazer o teste para que eu possa sair desta cidade.

— O teste é importante para você, hein? — Seu sorriso


diz que sua mente está trabalhando em algo.

— De modo nenhum. Adoro viajar mais de três mil


quilômetros com minha filha de dezoito meses, encontrar o pai
na frente de uma sala cheia de estranhos e descobrir que
algum blog aleatório na internet está falando de mim. Sou
estranha assim.

Ele sorri. Um sorriso divertido, arrogante e petulante. O


mesmo sorriso que me chamou na noite em que nos
conhecemos. Meu estômago revira.

— Bem, é importante para mim conhecer a minha filha.

Olho para ele.

Ele ri. — Sim, parece que nos encontramos em uma


encruzilhada.
— Você está dizendo que não vai fazer o teste?

O vejo se sentar no banco, seu comportamento muito


diferente de alguns minutos atrás. Inclinando-se todo o
caminho de volta, com um braço esticado na parte de trás do
banco e o tornozelo apoiado no joelho, o sorriso arrogante
ainda precisa desaparecer do rosto. — De modo nenhum. Vou
fazer o teste. Não sou um monstro.

— Ouço um 'mas' chegando. — Digo, levantando uma


sobrancelha.

Ele pisca. — Sim, você ouve.

Resmungo e ele ri novamente. Odeio quando dou às


pessoas exatamente o que elas esperam que eu faça. Como se
estivesse jogando nas mãos deles, em vez de nas minhas.

— O que você quer?

— Me dê uma semana. Passo um tempo com Calista e no


final de semana você faz seu teste de DNA.

— E então o quê? Você acabou de terminar com ela?

Ele ri. — Desculpe. Está presa comigo por toda a vida.


Quem teria pensado que você seria a garota de sorte? — Diz,
dando um tapinha no meu joelho.

— Sorte? Sorte é ganhar na loteria.

Não há nada sexual em seu toque, mas ainda me faz


reprimir um arrepio.
— Muitas mulheres pensariam que estavam ganhando na
loteria. — Ele pisca.

Rolo meus olhos. — Não pensamos muito em nós


mesmas.

Ele se levanta e coloca a mão entre nós para eu apertar.


— A bola está na sua quadra.

— E se eu não quiser?

— Sem teste e te processo pelos direitos paternais. — Ele


abaixa a mão quando não me mexo para apertar a dele. — Não
estou tentando atormentá-la, Harley, mas quero estar
envolvido na vida da minha filha.

Homens como Rome Bailey foram minha criptonita a vida


toda. A arrogância me faz ceder toda vez. Deveria dizer não.
Mas é muito tarde. Rome fará parte de nossas vidas para
sempre. Também poderia dar a ele esta semana para descobrir
o quão difícil é criar um bebê. Com alguma sorte, ele vai me
provar que estou certa. Homens como Rome Bailey não ficam
por perto quando as coisas ficam difíceis.

— Feito. — Estendi minha mão.

Ele inclina a cabeça para trás em surpresa, envolve sua


mão grande em torno da minha pequena. Uma agitação de
arrepios se espalha pelo meu braço.

— Vamos começar. — Ele pisca, vira e se dirige para a


porta dos fundos de Selene.
Pego Harley, ando até a porta dos fundos de Selene. Não
sei se tinha ideia do que ia fazer quando tocasse a campainha
depois de chegar aqui. A hesitação que senti quando entrei se
foi agora. Acredito que há uma garotinha que está doente e isso
muda tudo. Não estou perdendo mais tempo.

— Rome. — Harley me alcança, pisando na minha frente


antes que eu possa abrir a porta dos fundos.

— Sim?

— O que você está planejando fazer? Precisamos


conversar sobre isso. Você não pode simplesmente entrar lá e
pegá-la e levá-la a algum lugar.

Balanço minha cabeça para ela. — Não vou fazer isso,


mas também não sou do tipo que fica sentado esperando...

— Podemos pelo menos estabelecer quais são suas


intenções esta semana?

Deslizo meu braço sob o dela até a maçaneta, mas ela


desliza o corpo na frente da porta.
— Minhas intenções são conhecer minha filha.

— E então o quê?

Respiro fundo. — Pensei que já superamos isso. Vou fazer


o exame de sangue e descobriremos como vou fazer parte da
vida dela.

— Vivemos três mil quilômetros de distância um do outro,


— ela grita e depois abaixa a voz. — Não podemos exatamente
fazer a guarda compartilhada.

— Não precisamos de um plano agora. Só vou lá brincar


com minha filha e dizer que sou o pai dela. — Pego minha mão
na pequena abertura que ela está deixando ao lado da caixa
torácica e giro a maçaneta.

— Rome, — ela diz entre dentes.

A frustração parece fofa nela.

— Lembro-me agora da maneira como o nome do meu


irmão soou da sua boca... era mais suplicante do tipo 'não
pare'. Muito diferente do que soa agora. Me faz desejar não ter
mentido sobre o meu nome.

Minha observação a coloca atenta e seu aperto na


moldura da porta vacila, assim, consigo entrar na casa como
resultado de sua fraqueza.

— Não tenho certeza se vamos sobreviver esta semana, —


diz ela, me seguindo.
Selene olha para nós quando entramos na sala,
parecendo surpresa por estarmos juntos.

Calista sorri para mim por uma fração de segundo, mas


me olha quase tão rápido. — Mamãe! — Seu sorriso cresce e o
ciúme assume qualquer pensamento racional que tive. Quero
aquele sorriso direcionado para mim. É um ótimo sorriso. O
mais fofo.

— Ei, doce menina. — Harley passa por mim e se senta


ao lado dela. — Obrigada, Selene. Vá fazer o que você estava
fazendo. Cuido disso.

Selene me passa o prato de comida que está dando para


Calista com Harley. — Eu tenho um trabalho para voltar.
Prazer em vê-lo novamente, Rome. — Ela aperta meu braço
antes de sair da sala.

— Você também, Selene. Voltarei.

Ela ri em voz baixa e me deixa sozinha com Harley e


minha filha.

Minha filha... quem teria pensado?

Deslizo para o assento do outro lado de Calista e seus


olhos se concentram em mim, mas instantaneamente olho
para Harley, me espiando a cada poucos segundos como se
estivesse verificando se eu ainda estava lá.

Ótimo, estou enlouquecendo meu próprio bebê.


— Calista, — diz Harley, sem lhe dar mais comida. — Este
é Rome. — Ela gesticula para mim.

— Papai, — corrijo.

— Rome, — Harley endireita os ombros.

— Papai. — Sorrio e flexiono minha voz com felicidade.

Harley desiste. — Ela nem entende o significado da


palavra.

Não importa. Sou o pai dela.

A cabeça de Calista muda de mim para a mãe dela e a


vejo sorrir, fazendo com que paremos de discutir. Não quero
que ela pense que sou um monstro do mal para a mãe dela.

— Vamos levá-la ao parque depois que ela comer, —


sugiro.

— Wee, — Calista sorri e balança a si mesma para sair da


cadeira alta.

— Ainda não. — Harley dirige seu olhar frio como uma


pedra para mim. — Rome simplesmente não sabe que temos
que terminar todo o almoço antes de dizer palavras de
diversão.

— Palavras? — Olho docemente para Calista e me aponto.


— Papai, — digo.

Harley revira os olhos. — O lugar com os balanços e o


escorregador.
— O Parque?

— Wee, — diz Calista, balançando novamente, seus


pequenos dedinhos movendo-se para o cinto.

— Ainda não, — Harley diz com uma voz doce que tenho
certeza que nunca ouvirei sendo direcionada para mim.

— O que há de errado em estar animada para ir ao


parque? — Pergunto.

— Wee! — Calista grita, desta vez ficando chateada que


nenhum de nós a deixou sair.

— Nada está errado, mas como você pode ver agora, ela
não está comendo.

— Vamos apenas levar com nós. Ela pode comer no


caminho.

Harley aperta a ponta do nariz, mas se recosta enquanto


tiro a Calista da cadeira e a pego. Sim, sou sua pessoa favorita
agora. O rei salvando sua princesa da mamãe ditadora
malvada.

— Ela vai precisar tirar uma soneca também, Rome. —


Harley nos segue até o vestíbulo.

— Não acabou de acordar?

Harley revira os olhos e minha mão se move para abrir a


porta.

— Casaco. Ela precisa de um casaco!


Selene sai do estúdio, os dedos embebidos em tinta
amarela. — Tudo certo?

— Estamos apenas levando Calista ao parque e talvez


para tomar sorvete, — digo com um sorriso.

— Yum, — diz ela nos meus braços, dando um tapinha


na minha mandíbula como ela fez com Harley na noite
passada.

— Calista, — o tom de Harley é de advertência.

A palavra 'não' não está em nosso vocabulário hoje. Se


não achasse que ela iria perder a cabeça, sugeriria que eu
levasse Calista sozinho, mas isso acabaria tanto quanto eu
tentando seduzi-la para ir para a cama comigo novamente. E
gosto das minhas bolas, então que se dane.

— Não tenho um carrinho, — diz ela, pegando o casaco


de Calista no armário.

— Ainda bem que você me pegou. — Digo, flexionando um


braço.

Ela revira os olhos novamente. Estou começando a


pensar que talvez Harley tenha alguma condição rara que faz
com que seus olhos rolem constantemente. Ela deveria ver
isso.

— Você percebeu que a primeira vez que te conheci, você


nunca revirou os olhos.
Ela enfia os braços de Calista na jaqueta e pega uma
touca para a bebê. — Eu garanto que sim.

— Não. Você era todos olhos sonhadores e loucos por


meus abdominais.

— Ou o apagão que você experimentou naquela noite está


desaparecendo ou você está fazendo uma porcaria. — Ela me
empurra levemente no ombro.

— Ei, tenho um bebê aqui. — Finjo tropeçar e balançar


no lugar. Calista ri, a cabeça caindo para trás e rapidamente
me endireito.

Uau, isso não era engraçado, sua cabeça estava a uma


polegada do cabide.

Harley olha para mim por um momento com uma


expressão 'eu te disse' e abre a porta. — Vamos fazer xixi, —
diz ela.

— Sua conversa sobre bebês é impressionante. Para


futura referência, não sou muito um cara de bebê no quarto.
— Por que é tão divertido me irritar com essa mulher?

— Infelizmente, o tipo de conversa que você gosta no


quarto nunca deve ser falada na frente daqueles pequenos
ouvidos. — Ela me segue pela porta, fechando-a atrás dela.

O ar está mais quente do que quando estávamos no


quintal e estou ansioso pelo clima mais agradável. Meio que
espero que Harley fique no Dia do Fundador. Especialmente
porque Calista é Bailey.

Uau... acabei de perceber que ela é a primeira da próxima


geração de Baileys. O sentimento de choque é misturado com
o desejo, porque mamãe e papai nunca a conhecerão.

Devo seguir o aqui e agora de qualquer maneira e deixar


de lado meus pensamentos sobre o futuro para depois.

Não sou de guardar rancor. Sempre fui mais do tipo que


processa e segue em frente. Então, não estou surpreso que,
uma vez que fiz o acordo com a Harley para mantê-la na cidade
por uma semana, esteja indo a fundo. Me assusta ser
responsável por outro ser humano até os dezoito anos de
idade. Mas não é tanto Calista, é a mãe de ombros frios
andando ao meu lado. Estou surpreso com a naturalidade da
ideia de ser pai para mim. Se você tivesse me perguntado na
semana passada qual teria sido minha reação se uma estranha
aparecesse afirmando que eu era o pai do bebê dela, teria lhe
dito que estaria navegando em um rio sem direção.

— O que você faz da vida? — Pergunto.

— Sou bartender. O mesmo lugar de dois anos atrás. Ah,


mas você provavelmente não se lembra. — Ela coloca um
sorriso de escárnio antes de endireitar a bolsa em seu ombro.

— Entendo que você está insultada. Não lembrei de você


a princípio, mas não pense nisso como se não fosse
memorável.
Ela para de andar e enfia os olhos em mim. — Não estou
insultada. Eu poderia me preocupar menos.

— Então por que você continua trazendo isso à tona?


Disse que está voltando para mim lentamente.

Calista passa a mão pela barba no meu rosto. — Ow. —


Ela puxa a mão de volta.

— Eu sei, papai machuca, — diz Harley à nossa filha.

— Vou fazer a barba amanhã, querida. — Beijo a palma


da mão de Calista, mas ela a coloca de volta na minha
bochecha, cutucando-me com o dedo.

Temos que caminhar pela cidade para chegar ao parque.


O que significa que olhos e ouvidos estarão todos em nossa
direção. Devo preparar Harley para isso ou deixá-la
experimentar sem aviso? Hmm. Vamos ver como ela se sai.

— Temos que atravessar a Main Street para chegar ao


parque do outro lado da biblioteca.

— Não tinha ideia de que Selene morava tão perto do


centro.

— Quando você dirige, praticamente tem que percorrer


todo o lago, mas podemos atravessar e andar pelo caminho ao
lado do lago.

— Hum... como você espera que voltemos? Ela vai ficar


cansada. Você não sai com um bebê o dia todo, principalmente
nesse clima.
Afasto sua preocupação, mas, pelo olhar maligno que ela
está usando, percebo não se importa muito com outras
pessoas assumindo o comando. O que estranhamente não é a
lembrança que está voltando para mim agora. Tenho uma vaga
lembrança dela gostando quando lhe disse exatamente o que
queria que ela fizesse. Especialmente quando se despiu na
minha frente.

— Vai ficar tudo bem.

Ela levanta as sobrancelhas. Hoje, o cabelo dela é fofo,


puxado para trás em um rabo de cavalo que oscila de um lado
para o outro enquanto caminhamos. E não, eu absolutamente
não estou pensando em como seria divertido envolver minha
mão em torno desse rabo de cavalo enquanto a pegava por trás.

— Agu, agu. — Calista aponta para o lago.

— Água. Sim. Você é tão inteligente. — Cutuquei seu


estômago e ela riu.

Ela é tão acolhedora com todos ou estou fazendo algo


aqui?

— Aposto que a maioria das mulheres imploraria para


você dormir com elas, se observassem você com Calista.

Minha cabeça bate na Harley, que levanta a mão e cobre


a boca, os olhos arregalados.

— Merda. Acabei de dizer isso em voz alta? — Ela


murmura entre os dedos.
— Você disse. — Rio, o que faz Calista rir, fazendo parecer
que nós dois estamos rindo dela.

— Isso era um pensamento interno e para que conste, sou


não uma dessas mulheres. — Ela acelera e caminha em frente
de nós no caminho.

— Acho que mamãe acha o papai atraente, — digo.

— Eu não, — diz ela por cima do ombro.

— Eu também. — Eu digo direto a Calista e faço cócegas


em sua barriga, o que provoca mais uma rodada das risadas
mais adoráveis.

— Saia do seu cavalo alto.

A alcanço e caminhamos em silêncio por alguns minutos.

— Então, bartender, hein? Horas difíceis quando você


tem um bebê para cuidar.

Harley olha para mim e acelera novamente, então está na


nossa frente. — Alguns de nós não crescem com privilégios.

— Você está sugerindo que eu cresci?

— Bem, ouvi tudo sobre os Baileys, — ela coloca os


Baileys entre aspas. — Salvador da cidade. — Diz, balançando
a cabeça para si mesma.

Sua bunda deve ter sido um grande ponto de atração para


mim porque, caramba, minhas mãos estão ansiosas para
segurá-la.
— Não é à toa que você é um homem que dorme com
alguém com um pu...

— Vai me julgar muito? Antes de tudo, usei o dinheiro da


minha faculdade para frequentar a escola de culinária. Tudo o
que tenho agora fiz, ganhei e investi. Ok? Mas eu sei que deve
parecer muito.

Ela se vira tão rápido que o final do seu rabo de cavalo


encaracolado atinge seu rosto. — Não vá assumindo que você
sabe alguma coisa sobre mim.

Sim, eu poderia ter passado por cima dessa linha.

— Peço desculpas, mas também não me julgue como se


minha vida fosse um conto de fadas.

— Bem. Eu não vou julgar. — Ela coloca as mãos nos


quadris.

Nos guio pelo caminho em direção à Main Street e não


poderíamos ter escolhido um momento pior porque vovó D está
caminhando diretamente em nossa direção.

— Foda-se, — murmuro.

— Fod…, — diz, Calista.

Harley solta um suspiro. — Agradável. Literalmente,


como o quê? Dez minutos?

— Oh, acredite, você estará dizendo isso em um segundo


também.
Nesse momento, vovó D ergue os olhos do pedaço de
papel na mão e nossos olhos travam. Tudo acontece em
câmera lenta... seus olhos se movem de mim para Harley e
Calista. Os olhos de ladrões de bebê se acendem e ela caminha
em nossa direção como se estivesse em uma missão.

— Aperte o cinto, o passeio vai ser esburacado, — digo.

— O que você está falando... — Harley para de falar


quando a pequena dama de cabelos azuis para na nossa frente
com as mãos estendidas para Calista.

Sim, isso vai ser interessante.


— Me dê, — diz a velha. Lembro-me dela no restaurante
quando confrontei Rome. Seus olhos estavam fixos em Calista
o tempo todo, como se tivesse algum poder mágico e pudesse
descobrir se minha filha era sua neta.

— Hum. — Deslizo minhas mãos sob Rome, a parte de


trás da minha mão roçando em seu peito forte. O lampejo de
uma lembrança da noite em que estivemos juntos é
espontâneo. Como isso é possível? O homem está vestindo
uma jaqueta leve.

Uma noite que não consigo esquecer e que aconteceu há


dois anos, enquanto Rome sequer se lembra. Acho que ele está
me afetando com suas lembranças.

Uma vez que Calista está nos meus braços, olha para a
mulher de cabelos azuis na nossa frente. Aquele olhar com um
beicinho nos lábios.

— Você não pode simplesmente pegá-la, — diz Rome à


avó.
— Ela é minha bisneta. E sou sua avó, então preste
atenção ao seu tom. — A mão dela cai entre nós. — Eu sou
Dori Bailey. Sua futura vovó, mas odeio essa coisa de sogra,
então vamos nos ater à avó.

— Nós não vamos nos casar, — diz Rome. — Se importa


de nos deixar para o nosso negócio, já que este é meu primeiro
dia com minha filha?

Dori acena para ele. — Você terá muito mais anos que eu.
Estou velha e poderia estar morta amanhã. — Ela move o olhar
para mim. — Eu sou a mais doce. Mãe do pai e avó de todos
os nove filhos de Bailey. Sou membro certificada do curso de
primeiros socorros da Cruz Vermelha Americana. Vamos ver o
que mais. — Ela olha para Rome. — Você deveria estar me
incentivando neste momento. Sabe que não gosto de me gabar.

Rome revira os olhos e ela o atinge no estômago. — Ei, —


ele diz.

Os olhos de Calista estão arregalados, vendo tudo se


desenrolar. — Ow, — diz ela.

— Abusando de mim na frente da minha filha. Ótimo


exemplo você é.

Dori dá as costas para ele. — Enfim, sou Dori e você é?

— Harley.

— Sinto muito pelas maneiras do meu neto, deixando-a


grávida e saindo da cidade.
— Não sabia que ela estava grávida, — diz Rome,
exasperado.

Dori coloca a mão na cara dele. — Ele é uma semente


ruim. Bem, ambos são sementes ruins. Ele e seu irmão
Denver. Aqueles dois nunca cresceram. Eu diria para você
fugir por sua vida se não o amasse tanto. — Ela se vira e aperta
sua bochecha. — Além da fobia por compromisso, ele é
divertido. O que tenho certeza que você sabe um pouco.

— Vovó D? — Rome sussurra me desculpe por trás dela.

— Você gostaria de abraçá-la? — Eu seguro Calista entre


nós.

Os olhos de Rome estão arregalados de surpresa. Inferno,


eu me surpreendo, mas algo sobre ela narrar todo o seu
currículo apenas para segurar sua bisneta me amoleceu.

Quero que Calista tenha a única coisa que não tive


quando cresci – uma família e uma rede de apoio para amar e
ser amada.

— Aqui. — Ela enfia a bolsa no estômago de Rome. Ele se


atrapalha, mas os pega. Seus dedos enrugados se esticam
algumas vezes enquanto eles quebram a distância e ela pega
Calista, apoiando-a no quadril como uma profissional. — Você
é tão fofa. — Ela faz cócegas no estômago da forma que Calista
ama e ri, incentivando Dori a fazer novamente.

Rome sorri para mim admirando a maneira como as duas


interagem. Surpreendentemente, não há um pingo de ciúmes
ou medo percorrendo através de mim. Não tenho medo que
essa mulher a tire de mim.

Dori se vira e caminha pela calçada e toda essa paz se


despedaça como cristal.

Antes que eu possa reagir, Rome encontra seu ritmo. —


Vovó D?

— Eu pensei que estávamos indo para o parque.

Rome olha para mim. Eu aceno.

— Wee, — diz Calista.

— Está certo. Wee. Você gosta do balanço? — Dori


pergunta.

— Wee, — diz Calista novamente.

— ROME! — A voz de um homem grita atrás de nós.

Nós dois nos viramos, mas Dori não para. Eu a observo


novamente, embora ainda esteja em um ritmo que eu possa
alcançá-la.

— Colin, — diz Rome. — E aí?

— A geladeira. Está tão quente quanto um dia de verão


na Flórida. — Ele levanta as duas sobrancelhas.

O jovem olha para mim, sorrindo como se alguém tivesse


contado a ele um segredo. Talvez eu deva andar pela cidade
com uma placa no pescoço dizendo Mamãe do bebê de Rome
Bailey.

— Merda. — Rome olha para Dori e volta para mim.

— Vá, — eu digo.

— Mas... — Ele balança, colocando todo o seu peso em


um pé e depois no outro.

— Sério. Nos vemos no parque. Tenho certeza de que sua


avó não vai nos deixar fugir.

— Eu sou Colin. — O cara de cabelos loiros estende a


mão. Ele é fofo daquele jeito de garoto da porta ao lado. Pena
que eu sempre fui mais do tipo bad boy. Meus olhos
instintivamente encontram Rome, que ainda parece infeliz.

— Harley. — Eu aperto a mão dele.

— Ok, eu estarei lá em alguns minutos, mas... — Ele enfia


a mão na bolsa de fraldas e pega meu telefone celular do bolso
da frente.

Meu olhar desliza para Dori e vejo que alguém a parou na


calçada. Outra mulher mais velha, com cabelos ruivos que ela
obviamente tinge. Pelo menos ela ainda está na minha linha
de visão, embora só Deus saiba o que está dizendo àquela
pobre mulher.

O telefone de Rome toca no bolso do paletó um segundo


depois.
— Desta forma, temos os números de telefone um do
outro, apenas por precaução. — Ele coloca meu telefone de
volta na bolsa.

— Ótimo.

Ele pisca, dá um passo à frente, a mão pronta para


pousar nas minhas costas, mas dou um passo para trás. —
Sim, ok. Encontro você no parque. — Ele corre pela rua em
direção ao restaurante, com Colin caminhando vagarosamente
atrás dele, cumprimentando todos os que passam.

Durante o dia, o centro da cidade de Lake Starlight é


singular e aconchegante. Com todas as lojas, padarias,
lanchonetes e restaurantes misturados aos escritórios de
seguros, veterinários e médicos, dá a impressão de um set de
filmagem.

— Oh, aqui está ela, — diz Dori, acenando para mim


quando me vê vindo em sua direção.

— Oi, — eu digo para a mulher ruiva.

— Harley, esta é minha querida amiga, Ethel. Ela ainda


está para ser abençoada com um tataraneto. — Dori cutuca
Calista novamente, que se contorce e me alcança.

— E Rome é o pai? — Ethel pergunta. Mais perto agora,


posso ver suas camadas de maquiagem e batom vermelho
brilhante.
— Sim, — Dori responde por mim. — Falando nisso, para
onde ele foi?

— Emergência no restaurante. Ele está nos encontrando


no parque.

Calista continua se contorcendo, e Dori finalmente


desiste da luta e a entrega para mim. — Ah, sim, estamos indo
pequenina, — diz ela com os olhos arregalados para Calista. —
Falo com você mais tarde, Ethel.

— Ainda estamos jogando Mahjong hoje à noite? — Ethel


pergunta.

Dori lança um olhar sem graça. — Seja realista, Ethel,


você acha que estou desistindo do meu título?

Não consegui deixar de rir.

Ethel olha para mim por uma fração de segundo antes de


dar um sorriso acolhedor. — Vejo você então. Prazer em
conhecê-la, Harley.

— Você também, — digo, alcançando Dori, que decidiu


que terminou de falar com a pobre Ethel.

— Você joga Mahjong? — Eu pergunto, o alívio caindo


sobre meu corpo ao ver o parque à vista.

— Tenho que manter a mente afiada. As meninas e eu


tentamos um novo jogo a cada oito meses.
— Oito meses? — Isso parece uma quantidade arbitrária
de tempo.

— Como estamos velhas, levamos pelo menos dois meses


para parar de discutir e entender como jogar em primeiro
lugar. Nos dá seis meses para dominar o jogo. Mahjong foi a
minha escolha. — Seu tom está cheio de orgulho e eu tenho
que dizer, acho que gosto de Dori.

— Eu acho ótimo.

— Não zombe de mim, Harley. Eu entendo que é


completamente ridículo para um grupo de mulheres idosas na
casa dos setenta jogar um jogo em um idioma diferente. — Ela
acena para alguém olhando para mim e Calista com
curiosidade. — Não ligue para eles. Lake Starlight é
intrometida, você terá que se acostumar.

— Não pretendo ficar aqui por muito tempo, então...

Ela assente. — Nasci e cresci em Lake Starlight. Entendo


por que algumas pessoas não gostam disso. Quero dizer, as
pessoas estão no seu negócio o tempo todo. Existe um blog de
fofocas chamado Buzz Wheel, onde tudo o que você faz pode
acabar nele para todos os residentes lerem. E acrescente que
você é uma Bailey...

— Eu não sou uma Bailey.

— Ela é. — Ela acena para Calista enquanto a coloco no


balanço.
Abstenho de mencionar que a certidão de nascimento de
Calista diz apenas meu nome, Sullivan.

— Deve ser difícil criá-la sozinha. Você tem uma família


que ajuda? — Ela empurra Calista e os pés pendurados desta
se movem animadamente para frente e para trás em um
movimento em zigue-zague enquanto ela ri.

— Eu tenho amigos. — Inclino meu ombro contra o poste


de madeira segurando a estrutura.

A presença de pessoas no parque é escassa e ainda há


pedaços de neve no chão. A ideia de Rome não era essa, mas
agora somos nós que estamos no frio?

— Sem família? — Dori pergunta.

Eu poderia muito bem explicar tudo, porque essa mulher


não é alguém que possa guiar para outra linha de conversa.
Ela vai bisbilhotar como se eu fosse uma ostra e quer essa
pérola lá dentro.

— Fui deixada em um quartel de bombeiros quando era


mais jovem. Passei de um lar adotivo para outro até os dezoito
anos.

Ela empurra Calista, seus olhos não encontrando os


meus. — Eu sinto muito. Isso é difícil. — É a primeira vez que
ouvi preocupação da boca de Dori. — Eu gostaria que meus
netos ingratos soubessem o quão bem eles ficaram.
— Estou bem. — Fiz as pazes com a minha infância ou
falta de infância há muito tempo.

— Claro que sim, querida. — Ela sorri, um sorriso falso.

Não vale a pena provar que estou errada, lembro-me. Ser


uma garota adotiva não me define.

— Você disse que não vai ficar muito tempo. De onde você
é? Seattle? — A cabeça de Calista cai, o balanço e o ar fresco
já a cansam. Eu realmente gostaria de ter trazido meu
carrinho.

— Eu sou de lá. É onde moramos.

Dori assente. Retardando o balanço, ela pega Calista. Os


olhos dela flutuam por um segundo antes de cair
completamente fechados, a cabeça no ombro de Dori. Sem
uma palavra, ela caminha até o banco e se senta.

Calista é uma traidora. Por que não posso ter aquela filha
que se apega a mim e não quer nada com estranhos?

— Você tem um emprego lá? — Dori pergunta.

Eu dou de ombros. — Sou bartender no bar do aeroporto,


mas estou indo para a faculdade.

— Faculdade? Cursar o quê?

— Massagem terapêutica. — Sento-me ao lado dela,


vendo a boca de Calista entreaberta. Ela está tão fora de sua
agenda, hoje à noite será um pesadelo.
— Oh, eu já fiz uma massagem antes. Meus netos
acharam que era um bom presente para o dia das mães. Mas
sejamos realistas, ninguém quer massagear uma mulher de
setenta anos. Eu fui assim mesmo porque ser velha significa
que você também não se importa.

Eu ri.

— Minha massoterapeuta estava me dizendo que ela se


mudou para cá aos quarenta e oito anos, porque ganha mais
no Alasca. Quero dizer, o custo de vida é mais caro aqui em
cima, mas ela disse que ganhava o dobro. Isso é incrível, certo?

Vai saber. A única coisa que estou me profissionalizando


tem que pagar o dobro por aqui. E acrescente que Dori conhece
esse fato, é um bônus.

— Ainda tenho que terminar meus estudos. Tenho mais


uma aula.

— Oh. Apenas uma aula à distância?

— Sim. Mas Calista tinha alguns problemas de saúde,


então eu precisava tirar um tempo de folga, porque entre
consultas médicas e trabalho... — deixei minhas palavras
pararem. Esta mulher era mãe, ela entende o que isso
significa.

— Quais são os problemas de saúde de Calista? — Sua


testa enruga.
Não faz sentido mantê-los para mim. Tenho a sensação
de que essa família compartilha tudo um com o outro. Ou com
Dori, pelo menos.

Eu explico a condição de Calista e como isso a afeta


enquanto o cenho de Dori se torna mais profundo. — É por
isso que estou aqui, para Rome fazer um teste de DNA. Como
não tenho ideia de onde vim, pelo menos quero que ela tenha
as informações do lado do pai.

— Bem, por sorte nos encontramos. Você precisa vir para


a minha casa. Vou lhe mostrar a longa fila de pessoas de quem
Calista vem e posso lhe contar sobre quais doenças elas
sofreram.

— Isso é gentil da sua parte, mas eu realmente só preciso


do DNA dele. Isso é tudo.

Ela fica quieta por um segundo, com a mão nas costas de


Calista, esfregando para cima e para baixo. — Depois de obter
o DNA dele, você está voltando para Seattle?

Coloquei meu dedo sob a mão aberta de Calista no ombro


de Dori, olhando para minha filha.

— Sim, mas Rome pediu que eu ficasse por uma semana.


Então ele fará o teste.

Ela sorri. — Rome é meu neto mais inteligente, você sabia


disso? — Ela pisca.
Ela acha que Rome vai me convencer a ficar
permanentemente de alguma forma, mas eles ainda não sabem
sobre Shane. Um dos meus amigos é mais do que um amigo.
Eu parei na esquina, esperando atravessar a rua,
respirando fundo desde que corri o mais rápido que pude.
Quem sabe o que sairá da boca de vovó D?

Cara, estou tão fora de forma. Preciso de um pouco mais


de cardio na minha vida. E agora eu sou pai. Me recuso a ter
o corpo de pai. Hora de acelerar os treinos.

Vovó D, Harley e Calista estão no banco, a cabeça de


Calista apoiada no ombro de vovó D enquanto as mulheres
estão em uma discussão profunda.

Sabia que era uma ideia de merda deixá-las sozinhas.


Para que contratei Colin se ele não pode lidar com uma
geladeira que não está funcionando? Graças a Deus, Jack, do
Hammer Time Hardware, tem contatos, então um cara estará
lá dentro de uma hora para consertá-la.

Tenho tempo para Calista e Harley na minha vida agora?


Inferno, penso que não, mas repito isso duas vezes para obter
a resposta contrária. Estou há duas semanas da abertura do
meu restaurante. Estúpido, decidi que o Dia do Fundador seria
o momento ideal para abrir como uma espécie de homenagem
aos meus pais. Agora tudo em que consigo pensar é como
convencer Harley a ficar mais um pouco.

Ela mencionou que passou a adolescência em um


orfanato, o que pode significar que não há pais. Nenhuma
família para falar. Que pensamento idiota. Tenho certeza que
ela tem amigos e uma vida lá. Não posso simplesmente
assumir que vai largar sua vida e se mudar para cá.

Finalmente, não há carros, então corro pela rua,


conversando com vovó D e Harley.

— Rome é meu neto mais inteligente, você sabia disso? —


Vovó D pergunta.

— Oh, Deus, eu também te amo. — Me inclino e a beijo,


olhando para baixo como um namorado ciumento de Calista
esparramada em seu ombro.

— Você conseguiu arrancar isso de mim. — Ela pisca. —


Bem, devo ir agora. — Ela pega Calista e entrega-a a Harley,
que me olha perplexa, enquanto tenta acalmar minha filhinha
para voltar a dormir.

— Isso foi rápido. — Embora eu não esteja reclamando.


Pensei que ela ficaria colada ao nosso lado o dia todo.

— O quê? Não posso ficar sentada aqui para sempre,


tenho coisas para fazer. — Ela se inclina para mim. — Mas eu
fui a primeira?
Sinto o vinco se formar entre as sobrancelhas. — A
primeira o quê?

— A primeira Bailey a segurá-la. — Ela já está usando um


sorriso premiado, como se houvesse um quadro com
classificações e seu nome estivesse abaixo do número um.

— Hum, sim. Exceto por mim.

Ela me dá um tapinha no braço. — Bom. Tenho que ir


treinar. Hoje tenho um grande jogo. — Ela se abaixa e beija
Harley na bochecha e depois Calista na cabeça. — Vamos nos
ver novamente em breve.

— Ok, — Harley diz claramente confusa. — Boa sorte no


Mahjong hoje à noite.

— O mesmo.

Vovó D me ignora e acena com a mão no ar. — Oh, eu não


preciso de sorte, mas obrigada.

Sento-me no lugar que ela deixou.

— Ela é divertida. — Harley esfrega as costas de Calista


com a palma da mão.

— Você pode dizer que ela é louca. Não vou me ofender.


— Olho para Calista surpreso com a facilidade com que
adormeceu.

— Sua geladeira?

— O conserto estará lá em uma hora.


Ela assente. — Quando você está abrindo?

— Um pouco mais de duas semanas. — Mexo na barra


da minha jaqueta.

— Isso é ótimo. Quero dizer, você possui seu próprio


restaurante. Esse é um grande passo.

Eu olho para ela. — Sim, pai de um bebê e dono de


restaurante em um mês. Grandes mudanças para Rome
Bailey.

Os ombros dela vacilam um pouco.

— Isso não foi uma lamentação. — Me mexo no banco


para encará-la.

— Eu não te culparia se fosse, mas não tenho certeza de


como teria encontrado você. Subornei uma amiga com quem
trabalhei para procurar qualquer Denver que estivesse voando
para Nova York na manhã seguinte, mas ela não conseguiu
encontrar um, então achei que tinha informações erradas.

— Ei, vamos esquecer. Não guardo rancor. Tivemos um


caso de uma noite e produzimos um bebê lindo. Eu estou bem
em seguir em frente. Por isso não posso mantê-la refém aqui
por uma semana.

Enquanto esperava a notícia de Jack, repassei o acordo


que fiz com ela na minha cabeça e isso não é justo. Além disso,
realmente acho que ela se apaixonará por Lake Starlight em
uma semana? Inferno, cresci aqui e até eu sei que Lake
Starlight é um gosto adquirido.

— Como assim? — Ela pergunta.

— Marquei minha consulta daqui a dois dias. Se você


quiser voltar para Seattle, você pode ir.

Ela pensa muito. — Então, você não quer ser... — Ela


limpa a garganta. — Ok, ok. — Ela se levanta e coloca uma
Calista ainda dormindo no ombro. — Você poderia me indicar
o caminho de volta?

— Eu vou acompanhá-la.

— Não. Você tem a geladeira, seu restaurante e sua vida.


Estou bem.

Ela claramente não está. Sua estatura vacilante e voz


firme me alertam que algo está errado.

— Harley, o que exatamente você acha que estou


concordando? — Como vovó D disse, sou o neto inteligente e
não demora muito para descobrir que ela está assumindo que
dei a ela um passe para voltar para maternidade solteira em
Seattle.

— Oh, não se sinta mal. Quero dizer, joguei tudo isso em


você e prefiro que seja apenas eu e ela. Quero dizer, eu estava
ficando um pouco protetora quando ela foi à sua avó sem
nenhum problema. Eu só... deixei minha mente vagar. Está
bem.
Toco seu braço e espero que seus olhos encontrem os
meus. Minha mão corre pela parte de trás da cabeça de Calista.
— Eu sou o pai dela. Eu farei parte da vida dela. Teremos que
elaborar um plano de visita e quero começar a dar-lhe pensão
todos os meses para cobrir as despesas. Mas foi errado da
minha parte chantageá-la para ficar aqui por uma semana,
para realizar esse teste sobre sua cabeça. Quero que você
fique, mas estou lhe dando uma saída.

Uma lágrima escorre do olho de Harley e há mais lá


esperando para cair. Do jeito que ela endireita as costas e
respira fundo, tenho certeza de que será a última que deixará
escapar.

— Você não quer que eu faça parte da vida dela? —


Pergunto.

Ela balança a cabeça. — Não. Não é isso.

— Então por que você está chateada?

— Você a quer? — Ela pergunta.

— Claro que eu quero.

Ela assente e seu olhar dispara para a esquerda, longe de


mim. — Então estaremos aqui pela semana. Você pode fazer o
teste quando quiser, mas dou minha palavra, estaremos aqui
uma semana para que você possa conhecer sua filha. Nós
vamos ter que descobrir alguma coisa depois disso. Eu
realmente não posso me dar ao luxo de ficar no Cozy Cottage
B&B por um longo período.
Meu estômago borbulha de emoção como se eu fosse uma
garota do caralho. — Realmente? Você vai ficar. Por mim? Por
quê?

Mais lágrimas caem e ela vasculha sua bolsa de fraldas,


achando difícil com Calista no colo, então a pego e rapidamente
a viro para deitar-se em mim. Precisamos carregar essa garota
em um carrinho.

— Ela tem um pai que a conheceu há menos de vinte e


quatro horas atrás e ele está disposto a parar sua vida inteira
para incluí-la. Eu não posso tirar isso dela. Sei como é não ter
isso. — Ela enxuga as lágrimas com um lenço de papel.

Meu coração se apaixona por Harley pela educação que


ela deve ter tido, mas sei que ela não quer minha pena, então
tento não deixar isso transparecer no meu rosto.

— Você pensou que eu ficaria contente em nunca mais


vê-la novamente?

Ela encolhe os ombros.

— Acho que não só preciso conhecer Calista, mas


também te conhecer. — Coloquei meu braço em volta dos
ombros dela. — A primeira maneira de fazer isso é que eu
possa te alimentar.

Ela ri. — Alimentar-me? Duvido que você tenha algo


nesse restaurante chique que eu gostaria.
Eu xingo. — Tão pouca fé. Espero que você esteja com
fome, mas primeiro as prioridades. Se você vai ficar aqui por
uma semana, precisamos de um carrinho. — Dirijo-nos para a
Sweet Home Baby Boutique, onde, orgulhosamente, faço
minha primeira compra para minha filha.

Uma hora depois, Calista está em uma cadeira alta com


Harley na janela da frente do meu restaurante. Ela está
comendo um pouco de macarrão com queijo que fiz enquanto
tento montar o maldito carrinho.

— Não, as instruções dizem para colocar a parte E com a


parte... — Colin balança as instruções na frente do meu rosto,
e eu as arranco das mãos dele e as jogo no chão.

Porra, inferno. Eu nem tenho certeza se me sentiria


seguro com Calista andando por aí quando terminar.

— Por que eu não ajudo? — Harley se move para se


levantar da cadeira.

Eu levantei minha mão para detê-la. — Não. Eu tenho


isso.

Como se eu precisasse de mais olhos espiões, dois idiotas


entram no restaurante.
— Estamos fechados, — digo, olhando para Colin. —
Mostre-lhes a porta.

Um olhar de preocupação cruza seu rosto, porque Colin


não é exatamente um cara grande. Ele é meio esquelético, mas
o cara tem habilidades de faca malucas. É por isso que ele é
meu sous-chef.

— Somos da família. — Denver fica em frente a Harley, ao


lado de Calista, pegando um macarrão no cabelo castanho.

— Apenas um de vocês é, — comento, agarrando um


pedaço de plástico. — Foda-me.

— Foda, — diz Calista. Harley olha para mim, soltando


um longo suspiro irritado.

— Você está realmente me dizendo que nunca xingou na


frente dela? — Eu pergunto.

Harley bebe seu refrigerante, sem dizer nada. O sorriso


provocando seus lábios diz que Calista poderia ter conhecido
a palavra bem diante de mim.

— Nós não nos encontramos adequadamente. Eu sou


Denver. — Ele estende a mão sobre a mesa.

Harley sacode, estudando o rosto. Esta é uma ocorrência


comum. Ela está procurando uma maneira de nos diferenciar.
Denver tem uma pequena cicatriz embaixo do queixo, de
quando tínhamos seis anos e ele caiu no chuveiro tentando ser
o Homem-Aranha. Fora isso, minha mãe costumava dizer que
meu nariz era um pouco mais largo, mas, verdade seja dita, eu
nunca notei.

— Eu sou Liam. — Nosso amigo estende a mão e ela a


aperta olhando para a grande massa de um homem. Os olhos
de Calista se arregalam enquanto sua própria cabeça se
levanta. É fofo. Como se ele fosse um gigante da vida real.

Ela cutuca o braço musculoso dele e bate os braços para


cima e para baixo.

— Você é brilhante. Sim, um pássaro. — Denver bagunça


o cabelo dela e ela sorri para ele.

Nós realmente precisamos ensiná-la sobre perigos de um


estranho. Embora eu realmente não possa culpá-la por toda a
coisa de Denver. Ela provavelmente pensa que sou eu.

— Prazer em conhecê-los, — diz Harley.

— Você está montando tudo errado, — diz Liam, sentando


ao meu lado e tirando o papel da minha mão.

— Tenha isso então.

Sento-me ao lado de Harley, colocando o braço em torno


das costas da cadeira, mas ela me olha, então a coloco no meu
colo.

— Com fome? — Eu pergunto ao meu irmão.

— Sempre, — diz Denver, pegando um garfo e


esfaqueando um pedaço de macarrão com queijo da tigela de
Calista. — Então, — ele murmura sobre a mastigação. — O
que você faz, Harley?

— Eu sou bartender e vou para a faculdade para


massagem terapêutica.

Os lábios de Denver se inclinam para baixo, e eu sei que


na contagem de três ele vai me envergonhar.

— Massagem terapêutica? Não é um daqueles lugares de


massagem felizes, certo? Foi assim que vocês dois se
conheceram? Você praticou em Rome? Você sabe que uma
maneira de nos diferenciar é abaixo do cinto.

— Sim, eu sou maior. — Eu sorrio.

Denver ri.

— Diga-me Denver, quantas massagens de final feliz você


conseguiu ao longo dos anos? — Harley brinca.

Ele levanta a mão. — Nenhuma. Não preciso pagar por


isso.

— Mas você conhece os lugares que os abastecem? — Ela


cruza as pernas e descansa os cotovelos na mesa. Eu continuo
vendo razões pelas quais dormi com ela. Sua inteligência é
sexy, porra.

— Todo mundo faz. — Ele encolhe os ombros.

— Eu não. — Seus olhos se arregalam e ela olha para


mim. — Rome?
— Não. — Eu balanço minha cabeça.

Denver me olha de soslaio.

— Liam?

Nós olhamos para cima e descobrimos que ele está na


metade do caminho de montar o carrinho. Maldito... só para
aparecer.

— Nunca. Eu estritamente vou para a dor no pescoço e


nas costas que sinto por estar sentado por horas fazendo
tatuagens o dia todo. Nunca ouvi falar das mãos de uma
massoterapeuta vagando para onde não deveriam. — Ele não
levanta os olhos enquanto lê as instruções. O fato de ele poder
ouvir nossa conversa, responder a uma pergunta e ainda
assim montar esse carrinho me irrita.

— Tanto faz, pessoal. — Denver pega o garfo e pega mais


um pouco de macarrão com queijo, mas os braços de Calista
se esticam e ela agarra a tigela levando-a ao peito.

— Meu!

— Cara, eu não tenho amor nesta sala. — Denver finge


fazer beicinho, e Calista o observa cuidadosamente por um
momento antes de deslizar a tigela de volta em seu caminho.
— Bem, merda, eu já a amo. — Ele sorri para Harley e depois
para mim.
— Ela, — diz Calista, e Harley joga as mãos para o ar3.

— Aqui está, — Liam pula do assento, empurrando o


carrinho para frente e para trás algumas vezes.

— Quem diabos é você? Galileu? — Denver pergunta.

Todos nós ofegamos. — Você conhece Galileu? —


Pergunto.

Ele balança a cabeça e desamarra Calista. — Só eu e você,


garota. — Ele dança com ela pelo restaurante. — Dane-se
todos eles.

Calista toca seu rosto e sorri para ele como se ele fosse o
cara mais engraçado do mundo. Harley se vira para mim
brevemente, sem sorriso ou qualquer coisa no rosto, e volta a
observá-los. Há tanto amor aqui por Calista que me pergunto
quanto há em Seattle.

3 Merda em inglês é shit, e ela em inglês é she. Aqui há uma tentativa de Calista em falar o xingamento.
Rome passou todos os dias desta semana comigo e com
Calista. Fomos ao parque, visitamos a vovó Dori, onde ela
mora, fomos à casa em que ele cresceu e ao cemitério dos pais
dele. Passamos a maior parte do tempo com Calista nos braços
e eu empurrando o caro carrinho vazio que ele comprou. Todo
dia o vejo ficando mais perto dela e ela perto dele.

Acabamos adiando a consulta no laboratório até o final


da semana, mas hoje ele está me pegando para irmos juntos
fazer o teste de DNA. Vamos sozinhos, deixando Calista com
Selene, pois não sabemos quanto tempo levaremos. Mas não
tenho certeza do porquê estou acompanhando-o. Não há
motivo real para eu estar lá. Mas ele perguntou se eu iria e
disse que sim. Todo esse exercício parece ter uma finalidade.
O último ok em nossa lista de uma semana antes de voltar
para Seattle.

Falando nisso, Shane me mandou uma mensagem ontem


à noite. Essa situação é tão complicada que não tenho ideia
por onde começar. Ele terminou seu grande caso e diz que está
ansioso para me ver. Ele vai nos buscar no aeroporto assim
que chegarmos a Seattle.

A caminhonete de Rome para do lado de fora e corro para


pegar meu casaco e dizer a Selene que estamos indo.

— Boa viagem a Anchorage. Aproveitem a viagem. —


Selene segura Calista no quadril.

Outra parte legal de estar aqui esta semana é Selene. Ela


olhou Calista algumas vezes, o que me deu tempo para
procurar on-line as aulas para terminar minha licença de
massagem terapêutica. É bom ter pessoas por perto para
ajudar. Selene se sente como uma pseudo-mãe – não que eu
saiba como é isso.

— Obrigada. — Eu beijo Calista. — Seja boa para Selene.

Calista puxa os cabelos de Selene e a encara. Sim, nós


duas estamos ficando apegadas. Isso não é bom.

Rome bate na porta e quando a abro, ele está lá, como


todos os dias da semana, mas juro que ele fica cada vez mais
gostoso toda vez que a porta se abre. Hoje, ele está de jeans,
um suéter e uma jaqueta. Seu cabelo está penteado para trás,
em vez das ondas frouxas que costumam ter, e a vibe de bad
boy foi substituída por de um mocinho. Preciso contemplar
qual look prefiro, porque ambos funcionam para ele.

— Pa! — Calista diz e nossas duas cabeças se mexem.


— O quê? — Rome passa por mim e estende as mãos para
ela. Calista se inclina para frente e Selene passa para ele.

— Pa! Pa! — Calista repete e Rome a segura no ar como


ela ama, balançando-a.

— Está certo! Papai. — Ele aponta para si mesmo,


puxando-a para perto de seu corpo.

Selene recua, dando-nos espaço para essa nova


classificação que minha filha descobriu. Não que ela saiba o
que a palavra significa, mas Rome tem estado em seu rosto
todos os dias repetindo-a. Parece ter ficado preso.

Rome a segura para ele, a mão na parte de trás da cabeça


dela, os lábios na orelha dela, me encarando por cima do
ombro com o sorriso mais largo e brega. Alguém que diz: 'Eu
nunca vou desistir dela'. Não posso culpá-lo. Eu também
nunca vou.

— Papa tem que ir a algum lugar com a mamãe, então


você fica com a tia Selene, ok? — Ele a levanta, olhando nos
olhos dela enquanto fala.

Ele a gira, coloca sua barriga sobre as mãos e age como


se ela fosse um avião pousando nos braços de Selene.

Extravagante como o inferno, mas fofo ao mesmo tempo.


Nunca pensei que veria um homem como Rome conversando e
transformando nossa filha em um avião.
Nunca pensei que me sentiria culpada quando ela o
chamar de papa, porque daqui a dois dias serei eu que os
separarei quando a levar para casa.

— Agora vocês dois estão indo. Você sabe, trânsito. —


Selene pisca e nos atira pela porta.

Rome beija Calista na cabeça mais uma vez e depois abre


a porta para mim.

Sei que a Selene é confiável e tive que deixar Calista com


a equipe de creche para o meu trabalho e aulas em Seattle,
mas sempre há esse medo no fundo da minha mente de que,
quando eu voltar, ela desaparecerá.

— Há tráfego no Alasca? — Eu arqueei uma sobrancelha.

— Ei, é um lugar popular para se estar. — Rome me


conduz com a mão.

— Tchau, Selene. Não vamos demorar muito. — Digo,


mandando um beijo para Calista, que rapidamente percebe o
que está acontecendo. Seu lábio inferior mergulha.

— Leve-a, Rome, — diz Selene, percebendo o que está


prestes a acontecer.

O lamento de Calista começa no momento em que Rome


fecha a porta atrás de nós.

Pego a maçaneta da porta, mas me detenho.


— O que você está esperando? Vá buscá-la. Vamos levá-
la com nós. — Diz Rome, preocupando-se com cada sílaba.

Eu olho para ele. Eu conheço isso... a ousadia de seu tom,


a maneira que ele está pronto para passar por mim para
alcançá-la. Eu me inclino para mais perto da porta e ouço
Selene cantando. Os gritos de Calista diminuem e tiro minha
mão da maçaneta da porta.

— O que estou perdendo? — Ele pergunta.

Toco seu antebraço e aceno com a cabeça em direção à


entrada. — Vamos. Ela pode lidar com Calista.

Rome fica na varanda, hesitando em acreditar em mim


ou irromper pela porta. Decidindo pelo melhor para todos nós,
ele finalmente me segue até o carro dele.

Em pouco tempo, estamos a caminho de Anchorage. Sua


música rock está em um volume baixo o suficiente para
podermos conversar, mas o que há realmente para falar?

Sim, ok, você me levou lá. Poderíamos literalmente


encher um oceano inteiro com problemas que precisam ser
resolvidos. Agora é tão bom quanto qualquer outro momento,
então me viro e o encaro.

Seus polegares batiam no ritmo do tambor no volante. Ele


é realmente diabolicamente bonito. Não importa, eu me
lembro. Nem devo me importar.
— Você tem certeza de que está bem fazendo isso? —
Pergunto.

Ele assente e sorri, aquele sorriso de tirar a calcinha de


qualquer mulher. — Qualquer coisa para Calista. Merda.
Falando nisso. — Ele pega o telefone do console, pressiona
alguns botões, com cuidado para manter os olhos na estrada
e o entrega para mim. — Você já ouviu falar do blog Buzz
Wheel?

— Eu ouvi todos vocês cochichando sobre isso. — Olho


para a tela e vejo o site do blog Lake Starlight Buzz Wheel, um
lindo logotipo azul e preto e tudo.

— Pense nisso como um ritual de passagem. A manchete


de hoje é sobre nós. Queria que você soubesse caso as pessoas
na cidade a tratasse como se já a conhecesse ou se referissem
a você pelo nome.

Me encolho, olhando para ele antes de ler a última


entrada do blog.

PAI DO BEBÊ ENCONTRADO

A NOVA GAROTA DA CIDADE COM A BEBÊ A REBOQUE É HARLEY


SULLIVAN. A MENINA CALISTA. O PAPAI DA BEBÊ? NINGUÉM MENOS QUE
ROME BAILEY. EU SEI, EU JURARIA QUE TAMBÉM ERA DE DENVER.
EMBORA TENHA OUVIDO RUMORES SOBRE UMA CONFUSÃO SOBRE QUEM
PODERIA SER O PAI, QUEM SABE? NOSSAS DUAS NOVAS ADIÇÕES AO
LAKE STARLIGHT FORAM VISTAS POR TODA A CIDADE, COM ROME
ATUANDO COMO GUIA NESTA SEMANA. SERÁ QUE ESSA QUERIDA É A

ÚNICA A PRENDER UM DOS NOSSOS GÊMEOS MALUCOS BAILEY? ACHO


QUE FALO POR TODOS NÓS QUANDO DIGO UM RETUMBANTE SIM!
INDEPENDENTEMENTE DE MAMÃE E PAPAI SE REUNIREM, É UM

MOMENTO DE COMEMORAÇÃO, PORQUE OS BAILEYS TÊM UMA NOVA

GERAÇÃO PARA DAR AS BOAS-VINDAS. WOO HOO!

Meus olhos percorrem a página.

EM OUTRAS NOTÍCIAS, ACHO QUE A MAÇÃ REALMENTE NÃO CAI

LONGE DA ÁRVORE. KAREN RADCLIFFE, MÃE DE HOLLY RADCLIFFE (QUE

EM BREVE SERÁ HOLLY BAILEY) E BRIAN CANMORE FORAM PEGOS

BRINCANDO COM CHANTILLY NO QUARTO DOS FUNDOS DE LARD HAVE


MERCY NA NOITE PASSADA. FALO POR TODOS NÓS QUANDO DIGO: AINDA
VOU LEVAR A TORTA DE NOZES, MAS SEGURO O CHANTILLY. OS
RADCLIFFES DEVEM TER ALGO PARA SEXO EM PÚBLICO. HOLLY E AUSTIN
TAMBÉM NÃO CONSEGUEM MANTÊ-LO NO QUARTO.

Todas seguiam, um e-mail para o qual enviar histórias ou


fotos.

— O que é isso, ensino médio? — Coloco o telefone de


volta no console central.
— Sim, mais ou menos, mas essa maneira estranha
também une a cidade.

Mantenho minha boca fechada, mas posso ver o fascínio


por ela.

— Diga-me, quanto de menino mau você é?

Ele ri, tirando-nos do lago Starlight e entrando na


estrada. Meu estômago aperta sabendo que Calista está cada
vez mais longe de mim.

— É uma cidade pequena, então a maioria é boatos. Além


disso, a cidade pode ser chata. Denver, Liam e eu tendemos a
achar nossa própria diversão.

Eu me viro para ele. Seus longos dedos ainda estão


tocando o volante. — Você não respondeu à pergunta.

Os lábios dele se erguem com a expressão 'você me


pegou'. Ele encolhe os ombros. — Qual é a sua definição de
bad boy?

— De jeito nenhum. Você não está jogando a pergunta de


volta no meu caminho para evitar responder.

Ele ri de novo, o som enchendo toda a cabine do carro,


me envolvendo como um cobertor quente. Foi por isso que
dormi com ele anos atrás? O flerte dele também era sedutor?
Provavelmente.
— Se sua interpretação de bad boy é em dormir com uma
mulher diferente todas as noites, então não, eu não sou um
bad boy.

Eu xingo e reviro os olhos.

— Não estou dizendo que sou santo. Quando durmo com


mulheres, não quero um relacionamento, então é estritamente
sobre sexo. Mas não estou no Lucky todas as noites pegando
mulheres. — Ele olha do seu lado para mim, passando uma
reta à sua direita. — Acho que é difícil de acreditar, dada a
nossa história. Geralmente procuro companhia feminina
quando estou chateado ou nervoso.

— Companhia feminina?

— Você prefere que eu diga foda amiga?

Balanço a cabeça.

— Não se preocupe, não sou um caso. Estou plenamente


ciente das minhas razões para fazê-lo.

— Qual é?

Ele olha por cima, voltando para a pista da direita. — As


mulheres tendem a me ajudar a esquecer do que estou
chateado. É realmente assim tão simples.

— Você não faz sexo quando está feliz?


— Depende de onde estou. Se estou com meu irmão ou
Liam, tendemos a fazer coisas estúpidas quando estamos
felizes. Merda estúpida que envolve o xerife.

— Sim, você pode estar bem no espectro dos bad boys.

Tento deixar que a vista majestosa das montanhas


empurre o pensamento de que homens como Rome Bailey não
são aqueles que se acalmam da minha mente. Ao longo dos
anos, houve mais homens do que eu posso contar que pensei
que poderia mudar. Não vou adicionar Rome a essa lista.

É por isso que Shane é tão fácil. Ele sabe o que quer, abre
seus sentimentos para qualquer um ver. Ele é estável e bom.
Previsível.

— E você?

— O quê? — Eu empurro Shane da minha cabeça por


enquanto.

— Você dormiu comigo naquela noite. Você é uma garota


má?

— Aprendi há muito tempo que sexo é sexo. Acho que


tenho todo o direito de apreciá-lo com quem eu quiser. Não
precisa haver amarras.

— E aqui estamos dois anos depois, nossas cordas presas


em uma noite, um cordão grosso que nos prende. Calista
sempre nos unirá.
Rome assumiu a verdade. Só percebi há alguns dias
atrás. Quanto mais eu vi o que ele e Calista se tornaram, mais
percebi que esse vínculo não podia acabar. Minha garotinha
merece seu pai. Ela merece ter tudo o que não recebi.

— Verdade. — Olho pela janela, imaginando o que o


futuro nos trará. Como vamos gerenciar a distância? Co-
parentalidade? Finanças?

— Vamos terminar esse teste e depois iremos a um


restaurante e conversaremos sobre nossos planos.

Rome me surpreende quase lendo minha mente. Não


posso continuar vivendo no limbo. Tenho que voltar para a
faculdade e trabalhar antes que não tenha mais dinheiro.

Tenho que voltar à minha vida real.


Eu peço para nós dois, no meu restaurante de frutos do
mar favorito e que tem vista sobre o Golfo do Alasca. É um tipo
de lugar sem frescuras, toalhas de mesa de plástico sobre
mesas de madeira, onde eles deixam as pernas de caranguejo
em cima da mesa com copos plásticos de manteiga e molho.

— Vou ligar para Selene. — Harley pega seu telefone.

— Mandei uma mensagem para ela enquanto você estava


no banheiro. Calista está dormindo.

Ela inspeciona o telefone e assente. — Hora da soneca.

— Sim. — Não sei a agenda da nossa filha como Harley


sabe, mas estou começando a aprender.

A vejo se concentrar nos poucos barcos de pesca que


entram e saem do porto. — É realmente bonito aqui.

A encaro e posso ser brega e fazer a cena 'ela é linda', mas


acho que ela não aceitaria bem o elogio. Além disso, é claro
que, se quero que essa coisa de co-parentalidade funcione, um
relacionamento sexual não é o melhor jeito de começar.
Mas é fácil ver porquê dormi com ela naquela noite. É
linda de uma maneira ‘da garota da porta ao lado’. Esconde
seus sentimentos doze camadas de profundidade e acho que
nunca admitiria que está sofrendo, e diria ‘para o inferno’ com
alguém vendo sua vulnerabilidade.

Os últimos dois anos não poderiam ter sido fáceis. Estou


lutando para acompanhar o restaurante e elas só estão na
minha vida há uma semana.

— Então, a coisa da massagem terapêutica? Quanto


tempo você tem para se formar? — Me endireito na cadeira.

Seus olhos encontram os meus, deixando a cena dos


pescadores ancorando seus barcos no cais. — Tenho mais uma
período, mas quando Calista ficou doente, tive que deixar de
lado.

— Sinto muito.

Ela balança a cabeça. — Não se desculpe. Não é sua


culpa.

— Ainda. — Endireito meus talheres na mesa.

Quero desesperadamente contar a ela sobre a pesquisa


que fiz, mas não tenho certeza de como reagirá.

— A parte de merda é minha amiga Miranda, recém-


formada. Ela já está trabalhando e sou meio ciumenta, sabe?

— Tenho um amigo que é um dos melhores chefs de um


restaurante de renome em Nova York. Entendi. Peguei o longo
caminho de viajar pela Europa, aprendendo e aprimorando
minhas habilidades culinárias, enquanto ele praticamente
pulou da escola de culinária para este local. Aqui estou,
abrindo um restaurante em Lake Starlight. Mas a comparação
é ladra da alegria, como eles dizem.

Ela assente. — Digo isso a mim mesma. Nunca mudaria


nada. Aquela noite. Não Calista. Ela realmente é a melhor coisa
que me aconteceu. É apenas…

— O quê? — Me inclino para mais perto porque quanto


mais ela compartilha, mais baixa sua voz se torna, e não quero
que pare de falar. Amo que ela confie em mim para tanto, ao
ponto de me informar o que está pensando.

— Receber meu certificado de massagem terapêutica


pode mudar nossa vida. Eu poderia estar em casa mais noites,
poderíamos sair do minúsculo apartamento que estamos
vivendo e talvez alugar algo melhor. Sinto como se minha vida
tivesse parado.

Não posso dar conselhos sobre isso. Estive no vai e vem


minha vida inteira. Principalmente porque se estabelece parece
chato. Voltar à Lake Starlight foi uma decisão difícil, porque
sabia que onde quer que abrisse um restaurante significaria
uma residência permanente. Finalmente concluí que se tivesse
uma, a teria em minha cidade natal com minha família.

Decido seguir minha filosofia habitual na vida, que, em


poucas palavras, é foda-se.
— Procurei aulas de massagem terapêutica pela região.
— As palavras saem da minha boca rapidamente.

O rosto dela se contorce e a vejo pegar o copo de água, as


bochechas recuadas pela profunda chupada no canudo. Ela
não está facilitando isso para mim, está?

— Por quê?

— Porque quero que você fique aqui.

Aí. Disse tudo. Não sou contra ser vulnerável. E não acho
que me faça menos homem admitir que quero minha filha na
minha vida. Quero que ela cresça em Lake Starlight.

— Rome, — Harley suspira. — Nós temos uma vida

— Que tipo de vida? Você pode servir de bartender para


mim e, se não quiser fazer isso, vou encontrar outra coisa.
Você pode terminar suas aulas de massagem terapêutica.
Tenho oito irmãos e uma cidade cheia de pessoas que
ajudariam. O que há em Seattle que não tem aqui?

Ela torce a cabeça para encarar os pescadores


novamente. Meus olhos ficam nela. Uma onda de emoções
passa por seu rosto e aposto que não tem ideia de como é
transparente. Apostaria Terra & Mare que ela acha que
mascara todos os seus sentimentos, mas os vejo.

— Há algo que você precisa saber. Algo que não te contei.


Meu intestino torce, quando a cabeça dela volta
lentamente em minha direção. É claro que tudo o que está
prestes a dizer vai mudar esse nosso novo relacionamento.

— Eu tenho... alguém... estou namorando um cara em


Seattle.

Whoosh.

Juro que um tsunami me atingiu, me deixando ofegante.


Como não considerei isso? Posso não estar namorando
ninguém, mas isso não significa que Harley é uma mulher
celibatária. Ela é linda, é claro que encontrou um cara.

— Oh, — é tudo o que posso dizer.

Ela se inclina para frente. — Quero dizer, não é sério, mas


também não é casual.

— Ele sabe porquê você está aqui?

Ela assente.

— Será que ele... — Minha voz falha. — Calista pensa nele


como...

— Não. — Ela balança a cabeça e se inclina sobre a mesa


com olhos suplicantes. — Não é desse jeito. Eles se
conheceram e você a conhece, ela não estranha ninguém.

A azia enche meu estômago e engulo de volta a bile


subindo pela minha garganta.
A garçonete se aproxima e joga as pernas de caranguejo
no meio da mesa. Ela sorri educadamente e pergunta se
precisamos de mais alguma coisa. Harley balança a cabeça, os
lábios caídos. Olho para a toalha de mesa de plástico, tentando
o meu melhor para envolver meus pensamentos em torno
dessa coisa de namorado. Pensei que tinha uma boa estratégia
para mantê-la aqui. Percebo agora que não tenho nada.

— Ele pode lhe dar uma boa vida em Seattle? — Pergunto,


empurrando o ciúme de seu relacionamento com Calista para
longe.

— Ele é um advogado.

— Claro que ele é. — As palavras saem antes que perceba.

— O que isso significa?

— Nada.

— Por favor entenda…

Pego uma perna de caranguejo e começo a abri-la. — Eu


entendo.

Ela fica de mau humor na cadeira. — Não pensei que isso


fosse de seu interesse. Quero dizer, essa é a minha vida e ainda
estamos encontrando um novo terreno aqui.

— E na última semana, você não pensou em me dizer que


tinha um namorado? Alguém permanente na vida de Calista?
— Até eu ouço a amargura no meu tom. De onde vem esse
ciúme? É sobre Calista, não Harley. Não sobre a gente se
tornar uma família, é sobre eu ser pai. Com certeza não posso
fazer isso com ela em Seattle e Calista vendo um advogado dar
mais do que eu.

— Rome, você está sendo imaturo sobre isso.

Pego um pedaço grande de caranguejo e coloco no prato


dela. — Você ficaria bem se eu tivesse uma namorada e a
escondesse de você? — Sim, tudo bem, posso ver agora que
estou sendo um idiota. Nos conhecemos há uma semana.
Preciso reprimir a merda falando. — Deixa pra lá. Vamos
apenas comer e descobrir isso. Então, não posso convencê-la
a ficar aqui para terminar sua graduação... quando você
planeja voltar para o advogado?

— Rome, — ela suspira novamente.

— Desculpe... Seattle. Quando você vai voltar?

Ela pega o caranguejo, mergulhando-o na manteiga


derretida.

— Em dois dias.

Meu estômago afunda até os dedos dos pés. — E você


provavelmente não planeja voltar?

Deixo tudo isso sair como se fosse negócios, porque tudo


o que invoquei em minha mente nos últimos dias voou pela
janela aberta como uma pilha de papéis.

— Talvez em algum momento, mas não é como se tivesse


um emprego e férias.
— Sim, entendi. — Olho para o meu prato. — Vou
descobrir uma maneira de ir até você, mas podemos pelo
menos ligar pelo Facetime algumas vezes por semana?

Parece um substituto tão barato em comparação com a


semana que passei com minha filha.

— Definitivamente. Não quero tirá-la da sua vida. E


Shane...

Arqueei uma sobrancelha. — O advogado?

Ela assente. — Ele não é o pai dela, nem age como um.
Não há preocupações com isso.

— Tudo bem. — Ele poderia, algum dia.

Ela enterra a cabeça no caranguejo, de vez em quando


olhando para cima para verificar se estou bem.

Sim, estou indo muito bem aqui. Fui apresentado e tive


minha filha arrancada de mim no espaço de uma semana. A
merda é simplesmente estelar.

Minha perna treme debaixo da mesa, tentando aliviar um


pouco dessa frustração reprimida. Preciso me afastar dela.
Encontrar um lugar para esses sentimentos dentro de mim.
Como posso ter ciúmes de um cara que eu nunca conheci? Por
que eu me importo?

Calista, penso comigo mesmo. Este tornado de


sentimentos por dentro é apenas sobre a minha filha.
Sim, vou continuar me dizendo isso. Cedo ou tarde, serei
obrigado a acreditar.
A campainha da Cozy Cottage B&B toca. Desde que ouvi
— Heart of Gold— , de Neil Young, vindo do estúdio de Selene,
acho que ela está muito ocupada fazendo sua arte, então pego
Calista em sua pilha de grandes blocos que Rome comprou
para ela alguns dias atrás e a levo para a porta.

Espreitando, mordo meus lábios e abro a porta. — Oi.

— Venha. — Dori puxa Calista dos meus braços e aponta


para si mesma. — Vovó Dori.

Calista, que já está familiarizada com ela, toca seus


cabelos.

— Sim, você é a única que eu permitiria tocar no meu


cabelo depois de ver meu cabeleireiro. — Ela sorri para minha
filha como se a amasse desde o dia em que nasceu.

Essa é a parte mais estranha de tudo isso – essas pessoas


amam minha filha porque ela compartilha o mesmo DNA deles.
Entendo que ela é uma criança, e não é difícil se apaixonar.
Mas juro que todos já se sentem ligados a ela. Não posso deixar
de amar que tenha a única coisa que não tive quando cresci:
uma família que a ama e acima de tudo a quer.

Exceto que estarão a milhares de quilômetros de


distância. O pensamento me faz estremecer.

— Escute, eu ia sequestrar você... — Dori começa.

Meus olhos se arregalam e ela levanta a mão.

— Na verdade não sequestrar. Mas ia pegar você no meu


carro e depois te levar a um lugar.

— Acho que vou levar Calista de volta. — Estendo meus


braços.

Ela empurra meu braço para baixo. — Rome me disse que


você vai embora amanhã, e Calista realmente não teve a
chance de conhecer suas tias. Você pode me agradecer por isso
porque as ameacei com desmembramento se elas começaram
a assediar você ao ver Calista. Você e Rome precisaram de
tempo para resolver tudo primeiro. De qualquer forma, iria
enganá-lo para ir a Holly e Austin para um lanche. Mas
Savannah disse que não havia como permanecer em suas boas
graças, então aqui estou sendo sincera e honesta.

— E parece que você está altamente irritada com esse


fato? — Eu ri.

— Gosto de fazer as coisas do meu jeito, mas Savannah


tinha razão. — Ela se inclina para a frente como se Savannah
estivesse por perto. — Nunca diga a ela que disse isso.
— Ok.

— Ok, você vem? De boa vontade?

Balanço a cabeça. — Não. Nós não vamos.

— Veja a razão do porquê deveria ter enganado você.


Ouça, você vai se divertir e é uma pequena pausa antes de ter
que voltar para Seattle, onde você está com Calista, vinte e
quatro horas por dia, sete dias por semana. Temos um pouco
de vinho e Holly é uma cozinheira decente. Ela não sou eu,
mas estou aqui para buscá-la, então não pude fazer as duas
coisas. Por favor? Essas são tias dela... — Ela fecha a porta
atrás de mim, me seguindo até a sala de estar.

— Doodoo, — Calista dá um tapinha na cabeça de Dori.

— Não, Doodoo, — diz Dori.

Mordo o lábio para não sorrir.

Calista deita a cabeça no ombro. — Doodoo, — ela diz


suavemente.

— Por que ela está dizendo isso? Ela foi ao banheiro? —


Dori a vira e espia na parte de trás da fralda. — Não.

— Hum.

— Doodoo! — Calista diz, mais animada agora.

— Não Doodoo! — Dori diz olhando para mim confusa.


— Eu acho que ela está te chamando de Doodoo, porque
ela não pode pronunciar Dori, talvez?

Sua boca se abre e ela me olha de queixo caído. — Ah,


não. Já tenho pessoas me comparando com aquele maldito
peixe. Não deixarei que minha primeira bisneta me chame de
Doodoo. — Ela aponta para si mesma. — Estamos mudando
de marcha. Nana.

— Doodoo!

Dori aponta para si mesma novamente. — Nana.

— Doodoo. — Calista mexe em seus braços, pronta para


descer.

— Ok, só por isso você vem comigo. — Ela pega minha


jaqueta do gancho e a joga em mim.

— O que aconteceu com ficar nas minhas boas graças?


Você perdeu todas as suas maneiras comigo.

— Então deve se sentir honrada porque estou tratando


você como uma família. — Ela pega o casaco de Calista, a
coloca no chão e se abaixa para vestir nela. — NANA vai vestir
seu casaco. — Ela grita Nana como se isso fosse fazer a
diferença. Calista é tão teimosa quanto eu e esse nome não vai
mudar até que seja mais velha.

— Não tenho cadeirinha de carro. Nós vamos ter que


andar.
— Ah, não. Tenho meu carro e comprei uma cadeirinha
para nós.

— Nós?

— Sim. — Ela abre a porta e vejo um enorme e velho


Cadillac estacionado na garagem. Algo como Elvis dirigia uma
vez. — Mãe é a palavra, porque só posso dirigir até o anoitecer.

— Quem te disse isso?

— Xerife Miller, — ela sussurra novamente. — Nós temos


um entendimento. — Ela pisca.

Ótimo. Vou colocar minha filha em perigo.

— Talvez possa dirigir o carro? Quero dizer, você pode me


dizer para onde ir e vou dirigir. Realmente senti falta de
conduzir esta semana.

Ela estreita os olhos. — Sou uma boa motorista.

Afasto suas preocupações. — Sei que você é, mas assim


você pode sentar na parte de trás com Calista e mantê-la
ocupada.

Os olhos dela brilham. — Perfeito. — Ela me entrega as


chaves e estou chocada com a facilidade com que isso ocorreu.
Talvez Dori esteja certa sobre essa coisa de enganar as
pessoas.
— Só vou rabiscar uma nota para Selene. — Vou para a
cozinha e faço uma nota rápida para ela e coloco no bule de
chá.

— Deve estar ficando caro ficar aqui, — diz Dori quando


saímos de casa e caminhamos pelo caminho até seu Cadillac.

— Sim. Se eu voltar, talvez precise descobrir outra coisa.

Ainda não paguei a conta final, só quando meu último


pagamento no bar do hotel.

— Adoraria ter você, mas Ethel reclamaria sobre Calista


ficar no centro sênior. Ela é uma dor na minha bunda.

Inspeciono o banco de trás, onde uma nova cadeirinha


está esperando.

— Não se preocupe, Kingston instalou a cadeirinha. Ele


faz as verificações de segurança para ajudar o corpo de
bombeiros quando não está saltando de aviões. Aquele garoto,
juro que ele vai me dar um ataque cardíaco.

Kingston. Kingston. Não sei se lembro quem era aquele


cara.

Coloquei Calista no banco do carro e prendo os cintos.


Dori sobe ao lado dela e jogo a bolsa de fraldas no banco do
passageiro, arrumando os espelhos e o assento para olhar para
minha filha. Quando ligo as chaves da ignição, a música de
Elvis sai dos alto-falantes.
Olho pelo espelho retrovisor enquanto aumento o volume.
Os ouvidos de Calista estão cobertos.

— Esse é o rei, menina. Você nunca cobre os ouvidos


quando ele está tocando. — Dori tira as mãos dos ouvidos.

— Você nunca sabe, ele pode estar assistindo da floresta,


— brinco com o boato de que ele está realmente vivo em algum
lugar.

— Sim, ele pode, — diz Dori, sem humor inflado em sua


voz.

Está bem então. Não há brincadeiras sobre o rei.

Nem pergunte como chegamos a casa de Holly inteiras.


Quero dizer, fiz tantas curvas fechadas à direita e à esquerda
por causa das instruções de última hora de Dori, cortando as
pessoas, tenho certeza de que elas pensaram que era Dori
dirigindo.

Estaciono do lado de fora de uma bela casa em estilo


cabana de madeira com uma garagem para três carros. É
isolado com uma longa entrada sinuosa. Não há vizinhos a
serem vistos, a menos que você esteja contando vida selvagem.
Não tenho certeza se isso é para mim. É melhor pedir um urso
para visitá-los no café da manhã.

Já existem três carros estacionados na ampla área


pavimentada em frente à casa. Parece que eles estão
acostumados a ter sempre companhia e cortaram parte do que
seria o jardim da frente para os veículos de seus hóspedes.

— Era a casa dos pais de Rome. Austin, seu irmão mais


velho e sua noiva, Holly, moram aqui agora.

É então que o artigo que li no Buzz Wheel vem à mente.


A filha de Karen, Holly, é a pessoa de quem estava falando.

— É muito bom, — digo enquanto nos aproximamos.

Dori abre a porta da frente, a bolsa de fraldas no ombro,


deixando-me segurar Calista. — Estamos aqui! — Ela grita,
sem me esperar enquanto caminha mais para dentro da casa.

Fecho a porta, sem saber se devo esperar aqui ou o quê.

Mas quando eu me viro, uma das irmãs de Rome


(suponho) já está lá. Ela é alta, com cabelos loiros e está
usando um terninho azul marinho. Parece completamente
organizada e no controle de sua vida e isso me faz sentir um
pouco como uma bagunça quente, dada a situação e o nó
confuso no meu cabelo.

— Oi. Ainda não nos conhecemos. Sou a irmã de Rome,


Savannah. — Ela estende a mão.

— Oi. Harley e essa é...


— Calista. — Ela não tenta pegá-la, mas alisa a mão pelos
cabelos. — Ela é linda.

— Obrigada.

— Venha. Estamos apenas abrindo o vinho e Holly fez


essas coisas incríveis de sanduíche. Ela tem algumas coisas
que achamos que a pequena também pode comer.

A cozinha está cheia de mulheres conversando. Karen e


outra mulher estão atrás do balcão, abrindo o fogão, passando
da geladeira para a comida. Elas trabalham bem juntas e é aí
que percebo a outra mulher, que deve ser Holly.

Uma loira e uma garota de cabelos ruivos escorregam de


seus bancos no bar, caminhando em minha direção.

— Juno, — diz a ruiva. — Tia Juno, — diz ela a Calista,


tocando seu braço.

— Brooklyn, — a loira se apresenta. — Tia número um,


— ela sussurra para Calista, levantando o dedo.

— Oh. — A outra mulher de cabelos ruivos atrás do


balcão limpa as mãos no pequeno avental enrolado na cintura.
— Eu sou Holly, seja bem-vinda. — Ela não aperta minha mão,
me puxa para um abraço e beija a têmpora de Calista. —
Consegui pegar uma cadeira alta e tenho uma pequena área
bloqueada no portão circular para ela brincar. Temos dois
cães, Myles e Daisy. Austin está caminhando com eles para se
livrar de parte de sua energia. Myles é um pouco...
— Enérgico, — Brooklyn se encolhe.

Holly balança a cabeça. — Não, ele é facilmente excitável.

— Ele tentou comer as bolas de Wyatt três vezes, — diz


Brooklyn, tomando um gole de vinho com as sobrancelhas
levantadas.

— É só ele, — diz Holly. — Provavelmente cheira o


dinheiro dele ou algo assim. — Ela ri, acenando com o
comentário como uma piada. — Entre e fique à vontade.

Sento-me no banco e coloco Calista no meu colo. Ela olha


ao redor da mesa, sem saber em quem focar sua atenção. A
Brooklyn é, obviamente, a mais ansiosa por sua atenção,
porque começa a brincar de esconde-esconde.

— Ah, ela adorava brincar com Brian na lanchonete, —


diz Karen, inclinando-se e batendo na minha mão. — Bem-
vinda. — O sorriso dela transmite uma mensagem: você está
segura aqui. Ainda há esse sentimento de afinidade que tenho
com ela, como se soubesse o que eu poderia estar passando.

— Posso? — Brooklyn pergunta, levantando e estendendo


as mãos. — Vamos apenas para a outra sala e brincar. Cada
uma de nós trouxe algo para ela.

Concordo com a cabeça e, claro, Calista não tem nenhum


problema em procurá-la. Seus dedos entrelaçaram
imediatamente em seus cabelos.
Lágrimas picam meus olhos, mas eu empurro de volta.
Todas essas pessoas que amam incondicionalmente a minha
filha e querem fazer parte de sua vida são esmagadoras.
Comprando as coisas dela para facilitar nossa vida. Eu nunca,
em um milhão de anos, pensei que vindo aqui isso iria
acontecer.

— Então, você vai voltar para Seattle amanhã? —


Savannah pergunta, fechando o telefone e pegando um
sanduíche.

— Sim.

Olho em volta, me perguntando para onde vovó Dori foi.

— Ela voltará, este é o modus operandi dela. Ela engana


você, fingindo que sumiu. Não baixe a guarda. A próxima coisa
que você descobre é que um padre estará à porta com Rome.
— Savannah ri.

— Ela geralmente vai diretamente para a criança Bailey.


— Holly sorri de onde está montando a comida no balcão.

— Ela foi para Wyatt por mim, — diz Brooklyn da sala da


família. — Mulher intrometida, — ela murmura para Calista,
que é recompensada com uma risada e baba.

— Sim, pedimos desculpas por antes. Mas obrigada por


vir e passar algum tempo conosco. — Savannah sorri e pega o
telefone novamente.
Pelos próximos dez minutos, Juno me conta sobre seus
negócios com casamentos, enquanto Holly e Karen brincam
sobre o artigo Buzz Wheel. Não é até que o homem que eu
acredito que seja Austin chega com dois cães, um pulando na
coleira, que tudo isso parece déjà vu. Nunca estive aqui antes.
Por que isso parece tão familiar?

— Não o deixe sair, — diz Holly, mas os dedos de Austin


já soltaram a coleira e Myles entrou no outro quarto, dando a
Calista uma lambida longa no rosto.

Seu rosto se contrai, antes dela começar a chorar.


Levanto-me para ir até ela, mas a porta da frente se abre e bate
fechando, chamando toda a nossa atenção.

— Esta é a gota d'água! — A voz de Rome explode através


da casa.

Ele para na entrada onde a sala de família e a cozinha se


reúnem, vê Brooklyn com Calista e o cão, pegando Calista fora
de seu alcance e a traz para seu peito. Ele a inspeciona como
Myles a atacou e depois olha para sua família. — Vocês todos
cruzaram a linha. — Ele olha em volta. — Onde ela está?
— Ela se foi. — Juno aponta para a janela e, com certeza,
todos corremos a tempo de ver seu Cadillac rabo de peixe na
calçada.

Pego Calista de Rome e enxugo a lágrima que escorreu


por sua bochecha.

— Ela vai se matar, — Austin murmura. — Isso significa


que ganho um sanduíche? — Ele beija Holly na bochecha e
corre para a cozinha.

— NÃO! — Ela grita, perseguindo-o. — Eles são para as


nossas convidadas.

Ele agarra um sanduíche na mão direita, e o segura


acima da cabeça dela. — Certamente ela não pode comer tudo
isso, — diz ele, seu olhar direcionado para mim, esperando o
meu acordo.

— Pode comê-los, grandão, — digo e beijo Calista na


bochecha.

Ela parece melhor agora.


— Seu vira-lata é um problema, — diz Rome.

— Ele a lambeu. — Os olhos de Austin estão focados em


sua noiva, rindo enquanto ela tenta pular e pegar o sanduíche.
— Rome, entre na outra sala. Você não precisa ver isso. — Ele
diz, observando o que todos podemos ver, os peitos de sua
noiva balançando para cima e para baixo.

— Nada que não tenha visto antes, — diz Rome, pegando


seu próprio sanduíche e estendendo-o para Calista. Ela morde
a ponta do pão.

Às vezes, fico surpresa com o quão instintivo ser um pai


parece ter chegado a Rome. Sinto que estou falhando todos os
dias e ele é como Clark Kent.

— Você não viu o dela, então vá embora.

— Tudo bem. — Rome acena com a cabeça em direção à


outra sala.

Eu sigo, mas olho por cima do ombro para encontrar


Austin enfiando o pequeno sanduíche na boca dele, agarrando
a bunda de Holly e a levantando em seus braços. Cara, isso é
sexy pra caralho. Ela bate de brincadeira nele, quando tenho
quase certeza de que provavelmente está pensando, me leve
para cima.

Puxando meus olhos deles, um formigamento se inflama


entre minhas coxas. Faz um longo tempo desde que senti que
um cara me queria assim. Shane é um amante atencioso. Ele
garante que eu goze antes dele e ele não tem problema em
descer, mas tudo parece uma lista e ele está atravessando os
degraus à medida que avançamos. Não há muita paixão ou
espontaneidade em nossa vida sexual.

Rome se senta no chão, empurrando Myles para trás com


o antebraço.

— Woof4, — diz Calista, estendendo a mão para acariciar


o cachorro.

— Cachorro malvado, — ele repreende.

— Dê uma folga a Myles. — Brooklyn pega as duas mãos


e as enterra no pelo do husky, acariciando-o até ele se deitar
ao lado dela.

Calista sai do colo de Rome em direção ao cachorro.

— Oh não, você não, — diz ele, mas ela acompanha os


movimentos. Ele olha para mim e aceno. — É com você se algo
ruim acontecer, — diz ele, apontando para mim.

Calista se aproxima e senta ao lado do Brooklyn, sua


mãozinha estendendo na direção da pata. Brooklyn continua
acariciando Myles e Calista lentamente move as mãos sobre o
local em que Brooklyn a mostra. É tão fofo como ela olha para
Brooklyn como se tivesse onze anos e Taylor Swift fosse
Brooklyn.

— Por que Dori nos trouxe aqui e foi embora? — Pergunto.

4 interjeição au-au.
Savannah se senta no sofá ao meu lado, Juno na cadeira
perto de Rome.

— Ela está se intrometendo. Nos disse que seria uma


chance para você ficar em Lake Starlight. Ela até trouxe esses
folhetos. — Savannah aponta para a mesa onde há alguns
panfletos de massagem terapêutica.

— Mas, por que ela iria embora?

— Seja grata por você não ter ouvido nenhuma história


sobre ela e nosso avô. — Austin entra, Holly coloca um prato
de bolachas e queijo na mesa de café e depois se senta perto
de seu noivo. Observá-los juntos faria qualquer um acreditar
no amor verdadeiro, isso é certo.

— Estou confusa, — digo.

— Ela está tentando sufocá-la com Baileys, — diz Rome.


— Pensando que se você conhecer todos nós e ver o que
podemos oferecer, você ficará. Ela é um pássaro velho que não
consegue guardar para si mesma.

Austin dá um tapa na cabeça dele. — Respeito, — diz ele.

Rome agarra a nuca e assente.

— Ela quer fazer o bem, — diz Austin. — Ela sempre se


sentiu como nossa mãe, pai e avó depois que nossos pais
morreram. Não tenho queixas sobre a intromissão dela. — Ele
e Holly se entreolham e meu estômago aperta. Como deve ser
saber que alguém te ama tanto?
Pego um panfleto e o leio por um minuto. Quando olho
por cima do jornal, encontro o olhar de Rome em mim. Ambos
os olhos se voltam para Calista, que está brincando com
Brooklyn, e depois nos olhamos novamente.

— A próxima sessão começa em três semanas, — diz ele


em voz baixa.

— Como você sabe? — Sussurro.

— Eu procurei. — Ele encolhe os ombros.

Aceno com a cabeça.

— Poderia olhá-la enquanto você tem aula.

Eu examino a sala. Todo mundo está distraído, mas é


estranho conversar sobre isso com outras pessoas ao redor.

— Preciso de um minuto, — digo. — Holly, onde fica o


banheiro?

Ela para de flertar com o noivo por um segundo e olha


para mim. — Oh, pelo corredor à sua direita.

— Obrigada.

Olho mais uma vez para Calista, mas Rome está aqui, e
ele pode ser mais protetor sobre ela do que eu. Minha
garotinha está mais do que bem aqui.

Por que isso me deixa triste?

Ah sim, porque estamos saindo.


Abro a porta do banheiro e encontro Rome lá com a mão
estendida, pedindo permissão para me levar a algum lugar.

— E Calista?

— Minhas irmãs a têm. Lembre-se de que somos nove.

Concordo.

— Ela está bem. Prometo.

Tranco minha mão na dele. Uma inundação de emoções


corre sobre mim. Como esse homem que realmente não
conheço me faz sentir tão segura?

Saímos pela porta dos fundos e descemos as escadas de


uma varanda com vista para uma fogueira e uma área
arborizada. Seguindo uma trilha, Rome não fala muito e tenho
que me perguntar o que ele está tentando fazer agora.

Quando chegamos a um pequeno lago cercado pela


floresta, ele me guia para um banco ao lado. Sento e ele desliza
ao meu lado.

— Realmente queria que você chegasse a essa conclusão


por conta própria, mas temo que não. Então, vou fazer isso.
— Fazer o quê? — Pergunto, preocupada que ele esteja
prestes a puxar um anel e cair sobre um joelho ou algo
igualmente louco.

— Colocar minhas cartas.

— Ok, — digo, hesitante quanto ao cartão que ele está


segurando.

— Quero que você e Calista fiquem em Lake Starlight.


Quero que você termine seu curso aqui. Posso cuidar dela e,
se não posso, tenho muita família que nos ajudará. Você obterá
seu diploma mais rapidamente e poderei ter minha filha em
minha vida.

Suspiro e me levanto, caminhando em direção à beira da


água. Com temperaturas mais quentes nos últimos dias, as
pilhas de neve duradouras estão diminuindo para nada.

— Faz todo o sentido e entendo que você tem o advogado


em Seattle.

— Shane, — corrijo.

Rome assente. Temo que ele não diga seu nome, porque
isso o tornaria real demais.

— Vamos. Não estava lá nos primeiros dezoito meses ou


durante a gravidez. Deixe-me estar perto agora.

Tenho que admitir, é tentador. Além disso, todos os


relacionamentos com os membros da família, que Calista
poderia formar, são um bônus.
O que eu realmente tenho em Seattle? Shane e Miranda.
Miranda terá sua própria vida um dia. E Shane? Não tive uma
conversa real com ele desde que estive aqui. Tudo foi por
mensagem. Mas ele é legal e pode haver um futuro lá.

— Não tenho onde morar.

— Você vai morar com Savannah, — a voz de Dori sai da


floresta.

— Que diabos? — Suspiro, assustada por sua aparição


repentina.

— Vovó D? — Rome pergunta, olhando para trás e


encontrando-a no banco agora. — Você é uma bruxa?

Ela ri. — Não. Voltei depois de largar as dentaduras de


Ethel em casa. As estava segurando hoje mais cedo e esqueci
de devolvê-las.

Rome massageia a ponte do nariz. — Nem quero saber.

— Provavelmente não, querido, — diz Dori.

— O que você está fazendo no lago? — Ele pergunta.

— Este lugar foi do seu avô e meu. Venho aqui quando


sinto falta dele.

Olho para Dori com simpatia. — Sinto muito.

Ela acena. — Ele se foi há muito tempo. Enfim, vocês dois


voltam ao que estavam falando.
Rome olha para mim com olhos suplicantes. — Você vai
estragar tudo. Eu quase a peguei.

— Você acha, não é? — Pergunto.

Ele concorda. — Definitivamente. É uma oferta muito


boa. — Sua língua desliza para fora e passa sobre o lábio
inferior. Ele tem razão. Estou procurando desculpas para ficar,
mas podem ser pelas razões erradas. Essa coisa entre nós está
se desenvolvendo e progredindo e quero saber o que isso
significa. Mas não posso me envolver com esse homem e
arruinar a esperança de futuro da minha filha com uma família
que a ama. Especialmente quando é toda a minha razão de
ficar aqui, para começar.

— E o trabalho no restaurante? É meu?

— Definitivamente. — Ele assente, um sorriso hesitante


no lugar.

— Vou contar a Savannah, — diz Dori antes que seus


passos possam ser ouvidos pisando em galhos.

— Rome, se eu fizer isso, estou mudando minha vida


inteira.

Ele concorda. — Confie em mim.

— Confiar em você? — Olho para o lago, desejando que


pudesse me dar alguma orientação.

Confiei no meu interior toda a minha vida. Nunca tive


orientação de pais. Claro, havia conselheiros, mas eles só
querem ter certeza de que você é bom o suficiente para fazer a
transição para a sociedade. Eles acham que estão indo bem,
garantindo que você não seja maltratado ou desnutrido. De vez
em quando você se deparava com um conselheiro novo que
ainda tinha a esperança de salvar o sistema, mas
eventualmente todos eles acenam com a bandeira branca.
Pedir minha confiança é como pedir a todos os filhos adotivos
que morem em um lar atencioso, com pessoas para os filhos e
não pelo dinheiro. Impossível.

Minhas mãos caem no meu estômago. Me diga o que


fazer. O que é melhor para mim e Calista? Rome chega até a
beira da água, esfregando seus ombros nos meus e uma onda
de calor se espalha pelo meu corpo. Meu intestino grita para
eu ficar, então as palavras saem da minha boca antes que
possa levá-las de volta. — Vou ficar.

Ele se inclina para mais perto. — Diga-me que ouvi isso


certo?

Ri como a colegial que ele me faz sentir. — Nós vamos


ficar.

Ele me pega e me balança. — Prometo que você não vai


se arrepender. Vou te dar todos os bons turnos. Savannah
adorará ter uma colega de quarto. E todas as minhas irmãs e
Holly, diabos, Denver adorará cuidar de Calista. — Ele me
abaixa no chão, meu corpo pressionando lentamente o dele no
caminho para baixo. Suas grandes mãos pousam em cada lado
do meu rosto. — Você não vai se arrepender disso. — Então
seus lábios pousam nos meus.

Por um breve momento, não me mexo. Deixo-os lá,


sabendo que devo recuar, parar com isso, mas meu corpo
literalmente perde todos os sinais do meu cérebro quando me
puxa para o peito dele, sua mão se aventurando pelas minhas
costas e passando pelo meu pescoço, segurando minha cabeça
na dele.

Seus lábios são macios e convidativos. Seu cheiro é


emocionante para todos os pontos sensíveis do meu corpo.
Quero gritar 'leve-me', mas o transmissor entre meu cérebro e
meu corpo se conecta e dou um passo para trás.

— Nós não podemos. — Minha mão cobre meus lábios,


secretamente esperando que o gosto dele desapareça no ar frio
do Alasca.

— Sim, desculpe, exagerei. Estava apenas empolgado. —


Ele muda de posição e levanta as mãos. — Sei que você tem o
advogado. Não deveria ter feito isso.

Aceno, me perguntando há quanto tempo ficamos


pressionados um contra o outro assim. Parecia uma
eternidade, quando provavelmente era apenas um segundo.

— Shane, — eu corrijo, desejando que ele fosse o que


estava em minha mente enquanto Rome tentava me beijar.

— Ok, certo.
Caminhamos de volta pela trilha sem nos tocar, um
silêncio constrangedor se estabeleceu entre nós. Fecho os
olhos e respiro fundo.

Por favor, diga-me que não estou deixando minha boceta


me levar a esta decisão.
— Não entendo como fui amarrada a isto. — Savannah
está parada na porta com as mãos na cintura.

— Mente em movimento, — diz Liam, sem esperar que ela


realmente se movesse.

Ela lhe dá um olhar ameaçador e, se fosse uma bruxa, ele


já teria desaparecido, mas se afasta quando ele a cutuca.

— Não é para sempre e você tem o quarto. O apartamento


acima de Terra & Mare é um perigo para Calista no momento.
Austin e Holly estão noivos e fodem sem parar. Realmente não
quero minha filha repetindo sons ofegantes e gemidos.

— E o Liam? Ele tem mais quartos do que precisa, — diz


ela.

— Liam é solteiro. O mesmo motivo se aplica a ele e a


Austin e Holly.

— O que você está dizendo sobre mim? — Ela nos segue


para cima, um passo doloroso de cada vez enquanto
manobramos a caixa de berço.
— Que você não transa, — diz Liam.

— Você não tem ideia de quantas vezes eu transo.

— Quanto tempo faz? — Ele pergunta. — E vibradores


não contam. Ou isso combina com você namorando no verão
passado.

Finalmente chegamos ao patamar e, enquanto tento


descobrir como manobrar a caixa para o quarto de hóspedes,
Liam e Savannah parecem estar jogando um jogo de 'quem
pisca primeiro perde'.

— Por que ele não conta? — Ela volta para Liam como eu
sabia que faria. O homem gosta de apertar mais os botões dela
do que Calista, com seu telefone de brinquedo falso, do qual
ela não consegue se separar.

Liam zomba. — — Por favor, tenho certeza de que esse


cara sabe chamar uma mulher para sair tanto quanto um
garoto de 13 anos.

— Isso é injusto. Quero que você saiba...

— Vamos. — Pego a caixa, parando a briga estúpida. Liam


pega o outro lado e somos capazes de descobrir uma maneira
de colocá-lo na sala.

— Calista vai dormir aqui e Harley fica no quarto de


hóspedes de Savannah. Viu? Tudo funcionou perfeitamente.

Liam usa seu canivete e abre a caixa. Vejo as instruções


lá dentro e puxo a folha de papel para dar uma olhada.
— O que diabos é isso? Parece um quebra-cabeça.

Olho para todas as partes e as peças de metal que Liam


está arrumando no chão. Estamos ferrados.

— Oh, apenas deixe Liam fazer isso. — Savannah acena


minha preocupação e meu queixo fica aberto.

Com sua sugestão, ela apenas elogiou Liam e podemos


ter que voltar para dois mil e onze pela última vez que isso
aconteceu.

Liam não diz nada, mas seu sorriso de merda enquanto


ela percorre as instruções é suficiente para irritar Savannah.
Ela sai do quarto.

— Acho que isso é totalmente injusto.

Sigo atrás dela. — Oh, por favor, será bom você ter
alguma companhia. Harley é incrível e quem não poderia amar
minha filha?

Ela solta um suspiro frustrado quando chega ao quarto


de hóspedes, tirando as fotos que tinha na cômoda, uma delas
na formatura de nossos pais, outra da minha mãe segurando-
a quando bebê.

— Você pode manter sua merda aqui, — digo.

— Não, se ela ficar aqui, não vou deixá-la sentir que não
é o seu espaço. Ela precisa preenchê-lo com suas próprias
coisas, para que seja como seu lar, não a casa de um estranho.
Ela continua arrancando qualquer coisa pessoal da parte
superior dos móveis.

Inclino meu ombro no batente da porta. — Obrigado,


Savannah. Realmente aprecio isso.

A vejo assentir e olhar para mim do outro lado da sala. —


Posso fazer uma pergunta?

— Claro. — Dou de ombros.

— O que você espera que aconteça com ela ficando em


Lake Starlight?

Ela pega um recipiente de armazenamento do armário e


senta-se na beira da cama.

Juro, é a única pessoa que conheço que tem caixas de


armazenamento vazias na mão 'por precaução.'

— Não sei, mas não quero mais perder a vida de Calista


e investi todo o meu dinheiro, além de alguns fundos de
investidor, no Terra & Mare. Não posso fugir disso.

Ontem à noite, olhei para o meu teto me fazendo a mesma


pergunta. Aquele beijo com Harley no lago atrás da casa dos
meus pais acabou antes de começar, mas me deu um gosto
dela. De como o corpo dela se molda ao meu, como é tê-la em
meus braços. O fato de já ter gostado dela uma vez, além de
lembranças parciais do nosso selvagem encontro sexual me
devorando por dentro. Se a tivesse agora, a levaria devagar,
exploraria seu corpo como um aventureiro de Harleyland,
mapeando-o pela primeira vez.

Mas ela foi rápida em recuar. Rápida em dizer não e não


posso dizer que está errada. Não posso prometer a ela muito
mais do que uma ou duas noites. O último relacionamento
sério que tive foi, bem, nunca.

— Essa coisa toda pode explodir na sua cara, — diz


Savannah, pegando um pedaço de algodão no edredom azul
claro. — Você pode perder as duas.

— Como assim?

— Eu vejo isso. O jeito que você olha para ela.

— Como? — Estou genuinamente intrigado.

— Vejo quando você olha a bunda dela ou como seus


olhos se aproximam do decote quando ela se abaixa para pegar
Calista, mas é o jeito que você olha para ela quando ela é mãe
de sua filha, o que me faz pensar. Quando segura sua filha,
você olha como se pudesse amá-la.

— O que você está fumando? — Afasto-me do batente da


porta.

A vejo encolher os ombros. — Você perguntou o que vi e


estou sendo sincera.

Ela está tão errada. — Talvez eu esteja olhando para


Calista assim porque a amo.
Ela pega a caixa da cama. — Ok, talvez esteja errada, mas
talvez não, — diz, me lança um sorriso tenso, passando por
mim e caminhando para o quarto dela.

Afasto os comentários de Savannah e volto para o que


será o quarto de Calista. Liam já tem metade do berço.

— Que diabos? Quando você se tornou o Sr. Conserta


tudo?

Ele me dá o dedo. — Só porque escolhi não ir para a


faculdade não significa que sou um idiota, — ele murmura,
seus antebraços enormes flexionando enquanto usa a chave
inglesa. Pelo menos sei que Calista estará segura com Liam,
encarregado da montagem.

— Vou pegar o colchão, — digo, dando um passo atrás.

— Ela está certa, você sabe. — Ele diz apenas alto o


suficiente para eu ouvir.

— Quem?

— Savannah.

Paro e volto. — Eu deveria enviar um e-mail para o Buzz


Wheel e avisá-los que vocês dois se elogiaram na última meia
hora.

— Sim, guarde isso para si mesmo. — Ele para, solta a


chave e olha para mim. — Mas não faça o que Rome Bailey
faria desta vez, ok?
— O que isso significa? — Minha testa dobra.

— Tudo o que estou dizendo é: não pule com dois pés


apenas para nadar para o outro lado e sair da água.

— Quando fiz isso?

Ele levanta as sobrancelhas como 'você realmente quer


refazer o seu passado?'

Lembrando. Não sou o tipo de cara que faz isso.

— Poderia citar cerca de cinco vezes, mas esta é sua filha,


e a mãe dela. Essas duas mulheres estarão em sua vida para
sempre de uma maneira ou de outra. Não estrague tudo. É
tudo o que estou dizendo.

— Bem. Obrigado pelo voto de confiança. — Saio do


quarto, ignorando o conselho de Liam também.

Quando ele e minha irmã chegaram à mesma página?

Descendo as escadas correndo para pegar o colchão, o


pego na minha caminhonete e estou subindo as escadas
quando o ouço e a Savannah falando em tons normais.

E eles dizem que eu sou o único fodido. Tão quente e frio


aqueles dois.

Inclino o colchão contra a parede no corredor e ouço uma


batida na porta da frente no andar de baixo. Volto para ver
Harley lá com Calista no carrinho.

— Ei, você, — diz ela.


— Ei. Ainda estou montando o berço.

Ela enfia a mão debaixo do carrinho. — Tenho um


presente de agradecimento para Savannah.

É uma torta da Lard Have Mercy.

— Que tipo?

Ela se encolhe. — Espero que Karen tenha razão...


merengue de limão?

Concordo. — Só Savannah poderia amar algo tão azedo.


— Abro a porta e espio dentro do carrinho para encontrar uma
Calista adormecida.

— O ar fresco sempre a pega.

— Entre. — Abro a porta da frente para que Harley possa


manobrar o carrinho no vestíbulo. — Vá lá em cima e veja suas
novas instalações. — Ela deixa Calista no carrinho e me segue
lá em cima.

A levo ao quarto de Calista primeiro e surpresa, surpresa,


minha irmã e melhor amigo estão de volta à garganta um do
outro.

— Acho que você entendeu errado, — diz Savannah,


apontando as instruções.

— Eu não, — responde Liam.

— Você fez! — Sua voz fica mais alta.


— Eu não, — Liam responde com uma voz monótona.

— Ei, olha quem está aqui.

Savannah se vira. — Oi, — ela diz e sorri.

— Muito obrigada por nos deixar ficar. Prometo que não


seremos muito inconvenientes e, quando estiver de pé,
procurarei meu próprio lugar.

— Não se preocupe, Harley, Savannah poderia usar um


pouco de felicidade em sua vida, — diz Liam.

Savannah bufa, então sua mandíbula faz aquela coisa


apertada que só faz quando Liam está por perto. — Venha e
vou te mostrar seu quarto.

As duas saem e depois que ela vê o quarto, Calista


começa a chorar. Me viro para buscá-la, mas Harley me
impede. — Eu a pego.

Savannah a segue escada abaixo e as ouço na cozinha, a


gaveta de talheres se abrindo. Sim, Harley escolheu bem
porque a torta de merengue de limão é a fraqueza de
Savannah.

— Então, o que exatamente você quis dizer antes? —


Pergunto a Liam, ajudando-o a segurar um pedaço do berço
enquanto ele o aperta.

— Vamos lá cara, você sabe. Qualquer garota que você já


procurou... assim que elas quiseram você e a perseguição
acabou, você saiu, não estava mais interessado. Inferno, todo
mundo ficou chocado por você ter escolhido Lake Starlight
para iniciar Terra & Mare porque você não é o tipo de cara que
fica em um lugar por muito tempo.

— E você é?

— Smokin 'Guns está aberto há seis anos. Eu vivi aqui a


minha vida inteira. Não estou falando apenas de
relacionamentos, Rome. Estou falando de um compromisso
com qualquer coisa.

— Sou um maldito chef.

Ele encolhe os ombros como 'e daí?' E daí? Foi preciso


muita porra de compromisso para se tornar um chef.

— Com quantos chefs na Europa você trabalhou? — Ele


pergunta.

Tento fazer as contas na minha cabeça. — Estava


viajando para aprender diferentes tipos de cozinha, imbecil.

— Tudo bem, — diz ele, parecendo estar aplacado, mas


sei melhor do que isso.

Estou começando a entender por que minha irmã está


sempre tão chateada com ele.

Eu sei que estou fazendo a coisa certa e me comprometo


com tudo. Não preciso da aprovação ou aviso dele.

— Tudo o que estou dizendo é que só será necessário


machucá-la uma vez antes que saia para sempre.
— Nunca machucaria Calista.

Viu? Ele está tão errado com tudo.

— Não estou falando sobre Calista.

E com isso, o bastardo vira as costas para mim e volta a


montar o berço.
Minhas mãos tremem enquanto pressiono o número de
Shane no meu telefone.

— Hey, querida, mal posso esperar para te ver amanhã.


Desculpe pelo cancelamento do seu voo. Espero que você tenha
descoberto antes de chegar ao aeroporto.

Não me julgue por mentir. Isso é difícil para mim. Não


estou acostumada a machucar outras pessoas.

— Ei, sobre isso...

— O que há de errado? Merda, espere... — Ele coloca a


mão sobre o receptor. — Não, disse que precisava de Colt
contra Ferguson. Por favor, comece a escrever isso.

Ouço alguém dizer algo abafado e então sua mão se afasta


do telefone.

— Ok, estou de volta.

— Você está trabalhando até tarde, — digo, tentando


atrasar o que tenho que dizer.
— Sim, tenho outro grande caso. Ainda posso pegar você
e Calista amanhã, mas depois terei que voltar ao escritório. Me
desculpe, realmente queria levá-la para aquele lugar tailandês
que você ama.

Fato, não amo, ele ama. Calista despreza isso, mas pelo
menos ele estava pensando em nós, acho.

— Na verdade, você não precisa se preocupar com isso,


porque houve alguns acontecimentos aqui.

Deus, por que não pode haver um serviço que você pode
contratar para terminar com as pessoas? Isto é horrível.

— Você está bem? Calista?

— Sim, estamos bem, hum...

— Esse bastardo não fez o teste de DNA, porque tenho


amigos advogados no Alasca que ficariam felizes em ajudá-la
com isso.

— Shane, decidi ficar aqui. Sinto muito, mas devo isso a


Calista. Há uma faculdade em que posso terminar meu curso
e o pai dela tem oito irmãos que ajudarão com a bebê.

Silêncio.

— Shane?

— Você vai ficar com ele?

— Não, — falo rapidamente, embora mantenha esse beijo


inesperado para mim mesma. — Não tem nada a ver com ele.
Você sabe como cresci e não posso voluntariamente me afastar
por causa de Calista. Eles são a família dela. A verdadeira
família e quero que ela tenha relacionamentos em sua vida que
nunca tive.

— Ok, mas certamente esses relacionamentos ainda


podem crescer com você em Seattle comigo.

Ouço alguém dizer algo em segundo plano e desta vez ele


não se preocupa em cobrir o fone antes de gritar. — Jesus
Cristo, Bonnie, isso não é ciência de foguetes. Vá para a sala
dos arquivos!

Odeio quando as pessoas vão de um a dez em um


milissegundo. Isso desencadeia meu instinto de sair correndo.

— Sinto muito. Realmente sinto, mas tenho que dar isso


para minha filha. Não tenho ideia de quanto tempo vou ficar
aqui, então estou terminando porque não seria justo com
você...

— Justo para mim? Justo para mim seria você voltar


para casa. Temos algo de bom acontecendo. Entendo que o
trauma de sua infância está lhe dizendo para fugir de algo tão
grande quanto você e eu, mas você precisa ignorar essas
inseguranças e voltar para casa para mim. Vou encontrar uma
babá e você receberá sua licença de massoterapeuta. Tenho os
meios para lhe dar o que quiser, se você apenas aceitar.

O argumento de Shane tem peso. Não há dúvida.


Ele sempre foi aberto com seus sentimentos, me dizendo
o que quer. Inferno, por ele estaríamos morando juntos no
nosso segundo encontro sem sequer conhecer Calista, mas não
ia viver às custas de um homem. Onde isso me deixaria
quando ele decidisse que não me queria mais? Odeio ter que
confiar tanto em Rome quando se trata de ficar em Lake
Starlight, mas farei isso por minha filha.

Ela precisa desses relacionamentos em sua vida. Merece


estar com a família que a quer, então aceitarei a hospedagem
gratuita em Savannah e o trabalho no restaurante de Rome
para que isso aconteça.

Um dia eu os pagarei pelos sacrifícios, mesmo que


pareçam dar livremente e não desejem nada em troca.

Shane é uma história totalmente diferente. Sempre senti


que todas as suas promessas vinham com cordas, mas na
época a troca pela estabilidade que ele oferecia parecia uma
troca justa.

— Sinto muito, mas não vou voltar. Desejo-lhe muita


sorte. Você é um homem maravilhoso e fará alguém muito feliz.

O silêncio continua por um momento.

— Realmente acho que você está tomando uma decisão


precipitada aqui.

— Eu não, — digo. — Estou indo com o meu instinto.


— Se você fosse com a cabeça, não teria uma filha de
dezoito meses e não teria que se aventurar em uma
cidadezinha no Alasca, para encontrar o pai dela.

Me recosto no sofá. Este é um Shane muito diferente do


que já conheci. Quero dizer, não é como se nunca o tivesse
ouvido dizer coisas ruins para sua assistente, Bonnie, mas
nunca para mim.

— Acho que você está certo, Shane. Mas, novamente,


segui meu instinto quando comecei a namorar você, então
acho que deveria ter usado minha cabeça porque, então, não
estaria terminando com você agora. Tenha uma boa vida.

Click.

Porra, isso é um alívio.

Terra & Mare será o lugar mais chique que já atendi como
bartender, e acho que estou um pouco nervosa quando passo
pelas portas.

— Rome! — Grito, encontrando o lugar praticamente


pronto para a abertura.
Ele decidiu que o dia seguinte ao desfile do Dia do
Fundador será a abertura, porque ele quer passar o feriado
com Calista.

— Ei. — Ele sai de costas, limpando o rosto com a parte


de baixo da camiseta branca, revelando um conjunto de
abdominais que dá vontade de lamber e uma dose de luxúria
me prende no lugar. — A porra da geladeira não está
funcionando de novo.

Tenho que me livrar dessa atração por ele. Nada de bom


pode vir disso.

— Acho que você pegou limão. — Largo minha bolsa na


mesa e o sigo até a cozinha, agradecida por não precisar mais
fingir que não estou olhando para o abdômen com formato de
tábua de lavar roupa.

— Onde está Calista? — Ele pergunta.

— No parque com Karen e Brian. — Ainda tenho que


admitir isso para alguém, mas é bom ter ajuda com ela.

— Esta geladeira está me irritando, mas tenho melhores


notícias... — Ele pega o telefone e desliza para sentar-se no
balcão. — Eu sou o pai. — Ele diz como se fosse Maury Povich
e estende o telefone, mostrando-me um e-mail.

— Você duvidou? — Levanto uma sobrancelha.

Ele ri, limpando mais suor, mas graças a Deus ele usa a
manga em vez da parte inferior da camisa. — Nem uma vez.
Nossos olhos travam. — Parece diferente por escrito? —
Me inclino contra o balcão e cruzo os braços. Seu olhar
mergulha no meu peito por um segundo.

— Não. Mas liguei para garantir que tudo fosse enviado


ao seu médico em Seattle. Teremos que transferir seus
registros médicos para um médico aqui em cima, para que
todos estejam cientes de sua condição, se algo acontecer.

Concordo. Com tudo acontecendo, quase esqueci o


quanto isso é importante. Especialmente com outras pessoas
a observando agora.

— Precisamos informar a todos que, se ela se machucar,


precisam levá-la para a sala de emergência imediatamente.

— Aqui. — Ele pega o telefone e mexe com ele por um


segundo e um alerta vibra no meu telefone no bolso de trás. O
puxo para descobrir que fui adicionada a um grupo intitulado
'Grupo Bailey'.

Rome: Para sua informação, se você olhar Calista e ela for


cortada ou qualquer coisa que envolva sangue, você precisará
levá-la a sala de emergência. Ligue para Harley ou para mim
rapidamente.

Aparecem três linhas pontilhadas e uma sequência de


mensagens começa depois.

Não tenho ideia de quem é quem, mas um tema comum


em todas as suas respostas é: O que há de errado? Aconteceu
alguma coisa? Por quê?
— Maneira de fazê-los entrar em pânico, — digo.

Ele encolhe os ombros. — Acredite, essa sequência de


mensagens de texto da família vai lhe poupar muitas dores de
cabeça. Muito mais fácil do que enviar oito mensagens
separadas. — Ele desliza para fora do balcão e a campainha da
porta toca um segundo depois.

— Rome! — Um homem grita da frente do restaurante.

— Aqui, — diz ele.

O homem que me deu as instruções para o restaurante


de Rome, minha primeira noite na cidade, entra pelos fundos.

— Ei, Jack. Essa é a Harley. Acho que vocês não se


conheceram.

— Na verdade, nos conhecemos. Prazer em conhecê-lo


oficialmente, Jack.

— Da mesma forma, — diz ele, colocando sua caixa de


ferramentas no chão. — Harley entrou na loja de ferragens
procurando instruções, — diz ele a Rome a título de explicação.

— Entendi. — Rome coloca as mãos nos quadris com uma


careta e olha para a geladeira industrial. — Acha que devo
enviar de volta? — Rome pergunta.

Enquanto os dois conversam sobre refrigeração, escrevo


uma mensagem rápida no bate-papo em grupo para que todos
saibam que Calista está bem e saudável, mas explico sua
condição e os riscos que ela representa.
Outra fila de mensagens chega... Obrigado Harley, oh
minha pobre sobrinha, o que podemos fazer para ajudar, etc.
Eventualmente, todos eles colocam seus nomes com seus
números e me preocupo em programá-los no meu telefone.
Leva tanto tempo que, quando chego ao último, Bailey parece
estar com erros de ortografia, porque estou encarando a
palavra há tanto tempo.

— Estarei no bar, — digo para Rome e Jack, embora não


tenha certeza de que eles se lembrem de que estou no lugar.

Olho em volta do bar de madeira escura para as garrafas


que revestem as prateleiras de vidro. Rome não poupou
despesas. Sua seleção de vinhos é requintada e ele também
possui a maioria das marcas de alta qualidade de bebidas
destiladas. Me pergunto quantos negócios um restaurante
como esse pode fazer em uma cidade como essa. Não que seja
uma cidade pobre, mas todo mundo que conhece parece mais
uma pessoa do tipo lanchonete em vez de um restaurante
requintado.

Tomo nota do posicionamento dos refrigeradores, do


balde de gelo e dos copos, para que, na próxima semana, na
noite de abertura, não seja um desastre por não ser capaz de
acompanhar.

— Ei. — Rome entra. — Tudo parece legal? — Ele


pergunta.

— Você fez um ótimo trabalho. Você já trabalhou em um


bar? — Inspeciono mais algumas garrafas.
— Não, mas já trabalhei em restaurantes suficientes para
saber quais são as coisas. Se precisar de mais alguma, me
avise.

— Acho que isso deve ser suficiente.

Ele desliza na cadeira do outro lado do bar. — Qual é a


sua bebida, Rome? — Pergunto, inclinando-me sobre o balcão.
Seus olhos caem no meu decote, novamente, então me levanto.

— Você não se lembra?

— Bem, naquela noite você tomou cerca de quatro doses


de Jack como entrada e bebeu cerveja o resto da noite.

Ele concorda. — Parece o meu modus operandi. Vou


tomar uma água.

Estendo a mão e pego uma garrafa de água, abrindo-a


para ele.

— Marquei algumas entrevistas para você amanhã. Posso


olhar Calista.

— Entrevistas? — Inclino minha cabeça.

— Você não pode trabalhar no bar todas as noites. Você


tem aula e depois há Calista.

Inclino minha cabeça ainda mais, tentando entender do


que ele está falando.

— Você é a chefe do bar, então a decisão de quem


contratar é sua. Eu vasculhei os candidatos primeiro e há um
cara que já contratei. Pedi para ele entrar também para obter
sua aprovação. Se você não gosta dele, posso mandá-lo fazer
as malas.

— Chefe do bar? Sem chance Rome. — Balanço a cabeça.

— Sim. Você é a pessoa mais qualificada que conheço. É


perfeito.

— Perfeito? Você nem sabia que eu estava vindo para cá.


Qual era o seu plano antes de mim?

Ele ri, jogando a garrafa de água de volta, seus olhos


nunca deixando os meus. — Ainda não tinha um. Por isso, o
seu tempo foi perfeito.

Me inclino contra a borda do bar. — Você está fazendo


isso porque sou a mãe de Calista?

Ele ri de novo. — Não. Estou fazendo isso porque você é


experiente. Se você acha que é demais, me avise.

Decido acreditar na palavra dele, o que não é fácil para


mim. — Não. Está bem.

— Bom. — Ele assente, bebe a água novamente e termina


a garrafa em tempo recorde, triturando o plástico e colocando-
o no bar. — Estou feliz que isso esteja resolvido. — Ele se
levanta da cadeira. — Se eu não arrumar essa geladeira, não
haverá um dia de abertura.

— Tudo certo. Vou deixar você com isso. Vou pegar


Calista.
— Dê-lhe um beijo para mim. — Ele vai para os fundos.

— Ei, Rome, — digo, e ele para e se volta para mim. —


Parabéns por se tornar oficialmente pai.

Um sorriso lento e satisfeito parte seus lábios. —


Obrigado. — Ele pisca. — Estou muito feliz.

Sorrio de volta e o vejo desaparecer através da porta de


balanço atrás.

Minha mão vai para o meu estômago, em um esforço para


impedir que as lagartas se transformem em borboletas.
Borboletas não são permitidas no que diz respeito a Rome, há
muito a perder.
O Dia do Fundador não é exatamente o que eu esperava.

Rome realmente me queria no carro alegórico Bailey, o


que quer que isso signifique, mas recusei. Não sou uma Bailey,
Calista é.

Dito isto, meus nervos estão em alerta máximo enquanto


estou na beira da Main Street, esperando que eles passem. Nas
últimas semanas, me vi confiando não apenas em Rome, mas
também na família dele. Mas há algo em minha filha estar em
um carro alegórico me deixa mais nervosa.

— Hey, — Holly interrompe meus pensamentos confusos,


ficando ao meu lado.

— O que você está fazendo aqui? — Pergunto.

— Eu não sou uma Bailey ainda. — Ela coloca a mão no


ombro de uma mulher que está de pé atrás dela. — Esta é
Francie e Jack.

— Jack. Prazer em conhecê-la, Francie. — Aperto-me


para abrir espaço para eles.
A mulher de cabelos escuros sorri calorosamente e aperta
minha mão. — Você está gostando de Lake Starlight?

— Eu estou, obrigada.

— Rome diz que a geladeira está funcionando? — Jack


pergunta.

Concordo. — Ele disse. Bom trabalho.

Francie sorri para o marido.

— Não sabia que você conhecia Jack, — diz Holly.

— Cidade pequena. Você sabe como é.

Holly assente, mas Jack olha para mim e pisca,


mantendo o fato de que eu estava originalmente procurando
por Denver...

Sorrio para ele em agradecimento por sua discrição.

— Ouvi que Calista está no carro alegórico. — Holly me


bate com o cotovelo.

— Sim, espero que nada aconteça.

Ela passa o braço em volta dos meus ombros. — Não vai.

Deslizo por baixo de seu toque, mas ela não percebe por
que duas filas de carros de música dirigem pela Main Street
com “Shake it Up”, do The Cars, tocando nos alto-falantes.

Todos os lados da rua começam a cantar e dançar.


— Acabei de entrar em um set de filmagem? — Pergunto.

Holly está dançando ao meu lado como se estivesse em


um salto, colocando o peso em um pé e depois no outro. Não
tenho coragem de dizer a ela que está na época errada. — Eu
sei, certo?

A cabeça de Francie balança para frente e para trás. Não


é à toa que eles estão próximos, ambos estão confusos sobre a
música. Talvez deva dar a volta.

— Liam sempre escolhe as melhores músicas. — Jack


segura sua esposa, a gira e volta para ele.

Para que tipo de cidade me mudei?

— Você ouviu que eles mudaram este ano? — Francie diz


para Holly.

— Achei que encontraria vocês. — Wyatt se aproxima por


trás de nós com uma mulher mais velha ao seu lado.

— Você também não está no carro alegórico, hein? —


Holly continua dançando enquanto fala com ele.

— Você está noiva, enquanto ainda sou apenas o


namorado. — Wyatt ri e a mulher mais velha desliza o braço
pelo dele. — Esta é minha mãe, Eva, — diz ele.

Todos acenamos e dizemos olá para ela.


— O mar do amor está chegando bem antes do carro
alegórico de Bailey, — diz Francie. — É a minha parte favorita.
— Ela olha para Jack e ele a roda novamente.

Liam pisca para mim do carro da frente quando duas filas


de carros dobram a esquina.

Um carro alegórico aparece logo atrás deles, a música


suave de uma balada de amor assumindo o controle.

Há um homem vestido de terno cantando ao microfone e


uma mulher em um vestido de noiva sentado em uma cadeira
olhando para ele com olhos apaixonados.

— Vou deixar Francie explicar isso para você. Ela é


romântica. — Holly desliza e Francie passa o braço pelo meu.

— Ok, então o Sr. e a Sra. Bailey, os pais de Rome,


tiveram 'Sea of Love' dos The Honeydrippers como música do
casamento. Desde que eles morreram, a cidade faz esse tributo
a eles todos os anos. O departamento de teatro do ensino
médio está encarregado do carro alegórico.

Aceno e olho em volta. Todo mundo agora está


balançando para frente e para trás, cantando a letra. Francie
começa mais alto que todos.

Sério, mudei-me para Corneyville, EUA.

À medida que o carro se aproxima, Francie cobre a boca


e suspira.
— Sim, eles podem ter recrutado minha ajuda este ano,
— diz Holly, quando vemos uma enorme foto ampliada do Sr.
e da Sra. Bailey no dia do casamento, dançando no casamento.

Os pais de Rome.

Vi uma foto deles pendurada na parede de Austin e Holly,


mas foram anos depois que essa foi tirada. Eles já tinham seus
próprios filhos e não pareciam mais um conjunto de crianças
com olhos de corça e a vida inteira estendida na frente deles.

Todos os meninos se parecem mais com o pai e as


meninas com a mãe, com exceção de Phoenix e Sedona, que
têm cabelos escuros. Mas o homem que olhava sua esposa
poderia ser Rome. A semelhança deles é tão estranha.

Francie enxuga algumas lágrimas. — Sinto tanto a falta


deles.

Holly a pega pelos ombros e a leva para Jack, voltando


para o meu lado. — Todo mundo diz que eles eram pessoas
notáveis, mas acho que eles deveriam ter os filhos que tiveram,
certo? — Seus próprios olhos lacrimejam enquanto assistimos
o carro passar.

Não está nem mesmo na esquina, antes dos aplausos da


multidão irrompem.

— Esse é o tema das Golden Girls? — Pergunto uma vez


que ouço a música tocando do carro.
Holly ri quando aparecem. Ela assente. — Sim. A escolha
foi de Rome. Na verdade, ele não é do tipo sentimental. — Ela
deve ver minha confusão. — Todos os anos, uma das crianças
Bailey tem que escolher uma música que todos cantam para a
multidão. Tem que estar agradecendo a eles ou algo assim.
Este ano foi a escolha de Rome.

— E ele escolheu esta?

— Como disse, ele não é sentimental. — Ela começa a


cantar junto com Francie e Jack. Até Wyatt e sua mãe cantam
logo atrás de nós.

O carro alegórico aparece e não consigo lutar contra o


sorriso no meu rosto. Calista está ao lado de Dori um nível
acima do pai. Meu coração cai no meu estômago até ver que
ela está em um assento de carro, que não está se movendo.
Não tenho certeza do que ele fez para garantir isso, mas parece
estável.

— Não se preocupe, Harley, eu mesmo tranquei. — Jack


estica a mão e toca meu ombro.

— Ela não vai a lugar nenhum, — diz Francie.

— Obrigada.

Rome me encontra na multidão e pisca. Todos os irmãos


Bailey cantam a música com o que parece ser entusiasmo.
Calista está sorrindo e acenando, rindo e brincando com os
pés, os olhos arregalados, absorvendo tudo o que acontece ao
seu redor. Eu pego Rome olhando por cima do ombro para ter
certeza de que nossa filha está bem.

Em algum momento, ela me vê, aceno e mando um beijo


para ela, mas suas mãos se estendem, tentando sair da
restrição. Dori tenta fazer cócegas nela, mas ela não lhe dá
atenção, afastando as mãos. — Não Doodoo! Mamãe!

Aceno de novo e aplaudo como se ela estivesse fazendo


um ótimo trabalho.

— Uh oh, acho que ela está pronta agora, — Holly


sussurra ao meu lado.

Dori tenta fazer-lhe cócegas novamente, inclinando-se e


beijando a cabeça, mas Calista a bate. A multidão ri e o rosto
de Dori fica vermelho.

— Diga-me que isso realmente não aconteceu. — Mordo


o lábio.

— Oh, aconteceu, — Wyatt diz com uma risada.

Rome está nisso. Ele entrega o microfone para Denver e


alcança o próximo nível, desatando Calista e pegando-a. Ele a
segura contra o peito e a multidão aplaude mais alto, batendo
palmas.

— Sei que você não tem ideia, mas isso é um grande


negócio nesta cidade. O primeiro neto dos Bailey. — Holly
aperta minha mão. — Sei que pode se sentir oprimida pela
atenção, eu senti a princípio. Se você quiser conversar sobre
isso, estou aqui.

— Obrigada, — digo, ainda não tendo certeza do que


pensar sobre tudo isso.

Rome não canta pelo resto da música, mas segura Calista


no peito dele, a cabeça dela caindo no seu ombro forte, as
lágrimas secando enquanto os olhos se fecham. O polegar dela
entra na boca e ele balança para frente e para trás como se
estivesse fazendo isso desde que nasceu.

— Oh, ele está ninando-a para dormir, — a mãe de Wyatt


diz atrás de mim. — Quão precioso.

O resto da multidão deve concordar porque os aplausos


se transformam em 'ahhs' e agora as lágrimas picam meus
olhos.

Minha filha está com o pai dela.

Nunca pensei que este dia seria possível. Realmente


nunca quis que isso acontecesse, mas agora que estou aqui,
não posso negar o quanto estou feliz.

Todo mundo nesta cidade vê como Rome é um pai


carinhoso e bom. Eu guardo esta cena na memória. Não
importa quais caminhos nossas vidas sigam, preciso lembrar
desse momento, porque solidifica que eles pertencem um ao
outro.
Meu telefone toca e vejo que é uma mensagem de Holly.
Olho para ela antes de puxar sua mensagem.

— Falando de uma garota que não tem pai em sua vida,


você precisa tirar isso quando tiver uma chance. — Ela sorri.

Abro a mensagem dela e olho para a foto no meu telefone.


Os braços de Calista estão no pescoço de Rome, como se ela
estivesse com medo de que ele a deixasse.

Não se preocupe, menina, juro nunca te afastar dele. Não


importa o quê.

— Obrigada, — resmungo, piscando de volta as lágrimas


não derramadas.

Ela sorri e Rome olha para mim com uma expressão


arrogante como ele quer dizer: — Veja, tenho isso.

E ele também.

E é sexy para caramba.


Eu flutuo no final da rota do desfile e todos os meus
irmãos saltam. Denver me dá uma mão, já que Calista está
presa a mim como um bebê coala.

— Bem, isso foi interessante, — diz vovó D.

— Desculpe, ela estava cansada e viu Harley, — digo.

Ela beija a testa de Calista. — Está bem. A perdoo, mas


se esta cidade começar a me chamar de Doodoo... — Ela
balança a cabeça e passa o braço pelos de Juno. — Leve-me
para a biblioteca.

— Colton, vamos levar a vovó para a biblioteca, — grita


Juno, e como ele conhece a coisa e está esperando aqui o
tempo todo, ele corre para pegá-las.

Nunca vou entender essa amizade.

— Austin! — Holly grita através da multidão e ele


caminha em sua direção, abraçando-a. — Disse que você
deveria estar lá em cima.
Ela toca sua bochecha. — Quando eu for realmente uma
Bailey.

— Você é, — ele argumenta.

Ela ri e fica na ponta dos pés para beijar sua bochecha,


mas ele muda de marcha e captura seus lábios. Uma pontada
de ciúmes atinge meu intestino assistindo meu irmão tão feliz
que parece que vai explodir. Depois que ele a beija na frente
das testemunhas, descansa a testa na dela. — Passeio pela
memória na roda gigante?

Holly morde o lábio inferior e assente.

Jesus, esses dois. Lembre-me de nunca mais voltar à


roda gigante. Deus sabe o que eles estão fazendo. — Graças a
Deus Calista está dormindo! — Digo.

Austin se vira e olha para mim enquanto eles se afastam.

— Olhe Sav, você está se divertindo com todo mundo, —


diz Brooklyn com uma risada.

Harley caminha com Wyatt e sua mãe.

Wyatt beija Brooklyn de maneira mais conservadora do


que Austin beijou com Holly, mas sua mãe está parada ali.

Harley coloca a mão nas costas de Calista e olha a baba


no meu ombro. — Eu estava um pouco preocupada por um
segundo. — Ela ri.
Me junto a ela porque foi um show de merda quando ela
deu um tapa na cara de vovó D.

— Sim, ela cansou. A vi esfregando os olhos um


quarteirão antes, deveria ter percebido.

Ainda estou aprendendo essa coisa de pai. Realmente


espero que Harley não esteja gritando comigo por tê-la no carro
alegórico em primeiro lugar e por tirá-la da cadeirinha. Era
perigoso, mas nunca a deixaria cair.

— Vocês dois roubaram o show. — Ela fica na ponta dos


pés e beija a testa de Calista. — Mas não tenho certeza de que
você será capaz de mostrar a ela o carnaval. Está dormindo
profundamente.

— Deixei o carrinho na Terra & Mare. Vamos buscá-lo.

— Tudo bem, — diz ela. Afastamo-nos do resto dos meus


irmãos, enquanto eles se dispersam para fazer o que quiserem
pelo resto do dia, agora que as obrigações familiares acabaram.

Andamos um quarteirão até Terra & Mare, a placa de


inauguração com a data de amanhã pendurada abaixo do
toldo.

— Nervoso? — Ela me pergunta enquanto eu tiro minha


chave e a entrego a ela.

— Sim. — Essa palavra é um eufemismo. Não acho que


meu restaurante vai bombar, mas ele pode se sustentar? Não
terei essa resposta por mais seis meses.
Entramos e abaixo Calista em seu carrinho, colocando o
sinto e reclinando as costas. Colocamos o cobertor guardado
no fundo por cima dela.

— Vamos. Tenho o Dia do Fundador para mostrar a você.

Harley abre a porta e empurro o carrinho.

— É difícil? — Ela pergunta a caminho da calçada agora


vazia, já que todo mundo está no carnaval ou no lago.

— O quê?

— Ser um Bailey nesta cidade. Vocês são como as


crianças mais populares deste lugar.

Comecei a rir. — Ser um Bailey tem suas vantagens. Eu


testei até que ponto essas vantagens poderiam me levar antes
de ser empurrado para trás. Mas me arrependo disso agora
que sou mais velho. Foi errado da minha parte tirar vantagem.

— Depois que meus pais morreram, foi péssimo, mas esse


seria o caso se acontecesse com qualquer família nesta cidade.
O luto nunca parou. Todo aniversário de sua morte, o cemitério
é inundado de flores. Foi apenas um daqueles pesadelos das
cidades pequenas que foi sentido tão profundamente que era
difícil superar.

Estou tentando dar a ela uma resposta educada.


Ninguém quer ouvir o quão horrível foi durante os primeiros
anos.
— Não lembro dos meus pais. Eu tinha dois anos quando
eles desistiram de seus direitos. Bem, minha mãe. Nunca
conheci meu pai. Não há nome na minha certidão de
nascimento. É difícil entender o que vocês sentiram. Nunca
perdi ninguém com quem me importava, mas isso pode ser
porque não tenho muitas pessoas com quem me preocupo.

Suas palavras me tocam rápido e profundo. Aqui está ela


divulgando algo tão cru para mim, enquanto lhe dei uma
resposta politicamente correta sobre como as mortes de meus
pais afetaram esta cidade.

— Eu corro.

— Eu me escondo, — diz ela.

— Assim que chego perto, me afasto.

— Eu engulo.

— Eu desapareço.

— Fico, mas não estou realmente investindo. Qualquer


coisa é melhor do que ficar sozinha.

Bem, merda, não somos um par?

Caminhamos para o carnaval, mas nos conduzo ao


caminho ao redor do lago, porque os barulhos altos dos
passeios e as risadas acordarão Calista.

— Ser Bailey em Lake Starlight às vezes pode ser ruim, —


respondo honestamente. — As pessoas costumavam ter todas
essas expectativas. Como quando Austin estava no ensino
médio, eles supunham que fosse para o time profissional de
beisebol. Savannah seria presidente um dia. Então meus pais
morreram e tudo acabou. Todos nós também.

Ela coloca a mão na minha em cima do carrinho.

— Nunca pensei que me sentiria normal novamente. Fiz


o que pude para causar problemas para garantir que esta
cidade pensasse que era uma merda que não merecia sua
simpatia. Estava cansado dos olhos de pena deles. Acabei por
me rebelar.

— É compreensível.

— Sim, bem, minha reputação nesta cidade não é estelar.

— Acho que você está errado sobre isso. — Ela me bate


com o ombro.

— Espere até que você esteja aqui por mais tempo.

Caminhamos pela rota pavimentada à beira do lago e é


bom ficar sozinho com ela. Não conversamos assim um com o
outro antes de hoje.

— Obrigada, — diz ela depois de alguns minutos,


quebrando o silêncio.

— Pelo quê?

— Tudo. Acolhendo Calista em sua vida quando você tem


muita coisa acontecendo. Convencendo sua irmã a nos deixar
morar com ela. O trabalho de bartender. Você é um grande
homem, Rome. Esse aviso com o qual você se rotulou não está
funcionando. — Ela sorri para mim e meu olhar cai em seus
lábios. Pego meu pescoço dobrado, querendo capturá-los, mas
minha autopreservação entra em ação logo antes de mim.

— Vou decepcioná-la, tenho certeza disso.

Ela balança a cabeça e olha para mim, colocando a mão


no carrinho e me forçando a parar. O pôr do sol refletido em
sua pele a faz parecer um sonho.

— Não faça isso. Não comigo. Ok? Seja o homem que você
é com Calista, sem desculpas. Não há problema em ser um
cara legal e se as pessoas sentem pena porque você perdeu
seus pais tão jovens, deixe-os. Significa apenas que eles se
importam com você.

Eu olho para ela e vejo o quanto é realmente incrível.


Como não vi isso naquela noite? Fiquei consumido apenas
pelas curvas de seus peitos e bunda e não por seu espírito
amável e pelo interior piegas sob aquele exterior duro? Mesmo
depois da vida difícil que ela teve. Muito mais difícil do que a
minha. Ela nunca teve pais a perder e isso é muito pior.

— Ok, — digo, sem saber o que ela espera que eu fale. —


Mas você concorda em fazer o mesmo? Abra-se para as pessoas
verem você? Esta cidade pode ter suas desgraças, mas você
pode confiar na minha família. É uma coisa que posso garantir,
eles nunca irão decepcioná-la.
— E você? — Ela se aproxima. — Você vai me
decepcionar?

Pisco algumas vezes e fixo o olhar em seus dentes


pressionados em seu lábio inferior.

— Eu... — Deveria apenas beijá-la e lidar com as


consequências mais tarde. Talvez possamos dar a Calista a
família americana.

— Papá, — Calista murmura, mexendo-se debaixo do


cobertor.

— Salvo por sua filha, — diz Harley, afastando-se de mim


e pegando o cobertor para revelar uma garotinha sorridente.

— Mamãe, — ela diz.

Harley a solta e a puxa do carrinho, trazendo-a para o


peito. — Ei, garota doce, — diz ela, balançando-a para frente e
para trás. — Olha. — Ela se vira e os olhos de Calista se
arregalam.

— Papá, — ela murmura, mas não tenta deixar sua mãe.


Não a culpo. Adoraria ter minha própria cabeça pressionada
contra o peito de Harley agora também.

— Parque de diversões? Algodão doce? Pequenina? —


Pergunto a minha filha.

Os olhos dela crescem a cada palavra. Ela começa a


chutar os pés para descer, mas Harley a carrega enquanto
empurro o carrinho de volta para as luzes de neon que enchem
o céu da luz das estrelas do lago, enquanto o sol se põe.

Graças a Deus, Calista acordou porque estava prestes a


fazer o que Liam me disse para não fazer. Ia pular com dois
pés no fundo do poço, esperando que Harley pulasse comigo.
Mas e se Liam estiver certo e eu me encontrar nadando em
águas rasas, uma vez que ela se apegue a mim? Poderia
estragar tudo entre nós. Ela poderia pegar Calista e voltar para
Seattle.

Se eu pudesse confiar em mim mesmo, toda essa situação


seria muito mais fácil.
Três semanas se passaram e comecei minha aula de
massagem terapêutica em Anchorage. Dori foi legal o suficiente
para me emprestar seu Cadillac, embora pegue o xerife Miller
verificando que sou eu quase toda vez que atravesso as linhas
da cidade quando tenho aula.

Hoje à noite, trabalho na Terra & Mare, que agora tem


reservas por um mês. A parte ruim disso é que Calista e eu
temos um tempo limitado com Rome. Felizmente, está fechado
aos domingos e segundas-feiras, então temos esses dias.
Quero dizer, ela tem.

Estou atrás do balcão, preenchendo os pedidos de bebida


para as primeiras mesas que já estão lotadas quando Rome sai
da cozinha.

Ele parece gostoso em tudo o que veste, mas o casaco de


chef é como um jogo na final, meus ovários explodem, coração
bate forte e ainda, calcinha molhada. O nome dele é bordado
no canto superior direito e, quando ele usa uma bandana para
prender o cabelo, quero implorar que ele me deite e me leve...
— Como está indo? — Ele casualmente se inclina ao longo
da parte de trás do bar, olhando para seus clientes.

— Bem. — Coloco dois copos de vinho na bandeja.

A porta se abre e uma onda de ar flutua. Nós dois


olhamos para cima e meu queixo cai enquanto a hostess
caminha para cumprimentar Shane. Como o meu ex-Shane.

Ele está de terno, com a gravata desfeita e pendurada no


pescoço. O terno está enrugado, e ele não tem bagagem e, oh
meu Deus, o que diabos está fazendo aqui?

— Dê a esse cara um drinque de graça, ele parece que


correu uma maratona para chegar aqui. — Rome continua se
apoiando no balcão, sem perceber minha parada.

— Hum...

Shane e a hostess se viram na minha direção e meu


coração dispara quando ele sorri e se aproxima do bar.

— Harley, ei, — diz ele.

— Shane, o que você está fazendo aqui?

— Shane? — Rome dispara, cruzando os braços sobre o


peito, ficando atento como se o sargento o repreendesse.

— Posso falar com você? — Shane me pergunta.

— Estou trabalhando, — digo.


Faz quase um mês desde que terminei e não
conversamos. Não consigo imaginar porquê ele está aqui.

— Depois do trabalho, então. Que horas você sai?

— Hum... — Olho de volta para Rome, cujos olhos estão


em Shane. — Só mais tarde.

— Você pode tirar um tempo, — Rome grita atrás de mim.

De que lado ele está aqui?

— Não tenho ninguém para me cobrir, — digo, acenando


para ele.

— Vou fazer isso. Colin está na cozinha. Ele pode lidar


com isso.

Por que está fazendo isso?

— Por favor, Harley, — implora Shane.

Tento desatar o avental, mas o nó duplo fica mais


apertado e não consigo soltá-lo. Rome vem atrás de mim, seu
peito forte a centímetros de distância enquanto seus dedos
pegam o nó e roçam minha bunda com cada puxão. Engulo a
saliva que se acumula na minha boca.

— Sente-se nessa mesa. Já vou. — Aponto para uma


mesa vazia.

Shane faz o que digo, virando-se para os lugares vazios


de dois lugares.
— Você ainda está com ele? — Rome pergunta, sua
respiração quente e pesada no meu pescoço enquanto
continua a lutar com o nó.

Nunca disse a ele que terminamos porque não importava.


Terminar com Shane não tinha nada a ver comigo e com Rome.

— Não, nós terminamos há quase um mês.

Seus dedos deslizam as cordas para me tirar do avental.


Eles estão tão perto, mas tão longe. Quero que eles me
explorem mais do que respirar agora. Suas mãos tocam meus
quadris... Ele está sentindo o que eu estou agora? Ele está
ignorando a energia carregada que está constantemente entre
nós?

— Vá lembrá-lo de que você ficará em Lake Starlight, —


sussurra, e um arrepio percorre minha espinha.

Então, dá um passo para trás, cruza os braços e toma


sua postura casual de sempre ao longo do balcão traseiro do
bar.

Hesito com cada passo, mas eventualmente deslizo para


a cadeira em frente a Shane. Ele tenta pegar minhas mãos,
mas as coloco embaixo da mesa.

— Estou trabalhando, — digo.

— Eu sei. Sinto muito, mas seu chefe parece legal.

Essa seria a hora. A hora de dizer a ele que meu chefe é


Rome, o pai de Calista. Mas não é mais da conta dele.
— Tenho cinco minutos. Não posso perder este emprego.

Ele concorda. — Você não precisaria do emprego se


voltasse para casa comigo. Sinto sua falta. Sinto falta de
Calista.

Olho por cima do ombro para ver o olhar de Rome firme


em nós.

— Eu te disse, vou ficar aqui. É importante para mim que


Calista conheça o pai dela. Ele tem uma família muito grande
e todos a amam.

— Então, você está sacrificando o amor que poderia ter


comigo por ela? — Ele pergunta.

— Não. Mas eu faria. Num piscar de olhos. Gosto daqui e


você sabe como cresci, é importante que Calista tenha uma
família ao seu redor.

— Posso ser a família dela. Miranda me disse que você


mal fala mais com ela.

— Isso não é verdade. Obviamente, foi ela quem te disse


onde trabalho, então...

Já peguei Shane em mentiras antes. Pequenas e


estúpidas. Como se ele tivesse reservas para nós em algum
lugar, mas não deram certo. Ou que ele conhecia uma grande
pessoa antes de ser um grande negócio. Quando, na realidade,
eles poderiam ter frequentado a mesma escola, mas nunca
estavam no mesmo círculo. Ele gosta de impressionar as
pessoas.

— Bem, ela disse que você estava ocupada demais para


conversar muito, — ele diz.

— Tive que me matricular na escola. Recebi minha


mudança. Transferi todos os registros médicos de Calista.
Comecei este trabalho... — Ele se recosta, desabotoando outro
botão da camisa como se estivesse sufocando aqui. — Faz
quase quatro semanas desde que terminamos agora. Você está
sentindo a nossa falta agora?

Algo não se soma aqui.

— Tive um grande caso. Você sabe como eles me


consomem e tudo fora do caso desaparece para mim.

Eu sei. Agora percebo que é provavelmente o que nos


afastou, porque tive uma pausa dele. Assim que ele começou
a me sufocar, algo surgia no trabalho e eu recebia algum alívio.
O que sempre me fazia sentir culpada, mas Shane poderia
sufocar um filhote afetuoso. O que não é de má qualidade, mas
não sou um filhote de cachorro novo cheio de esperança de
uma casa. Sou o cachorro de cinco anos que pulou de abrigo
em abrigo.

— Bem, ainda mantenho o que disse. Vou ficar aqui, o


que significa que simplesmente não vai dar certo entre nós.
Não há ressentimentos... — Paro quando ele desliza para fora
da cadeira e cai de joelhos ao lado da mesa, cavando no bolso.
— O que você está fazendo? — Então me ocorre. — Levante-se,
Shane, — sussurro.

— O que eu deveria ter feito antes de você vir aqui. Tinha


tudo planejado, mas esse caso chegou à minha mesa.

Eu olho em volta. Os 'ohhs' e 'ahhs' já estão começando.


Não consigo nem olhar para Rome neste momento. Me
pergunto o que ele está sentindo agora. Provavelmente está
preocupado que eu aceite e leve Calista para Seattle.

A melhor pergunta é por que quero olhar para ele e ver


ciúmes em seus olhos? Não espero por essa reação e, como
duvido que seja o que encontraria, concentro-me no homem à
minha frente. O homem que obviamente não pode aceitar um
não como resposta.

— Levante-se, Shane.

— Harley, acho que temos algo especial aqui. Deveria ter


fechado este acordo antes de deixar você voar para longe. Quer
se casar comigo? — Ele abre a caixa e no interior repousa o
maior diamante que já vi pessoalmente. É um grande, em
formato de pera, com pequenos diamantes. É lindo, mas nem
um pouco do meu gosto. Apenas mais uma confirmação de que
isso não está certo.

Finalmente encontro coragem para olhar para o bar, mas


está vazio e meu coração se parte um pouco.

O que eu estava esperando?


Minha mente trabalha em excesso, classificando todas as
minhas lutas internas. Jurei que não ia me apaixonar por ele.
Poderia ser desastroso para Calista. Arruinar tudo o que
estamos construindo. Essa coisa de co-parentalidade foi
tranquila e a transição foi fácil. Então, por que meu coração
decide entrar e assumir? Por que acha que pode tomar a frente
agora?

Você não, penso.

Vou com o meu cérebro desta vez.

— Har, — diz Shane, e olho para baixo, percebendo que


ele ainda está de joelhos.

Merda.

Sento-me na cadeira, pegando a caixa dele e fechando-a.


— Não posso.

— Você não vai. — Ele tira da mesa e a coloca de volta no


bolso enquanto ignoro os olhares flagrantes das mesas
próximas.

— Sim. Não vou.

— Por quê? — Seu rosto está vermelho, e ele se senta do


outro lado da mesa em minha direção.

— Porque não te amo e você não me ama.

— Você não sabe disso.


— Acho, e se você pensar muito sobre isso, também vai
chegar à mesma conclusão. Provavelmente está mais chateado
por perder em geral do que por me perder especificamente.

Ele solta um suspiro. — Você não tem ideia do quanto


você é amada. Eu amei sua filha como minha. Estava disposto
a lhe dar uma vida como você nunca teve antes. Você nunca
precisaria se preocupar com dinheiro. Você teria o que
quisesse.

A raiva substitui minha culpa por não aceitar. — Não


preciso de um ricaço.

Ele se levanta da mesa, seus olhos estreitados e acho que


vai tentar me cortar com suas palavras novamente. Estou
familiarizada com o visual. O choque e surpresa quando chega
à conclusão de que não quero o que ele está me oferecendo.
Isso me lembra meu pai adotivo, aos quatorze anos, quando
tentou entrar furtivamente no meu quarto e me disse que se o
fizesse feliz, me levaria ao shopping no dia seguinte. Sim, o
denunciei no dia seguinte, em vez de ir para a escola. O que
tinha a perder? Estava acostumada a pular entre casas.

— Tenha uma vida agradável nesta cidade de merda. Não


volte rastejando quando perceber o quão grande você estragou
tudo esta noite. — Ele balança a cabeça para mim como se eu
fosse uma idiota, depois bufa e sai.

O ar fresco que flutua após sua partida é agradável.


Sento-me na cadeira, olhando pela janela por um
segundo, absorvendo o que aconteceu. Vejo Juno, que pula
nas costas de Colton na calçada, os dois brincando. Eles são
fofos juntos, mas pensei que eles eram apenas amigos?

— Harley. — A voz de Rome me tira dos meus


pensamentos, e me viro para encará-lo.

— Ei. Desculpe, voltarei ao trabalho agora. — Pressiono


as palmas das mãos na mesa para me levantar da cadeira.

— Ainda não. — Rome cai de joelhos ao meu lado. — Não


tenho anel, mas case comigo, — diz ele.

Minha bunda cai sobre a cadeira dura de madeira com


um empurrão. Desta vez, os 'ohhs' e 'ahhs' são mais altos.

Claro, um Bailey acabou de propor. Isso é uma grande


notícia em Lake Starlight, mesmo que o Bailey em questão seja
ilusório.
Ela se inclina sobre a borda da mesa e sussurra: — O que
você está fazendo?

— Case comigo. Esqueça ele e case comigo. Fique aqui


em Lake Starlight. Sei que não posso lhe oferecer o que ele
pode: o dinheiro, a casa grande e nem tenho anel. — Balanço
a cabeça. — Mas serei bom com você e Calista e vou fazer você
rir todos os dias que estiver comigo. Mesmo que seja apenas
me fazendo de bobo.

— Como você está fazendo agora? — Ela arregala os


olhos.

— Apenas diga sim.

— Levante-se, — diz ela entre os dentes cerrados.

— Não até você dizer sim. — Desabotoo a jaqueta de chef.


Está ficando quente aqui.

— Você quer se casar comigo? — Ela se recosta na


cadeira, cruzando os braços.

— Sim. — Concordo.
— Por quê? — Ela é tão legal e calma.

— Acabei de te contar. — Um vinco se forma entre minhas


sobrancelhas.

— Não, você me disse o que tinha para oferecer.

Limpo minha testa e percebo que todas as pessoas


próximas estão olhando para nós.

— Ok. — Tento engolir, mesmo que minha boca esteja


seca. — Amo que você seja obstinada e teimosa.

— Sério? — Ela ri.

— Amo a mãe que você é para Calista.

Sua cabeça se move para a direita e depois para a


esquerda como se estivesse pesando aquilo, então, se
concentra em mim, esperando por mais.

— Adoro o jeito que pedi para você ficar e você fez. Como
sei que não é fácil aceitar ajuda, mas você o fez para ficar.

Ela sorri. Talvez a esteja conquistando. Felizmente, onde


quer que esse advogado esteja, sabe que eu ganhei isso. Quero
me levantar, rasgar minha camisa e dizer que ela é minha. Elas
são minhas.

— E você me ama? — Ela pergunta.

Merda. Por que está me perguntando isso?

— Eu…
Eu poderia mentir. Quero dizer, a amo como pessoa e
como mãe da minha filha, mas amo o amor? Adoraria transar
com ela, mas acho que não é isso que ela quer dizer. Nem eu
mesmo sei o que é amor? Nunca fiquei tempo suficiente com
alguém para saber. Vejo o jeito que Austin olha para Holly e o
jeito que Wyatt olha para Brooklyn, mas não acho que olho
para Harley dessa maneira.

Eles se parecem com um cachorro perdido que acabou de


encontrar seu dono. Olho para Harley como se fosse um
cachorro vadio que acabou de ser servido com um grande bife
suculento em uma bandeja de prata. Não tenho certeza se são
a mesma coisa.

— Sim, foi o que pensei. — Ela se levanta e se afasta, mas


não atrás do bar, já que se dirige para a cozinha.

— Você está dizendo não? — Sigo atrás dela.

— É claro que estou dizendo não, — diz ela, ignorando


Colin e indo direto para o meu escritório.

— Por quê? — Paro, mas ela continua até que esteja no


meu escritório e gira na ponta dos pés.

— Você realmente tem que perguntar? Perguntei se você


me amava e tenho certeza de que você teve que engolir a bile
que subia na garganta. — As mãos dela estão nos quadris e as
sobrancelhas estão tão altas que você acha que ela as pintou.

Colin olha para ela e para mim e de volta para ela.


Jesus, não estou tendo essa conversa na frente dele.

Faço o que ela quer que eu faça e vou para o meu


escritório. — Colin me dê dez minutos. — Fechei a porta.

Nem estou atrás da minha mesa antes que ela abra a


porta e espie a cabeça para fora. — Só vai demorar dois
minutos. — Ela gira e fecha a porta novamente. — Rome, você
realmente quer se casar comigo?

— Sim. — Aceno enfaticamente. Ela não pode tirar minha


filha de mim.

— E se lhe dissesse que recusei minha primeira oferta de


felicidade hoje?

Oh, obrigada, porra. O alívio lava através de mim e meus


músculos, que estavam enrolados com tanta força um minuto
atrás, começam a relaxar.

— Você ainda quer se casar comigo?

— Bem... — Não é a pior ideia. Nós temos a química. Sinto


que nosso quarto nunca esfriaria.

— Exatamente. Oh, seu homem irracional. — Ela ri e


contorna minha mesa e encosta a bunda na borda. Ainda
tenho que me sentar, então meus olhos caem sobre sua saia
curta e pernas cobertas de nylon.

— Simplesmente não podia ter você se casando com ele.


O ciúme que surgiu em mim quando ele se ajoelhou era
quase demais para suportar. Vim para o meu escritório e andei
até surgir meu plano para vencer o cara no seu próprio jogo.

— Bem, não se preocupe. Disse que não levarei Calista


para longe de você, e quero dizer isso. Então, não há
necessidade de agir tão impulsivo. — Ela sorri para mim e meu
olhar cai em seu pescoço esbelto, já que seus cabelos estão
para cima. Alguns fios loiros erráticos caíram e quero
desesperadamente colocá-los atrás das orelhas.

— Harley, — digo, aproximando-me.

— Não. — Ela levanta a mão. — Você só estava


preocupado com Calista deixando Lake Starlight. Não transfira
isso para mim. Você está confundindo os dois.

Pego a mão dela e a abaixo até a mesa. — E se eu não


estiver? — Sussurro.

Mal posso acreditar nisso. Sim, não quero me casar com


ela, mas merda, acho que posso querer fazer alguma outra
coisa. Definitivamente quero dormir com ela, mas Harley não
é uma aventura. Não comigo de qualquer maneira. Se eu
cruzar essa linha, tenho que estar preparado para as
consequências ou para assumir isso definitivamente.

— Você está. Confie em mim. — Ela desvia o olhar e se


levanta. — Preciso voltar ao trabalho.

Ela contorna a mesa e a mão está na maçaneta da porta


antes de se virar para mim. — Faça-me um favor e nunca mais
faça uma proposta para uma garota se você não a ama. A parte
do amor é aquela coisa pegajosa que une um casamento. Sem
ele, não há chance de um feliz para sempre.

Não digo nada e ela sai do meu escritório, fechando a


porta atrás de si.

Caio na minha cadeira e passo as mãos pelos cabelos. O


que diabos aconteceu comigo?

Harley entra na cozinha quando Colin está terminando


de lavar a louça e estou limpando o fogão e o chão.

— Coloquei a placa de fechado.

— Obrigado. Quem está com Calista? — Pergunto.


Esperava sair daqui cedo esta noite, mas com todo o fiasco da
proposta, fiz o que faço de melhor e me dediquei a cozinhar,
para não precisar pensar no que está acontecendo ou não.
Harley.

— Brooklyn e Wyatt estão com ela na casa de Savannah.


Ela teve aquela reunião de negócios em Idaho.
Concordo com a cabeça, lembrando vagamente de algo
sendo mencionado. Harley esteve no controle da agenda de
Calista, até me dizendo quando vir.

— Tudo pronto. — Colin seca as mãos e olha entre nós


dois por um segundo. — Ok... bem, vejo vocês amanhã.

— Tchau, — digo. — Obrigado.

— Tchau, Colin. — O dedo de Harley corre uma figura oito


no balcão de aço inoxidável enquanto morde o lábio.

A energia na sala parece carregada e um pouco estranha.


Preciso que desapareça essa energia apenas para limpar
minha cabeça por dois segundos.

— Você está com fome? — Pergunto a ela quando ouço a


porta dos fundos abrir e fechar.

— Vou comer algo em casa.

— Aqui, tenho algumas sobras de macarrão. Posso


esquentar rápido. Também não comi. — Abro a geladeira,
agradecido por estar funcionando mais uma vez, para reduzir
o nível de calor subindo dentro de mim.

— Rome, — diz Harley, mas ela está mais perto agora. —


Todo esse constrangimento entre nós... odeio isso.

Fechei a porta da geladeira e a encontrei encostada no


balcão, tirando um sapato e passando o pé pela outra perna.
Ela está tentando me seduzir?
— Você foi quem disse que estava confundindo meus
sentimentos. — Coloco a massa no balcão atrás dela e passo
ao seu lado.

— Eu sei. — Seus olhos mergulham nos meus lábios. —


Deveria aliviar Brooklyn e o Wyatt, — diz ela, mas não se mexe.

— O que estamos fazendo? — Pergunto, meu pescoço


dobrando levemente em sua direção.

— Algo realmente estúpido, — diz ela, inclinando-se um


pouco para a frente.

— Isso pode destruir tudo o que construímos.

Seus lábios estão a milímetros dos meus, e posso sentir


o cheiro do limão do perfume que ela usa durante seus turnos.

— Poderia. Provavelmente, sim. — Ela assente.

Paro antes de ultrapassar a distância final. — Isso é um


não?

Ela suspira. — Não tenho certeza.

Me afasto, pego o macarrão no prato e aqueço. — Então


não estamos fazendo isso.

— O quê? Pensei que estávamos falando o que pensamos,


colocando nossas preocupações para fora. — Ela aparece atrás
de mim, seu peito pressionado nas minhas costas, suas mãos
deslizando na minha frente, me impedindo de continuar
colocando o macarrão nos pratos. — Se fizermos isso, é um
feito para você? — Ela sussurra.

Não tenho certeza se estou em qualquer estado de espírito


para responder. Meu pau é uma vara reta nas minhas calças,
implorando para que coloque minha consciência de lado e
cumpra seu desejo de penetrar profundamente nela.

Me viro e coloco minha mão em sua bochecha. — Não,


mas também não sei o que vai acontecer. Quero dizer, posso
prometer a você o mundo agora, mas nunca tive um
relacionamento, Harley. Nunca tentei ter um. Normalmente,
perco o interesse ou tenho muito medo de me importar.

A mão dela cobre a minha na bochecha. — Isso faz de


nós, dois. Tive Shane e alguns namorados ao longo dos anos,
mas ninguém que pudesse destruir minha vida tanto quanto
você. Quero dizer que temos uma filha, isso significa que isso
tem que ser mais do que apenas sexo.

— Mas? — Digo, porque tem que haver um mas, porque


há um para mim.

— Existe um mas para você?

— Eu perguntei primeiro, — digo, e ela ri, sua cabeça


caindo para trás e meu polegar traçando seu pescoço. Mal
posso esperar para lamber a pele macia.

— Mas quero tentar. Passei o turno inteiro debatendo isso


na minha cabeça e estava pronta para dizer boa noite e ir
embora, mas então olhei para você e acabou o jogo.
Inclino-me para selar nossas declarações com um beijo.
Nenhum de nós sabe o que acontecerá depois disso, mas
estamos definitivamente na mesma página esta noite.

— Espera. Qual é o seu ‘mas’? — Ela recua, desviando


dos meus lábios.

— Meu Deus, é que quero tanto você, mais do que


qualquer outra mulher que já esteve na minha vida. Posso te
prometer isso, vou ser honesto com você. Não vou correr.

— Tudo bem, — diz ela, olhando para mim com os olhos


fechados.

— Ok.

E finalmente, meus lábios descem e pressionam os dela e


posso prová-la novamente. Todas essas preocupações
desaparecem e somos apenas nós dois como se fosse a
primeira vez.
O beijo que compartilhei com Rome há dois anos
permaneceu dentro de mim. Tentei esquecer a maneira como
ele aperfeiçoou o toque suave e gentil misturado com lábios
firmes. Sabia que era um dos muitos em sua vida porque um
cara não nasceu sabendo como beijar assim, ele aprendeu isso
na prática. Mas no minuto em que seus lábios atingiram os
meus, não me sinto como uma de muitas, me sinto como dele.

Ele me empurra de volta para o balcão, sua coxa


separando minhas pernas, deslizando minha saia mais acima
das minhas coxas. Meus dedos se atrapalham com os botões
de sua jaqueta de chef. Ele tem gosto do molho de Bourbon
que continuou tomando a noite toda, e tomo a iniciativa de
aprofundar nosso beijo. Rome não se detém, suas mãos
seguram meus quadris com tanta força que ele pode deixar
uma marca. Me deleito com seu toque, cada dedo recua uma
pequena revelação de quanto ele me quer.

Minha mente me transporta de volta para a noite fora de


seu quarto de hotel quando ele nos parou antes de deslizar em
seu cartão-chave. Minhas costas estavam plantadas contra a
parede e sua coxa exatamente onde está agora. Houve
momentos em que estava andando por uma seção de colônia
de uma loja de departamentos e o cheiro dele me envolvia, me
impedindo de seguir. Aquela noite foi de pura paixão, como eu
nunca tive com mais ninguém. Pensamentos de suas mãos,
lábios, toque sensível e língua exigente, tudo correria para o
primeiro plano da minha mente exigindo atenção.

Não é assim então. Naquela época, não tinha


compromissos, nem apegos a ele, e pensei que era isso que
amava. Um estranho na cama que desapareceria na manhã
seguinte. Até o sinal de positivo aparecer no bastão, dois meses
depois.

Mas agora ele é o pai da minha filha. Meu chefe e, por


algum motivo, tudo parece demais...

— Pare de pensar, — ele murmura ao longo dos meus


lábios, sua mão escovando os cabelos do meu pescoço.

— Estamos sendo idiotas? — Minha cabeça rola para trás


quando sua língua desliza pelo meu pescoço.

— Nós somos humanos. — Sua boca pega meu queixo e


seu polegar acaricia minha mandíbula.

Ele está diferente esta noite. Preciso parar de comparar


isso com a última vez que o tive.

Nosso relacionamento é diferente. Isso não é uma


situação de uma noite, isso é... bem, seja o que for, o verei
amanhã de manhã e todos os dias depois disso.
Rome está certa, decidimos fazer isso, e tudo parece bom
demais para voltar agora. Dane-se as consequências. Nós
somos adultos. Nós vamos lidar com isso.

Ele me pega e me coloca no balcão, suas mãos correndo


pelas minhas coxas, separando-as para ele. Finalmente, tenho
todos os botões da jaqueta de chef abertos e deslizo o tecido
por cima dos ombros, onde cai no chão. Eu gemo ao vê-lo ainda
vestido com uma camisa branca, o que só o faz rir, quando
agarra a bainha e a tira do corpo.

Minha boca saliva enquanto vejo cada abdômen em seu


estômago contrair com seus movimentos. Sem aviso, ele rasga
minha blusa e seus lábios batem nos meus.

Oh meu Deus, isso era sexy.

— Dane-se isso. — Ele arranca seus lábios dos meus,


desliza-me para fora do balcão e me leva ao seu escritório,
chutando a porta atrás de nós. Minha saia está na minha
cintura agora.

— Eu sei. — Mantendo-me em seus braços, ele pega uma


mão e tira tudo da metade de sua mesa, seu computador ainda
sentado no canto oposto. — Preciso de você agora, porra.

Ele desabotoa as calças, os olhos ardendo como


inflamações antes que o seu pau estale e exploda. Suas calças
ficam abertas e ele molda a mão na minha bochecha, seu
polegar roçando meu lábio inferior. — Tire a roupa para mim?
Sorrio, meus dedos puxando minha camisa rasgada
ainda mais. Lambo meu lábio inferior e ele aproveita a
oportunidade para empurrar o polegar na minha boca
enquanto giro minha língua em torno dele, mostrando-lhe
exatamente como vou chupá-lo quando chegar a hora.

Deixei o tecido da minha camisa cair pelos meus braços


e seu olhar mergulha, sua mão deslizando pelo meu corpo até
que ele pega o meu sutiã e o puxa para baixo, seu polegar
molhado correndo em volta do meu mamilo. Chegando atrás
de mim, tiro o sutiã e as tiras caem pelos meus braços até que
caiam no meu colo.

Rome empurra as calças para baixo, saindo delas e se


senta na cadeira do escritório.

Nossos olhos não se separam por um segundo e deslizo


para fora da mesa, abrindo minha saia por trás e deixando-a
cair no chão junto com suas calças. Tiro a meia-calça e estou
prestes a tirar minha calcinha, mas Rome roda sua cadeira
mais perto de mim, me parando.

— Eu mal aguento, se você tirar isso agora, acabou.

Sorrio, amando o efeito que tenho sobre ele. Não tem


vergonha de revelar seu desejo e isso está me deixando mais
molhada.

— Monte em mim, baby. — Ele bate em suas pernas.

Deslizo minhas pernas de cada lado dele, sua cueca boxer


e minha calcinha de seda a única barreira para impedir que
ele deslize para dentro de mim. Ele não perde tempo, levando
meu mamilo em sua boca. Uso seus ombros como uma âncora
e arqueio minhas costas para dar a ele acesso total aos meus
seios.

Um gemido escapa quando ele amassa e chupa a carne


em sua boca quente. Suas mãos exploram, seu polegar
correndo ao longo da minha garganta, sua língua seguindo
cada mordida no meu peito ansioso.

Moo contra o comprimento rígido debaixo de mim e meu


cérebro quer que minha mão desça para tirar as roupas que
ainda faltam, mas não faço porque sei que Rome nos levará até
lá. Já estivemos aqui antes. Estou ficando impaciente, mais a
língua dele desliza pela minha pele e seus gemidos e rosnados
atearam fogo à minha libido, porque ele não consegue se
cansar de mim. Eu. Este homem lindo me quer.

Meu olhar pega o dele quando olha para mim, deslizando


a língua ao longo do meu mamilo pontudo. Terminei. Acabou.
Nunca vou me recuperar dele neste momento. Desta vez, é dez
vezes melhor porque o conheço. Ele não é o cara gostoso do
bar que me excitou com seus olhos sedutores e um sorriso
paquerador. É Rome. O pai do meu bebê. O chef que se
arriscou e abriu um restaurante chique. A criança Bailey do
meio que perdeu os pais muito jovem. O gêmeo maluco,
adolescente rebelde que deixou uma impressão duradoura em
todos nesta cidade. Uma reputação que ele parece querer
dissipar. O homem que voltou para cá para ficar perto de sua
família.
— Por favor, — gemo, e suas mãos deslizam para minha
nuca, me puxando para baixo e para ele.

— Gaveta de cima, — diz ele antes de me dar outro beijo,


que atinge minha alma, suga todo o ar dos meus pulmões,
deixa-me ofegante.

Abro a gaveta sem pensar, com os lábios ainda presos aos


seus, toco e sinto canetas, blocos de anotações e uma régua.
Hmm, isso pode ser divertido. Outra hora. Quando o pacote de
papel laminado deslizar entre meus dois dedos, quero cantar
aleluia.

Me afasto e Rome o tira do meu alcance. — Vamos torcer


para que funcione como deveria ser desta vez. — Ele ri.

Minha testa pousa nele, observando-o sair de sua cueca


e deslizar o látex pelo seu comprimento duro.

— Desta vez temos um sistema de segurança, — digo.

Ele olha para mim claramente confuso.

— Estou tomando pílula desde que ela nasceu.

— Dupla proteção desta vez. Perfeito. — Ele me lança


aquele sorriso de tirar a calcinha e eu poderia simplesmente
derreter em uma poça aqui e agora.

Seus dedos magistrais deslizam o tecido da minha


calcinha encharcada para o lado e eu me levanto para pegá-lo
por baixo antes de deslizar seu comprimento para dentro de
mim.
Nós dois gememos com o prazer dele me enchendo.

— Merda. Você é tão gostosa, — ele diz, escovando meu


cabelo da minha testa.

Como ele pode ser tão terno e tão exigente ao mesmo


tempo? Como se ele tivesse tudo sob controle e tudo o que
tenho a fazer é seguir a sua liderança.

Ele desliza as mãos pelas laterais da minha caixa torácica


e arrepios seguem seu caminho como uma avalanche.

— Você está bem? — Ele pergunta. Desta vez, colocando


meu cabelo atrás da orelha.

— Perfeita.

Seus lábios mais uma vez tomam os meus, mas são


lentos e metódicos e ouso dizer, amorosos.

Levanto de seu comprimento e suas mãos correm para


cima e para baixo nas minhas coxas, seus polegares deslizando
ao longo das minhas coxas enquanto movo meus quadris para
cima e para trás. O atrito no meu clitóris é incrível. Seus
polegares crescem cada vez mais perto da minha boceta toda
vez que me movo até que estejam lá, roçando levemente meu
clitóris cada vez que desço.

Nosso beijo termina e nossa testa descansa uma na outra


quando cada um de nós se concentra entre nós, me vendo por
cima dele.
Suas mãos deslizam sobre a minha pele como seda até
que ele agarra minha bunda, me ampliando e lentamente
assume o ritmo, aumentando o ritmo até que nós dois estamos
ofegantes, e nossos corpos estão escorregadios com o brilho do
suor. Com ele assumindo o controle, tiro minhas mãos dos
braços da cadeira e as envolvo em seu pescoço.

Nossos olhos travam, e todo esse desejo e calor nadando


em seus doces olhos castanhos me afogam. Eu igualo sua
velocidade quando ele habilmente agarra meus quadris e me
puxa para cima, antes de me bater de volta.

— Porra, Rome, — ofego, me ancorando nele para que


possa continuar fazendo o que está fazendo. — Nunca pare.

— Nunca, — diz ele, suor cobrindo sua testa agora e


pingando entre nós.

Estou tão perto. Tão perto.

— Não posso, — digo porque meu orgasmo está


pendurado como uma fruta madura de uma árvore, mas fora
de alcance.

— Você pode. — Uma de suas mãos controla o ritmo


enquanto as outras circulam meu clitóris.

Um segundo depois, todas as minhas terminações


nervosas começam a formar uma bola de energia e explodem
para fora. Minha boceta aperta-se como se eu nunca quisesse
que ele deixasse meu corpo. Tento ficar de pé para ele, mas
observo tem outros planos de qualquer maneira.
Ele me pega, com cuidado para tirar minhas pernas
debaixo dos braços da cadeira do escritório e me coloca na
beira da mesa, batendo em mim rápido e com força.

— Tão molhada, — diz para si mesmo, em seguida, agarra


um dos meus seios e apoia uma das minhas pernas
diretamente em seu peito enquanto continua a me dominar.

Seu olhar cai para mim, nunca se retirando até que eu


assista seu próprio orgasmo ultrapassá-lo e ele puxa,
arrancando sua camisinha e deixando seu esperma pulverizar
por todo o meu peito.

E eu estou pronta para a segunda rodada já.


— Desculpa, — digo, mas olhar para ela com meu sêmen
por todo o seu estômago está fazendo algo comigo. Gosto disso.
É como se ela fosse minha. Embora não seja. Bem, meio que
é. Com o que concordamos antes de fazer sexo novamente?

Ela ri, estende a mão e pega alguns lenços de papel da


caixa e os entrega para mim.

— Você fez a bagunça, você precisa limpá-la.

Pego os lenços e a limpo. O corpo dela é perfeição. Nem


acredito que teve um filho. É quando vejo uma linha fraca ao
longo do abdômen inferior.

Corro meus dedos ao longo de sua cicatriz de cesariana.


Tendo oito irmãos, você tende a saber sobre as coisas do
nascimento, não importa quantas vezes você cubra os ouvidos
e balance a cabeça.

— Você nunca me disse como foi o nascimento de Calista.


— A ajudo, jogando fora os lenços e pegando mais para mim.
— Isso não é exatamente uma questão para falarmos. —
Ela se levanta e recolhe nossas roupas em uma pilha,
colocando minhas calças na mesa.

— Acho que não, mas me diga. Quero saber.

Ela balança a cabeça. — Nada como uma convocação


pós-sexo 'como o bebê saiu de você'. Tão sexy.

Enfio meu pau de volta na minha cueca e visto minha


calça, percebendo que minha camisa ainda está na cozinha.
Meu estômago ronca como um lembrete do que estava fazendo
antes de me distrair com o sexo.

— Com fome? — Pergunto.

Ela olha para cima enquanto abotoa sua própria camisa.


— Deveria chegar em casa para aliviar Brooklyn e o Wyatt.

— Então eu levo o macarrão com nós e podemos aquecê-


lo lá. — Dou um tapinha em sua bunda enquanto caminho por
ela até a cozinha, mas nem estou fora do escritório quando a
ouço chamar meu nome.

— Rome?

Me viro e, com os olhos virados para baixo, já sei o que


ela está pensando. Sim, uma conversa real sem a energia
sexual girando ao nosso redor como um tornado teria sido
melhor antes de fazermos sexo.

— Sim?
Ela levanta as sobrancelhas e eu corro um caminho para
ela, passando o dedo ao longo de sua bochecha. Ela é tão linda.
— Vamos tentar fazer isso.

A vejo concordar. — Apenas pulando na água fria, hein?

Eu rio, puxando-a contra o meu corpo. — Você está


preocupada?

Seus braços descansam nos meus ombros e ela olha para


mim. — Apenas me faça um favor. Não importa o que aconteça
com nós, nunca deixe Calista.

Sua seriedade me faz recuar alguns passos. — Nunca.

— Nunca poderia me perdoar se eu fosse a culpada por


ela não ter o pai em sua vida, ok? — Concordo.

— Ei. — Me inclino, movendo minha cabeça até que eu


tenha seus olhos presos nos meus. — Ela é minha filha. Estou
na vida dela até estar com um metro e oitenta. Prometo. Mesmo
que você quebre meu coração. — Pisco e beijo seu nariz.

— Quebrar seu coração? Você é quem não se lembra da


nossa primeira vez. — O tom de voz dela diz que ela está
brincando, mas odeio não ter uma lembrança completa
daquela noite.

— Fui um tolo. — Deslizo minha mão na dela e a puxo


para fora do escritório.

— Nós devemos limpar.


— Amanhã, — digo, pegando minha camisa e a vestindo,
pendurando o casaco de chef no gancho pela porta do meu
escritório. — Hoje à noite, estamos indo para casa, para nossa
filha.

Ela sorri e eu gostaria de poder colocar isso em uma


garrafa e fechá-la, evitando a chance de estragar tudo. Todo
mundo sabe que tenho a tendência de estragar tudo.

Harley deixa o Cadillac de Vovó D no restaurante e a levo


na minha caminhonete até a casa de Savannah. Deveria olhar
Calista de manhã de qualquer maneira, já que ela tem uma
aula.

Quando entramos na linda casa de três quartos de


Savannah, um cachorro late. — Você deixou ela trazer aquele
vira-lata? — Pergunto, referindo-me ao cachorro de Brooklyn,
Gizmo.

Harley me lança um olhar de 'o que há de errado com


você'. — Claro.

— E se ele machucar Calista?

— Calista adora cachorros e Gizmo é do seu tamanho. —


Sem mais conversa, ela tira os sapatos e faço o mesmo. É
mania de Savannah e, se não obedecermos, certamente
encontrará o único pedaço de terra que deixo para trás e o
testará no laboratório para descobrir de quem veio o sapato.

— Falando nisso, — digo.

Gizmo corre pelos pisos de madeira como se estivesse a


um minuto de perder o controle e bater na parede. Claro,
Savannah provavelmente encera todos os dias, por isso pode
não ser culpa dele.

— Ei, Gizmo. — Harley se inclina e acaricia sua cabeça.

Brooklyn chega ao arco entre a cozinha e a sala da família


no final do corredor. Ela tem um olhar esquisito no rosto e
tento dissecar a expressão da minha irmã mais velha em busca
de significado, e isso me atinge.

— Você está me fodendo, certo? — Digo, puxando meu


telefone do bolso e indo para a cozinha.

— O que é isso? — Harley pergunta, acariciando a cabeça


de Gizmo.

— É o Buzz Wheel. — Clico no site e você o encontra. —


Alguém tirou uma foto pela janela?

— Tecnicamente, era a sua porta dos fundos. Você


precisa ser mais discreto. — Brooklyn pega o casaco e Wyatt
revira os olhos por cima do ombro, ajudando-a a vestir.

— Não aponte os dedos.


— Eles tiraram uma foto nossa? — Harley coloca o Gizmo
no chão e vem para o meu lado.

— Tenho que dizer, tenho orgulho de vocês dois, — diz


Brooklyn e, se Harley não estivesse perto de mim, a ignoraria.
Mas não quero que Harley interprete errado o significado do
motivo pelo qual estou fazendo isso.

Pressiono o botão e há o artigo carregando com uma


imagem de mim prendendo Harley ao balcão da cozinha antes
de beijá-la.

— Pelo menos eles desaparecem, então Calista nunca vai


ler isso, — digo, mas Harley tira o telefone da minha mão. Olho
para minhas mãos agora vazias.

— Acostume-se, cara, — diz Wyatt, rindo para si mesmo.

Harley começa a ler em voz alta. Que gentil da parte dela.

— Todas as mulheres solteiras por aí? Você deveria estar


se moldando a Harley Sullivan, porque ela recebeu duas
propostas esta noite. Infelizmente... bem, como membro do
TIME ROME, realmente não acho triste que o cara que veio de
Seattle tenha sido negado quando caiu de joelhos. Os clientes
do novo restaurante de Rome, Terra & Mare, estavam todos
prontos para tocar os copos quando Harley o mandou fazer as
malas. Então o próprio Rome emergiu e caiu de joelhos no
mesmo lugar que o misterioso homem de Seattle, mas
infelizmente (e desta vez quero dizer isso), ela também não
disse sim. Bem, pelo menos para o casamento. De acordo com
um colega residente em Lake Starlight, que capturou esta foto
do casal a alguns segundos do beijo, Harley gritou muito hoje
à noite. A questão permanece: Harley deixará Rome colocar um
anel no futuro? — Ela faz uma pausa, seu rosto ficando mais
pálido quanto mais tempo olha para mim.

— Não é nada. Ninguém realmente lê, — discuto, mesmo


sabendo que estou mentindo.

— Boa tentativa, — diz Harley e me devolve o telefone.

— Não se preocupe, há mais notícias lá. Supostamente


Denver está indo morar com Liam porque seu proprietário
aumentou o aluguel, então agora alguém na cidade está
chateado porque a casa de Liam vai se transformar em um
bordel ou algo assim. — Brooklyn ri tanto que bufa.

Balanço a cabeça. Denver e Liam estão se mudando


juntos? Isso vai ser interessante.

— Obrigado por nos deixar trazer o Gizmo, — Wyatt muda


de assunto. Bom homem.

— Sem problemas. Quero Calista com o maior número


possível de cães, porque quero que se sinta confortável com
eles. Quem sabe talvez, um dia, consiga um? — Ela olha para
mim e sorri. Quero desviar o olhar. A pergunta é como nós
vamos ter um cão? Puxe as rédeas sobre esses cavalos, ainda
não chegamos lá.
— Sim, ele está fazendo essa coisa estranha quando
saímos do apartamento, levando um bicho de pelúcia, e,
quando voltamos, verificamos que apenas mastigou os olhos.

— Oh, — Harley recua.

— E ele os coloca ao lado do bicho de pelúcia. É


assustador como o inferno, — diz Wyatt.

— Ansiedade de separação, — diz Brooklyn. — Conversei


com Colton sobre isso e ele disse que é inofensivo, já que isso
não acontece todas as vezes, mas, provavelmente estava bravo
quando saímos.

— Espera. Depois que você sai, ele pega um bicho de


pelúcia, morde os olhos e os coloca no chão da sala da família,
ao lado da carcaça atacada? — Harley pergunta.

— Sim. — Brooklyn assente.

— Por que vocês dois têm animais de pelúcia? — Faço a


pergunta real para a qual quero uma resposta.

— Wyatt é profissional nos jogos de pegar bichinhos no


carnaval. Fui para casa com um monte, desde o Dia do
Fundador.

Balanço a cabeça para esses dois.

— Que bom, ele ganhou bichos de pelúcia para você. —


Harley diz isso com um toque de adoração.

Tanto faz. Poderia ganhar seus bichos de pelúcia.


— De qualquer forma, é melhor irmos e deixarmos vocês
dois para fazer o que quiserem. — Brooklyn balança o dedo
entre nós.

Reviro os olhos pela milionésima vez.

— Obrigada novamente. — Harley está prestes a se


despedir, mas Calista geme no monitor. Antes que
percebamos, ela está subindo as escadas.

— Então? Vocês dois estão namorando agora? —


Brooklyn faz a pergunta que sei que está morrendo de vontade
de obter uma resposta.

Coloco minhas mãos em seus ombros e a levo para a


porta. — Boa noite.

— Vamos. Sou sua irmã. — Ela firma os pés. Estou


usando toda a minha energia para empurrá-la para fora da
porta. Se tivéssemos dez e doze novamente, me esforçaria
mais, desejando que ela caísse para a frente e caísse de cara
no chão, mas agora somos adultos. Na maioria das vezes. —
Não estrague tudo.

— Tchau, — digo.

Wyatt fica do outro lado da porta com Gizmo nos braços,


assistindo a cena se desenrolar. — Obrigado pela ajuda aqui,
amigo.
— Se algo acontecer e elas deixarem Lake Starlight, você
sabe que estamos expulsando você da família, certo? Harley e
Calista irão substituí-lo.

A empurro novamente. — Certo. Tanto faz. Vá para casa.

Ela vacila para fora da porta, rindo. — Tchau! — Mexe os


dedos e fecho a porta na cara dela.

— Não é um adeus muito agradável para duas pessoas


que apenas cuidaram sua filha. — Harley desce as escadas
com uma Calista muito suada e com o rosto vermelho.

— O que está acontecendo? Tinha planos de comer


macarrão...

Harley entrega Calista para mim e ela vem com facilidade,


passando os braços em volta do meu pescoço e aconchegando
a cabeça no meu ombro. Sua chupeta está indo um quilômetro
por minuto dentro e fora de sua boca.

— Você já se preocupou com esta chupeta e fixação dos


dentes? — Pergunto, seguindo Harley até a cozinha.

— Não. Vou cortar às duas. — Ela puxa o recipiente,


colocando o macarrão em dois pratos e micro-ondas. Não da
maneira que eu faria, mas não discuto desde que seguro
Calista.

— Não deveria ter uma opinião?

— Você leu sobre isso? Porque tenho a sensação de que


você pensa que a fixação significa que ela vai querer dar
boquetes para todo mundo quando tiver dezoito anos. — Diz,
levantando as sobrancelhas.

— Bem, sim, não é isso o que é fixação?

Ela balança a cabeça e ignora mais o assunto.

Sento-me, balançando nossa filha com seu lindo macacão


amarelo de patinho, seu cabelo marrom e suado emaranhado
na testa e assisto Harley se mover pela cozinha enquanto
conversamos sobre o futuro de nossa filha.

Talvez possamos fazer essa coisa de família.


No meu caminho para a aula, ligo para Miranda porque
Shane estava certo, nos separamos no curto espaço de tempo
em que estive aqui. Tinha muito o que fazer e me acostumar,
mas Miranda sempre foi uma boa amiga, organizou todas as
minhas coisas para serem armazenadas, depois que avisei
meu senhorio de minha mudança, e me enviou todas as
roupas. Não quero perdê-la, mesmo que tenha me mudado
para milhares de quilômetros de distância. Apertei o botão do
alto-falante no meu telefone e o coloquei no console.

— Bem, bem, bem, — diz ela, e, embora esteja tentando


parecer forte, há uma leveza em seu tom que está sempre
presente em Miranda.

— Ei. — Meu próprio tom transmite a quão envergonhada


estou por não ligar mais frequentemente.

— Ouvi dizer que Shane voltou com o rabo entre as


pernas.

Como ela ouve fofocas em uma cidade tão grande quanto


Seattle, nunca vou entender. Mas, novamente, podia vê-la
levando-o para tomar shots para curar seu coração partido.
Ela é esse tipo de garota.

— Por que ele veio aqui para começar?

— Sim, desculpe por isso. Ele veio ao Wet Sprocket, e eu


estava um pouco embriagada. Seu nome surgiu e meio que lhe
contei o que estava acontecendo e antes que pudesse ficar
sóbria, já estava aí, propondo a você.

— Está bem. Espero que ele tenha algum desfecho agora.

— Ainda assim, esse não é o código das meninas e posso


estar um pouco chateada por você estar me ignorando. Você
sabe como sou ruim quando bebo. — O pedido de desculpas
em seu tom é sincero e gostaria que ela estivesse na minha
frente para que pudesse abraçá-la.

— Não se preocupe com isso. Como está indo?

— Eh... ok, acho. Não tenho certeza se estou destinada à


massagem terapêutica. Quero dizer, na minha opinião, acho
que imaginei que estaria massageando um monte de Bradley
Coopers o dia todo.

Eu ri porque isso é tão Miranda.

— E?

— E essa senhora veio no outro dia. Ela tinha que ter


duzentos e cinquenta quilos. Não há nenhuma vergonha, o que
é incrível, mas quando pedi para ela virar de costas, seus seios
estavam praticamente pendurados em ambos os lados da
mesa.

— Você está pensando que seremos imunes à gravidade


à medida que envelhecemos? — Eu ri.

— Isso me deprimiu. Tudo o que queria era segurar o meu


e chorar, balançá-lo e dizer não, não, não.

Rio, bebendo meu café gelado.

— Você parece estar a caminho de algum lugar.

— Estou finalmente fazendo a última parte das aulas


para que possa me formar. — Cruzo os dedos no ar, embora
ela não possa me ver.

— Oh, isso é ótimo. Então, esta Lake Starlight está


realmente funcionando para você. Estou feliz, exceto que sinto
falta da minha joaninha.

Sorrio lembrando de Calista deitada entre Rome e eu na


noite passada, nós dois a vendo dormir. Ele a pegou e a colocou
de volta no berço e voltou para o quarto, sem roupa e
deslizando na cama comigo como se tivesse feito isso todas as
noites antes.

— Sim, ele é um ótimo pai, mas ela também sente sua


falta. Venha nos visitar. Ele tem um irmão gêmeo. — Ela ri e
me pergunto se está sozinha na cama, porque sinto o
desconforto dela, no tom de sua voz. — Miranda?
Ela ri de novo e, embora o barulho da estrada abafe um
pouco do barulho do outro lado, tenho certeza de que ela
apenas gemeu.

— Miranda! — Repreendo.

— Não pude deixar de responder. Tem tempo que não falo


com você... está sempre tão ocupada.

— Tchau, — digo, mas antes que possa desligar, ela


responde.

— Me ligue mais tarde. Vou checar voos. Só posso te


surpreender um dia.

— Acredito que sim.

Dirijo o resto do caminho até Anchorage na caminhonete


de Rome, já que ele não me deixa mais dirigir o Cadillac, caso
algo aconteça. Foi muito gentil da parte de Dori me emprestar,
mas não sinto falta do perfume extra forte dela quando estava
dirigindo.

Naquela noite, estou sentada de pijama, assistindo


Bravo, porque, realmente, só quero relaxar, contudo, meu
telefone toca.
Rome: Envie-me uma foto nua.

Eu: Número errado.

Rio soltando o telefone no meu colo e volto a comer minha


pipoca.

Rome: Merda, isso deveria ir para a minha namorada.


Como você definiria a sua aparência?

Por um segundo, um ferro em brasa acerta minha ferida


que ainda não foi curada e foi causada por ele, mas,
provavelmente está apenas brincando. Só para ter certeza,
procuro on-line, o mais rápido possível, uma foto de outra
pessoa e a envio.

Leva um segundo para ele responder.

Rome: Seios bonitos, mas os da minha namorada são


melhores.

Rio com o tanto de pipoca que sai da minha boca.

Rome: Abra a porta, querida.

Meu estômago revira um milhão de vezes pelo fato dele


estar aqui. Então, olho para mim mesma. Meu cabelo tem
molho de maçã grudado em alguns fios e minha camisa parece
tingida com manchas de comida do jantar de Calista.

Vou até a porta da frente e olho pelo olho mágico. — Você


disse que não nos veríamos hoje à noite.

— Bem, eu fiquei com tesão.


Abro a porta, cruzo os braços e olho para ele. Ignorando
minha expressão irritada, entra, coloca as mãos em ambos os
lados do meu rosto e me beija sem fôlego. Ele chuta a porta e
depois anda comigo de costas até minhas costas serem
pressionadas contra o corrimão. Sempre estou apoiada em
algo quando ele está por perto.

— Isso é perfeito, — ele murmura, suas mãos deslizando


para baixo da minha camisa até que cada mão tenha um peito
nela. — Diga-me que você também não tem calcinha.

Rio como a garota esperançosa que acredita no felizes


para sempre que ele me entrega.

— Descubra por si mesmo.

Suas mãos deixam meus seios e deslizam pelo meu torso


para dentro da minha calça de pijama.

Ele geme quando descobre que não estou usando


calcinha e agarra minha bunda com as duas mãos. — Você
está me matando.

Golpeio seu peito e deslizo para fora de seu aperto. —


Pensei que você estava atualizando a papelada hoje à noite?

Ele passa por mim e se senta no sofá na sala de estar,


pegando a minha pipoca imediatamente.

— Você está com fome? — Pergunto.

— Estou cansado demais para cozinhar, — ele lamenta.


— Para sua sorte, também conheço uma cozinha. — A
cabeça dele se anima como um cachorro com a palavra
'comida'. Vou para a cozinha. — Sem julgamento. Não
frequentei a escola de culinária.

Ele se arrasta do sofá e desliza para o banquinho do café


da manhã.

— O café da manhã foi bom? — Pergunto.

— Você vai me servir de manhã também?

Tiro os ovos da geladeira. — Essa é à sua maneira astuta


de perguntar se você pode passar a noite? — Estreito os olhos.

Ele ri e encolhe os ombros. — Talvez.

— Claro, mas quando Calista acorda... — Digo, embora


esta manhã ele estivesse aqui, a observando enquanto estava
nas aulas, mas isso é diferente. Não quero que ela pense que
toda manhã que acordar, seu pai estará aqui. Talvez Rome e
eu precisemos sair da pista expressa e seguir para a pista
lenta.

— Ela não tem ideia se passei a noite aqui ou não.

Quebro os ovos em uma tigela. — Se ela começar a


acordar deprimida e chorando pelo pai, você vem aqui todas as
manhãs.

— Tenho certeza de que a festa termina quando


Savannah voltar. Ela pode ser uma espécie de aborrecimento.
— Ele me observa e fico nervosa sob a atenção de um chef
profissional.

Depois de pegar uma pimenta verde, cebola, jalapeño e


cogumelos na geladeira, tiro a tábua e uma faca. Ele se
endireita agora, e sei que vai me dizer como cortá-las
corretamente.

Aponto a faca para ele. — Deixe-me fazer isso do meu


jeito, não importa o quão doloroso seja para você assistir.

Ele ri e estende as mãos na frente dele. — Estou feliz que


você esteja me alimentando.

Corto a pimenta verde e tiro as sementes. Ele não diz


nada, mas quando minha faca está prestes a perfurar o vegetal
verde novamente, ele se levanta, dá a volta no balcão e vem
atrás de mim.

Seu peito forte me trava contra a ilha e sua mão cobre a


minha na faca, o outro braço em volta de mim, posicionando
meus dedos no vegetal. — Assim— , ele sussurra, sua mão
ditando meus movimentos com a faca. — Use a ponta da faca.
— Ele me mostra e estou tentando me concentrar, mas tudo o
que posso sentir é o cheiro dele atrás de mim. Ele deve ter
tomado banho em casa antes de vir aqui.

Nós passamos pela pimenta verde, mas ele não me deixa,


e seguimos para a cebola. Ei, não estou reclamando,
basicamente não estou fazendo nada. Ficamos assim o tempo
todo, ele me mostra como cortar adequadamente uma cebola e
depois os cogumelos. Suas instruções sussurradas no meu
ouvido e lábios, a poucos milímetros da minha pele,
estremecem meu corpo em calafrios. Quando chegamos ao
jalapeño, meu corpo está tão quente quanto parece.

Depois que ele corta o jalapeño ao meio e o coloca na


tábua, seus lábios se espalham pela parte superior do meu
ombro.

— Ei, agora, não deve tomar cuidado ao cortar? — Digo,


um pouco sem fôlego.

Ele morde meu pescoço, arranhando os dentes ao longo


da minha carne. — Eu não posso me ajudar. Eu te quero tanto.

Ele mói seus quadris em mim por trás e sua


protuberância dura pressiona contra as bochechas da minha
bunda. Eu o queria antes, mas agora depois de ouvir sua
respiração, cheirá-lo e sentir o quanto ele me quer, quero dizer,
foda-se a omelete, coma-me, querido.

A faca cai na tábua e suas mãos deslizam pela minha


camisa.

— Rome. Você estava com fome.

— Estou com fome de você, — diz ele, me virando. Seus


lábios pousam nos meus e de jeito nenhum vou negá-lo.

Sua mão desliza pela frente da minha calça de pijama e


minhas pernas se separam. No segundo em que seus dedos
deslizam entre minhas dobras e atingem meu clitóris, minha
respiração aperta. Abro sua calça, agradecida por não haver
botões ou zíperes com que me preocupar. Sinto-me culpada
por estarmos fazendo sexo nas bancadas de granito de
Savannah, mas não o suficiente para acabar com isso.

Envolvo minha mão em seu comprimento, e ele rosna,


seus dedos aumentando o ritmo e deslizando através da minha
umidade.

Ficamos na cozinha, acariciando um ao outro, nossos


beijos ficando mais intensos e quanto mais me esfrego nele,
mais pressão ele coloca no meu clitóris.

Estou perdida em um abismo de seus beijos quando


registro que algo não parece certo. Está quente. Lá embaixo.
Como super quente. Circulo meus quadris para encontrar
algum alívio, mas não consigo.

— Você está bem? — Ele pergunta, beijando meu ombro,


continuando a dedilhar meu clitóris. Pego suas bolas e as
acaricio um pouco, apenas para encontrar outro rosnado.

— Não tenho certeza. Está quente lá embaixo.

Ele olha para mim e depois para trás no balcão e recolhe


a mão. — Oh, merda, — diz ele e se move para a pia para lavar
as mãos.

Eu o vejo mudar seu peso de um lado para o outro


enquanto a sensação de queimação aumenta. Minha mão
cobre minha boceta sobre minha calça de pijama.
— Os jalapeños, — diz ele, secando as mãos e indo para
a geladeira.

Eu pulo para cima e para baixo. — Oh meu Deus, o que


vou fazer?

— Acabei de tocar o ponto mais sensível em seu corpo.


Vai doer. — Ele pega um pouco de leite.

— O que diabos isso vai fazer?

— Ajuda quando sua boca está queimando. — Ele


derrama um pouco em uma tigela.

— Não vou colocar leite perto da minha vagina! Uma


infecção por fungos não vai ser muito melhor! — Corro até a
pia, molho uma toalha de papel e empurro minha calça,
pressionando, mas não estava ajudando.

— Bem, então isso é para minhas bolas. — Ele se encolhe


e tira as calças, coloca a tigela no chão, senta-se na frente dela
e mergulha suas bolas na tigela de leite. — Feche os olhos ou
algo assim, — diz ele e tenta cobrir-se com as mãos.

Ainda estou queimando entre as minhas coxas, mas não


consigo segurar minha risada. Gostaria de ter meu telefone
para tirar uma foto.

— Então, eu tenho que sentar aqui com dor enquanto


você obtém algum alívio?

— Pegue o iogurte grego, — diz ele, apontando para a


geladeira.
— Não posso, isso é tão ruim quanto o leite.

— Passe-me o meu telefone. — Faço o que ele pede, e seus


polegares se movem como loucos sobre a tela.

— Traga-me o iogurte com uma colher e se deite na minha


frente, nua e espalhada.

— Esta é a sua versão excêntrica de algum jogo sexual?

— Você quer que sua boceta queime a noite toda? — Ele


levanta uma sobrancelha e, obviamente, o leite está ajudando,
porque não está mais segurando as bolas na mão sussurrando
orações.

Eu faço o que diz, e ele aplica o iogurte grego no lado de


fora da minha boceta, ficando longe dela porque,
aparentemente, o Google concorda comigo e diz que é um não-
não. O alívio toma conta de mim imediatamente e minha
cabeça cai no chão de madeira.

— Doce Jesus, isso parece um pouco melhor.

— Sim, temos cerca de uma hora antes que desapareça


totalmente, acho.

— Obrigada, Dr. Google. — Levanto-me em meus


cotovelos. — Você não deveria saber disso?

— Tome isso como um elogio, esqueci a primeira regra


para preparar sexo com comida: lave as mãos. — Ele tira uma
foto minha com seu telefone.
— De jeito nenhum! Me dê uma foto sua. — Ele me joga
seu telefone porque, sejamos honestos, ele é um cara e isso
provavelmente é algo que ele mostrará a seus amigos.

Assim que tiro a foto, a porta da frente se abre e de onde


estamos, quem quer que seja, terá uma visão perfeita de nós
dois.

O pânico apreende todos os músculos do meu corpo e


congelo.

— Santa Mãe de Deus, vocês dois estão jogando algum


jogo de sexo excêntrico em minha casa? — Savannah deixa cair
sua maleta tão alto que Calista começa a gritar através do
monitor.

Esta noite não poderia ficar muito pior, poderia?


Não é a primeira vez que Savannah me vê nu, mas é a
primeira vez desde que cheguei à puberdade.

Se os olhos de Harley pudessem matar, estaria a um


metro e meio agora.

— Sinto muito, Savannah, — diz ela, levantando-se e


deixando um caminho de iogurte grego enquanto pega a calça
do chão e enfia um pé atrás do outro tão rápido que quase
perde o equilíbrio e bate a cabeça.

Fico com as mãos sobre meu pau, porque não estou


disposto a desistir do alívio que o leite está oferecendo.

Savannah fecha os olhos e, em seguida, como uma


medida extra de segurança coloca a mão sobre os olhos. Harley
sai correndo da sala, o monitor quase escorregando de suas
mãos.

— Rome, vista uma calça! — Harley grita como se eu


tivesse cinco anos de idade e que gosta de se divertir. Ela já me
conhece bem. Eu era aquele garoto que não se importava com
nudez. Inferno, também não me importo muito agora.
Levanto-me e Savannah espia por entre os dedos e depois
fecha os olhos como se fossem persianas. — Rome! — Ela usa
a voz de mãe que aperfeiçoou após a morte dos meus pais.

Pego uma toalha de papel e seco as bolas antes de entrar


nas minhas calças. Então, pego a tigela porque sou legal
assim. — Ok, abra.

Nem um milissegundo passa antes que seus olhos


cheguem aos meus com o mesmo olhar mortal que Harley me
deu minutos atrás. — O que você está fazendo? — Ela morde.
— Minha casa não é uma sala de sexo excêntrica.

— Quarto vermelho, você quer dizer? — Arqueei uma


sobrancelha.

Quando Sedona encontrou a cópia de Savannah de


Cinquenta Tons de Cinza, ela ficou impressionada por um ano
inteiro. Então, quando o filme saiu, todos nós tivemos outra
boa rodada de piadas às suas custas. Tempos divertidos.

Isso me deu uma noção da Savannah verdadeira.

— Você precisa de uma mudança mais original. Que tal


isso. — Coloquei as duas mãos na virilha e as mantenho retas,
atingindo minhas coxas e movendo-as para o ar.

Ela se vira novamente.

Jogo o leite na pia e estou prestes a lavar a tigela e a


colher que usei para o iogurte quando Savannah intercede. —
Jogue-os fora.
Abro a lixeira pisando no pedal. — Tem certeza? Isso é
legal.

Ela nem responde, apenas me dá um olhar assassino.


Deus ajude o homem que se apaixonar por ela. Ele terá uma
vida inteira torcendo a bola.

Eu os deixei ir e eles caíram na lata de lixo vazia.

— Pensei que você voltaria amanhã de manhã? —


Pergunto, lavando minhas mãos porque vou me fazer uma
omelete. Se não vou entrar em Harley, estou comendo.

— Terminei tudo cedo e não ia passar mais uma noite em


um quarto de hotel infestado de insetos.

— Seu quarto tinha insetos? — Seco minhas mãos e ando


em direção à tábua, desejando que minhas mãos estejam nos
quadris de Harley em vez do jalapeño que pode ter me
assustado por toda a vida.

— Todos eles têm insetos, Rome. — Ela abre a geladeira,


pega uma garrafa de vinho branco e depois uma taça no
armário e derrama.

— Eles realmente não têm. — Ela é uma germofóbica


ilusória.

— Fale comigo quando você acordar com uma mordida


misteriosa. — Ela olha entre nós dois. — Então, o que há aqui?
Brincando de casinha?

A afasto e ela torce o rosto com nojo.


— Estamos... juntos, — digo, deixando os legumes
dourarem na panela enquanto mexo os ovos.

— Sério? — O rosto dela é de choque: olhos arregalados,


boca entreaberta, sem piscar.

— O quê?

Ela balança a cabeça. — Nada. Escute por que você não


faz para sua querida irmã mais velha uma omelete, porque a
deixou com cicatrizes pelo resto da vida.

Vou para a geladeira e pego mais ovos.

— Você acha que estou brincando? — Pergunto a ela.

De Denver, esperava essa resposta. Liam talvez. Mas


Savannah, não. Ela sempre acreditou em mim. Merda, metade
da razão pela qual sou chef é por causa dela. Ela me levou a
seguir esse sonho quando Austin continuou falando sobre
beisebol e faculdade.

— Não, posso dizer que você está falando sério. Só não


quero ver você se machucar. — Ela fala baixo, para que Harley
não ouça.

— Por que eu me machucaria? — Adiciono os ovos para


o que será a omelete de Savannah e depois um pouco de sal e
pimenta.

— E se ela for embora? Esta cidade pode se tornar demais


para algumas pessoas. Essa família pode ser demais para
algumas pessoas. — Ela toma um gole de vinho e olha para
mim.

— Ela quer que Calista tenha um pai em sua vida. Eu sou


o pai dela. Estamos dando uma chance.

— E o que a torna tão diferente? — Seus olhos me julgam


sobre a borda do copo.

— Ela me chama de merda.

Ela assente. — Isso a coloca em um pedestal?

— Sim. — Ok, ela entende, não precisamos ir por este


caminho.

— Você pode sair do seu?

Uau. Ligue para o corpo de bombeiros, minha irmã mais


velha, que sempre teve minhas costas, jogou um fósforo direto
para mim. Que diabos?

— Significa?

Ela pressiona os lábios antes de responder. — Você gosta


da sua vida. Você se torna uma prioridade. Agora você tem
uma filha que ocupa o primeiro lugar e uma namorada que
tem que ser a segunda.

Suas palavras gravam seu significado no meu cérebro e,


embora não tivesse pensado nisso antes, é claro que colocaria
ambos os sentimentos em primeiro lugar. Olá... não sou
egoísta. Tenho nove irmãos. Ninguém pode ser egoísta em uma
grande família.

— Sim, elas são as primeiras.

Ela assente. — Ok, porque se elas não forem Rome, você


verá as lanternas traseiras saindo de Lake Starlight. — Ela
toca meu ombro, apertando uma vez e indo para a mesa,
esperando que eu a sirva.

Derramei a omelete de Sav na panela e preparo uma para


mim.

— Pobre menina, — diz Savannah.

Olho por cima do ombro e vejo Harley carregando Calista.


Ela está do mesmo jeito que ontem à noite: cabelos suados
emaranhados, bochechas vermelhas e olhos semicerrados,
chupando a chupeta.

— Sinto muito, Savannah. — Harley se senta à mesa e


coloca Calista no colo. Suas bochechas estão coradas, e ela
parece envergonhada, mal encontrando o olhar da minha irmã.

— Está bem. Estou acostumada a essas coisas com


Rome.

Ela está sendo muito legal sobre isso, o que não é


realmente o estilo de Savannah. Talvez ela tenha transado
quando estava fora. Sim, como se ela tivesse deixado suas
genitálias tocarem nos lençóis do hotel.
— Pegue uma taça de vinho. — Ela acena com a cabeça
em direção às suas taças.

Calista acorda um pouco quando Harley se levanta da


mesa. — Papá, — minha filha murmura quando me nota.

— Ei menina, com fome?

— Yum?

— Ela não deve comer agora, — diz Harley, pegando uma


taça de vinho.

— Ela vai crescer como filha de um chef e chefs têm horas


estranhas em que você come... — Olho para o relógio. — Dez
horas.

Harley a traz para mim e a beijo na testa antes que ela


volte para sua mãe. Duvido que fique acordada para comer.

Savannah serve o vinho de Harley e senta Calista em sua


cadeira alta, colocando algumas coisas na bandeja. Ela começa
a mexer como se não tivesse comido o dia todo.

— Você sabe que não posso guardar essa história para


mim, certo? — Savannah diz. — Importa-se de explicar
exatamente o que vocês estavam fazendo? — Ela ri.

Harley olha para mim. — Isso não é culpa minha. Eu


não... ok, talvez eu tenha. Sim, totalmente minha culpa.
— É uma longa história. — Coloco sua omelete no prato
e o seguro fora de seu alcance. — Tente guardar para si
mesma, ok?

Ela se inclina para frente, mas trago o prato para perto


de mim. Ela solta um suspiro. — Bem. Vou tentar.

Concordo. Esta história será como ouro na minha


família. A coisa dos Cinquenta Tons com Savannah é
minúscula em comparação com Harley ensopada em iogurte
grego e minhas bolas em uma tigela de leite.

Já aceitei a derrota. Se os papéis fossem invertidos,


também não manteria o fato somente para mim.

— Vai ser muito difícil não contar a ninguém. Se eu fosse


como Phoenix ou Sedona e tivesse a cabeça enterrada no
telefone o tempo todo, poderia ter tirado uma foto. — Ela ri,
cortando a omelete com o garfo.

— Yum! — Calista diz em sua cadeira alta, se


contorcendo.

Harley se levanta e derrama um copo cheio de leite para


ela.

— Como vai o trabalho? — Harley pergunta a Savannah


e se senta novamente.

Ela encolhe os ombros. — Está bem. Ocupada. Vovó Dori


está me deixando louca. Um de vocês dois precisa fazê-la olhar
Calista ou algo assim. Ela vem todos os dias, e, da última vez
havia um cara de um depósito de madeira lá. Ele é filho do
dono e tivemos uma reunião para ver se poderíamos usá-los
no norte.

Ela morde sua omelete e mastiga por um minuto.

— Enfim, — ela continua. — Durante toda a reunião,


enquanto estou tentando falar de números, ela está
perguntando por que ele não é casado e dizendo como sou
solteira e que devemos sair. Que eu poderia usar alguém como
ele na minha vida.

— Ele era bonito? — Harley pergunta.

Viro minha omelete na panela. Meu estômago ronca.

— Sim, ele era.

— Qual é o problema?

Estou surpreso com o quão confortável Harley ficou com


Savannah desde que se mudou. Acho que, na minha cabeça,
achava que elas ficariam fora do caminho uma da outra.

— Mesmo eu, sei que não deveria estar com uma viciada
em trabalho e esse homem é a versão masculina de mim.
Nossos domingos seriam preenchidos com nossos
computadores em nossos colos e fórmulas em nossas planilhas
do Excel ou algo assim. — Ela dá outra mordida em sua
omelete. — Isso é incrível, Rome. Você ainda me surpreende.

Sorrio e coloco em um prato minha omelete e depois


apago a chama do fogão.
— Você está procurando alguém? Como você quer estar
em um relacionamento? — O tom de Harley está mais
hesitante agora e não a culpo. Porque a vida amorosa de
Savannah sempre esteve fora dos limites. Não faço ideia da
última vez que ela transou, nem me preocupo em saber.

Sav encolhe os ombros enquanto deslizo na cadeira do


outro lado de Calista, cortando o ovo em pedaços pequenos,
esperando que esfriem.

— Papá! — Calista diz animadamente. Não tenho certeza


se vou me cansar de ouvi-la dizer isso.

— Sim, mas estou tão ocupada. Meu medo é que um


homem como esse seja o único que pode me controlar, porque
minha mente está trabalhando o tempo todo.

Os lábios de Harley se abaixam e ela olha para mim. —


Deve ser difícil para você ter toda essa pressão sobre seus
ombros.

Savannah encolhe os ombros novamente e enterra a


cabeça no prato.

Harley arregala os olhos para mim, e não entendo qual é


o problema. Savannah gosta de estar no comando de Bailey
Timber. Gosta de organizar suas gavetas com canetas com
código de cores. Até a gaveta dela tem compartimentos para
itens semelhantes. Isso é Savannah. Então, não tenho ideia do
porquê Harley está me transmitindo que se sente mal por
Savannah.
— Aqui está, menina. — Coloquei o ovo na bandeja da
cadeira de Calista, quando seus pés começaram a bater, não
demorando para colocar um pedaço em sua boca.

Então retiro um pedaço da omelete e seguro o garfo na


frente da boca de Harley. Ela pega na ponta do garfo e meu
pau estremece nas minhas calças. Então, ela geme de como é
bom e, sim, cheia de tesão. Precisamos nos apressar nessa
refeição noturna e levar esse bebê para a cama porque estou
faminto por Harley.

— E essa é a minha deixa para sair. — Savannah se


levanta da mesa.

— O quê? — Pergunto.

— Vocês dois estão praticamente se fodendo.

— Foda, — diz Calista.

Harley suspira e revira os olhos.

— Nós não estamos. — Rio.

— Você estava imaginando isso. Escute. — Ela lava o


prato e o coloca na máquina de lavar louça. — Não quero ficar
acordada ouvindo vocês dois se foderem, então pelo menos não
façam barulho. — Ela se aproxima da cadeira alta e dá um
tapinha na cabeça de Calista. — Logo, mamãe e papai vão lhe
dar um irmão ou irmã, se eles não puderem tirar as mãos um
do outro.
O pedaço de omelete agarra automaticamente na minha
garganta.

Savannah levanta as sobrancelhas para Harley e as duas


riem enquanto me assistem engasgar.

Ótimo, minhas irmãs encontraram alguém para se juntar


a elas para me atormentar.
Algumas semanas depois, estamos na caminhonete de
Rome, a caminho do jantar de domingo no Austin e Holly.
Temos que fazer uma parada para pegar a vovó Dori, o que eu
acho que é mais um motivo para ela grudar em Calista pela
casa principal e se gabar dela para seus amigos.

Uma vez que estamos estacionados, Rome pega Calista


no seu assento do carro, mas ela o chuta, repetidamente, até
que ele a coloca com os pés no chão.

Nossa garotinha só quer andar e nunca mais quer ser


carregada, a menos que seja hora de dormir. Sinto-me mal por
Rome porque ele perdeu o tempo em sua vida em que você
poderia abraçá-la sempre.

Ela corre rapidamente pelo saguão do local onde Dori


mora.

Rome corre à sua frente, obrigando-a a pegá-lo. Eles são


incríveis de assistir juntos. Tenho a sensação de que ele
prosperará nessa nova liberdade que Calista está desfrutando
por poder se movimentar mais. Sua escalada precisa parar
antes que ela me dê um ataque cardíaco.

— Bata na porta, — sussurra Rome e depois agarra meu


pulso para me manter contra a parede fora da vista da porta.

O homem ama seus jogos infantis.

A porta se abre e Calista está olhando para nós, contando


a piada de que ela chegou lá sozinha.

— Calista! — Dori a pega nos braços e os pés de Calista


se agitam no ar. Ela coloca as costas no chão exatamente como
Calista quer e todos nós entramos na sala, encontrando Juno
e Kingston no sofá.

— Eu tenho que pegar minha bolsa. Volto já, — diz Dori.

— O que vocês estão fazendo aqui? — Pergunto a eles.

— O que há rainha da beleza? — Kingston coloca a mão


no ar agitando os dedos.

Calista dá um tapa.

— Isso é meio machista, — diz Juno, apertando os botões


no controle remoto.

— Obrigado por terem vindo, — diz Rome a eles.

— Coisa certa. Eu amo minha pequena rainha da beleza.


— Ele olha para Juno, sem se importar com os seus
pensamentos de que chama Calista de sobrinha, depois a pega
e a apoia no colo.
Ela sai de debaixo dos braços dele e seus pés estão no
chão novamente.

— Ela está mais ativa agora. Desculpe-a por não querer


ter nada a ver com seu tio.

— É filha de Rome, então nem é preciso dizer que ela


sempre estará fugindo. — Kingston ri e Juno se junta.

Kingston pega um copo na mesinha, toma um gole e


depois olha para Rome. — Ei, mano, pegou leite? — Ele tem
um bigode de leite no rosto e eu imediatamente quero que a
terra me engula, sabendo ao que ele está se referindo.

Juno começa a rir incontrolavelmente ao lado dele.

Rome apenas balança a cabeça. — Há quanto tempo você


estava esperando para usar isso? — Ele revira os olhos.

Kingston ri e coloca a xícara de volta, lambendo o lábio


superior. — Desculpe, Harley. Não quis envergonhá-la, mas é
bom demais para deixar passar.

— Não se preocupe.

Dori entra na sala dos fundos com a bolsa turquesa


sobre o braço e um casaco claro de primavera em uma cor
correspondente. Ela é muito coordenada por cores hoje.

Sento-me na poltrona. — O que vocês estão fazendo aqui,


afinal? Eu pensei que estávamos pegando Dori?
Kingston e Juno olham fixamente para Rome e eu sigo
sua linha de visão para ver seu sorriso clássico como 'Eu
peguei você.'

— Você e eu vamos embora. Eu só tenho noites de


domingo e segundas-feiras de folga, então achei que seria legal
se Juno e Kingston levassem vovó D e Calista para o jantar de
domingo e depois ela passasse a noite com Austin e Holly?

Sento-me na cadeira por um segundo. Eu não posso


ajudar, mas sinto que isso é algo que deveríamos ter discutido
juntos, mas amo que ele tenha me surpreendido. Nunca passei
uma noite longe dela.

— Hum...

— Austin praticamente nos criou, e Holly, quero dizer,


você vê como ela é com Daisy. Eles cuidarão bem dela. — Juno
se senta, pronta para defender seu irmão e noiva.

Não digo nada, e Rome se senta no braço da cadeira,


inclinando-se para perto. — Nós dois precisamos de uma noite,
só nós. Ela está em boas mãos.

Eu olho para ele, que está confiante, considerando que


desde que cheguei aqui, ele tem sido mais protetor com ela do
que comigo. E ele está certo, preciso liberar as rédeas um
pouco, porque, embora nossa pequena família de três pessoas
esteja funcionando, seria ingênuo pensar que Rome e eu não
precisamos de nosso tempo também.
— Temos que seguir as instruções caso algo aconteça, —
digo.

Ele assente, se levanta e volta com um bloco de papel e


uma caneta. — Você tem caligrafia melhor do que eu.

Ponho-o nos joelhos e começo a escrever instruções


sobre o que fazer se ela cair e se cortar ou ficar com um nariz
sangrando que não pare. É bem simples – leve-a ao hospital e
diga que tem a doença de Von Willebrand. Aplique pressão na
ferida para tentar minimizar o sangramento.

Arrancando a folha de papel, entrego a Juno, mas


Kingston a pega da mão dela.

— Olá? — Ela diz.

— Eu sou um paramédico treinado. — Ele pisca para mim


e fico assustada, percebendo pela primeira vez o quanto se
parece com seu irmão. — Não se preocupe, Harley, eu entendi.

Rome ri. — Ótimo. Calista! — Ele grita, e ela sai correndo


do quarto de Dori com batom vermelho no rosto.

Eu suspiro e pulo da minha cadeira. — Oh, minha rainha


da beleza, — Kingston diz com uma risada, pegando-a e
carregando -a para a pia onde eu já estou molhando uma
toalha de papel.

— Obrigada, Kingston, — digo.

— Sem problemas. Eu te disse. Ela está segura comigo.


Eu olho de relance para ele ainda não tendo certeza
sobre toda essa coisa de ir embora. — Eu nem arrumei uma
mala, Rome, — grito através do pequeno recorte da cozinha
para a sala da família.

— Não se preocupe, eu fiz.

Eu só posso imaginar o que está lá. — Você deu a eles


uma roupa extra, pijama, alguns copos com canudinho, o
cobertor...

— Eu sou o pai dela, então sei o que ela precisa. — Ele ri.
Às vezes me pergunto o que Rome leva a sério em sua vida.

Merda, isso era uma coisa ruim de se pensar. Ele não tem
sido nada além de estelar desde que chegamos à cidade.

— Chupeta? — Pergunto.

— Duas. — Ele vem até a abertura, sopra nos dedos e os


passa pela camisa como se ele fosse uma merda.

— Acho que você é um aprendiz rápido.

Calista dá um tapa na minha mão enquanto aplico mais


pressão para tirar o batom.

— Vamos. Vamos nos atrasar. Hoje tenho um convidado


especial, — diz Dori.

Olho Rome, que me olha de volta. A conversa de


Savannah, há algumas semanas, deve passar por nossas
cabeças. Dori parece estar decidida a colocar Savannah com
alguém.

— Quem? — Juno pergunta.

Ela a afasta. — Ninguém com quem se preocupar. Colton


estará lá quando você estiver pronta, querida.

Juno revira os olhos. — Eu sou a casamenteira, o que


você não entende sobre isso?

— Você está bem com essas outras pessoas, mas eu sou


a casamenteira dos Baileys. — Dori sorri serenamente como se
não estivesse ofendendo Juno nem um pouco.

— Você não juntou nenhum deles. — Juno aponta entre


os irmãos, fica de pé e desliga a televisão.

Rome revira os olhos e se inclina contra a parede,


cruzando os braços enquanto Kingston respira fundo. Posso
dizer que eles estão aborrecidos com a luta e que esta
provavelmente não é a primeira vez que Dori e Juno tiveram
esse argumento em particular, mas para mim isso diz algo
quando as pessoas brigam.

As pessoas brigam quando se importam. É o silêncio que


mata um relacionamento.

— Não preciso provar minhas vitórias para você, Juno.


Vamos. Ele não pode chegar lá antes de nós.

Tomando isso como minha sugestão, digo adeus à minha


filha. — Certo, garotinha, papai e mamãe vão embora e você
vai com o tio Kingston, tia Juno e Doodoo até a casa do tio
Austin e da tia Holly. — Cara, isso foi uma confusão para sair.
Ela passou de nenhuma família para listar cinco membros em
uma frase. O pensamento me faz sorrir.

— Podemos parar com o Doodoo? — Dori entra no rosto


de Calista. — DORI! — Ela diz alto, sem pronúncia, mas
também não posso dizer que gostaria de me chamar Doodoo.

— Desculpe, meu Deus, esse é o seu nome a partir de


agora. — Rome ri e bate com socos em Kingston.

— Você vai se divertir muito com Daisy e Myles.

— Woof! — Ela diz para mim e seus olhos se iluminam.

— Ei, faça-me um favor, afasta o Myles um pouco. Ele é


muito hiperativo, — Rome diz a Kingston.

— Ele simplesmente a ama. — Eu acaricio meu nariz no


de Calista dando-lhe um beijo esquimó e a envolvo em meus
braços. — Eu te amo, — digo, beijando sua bochecha. — E vou
sentir sua falta. — Eu a balanço, beijando sua bochecha
novamente. — Volto logo de manhã. — Estou prestes a beijá-
la novamente quando ela é tirada dos meus braços.

Rome a beija na bochecha, a abraça uma vez e a coloca


nos braços de Kingston.

— Vejo você de manhã, menina. Te amo. — Ele bagunça


o cabelo dela e é isso.
Meus braços estão vazios e quero minha menininha de
volta.

Kingston olha para mim por um momento, provavelmente


porque vê as lágrimas enchendo meus olhos. Ele a segura para
mim novamente.

— Não, não. Está tudo bem. — Eu aceno com a mão para


ele ficar com ela. Isso é bom, não ruim. Eles podem lidar
totalmente com meu bebê por uma noite.

Rome me encara como 'o que há de errado com você,


mulher?'

Inspiro profundamente.

— Lembro-me de quando deixei Tim sozinho pela


primeira vez, — diz Dori. — Voltei e ele tinha um enorme ovo
de ganso na cabeça. Nunca quis matar alguém mais do que
naquele momento.

O resto de nós olha para ela com admiração,


considerando que escolheu essa específica história para
compartilhar neste momento. É tão absurdo que uma risada
borbulha dentro de mim e rapidamente os outros três se
juntam. Até Calista ri, embora não tenha ideia do porquê.

— Vamos nos preparar para a partida. — Kingston olha


para Calista, posicionando-a de bruços. — Braços abertos.
Pernas para fora. — Calista ri e segue suas instruções. —
Próxima parada, minha caminhonete, para que você possa ser
colocada com segurança ao seu assento de carro. — Ele pisca
para mim e Juno abre a porta para ele levar Calista para fora
da casa.

— Vão vocês dois. Eu tenho que fechar. Ethel é


intrometida e, uma vez que esqueci de trancar a porta, cheguei
em casa e a peguei assistindo a minha conta da Netflix. Ela
assiste às coisas mais estúpidas, e agora todas as minhas
recomendações sugerem que assista ao Nosso Planeta. Olá...
eu vou estar morta em breve. Quem tem tempo para isso?

Rome coloca o braço em volta dos meus ombros, me


levando para fora da sala. Meus olhos estão em Kingston
enquanto ele voa com Calista e eu os fecho brevemente para
me recompor.

— Ei, você está bem? Se você não quiser ir, cancelarei


tudo.

— Tudo? — Pergunto.

— Eu ia te levar embora, mas vamos mudar as coisas


agora.

Não tenho ideia do que ele quer dizer, mas vou deixá-lo
liderar hoje porque não posso culpar um homem que
provavelmente subestimou o quão difícil seria para eu deixar
minha filha, mas tomou a iniciativa de passar mais tempo
comigo.

Uma pequena parte de mim ficou bem com a ideia de que


Rome está nisso para Calista e que eu venho em segundo. Eu
deveria ficar em segundo lugar com Calista, mas ele dedicar
um tempo para planejar isso significa que sou um segundo
muito próximo, que faz meu coração ronronar porque me sinto
da mesma maneira.
Estaciono no pequeno terreno atrás de Terra & Mare.
Embora meus planos fossem levar Harley para uma cabana em
Homer com um spa, vejo agora que sou amador e subestimei
o quão difícil seria separar uma mãe de sua filha, e, para salvar
os próximos dois dias, vamos ficar aqui em Lake Starlight.

É legal porque eu queria surpreendê-la com isso de


qualquer maneira e agora é um momento tão bom quanto
qualquer outro.

— Você tem que pegar alguma coisa? — Ela pergunta e


sai da caminhonete.

— Não. É aqui que passaremos a noite.

Ela me olha intrigada, mas não vou lhe dizer que mudei
de planos por causa de sua reação. Sei que a culpa dela a faria
ter certeza de irmos ao spa. A três horas de distância não é
exatamente onde quero estar e dar a chance de algo acontecer
com Calista também e estamos distantes, devido a sua
condição, que, muitas vezes, é difícil de lembrar, já que parece
muito saudável.
— Tudo bem. — Ela sorri, realmente não se importando.

Abro o portão da escada que sobe para os fundos de Terra


& Mare até o meu apartamento. Usando minha chave, abro a
porta e espero que ela entre na minha frente, já que nunca
esteve aqui em cima porque era um desastre antes, e,
ultimamente, minhas noites foram passadas na casa de
Savannah. Mas tenho certeza de que estamos esgotando nosso
tempo por lá.

— É bom aqui em cima, — diz ela.

Tive que contratar alguns empreiteiros, mas nos poucos


dias e noites que não estive com ela, consegui que o lugar fosse
arrumado, com a ajuda de Liam e Denver. É ótimo ter amigos
solteiros que concordam em ser pagos com comida.

— Existem dois quartos e sei que os aposentos são


pequenos. — É uma piada o quão pequena é a cozinha, mas
tenho uma no térreo, se quiser fazer algo grande.

Me inclino contra a parede, vendo-a verificar o lugar.


Seus dedos tocam o tecido do sofá e depois ao longo da barra
de granito que é praticamente a mesa, porque não há espaço
para uma. Mas tenho uma sala cheia de mesas no andar de
baixo, se quisermos.

— Vá pelo corredor, — digo.

A vejo me olhar por cima do ombro antes de caminhar


pelo corredor.
Um quarto está pintado de rosa com Calista em letras
douradas na parede.

Ela entra no quarto vazio e sorri para mim. — É lindo.

— Se você não gosta da cor, vou mudar.

Contudo, balança a cabeça e diz: — É perfeito.

— Venha. — Pego a mão dela e a levo para o próximo


quarto, a cama que agora tem um colchão e uma cabeceira.
Ainda não consigo acreditar que cresci o suficiente para
comprar móveis por estilo, e não por necessidade, e, para mim,
parece um desperdício de dinheiro, mas minhas irmãs
insistiram que as meninas gostam desse tipo de coisa.

Brooklyn decorou o quarto com uma tinta cinza clara e


um edredom e cortinas marinho e cinza, mas acrescentou um
toque feminino com almofadas rosa. Tentei discutir com ela,
mas Wyatt disse apenas para deixá-la fazer o que queria.

Guio Harley até o colchão e a sento na cama. — É


confortável? Você gosta disso?

Ela ri, colocando o cabelo loiro atrás das orelhas. — É a


sua cama.

— Nossa.

— Nossa? — Ela balança a cabeça.

— Entendo que estamos fazendo tudo um pouco para trás


aqui, mas venha morar comigo. Entendo que este lugar não é
o ideal. Você provavelmente não quer morar em cima de um
restaurante, mas pense em como é acessível para nós e o
trabalho.

— Eu não sei. — Ela olha em volta.

— É apenas temporário. Em alguns anos, quando o


restaurante começar a ganhar mais dinheiro, compraremos
uma casa.

— Rome, — ela suspira, levantando-se e olhando pela


janela de trás que não tem vista, a menos que você goste de
ver Li, do Wok For U, jogar fora seu lixo.

— O quê? — Sento-me na cama e espero que ela venha


até mim.

Ela se vira e encosta as costas na parede, cruzando os


braços sobre o peito. — É tudo tão rápido. Quero dizer, você
está falando em comprar uma casa em alguns anos. Não me
interprete mal, amo o que quer que seja isso entre nós, mas
não somos exatamente o casal bem ajustado. Eu calo, você
corre.

— O dano está feito. Somos um casal e, se isso acabar


agora ou em três anos, Calista será afetada.

Harley rói as unhas.

— Venha aqui, — digo, estendendo meu braço. Ela anda


pela cama e se senta ao meu lado. Seguro suas mãos nas
minhas. — Você está assustada?
Nossos olhos travam e ela assente. — Você é um tipo de
cara que reage agora e pensa depois, Rome. E é ótimo. Estou
muito emocionada por você ter planejado esta fuga para nós.
Esta é a parte de você que é incrível. — Ela passa a mão na
minha bochecha. — Mas morarmos juntos? Esse é um grande
passo.

Abro a mão dela e beijo a parte interna do pulso. — Você


já sentiu como se nunca pudesse avançar? Como se alguém o
colocasse em um papel e você nunca provaria que eles estavam
errados?

Seus ombros caem e seus lábios mergulham. — Entendi,


sou uma criança adotiva, mas não é isso. Eu só... sei que você
quer Calista... — Ela para e desvia o olhar.

Coloquei meu dedo debaixo do seu queixo e virei sua


cabeça para me olhar nos olhos novamente. — E você. Eu
quero você também.

Ela engole seco e seus olhos brilham com lágrimas não


derramadas. — Você tem certeza?

Sinto que ela acabou de me dar um tapa. Ela é louca?


Claro que a quero. — Do que você está falando?

— Ouça. É fácil. Fomos jogados juntos porque


compartilhamos uma filha, mas não quero que você acorde
uma manhã e se sinta algemado a mim. Não é como se
fôssemos um casal antes de termos um bebê. — Ela se levanta
da cama e sinto falta de colocar minhas mãos nela
imediatamente.

— Você não sente o que eu sinto? — Pergunto, um pouco


magoado com a reação dela.

— O sexo é incrível. Claro que sinto.

— Não estou falando de sexo. Estou falando de querer


passar cada minuto com você. É claro que amo Calista e quero
morar com ela permanentemente, mas não faria disso um lar
para nós se não a quisesse também. Qual solteiro concorda
com almofadas cor de rosa, exceto um cara que está se
apaixonando por uma mulher? — Pego o travesseiro e mostro
a ela.

Um sorriso brilha em seus lábios por um segundo antes


de se afastar. — Você é bom em convencer. Entramos na sua
vida como um pacote e quero que saiba que não é um acordo
de compra um, leva dois. Você pode ter apenas Calista.
Compartilharemos a custódia, mas para viver como mamãe e
papai, dividindo a cama, não precisamos fazer parte do acordo.

Me levanto da cama e subo atrás dela. Com certeza, Li


está no telefone jogando fora o lixo. Minha mão desliza pelo
braço dela e eu ligo meus dedos com os seus.

— Quero você tanto quanto quero Calista. Não estou


fazendo isso como parte de uma nobre busca de me sacrificar
pelo que considero melhor para minha filha. Sei que não sou
do tipo que se acalma, mas você mudou a maneira como me
sinto. Toda manhã que não acordo ao seu lado, conto os
minutos antes de vê-la. E não é só sexo. São as coisas
engraçadas que você diz, a maneira como você me fascina e se
encaixa tão bem na minha família. Como você abaixou a
guarda quando entrou nesta cidade. Quero dizer, inferno, você
está deixando Calista ficar com minha família durante a noite.
Sei que isso é um passo enorme para você.

A parte de trás da cabeça dela cai no meu peito quando


me olha. Nossos olhos travam e apenas nos encaramos. Todas
as perguntas e incertezas desta decisão pesam entre nós.

— Ok, mas...

Coloco meu dedo em seus lábios. — Não há nenhum


mas... porque o que quer que seja depois disso é uma dúvida
e estamos pulando de mãos dadas na água fria e profunda:
juntos.

Ela se vira e passa os braços em volta do meu pescoço.


Um sorriso de verdade em seu rosto. — Ok.

— Ok?

— Ok. — Ela assente uma vez.

Inclino a cabeça e selo a nossa promessa com um beijo.

— Vamos batizar esta cama então. — A pego e a jogo no


colchão, seu corpo saltando até ficar deitada. Depois, tiro a
camisa e desabotoo a calça em tempo recorde. Ela faz o mesmo
e eu a ajudo com seus shorts. Nós dois parecemos precisar
selar isso com mais do que apenas um beijo. Preciso sentir sua
pele sedosa ao longo da minha. Ouvi-la choramingar meu
nome enquanto me enterro dentro dela.

Subo na cama quando estamos nus, exatamente como eu


imaginava. — Que tipo de loção você usa? — Deslizo meus
dedos sobre sua pele como se fosse uma delicada pétala de
rosa.

Ela ri. — Nunca pensei que ouviria você perguntar isso.


— Ela me beija. — Acho que você está prestes a descobrir.

— Vamos fazer um acordo, vou passá-la todas as


manhãs, — digo, e ela ri de novo, a cabeça caindo para trás, e
eu aproveito a oportunidade para lamber seu pescoço.

Suas pernas se abrem e me aninho entre suas coxas, a


ponta do meu pau provocando sua entrada enquanto nos
beijamos como se fossemos adolescentes no porão da casa de
nossos pais.

Nossas mãos vagueiam e fazemos uso da cama grande,


passando um por cima do outro, encarando um ao outro
enquanto exploramos nossos corpos. Descobri que ela adora
quando brinco com seus mamilos enquanto nos beijamos.
Nunca vou me cansar de explorar seu corpo e descobrir o que
a excita.

— Merda. — Tiro minha boca da dela. — Não tenho


camisinha. — Eles estão na bolsa que deixei no carro para
irmos embora.
— Pílula, lembra? — Suas mãos correm pelas minhas
bochechas.

— Nu? Você está bem com isso? — Pergunto, meu pau


endurecendo em proporções épicas.

Não estive com ninguém desde o meu último teste e


sempre usei preservativo.

Ela assente. — Estou bem. Limpa.

Meu pau estremece com a possibilidade. Nunca na minha


vida fiz sexo sem camisinha, mas isso é algo que quero
compartilhar com a Harley. Suas pernas se abrem mais e
deslizo em sua umidade.

Porra. Estou prestes a me envergonhar.

— Um... Rome? — Seus dedos correm pelo meu cabelo.

— Me dê um segundo. — Minha cabeça cai no ombro dela.


Merda. Fecho os olhos e penso na receita do Baked Alaska,
uma das sobremesas mais difíceis que já tive que dominar. O
merengue perfeito no topo é o que o torna tão especial.

Ela se move um pouco embaixo de mim e juro que quase


gozei.

— Você parece... nem tenho palavras. — Meus quadris


começam a se mover, e levanto meus cotovelos. Nossos olhos
se encontram, o desejo aumenta à medida que fazemos amor.
Nunca fiz amor antes, mas nunca quero parar de olhar para
ela ou sentir seu corpo conectado ao meu. Algo está mudando
entre nós.

— Eu também, — diz ela. Seus braços se apertam em


volta do meu pescoço e ela se levanta, capturando meus lábios
em outro beijo.

Uma das muitas coisas que amo sobre Harley é que ela
aceita o que quer sem desculpas. É sexy como o inferno e
espero que isso realmente funcione a longo prazo para nós,
porque não tenho certeza de como sobreviveria sem ela.
Sentada no meu novo sofá, com um lençol sobre mim e
um garfo cheio de frango com laranja, enquanto assisto The
Dirt na Netflix, me sinto incrível. Adicione um Rome nu
aconchegado ao meu lado, para que se torne espetacular.
Ainda estou um pouco chocada por ter concordado em morar
com ele. Devo estar louca.

— Você gosta da comida? — Ele pergunta, segurando um


garfo cheio com macarrão.

Abro a boca e o como, assentindo.

Depois de batizarmos a maior parte do apartamento –


com exceção do quarto de Calista, porque isso é apenas todo
tipo de erro – minha culpa pela minha reação inicial se
instalou. Tenho tentado encontrar uma maneira de conversar
com Rome sobre isso, mas ele não é exatamente o tipo de cara
que quer falar sobre sentimentos e carinhos quentes. Ele é um
tipo de cara de ‘vamos comer comida chinesa nus assistindo
Netflix’.
Com o coração da minha filha em jogo, sinto-me
compelida a discutir meus problemas. Não que eu seja um
caso a ser estudado ou algo assim, mas não deixei um orfanato
sem efeitos duradouros.

— Hey, — digo, colocando meu recipiente de frango


laranja para baixo e de frente para ele.

— Toda energizada agora? — Ele tem aquele brilho nos


olhos, brilhando sexo neles.

— Podemos conversar?

Seu rosto fica sério, dizendo-me tudo o que preciso saber


sobre o que ele pensa sobre a minha ideia em comparação à
dele. Ele prefere pegar um garfo e enfiar nos olhos. Talvez
deveria deixar pra lá. Quero dizer, fui boa até agora e já
conversamos um pouco sobre isso. Viver juntos não deve
mudar nada. Eu já trabalho ao seu lado no restaurante e ele
dorme comigo na casa de Savannah quase todas as noites. É
exatamente a mesma coisa, contudo, mais conveniente.

Mas não é... e eu sei que não é.

— O que foi? — Ele coloca o recipiente no chão, fazendo


tudo o que um namorado deve.

Como ele passou de solteirão a namorado carinhoso em


apenas alguns meses? Talvez estivesse sempre nele.

— Anteriormente, quando te dei tanto trabalho...


Ele encolhe os ombros. — Sem suor. Estou acostumado
com isso.

— Por quê? — Eu ouvi as piadas, sobre ele correndo o


tempo todo, quando era jovem, ainda, que não levava a vida a
sério, mas aqui está ele, em Lake Starlight, construindo um
restaurante.

Ele olha para o colo e pega meu recipiente de frango com


laranja. — Sou meio que uma merda. Quero dizer não
inteiramente. Arrumei minhas coisas depois do colegial. Fui
para a escola de culinária, visitei a Europa estudando com
alguns chefs incríveis, mas as pessoas sempre pensam em
mim como um cara divertido e amoroso. E eu sou, mas isso
não é tudo de mim. Eu entendo a seriedade da nossa situação.
Calista é a nossa prioridade. — Ele sorri. — É uma das coisas
que gosto em você. Do jeito que você sempre a coloca em
primeiro lugar.

Eu torço o lençol nos meus dedos. — Você se subestima.


Você não é uma merda.

— Você não me conhecia no ensino médio. Mesmo agora.


Quero dizer, acho que metade desta cidade pensa que vou
abandonar tudo e sair.

— Você sente que eles torcem para que falhe?

Ele balança a cabeça. — Não. Eles apenas esperam que


eu faça.
Franzi a testa. — Então por que você voltou aqui? — Eu
teria saído e nunca mais voltaria.

— Porque minha família está aqui. E eu gosto de provar


para as pessoas que estão erradas. — Um sorriso arrogante
encontra o lugar de sempre em seus lábios.

É tão lindo que não acredito que ele é meu.

— Por que você acha que se rebelou?

Ele levanta uma sobrancelha. — Você está me


analisando?

Rio, percebendo que estou enchendo-o de perguntas após


perguntas. — Não, eu estou apenas curiosa.

Conheci muitas pessoas rebeldes no sistema de


assistência social. Muitos deles tiveram medo de pousar em
um local por muito tempo. Entendo que a morte de seus pais
poderia ter sido a causa, mas ele voltou, o que é diferente do
que eu esperaria.

Seus olhos travam nos meus. — Você é intuitiva.

— Vem de muita observação e escuta. — É o que você faz


em um orfanato, porque às vezes falar chama a atenção para
si mesmo é a pior coisa que você pode fazer.

— Acho que para você me entender, eu tenho que


arrancar meu coração e estendê-lo para você.
Pego o controle remoto e paro o filme. Deslizando-me para
mais perto, me aconchego nele para que ainda possa olhá-lo,
confortá-lo, caso ele precise.

— Não pense assim, — digo.

Ele tira meu cabelo do meu ombro. — Todo mundo acha


que eu queria ir embora por causa da morte dos meus pais, o
que foi uma droga, mas não é por isso. Não me entenda mal,
eu queria tanto sair da cidade assim que isso aconteceu. Todo
mundo sempre bisbilhotando e perguntando como você está
com seus tristes olhos de merda.

Notei que Rome amaldiçoa mais quando tem que falar


sobre seus sentimentos, mas não digo nada e deixo que ele
continue.

— Todo mundo acha que meus pais tiveram esse


casamento perfeito. Nove crianças que recebem o nome de
lugares em que as concebeu. Parece um maldito conto de
fadas.

— Sério? — Repito seus nomes na minha cabeça e aceno.


— Eu nunca percebi.

— Sim. Tosco, mas tanto faz. — Ele revira os olhos.

— Espere! — Inclino minha cabeça, pensando nele e em


seu irmão gêmeo.

Ele deve ler minha mente. — Escala. Eles pararam em


Denver a caminho de Roma.
Sorrio e aceno. Faz sentido.

— De qualquer forma, o que as pessoas não percebem é


que minha mãe sacrificou sua carreira para ter essa família e
meu pai poderia assumir a empresa da família. Que escritor de
viagens deseja escrever em meio período e assumir apenas
algumas tarefas por ano?

— Mas…

— Eles brigavam sobre isso às vezes.

Ele interrompe antes que eu possa dizer mais nada.

— Os pais brigam. — Dou de ombros.

— Sim, e a maioria acabam se divorciando.

— Na verdade, é quando a briga termina que você precisa


se preocupar.

Ele alisa meu cabelo novamente e vejo seus dedos fluírem


através dos meus fios loiros. — Eu acho. Mas simplesmente
não queria ser como minha mãe e acabar com
arrependimentos. Sei que ela nos amou, não me interprete
mal, mas é por isso que jurei que viveria minha vida ao
máximo.

Me ajoelho e coloco o lençol debaixo dos braços. — Rome,


as crianças mudam o jogo. Pense em Calista, — digo. — Veja
o quanto você está mudando agora. Você se ressente das
mudanças em sua vida desde que ela entrou nisso?
Seus olhos caem no colo e espero que seja porque está
compreendendo que um menino de quatorze anos não tem
tanto peso, se considerado que hoje é um pai de 25 anos.

— Se eu tivesse entrado na sua vida antes de Calista, você


poderia ter me ignorado. Bem, acho que você meio que fez. —
Me encolho.

Ele olha com aborrecimento.

— Estávamos na mesma página, mas Calista mudou


você. Sem ela, provavelmente não teria tido tempo para me
conhecer. Não teria se apaixonado por mim. — Merda. Maneira
de colocar palavras na boca do cara. Balanço a cabeça,
tentando voltar atrás. — Quero dizer…

A mão dele pousa na minha bochecha. — Eu me


apaixonei por você.

— Veja! — Cubro o coração dele com a minha mão. —


Calista fez isso. Você ter uma filha fez isso. Você estava pronto
para se mudar para Seattle por ela. Você perderia o seu próprio
sonho por sua filha.

Ele respira fundo.

— Talvez os objetivos de vida de sua mãe tenham


mudado. Inferno, eu ia me mudar logo antes de descobrir que
estava grávida. Mas fiquei em Seattle porque tinha Miranda e
alguns outros amigos. Houve momentos em que pensei 'e se',
mas no final, Calista supera tudo.
Ele olha para mim enquanto a compreensão aparece em
seu rosto. Entende o que estou falando e espero que veja que
embora seus pais possam ter discutido como qualquer casal e
falado palavras com raiva, sua mãe não se arrependeu de ter
colocado sua carreira em espera em razão da maternidade.

— Talvez você esteja certa.

— Você sente que está se sacrificando? — Pergunto.

Ele se inclina para a frente e me beija. — Não. Estou tão


feliz agora.

Sorrio. — Então tenho certeza que sua mãe também.

Ele encolhe os ombros. — Nessa conversa falei dos meus


problemas. Sobre o que você quer conversar?

Novamente, meus dedos torcem no lençol agora que os


holofotes estão de volta em mim. — Não confio facilmente, e foi
errado da minha parte pensar que você só me queria por
Calista, mas embora tenha me esforçado muito para me livrar
de minhas feridas, as cicatrizes ainda estão lá. Às vezes vou
passar meses sem abrir uma ferida, mas um dia vou falar
sobre minha vida e ‘bam’, há uma borda irregular que me corta
fundo, lembrando que sou defeituosa.

— Entendi. Isso é rápido e para todos, exceto nós, tenho


certeza de que parecemos loucos. — Ele desliza para mais
perto de mim.
— Apenas seja paciente, ok? Quando as pessoas lhe
dizem a vida inteira que desperdício você é, você tende a
acreditar nelas. Acreditar que alguém quer que você viva com
ele e seja seu parceiro é mais difícil de acreditar, e parece muito
um conto de fadas para mim. — Coloco a mão na bochecha
dele. — Não quero te perder por causa das minhas próprias
inseguranças. Então seja paciente, também serei.

Ele me beija brevemente. — Não vou a lugar nenhum, —


ele murmura contra os meus lábios. Minhas costas caem no
sofá e Rome não perde tempo antes de subir em cima de mim.
— Você está presa com a merda de Lake Starlight.

— Bem, você está preso uma garota com problemas de


abandono e confiança.

Ele me segura com as mãos em ambos os lados do meu


rosto. — Nós somos as crianças que venceram.

Rio e ele beija minha testa, depois a ponta do meu nariz.

— Vamos provar que todos estão errados.

A convicção em suas palavras é suficiente para eu


acreditar que podemos fazer isso. Conhecemos os problemas
um do outro e conseguiremos isso.

Nada ficará entre nós.


Eu não tive a noite de homens desde que Harley e Calista
chegaram à cidade. Faz um mês desde que Harley e eu nos
mudamos oficialmente juntos e não tenho queixas, muito
embora o trabalho me deixa cansado pra cachorro quase todas
as noites. Mas o restaurante está começando e os negócios são
melhores do que previ que seria neste momento.

— Merda, você deveria ter visto. Essa garota estava com


a saia mais curta. — Denver se vangloria enquanto bebo minha
cerveja. — Ela realmente colocou minha mão na bunda dela.
— Ele balança a cabeça. — Não estou acostumado com esse
tipo de franqueza, mas que inferno se eu estiver reclamando.
— Ele engole a dose de Jack na frente dele.

Saímos de Lake Starlight para não encontrarmos


nenhum de nossos irmãos. Na verdade, o raciocínio de Denver
é que todas as garotas são iguais na Lucky's Tavern e ele
precisava sair da cidade para novos rostos.

Com base nas histórias deles, têm feito muito disso desde
que se mudou com Liam.
— Diga a ele. — Denver bate nas costas de Liam.

Ele encolhe os ombros. Sua mente esteve em outro lugar


a noite toda.

— Liam trouxe essa garota de volta no fim de semana


passado e ela não ia embora. Foi a coisa mais louca. Ela ficou
por perto e assistiu beisebol com nós no dia seguinte. Ela tinha
ótimas habilidades culinárias, mas não conseguiu entender. E
quando Liam finalmente acabou de sair de casa dizendo algo
sobre uma emergência no Smokin 'Guns... — Denver aperta os
olhos para ele. — Que, a propósito, sei que era um problema
completo.

Liam dá de ombros, mas a inclinação de um sorriso está


lá, me dizendo que Denver está certo.

— Ela veio até mim. Quero dizer, não entendo. Como se


eu fosse foder uma garota que meu amigo acabou de foder na
noite anterior. — Denver está em um estado hiperativo que
está me irritando agora.

Por quê? Não faço ideia. Talvez porque ele esteja vivendo
essa vida de garotas, sexo e bebida, enquanto minha realidade
é de que Calista não conseguiu dormir na noite passada por
causa de um dente nascendo, então, estou prestes a
adormecer em cima da mesa.

— Eu não fodi ela, — diz Liam em um tom blasé.

— O quê? — A cabeça de Denver se vira para encará-lo.


— Eu não fodi ela. — Ele encolhe os ombros e eu rio.

A mandíbula de Denver fica aberta. — Por que diabos


não?

Outro encolher de ombros. Coloco minha mão no ombro


do meu amigo. — O que houve, grandão?

Ele solta um longo suspiro. — Superei essa merda.


Vamos a algum outro lugar. A última coisa que quero fazer é
pegar uma garota hoje à noite. — Liam engole o resto de sua
cerveja.

— Estou dentro. — Começo a empurrar minha cadeira da


mesa.

— Whoa, whoa, whoa. — Denver estende as mãos. —


Você, eu entendo. Você dorme com uma boceta toda noite. Mas
você, — ele aponta para Liam, — você é meu parceiro, eu sou
seu parceiros, somos parceiros um do outro.

— Não estou de bom humor. Vamos pegar uma cerveja e


ir para o lago ou algo assim. — Liam se levanta e empurra a
cadeira de volta.

— Vamos voltar para sua casa. Adoraria uma noite


assistindo esportes. — Eu o sigo para fora do bar.

Denver bufa como uma criança e se arrasta para fora do


bar atrás de nós, segurando a porta para que saíssemos.

— Isto é inacreditável. Vocês dois se tornaram chatos


como merda. Sabem disso, certo? Quero dizer, Rome, quando
foi a última vez que você saiu com nós? E agora você finalmente
recebe um passe da Harley e quer sentar-se na casa de Liam
assistindo a ESPN?

Giro no carro de Liam para encarar Denver no banco de


trás. — Primeiro, eu não recebi um passe da Harley. Eu disse
a ela que estava saindo e ela achou que era uma ótima ideia.

Ele ri. Uma risada falsa. — Desde quando uma garota


pensa que é legal um cara sair com seus amigos?

— Você nem a conhece, porra.

— Conheço garotas e até o final desta noite, ela ficará


chateada com você. — Ele dá um tapa no ombro de Liam. —
Eu não estou certo?

Liam o olha através do espelho retrovisor e depois olha


para mim. — Acho que ele está com ciúmes. — Liam sorri e
acerta o alvo.

Eu estava pronto para jogar esta conclusão na cara dele.

— Você está com ciúmes? — Pergunto.

— Não estou. Sem você, tenho mais bunda de qualquer


maneira. — Ele olha pela janela para a escuridão enquanto
voltamos para Lake Starlight.

— Você está com ciúmes. — Eu rio. — Você sente minha


falta, irmãozinho? — Estendo a mão e bagunço seu cabelo.
Ele dá um tapa na minha mão. — Não me chateie. Você é
dois minutos mais velho que eu.

— Está tudo bem, eu ainda te amo. Harley não tomou seu


lugar.

Ele revira os olhos. — Vamos lá pessoal, não podemos


sair à noite apenas para voltar para a casa de Liam

— Bem, não gosto de assistir você pegar garotas a noite


toda também. — Sento-me para frente, olhando para Liam em
busca de alguma ideia.

— Nós poderíamos fazer coisas idiotas como


costumávamos fazer no colegial? — Denver senta- se ereto no
banco de trás, olhos tão arregalados que mal consegue se
conter até que digamos sim.

— Claro. — Dou de ombros, a culpa do meu irmão gêmeo


pensando que eu terminei com ele o suficiente para me fazer
puxar algumas brincadeiras.

— Estou no jogo. — Liam dá uma volta rápida para a


direita. — Tenho que ir à loja.

Nós vamos ao supermercado tarde da noite no caminho


de volta para Lake Starlight. É o único lugar onde você pode
pegar cerveja e um monte de porcaria para brincar com as
pessoas em uma noite de domingo. Enquanto estamos lá,
reservamos um tempo para colocar todos os carrinhos de
compras em volta do outro carro solitário no estacionamento.
Paramos na casa de Liam porque todas as boas
brincadeiras levam tempo e preparação. Caso contrário, você
acaba com merdas estúpidas das quais ninguém ri.

— As baratas. Temos que fazer isso. — Denver pega o


papel preto e a tesoura, abre uma cerveja e se senta ao meu
lado.

— Qual carro cobriremos com post-it? Não tenho certeza


se deveríamos fazer a bola de algodão porque isso estraga uma
pintura.

— Estou fazendo a escova do limpador. Eu só tenho que


descobrir de quem é o carro. — Liam pega algumas dicas.

Nós três começamos a trabalhar em nossas brincadeiras


enquanto bebíamos cerveja e tirávamos fotos. Bem, Denver e
eu. Liam decidiu ser nosso motorista designado no que ele está
chamando de uma noite de união dupla.

— Você gosta mesmo dela, hein? — Liam pergunta no


meio do nosso caso de cerveja.

Eu esqueci o quão divertido era rir com meus amigos e


fazer a merda estúpida que estamos prestes a fazer apenas
para desabafar.

Porra, espero que Calista siga a mãe dela, não eu.

— Realmente gosto. — Sorrio, pensando na mulher me


esperando quando voltar para casa.
— Por quê? — Denver pergunta. Ele se recosta nas duas
pernas traseiras da cadeira, bebendo sua cerveja. — O que
torna a Harley tão especial?

Ele não está sendo um idiota, realmente quer uma razão


e não posso lhe dar uma. Poderia listar as razões pelas quais
amo estar com ela. A palavra amor está na ponta da minha
língua, mas é um jargão que muda completamente o jogo, e
nem tenho certeza de como Harley o aceitaria. Ela
provavelmente não iria acreditar em mim, ou isso poderia levá-
la a entrar em pânico e querer fugir.

— Não tenho certeza. Ela simplesmente é... — Dou de


ombros.

Meu irmão olha para mim por um momento, bebendo sua


cerveja. — Então, você está completamente fora do mercado?

Liam joga uma lata de cerveja nele e ele balança, mas se


recupera. — Ele foi morar com ela, idiota.

A cadeira de Denver cai nas quatro pernas. — Sim, mas,


quero dizer, você vai se casar com ela?

Eu dou de ombros. — Acabamos de ir morar juntos.

— Vocês já têm a filha, — ele me lembra.

— Estamos atrasados, mas ainda não vou me casar com


ela.

— Por que não, se você a ama? — Denver é muito parecido


comigo. Ele é tudo-ou-vai-para-casa. Ele provavelmente se
casará com quem quer que sua futura esposa seja, duas
semanas depois que a conhecer.

— Nunca disse que a amo.

Liam sorri e depois se concentra novamente em sua


brincadeira estúpida de borracha com lápis.

— O quê? — Olho entre eles.

— Você não precisa dizer isso. Rome Bailey não deixa


seus amigos e leva uma garota para seu apartamento sem
amá-la. Além disso, quero dizer, droga, a maneira como você a
olha quando vocês estão na mesma sala... — Denver balança
a cabeça e todo o corpo treme de nojo.

— Como eu a olho?

— Como se ninguém mais estivesse lá. Exceto Calista.

Não digo nada.

Denver une as mãos e olha para o teto. — Por favor, Deus


nunca me deixe me apaixonar. — Ele pisca como se Deus
tivesse respondido e volta a cortar suas baratas falsas.

— Um dia, — digo.

— Nunca.

— E você, Liam? — Denver coloca nosso amigo no lugar


quente.
Ele encolhe os ombros. Sua resposta para tudo esta noite.
O que diabos está acontecendo com ele?

— Todos nós devemos apenas dar de ombros? — Eu


pergunto, olhando para ele para uma explicação melhor.

— Não é nada. Vamos. — Ele se levanta, pegando toda a


sua porcaria da mesa.

Denver e eu bebemos mais duas cervejas e tomamos duas


doses porque não podemos ter um recipiente aberto no carro.
Liam nos leva ao centro da cidade, onde está escuro e desolado.
Todo mundo já está dormindo, exceto algumas pessoas no
Lucky. O Smokin 'Guns já está fechado, embora tenhamos
tempo para entrar e colocar uma buzina embaixo de uma das
cadeiras de seus funcionários, para que toque quando eles se
sentarem. Denver e eu bebemos outra cerveja, porque Liam
não pode vir aqui e não fazer algo relacionado ao trabalho,
então temos que esperar um pouco.

— Onde vamos depois? — Denver pergunta quando


saímos da loja de tatuagens, outra cerveja nas nossas mãos.

Passamos por Lard Have Mercy e colamos uma placa que


diz que é o Dia Nacional de Tirar as Calças, instruindo as
pessoas a tirar as calças e sentar-se.

Ei, é uma coisa real em alguns lugares.

Ao virar a esquina, esmago minha lata de cerveja e a jogo


no lixo. Meus olhos se concentram em Terra & Mare, nas
janelas escuras do restaurante e depois mudam para o
segundo andar, onde persianas mostram apenas uma
sugestão de luz atrás deles.

— Harley está acordada, — digo.

— Talvez ela tenha deixado uma luz acesa para você,


como aquele comercial de motel. — Denver coloca o braço em
volta de mim, rindo. — Vamos parar.

— Você acordará Calista com suas bundas barulhentas.

Denver e Liam conversam sobre o que fazer depois e de


quem é o carro parado, embora eu tenha certeza de que não
consegui acompanhá-los direito agora. Meus olhos focam na
luz. Eu quero estar lá. Com ela. Na cama.

— Estou indo para casa, — digo, atravessando a rua sem


pensar.

— Você está tão chicoteado. — A voz de Denver segue e


Liam vem ao meu lado, apoiando meu braço sobre seu ombro.
Aparentemente, não posso andar sozinho.

— Não estou chicoteado. Estou tomando essa decisão. —


Grito de volta.

Nós contornamos a parte de trás do prédio e subo as


escadas com Liam segurando minhas costas. Este não é um
feito fácil. — As chaves estão no meu bolso, — digo.

Liam levanta as mãos. — Isso não.


Denver bufa, mas me faz firme e alcança, pegando
minhas chaves. Ele as entrega a Liam porque, bem, Liam pode
realmente ver o buraco da fechadura.

A porta se abre e há Harley no sofá com um cobertor


sobre ela e um livro no colo. Ela olha para mim, sobrancelhas
levantadas. — Bem, isso é interessante, — diz ela, fechando o
livro.

Tropeço no chão e caio no sofá com a cabeça no colo dela.


— Eu senti sua falta, — digo.

Ela se afasta de mim e olha para os outros dois. — O


álcool faz o coração ficar mais afeiçoado.

— Ele é como um ímã. Não pode ficar longe de você. —


Denver se senta na cadeira.

Liam fecha a porta.

— Acho que posso estar enjoado. — Deslizo do sofá para


o chão.

Denver gargalha, achando meu sofrimento divertido.


Harley muda para se levantar.

— Eu o levo, — Liam me arrasta para o banheiro e então


está tudo preto. O azulejo está frio no meu rosto e me deixo
cair.
Liam retorna ao nosso pequeno quarto de família. — Ele
encontrou sua cama para a noite.

— O cara é um peso leve. O que você fez com ele? —


Denver olha para mim com julgamento em seus olhos.

— O que eu tenho a ver com isso? — Coloquei meu livro


sobre a mesa e me levantei para pegar uma bebida para meus
convidados improvisados.

Não passei muito tempo com Liam e Denver. Ambos


trabalham tanto quanto Rome e, pelas fofocas entre os Bailey,
passam algum tempo livre pegando garotas e bebendo.

— Ele passa o tempo com você.

Abro a geladeira, pegando duas cervejas. — Acho que


Terra & Mare é a amante neste cenário. — Eu seguro as
cervejas e cada um deles toma uma. — Eu praticamente só
durmo com ele.

Denver bebe metade de sua cerveja, enquanto Liam bebe


sua lentamente.
— Ele vai ficar fora por um tempo, — diz Liam. — Não o
vejo tão bêbado desde... — Ele olha para Denver para obter
alguma contribuição.

— Na noite em que ele voltou, — Denver termina, e Liam


acena com a cabeça.

— Eu tinha certeza de que ele iria embora na manhã


seguinte, — Liam ri, e Denver segura sua cerveja para bater na
dele.

— O garoto não pode ficar parado por mais de alguns


meses. Acho que o restaurante o manterá aqui, — diz Denver.

Meu intestino torce no meu estômago.

— E você, é claro, — ele sorri. — E Calista.

Concordo com a cabeça, quase balançando no lugar para


me livrar da sensação de que um dia ele vai querer sair da
nossa pequena situação.

— Ele está aqui por um longo tempo. — Liam olha para


mim e seu rosto é sério, como se tivesse certeza de que eu
acreditava nele.

Apenas concordo. Não tenho certeza do que dizer.

— Quando nossos pais morreram, Rome ficou louco. Ele


queria sair desta cidade. — Denver continua falando quando
prefiro falar sobre qual time fará parte da World Series.
Qualquer coisa diferente disso. Já surtei o suficiente sobre o
meu futuro com Rome. Não preciso que seu irmão confirme
que esses medos podem se tornar realidade.

— Você fez também, — diz Liam, lançando-lhe um olhar


de aviso.

Denver encolhe os ombros. — Eu o convenci a não fugir.

— Você teria sido encontrado, mesmo que não quisesse.


— Liam continua repelindo qualquer coisa que Denver esteja
tentando colocar lá fora.

— Nós somos bastante engenhosos quando estamos


juntos. — Ele se recosta na cadeira, me olhando.

Liam olha de mim para Denver. — Legal, — diz ele em voz


baixa.

— Eu não estou fazendo nada, — diz Denver alto o


suficiente para garantir que eu possa ouvi-lo.

Liam não diz nada e é fácil ver que ele é o mais sóbrio do
grupo. Bem, pena que não sou de sentar em uma sala com um
elefante e não falar sobre isso.

— Apenas diga, Denver.

— O quê? — Ele olha para mim como se não estivesse


balançando a cenoura esperando que eu mordesse.

— Nós devemos ir. — Liam coloca a cerveja no chão e fica


de pé. — Obrigado pela cerveja, desculpe por trazê-lo para casa
nessas condições.
— Não. — Minha mão pousa em seu antebraço.

Porra, ele tem músculos em cima de seus músculos. Ele


volta para o sofá. Denver desliza para a beira do assento,
segurando a cerveja nas mãos entre as pernas. Parece que
estamos fazendo isso.

— O que você está tentando dizer, Denver? — Repito


minha pergunta.

— Só estou lhe dizendo como ele era.

— Você está me avisando? — Eu pergunto. — Tentando


me fazer fugir?

— Acho que você não é realmente o tipo que fica por aí.
Devemos abordar isso mais cedo ou mais tarde.

Eu o encaro por um momento. Ouvir as palavras de um


homem que se parece exatamente com o àquele que você ama,
é fodido.

— Você não sabe nada sobre mim.

Ele encolhe os ombros como se estivesse me dando essa.

— Isso é ridículo, ele está apenas com ciúmes. Antes de


você, Denver era o encontro de sábado à noite de Rome, —
Liam tenta brincar, mas nenhum de nós ri.

— Eu não engravidei por querer, — digo para Denver.

— Nunca disse que você fez. Apenas acho conveniente


como você chega à cidade pedindo um teste e, em seguida, não
é preciso muito convencimento para você ficar por aqui. Eu me
pergunto se Rome ser um Bailey e abrir seu próprio
restaurante teve alguma influência nessa decisão.

— Denver! — Liam adverte como um pai que apenas


desrespeitou sua mãe.

— Vamos. Não posso ser o único que pensou nisso.

Eu me levanto do sofá, fechando meus olhos brevemente


no caminho para a geladeira. Minha língua afiada vai dar uma
bronca em Denver se eu não controlar meu temperamento. Eu
poderia muito bem dizer coisas das quais me arrependeria.

Pegando uma cerveja, tiro a tampa, jogo-a fora e volto


para a sala da família.

— Não tenho que me defender de você, Denver, mas só


para você saber, é seu irmão tomando essas decisões. Eu disse
a ele que nunca impediria que Calista ficasse longe dele. Que
nós faríamos planos e descobriríamos tudo. Eu não quero o
dinheiro dele. Eu não quero o status dele nesta cidade. Então,
não se preocupe.

— Sinto muito Harley, ele está bêbado. Deveríamos ir. —


Liam se levanta novamente, mas desta vez Denver o impede.
Liam volta para o sofá, mas se senta na beira.

— Eu nunca vi meu irmão dar uma merda sobre uma


garota, além de quantas vezes ele pode fodê-la em uma noite.

Náusea rola no meu estômago.


— Mas você é diferente e se está aqui apenas por um
ricaço e machucar meu irmão, ajudo meu irmão a processá-la
pelos direitos paternos.

— Tudo bem. — Liam olha para nós dois, colocando as


mãos no ar, mas eu as bato.

— Foda-se, Denver. Você acha que eu queria vir aqui e


lidar com um pai para Calista? De jeito nenhum. Isso seria eu
dependendo de outra pessoa e sim, você não sabe nada sobre
mim, mas se soubesse, saberia que não quero depender de
ninguém. Eu pensei que seu irmão me daria um pouco de
sangue para fazer o DNA e então estaríamos fora do caminho.
Nunca sonhei em encontrar um homem que ama nossa filha.
Outro fato sobre mim, Denver, é que eu cresci em um orfanato.
Vou ficar aqui e dar a minha filha o que não recebi. Se Rome
quer que ela faça parte da vida dele, eu nunca negaria isso. É
uma das razões pelas quais pensei que não deveríamos ficar
juntos porque, se não dermos certo, isso prejudica o futuro da
minha filha. Então, eu realmente não dou a mínima para o que
você pensa, porque isso é entre Rome e eu. Você pode ser seu
irmão e tem direito a sua opinião, mas não precisamos ouvir.

Coloco a garrafa de cerveja nos lábios e engulo o líquido


frio na garganta. Preciso recuperar o fôlego depois desse
discurso retórico.

Denver ri.

Que diabos?
— Vamos, — murmura Liam.

Eu estreito meus olhos em Denver, e ele levanta as mãos.


— Você venceu essa rodada. Bom trabalho. Você vai se
encaixar muito bem com a família. — Ele se levanta e desliza
entre Liam e eu no sofá e coloca o braço em volta dos meus
ombros. — Porra, não invejo meu irmão quando ele te irrita.
Na verdade, pensei que você poderia me matar.

Olho para Liam e depois de volta para Denver enquanto


ele me aperta ao seu lado. — Você estava me testando?

— Um pouco. É mais do que estou bêbado e com inveja


que meu irmão queira passar todo o seu tempo com você. Isso
me faz meio idiota, mas sou homem o suficiente para admitir
quando alguém me ensina algo. — Ele esfrega os nós dos dedos
na minha testa um pouco demais. — Você é durona. Merda.
Orfanato. — Ele balança a cabeça. — Isso deve ter sido
péssimo.

— Sim, — admito.

— Isso significa que não há concorrência do seu lado?

— O quê?

— Como se eu só tivesse que derrotar Austin e Kingston


pelo melhor lugar do tio do mundo?

Eu o encaro com confusão entrelaçada em minhas


feições.
Liam deve ver por que ele assente. — Sim, este é Denver.
Capaz de ativar uma mudança de personalidade com um
toque.

Ele tem razão. Ele é uma pessoa totalmente diferente


agora do que apenas alguns minutos atrás, quando estava me
acusando de ser uma oportunista.

— Interessante, — comento.

— Está na sacola. Eu serei o favorito dela. — E então sua


cabeça cai no ombro de Liam do outro lado dele e ele desmaia.

Os dois garotos Bailey estão desmaiados. Pesos leves.

Eu acordo na manhã seguinte com Rome na minha cama,


completamente vestido e cheirando a vômito. Uma mão está no
meu peito e seu pau duro está pressionado contra a minha
bunda através do jeans.

Eu aperto minha mão no alarme e ele geme ao meu lado,


mas o monitor diz que não há como repetir a soneca.

Afastando-me dele, abro a porta para entrar no quarto de


Calista. Ela está de pé no berço, feliz com a chupeta entrando
e saindo da boca. Ela é uma pessoa da manhã. Não faço ideia
de quem herdou isso.

— Bom dia, — digo, pegando-a e trocando sua fralda.


Depois que ela termina, começa a me chutar para descer e sai
correndo do quarto, pelo corredor até a sala.

— Ai! — Denver grita.

Oh merda, esqueci completamente que ele ficou, e Liam


foi embora.

Corro pelo corredor, mas paro, assistindo Calista cutucar


Denver repetidamente enquanto ele puxa um travesseiro sobre
os olhos.

— É melhor você apenas se levantar. Ela não cede, —


digo, entrando na cozinha para tomar o café da manhã.

— Nunca. Mesmo se eu fingir de morto? — Sua voz é


áspera e afiada de sono.

— Levanta! Até! — Calista grita.

— Por que você não acorda papai? Ele ainda está


dormindo. — Digo a ela, que deixa Denver sozinho e corre pelo
corredor.

Começo o café e despejo um pouco de leite em uma xícara


com canudinho para Calista.
Denver se senta, esfregando os olhos. Assim como seu
irmão, está completamente vestido. Seu telefone toca e o tira
do bolso.

— Eu deveria me desculpar pela noite passada? — Ele


pergunta com uma sobrancelha arqueada.

Será que algum dia vou me acostumar com eles serem


gêmeos?

— Menina, dê ao papai dez minutos. — O gemido alto de


Rome ecoa pelo corredor.

— Papá! Papá! — Ela diz, e não tenho simpatia por ele.


Tenho uma aula esta manhã, então a responsabilidade é toda
dele. Vai aprender da maneira mais difícil que ressaca e
crianças não se misturam.

Dou de ombros. — Não se preocupe com isso.

— O que eu fiz? Sinto muito. Posso ser um idiota quando


bebo.

— História verdadeira, — Rome entra na cozinha,


segurando Calista nos braços. — Fui atropelado por um
caminhão ontem à noite e não me lembro? — Ele se senta no
banquinho, colocando Calista no chão, já que ela vê sua
cadeira como se fosse uma cadeira elétrica recentemente.

— Você vomitou, — digo. — O que significa que você está


com a limpeza do banheiro. — Pego algumas canecas de café e
coloco Advil para cada um deles.
Denver se junta a nós na cozinha do café da manhã.

— Como você foi um idiota? — Rome pergunta a Denver.

Denver olha para mim. — Não sei, mas Liam me disse


para me desculpar com Harley.

Os lábios de Rome caem e seus olhos mudam entre seu


irmão para mim e de volta para seu irmão. — Harley?

Apenas o tom dele implica que está pronto para pedir a


Denver para entrar em um ringue de boxe. É meio cativante,
embora não goste desse tipo de cara alfa-lutando-por-mim.

— Não me lembro do que disse, mas já me desculpei.

Os olhos de Rome disparam para mim. — O que ele fez?


Ele chegou em você?

— Não. Por que eu faria isso? — Denver grita antes que


eu possa dizer qualquer coisa.

— Porque quando você bebe, fica com tesão e...

— Você acha que eu iria chegar na sua garota? Que


diabos. Eu não faria isso. — Ele olha para mim, ainda com
confusão no rosto. — Certo? Eu não fiz?

Eu rio e sirvo seus cafés. — Você não fez. — Então me


concentro em Rome. — Ele só queria ter certeza de que eu não
iria machucá-lo. Apenas sendo um irmãozinho protetor. —
Enfatizo a palavra irmãozinho desde que Rome compartilhou
comigo o quanto Denver odeia ser chamado dessa maneira.
Os dois bebem o Advil com as garrafas de água que coloco
na frente deles. É meio estranho o jeito que fecham as tampas
e pegam seus cafés ao mesmo tempo.

Não tenho certeza se parte da nossa conversa é lembrada


por Denver, mas ele olha para a caneca de café e olha para
mim alguns minutos depois. A verdadeira tristeza de suas
ações é clara em seus lábios abatidos e olhos apologéticos.

Eu concordo. Está feito e debaixo da mesa.

— Tenho que me arrumar para a aula. Divirtam-se com


isso, rapazes. — Bagunço o cabelo de Calista enquanto passo
e desapareço pelo corredor, virando-me no último segundo e
vendo os dois colocando a testa no granito fresco da bancada
de café da manhã.

— Papá! Papá! — Calista reclama e eu rio porque será um


dia infernal para Rome.
Outro mês passa e o verão está em pleno andamento com
clima quente e longos dias. Ainda não estou acostumada com
o pouco tempo noturno com céu escuro que eles realmente têm
aqui. Gostaria de dizer que passamos o tempo aproveitando o
ar livre em família, mas a menos que Rome faça uma viagem
para as mesas externas, ele está dentro de Terra & Mare até
que se feche.

Minha aula finalmente terminou e agora tudo o que tenho


a fazer é passar no exame de massagem e estou certificada.

Sento-me, pego meu telefone para olhar para o meu


calendário e descobrir quando posso fazê-lo. Ultimamente, tem
sido um maluco malabarismo com minha classe, a agenda
lotada de Rome, meu trabalho de bartender e Calista, mas de
alguma forma, estamos fazendo isso acontecer.

Não seria possível sem a ajuda da família de Rome


olhando Calista. Nenhum dos Baileys age como se fosse um
grande negócio, mas para mim é. Nunca seria capaz de passar
no teste ou trabalhar na Terra & Mare sem eles. Juno e Colton
foram os nossos favoritos recentemente, porque ele voltou da
escola de veterinária durante o verão e eles costumam sair e
não parecem se importar com a companhia de uma criança de
quase dois anos de idade.

Calista coloca seu unicórnio de brinquedo no meu colo.


— Mamãe! — Ela diz, e sua cabeça segue o exemplo logo
depois.

Acaricio seus cabelos distraidamente, olhando para o


meu calendário.

Perfeito, vou ver se eles têm vagas na próxima semana.


Preciso levar Calista para um check-up com nosso novo
médico e preciso reabastecer minha receita de pílula. Gostaria
de saber se posso fazer isso funcionar na próxima semana
também.

Continuo enfiando meus dedos pelos cabelos de Calista,


voltando ao meu último período para descobrir quanto tempo
tenho até ficar sem pílulas.

Espera. Alguma coisa não está certa. Deveria estar


menstruada agora.

— Deixe mamãe acordar. — Descruzo lentamente minhas


pernas e a pego. A cabeça dela cai no meu ombro e olho para
o relógio do micro-ondas. Não é nem a hora da soneca dela,
mas não estamos realmente dentro do cronograma
ultimamente.

Segurando-a para mim, vou para o quarto, abro a gaveta


da mesa de cabeceira e abro meu recipiente para comprimidos.
Porcaria. Nem percebi que estava tomando pílulas de
açúcar nos últimos seis dias.

Por que minha menstruação ainda não apareceu?


Geralmente são leves. Talvez ainda esteja chegando.

Meu estômago revira e meu peito aperta, dificultando a


respiração.

— Não, — digo para mim mesma. Não há absolutamente


nenhuma maneira de estar grávida.

A cabeça de Calista desliza do meu ombro. Ela está


tirando uma soneca, não importa o quê.

Empurro toda a ideia de estar grávida para o lado, porque


tenho certeza de que o estresse de tudo o que está acontecendo
é a razão de não ter menstruado.

— Noite. Noite, — digo para Calista e beijo sua testa,


fechando a porta atrás de mim.

Sentando-me na sala da família, analiso o calendário e


fica claro para mim que estou atrasada, não importa como
tente pensar ao contrário. O que significa que eu tenho que
resolver isso.

Pego as informações de contato de Rome e envio uma


mensagem para ele.

Eu: Você tem quinze minutos?

Rome: Rápidinha? Amo o modo como sua mente funciona.


Eu: Tenho que correr para a loja.

Rome: Para quê?

Sim, não vou lá até ter certeza. Ele pode realmente


desmaiar se lhe disser. Se meu nível de estresse é alto, o de
Rome é tão alto quanto o Empire State Building.

Eu: É uma surpresa. Calista está dormindo. Então, você


pode subir?

Rome: Cara, você me deixou empolgado por um segundo.


Sim, me dê cinco minutos.

Eu: Obrigada.

Coloquei minha bolsa sobre meus ombros e ando pela


sala.

De jeito nenhum. De jeito nenhum. De jeito nenhum.

Rome entra quinze minutos depois, porque cinco minutos


em sua vida nunca são cinco minutos. Ultimamente, esse é o
caso. Ele está de camiseta e calça, seu cabelo está suado por
ser puxado.

— Desculpe, — digo.

Ele não perde tempo, passando os braços em volta da


minha cintura e me pegando. — Sem problemas. O corre-corre
para o almoço acabou, e Colin ficou para mim. Quando ela
dormiu?

Não é difícil ver para onde sua mente está indo.


— Quinze minutos atrás, — digo.

Ele começa a beijar meu pescoço. — Perfeito. — Ele me


coloca no chão e tira minha bolsa do meu ombro. Deveria
acabar com isso. Deveria dizer que tenho que fazer um teste
porque poderia estar grávida. Não podemos fazer sexo, porque
foi isso que nos levou a essa situação em primeiro lugar.

— Tenho que ir à loja. — Tento sair do lugar.

— Vou ser rápido. — Ele tira os sapatos e tira a camiseta.

Ultimamente somos só nós, não que eu esteja


reclamando. Rome tem a capacidade de limpar minha mente
de qualquer coisa, menos dele, quando quiser.

Nossos lábios roçam um no outro e, como sempre, meu


desejo aumenta e ele aprofunda o beijo, sua língua explorando
minha boca. Suas mãos puxam o tecido para que possa sentir
a pele.

Ainda há aquele pensamento irritante em minha mente


dizendo ‘não’ ao sexo. Sem sexo. Sem sexo.

Olho para ele e caio de joelhos, desabotoando suas


calças.

Seus dedos passam pelo meu cabelo e seu polegar corre


ao longo do meu lábio inferior.

Amo o jeito que ele olha para mim quando está excitado.
Não que seja a única vez que tem olhos enlouquecidos de amor,
mas quando ele acorda, é como se eu fosse a única mulher que
tem capacidade para fazê-lo feliz.

Suas calças caem no chão e corro minha mão pelo longo


e duro pedaço de sua cueca boxer. Meu menino mau, que virou
amante fiel e pai maravilhoso, parece a um segundo de cair
aos pedaços.

Arranco suas roupas, e ele geme, com as mãos no meu


cabelo.

A cada lambida, seus dedos ficam mais apertados, os fios


apertados entre os dedos. Movo minha língua como um
pirulito, usando minha mão na base para bombeá-lo.

— Jesus, Har, — diz ele.

Deveria tê-lo em uma cadeira ou apoiado contra uma


parede, mas ele não parece querer um minuto para nisso.

Meus olhos se fixam nos dele, o tempo todo em que


trabalho seu corpo, e os sons estridentes enchem nosso
pequeno apartamento. Aprendemos a ficar calados nos últimos
meses. Rome é geralmente quem tem que colocar a mão na
minha boca.

— Merda, baby. — Ele entra na minha boca e aumento


minha velocidade, já que estou familiarizada com o que Rome
gosta e o que o leva à linha de chegada. Como estamos dentro
do cronograma, meus dedos brincam com as bolas dele mais
cedo do que normalmente faria e ele desmorona, resistindo
mais uma vez e depois parando na minha boca, meu cabelo
enrolado em torno de seu punho.

Depois que engulo, lentamente me inclino para trás e


lambo meus lábios.

Começo a me levantar, mas Rome tem outros planos, me


pegando e me colocando na cadeira. Ele tira minha calça de
ioga e calcinha e empurra cada uma das minhas pernas sobre
os braços, então estou espalhada para ele.

Ele olha para mim, deslizando os dedos sobre a língua e


os coloca entre as minhas coxas. — Você é tão bonita, — diz,
mantendo contato visual comigo enquanto seus dedos
circundam meu clitóris.

Não tem como ir devagar, ele me provoca beijando minhas


coxas: fica de joelhos, com as duas mãos nas minhas coxas
para me manter no lugar, e sua língua lambe-me uma e outra
vez até que se concentra no meu clitóris.

Assim como eu, ele sabe como me enlouquecer. São os


dedos dele pressionando a minha boceta, os gemidos que
escapam de sua garganta como se ele não pudesse imaginar
fazendo outra coisa. É a maneira como ele coloca exatamente
a quantidade certa de pressão no meu clitóris e depois sopra,
provocando uma sensação deliciosa nas minhas terminações
nervosas. Quando ele chupa meu clitóris, revirando a língua
ao redor do broto e inserindo dois dedos em mim, é quando as
estrelas preenchem minha visão e minhas costas se arqueiam,
oferecendo-me a ele como sua escrava sexual.
Ele sempre se certifica de que eu pegue a onda de volta
até que ele lentamente retire os dedos e os coloque na boca,
me sentindo como se eu fosse um dos molhos perfeitamente
preparados que ele serve no andar de baixo. — Sempre tão
bom, — ele diz, lambendo meu clitóris uma última vez.

Minhas coxas fecham instantaneamente por tudo ser tão


sensível lá embaixo e eu corro minha mão pelo rosto dele. —
Você é demais.

— Você sabe que eu corro por isso. Você sai quando eu


sair. — Ele se levanta e coloca sua cueca e calça. — Eu quero
estar dentro de você hoje à noite. — Ele estende a mão e
permito que ele me puxe para cima. — Agora vá fazer sua tarefa
antes que ela acorde. — Ele me beija com força, me deixando
tonta e com minhas pernas bambas.

Amo quando tomamos o nosso tempo, mas também amo


este Rome que aceita o que quer rapidamente, sabendo que
não temos muito tempo. É uma necessidade com uma criança
pequena por perto.

— Ok. — Pego minha calcinha e calça de ioga, entrando


nelas. — Eu volto já.

Dou-lhe um beijo casto e ele pisca. — Odeio ver essa


bunda sair, mas eu amo olhá-la. — Ele se senta no sofá e
pressiona o botão no controle remoto.

Típico homem.
— Dez minutos, — digo e desço as escadas e também a
Main Street até a farmácia.

Paro no meu caminho enquanto olho para os testes de


gravidez e camisinhas na minha frente. O que eu estou
pensando?

— Harley! — Selene diz, me vendo.

— Selene, — eu a abraço. — Eu pretendia passar lá no


fim de semana passado, mas...

— Está bem. Sei que você está ocupada. Mas estarei no


Farmer's Market5 sábado, então venha. — Ela olha o corredor
em que estou e olha de volta para mim.

— Definitivamente. Calista ama o Farmer's Market. —


Planto um sorriso falso no rosto.

Ficamos em silêncio por um momento. — Está tudo bem?


— Ela pergunta.

Mordo o lábio e ela coloca a mão em uma caixa de


preservativos. Balanço a cabeça e seus olhos se arregalam
quando ela coloca a mão em um teste de gravidez.

Fecho meus olhos.

— Oh.

— Sim, — sussurro.

5 Mercado que é uma espécie de feira, que vende produtos agrícolas e caseiros.
Olho o caixa. Não conheço a pessoa que está lá, mas ele
provavelmente me conhece. Já posso ver o Buzz Wheel de hoje
à noite se eu passar lá com um teste de gravidez.

— Por que você não pega todas as coisas pelas quais veio
aqui? — Ela pega dois testes e os coloca em sua cesta.

— Obrigada, — sussurro.

— Sei que você precisa voltar, então não me deixe segurar


você, — ela diz mais alto. — Te vejo no sábado, no entanto?

— Sim. Nos vemos então.

Pego uma escova de cabelo que pretendia pegar para


Calista, e lembro que Rome estava com pouco sabonete no
outro dia, então pego um pouco disso.

Quando chego na frente, Selene está pegando suas


sacolas para sair e o cara está olhando para mim.

— Obrigada. — Coloco meus itens na frente dele.

Selene sai sem mais do que um tchau. O caixa está muito


encantado em algum programa no telefone e provavelmente
não teria notado se eu tivesse comprado os testes de gravidez,
mas é melhor prevenir do que remediar.

Quando estou na Main Street novamente, Selene pega


sua sacola e a coloca na minha.

— Obrigada, — digo.
Ela assente. — Sem problemas. Estou aqui se precisar de
mim. — Ela toca meu braço e eu aceno. Por favor, diga-me que
não precisarei falar ou voltar a morar com ela, porque tenho
certeza de que Rome enlouquecerá.

Volto para o apartamento e Rome desce as escadas para


o restaurante. Felizmente, Calista está dormindo.

Sentada no banheiro, odeio estar sozinha nisso


novamente. Assim como Calista, esse bebê não poderia vir em
um momento pior. Faz apenas meses desde que moramos
juntos. Não há como lidar com o estresse de outro bebê.

Faço xixi no pau e acerto um temporizador no meu


telefone.

Três minutos agonizantes depois, pego o bastão e a bile


sobe pela minha garganta.

Grávida.

Calista geme do outro lado da parede, como se soubesse


que não será mais o centro das atenções.

Jogando tudo de volta na bolsa e amarrando-a em um nó,


largo na lata de lixo e vou para o quarto dela.

Ela está chorando incontrolavelmente, sentada no berço.


Encontro uma chupeta e a coloco na boca, acalmando-a de
volta, já que ainda não está pronta para se levantar. Saindo do
quarto novamente, fecho a porta e tento envolver meu cérebro
em torno de como contar a Rome.
Tenho a sensação de que isso será o que o afasta.
Harley não é ela mesma tem uma semana inteira. Ela não
foi receptiva a nenhum dos meus gestos sexuais. Parece ter um
motivo para me odiar todos os dias e não tenho mais ideia de
como fazê-la feliz.

— Estou indo para a noite em Savannah, — diz ela do


quarto.

— Por quê? É a minha primeira noite de folga em duas


semanas.

Coloquei o alho na panela de óleo. Tinha planos de nos


fazer o jantar e colocar nossa filha na cama cedo, depois fazer
amor pela primeira vez em duas semanas. Além de um pouco
oral, não fizemos nada.

— Ela está levando as meninas para um pouco de vinho.

Concordo.

— Quando você estará em casa?

Ela sai colocando os brincos. Seu cabelo está solto e


enrolado e está usando um vestido de verão com sandálias de
tiras. Ela é linda quando acorda pela primeira vez, mas hoje à
noite parece que vai a um encontro, e acontece que estou com
ciúmes da minha própria irmã.

— Tenho certeza de que não será tarde demais, — diz ela,


colocando algumas coisas na bolsa.

— O que está acontecendo com você? Você está me


evitando.

Ela olha ao redor do apartamento. — Este lugar é uma


bagunça. Os brinquedos dela estão fora de controle. — Ela
ignora minha pergunta e pega os brinquedos de Calista.

Calista olha para ela enquanto come alguns cereais de


uma tigela na mesa de café e assiste televisão.

— Rome! — Harley tira a tigela de Calista. — Você não


pode dar isso a ela. Ela nunca vai jantar. — Diz e os joga na
pia.

Ok, hora de conversar.

— Primeiro de tudo, eu posso. Sou o pai dela. Ela está


morrendo de fome e estou fazendo o jantar, mas vai demorar
um pouco. Eu ia nos fazer o jantar, mas agora você está
saindo.

Ela olha para mim por um momento como se estivesse


checando duas vezes se tive a audácia de falar com ela assim.
Ela não está tendo isso. — Mas você pode sair e se embebedar
com Denver e Liam?
— Não me importo de você sair, mas eu apenas pensei...

— Fico sentada a maior parte do dia com ela. Por mim


mesma. O que eu amo, mas quero uma noite sozinha e você
está me dando um sermão sobre isso?

— Não, não estou. — Cerro os dentes, tentando não


perder a calma. Definitivamente, algo está acontecendo com
ela.

— Você está. Você vem e vai e faz o que quiser. Ainda nem
fiz o exame.

Eu levanto minhas mãos no ar, tirando a panela do


fogão, porque parece que pode ser uma conversa longa. — Eu
nunca disse que você não podia. Temos um calendário por
uma razão. — Aponto para o grande calendário que ela colocou
em nossa parede. — Somos uma equipe, mas não sou um leitor
de mentes.

— Mamãe? Papá? — Calista pergunta, saindo do sofá e


se aproximando de Harley. Ela puxa o vestido e Harley a pega.

— Está tudo bem, — ela acalma nossa filha, já que nunca


levantamos nossas vozes dessa maneira.

Este é o começo de nossa morte?

— Apenas vá. — Estendo meus braços e Calista vem até


mim. — Vamos ter noite de papai e filha.

Harley fica lá por um segundo como se quisesse me dizer


algo, mas enquanto nossos olhos se testavam, esperando o
outro se desculpar, ela pega sua bolsa. — Não deixe que ela
fique acordada até tarde, para que seja um pesadelo para mim
amanhã.

Ela está do lado de fora antes que eu possa responder, o


que provavelmente é uma coisa boa, já que Calista está
presente.

— Precisamos descobrir o que há com a mamãe, — digo


para Calista.

Calista e eu vamos ao restaurante deixar outra pessoa


cozinhar para nós. Após minha discussão com Harley, não
estou com disposição. Calista pega uma bola de sorvete e
Karen pede para alimentá-la. Não estou reclamando.

Depois de ter tempo para me acalmar, acho que Harley


tem razão. Terra & Mare está ocupando todo o meu tempo e
mal estive em casa. Então, depois de ler um livro para Calista
e fazê-la dormir, guardei todos os brinquedos, lavei a louça e a
geladeira. Inferno, até espanei a televisão e os abajures. Não
tenho puxado meu peso por aqui e vou consertar isso.
Estou no banheiro limpando e pego o lixo, levando-o para
a cozinha para esvaziá-lo. Coloquei uma sacola nova na lata
de lixo e a coloquei de volta no banheiro.

— Quase terminei e então é hora de relaxar no sofá.


Espero que Harley fique super feliz quando chegar em casa e
queira me pagar com um pouco de sexo. — Digo para mim
mesmo.

Pego a sacola da cozinha do lixo e pego o monitor,


descendo para a lixeira no beco para jogar fora o lixo.

— Li! — Digo quando me aproximo, vendo-o jogar fora o


lixo.

Ele atravessa o beco. — E aí cara. Como vai Terra & Mare?

— Bem. — Nós conversamos por um tempo e discutimos


sobre ele talvez tendo uma noite cozinhando no restaurante,
um prato especial em que ele estava pensando que não
funcionaria no Wok For U.

Ele me olha com lixo e o monitor.

— Nunca pensei que o veria tão domesticado, — ele ri.

Olho para mim mesmo e participo de sua risada. — Sim,


mas por que você não me disse o que estava perdendo esse
tempo todo?

Li se casou com sua namorada do ensino médio e eles já


têm três filhos. Ele sempre foi do tipo que se acalmava. Em
nosso anuário, ele deveria ter dito que provavelmente seria o
pai totalmente americano sob seu nome.

Ele olha para o saco de lixo novamente. — Parece que


você não está tão atrás de mim, hein? — Ele se inclina para
frente. — Não se preocupe, seu segredo está seguro comigo.

Inclino minha cabeça tentando descobrir do que ele está


falando.

Ele olha a sacola de novo e olho para o lixo em minhas


mãos, e é quando vejo uma caixa de teste de gravidez
pressionada contra a parte externa da bolsa de lixo branca.

— Bem... — Estou atordoado. Não consigo nem formar


palavras.

Ele me dá um tapa nas costas. — Como eu disse, seu


segredo está seguro comigo. É melhor ir. As noites de domingo
são loucas.

— Até logo.

Dou as costas para ele e rasgo o saco de lixo até que a


caixa de teste esteja na minha mão.

Com certeza, é um teste de gravidez e o teste cai no chão


preto. Está de cabeça para baixo, então não vejo o que diz.

Harley teria me dito. Isso é algo que faríamos juntos. Ela


me diria que estava atrasada, nós faríamos xixi... bem, ela faria
xixi em um milhão de testes e nos sentaríamos no chão do
banheiro por três minutos, em silêncio e contemplando o que
iríamos fazer juntos. Perdi isso com Calista e definitivamente
não quero perder com o meu próximo.

Jogo a sacola na lixeira, pego o teste e lentamente o viro.

Meu coração cai na boca do estômago.

Isso é positivo.

É positivo pra caralho.

Outro bebê está a caminho.

Calista vai ser uma irmã mais velha.

Não. Harley teria me dito. Sei que ela teria. Talvez seja de
Brooklyn ou de Holly. Definitivamente não é da Sav. Talvez seja
de Juno, embora não tenha certeza de quem seria o pai. Talvez
Colton? Mas saberia se era da Harley. Certo?

Por mais que tente me convencer, a dúvida ainda está lá.


Afundei minha empolgação de ser pai novamente até ter
certeza de qual mulher fez xixi nesse pau.

Puxando meu telefone no caminho de volta para o


apartamento, concluo que há uma maneira fácil de descobrir
isto.

Eu: Como está o vinho?

Harley: Bom. Doce.

Eu: Vermelho ou branco?

Harley: ?? Por que você está tão preocupado?


Eu: Estou entediado.

Harley: Branco agora.

Harley: Você está agindo de forma estranha.

Eu: Quando você vai estar em casa?

Harley: Nunca te mandei uma mensagem enquanto você


estava com Denver e Liam, então talvez me conceda a mesma
cortesia?

Sento-me no sofá, olhando para o telefone, me


perguntando como responder.

Dane-se isso. Não sou do tipo que se senta e espera. Nós


vamos descobrir essa merda agora.

Então, olho para o monitor na minha frente.

Porra.

O que faço com a Calista?

Dez minutos depois, Denver entra no meu apartamento.


Ele está vestido de calção e camiseta e cai no sofá. — Você me
deve muito. Fiz uma viagem de sobrevivência ontem à noite.

Atiro-lhe um cobertor.

— Se ela acordar, apenas acalme-a de volta. Às vezes ela


não consegue encontrar a chupeta, então procure primeiro.

— Coisa certa. O que há de tão importante de qualquer


maneira e onde diabos está Harley? — Ele olha em volta por
um segundo antes de pegar um travesseiro e colocá-lo debaixo
da orelha.

— Nada e Harley está com nossas irmãs. Noite das


garotas.

Ele se encolhe. — Isso é péssimo. Elas provavelmente


estão todas reclamando de você.

— Tanto faz. Me ligue se algo horrível acontecer.

Ele assente, seus olhos já estão adormecendo, então ligo


o monitor para o volume máximo, mesmo que Calista esteja
literalmente a vinte passos de distância.

Entro na minha caminhonete com o teste no bolso.

Quem será mamãe e papai desta vez?


— Você tem certeza de que não quer um pouco? —
Savannah pergunta, segurando a garrafa de vinho em direção
à única taça vazia na mesa – a minha.

— Meu estômago não está bom hoje e tenho que estudar


para o exame. — Odeio mentir, mas a culpa de não contar a
Rome ainda está me devorando. De jeito nenhum posso contar
para as irmãs dele, embora esteja morrendo de vontade de
conversar com alguém sobre isso.

Não tenho ideia de como ele vai lidar com as notícias.


Quero dizer outro bebê. Eu não entendo. Nossa vida tem sido
um pouco caótica, mas tomo essa pílula todos os dias. Não
deveria ser mais eficaz que preservativos? Sou a única mulher
neste planeta que pode engravidar enquanto usa
contraceptivos?

— Ele fez isso de novo. Wyatt jogou fora todos os bichos


de pelúcia porque disse que o que a Gizmo está fazendo com
eles está o assustando.
— O que você fará quando tiver filhos? — Juno pergunta,
sua perna está apoiada na borda da cadeira enquanto toma
sua terceira taça de vinho.

— Nós vamos ter que manter os bichos de pelúcia no alto,


acho.

— Boa sorte, — digo e Brooklyn ri.

— Adoro essa geladeira nova. — As mãos de Holly correm


pela mais nova compra de Savannah – uma geladeira de aço
inoxidável de primeira linha – como se fosse um modelo quente
com bordas de aço. — Continuo dizendo a Austin que
precisamos de uma, mas...

Todos os olhos da garota se voltam para a mesa.

Savannah é a primeira a falar. — Você deve. Sei que


Austin provavelmente hesita, pois ainda parece que meus pais
moram lá, mas vocês precisam fazer o seu próprio lar.

Holly se aproxima da mesa e se senta ao meu lado. Nós


somos as únicas duas aqui não relacionados por sangue. Ela
me lança um olhar e eu entendo o que está transmitindo. Não
experimentamos a perda. Todos os irmãos Bailey
compartilham algo que ninguém fora deles pode entender
completamente.

— Eu não sei. Austin diz que talvez devêssemos construir


nossa própria casa. — Ela encolhe os ombros e gira a taça de
vinho nas mãos.
— Isso é ridículo. Está totalmente paga, — diz Brooklyn.

— Exatamente, poderíamos vendê-la e cada um de vocês


receberia uma parte, — responde Holly.

Juno e Brooklyn olham para Savannah. — Não, Holly. —


Ela estende a mão sobre a mesa e a coloca em cima da dela. —
Preferimos que você a modifique e mantenha em família.

O sorriso de Holly é tenso. — Vou falar com Austin.

A conversa se transforma em tópicos mais claros... Juno


falando com Savannah sobre Liam e ela revirando os olhos.
Brooklyn perguntando a Juno sobre Colton e Juno revirando
os olhos. Falamos sobre planos de casamento que ainda
precisam ser feitos para Holly e Austin, o negócio de óleos
essenciais de Brooklyn e o Farmer's Market neste fim de
semana.

Só quando a campainha toca, lembro-me de que Rome


havia mandado uma mensagem perguntando a que horas eu
estaria em casa. Como ele poderia me incomodar com isso? Dei
a ele seu espaço. Meus olhos encontram o relógio.

— Eu atendo. — Juno se levanta, já que é a mais próxima


da porta. — Este é Liam, a sua chamada de fuga tarde da
noite?

Savannah a vira. — Não tenho certeza se você notou ou


não, mas nos odiamos.
Juno ri, seus cabelos ruivos balançando para frente e
para trás enquanto caminha até a porta da frente. — Oh não,
você não. Noite das garotas. — Não podemos ouvir a voz do
cara para saber quem é, mas a voz de Juno fica mais alta. —
Não, você não pode vê-la. Ela estará em casa mais tarde.

A porta se fecha e Juno ri.

— Quem era? — Savannah pergunta.

Juno aponta o dedo, fazendo um, dois, três, entre nós


três, até que pousa em mim.

A essa altura, a porta já está se abrindo e Rome está


invadindo o corredor.

Rome tem esse jeito quando entra em uma sala.


Geralmente você se sente confortável, como se ele fosse um
amigo desde a infância. Mas hoje à noite, parece estar em pé
de guerra. Seus olhos são nítidos e prontos para disparar. Eles
vasculham a mesa até se concentrar na minha taça de vinho
vazia e seus ombros vacilam. Sem uma palavra, ele gira nos
calcanhares e sai da sala.

— Qual diabos é o problema dele? — Savannah pergunta,


mas ela também viu. Foi rápido, mas deliberado, e Savannah
é esperta demais para não ter percebido.

— Já volto. — Me levanto da mesa.


— Ele pode ser um idiota, — Brooklyn continua, sua voz
se afogando quando abro a porta e encontro Rome indo em
direção a sua caminhonete.

— Rome! — Chamo por ele.

Ele coloca a mão no ar. — Apenas vá se divertir. Tenho a


resposta que precisava.

— Do que você está falando?

Ele abre a porta do passageiro e um segundo depois o


teste em que fiz xixi na semana passada está em sua mão.

Meus joelhos quase caem debaixo de mim, mas consigo


ficar de pé.

Eu joguei isso fora. Coloquei-o na sacola plástica, amarrei


a sacola e joguei-a fora. Como na Terra... Suponho que não
importa agora.

— Eu posso explicar. — Chego ao lado da caminhonete.

— Explique por que você não confiou em mim o suficiente


para me dizer? Por que tenho que encontrar uma caixa na lata
de lixo?

Volto para a escuridão e fecho os olhos.

— Não se trata de confiança, é apenas...

— O quê? — Ele é tão estranhamente calmo que não sei


para onde ir a partir daqui. Com gritos posso lidar.
— Não sei. Deveria ter lhe contado, mas precisava de
tempo para absorver a informação.

Ele bate à porta e se aproxima de mim sob a luz da


entrada de automóveis de Savannah. — Deveríamos ser um
time. Isso nunca vai funcionar a menos que você confie em
mim.

Respiro fundo. — Entendo, ok. Estava apenas... você


ficou tão estressado com o restaurante. Quase não nos vemos.
— Jogo minhas mãos no ar.

— E daí? Você imaginou que ia esconder isso de mim até


quando, Harley? Até que estivesse com uma bola de boliche no
estômago?

— Não! Não faria isso.

Seu punho bate no capô da caminhonete e pulo para trás.


— Por quê? Não entendo.

— Eu... eu... — Não há outra desculpa além do meu


próprio medo, então permaneço em silêncio, encarando meus
dedos entrelaçados.

— Você sabe o quê? Esqueça. — Ele contorna a frente de


sua caminhonete.

— Onde você está indo? — Dou um passo à frente.

— Pensar. — Ele bate à porta com força e tudo o que vejo


é sua expressão irritada, antes de ligar a ignição e as luzes
interiores escurecerem.
O vejo sair da garagem e seus pneus guincham antes que
acelere pela estrada.

Oculto meu soluço e percebo a quão errada lidei com a


situação. A primeira vez fomos culpados, mas desta vez, é por
minha culpa.

— Harley, — diz Savannah, deslizando para fora da porta


da frente. — Rome foi embora?

Concordo.

— O que está acontecendo? — Ela se aproxima de mim


enquanto estou como uma estátua na calçada, como se ele
voltasse.

— Estou grávida. — Minha mão cai no meu estômago


como se tivesse que mostrá-la não verbalmente também.

— O quê? — Sua voz é baixa e há uma nota de descrença


e julgamento lá.

— Estava tomando pílula antes de você questionar como


poderíamos deixar isso acontecer. E nós usamos camisinha
com Calista, então acho que seu irmão tem algum tipo de
espermatozóide mágico que nada na velocidade da luz.

— Eca, não vamos falar sobre o esperma do meu irmão,


mas parabéns. — Ela abre os braços. — Não importa o quê, é
algo para comemorar. Acredite, os bebês nem sempre são
planejados, mas isso não significa que não sejam pequenos
milagres.
Eu a encaro como se ela fosse outra pessoa.

Ela muda sob o meu olhar. — Não para mim, mas para
outras pessoas. Já criei irmãos suficientes na minha vida. —
Ela me leva até a varanda da frente e se senta ao meu lado. —
Você quer falar sobre isso? Por que ele está bravo?

— Não contei e ele encontrou o teste... ainda estou


tentando descobrir como isso aconteceu.

Ela assente. — Por que você não contou a ele?

Dou de ombros. Savannah esteve do nosso lado durante


a maior parte disso. Quero dizer, me deixou morar com ela,
mas não tenho certeza se estou confortável em dizer que estava
preocupada que ele se sentisse preso. Que em poucos meses
ele passou de solteiro para pai de uma criança e com outra a
caminho. Quanto um cara pode aguentar antes de decidir
fugir?

— Posso ver a estúpida roda do zumbido agora. — Minha


cabeça cai nos joelhos e meus braços ao meu lado.

— Não se preocupe com isso. São precisos dois, Harley,


lembre-se disso. Não soando como uma professora de saúde,
mas apenas a abstinência é uma garantia de que você não
ficará grávida. Rome conhecia os riscos.

Mas ele pensou? Não sei se o argumento dela tem muito


peso.

— Acho que vou embora.


— Você tem certeza? As meninas entenderão se você
quiser conversar com elas sobre isso.

Balanço a cabeça. — Não, vou sair mais cedo e se


pudermos manter em segredo...

— Não direi uma palavra até que vocês dois me digam.

— Obrigada. — Levanto-me e vou para o interior da casa


para dizer adeus e ir embora.

Depois que saio de Savannah, me vejo dirigindo por Lake


Starlight em vez de ir direto para casa. Rome, não querendo
falar comigo, me incomoda mais do que se gritasse na minha
cara. Pela primeira vez desde que começamos por esse
caminho, me pergunto se finalmente chegamos ao fim da linha.
Harley chegou tarde e só posso supor que contou às
minhas irmãs que está grávida, o que significa que toda a
minha família deveria me ligar logo de manhã.

Ela deslizando na cama e se virando de lado enquanto eu


fingia estar dormindo, não é tão ruim quanto sair pela manhã
e ir para o restaurante como se estivesse esperando uma
entrega.

Não é até mais tarde, quando Harley entra para trabalhar


no seu turno, o que deixa tudo mais estranho, porque costumo
lhe dar um grande beijo de olá e perguntar sobre Calista,
enquanto tenho uma boa tarde e a vejo desaparecer no meio
da noite.

O olhar lateral de Colin diz que não sou o único que


percebe.

Em vez de abordar a situação, decido me afogar no


trabalho. Dane-se lidar com os meus sentimentos. É
superestimado de qualquer maneira.
Rachel, uma das minhas garçonetes, chega meia hora
depois. — A mesa nove quer falar com você, — diz ela.

Isso não é incomum. Acho que os clientes de Lake


Starlight não entendem que não se pede para conversar com o
chef, a menos que queira elogiar ou reclamar. Você não o
procura apenas para conversar sobre a última vez que os viu.
Mas esta é uma cidade pequena.

No minuto em que entro na sala de jantar, meus olhos se


voltam para Harley. É um instinto, como respirar. Sempre
quero checá-la como se fosse seu guarda-costas.

Nossos olhos se encontram brevemente. Seu cabelo está


puxado para trás hoje, e seus olhos têm bolsas profundas sob
eles, que nem sua maquiagem consegue cobrir. Mas o que
arranca meu coração do peito é o fato de que seu olhar
rapidamente deixa o meu como se sentisse nojo.

Respiro fundo e vou para a mesa nove, onde amigos de


meus pais, Val e Cory Martle, se sentam. Dizem que têm
orgulho de mim e que a comida estava maravilhosa. Eles
perguntam sobre Calista, então, pego meu telefone para
mostrar uma foto. Val fala sobre isso, seu olhar indo para
Harley.

Minha mandíbula aperta, mas me viro. — Har.

Ela para no meio do bar quando ouve seu nome e coloca


no rosto um sorriso falso.
— Venha, quero apresentá-la a algumas pessoas, — digo,
meu braço estendido como se não estivéssemos no meio de
uma guerra fria agora.

Ela para de servir, coloca as bebidas na bandeja de


Rachel e limpa as mãos antes de se dirigir até a mesa.

— Sr. e Sra. Martle, esta é Harley, minha namorada. —


Coloco minha mão em volta de sua cintura, mas ela não se
apega ao meu aperto como normalmente faz. Seu quadril
nunca toca o meu enquanto se inclina para a frente e aperta
as duas mãos.

— Prazer em conhecê-los, — diz ela.

— Sua filha é a coisa mais fofa. Sinto falta dessa idade.


— Val olha para Cory e ele ri.

— Oh, você terá seu próprio neto um dia, — diz ele,


tomando um gole de vinho.

— Obrigada. Ela está se tornando um furacão. Ainda esta


manhã tentou pular do sofá.

— Ela fez isso? — Pergunto.

Harley assente, mal olhando para mim. — Sim. Lembra o


pai pelo que ouvi. — Harley me surpreende o quão bem pode
fingir que as coisas estão bem. Na verdade, é meio assustador.

— Ai... sim. Eu poderia falar sobre Rome. Não acho que


ele possuísse um par de calças que usaria até os seis anos de
idade. — Val sorri para mim com carinho.
— Ele estava sempre testando seus pais, — preenche
Cory.

— Parece Calista ultimamente. — Sua mão cai sobre o


estômago por um segundo e eu me pergunto o que ela está
pensando. Provavelmente, esperando que o próximo não seja
como eu.

Ela olha para trás e vê outro garçom esperando no bar.


— É melhor eu voltar ao trabalho. Foi muito bom conhecer
vocês. — Ela aperta a mão deles, sorri para mim e se afasta. O
sorriso foi forçado, e me pergunto se Val e Cory notaram o quão
distantes parecemos.

— Ela é encantadora. Sua mãe ficaria feliz. — Val me


abraça.

— Obrigado. É melhor eu voltar para a cozinha. — Abraço


os dois novamente e deixo a mesa, desta vez, deliberadamente,
sem olhar para Harley.

A tarde continua se arrastando. Normalmente, os dias em


que Harley trabalha são meus dias favoritos. Aqueles em que
faço pequenos intervalos e vou para a sala de jantar, onde
conversamos sobre um filme ou uma banda da qual
discordamos. Vamos ser sinceros, ainda há muito que não
sabemos um sobre o outro. Normalmente, preparo o almoço
dela, enquanto ela me dá conselhos sobre o tempero como se
fosse uma chef. Mas hoje, não vou lá fora e ela não entra na
cozinha.
Às cinco horas, antes de todas as reservas ocuparem suas
mesas para o jantar, meu telefone toca.

— O que há, Sav?

— Hey, é Liam, na verdade.

Paro de cortar as pimentas e limpo as mãos.

— Houve um acidente e estamos a caminho do Memorial.

Minha respiração está presa na garganta e começo a


desabotoar a jaqueta de chef imediatamente. — Quem?

— Calista, cara. Ela caiu e cortou a testa. Tentamos fazê-


lo parar de sangrar, mas vamos levá-la para o hospital.

— Eu estarei aí. Apenas espere aí. — Então penso melhor.


— Não, vá, mas por favor, Liam...

— Não se preocupe, eu entendi. Ela ficará bem. Não se


preocupe. — Ele desliga e eu sei que posso confiar nele, mas
caramba...

Sinto que vou vomitar.

Jogo minha jaqueta de chef no balcão. — Colin, você


precisa cuidar do serviço hoje à noite. Vou ter que sair e levar
Harley comigo. Desculpe cara, você tem que receber seu salário
hoje.

Ele ri por um momento antes de ver meu rosto. A colher


cai ao lado dele e o pânico ataca suas feições quando percebe
que realmente estou saindo, e ele estará por conta própria.
O ignoro e corro para o restaurante. Harley está rindo
com uma colega de trabalho, suas costas ficando mais rígidas,
quanto mais me aproximo.

— Rachel, preciso que você cubra o bar hoje à noite ou


diga que está fechado. Harley, venha comigo. — Pego a mão
dela, contudo, desliza para fora do meu alcance.

Não é hora de mostrar teimosia, penso comigo mesmo.

— Ok, — Rachel diz, suas sobrancelhas franzindo.

— Conversamos depois, — Harley sussurra para mim.

— Nós não vamos conversar. É Calista.

— O quê? — Seus olhos se arregalam.

— Ela caiu e Liam e Savannah estão a caminho do


Memorial.

Ela desata o avental e o joga atrás do balcão, correndo


para a cozinha para pegar sua bolsa e depois sai pela porta dos
fundos.

Sigo logo atrás e pulo na minha caminhonete. É quando


percebo que Harley não está no banco do passageiro, ela está
prestes a subir no Cadillac.

— Entre no carro, — digo, abrindo minha porta.

— Vou dirigir.

— Não. Entre no carro!


— Você não quer falar comigo, então prefiro ficar sozinha.

Porra, inferno. Saio da minha caminhonete, dou a volta


no Cadillac antes que ela possa subir e a carrego para o meu
carro. Quando vejo que está em segurança, entro e saio do
centro da cidade, como se fosse a pista Daytona 500.

— Não me toque assim de novo, — diz ela, os joelhos


pulando para cima e para baixo. — Eles aplicaram pressão no
corte?

— Tenho certeza que sim.

— E eles não conseguiram parar o sangramento?

— Acho que não.

— Por que Liam está ligando? Eu a deixei com Savannah.

— Sei tanto quanto te disse. Nós apenas precisamos


chegar lá. — Viro à direita, esperando poder ganhar algum
tempo no caminho de volta.

— Não fique com raiva de mim. Só estou perguntando. —


Ela cruza os braços.

— Você está bem? O estresse não é ruim? — Meus olhos


se concentram em seu estômago.

Ela segue minha linha de visão. — Estou bem. Não é


como se você se importasse.

— Do que diabos você está falando? — Meu aperto no


volante aumenta.
— Você está me ignorando. Obrigada pelo ombro frio,
porque está facilitando tudo isso. — Ela olha pela janela.

— Eu não estava ignorando você, mas que tal falarmos


sobre não confiar em mim. O que você achou que eu faria?
Fugir? Obrigado pelo voto de confiança. — Giro o volante no
último minuto, quase perdendo a entrada de emergência do
Memorial.

— Eu não sabia como você reagiria.

Pisei no freio na primeira vaga de estacionamento que


encontrei. Ela abre a porta e corre para a entrada sem esperar
por mim.

Acho que nossa conversa acabou.

A alcanço no posto de enfermagem, mas percebo


Savannah sentada em uma cadeira, seu corpo inteiro
tremendo enquanto soluça.

— Onde ela está? — Pergunto a ela.

Harley olha para trás me ouvindo e corre até Savannah,


sentando-se no banco ao lado dela. — Como ela está? O que
eles disseram?

— Eu sinto muito. Eu me virei por um segundo para


pegar um suco para ela e depois percebi que estava vindo para
mim com sangue escorrendo pelo rosto. Arruinei minha
sobrinha.

Uma enfermeira olha para Harley. — Você é a mãe?


Harley volta para o posto de enfermagem, me deixando
com Savannah.

— Tenho certeza de que ela está bem. — Mas não tenho


tempo para consolá-la, então vou para a sala porque preciso
ver minha filha.

A enfermeira aperta um botão e Harley corre para a porta.


Sigo, nós dois andando rápido e depois tendo que desacelerar
para acompanhar a enfermeira. Ela não pode simplesmente
nos dar o número do quarto e nós irmos sozinhos?

Ela abre a porta da sala e lá está Liam fazendo sons de


animais com alguns brinquedos, mas está fazendo os sons
errados. Ele pega uma vaca de plástico e diz ‘baa’. Calista ri.
Meu coração relaxa e volta a uma batida constante.

Harley corre e toca o curativo na testa.

— Mamãe! — Ela sorri e empurra Harley para longe,


querendo que Liam continue com o jogo.

Ele pega a dica e pega um cachorro dizendo miau. Sua


risada é o melhor som do mundo no momento.

— O médico disse que eles continuarão monitorando-a,


— diz Liam. — Que talvez não fosse necessário trazê-la aqui,
mas que é sempre melhor ser cauteloso com uma criança com
Von Willebrand. — Ele se levanta da cadeira para que eu possa
me sentar.
— Muito obrigado, — digo. — Deveria ter certeza de que
Savannah está bem, ela está tão abalada.

— Não. Deixa comigo. Ela me ligou quando aconteceu e,


felizmente, eu estava no Smokin 'Guns, então não demorei
muito para chegar lá. Você fica aqui. Vou garantir que ela
chegue em casa e fique melhor.

Harley corre e se joga nos braços de Liam. — Muito


obrigada. Fico te devendo.

Liam me olha por cima de sua bagunça de cabelos loiros.


— Você não me deve nada. Fico feliz que ela esteja bem.

Compartilho um olhar de agradecimento com ele, mas


Calista pega o gato e imita o som que ele faz, rindo de si
mesma.

Harley se inclina, beijando o rosto e olhando por cima do


corpo.

— O que você está procurando? — pergunto.

— Contusões. Quero checar se ela está bem.

A ajudo a investigar nossa filha, que parece estar ótima.

Meia hora depois, uma enfermeira e um médico entram e


nos dizem que vão mantê-la um pouco mais para garantir que
a proteína no sangue funcione e que ela desenvolva um
coágulo. Ajo como se entendesse, mas percebo rapidamente
que preciso fazer minha própria pesquisa sobre esta doença.
Harley assente, entendendo exatamente o que estão
dizendo. Claro que sim. E agora temos outro bebê crescendo
dentro dela que poderia sofrer com a mesma doença.
Calista adormece e a enfermeira entra para trocar o
curativo, Harley pairando por cima do ombro o tempo todo.

A enfermeira nos diz que só vai demorar um pouco mais,


que parece que está coagulando.

— Nunca estive tão assustado em toda a minha vida, —


murmuro, segurando a mão de Calista na minha. — E se
tivesse sido pior?

Harley não diz nada por um minuto, segurando a outra


mão de nossa filha na dela.

— A primeira vez que ela ficou com o nariz


ensanguentado e não parava, perdi todo o senso. Sinto-me mal
por Savannah porque eu estava tão petrificada quanto ela. Me
acostumei mais a cada vez, mas ela não tem um episódio há
tanto tempo, acho que esqueci o quão assustador é.

— Me desculpe, não tenho ideia de como você fez tudo


isso sozinha. — Espio e olho para ela. Realmente olho para a
mulher que amo. Ela não sabe disso e nem tenho certeza se
acreditaria em mim se contasse.
Ela encolhe os ombros como se tivesse acabado de
carregar a máquina de lavar louça ou carregado meu telefone
celular por mim. Ela criou essa garotinha incrível por dezoito
meses sozinha. É algo impressionante e está na hora de
reconhecer que temos mais um coração adicionado a essa
equação familiar.

— Harley, — abordo o assunto como um cão hesitante


que gosta de um dono malvado.

— Sinto muito, — ela deixa escapar. — Não quis esconder


isso de você, é só que... quero dizer, estou grávida.

Eu rio porque isso resume tudo. Com as palavras ‘estou


grávida’, vem tudo o mais em nossas vidas caindo sobre nós.
Aqui estou, apenas abrindo um restaurante, já correndo sem
tempo com a minha agenda. Adicionar outra criança à mistura
é ridículo e louco e as pessoas vão nos olhar como se fossemos
alienígenas com três cabeças e dois corpos.

— Não é engraçado. Quero dizer, como isso pode estar


acontecendo? — Sua cabeça cai na cama, seu cabelo loiro um
véu sobre o rosto.

Olho para Calista dormindo pacificamente. Meu coração


e minha mente estão em paz agora que sei que está bem.
Passaremos por todos os outros momentos como esse, mas
precisamos fazer isso juntos. Deus, somos muito melhores
juntos do que separados. Sou um homem que nunca pensou
que esse dia chegaria, mas por causa dela e Calista, sou
homem suficiente para admitir isso. Harley me transformou no
homem que quero ser. Um homem como meu pai foi.

— Ei. — Estendo a mão e escovo os cabelos dela para


longe do rosto. — É apenas uma gravidez não planejada. Pense
desta maneira, pelo menos você sabe onde encontrar o pai
dessa vez.

Eu rio, mas ela levanta a cabeça com um olhar mortal


que pode me matar.

— Estou brincando.

— As pessoas nesta cidade vão pensar que não posso


manter minhas pernas fechadas, — ela geme.

— Quem se importa?

Ela solta um suspiro e olha para Calista. — Mas eu não


posso deixar de amar o fato de que nós vamos conseguir outra
igual a ela. — Sua mão acaricia a as bochechas rosadas de
nossa filha.

— Você acha que sou um pai ruim? — Expresso o medo


que está me incomodando, me perguntando se é por isso que
ela não me disse.

A mão dela cai enquanto olha para mim. — Não. Por que
você pensaria isso?

Dou de ombros. — Por que você não me contou quando


pensou que poderia estar grávida? Por que você não confiou
em mim para lidar com isso?
Seus lábios são finos e ela olha a mão em torno da de
Calista. — Eu já me sinto como um laço no seu pescoço,
adicionar outro bebê só vai apertar esse laço. Você nunca
pensa sobre onde estaria se eu nunca aparecesse aqui?

Deslizo da cadeira e dou um tapinha na perna, mas ela


balança a cabeça. — Vamos lá, — digo. Não há como
continuarmos tendo essa conversa tão distante. — Por favor?

Ela relutantemente se aproxima, e a puxo para o meu


colo.

— Não tenho certeza do que tenho que fazer para


convencê-la de que você aparecer é a melhor coisa que
aconteceu na minha vida. — Pressiono minha mão no
estômago dela. — Calista é o meu mundo e este pequeno
também será. Mas nada disso é possível sem você. Você não é
um laço. Sim, nossa vida vai ficar louca por um tempo, mas
acho que somos capazes de lidar com isso. Quero dizer, temos
as crianças que voltam, certo?

Ela ri e coloca a mão na minha bochecha. — Me desculpe,


eu não te contei imediatamente.

Coloco minha mão sobre a dela. — Tudo bem, mas da


próxima vez , você me diz, e vamos esperar os três minutos
para descobrir juntos, entendeu?

Ela levanta as sobrancelhas. — Próxima vez?

— Dois é fácil, se vamos realmente constituir uma família,


precisamos de pelo menos três. A menos que... — Corro minha
mão sobre seu estômago, e ela olha para a ação. — Você esteja
esperando gêmeos.

Seus olhos se arregalam e rio.

— Hey. — Trago nossa conversa de volta a um nível sério


e olho em seus olhos. — Eu te amo. Não jogo essas três
palavras livremente, então guarde-as. Desde o momento em
que você entrou na Terra & Mare, minha vida não foi a mesma
e nunca mais quero que volte a ser como era. Sempre joguei
bem com um time.

Ela me beija e se afasta apoiando a testa na minha. — Eu


te amo, Rome Bailey.

— Isso não significa nada, a menos que você o sele com


um beijo, — digo, batendo meus lábios nos seus.

Quando nossos lábios estão prestes a se encontrar, uma


voz estridente soa na sala.

— OH. MEU. DEUS! Minha bisneta! — Vovó D se senta


na cadeira que Harley estava momentos atrás e pressiona os
lábios na bochecha de Calista deixando uma marca de batom
vermelho. Calista se mexe e olha para nós, sorri e depois se
vira para ver vovó D.

— Doodoo, — diz ela em sua voz sonolenta.

Troco um olhar com Harley.

— Oh, você pode me chamar do que quiser. — Ela a


abraça com força no peito enquanto se inclina sobre a cama.
— Doodoo! — Calista mexe porque o céu proíbe qualquer
pessoa mostrar seu carinho quando ela não o quer hoje em
dia.

Vovó D se senta novamente no banco. — Graças a Deus


por Liam, hein? Savannah me contou tudo sobre isso. Ela está
uma bagunça na sala de espera. — Ela aponta para a porta.

— Tenho certeza de que ela estava bem nas mãos de


Savannah. — Harley se levanta. — Vou ver se consigo aliviá-
la.

Quando Harley sai da sala, vovó D põe os olhos em mim.


— Você! — Ela aponta. — Ainda bem que Calista se machucou.

— O quê? — Minha cabeça se levanta.

— Caso contrário, você continuaria sendo um idiota com


a Harley. O que você estava pensando? Esta é sua chance de
corrigir um erro.

— Eu nem quero saber do que você está falando. —


Organizo os animais da fazenda de volta na cama para Calista.

— Este novo bebê. Você começa a experimentar tudo


desde o primeiro dia e age como um pirralho mimado porque
ela não fez o teste quando estava com você? Ainda bem que
tenho sido uma ótima mentora para sua irmã. Ela sabia
exatamente o que fazer.

Um segundo depois, Savannah e Liam entram com


Harley.
— Veja, ela está ótima, — diz Harley, apontando para
Calista. — As crianças são resistentes.

Calista vê os animais novamente e levanta uma vaca. —


Hiin in in.

— Ah! Merda. Ela misturou todos os sons dos animais. —


Ajo em pânico e pego um cachorro. — O que um cachorro diz,
menina?

— Miau, — diz Calista com uma risada, a cabeça caindo


de volta para o travesseiro.

— Merda, querida, com que força ela bateu na cabeça? —


Eu ajo preocupado e Harley revira os olhos para mim.

Savannah corre para a beira da cama. — Não é nada


difícil. — Ela pega uma galinha. — O que uma galinha diz?

Calista a pega da mão. — Muuu.

— Oh meu Deus, olha o que eu fiz! — Savannah parece


meio pronta para soluçar.

Rio e Savannah olha para mim confusa por um momento


antes de olhar para Harley, que lhe dá um sorriso de
desculpas. Eu meio que gosto dela se desculpando por mim, é
doce.

Savannah me bate na cabeça. — Seu imbecil.

— Im be cil, — diz Calista.


Todos na sala riem e os ombros de Savannah caem e seu
queixo cai no peito como se ela não pudesse vencer.

— Maneira de ensinar uma palavra ruim à minha filha,


— brinco.

— Está bem. Ela disse isso na semana passada, quando


Rome estava ao telefone com seu representante de bebidas. —
Harley levanta as sobrancelhas para mim. Eu meio que gosto
de nós juntos – muito. — Agora vá para casa e relaxe. — Harley
a cutuca em direção a Liam, que a abraça.

Estreito meus olhos para eles, mas Harley balança a


cabeça dizendo para eu calar a boca.

— Tenho que ir também. Só precisava ver que ela estava


bem. Tchau, querida. — Vovó D acena para Calista. — É noite
de pôquer e tenho assistido aos jogos do Texas Hold. Ethel vai
querer escolher outro jogo. — Ela se abaixa e beija Calista na
testa. — Você realmente bateu sua cabeça? — Ela sussurra.

— Doodoo, — Calista sorri. — Tchau.

Os três se despedem e, quando saem do quarto, a voz alta


de vovó D pode ser ouvida dizendo: — Boa estratégia sobre a
coisa da garota ferida. Isso realmente os uniu.

Olho para a testa de Calista e não vejo sinal de sangue no


curativo. Certamente eles não elaboraram tudo isso.

— Ok, o médico a liberou, — a enfermeira entra. — Só


preciso desses papéis assinados.
Harley assina os papéis enquanto inspeciono minha filha.
— Ela tem um corte, certo? — Pergunto à enfermeira.

Ela olha para mim como 'por que eu faria essa pergunta?'
Harley olha por cima do ombro com uma expressão
semelhante.

Quando terminam, a enfermeira empilha os papéis na


mesa. — Você está indo para casa. — Ela toca os dedos dos
pés de Calista, que ri.

— Casa, — diz Harley e pega Calista nos braços.

Eu a encontro do outro lado do quarto, pegando nossa


filha nos meus braços. — Eu já te disse o quanto te amo? —
Digo para Harley. A mão de Calista no meu rosto.

— Tenho a certeza que nunca envelhecerá.

Me abaixo e a beijo. — Vamos para casa.

Uma das mãos de Calista pousa em cada um dos nossos


rostos, nos separando. — Não, mamãe. Não, papai.

Nós nos separamos e rimos de nossa filha. — Vejo muitas


rapidinhas no nosso futuro, — digo, piscando.

— Talvez tenhamos que fazer uma viagem ao spa.

Olho para Calista nos braços dela. Sim, ainda não superei
essa situação. — Você acha que devemos levar o berço dela
para o nosso quarto hoje à noite?
Harley balança a cabeça e ri. Então deixamos o hospital
como deveríamos: em família.
NOVE MESES DEPOIS...

— Papai, tudo bem, — diz Calista enquanto beijo sua


testa.

— Boa noite, menina, — digo.

— Não sou um bebê.

Eu bagunço o cabelo dela. — Desculpe, menina grande.

Ela pega o cobertor e fica confortável na cama. Acendendo


a luz noturna, fecho a porta e vou pelo corredor.

Ainda estamos morando em cima da Terra & Mare porque


o bebê não precisará de muito espaço, a princípio, mas teremos
que descobrir algo em breve.

Harley está no sofá, as pernas esticadas à sua frente, em


cima da mesa, com um travesseiro embaixo delas. O inchaço
foi horrível para ela.

— Estou meio deprimido que ela já esteja falando o nome


‘papai’, — admito para Harley, caindo no sofá ao lado dela,
minha mão pousando em seu estômago.
— Foi como o toque de um botão, — diz ela, tricotando
alguma coisa.

Pego as agulhas compridas das mãos dela e as coloco na


caixa de fios. Ela adquiriu o hábito com o hobby das minhas
irmãs. Todas elas têm. Todas as minhas irmãs menos as
gêmeas.

— O que você está fazendo? — Ela me olha com


desconfiança.

— O médico disse que poderíamos tentar induzir o parto.


Ordens médicas são ordens médicas. — Minha mão cai entre
as pernas dela.

— Estou tão confortável quanto um elefante em um


Fusca. — Ela se move, mas caio no chão, me situando entre as
pernas dela. — Rome, — ela suspira.

Ela se senta um pouco mais ereta quando percebe que


não estou tentando tirar as calças. — O que você está fazendo?
— Ela percebe o anel que tenho na minha mão e balança a
cabeça. — Agora? Você está fazendo isso agora? — Eu rio com
seu leve gemido.

— Eu sei que você me disse para esperar até depois do


bebê, mas não posso. Eu queria te surpreender.

— Você escolhe uma noite de sábado quando estou do


tamanho de uma casa, com calças de ioga e uma camiseta,
ainda, sem maquiagem?
— Você é sempre linda.

Ela cora e sei que a tenho. Pensei muito sobre isso, e não
quero que nosso bebê entre neste mundo sem que tenhamos
um compromisso maior entre nós do que namorado e
namorada.

— Uma vez, essa mulher sábia me disse para não propor


a uma mulher a menos que eu a amasse, porque o amor é a
coisa pegajosa que mantém um casamento juntos.

Ela balança a cabeça como se estivesse irritada, mas sei


que ela ama que me lembre de suas palavras.

— Parece uma mulher muito inteligente, — diz ela.

— A mais inteligente que já conheci. Exceto por sua


decisão de me deixar ter seus filhos.

Sua mão desliza para frente e ela acaricia minha


bochecha. — Eu aposto que você é um ótimo pai.

Eu pisco.

— Amo você e se este é o material pegajoso de que


precisamos, sinto-me confiante de que temos essa coisa de
casamento na bagagem.

— Sério? — Ela pergunta, um sorriso levantando os


cantos dos lábios.

— Sim. Porque te amo tanto, nossas coisas pegajosas


estão transbordando.
Ela ri. — Ainda bem que te amo da mesma forma.

— Então temos o material pegajoso em massa.

Outra risada sai da boca dela. — Eu acho.

— Então o que diz? Você quer se casar comigo? Eu


poderia te prometer a lua, o sol e as estrelas, mas tudo o que
prometo é provar todos os dias o quanto você é o amor da
minha vida. Claro, estamos a caminho de ser pais de dois
filhos, mas conseguiremos isso. — Pisco novamente.

— Como uma mulher poderia recusar uma proposta


como essa? — Ela acena com a cabeça. — Sim, vou me casar
com você.

A alegria filtra através do meu sangue, deixando-me com


um zumbido de corpo inteiro. Pego o anel que coloco em um
colar. Sabia, com o inchaço dela, que havia uma chance de o
anel não caber.

Ela olha para ele depois que o coloco no pescoço. — É tão


bonito, Rome, mas...

Sei o que ela vai dizer, e o custo? Devemos economizar


esse dinheiro para um lugar, mas ela ainda não percebeu que
é a número um nessa família. Vai levar um longo tempo antes
que acredite que vou colocar mais pomada em todas aquelas
feridas que têm, de crescer em um orfanato e mais cedo ou
mais tarde, vai estar completamente curada.
Afinal, ela pegou um homem que queria ser solteiro para
sempre e trouxe à luz um pai. Somente uma mulher incrível
poderia lidar com isso.

Eu me ajoelho para beijá-la, mas ela aperta o estômago.

— Hum, — diz ela, olhando para baixo.

— O quê? — Eu pergunto.

A água entre as pernas dela encharca o sofá.

— Não surte, mas está na hora.

Levanto-me e vou para o nosso quarto para pegar a mala


que fizemos na noite passada. Meu telefone vibra dentro do
meu bolso e o puxo no caminho de volta pelo corredor.

É uma mensagem da Harley no grupo da família.

Harley: Minha bolsa simplesmente estourou. Juno, você


pode vir e olhar Calista, já que ela está dormindo? Quanto aos
outros, informaremos assim que tivermos notícias no hospital.

— Você está brincando com fogo, — digo para ela,


largando a mala na porta e me movendo para ajudá-la.

— Dissemos a eles que os avisaríamos e, se enviarmos


apenas uma mensagem para Juno, isso incomodará todos os
outros. É mais fácil assim.

A pego em meus braços. — Como você conhece minha


família melhor que eu?
Ela encolhe os ombros e depois caminha pelos próximos
dez minutos antes de Juno bater na porta.

— Como foi rápida assim, que diabos? — Pergunto.

— Desculpe, corri para cá. — Ela respira fundo.


Felizmente, vive perto e é por isso que foi escolhida como babá
Bailey para Calista. — Vocês escolheram uma noite intensa
para ter este bebê nascendo.

Estou no meio da porta, mas Harley para. — Por quê? O


que aconteceu?

— A casa de Savannah inundou. — Ela se encolhe. — Um


cano ou algo estourou enquanto estava fora da cidade já que
ninguém estava lá...

— Ah, não. O que vai acontecer? — Harley pergunta.

— Sim, vamos descobrir isso depois que a levarmos ao


hospital. Você saberá depois de dar à luz a nosso bebê. — Puxo
seu braço, mas seus pés permanecem firmes.

— Não tenho certeza. Ela provavelmente terá que morar


com Holly e Austin por um tempo, acho.

— Ok, ótimo, — digo, puxando a manga da jaqueta da


Harley.

Os lábios dela caem. — Eu me sinto horrível por ela.

— Sim, eu sei. — Juno se senta no braço da cadeira.


— Ok, vamos lá. — Desta vez, realmente coloquei meu
braço em volta de seus ombros e a conduzi para fora da sala.

— Tchau, boa sorte! — Juno diz.

Fechei a porta atrás de nós.

— Você pode relaxar, sabe. O parto de Calista perdurou


por um longo tempo.

Ainda estou chateado por ter perdido, mas deixei para lá.
Bem, eu estou chegando lá.

— Espere. — Abro nossa porta novamente. — Primeiro,


tranque a maldita porta, minha filha está dormindo no
corredor. Segundo, seja uma boa irmãzinha e tire essa
mancha.

Ela olha para o sofá e recua. — De jeito nenhum, — diz,


enquanto se aproxima, bate à porta na minha cara e ouço a
fechadura clicar um segundo depois.

Pelo menos ela fez uma coisa que pedi.

Guio Harley pelas escadas e entramos na minha


caminhonete, acelerando para o Memorial, exatamente como
quando recebemos a ligação sobre Calista todos esses meses
atrás.
Horas depois, o bebê Bailey faz sua aparição no mundo.
Significou Calista tendo que esperar na sala de espera e sendo
a primeira a ver seu irmão.

Vou para a sala de espera e Calista corre para mim com


dois balões nas cordas. Alguém diz: 'É um menino' e
'Parabéns'. Ela está com a camiseta 'Hoje, eu me tornei uma
irmã mais velha'.

Eu a pego e a trago para mim.

— Bebê, — diz ela.

— Sim, você tem um irmão.

Ela sorri animadamente. — Deixe-me ver!

Toda a minha família está de pé, mas levanto minha mão


no ar. — Volto já. Só queremos compartilhar esse momento
com Calista, se vocês não se importarem.

Meus irmãos e Liam balançam a cabeça, sorriem e


sentam-se.

Calista anda com a mão na minha, olhando para cada


quarto que passamos. — Mamãe? — Ela pergunta quando
passamos por um quarto.

— Ainda não.

Chegamos ao quarto e Harley está na cama cuidando de


Dion.
Decidimos ficar com os nomes da mitologia grega e, após
consultar Selene, decidimos por Dion após Dionísio, o deus do
vinho, festivais e festas. Parecia adequado, dado que ele é meu
filho.

Harley olha para nós dois e sorri. — Hey, querida, quer


ver seu irmão?

— O que ele está fazendo? — Calista olha para ela com


nojo.

— Ele está mamando.

— Seu peito?

A pego para trazê-la para mais perto da cama. Este não


é o momento que pensávamos que teríamos com ela.
Sentando-a na cama, ela se arrasta até o final da cama.

— Ele recebe leite de mim.

— Como vacas?

— Sim, como vacas, — diz Harley, me espreitando com


um olhar de 'que porra é essa.'

— Como ele consegue leite? — Ela se ajoelha e olha para


baixo, mas ainda mantém distância.

— Meu corpo faz isso, — diz Harley.

— Como se tivesse leite na geladeira? — Calista pergunta.

Harley ri e olha para mim. Sim, o momento acabou.


— Porque você é uma garota grande. — Baguncei seu
cabelo. — Você não quer dizer oi para o bebê? — Mudo de
assunto.

— Ele é pequeno, — diz ela sem entusiasmo. — Posso ir


brincar com o tio Denver?

Os lábios de Harley mergulham e balanço minha cabeça.


— Acho que vou chamar nossa família, — digo com um
suspiro.

— Sim, acho que ele terminou de se alimentar. — Harley


me entrega o bebê e se cobre. Ele é tão pequeno, mas ao mesmo
tempo, sinto que estou segurando o peso do mundo em minhas
mãos.

— Veja, olhe para ele. — O seguro em direção a Calista.

Ela assente e desvia o olhar, escapa da cama e sai do


quarto.

— Espere, querida.

Coloco Dion no berço e, três minutos depois, nosso circo


de família sai correndo pelo corredor. Eles são altos e
barulhentos e fazem uma cena onde quer que vão.

Eles entram no nosso quarto, ocupando todos os cantos


e recantos e, enquanto todos se revezam com o bebê, me deito
na cama com Harley assistindo o amor irritante da família com
nosso filho. Ela aperta minha mão assistindo Denver
ensinando Calista a guerra de polegares.
— Ouvimos as notícias, Sav. Lamentamos muito, — diz
Harley.

Savannah se senta na cadeira ao lado da cama. — O local


vai levar meses para refazer.

— O que você vai fazer? — Pergunto. — Ficar no Austin e


Holly?

Pego os dois atrás dela se olhando. Eles fazem isso porque


ela é da família, mas sei que com o casamento se aproximando,
eles provavelmente querem privacidade.

— Não. Eu nunca iria me intrometer.

— Ela vai ficar com Liam. — Vovó D aparece fora do


círculo de membros da família. — Você não se importa, certo
Liam?

Ele olha para Savannah com olhos estreitos e enfia as


mãos nos bolsos. — Não. — Mas se eu tivesse que adivinhar,
ele se importa.

— Eu não vou morar com Liam, — Savannah diz para


nós, sem nos preocupar em olhar em volta.

— Qual o problema? Denver mora lá. Vocês podem ser


como um é pouco, dois é bom e três é demais, — diz Kingston.

— Ao reverso— , acrescenta Denver. — Vamos Sav. Vai


ser divertido e não há nenhum lugar decente para alugar na
cidade. Quais são as suas opções?
Olho para Liam cujo rosto fica mais vermelho, quanto
mais a conversa continua. Seus olhos disparam para
Savannah toda vez que ela deveria responder à pergunta.

Ela olha por cima do ombro e seus olhos se encontram.


Harley aperta minha mão mais uma vez, caso eu não esteja
testemunhando. Oh, eu estou bem aqui, querida. Algo está
errado.

— Seria um problema? — Ela pergunta.

— Não, — ele resmunga.

— Perfeito. Não sei por que vocês não conseguem pensar


nessas coisas. — Vovó D estende as mãos. — Agora me dê o
bebê.

Beijo Harley na testa, me perguntando como consegui


que esta garota mantivesse meus pés no chão e me amasse.

Ela olha para mim e não precisamos dizer nenhuma


palavra, está tudo em nossos olhos. Esse material de amor
entre nós se multiplica todos os dias.
Muito obrigada a todos abaixo. Sem eles, estaríamos
perdidos!

Danielle Sanchez e toda a Wildfire Marketing Solutions!

Ellie, do My Brother's Editor, para edições de linha.

Shawna de Behind the Writer para revisão.

Sarah, da Okay Creations, para a capa e a marca de toda


a série.

Sara, da Sara Eirew Photography, pela foto amorosa de


Brooklyn e Wyatt.

Blogueiros que sempre dedicam tempo para ler, revisar


e/ou promover-nos.

Piper Rayne Unicorns, que gritam dos telhados sobre


nossos novos lançamentos e amam nossos personagens como
nós.

Leitores que se arriscaram em nosso livro com tantas


opções por aí.

Acho que você sabe quem virá a seguir – nossa adorável


Savannah Bailey (haha) e o homem que gosta de apertar os
botões dela, Liam.
Abraços a todos!

Piper & Rayne

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