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Aula 011618234075
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Sou bem nascido. Menino Fui como os demais, feliz; Depois veio o mau
destino E fez de mim o que quis.
Pouco importa que tenha ou não sido assim mesmo a infância do poeta.
Para nós, que lemos seus versos, o sentimento e a vivência passam como se
fossem reais. Essa é a magia da arte literária.
O artista da palavra consegue essa magia porque sabe criar contextos
em que a linguagem revela sentidos pouco evidentes no uso cotidiano. Nesses
contextos verbais inesperados, as palavras mostram possuir outros sentidos –
conotativos – ocultos sob seu significado próprio – denotativo. Repare nos
textos a seguir: “O coração é um músculo oco, de fibras estriadas, revestido
externamente pelo pericárdio e dividido por um septo vertical em duas
metades. (...) Em cada contração do coração, o sangue é bombeado, com
certa pressão, para o interior dos vasos sanguíneos (artérias, arteríolas,
capilares, vênulas e veias)” (Demétrio Gowdak)
Ah, um soneto...
TEATRO
PROSA DE FICÇÃO
HISTÓRIA EM VERSO
Será que existe jeito de contar uma história em verso? Claro que existe:
são os chamados poemas narrativos, muito cultivados em épocas mais antigas.
Hoje, quem quer contar uma história prefere a prosa de ficção. Entretanto,
ainda encontramos bons poemas narrativos de autores contemporâneos, como
o Caso do vestido, de Carlos Drummond de Andrade.
Texto
O “motivo” da literatura
Uma literatura faz-se com obras. Porém, como distinguir uma obra
literária de uma não literária? As especializações dos saberes tornaram mais
agudas e pertinentes este problema. A química, a física, a matemática, a
política, etc., sabem bem qual é o seu objeto de conhecimento. E a literatura?
Teria ela afinal um objeto ou será que isso não é um problema de determinado
momento histórico que legitima certas formas em detrimento de outras? Vidas
Secas, de Graciliano Ramos, é literatura, sem dúvida nenhuma, assim como
tantos outros romances dramas e poemas. Nessa ótica de objeto específico do
literário, poderia se dizer o mesmo dos Sermões do Padre Antônio Vieira, da
História do Brasil, de Frei Vicente do Salvador? Mais recentemente temos de
Fernando Veríssimo, O analista de Bagé e As memórias de Pedro Nava já no
sexto volume. São literaturas? É difícil negar que não sejam.
O termo literatura, além da simples designação da bibliografia ou texto
escrito, denomina também certo tipo de obras que teriam algo em comum com
as plenamente aceitas como literárias, de caráter estritamente estético e
ficcional. Por outro lado, a indústria cultural pública tem uma enorme
quantidade de obras em que o “ficcional” predomina e que, no entanto, não são
consideradas literárias.
As agências de propaganda, onde trabalham muitos escritores,
produzem textos comerciais utilizando muitos dos recursos retóricos e poéticos:
É literatura? Diante de tantas formas de literatura o que considerar como uma
obra literária?
Para definir a natureza do literário devemos atender ao momento
histórico e seu contexto, que pela classe dominante institui os parâmetros de
legitimação do literário, à “criatividade” do escritor, aos recursos estilísticos e
retóricos do texto, ao “gosto” dos leitores segundo a indústria cultural?
Parece mais fácil para os teóricos da literatura apontar dificuldades do
que propor soluções. Isso mostra a complexidade do problema, sendo uma
forma de ir expondo a natureza do literário.
Qualquer assunto pode inspirar uma obra de arte, desde que o autor
trabalhe bem, transmita a emoção estética. As palavras estão aí, à disposição
de qualquer pessoa. Se houvesse palavras literárias em si mesmas, para
escrever um poema bastaria comprar um dicionário de palavras poéticas na
livraria da esquina e pronto! Mais um novo poeta na praça!
Porém, não há uma hierarquia de palavras: as comuns, para os míseros
mortais; as difíceis, para os professores, políticos e intelectuais; e as poéticas.
Isso não ocorre, pois todas as palavras podem se tornar literárias; o que as
transforma é o arranjo, a relação nova dada entre elas.
• O ritmo;
• A sonoridade;
• O belo e o inusitado das imagens.
A palavra
Já não quero dicionários Consultados em vão.
Quero só a palavra Que nunca estará neles Nem se pode inventar Que
resumiria o mundo E o substituiria.
Mais sol do que o sol, Dentro da qual vivêssemos Todos em comunhão,
Mudos, Saboreando-a.
(Carlos Drummond de Andrade)
Denotação e conotação