Você está na página 1de 29
ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS Coico CenreNAnio N° 63 LEONARDO DA SENHORA DAS Dores CasTELO BRANCO, A CRIACAO UNIVERSAL 2* edigho ‘Teresina —Piaui 2016 ‘Copyright® 2016 by Academia Piauiense de Letras [ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS ondada em 30 de desembvo de 1917 (ton Miri Tost Lasts Tomes Sraerino Gina Hevculan Moraes ds Siva Fo COMISSAO EDITORIAL BSc Rosin Minn ive Humbe Soares Guimaries Divencide Mars Olvera Batis de Carvalho ‘Sines Eni, Onan Aroaagio Regaldo Mra ¢ Cara Mara Miranda Sante Proto ninco Keanedy Costa emai akeny@bo com br sobre gata Je Nits Sent Parle Lec? cha Caulgetceeaborada pela Dita Larisa Andee Caselo Branco, Leonardo da Seors das Dre: CcB49e "“ACineo Unitena / Leonardo da Senhora das Dies Catto 17a pd (Cleo Centeniio, 63), ISBN 978.8548231-88.7 1 Lert ras Pocsi2 Literatur Paine Powis 4. Litera Plaine ~ Poe Tit It. Coleg ceDD 8691 Toco divs serados. De acordo com a Le 9410 de 971R/I998, reams Ire dst lv pose er ftcopads,pravada, epoduida Ov smatenada nm ea ‘Ge recuperago de informarioou tana sob ule orm, or meio eric oo Leonardo da Senhora das Dores Castelo Branco (Esperantina (PI), 1788 -Esperantina (PI), 1873) Leonardo da Senhora das Dores Castelo Branco A CRIACAO UNIVERSAL DESCRITA POETICA E FILOSOFICAMENTE. POEMA DIVIDIDO EM SEIS CANTOS SEGUNDO A ORDEM DA CRIACAO RELATADA NO GENESIS COMPOSTO POR Leonardo 3a Senora dan Der Castello Bran NATURAL DO PIAUi Primeira edigdo: Rio de Janeiro, Impresso na Tipografia Nacional no ano de 1856 SUMARIO. Preficio ~ Por Reginaldo Miranda ar 9 Prologo ... 21 ‘A Criagao Universal ~ poemas dividido em 6 cantos segundo a ordem da criacao Indice dos cantos, 27 Protmio 7 29 Introdugio. nc ATS inti BO A Crago Universal ~ Canto 19. 37 ‘A Criagio Universal ~ Canto 2° son 61 ‘A Criagio Universal — Canto 3° iti ‘A Criagio Universal ~ Canto 4° 101 ‘A Criagao Universal ~ Canto 5° 123 A Criaga0 Universal ~ Canto 6” .. 147 Relagio de Obras da Coleco Centenério ~ Primeita Parte......173 Relagio de Obras da Coleco Centenario ~ Segunda Parte......174 PREFACIO Reginaldo Miranda* Foi um paladino da liberdade que liderou tropas na Guerra do Fidié, quando 0 bravo povo piauiense levantou-se em armas para libertar-se do jugo portugues e garantir sua adesio a Independéncia do Brasil, Também envolveu-se na Confedera¢ao do Equador, protestando contra 6 centralismo do poder mondrquico no nascente Império. Vencido em ambos os embates, foi duas vezes preso e encarcerado, mas nunca esmoreceu em seu Animo varonil. Foi também um visionario, cujo sonho foi a construgao do moto-continuo, nele ‘empregando toda a laboriosidade de sua longa existéncia, inclusive {quatorze anos de estudos em Portugal e seis no Rio de Janeiro. Filho de familia abastada perdeu quase todo 0 seu patriménio nesses estudos e na perseguigao dessa ideia fixa. E como disse o muito vivo defunto Bras Cubas, pela pena de Machado de Assis: “Deus te livre, letor, de uma ideia fixal”. Leonardo consumiu seu tempo nesse sonho tresloucado de fazer ciéncia no sertao do Piaui colonial, o que se Ihe apresentou invidvel. Era um mundo pritico em que ninguém tinha tempo para atividades fora das lides agropecuarias. Por isso, a fala a uta desse idealsta foi recebida com reservas por seus pares, 86 the restando o caminho da Europa. "Nascera na fazenda Taboca, & margem esquerda do rio Longa, sno Municipio de Parnaiba, depois Barras, hoje Esperantina, em 1788. Provavelmente, no dia 6 de novemibro, consagrado no calendério cristo ‘a Sio Leonardo de Noblac, um dos santos mais populares da Europa central. Seus pais eram ricos proprietarios, o baiano de Jacobina Velha, radicado no Piaui, Miguel de Carvalho Castelo Branco e a piauiense ‘Ana Rosa Clara Castelo Branco, todos descendentes de velhas estirpes. Foram av6s paternos o capito-mor Anténio Carvalho de Almeida, portugues radicado na Bahia e depois no Piaui, e D. Maria Eugenia de ‘Mesquita Castelo Branco; maternos, 0 coronel Francisco da Cunha & Silva Castelo Branco, importante fazendeiro e chefe politico da vila 9 de Campo Maior, ¢ D. Ana Rosa Pereira Teresa do Lago, também natural de Jacobina Velha, na Bahia. Leonardo de Carvalho Castelo Branco viveu a infancia € mocidade na casa paterna, alternando os banhos no rio Longé, as armadilhas para pegar passarinhos e outras peraltices de erianca de fazenda, com os ensinamentos ¢ leituras orientados pelo pai, que fora ceducado em colégio dos padres jesutas, na Bahia. Consta que recebeu ‘educagdo esmerada, estudando com o genitor nogdes elementares de portugués, latim, geografia,fisica e matemitica. Quem assim afirma é seu patente Miguel de Sousa Borges Leal Castelo Branco (2°) tragando- Ihe a biografia em 1879, seis anos apés 0 dbito do biografado. Deve ter estudado com outros mestres da época, na propria fazenda, cconforme o costume, completando 0 resto como autodidata. Desde cedo mostrou inteligéncia invulgar, dando-se @ leitura constante de forma a adquitir solida formacio intelectual Mal atingiu a maioridade casou-se com Judite da Mae de Deus Castelo Branco, de cuja unio teve nove filhos, sendo seis do sexo feminino e trés do masculino, entre esses 0 pocta Teodoro de Carvalho ¢ Silva Castelo Branco, cognominado “Poeta cacador”. Foi seu neto 0 festejado poeta Herminio de Paula Castelo Branco, autor da Lira sertangja. Ao casat-se em 1807, fundou as fazendas Lagoa Grande, hoje Lagoa da Caigara, e Limpeza, no atwal Municipio de Esperantina, sendo 86 0 que se the conhece de atividade pratica. Blegeu-se eleitor de pardquia, representando a vila de Parnaiba ‘no colégio eleitoral. Nessa qualidade, em 1821, compareceu em Ociras, capital da capitania de Sto José do Piaui, para votar na cleigio dos representantes do Piaui perante as cortes portuguesas. Foram cleitos “Miguel de Sousa Borges Leal Castelo Branco (1°) ¢ Ovidio Saraiva de ‘Carvalho e Silva, declinando este ¢ em seu lugar assumindo 0 suplente, Pe. Domingos da Conceigao. Durante sua permanéncia em Oeiras, ccausou sensacdo ao divulgar suas ideias liberais e recitar bela poesia para distinta plateia, onde deu mostras de sua inteligéncia e cultura ‘No entanto, no ano seguinteiria notabilizar-se ao ombrear com 0s idealistas da Parnaiba no movimento da Independéncia. Residindo nna fazenda Limpeza, estava em perfeita sintonia com 0 Dr. Joao ‘Candido de Deus ¢ Silva e outros lideres do movimento naquela vila litoranea, confabulando permanentemente. Em 19 de outubro de 1822, 10 aqueles proclamaram a adesio da vila de Paraiba a Independencia do Brasil, seguindo a politica do principe regente e 0 sonho de liberdade. Porém, com a marcha de Joao José da Cunha Fidié, portugues, governador das armas do Piaui, para abafar © movimento sedicioso nnaquela vila, 0s exaltados nacionalistas da causa brasilica tiveram de fugir para as vilas de Granja ¢ Sobral, no Ceara. Tal era 0 comprometimento de Leonardo Castelo Branco com aquele ‘movimento que, também, sentiu-se ameacado ¢, assim, foi a encontro dos lideres parnaibanos no Ceari, unindo sua sorte & deles. Ali, no ccurto periodo de exilio, confabulavam e armavam a estratégia de revanche. Em Vigosa, conseguem convencer © arregimentar homens para formar uma consideravel tropa, que organizou em duas divisdes, ‘ndo uma sob 0 comando de Leonardo Castelo Branco ¢ outa sob ‘0 comando do capitdo José Francisco de Miranda Osorio, outro bravo paladino da mesma causa “Liderando seu contingente, Leonardo Castelo Branco entra 10 Piaui dia 22 de janeiro de 1823, langando-se sobre Piracuruca, onde surpreende e aprsiona a guarnicdo que Fidi¢ ali deixara para garantir- the a retaguarda, Embalado pela facil vitoria, dois dias depois redige ‘manifesto aos povos do Piaui e Maranhiio, conclamando-os & causa Esse manifesto, mais tarde, seria utilizado como peca processual na ‘ago penal que se the moveram. ‘De Piracuruca, marchou sobre a vila de Campo Maior, onde chegou a 1.? de feverera, sendo recebido apoteoticamente. Depois de Conferenciar com os Iideres da comunidade, entre esses muitos parentes, proclama a adesio da vila & causa da independéncia em 2 do ‘mesmo més, nao sem antes efetuar algumas prisbes de elementos fusitanos. No dia seguinte, dirige manifesto a camara municipal ¢ 20 ccomando militar de Caxias, prospera vila maranhense, informando dos ‘acontecimentos do Piaui ¢ conclamando-os a também aderirem. Era o lider que se afirmava em ago. Consolidada, assim, a agao em Campo Maior, retorna a Piracuruca, “onde havia deixado parte das forcas que trouxe de Vicosa’, diria ele em carta, mais tarde, levando-a para a fazenda “Melancias, a margem do Parnaiba, defronte do porto maranhense de Reparti¢ao, onde estabelece quartel. Entio, tentando aliciar as ‘autoridades maranhenses & mesma causa, a fim de evitar a guerra un Civil, diria ele, “dirigi-me depois vila do Brejo dos Anapurus, levando apenas trés soldados, com o fim de me entender com 0 comandante ‘geral daquela vila, Severino Alves de Carvalho, e persuadi-lo a aderit causa do Brasil”. Foi, porém um plano mal avaliado, pois “ao passar © rio Paraiba, o oficial que guarnecia o respectivo porto (José ‘Antonio Correia) prendeu-me (a 1.° de marco) e conduziu-me, na garupa do animal que cavalgava, para a vila do Brejo, de onde fui logo remetido para o Maranhao, dizendo-se na parte oficial ditigida ‘a0 governo daquela provincia, que eu era o homem mais perigoso do Piauil”, disse ele Conduzido para Sio Luis do Maranhdo, foi recolhido a prisio do Forte de Santo Antdnio da Barra, na Ponta da Areia, onde aguardow © tramite do processo criminal conduzido pelo ouvidor do crime, Des. ‘José Leonardo da Silva ¢ Sousa, sendo condenado como faccioso ¢ fervoroso chefe do partido da independéncia. Com o fim do processo foi enviado para Lisboa a bordo do brigue Sociedade Feliz, chegando fem fins de maio e encarcerado na cadeia do Limoeiro em 2 de junho de 1823, Porém, para sua felicidade, registrou ele: “na prisdo fui muito socorrido pelo deputado do Piaui Dr. Miguel de Sousa Borges Leal Castelo Branco, e pelo coronel maranhense Honério José Teixeira, ‘que entao se achavam em Lisboa”. Foi, porém, de curta duragio a sua priso porque logo mais D. Yodo VI entra em Lisboa acompanhado de alguns regimentos de cavalaria, dissolvendo as cortes ¢ retomando a plenitude do poder. Por decreto de 6 de junho daquele ano indulta todos os presos politicos Entio, Leonardo pleteia a sua soltura, que Ihe é concedida em 22 de julho, por acérdio da Relacao de Lisboa. A essa altura, havia muito rezado € se apegado a varios santos, inclusive com a soltura, ‘modificando seu nome, em pagamento de promessa, para Leonardo dda Senhora das Dores Castello-Branco. Depois de alguns acertos regressa ao Brasil via Pernambuco, onde se demora alguns dias, sendo recebido com especial atengo pelo presidente Manuel de Carvalho Paes de Andrade, eleito provisoriamente, depois da reniincia de Francisco Paes Barreto, em 13, de dezembro de 1823 e confirmado em 8 de janeiro seguinte, a revelia do poder central. Entdo, dirge-se a Bahia, onde pretendia entender-se ‘com govemno local a respeito da causa da independéncia no Piaui, 12 que ele ainda supunha em guerra contra Fidié, quando foi, entdo, inteirado dos recentes acontecimentos em sua terra natal. Satisfeito com a boa nova recebida, retorna ao Piaui, chegando a0 seio da familia um ano depois de violentamente arrancado por fotea das armas. Entretanto, nao chega nem a descansar, porque em 2 de julho de 1824, o referido Paes de Andrade, apoiado por Frei (Caneca e outros lideres, proclama a Confederacio do Equador, unindo Pernambuco, Paraiba, Rio Grande do Norte e Ceard contra 0 centralismo do poder monarquico, Pretendiam convocar uma nova assembleia constituinte para a elaboragao de uma Constituigao de carater liberal, diminuir 0 centralismo politico e acabar com 0 trifico negreiro. Novamente, Leonardo Castelo Branco entra em concerto com 0s idealistas da Parnaiba ¢ adere a essa nova causa. Aqueles proclamam a adesio da vila de Parnaiba, este a da vila de Campo Maior. Porém, 0 movimento é sufocado em Pernambuco e nas demais provincias rebeladas, com a prisio dos lideres, inclusive fuzilamento de Frei Caneca e Padre Moror6. No Piaui, foram presos ¢ encarcerados «em Oeiras, José Francisco de Miranda Osorio ¢ Leonardo da Senhora das Dores Castelo Branco. Depois de um ano no cércere, este iltimo foi enviado para Sto Luis do Maranhao, onde, depois de alguns novos dissabores, alcangou a liberdade, retornando ao Piaul; porém, triste, amargurado, bastante desiludido da politica. ‘Mas o seu sono, o grande sonho que o embalou por toda vida, desde a mocidade, foi a construcao do moto-continuo, Nele empregou ‘quase toda a fortuna herdada de seus ancestrais ¢ a laboriosidade de sua vida, cujas incursdes pela politica foram meras atividades intermitentes. Passou noites insones estudando, pensando, planejando 4 construsao de uma méquina que gerasse energia, a partir de seu proprio movimento. A parti de 1860, ja septuagendrio, doente, com sinais de senilidade resolveu pOr em pratica 0 conhecimento adquirido nos anos de estudo, temendo morrer sem ver a realizago de seu sonho « iniciou a construsao de uma enorme maquina de madeira que dizia ser o tal moto-continuo Nessa atividade infrutifera empregou os tltimos treze anos de sua vida, Mas voltemos um pouco no tempo, Recuemos ao ano de 1833, ‘quando, desiludido com a atividade politica, volta-se completamente 13 aos estudos ¢ a realizagio da ideia fixa, Desejando aprimorar 0 conhecimento,nesse ano vigja para Lisboa, a fim de estudar mecénica, astronomia ¢ ciéncias em geral, demorando-se ai quatorze anos. Para isso hospeda-se inicialmente na casa do conselheiro Ant6nio de Menezes Vasconcellos de Drummond, ministro plenipotenciério do império naquela corte e admirador do trabalho do piauiense. Em Lisboa, ainda que de forma aleatoria, sem escola formal, aprofundow os estudos de mecnica, lendo tudo que Ihe caia as maos, entabulou grandes projetos e publicou alguns livros. O escritor Inocéncio Francisco da Silva, que 0 conheceu ai pelo ano de 1839,

Você também pode gostar