Você está na página 1de 11

Instituto Politécnico de Castelo Branco

Escola Superior de Artes Aplicadas


Mestrado em Ensino da Música - 1º ano

Criatividade, Pensamento Divergente e a


sua importância no ensino.

Docente: Luísa Correia


Discente: Maria Inês Vaz Torres

novembro de 2023
Resumo

PALAVRAS-CHAVE: competências; músico; perfil de atitudes; pessoa; professor.

Índice:
Índice:
1.Criatividade: abordagem histórica
2. Pensamento divergente

novembro de 2023
2
1.Criatividade: abordagem histórica
Pela análise etimológica da palavra criatividade, há uma origem no verbo latim
creare. Pelas raízes da própria língua portuguesa, posso facilmente relacionar o significado.
No entanto, nos primórdios da humanidade, esta criação não será referente a mãos humanas,
mas sim ao divino e aos poderes regenerativos da natureza (Kaufman & Sternberg, 2019).
Conforme certos textos gregos e judaico-cristãos antigos, o espírito era constituído por duas
câmaras: uma câmara representava um receptáculo, que uma divindade preenchia de
inspiração, e outra câmara, era dedicada à expressão desta inspiração. Platão dizia que um
poeta não pode criar sem que a musa lhe inspire e deseje (Lubart, 2009, p.1). Mesmo artistas
mais “contemporâneos”, como Beethoven (1770-1827), e o escritor inglês Rudyard Kipling
(1937-1985), afirmavam estar sob influência de espíritos e demónios, que lhes ditavam a sua
arte (Lubart, 2009). Nesta abordagem mística, a inspiração é frequentemente associada ao
estado irracional de euforia, quase mania (Lubart, 2009, p.1). Em suma a noção de
criatividade (segundo Kaufman & Sternberg, 2019, uma palavra recente que data de 1875),
estava interligada à inspiração metafísica e realização divina correspondente, desde os tempos
primitivos até à idade média e renascimento (Kaufman & Sternberg, 2019).

No renascimento, sugere-se uma mudança gradual na mentalidade, uma transição das


“mãos” de Deus para a humanidade e no romantismo podemos assistir à culminação da
identidade de: “génio criativo” (Kaufman & Sternberg, 2019). Aliado a isto, surgiram
perguntas relativas à criatividade: o que é a criatividade? Quem é criativo? Quais são as
características das pessoas criativas? Como trabalham? (Lubart, 2009, p.12). O psicólogo
Francis Galton (1879-1883) tenta responder às questões anteriores com alguns esboços de
estudos, afirmando que capacidades mentais e caraterísticas psíquicas têm origem genética,
para rematar esta ideia, Galton recorreu a eminentes figuras da sociedade, com extensa obra e
consideradas geniais, pode-se considerar isto como o início do estudo empírico da
criatividade (Lubart, 2009, p.12). Galton, o próprio, estudou também a criatividade,
recorrendo à sua pessoa anotando os pensamentos recorrentes numa viagem a Londres
(Lubart, 2009). Foi assim que ele observou a existência de conexões das impressões mentais:
a principal origem das ideias novas proveria dos “objetos mentais” conservados dentro da
“caverna do espírito” (the mind’s basement), que tornar-se-iam ativos por associação (Lubart,
2009, p.12).

No século XX, o estudo da psicologia tornou-se evidente. Irei expor alguns psicólogos
notáveis, para o desenvolvimento e estudo da criatividade (Lubart, 2019):

 Édouard Toulouse (1947): explorou aspetos do funcionamento psicológico


(percepção, memória, razão e personalidade) de alguns artistas, a ver se, estaria
interligada de alguma forma, a fragilidade psicológica e criatividade (Lubart, 2009);

novembro de 2023
3
 Alfred Binet (1911): introduziu a criatividade, como comum à inteligência e
apresentou a primeira hipótese de testagem (Lubart, 2009);
 Freud (1959): referiu-se à ideia da criatividade como uma corelação entre a realidade
consciente, e os impulsos inconscientes. Impulsos inconscientes podem ser
considerados como desejos sexuais, poder, ódio, etc., que seriam expressos através de
meios culturalmente aceites como a literatura, música, etc. (Lubart, 2009);
 Ribot (1900): definiu o papel do inconsciente, inteligência e emoção no pensamento
criativo (Lubart, 2009)
 Guildford (1987): psicólogo que marcou o estudo da psicologia, numa primeira fase
criou a hipótese de que a criatividade exige várias capacidades intelectuais (irei
referir-me a estas mais adiante no trabalho). Segundamente, elaborou uma teoria
fatorial da inteligência (Structure of Intellect), segundo a qual existem cinco
operações intelectuais (cognição, memória, pensamento convergente, pensamento
divergente e avaliação) que, aplicadas aos diferentes tipos de informações
(figurativa, simbólica, etc.), resultam em diferentes tipos de produções (Lubart, 2009,
p.13). É de destacar dentro destas operações intelectuais, à criatividade destaca-se o
pensamento divergente como ato de produção de várias ideias em simultâneo, para
um estímulo único. Por último elaborou um modelo (Structure of Intellect Problem
Solving), que enquadra as operações intelectuais dentro duma estrutura de resolução
de problemas. As respostas relativas aos problemas exigem domínio das tais
operações, que, por conseguinte, levarão à criatividade (Lubart, 2009).
 Torrence (data den e f): irá interessar-se pelas teorias de Guildford, e produzir como
consequência, testes psicométricos do pensamento divergente, e consequentemente da
criatividade (Lubart, 2009).
 Amabile e colaboradores (1996) estudaram o papel da motivação intrínseca na
criatividade (Lubart, 2009, p.13).
 Simonton constatou que certas características das sociedades, como a diversidade
política, influenciam a criatividade de seus membros ao longo da história (Lubart,
2009, p.13).

novembro de 2023
4
2. Criatividade hoje
No final dos anos 90 e início dos anos 2000 de

novembro de 2023
5
3. Pensamento divergente

3A) Definições

O que é o pensamento divergente? Analisando por uma perspectiva literal trata-se de um


processo cognitivo (pensamento), que parte do mesmo ponto e se afasta cada vez mais
(“divergente", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-
2023, https://dicionario.priberam.org/divergente). Esse “ponto” podemos encarar com um
problema (seja em várias matérias), qualquer situação ou ambiente adverso ao ser humano, e
para a sua resolução, respostas múltiplas, e divergentes entre elas. Este tipo pensamento,
difere do pensamento convergente, ou racional, que se trata igualmente de um processo
cognitivo, que pretende o mesmo resultado ou caminha para o mesmo fim ("convergente”,
in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-
2023, https://dicionario.priberam.org/convergente). De acordo com esta definição constato
que dentro do pensamento convergente podem coexistir várias soluções para o “ponto” de
partida, mas que no fundo, encontram-se dentro dos mesmos parâmetros de resolução.

Para uma solidificação na definição de pensamento divergente, analisarei as


definições de diferentes autores:

1. Processo que permite pesquisar de maneira multidirecional, as numerosas ideias ou


respostas, a partir de um simples ponto de partida. (Lubart)

2. Capacidade de pensar de forma criativa, fora dos parâmetros expectáveis (Hollet,


Cassalia)

novembro de 2023
6
3. Processo para expandir a percepção de um problema. Envolve pensar em maneiras
diferentes acerca do problema como um todo sem querer necessariamente resolvê-lo.
No pensamento divergente. uma pessoa tenta conectar ideias cujas conexões não são
aparentes; as combinações resultantes podem levar a uma resolução do problema não
previsível. ( Carnevale et Al, 1990 citado por Marianne Saccardi.

Os termos que me suscitaram mais curiosidade: “multidirecional, fora dos parâmetros


expectáveis; simples ponto de partida; conexões não aparentes; resolução do problema não
previsível”, permitem-me chegar à conclusão, de que os três autores consideram o
pensamento divergente como um processo fora do ordinário e que, certamente, envolve a
originalidade (irei expor este termo mais à frente dentro do funcionamento do pensamento
divergente), no que toca às respostas, nas respetivas questões ou situações e dificuldades ao
ser humano.

No primeiro capítulo, dedicado a uma abordagem histórica à criatividade, a


importância do psicólogo: Guilford, no estudo do pensamento divergente associado à
criatividade foi notória. Associou-a (criatividade) aos processos intelectuais nos quais destaca
o pensamento divergente. A pessoa criativa deveria ser um “pensador divergente” (Lubart,
2009), como traço inerente à criatividade.

Guildford (1971) citado por Ramzem&Perveen (2011) organizou o pensamento


divergente em várias dimensões. Entre elas consta:

 Fluência: capacidade de fluência em palavras, ideias, expressões associações.

 Flexibilidade: capacidade de adaptação de ideias a diferentes categorias. Alternância


de ideias a outros padrões. O pensamento divergente rege-se por flexibilidade em vez
de rigidez.

novembro de 2023
7
 Originalidade: capacidade de produção de ideias inusuais. Segundo Scott David
Williams (2004), citado por Ramzen & Perveen (2011), é o elemento mais importante
da criatividade, interligado à flexibilidade.

 Elaboração: capacidade de detalhar ideias, “embelezando-as”, adicionando


caraterísticas originais.

2.B) Estudo do pensamento divergente e


convergente e a sua relação com a inteligência.

Pelas de palavras de Lubart (2009), o pensamento divergente distingue-se sendo uma


capacidade intelectual, associada à inteligência e conhecimento, tratando-se de uma
capacidade duplamente sintética e analítica.

O estudo do pensamento divergente é dos mais antigos e extensos na pesquisa


científica, sobre a criatividade (Guilford&Weisberg,1950; 2006, citado por Silvia et al., 2008,
p.68). Guildford (1897-1987), indica a criatividade como uma capacidade orgânica aos
indivíduos, distinguindo pensamento divergente e convergente (Kaufman&Sternberg, 2019,
p.224). Kaufman & Sternberg (2019) apresentam uma comparação entre o pensamento
divergente (PD) e convergente (PC), tentando responder à seguinte questão:

novembro de 2023
8
1. Dos principais debates relacionados com o PD e a inteligência, trata-se do
englobamento do primeiro, e se sim haverá necessidade de dar atenção ao PD nos
processos de aprendizagem? Se afinal de contas, a criatividade é apenas inteligência
ela concretizar-se-ia com o desenvolvimento cognitivo (Kaufman & Sternberg, 2019,
p.225).

Para responder a esta questão a teoria de Guildford forneceu um método: o PD trata-


se de uma estimativa do potencial criativo e o PC está envolvido nas manifestações gerais de
inteligência (Kaufman & Sternberg, 2019, p.225). Pelas definições de Guildford, temos o PD
com respostas amplas e múltiplas e PC uma resposta única ou algumas que se refiram à
mesma solução, desta forma o PC será útil em respostas óbvias e de “medição” de
conhecimento, por exemplo: em que ano se deu o 25 de Abril? A resposta será 1974
(Kaufman & Sternberg, 2019).

As teorias cognitivas não concordam com a separação de PD e PC, desta forma


constatam que não são exclusivos na sua complementaridade (Cropley, 2006, citado por
Kaufman & Sternberg, 2019). Aliás, novos modelos de processo criativo referem-se ao PC E
PD em simultâneo (Kaufman & Sternberg, 2019, p.225). Eysenck (2003) citado por Kaufman
& Sternberg (2019), observa o PC e PD como polaridades, no entanto ocorrendo
sequencialmente. Este argumento advém do método de desenvolvimento de ideias:
brainstorming, e de uma tentativa de melhoramento constante de ideias (Puccio et al., 2018
citado por Kaufman & Sternberg, 2019, p. 225). *****

Nas tentativas de separação de PD e PC, Van de Kamp e colegas (2015) citado por
Kaufman & Sternberg, (2019) notaram que em campos de instrução ao PD associados às
metacompetências, verificaram-se mudanças na flexibilidade e fluência (ao nível de
pontuação em testes avaliativos), isto pode comprovar que o PD é algo que pode ser incutido
e melhorado. Contudo, apesar da possibilidade de distanciamento experiencialmente e

novembro de 2023
9
psicometricamente, o PD e PC estão biologicamente interligados (Kaufman & Sternberg,
2019).

Para responder a esta última afirmação, a forma mais comum de visualizar a relação
entre PD e PC, incide sobre a necessidade de haver, de alguma forma, um pouco do último
(PC) no anterior (PD), (Kaufman & Sternberg, 2019, p.226).

Duas teorias relevantes de complementaridade de PD e PC são:

1. Teoria triangular, por Guildford (1968), citada por Kaufman & Sternberg (2019). As
impressões visuais dos gráficos mostram na relação entre PD e PC uma dispersão
triangular.

2. Threshold Theory, teoria do “umbral”, em português, desenvolvida por Runco &


Albert, (1986), citada por Kaufman & Sternberg (2019), que assume a ideia de que há
uma necessidade de inteligência, mais direcionada ao PC, em qualquer tipo de
criatividade.

A propósito desta última teoria, Jauk and colleagues (2013) citados por Kaufman &
Sternberg (2019), comprovaram-na em tarefas que envolviam PD, mas não na conquista da
criatividade.

As variações gráficas entre o PD e PC, encontram justificação em diversos fatores


(Kaufman & Sternberg, 2019). Segundo Preckel, Wermer, and Spinath (2011) citados por
Kaufman & Sternberg (2019) a relação entre PD e PC é diminuída, ao impor controle da
rapidez de raciocínio, que diz respeito à fluidez cognitiva. Esta fluidez cognitiva está
associada ao à eficácia do sistema nervoso do indivíduo (Kaufman & Sternberg, 2019,
p.226)-

novembro de 2023
10
Num estudo por An, Song, and Carr (2016), citado por Kaufman & Sternberg (2019),
compararam os traços preditores de criatividade e de resultados criativos de profissionais e
comprovaram o seguinte:

 PC e PD interligados à criatividade;

 PD associado à personalidade;

 Motivação e conhecimento compreendiam os resultados criativos de profissionais.

Uma consideração muito importante a propósito do PD é que, este torna-se mais


favorável num estado de bom humor. O PD tende a provocar um humor positivo enquanto o
PC um humor negativo (Chermahini and Hommel, 2012, citado por Kaufman & Sternberg,
2019, p.226). Sendo assim a melhor forma de testagem ao PD será num ambiente divertido e
relaxado. Esta abordagem também confirma que, num ambiente autoritário e que seja
semelhante à tradicional testagem, o PD será restrito (Wallach & Kogan, 1965; Runco, 1999;
citado por Kaufman & Sternberg, 2019, p.226). É facto que, num ambiente escolar onde
predominem estes factores, o PD de alguns alunos é completamente ocultado, esta razão
reside na apreensão do PD como potenciador de uma maior amplitude de atenção (Kaufman
& Sternberg, 2019). Já não se verifica tais condições no PC (Yamada and Nagai, 2015, citado
por Kaufman & Sternberg, 2019). Verificaram-se melhoramentos tanto no humor e resultados
de PD, ao ouvir música e dançando (Campion and Levita, 2014, citado por Kaufman &
Sternberg, 2019, p. 227).

novembro de 2023
11

Você também pode gostar