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AÇÕES E SEGURANÇA NAS ESTRUTURAS DE AÇO

2.1 Critério de Dimensionamento Elástico e Plástico

2.1.1 Teoria Elástica de Dimensionamento

Nas estruturas de aço, geralmente se considera o limite de


escoamento como início de ruptura do material. Para ter segurança
contra a ruptura por escoamento, utiliza-se no cálculo, as tensões
admissíveis que são obtidas dividindo-se o limite de escoamento
pelos coeficientes de segurança respectivos.
O dimensionamento é considerado satisfatório quando a maior
tensão solicitante “σ” em cada seção é inferior ao valor admissível
“σadm” correspondente.
σ ≤ σadm (Eq. 2.1)

2.1.2 Teoria Plástica de Dimensionamento das Seções ou


“Estado Limite Último”

O dimensionamento estrutural das seções, segundo as teorias


plásticas (ou estados limites últimos NB-14, item 4.7.1.1),
consiste em calcular a resistência limite de cada seção (resistência
à ruptura Ru) e compará-las com os esforços solicitantes (S)
provocados pelas cargas (Qi) multiplicadas por coeficientes de
segurança (γi).

S ( Σ γ i . Qi ) < R u (Eq. 2.2)

Os coeficientes de segurança (γ) são adotados com valores


diferentes para cada tipo de carga, dependendo da maior ou menor
influência de cada solicitação no colapso da estrutura.
2.2 Dimensionamento das Seções no Estado Limite de Projeto

O estado limite de projeto, também chamado estado limite


de cálculo, é uma situação derivada da Eq. 2.2, decompondo-se
os coeficientes de segurança (γ) em dois fatores:
a) fator de ampliação das solicitações (γf) – majorando o esforço
teórico solicitante, multiplicando por um fator de ponderação que
torne pequena a probabilidade de que ele seja superado durante a
vida útil da estrutura;

b) fator de redução da resistência interna (φ) – minorando a


resistência teórica de cada componente, multiplicando-a por um
coeficiente (menor do que 1) que, também, torne pequena a
probabilidade dela ser menor do que o valor calculado.

O dimensionamento das seções no estado limite de projeto


obedece à seguinte equação de conformidade, para cada seção da
estrutura:

S d = ( Σ γ f . Qi ) (Eq. 2.3)

Segundo a NB-14 que estabelece que a solicitação de cálculo


“Sd” não pode ser maior do que a resistência de cálculo “Nr” do
elemento estrutural:

S d ≤ Nr (Eq. 2.4 )

Que por sua vez a resistência de cálculo é calculada para


cada estado limite aplicável, sendo igual ao produto da resistência
nominal “Nn” pelo coeficiente de resistência “φ” (fator redutor menor
do que a unidade):

Nr = φ . Nn (Eq. 2.5 )
Onde:
Sd → solicitação de cálculo (ou projeto);
Nr → resistência de cálculo;
Nn → resistência nominal;
φ→ coeficiente de resistência (coeficiente de redução NB-14, Caps.
5, 6 e 7).
2.3 Cálculo das Solicitações atuantes segundo critérios da NB-
14

Os esforços solicitantes oriundos de ações estáticas ou quase


estáticas e que atuam nas diversas seções de uma estrutura,
podem ser calculados por dois processos:
a) estática clássica ou elástica, admitindo-se que a estrutura se
deforma em regime elástico;
b) estática inelástica, considerando-se o efeito das deformações
plásticas nas seções mais solicitadas.

As ações a serem consideradas em projetos de estruturas


metálicas e seus respectivos componentes são estipuladas pela
norma:
• ações permanentes (G): peso próprio da estrutura, de
revestimentos, pisos, acabamentos, equipamentos.
• ações variáveis (Q): sobrecargas de ocupação da edificação,
mobília, divisórias, vento em coberturas, empuxo de terra, variação
de temperatura.
• ações excepcionais (E): explosões, choque de veículos, abalo
sísmico.

Para obter o esforço de cálculo nos estados limites últimos, as


combinações de ações em duas situações são os seguintes:

a) para combinações normais de utilização e combinações


aplicáveis a etapas construtivas - montagem (NB-14, item 4.8):

Onde:
G → ação permanente;
Q1 → ação variável predominante para o efeito considerado;
Qj → demais ações variáveis que atuam simultaneamente com a
ação principal;
γg → coeficiente de ponderação da ação permanente;
γq1 → coeficiente de ponderação da ação predominante;
γqj → coeficiente de ponderação das ações variáveis;
ψj → fator de combinação de ações no estado limite de projeto.

b) para combinações excepcionais (NB-14, item 4.8):

Onde:
E → ação excepcional; são consideradas excepcionais, tais como:
explosões, choque de veículos, efeitos sísmicos (terremotos), etc.
ψ → fator de combinação de ações no estado limite de projeto.

A NB-14, apresenta os coeficientes de ponderação como


mostrados na tabela 1.

Obs.: Algumas explicações são necessárias para aplicação da


tabela 1.
• As ações permanentes são consideradas de grande
variabilidade quando a imprecisão no processo construtivo
levar incerteza aos valores finais de carga, por exemplo:
 obras de alvenaria, onde as paredes costumam apresentar
espessuras diversas;
 a espessura dos revestimentos;
 peças de concreto fundidas em obra; etc.

• As ações permanentes de pequena variabilidade, podem ser


consideradas os componentes das estruturas oriundas do
peso de peças de aço e de elementos em concreto pré-
moldado com controle final de peso.

• As variações de temperaturas definidas na tabela 1, são


apenas as variações devidas ao meio ambiente.

• Dentro de ações variáveis pode-se considerar como cargas


variáveis decorrentes do uso da edificação: sobrecargas em
pisos e em coberturas, cargas de pontes rolantes, cargas de
outros equipamentos, etc.
• Os valores entre parênteses (*) correspondem aos
coeficientes para ações permanentes favoráveis à segurança;
ações variáveis e excepcionais favoráveis à segurança não
entram nas combinações.

• Quando o peso próprio da estrutura supera 75% do peso


permanente total da construção, este último é considerado
como carga permanente de pequena variabilidade; caso
contrário, como de grande variabilidade.

Os valores que a NB-14 apresenta para os fatores de


combinação (ψ) encontram-se na tabela 2.
Obs.: Algumas explicações para aplicação da tabela 2.
• O impacto, quando aplicável, deve ser considerado na carga
variável correspondente;

• Adota-se ψ = 1, para combinações envolvendo cargas da


mesma natureza, por exemplo, todas as ações variáveis
decorrentes do uso de uma edificação (sobrecargas em pisos
e coberturas, cargas de pontes rolantes e de outro
equipamento) são consideradas da mesma natureza da ação
variável predominante (Q1), assim como as ações variáveis
não citadas nesta tabela.
Exemplo de combinação de ações

Exemplo 1:
No caso de coberturas pode-se ter como cargas atuantes:
- Ação permanente:
Peso próprio (PP) – G

- Ações Variáveis:
Sobrecarga (SC) – Q1
Vento (V) – Q2

):
Coeficientes de ponderação para uso normal (γ):
Peso próprio – Ação permanente pequena variabilidade: γg = 1,3 ou
1,0
Sobre carga – ações do uso: γq1 = 1,5
Vento – demais variáveis: γq2 = 1,4

Fatores de combinação das ações (ψ):


Sobrecarga – Ações não citadas na tabela 2 – ψ1 = 1
Vento – Pressão dinâmica do vento – ψ2= 0,60

Combinações de ações:
a) PP + SC
b) PP + vento
c) PP + SC + Vento

Portanto:

a) Sd = γ g G + γ q1Q1 = 1,3G + 1,5Q1 = 1,3 x ( PP ) + 1,5 x ( SC )

b) Sd = γ g G + γ q 2Q2 = 1,3G + 1,4Q2 = 1,3 x ( PP ) + 1,4 x (V )

c)
Condição 1:
Sd = γ g G + γ q1ψ 1Q1 + γ q 2ψ 2Q2 = 1,3G + 1,5 x 1 x Q1 + 1,4 x 0,6 x Q2
Sd = 1,3 x ( PP ) + 1,5 x 1 x ( SC ) + 1,4 x 0,6 x (V )

Condição 2:
Sd = γ g G + γ q1ψ 1Q1 + γ q 2 Q 2 = 1,3G + 1,5 x 1 x Q1 + 1, 4 x Q 2
Sd = 1,3 x ( PP ) + 1,5 x 1 x ( SC ) + 1,4 x (V )

Exemplo 2:
No caso de pisos de mezaninos, pode-se ter como cargas
atuantes:
- Ação permanente:
Peso próprio (PP) – G
- Ações Variáveis:
Sobrecarga (SC) – Q1
Equipamentos (EQ) – Q2

):
Coeficientes de ponderação (γ):
Peso próprio – Ação permanente pequena variabilidade: γg = 1,3 ou
1,0
Sobre carga – ações do uso: γq = 1,5

Fatores de combinação das ações (ψ):


Sobrecarga (Arquivos) – ψ1 = 0,75
Sobrecarga (equipamentos) – ψ2 = 0,65

Combinações de ações: PP + SC

1)
Sd = γ g G + γ q Q1 + γ qψ 2Q2 = 1,3G + 1,5Q1 + 1,5 x 0,65 x Q2
Sd = 1,3 x ( PP ) + 1,5 x ( SC ) + 1,5 x 0,65 x ( EQ )

Ou

2)
Sd = γ g G + γ qψ 1Q1 + γ q Q2 = 1,3G + 1,5 x 0,75 x Q1 + 1,5 x Q2
Sd = 1,3 x ( PP ) + 1,5 x 0,75 x ( SC ) + 1,5 x ( EQ )

EXERCÍCIOS:

1) Calcular a solicitação de projeto (intervalo de cargas) que agem


sobre uma barra de treliça de um galpão industrial decorrentes dos
seguintes carregamentos:
Solução:
Sd1 = [ (120 x 1,3) + (150 x 1,4) ] + (110 x 1,5) + (180 x 1,4 x 0,6)
Sd1 = 156 + 210 + 165 + 151,2
Sd1 = 682,20KN

Sd2 = [ (120 x 1,3) + (150 x 1,4) ] + (180 x 1,4) + (110 x 1,5 x 0,65)
Sd2 = 156 + 210 + 252 + 107,25
Sd2 = 725,25KN

Sd3 = [ (120 x 1,0) + (150 x 0,9) ] + (-50 x 1,2) + (-800 x 1,2 x 1,0)
Sd3 = 120 + 135 – 60 - 960
Sd3 = 270 - 780
Sd3 = - 765 KN

Sd4 = [ (120 x 1,0) + (150 x 0,9) ] + (-800 x 1,2) + (-50 x 1,2 x 0,6)
Sd4 = 120 + 135 – 960 - 36
Sd4 = -741 KN

Intervalo de Carregamentos:
Sd = 725,25 kN (Tração)
Sd = - 765 kN (Compressão)

2) Calcular a solicitação de projeto (intervalo de cargas) que agem


sobre uma barra metálica de treliça decorrente dos seguintes
carregamentos:
• Peso próprio da estrutura: + 130 kN;
• Sobrecarga dos equipamentos: + 100 kN;
• Carga do vento: - 70 kN;
• Recalque diferencial: - 580 kN.
Solução:
Sd1 = [ (130 x 1,3) ] + 100 x 1,5
Sd1 = 319 kN (tração).

Sd2 = [ (130 x 1,0) ] + (-70 x 1,4) + (-580 x 1,2 x 1,0)


Sd2 = - 664 kN (compressão).

Sd3 = [ (130 x 1,0) ] + (-580 x 1,2) + (-70 x 1,4 x 0,6)


Sd3 = - 624,8 kN (compressão).

Intervalo de Carregamentos:
Sd = 319 kN (Tração)
Sd = - 664 kN (Compressão)

3) Uma barra componente de um edifício industrial está submetida


aos seguintes esforços:
• Peso próprio da estrutura metálica: -520 KN
• Peso próprio das lajes de concreto pré-moldadas: -1100 KN
• Cargas permanentes de paredes de alvenaria: -240 KN
• Vento (subpressão): -130KN
• Vento (sobrepressão): +350 KN
• Sobrecarga de depósitos que produzem tração: +700KN
• Sobrecarga de depósitos que produzem compressão: -2100KN

Determinar o esforço máximo na barra.

Solução:
O peso próprio da estrutura pode ser considerada como sendo uma
carga de pequena variabilidade, γ = 1,3.
As paredes de alvenaria por não possuírem um controle mais
severo de seu peso, devem ser consideradas de grande
variabilidade, γ = 1,4

Sd1 = [ (-520 x 1,3) – (1100 x 1,3) – (240 x 1,4) ] +(-2100 x 1,5) + (-


130 x 1,4 x0,6)
Sd1 = - 5701,2KN

Sd2 = [ (-520 x 1,3) – (1100 x 1,3) – (240 x 1,4) ] + (-130 x 1,4) + (-


2100 x 1,5 x 0,75)
Sd2 = - 4986,5KN

Sd3 = [ (-520 x 1,0) – (1100 x 1,0) – (240 x 0,9) ] + (700 x 1,5) +


(350 x 1,4 x 0,6)
Sd3 = - 492KN

Sd4 = [ (-520 x 1,0) – (1100 x 1,0) – (240 x 0,9) ] + (350 x 1,4) +


(700 x 1,5 x 0,75)
Sd4 = - 558,5KN

Sdmáx = 5701,2 KN (compressão)

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