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SÃO PAULO
2016
ROBSON CANDEIAS MACEDO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
SÃO PAULO
2016
M Macedo, Robson Candeias
124c
Conhecimentos de professores de Matemática sobre o processo de
ensino e de aprendizagem de noções de Estatística - Curva Normal. / Robson
Candeias Macedo. – São Paulo, 2016.
211f.: il; 30 cm
CDD 372.7
Dedico este trabalho aos meus avós
Alice e Fernando, por me acompanhar e
ajudar em todas os momentos e decisão (ou indecisão)
da minha trajetória profissional e acadêmica.
E a toda minha família.
AGRADECIMENTOS
The purpose of this paper was to investigate the expansion of the knowledge base of a group
of basic education Math teachers to teach notions involved in reading of a normal curve to
high school students through the continued academic education, whose assumptions were
shared reflections and experiences on innovations presented in recent curricula about the
Statistics and Probability. It is a search which involved a group of 15 (fifteen) teachers from
public schools in the São Paulo‟s metropolitan area and held in the Centre of the
Universidade Anhanguera de São Paulo Educational Observatory with promotion of Capes.
Regarding the theoretical basis, which concern the knowledge to be in the teacher domain,
they were considered the categories established by Shulman. Concerning the vocational
training of reflective teachers in a study environment of curricular innovations, ideas defended
by Zeichner were used. It was chosen by Gal, Batanero and Godino (2005) ideas, which
discuss research on Education Statistics and justify the inclusion of this subject in primary
school since the early years to discussions relating to the Statistical Literacy. The first phase
of data collection consisted of questionnaires in order to identify knowledge and practices of
teachers about the teaching and learning process of necessary notions for the analysis of a
normal curve. Teachers' answers to this diagnosis revealed inconsistent conceptions of
meanings statistics notions, namely standard deviation. It was observed that the group of
teachers in general, did not prioritize this issue in their classes. The second phase, called
school education process was carried out according to the principles of the Design
Experiments methodology, whose development was based on demands and needs of teachers
identified in the initial phase, and the results of research on teaching and learning of statistical
concepts and probability. At this phase, the participants discussed learning situations in order
to promote understanding of high school students on average meanings, median and standard
deviation and perform the reading of a normal curve, although incipient, favoring the
development of Statistical Literacy. Discussions about the meanings of notions concerning the
issue favored a favorable position to take the teachers to introduce them in their classes and,
in particular, the analysis of the normal curve in meaningful contexts for students. It is
concluded the reflections made during the professional qualification process expanded the
knowledge base of teachers to Statistics and Probability teaching. The results of this study
also indicate the need for such school educational processes a link between different
approaches, strategies, contexts and materials for the teaching and learning of concepts
concerning such subject studied.
Keywords: Education Statistics, Statistical Literacy, Normal Curve, Continuing Academic
formation of Teachers, Mathematical Knowledge for Teaching, Educational Observatory
LISTA DE FIGURAS
Apresentação ................................................................................................................. 16
Capítulo 1 – Introdução ............................................................................................... 19
1.1 Motivações desta pesquisa ............................................................................... 19
1.2 Relevância de estudos sobre processos formativos de professores de
Matemática................................................................................................................. 22
1.3 Objetivo e questões de pesquisa ....................................................................... 28
1.4 Sobre a metodologia e escolhas teóricas .......................................................... 29
Capítulo 02 – Fundamentação Teórica e Revisão de Literatura ............................. 33
2.1 Fundamentação Teórica ................................................................................... 33
2.1.1 Sobre os conhecimentos do professor .................................................... 33
2.1.2 Sobre formação de professores reflexivos .............................................. 37
2.1.3 Sobre o ensino e aprendizagem em Estatística e Probabilidade ............. 40
2.2 Revisão de literatura ......................................................................................... 42
2.2.1 Sobre a formação continuada de professores de Matemática no
Observatório de Educação..................................................................................... 42
2.2.2 Sobre a formação de professores e o ensino de Estatística e
Probabilidade......................................................................................................... 45
2.2.2.1 A Formação Inicial para o Ensino da Estatística e Probabilidade ..... 45
2.3.3 Sobre o ensino da curva normal na formação inicial do professor de
Matemática ............................................................................................................ 48
Capítulo 03 – A Estatística e a Probabilidade nos Currículos de Matemática ....... 51
3.1 Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental ................ 52
3.2 Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio .......................... 58
3.3 Currículos do Estado de São Paulo .................................................................. 61
3.3.1 A Estatística e Probabilidade nos Anos Finais do Fundamental ............ 62
3.3.2 A Estatística e Probabilidade no Ensino Médio ..................................... 65
3.3.3 A Estatística e Probabilidade nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental .......................................................................................................... 67
3.4 A Base Nacional Comum Curricular................................................................ 71
3.4.1 Fundamento Legal .................................................................................. 71
3.4.2 Características Gerais ............................................................................. 71
3.4.2.1 A Estatística e a Probabilidade nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental ..................................................................................................... 72
3.4.2.2 A Estatística e a Probabilidade nos Anos Finais do Ensino
Fundamental ..................................................................................................... 73
3.4.2.3 A Estatística e a Probabilidade no Ensino Médio .............................. 74
Capítulo 4 – Fase Diagnóstica...................................................................................... 76
4.1 Sobre os instrumentos iniciais de coleta de dados ........................................... 76
4.2 Sobre o perfil dos professores participantes ..................................................... 76
4.3 Sobre os conhecimentos e concepções do ensino de Estatística ...................... 79
4.3.1 Sobre o conhecimento de currículo ........................................................ 80
4.3.2 Sobre o conhecimento pedagógico do conteúdo .................................... 84
4.4 Sobre os conhecimentos dos professores em Estatística .................................. 88
4.4.1 O conhecimento do conteúdo ................................................................. 88
4.4.1.1 Sobre o conhecimento das medidas de tendência central .................. 88
4.4.1.2 Sobre o conhecimento das medidas de dispersão .............................. 95
4.4.1.3 Sobre o conhecimento do Desvio-Padrão ........................................ 100
4.4.1.4 Sobre o conhecimento da curva normal e a relação entre
probabilidade e estatística .............................................................................. 104
Capítulo 5 – O Processo de Formação Docente ....................................................... 110
5.1 Sobre o processo formativo ............................................................................ 110
5.2 Os procedimentos usados ............................................................................... 112
5.3 Sobre o planejamento das pautas.................................................................... 113
5.4 Análise dos Dados .......................................................................................... 115
5.4.1 Conhecimentos sobre o significado de desvio padrão .......................... 115
5.4.1.1 O significado de desvio padrão........................................................ 115
5.4.1.2 Análise de tabelas envolvendo as medidas de tendência central
e o desvio-padrão............................................................................................ 118
5.4.1.3 Análise da relação entre o desvio-padrão e a média ........................ 124
5.4.2 Um estudo sobre a relação entre o desvio padrão e a curva normal ..... 127
5.4.2.1 Análise sobre o significado da curva normal ................................... 127
5.4.2.2 Análise da curva normal: análise de variáveis continuas. ............... 130
5.4.2.3 Análise da aplicação da curva normal em situações problemas ...... 132
5.4.2.3 Conhecimentos ampliados sobre a relação entre desvio-padrão
e curva normal ............................................................................................... 138
Considerações Finais .................................................................................................. 142
Referências .................................................................................................................. 147
16
APRESENTAÇÃO
Minha vivência em sala de aula,seja como aluno ou como professor, mostrou que nem
sempre a Estatística foi considerada o foco nas aulas de Matemática. Era pouco trabalhada na
Educação Básica, e no Ensino Superior se baseou apenas em gráficos e cálculos de medidas
de tendência central e dispersão.
Entendo que naquela época eu não tinha uma base sólida e consistente para ministrar
aulas do conteúdo de Estatística e Probabilidade, o que me motivou a estudar um pouco mais
sobre o assunto. Participei de uma formação continuada promovida pela diretoria de ensino à
qual sempre fui vinculado, e numa das parcerias do OBEDUC pude optar por um curso que
trabalhava a Estatística e Probabilidade de outra forma: com experimentos que me levaram a
compreender o significado desses conteúdos.
Nesse curso tive contato com a Curva Normal, e por conta desse contato me questionei
se realmente eu saberia de que forma era usada. Foi participando de redes sociais que percebi
que esse conteúdo estatístico era desconhecido por grande parte da população, principalmente
os meus colegas professores. As análises de provas de concursos que vi feitas por esses
colegas me chamaram a atenção no sentido de estabelecerem uma correspondência de grupos
diferentes, padrões de provas diferentes e formações diferentes.
Percebi que era necessário não apenas letrar a mim mesmo, mas propor uma formação
continuada de professores para letrar meus colegas professores. Esses assuntos fazem parte do
bloco de conteúdos denominado Tratamento da Informação dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN), recomendados desde os anos iniciais do Ensino Fundamental.
para levar os cidadãos a tirar conclusões equivocadas. Portanto, esses conhecimentos são
necessários a todo cidadão e, em especial, ao professor de Matemática, que terá de ensiná-los
aos alunos.
Capítulo 1 – Introdução
Minha trajetória acadêmica e profissional foi cercada por muitos desafios e conquistas.
Estudei em escola pública da rede estadual de ensino de São Paulo. Desde meu ingresso na
escola básica em 1986,pude vivenciar as mudanças que as orientações curriculares para o
ensino de Matemática têm sofrido, seja como estudante, docente ou pesquisador.
Foi no Ensino Fundamental, entre 1986 e 1994, que passei a ter interesse pela
Matemática, embora no início da formação escolar eu tivesse dificuldades. Um dos motivos
desse meu interesse decorreu das atividades concretas propostas pelos meus professores.
A Estatística não era um dos temas dos currículos de Matemática da Educação Básica
naquela época.Em relação a esse tema, aprendi alguns conceitos de probabilidade apenas na 2ª
série do Ensino Médio: princípio fundamental da contagem, noções básicas de análise
combinatória, a definição clássica de probabilidade e a noção de probabilidade condicional.
No campo da Estatística, apenas o cálculo da média e mediana, mas não o significado dessas
noções. Além disso, elas foram ensinadas de forma independente da probabilidade.
Hoje posso dizer que na minha formação inicial como professor não desenvolvi os
conhecimentos necessários para ensinar Estatística na Educação Básica, o que me fez buscar
um aprimoramento mais tarde.
Ingressei pela primeira vez na Rede Estadual de Ensino Público de São Paulo em 2004,
ainda como aluno de graduação: ministrei aulas de Matemática de reforço escolar em
substituição1 do professor titular,utilizando apenas o livro didático adotado como recurso.
Convém ressaltar que fiz diversas tentativas para ingressar na carreira como titular de
cargo, seja na Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SEESP) ou na Secretaria
Municipal da Cidade de São Paulo (SMESP). As razões para minha não aprovação nesses
concursos decorrem de uma formação pouco adequada para exercer a função docente. As
minhas deficiências de conhecimento dos conteúdos relativos ao tratamento da informação
ficaram mais evidentes no processo de ingresso realizado em 2007. A questão a seguir pode
justificar esse fato: trata-se de uma questão simples, envolvendo o princípio multiplicativo,
frequente em livros didáticos do Ensino Médio, que eu não soube resolver.
A B
C D
Fonte: Vunesp
Além desse tipo de questão, havia outras que eu não soube resolver que envolviam, por
exemplo, leitura e interpretação de tabelas, cuja compreensão é fundamental para ensinar
conteúdos relativos ao Tratamento da Informação. Portanto, eu não tinha os conhecimentos
necessários para ensinar análise combinatória, tampouco para ensinar probabilidade e
estatística.
1
No Estado de São Paulo as substituições de professores podem ser de dois tipos: substituição docente quando
um docente da sala tem qualquer afastamento e um professor é contratado para substituir por um tempo
determinado ou indeterminado, e a substituição eventual de docente, que ocorre quando há falta de qualquer
docente no dia de aula.
21
Considero importante ressaltar que entre 2008 e 2012 a Secretaria Estadual passou a
promover provas para contração para professores por tempo determinado, que envolviam
conteúdos que os docentes deveriam saber. Muitas dessas questões eram sobre probabilidade
e estatística.
Passamos então a analisar de uma forma ampla a formação inicial. Segundo Gatti
(2014), nos últimos anos vem crescendo o número de pesquisas acerca do tema formação
inicial do professor. Essas pesquisas envolvem, sobretudo, os cursos, saberes, práticas,
opiniões e representações dos professores. A questão da formação de professores despertava
pouco interesse nos pesquisadores nos anos de 1990. Esse interesse foi se ampliando com o
passar dos anos, apesar do número de pesquisas ainda não ser suficiente para compreender
toda a problemática da formação.
Gatti (2014) constatou que muitos professores atuam em disciplinas nas quais não são
formados por falta de licenciados na disciplina,em decorrência da baixa procura pelos cursos
de licenciatura por estudantes egressos do Ensino Médio. Os dados do Inep/MEC indicam,
23
por exemplo, que em 2009 apenas parte dos professores que atuavam nas redes de ensino nos
anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio possuía formação específica na disciplina
em que ministravam aulas.
Dada a urgência por medidas que qualifiquem melhor os professores que atuam na
Educação Básica, a Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)
desenvolve programas específicos voltados para formação inicial docente nas instituições de
nível superior (IES), como o Programa de Iniciação à Docência – Pibid. No estado de São
|Paulo há a Bolsa de Alfabetização do Estado de São Paulo2, que indica resultados positivos,
permitindo o acesso e permanência do estudante a esses cursos e a valorização no interior das
IESs.
Por outro lado, não há, segundo Gatti (2014), preocupação com qualidade curricular e a
efetividade dos estágios, tanto na modalidade de Ensino a Distância (EAD) como na
2
Essa bolsa é um programa do governo paulista que tem por objetivo a colaboração e a participação das IESs
com a prática de sala de aula, atuando com o professor da rede estadual de ensino público, voltado para alunos
do Ensino Fundamental – Anos Iniciais para apoiar as ações dos alunos pesquisadores na alfabetização de alunos
do ciclo da alfabetização (1ª a 3ª anos – crianças de 6 a 8 anos de idade), em apoio aos professores titulares das
turmas.
24
Por outro lado,a preocupação com a formação continuada docente entrou na pauta de
discussão mundial devido às pressões do mercado de trabalho, suas inovações, e devido à
constatação da precariedade do ensino. Dessa forma, os movimentos do Banco Mundial, em
seus três documentos formulados nos anos 1995, 1999 e 2002, bem como o Programa de
Promoção de Reformas Educativas na América Latina (PREAL) em 2004, a Declaração de
Princípios da Cúpula das Américas (2001) e os documentos do Fórum Mundial de Educação
(Dacar, 2000) indicam que a escola e os docentes não estão preparados para a economia
mundial e que precisam ser motivados de alguma forma para que sejam inseridos nessa nova
visão de transformações pelas quais o cenário mundial vem passando.
Consonante às ações promovidas pelo Ministério da Educação (MEC) por meio de seus
órgãos centrais, a Secretaria de Estado da Educação do Estado de São Paulo (SEESP)
promove, por meio da Escola de Formação e Aperfeiçoamento Profissional Paulo Renato de
Souza (EFAP), ações de políticas públicas para o aprimoramento de práticas educativas e
reflexivas no ensino básico paulista. Nessa escola, uma iniciativa merece destaque: o
26
programa Rede de Formação Docente (REDEFOR),que é uma parceria entre a SEESP com as
instituições públicas de ensino superior de São Paulo.
Assim, esse documento parece considerar que essas práticas e reflexões poderão
contribuir para competências necessárias para introdução na sala de aula de novos métodos e
conteúdos, como os relativos ao Tratamento da Informação, por exemplo.
Como parte desse bloco de conteúdos, destacamos a Estatística, que até publicação dos
PCNs para o Ensino Fundamental (1998) não possuía indicações explícitas em âmbito
nacional sobre o ensino desse tema nessa etapa escolar. Assim, esse documento apresenta a
finalidade da inserção de conteúdos concernentes a Estatística, considerando que:
3
Os PCNs são documentos que norteiam a constituição curricular das esferas administrativas, considerando o
conhecimento de modo geral, ou seja, indicações normativas para os níveis de Ensino Fundamental e Ensino
Médio. Os PCNs do Ensino Fundamental foram editados no ano de 1998, ao passo que o Ensino Médio possui
dois documentos, um de 1999 que institui de forma geral as orientações para esse nível de ensino, outro de 2000,
o PCN+, que aprofunda de forma significativa essas orientações, indicando os conteúdos de cada série.
28
Para o Ensino Médio, o PCN+ está indicado como aprofundamento dos conteúdos de
Estatística sugeridos para o Ensino Fundamental, com a finalidade de dar suporte às questões
do mundo real e/ou oriundas de outras áreas, justificando-se, portanto, a relevância da
inserção desse tema nos atuais currículos. Convém destacar que na Base Nacional Comum
Curricular, que discutiremos em outro capítulo, estão indicados objetivos de aprendizagem de
noções e procedimentos relacionados à Estatística e também à Probabilidade nos doze anos da
Educação Básica.
4
Trata-se de um projeto desenvolvido pelo Observatório da Educação – OBEDUC – do Programa de Pós-
Graduação em parceria com a Diretoria Estadual de Ensino Norte 2 na cidade de São Paulo. Convém observar
que esse projeto foi aprovado pela Capes sob o número de programa 19378 do Edital 49/2012 OBEDUC –
Capes/INEP e tem a denominação: Investigações sobre o processo de ensino e de aprendizagem de conceitos
concernentes à Probabilidade e Estatística.
30
Descrevemos assim, de forma sucinta nesta seção, nossas escolhas para compor nosso
aporte teórico. Todavia, cabe esclarecer que essas opções serão justificadas e discutidas com
maiores detalhes nos capítulos posteriores, à medida que tratarmos dos aspectos estudados
e/ou investigados.
33
Assim, Shulman (1986) destacou três categorias consideradas como centrais sobre o
domínio de conhecimentos que deve ser considerado na formação de professores:
Conhecimento do Conteúdo; Conhecimento Pedagógico do Conteúdo;Conhecimento do
Currículo.
áreas. Para Shulman (1986),esse domínio contém as estruturas com as quais os conteúdos são
organizados, distinguindo-se em duas estruturas: substantivas e sintáticas.
Refere-se, portanto, ao conhecimento voltado para matéria e para o modo pelo qual são
feitas as abordagens, envolvendo a diversidade de significados. Ou seja, Shulman (1986)
considera que o conhecimento pedagógico do conteúdo envolve uma variedade de
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Essa organização levaria um tempo bastante razoável para ser desenvolvida e exigiria
do aluno compreensão de conceitos matemáticos mais complexos, como o de integral, ainda
que de forma intuitiva – temas não indicados para essa etapa do ensino.
Para que o professor não precise desenvolver todos esses temas, uma possível sugestão
é que ele “apresente” a curva normal, de forma bastante intuitiva, por meio de situações
significativas para os alunos, e discuta a relação entre o formato da curva e o valor da média e
do desvio padrão da distribuição.
Para isso, o professor precisa estar dotado de uma visão vertical dos conteúdos inseridos
nos programas de ensino e, ao mesmo tempo, ter uma visão horizontal, relacionando esses
mesmos conteúdos com outras disciplinas. Assim, o conhecimento curricular permite uma
articulação entre o que foi estudado e os tópicos que serão estudados. Pietropaolo, Silva,
Campos e Carvalho (2015) sintetizam que esse conhecimento:
Para Shulman (1986), esse domínio é importante para que se possa pensar em
alternativas que melhor convenham ao ensino, como por exemplo situações diferentes
daquelas destacadas em um material, ou usar uma atividade alternativa para estimular a
aprendizagem de um conceito.
Em síntese, nossa opção por Shulman (1986) para conceber e analisar o processo
formativo que promovemos como objeto desta pesquisa decorre do fato de considerarmos
necessário que o professor amplie sua base de conhecimentos quanto aos conteúdos
específicos, aos pedagógicos do conteúdo e ao curricular.
Assim, para que o professor tenha uma prática docente rica em possibilidades,é
necessário que identifique, dentro de uma gama de situações e problemas e de materiais, de
que forma poderá planejar suas aulas e mediar a aprendizagem, considerando sua visão no
sentido de interligar o conteúdo a outras disciplinas no mesmo momento da formação do
aluno, com a visão de futuro (de quais conhecimentos são necessários para articular novas
aprendizagens dentro de uma temática, ou integrar novas temáticas). Para tanto, é necessário
que o docente conheça de forma razoavelmente aprofundada o assunto que irá ensinar.
órgãos administrativos. Por essa proposta, são os professores os agentes capazes de criar um
bom ensino, por estarem diretamente ligados ao processo de construção dos saberes e
desenvolverem ações práticas ligadas à aprendizagem de seus alunos.
o saber fazer, a observação das regras de ação. Por fim, o conhecimento reflexivo é baseado
na reflexão sobre suas próprias ações. O atual movimento para o ensino e aprendizagem da
Matemática considera a resolução de problemas e pensamentos de ordem superior como
processos apropriados para elaborar um raciocínio.
Gal (2002) propõe o termo “instrução estatística” de forma generalizada para direcionar
os olhares na correspondência da interligação dos componentes referentes ao letramento
estatístico. De acordo com o autor, alguns elementos devem ser considerados no aspecto
formativo, os quais destacamos abaixo:
Segundo Batanero (2001),para uma formação sólida e atual sobre os métodos e técnicas
da Estatística dos alunos devem ser levadas em conta atividades contextualizadas,de modo a
favorecer uma reflexão frente aos problemas, e motivar os alunos a construir conhecimentos.
desses temas, formando assim cidadãos letrados, capazes de analisar de maneira crítica as
informações recebidas cotidianamente, de modo a favorecer sua tomada de decisões.
Para isso,seria necessário recorrer a uma diferenciação entre três elementos que
compõem a Educação Estatística,segundo Ben-Zvi e Garfield (2004), quais sejam:
2. Raciocínio estatístico é definido como a forma pela qual as pessoas dão sentido à
informação estatística, o que envolve a interpretação de um conjunto de dados, as
formas de representações ou o resumo dos dados estatísticos. É uma conexão entre
os dados e a oportunidade de ocorrência, ou seja, a relação entre conceitos capazes
de explicar os processos estatísticos.
Visto que essas mudanças estão presentes nos currículos prescritos no âmbito dos
estados e da federação, o avanço no processo formativo do professor precisa retomar o
“paradigma perdido” discutido por Shulman (1986), ou seja, levar em conta as três categorias
de conhecimentos necessárias para a ação docente.
Vimos que a Capes, órgão federal que atua junto aos programas de pós-graduação das
instituições de ensino superior, desenvolve também ações junto a escolas de Educação Básica,
mediante a reconhecida necessidade de investigar a formação de professores.
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A pesquisa de Corbo (2012) foi organizada em três etapas para a coleta de dados: a
primeira constituiu-se pela aplicação de um instrumento diagnóstico aos sujeitos de sua
pesquisa. A segunda fase, denominada Intervenção, foi realizada segundo princípios da
metodologia Design Experiments e teve como finalidade a promoção de reflexões sobre o
processo de ensino e aprendizagem dos números irracionais na Educação Básica. Na terceira
fase de coleta de dados, o grupo de professores procedeu à análise de orientações pedagógicas
constantes do Currículo do Estado de São Paulo (2010) a respeito da abordagem desse tema
no Ensino Fundamental, tendo em vista o fato de que os professores estavam incumbidos da
implementação de inovações curriculares em sala de aula.
Quanto à fundamentação teórica,no que se refere aos conhecimentos que devem ser de
domínio do professor, Corbo (2012) considerou as categorias propostas por Shulman
(1986, 1987) e os refinamentos propostos por Ball, Thames e Phelps (2008) para a
Matemática. No tocante à compreensão de conceitos matemáticos, Corbo utilizou as ideias
defendidas por Fischbein (1994) sobre a necessidade de integrar os componentes formais,
intuitivos e algorítmicos na atividade matemática e também a noção de Imagem Conceitual
segundo Tall e Vinner (1981). Relativamente ao processo formativo de docentes reflexivos
em um ambiente de estudo de inovações curriculares, Corbo elegeu as ideias divulgadas por
Zeichner (1993).
Cabe destacar que a pesquisa de Corbo (2010) foi importante para nossa investigação,
em função de várias similaridades entre nossos trabalhos, ainda que os temas envolvidos
sejam diferentes: conceitos relativos a números irracionais e à estatística, respectivamente.
Quanto aos aspectos comuns, destacamos inicialmente a metodologia empregada, Design
Experiments: segundo Cobb et al. (2003), esta é uma metodologia de pesquisa formativa, que
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Outro trabalho com muitos pontos em comum em relação ao nosso é o estudo de Sera
(2016), cuja finalidade foi pesquisar a ampliação da base de conhecimentos de um grupo de
professores de Matemática para ensinar leitura e construção de gráficos estatísticos a alunos
dos anos finais do Ensino Fundamental e do Médio, mediante uma formação continuada,
cujos pressupostos foram reflexões compartilhadas sobre o Letramento Estatístico e a
dificuldade de ensinar noções relativas ao tema.
Esses professores são da rede pública estadual da região metropolitana de São Paulo e a
pesquisa foi realizada no âmbito do Observatório da Educação da Universidade Anhanguera
de São Paulo, com fomento da Capes. Em relação à fundamentação teórica, quanto aos
conhecimentos que devem ser de domínio do professor, foram consideradas as categorias
estabelecidas por Shulman e por Ball, Thames e Phelps.
construção de gráficos. Sera (2016) concluiu que as reflexões realizadas durante o processo
formativo ampliaram a base de conhecimentos dos professores para o ensino do tema.
Desse modo, concluímos que este nosso estudo está bastante próximo ao de Sera
(2016), pois esses dois trabalhos envolvem: formação continuada de professores de
Matemática da Educação Básica no âmbito do Observatório da Observação; Letramento
Estatístico; metodologia Design Experiment levando em conta o Currículo do Estado de São
Paulo; teóricos como Shulman (1986) e Zeichner (1993). No entanto, cabe ressaltar que o
trabalho de Sera (2016) trata de gráficos estatísticos, ao passo que o nosso envolve conceitos
relacionados à Curva Normal.
Assim, podemos afirmar que é inegável a relevância dos resultados dos estudos de
Corbo (2012) e de Sera (2016) para o desenvolvimento desta investigação: o processo
formativo desenvolvido junto aos professores da rede pública estadual foi concebido levando
em conta as discussões apresentadas por esses pesquisadores.
A inserção desse tema nos currículos prescritos se deu nos anos 90, com a publicação
dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), e que hoje se encontram consolidados em
alguns currículos, como o do Estado de São Paulo e na primeira versão da Base Nacional
Comum Curricular de 2015 (BNCC).
Costa e Nacarato (2011) afirmam que esses conteúdos são abordados em sala de aula,
pois são integrantes de currículos prescritos para a escola básica. Todavia, a disciplina de
Estatística não recebe a merecida atenção nos cursos de licenciatura.
Corroboramos Costa e Nacarato (2011), que indicam deficiências dos docentes quando
tratam dos processos de ensino e aprendizagem de noções estatísticas, seja por razões de
formação inadequada ou de formação deficitária na escolarização do professor. Esses déficits
de aprendizagem conduzem ao despreparo para atuação em sala de aula, acarretando
certamente abordagens superficiais.
Para sintetizar esses aspectos, citamos Kataoka, Oliveira, Souza, Rodrigues e Oliveira
(2011),que destacam como as dificuldades em trabalhar os conteúdos concernentes ao bloco
da Estatística e Probabilidade na Educação Básica estão relacionadas à não contextualização
dos conteúdos, dando prioridade apenas ao uso de fórmulas, sem discutir os significados dos
conceitos em estudo, como por exemplo a relação entre desvio-padrão e a média.
Cazorla e Castro (2008) consideram que as ações para letrar e alfabetizar o cidadão em
estatística e probabilidade deveriam suscitar reflexões sobre a formação do professor, pois
estes atuam na base educacional, tendo em vista que os conceitos referentes a esse tema são
ferramentas para a compreensão da realidade e podem inserir o aluno nas discussões sociais.
Para Cazorla e Castro (2008), quem trabalha com a formação do professor precisa:
Silva (2007) propôs uma investigação sobre o pensamento e o raciocínio estatístico com
professores de Matemática, definindo três conceitos: letramento estatístico, pensamento
estatístico e raciocínio estatístico com base em Gal (2002) e Ben-Zvi e Garfield (2004).A
pesquisadora propõe que é necessário promover, seja na formação inicial, seja na formação
continuada, ações que proporcionem uma ampliação dos conhecimentos sobre os conteúdos
referentes à Estatística e Probabilidade dos licenciandos ou dos professores. O trabalho dessa
48
Não encontramos entre as pesquisas realizadas no Brasil alguma que levasse em conta
os temas curva normal e formação continuada de professores.
No entanto, optamos por discutir uma tese de doutorado, apresentada em 2001 por
Tauber, sobre a construção de significado da curva normal com estudantes de graduação de
diferentes áreas, como Ciências Econômicas e Empresariais e Ciências Sociais e Artes.
Embora os participantes desta nossa pesquisa sejam professores de Matemática, nosso
trabalho tem um ponto comum com o de Tauber: realização de diagnóstico para identificar
conhecimentos dos sujeitos a respeito da curva normal.
Tauber (2001) conclui que seu grupo de participantes apresenta pouco conhecimento
sobre estatística e probabilidade. De acordo com a pesquisadora:
5
En cualquier caso, el alumno no suele haber estudiado anteriormente estadística, o en el mejor de los casos, tiene sólo unos
conocimientos rudimentarios de los conceptos básicos de estadística descriptiva. Aunque en los currículos de primaria y
secundaria se incluyen contenidos estadísticos, la realidad es que estos contenidos no suelen impartirse, debido a falta de
tiempo, o bien de conocimientos de los profesores. El hecho de que en el examen de selectividad no se suelan incluir
preguntas de contenido estadístico contribuye a que la estadística no llegue a ser impartida en secundaria. (Tauber, 2001,
p.13)
49
No entanto, a falta de familiaridade com esses recursos também foi um objeto que
trouxe algumas dificuldades na formação, cabendo então inserir ensinamentos sobre os
recursos que softwares proporcionam em ganhos no desenvolvimento de reflexões
concentradas nos dados e não nos cálculos, outro objetivo em comum com nossa pesquisa.
6
Tradução nossa: El problema se agrava con el hecho de que los conceptos estadísticos no son precisamente sencillos
(Batanero y cols, 1994) y que el contenido del curso introductorio suele ser bastante amplio: estadística descriptiva o análisis
exploratorio de datos, probabilidad, distribuciones de probabilidad e inferencia. Es frecuente incluso llegar al estudio de la
correlación y regresión, prueba T para medias y proporciones y análisis de varianza. (Tauber, 2001, p.13)
50
Por fim, a compreensão dos conceitos trabalhados nas atividades propostas por Tauber,
que envolvem a distribuição normal, foi bastante satisfatória: “é possível realizar uma
aproximação pouco formal no ensino da distribuição normal com alunos com diversas
capacidades e conhecimentos” (Tauber, 2001, p.205),de modo a promover a autonomia do
grupo para o trabalho profissional.
Cazorla e Castro (2008), por exemplo, dizem que dados numéricos apresentados em
tabelas e gráficos passam uma ideia de cientificidade, isenção e neutralidade quando aplicados
em discursos de diversas mídias, pois ganham credibilidade sendo dificilmente contestados
por um cidadão comum.
Essa dificuldade pode ser superada se o cidadão for capacitado para calcular e pensar
em termos dos dados estatísticos, como por exemplo refletir sobre os significados das
medidas de tendência central e sobre a significação da dispersão dos dados. Assim:
Cabe-nos dizer que não se trata apenas de ler e interpretar representações; a finalidade
dos conteúdos para esse ciclo é estimular o aluno a fazer perguntas e estabelecer relações.
O estudo da probabilidade tem, no quarto ciclo, uma finalidade que permite ao aluno
fazer, por meio de experimentos, conjecturas sobre as possibilidades de ocorrência de um
evento. Assim, destacamos os objetivos gerais deste ciclo que visam o desenvolvimento do:
57
Assim, nessa última etapa a seleção de conteúdos é associada ao cotidiano dos alunos,
convergindo para a compreensão dos estudos de uma variável usando vários recursos, sendo
um deles o tecnológico.
estão voltados para uma cultura básica quanto para a atividade profissional,
se deve à abundância de informações e às formas particulares de
apresentação dos dados com que convive cotidianamente. (Brasil, 1998,
p. 134)
conteúdos voltados para o Ensino Médio, o PCNEM+, que traz um conjunto de objetivos para
o desenvolvimento do conhecimento na área.
Os PCNEM+ indicam que, para ensinar conceitos estatísticos em sala de aula, devem
ser considerados desde a descrição de dados, representação gráfica, análise de dados por meio
de médias, moda e mediana, variância e desvio padrão. Para Probabilidade os conteúdos se
concentram nos cálculos de probabilidades.
Por fim, cabe ressaltar que esses conteúdos estão conectados aos objetivos gerais e aos
mais específicos por meio da resolução de problemas, bem como na investigação e divulgação
dos dados de uma pesquisa.
61
A estrutura curricular de Matemática para as escolas públicas estadual de São Paulo está
associada a dois documentos: o Currículo de Matemática para os Anos Finais do Ensino
Fundamental e Ensino Médio, e as Orientações Curriculares para os Anos Iniciais.
Essa organização está ancorada em três grandes blocos temáticos: números, geometria e
relações. Esses blocos se interligam e são constantemente relacionados, ou seja, não há como
trabalhar com um sem que os outros estejam associados.
Uma versão preliminar foi publicada em 2014.Nessas orientações, constam que o aluno
deve ser:
Dessa maneira, os conteúdos são distribuídos ao longo dos cinco anos escolares,
trabalhando de forma articulada os blocos de conteúdos: números, espaço e forma, grandezas
e medidas, tratamento da informação. Cabe destacar que a introdução aos números racionais
está reservada apenas aos 4º e 5º anos.
7
A lei dos grandes números é o princípio segundo o qual a frequência relativa de determinados acontecimentos,
observando um grande número de casos análogos, tende a se estabilizar cada vez mais à medida que aumenta o
número de casos observados, aproximando-se do valor previsto.
65
Espaço e formas
Grandezas e medidas
Nossa análise neste trabalho está restrita apenas à análise de objetivos do bloco de
conteúdos do Tratamento da Informação, ao longo dos cinco anos dos anos iniciais do Ensino
Fundamental.
68
Dentre os objetivos amplos determinados para esse nível de ensino destacamos três que
têm relação direta com o Ensino da Probabilidade e Estatística:
Com base nesses objetivos gerais, as Orientações Curriculares para os Anos Iniciais
apresentam ao longo dos cinco anos nesse nível de ensino uma proposta de desenvolvimento
de conteúdos que visam integrar a Matemática ao contexto do aluno.
Por exemplo, no 1º ano dos Anos Iniciais, início do processo de alfabetização, estão
previstas algumas expectativas de aprendizagem, sustentadas pelo preenchimento de fichas de
identificação pessoal simples, como leitura e organização de dados em tabelas simples.
As atividades desse nível são constituídas pela organização dos dados de uma pesquisa
simples, associada com o cotidiano do aluno. O exemplo de atividade que atende essas
construções de conhecimentos é apresentada na atividade 1.4 do volume 2 do EMAI8. Nela o
aluno é levado a quantificar e preencher uma tabela de dupla entrada relacionada à variável
idade.
8
São os cadernos de atividades voltados para os Anos Iniciais. EMAI: Educação Matemática nos Anos Iniciais
do Ensino Fundamental
69
Concluindo essa primeira etapa dos Anos Iniciais, com o 3º ano o tema Tratamento da
Informação avança para os níveis de leitura e compreensão de tabelas e gráficos,
considerando o aprofundamento literal nesse último elemento.
Por fim, no 5º ano é dada atenção especial para a aproximação do bloco do tratamento
da informação com outras áreas dentro da própria Matemática. Exploração, leitura,
interpretação e construção são enriquecidas com situações-problemas simples, que permitem
ao aluno explorar mais o pensamento probabilístico, combinatório e estatístico.
70
Não se trata apenas de problematizar um conhecimento, mas criar situações que levem o
estudante a elaborar hipóteses e se certificar sobre a validade da hipótese.
72
Para o quarto e o quinto anos, a Base Nacional Comum Curricular destaca que a
Estatística e a Probabilidade possibilitam uma melhor compreensão das questões sociais,
iniciando uma interpretação de informações divulgadas pela mídia.
dos tipos de gráficos de barras e colunas, que também servirá para os alunos coletarem e
comunicarem os dados obtidos em uma pesquisa.
Na Estatística, além da compreensão da média como uma medida que representa uma
tendência central, a Base Nacional Comum Curricular insere o estudo da mediana e da moda
como medidas representativas de uma pesquisa estatística, levando o aluno a compreender o
significado.
Por fim, na 3ª série do Ensino Médio a associação dos conteúdos de Estatística com os
de Probabilidade amplifica o desenvolvimento dos estudos ao longo da Educação Básica.
Nessa série a análise dos métodos de amostragem em relatórios de pesquisa, divulgada nas
grandes mídias e relacionadas à população pesquisada, é o ponto central dos objetivos deste
eixo temático.
Este capítulo é dedicado à exposição de nossa investigação no que diz respeito à coleta
de dados em sua fase diagnóstica. Faremos aqui uma breve apresentação do perfil dos
professores participantes e seus conhecimentos sobre conceitos estatísticos sobre curva
normal antes da fase de formação, identificando o percurso formativo, o tempo de atuação na
Educação Básica e de que forma aprenderam e como ensinam Estatística e Probabilidade.
Para iniciar esta pesquisa fizemos uso de três questionários. No primeiro questionário
procuramos conhecer um pouco mais cada professor participante: tempo de atuação no ensino
básico, tipo de instituição em que se graduou, idade, turmas em que atuava no momento em
que ocorreu a formação continuada.
Grande parte dos participantes encontra-se na faixa superior a 50 anos, que corresponde
a 34% do grupo, ao passo que os docentes da faixa de 45 a 50 anos correspondem a 20%.No
grupo,13% dos professores estão na faixa de 25 a 30 anos e 20% têm idades que variam de 30
e 45 anos de idade. Do total, 60% são homens.
Formação Inicial
Licenciatura em Matemática
10
8 Licenciatura em Ciências Exatas
6 Licenciatura em Biologia
4
Bacharel em Economia
2
Licenciatura em Matemática (RE
0 02/97)
Temos nesse grupo de professores quatro docentes que são bacharéis em Administração
de Empresas ou Economia,que obtiveram a licença para ministrar aulas de Matemática por
conta da Resolução nº 02 de 199710,.
9
No Estado de São Paulo, de acordo com §2º do art. 7º da RE SEE 75/13, combinado com a Indicação do CEE
nº 53/2005, um docente que possuir no mínimo 160 horas em sua carga horária de nível superior componente
correspondente à disciplina do currículo oficial implantado na Rede Pública Estadual de Ensino poderá ministrar
aulas daquela disciplina.
10
A Resolução 02/97 é um programa especial de formação de professores que visa suprir a necessidade na área,
habilitando de forma plena profissionais que possuem o diploma de Bacharel em outras áreas de conhecimento.
78
Tempo de atuação
4
menos que 1 ano
3
de 1 a 5 anos
2 de 5 a 10 anos
de 10 a 15 anos
1
de 15 a 20 anos
0
Observamos que nesse grupo sete professores atuavam entre os 8º e 9º anos do EF, e 1ª
e 2ª séries do Ensino Médio. Dos quatro docentes que atuavam exclusivamente no Ensino
Médio, apenas dois tinham como sala a 3ª série, ano do Ensino Médio em que está previsto o
ensino da curva normal.
Constatamos ainda que 87% dos docentes deste grupo são formados em cursos de
graduação das Instituições Particulares, ao passo que os 13% restantes são de Instituições
Públicas. Este dado corrobora, portanto, a pesquisa de Gatti (2010), pois indica que as
instituições particulares de ensino superior são as grandes responsáveis pela formação de
professores que atuam na Educação Básica, sobretudo nas escolas públicas.
Tipo de Nível de
Faixa Nível que
Tempo de Instituição preferência
Professor Etária Formação ministra
Atuação de Ensino para ministrar
(em anos) aulas
Superior aulas
P01 de 30 a 35 Menos de 1 ano Lic. em Matemática** EF / EM Particular EF
9º ano e 1º
P02 de 45 a 50 de 20 a 25 anos Lic. em Matemática* EF - 9º Particular EM
P03 de 50 a 55 de 30 a 35 anos Lic. em Matemática EM Particular EM
P04 de 40 a 45 de 15 a 20 anos Lic. em Biologia* EF Particular EF
P05 de 50 a 55 de 30 a 35 anos Lic. em Matemática EM Pública EM
P06 de 35 a 40 de 15 a 20 anos Lic. em Matemática EF Particular indiferente
P07*** de 50 a 55 de 5 a 10 anos Lic. em Matemática EM Particular EM
P08 de 35 a 40 de 10 a 15 anos Lic. em Matemática EF E EM Particular indiferente
P09 de 25 a 30 de 1 a 5 anos Lic. em Matemática EF / EM Particular indiferente
P10 de 50 a 55 de 1 a 5 anos Lic. em Matemática EM Pública 3º ano
P11 de 45 a 50 de 15 a 20 anos Lic. em Biologia* 6º e primeiro Particular indiferente
P12 de 40 a 45 de 20 a 25 anos Lic. em Matemática** EF / EM Particular indiferente
P13 de 50 a 55 de 20 a 25 anos Lic. em Matemática EM Particular EM / EJA
P14 de 45 a 50 de 20 a 25 anos Lic. em Matemática EF / EM Particular indiferente
P15 de 25 a 30 de 5 a 10 anos Lic. em Matemática EJA e EF Particular indiferente
* São professores formados em programas de complementação de outras licenciaturas. A exemplo dos nossos
participantes, os professores possuem licenciatura em Ciências Biológicas, e cursaram uma segunda licenciatura para
obter a licenciatura em Matemática.
** São professores que possuem em sua formação inicial o diploma de bacharel, e que por meio da Resolução do
Ministério da Educação 02/97 participaram do programa especial de formação docente, e cursaram disciplinas
pedagógicas e obtiveram o diploma de licenciatura em Matemática. P01 é Bacharel em Administração, e P12 é
Bacharel em Economia.
*** O professor P07, embora cursou Licenciatura Plena em Matemática, cursou também curso de Engenharia.
Outro professor, P08, afirma que não teve oportunidade de ministrar esses conteúdos,
uma vez que os alunos da turma não conseguiam acompanhar as discussões referentes à
Estatística, o que foi impedido pela pouca relação com a classe.
81
Os outros dois professores, P01 e P03, afirmam que não ensinam Estatística. O primeiro
ingressou na rede no ano de realização da nossa formação continuada, 2015; o segundo não
deu outros indicativos dos motivos pelos quais não ensina. Ressaltamos ainda que o professor
P04 optou por não responder ao questionário de entrada.
O protocolo a seguir, do professor P06, destaca que este utiliza a probabilidade como
um contexto para trabalhar com porcentagens. Ainda destaca que, durante os anos finais do
Ensino Fundamental, é possível ensinar Probabilidade.
Nesse item procuramos apenas identificar as estratégias que o docente usa para ensinar
conteúdos de Estatística e Probabilidade.A forma pela qual aprenderam implica nas
estratégias de como ensinam os conteúdos nas turmas em que ministram aulas de Matemática
da Educação Básica.
O protocolo do professor P14 apresenta um retrato das estratégias de ensino dos cursos
de graduação para os tópicos de Estatística. De acordo com o docente, os conteúdos
trabalhados na graduação são os mesmos que, hoje, são trabalhados na Educação Básica. Isso
reforça o despreparo do professor em ministrar os conteúdos relacionados a este tema.
Kataoka et al. (2011) descreve que os docentes não tiveram uma discussão que levasse em
conta a didática da Estatística durante sua formação.
87
Sobre a curva normal, este tópico do conteúdo foi citado apenas pelo professor P09
como estudado na graduação. Os demais professores afirmam que não houve uma
sistematização dos conteúdos relacionados a Estatística e Probabilidade que pudesse levar ao
significado da curva normal, o que reforça a necessidade de promover uma formação
continuada.
Cabe-nos dizer ainda que na fase diagnóstica não aplicamos nenhuma questão prática
que envolvesse a curva normal, considerando as respostas do primeiro questionário em que,
dos 15 participantes, apenas o docente P09 afirmou ter estudado algumas noções referentes à
curva normal.
O conhecimento de conteúdo é uma das três categorias proposta por Shulman (1986) ao
investigar os conhecimentos docentes para o exercício da função. Nessa categoria, a
referência recai sobre a forma pela qual o docente organiza o conhecimento que possui para o
ensino de um determinado conteúdo.
Shulman (1986) ainda esclarece que os professores precisam pensar além dos fatos e do
domínio de conteúdo, referindo-se novamente à relação com outras áreas de ensino. Assim, a
nossa investigação sobre o conhecimento de conteúdo do professor se concentra em
atividades abertas, em que são propostos alguns problemas que envolvam os conteúdos de
Estatística relacionados à curva normal.
Propusemos aos professores as duas questões a seguir, para que pudessem propor uma
solução e analisar situações que envolvem o conhecimento referente às medidas de tendência
89
central. Para facilitar nosso processo de análise das respostas apresentadas, vamos nos
concentrar na primeira questão, cujo objetivo é saber quais conhecimentos os professores
usaram para responder questões referentes às medidas apresentadas, ao passo que na segunda
questão, apresentados já os valores relacionados à medida de tendência central, os docentes
são levados a tomar uma decisão. Assim, fizemos um recorte das questões apresentadas
abaixo como forma inicial de análise.
Iniciamos a análise das respostas para uma questão que envolve cálculos das medidas de
tendência central cujos objetivos eram:identificar o reconhecimento da diferença dos
significados de média, moda e mediana, calcular o valor de cada uma delas e tomar uma
decisão.
Assim, merecem atenção cinco respostas obtidas para a questão envolvendo o cálculo
das medidas de tendência central. Nos basearemos na forma pela qual o professor desenvolve
seu raciocínio estatístico, como proposto por Ben-Ziv e Garfiled (2004), não apenas em como
obter os valores, mas em como analisar os dados de uma pesquisa com as medidas de
tendências central e seus significados.O professor P11 parece não conhecer os significados
dessa medidas, conforme mostra o protocolo a seguir:
O professor P14 erra ao não considerar a média como representativa para os dados de A,
indicando que é representativa para o conjunto B. Ou seja, esse professor parece não
compreender que valores discrepantes fazem com que a média não seja uma boa medida
representativa. Para o conjunto A considera como representativa apenas a mediana, o que não
é verdade. Ainda a partir desse protocolo, podemos fazer uma comparação com o professor
P10. Enquanto o primeiro não considera os valores decimais, o segundo já apresenta os
décimos como representativos dessas medidas.
O professor P01 apresenta como escolha a empresa C e considera uma variação grande
da média em relação a outras medidas.
Esses mesmos procedimentos de análises adotados pelo docente P01 são verificados nos
protocolos dos docentes P03 e P08.
94
A falta do letramento estatístico, como apresentado por Gal (2002), conduz à falta de
detalhes nas análises entre as medidas de tendência central, reforçando a preocupação dos
pesquisadores sobre a necessidade de incorporação de elementos formativos, conforme
Cazorla e Castro (2008).
Ainda podemos destacar, pelo protocolo do professor P14, a forte tendência de escolha
pela moda, desprezando as outras medidas. Novamente, há evidências apontando a
necessidade de um trabalho que requer aprofundamento sobre as medidas de tendência
central, principalmente no significado de moda, que muitas vezes não é boa medida
representativa de tendência central.
95
Como este trabalho está voltado para análise da curva normal, é importante saber quais
conhecimentos que os professores possuem relacionados ao desvio-padrão, pois esta medida
quando relacionada com a média permitirá estimar probabilidades sob a distribuição normal.
Dessa maneira, propusemos aos docentes uma questão em que apresentávamos dois
histogramas.
96
Nota-se que, apesar de a média, a moda e a mediana serem diferentes, a dispersão dos
dados em torno da média dos dois conjuntos é igual. Ou seja, ambos têm o mesmo desvio-
padrão.Além do desvio-padrão, destaca-se também que ambas as turmas tinham a mesma
quantidade de alunos.
Para o professor P01, em sua análise dos grupos apresentados pelos gráficos, a
semelhança se apresentou nas quantidades de pessoas pesquisadas, e na forma gráfica dos
histogramas, porém não foi considerado o desvio-padrão, o que novamente reforça a
necessidade de promover uma discussão sobre o significado destas medidas para que os
professores tenham conhecimento do que vão ensinar e um razoável letramento estatístico,
conforme proposto por Ben-Ziv e Garfield (2004).
O professor P11 considera apenas que as medidas de tendência central têm as mesmas
características, sem explicar quais seriam. Neste caso, era de se considerar que o desvio-
padrão era o mesmo, reforçando a necessidade da discussão sobre esses significados de
acordo com Kataoka et al.(2011).
99
A análise feita pelo professor P06 reconhece que a escala usada é a mesma,
determinando que há um mesmo padrão de notas.
Para isso, apresentamos uma questão em que o professor precisaria obter os valores do
desvio-padrão de uma observação de acidentes de um cruzamento, conforme o enunciado
abaixo:
Cinco docentes tinham alguma noção do cálculo do desvio padrão. Na figura abaixo,
ilustramos o cálculo do desvio-padrão.
necessário extrair a raiz quadrada da variância, porém o cálculo referente à variância não
apresenta a razão do somatório dos quadrados das diferenças entre a média e o dado obtido.
Procuramos saber dos professores quais conhecimentos possuíam sobre o tema desta
pesquisa: curva normal. Esperávamos que os professores indicassem as características da
distribuição normal: a simetria da dispersão dos dados, a dispersão dos dados em torno da
média, as faixas de probabilidades determinadas pelo desvio-padrão, além do uso da curva
normal nas variáveis contínuas.
Outra forma de se referir a curva normal, curva dos sinos, está presente no protocolo
do professor P09, que descreve que a curva serve como instrumento de comparação gráfica
dos dados apresentados, relacionando o desvio-padrão às medidas de tendência central.No
caso, o professor refere-se à média.
106
A forma pela qual o professor P02 define a curva normal mostra um obstáculo
conceitual sobre as relações dos intervalos determinados pelos desvios-padrão. De acordo
com o docente, é estabelecida a comparação entre dois valores. O que não fica claro é se o
professor está se referindo aos valores que limitam os intervalos (desvios-padrão) ou aos
dados de uma pesquisa.
De forma geral, embora já tenham ouvido falar sobre a distribuição normal, como
revelam os protocolos, não há uma sistematização dos conhecimentos envolvidos para análise
dos dados de uma pesquisa. Essa avaliação é corroborada por outras pesquisas que envolvem
a Estatística, principalmente sobre a falta de um letramento estatístico do próprio docente,
concordando com Batanero (2011) sobre a inserção tardia deste conteúdo nos currículos de
Educação Básica, sobre a falta de sistematização como defende Guimarães et al. (2009) e
sobre as dificuldades de ensino desses conteúdos nas escolas básicas, de acordo com Kataoka
et al.(2011).
Ainda na etapa final da fase diagnóstica procuramos saber dos professores se havia uma
relação entre a Estatística e a Probabilidade. Essa reflexão inicial e individual dos
participantes nos permite investigar o quanto os conteúdos estatísticos estão associados aos
107
conteúdos probabilísticos. Isso se dá pelo fato de que estimar probabilidade na curva normal
tem relação direta com o cálculo da média e do desvio-padrão.
Nessa análise, o professor P03 em seu protocolo apresenta uma estreita relação entre
esses conteúdos, considerando que a primeira, a Estatística, fornece meios para esclarecer os
dados, ao passo que a segunda, Probabilidade, prepara os dados para análise.
Para o professor P08, a relação entre a Estatística e a Probabilidade está presente apenas
na teoria dos conjuntos.
A síntese do professor P07 está mais bem elaborada que as dos demais professores, mas
ainda longe da articulação real entre elas, como por exemplo a utilização da estatística para a
definição frequentista de probabilidade, ou para dizer o índice de confiança de uma pesquisa
(a probabilidade de estar correta) quando se toma uma amostra para realizá-la.
Batanero (2005) menciona que os conceitos e as associações entre esses conteúdos são
construídos de forma progressiva, o que para nós indica a necessidade de promover uma
109
formação continuada, algo que ganha importância de acordo com Gatti (2014), uma vez que o
auxílio dessa formação ajudaria o professor a conceber meios para sua prática em sala de aula.
Nesta segunda etapa, foi proposta uma sequência de atividades aos professores
participantes para vivência e análise, da qual destacamos neste capítulo os episódios que,
segundo nossa compreensão, proporcionaram ao grupo um nível maior de reflexão sobre seus
conhecimentos profissionais. Ou seja, buscamos ressaltar episódios exemplares que
consideramos substantivos quanto aos possíveis avanços na base de conhecimentos dos
professores para o ensino.
Anhanguera de São Paulo. No que se refere a essa proposta, esclarecemos que foi aprovada a
partir do Edital Capes 49/2012, intitulada “Investigações Sobre os Processos de Ensino e
Aprendizagem de Conceitos Concernentes à Probabilidade e à Estatística”, vinculada ao
Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e coordenada pelo Prof. Dr. Ruy
Pietropaolo. Vale ressaltar que desde a criação do Projeto Observatório da Educação essa foi a
primeira proposta do OBEDUC especificamente direcionada aos processos de ensino e
aprendizagem de Estatística na Educação Básica.
O Design Experiments, segundo esses autores, é uma metodologia que, além de tratar
do funcionamento das formas de aprendizagem, desenvolve teorias para domínios específicos
que servem de apoio para os processos de aprendizagem. Ainda segundo Cobb et al. (2003),
para que se tenha sucesso na execução de um Design Experiments devemos atentar, no
momento do planejamento e realização do experimento, às “questões logísticas, questões de
medida, à importância de trabalhar com os dados de forma sistemática, e à necessidade de
serem explícitos sobre os critérios para fazer inferência” (COBB et al., 2003, p.9, tradução
nossa11).
11
“Logistical issues, issues of measure, the importance of working through the data systematically, and the need
to be explicit about the criteria for making inferences are discussed.”
112
O curso ocorreu entre 25 de abril e 15 de agosto de 2015, aos sábados, fora do horário
de serviço dos participantes, e contou com 15 professores da rede pública da Educação Básica
do Estado de São Paulo. Ao todo foram seis encontros de quatro horas de duração cada,
contabilizando assim 24 horas de curso presenciais.
Nossos encontros sempre foram iniciados discutindo a pauta do trabalho proposto para
cada dia. Para desenvolver o processo formativo, apresentávamos em todos os encontros
situações-problema para que os participantes pudessem discutir, agrupados em duplas ou
trios. Os grupos não permaneceram com os mesmos membros ao longo do processo
formativo.
As atividades propostas eram discutidas em grupos, mas cada participante escrevia seu
próprio relatório. Isso possibilitou que cada docente tivesse a liberdade de registrar as próprias
impressões, independentemente da concordância ou discordância de suas ideias com os
demais membros do próprio grupo.
Após a coleta dos relatórios individuais da atividade proposta, abria-se um espaço para
reflexão e discussão com todo o grupo sobre a situação apresentada. Nesse momento, cada
participante expunha a própria opinião que, a depender do argumento utilizado, obtinha
concordância ou não dos demais participantes. A seguir, ocorria o processo de intervenção
dos pesquisadores, que comentavam e estimulavam a reflexão dos professores; finalmente,
após o consenso geral do grupo, finalizavam a tarefa sistematizando as noções discutidas.
Ressaltamos que as atividades foram elaboradas com a finalidade de gerar reflexões por
parte dos participantes, individual ou coletivamente, para que ampliassem a própria base de
conhecimentos a respeito do letramento estatístico, sobretudo a interpretação da curva normal.
Além disso, estimulávamos que os professores tivessem a atitude de desenvolver essas
atividades em sala de aula a partir das discussões realizadas no âmbito do processo formativo.
113
Após a análise dos questionários da fase diagnóstica, observamos que para a nossa
discussão sobre a curva normal e de conceitos envolvidos seria necessário que nosso processo
formativo incluísse inicialmente os processos de ensino e aprendizagem de gráficos
estatísticos e os significados das medidas de tendência central.
Terceiro encontro: feita uma retomada das reflexões do encontro anterior sobre as
medidas de tendência central, dividimos esse encontro em duas etapas. Durante a
primeira etapa, o foco das discussões concentrou-se no uso da mediana para análise
de dados e a construção do gráfico box-plot. Na segunda etapa demos início ao
estudo das medidas de dispersão: amplitude, desvio médio e desvio-padrão.
Ampliamos nesse encontro as reflexões sobre a importância da média e a relação
com desvio-padrão para determinar o coeficiente de variação.
Sexto encontro: retomamos alguns pontos dos conteúdos envolvidos sobre a curva
normal e associamos o seu uso a algumas situações, como seleção de provas de
concurso, análise de valores relacionados às eleições: margem de erro e nível de
confiança. Foram também discutidos alguns tipos de amostragem, bem como o
contexto histórico do uso da curva normal.
115
As atividades propostas aos professores tinham como finalidade não apenas o cálculo
do desvio-padrão com e sem uso de tecnologias, mas sobretudo a discussão de seu significado
e importância.
Na situação proposta, uma diretora recebe o relatório de uma prova de acertos das
turmas de sua escola, apontando que a média de acertos dos alunos é 4, com um desvio-
padrão do grupo no valor de 2 acertos. Isso significa que os 20% do coeficiente de variação,
2
uma razão entre desvio padrão e média (𝐶𝑉 = 10 = 0,2 = 20%), compõem uma medida que
Além disso, no texto há uma indicação de que 70% dos alunos obtiveram acertos entre 8
e 12. Isso significa que esses dados estão concentrados um desvio-padrão acima e um desvio-
padrão abaixo da média de 10 acertos.
Formador: Antes da gente começar, o que vocês entendem por desvio-padrão? O que é desvio-
padrão?(
Professor P08: O número vai ter um desvio, você tenta padronizar a informação.
Professor P09: O desvio-padrão é uma dispersão.
Professor P02: Olha, para mim desvio-padrão é assim, como eu sou mais sucinta, né, é o que
você pode andar para direita ou para esquerda sem perder o foco. É o quanto você pode.
Professor P07: Desvio-padrão é uma variação que você tem, no processo que você vai
analisando, a grosso modo é isso.
117
Professor P02: Então, é o que você pode andar para direita ou para esquerda sem perder o foco.
Mas hoje em dia se a gente for usar uma linguagem muito, assim, uma linguagem muito
rebuscada para lidar com esses alunos, eles não vão entender metade das coisas que a gente fala.
Você já viu como o vocabulário deles é paupérrimo.
Professor P07: Por isso que sempre que entra nesse assunto, passo logo um vocabulário de
Português, que já é difícil de ser entendido, depois passar para parte de Matemática, porque se
for direto fica impossível.
Formador: Mediana, média e moda são medidas de tendência central, para ver para onde tende o
centro, para ver o centro, ali, da pesquisa. Vimos que a média é um valor importante, mas ela é
afetada pelos valores discrepantes; a mediana também é importante. Muitas vezes a mediana é
mais representativa que a média. Formador: Podemos ter dados muito dispersos, ou estarem
concentrados em torno da média. Que vai ver que isso é o desvio-padrão. O desvio-padrão indica
qual é o grau de dispersão em relação à média. Ou seja, desvio-padrão pequeno significa que os
dados estão ... (Professor P02: mais homogêneos) mais homogêneos, bem próximos a média. E o
desvio-padrão maior, afastado (Professor P07: mais afastado da média). Se eu somar, vamos
supor, um aluno tirou 10, média de dois alunos, um tirou 2 e outro 10, a média é seis. Agora se eu
tiver dois alunos que tiraram 6 a média é 6 também, mais são coisas diferentes. Eu tenho essa
classe dois alunos um bom e um péssimo. E tenho lá dois que tiraram sei.)
Professor P13: Resumindo, se você pegar os valores, né, os valores informados, e verificar aí,
com relação ao afastamento em relação à média o quanto ele está... (Professor P07: o quanto ele
foge.
Professor P02: É assim, você, o desvio-padrão trocando em miúdos, na linguagem deles, é assim
é você, é o quando você pode andar para esquerda ou para direita sem perder o foco.
Professor P02: O foco seria a média. Você foca na média... É uma linguagem bem simples. Então
assim, o que sei, o que eu sei do desvio é assim, que quanto mais próximo de um melhor...,
significa que sua tabela foi bem feita e que os dados são mais coesos. Quanto mais perto de um.
Um pra lá, um pra cá, até dois pra lá dois pra cá. É uma média boa.
Formador: Não, é desvio-padrão, você tem a média, um desvio-padrão abaixo, e um desvio-
padrão acima da média, vocês vão ver depois isso, vão ter aproximado, 70%, que é o que a
professora diz aqui, o relatório fala "o desempenho dos alunos pode ser modelizado pela curva
normal, o desvio-padrão de duas questões, assim cerca de 78% dos alunos tiveram a média 10"
não é isso. Um desvio-padrão abaixo é 8, e um desvio-padrão acima é 12. Em geral 70% está um
desvio-padrão abaixo, um desvio-padrão acima. Não é bem 70%, mais é aproximadamente.
Professor P02: Aí então, é o que eu sei, o que eu sei é assim a gente vê muito na época de eleição,
então assim a média de votos da Dilma 44%, com margem de erro de 2 pontos percentuais para
mais ou para menos, é a linguagem que eles usam, então assim, ela pode ter 46% ou 42%, que aí
o que sei de desvio é o mesmo que você andar para os dois lados.
Formador: Então, essa margem aí, não é o desvio-padrão. (Professor P03: era isso que eu ia
perguntar), não, mas isso tem a ver com o desvio. Mas isso é a margem de segurança, margem de
erro.
Professor P03: Tem como a gente saber como é feito esse cálculo?
Formador: É o que vamos fazer, começa hoje a parte do desvio-padrão e ao longo desse processo
a gente vai chegar na margem de erro. Como a gente obtém essa margem de erro.
Professor P07: Então nós vamos descobrir como é feita a malandragem.
No decorrer da discussão e das respostas dos professores às questões feitas, foi possível
verificar que os docentes ampliaram e aprofundaram seus conhecimentos a respeito das
medidas de tendência central e do desvio-padrão.
18,29%. Desse modo, o modelo B, por ter menor coeficiente de variação e uma mediana
relativamente alta, pode ser considerado uma boa opção.
119
Por exemplo, o professor P04 optou pelo modelo A, que era justamente o modelo a ser
descartado do ponto de vista estatístico. Considerou que o desvio-padrão alto revela uma
opção boa de escolha. Dessa forma ele não associa desvio-padrão alto a grande dispersão de
dados.
Os professores P10 e P12, por exemplo, indicam que o modelo C representa a melhor
opção, por considerarem a mediana. Para o primeiro professor, por ser a mediana maior que a
média, isso representaria a melhor opção. No protocolo desse professor não aparece menção
ao desvio-padrão, o que difere do seu colega, professor P12, que optou por C por considerar o
“desvio padrão na média”. Os protocolos a seguir
12
“Digo modelo A, pois tem o desvio-padrão, neste caso é bom que as televisões sem defeito estejam dispersas.”
(Professor P04)
120
Os demais professores optaram pelo modelo B, e para isso temos duas categorias de
respostas: os professores que se decidiram usando o coeficiente de variação e os professores
que usaram apenas o desvio-padrão.
Os professores P02, P07 e P08 apresentaram como justificativa da opção pelo modelo B
a dispersão dos televisores, por meio do desvio-padrão. O professor P13 resume a resposta do
grupo:
121
Os protocolos dos professores P01 e P03 demonstram que também optaram pelo
modelo B, considerando que há menos dispersão em torno da média, pois o desvio-padrão é
menor dentre os três modelos.
Cabe-nos ressaltar que a opção do professor P03 se justifica ao perceber a relação, por
ele feita, utilizando os sinais + e - referindo-se à variabilidade do desvio-padrão em relação à
média, conforme o destaque do protocolo a seguir:
122
Professor P10: Agora analisando melhor, pela mediana eu iria para o C, mais o desvio padrão
me ajudou a enxergar, e dessa forma decidir por B.
Nessa atividade, para fazer a relação de desempenho das duas estudantes em relação sua
turma é necessário considerar o cálculo para cada aluna e quantos desvios-padrão a nota está
acima da média.
Seguem os cálculos:
7−5 8,5−5,5
Ana: = 2,5 Bia: =2
0,8 1,5
Assim, o desempenho de Ana está 2,5 desvios acima da média do 9ºA e o de Bia está 2
desvios acima da média do 9ºB. Desse modo, a posição de Ana em relação aos seus colegas
do 9ºA é melhor que a posição de Bia em relação aos seus colegas do 9ºB, ainda que a nota de
Bia seja maior que a nota de Ana. Essas notas não são comparáveis tendo em vista que as
provas eram diferentes.
Calcular quantos desvios acima ou abaixo da média algo está em relação aos dados de
uma pesquisa é essencial para o estudo da curva normal. Esse procedimento é fundamental
para estabelecer as probabilidades dentro da curva normal.
respectivas turmas. O coeficiente de variação é importante para a comparação das duas turmas
quanto à dispersão de notas. Convém destacar que nove dos quinze professores participantes
usaram esse cálculo.
Esse fato fica ainda mais claro com o protocolo do professor P03, sobre o uso do
desvio-padrão na análise da relação do desempenho das estudantes. Nesse protocolo já há
indicativo das faixas de probabilidades da curva normal e a relação entre Ana e Bia sobre suas
classes. Repare que no centro do registro estão posicionados os valores da média e um desvio-
padrão acima e abaixo.
aluna. Para esse grupo de professores, a dispersão da classe foi o ponto mais forte da análise,
e não o desempenho das alunas por meio da medida de desvios-padrão acima das respectivas
médias.
Dos professores que consideraram Bia, vimos pelo protocolo do professor P06 que este
considerou a diferença das notas para média, mas não fez uma relação desse valor com o
desvio padrão, ou seja, a média e o desvio-padrão foram analisados de maneira independente,
como mostram os protocolos do professor P06 e P09.
13
“Quem teve o melhor desempenho foi a Bia, pois a sua nota em relação à média da turma foi uma dispersão de
3 pontos para cima, enquanto que a Ana este valor fio de 2 pontos. Porém a turma com menor dispersão tenha
sido a 9º A, a aluna com melhor desempenho foi a Bia do 9º B.” (Professor P06)
127
Esses protocolos indicam que não foi considerada a relação do desvio-padrão com a
média. Esses fatos nos indicaram que deveria ser realizada uma grande discussão sobre o tema
e isso foi realizado com sucesso.
Nesta seção faremos uma análise sobre o processo da formação continuada voltada para
um estudo envolvendo a curva normal. Apresentamos as atividades que serviram para
discussão e reflexão dos significados desse tema no ensino e aprendizagem de Estatística.
O uso das tecnologias digitais, por meio da planilha Excel, permitiu estimar
probabilidades considerando o significado das faixas de dispersão em uma pesquisa
estatística. Apresentamos a seguir a atividade que introduziu a temática para familiarizar o
professor a respeito do tema em estudo.
14
“Comparados ao desempenho das suas respectivas turmas Bia foi melhor, pois em todos os tipos de
comparação ela se saiu melhor do que Ana. Bia está acima das médias mesmo considerando o desvio padrão.”
(Professor P09)
128
Formador: o que vocês sabem sobre a curva normal? Já ouviram falar da curva normal, onde e
como ela (curva normal) é usada?
Professor P02: No concurso para ver quem vai passar e quem não vai. Para direita passa para
esquerda não passa.
Formador: O problema é para direita e para esquerda. As pessoas podem pensar que para direita
é bom, para esquerda é ruim e não é. Neste caso é, mas na hora vão pensar em peso, e para
esquerda é bom e para direita é ruim. É melhor estar à esquerda.
Formador: é uma aplicação que está ligada ao professor, que é o concurso.
Professor 02: a direita todo mundo passa...
Formador: em outras questões é bom ficar à esquerda, por exemplo, nível de colesterol, a
esquerda, triglicérides... as pessoas associam positivo com coisa boa, e negativo com coisa ruim,
direita coisa boa, esquerda coisa ruim...
Professor P15: a curva é usada nos concursos, mas também principalmente nos exames médicos,
né.
Professor P15: assim como a curva normal, tem outras situações da Matemática que está tão
presente no dia a dia que a gente nem percebe. Eu não vou pegar e falar, isso aqui estou usando a
curva normal, mas está sendo utilizada. Você não percebe, mas já utilizou até sem perceber.
Formador: é curioso isso, uma das coisas que mais me chamou atenção, é a questão do concurso.
A gente enxerga isso mais evidente no concurso público, mas existem outros lugares que a gente
usa a curva normal, acaba nem percebendo.
Professor P02: sobre a aplicação da curva normal está relacionado aos bebês. Tem médico que
usa e tem médico que não usa. O médico do meu filho usava, toda vez que ia ao médico, ele media
o peso, a altura, fazia a relação peso e altura [índice de massa corpórea] ele fazia uma projeção
para altura da criança, com base nas medidas, para crianças de 0 a 2 anos.
Formador: outra pergunta, a gente fala tanto de curva normal, mas vocês conhecem uma outra
forma de chamar a curva?
129
Formador: Nos concursos públicos ela foi usada, sempre foi assim, tem uma nota mínima, da nota
mínima para cima está aprovado. A nota mínima era 50%, agora estão usando a curva normal
porque eles querem otimizar os gastos do concurso. Fazer um concurso é muito caro, as vagas
estão lá, e as pessoas continuam dando aula, eles usam esse critério da curva normal. Ao invés
deles pegarem 50%, eles deslocam a média para um outro valor, para poder aproveitar melhor.
Professor P10: Então a prova era de 50%.
Formador: Então não é que é usada nos concursos públicos, não é usado, é usado neste caso
específico como nesse concurso que eles pretenderam aproveitar os melhores ainda que não
acertassem metade das questões. Antes o concurso aprovava quem tinha 50% da prova. Agora
eles estão usando a curva normal por já que o número que acerta 50% ou mais não preenchem as
vagas, então passaram a usar a curva.
Professor 10: Uma coisa que eu estava aqui pensando em relação a concurso público, eu acho
interessante fazer pela curva, porém teria que ter o mínimo uma leva de incompetentes, tipo
acertou duas está dentro.
Formador: Se a média é 50% e abaixarem para 40% vai lá, mas e se a média dá lá para o 10%?
Professor 03: Aí você vai ver, ou a prova foi muito difícil que jogou a curva para baixo, ou a
qualidade de alguém que é péssima.
Professor 15: Mas esse último que nós passamos foi utilizado dessa forma. A parte de Matemática
estava muito difícil, e aí eles se basearam, na minha cabeça passou assim, que a curva vai se
basear no cara que foi melhor, se baseando no cara que foi melhor, você consegue achar o
mínimo.
Formador 01: Uma coisa que me chamou a atenção foi o que ela disse [se referindo ao professor
P15], que a curva é baseada nos melhores, será que ela é baseada nos melhores?
Professor P02: Não ela é baseada na média.
Formador 01: Ela tem relação direta com a média.
Formador 02: O melhor, melhor, melhor, está fora da curva a direita, em caso de prova de
concurso né, esse cara é fora da curva. Depois a gente vai mostrar direito. É a pessoa que está
extrema direita ou extrema esquerda, por exemplo, o coeficiente de inteligência, é bom estar na
extrema direita né (risos na sala).
Os protocolos dos professores apontam que não houve dificuldade na obtenção dos
valores relativos às medidas de tendência central e de dispersão.
Para o item c, “A distribuição dos acertos desses alunos pode ser aproximada por uma
curva normal?”, obtivemos como resposta do grupo que há uma aproximação dos dados com
a curva normal.
Para o professor P05 há uma simetria na distribuição, o que facilitaria as análises dos
dados devido ao fato de a amostra apresentar os mesmos valores para as medidas de tendência
central, e procura de alguma forma estabelecer uma relação com a medida de dispersão. Essas
observações presentes em seu protocolo levam à conjetura de que se trata das faixas de
análises estabelecida para cada desvio-padrão, ou seja, as faixas de probabilidades.
132
Apresentamos a seguir uma atividade que tem o propósito de discutir a relação entre o
desvio-padrão e a curva normal, associando essas discussões à Estatística e à Probabilidade
para análise das amostras relacionadas ao tipo de população.
133
Nesse problema usamos uma curva que trabalha com valores exatos, pois as
porcentagens são definidas pela curva considerando o distanciamento do desvio-padrão em
relação à média, por exemplo, e dessa forma a coincidência da mediana (50% da mostra ou
metade) e a moda.
Nosso objetivo é fazer uso da tabela e relacionar não só os desvios inteiros, mas
também de não inteiros, e estabelecer a probabilidade desse critério.
Outro protocolo que evidencia a ampliação dos conhecimentos sobre a curva normal e
os conceitos a ela relacionados é o protocolo do professor P02, que não só apresenta os
desvios-padrão inteiros como também os desvios-padrão não inteiros no desenho da curva
normal, o que demonstra também uma ampliação de conhecimento correspondente ao nosso
objeto de estudo.
138
Nesta atividade, o relatório apresenta vários termos estudados, como média, desvio-
padrão, coeficiente de variação e, por fim, a curva normal. Espera-se que o professor
diferencie esses termos e explique como foram obtidos os valores correspondentes aos acertos
das questões.
O professor P02 ainda explica como obter o valor aproximado de acertos, bem como
obter o valor do coeficiente de variação. Veja que há uma indicação de que “a maioria ficou
em torno da média”; é o retrato da compreensão das faixas de probabilidade, considerando um
desvio-padrão acima e um desvio-padrão abaixo.
Neste protocolo, assim como nos demais, verificamos que o significado e a relação
entre o desvio-padrão e a média e as inferências sobre a curva normal não mais seriam objetos
desconhecidos. Essa atividade apontou a aquisição por parte do professor de uma nova forma
de observar, analisar e criticar os dados estatísticos apresentados. A compreensão do relatório
por parte dos professores foi possível após ampliar o conhecimento sobre tópicos de
Estatística trabalhados ao longo da formação: média, desvio-padrão, coeficiente de variação e
curva normal. Essas evidências estão registradas nos protocolos dos professores.
142
Considerações Finais
Por esse motivo é necessário que os estudantes, desde os anos iniciais da Educação
Básica, estudem conceitos relativos à Estatística, inclusive analisando modos de induzir erros
de leitura de gráficos, ainda que involuntariamente.
A proposta de reflexão desta pesquisa foi promover uma discussão sobre os processos
de ensino e de aprendizagem da compreensão e significado sobre a curva normal, como forma
de ampliar o letramento estatístico de um grupo de professores que ministram aulas de
Matemática e de colaborar para o desenvolvimento profissional desses participantes.
143
Nosso marco teórico foi escolhido de modo a permitir a construção dos elementos
necessários para a análise das fases diagnóstica e de processo formativo. Cabe também
destacar que fizemos uma pesquisa bibliográfica para embasar nossos argumentos no decorrer
do processo formativo e na análise dos dados coletados.
Realizamos também uma pesquisa documental em que buscamos as raízes dos atuais
currículos de Matemática para os anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e do Ensino
Médio na legislação brasileira.
Para tratar ainda das questões sobre o letramento estatístico, optamos por usar Gal
(2002) e Gal (2008) para estabelecer uma conexão sobre a instrução estatística no geral,
144
considerando que as informações estatísticas devem ser recebidas de forma crítica para que
haja discussão e compreensão dos significados das informações divulgadas.
E por fim, consideramos a pesquisa de Tauber (2001) por tratar-se de uma formação de
conceitos relacionados ao nosso tema, a curva normal, construindo também uma base de
significados sobre esses conceitos, levando ao letramento estatístico e à aproximação da
Probabilidade com a Estatística.
Os capítulos anteriores serviram para refletirmos sobre as questões levantadas para esta
pesquisa, as quais novamente apresentamos:
Visto isso, na formação inicial pudemos constatar também que não houve nenhum
trabalho voltado para esse conteúdo; de acordo com algumas respostas, a formação em
Estatística concentrou-se apenas no cálculo de medidas de tendência central e de dispersão,
sem trabalhar quaisquer significados relacionados a esses conteúdos.
Esse pequeno conhecimento nos levou a considerar um caminho formativo que pudesse
proporcionar a esses professores uma reflexão temática sobre cada um dos tópicos necessários
à compreensão do significado da curva normal. Assim, em resposta à nossa segunda questão,
pudemos destacar um avanço nos conhecimentos docentes para o ensino da Estatística e
Probabilidade.
146
Esse avanço ficou marcado com o auxílio da planilha eletrônica Excel, cujo intuito era
concentrar as reflexões sobre o significado das medidas encontradas e não sobre o cálculo dos
valores obtidos. Como Zeicnher (1993) fundamentou, a reflexão na prática promove uma
mudança nos conhecimentos docentes, em consonância com Ponte (1992).
Percebemos que, à medida que avançávamos nas reflexões, novos significados para
termos estatísticos eram incorporados. A média deixou de ser apenas um valor que representa
um valor central para o grupo, e passou a compor um conjunto de dados a serem
considerados, juntamente com outras medidas como mediana e moda.
Referências
Artega, P., Batanero, C., Contreras, J. M., Cañadas, G. R. Understanding Statistical Graphs: a
research survey. Boletín de Estadística e Investigación Operativa, vol. 28, n. 3, out.,
2012. p. 261-277.
Ben-Zvi, D., Garfield, J. Statistical Literacy, Reasoning, and thinking: Goals, definitions and
challenge. In: Ben-Zvi, D., Garfield, J. The Challenge of Developing Statistical
Literacy, Reasoning and Thinking. Kluwer Academic Publishers: Dordrecht, 2005. p.
03-15.
Cobb, P., Confrey, J., diSessa, A., Lehrer, R., Schauble, L. Design Experiment in
Educational Research. Educational Researcher, Vol. 32, No. I, p.9-13, 2003.
Godino, J., Batanero, C., Roa, R. y Wilhelmi, M. R. (2008). Assessing and developing
pedagogical content and statistical knowledge of primary school teachers through
project work.En C. Batanero, G. Burrill, C. Reading y A. Rossman (Eds.).
<http://www.sbembrasil.org.br/sbembrasil/index.php/anais/enem> . Acesso em 05 de
set. de 2014
Ponte, J.P. Concepções dos professores de Matemática e processos de formação. In: Brown,
M. et al. (Org.). Educação Matemática. Portugal: Instituto de Inovação Educacional,
1992, p.185-247.
Anexo
Fonte: Orientações Curriculares do Estado de São Paulo - Anos Iniciais do Ensino Fundamental - Matemática
(2014)
Ensino Médio
1º Médio 2º Médio 3º Médio
•Análise de gráficos •Raciocínio combinatório: Princípio •Gráficos Estatísticos: cálculo e
multiplicativo e aditivo, interpretação de índices
•Casos de agrumentamentos: •Medidas de têndencia central:
arranjo, comibnações e permutações; média, moda e mediana
•Probabilidade simples •Medidas de dispersão: desvio médio e
• Probabilidade condicional, e desvio padrão
Distribuição Binomial •Elementos de amostragem
Questionário 01
Você está sendo convidado a responder o questionário a seguir, cuja finalidade é
identificar seu domínio a respeito de noções referentes à estatística e, em especial, sobre a
curva normal. Consideramos essa ação necessária para planejarmos melhor nosso curso de
modo a propor atividades e promover discussões que sejam de seu interesse. Você não precisa
identificar-se.
1. Dois cruzamentos de uma cidade têm alto índice de acidentes. Os dois conjuntos a seguir
indicam o número de acidentes em cada um dos últimos oitos meses. Cruzamento A: 5, 6,
6, 7, 8, 9, 10, 10. Cruzamento B: 5, 6, 6, 7, 8, 9, 10, 95.
Determine a média, a mediana e a moda de cada um desses cruzamentos e, depois,
responda às questões abaixo.
a) Para qual dos cruzamentos você considera que a média “reflete” melhor a
realidade dos dados? Justifique.
b) A moda é uma “boa” medida para indicar a tendência central dos dados de cada
um desses dois cruzamentos? E a mediana? Explique.
157
3. Analise os dois gráficos a seguir a respeito das notas – de zero a dez – dos alunos de duas
turmas.
4. Certo cruzamento tem alto índice de acidentes de trânsito conforme pode ser constatado
em uma amostra dos últimos seis meses: 5, 4, 5, 8, 6, 8. Calcule a média e o desvio padrão
desses acidentes.
160
5. O que você sabe sobre a curva normal? (Características, significados, usos, etc.) Qual é a
relação entre a curva normal e o desvio padrão?
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6. A palavra Estatística quase sempre está relacionada à Probabilidade e vice e versa. Qual é
a relação entre Probabilidade e Estatística?
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161
8:00 - Acolhimento
10:15 - Intervalo
12:00 - Encerramento
15
Atividade adaptada da pesquisa de Eduardo Sera (2014)
163
ATIVIDADE 02
Abaixo seguem informações nutricionais de uma barra de chocolate Classic da Nestlé. Com
base nessas informações, construa gráficos de forma a apresentar esses dados. Justifique suas
escolhas16.
Fonte: Nestlé
16
Atividade adaptada da pesquisa de Eduardo Sera (2014)
164
ATIVIDADE 03
O gráfico a seguir representa o climograma de um município. A escala vertical à esquerda
representa a precipitação (em milímetros) e a escala à direita representa a temperatura (em
graus Celsius). No eixo horizontal estão representados os meses do ano.
Gráfico 3: Climograma de uma cidade fictícia
8:00 - Acolhimento
8:30 – Questionários 02 e 03
9:00 - Média
10:15 - Intervalo
12:00 - Encerramento
Questionário 02
Você está sendo convidado a responder o questionário a seguir, cuja finalidade é verificar se
você inclui noções de estatística ou probabilidade em suas aulas do Ensino Fundamental ou
do Médio. Você não precisa identificar-se.
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Você aprendeu Estatística no seu curso de graduação? Em caso afirmativo quais as noções
que foram ensinadas?
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169
O que você aprendeu sobre a curva normal em seu curso de graduação? Em caso afirmativo
quais as noções que lhe foram ensinadas?
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__________________________________________________
Você ensina ou já ensinou Estatística? Em caso afirmativo, você desenvolveu esse trabalho no
Ensino Fundamental? E no Médio? Quais foram os conceitos ou noções ensinadas?
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170
Você ensina ou já ensinou algumas noções relativas à curva Normal? Em caso afirmativo,
quais foram os conceitos ou noções ensinadas?
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171
Questionário 03
Você é do gênero:
( ) masculino ( ) feminino
Sua graduação é:
( ) Licenciatura Plena em Matemática
( ) Licenciatura Plena em Ciências Exatas com habilitação em Matemática
( ) Licenciatura Plena em outra disciplina
( ) Bacharelado em outras áreas. Qual ? ______________________
Para qual nível de ensino você ministra aulas de Matemática, esse ano?
( ) Ensino Fundamental – anos iniciais ( ) 1º ( ) 2º ( ) 3º ( ) 4º ( ) 5º
( ) Ensino Fundamental – anos finais ( ) 6º ( ) 7º ( ) 8º ( ) 9º
( ) Ensino Médio ( ) 1º EM ( ) 2º EM ( ) 3º EM
172
Professora:
Recebi ontem o relatório do desempenho em A professora levantou uma questão importante: os
Matemática dos alunos de minha escola segundo o significados de média e de mediana.
sistema de avaliação de nosso estado. Sei que nossos
Como esses nomes são parecidos, muitas pessoas
alunos não se saíram muito bem. Mas há
acabam considerando que média e mediana são palavras
informações que são meio incompreensíveis para
sinônimas, o que não é verdade.
mim. Como interpretá-las?
Nessa unidade você vai estudar as medidas de tendência
Veja esse trecho do relatório enviado para a minha
central de uma pesquisa: média, mediana e moda e
escola:
verificar que juntas elas podem facilitar a leitura e
A média dos itens respondidos com acerto pelos compreensão de uma pesquisa realizada.
alunos é de aproximadamente 10 em 25 possíveis –
Esperamos que você, ao final dessa unidade,
40% da prova. A média padronizada de Matemática,
compreenda e avalie de forma crítica as principais
em escala de 0 a 10 pontos, é de apenas de 4,0. A
características dessas medidas, de modo a escolher,
mediana dos resultados está também em torno de 10
quando possível, a medida mais conveniente para
acertos. O desempenho dos alunos pode ser
representar determinada situação ou resolver
modelizado com razoável precisão pela curva
determinada situação-problema.
Normal com desvio padrão de 2 questões. Assim,
cerca de 70% dos alunos tiveram acertos entre 8 e Apesar de as medidas de tendência central fornecerem
12 questões. O coeficiente de variação em torno da uma ideia sobre o comportamento das variáveis que
média foi de 20%, o que significa que o desempenho foram pesquisadas, elas podem induzir a erro, não
dos alunos pode ser considerado como somente os leitores, mas também os próprios
razoavelmente homogêneo. pesquisadores.
Diretora: Nesse relatório há também uma Assim, essas três medidas devem vir acompanhadas das
comparação do resultado da minha escola com a do grau de dispersão dos dados. Você começará a
média geral das escolas de nosso município e do estudar a dispersão por meio da análise de um tipo de
estado. No relatório da minha escola consta que a gráfico: o Box-plot.
Média dos acertos dos alunos foi 10 questões e que a Na próxima unidade continuaremos a estudar a
Mediana também foi 10. Penso que compreendo o dispersão.
significado de Média, mas não sei o significado da
Mediana. Qual é a diferença entre esses significados?
173
MÉDIA
Diversos profissionais e pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento têm empregado o conceito
de média para formular perguntas como: qual é a renda média dos alunos de uma dada universidade
pública que faz os cursos de Licenciatura? Em média, quantos acidentes de automóvel ocorrem em
uma dada cidade por decorrência do uso de álcool por parte do motorista? Qual foi a média de gols do
Flamengo no último campeonato brasileiro? Muitas vezes essas pessoas usam a média para representar
todo um conjunto de dados.
Veja o seguinte exemplo a respeito da média: imagine dois grupos de estudantes de Licenciatura com
quatro alunos cada um e que a média das notas de cada grupo em Biologia tenha sido 6,5.
Conhecendo-se apenas a Média podemos achar que os desempenhos desses dois grupos foram
equivalentes.
Mas essa conclusão pode não ser verdadeira. Veja:
6+6+7+7 26
Notas dos alunos do grupo A: 6, 6, 7 e 7. Portanto, média 6,5, pois 4
= 4
= 26 ÷ 4 = 6,5.
2+4+10+10 26
Notas dos alunos do grupo B: 2, 4, 10 e 10. Portanto, média 6,5, pois 4
= 4
= 6,5.
É visível que, apesar de os dois grupos terem a mesma média, o grupo A é mais homogêneo, mais
uniforme, pois as notas dos alunos pouco oscilam em torno da média. O grupo B é bastante
heterogêneo e a média parece ser pouco significativa: nenhum deles teve nota próxima da média, ou
seja, há grande dispersão em torno da média. A média é uma medida bastante significativa para o
grupo A e pouco para o grupo B.
Para entender melhor a característica da média, você deve também compreender o conceito de desvio.
Analise exemplo a seguir:
A seguinte distribuição de dados representa os pontos de cinco jogadores de basquete: 11, 9, 7, 6 e 2.
11 + 9 + 7 + 6 + 2 35
𝑋= = =7
5 5
Você pode verificar que a soma dos desvios acima da média é +4+2 = +6 e que a soma dos desvios
abaixo da média é –1–5 = –6. Em valores absolutos, a quantidade de pontos acima da média é igual à
174
quantidade de pontos abaixo da média. Desse modo, +6–6 = 0. Assim, a média pode ser considerada o
ponto de equilíbrio da distribuição, ou seja, ela funciona como um “centro de gravidade” dos dados.
ATIVIDADE 1:
Uma escola está desenvolvendo uma campanha para economizar água. Para isso fez uma pesquisa
com todos seus alunos do 9º ano. Cada aluno trouxe uma conta de água. Cada turma tabulou seus
dados e, depois, a coordenadora, fez um gráfico com todos os dados de todas as cinco turmas. Note
que ela agrupou os dados em 8 faixas de consumo.
de
Número
residências
Esse gráfico indica, por exemplo, que 20 residências consomem de 10 a 14,9m³ de água; 68
residências consomem de 15 a 19,9m³, assim, por diante.
a) Qual é o número total de residências pesquisadas?
Resposta 162
Evidentemente, as médias calculadas por esses dois métodos podem não ser iguais, mas serão
suficientemente próximas. Para a atividade 1, não pudemos optar pela primeira, pois não temos a lista
dos 162 consumos. Assim, nos restou apenas a segunda opção.
Veja o cálculo da média 𝑋
20 × 12,5 + 68 × 17,5 + 31 × 22,5 + 17 × 27,5 + 12 × 32,5 + 9 × 37,5 + 3 × 42,5 + 2 × 47,5
𝑋=
162
3555
𝑋= = 21,9
162
ATIVIDADE 2
Foram comprados para uma construção, 5 caixas de parafusos cujos rótulos indicavam a existência de
100 parafusos em cada caixa. Os números encontrados foram os seguintes para esse lote de caixas: 97,
103, 96, 101 e 95.
a) Qual é o número médio de parafusos?98,4 parafusos
b) Você deve ter constatado no item (a) que ao número que indica a média
calculada não é inteiro. Porque, nesse caso, não é conveniente que a média é de 98
parafusos e não 98,4? Você acha que a média deveria ser um número de mesma
natureza dos números que foram envolvidos no cálculo?
c) Cite outros exemplos cujas médias não são números inteiros, embora os
valores que compuseram o cálculo são necessariamente inteiros.
Assim, é possível explicar a razão de um jornalista esportivo informar seus leitores que a média de
gols de determinado time em um campeonato foi de 2,5 gols, apesar de não haver meio gol. Com essa
informação pode-se afirmar, por exemplo, que esse time saiu-se melhor que outro, cuja média foi 2,1
gols, pelo menos no tocante ao número de gols.
MEDIANA
Outro meio de obter um número que represente uma distribuição, é determinar o ponto médio de uma
distribuição tal que a metade das observações seja superior a ele e a outra metade inferior.
Cada um dos 9 números a seguir representa o total de minutos que cada aluno levou para resolver um
problema de matemática: 13, 15, 15, 16, 17, 18, 18, 20 e 21.
Observe que a sequência está em ordem crescente. O número 17, aquele que ocupa a 5ª posição,
separa o conjunto de dados da seguinte maneira: há 4 números menores que ele e 4 números maiores
que ele. Assim, 17 minutos é a mediana dos tempos dos alunos para resolver o problema dado e
indica-se 𝑀𝑑 = 17.
Se o número de elementos dos dados for um número par, não existe um único número na lista que seja
o ponto médio da lista. Nesse caso, fazemos a média aritmética dos dois números centrais. Analise o
exemplo a seguir:
Os 12 números colocados em ordem crescente representam as notas de um grupo de 12 alunos. Como
você pode observar, não há um único número que separe esse conjunto em dois com a mesma
quantidade. Os números 4 e 7 estão nas posições centrais dessa lista. A mediana é definida como a
4+7 11
média aritmética desses dois números: 𝑀𝑑 = 2 = 2 = 5,5
176
ATIVIDADE 3
Vinte e cinco alunos de uma escola foram sorteados para responder um questionário que, entre outras
questões, tiveram de responder o número de irmãos que possuíam. As respostas obtidas foram as
seguintes:
1, 4, 5, 0, 2, 2, 3, 4, 1, 0, 1, 6, 2, 3, 3, 1, 0, 2, 3, 4, 5, 5, 3, 3, 3.
Calcule a Mediana e a Média relativas ao número de irmãos desses alunos.
Md = 3 e 𝑋 ≅ 2,6
ATIVIDADE 4
Uma determinada seção de uma empresa tem oito funcionários. Suponha que cada um dos oito
números da sequência 1, 1, 1, 1, 2, 3, 3, 22 represente a quantidade de salários mínimos de cada
funcionário, ou seja, quatro funcionários ganham 1 mínimo, 1 funcionário ganha 2 mínimos, dois
ganham 3 mínimos e um ganha 22 mínimos. Calcule a mediana e a média. Qual dessas duas medidas
você considera mais representativa para indicar a tendência central desses dados? Explique.
Md = 1,5 e 𝑋 = 4,25 Pode-se considerar a Mediana como mais representativa desse conjunto de dados, pois o último termo, o número 22,
afeta a média, mas não a mediana.
MODA
A moda (Mo) é o valor mais típico, mais comum, mais frequente em uma distribuição.
Analise esses exemplos:
O gerente de uma loja de calçados masculinos verifica que o número 41 é o mais
vendido. Dizemos, então, que o número 41 é a moda para a venda de sapatos nessa loja.
Medicina foi o curso que teve o maior número de inscritos no vestibular da
Universidade de São Paulo. Como o curso de Medicina foi o de maior procura, dizemos que
Medicina representa a moda da preferência dos vestibulandos nesse ano.
Em uma classe, 60% dos alunos tiveram nota 7 na prova de Matemática. Assim, a nota
7 é a moda, pois foi a nota com maior frequência.
A série 25, 27, 31, 31, 31, 38, 38 e 47 representa em ordem crescente as idades em
anos dos professores de Matemática de uma escola. A idade 31 anos é a moda das idades ou a
idade modal desse conjunto de professores, pois o 31 ocorre com maior frequência do que
qualquer outro – aparece 3 vezes, ou seja sua frequência é f = 3.
O conjunto de valores 7, 8, 7, 6, 7, 8, 5, 7, 5, 6, 5, 5, 9, 3, 8 representa o total de faltas
de cada um dos 16 jogos de um time de futebol em um campeonato. Esse conjunto de valores
é bimodal, pois tem duas modas: o 5 e o 7, ambos com frequência 4.
A moda é a única medida de tendência central que também pode ser aplicada às variáveis nominais
como: curso de preferência, mês de nascimento, cor dos olhos, religião etc. Outro aspecto é que um
conjunto de dados pode ter mais de uma moda. Pode-se dizer que o gráfico de uma distribuição
bimodal sugere as corcovas de um camelo, pois ela tem dois pontos de frequência máxima. A
modalidade unimodal, que costuma ser mais comum, tem, evidentemente, apenas um ponto de
frequência máxima
177
Podemos facilmente perceber que a média é bastante representativa do conjunto A, mas não do
conjunto B, pois o número 104 afetou a média de B.
7+8
A mediana é a mesma para ambos os conjuntos de dados: 𝑀𝑑 = 2
= 7,5. A mediana não foi afetada
pelo valor extremo 104.
A média e a mediana de uma distribuição simétrica praticamente coincidem. Em uma distribuição
assimétrica, a média está mais afastada, na direção da cauda longa, do que a mediana. Por exemplo, a
distribuição dos preços de terrenos é fortemente assimétrica à direita. Em geral os preços dos terrenos
são relativamente altos. Mas há terrenos, embora em número menor, com preços exorbitantes. Estes
últimos elevam de forma significativa a média, mas não afetam a mediana. Por esse motivo, os
relatórios sobre preços de terrenos, salários e outras distribuições fortemente assimétricas indicam, em
geral, a mediana ("valor do meio") e não a média ("valor aritmético médio").
Quando se faz uma pesquisa devemos ficar atentos às irregularidades dos dados e aos números que
fogem muito do padrão – que os estatísticos chamam de outliers. Devemos, às vezes, dar uma atenção
individual a esses dados ou simplesmente não os levar em conta.
Essas medidas de tendência central nos fornecem elementos para tomar decisões.
178
Empresa I II III
Salário Médio 3,1 5,0 4,0
Mediana dos salários 3,0 3,5 3,7
Moda dos salários 3,0 3,3 3,7
Levando-se em conta apenas esses dados, qual dessas empresas é mais adequada
para o estudante?
Apesar da homogeneidade dos dados da empresa I, todas as três medidas são inferiores às das demais
e, por isso, essa empresa pode ser descartada. A companhia II tem 50% dos seus estagiários recebendo
até 3,5 salários mínimos e o valor com a maior frequência é 3,3. Como a média é 5,0 deve haver
alguns poucos estagiários com salários bem altos, “puxando” essa média para cima. A companhia III
tem as medidas bastante próximas o que indica simetria entre os salários altos e baixos. Assim, o
estudante deve escolher entre a II e a III a depender de sua qualificação. Se ele se considerar bem
qualificado deverá, sem dúvida, escolher a empresa II, uma vez que é ela é quem oferece os maiores
salários. No entanto, se a sua qualificação não estiver acima dos demais estudantes, ele deve preferir a
III, pois essa parece ter uma política homogênea de salários. No entanto, é preciso reiterar que a
empresa I oferece uma política de salários ainda mais homogênea que a III; todavia seus valores são
mais baixos.
As atividades a seguir têm como objetivo a compreensão e avaliação crítica das principais
características das medidas de tendência central e fazer uma escolha criteriosa, se possível, daquela
mais conveniente para representar determinada situação ou para resolver um problema.
ATIVIDADE 5
Para os escores 205, 6, 5, 5, 2 e 1 calcule as 3 medidas de tendência central e indique qual delas não
deveria ser usada para “descrever” esse conjunto. Por quê?
Respostas: 𝑋 = 37,33 Md = 5 e Mo =5. A média não deveria ser usada para descrever esse conjunto de dados pois ela não “reflete”
muito bem a realidade dos dados uma vez que foi muito afetada por um valor bastante discrepante (o 205).
ATIVIDADE 6
Foram coletadas 150 observações da variável X, que representa o número de vestibulares que um
mesmo estudante prestou. Os dados estão na tabela a seguir. Essa tabela significa que dos 150
vestibulandos, 75 prestaram uma única vez; 47 prestaram duas vezes e assim por diante
X F Calcular:
1 75 a) média
2 47 b) mediana
3 21 c) moda
4 7
"Não são tanto as coisas que não sabemos que nos metem em confusões.
São as coisas que pensamos que sabemos."
Artemus Ward
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simples de dispersão que dá o intervalo abrangido pela metade central dos dados. Essa
distância, como vimos, é denominada de intervalo interquartil: IQ= Q3– Q1.
O gráfico Box-plot é um gráfico que indica cinco importantes valores: Valor Mínimo,
o Primeiro Quartil, a Mediana, o Terceiro Quartil e o Valor Máximo. Alguns gráficos Box-
plot também indicam os outliers, ou seja, aqueles valores com os quais devemos tomar
cuidado, pois parecem fugir do padrão dos demais valores.
Veja esses elementos em um gráfico Box-plot.
A Mediana dos acertos dos alunos da cidade A foi 14 questões, o que significa que
50% acertaram menos de 14 questões. O primeiro quartil da cidade A foi 12 questões, o que
significa que 25% acertaram menos de 12 questões. O terceiro quartil foi 18 questões, o que
significa que 75% acertaram menos de 18 questões. O intervalo interquartil é a diferença entre
Q3 e Q1, onde estão 50% dos alunos, é de 18 – 12 = 6 questões. Apenas 25% acertaram mais
de 18 questões, mas nenhum ultrapassou o índice de 24 questões.
Passemos à análise da cidade B. A Mediana dos acertos dos alunos da cidade B foi 18
questões, o que significa que 50% acertaram menos de 18 questões. O primeiro quartil da
cidade A foi 10 questões, o que significa que 25% acertaram menos de 10 questões. O terceiro
quartil foi 20 questões, o que significa que 75% acertaram menos de 20 questões. O intervalo
interquartil é a diferença entre Q3 e Q1, onde estão 50% dos alunos, é de 20 – 10 = 10
questões. Apenas 25% acertaram mais de 20 questões, mas nenhum ultrapassou o índice de 28
questões.
Comparando as duas cidades, podemos dizer que o grau de dispersão da cidade B é
maior que o da cidade B. Os dados de B são mais homogêneos, apesar de B ter conseguido
melhores resultados. Note que o gráfico não apresenta nenhum outlier. Você saberia dizer a
razão?
183
Atividade
Os dois gráficos a seguir indicam o tempo que homens e mulheres esperam ao telefone
antes de desligarem por não terem sido atendidos pelos funcionários de uma empresa que está
abrindo um canal de comunicação com seus clientes.
Depois do estudo dos gráficos, penso que avaliar a validade de resultados estatísticos
minhas análises estão mais refinadas, bem como os confrontando-os com valores padrões
significados de mediana e moda. Agora sei a relacionados à curva normal.
diferença entre média e mediana. Aprendi também
analisar o gráfico Box-plot.
Mas não sei o que é desvio padrão e não
entendi a sentença “O desempenho dos alunos pode
ser modelizado com razoável precisão pela curva
Normal com desvio padrão de 2 questões”.
Assim, ainda não sei exatamente responder:
Desvio padrão
Na unidade anterior você aprendeu os significados das medidas de tendência central de uma pesquisa:
a moda, a mediana e a média. Você também analisou gráficos do tipo Box-plot, que apresentam um
resumo de uma distribuição de frequências envolvendo cinco números: o valor mínimo, o primeiro
quartil, a mediana, o terceiro quartil e o valor máximo.
Nessa unidade você verá outra medida que não pode ser desconsiderada na análise de um conjunto de
dados: o desvio padrão, que é uma medida de dispersão. O desvio padrão mede a dispersão, ou seja, o
quão afastados da média estão os valores desse conjunto de dados. Você também verá que o desvio
padrão está fortemente associado à curva normal.
Para compreender o que é uma curva normal e sua relação com o desvio padrão é preciso aprender a
calcular esse desvio. Apesar de fácil, esse cálculo é muito trabalhoso, mesmo utilizando uma
calculadora, sobretudo se tivermos muitos dados. Mas não se preocupe, as planilhas eletrônicas (do
tipo Excel) fazem esse cálculo de forma muito eficiente, bastando digitar os valores.
No entanto, é importante você calcular o desvio padrão utilizando uma calculadora pelo menos uma
vez, de modo a identificar os procedimentos envolvidos nesse cálculo.
Vamos calcular o desvio padrão das notas de cinco alunos em uma prova de Física. As notas são as
seguintes: 2, 5, 6, 7 e 10.
Em primeiro lugar devemos calcular a média, tendo em vista que o desvio padrão está relacionado
com a Média.
2 + 5 + 6 + 7 + 10 30
𝑋= = =6
5 5
Você já verificou na unidade anterior que a soma dos desvios em relação à média é zero:
−4 − 1 + 0 + 1 + 4 = 0
Para evitar esse fato elevamos cada diferença ao quadrado, somamos todos os resultados e calculamos
a média aritmética entre eles:
Por fim, com a calculadora, extraímos a raiz quadrada do valor anteriormente obtido e, determinamos
o desvio padrão (DP) desse conjunto de valores: 𝐷𝑃 = 6,8 ≅ 2,6
Você deve observar que quanto maior for o desvio padrão maior é a dispersão em torno da média.
A ideia subjacente ao desvio padrão como medida de dispersão é a seguinte: Os desvios x – X
mostram a dispersão dos valores x, em tomo de sua média X. Alguns desses desvios serão positivos,
outros serão negativos, porque há no conjunto de dados, observações de ambos os lados da média.
Como pudemos verificar a soma dos desvios das observações a contar da sua média é sempre zero. Por
186
isso, é conveniente elevar ao quadrado essas diferenças para torná-las positivas. Depois, determina-se
a média da soma desses quadrados e extrai-se a raiz quadrada.
a média da soma dos quadrados das diferenças é denominada de variância, que também é
uma medida estatística. Assim, o desvio padrão é a raiz quadrada da variância.
Para calcular a média da soma dos quadrados das diferenças, ou seja, a variância, dividimos
por 5, pois eram 5 observações. No entanto, se esses dados constituíssem uma amostra que
representa uma população maior, por exemplo, n valores dividiríamos por uma unidade a
menos, no caso por n-1. Por isso, nos softwares que fazem esse cálculo há uma distinção entre
os desvios: desvio padrão populacional ou desvio padrão amostral. No Excel, por exemplo,
você encontra a sigla DESPADP (desvio padrão populacional, em que se divide por n para
determinar a variância) e DESVPAD (desvio padrão amostral, em que se divide por n – 1 para
determinar a variância)
ATIVIDADE 01
Comparando desvios
ATIVIDADE 02
Analisemos a seguinte atividade em que estão envolvidos a média, a mediana e o desvio padrão:
A tabela a seguir apresenta informações estatísticas de fábrica sobre a duração, em horas, de três
modelos de TV sem apresentar defeito. Se você levasse em conta apenas essas informações, qual
modelo você escolheria? Explique.
Modelo da TV A B C
Duração Média 8000 8000 8200
Duração Mediana 7000 8000 9000
Desvio padrão 2500 600 1500
Aplicou-se a mesma prova de Matemática em duas turmas de 8ª série. A turma A teve média 6
e desvio padrão 2,5. A média da turma B foi 4,0 e desvio padrão 2. Qual das duas turmas teve
maior dispersão?
Dizemos nesse caso que a turma A teve a maior dispersão absoluta, pois seu desvio padrão é maior.
Mas, nessa situação precisamos analisar o grau de dispersão levando em conta também a média, pois
elas são muito diferentes.
Nesses casos podemos estabelecer uma relação entre o desvio padrão e a média, calculando o
𝐷𝑃
coeficiente de variação (CV) que é obtido pela razão entre o desvio padrão e a média: 𝐶𝑉 =
𝑋
187
2,5
𝐶𝑉𝐴 = = 0,417 em porcentagem seria 41,7%.
6
2
𝐶𝑉𝐵 = 4 = 0,5 em porcentagem seria 50%.
Portanto, as notas dos alunos da turma B foram mais dispersas que as notas da turma A,
apesar de ter menor desvio padrão.
A partir das considerações e discussões feitas até aqui, analise a seguinte situação:
Uma classe de 48 alunos fez um simulado com 20 questões para o ENEM. A tabela a seguir indica o
número de acertos já apresentados em ordem crescente. Observe que há dois alunos que acertaram
apenas 8 questões, quatro alunos acertaram 9 questões, etc. Observe também que ninguém acertou
mais de 14 questões.
8 8 9 9 9 9 10 10
10 10 10 10 10 10 11 11
11 11 11 11 11 11 11 11
11 11 11 11 11 11 11 11
11 12 12 12 12 12 12 12
12 12 12 13 13 13 14 14
ATIVIDADE 4
A seguir apresentamos uma situação bastante comum nas escolas: a comparação de notas de
alunos de classes diferentes, cujas provas não avaliaram as mesmas habilidades.
Duas classes do 9º ano de uma escola – 9ºA e 9ºB – fizeram prova de Português. A média do
9ºA foi 5,0 e o desvio padrão foi 0,8, ao passo que o 9ºB teve 5,5 de média e 1,5 de desvio
padrão. Sabe-se que essas provas foram diferentes. Ana, que estuda no9ºA tirou 7,0 e Bia do
9ºB tirou 8,5. Qual delas teve melhor desempenho em relação à média dos desempenhos da
respectiva turma? Explique.
Vamos pensar?
Em primeiro lugar convém ressaltar que não podemos comparar os desempenhos das alunas
entre si, pois as habilidades avaliadas foram distintas. Além disso, não sabemos quais foram
os critérios de correção utilizados. O que podemos perguntar é “qual delas teve melhor
desempenho comparativamente aos alunos de suas respectivas classes?”
Ana tirou 2,0 pontos acima da média de sua classe (7,0 – 5,0 = 2,0) e Bia 3,0 pontos acima
(8,5 – 5,5 = 3,0). Aparentemente Bia saiu-se melhor, mas devemos levar em conta que a
média da classe de Ana foi maior.
Analisemos o caso de Ana: se dividirmos os 2 pontos pelo desvio padrão que é 0,8 obtemos
2
= 2,5, ou seja, a nota de Ana está 2,5 desvios padrão acima da média.
0,8
Fazendo os mesmos cálculos para Bia: dividimos os 3 pontos pelo desvio padrão de sua
3
turma, que é 1,5 obtém-se 1,5 = 2, ou seja, a nota de Bia está 2 desvios padrão acima da
média.
Assim, concluímos que Ana saiu-se melhor comparativamente aos seus colegas que Bia em
relação a sua turma, mas não podemos dizer que Ana é melhor aluna que Bia e tampouco
dizer que Bia é melhor que Ana.
Certamente podemos dizer que ambas são boas alunas. A seguir, com a análise da curva
normal nós poderemos dizer sobre o significado de estar 2 ou 2,5 desvios acima da média.
189
"Não são tanto as coisas que não sabemos que nos metem em confusões.
São as coisas que pensamos que sabemos."
Artemus Ward
8:00 - Acolhimento
10:15 – Intervalo
12:00 - Encerramento
Abaixo encontram-se os dados das notas da atividade 01. Com ela vamos criar o gráfico Box-
Plot.
Para construir o gráfico, é necessário construir a tabela a seguir. Indicaremos os comando para
construção de cada elemento do gráfico.
Construindo o Gráfico
Para consolidar os dados de construção, vamos usar apenas os últimos calculados.
192
8:00 - Acolhimento
8:30 – Atividades 01
9:00 – Atividade 02
10:15 – Intervalo
10:30 - Atividade 03 e 04
12:00 - Encerramento
Com as medidas que foram discutidas nessas unidades podemos estabelecer estratégias para
explorar dados de uma única variável quantitativa:
Às vezes, o padrão global de um número de observações é tão regular que podemos traçar
uma curva suave sobre o histograma. Em princípio essa curva deve passar pelo ponto médio
do “topo” de cada coluna.
Veja a curva a seguir que representa a variação das notas de um grupo de 56 alunos de uma
escola.
É possível identificar uma regularidade no histograma: há uma simetria nesse gráfico. Nesse
caso, essa curva suave é denominada de curva normal.
A curva normal, também conhecida por curva de Gauss, tem um formato que se assemelha a
um sino. A maior concentração de valores da variável analisada é próxima da média da
população. Nessa curva, em teoria, as medidas de tendência central – média, a mediana e
moda – devem coincidir ou estar muito próximas. Esse fato é responsável pela forma
assumida pelo gráfico de frequências.
Retornando aos dados da Atividade 4 (da classe de 48 alunos), analise o histograma e discuta:
A distribuição dos acertos desses alunos pode ser aproximada por uma curva normal? Explique.
Podemos dizer que sim dada a simetria quase que perfeita existente na figura: se traçarmos uma reta vertical perpendicular passando
pelo ponto médio da base do retângulo que representa 11 acertos, podemos dizer que essa reta seria um eixo de simetria.
ATIVIDADE 4
O gráfico da curva normal pode apresentar valores mais concentrados ou menos concentrados
em torno da média. Isso pode ser observado na figura a seguir que mostra três gráficos,
construídos com a mesma escala.
A mediana, a moda e a média dessas três curvas são iguais, mas podemos observar que os
dados da curva 1 estão mais agrupados, menos dispersos em torno desses valores, ao contrário
da curva 3 que apresenta maior dispersão, ou seja, menor concentração em torno da média. Já
a curva 2 apresenta maior dispersão que a curva 1 e menor dispersão que a curva 3.
Assim, podemos concluir que a curva 1 é a que tem menor desvio padrão e a curva 3 é a que
possui o maior desvio.
a área compreendida entre a curva normal e o eixo horizontal pode ser associada à
totalidade de elementos da população analisada, ao passo que determinada parte dessa
área pode ser associada a uma parte da população, ou seja, à quantidade de elementos
da população possuidores de uma determinada característica.
199
em uma curva normal, seja ela representativa de uma população com um grande
desvio padrão ou de uma população com um menor desvio padrão, ou seja, uma curva
mais “achatada” ou mais “alongada para cima”, haverá sempre entre a média da
população e um desvio padrão acima o mesmo porcentual da curva, igual,
aproximadamente, a 34%. Da mesma forma, pela simetria da curva normal, entre um
desvio padrão abaixo e a média estará 34% da população.
Assim, podemos concluir que entre um desvio padrão abaixo da média e um desvio padrão
acima da média estão 68% de todas as observações. Da mesma forma, nos demais intervalos
de desvios acima ou abaixo da média, podemos esperar porcentuais constantes, conforme
representado na figura seguinte.
Uma equipe de biólogos pesquisou durante2 anos uma população de tartarugas marinhas. Entre
outros dados, eles verificaram que a média de massa das fêmeas é de 4,5 kg, com desvio
padrão de 0,5 kg.
Qual é a porcentagem de tartarugas marinhas fêmeas que têm
a) acima de 4,5 kg?
b) entre 4,5kg e 5,0 kg?
c) entre 4 kg e 5 kg?
d) entre 3,5 kg e 4,5 kg?
e) entre 3,5 kg e 5,5 kg?
200
Para resolver esse problema podemos utilizar o gráfico a seguir, onde constam as
porcentagens de cada faixa. No eixo horizontal, à direita da média 4,5 kg, constam os pesos 5
kg, 5,5 Kg e 6 Kg, obtidos adicionando-se respectivamente à média 1 DP, 2DP e 3 DP. No
lado esquerdo da média 4,5 kg, constam os pesos 4 kg, 3,5Kg e 3 Kg, obtidos subtraindo-se
da média 1 DP, 2DP e 3 DP.
a) Como a curva é normal, acima da média estão 50% das observações. Como a média é 4,5 Kg,
50% das tartarugas fêmeas têm mais de 4,5 Kg.
b) Pelo gráfico, 34% (0,34) das tartarugas têm entre 4,5 Kg e 5Kg.
c) Pelo gráfico, 68% das tartarugas têm entre 4 e 5 Kg.
d) Pelo gráfico, 34% + 13,5% = 47,5% das tartarugas têm entre 3,5Kg e 4,5 Kg.
e) Pelo gráfico entre 3,5 kg e 5,5 kg estão 95% das tartarugas.
Utilizando o gráfico anterior e modificando o eixo horizontal, segundo os valores dados resolver o
problema.
Em uma avaliação a média de acertos dos alunos foi 15 questões. E o desvio padrão foi 2
questões. Sabe-se que a distribuição é muito próxima da normal.
Calcule a porcentagem de alunos que acertaram
a) acima de 15 questões.
b) entre 15 e 17 questões.
c) entre 11 e 15 questões.
d) entre 9 e 21 questões.
e) entre 13 e 19 questões.
f) acima de 17 questões.
g) Abaixo de 11 questões.
Respostas: a) 50% b) 34% c) 47,5% d) 99,7% e) 81,5% f) 16% g) 2,5
201
ATIVIDADE 5
Nessa atividade propomos que você pesquise na internet e em livros informações sobre a curva
normal, além daquelas que foram vistas nessa atividade. Essas informações não precisam ser muito
técnicas com fórmulas. Pelo contrário, você poderia buscar seu histórico, sua utilização nas mais
variadas atividades humanas. Nessa busca você poderá verificar que podemos utilizar a distribuição
normal mesmo quando essa distribuição não o for – desde que o número de casos seja grande. O
teorema dos grandes números pode garantir isso, pois ele se aplica quando a amostra da pesquisa é
aleatória. E o que é o Teorema dos Grandes Números?
ATIVIDADE 6
Voltando ao problema inicial da diretora, que tinha dificuldades de compreender o relatório de sua
escola:
Analise o relatório acima no texto, reflita sobre o “relatório da escola” discutindo os significados de
cada termo e frase, como:
porque os autores do relatório concluíram que cerca de 70% dos alunos acertaram
entre 8 e 12 questões?
porque o coeficiente de variação foi de 20%?
202
8:00 - Acolhimento
8:20 – A Curva Normal - Retomada do encontro anterior por meio da Atividades 01
8:30 - Atividades 02 e 03
9:00 – Discussão e Sistematização
9:15 - Atividades 04, 05 e 06
9:45 – Discussão e Sistematização
10:00 – Intervalo
10:15 - Intervalo de Confiança e Margem de Erro
10:30 - Atividades 08 e 09
10:45 - Discussão e Sistematização
11:00 - Tipos de Amostra
11:15 - Atividade 07
11:30 – Reflexão final e Sistematização
12:00 - Encerramento
Ruy César Pietropaolo
Angélica da Fontoura Garcia Silva
Professores Doutores de Pós-Graduação da Uniban
b) inferior a R$ 3000,00
e) superior a R$ 2150,00
Atividade 02
Considerando que o peso de determinado artigo produzido por uma fábrica seja normalmente
distribuído com média de 20 gramas e desvio padrão de 4 gramas, determine a probabilidade de que
uma unidade, selecionada ao acaso, tenha peso:
a) entre 16 e 22 gramas;
b) entre 22 e 25 gramas:
Atividade 03
Em um concurso público de professores com 80 questões, a média foi de 34,73 acertos. Deseja-se
contratar em torno de 60% dos inscritos. Sabe-se que os desempenhos desses professores podem ser
modelados por uma curva normal com desvio padrão de 7,04 questões. Qual deverá ser o número de
acertos aproximado do corte? Qual deve ser a porcentagem dos que acertaram 50% das questões ou
mais?
Atividade 04
4) Suponhamos que o nível educacional de adultos de certo pais apresenta distribuição normal com
média de 11 anos e desvio padrão de 2 anos. determine:
c) o numero de adultos que se espera que tenham menos de 7 anos, considerando uma amostra de 500
adultos.
205
Atividade 05
Suponha que as notas de um exame são normalmente distribuídas com média de 76 e desvio-padrão de
15. Os estudantes que ficarem entre as 15% melhores notas, receberão conceito A e os estudantes que
ficarem entre as 10% piores notas,
a) receber conceito A;
Atividade 06
Um fabricante de baterias sabe, por experiência passada, que as baterias de sua fabrica o tem vida
média de 600 dias e desvio-padrão de 100 dias, sendo que a duração segue uma distribuição normal.
Oferece uma garantia de 312 dias, isto é, troca as baterias que apresentarem falhas nesse período.
Fabrica 10000 baterias mensalmente. Quantas devera trocar, mensalmente, pelo uso da garantia?