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TITULO VIII DA EXTINGAO DA PUNIBILIDADE ‘Att. 107. Extingue-se a punibilidade: 1 pela morte do agente; pela anistia, graca ou induko; Ill—pela retroatividade de lei que nao mais considera o fato como criminoso; IV pela prescrig&o, decadéncia ou perempedio; \V— pela rentincia do direito de queixa ou pelo perddo aceito, nos crimes de ago privada; Vi- pela retratacao do agente, nos casos em que a lei a admite: Vil- (REVOGADO); Vil — (REVOGADO); 1X— pelo perdao judicial, nos casos previstos em lei Introdugdo: Coma pratica do crime ou da contravengao penal, nasce automaticamente a punibilidade, compreendida como a possibilidade juridica de o Estado impor uma sancao penal ao responsavel (autor, coautor ou participe) pela infragao penal. A punibilidade consiste, pois, em consequéncia da infracao penal. Nao é seu elemento, razio pela qual o crime e a contravencao penal permanecem {ntegros coma superveniéncia da causa extintiva da punibilidade. Desaparece do mundo juridico somente 0 poder punitivo estatal: 0 Estado ndo pode mais punir, nada obstante a existéncia concreta e inapagavel de um ilicito penal. Em hipsteses excepcionais, entretanto, a extingao da punibilidade elimina a propria infracdo penal. Esse fendmeno somente é possivel coma abolitio criminis e coma anistia, pois os seus efeitos possuem forca para rescindir inclusive eventual sentenga penal condenatéria. De fato, a abolitio criminis funciona como causa superveniente de extingdo da tipicidade, pois a nova lei torna atipico 0 fato até entao incriminado. De seu turno, a anistia, por ficcao legal e por forga de sua eficacia retroativa, provoca a atipicidade temporaria do fato cometido pelo agente, resultando na exclusao da infracdo penal. Isso se justifica pelo fato de tanto a abolitio criminis como a anistia serem veiculadas por meio de lei ordindria, de igual natureza aquela que no passado instituiu o crime ou a contravengao penal. Com efeito, se uma lei criow a infracdio penal, nada impede sejam os seus efeitos apagados por outra lei de igual hierarquia no universo juridico. O rol do art. 107 do CP: £ unanime o entendimento doutrindrio no sentido de ser exemplificativo o rol do art. 107 do CP, o qual contém em seu interior algumas causas de extingo da punibilidade admitidas pelo Direito Penal brasileiro. Em verdade, diversas outras causas extintivas podem ser encontradas no CP e na legislagao especial, destacando-se: 1) término do periodo de prova, sem revogacao, do sursis, do livramento condicional e da suspensao condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/1995); 2) escusas absolutérias (exemplos: arts. 181 e 348, § 2°, do CP); 3) reparaco do dano, no peculato culposo, efetivada antes do transito em julgado da sentenca condenatoria (art. 312, § 3°, do CP); 4) pagamento do tributo ou contribuigao social nos crimes contra a ordem tributaria (art. 9° da Lei 10.684/2003 e art. 83, § 4°, da Lei 9.430/1996); 5) confissdo espontanea e pagamento das contribuigdes, importancias ou valores e prestacéio das informacées devidas a previdéncia social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do inicio da acao fiscal, nos crimes de apropriagao indébita previdenciaria e sonegacao de contribuigdo previdencidria (arts. 168-A, § 2°, e 337-A, § 1°, do CP e art. 83, § 4°, da Lei 9.430/1996); 6) anulagao do primeiro casamento em crime de bigamia (art. 235 do CP); 7) conciliagao efetuada em relacao aos crimes contra a honra, nos termos do art. 520 do CPP; 8) morte do cénjuge ofendido no crime de induzimento a erro essencial e ocultagao de impedimento (art. 236 do CP), por se tratar de agdo penal privada personalissima; e 9) cumprimento integral do acordo de leniéncia, relativamente aos crimes contra a ordem econémica tipificados na Lei 8.137/1990 (art. 35-B da Lei 8.884/1994). Momento de ocorréncia da extingdo da punibilidade — antes ou depois do transito em julgado da condenagéio: As causas de extingo da punibilidade podem alcancar a pretensio punitiva ou a pretensdo executéria do Estado, conforme ocorram antes ou depois do transito em julgado da sentenga penal condenatéria. Quanto Aquelas previstas no art. 107 do CP, ora analisado, algumas causas extintivas atacam exclusivamente a pretensdo punitiva. Sao elas: decadéncia, perempgio, rentincia do direito de queixa, perdao aceito, retratagao do agente e perdao judicial. Por outro lado, duas outras causas atingem apenas a pretensao executéria: indulto (pelo texto da LEP, pois o STF admite 0 indulto antes do transito em julgado da condenacao) e graca. Além disso, o sursis e o livramento condicional, previstos fora do art. 107 do CP, afetam exclusivamente a pretensdo executéria, em face do término do periodo de prova sem revogacao. Finalmente, as causas de extincaio da punibilidade remanescentes podem direcionar-se tanto contra a pretensdo punitiva como, também, contra a pretensiio executoria, dependendo do momento em que ocorrerem, isto é, antes ou depois da condenacio definitiva. Incluem-se nessa relacaio a morte do agente, a anistia, a abolitio criminis e a prescricao. Efeitos: As causas de extingdo da punibilidade que atingem a pretensdo punitiva eliminam todos os efeitos penais de eventual sentenga condenatéria ja proferida. Destarte, esse ato judicial nao serve como pressuposto da reincidéncia, nem pode ser usado como titulo executivo judicial na drea civel. Por sua vez, as causas extintivas que afetam a prete! executéria, salvo nas hipoteses de abolitio criminis ¢ anistia, apagam unicamente o efeito principal da condenagao, é dizer, a pena. Subsistem os efeitos secundarios da sentenca condenatéria: pressuposto da reincid@ncia e constituicao de titulo executivo judicial no campo civil. ‘Morte do agente (art. 107, 1)? Extingue-se a punibilidade pela morte do agente. Essa opcao legislativa tem dois fundamentos: 1) o principio da personalidade da pena: a pena nao pode passar da pessoa do condenado (art. 5°, XLV, 1° parte, da CF); e 2) o brocardo de justiga pelo qual a morte tudo apaga (mors omnia solvit). A regra alcanca todas as espécies de penas, além dos efeitos penais da sentenca condenatoria. Excepcionam-se, porém, por expressa disposicdio constitucional, a obrigacaio de reparar o dano, até os limites das forcas da heranca, e a decretacdio do perdimento de bens. E como bem observa Jillio Fabbrini Mirabete, essa mesma regra se estende a pessoa juridica, podendo a obrigacdo ser transferida & sua sucessora,’ relativamente aos crimes que podem por ela ser praticados. ‘Mas se a morte do agente ocorrer apés 0 transito em julgado da condenacao, subsistem os efeitos secundarios extrapenais, autorizando a execucdo da sentenga penal no juizo civel contra os seus herdeiros. A expressio “agente” foi empregada em sentido amplo, significando “indiciado”, “réu”, “sentenciado”, “condenado” ou “reeducando”, pois essa causa de extingdo da punibilidade pode ocorrer em qualquer etapa da persecucao penal. Cuida-se de causa personalissima, niio se comunicando aos demais coautores e participes, que respondem normalmente pela infracdo penal. — Prova da morte do agente: O art. 62 do CPP é claro ao exigir seja a prova da morte efetuada exclusivamente com a certidao de ébito. Alguns doutrinadores, tais como Nélson Hungria e Magalhaes Noronha, entendiam que a declaraciio judicial de auséncia (art. 6° do CC) ou da extrema probabilidade de morte de quem estava em perigo de vida ou prisioneiro ou desaparecido em campanha nao encontrado até dois anos apés o término da guerra (art. 7° do CC) teria o mesmo efeito de extincdo da punibilidade.” Essas propostas, entretanto, ndo tem amparo legal. Com efeito, em caso de morte do acusado, 0 juiz, somente 4 vista da certidao de dbito, e depois de ouvido o MB, declarard extinta a punibilidade (art. 62 do CPP). — Falsidade da certidao de dbito: Discute-se o que pode ser feito se, com fundamento em certidao de ébito falsa, foi declarada a exting3o da punibilidade. Surgiram dois posicionamentos distintos: 1° posigdo: o réu pode ser processado somente pelo crime de falso, pois o ordenamento juridico brasileiro nao contempla a revisao criminal pro societate. E a posicaéo dominante em sede doutrindria; e 2° posigdo: poderd haver revogacao da decisao judicial, pois a declaracao com falso fundamento nao faria coisa julgada em sentido estrito. Em verdade, trata-se de decisao judicial inexistente, inid6nea a produzir os efeitos inerentes & autoridade da coisa julgada. Se nao bastasse, 0 sujeito ndo pode ser beneficiado pela sua prépria torpeza, e a formalidade nao ha de ser levada ao ponto de tornar imutavel uma decisdo lastreada em falsidade. E a posicéio do STF e também do sv). m= Anistia, graca & indullio (art. 107, TI)? Anistia, graca e indulto sio modalidades de indulgéncia soberana emanadas de drgios estranhos ao Poder Judiciario, que dispensam, em determinadas hipéteses, a total ou parcial incidéncia da lei penal. Concretizama rentincia do Estado ao direito de punir, Embora advenham de érgios alheios ao Poder Judiciério, a anistia, a graga e o indulto somente acarretam na extincao da punibilidade de seu destinatario apés acolhimento por decisao judicial. Essas causas extintivas da punibilidade tém lugar em crimes de ago penal publica (incondicionada e condicionada) e de aco penal privada. De fato, nesses tiltimos o Estado transferiu ao particular unicamente a titularidade para iniciativa da ago penal, mantendo sob seu controle o direito de punir, capaz de ser renunciado pelos institutos em estudo. — Anistia: £ a exclusio, por lei ordindria com efeitos retroativos, de um ou mais fatos criminosos do campo de incidéncia do Direito Penal. A cleméncia estatal é concedida por lei ordinaria editada pelo Congresso Nacional (arts. 21, XVII, e 48, VII, da CF). A competéncia da Unido para concessiio de anistia abrange somente as infragdes penais. Essa causa de extingao da punibilidade destina-se, em regra, a crimes politicos (anistia especial), abrangendo, excepcionalmente, crimes comuns. Abrange fatos, e nao individuos, embora possam ser impostas condigGes especificas ao réu ou condenado (anistia condicionada). E, concedida a anistia, o julz, de oficio, a requerimento do interessado ou do MP, por proposta da autoridade administrativa ou do Conselho Penitenciério, declararé extinta a punibilidade (art. 187 da LEP). Divide-se em prépria, quando concedida anteriormente & condenacao, e imprépria, na hipétese em que sua concessao opera-se apés a sentenca condenatéria. Pode ser também condicionada ou incondicionada, conforme esteja ou nado sujeita a condigées para sua aceitacao. A anistia tem efeitos ex tunc, para o passado, apagando todos os efeitos penais. Rescinde até mesmo a condena¢ao. Portanto, se no futuro o agente praticar nova infragao penal, nao sera atingido pela reincidéncia, em face da auséncia do seu pressuposto. Permanecem integros, entretanto, os efeitos civis da sentenga condenatéria, que, por esse motivo, subsiste como titulo executivo judicial no campo civil. A decisio judicial que reconhece a anistia ¢ declara a extingo da punibilidade deve ser lancada pelo magistrado que conduz a aco penal. Se, todavia, a aco penal estiver no tribunal — em grau recursal ou por se tratar de processo de sua competéncia origindria -, compete a ele a declaracao da extingao da punibilidade. Por tiltimo, se a lei concessiva da anistia entrar em vigor depois do transito em julgado da condenacao, ser competente 0 juizo da execucao para a declaraciio da extincdio da punibilidade (art. 66, III, da LEP e Stimula 611 do STF). A anistia pode ser, ainda, geral ou absoluta, quando concedida em termos gerais, ou parcial ou relativa, na hipétese em que faz excegdes entre crimes ou pessoas. A causa extintiva apenas pode ser recusada por seu destinatario quando condicionada, isto é, vinculada ao cumprimento de determinadas condicdes. Conforme disposto no art. 5°, XLII, da CF, “a lei consideraré crimes inafiangdveis e insuscetiveis de graca ou anistia a pratica da tortura, 0 trafico ilicito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores ¢ os que, podendo evitd-los, se omitirem”. Esse mandamento constitucional foi regulamentado pelos arts. 2°, I, da Lei 8.072/1990 (crimes hediondos), pelo art. 1°, § 6° da Lei 9.455/1997 (tortura) e pelo art. 44, caput, da Lei 11.343/2006 (trafico de drogas). Graga: A graca tem por objeto crimes comuns, com sentenca condenatéria transitada em julgado, visando o beneficio de pessoa determinada por meio da extingao ou comutacao da pena imposta. £ também denominada, inclusive pela LEP, de indulto individual. Em regra, depende de provocagao da parte interessada. De fato, o indulto individual poderd ser provocado por peticao do condenado, por iniciativa do MP, do Conselho Penitenciario, ou da autoridade administrativa (art. 188 da LEP). Além disso, a peticdo do indulto, acompanhada dos documentos que a instruirem, sera entregue ao Conselho Penitenciario, para a elaboracao de parecer e posterior encaminhamento ao Ministério da Justica (art. 189 da LEP). A graca é ato privativo do Presidente da Reptiblica (art. 84, XII, da CF), passivel de delegagdo aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da Repiiblica ou ao Advogado-Geral da Unido (art. 84, pardgrafo nico, da CF), Alcanga apenas 0 cumprimento da pena, na forma realgada pelo decreto presidencial, restando integros os efeitos penais secundrios e também os efeitos de natureza civil. Classifica-se como plena, quando importa em extingao da pena imposta ao condenado, ou parcial, quando acarreta em diminuigao ou comutacio da pena. A graca, normalmente, n&io poderd ser recusada, salvo quando proposta comutacdo de pena (art. 739 do CPP) ou submetida a condigdes para sua concessao. Uma vez concedida e anexada aos autos c6pia do decreto, o juiz declarard extinta a punibilidade ou ajustara a execucao aos termos do decreto, em caso de comuta¢ao da pena (art. 192 da LEP). A CE, emseu art. 5°, XLII, considera insuscetiveis de graca a pratica de tortura, o trafico ilicito de entorpecentes e drogas afins, 0 terrorismo e os crimes definidos como hediondos. Essa regra foi regulamentada pelos arts. 2°, I, da Lei 8.072/1990 (crimes hediondos), pelo art. 1°, § 6°, da Lei 9.455/1997 (tortura) e pelo art. 44, caput, da Lei 11.343/2006 (trafico de drogas). A concessao de graca é ato discricionario do Presidente da Republica, desde que respeitadas as vedacSes impostas pelo sistema constitucional. — Indulto: O indulto propriamente dito, ou indulto coletivo, é modalidade de cleméncia concedida espontaneamente pelo Presidente da Reptblica a todo o grupo de condenados que preencherem os requisitos apontados pelo decreto. O indulto leva em considerac&o a duragao da pena aplicada, bem como o preenchimento de determinados requisitos subjetivos (exemplo: primariedade) e objetivos (exemplo: cumprimento de parte da pena). Pode ser total, quando ha extingado da punibilidade, ou parcial, quando ha diminuic&io ou comutacao da pena imposta pela condenacao. Note-se que na comutacdo de penas nao se pode falar propriamente em extincao da punibilidade, mas somente em transformagao da pena em outra de menor gravidade. Por sua vez, na diminuigao de pena haveria extingao da punibilidade s6 em relaco ao quantum perdoado. Tal como na graca, o indulto coletivo é ato que se insere na atividade discricionaria do Presidente da Republica, que poderd optar pela concessao de beneficio a determinados crimes e nao a outros, por critérios razoaveis de politica criminal. Pode também ser total, quando ha exting&o da pena, ou parcial (diminuicdo ou comutagao de penas), incondicionado ou condicionado (caso em que poderd ser recusado). No indulto total extinguem-se as sancées penais mencionadas no decreto presidencial, subsistindo os demais efeitos, penais ou extrapenais, no abarcados pelo beneficio. — Indulto e crimes hediondos: A Lei de Crimes Hediondos — Lei 8.072/1990 —, em seu art. 2°, I, vedou a concessio de indulto para crimes hediondos, pratica de tortura, tréfico de drogas e terrorismo. E como a CF proibiu expressamente apenas a concessdo de graca ou anistia para os crimes mencionados no seu art. 5°, XLIII, surgiram dois posicionamentos acerca da proibicao legal: 1) aregra é inconstitucional, por abranger hipétese nao prevista no texto constitucional; e 2) a regra 6 constitucional, pois a graca seria género do qual o indulto espécie. E a atual posicao do STF. A mesma vedacao é atualmente prevista no art. 44, caput, da Lei 11.343/2006, no tocante ao trfico de drogas. A natureza dos crimes cometidos, abrangidos pelo indulto, deve ser analisada época do decreto de beneficio, e nao de sua pratica ou da sentenca condenat6i = Abolitio criminis (art. 107, IN): E a nova lei que exclui do mbito do Direito Penal um fato até entao considerado criminoso. Encontra previsao legal no art. 2°, caput, do CP. Alcanga a execuciio e os efeitos penais da sentenca condenatéria, nao servindo como pressuposto da reincidéncia, nem configurando maus antecedentes. Sobrevivem, entretanto, os efeitos civis de eventual condenagao, isto 6, a obrigaciio de reparar o dano provocado pela infracdo penal e a constituicio de titulo executivo judicial. ™ PrescrigGo (art. 107, 1V, 1° figura): Ver comentarios ao art. 109 e seguintes do CP. = Decadéncia (art. 107, IV, 2° figura): A decadéncia é a perda do direito de queixa ou de representacdo em face da inércia de seu titular durante o prazo legalmente previsto. O prazo, salvo disposicao legal em contrario, é de 6 (seis) meses, independentemente do mimero de dias de cada més, contados do dia em que o ofendido veio a saber quem é 0 autor do crime, ou, no caso de aco penal privada subsidiaria da publica, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da dentincia (art. 103 do CP). Esse prazo é contado a partir do conhecimento inequivoco da autoria, e n&o de meras suspeitas. A contagem do prazo se da de acordo coma regra do art. 10 do CP, pois possui indole penal. O prazo decadencial é para o oferecimento da queixa-crime, e no para o seu recebimento pelo Poder Judicidrio, e no caso de ser ela antecedida por inquérito policial, deve o prazo ser apurado a partir da conclusao oficial deste procedimento preparatério, se somente nesse momento foi apurada a autoria da infragdo penal. O prazo decadencial é precusivo e improrrogavel, endo se submete, em face de sua propria natureza juridica, A incidéncia de quaisquer causas de interrupgao e suspensao. No caso de crime continuado, 0 prazo decadencial 6 contado separadamente para cada delito parcelar. De fato, a ficcao juridica de unidade de crime tem lugar exclusivamente para fins de aplicagdo da pena. E, no crime habitual, tal prazo deve ser computado a partir do tiltimo fato praticado pelo agente. ‘Perempedo (ark. 107, TV; 3° figura)? £ a perda do direito de ago, que acarreta na extingdio da punibilidade, provocada pela inércia processual do querelante. A perempcio nao ¢ aplicavel na aco penal privada subsididria da piblica, uma vez que nessa hipétese o MP dard andamento a aco na hipétese de omissao ou desidia do querelante. As causas de perempcao foram previstas no art. 60 do CPP, Trata-se de sancdo que somente pode ser imposta apés a propositura da queixa. Com efeito, fala o CPP em “inicio da agdo penal”, “atos do proceso” etc. — Hipéteses de perempcao: Na primeira situac’io — quando, iniciada a aco penal, o querelante deixar de promover o andamento do proceso durante 30 dias seguidos (art. 60, I, do CPP), se faz necessdria a regular intimacao do querelante para o ato processual. Se ainda assim nao se manifestar no prazo legal de 30 dias, sera declarada a extincao da punibilidade pela perempcao. Exemplo: o querelante deixa de nomear novo advogado, apesar de devidamente intimado da remtincia do patrono antecessor. Ha perempgao, ainda, no caso de falecimento ou incapacidade do querelante, quando as pessoas determinadas pela lei nio comparecerem em juizo, para prosseguimento do feito (art. 60, II, do CPP). No caso de morte, o direito de prosseguir na aco passard ao cOnjuge, ascendente, descendente ou irmio (art. 31 do CPP). No caso de interdi¢o, ao curador. O inciso III do art. 60 do CPP prevé a ocorréncia de perempcao quando o querelante: a) deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do proceso; e b) nas alegacaes finais, deixar de formular pedido de condenacgao. A presenca do querelante deve ser necessaria para a pratica do ato processual. Assim, nao se faz obrigatério o seu comparecimento na audiéncia preliminar, tanto por ser ato anterior ao recebimento ou rejeig&o da queixa-crime, quanto pelo fato de se tratar de mera faculdade conferida as partes. Também nao se da a perempcio pela auséncia do querelante na audiéncia prevista no art. 520 do CPP. O ato processual a ser praticado, portanto, deve demandar a participacao pessoal do querelante, nao havendo perempcao se nos demais atos ele se fizer representar por seu procurador. Nao pode ser declarada a extingo da punibilidade, da mesma forma, se a auséncia for justificada. A declaragao de perempcaio sé pode ocorrer se 0 querelante for intimado para o ato a ser praticado. Portanto, nos casos de audiéncia realizada por carta precatéria, em virtude da desnecessidade de intimacao, nao pode ser considerada perempta a ago pela auséncia do querelante ou seu defensor. A falta de pedido de condenacio nas alegacdes finais 6 igualmente hipdtese de perempcio (inciso Ill, 2" parte). Esse fenémeno nao tem lugar na acao penal publica, pois o magistrado pode proferir sentenca condenatéria mesmo com pedido de absolvicao do MP (art. 385 do CPP). Nao é preciso que o querelante manifeste expressamente 0 pedido de condenagao, bastando que dos seus termos possa extrair-se esse propésito. Nesse contexto, os pedidos de procedéncia da aco penal ou de aplicacao da pena sao suficientes para revelar tal vontade do ofendido. A nao apresentagao de alegacSes finais no prazo legal equivale & falta de pedido de condenacao, desde que intimado o querelante para o ato. Essa regra, nada obstante a manutencio do texto do art. 60, III, do CPP, reclama interpretacao em sintonia com as modificages introduzidas pela Lei 11.719/2008. Com efeito, a partir de ento as alegacées finais, tanto da acusagao como da defesa, sao langadas oralmente em audiéncia. Mas 0 juiz poder, considerada a complexidade do caso ou o ntimero de acusados, conceder as partes 0 prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para apresentagao de memoriais (art. 403, caput e § 3.°, do CPP). Por liltimo, a aco penal é considerada perempta quando o querelante — pessoa juridica — se extinguir sem deixar sucessor (art. 60, IV, do CPP). Se houver sucessor, proceder-se-A na forma prevista no art. 60, II, do CPP, exigindo-se habilitacao no prazo legal para prosseguimento da lide, sob pena de perempcao, Além das hipéteses legais, também pode ser considerada perempta a aco penal coma morte do querelante na aco penal privada personalissima. O tinico exemplo vigente é possivel no crime tipificado pelo art. 236 do CP (induzimento a erro essencial e ocultagao de impedimento). Em caso de pluralidade de querelantes, a peremp¢ao somente atingird o desidioso, persistindo a ago penal no tocante aos demais. Retratar-se é desdizer-se, confessar que errou, revelando 0 arrependimento do responsavel pela infrac&o penal. Tem cabimento ‘como causa de extingao da punibilidade apenas nos casos em que a lei a admite. Eo que ocorre, exemplificativamente, quando o querelado, antes da sentenga, se retrata cabalmente da caliinia ou da difamacio (art. 143 do CP). Por esse motivo, nao extingue a punibilidade no crime de injiria, pois nessa situa¢do nao foi expressamente prevista. A retratagdo depende dos requisitos exigidos pelo dispositivo legal que a prevé. Segundo o STJ, a retratagao, para gerar a extingao da punibilidade do agente, deve ser cabal, completa, inequivoca. Se a ofensa for praticada mediante texto veiculado na internet, sera necessdria a publicidade da retratacéio. De igual modo, o CP admite a retratacio no art. 342, § 2°, segundo o qual o fato deixa de ser punivel se, antes da sentenca no processo em que ocorreu 0 ilicito, o agente se retrata ou declara a verdade. = Casamento do agente com a vitima (art. 107, VII): O inciso VII do art. 107 foi revogado pela Lei 11.106/2005. Previa como causa de extincao da punibilidade o casamento do agente coma vitima, nos crimes contra os costumes, definidos nos Capitulos I, Il e III do Titulo IV da Parte Especial do CP. Sua revogaao, por se tratar de novatio legis in pejus, implica no reconhecimento da causa de extingaio Aquele que praticou crime contra os costumes antes da entrada em vigor da Lei 11.106/2005, caso venha a contrair matriménio com a vitima apés sua vig@ncia. No entanto, como jd decidiu o STF, a extingao da punibilidade nao deve ser reconhecida quando nao houver consentimento valido da vitima ao matriménio. O STF no admitia a possibilidade de a unio estavel ser equiparada ao casamento para fins de extingao da punibilidade quando estava em vigor o dispositivo legal, mas o STI tinha entendimento diverso. ™ Casamento da vitima com terceiro (art. 107, VIII): O inciso VIII do art. 107 também foi revogado pela Lei 11.106/2005. Trazia como causa de extingao da punibilidade o casamento da vitima com terceiro, nos crimes referidos no inciso anterior, se cometidos sem violéncia real ou grave ameaca e desde que a ofendida nao requeresse o prosseguimento do inquérito policial ou da agao penal no prazo de 60 dias a contar da celebragdo. Tal como no inciso anterior, sua revogacao configura novatio legis in pejus, tornando possivel sua aplicagao aos processos penais referentes aos crimes contra os costumes praticados antes da vigéncia da Lei 11.106/2005. Valem as mesmas observacées registradas no inciso precedente em relacao a unio estavel. Perdao judicial (art. 107, IX)? Perdao judicial é 0 ato exclusive de membro do Poder Judicidrio que, na sentenca, deixa de aplicar a pena ao réu, em face da presenca de requisitos legalmente exigidos. Somente pode ser concedido nos casos expressamente previstos em lei. E vedada a sua aplicacao a delito para o qual a lei nao prevé a extensao do beneficio. O perdo judicial, em regra, é aplicavel aos crimes culposos. Mas também tem incidéncia a crimes dolosos, dependendo apenas da vontade do legislador. Vejamos alguns casos em que foi previsto: a) art. 121, § 5°, do CP; b) art. 129, § 8°, do CP; c) art. 140, § 1°, do CP; d) art. 180, § 5°, do CP; e) art. 8° da Lei das Contravengées Penais; f) art. 39, § 2°, da Lei das Contravengdes Penais; g) art, 29, § 2°, da Lei 9.605/1998 — Lei dos Crimes Ambientais; h) art. 13 da Lei 9.807/1999. No tocante ao homicidio e lesio culposos, cometidos na diregdo de veiculo automotor, o Cédigo de Transito ndo prevé o perdio judicial. E imperativa, contudo, a aplicacio analégica do § 5° do art. 121 e do § 8° do art. 129, ambos do CP, que so normas de carter geral (art. 12 do CP), justificativa que restou bem delineada com o veto do Presidente da Republica ao dispositivo legal que previa o perdao judicial em tais crimes do Cédigo de Transito Brasileiro” — Natureza juridica: Trata-se de causa extintiva da punibilidade e consubstancia-se em direito piblico subjetivo, razdo pela qual deve o magistrado concedé-lo ao réu quando presentes os requisitos exigidos em lei. Em sintese, o juiz possui discricionariedade para verificar a presena dos requisitos legais, mas, se considerd-los existentes, a aplicagdo do perdao judicial é obrigatéria. — Aplicabilidade: A extingdo da punibilidade pelo perdao judicial alcanga o crime que Ihe da ensejo, bem como todos os demais cometidos no mesmo contexto fatico. Exemplo: em um acidente de transito praticado na diregdo de veiculo automotor em razéo da imprudéncia de um motorista, morre seu filho, e também terceira pessoa que estava em outro automével, que com o primeiro se chocou. O perdao judicial, embora justificado pela morte do filho do agente, extingue igualmente a punibilidade do outro homicidio culposo, perpetrado contra o motorista desconhecido. Os tribunais tém conferido largo alcance ao perdiio judicial, permitindo sua aplicag&o quando as consequéncias da infragdo atingirem, de forma fisica ou moral, o prdprio agente, seus familiares, noiva, amigos intimos ete. — Inconunicabilidade: Constitui-se 0 perdio judicial em condig&o subjetiva ou pessoal. Assim sendo, nao se comunica aos demais envolvidos na empreitada criminosa. De fato, somente quem ostenta as condicdes legalmente exigidas pelo perdao judicial pode ser beneficiado coma extingao da punibilidade. Imagine-se, exemplificativamente, um homic{dio culposo praticado na diregdo de veiculo automotor. No automével estavam o condutor, seus dois filhos de pouca idade e terceira pessoa, até ento desconhecida, a quem havia dado carona. O motorista, em excesso de velocidade, 6 incentivado pelo carona a correr ainda mais. Em face dessa imprudéncia, perde a direc do veiculo, que capota, resultando na morte das duas criancas. Os adultos sobrevivem. Nessa situacdo, © perdiio judicial, se cabivel, incidira somente em relacaio ao motorista, pois apenas ele suportou as graves consequéncias do crime de modo a tornar desnecessdria a aplicacao da pena. — Momento para concessio do perdao judicial: © perdio judicial somente pode ser concedido pelo Poder Judicidrio na sentenca ou no acérdao (em grau recursal ou em acoes penais de competéncia origindria dos tribunais). Ha, contudo, autores que sustentam a aplicacao do perdao judicial a qualquer tempo, amparados no art. 61, caput, do CPP, por se tratar de causa de extincdio da punibilidade.* Nao concordamos com esse entendimento, uma vez. que o perdao judicial somente se justifica quando o réu deveria ser condenado (hd prova da autoria e da materialidade do fato), mas alei autoriza o juiz a declarar a extincaio da punibilidade. Além disso, a prova segura do seu cabimento somente pode ser produzida durante a instrugao criminal em juizo, sob o crivo do contraditério. — Natureza juridica da sentenga concessiva do perdao judicial: Hé trés posigdes a respeito: 17 posi¢do: Condenatéria — Foi defendida pelo STF antes da reforma da Parte Geral do CP pela Lei 7.209/1984, e que subsistiu apés a entrada em vigor do citado diploma legal até a promulgacdo da atual CF, periodo em que o STF apreciava e julgava questdes infraconstitucionais, e firmou o entendimento de que somente se perdoa quem errou, isto é, cometeu uma infragdo penal. Portanto, 0 magistrado deve condenar o réu e, posteriormente, conceder o perdao judicial, deixando de aplicar a pena. Atualmente, possui seguidores que defendem essa corrente com amparo no art. 120 do CP, que dispée expressamente que a sentenca concessiva de perdao judicial nao prevalece para efeito de reincidéncia. Seria uma condenacdo, com todos os seus efeitos, exceto para fins de recidiva. 2° posigdo: Absolutéria — Funda-se no fato de nao existir condenagiio sem aplicacéio de pena. Desse modo, como hd sentenga, sem imposicaio de san¢ao penal, seria inevitavelmente de cunho absolutorio. Essa corrente falha em uma questiio terminoldgica: somente se perdoa quem errou. Quem deve ser absolvido nao depende de perdao. Além disso, a sentenca concessiva do perdao judicial no se enquadra no art. 386 do CPP, responsdvel pela previsao das hipoteses de absolvigao na justia penal brasileira. 3“ posigdo: Declaratéria da extincdo da punibilidade — O juiz reconhece a pratica de um fato tipico e ilicito, bem como a culpabilidade do réu, mas por questes de politica criminal, reforcadas pela lei, deixa de aplicar a pena. A sentenca nao pode ser condenatéria, pois é impossivel falar-se em condenacao sem pena. E também nao pode ser absolut6ria, j4 que um inocente que deve ser absolvido nao precisa clamar por perdao. Resta, assim, uma tinica saida: a sentenga é declaratéria da extingao da punibilidade. O juiz nfo condena nem absolve. Em se tratando de crime que o admite e presentes os requisitos legais, limita-se 0 magistrado a declarar a ocorréncia da causa extintiva da punibilidade. Essa posicao foi consagrada pela Samula 18 do STJ e é amplamente dominante nos dias atuais. — Distingdo entre perdio judicial e escusas absolutérias: Em ambos, o fato é tipico e ilicito, eo agente possui culpabilidade. Subsiste a infragdo penal, operando-se exclusivamente a extingao da punibilidade. Em suma, hd um crime ou contravencdo penal e o seu responsdvel deve submeter-se a0 juizo de reprovabilidade, mas 0 Estado esta impedido de punir. Além disso, tanto o perdao judicial como as escusas absolut6rias sao condicdes subjetivas ou pessoais, incomunicdveis aos demais coautores e participes da infracdo penal. Mas, nada obstante tais semelhangas, os institutos no se confundem. O perdio judicial somente pode ser concedido na sentenca ou no acérdio, depois de cumprido 0 devido proceso legal. Por sua vez, as escusas absolutdrias (arts. 181 e 348, § 2°, do CP) impedem a instauracao da persecugao penal. Sequer existe inquérito policial. Com efeito, as escusas absolutdrias se justificam por questdes objetivas, provadas de imediato. Exemplo: relagao de parentesco na linha reta. De outro lado, o perdao judicial reclama o regular tramite da acdo penal para provar se estio ou ndo presentes os requisitos legalmente exigidos. — Distincdo entre perdao judicial e perdao do ofendido: O perdao judicial é ato exclusivo do Poder io, é unilateral (independe de aceitacdo da parte contréria), e tem lugar em crimes de aco penal publica ou privada. Ja o perdao do ofendido é concedido pela vitima de um crime que somente se processa por meio de aco penal privada e ¢ bilateral (reclama a aceitaco expressa ou tacita do querelado). @ Jurisprudéncia selecionada: Abolitio criminis e continuidade tipico-normativa — distingao: “O advento da Lei 11.343/2006 nao implicou abolitio criminis quanto 4 conduta prevista no art. 12, § 2°, III, da Lei 6.368/1976, consistente em contribuir ‘de qualquer forma para incentivar ou difundir 0 uso indevido ou o trfico ilfcito de substancia entorpecente ou que determine dependéncia fisica ou psiquica’. Isso porque, apesar da revogaciio do referido dispositivo legal, o tipo penal nele contido subsiste em diversos artigos da Lei 11.343/2006. De fato, 6 certo que a Lei 11.343/2006 nao repetiu literalmente o texto do inciso III do § 2° do art. 12 da Lei 6.368/1976. Entretanto, a nova lei trouxe a previsdo dos crimes de financiamento e custeio para o trafico (art. 36), de colaboragéo como informante (art. 37) e, ainda, introduziu, no seu art. 33, § 1°, III, a ideia de que incorrera nas mesmas penas do art. 33, caput (trafico), aquele que consinta que outrem utilize bem de qualquer natureza de que tenha a propriedade, posse, administragdo, guarda ou vigilancia sem autorizagio ou em desacordo com determinacao legal ou regulamentar, ainda que gratuitamente, para o trafico ilicito de drogas. Assim, em uma interpretacao sistematica, deve-se concluir que a conduta prevista no inciso III do § 2° do art. 12 da Lei 6.368/1976 continua tipica na vigéncia da Lei 11.343/2006, ainda que desdobrada em mais de um artigo da nova lei. Ademais, observe-se que a regra contida no art. 29 do CP também afasta a alegacao de descriminalizacao da conduta em anilise, pois quem contribui, de qualquer modo, para o crime, incide nas penas a este cominadas na medida de sua culpabilidade” (STJ: HC 163.545/RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6° Turma, j. 25.06.2013, noticiado no Informativo 527). Anistia - competéncia: “Sé quando se cuidar de anistia de crimes — que se caracteriza como abolitio criminis de efeito tempordrio e sé retroativo — a competéncia exclusiva da Unido se harmoniza com a competéncia federal privativa para legislar sobre Direito Penal” (STF: ADI 104/RO, rel. Min, Sepiilveda Pertence, Tribunal Pleno, j. 04.06.2007). Anistia — consideragées gerais: “A anistia, que depende de lei, é para os crimes politicos. Essa é a regra. Consubstancia ela ato politico, com natureza politica. Excepcionalmente, estende-se a crimes comuns, certo que, para estes, hd o indulto e a graca, institutos distintos da anistia (CE, art. 84, XII). Pode abranger, também, qualquer sangdo imposta por lei. A anistia é ato politico, concedido mediante lei, assim da competéncia do Congresso e do Chefe do Executivo, correndo por conta destes a avaliacao dos critérios de conveniéncia e oportunidade do ato, sem dispensa, entretanto, do controle judicial, porque pode ocorrer, por exemplo, desvio do poder de legislar ou afronta ao devido processo legal substancial (CF, art. 5°, LIV)” (STF: ADI 1.231/DE, rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, j. 15.12.2005). Comutagiio de penas — concessiio mediante “habeas corpus” - possibilidade: “E, vidvel o exame da possibilidade de concesséo ao réu de comutagao de penas por meio de habeas corpus, pois a andlise acerca do preenchimento dos requisitos necessarios 4 obtencio do beneficio nao pressupée, em principio, a andlise do conjunto fatico-probatério, sendo suficiente analisar questao de direito” (STJ: HC 177.595/SP, rel. Min. Gilson Dipp, 5° Turma, j. 19.10.2010). Decadéncia — identificagdo da autoria: “Vitima que compareceu a delegacia de poli seguinte ao fato supostamente delituoso para manifestar a intengdo de responsabili: criminalmente, tio logo o identificasse. Data que ndo pode ser tida como termo inicial da Tepresentacdo, que foi oferecida no prazo decadencial, computado a partir da identificagao superveniente da autoria, na forma do que prevé o artigo 38 do CPP” (STF: HC 85.872/SP, rel. Min. Eros Grau, 1* Turma, j. 06.09.2005). Decadéncia — inicio do prazo: “Ac&o penal publica condicionada: prazo de decadéncia da representagio se conta do conhecimento inequivoco da autoria, ndo de meras suspeitas” (STF: HC 89.938/SP, rel. Min. Sepiilveda Pertence, 1* Turma, j. 14.11.2006). Decadéncia — natureza do prazo: “Como regra, 0 prazo da decadéncia € de 06 (seis) meses e em se tratando de causa de extingao da punibilidade o prazo tem natureza penal, devendo ser contado nos termos do art. 10 do Cédigo Penal e nao de acordo com 0 art. 798, § 1°, do Codigo de Processo Penal, quer dizer, inclui-se no cdmputo do prazo o dies a quo” (STJ: APn 562/MS, rel. origindrio Min. Fernando Goncalves, rel. para acérdao Min. Felix Fischer, Corte Especial, j. 02.06.2010). Decadéncia — oferecimento de queixa crime — inquérito policial: “O prazo decadencial do art. 38 do CPP é para o oferecimento da queixa crime, e ndo para o seu recebimento pelo juiz, e no caso de ser ela antecedida de inquérito policial (‘pedido de providéncias’) deve o prazo ser apurado a partir da conclusdo oficial deste procedimento preparatrio” (STF: RHC 85.951/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, 2* Turma, j. 07.02.2006). Indulto — concessdo antes do transito em julgado da condenagao — possibilidade: “A jurisprudéncia do STF ja ndo reclama o transito em julgado da condenagio nem para a concessao do indulto, nem para a progressdo de regime de execucdo, nem para o livramento condicional (HC 76.524, DJ 29.08.83, Pertence)” (STF: HC 87.801/SP, rel. Min, Septilveda Pertence, 1° Turma, j. 02.05.2006). Indulto ~ graca — atos de governo: “O inciso I do art, 2° da Lei 8.072/1990 retira seu fundamento de validade diretamente do art. 5°, XLII, da Constituigdo Federal. O art. 5°, XLIII, da Constituicio, que proibe a graca, género do qual o indulto é espécie, nos crimes hediondos definidos em lei, ndo conflita com o art. 84, XII, da Lei Maior. O decreto presidencial que concede o indulto configura ato de governo, caracterizado pela ampla discricionariedade” (STF: HC 90.364/MG, rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, j. 31.10.2007). Indulto — momento para anilise do crime cometido: “Nao invocavel o principio da reserva legal ou da irretroatividade da lei penal mais severa, a teor do art. 5°, XL, da Lei Maior. A natureza dos crimes cometidos, abrangidos pelo indulto, ha de ser conferida a época do decreto do beneficio. Precedentes” (STF; RE 274,265/DF, rel. Min, Néri da Silveira, 2” Turma, j. 14.08.2001), Indulto — vedaciio aos crimes hediondos e equiparados — constitucionalidade: “Nao pode, em tese, a lei ordinaria restringir o poder constitucional do Presidente da Reptiblica de ‘conceder indulto e comutar penas, com audiéncia, se necessario, dos drgios instituidos em lei’ (CF, art. 84, XID, opondo-lhe vedacgées materiais nao decorrentes da Constituigao. Nao obstante, é constitucional o art. 2°, I, da Lei 8.072/1990, porque, nele, a mencdo ao indulto é meramente expletiva da proibigao de graca aos condenados por crimes hediondos ditada pelo art. 5°, XLII, da Constitui¢do. Na Constituigao, a graca individual e 0 indulto coletivo — que ambos, tanto podem ser totais ou parciais, substantivando, nessa tiltima hipétese, a comutaco de pena — so modalidades do poder de graca do Presidente da Reptblica (art. 84, XII) — que, no entanto, sofre a restricao do art. 5°, XLIIL, para excluir a possibilidade de sua concessio, quando se trata de condenacdo por crime hediondo” (STF: HC 81.565/SC, rel. Min. Sepiilveda Pertence, 1° Turma, j. 19.02.2002). No mesmo sentido: STF: HC 90.364/MG, rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, j. 31.10.2007; HC 77.528/SP, rel. Min. Sydney Sanches, Tribunal Pleno, j. 18.02.1999; e HC 90.364/MG, rel. Min, Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, j. 31.10.2007. Morte do agente — certidio de ébito falsa — auséncia de coisa julgada material: “A decisio que, com base em certidao de ébito falsa, julga extinta a punibilidade do réu pode ser revogada, dado que nao gera coisa julgada em sentido estrito” (STF: HC 104.998/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 1° Turma, j. 14.12.2010). No mesmo sentido: STE: HC 84.525/MG, rel. Min. Carlos Veloso, 2° Turma, j. 16.11.2004; STJ: HC 143.474/SP, rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), 6* Turma, j. 06.05.2010; e HC 31.234/MG, rel. Min. Felix Fischer, 5* Turma, j. 16.12.20: Perdio judicial - aplicabilidade: “Sendo o perdao judicial uma das causas de extingio de punibilidade (art.107, inciso IX, do CP), se analisado conjuntamente com o art. 51, do Cédigo de Processo Penal (“o perdao concedido a um dos querelados aproveitard a todos...”), deduz-se que 0 beneficio deve ser aplicado a todos os efeitos causados por uma tinica aco delitiva. O que é reforcado pela interpretagao do art. 70, do Cédigo Penal Brasileiro, ao tatar do concurso formal, que determina a unificacdo das penas, quando o agente, mediante uma Unica ago, pratica dois ou mais crimes, idénticos ou nio. — Considerando-se, ainda, que 0 instituto do Perdio Judicial é admitido toda vez que as consequéncias do fato afetem o respectivo autor, de forma tio grave que a aplicagao da pena nao teria sentido, injustificdvel se torna sua cisio” (STJ: HC 21.442/SP, rel. Min. Jorge Scartezzini, 5* Turma, j. 07.11.2002). Perdao judicial — cabimento nas hipéteses expressamente previstas em lei: “Condenado por homicidio duplamente qualificado nio faz jus ao perdao judicial por absoluta aus@ncia de previsao legal & sua aplicagao” (STJ: HC 55.430/RS, rel. Min. Gilson Dipp, 5* Turma, j. 04.05.2006). Perdao judicial — efeitos: “Ante norma expressa, no particular, com a superveniente Lei n. 7.209, de 1984, que alterou o art. 120, do Cédigo Penal (Parte Geral), nos termos do parecer da Douta Procuradoria-Geral da Republica, tem-se que os efeitos da reincidéncia ndo se encontram inclufdos na abrangéncia do perdao judicial” (STF: RE 104,679/SP, rel. Min. Aldir Passarinho, 2° Turma, j. 22.10.1985). Perdio judicial - natureza da sentenca: “A sentenca que concede o perdio judicial e de efeito declaratério descabendo a inclustio do nome no rol dos culpados e a condenagdo em custas” (STJ: REsp 39.756/RJ, rel. Min, Jesus Costa Lima, 5* Turma, j. 02.03.1994). Perempcaio — abandono da causa: “Justifica-se o reconhecimento da perempcao — que constitui causa extintiva da punibilidade peculiar as acdes penais exclusivamente privadas -, quando o querelante, no obstante intimado pela Imprensa oficial, deixa de adotar as providéncias necessarias a regular movimentagdo do processo, gerando, com esse comportamento negativo, o abandono da causa penal por perfodo superior a trinta dias (CPP, art. 60, 1)” (STF: Ing. AgRg 920/DF, rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, j. 03.08.1995). Perempciio — ago penal privada: “A perempgio — perda do direito de acéio motivada pela inércia processual do querelante, com a consequente extingdo da punibilidade —, é instituto préprio da acdo penal privada, ndo podendo ser invocada quando a persecuco criminal é iniciada pelo Ministério Piblico, mediante representacdio, em virtude da prética de crime contra a honra de funcionario piblico no exercicio de suas fungées ou em razao delas” (STJ: HC 32.577/MT, rel. Min, José Arnaldo da Fonseca, 5° Turma, j. 05.08.2004). No mesmo sentido: STJ: RHC 18.780/SC, rel. Min. Gilson Dipp, 5* Turma, j. 06.06.2006. Perempcao — audiéncia preliminar — nao ocorréncia: “A presenca do querelante na audiéncia preliminar nao é obrigat6ria, tanto por ser ato anterior ao recebimento ou rejeicao da queixa-crime, quanto pelo fato de se tratar de mera faculdade conferida as partes. A auséncia do querelante a audiéncia preliminar pode ser suprida pelo comparecimento de seu patrono” (STF: HC 86.942/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, 2° Turma, j. 07.02.2006). Perempcio — auséncia 4 audiéncia de conciliagdo - nao ocorréncia: “Segundo orientacao pretoriana, ndo se da a perempcao pela auséncia do querelante na audiéncia prevista no art. 520 do Cédigo de Processo Penal, dado que ainda ndo instaurada a relacdo processual com o recebimento da queixa (art. 60, Il, do Cédigo de Processo Penal). O adiamento da audiéncia, em virtude de entraves do mecanismo judicidrio, relacionados com a intimagdo de testemunhas, ndo induz a perempcao de aco penal, porquanto esta causa extintiva da punibilidade pressupde negligéncia do querelante” (STJ: HC 9.843/MT, rel. Min. Fernando Goncalves, 6* Turma, j. 21.03.2000). Perempcao — falta de constituicéo de patrono: “Apesar de devidamente intimado para constituir novo patrono por ter o anterior renunciado os poderes que Ihe foram outorgados, deixou 0 querelante de fazé-lo por mais de trinta dias seguidos. Acao penal privada que se julga perempta, com a consequente extin¢do da punibilidade do querelado” (STF: Ing. 780/TO, rel. Min. Moreira Alves, Tribunal Pleno, j. 12.06.1996). Perempeio — inércia do querelante: “Nao ha ilegalidade na decisdo monocrética que extinguiu a punibilidade dos querelados em fungéio da perempgio da aco, caracterizada pela ndo movimentagdo do processo, pela querelante, por mais de 60 (sessenta) dias. Intimada judicialmente a querelante para que se manifestasse sobre a reparacdo dos danos, tal informacdo seria indispensavel para a caracterizagao do cumprimento das condigdes estabelecidas por ocasido da suspensao do proceso, a fim de possibilitar a extingdo da punibilidade dos querelados. Tem-se como correta a declaragio de perempcao, se evidenciado que a querelante, intimada a se manifestar sobre ato do processo, mantém-se inerte” (STJ: REsp 440.237/SP, rel. Min. Gilson Dipp, 5* Turma, j. 20.05.2003). Perempco — momento para sua ocorréncia: “A perempcdo somente tem lugar apés 0 recebimento da queixa-crime. A mengéio do fato criminoso no instrumento de mandato, exigida pelo art. 44 do Cédigo de Processo Penal (CPP), cumpre-se pela indicagdo do artigo de lei no qual se baseia a queixa-crime ou pela referéncia 4 denominagao juridica do crime. A queixa-crime que atribui a pratica de delitos contra a honra aos querelados, de maneira conjunta, e expde o fato criminoso e suas circunstancias, a qualificagdo dos acusados, a classificacao do crime ¢ o rol das testemunhas atende os requisitos do art. 41 do estatuto Processual Penal” (STJ: REsp 663.934/SP, rel. Min. Paulo Medina, 6° Turma, j. 09.02.2006). Retratacdo — ofensa pela internet — publicidade: “Nos termos do art. 143 do Cédigo Penal, a retratacdo, para gerar a extinc&io da punibilidade do agente, deve ser cabal, ou seja, completa, inequivoca. No caso, em que a ofensa foi praticada mediante texto veiculado na internet, 0 que potencializa o dano a honra do ofendido, a exigéncia de publicidade da retratacao revela-se necessaria para que esta cumpra a sua finalidade e alcance o efeito previsto na lei” (STJ: REsp 320.958/RN, rel. Min, Arnaldo Esteves Lima, 5* Turma, j. 06.09.2007). Art. 108. A extingdo da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutive ou circunstancia agravante de outro do se estende a este. Nos crimes conexos, a extingdo da punibilidade de um deles no impede, quanto aos outros, a agravagao da pena resultante da conexao. = Extingdo da punibilidade nos crimes acessérios, complexos e conexos: Crime acessério, também denominado de crime de fusdo ou parasitario, é aquele cuja existéncia depende da pratica anterior de outro crime, chamado de principal. A extingdo da punibilidade do crime principal ndo se estende ao crime acessério, Exemplo: o crime de lavagem de dinheiro (art. 1° da Lei 9.613/1998) seré punivel mesmo com a extingdo da punibilidade do delito anterior que permitiu a sua pratica. Crime complexo, por sua vez, é aquele que resulta da unido de dois ou mais crimes. A extingdo da punibilidade da parte (um dos crimes) nao alcanga o todo (crime complexo). Exemplo: eventual prescrigao do roubo nao importa na automatica extingdo da punibilidade do latrocinio. Crime conexo, finalmente, é 0 praticado para assegurar a execucao, a ocultacao, a impunidade ou a vantagem de outro crime. E 0 que se dé com 0 individuo que, para vender drogas, mata um policial que o investigava. A ele serao imputados os crimes de homicidio qualificado pela conexao (art. 121, § 2°, V, do CP) em concurso material como trafico de drogas (art. 33 da Lei 11.343/2006). De acordo com o artigo em exame, ainda que ocorra a prescric&o do trafico de drogas, subsiste, no tocante ao homicfdio, a qualificadora da conexao. @ Jurisprudéncia selecionada: Exting&io da punibilidade — relacdo entre crime-meio e crime-fim: “No caso em que a falsidade ideolégica tenha sido praticada com o fim exclusivo de proporcionar a realizagao do crime de descaminho, a extinc3o da punibilidade quanto a este - diante do pagamento do tributo devido — impede que, em razio daquela primeira conduta, considerada de forma auténoma, proceda-se a persecugio penal do agente. Isso porque, nesse contexto, exaurindo-se o crime-meio na pratica do crime-fim, cuja punibilidade nao mais persista, falta justa causa para a persecucao pelo crime de falso, porquanto carente de autonomia (STJ: RHC 31.321/PR, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, S* Tura, j. 16.05.2013, noticiado no Informativo 523). Prescrico — crime antecedente — lavagem de dinheiro — delito auténomo: “A extincdo da punibilidade pela prescrig&o quanto aos crimes antecedentes nao implica 0 reconhecimento da atipicidade do delito de lavagem de dinheiro (art. 1° da Lei n° 9.613/1998) imputado ao paciente. Nos termos do art. 2°, Il, § 1°, da Lei mencionada, para a configuracio do delito de lavagem de dinheiro n&o ha necessidade de prova cabal do crime anterior, mas apenas a demonstracdo de indicios suficientes de sua existéncia. Assim sendo, o crime de lavagem de dinheiro é delito aut6nomo, independente de condenagao ou da existéncia de processo por crime antecedente” (STJ: HC 207.936/MG, rel. Min. Jorge Mussi, 5* Turma, j. 27.03.2012, noticiado no Informativo 494). Prescrigio antes de transitarem julgadoasentensa, Art, 109, A prescrig&o, antes de transitar em julgado a sentenga final, salvo o disposto no § 1° do art, 110 deste Cédigo, regula-se pelo maximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: 1—em vinte anos, se o maximo da pena € superior a doze; lem dezesseis anos, se 0 maximo da pena é superior a oito anos e nao excede a doze;

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