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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO


DISCIPLINA: CULTURA E MUDANÇA NAS ORGANIZAÇÕES
PROFESSOR: FERNANDO GOMES DE PAIVA JÚNIOR
MESTRANDA: JOICIANE RODRIGUES DE SOUSA

RESENHA CRÍTICA: CONSUMO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

RECIFE-PE
2023
Resenha por Joiciane Rodrigues de Sousa

Esta resenha foi feita a partir da seção "Consumption and its Consequences’", do livro
"Consumption and Everyday Life", de Hugh Mackay, no qual discorre sobre a realidade do
consumo, apresentando casos práticos como a arrumação de cozinha dos londrinos, ademais
as teorias do consumo, a situação dos consumidores em Trinidad, preocupações domésticas
ou nacionais, até as condições mais elevadas e gerais da economia política moderna
exemplificada pelo Banco Mundial, e ainda contrasta com questões voltadas ao marketing.
O texto tem uma preocupação com o consumo cultural e as práticas da vida cotidiana,
no qual destaca que faz parte de um momento importante do circuito cultural. Delineia-se que
o consumo não é determinado pela produção e pela base econômica, que alguns caracterizam
como determinante da superestrutura cultural, na verdade, tem-se esforço para extrair relações
entre os vários momentos pelos quais os estágios do circuito da cultura estão interligados.
É fundamental conceituar consumo, em que para o dicionário da Oxford trata-se de
"usar, destruição, desperdício, quantidade consumida", baseado em significados negativos.
Diante disso, devemos nos questionar acerca dessa conceituação, consumir é algo tão ruim
assim? Talvez o consumo em si não seja, porém, a forma como ele é influenciado e até
mesmo executado pelos consumidores deixe vestígios a serem reavaliados pela sociedade.
Assim, o termo necessidade acaba sendo extrapolado pela busca do atingimento de desejos.
O consumo torna-se o material da construção de identidades, o qual as pessoas são o
que consomem. Em termos de política, a retórica entre esquerda e direita recai quanto à
centralidade da produção na geração de riqueza, desencadeando na crítica da cultura de massa
ou produção de consumo. A Escola de Frankfurt e seus seguidores argumentaram que, a
expansão da produção em massa no século XX levou a mercantilização da cultura. O
consumo servia aos interesses dos fabricantes que buscavam maiores lucros e os cidadãos se
tornavam vítimas passivas dos anunciantes, essa realidade se perpetua por todo capitalismo.
Os processos padronizados levaram ao desenvolvimento de uma cultura materialista,
no qual as mercadorias passaram a necessitar de autenticidade, pois atendem a falsas
necessidades. Para Bordieu, o capital cultural é distribuído de modo que os grupos sociais
tenham diferentes capacidades de conferir valor cultural em bens simbólicos, que funcionam
como signos e são usados para significar prestígio, status e posição social. Logo, o consumo
não é o fim de um processo, mas o começo de outro e, portanto, uma forma de produção.
Alguns pontos principais abordados no texto referem-se ao equilíbrio entre
criatividade e restrição, relação entre consumo e produção, caráter situado das práticas
cotidianas, ampla gama de práticas de consumo, o valor dos métodos de pesquisa qualitativos,
observacionais e etnográficos e a dimensão espacial do consumo. Destaca-se que a produção é
informada pelo trabalho criativo do consumo na vida cotidiana, dada a sua natureza ativa.
Um exemplo comum do nosso cotidiano é o esforço das famílias em tornar seu
apartamento um lar, ou seja, criar algo que possa se relacionar especificadamente como seu. A
quantidade de tempo das pessoas em casa deve-se em parte a queda de emprego, em parte a
uma semana de trabalho mais curta e ainda a um declínio de sociabilidade pública, devido ao
declínio da cultura dos pubs. A pandemia evidenciou bastante essa circunstância, onde o
comportamento de consumo foi alterado radicalmente, em vista de precisarem ficar em casa.
É preciso ir além de qualquer tentativa em caracterizar o consumo como bem ou mau,
assim é preciso entender o que o consumo realmente faz e reconhecer que suas consequências
podem estar muito distantes do que é pretendido pelos grupos e forças envolvidas. No
exemplo das cozinhas de Londres, observaram-se homens mudando as cozinhas como um
presente direto para as esposas ou suas mães, em que muitas vezes foge as necessidades delas.
O mercado tem mostrado constantemente que estar mais preocupado com os lucros, do que
com o bem-estar das populações, a menos que seja forçado por forças políticas.
Para a população de países em desenvolvimento, os consumidores dos países de
primeiro mundo podem parecer materialista e hedonista, preocupados apenas em acumular
vastas quantidades de bens supérfluos que são desperdiçados. Entretanto, teorias do consumo
enfatizam um comportamento irracional similar. O movimento verde confirma a noção de
libertinagem e atua como característica das sociedades de consumo modernas, sendo um fator
com necessidade de discussão, em vista dos impactos ambientais negativos do consumismo.
A aula na Oficina Francisco Brennand contribui para a reflexão quanto ao consumo,
dado que ao mesmo tempo é um museu de exposição das obras artísticas do autor, e também
tem uma fábrica de peças cerâmicas a serem comercializadas, bem como possui uma loja de
café que serve diversas refeições, inclusive almoços. Considerando o preço elevado dos
produtos oferecidos, entendemos que o público que visita o local e compra algo, é
influenciada pela experiência da visita, em que ao vivenciar a arte sentem o desejo de levar
algum objeto que caracterize o sentimento interpretado, assim, mesmo a oficina utilizando
essa comercialização como modo de adquirir recursos para a sua manutenção, pode-se fazer
uma analogia ao que acontece em corporações puramente mercantis como a Disney.
Diante do exposto, observa-se que comprar é muito mais que fazer compra, em que
vários fatores podem influenciar o consumidor em suas decisões, como a busca de formação
da sua identidade perante o grupo no qual está inserido. Logo muitas perspectivas surgem,
como a questão da sustentabilidade, onde a própria vivência experimentada e o contexto que
estão inseridos afetam as práticas de consumo. Percebem-se críticas ao consumo da cultura de
massa, ao se entender que as necessidades são criadas pelo mercado detentor de poder.

REFERÊNCIA

MILLER, D. ‘Consumption and its Consequences’. In: MACKAY, H. (ed.) Consumption


and Everyday Life. London: Sage, 1997.

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