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Ética Cristã 4
Ética Cristã 4
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SUMÁRIO
NOSSA HISTÓRIA
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3
2. ÉTICA CRISTÃ....................................................................................................... 5
6.2 TODOS OS SERES HUMANOS DEVEM AGIR UNS PARA COM OS OUTROS
EM ESPÍRITO DE FRATERNIDADE ....................................................................... 21
8. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 24
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NOSSA HISTÓRIA
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1. INTRODUÇÃO
A palavra ética vem do substantivo grego ethos/êthos, que por sua vez deriva
de ethô (estar habituado, se apropriar). Por conseguinte, pode-se afirmar que essas
duas palavras significam costume, hábito, podendo ainda significar caráter,
mentalidade, índole (WIESE, 2008). Assim, Burkhardt (2008) afirma que "ambos os
termos têm a ver com a formação da vida humana e/ou da postura interior que está
por trás da vida".
Dessa forma, ética pode ser definida como a ciência que estuda a
conduta/comportamento do ser humano diante da sociedade, exercendo seu papel
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na organização e preservação da vida. Deste modo, é "a ciência normativa do agir do
ser humano em vista do seu fim último" (RABUSKE, 2008).
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2. ÉTICA CRISTÃ
M.A. Inch (1992) declara que “a ética cristã é o formato cristão da ética
teológica. Entende que ‘havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas
maneiras, aos pais, pelos profetas, neste últimos dias nos falou pelo Filho’ (Hb 1:1-
2). Ela pesa as obrigações morais do homem à luz desta revelação distintiva.
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moral, tem dois níveis distintos. Um, é o nível normativo, aquele em que decidimos
que esta decisão concreta é correta, que determinada opção é melhor que outra; é o
momento em que realizamos juízos morais práticos. Outro, é o nível fundamental, que
é prévio ao normativo, no qual fazemos as nossas opções de fundo, identificamo-nos
com valores, assumimos objetivos, vamos elaborando as nossas concepções de vida,
de bem e de mal. É deste âmbito fundamental e fundante da existência humana que
brotam opções morais concretas.
Esta forma de entender a relação entre fé e ética não pretende diluir os traços
característicos de uma moral cristã, nem reduzir a especificidade da ética cristã
apenas ao nível da motivação do agir. Com este modelo explicativo, procuramos, por
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um lado, preservar a autonomia própria da racionalidade ética e, por outro, assegurar
um papel determinante para a fé, no discurso moral.
Há, sem dúvida, um carácter próprio da moral cristã, e é consensual que a ética
pode ser pensada teologicamente com os dados da fé cristã. O que não é tão evidente
é o tipo de papel que a fé pode desempenhar, a delimitação dos âmbitos em que ela
pode introduzir-se no discurso ético. São muitas e diversificadas as propostas dos
teólogos para concretizar aquilo que determina uma especificidade cristã da ética.
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A outra função, ou tarefa, é de estímulo na procura de concretizações morais
mais humanas e humanizantes; a fé capacita o sujeito com uma responsabilidade por
encontrar as melhores respostas aos problemas morais que enfrenta. As instâncias
religiosas não são meras guardiãs das fórmulas recebidas, ou conservadoras dos
códigos morais estabelecidos. O seu papel determinante revela-se, justamente, na
medida em que contribuem positivamente para uma procura de soluções normativas
que melhor protejam os valores morais.
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As consequências de se fazer uma dicotomia entre teologia e ética são
inevitavelmente ruins. A verdade revelada demanda uma vida que se harmonize
com toda a Escritura. Robert Banks (2004) observa que
Essa lacuna entre doutrina e ética é uma das razões de termos falhado em
desenvolver uma teologia satisfatória da vida cotidiana. Todas as principais
doutrinas têm sua dimensão prática exatamente como todas as questões
práticas têm seu aspecto doutrinal.
Quando ocorre o divórcio entre dogmática e ética, a primeira sofre o perigo
de tornar-se uma ciência meramente abstrata e especulativa, sem resultados
práticos, e a segunda transforma-se em filosofia relativa, ou subjetivismo
antropológico.
Embora exista uma estreita relação da dogmática com a ética, não podemos
concluir que seja uma relação de dependência recíproca. Hendrikus Berkhof (1985)
observa que
Toda ética é orientada por uma cosmovisão. As nossas crenças ditam o nosso
comportamento, porque as idéias têm conseqüências. Em toda ação moral há uma
teoria definida ou não. Uma das características exclusivas dos seres humanos é que
não podem fazer nada sem um tipo de orientação ou condução que uma cosmovisão
dá. Necessitam ser guiados porque são inescapavelmente criaturas com
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responsabilidade, que por natureza são incapazes de sustentar opiniões puramente
arbitrárias ou fazer decisões inteiramente sem princípios.
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É importante notar que as cosmovisões têm a ver com crenças básicas sobre
as coisas. As crenças básicas que uma determinada pessoa sustenta, tendem a
formar uma estrutura ou padrão. Eis a razão por que os humanistas frequentemente
falam de um "sistema de valores". Todas as pessoas reconhecem, em algum grau
pelo menos, que devem ser consistentes em suas concepções, se quiserem tomá-las
com seriedade; de modo responsável, não adotam uma posição arbitrária de crenças
básicas que não possuam coerência. A cosmovisão forma, num grau significativo, a
maneira pela qual avaliamos os eventos, assuntos e estruturas de nossa civilização
e da nossa época. A cosmovisão bíblica é simplesmente um apelo para que o crente
leve a sério a Bíblia e o seu ensino para a totalidade da civilização, e que não a
relegue a alguma área opcional chamada "religião".
Para a ética cristã, o valor da vida humana não deriva do que uma pessoa faz
ou exprime, mas de sua própria existência como ser humano. Roselló (2005) explica
que
Diante de todo o debate ético e jurídico acerca do ser humano, sob as lentes
da ética cristã, somos chamados a descobrir o que nele há de misterioso e
fundamentar todo um princípio de respeito à dignidade da pessoa em sua totalidade
de corpo e alma.
O filósofo Fernández del Valle (1997) define o ser humano como "um ser
deiforme, porque a forma de Deus teofânico, porque através d'Ele se manifesta o
Deus-Outro; e o teotrópico, porque é o lugar de encontro com Deus". Dessa forma,
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esses traços conferem ao ser humano uma dignidade própria que vem da sua
natureza de origem divina.
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promulgar leis que ferem este princípio. Os bens de consumo, por sua vez, devem
ser utilizados com moderação; e os de produção devem ter em vista, em primeiro
lugar, o bem comum.
O bem comum pressupõe o respeito pela pessoa humana enquanto tal, com
direitos fundamentias e inalienáveis orientados para o seu desenvolvimento integral.
Em última instância, o bem comum reuer a paz social, ou seja, estabilidade e
segurança, que não se realiza sem priorizar a justiça distributiva, uma vez que a
violação desta sempre gera violência. Toda a sociedade e, principalmente o Estado,
têm a obrigação de defender e promover o bem comum.
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Desse modo:
E é por estes caminhos que deve-se transitar a ética cristã, pautada pela
caridade. Isso porque a ética cristã impulsiona a construir um mundo solidário, que
responda às grandes aspirações humanas de igualdade e liberdade, que defenda e
guarde a dignidade e os direitos humanos à luz da fé.
Neste sentido, as ações solidárias que poderiam permitir a organiza- ção dos
trabalhadores em busca de melhores condições de trabalho e de vida – saúde,
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habitação, educação, lazer – acabam por estimular uma “con- vivência solidária” entre
grupos e classes sociais, porque unidas por um mesmo ideal: uma sociedade
solidária, destituída de conflitos, já que aque- les que se encontram em melhor
posição social e econômica, contribuirão para diminuir os problemas sociais que
eclodem diariamente nas cidades ou nos bairros: a fome, o aumento do consumo de
drogas, a violência, cujas causas estariam na pobreza local ou na falta de atitude dos
governos.
A ética cristã tem como desafio promover a articulação entre a ética cristã
formulada e a ética vivida, ou seja, a teologia iluminar a práxis como caminho para a
humanização e realização do homem. A resposta a este desafio, segundo M. Vidal
(1995):
Dessa forma, a fé cristã fornece a forma para ética e o agente moral racional
fornece a matéria da ética.
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A reflexão da ética cristã, cientificamente elaborada, tem como uma das
principais fontes a Escritura, sempre em relação com a lei natural, razão humana,
psicologia, antropologia, história, biotecnilogia, etc.; estes são os lugares de onde
emergem os princípios de uma ética teológica.
A ética vivida pelos cristãos, é, por conseguinte, uma ética que se desenrola
num contexto decisivo, irrenunciável e interiorizado de fé, que se expressa em
conteúdos transformadores concretos da realidade humana. A fé é fonte de uma ética
específica, que deve ser entendida e vivida como uma ética própria da vida. Ética a
partir do específico de Jesus Cristo que, com suas Palavras e efeitos, com sua práxis
libertadora fundamental pela opção preferencial pelos pobres como "sujeitos sociais"
na construção do Reino de Deus, reino de fiéis livres em Cristo (HÄRING, 1979).
A partir disso, propomos a reflexão sobre Cristo como chave da ética cristã. A
mensagem religiosa de Jesus Cristo tem incidência na vida da sociedade e, portanto,
significação ética. A centralidade do reinado de Deus, presente em Cristo, em sua
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pregação, em saus obras, e concebido como Boa-Nova para os pobres, aqueles para
os quais Deus nunca tinha sido Boa-Nova, tem impacto direto na vida das pessoas,
não só nas de seu tempo mas também atualmente (COELHO, 2015).
Dessa forma, deixa-se de lado a preocupação pelo bem comum para dar lugar
à realização imediata dos desejos dos indivíduos, à criação de novos e eventualmente
arbitrários direitos individuais, etc. Percebe-se que, gradualmente, é introduzido na
sociedade um sentido estético, uma visão à respeito da felicidade, uma percepção da
realidade e até uma liguagem que é imposta como autêntica cultura. Desse modo,
termina-se por destruir o que há de verdadeiramente humano nos processos de
construção cultural, que nascem do intercâmbio pessoal e coletivo (COELHO, 2015).
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comunitária. Assim, as relações humanas vão se transformando em objetos de
consumo.
A pessoa humana é um ser social por natureza: ou seja, pela sua indigência
inada e pela sua tendência natural a comunicar-se com os outros. Esta sociabilidade
humana é o fundamento de todas as formas de sociedade e das exigências éticas
que nelas estão inscritas. O homem não se basta a si mesmo, mas tem necessidade
dos outros e da sociedade. A ética cristã insere os princípios teológicos no
conhecimento objetivo e no diálogo pluralista da cultura democrática moderna. Mas,
principalmente, deve iluminar as ações do homem pela fé cristã. Assim, a ética cristã
busca abranger a vida humana vivida de maneira pessoal e livre, caracterizada pela
relação de respeito para com o meio ambiente e com o outro, além de um humilde
reconhecimento dos limites do poder humano. Em última análise, a fé cristã infunde
a certeza que Deus acompanha também o homem em suas dificildades e difíceis
decisões. Tal certeza torna-se o horizonte de uma profunda esperança, e
precisamentre da esperança quje a teologia fala da promessa feita neste sentido por
Deus.
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Ainda hoje, quase 70 anos após o estabelecimento dos direitos humanos,
existem desafios a serem superados. Enfrentamos a maior crise humanitária desde
a Segunda Guerra: a série de conflitos internos de países da África e do Oriente
Médio – e, mais recentemente, da Venezuela, na América Latina – que tem levado
seus cidadãos a buscarem, em outros territórios, a segurança e estabilidade que
não mais encontram em seus países.
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6.1 TODOS OS SERES HUMANOS NASCEM IGUAIS EM DIGNIDADE
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terroristas e por isto devem ser afastados, eliminados – sejam crianças, mulheres,
jovens, idosos; todos são um mal que deve ser eliminado antes que os alcance. Tal
discurso evidencia a negação da dignidade humana em virtude de características
que diferenciam, em vez da valorização das semelhanças que unem.
Nestas sociedades, a isonomia era tida como um atributo dos pares dentro de
um grupo. A estes eram atribuídos deveres recíprocos. Reinava, assim, dentro de
uma comunidade de iguais a regra de ouro. A mesma regra não era aplicável, no
entanto, nas relações entre grupos. Este tipo de lógica discriminatória permitiu que
realidades atrozes, como a escravidão, fossem possíveis e válidas em diversas
sociedades ao longo da história da humanidade.
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A atitude hospitaleira do samaritano ainda não é universalizada em nossa
sociedade. Diante da crise dos migrantes, países como a Alemanha – que possui
números menos expressivos no que concerne à quantidade de indivíduos
declarados cristãos (FOWID, 2017) em comparação ao Brasil, ao México e aos EUA
(PEW RESEARCH CENTER, 2015), por exemplo – acolhem os imigrantes e
trabalham para a proteção dos direitos humanos, entendendo que a necessidade da
valorização da dignidade destes indivíduos ultrapassa os limites territoriais e as
barreiras culturais. O governo alemão entende que migrantes e nativos fazem parte
de uma mesma casa comum, de uma mesma família humana, como afirma a
Declaração dos Direitos Humanos. Já países como os Estados Unidos da América
buscam erguer muros e criar barreiras (AHRENS, 2017) através de medidas como
o veto migratório, que barra a entrada de imigrantes de países de maioria
muçulmana.Em entrevista, o Papa Francisco afirmou que quem só pensa em
construir muros em vez de pontes não é cristão. Nesta afirmação, vemos que
Francisco entende que, como filhos de Deus e, por consequência, irmãos, os
cristãos devem buscar reconhecer a humanidade do outro acima de suas
características distintivas. Por isto, pontes – e não muros – devem ser construídas:
para promover o encontro fraterno e prover a assistência àquele que, apesar de
diferente, faz parte de uma mesma família humana.
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Talvez agora seja hora de parar, de olhar para trás e refletir sobre os
passos que acabamos de dar e sobre os que demos há mais tempo. Talvez seja
hora de olhar para frente e planejar os próximos passos com mais consciência de
onde queremos chegar. Se somos iguais em direitos, em dignidade e em liberdade,
também o somos nos deveres para com o próximo, que é parte de nossa família
humana. O que quer que façamos, para onde quer que caminhemos, estaremos
juntos, dividindo o mesmo espaço no mundo – para o bem e para o mal. Qual
caminho escolheremos?
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8. BIBLIOGRAFIA
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