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Inaplicabilidade Da Súmula 106 Artigo
Inaplicabilidade Da Súmula 106 Artigo
executivos fiscais
Demonstra os aspectos negativos da aplicação da Súmula nº 106 do STJ nas execuções
fiscais, principalmente considerando a nova redação do artigo 174, I, do CTN.
1. Introdução
No campo do Direito Tributário, não poderia ser diferente. Inúmeras são as discussões
doutrinárias e jurisprudenciais acerca da prescrição. Cite-se, como exemplo, sua
variação de acordo com os tipos de lançamento dos tributos, sua suspensão à luz do
artigo 2º, § 3º, da Lei de Execução Fiscal – LEF, a atual redação do artigo 174,
parágrafo único, inciso I, do Código Tributário Nacional – CTN, bem como a
aplicabilidade da súmula 106, do Superior Tribunal de Justiça – STJ nas execuções
fiscais.
2. Breve Histórico
“Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por
motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifica o acolhimento da argüição de
prescrição ou decadência”.
Cumpre registrar que a mencionada súmula foi publicada no dia 03 de junho do ano de
1994, utilizando como referência legislativa os artigos 219 e 220, do Código de
Processo Civil.
Note-se que tanto a referência legislativa quanto os precedentes utilizados para a edição
da Súmula nº 106, do STJ, não possuem qualquer relação com a prescrição tributária
ocorrida em sede de execução fiscal. Vejamos um dos precedentes utilizados:
É importante esclarecer que, na época da edição da Súmula 106, ou seja, muito antes do
advento da Lei Complementar nº 118/05, nas execuções fiscais, somente a citação
válida teria o condão de interromper a prescrição, a teor do disposto na antiga redação
do artigo 174, parágrafo único, inciso I, do CTN, não obstante o artigo 8º, §2º da LEF,
prescrever que “o despacho do juiz, que ordenar a citação, interrompe a prescrição”.
Superada esta premissa, tinha-se que apenas a citação válida poderia interromper a
prescrição nos executivos fiscais, fato este que prejudicava deveras a arrecadação do
Estado, em virtude da morosidade do Judiciário, assim como pela dificuldade de
localizar o executado.
Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos,
contados da data da sua constituição definitiva.
Juiz Legislador. O juiz deve aplicar o direito ao caso concreto, sendo-lhe vedado
substituir o legislador, pois a figura do judge made law é incompatível com o sistema
brasileiro da tripartição de poderes (RT 604/43). “O juiz deve aplicar a lei e não revogá-
la a pretexto de atingir um ideal subjetivo de justiça” (RTJ 103/1262).
Ademais, a Constituição Federal, em seu artigo 146, inciso III, alínea “b”, preconiza que
“cabe à lei complementar estabelecer normas gerais em matéria de legislação
tributária, especialmente sobre: obrigação, lançamento, crédito, prescrição e
decadência tributários”.
Não há que se falar em aplicação da Súmula 106, do STJ, quando o CTN (lei
complementar) já fixou qual o marco para a interrupção da prescrição nas execuções
fiscais, qual seja, o despacho que ordenar a citação. Se assim não o fosse o legislador
teria alterado o inciso I, do parágrafo único, do artigo 174, do CTN, com a seguinte
redação: “A prescrição se interrompe com a propositura da execução fiscal”, o que não
ocorreu.
Por outro lado, evidencia-se que a Súmula 106/STJ reconhece que não será acolhida a
argüição de prescrição ou decadência quando houver, por motivos inerentes ao
mecanismo da Justiça, demora na citação, e não no despacho que a ordená-la. Frise-se
que a demora para prolatar o despacho citatório não foi contemplada na súmula, mas
apenas a efetivação da citação.
...
Art. 213. Citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se
defender.
Resta patente que o despacho que ordenar a citação não corresponde a um “motivo
inerente ao mecanismo da Justiça”. Tal expressão significa o ato de concretizar a
citação, seja pelo envio de carta, oficial de justiça ou mediante publicação no edital.
Assim, somente se a demora decorrer por falha ou atraso em quaisquer dessas situações,
poderia ser aplicada a Súmula nº 106, do STJ, a depender do caso.
Em termos práticos, é cediço que as peças vestibulares nas execuções fiscais são
formulários nos quais a Procuradoria insere apenas os dados do executado, o valor e
origem do crédito tributário. Desta feita, não obstante o prazo qüinqüenal, o Fisco deixa
para propor as ações faltando poucos meses para o transcurso do prazo prescricional, e
se utiliza da Súmula 106, STJ, para que a argüição da prescrição não seja acolhida.
1. A regra do art. 2º, §3º, da Lei n. 6.830/80, que determina a suspensão do prazo
prescricional pela inscrição do débito em dívida ativa, resta afastada pelo art. 174 do
Código Tributário Nacional, norma de hierarquia superior.
2. O art. 8º, § 2º, da LEF deve ser interpretado em harmonia com os dispositivos do
Código Tributário Nacional.
3. Situação anterior à nova redação do art. 174, parágrafo único, inc. I, do CTN.
Entendo que não há como aplicar ao caso a Súmula nº 106 do STJ, que afasta o
acolhimento da prescrição quando a demora na citação ocorre por "motivos inerentes
ao mecanismo da justiça", porque a prestação jurisdicional foi célere no caso dos
autos. O que ocorreu foi que a Fazenda Nacional ajuizou a ação no último ano do
prazo, faltando apenas cinco meses para a consumação da prescrição. Dessa forma,
qualquer problema na citação, como acabou ocorrendo, frustraria a sua interrupção.
(grifei)
Permitir à Fazenda manter latente relação processual inócua, sem citação e com
prescrição intercorrente evidente é conspirar contra os princípios gerais de direito,
segundo os quais as obrigações nasceram para serem extintas e o processo deve
representar um instrumento de realização da justiça. (destaque ausente do original)
8. Considerações Finais
É bem verdade que a idéia trazida pela Súmula 106/STJ foi de não prejudicar a parte
que não deu causa à ocorrência da prescrição. Sua aplicação seria perfeita para as
questões cíveis, mas não no campo tributário.
Com a nova redação do CTN, que considera o despacho citatório nas execuções fiscais
como causa interruptiva da prescrição, não se pode cogitar na aplicação da Súmula nº
106, do STJ, para que uma súmula não prepondere sobre o princípio da legalidade, tão
desrespeitado nos dias atuais.
Referências Bibliográficas
[1] STJ, Embargos de Declaração no Recurso Especial nº. 629-030-PE, Rel. Min. Luiz
Fux, DJ 25/04/05
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THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 39. ed. Rio de
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