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02C Rússia – Espanha: período de eleições e de estimativas


Na primeira década de março serão realizadas eleições presidenciais na Rússia e as eleições
parlamentares na Espanha. O nosso comentarista Igor Kudrin analisa a cobertura que a
imprensa hispanófona (espanhola) dá a estes acontecimentos.
Na Rússia as eleições serão promovidas no domingo, 2 de março, na Espanha, uma semana
mais tarde. Os russos também acompanham a campanha eleitoral na península ibérica. A
mídia ressalta o caráter intenso da campanha eleitoral e, especialmente, a luta entre os lideres
dos dois maiores partidos do país, faz prognósticos e estimativas cautelosos. A prática dos
últimos trinta anos, - isto é, depois do estabelecimento das relações diplomáticas entre
Moscou e Madrid, - torna evidente que independentemente do nome do político, que se
encontra no Kremlin e em Moncloa, as relações entre os dois países continuam sólidas e tem
como base a confiança mútua. Uma prova disso é a coincidência dos pontos de vista a
respeito dos mais importantes problemas internacionais, embora na época de José Maria
Asnar houvesse exceções desagradáveis: Madrid participou juntamente com outros Estados
da NATO dos bombardeios da Sérvia e foi uma das primeiras a enviar, juntamente com
Washington e Londres, o seu contingente militar para o Iraque. Mas hoje estamos unânimes
na recusa de reconhecer a proclamação unilateral da independência de Kossovo e a separação
deste território da Sérvia. Agora os políticos dos dois Estados, apesar de empenhados na luta
pré-eleitoral interna, conseguem acompanhar o desenrolar de acontecimentos no Estado –
amigo, sem que houvesse nem sequer a sombra da intromissão nos assuntos internos um do
outro. Porém, as simpatias abertas e os prognósticos dos ouvintes da Voz da Rússia são algo
totalmente diferente. Note-se que muitos deles, - e não somente espanhóis, mas também
chilenos, argentinos e costarriquenhos, - estão surpresos: por quê a sua imprensa nacional
escreve tanto sobre as eleições primárias nos EUA e quase ignora o mesmo acontecimento na
Rússia. E se aparece, de vez em quando, uma informação de Moscou, normalmente não é
objetiva e encerra deturpação grosseira de fatos. Para saber a verdade, os ouvintes recorrem,
como é praxe, à nossa emissão “linha aberta” e aos comentários dos observadores.
Os autores das cartas têm razão. Tenho nas mãos a última edição do jornal “ABC” de Madrid.
A sua apresentação da campanha pré-eleitoral na Rússia pode ser comparada apenas aos
ataques contra o partido socialista, que está agora no poder, e contra o seu presidente
Rodrigues Sapatero. O artigo de fundo do jornal, intitulado “Simetrias políticas
internacionais” afirma que os espanhóis estão muito mais interessados em saber a futura
decisão do Colégio de Grandes Eleitores nos EUA do que os resultados da votação direta na
Rússia. Afirma-se que ainda não se sabe quem dos três candidatos vai vencer lá, no além –
mar, na luta pela Casa Branca – um dos dois democratas ou o republicano. Quanto à Rússia,
aqui já está praticamente claro, quem dos quatro pretendentes vai ganhar as eleições
presidenciais: é o atual vice – primeiro ministro adjunto Dmitri Medvedev, cuja candidatura
foi apresentada pelo partido “Rússia Unida” e apoiada pelo presidente Vladimir Putin, que
está prestes a concluir o prazo da sua gestão. Por isso, o jornal qualifica as nossas eleições de
“pseudo-eleições”. Como se o atual chefe de Estado não tivesse o direito de apoiar o
candidato que promete continuar a sua linha política. É sabido que o presidente Bush também
defende hoje os candidatos pelo partido republicano nas suas discussões com os democratas
Hilary Clinton e Barack Obama. Mas neste caso o autor do referido artigo não vê nenhuma
violação da lei.
O jornal “País” também continua a publicar reportagens pré-eleitorais da capital russa. Desta
vez o seu correspondente empenha-se em afirmar que o Kremlin hoje está preocupado mais
com o comparecimento do eleitorado nos locais de votação, do que com o apoio ao seu
programa de desenvolvimento do país. Realmente, os cartazes de rua e as mensagens
transmitidas por rádio e televisão exortam os cidadãos, - tanto na Rússia, quando na Espanha,
- a cumprir o seu dever cívico. Esta é uma prática internacional comum na véspera das
eleições. Mas de acordo com a lei, na Rússia a votação é um assunto estritamente pessoal e
ninguém puxa o eleitor para as urnas. Ao mesmo tempo, o jornalista está preocupado com a
situação dos rivais de Medvedev, que, supostamente, não podem absolutamente participar dos
debates pré-eleitorais. Mas eu ouço e vejo o dia inteiro as suas intervenções por rádio e na
televisão em defesa dos seus próprios programas e suas criticas à política do presidente Putin.
É difícil de enumerar todas as “histórias” inventadas nestes dias por meus colegas espanhóis.
Provavelmente, os espanhóis e, inclusive, os latino – americanos já se resignaram de há muito
com esta “atitude objetiva” em relação à Rússia.

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