Você está na página 1de 9

22/04/2019 A língua alienígena de ‘A Chegada’ pode nos dar o superpoder de prever o futuro?

- #Linguística

HOME CURSOS MERCADO DE TRABALHO EVENTOS NOTÍCIAS PRÊMIOS

GLOSSÁRIO AUTORES REDE

A língua alienígena de ‘A
CATEGORIAS

Chegada’ pode nos dar o Selecionar categoria

superpoder de prever o
futuro?
 21 de abril de 2019  Thiago Oliveira da Motta Sampaio 
Linguagem e mente, Sem categoria 0

Instituto de Estudos da
Linguagem

Cena do lme "A Chegada"

Há pouco mais de dois anos, vimos uma área da ciência ainda um


tanto discreta dividir espaço com superproduções hollywoodianas.
Embora seja um lme, como dizem, “muito paradão”, A Chegada
conseguiu chamar a atenção de muita gente e levantou a bola da RECOMENDAMOS
Linguística para o público não acadêmico. O sucesso da obra
cinematográ ca fez com que os estudos da linguagem ganhassem
espaço em podcasts, no youtube e em mesas de bar. Isso se
re etiu na própria divulgação cientí ca como no Scicast #181, em Enciclopédia das Línguas do
vídeos dos canais Nerdologia e Enchendo Linguística, e na mesa Brasil
“Exploração do espaço pela humanidade” do Pint of Science
https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2019/04/21/a-lingua-alienigena-de-a-chegada-pode-nos-dar-o-superpoder-de-prever-o-futuro/?fbclid=Iw… 1/11
22/04/2019 A língua alienígena de ‘A Chegada’ pode nos dar o superpoder de prever o futuro? - #Linguística

Campinas 2017 (roteiro da minha fala) na qual participei junto


ROSETA
com o astrobiólogo Lucas Fonseca e o astrofísico Douglas Galante,
da Missão Garatéa. Revista de Divulgação Cientí ca
da ABRALIN
Apesar do sucesso do lme, poucos tocaram num ponto bem
curioso da história. A língua alienígena, o heptápode, fez com que
a linguista e protagonista Louise Banks desenvolvesse uma
percepção do tempo bastante diferente da que nós, humanos,
possuímos. Mas será que aprender uma língua poderia realmente
nos dar uma percepção diferente da passagem do tempo? Adianto
que a resposta, até o momento, é não. Mas na primeira metade do
século XX haviam dois pesquisadores que acreditavam que sim e
PALAVREADO
apontaram a língua que poderia nos dar essa percepção, a língua
Hopi.

História da relação Psicologia e Linguagem

Antes de falar sobre a língua Hopi, é interessante entendermos o


contexto em que surgiu essa hipótese. No século XIX e início do
século XX, os linguistas europeus, de uma forma geral,
trabalhavam na descrição das línguas de textos antigos e sua La linguistique qui blogue

evolução até as línguas atuais. Já os linguistas americanos estavam


mais interessados em descrever e documentar as ainda
desconhecidas línguas nativas do continente. Nessa época,
diversos pensadores buscavam fomentar trabalhos conjuntos
entre psicólogos e linguistas.
Linguistics in Every Day Life -

O importante lósofo Wilhelm von Humboldt percebeu que os LSA


estudos da linguagem ainda se focavam no produto, o texto escrito
e falado, e não na capacidade humana de usar essas línguas. Em
1855, o lólogo e psicólogo Heymann Steinhal também indica que
avanços mais signi cativos nos estudos da linguagem só seriam
possíveis com avanços conjuntos na Psicologia.

Até o início do século XX, o psicólogo que tinha chegado mais


próximo dessa relação foi Wilhelm Wundt. Em dois dos dez
volumes que compõem sua obra Volkerpsychologie (Psicologia
Cultural, numa tradução livre), o psicólogo alemão aborda as
LINGUISTICS Daily blog
línguas (orais e sinalizadas) buscando compreender os
mecanismos mentais dos seus falantes. Até aqui, a relação entre
TAGS
psicologia e linguagem tratava da questão das origens das línguas
e dos processos de produção e compreensão.
J. P. Schwindt psicologia cognitiva Sir Bobby

Sapir & Whorf levam o assunto um passo além: Será que existe Robson IEL simpbolismo sonoto palavras de

uma reação entre a percepção do mundo e a língua que falamos? origem Tupi teste do espelho dragões de

garagem olimpíada de linguística cção

Origem da Relatividade Linguística cientí ca Análise de discurso olimpíada ouro

política de línguas instrumentos


https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2019/04/21/a-lingua-alienigena-de-a-chegada-pode-nos-dar-o-superpoder-de-prever-o-futuro/?fbclid=Iw… 2/11
22/04/2019 A língua alienígena de ‘A Chegada’ pode nos dar o superpoder de prever o futuro? - #Linguística

linguísticos tempo elo2018 krenak starwars

dado anedótico cognição discurso


memes olimpíada internacional de

linguística atenção seletiva número de

dunbar Derrida cidade diversidade


linguística memória transativa

bilinguismo linguística
fonologia longa metragem hopi ideologia
primatologia manifestações sociais
in uência das línguas indígenas no

português indigenismo biolinguística


kaingang São Jeronimo estudantes

Edward Sapir e Benjamin Lee Whorf psicolinguística amy


adams língua de sinais Virgílio semântica
Por volta da década de 1930, o antropólogo e linguista Edward
libras arrival subvocalização
Sapir começou a explorar a relação linguagem e psicologia de uma
neurolinguística discursiva zalizniak
forma bastante particular. Alguns psicólogos já rascunhavam as
atos de fala Gadamer sociolinguística
in uências da cultura sobre as línguas. A nal, os objetos, os
sintaxe whorf pokemon divulgação cientí ca
eventos e as crenças se diferenciam entre os povos e, portanto, as
educação afasia surdos sotaque Literatura
línguas possuem diferentes conjuntos de objetos ou fenômenos
Comparada o gorila invisível logograma
para nomear. Um exemplo é o fato de que muitas línguas antigas
(ex. Turco pré-islâmico), africanas (ex. Tswana) ou indígenas (ex. leitura aurelia variação
Lakota-Sioux) não diferenciam azul e verde. linguística psicologia fala línguas
africanas mudança linguística queermuseu
Um exemplo ainda mais curioso é o de algumas línguas aborígenes jedi pure word deafness heptapod
da Oceania, como o Kuuk Thayorre, que não têm palavras para internacionalização Santo Agostinho the
direções como direita e esquerda. Isso não quer dizer que seus invisible gorilla web lako pensamento
falantes não sabem indicar onde ca a sua casa ao amigo que irá dança das abelhas Hamacher
visita-lo. Os falantes dessas línguas se localizam através dos neurolinguistica Teoria da literatura eventos
pontos cardeais (Norte, Sul, Leste, Oeste e outros 12 nomes para linguísticos nim chimpsky sistemas
direções absolutas). Mas você sabe onde ca o Norte agora? dinâmicos escola zipf law gramática
Provavelmente não. Mas ainda assim parece ser fácil explicar isso. quilombolas autoconsciência animais

astrobiolinguística enem política indigenista


A natureza está cheia de pistas que nos permitem localizar esses
percepção do tempo ciência
pontos. Por exemplo, os troncos das árvores têm uma maior
feminismo
concentração de musgo na parte que está virada para o sul (se

línguas
estivermos no hemisfério norte, os musgos se concentram na
parte que está virada para o norte). Uma outra hipótese, porém, é mcgurk

que a língua dá aos seus falantes um “superpoder” de ter


argumentação efeito comico Origenes fala
consciência constante dos pontos cardeais.
de criança prêmio capes de tese 2016
Walter Benjamin Leitura e escrita latim
Pensando em casos como esse, Sapir teve um questionamento
gorila problemas de linguística
bastante ousado: e se a língua que a gente aprendeu quando
Epistemologia obl malotki lei de zipf joel
crianças nos prende no mundo em que os primeiros falantes da
santana pragmática língua materna
língua viviam? Se a língua que falamos nos faz compreender o
lmes dublados comunicação animal teoria

https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2019/04/21/a-lingua-alienigena-de-a-chegada-pode-nos-dar-o-superpoder-de-prever-o-futuro/?fbclid=Iw… 3/11
22/04/2019 A língua alienígena de ‘A Chegada’ pode nos dar o superpoder de prever o futuro? - #Linguística

mundo de forma diferente? E assim nasce a hipótese da


Relatividade Linguística. da mente linguagem
a chegada denis villeneuve
Hopi: a língua sem tempo (não por muito
tempo!) línguas indígenas
Gumbrecht historia da sua vida pint of

Nessa mesma época, Sapir se encontrou com Benjamin Lee Whorf, science redes sociais hashtags Competição

um então inspetor de incêndio que, nas horas vagas, estudava as imagens do tempo Hermenêutica

línguas nativas de origem asteca na região do Arizona. Agora monumentos evolução novas
discípulo de Sapir, Whorf poderia estudar e analisar as línguas tecnologias de linguagem pro ssão
astecas se baseando não apenas nas comparações gramaticais linguista cinema OBLing insetos
com as línguas de origem europeia, mas também comparando as variação Escola de Alexandria exposição
diferenças culturais em busca de novos superpoderes. Uma das bronze ritmo iol inglês surdez para
línguas estudadas a partir dessa hipótese foi a língua do povo palavras polêmica crase computacional
Hopi, e levantou um dos debates mais polêmicos da história da koko kamaiurá linguista Interpretação
Linguística. linguística histórica fonética linguística
computacional eventos prata santander
mulheres negras sapir comunicação
nerdcast sujeitos de linguagem olimpíada

nacional de linguística relativismo linguístico

lugares de fala linguística indigenista

aquisição de linguagem Textualidade


aprendizagem de línguas dublagem gesto

atenção vocabulário português-Tupi Teoria

da tradução universidade
joint speech discurso urbano ted chiang

humanos História da lologia língua Tupi

trabalho de campo enunciação

matemática cultura podcast


Paleogrifos Hopi (Wikimedia Commons)
metáforas subjetividade lmes medalhistas

ETs frames scicast cultura pop lgbt


Segundo Whorf, a descoberta dessa língua era um marco pois
sincronização da fala percepção da fala
seria a primeira língua sem tempo descoberta pela ciência. Mas
ufscar relógio solar yoda calão Estudos
como assim sem tempo? Vamos revisar algumas características
Clássicos história das ideias
comuns das línguas que conhecemos:
linguísticas mente arbitrariedade
a. exões de tempo em seus verbos ou uso de memória distribuída poesia multilinguismo

auxiliares educação indígena deviante Teoria da

Filologia

Exemplos: – Flexão: estudarei linguística [= estudar + futuro]


– Auxiliar: vou estudar linguística [futuro + estudar]

b. uso de metáforas espaciais para tempo

Exemplo: apontar para frente ao se referir ao futuro ou para trás


ao se referir ao passado

https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2019/04/21/a-lingua-alienigena-de-a-chegada-pode-nos-dar-o-superpoder-de-prever-o-futuro/?fbclid=Iw… 4/11
22/04/2019 A língua alienígena de ‘A Chegada’ pode nos dar o superpoder de prever o futuro? - #Linguística

c. contar tempo de forma numérica

Exemplos: um ano, dois anos, três minutos, quatro meses

d. palavras para tempo

Exemplos: amanhã, ontem, hoje, daqui a duas horas

Além dessas a rmações, Whorf indica que os falantes de Hopi


possuem uma visão diferenciada da passagem do tempo, que
indica uma compreensão completamente diferente da visão linear
presente nas culturas europeias. Os Hopi pareciam enxergar o
tempo de forma cíclica. Como se o tempo sempre se reiniciasse
em algum momento.

Agora temos duas hipóteses. (1) a língua Hopi representa a visão


da cultura, ou seja, a cultura in uenciou a língua e (2) a visão cíclica
de tempo dos Hopi é re exo de uma língua sem tempo, ou seja, a
língua in uecia a cultura. Whorf prefere acreditar na hipótese 2 e
usa o Hopi como a evidência necessária para revolucionar tanto a
Linguística quanto disciplinas relacionadas como a Psicologia e a
Antropologia.

Não surpreendentemente essa ideia não durou muito. Diante da


polêmica levantada, o linguista Ekkehart Malotki decidiu passar
quatro anos em trabalho de campo com o povo Hopi, fazendo
pesquisas semelhantes àquelas de Louise Banks em A Chegada. E
ao contrário da protagonista do lme, a visão de tempo do
linguista não mudou. O que mudou foi o conhecimento que a
linguística tinha até então sobre essa língua.

Em uma análise de mais de 600 páginas somente para descrição


de formas relacionadas ao tempo, Malotki demonstra que a língua
Hopi tem todas as características que Whorf a rmava serem
inexistentes. O Hopi tem exões de tempo, usa metáforas
espaciais para se referir ao tempo, conta tempo de forma
numérica e também tinha palavras para categorias temporais. E
com isso vemos um momento de bastante descrédito da hipótese
da Relatividade Linguística de Sapir & Whorf.

https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2019/04/21/a-lingua-alienigena-de-a-chegada-pode-nos-dar-o-superpoder-de-prever-o-futuro/?fbclid=Iw… 5/11
22/04/2019 A língua alienígena de ‘A Chegada’ pode nos dar o superpoder de prever o futuro? - #Linguística

Dança das mulheres Hopi e uma. Semelhança coincidental com os


logogramas heptápodes
(foto de John Karl Hillers – Wikimedia Commons)

Então a Relatividade Linguística foi provada


falsa? Não exatamente!

A hipótese de Sapir & Whorf é retomada de tempos em tempos, de


forma cíclica, em versões mais fracas. Se para os criadores da
hipótese a língua determinava nossa visão de mundo, hoje
podemos retomar a ideia mais conservadora e dizer que a língua
re ete a cultura e nos dá pequenos poderes como, por exemplo, o
de diferenciar mais facilmente o verde do azul se você fala
português, espanhol ou inglês, do que se for falante de Tswana ou
de Lakota-Sioux. Isso indica que falantes dessas línguas não são
capazes de reconhecer as mesmas diferenças? Não, mas eles as
reconhecem como nós reconhecemos a diferença entre azul e azul
escuro, como tons da mesma cor – fato pelo qual os russos
poderiam rir da gente (a língua russa considera azul claro e escuro
cores diferentes).

No que diz respeito ao tempo, línguas como o mandarim possuem


metáforas de tempo verticais, categorizando o futuro para cima e o
passado para baixo, bem diferente do que fazemos em português
em que o passado está atrás e o futuro à frente. Mais diferente
ainda é a língua Aimará, língua indígena falada no Chile, Peru e
Bolívia. Nessa língua, o passado está à frente considerando que
podemos vê-lo. Já o futuro é metaforicamente localizado na parte
de atrás, onde não podemos enxergá-lo.

Nesse sentido, a hipótese da relatividade linguística não é


totalmente falsa, mas precisa ser levada com um certo cuidado
para não retornarmos à falsa visão de que as diferentes línguas
nos dão armas ferramentas muito diferentes para enxergar o
mundo.

Mas e a visão cíclica do tempo?

https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2019/04/21/a-lingua-alienigena-de-a-chegada-pode-nos-dar-o-superpoder-de-prever-o-futuro/?fbclid=Iw… 6/11
22/04/2019 A língua alienígena de ‘A Chegada’ pode nos dar o superpoder de prever o futuro? - #Linguística

Vamos deixar a linguística um pouco de lado e tentar entender


melhor como os humanos começam a entender a natureza.

O cérebro humano é quase uma máquina de aprendizagem


estatística, buscando padrões no mundo para tentar entender o
funcionamento da natureza. Para compreender o mundo em que
viviam, nossos antepassados precisaram reconhecer e
compreender alguns ‘pedaços de tempo’ como, por exemplo, o
eterno embate entre a luz e a escuridão, que dura em torno de 24
horas. Outro padrão importante é a sucessão entre as estações. A
natureza varia entre períodos mais quentes com manhãs maiores
que a noite, e períodos mais frios com a noite maior do que a
manhã.

Em uma sociedade de agricultores, por exemplo, conhecer esses


períodos é essencial para a sobrevivência. Com base nesses
pedaços de tempo, é possível observar alguns padrões e
compreender a não viabilidade da colheita no inverno. Conhecer a
sucessão destes ‘pedaços de tempo’ nos dá a habilidade de ‘prever
o futuro’ e nos preparar para o inverno estocando comida e
confeccionando roupas de frio. E como sempre, cada fase do dia
ou do ano vem e passa, de forma cíclica.

Ciclos lunares e dos astros nos céus também entraram na equação


e começamos a criar os primeiros calendários para organizar esses
ciclos e ‘prever o futuro’. Também inventamos mecanismos para
facilitar a medição desses ciclos. Ainda assim, a precisão desses
mecanismos ainda dependia da natureza. Os relógios solares, por
exemplo, dependem da luz do sol e o horário marcado varia de
acordo com a estação do ano e só funciona corretamente no local
de construção. Mais do que isso, sua utilização é inviável em dias
nublados.

Relógio solar localizado no Wake eld Garden, em Londres (foto do autor)

https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2019/04/21/a-lingua-alienigena-de-a-chegada-pode-nos-dar-o-superpoder-de-prever-o-futuro/?fbclid=Iw… 7/11
22/04/2019 A língua alienígena de ‘A Chegada’ pode nos dar o superpoder de prever o futuro? - #Linguística

Relógio solar localizado no Lac Leman, em Genebra, Suíça (foto do autor)


Repare que há linhas curvas que indicam a localização do sol por
constelação, bem como corrige o horário conforme a variação da
incidência da luz em diferentes épocas do ano.

A invenção do relógio mecânico parece ter sido um marco que


permitiu à humanidade iniciar uma independência dos ciclos
naturais e ter um maior controle de pequenos pedaços invariáveis
de tempo. Luiz Alberto de Oliveira, físico do Centro Brasileiro de
Pesquisas Físicas e curador geral do Museu do Amanhã no Rio de
Janeiro, acredita que esse marco in uenciou as jornadas de
trabalho que deixaram de ser variáveis conforme a duração do dia
e a época do ano, passando a ser xas a partir da Revolução
Industrial. Esse controle do tempo parece ter contribuído para
uma mudança da visão cíclica, em que tudo na vida é baseado nos
ciclos da natureza, para uma visão linear do tempo, em que
vivemos em um presente que se move eternamente em direção a
um interminável futuro, sem ciclos, sem volta.

Considerando esses apontamentos, seria natural imaginar que


civilizações não industrializadas tenham uma visão de tempo
diferente das civilizações industrializadas (o que, até onde eu sei,
ainda não foi testado). A diferença entre nossa visão do tempo e a
visão do povo Hopi poderia ter origem, na verdade, na diferente
visão sobre o que é o futuro.

Nós ainda conseguimos prever quando será o próximo verão e


quando teremos que tirar nossos casacos lá do fundo do armário.
Mas nossa noção do que é uma previsão sobre o futuro, hoje, vai
além dos ciclos naturais. Normalmente queremos saber se nosso
time de futebol vai vencer a nal do campeonato, ou quando o
Brasil vai sair dessa crise política. E assim nós sequer percebemos
que, mesmo antes de aprender heptápode, já conseguimos fazer
pequenas previsões certeiras sobre o futuro, a ponto de já ter
comprado as passagens para as próximas férias de inverno.

https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2019/04/21/a-lingua-alienigena-de-a-chegada-pode-nos-dar-o-superpoder-de-prever-o-futuro/?fbclid=Iw… 8/11
22/04/2019 A língua alienígena de ‘A Chegada’ pode nos dar o superpoder de prever o futuro? - #Linguística

En m, não é uma língua alienígena (e nem o Hopi) que nos fará


prever o futuro, mas sim o conjunto de conhecimentos que
conseguimos adquirir do mundo através da cultura e da ciência.
Seja num futuro cíclico, seja num futuro linear.

REFERÊNCIAS

– Malotki, Ekkehart. Hopi time: A linguistic analysis of the temporal


concepts in the Hopi language. Trends in linguistics: Studies and
monographs. n.20, Mouton De Gruyter, 1983
– Oliveira, Luiz Alberto. Imagens do Tempo, In: Doctors, Marcio
(org.), Tempo dos Tempos, Jorge Zahar Editors, Rio de Janeiro, 2003
– Whorf, B. Lee, The relation of habitual thought and behavior to
language, ETC: review of general semantics, v.1, n.4, 1944
– Whorf, B. Lee, An American Indian model of the universe, ETC:
review of general semantics, v.8, n.1, 1950

FICHA TÉCNICA: IMDB

Título original: Arrival (no Brasil, A Chegada)


Direção: Denis Villeneuve
Elenco: Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker
Distribuição: Sony
Data de estreia: 24/11/16
País: Estados Unidos
Gênero: cção cientí ca
Ano de produção: 2016

A língua alienígena de ‘A Chegada’ pode nos dar o


superpoder de prever o futuro? by Thiago Oliveira da
Motta Sampaio is licensed under a Creative Commons
Attribution-NonCommercial 4.0 International License.

 A CHEGADA ARRIVAL CINEMA CULTURA

CULTURA POP FILMES HOPI IMAGENS DO TEMPO

LINGUAGEM LOGOGRAMA MALOTKI

PSICOLINGUÍSTICA PSICOLOGIA

RELATIVISMO LINGUÍSTICO RELÓGIO SOLAR SAPIR

https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2019/04/21/a-lingua-alienigena-de-a-chegada-pode-nos-dar-o-superpoder-de-prever-o-futuro/?fbclid=Iw… 9/11

Você também pode gostar