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Produção de Vacinas Virais I
Produção de Vacinas Virais I
1
Setor de Engenharia Química. Departamento de Química. Universidade Federal de Viçosa. Campus Viçosa-MG.
guilherme.bousada@ufv.br.
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Setor de Engenharia Química. Departamento de Química. Universidade Federal de Viçosa. Campus Viçosa-MG.
erlonlopes@gmail.com
RESUMO
As vacinas são uma das maiores conquistas da humanidade em termos de diminuição das doenças. O correto entendimento
de sua produção, a partir não só dos conhecimentos biológicos, mas também em termos de engenharia, é de fundamental
importância para que os avanços já adquiridos possam ir cada vez mais longe. A produção de vacinas torna-se, assim, um
importante nicho de pesquisa para os engenheiros, de modo especial na produção de vacinas virais, destacadas no presente
artigo, em que o cultivo de células animais deve estar alinhado com as questões de biossegurança e bioética. Como estudo
de caso é apresentada a produção da vacina contra o influenza no Instituto Butantan, no Brasil. A segunda parte do artigo
discute, sob a perspectiva da bioética personalista ontologicamente fundada, sobre a eticidade do uso de linhagens celulares
derivadas de abortos, tais como a MRC-5, WI-38, PER.C6 e HEK293, na produção de algumas vacinas.
PALAVRAS-CHAVE: Vacinas virais. Engenharia de bioprocessos. Escalonamento. Biossegurança. Bioética.
ABSTRACT
Vaccines are one of the most important achievements of humankind in terms of protection against diseases. The
understanding of their production, considering not only biological issues, but also the engineering perspective, is of core
importance for the continuous improvement in this field. The Bioprocess Engineering aproach conveys an important area
for engineer survey, particularly for virus vaccines, described in more detail in this article, where animal cells cultivation is
deeply related with economics, bio-safety and bioethical issues.As a study case, this article also presents the influenza
vaccine production by Butantan Institute, in Brazil. The second part of this article discusses, under ontologically founded
personalist bioethics perspective, about the use of cell cultures derived from abortions, such as MRC-5, WI-38, PER.C6 e
HEK293, in the production of some vaccines.
KEYWORDS: Viral vaccines.Bioprocess engineering.Scale-up.Bio-safety.Bioethics.
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Partículas purificadas que imitam vírus (VLPs)
Hepatite B e vírus do papiloma humano.
Polissacarídeos purificados
Pneumocócica para adultos e febre tifóide.
Polissacarídeo conjugado Pneumocócica para crianças , tipo haemophilus B e meningite
à proteína carreadora bacteriana.
DNA plasmídico
Em desenvolvimento.
Adenovírus carreadorde DNA
Em desenvolvimento.
FONTE: Josefsberge Buckland (2012).
demonstra concentração do capital intelectual
Tendo em vista o amplo espectro de e da tecnologia nesse setor. Todavia, o autor
classificações das vacinas indicados no Quadro 1, o concluiu que o cenário apresentava
presente artigo irá limitar-se às vacinas virais. O perspectivas de mudança. Hiss (2001),
artigo de JosefsbergeBuckland (2012) pode ser Schatzmayr (2003) e Sthephens (2014)
consultado para maior detalhamento de outros tipos descreveram que além desses problemas
de vacinas. mencionados existiam outros que afetavam a
produção em larga escala como:
4 DESAFIOS PARA A PRODUÇÃO EM
LARGA ESCALA A grande maioria dos profissionais
trabalhando nesse campo é composta por
Segundo Schatzmayr(2003), o principal cientistas(biólogos, médicos e
problema relativo à produção das vacinas seria a farmacêuticos), faltando profissionais
baixa participação dessas no mercado mundial, o com conhecimentos de Engenharia.
que diminuiria o interesse das indústrias Dificuldades de integração entre a
farmacêuticas em sua produção. Essa informação foi academia e a indústria.
confirmada por recente notícia divulgada pela BCC Dificuldades inerentes ao processo, tais
Brasil, em que se reconhece a negligência do setor como o uso de meios complexos,
farmacêutico diante do ramo de vacinas, que necessidade de assepsia estrita.
representa apenas uma pequena parcela de lucros As condições do meio favorecem o
(DUARTE, 2016). crescimento de um amplo espectro de
Buckland (2005), por sua vez, afirmou que micro-organismos (temperaturas ao redor
apenas as empresas farmacêuticas Merck &Co.,Inc, de 37 °C e pH~7,5).
GlaxoSmithKline, Wyeth e Sanofi Pasteur possuíam Necessidade de grande atenção quanto ao
o necessário para produzir novas vacinas. Isso risco de infecção dos operadores.
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Os antígenos não são o produto metabólico biofarmacêutico em larga escala. Segundo os
principal. autores os trabalhos de bancada exigem
Os produtos tendem a ser lábeis. quantidades de material pequenas e têm como
Existe perigo de responsabilização da objetivo principal a obtenção de produtos com
indústria devido a efeitos adversos alta pureza, sendo muitas vezes desconsiderado o
inesperados. fato de que alguns métodos empregados
A alta regulação e burocracia no laboratorialmente são inviáveis para maiores
desenvolvimento das vacinas encarece o produções. O Quadro 2 mostra processos
processo. alternativos para o escalonamento de um
Os países que seriam virtualmente os processo.
maiores consumidores do produto são os que Uma sugestão apresentada por Alisson e
possuem o menor poder de compra. Tranter (2010) seria a de que os pesquisadores
Em relação às dificuldades de integração pensassem previamente sobre como os projetos
entre a academia e a indústria, apresentada entre de pesquisa seriam implementados a nível
os pontos acima, Alisson e Tranter (2010) industrial. Essa recomendação mostra claramente
discutiram sobre como os profissionais da a necessidade de maior integração entre a
academia que pesquisam nesse campo academia e a indústria a fim de que os projetos
geralmente desconhecem as dificuldades de pesquisa não fiquem apenas no papel.
econômicas e de regularização de um processo
Tabela 1: Valores aproximados de volumes de cultura para o preparo de uma dose humana total (dht*) de algumas vacinas
bacterianas e virais.
Tipo de vacina Inoculação por dht mL de cultura por dht
Pertussis 3 1,0
Difteria 3 0,3
Tétano 3 0,3
-estafilocócica 2 0,5
Cólera (via parental) 2 0,2
Cólera (via oral) 2 2,0
Tifo (via parental) 2 0,02
Tifo (via oral) 2 2,0
BCG 1 0,02 a 0,1
Pólio (inativada) 3 6
Pólio (atenuada) 3 0,1
Varíola 1 0,03
Sarampo (inativada) 3 1,0
Sarampo (atenuada) 1 0,003
Rubéola (atenuada) 1 0,1
FONTE: Hiss (2001).
*Dose humana total é o número de vezes em que se deve administrar a vacina para adquirir a imunidade pretendida.
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vacina viral foi em 1949, por Enders, utilizando tipo de cultivo celular, além de possuir a
para isso células humanas não-neurais. Esse fato foi desvantagem de serem necessariamente
relevante porque o poliovírus, cultivado por Enders, dependentes de suporte. Aubritet al. (2015),
era considerado estritamente neurotrópico por sua vez, descrevem também a existência
(NORRBY, 2007). Segundo os autores, existem de células diplóides de linhagem não-contínua
dois tipos de culturas celulares: aquelas em que as que não foram descritos por Josefsberg e
células são extraídas diretamente de tecidos e órgãos Buckland (2012). Os Quadros de 4 a 6
animais, e aquelas em que são utilizadas linhagens mostram algumas linhagens celulares com as
celulares de células diplóides modificadas a fim de respectivas vacinas para uso humano.
se reproduzirem indefinidamente. Além disso,
ressaltaram o tempo de vida limitado do primeiro
Quadro 4- Substrato celular geralmente usado para produção de vacinas humanas utilizando células primárias.
Linhage Tipo de Em
m célula e Susceptibilidade viral desenvolviment Vacinas comercializadas
Celular origem o
CEF Fibroblastos Febre amarela, Vacinasbaseadas Raiva (Rabipur®),encefalite
(Chicken de embrião raiva,encefalite novírus Vaccinia transmitida por carrapatos (FSME -
Embryofi de galinha. transmitida por Ankara Immun®, Encepur® ), sarampo
broblast) carrapatos, sarampo, modificado, (Attenuvax®),caxumba
caxumba. HIV, febre Q. (Mumpsvax®).
FONTE: Aubritet al. (2015).
Quadro 5- Substratos celulares geralmente usados para produção de vacinas humanas utilizando linhagem de células
diplóides.
Linhage Tipo de Em
m célula e Susceptibilidade viral desenvolviment Vacinas comercializadas
Celular origem o
MRC5 Pulmão Varicela zóster, poliovírus, Raiva. Vírus varicela zóster(Varilrix®,
(Medical embrionário raiva, hepatite A. Biopox®, ProQuad®), poliovírus
Research humano. (Poliovax®), raiva (Imovax®),
®
Council) hepatite A (VAQTA ).
WI-38 Pulmão Rubéola, adenovírus. Rubéola (Meruvax® II), adenovirus
(WistarIn embrionário (Adenovirus Tipo 4 e Tipo 7
stitute) humano. Vaccine, Live, Oral®).
FONTE: Aubritet al. (2015).
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Tipo de
Linhagem
célula e Susceptibilidade viral Em desenvolvimento Vacinas comercializadas
Celular
origem
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Influenza vírus tipo A e B, Vírus coxsackie B3
Rim humano, B4 e B5 ,reovírus tipo 2 , adenovírus Gripe Sazonal Gripe sazonal
MDCK
canino. associado 4 e 5 , vírus vaccínia , vírus da estomatite epandêmica ,enterovirus. (Optaflu®,Flucelvax® ).
vesicular , poliovírus humano dois
vacinas baseadasvírus
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Retina
AGE1.CR® Varíola, varíola aviária, vírusinfluenza ,alfavírus. VacciniaAnkaramodificado,
de pato.
vírusinfluenza.
embrion Adenovírus, vírus influenza ,lentivirus, polioviruse, Virus influenza, virus do
PER.C6®
ária ebola. oeste do Nilo.
Quadro 6- Substratos celulares em estudo para produção de vacinas humanas utilizando linhagens celulares contínuas
Josefsberg e Buckland (2012) reportaram linhagem celular na produção de vacinas para
que em 1962 a linhagem Vero, extraída a partir dos uso humano. Josefsberg e Buckland (2012)
rins do macaco verde africano,foi a primeira confirmaram a amplitude da regularização
linhagem de células de mamíferos (Quadro 3). dessa linhagem celular para a produção de
Pailletet al. (2009) indicaram o uso dessa linhagem vacinas para uso humano. O Quadro 7 mostra
celular na produção de vacinas contra a raiva, algumas vacinas licenciadas com essa
poliomielite, enterovirus 71 e vírus Hantaan. Os linhagem celular, subdivididas em vacinas
autores atestaram ainda arecomendação da vivas e mortas.
Organização Mundial de Saúde para o uso dessa
Schatzmayr (2003) alertou para a ser escolhida na replicação dos vírus, tomando
necessidade de se eliminar os fatores oncogênicos como base os vírus influenza. Seguindo sua
ao serem utilizadas células de mamíferos para a linha de raciocínio, pode-se concluir que a
multiplicação dos vírus. No entanto, de acordo com linhagem celular a ser escolhida deve,
o autor, a utilização dessas células traria como preferencialmente, permitir a replicação dos
vantagem a maior similaridade das proteínas virais vírus em grandes quantidades e possuir uma
que são produzidas com aquelas encontradas nas resposta rápida e eficiente nessa replicação,
doenças humanas. Segundo Schatzmayr (2003), ser adequada para licenciamento nos órgãos
Kreuzer e Massey (2005) outra alternativa para a responsáveis, permitir a remoção de DNA
produção de proteínas antigênicas seria o uso de residual no produto final, assim como das
células vegetais. O primeiro autor apresentou próprias células e de fatores oncogênicos.
resultados de pesquisas referentes à produção de Deve ainda poder ser usada para diferentes
proteínas da doença hemorrágica do coelho e do tipos de vírus e crescer em um meio
vírus da hepatite B. quimicamente definido, evitando aqueles que
Rappuoli (2006) apresentou algumas contêm componentes derivados de animais e,
características desejáveis para a linhagem celular a portanto, apresentam flutuações na
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composição. Essa vantagem também viria da menor por exemplo, poderiam exigir a execução de
possibilidade de contaminação quando comparado mais de 50 testes durante sua produção,
aos meios com componentes de origem animal segundo a empresa.
(como o soro fetal bovino (AUBRITet al.,2015)). A empresa Sanofi Pasteur (2012b)
Essa opinião é compartilhada por Astleyet al. (2007) descreveu o início da produção com a
e Aubrit et al. (2015). O segundo autor afirmou, multiplicação dos vírus nas células
ainda, que nenhuma linhagem celular, nem mesmo hospedeiras. Sabe-se, no entanto, que essa
as projetadas, é capaz de preencher todos os etapa ocorre após o crescimento celular.
critérios para todas as vacinas virais. Como já mencionado, a partir de um pequeno
volume de cultivo é possível produzir vírus
6 ENGENHARIA DE BIOPROCESSOS NA em uma quantidade suficiente paraproduzir
PRODUÇÃO DE VACINAS muitas doses de vacina. As condições do
meio são específicas para cada
6.1 Operações Unitárias micro-organismo, podendo alguns meios de
cultura conter mais de 30 ingredientes
vacinas virais destaca-se a biossegurança. As crescimento celular quanto o viral, pois esses
empresas Sanofi Pasteur (2012 a) e a Boehringer nem sempre exigiriam as mesmas condições
Ingelheim Vetmedica (2015) indicaram em seus para a produção ótima. Hiss (2001) e a
processos a necessidade de que sejam tomadas empresa Sanofi Pasteur (2012b) apontaram
precauções constantes para que todo o ambiente ainda para a importância devários parâmetros
esteja estéril, assim como os equipamentos e o meio a serem considerados durante a produção, de
produto como dos operadores. Segundo a empresa seja finamente monitorada através de
Sanofi Pasteur (2012 a) a preocupação com a informações sobre pH, curvas de crescimento
produto final é tanta quepode-se empregar até mais oxigênio dissolvido, entre outras análises.
Quadro 8- Alguns desafios para a engenharia nos métodos de cultivo celular com o uso de carreadores e de suspensão live.
Tipo de cultivo Descrição Principais desafios
Kretzmer (2002) ressaltou que no processo suspensões celulares em alguns tipos de reator
de cultivo submerso feito em pequena escala a razão tais como borrifador, coluna de bolhas ou
de superfície-volume de cultura é alta, tornando airlift, pois esses exigem aditivos de proteção.
mais fácil a manutenção do nível de oxigênio no Essas dificuldades seriam provenientes da
sobrenadante. Quando se usa um tanque agitado, no interação das células com as bolhas formadas,
entanto, segundo o autor, essa razão é o que poderia ser contornado com o uso de
negligenciável, sendo necessário o desenvolvimento membranas, apesar do escalonamento nesse
de equipamentos para suprir oxigênio tais como caso ser mais difícil. O Quadro 9 indica os
borrifadores, defletores e impelidores de baixo aspectos físicos e biológicos a serem
cisalhamento. De acordo com o autor estudos com considerados no projeto de um reator de
biorreatores empregando células animais cultura celular.
demonstraram ser muito difícil o crescimento de
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Quadro 9- Aspectos físicos e biológicos a serem considerados no desenho de um reator com cultura de célulasanimais.
Aspectos Físicos Aspectos biológicos
1. Desempenho de transferência de massa. 1. Crescimento e produtividade.
2. Fluxo na interface líquido-ar. 2. Nutrientes e outros aditivos, incluindo oxigênio.
3. Convecção mássica e mistura da fase líquida com o ar. 3. Produção de CO2 e quociente de respiração.
4. Capacidade de dispersão do ar 4. Sensibilidade ao O2 e concentração de CO2.
5. Consumo de energia (ou taxa média específica de 5. Faixa de pH e sensibilidade.
T W kg). 6. Faixa de operação de temperatura.
6. Variação nas taxas de dissipação de energia 7. Sensibilidade das membranas celulares às forças
-1
T W kg ). decisalhamento.
7. Transferência de calor.
8. Suspensão dos microcarreadores (para células
suportadas).
FONTE: Nienow (2006).
Segundo Nienow (2006), os biorreatores são virais, a não ser aqueles restritos basicamente
operados basicamente em regime turbulento, sendo às condições laboratoriais. Os autores
que as necessidades de transferência de calor são apresentaram alguns obstáculos que explicam
facilmente atendidas pelo uso de reatores a dificuldade para a implementaçãodesses
encamisados. De acordo com o autor, as processos, destacando dentre eles a falta de
temperaturas típicas para biorreatores com células conhecimento sobre como os vírus se
animais variam entre 36 e 38 °C. Por fim, comportariam sob essas novas condições,
Nienowtambém comentou sobre as dificuldades de considerando, por exemplo, a possibilidade de
aeração encontradas nos reatores industriais devido haverem mutações devido ao tempo de
à excessiva preocupação inicial com o efeito das retenção distinto daquele de reatores
tensões de cisalhamento sobre as membranas convencionais. Segundo o autor, isso torna
celulares. Estudos posteriores, segundo o autor, mais complexo o licenciamento dos processos
mostraram que elas não eram tão significativas junto aos órgãos reguladores. No entanto,
quanto esperado inicialmente. Essa informação Walther et al. (2015) estimaram, no caso da
também é encontrada em Kretzmer (2002), que produção de proteínas, que o processo
afirmou que o efeito do borbulhamento seria mais contínuo poderia reduzir os custos tanto de
importante que o das tensões de cisalhamentos sobre capital quanto operacionais quando
as células. comparados com processos em batelada,
Segundo Tapiaet al. (2016) existem poucos considerando, para isso, um período de dez
estudos tratando do cultivo celular em alta anos. Os resultados das pesquisas, conforme
densidade (HCD- High CellDensity) ou em Tapiaet al. (2016), mostraram ser promissores
produção contínua para a fabricação de vacinas e, segundo eles, o uso de processos análogos
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aos já utilizados para a produção de proteínas nenhum exemplo de processo industrial já
recombinantes, como a batelada alimentada e empregando um sistema desse tipo. Aubritet
perfusão à base de membranas/fibras ocas é al. (2015) enumeraram como outras vantagens
interessante. A implementação de cultivos HCD do processo a diminuição do estresse celular,
usando estratégias batelada-alimentada ou perfusão, uma vez que os nutrientes seriam mantidos
segundo eles, ofereceria a possibilidade de aumentar constantes e os metabólicos tóxicos seriam
a produtividade das vacinas de 10 a 100 vezes em retirados, o aumento dos rendimentos
comparação com as culturas convencionais. celulares e a purificação direta, que traria uma
Tapiaet al. (2016) descreveram ainda que melhor qualidade para o produto.
sistemas multiestágios de tanques agitados Como aplicação da tecnologia de uso
mostraram resultados interessantes a nível único em biorreatores Josefsberg e Buckland
laboratorial. Devido à complexidade do processo, (2012) citaram os exemplos da empresa GE,
sistemas com três tanques ou mais, segundo os que fabrica WaveBioreactorsTMem volumes
autores, dificilmente seriam implementados em superiores a 500 L, usados no crescimento do
larga escala. O uso de dois tanques, no entanto, inóculo, e das empresas Xcellerex, Thermo
sendo o primeiro tanque destinado ao crescimento Scientific (Marlborough, MA) e Sartorius
celular e o segundo à infecção viral e à propagação Stedim (Goettingen, Alemanha) na produção
dos vírus, pareceu ser uma boa opção. Mesmo para de tanques agitados com volumes de até 2000
esse caso, o impacto da variação do tempo de L. De acordo com os autores os tanques
retenção em relação ao reatores convencionais agitados assim produzidos mostraram-se
deveria ser avaliado para que as características melhores em termos de transferência de massa
imunogênicas das vacinas não sejam perdidas. Os que os WaveBioreactorsTM, além de
autores concluíram, assim, que os cultivos com alta possuírem opções melhoradas de agitação,
densidade celular e o uso de cascatas de tanques aspersão e alimentação em comparação aos
agitados são linhas mestras para o desenvolvimentos biorreatores de aço inoxidável. A necessidade
de novos processos industriais em termos de cultivo de volumes maiores, segundo os autores, seria
celular . uma limitação desses biorreatores de tanque
De acordo com Aubritet al. (2015) a agitado do tipo SUBs.
implementação de processos contínuos traria a
grande vantagem de integrar os processos de
upstream e downstream não havendo, no entanto
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7 ESTUDO DE CASO: PRODUÇÃO DE embriões estão vivos e bem vascularizados.
VACINAS CONTRA O VÍRUS INFLUENZA
7.2 Infecção viral
Para exemplificar a produção de vacinas será
analisado o caso particular da vacina contra a Os ovos que passarem no teste são
influenza produzida pelo Instituto Butantan, que é o inoculados automaticamente com o vírus
maior produtor de vacinas e soros da América influenza. Uma pequena agulha perfura a
Latina. A descrição é baseada na apresentação casca do ovo, enquanto outra injeta no líquido
realizada pela Dra. CosueMiyaki no Simpósio sobre alantóico o vírusinfluenza. Os ovos seguem
Produção de Vacinas, promovido pela Academia então para a incubação, sendo que cada
Brasileira de Ciências em 2013 e editada pela incubadora comporta cerca de 120 mil ovos.
ASCOM (ABC, 2013). Seguida essa etapa, os ovos são colocados em
câmaras frias para que haja a morte dos
7.1 Recepção dos ovos embriões e, pela retração dos vasos
sanguíneos, os vírus que se multiplicaram
A tecnologia empregada pelo Instituto Butantan possam ser liberados no líquido alantóico, que
para a produção dessas vacinas foi adquirida do será recolhido, virando-se os ovos de cabeça
Instituto Sanofi Pasteur, na França. São utilizados para baixo após cortar-se o topo.
para esse fim ovos embrionados de galinhas da
linhagem Hysexcriadas de modo controlado 7.3 Purificação
exclusivamente para produzirem ovos que serão
usados na produção de vacinas. São adquiridos por Da inversão dos ovos são recolhidos cerca
dia entre 120 a 250 mil ovos contendo embriões de de 1500 L de líquido. Esse volume é filtrado,
10 a 11 dias. seguindo para a etapa de centrifugação a fim
Tomando-se cuidado com as condições de que sejam eliminados outros componentes
assépticas do ambiente, os ovos são direcionados que possam ainda estar presentes como restos
através de ventosas às bandejas do laboratório. A de membranas e hemácias. De 120 a 140 mil
qualidade deles é então verificada por um ovoscópio ovos obtém-se, ao final, cerca de apenas 100
automático. Uma amostragem vinda do caminhão, litros de material concentrado. Esse volume é
no entanto, é analisada manualmente a fim de se purificado ainda mais duas vezes, resultando
verificar se os ovos estão embrionados e se esses em apenas 1 L. Essa etapa é a mais cara do
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processo, sendo que o concentrado contém um 7.4 Considerações
enorme número de doses de vacinas.
Uma vez purificado, o concentrado é tratado Apesar da maneira como a vacina contra a
quimicamente, sendo diluído em um detergente que influenza é produzida atualmente pelo
provocará a fragmentação dos vírus. Segue-se uma Instituto Butantan no Brasil, Rappuoli (2006),
etapa de clarificação para retirar fragmentos maiores demonstrou algumas vantagens no uso de
ou vírus inteiros que ainda persistiram. O material é culturas celulares ao invés de ovos
então diafiltrado, removendo-se parte do detergente embrionados, dentre as quais podem ser
adicionado. Esse não é totalmente retirado por atuar destacadas as seguintes:
como um adjuvante.
A eliminação da necessidade de criar
7.3 Inativação galinhas de maneira controlada;
A conjunção e automação dos processos
A suspensão é então inativada com formol a fim de upstream e downstream;
de que os fragmentos virais percam a capacidade de A redução de contaminação potencial a
se replicarem. Ocorre então outra filtração com partir de partículas viáveis e não viáveis;
vistas de promover a esterilização, sendo então O start-up mais rápido para produção em
realizada uma análise para verificar-se a qualidade larga- escala;
final do produto. O material produzido é A pureza inicial é maior;
armazenado em câmaras frias até que seja unido a
outros tipos de monovalentes (cada monovalente Matthews (2006) também reconhece a
protege contra um tipo específico de vírus tendência do uso de culturas celulares em
(MATTHEWS, 2006)), chegando-se finalmente à substituição aos ovos embrionados no caso
concentração pretendida. A vacina trivalente então das vacinas contra a gripe. Os parâmetros de
produzida é envasada, após terem sido adicionadas engenharia a serem considerados durante o
também outras substâncias importantes para sua processo, segundo Matthews (2006),
conservação. São realizados ainda outros continuariam a ser basicamente os mesmos.
procedimentos para o controle de qualidade, até que
as vacinas assim produzidas sejam encaminhadas ao 8 CONCLUSÃO
Ministério da Saúde.
A produção de vacinas é de elevada
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importância na prevenção das doenças. As novas REFERÊNCIAS
formulações têm se beneficiado com os avanços da ABC (Academia Brasileira de Ciência).
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Disponível em: <www.abc.org.br/IMG/pdf/do
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ALLISON, N.; TRANTER, H. S.From
Isso deve-se aos altos investimentos exigidos, além Vaccine Research to Manufacture: A Guide
dos altos riscos, somados à baixa representatividade for the Researcher. In: ROBINSON,
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trabalhando em equipes multidisciplinares, podem Press, 2010. p. 391-407.
ou com células de alta densidade pareceu ser ANDRE, F. E.; BOOY, R.; BOCK, H. L.;
CLEMENS, J.; DATTA, S. K.; JOHN, T. J.;
promissora e, se empregada, poderá tornar o
LEE, B. W.; LOLEKHA, S.; PELTOLA, H.;
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H. J. Vaccinationgreatly reduces disease,
formulação que dispensem o uso de câmaras de frio
disability, death and inequityworldwide.
também mostraram ser um importante passo na Bulletin of the World Health Organization,
v.86, n.2, p.81-160, fev. 2008. Disponível em:
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éticos mostraram-se relevantes, exigindo dos 7-040089/en/>. Acesso em:4 jul. 2016.
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330
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BOEHRINGER INGELHEIM VETMEDICA. 307-346.
YouTube.Vaccine Production Process at
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(12min15s).Disponívelem:<https://www.youtube.co Vaccine Process Technology. Biotechnology
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