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PRODUÇÃO DE VACINAS VIRAIS PARTE I: engenharia de bioprocessos

Guilherme Mateus BOUSADA1


Erlon Lopes PEREIRA2

1
Setor de Engenharia Química. Departamento de Química. Universidade Federal de Viçosa. Campus Viçosa-MG.
guilherme.bousada@ufv.br.
2
Setor de Engenharia Química. Departamento de Química. Universidade Federal de Viçosa. Campus Viçosa-MG.
erlonlopes@gmail.com

Recebido em: 29/08/2016 - Aprovado em: 10/03/2017 - Disponibilizado em: 01/07/2017

RESUMO
As vacinas são uma das maiores conquistas da humanidade em termos de diminuição das doenças. O correto entendimento
de sua produção, a partir não só dos conhecimentos biológicos, mas também em termos de engenharia, é de fundamental
importância para que os avanços já adquiridos possam ir cada vez mais longe. A produção de vacinas torna-se, assim, um
importante nicho de pesquisa para os engenheiros, de modo especial na produção de vacinas virais, destacadas no presente
artigo, em que o cultivo de células animais deve estar alinhado com as questões de biossegurança e bioética. Como estudo
de caso é apresentada a produção da vacina contra o influenza no Instituto Butantan, no Brasil. A segunda parte do artigo
discute, sob a perspectiva da bioética personalista ontologicamente fundada, sobre a eticidade do uso de linhagens celulares
derivadas de abortos, tais como a MRC-5, WI-38, PER.C6 e HEK293, na produção de algumas vacinas.
PALAVRAS-CHAVE: Vacinas virais. Engenharia de bioprocessos. Escalonamento. Biossegurança. Bioética.

ABSTRACT
Vaccines are one of the most important achievements of humankind in terms of protection against diseases. The
understanding of their production, considering not only biological issues, but also the engineering perspective, is of core
importance for the continuous improvement in this field. The Bioprocess Engineering aproach conveys an important area
for engineer survey, particularly for virus vaccines, described in more detail in this article, where animal cells cultivation is
deeply related with economics, bio-safety and bioethical issues.As a study case, this article also presents the influenza
vaccine production by Butantan Institute, in Brazil. The second part of this article discusses, under ontologically founded
personalist bioethics perspective, about the use of cell cultures derived from abortions, such as MRC-5, WI-38, PER.C6 e
HEK293, in the production of some vaccines.
KEYWORDS: Viral vaccines.Bioprocess engineering.Scale-up.Bio-safety.Bioethics.

1INTRODUÇÃO desenvolviam formas mais brandas da


enfermidade que se apresentava como
A história das vacinas remonta aos trabalhos epidemia na Europa (HISS, 2001;
pioneiros de Jenner (1749-1823), no final do século SCHATZMAYR, 2003). Devido aos
XVIII, quando ele utilizou material obtido de lesões primeiros estudos terem sido realizados com
de pele de animais infectados pela varíola bovina a bovinos deu-se o nome de vacina, que deriva
fim de promover a imunização. Tal atitude deveu-se do latim vacca(vaca), ao produto. Embora
à observação que os ordenhadores que tinham Jenner tenha publicado seu estudo no século
contato com os bovinos acometidos pela doença XVIII, Hiss (2001) e Schatzmayr (2003)
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descrevem que na China no século VI pessoas coqueluche, poliomielite, sarampo, caxumba e
saudáveis eram expostas a secreções provenientes rubéola. A varíola, segundo o autor, foi
de pessoas que haviam sido infectadas por essa considerada erradicada pela Organização
doença, sendo essa possivelmente a primeira Mundial da Saúde (OMS) em 9 de dezembro
tentativa de vacinação contra a varíola. de 1979. Esse sucesso tem crescido ainda
De acordo com Hiss (2001) nem mesmo os mais com o rápido progresso nos campos da
antibióticos foram tão eficazes quanto as vacinas na imunologia e da biologia molecular, tornando
diminuição da mortalidade. Dado disponibilizado possível o desenvolvimento de novas técnicas
pelo Boletim da Organização Mundial da Saúde de imunização (SCHATZMAYR, 2003).
(ANDREet al., 2008) mostra que nenhum outro A primeira parte do artigo teve como
avanço no campo do combate às doenças objetivo contribuir para o entendimento da
infecciosas teve tanto impacto quanto as vacinas, produção das vacinas sob a perspectiva da
exceto a utilização da água potável, sendo Engenharia de Bioprocessos descrevendo os
confirmado pela empresa Sanofi Pasteur (2012a) . aspectos biotecnológicos utilizados para a
Independentemente do agente causador da produção de vacinas virais. Como estudo de
doença, as vacinas têm como principal objetivo caso foi apresentada ainda a produção da
estimular as defesas imunológicas do organismo vacina contra a influenza sazonal realizada no
(SANOFI PASTEUR, 2012a). Valendo-se das Instituto Butantan, no Brasil, sendo
próprias bactérias ou vírus causadores das doenças, consideradas ainda perspectivas de mudanças
ou mesmo de fragmentos retirados deles, é possível para essa forma de produção. Na segunda
obter proteção contra doenças de modo eficaz e parte este trabalho vem apresentar uma
duradouro (SANOFI PASTEUR, 2012a). De acordo reflexão, sob a perspectiva da bioética
com o Centers for Disease Controland Prevention personalista ontologicamente fundada, sobre o
(2015), do U.S. Department of Health and Human uso de linhagens celulares oriundas de fetos
Services (Departamento de Saúde e Serviços abortados, tais como a MRC-5, WI-38,
Humanos dos EUA), existem atualmente vacinas PER.C6 e HEK293 na produção de algumas
que protegem contra mais de 20 doenças humanas. vacinas.
Segundo Hiss (2001), a vacinação
controlou nove principais doenças em algumas 2 O PROCESSO DE IMUNIZAÇÃO
partes do mundo,desde seu surgimento até os dias
atuais: varíola, difteria, tétano, febre amarela, Para o melhor entendimento a respeito
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do funcionamento das vacinas, Schatzmayr (2003) passiva artificialmente adquirida (IPA). De
salienta a necessidade de se levar em conta os acordo com os autor a IA ocorre quando o
mecanismos de resposta imunológica dos contato com o antígeno é realizado através de
organismos. Segundo Hiss (2001), o princípio feridas ou outr
básico de ação das vacinas dá-se pela exposição do como ocorreu no caso observado por Jenner.
organismo aos antígenos, que são substâncias Já a IP ocorre quando há passagem de
presentes nos micro-organismos e que estimulam a anticorpos da mãe para a criança em
produção de anticorpos no hospedeiro. Unindo sua formação. A IPA, por sua vez, ocorre no caso
exposição à de Schatzmayr (2003), entende-se que a da administração de soros.
introdução do antígeno no organismo a ser
imunizado induz uma resposta imunológica sem que 3 PRINCIPAIS TIPOS DE VACINAS
seja contraída a doença. Tal processo pode ser
denominado imunização ativa artificialmente Segundo JosefsbergeBuckland (2012),
adquirida. Essa imunização ocorre devido à as vacinas podem ter origem viral ou
formação de células de memória, que após terem bacteriana, contendo os organismos inteiros,
tido contato com o antígeno são capazes de ativar, macromoléculas específicas purificadas,
mesmo após longo tempo, as células específicas de vetores recombinantes, peptídeos sintéticos ou
defesa. DNA. O Quadro 1 apresenta algumas vacinas
Segundo Hiss (2001) outras formas de agrupadas segundo seus componentes
imunização seriam as imunizações ativa (IA) e a principais.
passiva (IP) naturalmente adquiridas e a imunização

Quadro 1- Classificação de vacinas para uso humano.


Classificação Exemplos de vacinas licenciadas
Vírus atenuado Varíola, poliomielite, sarampo , caxumba, rubéola , varicela,
rotavírus, herpes zóster, gripe e febre amarela.
Vírus inativado Pólio inativada , encefalite japonesa,hepatite A,
Influenza(sazonal e pandêmica ) e raiva.
Bactéria atenuada
Tuberculose e febre tifóide.
Bactéria inativada
Coqueluche.
Proteína purificada
Coqueluche acelular.
Toxóide (proteína) purificado
Tétano, antraze difteria.

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Partículas purificadas que imitam vírus (VLPs)
Hepatite B e vírus do papiloma humano.
Polissacarídeos purificados
Pneumocócica para adultos e febre tifóide.
Polissacarídeo conjugado Pneumocócica para crianças , tipo haemophilus B e meningite
à proteína carreadora bacteriana.
DNA plasmídico
Em desenvolvimento.
Adenovírus carreadorde DNA
Em desenvolvimento.
FONTE: Josefsberge Buckland (2012).
demonstra concentração do capital intelectual
Tendo em vista o amplo espectro de e da tecnologia nesse setor. Todavia, o autor
classificações das vacinas indicados no Quadro 1, o concluiu que o cenário apresentava
presente artigo irá limitar-se às vacinas virais. O perspectivas de mudança. Hiss (2001),
artigo de JosefsbergeBuckland (2012) pode ser Schatzmayr (2003) e Sthephens (2014)
consultado para maior detalhamento de outros tipos descreveram que além desses problemas
de vacinas. mencionados existiam outros que afetavam a
produção em larga escala como:
4 DESAFIOS PARA A PRODUÇÃO EM
LARGA ESCALA A grande maioria dos profissionais
trabalhando nesse campo é composta por
Segundo Schatzmayr(2003), o principal cientistas(biólogos, médicos e
problema relativo à produção das vacinas seria a farmacêuticos), faltando profissionais
baixa participação dessas no mercado mundial, o com conhecimentos de Engenharia.
que diminuiria o interesse das indústrias Dificuldades de integração entre a
farmacêuticas em sua produção. Essa informação foi academia e a indústria.
confirmada por recente notícia divulgada pela BCC Dificuldades inerentes ao processo, tais
Brasil, em que se reconhece a negligência do setor como o uso de meios complexos,
farmacêutico diante do ramo de vacinas, que necessidade de assepsia estrita.
representa apenas uma pequena parcela de lucros As condições do meio favorecem o
(DUARTE, 2016). crescimento de um amplo espectro de
Buckland (2005), por sua vez, afirmou que micro-organismos (temperaturas ao redor
apenas as empresas farmacêuticas Merck &Co.,Inc, de 37 °C e pH~7,5).
GlaxoSmithKline, Wyeth e Sanofi Pasteur possuíam Necessidade de grande atenção quanto ao
o necessário para produzir novas vacinas. Isso risco de infecção dos operadores.
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Os antígenos não são o produto metabólico biofarmacêutico em larga escala. Segundo os
principal. autores os trabalhos de bancada exigem
Os produtos tendem a ser lábeis. quantidades de material pequenas e têm como
Existe perigo de responsabilização da objetivo principal a obtenção de produtos com
indústria devido a efeitos adversos alta pureza, sendo muitas vezes desconsiderado o
inesperados. fato de que alguns métodos empregados
A alta regulação e burocracia no laboratorialmente são inviáveis para maiores
desenvolvimento das vacinas encarece o produções. O Quadro 2 mostra processos
processo. alternativos para o escalonamento de um
Os países que seriam virtualmente os processo.
maiores consumidores do produto são os que Uma sugestão apresentada por Alisson e
possuem o menor poder de compra. Tranter (2010) seria a de que os pesquisadores
Em relação às dificuldades de integração pensassem previamente sobre como os projetos
entre a academia e a indústria, apresentada entre de pesquisa seriam implementados a nível
os pontos acima, Alisson e Tranter (2010) industrial. Essa recomendação mostra claramente
discutiram sobre como os profissionais da a necessidade de maior integração entre a
academia que pesquisam nesse campo academia e a indústria a fim de que os projetos
geralmente desconhecem as dificuldades de pesquisa não fiquem apenas no papel.
econômicas e de regularização de um processo

Quadro 2- Métodos alternativos para escalonamento.


Função Método de Pesquisa Alternativas para scale-up
Expressão intrínseca, indução por mudança
Iniciação da expressão Adição de indutor químico.
fisiológica.
Fermentação por batelada ou batelada
Crescimento celular Cultura em erlenmeyrs agitados.
alimentada.
Homogeneizadores a alta pressão, moinhos
Rompimento celular Sonificação.
de esferas, lise química.
Decrescimento da atividade Uso de linhagens deficientes na produção de
Uso de inibidores de proteases.
proteolítica proteases.
Remoção do DNA do Cromatografia de troca iônica, filtração
Uso de nucleases.
hospedeiro usando membranas.
Centrifugação por fluxo contínuo, filtração
Remoção de particulados Centrifugação em batelada. por fluxo tangencial, cromatografia de leito
expandido.
Cromatografia de troca iônica, filtração
Remoção de endotoxinas Polimixina. usando membranas, produção de linhagens
gram-positivas.
Troca de tampão Diálise. Filtração por fluxo tangencial, filtração gel.
FONTE: Alisson e Tranter (2010).
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Apesar das dificuldades apresentadas por exigem um maior volume para uma única
Hiss (2001), Schatzmayr (2003), Buckland (2005) e batelada. Os valores de volumes de cultura
Sthephens (2014), Hiss (2001) afirmou que a utilizados para o preparo de uma dose humana
produção de vacinas em escala piloto com reatores total de vacina estão apresentados na Tabela 1.
pode ser suficiente para o atendimento da demanda,
diferentemente de outros processos biológicos, que

Tabela 1: Valores aproximados de volumes de cultura para o preparo de uma dose humana total (dht*) de algumas vacinas
bacterianas e virais.
Tipo de vacina Inoculação por dht mL de cultura por dht
Pertussis 3 1,0
Difteria 3 0,3
Tétano 3 0,3
-estafilocócica 2 0,5
Cólera (via parental) 2 0,2
Cólera (via oral) 2 2,0
Tifo (via parental) 2 0,02
Tifo (via oral) 2 2,0
BCG 1 0,02 a 0,1
Pólio (inativada) 3 6
Pólio (atenuada) 3 0,1
Varíola 1 0,03
Sarampo (inativada) 3 1,0
Sarampo (atenuada) 1 0,003
Rubéola (atenuada) 1 0,1
FONTE: Hiss (2001).
*Dose humana total é o número de vezes em que se deve administrar a vacina para adquirir a imunidade pretendida.

A Tabela 1 indica claramente os altos especiais de cultivo, como o uso de peles de


rendimentos conseguidos na produção das doses bezerro e ovos de galinha. Tais dificuldades
vacinais, já na época de sua elaboração. Como foram superadas pelo cultivo submerso, que
exemplificação, Hiss (2001) sugere que 25 bateladas permite um maior controle (HISS, 2001).
anuais de 2000 L em um único biorreator de 3300 L Dados da OMS (2016), no entanto,
seriam suficientes para produzir 50 milhões de indicam que atualmente cerca de 80% do
doses vacinais contra a pertussis. mercado mundial de vacinas advém da
Os avanços tecnológicos também favorecem produção de cinco grandes multinacionais,
a implementação industrial. Um exemplo disso são atestando que o mercado permanece restrito.
as vacinas virais, quede acordo com Hiss (2001) e
Schatzmayr (2003) seriam difíceis de serem
produzidas em larga escala devido às condições
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5 PRODUÇÃO DE VACINAS VIRAIS produto.
Segundo Schatzmayr (2003) as vacinas
5.1 Classificação das Vacinas Virais vivas apresentam vantagens em relação às
mortas. Elas possuem menor custo e
De acordo com Josefsberg e facilidade de produção em grande escala, o
Buckland(2012), as primeiras vacinas produzidas que pode ser exemplificado com os casos da
foram as virais e as bacterianas. Para o segundo tentativa de erradicação da varíola e da
caso, empregam-se processos fermentativos nos poliomielite. Além disso, Schatzmayr (2003) e
quais as próprias bactérias são cultivadas (HISS, Strugnellet al. (2011) afirmaram que o sistema
2001). As vacinas virais, por outro lado, exigem o imunológico responde melhor às vacinas
uso de células hospedeiras a fim de que os vírus vivas, uma vez que simulam a infecção
possam se multiplicar, pois são parasitas celulares natural, garantindo também uma proteção
obrigatórios que necessitam do maquinário da célula mais duradoura. Todavia, os mesmos autores
hospedeira para produzir suas proteínas (HISS, apresentaram como desvantagem a dificuldade
2001). de estocagem, devido à maior possibilidade de
Schatzmayr (2003) classifica as vacinas deterioração, sendo necessária a refrigeração
virais em dois grupos básicos: as vivas e as mortas. para os casos em que não é possível a
As primeiras conteriam vírus ativos, enquanto nas liofilização. Outra desvantagem é o risco,
segundas os vírus teriam sido inativados por ainda que pequeno, da amostra readquirir
métodos físicos ou químicos. No caso das vacinas virulência.
mortas, a inativação dos vírus dá-se com o uso de Schatzmayr (2003) descreveu que uma
formol ou detergentes, como no caso da gripe. O das formas de obtenção das vacinas vivas
autor apresenta como vantagemdesse tipo de vacina consistiria em fazer com que os vírus passem
a maior segurança para o vacinado. Como por células de variados hospedeiros, em
desvantagem apresenta o fato de que esse tipo de diferentes condições de temperatura, até que
vacina pode produzir uma resposta imunológica surjam ao acaso mutantes menos virulentos.
menos eficiente e duradoura em comparação às Segundo o mesmo autor, devido à
vacinas vivas. Pode-se concluir que isso significaria aleatoriedade do processo, às vezes não é
um custo mais alto, pois quanto maior o número de possível obter resultados equivalentes, mesmo
doses que deverão ser administradas, menor será o repetindo-se as condições anteriores. A vacina
número de vacinados para a mesma quantidade de contra a febre amarela, a 17 D, foi obtida a
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partir desse método (FRIERSON, 2010). limitada, semimpedir a formação dos
Outras técnicas mais sofisticadas para a anticorpos. A desvantagem dessa técnica,
obtenção dos vírus atenuados são as técnicas de segundo o autor, é a dificuldade de prever as
biologia molecular. Schatzmayr (2003) destaca as consequências das inserções para o organismo
técnicas de deleção, inserção e quimeras virais. Na hospedeiro e para o preparo geral das vacinas.
técnica de deleção são retirados segmentos Na técnica com produção de quimeras virais
genômicos do DNA viral, objetivando produzir uma as mesmas são obtidas pela conexão de vários
menor virulência sem, no entanto, impedir a fragmentos virais distintos.
formação do antígeno. Na técnica de inserção são O Quadro 3 resume, de maneira comparativa,
algumas características das vacinas vivas e
inseridos fragmentos genômicos no DNA viral
mortas.
fazendo com que sua replicação no hospedeiro seja

Quadro 3-Características de vacinas vivas e mortas.


Vacinas vivas Vacinas mortas
Exemplos: pólio oral, sarampo/caxumba/ rubéola,
Exemplos: pólio inativa, hepatite A.
varicellazóster, algumas para gripe.
Simulam melhor uma infecção natural, favorecendo a
Geralmente requer o uso de adjuvantes devido à
resposta imunológica, mas podem reter mais fatores de
menor resposta imunológica.
evasão imune.
Resposta imunológica obtida com apenas 1-2 doses. Geralmente necessita de doses múltiplas.
Podem ser necessárias doses de reforço para manter
Resposta imunológica longa e persistente.
imunidade a longo prazo.
Pode induzir alguns sintomas da doença de maneira
Não induz sintomas da doença.
branda.
Reversão à virulência rara, mas possível.
É não infecciosa, não havendo risco de reversão.
Incompatibilidade com pacientes imunodeficientes.
Possibilidade de interferência imunológica quando com
Há baixorisco de interferência imunológica.
outras vacinas vivas.
Relativamente estável com o decorrer do tempo e mais
Menos estável com o tempo. Sensível ao calor.
resistente a mudanças na temperatura de refrigeração.
Resposta afetada se tiver havido administração recente de
Geralmente não é afetada pela administração de
sangue ou derivados ou a presença de anticorpos
sangue ou derivados.
maternos na criança.
FONTE: STRUGNELL et al, 2011.

As características desses tipos de vacinas 5.2 Culturas Celulares para a Produção de


apresentados no Quadro 3 devem ser levadas em Vacinas Virais
consideração ao se pensar em fazer uma
implementação em escala industrial. Josefsberg e Buckland (2012)
descreveram que o primeiro cultivo de uma

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vacina viral foi em 1949, por Enders, utilizando tipo de cultivo celular, além de possuir a
para isso células humanas não-neurais. Esse fato foi desvantagem de serem necessariamente
relevante porque o poliovírus, cultivado por Enders, dependentes de suporte. Aubritet al. (2015),
era considerado estritamente neurotrópico por sua vez, descrevem também a existência
(NORRBY, 2007). Segundo os autores, existem de células diplóides de linhagem não-contínua
dois tipos de culturas celulares: aquelas em que as que não foram descritos por Josefsberg e
células são extraídas diretamente de tecidos e órgãos Buckland (2012). Os Quadros de 4 a 6
animais, e aquelas em que são utilizadas linhagens mostram algumas linhagens celulares com as
celulares de células diplóides modificadas a fim de respectivas vacinas para uso humano.
se reproduzirem indefinidamente. Além disso,
ressaltaram o tempo de vida limitado do primeiro

Quadro 4- Substrato celular geralmente usado para produção de vacinas humanas utilizando células primárias.
Linhage Tipo de Em
m célula e Susceptibilidade viral desenvolviment Vacinas comercializadas
Celular origem o
CEF Fibroblastos Febre amarela, Vacinasbaseadas Raiva (Rabipur®),encefalite
(Chicken de embrião raiva,encefalite novírus Vaccinia transmitida por carrapatos (FSME -
Embryofi de galinha. transmitida por Ankara Immun®, Encepur® ), sarampo
broblast) carrapatos, sarampo, modificado, (Attenuvax®),caxumba
caxumba. HIV, febre Q. (Mumpsvax®).
FONTE: Aubritet al. (2015).

Quadro 5- Substratos celulares geralmente usados para produção de vacinas humanas utilizando linhagem de células
diplóides.
Linhage Tipo de Em
m célula e Susceptibilidade viral desenvolviment Vacinas comercializadas
Celular origem o
MRC5 Pulmão Varicela zóster, poliovírus, Raiva. Vírus varicela zóster(Varilrix®,
(Medical embrionário raiva, hepatite A. Biopox®, ProQuad®), poliovírus
Research humano. (Poliovax®), raiva (Imovax®),
®
Council) hepatite A (VAQTA ).
WI-38 Pulmão Rubéola, adenovírus. Rubéola (Meruvax® II), adenovirus
(WistarIn embrionário (Adenovirus Tipo 4 e Tipo 7
stitute) humano. Vaccine, Live, Oral®).
FONTE: Aubritet al. (2015).

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Tipo de
Linhagem
célula e Susceptibilidade viral Em desenvolvimento Vacinas comercializadas
Celular
origem

Vírus da gripe , vírus do sarampo , vírus da caxumba Gripe pandêmica e


,vírus herpes-simplex,poxvírus,vírus da doença de sazonal,vírus da doença de
Embriões Gripe pandêmica (não possui
EB66® Newcastle, vírus Sindbis,virus Sendai ,encefalite Newcastle, vacinas
de pato. nome comercial ainda).
equina venezuelana, febre amarela,vírus da estomatite recombinantes vírus Vaccinia

FONTE: Aubritet al. (2015).


vesicular. Ankara modificado.

Gripe pandêmica (Celvapan®) e


sazonal (Preflucel®), varíola
Vírus influenza A e B,vírus do sarampo, vírusvacínia,
Rim de (ACAM2000®), Encefalite
vírus da rubéola, vírusda caxumba, vírus da doençade Enterovirus,sincialrespiratór
macaco japonesa (Ixiaro®,IMOJEV®),
Vero Newcastle, poliovírus,arbovírus (incluindo io, DMPB, vírusinfluenza ,
verde poliovirus (OPV®, IMOVAX
dengue),raiva,vírussincial respiratório, parainfluenza, raiva.
africano. Polio®, PolioRIX®, Adacel®),
reovírus.
raiva (VERORAB®, Abhayrab®),
rotavirus (RotaRIX®, RotaTeq®).

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Influenza vírus tipo A e B, Vírus coxsackie B3
Rim humano, B4 e B5 ,reovírus tipo 2 , adenovírus Gripe Sazonal Gripe sazonal
MDCK
canino. associado 4 e 5 , vírus vaccínia , vírus da estomatite epandêmica ,enterovirus. (Optaflu®,Flucelvax® ).
vesicular , poliovírus humano dois

vacinas baseadasvírus

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Retina
AGE1.CR® Varíola, varíola aviária, vírusinfluenza ,alfavírus. VacciniaAnkaramodificado,
de pato.
vírusinfluenza.
embrion Adenovírus, vírus influenza ,lentivirus, polioviruse, Virus influenza, virus do
PER.C6®
ária ebola. oeste do Nilo.
Quadro 6- Substratos celulares em estudo para produção de vacinas humanas utilizando linhagens celulares contínuas
Josefsberg e Buckland (2012) reportaram linhagem celular na produção de vacinas para
que em 1962 a linhagem Vero, extraída a partir dos uso humano. Josefsberg e Buckland (2012)
rins do macaco verde africano,foi a primeira confirmaram a amplitude da regularização
linhagem de células de mamíferos (Quadro 3). dessa linhagem celular para a produção de
Pailletet al. (2009) indicaram o uso dessa linhagem vacinas para uso humano. O Quadro 7 mostra
celular na produção de vacinas contra a raiva, algumas vacinas licenciadas com essa
poliomielite, enterovirus 71 e vírus Hantaan. Os linhagem celular, subdivididas em vacinas
autores atestaram ainda arecomendação da vivas e mortas.
Organização Mundial de Saúde para o uso dessa

Quadro 7- Vacinas licenciadas produzidas a partir da linhagem Vero.


Tipo de vacina Exemplos
ACAM20001 (Sanofi Pasteur, Lyon, França), contra a varíola; Rotateq1 (Merck,
WhitehouseStation, Nova Jersey), contra o rotavírus e Rotarix1 (GSK, Brentford,
Vacinas Vivas
Middlesex, Reino Unido), também contra o rotavírus.
H5N1Preflucel1 (Baxter, Deerfield, Illinois), pandêmica contra a gripe; Ixiaro1 (Intercell,
Vacinas Mortas Viena, Áustria), contra encefalite japonesa.
FONTE: Josefsberg e Buckland (2012).

Schatzmayr (2003) alertou para a ser escolhida na replicação dos vírus, tomando
necessidade de se eliminar os fatores oncogênicos como base os vírus influenza. Seguindo sua
ao serem utilizadas células de mamíferos para a linha de raciocínio, pode-se concluir que a
multiplicação dos vírus. No entanto, de acordo com linhagem celular a ser escolhida deve,
o autor, a utilização dessas células traria como preferencialmente, permitir a replicação dos
vantagem a maior similaridade das proteínas virais vírus em grandes quantidades e possuir uma
que são produzidas com aquelas encontradas nas resposta rápida e eficiente nessa replicação,
doenças humanas. Segundo Schatzmayr (2003), ser adequada para licenciamento nos órgãos
Kreuzer e Massey (2005) outra alternativa para a responsáveis, permitir a remoção de DNA
produção de proteínas antigênicas seria o uso de residual no produto final, assim como das
células vegetais. O primeiro autor apresentou próprias células e de fatores oncogênicos.
resultados de pesquisas referentes à produção de Deve ainda poder ser usada para diferentes
proteínas da doença hemorrágica do coelho e do tipos de vírus e crescer em um meio
vírus da hepatite B. quimicamente definido, evitando aqueles que
Rappuoli (2006) apresentou algumas contêm componentes derivados de animais e,
características desejáveis para a linhagem celular a portanto, apresentam flutuações na
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composição. Essa vantagem também viria da menor por exemplo, poderiam exigir a execução de
possibilidade de contaminação quando comparado mais de 50 testes durante sua produção,
aos meios com componentes de origem animal segundo a empresa.
(como o soro fetal bovino (AUBRITet al.,2015)). A empresa Sanofi Pasteur (2012b)
Essa opinião é compartilhada por Astleyet al. (2007) descreveu o início da produção com a
e Aubrit et al. (2015). O segundo autor afirmou, multiplicação dos vírus nas células
ainda, que nenhuma linhagem celular, nem mesmo hospedeiras. Sabe-se, no entanto, que essa
as projetadas, é capaz de preencher todos os etapa ocorre após o crescimento celular.
critérios para todas as vacinas virais. Como já mencionado, a partir de um pequeno
volume de cultivo é possível produzir vírus
6 ENGENHARIA DE BIOPROCESSOS NA em uma quantidade suficiente paraproduzir
PRODUÇÃO DE VACINAS muitas doses de vacina. As condições do
meio são específicas para cada
6.1 Operações Unitárias micro-organismo, podendo alguns meios de
cultura conter mais de 30 ingredientes

Início do cultivo, análise e purificação: distintos, segundo dado fornecido pela

Dentre as dificuldades já apresentadas para a empresa. Aubritet al. (2015) afirmaram a

implementação em larga escala da produção de necessidade de estudos para otimizar tanto o

vacinas virais destaca-se a biossegurança. As crescimento celular quanto o viral, pois esses

empresas Sanofi Pasteur (2012 a) e a Boehringer nem sempre exigiriam as mesmas condições

Ingelheim Vetmedica (2015) indicaram em seus para a produção ótima. Hiss (2001) e a

processos a necessidade de que sejam tomadas empresa Sanofi Pasteur (2012b) apontaram

precauções constantes para que todo o ambiente ainda para a importância devários parâmetros

esteja estéril, assim como os equipamentos e o meio a serem considerados durante a produção, de

de cultivo, evitando a contaminação tanto do maneira que a reprodutibilidade do processo

produto como dos operadores. Segundo a empresa seja finamente monitorada através de

Sanofi Pasteur (2012 a) a preocupação com a informações sobre pH, curvas de crescimento

segurança dos operadores e com a qualidade do (através de densidade ótica), análise de

produto final é tanta quepode-se empregar até mais oxigênio dissolvido, entre outras análises.

de 70% do tempo gasto na produção das vacinas A respeito da necessidade do controle

realizando-se testes e controle. Algumas vacinas, do processo, o trabalho de Buckland (2005)


320
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 15, n. 1, p. 309-332, jan./jul. 2017
demonstrou que na produção das vacinas, devido às removidos. A empresa afirmou que o tempo
dificuldades de análise para confirmação da de cultivo das células varia na faixa de dois a
composição, é a própria forma de produção que três meses, dependendo do tipo de vacina a ser
determina o produto. Isso explicaria a burocracia produzido. Aempresa Boehringer Ingelheim
junto aos órgãos reguladores e o cuidado para Vetmedica (2015) descreve que essa etapa
qualquer tipo de mudança no processo, pois pode ser executada a partir da utilização de
poderiam ser exigidos novos testes clínicos para que filtros de membranas, filtros prensas ou
fosse comprovado que a vacina produzida sob novas através de centrifugação, dependendo do
condições teria a mesma eficácia que a produzida produto.
anteriormente. Josefsberge Buckland (2012) destacam
Devido a essas dificuldades reportadas por a utilização de polietileno glicol e a extração
Buckland (2005), foram desenvolvidas inovações a utilizando solventes como procedimentos
fim de que os projetos das instalações se tornassem essenciais durante a etapa de purificação, além
mais flexíveis. Josefsberg e Buckland (2012) dos processos físicos já citados. A purificação
reportaram, nesse caso, a utilização da tecnologia da vacina contra a hepatite A, denominada
descartável ou de utilização única. Segundo os vacina VAQTA, da Merck, é realizada a partir
autores, o uso de biorreatores de uso único (SUBs- de cromatografia e precipitação dos vírus pela
Single Use Biorreactors) permite não só menor adição de polietileno glicol, com posterior
capital de investimento para as instalações, mas extração líquido-líquido com clorofórmio, a
também tempos de troca mais curtos, maior fim de que os vírus viáveis fiquem na fase
produtividade, menor risco de contaminação e aquosa e as proteínas contaminantes,
menos rejeitos. Os autores citam também outros desnaturadas irreversivelmente, fiquem na
equipamentos de uso único utilizados no processo, fase orgânica.
como kits de purificação. Aubritet al. (2015) Josefsberge Buckland (2012) alertaram
também considerou as vantagens de serem usados para a sensibilidade do processo de separação.
equipamentos desse tipo, apesar da necessidade de A alta exigência de pureza e reprodutibilidade
investimentos iniciais. da vacina contra a hepatite A, nesse caso, teria
Dando seguimento à descrição do processo sido conseguida por uma etapa adicional de
realizada pela empresa Sanofi Pasteur (2012b), a adição de nucleases. Essas enzimas foram
etapa seguinte ao cultivo seria a purificação, na responsáveis pela quebra de ácidos nucleicos
qualimpurezas e traços do meio de cultura são que passavam pela purificação via membrana
321
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 15, n. 1, p. 309-332, jan./jul. 2017
e coprecipitavam quando havia adição de polietileno referentes à purificação das vacinas
glicol, resultando em problemas de purificação e adquiriram grande relevância dentro da
rendimento. Essa nova etapa, seguida do uso de uma tecnologia de produção de vacinas.
coluna de cromatografia aniônica (AEX- Anion Inativação, formulação e finalização :
Exchange Chromatography) teria proporcionado A empresa Sanofi Pasteur (2012b) descreveu
otimização dos resultados. Hennessey Jr.et al. que logo após a purificação pode-se proceder
(1999) comprovaram a eficácia desse método de a inativação. São adicionados, então,
purificação defendidos por Hagen et al. (1996) e estabilizantes ou conservantes em baixas
descritos por Josefsberge Buckland (2012), dosagens, além de adjuvantes para alguns
utilizando técnicas de análise mais avançadas. casos. A etapa seguinte consiste em preencher
Dentre as tecnologias de uso único para a seringas ou vials com a vacina. Segundo
purificação reportadas por Josefsberg e Buckland Rappuoli (2006), essa última etapadeve ser
(2012) foram citadospelos autores os cartuchos de realizada de maneira que os vials ou
adsorção descartáveis, usados na remoção de DNA, seringas estéreis sejam preenchidos com a
proteínas residuais das células hospedeiras ou para a vacina também estéril. É reafirmada ainda,
remoção de vírus, das empresas Sartorius Stedim e segundo o mesmo autor, a necessidade de que
Natrix (Burlington, Canadá), as membranas da também o ambiente mantenha condições
empresa Pall Corporation (Port Washington, Nova estéreis durante esse procedimento.
Iorque), com finalidade semelhante e colunas Jofesberg e Buckland (2012)
cromatográficas das empresas GE Healthcare (Little reportaram que normalmente nenhum
Chalfont, Reino Unido), Millipore (Billerica, conservante é utilizado em vials ou seringas
Massachusetts), BioFlash Partners (Worcester, contendo vacinas de dose única devido a
Massachusetts) e Tarpon Biosystems (Marlborough, preocupação com os possíveis efeitos
Massachusetts). adversos do uso de timerosal, conservante a
Aubritet al. (2015) destacaram que base de mercúrio, apesar dos efeitos
justamente a etapa de purificação seria a tóxicosdessa substância serem controversos
responsável pela maior parte dos custos na produção (KHANDKE Veen(2001)
das vacinas. Segundo os autores, as altas exigências cita, por exemplo, o fato de que mulheres em
dos organismos reguladores são responsáveis por idade fértil não deveriam receber timerosal
uma perda de boa parte dos antígenos durante essa devido aos riscos para a formação do cérebro
etapa. Os autores afirmaram, assim, que os estudos do feto durante seu desenvolvimento. Assim,
322
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 15, n. 1, p. 309-332, jan./jul. 2017
segundo Khandkeet al. (2011), para o caso de durante essa etapa, geralmente carboidratos
vacinas de múltiplas doses, têm sido envidados (como trealose , inulina e dextrano) , uma vez
esforços para novos conservantes, como o estudo que as propriedade imunogênicas das vacinas
reportado pelos próprios autores no uso do poderiam ser perdidas devido a alterações na
2-fenoxietanol. conformação das proteínas. Segundo os
Segundo Schatzmayr (2003), Rappuoli autores, os carboidratos contribuiriam para a
(2006) e a empresa Sanofi Pasteur (2012b) pode-se formação de uma matriz vítrea que impediria
definir os adjuvantes, adicionados nos casos a degradação das proteínas devido à redução
mostrados no Quadro 1, como substâncias que de fatores como difusão emobilidade.
podem ser adicionadas à formulação das vacinase Chen et al. (2010), por sua vez,
que auxiliam na manutenção da potência davacina e reportaram a existência de esforços a fim de
mesmo na resposta imunológica do organismo, garantir a estabilidade das vacinas mesmo à
podendo ainda diminuir a quantidade de antígenos temperatura ambiente, utilizando, por
necessários por dose. Schatzmayr (2003) e exemplo, técnicas de spray-drying. Isso seria
JosefsbergeBuckland (2012) descrevem que os devido a dificuldade de manutenção das redes
sais de alumínio (hidróxido ou fosfato) podem ser de frio. Os autores reportaram um estudo em
utilizados como adjuvantes para a administração em que uma formulação da vacina contra a
seres humanos. Segundo o primeiro autor, existe hepatite B, submetida à técnica de
uma união de caráter iônico entreos sais de alumínio spray-drying, mostrou-se estável por cerca de
e as proteínas da vacina, de modo que essas 24 meses a 37 °C. Indicaram, no entanto, a
proteínas são liberadas paulatinamente no necessidade de que a técnica também pudesse
organismo, aumentando a resposta imunológica. ser aplicada no caso das vacinas vivas, que
De acordo com a empresa Sanofi Pasteur são geralmente as que são submetidas ao
(2012b) algumas vacinas não são estáveis na forma processo de liofilização.
líquida, sendo necessária, nesses casos, uma etapa A empresa Sanofi Pasteur (2012b)
adicional na qual a água é removida através do relatou , para a finalização do processo, o uso
congelamento com nitrogênio líquido e ação do de inspeção visual, além do auxílio de
vácuo (liofilização). Obtém-se, assim, um pó, ao computadores com a mesma finalidade.
qual será empregado um diluente apropriado para o Qualquer embalagem fora dos padrões,
momento da aplicação. Amorijet al. (2007) destacou segundo a empresa, é descartada. Para garantir
a necessidade de adicionar-se agentes de proteção a potência das vacinas, salientou a empresa,
323
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 15, n. 1, p. 309-332, jan./jul. 2017
deve-se tomar cuidado com a temperatura de economicamente, mas também a mais difícil.
armazenamento, e mesmo com a exposição à luz. De acordo com Kretzmer (2002), o uso
JosefsbergeBuckland (2012) alertaram para o fato de múltiplas unidades pode ser preferível
de que um empacotamento mais eficiente nessa quando são encontrados fatores como a
etapa favoreceria a diminuição do espaço ocupado sazonalidade na produção de alguns tipos de
pelas vacinas nas câmaras de frio, beneficiando os vacinas e a dificuldade de crescimento celular
países em desenvolvimento, que têm dificuldades de em condições de agitação, quando é exigido
manter uma rede de frio, além de diminuir os gastos um suporte. Hiss (2001) mostrou que o uso
dos países desenvolvidos. de biorreatores com cultivo submerso de
células permite uma maior homogeneização
do meio e uma facilitação do controle do
6.2 O Cultivo Celular processo, viabilizando uma melhor
reprodutibilidade e aumentando a produção.
Kretzmer (2002) atestou que os estudos Como exemplos para o primeiro tipo de
referentes às condições de desenvolvimento das cultura Aubritet al. (2015) citaram Rotarix®,
células que serão infectadas com os vírus são feitos Varivax®, Meruvax®.
inicialmente em escala laboratorial, utilizando-se Hiss (2001) e Kretzmer (2002)
pequenos erlenmeyerse aumentando-se aos poucos a mencionaram que apesar do cultivo submerso
escala. Segundo o autor, o cultivo das células ter trazido vantagens para a produção das
ocorreria apenas com o objetivo de promover a vacinas virais, existem também complicações
infecção viral, de modo que haveria a vantagem de em sua implementação, como a dificuldade da
não ser necessário mantê-las viáveis por um longo manutenção das células em suspensão, além
tempo durante a produção. Hiss (2001), Kretzmer de nessa forma elas tenderem a não se
(2002) e Astleyet al. (2007) apresentaram as opções multiplicar normalmente. Ambos os autores
de realizar-se múltiplas culturas, como frascos atestaram o uso de microcarreadores para
rolantes ou monocamadas, ou a de realizar-se contornar esse empecilho. Esses
escalonamento para produção em reatores maiores, microcarreadores permaneceriam em
dependendo das condições encontradas. A primeira suspensão, ao mesmo tempo que serviriam de
opção seria a mais cara e que demanda mais tempo, suporte para as células. Kretzmer (2002), no
além de possuir um maior risco de contaminação, entanto, afirmou que as células também
enquanto a segunda opção seria a mais atrativa podem ser adaptadas para crescer em
324
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 15, n. 1, p. 309-332, jan./jul. 2017
suspensão, sendo essa uma opção preferível. Nesse dessa demandar muito tempo. O Pluorônico
caso, Aubritet al. (2015) enumeraram as linhagens F68, de acordo com JosefsbergeBuckland
MDCK, PER.C6®, EB66® e AGE1.CR®como (2012), é um polímero não-iônico capaz de
passíveis de serem usadas sem o uso de suporte. reduzir os danos que o borbulhamento produz
Segundo Astleyet al.(2007) a adição de Pluorônico nas células. O Quadro 8 mostra alguns
F68 ao meio de cultura, por exemplo, mostrou ser desafios para o cultivo das células.
um procedimento efetivo nessa adaptação, apesar

Quadro 8- Alguns desafios para a engenharia nos métodos de cultivo celular com o uso de carreadores e de suspensão live.
Tipo de cultivo Descrição Principais desafios

Necessidade de adaptação às tensões de


cisalhamento devido a agitação para que possa
As células necessitam de estar ancoradas,
Carreadores haver fixação, maior fase lag e necessidade de
crescendo em microcarreadores sólidos.
preparação dos microcarreadores (inchaço e
autoclavagem).

As células estão suspensas e crescem


livremente. A amostragem durante o
Suspensão livre Necessidade de maiores volumes e maior tempo
processo é fácil, sendo uma tecnologia
de retenção.
robusta. Não há necessidade de fatores de
adesão. Os custos são mais baixos.

FONTE: Rappuoli (2006).

Kretzmer (2002) ressaltou que no processo suspensões celulares em alguns tipos de reator
de cultivo submerso feito em pequena escala a razão tais como borrifador, coluna de bolhas ou
de superfície-volume de cultura é alta, tornando airlift, pois esses exigem aditivos de proteção.
mais fácil a manutenção do nível de oxigênio no Essas dificuldades seriam provenientes da
sobrenadante. Quando se usa um tanque agitado, no interação das células com as bolhas formadas,
entanto, segundo o autor, essa razão é o que poderia ser contornado com o uso de
negligenciável, sendo necessário o desenvolvimento membranas, apesar do escalonamento nesse
de equipamentos para suprir oxigênio tais como caso ser mais difícil. O Quadro 9 indica os
borrifadores, defletores e impelidores de baixo aspectos físicos e biológicos a serem
cisalhamento. De acordo com o autor estudos com considerados no projeto de um reator de
biorreatores empregando células animais cultura celular.
demonstraram ser muito difícil o crescimento de

325
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 15, n. 1, p. 309-332, jan./jul. 2017
Quadro 9- Aspectos físicos e biológicos a serem considerados no desenho de um reator com cultura de célulasanimais.
Aspectos Físicos Aspectos biológicos
1. Desempenho de transferência de massa. 1. Crescimento e produtividade.
2. Fluxo na interface líquido-ar. 2. Nutrientes e outros aditivos, incluindo oxigênio.
3. Convecção mássica e mistura da fase líquida com o ar. 3. Produção de CO2 e quociente de respiração.
4. Capacidade de dispersão do ar 4. Sensibilidade ao O2 e concentração de CO2.
5. Consumo de energia (ou taxa média específica de 5. Faixa de pH e sensibilidade.
T W kg). 6. Faixa de operação de temperatura.
6. Variação nas taxas de dissipação de energia 7. Sensibilidade das membranas celulares às forças
-1
T W kg ). decisalhamento.
7. Transferência de calor.
8. Suspensão dos microcarreadores (para células
suportadas).
FONTE: Nienow (2006).

Segundo Nienow (2006), os biorreatores são virais, a não ser aqueles restritos basicamente
operados basicamente em regime turbulento, sendo às condições laboratoriais. Os autores
que as necessidades de transferência de calor são apresentaram alguns obstáculos que explicam
facilmente atendidas pelo uso de reatores a dificuldade para a implementaçãodesses
encamisados. De acordo com o autor, as processos, destacando dentre eles a falta de
temperaturas típicas para biorreatores com células conhecimento sobre como os vírus se
animais variam entre 36 e 38 °C. Por fim, comportariam sob essas novas condições,
Nienowtambém comentou sobre as dificuldades de considerando, por exemplo, a possibilidade de
aeração encontradas nos reatores industriais devido haverem mutações devido ao tempo de
à excessiva preocupação inicial com o efeito das retenção distinto daquele de reatores
tensões de cisalhamento sobre as membranas convencionais. Segundo o autor, isso torna
celulares. Estudos posteriores, segundo o autor, mais complexo o licenciamento dos processos
mostraram que elas não eram tão significativas junto aos órgãos reguladores. No entanto,
quanto esperado inicialmente. Essa informação Walther et al. (2015) estimaram, no caso da
também é encontrada em Kretzmer (2002), que produção de proteínas, que o processo
afirmou que o efeito do borbulhamento seria mais contínuo poderia reduzir os custos tanto de
importante que o das tensões de cisalhamentos sobre capital quanto operacionais quando
as células. comparados com processos em batelada,
Segundo Tapiaet al. (2016) existem poucos considerando, para isso, um período de dez
estudos tratando do cultivo celular em alta anos. Os resultados das pesquisas, conforme
densidade (HCD- High CellDensity) ou em Tapiaet al. (2016), mostraram ser promissores
produção contínua para a fabricação de vacinas e, segundo eles, o uso de processos análogos
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Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 15, n. 1, p. 309-332, jan./jul. 2017
aos já utilizados para a produção de proteínas nenhum exemplo de processo industrial já
recombinantes, como a batelada alimentada e empregando um sistema desse tipo. Aubritet
perfusão à base de membranas/fibras ocas é al. (2015) enumeraram como outras vantagens
interessante. A implementação de cultivos HCD do processo a diminuição do estresse celular,
usando estratégias batelada-alimentada ou perfusão, uma vez que os nutrientes seriam mantidos
segundo eles, ofereceria a possibilidade de aumentar constantes e os metabólicos tóxicos seriam
a produtividade das vacinas de 10 a 100 vezes em retirados, o aumento dos rendimentos
comparação com as culturas convencionais. celulares e a purificação direta, que traria uma
Tapiaet al. (2016) descreveram ainda que melhor qualidade para o produto.
sistemas multiestágios de tanques agitados Como aplicação da tecnologia de uso
mostraram resultados interessantes a nível único em biorreatores Josefsberg e Buckland
laboratorial. Devido à complexidade do processo, (2012) citaram os exemplos da empresa GE,
sistemas com três tanques ou mais, segundo os que fabrica WaveBioreactorsTMem volumes
autores, dificilmente seriam implementados em superiores a 500 L, usados no crescimento do
larga escala. O uso de dois tanques, no entanto, inóculo, e das empresas Xcellerex, Thermo
sendo o primeiro tanque destinado ao crescimento Scientific (Marlborough, MA) e Sartorius
celular e o segundo à infecção viral e à propagação Stedim (Goettingen, Alemanha) na produção
dos vírus, pareceu ser uma boa opção. Mesmo para de tanques agitados com volumes de até 2000
esse caso, o impacto da variação do tempo de L. De acordo com os autores os tanques
retenção em relação ao reatores convencionais agitados assim produzidos mostraram-se
deveria ser avaliado para que as características melhores em termos de transferência de massa
imunogênicas das vacinas não sejam perdidas. Os que os WaveBioreactorsTM, além de
autores concluíram, assim, que os cultivos com alta possuírem opções melhoradas de agitação,
densidade celular e o uso de cascatas de tanques aspersão e alimentação em comparação aos
agitados são linhas mestras para o desenvolvimentos biorreatores de aço inoxidável. A necessidade
de novos processos industriais em termos de cultivo de volumes maiores, segundo os autores, seria
celular . uma limitação desses biorreatores de tanque
De acordo com Aubritet al. (2015) a agitado do tipo SUBs.
implementação de processos contínuos traria a
grande vantagem de integrar os processos de
upstream e downstream não havendo, no entanto
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Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 15, n. 1, p. 309-332, jan./jul. 2017
7 ESTUDO DE CASO: PRODUÇÃO DE embriões estão vivos e bem vascularizados.
VACINAS CONTRA O VÍRUS INFLUENZA
7.2 Infecção viral
Para exemplificar a produção de vacinas será
analisado o caso particular da vacina contra a Os ovos que passarem no teste são
influenza produzida pelo Instituto Butantan, que é o inoculados automaticamente com o vírus
maior produtor de vacinas e soros da América influenza. Uma pequena agulha perfura a
Latina. A descrição é baseada na apresentação casca do ovo, enquanto outra injeta no líquido
realizada pela Dra. CosueMiyaki no Simpósio sobre alantóico o vírusinfluenza. Os ovos seguem
Produção de Vacinas, promovido pela Academia então para a incubação, sendo que cada
Brasileira de Ciências em 2013 e editada pela incubadora comporta cerca de 120 mil ovos.
ASCOM (ABC, 2013). Seguida essa etapa, os ovos são colocados em
câmaras frias para que haja a morte dos
7.1 Recepção dos ovos embriões e, pela retração dos vasos
sanguíneos, os vírus que se multiplicaram
A tecnologia empregada pelo Instituto Butantan possam ser liberados no líquido alantóico, que
para a produção dessas vacinas foi adquirida do será recolhido, virando-se os ovos de cabeça
Instituto Sanofi Pasteur, na França. São utilizados para baixo após cortar-se o topo.
para esse fim ovos embrionados de galinhas da
linhagem Hysexcriadas de modo controlado 7.3 Purificação
exclusivamente para produzirem ovos que serão
usados na produção de vacinas. São adquiridos por Da inversão dos ovos são recolhidos cerca
dia entre 120 a 250 mil ovos contendo embriões de de 1500 L de líquido. Esse volume é filtrado,
10 a 11 dias. seguindo para a etapa de centrifugação a fim
Tomando-se cuidado com as condições de que sejam eliminados outros componentes
assépticas do ambiente, os ovos são direcionados que possam ainda estar presentes como restos
através de ventosas às bandejas do laboratório. A de membranas e hemácias. De 120 a 140 mil
qualidade deles é então verificada por um ovoscópio ovos obtém-se, ao final, cerca de apenas 100
automático. Uma amostragem vinda do caminhão, litros de material concentrado. Esse volume é
no entanto, é analisada manualmente a fim de se purificado ainda mais duas vezes, resultando
verificar se os ovos estão embrionados e se esses em apenas 1 L. Essa etapa é a mais cara do
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Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 15, n. 1, p. 309-332, jan./jul. 2017
processo, sendo que o concentrado contém um 7.4 Considerações
enorme número de doses de vacinas.
Uma vez purificado, o concentrado é tratado Apesar da maneira como a vacina contra a
quimicamente, sendo diluído em um detergente que influenza é produzida atualmente pelo
provocará a fragmentação dos vírus. Segue-se uma Instituto Butantan no Brasil, Rappuoli (2006),
etapa de clarificação para retirar fragmentos maiores demonstrou algumas vantagens no uso de
ou vírus inteiros que ainda persistiram. O material é culturas celulares ao invés de ovos
então diafiltrado, removendo-se parte do detergente embrionados, dentre as quais podem ser
adicionado. Esse não é totalmente retirado por atuar destacadas as seguintes:
como um adjuvante.
A eliminação da necessidade de criar
7.3 Inativação galinhas de maneira controlada;
A conjunção e automação dos processos
A suspensão é então inativada com formol a fim de upstream e downstream;
de que os fragmentos virais percam a capacidade de A redução de contaminação potencial a
se replicarem. Ocorre então outra filtração com partir de partículas viáveis e não viáveis;
vistas de promover a esterilização, sendo então O start-up mais rápido para produção em
realizada uma análise para verificar-se a qualidade larga- escala;
final do produto. O material produzido é A pureza inicial é maior;
armazenado em câmaras frias até que seja unido a
outros tipos de monovalentes (cada monovalente Matthews (2006) também reconhece a
protege contra um tipo específico de vírus tendência do uso de culturas celulares em
(MATTHEWS, 2006)), chegando-se finalmente à substituição aos ovos embrionados no caso
concentração pretendida. A vacina trivalente então das vacinas contra a gripe. Os parâmetros de
produzida é envasada, após terem sido adicionadas engenharia a serem considerados durante o
também outras substâncias importantes para sua processo, segundo Matthews (2006),
conservação. São realizados ainda outros continuariam a ser basicamente os mesmos.
procedimentos para o controle de qualidade, até que
as vacinas assim produzidas sejam encaminhadas ao 8 CONCLUSÃO
Ministério da Saúde.
A produção de vacinas é de elevada
329
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 15, n. 1, p. 309-332, jan./jul. 2017
importância na prevenção das doenças. As novas REFERÊNCIAS
formulações têm se beneficiado com os avanços da ABC (Academia Brasileira de Ciência).
biologia molecular, no entanto permanecem Entenda como é produzida uma vacina.
Disponível em: <www.abc.org.br/IMG/pdf/do
dificuldades referentes ao desinteresse das indústrias c-4906>. Acessoem: 25 mai. 2016.
farmacêuticas em uma produção mais acentuada.
ALLISON, N.; TRANTER, H. S.From
Isso deve-se aos altos investimentos exigidos, além Vaccine Research to Manufacture: A Guide
dos altos riscos, somados à baixa representatividade for the Researcher. In: ROBINSON,
A.;HUDSON, M. J; CRANAGE, M. P. (ed.).
de mercado. Os engenheiros de processos, Vaccine Protocols. 2nd.Totowa: Humana
trabalhando em equipes multidisciplinares, podem Press, 2010. p. 391-407.

contribuir nesse campo projetando meios mais AMORIJ,J-P.;MEULENAAR,J.;HINRICHS,


eficientes e eficazes de processo, nos quais os riscos W.L.J.;STEGMANN,T.;HUCKRIEDE,A.;CO
ENEN,F.;FRIJLINK, H.W.Rational design of
sejam diminuídos e os lucros possam ser mantidos an influenza subunitvaccinepowder
sem, no entanto, prejudicarem as pessoas mais withsugarglass technology:Preventing
conformational changes ofhaemagglutinin
pobres, garantindo que as questões de biossegurança during freezing and freeze-drying. Vaccine,
e bioética sejam respeitadas. A produção contínua v.25, n. 35, p. 6447-6457, ago. 2007.

ou com células de alta densidade pareceu ser ANDRE, F. E.; BOOY, R.; BOCK, H. L.;
CLEMENS, J.; DATTA, S. K.; JOHN, T. J.;
promissora e, se empregada, poderá tornar o
LEE, B. W.; LOLEKHA, S.; PELTOLA, H.;
processo mais atrativo. As novas alternativas de RUFF, T.A.; SANTOSHAM, M.; SCHMITT,
H. J. Vaccinationgreatly reduces disease,
formulação que dispensem o uso de câmaras de frio
disability, death and inequityworldwide.
também mostraram ser um importante passo na Bulletin of the World Health Organization,
v.86, n.2, p.81-160, fev. 2008. Disponível em:
universalização do acesso às vacinas. Os aspectos
<http://www.who.int/bulletin/volumes/86/2/0
éticos mostraram-se relevantes, exigindo dos 7-040089/en/>. Acesso em:4 jul. 2016.
pesquisadores comprometimento a fim de que sejam ASTLEY, K.;NACIRI, M.;RACHER,
implementadas alternativas ao uso de linhagens A.;AL-RUBEAI, M.The role of p21cip1in
adaptation of CHO cells to suspension and
celulares humanas derivadas de abortos provocados, protein-freeculture. Journal ofBiotechnology,
parte essa que será discutida na segunda parte do v.130, p.282 290, jun. 2007.
artigo. AUBRIT,F.; PERUGI,F.;LÉON,A.;
GUÉHENNEUX,F.;
CHAMPION-ARNAUD,P.;LAHMAR,M.;SC
HWAMBORN, K.;Cell substrates for the
production of viral vaccines. Vaccine, v.33,
n.44, p. 282 290, nov. 2015.

330
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