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Arelagao da educacao profissional e tecnolégica com a universalizagao da educagao basica Um dos equivocos mais recorrentes nas andlises da educacao no Brasil, em todos os seus niveis e modalidades, tem sido o de traté-la em si mesma e nao como constitui- da e constituinte de um projeto, situado em uma sociedade cindida em classes, fragdes de classes e grupos sociais desiguais e com marcas hist6ricas especificas. Esse equivoco se explicita tanto nas vi- sdes iluministas quanto nas economicistas € reprodutivistas. No primeiro caso, a educa- ao é concebida como o elemento libertador da ignorancia e constitutivo da cidadania. No segundo, sob os auspicios do economi- cismo, a educacio é propalada como capital humano e produtora de competéncias, como se representasse uma espécie de galinha dos ovos de ouro, capaz de nos tirar do atraso, colocar-nos entre os paises desenvolvidos de facultar mobilidade social. Por fim, nas visdes reprodutivistas, a educaco se reduz a.uma forca unidimensional do capital. Por certo, a educacdo medeia todas as dimensées citadas, porém a natureza dessas mediagSes se define pelas relagdes de poder existentes no plano estrutural e conjuntural Gaudéncio Frigotto da sociedade. Vale dizer, a educacao basica, superior e profissional se definem no emba- te hegeménico e contra-hegeménico que se da em todas as esferas da sociedade e, por isso, ndo pode ser tomada como um “fator” isolado, mas como parte de uma totalidade histérica complexa e contraditéria. ‘A conferéncia na qual apresentei este texto é um exemplo singular que explicita, desde sua organizacéo nos Estados, com a definigdo dos delegados, até a realizacaio dos debates sobre a concepgdo e o financiamento do ensino médio e de ensino médio integra- do, e a sua relaco com a formacio profissio- nal, o embate de interesses conflitantes. Nao por acaso o Sistema S esteve tao organica- mente presente em todas as conferéncias nos Estados e elegeu o ntimero de delegados que se fez presente na Conferéncia Nacional. Trata-se, pois, de uma conferéncia de embate politico e, assim pensamos, deve ser encarada. Cabe, sim, perguntar por que nao se quer mexer na caixa, nem mais tanto preta, do Sistema S, que movimenta mais de 10 bilhées de reais anualmente, sendo que, desses, mais da metade procede de 26 Jaqueline Moll & cols. fundo ptiblico compulsério e a outra parte é disputada em projetos de fundo piiblico, venda de servicos as empresas e cobranca de mensalidades? Onde est a funco social desse sistema, se especialmente 0 Servico Nacional de Aprendizagem Industrial (SE NAD, mas no s6, em lugar de centros de aptendizagem se denomina como unidades de negécio? Por que um lobby no Congresso ‘Nacional, certamente pouco democratico e patridtico, para apresentar como intocdvel © dinheiro puiblico que alimenta o Sistema S na constituigéo do Fundo para a Educacéo Profissional e Tecnoldgica? Também cabe perguntar, o que significa a defesa arraigada para que a formagio profissional seja ape- nas articulada e nao integrada A educagao basica, reiterando-se, em outros termos, 0 debate na Constituinte e na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de que a essa formacio po- dia ser polivalente, mas néo politécnica? ‘Neste breve artigo sobre a relagio en- tre a educacio profissional e tecnolégica e a universalizagio da educago bésica discu- tirei, ainda que de forma breve, trés pontos articulados." No primeiro ponto, apontarei a rei- teracdo de determinagdes estruturais que ajudam a entender o elevado grau de anal- fabetismo de adultos, a nao universalizacio da educagao basica na perspectiva da escola unitéria (politéenica e/ou tecnoldgica) e a concepgao da formagio profissional, na pers- pectiva estrita de adaptacao aos objetivos do mercado e nao aos direitos dos trabalhadores e de objetivos sociais mais amplos. Sob essa definigéo de projeto societério imposto pela burguesia brasileira, no segundo ponto, dis- cutirei a natureza da educagao basica (fun- damental e média) e as relagdes dessa com a educacio tecnolégica e profissional. Por fim, discutirei os desafios politicos para construir um consenso minimo entre as forcas que se opdem ao projeto e & doutrina neoliberais da fracdo hegemdnica da burguesia brasileira, associada ao grande capital que mantém a nagio brasileira subordinada e dependente aos seus interesses. ‘A DESIGUALDADE COMO PRODUTO E CONDICAO DO PROJETO DOMINANTE DE SOCIEDADE BRASILEIRA ‘Ao longo do processo eleitoral de 2008, a fragdo mais conservadora da burguesia brasileira, vinculada a partidos de direita ou centro-direita e A grande imprensa, que é dominantemente de sua propriedade, in- sistiu na tese de que o Brasil estava sendo dividido perigosamente e confrontado num conflito de classes. Uma insisténcia que re- ela, ao mesmo tempo, miopia e ignordncia. Mesmo que se tratasse de uma burguesia desprovida de conhecimento da literatura classica sobre nossa formacéo histérica, a desigualdade de classe é vista a olho nu na magnitude das favelas; no contraste entre latiftindios e 20 milhdes de sem terra; na populacdo carceréria (pobre, jovem e ne- gra) e numa das maiores desigualdades de distribuigao de renda do mundo, etc. Para entender a natureza da nossa di- vida com a educacao bésica e com a edu- cago profissional e tecnolégica, nas suas dimensoes quantitativa e qualitativa e na relacdo entre elas, é preciso perceber 0 tipo de estrutura social que se foi conformando a partir de um pais colonizado e escravocra- ta, durante séculos e a hegemonia, na dé- cada de 1990, sob os auspicios da doutrina neoliberal, de um projeto de um capitalismo associado e dependente. Os autores cléssicos do pensamento social, politico e econémico brasileiro per- Educacéo profissional e tecnolégica no Brasil contemporéneo_27 mitem apreender as forcas que disputaram ‘0s projetos societarios e entender o que nos trouxe até aqui. Permitem entender, por outro lado, por que o projeto da classe burguesa brasileira nao necessita da univer- salizagio da escola bésica e reproduz, por diferentes mecanismos, a escola dual e uma educacao profissional e tecnolégica restrita (que adestra as méos e aguca os olhos) para formar 0 “cidadéo produtivo”, submisso e adaptado as necessidades do capital e do mercado, Por outro lado, permitem tam- bém entender por que esse projeto combate aqueles que postulam uma escola unitéria, universal, gratuita, laica e politécnica. Com efeito, sob énfases diferentes, varios autores contemporaneos tracam os (des)ca- minhos que nos conduziram até o presente. Caio Prado (1966) destaca trés problemas que convivem e se reforcam na nossa forma- ‘Go social desigual e que impedem mudan- cas estruturais. O primeiro é 0 mimetismo na andlise de nossa realidade histérica, que se caracteriza por uma colonizacdo intelectual, hoje exercida pelas teses dos organismos in- ternacionais e de seus intelectuais e técnicos. s protagonistas dos projetos econémicos das propostas de reformas educacionais, a partir da década de 1990, formaram-se em universidades estrangeiras, {cones do pensa- ‘mento desses organismos e/ou trabalharam nos mesmos. O segundo problema é o cres- cente endividamento externo e a forma de efetiva-lo. E, por fim, temos a abismal assime- tria entre o poder do capital e do trabalho. Celso Furtado, 0 autor que mais publi- cou sobre a formacao econémico-social bra- sileira e a especificidade do nosso desenvol- vimento, sintetiza sua visdo critica aos ru- mos das opgées que o Brasil reiteradamente tem pautado dentro do seguinte dilema: a construgio de uma sociedade ou de uma nag&o onde os seres humanos possam pro- duzir dignamente sua existéncia, ou a per- manéncia em um projeto de sociedade que aprofunda sua dependéncia subordinada aos grandes interesses dos centros hegemé- nicos do capitalismo mundial.’ Dois autores contempordneos, de modo ‘mais incisivo, permitem-nos aprender a espe- cificidade da sociedade capitalista que consti- tufmos e quais sao as nossas (im)possibilida- des e desafios. Contrariando no s6 o pensa- mento conservador, mas também de grande parte do pensamento da esquerda brasileira, Florestan Fernandes (1975, 1981) e Francis- co de Oliveira (2003) rechacam a tese dual que atribui os impasses para nos desenvol- vermos & existéncia de um pais cindido entre © tradicional, o atrasado, o subdesenvolvido eomoderno e desenvolvido, sendo as primei- ras caracteristicas impeditivas do avanco das segundas. Pelo contrério, mostram-nos esses autores a relacdo dialética entre o arcaico, 0 atrasado, 0 tradicional, 0 subdesenvolvido, 0 modemo e 0 desenvolvido na especifi dade ou particularidade de nossa formagéo social capitalista. (O que se reitera, para Fernandes, no pla- no estrutural, é que as crises entre as fragdes da classe dominante acabam sendo superadas mediante processos de rearticulago do poder da classe burguesa, numa estratégia de con- ciliagéo de interesses entre 0 denominado ar- caico e 0 modemo. Trata-se, para Fernandes, de um processo que reitera, ao longo de nossa histéria, a “modernizacao do arcaico” € néo a ruptura de estruturas de profunda desigualda- de econémica, social, cultual e educacional. Na mesma direggo de Fernandes e em- basado numa andlise que sistematiza hé mais de 40 anos, Francisco de Oliveira (2003) evi- dencia que ¢ justamente a imbricagao do atra- so, do tradicional e do arcaico com 0 moder- no e desenvolvido que potencializa a nossa forma especifica de sociedade capitalista de- 28 Jaqueline Moll & cols. pendente, e de nossa insergao subalterna na diviso internacional do trabalho. Mais incisi- ‘vamente, os setores denominados de atrasa- dos, improdutivos e informais se constituem em condigéo essencial para a modernizacéo do nticleo integrado a0 capitalismo orgénico mundial. Dito de outra forma, os setores moder- nos € integrados da economia capitalista (interna e externa) alimentam-se e crescem_ apoiados e em simbiose com os setores atra- sados, Assim, a persisténcia da economia de sobrevivéncia nas cidades, uma ampliacao ou inchago do setor tercidrio ou da “altissi- ma informalidade” com alta exploragao de mao de obra de baixo custo foram funcio- nais 4 elevada acumulagio capitalista, a0 patrimonialismo e a concentracao de pro- priedade e de renda. Quase 40 anos depois de publicar Crit- ca d razdo dualista, Oliveira (2003) atualiza a sua andlise com o adendo de um novo capi- tulo cujo titulo é: 0 ornitorrinco (2003). Para Oliveira, a imagem do omitorrinco repre- senta a sintese emblematica das mediagdes do tecido estrutural de nosso subdesenvolvi- mento, a associagéo subordinada aos centros hegeménicos do capitalismo e os impasses a ‘que fomos conduzidos no presente. A metéfora do ornitorrinco traz, entao, uma particularidade estrutural de nossa for- macio econémica, social, politica e cultural, que nos transforma num monstrengo em que a excecio se constitui em regra, como forma de manter o privilégio de minorias. As rela- goes de poder e de classe que foram sendo construidas no Brasil, observa Oliveira, per- mitiram apenas parcial e precariamente a vi- géncia do modo de regulago fordista tanto ‘no plano tecnolégico quanto no plano social. Da mesma forma, a atual mudanca cientifico- -téenica, de natureza digital-molecular, que imprime uma grande velocidade a compe- tigéo e obsolescéncia dos conhecimentos, torna nossa tradic&o de dependéncia e cépia ainda mais inttil. O mostrengo configura o presente de forma emblematica por uma sociedade que se mantém entre as 15 de maior Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, na qual um dos seto- res que mais contribuiu para meta de supe- ravit primdrio de mais de 5% em novembro de 2005, garantia para os bancos credores, as dividas do agronegécio, Ao mesmo tempo, es- tamos um século atrasados na efetivacao da teforma agraria e convivendo com 4 milhées de familias, aproximadamente 20 milhdes de pessoas, nos acampamentos dos sem-terra. ‘Mais elucidativo e contraditério é que o pro- grama social de maior impacto no do inicio do governo Luiz Inacio Lula da Silva foi o Fome Zero, cujo objetivo tem sido possibilitar que dezenas de milhdes de pessoas tenham as re- feigies basicas todos os dias, ‘Atransigéo inconclusa da década de 1980 ea adesdo subordinada ao Consenso de Wa- shington a partir do governo Collor, mas reali- zado, sobretudo, nos oito anos de Governo Fer- nando H. Cardoso, aprofundaram o fosso de uma sociedade que se ergueu pela desigualdade e se alimenta dela. Define-se na “era Cardoso” © embate de forcas que atravessou o século XX e que se explicitou na metéfora do péndu- Io, utilizada por Otavio Tani (1966): as forcas que se alinhavam numa perspectiva de uma sociedade capitalista associada e dependente aos centros hegeménicos do capital-mundo e as que postulavam um desenvolvimento na- cional auténomo e sem declinar da soberania. ‘No plano ideolégico, nessa segunda alterna- tiva, encontravam-se e encontram forgas que tém como projeto societdrio a construgao do socialismo.* ‘A questéio que se coloca hoje é em que medida os quatro anos de governo Luiz Ind- cio Lula da Silva prosseguiram ou alteraram Educacdo profissional e tecnolégica no Brasil contemporéneo_29 essa tradigdo histérica, e qual significado pode assumir 0 novo mandato, Um balango das andlises do pensamento critico de es- querda nos mostra que nao ha uma avaliagdo consensual. Trés aspectos podem ser destaca- dos com relativa concordancia: a) Negativamente, evidencia-se a conti- nutidade da politica econémica dentro da 6tica monetarista e do ajuste fiscal, cuja logica é incompativel com as re- formas estruturais, sem as quais a de- sigualdade social prosseguird e nao ha- verd recursos substantivos para inves- tir em educagéo, ciéncia teenologia, cultura, satide, ete. Mesmo sabendo de condigées objetivas herdadas de um longo passado, a falta de ousadia e de sinais de uma nova diregdo acabaram acomodando os interesses que sempre impediram as mudancas estruturais. b) Prisioneiro da opeao anterior, o grande esforco do governo se concentrou nas Politicas distributivas e de assisténcia, focalizadas, cujo eixo basico é 0 Bolsa Familia e politicas de microcrédito e de ‘emprego dentro da prioridade de ele- vacao da renda minima. Paralelamen- te, mediante medidas de efeito contra- ditério, com as parcerias ptiblico-pri- vadas, desenvolveu outras politicas de inclusio: Escola de Fabrica, Programa Universitério para Todos (PROUND, as. ‘mais controversas, etc. ©) Asuspensio das privatizages e a po- litica externa brasileira para diminuir a dependéncia econémica com os Es- tados Unidos e a ampliagdo substan- tiva dessa politica para outras regi- Ges do mundo sdo aspectos positivos do atual governo. voto do segundo mandato esta clara- mente vinculado as politicas de assisténcia focal de inclusio social e seu sinal é con- traditorio. Positivo no sentido que sao in- cluidos, em um nivel de dignidade humana minima, milhées de brasileiros antes manti- dos na miséria absoluta. Isso foi o suficien- te para destrocar a dominacdo histérica de velhas oligarquiias, como é 0 caso exemplar da Bahia. A negatividade se consistird caso nao seja dado um salto qualitativo. Nisso re- side 0 ovo de serpente, Trata-se de produzir efetivamente uma inclusio de distribuicao de renda e emancipatéria que demandard o desenvolvimento capaz de gerar empregos de valor agregado e uma efetiva universali- zagio da educagio basica, com acesso efeti- vo ao conhecimento - com base em e arti- culado a educagio profissional. E isso, sem diivida, implicaré abandonar a politica eco- némica monetarista e rentista e encarar as reformas estruturais proteladas por séculos. E nessa encruzilhada que o novo mandato se aninha numa espécie de esfinge: deci- fra-me ou te devoro.* No préximo item, analisaremos as indi- cagées historicas que nos levam a concluir que, para 0 projeto societadrio historicamente até aqui dominante de uma sociedade capita- lista, mesmo em termos restritos, nado ha ne- cessidade de universalizacao da educagéo ba- sica de efetiva qualidade, mormente o ensino médio e, como consequéncia, a énfase da for- macao técnico-profissional e “tecnolégica” é de carter restrito e de alcance limitado. A UNIVERSALIZAGAO AUSENTE E A RELACAO FRACA ENTRE A EDUCAGAO BASICA E A FORMAGAO. TECNICO-PROFISSIONAL Que tipo de projeto de educagao escolar bésica e de formacao profissional e tecno- légica se coloca como necessario para uma 30. Jaqueline Moll & cols. sociedade que moderniza o arcaico e para a qual o atraso de determinados setores, a hipertrofia do trabalho informal e a precari- zac&o do trabalho formal, o analfabetismo, ete., nao sao obstdculos ao tipo de desenvol- vimento que se ergueu pela desigualdade e se alimenta dela? Diferentes elementos histéricos podem nos auxiliar a sustentar que, definitivamente - a educacao escolar basica (fundamental/ médio), piiblica, laica, universal, unitéria e tecnolégica que desenvolva as bases cienti- ficas para o dominio e transformacao racio- nal da natureza, a consciéncia dos direitos politicos, sociais, culturais, e capacidade de organizacao para atingi-los ~ nunca se co- Jocou como necessidade e sim como algo a ser contido para a classe dominante brasilei- ra. Mais que isso, nunca se colocou de fato, até mesmo, uma escolaridade e formacao técnico-profissional para a maioria dos tra- balhadores para prepard-los para o trabalho complexo que a colocasse, enquanto classe detentora do capital, em condigdes de con- correr com o capitalismo central.’ Um breve retrospecto hist6rico nos indi- ca uma trajetéria de interrup¢des dos proje- tos societdrios que postulavam as reformas estruturais e os investimentos em educaco, ciéncia e tecnologia, condigdes necessdrias & constituigao efetiva de uma naco soberana, mediante ditaduras e golpes. Os movimen- tos que configuraram a Semana da Arte Mo- derna foram abortados ou cooptados dentro de um proceso de transformismo, com a alianga conservadora da Revolucdo de 1930 ‘e-em seguida a ditadura Vargas, que, como mostra Anténio Candido (1984), nao se tra- tou de uma revolucdo efetiva, as reformas educacionais subsequentes nao resolveram © problema da educacéo. Apés a ditadura, do fim da década de 1940 até o golpe civil-militar de 1964, no- vamente a sociedade brasileira retomou seu projeto de nagéo e na pauta estavam as re- formas estruturais e a universalizacdo do que denominamos hoje como educagio basica. A resposta truculenta foi a imposig&o pela violéncia fisica e politica de um projeto eco- némico concentrador e espoliador da classe trabalhadora, Ampliou-se, durante 20 anos, 0 fosso entre ricos e pobres; evidencia-se, a olho nu, 0 desenvolvimento do Brasil “gigan- te com pés de barro”, como o caracterizou Florestan Fernandes. campo da educagdo teve um ciclo de reformas completo para adaptar-se ao pro- jeto do golpe civil-militar, Sob a égide do economicismo e do pragmatismo adotou-se a ideologia do capital humano, reiterando nossa vocacao para a cdpia e o mimetismo. ‘A Pedagogia do Oprimido, {cone de uma con- cepcio de educacéio emancipadora de jovens e adultos foi substituida pelo Movimento Brasileiro de Alfabetizacdo (MOBRAL), sob a pedagogia do mercado. A profissionaliza- Go compulsoria do ensino médio e a forma- do técnico-profissional foram consideradas dentro de uma perspectiva para adestrar e ensinar 0 que serve a0 mercado. A peda- gogia do Sistema S, em especial do SENAI, como pedagogia do capital, foi incorporada como politica dos governos militares para 0 campo da educacio A ditadura é indicador de falta de hege- monia. Vale dizer, é a imposigio pela fora de um determinado projeto e, por isso, as disputas nao sao anuladas, mas cerceadas. ‘Apés 20 anos de ditadura, novamente 0 Brasil, muito embora num contexto histé- rico marcado jé pela ideologia neoliberal e da globalizacio, inicia uma longa transicao para a democratizagéio da sociedade. O pro- cesso constituinte afirma a democracia polf- tica com a promulgacao da Constituicao de 1988. Nele, de forma contraditéria e ambi- Educacéo profissional e tecnolégica no Brasil contemporaneo_31 guia, esto proclamados os horizontes para avangar na democracia social. Todavia, as forcas conservadoras, uma vez mais, aban- donam a Constituicéo e a submetem, por decretos, medidas provisdrias e artificios juridicos, em uma letra morta. Com 0 governo Collor, inicia-se a cega adesao a doutrina neoliberal. O debate po- Iitico e econémico sao substitufdos pelo discurso técnico-gerencial e pelo idedrio do ajuste, descentralizacio, flexibilizacdo e privatizacdo. Esse idedrio teve consequéncia pratica nos oito anos do Governo Fernando Henrique Cardoso, de forma competente, segundo os ditames do que foi conhecido como 0 Consenso de Washington ou a car- tilha do ajuste dos paises dependentes para adequacao aos objetivos dos centros hege- ‘ménicos do sistema capital mundial. © campo educacional, como assinala- ‘mos na abertura deste texto, pode ser com- preendido no embate de forcas mais amplas estabelecido no ambito politico eeconémico. Uma longa experiéncia e detalhadas andli- ses levaram Florestan Fernandes a estabele- cer cenarios para a educacdo, conforme des- fecho da Constituigio de 1988. A educacéo nunca foi algo de fundamental no Brasil, e muitos esperavam que isso mudasse com a convocacdio da Assembleia Nacional Consti- tuinte. Mas a Constituicéo promulgada em 1988, confirmando que a educacao é tida como assunto menor, nao alterou a situacao (Fernandes, 1992). ‘A aprovagio da Lei de Diretrizes e Bases (1997) e do Plano Nacional de Educacao, em ambos os casos, derrotando as forcas vinculadas a um projeto nacional popular que postulavam mudangas estruturais na sociedade e na educagio, vieram confirmar, ao longo da década de 1990 e permanece inalterado, no substancial até hoje, o que assinalamos acima, com base em Anténio Candido e Florestan Fernandes, em relagdo aos tltimos 70 anos. Do ciclo de reformas educativas do golpe civil-militar, centrado na ideologia do capital humano, transitamos para um ciclo de reformas sob a ditadura do capital. A tra- vessia efetivou-se, perversamente, pela pro- funda regresséo das relagées sociais e com um aprofundamento da mercantilizagio da educago no seu plano institucional e no seu plano pedagégico (Frigotto, 2002). No am- Dito do pensamento pedagdgico, o discurso em defesa da educacéo é dominantemente tetérico ou colocado de forma inversa, tanto na ideologia do capital humano (conjuntura das décadas de 1960 a 1980), quanto nas teses, igualmente ideolégicas, da sociedade do conhecimento, da pedagogia das compe- téncias (Ramos, 2001) e da empregabilida- de (décadas de 1980 e 1990). No primeiro caso, a nogéo de capital humano mantinha, no horizonte da classe dominante, a ideia da educagao como forma de integrago, ascensio e mobilidade social. No segundo caso, com a crescente incorpo- ago de capital morto, por meio do uso da ciéncia e da tecnologia como forcas produti- vas diretas e por meio da ampliacao do de- semprego estrutural e de um contingente de trabalhadores supérfluos, as nogées de so- ciedade do conhecimento, qualidade total, cidadao produtivo, competéncias e empre- gabilidade tentaram convencer de que nio ha lugar para todos, tentando reduzir o di- teito social e coletivo ao direito individual. Essas nogées, todavia, ttm um poder ideol6gico letal e apresentam a realidade de forma duplamente invertida: 0 nosso desen- volvimento estd barrado porque temos baixos niveis de escolaridade e os trabalhadores nao tém emprego porque no investiram em sua empregabilidade, isto 6 0 quantum de edu- cagiio basica e de formagéo técnico-profissio- 32__ Jaqueline Moll & cols. nal que podem tornd-los reconhecidos pelo mercado como “cidadaos produtivos” (Fri- gotto e Ciavatta, 2006) e desejaveis pelo mercado. que se oculta € a opgio da classe dominante brasileira por sua inserc&io con- sentida e subordinada ao grande capital e ‘nosso papel subalterno na divisao interna- cional do trabalho com a hipertrofia da for- ‘macdo para o trabalho simples e as relagdes de classe no plano mundial e interno, Ou seja, a sociedade que se produz na desigual- dade e se alimenta dela, nao s6 nao precisa da efetiva universalizagéio da educacéo bé- sica, como a mantém diferenciada e dual. ‘Aqui situamos 0 sentido do debate sobre a questo da articulacéo e no a integracaio da formacdo profissional 4 educacao basica defendida pelo Sistema S. Assim é que as politicas educacionais, sob o idedrio neoliberal da década de 1990, ‘com um avanco quantitativo no ensino fun- damental e com uma mudanga discursiva aparentemente progressista no ensino médio e na “educacao profissional e tecnoldgica’, aprofundam a segmentagdo, o dualismo e perpetuam uma relagio débil entre ambas. ‘A quase universalizacao do ensino funda- mental se efetiva dentro de uma profunda de- sigualdade intra e entre regides e na relacio cidade/campo. A diferenciacéo e a dualidade aqui se estabelecem pelo nao acesso efetivo democratico ao conhecimento. A escola puibli- ca dos pobres e/ou dos filhos dos trabalhado- res, como demonstra historica e empiricamen- tea tese de Eveline Algebaile (2004), é uma escola que “cresce para menos”, E no ensino médio, definido na Cons- tituigéo de 1988 e na nova Lei de Diretri- zes ¢ Bases de 1996, que podemos melhor perceber 0 quanto sua universalizaco e democratizacao é desnecessdria ao projeto de sociedade até o presente dominante. O Decreto n° 2.208/97, restabeleceu 0 dua- lismo entre educagéo geral e especifica, humanista e técnica, destrogando, de for- ma autoritdria, 0 pouco ensino médio inte- gtado existente, mormente da rede Centro Federal de Educacao Tecnolégica (CEFET). Inviabilizou-se, justamente e no por acaso, 0s espacos, como sinaliza Saviani (2003), onde existiam as bases materiais de de- senvolvimento da educago politéenica ou tecnolégica. Ou seja, aquela que oferece os fundamentos cientificos gerais de todos os processos de produgao e das diferentes di- mensoes da vida humana. Mesmo sob essas condigdes de dualida- de, 0 ensino médio se constitui numa au- séncia socialmente construfda, na sua quan- tidade e qualidade, como o indicador da opcdo pela formacéo para o trabalho sim- ples e da néo preocupacio com as bases da ampliacdo da produgio cientifica, técnica e tecnoldgica e do direito de cidadania efetiva em nosso pais. ‘Apenas aproximadamente 46% dos jo- vens tém acesso ao ensino médio, sendo que mais da metade desses 0 fazem no turno no- turno e, grande parte, na modalidade de su- pletivo. Quando analisamos por regio a de- sigualdade aumenta. No campo, por exemplo, apenas 12% frequentam o ensino médio na idade/série correspondente, também com enormes desigualdades regionais. Recente relatério sobre ensino médio no campo mostra que poucas escolas ptibli- cas das dreas de Reforma Agraria ofertam 0 ensino médio, sendo mais da metade delas por meio de extensdes de escolas da cida- de. Com efeito, a Pesquisa Nacional da Edu- cagéo na Reforma Agraria (PNERA, 2004), feita pelo Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (INEP) em parceria com o Instituto ‘Nacional de Colonizagio e Reforma Agraria (INCRA), apontou que entre as 9,679 es- Educagéo profissional e tecnolégica no Brasil contemporéneo_33 colas existentes em assentamentos, apenas 373 oferecem o ensino médio.* O alarmante é que nao s6 0 INEP avalia que ha um déficit de 250 mil professores para 0 ensino médio, como dados recentes reve- Jam que em 48% dos municipios brasileiros, ‘o numero de matriculados no ensino médio diminuiu. O Censo Escolar de 2006 indica, por outro lado, que houve uma diminuicéo de 94 mil matriculas no ensino médio regu- lar em relacao a 2005 e um aumento de 114 mil no mesmo nfvel na educacéo de jovens e adultos (antigo ensino supletivo). A hipétese & que a grande parte desses 94 mil tenha mi- grado para o nivel médio supletivo.’ Esse é também um resultado da visdo de aumentar as estatisticas pelo atalho. O Conselho Nacio- nal de Educacéo diminuiu a idade minima de 18 para 16 e de 21 para 18, respectivamente, para o ensino fundamental e médio supleti- ‘yo. Um movimento inverso dos paises do ca- pitalismo central onde, nas tiltimas décadas, a tendéncia tem sido a de ampliar os anos de escolaridade regular. No Ambito da Educacdo Profissional e Tecnolégica, o governo, na década de 1990, valeu-se, como mostra Lobo Neto (2006), do discurso da tecnologia e da “tecnologia” dos discursos para organizar um sistema paralelo e dissimular sua efetiva natureza tecnicista, Na verdade, como nos mostra esse autor, a no- menclatura de “educacio profissional” escon- de seu contrério — uma politica de formacao profissional estreita e desvinculada de uma concepgao de educagéo omnilateral do ser humano historicamente situado (Lobo Neto, 2006, p. 170). O Decreto n® 2.208/97 tam- bém induziu a maioria dos Centros Federais de Educagdo Tecnolégica (CEFETS) a um direcionamento que reduziu o tecnolégico a.um upgrade da formacio técnico-profissio- nal. Um caminho inverso, portanto, ao sen- tido mesmo de educagéo tecnolégica como base ou fundamento cientifico das diferentes técnicas e de formagio humana no campo social, politico e cultural. Em um outro patamar, criou-se o Plano Nacional de Qualificagéo do Trabalhador (PLANFOR),” cujo fundo é disputado pelo Sistema S, organizagées nfo governamen- tais (ONGs), sindicatos e escritérios de or- ganizagio de cursos, cujo escopo é a conde- naco de milhares de jovens e adultos traba- Thadores, com escolaridade média de quatro anos, a cursos profissionalizantes, na sua maioria, desprovidos de uma base cientifi- ca, técnica e de cultura humana mais geral. Isso faz com que nao estejam preparados nem para as exigéncias profissionais e nem para o exercicio auténomo da cidadania. Cabe registrar que o Sistema S, que, na dé- cada de 1980, tinha como item de sua agenda, forcado pela sociedade, repensar sua funciio social, na década de 1990 comecou a denomi- nar, especialmente o SENAI como jé assinala- ‘mos, varios de seus departamentos regionais de unidades de negécio. Nesse caso uma no disfarcada privatizagio de fundo piblico. ‘Todos os indicadores nos conduzem a perceber que o péndulo nao se movimen- tou na direcdo das forcas que lutam por um projeto nacional popular e democratico de massa e as consequentes reformas estrutu- rais. Isso implicaria o vinculo a um projeto de educagio escolar e de formagio técni- co-profissional dos trabalhadores para o tra- balho complexo, condi¢ao para uma inser- cdo ampla na forma que assume 0 processo de produgio industrial-moderno com base cientifica digital-molecular, O projeto de um capitalismo associado e dependente nao ne- cessita da universalizagéo do ensino médio de qualidade. Os quadros necessdrios para ‘0s empregos formais que tém valor agrega- do ou procedem dos grupos internacionais que compraram as estatais brasileiras ou sao 34. Jaqueline Moll & cols. formados nos CEFETS, Sistema $ e nos cur- sos superiores. Dados recentes mostram que dos poucos egressos do ensino médio, muitos se negam a assumir empregos de baixissimo nivel ¢ de salérios irrisérios. Preferem migrar para paises onde remuneram, os mesmos servicos, quatro ou cinco vezes mais. A questao a destacar dentro do tema que dé o titulo a este texto-base para deba- te é: 0 que mudou no plano estrutural, no projeto societdrio e educacional no primeiro mandato do governo Lula? A andlise de Pochmann (2004) nos for- rece a resposta & indagagio. Para Pochmann, acentuou-se 0 empobrecimento e esvaziamen- to da classe média e ampliou-se a polarizagao de ladios opostos da pirémide social com a ele- vagio da concentragio de renda e de capital e ‘0 aumento significativo dos inseridos precaria- mente na base da pirdmide. Isso resulta, para Pochmann, da politica monetarista e fiscal que, de um lado, dé garantias aos ganhos do capi- tal, mormente o capital financeiro, e, de outro, sustenta programas de renda minima para 03 grandes contingentes como estratégia de dimi- nuigdo da indigéncia e pobreza absoluta. No Ambito educacional, nao sé pelas taz6es da ortodoxia da politica econémica, mas condicionado por ela, os avancos estru- turais nao podiam ocorrer. ‘Uma das cobrancas imediatas da drea de educacéo, mediada por suas organiza- ‘g6es cientificas, culturais e sindicais, pre- sente na proposta de governo era a revoga- ‘cdo do Decreto n® 2.208/97, uma espécie de simbolo da desastrada politica educacional da era Cardoso, A demora por mais de dois anos para que isso ocorresse é sintomatica. Isso somente foi feito em 2004 com a pro- mulgagio do Decreto n° 5.154/04. Na sua génese, dentro das contradigées da traves- sia, tratava-se de resgatar a perspectiva do ensino médio, na perspectiva da educagéio politécnica ou tecnolégica. Concepgao refu- tada e abertamente combatida pelas forcas conservadoras do governo FHC. Dai, contra- riamente A perspectiva de aligeiramento e profissionalizagéo compulséria da Reforma n° 5692/71 e do dualismo imposto pelo De- creto n° 2.208/97, o ensino médio integrado amplia de trés para quatro anos este nivel de ensino para permitir ao jovem uma formagao que articule ciéncia, cultura e trabalho em sua formagdo. Uma perspectiva, portanto, que su- pera tanto o academicismo quanto a visdo de profissionalizacdo adestradora. Tratava-se de avangar, tendo como parmetro as condigées matetiais dos CEFETS, na concepgao da edu- cago politéenica ou teenolégica no sentido trabalhado por Saviani (2003, 2006). Essa proposta nao avancou, tanto por fal- ta de decisiva vontade politica e recursos do governo federal e resisténcia ativa de gran- de parte dos governos estaduais, responsaveis pela politica de ensino médio, quanto por uma acomodagdo das instituigdes educacio- nais e da sociedade em geral."" Na verdade, a nao ser a partir de 2006, com a atual gestao da Secretaria da Educagao Média e Tecnolégi- ca (SEMTEC), 0 governo sequer atuava com uma definicio politica até mesmo na rede Ce- fet, diretamente ligada a ele. Mais que isso, 0 Conselho Nacional de Educagio estabeleceu diretrizes que acabam enquadrando, domi- nantemente, 0 novo Decreto dentro do espi- tito da tradig&o estreita da formagao técni- co-profissional, anulando, em grande parte, a revogacao do Decreto n° 2.208/97. Em relacdo as politicas de qualificagao, 0 PLANFOR, 0 mesmo foi transformado em Pla- no Nacional de Qualificacéo (PNQ), com di- recionamento mais incisivo na politica de em- prego e renda minima para desempregados, subempregados e forca de trabalho supérflua. Paralelamente, situam-se também progra- mas de primeiro emprego para jovens traba- Educacéo profissional e tecnolégica no Brasil contemporéneo_35 Ihadores que buscam emprego ¢ néo conse- guem. No Brasil, os dados das pesquisas de Pochmann (1998, 1999) indicam um desem- prego de insergao de 42,3% dos jovens. Nessa perspectiva, ultimamente, ganharam grande énfase politica no Governo Lula o Programa Nacional de Inclusao de Jovens (PROJOVEM), a controvertida Escola de Fabrica e 0 Programa de Educagio de Jovens e Adultos (PROEJA). Em relagio ao Sistema S, nao houve mudan- a significativa, a nfo ser a de induzi-lo a disputar fundos para atuar nesses programas ena perspectiva dos programas de renda mi- nima para os grandes contingentes de jovens € adultos, como estratégia de diminuigao da indigéncia e pobreza absoluta. Do que sintetizamos nesta breve andli- se, podemos inferir os seguintes pontos: * 0 projeto societério que se definiu, mormente na década de 1990, por um capitalismo monetarista e rentis- ta, associado de forma subordinada e dependente aos centros hegem6nicos do sistema capital, demanda domi- nantemente, na divisdo internacional do trabalho, o trabalho simples e de baixo valor agregado. Consequente- mente, para esse projeto de socieda- de, nao ha necessidade da universa- lizagao e nem da democratizacéio da qualidade da educagio basica, espe- cialmente de nivel médio. * Dessa op¢do, decorre a reiteracéio do dualismo entre educagéo geral e espe- cifica, humanista e técnica e, portanto, a fragil relacdo entre educagio basica ¢ formagao técnico-profissional e den- tro de uma perspectiva unidimensio- nal da pedagogia do capital e do mer- cado. Trata-se de formar o trabalhador cidadao produtivo adaptado a corrida sem fim de adquirir as “competéncias” de mios adestradas ou olhos agucados e coragéio e mente submissos. Essa 1é- gica perversa penetrou no imagindrio popular que 0 conduz a demandar esse tipo de formacio. * Os quatro primeiros anos de Governo Lula efetivaram avancos significativos nas politicas distributivas e compensa- térias, incluindo milhées de brasileiros na renda e cidadania minimas, mas nao conseguiram alterar as determina- gOes estruturais que geram a profunda desigualdade social. As forcas conser- vadoras buscarao, de todas as formas, fazer com que as mudangas estruturais nao ocorram neste segundo mandato. Como mostra Oliveira (2006), essa mudanga s6 ocorrerd mediante pres- sio das forgas de esquerda e dos movi- ‘mentos populares. DESAFIOS NA OPGAO DO PROJETO DE SOCIEDADE E DA RELAGAO EDUCACAO BASICA E TECNICO-PROFISSIONAL ‘A disputa, sobretudo presidencial, do se- gundo turno recolocou na agenda do debate a questio sobre que projeto de sociedade o Brasil quer construir. O resultado do segun- do turno manteve os votos que se mostraram inalterados ao longo de todo o processo e que representam, em sua maioria, a leitura dos que fizeram parte das politicas sociais distri- Dutivas e compensatérias. O diferencial para cima compée-se de votos de forcas muito di- versas, mas cuja avaliagio foi de que a candi- datura Alkmin representava o retomo das po- liticas aberta e doutrinariamente neoliberais. A tese basica da necessidade de acelerar © desenvolvimento, apresentada pelo atual governo como plataforma para os proximos quatro anos nos debates do segundo turno, 36 Jaqueline Moll & cols. precisa ser qualificada no plano tedrico e nas definigdes politicas. A dificuldade dessa qua- lificaco e o risco de nao sair do mesmo lugar se explicitou nas tensdes internas dentro do governo quando alguns setores explicitaram a conviegio de que a era Palochi acabara. Vale dizer que a politica econémica monetarista e rentista, centrada no ajuste fiscal para gerar superdvit de 4,5 ou 5% do Produto Interno Bruto (PIB), condigo sine qua e tese do de- senvolvimento é pura retérica. Osinal preocupante é de que esta tensao foi rapidamente silenciada em nome da uni- dade de discurso e, certamente, para nfo “as- sustar 0 mercado”, os investidores, etc, Nes- se particular, a adverténcia de Francisco de Oliveira (2006) tem, em sua dramatica dia- eticidade, para além de um posicionamento teérico, um apelo ético-politico. As esquerdas precisam aprender com o pequeno grande sardo Gramsci: a luta politica no capitalismo 6 uma permanente “guerra de posigées”, e a pregacio falsa de unidade, acima de tudo, somente serve para deixar os flancos abertos para forcas contrdrias a transformacio social. Assim, em certas conjunturas, a palavra de ordem pode ser “dividir para lutar melhor”, Arelagio de forcas certamente nao per mite rupturas abruptas, mas nao se faz ome- lete sem quebrar ovos. Ou seja, a mudanga de diego certamente vai contrariar interesses de grupos poderosos da burguesia brasileira, associada ao grande capital. A questo no é apenas desenvolver de forma sustentavel, mas qual 0 sentido e a quem serve esse de- senvolvimento e essa sustentabilidade. Nem © termo desenvolvimento e nem o termo sustentavel definem, por si, sua natureza. A histéria recente do capitalismo mundial e do Brasil tem mostrado que é possivel cres- cer muito - mediante um desenvolvimento desigual e combinado - aumentando a con- centragao de renda e capital, sem gerar um ntimero significativo de empregos e sem que os mesmos engendrem efetivo valor agrega- do para os trabalhadores. Nesse contexto, sustentabilidade significa politicas de ajuste fiscal, privatizagées, flexibilizagéo e perda de direitos dos trabalhadores. E nesse particular que reside a esfinge que clama por ser decifrada, ou o salto de qualidade dos prdximos quatro anos nao se dar, Voltam a tona os quatro aspectos apon- tados por Perry Anderson para que o Gover- no Lula pudesse, jé no primeiro mandato, significar um efetivo avango na sociedade brasileira e néo cair na armadilha da grande maioria dos governos de centro-esquerda e esquerda que se elegeram apés a década de 1980 e que acabaram completando as refor- mas da direita. Esse avanco, para Anderson, implica: nao confundir os votos ganhos com © poder; ter um projeto alternativo claro de sociedade e um grupo coeso na busca de sua concretizacao; vincular este projeto aos mo- vimentos sociais organizados e identificar 0 inimigo, sem subestimé-lo.'* Atarefa de decifrar a esfinge nao é de pe- quena monta, pois um projeto de desenvolvi- mento sustentdvel, que se afaste do consenso neoliberal, como sublinha o historiador Eric Hobsbawm, ndo pode funcionar por meio do mercado, mas operar contra ele (1992, .266, grifos meus). Por isso, para esse his- toriador, a coordenacéio desse processo nao pode ser sustentado nem por organizagdes nao governamentais (ONGs), nem pela igre- ja, mas pelo Estado, ainda que nao o atual. Certamente as parcerias publico-privadas que acalentam varios programas do atual governo estao na contramao desse horizon- te apontado pelo octagendrio historiador. O salto de qualidade tem como exigéncia encarar frontal e decididamente as reformas estruturais historicamente proteladas: a refor- ma agrdria e a taxaco das grandes fortunas, Educacéo profissional e tecnolégica no Brasil contemporéneo_37 com 0 intuito de acabar com 0 latifiindio e a altissima concentragio da propriedade da ter- a; a reforma tributdria, com o objetivo de in- verter a légica regressiva dos impostos, em que 08 assalariados € os mais pobres pagam mais, corrigindo assim a enorme desigualdade de renda; a reforma social, estatuindo uma esfera piblica de garantia dos direitos sociais e sub- jetivos. Isso pressupée, também, renegociar a divida interna e externa noutros termos. Ao, efetivamente, incluir as reformas estruturais na agenda politica, o governo am- pliard o apoio dos movimentos sociais e po- pulares ¢ do campo da esquerda. As politicas distributivas e de assisténcia imediata para milhées de brasileiros que esto em estado de miséria absoluta ou relativa ganharao mais forca e poderio ter um controle social ptiblico para néo se transformar em clientelismo e pa- temalismo (tracos fortes de nossa cultura po- Iitica) e para nao se tornarem permanentes. Esse projeto de sociedade e de desen- volvimento demandaré um gigantesco in- vestimento em ciéncia ¢ tecnologia, como condic&o necessdria & efetiva universalizacdo democratica da educagao basica. Nao basta a democratizagao do acesso, ha necessidade de qualificar as condigdes objetivas de vida das familias e das pessoas aparelhar 0 siste- ma educacional com infraestrutura de labo- rat6rios, professores qualificados, com sald- tios dignos, trabalhando numa tinica escola, etc. Para isso, nao é suficiente a aprovacio do Fundo de Manutengao e Desenvolvimento da Educagio Bésica e da Valorizagio dos Profis- sionais da Educagao (FUNDEB). No contexto do que estamos aqui sinalizando, os fundos se pautam na I6gica da “equidade minima” e ndo na qualidade necessdria. Esta impli- ca previséo de recursos constitucionais que a médio prazo dilatem para trés ou quatro vezes os investimentos atuais em educacao basica e superior. O estabelecimento de um vinculo mais organico entre a universalizacao da educa- do bésica e a formacio técnico-profissional implica resgatar a educacdo basica (funda- mental e média) na sua concep¢io unitd- tia e politécnica ou tecnolégica. Portanto, trata-se de uma educacao nao dualista, que articule cultura, conhecimento, tecnologia e trabalho como direito de todos e condicéo da cidadania e democracia efetivas. Saviani, sem diivida, é 0 educador brasileiro que efe- tivou a elaboraco mais consistente sobre as telagGes entre escola basica e mundo do tra- balho na perspectiva da educacao politécni- ca ou tecnoldgica, Para esse autor, se no ensino fundamental a relagio é implt- cita e indireta, no ensino médio a relagéo entre educacio e trabalho, entre o conheci- mento e a atividade prética deverd ser tra- tada de maneira explicta e direta. O saber tem uma autonomia relativa em relago ao proceso de trabalho do qual se origina. © papel fundamental da escola de nivel mé- io serd, entdo, o de recuperar essa relacdo entre o conhecimento e a pratica do traba- Iho (Saviani, 2006, p. 14). Como mostra ainda Saviani: essa é uma concepgao radicalmente dife- rente da que prope um ensino médio pro- fissionalizante, caso em que a profissiona- lizagdo é entendida como um adestramen- to em uma determinada habilidade sem © conhecimento dos fundamentos dessa habilidade e, menos ainda, da articulagao dessa habilidade com 0 conjunto do pro- cesso produtivo (Saviani, 2006, p. 5). ‘A proposta do ensino médio integrado se fundamenta nessa concepgio e se constitui, sem diivida, no grande desafio do atual go- verno para efetivamente implementé-la con- forme essa concepcio. A visio de articulagdo 38 Jaqueline Moll & cols. € no integragtio da formagio profissional & educagao basica, defendida por grande parte dos representantes dos dirigentes do Siste- ma S, delegados das Conferéncias Estaduais e agora delegados na Conferéncia Nacional, nao € trivial, Representa a perspectiva do dua- lismo e adestramento. HA aqui pelo menos dois obstdculos a serem enfrentados pela sociedade e gover- no. Primeiramente o de modificar as diretri- zes promulgadas pelo Conselho Federal de Educagéo que induzem a compreensiio do ensino médio a simples arranjos do Decreto n? 2.208/97, na perspectiva de articular e nao de integrar, e, em Ultima instancia, ao retorno do profissionalizante da reforma n® 5.692/71, um adestramento rapido com vis- tas ao mercado de trabalho. O segundo é 0 de quebrar a barreira de resisténcias das po- liticas estaduais sob quem estd a prerrogativa da oferta do ensino médio. Foram publicados recentemente os resul- tados do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEN), os quais nos revelaram aspectos im- ortantes. A imprensa propalou o sucesso das escolas de ensino médio piiblicas federais e de algumas escolas confessionais. O melhor de- sempenho foi da Escola Politécnica de Satide Joaquim Venancio — uma escola de ensino mé- dio vinculada 4 Fundagao Oswaldo Cruz. Tra- ta-se de uma escola que atende aos jovens de ‘camadas populares e de classe média, um pi- blico muito diverso do das escolas privadas de élite, Por que todas as escolas ptiblicas de ensi- no médio nao tém o mesmo desempenho? Quem responde a essa questdo, de for- ma correta politica e cientificamente, ¢ 0 Diretor da Escola Politécnica, professor An- dré Malhao, nas diversas entrevistas que lhe fizeram para que explicasse tal sucesso de desempenho dos alunos. Primeiramente, André Malhdo adverte que qualquer compa- racéo com as demais escolas da rede puiblica ¢ inadequada, porque as mesmas esto lon- ge de terem as condicées minimante com- parativas em termos de professores qualifi- cados (a maioria com mestrado e doutora- do), com grupos de pesquisa, laboratérios atualizados, biblioteca, espaco fisico. Em segundo lugar, o diferencial esté na propos- ta politica e pedagégica da escola, centrada no debate e concepgéo da escola unitaria e politécnica. Uma escola comprometida em formar jovens que articulem ciéncia, cultura e trabalho e lhes dé possibilidade de serem cidadaos auténomos. Que possam escolher seguir seus estudos ou ingressar na vida profissional. Como tive oportunidade de ex- pressar ao Presidente Lula, por ocasiéio da inauguragio do novo prédio da escola — 0 dia em que o Brasil universalizar esse tipo de ensino médio, ele se constituira efetiva- mente numa nagio. Trata-se de uma escola de ensino médio integrado. Mas isso signi- fica que a sociedade brasileira terd que ter consciéncia de que 0 custo dessa educagdo 6, pelo menos, 8 a 10 vezes maior daquilo que se propée mediante o FUNDEB. O ensino médio nos paises do capitalismo central nao custa menos que US$ 4.500 aluno/ano. Isso equivale ao que uma familia de classe média das grandes capitais brasileiras pagam em es- colas particulares laicas ou confessionais. Pela importancia estratégica, também, da rede de Centros Federais de Educacao Tecno- légica e das redes estaduais e municipais de escolas técnicas de nivel médio, é fundamental que as mesmas tenham a possibilidade de res- tauragio plena do nivel médio de ensino, na perspectiva da educagio politécnica ou tecno- légica e se constituam numa referéncia efetiva em suas condigées fisicas, materiais, formacdo condigdes do trabalho docente. Nao se trata de negar a prerrogativa do ensino superior, mas de garantir 0 ensino médio integrado como ‘uma de suas prioridades, Também ha que se Educacéo profissional e tecnolégica no Brasil contemporéneo 39 aprofundar a natureza do ensino superior e das universidades tecnoldgicas. Aqui trata-se de su- perar o viés que situa a educaco tecnolégica ‘como upgrade do ensino técnico em uma pers- pectiva reducionista e estreita, pressuposto € que se possa criar um Sistema ou Subsistema Nacional de Forma- ‘¢do/Qualificacao Profissional, como politica publica, articulando as miltiplas redes exis- tentes e vinculado as diferentes demandas do processo produtivo, a politica de criagdo de emprego e renda e, no contexto que ain- da nos encontramos, & politica piiblica de educagéo de jovens ¢ adultos. O Sistema ou Subssistema Nacional de Formagiio/Qualificagéo Profissional, como politica puiblica, estratégica e de Estado ar- ticularia as varias redes mantidas pelo setor piiblico nas diferentes esferas e no setor pri- vado. Essa é a perspectiva que Melenchon (2001, p. 5) denomina de “tesposta a um duplo imperativo do progresso: 0 acompa- nhamento da répida evolugo tecnolégica e garantia social do trabalhado”. Nesse particular, pela especificidade do Sistema $, que tem contribuicdo de fundo piiblico compulsério, o Estado tem a obri- gacdo de discutir uma tendéncia crescente (com énfase diversa institucionalmente) de se transformar em empresas de servicos com miltiplas “unidades de negdcio”. Trata-se de tetomar os debates dos anos de 1980 onde se discutia, interna e externamente, a fungéo social desse sistema e a criacio dos Centros Piiblicos de Formagao Profissional e de de- mocratizar efetivamente o Sistema S. Certamente, na direcao que assinalou 0 Ministro da Educacao, Femando Haddad, na abertura da Conferéncia Nacional de Educa- ‘Gao Profissional e Tecnoldgica —a sociedade e ‘© governo devem colocar em sua agenda que 08 recursos piiblicos arrecadados pelo Siste- ma $ tenham um fim e um controle clara- ‘mente piiblico. Por isso, a sociedade tem que cobrar bem mais que os 30% de recursos em vagas de alunos do sistema piiblico. H4 que se cobrar também o debate sobre a natureza da formacio profissional e quem a define. Os tempos em que vivemos nao permitem que ‘a mesma seja efetivada na perspectiva unidi- mensional de “adestrar as maos e agucar 0 olho”, como se referia Gramsci nos anos de 1930 em relagao a educagdo que interessava 0 capital e ao mercado.” Cobrar que o Siste- ma S$ volte a oferecer cursos em tempo inte- gral e com bolsa, como fez referéncia em seu pronunciamento na Conferéncia Nacional, relatando o seu préprio caso 0 Senador Paulo aim, parece-nos uma exigéncia minima. Hé milhdes de jovens que necessitam disso nas periferias das pequenas, médias e, sobretudo, grandes cidades e no campo. A auséncia de formagio profissional nos assentamentos da Reforma Agraria é gritante. O que nao é eti- camente insustentével é transferir esse fundo piiblico para formacéio de profissionais, até em nivel superior, para multinacionais ou em empreendimentos com a ética mercantil de unidades de negécio, Nesse particular, a ques- td0 ética, politica e juridica é a seguinte: se 0 Sistema $ ou parte dele quer ser empresa (uni- dade de negécio), até para que nao haja con- corréncia desleal no mercado, é preciso que re- nuncie 0 fundo ptblico compulsério, devolva 0 patriménio construido ao longo de mais de 50 anos e pague pela marca ou mude de nome, Em outros termos, ou o Sistema S utiliza o fun- do piiblico que recebe para politicas piiblicas orientadas pelo Estado ou o Estado tem o de- ver politico, social, econdmico e ético de rever a legislagéio que cria o Sistema S. Em termos mais amplos, cabe postular que a politica piblica de formagio profissional seja afirmada como prerrogativa do Estado ou a instituigdes por ele credenciadas & diplo- magio € certificagao. Ao Ministério da Educa- 40 Jaqueline Moll & cols. do cabe a coordenagio do Sistema Nacional de Formacio/Qualificagio. Também se pressu- poe a existéncia permanente de um fundo ga- rantido na constituigdo para esse fim, que in- lua, mas va além do Fundo de Desenvolvi- mento do Ensino Profissional e de Qualificacao do Trabalhador (Fundep). V4 além, pois os fundos (FUNDEB e Fundep) lidam dominante- ‘mente com a questo da equidade. Por fim, haveré em todas as redes, conforme principio de democracia substan- tiva, uma gestdo com participagao efetiva do Estado, dos trabalhadores e do setor produtivo. Um aspecto central dessa poli- tica de certificagéo, como prerrogativa do Estado, é 0 de se evitar a perspectiva do ne- g6cio aplicada a um tema que é um direito, malversando, inclusive, o fundo publico e também de combater cursos sem nenhuma qualidade técnica e ético-politica, cursos que atualmente funcionam como um en- godo, numa situacao de fragilidade imensa da classe trabalhadora. Se efetivamente se garante, no médio prazo, a educacéo bésica politécnica ou tecnolégica universal e de qualidade efetiva, a formacio profissional tera outra qualida- de e significard uma possibilidade de avan- 0 nas forcas produtivas e no processo de emancipaco da classe trabalhadora. Nesse percurso, julgamos importante que a politica piiblica de formacdo profissional se vincule as politicas de emprego e renda. Isso, por sua vez, implica, como mostramos ao longo deste breve texto, que se politize o debate em todas as esferas, mormente a econdmi- ca, rompendo com a doutrina que atribui neutralidade aos técnicos e gestores. Cabe a classe trabalhadora lutar em suas orga- nizagdes e movimentos para construir uma nag&o contra aqueles que historicamente moldaram um capitalismo dependente, as- sociado e subordinado ao capital mundial. NOTAS 1 O texto aqui apresentado, como subsidio pa- ra a Conferéncia Nacional de Educagtio Pro- Jissional e Tecnoldgica, é,em grande parte, uma sintese de estudos realizados e publicados nos wltimos anos. A andlise que vinca esta discusséo se encontra especialmente em Fri- goto, G. (2006), Frigotto, G. Ciavatta, M. e Ramos, M. (2005 e 2005a) e em Frigotto, G. e Ciavatta, M. (2006). 2 Para uma andlise de nossa formagio histérica sobre a qual se assentam as disputas de pro- {etos societérios, mormente no século XX, ver Nelson Werneck Sodré (2004). 3. Ver, desse autor, especialmente, Furtado (1982, 2000). 4 Ver, a esse respeito, Fiori (2002). 5 Accurta, mas densa e eloquente andlise de Francisco de Oliveirano artigo Votocondicional em Luiz Indcio (Jornal Folha de So Paulo, 30.10.2006) expde, sem meias palavras, a natureza da esfinge e as consequéncias do nao deciframento. 6 Como mostra Saviani (2003), a denomina- fo de Educagao Tecnolégica em nossa tradi- fo tem assumido equivocadamente o sentido restrito de formagao téenico-profissional. Por uma razio pedagégica e politica, manteremos a denominagao de Educago Tecnoldgica ou Politécnica no sentido e contexto que Saviani (2006) propée. 7 Os pontos abordados até o fim deste item so uma sintese de trabalhos recentemente pu- blicados. Fundamentalmente nosapropriamos das ideias bésicas do texto Fundamentos cien- tfficos e técnicos da relacao trabalho e educagiio no Brasil hoje (Frigotto, 2006) 8 Ver Documento Final do 1° Seminario Na- cional sobre Educagao Bésica de Nivel Médio nas éreas de Reforma Agraria. Luzifinia, Goids, 2006 (elat6rio final). 9 Ver, Jornal O Globo. Rio de Janeiro, 01 de no- vembro de 2006, Caderno Pais, p. 17. 10 Céa (2002) efetiva uma densa andlise sobre © PLANFOR, definindo-o no primeiramente como politica de formagio e qualificago, mas sobretudo como politica social focalizada e Educacéo profissional e tecnolégica no Brasil contemporaneo_41 precéria dentro da agenda da reforma do Es- tado e da reestruturagéo produtiva. 11 Aos que se interessam em aprofundar o debate em relagio A génese, concepsao e contradigdes do decreto 5.154/04, ver Frigotto, G.; Ciavatta, M. e Ramos Marise, (2004 e Frigotto, G. e Cia- vatta, M. e Ramos, M. (2005). 12Para uma melhor contextualizagio da andlise de Anderson, ver Frigotto (2004). 13 Ver, aesserespeito,o texto: Fazendo pelas méosa cabega do trabalhador.(Frigotto, 1982/1983). REFERENCIAS ALGEBASILE, E, Escola publica e pobreza: os sen- tidos da expansio escolar na formaao da esco- la pitblica brasileira. Niter6i, UFR, 2002. Tese de Doutorado. CANDIDO, A. A Revolugéo de 1920 e a Cultura, ‘Novos estudos CEBRAP. Sao Paulo, v.2, 4. p. 44- 26, abril de 1984. CEA, G. S. 8. A qualificagao profissional entre fios invistveis: uma andlise erica do Plano Nacional de Qualificago do Trabalhador. Séo Paulo, PUC/SE ‘Tese de Doutorado. FERNANDES, E Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. FERNANDES, E. A revolugiio burguesa no Brasil. Um ensaio de interpretacio sociolégica. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. (Biblioteca de Ciencias Sociais) FIORI, J. L. O nome aos bois. Instituto da Cida- dania ~ Fundagio Perseu Abramos. So Paulo, 30.10.2002. 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