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Brazilian Journal of Development 102730

ISSN: 2525-8761

O contemporâneo na crítica literária Piauiense


The contemporary in Piauí literary criticism
DOI:10.34117/bjdv7n11-072

Recebimento dos originais: 12/10/2021


Aceitação para publicação: 08/11/2021

Raimunda Celestina Mendes da Silva


Doutora em Teoria da Literatura - PUCRS
Instituição: Universidade Estadual do Piauí- UESPI
Endereço: Rua Dep. Laurentino Neto, 470 B. de Fátima – Teresina – Piauí (64.049-350)
E-mail: r.celestina@uol.com.br

RESUMO
O objetivo deste trabalho é iniciar um debate sobre a crítica literária piauiense, isto é, os
modos de leitura de algumas obras de poetas e prosadores, tendo como foco a atividade
desses escritores face à tradição literária e à atualidade. Destacando-se a presença da
internet como propulsora de uma variedade temática não apenas da atividade literária,
mas do próprio exercício da crítica, e a universidade como propulsora de determinados
procedimentos de escrita, cujas produções críticas, registradas em dissertações, teses,
resenhas, ensaios e artigos, desde muito tempo, fornecem material nesse campo.
Investigam-se os fatores que permeiam as discussões sobre as publicações da obra,
ressaltando-se a crítica jornalística, o valor literário do texto como forma de
contextualizar as discussões apresentadas. Dentre os teóricos que auxiliarão essa
reflexão, destacam-se os piauienses Herculano Moraes, Socorro Rios Magalhães, Dilson
Lages, Elmar Carvalho, Francisco Miguel de Moura, Carlos Said, dentre outros da critica
literária brasileira.

Palavras-chave: Crítica piauiense. Poetas. Prosadores.

ABSTRACT
The objective of this work is to initiate a debate on literary criticism from Piauí, that is,
the ways of reading some works by poets and prose writers, focusing on the activity of
these writers in light of the literary tradition and the current situation. Highlighting the
presence of the internet as a driver of a thematic variety not only of literary activity, but
of the exercise of criticism itself, and the university as a driver of certain writing
procedures, whose critical productions, recorded in dissertations, theses, reviews, essays
and articles have long provided material in this field. The factors that permeate the
discussions about the publications of the work are investigated, emphasizing journalistic
criticism, the literary value of the text as a way of contextualizing the discussions
presented. Among the theorists who will help in this reflection, the highlights are
Herculano Moraes, Socorro Rios Magalhães, Dilson Lages, Elmar Carvalho, Francisco
Miguel de Moura, Carlos Said, among others from Brazilian literary critics.

Keywords: Piauí criticism. Poets. Proses.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.11, p. 102730-102740 nov. 2021


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ISSN: 2525-8761

1 INTRODUÇÃO
Pensar a crítica literária no Piauí é, antes de tudo, elaborar o percurso e estabelecer
alguns questionamentos, elencando os primeiros críticos na historiografia literária no
Piauí. Francisco Miguel de Moura ( 2013 ), poeta e crítico piauiense, afirma que a “crítica
é obra promíscua, ambivalente e intelectiva [...] subsistente por si mesma quando é
realmente criadora” (p. 293).
Moisés (1978) afirma que

A arte, enquanto forma de conhecimento, apresenta dois aspectos: o factual e o


intelectual. O aspecto factual diz respeito ao ato de criar, de fazer a obra de arte.
Por outro lado, toda interpretação da obra de arte, pela palavra oral ou escrita
corresponde ao aspecto intelectual, onde se inscreve a problemática da crítica. (p.
295)

Observa-se que as manifestações se diferenciam, uma por ser emotiva e a outra,


intelectual. Não esquecendo que o homem se constitui como sujeito através da linguagem,
fundamento da sua experiência.
Os críticos têm razão nas suas assertivas: os conceitos iluminam os leitores e os
encaminham para o desvelar dos mistérios da criação literária. Francisco Miguel de
Moura é taxativo quando afirma que a literatura piauiense não possui críticos, “pelo
menos no sentido em que foi definida essa atividade, na sua forma atual” (2013, p. 294),
mas ao listar “a crítica e as gerações”, lembra a importância de David Moreira Caldas,
professor e jornalista, fundador do Jornal Oitenta e Nove, intelectual à frente do seu
tempo, na introdução de Impressões e gemidos (1870), de José Coriolano, deixou o
seguinte comentário:

[...] Seu estilo mostrou-se pomposo severo, jamais contrastando com a gravidade
do lutuoso assunto; seus pensamentos revelaram-se tão expressivos – quanto a
mais sincera e profunda dor, aquela que se estampa no demudado semblante,
dando testemunho fiel do coração pungido, ou que se denuncia ingenuamente – na
voz angustiada, que provoca as lágrimas e convida aos soluços. (CALDAS, 2013,
p. 21)

David Caldas traça a trajetória de vida do poeta desde o nascimento, infância,


juventude, o estudo até se formar em Direito em Pernambuco, o casamento, a vida
política, sua morte, antes a agonia com o mal que o levaria à morte. Entrelaçado a essa
trajetória, David Caldas não só acompanha o surgimento das obras de Coriolano, mas as
comenta, como se observa no comentário sob O Touro Fusco, impresso pela primeira vez
em 1859, em Pernambuco. Para ele, é um poemeto

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digno de ser lido, - no campo como na cidade; na choupana como na casa nobre.
E oxalá que todos os nossos homens de letras não muito tarde o tenham na
merecida estima, bem como que antes do fim do século, em cada fazenda, ao
menos por ocasião de vaquejadas, se possam fazer citações desta ordem, à vista
de algum novilho indomável. ( CALDAS, 2013, p. 49)

O Touro Fusco possui a seguinte composição: três Cantos, denominados Canto


Primeiro, Canto Segundo e Canto Terceiro todos com dezessete estrofes de : oito versos
decassílabos, antecedidos por um argumento, uma espécie de resumo do que o leitor
encontrará. Eis a terceira estrofe do Canto Primeiro:

No belo Cratéus, sertão formoso,


Obra sublime do Supremo Artista,
Num terreno coberto de mimoso,
Está sita a Fazenda Boa Vista;
Do Príncipe Imperial, bravo e rixoso,
Vila do Piauí, seis léguas dista - :
Aí, num massapé torrado e brusco,
Nasceu o valoroso Touro Fusco. [...] (CORIOLANO, 2015, p. 257)

Coriolano escrevera o poema quando em uma das suas férias na fazenda dos pais
para homenagear um touro valente que o encantara na sua infância. Moraes (2019, p. 57)
atesta que o poeta “talvez pretendesse escrever um grande e definitivo poema, narrando
a epopeia de um animal valente e dominador. Mas esbarrou nas limitações próprias de
uma poesia pouco imaginativa e de nenhuma profundidade”.
Para Moura (2013), O Touro Fusco

É um poemeto que ainda não teve igual em nenhuma literatura, pela audácia de
cantar em versos heroicos a estória de um novilho famoso, que luta e morre como
herói, e nos deixa saudades como as figuras humanas ou semidivinas de uma
epopeia. (p. 51)

Os críticos divergem ao analisarem suas obras, Freitas (1988). assim se reporta:

José Coriolano, nas suas poesias líricas, posto que seja fluente e cadencioso, não
revelou nenhuma originalidade, com exceção de Aurora. Não foi um plagiário, foi
um imitador, o seu mérito, quer como poeta, quer como artista, não se estriba
certamente, nas poesias A grandeza de Deus e no Hino à tarde, esta visivelmente
imitada de Odorico Mendes. [...] O seu gênio era sério, e as tentativas que nos
deixou, do cômico, são frouxas e insípidas. [...] A glória de José Coriolano está
nos seus versos e esta nos basta. O leitor avalie o vigor do gênio lírico do nosso
poeta lendo esta sua mimosa poesia. (p. 133-134-140)

A “mimosa poesia” é o poema A aurora composta por quinze estrofes de


quatro versos, do qual citar-se-á uma estrofe, a primeira:

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A aurora
Douram-se os prados ao romper da aurora,
Que surge à hora que prazer só diz,
Os horizontes de listões se arreiam,
Aves gorjeiam nos rosais gentis. [...] (CORIOLANO, 2015, p. 72)

Jornais, sites e blogs são alguns instrumentos, plataformas para os críticos


manifestarem suas impressões, comentários e discussões sobre livros e autores,
interpretando e avaliando para o leitor a obra literária. No Piauí, os jornais sempre
constituíram órgãos de divulgação e informação sobre livros lançados ou comentários
sobre os escritores a seu bel prazer e escolha.
Carlos Said e Welington Soares mantiveram por muito tempo uma coluna no
Jornal Meio Norte, editado em Teresina – Piauí, uma coluna para tal fim. Observa-se a
seguir uma crítica de Carlos Said, do dia 30-06-2010, p. 2, com o título: Jornalista
homenageia escritor valenciano Permínio Ásfora. Esclarece ele::

O formidável Permínio Carvalho Ásfora, premiado pela crítica nacional (dos sete
romances publicados, três receberam premiação incomum), continua
desconhecido em sua própria terra natal. [...] Tanto escreveu que abusou do
jornalismo sério com diversas facetas literárias. Através do romance .Noite
Grande.1947, suscitou polêmicas com vertentes de ingratidão. Perseguido
tenazmente por ter denunciado o clientelismo político instalado no país, jamais
tergiversou diante de suas convicções. (p.2) [...]

Carlos Said traça o perfil da produção de Permínio Ásfora trazendo à cena outros críticos
e escritores brasileiros. A crítica finaliza assim:

Para poucos piauienses em silêncio e paz, melhor relembrarmos que ásfora.


Significa célula reprodutora capaz de germinar. Portanto, eis a razão da grandeza
literária do ilustre piauiense Permínio Carvalho Asfora. (p. 2)

O comentário do crítico seduz e desperta o leitor para o gosto e o prazer da leitura.

A avaliação da escrita dos críticos revelam a natureza de sua crítica e as teorias


presentes nas análises, tais posicionamentos contribuíram para os estudos e as pesquisas
sobre a literatura piauiense e para a reparação de alguns equívocos sobre determinados
pontos de vista.
Assis Brasil (1995) em As epígrafes – introdução - de A poesia do século XX
afirma que os literatos piauienses migravam para o Rio de Janeiro no intuito de serem
reconhecidos. Observe:

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Negado o seu tempo e o seu lugar, na sombra imagem que projeta de si, a literatura
piauiense volta-se para a cidade ideal, para o paraíso longínquo do Rio de Janeiro.
É na crônica principalmente que se criam e difundem essas imagens tanto
depreciativas do cenário local como enaltecedora e mistificadora do “de fora”,
especialmente a Capital Federal [...] O rio de Janeiro é o lugar por excelência da
República. (BRASIL, 1995, p. 16)

Muitos são os problemas elencados pelos críticos para o insucesso ou sucesso dos
escritores: a necessidade de sustentarem a si e as suas famílias, alguns eram profissionais
do governo e isso os prendia bastante, a não dedicação à profissão de escritores. A seleção
que Assis Brasil faz na sua coletânea, apesar de um título abrangente: A poesia piauiense
no século XX, são listados cinquenta e um poetas e dentre eles, somente duas mulheres.
O crítico literário em seu texto naquilo que para ele é original e autêntico, à luz de
certa carga subjetiva, objetiva traduzir o texto nas suas zonas mais profundas, no seu
âmago, o seu conteúdo para elucidá-lo e provocar o leitor para aceitá-lo ou não, pois se
sabe que o homem ao longo de sua existência procura decifrar os mistérios da criação,
daquilo que não lhe satisfaz claramente ou subjaz nas entrelinhas do texto.
Silva (2005) ao falar do posicionamento do narrador no conto Macambira,de
Wellington Dias (1995) relata a sua experiência como escritor engajado, cujo texto é
portador “de uma visão do mundo situada e onde, queira ele ou não, se revela assim
impregnada de posição e escolha” (DENIS, 2002, p. 36). Nota-se que o envolvimento do
criador com o meio físico e com a população, nasce o conto sem idealismo, justificando
sua posição ideológica, como testemunha de homens que foram vencidos pelas forças da
natureza, e denuncia aqueles que detêm o poder e as ações, nada fazendo para modificar
o rumo da História. Ao acusar as decisões e as ações do poder público, o narrador
apresenta uma discussão entre o prefeito e os vereadores da cidade de Paes Landim, no
capítulo Debate, cujo título carrega certa ironia: não é momento para debates, e sim para
ações concretas: a seca estava instalada, fazendo vítimas. A ironia é reforçada com a
descrição do prédio e das autoridades como se observa no excerto:
No velho prédio da prefeitura, políticos com ares de autoridades-mor,
debatiam os problemas do município.
- Essa invenção de emergência. Não resolve nada. Faz é deixar o povo
mais preguiçoso.
Pregava o vereador Zé de Jorge.
- Ganham uma ninharia nas frentes de serviços e, na verdade, a maioria
nem pisa lá. Só têm vez os protegidos do prefeito...
Isto é calúnia.
Irritou-se o prefeito.
- Isto é verdade. [...]
Muito bem!
Aplaude a Câmara.

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- Jeito tem muito, senhor prefeito, colegas vereadores; o que falta é


honestidade e vontade de enfrentar o problema por parte dos órgãos
competentes.
- É nada, homem. O governo faz o que pode (DIAS,1995,p. 53-54)

A posição do narrador revela o reconhecimento daquilo que está na sombra, que


se esconde nas palavras, na ideologia do autor.
Clodoaldo Freitas, poeta, cronista, romancista, um dos fundadores da
Academia Piauiense de Letras – APL, em 1903, escolheu dez personalidades, dentre os
anos de 1870 até a fundação da APL e teceu uma crítica biográfica, reunida na obra Vultos
piauienses: apontamentos biográficos, composto por poetas, políticos, intelectuais e
cientistas, no grupo, apenas uma mulher. Magalhães (1998) considera Clodoaldo Freitas
o precursor da crítica literária, “em que revela um analista meticuloso e exigente,
atualizado em relação aos postulados estéticos das diversas escolas literárias e a suas
obras mais representativas em âmbito nacional”.(P.8)
Luíza Amélia de Queiroz Brandão, uma das componentes da obra, mereceu do
escritor o seguinte comentário:

Nascer, crescer e viver no gineceu do lar, no aconchego suavíssimo da família e


da abastança, sem experimentar no pé delicado a ponta do espinho das urzes da
existência, é, infelizmente, condão a poucos reservados, porém motivo,
certamente, para que a alma nunca se afervore em entusiasmos capazes de criações
imortais.
Os grandes artistas foram grandes desgraçados. (FREITAS, 1998, p. 107).

Comentários como esse devem ter levado a poetisa a se expressar assim, no poema Não
sou poeta ( novembro de 1872) na primeira estrofe:

Não sou poeta! Que ambição tão louca


Nunca me veio perpassar à mente,
Só o que quero, o que exalar procuro,
São os afetos que minh’alma sente.[...] (QUEIROZ, 2015, p.17)

O poeta Leonardo de N. Senhora das Dores Castelo Branco mereceu do analista


o seguinte comentário:

O poema A criação Universal, de Leonardo é dividido em seis cantos, segundo o


plano da criação bíblica [...] é um livro ilegível, sem elevação de estilo, sem arte,
cheio de puerilidades. Não tem uma página, uma linha que possa merecer a
posteridade. Tudo nele é prosaico e chato. [...] Seja como for, Leonardo das Dores,
pelo seu trabalho indefesso, pelos seus estudos, pela sua obra sobre mecânica, não
é de todo um nulo e bem poderia ser, se a tivesse publicado, que fosse um
benemérito da ciência. (FREITAS, 1998, p. 95-102)

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A crítica volta-se para o espectador ou leitor, não priorizando o estilo; atitude


que funciona na orientação do gosto ou da necessidade do leitor. João Pinheiro, em
1937, edita Literatura piauiense: escorço histórico em que traça um perfil da primeira
geração da literatura do Piauí. No Proêmio, encontra-se o seguinte comentário:

É relativamente pequena, quase apagada, a contribuição piauiense ao grande


certame da literatura nacional. [...] Este livro, não representa mais que “pequenas
excursões em terreno plano e terras amáveis. O viajante não subiu as montanhas,
em que rugem os ventos, nem desceu à concha dos vales profundos, ricos de
mistérios. (PINHEIRO, 2014, p. 11-13)

A obra apesar de um estudo incipiente, serve de pesquisa literária para os


estudiosos da Literatura piauiense. Em 2014, surgiu uma edição atualizada no projeto
Coleção Centenário, publicação da Academia Piauiense de Letras, no seu centenário para
o resgate de algumas obras que não circulavam mais. O conteúdo foi acrescido com o
Posfácio de Francisco Miguel de Moura.
João G. da Rocha Cabral, em 1938, lança A vis poética na literatura piauiense, a
partir de uma conferência realizada no Salão do Club Militar, em uma reunião das
Academias de Letras, no Rio de Janeiro. É uma conferência em que apresenta alguns
nomes da literatura e apresenta suas obras regadas a uma análise breve, porém
contundente e fascinante. Eis um trecho: “Si passarmos agora as “páginas fulgentes”, que
Da Costa e Silva – um dos maiores, sinão o primus inter pares dos poetas
contemporâneos.” [...] (sic) (CABRAL, 1938, p. 69)
O poeta cita o poema Rio das Garças, de Da Costa e Silva, para em seguida
comentar: “Julgo este soneto incomparável como lavor e sentimento para chave de ouro
desta parte do meu trabalho (CABRAL. 1938, p. 70). Cabral finaliza a conferência,
conclamando Cabral com um terceto do poema de Miguel de Carvalho Castelo Branco,
“antigo lente de Retórica e Arte poética no Liceu Piauiense, tradicional colégio piauiense..

Eis aí , senhores a poesia e o poeta piauiense. Eis aí o Piauí maravilhoso, e


demonstrada a tese desta conferência. [...]

Cabral! teu nome eterno já diviso,

Pois, si perdeu Adão o Eden na terra,

Tu, mais ditoso, achaste um paraíso! (sic) (CABRAL, 1938, p.114)

Seguindo na linha do tempo sobre a crítica no Piauí, destaca-se o Professor e


escritor A. Tito Filho, pertencente à Academia de Letras do Piauí. No livro Praça

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Aquidabã, sem número, no item Opinião (1975, p 13-15), alguns estudiosos assim se
manifestam sobre o vate:

Com o estudo sobre Zito Baptista você acaba de enriquecer a literatura piauiense.
É deveras invejável sua notável contribuição às nossas letras com seus admiráveis
estudos críticos. Quando se escrever doravante a história da cultura piauiense, seu
nome, por certo, estará entre os que maior contribuição lhe trouxeram, através da
pesquisa, da interpretação honesta e de estilo sério. M. Paulo Nunes (p. 13)
[...] riqueza de conhecimento vestida por um estilo sóbrio e elegante, revelando o
grande mestre da língua e da história literária que você é. Manoel Rodrigues de
Melo (p. 13)
A tranquilidade, a segurança e o equilíbrio em tudo que sai da sua pena ou da sua
boca mostram a dimensão do seu invulgar talento. A. Sampaio (p. 15)

Manuel Paulo Nunes, um dos criadores da revista Caderno de Letras Meridiano,


que circulou com apenas três números, mas marcou uma geração na historiografia literária
do Piauí, nas palavras do crítico, ele acreditava que,

Caberia a esta geração uma difícil tarefa. A de expressar a solidão humana, as


angústias do homem, a sua corrida para uma fraternidade ainda hoje inalcançada.
Os modernistas surgiram através da arcádia, que se constituíra favorecida pelas
defecções do Clube dos novos. (MORAES, 2019, p. 208).

Manuel Paulo Nunes, conforme Nelson Nery Costa (NUNES, 2019, p. 19),
sua crítica “nos jornais que compõem a obra Modernismo & Vanguarda – 1ª Série, às
vezes, dá a impressão de que se trata na verdade de um romance sobre a literatura luso-
brasileira do século XIX ao XX. Nejar, na orelha do livro, afirma que Nunes “demarca
em todos os trabalhos, a lucidez da visão, a coragem e o discernimento, o apreciar os
verdadeiros valores ou aprofundar-se na aventura do espírito”.
Herculano Moraes com Visão Histórica da literatura piauiense: 1808-1978,
lançado pela primeira vez em 1975, que para Francisco Miguel de Moura (2013), “entra
em cena a nova crítica piauiense, pois Herculano é o crítico por excelência da geração
clipiana” (297) . Herculano Moraes foi ensaísta, historiador, poeta, romancista, e, antes
de falecer em 2017, deixou uma nova edição da obra (inacabada, mas publicada como ele
deixara, pela coleção Centenário da APL), contendo outros temas e outros escritores e
algumas mulheres. Nelson Nery Costa, presidente da Academia Piauiense de Letras à
época, assim dissera na orelha do livro:

Foi o legítimo herdeiro da tradição de ensaio literário de João Pinheiro, com


Literatura piauiense –escorço histórico, corrente, seguida ainda, por Francisco
Miguel de Moura e por Assis Brasil, este um dos maiores críticos da literatura
brasileira da segunda metade do século XX.(MORAES, 2019)

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Francisco Miguel de Moura, um dos fundadores do Círculo Literário


Piauiense, da Revista Cirandinha, é poeta, contista e crítico, em Literatura do Piauí, traça
em dois capítulos um percurso sobre a crítica no Piauí e uma Antologia da crítica. Ele
mesmo diz ao se reportar sobre a obra:

Trata-se de uma segunda edição revista e aumentada para incluir todas as gerações,
inclusive as mais recentes, perfazendo assim dois ideais: cultuar nosso passado e
incentivar os que laboram, hoje, no mesmo sentido de sustentar a tocha de luz de
nossas letras. (MOURA, 2013)

Dilson Lages, outro crítico, poeta e romancista, apresenta Carlos Evandro,


com as seguintes palavras:

A crítica literária no Piauí estaria incompleta se cogitássemos concebê-la sem a


presença das contribuições de Carlos Evandro Martins Eulálio. Ao longo de sua
trajetória de dedicação aos estudos de escritores locais e ao magistério, como
professor de Literatura, sobretudo, antes do professor existiu – e existe – o
pesquisador inquieto que registrou, em sua escritura acadêmica, aspectos
definidores do discurso literário em diversos autores vitais do cânone piauiense.
(EULÁLIO, 2019, p. 11)

Os críticos aqui listados trouxeram contribuição para o debate sobre a história


da crítica literária em terras piauienses. Vários foram os olhares aqui relatados: uns com
uma crítica mais voltada para os valores intrínsecos da obra; outros, com uma crítica
mais impressionista; outros, com uma crítica mais impressionista; outros, representantes
da crítica jornalista e pela crítica acadêmica. Não foi possível apresentar a crítica presente
em algumas correspondências trocadas entre os escritores. Outros críticos incorporam a
realidade social do Piauí, o que enriquece o horizonte da crítica na historiografia literária
piauiense.

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REFERÊNCIAS

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In: CORIOLANO, José. Impressões e gemidos. Teresina: Academia Piauiense de Letras,
2015.

CORIOLANO, José. Impressões e gemidos. Teresina: Academia Piauiense de Letras,


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EULÁLIO, Carlos Evandro M. Mario Faustino Revisitado: textos críticos e antologia


comentada. Teresina: Academia Piauiense de Letras, 2019.

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MOURA, Francisco Miguel de. Literatura do Piauí ( de Ovídio Saraiva aos nossos dias).
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NUNES, M. Paulo. Modernismo & vanguarda: notas de leitura impressionista – 1ª


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PINHEIRO, João. Literatura piauiense: escorço histórico. Teresina:Academia


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piauiense: séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: Caetés, 2005.:

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