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NUCLEO DE OIREITOSINDIGENAS EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA V4RA DA SECAO JUDICIARIA DO DISTRITO FEDERAL. = (Que MRA DSA BSCURINKD ? Que did ase ho, opal? coe ia pa naar? ce wa desea escurdio? bem seri alee? or tarda ou miral? © puntal fre 0 corso ‘ eeneno eorse oanef0 quers saber, assem mater ope frente eam suer0 eee seus, fenao for perder mes mn 2 Serumunco & Biyp ou eu cose cu ie dest opr ‘ris exc sem agile asi men de pes plo rans bo, ir ina fea aerars qu et eer coma segsedoe que nto contre peavost garantida pela Coustituigdo Federal, Art. 232, representada, segundo seus usos, costumes e tradigiies por seu Chefe Aké Panard, brasileiro, casado, indigena, residente e domicilindo iradicionais da Comunidade Indigena supra citada, localizadas na regifio do Rio Peixoto de Azevedo e cabeceiras do Rio Iniri, estados do Mato Grosso e Para, vem, por intermédio dos seus advogados abaixo assinados (instrumento pblico de procuragao e subsiabelecimento inclusos - Docs. 1 e 2), que receberfio intimagées e notificagdes em seu ___gsetitérig uo SHIS, QI 11, Bloco K, Sobreloja 65, nesia capital, progor a presente ACAO ORDINARIA DE REPARACAG DE DANOS MATERIAIS E MORAIS SHIS QE 11 Bloco K Sobreloja 65 Fone: 245-2439 / 248-5412 Fax: 243-6420 ‘CEP: 71625-500 Brasilia DP 1 NUCLEO DE DIREITOS INDIGENAS contra a Unako FEDERAL e a FuNDagAo Nacional po [npto - FUNAL, a primeira a ser citada por intermédio da Procuradoria da Unidio, no SAS, Quadra 2, Bloco E, Ed. Siderbris, 3° andar, nesta capital; e a segunda, na pessoa de seu Presidente, em sua sede no Edificio Lex, sito no SEP, Quadra 702 Sul, 3° andar, Brasilia, pelos fundamentos de fatoe de direito a seguir expostos. 1-DA CAPACTDADE PROCESSUAL A. Const R organizagées, capacidade processual para postular judicialmente em defesa de seus & ‘tos ¢ interesses. E oAzt 232 do texto constitucional que atribui-lhes esta canacidade: "Os indios, suas comunidades ¢ organizagdes stio partes Iegitimas para ingressar em Juizo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministerio Publico em todos os atos do processo" Desta forma, possui a Comunidade Indigena Panara, neste ato ovy pelo chefs Aké Panara, plena capacidade para Il- DA COMPETENCIA DA JUS {ICA FEDERAL NO DISTRITO FEDERAL £ a Justiga Federal competente para processar e julgar a presente Ago, de acordo com o Art. 109, incisos I e XI da Constituigio Federal, abaixo transcritos: "Aos juizes federais eompete processar e julgar: I - as causas em que a Unido, entidade autérquica ou empresa piiblica federal forem interessadas na condigdo de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de faléncia, as de acidentes de trabalho e as sujeitas 4 Justiga Eleitoral e a Justiga do Trabalho, SHIS QU 11 Blooo K Sobreloja 65 Fone: 248-2439 ( 248-5412 Fax: 24846420 CEP: 71625-500 Brasilia DF INET | NUCLEO DE DIREITOSINDIGENAS XI- a disputa sobre dircitos indigenas.” No caso em tela, trata-se de feito contra n Unio Federal, aonde, além disso, manifesta-se claramente a disputa sobre direitos indigenas. ‘Ouirossim, opiou a Autora por propor a presenie Acdo perante uma das Varas da Justiga Federal no Distrito Federal, circunstincia a que esta expressamente autorizada pelo parigrafo 2° do mesmo art, 109 acinaa eitado "As vausas intentadas conua a U seco judiciaria em que for domicii houver oeorrido 0 ato ou fato que dee o: esteja situada a coisa, ou, ainda, Distrito F snossos} poderio ser aforadas na @ Autor, naquela onde rigem 4 demanda ou onde ‘ederal {que estudou os Panara e que chegou a essa conclusio com base em ‘ocabulaios recolhides por Auguste Saint-Hilsire e Johaun Emanuel Pohl. 03 quais estiveram 20 Brasil em meados do seculo passado, no aldeamento de So José de Mossamedes, na antiza provincia de Golds (Richatd Heelas, Dissertacdo de Doutorado intitulada “The Social Organization of the Panara, a Tribe of ‘Central Brazil”, paginas 353-354, apresentada ao St. Catherine's College, Oxford University) - Os Panara sdo integrantes da familia lingitistica Gé Setentrional. io mais conhecidos pelos nomes Krenakore, Kreen-Akarore ou Krenhakore, que thes foi atbuido pelos indios Kayapo e que significa “eabeca cortada redonda”, o que guarda relago com o modelo de corte de cabelo tradicional destes indios, realizado de forma arredondada. Panara € como a propria Comunidade se auto-denomina, nome este que significa “gente” (Dissertagdio de Mestrado de autoria de Odair Gitaldin, intitulada “Cayapé SHIS OL L1 Bloco & Sobreloia 65 2439 / 248-5412 Fax: 248-6420 ‘CEP: 71625-500 Brasilia DE NUCLEO DE O'REITOS INDIGENAS @ Panara - Luta e Sobrevivéncia de um Pow”, apresentada ao Departamento de Aniropologia da Universidade de Campinas, em janeiro de 94 « Doe. 3), As terras tradicionais da Comunidade Indigena Panara se estendem da regitio do Rio Peixoto de Azevedo as cabeceiras do Rio Iniri, nos estados do Mato Grosso e Para. Os Panara tradicionalmente tetiram toda a sua sobrevivéncia de suas ferras, onde realizam as mais diversas atividades, tais como pesca, caga, agricultura coleia, de acordo com os seus usos, costumes ¢ tradigdes. A organizagiio social dos Panara esta baseada na existéncia de clas familiares, onde a sucessfio se fiz pela linha matema (sistema matrilinear), sendo os casamentos realizados entre diferentes clas (sistema exogamico). Na distribuicio espacial das aldeias Panara, esses clas se localizam em sua periferia, situando-se no centro a Casa dos Homens, lugar onde se dio os acontecimentas de natureza politica e mlisiosa Conkenidos snmo sranclag dliziniados nos anos 70, softendo enorme diminuiggo populacioual em raz30 do eonato violenio e dos traumas decorrentes da remocdo forgada de seu temitorio. Hoje, a reins, os Panas foram gnase Comunidade se tecupera, contando com cerea de 154 integrantes. Essa Acio tem por objetivo abter a separagdo dos danos materiaise morais causados a estes indios, como passamos a relatar a seguir. Ale que se realizasse © contato oficial com os Panard, na década de 70, varios foram os informes dando conta da existéncia dessa Comunidade Indigena na regiiio do Rio Peixoto de Azevedo/Cabeceiras do Rio Iriri, Em 1950, os inmaos Orlando e Claudio Villas Boas, realizando trabathos de reconhecimento daquela regio para o governo federal, avistaram oito aldeias dos Panara (informagdo contida na obra do Antropélogo Skelter H. Davis, intitulada “Victims of the Miracle”, pag. 69, 1971. London: ‘Cambridge University Press). J em 1961, 0 gedgraid inglés Richard Mason foi morto por indios, quando participava dos trabalhos de localizagio das cabeceiras do Rio Irir, feitos em eonjunto pelos governos inglés e brasileiro, Esta morte foi atribuida aos Panara em fungio de terem sido encontrados no local, flechas e bordunas identificadas como petiencenies aquela Comunidade (informagaio contida na obra “Red Gold: The Conquest of the SHIS QI11 Bloco K Sobreloja 65 Fome: 248-2439 / 248-5412. Fax: 248-6420 (CEP: 71625-500 Brasilia DF 4 NUCLEO DE DIREITOS INDIGENAS. Bruilian Indian”, Southampton: The Camelot Pres: Heroming). Ltd, 1968, de autoria de John pou Em_1% da Base Aerea do Cachimbo, do Ministerio da Aeronautica, localizada ua Serra do Cachimbo, nas cereanias de sua area tradicional. O destacamento militar que guamecia a base se assustou com a presenga dos indios e disparou tiros em sua diregao. Além disso, ‘um avigo sealizou woos rasantes sobre os mesunos. [ss0 fez com que eles fugissem para a mata, evitando a partir dai qualquer nova tentativa de aproximagio com os tinicos nio- indios que entio existiam naquela regio - os militares da Base do Cachimbo (Informagio contida no artigo “A Técnica que atraiu os Kreen-akaroe”, publigndo pela Revista de 19795. TATO OFICIAL © contato oficial com os Panari 56 veio a acontecer no inicio da motivado pela necessicade ce se afastar qualquer embaraco 4 constfucio, da que Higasia de.Cuisha (ET),a Sanfarém (PA). Essn_ . construidt por iniciativa e responsabilidade da Ré Unio, dentro do conjunito de slyus igdoyidras previstas polo Plau: micis 0 testiterio de o-upagio fadiciane? Pure-eonsolidas contsto, a Ké Uniao monfow unia. grande expedi¢do (denominada oficialmente de Frente de Atragdo do Rio Peixoto de Azevedo) chetiada pelos irmaos Claudio e Orlando Villas Béas, que se embrenhou nas matas da fo do Rio Peixoto de Azevedo ¢ cabeceiras do Rio Irin, com o objetivo de contactar os Panara. Buscava-se estabelecer relagdes amistosas com os indios, evitando, com isso, que eles pudessem impedir ou atrapalhar os trabalhos do 9° Batalhto de Engenharia e Constragiio, do Ministerio do Exercito, responsavel pela construedo da BR-163 (Doc. 4). , 0 trabalho da Frente de Atragiio, que comegou no inieio do ano cle 1972, alcancou resultados apos 382 dias de busca acs indios, quando. em 04 de fevereiro de 1973, os Panara se aproximaram do acarppamento da Frente e roantiveram contato com os irmios Orlaxdo e Claudio Villas des que thes eram oferecidos facdes, panelas e outras quinquilharic SHIS QI 11 Bloco K Sobreigja 65 Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax: 245-6420 CEP; 71625-S00 Brasilia DF ‘Zos_Panard.apareceram sepentinamente.na pista.de pouso. NUCLEO DE OIREITOSINDIGENAS, As atividades da Frente dp Atragdo receberam, época, ampla cobertura dos meios de comunicagio (principalmente da imprensa), devido a divulgagaio de qpe se tratava de indios com uma esiatura enorme (“os indios gigantes”), como tambem a0 fato de imeressar ao governo federal, naquele momento, difundir a imagem de nosso pais como efetivador de medidas pratieas de proteydo as Comunidades Indigenas [vide “Dossié Panata (Krenakore) Imprensa” - Doe. 5] Com 0 contato ¢ a abertura da BR-163, que ligaria as cidades de Santarém (PA) a Cuiabi (MT), iniciou-se um proceso acelerado de ocupagiio dessa regido, criando-se os primeiros municipios (Guarant, Peixoto de Azevedo, Matupa, Alta Floresta, Sinop efc.) ¢ instalando-se ali empreendimentos econdmicos como fizendas, serrarias e garimpos, AAcontece que, pasads a euforin difineid getos a) comunicagiio em fondo de terem sido contactados 05 Krenakarore (Panara), que 03 tomou coaheeidos em-todo 0 pais, indios aps terem estabelecido relagdes com a nossa sociedade. Os Panara, que de inicio pareciam fascinados com os brindes ofertados pela Frente de Atrago, passaram a wagir viotentamente 4 ocupagio de suas temas, que veio imediatamente apos a abertura da estrada. HA registros de varios incidentes envolvendo os indios ¢ os trabalhadores que construiam a BR-163, evidéncias as suas {éptalivas de afustar og estrathos daquele i Pauly a potieo, porgrs, foram: perdendo a capacidade de opor resisténcia a0 contato indiscriminado, abatides por doengas lel das, come. VI-A TRAGEDIA DO C ‘ATO - AS MORTES Para que se tenha uma exata nogio das conseqdéncias para os Panari advindas do contato havido, € preciso que se desoreva rapidamente a situagio daquela Comunidade Tadigena até a ocorréncia deste fato. Dados levantados pelo antropologe inglés Richard Heelas (obra ja citada), indicam a existéneia de pelo menos dez aldeias dos Panard até ocontato. Bram elas: 1. SONKANASAN - Localizada entre as cabeceiras do Ribeiro Peixotinho Primeiro (na lingua Panara, chamado “Nampin Ayénti) e as cabeceiras do Rio Iriri (“Nansepotiti”, na lingua Panard), no lado oeste do sopé da Serra do Cachimbo: SHIS QI11 Bloco X Sobreloja 65 Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax: 248-6420 CEP: 71625-500 Brasilia DF 7 6 NUCLEO DE DIREITOSINDIGENAS SONSENASAN - Localizada proximo “ao Ribeisto Peixotinho Segundo ¢-Tutumaper", na lingua Panart), nas coordenadis geourpticas a 54°20" oeste -)OE1S7 sul, 4I¥ - Localizada ao sul do Rio Peixoto de Azevedo, nas coordenadas geogrficas aproximadas de 55°20" ceste ¢ 10°25" sul, proxima do Rio Brago Dois; 4. YOPLINTONONYOINKO - Lecalizada pr Rio Peixoto de Azevedo; ima a akleia “Yopuyupaw”, ao sul do 5. PATSUPERI - Localizada proxima & ur su leste do Rio Nhanci, nas soodsnadas 6. KYAUNAKYE - Localizada na mesma coordenada geogratiea da aldeia “Patsuperi”, ealivo Rio Biayo Norte ¢ o Ribeisdo Peixotinho Pisucky, : INKUIPG ~ Localizada proxima da margem oeste do Rubeirio Peixotinho Primeiro. na coordenada geograiica 10°sul. 8. SUPUSAR4PERI - Localizada ao sul do Peixoto de Azevedo; oTacaie do Rio Int cujo none indigetia € o mesm> dos Panari. quando do contaio, foi estimada pelos integiantes da Frente de ‘Auagho comp sendo de, no minimo, 210 pessoas (Doe. 6). Ja 0s _que realizaram estudos sobre aquela Comunidade, apresentam nimeros 0 (minimo) e 600 pessoas (dados levantados ela aniropalowa.Slenhan Schwaibran, autor de-“The-Panart of the. Xingu i Park: The Tiansformation of a Society”. Doctoral Dissertation. University of Chicago) Pois bem, como conseqiéncia do contato e da consimugiio da estrada 4 que ja nos referimos, desencadeou-se um relacionamento indiscriminado dos Panart com os intezrantes da Frente de Atragao e com os twabalhadores empregados nas obras da BR- SHIS QI 11 Bloco K Sobraloja 65 Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax: 248-6420 ‘CEP: 71625-500 Brasilia DF NUCLEO DE DIREITOSINDIGENAS: 163. Isso, sem que medidas efetivas de protegdo 4 side dos indios fossem adotadas pela Res FUNAL e Unido, responsaveis, respectivamente, pela realizagdio daquelas atividades Ora, jd naquéla época era por demais sabido pelas Rés que a providéncia mais importante, quando contatando comunidades indigenas até entio arredias, era juslamente o esiabelecimento de medidas que inibissem o aparecimento de doengas, ainda que as mais comuns - como gripe, catapora ete, as quais se tomavam letais 0s indios, cujo sistema imunologico nao estava preparado para delas se defender. Como nenhuma providéneia foi adotada, os Panard comegaram a adoecer em massa, com o surgimento principalmente de surtos de gripe, malaria e diarréia (causada pela introdugaio do agucar, até entio deles desconhecido). © contagio dessas doengas era sobretudo facilitado pelo constante deslocamento dos indios de suas aldeias até as margens da BR-163, a qual, logo apss 2stbslecido 0 contato eam a Coninidada, #4 comegou a ser trafegada por Onibus e caminhOes, que traziam levas de migrantes para ecupar a regitio do Rio Peix 0s othos do pais come o mais uovo eldorado, pronto a satistazer os sonhos de riqueza de qualquer um. 0 de Azavads, antig apease ‘Assim, sem nenhum tipo de assisténcia ¢ protegéio, os indios foram morrendo ds dezenas, numa agonia lenia e silengiosa, que, por sua vez, nfio mereceu dos meios de comunicago uma mengao sequer, E obvio que nfio interessava a ninguém divalgar informagSes que pudessem comprometer o que fora anteriormente propagado, ov _ soja, que no ealatcleces felagbes Com os Panes, oF: fevestida do mais alto carter humanitri, pois estendia 0 seu manto de proteciio aqueles Jos ca cemmmhfio nacional. Seria imperioso 6, ja mencionado). vu S PROVAS DA TRAGEDLA As tragicas conseqiéncias advindas do estabelecimento do contato para os Panara eneontramt-se registradas em diversos documentos oficiais, da lavra de servidores da propria Fundagiio Nacional do Indio - FUNAI, conforme descreveremos a seguir. No Doe, 06, jd mencionado anteriormente, 0 sertanista Fiovello Parisi, encarregado da Frente de Atrago Peixoto de Azevedo, apresentou a FUNAI, em (05/03/75, um Relatorio sobre a situagio dos indios Panara, Tal documento contém um SHIS QT 1} Bloco K Sobreloja 65 Fone: 248-2439 / 249-512 Fax: 248-6420 CEP: 71625-500 Brasilia DE 8 NNUCLEO DE DIREITOSINDIGENAS topico especifico intitulado: “Micragdes & REDycAo DeMoGRAFICA aPOs 0 CONTATO ATE TRANSFERENCIA”, onde o encarregado da Frente de Atragdo afirma o seguinte: “Em 1973 houve sensivel reduedo nas aldeias de Tupayuron (norte) e Lobe- yurporé (sul), esta vez por causa de “sonkiude” (doengas) prineipalmente gripe e diareia ...”. “Em fins de 1973 os Panara totalizavam-se entre 110 e 115, enquanto que, 08 grupos da aldeia Norte (que ja passava a maior parte do tempo na F.A. - Frente de Atragdo}) ede Tnfiorankié ja eomesavam a ser comtrolados quanto a doencas, inclusive com aplicagao de vacinas o grupo da aldeia sul, ainda ndo visitada ficava cada vez 1 ira de 1974, feloooa am na ahela Ne “Em fevereiso de 1974 ao chegarmos F.A., visitamos a aldeia Norte onde encontramos somente 3 malocas pequenas ¢ varias sepuluuras, a maioria no caminho que levava a F.A.. Os 25 Panara, que restavam da aldeia Norte -‘ vinham até a FLA. pedir socorro a maior parte doentes, alguns em estado grave.” "Em fins de abril-maio, com a enchente catastréfica que paralizou aF.A., a situagio saiu de nosso controle, o lider Yakil que se encontrava na BR 163 _. com, sua, familia (6) ¢ que causou nefasta reportagem, contrai aripe, ° repreasendo # Inkionta'cié transmitiu-n aos damais, Faloceiam 3 inclusive “Yalu. Os outeos todos “Quando. consegui Peixots igragas a ajada da FAD que desfooon um n evita Bufo ¢ 03 wna embareagZo gam motot de pope) © chegar a BR 163, j4 havia falecido s inn, to dia seguinte con: a chegada da EVS, a situagao estava novamente controlada. Houve somente um obit, Sanko um dos mais altos, que em coma fugiu para o mato e encontrado alguns dias depois, morto. Armuther e filho de Yakil, apos a morte do lider, mudaram-se para a aldeia Sule la faleceram, provavelmente de gripe. Em fins de Maio conseguimos retirar 0 grupo de Inkiorankié da BR 163 para a F.A. totalizando 70 silvicolas ali residentes. Em junho a convite dos Pansara foi visitada a aldeia Sul, foram encontrados. duas sepulturas recentes ¢ dois doente graves, Havia trés malocas e 28 Panrara. Néste més houve quatro obitos, um de acidente (afogamento) e ués de doengas, dos quais, un em Cuiaba Em julho, a frente de trabalho da rocovis da Indeco, entrou em coutato com os membros da aldeia Sul, os qusis conteaizam gripe, faleveram trés, entre © lider Sungakapan. A equipe de socorro retirou o restante do grupo SHIS Q1 11 Bloco K Sobrefeja 65 Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax: 248-6420 ‘CEP: 71625-500 Brasitia DF 9 NUCLEO DE ORETOSINDIGENAS para a cachoeira do korokoké, ondg estava se insialando a nova F.A. ji se encontravam ja 25 Panrara o restante tinha ido para a Aldeia Norte onde ainda havia muita plantagao, sobretudo bananas e baiatas. Em Agosio, quando fomos com o grupo do Korokaké para a aldeia Noxte, afim de abastecer de bananas e batstas, e apanhar mudas para plantiv, nao encontramos mais © grupo que IA residia, mas sim quatro sepulturas recentes” “Momen um indio que desde Jutho estava em Cuiaba em trtameato, suspeitamos tenhia contraido tuberculose. Em Novembro, acabado de instaiar a nova F.A. e planiagOes, a equipe foi determinada a se deslocar para a BR 163, afim de retirar os silvicolas que ali se encontravam, porem sem exito. Em Dezembro o grupo de Korokeko, quase que abandonado descontrola-se, avendo duas mortes violentas, ¢ #2 estrada tum indio mosre de snetmania, Ao firm de 1974 os Panrart estavam reduzidos a 82 Em 12 de ieneira de 1075, 70 foenm trans _ Nacional do Xingu).” 5 pao PN. Parone Ou seja, 0 relaiério, aciga parciaimente transerito, demonstra 4 saciedade o pesadelo em que se transformou para a Autora o estabelecimento de relagdes com a nossa sociedade, E o proprio relatorio que afirma terem sido os Panira uma Comunidade formada por, ub minis, 216 indo 8 sogtalo, afsstands ainds, que Rae ee 1ss0 significa, que, de acordo com os dados offciais, morreram durante 0 periodo do contato um total de 131 indios, mais de 50% da populagio da Comunidade, Em sua maior parte, as mortes ocorreram em razto de doencas que se afigueam aparentemente banais para a sociedade brasileira, em especial gripe e diarréia, mas que para a Autora, em face da inetiria das Rés em prestarem-lhe o atendimento necessario, acabaram por provocar tum verdadeiro genocidio. © que € mais grave € que os dados oficiais, tanto no que diz respeito 4 populagiio dos Panari no momento do contato,, quanto ao registro dagueles que morreram durante tal periado, pecam por ndo serem totalinente precisos, deixando a Gesejar um retrato real da situago da Autora naquela ocasiao. Por isso, a Comunidade Indigena Panari realizou, por coma propria, extenso levantamento entre os seus integrantes, num trabalho doloraso e penoso com vistas a relacionar os nomes, as idades, os cliis e 0 sexo daqueles que faleceram por SHIS QI 11 Bloco K Sobreloja 65 Fone: 248-2439 /248-5412 Fax: 248-6420 CEP: 71625-500 Brasilia DF 10 NUICLEO DE OIREITOS INDIGENAS doengas contraidas no perfodo do contato. O resultado deste trabalho ¢ ainda mais tragico do que 0 consiaiado pelos dados oficiais: morrernm, a0 todo, 175 indios entre homens € mulheres, principalmente adultos, provocando uma total desestruturagio social dos Panara, de consequéncias igualmente graves ¢ que se fariam sentir logo. adiante,como veremos, Abaixo, relacionamos os nomes tfos 175 Fanari que momreram, em contormidade com © levantamento produzido pela Comunidade, indicando ainda sexo, idade e os respectivos clis, categorias basicas do sistema social Panara, De antemio, vale esclarecer que os cls Panard so quatro: Kwasdtantera (Kso); Kwakyatantera (KK); Kiwésitantera (Ksi) e Krendwantera (Kr). Na relagdo que se segue, esses clas esto indieados pelas abreviaturas acima apontadas Relagio dos Indios Pamara Falecidos por Doenpas Epidémicas, 1973 «1975, tut regito do Peinoto de Azevedo, aioe : 7 fy, - a kee ¥ ke 2 esi. wk iso kk 15.Paatoena 3 so 16.Payakriti M kk ATP Mt kk 18 Paatoti F M ks 19Pa'si M 3 aePet —™ : wo 2 . M kso 22.inkowar M wk 23.Pekreva M ‘eae 24,Kiantinakriti M ° bso. 25.Pekre M ir 26.Sarps M kk SHLS QE 11 Bloco K Sobrefoja 65 Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax: 248-6420 CEP: 71625-500 Brasilia DF ul Mt M M M M M M M M M M M M M M M 43. Yakyo ou Yakil M 44'Sank6 M 45 Nase M 46.Konisit © M aTdt M 48.Sannkona ~ M 49. Haya cnianaeed 50.Sungakapan M SL¥ext M - ai ko EEPEETT TLR RO TE 70.Tonsaryase pi 7 M ‘7ATonsaryase pa M 72.Yokri pit M 73.Y0k pa M¢ 74Psakya, M : ‘75.Kupamatta M SHIS QI 11 Bloco K Sobreloja 65 Fone: 248-2439 /248-5412 Fax: 248-6420 CEP: 71625-500 Brasilia DF 2 76.Swakaroa ‘71 Pasipen 78.Kontoupen ‘79.Peya pi 80. Aeutiva 81. Krekake 82. Kakrekran 83.Kwanko 84.Sekyast 85.Nam6 86 Paime pa 87-Kekouta 88.irmio gémeo/S7 89.Sartakriti 90 Hayipati Pigs DUKA 93.Pakren 94,Kupoa 95.-Kyati 96Kotir 97-Paapen - 98 Pakyana 99.Kéte ee 105.Namprakyit 26 Rast = 112 Peyokin 113.Kyeinkya 114 Puuks 115.Payakeri 116. Penk 17.Wayansi AHS. Swaapiow- 119.Seware 124.Yeukya ee NUCLEO DE DIREITOSINDIGENAS 20 10 KEERE M 35 7 ~~ 354 33< 35< SHIS QU11 Bloco K Sobreloja 65 Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax: 248-6420 CEP: 71625-500 Brasilia DF 13 erray kr so ik Ke ke kk so. kr be i kx kr ke Kk wk ksi BEE en, | NUCLEO DE DIREITOSINDIGENAS. E 356 kk 126.Karkya F 30 ir 127-Kyewakou F a5 Ke 128.Mépea F 05 ke 129.S6wa F 15 kk 130.Seatun F 06 kk 1BLRyonksi F 35 kr 132.Snkze F os ksi 133.fakre E 03 kr 134.P6sonasa F 07 si 135, Wait F as kso 136Sakonda F 20 bs 137. Kyat F 30 kso 138 Saryase F 30 ko 139 Prasona F kk 14. Kwaaya F te 141 Hakyen F a 142. Sakon6a pri F be 143 Kook wn F & 1.44 S6yanke F ir g ir F ke F ks F kso 149.Kotinampia F 1 kk 150.Penyokid pit F so 151 Swapion pri F i i ef “ rk os H ee fe F os ksi eee _ A sake ksi F Ameses kr AS7.Kyutae pa F a so 158 Tonsaryase pa F 2 Ko 159-Tonsaryase pa F 03 io 160.Sinapoys F 2 kr YeLSaako F on & 162-Kiepati pa E natimorto i 163.Kiepitti pa F . tr 164.Somakyara F 4 ik 165. Twaaoya pa . F 03 kk 166 Twastoy0 pd F 05 ik 167 Siprempa F 30 ik 168. Takyun 7 F 30 kk 469 Sots F os kso 170.Yopasé F 30 so iL¥om ro* S meses kso 172.Penpaaps F 02 ko “ 173.Panyopen F 0s bso SHIS QI 11 Bloco K Sobreloja 65 Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax: 248-6420 ‘CEP: 71625-500 Brasilia DF 4 NUCLEO DE DIREITOSINDIGENAS 174.Keapouma F : BS ep 175 Popampitt F 08 kso 176 Potakwan F 35 ko —-Observese “que “estasinlimmcdes-foram : levantadas “na -aldei Panari, entre os dias 21 25 de novembro de 1994, extraidas prineipalmente do chete Teseya, e das senhoras Sarkyarasa, Kyotakriti, e Swakie, mulheres velhas, com o auxilio do autropélgo Stephan Schwartzman, que fmcionou como intérprete As idades aponiadas sto aproximadas, Os Panara néo sabem contar de forma precisa, e a elassificagdo da idade espellia-se nas classes de idade wadivionais, ou por comparagdo com pessoas couhecidas. © simbvlo "35 <" quer dizer "acima de 35 anos” e representa uma estimativa da idade das classes de idade dos velhos (tuputtin, no idioma Panar’} e velhas (twatun). O eritério para atingir essa classe ¢ ser av6 ou avo. ou seja, awe os seus filhos teuham filhos - assim é feito! SO AIRES GUulos ious 2 no *9 tliks de fuk fitha de fuiana” (como por exempio "Kwakritasari pa”. "o filho da Kwakritasiri"), quando © informanté no lembrava o nome do morto, ou nos casos de eriangas que de receber nomes, Também foram meneionadas algunas criangas com nomes de adultos ainda vivos. Nesses casos, a crianga costuma serchamnaca "fulana pequena” (por exemplo, "Swapiou pri’, ° 151), tratando-setambem de ilhos mertos de pais vivos, ~ “To endo quadse de satde © desagregacto deplordvel, em 1974, Unito Fedeval interditou uma pequena dea entre a estrada e o Rio Nhandu (decreto n° 71.904 de 14.03.73 - Doe. 7), a Tim de facilitar os trabathos de atragto. Construiu ali uma nova aldeia, um pouco mais distante da estrada, com o infuito de desiocar os indios para a. Esta, porém, continuava suficientemente proxima da estrada, propiciando seguidas idas ¢ vindas dos indios. Por isso mesmo, a providéncia nifo serviu para afastar os indios do problena, tendo os mesmos inclusive continuado a habitar as aldeias originals que foram snclutits ist auenlipo, decade avessavamn 2 BB-182. A mente passara ewes Fig sobue Os ts Em 1) de janeiro de 1975, quando ja apenas 79 integrantes da Commiidade Panara sobreviviam, as Rés os colocaram em dois avides da Forca Adrea Brasileira (FAB) e, literalmente, os despejou nw Parque Indigena do Xingu. SHIS QI11 Bloco K Sobreloja 5 Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax: 248-6420 CEP: 71625-500 Brasilia DP Wen NGCLEO DE DIREITOS INDIGENAS IX - A VIDA NO XINGU YOVAS MORTES — MUITO SOFRIMENTO 2 ngu famintos, todos portando malaria, ‘completamente anémicos e infestados de parasitas. O planejamento-para revebé-los no Xingu consistia na mera plantagdo de uma roga de milho e construgéio de uma casa na aldeia dos indios Kajabi. Deixados nessas condigdes, ao final de dois meses, outtas cinco mortes eram sentidas, deixando um total de apenas 74 pessoas Peixoto de Azevedo chegaram ao Parque do > Ainda no final de margo, como estavam passando fome na aldeia dos Kajabi, as atitoridades do Parque resolveram transferi-los novamente, darla feita, baie x 3 houvesse ai eimenta o aunblente era extrema . res Panaré foram cbeigndas « com indios Kayapd, que passaram a manter 0s Panard quase que como sous escravos Ademais;a situagao de sade continuou preciiria, tendo momtido outros cinco Pane - Em outubro daquele mesmo ano, apés dificil negociagiio, os Panara foram removides daquela aideia. Isso custou-thes, porém, algumas mulheres e criangas, que foram forgados a deixar com os Kayapd. Naquele momento, os Panara ndo eram, senso 69 pessoas (Nale gsi tras is de sng pserilg pal ‘Marcopito, publicado na Revista de ‘atualigade Indigena, Ano IV, n° 19, nov/dez/1979, cditnts pala PUNAL, onda, na_gnolidede de invegmnte dda equipe de sade da Escola Path Universisiade G2 sto Paulo, que acompanhou os indios Panari quando da sua chegada ao Parque do Xingu, atesta a veracidade do afirmado aciina “Entre as mutheres nao havia nenhuma grivida e, entre as criangas, muitos orf%ios. Formavam todos um grupo jovem, a grande maioria com idade estimada inferior a 30 anos, Os famosos ““indios gigantes” nao eram. anuito mais altos que a média geral do indio brasileiro: 168 em mediam os, homens “adultos e 156 cm as mulheres. Muitos estavam bastante ‘emagrecidos ¢ a grande maioria apresentava-se-anemiada-¢ poliparasitada; todos eram portadores de malaria. Os dentes, muito bonitos e brancos, ainda desenhavain sortisos: dentro do Parque estavam a salvo do perigo imediato da extingdo, Os Kxpen-Akarore, porém, apenas comeravam mais uma ctapa de suas vidas, (alvez nfo muito menos pentosa que as precedentes, SHIS QI 11 Bloco K Sobreloja 65 Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax: 24846420 CEP: 71625500 Brasitin DF 16 Wey NUCLEO DE DIREITOSINDIGENAS A intenedo era boa. Para se ambientarem a0 Parque, os Kreen- Akarure ficariam tutelades por uma funilia Cajabi da cabeceira do Rio Xingu, que lhes havia preparado rogas ¢ casas. A experiéneia, porém, ndo __-_ Pade durar mais ave alguns meses: as Aguas do grande rio eram caudalosas demais para aqueles “grumeies” e, sem peixe, quase nenhum alimenio Fesiou nas Topas que nem eram suds. Estrangeizs sdquela terra, os clas tradicionalmente rivais tiveram que ‘coabitar em casas ja preparndas sobrando pouca unido para dividir a dor. Eia a estagio das cheias. atingindo a malaria o seu maximo de transmissaio. Conheceu-se nessa fase ‘© maior indice de mortalidade que os Kreen-Akarore experimentaram apos a transferéneia para o Xingu (fis. 41 do artigo, cujo inteizo teor encontra-se em anexo - Dos. 8), ‘As 30 orton conadas jo Pare do ingnasouteenun ene os bythe TTF a da dascrigto tainuci dos fatos feta pela antropdloga Ana Gita de Oliveira, dos quadros da Fimdagio Nacion: do Indio - FUNAT, designada para realizar o “Relatorio de idemificagdo e Delimitagio da Terra Indigena Panaré”, do qual transcrevemes o que se segue: ec mulher grévica OMfereopito - 1979: 1, Fevaan ete ee pera” idesa Kayahi. Prepori ©) antropologo Heelas noiou, em 26 de fevereiro de. ““quase todos os Panara estavam sofrendo de malaria, de gripe, de pneumonia’ ou de varias doeneas ao mesmo tempo ¢..J, durante os primeiros dois meses na aldeia nova, morreram cinco, deixando um total de 74 pessoas.” (Canta de R. Heelas para Olympio Serra 13/04/75). A roa plantada para os Panard se esgotou em seis semanas e eles comegaram a “Os Panari ficaram extremamente desmoralizados e tigm voltar 20 Peixoto (...,” (Heelas -1979:18). S, towne * enstevides para a aldeia Kayapo do Kretive, inimigos tradicionais e ferozes. Muitos dos Panaré presentes javiam perdido parentes proximos no ataque Mekragnoti Kayapé a aldeia Panart de- Sonkanasi em. 1968, Mayspo, inversamente aos Panar inhatn mais homens do que mulheres, fator este determinante na politica Kayapo de incorporagdo dos Panaré. Segundo o testemunho de Heelas, o SHIS QU11 Bloco K Sobreloja.6s Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax; 248-6420 CEP: 71625-500 Brasilia DF WF hos anesmos me Azevedo: Nome e NUCLEO DE DIREITOSINDIGENAS ritual ¢ as ceriménias Panard foram ativamente desincentivados. “O proceso de intepragio e a repressdo da cultura foram acompanhados por uss aumento de doengas € apatia entre os Panari.” (Heelas - 1979:19, No Kretire ainda morreram mais cinco pessoas Em Outubro de 1975, durante uma epidemia de gripe, os Panant mudaram novamente, deixando, porém, sete adolescentes com os Kayapo. Permaneceram por um més ito PJ. Diauarum sendo tratados, seguindo depois para a aldeia Suyd.” @ags, 31/32, Inteizo teor do Relatorio de Identificagiio se encontra em anexo, Doe. 9). Sexo Inde ce Mee B F : Fs it fan M M 19 . Mt 3 meee hic M 2 res arem ¢ alde Apos d 2 dos Kayapé, a vide dos Panant no Parque Indigena_do Xingu passou_a ser uma constante sucesso de mudangas, causadas pela iaupossibilidade total de adapta da Comunidade as condigées ecolégicas ali existentes. completamente diversas dequelas do seu territério tradicional: iia regido do Peixoto de Azevedo e das cabeceiras do Rio Iris, as terras sio fimmes, boas para a agricultura, fartas em. caga.e..em_ recursos. hidricos acessiveis. sem_ouso_de_canoas.... Hiainda grande ccorténcia de frutas nativas de alto valor proteico, como castanha-do-Pard, agai, cupuag, muanfio-bravo, cacau selvagem ete. No Xingu, cuja vegeiaglo se caraciesiza por ser de transiggo entre 0 cerrado € @ mata tropica], tais espécies estiio ausentes ov sfio pouco freqtientes, Por ser uma area de varzea, no periodo de novembro a abril, so se pode iransitar de cauoa, sendo a pesca inviavel SHIS QI 11 Bloco K Sobreloja 65 Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax: 248-6420 (CEP: 71625-500 Brasilia DP 18 __peuiltina mudanca, tendo decidido retornar defiuitivamente ao temitirio trad _Aeiticaria reali Foram, pelo menos, sete mudangas no interior do Parque, a ttima das quais ocomendo em 1989/1990, Nesta ccasido, situados na beira do Rio Manitsaua Missu, fronteira oeste do Parque do, Xingu, os Panara amuneinram que aquela seria sua onal, 9 que ‘ocomeu efetivamente neste ano de 1994, Os Panara jamais conseguiram se adaptar as condigSes que lhe foram impostas no Xingu, X - 4A DESAGREGACAO SOCIAL Além do softimento materia! raduzido nos hosrores das mertes dos seus membros, outros prejuizos de naturezs. gi ana. Estes zea respeto &profunda degre adetofveu-em-< atuais, Primeiramente, em fungdo das doengas contraidas pelo comagio com os membros da Frente de Atrago e os trabathadores empregados na construgiio da BR-165, que 03 Panara, dentro dos seus couecimentos culturais, atribuiram a situais de dos por membros da préoria Commnidsde. imimeros conflitos-surzicam eee io Relate Ana, Cita de, 9), SES ‘Para compreender a morte por vinganga entre os Banani remeto a Odair Giraldin (1994). Segundo o autor ha, entre as sociedades Jé este proceso de vinganga como uma forma de compensar mortes ov perdas, Entre os Mebengokze, por exemplo, cada pessoa morta, por assassinato ou feiticaria, deve ser vingada matando o seu agressor ou por substitutes.” Continua 0 auior en nota de pé de payina afirmando que: “Os Mebengokre podiam apaziguar brivas entre parentes indo matar um branco, isto é, em vez de vingar 2 more infemanente. Qs Panara informaram que houve época em interna, que cada morte por doenga dos brancos era atribuida a feitig: sendo o feiticeiro morte.” (Gjraldin, O, - 1994:46) (Fls. 37 do mencionado SHIS QL 11 Blose K Sobreloja gS Fone: 248-2439 / 248-5412. Fax: 248-6820 CEP: 71625-800 Brasilia DF 2 ye) NUCLEO DE DIREITOS INDIGENAS. Tal situago instituiu um clima generalizado de desconfianga entre ‘os Panara, pois, como as mortes passaram a grassar em todos os seus cliis, a qualquer integrante da Comunidade poderia ser atribuida a ocorréncia de um determinado Sbito Qs proprios relatorios dos participantes da Frente de Atragio mencionam esses conilitos. © sertanista Fiorello Parise, no seu “Relatorio de Atividades Finais da Frente de Atragio PTO” Doc. 10, inteiro teor em anexo), diz o seguinte: “OS/OL/7S - briga violenta entre os Kreen-Akarore - resultando assim a saida de 08 indios, rumo a Cachoeira de KKA.” pequenos ferimentos e a sepuacio atest. pos a lo. Reialtas em : Outro fator de desagregagdo social dos Panari foi causado diretamente pela atuagiio dos agentes piblicos-das Rés, que atuavam na Frente de Alragao do Rio Peixoto de Azevedo, Exemplo disso foi,a conduta do Chefé da Frente, sertanista Annténio Campinas, denunciedo por um dos integrantes da mesma, 0 servidor da FUNAL aniropSlogo Ezequias Paulo Heringer Fitho, por introduzir priticas homossexuais entre os ~-Pariard; eden! de mianter tambéra relagdes ag Panga menos dé idsde,, eam we een i ane DESEA. dagen crite (inteine teoc emanaxe - Doe. 11), achamios oportunia a trauserigio do seguinte trecho, que da bem a dimensio da falta de cuidados das Rés no estabelecimento de suas relagdes com a Autora: fxgniinds paw 2 “Quando fui transferido para a Frente de Atragiio Peixoto de Azevedo, passei a integrar uma equipe que mantinha intenso relacionamento com a comunidade indigena, procurando elevar os niveis de interagdio, que sempre foi bastante satisfatéria @ respeitosa, por ambas as partes. Assim, naquela segunda“ visita procediamos rotineiramente, e apds cumpridas as obrigngdes; nos recolhemos ao sono como-de-outras-vézea.-Para surprésa nossa, os homens da ribo decidiram que iriam manier relagées homossexuais conosco, e nisso insistiram de maneira exaltada, 0 que nao me deixou entender o que falavam. Procuramos ficar calmos © contornarmios a situago. Sei que foi um érro meu permanecer na aldein em companhia de apenas um companheiro. Mas com quem mais poderia contar? O dever estava acima de mim mesmo - foi o que senti e fiz, sabendo SHIS QU 11 Blose K Sobreloja 65 Fone: 248-2439 / 248-5412 Faxc 248-6420 CEP: 71625. WP), NUCLEO DE OIREITOSINDIGENAS do riscos que comeriamos. Bom,+continuands, na manha seguinte fui procurado por um indio chamado Nansure, homem sério ¢ muito respeitado nna tribo, que me convicou a passear com Sle. Famos, os dois, até uma __._________pequena y0¢a (aproximadamente vinte pés de banana, irinta de amendoin, ‘mil de mitho, pouca batata e mandioca) que eu ainda néio tinha encontrado, sentamos em um ironco, ¢ éle falando pausada e repetidamenie pediu-eme que, com a minha espingarda, atirasse no st. Anténio Campinas, Encarregado da Frente de Atragdo Peixoto de Azevedo, e me t8z repetir os gestos que éle mesmo fazia, como que quizesse se certificar que eu havia entendido. Ao entardecer ainda ndo tinhamos nenhuma resposta relativa ac paciente sem diagnéstico, voltei 4 estrada com aquela conversa dentro de mim, mas nfo comentei nada com ninguém. Eu procurava uma justificativa, Passaram-se dois ou trés dias, nao me lembro bem. iesto Homlem me pices ui eset, Mule: & pengontasse nada disse-me que o Pai | {como & eee © st. Anténio ‘que éles usam para se designarem). A tniea meee que the fiz foi sobre o ~" nome da mulher o que le recusou a responder, afirmando apenas que era uma mulher Nné, No outro dig’éle voltou a me procurar, estando presente o enfermeiro Felisberto, ¢ fazendo gestos representatives de zelagio sexual pronuneiava repetidamente PariTurem, Pari-Turém, Para-Turém .., em seguida dizia Para - ¢ um outro nome que nfo conseguiamos entender. Para a, ni-Censipie Fosan, Pard ‘Como fago < anasto que esta passagem seja bent con, oSi alta, gorescente. que ¢ Turem € uma mocins de seus gaze on trere : at Censipie,signitica muh 1 que ‘un: dia 6 POsio, pera tindo que pela primeira vez um “civilized devmisse 4p lado de um laesn-a-Lore. Dada a crave. de ta}. siniaciio, na. qual 0 mesmo custo a acreditar, pego investigagao a respeito, que poder ser feita com o auxilio de um meédieo e de um intérprete de lingua Txuearramile. Evitariamos assim, conseqiéncias que inevitavelmente porio em riseo todo ‘um trabatho feito até endo com muito amor e honestidade.” Como se no bastasse, as Rés foram também desidiosas em suas tarelas de proteger os indios do contato indiscriminado com os trabalhadores empregados na construgio da BR-163 e com os seus usuarios, que passaram a acessa-la apos a sua abertura ao wafego, : Novamente, a prova dessa alegacao est 108 proprios documentos oficiais, © trabalho da servidora da FUNAL, antropologa Valéria Parise, intitulado SHIS Qf 11 Bloco K Sobreloja $5 412 Fax 248-6420 wey) | NUCLEO DE DIREITOSINDIGENAS “Relatorio sobre os Indios Kreen-Akarore (Doc. }2, copia em anexo) as fis. 09, traz a seguinte informagdo: “ ‘odiga vom : inclusive quanto és condigdes ecologicas® (em seu § 3°) Resumindo-se, as Rés decidiram remover o que restava da Comunidade Panacé e 0 fizeram a despeito de sug vontade, terminando por abandoné-los 4 sua propria sorte no Parque Indigena do Xingu. forceda para o Parque do Xingu nao signitiean o fim das sofrimentos fisicos 2 morais dos Panaré. Novas mortes por doeneas e falta de cuidados ocorreram, como ja relatado, ‘acrescentando-se a isso um longo e doloroso periodo de humilhacdes, que se arrasta mesmo até os dias de hoje. © contato e a remogdo impostos 93 indios sé serviram para atender aos proprios interesses das Rés. Primeiro. uma estrada corta a0 meio o territério tradicional dos Panard, obrigando-os a um contato macico imediato com um nyundo que até entio no conheciam. Com o contato,a Comunidade passa a ter de suportar os efeitos de epidemias, que além das intmeras mortes, resultam em sua toval desagregacdo social. Os sobreviventes Panari sfo, entfio, retirados, le sua terra tradicional ¢ levados para uma outta, que ado thes pertencia, com condigées evoldgi: mente diversas das que esiavant habituados a viver. SHIS QI 11 Blooo K Sobreloja 65 Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax: 248-6420 CEP: 71625-500 Brasilia DF 23 em sua eT NUCLEO DE DIREITOSINDIGENAS. Como se isso nfo fosse sufjeiente, as Rés ainda os colocam sob a dependéncia direta dos seus mais ferozes inimigos, os Kayap6 Txukarramie, que inviabilizam um pouco mais a vida desta Comunidade. E relevanje dizer, que isso ocorre apesar de ferem as Rés pleno conhecimento das animosidades histéricas existentes entre esses dois grupos, comentadas com deuathes nos extensos relatérios da lavra de seranistas da propria FUNAL . Alias, n0 Informativo FUNAI u® 14, I Trimeste, Ano IV - Setembro/75, pag. 21 (Doe. 15), tal fato é descrito na matéria intitulada “KRe AKARORE E TXUKARRAMAF HABITAM AGORA A MESMA ALDEIA”, da seguinte forma: piatadlas e 1 80 indios ent homers anulheres ¢ eriangas, reeém-chegados, a tudo - ~~ observam com coriosidade.- Sio-Kreen-Akarore, outror inimigos mostais dos Twukarramfie e que agora, por fivre e espontines wontade, estfo -" morando na mesma aldeia.” A convivéncia dos Panara com os Txukarramie, patrocinada pelas Rés, resultou na tentativa, por parte dos Ultimos, de assimilarem os Panara em seu meio, o jue pockiis ter ocabionado, simpleaurs: etaia. Tudo isso, sem que as Rés tomassem qualquer atitude para barrar esse novo ye ythaeal s0,de agressio o Por isso, os Panari, por conta propria, retiraram-se da Aldeia dos ‘Trukarramdie no més de outubro de 1975, tendo que deixar em poder daqueles indios, sete adoicscentes ¢ algumas mutheres, Esse fato ¢ reconhecido pela propria Ré FUNAL, que em ato do seu Presidente (despacho n° 80, de 09/12/1998), publicado no Didrio Oretal da Unido, Seedo 1, edigdo de 14/12/1994, pigs. 19403/19405 (Doe. 14, em anexo), 0 qual aprovou os trabalhos de identificagao da Terra Panara, consubstanciado no Pareeer n° 179/DID/DAL, de 08/12/1994 (@ ele anexado), fornece a seguinte informagao: ~ “Diante disso, os ignfos Villas Boas decidiram que os Panaré seriam removidos para outro local no interior do Parque. Foram estabelecidos juntos aos Tsukatramie, seus inimigos wadicionais. Apesar SHIS QI 11 love K Sobreloja 65 Fone: 248-2439 248-5412 Fax. 248-6420 CEP: 71625-S00 Brasilia DF 2 iS 0 deevisursimesto dessa egnitinidade, como NUCLEO DE DIREITOSINDIGENAS de ndo passarem fome neste local, softiam as amarguras da derrota. Perderam a auto-estima e se entregaram a depressio. Apis algum tempo no PIN Diauarum, novamente entre os Kayabi, iis foram, tsansferidos para junio dos Suvi, mas varias de suas mulheres ¢ criancas tinham ficado em poder dos Txukarramie, A sensagio de derroia era tal, que se portavam como “cadaveres anitvados, meditando por horas a fio” (Marcopito, 1979)” Como se vé os Panara finalmente sairam da Aldeia dos ‘Tsukaramte, 86 que, sem condigdes de se oporem fisieamente aqueles indios ¢ sem. nenitum auxilio das Res responsaveis pelo sev infortinio, nfo tiveram outra altemativa seno suportar mais esse oprébrio. O prego era muito alto e a derrota, quase total, Foran necessirios muitos amos al que os Ponar voliassem a fovantar suas cabegas e: pas ieitos, « Recentemente, eles reocuparam 0 que Testou preservado do seu femésnio tradicional (depois de sua remogio forgada, quase todo o ierritorio tradicional foi ocupado pelo garimpo ilegal). Agora, eles pretender obler a reparaciio dos danos materinis e morais que solreram, Sabe-se que isso néo apagara da memoria dos membros desta Comunidade o howor ¢ as iniqnidades vividas, mas certamente podera ajuda-los a reconstrvir suas vidas com alguma dignidade SA preténsio. de. Autora, deduzida na presente-Acko Ondinitia de Reparagao de Danos Materiais ¢ Morais, enconira seu sustenticulo na Lei Maior do pais que em sets Ait. $°, caput, e inciso X, assim determina: “Art. 5° (caput) - Todos’ silo iguais perante a lei, sem distingo de qualquer natureza, garantindo-se avs brasileiros ¢ aos estrangeiros residentes no Pais a inviolabilidade do direito 4 vida, @ liberdade, 4 igualdade, a seguranca e propriedade, nos termos seguintes X - Si inviolAveis a intimigade. a vida privada, a honra ¢ a imagem das pessoas, assegurado 0 direito a indenizagio pelo dino material ou moral decorrente de sua violagio;” SHIS QI 11 Bloco K Sobrelyja 65 Fome: 248-2439 / 248-5412. Fax: 248-6420 (CEP: 71625-500 Brasilia DF 35 ate: | NUCLEO DE DIREITOSINDIGENAS A Autora descreveu, com detalhes, todos os danos materiais & morais que sofreu em decorréneia da atuagio das Rés, caracterizados pela perda de imimeras vidas humanas e pelas humithagSes, pela vergonha e pelo soffimento que teve que suportar ao longo de todos esses anos. Na ligdo do jurista José de Aguiar Dias, eis 0 que identifica © chamado dano moral: . “Releva observar, ainda, que a inestimabilidade do bem lesado, se bem que, em regra, constitua a esséncia do dano moral, ndo ¢ critério definitive para 1 distingfio, convindo, pois, para caracteriz4-io, compreencer 0 dano mor ufo & 0 dinheir nen coisa a dor, 0 esparto, a smoyso, a em geral uma’ delotesa censagio experimentada pela pessoa, atribuida & palavra dor o mais largo significado’.” (“Da Responsabilidade: Civil”, vol. 2, 7° edig@a, pag. 812; Forense): em tek comere’ (0 20 seu conteudo, que Assim, impée-se a responsabilidade das Rés pelos danos materiais € morais causados a Autora, conforme determina 0 Att. 37, § 6° da Constituigdio Federal, abaixo transerito: 5 pessoas juridicas de direito pablieo ¢ as de direito privado lors de servigos responderdo pelos danos que sevs agentes, nessa qualidade, causarem a teresitos. asseaurado 0 direito de rgnesso contia 6 responsivel nos casos de dolo ou culpa.” Isto porque, as Rés couberam as condutas que propiciaram a ocorténcia dos danos exaustivamente descritos pela Comunidade Autora, Neste sentido, precisa ¢ a igo do professor Celso Antéiia Bandsia de Mela, contida em sua obra “Curso de Dieito Aduunistrativo”, onde expde a Teoria da Responsabilidade do Estado da seguinte —forma:— “A responsabilidade fundads na teoria do risco-proveito pressupée sempre ago positiva do Estado que coloca terceiro em risco, pertinente a sua ‘ pessoa ou ao seu patrimdnio, de ordem material econémica ou social, em SHIS QL11 Bloco K Sobreloja 65 Fone: 248-2439 / 248-5412. Fax: 248-6420 ‘CEP: 71625-500 Brasilia DF 26 NUCLEO DE DIREITOS INDIGENAS- beneficio da instituigdo governamental ou da coletividade em geral, que o atinge individualmente, e atenta contra a igualdade de todos diante dos encargos piblicos, em Ihe atribuindo danos anormais, acima dos comuns a nerentes A vida em sociedacle.” (pag. 450, Malheiros Editores, 1993) Os Panari suportaram sozinhios todo o Guus decomrente das atividades das Rés, que pretensamente erau dirigidas ao atendimento de interesses da sociedade nacional como um todo. Outrossim, os danos causados pelas Rés a Autora decomeram da inobservaneia dos preceitos legais, que devem reger a conduta do Estado no seu relacionamento com as Comunidades Indigenas. A Lei n? 6.001/73 Estatuto do Indio} determina ds Rés, dentre outras evisas, 0 seguinte “Art. 2° - Cumpre a Unifio, aos Estados e aos Municipios, bem como aos - Orgios das respectivas administrages indiretas, nos limites de sua competéncia, para a proterao das comunidades indigenas e a preservagio dos seus direitos: V ~ garantir_ aos indios a permanéneia voluntiria no seu habitat, - preporsonando-nes ali recursos para seu desenvolviauenio o progress — “Art. 20 - Em cariter excepeional e por qualquer dos motivos adiante enumerados, podera a Unifio intervir, se no houver solugio alternativa, em rea indigena, determinada 2 providéneia por decreto do Presidente da Republica, § 3° - Soinente caberd a remogio de grupo tribal quando de todo impossivel on desaconselhavel a sua permanéncia na area sob intervengdo, destinando- se 4 comunidade indigena removida area equivalente & anterior, inclusive quanto as condigées ecologicas § 4° - A comnmidade indigepa removida sera integralmente ressarcida dos prejuizos decorrentes da remociio.” (grifos nossos) SHIS QI 11 Bloco K Sobreloja 65 Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax: 248-6420 ‘CEP: 71625-500 Brasilia DF NUCLEO DE DIREITOS INDIGENAS “Art, 4 - Os indios tém direito aos meios de protegio 4 sade facultados a communhiio nacional.” “Art. 58 - Constituem crimes contra 0s indios e a cultura indigena: ILI - propiciar, por qualquer meio, a aquisigdo, 0 uso e a disseminagdo de bebidas alcodlicas, nos grupos tribais ou entre indios ndo-integrados. Pena - detengaio de seis meses a dois anos,” Como relatado anteriomente, os proprios servidors as Res Uo suais hhomens, difundirem o bibito de consumo de bebidas aleoblicas e outros tipos de cornportamenios desvirtuadores dos usos, costames ¢ tradighes desta Comunidade. — - - No caso em tela, os doveres das Rés tomavam-se ainda mais prementes, visto que se tratava de indios semm-nenhum contato com a sociedade brasileira, 05 quais, por isso mesmo, desconheciam completamente os requisitos necessérios para com ela se relacionarem. BEES “NMG, babliss@iss0, "as Pes coble © cabs, por expitisa.disposigio oivncz ais Tegal, o dever de tutelar a Comunidade Autora, nos expressos termos do disposto no Art 6°, inciso IIe paragrafo tinico do Codigo Civil Brasileiro, combinado com o Art. 7° §§ 1° 2° do Esiatuto do indio, verbis: = Sdo ineapazes, relativamtente a certos atos (art. 147, n° D, ou a maneira de os exercer: TIE Os silvicolas Parégrafo timico - Qs silvicolas fic sujeitos ao regime tutelar, ‘estabelecido-em deis-e regulamentos especiais,-o-qual-cessani-4 medida que se forem adaptando a civilizagio do pais.” aiuto do Indio . “Art. 7° - Os indios e as comunidades indigenas ainda néo integrados a - comunhiio nacional ficam sujeitos ao regime tutelar estabelecido nesta Lei, SHIS QI 11 Bloco K Sobreloja 65 Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax: sna 6420 ‘CEP: 71625-500 Brasilia DF 28 NUCLEO DE OIREITOS INDIGENAS § 1° - Ao regime tutelar estabelecidomnesta Lei aplicam-se no que couber os prineipios € normas da tutela de direito comum, independendo, todavia, 0 exercicio da tutela da, especializagtio de bens iméyeis em hipoteca legal, hem somo da prestacio de cauciio real ou fidejussoria, _ é § 2° Incumbe a tutela a Unito, que a exercert através do competentedraso federal de assisténcia aos silvicolas.” Diga-se de passagem, 4 Autora, por conta do disposto nos artigos acima citados, combinado com o que estabelece o Ar. 168, inciso II, do Cédigo Civil, no se aplicam nem mesmo os prazos presericionais para acionar judicialmente as Res. Veja-se: “Art, 168 - Nao corre a prescrigao: TIT - Entre tutelados ou curatelados e sous tutores ou curadores, durante a ~~ tutela ou curatela.” Assim, fixada esta a base juridica sobre a qual se assenta o direito se lee Autora, que deveri, entfo, obter das Rés Unio e FUNAL a eae BRN idade Finalmente, destaca a Autora a necessidade de que seja dispensada, neste momento, do pagamento de taxa judiciéria e outras custas processuais, o que ora requer, com base no disposto no Art. 61 da Lei 6.001/1973 (Estatuto do Indio), que the estende o beneticio das custas ao final do processo: “Art. 61 -,Sdo extensivos aos interesses do Patriménio Indigena os privilégios da Fazenda Piblica, quanto 4 impenhorabilidade de bens, rendas € servigos, ages especiais, prazos processuais, juros ecustas.” (grifos nossos) SHIS QI 11 Bloco K Sobreioia 65 Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax: 248-6420 CEP: 71625-500 Brasilia DF 29 NUCLEO DE DIREITOSINDIGENAS XIV-DOPEDIDO : Sendo assim, fequer a Comunidade Indigena Panari, Autora da presente Agdo: 1) Sejarthe concedido o beneficio do pagamento de taxa judicidria ¢ outras custas processuais somente ao final, caso vena a arcar com os énus da sucumbéncia; 2) Soja citada a Unido Federal, por intermédio da Procuradoria da Unio no Distrito Federal e a FUNAI, na pessoa de seu Presidente, para, querendo, contestarem os termos desta Ago, sob pena de confesso, » mado 0 ME deste processo; © que, a0 final, 4) Sejam condenadas as Rés Unio e FUNAL a repararem os danos materinis €. 7 morais que Ihe causaram, devendo o quantum indenizatério ser apurado em liquidacao de sentenga. - Atribuindo a causa o valor de RS 1.000,00 (um mil reais) para efeitos de algada, REQUER, POR ULTIMO, SEJA © PEDIDO JULGADO PROCEDENTE, com a eqilenfe _ condenag36 das -Rés no pagamento das custas_judic advocaticios, protestando desde ja pela produgao de todos os meios de prova em Direito admitidos. Termos em que, Pede Deferimenio. Brasilia, 19 de dezembro de 1994. Gls Seni Frm a Bee eee Sérgio Barros Leitfio.. , OAB/DF 10.841 7 S Tas (shaun. Foe 2 Sau i ‘Ana Valeria N /acaiijo Leitto ee / QABY OAB/DF 10.123 SHIS QI 11 Bloco K Sobreloja 65 Fone: 248-2439 / 248-5412 Fax: 248-6420 ‘CEP: 71625-500 Brasilia DF 30

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