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Fórum

Artigo Convidado

PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM


ADMINISTRAÇÃO NA DÉCADA DE 2000

Carlos Osmar Bertero carlos.bertero@fgv.br


Professor da FGV-EAESP

Flávio Carvalho de Vasconcelos flavio.vasconcelos@fgv.br


Professor da FGV-EBAPE

Marcelo Pereira Binder marcelo.binder@fgv.br


Professor da FGV-EAESP

Thomaz Wood Jr. thomaz.wood@fgv.br


Professor da FGV-EAESP

res. Acompanhando tal movimento, original e reproduzia, com atraso,


GÊNESE DO FÓRUM as revistas científicas nacionais vêm o que se fazia em centros mais
crescendo em número e recebendo desenvolvidos, especialmente os
O campo científico da Adminis- cada vez mais artigos. Estados Unidos (e.g. Vergara e
tração tem crescido com notável Por outro lado, embora tam- Carvalho JR, 1995). Além disso,
vitalidade no Brasil. O número de bém venha aumentando, a presen- muitos desses estudos mostraram
programas de mestrado e doutora- ça de artigos de pesquisadores de que a produção havia crescido
do multiplicou-se nos últimos anos. instituições brasileiras em revistas em quantidade, porém não em
Os principais eventos do campo, internacionais é ainda pequena e qualidade, e que apresentava fra-
organizados pela Associação Na- não atingiu, com exceções, os pe- gilidades teóricas e metodológicas
cional de Pós-graduação e Pesquisa riódicos mais prestigiosos do cam- (veja Bertero, Caldas, Wood
em Administração (ANPAD), estão po. Estudos realizados nas décadas JR, 2005a). Suspeita-se que tal rea-
consolidados, recebem milhares de de 1990 e 2000, nas diversas áre- lidade não se tenha alterado.
trabalhos acadêmicos e reúnem um as da Administração, concluíram Há oito anos, a RAE-publica-
enorme contingente de pesquisado- que a produção local era pouco ções e a Editora Atlas publicaram

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Carlos Osmar Bertero Flávio Carvalho de Vasconcelos Marcelo Pereira Binder Thomaz Wood Jr.

a coletânea Produção Científica as áreas de Comportamento Or- testes empíricos mais robus-
em Administração no Brasil: o ganizacional, Gestão de Pessoas, tos. (Sobral e Mansur,
Estado da Arte (Bertero, Cal- Finanças, Gestão de Operações e 2013, p. 021-034).
das, Wood JR, 2005b). A obra Marketing. De modo geral, os au-
apresentava um balanço do de- tores apresentam uma perspectiva André Ofenhejm Mascarenhas
senvolvimento científico do campo crítica da evolução da produção e Allan Claudius Queiroz Barbosa
da Administração e de suas áreas, científica no Brasil na década de estudaram 32 artigos de Gestão de
predominantemente focado no 2000. Nossa produção cresceu e Pessoas. A análise revelou diversos
período 1990-2000. evoluiu, porém ainda apresenta pontos de atenção: dificuldade para
Este fórum tem como objetivo fragilidades teóricas e metodoló- sistematizar tendências na literatura
atualizar essa avaliação e indicar gicas consideráveis, é pouco rele- existente, conexão frágil entre teo-
caminhos para o fortalecimento vante e ainda dá os primeiros pas- ria e metodologia, detalhamento
do campo científico da Adminis- sos para a inserção internacional. inadequado das opões metodoló-
tração no Brasil. Propusemos aos Filipe Sobral e Juliana Arcover- gicas e discussão insuficiente dos
autores que realizassem um retrato de Mansur analisaram 185 artigos resultados. Segundo os autores:
da evolução de suas respectivas de Comportamento Organizacio-
áreas na década de 2000, que pre- nal. Concluíram que o campo Construir o impacto da pro-
parassem uma avaliação crítica e desenvolveu identidade própria, dução brasileira em Admi-
que trouxessem propostas para a apresentando grande diversidade nistração dependeria de se
construção do futuro. de temas, com destaque para cultu- aprofundar o entendimento
Indicamos, ainda, que os tex- ra organizacional e aprendizagem sobre sua relevância. [...]
tos fossem norteados pelas seguin- organizacional. Os autores salien- Dois caminhos para reflexão
tes questões: tam, entretanto, a fragilidade me- emergiriam. O primeiro seria
todológica e sugerem trilhas para analisar para quem escreve-
• Como a pesquisa na área evo- endereçar a questão. Segundo eles: mos. [...] Frente à tendência
luiu, em termos quantitativos pela internacionalização, este
e qualitativos? [...] há necessidade de se dilema se resumiria à escolha
• Quais as forças e fraquezas dos ampliar as pesquisas no que entre a produção de relevân-
trabalhos em termos teóricos? diz respeito à escolha epis- cia às agendas anglófonas,
• Quais as forças e fraquezas dos temológica e utilização de concebida implicitamente
trabalhos em termos metodo- métodos e técnicas adequa- como agenda internacional,
lógicos? das a ela, o que garantiria mas relevante principalmente
• Quão alinhados estão os tra- maior validade científica e, aos países de língua inglesa,
balhos com a realidade local? portanto, maior contribuição e a produção de relevância
• Quão alinhados estão os traba- para o campo de Comporta- local, que refletiria o modelo
lhos com os desenvolvimentos mento Organizacional. Para- da universidade comprometi-
da comunidade científica inter- lelamente, poderia haver uma da com a sociedade civil, que
nacional? intensificação de estudos no direciona atenção à proble-
• A produção científica local re- nível meso e utilização de mática local sem descuidar de
flete a amplitude e a profundi- abordagens multinível, além processos globais subjacen-
dade do campo? do aumento de estudos in- tes. O segundo caminho seria
ferenciais, a partir de expe- analisar o que escrevemos.
rimentos e testes controla- Aqui valeria a proposição de

CONTRIBUIÇÕES AO dos. Para a consolidação do


campo nos próximos anos,
Rousseau, Manning e Denyer
(2008), para quem somente a
FÓRUM as pesquisas deveriam ainda síntese de um corpo de evi-
adotar perspectivas mais am- dências científicas revelaria
O produto desse notável esforço plas em relação a questões implicações consistentes à
coletivo são os cinco artigos que teórico-metodológicas. Por prática, abrangendo acúmu-
compõem este fórum, abrangendo exemplo, expor teorias para lo, análise e interpretação de

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um conjunto de textos. Dado ção da área no país ainda não res capazes de desenvolver
o volume atual da produção reflete a amplitude e a profun- pesquisas com estas orienta-
científica nacional, seria de- didade da inovação teórica e ções. (Paiva e Brito, 2013,
sejável identificar e sistemati- metodológica que ocorre nos p. 056-066).
zar a contribuição dos textos, países mais desenvolvidos.
sintetizar o conhecimento (Leal, Sousa, Bortolon, José Afonso Mazzon e José
sendo acumulado, refletir 2013, p. 046-055). Mauro da Costa Hernandez reali-
sobre seus limites e desdo- zaram análise abrangente de 1.272
bramentos, e indicar cami- Ely Laureano Paiva e Luiz Artur artigos de Marketing. Os autores
nhos para desenvolvimento Ledur Brito analisaram 39 artigos confirmaram a importância dos
futuro. (Mascarenhas e de Gestão de Operações, com base congressos para a veiculação da
Barbosa, 2013, p. 035-045). nos vetores complementares da produção brasileira e identifica-
relevância e do rigor. Os autores ram o tema do comportamento
Ricardo Pereira Câmara Leal, concluem que há razoável conver- do consumidor como aquele que
Vinício de Almeida e Souza e Patrí- gência temática entre a produção mais atrai pesquisadores. De acor-
cia Maria Bortolon realizaram uma brasileira e a produção interna- do com os autores, um dos princi-
avaliação bibliográfica quantitativa cional no campo. Seu principal pais pontos de atenção identifica-
e qualitativa de 461 artigos de Fi- alerta refere-se à questão do rigor dos refere-se à relevância:
nanças. A análise revela a baixa científico e à necessidade de um
produtividade dos pesquisadores esforço para inserção internacio- Verificamos que a expressiva
e a veiculação dos trabalhos em nal. Segundo eles: maioria dos trabalhos tem
periódicos internacionais de baixo inspiração internacional, re-
impacto. Os autores argumentam [...] um dos principais desa- tratando aspectos teóricos
que pouca inovação teórica e me- fios presentes é atentar para que estão sendo discutidos
todológica é a razão por detrás da as mudanças de orientação nos países mais desenvolvi-
dificuldade para publicar artigos metodológica em curso no dos. Entretanto, quão alinha-
em periódicos de alto impacto. cenário internacional. Ini- dos estão esses temas com a
Segundo eles: cialmente, tanto as pesquisas nossa realidade? Inúmeros
baseadas em survey como em contextos tipicamente bra-
Atualmente, parece haver métodos qualitativos precisam sileiros estão sendo pouco
dois mundos: o dos pesquisa- se aproximar do nível de ri- estudados sob o prisma de
dores de Finanças vinculados gor metodológico atual das Marketing, como pobreza e
às principais instituições in- publicações de primeira linha consumo, desenvolvimento
ternacionais, que competem internacional. Métodos menos de produtos e serviços para
para ver seus artigos publica- utilizados, como experimen- a classe baixa e a emergente
dos nos melhores periódicos tos, uso de dados secundários classe média, tipos particu-
científicos mundiais da área, e pesquisa-ação, são também lares de canais (feiras livres,
e o dos pesquisadores na- oportunidades. Estes métodos padaria, bares, armazéns,
cionais, que concorrem para apresentam como vantagem entrega em domicílio) e mo-
publicar seus artigos nos me- potencial sua proximidade dalidades de crédito mais
lhores periódicos científicos com o mundo empresarial. frequentes no Brasil que em
nacionais, que oferecem qua- Ao mesmo tempo, também outros países (prestações,
se que o mesmo número de é importante o uso de múlti- cheques pré-datados, fia-
pontos que os primeiros, mas plas metodologias integradas do). Apelamos aos autores
que são desconhecidos no e inseridas em projetos de de Marketing que passem a
cenário mundial. O sistema pesquisa abrangentes. Fica o pelo menos pensar na possi-
de avaliação poderia aproxi- desafio para os nossos progra- bilidade de dedicar mais de
mar estes dois mundos, pois, mas de Mestrado e Doutorado seu tempo à investigação de
observando os resultados ob- se inserirem nessa empreitada contextos tipicamente brasi-
tidos neste estudo, a produ- e formar futuros pesquisado- leiros e que têm sido negli-

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genciados nos últimos anos. locais uma fonte valiosa de refle- de teorias locais, com base em
(Mazzon e Hernandez, xão e explicação de fenômenos conhecimento local, voltadas para
2013, p. 067-080). relevantes? explicar fenômenos específicos
Se o leitor responder “não” locais; e a busca de rigor na pes-
às questões acima, ou ao menos quisa científica. Vejamos cada um
for assaltado por dúvidas, talvez desses vetores.
Uma provocação à valha a pena dedicarmos alguma O primeiro vetor vem carac-
comunidade científica energia e algum esforço a pensar terizando a produção local, nos
o que poderíamos fazer diferente. vários campos da Administração.
local Então, a questão que se coloca é Os pesquisadores brasileiros vêm
a seguinte: o que nos ajudaria a sistematicamente se apropriando
Conforme indicamos na abertura consolidar o campo científico da de teorias originadas fora do País,
desta apresentação, o campo cien- Administração e torná-lo valioso, especialmente aquelas produzidas
tífico da Administração cresceu talvez imprescindível? nos países anglo-saxões, e aplican-
com vigor no Brasil na última dé- do-as ao contexto local. Tal modus
cada. Tal campo se consolidou, no operandi abrange todo o espectro
País, sob a égide da Capes, capaz paradigmático, do neopositivismo
de exercer influência substantiva
Como construir às teorias críticas, incluindo as
por meio de seus processos de teorias tropicais abordagens pós-modernas.
avaliação. Esse processo tem sido Há, naturalmente, valor em
alvo de incômodo e críticas da co- Parte essencial da missão de qual- realizar tal apropriação e tal aplica-
munidade científica. Entretanto, quer comunidade científica é a ção. Pode-se, por meio desse pro-
ele é influenciado e parcialmente construção de teorias, ou seja, a cesso, ter acesso às mais modernas
definido por esta mesma comuni- identificação de fenômenos rele- teorias para explicar fenômenos
dade científica. Pode-se, portanto, vantes e a busca de explicações so- locais. Pode-se, também, contribuir
afirmar, que os resultados obtidos, bre por que ocorrem, como ocor- para o avanço do conhecimento
incluindo sucessos e fracassos, rem e quais são suas consequên- teórico, comprovando ou negando
constituem produtos de uma co- cias (veja Ven, 1989; Whetten, sua validade em contextos diferen-
letividade de pesquisadores. 2003). E, como se sabe, “não há tes daqueles em que tais teorias
Imaginemos, por um momen- nada mais prático do que uma boa foram geradas.
to, que o governo federal decidisse teoria” (Kurt Lewin, 1892-1947). No entanto, mirando o futuro,
privilegiar radicalmente algumas A ecologia organizacional bra- para que tal processo seja robusto
áreas de pesquisa, aquelas vistas sileira é complexa, apoiando-se e gere contribuições significativas,
como capazes de alavancar o cres- sobre uma economia diversificada é preciso que ocorra uma escolha
cimento e ajudar a equacionar as e uma textura sociocultural rica e esclarecida e estratégica das teorias
grandes questões nacionais, em multifacetada. Tal contexto ofere- a serem apropriadas e uma apli-
detrimento de outras, vistas como ce, aos pesquisadores, enormes cação consistente com a realidade
improdutivas e frágeis. E que, nes- oportunidades para contribuírem local. Para isso, é preciso romper a
se segundo grupo, incluísse a área para o desenvolvimento da teoria e apropriação superficial de teorias,
da Administração. Imaginemos, para o aperfeiçoamento da prática praticada nos trópicos, e aprofun-
ainda, que tal decisão implicas- administrativa. dar efetivamente o conhecimento
se o fechamento dos grupos de Considerando o histórico da sobre os corpos teóricos originados
pesquisa e a descontinuidade das produção científica no Brasil, in- em outros contextos.
revistas e dos eventos científicos. cluindo as reflexões abrangidas O segundo vetor foi menos
Pergunta-se: seriam as consequên- por este fórum, acreditamos que o proeminente na produção local,
cias de tal decisão danosas para o desenvolvimento futuro de teorias porém marcou diversas iniciati-
País? Seriam as decorrências da me- deverá apoiar-se em três vetores: vas de desenvolvimento teórico,
dida percebidas pela comunidade o uso de teorias desenvolvidas em tais como aquelas voltadas para
científica internacional? Perderiam outros países para explicar fenô- a compreensão de fenômenos or-
as empresas e outras organizações menos locais; o desenvolvimento ganizacionais com base em traços

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culturais brasileiros e aquelas foca- textos críticos sobre o chamado tração no Brasil poderia beneficiar-
das em analisar o comportamento “produtivismo acadêmico” (e.g, -se de um diálogo norteado por
do consumidor de baixa renda ou Alcadipani, 2011; Faria, 2011; temas específicos de mudança.
a internacionalização de empresas Freitas, 2011; Godoi e Xavier, Para isso, listamos a seguir oito
brasileiras. 2012; Machado e Bianchetti, propostas para reflexão.
Tal vetor constitui uma dupla 2011; Mattos, 2012). Tais textos,
oportunidade para a comunidade de modo geral, ecoam críticas da
científica local, de gerar contribui- comunidade local ao caráter quan- Focar o Brasil
ções originais para o desenvolvi- titativo fomentado pelo sistema de As revistas científicas brasileiras
mento teórico, no âmbito da comu- mensuração e avaliação de resulta- deveriam ter um papel mais ativo
nidade científica internacional, e de do da Capes. Esse sistema estaria e estabelecer linhas editoriais que
gerar contribuições para a compre- levando nossos pesquisadores a privilegiem o desenvolvimento
ensão (e, eventualmente, a ação) privilegiarem a quantidade em fa- de conhecimento e teorias sobre
sobre questões e problemas locais. vor da qualidade e a favorecerem temas, objetos e fenômenos bra-
Acreditamos que alocar esforços e a publicação em favor do impac- sileiros. Deveriam, também, apro-
recursos nesse sentido poderá re- to, adotando, assim, uma lógica de fundar a segmentação por campo
sultar em um salto qualitativo para produção em série, própria das li- e por orientação ontológica. Hoje,
a produção científica local. nhas de produção fordistas. nossas principais revistas, salvo
O terceiro vetor perpassa os ve- As críticas têm méritos, pois exceções, aceitam artigos oriun-
tores anteriores, constituindo condi- chamam a atenção para desvios dos de todos os campos da Admi-
ção necessária para a realização de substantivos da atividade científi- nistração e de qualquer orienta-
contribuições teóricas relevantes. O ca. De fato, o produtivismo pode ção ontológica. Tal condição cria
rigor refere-se à competência para também ser visto como mimetismo enorme desafio para os editores e
utilizar métodos de pesquisa, sejam de uma atitude que se desenvolveu corpos de avaliadores, levando a
de abordagens qualitativas ou quan- no mundo acadêmico dos países processos longos e inadequados de
titativas, e também à competência desenvolvidos, lá também encon- revisão. Algumas delas começam a
de construção teórica. Esse último trando os seus críticos. No entanto, aceitar artigos internacionais, even-
item envolve o domínio do estado a mentalidade produtivista, hoje tualmente sobre temas distantes da
da arte no campo e a capacidade presente na academia brasileira, realidade brasileira. Pensamos que
de desenvolver teorias para explicar é mais do que o reflexo atitudinal revistas científicas locais, focadas
fenômenos relevantes. e comportamental de cientistas, na realidade local e segmentadas
Evoluir, em termos de rigor, provocado por um modelo de por campo, trariam uma contribui-
constitui um grande desafio para os medição da produção. Trata-se, na ção mais efetiva para o desenvolvi-
pesquisadores brasileiros, mesmo verdade, de um sistema construído mento do campo da Administração
considerando o desenvolvimento ao longo do tempo e sustentado no Brasil. Além disso, a comunida-
ocorrido nos últimos anos. Confor- por seus diversos agentes: os pro- de acadêmica internacional prova-
me observado anteriormente, nossa gramas de mestrado e doutorado, velmente teria interesse maior em
comunidade tem praticado formas os eventos científicos, as revistas ler e aprender sobre o Brasil por
acríticas de mimetismo, reprodu- científicas, os agentes reguladores meio de pesquisadores brasileiros
zindo com atraso teorias originadas e o próprio corpo de pesquisado- do que vê-los mimetizando e re-
em outros países (veja Bertero, res. Tal sistema sustenta um modo produzindo teorias desenvolvidas
Caldas, Wood JR, 2005b). próprio de geração e disseminação nos países centrais.
de conhecimento. Além disso,
ajuda a promover certos valores e
práticas, fomentando uma cultura Aproximar teoria e prática
Oito propostas para o peculiar de pesquisa. As instituições de ensino deve-
presente milênio Considerando tais críticas e as riam buscar maior proximidade
reflexões trazidas pelos autores do entre desenvolvimento teórico e
Têm surgido, no âmbito da comu- presente fórum, acreditamos que a prática organizacional. A Admi-
nidade científica local, diversos comunidade científica de Adminis- nistração, como se sabe, é uma

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ciência aplicada. Isso não signifi- série de critérios, entre os quais formem em contribuições científi-
ca, obviamente, que a agenda de se encontra a pontuação atingida cas realmente importantes.
seus pesquisadores deva ser bali- pelos professores pesquisadores,
zada pelas preocupações de mo- por meio de publicações em pe-
mento de empresários e executi- riódicos. Para gerar conhecimento Focar o impacto da produção
vos. Tampouco significa que seus e melhores teorias, os programas O sistema nacional de avaliação
pesquisadores possam se isolar do deveriam ir além das metas nu- deveria deslocar seu foco da pro-
mundo da prática. O desafio é ge- méricas, estabelecendo diretrizes dução para o impacto. Conforme
renciar a relação entre esses dois de pesquisa voltadas para a cons- indicamos anteriormente, tal sis-
mundos. Hoje, muitos pesquisa- trução de conhecimento em torno tema utiliza uma série de critérios,
dores das instituições brasileiras de determinados temas, objetos e entre os quais a pontuação atingi-
atuam distantes das organizações. fenômenos. Tais escolhas deveriam da pelos professores pesquisado-
É preciso estabelecer fóruns de ser coerentes com a história das res, por meio de publicações em
diálogo e cooperação, que per- instituições de ensino, as compe- periódicos, locais e estrangeiros.
mitam a aproximação entre pes- tências já estabelecidas e sua inser- Esse sistema, como se sabe, tem
quisadores e gestores, de modo ção local, regional e internacional. provocado distorções, pois vem
a construir agendas de pesquisa Naturalmente, tais diretrizes deve- estimulando pesquisadores a “mul-
que possam tanto fazer avançar riam também preservar a liberdade tiplicar” publicações para garan-
a teoria sobre fenômenos locais acadêmica, pedra fundamental do tir maior pontuação. Com isso, a
quanto contribuir para a reflexão desenvolvimento científico, garan- quantidade frequentemente avança
sobre as práticas administrativas e tindo espaço para a diversidade em detrimento da qualidade. Al-
seu aperfeiçoamento. A Adminis- de perspectivas e abordagens que guns programas de pós-graduação
tração é considerada igualmente caracterizam o campo. chegam a induzir expedientes con-
uma área social aplicada. Ora, o denáveis para inflar seus números.
País está longe de ser bem admi- Indicadores de impacto, por sua
nistrado. Isso é válido tanto para Fomentar o rigor vez, deslocam o foco da produção
a área pública como para a área Os gatekeepers, especialmente os para a utilização do conhecimento.
empresarial. Basta observar a má editores de revistas científicas e Exigem, naturalmente, uma apura-
administração de recursos, a má coordenadores de áreas de even- ção mais sofisticada.
qualidade dos serviços e a má tos científicos, deveriam atuar com
gestão de projetos, que acarre- maior rigor. Hoje, os eventos e re-
tam imenso prejuízo para toda a vistas são frequentemente vistos Privilegiar periódicos
sociedade. Há diversas razões para como “escoadouros” para a pro- internacionais de alto nível
a existência desse tipo de proble- dução científica. Parece haver uma Os sistemas de incentivo deve-
ma, mas certamente a baixa quali- premissa tácita de que tudo que é riam privilegiar a veiculação em
dade da gestão arca com parte da produzido com um mínimo de qua- periódicos de alto nível. Algumas
responsabilidade. Contribuir para lidade deveria ser veiculado. Tal instituições de ensino implemen-
uma melhoria da prática adminis- condição infla as pontuações dos taram sistemas de incentivo, fre-
trativa é missão importante da área. programas, facilitando o cumpri- quentemente visando fomentar a
mento de suas metas de produção internacionalização da pesquisa,
científica. Entretanto, torna nossos estimulando seus pesquisadores
Criar planos de pesquisa outlets vitrines de trabalhos de bai- a participarem de redes científi-
Os programas de mestrado e dou- xo rigor e baixa qualidade. Pensa- cas internacionais, desenvolverem
torado deveriam desenvolver pla- mos que uma atuação mais crite- projetos em parceria com colegas
nos de pesquisa. Hoje, diversos riosa e restritiva dos gatekeepers de instituições no exterior e pu-
programas estabelecem metas contribuiria para o aumento da blicarem artigos em periódicos
atreladas ao sistema de avaliação qualidade da produção local, bar- estrangeiros. Consideramos dese-
Capes, buscando evoluir em ter- rando os trabalhos de menor rele- jável haver um reconhecimento
mos de classificação geral. Tal sis- vância e estimulando aqueles de especial para artigos veiculados
tema, como se sabe, utiliza uma maior potencial, para que se trans- nos principais periódicos interna-

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cionais, aqueles com maior fator de mente apresentariam uma relação essas observações podem ser es-
impacto, de ampla visibilidade na mais favorável entre os recursos tendidas à comunidade acadêmica
comunidade internacional. Hoje, investidos e os resultados obti- internacional. Significativamente,
a pressão por publicações inter- dos. Em paralelo, os programas boa parte dos textos que hoje le-
nacionais, contraposta à limitada de mestrado poderiam continuar mos como clássicos e usamos no
tradição brasileira em pesquisa, a ser ampliados, com maior foco treinamento de mestres e douto-
tem levado muitos pesquisadores na formação de docentes e consi- res foi produzida por acadêmicos
locais a buscar revistas internacio- derando que uma parcela restrita, distantes da lógica do produtivis-
nais de baixo fator de impacto. Tal porém representativa, de egressos mo. Produziram menor quantida-
condição limita nossa audiência e viria a cursar o doutorado. de, porém com melhor qualidade
não contribui para o aumento do e, especialmente, com maior re-
rigor e da qualidade da pesqui- levância.
sa. A experiência de publicar nos Reconhecer pesquisadores e
principais periódicos, por outro pesquisas exemplares
lado, exigiria o desenvolvimento As instituições deveriam celebrar
de competências específicas, em pesquisadores e pesquisas exem-
CONCLUSÃO
termos de desenvolvimento teórico plares. O sistema de pesquisa em
e métodos, que poderia irradiar-se Administração implementado no Em um editorial sobre a evolução
dos autores para seus programas. Brasil está formando gerações de estudos organizacionais na Chi-
Além disso, a veiculação de tra- de pesquisadores dentro de uma na, Tsui argumenta:
balhos nesses periódicos poderia lógica burocrática de produção
dar visibilidade internacional para intelectual. É certo que a ciência Nas duas últimas décadas, a
a produção local e contribuir para moderna precisa lidar com desa- pesquisa sobre gestão chine-
o desenvolvimento de teorias mais fios relacionados ao planejamento, sa utilizou questões, teorias,
robustas, validadas (ou não) em à alocação e à gestão de recursos. construtos e métodos desen-
um país emergente. Entretanto, é preciso estar alerta volvidos no contexto ociden-
aos excessos. Nossos doutorandos tal. Estão faltando estudos
e jovens doutores preocupam-se exploratórios que tratem de
Reformar os programas de cada vez mais com suas publi- questões relevantes para as
pós-graduação cações e pontuações e cada vez empresas chinesas e o de-
As instituições de ensino deveriam menos com a construção sólida senvolvimento de teorias que
tomar medidas mais firmes para de conhecimento e com o de- ofereçam explicações signifi-
garantir a qualidade da formação senvolvimento de contribuições cativas sobre os fenômenos
de futuros pesquisadores. Hoje, há científicas consistentes. Pensamos chineses. (Tsui, 2009, p. 1).
um incentivo ao crescimento dos que nossas instituições deveriam
programas, visando aumentar o celebrar pesquisadores que, por As similaridades entre a situa-
número de mestres e doutores. Tal seu idealismo e conduta coeren- ção chinesa e a situação brasileira
objetivo é coerente com o objetivo te, tivessem trazido contribuições podem ser mais do que meras
maior de sustentar o crescimento notáveis ao desenvolvimento do coincidências. Os dois países emer-
da atividade de pesquisa no País. campo. Deveriam, também, pre- gentes têm aspirações internacio-
Na prática, entretanto, o que se miar trabalhos excepcionais de nais, porém correm o risco de, ao
observa é um descolamento entre pesquisa, que representassem tentar aderir ao sistema internacio-
aspiração e realidade, pois muitos marcos para a construção do co- nal de geração de conhecimento,
egressos não têm perfil científico nhecimento. Acreditamos que é entrar pela porta dos fundos e
e de pesquisador, e não seguirão preciso recuperar o “ethos do perder o foco na própria realidade,
carreira acadêmica. Programas de cientista”, que perdeu força nos rica e em rápida mutação.
doutorado mais restritos e exigen- últimos anos na academia brasi- Em um outro editorial, sobre
tes, com forte incentivo para a leira, em detrimento da ascensão desenvolvimento teórico, Suddaby,
realização de períodos de estudo dos burocratas da pesquisa e dos Hardy e Huy (2011) realizam uma
e pesquisa no exterior, provavel- articuladores políticos. De fato, reflexão crítica incomum sobre o

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desenvolvimento de novas teorias nossa academia, para que respon- BERTERO, C. O; CALDAS, M. P;
sobre organizações na academia da de maneira mais efetiva a tais WOOD Jr, T. Produção científica em
internacional. Os organizadores aspirações? administração no Brasil: o estado da
indicam que, significativamente, Os mais otimistas provavel- arte. São Paulo: Atlas, 2005b.
não receberam para a organização mente argumentarão que o norte
de seu fórum artigos com novas está definido, que as trilhas gerais FARIA, A. Repensando produtivismo
teorias, porém receberam vários estão traçadas e que, mais cedo ou em gestão no (e a partir do) Brasil.
textos com autocríticas e sugestões mais tarde, chegaremos lá. Quiçá Cadernos EBAPE.BR, v. 9, n. 4, p.
para desenvolver novas teorias. justifiquem sua posição mostrando 1164-1173, 2011.
Observam, ainda, que as teorias a sensível evolução ocorrida nos
atualmente usadas por autores e últimos anos, em termos de pro- FREITAS, M. E. O pesquisador hoje:
pesquisadores referem-se a desen- dução científica, veiculada no Bra- entre o artesanato intelectual e a pro-
volvimentos teóricos ocorridos até sil e no exterior. Acreditamos, no dução em série. Cadernos EBAPE.BR,
a década de 1970. Suddaby, Hardy entanto, que o sistema, fortemente v. 9, n. 4, p. 1158-1163, 2011.
e Huy apontam o reducionismo e inercial, demanda ajustes substan-
o conservadorismo da pesquisa no tivos, como os sugeridos acima. GABRIEL, Y. Organization studies: a
campo, e o distanciamento entre Sem tais ajustes, nossa comunidade space for ideas, identities and agonies.
teoria e prática. Tal constatação científica permanecerá como uma Organization Studies, v. 31, n. 6, p.
pode ser complementada pela crí- torre de marfim, erigida em uma 757-775, 2010.
tica realizada por Gabriel (2010), ilha tropical, tenuemente ligada
que argumenta que as publicações ao contexto local e ao mundo ex- GODOI, C. K; XAVIER, W. G. O pro-
acadêmicas se transformaram em terior. Se os agentes com poder dutivismo e suas anomalias. Cader-
lugares burocráticos e políticos e de influência não se mobilizarem nos EBAPE. BR, v. 10, n. 2, p. 456-
que a ciência normal foi substituída para a mudança, então um futuro 465, 2012.
por uma proliferação de teorias e fórum sobre a produção científica
vozes que se tornaram incompre- em Administração no Brasil, rea- LEAL, R. P. C; SOUSA, V. A. e; BOR-
ensíveis e irrelevantes para a prá- lizado daqui a 10 anos, chegará TOLON, P. M. A produção científica
tica administrativa. a conclusões similares às deste brasileira em finanças no período
Tais considerações, sobre a fórum e a outras reflexões realiza- 2000-2010. RAE-Revista de Adminis-
academia chinesa e sobre a aca- das anteriormente (e.g, Bertero, tração de Empresas, v. 53, n. 1, p.
demia internacional, reforçam a Caldas, Wood JR, 2005b). Dese- 046-055, 2013.
noção de que a academia brasileira jamos que isso não ocorra.
do campo da Administração vive MACHADO, A. M. N; BIANCHETTI,
um bom momento para realizar es- L. (Des)fetichização do produtivismo
colhas estratégicas e implementar acadêmico: desafios para o trabalha-
mudanças. Os méritos e deméritos
REFERÊNCIAS dor-pesquisador. RAE-Revista de Ad-
de nossa academia são há muito ministração de Empresas, v. 51, n. 3,
tempo conhecidos e discutidos. p. 244-254, 2011.
Sempre que uma reflexão crítica ALCADIPANI, R. Resistir ao produti-
é estimulada, como no caso deste vismo: uma ode à perturbação acadê- MASCARENHAS, A. O. M; BARBOSA,
fórum, geram-se conclusões simi- mica. Cadernos EBAPE.BR, v. 9, n. 4, A. C. Q. A produção científica brasi-
lares. O País e suas organizações p. 174-178, 2011. leira em gestão de pessoas no perío-
bem mereceriam uma academia do 2000-2010. RAE-Revista de Admi-
mais “extrovertida”, capaz de te- BERTERO, C. O; CALDAS, M. P; nistração de Empresas, v. 53, n. 1, p.
orizar sobre os fenômenos locais WOOD Jr, T. Introdução: produção 035-045, 2013.
e de interagir de igual para igual científica em administração no Brasil.
com seus pares internacionais. In: BERTERO, C. O; CALDAS, M. P; MATTOS, P. L. C. L. Pés de barro do
Cabe, portanto, neste ponto deste WOOD Jr, T. Produção científica em texto “produtivista” na academia.
texto de apresentação, uma per- administração no Brasil: o estado da RAE-Revista de Administração de Em-
gunta final: será possível reformar arte. São Paulo: Atlas, 2005a. presas, v. 52, n. 5, p. 566-573, 2012.

I S SN 0034-7590 © R AE n Sã o Pa ul o n v. 5 3 n n. 1 n j a n/fev. 2 0 1 3 n 0 1 2 - 02 0 19
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Nacionalidade dos autores referencia-

20 © R AE n São Paulo n v . 53 n n. 1 n jan/fev. 2013 n 0 1 2 - 0 2 0 I SSN 0 0 3 4 -7 5 9 0

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