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A Odisseia de Platão (Capítulo 7)
A Odisseia de Platão (Capítulo 7)
Nos diálogos anteriores, vimos que Sócrates atingiu um método capaz de alçá-lo às Ideias;
Trata-se, portanto, agora, de objetivar (nos outros) o caminho já percorrido pelo sujeito (Sócrates);
O primeiro momento, como vimos, é aquele que parte da constatação de que não se sabe (saber que
não se sabe);
Deste passa-se a um primeiro saber positivo (o saber de si) e, daí, a uma certa ciência “essencial” de si
(um dever ser moral);
Finalmente, atinge-se a Ideia pela reminiscência da alma, conclusão do percurso que, ao mesmo
tempo, ilumina todo caminho anterior, permitindo-o compreender como e enquanto método
(dialético);
Vejamos, com Benoit, como ocorre o mesmo processo, aproximadamente com as mesmas fases, nas
diversas camadas discursivas que vão se sobrepondo e se desenvolvendo no interior do célebre
diálogo A República (ocorrido entre 410 e 407 a.C.);
Como veremos, parte-se da investigação em torno da noção de justiça, desta articula-se uma teoria
política da cidade que, por sua vez, faz irromper um programa educacional que, finalmente, permite
desenvolver uma teoria do conhecimento.
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Assim como Cálicles (no Górgias), Trasímaco irá defender aqui a tese do “direito do mais
forte”: “declaro que o justo não é outra coisa que o vantajoso ao mais forte” (p. 114);
O resultado ao final do Livro I, contudo, é aporético: apenas se sabe que não sabe o que é
a justiça;
Após esse resultado meramente negativo, como ocorrera nos diálogos de sua juventude
quando refutara sofistas, aparentemente Sócrates já iria se retirar, mas eis que é detido
por Glauco, “fiel interlocutor e amigo da justiça” (p. 115);
Glauco não aceita o resultado aporético e quer ser persuadido, de maneira convincente,
de que mais vale ser justo do que injusto.
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Sócrates diz, então, que a justiça é aquela virtude que faz com
que a criança, a mulher, o escravo, o homem livre, o artesão, o
governante e o governado se ocupem de suas tarefas e não
interfiram, de modo algum, nas dos demais;
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Sócrates dividirá a cidade justa em três partes, graças às funções que cada uma das três
castas de cidadãos desempenhava sem interferir nas demais;
A cidade justa era temperante, corajosa e sábia. De maneira análoga, para Sócrates, o
indivíduo justo receberia na sua alma essas três formas;
Nesses casos, a alma racional deve conter a parte desejante, a qual, vencida, é repreendida
pela corajosa;
A cidade era justa quando cada um cumpria a sua função, sem se imiscuir na dos outros; o
mesmo ocorre na alma do individuo justo: cabe a parte racional comandar, assim como a
corajosa obedecer. Estando ambas as partes em harmonia, governarão sabiamente a parte
desejosa.
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Mas, onde então estaria a justiça? Adimanto sugere que talvez se encontraria
nas relações de reciprocidade entre estes cidadãos;
Sócrates diz que é provável, mas que prefere aprofundar mais a sua
investigação;
Insatisfeito com tal descrição, Glauco então interroga: “se você fundasse uma
cidade de porcos, Sócrates, você os engordaria de outro modo?” (p. 121).
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Glauco então sugere que os homens vivam de maneira menos austera: “é preciso que se
deitem sobre camas [...], que se alimentem em mesas e que lhes sejam servidos manjares e
sobremesas atualmente conhecidos” (p. 122);
Sócrates reafirma que aprecia muito esta primeira cidade, mas não ousa defendê-la como
paradigma das polis;
Volta-se, portanto, a contemplar uma outra cidade com mais necessidades: leitos, móveis
de toda a espécie, pratos requintados, óleos aromáticos, perfumes e assim por diante;
evidentemente, para a produção de tais “necessidades” seria necessário contar,
adicionalmente, com diversas funções de todos os tipos;
Ora, uma cidade repleta de maravilhas precisaria também crescer, afinal, como satisfazer
tantos desejos, agora transformados em necessidades permanentes?
Seu território inicial mostraria-se, portanto, como insuficiente. Viria, então, as guerras
(para invadir e evitar também a invasão), cuja origem estaria exatamente nesse processo
de expansão que acabara de ser descrito.
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Mas, como se estivesse temeroso diante da “mais alta das vagas”, Sócrates se
desvia do assunto e se dispersa discutindo a educação guerreira das crianças;
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“Enquanto os filósofos não reinarem nas cidades, ou os que hoje chamamos reis
e dinastas não se tornarem verdadeira e seriamente filósofos; enquanto a
potência política e a filosofia não recaírem no mesmo ente; [...] não haverá
termo, meu caro Glauco, para os males das cidades, nem me parece, para os do
gênero humano, e jamais a constituição que agora descrevemos em teoria será
possível, tanto quanto possa sê-lo, e jamais verá a luz do Sol” (p. 126);
E ainda acrescenta Sócrates o seu temor anterior: “eis o que eu vacilei muito
tempo em dizer, prevendo o quanto estas palavras chocariam a opinião comum”
(p. 126);
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Uma vez atingido tal nível – que é o fim e a conclusão do percurso, mas,
na verdade, também, o começo, o princípio e o pressuposto de tudo – o
que resta agora?
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Realmente a descida será realizada nos livros VIII e IX, onde Sócrates e seus
interlocutores descreverão o processo de degeneração e decadência das cidades
humanas: timocracia – oligarquia – democracia – tirania;
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Sócrates então afirma: “talvez haja um modelo no céu para quem queira
contemplar e regular sobre [...] seu próprio governo” e concluí
parecendo não se importar com tal questão: “em nada difere seja onde
existe esta cidade seja onde existirá [...] o homem justo realizará sua
práxis somente nas coisas desta cidade e de nenhuma outra” (p. 131).
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Ora, nos aponta Benoit, lendo com atenção redobrada a República fica claro
que o quarto (e decisivo) momento deste logos fica sempre vislumbrado,
apontado, mas mergulhado na indeterminação;
Sócrates, por sua vez, afirma que gostaria muito de realmente descrevê-lo, “mas
temo que ultrapasse as minhas forças e, caso tenha coragem de tentá-lo, seja
coberto de risos por minha inépcia” (p. 133).
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