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B4 retratos que vocé vé na pagina ao lado fazem ps " Projeto Humanae, que vern sendo desenvolvido pez sgrafa brasileira Angélica Dass desde 2012, com 0 oDjet\-< segundo ela, documentar as verdadeiras cores da humanidace <. ‘ndo se resumem aos falsos branco, vermelho, preto ¢ amarelo. projeto, fazem parte pessoas: ‘do mundo inteiro, mas estranharie~ fe 0s rostos fotografados fossem todos de brasileitos? Cert= rndo, pois essa é2 cara do Brasil, com sua diversidede de tipos <= ‘e tons, suas varias culturas, suas linguas e paisagens plurais Em pleno século das discussdes sobre cotas, rt negros nas -~ vversidades, da luta pela preservacéo da cultura ingigena, cs da cidadania europeia por brasileiros descendentes de itel's portugueses, espanhéis,etc., o tema da identidade nacional parece novidade. Entretanto, hd menos de duzento: anos = ‘acerca do que era ser brasileiro praticamente ndo existia No Brasil, foram os artistas do Romantismo, no ¢antexte< pendéncia, que busearam retomar — ainda que ce form ice ~ nossas origens, nossa palsagem, nossals) Vingue') pon nossa gente. O Romantismo brasileiro do primeir moms funde-se com a prépria nogao de nacionalismo. mop 8 Cp Fes 25 PANTONE 38-8 C PANTONE 58-5 C PANTONE 74-7 C Baseando-se no guia Pantone, utilizado como referéncia universal de cores para os profissionals da indastriagréfica, a fotdgrafa brasileira Angélica Dass desenvolveu o Projeto Humana, {que consiste em fotografar pessoas com os mais variados tons de pele investigar o que ola chamau de "inventério cromética". (Ano de elaboragéc: 2012 — em progresso,) PANTONE 65-5 C 35 ‘© Romantismo € o novo pais A poesia romantica © romance alge Primeira geracdo: Goncalves Dias *17"C# ela © tomance regienaists Seow “aphuo nie Segunda geracio: Alvares de sec aahiae Seana geo Vileonce de Toure : © fomance urbans: Ma--2 Tercera geragio: Castro Alves Anténio de Almeida ISBELL jade pesca om 0 205 das culnze cbras aut co -sesterestipos divulgados sobre o Brasil no exterior. Mas, afinal, que marcas sdo cara +a nosso pove? Ou vocé acha que isso nao existe? © que é ser brasileiro? De que maneira essa identidade se manifesta em vocd? Nuitos 20. Leia a letra de cangao “Inclassificéveis", de Arnaldo Antunes, & conhega a visdo degse artista : listano sobre o Brasil ‘so tem lei tem leis, no tem vez, tem vezes, nao tem deus, tem deuses, Inclassificdveis | pals costuma diviie @ teristicas brasie cae preto, que branco, que indio o qué? no ha sola s6s nao ha solasés iebranco, que indio, que preto 0 qué? | 1eindio, que preto, quebranco.o qué? aqui somos mestigos mulatos egipciganos tupinamboclos ‘cafuzos pardos tapuias tupinamboclos _ yorubérbaros caraais § = zuepretobrancoindio o qué? americaratais yorubérbaros ‘aribocarijés orientapuias ap: -anco indio preto o qué? | mamemulatos tropicaburés i :adio preto branco o qué? somos 0 que somos chibarrosados mesticigenados 2 inclassifciveis oxigenados debaixo do sol 2 squisomos mestigos mulatos 2 -afuzos pardos mamelucos sararés que preto, que branco, que indio o qué? 3 sailouros guaranisseis judarabes que branco, que indio, que preto o qué? fd que indio, que preto, que branco 0 qué? 4 ovientupis orientupis fy smeriquitalos luso nipo caboclos nio tem um, tem dois, 6 siento ores no tem dois, tem trés, ANTUNES, Arai. ncasifdves p indo ciganagés io temlei,temleis, Dlapone ens hep i 1 : chris mavens ea ae { somos 9 que somos ni tem deus, tem deuses, owas cm 10 nv. 2015. | -aclassificdveis no tem cor, tem cores, * sao tem um, tem dois, ‘=o tem dois, tem tts, } Além de compositor, Arnaldo Antunes é poeta visual, dai 0 cuidado espec'? que tem com a forma dos textos. Algo chamou a sua aten¢o em reiaglo 2b aspecto formal de “Inclassificaveis"? Releia o texto, se necessério. }) Anafora é uma figura de linguagem que consiste na repeticao de uma mesm= palavra ou construgo no inicio de petiodos, frases, oragGes ou versos. a) Em quais versos 0 poeta se vale desse recurso? b) Que efeito expressivo tem a andfora no texto? ) A pontuagso ¢ um importante recurso na construglo do sentide do poems a) Na primeira estrofe, 0 eu lirico protesta contra a separagSo das etnias que formaram o povo brasileiro. Como & marcada essa separagéo no texto? b) Na segunda estrofe néo ha pontuacdo. Infira: qual a relagSo desse recurso com 0 sentido construldo no texto? } Na cangao “Inclassificéveis", Arnaldo Antunes cria uma série de neologismos. a) Cite alguns deles e explique sua formacéo. 'b) Tendo em vista sua vis8e integral do texto, explique a funcio dos neolb- gismos na construgéo do ponto de vista defendido pelo autor. } Ao usar os substantivos no plural, o autor ressalta a pluralidade de etnias que compsem 0 povo brasileiro. Combase nessa afirmagso, como voceinterpretatia co verso"ndo ha sol a 6s"? Voce concorda com as ideias defendidas ne letra da cangio? Como brasileiro, voce se considera "inclassificavel"? ‘A.cangio “Inclassificiveis" ndo separa negros, brancos e indios — matriz classica da formagdo do povo brasileiro. Amaldo Antunes prefere conceber Brasil comoum pats marcado pela diversidade, em que esses grupos étnicos se fundem para criar novas e ricas composicbes. ‘A ideia de um Brasil plural comecou a ser delineada na primeira metade do século XIX. Com a independéncia, em 1822, 0 novo pals precisava se redescobrir, estabelecer-se como na¢ao. Era hora de os brasileiros repensarem sua identidade, fe, nesse processo, a literatura romantica foi decisiva, Nesta unidade, estudaremios o Romantismo brasileiro, movimento que adquiri em nosso pais, assim como na Europa, muitas faces e formas de expressio. ‘A publicagio de Suspiros poéticos e saudades (1836), de Goncalves de Maga- thes, deuinicio a0 Romantismo brasileiro, movimento que perdurou até 1881, quando as publicagées de Omulato, de Aluisio Azevedo, ede Memérias péstumas -és Cubas, de Machado de Assis, inauguraram 0 Realismo-Naturalismo. 38 Neologis~= satisfazer dades ae A permanéncia de Dom Joao VI am terras brasleiras (de 1808 a 182) “eve como consequencia 0 acelerado desenvolvimento cultural e intelectual 4e nosso pass prineipalmente no Rio de Janeiro. Deslocaram-se para a col6nia, “f c '& no inicio do século XIX, um grupa de Gitistas franceses. A Missao Francesa, como ficou conhecida, recebeu duas ta- ‘efas principais: a primeira dela, formar artistas profissionais na América, nunce chegou a ser realizada plenamente; 2 segunda foi retratar a corte portuguesa que havia emigrado para a col6nia bra- sileira. Vierar para cd pintores como Jean-Baptiste Debret e Nicolas-Antoine Taunay, além de escultores, arquitetos e varios artfices, Nesse periodo, produziu~ “se uma vasta colecao de obras de arte cajo estudo € fundamental para com- © filme Carlota foaquna, digido Sreender oiniie do século XIXern nosso por Cala Camuratl em 1995, retata : lox0Kemnosso ns dra nopeode de sascocowelingodoinptiodsail ed enna els f co fit por ext 08 ‘oo MISIN? ‘Apésa Independencia, em 1822, umiaquestéo comecou a inguietar os habitantes um Brasil, agora ex-col6nia de Portugal: o que significava ser brasileiro? Framos sropeus, ainda filnos da metrépole portuguesa? Indigenas? Africanos? Se a In~ ‘apendéncia representava o genho de autonomia, também trazia consigo a perda “s uma identidade, de certa forma segura, pare os brasileiros. Influenciados pelo advento da Independencia, os escritores zrasileiros comecaram a buscar, também, uma autonomia ‘erdtia. Liderados pelo escritor Gongalves de | Magalhaes (1811- 7882), estudantes brasileiros que viviam em Paris comecaram > pensar em uma literatura que refletisse 0 novo panorama olltico do pais. Em 1836, o grupo publicou textos sobre onovo ~acionalismo literério brasileiro na revista Niterd, considerada _m dos marcos fundadores do Romantismo no Brasil. ‘Ao longo de seu desenvolvimento, 0 Romantismo brasileiro aiternou a descricdo de paisagens, costumes, fatos, sentimentos = outros elementos tipicamente brasleros com ambientes ene sados, castelos sombrios, criaturas assustadoras e mulheres “antasmagéricas, motivos retirados diretamente de autores -uropeus, como Byron e Victor Hugo. Na prosa, predeminaram = 1827, foram criados os cursos de Diceito de Saree ee nlaristas, egionalistas, urbanos e istricos. A Oi ee ee poesia romantica foi classificada didaticamente em trés gera- Caer d romartica autenticamente Brasiteto ‘cBes, conforme veremos adiante. (Foto da Faculdade de Olinda, 2010.) ep po. 0 Cc Pas 0 1 oe 1% 39 ‘A exuberante e rica natureza brasileira passou 2 ser um te crescente — e necessério— sentimento de orgulho nac’on: ‘Ao buscar uma “cor local’, os poetas brasileiros empreendera~ pessado de nossa nacao, representado pela figura do indigena, sim: formador original do Brasil "po avante pn discusséo das grandes questoes humanas, sempre vinculadas 8 "cor local’, Jos de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Gongalves Dias, entre outros, escreve ram pecas nas quais interesses financelros, amores, imoralidades, atos nobres) crimes @ virtudes s80 discuticos por meio dos personagens. Goncalves de Magalhaes, pioneiro no teatro modero, estreou no Rio de jane ro, em 1638, sua peca Anténia José ou O posta ea Inquisicdo. Também merece destaque, a comédia de costumes O juir de paz na oca, de Martins Pena, © pes histérica Leonor de Mendonca, de Goncalves Dias, que trata do assassinato d Leonor por seu marido, no século XVI, em Portugal. Com a missdo de reformar a sociedade, 0 teatro romantico voltou-se para i & Gongalves Dias: a poesia épica “saistaney Se levarmos em conta as acaloradas discusstes oitacentistas sobre o que era ser brasileiro, o maranhense Goncalves Dias (1823-1864) chamariaa atencSo, dada sua ‘origem multiétnica. Filho de um portugués com uma cafuza, dizia-se descendente das trés ragas que formaram a etnia brasileira: a branca, a negra e a indigena, Estudou Direito em Coimbra, onde conhecewa poesia de autores importantes para o Roman- tismo portugues, como Garrett e Herculano, ¢, de volta ao Brasil, em 1845, entrou em contato com o grupo de Gon salves de Magalhaes, alcangando prestigio rapidamente. £m 1846, estreou com Primeiroscantos, apresentando ao \eitor entre outros temas, poemas indianistas de reconhecido valor estético. Nessa verdadeira "poesia americana” (nome dado por Gongalves Dias a seu nticleo poético indianista), a paisagem, as lendas e os indigenas fundem-se, criarido imagens de singular beleza. Gongalves Dias abordouo indigena sob uma perspecti- va inovadora, partindo da premissa de que, como esse povo no havia sido contaminado pela civilizagao, estaria mais autorizado a julgar 0 branco, e nao © contrario. Em poemas como "Canto do Piaga” (do qual estudaremos um ‘echo na secaio "Atividade") ou "I-juca Pirama’, que anali- saremnosa seguir, 0 poeta assume a perspectiva do native. Cena do espesseulo A lenda da Agua Grande, apresentad pelo Bale Nacional de Cuba (So Paulo, 201), tendo como base uma landa gvarani que expla o surgimento das cataratas é0 Iguacu (= gue; quagu = grande). valrizagio da “cor local” ‘uma das caracterstcas do Romentismo brasil. 40 EEE” “{.Juca Pirama”: pequeno épico de grandes proporgbes © indianismo constitui o ponto alto da producao de Goncalves Dias, escritor que elevou a -xegorie de arte 0 mito do bor selvagerm, presente desde 0 Arcadismo. {© poema épico “I-Juca Pirama" (que significa "aquele que ha de ser morto e que & digno ser morto") & composto de dez cantos. Nele, um anci8o da tribo Timbira narra a historia dm guerrero Tupi, que, juntamente com o paid idoso e cego, €0 ultimo remandscente de 1 tribo, Capturado pelos Timbira, uereiros canibais, ojovem indigena esté na iminéncia da rte. Antes, contudo, como parte do ritual antropofagico, 0 chefe Timbira ordena ao prisio~ ‘ro que narre seus feitos. Asim ele o faz dinte da tro inimiga, Mas, no final, chora.e pede « Chefe que o deixe viver para cuidar do pai, prometendo voitar apés 2 morte deste, para que s eompletasse o ritual, Diante do lamento do her, 0 chefe Timbira oliberta, e explica sua tude surpreendente; “tu choraste! N3o queremos corn carne vitenfraquecer 0s fprtes”. Em serdade apés ser humilhado, o herdi reencontra o pai, mas este descobre que o filho chorara temo, decide stacar a tribo Timbira a fim de resgatar sua dignidade e a de seu povo. ‘além da qualidade da narrativa, o que torna esse poeme singular & a adocdo de ritmos sriados (que mudam de acordo com o conteido dos cantos), garantidos pela mettificago, No canto IV, do qual extraimos 0 trecho a seguir, o guerreiro esta preso ao ritual antro- =ofaigico, quando o chefe Timbira the orden "Dize-me quem és, teus fitos canta’, O jovem? ipl profere, entZo, seu "canto de morte", Observe como os versos curtos, de cinco silabas, primem um ritmo acelerado & sua fala, sugerindo a tenséo daquele momento, IV Meu canto de morte, ‘Meu paia meu lado Guerreiros, ouvi: ‘Ja.cego e quebrado, Sou filho das selvas, De penas ralado, [Nas selvas cresciy Firmava-se em mit Guerreiros, descendo Nésambos, mesquinhos, Datribo Tupi. Por invios ¢aminhos, Cobertos d’espinhos Datribo pujants, Chegamos aqui! Que agoraandaerrante Por {n\'o inconstante, Ovelho no entanto Guerreiros, nasci: Sofrendo jé tanto Sou bravo, sou forte, De fomee quebranto, Sou filho do Norte; S6 qu'sia morrer! Meu canto de morte, ‘Nao mais me contenho, Guerreiros, ouvi Nas matasme embrenho, Das frechas que tenho tJ Me quero valer. Andei longes terras, Entio, forasteiro, ‘Lidei cruas guerras, Cai prisioneiro ‘Vaguei pelas serras Deum troco guesreiro Dos vis Aimorés; Com que me encontrei: Vilutas de bravos, O cru dessossego Vifortes — escravos! Do pai fraco e cego, De estranhos ignavos Enquanto nio chego, Caleados 208 pés. Qual seja, — diz inte do inimigo e o renega por julgé-lo covarde. © guerreiro, no suportando ¢ desprez0 = to: paderosa sorte, destino. Vist nfames, cespreniveis. ignavos: eoverdes,fraces. living: ntransitavels. {quebreinto: eansaco, torpor. ‘ron: {@) corpo de tropa. Euera o seu guia Aovvelho coitado ‘Na noite sombria, De penas ralado, Aséalegria ‘Ja.cego e quebrado, QueDeuslhedetxou: Que resta? — Morrer. Em mim se apoiava, Enquanto descreve Em mim se firmava, O giro tao breve Em mim descansava, Davida que teve, Que filo Ihe sou. Deixai-me viver! (.] DIAS, Gongalves. Ukimes cans, In: BUENO, Alexel (Org). Gongalves Dias: potsie ‘prose completas, Rio de Janeiro: Nova AgUlar, 1998p. 382-384, (Fragmeri ) Explique de que modo o guerreiro Tupi se apresenta aos Timbira. }) Na sua opiniao, hd uma contradicdo entre a forma como o guerreiro Tupi se apresenta e 0 pedido que faz.ao chefe Timbira? O Tupi diminui sua forca como. her6i guerreiro? Por qué? Em seus estudos sobre aantropofagia, os historiadores estadunid Diehl e Mark P. Donnelly afirmam: “[u-] Existe uma variedade de raz6es bisicas que explicem: po: sociedade praticairia 0 canibalismo. Pode ser parte de uma cer honra os mortos; pode ser uma celebragio pés-batalha, na qu: de um inimigo é absorvida pelo vencedor; pode ser um meio ‘ltimo insulto a um inimigo derrotado; pode ser um meio de defender-se da fome extrema [...]” DIEHL, Daniel; DONNELLY, Mark F. Devorando vtinho: um ‘Sho Paso: Gleb, a) Considerando a leitura do trecho de "I-Juca Pirama”, qui ‘tadas no texto acima explica a pratica do canibalismo ') Relacione a resposta que vacé deu no item aci Timbira, que surpreendeu a todos libertando o inimigo, } Na pendiltima estrofe do canto IV, ocoire uma anafore. a) Transcreva-a. b) Qual é 0 efeito expressivo desse recurso linguistico na argu" guerreiro Tupi desenvolve a fim de permanecer vivo? ‘Além da faceta indianista, o poeta também apresentcu ur lado lirico, abordando em seus versos a natureza associada & presence de Deus. = soliddo, ‘o saudosismo ligado & patria e & mulher amada, o amor 3 7 ‘temas. Um dos poemas mais conhecidos da lingua portuguesa, exlio” pertence a essa faceta lirica de Gongalves Di 42 jucapirarra =2'> i mri int 18 do nrg 95101 Voce 0 Piaga", em que 0 paj jbo, O outro &a letra de ca Nabrega, em que um indigena relata onto de vista sobre a chegada dos europeus a0 Brasil. } com o objetivo de demor eT I elas ondas do mar sem limites ‘Basta selva, sem folhas, i vem; “Hartos troncos, robustos, gigantes} ‘Vossas matas tais monstros contém. ‘Tran embira dos cimos pendente — Brenha espessa de vario cipé — Dessas brenhas contém vossas matas, Tais e quais, mas com folhas; és6! ‘Negro monstro os sustenta por baixo, Brancas asas abrindo 20 tuffo, ‘Como um bando de cindidas garcas, Que nos ares pairande —lé vio. Oh! quem foi das entranhas das aguas, (O marinho arcabougo arrancar? ‘Nossas terras demand, fareja.. Esse monstro... — 0 que vem 4 buscar? No sabeis o que o monstro procura? io sabeis a que vem, o que quer? ‘Vem matar vossos bravos guerreiros, ‘Vem roubar-vos a filha, a mulher! (1 ‘DIAS, Gongalves. in: BUENO, Alexel (Org). Gonsalves Dias: poesia epmosa comple. + dois textos. O primeiro é um trecho da Parte Il do poema "Canto ié tem uma visdo sobre a esquadra portuguesa, que ameaga nga" Cheganca’, do artista pemnambucano Anténio — aexemplo do Piaga de Goncalves Dias — seu as al Herios: fortes. Embira: cords, elp6. ‘amos: cures, picos. rade, fechods ta cerrada. stro: ocasco das, Licences oss: as velas as aus. Marth ceboueot estrutura das embarcacbes. lode daneiro: Nova Aguilar, 1998, (Frasmento) nstrar o impacto sobre os indios da chegada dos por- tugueses, o poeta faz uso de uma imagem, expressa por uma visto do Plaga a) Que imagem é descrita pelo pajé? b) Aimagem descrita representa uma metéfora para as consequencias do com tato dos europeus com os indigenas. Explique essa afirmagao. ©) Explique © que, segundo Piaga, ocorreré com os indios apés a chegada dos europeus. Ee Cheganca ‘Son Pataxd, ‘Mas de repente sou Xavante e Carii, me acordei com a surpresa: TanomAmi, sou Tupi ‘uma esquada portuguesa Guarani, sou Carajé. veio na praia atracar. Sou Pancarara, De grande-nau, Canijé, Tupinajé, ‘um branco de barba escura, Potiguar, sou Caeté, vestindoumaarmadura * Fol-ni-d, Tupinambé. ‘me apontou pra me pegar. Depois que os mares dividiram Eassustado [oscontinentes dei um pulo da rede, quis ver terras diferentes. pressenti a fome, a sede, ¥ En pensei: “vou procurar ‘eu pensei: “vio me acabar”. 7 um mundo novo, ‘Me levantei de borduns jé na mao. | a depois do horizonte, Aj, senti no cora¢io, s Tevo a rede balancante 6 Brasil vai comegar. é prano sol me espreguigar”, 3 Enatraquel j ‘num porto muito seguro, i céu azul, paze ar puro... botel as pernas pro ar. Logo sonhei que estava no paraiso, ‘onde nem era preciso dormir para se sonhar. [esti ie ue u comms ) Infira: por que 0 eu lirico da cangdo afirma ser varios povos indigenas? ) *cheganca” dialoga com duas vis6es: a de Pero Vaz de Caminha em sua Carta 2.2 de Gongalves Dias em “Canto do Piaga”. Demanstre, por meio dos versos, 2 verdade dessa afirmacao. 44 ‘Uma das facetas do Romantismo, como jé vimos, foi o mergulho dos artistas em seu caético mundo interior, cultuando a morte os amores impossiveis, a saudade, o softimento. A esse sentimento denominou-se "mai do século", corrente {que teve como seu principal representante o poeta inglés Lord Byron (1788-1824) No Brasil, o “mal do século”, também chamado de byronismo, caracterizou a se- _gunda fase de nosso movimento romantico apés a década de 1840. Essa corrente teve, Como principal representante Alvares de Azevedo, poeta que estudaremos a seguir = Alvares de Azevedo: 0 poeta dos contrastes ‘Apoesia roméntica inovou ao abranger,além daidealizagaoe da beleza,o.cotidiano, © eio, o mérbido, 0 cémico, o sarcéstico. A literatura de Alvares de Azevedo dialoga ccomessa visdo mais ampla sobre a arte literéria, Observe como esse contraste se apre+ sertano poems a seguir, que compée asegunda parte da coleténea Lirados vinteanos, Bela! Bela! B cla! E ela! ‘Ob! De certo... (pensef) & doce pagina ‘Onde a alma derramou gentis amores; ‘Sao versos dela... que amanha decerto Ela me enviard cheios de flores... Bela! é cla! — murmurel tremendo, 1 Boecoaolonge murmurou— é ela! Eu aviminha fada aérea e pura — ‘Aminka lavadeira na janela! 2 Dessasdgnas-furtadasondeeumoro Trem de febre! Venturosa folha! z : i i i Bua vejo estendendo no telhado Osvestidos de chita, as saias brancas; Bua vejo e suspiro enamorado! Esta noite eu ousei mais atrevido Nas telhas que estalavam nos meus {passos Irespiar seu venturoso sono, ‘Vela maisbela de Morfeunos bragos! Como dormia! queprofundo sonc!.. ‘Tinha namie ferro do engomado. Como roncava maviosa e pural Quase cai na rua desmaiado! Afastei a janela, entrei medroso: Palpitava-lhe o seio adormecido... Fui beijéla. coubei do seio dela ‘Um bilhete que estava ali metido. Quem pousasse contigo neste seio! ‘Como Otelo beijando a sua esposa, Eu beijei-a a tremer de devancio... Heal cla! — repeti tremendo; Mas cantou nesse instante urna coraja... ‘Abri cioso a pigina secrete... ‘Oh! meu Deus! era um rol de roupa suja! ‘Mas se Werther morreu por ver Carlota Dando pio com manteiga as criancinhas, ‘Seachou-a assim mais bela, — eu mais [te adoro Sonhando-te a lavar as camisinhas! Bela! € ela! meu amor, minh’alma, ‘ALLaua, a Beatriz que 0 céu revels. ela! ela! — murmurei tremendo, Bo ecoao longe suspiroa — é el AZEVEDO, Alvates do Lia de vine anos. In BUENO, Alex (Ora) Atvares de Azevedo: chra complet, Rio deSanero: Nova Aquila, 2000. p. 237-238, Junqueira Freire, Casimiro de Abreu ce Fagundes Varela também sio autores associados 2 | segunda geracdo. Estudante de Direi- to do Largo Séo Fran- cisco, em So Paulo, bomio e seguidor dos modismos roménticos, Alvares de Azevedo (1831-1852) mostrou- -se um artista sensivel, leitor de Byron, Victor Hugo e Shakespeare. Morreu precocemen- te em consequéncia da tuberculose, e suas obras foram publicadas postumamente. as-furtadas: espécle ie s6tio habitavel Chit: algodse colorido, \venturaso: afortunado, feliz ‘Mioriou: deus grego dos sonhos. Ferro do engomado: ferro {de passor roupa. ravioss:deleada, sraciosa. oso: euldadoso; com zelo. Ro liste relagSo. 45 ¥ Que concep¢ao romantica da mulher apresentam os trés primeiros versos poema? 4 1} Explique por que 0 quarto verso quebra a expectativa do leitor. } Naterceira quadra, 0 eu lirico realiza outra ago tipica nos poemas roménticas. Em seguida, na quarta quadra, rompe novamente a convengéo roméntica. Explique essa afirmacso. } Da quinta & oitava quadra, os contrastes sio ampliados com a narragéo de um episédio envolvendo um bilhete roubado do seio da amada do eu Sintetize esse trecho, enfatizando a oposi¢ao entre os elementos idealizados 0s realistas que constroem o poema. Note que 0 poema de Alvares de Azevedo explora o contraste entre a descti- 80 de uma "fada agrea” e a revelacdo do que ela é realmente: uma lavadeira por quem o eu lirico suspira “enamorado”. A diferenca entre o tom elevado do poe a 0 elemento realista (a paixao por uma moca real) garante 20s versos um efeito comico inesperado. Essa unio entre praticas poéticas tao diferentes # uma das. Em movi principais inovagBes presentes na poesia de Alvares de Azevedo. anteriores, J8 05 poemas que compdem a primeira parte da Lira dos vinte anos ebordam Bor exems uma donzela, palida, dvinizada, endo ha presenca da realizagao amiorosaterrena. — Gregérios ce Sé6 existe espaco para o amor sublime, como nes primeires estrofes deste poems, um cbirica Quando a noite no leito perfumado Langu no sonar reclinas, No vapor da ilusio por que te orvalhia Pranto de amor as palpebras divinas? E, quando eu te contemplo adormecida Solto 0 cabelo no suave leito, Por que um suspiro tépido resson E desmaia suavissimo em teu peito? Virgem do meu amor, o beijo a furto Que pouso em tua face adormecida ‘Nio te lembra no peito os meus amores Ea febre do sonhar de minha vida? [- AZEVEDO, klvares do Lira dos vino anos. In: BUENO, Alexei (Org)-Alvares de Asevedo: obra complera, 1 lode daneiro: Nova Aguiar, 2000p, 133. (Fragment) 46 } Como a experiéncia amorosa é caracterizada no poema? } Por que a viséo da mulher adormecida perturba o eu lirico? } Que elementos presentes no poema tornam a mulher impalpavel e i Nao houve no Brasil autor to influenciado pelo “mal do século" como Alvares de Azevedo. Em Macério, obra de dificil clasificaco, 0 autor mistura ‘os géneros teatro e dio intimo. Nela, 0 personagem Macério conversa com um desconhecido que, mais tarde, serevela o préprio diabo, A peca éfinalizada com 0 protagorista sendo levado por Sat a uma orgia em um bar. ‘A.cena final de Macério serviré de abertura para os contos de Noite na taverna, em que jovens viajantes narram suas aventuras erdticas,repletas de violencia e traigSo. ; Carta de divlgagto da peca erag Maciro,aaptada da obra cde Alares de Azevedo, em Em um contexto to complexo come o dos anos 1800, em que @ campanha montage da Ca. Tetral abolicionista corria nos meios intelectuais, associagSes e jornais, ¢ grupos radicals ‘Ops! (Golénie, 2003), 2 auxiliavamna fuga de escravos, comecava a perder sentido uma poesia voltada para 0 “eu” atormentado dos peetas. Eram outros tempos, que exigiam outras literatures. (Os poetas da terceira gerago romantica — Castro Alves (que estudaremos 2 seguir), Tobias Barreto, Pedro Luis e Pedro Calasis, entre outros —filiaram-se 2 uma corrente denorinada condoreira ou hugoana, A expresséo "condoreira’estdassociada 2 Imagem do condor dos Andes, péssaro que representa a liberdade da América. Ja 2 palavra “hugoana’ é referéncia ao escritor francés Victor Hugo, autor de obras de cunho social, como 0 romance Os miserdvets. rah mi tt CPs 1 tno 8, = Castro Alves: 0 poeta dos escravos cee emetic (1847-1871) ingressou Castro Alves representou paraonegroo papel que Goncalves Dias teve paracindio | 1. Faculdade de Diteito na primeira geracio. O autor baiano compartihava com os intetectuais de sua época | Yo Recife, no contexto tum sentimento humaritério em relagdo ao sofrimento dos escravos. Em seus Popu- | das lutas abolicionistas, lares poemas abolicionistas, o poeta se coloca na posiggo de orador grandiloquente, | quando deu inicio & obra verdadeiro porta-voz de um povo martire sofredor. Para isso, langa mao de recursos. | Os escravos. Além da como hipérboles, exclamacbes, longos apostos explicatives, reticéncias, personifi- | poesia social,.compés cagdes, antiteses e metdforas relacionadas quase sempre a uma natureza grandiosa | poemas liricos marcados {estros, espacos, aceano, sert20, universo, tuféo, Andes, guia, condor, Himalaia,etc). | peloerotiso. Apaixona- ‘Os poemias “O navio negreiro” e“Vozes d’Africa’, ambos presentesnacoletanea | do pela atriz portuguesa - Os escravos, sio os mais representativos dessa faceta social de Castro Alves. No Eugenia Camara, escre- primeito, misturam-se os tons épico e lrico para abordar o desumano transporte | Yew 0 drama Gonzaga Gos negros nos navios. © segundo é um apelo da Africa ac criador("Deus! 6 Deus! | U4 Revolucse de Minas ‘onde estas que nfo respondes? / Em que mundo, em questrela tu tescondes / | SsPecaymente Piva st Embugado nos céus?") e um questionamento desse continente, personificedo, |S Oy snecerndecortin: ‘sobre @ exploracdo de uma América que se alimenta do sangue dos mithares de a da tuberculose. escravos africanos ("Hoje em meu sangue a América se nutre") = ; 47 O texto a seguir é a parte IV do poema "O navio negreiro". Face u individual e depois releiao texto em voz alta. Era um sonho dantesco... 0 tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho, Em sangue a se banhat. ‘Tinir de ferros...estalar do agoite... Legioes de homens negros como a noite, ‘Horrendos a dancar. Negras mulheres, suspendendo is tetas ‘Magras criangas, cujas bocas pretas ‘Rega o sangue das maes: Outras, mogas... mas nuas, espantadas, No turbilhao de espectros arrastadas, Em nsia e magoa vis, E rise a orquestra ironica, estridente... E da roda fantisticaa serpente Faz doudas espitais... Se o velho arqueja... se no chao resvala, ‘Ouvem-se gritos...o chicote estala Evoam mais e mais.. Presa nos elos de uma s6 cadeia, Amultidao faminta cambaleia, Ecchorae danga al ‘Um de raiva delira, outro enlouguece... Outro; que de mattitios embrutece, Cantando, geme e i! No entanto o capitio manda a manobra E apés, ftando o céu que se desdobra ‘Tio puro sobre o mar, ‘Diz do fumo entre os densos nevoeiros: “Vibrai sijo 0 chicote, marinheiros! Fazei-os mais dang E risse a orquestra irénica, estridente... E da roda fantastica a serpente Faz doudas espirais! Qual um sonho dantesco as sombras van... Gritos, ais, maldigaes, preces ressoam! Eri-se Satands!.. ‘ALVES, Cast, © nao negteir. In: GOMES. Euren!o Ore canto alses bra completa Ris da Jane's 3908 1 48 } cuvindo a leitura do poema, o que vocé identificou em relagdo a0 ritmo, & cadéncia dos versos, & pontuagao, etc.? Leve em conta apenas sua percepgao sonora do texto. } Opoema quevocé leu é construidoapartir de umaimagem:a do navio negreiro, apresentado como uma “orquestra irénica”. a) Essaimagem, apesar de fantasiosa, remeteoleitor&discusséo critica de um, aspecto da realidade. Explique essa afirmasao. b) O objetivo de uma orquestra ¢ executar musicas para o prazer dos especta~ dores. Explique a metafora do navio negreiro como uma orquestra <) Por queno poema a orquestra é caracterizada como “irdnica"? poeta das mulheres reais A poesia lirico-amorosa de Castro Alves propde uma nova concepséo do amor) seus versos, em geral, s8o habitados por mulheres reais, dotadas de corpos sensuals © almas intenses, Observe como, nas quadras iniciais de "Adormecida” — poems: {que compée a tnica obra publicada em vida por Castro Alves, Espumas fluuantes (1870) —, a sensualidade feriinina aparece em primeiro plano. Adormecida ‘Uma noite, eu me lembro... Ela dormia ‘De um jasmineiro os galhos encurvados, ‘Numa rede encostada molemente... Indiscretos entravam pela sala, Quase aberto 0 roupio.,soltoocabelo | -—-“Edeleveosciland a0 tom das 30:35) Eo pé descalgo do tapete rente Tam na face tremulos — beijé-la. “Stava aberta a janela, Um cheiro agreste Bra um quadro colestel..A cada afago Exalavam as sivas da campina. ‘Mésmo em sonhos a moga estremecia.. E20 longe, num pedaco do horizonte, Quando ela serenava...aflor beijava-au- Via-se anoite plicida e divina. Quando ela ia beijar-Ihe..a flor fugia C4 ‘Alvis, Cast, Adormeelda In: GOMES, Engénto (Ore). fas: arbustos da familia das rosdcens. completa Rige laneir Nova Aguiar, 1997. p. 126, (Fragment ‘dn: calma, tranquil as: brsas, aragens. castro Ales Quais as diferengas de abordagem entre os poemas “Quando a noite no leito perfumado’, de Alvares de Azevedo (pigina46),<"Adormecida",de Castro Alves? Embora seja inquestionével a forca do género lirico em nosso Romantismo, ‘yeremos que o romance teve papel importante na consolidagae do movimento, 49 [No Brasil colonial, nem o Barroco nem o Arcadismo virar surgir ura ficgdo tio significativa quanto a produzida ao longo do Romantismo. Por volta de 1830, os folhetins franceses e ingleses tornaram-se populares. Pou- co a pouco, porém, os textos estrangeiros cederam lugar as narrativas romantices ccentradas em espacos brasileiros, nas quais os escritores procuraram resgatar a © local’, enfatizando a forga e o lirsmo de nossa paisagem tropical, bastante famillar 20s leitores, diversa daquela presente nos romances europeus. ‘Apésa Independéncia, os romancistas brasileiros dedicaram-se a um perddefo “projeto de construcao" de uma identidade nacional que se manifestou em quatro diferentes tendéncias: + Romance indianista: apresenta o indigena de forma idealizada, como represdy- tante auténtico de um Brasil pri ro, dada sua valentia e nobreza. + Romance regionalista: sua énfase esta em registrar habitos, paisegens e cqs- tumes de um Brasil distante da enit&o capital do pa's, Rio de Janeiro. Com oh excegdes, obras dessa tendéncia s80 marcadas pelo artificialsmo. + Romance urbano: destaca os costumes da sociedade carioca do Segundo ct nado (1840-1889). Por retratarern um cotidiano bastante conhecido dos ie'te burgueses, sobretudo por apresentarem situacdes lirico-amorosas vividas ou idealizadas, esses romances eram muito populares e prestigiados. + Romance hist6rico: seguindo a tendéncia de valorizacao da identidade nacional, ‘enfatiza o relato de episédios histéricos — reconstituldos de forma idealizadal— corridos, principalmente, no periodo colonial Todas essas tendéncias estdo contempladas na extensa obra de José de Alencar, © principal prosador do Romantismo brasileiro. Entre tantos paineis que ca sobre o Brasil, Alencar também tratou da relagio entre indigenas e colonizadores, conforme veremos a seguir. & O romance indianista: José de Alencar A existencia do que José de Alencar chamou de "cons6rcio" benéfico entre o ps indigena formecedor de um solo born ede uma naturezaintocada) e0 invasor (colonizaqor ‘europeu, fornecedor da “civilidade’, da “cultura®e da religio) fot defendida pelo autor ‘emsua trilogiaindianista, composta pelos romances O Guarani, racema subnet ‘O Guarani (1857), Ceci, filha de um fidalgo portugués, envolve-se amorosamente cam Peri, da tribo Goitacd, protagonista da hist6ria, culo pano de fundo ¢ a colonizacéo do Vale do Paraiba, no século XVI. na narrativa poética racema (1865), Alencar criou urha lenda—em que jovernindigena lracema se une a0 colonizador europeu Martim —para narrar as origens da América. Por fim, no romance Ubirajara (1874), enfocam-seacultura ‘€05 hébitos indigenas anteriores 8 chegada dos colonizadores 20 Brasil,» Estudaremos, a seguir, um fragmento daquela que Alencar chamou de lenda cearen- ce. lracema narra o inicio da civilizagSo brasileira (segundo 0 ponto de vista coon do autor), resultado do encontro daraga branca com a indigena. Na histéria, o guerrel portugués Martim perde-se na mata e é acothide pelo pajé da tribo Tabajara. A filha deste, a bela Iracema, apaixona-se pelo europeu e foge com ele, mas, segundo a tia- digdo de seu povo, precisa manter-se vitgem porque guarda o segredo da jurema (é Ye sua mo que se fabrica a bebida magice do deus Tups). Entre fugas e contlitos tribes, 12 d8 luz Moacir e morre em seguida. A crianga, cujo nome significa “fhe Jo + arto, simboliza o nascimento de um pove mestico, o brasil. 50 Leia a seguir o capitulo 2 do romance, que narra 0 primeiro contato de Martim com tracera, x ‘Alémm, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Tracema, a virgem dos libios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graiina e mais longos gue seu '«!« de palmeira. favo da jati nao era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no, jy, 2.) ¢ bosque como seu halito perfurado. Mais rpida que a ema selvagem, a morena virgem corta o sertio eas matas do pu, onde campeava sua guerreira tribo da grande nagio tabajara. O pé grécil e nu, smal rogando, alisava apenasa verde pelticia que vestia terra com as primeiras 4guas. ‘Um dia, ao pino do sol, ela repousava ern um claro da foresta. Banhava-lhe 0 corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite, Os ramos da a cia alvestre sy jores sobre ox imidc& cabelos. Escondidos na folhagem_«|{~ = ospassaros ameigavam o canto. | Tracema saiu dobanho; 0 °°» d'igua ainda aoe), como doce mangaba que } corouem manhé de chuva, Enquanto repousa, empluma das penas do «as flechas 1 desewarco,e concerta como sabid da mate, pousado no galho préximo, o canto agreste. Agraciosa av, sua companheira e amiga, brinca junto dela. As vezes sobe aos ramos da drvore e ded chama a virgem pelo nome; outras remexe 0 ru de palha { matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do cau, as agulhas { dajucar= com que tece a renda, ¢ as tintas de que matiza 0 algodio. Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Erguea virgem os olhos, que soca i A 18 don ene 80d 1 ee 18 0 sol nio deslumbra; sua vista perturba-se. ‘crouns: pssaro todo preto Diante dela e todo a contemplé-la esté um guerreiro estranho, se 6 guerreiro € | slh0: cote talho ro algum mau espirito da floresta, Tem nas faces obranco das areias que bordam __: tipode abela omar; nos olhos o azul triste das éguas profandas. Ign o's armase tecidosignotos jou: certo tipo de terra fértil, cobrem-the 0 corpo. ‘que forma grandes coroas, Foirépido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flechaembebidano arco partiu, |°U'* Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido. Snare De primeiro impeto, amo less caiu sobrea cruz da espada, mas ogo soriiu. 7 note res, © mogo guerreiro aprendeu na religiao de sua mie, onde a mulher é simbolo | Smart. de ternura e amory Sofreu mais d’alma que da ferida. < quary.n °°) espana espathavam, (O.sentimento que ele pés.n0s olhos e no rosto, nao 0 sei eu. Porém a virgem lan | jter:orvalho da manhB. goudesioarco ea sivacaba, ecomeu parao guerrero, sentida da magoa que causara. |. yxja, bana ‘Aimio que ripida ferira,estancou mais répida e compassiva 0 sangue que g0-|c,y4: tipo de péssaro; ued tejava, Depois Iracema quebroua flecha homicida: dew a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada, ire cectints oases ral 0 guerreito falou: c 2s Indias guarcarem sous objatos de estimacio. Crauts: bromélia de que se — Quebras comigo a flecha da paz? — Quem te ensinou, guerreiro branco, alinguagem de meusirmios? Donde ‘214, broméla vvieste a estas matas, que nunca viram outro guerreito como tu? cee puiaeee le pers — Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irm&os | espinhos,utilzados para A possufram, e hoje tém os meus. ‘ivr 0s fos de renda — Bem-vindo sejaoestrangeito aos campos dos tabajara,senhoresdasaldelas, rots: scones ea cabana de Araquém, pat de Iracema. wid, esta: dl pid [ALENCAR, Jost de race. 20. e, $c Paulo: Aca, 1991p. 1416. (Bam tivo). Cragment}, ros sba fecha. | 51 é slab atleast ne } Umdos elementosresponsavelspelotomlendério do romance de Alencar so 0s espacos miticos, indeterminados, que ele insere em alguns mo- mentos da narrativa. Explique essa afirmagaocom base no capitulo lido. } Embora cos personagens presentes no capitulo per- ‘tencam auniversos culturais bastante diferentes, conarrador os apresenta iguat mente como figuras ‘elevadas, nobres. Justifique essa afirmagao_ ‘com base no texto, } Releia o trecho que vai do segundo ao sexto pa- ragratos do capitulo e explique as relagbes que o narrador estabelece entre Iracema e a natureza na qual ela esta inserida. PARREIRAS 7:2 Clee 5 ) Embora a narragio seja feita em terceira pessoa, é possivel deduzir que, assim i Ps os que lracema vé o homem branco pela primeira vez, compara-o a elementos nnaturais. Que elementos sio esses? ) Explique a caracteristica cultural revelada no seguinte pardgrafo: “De primeiro impeto, amo lestacaiu sobre a cruz da espada, maslogo sortia, © mogo guerreiro aprendew na religiéo de sua mae, ondea mulher 6 simbolo de ternura e amor. Sofreu mais alma que da ferida.” = O romance regionalista: Visconde de Taunay Embora a literatura regionalista brasileira s6 tenha alcangado um alto grau de sofisticagdo formal e tematica com os escritores modemnistas de 1930, foino Roman- ‘7% tismo que essa tendéncia surgi. Nela se destacam Bernardo Guimaraes (Sudeste e eo Centre. Oeste), Viconde de Taunay (Centro-Oeste, José de Alencar (Sul) eFrenktin SBR a Tavora (Nordeste), ‘e : ( regjonalista de maior destaque, Taunay, foi observador atenteede um Brasil dis- y e tante do Rio de Janeiro em que nasceu. Inacéncia (1872), 0 romance mais importante do regionalismo romantico, | revelou ao leitor da corte os costumes, a lingua, @ eultura, a rusticidade e 0 rigoroso cédigo moral dos habitantes da provincia de Mato Glosso. ‘A historia trata do amor impossivel entre Cirino, pratico de farmacla que se apresenia como médico, € inocéncia, a bela e delicada filha de Pereira, homem que a prometeu em casamento a Manecio Doca, bruto ¢ rude fazendeiro local. FEstabelece-se, portanto, um triangulo amoroso que duraré até o final do romance. ‘Apaixdo entre inocéncta eCirino & impessibltada pelo rigido cédigo de ética do sert8o oitocentista, em que a mulher, sem poder de: ‘escolha, submete-se a autoridade a, $6.0 amar daria forca & jovem para rompér com esse cbdigo, mas p senti- .cabard derrotado. Nao resta outra saida senao 2 da tragédia: Inocéncia morre. ssocunguem romana aot i 18d i Po Leia parte do capitulo 26 do romance inaceincia, em que Pereire recebe 0 futuro zrido de sua filha, Manecdo Doca. oa > Em breve chegara Manecio a casa do futuro sogro. [ed ‘Acolheu-o Pereira com verdadeira explosio de alegria. — Vival viva! exclamou de longe acenando com os bragos, seja bem-vindo see rancho... Ora, até que afinall.Paltam rojdes para festejar a sua chegad. ‘Que demoral... Pensei que no topava mais com o caminbo da casa... Nocéncia “Si pular de contente... Enquanto o mineiro enfiava estas palavras quase em gritos, apeou-se o sertanista cae, de chapéu na mao, velo pedir-lhe a bengao. "Deus o faca um santo, disse Pereira abencoando-o com fervor. Vocé ndo

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