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1.

Introdução
Poder regulamentar é a prerrogativa conferida à Administração Pública de editar actos gerais
para complementar as leis e possibilitar sua efectiva aplicação. Seu alcance é apenas de norma
complementar à lei; não pode, pois, a Administração, alterá-la a pretexto de estar
regulamentando-a. Se o fizer, cometerá abuso de poder regulamentar, invadindo a competência
do Legislativo. Portanto, o poder regulamentar é de natureza derivada (ou secundária): somente é
exercido à luz de lei existente. Já as leis constituem actos de natureza originária (ou primária),
emanando directamente da Constituição.

1.1. Objectivos
1.1.1. Geral
 Estudar o poder regulamentar.

1.1.2. Específicos
 Conceituar o Poder regulamentar;
 Descrever as características do Poder Regulamentar;
 Classificar os poderes regulamentares.

1.2. Metodologia
A metodologia utilizada está baseada em levantamentos a partir de dados bibliográficos
relacionados ao tema em alusão, aos dados bibliográficos foram agregadas informações obtidas a
partir do Google académico.
2. Poder regulamentar
2.1. Conceito de Poder regulamentar
O poder regulamentar propõe a administração pública uma maior independência de produção
normativa, segundo alguns doutrinadores criando mecanismos de complementação das leis,
indispensáveis a sua efectiva aplicabilidade, tal poder conferido pelo art. 84, inciso IV da CF/88,
que diz que compete ao chefe do Poder Executivo expedir decretos e regulamentos para fiel
execução das leis (Simon et al, 2014).

O poder regulamentar se originou na concepção soberana do monarca diante do Poder


Legislativo. Saltou da concepção centrada do poder político nas mãos do Parlamento, para a
opção descentralizada da acção do Executivo, propondo para as matérias de governo e
administração maior independência de produção normativa. (GUERRA, 2003 apud MEDAUAR,
1992).

O Poder Legislativo, quando Edita as leis, nem sempre possibilita que elas sejam executadas.
“cumpre, então, à Administração Pública criar mecanismos de complementação das leis
indispensáveis a sua efectiva aplicabilidade. Essa é a base do poder regulamentar”.
(CARVALHO FILHO, 2013).

Afirma ainda, o autor supra-citado, que o poder regulamentar exerce uma função normativa e
não legislativa:
Registre-se por oportuno que, ao desempenhar o poder regulamentar, a Administração
exerce inegavelmente função normativa, porquanto expede normas de cateter geral e com
grau de abstracção e impessoalidade, malgrado tenham elas fundamento de validade na
lei. (CARVALHO FILHO, 2013).

Segundo definição de Hely Lopes MeirelIes: Poder regulamentar é a faculdade de que dispõem
os Chefes do Executivo (Presidente da República, Governadores, e Administradores) de explicar
a lei para sua correcta execução". Carvalho Filho, por sua vez, conceitua o poder regulamentar
como" a prerrogativa conferida à Administração Pública de editar as leis e permitir a sua efectiva
aplicação. (Hely Lopes, 1991)".

Já Celso António Bandeira de Mello traz uma definição bem precisa do regulamento, expressão
maior do poder regulamentar, traduzindo com precisão a técnica legislativa empregada pelo
constituinte no tocante à competência para sua expedição e à sua finalidade. Define-o como" acto
geral e (de regra) abstracto, de competência privativa do Chefe do Poder Executivo, expedido
com a estrita finalidade de produzir as disposições operacionais uniformizadoras necessárias 'à
execução de lei' cuja aplicação demande actuação da Administração Pública".

De acordo com a locução empregada pelos autores ao definir esta expressão de poder do
Executivo, poderia se chegar à conclusão, a princípio, de que trata-se de uma faculdade, ou
liberalidade posta à disposição dos Chefes do Executivo. No entanto, entendemos que trata-se na
verdade de um dever da Administração, pois sempre que a lei necessite de alguma forma ser
complementada, para que seja correcta e efectivamente aplicada, o administrador público tem o
dever imperioso de expedir o correspondente regulamento (OLIVEIRA et al 2017).

Isso se explica pelo facto de as autoridades administrativas não realizarem fins próprios, mas sim
da sociedade e do Estado. O administrador público exerce função pública, ou seja, está investido
de poderes para atender a interesses de outrem. Assim os ditos poderes, os quais lhe são
outorgados, são meramente instrumentais, necessários à consecução dos fins aos quais está
encarregado de atender.

Sobre este tema cabe transcrever o magistral escólio do mestre português J.J. Canotilho, que
assim resume a questão:

"A justificação do poder regulamentar a ter em conta é a justificação ou fundamento jurídico do


poder regulamentar e não a justificação política, material ou prática da atribuição de poderes
normativos à administração.

Quanto ao problema do fundamento jurídico do poder regulamentar, foram abandonadas as


primitivas justificações (poder próprio e inerente a qualquer administração, expressão do poder
discricionário de administração), considerando-se que o poder regulamentar encontra seu
fundamento na própria Constituição." (grifou-se).

2.2. Características do Poder Regulamentar


i. Competência Privativa do Chefe do Poder Executivo;
ii. Envolve edição de normas gerais para o fiel cumprimento da lei;
iii. Conteúdo político.
2.3. Poder Administrativo
A subordinação da actividade administrativa à norma jurídica é um dos pressupostos
fundamentais e necessários da existência do Direito Administrativo, expressão do Estado de
Direito. O poder regulamentar, emanador do acto regra (regulamento) tem subordinado a este o
ato subjectivo da Administração (o acto administrativo).

2.3.1. Natureza jurídica


Discute-se se o poder regulamentar é inerente ao Executivo ou se o mesmo é delegado ou
autorizado pelo Legislativo. Esta discussão vem a se cifrar naquela divisão que Giraud faz das
faculdades do Executivo em:
a) Poder regulamentar - para execução das leis com carácter de atribuição normal do
Executivo;
b) Decretos-leis e Delegação de Poderes legislativos.

2.3.2. Limites do poder regulamentar


A esfera de acção do poder regulamentar - zona cinzenta da competência dos poderes Legislativo
e Executivo - é um terreno difícil, de palmilhar perigoso, por isso mesmo que os sérios
problemas do seu limite estão confundidos na dificuldade de se precisar o conteúdo da lei e do
regulamento, o que, em princípio, abordamos quando estudamos os critérios para se precisar a lei
formal e material pelo conteúdo ou proveniência. É verdade que, inicialmente, cada Constituição
precisa a extensão do poder regulamentar. Neste tipo,
 Não pode substituir a função legislativa (criar ou modificar leis);
 Não pode dispor além do permitido em lei;
 Não pode restringir o permitido em lei.

2.3.3. O poder regulamentar nos regimes parlamentar e presidencial


O estudo do poder regulamentar não pode se afastar da compreensão peculiar que cada regime de
governo empresta à distinção de poderes, pois, da atribuição constitucional que determinado
Estado dá a cada ramo do Poder decorrem as variações do poder regulamentar.

2.4. Classificação dos regulamentos


Há uma classificação geral de regulamento que abrange todos os seus tipos:
1º) Regulamento interno ou administrativo, isto é, os regulamentos de organização, que só
valem internamente, não vinculando terceiros.
2º) Regulamentos externos ou normativos, vinculam, também, terceiros. Podem ser de três tipos:
a) Regulamentos de execução, suplementares ou complementares;
c) Regulamentos independentes ou autónomos;
d) Regulamentos delegados ou por autorização.

Curiosamente, Hans Kelsen inclui o chamado regulamento de necessidade ou de excepção que é


o regulamento com força de lei, que substitui ou revoga existente.

Regulamentos internos: - estes regulamentos não são geralmente assim considerados, pois
obrigam apenas agentes de determinados departamentos ou núcleos de serviços administrativos.
Mas são actos da Administração que contêm regras gerais.

Regulamento externo - Examinemos particularizadamente cada um dos três tipos acima


nomeados:
a) Regulamento de execução - É a norma de competência constitucional do Executivo
necessária a facilitar e realizar a fiel execução das leis. São, como já frisamos, normas
complementares que visam a preencher os pormenores das leis.
b) Regulamento Independentes em Autónomos: - Nos sectores ainda não ocupados pela
legislação, mas, nos quais não há vedação constitucional, o Poder Executivo age no
cumprimento de sua competência normativa genérica, expedindo regulamentos que são
denominados independentes ou autónomos.
c) Regulamento Delegado - Depende, limita-se e é subordinado à prévia autorização ou
delegação do Poder Legislativo. Não possui força de Lei formal. Às vezes é chamado de
lei delegada, evidentemente te no conceito material. Em qualquer caso, para serem
válidos têm de estar vinculados à lei elaborada pelo Poder Legislativo em sua
competência constitucional.

2.5. Poder regulamentar no nosso país


Entretanto, por exemplo, o artigo 271 da CRM dispõe que “os órgãos de governação
descentralizada e das autarquias locais dispõem de um poder regulamentar próprio, em
conformidade com a Constituição da República, as leis e os regulamentos emanados das
autoridades com poder tutelar” (Macuácua et al, 2018).

“O poder local implica (exige) (…) a dotação de poder regulamentar próprio. Poder cujo âmbito
se circunscreve à esfera de acção das Autarquias Locais respectivas…”. Este poder regulamentar
é uma expressão da autonomia local (autonomia normativa). O núcleo da autonomia local
consiste no direito e na capacidade efectiva de as Autarquias Locais regularem e gerirem, nos
termos da lei, sob a sua responsabilidade e nos interesses das populações, os assuntos que lhe
estão confiados (Carta Europeia da Autonomia Local, art. 3°).

Da autonomia local resulta, assim, para os órgãos de governação descentralizada e as autarquias


locais, uma série de direitos/poderes, nomeadamente o poder regulamentar. De acordo com
António Cândido de Oliveira, apenas se dá importância a este poder, imaginando-se a sua
essência. Sem ele, refere, a liberdade de acção das autarquias estaria fortemente limitada, pois
estas estariam impedidas de disciplinar determinadas matérias administrativas adaptando-as à sua
realidade. Há quem veja a autonomia normativa como cerne da autonomia local.

O poder regulamentar consiste no poder de aprovar regulamentos administrativos, os quais são


normas jurídicas aprovadas pelas autarquias no exercício dos seus poderes administrativos.
Daqui resulta que, do ponto de vista material, os regulamentos são normas jurídicas que enceram
as características da generalidade e abstracção típicas dos actos normativos, tal como as leis.

 Do ponto de vista orgânico, os regulamentos são aprovados por entidades


administrativas.
 Do ponto de vista funcional os regulamentos são emanados no exercício da função
administrativa.
 Do ponto de vista formal, podem apresentar-se de varias formas, nomeadamente e no que
toca às Autarquias Locais, a forma de posturas das Autarquias Locais.

Existem vários critérios para se classificarem os regulamentos, no entanto, vamos referir-nos


apenas ao critério da eficácia jurídica e ao critério da dependência face à lei, de acordo com o
critério da eficácia jurídica, os regulamentos podem ser internos ou externos.
Os regulamentos internos são unilaterais, isto é, só obrigam a Administração Pública, faltando-
lhes a bilateralidade ou alteridade. Fundamenta-se no poder hierárquico, não tendo que ser
indicada a lei habilitante. Não estão sujeitos a requisitos específicos de publicidade, sendo
eficazes logo que conhecidos pelos seus destinatários. Não são impugnáveis contenciosamente,
nem estão sujeitos ao princípio da inderrogabilidade singular dos regulamentos (Macuácua, et al,
2018).

De acordo com (DIAS, 2005), no que se refere aos regulamentos externos, estes são bilaterais,
isto é, vinculam a Administração Pública e os particulares ou entes públicos, gozando da
característica de bilateralidade ou alteridade. Precisam sempre de uma norma legal habilitadora,
devendo indicar a lei ao abrigo da qual são emanados.

O mesmo autor diz que, o poder regulamentar externo não é um poder originário, mas um poder
derivado, conferido pela Constituição ou pela Lei, isto é, é um poder que se baseia nas normas
legais ou constitucionais, que em cada caso, atribuem competência regulamentar à entidades
administrativas. A Constituição e a lei, confere os órgãos de governação descentralizada e as
autarquias locais uma competência genérica, isto é, tem competência regulamentar externa em
todas as matérias que, por lei, lhe estejam confiadas.
3. Conclusão
Em virtude deste trabalho, conclui-se que as actividade regulamentar constitui um atributo
próprio, inerente ao exercício da actividade administrativa, em carácter majoritariamente
conferida ao poder executivo” dessa forma “o poder regulamentar destina-se a explicitar o teor
das leis, preparando sua execução, complementando-as, se for o caso.” Portanto, o poder
regulamentar é a faculdade de que dispõem os Chefes do Executivo de expedir actos
administrativos que explicitem o disposto nas leis a fim de garantir a sua execução. Os actos de
carácter regulamentar estritamente limitado às disposições expressas e implícitas da lei, que tem
o condão de clarificar pontos demasiadamente genéricos, que recebem a seguinte denominação
regulamento de execução.
4. Bibliografia
CARVALHO FILHO, (2012). Manual de Direito Administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas.

GUERRA, Glauco Martins. (2003). Princípio da Legalidade e Poder normativo: Dilemas da


autonomia regulamentar.

MACUÁCUA, E. G. F. (2018). A revisão constitucional de 2018 em moçambique: contexto,


processo e desafios.

MEDAUAR, O. (1992). Direito Administrativo Moderno. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista
dos Tribunais.

MEIRELLES, Hely Lopes, Direito Administrativo Brasileiro, Ed. Revista dos Tribunais, São
Paulo, 1991.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de direito administrativo. 5ª.Ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2017.

SIMON C. H. (2014). O poder regulamentar da administração pública: uma análise da


resolução N.º 24 do coaf (conselho de atividades financeiras). Criciúma (SC).

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