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John Wesley
2. Não se trata apenas dos pagãos; homens que são guiados em suas buscas,
por um pouco mais do que uma pálida luz de razão, mas muitos deles, igualmente,
que testemunham o nome de Cristo, e para os quais foram confiados os oráculos de
Deus, têm falado da natureza do homem, tão magnificamente, como se ela fosse toda
inocência e perfeição. Relatos deste tipo têm particularmente abundado no presente
século; e, talvez, em nenhuma outra parte do mundo mais do que em nossa própria
região. Aqui, não poucas pessoas de forte entendimento, assim como de extenso
aprendizado, têm empregado as mais extremas habilidades, para mostrarem o que eles
denominam de 'o maravilhoso lado da natureza humana'. E deve-se reconhecer que,
se seus relatos forem justos, o homem é 'um pouco inferior do que os anjos'; ou, como
as palavras podem ser mais literalmente afirmadas, 'um pouco menos do que Deus'.
4. Mas, neste meio tempo, o que devemos fazer com nossas Bíblias? Porque
esses relatos nunca irão concordar com isto. Como quer que eles agradem à carne e ao
sangue, são extremamente irreconciliáveis com os relatos bíblicos. As Escrituras
asseveram que 'através da desobediência de um homem, todos os homens foram
constituídos pecadores'; que 'em Adão todos morreram' -- morreram espiritualmente,
perderam a vida e a imagem de Deus; que aquele pecador e caído Adão, então,
originou um filho à sua própria semelhança'; -- nem seria possível que ele pudesse
originá-lo de outra forma, porque 'quem pode produzir uma coisa pura de uma
impureza?'— que, conseqüentemente, nós estávamos, assim como outros homens,
pela natureza, 'mortos nas transgressões e pecados'; 'sem esperança, e sem Deus no
mundo', e, portanto, 'filhos da ira'; de modo que todo homem podia dizer, 'Eu fui
moldado na iniqüidade; e, no pecado, minha mãe me concebeu'; que 'não existe
diferença', em 'todos que pecaram e não alcançaram a glória de Deus'; daquela
gloriosa imagem de Deus, na qual o homem foi originalmente criado. E,
conseqüentemente, quando 'o Senhor olhou dos céus para os filhos dos homens, Ele
viu que todos eles haviam saído do caminho; que eles haviam se tornado
completamente abomináveis; que não havia um justo; não; nem um', ninguém que
verdadeiramente buscasse a Deus. De acordo com isto, e o que é declarado pelo
Espírito Santo, nas palavras acima citadas, 'Deus viu', quando ele olhou dos céus,
antes, 'que a maldade do homem estava grande na terra'; tão grande, que 'cada
imaginação dos pensamentos de seu coração era, tão somente, continuamente
pecaminosa'.
3. Deus viu, agora, que tudo isto, o todo disto, era mal; -- contrário à retidão
moral; contrário à natureza de Deus, que necessariamente inclui todo bem; contrário à
vontade divina, o padrão eterno de bem e mal; contrário à imagem pura e santa de
Deus, onde o homem foi originalmente criado, e, onde ele permaneceu, quando Deus,
inspecionando as obras que havia criado, viu, então, que tudo era muito bom;
contrário à justiça, à misericórdia, e verdade, e às relações essenciais que cada homem
tem com seu Criador e seu próximo.
4. Mas não havia bem misturado com o mal? Não havia luz misturada com a
escuridão? Não; nenhuma afinal: 'Deus viu que o todo da imaginação do coração do
homem era tão somente mau'. E de fato, não se pode negar que muitos deles, talvez,
todos tivessem boas intenções, colocadas em seus corações; uma vez que o Espírito de
Deus também 'empenhava-se com o homem', se, por acaso, ele pudesse arrepender-se,
mais especialmente, durante aquele gracioso adiamento temporário, de cento e vinte
anos, enquanto a arca estava sendo preparada. Mas, ainda assim, 'em sua carne não
habitava coisa alguma boa'; toda sua natureza era puramente má. Ela era totalmente
consistente consigo mesma, e não misturada com qualquer coisa de uma natureza
oposta.
II
Tal é o relato autêntico de toda a raça humana, que Ele que conhece o que está
no homem; que sonda o coração e testa as afeições, tem deixado registrado para nossa
instrução. Tais eram todos os homens antes que Deus trouxesse o dilúvio sobre a terra.
Nós vamos, agora, em Segundo Lugar, inquirir se eles são o mesmo agora.
1. E isto é certo, as Escrituras não nos dão motivo para pensar de alguma
forma diferente delas. Do contrário, todas as passagens das Escrituras citadas acima se
referem àqueles que viveram depois do dilúvio. Acima de mil anos antes que Deus
declarasse, através de Davi, com respeito aos filhos dos homens: 'Todos eles saíram
do caminho da verdade e santidade; não existe alguém justo; nem um'.
3. Quando Deus abre nossos olhos, vemos que estávamos antes, sem Deus, ou
melhor, éramos ateístas, no mundo. Tínhamos, pela natureza, nenhum conhecimento
de Deus; nenhuma familiaridade com ele. É verdade, que tão logo começamos a usar
a razão, tomamos conhecimento 'das coisas invisíveis de Deus, até mesmo seu poder
eterno e Divindade, das coisas que estão feitas'. Das coisas que são vistas, inferimos a
existência de um Ser poderoso e eterno, que não é visível. Mas ainda assim, embora
reconheçamos sua existência, nós não temos familiaridade com Ele.
Assim como sabemos que existe um Imperador da China, a quem ainda não
conhecemos; nós sabíamos que existia um Rei de toda a Terra, ainda assim, não o
conhecemos. Na verdade, não poderíamos, através de qualquer uma de nossas
faculdades naturais. Através de nenhuma dessas, poderíamos obter o conhecimento de
Deus. Não poderíamos percebê-lo mais do que vê-lo com nossos olhos. Porque
'ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho, e ele a quem o Filho irá revelá-lo'.
4. Nós lemos de um rei antigo, que, estando desejoso de saber qual era a língua
natural dos homens, com o objetivo de trazer o assunto para um certo debate, fez o
seguinte experimento: Ele ordenou que duas crianças, tão logo elas tinham nascido,
fossem transportadas para um lugar preparado para elas, onde elas foram levadas, sem
qualquer instrução, afinal, e sem nunca ouvir uma voz humana. E o que aconteceu?
Aconteceu que quando elas foram, por fim, trazidas para fora do seu confinamento,
elas não falaram língua alguma, afinal; apenas articulavam apenas alguns sons
estranhos, como aqueles de outros animais. Que essas duas crianças foram, da mesma
maneira, trazidas do útero, sem serem instruídas em alguma religião, não havia
motivo para dúvida, mas (a menos que a graça de Deus se interpusesse), o evento
seria justamente o mesmo. Elas não teriam religião, afinal. Elas não teriam mais
conhecimento de Deus do que as bestas do campo; do que o selvagem potro. Tal é a
religião natural, abstraída da tradicional, e das influências do Espírito de Deus!
5. E não tendo conhecimento, não podemos ter o amor de Deus: Não podemos
amar o que não conhecemos. A maioria dos homens fala, de fato, do Deus amoroso, e,
talvez, imaginam que eles conheçam; pelo menos, alguns irão reconhecer que eles não
O amam: Mas o fato é muito claro para ser negado.Nenhum homem ama a Deus,
através da natureza, mais do que ele o faz a uma pedra, ou à terra que ele pisa. No que
nós amamos, nós nos deleitamos: Mas nenhum homem tem naturalmente qualquer
deleite em Deus. Em nosso estado natural, não podemos conceber como alguém
poderia deleitar-se Nele. Nós não temos prazer nele, afinal; ele é extremamente
insípido para nós. Amar a Deus! Está muito além de nossas vistas. Nós não podemos
alcançar isto, naturalmente.
6. Pela natureza humana, tão somente, não temos amor, mas também, medo de
Deus. Na verdade, é certo que a maioria dos homens tem, mais cedo ou mais tarde,
uma forma de medo irracional e inconsciente, propriamente chamado de superstição;
embora os descuidados epicuristas tenham dado a isto o nome de religião. Ainda
assim, isto não é natural, mas adquirido; principalmente, através de conversa ou de
exemplo. Pela natureza, 'Deus não está em todos os nossos pensamentos': Nós o
deixamos manejar seus próprios assuntos, sentado-se quietamente, como imaginamos,
no céu, e nos deixando na terra, para manejarmos os nossos; de modo que não temos
mais temor de Deus, diante de nossos olhos, do que o amor de Deus, em nossos
corações.
7. Assim, são todos os homens 'ateus no mundo'. Mas o próprio ateísmo não
nos protege da idolatria. Em seu estado natural, cada homem nascido no mundo é um
idólatra completo. Talvez, não deve ser de tal maneira no sentido comum da palavra.
Nós não adoramos, como os idólatras ateus, ferro fundido ou imagens esculpidas. Nós
não nos curvamos a um tronco de uma árvore; ao trabalho de nossas próprias mãos.
Nós não oramos para os anjos ou santos nos céus, não mais do que os santos que estão
sobre a Terra. Mas o que acontece, então? Nós temos fixado nossos ídolos em nossos
corações; e a estes nós nos curvamos e adoramos. Nós adoramos a nós mesmos,
quando concedemos que a honra, que é devida somente a Deus, seja dada a nós. E,
embora o orgulho não fosse criado para o homem, ainda assim, onde está o homem
que nasceu sem ele? Assim sendo, roubamos de Deus seu inalienável direito e
idolatricamente usurpamos sua glória.
8. Mas o orgulho não é apenas uma espécie de idolatria, da qual somos todos
culpados pela natureza. Satanás tem estampado sua própria imagem em nosso coração
na vontade própria também. 'Eu irei', ele disse, antes de ser expulso do paraíso, 'Eu
me assentarei aos lados do norte'; Eu farei minha vontade e prazer;
independentemente daquela de meu Criador.
'E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus
exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte'.
(Isaías 14:13)
Pergunte ao homem: 'Por que você faria isto?'. Ele responderá: 'Porque eu
estou inclinado a fazê-lo''. O que é isto, senão, 'porque é da minha vontade'; ou seja,
em efeito, porque o diabo e eu concordamos; porque Satanás e eu governamos nossas
ações, através de um e do mesmo princípio. A vontade de Deus, neste meio tempo,
não está em seus pensamentos; ela não é considerada no menor grau: embora seja a
regra suprema de toda criatura inteligente; quer no céu, quer na terra, resultante da
relação essencial e inalterada que toda criatura testemunhe seu Criador.
10. E assim é 'o desejo dos olhos'; o desejo dos prazeres da imaginação. Esses
surgem tanto dos grandes, quando dos objetos bonitos e incomuns; -- se os dois
primeiros não coincidem com o último, visto que, talvez, possa parecer, numa
sindicância zelosa, que nem os objetos grandes, nem os bonitos agradam mais do que
aqueles que são novos; quando a novidade deles acaba, a maior parte, pelo menos, do
prazer que eles proporcionavam termina; e na mesma proporção que eles se tornam
familiares, eles se tornam vazios e insípidos. Mas mesmo que experimentemos isto
tão freqüentemente, o mesmo desejo irá ainda permanecer. A sede inata continua
fixada na alma; mais do que isto: quanto mais temos indulgência, mais ela aumenta, e
nos incita a seguir atrás de outro, e outro objeto mesmo assim; embora deixemos cada
um com uma esperança fracassada, e uma expectativa iludida.
11. Um terceiro sintoma dessa doença fatal, o amor do mundo, que está tão
profundamente enraizado em nossa natureza, é o orgulho da vida'; o desejo do
reconhecimento, da honra que vem dos homens. Os maiores admiradores da natureza
humana admitem que isto seja estritamente natural; tão natural quanto ver, ouvir, ou
qualquer outro dos sentidos externos. E será que eles estão envergonhados disto,
mesmo os homens letrados; homens refinados e de grande entendimento? Muito longe
disto, eles se gloriam neste sentido! Eles aplaudem a si mesmos, por causa do amor
deles pelo aplauso! Sim; cristãos eminentes, assim chamados, não têm dificuldade em
adotar o dizer do velho ateu vaidoso: 'Não considerar o que os homens pensam sobre
nós, é a marca de uma mente enfraquecida e abandonada'. Assim, ir com calma e
equilibrado, através da honra e desonra; através de um relato bom ou ruim, é, para
eles, sinal de alguém que não está, na verdade, adequado para viver: 'Fora da terra
com tal disposição'. Mas alguém imaginaria que esses homens ouviram de Jesus
Cristo ou de seus Apóstolos; ou que eles soubessem quem foi que disse: 'Como você
pode acreditar em alguém que recebe honra de outro, e não busca a honra que vem
de Deus somente?'. Mas, se isto é realmente assim; se for impossível acreditar, e
conseqüentemente agradar a Deus, por quanto tempo recebemos ou buscamos a honra
de uns dos outros, e não a honra que vem de Deus apenas, então, em que condição
está a humanidade! Os cristãos, assim como os pagãos; uma vez que todos buscam
honra um do outro! Uma vez que seja natural para eles procederem desta forma;
sendo eles mesmos os juízes; assim como é natural ver a luz que toca seus olhos, ou
ouvir o som que entrar por seus ouvidos; sim, uma vez que eles consideram isto um
sinal de uma mente vitoriosa, contentar-se com a honra que vem de Deus apenas!
III
5. Mas nós não temos aprendido assim dos oráculos de Deus. Nós sabemos
que aquele que busca o que está no homem faz um relato diferente, tanto da natureza
quanto da graça, de nossa queda e nossa recuperação. Nós sabemos que a grande
finalidade da religião é renovar nossos corações na imagem de Deus; reparar aquela
perda total de retidão e santidade verdadeira, que nós mantivemos, por conta do
pecado de nosso primeiro antepassado. Ainda assim, sabemos que toda religião que
não responde a esta finalidade; toda sorte de interrupção disto, da renovação de nossa
alma na imagem de Deus, em busca da similitude Dele que a criou, não é outra do que
uma pobre farsa, e uma mera zombaria de Deus, para a destruição de nossa própria
alma. Oh! Previna-se daqueles professores de mentiras, que impingiria isto sobre
você, como Cristianismo! Não os leve em consideração, embora eles venham até
você, com toda o engano da iniqüidade; com toda lisura da linguagem; toda decência;
sim, beleza e elegância de expressão; todas as declarações de boa vontade sincera para
com você, e reverência para com as Santas Escrituras. Mantenha o plano da velha fé,
'uma vez, entregue aos santos', e entregue pelo Espírito de Deus aos nossos corações.
Conheça a sua enfermidade! Conheça a sua cura! Você nasceu no pecado: Por
conseguinte, 'você deve nascer de novo'; nascer de Deus. Pela natureza, você é
totalmente corrupto. Pela graça, você está totalmente renovado. Em Adão, todos
morremos: No segundo Adão, em Cristo, todos fomos trazidos à vida. 'Você que
estava morto nos pecados, Ele tem vivificado'. Ele já deu a você o princípio da vida;
até mesmo a fé Nele, que o amou e deu a Si mesmo por você! Agora, 'vai de fé em fé',
até que toda a doença será curada; e toda aquela 'mente que esteve em Jesus Cristo,
esteja também em você'.
[Editado por George Lyons da Northwest Nazarene College (Nampa, ID), para a Wesley
Center for Applied Theology.]