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Teologia, experiência religiosa e pensamento contemporâneo 3
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Inclui bibliografia
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Caros leitores, saudações.
Apresentamos a obra “ Teologia, Experiência Religiosa e Pensamento
Contemporâneo 3”, organizada em 4 capítulos, sistematizada nos diálogos
de pesquisadores da Universidad Adventista del Plata (UAP), Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Universidade Federal do
Tocantins (UFT- Porto Nacional), Associação Latino Americana de Literatura e
Teologia (ALALITE), Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER),
Fundação Integrada Municipal de Ensino Superior (UNIFIMES), Universidade
Estadual de Goiás – (UEG) e Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-
Goiás). O primeiro capítulo tem como tema: Desafíos en la construcción de
una teología veterotestamentaria: breve evaluación y contribuciones, onde
os autores André L. Vasconcelos e Eduardo Rueda Neto, discutem três dos
principais desafios relacionados com o desenvolvimento de uma teologia do
Antigo Testamento: o cânon do Antigo Testamento e sua relação com o Novo
Testamento; variação literária e temática no Antigo Testamento; e a natureza
APRESENTAÇÃO
CAPÍTULO 2 ............................................................................ 8
ENSINO RELIGIOSO E A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
Rosileide Batista Glória
Valdir Aquino Zitzke
https://doi.org/10.22533/at.ed.4852315022
CAPÍTULO 3 ...........................................................................24
CONTEMPLANDO O NASCIMENTO DE JESUS: AS REPRESENTAÇÕES DO
ÍCONE DA NATIVIDADE NA ARTE SACRA
Wilma Steagall De Tommaso
https://doi.org/10.22533/at.ed.4852315023
CAPÍTULO 4 ...........................................................................38
SUMÁRIO
1 | INTRODUCCIÓN
Estudiar el Antiguo Testamento es, al mismo tiempo, una tarea simple y desafiante.
Es simple porque hasta una persona sin formación teológica puede disfrutar de su
sabiduría y de su mensaje salvífico. Sus narrativas, su prosa y poesía encantan desde
el imaginario infantil hasta el gusto apurado de los académicos más exigentes. Por otra
parte, es desafiante porque nadie es capaz de agotar su profundidad teológica en los más
variados temas que se propone a tratar. Por eso debemos acercarnos al asunto con respeto,
conscientes de los problemas que dificultan esa tarea. La conciencia de los obstáculos con
los que nos encontramos en el camino nos permite prepararnos para superarlos, de suerte
que el estudio de las Escrituras sea lo más provechoso posible.
En realidad, son numerosos los desafíos metodológicos para el quehacer de
la teología veterotestamentária, pero, por una cuestión de delimitación, este ensayo —
que no pretende ser exhaustivo, sino solo abrir caminos para la discusión— se propone
a reflexionar acerca de apenas tres de ellos: el canon veterotestamentário y su relación
con el Nuevo Testamento; la variación literaria y temática en el Antiguo Testamento; y la
naturaleza descriptiva/prescriptiva de los escritos veterotestamentários.
1 “The Pentateuch presents the distant past insofar as it presents the origins or foundation of the world and of Israel. The
Historical Books present the more recent past insofar as they present the history of Israel from the time of the conquest
under Joshua through the Persian period as represented by Ezra-Nehemiah and the book of Esther. The Poetic and
Wisdom Books present the concerns of the present, that is, the timeless concerns of the human spirit as it is reflected in
the religiosity of the Psalms, the sensuality of the Song of Solomon, or the intellectual speculation of the Wisdom Books.
Finally, the Prophetic Books focus on the future as envisioned by the prophets of the Old Testament. Given their position
in the Christian canon, they naturally point to the New Testament as the fulfillment of their visions of the future and there-
by contribute to the overall perspective of the whole.”
2 “[…] à luz da revelação progressiva, as passagens do Antigo Testamento não recebem sentidos novos ou contraditó-
rios, mas, em vez disso, passam por uma expansão orgânica ou desenvolvimento de sentido.”
Por más que temas transversales como el pacto y el santuário sean importantes,
ningún de ellos es tan amplio como Dios. Y aunque se tenga Dios como principio articulador
para elaborar una teología veterotestamentária, todavía encontramos problemas con
algunos libros, como Ester (que ni siquiera menciona el nombre de Dios), Cantar de
los Cantares (que enfoca el matrimonio) y Proverbios (cuyo centro es la sabiduría y los
desdoblamientos éticos de su aceptación).
Por lo tanto, un segundo punto importante para hacer una teología veterotestamentária
arraigada firmemente en el suelo bíblico es reconocer que es imposible organizar los
múltiples temas del Antiguo Testamento por medio de un único concepto transversal y todo-
abarcante.
3 “Como nenhum tema, esquema ou tópico é suficientemente abrangente para englobar todas as variedades contidas
nos pontos de vista veterotestamentários, é preciso abster-se de usar um determinado conceito, fórmula, ideia básica,
etc. como o centro do AT, através do qual se alcance uma sistematização dos testemunhos múltiplos e variegados do
AT. Por outro lado, precisamos ratificar que Deus é o centro do AT como seu tema central. Ao dizermos que Deus é o
centro do AT, afirmamos que a Escritura do AT possui um conteúdo central, sem cairmos na armadilha de organizar num
sistema o caráter centrado em acontecimentos da revelação pela qual Deus se manifesta. Evita-se, assim, sistematizar
o que não pode ser sistematizado, mas não se deixa de captar sua natureza essencial.”
4 “When seen from the context of the canon both the question of what the text meant and what it means are inseparably
linked and both belong to the task of the interpretation of the Bible as Scripture.”
5 | CONCLUSIÓN
No hay dudas de que el asunto es mucho más complejo de lo que fue presentado en este
ensayo, que reflexionó sobre tres de los varios desafíos para elaborar una teología del Antiguo
Testamento que esté embazada en el texto bíblico, a saber: el canon veterotestamentário y su
relación con el Nuevo Testamento; la variación literaria y temática en el Antiguo Testamento; y
la naturaleza descriptiva/prescriptiva de los escritos veterotestamentários.
A pesar de la evidente brevedad y objetividad de este estudio, después de analizar
esos tres desafíos, podemos señalar al menos cuatro principios que pueden ayudar en
la desafiante tarea de hacer teología veterotestamentária: (1) aunque no haya ninguna
evidencia interna conclusiva, la tradicional división tripartida parece ser la opción más
adecuada y natural de organización canónica del Antiguo Testamento; (2) no hay problema
en leer los dos Testamentos de manera sincronizada, pero es necesario prestar atención
a la direccionalidad de la lectura y cuidar para no hacer un análisis exegético anacrónico;
(3) aunque Dios sea el centro de la revelación bíblica, no hay en el Antiguo Testamento
ningún tópico ni tema transversal único que funcione como un principio articulador capaz
de organizar toda la revelación veterotestamentária; y, (4) considerando que el texto bíblico
tiene tanto naturaleza descriptiva como prescriptiva, una teología del Antiguo Testamento
que intente seguir parámetros bíblicos debería reproducir esa misma tendencia.
REFERENCIAS
BEALE, Gregory K. Manual do Uso do Antigo Testamento no Novo Testamento. São Paulo, SP:
Vida Nova, 2013.
CHILDS, Brevard S. Biblical Theology in Crisis. Philadelphia, PA: Westminster Press, 1970.
EICHRODT, Walther. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo, SP: Hagnos, 2004.
GESE, Harmut. Tradition and Biblical Theology. In: KNIGHT, Douglas A. (ed.). Tradition and Theology
in the Old Testament. Philadelphia, PA: Fortress Press, 1977.
HASEL, Gerhard. Teologia do Antigo e Novo Testamento: Questões Básicas no Debate Atual. Santo
André, SP: Academia Cristã, 2015.
SWEENEY, Marvin A. Tanak versus Old Testament: Concerning the Foundation for a Jewish Theology
of the Bible. In: SUN, Henry T. C. et al. (ed.). Problems in Biblical Theology: Essays in Honor of Rolf
Knierim. Eugene, OR: Wipf & Stock Publishers, 2011.
1 | INTRODUÇÃO
Criada sob a égide da redemocratização e da legislação educacional pertinente
a este período, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é caracterizada pelo longo
processo de construção, permitindo consultas públicas e a docentes e especialistas de
cada área do conhecimento.
A proposta do Ensino Religioso (ER) na Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
possui um caráter não confessional, motivo que evidencia ainda mais a problemática em
torno dos interesses que historicamente contornaram e contornam a educação brasileira.
Seu caráter não proselitista reafirma a necessidade do estudo do conhecimento religioso
na escola, a partir de pressupostos éticos e científicos (POZZER; PALHETA, 2021). Mas é
preciso ser realista: a escola não é o único lugar, sendo, porém, um dos mais vantajosos
para a transmissão dos conhecimentos e das funções e vivências da educação religiosa.
Este artigo tem por objetivo discorrer sobre o primeiro documento curricular proposto
pelo Ministério da Educação, em nível nacional, que orienta a oferta do Ensino Religioso: a
Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Este objetivo foi alcançado através de pesquisa documental, consultando
principalmente textos legais, diretrizes educacionais, versões preliminares da Base Nacional
Comum Curricular, Pareceres do Conselho Nacional de Educação, sítios da internet sobre
a construção da BNCC, dentre outros.
Esta pesquisa se justifica por trazer à tona o processo de discussão do E sino
Religioso na legislação brasileira, considerando as diferentes discussões até a sua
implantação nas escolas a partir da aprovação da BNCC.
A laicidade proposta pela primeira Constituição Republicana não teve total êxito
na “República Velha” (1889 e 1930), mas a chegada da Revolução promoveu mudanças
significativas na relação entre Igreja e Estado, com uma forte pressão da Igreja para retomar
seu espaço até então sem maiores influências. A Igreja Católica aproximou-se do governo
de Getúlio Vargas e garantiu a volta facultativa da instrução religiosa às escolas públicas
em nível primário, secundário e normal. O fato de se tornar uma modalidade de ensino
facultativo representa, de certa forma, um desprezo ao conhecimento religioso, mas, os
conteúdos e a didática seriam definidos pelas autoridades eclesiásticas.
Como na Constituição de 1937, a próxima Carta Magna (1946) não teve vida longa,
definiu no artigo 168, inciso V, que o Ensino Religioso “constitui disciplina dos horários das
escolas oficiais, é de matrícula facultativa e será ministrado de acordo com a confissão
religiosa do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo seu representante legal ou
responsável.” (BRASIL, 1946).
A Lei nº 4.024, do dia 20 de dezembro de 1961, estabeleceu que as Diretrizes e
Bases da Educação no Brasil seriam fundamentadas no princípio de liberdade com o ideal
de solidariedade humana. Assim, estabeleceu que o Ensino Religioso:
Art. 97. O ensino religioso constitui disciplina dos horários das escolas oficiais,
1967 A “Constituição Militar” prevê que o Ensino Religioso continua sendo de matrícula facultativa
e será disponibilizada a disciplina nos horários normais das escolas de primeiro e segundo
graus.
1969 A emenda constitucional número 1/1969 deixa o mesmo texto da Constituição de 1967.
1971 Para manter o status quo, os militares criam disciplinas que formatará seu caráter
“alienador”. A segunda LDB (5692/71) obriga a inclusão da disciplina de Educação Moral e
Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde nos currículos plenos
dos estabelecimentos de primeiro e segundo graus. Quanto o Ensino Religioso continua com
as matrículas facultativas e constituirá disciplina dos horários normais dos estabelecimentos
oficiais de primeiro e segundo graus.
Quadro 3: Terceira fase
Fonte: Borin (2018).
Estudo da existência
Vida intelectual
humana e das intervenções de habilidades e que aprimorem a
moderna.
sobre a vida. capacidade de os alunos pensarem
diferentes culturas e sociedades.
perspectiva de perspectiva de
diversidade. diversidade.
estabelecendo e
ampliando diálogos e
abordagens teórico-
metodológicas
que transcendam
as fronteiras
disciplinares.
Quadro 2: Comparação entre as versões do texto sobre Ensino Religioso na BNCC
Fonte: Santos (2021). Elaborado com dados extraídos de Brasil (2015a, 2016a, 2018)
6 | CONSIDERAÇÕES
É interessante observar que, ao longo de toda a história da educação brasileira, a
BNCC foi o primeiro documento curricular cuja escrita considerou uma consulta popular.
A permanência do Ensino Religioso pode ser o primeiro passo para sanar dúvidas que
surgiram durante o processo de organização de seu controverso conteúdo, levando o
Ministério da Educação a considerar que ele, sob um algum modelo, pode contribuir para a
formação e para o exercício da cidadania.
Na trajetória da construção da BNCC nenhum conteúdo foi tão questionado em
relação à sua permanência no documento, do que o Ensino Religioso, mas, a unificação
das diferentes propostas promovida pela BNCC se tornou importante porque conduz ao
desenvolvimento epistemológico da área bem como a diferentes processos de formação
docente e propostas metodológicas.
Observa-se que os conteúdos organizados para o Ensino Religioso na BNCC
valorizam o multiculturalismo e a diversidade religiosa, considerando, ainda, a inclusão das
filosofias de vida no debate acerca das diferentes religiosidades e promovendo a discussão
sobre a busca de sentido (religioso ou não) para construção da identidade e projeto de vida
dos educandos, a contemplação da diversidade de possibilidades, e seu reconhecimento
como igualmente válidas.
REFERÊNCIAS
BORIN, Luiz Cláudio. História do Ensino Religioso no Brasil [recurso eletrônico]. Santa
Maria, RS: UFSM, NTE, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/handle/1/11984/
browse?type=subject&value=Hist%C3%B3ria+do+Ensino+Religioso+no+Brasil. Acesso 16 maio 2022.
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BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. 1ª versão. Brasília: Ministério da Educação e Cultura,
2015. Disponível em: http://historiadabncc.mec.gov.br/#/site/inicio. Acesso 12 maio 2022.
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BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). [S.l.]: Perguntas
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CÂNDIDO, Rita de Kássia; GENTILINI, João Augusto. Base Curricular Nacional: reflexões sobre
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CURY, Carlos Roberto Jamil; REIS, Magali; ZANARDI, Teodoro Adriano Costa. Base Nacional Comum
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Comum, 2017b. Disponível em: http://movimentopelabase.org.br/linha-do-tempo/. Acesso 19 jun 2022.
POZZER, A.; CECCHETTI, E.; OLIVEIRA, L. B. de. Diversidade Religiosa e Educação em Direitos
Humanos: desafios e possibilidades aos currículos escolares. In: SILVA, Ana Tereza Reis da. (Org.)
Leituras críticas em educação e direitos humanos. Brasília: Liber Livro; Alia opera, 2014, p. 52-74.
POZZER, A; PALHETA, F.S.B. Ensino religioso na BNCC e decolonialidade do saber. XVI Seminário
Nacional de Formação de Professores para o Ensino Religioso (SEFOPER). 2021. Disponível em:
https://doity.com.br/xvisefoper. Acesso 22 jun 2022.
SAVIANI, Demerval. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados,
2010.
CONTEMPLANDO O NASCIMENTO DE
JESUS: AS REPRESENTAÇÕES DO ÍCONE DA
NATIVIDADE NA ARTE SACRA
Figura 1: Ícone da Natividade. Século XV. Galeria Tretiakov, Moscou. Andrei Rublev.
2) Mostra o efeito desse evento sobre a vida natural do mundo, dando-nos como
que uma perspectiva de todas as suas consequências (OUSPENSKY; LOSSKY,
2003, p. 143).
1 Tropário: estrofe de origens antigas, que resume o mistério da festa ou as características do santo. É cantada na
liturgia eucarística e repetida em todas as Horas do Ofício divino.
2 Homilia 38. Sobre a Natividade. P.G. 36, 316 B
3 Kenosis: Palavra grega que significa “esvaziar-se”, “aniquilar-se”; encontrou seu significado cristão no texto da epís-
tola de São Paulo aos Filipenses: “Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante
aos homens; E, achado na forma de homem humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz”
(Fil. 2:7-8).
Por fim, vale notar que o cenário do evento é o deserto (figura 1). Trata-se, nesse
caso, de um lugar vazio e desabitado, que ofereceu refúgio ao Salvador, que desde Seu
nascimento o mundo não aceitou, foi o cumprimento da prefiguração do Antigo Testamento
– o deserto onde o maná, símbolo da Eucaristia foi dado. Aquele que tinha feito chover
maná do céu – sobre o povo judeu, Ele mesmo tornou-se o pão da Eucaristia – o Cordeiro,
colocado sobre o altar, cujo símbolo é a manjedoura trazida pelo deserto do Novo
Testamento como uma oferta ao Menino-Deus.
Caverna, manjedoura, vestes de faixas – são indicações da kenosis da Divindade,
de Seu abaixamento, da total humildade d’Aquele que, invisível em Sua natureza, torna-
se visível na carne pelo bem do homem, nasce em uma caverna, é envolto em vestes de
faixas, assim prefigurando Sua morte e sepultamento, o sepulcro e as vestes funerárias
(OUSPENSKY; LOSSKY, 2003, p. 144).
3 | A MÃE DE DEUS
Olhando para o ícone da Natividade de Cristo, a primeira coisa que chama nossa
atenção é a posição da Mãe de Deus e o lugar que Ela ocupa. Nesta “festa de recriação”,
Figura 1c: detalhe do Ícone da natividade. Século XV. Galeria Tretiakov, Moscou. Andrei Rublev
4 | TESTEMUNHAS DA ENCARNAÇÃO
Ao redor do grupo central – a Criança Divina e Sua Mãe – estão reunidos todos os
detalhes que, como já dissemos, testemunham a própria Encarnação e seus efeitos sobre
todo o mundo criado.
Os anjos realizam um serviço duplo: eles glorificam e trazem as boas novas. Em
um ícone, isso é normalmente expresso pelo fato de alguns deles voltarem-se para cima e
cantarem glória a Deus, outros se inclinarem para baixo, para os homens, a quem trazem
as boas novas (figura 1d).
Figura 1e: Detalhe do Ícone da Natividade. Século XV. Galeria Tretiakov, Moscou. Andrei Rublev.
Figura 1f: Detalhe do Ícone da Natividade. Século XV. Galeria Tretiakov, Moscou. Andrei Rublev.
Figura 1g: Detalhe do Ícone da Natividade. Século XV. Galeria Tretiakov, Moscou. Andrei Rublev.
Em um canto inferior do ícone, duas mulheres estão lavando a Criança (figura 1h).
Esta cena é baseada em uma tradição, que também nos é transmitida pelos Evangelhos
Figura 1h: Detalhe do Ícone da Natividade. Século XV. Galeria Tretiakov, Moscou. Andrei Rublev.
5 | JOSÉ, O JUSTO
Outro detalhe enfatiza que na Natividade de Cristo “a ordem da natureza é superada”
– e este é José.
Ele não faz parte do grupo central do Filho e Sua Mãe; ele não é o pai e está
enfaticamente separado deste grupo. Diante dele, sob o disfarce de um pastor velho e
curvado, encontra-se o diabo tentando-o. Em alguns ícones, ele é representado com
pequenos chifres ou uma cauda curta. A presença do diabo e seu papel de tentador
adquire um significado particularmente profundo em relação a esta “festa de recriação”
(OUSPENSKY; LOSSKY, 2003, p. 146).
Aqui, com base na tradição, o ícone transmite o significado de certos textos litúrgicos
que falam das dúvidas de José e do estado inquieto de sua alma. Este estado é expresso
no ícone por sua atitude desanimada e é enfatizado pela abertura negra da caverna, que
às vezes serve de pano de fundo para sua figura.
A tradição, transmitida também pelos apócrifos, relata como o diabo tentou José
dizendo-lhe que um nascimento de uma virgem não é possível, sendo contrário às leis da
natureza. Este argumento, assumindo formas diferentes, continua reaparecendo ao longo
de toda a história da Igreja, sendo a base de muitas heresias. Na pessoa de José, o ícone
revela não apenas seu drama pessoal, mas o drama de toda a humanidade – a dificuldade
de aceitar aquilo que está “além das palavras ou da razão” – a Encarnação de Deus.
José está envolto em um manto verde, da cor da criação, porque ele é um
descendente de Adão, filho da terra. Enquanto ele aponta para a mão em sua bochecha, ele
está refletindo sobre o que aconteceu de extraordinário. Olha para o céu, para o verdadeiro
Pai do Menino-Salvador, perguntando-se: «De onde vem este menino?». Sua hesitação
representa as dúvidas de toda a humanidade, que acha difícil acreditar que o Filho de Deus
possa nascer com uma genealogia humana. É preciso ouvir a fé para poder acolher esta
criança e tornar-se sua guardiã. A fé de José – e a nossa – é necessária para que Jesus
cresça e cumpra a sua missão de Salvador (OUSPENSKY; LOSSKY, 2003, p. 146).
Em alguns ícones, a Mãe de Deus é representada olhando para José. São diversas
as possibilidades de olhar de Maria, aliás: em alguns ícones, ela olha para o Menino-
Jesus “guardando em seu coração” as palavras sobre Ele; em outros, olha diretamente
diante d’Ela para o mundo externo (como na figura 1); e ainda olha para José como se
6 | A CRIAÇÃO
Por fim, convém perceber que toda a criação participa deste evento: as estrelas
celestiais e as criaturas terrestres. Se antes de Cristo se pensava que todos nasciam sob
uma estrela da qual dependia o seu destino, com Cristo a estrela submete-se a ele e serve
como um indicador para mostrar o local do seu nascimento. Ou seja, Cristo nos liberta
do determinismo cósmico. Não somos filhos da terra nem mesmo do acaso: somos filhos
livres de Deus. Representando as criaturas animais estão o burro e o boi, os dois animais
“proféticos”, mencionados por Isaías (Is 1,3). Como diz a liturgia bizantina, a terra oferece
a gruta, os animais enviam seus representantes, a Virgem a humanidade.
7 | A REDENÇÃO
A Encarnação de Cristo inaugura a nova História da ascensão dos homens e do
cosmo na glória da divinização, como uma extensão da Encarnação à toda criação, a
redenção universal. Por morte de cruz, desceu ao Hades para preencher de si mesmo
todas as coisas, Cristo pôs fim às dores da morte, como diz São Basílio Magno na liturgia
do Sábado Santo (ŠPIDLÍK; RUPNIK, 2010, p. 218).
Com o pecado original, há uma queda da natureza, que em Cristo é resgatada:
“Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção
alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada. Por isso, a criação
aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus. Pois a criação
foi sujeita à vaidade (não voluntariamente, mas por vontade daquele que a
sujeitou), todavia, com a esperança de ser também ela libertada do cativeiro
da corrupção, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Pois
sabemos que toda a criação geme e sofre como que dores de parto até o
presente dia.” (Rm 8, 17-22).
REFERÊNCIAS
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TOMMASO, Wilma Steagall De. Prefácio. In: Adriano Cézar de OLIVEIRA. São Francisco de Assis e
o Natal: com obras de Marko Ivan Rupnik e Centro Aletti. Belo Horizonte: Espaço Frater, 2022.
1 | INTRODUÇÃO
O Relatório da Comissão Internacional sobre Educação (1998), realizado pela
UNESCO, aponta a convivência escolar como um dos grandes desafios do século XXI,
pois desencadeia inúmeros casos de violência. Para AQUINO (1996, p. 23), “há muito,
os conflitos deixaram de ser um evento esporádico e particular no cotidiano das escolas
brasileiras para se tornarem, talvez, um dos maiores obstáculos pedagógicos dos dias
atuais”. É irrefutável a importância de um ambiente escolar que promova a convivência
harmoniosa entre seus sujeitos, seja para a promoção da aprendizagem ou para a formação
do aluno de modo geral e o bem-estar de todos. Todavia, a qualidade deste convívio vem
sendo comprometida pelo contexto de violência presente no interior das escolas.
A esse respeito, Abromovay e Castro (2006) destacam que um dos caminhos para
melhor compreender as formas de violências que acontecem nas instituições de ensino é
apreender as distintas relações que envolvem os sujeitos que convivem cotidianamente
nas escolas. O termo é utilizado no plural, violências, para sublinhar a variabilidade da
intensidade, gravidade e permanência do fenômeno. Esses aspectos estão estritamente
vinculados ao estabelecimento escolar, a posição de quem fala (professores, direção,
alunos, funcionários, pais etc.), sexo, raça, além de estar sujeita à temporalidade e ao lugar
2.1 Concepções dos alunos sobre a violência e como ela está presente nas
ações dentro da escola
A importância de se investigar o conceito de violência dos alunos está pautada
também na relevância das interações na construção da subjetividade humana. Essa posição,
fundamentada nos pressupostos da teoria sócio-histórica, a respeito do desenvolvimento
humano, assevera que “a criança, desde seus primeiros anos de vida, está imersa em um
sistema de significações sociais (FONTANA, 1996, p. 122), sistema este que irá incorporar
as ações e significados produzidos e acumulados historicamente. Nessa perspectiva, a
composição humana é resultado de um processo de desenvolvimento que está densamente
enraizado nas ligações entre história individual e história social (VYGOTSKY, 1984).
Nessa direção, os atos violentos caracterizam-se como uma forma de não reconhecer
o outro como sujeito (OLIVEIRA, 1991). Costa (1984, p.103) complementa que “violência é
o emprego desejado de agressividade com fins destrutivos”, ocorrendo quando há desejo
de destruição. A vítima é abatida pela força (física ou moral) de seu oponente, que lhe nega
diálogo (ZALUAR; LEAL, 2001), tirando os sujeitos da posição de humanidade e alocando-
os na condição de objeto.
A violência silencia as pessoas, pois o diálogo é fundamental para a relação de
reconhecimento do outro. As expressões violentas fazem com que as ações características
dos seres humanos, tais como a comunicação e o diálogo, não se concretizem. Nesse
contexto, a concepção de disciplina atrelada à punição teria a função de reafirmar a
autoridade do professor e as normas instituídas no espaço escolar, colocando o culpado
em uma posição de isolamento e delimitando o espaço de “bem” e dos transgressores.
3 | DISCUSSÕES E RESULTADOS
Denominamos violência escolar todos os atos ou ações de violência, comportamentos
agressivos e antissociais, incluindo conflitos interpessoais, danos ao patrimônio, atos
criminosos, marginalizações, discriminações, dentre outros praticados pela comunidade
(alunos, professores, funcionários, familiares e estranhos à escola) no ambiente escolar.
A escola muitas vezes é vista como um fator que reproduz as experiências de opressão
de violência, de conflitos. São inúmeras as experiências sofridas pelos educadores no
âmbito escolar, e isso acaba sendo a construção da sua própria violência e indisciplina.
No ambiente escolar podemos inferir que a violência perpassa por diversos fatores, não
havendo um único preponderante. Isso porque o fator social está diretamente ligado aos
fatores econômicos, envolvendo a mídia, a moda e os novos costumes.
É um ato de alegria, que existe na vida de quem está com Deus. A-6
É um estado de espírito. Quem está em paz consigo mesmo, transmite paz. A-7
É um sentimento muito importante, pois se vive em paz, e tem paz em sua casa, você A-8
também promoverá a paz.
Hoje, no terceiro milênio, a busca pela paz é uma das grandes preocupações que
envolvem a opinião pública, a esfera política, os grupos religiosos e instituições diversas,
como por exemplo a escola. A busca de responder a esta preocupação socialmente
generalizada fez e faz surgir estudos como o nosso, que transita no campo interdisciplinar
e permite uma reflexão sobre paz, violência e conflitos, com o intuito de cunhar conceitos e
objetivos metodológicos de ação prática.
Para Kant (2004, p. 54), é preciso um esforço consciente e racional dos governantes
e governados para controlar e extinguir as causas das guerras. Esse esforço se daria,
principalmente, num aperfeiçoamento das instituições humanas, como o direito, pois seriam
elas as garantidoras e mantedoras da paz.
Para isso, no campo de pesquisa procuramos entender a concepção de paz a partir
da ótica dos sujeitos e perceber quais fatores colaboraram para construção significativa
desses conceitos.
Para o aluno (A1), paz não é “necessariamente a ausência de guerra, mas é
popularmente definida como tranquilidade, calma. Defino como aquilo que desprende o
pensamento do homem para qualquer tipo de problema”.
Palavras Percentual
Tranquilidade 02 2,5%
Família 14 18%
Deus 18 23%
Amor 13 17%
Harmonia 05 06%
União 03 04%
Felicidade 06 08%
Ato de solidariedade 10 13%
Afeto 03 04%
Carinho 04 05%
Tabela 3: Definição de paz
Fonte: Entrevistas realizadas entre maio e junho de 2013.
1-1 É um ser que está em outras dimensões, que possui contatos com o ambiente em que
vivemos. Muitos o definem como a natureza, ou o tudo, mas Ele é a essência de tudo o
que existe. Não pode ser delimitado, medido e visto.
1-2 É a verdade de nossa existência, é a paz, que tranquiliza a alma e acaba com toda a
violência. Deus é tudo, ele é único e universal.
1-3 É incondicional, supremo, companheiro, amigo. Fiel, não esquece seus filhos, guia, ajuda,
orienta, não te desampara nos momentos ruins.
1-4 É tudo em minha vida, pois Ele me criou, me trouxe ao mundo e me sustenta A-5 É um ser
superior, criador de todas as coisas. É nele que buscamos força e fé.
1-6 É o amor verdadeiro, é um ser que nos protege de todo mal. Que nos dá paz e que está em
toda parte.
1-7 É o que há de mais puro e sublime no ser humano, Deus é paz é amor.
1-8 É tudo que está em nossa volta, menos a violência. É uma fonte de paz.
1-9 É tudo que é belo, que transmite amor, paz, perdão. A imagem mais próxima para se
definir Deus é a família.
1-10 É a esperança, é a paz e o amor.
1-11 É Deus é Deus.
1-12 Deus é um sentimento puro, amor verdadeiro e incondicional.
1-13 Deus é único, é tudo na vida de uma pessoa.
1-14 É o senhor supremo, pai celestial.
Palavras Percentual
Alegria 01 01%
Amor 13 17%
Esperança 06 08%
Felicidade 04 05%
Paz 26 33%
Ser Superior 08 10%
Solidariedade 03 04%
Supremo 07 09%
Todo Poderoso 05 06%
Tremendo 05 06%
Tabela 5: Definição de Deus
Fonte: Entrevistas realizadas entre maio e junho de 2013.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na tentativa de compreender quais elementos constituem as representações
sociais da violência na unidade escolar, foram selecionados aleatoriamente cem alunos
de ambos os sexos entre os 295 matriculados no 9º ano do ensino fundamental. O estudo
foi organizado em três eixos centrais definidos pelo cruzamento dos objetivos com as
questões de investigação.
O primeiro eixo da pesquisa foi “identificar e descrever a forma como os alunos do
9º ano percebem a violência escolar, tanto no que diz respeito aos conflitos não resolvidos
quanto em relação à sua percepção do funcionamento da escola, da organização da
instituição, da aplicação e respeito às regras, à qualidade das relações interpessoais e
também às suas concepções de resolução de conflitos”.
Nas falas dos sujeitos, percebemos que existem diversos tipos de ambientes
violentos e a violência não pode se limitar a um único fator. Esses dados foram evidenciados
nos danos físicos ou simbólicos sofridos por pessoas ou grupos pertencentes à escola.
Também fica evidente que a violência na escola envolve seus integrantes, tanto como
agentes do ato quanto como vítimas. A violência física é a faceta mais explícita desse
fenômeno, caracterizada por brigas, ameaças, principalmente por parte dos alunos.
Observou-se também que as brigas são banalizadas e, muitas vezes, incentivadas pelos
pares.
Tais situações mostram a fragilidade do ambiente escolar e podem ser explicadas
de diversas formas. Talvez porque a escola não seja um lugar “agradável” que dê aos seus
alunos o prazer de estar ali. Outra justificativa, talvez, seja a falta de perspectiva e incerteza
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B
BNCC 8, 9, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23
C
Canon 1, 2, 3, 4, 6, 7
Cultura de paz 18, 38, 40, 42, 45, 53, 57, 58, 59
E
Educação 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 38, 39, 40, 60, 61,
63, 64, 65
Encarnação 24, 26, 27, 30, 31, 35, 36
ÍNDICE REMISSIVO
Ensino religioso 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23
N
Natividade 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 37
P
Presépio 24, 25, 26
R
Recurso didático 8
S
Sagrado 14, 38, 40, 42, 50, 53, 54, 58, 59, 61, 62, 65
T
Teologia 7, 20, 23, 24, 63, 64
V
Violência escolar 38, 42, 45, 47, 54, 56, 57, 59, 60