Lingiiistica
Lélia Erbolato Melo
(org.)
Topicos de P sicolingiistica
Aplicada
igo
FFLCHUSPSérie DIDATICA, n. 1, p. 13-23, 1999.
A PSICOLINGUISTICA: OBJETO,
CAMPO E METODO
Lélia Exbolato Melo
1. Como DEFINIR A PsICOLINGUIsTICA?
giiistica nao deve ser considerada como um ramo ou
como ‘corrente’ da Lingitistica ou da Psicologia, mas
como uma disciplina (ou uma metodologia interdisciplinar)”. Mais
adiante, a autora admite que concebe “a Psicolingiistica como
um dominio auténomo e nao como ramo de uma das ciéncias
das quais deriva - psicologia ou lingiiistica. Esta autonomia €
assegurada pela existéncia de um objeto especifico, bem como
por uma metodologia e uma modalidade de interpretagao de fa-
tos particulares”.
A Psicolingiiistica, para Peterfalvi (1980: 13), “é uma disci-
plina relativamente nova, e seria um erro crer que se trata ape-
nas de um termo novo para designar aquilo que se chamava
outrora ‘Psicologia da Linguagem' ".
“Que justificagao existe — 4 parte a moda ~ para se usar 0
termo recém-criado ‘psicolingiiistica’ em lugar do perfeitamente
servivel ‘psicologia da linguagem"?”. Segundo Greene (1980; 11),
“o novo termo representa uma verdadeira mudanga em relagao
D e acordo com Slama-Cazacu (1979: 33), “a Psicolin-14 MELO, Lélia Erbolato. A psicotingiiistica: objeto, campo e método.
as abordagens anteriores do comportamento lingiiistico, uma
vez que indica um confronto entre as duas disciplinas: a Lin-
giistica e a Psicologia. A Psicolingiiistica, em sua opiniao, “con-
tinua sendo uma subdisciplina da Psicologia, cuja caracteristi-
ca marcante reside no fato de os seus praticantes acreditarem
no valor do exame lingiistico para se efetuar uma andlise da
linguagem”.
Para Greene, “talvez o modo mais correto de avaliar o im-
pacto geral da abordagem psicolingtiistica seja comparar o es-
tudo da linguagem antes e depois da revolugao chomskyana”
fid. 158).
A autora ressalta, entao, que “um importante efeito da lin-
gitistica gerativa de Chomsky foi chamar a atengao dos psicélo-
gos para a importancia crucial da criatividade lingitistica. Ao de-
monstrar que a competéncia do usuario de uma lingua inclui a
sua capacidade para produzir um nimero potencialmente infini-
to de sentencas possiveis". Chomsky fez os psicélogos apercebe-
rem-se de que a linguagem é um tipo de comportamento muito
mais complicado do que até entao fora reconhecido (id. ibid.).
2.. NASCIMENTO DA PSICOLINGUISTICA
Preliminares
Foi no decorrer deste século, sobretudo, que a linguagem
comecou a ser considerada, cada vez mais, como fendmeno muito
complexo, ao estudo do qual devem concorrer diferentes disci-
plinas.
Tal colaboragao tem, contudo, uma tradicao anterior. Des-
de o século XIX e, no inicio do atual, tenta-se reunir os esforcos
da psicologia da linguagem e da neuropsiquiatria, ou mesmo da
Linglistica e da Psicologia. Portanto, desde 0 comego de nosso
século, observam-se que as relagées entre Lingiiistica e Psicolo-
gia se manifestaram em dois sentidos opostos.Série DIDATICA, n. 1, p. 13-23, 1999. 15,
~A Psicologia buscava a Lingitistica (os psicologos interes-
savam-se pelos fendmenos da linguagem procurando neles a
chave do entendimento da psiqué humana).
- Simultaneamente, pode-se dizer que a propria Lingiisti-
ca estava a procura da Psicologia (os lingitistas procuravam o
auxilio dos psicélogos com 0 intuito de melhor compreender a
organizacao dos dados lingiiisticos).
Mas foi somente a orientacao descritiva (sincrénica) intro-
duzida por Saussure e por outros estruturalistas que tornou
possivel um encontro fecundo entre Lingiiistica e Psicologia,
numa base verdadeiramente cientifica. Nesta fase, apareceram
duas correntes opostas: a do “mentalismo”, caracteristica da
psicologia européia (Biihler) e a dos psicdlogos americanos, que
favoreceram uma “orientagdo comportamentalista” no estudo
da linguagem, reduzindo-o aos mecanismos puramente exterio-
res de estimulos e respostas.
Greene (1980: 11-13) lembra, por outro lado, que as duas
principais influéncias sobre os psicdlogos que estudam a lin-
guagem foram a teoria da informagéo e a teoria da aprendiza-
gem. Levando-se em conta primeiro a “teoria da informagao”, de
acordo com a definicao técnica de “informagao” apresentada na
teoria das telecomunicagdes de Shannon (Shannon e Weaver,
1949), o que é importante nao é 0 contetido da mensagem, mas
a probabilidade de que ela seja transmitida. Do ponto de vista
da “teoria da aprendizagem”, considera-se que as respostas ver-
bais sao uma subclasse das respostas em geral. Por conseguin-
te, elas podem ser explicadas pelas leis gerais que regem 0 esta-
belecimento de conexées entre estimulos e respostas. A exposi-
¢ao mais simples € a de Skinner (1957), afirmando que as res-
postas verbais estao diretamente vinculadas a estimulos sem
necessidade alguma de variaveis intervenientes, como 0 signifi-
cado, as idéias ou as regras gramaticais.
Um outro esclarecimento: quando o termo “psicolingitisti-
ca” comegou a ser usado pela primeira vez, no inicio da década16 MELO, Lélia Erbolato. A psicolingiiistica: objeto, campo e método.
de 1950, indicava um interesse pelos métodos lingitisticos para
descrever 0 output (produgao) dos usuarios da linguagem, em.
especial, a andlise estrutural em unidades lingiiisticas, tais como
fonemas, morfemas e frases.
Esse estado de coexisténcia tripartida entre teoria da in-
formagao, teoria da aprendizagem e andlise lingijistica durou
até 1960, quando a obra do lingiiista Noam Chomsky foi apre-
sentada pela primeira vez a “psicélogos” num livro fecundo (de
Miller et alii), Plans and the structure of behavior. Por que, afinal,
uma atenc¢ao exclusiva deve ser prestada a um lingitista, Noam
Chomsky? “A resposta simples € que a teoria da gramatica
gerativa-transformacional de Chomsky foi a primeira a forgar os
psicdlogos a reexaminarem toda a sua abordagem do estudo do
comportamento lingtiistico e, portanto, a anunciar a ‘revolugao
psicolingiiistica’ ”.
Segundo Titone (1983: 19) o termo “psicolingiiistica” foi
provavelmente posto em relevo por um artigo de N. H. Pronko
(1946) e de um modo ou de outro significou o batismo de uma
nova ciéncia. Pouco tempo depois, em 1951, G. A. Miller publi-
cou uma sintese entre LingUistica e Psicologia. Sua obra repre-
senta, por assim dizer, a “infancia da Psicolingitistica”, estabele-
cendo um contato mais intimo entre os fatos da lingua e os pro-
blemas da coriunicagao.
A criagéo da Psicolingiifstica
A Psicolin;
criada por assim dizer “intencionalmente”, num cenario histéri-
co-geografico precisamente localizado, por uma reunido de es-
pecialistas que, além de redigirem sua certidao de nascimento,
fizeram um minucioso levantamento dos varios problemas que
a nova disciplina deveria tratar, e até mesmo planificaram em
certa medida as experiéncias de Psicolingitistica que se deve-
riam realizar (Peterfalvi, 1980: 14).
tica tem de caracteristico 0 fato de ter sidoSérie DIDATICA, n. 1, p. 13-23, 1999. 17
Usando a mesma metéfora, a entrada da Psicolingiiistica
na fase da adolescéncia pode ser procurada primeiro, em 1951,
data em que se realizou na Universidade de Cornell (EUA) um
“seminario de verao”, logo seguido pela criagao de uma comis-
so de “psicélogos” (Osgood, Carroll e Miller) — e de “lingitistas”
(Sebeok e Lounsbury). De outro seminario, realizado em 1953,
originou-se 0 livro basico de C. E. Osgood, T. E. Sebeok e colabo-
radores: Psycholinguistics, que comporta um vasto programa de
pesquisas inspiradas por uma tentativa de sintese da Psicologia
do Aprendizado, da Teoria da Informagao e da Lingitistica (id.
ibid. 14-5).
Parece, entao, que o termo Psycholinguistics comegou a
circular em 1954, apés a publicacdo, nos EUA, da obra citada —
ato de nascimento da corrente na ciéncia americana — seguida,
em 1961, por uma antologia composta de estudos interessan-
tes.
Em 1962, a Association de Psychologie Scientifique de
Langue Francaise organizou um simpésio (intitulado, entao, de
Psicologia da Linguagem) cujos trabalhos apareceram em volu-
me intitulado Problemas de psicolingiiistica (Slama-Cazacu 1963:
35-6).
Segundo, ainda, a autora, nem a corrente americana, que
possui 0 mérito de ter colocado em circulag¢ao 0 termo “Psicolin-
giiistica” e de haver chamado a atencao para certos problemas
concernentes a esta disciplina, nem o simpésio francés defini-
ram com clareza a metodologia.
3. O OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLINGUISTICA
Maia (1985: 100-103), ao retomar no tempo os fatores his-
toricos, internos e externos a problematica do campo da Psico-
lingiistica, que contribuem para afetar as decisdes pessoais do
investigador, deixa claro que, apés frustradas tentativas de subs-
tituir os empréstimos da Lingiiistica pelos da Psicologia, o18 MELO, Lélia Erbolato. A psicolingtiistica: objeto, campo e método.
psicolingiista é forcado a renovar a sua esperanca na génese,
recuando 0 foco da investigacao para antes mesmo da emergén-
cia da linguagem.
Esta tendéncia da Psicolingitistica a rever suas bases re-
presenta, na verdade, um momento muito especial em que tudo
parece concorrer para a iminéncia de nossas mudangas. Na si-
tuagao atual, poderiamos dizer que, no percurso dessa Psicolin-
gitistica cosmopolita, debrucada sobre si mesma e as voltas com
os temas do empréstimo e da génese, houve progresso.
Apreocupacao com o tempo passou a se manifestar por um.
reiterado retorno ao tema da génese, acompanhado de uma ver-
sao inteiramente nova do tema do empréstimo, a saber: 0 recurso
a disciplinas que se ocupam mais diretamente dos aspectos tem-
porais do comportamento. Assim, os fornecedores atuais da Psi-
colingiiistica s4o, entre outros, a Epistemologia Genética, a
Etologia, a Psicandlise — todos relacionados, em maior ou menor
grau, com a questao da temporalidade. A propria investigacao da
génese contribuiu, mais do que nunca, para configurar uma pre-
ocupa¢ao séria com o tempo: o ponto de partida dos estudos lon-
gitudinais nao é mais a crianga que comega a falar, mas 0 infante
e até mesmo 0 recém-nascido. Tudo isso prenuncia, entao, o ini-
cio de um novo momento, em que os temas da génese e do
empréstimo confluem para dar lugar a um novo e tardio tema: o
da constituigao temporal da linguagem. Hoje, poderiamos dizer
que a Psicolingiistica tenta imprimir um cunho proprio 4 sua
investigagao e que devemos dar-lhe um crédito de confianga nes-
se sentido com base, sobretudo, no seu amadurecimento ao lon-
g0 dos uiltimos anos. Neste sentido, o psicolingitista nao deve ficar
de bragos cruzados esperando os ultimos avangos da Psicologia
Cognitiva, da Etologia ou da Sociologia. Deve, antes, definir o seu
espaco observacional de modo a proporcionar 0 desenvolvimento
de uma ontologia psicolingiiistica. Uma ontologia em que a face
“psiquica” e a face “lingitistica” do objeto tenham pesos mais ou
menos semelhantes (Albano, 1987).Série DIDATICA, n. 1, p. 13-23, 1999. 19
4, A METODOLOGIA DA PSICOLINGUISTICA
A intencgao neste momento € apresentar e comentar al-
guns itens a partir do texto de Perroni (1996: 15-29).
1. Em termos de uma metodologia unitaria e consensual, a aqui-
sigéo da linguagem parece encontrar-se ainda hoje na pri-
meira infancia, tentando equilibrar-se sobre as proprias per-
nas. Na opiniao de Albano (1985), a falta de uma metodologia
de consenso entre os estudiosos na area pode ser explicada,
principalmente pela histéria de sua interdisciplinaridade, o
que pode explicar a vacilacao entre metodologias.
2. McNeill afirmava, em 1970 (apud Perroni: 15), que “nao ha qua-
se nada na aquisicao da linguagem que possa ser chamado de
Metodologia com ‘m’ maitisculo”, 0 que poderia ser explicado,
segundo seu ponte de vista, “pela restricao aos métodos de in-
vestigacao, imposta pela rapidez do desenvolvimento lingiisti-
co, ja que entre um ano e meio e trés anos de idade da crian¢a,
mudangas radicais se dao em seu sistema gramatical” (idem: 6).
3. Considerando-se mais de 20 anos depois, tal situagdo nao €
mais a mesma? A autora propde uma reflexao inicial dos pres-
supostos das metodologias, ditas cientificas, na Aquisi¢ao da
Linguagem e sobre a natureza do chamado “dado bruto” da
experiéncia (i. é, “primario”).
4, Nos estudos recentes de Aquisigao da Linguagem comeca a
crescer 0 reconhecimento de que qualquer metodologia é de-
terminada pela teoria eleita pelo investigador, assim como € a
natureza da unidade de andlise, que varia ao sabor da pers-
pectiva dominante (Peters, 1983, apud Perroni: 17).
5. Segundo Bennett-Kastor (1988, apud Perroni: 17) dois siste-
mas de filtros agem como processos seletivos nas duas etapas
da metodologia: a da coleta (trabalho de campo) e a da inter-
pretacao ou andlise. O primeiro atua sobre as préprias deci-
sées do investigador sobre a selecao dos sujeitos e forma de
obtencao do comportamento pretendido, o segundo, mais fino
ainda, atua sobre a interpretacdo que dele faz o pesquisador.20 MELO, Lélia Erbolato. A psicolingiiistica: objeto, campo e método.
6. O consenso explicito sobre a inexisténcia de uma metodolo-
gia na area € compensado na pratica pela aceitacao de uma
metodologia implicitamente aceita (no caso, o método experi-
mental) nos periédicos especializados como o Journal of child
language e 0 Cognition.
7. Uma breve historia da metodologia na area:
(a) no inicio da década de 70, a maioria dos pesquisadores era
constituida por psicélogos, sendo o campo eminentemente
experimental (privilegia-se: a compreensao de estruturas
lingUisticas pela crianga, 0 objeto de estudo era a compe-
téncia da crianga); o enfoque na gramatica deu origem aos
estudos com grande numero de sujeitos; ambiente contro-
lado; uso de categorias definidas a priori.
(b)na metade da década de 70, surgem os estudos naturalis-
tas, pouco controlados (herdeiros dos diaristas, segundo
McNeill, 1970), mas a quantidade de experimentos nao di-
minuiu até hoje (Bennett-Kastor, 1988);
(c)o surgimento dos estudos observacionais, na década de
70, esta relacionado 4 mudanga de foco na area sob in-
fluéncia das teorias lingitisticas dominantes, ou seja, 0 ob-
jeto de estudo nao era mais a gramatica, mas a semantica,
com énfase na produgao e diminuigao de numero de sujei-
tos analisados em cada estudo, dada a inviabilidade de
acompanhamento sistematico de muitas criancas.
8. Comparacao entre os métodos (a) experimental e (b) natura-
lista/observacional com relacdo a natureza dos dados (van-
tagens e dificuldades):
(a) quanto ao método experimental: possibilidade de exami-
nar grande quantidade de sujeitos, o que permitiria acesso
A generalidade; “objetividade” refletida no controle de va-
riaveis e homogeneizagao dos sujeitos.
Conclusao: no método experimental, 0 objeto de estudo
nao € propriamente o desenvolvimento. Baseia-se numa
visao estatica da lingua.Série DIDATICA, n. 1, p. 13-23, 1999. 21
(b) quanto ao método naturalista/observacional, adotado em
estudos iniciados na década de 70, observa-se que focali-
zam ora a produgao da crianga (isolada da produgao do
adulto), ora a relacdo entre a produgao da crianca e a do
seu interlocutor. No segundo grupo, enquadram-se os es-
tudos mais recentes, desenvolvidos sob inspiragao do
sociointeracionismo. As vantagens deste segundo tipo sao
muitas:
(1a qualidade substitui a quantidade, ja que nao se trata de
provocar respostas, mas de deixar falar a crianga;
(2) estes estudos permitem uma anilise detalhada e mais com-
pleta do processo de desenvolvimento, em vez de descrever
apenas produtos estaticos;
(2)ao recuperar a hist6ria do dado, por meio da descrigao de
suas condicées de produgao, podem permitir identificar a
constituicao histérica do sentido. O objeto de estudo é a
lingua em atividade e a relacao da crian¢a com ela, reco-
nhecendo o desenvolvimento como um processo dinami-
co, tentando dar conta da continuidade, ou seja, das rela-
ges entre estagios.
* Ele apresenta também algumas limitagdes:
(1)no caso dos estudos que focalizam sé a crianga, sua pro-
ducao desvinculada do didlogo com o interlocutor, surge a
questdo da viabilidade da auséncia de controle pretendi-
da. O observador pode alterar 0 contexto comunicativo, de
tal modo que o dado possa nao ser representativo;
(2) uma outra limitagao dos estudos observacionais pode ser
encontrada no momento da selecdo dentre todo o material
obtido, daqueles que vao constituir os dados para poste-
rior analise;
(3)a principal desvantagem dos estudos observacionais na-
turalistas é, antes, de ordem pratica e esta no tempo con-
sumido e na mao-de-obra requerida para obtencao e sele-
¢ao dos dados;22 MELO, Lélia Erbolato. A psicolingtiistica: objeto, campo e método.
(4)estes estudos sao considerados assistematicos e “descon-
trolados”, os dados, variando ao sabor do acaso. A acusacaéo
de assistematicidade e descontrole, os estudos observacio-
nais, no entanto, lidam com a lingua em atividade, os dados
podendo variar a cada episédio de interacdo;
(5)alguns também questionam a validade dos estudos obser-
vacionais realizados por maes pesquisadoras e se questio-
nam se as maes “normais” agem como aquelas (Bennett-
Kastor, 1988);
(6)citam-se também como limitagoes a este tipo de estudo 0
fato de nao poder ser replicado, aleém de nao responder 4
questao da compreensao e da causagao (Wells, 1985, apud
Perroni: 24);
(7)acompreensao é vista separada da produgao, como se tra-
tasse de dois aspectos totalmente independentes da habi-
lidade lingitistica, o que pode ser questionado;
(8) insiste-se nas “causas” do desenvolvimento, nos moldes
das teorias psicolégicas;
(9)talvez a mais freqiiente acusagao aos estudos observacio-
nais seja a mencionada por Bates (et alii, 1988, apud Perroni:
24-25), de impossibilidade de atingir generalidades. Eles mos-
trariam o que é possivel, mas nao informariam se os mes-
mos padroes identificados em casos particulares sdo gerais.
Concluind
(a) A diferenca basica entre os dois tipos de metodologia
consiste no fato de que 0 método experimental acaba estudando
a linguagem da crianga, ao passo que o método observacional
pode estudar o proprio desenvolvimento da linguagem. Cabe ao
pesquisador a escolha aliada ao objetivo que se impée.
(b) A marca do nosso século em quase todas as ciéncias
tem sido a busca da objetividade. E no estudo da Aquisi¢ao da
Linguagem qual metodologia gerard 0 fato mais objetivo.Série DIDATICA, n. 1, p. 13-23, 1999. 23
(c) A falta de unidade teérica e metodol6gica pode levar a
atrasar 0 desenvolvimento de um campo de estudo, mas pode
também contribuir para criar as tensdes. Conclui-se, entao, que
é preciso “jogar lenha na fogueira das tensdes em aquisicao da
linguagem”.
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