Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
REVISTA INTERNACIONAL
CONSINTER
DE DIREITO
ANO VI – NÚMERO XI
2º SEMESTRE 2020
ESTUDOS CONTEMPORÂNEOS
0026990
Europa – Rua General Torres, 1.220 – Lojas 15 e 16 – Tel: +351 223 710 600
Centro Comercial D’Ouro – 4400-096 – Vila Nova de Gaia/Porto – Portugal
Home page: revistaconsinter.com
E-mail: internacional@jurua.net
ISSN: 2183-6396-00011
DOI: 10.19135/revista.consinter.00011.00
Editor:
David Vallespín Pérez
Catedrático de Derecho Procesal de la Universitat de Barcelona. Su actividad docente abarca tanto los
estudios de Grado como los de Doctorado. Ha realizado enriquecedoras estancias de investigación en
prestigiosas Universidades Europeas (Milán, Bolonia, Florencia, Gante y Bruselas).
Diretores da Revista:
Germán Barreiro González
Doctor en Derecho por la Universidad Complutense de Madrid. Colaborador Honorífico en el
Departamento de Derecho Privado y de la Empresa – Universidad de León (España).
Gonçalo S. de Melo Bandeira
Professor Adjunto e Coordenador das Ciências Jurídico-Fundamentais na ESG/IPCA, Minho,
Portugal. Professor Convidado do Mestrado na Universidade do Minho. Investigador do CEDU –
Centro de Estudos em Direito da União Europeia. Doutor e Licenciado pela Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra. Mestre pela Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa.
María Yolanda Sánchez-Urán Azaña
Catedrática de Derecho del Trabajo y de la Seguridad Social de la Facultad de Derecho, UCM, de la
que ha sido Vicedecana de Estudios, Espacio Europeo de Educación Superior y de Innovación
Educativa y Convergencia Europea.
A presente obra foi aprovada pelo Conselho Editorial Científico da Juruá Editora,
adotando-se o sistema blind view (avaliação às cegas). A avaliação inominada
garante a isenção e imparcialidade do corpo de pareceristas e a autonomia do
Conselho Editorial, consoante as exigências das agências e instituições de avaliação,
atestando a excelência do material que ora publicamos e apresentamos à sociedade.
REVISTA INTERNACIONAL
CONSINTER
DE DIREITO
ANO VI – NÚMERO XI
2º SEMESTRE 2020
ESTUDOS CONTEMPORÂNEOS
Porto
Editorial Juruá
2020
b) Ser inédito (não publicado em livros, revistas especializadas ou na imprensa em geral) e apre-
sentar propriedade técnico-jurídica; relevância nacional e internacional do tema abordado, fluência redaci-
onal, correção gramatical e respeito a aspectos éticos e científicos.
Obs.: Textos inseridos em documentos de circulação restrita nas universidades serão considera-
dos inéditos.
c) Ter sido produzido por Estudantes e/ou Professores de Pós-Graduação Lato Sensu e/ou
Stricto Sensu ou por Mestres, Doutores e pós-Doutores.
d) Serão aceitos trabalhos em coautoria, até no máximo três (03) participantes devidamente
inscritos.
e) O artigo deverá estar identificado com um dos critérios de classificação conforme informa-
do em edital.
f) O(s) autor(es) que submeter(em) o mesmo artigo científico (com o mesmo título e conteúdo
ou apenas mudando o título) para mais de um dos ramos do Direito acima indicados terão ambos os
artigos científicos automaticamente eliminados da avaliação.
g) Conter no mínimo 15 páginas, e no máximo 25 páginas.
h) Ser redigido em formato Word em dois arquivos distintos, um com e outro sem identifica-
ção, ambos completos, contendo: Título em língua portuguesa, espanhola, inglesa, italiana ou francesa;
Sumário; Resumo e Palavras-chave em língua portuguesa ou espanhola e inglesa, respeitando as
normas técnicas.
i) Para o arquivo sem identificação é importante o autor certificar-se que no conteúdo do artigo
a ser avaliado não conste nenhuma informação que possibilite a identificação do autor ou a instituição, a
qual esteja vinculado direta ou indiretamente.
j) O artigo poderá ser apresentado em língua portuguesa, espanhola, inglesa, italiana ou fran-
cesa, observando que o título, resumo e palavras-chave precisam, obrigatoriamente, estar indicados em
dois idiomas, sendo peremptoriamente uma indicação no idioma inglês.
Exemplificando:
Se escrito no idioma português: o Resumo e as Palavras-chave devem obrigatoriamente ser indica-
das em português e inglês.
Se escrito no idioma espanhol: o Resumo e as Palavras-chave devem obrigatoriamente ser indica-
das em espanhol e inglês.
Se escrito no idioma inglês: o Resumo e as Palavras-chave devem obrigatoriamente ser indicadas
em inglês e português.
k) Artigos em inglês tem prioridade na análise e na publicação, desde que um dos autores con-
tenha a titulação de doutor.
l) O texto deve estar salvo em arquivo Word, em versão recente, com as seguintes característi-
cas: fonte Times New Roman; corpo 12; alinhamento justificado, sem separação de sílabas; espaço de 1,5
entre linhas; parágrafo de 1,5 cm; não colocar espaçamentos especiais antes ou após cada parágrafo;
margens superior e esquerda com 3 cm, inferior e direita com 2 cm; em papel tamanho A4; notas de
rodapé explicativas na mesma página em que for citada a referência sendo que as Referências deverão
seguir o Código de Redação Institucional da União Europeia (Norma Umberto Eco/UE) – ver item 06.
m) As páginas deverão estar numeradas.
n) Para cada título, subtítulos, todos alinhados à esquerda, deverá haver um texto correspondente.
o) Devem ser escritos de forma clara e objetiva, evitando-se parágrafos prolixos ou ex-
tenuantes e privilegiando as orações na ordem direta como: sujeito – predicado – complemento.
p) Não serão aceitos textos com figuras, ilustrações e/ou fotografias, à exceção de grá-
ficos e tabelas que sejam imprescindíveis para a compreensão do trabalho e compatíveis com a
impressão em preto e branco, sendo vedada a utilização de gráficos e tabelas se originarem de
terceiros.
Instructions To Authors
“Revista Internacional CONSINTER de Direito”
1. ABOUT THE PUBLICATIONS
For publication in the Revista Internacional CONSINTER de Direito, the scientific articles shall be
evaluated by the double-blind review system, in which two CONSINTER Referees shall evaluate the papers
without any author identification. The framework of the evaluated and accepted articles for the purpose of
publication in Europe by the Editorial Juruá Lda., and in Brazil by Juruá Ltda, will follow the following criteria:
FOR THE JOURNAL “REVISTA INTERNACIONAL CONSINTER DE DIREITO”
According to the requirements of national and international agencies of investigation and teaching
that evaluate the investigative and academic activity of Post-Graduation, the CONSINTER Executive
Coordination, at the best of their judgment, will select a certain amount of articles approved that will be
awarded with the Publication in the Journal “Revista Internacional do CONSINTER de Direito”, with ISSN from
Portugal. Also:
a) For each article selected for the journal “Revista Internacional do CONSINTER de Direito”, a
number of the specific and unique register in the DOI (Digital Object Identifier) system will be assigned;
b) A register in the DOI (Digital Object Identifier) system will also be assigned to the journal “Revista
Internacional do CONSINTER de Direito”;
c) All articles published in the “Revista Internacional do CONSINTER de Direito” will be made
available, free of charge, on the Editorial Juruá website.
d) The journal Revista Internacional CONSINTER de Direito is indexed on national and international
databases, such as Google Scholar, Latindex, REDIB, DOAJ, CAPES, LivRe, Diadorim, Sumários.org, Cite
Factor, Tribunal Superior Eleitoral and Rede Virtual de Bibliotecas Integradas (RVBI) and Crossref member.
NOTE 1: In the face of the technical rules, for the purpose of qualification of the journal, only the
articles approved in which a least one of the authors and/or author has a doctorate degree will be selected for
the journal “Revista Internacional CONSINTER de Direito”. The articles properly approved that do not fulfill this
requirement will be published in the Book of CONSINTER.
NOTE 2: The Organizing Committee will be in charge of the nomination and the issue of the journal
“Revista Internacional CONSINTER de Direito” in which the approved article will be authorized for publication.
2. PERIDIOCITY
Half-yearly
3. REQUIREMENTS
a) The submission of the scientific work for analysis is conditioned to the confirmation of subscriptions
of all authors and co-authors;
b) Only articles approved by CONSINTER Referees Board/Editorial Board will be published.
4. REQUIRED DOCUMENTS FOR SUBMISSION
a) Registration;
b) Proof of payment of the Submission/registration;
c) Assignment of copyrights signed;
d) Full Article following the guidelines of item 5;
e) The articles must be forwarded by one of the authors by e-mail contato@consinter.org
5. RULES – THE ARTICLES SENT MUST FULFILL THE FOLLOWING CRITERIA:
a) For the article, it is mandatory the adoption of the European Union’s Institutional Writing
Code (Umberto Eco/EU norm) standards – see item 06.
This system is similar to the ABNT norms; however, the use becomes easier (all tabs are
comma) and only highlights in italics, never in bold.
b) Be original (not published in books, specialized journals, or in the press in general) and
present technical–legal property; national and international relevance of the theme approached,
wording fluency, grammar correction, and respect to the ethical and scientific aspects.
Note: The texts inserted in documents of restrict circulation at universities will be considered
original.
c) Have been produced by students and/or professors of Lato Sensu and/or Stricto Sensu
PostGraduation courses, or by Masters, Doctors and Post-Doctors;
d) Works in co-authorship will be accepted, up to a maximum of three (03) participants
adequately registered;
e) Be identified with one of the criteria of classification to be informed in the public notice;
f) The author (s) that submit the same scientific article (with the same title and content or
only having the title changed) for more than one of the fields of Law above mentioned, will have both
scientific articles automatically eliminated from the evaluation;
g) Have a minimum of 15 pages, and a maximum of 25 pages;
h) Be submitted in Word format in two distinct files, one with and the other without
identification, both complete, containing: Title in Portuguese, Spanish, English, Italian or French;
Summary; Abstract and Keywords in Portuguese or Spanish and in English, respecting the technical
rules;
i) For the file, without identification the author needs to make sure that, in the content of
the article to be evaluated, there is no information that makes it possible to identify the author or the
Institution they are directly or indirectly bound to;
j) The article can be presented in Portuguese, Spanish, English, Italian, or French,
observing that the title, abstract, and keywords have to, compulsorily, be written in two languages,
being one of them, peremptorily, English.
Examples:
If written in Portuguese: the Abstract and the Keywords must be written in Portuguese and
English.
If written in Spanish: the Abstract and the Keywords must be written in Spanish and English.
If written in English: the Abstract and the Keywords must be written in English and
Portuguese.
k) English articles have priority in the analysis and publication, as long as one of the
authors has a doctorate.
l) The text must be saved in a word file, in a recent version, with the following
characteristics: Times New Roman font, size 12; justified alignment, without hyphenation; 1.5
spacing between lines; 1.5 cm paragraph spacing; do no special insert spacing before or after each
paragraph; top and left margins with 3 cm, bottom and right margins with 2 cm; A4 size document;
explanatory footnotes on the same page the reference is cited, and the references must follow the
technical rules – European Union’s Institutional Drafting Code standards (Umberto Eco/EU norm) –
see item 06.
m) The pages must be numbered;
n) For every title, subtitle, all of them aligned on the left, there must be a corresponding text;
o) The text must be written clearly and objectively, avoiding long-winded and strenuous
paragraphs, giving priority to sentences in the direct order, such as subject-predicate – complement;
p) Texts with figures, illustrations and/or photographs will not be accepted, except for
graphs and tables which are indispensable for the understanding of the work, and compatible with
black and white printing, being prohibited the use of graphs and tables if originated from a third
party;
q) It must contain an Abstract (between 100 and 250 words in Portuguese or Spanish
and in English, as well as the Keywords (between 3 and 10 words), also in Portuguese or Spanish
and in English;
r) It must contain: a Summary to be indicated in the sequence of the title presentation,
Abstract (between 100 and 250 words, peremptorily in 02 languages, one of them in Portuguese or
Spanish and the other in English, just as the Keywords (between 3 and 10 words), under the same
criterion of the Abstract presentation;
s) The text must be accompanied by the copyright form – according to the model attachment
and/or available in the website;
t) The qualification of the author must be in a footnote and contain:
• a maximum of 4 lines;
• mandatorily indicating the e-mail address;
• stating the academic training;
• naming the Higher Education Institution to which he/she is linked as a student or as a teacher;
• informing the city, state, and country of the related Institution.
u) All the articles must be accompanied by the proof of payment of each author and co-
author’s registration.
v) Noting that CONSINTER is a non-profit institution, the value of the registration/submission
subsidizes the Publication of articles in the Revista Internacional CONSINTER de Direito. The
submission/registration fee is individual and exclusive for each author. Therefore, each author must
register and pay his/her respective fee. Ex: For the inclusion of an article in co-authorship with two
authors – it is necessary the registration and payment of the fee for each one of the authors;
w) An author may send as many articles as he/she wishes, but he/she must pay the
registration/submission fee for each one;
x) Observing the qualification rules, only one article from each author may be released for
Publication in the Revista Internacional CONSINTER de Direito. In case of approval of two or more
papers by the same author for the Journal, the evaluation committee, at its best judgment, will choose
one for Publication in the Journal and the others will be directed for release in the Law and Justice book
or the next issues of the Journal.
6. ABOUT THE SYSTEMS TO INDICATE THE SOURCES OF CITATIONS
For indicating the sources of the citations, the articles must adopt the European Union’s
Institutional Drafting Code standards (Umberto Eco/EU norm).
General rules:
– All elements must be separated only by a comma.
– Features highlighted with an asterisk are mandatory.
1. Book
1) * LAST NAME (in small caps) and Author’s First Name (s),
2) * Title and subtitle of the book (in italics),
3) (“Collection”),
4) * Edition number, if there are several,
5) * Location,
6) * Publisher,
7) * Year.
8) Possible data from the most recent edition.
9) Number of pages and the potential number of volumes of which the work is composed.
10) * Translation.
Example:
a) in the reference list
MOLINA DEL POZO, Carlos, Prácticas de Derecho de la Unión Europea, Curitiba, Juruá, 2019.
b) in the footnotes
MOLINA DEL POZO, Carlos, Prácticas de Derecho de la Unión Europea, Curitiba, Juruá, 2019, pp. 22-23.
2. Book chapter
1) * LAST NAME (in small caps) and Author’s First Name (s),
2) * Title of Chapter or Essay (in quotes),
3) * in
4) * Last name (in small caps) and the Organizer’s First Name (s), org.,
5) * Title of the Collective Work (in italics),
6) * volume (if applicable),
7) * Place, Publisher, date, pages.
Example:
a) in the reference list
VISENTINI, Paulo Fagundes, “A Inserção da China na Ásia e a Transformação Estratégica da
Região” in PROCÓPIO, Argemiro, org., O Século da China, Curitiba, Juruá, 2010.
b) in the footnotes
VISENTINI, Paulo Fagundes, “A Inserção da China na Ásia e a Transformação Estratégica da
Região” in PROCÓPIO, Argemiro, org., O Século da China, Curitiba, Juruá, 2010, pp. 14-15.
3. Journal Article
1) * LAST NAME (in small caps) and Author’s First Name (s),
2) * “Title of Article or Chapter” (in quotes),
3) * Journal Title (in italics),
4) * volume and issue number,
5) * date,
6) * page range.
Example:
a) in the reference list
VELÁZQUEZ, Victor Hugo Tejerina, “Alguns Aspectos da Função Social da Propriedade no Novo
Código Civil”, Revista Autônoma de Direito Privado, v. 1, set. 2006.
b)in the footnotes
VELÁZQUEZ, Victor Hugo Tejerina, “Alguns Aspectos da Função Social da Propriedade no Novo
Código Civil”, Revista Autônoma de Direito Privado, v. 1, set. 2006, p. 52.
Umberto Eco/EU Standard
Reference: ECO, Umberto, Como Se Faz Uma Tese Em Ciências Humanas, 13 ed., Barcarena,
Editorial Presença, 2007. Trad. Ana Falcão Bassos e Luís Leitão. pp. 101-102.
• Objetivos
• Marco teórico
• Metodologia / procedimentos metodológicos
• Resultados / Discussão
• Considerações finais ou Conclusão
• Mérito
• O tema é atual?
• O trabalho é original?
• O artigo contribui efetivamente para o avanço do conhecimento?
f) Os artigos poderão receber um dos seguintes resultados de avaliação:
• Aceito para publicação sem restrições;
• Aceito, para publicação sob condições, com correções obrigatórias;
• Com correções obrigatórias;
• Recusado.
g) O processo de avaliação e publicação costuma levar de 7 a 10 meses.
PERIODICIDADE
A Publicação da Revista Internacional CONSINTER de Direito é Semestral.
REVISTA INTERNACIONAL CONSINTER DE DIREITO – Ano III – Número IV – Derecho ante los
Desafíos de la Globalización
Publicada em: 30.06.2017
REVISTA INTERNACIONAL CONSINTER DE DIREITO – Ano III – Número V – Derecho ante los
Desafíos de la Globalización
Publicada em: 22.12.2017
• Objective
• Theoretical framework
• Methodology/methodological procedures
• Results/Discussion
• Final considerations or Conclusion
• Merit
• Is the topic current?
• Is the work original?
• Does the article effectively contribute to the advancement of knowledge?
f) Articles may receive one of the following evaluation results:
• Accepted for publication without restrictions.
• Accepted for publication under conditions, with mandatory corrections.
• With mandatory corrections.
• Declined..
g) The evaluation process usually takes 7 to 10 months.
PERIODICITY
The publication of the CONSINTER International Law Journal is semiannual.
PUBLICATION GUIDELINES
AUTHORS:
Originality of the Article: It is up to the author to ensure that this is an unpublished scientific article.
Originality: the authors are fully responsible for the content (legality and authorship) of the article and
guarantee its authenticity, being civilly and criminally responsible for any comments and/or opinions they may
make and which may characterize infringement of the rights of third parties, press legislation, the Consumer
Protection Code or any other law in force, in addition to being responsible for the content made available in the
publication or any other material made, including, but not limited to, plagiarism and the integrity of the
information contained therein.
NOTE. The authors’ opinions in this work do not necessarily represent the understanding and
comprehension of CONSINTER, of Juruá Editora Ltda, or of Editorial Juruá Lda, its Reviewers Board or
members of the Editorial Board.
Authorship of the Article: The scientific article must include the names of all those who made
a significant contribution to the conception, project, execution, or interpretation of the reported study,
and the copyright form must be completed and signed by all authors together with the paper.
Publishing decision: It shall be at the discretion of the Organizing Committee the designation
and the number of the Journal or CONSINTER book in which the evaluated and approved article shall
be released for publication, according to the Publication Guidelines and observing the qualification
techniques rules.
Equality between Participants: The submitted manuscripts shall also be received without
regard to race, sex, sexual orientation, religious belief, ethnic origin, nationality, or political philosophy of
the authors, substantiated by the blind evaluation policy.
Confidentiality: Concerning the principle of impersonality, the opinions issued by the
CONSINTER Editorial Board are confidential.
REFEREES:
Qualification of Referees: Scientific articles shall be analyzed by the CONSINTER Body of
Opinion, formed exclusively by specially invited, national and foreign jurists, PhDs, and post-doctorates.
Scientific Articles evaluation system: Scientific papers shall be evaluated by the double-
blind review system, in which two CONSINTER Referees will evaluate the works without any authorship
identification. The innominate assessment of the scientific articles guarantees the impartiality of his/her
judgment, decreases subjectivity and ideological preferences.
Also, in case of opinions divergence and/or if discordant views are found, at the best
suggestion of the board of directors, the text may be submitted to a third Referee appreciation.
Standards of objectivity: Opinions must be conducted objectively. The referees must express
their points of view clearly and supported by arguments.
CONSINTER
Our articles are peer-reviewed to ensure the quality of the scientific publication.
This journal uses the Plagius Detector plagiarism verification system.
NOTE. Despite CONSINTER’s care and zeal policy, submitting all published articles to
plagiarism verification, the authorship, legality, and authenticity of the paper is the sole responsibility of
the authors.
COSTS FOR SUBMISSION OF SCIENTIFIC ARTICLE
As a non-profit institution, CONSINTER has its publication costs subsidized through resources
from registration fees and by participating authors, as well as any supporters who wish to link their name
to events sponsored by CONSINTER.
LICENSING POLICY
For universalization and free sharing of knowledge, CONSINTER Journal is indexed under the
Creative Commons 3.0 License
Attribution – Non-Commercial Use – Sharing by the same 3.0 Brazil license.
It’s allowed:
– Copy, distribute, display and execute the work
– Create derivative works
Under the following conditions:
ATTRIBUTION
You must give credit to the original author, as specified by the author or licensor.
NON-COMMERCIAL USE
You may not use this work for commercial purposes.
SHARING BY THE SAME LICENSE
If you change, transform, or create another work based on it, you may only distribute the
resulting work under a license identical to this one.
For each new use or distribution, you must make clear to others the license terms for this work.
Legal License (full license):
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/br/legalcode
INDEX
The CONSINTER International Law Journal is indexed in national and international databases
such as Google Scholar, Latindex, Sumários.org, Redib, Diadorim, CiteFactor, Superior Electoral Court,
and RVBI and is a member of CROSREF.
CORPO DE PARECERISTAS
Adel El Tasse Ana Rachel Freitas da Silva
Mestre e Doutor em Direito Penal. Advogado em Curitiba. Doutora e Mestre em Direito das Relações Internacionais pelo
Procurador Federal. Professor na Escola da Magistratura Centro Universitário de Brasília – UniCeub. Professora no
do Estado do Paraná. Professor do CERS. Coordenador Centro Universitário de Brasília – UniCEUB, Brasília – DF.
no Paraná da NEACCRIM.
André Folloni
Adriano Marteleto Godinho Doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná –
Doutor em Direito pela Universidade de Lisboa – Portugal UFPR e Mestre pela Pontifícia Universidade Católica do
e Mestre em Direito pela Universidade Federal de Minas Paraná – PUC-PR. Advogado. Professor no PPGD da
Gerais – UFMG. Advogado. Professor do PPGD do Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC-PR,
Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal da Curitiba – PR.
Paraíba – UFPB, João Pessoa – PB.
Andréia Macedo Barreto
Albert Pastor Martínez Pós-Doutorado pelo Ius Gentium Conimbrigae, Centro de
Doutor e Mestre em Direito pela Universitat Autònoma Direitos Humanos, sediado na Universidade de Coimbra –
Barcelona – Espanha. Professor Agregado Direito do Portugal. Doutora e Mestre em Direitos Humanos pela
Trabalho do Trabalho Seguridade Social da Universitat Universidade Federal do Pará – UFPA, Belém – PA.
Autònoma de Barcelona – Espanha. Defensora pública do Estado do Pará.
Alejandro Menéndez Moreno Andreza Cristina Baggio
Professor Agregado Direito do Trabalho do Trabalho Doutora em Direito Econômico e Socioambiental pela
Seguridade Social da Universitat Autònoma de Barcelona. Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC-PR.
Professora da Graduação e do PPGD na UNICURITIBA e
Alessandra Lehmen UNINTER, Curitiba – PR.
Doutora e Mestre em Direito pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul – UFRGS e Mestre (LL.M.) em Direito Antonio Armando Ulian do Lago Albuquerque
Ambiental pela Stanford Law School. Advogada habilitada Doutor em Ciência Política pela Universidade do Estado
em Porto Alegre – RS – Brasil e em Nova Iorque. do Rio de Janeiro – UERJ. Mestre em Teoria e Filosofia
do Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina –
Almir Santos Reis Junior UFSC. Professor Efetivo da Universidade do Estado de
Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT e da Universida-
São Paulo – PUC-SP. Professor adjunto dos cursos de de Federal de Mato Grosso – UFMT, Cuiabá – MT.
Direito da Universidade Estadual de Maringá – UEM – PR
e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC- Antônio Carlos Efing
PR, Maringá – PR. Doutor e Mestre em Direito pela Pontifícia Universida-
de Católica de São Paulo – PUC-SP. Professor Titular
Aloisio Khroling da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC-
Pós-Doutor em Filosofia Política pela Universidade PR, Curitiba – PR.
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e em Ciências Sociais
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC- Antônio César Bochenek
SP. Doutor em Filosofia pelo Instituto Santo Anselmo em Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra. Juiz
Roma – Itália, reconhecido como PH.D em Filosofia pela Federal do Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
UFES. Mestre em Teologia e Filosofia pela Universidade Professor da ESMAFE/ PR.
Gregoriana – Roma – e em Sociologia Política pela Escola
de Sociologia e Política de São Paulo. Professor Titular na Antonio Maria Javato Marín
Graduação e no Mestrado da Faculdade de Direito de Profesor Titular de Derecho Penal – Universidad de
Vitória – FDV, Vitória – ES. Valladolid.
Aparecida Turolo Garcia (Ir. Jacinta) Candido Furtado Maia Neto – In Memoriam
Doutora em Filosofia pela Universidade Urbaniana – Pós-Doutor em Direitos Humanos. Doutor em Direito.
Roma – Itália. Professora da Universidade do Sagrado Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado do
Coração – UNISAGRADO, Bauru – SP. Paraná.
Marco Aurélio Serau Júnior Professor Catedrático de direito penal na Escola de Direito
Doutor e Mestre EM Direitos Humanos pela Universida- da Universidade do Minho – Portugal.
de de São Paulo – USP. Professor na Universidade
Federal do Paraná – UFPR, Curitiba – PR. Mário Luiz Ramidoff
Pós-Doutor em Direito pela Universidade Federal de Santa
Marcos Augusto Maliska Catarina – UFSC e Doutor em Direito pelo PPGD da
Pós-Doutor pelo Instituto Max Planck de Direito Público de Universidade Federal do Paraná – UFPR. Desembargador
Heidelberg – Alemanha, Doutor e Mestre em Direito no TJPR. Professor na UNICURITIBA, Curitiba – PR.
Constitucional pela Universidade Federal do Paraná –
UFPR. Procurador Federal. Professor visitante permanen- Marta Villarín Lagos
te na Faculdade de Direito de Francisco Beltrão – Cesul, Profesora Titular de Derecho Financiero – Universidad de
Professor Adjunto do PPGD na UniBrasil, Curitiba – PR. Valladolid.
ATRIBUIÇÃO
Você deve dar crédito ao autor original, da forma especificada pelo autor
ou licenciante.
– Para cada novo uso ou distribuição, você deve deixar claro para outro, os
termos da licença desta obra.
_________________________________________________________________
Revista Internacional Consinter de Direito, n. XI, 2º semestre de 2020
OS ASPECTOS CONTEMPORÂNEOS DOS PRINCÍPIOS DO 237-253
CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA NOS PROCESSOS
CORRECIONAIS DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Glaucia Milagre Menezes, Sérgio Henriques Zandona Freitas
_________________________________________________________________
Revista Internacional Consinter de Direito, n. XI, 2º semestre de 2020
LA RECEPCIÓN DE LA CULTURA DEL “COMPLIANCE” Y DEL 421-450
“WHISTLEBLOWING” EN ESPAÑA
Juan Carlos Ortiz Pradillo
_________________________________________________________________
Revista Internacional Consinter de Direito, n. XI, 2º semestre de 2020
LA VIDEOVIGILANCIA DE LOS TRABAJADORES MEDIANTE 621-636
CÁMARAS OCULTAS: EL CASO LÓPEZ RIBALDA Y OTROS C.
ESPAÑA (Stedh de 17 de Octubre de 2019)
Antonio Felipe Delgado y Jiménez
_________________________________________________________________
Revista Internacional Consinter de Direito, n. XI, 2º semestre de 2020
Revista Internacional Consinter de Direito
APRESENTAÇÃO
Capítulo 01
Abstract: The objective of this paper is to show whether or not the Federal Supreme
Court of Brazil can extend the cause of action in direct (or indirect) actions of
constitutionality. How this extension can be made and whether the res judicata should be
observed, given that such extension was used in a previous case, attacking the same
infra-constitutional law. To do so, with simplicity, but not leaving the depth aside, we
will use the issue with a focus on national jurisprudence, comparative law and various
doctrines. Finally, we will address objective and subjective actions and how the “erga
omnes” effect occurs in these types of actions; whether only the parts of that particular
process suffer the effects of the decision rendered there, or if the whole society will
benefit from what was decided in that action and in what way.
Keywords: Res Judicata; Right of Action; Preclusion; Effectiveness; Pleading.
Resumo: O objetivo do presente trabalho é mostrar se o Supremo Tribunal Federal do
Brasil pode ou não ampliar a causa de pedir em ações diretas (ou indiretas) de
constitucionalidade. Como essa ampliação pode ser feita e se a coisa julgada deve ser
observada, tendo em vista que tal ampliação foi utilizada, em caso anterior, atacando a
mesma Lei infraconstitucional. Para tanto, com simplicidade, mas não deixando a
profundidade de lado, utilizaremos o tema com enfoque na jurisprudência pátria, direito
comparado e diversas doutrinas. Por fim, abordaremos ações objetivas e subjetivas e
como ocorre o efeito “erga omnes” nestes tipos de ações; se apenas as partes daquele
determinado processo sofrem os efeitos da decisão lá prolatada, ou se toda a sociedade
irá se beneficiar daquilo que naquela ação ficou decidido e de que forma.
1
É Livre Docente em Direito Penal pela USP, Professora Associada pela USP, Pós-doutora em Psicologia
Clínica pela PUC/SP, graduada em Filosofia pela PUC/SP, Licenciatura em Filosofia pela PUC/SP,
Graduada em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, é Mestre em Filosofia pela PUC/SP e em
Direito pela PUC/SP, Doutora em Direito pela PUC/SP; além de ter diversas obras escritas é Professora da
PUC/SP. E-mail: iete73@hotmail.com
2
Bacharel pela FMU, possui Pós Graduação “Lato Sensu” em Direito Processual Civil e em Direito
Empresarial pelo CEU Law School, e Direito dos Contratos pelo INSPER; atualmente é mestrando em
Direito Difusos e Coletivos pela PUC-SP. Advogado e Professor da UNINOVE, além de ser Coautor da
Obra Estudos Aplicados de Direito Empresarial – Contratos (Almedina). E-mail: paulo@muanis.com.br
INTRODUCTION
The present work will be limited to dealing with subjective and objective
actions without distinguishing the actions themselves that are capable of declaring
the constitutionality or unconstitutionality of an infra-constitutional law in Brazil;
such as, for example, ADIN (Direct Action of Unconstitutionality), ADC
(Declaratory Action of Constitutionality), ADPF (Pleading of Non-compliance with
Fundamental Precept), etc. – the present work will focus only on article 102, I, letter
a of the Federal Constitution of Brazil, to study what we will see below.
We cede the understanding that there is more than one way to achieve the
objective pursued in the sense of seeing a Law declared constitutional or
unconstitutional before the Federal Supreme Court (STF), or even before the State
Courts of Justice (when it comes to seeking the unconstitutionality of a State or
Municipal Law that borders the Constitution of a given State) – the declaratory
actions of unconstitutionality of the State will not be studied in this paper.
It is not the purpose of the present work to deal with the perspective of
whether the chosen route to be declared unconstitutional (nor of the types of
unconstitutionality and the requirements for such) or constitutionality of an infra-
constitutional Law (not of normative act) is main or lateral/incidental, concentrated
or diffuse, abstract or strict3, subjective or objective, individual or collective, route
of exception or indirect route, etc4.. It is worth saying that these classifications do
not have the necessary correspondence in other systems5.
3
DINAMARCO, Cândido Rangel, Instituições de Direito Processual Civil, I v, 6ª ed, São Paulo, Malheiros,
2009, p, 195/196. “The direct influence of the process on the life of the Constitution is given whenever the
constitutional rule itself is examined and concretely implemented through the activity of the judge. This
happens in the judgment of cases that include discussion on the compatibility or incompatibility between a
rule of infra-constitutional law and another located at the constitutional level (diffuse control of
constitutionality); or even when before the Federal Supreme Court is proposed a direct action of
unconstitutionality (concentrated control of constitutionality – Article 102, inc. I, letter a). in both cases, the
recognition of incompatibility means moving away from the effectiveness of the infra-constitutional rule, to
preserve the principle of supremacy of the Constitution.”.
4
MEDINA, Paulo Roberto de Gouvêa, Direito Processual Constitucional, 1, ed, Rio de Janeiro, Forense,
2003, p, 57. “The current Brazilian Constitution adopts a complex system for the control of
constitutionality. Alongside the mechanisms peculiar to the diffuse system, it institutes direct action as an
instrument of concentrated control at the federal level, authorizing its adoption also, as a restricted object, at
the state level. It also establishes a declaratory action for constitutionality. It also provides for a special form
of control by May of the claim of noncompliance with a fundamental precept. At the same time, the
Constitution maintains another type of control that is a tertium genus in the matter, distinct from the diffuse
system and different characteristics of concentrated control: it is the system that can be called instrumental,
as it serves as an instrument for the eventual intervention of the Union in the States or of these in the
respective Municipalities.”.
5
PALU, Oswaldo Luiz, Controle de Constitucionalidade, 2 ed, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2001, p.
91. “In Europe, the U.S. system of judicial review (or judicial review os legislation) did not have
Nor will the present study be the object of cases in which the attacked norm
has a logical correlation of dependence with another norm or norm that is extremely
similar (or article or clause) and, therefore, this similar or dependent norm would
also have, or not, its unconstitutionality declared by drag or attraction.
Since this is a very wide-ranging issue, the present study seeks to diagnose,
with simplicity, whether at the moment the analysis of the unconstitutionality6 of an
infra-constitutional Law made by the Federal Supreme Court, which has expanded
the cause of action made ex officio by the highest body and guardian of the Federal
Constitution, for analysis of that request for a declaration of unconstitutionality, it
will be considered immutable and unassailable, after the final and unappealable
decision, considering that that particular Law was declared constitutional or
unconstitutional.
In other words, the Federal Supreme Court declares that a Law is
constitutional (or unconstitutional), taking into consideration that, for example, a
lawsuit was filed requesting a declaration of unconstitutionality in accordance with
article “x” and “y” of the Brazilian Constitution. In analyzing this request, the STF
broadens the cause of action, to declare that not only is the law constitutional in
view of the articles observed, but it is also constitutional in view of articles “w” and
“z” of the Brazilian Constitution.
Is the Federal Supreme Court, in taking this attitude and extending the right
of action for it, in some way, overstating its function? Moreover, is such decision,
which has become res judicata, covered by the cloak of the preclusive immutability
of the res judicata? Or will it be possible, in the future, to file another lawsuit
pleading a declaration of unconstitutionality of that same infra-constitutional law,
taking into account other articles of the Federal Constitution not observed in that
particular judgment, even though the cause of action has been extended? Or due to
the fact that the Federal Supreme Court has extended the right of action, would a
new action requesting a declaration of unconstitutionality of that same Law violate
the res judicata? Could the Federal Supreme Court, in due course, have extended the
cause of action on its own initiative?
repercussions, since in several countries it was difficult to hand over the control of the constitutionality of
laws to ordinary judges, for various reasons. That was when Kelsen, in the Austrian Constitution of 1920
(amended in 1929), created what can be called the European model of control of the constitutionality of
laws. It rejects the Austrian legal system (and later, with its own variants, almost all developed European
countries) of the systems of judicial review and the principle of stare decisis. The Austrian author does not
think of a diffuse system, but of a concentrated, non-judicial, but legislative (negative) and, to a certain
extent, abstract nature. Being a legislative activity, there are no theoretical difficulties in having the decision
of unconstitutionality with “force of law” and evidently erga omnes. The decision would be constitutive and
not declaratory as in the US system; that is to say, the effects would be ez nunc and not ex tunc, something
like the repeal of the law.”.
6
PALU, Oswaldo Luiz, Op. cit., p, 65. “The control of the constitutionality of normative acts is defined as
the act of submitting to the verification of compatibility rules of a given legal system, including those arising
from the derived Constituent Power, with the commands of the constitutional parameter in force, formally
and materially (form, procedure and content) those that are incompatible with it.”.
The questions above that will be analyzed in the present study, are intended
to understand whether the Federal Supreme Court is acting in accordance with
constitutional principles and with the guiding principles of civil procedure, in cases
in which it extends the cause of ex-officio action in lawsuit that seek to declare the
unconstitutionality of an infra-constitutional law.
The Brazilian procedural system and the Federal Constitution are rigid7, and
cases of revisiting issues that have already been res judicata8 are rare and delicate,
both from the point of view of legal security and from the point of view of the search
for the nomophilacic function that is so much discussed today.
The new Code of Civil Procedure9 has ceased to be, to a certain extent, as
exclusive as the Brazilian Code of Civil Procedure of 197310, but this does not mean
that after a final and unappealable decision is rendered, our system easily grants the
re-analysis of that case or matter.
The Federal Supreme Court, when expanding the cause of action, observing
other articles of the Federal Constitution, in a pleading for a declaration of
unconstitutionality of an infra-constitutional law not contained in that first petition,
can say that in doing so, it extended such analysis to ALL articles in the Magna
Carta and, therefore, future request for a declaration of unconstitutionality of that
particular law, would face one of the classic constitutional principles, that is, the res
judicata.
On the other hand, if the broadening of the right of action observed other
articles and did not properly observe the Brazilian Federal Constitution in its
entirety, another action attacking the unconstitutionality of an infra-constitutional
Law already declared constitutional in a previous action, but observing other articles
of the Brazilian Federal Constitution, would not confront the res judicata, given that
the request would be the same, but not the cause of action and, consequently,
another action would not be identical and, therefore, would undoubtedly continue.
Finally, we will analyze requests for declarations of unconstitutionality of
infra-constitutional rules in objective and subjective actions; with this, we will draw
7
DELLORE, Luiz, Estudos sobre a Coisa Julgada e Controle de Constitucionalidade, 1, ed, Rio de Janeiro,
Forense, 2013, p, 223. “Thus, historically, there is only constitutionality control if we are faced with a rigid
Constitution. Therefore, the theme of the control of constitutionality of laws gains prominence from the
moment that there are rigid Constitutions, that is, at the end of the eighteenth century.”.
8
LIEBMAN, Enrico Tullio, Manual de Direito Processual Civil, v, 3. Tocantins: Intelectos, 2003, p. 169.
“With the purpose of ending the disputes and giving certainty to the rights, the legislator has set a moment
when a new pronouncement on what has been judged is prohibited. At this point, not only is the judgment
no longer open to challenge by ordinary means (cf. 298 ff.), but the decision is binding on the parties and on
the legal system and no judge can again judge the same object in relation to the same parties (except for the
distant possibility of filing extraordinary challenges). All that is expressed by saying that the sentence has
become res judicata, that is, that it has become immutable and at the same time immutable has also become
the determination contained therein, with all the effects that derive from it.”.
9
BRASIL, Código de Processo Civil, Lei 13.105, de 16 de março de 2015, Disponível em: <http://www.pla
nalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art1046>, Acesso em 02 jun. 2019.
10
BRASIL, Código de Processo Civil. Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973, Institui o Código de Processo
Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htm>, Acesso em 02 jun. 2019.
a small panorama about the res judicata “erga omnes” in the case of objective
actions (concentrated control of constitutionality) and the res judicata inter parts in the
case of subjective actions (diffuse control of constitutionality), and if there is the
possibility of having two different judgments (not only in different cases, but with
different decisions), based on the same right of action in two different actions, but being
one objective and another subjective.
With great clarity and sobriety, the present work will try to elucidate the theme
that is extremely arduous and complex; therefore, we will support ourselves both in
jurisprudence and doctrine, in an exhaustive way in the search for answers and solutions
proposed by the disturbing questions above.
1 CAUSE OF ACTION
Every demand requires a cause of action11. Without it, one of the most important
procedural requirements for filing a claim will not be met and the initial claim will
contain a defect.
The right of action (near or remote) in action aimed at declaring an infra-
constitutional law unconstitutional is precisely the direct or indirect affront that a given
law makes to the Federal Constitution, i.e., the basis on which that particular action is
brought is one or more articles of the Magna Carta, which have been challenged by a
given enacted infra-constitutional law.
“According to careful doctrine, 'causa petendi', is the fact or set of facts likely to produce,
by itself, the legal effect intended by the author”12.
The Federal Constitution is the highest law of our legal system and all other laws
enacted in our country can in no way go against what the Federal Constitution says13.
In view of this, there may be countless causes for a lawsuit to be declared
unconstitutional, i.e., the pleading will always be the same: to see a particular law
11
CARVALHO, Milton Paulo de, Do Pedido no Processo Civil, 1 ed, Porto Alegre, FIEO, 1992, p, 79. “It
has traditionally been indicated as elements that give identity to actions (and demands) the subjects, the
request and the cause to request. When it comes to analyzing these elements in order to identify a particular
demand, it overcomes the cause of asking as a tuning fork and greater sensitivity than the other two
elements. For this reason, and because the study of the cause of action is based on difficulties, ranging from
its very admission as an identifying element, to the determination of its content, the authors observe that this
is one of the most intricate points of Civil Procedural Law.”.
12
NEGRÃO, Theotonio, GOUVÊA, José Roberto F., Código de Processo Civil, 41ª ed, São Paulo, Saraiva,
2009, p, 438.
13
DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., p. 195. “The indirect action of the process on the Constitution is
continuously carried out in the courts and tribunals, in the day-to-day of its constant operation. Since the
Constitution is the nuance that goes back to the entire legal order of the country (tête de chapitre), and the
material infra-constitutional law is a set of developments of the way it defines the social, political and
economic order, giving action to the infra-constitutional precepts means imposing the effectiveness of the
constitutional rules themselves. The effectiveness of the national legal system as a whole, which is one of
the political scopes of the process, is basically the effectiveness of the Constitution itself.”.
declared unconstitutional because it has violated the Federal Constitution. But the cause
of action may vary according to interpretation, since a certain Law may not confront
some articles carved in the Major Law, but it may confront others.
This time, a lawsuit can be decided by understanding that a certain law is
constitutional or that it may not have been declared unconstitutional, which for the
present work, as can already be seen, is the same thing14 (this issue will not be analyzed
in detail, since it is not the purpose of the present work), but later, for different cause of
action, but with the same request, may give rise to a new action, seeking the declaration
of that same law as being unconstitutional, but this time, having as right of action,
another article that borders the Federal Constitution other than the one analyzed in the
first action, but this time, having as a cause of action15, another article that borders the
Federal Constitution that is not the one analyzed in the first action.
Currently, the Federal Supreme Court has relied on the so-called “open cause of
action” institute in order to, in light of other articles of the constitution, expand the basis
of the ex-officio demand and, therefore, use other constitutional articles to assess
whether an infra-constitutional law whose declaration of unconstitutionality is being
sought is effectively unconstitutional.
It seems to us that such a manoeuvre is completely possible16, mainly because
it does not leave certain procedural and constitutional principles aside, as is the case
14
PALU, Oswaldo Luiz Op. cit, p, 182. “In the edition of this work I added: “The binding effect provided for
in article 102, paragraph 2, of the Brazilian Constitution should also apply to the case of direct action of
unconstitutionality. There is no substantial or anthological difference between a direct action for
unconstitutionality and a direct action for constitutionality: the ADIn (direct action for unconstitutionality) is
proposed, if it is unfounded and with the procedural quorum, the law will be declared constitutional; the
ADC (declaratory action for constitutionality), if it is unfounded and with the procedural quorum, the
constitutionality will be declared. Effectiveness erga omnes was already understood to be present in the
direct action for unconstitutionality. Otherwise, article 102 of the Constitution of the Republic, which states
that the STF is the primary guardian of the Constitution, is of little practical use. (...)”.”.
15
CARVALHO, Milton Paulo de, Op. cit, p, 79/80. “Being the cause of requesting element distinct from the
request, as its basis, or origo petitionis, as Lopes da Costa said, is not confused with him. While it is intimate
the relationship between these elements, and the cause of claim may arise as the one that identifies the claim
in the case of identical claims, if there is difference what changes is the basis and not the claim. As in one of
the cases provided for in art. 264 of the Brazilian CPC, if the author has another basis, in addition to that
already exposed, for the request formulated in the initial petition, through another demand may formulate
the same request, not considering identical claims. Or, still, in the example formulated by Liebman and
collected by Vicente Greco Filho: if the author claimed fraud as a vice of consent and in the course of the
cause there are references to different circumstances, which, however, compete as integral elements of the
figure of fraud, there is no change in the demand. There will be, if the allegation was of coercion, or
essential error.”.
16
MIRANDA, Francisco Cavalcante Pontes de, Comentários ao Código de Processo Civil, Tomo IV, Rio de
Janeiro, Forense, 1974, p, 192. “The petendi cause is therefore complex. Of category or legal figure, we
said. No, the category or the legal figure. Even if the author is wrong on this point, which most refers to the
realization of the objective right, he can change his way of seeing about the category or the figure, as long
as, by changing it, the new category or figure is still reconciled with his request. Both the judge and the
party are allowed to refer to another text of the Law, the category or legal figure different from that to which
the initial application refers. Two consequences of this principle of fungibility of the form of the foundation:
a) the defendant may be condemned even if the name given to the legal situation or to it is not exact, in good
with the principle of speed and the principle of onerosity. It is important to point out
that every time any homeland court is called upon to pacify social conflict and,
consequently, deliver the good of life to the rightful owner, the taxpayer's money is
spent in order for this movement of the State machine to occur. If in the future it will
be possible to file a new action, pleading the declaration of unconstitutionality of a
certain infra-constitutional law, alleging a new cause of action, considering that the
action with the same request, but with another right of action has already been
judged, it is easy to see that both the time and the money of the Brazilian citizen was
misused.
The Federal Supreme Court, by expanding the cause of action in actions of
this nature, ends up prioritizing public interests in order to save money and time and,
for these reasons, the expansion of the cause of action is very well used in this
tuning fork and this understanding, in our opinion, should prevail.
Another but no less important aspect is the fact that an infra-constitutional
rule is producing effects on the factual and legal mute and, sometimes, harming the
jurisdiction if, later on, this Law is considered unconstitutional. If the Federal
Supreme Court had the opportunity to examine a certain issue in light of the Federal
Constitution, of course, that for a matter of common sense, and having the
opportunity, it should analyze such Law according to other articles of the Federal
Constitution that it deems convenient for that particular claim, and which were not
part of the cause of action17 and, therefore, if using the expansion of the right of
action (such maneuver is possible also in Germany)18, brilliantly.
Having passed this point, there is still a doubt: once a lawsuit has been
decided and the Federal Supreme Court has broadened the cause of action to see an
infra-constitutional law declared unconstitutional, as being constitutional; could one
enter at a later date with another lawsuit requesting the same thing with another
cause of action? Or due to the fact that the Federal Supreme Court has broadened the
technical and adequate terminology; b) by changing the name of the relation of material law, or the text of
law, the exception of res judicata is not avoided, only for this reason.”.
17
PASSOS, Joaquim Calmon de. Comentários ao Código de Processo Civil, v. III, 8 ed, Rio de Janeiro,
Forense, 1998, p, 159. “The least jurisdiction given to that category or provision of law invoking it to
characterize it is irrelevant, if mistakenly indicated. The judge needs the fact, because it is he who knows the
law. The subsumption of the fact to the rule is the duty of the judge, that is to say, the legal categorization of
the fact is the task of the judge. If the fact narrated in the initial and what was requested are compatible with
the new legal categorization, or with the new provision of law invoked, there is no need to talk about
changing the cause of the request, or infeasibility of the request. This impracticability only occurs when the
consequences derived from the new legal category cannot be attributed to the fact narrated in the initial one,
nor are they contained in the request, or are incompatible with it.”.
18
MARTINS, Ives Gandra da Silva; e MENDES, Gilmar Ferreira, coordenadores, Ação Declaratória de
Constitucionalidade. 1, ed, São Paulo, Saraiva, 1994, p, 91. “This guidance undoubtedly corresponds to the
nature of the abstract rule control process, which is intended not only to promptly and effectively eliminate
the unconstitutional law from the legal system, but also to definitively beat up doubts that may have arisen
about the constitutionality of valid laws. Such understanding seems all the more plausible if one considers
that the Federal Supreme Court, like the Bundesverfassungsgericht, is not bound to the representation of
unconstitutionality, to the grounds invoked by the author, and may declare the unconstitutionality by
different grounds from those explained in the initial.”.
cause of action, would the preclusive mantle of the res judicata stabilize and become
immutable when it comes to declaring that particular Law as being unconstitutional?
19
SICA, Heitor Vitor Mendonça, Preclusão Processual Civil, 2ª ed, São Paulo, Atlas, 2008, p, 215/216. “The
effects of the formal res judicata prevent penalties that reopen the incidental issues resolved in the same
process, and, if the effects of the material res judicata are not added to them, in principle it is not forbidden
to file an autonomous claim in which the same issues are again ventilated. Even here, the effects are merely
endo-processes. And, if the sentence is of merit, in addition to the effect of preventing the simple of the
formal res judicata, the res judicata will arise material that, within the subjective and objective limits
imposed by law, extrapolates the process in which it was launched, imposing itself in any other effect of
eadem re future, before any judge. The effects are, as we know, extra-procedural.”.
20
JUNIOR, Nelson Nery; e NERY, Rosa Maria de Andrade, Constituição Federal Comentada e Legislação
Constitucional, 4ª ed, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2013, p, 226. “The rule protects the thing judged
material (auctoritas rei iudicatae), understood as the quality that makes unchangeable and indisputable the
command that emerges from the dispositive part of the sentence of merit no longer subject to ordinary or
extraordinary appeal (...).”
21
LIEBMAN, Enrico Tullio. Op. cit, p, 177. “The determination is enunciated in the device of the sentence
and represents the concrete provision pronounced by the judge, but in order to identify it exactly the
indispensable elements of the petendi cause and the petitum should be sought in the motivation of the
sentence. This is all the more evident since in general the provision is governed in abstract terms, which
only the motivation will allow translating into clear and concrete terms (often the provision only says:
“accepts” or “rejects the proposed demands”; “accepts” or “rejects the appeal” etc.). this does not mean,
however, that the grounds are covered by the res judicata: on the contrary, as will be seen”.
in cases such as the one described above, it would be necessary for the Federal Supreme
Court to have analyzed ALL the articles of the Federal Constitution to observe if none of
them would face the infra-constitutional law sub judice, which is never done.
As it would be impossible to perform this analysis with all the proceedings filed
in this sense, the res judicata only operates with respect to those specific articles
contained in that first decision; it is not forbidden to file a new claim having a new cause
to request, that is, a cause to request different from that previously used in the pleading
whose final and unappealable decision was made, even though the cause to request, ex
officio, was expanded by the judges, when analyzing that particular claim.
Just out of curiosity it is worth mentioning that our neighbor Peru, treats the res
judicata in a similar way to ours: there must be a final decision, no matter the instance in
which this decision occurs and it is necessary that there has been analysis of the
substance, that is, that there has been a judgment on the merits22.
With respect to res judicata in the case of an objective and subjective action that
fails to declare the unconstitutionality of an infra-constitutional law and its effects, we
will deal with it immediately below.
3 SUBJECTIVE DEMANDS
This topic is important because of the aspect that demands that discuss the
delivery of a certain good of life, but between private individuals, or between private
individuals and public entities (or entities compared to public entities), may also contain
a request for the infra-constitutional rule to be declared unconstitutional, but if this
occurs, the effect generated by this statement will not be “erga omnes”; the effect
generated will be only and only endo-procedural (inter parts).
Here constitutional control is diffuse and not concentrated, as we shall see ahead.
This means that a single judge has discretion to control the constitutionality23 of an infra-
constitutional rule and, thus, in that specific sub judice relationship, that particular infra-
constitutional law whose declaration of unconstitutionality has been declared cannot be
used to pacify that particular concrete case.
22
CÓRDOVA, Luis Castillo, Comentarios al Código Procesal Constitucional, Tomo I, 2 ed, Lima, Palestra,
2006, p, 388. “Con el Código Procesal Constitucional la situación cambia, aunque no radicalmente. Ahora
para que una resolución obtenida dentro de un proceso constitucional llegue a obtener la calidad de cosa
juzgada con todas las consecuencias que ello puede suponer, deben concurrir los siguientes dos requisitos:
que sea la resolución final y que haya pronunciamiento sobre el fondo. Ya no es un elemento para definir la
calidad de cosa juzgada que el fallo beneficie o no al agredido en su derecho constitucional.”.
23
DANTAS, Pulo Roberto de Figueiredo, Direito Processual Constitucional, 3, ed, São Paulo, Atlas, 2012, p,
169. “Based on the above statements, we can conclude, in a narrow introductory synthesis, that the control
of constitutionality consists precisely in the inspection of the adequacy (vertical compatibility) of the laws
and other normative acts edited by the Public Power with the principles and rules existing in a rigid
constitution, in order to ensure that such normative diplomas respect, both in terms of their content, and the
form as produced, the hierarchically superior precepts dictated by the master charter.”.
“Having done so, the Brazilian Constitution grants the duty of constitutional compatibility
analysis of any normative act to all judges in their jurisdictional activities.”24.
The difficulty of the matter lies in the moment when this case is taken to the
Federal Supreme Court. The specifics of the issue will remain the same, as narrated
above, but the imbroglio would occur if the same Law in this process declared
unconstitutional, were under analysis by the same Supreme Court, but in objective
action, that is, in concentrated control of constitutionality (generating effectiveness “erga
omnes”).
It is important to explain, even briefly, the institute of effectiveness: the
effectiveness of a decision (broad sense) is the phenomenon by which that pacifying
order or understanding (decision), emanated by the State, is transferred (mirrored) in the
factual world, that is, the resolution achieved in the legal world, becomes proficient in
the phenomenal world (we are not talking about the effectiveness of the Law set). See
that for the present work, it is enough to elucidate the effectiveness of the final decisions,
not having the intention of distinguishing the effectiveness as a whole (even from the
appealable sentences or the interlocutory decisions), since it does not lend itself to the
present work. Therefore, analyzing the etymology of the word preclusion (praecludere),
coming from Latin, which means to prevent, close, shut; it is the loss of the parties, and
somehow the Judge, the possibility of practicing some act (or repeat this act)
procedural. Therefore, with the brief explanation above, we clarify the ideas of the
interlocutor so that we can move forward.
Coming back. Could the Federal Supreme Court judge the objective claim in
one way and the subjective in another? Could the Federal Supreme Court suspend
the subjective action, since if the trial of the objective action had the desired
outcome in the subjective action, the effect “erga omnis” would also benefit from
the subjective action? How would it look if the objective action were dismissed, thus
declaring that the infra-constitutional law is constitutional, but having taken into
consideration certain articles of the Federal Constitution, and in the subjective action
the articles whose declaration of unconstitutionality of the infra-constitutional law
has been searched for is others; could the Federal Supreme Court have judged the
subjective action differently? Should the Federal Supreme Court have taken into
consideration the articles mentioned in the subjective action before judging it?
In the study made in the present work, not all these answers were found, but
below our opinion will be given observing the legal hermeneutics according to the
systematic logical process and the sociological logical process.
It seems to us that since the preclusive effectiveness of the res judicata in
subjective actions covers only the parties included in that proceeding, it would be
imperative that the Federal Supreme Court suspend this proceeding until the final
decision of the objective claim that discussed the same matter.
24
BORBA, Rodrigo Esperança, Coisa Julgada versus Inconstitucionalidade – Controvérsias e Perspectivas, 1,
ed, Curitiba, Juruá, 2011, p, 69.
Not only would this be possible, but also the fact that the Federal Supreme
Court, for procedural economics and legal certainty, could broaden the cause of
action of the objective claim, observing the articles of the Brazilian Constitution
brought up by the subjective pleading. It seems this would also avoid discrepancies
in judgments and would respect legal certainty.
With the explanation of the previous paragraph, the issue would be resolved
with simplicity and harmoniously in accordance with the legal precepts of the
Brazilian legal system. If the causes were not contemporary, even so the problem
would have easy solution as we will see in the following topic.
4 OBJECTIVE DEMANDS
Initially, it is worth making a comparison of our legal system in relation to
Peru, which, unlike ours, has an autonomous constitutional process (and a unique
Constitutional Procedural Code) and which, basically, uses only two types of action
(one for the consolidation of fundamental rights and the other for the constitutional
processes that ensure the supremacy of the Constitution), but which independently,
somewhat resembles the national legal system in other aspects. The Peruvian
Constitutional process not only regulates the fundamental rights of its citizens, but
also grants them the possibility of promoting actions of unconstitutionality of a law
that violates constitutional rights25.
Having drawn this parallel, it is worth going into how our legislator has dealt
with the issue now being dealt with in our country, if we do not see it:
25
CÓRDOVA, Luis Castillo, Op. cit., p, 27/28. “Definido así el proceso en general, conviene volver las
llamadas por la Constitución como “garantías constitucionales”, para advertir de la necesidad de hacer una
distinción que por elemental no es ociosa. En estricto, “no es exactamente lo mismo hablar de garantías
constitucionales, también es cierto que todas las garantías constitucionales tienen por finalidad proteger
exclusivamente derechos constitucionales. Las garantías constitucionales existen a fin de proteger y afianzar
el cumplimiento efectivo de la Constitución en general, de todos y cada uno de sus preceptos. La garantía de
derechos constitucionales sólo tendrá por finalidad garantizar la efectiva vigencia de una parte de ella,
precisamente de esa parte en la que se reconocen derechos”. En palabras del Tribunal Constitucional,
“existen básicamente dos tipos de procesos constitucionales. En primero lugar, están los procesos
destinados as afianzamiento de los derechos fundamentales; y, en segundo lugar, los procesos
constitucionales que aseguran la macía de la Constitución”. Es así que todas las garantías recogidas a lo
largo del artículo 200 CP son garantías constitucionales, pero sólo tres de ellas –el hábeas corpus, el amparo
y el hábeas data- tienen desde su formulación constitucional y como se hará notar oportunamente en este
trabajo- la finalidad de proteger directamente derechos constitucionales. Esto no quiere significar –ha-brá
que dejarlo claramente expresado desde ahora- que con las demás garantías constitucionales no se pueda
eventualmente conseguir – aún indirectamente- la defensa de algún derecho constitucional. Por ejemplo,
mediante una acción de inconstitucionalidad se pude lograr la derogación de una ley que su sola vigencia
vulnera derechos constitucionales; o mediante la acción popular se puede dejar sin efecto una norma
reglamentaria que servía de base a la autoridad administrativa para vulnerar derechos constitucionales. Lo
único que se quiere decir es que el hábeas corpus, el amparo y el hábeas data tienen por finalidad proteger
directamente derechos constitucionales; las demás garantías constitucionales sólo indirectamente y en
determinadas circunstancias, podrán lograr este cometido.”.
With the comparison made in the previous topic on objective demands26 and
subjective demands, we now have to deal with the objective demands regarding the
concentrated and binding control (the Federal Supreme Court is the only body that
has constitutional jurisdiction to do so) of constitutionality and, with respect to the
possibility or not of entering into a new claim requesting the declaration of
unconstitutionality of a certain infra-constitutional Law, which had its
constitutionality declared by the Brazilian Federal Supreme Court, in an action
whose cause of action was expanded, taking into account other articles of the
Brazilian Federal Constitution, not brought before the first claim.
Germany had a similar problem and the conclusion reached was that the
decision not declaring the unconstitutionality of the infra-constitutional law is not
binding and, thus, future claims could be filed in order to have that particular infra-
constitutional law declared unconstitutional27.
What was not analyzed in the German case was the possibility of
rediscussing an infra-constitutional law not declared unconstitutional in cases in
which the Supreme Court has in the first case extended the cause of action.
However, it seems to us that the logic that permeates the question can solve
the imbroglio in the same singular way. In other words, even if the Federal Supreme
Court did not declare the unconstitutionality of an infra-constitutional law in a
lawsuit whose cause of action was expanded, such decision would not have a
binding nature and, of this magnitude, a future and new lawsuit could be filed in
order to see the infra-constitutional law declared unconstitutional.
In any case, although the German judge did not mention the cause of action,
the aforementioned decision resolved the issue even more broadly: if the new
petition were to use the same constitutional article in order to declare that infra-
constitutional law unconstitutional, this would not be possible, given that one cannot
use “countless means for this purpose”28.
26
MARTINS, Ives Gandra da Silva, e MENDES, Gilmar Ferreira, coordenadores, Op. cit, p, 94. “The
declaratory action of constitutionality is a typical objective process, aimed at avoiding legal uncertainty or
the state of uncertainty about the legitimacy of the law or federal normative act. The eventual applicants act
in the interest of preserving legal security and not in the defense of a self-interest. Here, as in the direct
action for unconstitutionality, there is a procedure without parties, in which there is a plaintiff, but there is
no request. As in a direct action for unconstitutionality, the plaintiffs are entitled to a constitutional action
only for the purpose of bringing or not bringing an action against the Supreme Court.”.
27
MARTINS, Ives Gandra da Silva, e MENDES, Gilmar Ferreira, coordenadores, Op. cit, p, 94. ““The
protection for confirmatory decisions of the Constitutional Court, which transcends the res judicata itself,
would not be supported by art. 94, II of the Fundamental Law. Such protection, which would ultimately
prevent people not affected by the res judicata from claiming that the decision would be wrong and that, in
fact, the confirmed law would be unconstitutional, would require the conversion of the force of law
(Gesetzeskraft) into the force of constitution (Verfassungskraft). (...) Paragraph 31, I, of the Organic Law of
the Constitutional Court provides that the force of law also reaches decisions confirming constitutionality;
this extension only applies, however, to the duty of publication, because the law cannot confer effect that the
Constitution does not provide (...).”“.
28
MARTINS, Ives Gandra da Silva, e MENDES, Gilmar Ferreira, coordenadores. Op. cit, p, 95. ““This idea
(which reduces the force of law, in cases of declaration of constitutionality, to the mere duty of publication)
CONCLUSION
In view of the greater speed and lower spending of taxpayer’s money, we
believe it is imperative to expand the cause of action in actions aimed at declaring
the unconstitutionality of an infra-constitutional Law.
In addition to the aspects mentioned in the previous paragraph, the
jurisdiction cannot suffer from legal insecurity, judging by the fact that a Law may
be declared as constitutional in an action that has as its cause of action a
constitutional article and, subsequently, the same Law may be the target of another
action with the same purpose, but with right of action different and, of this amount,
may be judged unconstitutional.
In this tuning fork, it is not plausible that at the same time the jurisdictions
are harmed by having had personal actions judged in accordance with that Law that
was supposedly constitutional, but was later considered unconstitutional, since the
Federal Supreme Court could have expanded the cause of action and did not do so.
If this occurs, the judiciary will again be triggered by many termination actions, in
order to see new decisions put in place of one that was motivated by an
unconstitutional law.
For this and other reasons widely linked in the present work, it is that we
understand primordial the expansion of the cause of action made by the Superior
Court of Justice in objective actions.
The social benefits of broadening the cause of action outweigh the arguments
of the opposing party, but what cannot be disregarded is that if an action that has had
only appears mandatory if the force of law is considered under § 31, II, of the Organic Law of the
Constitutional Court as an institute of material character. Indeed, a decision of the Constitutional Court
cannot transform an unconstitutional law into a law in conformity with the Constitution. However, if one
considers the force of law as a specific institute of res judicata for the control of norms, then the erga omnes
link does not mean a validation (Heilung) of eventual unconstitutionality of the law confirmed, but only that
this question can no longer be raised in the constitutional process. The idea of the Rule of Law (more
precisely, the constitutional binding of legislative activity, art. 20) requires the possibility of control of rules,
but does not impose the opening of countless avenues for this purpose.”“.
29
MARTINS, Ives Gandra da Silva; e MENDES, Gilmar Ferreira, coordenadores. Op. cit., p. 94/98.
the cause of action enlarged30, but only certain constitutional articles have been
analyzed exhaustively and others have not and, subsequently, under another cause of
action another claim to be filed seeking a declaration of unconstitutionality of that
Law declared to be constitutional, the cloak of the res judicata would not operate and
another decision, if the case, could be placed in place of the previous one. We cede
the understanding in cases in which there was no expansion of the cause of action,
that another demand could be proposed, with cause of action different from that of
the first proceeding, without the need to speak of res judicata or, eventually, of its
relativization.
Drawing a parallel between objective and subjective claims it is imperative to
highlight that the subjective claims although they may be judged by the Superior
Court of Justice, the effect generated by this decision is not extra-procedural, only
making a res judicata between the parties in that process.
On the other hand, objective claims may have “erga omnes” effects generated
by their decision, that is, the declaration of unconstitutionality of an infra-
constitutional law issued by an objective claim binding the entire national territory,
and all judges of the entire country will be obliged to disregard that infra-
constitutional law when judging the claims assigned to them.
Finally, it is worth noting that if there is an amendment to the infra-
constitutional law declared constitutional or an amendment to the Constitution itself,
another lawsuit may be filed seeking the unconstitutionality of that certain law, even
if it had the same cause of action; this may occur, in the same way, if there is a
factual or social change in that determinate society31.
30
STF, ADI 1358 MC/DF, Rel. Min. Sydney Sanches, j, 18.02.1999, DJ 28.05.1999, Nesse mesmo sentido,
STF, ADI 1756 MC/MA, Rel. Min, Moreira Alves, j. 23.04.1998, DJ 06.11.1998, e STF, ADI 1358
MC/DF, Rel. Min. Sydney Sanches, j. 07.12.1995, DJ 26.04.1996: “It is the jurisprudence of the Plenary,
the understanding that, in the Direct Unconstitutionality Action, its judgment does not depend on the ‘causa
petendi’ formulated in the initial, i.e., the legal grounds deducted therein, since, in this objective process,
there is an argument of unconstitutionality, the Court must consider it in all aspects in light of the
Constitution and not only in light of those focused on by the author.”.
31
MENDES, Gilmar Ferreira, COELHO, Inocêncio Mártires, e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, Curso de
Direito Constitucional, 5, ed, São Paulo, Saraiva, 2010, p, 1182/1183. “Thus, the legal rule that could not be
ruled unconstitutional at the time of its issuance becomes susceptible to judicial censorship due to a
profound change in factual relations, configuring the process of incostitutionalization (der Prozess des
Verfassungswidrigwerdens). Legal dogma is limited to distinguishing between constitutional
and unconstitutional acts. The declaration of unconstitutionality supposes the simple
declaration or the simple recognition of a pre-existing situation. The unconstitutionality process
(Verfassungswidrigwerdens) is not a dogmatic alternative, except when it results from a change in
factual relations. An eventual change in the jurisprudential understanding, with the consequent
affirmation of the unconstitutionality of a situation, until then considered constitutional, does not
authorize the characterization of the supervening unconstitutionality. It strives to circumvent the
inevitable embarrassment arising from this model, affirming that the change in the jurisprudential
understanding led only to the recognition of the unconstitutionality, previously configured. Perhaps one
of the richest themes of the theory of law and modern constitutional theory is that related to the evolution
of jurisprudence and, especially, the possible constitutional mutation, resulting from a new interpretation
of the Constitution. If its repercussion on the material level is undeniable, there are countless challenges on
the level of the process in general and, above all, of the constitutional process.”.
REFERENCES
BORBA, Rodrigo Esperança, Coisa Julgada versus Inconstitucionalidade – Controvérsias e
Perspectivas, 1, ed, Curitiba, Juruá, 2011.
BRASIL, Código de Processo Civil. Lei 13.105, de 16 de março de 2015, Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art1046>.
BRASIL, Código de Processo Civil, Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973, Institui o Código de Processo
Civil, Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htm>.
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao /constituicao.htm>.
CARVALHO, Milton Paulo de, Do Pedido no Processo Civil, 1 ed, Porto Alegre, FIEO, 1992.
CÓRDOVA, Luis Castillo, Comentarios al Código Procesal Constitucional, Tomo I, 2 ed, Lima,
Palestra, 2006.
DANTAS, Pulo Roberto de Figueiredo, Direito Processual Constitucional. 3, ed, São Paulo, Atlas, 2012.
DELLORE, Luiz, Estudos sobre a Coisa Julgada e Controle de Constitucionalidade, 1, ed, Rio de
Janeiro, Forense, 2013.
DINAMARCO, Cândido Rangel, Instituições de Direito Processual civil, I v, 6ª ed, São Paulo,
Malheiros, 2009.
JUNIOR, Nelson Nery, e NERY, Rosa Maria de Andrade, Constituição Federal Comentada e Legislação
Constitucional, 4ª ed, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2013.
LIEBMAN, Enrico Tullio, Manual de Direito Processual Civil, v. 3, Tocantins, Intelectos, 2003.
MARTINS, Ives Gandra da Silva, e MENDES, Gilmar Ferreira, coordenadores. Ação Declaratória de
Constitucionalidade, 1, ed, São Paulo, Saraiva, 1994.
MEDINA, Paulo Roberto de Gouvêa, Direito Processual Constitucional. 1, ed, Rio de Janeiro, Forense,
2003.
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires, e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, Curso de
Direito Constitucional, 5, ed, São Paulo, Saraiva, 2010.
MIRANDA, Francisco Cavalcante Pontes de, Comentários ao Código de Processo Civil, Tomo IV, Rio
de Janeiro, Forense, 1974.
PALU, Oswaldo Luiz, Controle de Constitucionalidade, 2 ed, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2001.
PASSOS, Joaquim Calmon de, Comentários ao Código de Processo Civil, v, III, 8 ed, Rio de Janeiro,
Forense, 1998.
SICA, Heitor Vitor Mendonça, Preclusão Processual Civil, 2ª ed, São Paulo, Atlas, 2008.
STF, ADI 1358 MC/DF, Rel. Min. Sydney Sanches, j. 18.02.1999, DJ 28.05.1999, Nesse mesmo sentido,
STF, ADI 1756 MC/MA, Rel. Min. Moreira Alves, j. 23.04.1998, DJ 06.11.1998; e STF, ADI 1358
MC/DF, Rel. Min. Sydney Sanches, j. 07.12.1995, DJ 26.04.1996.
Resumo: O presente artigo traz uma reflexão sobre o real papel dos direitos humanos na
atualidade. O objetivo do artigo é analisar a temática, dando maior enfoque a visão articu-
lada dos compromissos, exigências e dependências sociais para justificar seu alcance uni-
versalizado. O problema da pesquisa é: atuando com base em sua dimensão ética, construir
direitos humanos com alcance universal é uma realidade tangível ou uma utopia inalcançá-
vel? O método de abordagem adotado é o dedutivo, e o método de procedimento utilizado
é o monográfico. A hipótese principal responde ao problema de pesquisa de modo afirma-
tivo. A conclusão é de que a noção ética que norteia o conceito sobre direitos humanos, se
utilizada em paralelo a uma ideia de dignidade humana dúplice (dimensão básica e cultu-
ral), permitem que se estenda substantivamente a efetividade de ações práticas, incluindo
reconhecimento universal, somados a uma legislação vigente e eventuais intervenções para
garantir sua implementação.
Palavras-chave: Direitos Humanos. Ideia. Utopia.
Abstract: This article deals with the real role of human rights today. The objective of the
article is to analyze the theme, giving greater focus to the articulated vision of social
commitments, requirements and dependencies. The research problem is: acting based on
the ethical dimension, is building human rights with universal scope a tangible reality or an
unreachable utopia? The method of approach adopted is the deductive, and the method of
procedure used is the monographic. The main hypothesis answers the research problem in
the affirmative. The conclusion is that the ethical notion that drives the human rights
concept, whether used along with a notion of human dignity subdivided into two branches
1
Juiz de Direito no Tribunal de Justiça de São Paulo. Mestre em Direitos Fundamentais pela Universidade do
Oeste de Santa Catarina – UNOESC. Professor de Humanística e Direito Constitucional em cursos
preparatórios. Professor-visitante da Universidade de Wisconsin (EUA). E-mail: jeanvilbert@gmail.com
2
Advogado. Pós-Doutor em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS-RS.
Doutor em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS-RS. Professor do
Programa de Pós-graduação – Mestrado e Doutorado em Direito da UNOESC – Universidade do Oeste de
Santa Catarina. E-mail: vinicius.mozetic@unoesc.edu.br
(basic and cultural dimensions), makes feasible to enlarge the effectiveness of practical
actions and to recognize the human rights as a universal category.
Keywords: Human rights. Idea. Utopia.
Sumário: Introdução; 1. Os direitos humanos e sua complexidade conceitual; 1.1
definições sobre os direitos humanos; 1.2 Universalismo e relativismo; 2. Argumentos
éticos que fundamentam os direitos humanos; 2.1 A fundamentação da dignidade
humana; 2.2 Os níveis de compreensão da dignidade humana; 3. da universalidade dos
direitos humanos; 3.1 Uma utopia inalcançável; 3.2 Uma realidade tangível; Conclusão.
INTRODUÇÃO
Apesar do impacto que promoveu (e ainda promove), a ideia dos direitos
humanos continua sendo vista por muitos como intelectualmente anêmica – carente
em bases, e, até mesmo, em termos de coerência e força de convicção. Há, por um
lado, um apelo inflamado, e, por outro, um profundo ceticismo. Um dos motivos
para isso talvez seja que o uso frequente da expressão “direitos para todos os seres
humanos”, que pode ser observada em muitos discursos e pronunciamentos, não tem
sido adequadamente combinada às bases e à congruência dos conceitos subjacentes.
Pensar nos Direitos Humanos como uma categoria universal, ou seja, como
algo que deva ser respeitado e efetivado em todas as culturas, tem se mostrado um
árduo desafio, tanto por conta da diversidade cultural e dos antagonismos existentes
nas diferentes sociedades pelo mundo, quanto: (a) de um lado pela crescente dissemina-
ção de teses que buscam relativizar a observância e respeito desta categoria de direitos;
(b) de outro lado pelo uso ideológico desses direitos, sem real base conceitual (teórica)
ou mesmo intenções práticas de implementar as categorias no todo.
A abordagem aqui proposta inicia com alguns questionamentos que buscam levar
a reflexão sobre o real papel dos direitos humanos na atualidade, entre os quais, desta-
cam-se os seguintes: (1) construir direitos humanos com alcance universal é uma reali-
dade tangível ou uma utopia inalcançável? (2) Será que pode existir um conjunto de
direitos que tenha por destinatários todos os seres humanos, independentemente da or-
dem jurídica ou moral em que estejam inseridos? (3) Há um limite mínimo que deve ser
observado por todas as nações na regulação de suas práticas sociais, de forma a garantir
existência digna a todas as pessoas?
Esta pretensão à universalidade tem encontrado, como já adiantado, resistências,
fundadas nas peculiaridades culturais inerentes a cada nação. Os denominados relativis-
tas culturalistas3 defendem a relativização dos direitos humanos e a sua consequente
adaptação às características de cada cultura. Fundam sua posição no argumento de que
os valores morais são variáveis no tempo e no espaço e pelo fato de que uma sociedade
3
Nesta teoria, observa Philippe Engelhard, a própria comunicabilidade das culturas é posta em causa na
medida em que, numa versão moderada, tais culturas seriam incomensuráveis, quer dizer não comparáveis.
Numa versão extrema, significa que não se pode fazer nenhum julgamento sobre qualquer cultura, sob
pretexto que cada uma está rodeada de uma opacidade que nos impede de compreender o porquê dos seus
atos e, por conseguinte, de julgar. Disponível em: <https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/1
076/1/Adelino%20Torres-Modernidade_Relativismo%20e%20Cincia.pdf > Acesso em: 03 maio 2017.
somente pode ser interpretada e julgada por suas práticas, quando se utiliza as lentes dos
próprios valores que ela elege para nortear a sua existência.
Com vistas a essa interessantíssima temática, o presente artigo tem por objetivo
contribuir para o debate por meio do estudo dos fundamentos teóricos dos direitos hu-
manos, articulando argumentos éticos e jurídicos, bem como por indicações práticas.
Para tanto, elenca as principais controvérsias e discussões existentes sobre o tema e, ao
final, concentra-se no caráter universal da categoria, que há de ser aplicável independen-
temente de realidades interculturais e da soberania dos Estados nacionais, desde que se
construa um conceito de direitos humanos ligados a uma dignidade humana interpre-
tada com efetiva densidade.
4
PÉREZ-LUÑO, Antonio Enrique, Derechos Humanos, Estado de Derecho y Constituicion. 6. ed., Madrid,
Editorial Tecnos, 1999, p. 22.
5
GARCIA BECERRA, José Antonio, Teoría de los derechos humanos, México, Universidad Autónoma de
Sinaloa, 1991, p. 11.
6
HUNT, Lynn, A invenção dos Direitos Humanos: uma história, São Paulo, Companhia das Letras, 2009, p.
20-23.
7
Idem, p. 24.
8
ISHAY, Micheline, The history of human rights: from ancient times to the globalization era, California,
University of California Press, 2004, p. 03.
9
DONELLY, Jack, Universal Human Rights in Theory and Practice, 2. ed. New York, Cornell University,
2003, p. 10.
10
RAWLS, John Bordley, O direito dos povos, Tradução Luís Carlos Borges, São Paulo, Martins Fontes,
2001, p. 105.
11
PÉREZ-LUÑO, Antonio Enrique, Concepto y concepción de los derechos humanos: anotaciones a la
ponencia de Francisco Laporta, Alicante, Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, 2001, p. 47.
12
SEN, Amartya Kumar, Desenvolvimento como Liberdade, São Paulo, Companhia das Letras, 2000, p. 261-
263.
[...] existem três preocupações muito distintas que os críticos tendem a apresentar em
relação ao edifício intelectual dos direitos humanos. Há primeiro, o receio de que os
direitos humanos confundam consequências com sistemas normativos, que conferem
às pessoas, direitos bem definidos; com princípios pré-normativos que podem real-
mente dar a uma pessoa um direito juridicamente exigível. [...] A segunda linha críti-
ca relaciona-se à forma assumida pela ética e pela política dos direitos humanos.
Nessa concepção, direitos são pretensões que requerem deveres correlatos; se a pes-
soa A tem um direito a certo X, deve existir algum agente, digamos B, que tenha o de-
ver de fornecer X a A. Não sendo reconhecido esse dever, os direitos alegados, se-
gundo esse ponto de vista, só podem ser vazios. A terceira linha de ceticismo não as-
sume exatamente uma forma normativa e institucional, mas vê os direitos humanos
como pertencentes ao domínio da ética social. A autoridade moral dos direitos huma-
nos, por essa perspectiva, depende da natureza de éticas aceitáveis.
13
BOBBIO, Idem, p. 17/8.
14
HART, Herbert. L. A. Are There Any Natural Rights? The Philosophical Review, 64, April 1955,
Reimpresso por: WALDROW, Jeremy, Theories of Rights, Oxford, Oxford University Press, 1984, p. 79.
15
H. L. A. Hart was born in 1907, the son of a Jewish tailor of Polish and German descent. He was educated
at Bradford Grammar School and New College Oxford, where he obtained a brilliant first class in Classical
Greats. He practised at the Chancery Bar from 1932 to 1940 along with Richard (later Lord) Wilberforce.
During the war, being unfit for active service, he worked in MI5. During this time, his interests returned to
philosophy and in 1945 he was appointed philosophy tutor at New College. In 1952, given his chancery
background, he was persuaded by J.L. Austin to be a candidate for the Oxford chair of Jurisprudence when
Professor Arthur Goodhart resigned. He was elected and held the chair until 1969. From 1952 on he
delivered the undergraduate lectures that turned into The Concept of Law (1961). He held seminars with
Tony Honre on causation, leading to their joint work Causation in the Law (1959). His visit to Harvard in
1956-7 led to his Holmes lecture on 'Positivism and the Separation of Law and Morals' (1958) and a famous
controversy with Lon Fuller. Returning to the UK he engaged in an equally famous debate with Patrick
(later Lord) Devlin on the limits within which the criminal law should try to enforce morality.Hart published
two books on the subject, Law, Liberty and Morality (1963) and The Morality of the Criminal Law (1965).
A wider interest in criminal law, stimulated by Rupert (later Professor Sir Rupert) Cross was signalled by
his 'Prolegomenon to the Principles of Punishment' (1959). Hart resigned his chair in 1969, to be succeeded
by Ronald Dworkin, a severe critic of his legal philosophy. He now devoted himself mainly to the study of
Bentham, whom, along with Kelsen, he regarded as the most important legal philosopher of modern times.
Disponível em: <http://www.oxfordchabad.org/>. Acesso em: 06 nov. 2019.
16
A teoria de Hart é fundamentada na existência de uma regra de conhecimento. Esta seria a aceitação por
parte da sociedade que determinada regra jurídica existe em função de determinada prática social. Esta seria
uma das condições de validade e seria diferente em cada sistema jurídico, justificando a fundamentação
nela. A teoria Hartiana ainda propõe o conceito de predigree, seria se a norma tem reconhecimento de
validez social de acordo com a regra de conhecimento, porque é desta que todas as outras normas derivam.
Os juízes aceitam a regra de conhecimento de Hart quando aplicam o direito válido, mas como definir isto
não ficou claramente explicado, parece que se baseia apenas na vontade do juiz em acatar ou não a regra de
conhecimento. Para Hart o direito normatizado deve responder a todas as questões juridicamente suscitadas.
Se não puder resolver, o magistrado usa seu poder discricionário e cria o direito aplicável ao caso. Esta
criação, na visão de Hart, seria oriunda de uma fonte externa e alheia ao Direito. Essa liberdade de criação é
muito criticada na teoria de Hart e justamente neste ponto a teoria do Ronald Dworkin surge como forma de
resgate do direito no sentido de trazer de volta seu conteúdo de alcance às normas não positivadas, através
da compreensão que existem princípios e dentre a análise destes é que deve surgir o direito a ser aplicado,
estando a solução interna ao direito. HART, Herbert L. A. Positivism and the Separation of Law and
Morals, Harvard Law Review, v. 71, 1958, p. 593. Disponível em: <http://jusvi.com/artigos/16347>.
Acesso em: 06 nov. 2010.
17
Os direitos e deveres jurídicos são o ponto em que o direito, com os seus recursos coercitivos,
respectivamente protege a liberdade individual e a restringe, ou confere aos indivíduos, ou lhes nega, o
poder de eles próprios, recorrerem ao aparelho coercitivo do direito. Assim, quer as leis sejam moralmente
boas ou más, justas ou injustas; os direitos e os deveres requerem atenção com pontos focais nas atuações
do direito, que se revestem de importância fundamental para os seres humanos, e isto independentemente
dos méritos morais do direito. HART, Herbert L.A. O Conceito de Direito, 2. ed. Lisboa, Fundação
Calouste Gulbenkian, 1996, p. 331-333.
18
A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu art. 5º, § 2º, estabelece que: “Os direitos e
garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. Assim, os
tratados de direitos humanos aprovados em 2 turnos, por 3/5 dos membros da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, terão status de norma constitucional, passando a integrar o bloco de constitucionalidade.
Porém, os tratados de direitos humanos não aprovados com o quórum qualificado (a exemplo do Pacto San
José da Costa Rica), terão caráter supralegal – estão acima das leis (paralisam toda a legislação
infraconstitucional contrária). Segundo decidiu o Supremo Tribunal Federal (RE 466.343 e Súmula
Vinculante n. 25). O Min. Celso de Mello, isoladamente, vem decidindo que os tratados internacionais de
direitos humanos ingressam sempre como norma constitucional, independentemente do quórum de
aprovação.
A abordagem dos direitos deve ser acompanhada primeiramente por uma perspectiva
relacionada à lei? Trabalhando tanto por uma legislação já estabelecida, ou exigin-
do-se uma nova legislação (...) ou por último, pensando em termos de uma legislação
ideal? Eu discutiria contra a adequação de uma abordagem de direitos baseados de
um jeito ou de outro, ao redor de uma legislação atual, proposta ou imaginada. Nós
podemos fazer mais do que restringir nossos princípios orientadores para ideias posi-
tivas, ou pré-positivas ou ideal-positivas20.
conhece hoje em dia qualquer Estado, seja qual for a ideologia que o norteie, que
não afirme, pomposamente, em seu estatuto político, o respeito por esses direitos23.
Para Francisco Laporta24 é justamente esta característica que coloca os direi-
tos humanos fora do âmbito do sistema jurídico positivo, pois não se está tratando de
um conjunto de direitos que uns possuem e outros não, de acordo com o cumprimen-
to dos requisitos do ordenamento jurídico ao qual estão vinculados. Ao se falar em
direitos humanos, portanto, está-se a se falar em formulações éticas, não jurídicas.
Direitos humanos são melhores vistos como articulações de um compromisso nas éticas
sociais, comparável a – mas muito diferente de – aceitar um raciocínio utilitarista. Como
outros princípios, direitos humanos podem, com certeza, ser contestados, mas a exigência
é que eles sobrevivam abertos ao público. Seja qual for a universalidade que estas exigên-
cias têm [...] são dependentes da oportunidade de discussões livres.
Mas de que forma seria possível desenvolver argumentos éticos para conceituar
os direitos humanos, diante da diversidade cultural e moral existente na sociedade con-
temporânea?
Este aparente entrave é dissipado quando se estabelece uma clara distinção
entre os sentidos das palavras ética e moral, compreendendo-se a conotação que o
fundamento ético representa nesta construção conceitual. A ética, como uma área da
filosofia, é a ciência da conduta humana26 que tem por objeto de estudo as ações
humanas. A moral, por sua vez, é o objeto de estudo da ética, pois se caracteriza
como o conjunto de normas de conduta ou de costumes que são adotadas por certo
grupo social27. Nesse contexto, cabe à ética discutir as diversas morais, buscando
estabelecer uma forma mais ampla do comportamento humano, extraindo dos fatos
morais e fundamentos comuns a eles aplicáveis28.
Como exemplo desta heterogeneidade podemos citar a moral cristã, a moral
judaica, a moral islâmica, entre outras, que estabelecem, de diferentes formas, valo-
res utilizados como diretrizes de conduta para as sociedades que as adotam. Dentro
23
SEN, Amartya Kumar, Venice Academy of Human Rights, Veneza, 15 jul. 2010.
24
LAPORTA, Francisco J. Sobre el concepto de derechos humanos, Alicante, Biblioteca Virtual Miguel de
Cervantes, 2005, p. 32.
25
SEN, Amartya Kumar, Desenvolvimento como Liberdade, São Paulo, Companhia das Letras, 2000.
26
ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, Tradução Edson Bini, 2. ed, São Paulo, Edipro, 2007, p. 34.
27
NALINI, José Renato, Ética geral e profissional, 2, ed, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1999, p. 73.
28
GUISÁN, Esperanza, Introdución a la ética, Madri, Cátedra, 1995, p. 34.
desta diversidade axiológica, compete à ética desenvolver uma análise das diversas
morais, encontrando pontos de interligação e de contato entre elas, constituindo e
elaborando suas críticas.
Por todos estes elementos, é que o uso da fundamentação ética se mostra tão
apropriada para a elaboração de uma definição de direitos humanos29, pois, sua
capacidade de diálogo com as diversas morais facilita a aproximação intercultural e
o estabelecimento de valores universais que formam o núcleo conceitual desta cate-
goria de direitos, afastando-se, com o seu uso, o risco de sua inaplicabilidade em
certos contextos culturais.
29
BIDART CAMPOS, Germán J. Teoria General de los Derechos Humanos, México, UNAM, 1993, p. 82.
30
BAEZ, Narciso Leandro Xavier; BARRETTO, Vicente, Direitos Humanos e Globalização, in _______,
(Orgs). Direitos Humanos em Evolução, Joaçaba, Unoesc, 2007, p. 18.
31
Opta-se pelo uso da expressão dignidade humana, por representar abstratamente um atributo reconhecido à
humanidade como um todo, evitando-se, com isso, o uso da expressão dignidade da pessoa humana, por
estar associado ao atributo de uma pessoa, individualmente considerada. Utiliza-se, por conseguinte, a
mesma distinção feita por Ingo Sarlet, (SARLET, Ingo, Dignidade da Pessoa Humana e Direitos
Fundamentais na Constituição Federal de 1988, Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2001, p. 38.).
32
FERNANDEZ, Eusébio, Teoria de la Justicia y Derechos Humanos, Madrid, Debate, 1991, p. 78.
33
KANT, Immanuel, Declaración Universal de Los Derechos Humanos, Versión Comentada, México, DF,
Aministia Internacional – Seccion México, 1998, p. 23.
34
KANT, Immanuel, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, in Os pensadores – Kant (II), Tradução
Paulo Quintela, São Paulo, Abril Cultural, 1980, p. 134-141.
35
DWORKIN, Ronald, O domínio da vida: aborto, eutanásia e liberdades individuais, Tradução Jerferson
Luiz Camargo, São Paulo, Martins Fontes, 2003, p. 309-310.
36
BAEZ, Narciso Leandro Xavier, Teoria da dupla dimensão dos direitos humanos e sua utilidade prática para
a solução de hard cases envolvendo a violação de direitos fundamentais. Disponível em:
<http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=123b7f02433572a0> . Acesso em: 29 fev. 2020.
37
CROCE, Benedetto, Declarações de Direitos, 2. ed. Brasília, Senado Federal, Centro de Estudos
Estratégicos, Ministério da Ciência e Tecnologia, 2002, p. 17-19.
38
PÉREZ-LUÑO, Antônio Enrique, Derechos humanos em la sociedade democratica, Madrid, Tecnos, 1984,
p. 48.
39
SARLET, Ingo Wolfgang, As dimensões da dignidade da pessoa humana: construindo uma compreensão
jurídico-constitucional necessária e possível, in SARLET, Ingo Wolfgang, (Org.), Dimensões da dignidade,
ensaios de filosofia do direito e direito constitucional, Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2009, p. 32.
40
SILVA, José Afonso da, A dignidade da pessoa humana como valor supremo da democracia, Revista de
Direito Administrativo, v. 212, p. 84-94, abr./jun. 1998.
41
FARIAS, Edilsom Pereira de, Colisão de direitos: a honra, a intimidade, a vida privada e a imagem versus a
liberdade de expressão e informação, Porto Alegre, Sergio Antonio Fabris, 1996, p. 54
42
BONAVIDES, Paulo, Curso de direito constitucional positivo, 9. ed, São Paulo, Malheiros, 1999.
43
BREGA FILHO, Vladimir, Direitos fundamentais na Constituição de 1988: conteúdo jurídico das
expressões, São Paulo, Juarez de Oliveira, 2002, p. 66.
44
DALLARI, Dalmo de Abreu, O que são direitos da pessoa, 10 ed, São Paulo, Brasiliense, 1994, p. 07.
45
BAEZ, Narciso Leandro Xavier, Dimensões de aplicação e efetividade dos direitos humanos, in Anais do
XIX congresso nacional do Conpedi, Florianópolis, 2010, p. 7120-7134.
46
MARTINEZ, Miguel Angel Alegre, La dignidad de la persona como fundamento del ordenamiento
constitucional español, León, Universidad de León, 1996, p. 21.
47
Como líder nacional de um movimento cultural, Benedetto Croce atingiu uma geração de intelectuais
italianos e tornou-se uma figura reconhecida internacionalmente, tanto por suas contribuições no âmbito da
estética, quanto por sua teoria da história, fundamento de sua teoria política. SCHLESENER, Anita Helena,
O Pensamento político de croce: o modelo liberal. Sociedade e Estado, Brasília, v. 22, n. 1, p. 71-96,
jan./abr 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/se/v22n1/v22n1a04.pdf> Acesso em: 29 fev. 2020.
48
“Gente é tudo igual. Tudo igual. Mesmo tendo cada um a sua diferença. Gente não muda. Muda o
invólucro. O miolo, igual. Gente quer ser feliz, tem medos, esperanças e esperas. Que cada qual vive a seu
modo. Lida com as agonias de um jeito único, só seu. Mas o sofrimento é sofrido igual. A alegria, sente-se
igual” (ROCHA, Carmem Lúcia, Antunes, Direito de todos e para todos, Belo Horizonte, Fórum, 2004, p.
13).
49
SARLET, Ingo Wolfgang, As dimensões da dignidade da pessoa humana: construindo uma compreensão
jurídico-constitucional necessária e possível, in ____. (Org.), Dimensões da dignidade: ensaios de filosofia
do direito e direito constitucional, Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2005, p. 37.
50
HÖFFE, Otfried, A democracia no mundo de hoje, Tradução Tito Lívio Cruz Romão, São Paulo, Martins
Fontes, 2005, p. 77-78.
51
ANDRADE, José Carlos Vieira de, Os direitos fundamentais na constituição portuguesa de 1976, 2. ed.
Coimbra,Almedina, 2001, p. 98-99.
52
ARENDT, Hannah, Origens do Totalitarismo, Tradução Roberto Raposo, Rio de Janeiro, Companhia das
Letras, 2004, p. 332-333.
53
HÖFFE, Otfried, Derecho Intercultural, Tradução de Rafael Sevilla, Barcelona, Gedisa, 2000, p. 174.
54
A doutrina do Direito Natural nasceu na Grécia Antiga. Entre os primeiros a defenderem esta concepção
estão o filósofo Heráclito de Éfeso (535-470 a. C.) e o escritor Sófocles (494-406 a. C.). Este último, em sua
famosa tragédia Antígona, formulou pela primeira vez a questão central que envolve a doutrina do Direito
Natural: existe um direito superior à legislação positiva estabelecida pela vontade do soberano. BEDIN,
Gilmar Antonio, A Doutrina Jusnaturalista ou do Direito Natural: Uma Introdução, Disponível em:
<https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate> Acesso em: 28 fev. 2020, p. 245
55
Esse historicismo anti-iluminista, típico do início do século XIX, adquiriu especial evidência com o
desenvolvimento da escola histórica de Gustav Hugo, que redirecionou os esforços dos juristas germânicos
para o estudo dos textos romanos e dos direitos consuetudinários. Porém, o principal representante dessas
correntes foi Wilhelm von Savigny, que desde sua grande obra da juventude (a Metodologia Jurídica, de
1802), tentou equacionar o respeito ao direito positivo com as necessidades históricas e sistemáticas. Sobre
a escola histórica, vide Hespanha, Panorama histórico da cultura jurídica europeia, pp. 179 e ss. in COSTA,
Alexandre Araújo, Do historicismo ao conceitualismo, Savigny. Disponível em: <http://www.arcos.org.br/li
vros/hermeneutica-juridica/capitulo-iii-o-positivismo-normativista/2-do-historicismo-ao-conceitualismo-
savigny#_ftn1> Acesso em: 28 fev. 2020.
56
BASTIAT, Fréderic, A lei, [Tradução de Ronaldo Da Silva Legey], 3. ed, Rio de Janeiro, Instituto Liberal,
2010, p. 11.
57
PALLIERI, Giorgio Balladore, A doutrina do Estado, v. 1 [tradução Fernando de Miranda] Coimbra,
Coimbra, 1969, p. 61-62.
Ocorre que, como anotado, não são poucos os pensadores que criticam a vi-
são de direitos naturais do homem. Ilustrativamente, Bobbio58 brada que a tarefa
mais urgente destes tempos é a efetivação dos direitos, não sua conceituação. Ainda
assim, afirma que a ideia de que tais direitos caberiam ao homem enquanto homem é
meramente tautológica, podendo levar ao desacerto de se pensar existirem direitos
essenciais e eternos. Historicista que é, entende que os direitos humanos não são
produto da natureza, mas da civilização humana: são direitos históricos e mutáveis,
amplamente suscetíveis de transformação, ampliação e eventual redução.
Mais recentemente, Sarlet59, embora reconheça a existência de direitos on-
tologicamente colimados ao homem, liga a proteção dos direitos fundamentais ao
surgimento do moderno Estado constitucional, assentando que ambas as incidên-
cias são fruto de lutas sociais contra os arbítrios estatais. Afirma que “os direitos
fundamentais são, acima de tudo, fruto de reivindicações concretas, geradas por
situações de injustiça e/ou de agressão a bens fundamentais e elementares do ser
humano”60.
Esposando posição intermediária, Canotilho61 defende que os direitos hu-
manos são aqueles válidos para todos os povos, em todos os tempos (dimensão
jusnaturalista-universalista); já os direitos fundamentais são aqueles limitados no
tempo e no espaço (dimensão jurídico-institucionalista). Os direitos humanos ligar-
se-iam à própria natureza humana – daí o seu caráter inviolável, intemporal e uni-
versal; os direitos fundamentais, em outro viés, estariam objetivamente vigentes em
uma ordem jurídica concreta.
Ao que se percebe neste ponto do debate, mesmo que adotada uma posição
historicista, a noção de que um certo grau (maior ou menor) de universalidade aos
direitos humanos é quase uma premissa no pensamento jurídico contemporâneo:
sejam os direitos humanos (aqueles ligados ao primeiro grau da dignidade humana)
declarados ou constituídos no decorrer dos tempos, há notável uniformidade doutri-
nária na defesa de que são conquistas do homem e que devem ser estendidas (con-
cretização) pelo globo terrestre. Mas isso é factível? Afinal, já se tenta alcançar tal
arquétipo há séculos.
A Declaração dos Direitos do Homem de 178962, por exemplo, é o prenúncio
da emancipação humana: a humanidade, uma invenção da Modernidade, nunca antes
58
BOBBIO, Norberto, A Era dos Direitos, Tradução de Carlos Nelson Coutinho, 10. ed, Rio de Janeiro,
Campus, 2004.
59
SARLET, Ingo Wolfgang, A eficácia dos direitos fundamentais, 10. ed. Porto Alegre, Livraria do
Advogado, 2010, p. 36 e 52.
60
“A história da humanidade parece revelar a existência de conjuntos de direitos fundamentais com diferentes
conteúdos, eficácias e titulares. Tratou-se de um reconhecimento mais ou menos progressivo, marcado, em
cada época pelo contexto histórico subjacente” (CASTILHO, Ricardo, Direitos Humanos, 2. ed, São Paulo,
Saraiva, 2013, p. 175).
61
CANOTILHO, José Joaquim Gomes, Direito constitucional e teoria da constituição, 5. ed. Coimbra,
Almedina, 2002, p. 369.
62
A declaração dos direitos colocou diversos problemas, que são a um tempo políticos e conceptuais. Antes
de tudo, a relação entre a declaração e a Constituição, entre a enunciação de grandes princípios de direito
fora sujeito de direitos. Doravante o homem se torna a fonte de toda lei, não está
mais sujeito a preceitos divinos ou provenientes da tradição; passa a ser dotado de
direitos pela singela condição de ser humano.
Acontece que uma década depois da Revolução Francesa, a ditadura militar
de Napoleão Bonaparte ascenderia ao poder (1799). Pior: o raiar do Século XX
traria consigo a Primeira Guerra Mundial. E quando o mundo ainda se recuperava de
seus efeitos (ou os sentia pelo Tratado de Versalhes), teve vez a Segunda Grande
Guerra, de proporções jamais vistas. O que viria a seguir seria um mundo estarrecido
diante da revelação de sucessivos holocaustos, em sua generalidade realizados sob
os auspícios da uma legislação alemã considerada uma das mais humanitárias do
mundo à época.
É nesse mar de incertezas que se apresenta a questão prática mais relevante:
os direitos humanos têm condições concretas de alcançar uma real universalidade?
3.1 Uma Utopia Inalcançável
Para muitos, a universalidade dos direitos humanos não passa de uma utopia
inalcançável. Alguns autores são emblemáticos em suas críticas a tal pretensão de
universalidade. O pensador anglo-irlandês Edmund Burke, por exemplo, como
membro do Parlamento entre 1765 e 1780, foi um engajado defensor do liberalismo.
Porém, em vez de se entusiasmar com a Revolução Francesa, como tantos liberais da
época, insurgiu-se com veemência contra o episódio63.
Segundo o entendimento de Burke, os revolucionários franceses seguiam
uma política metafísica, como “especuladores” ‒ a especulação é a crença de que a
política, a arte do possível, deve ser guiada pela teoria, por receitas filosóficas, por
algum plano concebido pela razão. “Mas essa é a maior tolice”: nenhum aspecto da
política pode ser concebido em abstrato. O ponto de vista do absoluto, do universal,
do imutável (campo da teoria) cega o político diante das realidades do particular e
natural, evidentes à razão, e à concreta organização do poder por meio do direito positivo, que impõe aos
órgãos do Estado ordens e proibições precisas: na verdade, ou estes direitos ficam como meros princípios
abstratos (mas os direitos podem ser tutelados só no âmbito do ordenamento estatal para se tornarem
direitos juridicamente exigíveis), ou são princípios ideológicos que servem para subverter o ordenamento
constitucional. Sobre este tema chocaram nos fins do século XVIII, de um lado, o racionalismo
jusnaturalista e, de outro, o utilitarismo e o historicismo, ambos hostis à temática dos direitos do homem.
Era possível o conflito entre os abstratos direitos e os concretos direitos do cidadão e, portanto, um contraste
sobre o valor das duas cartas. Assim, embora inicialmente, tanto na América quanto na França, a declaração
estivesse contida em documento separado, a Constituição Federal dos Estados Unidos alterou esta
tendência, na medida em que hoje os direitos dos cidadãos estão enumerados no texto constitucional.
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=100515> Acesso em:
28 fev. 2020.
63
KRITSCH, Raquel. Política, religião, revolução e soberania em Reflexões sobre a revolução em França do
conservador E. Burke. in Revista espaço acadêmico, Londrina, n. 123, p. 68-82, ago. 2011, p. 70.
64
DOUZINAS, Costas, O fim dos direitos humanos [tradução de Luzia Araújo], São Leopoldo, Unisinos,
2009, p. 161.
65
DOUZINAS, Idem, p. 166.
66
BURKE, Edmund, Reflexões sobre a Revolução em França, Brasília, UnB, 1982, p. 107.
67
SEN, Amartya Kumar, Venice Academy of Human Rights, Veneza, 15 jul. 2010, p. 161.
68
ARENDT, Hannah, Origens do totalitarismo, São Paulo, Companhia da Letras, 2007.
69
Idem, p. 325.
afeta substantivamente a condição humana, uma vez que o ser humano privado de seu
estatuto político perde a qualidade de ser tratado pelos outros como um semelhante70.
Em suma, o reconhecimento de direitos humanos pode ensejar, ao menos em
parte, inspirando ou ajudando a promover, mudança institucional – um valor ético
que causa ação prática. Se uma garantia completa de realização fosse realmente
aceita como uma condição para qualquer exigência para ser vista como um direito,
então não apenas a segunda geração de direitos (conectadas com desenvolvimento),
mas também a primeira geração de direitos (conectadas com liberdade e sem interfe-
rência) seria seriamente comprometida.
3.2 Uma Realidade Tangível
A sociedade contemporânea é heterogênea, sem dúvidas. Seja no plano nacional
ou internacional, o Século XXI apresenta sociedades multiculturais71. De que maneira é
possível, então, dar efetividade ao universalismo estabelecido no preâmbulo da Decla-
ração Universal dos Direitos Humanos de 1948: “o reconhecimento da dignidade
inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inaliená-
veis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”? Como compatibi-
lizar a universalidade dos direitos humanos com o característico pluralismo cultural
dos novos tempos?
A resposta está, justamente, em reconhecer o pluralismo como traço ca-
racterístico das democracias que almejamos. É comum que diferenças culturais
tragam a lume entendimentos conflitantes na órbita pública, os quais por vezes
são irreconciliáveis. Esse contexto é resultado inevitável do exercício das facul-
dades da razão humana em um ambiente de instituições livres. Em um cenário
em que as pessoas têm liberdade para adotar, e de fato adotam, diferentes con-
cepções, a menos que se recorra à violência, não há como fazer imperar uma só
visão de mundo, uma espécie de expressão única da verdade, em exclusão a
todas as demais. Ainda assim, é possível um consenso sobre elementos basilares
no trato do homem enquanto tal. É aí que se inserem os direitos humanos na
dimensão básica da dignidade humana.
Em sua primeira dimensão, a dignidade humana gera uma espécie de consen-
so sobreposto (para usar aqui uma expressão adotada por autores como John Rawls),
em que os direitos humanos se tornam, precisamente, o ponto de convergência das
diferenças existentes entre as culturas. Desse modo é possível a existência de socie-
dades livres e iguais, ainda que profundamente divididas por diferenças culturais,
religiosas, filosóficas e morais, que embora incompatíveis, não interferem na digni-
dade básica dos cidadãos.
70
LAFER, Celso, A reconstrução dos direitos humanos, um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt,
São Paulo, Cia das Letras, 1988, p. 151.
71
PUREZA, José Manuel, Direito Internacional e Comunidade de Pessoas, da indiferença aos direitos
humanos, p. 85, In BALDI, César Augusto (Org.), Direitos Humanos na Sociedade Cosmopolita, Rio de
Janeiro, Renovar, 2004.
72
Os objetivos das Nações Unidas são: Manter a paz e a segurança internacionais e para esse fim: tomar
medidas coletivas eficazes para prevenir e afastar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão, ou outra
qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos, e em conformidade com os princípios da justiça e do
direito internacional, a um ajustamento ou solução das controvérsias ou situações internacionais que possam
levar a uma perturbação da paz, Júlio Marinho de Carvalho, Os direitos Humanos no tempo e no Espaço
1998, p.60.
73
ANGELO, Milton, Direitos Humanos: Carta das Nações Unidas, art. 1º, 1998, p. 92.
74
Disponível em: <http://www.savethechildren.org/site/c.8rKLIXMGIpI4E/b.6115947/k.8D6E/Official_ Site.
htm>. Aceso em: 28 out. 2010.
75
Disponível em: <http://www.msf.org/msfinternational/volunteer/>. Acesso em: 28 out. 2010.
76
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves, Direitos humanos fundamentais, 12. ed, São Paulo, Saraiva, 2010,
p. 225.
77
CASTILHO, Idem, p. 102.
CONCLUSÃO
Os direitos humanos espalharam-se pelo mundo (especialmente Ociden-
tal), passando a ser entendidos como base da sociedade contemporânea – esten-
deram a relevância e alcance de sua argumentação para a ética social e política,
tendente a render exigências que possam ser convenientemente chamadas de
direitos humanos.
Primeiro porque é difícil definir o que é um direito humano. Muitos tentam
ligá-los a fatores jurídicos. E nesse aspecto é certo que a precisão presumida dos
direitos positivos é frequentemente contrastada com ambiguidades inescapáveis
nas exigências éticas dos direitos humanos. Este contraste, entretanto, não é por si
só motivo de embaraço para as exigências éticas, incluindo aquelas de obrigações
imperfeitas, uma vez que uma estrutura de razão normativa pode sensivelmente
permitir variações e não podem ser facilmente acomodadas em requerimentos de
especificidades legais. Aristóteles já pontava em “nicomachean ethics”78 que te-
mos de procurar por precisão em cada classe de coisas tanto quanto a natureza do
assunto exige.
Em segundo plano, as desconfianças e críticas que se levantam contra a
aparente hegemonia dos direitos humanos se devem, também em muito, à hete-
rogeneidade da aplicação em âmbito universal, diante de sua inobservância em
diversas nações. Entretanto, eventual ineficácia fática em certo momento histó-
rico (ou local) não deve servir a desacreditar toda a categoria. Na medida em
que direitos humanos são significativamente exigências éticas, o diagnóstico
quanto a se suas exigências têm força institucional ou normativa em um recorte
temporal ou geográfico é um dado irrelevante (para fins existenciais, embora
não seja para fins práticos).
A existência dos direitos humanos independe de sua completa implemen-
tação prática a todo tempo e lugar; ao contrário, seu reconhecimento é que de-
manda a implementação de ações práticas à sua salvaguarda, inclusive por meio
de intervenções internacionais como último recurso (ultima ratio), já que o prin-
cípio da impenetrabilidade não é absoluto e a soberania deve ser vista não só
como prerrogativa internacional, mas também como responsabilidade dos Esta-
dos nacionais.
Pode parecer uma tautologia, mas não é. A análise da dignidade é mais bem
compreendida (e se torna mais objetiva e manejável na prática) quando tomada em
uma dúplice dimensão: (a) dimensão básica, em que se encontram os bens jurídicos
78
Aristóteles escreveu dois tratados éticos: Nicomachean Ethics e a Eudemian Ethics. Ele mesmo não usa
nenhum desses títulos, embora na Política (1295a36) ele se refira a um deles – provavelmente a Eudemian
Ethics – como “ta êthika” – seus escritos sobre caráter. As palavras “Eudemian” e “Nicomachean” foram
adicionadas mais tarde, talvez porque a primeira foi editada por seu amigo, Eudemus, e a última por seu
filho, Nicomachus. Disponível em: <https://plato.stanford.edu/entries/aristotle-ethics/>. Acesso em: 28
mar. 2020.
básicos e essenciais para a existência humana; (b) dimensão cultural, em que estão os
valores que variam no tempo e no espaço.
A dimensão básica é universal, devendo ser observada em qualquer cultura,
pois representa a defesa primordial do respeito à vida, à liberdade e à integridade
física e moral, isto é, dos bens jurídicos básicos e essenciais à existência humana, os
quais são necessários para o exercício da autodeterminação de cada indivíduo, im-
pedindo a sua coisificação. Já a dimensão cultural tutela as formas e condições se-
cundárias com que cada grupo social busca tutelar a dignidade, abrindo espaço para
as peculiaridades culturais e suas práticas.
Diante disso, uma defesa da aplicação universal dos direitos humanos é
plenamente possível quando vinculada à defesa da dignidade humana em sua
dimensão básica, de maneira que os direitos humanos indiquem, na espécie,
direitos que são essencialmente fundamentais, não apenas na nomenclatura, mas
na natureza ‒ protegem o que de mais basilar há no homem, isto é, o primeiro
grau da dignidade humana. Nesse caso, não pode haver confusão destes direitos
com os positivados na ordem jurídica ou mesmo com outros elementos impor-
tantes para o homem, mas que fazem parte da dimensão cultural da dignidade.
Isso não representa restringir o âmbito da dignidade, mas sim densificar a
amplitude dos direitos humanos e proceder à devida categorização dos níveis da
dignidade humana, passando a traçar uma linha mais clara daqueles direitos que
identificam caracteres essenciais ao homem (fundamentais). Nessa conjuntura, a
universalidade dos direitos humanos não é uma faculdade, nem se liga a elemen-
tos culturais, mas é, isso sim, um direito de toda e qualquer pessoa.
Em conclusão, com ajustes, por meio do debate sério e responsável, evitando
estender a dignidade humana, em especial em sua dimensão básica, para fronteiras
que a tornam irreconhecível, a ideia de direitos humanos com alcance universal sai
do âmbito de uma utopia inalcançável e passa a ser uma realidade tangível.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, José Carlos Vieira de, Os direitos fundamentais na constituição portuguesa de 1976, 2. ed.
Coimbra, Almedina, 2001, p. 98-99.
ARENDT, Hannah, Origens do totalitarismo, São Paulo, Companhia da Letras, 2007.
ASSUMPÇÃO, Antonio, O Estado contemporâneo: aspectos formais, Revista de Direito Público, São Paulo, v.
14, p. 155-164, out./dez., 1970.
BAEZ, Narciso Leandro Xavier; BARRETTO, Vicente, (Orgs), Direitos Humanos em Evolução, Joaçaba,
Unoesc, 2007.
_________, Dimensões de aplicação e efetividade dos direitos humanos, in Anais do XIX congresso nacional do
Conpedi, Florianópolis, 2010, p. 7120-7134.
BASTIAT, Fréderic, A lei, [Tradução de Ronaldo da Silva Legey], 3. ed, Rio de Janeiro, Instituto Liberal, 2010.
BIDART CAMPOS, Germán J. Teoria General de los Derechos Humanos, México, UNAM, 1993, p. 82.
BOBBIO, Norberto, A era dos direitos, Tradução de Carlos Nelson Coutinho, Rio de Janeiro, Elsevier, 2004.
BONAVIDES, Paulo, Curso de direito constitucional positivo, 9. ed, São Paulo, Malheiros, 1999.
BREGA FILHO, Vladimir, Direitos fundamentais na Constituição de 1988: conteúdo jurídico das ex-
pressões, São Paulo, Juarez de Oliveira, 2002, p. 66.
1
Francisco Javier Arroyo-Cañada es Doctor en Estudios Empresariales por la Universidad de Barcelona,
donde es profesor del Departamento de Empresa. Cuenta con numerosos trabajos de investigación en el
ámbito del marketing e Internet, que han sido publicados en libros, revistas indexadas, y conferencias
internacionales.
multiple institutions that standardize and self-regulate certain aspects of the network, and
on the other, a regulation of basic aspects, through laws and regulations, from public
administrations. This work highlights the study of Internet regulation from a
multidisciplinary perspective, not only in the field of Law, but also from technological
areas linked to the development of the Internet, which have incorporated legal and
regulatory aspects into their studies.
Keywords: Law, Bibliometric study, Internet Regulation, Information Society, Web of
Science.
Sumario: 1. Introducción. 2. La regulación de internet. 3. Metodología. 4. Resultados. 5.
Conclusiones. Referencias.
1 INTRODUCCIÓN
El fuerte desarrollo de Internet y sus servicios asociados, ha llevado consigo la
aparición de un conglomerado de reglas diversas, que difícilmente pueden estructurarse
como una ley general, pero puede considerar este conjunto normativo como un campo
transversal del derecho (Hoffmann-Riem, 2012). El objeto del presente trabajo no es
profundizar en una revisión del estado de la cuestión del concepto de regulación de
Internet y sus paradigmas, como propone Müller (2018) en su trabajo, sino ver desde una
perspectiva bibliométrica el interés por la investigación científica en este ámbito. De esta
manera, se pretende poner en valor este campo de investigación multidisciplinar, no solo
en el ámbito del Derecho, sino desde áreas tecnológicas y de las ciencias de la
información y la computación, muy vinculadas al desarrollo de Internet, y que creen
necesario la incorporación de aspectos legales y de regulación en sus trabajos.
2 LA REGULACIÓN DE INTERNET
Internet como una red de redes de múltiples capas y compleja, es imposible de
regular completamente (Müller, 2018), por lo que su regulación es meramente un intento
sostenido y enfocado de alterar el comportamiento individual relacionado con Internet,
incluyendo el establecimiento de estándares, la recopilación de información y la
modificación de comportamiento (Black et al, 2012, p. 11). Por otro lado, Biegler et al
(2003, p. 359) sostiene que una combinación creativa de enfoques de regulación en
Internet será más efectiva que cualquier estrategia reguladora única. En esa línea, De
Nardis (2013, p. 55-8) distingue cinco temas clave de la gobernanza de Internet: recursos
críticos de Internet, diseño de IP, derechos de propiedad intelectual, seguridad y gestión
de infraestructura, y derechos de comunicación. Esta categorización ciertamente no es
concluyente, pero podría servir como un punto de partida para la discusión.
Si bien durante mucho tiempo se opta por la gobernanza de internet, entendida
como una autorregulación, que ha dado origen, entre otros, a entidades para la regulación
de los nombres de dominio (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers –
ICANN), o la estandarización de los formatos publicitarios gráficos en Internet (Internet
Advertising Bureau – IAB), parece que el cambio hacia una regulación pública ha
ganado más influencia en los últimos años (Münkler, 2018). Tanto la Ley 34/2002 de 11
de julio de Servicios de la Sociedad de la Información y de Comercio Electrónico
(LSSI), a nivel español, como el Reglamento (UE) 2016/679 del Parlamento Europeo y
3 METODOLOGÍA
Con el objeto de hacer un análisis bibliométrico sobre la regulación de Internet se
ha optado por una revisión de los principales indicadores de clasificación de los trabajos
de investigación en la plataforma Web of Science de Clarivate Analytics (WOS). La
reputación de dicha plataforma, así como su sistema de indexación de revistas a través
del Journal Citation Reports, ha sido adoptado internacionalmente por la comunidad
científica como garantía de calidad de las aportaciones científicas de los autores. Es por
ello que se ha optado por esta base de datos de artículos científicos para el análisis de los
trabajos sobre la regulación de Internet. No obstante, también se ha realizado una
búsqueda en otra de las bases de datos de contribuciones científicas más relevante,
Scopus, con el objeto de tener otro punto de vista adicional en el apartado de
cuantificación de la evolución de las contribuciones científicas.
Los criterios de búsqueda de las principales aportaciones científicas han sido la
selección de palabras-clave enfocadas al tema objeto de estudio. En una primera
aproximación, se utiliza la palabra “Internet” junto con la palabra “Law”. En este
sentido, se obtiene un contexto de estudio que permite entender la magnitud de los
trabajos que incluyen referencias a aspectos legales en los estudios realizados sobre
Internet. Posteriormente, se centra el estudio de palabras-clave en “Internet regulation”,
con el objeto de poner el foco en los estudios específicos sobre la regulación de Internet.
Una vez obtenidos los resultados de las búsquedas efectuadas, se utiliza la
herramienta de análisis propia de la plataforma WOS, para ir obteniendo resultados
segmentados por los diferentes criterios que se han considerado para contextualizar la
importancia de la investigación sobre la regulación de internet. Concretamente los
Revista Internacional Consinter de Direito, n. XI, 2º semestre de 2020 97
Francisco Javier Arroyo-Cañada
criterios de análisis han sido los siguientes: área de investigación de los trabajos, año de
publicación, autores, países de origen de los trabajos, fuentes donde están publicados,
principales encuentros o conferencias, idioma del trabajo, las instituciones de filiación de
los autores y las categorías generales de la WOS en la que se clasifican.
Finalmente, se lleva a cabo un análisis del contenido de los resúmenes de los 123
trabajos relacionados con la regulación de internet obtenidos en la base de datos WOS,
con el objeto de obtener los principales conceptos relacionados. A partir de los textos de
los resúmenes se hace un análisis de frecuencias mediante la herramienta Textalyser. A
continuación, se eliminan palabras de uso común como artículos, pronombres o adjetivos
que no corresponden a conceptos clave de la investigación. Una vez depurada la base de
datos de conceptos clave, se utiliza la plataforma Wordclouds para desarrollar la nube de
palabras con los principales conceptos clave y sus respectivos pesos o frecuencias de
aparición.
4 RESULTADOS
Una vez realizadas las consultas y el análisis de los datos para las bases de datos
WOS y Scopus, en junio de 2019, los datos aportados por el estudio bibliométrico se
muestran a continuación.
Un total trabajos de 11.191 en Scopus y 10.337 WOS hacen referencia a aspectos
legales en relación a estudios sobre Internet, de los cuales tan solo 79 hacen referencia a
trabajos de origen español. El interés de la comunidad científica por el uso de aspectos
legales en sus trabajos ha crecido anualmente en los últimos veinticinco años como
muestra la figura 1, pero especialmente en los últimos cinco años, llegando a cifras por
encima de las novecientas contribuciones anuales en el año 2017.
Figura 1. Evolución del número de publicaciones (1995-2019) de Internet Law
Países Trabajos
USA 2.575
China 1.007
England 644
China 549
Germany 377
UK 343
Australia 290
Italy 278
Canada 254
Spain 231
Fuente Trabajos
Lecture Notes in Computer Science 226
Computer Law Security Review 212
Physical Review E 108
Computer Law and Security Review 99
Physical Review E Statistical Nonlinear and Soft Matter Physics 98
Physica A Statistical Mechanics and Its Applications 81
Plos One 79
Physica A 52
Government Information Quarterly 51
Advances in Social Science Education and Humanities Research 40
Conferencias Trabajos
1st International Conference on Electronic Government EGOV 2002 15
International Conference on Politics and Information Systems Technologies and
Applications (PISTA) 12
3rd International Conference on Electronic Government EGOV 2004 10
Proceedings PISTA 2004 International Conference on Politics and Information
Systems 10
Idioma Trabajos
English 8.145
Korean 1.480
Russian 191
Spanish 168
German 132
Chinese 103
French 83
Portuguese 80
Italian 31
Así como los trabajos sobre aspectos legales incluidos en estudios sobre
Internet, había un claro predominio norteamericano, en el caso de los trabajos
vinculados a la regulación de Internet, son las instituciones europeas las que lideran
el ranking, como es el caso de la University of London, University of Munich, Centre
National de la Recherche Scientifique o la Goethe University Frankfurt (tabla 8).
5 CONCLUSIONES
En primer lugar, se destaca el interés creciente de los investigadores de
Internet por incorporar aspectos legales en sus trabajos, especialmente en los
últimos años donde más de novecientos estudios en 2017 hacen referencia a
aspectos legales. Los investigadores en el ámbito del derecho y las nuevas
tecnologías pueden encontrar buenas oportunidades de publicación en revistas
REFERENCIAS
ALBERT, Réka, and Albert-László Barabási, “Statistical mechanics of complex networks,” Reviews of
modern physics 74.1 (2002): 47.
BIEGLER, Stuart, Beyond our control? confronting the limits of our legal system in the age of
cyberspace, MIT press, 2003.
BLACK, Julia, Martin Lodge, and Mark Thatcher, eds, Regulatory innovation: A comparative analysis,
Edward Elgar Publishing, 2006.
DE NARDIS, Laura, “The Emerging Field of Internet Governance”, in William H, Dutton, ed, The
Oxford handbook of internet studies, Oxford University Press, 2013.
HOFFMANN-RIEM, Wolfgang, “Regelungsstrukturen für öffentliche Kommunikation im Internet,”
Archiv dês öffentlichen Rechts 137,4 (2012): 509-544.
MÜLLER, Michael W. “Mapping Paradigms of European Internet Regulation: The Example of Internet
Content Control,” Frontiers of Law in China 13,3 (2018): 329-341.
MÜNKLER, Laura, “Space as Paradigm of Internet Regulation,” Frontiers of Law in China 13.3 (2018):
412-427.
RAVASZ, Erzsébet, and Albert-László Barabási, “Hierarchical organization in complex networks,”
Physical review E 67,2 (2003): 026112.
Resumen: La importancia de las ciudades y su población crecen cada vez más, así como
la necesidad de aplicar las TIC en la gestión de las mismas para reducir su impacto
ambiental y mejorar los servicios que ofrecen a sus ciudadanos. De ahí surge el concepto
de ciudad inteligente, una transformación de los espacios urbanos que están promoviendo
con fuerza la Unión Europea y España mediante colaboración público-privada y que en
gran parte tiene como base el uso de los datos y su tratamiento mediante técnicas de Big
Data e Inteligencia Artificial basadas en algoritmos. Esta investigación analiza los retos a
los que se enfrentan los proyectos de ciudades inteligentes en los aspectos técnico y
jurídico, centrados estos últimos en el respeto de la Ley de transparencia y de acceso a la
información pública, así como a los mencionados algoritmos, a la normativa sobre datos
abiertos y la reutilización de los datos o la conciliación del tratamiento masivo de los datos
de los ciudadanos con el derecho a la intimidad, no discriminación y protección de datos
personales. El uso de Big data que requiere el desarrollo de proyectos de ciudades
inteligentes exige un particular respecto de la normativa de protección de datos. En este
sentido, la investigación profundiza en los peligros que pueden darse para este derecho
fundamental en el marco de las ciudades inteligentes por el uso de Big Data especialmente.
Palabras-clave: Ciudades inteligentes, transformación digital, regulación, retos
jurídicos, Big data, protección de datos.
Abstract: The importance of cities and their populations grow more and more, as well as
the need to apply ICT in their management to reduce their environmental impact and
improve the services they offer to their citizens. Hence the concept of smart city arises, a
transformation of urban spaces that the European Union and Spain are strongly promoting
through public-private collaboration and which is largely based on the use of data and its
treatment using Big data and Artificial Intelligence techniques based in algorithms. This
research analyzes the challenges that smart city projects face in the technical and legal
aspects, the latter focusing on respect for the Law on transparency and access to public
information and to the algorithms mentioned, the regulations on open data and the reuse of
data or the reconciliation of the massive processing of citizens' data with the right to
privacy, non-discrimination and protection of personal data. The use of Big data needed for
the development of smart city projects requires a particular respect to data protection
1
Profesor Titular de Derecho Administrativo. Universidad de Granada. E-mail: fduranr@ugr.es
regulations. In this sense, the research explores in depth the dangers that can arise for this
fundamental right in the framework of smart cities due to the use of Big Data, especially.
Keywords: Smart cities, digital transformation, regulation, legal challenges, Big data,
data protection
Sumario: 1. Introducción. Concepto de Smart city y mejoras que implica en la gestión
urbana. 2. El impulso de la transformación digital de las ciudades desde la Unión
Europea. Hacia una UE de smart cities. 2.1. Regulación de las ciudades inteligentes por
la Unión Europea. 3. Ciudades inteligentes en España: impulso, proyectos, regulación y
normas técnicas de estandarización. 4. Implicaciones y retos jurídicos de las ciudades
inteligentes. 4.1 Ciudades inteligentes, Big data y derecho a la protección de datos
personales de los habitantes de la ciudad.
2
ONU-Habitat, https://www.un.org/es/climatechange/cities-pollution.shtml (recuperado el 20-6-2020).
3
Comunicación de la Comisión al Parlamento Europeo, al Consejo Europeo, al Consejo, al Comité
Económico y Social Europeo y al Comité de las Regiones sobre “El Pacto Verde Europeo”, COM/2019/640
final, aprobada el 11 de diciembre de 2019.
El Pacto Verde Europeo es la respuesta de la UE al cambio climático y medioambiental, así como a los retos
sociales que conllevan. Es un complicado reto que requiere la movilización y el apoyo de la ciudadanía y de
los gobiernos de todos los países de la UE. Este Pacto impulsa el uso eficiente de los recursos mediante el
paso a una economía limpia y circular e incorpora una hoja de ruta con una serie de acciones que la
UE propone. Además de ser climáticamente neutra de aquí a 2050, la Unión plantea reducir la
contaminación, protegiendo así la vida humana, la fauna y la flora (según los expertos estamos viviendo la
sexta extinción masiva con la perdida acelerada de especies animales, y la primera provocada por los seres
humanos. Desde el año 1500 se han extinguido más de 320 vertebrados terrestres y de las especies que
sobreviven, su población ha disminuido una media de un 25%); ayudar a las empresas a convertirse en
líderes mundiales en productos y tecnologías limpios, ya que en la industria europea se utiliza a día de hoy
solo un 12% de materiales reciclados; y contribuir a garantizar una transición justa e integradora. Algunos
de los beneficios del Pacto Verde para la ciudadanía en cuanto a bienestar y mejora de la salud serían:
menos residuos, al producirse envases reutilizables o reciclables mediante el Plan de Acción de Economía
Circular [Comunicación de la Comisión de la Comisión Europea “Cerrar el círculo: un plan de acción de la
UE para la economía circular, COM (2015) 614 final, aprobado el 2-12-2015]; alimentos más saludables y
respetuosos con el medio ambiente gracias a la reducción de plaguicidas y fertilizantes; fomentar los
vehículos no contaminantes, proporcionando más puntos de recarga para coches eléctricos;
mejores alternativas de transporte público, ya que el transporte representa un 25% de las emisiones;
renovación de viviendas, escuelas y hospitales; reducción de las facturas energéticas de los edificios, que
actualmente suponen el 40% del consumo total; mejor calidad del aire, agua y suelo a través de la
descarbonización del sector de la energía, que representa más del 75% de las emisiones de gases de efecto
Y en eso tendrá mucho que ver el éxito de los proyectos de ciudades inteligentes o
smart cities que exponemos en este artículo.
Debido a la creciente tendencia, mencionada anteriormente, de concentración de
la población en las ciudades, se hace imprescindible contar con mecanismos y
tecnologías que garanticen la sostenibilidad de los desarrollos urbanos, el respeto por el
medio ambiente, la utilización racional de los recursos disponibles y el adecuado
tratamiento de los residuos generados. Es esencial, por tanto, una apuesta decidida y
global por las ciudades inteligentes, para mejorar la prestación de servicios públicos y
hacer frente a los retos que, a medio plazo, deben afrontarse a nivel mundial en la gestión
de los espacios urbanos.
Como aproximación al concepto, podemos decir que una ciudad inteligente es un
lugar en el que las redes y servicios tradicionales se vuelven más eficientes gracias al uso
de las tecnologías de la información y la comunicación (TIC) en beneficio de los
habitantes de la ciudad, de las empresas y del medio ambiente.
La ciudad inteligente supone ir más allá y superar el uso de las TIC únicamente
para hacer un uso más racional de los recursos, lo cual resulta positivo, que duda
cabe, al contribuir a la mejora del medioambiente y reducir las emisiones o residuos
generados en los grandes espacios urbanos. La puesta en marcha de una auténtica
ciudad inteligente supone mucho más: la optimización de las redes de transporte
urbano y de la circulación de vehículos y personas, la mejora de servicios esenciales
para los ciudadanos como el suministro de aguas, gas o energía, la reestructuración y
replanteamiento del urbanismo, llevar a cabo una gestión mucho más eficiente de los
residuos urbanos o reducir el consumo energético mediante la apuesta por una
iluminación inteligente del dominio público urbano, así como la colaboración
público-privada para que este modelo de gestión se implemente en ambos niveles de
actuación e incrementar la participación ciudadana tanto en la mejora del modelo
como en la gobernanza y transparencia del mismo.
Así, a nivel de gestión la administración en la ciudad inteligente debe
simplificarse y digitalizarse, acercándose a los ciudadanos y volviéndose a un tiempo
más interactiva, receptiva y participativa. Por otro lado los espacios públicos deben
configurarse, además de con criterios ambientales, para que sean seguros y adaptados a
las necesidades de las personas (discapacitados o población más envejecida que se está
incrementando paulatinamente en las ciudades de la UE, entre otros).
Las ciudades han empezado a aprovechar el internet de las cosas, también
denominado IoT (Internet of Things)4 y a utilizar las TIC para crear espacios más
invernadero de la UE. Por último, debemos subrayar que el Pacto Verde Europeo no es un brindis al Sol,
sino que se acompaña de una importante financiación mediante el Fondo de Transición Justa con el que se
calcula que se movilizarán hasta 100.000 millones de euros en inversiones durante el periodo de 2021-2027
en un fondo de transición para convencer a los países que dudan, sobre todo los del Este.
4
Internet de las cosas ha sido definido por el Comité Europeo de Protección de Datos (antiguo grupo de
trabajo del artículo 29), en su Dictámen8/2014 “sobre la evolución reciente de la Internet de los objetos”, de
16 de septiembre de 2014, como “una infraestructura en la que miles de millones de sensores incorporados a
dispositivos comunes y cotidianos “objetos” como tales, u objetos vinculados a otros objetos o individuos)
registran, someten a tratamiento, almacenan y transfieren datos y, al estar asociados a identificadores únicos,
interactúan con otros dispositivos o sistemas haciendo uso de sus capacidades de conexión en red”. En
palabras de GONZÁLEZ DE ALEDO CASTILLO, se trata, en definitiva “de una serie de sensores
incorporados a dispositivos u objetos de la vida cotidiana de las personas que, conectados a internet y/o
entre sí, permiten el intercambio y la interacción de diferentes datos que hacen posible la generación de
información que puede resultar de utilidad tanto para el propietario de dichos datos como para el resto de
intervinientes en la cadena – fabricantes de dispositivos, desarrolladores de aplicaciones, proveedores de
servicios de internet, etc.-, GONZÁLEZ DE ALEDO CASTILLO, Ignacio, “Internet de las cosas”, en
RECUERDA GIRELA, Miguel Ángel, Tecnologías disruptivas. Regulando el furo, Cizur Menor
(Navarra), Thomson Reuters Aranzadi, 2019, p. 331.
pase por la zona concreta, evitando un gasto innecesario de luz en caso de farolas
encendidas, pero innecesarias durante largas horas, permitiendo un importante ahorro
energético y económico con la consiguiente reducción de la contaminación asociada a la
generación eléctrica, aun mayoritariamente realizada mediante fuentes no renovables y
contaminantes o generadoras de residuos difíciles de tratar.
En una ciudad inteligente en la que los autobuses y/o el metro (recordemos que el
servicio de transporte colectivo urbano de viajeros deben prestarlo todos los municipios
con población superior a 50.000 habitantes según el art. 26.1.d LRBRL) estén
coordinados tanto a nivel interno como con los ciudadanos, puede saberse en tiempo real
no solo el estado del tráfico y el tiempo de espera como ya sucede en muchas ocasiones
en que existe señalización al respecto en las paradas, sino incluso el número de viajeros,
la necesidad de detenerse o no en cada parada o incluso la necesidad de que un autobús o
metro salga de la estación o realice un determinado trayecto en función de si hay viajeros
esperándolo o no. Tal información puede suponer no solo una reducción importante de
costes en el sector del transporte público, sino una considerable mejora en cuanto a su
eficiencia y una vez más un beneficio medioambiental considerable al disminuir la
frecuencia y/o el número de usos de los vehículos públicos y el consumo de combustible
o electricidad de los mismos.
Otra posible caso de uso de TICs para la mejora de los servicios públicos de una
ciudad inteligente puede ser el relativo a la gestión del agua por parte del municipio
(que debe prestar, independientemente de su población, los servicios de
abastecimiento domiciliario de agua potable y alcantarillado, según el art. 26.1.a de
la LBRL). Mediante la implementación de dispositivos que midan los caudales del
suministro domiciliario de agua y detecten en función de los mismos fugas en las
redes de suministro, podrían repararse de manera rápida (o automatizarse también
dicha reparación con materiales inteligentes ya existentes); igualmente sensores de
presión del agua u otros pueden detectar fallos en la red de alcantarillado y ayudar a
gestionarla mejor o incluso a evitar inundaciones; o pueden implantarse también
sistemas de riego inteligente para los parques públicos que reduzcan el consumo de
agua y garanticen su mantenimiento en buen estado.
Un último ejemplo, entre muchos otros que podríamos plantear, sería la
recogida de residuos, servicio que también deben prestar todos los municipios de
conformidad con el art. 26.1.a de la LBRL. La instalación de contenedores de
residuos inteligentes permitiría recogerlos únicamente cuando resulte necesario,
evitando en ocasiones la acumulación de residuos con el riesgo medioambiental y
sanitario asociado o la recogida de contenedores que se encuentran por debajo de su
capacidad real, aumentando el consumo de combustible y provocando un uso
ineficiente de los recursos públicos, en definitiva.
Son muchas las funcionalidades que hacen que una ciudad pueda ser
considerada inteligente y convertirse en smart city es una tendencia en auge en las
principales capitales del mundo. La Unión Europea trata de no perder el tren de estas
innovadoras iniciativas, como veremos a continuación.
actualidad) y respetar a un tiempo los valores y la diversidad europeos, así como los
derechos digitales de las personas. Incluye en este sentido compromisos claros como la
creación de un plan de inversión conjunto centrado en soluciones digitales; la creación de
una normativa centrada en garantizar la interoperabilidad de los datos y plataformas entre
ciudades; y la superación de la brecha digital prometiendo proporcionar a todos los
ciudadanos las competencias digitales que necesitan para poder beneficiarse de los
servicios y soluciones que ofrecen la ciudades inteligentes8.
Es importante, como subraya la declaración, que el público confíe en los sistemas
que se implanten en las ciudades inteligentes, para lo cual los datos deben utilizarse de
manera responsable a través de plataformas digitales que garantice la calidad, seguridad
y privacidad de dichos datos recabados y tratados para el mejor funcionamiento de las
ciudades. En este sentido, el núcleo de la declaración es la implantación y expansión de
plataformas abiertas, interoperables, intersectoriales y transfronterizas, como medio para
impulsar la transformación digital. Se quiere dotar de garantías a la soberanía tecnológica
en la UE, y promover la creación conjunta de soluciones digitales pare evitar que
tecnologías específicas dispares y dispersas aislen y bloqueen las ciudades europeas.
Existen actualmente numerosas iniciativas europeas orientadas a potenciar la
digitalización de las ciudades y abordar con éxito la transformación de estas en ciudades
inteligentes, como las que lleva a cabo la Asociación Europea de Innovación sobre
Ciudades y Comunidades Inteligentes (EIP-SCC), la asociación de Transición Digital de
la Agenda Urbana para la UE, o los proyectos Horizonte 2020, así como las iniciativas
mencionadas incluidas en el Pacto Verde Europeo.
En el caso de Horizonte 2020, octavo Programa Marco europeo para la
investigación y el desarrollo tecnológico (H2020)9 se trata de un programa que financia
proyectos de investigación e innovación de diversas áreas temáticas en Europa, con un
presupuesto de casi 80.000 millones de euros para el período 2014-2020. Da cabida tanto
a investigadores, empresas y centros tecnológicos como a entidades públicas, y se
integran en él todas las fases de un proyecto, desde la fase de generación del
conocimiento hasta la transferencia del mismo hacia actividades más cercanas al
mercado. No obstante, al tratarse de proyectos y soluciones fragmentadas, el resultado e
impacto de las mismas es limitado y se hace necesario desarrollar soluciones globales e
integradoras de ciudades inteligentes, que aúnen bajo consumo de carbono y eficiencia
energética con la participación ciudadana y la transparencia en la gestión.
En este sentido, adquiere plena vigencia el movimiento ”Join, boost, bustain“
mencionado, y su objetivo de apoyar la creación y ampliación de plataformas digitales y
soluciones digitales abierta en toda la UE, que tengan como características ser
interoperables, intersectoriales y transfronterizas.
La mencionada Asociación Europea de Innovación sobre Ciudades y
Comunidades Inteligentes (EIP-SCC), que se creó en 2012 y desde entonces ha
contribuido a reunir a las partes interesadas en seis grupos de acción y a generar
8
Tal como recoge el Dictamen del Comité de las Regiones “Una Europa digital para todos: promover
soluciones inteligentes e integradoras sobre el terreno”(2020/C 39/18), de 05.02.2020.
9
Pueden consultarse los datos de los proyectos y financiación del Programa Horizonte 2020 en
<https://ec.europa.eu/info/funding-tenders/opportunities/portal/screen/opportunities/horizon-dashboard>
10
Pueden consultarse dichos proyectos en la web del “EU Smart cities Information Cities” disponible en:
<https://smartcities-infosystem.eu/>
11
Dictamen del Comité económico y social europeo sobre el “Las ciudades inteligentes como motor de una
nueva política industrial europea (Dictamen 2015/C 383/05).
12
Los Libros Blancos de la Comisión Europea son documentos que contienen propuestas de acciones de la
Unión Europea en un campo específico. A veces constituyen una continuación de los Libros Verdes
publicados, cuyo objetivo es iniciar un proceso de consultas a escala de la UE. El propósito de los Libros
Blancos es iniciar un debate con el público, las partes interesadas, el Parlamento Europeo y el Consejo con
el fin de alcanzar un consenso político. El Libro Blanco de la Comisión de 1985 para la realización del
mercado interior es un ejemplo de proyecto que fue aprobado por el Consejo y dio lugar a la aprobación de
una legislación de amplio alcance en este campo.
13
Vid. <http://rfsc.eu/> en relación a esta aplicación en línea.
14
Disponible en: <www.smartsantander.eu>.
15
Plan Nacional de Ciudades Inteligentes. Julio 2015 / Versión 2. Disponible en: <https://www.plantl
.gob.es/planes-actuaciones/Bibliotecaciudadesinteligentes/Detalle%20del%20Plan/Plan_Nacional_de_Ciud
ades_Inteligentes_v2.pdf> (consultado el 29.06.2020).
16
Véanse en: <https://www--red--es.insuit.net/redes/es/que-hacemos/ciudades-inteligentes/proyectos-en-ciuda
des>. Algunos de los proyectos financiados por los Fondos Feder relativos a estas ciudades españolas.
21
Su creación en 2012 se debió a la entonces Secretaría de Estado de Telecomunicaciones y para la Sociedad
de la Información (SETSI). El Comité se creó en el seno de la Asociación Española de Normalización y
Certificación AENOR, cuya actividad ha asumido en la actualidad la Asociación Española de
Normalización, UNE, entidad privada de base asociativa.
22
Véase la web de la UNE. Comité CTN 178 – Ciudades Inteligentes, <https://www.une.org/encuentra-tu-
norma/comites-tecnicos-de-normalizacion/comite?c=CTN%20178>.
23
Vid. por ejemplo, los convenios entre La red Española de Ciudades Inteligentes <www.reddeciu
dadesinteligentes.es> (asociación privada formada por representantes de las ciudades inteligentes españolas
y de la FEMP-Federación Española de Municipios y Provincias) con la entidad pública red.es.
24
Vid. en relación al marco normativo aplicable a las ciudades inteligentes desde la perspectiva de los datos
abiertos el Informe “Datos abiertos y ciudades inteligentes: una visión alternativa desde el Derecho”, del
Ministerio de Hacienda y Función Pública, Ministerio de Energía, Turismo y Agenda Digital, red.es y la
iniciativa “aporta” de julio de 2017. Disponible en: <https://datos--gob--es.insuit.net/sites/default/files/
doc/file/informe_datos_abiertos_y_ciudades_inteligentes.pdf> (consultado el 30.06.2020).
25
VALERO TORRIJOS, J. “La innovación tecnológica al servicio de la transparencia en la contratación
pública. La Plataforma PLAN como ejemplo del cambio de paradigma”, en GUERRERO MANSO,
Carmen (Coord.) y GIMENO FELIÚ, José María (Dir.), Observatorio de los contratos públicos 2017, pp.
447 y ss.
26
Nos remitimos en este apartado a las interesantes reflexiones de VELASCO RICO, Clara Isabel, “La ciudad
inteligente (…)”, cit.
27
Estos castigos ya se están produciendo en la práctica. Por ejemplo, a 12 millones de chinos ya se les ha
prohibido de comprar billetes domésticos de avión y tren. El problema es que, aunque los castigos y
represalias son conocidas, el funcionamiento del algoritmo que determina la posición de un individuo en la
escala social es incierto, uniendo al problema de la vulneración de derechos la inseguridad jurídica para los
ciudadanos y mostrando como las TIC pueden usarse, como cualquier herramienta humana, de forma
ambivalente aportando libertad y mejoras en la vida cotidiana de las personas o todo lo contrario
(OLLERO, Daniel J. Elmundo.es “Comunismo por puntos: China activa una tecnología para medir el ‘valor
social ‘ de cada ciudadano”, 31-10-2018), disponible en <https://www.elmundo.es/tecnologia/2018.10.31/
5bd8c1bfe2704e526f8b4578.html>. Vid también DUBOIS de PRISQUE, E., “Le système de crédit social
chinois. Comment Pékin évalue, récompense et punit sa population“, Futuribles. n. 434, 2020, pp. 27-48.
Además, se deberá informar de manera muy clara a los ciudadanos, entre otras
cuestiones, de para qué se van a tratar sus datos, quién lo va a hacer y durante cuánto
tiempo. Y se deberá, en la medida de lo posible, evitar la utilización de datos
individualizados: esto se consigue mediante técnicas de anonimización y
seudonimización, se utilizarán únicamente datos agregados que no permitan la
identificación directa de los ciudadanos.
4.1 Ciudades Inteligentes, Big data y Derechos Fundamentales de los Habitantes de
la Ciudad
Hablar de ciudades inteligentes sin hablar de Big data carecería de sentido. El
Big data puede ser definido como “grandes cantidades de datos digitalizados que son
controlados por las empresas, autoridades públicas y otras grandes organizaciones que
poseen la tecnología para realizar un análisis extenso de los mismos basado en el uso de
algoritmos”28. El término Big data hace referencia a una acumulación masiva de datos
tal, que supera la capacidad de las herramientas tradicionales para que sean capturados,
gestionados y procesados en un tiempo razonable29. Se considera que un conjunto de
datos entra dentro de la categoría de Big data si requiere analistas especializados al ser
demasiado grande como para manejarlo de forma apropiada con los programas
convencionales de software disponibles para el público en general. El enfoque de la
recopilación, análisis, procesamiento y visualización de cantidades masivas de datos,
no necesariamente estructurados, para la toma de decisiones, es bastante reciente,
pero está adquiriendo cada vez más relevancia y presenta un enorme potencial,
gracias a la acumulación masiva de datos favorecida por la implantación
generalizada de las TIC. La esencia del Big data radica en el uso de los datos para
resolver problemas, ya sea en el ámbito empresarial, personal o en el de las
Administraciones públicas, lo que le da un enorme potencial en el ámbito de las
ciudades inteligentes.
Entre las características comunes del Big data, independientemente del sector
del que estemos hablando, encontramos entre ellas además de la variedad, volumen
y velocidad (“las 3 v”), una cuarta “v”, la veracidad, a la que se añade también
28
Definición del International Working Group on Data Protection in Telecommunications: IWGDPT (Grupo
de Telecomunicaciones de Berlín). Según Álvarez Hernando en su Guía Práctica sobre Protección de
Datos de 2010 (p. 576), el Grupo de Berlín se constituyó en 1983, en el marco de la Conferencia
Internacional de Protección de Datos y Privacidad en la iniciativa del Alto Comisionado de Berlín de
protección de datos, a iniciativa de la autoridad de protección de datos del Länder de Berlín, donde tiene su
sede. Agrupa, junto a representantes de las autoridades de control de un gran número de estados, a
representantes de organizaciones internacionales públicas y privadas, y a representantes de los sectores
industriales implicados. Se trata en definitiva, de un foro de trabajo abierto que pretende debatir sobre las
implicaciones del uso de las telecomunicaciones en la esfera privada de los individuos y en la protección de
sus datos personales, procurando anticiparse a los problemas que se plantean en la práctica. La Agencia
Española de Protección de Datos participa regularmente en las actividades de dicho grupo que se reúne con
carácter semestral en distintos países del mundo. Asimismo, el Grupo emite dictámenes y documentos de
trabajo.
29
BALDOMINOS GÓMEZ, Alejandro, MOCHÓN MORCILLO, Francisco, NAVAS DELGADO, Ismael,
et. al., Introducción al Big Data, García-Maroto Editores, Madrid, 2016, p. 48.
30
ISHWARAPPA y ANURADHA, J., “A brief introduction on Big Data 5vs characteristics and Hadoop
technology”, Procedia Computer Science, n. 48, p. 320 y 321.
31
Permítase la remisión, sobre esta cuestión, a DURÁN RUIZ, Francisco Javier, “Big data aplicado a la
mejora de los servicios públicos y protección de datos personales”, Revista de la Escuela Jacobea de
Postgrado, n. 12, 2018, pp. 33-74.
32
El artículo 4.5 del RGPD de la UE establece que la seudonimización es “el tratamiento de datos personales
de manera tal que ya no puedan atribuirse a un interesado sin utilizar información adicional, siempre que
dicha información adicional figure por separado y esté sujeta a medidas técnicas y organizativas destinadas
a garantizar que los datos personales no se atribuyan a una persona física identificada o identificable”.
tratamiento, 2) el número y tipo de fuentes que se van a utilizar para obtener los
datos o la información, y 3) el tiempo de conservación de dicha información
(artículo 35 RGPD). Esta evaluación previa, deberá incluir por lo menos “a) una
descripción sistemática de las operaciones de tratamiento previstas y de los fines del
tratamiento, inclusive, cuando proceda, el interés legítimo perseguido por el
responsable del tratamiento; b) una evaluación de la necesidad y la proporcionalidad
de las operaciones de tratamiento con respecto a su finalidad; c) una evaluación de
los riesgos para los derechos y libertades de [las personas físicas]; y d) las medidas
previstas para afrontar los riesgos, incluidas garantías, medidas de seguridad y
mecanismos que garanticen la protección de datos personales, y a demostrar la
conformidad con el presente Reglamento” (artículo 35.7 del RGDP).
Adicionalmente, debería procederse a consultar a la Autoridad de Protección de
Datos, según el art. 36.1 RGPD que dispone que el responsable del tratamiento
“consultará a la autoridad de control antes de proceder al tratamiento cuando una
evaluación de impacto relativa a la protección de los datos en virtud del artículo 35
muestre que el tratamiento entrañaría un alto riesgo si el responsable no toma medidas
para mitigarlo”.
Otra consideración previa al desarrollo de proyectos de smart cities es el
consentimiento previo de las personas afectadas para la recogida y tratamiento de los
datos. A este respecto, es importante recordar que, como regla general, las
Administraciones Públicas no necesitan el consentimiento de los titulares de los datos
cuando los recojan para el ejercicio de sus propias competencias, siempre y cuando su
uso sea lícito y conforme a derecho y los datos a utilizar sean proporcionados. Se trata de
una prerrogativa de las Administraciones que no puede aplicarse de manera directa a las
operaciones de explotación comercial de la información personal, puesto que en este
caso el es incompatible con el fin que en principio justificó su recogida y tratamiento, por
mucho que el acceso a los mismos se considere necesario para poder desarrollar el
concreto proyecto.
En las ciudades inteligentes, las operaciones de tratamiento de datos que se
realizan no son simples cesiones de datos, sino interconexiones generalizadas entre
diversos actores cuyas características fundamentales son su carácter masivo y
automatizado. Como en las ciudades inteligentes se integran servicios diversos y se
produce una gestión horizontal y no vertical de los mismos, que va más allá de cada uno
de los servicios considerados separadamente, esto afecta directamente al principio de
calidad de los datos, según el cual los mismos no podrían utilizarse para otras finalidades
incompatibles con las que justificaron su recogida.
A excepción de lo dicho respecto a los datos recabados y tratados por las
Administraciones Públicas para el ejercicio de sus competencias, todo el sistema de
protección de los datos personales, se fundamenta en la idea de que el tratamiento de
datos de carácter personal requiere el consentimiento previo e inequívoco de la persona
interesada o titular de los mismos, pues este principio permite a la persona ejercer el
control efectivo del uso de sus datos por parte de terceros. Esto se traduce en los
requisitos que recoge el RGPD para que el consentimiento del interesado permita el
tratamiento de sus datos personales: que sea libre, específico, informado e inequívoco, y
que se realice ya sea mediante una declaración o mediante una clara acción afirmativa,
nunca de forma implícita o supuesta. Así, el Reglamento General define “consentimiento
del interesado” (art. 4 apartado 11) como: “toda manifestación de voluntad libre,
específica, informada e inequívoca por la que el interesado acepta, ya sea mediante una
declaración o una clara acción afirmativa, el tratamiento de datos personales que le
conciernen”33, y del mismo modo lo reproduce el art. 6 de la nueva LOPD bajo el título
“tratamiento basado en el consentimiento del afectado”.
El RGPD ha supuesto por tanto un endurecimiento de los requisitos para que el
consentimiento otorgado pueda considerarse válido. El consentimiento tácito ya no es
válido, y no solo eso, cuando el tratamiento de los datos tenga varios fines diferentes,
el consentimiento debe darse para todos y cada uno de ellos, como recoge el art. 6.2 de la
LOPD 3/2018: “Cuando se pretenda fundar el tratamiento de los datos en el
consentimiento del afectado para una pluralidad de finalidades será preciso que conste
de manera específica e inequívoca que dicho consentimiento se otorga para todas ellas”.
El consentimiento, como bien ha subrayado el GT 2934, si se utiliza
correctamente “es una herramienta que otorga al sujeto un control sobre el
tratamiento de sus datos. Si se utiliza de manera incorrecta, el control del sujeto se
convierte en ilusorio y entonces el consentimiento constituye una base inapropiada
para el tratamiento de los datos”.
Ha quedado patente en los tiempos más recientes la insuficiencia de las políticas
de privacidad y la prestación del consentimiento por el usuario a dichas políticas,
considerando que la inmensa mayoría de los usuarios ni siquiera lee los términos de las
políticas de privacidad o si los lee no alcanza a comprenderlos. Por ello, al albur de la
implantación del principio de transparencia, que se recoge en el art. 12 RGPD y el art. 11
LOPD y juega un papel importante, se ha incorporado la necesidad de otra redacción de
las políticas de privacidad, que garantice una notificación efectiva, y de un desarrollo de
los mecanismos que permitan otorgar un consentimiento informado.
Con la introducción de nuevas tecnologías de la información como Big data, el
consentimiento resulta por sí mismo claramente insuficiente para la protección de los
datos personales, y se pone en entredicho que sea un consentimiento verdaderamente
33
El carácter específico del consentimiento “indica que el consentimiento debe referirse a una determinada
operación de tratamiento y para una finalidad determinada, explícita y legítima del responsable del
tratamiento. Su carácter informado implica como hemos mencionado que el afectado o afectada conozca
con anterioridad al tratamiento la existencia del mismo y las finalidades para las que el mismo se produce.
Por último el consentimiento debe ser inequívoco, por lo que no cabe deducirlo tácita o presuntamente de
los simples actos realizados por el afectado o afectada, siendo preciso que exista expresamente una acción u
omisión que implique la existencia del consentimiento” [DURÁN RUIZ, Francisco Javier, “Protección de
datos personales de los menores en los centros docentes”, DURÁN RUIZ, Francisco Javier y SAID HUNG,
Elías (Dirs.), TICs y Sociedad Digital: educación, infancia y derecho, Comares, Granada, 2015, p. 391].
34
Grupo de Trabajo del artículo 29, Opinion 06/2014 on the notion of legitimate interests of the data controller
under Article 7 of Directive 95/46/EC (2014); Opinion 15/2011 on the definition of consent (2011).
informado35 e igualmente el principio de calidad de los datos, ya que los datos son
usados claramente para finalidades distintas a aquellas que motivaron su obtención,
como fácilmente puede ocurrir en los proyectos de ciudades inteligentes. No obstante,
como hemos manifestado los datos pueden usarse si por la anonimización han dejado de
considerarse datos personales y por tanto no están sometidos a la normativa sobre
protección de datos (Considerando 30 RGPD).
Aunque se han planteado soluciones a la redacción de la información para
garantizar que el consentimiento de los usuarios sea verdaderamente un consentimiento
informado. Reiteramos aquí que “El funcionamiento de nuevas TIC como Big data
dificulta enormemente esta labor, puesto que los datos se mueven de un lugar a otro, de
un receptor a otro de forma impredecible, y especialmente porque el valor que pueden
tener los datos no se conoce ni se puede conocer en el momento en que son recogidos,
convirtiendo el consentimiento en un ‘todo incluido’ y desvirtuando o vulnerando entre
otros principio esenciales de la protección de datos como el de calidad de los datos”36.
En este sentido y en relación a esta tecnología, Gil González37 pone de manifiesto
que “la cadena de emisores y receptores de datos es potencialmente infinita, e incluye
actores e instituciones cuyo rol y responsabilidades no están delimitados o
comprendidos. Así, la cesión de datos puede llegar a ser relativamente oscura”. Plantea
la pregunta de si la obligación del responsable del tratamiento de informar sobre la
recogida de los datos se circunscribe a la información que explícitamente recoge, o si
debe adoptarse un criterio más amplio y entender que este deber de información también
alcanza a aquella información que la institución pudiera obtener tras el tratamiento, como
puede suceder si se produce una reutilización o cesión de la información para su
tratamiento mediante Big data por terceros a partir de los datos recabados por la
Administración municipal en una ciudad inteligente.
La doctrina mayoritaria opina que el consentimiento y la información que se
proporciona a la persona que lo presta debe referirse también a la información que se
puede extraer de un análisis sofisticado de los datos personales, incluida la información
que pueda extraerse agregando esos datos con otros ficheros y fuentes, y no solo al hecho
de que se recaben datos primarios. Sin embargo, en la práctica, por las propias
características y naturaleza de tecnologías como Big data, en que no se pueden predecir
los resultados o relaciones que se obtendrán de los datos, esta solución parece
impracticable. Si el propio responsable del tratamiento no puede saber con antelación
que utilidad, aplicación o resultados arrojarán los datos obtenidos, no puede darse la
35
El principio de información es básico en la protección de datos personales. Aparecía en el art. art. 5 de la
LOPD de 1999 bajo el título “Derecho de información en la recogida de datos” y se ha recogido como se ha
dicho en el art. 11 “Transparencia e información al afectado” de la LOPD de 2018.
36
DURÁN RUIZ, Francisco Javier, “El tratamiento de los datos personales de los menores de edad en la
nueva normativa de protección de datos”, en GARCÍA GARNICA, María del Carmen, y MARCHAL
ESCALON, Nuria (Dirs.); QUESADA PÁEZ, Abigail y MORENO CORDERO, Gisela (Coords.),
Aproximación interdisciplinar a los retos actuales de protección de la infancia dentro y fuera de la
familia”, Cizur Menor, Thonson Reuters Aranzadi, 2019, pp.478-479
37
GIL GONZÁLEZ, Elena, Big Data, privacidad y protección de datos, Agencia Española de Protección de
Datos y Boletín Oficial del Estado, Madrid, 2016, p. 73.
información con carácter previo al usuario sobre la finalidad para la que se recaban los
datos. Como plantea Gil González38 “ha surgido una nueva dificultad derivada del
hecho de que el mayor valor de la información ya no reside en un uso primario, sino que
ahora se encuentra en los usos secundarios, y esto afecta al núcleo de la protección de
datos personales”.
Esto ha llevado a los expertos, como la citada, cuya opinión compartimos39, a
plantear que la atención no puede estar tan centrada en el momento de prestación del
consentimiento para el tratamiento de los datos y en los sistemas para prestar un
verdadero consentimiento informado, sino que debe desplazarse al momento de la
utilización efectiva de los datos, y así debe hacerse en los datos que se recaben para
su tratamiento en las smart cities.
CONCLUSIONES
La tendencia a la concentración de la población en las ciudades hace
imprescindible contar con mecanismos y tecnologías que garanticen la sostenibilidad
de los desarrollos urbanos, el respeto por el medio ambiente, la utilización racional
de los recursos disponibles y el adecuado tratamiento de los residuos generados. Es
esencial, por tanto, una apuesta decidida y global por las ciudades inteligentes, para
mejoren la prestación de servicios públicos y hacer frente a los retos que, a medio
plazo, deben afrontarse a nivel mundial en la gestión de los espacios urbanos.
La Unión Europea está intentando ser un referente mundial en proyectos de
ciudades inteligentes, y está desarrollando para promoverlas: financiar iniciativas y
proyectos en este ámbito, y en segundo lugar la función de armonización o de
coordinación de la legislación de los Estados miembros y de los estándares técnicos
para hacer posible esta realidad. Solo con intervención de la UE podrá crearse un
marco legal y tecnológico homogéneo que facilite un modelo homologable de
ciudad inteligente en todo su territorio. El beneficio más directo de esta política es
que crea un gran mercado interno que incrementa el atractivo de negocio de la UE y
a ello se orienta como veremos el Mercado Único Digital o Digital Single Market
como iniciativa paralela de la UE, de la que es ejemplo el Marco Europeo de
Referencia para la Ciudad Sostenible (RFSC).
España forma parte de esta estrategia europea y está promoviendo numerosos
proyectos cofinanciados con la UE de ciudades inteligentes. Sin embargo, no lo está
haciendo de forma vertical, dictando normativa expresamente que regule este
fenómeno, sino mediante softlaw y colaboración público-privada, que es patente en
este ámbito. Así, lo demuestra el liderazgo público del Comité CTN 178, erigido
38
GIL GONZÁLEZ, Elena “Big data y datos personales: ¿es el consentimiento la mejor manera de proteger
nuestros datos?, Diario La Ley, N. 9050, 27 de Septiembre de 2017.
39
Permítase la remisión, en relación a la insuficiencia del consentimiento como fundamento de la protección
de datos en la actualidad, a DURÁN RUIZ, Francisco Javier, “TIC y protección de datos personales en la
Unión Europea, con especial referencia a los menores y el Reglamento General (UE) 2016/679 de
protección de datos”, en DURÁN RUIZ, Francisco Javier (Dir.), Desafíos de la protección de menores en
la sociedad digital. Internet, redes sociales y comunicación, Tirant Lo Blanch, 2018, pp. 87-124.
BIBLIOGRAFÍA
ÁLVÁDEZ HERNANDO, Javier, Guía Práctica sobre Protección de Datos, cuestiones y formularios,
Lex Nova, Valladolid, 2010.
BALDOMINOS GÓMEZ, Alejandro, MOCHÓN MORCILLO, Francisco, NAVAS DELGADO, Ismael,
et. al., Introducción al Big Data, García-Maroto Editores, Madrid, 2016.
DUBOIS de PRISQUE, E., “Le système de crédit social chinois. Comment Pékin évalue, récompense et
punit sa population“, Futuribles. n. 434, 2020, pp. 27-48.
DURÁN RUIZ, Francisco Javier, “Protección de datos personales de los menores en los centros
docentes”, en DURÁN RUIZ, Francisco Javier y SAID HUNG, Elías (Dirs.), TICs y Sociedad Digital:
educación, infancia y derecho, Comares, Granada, 2015, pp. 385-405.
DURÁN RUIZ, Francisco Javier, “Big data aplicado a la mejora de los servicios públicos y protección de
datos personales”, Revista de la Escuela Jacobea de Postgrado, n. 12, 2018, pp. 33-74.
Durán Ruiz, Francisco Javier, “TIC y protección de datos personales en la Unión Europea, con especial
referencia a los menores y el Reglamento General (UE) 2016/679 de protección de datos”, en DURÁN
RUIZ, Francisco Javier (Dir.): Desafíos de la protección de menores en la sociedad digital. Internet,
redes sociales y comunicación, Tirant Lo Blanch, 2018, pp. 87-124.
DURÁN RUIZ, Francisco Javier, “El tratamiento de los datos personales de los menores de edad en la
nueva normativa de protección de datos”, en GARCÍA GARNICA, María del Carmen, y MARCHAL
ESCALON, Nuria (Dirs.); QUESADA PÁEZ, Abigail y MORENO CORDERO, Gisela (Coords.),
Aproximación interdisciplinar a los retos actuales de protección de la infancia dentro y fuera de la
familia”, Cizur Menor, Thonson Reuters Aranzadi, 2019, pp. 473-497.
ISHWARAPPA y ANURADHA, J., “A brief introduction on Big Data 5vs characteristics and Hadoop
technology”, Procedia Computer Science, n. 48, pp. 319-324.
GIL GONZÁLEZ, Elena, Big Data, privacidad y protección de datos, Agencia Española de Protección de
Datos y Boletín Oficial del Estado, Madrid, 2016.
GIL GONZÁLEZ, Elena “Big data y datos personales: ¿es el consentimiento la mejor manera de proteger
nuestros datos?, Diario La Ley, N. 9050, 27 de Septiembre de 2017.
GONZÁLEZ DE ALEDO CASTILLO, Ignacio, “Internet de las cosas”, en RECUERDA GIRELA,
Miguel Ángel, Tecnologías disruptivas. Regulando el furo, Cizur Menor (Navarra), Thomson Reuters
Aranzadi, 2019, pp. 329-356.
VALERO TORRIJOS, J. “La innovación tecnológica al servicio de la transparencia en la contratación
pública. La Plataforma PLAN como ejemplo del cambio de paradigma”, en GUERRERO MANSO,
Carmen (Coord.) y GIMENO FELIÚ, Jose María (Dir.), Observatorio de los contratos públicos 2017, pp.
441-460.
VELASCO RICO, Clara Isabel, “La ciudad inteligente: entre la transparencia y el control”, Revista
General de Derecho Administrativo, n. 50, enero 2019. Disponible en: https://www.iustel.com/v2/revistas
/detalle_revista.asp?id_noticia=421181
VILLAREJO GALENDE, Helena, “Smart cities, una apuesta de la Unión Europea para mejorar los
servicios públicos urbanos”, Revista de Estudios Europeos n. 66, enero-junio, 2015, pp. 25-51.
1
Mestre e Doutoranda em Direito Público pela UNESA. Advogada. Professora de Direito da Escola da
Magistratura e da Escola Superior da Advocacia do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: mirianpele
grino@gmail.com
2
Doutor em Direito pela PUC-Rio. Professor Permanente do PPGD/UNESA e Professor Colaborador do
PPGDC/UFF. Professor Associado do Departamento de Direito Público da Universidade Federal
Fluminense UFF. E-mail: eduardval11@hotmail.com eduardo.manuel.val@gmail.com
unenforceable court orders. In an attempt to correct this and impose access to health in a
reasonable and equitable manner, the Judicial Power has been trying to assist judges and
provide the resources for decision making based on technical advice. Thus, the Rio de
Janeiro State Court of Justice – in a pioneering partnership with the State Health Office –
has created the Technical Advisory Center (Núcleo de Assessoria Técnica, NAT), an
agency inserted within the Court of Justice focused on providing magistrates with the
resources needed to meet their health case demands. The judicial review of health policies
phenomenon is not exclusive to Brazil. Other Latin American countries are also perplexed
witnesses of this social fact. It is a challenge to restructure such a health format, with
special emphasis on the necessary involvement of the republican powers and society
through institutional dialogue and public debate. In this sense, NAT’s technical advice has
proven to be an essential asset in preventing a citizen to fight against another.
Keywords: Judicial review of health. Shortage of resources. Court orders.
Sumário: Introdução. 1. Saúde x igualdade – direitos fundamentais em colisão. 2. Suporte
e tecnologia em saúde disponível ao magistrado. 3. Direito à saúde e a reserva do possível.
4. Núcleo de assessoria técnica – NAT. Conclusão. Referências.
INTRODUÇÃO
No Brasil, assim como em outros países da América Latina, os desafios pela
efetividade dos direitos humanos parecem incontornáveis. Um deles é a inquietude entre
a teoria e a prática na garantia dos direitos fundamentais, tendo em vista que nossos
países ainda apresentam níveis de distribuição de renda limitados, com elevada pobreza e
falta de recursos em muitas áreas como educação e saúde.
O tema da judicializaçao das políticas de saúde e a “avalanche” de ações judiciais
na última década, que em uma visão reducionista garante a difusão do direito universal à
saúde, no Brasil é decidida com pouco ou nenhum critério para lidar com a falta de
recursos. Diante disso, ocorre uma interferência judicial demasiada no sistema de saúde
realizando escolhas trágicas ao proteger o indivíduo sem considerar a equidade e garantir
o direito de forma universal para toda a coletividade, comprometendo os cidadãos como
um todo, porque faz com que a “justiça” de um, se nutra da injustiça para muitos.
Todavia, não se pode negar que há uma constante busca do Poder Judiciário para
equilibrar e consagrar os direitos sociais, mas o ajuste entre o grau de essencialidade
(mínimo existencial) e o grau da excepcionalidade, aqui entendida como a razão do
Estado para deixar de atender o cidadão, não é realizado com parâmetros de direito
público e pautada no interesse coletivo, até porque, o juiz precisa dar uma resposta
ao caso concreto. Isso porque, para fazer uma escolha legítima, o juiz precisa atuar
na questão do direito à saúde com a ponderação entre as duas variáveis (essenciali-
dade/excepcionalidade) de modo que, se a essencialidade do atendimento individual
for maior que a excepcionalidade do Estado em prestar tal serviço, o direito deve ser
entregue; na hipótese contrária, não3.
Em verdade, no direito constitucional contemporâneo o juiz deixou de ter um
papel passivo. Ou seja, aquela figura lendária que apenas pronunciava a vontade do
3
AMARAL, Gustavo, Direito, escassez e escolha: em busca de critérios jurídicos para lidar com a escassez
de recursos e as decisões trágicas, 2. ed, Rio de Janeiro, Renovar, 2010, p. 216.
legislador ou era o escravo da lei, cedeu lugar a um novo paradigma. “O novo juiz”
transformou-se em partícipe da sociedade e defensor da democracia porque a presta-
ção jurisdicional não é uma atividade exclusivamente jurídica, mas, também, provo-
ca transformações políticas, sociais e econômicas.
Acerca de comparação são poucos os países que possuem um sistema de
saúde público universal, entre eles: Reino Unido, Canadá, Austrália, França e Suécia
integram, junto com o Brasil, este pequeno grupo. No entanto, o orçamento brasilei-
ro dedicado ao setor de saúde é o pior dessa congregação. Isso porque, em 2014, o
Brasil investiu 6,7% do orçamento em saúde. Os outros cinco países gastaram entre
14,9% e 27,9% do orçamento do governo na área da saúde4.
Neste contexto, fica evidente que o Brasil chancela e desenvolve uma
desigualdade entre os níveis mais altos e mais baixos da população de forma assom-
brosa, e isso fica ainda mais evidente na área estudada. Além do que, a Constituição
Federal garante a todos igualmente o Direito à Saúde, mas os níveis de efetividade
desse direito são bem dissemelhantes e a desigualdade se aprofunda e agrava.
E justamente por essa razão, o debate a democratização da saúde frente as três
esferas do Poder e da sociedade é fundamental, caso contrário, o direito à saúde per-
manecerá algo restrito aos afortunados socialmente. Enquanto tal fato não ocorre,
temos que reconhecer que o Poder Judiciário ora contribui ao se posicionar como
facilitador do acesso à saúde, fortalecendo e permitindo que aqueles que ingressam
na justiça alcancem seu constitucional Direito à Saúde, ora, em prol da proteção
individual anarquiza o sistema com mandatos judiciais que impõem “furar”, por
exemplo, a “fila” organizada pelos setores de saúde como o de transplantes, além de
autorizar realização de cirurgias milionárias no exterior, sem nenhuma ou pouca
comprovação científica de cura para o pacientes desesperados. Isto no contexto de
recursos orçamentários limitados para atender a saúde pública.
Com efeito, não há sistema de saúde no mundo que suporte um modelo
extremamente protecionista e independente do custo e impacto financeiro ofertado
pelo Estado a todas as pessoas indistintamente. O Judiciário deve ser destinatário do
princípio da isonomia, buscando tratar igualmente os jurisdicionados que se encon-
trem na mesma situação fática. Com base nesta orientação, justificam-se determina-
dos instrumentos procesuais tais como: as ações coletivas e as súmulas vinculantes
que servem à ideia de um amplo acesso à justiça e à redução dos processos judiciais
repetitivos ou das causas de massa.
A partir da norma constitucional o raciocínio judicial pode ser garantir um
mínimo de cuidados à saúde como forma de garantir os direitos sociais.. Ao contrá-
rio do que muitos pensam, a judicialização da saúde não é uma forma de compensar
os danos causados pela corrupção e má gestão no setor. Com subjetivismo e desin-
formação, decisões judiciais bem-intencionadas têm gerado enormes dificuldades a
diversos setores da gestão pública da saúde e a sociedade como um todo.
4
SINDICATO DOS MÉDICOS DO RIO GRANDE DO SUL – SIMERS. Conheça o ‘SUS’ de outros cinco
países, 23 jun. 2016.
5
GUERRA FILHO, Willis Santiago, Processo constitucional e direitos fundamentais, 2. ed. rev. atual, São
Paulo, Celso Bastos, 2001, p. 63-87.
leciona Celso Ribeiro Bastos, trata-se da igualdade em sua acepção ideal, humanista,
mas que jamais foi alcançada6.
Hans Kelsen não proclamou com nitidez ser o legislador o destinatário
principal do princípio da igualdade, concluindo em sua obra Teoria Pura do
Direito que a igualdade constitucionalmente garantida, dificilmente poderá
significar algo mais do que a igualdade perante a lei, ou seja, no momento de sua
aplicação.
O estudo do princípio da igualdade de Celso Antônio Bandeira de Mello7,
esclarece as hipóteses que pode a lei estabelecer discriminações e em que situa-
ções, inversamente, o discrímen legal colide com a isonomia. Segundo as lições
deste reconhecido jurista, as diferenciações são admissíveis quando houver uma
correlação lógica entre o fator de desrespeito legal e a desequiparação procedida e
que esteja de acordo com os interesses delineados na Constituição Federal. Então
há necessidade da concorrência de quatro elementos, a fim de que não se viole o
princípio da isonomia: a) que a desequiparação não atinja de modo atual e absolu-
to, um só indivíduo; b) que as situações ou pessoas desequiparadas pela regra de
direito sejam efetivamente distintas entre si, vale dizer, possuam características,
traços, nela residentes, diferenciados; c) que exista, em abstrato, uma correlação
lógica entre os fatos diferenciais existentes e a distinção de regime em função
deles, estabelecida pela norma jurídica; d) que, in concreto, o vínculo de
correlação supra referido seja pertinente em função dos interesses constitucional-
mente protegidos, isto é, resulte em diferenciação de tratamento jurídico fundada
em razão valiosa ao lume do texto constitucional para o bem do público.
A existência de milhares de causas destinadas a garantir o direito à saúde
indica questões de interesse coletivo que reclamam providências judiciais compa-
tíveis. Não é possível que o Judiciário sirva de instrumento para impor à Adminis-
tração, em favor apenas dos demandantes, deveres estatais que pela própria essên-
cia deveriam ser aproveitados pelo conjunto da sociedade.
6
MELLO, Celso Antônio Bandeira de, O conteúdo jurídico do princípio da igualdade, 3. ed. 25 tir, São
Paulo, Malheiros, p. 23-45.
7
MELLO, op. cit., p. 23.
8
BRASIL. Lei 12.401, de 28.04.2011. Altera a Lei 8.080, de 19.09.1990, para dispor sobre a assistência
terapêutica e a incorporação de tecnologia em saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12401.htm>. Acesso em:
25 abr. 2018.
Fazendo tábua rasa deste preceito constitucional, o STF parece concebê-lo, porém,
como um direito individual, cujo cumprimento pode ser exigido diretamente através
9
BRASIL. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no SUS (CONITEC). CONITEC abre seis
novas consultas públicas sobre medicamentos e Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas. 27 abr. 2017.
Disponível em: <http://conitec.gov.br/conitec-abre-seis-novas-consultas-publicas-sobre-medicamentos-e-pr
otocolos-clinicos-e-diretrizes-terapeuticas>. Acesso em: 25 abr. 2018.
10
Recomendação N. 31 – Atos Normativos – Portal CNJ – www.cnj.jus.br/atos-normativos?documento=877
de uma ação judicial, como se os problemas relacionados com o direito à saúde fos-
sem problemas de justiça cumutativa (dos quais devem ocupar-se os tribunais) e não
problemas de justiça distributiva (cuja ponderação e solução só podem caber a ór-
gãos políticos legitimados pelo sufrágio universal).
Os Tribunais entendem que podem dispor de dinheiros públicos (mesmo que não
inscritos no orçamento da saúde) para financiar planos individuais de saúde (em regra de
indivíduos bem colocados na vida), pouco lhes importando que, deste modo, impeçam
ou dificultem o financiamento público de direitos sociais de milhares de cidadãos, de
entre os mais pobres, os mais vulneráveis e os mais desprotegidos. Na síntese de Fernan-
do Scaff, “aprisiona-se o interesse social e concede-se realce ao direito individual”11.
Se as pessoas com estatuto social e com rendimento acima da média pretendem
utilizar os recursos do SUS devem fazê-lo como toda a gente: vão aos centros de saúde e
aos hospitais, cumprem as regras estabelecidas e esperam a sua vez de ser atendidas. Os
tribunais não podem servir como porta de acesso privilegiado a uns quantos privilegia-
dos, em prejuízo dos mais pobres, violando grosseiramente o princípio constitucional da
igualdade e ofendendo a dignidade e o direito à vida e à saúde dos mais pobres, a pretex-
to de garantir o direito à vida e à saúde dos mais ricos. A meu ver, o contraste entre o
direito individual (o interesse individual) e o direito coletivo (o interesse coletivo) não é
um “falso dilema”, como alguns querem fazer crer. Invocar o ‘sagrado nome’ da Consti-
tuição para justificar o financiamento público de planos de saúde individuais, sacrifican-
do o direito de todos à saúde, mediante adequadas políticas sociais e econômicas, é guar-
dada a distância, um verdadeiro sacrilégio12.
Como se depreende nos litígios de acesso à saúde a perícia judicial de nada adian-
ta, tendo em vista, que é necessário um exame dos requisitos técnicos e do custo-
-benefício do tratamento postulado, como exigido pela Lei 12.401/2011. O que se tem
visto é procedência de pedidos fundamentados em mero atestado ou requisição médica
de clínica e médicos particulares, pouco ou nada comprometidos com a res pública.
O fato é que a excessiva judicialização das questões que envolvem os serviços
públicos de saúde e a importância de tais aparelhos para a população, exigiu uma abor-
dagem inovadora do Conselho Nacional de Justiça. O CNJ passou a emitir enunciados
que possibilitam uma maior uniformização nas decisões judiciais sobre o tema do acesso
à saúde e, atualmente há um total de 68 disponíveis no site do Conselho Nacional de
Justiça. Assim, uma das primeiras sugestões foi com base na experiência de sucesso
junto ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em que a ação de espécie antes de chegar
do despacho inicial recebe um parecer técnico sobre o medicamento solicitado, se consta
ou não dos protocolos clínicos, se é disponibilizado, constando das listas públicas
(RENAME)13. Também foi proposto, que outros Tribunais de Justiça e os Tribunais
Regionais Federais celebrem convênios para assegurar apoio técnico, composto por
11
SCAFF apud Idem.
12
NUNES, op. cit., p. 30-31.
13
MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). Assistência farmacêutica. Medicamentos – Rename. Disponível em:
<http://portalms.saude.gov.br/assistencia-farmaceutica/medicamentos-rename>. Acesso em: 05 mai. 2018.
14
SARLET, Ingo Wolfgang, A eficácia do direito fundamental `segurança jurídica: dignidade da pessoa
humana, direitos fundamentais e proibição de retrocesso social no direito constitucional brasileiro. in
Revista Brasileira de Direito Comparado, Rio de Janeiro, Instituto de Direito Comparado Luso-Brasileiro,
n. 28, p. 30, 2005
15
ALEXY, Robert, Teoria dos direitos fundamentais. 5. ed. SILVA, Virgílio Afonso da (Trad.), São Paulo,
Malheiros, 2006, p. 511-512.
16
QUEIROZ Cristina, Direitos fundamentais: teoria geral, 2. ed. Portugal, Coimbra, 2010, p. 211.
17
ALEXY, Robert, Theorie der Grundrechte. Baden-Baden, Nomos, 1988, p. 468.
18
TORRES, Ricardo Lobo, O direito ao mínimo existencial, Rio de Janeiro, Renovar, 2009, p. 96.
19
PERLINGEIRO, Ricardo, É a reserva do possível um limite à intervenção jurisdicional nas políticas
públicas sociais? Revista de direito administrativo contemporâneo. v. 2, p. 163-185, 2013. Disponível em:
<https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2343965>. Acesso em: 27 abr. 2018.
Assim, todos os poderes devem agir dentro das suas funções típicas ou atípicas,
inicialmente com a razoabilidade e a proporcionalidade, sem deixar de observar o princí-
pio que norteia a democracia que é o interesse público.
Não é razoável, por exemplo, postular-se judicialmente o direito à saúde porque
previsto constitucionalmente para fazer uma cirurgia experimental no exterior de altíssi-
mo custo, porque por uma fatalidade da vida ocorre uma doença raríssima com pouco ou
quase nenhum diagnóstico de cura, que pode no máximo prolongar o sofrimento.
O pedido judicial pode comportar vários objetos dentro da legalidade, mas o Po-
der Judiciário pertencente a estrutura estatal, não pode onerar os cofres públicos e deferir
tratamentos extraordinários e distante da realidade brasileira.
Não está aqui retirando-se direito, ao contrário, todo ser humano tem direito ao
mínimo existencial, ou seja, cuidados à saúde e uma assistência médica com dignida-
de, com uso de todos os recursos disponíveis para uma sobrevida decente e tranquila e
isso não significa exigir do Estado que sacrifique toda uma coletividade em razão de
atendimento de apenas um cidadão. E nestes casos, seria mais razoável postular aos
órgãos competentes os cuidados e atendimento médico mínimos dentro do princípio da
razoabilidade. O Estado não poderá alegar a teoria da reserva do possível, dando con-
dições ao juiz de realizar a ponderação de interesses diante da decisão. E assim, fica
relevante o direito fundamental pleiteado, posicionado dentro dos direitos sociais mí-
nimos com maior relevância ao ser comparado a princípios financeiro-orçamentários,
caso contrário não.
Em respeito ao art. 5º, § 1º da Constituição, bem como ao princípio da máxima
efetividade constitucional, a reserva do financeiramente possível não pode ser aceita
como um obstáculo genérico à aplicabilidade dos direitos sociais, mas como um dire-
cionador da forma pela qual deverão ser alocados os recursos públicos20.
Além disso, ao tratarmos da judicialização da saúde, cabe lembrarmos da exis-
tência de outras duas reservas legais oponíveis à efetivação dos direitos sociais pela via
judicial: (i) a reserva pendente de ponderação e (ii) a reserva do politicamente oportu-
no ou adequado.
Segundo lições de Jorge Reis Novais, a primeira caracteriza-se pelo dever in-
condicional do juiz de ponderar o direito à saúde com os mais diversos outros direitos
que estiverem em conflito no caso concreto21. Afinal, como lembra o constitucionalista
alemão Martin Borowski, “os direitos garantidos como princípios são direitos limitá-
veis”22. A segunda reserva, objetiva o respeito às decisões legislativas e administrati-
vas, tomadas após longos debates, realizados com os membros eleitos pela população
para geri-la.
A própria Constituição impõe limites até mesmo à aplicação dessas reservas le-
gais. A partir do instituto do mínimo existencial, diversos constitucionalistas, como Ana
20
CLÈVE, Clèmerson Merlin, Para uma dogmática constitucional emancipatória, Belo Horizonte, Fórum,
2012, p. 29.
21
NOVAIS, Jorge Reis, Direitos sociais: teoria jurídica dos direitos sociais enquanto direitos fundamentais,
Portugal, Coimbra, 2003, p. 273.
22
BOROWSKI, Martin, La restriccíon de los derechos fundamentales, Revista Española de Derecho
Constitucional, a. 20, n. 59, mar./ago. 2000, p.40.
Paula de Barcellos, Clèmerson Clève, Ingo Sarlet e Ricardo Lobo Torres23, entre outros,
vêm defendendo a tese de que não cabem quaisquer alegações de restrição aos direitos
fundamentais, quando se está buscando a efetivação de seu núcleo essencial.
Enquanto se tratar dessa parcela do mínimo existencial, a doutrina de modo prati-
camente pacífico, entende existir a incidência de um direito público subjetivo oponível
ao Estado, caracterizado pela possibilidade de requerimento judicial.
O mínimo existencial como ficou conhecido esse instituto de proteção do núcleo
essencial dos direitos fundamentais, pode ser entendido como um reforço teórico a efeti-
vação do direito à saúde. Abalizado no princípio da dignidade humana, no direito à vida
e nos próprios alicerces do Estado Democrático e Social de Direito, tornando-se impres-
cindível na busca pela realização dos objetivos fundamentais da República.
Dessa forma ficou definido, nas palavras de Ana Paula de Barcellos, como o “nú-
cleo material do princípio da dignidade humana”24.
Sendo assim, por mais que o direito à saúde possa ser efetivado em menor ou
maior grau, a depender das especificidades fático-jurídicas do caso concreto, é inadmis-
sível sua concretização em uma linha inferior à da mínima dignidade humana25.
Apesar de se entender que o conteúdo jurídico da parcela mínima do direito à
saúde pode variar em razão do momento histórico, da localização geográfica e do
desenvolvimento econômico, social e cultural da comunidade analisada, pode-se
listar, com base nos estudos de Victor Abramovich e Christian Courtis, algumas
condições básicas de saúde, que parecem ser universais, tais quais: (i) o acesso in-
discriminado (principalmente aos mais carentes) a bens, centros e serviços de saúde;
(ii) o alcance a uma alimentação nutritiva e de qualidade, que não acarrete em pro-
blemas de saúde; (iii) o acesso a um lar com condições sanitárias básicas e forneci-
mento de água potável; (iv) a obtenção de medicamentos essenciais, conforme de-
terminar os protocolos do SUS e as portarias do Ministério da Saúde26.
Por oportuno, a insuficiência financeira não exime o Estado de efetivar o di-
reito à saúde em sua parcela relativa ao mínimo existencial. Mas, não podemos esquecer
que o direito à saúde é um direito integralmente fundamental, sofrendo, portanto, como
mencionamos as consequências do § 1º do art. 5º da Constituição Federal.
Em observância a tal dispositivo e ao princípio da máxima efetividade das nor-
mas constitucionais, entendeu-se, ao se analisar a teoria da multifuncionalidade do direi-
to à saúde, bem como o conteúdo da sua parcela relativa ao mínimo existencial, que o
referido direito, em sua dimensão subjetiva, pode e deve ser pleiteado pelos cidadãos
23
BARCELLOS, Ana Paula de, A eficácia jurídica dos princípios constitucionais: o princípio da dignidade
da pessoa humana. 3. ed, Rio de Janeiro, Renovar, 2011, p. 280. CLÈVE, op. cit., 2012, p. 27-28.
SARLET, op. cit., 2005, p. 411-414; TORRES, op. cit., p. 87-89.
24
BARCELLOS, op. cit., p. 247.
25
HACHEM, Daniel Wunder, Tutela administrativa efetiva dos direitos fundamentais sociais: por uma
implementação espontânea, integral e igualitária, Curitiba, 2014. 614 f. Tese (Doutorado em Direito).
Universidade Federal do Paraná, f. 90.
26
ABRAMOVICH, Víctor; COURTIS, Christian, Los derechos sociales como derechos exigibles. 2. ed.
Madrid, Trotta, 2004, p. 89-90. apud HACHEM, op. cit., p. 93.
CONCLUSÃO
A contínua influência que o Judiciário tem exercido nas políticas públicas de
saúde não o isenta de contradições e desafios, além de trazer um debate sobre quais
são os limites e possibilidades em contribuir para a efetivação desse direito. Os es-
paços institucionais internos a este Poder – tais como o Conselho Nacional de Justi-
28
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, Resolução 238 de 06 setembro de 2016, Dispõe sobre a criação
e manutenção, pelos Tribunais de Justiça e Regionais Federais de Comitês Estaduais da Saúde, bem como a
especialização de vara em comarcas com mais de uma vara de Fazenda Pública. Min. Ricardo
Lewandowski. DJe/CNJ, n. 160, 09 set. 2016, p. 8-9.
REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Víctor; COURTIS, Christian, Los derechos sociales como derechos exigibles, 2.ed.
Madrid, Trotta, 2004.
AMARAL, Gustavo, Direito, escassez e escolha: critérios jurídicos para lidar com a escassez de recur-
sos e as decisões trágicas, 2. ed, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2010.
ATIENZA, Manuel, As razões do direito: teorias da argumentação jurídica, 2. ed, São Paulo, Landy,
2002.
ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. Col Livro V coleção aos pensadores, São Paulo, Abril 1987.
BAHIA, Ligia, Espelho meu: a redução da desigualdade nas chances de adoecer e viver é um desafio
incontornável para o exercício do poder político, O Globo, Rio de Janeiro, 11 abr. 2016. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/opiniao/espelho-meu-19046230#ixzz5GeVFp7mb>. Acesso em: 14 abr. 2018.
BARCELLOS, Ana Paula de, A eficácia jurídica dos princípios constitucionais: o princípio da dignidade
da pessoa, 3. ed, Rio de Janeiro, Renovar, 2011.
BARRETTO, Vicente de Paulo, O fetiche dos direitos humanos e outros temas, Rio de Janeiro, Lumes
Juris, 2010
BARROSO, Luís Roberto, Da efetividade à judicialização excessiva: direito à saúde, fornecimento gratui-
to de medicamentos e parâmetros para a atuação judicial, Revista de Direito Social, v. 34, p 11-43, 2009.
______. O direito constitucional e a efetividade de suas normas, Rio de Janeiro, Renovar, 2005.
______. Princípios constitucionais brasileiros ou de como o papel aceita tudo, Revista da Faculdade de
Direito, Rio de Janeiro, UERJ, n 1, v. 1. 1993.
BOBBIO, Norberto, A era dos direitos. 4. tir. LYRA, Regina (Trad.), Rio de Janeiro, Campus, 2004.
BÖCKENFÖRDE, Ernst-Wolfgang, Teoria e interpretación de los derechos fundamentales, in Escritos
sobre Derechos Fundamentales, Baden-Bade, Nomos, 1993.
BOROWSKI, Martins, Los derechos garantizados mediante principios son derechos limitables. La
restriccíon de los derechos fundamentales, Revista Española de Derecho Constitucional, año 20, n. 59,
Março-Agosto 2000.
BRITO, Edvaldo, Reflexos Jurídicos da atuação odo estado no domínio econômico: desenvolvimento
econômico, bem-estar social, São Paulo, Saraiva, 1982.
CALABRESI, Guido & BOBBIT, Philip, Tragic Choices, Ney York, Norton, 1978
CANOTILHO, José Joaquim Gomes, Direito constitucional e teoria da constituição, Coimbra, Almedina,
1998.
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant, Acesso à Justiça, Northfleet, Ellen Gracie (Trad.) Porto Ale-
gre, Sergio Antonio Fabris, 1988.
CARA, Juan Carlos Gavara de, Derechos fundamentales y desarrolo legislativo: la garantia del conteni-
do esencial de los derechos fundamentales en la ley Fundamental de Bonn, Madrid, Centro de Estudios
Constitucionales, 1994.
CITTADINO, Gisele, Judicialização da política, constitucionalismo democrático e separação de pode-
res, in VIANNA, Luiz Werneck (Org.). A democracia e os três poderes no Brasil, Belo Horizonte,
UFMG, Rio de Janeiro, IUPERJ/FAPERJ, 2002.
CLÈVE, Clèmerson Merlin. A teoria constitucional e os direitos alternativo: para uma dogmática consti-
tucional emancipatória, in Uma vida dedicada ao direito: homenagem ao editor dos juristas Carlos
Henrique Carvalho, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1995.
______. O problema da legitimidade do Poder Judiciário e das decisões judiciais no estado democrático
de direito, Debates, n. 20, A Constituição Democrática Brasileira e o Poder Judiciário, São Paulo, Funda-
ção Konrad Adenauer, 1999.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, Judicialização da saúde no Brasil: dados e experiência, Brasí-
lia, 2015. (Coord) ASENSI, Felipe Dutra; PINHEIRO, Roseni. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/fi
les/conteudo/arquivo/2018/02/4292ed5b6a888bdcac178d51740f4066.pdf>. Acesso em: 14 abr. 2018.
GARAY, Alberto F. La igualdad ante la ley, Buenos Aires, Abeledo-Perrot, 1989.
GEERTZ, Cliffod, O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa, 14. ed. Petrópolis,
Vozes, 2014.
GOUVEIA, Carina Barbosa. O direito fundamental à saúde, um olhar para além do reconhecimento,
Brasília, Livraria Gomes e Oliveira, 2015.
GRAU, Eros Roberto, A Constituição brasileira e as normas programáticas. Revista de direito constituci-
onal e ciência política. v. 3, n. 4, p. 37, jan./jun., 1985.
GRECO, Leonardo, A tutela da urgência e a tutela da evidência no Código de Processo Civil – Desven-
dando o novo CPC de 2015, in RIBEIRO, Darci Guimarães; JOBIM, Marco Félix (Orgs.). Desvendando
o Novo Código de Processo Civil, Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2015.
GREGG, Anthony. Henry E. Sigerist: his impact on American medicine. Bull. Hist. Med., Philadelphia;
1948.
GRINOVER, Ada Pellegrini, O controle de políticas públicas pelo Poder Judiciário, Revista de Processo,
v. 164, pp. 9-28, 2008.
KELSEN, Hans, Teoria geral do direito e do estado, São Paulo, Martins Fontes, 1992.
KRELL, Andreas, Discricionariedade administrativa e conceitos leais indeterminados: limites do contro-
le judicial no âmbito dos interesses difusos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013.
MIRANDA, Jorge, Os Direitos Fundamentais – As Dimensão Individual e Social in Cadernos de direito
constitucional e ciência política, 1:198-208, 1992.
NINO, Carlos Santiago, Ética y derechos humanos, Buenos Aires, Astrea, 1989.
NOVAIS, Jorge Reis, Direitos sociais: teoria jurídica dos direitos sociais enquanto direitos fundamen-
tais, Coimbra, Coimbra, 2003.
NUNES, António José Avelãs; SCAFF, Fernando Facury, Os Tribunais e o Direito à Saúde: Coleção
Estado e Constituição. v. 12, 8 jul. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2011.
OLIVEIRA, Fábio Corrêa Souza de, Eficácia Positiva das Normas Programática Revista Brasileira de
Direito, v.11. n.1, 2015.
______. Morte e vida da constituição dirigente, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2010.
OTTO Y PARDO, Ignacio de y MARTIN-RETORRILLO, Lorenzo. Derechos fundamentales y Consti-
tuición. Madrid, Civitas, 1998.
PEGORARO, Lucio, Estudio Introductorio, Transplantes, injertos, diálogos.Jurisprudencia y doctrina
frente a los retos del Derecho Comparado, Disponível em: <http://www.corteidh.or.cr/tablas/r3’121
9.pdf>.
PERLINGEIRO, Ricardo, A tutela judicial do direito público à saúde no brasil, Revista Direito, Estado e
Sociedade, n. 41, p. 184 a 203 jul/dez, 2012.
______, É a reserva do possível um limite à intervenção jurisdicional nas políticas públicas sociais,
Revista de Direito Administrativo Contemporâneo – REDAC, São Paulo, v. 2, p. 163-185, nov. 2013.
______, Novas perspectivas para a judicialização da saúde no Brasil, Scientia Jurídica, Tomo LXII, 2013.
n. 333.
QUEIROZ, Cristina. Direitos fundamentais, teoria geral, Portugal, Coimbra, 2010.
SANDEL J. Michel, Justiça – o que é fazer justiça, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2011.
SARLET, Ingo Wolfgang, A eficácia do direito fundamental `segurança jurídica: dignidade da pessoa
humana, direitos fundamentais e proibição de retrocesso social no direito constitucional brasileiro. in
Revista Brasileira de Direito Comparado, Rio de Janeiro, Instituto de Direito Comparado Luso-
Brasileiro, n 28, p.89-148, 2005.
SARMENTO, Daniel, Direitos sociais: fundamentos, judicialização e direitos sociais em espécie, Rio de
Janeiro, Lumen Juris, 2008.
SCHULZE, Jair Clenio; GEBRAN NETO, Joao Pedro. Direito à Saúde: análise à luz da judicialização,
Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2015.
SEN, Amartya, Desigualdade reexaminada, São Paulo, Record, 2001.
SILVA, Virgílio Afonso da, O judiciário e as políticas públicas: entre transformação social e obstáculo à
realização dos direitos sociais, in SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; STEINMETZ, Wilson Antônio,
Colisão de Direitos Fundamentais e princípio da proporcionalidade, Porto Alegre, Livraria do Advoga-
do, 2001.
STEINMETZ, Wilson Antônio, Colisão de direitos fundamentais e princípio da proporcionalidade, Porto
Alegre, Livraria do Advogado, 2001.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, Sequestro de verbas públicas em favor de doente grave é tema de
repercussão geral, Notícias STF, 19 nov. 2012. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/ver
NotíciasDetalhes.asp?idConteudo=224106.
STERN, Klaus, Derechos del estado de la república federal alemana. Madrid, Centro de Estudios, 1997.
STRECK, Lênio Luiz, Jurisdição constitucional e hermenêutica: uma nova crítica do direito, Rio de
Janeiro, Forense, 2014.
VIEIRA, Oscar Vilhena, 1. Supremocracia. Revista de Direitos do Estado, n. 12, 2008.
WOLF, Hans J; BACHOF, Otto; STOBER, Rolf, Direito administrativo, v. 1. SOUZA, Antônio E. de
(trad.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2006.
YOUNG, Katharine G, The minimum core of economic and social rights: a concept in search of contente,
Boston College Law School From the Selected Works, 2008.
1
Este es un tema que desarrollé en mi Tesis Doctoral. Esta parte no ha sido publicada y la he actualizado y
adecuado para el presente trabajo académico.
2
Doctor Sobresaliente Cum Laude en Derechos Humanos, Máster en Derechos Fundamentales, Máster en
Estudios Avanzados en Derechos Humanos, Especialista en Educación para la Ciudadanía y los Derechos
Humanos, por la Universidad Carlos III de Madrid; Especialista con Matrícula de Honor en Derechos
Humanos por el Instituto de Derechos Humanos de la Facultad de Derecho de la Universidad Complutense
de Madrid; Académico Correspondiente de la Real Academia de Legislación y Jurisprudencia de España.
Abogado por la Facultad de Derecho de la Universidad de San Martín de Porres. E-mail:
jesuco_amag@yahoo.es.
Departamento de Derecho Internacional, Eclesiástico y Filosofía del Derecho. Facultad de Derecho –
Universidad Complutense de Madrid. Sección de Filosofía del Derecho y Derechos Humanos. Real
Academia de Jurisprudencia y Legislación de España. España, Madrid.
they are useful as instruments to access and keep power. This leads me to think about: how
is it that rulers seize power? How do they keep it? and how do they lose it? This paper
answers these three questions based on the magnificent theoretical essays of Vilfredo
Pareto, Gaetano Mosca and Robert Michels. Two Italians and a German, respectively, all
of them essayist from the first eight decades of the twentieth century, whose theories can be
perfectly applied to answer the contemporary questions of our 21st century society.
Keywords: Power, rulers, governed, elites, politics
Sumario: 1. Introducción; 2. Teoría de las élites; 3. La circulación de las élites en Vilfredo
Pareto; 4. La clase política en Gaetano Mosca; 5. La ley de hierro de las oligarquías en
Robert Michels; 6. Michels y los líderes revolucionarios surgidos del pueblo; 7. Pareto,
Mosca y Michels: diferencias y coincidencias; 8. A modo de conclusión; 9. Obras citadas.
Summary: 1. Introduction; 2. Theory of elites; 3. The circulation of elites in Vilfredo
Pareto; 4. The political class in Gaetano Mosca; 5. The iron law of the oligarchies in Robert
Michels; 6. Michels and the revolutionary leaders emerged from the town; 7. Pareto,
Mosca and Michels: differences and coincidences; 8. As a conclusion; 9. Referred essays.
1 INTRODUCCIÓN
Al hablar de élites y de cómo estas logran alcanzar el poder, sin duda alguna, hay
que referirse a tres autores principales: Vilfredo Pareto, Gaetano Mosca y Robert
Michels. Estos, son tres autores que reflexionaron, precisamente, sobre este tema y cuyas
reflexiones las podemos enmarcar en lo que se conoce como la teoría de las élites.
Es un tema que reviste significativa importancia y oportunidad ya que la reflexión
sobre los que gobiernan y sobre el cómo lo hacen, son de especial interés en nuestras
sociedades y sus democracias. La idea pues, de este trabajo académico, es traer a
colación la reflexión sobre estos temas y advertir las coincidencias que se puedan
encontrar con nuestra realidad.
Son Vilfredo Pareto y Gaetano Mosca, los que tuvieron gran ascendencia en las
ideas de Robert Michels.
Si nos enfocamos en la problemática que persiste en muchas sociedades, en la
ineficiencia de los derechos humanos, y en la falta de derechos que verdaderamente
doten a la humanidad de una objetividad material de bienestar, resulta obvio que algo
anda manifiestamente mal. Es muy posible que esta persistente mala situación se deba a
una mala gobernabilidad de quienes nos gobiernan; siendo así, parece presentarse
ostensiblemente palpable la acuciante exigencia palmaria de tener gobernantes
realmente aptos y sabedores de lo que es imperiosamente necesario en aras de
alcanzar un desarrollo social honesto, recto y respetuoso con los derechos y con la
dignidad de cada una de las personas.
Estamos ya en pleno siglo XXI y se suele usar esto como argumento para
reclamar, que pese a ello, aún se mantengan ciertas situaciones o problemáticas
sociales. Es como si por el hecho de estar en nuevo siglo, las cosas debieran cambiar
sin más. Claro está, que esto es un error o pura demagogia argumentativa. El paso
del tiempo no cambia las cosas por el solo hecho de pasar. Son los hechos concretos,
las voluntades y las decisiones las que logran los cambios sustanciales. Entonces, se
requiere de voluntades que estén bien formadas en valores y principios que sustenten
y defiendan el respeto de los unos a los otros. De esto se necesita tener la firma
convicción, y aún más quienes deciden gobernar.
La educación y, sobre todo, la educación moral, reflexiva y crítica, es pilar de
la correcta formación de líderes, es decir, de aquellas personas que se erigen a gobernar
las sociedades. Estos deben ser líderes honestos, respetuosos, responsables y capaces de
velar por los intereses de toda la sociedad y no únicamente de los suyos propios y de sus
allegados; líderes comprometidos en conducir el presente y el futuro de la humanidad,
sabiendo que la humanidad somos todos los seres humanos. Se trate de un régimen u
otro, de una forma de gobierno u otra, la exigencia de líderes verdaderamente aptos es de
vital importancia para nuestras llamadas democracias.
Ante la ausencia de estas capacidades, la consecuencia inevitable es el
distanciamiento y el desinterés de los ciudadanos hacia sus gobernantes y, con ello, hacia
el desarrollo de la sociedad como conjunto. Es decir, se produce una desconexión de las
personas con sus líderes porque, los primeros, no creen en los segundos, ya que las
situaciones sociales, problemáticas e injustas, no encuentran remedio. Este desapego
hace que los ciudadanos se centren en resolver solamente sus propios problemas y no
tengan en cuenta las demás situaciones que suceden en su entorno y con los demás. Aquí
pues, toca entrar al tema propio de la teoría de las élites.
(...) prescindiendo del contenido concreto de cada caso, la forma común a todas estas
revoluciones era la de ser revoluciones minoritarias. Aun cuando la mayoría cooperase en
ellas, lo hacía –consciente o inconscientemente – al servicio de una minoría; pero esto, o
simplemente la actitud pasiva, la no resistencia por parte de la mayoría, daba al grupo
minoritario la apariencia de ser el representante de todo el pueblo3.
3
ENGELS, F., “Introducción a la obra de Carl Marx. Las luchas de clases en Francia de 1848 a 1850”, en
Obras escogidas. Marx y Engels, tomo I, Progreso, Moscú, 1980, pp. 98 y 99.
Según la teoría de las élites, las clases políticas se originan a partir de dos ideas o
pensamientos. Para empezar, se cuenta con la idea aristocrática, que surge desde arriba;
luego, y en segundo lugar, se cuenta con la idea democrática, que surge desde abajo. La
idea aristocrática se distingue, especialmente, por la organización militar burocrática; en
cambio, la idea democrática, está más determinada por una organización del sistema
electoral. El sistema electoral, impulsa un vigilado desarrollo de la circulación de las
élites dado que, generalmente, la clase política cuenta con los mecanismos e
instrumentos para encaminar la voluntad de los electores.
Las élites están conformadas por un número menor de integrantes; sin embargo,
cualitativamente, poseen superiores capacidades; asimismo, las élites están provistas de
una organización estructurada y dirigen las fuerzas sociales; también tienen
contactos y parentescos. Aunque son minoría, la élite vence, gracias a que se hacen
con el poder sirviéndose de la organización, y aprovechando la desorganización de
las mayorías. Las masas mayoritarias y desorganizadas se ven incapacitadas frente a
la posición de poder organizado que alcanza la minoría. La organización le da
preeminencia a la minoría. La élite al ser numéricamente minoritaria, logra un
recíproco entendimiento, un conveniente consenso y un concertado accionar; esto
dificulta cualquier intento en contrario de las masas numerosas. Las élites se
orientan por la razón, por el cálculo y por el conocimiento; en cambio, las masas – y,
por lo regular, quien no sea de la élite – se conducen, primordialmente, por el
sentimiento. Y de esto también sacan rédito las élites, pues cuando estas tienen algún
interés y requieren del auxilio de las masas para conseguirlo, las élites, se sustentan
en el estímulo que causa la sensibilidad de estas masas.
En la teoría de las élites, verdaderamente, la lucha por el poder tiene lugar dentro
de la propia clase gobernante. Esta lucha de dentro, no implica, inexorablemente, que las
masas o la sociedad en su conjunto acaben siendo dañadas. Si la clase que ya gobierna es
mejor o, si no lo es, se reemplaza por otra de superior calidad, la sociedad en su conjunto
también prosperará. No obstante, si la clase gobernante no mejora ni se suple por una de
mayor calidad, entonces, la sociedad se atasca, para caer luego en un insalvable declive,
que puede determinar que la misma se separe por completo.
De agredirse la preeminencia de la clase gobernante, esta última debe reaccionar
de forma recíproca, fuerza contra fuerza. De no hacerlo así, la élite terminaría desgastada
y expuesta a la implantación de cualquier otro conjunto minoritario. Para la teoría de las
élites, también puede suceder que la clase gobernante no se valga de la fuerza y utilice el
fraude, el embuste y el engaño para derrotar a su adversario; si este fuera el caso, la clase
gobernante, solo logrará que el poder se desplace de una minoría a otra o que la suya
propia se restaure con nuevos miembros. Para los autores que desenvuelven esta teoría
de las élites, cuando se habla del ideal de usar la ley en vez de usar la fuerza, esto supone
hundirse en una lamentable ilusión.
Según Pareto, existe una diferencia entre los grupos sociales, y que esta
diferencia se manifiesta en el hecho de que las personas son física, moral e
intelectualmente diferentes. Así, sostiene que hay determinadas personas que son
superiores a otras; estas son las que Pareto llama las élites, para referirse a esa
superioridad. Estas personas son superiormente mejores –la élite – en inteligencia,
carácter, habilidad, capacidad, y poder. Esta clase superior o selecta, es la que posee
los pilares de importancia mayor, dentro de cada una de las fracciones en que se
reparten las actividades de los individuos. Pareto, como dije antes, diferencia en dos
a la élite, llamándoles también:
4
PARETO, V., Forma y equilibrio sociales, traducido por Jesús López Pacheco, Alianza, Madrid, 1980, p.
70.
5
Ibídem, p. 71.
Está claro que, cuando los gobernados se apoyan en la violencia, existirán los
que la reprueben; y, asimismo, existirán otros que reprobarán la violencia si es que
esta es estimulada por los gobernantes. Según Pareto, todos los gobiernos ejercitan
la fuerza y todos aseveran que su utilización es justificada. La fuerza la utiliza el que
pretende mantener el poder existente, pero también, el que quiera romperlo. La
fuerza de uno y otro lado se oponen y, repeliéndose la una de la otra, se hacen frente.
Quien es seguidor de los gobernantes, cuando desaprueba el empleo de la fuerza, lo
que hace realmente es desaprobar su utilización por parte de los que se separan para
distanciarse del orden estatuido y homogéneo. Sin embargo, cuando este mismo
adepto de los gobernantes aprueba y disculpa el uso de la fuerza, lo que hace realmente,
es respaldar la utilización de esta fuerza que ejercen los gobernantes para coaccionar y
obligar a la homogeneidad del orden estatuido a quienes buscan emanciparse y liberarse
de él. Del otro lado, es decir, si lo vemos desde el enfoque de un partidario de los
6
Ibídem, p. 72.
gobernados, cuando este reprueba el uso de la fuerza, lo que hace realmente, es condenar
la utilización de la fuerza que ejercen los gobernantes con el objeto de que los que
pretendan separarse de la uniformidad, no lo hagan. Si el adepto de los gobernados, da
por bueno el ejercicio de la fuerza, se está refiriendo al uso que hacen de ella los que
buscan distanciarse de determinadas uniformidades del orden estatuido.
Se puede inferir, entonces, según el desarrollo de Pareto, que la clase gobernante
que no sabe o no consigue ampararse en la fuerza, necesariamente, está destinada a
desmoronarse. No obstante, un gobierno no se mantiene en el tiempo si solo se ampara
en la fuerza. Para Pareto, la élite gobernante tiene la responsabilidad de utilizar la fuerza;
cuanto más incapaz sea de utilizarla, más incumplirá este deber. El deber de utilizar la
fuerza, es el principal deber de la clase gobernante.
es la que sustenta la dirección real y efectiva del Estado. Por mucho que un gobierno se
sostenga en todo tipo de estándares y principios legales que nieguen y rechacen el
control por parte de una minoría, la realidad siempre será otra.
Para Mosca es el liberalismo el más idóneo instrumento entre la aristocracia y la
democracia. El liberalismo, sería el sistema mediante el cual los servidores públicos son
elegidos desde abajo, de forma directa o indirecta, por los subordinados. Los servidores
públicos son escogidos del conjunto limitado de seres humanos que son sabios,
experimentados, responsables y devotos, y que son los más aptos para ejercitar el
gobierno: es la minoría aristocrática la que posee autoridad, pero no un poder ilimitado.
La presencia de estos límites, frenos y equilibrios en el poder, según Mosca, es lo que,
primordialmente, determina que el liberalismo sea lo que es.
Las mayorías, especialmente las que no cuentan con recursos ni preparación,
jamás controlan a las minorías y, menos aún, cuando las minorías poseen muchos
medios económicos y son preparadas. Es claro que Mosca esta recriminando al
marxismo; además, sostiene que la pretendida dictadura del proletariado se referiría solo
para una clase muy limitada; sería una dictadura ejercida únicamente en representación
del proletariado. Los dominados sí que consiguen ejercer tensión sobre el poder y, con
ello, consiguen influir en las decisiones tomadas por el grupo dominante. El desencanto y
desilusión de las mayorías puede terminar con el declive de una clase; empero, no se
puede impedir que otra clase semejante aflore de estas mismas mayorías; esta nueva
clase sería la que ejerza las labores de la clase dominante.
Cuanto más organizada sea la minoría –en contraste con una mayoría
desorganizada – mayor será su poder y su firmeza. La ausencia de organización en las
mayorías, sitúa a los sujetos que la integran en una posición de indefensión en relación y
proporción a la minoría. La minoría organizada primará y prevalecerá por encima de la
mayoría desorganizada. La minoría organizada estructuralmente posee también
cualidades que le otorgan superioridad material, intelectual y moral, o bien, lo han
heredado de quienes los poseen. Por ello, Mosca afirma que las clases políticas son
propensas a tornarse en clases hereditarias por derecho o, al menos, sustentándose en los
hechos. Cuanto más extendida y grande sea la comunidad política, menor será la
correspondencia de la minoría gobernante en contraste con la mayoría gobernada; en esta
situación, le resultará más difícil a la mayoría gobernada organizarse para proceder en
contra de la minoría gobernante8.
La jerarquía, según Mosca, es una parte indispensable al interior de la sociedad
humana; y es por esto, que siempre habrá los que mandan y los que obedecen. Los que
mandan, por lo general, son minoría y, además, son los que ejercen las labores políticas,
los que acumulan el poder y los que disfrutan de las ventajas que él otorga. Los que
8
MOSCA, G., La clase política, traducido por Marcos Lara, Fondo de Cultura Económica, México D. F.,
2004, p. 94. Gaetano Mosca dice también que: “(…) además de la enorme ventaja que proviene de la
organización, las minorías gobernantes están constituidas por lo común de una manera tal, que los
individuos que las componen se distinguen de la masa de los gobernados por ciertas cualidades que les
otorgan cierta superioridad material e intelectual, y hasta moral; o bien son los herederos de los que
poseían estas cualidades. En otras palabras, deben poseer algún requisito, verdadero o aparente, que sea
altamente apreciado y se valore mucho en la sociedad donde viven.”
obedecen, son, numéricamente, la mayoría y ellos son los que terminan siendo
conducidos y ordenados por los que mandan mediante procedimientos legales o
utilizando medios arbitrarios y violentos:
En efecto, la autocracia, ya sea que el jefe supremo que está en el vértice de la pirámide
política ejerza su autoridad en nombre de Dios o de los dioses, ya que la reciba del
pueblo o de quienes presumen representarlo, proporciona una fórmula política, o sea
un principio de autoridad y una justificación del poder, que resulta, clara, simple y
fácilmente comprensible para todos. No puede haber organización humana sin
jerarquía, y cualquier jerarquía exige necesariamente que algunos manden y otros
obedezcan; y puesto que está en la naturaleza del hombre que muchos de ellos
quieran mandar y que casi todos acepten obedecer, resulta bastante útil una
institución que da a los que están arriba la manera de justificar su autoridad, y al
mismo tiempo ayuda a persuadir a los de abajo a que deben admitirla10.
(...) muchas veces ocurre que, junto al rey o al emperador hereditario, hay un primer
ministro o un mayordomo de palacio que tiene un poder efectivo por encima del
propio soberano; o que, en lugar del presidente elegido, gobierna el político
influyente que lo ha hecho elegir. Algunas veces, por circunstancias especiales, en vez
de una persona sola, son dos o tres las que toman a su cargo la dirección suprema11.
9
Ibídem, p. 91 y 92.
10
Ibídem, p. 260
11
Ibídem, p. 92.
Los sujetos que se movilizan de una posición social a otra, conservan sus
actitudes intelectuales, pero cambian sus actitudes morales, lo que se puede percibir
a través de los sentidos y del entendimiento. De esta forma, existe la posibilidad de
que el servil se vuelva arrogante y el humilde orgulloso. Es cierto, también, que
quien asciende desde abajo suele desarrollar el sentir de justicia y de equidad.
El lograr de hecho el poder, por parte de la clase política, no es suficiente. La
clase política justifica su poder, proporcionándole un sustento moral y legal. Hacen
que el surgimiento de su poder se tome como la consecuencia indispensable de
doctrinas y creencias, las que usualmente son las aceptadas y reconocidas en esa
sociedad que conduce la clase política. La clase política consigue ampliar su existencia
en el tiempo, cuando sabe gestionar la reforma oportuna de las clases dirigentes; en este
12
Ibídem, p. 108
13
BOURDIEU, P., Poder, derecho y clases sociales, traducido por Mª José Bernuz Beneitez, Desclée, Bilbao,
2001, p. 194.
bajas ayuden a derribar al gobierno que exista. Finalmente, puede darse el caso que
la clase dominante que existía sea reemplazada por otra, y esto servirá de poco o nada
provechoso para las masas. Vemos pues, que para Gaetano Mosca, el aislamiento de las
masas, las contrariedades y rivalidades entre cultura, creencias y educación de las clases
sociales, podrían hacer que se constituyan – en la parte interna de la masa – una nueva
clase dirigente, la que es, por lo regular, contraria a la que viene ejerciendo el poder. Si la
clase baja se organiza debidamente, podría provocarle grandes dificultades a los
gobernantes. Las mayorías dominadas logran influir sobre sus dominadores que
conforman la clase política; es más, si el pueblo es infeliz podría lograr el derribo de su
clase política. De la misma manera, las clases dirigidas van con los dirigentes mientras
compartan opiniones y creencias. La presión de las mayorías, acrecentada por su falta de
contento, podría lograr determinada influencia en la clase política. Si la falta de contento
llega a ser muy grande y, con ello, se provocará el derrocamiento de la clase dirigente,
surgirá, indispensablemente, en la masa, una nueva minoría organizada que sustituirá a la
clase política derrocada.
Mosca, al igual que Pareto, opina que cualquier clase política tiene que
reemplazarse con sujetos de las clases inferiores puesto que ellos conservan activas las
tradicionales reacciones de lucha que contribuyen a su conservación, como individuos
que son. El aislamiento de una clase tiene como consecuencia el decaimiento de la
misma, y esto es así porque se queda sin la capacidad de operar competentemente en
sus asuntos y en los de la sociedad. Por lo tanto, por el aislamiento, frente a un
conflicto con los contrarios externos o internos, el sistema político se cae a la
primera15.
Situándome en otra cuestión, debo anotar que a Gaetano Mosca el sufragio
universal nunca le resultó real y verdadero. Por el contrario, le pareció algo
quimérico, dudoso o puramente nominal. Para él, el sufragio universal se apoya en la
engañosa creencia sobre que los electores eligen a sus representantes; no obstante, lo
que pasa realmente es una situación diferente: el representante se hace elegir por los
electores. Para Mosca, la soberanía popular –como resultado del sufragio universal –
no es más que un mito extremadamente riesgoso, con el que se busca que la
sociedad crea que es ella quien gobierna, y que los servidores públicos elegidos
están para servirle. Siendo así, la democracia parlamentaria se sustentaría en la idea
jurídica de que el representante es elegido por la mayoría de los electores; sin
embargo, la realidad de los hechos demuestra una situación muy diferente. En un
proceso electoral se sabe bien que el elegido no es determinado, como tal, por los
votos de los electores; más bien, se sabe que, en general, se hace elegir por ellos –
que es una situación muy diferente – o, si se quiere, son los amigos del elegido los
que lo hacen ser tal. La existencia de un candidato se debe a la labor de un conjunto
de sujetos unidos por un fin común, de una minoría organizada que se impone a la
mayoría desorganizada:
15
ZEITLIN, I., “Gaetano Mosca (1858-1941)”, en Ideología y teoría sociológica, traducido por Néstor A.
Míguez, Amorrortu, Buenos Aires, 1970, p. 224.
18
MICHELS, R., Los partidos políticos 2. Un estudio sociológico de las tendencias oligárquicas de la
democracia moderna, traducido por Enrique Molina de Vedia, Amorrortu, Buenos Aires, 1996, pp. 191 y
192.
Para Michels, no existe contradicción esencial entre la doctrina que postula que la
historia es el registro de una serie continua de luchas de clases, y la doctrina que postula
que las luchas de clases invariablemente culminan en la creación de nuevas oligarquías
que llegan a fundirse con las anteriores. La existencia de una clase política no contradice
los supuestos esenciales del marxismo, siempre que juzguemos al marxismo como una
filosofía de la historia y no como un simple dogma económico.
En cada caso particular el dominio de una clase política se origina como resultado
de las relaciones entre las diferentes fuerzas sociales que pugnan por la supremacía; esto
claro, si entendemos a esas fuerzas de forma dinámica y no cuantitativamente. Este
dinamismo lo podemos advertir de las distintas corrientes democráticas de la historia, las
cuales lucen como ondas sucesivas, golpean sobre la misma playa y se renuevan
constantemente. El constante espectáculo es, a la vez, alentador y depresivo:
Estas son ideas centrales que Michels plasma en su obra de 1911, Los
partidos políticos, donde además elabora su teoría de las élites. Para Michels, Marx
no logró prever que la democracia, inevitablemente, lleva a la oligarquía; y es a esta
inevitabilidad a lo que Michels llama la ley de hierro de la oligarquía.
La especialización de las labores es un requisito de toda gran organización;
con ello, se produce inevitablemente una separación entre el pueblo –que es el
mayoritario – y sus dirigentes. Esto hace que el surgimiento de la oligarquía resulte
determinante en toda gran organización. Las minorías usan su organización para
poder controlar a las mayorías, y esto comporta la aparición de la oligarquía; así, las
grandes organizaciones terminan divididas en una minoría de dirigentes y en una
mayoría de dirigidos. Las grandes organizaciones suelen prosperar y hacerse cada
vez más fuertes y, con ello, también sus dirigentes. De esta forma, cuanto más fuerte
es la organización, mayor será la necesidad de poder de los dirigentes. Luego, la
democracia es la que termina viéndose afectada. Michels, afirma con mucha
firmeza, allá por el año 1911, cuando escribía su obra Los partidos políticos, algo
que, curiosamente, encaja muy bien en nuestra actualidad. No hay que ser muy
profundo para advertir que, en la actualidad, existe un sistema de poderes
inescrupulosos que nos impulsa a caer en un estado de dependencia innecesario, con
el único fin de lograr controlarnos para instaurar y mantener determinados intereses
de privilegio: “En la sociedad de hoy, el estado de dependencia que resulta de las
19
Ibídem, pp. 195 y 196.
20
MICHELS, R., Los partidos políticos 1. Un estudio sociológico de las tendencias oligárquicas de la
democracia moderna, traducido por Enrique Molina de Vedia, Amorrortu, Buenos Aires, 1996, p. 56.
21
HALLER, V., Restauration der Staats-Wissenschaft, oder, Theorie des natürlich-geselligen Zustands der
Chimäre des künstlich-bürgerlichen entgegengesetzt, vol. I, Steinerischen Buchhandlung, Winterthur, 1816,
pp. 304 y siguientes.
22
MICHELS, R., Los partidos políticos 2. Un estudio sociológico de las tendencias oligárquicas de la
democracia moderna, cit., pp. 192 y 193: Michels aclara que no tiene la intención de “(…) negar que todo
movimiento revolucionario de la clase trabajadora y todo movimiento inspirado sinceramente en un espíritu
democrático, puedan tener cierto valor como contribuciones al debilitamiento de las tendencias oligárquicas.
El campesino de la fábula dice a sus hijos en el lecho de muerte que hay un tesoro escondido en el campo.
Después de la muerte del anciano los hijos escarban por todos lados para descubrir el tesoro; no lo
encuentran, pero su labor infatigable mejora la tierra y les proporciona relativo bienestar. El tesoro de la
fábula bien podría simbolizar a la democracia. La democracia es un tesoro que nadie descubrirá jamás por la
búsqueda deliberada; pero si continuamos nuestra búsqueda, al trabajar infatigablemente para descubrir lo
indescubrible, realizaremos una obra que tendrá fértiles resultados en el sentido democrático. (…) A veces
(…) los principios democráticos traen consigo, sino una cura, al menos un paliativo para el mal de la
oligarquía.”
ser dirigidos, se corresponde y concuerda bien con el impulso instintivo de los líderes por
conseguir el poder. La masa se satisface a sí misma obteniendo a un líder que la conduzca,
y esta necesidad, una vez satisfecha, hace que se le rinda culto y se le tome por héroes a los
líderes elegidos. En este mismo sentido Wrigth Mills escribirá que:
(...) el pueblo no ve claro y tiene que colocar, como un niño confiado, todo el mundo nuevo
de la política exterior y la acción estratégica y ejecutiva en manos de expertos. Es que todo
el mundo sabe que alguien debe dirigir el cotarro, y que alguien suele hacerlo. Los otros
no se preocupan realmente, y, además, no saben cómo hacerlo24.
Michels apuntará, que las masas ven como un deber sagrado el prodigar una
sincera gratitud a sus líderes; y esta gratitud, generalmente, la expresan reeligiendo
sucesivamente a sus líderes merecedores de ello, manteniéndolos en el poder por
siempre. Así, con la mayor prolongación del liderazgo, este se convertirá en una casta
cerrada. No obstante, si el pueblo se siente defraudado o conculcado en sus derechos, es
posible también que no les reconozcan ninguna gratitud a sus dirigentes y que los
depongan. Algunos líderes se colocarán como defensores y consejeros sinceros del
pueblo; estos usualmente son perseguidos, aprisionados u obligados al exilio.
Entonces, según Robert Michels, la mayor competencia y capacidad de los
líderes conlleva a la aparición de la oligarquía dado que las mayorías masificadas se
subordinan a ella otorgándole una potestad que, con el paso del tiempo, deteriora y acaba
con la democracia. Llegado a estos términos –de oligarquía – las mayorías masificadas
son manipulables y susceptibles de aceptar cualquier mentira como verdadera, e incluso
los líderes pueden llegar a convencerlas de que hacen, escriben y hablan en su nombre,
cuando realmente no es así. Y si nos ponemos en la actualidad, advertiremos que esto
sigue aconteciendo sin reparo alguno, y las masas siguen votando a quienes les manipula
abiertamente:
(...) los poderes inescrupulosos de hoy ya no buscan someter a nadie por la fuerza;
todo lo contrario, Lo que hacen es forjar a los ciudadanos a su conveniencia para
que sus capacidades de reflexión y crítica se vuelvan manipulables y mínimas,
logrando de esta manera que, incluso, por esa ceguera provocada, los ciudadanos
estén de acuerdo con ellos pese a que ponen en riesgo su propio bienestar y
menoscaban sus derechos. (...) La política estatal de hoy es más el sinónimo de
oportunismo político por el poder (...)25.
24
MILLS, C. W., La élite del poder, traducido por Florentino M. Torres y Ernestina de Champourcin, Fondo
de Cultura Económica, México D. F., 2001, p. 274.
25
CONTRERAS UGARTE, J. V., Las determinaciones políticas en materia de derechos humanos.
Cavilaciones a partir de la ética weberiana y de la fuerza trascendental hegeliana, Editorial Académica
Española, Berlín, 2018, pp. 137-138.
políticamente culta. Su falta de capacidad las hace masas de poco vigor y de poca
fuerza para alcanzar una correcta organización; por ello, es que necesitan de líderes,
y por su debilidad no son capaces tampoco de resistirse con eficiencia en contra de
las decisiones de los líderes. Un ejemplo de ello es la falta de resultados concretos
en la multiplicidad de huelgas y revueltas políticas que se producen; esto es reflejo
de la debilidad y la ausencia de líderes dentro de la mayoría masificada.
regular, termina siendo sometido. Esta situación cambia cuando la incapacidad de los
líderes es manifiestamente clara; frente a ello, el pueblo cobra un rol activo en su historia
y suele derrocar el poder de la oligarquía constituida. Las revueltas autónomas del
pueblo son consecuencia de una sustancial falta de aceptación hacia las decisiones de los
gobernantes. Las revueltas del pueblo suelen ser dirigidas por nuevos líderes que surgen
de su propio seno; sin embargo, no es raro que estos líderes se desliguen de las relaciones
que tienen con su pueblo para poder pactar con los líderes contrarios, ofreciéndoles a
estos que luego ordenaran el cese de la revuelta. El pueblo, ante esta situación se enoja,
pero nada puede hacer porque no tiene la fuerza para sancionar la traición de los que
fueron sus líderes. Cuando las revueltas del pueblo tienen éxito y logran acabar con sus
líderes, lo que realmente ha sucedido es que los líderes no han conseguido ponerse de
acuerdo y han perdido su unión, lo que les ha generado la destrucción entre ellos mismos
y con el apoyo del pueblo.
Para Michels, si el cambio social no se da a través de una revolución,
entonces se da desde la unión o mezcla de las posiciones contrarias o distintas que
hay entre los viejos líderes y los nuevos, a través de un proceso que hace llenar –con
unos y otros viejos y nuevos líderes – las vacantes que se producen en el seno de los
gobernantes y mediante el voto de ellos mismos. Aquí estamos ante un cambio de
producto de una mezcla de intereses. Los individuos más virtuosos, resultan siendo
líderes potencialmente revolucionarios y, en tiempos de calma, es decir no
revolucionarios, estos individuos se encuentran sujetos a una pluralidad de
tentaciones que buscan cautivarlos. Así, de acuerdo con Michels, la verdadera
disputa no se sitúa entre el pueblo y sus gobernantes; la verdadera disputa se da entre
los líderes que ya tienen el poder y los nuevos líderes que afloran desafiantes y en
busca de ser promovidos hacia la toma del poder:
De otro lado, Javier Barraycoa explica que existe una tendencia a generar
apoliticismo en las democracias de las sociedades de masas, es decir, como lo
sostiene Max Weber, para garantizar a la estructura de poder se debe tender a
propiciar que no todos los ciudadanos pretendan llegar al poder, de lo contrario la
26
MICHELS, R., Los partidos políticos 1. Un estudio sociológico de las tendencias oligárquicas de la
democracia moderna, cit., pp. 206 y 207.
situación sería muy combativa, inconstante e insegura. Esta idea se reafirmaría con
lo que propone Robert Michels:
(...) toda organización social, incluyendo los partidos políticos, tiende a la oligarquización
jerárquica. La oligarquización permite apartar las masas de la dirección de los partidos y
convertirlos así en organizaciones efectivas. Igual ocurriría con la estructura de poder: en
la medida en que se oligarquiza y aleja las masas del interés y la participación política, su
gobierno se hace más efectivo27.
27
BARRAYCOA, J., Sobre el poder. En la modernidad y la posmodernidad, Homo Legens, Madrid, 2019, p.
219.
28
THERBON, G., ¿Cómo domina la clase dominante? Aparatos de Estado y poder estatal en el feudalismo,
el socialismo y el capitalismo, traducido por Fernando Valero, Siglo XXI, Madrid, 2016, p. 157.
Este autor alemán está vinculado con los otros dos autores italianos. Ya lo decía
Pablo Lucas Verdú: “La contribución de estos autores a la Ciencia Política italiana
soslayó el predominio, tan fuerte en las Ciencias Sociales, del idealismo italiano (...),
subsistió durante el fascismo y se replantea en nuestros días (...)”30.
Tanto Pareto, Mosca y Michels consideran que cualquier sociedad –desarrollado
o no – está compuesta por dos grupos de personas: un grupo que constituye a la élite que
lidera, y otro que integra a la masa o pueblo gobernado. El grupo de la élite es la minoría,
es el que se ocupa de los asuntos y de las labores políticas, es el que acapara en
exclusividad el poder y disfruta de las condiciones favorables que este le otorga. El
grupo de la masa gobernada, es siempre la mayoría en número y es dominada de forma
directa por el primer grupo: “Las semejanzas existentes entre estos tres autores (...)
residen en el manifiesto reconocimiento del fundamento minoritario del poder y en
su realismo metodológico.”31
Mosca y Pareto rechazan la lógica, la teoría y la filosofía del socialismo en su
versión radical y marxista; no la aceptan por su separación y exclusión de los sujetos
reales de la sociedad y por su baja utilidad práctica. En contraste con ello, Michels sí
que vuelve a tomar, para algunos supuestos, la metodología de Marx.
Mosca arma su teoría de la clase política valiéndose del método histórico-
comparativo usándolo en el ámbito político-institucional. Pareto usa el mismo método,
aunque desde un plano multidimensional; así, analiza los fenómenos sociopolíticos en
un ámbito analítico-abstracto, según la psicología social, la antropología cultural, la
estructura económica y la movilidad social.
29
PRADERA, J., Corrupción y política. Los costes de la democracia, Galaxia Gutenberg, Barcelona, 2014,
p. 166.
30
Lucas Verdú, P., Principios de ciencia política, Tomo I: Introducción. Hombre y política, ideologías, mitos
y tecnocracia, Tecnos, Madrid, 1977, p. 59.
31
ALBERTONI, E., Historia de las doctrinas políticas en Italia, traducido por José Florencio Fernández
Santillán, Fondo de Cultura económica, Méxiso D. F., 1986, p. 217.
8 A MODO DE CONCLUSIÓN
He procurado abordar en el espacio que corresponde a este tipo de trabajo
académico los conceptos más relevantes de la teoría de las élites y de la reflexión de esta
sobre nuestra actualidad. Es un tema que cobra peculiar notoriedad y autores como
Mosca, Pareto y Michels, deben ser nuevamente revisados y estudiados ya que en ellos
es posible que encontremos una explicación clara y real sobre nuestra realidad social y
humana, y sobre los infortunios que hoy yacen en nuestras relaciones. Si queremos
Revista Internacional Consinter de Direito, n. XI, 2º semestre de 2020 175
Jesús Víctor Alfredo Contreras Ugarte
enmendar nuestra actitud social, primero hay que conocer y entender cuál es el error real
a corregir, sabiendo sus posibles, verdaderas y peores consecuencias.
Parece cierto, que las riquezas heredadas o las conseguidas sin esfuerzo y
capacidad y los nexos familiares y amicales, son las causas principales para que no haya
una libre circulación de individuos que sean realmente capaces para desenvolverse en las
élites y, más bien, se promueve la incorporación de otros, a los que podríamos identificar
como los etiquetados.
Si la élite gobernante no inserta a los sujetos competentes y extraordinarios,
provoca inestabilidad y conflicto. La historia y la actualidad evidencian que, ante esa
situación, se crea una oscilación en el cuerpo político y social. En última instancia, más
tarde o más temprano, esta circunstancia está destinada a corregirse ya sea dando
apertura a nuevos accesos de movilidad de los mejores hacia la élite o, ya sea mediante
un arrebatado abatimiento de la antigua e incapaz élite gobernante por parte de una
nueva élite que sí sea capaz de gobernar.
De otro lado, la pugna entre los líderes y el pueblo conlleva como consecuencia,
que los líderes venzan. En caso de que el pueblo se subleva, su agitación acaba siendo
sometida y apagada. Se puede aquí observar alguna concurrencia con Max Weber, lo que
resulta oportuno apuntar ahora:
32
WEBER, M., Economía y sociedad, traducido por José Medina Echevarría, Juan Roura Farella, Eugenio
Ímas, Eduardo García Máynes y José Ferrater Mora, Fondo de Cultura Económica, Madrid, 2002, p. 704.
33
ABELLÁN, J., Democracia. Conceptos políticos fundamentales, Alianza, Madrid, 2011, pp. 250-251.
sujetos del pueblo que luego lideren el ejercicio de la fuerza. El aferrarse en negar a una
determinada élite tendrá como consecuencia la autocracia y, con ello, el aislamiento de la
clase gobernante y su subsiguiente decadencia y desplome. Es en las clases inferiores
donde están los más eficaces, vigorosos y enérgicos líderes que necesita la élite
gobernante para renovarse; renovándose, mediante una actitud integradora y abierta, se
elude que la élite gobernante termine siendo frágil y endeble o decaer en una autocracia.
9 OBRAS CITADAS
ABELLÁN, Joaquín, Democracia. Conceptos políticos fundamentales, Alianza, Madrid, 2011.
ALBERTONI, Ettore A., Historia de las doctrinas políticas en Italia, traducido por José Florencio Fernández
Santillán, Fondo de Cultura económica, México D. F., 1986.
BARRAYCOA, Javier, Sobre el poder. En la modernidad y la posmodernidad, Homo Legens, Madrid, 2019.
BOURDIEU, Pierre, Poder, derecho y clases sociales, traducido por Mª José Bernuz Beneitez, Desclée, Bilbao,
2001
CONTRERAS UGARTE, Jesús Víctor, Las determinaciones políticas en materia de derechos humanos.
Cavilaciones a partir de la ética weberiana y de la fuerza trascendental hegeliana, Editorial Académica
Española, Berlín, 2018.
ENGELS, Federico, “Introducción a la obra de Carl Marx. Las luchas de clases en Francia de 1848 a 1850”, en
Obras escogidas. Marx y Engels, tomo I, Progreso, Moscú, 1980.
HALLER, Von, Restauration der Staats-Wissenschaft, oder, Theorie des natürlich-geselligen Zustands
der Chimäre des künstlich-bürgerlichen entgegengesetzt, volumen I, Steinerischen Buchhandlung,
Winterthur, 1816.
LUCAS VERDÚ, Pablo, Principios de ciencia política, Tomo I: Introducción. Hombre y política,
ideologías, mitos y tecnocracia, Tecnos, Madrid, 1977.
MEISEL, James, El mito de la clase gobernante. Gaetano Mosca y la élite, Amorrortu, traducido por
Flora Serato, Buenos Aires, 1962.
MICHELS, Robert, Los partidos políticos 1. Un estudio sociológico de las tendencias oligárquicas de la
democracia moderna, traducido por Enrique Molina de Vedia, Amorrortu, Buenos Aires, 1996.
– Los partidos políticos 2. Un estudio sociológico de las tendencia oligárquicas de la democracia
moderna, traducido por Enrique Molina de Vedia, Amorrortu, Buenos Aires, 1996.
MILLS, Charles Wright, La élite del poder, traducido por Florentino M. Torres y Ernestina de
Champourcin, Fondo de Cultura Económica, México D. F., 2001.
MOSCA, Gaetano, Histoire des doctrines politiques depuis l'Antiquité: les doctrines politiques depuis
1914, Payot, París, 1955.
– La clase política, traducido por Marcos Lara, Fondo de Cultura Económica, México D. F., 2004.
PARETO, Vilfredo, Forma y equilibrio sociales, traducido por Jesús López Pacheco, Alianza, Madrid,
1980.
PRADERA, Javier, Corrupción y política. Los costes de la democracia, Galaxia Gutenberg, Barcelona, 2014.
THERBON, Göran, ¿Cómo domina la clase dominante? Aparatos de Estado y poder estatal en el
feudalismo, el socialismo y el capitalismo, traducido por Fernando Valero, Siglo XXI, Madrid, 2016.
TOUCHARD, Jean, Historia de las ideas políticas, traducido por J. Pradera, Tecnos, Madrid, 2007.
WEBER, Max, Economía y sociedad, traducido por José Medina Echevarría, Juan Roura Farella, Eugenio Ímas,
Eduardo García Máynes y José Ferrater Mora, Fondo de Cultura Económica, Madrid, 2002.
ZEITLIN, Irving, “Gaetano Mosca (1858-1941)”, en Ideología y teoría sociológica, traducido por
Néstor A. Míguez, Amorrortu, Buenos Aires, 1970.
Resumen: La protección jurídica del patrimonio cultural reviste una gran importancia
para la salvaguarda de la identidad y la memoria histórica de los pueblos. Varios
instrumentos internacionales y los diferentes sistemas de derecho se proyectan en
relación al cuidado de tan significativos valores que lo integran. En Cuba, aunque se
encuentra protegido legalmente, su tutela merece ser perfeccionada a raíz de los
planteamientos de la nueva Constitución de la República de 2019, de las novedosas
concepciones que en la actualidad operan en la gestión del patrimonio en la palestra
internacional, y de las exigencias que se imponen como parte de las garantías de
derechos fundamentales, tales como: el derecho a un medio ambiente sano, el derecho a
la participación en la vida cultural de la nación, y el derecho al disfrute del patrimonio
común de la humanidad.
Palabras-clave: patrimonio cultural, protección jurídica, derechos humanos.
Abstract: The juridical protection to the cultural heritage is very important for to the
protection of the identity and the historical memory of the people. Several international
instruments and the different systems of law protect the significant values that integrated
1
Doctor en Ciencias Filosóficas (Minsk, 1988). Profesor Titular y Consultante del Departamento de Filosofía
de la Universidad de Camagüey, Cuba. Presidente del tribunal de mínimo de doctorados para el ejercicio en
materia de Ciencia, Tecnología y Sociedad en la Universidad de Camagüey. E-mail:
jorge.varona@reduc.edu.cu
2
Experto académico por la Universidad de Granada, (España, 2002). Máster en Pedagogía. Profesora auxiliar
principal de Teoría del Estado y Teoría del Derecho, y profesora de Derecho Constitucional de la
Universidad de Camagüey. Presidenta del Capítulo de Derecho Constitucional y Administrativo de la Unión
Nacional de Juristas de Cuba en Camagüey. E-mail: grau.mariaeugenia@gmail.com
3
Máster en Derecho de la Economía por la Universidad de La Habana (Cuba, 2019). Profesor principal de
Derecho Económico y profesor de Derecho Internacional de la Universidad de Camagüey. Juez Profesional
Suplente no Permanente de la Sala de lo Económico del Tribunal Provincial Popular de Camagüey.
Miembro de la Sociedades Cubanas de Derecho Constitucional y Administrativo y Derecho Mercantil.
E-mail: alfredosoler442@gmail.com
it. The juridical protection to the cultural heritage in Cuba demands to be improved since
the new Constitution of the Republic, the modern conceptions about the protection of de
cultural heritage and for to guarantee fundamental rights, such as: the right to the healthy
environment, the right to the culture and the right to enjoy to the common patrimony of
the humanity.
Keywords: cultural heritage, juridical protection, human rights.
Sumario: 1. Introducción. 2. Breves consideraciones sobre el patrimonio cultural y el
desarrollo de su tutela jurídica internacional. 3. Patrimonio cultural y Derechos
Humanos. 4. Evolución histórica de la protección del patrimonio cultural cubano desde
el Derecho. 5. Principales instrumentos jurídicos para la protección del patrimonio
cultural cubano. 6. Conclusiones.
1 INTRODUCCIÓN
La salvaguarda de los valores históricos, arquitectónicos y culturales enfrenta
el reto del paso del tiempo, pero no solo el deterioro ocasionado por la longevidad,
sino también, por el desarrollo de procesos sociales como el turismo, el transporte,
etc. La protección jurídica de estos valores resulta imprescindible por la esencia del
derecho como fenómeno regulador de la conducta humana, al prescribir los
comportamientos prohibidos que son perjudiciales para el patrimonio cultural, y
promover conductas que implican su conservación, además, de que establece
sanciones para reprimir los actos lesivos que se cometen en su contra. Asimismo, a
través de su función educativa, el derecho constituye un instrumento para el
desarrollo de valores en favor de la protección de estos bienes, en varios de los
casos, de significación universal.
No existe un criterio unívoco de patrimonio cultural y son varios los bienes
que lo integran. Lo anterior depende de lo regulado por los diferentes ordenamientos
jurídicos nacionales y varios instrumentos internacionales. A partir de entonces, se
tienen como parte del patrimonio cultural los bienes culturales o patrimonio cultural
protegidos por la Convención para la Protección de Bienes Culturales en Caso de
Conflicto Armado, el patrimonio mundial (cultural y natural, a que se refiere la
Convención para la Protección del Patrimonio Mundial, Cultural y Natural de 1972),
el patrimonio cultural inmaterial referido en la Convención para la Salvaguardia del
Patrimonio Cultural Inmaterial, la diversidad cultural y las expresiones culturales
destacadas en la Convención sobre la Diversidad Cultural y las Expresiones
Culturales, y el patrimonio cultural subacuático (Convención para la Protección del
Patrimonio Cultural Subacuático).
Cuba cuenta con un conjunto de bienes expresión de su riqueza cultural
material e inmaterial, incluso, de relevancia universal, tales como: La Habana Vieja
y su sistema de fortificaciones, Trinidad y el Valle de los Ingenios, los centros
históricos urbanos de Cienfuegos y Camagüey, el Valle de Viñales, el castillo San
Pedro de la Roca en Santiago de Cuba, las plantaciones de café del Sureste de Cuba,
la Tumba Francesa, la Rumba, el Punto Cubano, y las parrandas de la región central
de la Isla, todos inscritos en la Lista del Patrimonio Mundial de la UNESCO.
4
LLULL PEÑALBA, Josué, Evolución del concepto y de la significación social del patrimonio cultural,
Arte, Individuo y Sociedad, Volumen 17, España, 2005, pp. 181 y 182.
5
La aprobación del Protocolo de 1999 al Pacto de 1954 de protección de bienes culturales en caso de
conflicto armado introdujo un nuevo régimen de protección reforzada para determinados bienes culturales
calificados como patrimonio cultural de la mayor importancia para la humanidad. El artículo 10 del segundo
Protocolo establece las condiciones para que un bien cultural se ponga bajo la protección reforzada y, en
primer lugar, especifica qué debe ser un patrimonio cultural de la mayor importancia para la humanidad.
Además, indica, debe estar protegido por medidas nacionales adecuadas, jurídicas y administrativas, que
reconozcan su valor cultural e histórico excepcional y garanticen su protección en el más alto grado.
6
El derecho a participar en la vida cultural puede calificarse de libertad. Para realizarlo, es necesario que, por
un lado, el Estado se abstenga de hacer algo (no tenga injerencia en el ejercicio de las prácticas culturales y
en el acceso a los bienes culturales), y, que, por el otro, tome medidas positivas (asegurarse de que existan
las condiciones previas para participar en la vida cultural, promoverla y facilitarla y dar acceso a los bienes
culturales y preservarlos).
7
FRANCIONI, F. Culture, heritage and Human Rights: an introduction, Ed. Martinus Nijhoff Publishers,
2008, p. 13.
8
A fines de la década de 1970 estuvieron creadas las condiciones para la creación de una red de museos con
la apertura de este tipo de instituciones en cada uno de los municipios cubanos. De esta manera fue
promulgada la Ley n. 23, “De Museos Municipales”, del 18 de mayo de 1979, primer antecedente de la Ley
106/09.
9
En el propio artículo se destacan: las obras de expansión o renovación urbana, en las cuales no solo deberán
respetarse los monumentos registrados, sino también el entorno histórico circundante; las obras de
modificación o reparación de edificios; la construcción o reparación de carreteras; la construcción de presas
16
Publicada en la Edición Ordinaria n. 29 de la Gaceta Oficial de la República de Cuba, de 6.08.1977, está
vigente desde la misma fecha.
17
De fecha 29 de noviembre de 1979.
18
Estos pasaron con posterioridad a denominarse Consejos de la Administración Provincial. Este órgano está
sujeto a futuras transformaciones a raíz de las modificaciones que implica la entrada en vigor de la nueva
Constitución de la República de 10.04.2019.
19
Publicado en la Gaceta Oficial Ordinaria n. 10, de 27 de febrero de 2013.
20
Las categorías de manejo son: reserva natural, parque nacional, reserva ecológica, elemento natural
destacado, reserva florística manejada, refugio de fauna, paisaje natural protegido, y área protegida de
recursos manejados.
como parte esencial de la identidad cultural, mediante esta Resolución fue creada la
Comisión para la Salvaguardia del Patrimonio Cultural Inmaterial. Dentro de las
funciones específicas que debe realizar se encuentran las siguientes:
• Diseñar la política referente a la atención, preservación, promoción y
protección del Patrimonio Cultural Inmaterial, partiendo de un enfoque
multidisciplinario;
• Identificar todas las expresiones y manifestaciones que forman parte del
Patrimonio Cultural Inmaterial, a partir de la experiencia alcanzada y
teniendo en cuenta las disposiciones de los organismos internacionales en
esta materia;
• Establecer los métodos para la revisión, validación, actualización y
atención a las solicitudes de incorporación al registro oficial del
Patrimonio Cultural Inmaterial y la designación de las autoridades
nacionales competentes para estos fines;
• Insertar el tema del Patrimonio Cultural Inmaterial en los distintos tipos
de enseñanzas, teniendo en cuenta las peculiaridades de cada territorio;
• Participar en la creación de un centro de documentación nacional sobre el
Patrimonio Cultural Inmaterial;
• Elaborar los proyectos de los instrumentos jurídicos necesarios,
encaminados a la salvaguardia del Patrimonio Cultural Inmaterial.
Como resultado de la labor de la Comisión para la Salvaguardia del
Patrimonio Cultural Inmaterial, varias expresiones músico danzarías y comunitarias,
tradiciones populares festivas, y expresiones populares, que constituyen saberes y
técnicas, han sido declaradas como Patrimonio Cultural de la Nación Cubana, entre
ellas: el carnaval de Santiago de Cuba, el Changüí, las charangas de Bejucal, el Danzón,
las lecturas de tabaquería, el órgano oriental con los saberes, técnicas y usos tradicionales
asociados; las parrandas de la región central de Cuba, el Repentismo, la Rumba; los
saberes maestros roneros, el Son, la Tumba Francesa, el Punto Cubano, entre otras. De
ellos, la Tumba Francesa, la Rumba, las parrandas de la región central de Cuba y el
Punto Cubano forman parte del Patrimonio Inmaterial de la Humanidad.
Trascurridas cuatro décadas de implementada parte de esta legislación, se sugiere
una revaluación jurídica de la misma a tenor de las concepciones operantes en la gestión
actual del patrimonio en la palestra internacional. En esencia, se trata de entender que,
como cualquier obra humana, puede ser perfectible. Se hace necesario revaluar y
actualizar el cuerpo legislativo protector del patrimonio cubano de acuerdo con los
nuevos conceptos y las líneas de pensamiento contemporáneos, en cuanto a potenciar su
gestión con un enfoque crítico capaz de hacerlos marchar a la par de la práctica
desarrollada en esta materia. Ya no resultan suficientes los enfoques restrictivos a la
conservación y protección, sino precisamente para garantizar la perdurabilidad en el
tiempo es necesario prestar especial atención a la dinamización y puesta en valor de
todas las dimensiones del patrimonio en sus respectivos espacios.
6 CONCLUSIONES
La protección del patrimonio cultural cubano se consolidó a partir del triunfo
de la Revolución con el fortalecimiento del marco institucional y legal, la
declaración de monumentos y los centros históricos de las primeras siete villas
fundadas por los españoles como “Monumento Nacional”, así como con la
declaración de varios bienes culturales como Patrimonio de la Humanidad.
La protección del patrimonio cultural en el ordenamiento jurídico cubano se
garantiza, en lo fundamental, a partir de un conjunto de disposiciones normativas,
entre las que se destacan: la Ley de Protección del Patrimonio Cultural y su
Reglamento, la Ley de los Monumentos Nacionales y Locales y su Reglamento, la
legislación del Sistema Nacional de Áreas Protegidas, la legislación en materia de
ordenamiento territorial, urbanismo y planificación física, y el Código Penal, entre
otras. Esta regulación normativa requiere ser actualizada a partir de las nuevas
concepciones que en la actualidad operan en la gestión del patrimonio en la palestra
internacional, toda vez, que, parte de ella, posee más de cuarenta años de vigencia y
enfrenta los retos de la longevidad.
BIBLIOGRAFÍA
ALONSO, A. Legislación y patrimonio inmueble. Antecedentes y aplicación en La Habana. Arquitectura y
Urbanismo, Volumen 35, Nro. 2, La Habana, 2014, pp. 1-25.
APARICIO, A y Martínez, J. Rehabilitación y reutilización del patrimonio urbano al servicio de las funciones de
la capitalidad autonómica. Análisis comparado de Toledo y Pamplona. Boletín de la Asociación de Geógrafos
Españoles, Nro. 69, 2015, pp. 387-414.
APARICIO, E; Serrano, Ó y León, D. Rehabilitación y reutilización del patrimonio urbano. Los centros
históricos de nuevas capitales políticas españolas Patrimonio de la Humanidad. Cuadernos de Turismo, Nro. 42,
2018, pp. 15-45.
AYES, G. La Habana: maravilla patrimonial. 1ra Ed. Ed. Científico-Técnica, La Habana, 2017.
ARJONA, M. Patrimonio cultural e identidad nacional. Ed. Letras Cubanas, La Habana, 1986.
BOJ, S. Protección y conservación ante catástrofes del patrimonio cultural de la Comunidad de Madrid. Tesis
para optar por el grado científico de doctor en ciencias, Universidad Complutense de Madrid, Madrid, 2018.
FERNÁNDEZ, M. Rumbo a Hábitat III. Planificación Física Cuba, Nro. 22, La Habana, 2016, pp. 22-25.
FRANCIONI, F. Culture, heritage and Human Rights: an introduction, Ed. Martinus Nijhoff Publishers, 2008,
pp. 1-15.
GARCÍA, J. La labor museológica de la Revolución Cubana y el proceso de transformación en la proyección
social de los museos en Cuba. Intervención, Nro. 9, 2014, pp. 65-75.
GONZÁLEZ, R; Marichal, A y Perón, E. La conservación del patrimonio edificado a través de la relación entre
los servicios urbanos y turísticos. Apuntes, Volumen 29, Nro. 2, 2016, pp. 7-83.
LLULL, Josué. Evolución del concepto y de la significación social del patrimonio cultural. Arte, Individuo y
Sociedad, Nro. 17, 2005, pp. 175-204.
VALDÉS, A. Consideraciones en torno a las leyes que protegen el patrimonio cultural en Cuba. Cuadernos de
Sociomuseología, Volumen 55, Nro. 12, Cuba, 2018, pp. 3-30.
ZENDRI, L. La protección del patrimonio cultural de Argentina. De la legislación patrimonial a la consagración
de un nuevo derecho. Derecho y Ciencias Sociales, Nro. 16, 2017, pp. 40-45.
ZENDRI, L y Sesti, P. Importancia de la protección del patrimonio local: herramientas del Derecho Ambiental
aplicables al patrimonio cultural edificado. Anales de la Facultad de Ciencias Jurídica y Sociales, Nro. 47, 2017,
pp. 69-92.
Legislaciones.
Nacionales.
Constitución de la República de Cuba, Gaceta Oficial de la República de Cuba, Extraordinaria Nro. 5, de
10.04.2019.
Constitución de la República de Cuba, Gaceta Oficial de la República de Cuba, Edición Especial Nro. 2, de 24
de febrero de 1976.
Ley Nro. 106. Del Sistema Nacional de Museos, Gaceta Oficial de la República de Cuba, Extraordinaria Nro. 9
de 2009.
Ley Nro. 62. Código Penal, Gaceta Oficial de la República de Cuba, 1987.
Ley Nro. 1. Ley de Protección del Patrimonio Cultural, Gaceta Oficial de la República de Cuba, Ordinaria Nro.
29 de 1977.
Ley Nro. 2. Ley de los Monumentos Nacionales y Locales, Gaceta Oficial de la República de Cuba, Ordinaria
Nro. 29 de 1977.
Decreto-Ley Nro. 201. Del Sistema Nacional de Áreas Protegidas, Gaceta Oficial de la República de Cuba,
1999.
Decreto-Ley Nro. 331. De las Zonas con Regulaciones Especiales, Gaceta Oficial de la República de Cuba,
2015.
Acuerdo. Sobre la Red de Oficinas del Historiador y del Conservador de las Ciudades Patrimoniales de Cuba,
Gaceta Oficial de la República de Cuba, Ordinaria Nro. 10 de 2013.
Decreto Nro. 21. Reglamento sobre la planificación física, Gaceta Oficial de la República de Cuba, Ordinaria
Nro. 8 de 1978.
Decreto Nro. 272. Contravenciones en materia de ordenamiento territorial y urbanismo, Gaceta Oficial de la
República de Cuba, 2001.
Decreto Nro. 55. Reglamento para la Ejecución de la Ley Nro. 2 de los Monumentos Nacionales y Locales,
Gaceta Oficial de la República de Cuba, 1979.
Decreto Nro. 118. Reglamento para la Ejecución de la Ley de Protección al Patrimonio, Gaceta Oficial de la
República de Cuba, 1983.
Reglamento de la Ley Nro. 106. Del Sistema Nacional de Museos de la República de Cuba, Gaceta Oficial de la
República de Cuba, Ordinaria Nro. 24 de 2013.
Resolución Nro. 003. Sobre la declaración de Monumentos Nacionales, Gaceta Oficial de la República de Cuba,
Ministerio de Cultura, 1978.
Resolución N. 126. Sobre la Comisión para la Salvaguardia del Patrimonio Cultural Inmaterial Gaceta Oficial de
la República de Cuba, Ministerio de Cultura, 2004.
Internacionales.
Convención para la Protección de Bienes Culturales en Caso de Conflicto Armado de 1954.
Convención para la Protección del Patrimonio Mundial, Cultural y Natural de 1972.
Convención para la Salvaguardia del Patrimonio Cultural Inmaterial de 2003.
Convenio sobre la Protección y Promoción de la Diversidad de las Expresiones Culturales, de 20 de octubre de
2005.
Convención sobre la Protección del Patrimonio Cultural Subacuático, de 2 de noviembre de 2001.
1
Doutora em Educação pela Universidad Católica Santa Fe/Arg; Mestre em Segurança Pública, Cidadania e
Direitos Humanos da Universidade do Estado do Amazonas/UEA; Professora e Coordenadora do curso de
Pós-Graduação em Gerontologia e Saúde do Idoso, da Fundação Universidade Aberta da Terceira
Idade/FUNATI . E-mail: luizapmeleiro@hotmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2939021325682334
discussion on Human Rights and Legal Guarantees in the Execution of the Private
Prison of Liberty, focusing on the constant violations of the rights and legal guarantees
of those under the tutelage of the State. It is concluded that prisons have been the answer
to the absence of public policies, not only in public security, but in other areas, and have
become a space for torture, social inequality and state repression. In addition, there is an
interrelation between the failure of the prison system and the existing economic model,
pointing to the pressing need to review the model of economic and social policy
currently implemented in our country.
Keywords: Violence. Poverty. Social exclusion. Human rights.
Sumário: Introdução. 1. A violência urbana. 2. Prisões, pobreza e exclusão social. 3. A
violência nos presídios: mais insegurança pública. 4. Direitos humanos e garantias legais
na execução da pena privativa de liberdade. Considerações finais. Referências.
INTRODUÇÃO
É inexorável a relação existente entre urbanização das cidades e violência ur-
bana. O modelo de cidade excludente, no qual os Estados atuam, distribui, desigual e
seletivamente a violência em seu território. Omisso na proposição e na implantação
de políticas públicas diferenciadas que priorizem a proteção da vida da população
historicamente vulnerabilizada, especialmente a juventude pobre que habita as zonas
excluídas da cidade, os Governos têm insistido na adoção de práticas heterogêneas e
desrespeitosas na organização dos espaços urbanos. O mesmo Estado que não plane-
ja o crescimento das cidades, também não disponibiliza a todos, indistintamente, o
acesso aos meios institucionalizados para que o jovem tenha a oportunidade de cres-
cimento e desenvolvimento que necessita. Como salienta Carlos María Cárcova,
“grandes contingentes sociais padecem de uma situação de postergação, de pobreza
ou de atraso que produz marginalidade e anomia na periferia da estrutura social”.
(CÁRCOVA, 1998, p. 19).
As cidades estão distantes de oferecerem condições e oportunidades equitati-
vas aos seus habitantes. A população urbana, em sua maioria, está privada ou limita-
da – em virtude de suas características econômicas, sociais, culturais, étnicas, de
gênero e idade – de satisfazer suas necessidades básicas.
A cidade de Manaus, no Amazonas, padece dessas mazelas. Mas não apenas
disso: sua localização geográfica próxima aos principais países produtores de cocaí-
na do mundo, aliado à presença de uma bacia hidrográfica que favorece o transporte
e distribuição de drogas ilícitas, faz da principal metrópole da Região Norte um
campo fértil para a prática da ação criminosa. O crime organizado encontra aqui um
contingente de não cidadãos, habitando a não cidade. Esse contingente de crianças e
jovens pobres, desempregados, carentes de toda sorte de serviços públicos essenci-
ais, habitantes das periferias é cooptado sem pena e sem dó para o mundo do crime.
Em pouco tempo esses jovens estarão engrossando o outro contingente, que
também não para de crescer, o da população carcerária. Resolve-se o problema da
falta de diversas políticas e da (in)segurança pública encarcerando indivíduos das
classes subalternas, os mais pobres, os desprovidos dessas políticas públicas e injus-
tiçados pelo sistema econômico e social (WACQUANT, 2001).
1 A VIOLÊNCIA URBANA
Há muito a violência no Brasil deixou de ser apenas um problema de segurança
pública para se configurar, não apenas numa questão social, mas, sobretudo de Direitos
Humanos e Cidadania. Poucas vezes a violência e suas consequências têm merecido
abordagem multidimensional livre de associações impressionistas, possibilitando que se
adentre em um universo de estudos mais complexo e por consequência, ter uma visão
mais holística e sistêmica. O que se vê na maioria das vezes são abordagens neófitas,
visões unilaterais marcadas por raso ou nenhum aprofundamento.
Difícil também é realizar uma abordagem sobre violência sem dissociar do contex-
to urbano. É inexorável a congruência existente entre essas duas variáveis, especialmente
em nosso país. O crescimento urbano desordenado é apontado como uma das principais
causas da violência (GIDDENS, 2001). Em razão do acelerado processo de êxodo rural, as
grandes cidades brasileiras absorveram um número de pessoas elevado, que não foi acom-
panhado pela infraestrutura urbana (emprego, moradia, saúde, educação, qualificação, entre
outros); fato que desencadeou uma série de problemas sociais graves.
Sabe-se, contudo, que a criminalidade não é um “privilégio” exclusivo dos gran-
des centros urbanos, entretanto o seu crescimento é largamente maior do que em cidades
menores. É nas grandes cidades brasileiras que se concentram os principais problemas
sociais, como desemprego, desprovimento de serviços públicos assistenciais, além da
ineficiência da segurança pública. Tais problemas são determinantes para o estabeleci-
mento e proliferação da marginalidade e, consequentemente, da criminalidade que vem
acompanhada pela violência.
Essa é mais uma situação que retrata a ineficiência do Estado. Enquanto o poder
do Estado não se impõe (e não apenas pela força, mas, sobretudo, pela falta de oportuni-
dades que deixa de proporcionar), o crime organizado se institui como um poder parale-
lo, que estabelece regras de ética e conduta própria, além de implantar fronteiras para a
atuação de determinada facção criminosa.
O Brasil possui 16.886 Km de fronteiras secas, dos quais, 7.765 Km com a Co-
lômbia, o Peru e a Bolívia. Segundo Nascimento, et al., (2017), estes países são respon-
sáveis pela quase totalidade (95%) da produção mundial de cocaína. O Estado do Ama-
zonas, localizado no norte do Brasil, possui 1/5 das fronteiras terrestres do país fazen-
do limite com esses países. Como consequência é o maior portal de ingresso de
cocaína no estado brasileiro.
Tal situação, por si só já ensejaria a necessidade que o Estado do Amazonas
possui de cuidado e atenção do poder público para a contenção do tráfico de drogas
na fronteira. Contudo, o que se vê muitas vezes é total descaso. Nascimento et al.,
(2017) enfatizam que dos 21 municípios na Faixa de Fronteira no Estado do Amazo-
nas, 16 apresentam coeficiente com menos de 1 policial para cada 1.000 habitantes,
e assevera que o ingresso de cocaína no Brasil é o fator determinante da violência
em nosso território. Para ele (2017, p. 186):
É inegável a relação entre o tráfico e o abuso de drogas ilícitas e esse quadro de re-
crudescimento da violência letal, marcado também pelo empoderamento das organi-
zações criminosas. Chama a atenção, a relação do tráfico de drogas ilícitas com o
aumento do risco social [...].
[...] o nível de renda e o desemprego podem incentivar a opção pelo crime. Quando a ren-
da média do indivíduo é baixa ou nula (desempregado), os benefícios do crime compen-
sam. Para um desempregado, o custo da renda perdida, em termos de tempo de prisão, é
zero. Da mesma forma, o nível de educação da população também afeta os custos de opor-
tunidade dos crimes (VIAPIANA, 2006, p. 39).
Afora as análises da Teoria Econômica do Crime, pela qual nutrimos certa dis-
tância teórica, não nos resta nenhuma dúvida que as condições de pobreza, carência,
exclusão e falta de oportunidades são fatores determinantes que aguçam a criminalidade,
aumentam a violência e entopem as prisões com jovens pobres da periferia.
Também é inegável, sob o ponto de vista dos Direitos Humanos e da Cidadania,
atributos inerentes a cada cidadão, que a uma parcela substancial estejam sendo usurpa-
dos: cada cidadão tem Direito à Cidade, no sentido amplo e generalizante que abrange a
compreensão dos direitos fundamentais, nos planos social e individual, que se efetivam
(ou são negados). Sobre a delimitação do conceito de Direito à Cidade, comentam Ienna-
co e Moura (2016, p. 19):
[...] é o conjunto dos direitos humanos compreendido na perspectiva da “pessoa na/da ci-
dade”. [...] é a abordagem jurídica do urbano e da urbanidade, com toda a gama de direi-
tos e garantias que lhes permeiam o acesso aos bens, produtos, serviços, comodidades e
benefícios que a cidade pode produzir – com o anseio de que a Cidade se realize para to-
dos, sem discriminação.
Os pobres em nossa cidade são expulsos para as periferias. Essa não é uma re-
alidade exclusiva local. Porém, ao analisar o espaço urbano e sua conformação do
ponto de vista do Direito à Cidade nos questionamos da relação entre urbanismo e
criminalidade. Qual seria o impacto nos índices de violência se tivéssemos uma
cidade mais inclusiva, plural e democrática? A falta de planejamento urbano, a de-
sorganização, o crescimento aleatório das grandes cidades, não seriam também res-
ponsáveis pela violência hoje instalada? Por que penalizar apenas os jovens pobres,
encarcerando-os numa prisão, como se os tais fossem os únicos responsáveis pelo
quadro de violência? Por que o Estado, em vez de tratar nossos jovens como culpa-
dos, não os vê, primeiramente como vítimas das desigualdades?
São questões que requerem estudos, aprofundamento e principalmente, res-
postas.
Para Borja (2013, p. 147), o território urbanizado das regiões metropolitanas
é “ao mesmo tempo, uma expressão da desigualdade social e um fator de seu próprio
agravamento”. Mas como recorda Silva (2007), a segregação não é apenas um pro-
cesso de separação dos moradores de uma cidade, ela está baseada em desigualdades
maiores, principalmente no que diz respeito a condições sociais. Para a autora, quan-
to mais a cidade cresce, mais se intensifica a segregação: ela cresce e não agrega
todos os moradores de forma semelhante, sua expansão causa a expulsão dos pobres
das regiões mais centrais e os segrega em regiões pouco desenvolvidas.
Mesmo havendo pessoas pobres em toda a cidade, é na periferia que elas se
concentram em maior número. Os níveis de criminalidade estão cada vez maiores e
a qualidade de vida, cada vez pior. É exatamente essa população que necessita de
uma atenção especial por parte do Estado com programas emergenciais que bus-
quem minimizar seus agravos. Sobre o processo de urbanização brasileiro recordam
Iennaco e Moura (2016, p. 87):
Nosso processo de urbanização pode ser resumido por um marcante descompasso en-
tre as matrizes ou ideais que alimentaram a atividade de planejamento urbano e o
rumo tomado pela produção do espaço urbano real, fazendo com que cada grande
cidade acolha, em seu interior, ou na sua periferia, uma outra cidade: a não cidade.
(Grifos do autor).
A frequente morte de jovens nas ruas pode ser constatada exatamente em bairros que
apresentam os mais baixos níveis de renda e escolaridade. Não por coincidência, es-
ses bairros constituem regiões marcadas pela ilegalidade (na ocupação do solo e na
resolução de conflitos) e pela precariedade em relação aos serviços públicos e priva-
dos (MARICATO, 2000, p. 164).
Será imundo durante os dias em que a praga estiver nele; é imundo, habitará só; a sua
habitação será fora do arraial (Levítico 13:46).
As sanções da Idade Média estavam submetidas ao arbítrio dos governantes, que as impu-
nham em função do “status” social a que pertencia o réu. A amputação dos braços, a
forca, a roda e a guilhotina constituem o espetáculo favorito das multidões deste pe-
ríodo histórico. Penas em que se promovia o espetáculo e a dor, como por exemplo a
que o condenado era arrastado, seu ventre aberto, as entranhas arrancadas às pres-
sas para que tivesse tempo de vê-las sendo lançadas ao fogo. Passaram a uma execu-
ção capital, a um novo tipo de mecanismo punitivo (MAGNABOSCO, 1998, p. 1).
2
No caso, a lepra estava associada ao pecado do homem, segundo a crença cristã da época.
Cesare Beccaria e John Howard buscaram identificar a pena com uma utilidade, de-
fendendo que o encarceramento só se sustentaria se produzisse algum benefício ao
preso, e não somente a retribuição de mal com outro mal. Com eles tem início o perí-
odo que, por alguns, se convencionou chamar de Humanitário das prisões [...] (AL-
MEIDA, 2006, p. 53).
Esta relação entre a prisão e a realidade social de exclusão, aparece muito clara no texto
de Wacquant (2001), que mostra que quando o Estado perde ou diminui seu poder sobre a
sociedade, ele se apodera da área penal para continuar exercendo controle sobre os po-
bres. Esse retrato se enquadra naquilo que chamamos da passagem de um Estado Social
para um Estado Penal, dito de outro modo, o Estado torna-se mínimo para as questões so-
ciais e máximo para a questão penal.
[...] deparamos-nos, ainda, com a insegurança que vem dos estabelecimentos penais, de
onde grupos organizados controlam e manipulam a massa de presos pobres e despolitiza-
dos, e de lá comandam uma rede de subordinados e aliados na prática dos mais variados
ilícitos (Brasil, 2009, p. 15).
de 2019, onde algumas dessas atrocidades foram gravadas em vídeos, e estes, am-
plamente divulgados nas redes sociais.
Muitas vezes há excessos, e o espancamento termina em execução, como no
caso, já citado, do “massacre” do Carandiru em São Paulo, no ano 1992, no qual
oficialmente foram executados 111 presos.
Entre os próprios presos a prática de atos violentos e a impunidade ocorrem
de forma ainda mais exacerbada. Homicídios, abusos sexuais, ameaças, espanca-
mentos e extorsões são uma prática comum dentro do ambiente prisional. Num am-
biente como este, é fácil compreender a proliferação das facções criminosas: para se
ver “protegido” dentro do cárcere, o apenado se filia à facção que domina o presídio.
Do contrário, sofrerá as agruras de não fazer parte da “família”. Uma vez dentro da
facção é obrigado a praticar os mais diversos “serviços” à mesma, tais como, roubos
e assassinatos, bem como contribuir para a manutenção de seus líderes. Interessante
também evidenciar um outro aspecto do comportamento do preso: estão lá por não con-
seguirem amoldar seu comportamento às regras de boa convivência da sociedade; no
entanto, a prisão, obrigatoriamente, molda esse comportamento. É impressionante como,
dentro da prisão, as pessoas adotam comportamentos muito mais restritos e difíceis. Caso
contrário, a punição é certa.
Sabidamente, o Poder Judiciário é lento em nosso país. Diariamente, vemos notí-
cias relativas à demora dos processos, não apenas na esfera cível, mas sobretudo na
esfera penal. Essa morosidade da justiça também contribui para o quadro do sistema
penal, uma vez que a demora em se conceder os benefícios àqueles que já fazem jus à
progressão de regime, ou em soltar os presos que já cumpriram sua pena, ou em defender
os direitos dos apenados, contribui para que a população carcerária não tenha o decrés-
cimo que deveria. Outro fato alarmante que fere os Direitos Humanos e Cidadania é o
número cada vez mais crescente de presos provisórios nos presídios. Pessoas que ainda
nem foram condenadas tratadas como se fossem; sofrendo todos os dissabores e incle-
mências do Sistema Penal decadente.
A ineficácia dos órgãos responsáveis pela execução penal pode configurar cons-
trangimento ilegal o que ensejaria, eventualmente, a responsabilidade civil do Estado, ao
manter encarcerados com evidente excesso de prazo.
Não podemos nos esquecer, ainda, da Defensoria Pública, sobrecarregada com as
mais variadas causas cíveis e ainda encarregada da defesa dos acusados que não têm
condições de pagar a um advogado. Quando verificamos que mais de 95% dos que estão
presos hoje são definidos como pobres, podemos compreender o qual hercúleo é o traba-
lho desse importante órgão de justiça.
Além desses, podemos também citar a superlotação, a falta de atividade, a ausên-
cia de assistência à saúde, educação e assistência social como exemplos claros da viola-
ção de direitos e das garantias legais daqueles que estão sob a custódia do Estado.
Destaque-se também, que o presente Artigo, não tem como premissa a visão ro-
mântica e equivocada, de que todos os apenados “são bons”, ou que devemos nos preo-
cupar apenas com os criminosos, enquanto as vítimas, na maioria das vezes, clamam por
justiça. A realidade é que buscamos provocar uma reflexão ao descrever e analisar algu-
mas das nuances do sistema penitenciário sob a ótica da legalidade, dos Direitos Huma-
no e da Cidadania, princípio fulcral do Estado de Direito. Além disso, não se pode perder
de vista a instrumentalidade da Lei de Execuções Penais cujo objetivo maior é a resso-
cialização e reinclusão no meio social, com o objetivo de obter-se a pacificação social.
Não defendemos que os criminosos não devam ser devidamente apenados; de-
fendemos que o cumprimento da pena se dê dentro do que prevê a legislação, fruto da
discussão com a sociedade e gestada por seus representantes. Não existe em nosso país,
pena de morte, pena de tortura, penas degradantes, de violência, de humilhação e coisas
do gênero. Quando o Estado não cumpre seu papel de fazer e de, sobretudo, ele mesmo
cumprir a legislação, batemos às portas da barbárie social. Na verdade, muito próximo
do que enfrentamos hoje.
Porém, mais importante que atuar na consequência urge a necessidade de pensar
nas causas: Por que as prisões estão superlotadas de tantos jovens pobres da periferia? O
que falar do Princípio da coculpabilidade que envolve o Estado?
O panorama apresentado evidencia que estamos numa trajetória trágica, onde as
perspectivas não são as melhores: aumento da população carcerária sem diminuição da
criminalidade, alto índice de reincidência prisional, multiplicação e fortalecimento das
facções criminosas, aumento da demanda por gastos com prisões, desrespeito sistemático
aos direitos humanos e violação do estado de direito.
De igual forma, também não podemos deixar de questionar: o que de fato não
tem dado certo em nosso modelo de sociedade? No que temos errado em nosso processo
civilizatório?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concordamos com Santos (2018), quando sustenta que no Brasil há uma distân-
cia abissal entre o que está pactuado nos documentos de proteção aos direitos humanos
com a realidade apresentada na sociedade, no trato com os mais pobres e necessitados e,
também em nossos presídios. As prisões têm sido a resposta para a ausência de políticas
públicas e se tornado espaço para tortura, desigualdade social e repressão estatal (TAN-
GERINO, 2007; SANTOS, 2018).
Também corroboram com tal pensamento Iennaco e Moura (2016, p. 90), quando
afirmam: “[...] o Direito Penal em sociedades marcadas pela desigualdade, é um Direito
Penal desigual, que cumpre inversa e paradoxalmente, o aperfeiçoamento de mecanis-
mos excludentes”. O sistema penal brasileiro reflete os valores vigentes em nossa socie-
dade, torna-se uma ferramenta ideológica, reflete a ideologia política, sociológica e filo-
sófica da classe dominante. Na mesma linha, Zaffaroni e Pierangeli sustentam: “[...] o
direito é sempre expressão do poder da classe dominante, que impõe seus valores do
bem e do mal às classes dominadas” (1997, p. 248). E ainda:
O criminoso é simplesmente aquele que se tem definido como tal, sendo esta definição
produto de uma interação entre o que tem o poder de etiquetar (´teoria do etiqueta-
mento ou labelling theory´) e o que sofre o etiquetamento, o que acontece através de
um processo de interação, de etiquetamento ou de criminalização. (1997, p. 320).
REFERÊNCIAS
ADORNO, Sergio, “A criminalidade urbana violenta: um recorte temático”, BIB – Revista Brasileira de
Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Anpocs, n, 35, pp. 3-242, 1993.
ALMEIDA, Janaina Loeffler de, Os limites e as potencialidades de uma ação profissional emancipatória
no sistema prisional brasileiro, Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro
Sócio Econômico, Programa de Pós-graduação em Serviço Social, Florianópolis, 2006.
BEATO-FILHO, Claudio Chaves, Crimes e Cidades, Belo Horizonte, UFMG, 2012.
BENTHAM, Jeremy, “Panóptico”, (1748-1832). in MATTELART, ARMAND, Un Mundo vigilado,
Gilles Multigner, (Trad). Paidós, Estado y Sociedad 161, Barcelona, 2009, p. 17.
BÍBLIA. Levítico, Leis a respeito de doenças da pele, 13: 46. Português. Bíblia Sagrada, 35 ed., Tradu-
ção da Vulgata pelo Padre. Matos Soares, Paulinas, 1979.
BORJA, JORDI, REVOLUCIón Urbana y derechos ciudadanos, Barcelona, Alianza Editorial, 2013.
BRASIL, Congresso Nacional, Câmara dos Deputados, “Comissão Parlamentar de Inquérito do Sistema
Carcerário – CPI sistema carcerário”, 620 p. Série ação parlamentar n 384 1, Brasília, Câmara dos Depu-
tados, Edições Câmara, 2009.
BRASIL, Ministério da Justiça E Segurança Pública, “Levantamento Nacional de informações penitenciá-
rias” – atualização junho de 2017, Infopen, org. Marcos vinícius Moura, Departamento Penitenciário
Nacional, 2019, Disponível em: <http://depen.gov.br/DEPEN/depen/cnpcp>. Acesso em: 29.09.2019.
CÁRCOVA, Carlos María, La opacidad del derecho, Madrid, Trotta, 1998.
CASTELLS, Manuel, Fim do Milênio: a era da informação: economia, sociedade e cultura, v. 3, 3ªed.,
São Paulo, Paz e Terra, 1999.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ), Banco Nacional de Monitoramento das Prisões – BNMP
2.0, “Cadastro Nacional de Presos”, CNJ, Brasília, agosto de 2018.
COSTA, Aurenir Marinho et al, “Pobreza e prisão: contextualização e uma análise sobre o perfil das
mulheres do presídio Júlia Maranhão”, Ufpb, 2013, Disponível em: <http://www.prac.ufpb.br/enex/
trabalhos/3CCJDIPFLUEX2012339.pdf>, Acesso em: 06 0ut. 2019.
DE GIORGI, Lona Aniyar, Pensamento Criminlógico: resumo gráfico e seu reflexo institucional, Man-
damentos, Belo Horizonte, 2004.
DURHAM, Eunice, “A Sociedade vista da periferia”, In KOWARICK, Lúcio (org.), As lutas sociais e a
cidade, São Paulo, Paz e Terra, 1988.
FOUCAULT, Michel, Vigiar e Punir: o nascimento da prisão, tradução de Raquel Ramalhete, 34 ed.,
Petrópolis, Vozes, 2007.
GARLAND, David, Castigo y sociedad moderna. Un estudio de teoría social, Traducción Berta Ruiz de
La Concha, México, Siglo XXI editores s.a., 1999.
GIDDENS, Anthony, As consequências da modernidade, Unesp, São Paulo, 1991.
HAN, Byung-Chul, Tipología de la violencia, Helder, Buenos Aires, 2018.
IENNACO, Rodrigo; MOURA, Grégore, A Criminologia da não cidade: um novo olhar urbanístico para
o território da pobreza, Belo Horizonte, D’Plácido, 2016.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE), Censos Demográficos, de
2000 a 2010, Disponível em: <www.ibge.gov.br>, Acesso em: 16 jan. 2020.
MAGNABOSCO, Danielle, “Sistema penitenciário brasileiro: aspectos sociológicos”, Revista Jus Navi-
gandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 3, n 27, 23 dez 1998, Disponível em: https://jus.com.br/
artigos/1010, Acesso em: 30 jun 2019.
MARICATO, Ermínia, “As Ideias fora do lugar e o lugar fora das ideias: Planejamento urbano no Brasil”,
in ARANTES, Otília et al., (org.). A cidade do pensamento único: desmanchando consensos, Petrópolis,
Vozes, 2000.
MOURA, Grégore Moreira de, Do princípio da co-culpabilidade, Belo Horizonte, D’Plácido, 2016.
NASCIMENTO, Antônio Gelson de Oliveira, JANUÁRIO, Jatniel Rodrigues, SPOSITO, Mauro, Segu-
rança Pública no Brasil: o Amazonas em perspectiva, Manaus, UEA Edições, 2017.
SALLA, Fernando, “Rebeliões nas prisões brasileiras”, Serviço social e sociedade, v. 67, pp. 18-37, 2001.
SANTOS, Raquel, “Criminalização da pobreza: uma reflexão sobre o sistema prisional brasileiro na
sociedade capitalista”, Anais do Congresso Internacional de Direito Público dos Direitos Humanos e
Políticas de Igualdade, v 1, n 1, 2018.
SILVA. Keli de Oliveira, “A periferização causada pela desigual urbanização brasileira”, in Revista
Urutuaga – Revista Acadêmica Multidisciplinar (DEC/UEM), n.11, dez/mar 2007, Maringá. Disponível
em: <http://www.urutuaga.uem.br/011/11silva.htm>. Acesso em: 19 jan. 2020.
SOUZA, Marcelo Lopes, Fabópole: o medo generalizado e a militarização da questão urbana, Rio de
Janeiro, Bertrand Brasil, 2008.
SPOSITO, Marilia Pontes, “Um breve balanço da pesquisa sobre violência escolar no Brasil”, Educ Pesq
[online], 2001, v. 27, n. 1, pp. 87-103. ISSN 1517-9702. Disponível em: <http://dx.doi.or
g/10.1590/S1517-97022001000100007>. Acesso em: 20 mar 2019.
TANGERINO, Davi de Paiva Costa, Crime e cidade: violência urbana e a escola de Chicago, Rio de
Janeiro, Lumen Juris, 2007.
VIAPIANA, Luiz Tadeu, Economia do Crime: uma explicação para a formação do criminoso, Porto
Alegre, AGE, 2006.
WACQUANT, Loic, As Prisões da miséria, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001.
ZAFFARONI, Eugênio Raúl, PIERANGELI, José Henrique, Manual de direito penal brasileiro: parte
geral, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1997.
ZALUAR, Alba, “Violência: questão social ou institucional”. In OLIVEIRA, Nilson Viera, Org., Insegu-
rança Pública, São Paulo, Nova Alexandria, 2002.
Capítulo 02
DIREITO PÚBLICO
1
Profesora asociada de Derecho procesal de la Universitat de Barcelona. Investigadora del Observatorio de
los Sistemas Europeos de Previsión Social Complementaria. Investigadora del REDCID. Abogada. E-mail:
nancyxxii@icab.cat
INTRODUCCIÓN
La sociedad actual acusa el agravio de una dolorosa lacra que inunda nuestras
aulas y golpea sin piedad a niños y adolescentes: el acoso escolar o bullying. No
resulta sencillo describir el sufrimiento que un niño/niña puede llegar a padecer,
cuando aquellos con los cuales debería compartir juegos o confidencias, se
convierten en sus torturadores con aparente impunidad. Sin embargo, la alarma
social que se ha derivado de algunos casos especialmente sangrantes, parece haber
hecho despertar de su letargo tanto a la sociedad, como a la Administración de
justicia, provocando una creciente concienciación sobre este problema. A pesar de
ello, los medios de los que disponemos no están impidiendo que estas situaciones de
abuso y violencia entre los jóvenes continúen produciéndose (a veces con
consecuencias fatales para la víctima); lo que nos aboca a preguntarnos si, aparte del
rol que juegan la Administración de Justicia y otros agentes sociales ante el
conocimiento de un caso, existe una auténtico compromiso de todos los implicados
(incluyendo a los progenitores o tutores de los menores), por evitar la reiteración
delictiva y la reparar el mal causado a las víctimas y, por extensión, a la sociedad.
2
No podemos negar, sin embargo, que algunas modalidades de acoso presentan un modelo híbrido, como es
el caso del acoso laboral, donde también pueden darse situaciones de acoso sexual, lo que agrava más si
cabe la sensación de desasosiego y ansiedad de la víctima que lo padece.
3
Sobre este particular, coincidimos con el concepto dado, entre otros, por DOS PAZOS BENÍTEZ, G. “El
Bullying en los centros escolares”, en: Los delitos de acoso moral (Coord. por Luis Lafont Nicuesa),
Valencia, Tirant lo Blanch, 2017, p. 19.
4
Como se apunta en la Sentencia 91/2011, del JPI n. 44 de Madrid, de 25 de marzo (AC/2011/466), conviene
recordar que: “Por su parte la SAP de Madrid 611/10 de 15 de noviembre señala que “El “bullying” es un
fenómeno que ha sido objeto de observación en fechas relativamente recientes (finales de los años 70 y
principios de los 80) fundamentalmente en países del norte de Europa, y puede ser definido como una
conducta de persecución física y/o psicológica intencionada y reiterada o repetida por algún tiempo. Es así
preciso que la parte actora acredite cumplidamente la situación de acoso mantenido, para determinar si la
actuación del Centro Escolar y su profesorado fue o no negligente, pues para la apreciación del acoso
escolar no es suficiente un incidente aislado, sino varias actuaciones mantenidas en el tiempo, esto es, una
persistencia en la agresión, todos ellos presidido por la voluntad de causar un mal (daño o miedo) a la
víctima y situarla en un plano de inferioridad respecto del agresor o de un grupo”.
5
Como resulta lógico pensar, en otras modalidades de acoso, como el stalking, observamos la presencia de
comportamientos similares al acoso escolar, aunque el contexto y el entorno sean distintos. Así lo señalo en
mi estudio dedicado a esa modalidad de acoso, recientemente regulada en nuestro ordenamiento jurídico:
VERNENGO PELLEJERO, N.C. “Reflexiones en torno a la prueba en los procesos sobre stalking. Estado
de la cuestión a la luz de la reciente jurisprudencia del Tribunal Supremo”, en: Derecho y Proceso. Liber
Amicorum del Prof. Fransico Ramos Méndez, Vol. 3, Barcelona, Ed. Atelier, 2018, p. 2523: “En el caso
del stalking, conviene destacar el hecho de que, para poder hablar de la conducta punible, la
jurisprudencia insiste en que ha de demostrarse la concurrencia de un acoso insistente y reiterado sobre la
víctima, de tal forma que se vea obligada a cambiar sus hábitos”; así como también sostiene MARTÍNEZ
MUÑOZ, C.J. EL “Nuevo” delito de acoso del artículo 172 ter CP, Diario La Ley, n. 9006, 2017, p. 3: “Los
actos delictivos han de menoscabar el sentimiento de seguridad y la libertad del sujeto pasivo (...)”.
6
Al respecto, conviene mencionar también, a nivel nacional, la Ley 27/2005, de 30 de noviembre, de
Fomento de la Educación y de la Cultura de la Paz; así como la LO 8/2013, de 9 de diciembre, para la
Mejora de la Calidad Educativa (LOMCE), que modificó la Ley 2/2006, de 3 de mayo, de Educación
(LOE).
pesar de los intentos del legislador por proteger los intereses de los menores, subsiste aún
un nivel tan elevado de violencia en las aulas (y también fuera de ellas). No se trata de
una cuestión puntual o anecdótica si tenemos presente el número de casos de bullying
denunciados en los últimos años y la gravedad de algunos de ellos. La realidad nos ha
mostrado que nos encontramos ante un problema de gran calado, dentro y fuera de
nuestras fronteras, cuyo tratamiento a nivel de todas las Administraciones solo ha servido
para darle más visibilidad, pero no para erradicarlo del todo.
Actualmente, sin embargo, la sociedad parece haber adquirido algo más de
conciencia sobre el acoso escolar, a todos los niveles, y la necesidad de aplacar sus
efectos, dentro y fuera de las aulas. Pero, también sabemos sobradamente que no nos
encontramos ante una situación nueva o excepcional. El acoso escolar se ha venido
reproduciendo de forma habitual en el entorno educativo, afectando incluso a los propios
profesionales de la enseñanza. Lo excepcional, en todo caso, es la repercusión que las
denuncias de las víctimas están teniendo en la opinión pública7. Cuando nos referimos al
acoso escolar lo asociamos a aquellas situaciones en las cuales se llega a someter a un
niño/a o adolescente a un nivel de humillación y tortura psicológica tal, que acaba
afectando a su personalidad, pudiendo llegar a convertirlo en una persona retraída,
aislada y frágil, incluso tras alcanzar su edad adulta. Un niño/a que es sometido a una
situación de acoso escolar constante únicamente anhela ser invisible a los ojos de los
demás, para tratar de esquivar la tortura diaria a la que le someten sus agresores. Y como
veremos más adelante, uno de los problemas de los juristas que deben enfrentarse a casos
de acoso radica precisamente en demostrar estos ataques reiterados que se producen en el
entorno de la víctima. Resulta imprescindible, en cualquier caso, un seguimiento cercano
del comportamiento de los menores, así como de su entorno, tanto por parte de los
padres, como de los educadores que están en contacto constante con esos menores
durante el horario escolar y en las actividades extraescolares. Sin embargo, el problema
se torna más complejo cuando el acoso se traslada a los entornos virtuales.
Como si el acoso escolar presencial no fuera lo suficientemente cruel, en los
últimos años se ha venido produciendo otra forma específica de acoso, vinculado con los
entornos virtuales: el ciberbullying o ciberacoso, donde el acoso se traslada a Internet.
Cuando la conducta del acosador se traslada a un entorno tan ilimitado como las
redes sociales, se multiplican aún más sus efectos adversos sobre la víctima. El
ciberbullying permite participar a más personas que, en muchos casos, se valen del
anonimato que les otorgan las redes sociales para agredir con aparente impunidad.
No resulta nada sencillo probar el origen de algunas conversaciones u opiniones
vertidas en la red cuando el autor de las mismas utiliza datos identificativos falsos u
ordenadores de uso público. Esto ha supuesto sin duda otro de los mayores retos de
la Administración de Justicia, que ha debido adaptarse a estos casos, incorporando y
7
Conviene recordar que no es la única situación que ha alcanzado un nivel de notoriedad sin precedentes en
la última década. De igual modo, la violencia doméstica ha atravesado las paredes de los hogares donde
otrora se ahogaban los llantos de las víctimas, alcanzando los altavoces de los medios de comunicación y, lo
que es más importante, de las Salas de los tribunales de justicia. Ello no significa, en ningún caso, que aún
no quede camino por recorrer.
8
Las redes sociales y otras plataformas digitales, ha servido a los acosadores de plataforma para publicar
comentarios degradantes contra sus víctimas, incrementando notoriamente el daño producido sobre estas y
su aislamiento; como podemos deducir de esta SAP de las Palmas 209/2013 (Sala de lo Penal, Sección 1ª),
de 15 de noviembre (JUR/2014/3749): “Pues bien, la publicación de la citada fotografía, puesta en
relación con algunos de los crueles comentarios que la misma provocó entre varios de los menores
acusados ese mismo día en Tuenti (folios 8 a 16 de las actuaciones), corroboran objetivamente las
manifestaciones de la víctima en orden a que “después de la foto se agrava todo” y a que “se seguían
metiendo conmigo cada vez más, después de la foto”, hasta el punto de que el único amigo que tenía en
clase llegó a pedirle que solo se acercara a él fuera de clase. Y, la situación de constante humillación por
parte de la acusada Flora hacia Jose Daniel se puso de manifiesto no solo en la obtención de dicha
fotografía sin consentimiento de Jose Daniel (tal y como sostiene este y se revela de la forma en que se
obtuvo la misma, esto es, por detrás de Jose Daniel y mostrando este cara de sorpresa), y en subirla a
Tuenti, sino, además, en los siguientes actos: 1º) participar de manera activa y relevante en los comentarios
que tuvieron lugar ese día en tuenti (tales como, “pero gracias a ell Nos reiimos en Clasee ajaja!”; 2º) por
los reiterados comentarios despectivos que Flora dirigió a Jose Daniel en clase, diciéndole (tal y como la
misma reconoció) “Limpiabotas, maricón y gay”, 3º) por el trato de Flora hacia Jose Daniel , y que, en
palabras de este, era “humillante y con desprecio”, y , 4º), en la negativa de dicha acusada a retirar la foto
de Jose Daniel de Tuenti, pese a que este lo solicitó en diversas ocasiones. Es más, a tenor del propio
testimonio prestado por la víctima, la actitud acosadora por parte de Flora se prolongó hasta después de
presentada la denuncia que ha dado lugar a la interposición de la denuncia, personándose la misma, en
compañía de varios amigos, en el nuevo colegio en que Jose Daniel cursa su estudios y al que,
precisamente, se tuvo que trasladar por ser insostenible la situación de acoso de que esta siendo objeto, y
dicha actitud de Flora no puede más que ser interpretada como una actitud de desafío hacia la víctima y
hacia el propio sistema”.
9
Incluso pueden darse casos en los cuales intervienen jóvenes de edad superior a la de la víctima y que
mantienen algún tipo de parentesco o amistad con los acosadores de la víctima. Así sucedió en el caso
descrito en esta SAP de Madrid 241/2012 (Sala de lo Penal, Sección 25ª), de 11 de mayo (AC/2012/384):
“A los cuatro días de esa reunión Ramón sufrió nuevas amenazas, con intervención de los hermanos
mayores de los acosadores, siendo presenciado por todos los niños de la clase, grabando de nuevo la
madre de Ramón su conversación con la directora el 16-11-09, quien manifiesta que ve normal que la
hermana mayor vaya a defender a su hermano, reconociendo que los hechos se remontan a hace tres años,
que lo del año pasado había desaparecido y que habían reconocido las amenazadas de ese años de dejarle
en coma y arruinarle la vida”.
incluso casos en los que esos otros miembros del grupo simplemente observan las
agresiones pero no participan de ninguna forma en ellas, aunque las toleran sin
mostrar rechazo. Sea cual sea el caso, y con independencia de la situación que nos
encontremos, podríamos considerar que todos ellos también participan, de una forma
u otra, en el acoso dirigido contra la víctima y podrían precisar de algún correctivo,
para reconducir su educación.
Si analizamos esta problemática desde el punto de vista de la víctima,
observamos que los motivos por los cuales un/a menor suele ser el centro de las
agresiones de los demás pueden ser tan variados como inexistentes. No es necesario
que presenten unas características físicas determinadas, una conducta específica
(más o menor retraída), o una orientación sexual distinta a la de sus agresores; sino
que es suficiente con que otro menor le tome manía, sin más, para que comience el
escarnio10. A nivel psicológico se procura educar a los niños que son objeto de acoso
en la asertividad y el control de sus emociones, con el objetivo de tratar de frenar y
dirimir sus efectos adversos. Sin embargo, ello no evita el daño psicológico (o
incluso físico) que estas víctimas inocentes arrastran durante años, de forma
permanente, incluso en forma de secuelas durante su vida adulta11. El hecho de que
nos encontremos ante comportamientos llevados a cabo por menores, no debería
representar, en ningún caso, una falta absoluta de responsabilidad sobre sus actos y frente
a la sociedad12. Asociamos la edad con la inmadurez mental, para atenuar o limitar la
10
A pesar de esta afirmación, somos plenamente conscientes que muchos casos de bullying se asocian al
racismo y la xenofobia; pero también a la homofobia y la transfobia y “los poderes públicos no pueden ser
ajenos a la violencia de género”, como se proclama en la Exposición de Motivos de la LO 1/2004, de 28 de
diciembre, de Medidas de Protección Integral contra la Violencia de Género; debiendo abogar por
programas educativos que erradiquen cualquier atisbo de discriminación. En consecuencia, a la lacra que ya
supone el acoso escolar, se une también, y como telón de fondo, la transfobia y la homofobia, muy
presentes aún en nuestra sociedad actual. Sirva como muestra de ello esta SAP de Valencia 130/2017 (Sala
de lo Penal, Sección 5ª), de 21 de febrero (ARP/2018/118): “Consta que la actitud de trato degradante
observada por Guillermo hacia Santos , no se circunscribe a un episodio aislado, sino que se trataba de
una forma de actuar ya rutinaria, podríamos decir que constituida en costumbre, profiriendo de forma
reiterada insultos vejatorios e incluso homófobos, dándose además la circunstancia de que el agredido se
trata de un adolescente con problemas de retraso mental y de identidad sexual. Ello motivó que desde el
propio centro educativo al que ambos asistían se aplicara el protocolo por acoso, sin que Guillermo cesara
en su proceder incluso después de haberse adoptado contra él medidas disciplinarias. Es obvio, pues, de un
lado, que los hechos son merecedores de reproche penal y, de otro, que el menor requiere una intervención,
ya que aparte de la conducta agresiva objeto de juicio, parece estar incurso en un estado de desmotivación
y de frustración, siendo ello preciso para asegurar su adecuado desarrollo”.
11
Respecto a las secuelas que pueden llegar a manifestarse sobre las personas que han padecido acoso escolar
en algún momento de su infancia o adolescencia, véanse, entre otros, a: GONZÁLEZ DE RIVERA, J.L. El
maltrato psicológico, Ed. Espasa Práctico, Madrid, 2002, p. 49 y ss.; NOVO, M.; FARIÑA, F.; SEIJO, D.;
ARCE, R. “Eficacia del MMPI-A en casos forenses de acoso escolar: simulación y daño psicológico”,
Psychosocial Intervention, n.22, 2013, p. 33-40; y PALOMARES-RUIZ, A.; OTEIZA-NASCIMENTO,
A.; PAZ TOLDOS, Mª.; SERRANO-MARUGÁN, I.; MARTÍN-BABARRO, J. “Bullying and
depression: the moderating effect of social support, rejection and victimization profile”, Anales de
Psicología, n.1, 2019, p. 1-10.
12
Como tan agudamente sostiene MARTÍNEZ RODRÍGUEZ, J. A. Acoso Escolar: Bullying y
Ciberbullying, Barcelona, Bosch Editor, 2017, p. 181: “El acoso escolar provoca actos que atentan contra la
dignidad e integridad física y moral de los menores agredidos, originándoles secuelas psicológicas que se
responsabilidad en aquellos menores que han presentado una conducta delictiva. Pero,
por el mismo precio, deberíamos recordar que la ley exige a los menores un
“compromiso” de educación y desarrollo personal de acuerdo con los parámetros
sociales establecidos, y como recoge el art. 9 quáter de la Ley 26/2015, de 28 de julio, de
modificación del sistema de protección a la infancia y a la adolescencia: “Los menores
tienen que respetar a los profesores y otros empleados de los centros escolares, así
como al resto de sus compañeros, evitando situaciones de conflicto y acoso escolar en
cualquiera de sus formas, incluyendo el ciberacoso”. Visto así, su incumplimiento ha de
conllevar alguna consecuencia que sea más proporcional con el daño infringido, no solo
a la víctima directa, sino también a la sociedad13 (como víctima indirecta del delito); pero
todo ello sin olvidar, por descontado, que el infractor no deja de ser un niño o
adolescente que aún debe ser educado como tal.
En la práctica, la responsabilidad penal de los menores viene limitada por la
propia LO 5/2000, de 12 de enero, de Responsabilidad Penal del Menor (a partir de
ahora LORPM), que en su Exposición de Motivos especifica que la respuesta de la
Administración de Justicia a estas agresiones ha de estar orientada a la reeducación y
rehabilitación (si fuera necesario) de los menores agresores14. En ningún caso podrá
pueden prolongar durante toda la vida del menor agredido, ya que se encuentra en un periodo de su vida en
el que no ha desarrollado su personalidad, ya que el bullying causa un grado de vulnerabilidad bastante
mayor que cuando el acoso se produce en personas adultas por causa del mobbing”.
13
Compartimos en este punto la perspectiva ofrecida por CORDENTE MARTÍNEZ, C.A. Y MONROY
ANTÓN, A.J. “La Responsabilidad de los padres en la educación de los hijos en la sociedad actual: culpa
“in vigilando” y culpa “in educando”“, Diario La Ley, n. 6944, 2008. En este caso los autores analizan la
posible concurrencia de responsabilidad solidaria entre los progenitores y los centros de enseñanza, cuando
se produce una agresión entre menores, a la luz de una sentencia de la AP de Sevilla, de 30 de noviembre de
2007. Aunque no se trate específicamente de un caso de acoso escolar, no deja de ser ciertamente
paradigmático el hecho de que la sentencia anteriormente mencionada declarare la responsabilidad solidaria
también de la madre del agresor, sobre las importantes lesiones (incluyendo, la pérdida de varias piezas
dentales), que su hijo le causó a otro menor, en horario escolar. En todo caso, merece destacarse una de las
reflexiones de estos dos juristas respecto a la responsabilidad que debería aplicarse a todos aquellos menores
cuya edad está próxima a la mayoría de edad y su capacidad para discernir lo que está bien, de lo que no lo
está (P. 4): “La legislación cada vez más proclive a defender los derechos del menor ha sido en ciertos casos
mal entendida, produciéndose un efecto consistente en otorgarle casi cualquier tipo de bienes y derechos sin
ser apenas titular de obligaciones. Sería conveniente una reforma en el sentido de responsabilizar sobre todo
a aquellos que rozan la mayoría de edad. Por ejemplo, si la legislación permite a un menor conducir un
ciclomotor con 16 años, los padres no han de responder, en nuestra opinión, por culpa in educando, pues es
la Administración la que le ha otorgado ese derecho. Sin embargo, si el menor tiene tan solo 12 años y lo
conduce, ahí si se produciría la responsabilidad de los padres, tanto por no vigilar los actos de su hijo como
por no haberle educado convenientemente para que no realice ese tipo de actos (en este sentido se pronuncia
también la Sentencia de 29 de julio de 1997 del Tribunal Supremo). Así, la Sentencia analizada en este
artículo encontraría un grave problema, cual es el de que responsabiliza a los padres por el hecho de tratarse
de adolescentes, “para los que no es precisa una labor de control y vigilancia tan rígida, dado que sus
conocimientos sobre lo que adecuadamente se puede hacer para favorecer la convivencia entre compañeros
ya debe estar inculcada”, pero, sin embargo, no explica por qué, si esos adolescentes han de conocer lo que
está bien y lo que está mal, no responden personalmente en lugar de hacerlo sus padres”.
14
En este sentido, la Exposición de Motivos de la Ley 5/2000, de 12 de enero, expresa que: “Con arreglo a las
orientaciones expuestas, la Ley establece un amplio catálogo de medidas aplicables, desde la referida
perspectiva sancionadora-educativa, debiendo primar nuevamente el interés del menor en la flexible
aplicarse a los menores el régimen previsto para los mayores de dieciocho años. A
salvo de los casos en los que concurra alguna causa de excepción o extinción de la
responsabilidad penal, la ley dispone que los mayores de 14 años y menores de 18,
serán responsables de los delitos que hayan cometido de conformidad con la
regulación vigente del Código Penal (art. 5º LRPM). Sin perjuicio de lo establecido
en esta ley sobre la posible responsabilidad aplicable a los menores por la comisión
de los delitos tipificados en el Código Penal, la Ley Penal del Menor remite
expresamente a lo establecido en el art. 20 CP, respecto a las causas de exención de
responsabilidad criminal por anomalía o alteración psíquica (siempre que no haya
sido expresamente provocada por el sujeto para cometer el delito); intoxicación por
consumo de bebidas alcohólicas, drogas tóxicas, estupefacientes o sustancias de
similar naturaleza; así como cualquier alteración en la conciencia del sujeto
(diagnosticada de nacimiento o desde la infancia), que altere gravemente su
percepción sobre la realidad (art. 20.1, 2 y 3 CP). Ante estos casos, el juez aplicará
medidas de tipo terapéutico, definidas en las letras d) y e) del art. 7º.1 LRPM,
consistentes en el internamiento terapéutico en régimen cerrado, semiabierto o
abierto; y el tratamiento ambulatorio (en un centro designado expresamente para
ello, al cual deberán asistir con la periodicidad que se les requiera).
Las demás medidas orientadas a la reinserción del menor infractor (no exento
de responsabilidad criminal), de conformidad con el art. 7º LRPM, pueden resumirse
en las siguientes:
• Internamiento en régimen cerrado.
• Internamiento en régimen semiabierto.
• Internamiento en régimen abierto.
• Asistencia a un centro de día.
• Permanencia en su domicilio o en un centro cerrado, durante el fin de
semana.
• Libertad vigilada.
• Prohibición de aproximación y/o comunicación con la víctima, sus
familiares o cualquier otra persona que determine el propio juez.
• Obligación de convivir con otra familia, o bajo custodia de otra persona o
grupo educativo.
• Obligación de realizar actividades en beneficio de la comunidad (regulado
en el art. 49 CP).
• Obligación de llevar a cabo tareas de perfil socioeducativo.
adopción judicial de la medida más idónea, dadas las características del caso concreto y de la evolución
personal del sancionado durante la ejecución de la medida. La concreta finalidad que las ciencias de la
conducta exigen que se persiga con cada una de las medidas relacionadas, se detalla con carácter orientador
en el apartado III de esta exposición de motivos”. Las medidas a las que alude este apartado III, van desde
las prestaciones en beneficio a la comunidad, en los casos menos graves; al internamiento forzoso y
terapéutico, en casos más graves; pasando por la libertad vigilada. La idea es proveer al ordenamiento
jurídico de distintos tipos de medidas, adaptadas a las necesidades del menor infractor y a la naturaleza del
delito cometido.
15
Como se extrae de esta SAP de Ciudad Real 207/2017 (Sala de lo Penal, Sección 1ª), de 2 de junio
(ARP/2017/849): “Como bien indica el Ministerio Fiscal, la menor Remedios cuando fue explorada en sede
judicial, trasmitió que los episodios de presunto acoso acontecían generalmente fuera de la sede del centro
docente, lo que obviamente impedía que los denunciados tuviesen conocimiento de esos específicos hechos.
Pero es más la actuación de los denunciados no puede tener su enclave en el ámbito del derecho penal, por
más doloroso que represente para la madre el sufrimiento padecido por su hija con ocasión de actitudes para
con ella, con respecto a otra alumna del Colegio. Se han acordado las medidas oportunas como es la
incoación del correspondiente protocolo de acoso entre iguales, ha habido un seguimiento por parte del
Director y la Orientadora, bien sea que respecto a esta última fue la propia denunciante la que decidió que
no fuese atendida, por las discrepancias de criterio surgidas; y medidas adoptadas, distinto es que tales
medidas adoptadas no fuesen suficientes o proporcionadas a criterio de la denunciante, cuestión que no
puede tener en este caso concreto relevancia penal, máxime cuando finalmente la madre decidió un cambio
de centro docente y al que se por la Delegación de Educación accedió sin ningún tipo de inconveniente”.
16
Nuestro ordenamiento jurídico reconoce la posibilidad de formular reclamación patrimonial frente a los
centros públicos o concertados, como consecuencia del funcionamiento normal o anormal de las
instituciones públicas (en este caso en concreto pudiéndose reclamar por la falta de los debidos protocolos
para frenar las situaciones de acoso; o por su manifiesta ineficacia o inaplicación, en caso que sí existan), de
conformidad con la Ley de Régimen Jurídico del Sector Público (arts. 32 a 35 LRJSP), y cuyo
procedimiento se encuentra regulado en el art. 67 de la Ley 39/2015, de 1 de octubre, de Procedimiento
Administrativo Común de las Administraciones Públicas.
17
PÉREZ VALLEJO, A.M. “Responsabilidad civil parental por acoso de menores y de los centros
docentes”, en: Tratamiento integral del acoso, M.P. Rivas Vallejo; M.D. García Valverde. (Dirs.), Cizur
Menor (Navarra), Ed. Thomson Reuters Aranzadi, 2015, p. 381: “Nótese que al mencionar solo a los
“padres, tutores acogedores o guardadores”, desde la entrada en vigor de la LORPM, se ha cuestionado
doctrinalmente si los Centros escolares pueden ser demandados (en pieza separada de responsabilidad
civil) en esta sede especial de la jurisdicción de menores. Al respecto, una primera observación nos lleva a
plantearnos si esta omisión responde a un olvido del legislador o a una aparente laguna legal. Esta
cuestión ha sido resuelta por la doctrina en sentido negativo”.
18
Tal y como podemos ver en el caso descrito en esta SAP de A Coruña 280/2019 (Sala de lo Penal, Sección
2ª), de 4 de junio (JUR/2019/261251); en la que se aplicó una rebaja del 50% al padre, sobre la
responsabilidad civil fijada en en un principio: “Hay que considerar que el padre no tiene relación con la
hija desde hace casi un año que ello se generó por que la menor lo denunció, en esencia hechos sobre una
agresión, si bien ya se ha acreditado que se ha sobreseído dicho procedimiento, en el que se expone que no
existen indicios de un posible delito de lesiones o maltrato, tampoco se ha considerado creíble la versión de
la menor por sus contradicciones; también el recurrente pone de manifiesto que le había llamado la
atención por su comportamiento y especialmente por las compañías que frecuentaba, y por consecuencia
de ello se generó la denuncia de la hija. En consecuencia lo que puede concluirse es que tampoco se podía
exigir una mayor atención o dedicación por parte del padre, en ese cumplimiento del deber de vigilancia
que le incumbe. Por tanto consideramos que en este caso procede la reducción de la responsabilidad civil
del padre por la infracción cometida por su hija, reducción que se cifra en un 50%”.
19
Este requisito resulta lógico a nivel jurisprudencial, si tenemos presente que en psicología, autores como
OLWEUS, D. Conductas de Acoso y amenaza entre los escolares, Madrid, Ed. Morata, 2004, p. 25; destaca
que “La situación de acoso e intimidación y la de su víctima queda definida en los siguientes términos: Un
alumno es agredido o se convierte en víctima cuando está expuesto, de forma repetida y durante un tiempo,
a acciones negativas que lleva a cabo uno o varios de ellos. Debemos especificar más el significado de la
expresión “acciones negativas”. Se produce una acción negativa cuando alguien, de forma intencionada,
causa un daño, hiere o incomoda a otra persona – básicamente, lo que implica la definición de conducta
agresiva. (...) La definición que hemos dado anteriormente destaca las acciones negativas que se producen
“de forma repetida en el tiempo”, aunque en determinadas circunstancias se puede considerar agresión
intimidatoria una situación particular más grave de hostigamiento. Lo que pretendemos es excluir las
acciones negativas ocasionales y no graves, dirigidas a un alumno en un momento, y a otro en otra
ocasión”. En definitiva, para que una conducta pueda ser catalogada de “acosadora”, con independencia del
contexto en el cual se produzca, se requiere de una reiteración del comportamiento por parte del agresor,
con el objetivo de humillar y someter a su víctima.
20
En consecuencia, deberá probarse que no se trata de un incidente aislado o esporádico, sino que presenta
continuidad o incluso progresividad en el tiempo (puede haberse iniciado de forma menos severa y haberse
agravado en el tiempo). De este modo, y como se expone en la Sentencia 245/2014, del Juzgado de
Menores n.1 de Barcelona, de 4 de noviembre (JUR/2015/163109): “(...) la conducta desarrollada por el
menor acusado, por el tiempo que duró de aproximadamente más de un curso escolar, por las
circunstancias concurrentes en el menor víctima de los hechos, y por los concretos actos realizados, tanto
en su conjunto, como algunos de ellos por sí mismos, excedieron de las “bromas” para adentrarse
inequívocamente en el campo de la humillación. No se trata de una conducta puntual y de una intensidad
relativa; el menor sometió a su compañero de clase a un constante escarnio y vejaciones, lanzándole
objetos, dirigiéndole insultos, expresiones, y actos vejatorios, que desembocaron en el abandono de la
víctima del centro escolar en el que cursaba sus estudios, y que, lejos de cesar persistió en el nuevo centro
escolar, siendo patente que dicha conducta (por su persistencia y por las consecuencias que produjo en el
menor Marino) esta incardinada en el ámbito del tipo penal de los delitos contra la integridad moral”.
21
Tampoco tendría consecuencia alguna el hecho de que concurran varios menores como autores del acoso
porque, de darse esta situación, el art. 20 LORPM dispone que el Ministerio Fiscal incoe un expediente por
cada hecho justiciable, excepto en el caso que nos encontremos ante hechos delictivos conexos, en cuyo
caso optará por incoar un único expediente, que comprenderá todos los hechos justiciables y los menores
implicados, evitándose así la posibilidad de seguir procedimientos paralelos con resultados totalmente
distintos. Para una visión más detallada de la conexión penal en los procedimientos de menores, véase, por
todos: VALLESPÍN PÉREZ, D. Conexión Penal (En la Ley de Enjuiciamiento Criminal Española. Análisis
tras su reforma por Ley 41/2015), Porto, Juruá, 2019, p. 109 y ss.
podrá también proponer22; pues, por encima de todo, lo que intenta es reorientar los
pasos de ese menor para que a partir de ese momento se oriente en la dirección
correcta. Una vez elaborado el informe, se dará traslado del mismo al Juez de
Menores, el cual trasladará a su vez copia al letrado del menor o menores
expedientados.
Una vez finalizada la instrucción, el Ministerio Fiscal deberá resolver sobre
la conclusión del expediente (art. 30 LORPM), que notificará a las partes personadas
y remitirá al Juzgado de Menores, junto a las piezas de convicción y demás efectos
que puedan concurrir; además de un escrito de alegaciones en el que se hará constar
la descripción de los hechos, su valoración jurídica, el grado de participación del
menor, una breve descripción de sus circunstancias sociales y personales, la
proposición de alguna medida correctiva motivada y, si procede, la imposición de
responsabilidad civil. En el mismo acto, además, propondrá los medios de prueba de
los que pretenda valerse. En este momento procesal será también cuando el
Ministerio Fiscal puede pronunciarse sobre el sobreseimiento de las actuaciones, por
alguno de los motivos previstos en los arts. 637 y 641 LECrim.
Una vez recibido el escrito de alegaciones junto al expediente del Ministerio
Fiscal, las piezas de convicción y demás evidencias, el secretario del Juzgado de
Menores deberá incorporarlos a las diligencias y el Juez procederá a ordenar la
apertura del trámite de audiencia; en cuyo caso, el Letrado de la Administración de
Justicia dará traslado a los que ejerciten la acción penal y civil para que formulen sus
respectivos escritos de alegaciones y propongan sus pruebas, en el plazo común de
cinco días. Una vez evacuado este trámite, se dará traslado de las actuaciones al
letrado del menor y, si procede, a los responsables civiles, para que formulen a su
vez sus respectivos escritos de alegaciones y propongan también sus pruebas, en el
plazo común de cinco días23. Una vez presentados estos, o precluido el plazo sin que
se hayan presentado, el Juez acordará en el mismo auto de apertura de audiencia, lo
que estime conveniente sobre la pertinencia de las pruebas propuestas por las partes
(art. 34 LORPM).
Llegados a este punto, y respecto a la carga de la prueba (que recaerá en la
acusación), la misma se centrará en demostrar la existencia y la frencuencia del
acoso, así como la relación de causalidad que existe entre ese acoso y el daño
ocasionado sobre la víctima. El proceso en sí mismo gira en torno a ello, pero en la
práctica no siempre resulta sencillo demostrar la presencia constante de un acosador,
con independencia del entorno en el que actúe. En la actualidad, y como hemos
comentado al inicio del este estudio, sabemos que la forma de ejercer el acoso sobre
las víctimas ha pasado de ser puramente presencial, a mayoritariamente virtual
(ciberacoso o ciberbullying); en muchos casos propiciada por el uso de las nuevas
tecnologías en diferentes ámbitos de la vida cotidiana de los menores, así como la
22
De igual modo, y dependiendo del conflicto, el propio equipo técnico también podrá proponer alguna
medida restaurativa, reparadora o conciliadora con la víctima, de acuerdo con la previsión del art. 19
LORPM.
23
Conviene matizar que en esta etapa del procedimiento podrá promoverse la conformidad entre las partes
(art. 32 LORPM), la cual quedará plasmada en la correspondiente sentencia de conformidad.
por temor a represalias; en realidad, en la práctica solemos encontrar casos que cuentan
con la presencia de testigos, cuyo testimonio incluso ha resultado clave para el
procedimiento26. Estos han sido sin duda de gran ayuda para conocer, de primera mano,
los detalles de distintos episodios vividos por la víctima27 (por ejemplo, desde el punto
de vista de los educadores y los familiares, puede servir para conocer si han podido
observar algún posible cambio de comportamiento en el menor acosado o en el acosador,
desde que se tiene constancia de la situación de acoso). Por otro lado, y respecto al
testimonio prestado por la víctima, compartimos sin duda la opinión de juristas como,
Dos Pazos Benítez, cuando sostiene que la declaración del menor acosado es “el eje
del sistema”; y que a la hora de valorar su testimonio, el juez deberá tener en cuenta
aspectos trascendentales como el hecho de que mantiene la misma versión de los
hechos en todas las etapas del procedimiento judicial y que no declara movido por
un sentimiento de venganza contra su agresor28.
26
Para muestra un botón, como el que encontramos en esta SAP de Barcelona 427/2009 (Sala de los Penal,
Sección 3ª), de 8 de mayo (JUR/2009/401790): “Recurre la representación de Gracia alegando error en la
apreciación de la prueba, pues considera no existe prueba de cargo ya que a su entender lo único que
quedó acreditado en el plenario fue la animadversión existente entre víctima y menor. La defensa de
Adelaida error en la apreciación de la prueba pues considera no existe prueba de cargo alguna respecto a
la participación de la menor en los hechos, así como infracción del principio de presunción de inocencia.
Esta Sala no comparte las conclusiones a las que llegan las recurrentes. La sentencia recurrida construye
su relato de hechos probados partiendo de la prueba practicada en el acto del juicio oral, valorada por el
Juez sentenciador desde la independencia e imparcialidad que le corresponden y que nadie cuestiona, y
desde la posición de privilegio que para ello ostenta en virtud de la inmediación procesal. Las conclusiones
así alcanzadas solo podrían ser objeto de revisión, de resultar ilógicas, arbitrarias o irregulares, lo que no
ocurre en el presente caso. Nada de ello ocurre en el presente supuesto, al contrario, no hay más que
repasar nuevamente las declaraciones vertidas en el plenario como así ha hecho el Tribunal para
corroborar que, efectivamente, ambas menores participaron en los hechos por los que fueron condenadas,
y ello se desprende no tan solo de la versión de la menor y su madre sino también de la declaración
testifical del profesor de las menores. Existe por tanto prueba de cargo suficiente desvirtuadora del
principio de presunción de inocencia que en modo alguno se ha vulnerado”.
27
A modo de ejemplo, ver, la SAP de Barcelona 85/2017 (Sala de lo Penal, Sección 3ª), de 1 de noviembre
(Tol 6.508.166); la SAP de Jaén 551/2018 (Sala de lo Penal, Sección 2ª), de 29 de junio (Tol 6.834.214); o
la SAP de Santa Cruz de Tenerife 733/2018/ (Sala de lo Penal, Sección 2ª), de 19 de septiembre (Tol
6.956.532), entre otras.
28
A la máxima que nos recuerda DOS PAZOS BENÍTEZ, G. “El bullying en los centros escolares”, en: Los
delitos de acoso moral: mobbing, acoso inmobiliario, bullying, stalking, escraches y ciberacoso, Ed. Tirant
lo Blanch, Valencia, 2017, p. 34; podemos añadir aún lo reiterado en la jurisprudencia; como bien se
sostiene en esta SAP de Granada 6/2018 (Sala de lo Penal, Sección 1ª), de 25 de mayo (Tol. 6.871.458): “El
juez ha valorado la prueba practicada y ha concedido valor probatorio a la declaración de la víctima, con
entidad suficiente para desvirtuar el derecho a la presunción de inocencia. La jurisprudencia ha admitido
de forma reiterada el valor probatorio de cargo de las manifestaciones de los testigos que, a la vez, son
víctimas del ilícito, siempre que no concurran razones objetivas que los invaliden, o que provoquen dudas
que impidan al Tribunal formar su convicción. Para que ello ocurra, es necesario que la declaración de la
víctima cumpla ciertas garantías. Tales garantías reseñadas, entre otras muchas, por las SSTC 173/90 y
229/91; SSTS 16 de febrero de 1998, 2 de junio de 1999, 2 de octubre de 1999, 10 de marzo de 2000 y 10
de diciembre de 2002; son las siguientes. En primer lugar, la declaración debe ser subjetivamente creíble.
La ausencia de incredibilidad subjetiva se deduce de las relaciones acusador-acusado que pudieran
conducir a la deducción de la existencia de un móvil de resentimiento, enemistad, venganza,
enfrentamiento, o interés. El segundo requisito consiste en que la declaración sea objetivamente verosímil.
Para que ello ocurra, es necesario que la versión de los hechos que constituye el contenido de la
Junto a la declaración que puedan ofrecer estos testigos, así como otras
evidencias igualmente importantes (como es el atestado policial que recoje la
denuncia interpuesta por la víctima), también contamos con la prueba pericial
psicológica; de indudable importancia en cualquier caso de acoso. El trabajo del
perito que ha de realizar el análisis psicológico sobre la víctima se basa en distintas
pruebas y observaciones, para analizar sus reacciones frente a distintas situaciones y
preguntas. Para ello, será imprescindible ahondar en la vida diaria y las rutinas del
menor, su interacción con su entorno y la relación que mantiene con su familia y amigos;
y cómo la situación de acoso ha condicionado su vida. La presencia de un menor
sometido a acoso escolar puede evidenciarse, por ejemplo, a partir de la externalización
de distintos signos (ansiedad, alteración del sueño, retraimiento, negativa a ir al colegio,
o pérdida, de apetito, entre otros). A partir de los exámenes practicados, el perito podrá
ofrecer su diagnóstico sobre el estado del menor y las posibles secuelas que la víctima
puede arrastrar consigo29.
La decisión que se adopte sobre este menor vendrá determinada por los hechos
que se consideren probados, pero también, y muy especialmente, por el informe del
Equipo Técnico que se encarga de analizar el entorno del menor, su actitud y su
comportamiento ante a la situación.
5 A MODO DE CONCLUSIÓN
Las situaciones de acoso requieren de una respuesta enérgica por parte de
todos; no solamente de las Administraciones. De nada sirve dotar al ordenamiento
jurídico de los medios para juzgar los delitos asociados al bullying si los auténticos
responsables directos de los menores agresores no adoptan una posición activa
BIBLIOGRAFÍA
BERROCAL LANZAROT, A.I. “La comunidad educativa ante el acoso escolar o bullying. La
responsabilidad civil de los centros docentes”, Diario La Ley, n.7359, 2010.
CARRETERO SÁNCHEZ, S. “Las redes sociales y su impacto en el ataque a los derechos
fundamentales: aproximación general”, Diario La Ley, n.8718, 2016.
CARRILLO IZQUIERDO, A. “El acoso escolar como forma de violencia en la enseñanza secundaria,
una visión legal del problema”, Revista sobre la infancia y la adolescencia, n.14, 2018.
CORDENTE MARTÍNEZ, C.A. y MONROY ANTÓN, A.J. “La responsabilidad de los padres en la
educación de los hijos en la sociedad actual: culpa “in vigilando” y culpa “in educando”, Diario La Ley,
n.6944, 2008.
DOS PAZOS BENÍTEZ, G. “El bullying en los centros escolares”, en: Los delitos de acoso moral:
mobbing, acoso inmobiliario, bullying, stalking, escraches y ciberacoso, Ed. Tirant lo Blanch, Valencia,
2017.
GARCÍA VALVERDE, F. “Responsabilidad penal derivada del acoso escolar”, en: Tratamiento
integral del acoso (Pilar Rivas Vallejo, Dir.), Thomson Reuters Aranzadi, Cizur Menor (Navarra), 2015.
GONZÁLEZ DE LA RIVERA, J.L. El maltrato psicológico, Madrid, Espasa Práctico, 2002.
MARTÍNEZ MUÑOZ, C.J. “El “nuevo” delito de acoso del artículo 172 ter CP”, Diario La Ley, n.
9006, 2017
MARTÍNEZ RODRÍGUEZ, J.A. Acoso escolar: Bullying y Ciberbullying, Barcelona, Bosch Editor,
2017.
MUSSEN, P.H.; CONGER, J.J.; KAGAN, J. Desarrollo de la personalidad en el niño, México, Editorial
Trillas, 1976.
NOVO, M. – FARIÑA, F. – SEIJO, D. – ARCE, R. “Eficacia del MMPI-A en casos forenses de acoso
escolar: simulación y daño psicológico”, Psychosocial Intervention, n.22, 2013.
OLWEUS, D. Conductas de acoso y amenaza entre los escolares, Madrid, Ed. Morata, 2004.
ONTIER, J. “La aportación de WhatsApps como medio de prueba en el procedimiento penal”, Diario La
Ley, n.9219, 2018.
ORTEGA BALANZA, M. “Matones en la red: cyberbullying”, Diario La Ley, n.8485, 2015.
1
Mestranda em Direito Público pela Universidade Fumec. Chefe do Núcleo de Correição Administrativa da
Fundação Ezequiel Dias. Servidora Pública do Estado de Minas Gerais. E-mail: glauciamila
gre74@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7367759718310512. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-
1674-8032. Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, Brasil.
2
Pós-Doutor Univ. de Coimbra/UNISINOS. Doutor e Mestre em Dir. Proc. PUC Minas. Coord. do PPGD e
do PPGMCult da Univ. FUMEC. Editor Chefe da Revista MERITUM. Coord. Geral do IMDP. Assessor
TJMG. E-mail: sergiohzf@fumec.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2720114652322968. Orcid:
http://orcid.org/0000-0002-7198-4567. Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, Brasil.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo propõe uma análise contemporânea entre o Processo Administra-
tivo Disciplinar (PAD) e o Processo Administrativo de Responsabilização de Pessoa
Jurídica (PAR), ambos mineiros, quanto aos diferentes procedimentos em que se
encontram implementados os princípios do contraditório e da ampla defesa.
Neste sentido, serão abordadas sobre a importância do estudo contemporâneo do
direito sancionador mineiro; as direnças processuais entre o PAD e o PAR na observân-
cia dos princípios do contraditório e da ampla defesa; as propostas de aprimoramento do
PAD mineiro, tendo em vista a legislação mineira. Neste caso, serão avaliados os proce-
dimentos da Lei Estadual 869, de 05.07.19523, o Projeto de Lei 39/20134, Decreto
3
MINAS GERAIS, Lei Estadual 869/1952, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/
completa/completa-nova – min.html?tipo=LEI&num=869&ano=1952>, Acesso em: 25 abr. 2020.
4
MINAS GERAIS, Decreto de Lei Complementar 39/2013, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/a
tividade_parlamentar/tramitacao_projetos/texto.html?a=2013&n=39&t=PLC, Acesso em: 03 jul. 2020.
5
MINAS GERAIS, Decreto Estadual 46.782, de 23.06.2015, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/co
nsulte/legislacao/completa/completa.html?tipo=DEC&num=46782&comp=&ano=2015>, Acesso em: 03
jul. 2020.
6
MINAS GERAIS, Decreto Estadual 47.752, de 12.11.2019, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/c
onsulte/legislacao/completa/completa.html?tipo=DEC&num=47752&comp=&ano=2019>, Acesso em: 03
jul. 2020.
7
MINAS GERAIS, Lei Estadual 869/1952, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/consulte/legis
lacao/completa/completa-nova – min.html?tipo=LEI&num=869&ano=1952:>, Acesso em: 25 abr. 2020.
8
MINAS GERAIS, Decreto Estadual 47752, de 12.11.2019, Disponível em: <https://www.almg.gov.b
r/consulte/legislacao/completa/completa.html?tipo=DEC&num=47752&comp=&ano=2019>, Acesso em:
03 jul. 2020.
9
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Disponível em: <http://www.plan
alto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm>, Acesso em: 12 abr.2020.
10
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Disponível em: <http://www.pla
nalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm>, Acesso em: 12 abr.2020.
11
COSTA, Daniela Almeida da, CASTRO, Fabiana Oliveira Bastos de. A assistência de advogado na
investigação preliminar: garantia fundamental ou mera formalidade?, Revista Internacional CONSINTER
de Direito, vol. V, n. IX, 2º semestre de 2019, Porto, Portugal, 2019, p. 53, Disponível em:
<https://revistaconsinter.com/revistas/ano-v-numero-ix/direitos-difusos-coletivos-e-individuais-homogeneo
s/a-assistencia-do-advogado-na-investigacao-preliminar-garantia-fundamental-ou-mera-formalidade/>,
Acesso em: 12 jul 2020.
12
BARROS, Vinícius Diniz Monteiro de, “Entre democracia e (neo)liberalismo: algumas proposições crítico-
teóricas sobre mais uma “reforma da previdência” no Brasil”, in Guilherme Rojas de Cerqueira, org.,
Direito Previdenciário na visão dos defensores públicos federais, Belo Horizonte, D´Plácido, 2019, p. 300.
13
AGAMBEN, Giorgio, O que é contemporâneo? E outros ensaios, Tradução de Vinícius Nicastro Honesko,
Chapecó, Argos, 2009, p. 59.
14
AGAMBEN, Giorgio, O que é contemporâneo? E outros ensaios, Tradução de Vinícius Nicastro Honesko,
Chapecó, Argos, 2009, p. 62.
15
LIMA, Renata Albuquerque, BRITO, Anya Lima Penha de, Uma Análise Crítica À Luz da Hermenêutica
dos Sistemas Jurídicos Inteligentes, Belo Horizonte, Revista Meritum, FUMEC, vol. 14, n. 02, julho a
dezembro, 2019, p.702.
16
NETTO, Menelick de Carvalho, Jurisdição e Hermenêutica Constitucional no Estado Democrático de
Direito, Belo Horizonte, Mandamentos, 2004, p. 25.
17
LOPES, Edward, Discurso, corpus, texto: explorações, Franca, Revista Coleção Mestrado em Linguística,
UNIFRAN, 2010, p. 36. Disponível em: <http://publicacoes.unifran.br/index.php/colecaoMestradoEmL
inguistica/article/view/328/258>, Acesso em: 08 jul. 2020.
18
CARVALHO, Antônio Carlos Alencar, Manual de Processo Administrativo Disciplinar e Sindicância, 3ª
ed., Belo Horizonte, Fórum, 2012, p. 127.
19
BRASIL, Lei 12.846, de 01.08.2013, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12846.htm>, Acesso em: 31 mai. 2020.
judicial pela negativa de autoria e negativa da existência material do fato, tais asser-
tivas (ou uma delas) podem influenciar na esfera administrativa.
Apesar das semelhanças, os objetivos são diferentes, bem como outras carac-
terísticas processuais.
Enquanto no PAD apura-se a responsabilidade funcional de servidor público
quanto a possível autoria, mediante a materialidade constatada em sede de sindicân-
cia ou investigação preliminar, de acordo com a Lei Estadual mineira 869/1952, no
PAR tem por pressuposto apurar ato ilícito de empresa em face do Estado, conforme
os casos arrolados no art. 5º da Lei Federal 12.876/201320.
No estudo da Lei Estadual 869/195221 é possível constatar que a responsabi-
lidade do servidor público sempre será subjetiva.
Conforme o Manual de Apuração de Ilícitos Administrativos da Controlado-
ria-Geral do Estado de Minas Gerais: “A responsabilidade disciplinar do servidor
público nada mais é do que o dever de bem exercer suas atribuições, com probida-
de, presteza, eficiência, compatibilizando-o com o compromisso assumido no termo
de posse [...]”22.
No mesmo Manual dispõe que “[...] a responsabilidade do servidor público
sempre será subjetiva, isto é, sujeita à comprovação do dolo ou da culpa”23.
Nesse sentido, preconiza na Antônio Carlos Alencar Carvalho,
20
BRASIL, Lei 12.846, de 01.08.2013, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12846.htm>, Acesso em: 31 mai. 2020.
21
MINAS GERAIS, Lei Estadual 869/1952, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/consulte
/legislacao/completa/completa-nova – min.html?tipo=LEI&num=869&ano=1952>, Acesso em: 25 abr.
2020.
22
MINAS GERAIS, Manual de Apuração de Ilícitos Administrativos, Controladoria-Geral do Estado de
Minas Gerais, p. 42, Disponível em: <http://cge.mg.gov.br/phocadownload/manuais_cartilhas/pdf/Ma
nual%20de%20Apurao%20de%20Ilcitos%20Administrativos%202.pdf>, Acesso em: 16 jun. 2020.
23
MINAS GERAIS, Manual de Apuração de Ilícitos Administrativos, Controladoria-Geral do Estado de
Minas Gerais, p. 43, Disponível em: <http://cge.mg.gov.br/phocadownload/manuais_cartilhas/pdf/Manual
%20de%20Apurao%20de%20Ilcitos%20Administrativos%202.pdf,> Acesso em: 16 jun. 2020.
24
CARVALHO, Antônio Carlos Alencar, Manual de Processo Administrativo Disciplinar e Sindicância, 3ª
ed., Belo Horizonte, Fórum, 2012, p. 175.
Isto quer dizer que, enquanto servidor público, no processo deve estar carac-
terizado o dolo, a intenção de agir, ou a culpa, que se é cometida pela imprudência,
imperícia ou negligência, quando o servidor público tenha realizado um ato irregu-
lar, embora não tenha desejado o resultado.
Tanto no dolo quanto na culpa se fazem necessários os esclarecimentos dos
fatos, em face dos princípios da ampla defesa e do contraditório em sede da instru-
ção processual, que acontece entre a citação e o despacho de indiciamento, podendo
também exaurir na fase das alegações finais, com o intuito de preservar a prevalên-
cia desses princípios.
É preciso que o servidor processado tenha o cuidado em demonstrar à Comis-
são que a prova somente pode ser adquirida posteriormente à instrução. Isto porque,
tanto à Administração Pública, quanto o servidor público, não podem procrastinar/
tumultuar o processo. Muitos desses atos posteriores poderiam ensejar a oitiva de
testemunha (ainda não ouvida) ou diligências, como uma perícia, por exemplo.
Não é possível no Estado Democrático de Direito que o servidor público so-
fra uma penalidade e que, por outro lado, não se tenha nos autos a comprovação da
sua conduta irregular e o resultado advindo dela, ou seja, a clareza quanto ao nexo
de causalidade, além da caracterização do dolo ou culpa, que ensejaram a sua res-
ponsabilização, pela execução ou omissão de atos, que vão ser considerados ilícitos
em sede disciplinar.
Na explicitação dos motivos da decisão, a autoridade deverá demonstrar as
suas razões de fato e direito, incluindo nessas a valoração quanto o agir do servidor
público, ou seja, a avaliação quanto a intenção do servidor em praticar ou deixar de
exercer o ato, que, por consequência, considerou-se ilícito.
No processo relativo à responsabilização da pessoa jurídica, a regra é a res-
ponsabilidade objetiva, sendo subjetiva apenas para os administradores e sócios
administradores, em virtude o § 6º do art. 37 da Constituição Federal e da Lei Fede-
ral 12.876/201325. Considerando esse entendimento, nos autos a empresa deve de-
monstrar que não agiu com a intenção de causar dano ao Estado, podendo ainda
demonstrar o Plano de Integridade em execução ou demonstrar o interesse no acordo
de leniência.
Outra diferenciação é a constituição da Comissão, sendo que no PAD são três
servidores públicos estáveis e no PAR, dois.
Quanto ao momento de defesa preliminar, no PAD são de dez dias, enquanto
no PAR, são trinta. É possível perceber uma extensão de prazo maior no PAR.
Ainda, no PAR não há o despacho de indiciamento como acontece no PAD.
As possíveis imputações legais quanto os atos ilícitos, em tese, já estão esclarecidos
desde a notificação inicial. Não quer dizer que no PAD seja aconselhável alterar as dis-
posições legais no despacho de indiciamento, com relação à Portaria inaugural. Não seria
uma conduta prudente da Comissão, a não ser quando esta estivesse diante de uma prova
25
BRASIL, Lei 12.846, de 01.08.2013, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12846.htm>, Acesso em: 31 mai. 2020.
26
BRASIL, Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compil
ado.htm,> Acesso em: 30 jul. 2020.
27
MINAS GERAIS, Decreto Estadual 47.752, de 12.11.2019, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/
consulte/legislacao/completa/completa.html?tipo=DEC&num=47752&comp=&ano=2019>, Acesso em:
03 jul. 2020.
28
MINAS GERAIS, Decreto Estadual 47.752, de 12.11.2019, Disponível em: <https://www.almg.gov.
br/consulte/legislacao/completa/completa.html?tipo=DEC&num=47752&comp=&ano=2019>, Acesso em:
03 jul. 2020.
29
“Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente público, servidor ou não,
que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído.
§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade quando praticadas pelo
agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda,
por mero capricho ou satisfação pessoal.
plinar, conforme a Lei Estadual 869/195238, bem como a importância dos trabalhos
desenvolvidos em sede de discussão acadêmica, é possível afirmar que a processualística
do PAR antes da sua alteração retrata melhor a natureza fundamental dos princípios da
ampla defesa e do contraditório, em sede de processo administrativo.
Reforçando o que já foi dito, trata-se de uma discussão acadêmica e, neste senti-
do, não desconstitui e nem retira a importância dos trabalhos desenvolvidos e nem a
maneira pela qual esses princípios são respeitados, como são exercidos no desempe-
nho das comissões processantes que tanto se desdobram em não faltar a observância
desses fundamentos constitucionais, tanto no PAD, quanto no PAR.
Para aguçar o estudo, foi pesquisado no site da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais sobre a existência de algum projeto de lei vigente que trata do Estatuto do Servi-
dor Público de Minas Gerais. Na busca foi apresentada uma relação de atos que dentre
eles está o Projeto de Lei Complementar 39/201339. Este PLC tem atualmente a situação
de “arquivado”. Fazendo uma leitura desse documento, dos arts. 208 a 217 se faz remis-
são as fases do relatório final e julgamento. Apenas em caso de ressarcimento ao erário
os autos seriam encaminhados pela autoridade máxima à AGE/MG.
O PLC 39/201340 não diferencia em muito quanto ao PAD vigente, a não ser
quanto: 1) ao prazo de cinco dias para a iniciação do PAD, contado da publicação do
extrato do ato de instauração e tendo prazo de conclusão de até noventa dias da data de
seu início, podendo ser reconduzidos os trabalhos por igual período (art. 189). Atualmen-
te, o prazo é de três dias da referida publicação, e o prazo inicial dos trabalhos são de
sessenta dias, podendo ser reconduzidos; 2) ao número máximo de cinco testemunhas
(art. 201), o prazo de defesa, quando houver mais de um acusado, passaria de dez para
vinte dias (art. 206). Na processualística atual não se determina o número certo de teste-
munhas e o prazo de apresentação de defesa são de dez dias a cada servidor processa-
do, podendo ser concomitante ou não, ou seja, dependerá da efetivação da cita-
ção/intimação; 3) o prazo de julgamento reduziria de sessenta para trinta dias e in-
troduziu a questão de direcionar os autos, na finalização dos trabalhos, à Procurado-
ria (AGE/MG), em caso de ressarcimento (art. 217).
Todavia, como está retratado no título desse tópico, a intenção do presente estudo
é apresentar propostas de melhoria na tramitação do PAD mineiro, em meio acadêmico.
Assim, quanto as fases de instauração e instrução, até o encerramento das oitivas, inclu-
indo o despacho de indiciamento no PAD, estão bem delimitados nos dias atuais.
Dando continuidade as demais fases, a intenção é fazer um paralelo do proce-
dimento que contempla a legislação atual do PAD mineiro com a legislação que a
38
MINAS GERAIS, Lei Estadual 869/1952, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/
completa/completa-nova – min.html?tipo=LEI&num=869&ano=1952>, Acesso em: 25 abr. 2020.
39
MINAS GERAIS, Decreto de Lei Complementar 39/2013, Disponível em: <https://www.almg.gov.
br/atividade_parlamentar/tramitacao_projetos/texto.html?a=2013&n=39&t=PLC>, Acesso em: 03 jul. 2020.
40
MINAS GERAIS, Decreto de Lei Complementar 39/2013, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/a
tividade_parlamentar/tramitacao_projetos/texto.html?a=2013&n=39&t=PLC>, Acesso em: 03 jul. 2020.
5 CONCLUSÃO
Os atos administrativos são ações no cumprimento do interesse público, no senti-
do de que a todos os administrados possam se estender às garantias fundamentais já
impostas constitucionalmente.
No âmbito correcional não poderia ser diferente. No ambiente acadêmico, é pos-
sível discutir se a processualística relativa ao PAR antes da alteração do Decreto Estadu-
al 46.782/201543 pelo Decreto Estadual 47.752/201944, que pudesse corresponder a mai-
or abrangência de atuação dos princípios do contraditório e ampla defesa, embora em
ambos processos, PAD e PAR, há a observância atualmente desses princípios.
O administrado tem o direito de saber quais os fatos alegados em seu desfa-
vor, de ter acesso as provas, de se defender delas, para que a relação processual
estabelecida no âmbito administrativo possa ter validade.
Ainda, destaca-se a motivação e a legalidade, que são as ferramentas proces-
suais indissociáveis na elaboração da decisão válida pela autoridade máxima. Toda-
via, até a chegada desse veredicto muitos procedimentos são sucessivamente reali-
zados. Neste sentido, os atos processuais se norteiam pelo direcionamento da acusa-
ção e após, da defesa, nessa ordem.
Por mais que as comissões processantes tenham esmeros nos trabalhos de-
senvolvidos, isso é inquestionável, com a Constituição de 1988 exige-se o aprimorar
41
MINAS GERAIS, Decreto Estadual 46.782, de 23.06.2015, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/
consulte/legislacao/completa/completa.html?tipo=DEC&num=46782&comp=&ano=2015>, Acesso em:
03 jul. 2020.
42
MINAS GERAIS, Decreto Estadual 47.752, de 12.11.2019, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/
consulte/legislacao/completa/completa.html?tipo=DEC&num=47752&comp=&ano=2019>, Acesso em:
03 jul. 2020.
43
MINAS GERAIS, Decreto Estadual 46.782, de 23.06.2015, Disponível em: <https://www.almg.gov.br
/consulte/legislacao/completa/completa.html?tipo=DEC&num=46782&comp=&ano=2015>, Acesso em:
03 jul. 2020.
44
MINAS GERAIS, Decreto Estadual 47.752, de 12.11.2019, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/
consulte/legislacao/completa/completa.html?tipo=DEC&num=47752&comp=&ano=2019>, Acesso em:
03 jul. 2020.
o procedimento do PAD mineiro, mas nunca desmerecer tudo que já foi construído
até aqui. Seguindo esse entendimento, os princípios do contraditório e da ampla
defesa poderiam ser ensejados ao servidor após o parecer da AGE/MG, antes de ser
elaborada a decisão final do processo. A intenção é fomentar novos pensamentos de
procedimentalidade na dinâmica que exige o Estado Democrático de Direito. É o
olhar diferenciado no que pode se somar às garantias fundamentais, acrescer a de-
mocraticidade ao que já é bem empregado.
Portanto, as sugestões acadêmicas trazidas vêm de encontro ao controle da
Administração Pública à luz da Constituição de 198845, já que o Estatuto do Servi-
dor Público mineiro, neste ano, cumpriu sessenta e oito anos de existência e precisa
de uma nova interpretação, até que uma nova legislação possa ser editada. Por meio
de uma visão de alteração legislativa, é possibilitar ao Estatuto do Servidor Público a
contemporaneidade, ao que se exige uma sociedade diferenciada de quando a Lei
Estadual 869/195246 foi elaborada e publicada.
REFERÊNCIAS
AGAMBEN, Giorgio, O que é contemporâneo? E outros ensaios, Tradução de Vinícius Nicastro Hones-
ko, Chapecó, Argos, 2009.
ALEXY, Robert, Teoria dos direitos fundamentais, Tradução deVirgílio Afonso da Silva, 2ª ed., São
Paulo, Malheiros, 2011.
ALMEIDA, Débora Cristina Resende de, Repensando representação política e legitimidade democrática:
entre a unidade e a pluralidade, 2011, Tese, Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filoso-
fia e Ciências Humanas, 2011.
ALVES, Léo da Silva, Processo disciplinar passo a passo, 2ª ed., Brasília, Brasília Jurídica, 2004.
ALVES, Léo da Silva, Direito disciplinar para concursos jurídicos: guia de controle da disciplina, 1ª ed,
São Paulo, EDIPRO, 2012.
ALVIM, José Eduardo Carreira, Teoria Geral do Processo, 8ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 2003.
ÁVILA, Humberto, Repensando o princípio da supremacia do interesse público sobre o particular,
Revista Eletrônica sobre a Reforma do Estado, Salvador, Instituto Brasileiro de Direito Público, n. 11,
setembro/outubro/novembro, 2007, Disponível em: <https://fliphtml5.com/fdns/yvgj/basic, Acesso em:
05 abr.2020.
ÁVILA, Humberto, Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos, 13ª ed, São
Paulo, Malheiros, 2012.
BARROS, Vinícius Diniz Monteiro de, “Entre democracia e (neo)liberalismo: algumas proposições crítico-
teóricas sobre mais uma “reforma da previdência” no Brasil”, in Guilherme Rojas de Cerqueira, org., Direito
Previdenciário na visão dos defensores públicos federais, Belo Horizonte, D´Plácido, 2019.
BARRETO, Carolina Ferreira, O princípio do contraditório e da ampla defesa no processo administrati-
vo disciplinar, Disponível em: <https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/4357/1/CAROLINA_PEREIRA_BAR
RETO.pdf>, Acesso em: 20 jan.2020.
BASTOS, Celso Ribeiro, Curso de Direito Constitucional, São Paulo, Celso Bastos Editor, 2002.
45
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm, Acesso em: 12 abr.2020.
46
MINAS GERAIS, Lei Estadual 869/1952, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/consulte/legis
lacao/completa/completa-nova-min.html?tipo=LEI&num=869&ano=1952, Acesso em: 25 abr. 2020.
BERTONCINI, Mateus, CUSTÓDIO FILHO, Ubirajara, SANTOS, José Anacleto Abduch, Comentários
à Lei 12.846/2013: Lei Anticorrupção, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2014.
BINENBOJM, Gustavo, “A constitucionalização do direito administrativo no Brasil: um inventário de
avanços e retrocessos”, in Cláudio Pereira de Souza Neto e Daniel Sarmento, coord., A Constitucionaliza-
ção do Direito: Fundamentos Teóricos e Aplicações Específicas, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2007.
BONAVIDES, Paulo, Curso de Direito Constitucional, 18ª ed., São Paulo, Malheiros Editores, 2006.
BRASIL, Lei 12.846, de 01.08.2013, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12846.htm>, Acesso em: 31 mai. 2020.
BRASIL, Lei 13.869, de 05.09.2019, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2019/lei/L13869.htm>, Acesso em: 30 jul. 2020.
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm>, Acesso em: 12 abr.2020.
BRASIL, Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848com
pilado.htm>, Acesso em: 30 jul. 2020.
BULOS, Uadi Lammêgo, Curso de Direito Constitucional. 5ª ed., São Paulo, Saraiva, 2010.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes, Direito constitucional, 6ª ed., Coimbra, Almedina, 1993.
CARVALHO, Antônio Carlos Alencar, Manual de Processo Administrativo Disciplinar e Sindicân-
cia, 3ª ed., Belo Horizonte, Fórum, 2012.
CARVALHO, Kildare Gonçalves, Direito Constitucional, 13 ª ed., Belo Horizonte, Del Rey, 2007.
CASTRO, Carlos Roberto de Siqueira, O Devido Processo Legal e a Razoabilidade das Leis na Nova
Constituição do Brasil, Rio de Janeiro, Forense, 1989.
CHEVALLIER, Jacques, O Estado de direito, Belo Horizonte, Fórum, 2013.
COSTA, Daniel Tempski Ferreira da, Devido processo legal em face da Lei 9784/1999, Disponível em:
<https://jus.com.br/947235-daniel-tempski-ferreira-da-costa/publicacoes, Acesso em: 22 jan. 2020.
COSTA, Daniela Almeida da, CASTRO, Fabiana Oliveira Bastos de. A assistência de advogado na
investigação preliminar: garantia fundamental ou mera formalidade? , Revista Internacional CONSIN-
TER de Direito, v. V, n. IX, 2º semestre de 2019, Porto, Portugal, 2019. Disponível em:
<https://revistaconsinter.com/revistas/ano-v-numero-ix/direitos-difusos-coletivos-e-individuais-homoge
neos/a-assistencia-do-advogado-na-investigacao-preliminar-garantia-fundamental-ou-mera-formalidade/>
Acesso em: 12 jul 2020.
COSTA, José Armando da, Teoria e prática do processo administrativo disciplinar, 4ª ed., Brasília,
Jurídica, 2004.
CRETELLA NETO, José, Fundamentos principiológicos do processo civil, Rio de Janeiro, Forense,
2002.
CUNHA, Rogério Sanches, Leis Penais Especiais: comentadas artigo por artigo, Rogério Sanches
Cunha, Ronaldo Batista Pinto, Renee de Ó Souza, coord., 2ª ed., Salvador, Jus Podivm 2019.
DALLARI, Adilson Abreu, FERRAZ, Sérgio, Processo Administrativo, São Paulo, Malheiros Editores,
2001.
DANTAS, Paulo Roberto de Figueiredo, Direito constitucional. 5ª ed., São Paulo, Atlas, 2009.
DIAS, Ronaldo Brêtas de Carvalho, Processo Constitucional e Estado Democrático de Direito, 3ª ed., Belo
Horizonte, Del Rey, 2015.
FERRAZ, Sérgio Ferraz, DALLARI, Adilson Abreu, Processo Administrativo, São Paulo, Malheiros, 2001.
FREITAS, Sérgio Henrique Zandona, A impostergável reconstrução Principiológico-Constitucional do
Processo Administrativo Disciplinar no Brasil, 2014, Tese, Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2014.
FILHO, José dos Santos Carvalho, Manual de Direito Administrativo, 17ª ed., Rio de Janeiro, Lumen
Juris, 2007.
FILHO, Nagib Slaibi, Direito Constitucional, 3ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 2009.
FILHO, Luiz Francisco Mota Santiago, PORTES, Louise Dias Portes, CUNHA, Um panorama da apli-
cação da Lei Anticorrupção nos estados brasileiros, in Matheus, rev., Disponível em: <https://www.jo
ta.info/wp-content/uploads/2018/10/60633e78423a649ba4f81cc39a85c97e.pdf, Acesso em: 06 jun. 2020.
K. PREUβ, Ulrich, “Os elementos normativos da soberania”, in MERLE, Jean-Christophe, MOREIRA,
Luiz, org., Direito e legitimidade. São Paulo, Landy Livraria, 2003.
LEAL, André Cordeiro, Instrumentalidade do Processo em crise, Belo Horizonte, Mandamentos, 2008.
LEAL, Rosemiro Pereira, Teoria processual da decisão jurídica, São Paulo, Landy, 2002.
LEAL, Rosemiro Pereira, Teoria geral do processo, Primeiros estudos, Belo Horizonte, Fórum, 2018.
LIMA, Arnaldo Esteves, O processo administrativo no âmbito da administração pública federal: Lei
9.784 de 29.01.1999. Belo Horizonte, Del Rey, 2014.
LIMA, Renato Brasileiro de, Manual de processo penal, Niterói, Impetus, 2011.
LIMA, Renata Albuquerque, BRITO, Anya Lima Penha de, Uma Análise Crítica À Luz Da Hermenêutica
Dos Sistemas Jurídicos Inteligentes, Belo Horizonte, Revista Meritum, FUMEC, vol.14, n. 02, julho a
dezembro, 2019.
LIVIANU, Roberto, Corrupção. 3ª ed., São Paulo, Quartier Latin do Brasil.
LENZA, Pedro, Direito constitucional esquematizado, 11ª ed., São Paulo, Método, 2007.
LOPES, Edward, Discurso, corpus, texto: explorações, Franca, Revista Coleção Mestrado em Linguísti-
ca, UNIFRAN, 2010, Disponível em: <http://publicacoes.unifran.br/index.php/colecaoMestradoE
mLinguistica/article/view/328/258>, Acesso em: 08 jul. 2020.
LUZ, Egberto Maia, Sindicância e Processo Disciplinar, 1ª ed., São Paulo, EDIPRO, 1999.
MEDINA, Paulo Roberto de Gouvêa, Direito Processual Constitucional, 3 ed. Rio de janeiro, 2006.
MENDONÇA, Henrique Gaspar Mello de, O poder discricionário e o controle de juridicidade dos atos
administrativos, in KNOERR, Fernando Gustavo e CARVALHO, Luciani Coimbra de, coord., XXVIII
Encontro Nacional do Conpedi Goiânia,GO., Florianópolis, CONPEDI, 2019, Disponível em:
<http://conpedi.danilolr.info/publicacoes/no85g2cd/582k1t95/1FW46v40t00aL93g.pdf, Acesso em: 08
mar. 2020.
MEIRELLES, Hely Lopes, Direito administrativo brasileiro, 38ª ed. São Paulo, Malheiros, 2012.
MINAS GERAIS, Manual de Apuração de Ilícitos Administrativos, Controladoria-Geral do Estado de
Minas Gerais, Disponível em: <http://cge.mg.gov.br/phocadownload/manuais_cartilhas/pdf/Manual
%20de%20Apurao%20de%20Ilcitos%20Administrativos%202.pdf>, Acesso em: 16 jun. 2020.
MINAS GERAIS, RESOLUÇÃO CONJUNTA CGE/AGE N. 4, DE 12.11.2019, Disponível em:
<http://www.age.mg.gov.br/images/stories/downloads/resolucoes/resolucoes_conjuntas/2019-resolucao
conjunta-4-cge-age.pdf>, Acesso em: 11 jun.2020.
MINAS GERAIS, Constituição Estadual de Minas Gerais, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/
export/sites/default/consulte/legislacao/Downloads/pdfs/ConstituicaoEstadual.pdf>, Acesso em: 30 jul. 2020.
MINAS GERAIS, Lei Estadual 869/1952, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/consulte/legis
lacao/completa/completa-nova-min.html?tipo=LEI&num=869&ano=1952>. Acesso em: 25 abr. 2020.
MINAS GERAIS, Decreto Estadual 46.782, de 23.06.2015, Disponível em: <https://www.almg.gov.br/
consulte/legislacao/completa/completa.html?tipo=DEC&num=46782&comp=&ano=2015>, Acesso em:
03 jul. 2020.
MINAS GERAIS, Decreto Estadual 47752, de 12.11.2019, Disponível em: <https://www.almg.
gov.br/comsulte/legislacao/completa/completa.html?tipo=DEC&num=47752&comp=&ano=2019>,
Acesso em: 03 jul. 2020.
MINAS GERAIS, Decreto de Lei Complementar 39/2013, Disponível em: <https://www.almg.gov
.br/atividade_parlamentar/tramitacao_projetos/texto.html?a=2013&n=39&t=PLC>, Acesso em: 03 jul.
2020.
MORAES, Alexandre de, Direito constitucional, 13ªed., São Paulo, Atlas, 2003.
NETTO, Menelick de Carvalho, Jurisdição e Hermenêutica Constitucional no Estado Democrático de
Direito, Belo Horizonte, Mandamentos, 2004.
LAVINAS, Victor Okuyama, Processo administrativo de responsabilização: breve análise dos desafios
frente à Lei anticorrupção, Lei 12.846, de 2013 e ao Decreto 8.420, de 2015, Disponível em:
<https://itr.ufrrj.br/portal/wp-content/uploads/2017/10/t185-1.pdf>, Acesso em: 01 jun. 2020.
PARANHOS, Ana Paula do Vale, A imparcialidade nas decisões judiciais e sua reconstrução no Estado
Democrático de Direito, 2010, Dissertação, Universidade Fumec, Faculdade de Ciências Humanas, 2010.
OLICITANTE, Suspensão temporária e demais sanções, Disponível em: <http://www.olicitante.com.
br/suspensao-temporaria-alcance-tcu-stj/>, Acesso em: 31 mai. 2020.
PINHO, Humberto Dalla Bernardina de, Manual de direito processual civil contemporâneo, 2ª ed., São
Paulo, Saraiva, 2020.
PINHEIRO, Igor Ferreira, PINHEIRO, Tânia Mara Moreira Sales. Vade Mecum de Direito Anticorrup-
ção Comentado: aspectos gerais, São Paulo, JH Mizuno, 2019.
RIBEIRO, Adriano da Silva, MENEZES, Gláucia Milagre, “A constitucionalização do processo adminis-
trativo na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal”, in X ENCONTRO INTERNACIONAL DO CON-
PEDI, Crise do Estado Social, Universidade de Valência, Espanha, CONPEDI, 2019, Disponível em:
<http://conpedi.danilolr.info/publicacoes/150a22r2/mrnm85ol, Acesso em: 12 de jul. 2020.
SALES, Pedro Carneiro, “Direito Administrativo Constitucional: o dever de ponderação proporcional e a
relativização da supremacia do interesse público sobre o privado”, in FERREIRA, Gustavo Assed, CRIS-
TOVÁM, José Sérgio da Silva, DIAS, Maria Tereza Fonseca, coord., XXVI ENCONTRO NACIONAL DO
CONPEDI BRASÍLIA, DF., Florianópolis, CONPEDI, 2017. Disponível em, <http://conpedi.
danilolr.info/publicacoes/roj0xn13/egjonppg/Vn3v3K70CM1yMRGQ.pdf, Acesso em: 08 mar. 2020.
SCHIRATO, Vítor Rhein. “O processo administrativo como instrumento do Estado de Direito e da De-
mocracia”, in MEDUAR, Odete, SCHIRATO, Vítor Rhein, org., Atuais rumos do processo administrati-
vo, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2010.
SANTOS, José Anacleto Abduch, BERTONCINI, Mateus, COSTÓDIO FILHO, Ubirajara, Comentários
à Lei 12.846/2013, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2014.
SILVA, José Afonso, Curso de Direito Constitucional Positivo, 35ª ed., São Paulo, Malheiros, 2012.
SOUZA, Felipe Oliveira, O raciocínio jurídico entre princípios e regras, Disponível em:
<https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/242932/000936212.pdf?sequence=3&isAllowed=y
, Acesso em: 05 abr. de 2020.
SOUZA, Helton José Almeida de, “Dosimetria de Multa nos Processos Administrativos de Responsabili-
zação de Pessoa Jurídica: interpretações dos parâmetros legais de aplicação do art. 6º, inc. I, da Lei
12.846/2013, na União, Estados e Municípios brasileiros”, in Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em
Corrupção: Controle e Repressão a Desvios de Recursos Públicos, Sociedade de Ensino Superior Estácio
de Sá Ltda., em parceria com o Complexo de Ensino Renato Saraiva, 2018.
STAFFEN, Márcio Ricardo, CADEMARTORI, Daniela Mesquita Leutchuk de, “A função democrática
do princípio do contraditório no âmbito do processo administrativo disciplinar: aproximações entre Elio
Fazzalari e Jürgen Habermas”, in Direitos Fundamentais & Justiça, n. 12, jul. set., 2010, Disponível em:
<http://dfj.emnuvens.com.br/dfj/article/view/423, Acesso em: 24 jan. 2020.
TEIXEIRA, Winston de Araújo, REFLEXÕES ACERCA DO DIREITO FUNDAMENTAL À DURAÇÃO
RAZOÁVEL DO PROCESSO, in FREITAS, Riva Sobrado, BEÇAK, Rubens e SILVA, Delmo Mattos da,
coord., XXVI CONGRESSO NACIONAL DO CONPEDI SÃO LUÍS – MA, Florianópolis, CONPEDI,
2017, Disponível em: <http://conpedi.danilolr.info/publicacoes/27ixgmd9/o61z9nus/w2QxYeLSp7w5V9
pw.pdf>, Acesso em: 17 abr. 2020.
Resumen: El presente trabajo tiene por finalidad analizar la Nota Conjunta del Consejo
de Europa y la Agencia de Derechos Fundamentales de la Unión Europea, como
documento aclaratorio sobre el uso de normas internacionales en concordancia con los
derechos universales para la correcta aplicación de estas en la coyuntura del COVID-19.
Para ello, se ha estudiado la actualidad en las fronteras, la protección de la salud en la
práctica y la vulnerabilidad de los menores.
Palabras-clave: COVID-19, fronteras, vulnerabilidad, derechos fundamentales,
solidaridad, Unión Europea, refugiados e inmigración.
Resumen: The purpose of this work is to analyse the Joint Note of the Council of
Europe and the European Union Agency for Fundamental Rights, as a explanatory
document on the use of international regulations in line with universal rights for the
proper application of these at the juncture of COVID-19. To this end, the current
situation in frontiers, the protection of health in practice and the vulnerability of minors
have been studied.
Keywords: COVID-19, borders, vulnerability, fundamental rights, solidarity, European
Union, refugees and inmigration.
Sumario: Introducción. 1. Actualidad en las fronteras. 2. Protección de la salud frente al
principio de non-refoulement. 3. Situaciones de vulnerabilidad: menores. 4. Conclusiones.
5. Bibliografía.
1
Catedrático de Derecho Administrativo y Catedrático Jean Monnet “Ad Personam” de Derecho de la Unión
Europea. Universidad de Alcalá de Henares (Madrid). Presidente del Instituto Eurolatinoamericano de
Estudios para la Integración (IELEPI).
INTRODUCCIÓN2
En los últimos meses, hemos vivido situaciones complicadas que tienen
como origen la pandemia del coronavirus, en concreto el virus SARS-CoV-2 que es
el que causa la enfermedad del COVID-19. Este virus ha obligado a varios Estados a
plantearse la cuestión acerca de cuál debería ser la adecuada actuación a llevar a
cabo para con la ciudadanía, aunque, en todo momento, orientando las mismas desde
una clara perspectiva tendente al estricto y cabal cumplimiento de los objetivos
sanitarios.
Como consecuencia, los gobiernos de la totalidad de países afectados han
adoptado distintas medidas tendentes a conseguir mantener los respectivos niveles
de seguridad, al mismo tiempo que a proteger la salud de la ciudadanía. En todo
caso, puede decirse que, todo el conjunto amplio de medidas tomadas revisten un
carácter marcadamente nacionalista, habiéndose llegado, incluso, al cierre de las
fronteras para tratar de eludir los contagios y el avance del temido virus.
A pesar de constatar que todo lo expuesto ha sido posible, como resultado del
ejercicio de su propio y exclusivo derecho al control de las fronteras, se deben tener
en cuenta las repercusiones que las indicadas actitudes individualistas y
gubernamentalistas han venido a producir para los migrantes y refugiados que se
hallan a la espera de entrar en la Unión Europea.
Es por ello que, la Agencia de Derechos Fundamentales de la Unión Europea,
en cuanto organismo de la Unión de carácter supranacional, y el Consejo de Europa,
en tanto que organización internacional, han elaborado y publicado una nota
conjunta, fruto de su intensa y fructífera colaboración, con la finalidad de recordar a
los Estados miembros, con cierto grado de incumbencia, su obligación de
salvaguardar y proteger los derechos fundamentales de las personas, siendo
indiferente su nacionalidad, a la hora de aplicar las normativas europeas.
Principalmente, se han centrado en la coyuntura actual de las fronteras, que
se ven superadas tanto por la afluencia masiva de inmigrantes como por la situación
sanitaria global. Observamos, también, una destacada y seria advertencia en la
utilización de las normas fronterizas en relación con el respeto a los derechos
fundamentales y a las normas sanitarias.
Así pues, antes de entrar a estudiar el tema concreto objeto de nuestro
análisis, es decir, la Nota Conjunta en sí misma, emanada de las dos entidades antes
citadas, hemos considerado conveniente reseñar, brevemente, la organización y las
funciones de ambas participantes en la aludida Nota Conjunta.
Iniciaremos la descripción del primero de los organismos señalados, es decir,
la Agencia de los Derechos Fundamentales de la Unión Europea3, conocida por sus
2
El autor quiere dejar constancia de su agradecimiento a Nuria Puentes Ruiz, colaboradora de mi Cátedra
Jean Monnet “Ad Personam” de Derecho de la Unión Europea, en la Universidad de Alcalá, por su
inestimable apoyo en la preparación de este trabajo.
3
Agencia de los Derechos Fundamentales de la Unión Europea <https://fra.europa.eu/es> [Fecha de consulta:
26 de mayo de 2020]
4
Consejo de Europa <https://www.coe.int/en/web/portal/home> [Fecha de consulta: 26 de mayo de 2020]
actividad de la Organización Los medios para alcanzar los aludidos fines no son
otros que: el examen de los asuntos de interés común, la conclusión de acuerdos y la
adopción de una acción conjunta en los campos económico, social, cultural,
científico, jurídico y administrativo, así como la salvaguarda y la mayor efectividad
de los derechos humanos y las libertades fundamentales.
Con esta pequeña exposición descriptiva que se ha trazado, puede observarse
que ambas organizaciones referidas y autoras de la Nota Conjunta, se encargan de
proteger los derechos humanos y fundamentales, ya que su objetivo no es otro que
coadyuvar a evitar incumplimientos y discriminaciones en la materia enunciada, al
mismo tiempo que asegurar, en todo momento, el asesoramiento y necesario apoyo que
se les requiera por parte de los Estados miembros y de la Unión Europea.
Ahora bien, hemos de advertir que, como quiera que las habituales funciones que
desarrollan presentan un carácter que puede definirse como de meramente de
orientación, los documentos que produzcan, elaboren y publiquen no tendrán fuerza
vinculante u obligatoria, sino que, como ocurre en el caso de la Nota Conjunta que
vamos a analizar, nos encontramos ante un conjunto de documentos aclaratorios sobre el
uso de las normas internacionales en concordancia con los derechos universales.
6
COUNCIL OF EUROPE. “European Convention on Human Rights” <https://www.echr.coe.int/Documen
ts/Convention_ENG.pdf> [Fecha de consulta: 4 de mayo de 2020]
7
Directiva 2008/115/CE del Parlamento Europeo y del Consejo, de 16 de diciembre de 2008, relativa a
normas y procedimientos comunes en los Estados miembros para el retorno de los nacionales de terceros
países en situación irregular, DOUE L 348 de 24.12.2008, p. 98-107.
asegurar ciertas condiciones para las personas implicadas, como pueden ser la
necesidad de explicitar la duración de la detención , así como el objetivo final de la
misma.
Además, los Estados miembros a través de sus autoridades de fronteras, en el
supuesto de personas consideradas más vulnerables, tales como pueden ser las personas
mayores, los enfermos o los niños, deben probar que no existe una opción menos levisa
que pueda ser aplicada a los casos en cuestión.
Con esto que terminamos de reseñar, queremos poner de relieve que, el
internamiento debe ser utilizado, asimismo, como uno de los último recursos a utilizar,
dado que tiene, como principal consecuencia, la limitación evidente de un derecho, no
solo fundamental, ya que ha sido garantizado de manera universal, lo que supone
obviamente que los Estados miembros no detenten ningún poder de restricción sobre el
mismo derecho. De ahí que sea esencial el hecho de que tenga necesidad de manifestar
una clara motivación y la explicitación de una finalidad concreta.
En todo caso y sobre todo, se debe destacar y poner de relieve bien
ostensiblemente que, el internamiento no puede ser sino una medida de carácter
absolutamente temporal. Con esto no nos referimos únicamente a que las personas
internadas tienen que conocer la duración concreta de su internamiento o encierro en un
centro, sino que, el referido internamiento no puede ser una solución para ser aplicada a
largo plazo por parte de los Estados miembros para los supuestos de las afluencias
masivas.
8
Convención sobre el Estatuto de los Refugiados, adoptada en Ginebra el 28 de Julio de 1951 por Naciones
Unidas, que entró en vigor el 22.04.1954, de ahora en adelante Convención de Ginebra.
posible, los Estados deberán realizar una investigación que asegure, verdaderamente, que
los peticionarios interesados no sufrirán ningún daño.
Cabe destacar que, para conocer si una persona supone una amenaza para la
seguridad del Estado, es necesario estudiar su caso individualmente, evitándose, de este
modo, que se lleguen a producir expulsiones que puedan ser consideradas como
contrarias a Derecho. Asimismo, es preciso insistir en que, se trata de un requisito
esencial que debe ser cumplimentado con anterioridad a la adopción de la
correspondiente decisión sobre la cuestión.
Asimismo, se observan casos en los que, son constatables las afluencias masivas,
las cuales resultan contestadas a través de la utilización práctica de las típicas
devoluciones colectivas, y ello se lleva a cabo de la forma apuntada a pesar de estar
prohibidas por el tenor del artículo 4 del Protocolo N.4 del Convenio Europeo de
Derechos Humanos. Ahora bien, hemos de manifestar que, en los últimos años se ha
apreciado que, los citados estudios individualizados, evitan la posibilidad prohibida de
las expulsiones colectivas, al entenderse que, con carácter previo, los Estados han
examinado las peticiones de entrada y las han rechazado.
De igual manera, la Nota Conjunta señala que, la mayor o menor profundización
en el estudio y evaluación de cada supuesto dependerá de varios factores, como, por
ejemplo, puede ser la forma de entrada en el país, ya que, si esta se realizó de manera
ilegal, es posible que los solicitantes pierdan su derecho a argumentar en contra de la
expulsión.
Por otra parte, debemos indicar que, aunque habitualmente se usa el término
refugiados, lo cierto es que se entiende que, la considerada denominación, posee una
opción de carácter general que permite su aplicación a cualquier persona que busque
protección, independientemente de su estatuto jurídico, con la finalidad de poder
aplicarles el artículo 33 de la Convención y evitar vulneraciones del derecho a la vida o
la prohibición de tortura y tratos inhumanos.
Hay que señalar que, también, el principio non-refoulement se encuentra
recogido en el artículo 18 de la Carta de Derechos Fundamentales de la Unión Europea9.
Estamos convencidos de que, dada la importancia de los derechos fundamentales
que este principio protege, la Unión Europea debe encontrar responsables a los Estados
miembros que hayan incumplido sus compromisos para con estas personas protegidas
por el relatado principio.
Por su parte, hemos de destacar que, asimismo, la Nota Conjunta subraya la
obligación impuesta por los artículos 3 y 4 del Código de Fronteras Schengen de respetar
los derechos de los refugiados o cualquier otro tipo de estatuto internacional.
Esta situación descrita es propiciada por el hecho constatado de que existen
ciertas protecciones de los derechos fundamentales, como es el caso del artículo 15
del Convenio Europeo para la Protección de los Derechos Humanos y de las
9
Carta de Derechos Fundamentales de la Unión Europea, DOUEC 364, de 18 de diciembre de 2000. Fue
proclamada por el Parlamento Europeo, el Consejo y la Comisión Europea el 7 de diciembre de 2000 y
reformada el 12 de diciembre de 2007, entrando en vigor el 1 de diciembre de 2009, junto con el Tratado de
Lisboa.
10
CONSEJO DE EUROPA. “Respectingdemocracy, rule of law and human rights in the framework of the
COVID-19 sanitary crisis. A toolkit for memberstates” InformationDocuments SG/Inf(2020)11 de
7.04.2020.
11
Tratado de Funcionamiento de la Unión Europea, DOUE C 326/47, de 26 de octubre de 2010, de ahora en
adelante TFUE.
12
PARLAMENTO EUROPEO “Pregunta prioritaria con solicitud de respuesta escrita P-001342/2020 a la
Comisión”, de 4 de marzo de 2020, <https://www.europarl.europa.eu/doceo/document/P-9-2020-00134
2_ES.html> [Fecha de consulta: 16 de mayo de 2020]
13
Directiva 2001/55/CE del Consejo, de 20 de julio de 2001, relativa a las normas mínimas para la concesión
de protección temporal en caso de afluencia masiva de personas desplazadas y a medidas de fomento de un
esfuerzo equitativo entre los Estados miembros para acoger a dichas personas y asumir las consecuencias de
su acogida, DOUE L 212, de 7.8.2001, p. 12-23.
miembros, sobre todo para las personas encargadas del cuidado de aquellas otras que
tienen su derecho a la libertad reducido14.
La declaración reseñada orienta su atención hacia la vertebración y disposición de
diez principios considerados esenciales para proteger los derechos de las personas, a la
vez que se intenta hacer frente a la situación creada por el COVID-19.
Podemos decir que, el principio de actuación sopesado como más importante, ha
exigido emprender la puesta en marcha de todas las acciones e iniciativas plausibles para
conseguir evitar los contagios entre los trabajadores de los centros de detención y las
personas detenidas.
La mencionada declaración recomienda la incorporación de todos los
trabajadores que tengan conocimientos profesionales en la materia, al mismo tiempo que
recuerda que, cualquier medida restrictiva deberá tener una base legal, la cual habrá de
ser completamente observada antes de proceder a la adopción de cualquier tipo de
decisión en este ámbito material.
Para el tratamiento de los detenidos se indica que, resulta ser absolutamente
necesario informar de las decisiones que se vayan a tomar, e incluso evitar las
aglomeraciones mediante la puesta en utilización de alternativas, como pueden ser las de
llevar a cabo liberaciones anticipadas o la no detención de migrantes.
Asimismo, se permite la posibilidad de realizar las pruebas de COVID-19 a los
detenidos, así como aconseja prestar especial cuidado y atención con las personas que
puedan estar incursos en alguno de los denominados grupos de riesgo.
La declaración que mencionamos, en su principio número siete expone que,
aunque sea razonable la suspensión de actividades no esenciales, los derechos
fundamentales siguen vigentes, por lo que deben ser respetados, incluyéndose los
derechos de higiene personal y el derecho al aire libre.
En este mismo contexto, el texto de la declaración también hace mención al
hecho por el que, se establece que la privación de los derechos de visitas deben ser
compensados por la utilización de otros medios de comunicación, así como que, las
personas que hubieren de ser aisladas como consecuencia de la infección provocada
por el virus, también deberán poder entablar conversaciones con otras personas
diariamente, ya que no puede olvidarse que, durante estos tiempos de pandemia es
obligatorio, asimismo, proteger la salud mental de las personas.
Para finalizar, conviene destacar también el hecho de que, el Comité recuerda
a los Estados la opción de adoptar medidas de carácter preventivo, con la evidente
finalidad de intentar evitar contagios, tales como generalizar la obligatoriedad de
llevar mascarillas, así como también el deber y la responsabilidad de continuar
asegurando el acceso de los organismos de vigilancia.
14
CTP “Statement of principlesrelating to the treatment of personsdeprived of theirliberty in the context of the
coronavirus disease (COVID-19) pandemic” CPT/Inf(2020)13 <https://rm.coe.int/16809cfa4b>[Fecha de
consulta: 20 de mayo de 2020]
15
Directiva 2013/33/UE del Parlamento Europeo y del Consejo, de 26 de junio de 2013, por la que se
aprueban normas para la acogida de los solicitantes de protección internacional, DOUE L 180, de
29.6.2013, p. 96/116.
16
AGENCIA DE LOS DERECHOS FUNDAMENTALES DE LA UNIÓN EUROPEA. “Relocating
unaccompanied children: applying good practices to future schemes” <https://fra.europa.eu/site
s/default/files/fra_uploads/fra-2020-relocating-unaccompanied-children_en.pdf> [Fecha de consulta: 26 de
mayo de 2020]
4 CONCLUSIONES
Son varios los Estados miembros de la Unión Europea que resultan elegidos
por muchas personas solicitantes de protección internacional, y eso es de la manera
apuntada en función a que se trata de destinos seguros, donde dichas personas no
serán perseguidas por pensar o vivir de cierta manera y donde se reconocen unos
valores universales, inviolables e inalienables, según lo expresado y puesto de
manifiesto en el propio Preámbulo del Tratado de la Unión Europea (TUE).
Los derechos fundamentales tienen un carácter inalienable, por lo que se ha
de admitir que son inseparables de las personas, y, además, del concepto de sociedad
democrática que la Unión Europea preserva.
La sociedad europea predica unos valores esenciales, como pueden ser la
dignidad y el resto de los derechos humanos, que se configuran como absolutamente
incompatibles con posibles violaciones del derecho a la vida, así como con la
prohibición de las torturas y los tratos inhumanos y degradantes a las personas.
Por consiguiente, no se pueden aceptar ningún tipo de incumplimientos por
parte de los Estados miembros, dado que, además, estos no tienen reconocida en
parte alguna la competencia para limitar los derechos humanos, ni tampoco su
aplicación completa en el conjunto de sus respectivos territorios ni, obviamente, en
el de la Unión Europea.
En el referido orden de ideas y, con el fin de conservar la esencia que define a
la ciudadanía europea, al mismo tiempo que proteger a las personas solicitantes de
auxilio internacional, se hace imprescindible buscar y encontrar alguna solución que
sirva para poner remedio inmediato a la coyuntura vivida en los últimos años en las
fronteras europeas y, que se ha visto agravada en los últimos meses, como
consecuencia y resultado de la pandemia que dio lugar a la aparición de la crisis
provocada por el COVID-19.
Entre las medidas propuestas por la Unión Europea para tratar de solventar
estos problemas cabe destacar sobremanera la imposición reflexiva del criterio de la
solidaridad, el cual, además, constituye el punto central y neurálgico de la Política
de la Unión Europea con mayúsculas.
En efecto, puede manifestarse sin ninguna duda que, en el contexto de la
Unión Europea, la solidaridad debe ser considerada un principio rector en cualquier
normativa europea sobre materia de inmigración y asilo. La citada solidaridad es
preciso entenderla en dos ámbitos perfectamente diferenciados, a saber: primero,
para con las personas que buscan ayuda en nuestras fronteras; y, segundo, para con
los Estados que son los primeros en acudir a su encuentro al gobernar sus lindes y
límites territoriales.
Por su parte, como ya quedó fijado anteriormente, la reubicación constituye
una herramienta de solidaridad entre los Estados miembros, ya que ayuda, de un
lado, a aquellos cuyos sistemas de recepción están desbordados, y de otro, también,
a las personas solicitantes de protección internacional, al permitirles acudir a un
Estado donde podrán estudiar su caso particular más detenidamente.
5 BIBLIOGRAFÍA
Agencia de los Derechos Fundamentales de la Unión Europea<https://fra.europa.eu/es> [Fecha de
consulta: 26 de mayo de 2020]
AGENCIA DE LOS DERECHOS FUNDAMENTALES DE LA UNIÓN EUROPEA. “Relocating
unaccompanied children: applying Good practices to future schemes” <https://fra.europa.eu/sites/
default/files/fra_uploads/fra-2020-relocating-unaccompanied-children_en.pdf> [Fecha de consulta: 26 de
mayo de 2020]
Carta de Derechos Fundamentales de la Unión Europea, DOUEC 364, de 18 de diciembre de 2000.
Consejo de Europa <https://www.coe.int/en/web/portal/home> [Fecha de consulta: 26 de mayo de 2020]
CONSEJO DE EUROPA. “European Convention on Human Rights” <https://www.echr.coe.i
nt/Documents/Convention_ENG.pdf> [Fecha de consulta: 4 de mayo de 2020]
CONSEJO DE EUROPA. “Respectingdemocracy, rule of law and human rights in the framework of the
COVID-19 sanitary crisis. A toolkit for memberstates” InformationDocuments SG/Inf(2020)11 de
7.04.2020.
Convención sobre el Estatuto de los Refugiados, adoptada en Ginebra el 28 de Julio de 1951 por
Naciones Unidas, que entró en vigor el 22.04.1954, de ahora en adelante Convención de Ginebra.
CTP “Statement of principlesrelating to the treatment of personsdeprived of theirliberty in the context of
the coronavirus disease (COVID-19) pandemic” CPT/Inf(2020)13 <https://rm.coe.int/16809cfa4b>[Fecha
de consulta: 20 de mayo de 2020]
Directiva 2001/55/CE del Consejo, de 20 de julio de 2001, relativa a las normas mínimas para la
concesión de protección temporal en caso de afluencia masiva de personas desplazadas y a medidas de
fomento de un esfuerzo equitativo entre los Estados miembros para acoger a dichas personas y asumir las
consecuencias de su acogida, DOUE L 212, de 7.8.2001, p. 12-23.
Directiva 2008/115/CE del Parlamento Europeo y del Consejo, de 16 de diciembre de 2008, relativa a
normas y procedimientos comunes en los Estados miembros para el retorno de los nacionales de terceros
países en situación irregular, DOUE L 348 de 24.12.2008, p. 98-107.
Directiva 2013/33/UE del Parlamento Europeo y del Consejo, de 26 de junio de 2013, por la que se
aprueban normas para la acogida de los solicitantes de protección internacional, DOUE L 180, de
29.6.2013, p. 96/116.
NACIONES UNIDAS. “Carta Internacional de los Derechos del Hombre”, Resolución 217 A (III), de 10
de diciembre de 1948.
PARLAMENTO EUROPEO “Pregunta prioritaria con solicitud de respuesta escrita P-001342/2020 a la
Comisión”, de 4 de marzo de 2020, <https://www.europarl.europa.eu/doceo/document/P-9-2020-
001342_ES.html> [Fecha de consulta: 16 de mayo de 2020]
Reglamento (UE) 2016/399 del Parlamento Europeo y del Consejo, de 9 de marzo de 2016, por el que se
establece un Código de normas de la Unión para el cruce de personas por las fronteras, DOUE L 77, de
23.3.2016, p. 1/52
Tratado de Funcionamiento de la Unión Europea, DOUE C 326/47, de 26 de octubre de 2010.
1
Advogada, Pós-Doutoranda pela Universidade de Salamanca (Espanha) e Pós-Doutoranda pela
Universidade de Messina (Itália).
INTRODUÇÃO
O presente estudo aborda o direito à saúde, considerando as alterações legis-
lativas trazidas pelo denominado Pacote Anticrime, e mais especificamente sobre o
direito de visita íntima nos presídios do Estado Brasileiro, sob as óticas constitucio-
nal e humanitária.
Antes mesmo da vigência da Lei 13.964/2019, a proibição de visitas nos pre-
sídios brasileiros já era uma realidade constante, cujas suspensões eram regulamen-
tadas por intermédio de Portarias da administração, violando uma série de normas
constitucionais e legislativas.
Apesar de situação regulamentada é importante o debate acerca de violações
constitucionais persistentes bem como de tratados de Direitos Humanos, traduzindo
o dever de punir do Estado em excessos que precisam ser debatidos e revistos.
As pesquisas bibliográfica e de campo compõem a metodologia de pesquisa.
A pesquisa bibliográfica, a partir de literatura nacional e estrangeira, pesquisas em
artigos publicados na internet através de sites especializados no tema.
A pesquisa de campo em consequência das visitas realizadas aos presídios
federais e estaduais em decorrência da atuação na advocacia criminal, que envolve
entrevistas e consequentemente a atuação em defesa de direitos objeto do tema em
comento e dispostos pela legislação em análise.
Serão abordadas neste estudo as alterações legislativas quanto ao direito de
visita; a visita sob a ótica constitucional, como base familiar e a importância da
ressocialização; a importância da saúde física e mental do apenado e a necessidade
do toque humano para a realização deste fim; as violações ao direito de visita e a
consequente mácula à dignidade da pessoa humana.
A inclusão e manutenção de presos em estabelecimentos penais não deveria
romper os laços familiares, pois a família tem sua unidade constitucional garantida.
Além disso, deveria ser observada a impossibilidade jurídica da determinação da
incomunicabilidade da pessoa privada de liberdade.
Importante ressaltar, neste ponto, que a Lei de Execução Penal (Lei
7201/1984) garante aos presos o respeito à integridade física e moral.
A partir de análise de documentos e referências sobre os temas que circun-
dam a problemática evidenciada, o presente artigo propõe o debate acerca dos aspec-
tos controversos da referida lei e de portarias do Ministério da Justiça atinentes à
execução penal.
Destaca-se neste estudo a análise da constitucionalidade das medidas legais,
sobretudo em situações discursivas de uma efetivação da justiça em clara relação
com a satisfação do clamor social presente da sociedade contemporânea e as conse-
quências físicas e psicológicas que podem afetar o apenado submetido a privações
que vão além da liberdade.
Art. 52. sujeição do preso ao RDD em caso de crime doloso (falta grave) e quando
subversão da ordem ou disciplina. (...)
III – visitas quinzenais, de 2 pessoas por vez – duração 2hs
§ 6º. a visita (inc. III) será gravada em sistema de áudio ou de áudio e vídeo e, com
autorização judicial, fiscalizada por agente penitenciário.
§ 7º. após os primeiros 6 meses de RDD o preso que não receber visita (inc. III) po-
derá, após prévio agendamento, ter contato telefônico, que será gravado, com uma
pessoa da família, duas vezes por mês e por 10 minutos.
Art. 3º. Serão incluídos em estabelecimentos penais federais de segurança máxima (...)
§ 1º. A inclusão em estabelecimento penal federal de segurança máxima (...), com as se-
guintes características:
Inc. II . visita do cônjuge, do companheiro, de parentes e de amigos somente em dias de-
terminados, por meio virtual ou no parlatório, com o máximo de 2 pessoas por vez, além
de eventuais crianças separados por vidro e comunicação por meio de interfone, com fil-
magem e gravações.
§ 4º. os diretores dos estabelecimentos penais federais ou o diretor do SPF poderão
suspender e restringir o direito de visitas por meio de ato fundamentado.
Visita por meio virtual é a imposição legal. Tal “visita” será regra, enquanto a
visita “real” e necessária, a exceção. E prossegue o dispositivo: a visita acontecerá “com
o máximo de duas pessoas por vez, além de eventuais crianças”.
O detalhe é que, segundo observa Távora (2019) não para por aí o cenário de
guerra do Estado contra o apenado, de forma que todos estarão “separados por vidro e
em comunicação por meio de interfone, com filmagem e gravações”.
Existe uma íntima relação e interação entre a história das penas e o nascimento do
processo penal, na medida em que o processo penal é um caminho necessário para
alcançar-se a pena e, principalmente, um caminho que condiciona o exercício do po-
der de penar (essência do poder punitivo) à estrita observância de uma série de re-
gras que compõe o devido processo penal.
lizador da pena, a importância das visitas para a saúde física e mental do apenado:
nenhum desses aspectos era respeitado.
Com a nova legislação, ratificadas estão as violações, já existentes antes da
nova lei, aos Tratados Internacionais:
Art. 226, CF.A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
(...)
§ 4º. Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qual-
quer dos pais e seus descendentes.
No mesmo sentido, o art. 5º, inc. LXIII, assegura ao Preso a assistência familiar.
Dispõe o art. 5°, inc. XLIV que estão proibidos os maus-tratos e castigos aos
presos que, por sua crueldade ou conteúdo desumano, degradante, vexatório e humilhan-
te, atentam contra a dignidade da pessoa, sua vida, sua integridade física e moral.
Prevê-se nas Regras Mínimas para Tratamento dos Presos da ONU o princípio de
que o sistema penitenciário não deve acentuar os sofrimentos já inerentes à pena privati-
va de liberdade (item 57, 2ª parte).
A justiça penal não termina com o trânsito em julgado da sentença condenatória,
mas realiza-se, principalmente, na execução. É o poder de decidir o conflito entre o direi-
A garantia da segurança pública não deve e não pode estar condicionada a viola-
ções de direitos: um não deve excluir o outro.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
São incontáveis os danos psicológicos causados. A privação de liberdade, por
si só, é mais que suficiente para corresponder ao ideal de justiça que todos tanto
clamam.
O sentimento de insegurança e o desejo por justiça devem ser respeitados. No
entanto, esse sistema punitivo é questionável.
Seria uma alternativa ao atual sistema permitir que o preso pudesse ter na
verdade uma visita familiar, em local adequado, e durante um determinado período.
No entanto, difícil seria de se concretizar essa sugestão em nosso sistema penitenciá-
rio, o qual ainda não é capaz de propiciar nem mesmo as garantias legais mínimas
previstas ao recluso, pelo contrário, a maculam, permitindo agora, com o chamado
Pacote Anticrime, várias violações a direitos.
São inúmeras as arbitrariedades, fazendo desse sistema penitenciário um erro,
na medida em que afronta os preceitos constitucionais da Constituição da República,
principalmente o da dignidade da pessoa humana e da proibição de aplicação de
penas cruéis ou degradantes, submetendo condenados a situações que revelam o lado
mais obscuro do homem.
Dentre as conclusões deste estudo, destaca-se que os direitos fundamentais
são direitos diretamente afetados pelas restrições de visitas nos presídios brasileiros;
há preconceitos insuperáveis em relação aos presos condenados (e não condenados):
independentemente de quais erros graves tenham cometido, a sociedade e o gestores
populistas são inflexíveis e não compreendem os direitos constitucionais e internaci-
onalmente garantidos aos custodiados.
O sistema constitucional brasileiro não admite direitos e garantias absolutas,
mas impõe que as limitações de ordem jurídica se destinem de um lado, a proteger a
integridade do interesse social e de outro, assegurar a coexistência harmoniosa das
liberdades.
Preponderou-se a supremacia da segurança pública, enquanto direito social
(art. 144 da Constituição Federal), mas não se revela legítimo o sacrifício às garanti-
as individuais, como frequentemente verificamos tanto na esfera investigativa quan-
to no próprio judiciário.
A Constituição da República, como norma matriz, veda a adoção de penas
cruéis e de caráter perpétuo (art. 5º, inc. XLVII, da CF), garante a individualização
na execução da pena (art. 5º, inc. XLVIII, da CF) e assegura os presos o respeito à
integridade física e moral (art. 5º, inc. XLIX, da CF).
Deve-se encarcerar e punir o indivíduo que cometeu o delito, mas jamais pri-
vá-los dos seus direitos outros, aqueles que estão além da liberdade legalmente com-
prometida, objeto da pena.
A pena deve se limitar aos termos da sentença, atingindo exclusivamente os
direitos ali delimitados, não se prestando à execração pública, ao exílio, à vingança
ou ao sensacionalismo.
É princípio orientador do sistema penitenciário: o preso não deveria ter rom-
pidos os seus contatos com o mundo exterior, não perdendo os vínculos que os unem
aos familiares, amigos, cônjuges/companheiros, pois são laços psicológica e fisica-
mente benéficos e facilitam o processo de ressocialização e de reinserção social na
comunidade quando for colocado em liberdade.
Na prática, vislumbra-se grande discussão quanto à restrição de tais direitos.
Sob a ótica jurídica, verifica-se enorme atribuição de poderes discricionários nas
mãos dos diretores dos estabelecimentos prisionais, agora perpetuados pela nova lei.
REFERÊNCIAS
ARRUDA, Alexandre Almeida, SANTIN, Giovane, Projeto de Lei Anticrime, entre o punitivismo e o
desprezo pelo conhecimento acadêmico, Boletim IBCCRIM, São Paulo, junho, 2019.
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília-DF, Senado, 1988.
BRASIL, Lei 13.964/2019 de 24.12.2019, aperfeiçoa a legislação penal e processual penal, Brasília/DF,
Senado, 2019.
BRASIL, Decreto 678 de 6.11.1992, promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(Pacto de São José da Costa Rica), de 22.11.1969, Brasília/DF, 1992.
BRASIL, Decreto 311 de 2009, aprova o texto do Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos, adotado em Nova Iorque, em 16.12.1966, e do Segundo Protocolo Facultati-
vo ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos com vistas à Abolição da Pena de Morte,
adotado e proclamado pela Resolução 44/128, de 15.12.1989, com a reserva expressa no art. 2º. Brasí-
lia/DF, 2009.
BRASIL, Lei 11.671, de maio de 2008, Transferência e inclusão de presos em estabelecimentos penais
federais de segurança máxima. Brasília/DF, 2008.
BRASIL, Lei 7.210.07.1984, Lei de Execução Penal Brasília/DF, 1984.
CERQUEIRA, Paloma Gurgel de Oliveira, Direito humano e fundamental à saúde e a teoria da
transnormatividade, Disponível em: <http://www.brjd.com.br/index.php/BRJD/article/view/1002>,
Acesso em: 7.02.2019.
CERQUEIRA, Paloma Gurgel de Oliveira, TOURINHO, Luciano, VIDIGAL, Camila, Execução penal e
discurso do ódio, a relativização de garantias e direitos fundamentais em estabelecimentos penais fede-
rais e breves comentários ao Projeto de Lei Anticrime, Boletim do IBCCRIM, v. 27, p. 18-21, 2019.
KEATHING, Kathleen, A terapia do abraço, Disponível em: <https://indicalivros.com/pdf/a-terapia-do-
abraco-kathleen-keating>, Acesso em: 24.04.2019.
LOPES, Aury Junior, Direito processual penal, 17ª edição, São Paulo, Saraiva Educação, 2020.
MENDES, Gilmar, Recurso Extraordinário 641.320/RS, Supremo Tribunal Federal.
PIAGET, Jean, Inteligencia y afectividad, Buenos Aires, Aique 2001.
TÁVORA, Nestor, ALENCAR, Rosmar Rodrigues, Comentários ao Anteprojeto de Lei Anticrime, Jus-
podivm, Bahia, 2019.
1
Doctor en Derecho por la Universidad de Alcalá, sobresaliente cum laude por unanimidad (2003) y Premio
Extraordinario de Doctorado (2005). Académico correspondiente de la Real Academia de Jurisprudencia y
Legislación. Director de la Revista “Estudios Latinoamericanos de Relaciones Laborales y Protección
Social” (ISSN: 2445-0472), publicada por Ediciones CINCA. Investigador Principal de la Línea estable de
investigación en Relaciones Laborales y Protección Social del Instituto Universitario de Estudios
Latinoamericanos de la Universidad de Alcalá (IELAT). Miembro de la Comunidad Cielo Laboral.
Profesor invitado en las Universidades Montesquieu-Bordeaux IV, Universidad de Bolonia, Universidad
Libre de Bruselas, Universidad de California-Los Ángeles y University College of Dublín. Es autor de
diversas monografías y múltiples artículos de investigación publicados en revistas de impacto científico.
Para más información http://www2.uah.es/eduardo_lopez_ahumada/ E-mail: eduardo.lopez@uah.es.
Profesor Titular de Derecho del Trabajo y de la Seguridad Social. Universidad de Alcalá.
1 INTRODUCCIÓN
La informalidad laboral afecta al conjunto de los sistemas de relaciones
laborales y se encuentra en constante cambio y transformación. Estos datos nos
vienen a demostrar que estamos realmente ante un problema global, siendo este uno
de los grandes problemas que afecta las sociedades del siglo XXI. En este trabajo
vamos a abordar el problema de la informalidad laboral y la exclusión social, teniendo
en cuenta cómo las nuevas formas de trabajo pretenden eludir el sistema tradicional de
trabajo declarado. Se trata de una temática interdisciplinar, de gran repercusión y siempre
de actualidad, con importantes consecuencias nacionales e internacionales.
La informalidad laboral es un problema que se está igualmente desarrollando en
los países europeos y, en especial, en España. Actualmente, en nuestro país, se estima
que existe en torno a tres millones de empleados que se encuentran en situación de
trabajo no declarado. La informalidad laboral afecta al conjunto de los sistemas de
relaciones laborales y se encuentra en constante cambio y transformación. Todas estas
variables serán objeto de análisis en las siguientes páginas, tomando como referencia la
situación del problema desde una dimensión internacional del fenómeno. Se analizarán
las principales normas internacionales, que evitan el desarrollo del trabajo informal, así
como las políticas y las prácticas orientadas a su erradicación. El enfoque de este trabajo
está canalizado eminentemente por el estudio del Derecho, que se complementa con
el análisis del problema de forma interdisciplinar.
1998 es esencial para garantizar un trabajo protegido con carácter universal. Ello
asegura un trabajo declarado y tutelado por los poderes públicos, que preserve la
libertad de asociación, el reconocimiento efectivo del derecho de negociación
colectiva, la eliminación de todas las formas de trabajo forzoso, la abolición efectiva
del trabajo infantil y la eliminación de la discriminación en materia de empleo y
ocupación. El trabajo en el sector informal no es más que un régimen de actividad
impuesto por la realidad social. Las personas sumidas en este sistema de trabajo
carecen de capacidad de decisión y, por tanto, se encuentran privadas de la libertad
de trabajo. No pueden desarrollar libremente una actividad personal legítima para la
obtención de recursos económicos, que permitan asegurar las necesidades de la
persona y su núcleo familiar. Se encuentran excluidos de la posibilidad de poder
desarrollar un trabajo en condiciones dignas y justas. Ciertamente, este es un modelo
que debe ser atendido por los Estados, en la medida que el trabajo se presenta en
virtud de las Constituciones latinoamericanas como un derecho fundamental, del que
surgen unas obligaciones o responsabilidades para los poderes públicos. En
concreto, nos referimos a la obligación de promover las condiciones necesarias para
que las personas con capacidad de trabajar puedan acceder y conservar el empleo en
virtud de una serie de garantías formales y en condiciones de estabilidad laboral. Se
trata, pues, de un modelo acorde con las declaraciones formales de las
Constituciones de la región, que postulan la protección del trabajo y la garantía del
respeto por los derechos humanos.
La OIT está llamada a realizar una labor orientada a legislar y controlar el
cumplimiento de sus declaraciones, y ello debido al escaso beneficio obtenido por
los trabajadores por la omisión de los derechos fundamentales en el trabajo. Es clave
apoyar el proceso de observancia de las normas fundamentales del trabajo, como
fórmula que permita conseguir una globalización equitativa y, en definitiva, una
sociedad más inclusiva. Desde esta perspectiva, la promoción de las normas
internacionales del trabajo es crucial en un contexto de expansión del comercio
internacional. La globalización de la economía debe respetar las normas
fundamentales del trabajo reconocidas internacionalmente. La Declaración sobre
principios y derechos fundamentales en el trabajo de la OIT de 1998 es el
instrumento internacional básico, siendo dichos derechos internacionales los que
permiten asegurar el vínculo entre el progreso social y el crecimiento económico,
buscando condiciones de justicia social.
El objetivo debe ser la búsqueda de una participación justa en el trabajo
protegido, en condiciones de libertad e igualdad, permitiendo desarrollar plenamente
el potencial de la sociedad. Dichos derechos fundamentales internacionales tienen
carácter universal y todos los miembros de la OIT están llamados a promoverlos y
respetarlos, y ello a pesar de que los Estados no hubieran ratificado los convenios
que desarrollan dichos principios y derechos fundamentales. Los miembros de la
comunidad internacional tienen la obligación de respetar, promover y hacer
efectivos dichos principios y derechos. Precisamente, esta idea fue igualmente
destacada en 2008, en la Declaración de la OIT relativa a la Justicia Social. Dicha
declaración venía a garantizar que la inobservancia de los principios y derechos
Revista Internacional Consinter de Direito, n. XI, 2º semestre de 2020 289
J. Eduardo López Ahumada
embargo, estas medidas de política laboral, muchas antiguas y otras más recientes,
no están consiguiendo los resultados deseados. Efectivamente, el descenso de los
umbrales de informalidad laboral no es muy representativo. Por ello, podemos decir
que estamos ante un mal endémico en la región y, por tanto, los esfuerzos deben ir
orientados a buscar soluciones de conjunto, que de forma integral y ordenada
busquen aunar los problemas económicos y laborales como una misma realidad.
Se precisan respuestas económicas y laborales, que busquen su concreta
proyección a las circunstancias del país y que tengan en cuenta su realidad social.
Efectivamente, tolerar pasivamente dicha informalidad supone un evidente coste
social, que afecta no solo a la cohesión social, sino también a las propias
condiciones de desarrollo económico de la región. El tema ha sido objeto de
reflexión en el más alto nivel en el seno de la OIT. En el año 2014, la Conferencia
Internacional del Trabajo, realizó un análisis exhaustivo sobre la denominada
transición a la formalidad, cuyos trabajos terminaron un año después en una nueva
Conferencia Internacional del Trabajo. Precisamente, estos trabajos de debate y
discusión dieron lugar a un importante conjunto de conclusiones, que permiten
reflexionar con mayor fundamento sobre las necesarias políticas que pueden revertir
eficazmente la situación y conseguir la deseada transición a la formalidad económica
y laboral. Este debate no afectó solamente a Latinoamérica, sino que se proyectó
sobre el conjunto de la comunidad internacional, al detectarse que el problema de la
informalidad era un efecto generalizado en todas las económicas. Ello afecta
especialmente de las económicas emergentes, cuyas ratios de informalidad no se
reducían, sino que incluso aumentaban debido a los efectos derivados del proceso de
globalización económica y de la propia competitividad entre las economías. Se
produce un peligroso proceso de desregulación y de apertura de las economías, que
genera efectos perniciosos desde el punto de vista del dumping social.
Se deben promover políticas económicas y laborales que estimulen el
desarrollo productivo, permitiendo mejorar las condiciones de empleo presentes y
futuras. En este sentido, y de forma paralela, se debe recuperar el papel central de las
políticas de empleo, que pueden igualmente ser útiles para el fomento del trabajo
formal. En este sentido, podemos destacar los esfuerzos realizados, por ejemplo, en
México, que ha emprendido un ambicioso programa de formación y de capacitación
laboral orientado específicamente a la incorporación al mercado laboral formal.
Efectivamente, las políticas activas de empleo, bien enfocadas en sus objetivos,
pueden ayudar a compensar la apertura de las economías y permitir una
redistribución de los empleos. Igualmente se debe combinar de forma efectiva las
políticas de educación y formación profesional orientando sus objetivos hacia el
empleo.
Sin duda, una medida que permite la transición hacia la formalidad laboral es
la promoción de las instituciones fiscalizadoras del cumplimiento de las
obligaciones laborales y de seguridad social. En este sentido, es esencial mejorar los
instrumentos públicos de inspección laboral. Se debe prestar especial atención a los
instrumentos clásicos de control del cumplimiento de las obligaciones laborales. En
duda, este proceso debe asegurar una búsqueda efectiva de los objetivos de
estabilidad laboral, seguridad y cohesión social.
Efectivamente, un desarrollo socialmente incluyente es imposible sino se
extienden los derechos, garantías y oportunidades a los trabajadores de la economía
informal. Ello es esencial para poder asegurar los objetivos del trabajo decente en la
región. En realidad, el trabajo informal nos sitúa ante la presencia de la pobreza, en
la medida que estos servicios vienen a ser desarrollado por los trabajadores pobres,
excluidos del trabajo formal protegido, y cuya actividad difícilmente admite
abandonar el régimen de economía sumergida (CASTELLS y PORTES, 1989). En
este sentido, se crea un sector de servicios mucho más económicos y competitivos
en los mercados internacionales, pero desatendiendo la cuestión social ligada al
modelo del trabajo protegido. Es cierto que el nivel de pobreza ha descendido en los
últimos años, debido generalmente a la dinámica de las económicas y a los
programas de desarrollo de la comunidad internacional. Asimismo, ha colaborado en
esta tendencia la propia iniciativa privada, esencialmente debido a la acción de las
empresas privadas y a las remesas de los trabajadores migrantes. Con todo, ello no
ha tenido un reflejo directo en las condiciones del mercado de trabajo y en la calidad
del empleo, siguiendo presente unas cotas de informalidad laboral ciertamente
desproporcionadas.
Las soluciones al problema de la informalidad pasan por la búsqueda de la
equidad social. Ello demanda la búsqueda de la eficiencia y el desarrollo de la
economía de los países, a fin de que el sector informal no se convierta en un
obstáculo para la capacidad de fomentar riqueza y desarrollo económico. Se trata de
estimular la generación de condiciones que permitan competir en el ámbito de la
economía mundial, mejorando la recaudación pública. Ello permitiría atraer a las
políticas sociales nuevos ingresos, que podrían revertir a las haciendas púbicas y a
los sistemas públicos de seguridad social. Desde esta perspectiva, no cabe duda de
que la reducción de la dimensión de la economía informal se presenta, pues, como
un objetivo esencial desde la perspectiva del desarrollo de la equidad social. En este
sentido, las reformas económicas y comerciales pueden estimular el desarrollo y el
crecimiento de un país, así como reducir el empleo del sector informal. No cabe
duda que un volumen elevado de sector informal viene a limitar el tamaño de las
empresas, afectando directamente al propio comportamiento de la productividad.
El desarrollo de un sector informal económico consolidado se configura
como un modelo estructural, que limita la debida protección e impide asegurar
condiciones de cohesión social. Difícilmente se podrá vincular adecuadamente la
relación necesaria que debe existir entre los procesos de crecimiento económico y la
protección laboral y social de la población. Se trata de una situación que merma la
capacidad de protección. El objetivo de la cohesión social se presenta como un
índice esencial que caracteriza a los países que progresan económicamente y que
consiguen distribuir con justicia los resultados derivados del proceso de crecimiento
económico en beneficio de sus ciudadanos. Ciertamente, la economía informal
disminuye los ingresos fiscales y reduce las posibilidades de dotación de seguridad
8 CONCLUSIONES
Con carácter general, conviene indicar que el problema laboral y social de la
informalidad es una cuestión sumamente amplia y de gran complejidad técnica, que
se refiere a situaciones de distinta dimensión y que se proyecta sobre distintas
realidades. Dicha afirmación se ratifica si analizamos su problemática desde el punto
de vista internacional y teniendo presente la situación del conjunto de
Latinoamérica. Generalmente la decisión de trabajar en la economía informal viene
impuesta por la propia realidad social. Entre las razones que impiden que una
actividad productiva pueda derivar de la informalidad al trabajo protegido
destacamos que las personas afectadas no perciben los beneficios potenciales
derivados de la transición a la formalidad. Ello se debe a que en primera instancia,
las personas tienen en cuenta los altos costes sociales derivados de la incorporación
al trabajo declarado.
BIBLIOGRAFÍA
AA.VV. (2016): Derecho social y trabajo informal. Implicaciones laborales, económicas y de Seguridad
Social del fenómeno del trabajo informal y de la economía sumergida en España y Latinoamérica,
Comares, Granada.
BAVIERA PUIG, I (2014): “Avances en la lucha contra el empleo irregular y el fraude a la Seguridad
Social”, en Revista Doctrinal Aranzadi Social, n. 9.
BROMLEY, R. (1998): “Informality, De Soto style: From concept to pily”, en C. A. Rakowski (Eds.),
Contrapunto: The informal sector debate in Latin America. Albany, NY, Estados Unidos: State
University of New York Press.
CAMINO FRÍAS, J.I. (2013): Lucha contra el empleo irregular y el fraude a la Seguridad Social,
Valladolid, Lex Nova.
CASTELLS, M. Y PORTES, A. (1989): “El mundo sumergido: los orígenes, la dinámica y los efectos de
la economía informal”. En A. Portes (Ed.), La economía informal en los países desarrollados y menos
avanzados, Buenos Aires, Planeta.
COASE, R. (2012): “The problem of social cost”, en Encyclopedia Universalis. s. d.
DE LA VILLA, L.E. (2011): “La economía sumergida y los arañazos superficiales a la realidad social a
través de las medidas adoptadas por el Gobierno. Breve comentario al Real Decreto-Ley 5/201 1, de 29 de
abril”, Revista General de Derecho del Trabajo y Seguridad Social, n. 26.
DAZA, J.L. (2005): Economía informal, Trabajo no declarado y Administración del Trabajo,
Departamento de Diálogo Social, Legislación y Administración del Trabajo, Ginebra, OIT.
GONZÁLEZ ORTEGA, S. (2014): “Empleo irregular y Administración Laboral”, en Temas Laborales, n.
125/2014.
JIMÉNEZ FERNÁNDEZ, A. y MARTÍNEZ-PARADO DEL VALLE, R. (2013): La economía
sumergida en España, Fundación de Estudios Financieros, Documento de Trabajo, n. 4.
JESSOP, R. (2008): El futuro del capitalismo, Ed. Catarata, Madrid.
MARTÍN VALVERDE, A. y GARCÍA MURCIA, J. (2011): “Medidas y cambios legislativos para la
regularización y el control del empleo sumergido. El RDLcy 5/2011”, en Derecho de los negocios, n. 249.
LOMNITZ, L. (1988): “Informal exchange networks in formal systems: A theoretical model”, American
Anthropologist, 90.
ORSATTI, A. Y CALLE, R. (2004): La situación de los trabajadores de la economía informal en el
Cono Sur y el Área Andina Lima: OIT – Oficina Regional para América Latina y el Caribe – Oficina de
Actividades para los Trabajadores (ACTRAV), Proyecto Los sindicatos y el trabajo decente en la era de
la globalización en América Latina. Documento de trabajo n. 179.
PORTES, A. Y HALLER, W. (2004): La economía informal. Santiago de Chile: Cepal.
TOKMAN, V. (2007): Informalidad, inseguridad y cohesión social en América Latina. Santiago de
Chile: Cepal.
TOKMAN, V. (2008): Flexiguridad con informalidad: opciones y restricciones. Santiago de Chile:
Cepal.
prison system and with the assurance of rights based on technological innovations, with
growing perspectives in relation to these.
Keywords: Penal Execution. Electronic System of Unified Execution. Innovation.
Innovation in Law. Law and Technology.
Sumário: Introdução. 1. Surgimento operacional e institucional do SEEU. 2. Funcionalidades
e impactos do SEEU. 3. Perspectivas futuras. Considerações finais. Referências.
INTRODUÇÃO
Da análise histórica do surgimento da pena de prisão como ponto chave do
Direito Penal, tem-se que essa significou a consubstanciação da mudança da finali-
dade e principalmente do modus operandi do Direito Penal.
Com a institucionalização da pena de prisão, o Direito Penal passa concomitan-
temente, a partir da ascensão do Iluminismo, para uma concepção preventiva da pena,
face à visão retributiva que dominou os períodos históricos anteriores desse ramo do
Direito3.
Enquanto as penas corporais buscavam a humilhação do apenado, a prisão busca
o controle do corpo do detento; enquanto as penas corporais faziam da punição algo
público, a pena de prisão concretiza a punição de forma discreta, afastada da multidão;
enquanto as penas corporais priorizavam a vingança, a pena de prisão prioriza prevenção
e reabilitação.
Para Foucault, a prisão deve ser um aparelho de disciplina exaustiva e incessante
para o alcance dos seus fins4, visando à reestruturação comportamental do apenado, o
que ele denomina como fabricação de corpos dóceis5.
Desde sua institucionalização como principal pena criminal, a prisão sempre teve
como ponto essencial o controle, primordial para a concretização de uma vigilância
permanente do Estado e consequentemente para a consecução dos fins da pena de prisão.
Entretanto, essa não é a realidade observada na Execução Penal brasileira,
que acomoda de forma precária o crescente quantitativo de presos condenados e
provisórios6.
Nesse sentido, menciona-se a preocupação constante de órgãos nacionais e inter-
nacionais sobre a situação do sistema prisional brasileiro, conforme se afere de relatórios
de organizações como a Human Rights Watch7 e a ONU8.
3
GRECO, Rogério, Curso de Direito Penal: parte geral, v. 1, 19. ed., Niterói, Impetus, 2017, pp. 23-25.
4
FOUCAULT, Michel, Vigiar e punir: nascimento da prisão, 41. ed., Petrópolis, Vozes, 2013, p. 222.
5
Ibid., pp. 133-135.
6
De acordo com o levantamento mais recente realizado pelo Infopen, em 2019 no Brasil havia um total de
442.349 vagas no sistema prisional para acomodar as 755.274 pessoas privadas de liberdade, uma
proporção de 1,7 pessoas para cada vaga. (BRASIL, Ministério da Justiça, Departamento Penitenciário
Nacional, Levantamento nacional de informações penitenciárias: dezembro de 2019, 2020, Disponível em:
<https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiZTlkZGJjODQtNmJlMi00OTJhLWFlMDktNzRlNmFkNTM0
MWI3IiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9>,
Acesso em: 14 jun. 2020).
7
HUMAN RIGHTS WATCH, Relatório mundial de 2019, Disponível em: <https://www.hrw.org/pt/world-
report/2019/country-chapters/326447#112d79>, Acesso em: 14 jun. 2020.
A maior parte desses detentos está sujeita às seguintes condições: superlotação dos
presídios, torturas, homicídios, violência sexual, celas imundas e insalubres, proliferação
de doenças infectocontagiosas, comida imprestável, falta de água potável, de produtos
higiênicos básicos, de acesso à assistência judiciária, à educação, à saúde e ao trabalho,
bem como amplo domínio dos cárceres por organizações criminosas, insuficiência do
controle quanto ao cumprimento das penas, discriminação social, racial, de gênero e de
orientação sexual11. (grifo nosso)
8
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, Visit to Brazil undertaken from 19 to 30 October:
observations and recommendations addreses to the State party, Disponível em: <https://naco
esunidas.org/wp-content/uploads/2017/01/Relatorio-SPT-2016-1.pdf>, Acesso em: 14 jun. 2020.
9
HUMAN RIGHTS WATCH, op. cit.
10
PONTES, Felipe, Desinformação sobre execução de penas é inaceitável, diz Toffoli, Disponível em:
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2019-06/desinformacao-sobre-execucao-de-penas-e-inaceit
avel-diz-toffoli>, Acesso em: 14 jun. 2020.
11
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 347, Rel. Min.
Marco Aurélio de Mello, Brasília, DF, 09.09.2015, Diário Oficial da União, Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10300665>, Acesso em: 14 jun. 2020.
12
CRUZ, Fabrício Bittencourt da, SILVA, Thais Sampaio, “Processo eletrônico x processo físico no contexto
do direito fundamental à razoável duração do processo: a experiência do TRF4 na redução dos tempos
médios de tramitação”, Revista do Instituto do Direito Brasileiro, v. 3, 2012, p. 1348.
13
CRUZ, Fabrício Bittencourt da, OLIVEIRA, Juliano Felipe, “E-proc do Tribunal Regional Federal da
Quarta Região: evolução sem precedentes”. Democracia Digital e Governo Eletrônico, v. 7, 2012, p. 95-
114.
14
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça, 230ª Sessão Ordinária, Rel. Bruno Ronchetti de Castro, Brasília,
DF, 26.04.2016, Conselho Nacional de Justiça, Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/Infoju
risI2/Jurisprudencia.seam;jsessionid=8A9A7279D0C17AC01DCEABEABC24D39E?jurisprudenciaIdJuri
s=47920&indiceListaJurisprudencia=3&firstResult=5175&tipoPesquisa=BANCO>, Acesso em: 14 jun. 2020.
Para tornar realidade a execução penal eletrônica em âmbito nacional o DMF rea-
lizou a avaliação dos sistemas já existentes nos tribunais do país, durante o I Encontro
dos Grupos de Monitoramento e Fiscalização (GMFs) em maio de 2015.
Na ocasião o sistema desenvolvido pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ PR) foi
escolhido por ser considerado como o mais completo e adequado aos fins almejados15.
Criado em 2013 a partir da Instrução Normativa Conjunta 02/2013 do Tribunal
de Justiça do Paraná (TJPR), da Corregedoria-Geral da Justiça do Paraná (CGJ PR), do
Ministério Público do Paraná (MP PR), da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos
Humanos do Estado do Paraná (SEJU PR) e da Secretaria da Segurança Pública do Esta-
do do Paraná (SESP PR), o sistema, à época chamado de Projudi da Execução Penal,
desde sua gênese já continha diversas funcionalidades pensadas para aperfeiçoar a rotina
dos processos de Execução Penal no contexto de processos eletrônicos.
Vale dizer: o Projudi da Execução Penal constituía um sistema já operacional que
em muito contemplava as necessidades de uma Execução Penal moderna, eficiente e
lastreada em meio eletrônico, servindo de suporte adequado à materialização do disposto
na Lei Federal 12.106/2009 e na Resolução CNJ 101/2009.
Por essa razão, deliberou-se na 230ª Sessão Ordinária do CNJ, a partir do Termo
de Cooperação Técnica 002/2016, firmado entre o CNJ e o TJPR, proposta de Resolução
estipulando a criação de um sistema eletrônico de execução único, baseado no sistema já
existente no tribunal paranaense, o qual viria a se tornar o SEEU, sem qualquer criação
de despesa com recursos de Tecnologia da Informação. A proposta foi acolhida à unani-
midade, tendo se editado a Resolução CNJ 223, de 27.05.201616.
A Resolução CNJ 223/2016 instituiu o “Sistema Eletrônico de Execução Uni-
ficado (SEEU) como sistema de processamento de informações e práticas de atos
processuais relativos à Execução Penal” (art. 1°).
Como nessa resolução não foi estipulado prazo para a efetiva implantação do
sistema, editou-se posteriormente a Resolução CNJ 280, de 09.04.2019 do CNJ,
determinando o obrigatório trâmite via SEEU de todos os processos de Execução
Penal nos tribunais brasileiros a partir de 31.12.2019 (art. 3°).
Em paralelo e tendo por escopo a célere implantação do sistema em todos os
tribunais do Brasil, o SEEU tornou-se um dos pilares do programa Justiça Presente,
instaurado em janeiro de 2019 a partir de esforços conjuntos do CNJ e do Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento e com o apoio do Ministério da Justiça
e Segurança Pública17.
15
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça, 230ª Sessão Ordinária, Rel. Bruno Ronchetti de Castro, Brasília,
DF, 26.04.2016, Conselho Nacional de Justiça, Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/InfojurisI
2/Jurisprudencia.seam;jsessionid=8A9A7279D0C17AC01DCEABEABC24D39E?jurisprudenciaIdJuris=4
7920&indiceListaJurisprudencia=3&firstResult=5175&tipoPesquisa=BANCO>, Acesso em: 14 jun. 2020.
16
Ibid.
17
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, Justiça Presente: relatório anual 2019, pp. 6/7 e 20, Disponível
em: <https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/12/Relatorio_Justi%C3%A7aPresente2019_v2.pdf>,
Acesso em: 14 jun. 2020.
18
CONSULTOR JURÍDICO, CNJ adia para junho de 2020 conclusão de implantação do SEEU, Disponível
em: <https://www.conjur.com.br/2019-dez-18/cnj-adia-junho-2020-conclusao-implantacao-seeu>, Acesso
em: 14 jun. 2020
19
Id., Tribunais devem adotar sistema eletrônico unificado de execução penal, Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2016-abr-26/cnj-tribunais-adotem-sistema-eletronico-execucao-penal>,
Acesso em: 14 jun. 2020.
20
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 302ª Sessão Ordinária 17 de dezembro de 2019 – Tarde,
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=cVikSKzl2No>, Acesso em: 14 jun. 2020.
21
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, Relatório Sistema Eletrônico de Execução Unificado – SEEU, p.
32, Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/conteudo/arquivo/2018/09/37fef09649e6b9
0bc8f4186d60c8441d.pdf>, Acesso em: 14 jun. 2020.
27
FARIELLO, Luíza, SEEU monitora processos de 11.547 presos provisórios no Estado do Paraná,
Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/seeu-monitora-processos-de-11-547-presos-provisorios-no-estado-
do-parana/>, Acesso em: 14 jun. 2020.
das penas por todos os atores processuais (juízes, membros do Ministério Público, advo-
gados e defensores públicos) e por qualquer pessoa com a chave identificadora vinculada
ao processo da execução.
O uso do SEEU evita a repetição de casos como o ocorrido em 2016 no Estado
de São Paulo, quando uma pessoa ficou presa cinco meses a mais que o necessário devi-
do ao fato de a Secretária de Administração Penitenciária de São Paulo (SAP/SP) não ter
noticiado a prisão ao Poder Judiciário28.
Noutro giro, observa-se que a mencionada função de gerenciamento de penas do
SEEU transcende previsões legislativas relativamente recentes, como a inclusão do inc.
XVI ao art. 41 da Lei de Execução Penal pela Lei 10.713/2003, segundo o qual é direito
do preso receber anualmente o atestado de pena a cumprir29.
A inovação legislativa de 2003 foi idealizada no contexto de execuções penais
cujo trâmite ocorre em processo físico. Daí a relevância de se estipular a entrega anual do
atestado de pena a cumprir.
Contudo, a partir da implementação do SEEU qualquer pessoa que acesse os
autos do processo de execução pode verificar de forma detalhada, atualizada e em
tempo real a quantia de pena restante e os períodos necessários para a obtenção de
todos os benefícios legalmente previstos ao detento.
Diante da natureza eletrônica do SEEU, há também considerável ganho em
termos de eficiência no manejo dos processos, em plena harmonia com a Lei
11.419/2006. Eis um relato sobre as dificuldades inerentes à execução penal em
meio físico:
Uma das maiores dificuldades de quem tem o primeiro contato com os autos de
execução criminal é entender seu funcionamento. Cada unidade federativa tem suas
normas de organização judiciária e, portanto, não há um padrão seguido à risca
pelos tribunais do país [...].
Basicamente, um processo físico de execução é formado de vários apensos e cada
apenso pode vir a ter mais de um volume. Por isso, a depender do número de
incidentes e de condenações que o sentenciado possua, os autos de execução criminal
podem ser extremamente extensos e de complexa análise […]30.
28
FUSCO, Nicole, Homem que deveria ficar preso 2 dias passa 210 atrás das grades, Disponível em:
<https://veja.abril.com.br/brasil/homem-que-deveria-ficar-preso-2-dias-passa-210-atras-das-grades/>,
Acesso em: 14 jun. 2020.
29
Art. 41. Constituem direitos do preso:
XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade
judiciária competente.
30
MIRANDA, Rafael de Souza, Manual de execução penal, Salvador, Juspodivm, 2019, p. 111.
31
ZAMPIER, Deborah, Conselheiros do CNJ são apresentados a Sistema Unificado de Execução Penal,
Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/conselheiros-do-cnj-sao-apresentados-a-sistema-unificado-de-exe
cucao-penal/>, Acesso em: 14 jun. 2020.
entre sistemas processuais estaduais, a simples mudança para outro Estado como
forma de se evitar o cumprimento de mandados de prisão.
Processos eletrônicos são mais céleres em comparação com os processos em
meio físico, característica inerente à prática da maioria dos atos processuais:
A expectativa, com a chegada do novo, era a desejada celeridade. Dentre as maiores
promessas, residia a eliminação das chamadas “fases mortas” do processo como, por
exemplo, o tempo de espera entre a tomada de determinada decisão judicial e a efetiva
comunicação às partes interessadas. Tal expectativa foi definitivamente alcançada.
Fenômeno interessante – e que provavelmente será objeto de muitos estudos –
consiste na percepção de que, no ambiente virtual, o que sob a ótica do processo
físico considerava-se incrivelmente veloz, acaba sendo considerado por seus
operadores diários lento, ineficaz. A noção de efetividade, antes contadas aos dias,
hoje, na seara virtual, vem sendo contada aos minutos32.
32
CRUZ, Fabrício Bittencourt da, MATTA, Gustavo Chemim, “Direito à informação e princípio da
publicidade versus processo virtual (e-proc): análise crítica do processo virtual sob as perspectivas do direito
à informação e do princípio da publicidade”, in AFFORNALLI, Maria Cecília Naréssi Munhoz,
GABARGO, Emerson, org., Direito, informação e cultura: o desenvolvimento social a partir de uma
linguagem democrática, Belo Horizonte, Fórum, 2012, pp. 185-197.
33
TÔRRES, Iuri, Migração automática de processos do SAJ para SEEU é aposta de tribunal, Disponível em:
<https://www.cnj.jus.br/migracao-automatica-de-processos-do-saj-para-seeu-e-aposta-de-tribunal/>, Acesso
em: 14 jun. 2020.
(noventa e sete bilhões, setecentos e vinte e cinco milhões, duzentos e oitenta e nove mil
e duzentos e setenta e seis reais)34, a maior porcentagem da série histórica35.
Dentro do supramencionado valor estão inseridas as despesas para cobrir os ven-
cimentos de uma força de trabalho total de mais de 450 mil pessoas36, número conside-
ravelmente superior proporcionalmente a países como Inglaterra, Itália, Colômbia, Chile,
Portugal e Alemanha37.
Contudo, apesar da grande força de trabalho do Poder Judiciário brasileiro, a
Execução Penal privativa de liberdade apresenta taxa de congestionamento de
88%38/39, percentual próximo dos 72,1% de taxa geral de congestionamento dos
processos brasileiros40/41.
Logo, com o SEEU sendo também eficaz na redução de tarefas cotidianas
destinadas aos servidores do Judiciário, há também a existência de economia de
força de trabalho ao possibilitar que tarefas mecânicas sejam automatizadas com
resultados eficientes.
De fato, o SEEU notifica antecipadamente o Juízo sobre a proximidade de even-
tos importantes em relação a todos os cumprimentos de pena, tais como o direito a bene-
fícios de cada detento, permitindo a concretização de direitos de maneira eficiente. Não
há justificativa alguma para que alguém submetido ao cárcere espere mais dos que os
interregnos legalmente previstos para a progressão de regime de cumprimento de pena,
para a aplicação de quaisquer outros benefícios ou para a concessão da liberdade.
Os sistemáticos delays na análise de benefícios incidentes durante o cumpri-
mento de penas privativa de liberdade42/43, típicos de processos em meio físico, tem
o potencial de ser totalmente eliminados com o correto uso do SEEU.
34
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, Justiça em Números 2019, p. 34, Disponível em:
<https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/conteudo/arquivo/2019/08/justica_em_numeros20190919.pdf>,
Acesso em: 14 jun. 2020.
35
Ibid., p. 67.
36
Ibid., p. 34.
37
ROS, Luciano Da, “O custo da Justiça no Brasil: uma análise comparativa exploratória”, Newsletter,
Observatório de elites políticas e sociais do Brasil, NUSP/UFPR, v. 2, n. 9, p. 6, jul. 2015.
38
A taxa de congestionamento é o índice utilizado pelo CNJ para medir a efetividade dos tribunais, levando
em consideração os processos novos, os processos baixados e o estoque remanescente entre os períodos
analisados.
39
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, Justiça em Números 2019, p. 131, Disponível em:
<https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/conteudo/arquivo/2019/08/justica_em_numeros20190919.pdf>,
Acesso em: 14 jun. 2020.
40
Devido aos processos de Execução Penal necessitarem permanecer no acervo durante o período estipulado
de cumprimento da pena, não é possível aferir exclusivamente com sua taxa de congestionamento a
eficiência ou ineficiência da Execução Penal brasileira. Contudo, comparando-se a Execução Penal com a
taxa de congestionamento de outros tipos de processo e a média geral desses, é possível inferir certa taxa de
ineficiência.
41
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, op. cit., p. 131.
42
CACICEDO, Patrick, “O controle judicial da execução penal no Brasil: ambiguidades e contradições de
uma relação perversa”, Revista Brasileira de Direito Processual Penal, v. 4, n. 1, jan./abr. 2018, p. 418.
43
Conforme pesquisa dos processos de execução penal do Estado de São Paulo realizada pela Fundação
Seade, 72,5% dos presos do estado que obtiveram a progressão haviam cumprido mais de um terço da pena,
3 PERSPECTIVAS FUTURAS
O SEEU resolve parte dos problemas que anteriormente eram combatidos
com os mutirões carcerários44/45, já que o acompanhamento em tempo real das pro-
gressões de regime de cumprimento das penas privativas de liberdade, aliado aos
alertas inerentes ao sistema, tem o potencial de eliminar a existência do excesso de
prazo nas prisões.
Em vez de os mutirões carcerários serem simplesmente abandonados em decor-
rência da implementação do SEEU, estima-se viável o aprimoramento mediante a prática
dos mutirões conjugada com o gerenciamento eletrônico de informações, tornando ainda
mais efetivo o controle sobre irregularidades nas prisões dos detentos.
Não por acaso o CNJ lançou o Mutirão Carcerário Eletrônico no âmbito do Pro-
grama Justiça Presente. O mutirão eletrônico consiste em um aprimoramento do projeto
de mutirões carcerários iniciado em 2008, à medida que doravante a iniciativa estará
sedimentada no gerenciamento das informações constantes dos processos eletrônicos de
Execução Penal em trâmite no SEEU.
Como os processos em papel demandam manuseio individualizado, a condi-
ção elementar dos mutirões carcerários era a presença física de diversos profissio-
nais para a detecção in loco de irregularidades na execução penal.
Já os processos em meio eletrônico estão intimamente relacionados com a es-
truturação digital de todos os dados relevantes, o que permite prospecção desses
dados e sua consequente conversão em informações aptas a ensejar a tomada de
decisões mais precisas tanto na perspectiva micro de magistrados e servidores res-
ponsáveis pelo trâmite individualizado das execuções penais, quanto em perspecti-
vas mais abrangentes como no âmbito nos mutirões carcerários eletrônicos.
patamar muito acima da fração de um sexto exigida pela Lei de Execução Penal à época (art. 112 desse
diploma legal). (BORDINI, Eliana Blumer Trindade, TEIXEIRA, Alessandra, “Decisões judiciais da vara
das execuções criminais: punindo sempre mais”, São Paulo em Perspectiva, v. 18, n. 1, jan./mar. 2004, p.
68).
44
Iniciado em agosto de 2008, o projeto é “destinado a inspecionar os estabelecimentos prisionais, a
coordenar projetos de verificação de direitos dos presos e à informatização das varas de execução penal,
voltado para o mapeamento da realidade carcerária brasileira” (MENDES, Gilmar Ferreira, 10 anos do
projeto ‘mutirões carcerários’: uma experiência precursora, Disponível em: <https://www.jota.
info/opiniao-e-analise/artigos/10-anos-do-projeto-mutiroes-carcerarios-uma-experiencia-precursora-
05092018>, Acesso em: 14 jun. 2020).
45
De acordo com estudo realizado pelo CNJ, constatou-se que, dentre os 451,8 mil processos analisados, ao
menos 47 mil detentos estavam presos de forma irregular. Assim, cerca de dez por cento dos presos
atendidos durante os mutirões carcerários foram postos em liberdade (CONSULTOR JURÍDICO, Balanço
revela sucesso dos mutirões carcerários do CNJ, Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2014-fev-
22/mutiroes-carcerarios-cnj-libertaram-10-presos-casos-analisados>, Acesso em: 14 jun. 2020).
46
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, Justiça Presente: relatório anual 2019, p. 60, Disponível em:
<https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/12/Relatorio_Justi%C3%A7aPresente2019_v2.pdf>,
Acesso em: 14 jun. 2020.
47
ZAMPIER, Débora, CNJ lança mutirão carcerário eletrônico no Espírito Santo, Disponível em:
<https://www.cnj.jus.br/cnj-lanca-mutirao-carcerario-eletronico-no-espirito-santo/>, Acesso em: 14 jun.
2020.
48
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça Presente: relatório anual 2019, p. 61, Disponível em:
<https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/12/Relatorio_Justi%C3%A7aPresente2019_v2.pdf>,
Acesso em: 14 jun. 2020.
49
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, Justiça Presente: relatório anual 2019, p. 32, Disponível em:
<https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/12/Relatorio_Justi%C3%A7aPresente2019_v2.pdf>,
Acesso em: 14 jun. 2020.
50
Nos termos da Portaria MJ 495, de 28.04.2016, as alternativas penais abrangem as penas restritivas de
direito; a transação penal e suspensão condicional do processo; suspensão condicional da pena privativa de
liberdade; conciliação, mediação e técnicas de justiça restaurativa; medidas cautelares diversas da prisão e
medidas protetivas de urgência. Ou seja, todas as medidas de cunho coator do processo penal que não
ensejem na aplicação da prisão (o que também tende a incluir o novíssimo acordo de não persecução penal,
incluído na legislação brasileira pela Lei Federal 13.964/2019).
51
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça, Resolução 198, de 01.07.2014, Dispõe sobre o Planejamento e a
Gestão Estratégica no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências, Diário da Justiça Eletrônico,
Brasília, 3 jul. 2014, Disponível em: <https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2029>, Acesso em: 14 jun. 2020.
52
Ibid.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Sistema Eletrônico de Execução Penal evidencia plena capacidade não
apenas como mero instrumento eletrônico a serviço da Execução Penal tradicional,
mas como ente catalizador de uma verdadeira revolução no trâmite dos processos de
Execução Penal, na forma como são tratadas e utilizadas as informações da execu-
ção penal e especialmente no modo como o Estado brasileiro conduz as políticas
públicas de atenção aos detentos.
Primeiramente porque alguns dos recursos trazidos pelo SEEU, como a con-
tagem eletrônica dos prazos e a notificação do Juízo sobre a iminência de benefícios
dos apenados, constituem ferramentas essenciais para a garantia do cumprimento da
pena privativa de liberdade nos termos estritos da sentença condenatória, tratando-se
53
NUNES, Adeildo, Comentários à lei de execução penal, Rio de Janeiro, Forense, 2016, pp. 233.
REFERÊNCIAS
BORDINI, Eliana Blumer Trindade, TEIXEIRA, Alessandra, “Decisões judiciais da vara das execuções
criminais: punindo sempre mais”, São Paulo em Perspectiva, v. 18, n. 1, jan./mar. 2004, pp. 66-71.
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça, 230ª Sessão Ordinária, Rel. Bruno Ronchetti de Castro, Brasília, DF,
26.04.2016, Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10300665>,
Acesso em: 14 jun. 2020.
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça, Resolução 101, de 15.12.2009, Define a política institucional do Poder
Judiciário na Execução das Penas e Medidas Alternativas à Prisão, Diário Oficial da União, Brasília, 25 jan.
2010, Disponível em: <https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/atos-normativos?documento=161>, Acesso em: 14
jun. 2020.
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça, Resolução 198, de 01.07.2014, Dispõe sobre o Planejamento e a Gestão
Estratégica no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências, Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 3 jul.
2014, Disponível em: <https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2029>, Acesso em: 14 jun. 2020.
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça. Resolução 223, de 27.05.2016, Institui o Sistema Eletrônico de Execu-
ção Unificado (SEEU) como sistema de processamento de informações e prática de atos processuais relativos à
execução penal e dá outras providências, Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, 31 maio 2016, Disponível em:
<https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/atos-normativos?documento=2285>, Acesso em: 14 jun. 2020.
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça, Resolução 280, de 09.04.2019, Estabelece diretrizes e parâmetros para
o processamento da execução penal nos tribunais brasileiros por intermédio do Sistema Eletrônico de Execução
Unificado – SEEU e dispõe sobre sua governança, Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, 10 abr. 2019, Disponí-
vel em: <https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2879>, Acesso em: 14 jun. 2020.
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça. Resolução 304, de 17.12.2019, Confere nova redação aos arts. 3º, 9º, 12
e 13 da Resolução CNJ n. 280, de 9.04.2019, que estabelece diretrizes e parâmetros para o processamento da
execução penal nos tribunais brasileiros por intermédio do Sistema Eletrônico de Execução Unificado – SEEU e
dispõe sobre sua governança, Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, 18 dez. 2019, Disponível em:
<https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3123>, Acesso em: 14 jun. 2020.
BRASIL, Lei 10.713, de 13.08.2003, Altera artigos da Lei 7.210, de 11.07.1984 – Lei de Execução Penal – para
dispor sobre a emissão anual de atestado de pena a cumprir, Diário Oficial da União, Brasília, 13 ago. 2003,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.713.htm>, Acesso em: 14 jun. 2020.
BRASIL, Lei 11.419, de 19.12.2006, Dispõe sobre a informatização do processo judicial; altera a Lei 5.869, de
11.01.1973 – Código de Processo Civil; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 19 dez.
2006, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11419.htm>, Acesso em:
14 jun. 2020.
BRASIL, Lei 12.106, de 02.12.2009, Cria, no âmbito do Conselho Nacional de Justiça, o Departamento de
Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas e
dá outras providências, Diário Oficial da União, Brasília, 2 dez. 2009, Disponível em: <http://www.pla
nalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12106.htm>, Acesso em: 14 jun. 2020.
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Ação Direta de Inconstitucionalidade 6259, Rel. Min. Alexandre de
Moraes, Brasília, DF, 16.12.2019, Diário Oficial da União. Disponível em: <http://portal.stf.jus.
br/processos/detalhe.asp?incidente=5814977>, Acesso em: 14 jun. 2020.
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 347, Rel. Min.
Marco Aurélio de Mello. Brasília, DF, 09.09.2015, Diário Oficial da União, Disponível em: <http://redir.stf.
jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10300665>, Acesso em: 14 jun. 2020.
BRASIL, Ministério da Justiça, Departamento Penitenciário Nacional, Levantamento nacional de informações
penitenciárias: dezembro de 2019, 2020, Disponível em: <https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjo
iZTlkZGJjODQtNmJlMi00OTJhLWFlMDktNzRlNmFkNTM0MWI3IiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGM
tNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9>, Acesso em: 14 jun. 2020.
BRASIL, Ministério da Justiça, Portaria 495, de 28.04.2016, Institui a Política Nacional de Alternativas Penais,
Diário Oficial da União, Disponível em: <http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0
TZC2Mb/content/id/22785957/do1-2016-05-02-portaria-n-495-de-28-de-abril-de-2016-22785887>, Acesso em:
14 jun. 2020.
CACICEDO, Patrick, “O controle judicial da execução penal no Brasil: ambiguidades e contradições de uma
relação perversa”, Revista Brasileira de Direito Processual Penal, v. 4, n. 1, jan./abr. 2018, pp. 413-432.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 302ª Sessão Ordinária 17.12.2019 – Tarde, Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=cVikSKzl2No>, Acesso em: 14 jun. 2020.
MENDES, Gilmar Ferreira, 10 anos do projeto ‘mutirões carcerários’: uma experiência precursora, Disponível
em: <https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/10-anos-do-projeto-mutiroes-carcerarios-uma-experiencia-
precursora-05092018>, Acesso em: 14 jun. 2020.
NUNES, Adeildo, Comentários à lei de execução penal, Rio de Janeiro, Forense, 2016.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, Visit to Brazil undertaken from 19 to 30 October: observations
and recommendations addreses to the State party, Disponível em: <https://nacoesunidas.org/wp-
content/uploads/2017/01/Relatorio-SPT-2016-1.pdf>, Acesso em: 14 jun. 2020.
PONTES, Felipe, Desinformação sobre execução de penas é inaceitável, diz Toffoli, Disponível em:
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2019-06/desinformacao-sobre-execucao-de-penas-e-inaceitavel-
diz-toffoli>, Acesso em: 14 jun. 2020.
ROS, Luciano Da, “O custo da Justiça no Brasil: uma análise comparativa exploratória”, Newsletter, Observató-
rio de elites políticas e sociais do Brasil, NUSP/UFPR, v. 2, n. 9, jul., pp. 1-15.
TÔRRES, Iuri, Migração automática de processos do SAJ para SEEU é aposta de tribunal, Disponível em:
<https://www.cnj.jus.br/migracao-automatica-de-processos-do-saj-para-seeu-e-aposta-de-tribunal/>, Acesso em:
14 jun. 2020.
ZAMPIER, Débora, CNJ lança mutirão carcerário eletrônico no Espírito Santo, Disponível em:
<https://www.cnj.jus.br/cnj-lanca-mutirao-carcerario-eletronico-no-espirito-santo/>, Acesso em: 14 jun. 2020.
ZAMPIER, Deborah. Conselheiros do CNJ são apresentados a Sistema Unificado de Execução Penal. Disponí-
vel em: <https://www.cnj.jus.br/conselheiros-do-cnj-sao-apresentados-a-sistema-unificado-de-execucao-penal/>.
Acesso em: 14 jun. 2020.
1
Bacharel e Mestre em Filosofia do Direito, Legística, Teoria dos Sistemas, Direito Constitucional e Direito
Internacional pela UFMG. Pesquisador vinculado ao Observatório para qualidade da lei. Consultor jurídico
e acadêmico em Direito Público. Professor de Direito Empresarial e Introdução ao Estudo do Direito da
PUC-MG. E-mail:pedro-acg@hotmail.com
2
Bacharel, Mestre e Doutor em Direito Tributário pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professor
adjunto de Direito Financeiro e Tributário da UFMG. Professor de Direito Financeiro e Tributário e do
mestrado e doutorado da PUC-MG. Advogado e consultor. Procurador do Município de Belo Horizonte. .
E-mail:flavio.bernardes@bernardesadvogados.adv.br
1 INTRODUÇÃO
Ao longo da história, a estrutura institucional do Estado foi se tornando cada
vez mais complexa, movimento que se deu pari passu com a própria evolução dos sis-
temas sociais. Esse ganho de complexidade interna serviu, como aborda a Teoria dos
Sistemas, como movimento de redução da complexidade em seu nível interno. Isso
demonstra o paradoxo de se enfrentar os fenômenos sociais em sua estrutura dinâmica: a
partir do aumento da complexidade interna, permite-se a diminuição da complexidade
interna em razão do meio. O motivo é o simples fato de o meio, o ambiente, conter muito
mais possibilidades de acontecimentos que o próprio sistema.
Sob a óptica da Teoria dos Sistemas, estuda-se o Direito conforme um fenô-
meno intrinsecamente comunicativo. Usa-se, para efeitos referenciais, o termo co-
municação normativa, a cingir, em algum grau, o aspecto deontológico do fenôme-
no, em que pese não ser o objeto de estudo próprio ao marco teórico adotado.
Essa comunicação normativa teve como ponto alto no devir histórico a ideia
de Constituição. Como fenômeno que engloba características políticas e normativas
de uma dada sociedade, a Constituição encarna a ideia de uma norma central, que
tem a função de estabilizar o sistema do Direito e o sistema da Política, além de dar
a marcha do ponto de partida para a possibilidade de existência desses dois níveis de
sistemas sociais intrinsecamente comunicativos. Essa pretensão de estabilizar as
expectativas vem justamente no sentido de garantir a prospecção de dado cenário, de
trazer uma redução da complexidade do futuro no presente, tendo em vista, também,
referenciais contidos no passado.
Nesse campo teórico, em razão do influxo dos movimentos iluministas e ra-
cionalistas sobre os campos do Direito e da Política, especialmente após a Revolu-
ção Francesa – que não somente propaga o ideal de Estado de Direito, República e
Constituição como fonte do pensamento jurídico-político ocidental, como também
opera a possibilidade de desestratificação social a partir da incorporação dos princí-
pios da igualdade, liberdade e fraternidade como fonte comum para o estabelecimen-
to da comunicação nos sistemas sociais – surge a necessidade de se estudar e fun-
damentar um fator que possibilita não somente a existência do Estado, como tam-
bém sua própria operacionalidade e intersecção com seu respectivo tecido social,
qual seja o Direito Financeiro.
jurídico, vê-se constituir como ato que transmite poderes a alguém para exercer um
mandato, um cargo eletivo, uma função, sendo nomeado ou elegido para tal. Por
fim, a etimologia latina aponta para as ideias de “compor, designar, eleger, escolher,
indicar, instituir e nomear” (HOUAISS, 2009, p. 531). Tudo isso perfaz o sentido de
força constitutiva imanente da Constituição e o sentido da transformação de potência
em ato das determinações constitucionais, o que só é possibilitado, a partir de uma
lógica contemporânea, pela existência dessa Constituição Financeira. E é em contato
com esse espectro semântico que se passa a visualizar a importância da Constituição
na formatação da realidade financeira do Estado, em específico o Estado brasileiro,
bem como a sanidade dos sistemas comunicativos próprios à Economia e à Política.
2.1 Uma Visão Sociológico-Política da Constituição
O que é uma Constituição? Com essa questão, Ferdinand Lassalle fez uma
das mais fascinantes defesas teóricas na história do constitucionalismo moderno, que
repercute até hoje como um dos parâmetros mais intrigantes e espantosos para aque-
les que pretendem se mover sobre a Ciência do Direito.
Colocando-se mediante caráter “estritamente científico” (LASSALLE, 2015,
p. 25), o autor se propõe a mostrar argumentos simples, claros e sólidos para encon-
trar a verdadeira essência da Constituição. Essa essência, contudo, não residiria
meramente em um “pacto jurado entre o rei e o povo que estabelece os princípios
básicos da legislação e do governo dentro de um país” ou, logo mais genérica, en-
tendida como “a lei fundamental proclamada no país, na qual se lançam as bases
para a organização do direito público” de uma nação (Ibidem, p. 28-29). Menos
ainda é uma mera lei, mas a lei fundamental do país3 (Ibidem, p. 33), que possui
certas congruências fáticas.
3
Lassalle lança uma interessante e ilustrativa argumentação em relação a esse ponto, dizendo que “o país, por
exemplo, não protesta porque a cada etapa estão sendo promulgadas novas leis. Pelo contrário, todos nós
sabemos que é necessário que todos os anos se promulgue um número mais ou menos grande de novas leis.
Contudo, não se pode ditar uma só lei nova sem que se altere a situação legislativa vigente no momento de
promulgar-se, pois se a nova lei não introduzisse nenhuma mudança no estatuto legal vigente, seria
absolutamente supérflua e não teria o porquê promulgá-la. Mas não protestamos para que as leis se
reformem. Muito pelo contrário, nós vemos nestas mudanças, em geral, a missão normal dos organismos
governantes. Porém, em relação à Constituição, nós protestamos e gritamos: Deixe estar a Constituição!
De onde vem essa diferença? Esta diferença é tão inegável que até existem constituições, na qual se dispõe
taxativamente que a Constituição não poderá ser alterada de forma alguma; em outras, se prescreve que,
para sua reforma, não bastará a simples maioria, mas que deverão ser reunidas dois terços das partes dos
votos do Parlamento; e há algumas em que a reforma constitucional não é da competência dos órgãos
legislativos, nem associados ao Poder Executivo, mas para acometê-la, deverá ser convocada, extra, ad hoc,
expressa e exclusivamente para este fim, uma nova assembleia legislativa que decida sobre a oportunidade
ou conveniência da transformação. Em todos estes fatos se revela que, no espírito unânime dos povos,
todavia, uma Constituição deve ser algo muito mais sagrado, mais firme e mais incomovível que uma lei
comum” (Ibidem, p. 32-33). Não obstante esses argumentos tenham se modificado em razão da extrema
complexidade dos atuais modelos de sociedade ocidental – que reivindicam legítimas mudanças legislativas
em nível infraconstitucional – há que se reconhecer que as modificações constitucionais amplificam os
debates em torno da necessidade ou não de reforma. Essa constatação demonstra, em algum grau, a sutileza
do espírito que encarna a ideia de Constituição, especificamente a segurança jurídica.
5
Afasta-se, também aquelas concepções a respeito da Constituição Financeira como zona de encontro de
normas meramente programáticas, ou cujo conteúdo possuiria alguma espécie de confusão metodológica
com outros subsistemas constitucionais, como a Constituição Econômica e a Constituição Política.
6
Pensar de modo contrário a isso é estabelecer um paradoxo instransponível no patamar argumentativo sobre
a função e a normatividade da Constituição. Com base em Rudolf Sohm, Konrad Hesse salienta justamente
que negar a existência autônoma e nuclear da Constituição jurídica a partir de uma ascendência da
Constituição real significa a própria negação da Constituição, em outras palavras, “que o Direito
Constitucional está em contradição com a própria essência da Constituição” (1991, p. 11). O simbólico
também pode ser pensado no plano da efetividade dessas normas constitucionais que teriam essa pretensão
de alinhavar a conduta humana, mas em razão de forças externas ao próprio sistema do Direito não lograria
alcançar a autopoiese, transformando-se em um intrincado e tortuoso sistema comunicativo baseado na ideia
de alopoiese, como bem desenvolveu Marcelo Neves (2011).
7
O Caráter jurídico da Constituição Financeira se ajusta à ideia de autopoiese do sistema do Direito,
autorreferencialidade e fechamento operativo. Somente é possível a existência da comunicação jurídica se
houver a existência de canais comunicativos eficazes e cuja decodificação dos códigos seja eficaz. Essa
zona de eficácia da comunicação jurídica determina a estruturação do sistema do Direito numa perspectiva
financeira, que permite que as instituições, conformadoras dos sistemas sociais, fluam seus papéis na
sociedade de forma estruturada. Isso tem um custo, e é nesse custo do estabelecimento da comunicação
normativa que se dá o foco do subsistema da Constituição Financeira. Obviamente que a abordagem de
Konrad Hesse perpassa uma lógica ontológica e deontológica do aspecto normativo, mas a ideia de que esse
sistema normativo tem vinculação própria e é autônomo em relação às influências dos demais sistemas
sociais, especialmente a Política, é um dos grandes ganhos evolutivos da Teoria da Constituição e que, em
alguma medida, pode ser lido através dos pressupostos teóricos da Teoria dos Sistemas, especialmente a de
base luhmanniana.
8
Assim, conclui o constitucionalista que “a força condicionante da realidade e a normatividade da
Constituição podem ser diferenciadas; elas não podem, todavia, ser definitivamente separadas ou
confundidas” (HESSE, 1991, p. 15).
determinante para sua identificação, porquanto não se pode relegar sua eficácia a ques-
tões contidas no mundo do ser, a depender de forças sociais e políticas9.
No segundo nível da argumentação, vê-se que o fenômeno constitucional deve
ser lido de acordo com um parâmetro, uma consideração não menos que reveladora de
sua estruturação no tempo, com base em uma dada realidade social, ou seja, o seu aspec-
to histórico. Diante disso, entender a Constituição como simples ferramenta de estrutura-
ção do Estado, de maneira abstrata e exclusivamente teórica nada mais reflete que uma
apreensão estéril desse fenômeno. Isso ocorre em razão de, em alguma medida, as coisas
já possuírem existência, sendo que a força vital da Constituição emana justamente dessa
consideração da própria realidade para a qual ela aponta, ou seja, a Norma Fundamental
não pode ser alheia à realidade sobre a qual se direciona10 (HESSE, 1991, p. 18). Esse
enunciado de correlação entre realidade e normatividade constitucional é denominado
como “princípio da necessidade”11. Mas esse princípio, por si só, não é capaz de revelar
o que seria a força normativa da Constituição. Segundo Hesse, a Constituição por si só
não realiza nada, mas pode impor tarefas, que na medida que são concretizadas acabam
por verterem-se em genuína força ativa, que movem a realidade. Essa força ativa se dá
quando os concretizadores da Constituição estão incutidos não só pela vontade de
poder (Wille zur Macht), como também pela vontade de Constituição (Wille zur
Verfassung)12 (1991, p. 19).
9
Conclui Hesse, nesse ponto, que “graças à pretensão de eficácia, a Constituição procura imprimir ordem e
conformação à realidade política e social. Determinada pela realidade social e, ao mesmo tempo,
determinante em relação a ela, não se pode definir como fundamental nem a pura normatividade, nem a
simples eficácia das condições sócio-políticas e econômicas. A força condicionante da realidade e a
normatividade da Constituição podem ser diferençadas; elas não podem, todavia, ser definitivamente
separadas ou confundidas” (1991, p. 15). Essa abordagem é de extrema relevância para debater a eficácia do
subsistema da Constituição Financeira. As normas de Direito Financeiro podem, com efeito, serem vistas
como meio para alcance de uma dada finalidade – isso se discute na busca pela própria natureza das normas
de direito positivo, qual seja hipotéticas. Contudo, a sua força normativa está para além da merca
conjugação de diretrizes políticas. As normas de Direito Financeiro estabelecem um dever, um quadro, um
cenário a ser realizado. Deve ser assim, e não de outra maneira. O fenômeno político é conjugado ao
fenômeno normativo, no momento da dinâmica jurídica, contudo não é o elemento validador, não é o
elemento que dá eficácia. A validade e a eficácia sobressaem da própria norma, em seu aspecto estruturante.
No bojo da teoria dos sistemas, alguns ajustes são necessários, contudo, a ideia permanece: comunicação
normativa depende da existência da confiança. Sem esta, não há normatividade.
10
Em decorrência disso, “se as leis culturais, sociais, políticas e econômicas imperantes são ignoradas pela
Constituição, carece ela do imprescindível germe de sua força vital. A disciplina normativa contrária a essas
leis não logra concretizar-se” (HESSE, 1991, p. 18).
11
Assim, a correspondência colocada em nível basal é traduzida de acordo com o liame que liga a hipótese
normativa e o mundo sobre o qual a Constituição incide em um contexto e tempo. Possibilita, assim, o
desenvolvimento e concretude à ordenação objetiva da natureza normológica sobre o substrato fático que a
realiza como força vital, como normatividade.
12
A partir dessa conclusão, Hesse aponta três vertentes diversas da origem da vontade de Constituição:
“Baseia-se na compreensão da necessidade e do valor de uma ordem normativa inquebrantável, que proteja
o Estado contra o arbítrio desmedido e disforme. Reside, igualmente, na compreensão de que essa ordem
constituída é mais do que uma ordem legitimada pelos fatos (e que, por isso, necessita de estar em constante
processo de legitimação). Assenta-se também na consciência de que, ao contrário do que se dá com uma lei
do pensamento, essa ordem não logra ser eficaz sem o concurso da vontade humana. Essa ordem adquire e
mantém sua vigência através de atos de vontade” (1991, p. 19-20).
13
A consequência disso seria “o apoio e a defesa da consciência geral”, visto que a Constituição incorporaria
um estado espiritual representativo de uma ordem adequada e justa (HESSE, 1991, p. 20). O grande
problema dessas considerações genéricas certamente é a dissociação com mudanças contingentes e
incontroláveis no nível das comunicações sociais, com grande penetração de visões falseadas da realidade, o
que quebra o raciocínio de existência de uma “consciência geral” realmente consciente. Essa distensão
acerca da adequada percepção dos fenômenos da realidade por parte dos atores que performatizam e
atualizam a força normativa da Constituição pode levar o sistema a um estado de anomia, com a total não
identificação de diretrizes essenciais para a conjugação de atividades comunicativas e de ações humanas.
14
Indica, então, o exemplo americano, ao afirmar em nota de rodapé que “o fato de a Constituição americana
estar assentada nesse princípio configura não a única, mas, certamente, a fonte essencial de sua
incomparável vitalidade” (1991, p. 21).
aquilo que é identificado como vontade da Constituição, ‘deve ser honestamente pre-
servado, mesmo que, para isso, tenhamos de renunciar a alguns benefícios, ou até a
algumas vantagens justas. Quem se mostra disposto a sacrificar um interesse em fa-
vor da preservação de um princípio constitucional, fortalece o respeito à Constitui-
ção e garante um bem da vida indispensável à essência do Estado, mormente ao Es-
tado democrático’. Aquele, que, ao contrário, não se dispõe a esse sacrifício, ‘malba-
rata, pouco a pouco, um capital que significa muito mais do que todas as vantagens
angariadas, e que, desperdiçado, não mais será recuperado’. (HESSE, 1991, p. 22).
15
Expõe então que “se o sentido de uma proposição normativa não pode mais ser realizado, a revisão
constitucional afigura-se inevitável. Do contrário, ter-se-ia a supressão da tensão entre norma e realidade
com a supressão do próprio direito. Uma interpretação constitutiva é sempre possível e necessária dentro
desses limites. A dinâmica existente na interpretação construtiva constitui condição fundamental da força
normativa da Constituição e, por conseguinte, de sua estabilidade. Caso ela venha a faltar, tornar-se-á
inevitável, cedo ou tarde, a ruptura da situação jurídica vigente” (HESSE, 1991, p. 23).
Se, também, em tempos difíceis, a Constituição lograr preservar a sua força normati-
va, então ela configura verdadeira força viva capaz de proteger a vida do Estado
contra as desmedidas investidas do arbítrio. Não é, portanto, em tempos tranquilos e
felizes que a Constituição normativa vê-se submetida à sua prova de força. Em ver-
dade, esta prova dá-se nas situações de emergência, nos tempos de necessidade
(HESSE, 1991, p. 25).
16
Na análise de Niklas Luhmann sobre a dogmática, em sua obra Rechtssystem und Rechtsdogmatik, 1974,
pode-se observar que se interpretarmos os clássicos como aportes de dogmática sobre a argumentação
jurídica e sobre a possibilidade de revelação das faces mais densas dos conceitos jurídicos, eles são tomados
a partir da visão da inegabilidade dos pontos de partida: não há como haver construção da racionalidade
comunicativa própria à ciência do direito, à teoria do direito como um todo, sem que se recorra àqueles
trabalhos dogmáticos fundamentais, que funcionam como ponto de partida para a concepção e para a
formação de sentido do direito (LUHMANN apud LARENZ, 2012, p. 320).
17
Aponta, então, o autor, diversas indagações para fundamentar sua argumentação. “Um conceito material de
autor clássico exige um cânone de tradições garantidas, um consenso generalizado sobre o caráter modelar
(talvez também na dimensão pessoal), o caráter exemplar, proeminente, ultrativo [weiterwirkend], num
certo sentido “atemporal” [Zeitlose]. Para os “clássicos na vida das Constituições” deveríamos dispor
além disso de uma pretensão especificamente normativa com referência ao Estado constitucional. A
questão agudiza-se diante da vinculação à “lei e ao direito” ou à Constituição, esta enquanto “lei
suprema” (cf. Lei Fundamental, art. 20, § 3, art. 19, § 2, art. 79). Onde e como, graças a qual
legitimação e dentro de quais limites, essa vinculação juspositiva deixa espaço para os textos
clássicos? Será que os textos clássicos podem produzir no Estado Constitucional um efeito
comparável ao de “fontes jurídicas”? Qual é a sua legitimação democrática? O que nos legitima a
aduzi-los subsidiariamente “à Lei Fundamental”? Talvez o fato de a Lei Fundamental pertencer ao
tipo “Estado constitucional”? Para quem os clássicos são clássicos?” (HÄBERLE, 2016, p. 49).
18
Obviamente que a referência a textos clássicos em aspecto normativo deve ser vista cum granum salis. As
figuras institucionais e conceituais erigidas pela modernidade ocidental são variáveis de cultura para cultura
e não podem ser simplesmente transpostas de um lado para o outro. São fórmulas aptas a realizarem
diagnósticos e prognósticos em relação a um objeto de verificação empírica e conceitual, mas devem levar
em consideração as próprias modificações contidas nas realidades estritas das conformações sociais que
vivenciam esses mesmos conceitos. Como bem coloca Häberle, “Em duas palavras, tudo indica que a
cautela é recomendável quando lidamos com clássicos. Também aqui estamos ameaçados por posições
unilaterais. Textos clássicos, muitas das vezes apenas remetem a problemas; são, portanto, mais indicação
do que solução de um problema. Variam com relação à cultura específica, possuem uma história distinta de
efeitos e interpretações. Não raras vezes estão “em oposição” uns aos outros: pensemos no entendimento de
democracia na Lei Fundamental alemã, mais comprometida com Montesquieu do que com Rousseau, ao
passo que o momento plebiscitário está mais elaborado nas Constituições estaduais” (HÄBERLE, 2016, p.
51-52).
19
Assim, conclui Häberle quanto a esse ponto no sentido de abordar que “a tematização de um clássico, isto é,
de um consenso comunitário pode ser diretamente relevante para a ação ou também para a posição (do
declara que a ênfase no conceito de clássico não é suficiente para explicar a importân-
cia dos clássicos para a vida das Constituições20. Para elaborar um conceito material
sobre o que seriam os clássicos, o teórico parte da argumentação de que “por um lado,
os clássicos são respaldados pelas suas comunidades; por outro, a comunidade, assim
como também o clássico, está posicionada em determinada realidade social” (Ibidem,
p. 95). Derivado disso, diz-se que os clássicos em alguma medida realizaram padrões
de justificação aptos a integrarem uma resposta convincente aos problemas de sua
época, sendo que, mesmo após o tempo em que esses clássicos foram gestados, alguns
desses problemas podem persistir, a tornar a referência aos clássicos apenas uma ponte
de integração entre uma forma de estruturação e a necessidade de trabalhar numa
mesma direção para a solução daqueles problemas21 (Ibidem).
Mas como se dá essa dinâmica de vinculação dos clássicos a partir de um ponto
de vista culturológico? Primeiramente, Häberle ressalta que o enfoque jurídico strictiore
sensu não consegue realizar a fundamentação dos textos de autores clássicos. Por esse
motivo, o texto clássico não pode servir como fonte formal do direito, porquanto não tem
legitimidade democrática e nem pretensão normativa, o que o afasta das normas consti-
tucionais e da legislação infraconstitucional (2016, p. 97). Mas, visto que há uma vigên-
cia cultural inegável dos textos clássicos em relação à concepção e à prática constitucio-
nal, o teórico se propõe a investigar, numa concepção latiore sensu, como essa vigência
cultural pode ser compatível com o próprio direito positivo (2016, p. 107). Nesse ponto,
Häberle afirma que os clássicos são textos constitucionais em um outro sentido, ou seja,
inclui-se metodologicamente à interpretação os intérpretes em sentido lato, ou seja, os
cidadãos, conforme sua famosa defesa proferida no livro “A sociedade aberta dos
intérpretes da Constituição”22, aspecto material dessa vinculatividade (Ibidem).
Diante dessa argumentação, o teórico coloca em relevo:
indivíduo que tematiza em relação à sua comunidade), o que depende tanto da ação em questão quanto do
sistema normativo específico da comunidade” (2016, p. 93).
20
“Apesar da ênfase na ideia do clássico, esta não é suficiente. No autor clássico, na dimensão clássica deve
haver algo mais do que apenas a recepção formal, a saber, algo material, objetivo, pois do contrário toda e
qualquer pessoa poderia tornar-se um clássico, desde que encontrasse a correspondente comunidade de
receptores” (HÄBERLE, 2016, p. 94).
21
Karl Larenz, ao examinar a teoria dogmática de Niklas Luhmann, ensina que para o sociólogo a dogmática
não teria um sentido consistente “em fixar o que está simplesmente estabelecido, mas em possibilitar a
distância crítica, em organizar estratos de reflexões, de motivos, de ponderações, de proporção, meios
pelos quais o material jurídico é controlado para além do que é imediatamente dado e é preparado para a
sua utilização” (LARENZ, 2012, p. 321). Nesse ponto argumentativo, Häberle e Luhmann se entrelaçam,
porquanto a atividade vinculante dos clássicos serve, em última medida, para cumprir papel reflexivo sobre
o fenômeno jurídico em sua inteireza, o que possibilita a crítica refinada, argumentativa e, sobretudo,
preocupada em desvelar a melhor solução para dado problema que é posto diante, por exemplo, da
efetivação da Constituição Financeira.
22
Argumenta, então, que “a ampliação – e o aprofundamento – da Constituição enquanto objeto de
interpretação agora se dá em termos materiais, transcendendo o texto da Constituição escrita na direção da
dimensão profunda espaço-temporal da história e cultura constitucionais. Num sentido exigente, textos de
clássicos são “textos constituintes” – talvez num sentido distinto da palavra escrita da Constituição, mas
decerto com uma pretensão e eficácia nada menores” (HÄBERLE, 2016, p. 107-108).
Quanto aos detalhes: textos de clássicos são parte tão integrante da interpretação
possível da Constituição que eles devem ser considerados textos constitucionais latio-
re sensu. Não são apenas recurso, mas objeto da interpretação. Inserem o texto cons-
titucional escrito no pertinente nexo cultural e de tradições. Assim vistos, os textos
dos clássicos não são apenas um conglomerado, mas “materiais” para a Lei Funda-
mental. (...) Resumindo: textos de normas bem como textos literários formam um
conjunto – cultural –, que perfaz a “verdadeira” Constituição de um país apenas se
considerados na íntegra. Diga-se, de passagem, que a rememoração dos textos fun-
damentais do Estado constitucional não é um fim em si mesmo. O retorno sempre ser-
ve ao avanço. (HÄBERLE, 2016, p. 108-110).
Häberle ressalta ainda que a validade material dos textos clássicos não está
envolta a uma sanção, mas a um respaldo à própria normatividade da Constituição
(2016, p. 111). Essa volta aos textos clássicos, do ponto de vista de sua vinculação
material, não limita a interpretação de maneira anacrônica, não coloca limites para
uma atualização futura de sua própria concepção. Isso porque para o autor, tanto os
textos clássicos, como os textos constitucionais positivados, são produtos culturais, sen-
do que muitas das vezes os textos clássicos possuem uma força normativa muito maior
que a dos próprios textos constitucionais. A tomar essa ideias, conjuga-se não somente a
força normativa dos clássicos, como também a força normativa da sociedade aberta dos
intérpretes da Constituição, ou seja, a atuação conjunta desses dois fatores amplia e po-
tencializa a apreensão do que é a “Constituição real”23 (2016, p. 115-116). Essa seleção
dos clássicos também é feita de maneira pormenorizada e levando em consideração que
a consulta aos clássicos é, ao mesmo tempo, fundamentada pela Constituição positiva e
pela situação atual do problema. Esses dois fatores atuarão, segundo Häberle, de maneira
seletiva na atividade de referência aos clássicos, de maneira que a utilização destes se dá
conforme critério de exclusão, pois, segundo o teórico, “onde tudo é possível, nada
vale”24 (2016, p. 120). Assim, há que se ter em mente algumas limitações dessa
forma de lidar com os clássicos, pois
23
Já prevendo futuros questionamentos, Häberle argumenta que “uma objeção possível poderia ser a tese de
que o texto da norma fundamental seria relativizado [mediatisiert] indevidamente por inserções gratuitas,
que a “vontade” do constituinte seria ignorada, que a “vinculação do juiz à lei e ao direito” seria colocada
em xeque. Ocorre que uma das descobertas das teorias da interpretação afirma que a interpretação não é
nem pode ser efetuada “em e para si”, apenas em contraposição ao texto “nu”. Reconhece-se um entorno
como “pré-compreensão” na “escolha do método”, a realidade social etc., ao menos enquanto “auxílios de
interpretação”. Na perspectiva aqui desenvolvida, esse entorno cultural é visto mais honestamente como
objeto da interpretação; por outro lado, é complementado pelos textos dos clássicos, que, no entanto,
carreiam da sua parte um “entorno” cultural adicional. O enriquecimento material da interpretação pelos
textos clássicos é uma mera continuação dos caminhos e procedimentos até agora percorridos (2016, p. 118-
119). Atenta-se, então, para o fato de que o “os clássicos nos abrem a possibilidade de relativizar a nossa
posição, por meio da consideração de entendimentos que, à primeira vista, são “anacrônicos”“ (Ibidem, p.
123).
24
Conclui que “tal fundamentação do trabalho com clássicos bem determinados pressupõe a teoria material
aqui esquematizada dos clássicos no Estado constitucional” (2016, p. 120).
A confiança na autoridade (material) dos enunciados dos clássicos deve ser limitada,
– pois também os clássicos foram apenas homens falíveis;
– pois sempre é possível aduzir posições alternativas de autores clássicos;
– pois as explanações dos clássicos sempre foram condicionadas historicamente, o que
sempre é também sinônimo de limitação e unilateralidade (HÄBERLE, 2016, p. 122).
25
Da interrelação entre os conceitos de fechamento operativo, autopoiese, autorreferência e unidade sistêmica,
sobressai a necessidade de estudo dos acoplamentos estruturais. Dentro desse nível argumentativo, em
relação ao Direito, Luhmann disserta: “‘quanto maior a ênfase da teoria dos sistemas no fechamento
operativo de sistemas autopoiéticos, é de modo mais urgente que se coloca a questão de como as relações
entre o sistema e o seu ambiente se formam sob essa condição, pois nem a realidade, nem a relevância
causal do ambiente são negados (se assim não fosse, não se poderia falar em diferença, diferenciação etc.).
Fechamento operativo significa tão somente que a autopoiese do sistema pode ser executada unicamente
com suas próprias operações e que a unidade do sistema pode ser reproduzida somente com as operações do
próprio sistema, e, no sentido inverso, o sistema não pode operar em seu ambiente; portanto, não pode se
ligar a seu ambiente usando as próprias operações do sistema. A vantagem teórica desse ponto de partida é
que ele demanda um montante de precisão tão atípico quanto não desenvolvido em proposições acerca das
“relações entre sistema e ambiente”. A resposta a essa demanda encontra no conceito de ‘acoplamento
estrutural’” (2016, p. 589-590). A Constituição Financeira, com efeito, se amolda a um subsistema do
sistema Constitucional. Ela funciona, a partir de uma centralização do fenômeno pelo observador de
segunda ordem, como o acoplamento estrutural existente entre o Direito e a Economia, numa lógica inserida
sentido, a proposta da teoria dos sistemas vai para além do estudo da estrutura pro-
priamente dita26 (corpo normativo positivado), e se centra na operação básica do
sistema, qual seja a comunicação, no caso do Direito comunicação normativa. Essa
mudança do foco epistemológico do observador de segunda ordem27 propicia a veri-
ficação da relevância da operação sistêmica em relação à própria estrutura dentro
daquilo que se poderia considerar como unidade, que passa a ser enfrentada no âm-
bito da teoria dos sistemas como a diferença entre um e o outro lado da forma, ou
seja, aquilo que está operativamente vinculado ao sistema do Direito e o que perten-
ce aos sistemas que formam o ambiente.
No contexto epistemológico da teoria dos sistemas, não há como se confun-
dir, como o faz Lassale, o fenômeno da política (Constituição Real) e o fenômeno
normativo (Constituição como folha de papel). Em nossa abordagem, a Constituição
integra a unidade do sistema do Direito, servindo-se como a força central, que con-
centra as zonas de irritabilidade recíproca e contínua entre os sistemas da Política e
do Direito, com influxo sobre o sistema da Economia. Essa figura do acoplamento
constitucional surge, conforme Luhmann, a partir da ideia de que o Estado é a figura
que absorve essa tensão entre os dois sistemas em sua institucionalidade, especifi-
camente no âmbito da Constituição (2016, p. 630-631), o que torna possível os pró-
ximos passos para a evolução dos próprios sistemas sociais28. A sedimentação de
práticas sociais, que nada mais é que o processo de institucionalização plurilocaliza-
no regime jurídico de Direito Público. Ela possui uma operação própria: comunicação normativa. Contudo,
opera diante da equalização entre a pretensão da comunicação normativa, da comunicação econômica e da
comunicação política.
26
É no nível das estruturas que a teoria do direito se moveu para analisar o sistema jurídico. A positividade do
direito aponta para o nível das expectativas normativas, que se cristalizam no nível da programação do
sistema, que por sua vez se traduz em operação, ponto redutor de identificação da autopoiese.
27
O observador de segunda ordem, nesse momento, é considerado como sistema autopoiético próprio,
heterorreferencial, que realiza suas observações a partir da dissecação do fenômeno jurídico em sua
operação básica de primeira ordem. Esse diferencial permite a superação do ponto cego da observação, vez
que o observador de primeira ordem se delimita como operação autorreferencial, ou seja, do próprio
sistema. O ganho evolutivo da consideração do observador de segunda ordem é que ele consegue ver o
sistema de cima, para além do observador de primeira ordem. Este, ao realizar a operação normativa,
cindindo aquilo que considera, ou não, formador de sentido para o sistema, seleciona. O observador de
segunda ordem vê o todo, consegue concatenar o sentido global do sistema, podendo ser encarado numa
perspectiva autorreferencial (quando o sistema observa a si mesmo), ou heterorreferencial (quando um
sistema presente no ambiente passa a observar um sistema adverso de si). Assim, pode-se enfrentar o
fenômeno da Constituição Financeira e sua funcionalidade a partir de uma dupla perspectiva. Para maior
aprofundamento sobre o conceito de observador de primeira ordem e observador de segunda ordem, ver
Niklas Luhmann (2009, p. 152 e s.; 2016, p. 35; 2016a, p. 25, 56, e 547 e s.); Gunther Teubner, 1989, p. 155
e s.; Costa Gontijo, 2018, p. 107 e s; Marcelo Neves (2009, 2011 e 2012).
28
Dessa maneira, Luhmann salienta que “essa forma de acoplamento mediante o Estado constitucional torna
possível, em ambos os lados, para o sistema político e o jurídico, a realização de graus de liberdade
superiores, assim como uma notável aceleração da dinâmica própria de cada um desses sistemas” (2016, p.
631). Pode-se dizer que a coevolução é o resultado prático da formação dos acoplamentos estruturais.
Significa que um sistema, por mais que tenha em sua composição fundamental o conceito de autopoiese,
realiza sua evolução gradualmente e, em alguma medida, a partir da coevolução dos próprios sistemas que
estão adjacentes, lhe irritando.
As Constituições são conquistas reais (em contraste com meros textos), por um lado,
ao restringir as influências recíprocas entre direito e política aos canais proporcio-
nados pela constituição de um Estado e, por outro lado, nas crescentes possibilidades
no contexto desses acoplamentos. Pode-se ver, não obstante, que outras possibilida-
des são efetivamente excluídas com esse tipo de acoplamento, significando, por
exemplo, a exploração de posições jurídicas no sistema econômico (riqueza, controle
de opções politicamente importantes) a fim de alcançar o poder político, ou o terro-
rismo político, ou a corrupção política. À medida que o sistema político, por um lado,
e o sistema jurídico, por outro, encontram-se vinculados pelo poder “privado” da
pressão, do terror e da corrupção, nem um, nem outro sistema, se é que é possível
distingui-los, chega a adquirir grau elevado de complexidade. Por meio de Constitui-
ções, chega-se então, em razão da limitação das zonas de contato de ambas as partes,
a um enorme incremento de irritabilidade recíproca – maiores possibilidades, por
parte do sistema jurídico, de registrar decisões políticas em forma jurídica, mesmo
havendo mais possibilidades de a política se valer do direito para implementar seus
objetivos (LUHMANN, 2016, 631-632).
Mas o que seria a Constituição financeira? E sua visão sob o viés da Teoria
dos Sistemas? A partir de uma perspectiva doutrinária, deslocada do marco teórico
da Teoria dos Sistemas, a Constituição Financeira possui vários enfoques. Heleno
Taveira Torres, por exemplo, aborda o papel estruturante das contas públicas, dos
princípios democráticos e republicanos, a efetividade dos direitos sociais, a base de
sustentação do federalismo, a efetivação de ações de fomento estatal, realização de
programas e políticas públicas, além de importantes mecanismos de controle interno
e externo da atividade financeira do Estado (TORRES, 2014)29. Na orientação da
29
Buscar essa referência sobre o que seja a Constituição Financeira é, em certo modo, perscrutar sobre a
própria definição do Direito Financeiro. Autores importantes como Régis Fernandes de Oliveira
estabelecem que o Direito Financeiro consiste em “o conjunto de princípios e regras que dispõe sobre a
arrecadação de receitas não tributárias, coloca-as no orçamento, estabelece despesas, realiza-as, controla-
as por seus órgãos e instrumentos de controle, administra receitas e despesas, distribui-as entre os diversos
entes federativos, exige responsabilidade na aplicação dos recursos e impõe sanções às infrações
cometidas” (OLIVEIRA, 2014, p. 183-184). Além disso, o doutrinador segmenta o fenômeno do Direito
Financeiro, e teoriza que este não trata dos seguintes objetos: “Em sendo assim, pode-se fazer a exclusão do
que não está afeto ao Direito Financeiro: a) os tributos; b) o câmbio; c) a moeda; e d) o sistema bancário”
(Ibidem, p. 179). Por outro lado, considera que somente está incluído no estudo do Direito Financeiro: “a)
as receitas não tributárias; b) as despesas; c) o orçamento; d) o controle orçamentário que engloba os
Tribunais de Contas; e) a dívida pública; e f) a responsabilidade fiscal” (Ibidem). Além disso, o autor
aponta que não haveria como se indicar um conjunto de princípios próprios ao Direito Financeiro (Ibidem,
p. 226). Essa concepção acerca desse ramo da dogmática jurídica somente pode ser sustentada a partir de
uma visão parcial do fenômeno financeiro dentro da lógica do Estado e do Direito. Primeiramente, há uma
contradição explícita em sua argumentação, a partir do momento em que diz que o Direito Financeiro é um
“conjunto de princípios e regras (...)”, para, logo após, negar a existência de princípios próprios ao Direito
Financeiro. Em segundo lugar, no que diz respeito ao objeto de estudo, fala-se que o orçamento é objeto do
Direito Financeiro, mas os tributos e respectivas receitas tributárias não. Como se poderia cingir o estudo do
orçamento sem o devido estudo da composição de receitas derivadas do Estado? Aliás, essa formatação
30
Como bem disserta Kolja Möller, “Niklas Luhmann não era um crítico do direito e sempre contrariou as
tentativas de abrir normativamente sua teoria jurídica (Luhmann, 1985). Recentemente surgiu, contudo, um
amplo espectro de discussão que trabalha no sentido de tornar as reflexões de Luhmann frutíferas para uma
crítica jurídica” (MÖLLER, 2015, p. 129). Essa problemática sobre a concepção do fenômeno jurídico
dentro da Teoria dos sistemas de Luhmann unicamente sob o viés da comunicação é assim exposta por
Luhmann, quando se contrapõe às teorias positivistas e jusnaturalistas: “Ao contrário de muitos juristas, por
“sistemas” não entendemos uma interconexão de determinadas regras, mas uma interconexão de operações
factuais, que, como ações de comunicação operacionais, devem ser comunicações, independentemente do
que essas comunicações afirmem com respeito ao direito. Ora, isso significa: não buscamos o ponto de
partida nem na norma, nem na tipologia dos valores, mas na distinção entre sistema e ambiente”
(LUHMANN, 2016, p. 54-55). A questão para Luhmann é superar a análise unicamente da estrutura
(normativa, axiológica), para poder partir a análise do Direito por meio de sua operação, qual seja
comunicação. Contudo, comunicação somente pode existir a partir do acoplamento estrutural realizado
entre a linguagem e a consciência. Se isso não existe, não há comunicação. E a linguagem do Direito é
linguagem normativa, de modo que passamos a designar, sem demais aprofundamentos teóricos, que serão
feitos em trabalhos ulteriores, a comunicação do sistema do Direito como comunicação normativa.
31
Em trabalho recentemente desenvolvido no âmbito do programa de pós-graduação em Direito da
Universidade Federal de Minas Gerais, uma dissertação de mestrado lançou mão da seguinte conceituação
para se referenciar à necessidade de estabelecer um padrão mais preciso para que a comunicação possa se
estabelecer um dado sistema social, especialmente no sistema do Direito: “A comunicação sincera pode ser
descrita como aquela que se perfaz de modo claro, preciso, transparente, inteligível, cuja finalidade do
emissor possa ser extraída sem muita dificuldade pelo intérprete, pelo destinatário. Aproxima-se, em certa
medida da ideia axiológica do imperativo categórico kantiano, mas se afasta porquanto seja princípio
epistemológico, ou seja, objetivamente verificável. Esse grau de verificabilidade é entendido a partir do
momento em que a comunicação não se pode realizar em sua negação, ou seja, por meio da emissão de
informação obnubilada, obscura, inverossímil e despregada da realidade circundante (facticidade
sistêmica) e da própria estrutura do sistema do Direito. Comunicação sincera indica aquela baseada na
boa-fé, na efetivação de que o que é transmitido pelo ato de comunicação e processado pelo ato de
entendimento se concretiza em uma zona de confiança que se aproxima da verdade, que é verossímil.
Apesar de a norma jurídica em sua estrutura comunicacional na lógica da teoria dos sistemas ser
especialmente contrafática, há que se levar em consideração que se houver uma deturpação geral do
código e da operação por meio de enviesamento e da falsidade da informação emitida, ao final o sistema se
subverte rumo a um colapso que nada mais significa que a instauração da alopoiese, ou perda de
autonomia e autorreferencialidade” (COSTA GONTIJO, 2018, p. 193-194). Sobre confiança, ver
Luhmann, 2005.
4 CONCLUSÃO
A análise da Constituição Financeira deve começar pela própria definição do
fenômeno constitucional. A partir disso, observou-se a cadência daquelas obras
clássicas, insubstituíveis e altamente influentes para a compreensão do que é a Cons-
tituição. Contudo, considerou-se que estas eram perspectivas particulares e parciais
sobre o fenômeno. Para abrir a teorização básica acerca da Constituição Financeira e
sua função dentro do sistema do Direito, evidenciou-se a necessidade de cogitar de
uma teoria não somente mais ampla, mas que também abarcasse todas as perspecti-
vas dadas pelos clássicos constitucionalistas. Essas visões foram colocadas diante de
um marco teórico próprio, que as encara diante de uma perspectiva única: a identifi-
cação da operação base do sistema e a sua funcionalidade em relação à estrutura.
A partir disso, pôde-se observar que a operação comunicação normativa de-
sempenhada pelo subsistema da Constituição Financeira se erige como meio para
alcançar a finalidade da própria existência do Estado. Esse nicho teórico possui
32
A autorreferencialidade da comunicação dos sistemas sociais é teorizada por Luhmann: “o sistema de
comunicação determina não só seus elementos – que são, em última instância, comunicação –, como
também suas próprias estruturas. O que não pode ser comunicado não pode influir no sistema. Somente a
comunicação pode influenciar a comunicação; apenas ela pode controlar e tornar a reforçar a comunicação”
(2009, p. 301)
REFERÊNCIAS
BENDA, Ernesto et al., Manual de Derecho Constituciona,. Madrid, Marcial Pons, 1996.
COSTA GONTIJO, Pedro Augusto, Os tratados internacionais comuns e a proteção da confiança. Disser-
tação de mestrado. Biblioteca da Universidade Federal de Minas Gerais. 2018.
HÄBERLE, Peter, Textos clássicos na vida das constituições, São Paulo, Saraiva, 2016.
HESSE, Konrad, A força normativa da constituição. Porto Alegre: Sergio Antonio Frabris, 1991. Tradu-
ção de: Gilmar Ferreira Mendes.
KELSEN, Hans, Jurisdição Constitucional, 2. ed, São Paulo, Martins Fontes, 2007.
LARENZ, Karl, Metodologia da ciência do direito, Tradução de José Lamego, 6. ed., Lisboa, Fundação
Calouste Gulbenkian, 2012.
LASSALLE, Ferdinand, O que é uma constituição? São Paulo, Pillares, 2015.
LUHMANN, Niklas, Confianza, Introducción de Dário Rodríguez. Santiago de Chile: Instituto de Socio-
logia, Pontíficia Universidad Católica de Chile, 2005.
LUHMANN, Niklas, Introdução à Teoria dos Sistemas, Petrópolis, Vozes, 2009.
LUHMANN, Niklas, O direito da sociedade, São Paulo, Martins Fontes, 2016, Tradução de Saulo Krieger.
LUHMANN, Niklass, Sistemas sociais: esboço de uma teoria geral, Tradução de Antonio C. Luz Costa, et al.
Petrópolis, Vozes, 2016a.
MÖLLER, Kolja, Crítica do direito e teoria dos sistemas, Tempo social, São Paulo, v. 27, n. 2, p. 129-152.
NEVES, Marcelo, A constitucionalização simbólica, 3ª ed., São Paulo, WMF Martins Fontes, 2011.
NEVES, Marcelo, Entre Têmis e Leviatã: uma relação difícil: o Estado Democrático de Direito a partir
de Luhmann e Habermas, 3. ed, São Paulo, WMF Martins Fontes, 2012.
NEVES. Marcelo, Transconstitucionalismo, São Paulo, WMF Martins Fontes, 2009.
OLIVEIRA, Régis Fernandes, Curso de Direito Financeiro, 6. ed., rev. atual. e ampl., São Paulo, Revista
dos Tribunais, 2014.
TEUBNER, Gunther, O Direito como sistema autopoiético, Porto, Imprensa Portuguesa, 1993.
TORRES, Ricardo Lobo, Curso de Direito Financeiro e Tributário, 19. ed. rev. atual.,Rio de Janeiro,
Renovar, 2013.
TORRES, Heleno Taveira, Direito constitucional financeiro, São Paulo, RT, 2014.
VILLEGAS, Héctor B. Curso de finanzas, derecho financiero y tributario, 5. ed., Buenos Aires, Depal-
ma, 1995.
1
Graduado pela Universidade de São Paulo em Direito. Pós-Graduado latu sensu em Direito Processual
Penal pela Faculdade Damásio de Jesus. Mestrando pela PUC/SP em Direito Penal. E-mail:
advbarcellos@gmail.com
2
Doutor em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo e Doutor em Direito pela Universidad de
Salamanca – Espanha, em programa de dupla titulação, com Defesa Pública de Suficiência Investigatória na
Espanha e Defesa Pública de Tese em São Paulo. Mestre em Direito Político e Econômico pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professor na Graduação e da Pós-Graduação Lato Sensu da
Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Presidiu a Comissão de Segurança Pública
e a Comissão de Direito Militar da Secção Paulista da Ordem dos Advogados do Brasil. Atualmente é
Relator da 23ª Turma do Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil. Ocupou os
cargos públicos de Chefe de Gabinete da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, Coordenador de
Polícia do Gabinete do Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo e Chefe de Gabinete da
Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social do Município de São Paulo. E-mail:
capano@capano.adv.br
Based on the relation of the cause of exclusion of culpability with sources outside the
law, the study analyzes the concept of prudence established by Thomas Aquinas and,
mainly, one of his potentialities, which is the gnome and its relationship with the epicea,
concluding the just solution for certain typical behaviors that do not deserve a criminal
reprimand is found in the modulation of the unenforceability of different conduct with
the Thomasian idea of epique.
Keywords: Moral. Supralegal cause of different conduct. Prudence. Epiqueea.
Sumário: 1 Introdução; 2 Relação Entre o Direito Penal e a Moral; 3 Breve Conceito de
Crime; 4 A Relação Conceitual Entre a Causa Supralegal de Inexigibilidade de Conduta
Diversa e a Epiqueia; 5 Conclusão; Referências.
1 INTRODUÇÃO
Em olhar atento para o passado, constata-se que o direito penal (direito
sancionador que pode impor restrições à liberdade individual) esteve, ao longo da
história, ligado à moral, nos tempos em que condutas socialmente graves eram
punidas mesmo que não causassem lesão nem ao menos expusessem perigo a um bem
jurídico. Com a evolução social, porém, passaram a ser penalmente relevantes
apenas as condutas, comissivas ou omissivas, que ocasionassem lesão ou ameaça de
lesão a um bem jurídico.
Nessa linha, se crime é, sob uma perspectiva inicialmente criada pelo
causalismo, fato típico, antijurídico e culpável, sujeitando-se a sanção, portanto, a
conduta que passar por esse filtro legal, o critério de lesão ou ameaça de lesão a bem
jurídico resta insuficiente para afastar do campo da imputabilidade penal conduta
que, a despeito de se moldar na definição de crime, não mereça a consequente
reprimenda.
A figura da inexigibilidade de conduta diversa supralegal foi, então,
criada pela doutrina para regrar conduta que: i) está prevista em tipo penal
incriminador; ii) não é abarcada por tipos permissivos (não se enquadra nas
excludentes de ilicitude nem nas excludentes de culpabilidade); e iii) se
apresenta como única ação esperável por qualquer que fosse o agente. Essa
situação, não antevista pela lei, mas criada pela doutrina e aceita pela
jurisprudência, já era prevista pelos filósofos clássicos, como Aristóteles e,
principalmente, Tomás de Aquino. Assim, realizaremos uma análise do
pensamento tomasiano sobre a prudência e iremos associar essa virtude com
uma das características da justiça que é a epiqueia.
Considerando que no âmbito penal o Estado pode atuar de maneira a violar o
direito de liberdade física do cidadão, o tema se apresenta como importante
fundamento para aplicação pelo Poder Judiciário em decisões não punitivas
referentes a situações típicas e não previstas em causas permissivas legais, porém
não reprováveis, trazendo em seu bojo, então, conceitos já definidos no século XIII
por Tomás de Aquino.
Por exemplo, supondo que alguém investido de autoridade agrida uma pessoa, não é
certo que esta revide; e se uma pessoa agride alguém investido de autoridade, o revide
deste último não bastará, cabendo também uma punição ao agressor. por outro lado,
faz uma grande diferença entre o ato ser realizado voluntário ou involuntariamente. No
intercâmbio de favores, a justiça entendida como reciprocidade é o vínculo que mantém
a associação – reciprocidade de acordo com a proporção e não com a igualdade a
própria integralidade do estado depende da reciprocidade fundada na proporção3.
3
ARISTÓTELES, Ética à Nicômaco, 4ª ed., São Paulo, Edipro, 2014, p. 193.
4
OLIVEIRA, Ana Carlina Carlos de, “Moral, imoralidades e bem jurídico no Direito Penal sexual: o delito
de ato obsceno”, Revista Justiça e Sistema Criminal, vol. 5, n. 9, 2013, p. 204, disponível em:
<https://revistajusticaesistemacriminal.fae.edu/direito/article/view/26>.
5
Sobre o tema há inclusive uma imagem da sentença original no site: <https://www.turing.org.uk
/sources/sentence.html>.
deve ser logicamente objeto do Direito Penal. A função do Direito Penal consiste em
garantir a seus cidadãos uma experiência pacífica, livre e socialmente segura, sempre
quando estas metas não possam ser alcançadas com outras medidas político-sociais
que afetem em menor medida a liberdade dos cidadãos. Esta descrição de funções
corresponde, segundo a minha opinião, com o entendimento mesmo de todas as
democracias parlamentares atuais, por isso não necessita, então, de uma
fundamentação teórica mais ampla6.
Reforçando essa ideia, Eduardo Carlos Bittar expõe que Tomás de Aquino,
valendo-se das lições de Aristóteles, já previa que o legislador não tinha condições
de prever todas as situações sociais no plano abstrato. Nas palavras do doutrinador:
6
ROXIN, Claus, A proteção de bens jurídicos como função do Direito Penal, 2ª ed., Porto Alegre, Livraria
do Advogado, 2009, p. 16-17.
7
BERGEL, Jean-Louis, Teoria Geral do Direito, 2ª ed., São Paulo, Martins Fontes, 2006, p. 90.
8
BITTAR, E. C. B., “Direito e Justiça em São Tomás de Aquino”, Revista da Faculdade de Direito, vol. 93,
1998, p, p. 353-356, disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67407>.
Portanto, como será analisado a seguir, existe uma fórmula criada pela
doutrina que permite não incidir a tutela penal, mesmo que a situação em questão
seja prevista em norma penal incriminadora e não em normas permissivas (causas
excludentes de ilicitude e causas excludentes de culpabilidade legal). Ao fazer essa
análise, será estabelecida uma correlação entre esse conceito e a teoria de justiça e
prudência em Tomás de Aquino, que nos apresentou essa solução já no século XIII.
Quando queremos averiguar se o que temos diante de nós é uma zebra, antes devemos
dispor do conceito geral de zebra, isto é, do conjunto de caracteres que deve ser um
ente para ser qualificado de “zebra”. Supondo que este conceito geral é um animal e,
só no caso de uma resposta afirmativa, nos perguntamos se seu pêlo apresenta listras
de cor mais escura. Não fará sentido que nos perguntemos se um pato (que não
responde ao conceito de cavalo) ou uma pedra (que não responde ao conceito de
animal), tem pêlo com listras de cor mais escura. As perguntas surgiram em uma certa
ordem a partir de um conceito “estratificado”, isto é, de um conceito de “zebra” que
tem estratos; que corresponde a um caráter genérico (“animal”) e outros estratos que
correspondem a caráter específico (“cavalo” e “listrado”)9.
9
ZAFFARONI, Eugenio Raúl, Manual de Direito Penal Brasileiro, vol. 1, 6ª ed., São Paulo, Revista dos
Tribunais, 2006, p. 332.
bem jurídico que se quer proteger com o sacrifício do outro. Logo, para a configura-
ção do estado de necessidade, exige-se que exista um perigo ou dano imediato que
se visa sanar.
Continuando a análise, temos o terceiro substrato do conceito analítico de
crime que é a culpabilidade. A culpabilidade, no conceito finalista, divide-se em
imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa e potencial consciência da ilici-
tude. Ora, entre as excludentes da culpabilidade existe a vertente da causa suprale-
gal de inexigibilidade de conduta diversa. Como o legislador não é capaz de prever
todas as hipóteses de inexigibilidade de conduta diversa, é de se reconhecer a causa
supralegal, já que o comportamento, apesar de típico e antijurídico, não é reprová-
vel. Ademais, diante de circunstâncias anormais, poderá resultar a incapacidade de
autodeterminação do indivíduo e, com isso, não haverá um dos pilares da
culpabilidade (exigibilidade de conduta diversa).
Na lógica funcionalista, a inexigibilidade de conduta diversa ocupa lugar
central na teoria do crime. Como apontam os professores Gustavo Junqueira e
Patrícia Vanzolini:
10
JUNQUEIRA, Gustavo, VANZOLINI, Patrícia, Manual de Direito Penal – Parte Geral, 5ª ed., São Paulo,
Saraiva, 2019, p. 472-473.
11
GRECO, Rogério, Curso de Direito Penal – Parte Geral, 11 ed., vol. 1, Rio de Janeiro, Impetus, 2009, p.
321.
Penal. Processo Penal. Apropriação Indébita Previdenciária. Art. 168-A, § 1º, Inc. I,
do Código Penal. Inexigibilidade de Conduta Diversa. Absolvição. 1. É pacífico nesta
Corte o entendimento de que configura exclusão da culpabilidade, no crime de
apropriação indébita previdenciária, a ocorrência de dificuldades financeiras muito
graves que impeçam o adimplemento da obrigação para com a Previdência Social. 2.
Para que as dificuldades financeiras possam configurar inexigibilidade de conduta
diversa, é necessário que a defesa demonstre cabalmente a impossibilidade econômica de
realizar o repasse da contribuição previdenciária recolhida, no prazo e forma legal ou
convencional, bem como o exaurimento de todos os meios necessários para efetivar essa
obrigação. (Tribunal Federal Regional da 4ª Região, Apelação Criminal n.
2005.72.02.005241-1/SC, Rel. Des. Fed. Márcio Antônio Rocha, j. em 21.09.2010)
Pode-se admitir, portanto, que em certas situações extremadas, quando não for
possível aplicar outras excludentes de culpabilidade, a inexigibilidade de conduta
diversa seja utilizada para evitar punição injustificada do agente. Convém
mencionar, pela importância que o tema exige, o ensinamento de Assis Toledo: “A
inexigibilidade de outra conduta é, pois, a primeira e mais importante causa de
exclusão da culpabilidade. E constitui verdadeiro princípio de direito penal.
Quando aflora em preceitos legislativos, é uma causa legal de exclusão. Se não,
deve ser reputada causa supralegal, dirigindo-se em princípio fundamental que está
intimamente ligado com o problema da responsabilidade pessoal e que, portanto,
despensa a existência de normas expressas a respeito12.
12
NUCCI, Guilherme de Souza, Curso de Direito Penal – Parte Geral (Arts. 1º a 120), 3ª ed., Rio de Janeiro,
Forense, 2019, p. 554-555.
13
Edições Loyola, 5ª edição, 2001.
14
A Universidade de Salamanca (1218) foi fundamental para a consolidadação do estudo de São Tomás de
Aquino, motivo pelo qual a concessão de Capelo é realizada na cerimônia de mesmo nome. Alonso
Fernandes de Madrigal, conhecido como “el Tostado” foi um dos primeiros a realizar exegese acadêmica da
Suma Tomista. “Frente a las controversias teológicas y escolásticas, durante el siglo XV se rebusteció una
corriente de fundamentación en Las Escrituras como “corpus” de apoyo para la reflection teológica.
Existía una convicción de que en la Escritra no existía error, por estar directamente inspirada por el
Espiritú Santo y constituía, por ello, la fuente más segura. De estas ideias participa el Tostado. [...] El
Tostado apresenta un “talante a la vez tardo-medieval y prehumanista”. Nos encontramos com um
aristotélico tomista, de mente y expresión formal acomodada a las convenciones y moldes académicos.
Bezares, Luis E. Rodrigues – San Pedro. La Univesidad de Salamanca del Medievo al Renascimiento.
Salamanca, Universidad Salamanca, 2018, p. 53.
– Como dissemos, quando tratamos das leis, os atos humanos, que as leis devem
regular, são particulares e contingentes e podem variar ao infinito. Por isso, não é
possível instituir nenhuma lei que abranja todos os casos; mas, os legisladores
legislam tendo em vista o que sucede mais frequentemente. Contudo, é contra a
igualdade da justiça e contra o bem comum, que a lei visa observá-la em certos casos
determinados. Assim, a lei determina que os depósitos sejam restituídos, porque tal é
justo na maioria dos casos; mas, pode acontecer que seja nocivo, num caso dado. Por
exemplo, se um louco, que deu em depósito uma espada, a exija no acesso da
loucura; ou se alguém exija o depósito para lutar contra a pátria. Nesses casos e em
outros semelhantes é mau observar a lei estabelecida; ao contrário, é bom, pondo de
parte as suas palavras, seguir o que pede a ideia da justiça e da utilidade comum. E a
isso se ordena a epiquéia, a que nós chamados equidade. Por onde é claro que a
epiquéia é uma virtude.
Como dissemos, toda virtude tem três partes: a subjetiva, a integrante e a potencial. A
parte subjetiva é à que essencialmente é atribuído o todo, e é menos do que ele. O que
pode dar-se de dois modos. Assim, às vezes a vários sujeitos se faz uma atribuição,
segundo uma mesma noção, como no caso de animal ser predicado do cavalo e do boi.
Outras vezes, a predicação é feita primariamente de um, e secundariamente, de outro,
como quando ente o é, da substância e do acidente. Por onde, a epiquéia faz parte da
justiça geralmente considerada e é uma certa justiça, como diz o Filósofo. Portanto, é
claro que a epiquéia é parte subjetiva da justiça. E a ela se atribui a justiça antes de se
atribuir à justiça legal; pois, a justiça: legal é dirigida pela epiquéia. Por onde, a epiquéia
é uma como regra superior dos atos humanos.
A leitura do presente capítulo, associada à leitura do restante do conteúdo do
presente trabalho, permite concluir que a causa supralegal de inexigibilidade de
conduta diversa é uma hipótese de epiqueia na visão tomasiana. Logo, como o
filósofo considera a epiqueia como integrante da justiça, essa causa exculpante não
prevista em lei também integra o conceito de justiça.
Nada há, desta forma, de novo, na afirmativa de que a norma penal deve ser
integrada pela moral, expecialmente como causa de excludente de condutas que
estão de acordo com a média de comportamento social, em nada diferindo, ontologi-
camernte, a norma penal enquanto ultima ratio de proteção social, a conduta moral e
a tradição canônica. Confira-se Maciver and Page em suas magistrais alocações no
campo da Sociologia:
Religion and morals are very closely interwoven. If we are to draw a proper distinction
between them it must be in terms of the autority and sanction attached to their respective
prescriptions rather than in terms of the contents of the codes themselves. (Religião e
moral estão intimamente ligadas. Se quisermos fazer uma distinção adequada entre eles,
ela deve ser em termos da autoridade e da sanção anexada às suas respectivas
prescrições, e em termos do conteúdo dos próprios códigos). Nossa livre tradução15.
5 CONCLUSÃO
Diante de fontes clássicas como Aristóteles e Tomás de Aquino, é possível
encontrar soluções para questões atuais de justiça. O operador do Direito do sistema
civil law é condicionado a procurar como fonte normativa somente a lei. Porém,
15
MACIVER, Robert. M et PAGE, Charles H. Society. An Introductory Analysis, London, MacMillan & Co
LTD, 1964, p. 168.
16
RAWLS, John, Uma Teoria da Justiça, São Paulo, Martins Fontes, 2008, p. 61.
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES, Ética à Nicômaco, 4ª ed., São Paulo, Edipro, 2014.
BERGEL, Jean-Louis, Teoria Geral do Direito, 2ª ed., São Paulo, Martins Fontes, 2006.
BEZARES, Luis E. Rodrigues ,San Pedro, La Univesidad de Salamanca del Medievo al Renascimiento,
Salamanca, Ediciones Universidad Salamanca, 2018.
BITTAR, E. C. B., “Direito e Justiça em São Tomás de Aquino”, Revista da Faculdade de Direito, v. 93,
1998, pp. 339-359, disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67407>.
GRECO, Rogério, Curso de Direito Penal – Parte Geral, 11ed., v. 1, Rio de Janeiro, Impetus, 2009.
JUNQUEIRA, Gustavo, VANZOLINI, Patrícia, Manual de Direito Penal – Parte Geral, 5ª ed., São
Paulo, Saraiva, 2019.
MACLIVER, Robert. M et PAGE, Charles H. Society. An Introductory Analysis. London, MacMillan &
Co LTD, 1964
NUCCI, Guilherme de Souza, Curso de Direito Penal – Parte Geral (Arts. 1º a 120), 3ª ed., Rio de
Janeiro, Forense, 2019.
OLIVEIRA, Ana Carlina Carlos de, “Moral, imoralidades e bem jurídico no Direito Penal sexual: o delito
de ato obsceno”, Revista Justiça e Sistema Criminal, v. 5, n. 9, 2013, pp. 199-222, disponível em:
<https://revistajusticaesistemacriminal.fae.edu/direito/article/view/26>.
RAWLS, John, Uma Teoria da Justiça, São Paulo, Martins Fontes, 2008.
ROXIN, Claus, A proteção de bens jurídicos como função do Direito Penal, 2ª ed., Porto Alegre, Livraria
do Advogado, 2009.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl, Manual de Direito Penal Brasileiro, v. 1, 6ª ed., São Paulo, Revista dos
Tribunais, 2006.
1
Produzido no âmbito do Grupo de Pesquisa “Minorias, Vulnerabilidade e Tutela dos Direitos Individuais e
Coletivos” do Programa de Mestrado em Direito do UNISAL/SP (Lorena) e do Grupo de Pesquisa
“Fundamentos dos DD Coletivos e Efetividade dos DH e DF: Diálogo das Fontes” do PPG em Direito da
PUC-SP.
2
Mestranda em Direito pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL/SP (Lorena). Área de
Concentração: “Concretização dos Direitos Sociais, Difusos e Coletivos”. Pós-graduada em Direito Público
pela Universidade Veiga de Almeida. Graduada em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora/MG.
E-mail: lgdias@yahoo.com.br. Lattes ID: 7956330817764772. Orcid ID: 0000-0002-4167-5528.
3
Bi-Doutora em Direito Difusos e Coletivos e em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP. Pós-Doutora
em Democracia e DH pelo Ius Gentium Conimbrigae. Professora e Pesquisadora pela PUC-SP e
UNISAL/SP (Lorena) nos PG e PPG/Direito. E-mail: revillasboas1954@gmail.com. Lattes ID:
4695452665454054. Orcid ID: 0000-0002-3310-4274.
1 INTRODUÇÃO
A Justiça Militar Federal Brasileira4, historicamente a mais antiga do país5, é
um ramo especializado do Poder Judiciário6, tendo seus Órgãos e sua competência
ratione legis – para “processar e julgar os crimes militares definidos em lei” – ex-
4
“As principais diferenças entre a da União e as estaduais são: as estaduais só processam e julgam crimes
militares se praticados por militares estaduais, a da União processa e julga também os crimes militares
praticados por civis e, enquanto a da União tem justiça quase estritamente penal (quase, porque também
julga a perda de posto e patentes de oficiais – art. 142, VI e VII da Constituição) as estaduais (e distrital)
também possuem competência para ações judiciais contra atos disciplinares militares.” (ALVES-
MARREIROS, 2020, p. 166).
5
“Pelo Alvará Régio com força de Lei de 1º.04.1808, D. João criou o Conselho Supremo Militar e de Justiça,
que tornou-se mais tarde o Superior Tribunal Militar e última instância da Justiça Militar da União.
Originalmente o órgão era composto por três Conselhos independentes com funções administrativas e
judiciais: o Conselho Supremo Militar, o Conselho de Justiça e o Conselho de Justiça Supremo Militar.”
Disponível em: <https://www.stm.jus.br/informacao/agencia-de-noticias/item/10479-superior-tribunal-com
pleta-212-anos-e-produz-video-sobre-sua-historia-e-funcionamento>. Acesso em: 23 maio 2020.
6
Com fulcro no art. 92, VI, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (BRASIL, 2020).
pressamente previstos nos arts. 122 a 124 da Constituição Federal de 1988. Sem
embargo, vem buscando soluções de modernização por ainda enfrentar, hodierna-
mente, batalhas contra o desconhecimento sobre a necessidade de sua existência;
e/ou a desconfiança sobre a (i)legitimidade de suas decisões, particularmente no que
tange ao processamento de demandas envolvendo civis – não apenas na condição de
acusados, mas também enquanto vítimas de crimes dolosos contra a vida cometido
por militares federais no contexto de Operações Militares.
Buscando uma conciliação com agenda internacional de contenda pela exclu-
são de civis da jurisdição penal militar7, a Lei 13.774/20188 inovou na sistemática de
Organização da Justiça Militar da União, carreando a submissão do civil – antes
direcionada ao julgamento pelo Conselho Permanente de Justiça9 – para a atuação
monocrática do, ora denominado, Juiz Federal da Justiça Militar. Contudo, persistem
críticas em caso de concurso de agentes – civis e militares acusados no mesmo pro-
cesso; da perda da condição de militar do acusado no curso do processo – dilema do
“ex-militar”10; bem como sobre a formação do Órgão Julgador em segunda instância
– Superior Tribunal Militar (STM) também de composição mista.
Por sua vez, em movimento aparentemente inverso, a redução de competên-
cia do Tribunal do Júri trazida pela Lei 13.491/201711, tende a causar repercussão
social negativa, particularmente em situações de comoção como o “caso Guadalu-
pe”12, ocorrido em 07.04.2019. Na oportunidade, militares do Exército Brasileiro, no
exercício de função de natureza militar, alvejaram carro particular na Zona Norte do
Rio de Janeiro/RJ, ocasionando a morte de dois civis.
À luz do cenário apresentado, indaga-se – sem perder de vista as especifici-
dades axiológicas capazes de justificar e fundamentar a existência desse ramo espe-
cializado do Poder Judiciário – se as alterações citadas são suficientes para abrir
caminho para o aprimoramento da Justiça Militar da União.
A finalidade da presente pesquisa é, portanto, refletir sobre o impacto das
precitadas Leis 13.774/2018 e 13.491/2017, mormente sobre a temática do Juiz
7
Sob o argumento principal de afronta à garantia do Juiz Natural.
8
Altera a Lei 8.457, de 04.09.1992, que “Organiza a Justiça Militar da União e regula o funcionamento de
seus Serviços Auxiliares”. (BRASIL, 2018).
9
Escabinato – colegiado de julgadores – integrado por um Juiz togado e quatro Juízes leigos – militares –
dentre os quais, pelo menos, um Oficial Superior.
10
Tese uniformizada, em agosto de 2019, pelo Superior Tribunal Militar no bojo da Petição n. 7000425-
51.2019.7.00.0000 interposta pelo Procurador Geral de Justiça Militar: “Compete aos Conselhos Especial e
Permanente de Justiça o julgamento de civis que praticaram crimes militares na condição de militares das
Forças Armadas”. Disponível em: <https://www.stm.jus.br/informacao/agencia-de-noticias/item/9901-
superior-tribunal-militar-uniformiza-jurisprudencia-e-decide-que-ex-militares-serao-julgados-pelos-
conselhos-de-justica>. Acesso em: 23 maio 2020.
11
Altera o Dec.-Lei 1.001, de 21.10.1969 – Código Penal Militar. (BRASIL, 2017).
12
Breve histórico: “Os militares do Exército foram denunciados junto à Justiça Militar da União no dia 11 de
maio pelos crimes de homicídio qualificado (art. 205, § 2º, do Código Penal Militar) e por omissão de
socorro, por supostamente não terem prestado assistência às vítimas (Art. 135 do Código Penal).”
Disponível em: <https://www.stm.jus.br/informacao/agencia-de-noticias/item/10045-justica-militar-ouve-
testemunhas-de-defesa-e-reus-no-caso-de-civis-mortos-em-guadalupe-rj>. Acesso em: 21 maio 2020.
Natural na Justiça Militar Federal Brasileira e seus principais desafios para efetivar o
acesso justo à justiça no processamento de demandas envolvendo civis. A metodo-
logia eleita foi o método analítico-dedutivo, por meio de investigação de normas,
jurisprudência e doutrina especializada, tendo como marcos teóricos relevantes a
obra Direito e Razão, de Luigi Ferrajoli; bem como a distinção habermasiana entre
aceitação obrigatória da ordem jurídica decorrente da positivação e sua pretensa
aceitabilidade social (a ser) perquirida no plano da legitimidade.
Da Justiça espera-se que tenha estrutura e formação técnica e humana suficiente para a
realizara justiça! Pois de nada adiantaria ao cidadão que lhe fossem franqueadas as
portas abertas das Casas de Justiça, se estas não puderem atender adequadamente
aos seus reclamos, não compreender a extensão de seus conflitos, se não puder vis-
lumbrar, com experiência e conhecimento, a vastidão dos elementos que permeiam os
seus dramas. (ARMANDO RIBEIRO, 2013, p. 84).
13
Pertinente observar a complexidade do problema analisado a partir das múltiplas e divergentes
interpretações que emergem do conceito “crime militar”. E isso não apenas na temática afeta às demandas
envolvendo civis; mas na aplicação ao caso concreto do próprio art. 9°, II, “a”, do CPM. Um exemplo
marcante a ser colacionado é o caso analisado pelo STF, em 09.04.2019, no bojo do HC 155.245/RS, tendo
por Relator o Min. Celso de Mello. A decisão restou por anular o procedimento penal transcorrido na 3ª
Auditoria da 3ª CJM – incluindo condenação do réu a 27 anos de reclusão – ao reconhecer a incompetência
absoluta da JMU para julgamento de delitos cometidos em 2015 na cidade de Santa Maria/RS: homicídio e
furto praticados por militar da ativa contra militar na mesma situação, supostamente motivados por “ritual
de magia”. Na oportunidade, fixou-se posicionamento contrário ao do STJ no Conflito de Competência
150.854/RS – Rel. Min. Felix Fischer; e ao do STM no HC n. 7000114-31.2017.7.00.0000/RS – Rel. Min.
William de Oliveira Barros. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/a
nexo/HC155245.pdf>. Acesso em: 08 jul. 2020.
14
“Art. 22. É considerada militar, para efeito da aplicação dêste Código, qualquer pessoa que, em tempo de
paz ou de guerra, seja incorporada às fôrças armadas, para nelas servir em pôsto, graduação, ou sujeição
à disciplina militar.” (BRASIL, 2017). Partindo desse dispositivo legal, a definição de civil seria, portanto,
construída por meio de um processo de argumentação a contrario sensu.
15
Tratando especificamente da temática de crimes militares praticados por civis, importante destacar o contido
no art. 9°, I e III, do Código Penal Militar. (BRASIL, 2017).
16
“A Procuradoria-Geral da República (PGR) ajuizou, no Supremo Tribunal Federal (STF), a Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 289, em que pede que seja dada ao art. 9º, incs. I e III,
do Código Penal Militar (CPM, Dec.-Lei 1.001/1969), interpretação conforme a Constituição Federal
(CF) de 1988, a fim de que seja reconhecida a incompetência da Justiça Militar para julgar civis em tempo
de paz e que esses crimes sejam submetidos a julgamento pela Justiça comum, federal ou estadual.”
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=246326>. Acesso
em: 22 maio 2020.
17
“It is unconstitutional to try civilians by military tribunals unless there is no civilian court available.”
Disponível em: <https://supreme.justia.com/cases/federal/us/71/2/>. Acesso em: 23 maio 2020.
18
A Corte Interamericana determinou à República do Chile: “Adecuar el ordenamiento jurídico interno de
forma tal que, en caso de considerarse necesaria la existencia de una jurisdicción penal militar, esta se limite
al conocimiento de delitos de función cometidos por militares en servicio activo”. Disponível em:
<http://www.corteidh.or.cr/cf/jurisprudencia2/ficha_tecnica.cfm?nId_Ficha=313&lang=en>. Acesso em: 23
maio 2020.
(Constituição de 1917, art. 13) e Uruguai (Constituição de 1967, art. 253, c/c Ley
18.650/2010, arts. 27 e 28), v.g. (BRASIL, 2013a).
de “designação” do antigo Juiz Auditor para Juiz Federal da Justiça Militar. Se o cerne
do debate não versa sobre a descriminalização dos crimes militares praticados por civis19,
mas tão somente sobre competência jurisdicional, a problemática resta amenizada, lem-
brando que ajustes ainda precisam ser pensados para o caso de concurso de agentes;
perda da condição de militar após o cometimento do delito; e/ou no que tange à esfera
recursal20. De toda sorte, o argumento de Tribunal de Exceção não se sustenta:
§ 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por
militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri. (Redação dada pela
Lei 13.491, de 2017)
§ 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos
por militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Mi-
litar da União, se praticados no contexto: (Incluído pela Lei 13.491, de 2017)
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da
República ou pelo Ministro de Estado da Defesa; (Incluído pela Lei 13.491, de 2017)
II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar,
mesmo que não beligerante; ou (Incluído pela Lei 13.491, de 2017)
19
Importante ressaltar uma grande divergência conceitual sobre a distinção entre os crimes próprios e
impropriamente militares. Propõe-se: “crime propriamente militar ou militar próprio é o que só pode ter
como autor o militar da ativa, ou o civil apenas em caso de coautoria ou participação.” (ALVES-
MARREIROS; ROCHA; FREITAS, 2015, p. 42).
20
“Art. 3° O Superior Tribunal Militar, com sede na Capital Federal e jurisdição em todo o território
nacional, compõe-se de quinze ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da República, depois de
aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre
oficiais-generais do Exército e três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais
elevado da carreira, e cinco dentre civis.” (BRASIL, 2018a).
21
Nos moldes da Lei Complementar 97, de 9.06.1999, que dispõe sobre organização, preparo e emprego das
Forças Armadas. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp97.htm>. Acesso em: 22
maio 2020.
22
“Art. 5°, XXXVIII – é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o
julgamento dos crimes dolosos contra a vida.” (BRASIL, 2020).
23
Manifestação da PGR n. 78/2018 – SDHDC/PGR – Sistema Único n. 152174/2018, de 1°.06.2018.
Andamento em 25.06.2018. Disponível em: <http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=314
696692&ext=.pdf>. Acesso em: 25 maio 2020.
ses. O direito ao devido processo legal e a um julgamento justo por juiz competente,
independente e imparcial, previstos na Constituição brasileira (art. 5º, LIV), no Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos (art. 14) e na Convenção Americana de
Direitos Humanos (art. 8º), aliado ao princípio da proibição do retrocesso, exigem
que seja mantida a competência atual do Tribunal do Júri para julgar militares (dos
Estados membros ou das Forças Armadas) que cometerem crimes dolosos contra a
vida de civis, mantendo-se a igualdade e o juiz natural para todos. (BRASIL, 2018b).
24
Decisão do Juiz Federal Substituto Frederico Montedonio Rego – 8ª Vara Federal Criminal do Rio de
Janeiro/RJ – no bojo do Termo Circunstanciado n. 5038654-35.2019.4.02.5101/RJ, em 15.10.2019.
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/tempos-paz-justica-militar-nao-julgar.pdf>. Acesso em: 24
maio 2020.
25
“ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” (BRASIL, 2020).
26
“Art. 8º – garantias judiciais: 1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e
dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido
anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação
de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.” Disponível
em: <http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm>. Acesso em:
24 maio 2020.
27
Acórdão disponível para consulta pública eletrônica a partir da informação: “nome da parte”. Rel.
Desembargador André Fontes. Recorrente: Ministério Público Federal. Recorrido: Vinicius Ghidetti de
Moraes Andrade. Disponível em: <http://portal.trf2.jus.br/portal/consulta/cons_procs.asp>. Acesso em: 07
abr. 2020.
28
Triplo homicídio registrado na cidade do Rio de Janeiro/RJ, em 14.06.2008, envolvendo militar do Exército
Brasileiro. As vítimas – civis – eram residentes no Morro da Providência. O Ministério Público Federal
recorreu de decisão da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro no sentido de declinar de sua
competência para a Justiça Militar da União após a sanção da Lei 13.491/2017. Processo em curso após 12
anos dos fatos. Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/regiao2/sala-de-imprensa/noticias-r2/caso-
providencia-mpf-pede-que-tenente-volte-a-ser-julgado-na-justica-federal.> Acesso em: 07 abr. 2020.
cionalidade29 foi rejeitado por não ter sido alcançada a maioria absoluta, nos termos
do voto do Relator.
Com a devida vênia, e como suso comentado, entende-se que nenhum dos ar-
gumentos até então suscitados contra a extensão do rol dos delitos castrenses se
sustentam para a realidade da Justiça Militar Brasileira: elencada pelo Poder Consti-
tuinte como Órgão do Poder Judiciário – tanto quanto a Justiça do Trabalho e/ou a
Justiça Eleitoral, verbi gratia – e fundada, portanto, sob rígidos parâmetros constitu-
cionais e legais para salvaguarda do contraditório, da ampla defesa e do devido pro-
cesso legal.
Conquanto, diante do contexto histórico-social apresentado, seria possível de-
fender, particularmente perante a sociedade civil, que a Lei 13.491/2017 representa
um avanço em termos de garantias processuais – uma busca por expertise; e não um
uma espécie de foro especial privativo das Forças Armadas com vistas à leniência?
Na tentativa de melhor investigar essa problemática, propõe-se o estudo do “caso
Guadalupe”30.
Conforme consta nos autos da Ação Penal Militar 7000600-15
.2019.7.01.0001 – em curso na 1ª Auditoria da 1ª Circunscrição Judiciária Militar31
– na tarde do dia 7.04.2019, no bairro de Guadalupe, cidade do Rio de Janeiro/RJ,
militares do Exército Brasileiro, durante serviço de patrulhamento32 e alegando per-
seguição a criminosos, dispararam arma de fogo contra veículo particular, ocasio-
nando – indubitavelmente por erro – a morte de dois civis: o motorista do veículo e
um nacional que se aproximou do local para prestar socorro à primeira vítima.
Em caráter imediato, dez agentes33 diretamente envolvidos na operação fo-
ram presos em flagrante delito34 lavrado por autoridade de Polícia Judiciária Militar
– competência fixada nos moldes do art. 124 da Constituição Federal c/c art. 9°, §
29
Julgamento da Arguição de Inconstitucionalidade n. 0039212-39.2012.4.02.5101 disponível para consulta
pública eletrônica a partir da informação: “nome da parte”. Rel. Desembargador Poul Erik Dyrlund.
Recorrente: Ministério Público Federal. Recorrido: Vinicius Ghidetti de Moraes Andrade. Disponível em:
<http://portal.trf2.jus.br/portal/consulta/cons_procs.asp>. Acesso em: 07 abr. 2020.
30
Informações publicizadas por intermédio da Agência de Notícias do STM no sítio eletrônico do Tribunal
e/ou extraídas por meio de consulta pública junto ao E-Proc JMU. Disponível em: <https://eproc1
g.stm.jus.br/eproc_1g_prod/externo_controlador.php?acao=processo_consulta_publica.> Acesso em: 24
maio 2020.
31
Art. 2° Para efeito de administração da Justiça Militar em tempo de paz, o território nacional divi-
de-se em doze Circunscrições Judiciárias Militares, abrangendo: a) a 1ª – Estados do Rio de Janeiro
e Espírito Santo; b) a 2ª – Estado de São Paulo; c) a 3ª – Estado do Rio Grande do Sul; d) a 4ª – Es-
tado de Minas Gerais; e) a 5ª – Estados do Paraná e Santa Catarina; f) a 6ª – Estados da Bahia e
Sergipe; g) a 7ª – Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas; h) a 8ª – Esta-
dos do Pará, Amapá e Maranhão; i) a 9ª – Estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso; j) a 10ª –
Estados do Ceará e Piauí; l) a 11ª – Distrito Federal e Estados de Goiás e Tocantins; m) a 12ª – Es-
tados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia. (BRASIL, 2018a).
32
Caracterizada como operação militar de segurança de instalações militares na região dos Próprios Nacionais
de Guadalupe, na cidade do Rio de Janeiro.
33
Dentre eles: um 2° Tenente; um 3° Sargento; e oito Soldados – todos militares federais temporários.
34
APF n. 7000461-63.2019.01.0001 – Comando da 1ª Divisão de Exército.
2°, inc. II, do Código Penal Militar. No dia 10.04.2019, após realização de audiência
de custódia, nove dos flagranteados tiveram sua prisão preventiva35 decretada por
decisão monocrática de Juíza Federal Substituta da Justiça Militar. A inicial acusató-
ria foi oferecida, em 10.05.2019, pelo Ministério Público Militar, sendo recebida em
dia subsequente. Em 23.05.2019, levados à apreciação do Superior Tribunal Militar
os requisitos do art. 255 do Código de Processo Penal Militar (BRASIL, 2019), a prisão
preventiva dos nove militares foi revogada no bojo do Habeas Corpus 7000375-
25.2019.7.00.000036, cuja sessão de julgamento foi transmitida online37, em formato
aberto e em tempo real. O Processo segue seu movimento regular em primeira instância,
já registrados no sistema de consulta processual – e-Proc JMU – um mil e quarenta e
cinco (1.045) eventos entre os dias 11.05.2019 e 14.10.202038. Conforme informado pela
Agência de Notícias do Superior Tribunal Militar, “neste momento, esta Ação Penal
contra os 12 militares está se aproximando da fase final39”.
Da breve síntese acima, extraem-se importantes conclusões para o presente traba-
lho. Primeiramente, demonstra-se a semelhança procedimental inicial entre as ações
criminais comuns e militares, com destaque para a celeridade; a rigidez e a transparência
da Justiça Militar da União. Necessário abordar, outrossim, que os fatos ocorreram em
situação de plena normalidade institucional, envolvendo a segurança de instituições
militares – não se tratando de “militarização” de crimes contra os Direitos Humanos. Por
derradeiro, faz-se mister ressaltar que todos os réus no “caso Guadalupe” são militares
temporários, na sua maioria soldados oriundos, em regra, do mesmo contexto de vulne-
rabilidades das vítimas. Jovens que, no cumprimento de dever profissional, são instados
a decidir como agir em situações críticas, de forma proporcional e compatível com dire-
trizes operacionais; regras de engajamento e/ou normas de conduta. “É evidente que,
muitas vezes, o agente executor que atua com imediatidade ou urgência elege alternati-
vas ou opções debilitadas de elementos para ações pautadas no Direito, ocasionando
ações trágicas.” (SADDY, 2014, p. 280). Ainda nesse sentido:
Na apreciatividade, seu executor normalmente não tem tempo de refletir sobre seus juízos
de valor, por isso, está influenciado por questões psicológicas, por pressões emocionais e
discriminatórias, por grau de informação, por grau acadêmico e, também, por preconcei-
tos. Ademais, o mais comum é que a eleição ou a decisão não seja reversível, inclusive se,
a posteriori, sua opção seja declarada como ilegal. Não há como regressar ao status quo.
(SADDY, 2014, p. 287-288).
35
Motivada na preservação de princípios e normas ligadas à hierarquia e à disciplina militares, nos moldes do
art. 255, “e”, CPPM. (BRASIL, 2019).
36
Disponível em: <https://www.stm.jus.br/informacao/agencia-de-noticias/item/9655-superior-tribunal-mili
tar-revoga-prisao-preventiva-dos-nove-militares-no-caso-guadalupe>. Acesso em: 25 maio 2020.
37
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=pAYRTcOBlDs>. Acesso em: 25 maio 2020.
38
Cabe destacar o período de suspensão dos prazos processuais em todo o território nacional como medida de
contenção da propagação do COVID-19, nos termos da Resolução 313, de 19.03.2020 – CNJ. Disponível
em: <https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/03/Resolu%C3%A7%C3%A3o-n%C2%BA-313-5.
pdf.> Acesso em: 25 maio 2020.
39
Disponível em: <https://www.stm.jus.br/informacao/agencia-de-noticias/item/10045-justica-militar-ouve-
testemunhas-de-defesa-e-reus-no-caso-de-civis-mortos-em-guadalupe-rj>. Acesso em: 25 maio 2020.
Por essa ótica, processar e julgar militares no âmbito de uma justiça especializada
não significaria endossar tolerância a excessos não escusáveis e/ou a condutas teratológi-
cas. Mas estaria justificado pela expertise garantidora de um processo efetivo e justo. Em
complemento, colaciona-se argumento pertinente à função preventiva da pena, direta-
mente atrelada à manutenção da hierarquia e da disciplina por força do exemplo:
Além dessas especificidades, ainda existe um outro fator: e de sabença que a maior parte
do efetivo das Forças Armadas brasileiras é de militares temporários, sendo que grande
parte desse efetivo presta apenas o serviço militar obrigatório, o que exige resposta rápida
da justiça, por si só. (ALVES-MARREIROS, 2020, p. 167).
E com/em respeito à narrativa das vítimas e seus familiares que – enquanto civis
– não se identifiquem com os mesmos valores e tradições da caserna? Interessados dire-
tos na reprimenda punitiva estatal, que, em relação aos julgadores militares, tendem a
não compartilhar de “um mesmo espectro de vivências, ações e sentidos historica-
mente partilhados, ou seja, de um mesmo “mundo da vida”, se quisermos usar a
expressão habermasiana”. (ARMANDO RIBEIRO, 2013, p. 86). Nesse ponto espe-
cífico, entende-se haver possibilidade de evolução, sem necessidade de descarte total
dos aspectos positivos trazidos pela Lei 13.491/2017. Uma primeira alternativa seria,
como já exposto, o estudo sobre a pertinência/viabilidade da instituição de uma
espécie de Júri Popular na Justiça Militar40, a ser potencialmente composto por mili-
tares de carreira e civis reconhecidos como concidadãos. Outro caminho, que ora se
indica, seria uma trilha para além da dogmática, baseada na persecução de conteúdo
oculto e democrático ao postulado do Juiz Natural41: sua aceitabilidade social, destacan-
do a ideia que “a aceitação da ordem jurídica é distinta da aceitabilidade dos argumen-
tos sobre os quais ela apóia a sua pretensão de legitimidade”. (HABERMAS, 1997, v.
1, p. 59). Essa legitimação poderia ser obtida principalmente por intermédio do combate
ao desconhecimento sobre a Justiça Militar da União – seus fundamentos e organização
– e de uma maior aproximação com a sociedade civil, incluindo-se como exemplos de
pautas42: divulgação de audiências públicas; inserções na mídia; publicações acadêmicas;
espaços para debates; e visitações nas escolas/universidades. Inclui-se também a perspec-
40
Em 2016, a proposta de instituição do Júri na Justiça Militar Federal Brasileira foi ventilada no Superior
Tribunal Militar pelo Min. José Barroso Filho no julgamento do Recurso em Sentido Estrito 144-
54.2014.7.01.0101/RJ. Na oportunidade, seu voto de vista foi acompanhado pelos Ministros Maria
Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha e Odilson Sampaio Benzi. Disponível em: <https://www2.stm.
jus.br/cgi-bin/nph-brs?s1=(+%220000144%22+%2254%22+%222014%22+%227%22+%2201%22+
%220101%22)+OU+%22144-54.2014.7.01.0101%22&l=30&d=SAMU&p=1&u=l&r=2&f=G>. Acesso em:
08 jul. 2020.
41
O postulado do Juiz Natural, segundo Ferrajoli, possui tríplice conteúdo, a saber: “a necessidade de que o
juiz seja pré-constituído pela lei e não indicado post factum; a impossibilidade de derrogação e a
indisponibilidade das competências; a proibição de juízes extraordinários e especiais.” (FERRAJOLI, 2014,
p. 543).
42
Proposições em consonância com meta específica da Justiça Militar da União publicada no Boletim
Estatístico, ano de 2018. Disponível em: <https://www2.stm.jus.br/st2/index.php/ctrl_visualizacao/visua
lizar_pdf/1550156992.PDF>. Acesso em: 10 jul. 2020.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho refletiu, essencialmente, sobre o Juiz Natural na Justiça Militar Fede-
ral Brasileira, identificando os seus principais desafios, hodiernamente, para a efetivação
do acesso justo à justiça no processamento e julgamento de demandas envolvendo civis.
Mostrou-se, outrossim, que a Justiça Militar da União ainda busca soluções de
modernização para ser legitimamente respeitada como ramo especializado do Poder
Judiciário – tanto no plano interno; quanto no cenário humanitário internacional.
Nesse sentido, passou-se a analisar duas relevantes inovações no ordenamento ju-
rídico pátrio. Primeiramente, a trazida pela Lei 13.774/2018: que modifica a Lei de Or-
ganização da Justiça Militar da União, mormente no que tange ao julgamento monocráti-
co de civis pelo juiz togado. Em sequência, pela Lei 13.491/2017 – que, entre outras
modificações, acresce à Justiça Castrense competência para analisar demandas versando
sobre crimes dolosos contra a vida de civis cometidos por militares da ativa no contexto
de operações militares lato sensu.
Demonstrou-se, outrossim, que críticas versando sobre inconstitucionalidade;
inconvencionalidade; e/ou não recepção por afronta a garantias e direitos fundamentais
penais e processuais são descomedidas, sobretudo se passadas pelo filtro do garantis-
mo integral.
Tratando dos crimes militares cometidos por civis, notou-se que os debates não
versam propriamente sobre sua descriminalização, pautando-se apenas na questão da
competência jurisdicional. Ponto esse que já foi habilmente solucionado pelo art. 30, I –
B, da LOJMU – embora permaneçam censuras no que tange ao concurso de agentes; o
dilema do “ex-militar”; e a composição da esfera recursal. Sobre a redução de competên-
cia do Tribunal do Júri, verificaram-se dois aspectos: para o militar enquanto réu, pode
significar um avanço na busca por acesso justo à justiça, considerando a expertise da
Justiça Castrense para tratar de ações trágicas e casos afetos aos pilares da hierarquia e da
disciplina. Para os civis enquanto vítimas – e cabendo expandir para toda a sociedade –
trata-se de debelar, pela via da abertura democrática, o desconhecimento (motivador
de desconfiança) sobre uma justiça especializada que, tradicionalmente, tem valida-
do seu compromisso em ser ágil, rígida e transparente.
REFERÊNCIAS
ALVES-MARREIROS, A.; ROCHA, G.; FREITAS, R. Direito Penal Militar, São Paulo, Método, 2015,
1437 p.
ALVES-MARREIROS, Adriano, Hierarquia e Disciplina são garantías constitucionais: Fundamentos
para a diferenciação do Direito Militar, Londrina, PR, E.D.A, 2020, 214 p.
ARMANDO RIBEIRO, Fernando José, “Justiça Militar, escabinato e o acesso à justiça justa”, Revista
Amagis Jurídica, n. 9, dez. 2013, pp. 73-94. Disponível em: <https://revista.amagis.com.br/i
ndex.php/amagis-juridica/article/view/124>. Acesso em: 27 maio 2020.
ASSIS, J. C. de; CAMPOS, M. Q. A., Comentários à Lei de Organização da Justiça Militar da União, 2.
ed., Curitiba, Juruá, 2019, 186 p.
BIERRENBACH, Flávio Flores da Cunha, “Direitos humanos e a administração da justiça por tribunais
militares” in ROCHA, Maria Elizabeth Guimarães Teixeira; PETERSEN, Zilah Maria Callado Fadul,
coord.; Coletânea de estudos jurídicos: bicentenário da Justiça Militar no Brasil, Brasília, DF, Superior
Tribunal Militar, 2008.
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Habeas Corpus 110.237 Pará, Impetrante: Defensoria Pública da
União, Rel. Min. Celso de Mello, Acórdão de 19.02.2013 [2013a]. Disponível em: <http://redir.s
tf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=3456276>. Acesso em: 23 maio 2020.
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 289, Re-
querente: Procurador-Geral da República, Rel. Min. Gilmar Mendes, Protocolo de 14.08.2013 [2013b].
Disponível em: <http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4448028>. Acesso em: 22 maio
2020.
BRASIL, Dec.-Lei 1.001, de 21.10.1969, Institui o Código Penal Militar, Brasília, DF, Presidência da
República, [2017]. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1001Compilad
o.htm>. Acesso em: 05 maio 2020.
BRASIL, Lei 8.457, de 4.09.1992, Organiza a Justiça Militar da União e regula o funcionamento de seus
serviços auxiliares, Brasília, DF, Presidência da República, [2018a]. Disponível em: <http://www.planal
to.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8457.htm>. Acesso em: 05 maio 2020.
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Ação Direta de Inconstitucionalidade 5901, Requerente: Partido
Socialismo e Liberdade, Rel. Min. Gilmar Mendes, Protocolo em 26.02.2018 [2018b]. Disponível em:
<https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5359950>. Acesso em: 25 maio 2020.
BRASIL, Dec.-Lei 1.002, de 21.10.1969, Institui o Código de Processo Penal Militar, Brasília, DF,
Presidência da República, [2019]. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/De
l1002.htm>. Acesso em: 05 maio 2020.
BRASIL, [Constituição (1988)], Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília, DF,
Presidência da República, [2020]. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/c
onstituicao.htm>. Acesso em: 05 maio 2020.
CORTE IDH, Caso Palamara Iribarnne VS. Chile, Sentença de 22.11.2005. Disponível em:
<http://corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_135_esp.pdf>. Acesso em: 21 maio 2020.
DE LARA, P. C.; ROCHA, A. A., “O Caso Palamara Iribarne vs. Chile e sua importância na consolidação
da garantia do Princípio do Juiz Natural em face da Jurisdição Militar”, in PILATI, Adriana Fasolo;
MCUENCA, Andrés Gascon, coord.; Efetividade dos direitos humanos, culturas jurídicas e movimentos
sociais, Florianópolis, CONPEDI, 2020, pp. 176-196. Disponível em: <http://conpedi.danilolr.info
/publicacoes/150a22r2/b52j4bl7/9E3QQ518O4iv5W2X.pdf>. Acesso em: 27 maio 2020.
DUARTE, A. P.; CARVALHO, J. C. C. de, “A reinvenção da Justiça Militar Brasileira”, Revista do
Ministério Público Militar, Brasília, DF, n. 24, nov. 2014, pp. 39-58. Disponível em:
<http://www.mpm.mp.br/portal/wp-content/uploads/2018/06/revista-24.pdf>. Acesso em: 27 maio 2020.
FERRAJOLI, Luigi, Direito e razão: teoria do garantismo penal, Tradução de Ana Paula Zomer Sica et
al, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2014, 925 p.
JIMÉNEZ SERRANO, P.; MISSAGGIA, A. D.; PASSOS, R. R. (org.), Vade Mecum Acadêmico de
Direito Militar, Rio de Janeiro, Jurismestre, 2019, 1110 p.
HABERMAS, Jürgen, Direito e Democracia: entre facticidade e validade, Tradução de Flávio Beno
Siebeneichler, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1997, 2 v.
MAGALHÃES, Vlamir Costa, “O garantismo penal integral: enfim, uma proposta de revisão do fetiche
individualista”, Revista da SJRJ, n. 29, nov. 2010, pp.185-199. Disponível em: <https://www.
jfrj.jus.br/revista-sjrj/artigo/garantismo-penal-integral-enfim-uma-proposta-de-revisao-do-fetiche>.
Acesso em: 27 maio 2020.
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional: Direitos Fundamentais, 5 ed, Coimbra, Coimbra,
t. IV, 2012, 508 p.
NAÇÕES UNIDAS, Projeto de Princípios sobre a Administração da Justiça por Tribunais Militares,
Doc. E/CN.4/2006/58, Rel. Especial da Subcomissão de Promoção e Proteção de Direitos Humanos:
Emmanuel Decaux, 13.01.2006. Disponível em: <http://undocs.org/sp/E/CN.4/2006/58>. Acesso em: 21
maio 2020.
NEVES, Cícero Robson Coimbra, Manual de Direito Processual Penal Militar: em tempo de paz, São
Paulo, Saraiva, 2014, 904 p.
NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Militar Comentado, 2. ed. rev., Rio de Janeiro, Forense,
2014a, 591 p.
NUCCI, Guilherme de Souza, Código de Processo Penal Militar Comentado, 2. ed. rev., Rio de Janeiro,
Forense, 2014b, 710 p.
RAMOS, D. T.; COSTA, I. G. da; ROTH, R. J. (coord.), Direito Militar: Doutrina e Aplicações, Rio de
Janeiro, Elsevier, 2011, 964 p.
ROSA FILHO, Cherubim, A Justiça Militar da União através dos tempos: ontem, hoje e amanhã, 5. ed.
rev., Brasília, DF, Superior Tribunal Militar, 2017, 127 p.
SADDY, André, Apreciatividade e discricionariedade administrativa, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2014,
474 p.
SADDY, André (coord.), Discricionariedade na área policial, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2018, 290 p.
SILVA, Luiz Felipe Carvalho, “Uma perspectiva atual da competência da Justiça Militar da União para o
julgamento de civis”, Revista do Ministério Público Militar, n. 24, nov. 2014, pp.161-187. Disponível em:
<http://www.mpm.mp.br/portal/wp-content/uploads/2018/06/revista-24.pdf>. Acesso em: 27 maio 2020.
STRECK, Lenio Luiz, Hermenêutica Jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica da construção
do Direito, 11 ed. rev., Porto Alegre, RS, Livraria do Advogado, 2014, 456 p.
VILLAS BÔAS, R. V.; SOARES, D. da S., “O direito fundamental social à educação de qualidade e a
(in)efetividade das políticas públicas voltadas aos jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade
social”, in MARTINI, Sandra Regina; DARCANCHY, Mara; SILVA, Robert Bonifácio da, coord.;
Direitos Sociais e Políticas Públicas II, Florianópolis, CONPEDI, 2019, pp. 225-241. Disponível em:
<http://conpedi.danilolr.info/publicacoes/no85g2cd/7r02z844/b3u3kVE6dy5x53go.pdf>. Acesso em: 12
jul. 2020.
1
Doutor e Mestre pela Universidade Federal do Paraná. Pós-doutorado pela Faculdade de Direito da
Universidade Degli Studi di Roma – La Sapienza com Estágio de Pós-doutorado em Portugal. Professor no
Mestrado da Universidade Paranaense – UNIPAR. Desembargador e 2º Vice-Presidente do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná. Curitiba, Paraná, Brasil. E-mail: jln@tjpr.jus.br – ORCID id:
https://orcid.org/0000-0002-5096-9982
2
Mestre pela Universidade Internacional – UNINTER. Professor da Escola da Magistratura do Paraná –
EMAP. Juiz de Direito em 2º Grau no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Curitiba, Paraná, Brasil.
E-mail: andersonfog@yahoo.com.br – ORCID id: https://orcid.org/0000-0001-8495-9443.
3
Mestranda em Direito Empresarial e Cidadania no Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA. Pós-
graduada pela Escola da Magistratura do Paraná – EMAP e pela Fundação Escola do Ministério Público –
FEMPAR. Assessora Jurídica do TJPR e Mediadora Judicial. Curitiba, Paraná, Brasil. E-mail:
adriane.garcel@tjpr.jus.br – ORCID id: https://orcid.org/0000-0002-6950-6128
1 INTRODUÇÃO
A proteção do direito à saúde é garantida constitucionalmente, como corolá-
rio da dignidade da pessoa humana. Ocorre que, apesar de expressamente prevista na
Constituição de 1988, inclusive configurando cláusula pétrea, a garantia de um efe-
tivo sistema público de saúde não é tarefa simples, particularmente, em um país com
mais de 200 (duzentos) milhões de habitantes.
Neste cenário, a judicialização da saúde se mostra, muitas vezes, como meio
de garantir o atendimento a uma demanda individual, principalmente em se tratando
de medicamentos, ou serviços de alto custo, não previstos nas listas oficiais. Além
disso, a grande maioria das decisões judiciais se baseiam na proteção constitucional
e acabam por impor aos entes federativos a obrigação de satisfazer os anseios indi-
viduais extraordinários ao planejamento estatal.
Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo examinar, sob a ótica
do Teorema de Coase, as decisões frente aos custos sociais. Parte-se da hipótese que
a imposição por parte do Judiciário nada mais faz do que repassar o valor do medi-
camento, ou serviço, para toda a sociedade. Para além, busca-se, como resultados,
investigar alternativas extrajudiciais mais adequadas que auxiliem na promoção do
direito à saúde sem comprometer o planejamento orçamentário.
Para tanto, preliminarmente, o direito à saúde será estudado sob o prisma da
proteção constitucional. Posteriormente, adentrando na ótica do Teorema de Coase.
Por fim, serão apresentadas alternativas extrajudiciais à desoneração do erário, parti-
cularmente, as Parcerias de Desenvolvimento Produtivo, o Fomento Setorial e o
Licenciamento Compulsório.
acerca das alocações dos recursos para tutela de determinados direitos, enquanto ou-
tros restarão desprotegidos, espelha os valores da sociedade em questão”.
Malgrado, se de um lado não se pode visualizar a implementação de direitos de
maneira utópica (sem se considerar o “fator custo”), de outro mostra-se necessário trans-
por a concepção dos custos como mero obstáculo, uma vez que os recursos econômicos
são, na realidade, “pressupostos, que tornam possível a realização dos direitos” (GAL-
DINO, 2005, p. 213).
Eventual insuficiência de recursos constitui mais do que mero empecilho à im-
plementação do direito à saúde, revela as escolhas trágicas realizadas pela autoridade
competente, o “abandono” de certos direitos, ou políticas públicas, má gestão, desvio da
finalidade pública. Em verdade, serve como espécie de feedback que indica o redirecio-
namento da máquina pública para determinada necessidade.
Nesse cenário e em razão da escassez de recursos em face da vastidão de necessi-
dades públicas, à Administração compete efetivar as escolhas “menos trágicas” que
integrarão os projetos de Leis Orçamentárias (lato sensu), ocasião em que deverá avaliar
conveniência e oportunidade, uma vez que nem todos os direitos fundamentais alberga-
dos na Lei Maior poderão ser efetivados em sua totalidade. Posteriormente, a escolha é
ratificada pelo Poder Legislativo competente (em um verdadeiro pêndulo da harmonia
entre os poderes).
Verdade seja dita, considerando que nem todos os direitos fundamentais poderão
ser efetivados, e, quando o forem, não serão disponibilizados a todos integralmente,
surge à noção de tragicidade da escolha a ser feita pelo Poder Público. Certamente, inú-
meras pessoas acabarão desassistidas, razão pela qual, à luz da eficiência e maximização,
deve o Estado direcionar os recursos às ações que impactem o maior número de pessoas
em situações similares.
Diante deste cenário, bastante em decorrência da imperiosa racionalização dos in-
suficientes recursos financeiros, a Análise Econômica do Direito – também conhecida
por AED, juseconomia ou Direito e Economia em decorrência da acepção talhada pelos
americanos “law and economics” (MACKAAY, ROUSSEAU, 2015, p. 202) – eviden-
cia-se útil e profícua, ao possuir como vetores decisórios a eficiência, a otimização dos
recursos e o melhor manejo da relação custo – benefícios. Com efeito, a questão da ad-
ministração das infinitas necessidades, diante dos limitados recursos, reflete importante
questionamento da Economia, enquanto ciência, que lança o debate em torno da concep-
ção de eficiência, atingir grau máximo de eficiência na aplicação de recursos.
Com base nesta perspectiva, Flávio Galdino preleciona que a “questão central
na análise econômica do direito será a eficiência econômica, ou mais precisamente, a
maximização da eficiência econômica das instituições sociais e, dentre estas, também do
Direito” (GALDINO, 2005, p. 242). Destacando, ainda, que:
Antes de ser uma inimiga ou um mero artifício ideológico para denegação de direitos, a
compreensão da escassez de recursos – ao lado da correta compreensão dos custos dos
direitos – através de análises de custo-benefício, significa um meio de converter o Direito
em um poderoso instrumento de transformação social, representando também, até mesmo,
uma justificativa para o próprio Direito (GALDINO, 2005, p. 242).
Com base nisso, tem-se que os custos de transação podem ser concebidos como
meios, ou maneira, de precificar incertezas que impactam, em maior ou menor grau, as
operações econômicas (SZTAJN, 2004, pp. 283-302). Adiante, a dita externalidade pode
ser compreendida, grosso modo, como o efeito da atividade econômica em terceiros,
positivo/benéfico ou negativo/lesivo. Inclusive, é por este motivo que se fala em externa-
lidades positivas e negativas, “falhas de mercado”. Em outros termos, consiste na reper-
cussão favorável, ou prejudicial, que atinge agentes que não participaram diretamente da
transação, entretanto, em alguma medida, acabam sentindo os efeitos indiretamente.
Nessa toada, Mackaay e Rousseau (MACKAAY, ROUSSEAU, 2015, p. 202) ilus-
tram um caso usual de externalidade, conectando-o com os custos da transação, in verbis:
O exemplo que se costuma dar é a poluição gerada pela atividade de uma empresa em de-
trimento de vizinhos. O custo da poluição não integra os custos que entram no cálculo da
empresa. O bem ou o fato de produção (aqui o meio ambiente) não é apropriado perfeita-
mente: o poluidor o “toma” sem ser proprietário e sem pagar. Produz a um custo menor
do que o custo real. A verdade dos preços não é respeitada, e os atores econômicos orien-
tam mal suas decisões de produção e de consumo, fiando-se no preço.
Aliás, foi neste cenário que o economista inglês Arthur Pigou, a fim de re-
construir a verdade dos preços, pregoava o cabimento das “regras de responsabili-
dade, ou, também, – intervenção mais direta – impostos ditos ‘pigouvianos’ ou,
eventualmente, subvenções ou forma de regulamentação impostas ou acordadas
com aqueles que criam as externalidades negativas” (MACKAAY, ROUSSEAU,
2015, p. 204). A tese de Pigou – defendida na obra “The Economics of Welfare”,
originalmente publicada em 1920 – foi rebatida por Ronald Coase.
Para Coase, as externalidades compreendem, “no fundo, diferenças relativas
aos usos correntes e incompatíveis de um recurso que se tornara escasso”, panorama
que lhe proporcionou afirmar que a “solução a que as partes chegariam para resol-
ver tais diferenças não depende da forma pela qual os direitos são atribuídos, mas é
sempre a utilização mais valorizada (a mais proveitosa) a que prevalecerá” (MA-
CKAAY, ROUSSEAU, 2015, p. 202).
Em resposta ao caso da fábrica que gera poluição, Coase afirma que as pro-
postas de Pigou, de imposição do dever de pagamento de um tributo ou de remoção
da fábrica da área em que está instalada, são inadequadas. Nas palavras de Ribeiro e
Paganella:
Coase, ao invés, sustenta que as propostas podem ser inapropriadas, eis que nem
sempre conduzem aos resultados desejáveis. Em sua teoria, é quebrado o paradigma
segundo o qual o causador da fumaça seria sempre e simplesmente o único responsá-
vel pelo dano. No caso da fábrica, Coase pondera que não havendo a imposição do
tributo, poderia haver fumaça em demasia e pessoas nas proximidades em número in-
suficiente, mas com o tributo poderia haver pouca fumaça e pessoas em demasia e
não haveria razão para supor que um desses resultados seria necessariamente prefe-
rível ao outro. Coase considera que muito embora o problema exista porque existe a
fábrica, também decorre da existência das propriedades vizinhas. O problema, por-
tanto, não ocorre tão somente em função de um único causador (RIBEIRO, PAGA-
NELLA, 2019, p. 78).
But in choosing between social arrangements within the context of which individual deci-
sions are made, we have to bear in mind that a change in the existing system which will
lead to an improvement in some decisions may well lead to a worsening of others. Fur-
thermore we have to take into account the costs involved in operating the various social
arrangements (whether it be the working of a market or of a government department), as
well as the costs involved in moving to a new system. In devising and choosing between so-
cial arrangements we should have regard for the total effect. This, above all, is the change
in approach which I am advocating (COASE, 1960, p. 44.)
maximizar seu prazer e diminuir sua dor (BENTHAM, 1984). Assim, a concepção
serviu de base para as teorias jurídico-econômicas da Escola de Chicago.
Isto posto, factível a fixação de um paralelo entre as lições advindas da Aná-
lise Econômica do Direito e o debate proposto. Considerando o fato de que o Estado
possui o dever prestacional – pois o Estado figura no polo passivo de uma relação
jurídica em que o respectivo objeto constitui-se uma prestação positiva, no sentido em
que depende para sua efetivação de um fazer estatal (BARCELLOS et al., 2002) – e o
indivíduo detém a titularidade do direito fundamental à saúde, observe-se que o custea-
mento de medicamentos de valor agregado, viabilizado pela judicialização da saúde, dá
origem a uma espécie de externalidade negativa. A concessão de tecnologia de saúde de
grande monta, não constante na lista do SUS (Portaria 2.892/2009 do Ministério da Saú-
de) e, consequentemente, fora do planejamento orçamentário, tem enquanto resultado
efeito colateral financeiramente nocivo ao Estado como um todo.
Ao se deferir um pedido individual, condenando o ente público a prestar o
serviço, ou medicamento necessário, inúmeras são as externalidades que prejudicam
agentes que sequer participaram do processo. Em decorrência, o julgador deve pre-
viamente considerar as consequências quando da tomada de decisões recorrendo às
tecnologias da informação e comunicação para obtenção das informações necessá-
rias (FREITAS, BARDDAL, 2019, p. 107-126).
Dentre os aspectos negativos, as decisões procedentes acabam por atender
apenas interesses individuais e criar políticas públicas em favor de poucos, deixando
de canalizar o recurso público para as políticas coletivas. Por outro lado, propiciam a
revisão e fomento das políticas públicas, bem como inserem o debate sanitário como
pauta de destaque na realidade política brasileira, o que é de suma importância para
o enriquecimento e desenvolvimento do estudo à saúde (SCHULZE, GEBRAN
NETO, 2015, p. 154).
Neste contexto, faz-se necessário analisar alternativas que garantam eficiên-
cia no acesso à saúde, sem comprometer o planejamento orçamentário.
4 MECANISMOS EXTRAJUDICIAIS
A judicialização da saúde analisada sob a ótica dos estudos de Coase permite
concluir que condenar o Estado a conceder um medicamento, ou serviço, necessário
em uma demanda individual nem sempre é a melhor alternativa, visto que o valor
será repassado para toda a sociedade. Neste contexto e diante do crescimento exces-
sivo de demandas judiciais na área da saúde, com impacto direto no orçamento pú-
blico limitado, cumpre analisar alternativas que viabilizem o acesso à saúde, sem
impactar o orçamento previsto para a saúde pública.
Dentro da conjuntura pré-jurídica, anterior à ação judicial e cuja competência
cabe ao Administrador Público, ventilam-se, à luz da Análise Econômica do Direito,
três alternativas para desoneração do erário: Parcerias de Desenvolvimento Produti-
vo, Fomento Setorial e Licenciamento Compulsório. Cumpre-nos analisar cada uma
delas, nos termos a seguir.
Por seu turno, os produtos estratégicos são aqueles dos quais o SUS necessi-
ta para ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde, com aquisições cen-
tralizadas, ou passíveis de centralização, pelo Ministério da Saúde e cuja produção
nacional e de seus insumos farmacêuticos ativos, ou componentes tecnológicos
críticos, são relevantes para o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CIES). O
CIES, por sua vez, consiste no sistema produtivo de saúde que contempla as indús-
trias farmacêuticas, de base química e biotecnológica, os produtos, equipamentos,
materiais e serviços de saúde, conforme conceitos dispostos no art. 2º, incs. II e IV,
sucessivamente, da Portaria 2.531, de 12.11.2014, do Ministério da Saúde.
Com efeito, a conjugação de interesses/potenciais objetiva agrupar o alto po-
der de compra do SUS para ampliar o acesso da população aos produtos estratégi-
cos. Além, é claro, de fomentar não apenas o desenvolvimento destes produtos, da
indústria farmacêutica e das pesquisas nas áreas pertinentes em território nacional,
mas também reduzir as dependências produtiva e tecnológica.
Com relação a efetivação das Parcerias, o caminho a ser percorrido envolve
seis etapas: (a) submissão de proposta; (b) avaliação e decisão (FASE I); (c) absor-
ção e transferência de tecnologia (FASE II); (d) absorção e transferência de tecnolo-
gia com aquisição (FASE III); (e) internalização da tecnologia (FASE IV); e (f)
monitoramento.
No plano teórico, a Parceria para o Desenvolvimento Produtivo representa
grande avanço no enfrentamento da hercúlea tarefa de trazer sustentabilidade ao
Sistema Único de Saúde. Apresentando-se, no entanto, enquanto saída de médio/
longo prazo, em razão dos elevados custos industriais que a área de tecnologias de
saúde demanda, sobretudo, quando direcionada a áreas estratégicas, patologias,
tratamentos preventivos, pesquisas farmacêuticas, dentre outros. Nessa esteira, o
Ministério da Saúde pondera que a PDP propicia economia nas aquisições pelo ente
público, assim como fomenta a qualificação e desenvolvimento dos centros públicos
Revista Internacional Consinter de Direito, n. XI, 2º semestre de 2020 389
José Laurindo de Souza Netto / Anderson Ricardo Fogaça / Adriane Garcel
4
No plano da norma constitucional propriamente dita, constata-se que “a função administrativa de fomento
encontra respaldo constitucional de forma direta, a exemplo do art. 165, § 2º, que trata das agências públicas
de fomento. Possui também e de forma mais abrangente, uma previsão indireta, mas que capta de forma
mais concreta a natureza e objetivo da atividade. O art. 174 da Constituição de 1988 indica o papel de
agente normativo e regulador do Estado, e as suas funções de fiscalização, incentivo e planejamento,
fazendo menção ao último como “determinante para o poder público e indicativo para o setor privado” in
PAVANI, Gustavo et al, “Políticas públicas de fomento à atividade empreendedora no Brasil:
empreendedorismo por necessidade e as contradições com os fins da atividade de fomento”, Revista de
Direito do Trabalho, v. 196, 2018, p. 111-129.
(a) seu exercício se dá, num primeiro momento, sem coerção; (b) não há qualquer
obrigação de o particular aderir a ele; (c) não se trata de liberalidade pública; (d) é
seletivo, porém não injustificadamente anti-isonômico; (e) é unilateral, isto é, não há
qualquer sujeito ativo para reclamar a execução da atividade fomentada, mas, ape-
nas, para controlar o uso da verba pública; (f) é, em princípio, transitório. (MEN-
DONÇA, 2009, pp. 80-140).
(Lei 9.279/1996), que entrou em vigor em 14.05.1997 (art. 243, in fine) gerando a
seguinte celeuma:
Todos os produtos que tinham sido comercializados em qualquer lugar do mundo an-
tes de 14.05.1997, quando essa nova lei entrou em vigor, se tornaram para sempre
inelegíveis para o patenteamento no Brasil. Como resultado, dez medicamentos antir-
retrovirais permaneceram sem a proteção de patentes no país e puderam ser legal-
mente reproduzidos (SOUZA, 2011).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não causa surpresa alguma a afirmação de que a Saúde Pública se encontra
na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) financeira. Isso é decorrência natural da
audaciosa tarefa incumbida pela Constituição de 1988 que, ao instituir o Sistema
Único de Saúde, passou a prever a saúde enquanto direito de todos e responsabilida-
de do Estado. Escolha louvável e hercúlea, contudo, desafiadora dada a vasta dimen-
são do país que conta com numerosa população.
Infelizmente, o atual cenário demonstra que a tarefa não tem sido bem-
sucedida. A população acaba recorrendo ao Poder Judiciário para que seus direitos
sejam garantidos. Grande parte dos pedidos é deferida, com base na fundamentali-
dade da saúde. No entanto, esta não se mostra a melhor solução para o problema da
saúde no Brasil, visto que, ao atender interesses individuais, relega-se para um se-
gundo plano o recurso público para políticas coletivas.
O Teorema de Coase, por sua vez, impõe a análise dos custos sociais decor-
rentes das decisões judiciais, de modo a se evitar a ocorrência de prejuízo mais gra-
ve, independentemente de quem seja o responsável pela efetivação do direito. No âmbito
da saúde, principalmente no que se refere ao fornecimento de medicamentos de alto
custo não incluídos nas listas oficiais, observa-se que a imposição – por parte do Poder
Judiciário – ao ente federativo de custear tratamentos de elevada monta gera uma série
de externalidades. Ao atender a demanda individual, cujo custo não estava previsto no
planejamento orçamentário, o valor é abatido daquele que estava destinado a outras
finalidades públicas, de modo que seus efeitos se estendem à coletividade.
Com isso em mente, necessário se pensar em alternativas das quais o Estado pos-
sa se valer, cujos recursos inicialmente não sejam previstos para a Saúde Pública, mas
que indiretamente beneficiem-na. Neste sentido, os instrumentos extrajudiciais descritos,
Parcerias de Desenvolvimento Produtivo, Fomento Setorial e Licenciamento Compulsó-
rio, apresentam-se enquanto alternativas à desoneração do Estado e à problemática da
concessão de medicamentos de alto valor não constante nas listas do SUS, além de for-
necerem novo fôlego ao erário.
Conforme preconiza Coase, o Estado deve agir para facilitar as transações entre
os próprios agentes econômicos, com o objetivo de maximizar a riqueza. Assim, o plane-
jamento do Estado, voltado à aplicação destes mecanismos com o fim de promover o
acesso à saúde, mostra-se alternativa mais efetiva e apta a maximizar a riqueza do que a
ingerência do Poder Judiciário no tema, que gera reflexos em outras políticas públicas.
Para além, considerando a conjuntura extrajudicial conjugada ao esforço de pro-
por uma resolução ao problema por intermédio da técnica do “uso mais proveitoso”
(alternativamente à responsabilização pela via judicial), vislumbra-se a juseconomia
como instrumento apto a propiciar o exame das consequências práticas, custo/risco e
benefício, fornecendo ao agente público diagnóstico e prognóstico para a tomada
coerente e racional de decisão.
REFERÊNCIAS
BARCELLOS, Ana Paula de et al., Legitimação dos Direitos Humanos, org., Ricardo Lobo Torres, Rio
de Janeiro, Renovar, 2002.
BARROSO, Luís Roberto, Curso de direito constitucional contemporâneo, os conceitos fundamentais e a
construção do novo modelo, São Paulo, Saraiva, 2009.
_________, “A razão sem voto: o Supremo Tribunal Federal e o governo da maioria”, Revista Brasileira
de Políticas Públicas, Uniceub, v. 5, número especial, 2015. Disponível em: <https://www.publicaco
esacademicas.uniceub.br/RBPP/article/viewFile/3180/pdf.> Acesso em: 09 set. 2020.
_________, O Novo Direito Constitucional Brasileiro, Belo Horizonte, Forum, 2013.
BENTHAM, Jeremy, Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. Trad. Luís Paulo Baraú-
na, Coleção Os Pensadores, 3. ed., São Paulo, Abril, 1984.
COASE, R. H. The Problem of Social Cost. Journal of Law and Economics Vol. 3 (October 1960), p. 1-
44.
FREITAS, Cinthia Obladen de Almendra; BARDDAL, Jean Paul, “Análise preditiva e decisões judiciais,
controvérsia ou realidade?”, Revista Democracia Digital e Governo Eletrônico, Florianópolis, v. 1, n. 18,
2019.
GADELHA, Carlos Augusto Grabois (Coord.), A dinâmica do sistema produtivo da saúde, inovação e
complexo econômico-industrial., coord., Carlos Augusto Grabois Gadelha, Rio de Janeiro, Fiocruz, 2012.
GALDINO, Flávio, Introdução à teoria dos custos dos direitos: Direitos não nascem em árvores, Lumen
Juris, Rio de Janeiro, 2005.
GUILHERME, Gustavo Calixto, SOUZA NETTO, José Laurindo de, GARCEL, Adriane, A Responsabi-
lidade Civil Pelos Riscos do Desenvolvimento no Ordenamento Jurídico Brasileiro, Revista Direito e
Justiça: Reflexões Sociojurídicas, ISSN: 2178-2466, v. 20, n. 38, 2020, p. 97-113. DOI:
https://doi.org/10.31512/rdj.v20i38.150. Disponível em: <http://san.uri.br/revistas/index.php/direitoejusti
ca/article/view/150.> Acesso em: 10 set. 2020.
LEÃO, Simone Letícia Severo e Souza Dabes., Aspectos inerentes à judicialização da saúde: um estudo
sobre a atuação da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais – TJMG. Revista Internacio-
nal Consinter de Direito. ISSN: 2183-6396. Ano VI, n. x, DOI: 10.19135/revista.consinter.00011.08.
Disponível em: <https://revistaconsinter.com/revistas/ano-vi-numero-x/.> Acesso em: 23 set. 2020.
MACKAAY, Ejan,. ROUSSEAU., Stéphane, A análise econômica do direito, São Paulo, Atlas, 2015.
MENDONÇA, José Vicente Santos de Mendonça, “Uma teoria do fomento público, critérios em prol de
um fomento público democrático, eficiente e não-paternalista”. Revista dos Tribunais, v. 890/dez. 2009.
NOVELINO, Marcelo, Curso de direito constitucional, 1. ed. Salvador, Juspodivm, 2015.
PAVANI, Gustavo et al,” Políticas públicas de fomento à atividade empreendedora no Brasil: empreen-
dedorismo por necessidade e as contradições com os fins da atividade de fomento”, Revista de Direito do
Trabalho, v. 196, dez/2018.
SARLET, Ingo Wolfgang, MARINONI, Luiz Guilherme, MITIDIERO, Daniel, Curso de direito consti-
tucional, 4. ed., São Paulo, Saraiva, 2015.
SCHULZE, Clenio Jair, GEBRAN NETO, João Pedro, “Direito à Saúde: Análise à luz da judicialização”,
Porto Alegre, Verbo Jurídico, 2015.
SOUZA, André de Mello e, Acordo sobre os aspectos dos direitos de propriedade intelectual relaciona-
dos ao comércio (TRIPS), Implicações e possibilidade para a saúde pública no Brasil, Texto para discus-
são 1615, Distrito Federal, Livraria do IPEA, 2011.> Acesso em: 23.07.2019, Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_1615.pdf>.
SOUZA NETTO, José Laurindo, Garcel, Adriane., O Direito Administrativo Sobreviverá à globalização?
Um Diálogo Entre Os Princípios Constitucionais e a Revolução Virtual, Revista Eletrônica Do Centro
Universitário Do Rio São Francisco, Unirios, 2020, n.26, pp. 230-249, ISSN 1982-057. Disponível em:
<https://www.unirios.edu.br/revistarios/internas/conteudo/resumo.php?id=535>
PERALES, Viscasillas, “Contratos de permuta financiera y arbitraje: cuestiones procesales y sustanti-
vas”, Revista de Derecho del Mercado de Valores, v.17, 2015.
RIBEIRO, Marcia Carla Pereira, PAGANELLA, Genevieve Paim., “Fundamentos econômicos em deci-
são judicial no sistema brasileiro, repartição e mitigação dos danos, reciprocidade do problema: estudo de
caso”, Revista CNJ, Brasília, DF, v. 3, n. 2, jul./dez. 2019.
SZTAJN, Rachel, “A incompletude do contrato de sociedade”. Revista da Faculdade de Direito, v. 99,
2004. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67626/70236.> Acesso em: 5 jul.
2019.
TORRES, Ricardo Lobo, Curso de direito financeiro e tributário, 11. ed., Rio de Janeiro, Renovar, 2004.
VARRICHIO, Pollyana de Carvalho, As parcerias para o desenvolvimento produtivo da Saúde, São
Paulo, Repositório do IPEA, 2017. Disponível em: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8944
/1/As%20parcerias.pdf>.
1
Professora da Universidade do Estado do Amazonas (UEA); Doutora em Saúde Coletiva (UERJ/IMS);
Mestre em Odontologia (UFAM); Especialista em Saúde Coletiva, Ortodontia e Auditoria dos Sistemas de
Saúde; Graduada em Odontologia. E-mail: alesalino@hotmail.com
2
Professora da Universidade do Estado do Amazonas (UEA); Doutora em Saúde Coletiva (UERJ/IMS).
Mestre em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA); Especialista em
Administração Pública com ênfase em Direito Público. Bacharela em Filosofia (UFAM) . E-mail:
gribeiro@uea.edu.br glauciamariaribeiro@gmail.com
Abstract: The research had as its central object the judicialization of health in Brazil,
especially focused on the regional question of Amazonas. In this context, the principle of
reserving the possible before the judicialization of health cannot be invoked as a “shield
for the State to excuse itself from the fulfillment of its priority obligations”, much less be
used in an indiscriminate manner, as provided by the STF. Thus, it is up to the Judiciary
to infer mechanisms for the improvement and structuring of the public health system –
SUS – with more effective and effective practices are noticeable, although raising
statistical data for diagnosing this panorama needs to be improved, since the difficulties
of accessing data judicialization of health in the national and regional fields are not
insignificant. The role of the Judiciary in the realization of health and the actions of the
National Council of Justice (CNJ) are systematic, but the legal actions directed to health
in Brazil are still predominantly individual and do not result in collective benefits.
Regarding the judicialization of health in Amazonas / Manaus, there was the support of
the data provided by DPE / AM to verify an increase in health cases and a tendency to
overcome this growth in 2020, following the social framework designed in recent years
in the country, being possible, during the research, to raise hypotheses of underreporting;
ignorance of the Amazonian population about the possibility of going to court; the
symptomatic state inefficiency in the provision of health services, factors such as the
following we will discuss.
Keywords: Judicialization of Health; Brazil; Amazon;
Sumário: 1. Introdução 2. O Princípio da Reserva do Possível Ante a Judicialização da
Saúde 3. Judicialização da Saúde no Brasil 3.1 Das dificuldades de acesso aos dados de
judicialização da saúde 3.2 Dos dados sobre o incremento da judicialização da saúde no
Brasil 4. Judicialização da Saúde no Amazonas/Manaus 5. Conclusão. Referências
1 INTRODUÇÃO
O princípio da dignidade humana se traduz como o mais valioso na ordem
espiritual e material e em sede de sua positividade, seja à luz dos avanços hermenêu-
ticos do direito e de sua ciência argumentativa, afasta de seu caráter formal positivo
e legal que somente interpretava regras, presente na dogmática jurídica do século
XIX, para aproximar-se de um Direito mais chegado e permeável à vida, consagran-
do formas democráticas do modelo participativo do Estado Democrático de Direito,
com emprego e a concretização de políticas públicas de saúde voltadas ao bem-estar
do cidadão.
A problemática do poder, a legitimação da autoridade estatal são considera-
ções teóricas e históricas que perpassam sobre o princípio da dignidade da pessoa
humana como limitador à ação do Estado e protetor dos direitos sociais, aqui incluí-
do o direito à saúde, componente medular de mais alto valor jurídico na ordem cons-
titucional vigente.
As políticas públicas, e dentre elas as de saúde, não continuam imunes ao sistema
de produção regular, residual e replicador de riscos e ameaças, explícitos e sem ruídos.
Este processo social impõe a todos os envolvidos, profissionais da saúde, sociedade civil,
elaboradores de leis e executores de políticas o desafio de erguer pactos sociais conside-
rando esse novo cenário da modernidade a qual estamos inseridos.
Ou seja, se a ciência progride, essa sociedade de risco se adapta na reflexivi-
dade, quer dizer, na revisão contínua desses novos dados cognitivos, em grande
parte advindos dos aspectos da vida social que resultam em questionamentos entre o
novo saber científico, os defeitos e os problemas que surgem dessa realidade. Se o
debate advém do campo da ciência, em um dado momento ele provoca no movimen-
to social o debate reivindicando uma reflexão ética que desemboca num cenário
político e jurídico da judicialização da saúde com íntima vinculação entre a dignida-
de da pessoa humana e respeito aos direitos fundamentais, ainda que mínima, de
efetivação por intermédio dos órgãos jurisdicionais.
O Sistema Único de Saúde (SUS) fora criado na Constituição da República
Federativa do Brasil (CRFB/1988), advindo de um movimento social conhecido
como Reforma Sanitária, que tinha por núcleo os princípios da igualdade, universa-
lidade e integralidade. Em resumido contexto, aproxima-se da essência jurídica de
que “todos os seres humanos são iguais”, sem menosprezar as peculiaridades das
desigualdades havidas entre os homens (BRASIL, 1988; BRASIL, 1990).
Desta forma, toma o Estado a construção voltada à satisfação dos direitos
fundamentais, demandantes de uma atuação positiva, despido de falta de compro-
misso para com o ser humano. Enfim, desenvolve-se, num contexto crítico e eman-
cipatório, o debate político da judicialização da saúde.
O direito à saúde, como um direito social contemplado na Constituição da
República, desperta polêmicas quando se trata de bater às portas da Justiça para
solucionar questões burocráticas atinentes à saúde, caracterizando o fenômeno social
denominado de judicialização da saúde.
Assim sendo, inúmeros fatores contribuem para a judicialização da saúde,
dentre eles a demanda ilimitada do cidadão e os recursos orçamentários limitados do
Poder Público, e dentro desse assunto passamos a contextualizar a nossa pesquisa. O
encadeamento metodológico desta pesquisa se deu a partir do tema central, judiciali-
zação da saúde no Brasil, com enfoque no Amazonas. O referencial teórico foi pes-
quisado em documentos governamentais, artigos publicados em periódicos especia-
lizados, textos acadêmicos etc e os dados secundários coletados em publicações
nacionais, como também, dados disponibilizados pela Defensoria Pública do Estado
do Amazonas (DPE/AM).
Com relação aos dados coletados acerca da judicialização da saúde no Es-
tado do Amazonas vale destacar a dificuldade enfrentada durante a pesquisa. O
acesso digital não impõe maiores contratempos: os sites do Ministério da Saúde
(MS), do Poder Judiciário, mais precisamente do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), e do Tribunal de Justiça do Amazonas preservam livre acesso quanto ao
critério da transparência administrativa. O ponto nevrálgico é a forma como estão
dispostos os números. Ora o ano de ocorrência do fato detém registros de dados
genéricos, ora os dados são incompletos por quem alimenta o sistema, o que fora
registrado no Item 4 da pesquisa. Interessante que o CNJ também pontua em seus
Relatórios tais impasses.
A contenda foi dirimida com os dados fornecidos pela Defensoria Pública do
Estado do Amazonas – DPE/AM, por meio do titular do Núcleo de Saúde, Dr. Ar-
lindo Gonçalves, que colocou à disposição da pesquisa os dados coletados pela De-
deixar de prestar ações e serviços de saúde por contingência orçamentária, visto que
a concretização de direitos sociais essenciais, inclusos no conceito de mínimo exis-
tencial, não pode ficar condicionada ao alvedrio da vontade do gestor público, po-
dendo, inclusive, o Poder Judiciário atuar como órgão de controle judicial da ativi-
dade administrativa de políticas públicas.
Em suma, a teoria da reserva do possível não pode ser invocada como “como
escudo para o Estado se escusar do cumprimento de suas obrigações prioritárias.
Não se pode deixar de reconhecer que as limitações orçamentárias são um entrave
para a efetivação dos direitos sociais. No entanto, é preciso ter em mente que o prin-
cípio da reserva do possível não pode ser utilizado de forma indiscriminada” (BRA-
SIL, 2014a).
A ausência de previsão orçamentária não é fator impeditivo para que o Esta-
do adote outras medidas, obrigando-o a adotar providências administrativas, inclusi-
ve cuidar do orçamento para não alegar sua incapacidade econômico-financeira no
presente ou em futuro próximo, afinal há evidente prognóstico constitucional de
garantia de respeito à vida, à integridade física, aos princípios da dignidade da pes-
soa humana e do mínimo existencial.
O critério discricionário do gestor público não se faz presente quando há ris-
co de vulnerabilidade a direitos e garantias fundamentais caucionados pela Carta
Maior. É poder-dever do chefe do Poder Executivo implementar, de forma concreta
e eficaz, os valores prescritos no preâmbulo da CRFB/1988 como “supremos de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia social”.
Tanto assim que o STF em sede de RE-AgR 795.749 – 2ª Turma, e no ARE AgR
639.337, bem como o STJ no Acórdão do AgRg no REsp 1.107.511-RS, reconhe-
cem a possibilidade de controle judicial em programas de políticas públicas (BRA-
SIL, 2014b; BRASIL, 2011a). Vejamos:
A cláusula da reserva do possível sob o âmbito da teoria dos custos dos direi-
tos é evidente não ser possível invocá-la para legitimar o injusto inadimplemento,
afirma o STF (BRASIL, 2013). No mesmo sentido, o STJ afirma que a razão se
funda no fato de que a reserva do possível “não configura carta de alforria para o
administrador incompetente, relapso ou insensível à degradação da dignidade da
pessoa humana, já que é impensável que possa legitimar ou justificar a omissão
estatal capaz de matar o cidadão de fome ou por negação de apoio médico-
hospitalar” (BRASIL, 2014b).
Utilizar como justificativa recursos orçamentários limitados, sobrepondo as
prioridades estatuídas na CRFB/1988 e nas leis, ultrapassam e depreciam os “limites
do razoável, as fronteiras do bom-senso e até políticas públicas legisladas, são
3
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/voto-ministro-gilmar-mendes.pdf>. Acesso em: 09 abr.
2020, p. 3.
4
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/voto-ministro-gilmar-mendes.pdf>. Acesso em: 09 abr.
2020, p. 3.
primazia do direito positivo – , não significa que a moral esteja em papel secundário,
uma vez que os casos difíceis, a exemplo das questões envolvendo saúde, não po-
dem ser decididas unicamente à luz do direito positivo, pois entra em cena não só a
moral como também a justiça, aplicando-se, em especial, ao âmbito dos direitos
humanos e fundamentais.
A teoria da análise econômica do Direito, de Richard Posner, apresenta a re-
lação entre o direito e da insuficiência da moral, estabelecendo que as decisões judiciais
devem pautar-se com previsibilidade, levando em consideração a relação de custos e
impactos econômicos, permitindo ao juiz visualizar os reflexos oriundos de mudanças
que virão com sua decisão.
Por fim, o Min. Gilmar Mendes em seu voto5, invoca o princípio da justiciabili-
dade ou judiciariedade, afirmando “ser considerado no Brasil o terceiro princípio do
Estado de Direito, inspirado no direito anglo-saxão” e traz à tona o conceito de Manoel
Gonçalves Ferreira Filho, cujo o foco central é “a sujeição de todos, inclusive das auto-
ridades, aos mesmos juízes’, ou seja, por meio da ação judicial adequada, ‘todo aquele
– pessoa física ou jurídica – cujo direito (fundamental ou não) houver sido violado, ou
ameaçado de violação, pode obter a tutela do Poder Judiciário”6. Essa postura não
extingue os conflitos do Judiciário, mas indica parâmetros estipulados em sua decisão
proferida na sede da STA 175, posteriormente confirmada pelo Plenário do STF, que
aqui listamos os critérios em apertada síntese:
(i) De forma geral, o tratamento fornecido pelo SUS deve ser privilegiado “em
detrimento de opção diversa escolhida pelo paciente, sempre que não for comprovada a
ineficácia ou a impropriedade da política de saúde existente”7.
(ii) Caso o SUS não tem nenhum tratamento específico para determinada patolo-
gia deve “diferenciar (a) os tratamentos puramente experimentais dos (b) novos trata-
mentos ainda não testados pelo Sistema de Saúde brasileiro”8.
(iii) Tratamentos experimentais, sem comprovação científica de sua eficácia,
“realizados por laboratórios ou centros médicos de ponta, consubstanciando-se em
pesquisas clínicas. (...) o Estado não pode ser condenado a fornecê-los”9. Aqui vale um
adendo sobre tratamentos experimentais que por ocasião da I Jornada de Direito da Saú-
de do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ocorrida em 15.05.2014 na cidade de São
Paulo10 foram aprovados diversos Enunciados dentre os quais o de n. 9, onde dispõe que
“as ações que versem sobre medicamentos e tratamentos experimentais devem observar
as normas emitidas pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e Agência
5
Idem.
6
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/voto-ministro-gilmar-mendes.pdf>. Acesso em: 11 abr.
2020, p. 5/6.
7
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/voto-ministro-gilmar-mendes.pdf>. Acesso em: 11 abr.
2020, p. 6.
8
Idem.
9
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/voto-ministro-gilmar-mendes.pdf>. Acesso em: 11 abr.
2020, p. 6.
10
Disponível em: <http://www.saude.mppr.mp.br/pagina-874.html#I_jornada>. Acesso em: 11 abr. 2020.
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), não se podendo impor aos entes federados
provimento e custeio de medicamento e tratamentos experimentais”;
(iv) Com relação aos novos tratamentos, ou seja, ainda não incorporados pelo
SUS ou com inexistência de Protocolo Clínico no SUS, não pode representar “viola-
ção ao princípio da integralidade do sistema, nem justificar a diferença entre as
opções acessíveis aos usuários da rede pública e as disponíveis aos usuários da
rede privada”11, logo tais casos, “a omissão administrativa no tratamento de deter-
minada patologia poderá ser objeto de impugnação judicial, tanto por ações indivi-
duais como coletivas”12;
(v) Em quaisquer das hipóteses levadas à análise do poder Judiciário a caute-
la deve existir para que aja não só a adequada instrução das demandas de saúde,
como também não ocorra a “produção padronizada de iniciais, contestações e sen-
tenças, peças processuais que, muitas vezes, não contemplam as especificidades do
caso concreto, impedindo que o julgador concilie a dimensão subjetiva (individual e
coletiva) com a dimensão objetiva do direito à saúde(...)”13.
Doutra banda, em dias atuais, abril de 2020, o STF decidiu que o Estado não
é obrigado a fornecer medicamentos de alto custo requeridos na Justiça quando não
estiverem previstos na relação do Programa de Dispensação de Medicamentos em
Caráter Excepcional, ou seja, não registrados na lista do SUS. Nesse julgado, RE
566.471-RN, foram suscitados aspectos relacionados às políticas públicas, direito à
saúde, excesso de judicialização da saúde, foco principal abordado da pesquisa que
vale a pena salientar. Senão veja-se:
(i) Fator orçamentário – o Min. Alexandre de Moraes ressaltou que “não há
mágica orçamentária e não há nenhum país do mundo que garanta acesso a todos
os medicamentos e tratamentos de forma generalizada”14. Destacou assim o núcleo
central da Teoria da Reserva do Possível ao afirmar que “as decisões judiciais favo-
ráveis a poucas pessoas, por mais importantes que sejam seus problemas, compro-
metem o orçamento total destinado a milhões de pessoas que dependem do Sistema
Único de Saúde (SUS)”.
(ii) O STF também não radicalizou a questão de bater às portas da Justiça. A
decisão permitiu, em caráter excepcional, ser possível a concessão de medicamentos
não registrados na lista da Anvisa, mas as ponderações foram no sentido de prestigi-
ar “as garantias constitucionais (entre elas a concretização dos direitos fundamen-
tais, o direito à vida e à dignidade da pessoa humana), o limite do financeiramente
possível aos entes federados, tendo em vistas restrições orçamentárias, o desrespei-
to às filas já existentes e o prejuízo a outros interesses idênticos”15.
11
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/voto-ministro-gilmar-mendes.pdf>. Acesso em: 11 abr.
2020, p. 6/7.
12
Idem.
13
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/voto-ministro-gilmar-mendes.pdf>. Acesso em: 11 abr.
2020, p. 7.
14
Disponível em: <http://stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=439095>. Acesso em: 11
abr. 2020.
15
Idem.
16
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE566471.pdf>. Acesso em:
11 abr. 2020, p. 142.
17
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE566471.pdf>. Acesso em:
11 abr. 2020.
18
Idem.
19
Idem.
gonismo do Judiciário na efetivação da saúde e uma presença cada vez mais cons-
tante desse Poder no cotidiano da gestão em saúde no Brasil (BRASIL, 2015).
Devido ao crescimento do número de ações judiciais relacionadas à assistên-
cia à saúde, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) tem conduzido e estimulado de
maneira sistemática a atuação do Judiciário. Considerando os diversos elementos
que diferenciam o direito à saúde dos demais direitos sociais, como a necessidade de
celeridade das decisões, a relação direta com o direito à vida e a complexidade do
que significa tratamento e prevenção, buscou estabelecer uma política judiciária para
a saúde. (BRASIL, 2015).
Dessa forma, destacamos algumas ações do CNJ que apontam a condução
desta política. Em 2009, após consulta através da Audiência Pública n. 04, onde
foram ouvidas as opiniões de pessoas com expertise no Sistema Único de Saúde
(SUS). Instituiu um Grupo de Trabalho (GT)20, com a finalidade de “elaborar estu-
dos e propor medidas concretas e normativas referentes às demandas judiciais
envolvendo a assistência à saúde” (BRASIL, 2009).
Assim, a partir da instituição deste GT iniciaram-se ações importantes, como
por exemplo, a criação do Fórum Nacional do Judiciário para monitoramento e reso-
lução das demandas de assistência à saúde – Fórum da Saúde21 com o propósito de
aprimorar os procedimentos, reforçar a efetividade dos processos judiciais e prevenir
novos conflitos (BRASIL, 2010a)22. Atrelado a Resolução 107/2010, o CNJ de-
monstrou por meio de um relatório as demandas existentes nos Tribunais de Justiça
estaduais e nos cinco Tribunais de Justiça federais, de acordo a quantidade de pro-
cessos informados. Esse documento evidencia a existência, à época, de 240.980
processos no país, sendo que três estados não apresentaram nenhum processo (Ama-
zonas, Paraíba e Pernambuco) (BRASIL, 2010b).
Outra ação importante do CNJ, foi a formação de Comitês Executivos no
âmbito estadual23. Em sua página da internet, o CNJ disponibiliza, um link de con-
sulta das ações dos Comitês Estaduais, no que se refere às demandas judiciais na
área da saúde. No entanto, verificamos que só existem oito Comitês Executivos24
disponíveis para essa consulta.
20
Portaria 650, de 20.11.2009. Disponível em: <https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/695>. Acesso em: 10 mar.
2020.
21
Resolução 107, de 06.04.2010. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2011Dispo
nível em: /03/resolucao_107_06042010_11102012191858.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2020.
22
Importante notar que o Fórum da Saúde, desde a sua formação, é composto por magistrados, ouvindo,
porém, a experiência de especialistas na área da saúde.
23
Art. 3º da Resolução 107, de 06.04.2010. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/wp-comtent/
uploads/2011/03/resolucao_107_06042010_11102012191858.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2020.
24
Os Comitês Estaduais existentes no site do CNJ são os seguintes: Comitê Executivo do Mato Grosso do
Sul; Comitê Executivo do Rio de Janeiro, Comitê Executivo do Paraná, Comitê Executivo do Paraná
(Saúde Suplementar), Comitê Executivo de Santa Catarina, Comitê Executivo de Tocantins, Comitê
Executivo do Rio Grande do Norte e Comitê Executivo do Rio Grande do Sul. Disponível em:
<https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/forum-da-saude-3/iniciativas-dos-comites-estaduais/>.
1ª instância26 41.453 32.103 26.753 26.502 39.590 49.374 50.136 63.853 61.910 95.752
2ª instância27 2.969 22.011 22.953 27.485 27.134 26.578 29.648 33.578 36.807 40.658
Total (1ª e 2ª) 44.422 54.114 49.706 53.987 66.724 75.952 79.784 97.431 98.717 136.410
Fonte: Elaboração das autoras a partir dos dados do INSPER, 2019 (BRA-
SIL, 2019a).
26
Os dados de primeira instância em formato passível de análise, foram obtidos dos seguintes tribunais: TJRJ,
TJMG, TJPI, TJAL, TJPE, TJSP, TJMA, TJMS, TJES, TJAC, TJCE, TJRO, TJRN, TJDF, TJMT, TJSC,
TJTO (BRASIL, 2019a).
27
Em segunda instância, os tribunais que enviaram os dados em formato passível de análise foram: TJCE,
TJMA, TJRJ, TJPE, TJES, TJSC, TJAL, TJPI, TJMT, TJMS, TJMG, TJAC, TJRO, TJRN, TJTO
(BRASIL, 2019a).
28
Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/demandas-judiciais-relativas-a-saude-crescem-130-em-dez-anos/>.
Corroborando com a revisão sistemática de Freitas et al., 2020, que aponta para as
principais questões relacionadas a judicialização de saúde no Brasil, constatando que
as mesmas estão voltadas, em sua maioria, para os medicamentos (69,5%).
Transplante 1,3%
Imunização 1,3%
Consultas 1,8%
Erro Médico 2,9%
Vagas 5,4%
Internação 19,2%
Insumos ou Materiais 33,1%
Leitos 46,7%
Procedimentos 47,1%
Exames 55,6%
Órtese, Prótese e meios auxiliares 63,0%
Medicamentos 69,1%
Fonte: Elaboração das autoras a partir dos dados do INSPER, 2019 (BRA-
SIL, 2019a).
29
Como um processo de saúde pode conter mais de um assunto, a soma excede 100%.
30
Referente aos Tribunais Regionais Federais: TRF1, TRF4 e TRF5.
Fonte: Elaboração das autoras a partir dos dados do INSPER, 2019 (BRA-
SIL, 2019a).
31
Dados referentes apenas aos Tribunais de Justiça.
Isto posto, a judicialização dos processos de saúde no Brasil envolve uma sé-
rie de aspectos relevantes, além de ter aumentado aceleradamente o seu volume nos
últimos anos adicionando dificuldades a operacionalização do sistema público de
saúde. Logo, precisamos considerar a importância do tema, estimulando mais estu-
dos com o propósito de induzir a melhoria e mudança desse cenário.
Sendo assim, devido a ausência de dados sobre a saúde, no site do TJAM, nos de-
tivemos à análise das informações disponíveis nos Relatórios do CNJ “Justiça em Núme-
ros” das últimas quatro publicações (2016 a 2019)39 – Tabela 2 e aos dados fornecidos
pela Defensoria Pública do Estado do Amazonas – DPE/AM (Tabela 3).
A Tabela 2, demostra os dados do Estado do Amazonas, correspondentes ao
TJAM, no período de 2015 a 2018 (anos-base), coletados nos Relatórios do CNJ “Justi-
ça em Números”40 (BRASIL, 2016b; BRASIL, 2017; BRASIL, 2018; BRASIL, 2019d).
39
O Relatório referente ao ano-base 2019 não estava disponível até a data da nossa última consulta em
02.04.2020.
40
O Relatório Justiça em Números é regido pela Resolução CNJ 76, de 12.05.2009, e compõe o Sistema de
Estatísticas do Poder Judiciário (SIESPJ).
41
As tabelas processuais unificadas do Relatório “Justiça em Números” – CNJ possuem seis níveis
hierárquicos de assuntos, a Saúde está inclusa no Direito Administrativo e outras matérias de Direito
Público (nível 1 – Cód. 9985); em Serviços (nível 2 – Cód. 10028); e é enquadrada como nível 3.
Fonte: Elaboração das autoras a partir dos dados do CNJ43 – Relatórios “Justiça
em Números” (BRASIL 2016a; BRASIL, 2017; BRASIL, 2018; BRASIL, 2019d).
42
As tabelas processuais unificadas do Relatório “Justiça em Números” – CNJ possuem seis níveis
hierárquicos de assuntos, a Saúde está inclusa no Direito Administrativo e outras matérias de Direito
Público (nível 1 – Cód. 9985); em Serviços (nível 2 – Cód. 10028); e é enquadrada como nível 3.
43
Os dados do CNJ retratam apenas as demandas que foram efetivamente apresentadas ao Poder Judiciário.
Na Tabela 2, não estão os dados relativos aos pedidos administrativos formulados pelos cidadãos,
Ministério Público, Defensoria Pública, Conselhos de Saúde e demais interessados.
44
Esse total corresponde à processos pertencentes aos códigos: 11885, 11883, 10069 e 10064.
45
Os dados da Tabela 3 foram cedidos pela DPE/AM, por meio do titular do Núcleo de Saúde, Dr. Arlindo
Gonçalves, através da Defensoria Pública Especializada na Promoção e Defesa dos Direitos Relacionados à
Saúde pelo Assessor Jurídico, Túlio Ricardo Oliveira, por meio eletrônico no dia 20.05.2020.
Medicamentos 89 58 14 161
Exames 89 126 41 256
Cirurgias 62 67 10 139
Hemodiálises 40 17 17 74
Outros 78 105 10 193
46
Com relação ao quantitativo de demandas, faz-se necessário esclarecer que no Amazonas, conforme
informado pela DPE/AM, a Defensoria Pública Especializada em Saúde fora criada no final de 2016.
Anteriormente a esse período, as demandas relacionadas ao acesso à serviços e produtos de saúde, eram
absorvidas pelas diferentes Defensorias com atribuição cível, tornando difícil catalogar e mensurar as
demandas dessa natureza.
47
A DPE/AM informou que com relação aos municípios do interior, é provável que as unidades da
Defensoria Pública atuantes nessas localidades possuam maiores informações sobre o total de demandas de
saúde ajuizadas em face das respectivas municipalidades.
48
Disponível em: <https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/fiocruz-brasilia-apresenta-panorama-da-judiciali
zacao-da-saude-no-brasil/>.
5 CONCLUSÃO
Alguns autores argumentam que a judicialização amplia o acesso ao SUS às
populações mais pobres e desassistidas, outros afirmam que ela cria uma nova porta
de entrada ao SUS, favorecendo os mais ricos e a indústria farmacêutica. Portanto,
cabe ao judiciário através dos processos de saúde, contribuir para a melhoria e estru-
turação do sistema público de saúde, por meio da busca de práticas mais eficazes e
efetivas. No entanto, vale ressaltar que é obrigação dos entes gestores da saúde,
assegurar a assistência à saúde orientada pelos princípios norteadores do SUS.
Complementando esse raciocínio, as ações voltadas à saúde no Brasil são
predominantemente individuais e não resultam em benefícios coletivos (FREITAS et
al., 2020). Assim, há necessidade de se pensar em estratégias e soluções para modi-
ficar esse cenário, refletindo e avançando nesse debate para que a população seja
beneficiada a partir dos resultados advindos das ações individuais. É imprescindível
que as decisões judiciais gerem consequências positivas para o SUS. A justiça brasi-
leira precisa ser resolutiva, eficaz, voltada para o bem comum e de forma menos
onerosa.
Baseado em Asensi & Pinheiro, 2016 “a judicialização do direito à saúde
tende a ser pensada sob o prisma da propositura de ações judiciais, mas existe uma
série de estratégias extrajudiciais que podem ser desenvolvidas com a presença do
Judiciário”.
Corroborando com esse pensamento Vilela et al. afirmam que somente o diá-
logo institucional, como forma de interlocução entre os poderes, permite uma rela-
ção construtiva entre o sistema de justiça e o sistema de saúde, de forma a vislum-
brar a resposta judicial como um mecanismo de fortalecimento do sistema de saúde
e não de desestruturação (BRASIL, 2019b). Schulze afirma ser possível a “desjudi-
cialização”49 mesmo em meio a crise que assola o Brasil (BRASIL, 2019c).
Posto isto, é necessário refletir sobre quais arranjos podem ser desenvolvidos
no Amazonas/Manaus induzindo a organização dos entes envolvidos no cumprimen-
to das obrigações, a fim de evitar o aumento de ações judiciais referentes à saúde. É
fundamental avaliar quais atores entre os órgãos de justiça e da saúde, podem ser
chamados para contribuir no debate sobre esse tema, com o intuito de avançarmos
no diálogo, e na construção da efetivação do direito à saúde no Estado. Posto que, a
litigiosidade existe na medida em que o Poder Público falha no cumprimento de seu
dever constitucional de prestar assistência médica gratuita, universal e integral à
população.
Verificamos, que a judicialização da saúde no Amazonas representa uma
parcela muito pequena (0,2%), quando comparada ao total de ações no Brasil
(2017). Entretanto, não pudemos concluir o porquê desse quantitativo baixo no
Amazonas. Não conseguimos coletar elementos suficientes que nos embasasse a
49
Entende-se por “desjudicialização” o evitar da judicialização, incentivando a solução de conflitos por meio
de métodos alternativos extrajudiciais de autocomposição (ex: arbitragem, conciliação, mediação, mediação
prévia e Ação de Planejamento e de Gestão Sistêmicos – PGS) (SHULZE, 2017).
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Izabel Cristina de Souza, A Judicialização da Saúde em Manaus: análise das demandas entre
2013 e 2017, 2018, 80 f., (Mestrado em Saúde Pública) – Fiocruz Amazônia, Manaus, 2018.
ASENSI, Felipe; PINHEIRO, Roseni, Judicialização da Saúde e Diálogo Institucional: a experiência de
Lages (SC), R. Dir. sanit., São Paulo, v.17, n.2, p. 48-65, jul./out., 2016.
BRASIL, Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, Senado Federal,
1988.
_______, Lei Orgânica de Saúde 8.080, de 19.09.1990, Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá
outras providências, Diário Oficial da União, Brasília, MS, 1990.
_______, Lei 9.961, de 28.01.2000. Cria a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS e dá outras
providências, Brasília, 2000.
_______, Supremo Tribunal Federal – STF, Rel. Min. Celso de Mello, ADPF 45 MC/DF – Políticas
Públicas – Intervenção Judicial – “Reserva do Possível” (Transcrições), Informativo N. 345, de 26 a
30.04.2004, Brasília, STF, 2004.
________, Conselho Nacional de Justiça – CNJ, Portaria 650, de 20.11.2009. Cria grupo de trabalho
para estudo e proposta de medidas concretas e normativas para as demandas judiciais envolvendo a
assistência à saúde. Brasília, CNJ, 2009.
________, Conselho Nacional de Justiça – CNJ, Resolução 107, de 04.04.2010. Institui o Fórum
Nacional do Judiciário para monitoramento e resolução das demandas de assistência à saúde. Brasília,
CNJ, 2010a.
________, Conselho Nacional de Justiça – CNJ, Relatório da Resolução 107/2010, Brasília, CNJ, 2010b.
________, Supremo Tribunal Federal – STF, Coordenadoria de Análise de Jurisprudência. DJe n. 177,
Divulgação em 14.09.2011, Publicação em 15.09.2011, Ementário n. 2587-01. Rel. Min. Celso de Mello.
Segunda Turma. AG. REG. no Recurso Extraordinário com Agravo 639.337, São Paulo, 23.08.2011,
Brasília, STF, 2011a.
________, Presidência da República, Casa Civil, Sub Chefia para Assuntos Jurídicos, Lei de Acesso à
Informação (LAI) n. 12.527, de 18.11.2011. Regula o acesso a informações previsto no inc. XXXIII do art.
5o, no inc. II do § 3o do art. 37 e no § 2o do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei 8.112, de
11.12.1990; revoga a Lei 11.111, de 5.05.2005, e dispositivos da Lei 8.159, de 8.01.1991; e dá outras
providências, Brasília, 2011b.
BRASIL, Supremo Tribunal Federal – STF, Revista Eletrônica do Supremo Tribunal Federal, Recurso
Especial n. 1.107.511-RS, Rel. Min. Hermam Benjamim, Segunda Turma, julgado em 21.11.2013,
Brasília, STF, 2013.
_______, Secretaria de Jurisprudência, Seção de Informativo de Jurisprudência, Informativo de
Jurisprudência de 2014 (N. 543). Rel. Min. Hermam Benjamim. Políticas Públicas. Resposta 1.389.952-
MT, Brasília, STF, 2014a.
_______, Supremo Tribunal Federal – STF, Rel. Min. Celso de Mello. Segunda Turma. AG. REG. no
Recurso Extraordinário com Agravo 795.749 Ceará, 29.04.2014, Brasília, STF, 2014b.
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça – CNJ, Judicialização da Saúde no Brasil: dados e experiência,
Coordenadores: Felipe Dutra Asensi e Roseni Pinheiro, Brasília, CNJ, 2015.
_______, Confederação Nacional de Municípios – CNM, Análise sobre a judicialização da saúde nos
Municípios. Carla Estefânia Albert. Revista Técnica CNM, p. 151-175, 2016a.
_______, Conselho Nacional de Justiça – CNJ, Justiça em Números 2016. Brasília, CNJ, 2016b.
_______, Conselho Nacional de Justiça – CNJ, Justiça em Números 2017, Brasília, CNJ, 2017.
_______, Conselho Nacional de Justiça – CNJ, Justiça em Números 2018. Brasília, CNJ, 2018.
_______, Conselho Nacional de Justiça – CNJ, Instituto de Ensino e Pesquisa – INSPER, Judicialização
da Saúde no Brasil: perfil das demandas, causas e propostas de resolução, Brasília, CNJ, 2019a.
_______, Conselho Nacional do Ministério Público, Ministério Público, “Diálogos institucionais e a
efetividade das políticas públicas de saúde/Conselho Nacional do Ministério Público” in VILELA,
Leonardo Moura; MOLITERNO, Marcella Parpinelli; SANTOS, Alethele de Oliveira, Judicialização da
saúde: um fenômeno a ser compreendido, p. 101-11, Brasília, CNMP, 2019b.
________, Conselho Nacional do Ministério Público, Ministério Público, “Diálogos institucionais e a
efetividade das políticas públicas de saúde/Conselho Nacional do Ministério Público. in SHULZE,
Martin, A desjudicialização da saúde no Rio Grande do Sul: cabal redução do número de ações ativas e
estratégia de interiorização, p. 59-70, Brasília, CNMP, 2019c.
_______, Conselho Nacional de Justiça – CNJ, Justiça em Números 2019, Brasília, CNJ, 2019d.
FREITAS, Beatriz Cristina; FONSECA, Emílio Prado; QUELUZ, Dagmar de Paula, A Judicialização da
saúde nos sistemas público e privado de saúde: uma revisão sistemática, Interface (Botucatu), v. 24,
2020.
RAWLS, John, Uma teoria da justiça, São Paulo, Martins Fontes, 2002.
1
Profesor Titular de Derecho Procesal. Universidad Complutense de Madrid. Instituto de Derecho Europeo e
Integración Regional (IDEIR). E-mail: juancarlosortiz@ucm.es
of confidential and secure reporting channels and by the articulation of special measures
to protect such subjects against the retaliation that they may suffer in connection with
such collaboration.
This study focuses on in-depth review of national backgrounds in this area, as well as the
new legislative framework from the European Union –Directive (EU) 2019/193 – to
provide legislative changes that provide legal certainty, legal assistance and effective
protection for whistleblowers of corruption, fraud and bad practice, both in the private and
public sectors.
Keywords: Compliance, Whistleblowing, Legal persons, Fraud, Public interest.
Sumario: 1. Crisis económica, reforma de la justicia y “compliance”. 1.1. “Compliance” y
justicia penal premial y: la colaboración eficaz de la persona jurídica. 1.2. “Compliance”
y “whistleblowing”: los canales internos de denuncia. 2. Crisis económica, corrupción
pública y “whistleblowing” en el sector público. 2.1. Whistleblowing y administraciones
públicas: la creación de “oficinas antifraude” y de protección al alertador. 2.2. Reformas
legales para incorporar a españa de la directiva (ue) 2019/1937 sobre whistleblowing.
2.2.1. Medidas de protección. 2.2.1.1. La reserva de identidad del alertador. 2.2.1.2. La
protección del alertador como bien jurídico penalmente tutelable. 2.2.1.3. Las medidas
antirrepresalias contra el alertador. 2.2.2. Medidas asistenciales al alertador.
2.2.2.1. Información y asesoramiento previo. 2.2.2.2. Elección del canal de
denuncia a utilizar. 2.2.2.3. asistencia jurídica. 2.2.2.4. Indemnizaciones e incentivos.
2.2.2.4.1. Reparación e indemnización por el daño sufrido. 2.2.2.4.2. Incentivos sociales
y reputacionales. 2.2.2.4.3. Incentivos económicos. 3. Bibliografía.
2
STS, sala 2ª, n. 154/2016, de 29 de febrero de 2016.
3
BENTHAM, Jeremy, Teoría de las Penas y las Recompensas. Obra traducida al castellano. Barcelona,
Imprenta de D. Manuel Saurí, 1838.
4
Vid., por todos, el estudio recogido en ORTIZ-PRADILLO, Juan Carlos, Los delatores en el proceso penal.
Recompensas, anonimato, protección y otras medidas para incentivar una colaboración eficaz con la
Justicia, Madrid, La Ley, 2018, pp. 215 y ss.
5
Circular 1/2016, de la Fiscalía General del Estado, sobre la responsabilidad penal de las personas jurídicas
conforme a la reforma del código penal efectuada por Ley Orgánica 1/2015, p. 53.
6
Circular 1/2016, p. 55.
7
FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo, “Bases para un modelo de responsabilidad penal de las personas jurídicas a
la española”, VV.AA., La responsabilidad penal de las personas jurídicas. Homenaje al Excmo. Sr. D. José
Manuel Maza Martín. Madrid, Fiscalía General del Estado, 2018, p. 173.
8
BANACLOCHE PALAO, Julio, “Dilemas de la defensa, principio de oportunidad y responsabilidad penal
de las personas jurídicas”, en VV.AA. La responsabilidad penal de las personas jurídicas: homenaje al
Excmo. Sr. D. José Manuel Maza Martín. Madrid, Fiscalía General del Estado, 2018, pp. 15 y 27.
9
Definición tomada de RAGUÉS I VALLÈS, Ramón, Whistleblowing. Una aproximación desde el Derecho
Penal, Barcelona, Marcial Pons, 2013, p. 20, para quien las características definitorias del whistleblower o
informante serían: la relación existente entre el whistleblower y la entidad –ser un insider de la organización
sobre la que denuncia una determinada actuación-; no desempeñar dentro de dicha organización funciones
específicas de control, investigación o denuncia respecto de los hechos de los que informa; y que el hecho
denunciado se haya realizado en el marco de la actividad de la organización a la que pertenece el sujeto.
10
Expresión acuñada para designar, en el ámbito económico, a la Comisión Europea, el Banco Central
Europeo (BCE) y el Fondo Monetario Internacional (FMI).
11
Vid el informe “La economía sumergida pasa factura. El avance del fraude en España durante la crisis”
dirigido por Jordi SARDÀ (Universitat Rovira i Virgili) en colaboración con los Técnicos del Ministerio de
Hacienda (Gestha). Disponible en la página web: <http://www.gestha.es/archivos/actualidad/2014/2014-01-
29_INFORME_LaEconomiaSumergidaPasaFactura.pdf> (fecha de consulta: 10 de febrero de 2017).
12
DOUE L 305/17, de 26 de noviembre de 2019.
13
Vid CERRILLO I MARTÍNEZ, Agustín, “La Colaboración ciudadana en la lucha contra la corrupción a
través de medios electrónicos”, Revista Aranzadi de Derecho y Nuevas Tecnologías, n. 35, Mayo-Agosto,
2014.
14
COM(2014) 38], p. 22.
15
Como análisis de la denuncia anónima en el ámbito administrativo, vid. ORTIZ-PRADILLO, Juan Carlos,
Los delatores en el Proceso Penal…, op. cit., pp. 78 y ss., y la bibliografía allí citada.
16
El 15 de septiembre de 2016, el Grupo parlamentario Ciudadanos presentó una Proposición de Ley Integral
de Lucha contra la Corrupción y Protección de los Denunciantes (que ha vuelto a ser presentada ante la
Cámara Baja el 17 de enero de 2020 como Proposición de Ley de medidas de lucha contra la corrupción); el
10 de junio de 2019, el Grupo parlamentario Vox presentaba la Proposición de Ley de Protección Integral
de los Denunciantes de Corrupción, y un día más tarde lo hacía el Grupo mixto, como Proposición de Ley
de protección integral de los alertadores. Frente a ello, a nivel autonómico ya contamos con la Ley 14/2008,
de 5 de noviembre, de la Oficina Antifraude de Cataluña; la Ley 2/2016, de 11 de noviembre, por la que se
regulan las actuaciones para dar curso a las informaciones que reciba la Administración Autonómica sobre
hechos relacionados con delitos contra la Administración Pública y se establecen las garantías de los
informantes en Castilla y León; la Ley 11/2016, de 28 de noviembre, de la Agencia de Prevención y Lucha
18
RIQUERT, Marcelo, La delación premiada en el derecho penal, Buenos Aires, Hammurabi, 2011, p. 175.
19
GARCÍA-MORENO, Beatriz, “Whistleblowing y canales institucionales de denuncia”, en VV.AA.,
Manual de cumplimiento penal en la empresa (Dir. Adán Nieto Martín). Valencia, Tirant lo Blanch, 2015,
p. 209.
20
Con mayor detalle, vid. ORTIZ-PRADILLO, Juan Carlos, Los delatores…, op. cit., pp. 107 y ss.
21
Vid. Proposición de Ley Integral de Lucha contra la Corrupción y Protección de los Denunciantes
presentada en septiembre de 2016. (BOCG, Serie B, n. 33, de 23 de septiembre de 2016).
22
De conformidad con el art. 6.10, por “interesado” de entenderse “persona física o jurídica a la que se haga
referencia en la denuncia o revelación como la persona a la que se imputa la infracción o que esté asociada a
dicha infracción”.
Europea23, con unas normas mínimas comunes en todo el Espacio Judicial Europeo
como ya se ha hecho, por ejemplo, en materia de los derechos a la traducción e
interpretación (Directiva 2010/64/UE, de 20 de octubre), el derecho a la información
(Directiva 2012/13/UE, de 22 de mayo), el derecho a la asistencia letrada y los
derechos del detenido (Directiva 2013/48/UE, de 22 de octubre), determinados
aspectos de la presunción de inocencia (Directiva 2016/343/UE, de 9 de marzo), las
garantías procesales de los menores sospechosos o acusados (Directiva
2016/800/UE, de 11 de mayo), o la asistencia jurídica gratuita (Directiva
2016/1919/UE, de 26 de octubre). El art. 82.2 TFUE constituye suficiente base legal
para promover unas normas comunes que ponderen el efectivo ejercicio del derecho
de defensa junto con la debida protección de los testigos, peritos, víctimas, y
también colaboradores con la Justicia durante la tramitación de los procesos penales.
23
Sobre tal extremo, vid. ORTIZ-PRADILLO, Juan Carlos, Los delatores…, op. cit., pp. 201-204.
24
RAGUÉS I VALLÈS, RAMÓN, “¿Es necesario un estatuto para los denunciantes de la corrupción?”,
Diario La Ley, N. 9003, de 19 de Junio de 2017. En nuestra opinión, las represalias laborales que pudieran
considerarse humillantes, aunque no comporten trato degradante, deberían penarse en virtud de lo ya
establecido en el art. 173.2 CP.
penal. Y en este sentido, la Directiva sí que incluye como norma mínima a nivel
europeo la necesidad de prever la exoneración de responsabilidad del alertador
(incluida la penal) por el hecho de revelar la información referida a la infracción
denunciada, ya que una tradicional forma de represaliar al alertador consiste en
querellarse contra el mismo, acusándolo de cometer un posible delito relacionado
con la revelación de secretos, vulneración de secretos de empresa o la infidelidad en
la custodia de documentos.
Para evitar que el temor a verse envuelto en una causa penal disuada a los
posibles alertadores de denunciar irregularidades y fraudes, la Directiva viene a
establecer una presunción de actuación conforme a Derecho25, según la cual estos
“no incurrirán en responsabilidad de ningún tipo en relación con dicha denuncia o
revelación, siempre que tuvieran motivos razonables para creer que la denuncia o
revelación de dicha información era necesaria para revelar una infracción en virtud
de la presente Directiva (art. 21.2)”. La voluntad del alertador de servir al interés
público, unido a la creencia fundada de que su actuación es acorde a la ley y de que
la información comunicada es cierta, constituyen sólidos argumentos para excluir
cualquier tipo de responsabilidad penal (al menos, el dolo26), e importantes a la hora
de exonerarle de responsabilidad civil o laboral si su actuación ha seguido los cauces
marcados en la normativa.
Ahora bien, la inmunidad penal que ofrece la Directiva se refiere a la
divulgación de la información que constituye la alerta; no a su obtención. Tal y
como se especifica en su art. 21.3, dicha inmunidad penal no resultará de aplicación
cuando la adquisición o acceso a la información por parte del alertador “constituya
de por sí un delito”. Por ello, estimamos muy conveniente que se aclare
oportunamente la causa de justificación establecida con carácter general en el art.
20.7 CP, pues la revelación de determinadas conductas antijurídicas no siempre
constituye un deber legal27.
25
A favor de incorporar esa presunción como regla general, vid. GARCÍA-MORENO, Beatriz, Los
Alertadores. Una propuesta de regulación. Tesis inédita. Castilla-La Mancha, 2019, p. 233 (URI:
http://hdl.handle.net/10578/20394. Fecha de consulta: 21 de octubre de 2019) para quien “A pesar de que se
prevea un completo catálogo de medidas que alcance todas las situaciones de riesgo, de poco sirven al
alertador si el acceso a las mismas puede decaer si se cuestiona su buena fe al denunciar o su diligencia al
evaluar la veracidad de los hechos. Para paliar los efectos de esta situación, que puede llevar a muchos
potenciales whistleblowers a desistir en su deseo de alertar y que puede causar importantes perjuicios a
quien ya lo ha hecho, se propone aquí incorporar al estatuto del alertador una presunción a favor de este,
de haber actuado conforme a derecho”.
26
La STS, sala 2ª, n. 778/2013, de 22 de octubre, aplicó la teoría del error de prohibición invencible a un
profesional que reveló determinada información protegida.
27
RAGUÉS I VALLÈS, Ramón, VV.AA., Memento Penal Económico y de la Empresa 2016-2017, Madrid,
Francis Lefebvre, Madrid, ref. 1663-1673, entiende que existe una “colisión de deberes” en la que se
encuentran los alertadores, pues por un lado tienen el deber de denunciar o evitar los delitos, y por otro lado
tienen el deber de buena fe contractual y de custodiar fielmente los documentos, de modo que una posible
solución pasaría por aplicar dicha causa de justificación cuando, para llevar a cabo su denuncia, el
trabajador hace pública no solo información estrictamente vinculada con la actividad ilícita que revela, sino
otra información merecedora de legítima protección jurídica.
28
La STS, sala 2ª, n. 778/2013, de 22 de octubre, critica expresamente la conducta de un cirujano que, para
denunciar un posible delito de estafa, acopió y reveló información confidencial de historiales clínicos.
29
Véase el Auto n. 19/2013, de 8 de mayo, de la Sala de lo Penal (secc. 2ª) de la Audiencia Nacional sobre la
denegación de extradición del Sr. Hervé Falciani a Suiza.
30
BACHMAIER WINTER, Lorena, “Whistleblowing europeo y compliance: La Directiva EU de 2019
relativa a la protección de personas que reporten infracciones del Derecho de la Unión”, Diario La Ley, n.
9527, de 27 de noviembre de 2019, p. 6.
31
GARCÍA-MORENO, Beatriz, Los Alertadores…, op. cit. pp. 220 y ss.
32
ORTIZ-PRADILLO, Juan Carlos, Los Delatores…, op. cit., pp. 190 y ss.
33
Un estudio jurisprudencial en materia de tutela de los denunciantes de hechos delictivos puede verse en
RAGUÉS I VALLÈS, Ramón, Whistleblowing..., op. cit., pp. 166-195. Cuando la denuncia se refiere a
irregularidades no constitutivas de delito, la jurisprudencia también comienza a decantarse a favor del
alertador. Entre otras, vid. STSJ Comunidad Valenciana, Sala de lo Social, de 2.04.2019 (Rec. sup.
516/2019).
34
Especialmente, vid. MASCHMANN, Frank, “Compliance y derechos del trabajador”, en VV.AA.
Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid, Marcial Pons, 2013, p. 160; GOÑI SEIN, José Luis,
“Programas de cumplimiento, investigaciones internas y derechos de los trabajadores”, en VV.AA.
Responsabilidad de la Empresa y Compliance. Madrid, Edisofer, 2014, p. 383.
35
Para RAGUÉS I VALLÈS, Ramón (“El tratamiento jurídico de los denunciantes antes y después de la
Directiva 2019/1937”, Diario La Ley, n. 9003, de 12 de junio de 2020), la Directiva europea ha optado por
dar preferencia a la denuncia interna pero en un sentido normativo débil, exigiendo solamente que los
estados promuevan o animen a los denunciantes a utilizar primero dicho medio, pero sin excluir de la
protección a quienes prefieran, ya de entrada, denunciar externamente.
36
Vid., por todas, la STEDH Guja c. Moldavia, de 12 de febrero de 2008, párrafo 73.
37
Los criterios de ponderación manejados por el TEDH pueden apreciarse en SSTEDH Kudeshkina c. Rusia
(26 de febrero de 2009), Heinisch c. Alemania (21 de julio de 2011), Sosinowska c. Polonia (18 de octubre
de 2011), Bucur y Toma c. Rumanía (8 de enero de 2013), y Matúz c. Hungría (21 de octubre de 2014). Con
más detalle, vid. ORTIZ-PRADILLO, Juan Carlos, Los delatores…, op. cit., p. 192 y ss.
38
La norma más desarrollada en este extremo es la Ley 11/2016, de 28 de noviembre, de la Agencia de
Prevención y Lucha contra el Fraude y la Corrupción de la Comunidad Valenciana, que reconoce el derecho
de los denunciantes a “recibir inmediatamente asesoría legal para los hechos relacionados con la denuncia
(art. 14.1.d)”, el “derecho de asesoramiento sobre los procedimientos que, en su caso, se interpongan contra
la persona denunciante con motivo de la denuncia (art. 14.2.a)” y el “derecho a la asesoría legal en relación
con la denuncia realizada, que le prestará la Agencia (art. 43 del Reglamento de funcionamiento)”.
39
Dicha Proposición incluía, como Disposición adicional segunda, una Modificación de la Ley 1/1996, de 10
enero, de Asistencia Jurídica Gratuita consistente en añadir un apartado j) al artículo 2 de la Ley para
reconocer, con independencia de su situación económica, “el derecho de asistencia jurídica gratuita a los
alertadores o facilitadores que, reuniendo los requisitos previstos por la Ley de Protección Integral de
Alertadores, quieran interponer una acción judicial o sean demandados o investigados en procesos que
tengan vinculación, deriven o sean consecuencia de su condición de tales”.
40
ORTIZ-PRADILLO, Juan Carlos, Los Delatores…, op. cit., p. 195.
41
Disposición adicional segunda del Decreto 450/2000, de 26 de diciembre, derogada en virtud del Decreto
367/2011, de 20 de diciembre, del gabinete jurídico de la Junta de Andalucía y cuerpo de letrados de la
Junta de Andalucía.
42
Nos estamos refiriendo a ejemplos como el conocido “caso Odyssey” tramitado en los EE.UU., en donde
España contrató un despacho particular (Covington & Burling LLP, dirigido por el letrado James Goold)
para litigar contra la empresa cazatesoros Odyssey Marine Exploration Inc.
43
Un examen en profundidad de los distintos incentivos económicos actualmente existentes en los países
anglosajones, en Iberoamérica y en la normativa española lo encontramos en ORTIZ-PRADILLO, Juan
Carlos, Los Delatores…, op. cit., pp. 131-165.
44
DYCK, Alexander, MORSE, Adair, ZINGALES, Luigi, “Who blows the Whistle on Corporate Fraud?”,
The Journal of Finance, 2010, vol. 65, Issue 6; CALLAHAN, Elletta, DWORKIN, Terry, “Do good and
Get Rich: Financial Incentives for Whistleblowing and the False Claims Act”, Villanova Law Review, 1992,
vol. 37, p. 274; RAPP, Geoffrey, “Beyond protection: invigorating incentives for sarbanes-oxley corporate
and securities fraud whistleblowers”, Boston University Law Review, 2007, Vol. 87, p. 119.
45
Véase el estudio de IWASAKI, Masaki, ‘Effects of external whistleblower rewards on internal reporting’,
Harvard Law School, Discussion Paper n. 76, 05/2018. Descargado el 28 de octubre de 2019 de
http://www.law.harvard.edu/programs/olin_center.
46
FASTERLING, Björn, LEWIS, David, ‘Leaks, legislation and freedom of speech: How can the law
effectively promote public-interest whistleblowing?’, International Labour Review, 2014, vol. 153, Issue 1,
p. 87.
49
Como ejemplo, la autoridad británica en materia de defensa de la Competencia (Competition and Markets
Authority) ofrece recompensas de hasta 100,000 libras.
50
Nos referimos, por ejemplo, a la connivencia del alertador con el denunciado para no denunciarle a cambio
de un concreto pago, o el hecho de que solo se denuncien aquellos fraudes respecto de los que existan
recompensas económicas, en detrimento de aquellos otros sectores para los que no se prevean tales
incentivos, lo cual ya fue puesto de manifiesto por TOMÁS Y VALIENTE, Francisco, El derecho penal de
la monarquía absoluta (siglos XVI, XVII y XVIII), Madrid, Tecnos, 1992, p. 169), en donde da cuenta de
que, los Procuradores de las Cortes de 1583-1585, ya se quejaron en su momento al monarca de que el
delito de incesto “pocas veces se denunciaba ni se condenaba” porque, aunque la ley imponía por tal delito
la pena de perdimiento de la mitad de los bienes, todo su valor se ingresaba en la Cámara real y no tenían
participación alguna ni jueces ni delatores.
51
Como ejemplo concreto, la Proposición de Ley de Protección Integral de los Denunciantes de Corrupción
formulada por el Grupo Parlamentario VOX a la mesa del Congreso de los Diputados el 10 de junio de
2019 incluía, en su art. 38.g), un premio a favor del denunciante por un importe equivalente al 10% de la
cuantía efectivamente recuperada del importe total en que se cifrase el perjuicio al erario público.
RAGUÉS I VALLÈS, Ramón, “¿Es necesario un estatuto para los denunciantes de la corrupción?”,
Diario La Ley, n. 9003, de 19 de Junio de 2017.
RAGUÉS I VALLÈS, Ramón, “EL TRAtamiento jurídico de los denunciantes antes y después de la
Directiva 2019/1937”, Diario La Ley, n. 9652, de 12 de junio de 2020.
RAGUÉS I VALLÈS, Ramón, VV.AA., Memento Penal Económico y de la Empresa 2016-2017, Madrid,
Francis Lefebvre, Madrid, ref. 1663-1673.
RAGUÉS I VALLÈS, Ramón, Whistleblowing. Una aproximación desde el Derecho Penal, Barcelona,
Marcial Pons, 2013.
RAPP, Geoffrey, “Beyond protection: invigorating incentives for sarbanes-oxley corporate and securities
fraud whistleblowers”, Boston University Law Review, 2007, Vol. 87.
RIQUERT, Marcelo, La delación premiada en el derecho penal, Buenos Aires, Hammurabi, 2011.
TOMÁS Y VALIENTE, Francisco, El Derecho penal de la monarquía absoluta (siglos XVI, XVII y
XVIII), Madrid, Tecnos, 1992.
1
União Europeia.
2
Este texto surge na sequência de, BANDEIRA, Gonçalo S. de Melo, Primeiras Notas à Legislação da
Lavagem de Capitais em Portugal-UE: O Dever de Formação, Revista Internacional CONSINTER de
Direito, Publicação Oficial Semestral do Conselho Internacional de Estudos Contemporâneos em Pós-
Graduação, Ano V – n. IX, 2º Semestre de 2019, Estudos Contemporâneos, Porto e Curitiba, 2019, pp.
727-748.
3
European Union.
4
Professor na Escola Superior de Gestão do IPCA-Minho, Portugal. Prof.-Conv. v.g. em diversas aulas em
Mestrados nas Universidades do Porto e Minho. Investigador Integrado no JusGov-Research Centre for
Justice and Governance, Escola de Direito da Universidade do Minho. Doutor em Ciências Jurídico-
Criminais desde 2009 e Licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Mestre pela
Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa desde 2003. Membro Eleito da Comissão de
Fiscalização e Disciplina do Sindicato Nacional do Ensino Superior. E-mail: gsopasdemelo
bandeira@hotmail.com Facebook: Gonçalo S. De Mello Bandeira (N.C. Sopas).
5
Cfr. art. 368º/A do CP-Código Penal na versão da Lei 83/2017, de 18/8: “1 – Para efeitos do disposto nos
números seguintes, consideram-se vantagens os bens provenientes da prática, sob qualquer forma de
comparticipação, dos factos ilícitos típicos de lenocínio, abuso sexual de crianças ou de menores
dependentes, extorsão, tráfico de estupefacientes e substâncias psicotrópicas, tráfico de armas, tráfico de
órgãos ou tecidos humanos, tráfico de espécies protegidas, fraude fiscal, tráfico de influência, corrupção e
demais infrações referidas no n. 1 do art. 1.º da Lei 36/1994, de 29 de setembro, e no art. 324.º do Código da
Propriedade Industrial, e dos factos ilícitos típicos puníveis com pena de prisão de duração mínima superior
a seis meses ou de duração máxima superior a cinco anos, assim como os bens que com eles se obtenham. /
2 – Quem converter, transferir, auxiliar ou facilitar alguma operação de conversão ou transferência de
vantagens, obtidas por si ou por terceiro, directa ou indirectamente, com o fim de dissimular a sua origem
ilícita, ou de evitar que o autor ou participante dessas infracções seja criminalmente perseguido ou
submetido a uma reacção criminal, é punido com pena de prisão de dois a doze anos. / 3 – Na mesma pena
incorre quem ocultar ou dissimular a verdadeira natureza, origem, localização, disposição, movimentação
ou titularidade das vantagens, ou os direitos a ela relativos. / 4 – A punição pelos crimes previstos nos n.os 2
e 3 tem lugar ainda que se ignore o local da prática do facto ou a identidade dos seus autores, ou ainda que
os factos que integram a infração subjacente tenham sido praticados fora do território nacional, salvo se se
tratar de factos lícitos perante a lei do local onde foram praticados e aos quais não seja aplicável a lei
portuguesa nos termos do art. 5.º / 5 – O facto é punível ainda que o procedimento criminal relativo aos
factos ilícitos típicos de onde provêm as vantagens depender de queixa e esta não tiver sido apresentada. / 6
– A pena prevista nos n.os 2 e 3 é agravada de um terço se o agente praticar as condutas de forma habitual. /
7 – Quando tiver lugar a reparação integral do dano causado ao ofendido pelo facto ilícito típico de cuja
prática provêm as vantagens, sem dano ilegítimo de terceiro, até ao início da audiência de julgamento em 1.ª
instância, a pena é especialmente atenuada. / 8 – Verificados os requisitos previstos no número anterior, a
pena pode ser especialmente atenuada se a reparação for parcial. / 9 – A pena pode ser especialmente
atenuada se o agente auxiliar concretamente na recolha das provas decisivas para a identificação ou a
captura dos responsáveis pela prática dos factos ilícitos típicos de onde provêm as vantagens. / 10 – A pena
aplicada nos termos dos números anteriores não pode ser superior ao limite máximo da pena mais elevada
de entre as previstas para os factos ilícitos típicos de onde provêm as vantagens”.
6
BANDEIRA, G. S. de Melo, O Crime de “Branqueamento” e a Criminalidade Organizada no Ordenamento
Jurídico Português no contexto da União Europeia: novos desenvolvimentos e novas conclusões. In:
AA.VV., Coordenação de NASCIMENTO SILVA, Luciano; BANDEIRA, Gonçalo N.C. Sopas de Melo.
Lavagem de Dinheiro e Injusto Penal – Análise Dogmática e Doutrina Comparada Luso-Brasileira.
Curitiba: Juruá, Disponível em: <www.jurua.com.br>, 2009; bem como, versão portuguesa, O Crime de
“Branqueamento” e a Criminalidade Organizada no Ordenamento Jurídico Português no contexto da União
Europeia… Lisboa, 2010, pp. 563-574 e passim; BANDEIRA, G.S. de Melo / FACHIN, Z.A.,
Responsabilidade Criminal por Dinheiros Públicos, Branqueamento de Capitais/Lavagem de Dinheiro e
Direitos Sociais, Revista Internacional CONSINTER, Ano I – v. I § Direito e Justiça § Aspectos Atuais e
Problemáticos, Juruá, Curitiba, I Simpósio Congresso Internacional do CONSINTER, 6 e 8.10.2015,
Facultat de Dret da Universitat de Barcelona, Curitiba-Barcelona, passim; BANDEIRA, G.S. de Melo,
Criminalidade Económica e Lavagem de Dinheiro, Prevenção pela Aprendizagem, Revista Internacional
CONSINTER de Direito, Ano II, N. 2, Efetividade do Direito, 1º Semestre, Juruá, Curitiba-Lisboa, 2016,
pp. 15 e ss.; BANDEIRA, G.S. de Melo, Directiva (UE) 2015/849 do Parlamento Europeu e do Conselho
de 20.05.2015: a Prevenção do Branqueamento de Capitais e do Financiamento do Terrorismo e o Sistema
Financeiro Capitalista, Direito e Justiça, Juruá, 2016, pp. 129 e ss..
7
No caso português, cfr. o art. 11º do Código Penal, bem como, fruto de Portugal ser país membro da UE-
União Europeia, a LB-Lei 83/2017 de 18/8, a qual “Estabelece medidas de combate ao branqueamento de
capitais e ao financiamento do terrorismo, transpõe parcialmente as Diretivas 2015/849/UE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de maio de 2015, e 2016/2258/UE, do Conselho, de 6 de
dezembro de 2016, altera o Código Penal e o Código da Propriedade Industrial e revoga a Lei 25/2008, de
5 de junho, e o Dec.-Lei 125/2008, de 21 de julho”. Mais uma vez o equívoco permanece, pois o direito
penal não visa em Portugal o “combate”, mas sim as prevenções geral e especial positivas, a retribuição e a
justiça restaurativa, quando neste último caso, é possível: art. 18º da CRP-Constituição.
8
Em Portugal, é inevitável a referência ao Ac. do STJ de Fixação de Jurisprudência 13/2007, de 22.03.2007,
publicado no Diário da República, Série II, de 13.12.2007: “Na vigência do art. 23.º do Dec.-Lei 15/93, de
22 de Janeiro, o agente do crime previsto e punido pelo art. 21.º, n. 1, do mesmo diploma, cuja conduta
posterior preenchesse o tipo de ilícito da alínea a) do seu n. 1, cometeria os dois crimes, em concurso real”.
Assim como: o Ac. do STJ de 18.01.2017 (http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f
003fa814/fd707bf601a023798025824b0057be35?OpenDocument , 14.08.20); e o Ac. do STJ de 15 de
Fevereiro de 2017 (http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9d d8b980256b5f003fa814/3a86a12603906aa0
8025824a004a9e98?OpenDocument , 14.08.20). Acrescentando ao texto anterior, também devemos referir
a seguinte jurisprudência que tem relevância no ordenamento jurídico português: Ac. do Tribunal da
Relação de Lisboa, de 18.07.20 (http://www.dgsi. pt/jtrl.nsf/33182fc732 316039802565fa00497ee
c/801de67a309357758 0257be9003309a 3?OpenDocument , 14.08.20); Ac. do STJ, de 8.01.2014
(http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/9 54f0ce6ad9dd8b9802 56b5f00 3fa81 4/a7 ea6ac09e68eeac80257c82004b4
600?OpenDocument&Highlight=0,corrup/prct .C3/pr ct. A 7/pr ct.C3/prct.A3o,crime,precedente ,
14.08.20); Ac. do Tribunal da Relação do Porto, de 21.06.2017 (http://www.dgsi.pt/jtrp.nsf/56a6e71216
57f91e80257cda00381fdf/4f6dd155fdd56d2b80258152003847fa?OpenDocument , 14.08.20); Ac. do
Tribunal da Relação do Lisboa, de 6.06.2017 (http://www.dgsi.pt /jtrl.nsf/33182fc7323160398025
65fa00497eec/2426087866527eed80258147003818ea?OpenDocument , 14.08.20); Ac. do STJ, de
11.06.2014 (http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/e226 52275680718b80257d1
5004292f6?OpenDocument , 14.08.20).
2 INTRODUÇÃO
De acordo com textos anteriores, já sabemos que a Lei portuguesa 83/2017,
de 18 de Agosto, que vamos abreviar por LB-Lei do Branqueamento, “estabelece
medidas de natureza preventiva e repressiva de combate ao branqueamento de
capitais e ao financiamento do terrorismo e transpõe parcialmente para a ordem
jurídica interna a Diretiva 2015/849/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de
20 de maio de 2015, relativa à prevenção da utilização do sistema financeiro e das
atividades e profissões especialmente designadas para efeitos de branqueamento de
capitais e de financiamento do terrorismo, bem como, a Diretiva 2016/2258/UE, do
Conselho, de 6 de dezembro de 2016, que altera a Diretiva 2011/16/UE, no que
respeita ao acesso às informações antibranqueamento de capitais por parte das
autoridades fiscais. 2 – A presente lei estabelece, também, as medidas nacionais
necessárias à efetiva aplicação do Regulamento (UE) 2015/847, do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 20 de maio de 2015, relativo às informações que
acompanham as transferências de fundos e que revoga o Regulamento (CE)
1781/2006 [adiante designado “Regulamento (UE) 2015/847”]”. Entretanto esta lei
foi ligeiramente alterada pelo Dec.-Lei 144/2019, de 23 de Setembro11.
9
Embora, “UE mantém “sérias divergências” com Reino Unido e pede “compromisso” / O regresso à mesa
das negociações não resultou no impulso final com vista a um acordo entre Bruxelas e Londres sobre a
futura relação bilateral. Barnier fala em “sérias divergências” persistentes, reitera as linhas vermelhas da
União e pede “compromisso” às autoridades do Reino Unido”, https://www.jornalde
negocios.pt/economia/europa/uniao-europeia/detalhe/ue-mantem-serias-divergencias-com-reino-uni
do-e-pede-compromisso .
10
Cfr. Ac. do STJ, de 11.06.2014.
11
O qual refere o seguinte: “Art. 9.º / Alteração à Lei 83/2017, de 18 de agosto / O art. 3.º da Lei 83/2017, de
18 de agosto, passa a ter a seguinte redação: “Art. 3.º / Entidades financeiras / 1- Estão sujeitas às
disposições da presente lei, com exceção do disposto no capítulo XI, as seguintes entidades com sede em
território nacional: (…) “e) Sociedades de investimento coletivo autogeridas e sociedades gestoras de
organismos de investimento coletivo;”.
12
BANDEIRA, Gonçalo S. de Melo, Primeiras Notas à Legislação da Lavagem de Capitais em Portugal-UE:
O Dever de Formação, Revista Internacional CONSINTER de Direito, Publicação Oficial Semestral do
Conselho Internacional de Estudos Contemporâneos em Pós-Graduação, Ano V – n. IX, 2º Semestre de
2019, Estudos Contemporâneos, Porto e Curitiba, 2019, pp. 727-748. Sobre o tema do dever de formação
neste contexto, já antes, BANDEIRA, G.S. de Melo, Criminalidade Económica e Lavagem de Dinheiro,
Prevenção pela Aprendizagem, Revista Internacional CONSINTER de Direito, Ano II, N. 2, Efetividade do
Direito, 1º Semestre, Juruá, Curitiba-Lisboa, 2016, pp. 15 e ss.;
13
Cfr. o art. 54º/1 da LB-Lei do Branqueamento: “Dever de não divulgação / 1 – As entidades obrigadas, bem
como os membros dos respetivos órgãos sociais, os que nelas exerçam funções de direção, de gerência ou
de chefia, os seus empregados, os mandatários e outras pessoas que lhes prestem serviço a título
permanente, temporário ou ocasional, não podem revelar ao cliente ou a terceiros: / a) Que foram, estão a
ser ou irão ser transmitidas as comunicações legalmente devidas, nos termos do disposto nos arts. 43.º, 45.º,
47.º e 53.º; / b) Quaisquer informações relacionadas com aquelas comunicações, independentemente de as
mesmas decorrerem de análises internas da entidade obrigada ou de pedidos efetuados pelas autoridades
judiciárias, policiais ou setoriais; / c) Que se encontra ou possa vir a encontrar-se em curso uma investigação
ou inquérito criminal, bem como quaisquer outras investigações, inquéritos, averiguações, análises ou
procedimentos legais a conduzir pelas autoridades referidas na alínea anterior; / d) Quaisquer outras
informações ou análises, de foro ou interno ou externo, sempre que disso dependa: / i) O cabal exercício das
funções conferidas pela presente lei às entidades obrigadas e às autoridades judiciárias, policiais e setoriais; /
ii) A preservação de quaisquer investigações, inquéritos, averiguações, análises ou procedimentos legais e,
no geral, a prevenção, investigação e deteção do branqueamento de capitais e do financiamento do
terrorismo”. Refere o art. 14º do Regulamento (UE) 2015/847, “Prestação de informações”: “Os prestadores
de serviços de pagamento dão uma resposta completa e sem demora, nomeadamente através de um ponto
de contacto central nos termos do art. 45.o, n.o 9, da Diretiva (UE) 2015/849, caso esse ponto de contacto
tenha sido nomeado, e em conformidade com os requisitos processuais previstos no direito nacional do
Estado-Membro em que estão estabelecidos, aos pedidos apresentados exclusivamente pelas autoridades
Está portanto aqui em causa o bem jurídico da tutela da informação não consentida
no contexto do diploma legislativo. É assim punível o dolo nas suas três modalidades:
directo, necessário e eventual, bem como a negligência consciente ou inconsciente14.
De acordo com o art. 158º da LB, “Revelação e favorecimento da descoberta de
identidade”, “1 – A revelação ou o favorecimento da descoberta da identidade de quem
forneceu informações, documentos ou elementos ao abrigo dos arts. 43.º a 45.º, 47.º e
53.º da presente lei ou do Regulamento (UE) 2015/847, é punida: / a) No caso
das pessoas singulares, com pena de prisão até três anos ou com pena de multa, nos
termos gerais; / b) No caso das pessoas coletivas ou entidades equiparadas a pessoas
coletivas, com pena de multa com um limite mínimo não inferior a 50 dias. / 2 – Em caso
de mera negligência, a pena prevista na alínea a) do número anterior é reduzida a 1/3
no seu limite Máximo”. Verifica-se, pois, uma tutela do bem jurídico que poderemos
apelidar de descoberta da identidade nos termos supramencionados. Igualmente aqui é
punível o dolo nas suas três modalidades: directo, necessário e eventual, bem como a
negligência consciente ou inconsciente15.
Já o art. 159º da LB nos fala no crime de “Desobediência”, “1 – Quem se
recusar a acatar as ordens ou os mandados legítimos das autoridades setoriais,
emanados no âmbito das suas funções, ou criar, por qualquer forma, obstáculos à
sua execução, incorre na pena prevista para o crime de desobediência qualificada,
se as autoridades setoriais tiverem feito a advertência dessa cominação. / 2 – Na
mesma pena incorre quem não cumprir, dificultar ou defraudar a execução das
sanções acessórias ou medidas cautelares aplicadas em procedimentos instaurados
por violação das disposições da presente lei ou dos respetivos diplomas
regulamentares”. Crime que vem de encontro aquilo que já existe em termos mais
gerais no Código Penal Português16. Estão em causa os crimes contra o bem jurídico
autoridade pública, rectius, num ambiente de “resistência, desobediência e falsas
declarações à autoridade pública”, nos termos mais generalistas do Código Penal.
Cremos que no futuro, feita uma grande reforma de uniformização – pois o excesso
de especialização perde a noção do total real, “estupidifica a ovelha que não se
consegue aperceber por vezes do verdadeiro rumo do rebanho a que pertence”,
levando à corrupção do “Espírito da História” de que nos falava Georg Wilhelm
Friedrich Hegel -, para evitar interpretações cada vez mais diversas, não haverá
necessidade de estar a repetir ilícitos típicos demasiado similares em diferentes
diplomas legislativos.
17
Cfr. Dec.-Lei 433/82, de 27 de Outubro, com alterações até a Lei 109/2001, de 24 de Dezembro.
18
Cfr. art. 32º e art. 41º do RGCO.
19
O que tem que ser conjugado com o art. 368º/A, n. 4 e 5 do Código Penal: “4 – A punição pelos crimes
previstos nos n.os 2 e 3 tem lugar ainda que se ignore o local da prática do facto ou a identidade dos seus
autores, ou ainda que os factos que integram a infração subjacente tenham sido praticados fora do território
nacional, salvo se se tratar de factos lícitos perante a lei do local onde foram praticados e aos quais não seja
aplicável a lei portuguesa nos termos do art. 5.º / 5 – O facto é punível ainda que o procedimento criminal
relativo aos factos ilícitos típicos de onde provêm as vantagens depender de queixa e esta não tiver sido
apresentada”.
Sendo várias as pessoas responsáveis nos termos do número anterior, é solidária a sua responsabilidade. / 11
– Se as multas ou indemnizações forem aplicadas a uma entidade sem personalidade jurídica, responde por
elas o património comum e, na sua falta ou insuficiência, solidariamente, o património de cada um dos
associados”.
23
Art. 7º do RGCO-Regime Geral das Contraordenações: “Da responsabilidade das pessoas coletivas ou
equiparadas”, “1 – As coimas podem aplicar-se tanto às pessoas singulares como às pessoas colectivas, bem
como às associações sem personalidade jurídica. / 2 – As pessoas colectivas ou equiparadas serão
responsáveis pelas contra-ordenações praticadas pelos seus órgãos no exercício das suas funções”.
24
Art. 7º do RGIT: “Responsabilidade das pessoas colectivas e equiparadas”, “1 – As pessoas colectivas,
sociedades, ainda que irregularmente constituídas, e outras entidades fiscalmente equiparadas são
responsáveis pelas infracções previstas na presente lei quando cometidas pelos seus órgãos ou
representantes, em seu nome e no interesse colectivo. / 2 – A responsabilidade das pessoas colectivas,
sociedades, ainda que irregularmente constituídas, e outras entidades fiscalmente equiparadas é excluída
quando o agente tiver actuado contra ordens ou instruções expressas de quem de direito. / 3 – A
responsabilidade criminal das entidades referidas no n. 1 não exclui a responsabilidade individual dos
respectivos agentes. / 4 – A responsabilidade contra-ordenacional das entidades referidas no n. 1 exclui a
responsabilidade individual dos respectivos agentes. / 5 – Se a multa ou coima for aplicada a uma entidade
sem personalidade jurídica, responde por ela o património comum e, na sua falta ou insuficiência,
solidariamente, o património de cada um dos associados”. Em relação a esta norma jurídica, devemos ter
em consideração a seguinte jurisprudência no seio do ordenamento jurídico português: Ac. do Tribunal da
Relação do Porto, de 8 de Maio de 2013 (http://www.dgsi.pt/jtrp.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005
cd5bb/3b820682ae38333280257b6b003a8506?OpenDocument&Highlight=0,RGIT , 14.08.20); Ac. do
Tribunal da Relação do Porto, de 20 de Fevereiro de 2013 (http://www.dgsi.pt/jtrp.nsf/c3fb53003
0ea1c61802568d9005cd5bb/63f9d955491708f780257b36005920c4?OpenDocument&Highlight=0,RGIT ,
14.08.20); Ac. do Tribunal da Relação de Lisboa, de 8 de Maio de 2013 (http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/3
3182fc732316039802565fa00497eec/8a458eb6071edba280257c2e0058dd75?OpenDocument&Highlight=
0,RGIT , 14.08.20); Ac. do Tribunal da Relação de Lisboa, de 17 de Abril de 2013 (http://www.dgsi.
pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/087761db9a39c54680257b8200399916?OpenDocument
&Highlight=0,RGIT , 14.08.20); Ac. do Tribunal da Relação de Coimbra, de 14 de Outubro de 2015
(http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b22802576c0005637dc/78282e5232db6de180257ee40037b124
?OpenDocument, 14.08.20); Ac. do Tribunal da Relação de Coimbra, de 11 de Outubro de 2017
(http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b22802576c0005637dc/d1f7e72a5357c5da802581bb0053c6f4?
OpenDocument , 14.08.20); Ac. do Tribunal Constitucional 636/2018, de 22 de Novembro de 2018
(http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20180636.html?impressao=1 , 14.08.20). Neste último
Acórdão do Tribunal Constitucional, destacámos a declaração de inconstitucionalidade pela segunda vez do
n. 5 do art. 7º do RGIT, referindo-se nomeadamente em relação aos nossos próprios trabalhos o seguinte,
entre outros aspectos: “Centrando a atenção nos entes societários de índole comercial desprovidos de
personalidade jurídica geral aqueles que relevam para o presente recurso -, verifica-se que o RGIT visa
especialmente as sociedades com atividade antes da celebração de escritura pública, seja com a criação de
falsa aparência de que existe um contrato de sociedade, seja com a efetiva celebração de acordo de
constituição, nos termos do art. 36.º, n.ºs 1 e 2 do CSC, e as sociedades com celebração de escritura pública
mas com atividade antes do registo, referidas no art. 37.º, n. 1 do CSC (nesse sentido, Gonçalo de Melo
Bandeira, “Responsabilidade” Penal Económica e Fiscal dos Entes Coletivos À Volta das Sociedades
Comerciais e Sociedades Civis sob a Forma Comercial, Almedina, p. 351)”.
25
Cfr. art. 3º do RJIAECSP: “Responsabilidade criminal das pessoas colectivas e equiparadas”, “1 – As
pessoas colectivas, sociedades e meras associações de facto são responsáveis pelas infracções previstas no
presente diploma quando cometidas pelos seus órgãos ou representantes em seu nome e no interesse
colectivo. / 2 – A responsabilidade é excluída quando o agente tiver actuado contra ordens ou instruções
28
Assim aconteceu no disparatado “Parecer n. 11/2013”, do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da
República, Ministério Público, Publicado no Diário da República, 2ª série, n. 178, de 16 de Setembro de
2013. Texto por nós anotado em BANDEIRA, Gonçalo S. de Melo, Responsabilidade Penal e
Contraordenacional das Organizações Colectivas, Boletim da Faculdade de Direito…, 2017, pp. 129-148.
29
Cfr. art. 12º do CP. Para mais desenvolvimentos na actuação no lugar de outrem, os nossos v.g.
BANDEIRA, G. S. de Melo, Responsabilidade Penal Económica e Fiscal dos Entes Colectivos…, 2004,
passim; BANDEIRA, Gonçalo S. de Melo, Abuso de Informação, Manipulação do Mercado e
Responsabilidade Penal das “Pessoas Colectivas”…, 2011/2016 (5ª tiragem), passim.
evidente, o art. 10º do CP prevalece sobre o art. 163º da LB. Assim como a
Constituição criminal prevalece sobre qualquer lei ou decreto-lei ordinários30.
Como já referido, esta LB tenta “recriar” ou “repisar” uma “parte geral do
regime geral das contraordenações” ou do próprio Código Penal, os quais já
existiam no nosso ordenamento jurídico, conforme mencionado. Ora veja-se (!): art.
164º da LB, “Tentativa e negligência / 1 – A tentativa e a negligência são sempre
puníveis. / 2 – Em caso de infração negligente, o limite máximo da coima prevista
para a infração é reduzido para metade. /3 – Em caso de tentativa, a coima
aplicável é a prevista para o ilícito consumado, especialmente atenuada”. Muito
haveria para dizer sobre esta precisa norma jurídica da LB-Lei do Branqueamento.
Já sabemos que as regras gerais constam do Código Penal Português e do RGCO-
Regime Geral das Contraordenações Português. Assim, no RGCO: art. 8º do RGCO,
“Dolo e negligência / 1 – Só é punível o facto praticado com dolo ou, nos casos
especialmente previstos na lei, com negligência. / 2 – O erro sobre elementos do
tipo, sobre a proibição, ou sobre um estado de coisas que, a existir, afastaria a
ilicitude do facto ou a culpa do agente, exclui o dolo. / 3 – Fica ressalvada a
punibilidade da negligência nos termos gerais”; art. 12º do RGCO, “Tentativa / 1 –
Há tentativa quando o agente pratica actos de execução de uma contra-ordenação
que decidiu cometer sem que esta chegue a consumar-se. / 2 – São actos de
execução: / a) Os que preenchem um elemento constitutivo de um tipo de contra-
ordenação; / b) Os que são idóneos a produzir o resultado típico; / c) Os que,
segundo a experiência comum e salvo circunstâncias imprevisíveis, são de natureza
a fazer esperar que se lhes sigam actos das espécies indicadas nas alíneas
anteriores”; art. 13º do RGCO, “Punibilidade da tentativa / 1 – A tentativa só pode
ser punida quando a lei expressamente o determinar. / 2 – A tentativa é punível com
a coima aplicável à contra-ordenação consumada, especialmente atenuada”; art.
14º do RGCO, “Desistência / 1 – A tentativa não é punível quando o agente
voluntariamente desiste de prosseguir na execução da contra-ordenação, ou impede
a consumação, ou, não obstante a consumação, impede a verificação do resultado
não compreendido no tipo da contra-ordenação. / 2 – Quando a consumação ou a
verificação do resultado são impedidas por facto independente da conduta do
desistente, a tentativa não é punível se este se esforça por evitar uma ou outra”.
Ora, veja-se agora o Código Penal Português. Art. 13º do CP, “Dolo e negligência /
Só é punível o facto praticado com dolo ou, nos casos especialmente previstos na
lei, com negligência”; art. 21º do CP, “Actos preparatórios / Os actos preparatórios
não são puníveis, salvo disposição em contrário”; art. 22º do CP, “Tentativa / 1 –
Há tentativa quando o agente praticar actos de execução de um crime que decidiu
cometer, sem que este chegue a consumar-se. / 2 – São actos de execução: / a) Os
que preencherem um elemento constitutivo de um tipo de crime; / b) Os que forem
idóneos a produzir o resultado típico; ou / c) Os que, segundo a experiência comum
e salvo circunstâncias imprevisíveis, forem de natureza a fazer esperar que se lhes
30
Cfr. art.s 18º e do 24º ao 34º da Constituição: “o sismógrafo da própria Constituição”, nas palavras do Prof.
Doutor J.J. Gomes CANOTILHO.
sigam actos das espécies indicadas nas alíneas anteriores”; art. 23º do CP,
“Punibilidade da tentativa / 1 – Salvo disposição em contrário, a tentativa só é
punível se ao crime consumado respectivo corresponder pena superior a 3 anos de
prisão. / 2 – A tentativa é punível com a pena aplicável ao crime consumado,
especialmente atenuada. / 3 – A tentativa não é punível quando for manifesta a
inaptidão do meio empregado pelo agente ou a inexistência do objecto essencial à
consumação do crime”. Recordemos então de novo a norma jurídica em questão na
parte que aqui mais nos interessa: “art. 164º da LB, “Tentativa e negligência / 1 – A
tentativa e a negligência são sempre puníveis…”. Como já referimos noutras
publicações, o legislador português consagrou uma regra jurídica que viola a
Constituição Portuguesa, a qual assenta na dignidade do ser humano. Ora, ao ser
humano, que não é perfeito – assim como as máquinas, a matemática ou a
inteligência artificial também não são perfeitas, até porque como resulta do
pensamento de Edmund Husserl, “não há ciências mais perfeitas do que as ciências
humanas”, humanistas, diríamos -, é natural o engano, a negligência, o errar no devir
negligente ou uma série de tentativas que, inclusive, não podem ser puníveis do ponto de
vista da legitimidade constitucional. É impossível ao ser humano acertar sempre e fazer
sempre tudo a 100%, já para não falar que cada ser humano, é um ser humano. Então, se
houver desistência na tentativa, esta, mesmo assim, é punível?! Claro que,
constitucionalmente, a resposta é peremptória: não. Note-se na chamada “tentativa
impossível”, quando p.e. é “manifesta a inaptidão do meio empregado pelo agente ou a
inexistência do objecto essencial à consumação do crime”. Como é que é possível, sem
ferir a Constituição em qualquer das suas vertentes que assentam na dignidade do ser
humano31, afirmar o seguinte?! “A tentativa e a negligência são sempre puníveis”?! A
razão é simples, o “Estado Policial”, com tiques autoritários, há muito tempo que
percebeu que também é esta uma forma de punir, mas também, no caso das
contraordenações, de cobrar uma espécie de “impostos” por uma outra via, a via das
coimas. Coimas são as multas penais no mundo das contraordenações. Mais dinheiro a
entrar no Estado tirado aos bolsos dos contribuintes. Ora, todos bem sabem que nem
sempre os dinheiros públicos são bem gastos e sequer tratados com zelo.
Além do mais, ao afirmarmos que “A tentativa e a negligência são sempre
puníveis”, estamos a violar a necessidade, adequação, proporcionalidade e
intervenção (que deve começar por ser) mínima, das sanções penais e
contraordenacionais. Será mesmo necessário à prevenção geral positiva – incluindo
a retribuição -, à prevenção especial positiva (incluindo a ressocialização) e à
“justiça restaurativa”, quando possível, que a tentativa e negligência sejam sempre
puníveis?! E será adequado?! E será proporcional?! E respeitará o princípio de
intervenção mínima do Estado?! Tendo sempre em consideração a dignidade do ser
humano, na qual assenta a Constituição Portuguesa?! Como já dissemos noutra
publicação: “Será por estas e por outras que o legislador dos regimes
31
Cfr. art. 1º da Constituição da República Portuguesa: “República Portuguesa: / Portugal é uma República
soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma
sociedade livre, justa e solidária”.
anos. / 2 – Nos casos em que tenha havido ocultação dos factos que são objeto do
processo de contraordenação, o prazo de prescrição suspende-se até ao
conhecimento desses factos por parte da entidade com competência instrutória do
procedimento contraordenacional. / 3 – Sem prejuízo das outras causas de
suspensão e de interrupção da prescrição previstas na lei, a prescrição do
procedimento por contraordenação suspende-se também a partir da notificação do
despacho que procede ao exame preliminar do recurso da decisão que aplique
sanção até à notificação da decisão final do recurso. / 4 – A suspensão prevista nos
números anteriores não pode ultrapassar: / a) 30 meses, quando as infrações sejam
puníveis com coima até € 1 000 000; / b) Cinco anos, quando as infrações sejam
puníveis com coima superior a € 1 000 000. / 5 – O prazo referido no número
anterior é elevado para o dobro se tiver havido recurso para o Tribunal
Constitucional. / 6 – O prazo de prescrição das coimas e sanções acessórias é de
cinco anos, a contar do dia em que a decisão administrativa se torne definitiva ou
do dia em que a decisão judicial transite em julgado”. Também a prescrição já tinha
regras próprias, quer no direito e processo penal, CP e CPP, quer no regime geral
das contraordenações, RGCO33. Ou seja, com o acentuar da passagem dos anos
estamos a construir uma série de sub-regimes penais e contraordenacionais. Uma
“Torre de Babel” na qual chegará o dia, como a História nos ensina, na qual
ninguém se irá entender.
De acordo com o art. 167º da LB, também é importante referir que o
legislador consagrou uma “Graduação da sanção / 1 – A determinação da medida
da coima e das sanções acessórias faz -se em função da ilicitude concreta do facto,
da culpa do agente e das exigências de prevenção, tendo ainda em conta a natureza
individual ou coletiva do agente. / 2 – Na determinação da ilicitude concreta do
facto, da culpa do agente e das exigências de prevenção, atende-se, entre outras, às
seguintes circunstâncias: / a) Duração da infração; / b) Grau de participação do
arguido no cometimento da infração; / c) Existência de um benefício, ou intenção de
o obter, para si ou para outrem; / d) Existência de prejuízos causados a terceiro
pela infração e a sua importância quando esta seja determinável; / e) Perigo ou
dano causado ao sistema financeiro ou à economia nacional; / f) Caráter ocasional
ou reiterado da infração; / g) Intensidade do dolo ou da negligência; / h) Se a
contraordenação consistir na omissão da prática de um ato devido, o tempo
decorrido desde a data em que o ato devia ter sido praticado; / i) Nível de
responsabilidades da pessoa singular, âmbito das suas funções e respetiva esfera de
ação na pessoa coletiva ou entidade equiparada em causa; / j) Especial dever da
33
No RGCO, cfr. art. 27º, Prescrição do procedimento; art. 27º-A, Suspensão da prescrição; art. 28º,
Interrupção da prescrição; art. 29º Prescrição da coima; art. 30º Suspensão da prescrição da coima; art. 31º
Prescrição das sanções acessórias. Assim como no CP, Título V, Extinção da responsabilidade criminal,
Capítulo I, Prescrição do procedimento criminal, Art. 118º, Prazos de prescrição; art. 119º, Início do prazo;
art. 120º, Suspensão da prescrição; art. 121º, Interrupção da prescrição; Capítulo II, Prescrição das penas e
das medidas de segurança, art. 122º, Prazos de prescrição das penas; art. 123º, Efeitos da prescrição da pena
principal; art. 124º, Prazos de prescrição das medidas de segurança; art. 125º, Suspensão da prescrição; art.
126º, Interrupção da prescrição.
6 CONCLUSÕES
De novo, também por aqui, o problema do branqueamento de vantagens,
como por exemplo capitais – ou lavagem de vantagens como por exemplo dinheiro -
, é uma questão que continua a dizer respeito à corrupção em sentido amplo e
portanto não apenas ao direito e processo penal, mas também à criminologia e à
política criminal, às ciências jurídico-criminais: “Strafrecht ohne Kriminologie ist
blind, Kriminologie ohne Strafrecht ist grenzenlos”35. Esta máxima permanece
válida, ainda que por vezes atacada na academia através da corrupção das ciências
34
Cfr. art. 18º do RGCO, Determinação da medida da coima; e o CP português, Capítulo IV, Escolha e
medida da pena, Secção I, Regras gerais: art. 70º, Critério de escolha da pena; art. 71º, Determinação da
medida da pena; art. 72º, Atenuação especial da pena; art. 73º, Termos da atenuação especial; art. 74º,
Dispensa de pena; Secção II, Reincidência, art. 75º, Pressupostos; art. 76º, Efeitos.
35
JESCHECK, Hans-Heinrich / WEIGEND, Thomas (1996). In Lehrbuch des Strafrechts § Allgemeiner Teil
§ Funfte Auflage, Duncker & Humblot • Berlin, Alemanha, p. 41.
36
LISZT, Franz Von (1889), ZStW, 9, a revista fundada pelo próprio e da qual era director, Zeitschrift der
deutschen Strafrechtswissenshaft – Revista da Ciência alemã do Direito Penal. Hoje chamada de Zeitschrift
für die gesamte Strafrechtswissenshaft também ZStW.
37
Jescheck, Hans-Heinrich / Weigend, Thomas. In Lehrbuch des Strafrechts § Allgemeiner Teil § Funfte
Auflage, Duncker & Humblot • Berlin, Alemanha, 1996, p. 429.
38
ROXIN, Claus, Strafrecht. Allgemeiner Teil, Band I: Grundlagen. Der Aufbau der Verbrechenslehre. Beck,
München, 1994, p. 700.
39
JAKOBS, Günther, JAKOBS, Günther, Strafrecht Allgemeiner Teil, Die Grundlagen und die
Zurechnungslehre, Studienausgabe, 2.Auflage, Walter DeGruyter, Berlin, New York, 1993, pp. 469.
escolha dos seus representantes, bem como haverá uma separação nítida entre os
poderes legislativo, executivo e judicial. Sem prejuízo da fiscalização mútua
legitimada e incentivada do ponto de vista constitucional-constitucional. Finalmente,
por fim, mas não por último, não tem sentido estar a criar ex novo regimes gerais de
direito penal ou direito contraordenacional que se sobrepõem aos já existentes! De
contrário, o caos interpretativo e aplicativo da legislação já é uma realidade. Solução
alternativa possível? Criar códigos europeus democraticamente legitimados e
aplicáveis em toda a União Europeia.
BIBLIOGRAFIA
ANDRADE, Manuel da Costa, In “A “dignidade penal” e a carência de tutela penal como referência de
uma doutrina teleológica-racional do crime”, RPCC, ano 2, fascículo 2, 1992;
BANDEIRA, G. S. de Melo, Responsabilidade Penal Económica e Fiscal dos Entes Colectivos à volta
das sociedades comerciais ou sociedades civis sob a forma comercial ainda que irregularmente
constituídas, Almedina, Coimbra, 2004;
BANDEIRA, G. S. de Melo, O Crime de “Branqueamento” e a Criminalidade Organizada no
Ordenamento Jurídico Português, Ciências Jurídicas, Apresentação: Professor Catedrático Doutor A.
Castanheira Neves, Organização: Gonçalo Sopas de Melo Bandeira, Rogério Magnus Varela Gonçalves,
Frederico Viana Rodrigues, Almedina, Coimbra, 2005, pp. 271 e ss.;
BANDEIRA, G. S. de Melo, O Crime de “Branqueamento” e a Criminalidade Organizada no
Ordenamento Jurídico Português no contexto da União Europeia: novos desenvolvimentos e novas
conclusões. In: AA.VV., Coordenação de NASCIMENTO SILVA, Luciano; BANDEIRA, Gonçalo N.C.
Sopas de Melo, Lavagem de Dinheiro e Injusto Penal – Análise Dogmática e Doutrina Comparada Luso-
Brasileira, Juruá, Curitiba, 2009, pp. 563-574;
BANDEIRA, G. S. de Melo, O Crime de “Branqueamento” e a Criminalidade Organizada no
Ordenamento Jurídico Português no contexto da União Europeia: novos desenvolvimentos e novas
conclusões. In: AA.VV., Coordenação de NASCIMENTO SILVA, Luciano; BANDEIRA, Gonçalo N.C.
Sopas de Melo, Branqueamento de Capitais e Injusto Penal – Análise Dogmática e Doutrina Comparada
Luso-Brasileira, Juruá, Lisboa, 2010, pp. 563-574;
BANDEIRA, G.S. de Melo / FACHIN, Z.A., Responsabilidade Criminal por Dinheiros Públicos,
Branqueamento de Capitais/Lavagem de Dinheiro e Direitos Sociais, Revista Internacional CONSINTER,
Ano I – v. I § Direito e Justiça § Aspectos Atuais e Problemáticos, Juruá, Curitiba, I Simpósio Congresso
Internacional do CONSINTER, Facultat de Dret da Universitat de Barcelona, Curitiba-Barcelona, 6 e
8.10.2015, pp. 537 e ss.;
BANDEIRA, G.S. de Melo, Criminalidade Económica e Lavagem de Dinheiro, Prevenção pela
Aprendizagem, Revista Internacional CONSINTER de Direito, Ano II, N. 2, Efetividade do Direito, 1º
Semestre, Juruá, Curitiba-Lisboa, 2016, pp. 15 e ss.;
BANDEIRA, G.S. de Melo, Directiva (UE) 2015/849 do Parlamento Europeu e do Conselho de
20.05.2015: a Prevenção do Branqueamento de Capitais e do Financiamento do Terrorismo e o Sistema
Financeiro Capitalista, Direito e Justiça, Juruá, 2016, pp. 129 e ss.;
BANDEIRA, Gonçalo S. de Melo, Abuso de Informação, Manipulação do Mercado e Responsabilidade
Penal das “Pessoas Colectivas” – “Tipos Cumulativos” e Bens Jurídicos Colectivos na “Globalização”.
Edição Revista e Ampliada com Texto Extra. Lisboa: Juruá, 2011/2016 (5ª tiragem);
BANDEIRA, Gonçalo S. de Melo, Responsabilidade Penal e Contraordenacional das Organizações
Colectivas, Boletim da Faculdade de Direito, Stvdia Ivridica, 108, Ad Honorem – 8, Estudos em
Homenagem ao Prof. Doutor Manuel da Costa Andrade, Presidente do Tribunal Constitucional, v. I,
Direito Penal, Organizadores: José de Faria Costa, Anabela Miranda Rodrigues, Maria João Antunes,
Helena Moniz, Nuno Brandão, Sónia Fidalgo, Sersilito-Empresa Gráfica Lda, Edição Apoiada pela
Fundação Eng. António de Almeida, Universidade de Coimbra, Institvto Ivridico, Coimbra, 2017, pp.
129-148;
BANDEIRA, Gonçalo S. de Melo, Primeiras Notas à Legislação da Lavagem de Capitais em Portugal-
UE: O Dever de Formação, Revista Internacional CONSINTER de Direito, Publicação Oficial Semestral
do Conselho Internacional de Estudos Contemporâneos em Pós-Graduação, Ano V – Número IX, 2º
Semestre de 2019, Estudos Contemporâneos, Porto e Curitiba, 2019, pp. 727-748.
CORREIA, Eduardo H. da S., Unidade e pluralidade de infracções: a teoria do concurso em direito
criminal, Coimbra, Atlântida, 1945;
CORREIA, Eduardo H. da S., Actas do Código Penal, 1979;
CORREIA, Eduardo H. da S. (1963), Direito Criminal I, com a colaboração de Figueiredo Dias, Livraria
Almedina, Coimbra, Reimpressão-1993;
CORREIA, Eduardo H. da S. (1965), Direito Criminal II, com a colaboração de Figueiredo Dias,
Livraria Almedina, Coimbra, Reimpressão, 1997;
CORREIA, Eduardo H. da S., Os arts. 10º do Dec.-Lei 27 153, 1968;
COSTA, Afonso, Commentario ao Codigo Penal Portuguez: Introducção: Escolas e Principios de
Criminologia Moderna; Imprensa da Universidade, Coimbra, 1985;
COSTA, António de Almeida, A propósito do novo Código do Trabalho: Bem Jurídico e pluralidade de
infracções no âmbito das contraordenações relativas ao “trabalho suplementar”, Subsídios para uma
dogmática do direito de mera ordenação social laboral, Liber Discipulorum para Jorge de Figueiredo
Dias, Coimbra, Coimbra, 2003;
CUMMING-BRUCE, Nick, ISIS, Eyeing Europe, Could Launch Attacks This Year, U.N. Warns, New
York Times, 3.08.2019;
DIAS, Jorge de Figueiredo / ANDRADE, Manuel da Costa (1992), Criminologia § O Homem
Delinquente e a Sociedade Criminógena, Coimbra: Coimbra, 2. Reimpressão, 1997;
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal § Parte Geral § Tomo I § Questões Fundamentais § A Doutrina
Geral do Crime, 2. ed. atual. e ampl. Coimbra: Coimbra, 2007;
ENRICH, David / PROTESS, Ben / RASHBAUM, William K., Deutsche Bank Faces Criminal Investi-
gation for Potential Money Laundering Lapses, New York Times, 8.07.19;
FERREIRA, Manuel Cavaleiro, Lições de Direito Penal – Parte Geral I-II, Almedina, Coimbra, 2010;
GARSIDE, Juliette, Is money-laundering scandal at Danske Bank the largest in history?-Scale of fiasco
highlights need for stricter regulation and cross-border force in Europe, The Guardian, 21.09.18;
GRONHOLT-PEDERSEN, Jacob, Danske Bank cuts Outlook as money laundering scandal weighs,
Reuters, 30.04.19;
JESCHECK, Hans-Heinrich / WEIGEND, Thomas. In Lehrbuch des Strafrechts § Allgemeiner Teil §
Funfte Auflage, Duncker & Humblot, Berlin, Alemanha, 1996;
LIMA, F. A. Pires de; VARELA, J. de M. Antunes. In: Código Civil Anotado. V. I. (arts. 1.º a 761.º), 4.
ed. rev. e atual. com colaboração de M. Henrique Mesquita, Coimbra: Coimbra, 1987;
LISZT, Franz Von, ZStW, 9, a revista fundada pelo próprio e da qual era director, Zeitschrift der
deutschen Strafrechtswissenshaft – Revista da Ciência alemã do Direito Penal. Hoje chamada de
Zeitschrift für die gesamte Strafrechtswissenshaft também ZStW, 1889;
MOREIRA, António Vasconcelos, Jornal Económico, 18.04.19; ou SANDLER, Rachel, Feds Reportedly
Investigating Deutsche Bank For Money-Laundering Violations, Forbes, 19.06.19;
1
Licenciado en Derecho y en Ciencias Políticas por la Universidad de Barcelona, habiendo cursado estudios
de la diplomatura de Ciencias Empresariales y del Doctorado en Ciencias Políticas, especialidad Teoría
Política Contemporánea. E-mail: jose.m.lombardero@gmail.com
I PLANTEAMIENTO
La competencia del Tribunal del Jurado ha sido una de las cuestiones a menudo
controvertidas desde que se aprobara la Ley Orgánica reguladora de esta institución en
1996 y la controversia ha generado abundante jurisprudencia y doctrina científica. Nos
hemos ocupado anteriormente del Tribunal del Jurado en un estudio comparado2, y
hemos analizado el Acuerdo no jurisdiccional del Tribunal Supremo de fecha
09.03.20173 que ha tenido importante alcance sobre su competencia en materia de delitos
conexos. Más recientemente hemos abordado el tema del Jurado y la conexión penal en
un estudio de próxima publicación.
Este artículo aborda el tratamiento procesal de la competencia del tribunal. Esto
es, cómo y cuándo será posible poner de manifiesto o discutir en derecho procesal
español que sea el Tribunal del Jurado Popular competente para enjuiciar unos
determinados hechos delictivos. En anteriores artículos hemos tratado de comprender
cuándo y porqué es competente el Jurado, y las consecuencias que su competencia
conlleva. Trataremos de mostrar en el presente cómo el Tribunal llega a serlo. Cómo se
llega a ser lo que se es. Seguiremos la cuestión en las fases de investigación, la fase
intermedia y hasta la fase de juicio oral.
Resulta necesario precisar, siguiendo a Pérez-Cruz Martín4 que los problemas de
competencia objetiva del Tribunal del Jurado se plantean “strictu sensu” tras la remisión
de las actuaciones a este órgano para el enjuiciamiento, pues con anterioridad a ese
momento en las fases de instrucción e intermedia, la competencia reside en el juez de
instrucción y la cuestión se planteará como problema de adecuación o inadecuación
de procedimiento.
2
LOMBARDERO MARTÍN, J.M. “El jurado español, el jurado anglosajón y el escabinato. Instrucciones y
veredicto. Breve análisis comparado” Revista Internacional CONSINTER año V n. IX, Porto 2019
3
LOMBARDERO MARTÍN, J.M: “La competencia del Tribunal del Jurado. Breve análisis de la cuestión
tras el acuerdo de pleno de la sala Segunda del Tribunal Supremo de 9 de marzo de 2017” Revista
Internacional CONSINTER año III n. V, Porto 2017
4
PÉREZ-CRUZ MARTÍN, A.J. “La Competencia objetiva del Tribunal del Jurado Especial consideración
de los artículos 1 y 5 de la LO 5/1995, in datada tras su modificación por la L.O. 8/1995, de 16 de
noviembre, L.O. 10/1995, de 23 de noviembre y L.O. 1/2015, de 30 de marzo”. Centro de Estudios
Jurídicos Mayo 2018. Asimismo, véase sobre los problemas de transformaciones del procedimiento
GARBERI LLOBEGAT, J. “Ley Orgánica del Tribunal del Jurado (comentarios prácticos al nuevo proceso
penal ante el Tribunal del Jurado)” – con GIMENO SENDRA, V.-. 1ª Ed. Madrid 1996, p. 62 y CERES
MONTES, J. F. “Ámbito de aplicación de la ley del jurado. Delitos y cuestiones procesales.” Madrid 1997.
p. 105-121
5
Artículo 24. LOTJ 1. Cuando de los términos de la denuncia o de la relación circunstanciada del hecho en
la querella, y tan pronto como de cualquier actuación procesal, resulte contra persona o personas
determinadas la imputación de un delito, cuyo enjuiciamiento venga atribuido al Tribunal del Jurado, previa
valoración de su verosimilitud, procederá el Juez de Instrucción a dictar resolución de incoación del
procedimiento para el juicio ante el Tribunal del Jurado, cuya tramitación se acomodará a las disposiciones
de esta Ley, practicando, en todo caso, aquellas actuaciones inaplazables a que hubiere lugar.
2. La aplicación de la Ley de Enjuiciamiento Criminal será supletoria en lo que no se oponga a los preceptos
de la presente Ley.
6
Artículo 309 bis Lecrim: “Cuando de los términos de la denuncia o de la relación circunstanciada del
hecho en la querella, así como cuando de cualquier actuación procesal, resulte contra persona o personas
determinadas la imputación de un delito, cuyo enjuiciamiento venga atribuido al Tribunal del Jurado,
procederá el Juez a la incoación del procedimiento previsto en su ley reguladora, en el que, en la forma que
en ella se establece, se pondrá inmediatamente aquella imputación en conocimiento de los presuntamente
inculpados.”
“El Ministerio Fiscal, demás partes personadas, y el investigado en todo caso, podrán instarlo así, debiendo
el Juez resolver en plazo de una audiencia. Si no lo hiciere, o desestimare la petición, las partes podrán
recurrir directamente en queja ante la Audiencia Provincial que resolverá antes de ocho días, recabando el
informe del Instructor por el medio más rápido.”
7
Artículo 198 Lecrim: “Cuando no se fije término, se entenderá que han de dictarse y practicarse sin
dilación.”
8
Artículo 217 Lecrim: “El recurso de reforma podrá interponerse contra todos los autos del Juez de
Instrucción. El de apelación podrá interponerse únicamente en los casos determinados en la Ley, y se
admitirá en ambos efectos tan solo cuando la misma lo disponga expresamente.”
9
Véase: PÉREZ MARÍN, M. A. Procedimiento ante el Jurado. Lisboa, Juruá, 2016. El Artículo 303 Lecrim
dice: “La formación del sumario, ya empiece de oficio, ya a instancia de parte, corresponderá a los Jueces
de instrucción por los delitos que se cometan dentro de su partido o demarcación respectiva (...)”
10
Véase el Artículo 783.2.in fine Lecrim: “Al acordar la apertura del juicio oral, resolverá el Juez de
Instrucción sobre (...) En el mismo auto señalará el Juez de Instrucción el órgano competente para el
conocimiento y fallo de la causa.”
11
Que literalmente dice: “solo se incoará el procedimiento especial ante el Tribunal del Jurado cuando exista
una completa seguridad acerca de la concurrencia de los requisitos exigidos para ello”(...), “La incoación
deberá efectuarse con seguridad y cautela. Solo se dictará auto de incoación cuando se den claramente los
requisitos que se deducen del art. 24, a saber: determinación de los hechos como constitutivos de un delito
de los enumerados en la lista del art. 1.2; determinación de la persona imputada; y, por último, valoración de
todo ello como verosímil por el Juez de Instrucción que haya de resolver sobre la incoación.
En aquellos casos en que no esté clara la tipificación inicial de los hechos como comprendida en el art. 1.2;
no aparezca determinada una persona como responsable de los mismos; o los hechos o la imputación no
aparezcan a ojos del Instructor como verosímiles, aunque sin llegar a ser “manifiestamente falsos” (art. 269
de la Ley de Enjuiciamiento Criminal); no se deberá incoar el procedimiento del jurado sino el de
Diligencias Previas o, en su caso, el Sumario” “Solo una vez acreditados con seguridad tales requisitos
procederá incoar procedimiento del jurado con las consecuencias que de ello se derivan”.
12
Véase: PÉREZ MARÍN, M. A. Procedimiento ante el Jurado. Lisboa, Juruá, 2016.
13
La circular, que recomienda no incoar procedimientos de Jurado hasta tener completamente acreditadas las
exigencias del art. 24 LOTJ, dice sobre las transformaciones procedimentales: “La dificultad de
transformar el procedimiento del jurado en otro, o viceversa, se evidencia si se repara en las numerosas
Para el Consejo General del Poder Judicial parece más lógico “comenzar el
procedimiento desde que, con la verosimilitud que el Tribunal Constitucional exige,
exista una notitia criminis relativa a un delito atribuido al Tribunal del Jurado La
imputación debería determinar no la apertura del procedimiento sino el inmediato
traslado a que se refiere el art. 25 LOTJ”14.
Debe traerse a colación como contraria a esta práctica la sentencia de la
Audiencia Provincial de Barcelona de fecha 8 de septiembre de 2005: “ningún
obstáculo existe para que el procedimiento de Jurado resulte incoado desde la sola
interposición de una denuncia o querella, quedando así desmentida la tesis fiscal
encaminada a exigir sistemáticamente una anterior investigación en sede de
Diligencias Previas, como presupuesto obligado y encaminado a asegurar el
carácter indiciario del delito perseguido, su encuadre dentro de los que deberían de
ser conocidos por el Tribunal del Jurado y, en su caso, la identificación de la
persona que se aparezca como presunto responsable del mismo.”
Para este caso y no habiendo dudas sobre el delito, las partes deben instar la
incoación del Proceso ante el Tribunal del Jurado acudiendo al 309 bis Lecrim, y en
el caso de no resolver o no estimar el juez de instrucción su pretensión en plazo de
una audiencia, interponer recurso de Queja ante la Audiencia Provincial.
Una vez incoado el Procedimiento de Jurado, a lo largo de la fase de
instrucción la LOTJ contempla expresamente15 la discusión de la competencia
objetiva y la adecuación del procedimiento y su transformación en Procedimiento
Sumario o Procedimiento Abreviado desarrollándose respectivamente el juicio oral
ante la Audiencia Provincial o ante el Juez de lo Penal, en varios momentos
procesales:
especialidades del nuevo proceso (piénsese en la singularidad de la comparecencia inicial, en los plazos
fijados para instar diligencias, en los concretos momentos para interesar el sobreseimiento, en la
singularidad de la fase intermedia, en las especialidades probatorias del art. 48, etc.). Se cuenta así en la
actualidad con dos tipos de procesos el del jurado y los restantes procesos penales que pueden ser
calificados como difícilmente cohonestables” “Lo expuesto debe llevar a evitar en lo posible las
transformaciones procedimentales.”
14
AA.VV. “Manual del Jurado.” Madrid, CGPJ 1996. p. 193.
15
La Fiscalía General del Estado entiende que la mención expresa no limita la transformación procedimental a
estos momentos y así lo dice en la Circular n. 3/1995, de 27 de diciembre, sobre el proceso ante el Tribunal
del Jurado, su ámbito de aplicación: “En todo caso, aunque la Ley no lo contemple expresamente, debe
sostenerse la posibilidad de que en cualquier momento durante la fase de instrucción del procedimiento del
jurado, las partes puedan interesar del Juez de Instrucción o este acordar de oficio, a la vista del resultado
de las diligencias practicadas, la acomodación del procedimiento. Sería contrario a la economía procesal
el que hubiera necesariamente de evacuarse la calificación provisional y celebrar la audiencia preliminar
para adoptar dicha decisión, si la pertinencia de la misma se advirtiera con anterioridad.”
16
ATSJ Canarias de 27 Julio de 2005 (Roj: ATSJ ICAN 1/2005)
17
STS 688/2013 de 30 septiembre de 2013 (RJ 2013\7635) “En primer lugar, como hemos dicho en SSTS.
942/2011 de 21.9, y 729/2012 de 25.9 según constante doctrina de esta Sala de casación y también del
Tribunal Constitucional, la mera existencia de una discrepancia interpretativa sobre la normativa legal que
distribuye la competencia entre órganos de la jurisdicción penal ordinaria, no constituye infracción del
derecho fundamental al Juez ordinario predeterminado por la Ley. Y dicho derecho no resulta vulnerado
cuando se trate de un mero deslinde y amojonamiento de distintos y colindantes ámbitos de actuación en
hipótesis polémicas o en situaciones problemáticas, no suponiendo por tanto la ruptura deliberada del
esquema competencial (STC 35/2000, 93/1998, ATC 262/1994, de 3 de octubre, STS de 15-3-2003, n.
370/2003 e igualmente podemos añadir en consonancia con la STS. 25.2.2010 ) que las discrepancias
interpretativas relativas a la competencia entre órganos de jurisdicción penal ordinaria no pueden dar lugar a
la infracción del derecho constitucional al juez predeterminado por la Ley. Como ha señalado el Tribunal
Constitucional las cuestiones de competencia reconducibles al ámbito de la interpretación y aplicación de
las normas reguladoras de dicha competencia entre órganos de la jurisdicción ordinaria no rebasan el plano
de la legalidad careciendo por tanto de relevancia constitucional (SSTC 43/1984, de 26 de marzo, 8/1998,
de 13 de enero, 93/1998, de 4 de mayo y 35/2000, de 14 de febrero, entre otras). El derecho al Juez
predeterminado por la ley únicamente puede quedar en entredicho cuando un asunto se sustraiga indebida o
injustificadamente al Órgano al que la Ley lo atribuye para su conocimiento, manipulando el texto de las
reglas de distribución de competencias con manifiesta arbitrariedad, como señala la Sentencia 35/2000, del
Tribunal Constitucional, de 14 de febrero, recogiendo lo ya expresado en el A.T.C 262/1994, de 3 de
octubre. Este mismo criterio lo mantiene el Tribunal Constitucional en multitud de resoluciones, de las que
es exponente la STC n. 157/2007, de 2 de julio y esta misma Sala del Tribunal Supremo lo ratifica entre
1. Oídas las partes, el Juez de Instrucción decidirá la continuación del procedimiento, o el sobreseimiento, si
hubiera causa para ello, conforme a lo dispuesto en los artículos 637 ó 641 de la Ley de Enjuiciamiento
Criminal.
2. Si el Ministerio Fiscal y demás partes personadas instan el sobreseimiento, el Juez podrá adoptar las
resoluciones a que se refieren los artículos 642 y 644 de la Ley de Enjuiciamiento Criminal.
El auto por el que acuerde el sobreseimiento será apelable ante la Audiencia Provincial.
23
Continuación del procedimiento: El juez acuerda continuar el procedimiento en virtud de las peticiones de
las partes y se pronunciará sobre las diligencias que han propuesto, valorando su relevancia, suficiencia y
pertinencia, admitiendo (u ordenando como complementarias) las que considere imprescindibles (útiles y
necesarias) para determinar si procede o no la apertura de juicio oral.
24
Artículo 27 LOTJ. Diligencias de investigación.
1. Si el Juez de Instrucción acordase la continuación del procedimiento, resolverá sobre la pertinencia de las
diligencias solicitadas por las partes, ordenando practicar o practicando por sí solamente las que considere
imprescindibles para decidir sobre la procedencia de la apertura del juicio oral y no pudiesen practicarse
directamente en la audiencia preliminar prevista en la presente Ley.
2. También podrán las partes solicitar nuevas diligencias dentro de los cinco días siguientes al de la
comparecencia o al de aquel en que se practicase la última de las ordenadas. Esta circunstancia será
notificada a las partes al objeto de que puedan instar lo que a su derecho convenga.
3. Además podrá el Juez ordenar, como complemento de las solicitadas por las partes, las diligencias que
estime necesarias, limitadas a la comprobación del hecho justiciable y respecto de las personas objeto de
imputación por las partes acusadoras.
4. Si el Juez considerase improcedentes las solicitadas y no ordenase ninguna de oficio, conferirá nuevo
traslado a las partes a fin de que insten, en el plazo de cinco días, lo que estimen oportuno respecto a la
apertura del juicio oral, formulando escrito de conclusiones provisionales. Lo mismo mandará el Juez
cuando estime innecesaria la práctica de más diligencias, aun cuando no haya finalizado la práctica de las ya
ordenadas.
Contra la resolución del juez de instrucción en materia de diligencias cabe recurso de reforma y subsidiario
de apelación en los términos de los arts. 222 y 311 Lecrim
25
Sobreseimiento: Si el fiscal y las demás partes solicitan el sobreseimiento el juez solo puede acordarlo o si
es el caso proceder conforme a los artículos 642 y 644 Lecrim. El auto acordando sobreseimiento es
directamente recurrible en apelación ante la Audiencia Provincial por disposición expresa del art. 26.2
LOTJ, sin la reforma previa del art. 222 Lecrim. Al respecto, STS 20/2004 de 19 enero. La aplicación
subsidiaria de la Lecrim solo procede cuando una circunstancia no venga expresamente prevista en la
LOTJ: “la supletoriedad (...)lo ha de ser a aquellos aspectos no resueltos directamente en la LOTJ(...)de
modo que la audiencia Provincial deberá resolver el recurso de apelación que le ha sido planteado en
tiempo y forma, pues al no hacerlo se ha denegado el derecho fundamental a la tutela judicial efectiva,
conforme ya tuvimos ocasión de pronunciarnos en nuestra Sentencia 2217/2001 de 15 de noviembre.”
26
Artículo 28 LOTJ. Indicios de distinto delito.
Si de las diligencias practicadas resultaren indicios racionales de delito distinto del que es objeto de
procedimiento o la participación de personas distintas de las inicialmente imputadas, se actuará en la forma
establecida en el artículo 25 de esta Ley o, en su caso, se incoará el procedimiento que corresponda si el
delito no fuese de los atribuidos al Tribunal del Jurado
Para el caso de ser el delito distinto pero también competencia del jurado, o
de existir más delitos también competencia del jurado (propia o que sean conexos), o
cuando existe variación o ampliación respecto a las personas inicialmente
imputadas, el 28 LOTJ ordena convocar la comparecencia del 25 LOTJ, ofreciendo
a las partes proponer nuevas diligencias, y garantizando respecto a los nuevos
imputados la contradicción bajo la cobertura del principio acusatorio.
Respecto a la adecuación del procedimiento, si se constata que el hecho
investigado finalmente no es constitutivo de delito que deba enjuiciar el Tribunal del
Jurado, ordena el art. 28 LOTJ in fine que el juez, tras la comparecencia del art. 25
LOTJ27, de oficio o a instancia de parte acordará la conversión del procedimiento de
jurado en el procedimiento adecuado al tipo de delito y la continuación de los
trámites por el mismo.
2 FASE INTERMEDIA
2.1 Calificaciones Provisionales
Una vez practicadas las diligencias de investigación propuestas por las partes
o acordadas de oficio por el juez, el art. 27.4 LOTJ dispone que el juez dé traslado a
las acusaciones por cinco días para que formulen escrito de conclusiones28 acusando
formalmente29 a los que hasta ese momento eran solo investigados y soliciten la
apertura del juicio oral30.
27
El TS convalida una comparecencia del Art. 25 LOTJ mal constituida por no cumplir sus condiciones si no
ha habido indefensión porque la vista no tuviera por objeto concretar la imputación sino proceder a la
transformación del procedimiento. STS 693/2004 de 26 de mayo, FJ.2ª: “nada obsta a su validez como una
solicitud del fiscal dirigida al juez acerca del procedimiento a seguir y sobre el órgano competente para el
enjuiciamiento, lo cual aquel puede efectuar en cualquier momento del proceso. Si el recurrente no
compartía el criterio adoptado por el juzgado en cuanto al procedimiento a seguir o en cuanto a la
competencia de la audiencia provincial para enjuiciar los hechos, pudo plantearlo en el momento
oportuno, sin que conste que lo haya hecho así.”
28
Artículo. 27.4. LOTJ Si el Juez considerase improcedentes las solicitadas y no ordenase ninguna de oficio,
conferirá nuevo traslado a las partes a fin de que insten, en el plazo de cinco días, lo que estimen oportuno
respecto a la apertura del juicio oral, formulando escrito de conclusiones provisionales. Lo mismo mandará
el Juez cuando estime innecesaria la práctica de más diligencias, aun cuando no haya finalizado la práctica
de las ya ordenadas.
29
En caso que alguna de las acusaciones entienda que procede el sobreseimiento por darse alguna de las
circunstancias del art. 637 Lecrim no presentará escrito de calificación sino escrito instando el
sobreseimiento y retirando la imputación inicial. Y si todas las acusaciones lo piden el juez de instrucción
quedará vinculado por dicha petición.
30
Artículo 29 LOTJ. Escrito de solicitud de juicio oral y calificación.
1. El escrito solicitando la apertura del juicio oral tendrá el contenido a que se refiere el artículo 650 de la
Ley de Enjuiciamiento Criminal.
2. De dicho escrito se dará traslado a la representación del acusado, quien formulará escrito en los términos
del artículo 652 de la Ley de Enjuiciamiento Criminal.
3. En ambos casos, se podrá hacer uso de las alternativas previstas en el artículo 653 de la Ley de
Enjuiciamiento Criminal.
Establece el art. 29.2 LOTJ que se dará traslado de los escritos de acusación a
la defensa por 5 días para formular su escrito en los términos del art. 652 Lecrim31.
La defensa puede plantear calificaciones alternativas e instar la práctica de
diligencias que no hayan sido practicadas, o que no hayan sido pedidas y denegadas
en su día32.
Respecto a la adecuación del procedimiento, siguiendo el cauce del art. 29.5
LOTJ33. las partes pueden instar en sus escritos de calificaciones provisionales la
adecuación del procedimiento si consideran que los hechos objeto de acusación no
son subsumibles en los delitos competencia del tribunal del jurado.
La Fiscalía general del Estado proporciona en su Circular 3/95 una serie de
criterios de actuación:
• Si el enjuiciamiento se estima que habrá de llevarse a cabo a través del
procedimiento abreviado y la inadecuación afecta a todos los hechos de la
causa, las partes han de evacuar el escrito de calificación y no limitarse a
pedir la acomodación del procedimiento. Ello es así porque más adelante
el 32.4 LOTJ prevé la acomodación en procedimiento abreviado con re-
misión al órgano competente, previa apertura del juicio oral, para que
“prosiga el conocimiento de la causa” lo que presupone que la califi-
cación fue formulada en el trámite del art. 29 de la Ley Orgánica 5/1995.
• Si la inadecuación se refiere solo a alguno de los delitos objeto de la
acusación, la solicitud se limitará entonces a la correspondiente deducción
de testimonio, sin que deban las partes presentar el escrito de calificación.
• Cuando los hechos (sean todos o parte de ellos) hayan de enjuiciarse por
procedimiento ordinario, tampoco procederá formular la calificación. Ello
se desprende de la necesidad de volver a la fase de instrucción para dictar
auto de procesamiento.
4. En sus respectivos escritos, las partes podrán proponer diligencias complementarias para su práctica en la
audiencia preliminar, sin que puedan ser reiteradas las que hayan sido ya practicadas con anterioridad.
31
“y a los terceros civilmente responsables (...) para que (..) manifiesten también, por conclusiones numeradas
y correlativas a las de la calificación que a ellos se refiera, si están conformes con cada una, o en otro caso
consignen los puntos de divergencia (...)”
32
Entiende PÉREZ MARTÍN, M.A. Op. cit. que en este momento y sin perjuicio de la dicción literal de la
LOTJ que permitiría pedir nuevas diligencias de investigación a practicar al inicio de la vista, en el trámite
de calificaciones lo que solicitan las partes con la solicitud de apertura de juicio oral es la práctica de
pruebas, con independencia de que también puedan proponer pruebas en otros dos momentos: en el trámite
de cuestiones previas del art. 36 LOTJ y en el trámite de alegaciones previas ante el Tribunal del Jurado, al
inicio de la vista del juicio oral, ex art. 49 LOTJ.
33
Art. 29.5. LOTJ: Las partes, cuando entiendan que todos los hechos delictivos objeto de acusación no son
de los que tienen atribuido su enjuiciamiento al Tribunal del Jurado, instarán en sus respectivos escritos de
solicitud de juicio oral la pertinente adecuación del procedimiento.
Si estiman que la falta de competencia ocurre solo respecto de alguno de los delitos objeto de la acusación,
la solicitud se limitará a la correspondiente deducción de testimonio suficiente, en relación con el que deba
excluirse del procedimiento seguido para ante el Tribunal del Jurado, y a la remisión al órgano
jurisdiccional competente para el seguimiento de la causa que corresponda.
34
STS 854/2010 de 29 septiembre de 2010 (RJ\2010\7646) El Recurrente denuncia vulneración del derecho a
la tutela judicial efectiva en el aspecto del derecho al Juez predeterminado por la Ley, el Tribunal que
condenó al recurrente fue el de la Audiencia Provincial de Huesca, cuando debió ser juzgado por el Tribunal
del Jurado. En el caso, toda la instrucción lo fue por los trámites del Tribunal del Jurado, y solo en el último
momento de la calificación provisional se interesó por el Ministerio Fiscal, con apoyo de las Acusaciones,
Particular y Popular (que lo habían intentado con anterioridad sin éxito) el cambio de proceso; con
formación de Sumario y remisión a la Audiencia Provincial de Huesca para su enjuiciamiento. Pero se
deniega la casación porque la resolución que acordó la tramitación de la causa por los cauces del
procedimiento Sumario, y la propia sentencia recurrida lo fue con anterioridad al Pleno no Jurisdiccional de
20 de Enero de 2010: los Acuerdos de la Sala no tienen vigencia retroactiva, sino que solo se proyectan
hacia los actos procesales posteriores a la fecha del acuerdo.
que consideren competente, respetando las reglas sobre delitos conexos35 de los artículos
5.2 LOTJ y 17 Lecrim36, interpretados conforme a los Acuerdos no jurisdiccionales del
Tribunal Supremo.
Tratándose de delitos que inicialmente se consideraron conexos, se separará su
conocimiento y el juez ordenará la deducción de testimonio cuando sea posible dividir la
continencia de la causa.
Respecto a la divisibilidad de la continencia de la causa véase el Auto 425/2010
de 21 de mayo de la Audiencia Provincial de Granada37: En ese caso se estimó
parcialmente el recurso de apelación y se revocó el auto de transformación a Sumario,
para que se incoe respecto al homicidio el procedimiento ante el Tribunal del Jurado, y
siendo posible en el caso su enjuiciamiento por separado, la tenencia ilícita de armas
se acomode a los tramites del Procedimiento Abreviado.
Cuando no sea posible dividir la continencia de la causa y como sea que
actualmente conforme al Acuerdo no jurisdiccional de 9 de marzo de 2017 el Jurado
no puede perder la competencia sobre delitos propios por existir otros delitos
conexos a ellos, el Jurado conocerá de todos los delitos y solo excepcionalmente
perderá la competencia.
35
Vid. VALLESPÍN PÉREZ, D. El tractament dels delictes conexes davant el Tribunal del Jurat a Catalunya.
CIMS, Barcelona 2007; La conexión en el proceso penal CIMS, Barcelona 2007; Conexión penal en la ley
de enjuiciamiento criminal española. Análisis tras su reforma por Ley 41/2015. Juruá, Porto 2019.
36
Respecto a la acumulación que condicionalmente permite el actual art. 17.3 Lecrim, CUBILLO LÓPEZ, I.J.
“Las causas de conexión penal y su aplicación tras la reforma operada por la Ley 41/2015” en Estudios de
Deusto 65, 2017 nª 2 p. 39-83 realiza una importante precisión: “si concurre un motivo de los que propician
la llamada conexión “necesaria” o “sustantiva”, relativo a la seguridad jurídica, o a que se pueda
calificar como es correcto, deberá decretarse la acumulación; y solo cuando no haya una razón de genuina
necesidad, podrá atenderse –para decidir entre la acumulación o la separación de causas– a las razones de
economía procesal, razones que son siempre de conveniencia. Por ello, la conexión fundada únicamente en
la economía procesal se denomina –en la jurisprudencia que hemos examinado– como conexión
“conveniente” o “contingente” o “de mera funcionalidad procesal” (...) “solo diremos –con referencia a lo
que se acaba de señalar– que la decisión del Juez sobre el enjuiciamiento conjunto de hechos punibles con
apariencia de delitos conexos habrá de exteriorizarse y razonarse, por toda la valoración que entraña, y
debe poder impugnarse.”
37
Auto 425/2010 de 21 de mayo de la AP de Granada (JUR 2010\363825): “en el presente caso no cabe
duda que no se rompe la continencia de la causa, celebrando por separado el delito de tenencia ilícita de
armas y el homicidio, de ahí que aquel deberá verse en el Procedimiento Abreviado y por el Juzgado de lo
Penal correspondiente, y este en el ámbito de la Audiencia Provincial por el Procedimiento del Jurado.
Téngase presente según los datos obrantes en las actuaciones, aquel arma corta la poseía con anterioridad y
no estaba amparada por guía, alguna ni por licencia o permiso de armas para este tipo. Por lo que el delito
no lo comete cuando dispara sobre la víctima, de ahí que no exista problema alguno para juzgarlo
separadamente, máxime si podemos también adelantar la inexistencia de conexidad, en tanto que con el
delito de tenencia no facilitaba su ejecución, puesto que además del arma contaría de dos escopetas calibre
12 que se encontraban en su domicilio. Entiende la Sala que el procedimiento del Jurado es el adecuado
para juzgar del delito de homicidio y el procedimiento abreviado para conocer del delito de tenencia ilícita
de armas, por tanto estimando parcialmente el recurso de apelación formulado al ser posible legalmente el
enjuiciamiento por separado de cada delito en sendos procesos sin que se divida la continencia de la Causa,
se revoca el auto que acuerda la transformación a Sumario Ordinario (30.12.2009) y el de procesamiento
(04.01.2010), para que se incoe respecto al homicidio el procedimiento para ante el Tribunal del Jurado, y la
tenencia ilícita de armas se acomode a los tramites del procedimiento abreviado.”
38
Artículo 30 LOTJ. Convocatoria de la audiencia preliminar.
1. Una vez presentado el escrito de calificación de la defensa, el Juez señalará el día más próximo posible
para audiencia preliminar de las partes sobre la procedencia de la apertura del juicio oral, salvo que estén
pendientes de practicarse las diligencias de investigación solicitadas por la defensa del imputado y
declaradas pertinentes por el Juez. Una vez practicadas estas, el Juez procederá a efectuar el referido
señalamiento. Al tiempo resolverá sobre la admisión y práctica de las diligencias interesadas por las partes
para el acto de dicha audiencia preliminar.
Si el Juez no acordare la convocatoria de la audiencia preliminar, las partes podrán acudir en queja ante la
Audiencia Provincial.
2. La audiencia preliminar podrá ser renunciada por la defensa de los acusados, aquietándose con la apertura
del juicio oral, en cuyo caso, el Juez decretará esta, sin más, en los términos del artículo 33 de la presente
Ley. Para que dicha renuncia surta efecto ha de ser solicitada por la defensa de todos los acusados.
39
Artículo 31 LOTJ. Celebración de la audiencia preliminar.
1. En el día y hora señalados se celebrará la audiencia preliminar comenzando por la práctica de las
diligencias propuestas por las partes.
2. Las partes podrán proponer en este momento diligencias para practicarse en el acto. El Juez denegará
toda diligencia propuesta que no sea imprescindible para la adecuada decisión sobre la procedencia de la
apertura del juicio oral.
3. Terminada la práctica de las diligencias admitidas, se oirá a las partes sobre la procedencia de la apertura
del juicio oral y, en su caso, sobre la competencia del Tribunal del Jurado para el enjuiciamiento. Las
acusaciones pueden modificar los términos de su petición de apertura de juicio oral, sin que sea admisible la
introducción de nuevos elementos que alteren el hecho justiciable o la persona acusada.
40
No pueden alterar los hechos justiciables ni la persona acusada, porque el acusado debe saber a qué atenerse
y ello incidiría desfavorablemente en su derecho de defensa. Sí puede producirse la retirada de alguna de las
acusaciones que esperaban hacerse valer en el acto del juicio oral. Véase: VARELA CASTRO, L. en
AA.VV Manual del jurado op. cit, p. 259
41
Artículo 32.LOTJ Auto de sobreseimiento o de apertura de juicio oral.
1. Concluida la audiencia preliminar, en el mismo acto o dentro de los tres días siguientes, el Juez dictará
auto por el que decidirá la apertura o no del juicio oral. Si decide la no apertura del juicio oral acordará el
sobreseimiento. Podrá asimismo decretar la apertura del juicio oral y el sobreseimiento parcial en los
términos del artículo 640 de la Ley de Enjuiciamiento Criminal si concurre en alguno de los acusados lo
previsto en el artículo 637.3.º de la Ley de Enjuiciamiento Criminal.
2. La resolución por la que acuerda el sobreseimiento es apelable ante la Audiencia Provincial. La que
acuerda la apertura del juicio oral no es recurrible, sin perjuicio de lo previsto en el artículo 36 de la presente
Ley.
3. También podrá el Juez ordenar la práctica de alguna diligencia complementaria, antes de resolver, si la
estimase imprescindible de resultas de lo actuado en la audiencia preliminar.
42
Artículo 637 Lecrim. Procederá el sobreseimiento libre:
1.º Cuando no existan indicios racionales de haberse perpetrado el hecho que hubiere dado motivo a la
formación de la causa.
2.º Cuando el hecho no sea constitutivo de delito.
3.º Cuando aparezcan exentos de responsabilidad criminal los procesados como autores, cómplices o
encubridores.
43
Artículo 640 Lecrim. En el caso 3.º del artículo 637, se limitará el sobreseimiento a los autores, cómplices
o encubridores que aparezcan indudablemente exentos de responsabilidad criminal, continuándose la causa
respecto a los demás que no se hallen en igual caso. Es aplicable a los procesados a quienes se declare
exentos de responsabilidad lo dispuesto en el artículo 638.
44
Artículo 32.4.LOTJ: “En su caso, podrá el Juez ordenar la acomodación al procedimiento que corresponda
cuando no fuese aplicable al regulado en esta Ley. Si considera que el que corresponde es el regulado en el
Título II del Libro IV de la Ley de Enjuiciamiento Criminal, acordará la apertura del juicio oral, si la estima
procedente, y remitirá la causa a la Audiencia Provincial o al Juez de lo Penal competente para que prosigan
el conocimiento de la causa en los términos de los artículos 785 y siguientes de dicha Ley”
45
Artículo 783 Lecrim.
competente. Prevé el art. 33 d) LOTJ que en todo caso el auto de apertura de juicio
oral debe determinar el órgano competente46.
1. Solicitada la apertura del juicio oral por el Ministerio Fiscal o la acusación particular, el Juez de
Instrucción la acordará, salvo que estimare que concurre el supuesto del n. 2 del artículo 637 o que no
existen indicios racionales de criminalidad contra el acusado, en cuyo caso acordará el sobreseimiento que
corresponda conforme a los artículos 637 y 641.
Cuando el Juez de Instrucción decrete la apertura del juicio oral solo a instancia del Ministerio Fiscal o de la
acusación particular, el Secretario judicial dará nuevo traslado a quien hubiere solicitado el sobreseimiento
por plazo de tres días para que formule escrito de acusación, salvo que hubiere renunciado a ello.
2. Al acordar la apertura del juicio oral, resolverá el Juez de Instrucción sobre la adopción, modificación,
suspensión o revocación de las medidas interesadas por el Ministerio Fiscal o la acusación particular, tanto
en relación con el acusado como respecto de los responsables civiles, a quienes, en su caso, exigirá fianza, si
no la prestare el acusado en el plazo que se le señale, así como sobre el alzamiento de las medidas adoptadas
frente a quienes no hubieren sido acusados.
En el mismo auto señalará el Juez de Instrucción el órgano competente para el conocimiento y fallo de la
causa.
3. Contra el auto que acuerde la apertura del juicio oral no se dará recurso alguno, excepto en lo
relativo a la situación personal, pudiendo el acusado reproducir ante el órgano de enjuiciamiento las
peticiones no atendidas.
46
Artículo 33 d) LOTJ. El auto que decrete la apertura del juicio oral determinará: El órgano competente
para el enjuiciamiento.
47
El Acuerdo del Pleno de 29 de enero de 2008 señala que: “Conforme al artículo 240.2 apartado 2 de la
LOPJ, en todos los recursos de casación promovidos contra sentencias dictadas por las Audiencias
Provinciales o los Tribunales Superiores de Justicia, en el procedimiento del Jurado, la Sala solo examinará
de oficio su propia competencia. Las alegaciones sobre la falta de competencia objetiva o la inadecuación
de procedimiento, basadas en la vulneración del artículo 5 de la LOTJ, habrán de hacerse valer por los
medios establecidos, con carácter general, en la Ley de Enjuiciamiento Criminal y en la LO 5/1995,
reguladora del Tribunal del Jurado.”
Acogido, entre otras, por SSTS. Sala 2ª, n. 166/2007, de 16.04.2008 y 942/2016 de 16 de diciembre.
48
La STS. 2217/2001, de 26 de noviembre declara admisible que el Magistrado-Presidente del Tribunal del
Jurado la pueda cuestionar de oficio, sin necesidad que se haya planteado cuestión previa por alguna de las
partes (art. 36 LOTJ). La decisión será recurrible en apelación ante la Sala de lo Civil y Penal del TSJ
(artículos 676 y 846 bis a) a f) LECrim); no cabe casación por tratarse de una resolución interlocutoria y no
definitiva.
La STS. 830/2009, de 16 de julio declara asimismo que la inadecuación del procedimiento no conlleva
nulidad de actuaciones si no se ha producido indefensión material de alguna de las partes.
49
Vid. GARBERI LLOBEGAT, J. “Ley Orgánica del Tribunal del Jurado (comentarios prácticos al nuevo
proceso penal ante el Tribunal del Jurado)” con GIMENO SEDRA,V. 1ª ed. Madrid 1996 , p. 62.
50
STS. 315/2016 de 14.04.2016 (ROJ STS 1666/2016) Entiende Luciano Varela que hay que decretar la
nulidad de oficio por falta de competencia objetiva del tribunal que dictó la sentencia recurrida. No se ha
planteado pero resulta competente el Tribunal del Jurado por aplicación del art. 5 LOTJ y acuerdo de pleno
no jurisdiccional de 20 de enero y 23 de febrero de 2010, y del que él discrepa pues limita la extensión de la
competencia por razón de conexión del art. 5 LOTJ en casos que el legislador pudo y no quiso hacerlo. El
legislador en la extensión competencial por razón del 5.2.C LOTJ no diferencia entre el objetivo principal
de la estrategia delictiva del autor y la opción adoptada de manera meramente instrumental. Sin embargo el
pleno no jurisdiccional condicionó la extensión competencial del tribunal al exigir que el delito conexo se
haya cometido teniendo como objetivo principal cometer un delito que sea competencia del Tribunal del
Jurado y con ello suplantó la voluntad del legislador. Ciertamente erradicó la aplicación indebida del 17.5
Lecrim a casos donde concurren delitos del Tribunal del Jurado con otros que no lo son. Cualquiera que sea
la relación de otros delitos que no son competencia del Tribunal del jurado con otros que si lo son, nunca
puede determinar la extensión de la competencia de la Audiencia Provincial sin jurado a los delitos que no
le están atribuidos por estarlo al Tribunal del Jurado.
51
Artículo 36 LOTJ. Planteamiento de cuestiones previas.1. Al tiempo de personarse las partes podrán: a)
Plantear alguna de las cuestiones o excepciones previstas en el artículo 666 de la Ley de Enjuiciamiento
Criminal o alegar lo que estimen oportuno sobre la competencia o inadecuación del procedimiento. 2. Si se
plantease alguno de estos incidentes se le dará la tramitación establecida en los artículos 668 a 677 de la Ley
de Enjuiciamiento Criminal.
52
Artículo 666. Lecrim Serán tan solo objeto de artículos de previo pronunciamiento las cuestiones o
excepciones siguientes: 1.a La de declinatoria de jurisdicción.
El auto que resuelva la cuestión previa del art. 36.1 a) LOTJ sobre la
competencia del tribunal podrá recurrirse en apelación ante la Sala Civil y Penal del
Tribunal Superior de Justicia (artículo 676, 3° LECrim.)53
Advierte la Fiscalía General del Estado en su Circular 3/95 que si la
acomodación procedimental se planteó en fase de instrucción y se plantea luego ante
el Magistrado-Presidente como “cuestión previa” al amparo del art. 36.1, a), y,
ulteriormente, por medio de recurso de apelación, llega ante el Tribunal Superior de
Justicia, se está en el caso de una doble vía de planteamiento del asunto (Juez de
Instrucción con recurso ante la Audiencia y Magistrado Presidente con recurso ante
el Tribunal Superior de Justicia)
Por ello entiende la Fiscalía General del Estado que el Magistrado-Presidente
no ha de resolver la cuestión previa en forma distinta a la sostenida por la Audiencia
Provincial al resolver el anterior recurso de queja en fase de instrucción, salvo que se
dieran nuevos elementos de juicio desconocidos entonces.
Además deberá ceder el criterio de la Audiencia Provincial ante la resolución
del Tribunal Superior de Justicia al que por la vía de los arts. 36.1, a) y 846 bis, a),
hubiera llegado tal cuestión.
El Tribunal Supremo en la sentencia STS 689/201254 en primer lugar aplica
el Acuerdo de Pleno no jurisdiccional la Sala de Gobierno de 29 de enero de 2008
“las cuestiones relacionadas con la competencia deben tramitarse en la instancia
hasta el agotamiento de los medios de impugnación, de forma que, en lo posible, el
asunto quede resuelto antes del comienzo del juicio oral”. y en segundo lugar, res-
pecto régimen de recursos previsto en la LOTJ expone: “En ese sentido, ha de reco-
nocerse que la regulación de los recursos en la materia presenta algunas deficien-
cias pues si la causa se tramita por las normas de la LOTJ, contra la decisión de
este tribunal respecto de las cuestiones planteadas conforme al artículo 36 de la ley
cabe recurso de apelación que será resuelto por el Tribunal Superior de Justicia,
sin que contra esa decisión quepa recurso de casación.”
53
Artículo 676. Lecrim: “Si el Tribunal no estimare suficientemente justificada la declinatoria, declarará no
haber lugar a ella, confirmando su competencia para conocer del delito. Si no estima justificada cualquier
otra, declarará simplemente no haber lugar a su admisión mandando en consecuencia continuar la causa
según su estado. Contra el auto resolutorio de la declinatoria y contra el que admita las excepciones 2.a, 3.a
y 4.a del artículo 666, procede el recurso de apelación. Contra el que las desestime, no se da recurso alguno
salvo el que proceda contra la sentencia sin perjuicio de lo dispuesto en el artículo 678.”
El Acuerdo del Pleno no jurisdiccional de la Sala 2ª, del 8 de mayo de 1998, interpreta que “el actual
artículo 676 LECrim tras su modificación por ley 5/95 de 22 de mayo debe interpretarse en el sentido de
que la apelación que en él se contempla es únicamente admisible en el ámbito competencial que la L.O.
5/95 atribuye al Jurado, y su decisión en este limitado campo corresponde al Tribunal Superior de Justicia
correspondiente. Fuera de este ámbito procesal el recurso que corresponde es el de casación ante la Sala II
del Tribunal Supremo a través de lo dispuesto en el artículo 848 LECrim.” (STS. Sala 2ª, n. 60/2004, de 22
de enero).
54
STS. 689/2012, de 20 de setiembre (Roj: STS 6092/2012)
55
Artículo 678 Lecrim. “Las partes podrán reproducir en el juicio oral, como medios de defensa, las
cuestiones previas que se hubiesen desestimado, excepto la de declinatoria. Lo anterior no será de aplicación
en las causas competencia del Tribunal del Jurado sin perjuicio de lo que pueda alegarse al recurrir contra la
sentencia.”
56
Artículo 48 LOTJ. Modificación de las conclusiones provisionales y conclusiones definitivas.
1. Concluida la práctica de la prueba, las partes podrán modificar sus conclusiones provisionales.
2. El Magistrado-Presidente requerirá a las partes en los términos previstos en el apartado 3 del artículo 788
de la Ley de Enjuiciamiento Criminal, estándose, en su caso, a lo dispuesto en el apartado 4 del citado
precepto.
3. Aun cuando en sus conclusiones definitivas las partes calificasen los hechos como constitutivos de un
delito de los no atribuidos al enjuiciamiento del Tribunal del Jurado, este continuará conociendo.
57
El art. 52.g) LOTJ al tratar de la determinación del objeto del veredicto establece:
“El Magistrado-Presidente, a la vista del resultado de la prueba, podrá añadir hechos o calificaciones
jurídicas favorables al acusado siempre que no impliquen una variación sustancial del hecho justiciable, ni
ocasionen indefensión. Si el Magistrado-Presidente entendiese que de la prueba deriva un hecho que
implique tal variación sustancial, ordenará deducir el correspondiente tanto de culpa”.
58
STS 688/2013 de 30 septiembre de 2013 (RJ 2013\7635): “sin que la alegada calificación por la defensa de
homicidio culposo altere tal competencia pues no corresponde a la parte elegir el procedimiento judicial
aplicable al enjuiciamiento de los hechos, tratándose, como es, una cuestión de orden público y olvidando
que son los hechos y calificación jurídica de la acusación lo que deben servir de base para la determinación
de la competencia objetiva.”
59
Circular FGE n. 3/1995, de 27 de diciembre, sobre el proceso ante el Tribunal del Jurado: su ámbito de
aplicación.
60
El recurso discute la competencia del tribunal por una divergente calificación del tipo delictivo que solo
puede resolverse celebrando el juicio oral. El Tribunal Superior se pronuncia a favor de la competencia del
Tribunal, y sobre el alcance, contenido y sentido de las cuestiones previas ante el Tribunal del Jurado. El art.
36 LOTJ no ampara una petición de sobreseimiento, ni tampoco en el caso de plantearse conclusiones
alternativas sobre la calificación de homicidio (...) sustraer su conocimiento al Jurado, en tanto que su
decisión deja de tener contenido procesal para conformar una resolución sobre el fondo (...).Solo una vez
celebrado el juicio y que se cuente ya con el resultado de las pruebas practicadas y con las reflexiones que
su análisis sugiera a las partes, incluida también una eventual alteración de sus conclusiones provisionales,
podrá el jurado popular pronunciarse. El artículo 48.3 de la Ley permite al Tribunal continuar conociendo
pese a que se produzca una eventual calificación de los hechos como integrantes de un delito ajeno a la
competencia del Jurado.
61
AAP Granada Auto 425/2010 de 21 de mayo (JUR 2010\363825). Entiende la Sala que el procedimiento
del Jurado es el adecuado para juzgar del delito de homicidio y el procedimiento abreviado para conocer del
delito de tenencia ilícita de armas, por tanto estimando parcialmente el recurso de apelación formulado al
ser posible legalmente el enjuiciamiento por separado de cada delito en sendos procesos sin que se divida la
continencia de la Causa, se revoca el auto que acuerda la transformación a Sumario Ordinario (30.12.2009)
y el de procesamiento (04.01.2010), para que se incoe respecto al homicidio el procedimiento para ante el
Tribunal del Jurado, y la tenencia ilícita de armas se acomode a los trámites del procedimiento abreviado.
62
AAP de Lleida auto 590/2014 de 30 de diciembre (JUR 2015\81189) la transformación del procedimiento
de Diligencias Previas a Jurado, que se recurre, fue correcta por cuanto la infidelidad en la custodia de
documentos cometida por el funcionario de correos es MEDIAL con la malversación, para procurar su
impunidad, y ello en aplicación del acuerdo de 23.02.2010.
63
AAP de Castellón Auto 250/2016 de 27 de mayo. (JUR 2016\151864) El Ministerio Fiscal interpone
recurso de Queja y la audiencia ordena seguir los trámites del Jurado por ser en este caso el allanamiento el
delito-fin.
64
Y sin embargo la abundante Jurisprudencia que rechaza las numerosas invocaciones de vulneración del
derecho al juez ordinario predeterminado por la ley, la STS de 26 de junio de 2009 advierte que la alteración
injustificada de la competencia del Tribunal del Jurado a favor de la Audiencia Provincial sí vulnera ese
derecho fundamental. Pues no es la mera asignación del conocimiento de una causa a otro órgano igual en
distinto territorio, o con competencia distinta en función de la pena aparejada, sino que estamos ante
órganos totalmente diferentes, con trámites procesales propios. Véase MUÑOZ CUESTA, F. J.
“Competencia del tribunal del jurado. Especial referencia a los delitos conexos: STS de 26 de junio de
2009.” En Revista Aranzadi Doctrinal n. 8/2009 Estudios. Cizur Menor, 2009.
65
“... de otro lado, las cuestiones relacionadas con la competencia deben tramitarse en la instancia hasta el
agotamiento de los medios de impugnación, de forma que, en lo posible, el asunto quede resuelto antes del
comienzo del juicio oral. En ese sentido, ha de reconocerse que la regulación de los recursos en la materia
presenta algunas deficiencias. Pues si la causa se tramita por las normas de la LOTJ, contra la decisión de
este tribunal respecto de las cuestiones planteadas conforme al artículo 36 de la ley, cabe recurso de
apelación que será resuelto por el Tribunal Superior de Justicia, sin que contra esa decisión quepa recurso de
casación. Sin embargo, si la causa se ha tramitado como procedimiento ordinario, la cuestión puede
plantearse al amparo del artículo 666 como artículo de previo pronunciamiento, contra cuya resolución cabe
recurso de casación, en el que el Tribunal Supremo resolvería definitivamente la cuestión con anterioridad
al comienzo del juicio oral.”.
66
aplicado por la STS.166/2007, de 16.04.2008
67
Ver además la STS 822/2013 de 6 de noviembre de 2013 (RJ 2013\7648): El legislador quiere que al inicio
de juicio oral cualquier controversia sobre determinación de la competencia haya quedado definitivamente
zanjada, de ahí que arbitre una casación anticipada contra la resolución que resuelve sobre esta materia en la
fase intermedia.
68
STS 942/2016 de 16 de diciembre de 2016 (ROJ STS 5493/2016)
69
Vid. STS. 694/2011, de 24 de junio.
70
Vid. STS 464/2010, de 30 de abril, referida a un supuesto de posible vulneración del derecho a la
inviolabilidad domiciliaria; o las SSTS. núms. 1481/2002, 18 de septiembre y 640/2000, 15 de abril,
relacionadas ambas con una pretendida ilicitud probatoria.
71
STS. 822/2013, de 6 de noviembre RJ 2013\7648
72
STS. 428/2017, de 14 de junio (Roj: STS 2379/2017)
sación con ese objeto: determinar el órgano de enjuiciar.” “la resolución que al
efecto se adopte, puede ser objeto de recurso de casación a partir de la previsión de
las cuestiones de previo pronunciamiento del art. 666 de la Lecrim. Esa resolución
determina el órgano de enjuiciar y lo hace como premisa necesaria para asegurar
el enjuiciamiento de acuerdo a las normas del proceso debido en tiempo razonable”
“De deferirlo a la sentencia, podría propiciar el supuesto de un doble enjuiciamien-
to, situación, en absoluto, deseable.”
En el recurso analizado, “la sentencia en la que apoya la impugnación, la
STS. 468/2005 de 14 de abril, se dicta, precisamente, contra un auto de
acomodación del procedimiento, en el que la parte había interesado el
enjuiciamiento por el Tribunal de Jurado y ante la denegación de la remisión se
acude en casación y obtiene una resolución favorable a su pretensión.” Pero “En el
supuesto de esta casación, la recurrente no planteó la cuestión en la forma debida
el recurso de casación contra el Auto que deniega la tramitación del enjuiciamiento
ante el Tribunal de Jurado por lo que, de alguna manera, se aquietó a la decisión,
por más que en el juicio oral plantease su desacuerdo con el enjuiciamiento, pero
no lo hizo en la forma dispuesta en la Ley procesal para solventar la cuestión en el
momento procesal hábil para su planteamiento.”
En el caso “el enjuiciamiento por las normas procesales del sumario
ordinario era procedente en aplicación del Acuerdo del Pleno no jurisdiccional de
20 de enero de 2010, de conformidad con la intención de los acusados al tiempo de
la ejecución de su acción.” “Ese Acuerdo interpretativo de la norma, en este caso de
la LECrim. y de la LOTJ, al versar sobre materia procesal, y concretamente sobre
el órgano competente para el enjuiciamiento, participa de la regla “tempus regit
actum”, de manera que era la interpretación vigente al tiempo de los hechos.” y
“Cualquier modificación posterior del criterio interpretativo sobre la competencia,
como se ha producido por Acuerdo, del Pleno no jurisdiccional, de la Sala 2ª del
TS, de 9 de marzo de 2017, no alcanza a actos procesales anteriores por afectar a la
seguridad jurídica y compromete la interdicción del doble enjuiciamiento.”
Cuando en un proceso ordinario o abreviado el juicio ha llegado el trámite de
conclusiones definitivas y de resultas de su cambio se plantea la cuestión de la
competencia del tribunal, sostiene73 la Fiscalía General del estado (Circular 3/95)
aplicando por analogía lo que previene el artículo 48. 3 LOTJ que preferible que el
proceso continúe por los trámites que lo venía haciendo con excepción del
Procedimiento Abreviado ante del juez de lo penal. en el que el cambio en las
calificaciones definitivas suponga que el delito excede de su competencia74 y sea de
los establecidos en el art. 1.2 de la LOTJ. En ese supuesto se transformará el
procedimiento al del Jurado, pero desde el momento del juicio, es decir, desde el
trámite de la constitución del jurado (arts. 38 y ss. LOTJ)
73
Vid. MUERA ESPARZA, J.J. “Ambito de aplicación, competencia y procedimiento para las causas ante el
tribunal del jurado.” en Anuario Jurídico de la Rioja n. 2 1996.p. 376
74
Circular FGE n. 3/1995, de 27 de diciembre, sobre el proceso ante el Tribunal del Jurado: su ámbito de
aplicación.
IV JURISPRUDENCIA
STC 43/1984, de 26 de marzo ECLI:ES:TC:1984:43
STC 8/1998, de 13 de enero ECLI:ES:TC:1998:8
STC 93/1998, de 4 de mayo ECLI:ES:TC:1998:93
STC 35/2000, de 14 de febrero ECLI:ES:TC:2000:35
STS. 2217/2001, de 26 de noviembre (Roj: STS 9208/2001)
STS. 693/2004 de 26 de mayo (Roj: STS 3623/2004)
ATSJ Canarias de 27 Julio de 2005 (Roj: ATSJ ICAN 1/2005)
STC. 157/2007, de 2 de julio ECLI:ES:TC:2007:157
STS. 166/2007, (Roj: STS 1218/2007)
STS. 435/2008, de 25 de junio (Roj: STS 3769/2008)
STS. 728/2009 de 26 de junio de 2009 (Roj: STS 3938/2009)
STS. 830/2009, de 16 de julio (Roj: STS 5423/2009)
STS. 464/2010, de 30 de abril (Roj: STS 2513/2010)
AAP de Granada Auto 425/2010 de 21 de mayo (JUR 2010\363825).
STS. 854/2010 de 29 septiembre (RJ\2010\7646)
STS. 694/2011, de 24 de junio (Roj: STS 4863/2011)
STSJ 7/2011 Andalucía de 25 de enero (JUR 2011/103857)
STS. 689/2012, de 20 de setiembre (Roj: STS 6092/2012)
STS. 688/2013 de 30 septiembre (RJ 2013\7635)
STS. 822/2013, de 6 de noviembre (RJ 2013\7648)
AAP de Lleida auto 590/2014 de 30 de diciembre (JUR 2015\81189)
ATS 1467/2015 de fecha 5-11-2015 (JUR 2015\291724)
ATSJ Cataluña 146/2016 de 29 de febrero (JUR 2016/74939)
AAP de Castellón Auto 250/2016 de 27 de mayo. (JUR 2016\151864)
STS. 315/2016 de 14 de abril. (Roj STS 1666/2016)
STS. 942/2016, de 16 de diciembre (Roj STS 5493/2016)
STS. 428/2017, de 14 de junio (Roj: STS 2379/2017)
75
Circular FGE n. 3/1995, de 27 de diciembre, sobre el proceso ante el Tribunal del Jurado: su ámbito de
aplicación
V BIBLIOGRAFÍA
AA.VV. Manual del Jurado. Madrid, CGPJ,1996
CERES MONTES, J. F. Ámbito de aplicación de la ley del jurado. Delitos y cuestiones procesales.
Madrid, 1997
CUBILLO LÓPEZ, I.J. “Las causas de conexión penal y su aplicación tras la reforma operada por la Ley
41/2015” en Estudios de Deusto, 65, n.2, 2017
F.G.E. Circular n. 3/1995, de 27 de diciembre, sobre el proceso ante el Tribunal del Jurado: su ámbito
de aplicación.
GARBERI LLOBEGAT, J. “Ley Orgánica del Tribunal del Jurado (comentarios prácticos al nuevo
proceso penal ante el Tribunal del Jurado)” con GIMENO SEDRA,V. Madrid,1ª Ed, 1996
LOMBARDERO MARTÍN, J.M. “La competencia del Tribunal del Jurado. Breve análisis de la cuestión
tras el acuerdo de pleno de la sala Segunda del Tribunal Supremo de 9 de marzo de 2017” Revista
Internacional CONSINTER, año III, n. V, Porto, Juruá, 2017
LOMBARDERO MARTÍN, J.M. “El jurado español, el jurado anglosajón y el escabinato. Instrucciones
y veredicto. Breve análisis comparado” Revista Internacional CONSINTER, año V, n. IX, Porto, Juruá,
2019
MUERA ESPARZA, J.J. “Ambito de aplicación, competencia y procedimiento para las causas ante el
tribunal del jurado.” en Anuario Jurídico de la Rioja, n. 2. 1996
MUÑOZ CUESTA, F. J. “Competencia del tribunal del jurado. Especial referencia a los delitos conexos:
STS de 26 de junio de 2009.” En Revista Aranzadi Doctrinal n. 8/2009 Estudios, Cizur Menor, 2009
PÉREZ MARÍN, M. A. Procedimiento ante el Jurado. Lisboa, Juruá, 2016
PÉREZ-CRUZ MARTÍN, A.J. “La Competencia objetiva del Tribunal del Jurado Especial consideración
de los artículos 1 y 5 de la LO 5/1995, in datada tras su modificación por la L.O. 8/1995, de 16 de
noviembre, L.O. 10/1995, de 23 de noviembre y L.O. 1/2015, de 30 de marzo”. Madrid, Centro de
Estudios Jurídicos Mayo 2018
VALLESPÍN PÉREZ, D. El tractament dels delictes conexes davant el Tribunal del Jurat a Catalunya.
Barcelona, CIMS, 2007.
VALLESPÍN PÉREZ, D La conexión en el proceso penal Barcelona, CIMS, 2007.
VALLESPÍN PÉREZ, D Conexión penal en la ley de enjuiciamiento criminal española. Análisis tras su
reforma por Ley 41/2015. Porto, Juruá, 2019.
1
Pós doutor na Universidade de Coimbra – Portugal e pelo UNICURITIBA, Paraná – Brasil. Doutor em
Direito pela Faculdade Autônoma de São Paulo – FADISP. Mestre em Direitos da Personalidade –
UNICESUMAR. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8861821320530256. E-mail: h.monteschio@uol.com.br
INTRODUÇÃO
A tripartição de poderes cuja originalidade pode ser atribuída as ideias formu-
ladas por Platão e Aristóteles, já em sua essência tinha como escopo fundamental
impedir que haja uma concentração de poderes nas mãos de uma única pessoa, ou
titular, assegurando a felicidade a todos.
Cabe destacar que dentro da própria evolução da concepção de separação de
poderes, com o intuito de assegurar um maior equilíbrio dentro do Estado foi objeto
dos pensamentos de John Locke e Montesquieu. Ao estabelecer uma separação, uma
divisão, se busca estabelecer um equilíbrio aos poderes, não assistindo razão a pre-
ponderância de um Poder sobre os outros. Neste sentido cabe destacar a doutrina de
Alexandre de Moraes.
2
MORAES, Alexandre, Direito Constitucional, São Paulo, Atlas, 2017, p. 433.
3
MARTINS, Ives Gandra da Silva, A constituição brasileira de 1988: interpretações. Rio de Janeiro, Forense
Universitária, 1990, p. 187.
4
CANOTILHO, José Joaquim Gomes, MOREIRA, Vital, Os poderes do presidente da República, Coimbra,
Coimbra, 1991, p. 71.
Dentro desse quadro há uma bem engendrada organização política que passa
a impor uma dependência dos seus integrantes às políticas do Estado. Dentro da
baixa densidade cultural e de valores pessoais dos integrantes de determinado Estado
está criada dependência as políticas sociais.
Esse quadro fático faz com que se crie uma conjunção de fatores, em vários
casos, perversa de uma “troca” entre o titular do poder político na sua permanência
ou de seu grupo político, em troca pela concessão de benefícios aos integrantes do
Estado.
Assim, cria-se a preponderância dos Poderes nas mãos do chefe do Poder
Executivo, em razão da presença concentrada de poderes e prerrogativas dentro do
feixe de competências que lhe são conferidas pelo texto constitucional, bem como
pela legislação infraconstitucional. No Brasil essa preponderância é por demais
evidenciada nos últimos anos.
Dentro dessa temática reflexiva e introdutória deve ser pontual, já que o es-
paço ideal desse debate extrapola o permitido no atual contexto, mas sem perder a
precisão científica. Por oportuno, diante do desequilíbrio entre os poderes na Repú-
blica Federativa do Brasil, entenda-se: que há, e não é recente a constatação, a “in-
vasão” nas funções públicas.
Como não há vácuo de poder, outros “poderes” acabam assumindo preponde-
rância em face dos constituídos e descritos na tripartição constitucional. A toda
evidência, tanto o Ministério Público, quanto os Tribunais de Contas vem assumindo
funções que eram destinadas aos Poderes Legislativo e Judiciário.
Em razão da inexpressiva capacidade do Poder Legislativo em legislar, com a
aquiescência constante das Medidas Provisórias produzidas pelo Poder Executivo,
mas o que é mais grave se verifica quando ao total despreparo para fiscalizar os
outros Poderes o Legislativo cede graciosamente uma de suas funções típicas aos
Tribunais de Contas.
Sobreleva enfatizar que os Tribunais de Contas são auxiliares do Poder Le-
gislativo, mas que nos últimos anos vem assumindo à vezes daquele poder. A razão
é plenamente explicável, pois os parlamentares deixaram de ser fiscalizadores para
assumirem a posição de assistencialistas de suas bases eleitorais. Com isso, não há
um mínimo cuidado de legislar, nem tampouco de fiscalizar.
Os complexos comandos orçamentários, previstos tanto na Constituição Fe-
deral, bem como na Lei 4.320, de 17.03.1964 nãos se adéquam a atual realidade dos
representantes do Parlamento, em todas as esferas. Nos parlamentos prepondera a
prática do assistencialismo, o “deputado especialista em liberar verbas públicas”, o
deputado “despachante de luxo em Brasília”, mas nada de exercer a função de legis-
lar e fiscalizar.
Assim, alguém tem que fazer o trabalho técnico e controlar os gastos públi-
cos, então assume o controle os Tribunais de Contas, que diante da fragilidade inte-
lectual, interesse público e densidade em assuntos contábeis de órgão auxiliar passa
a desfrutar de condição principal.
5
HORTA, Raul Machado, Alternativas para um novo sistema de governo. in CLÈVE, Clèmerson Merlin;
BARROSO, Luís Roberto (Org.). Direito constitucional: teoria do Estado, São Paulo, Revista dos
Tribunais, 2011, p. 848.
6
REIS, Marlon, A república da propina, São Paulo, Planeta, 2016, p. 70.
O mais desinteressado olhar pode constatar que não há mais equilíbrio entre os
chamados poderes do Estado, rompido que foi pelo visível fortalecimento do Exe-
cutivo, que passou a manipular e até assumir tanto funções judiciais, como o de-
monstra o exemplo do contencioso administrativo, como igualmente funções legis-
lativas, estas ora pela iniciativa do processo legislativo do que se faz inclusive titu-
lar absoluto em mais de um gênero de lei, ora pela imposição de normas especiais
que tornam mais fácil obter do legislativo o referendo para atos do seu interesse.
Se antigamente predominava o Legislativo como poder, é inegável que a evolução
do Estado caminhou no sentido da ampliação das atividades do executivo, e como
isso acabou por atribuir-lhe mais poder de criação política, desequilibrando as de-
cantadas harmonia e independência da tripartição. A última, em verdade, jamais
existiu ou existirá no sentido da trilogia, pois não há como conceber a ação dos
órgãos do Estado senão através da interdependência. Foi a ideia antiga da inde-
pendência dos poderes, aliás, que deu a doutrinadores a imagem de que o Estado era
dividido em três Estados7.
7
FÉDER, João, Estado sem poder, São Paulo, Max Limonad, 1997, p. 84.
das receitas públicas, editar Medidas Provisórias8, nomear Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal9, do Superior Tribunal de Justiça, do Tribunal de Contas da União10.
Este descompasso administrativo é muito mais visível no Brasil, o qual pode
ser ainda mais potencializado quando se verifica implícita, ou até mesmo explicita-
mente, a influência que o chefe do Poder Executivo exerce na concentração da arre-
cadação tributária, assim ponderado por Ricardo Victalino de Oliveira.
8
Constituição Federal. Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar
medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
9
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
XIV – nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos
Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os
diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei;
10
XV – nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da União;
11
OLIVEIRA, Ricardo Victalino de, Federalismo assimétrico brasileiro, Belo Horizonte, Arraes, 2012, p.
203.
12
Art. 76. São desvinculados de órgão, fundo ou despesa, até 31 de dezembro de 2015, 20% (vinte por cento)
da arrecadação da União de impostos, contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico, já
instituídos ou que vierem a ser criados até a referida data, seus adicionais e respectivos acréscimos legais.
(Redação dada pela Emenda Constitucional n. 68, de 2011).
13
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves, A democracia no liminar do século XXI, São Paulo, Saraiva,
2001, p. 195.
14
MORAES, Alexandre de, Presidencialismo, São Paulo, Atlas, 2013, p. 127.
mecanismo para evitar esta concentração de poderes, bem como estabelecer uma
espécie de controle por seus integrantes.
Para tanto cabe citar novamente Manoel Gonçalves Ferreira Filho, o qual se
manifesta a cerca desta discrepância existente na referida separação de poderes,
advertindo que “sua importância costuma ser minimizada; seu fim, profetizado;
sua existência, até negada.”15. Com isso, a pretendida separação, harmônica e
independente entre os poderes fica absolutamente comprometida, carecendo, por-
tanto, equilibrá-la.
É inegável que na atualidade é o ministro chefe da casa civil, auxiliar direto
do Presidente da República, quem vem a impor a pauta na Câmara dos Deputados e
no Senado Federal, atendendo às necessidades exclusivas do Poder Executivo.
Em razão da excessiva preponderância e do acúmulo de poderes nas mãos de
um único titular, o presidencialismo brasileiro carece de uma urgente modificação,
assegurando que realmente haja a perfeita harmonia e independência.
Como não há, nos moldes atuais um sistema de controle entre a prática políti-
ca em face da administração, ao tomar posse, o Presidente da República elabora sua
própria pauta de ações, esteja ela compondo ou não as propostas políticas que o
levaram à vitória nas urnas.
Destarte, a adoção de um sistema que venha a impor limites à pratica admi-
nistrativa e política somente será possível com o cumprimento dos compromissos
assumidos durante a campanha eleitoral. Para tanto se faz necessário à presença de
mecanismos democráticos de controle das práticas administrativas exercitas pelos
ocupantes de cargos políticos.
15
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves, Curso de direito constitucional, São Paulo, Saraiva, 1989, p. 119.
Note-se que a chamada democracia partidária não está livre de críticas. Na verdade,
ao se investirem no mandato, os políticos fazem dele o que bem entendem. A experi-
ência tem revelado que alguns o buscam por motivos inconfessáveis, mas sempre sob
o manto de um discurso bem urdido, bem lapidado. Na verdade, jamais existiu con-
trole sério e eficaz do exercício do mandato. Os inúmeros escândalos a que se assiste
dia após dia fazem com que a população relacione o meio político à corrupção. Ava-
liações de organismos internacionais apontam o Brasil como um país com alto índice
de corrupção17.
16
SCHIER, Paulo Ricardo, Presidencialismo de coalizão: contextos, formação e elementos na democracia
brasileira, Curitiba, Juruá, 2017, p. 95.
17
GOMES, José Jairo, Direito eleitoral, Belo Horizonte, Del Rey, 2008, p. 30.
CONCLUSÕES
Em que pese o estreito espaço de debate consubstanciado neste artigo, mas o
que se pretende é criar, ou mesmo, ampliar o debate sobre a efetiva tripartição de
poderes dentro da República Federativa do Brasil.
É importante ressaltar que a forma trinária, na qual se encontra a repartição
dos Poderes dentro da República Federativa do Brasil, está respondendo as aspira-
ções do Estado brasileiro? Efetivamente há uma harmonia e independência entre os
poderes, consoante em obediência ao art. 2º da Constituição Federal? Efetiva ou
parcialmente os direitos e garantias fundamentais estão sendo assegurados aos brasi-
leiros? Os Poderes estão cumprindo com as suas funções típicas ou atípicas?
Estas são alguns questionamentos os quais merecem a mais profunda e detida
reflexão. No Brasil não há, ao que se verifica, uma harmonia e independência entre
os Poderes pelo fato de que o Chefe do Poder Executivo extrapola os seus Poderes.
Por sua vez, o Poder Legislativo abandonou há bastante tempo a suas funções precí-
puas de Legislar e Fiscalizar, passando a se constituir em um mero poder composto
por lobistas, os quais estão mais preocupados na defesa dos seus respectivos interes-
ses, ou mesmo de liberar verbas para as suas bases eleitorais, em troca se omite do
dever de fiscalizar os outros dois poderes.
Diante desse descompasso, instituições estão buscando fazer as vezes que são
reservadas ao Poder Legislativo, esse condescendente com o Poder Executivo, como
é o exemplo das práticas garantidoras exercidas pelo Poder Judiciário, tão criticado a
ponto de ser pejorativamente classificado suas práticas como sendo um exercício de
18
KNOERR, Fernando Gustavo; SELLÓS-KNOERR, Viviane Coêlho de. Eleitor consumidor: a tutela da
boa-fé na reforma eleitoral que ainda não veio. in KEPPEN, Luiz Fernando Tomasi; SALGADO, Eneida
Desiree (Org.). Direito eleitoral contemporâneo: 70 anos da Redemocratização Pós-ditadura Vargas e da
Reinstalação da Justiça Eleitoral, Curitiba, Tribunal Regional Eleitoral do Paraná, 2016, p. 39.
um “ativismo judicial”. Por outro lado, ao Ministério Público restou a defesa das
prerrogativas constitucionais negadas pelo Poder Legislativo. Destarte, os represen-
tantes do povo, eleitos democraticamente não estão sendo representados pelo Poder
Legislativo, sendo feita tal representação pelo Ministério Público.
Ao passo que aos Tribunais de Contas, como órgão auxiliar do Poder Legis-
lativo, o real e efetivo controle dos gastos públicos já que o Poder Legislativo que-
dou-se ou queda-se inerte desse dever inarredável.
Destarte, cabe pensar em uma limitação dos poderes dos integrantes da Re-
pública Federativa do Brasil, admitindo a sua ampliação como, por exemplo, em
uma possível divisão quinaria, incluindo o Ministério Público e o Tribunal de Con-
tas, com o objetivo de tornar mais equânime a divisão dos poderes e a carga de fisca-
lização a ser exercida diante dos excessivos poderes em que o Poder Executivo vem
amealhando nos últimos anos.
Por derradeiro, aquela tripartição harmônica, contando com um sistema de
freios e contra pesos, não mais existe, prevalecendo o poder do Chefe do Poder
Executivo, a omissão do Poder Legislativo e, ao que pode fazer, o Poder Judiciário
atuando para uma tarefa que não é sua. Os consensos necessários, competência ex-
clusiva do Legislativo e do Executivo, estão sendo desproporcionalmente exercidos
pelo último, tornando cada vez mais desigual a vida no Estado Democrático Brasi-
leiro, em face de que não dispõe de limites e quem não tem limites costuma abusar
de suas prerrogativas.
REFERÊNCIAS
FÉDER, João, Estado sem poder, São Paulo, Max Limonad, 1997.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves, A democracia no liminar do século XXI, São Paulo, Saraiva,
2001.
______. Curso de direito constitucional, São Paulo, Saraiva, 1989.
GOMES, José Jairo, Direito eleitoral, Belo Horizonte, Del Rey, 2008.
HORTA, Raul Machado. Alternativas para um novo sistema de governo. in CLÈVE, Clèmerson Merlin;
BARROSO, Luís Roberto (Org.). Direito constitucional: teoria do Estado, São Paulo, Revista dos Tribu-
nais, 2011.
KNOERR, Fernando Gustavo; SELLÓS-KNOERR, Viviane Coêlho de. Eleitor consumidor: a tutela da
boa-fé na reforma eleitoral que ainda não veio. in KEPPEN, Luiz Fernando Tomasi; SALGADO, Eneida
Desiree (Org.). Direito eleitoral contemporâneo: 70 anos da Redemocratização Pós-ditadura Vargas e da
Reinstalação da Justiça Eleitoral, Curitiba, Tribunal Regional Eleitoral do Paraná, 2016.
OLIVEIRA, Ricardo Victalino de, Federalismo assimétrico brasileiro, Belo Horizonte, Arraes, 2012.
MORAES, Alexandre de, Presidencialismo, São Paulo, Atlas, 2013.
REIS, Marlon, A república da propina, São Paulo, Planeta, 2016.
SCHIER, Paulo Ricardo, Presidencialismo de coalizão: contextos, formação e elementos na democracia
brasileira, Curitiba, Juruá, 2017.
Capítulo 03
DIREITO PRIVADO
1
Investigadora del Departamento de Derecho Privado (Sección Mercantil). Universitat de Barcelona. E-mail:
mailto: njimenezcardona@ub.edu / njimenezcardona@ub.edu.
2
VALLESPÍN PÉREZ, D., Asesoramiento y Praxis Judicial en el Divorcio Contencioso, Bosch, Barcelona,
2014, p. 108 y ss; ZARRALUQUI SÁNCHEZ-EZNARRIAGA, J. El frecuente incumplimiento del
régimen de estancia de los menores con el progenitor no custodio en períodos lectivos o de vacaciones,
Actualidad Jurídica Aranzadi, n. 821, 2011, p. 2 y ss; y ZARRALUQUI SÁNCHEZ-EZNERRIAGA, J. De
las relaciones con los hijos cuando los progenitores no conviven, Economist & Jurist, vol. 19, n. 150, 2011,
p. 32-37.
3
VALLESPÍN PÉREZ, D., El modelo constitucional de juicio justo en el ámbito del proceso civil, Atelier,
Barcelona, 2000, p. 139 y ss.
4
PÉREZ MARTÍN, A. J. Custodia, visitas y otras medidas en tiempos de coronavirus, El Derecho, 6 de
mayo de 2020, p. 1 y ss; RODRÍGUEZ DE BRUJÓN Y FERNÁNDEZ, E. Análisis del Real Decreto-Ley
16/2020, de 28 de abril, de medidas procesales y organizativas para hacer frente al COVID-19 en el ámbito
de la Administración de Justicia, p. 5 y ss; SPINOLA PÉREZ, A. B. Menores y régimen de visitas durante
el estado de alarma acordado ante el COVID-19, Economist & Jurist, 26 de marzo de 2019, p. 1 y ss.
5
GONZALO DEL POZO, J.P. Estudio del proceso especial y sumario, en materia de familia, creado por el
Real Decreto-Ley n. 16/2020, de 28 de abril, Diario La Ley, n. 9624, Sección de Plan de Choque de la
Justicia/Tribuna, 4 de mayo de 2020, p. 1 y ss; MARTÍNEZ DE SANTOS, A. Medidas posibilistas en la
Justicia civil después del levantamiento de la declaración del estado de alarma, Diario la Ley, Sección de
Plan de Choque de la Justicia/Tribuna, de 6 de mayo de 2020, p. 1 y ss.
6
VALLESPÍN PÉREZ, D. El derecho de los menores, mayores de 12 años, a ser oídos en los
procedimientos de divorcio contencioso, Práctica de Tribunales, Revista de Derecho Procesal y Mercantil,
n. 131, marzo-abril, 2018 , p. 1 y ss.
7
VALLESPÍN PÉREZ, D. Juicio verbal en la nueva Ley de Enjuiciamiento Civil Española (Análisis tras su
reforma por Ley 42/2015, Juruá, Lisboa, 2016, p. 46.
8
VALLESPÍN PÉREZ, D. Juicio verbal en la Ley de Enjuiciamiento Civil Española (Análisis tras su
reforma por Ley 42/2015), obr, cit, p. 77-82.
segundo lugar, porque no parece de recibo que se nos diga que ello debe ser así, ni
más ni menos, que para lograr a la mayor brevedad la normalización del régimen de
visitas o custodia que en su día se fijó, pues normalizar el régimen de visitas no es
incompatible con compensarlo en su justa medida y, por extensión, implica
consolidar, por la vía de facto, una anormalidad de signo contrario que bien puede
pensarse, aplicando el sentido común, que es perjudicial para el menor y el
progenitor no custodio.
Puede entenderse que ante el colapso previsible de los Juzgados de Familia
estos pretendan “aligerar” su carga de trabajo, pero no parece de recibo, desde la
perspectiva del derecho a la tutela judicial efectiva, que lo hagan mediante un
acuerdo que, sin mayor motivación, parece perseguir, aun cuando podamos estar
equivocados, aplicar automáticamente un “no” (desde luego más rápido que analizar
el caso concreto) a cualquier reclamación referida a la compensación del régimen de
visitas que pueda poner en marcha el progenitor no custodio (ese o esa que, en no
pocos casos, se ha visto privado del contacto con sus hijos menores durante más de
tres meses).
Solo, excepcionalmente, se contempla la opción de aplicar dicha
“compensación” cuando así lo aconseje, en el caso concreto, el interés superior del
menor. Y, en todo caso, teniendo presente que los tiempos de disfrute con los
menores durante el confinamiento no son equivalentes a aquellos que son propios en
situaciones de normalidad. Cuando un acuerdo de Juntas de Jueces concluye que una
opción será “excepcional”, nadie debería llevarse a engaño, pues eso en la práctica,
dada la previsible avalancha de asuntos y la conveniencia de blindarse ante
problemas y/o críticas, es más que probable que se traduzca en un brindis al sol que
nunca (o casi nunca) ponga en duda la aplicación de la regla general de la “no
compensación” antes expuesta.
De otra parte, se insta a los progenitores a alcanzar acuerdos, ya que son ellos
quienes mejor conocen las circunstancias particulares que concurren en su entorno
familiar y las necesidades concretas de sus hijos menores. Magnífica idea la de
instar acuerdos, si no fuera por qué cuando la compensación del régimen de visitas
llega a “sede judicial” es, precisamente, porque ha sido imposible, a veces por
enconamiento con tintes emocionales por parte de los ahora litigantes, alcanzar una
solución convencional a dicho conflicto.
Por último se añade que, sin perjuicio de estos hipotéticos acuerdos entre los
progenitores, cabrá seguir una serie de orientaciones generales en orden a determinar
cómo implementar la “compensación” en aquellos casos excepcionales en que se así
se acuerde judicialmente. Orientaciones generales que tienen que ver con las visitas
intersemanales, las visitas de fin de semana, las visitas de vacaciones de Semana
Santa e, incluso, con los supuestos de guarda compartida.
Por lo que hace referencia a las visitas intersemanales se acuerda que en
aquellos casos, excepcionales, en que se contemple la compensación del régimen de
visitas, estas no serán objeto de recuperación. Ello se justifica en el hecho de que son
visitas de corta duración, cuya recuperación por compensación no atiende a la
finalidad de las mismas, esto es, asegurar el contacto con el progenitor no custodio,
así como en que dichas visitas pueden “perjudicar al menor” en tanto que pueden
“dificultarle” la normalización de sus rutinas.
Respecto a las visitas de fin de semana, el Acuerdo de la Junta Sectorial de
Jueces de los Juzgados de Familia de Madrid dispone que podrán recuperarse,
siempre de forma excepcional, pero teniendo en cuenta que por cada dos fines de
semana no disfrutados, tendría sentido recuperar solo un fin de semana adicional
cada mes o, en su caso, añadir tres días a uno de los períodos vacacionales del año
en curso.
En orden a las vacaciones de Semana Santa, plenamente afectadas en España
por la pandemia del coronavirus, el Acuerdo refleja, en lo que será una guía a seguir
respecto al resto de períodos vacacionales correspondientes a la presente anualidad,
que pueden recuperarse añadiendo dichos días a los períodos vacacionales todavía
no disfrutados este año 2020, así como que si se ha perdido la Semana Santa
completa podría compensarse dicha situación con cinco días y que, caso de haberse
perdido parcialmente, cabría tomar en consideración un tiempo equivalente a los
efectos de su compensación.
Por último, respecto a aquellos supuestos en que rige un régimen de guarda y
custodia compartida, también se refiere un posible sistema de compensación que
variará en función de su particular modalidad en cada caso concreto. Así, cuando se
trate de custodias compartidas por períodos semanales alternos, se considera un
criterio equitativo, dado que no puede hablarse de una perfecta equivalencia entre
los tiempos de disfrute con los menores en confinamiento y normalidad, el fijar una
compensación futura de tres días, como máximo, por cada semana no disfrutada, que
se agregarían a las semanas correspondientes al progenitor afectado en los meses
consecutivos (con exclusión del período vacacional de verano). De este modo, según
la Junta Sectorial de los Juzgados de Familia de Madrid se garantizaría la necesaria
alternancia de convivencia de los menores con ambos progenitores (10 y 4 días,
respectivamente), así como se evitaría que los menores no convivan con uno de los
progenitores durante tres semanas consecutivas. En la misma línea, tampoco se
considera recomendable acumular todos los días perdidos recuperables y
adicionarlos en las vacaciones de verano, pues ello acabaría por comportar un grave
desequilibrio entre los progenitores respecto al reparto de los tiempos de ocio que no
se presenta como razonable. Si la guarda y custodia compartida se disfrutase
mediante tiempos de convivencia alterna distintos al que se corresponde con una
semana, se recomienda aplicar, a efectos de compensación, un criterio análogo al
referido respecto a las custodias compartidas organizadas por semanas.
Tras este extenso apartado PRIMERO del Acuerdo de la Junta Sectorial de
Jueces de los Juzgados de Familia de Madrid, relativo a los aspectos sustantivos, se
incorpora un apartado SEGUNDO, mucho más breve, en que se refieren dos matices
de índole procesal: el primero, que la aportación de la documentación reseñada en el
art. 5.1 del RDL es un auténtico requisito de procedibilidad y, el segundo, que las
acciones reguladas en su artículo 3 son susceptibles de acumularse entre sí.
9
Sobre este particular véase REY GONZÁLEZ, P., Estado de alarma: ¿se incurre en incumplimiento de la
resolución judicial que regula las medidas de los progenitores para con los menores si no se cumple en sus
propios términos?, en Diario La Ley, n. 9607, 2020, p. 1 y ss.
haberse desarrollado con normalidad) darían paso a su compensación con tres días
más en uno de los turnos vacacionales de verano de este año; el no disfrute de cinco
días correspondientes a las vacaciones escolares de Semana Santa, darían pie a su
compensación con cuatro días más en uno de los turnos vacacionales de verano de
este año; y el no haber podido gozar del disfrute de la visitas de siete fines de
semana pudiera compensarse con el hecho de permitir que en los meses de
septiembre, octubre y noviembre (ya superados los turnos vacacionales) el
progenitor no custodio gozase de tres fines de semana por uno del progenitor
custodio.
Esta forma de recuperación, no total, pero sí guiada por una cierta lógica,
bien pudiera conducir a proteger el interés prioritario de la menor (que pueda
recuperar, de alguna forma, los días de contacto directo con el no custodio de los que
no ha podido disfrutar, llegando a estar tres meses alejada de cualquier
presencialidad con dicho progenitor), el interés del progenitor no custodio (no
parece de recibo que a quien la excepcionalidad del momento ha privado del
régimen de visitas con su hija, se le quiera cargar ahora, en exclusiva, con no poder
recuperar ni un solo segundo del contacto no disfrutado con la menor) e, incluso, el
interés del progenitor custodio, que salvo que sea un amante de la “alienación
parental” también tiene sentido que pueda disfrutar de unos días en que, sin olvidar
en ningún momento a su hija, también lo haga mediante un relax que, a buen seguro,
le hará afrontar, con mayor frescura y claridad mental, la vuelta a una supuesta
normalidad tras la pandemia.
V CONCLUSIÓN
Aun cuando en cada caso debieran arbitrarse las medidas más idóneas en
función de sus particulares circunstancias, puede concluirse que la compensación
“abierta” con motivo del RDL 16/2020 respecto al régimen de visitas y estancias no
debe reducirse a un simple brindis al sol, bien intencionado o propagandístico; sino
que debiera verse reflejada en una realidad que beneficie a la estabilidad y bienestar
emocional de los menores afectados, así como haga sentir a ambos progenitores y,
en especial, a quien se haya visto privado de tener contacto alguno con sus hijos
durante tres largos meses (pero también podría decirse de aquel progenitor custodio
que se ha visto abocado, por imposición del no custodio, incluso sin comunicación o
pacto alguno al respecto, a asumir el cuidado íntegro de la menor, en circunstancias
complicadas, durante noventa días ininterrumpidos) que en el caso particular se
imparte justicia.
Hacer justicia no es “descargar rápido” de trabajo a los órganos
jurisdiccionales, sino dar una respuesta justa y equilibrada a todos los intereses en
juego (por supuesto los de la menor y el progenitor custodio, pero también los del no
custodio que, por mucho que a veces parezca que se olvida, no es de peor condición
que el custodio). Siendo esto así, quizás los acuerdos de las Juntas Sectoriales de
Jueces de Familia de Madrid y Barcelona, relativos al reequilibrio del régimen de
visitas, pudieran haber sido muy breves y haber incorporado un tenor literal y
VI BIBLIOGRAFÍA
DELGADO MARTÍN, J., “Incumplimiento del régimen de visitas. Especial hincapié sobre el
incumplimiento por parte del progenitor que tiene la custodia del hijo menor”, en Ejecución de
sentencias civiles, Cuadernos del Consejo General del Poder Judicial, Madrid, 1992.
GONZÁLEZ DEL POZO, J. P., Estudio del proceso especial y sumario, en materia de familia, creado
por el Real Decreto Ley n. 16/2020, de 28 de abril, Diario La Ley, n. 9624, Sección de Plan de Choque de
la Justicia/Tribuna, 4 de mayo de 2020.
MARTÍNEZ DE SANTOS, A., Medidas posibilistas en la Justicia civil después del levantamiento de la
declaración del estado de alarma, Diario La Ley, Sección de Plan de Choque de la Justicia / Tribuna, 4
de mayo de 2020.
PÉREZ MARTÍN, A. J., Custodia, visitas y otras medidas en tiempos de coronavirus, El Derecho, 6 de
mayo de 2020.
REY GONZÁLEZ, P., Estado de alarma: ¿se incurre en incumplimiento de la resolución judicial que
regula las medidas de los progenitores para con los menores si no se cumple en sus propios términos?,
en Diario La Ley, n. 9607, 2020.
RODRÍGUEZ DE BRUJÓN Y FERNÁNDEZ, E. Análisis del Real Decreto-Ley 16/2020, de 28 de abril,
de medidas procesales y organizativas para hacer frente al Covid-19 en el ámbito de la Administración
de Justicia, Economist & Jurist, 29.04.2020.
SPINOLA PÉREZ, A.B. Menores y régimen de visitas durante el estado de alarma acordado ante el
COVID-19, Economist & Jurist, 26 de marzo de 2019.
VALLESPÍN PÉREZ, D., Asesoramiento y Praxis Judicial en el Divorcio Contencioso, Bosch,
Barcelona, 2014.
VALLESPÍN PÉREZ, D., Juicio verbal en la Ley de Enjuiciamiento Civil Española (Análisis tras su
reforma por Ley 42/2015), Juruá, Lisboa, 2016.
VALLESPÍN PÉREZ. D., El derecho de los menores, mayores de 12 años, a ser oídos en los
procedimientos de divorcio contencioso, Práctica de Tribunales, Revista de Derecho Procesal y Mercantil,
Madrid, n. 131, marzo-abril, 2018.
ZARRALUQUI SÁNCHEZ-EZNARRIAGA, J. El frecuente incumplimiento del régimen de estancia de
los menores con el progenitor no custodio en períodos lectivos o de vacaciones, Actualidad Jurídica
Aranzadi, n. 821, 2011.
ZARRALUQUI SÁNCHEZ-EZNARRIAGA, J. De las relaciones con los hijos cuando los progenitores
no conviven, Economist & Jurist, v. 19, n. 150, 2011.
1
Mestrando em Direito Empresarial e Cidadania no Programa de Pós-graduação em Direito do Centro
Universitário de Curitiba – PPGD-UNICURITIBA; E-mail: ricardo@wypychadvogados.com.br
2
Desembargador no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná; Mestre (PPGD-UFSC) e Doutor em Direito
(PPGD-UFPR), com Estágio Pós-doutoral (PPGD-UFSC); Professor Titular no UNICURITIBA; E-mail:
marioramidoff@gmail.com
Civil Procedure – specifically in its arts. 133 and 134. Were this not the case, it is
observed that with the advent of Law n. 13,874, of September 20, 2019, regulated not
only the rights of economic freedom, but also other guarantees for the market. With
these legislative changes, both material and procedural, there was an update of the
Superior Court of Justice's understanding of the new rules for the substantial treatment
of the institute of disregard of legal personality, as well as about the adequate
procedurality, themes that constitute the problematization of the work aspect scientific.
This procedural affirmation led to an update of the Superior Court's understanding of the
new rules of procedure. The present study intends to approach, in an analytical way, the
theory of the disregard of the juridical personality under the prism of this new law of
civil procedural regency, derived from the result of the Special Appeal n. 1,729,554/SP
of the rapporteurship of Minister Luis Felipe Salomão, then judged on May 8, 2018. For
the rest, it is noted that the methodology used in the present work is characteristically
critical-analytical, with deductive contributions referring to the legislative mutation that
undertook the systemic (re) construction of jurisprudence.
Keywords: Disregard Of Legal Personality; New Code Of Civil Procedure. Case Study.
Sumário: Introdução; 1. Origem Histórica da Teoria da Desconsideração; 2. Teoria
Maior; 3. Teoria Menor; 4. Desconsideração Inversa; 5. Entendimento Jurisprudencial;
Considerações Finais; e Referências.
INTRODUÇÃO
O fundamento teórico da teoria da desconsideração da personalidade jurídica
é a função social da propriedade, que tem previsão constitucional, e, por isso mes-
mo, reverbera em todo o âmbito jurídico-legal que regulamenta a responsabilização
civil – e mesmo empresarial – da pessoa jurídica, de forma direta e, por vezes, tam-
bém de maneira invertida.
Nesse sentido, o art. 170 da Constituição da República de 1988 prevê que a
ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça soci-
al, observados alguns princípios enumerados – dentre eles está a função social da
propriedade.
É interessante ainda ressaltar que a desconsideração deve apenas ser aplicada
em situações excepcionais. A regra deve ser a preservação da autonomia patrimoni-
al, a qual estimula o progresso e o desenvolvimento econômico.
A partir do pressuposto teórico-pragmático acerca de que a desconsideração
da personalidade jurídica apenas deve ocorrer no caso de abuso da personalidade
jurídica, passou-se, então, a verificar na legislação substancial – civil, consumerista,
dentre outras – os pressupostos e os requisitos materiais que serviriam como funda-
mento para tal asseguramento do crédito.
Não fosse isto, realizou-se também a análise da indispensabilidade da instau-
ração de incidente processual específico para a apuração judicial da desconsideração
da personalidade jurídica, em virtude mesmo do advento da Lei 13.105/2015 (Códi-
go de Processo Civil), e, do que restou objetivamente consignado na Lei 13.874, de
20.09.2019 (Lei de Declaração de Direitos de Liberdade Econômica) – então, decor-
rente da conversão da Medida Provisória n. 881, de 30.04.2009 –, a qual alterou o
Nos próximos itens, cada uma dessas denominadas teorias será analisada
acerca da sua aplicabilidade e excepcionalidade da desconsideração da personalida-
de jurídica, conforme os seus pressupostos e requisitos fático-normativos e legais.
2 TEORIA MAIOR
A autonomia patrimonial é um princípio de suma importância, o que reflete
que qualquer tipo de desconsideração deva ser aplicado com toda a cautela necessá-
ria, de maneira excepcional, e somente quando preenchidos determinados requisitos.
Ou seja, a regra geral é o respeito da autonomia patrimonial e a desconsideração é a
excepcionalidade da regra.
Não se pode aplicar a exceção apenas quando observado o simples descum-
primento de uma obrigação por parte da pessoa jurídica, deve-se ir além, caso seja
demonstrado que é houve desvio de sua função. Noutras palavras, a limitação de
sideração da personalidade jurídica, uma vez que podem ser considerados como seus
requisitos materiais (fático-normativos).
A positivação da desconsideração da personalidade jurídica (teoria maior),
passou, assim, a ser objetivamente contemplada pela a alteração legislativa então
determinada pela Lei 13.874, de 20.09.2019, a qual instituiu não só a denominada
Lei de Declaração de Direitos de Liberdade Econômica; mas, também, estabeleceu
garantias de livre mercado, passando o art. 50 da Lei 10.406/2002 (Código Civil), a
estabelecer o rol dos requisitos materiais para tal desiderato, in verbis:
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finali-
dade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério
Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de
certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de
administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo
abuso. (Redação dada pela Medida Provisória n. 881, de 2019)
§ 1º Para fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização dolosa da pessoa
jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer na-
tureza. (Incluído pela Medida Provisória n. 881, de 2019)
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patri-
mônios, caracterizada por: (Incluído pela Medida Provisória n. 881, de 2019)
I – cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou
vice-versa; (Incluído pela Medida Provisória n. 881, de 2019)
II – transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto o de valor
proporcionalmente insignificante; e (Incluído pela Medida Provisória n. 881, de 2019)
III – outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. (Incluído pela Medida
Provisória n. 881, de 2019)
§ 3º O disposto no caput e nos § 1º e § 2º também se aplica à extensão das obrigações de
sócios ou de administradores à pessoa jurídica. (Incluído pela Medida Provisória n. 881,
de 2019)
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o
caput não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica. (Incluído pela
Medida Provisória n. 881, de 2019)
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade
original da atividade econômica específica da pessoa jurídica.
3 TEORIA MENOR
Segundo Fábio Ulhoa Coelho (2006), existe uma linha de entendimento que
considera a ausência de requisitos específicos para a utilização da desconsideração
da personalidade jurídica. Conceitua-se então como teoria menor, que afirma que
não basta o não pagamento de um crédito para se aplicar a desconsideração da per-
sonalidade jurídica. Desta sorte, no caso da exclusiva solvência dos sócios em de-
trimento da sociedade, estes devem responder pelas obrigações sociais, aplicando a
desconsideração da personalidade jurídica.
A desigualdade das relações jurídicas entre consumidor e fornecedor, ou tra-
balhador e empregador, lastreou a aplicação da desconsideração da personalidade
jurídica pelo simples fato da frustração do credor, repassando o risco da atividade
4 DESCONSIDERAÇÃO INVERSA
Em regra, a desconsideração da personalidade jurídica é aplicável quando a
propriedade é utilizada de forma desvirtuada, para preservar a sua função social. Por
isso mesmo, pode-se dizer que desconsiderar a personalidade jurídica em casos nos
quais há o seu abuso é uma forma de preservar a propriedade privada (VASCON-
CELOS, 2018).
Conforme destaca Marlon Tomazette (2012), a utilização da desconsideração
da personalidade jurídica não destrói a pessoa jurídica. Não há dissolução da perso-
nalidade jurídica. A desconsideração é aplicada apenas em relação a uma situação
concreta, não estendendo seus efeitos para as demais relações jurídicas das quais a
pessoa jurídica faça parte.
A partir da premissa de que a pessoa jurídica pode ter sua personalidade afas-
tada temporariamente em situações específicas e justificadas, seja pela ocorrência de
5 ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL
O presente estudo toma por base a decisão relatada pelo Min. Luis Felipe Sa-
lomão no Recurso Especial n. 1.729.554 originário do Estado de São Paulo, no qual
firmou-se o entendimento sobre a desconsideração da personalidade jurídica à luz do
atualmente dispõe a Lei 13.105/2015 (Código de Processo Civil), segundo o qual:
Vistos.
O pedido de desconsideração da personalidade jurídica é prematuro, havendo a neces-
sidade de maior investigação para que se possa apurar a ausência de bens e eventual
abuso da personalidade jurídica, desvio de finalidade ou confusão patrimonial. Assim,
primeiramente, caberá à parte exequente postular a realização de diligências como: ex-
pedição de mandado de constatação na sede (para que se possa aferir se permanece em
funcionamento), pesquisa de bens, notadamente, veículos automotores e imóveis, quebra
do sigilo fiscal e bancário (para que se possa aferir a existência de ativo/passivo mo-
vimentação financeira). No caso, ausentes diligências nesse sentido, indefiro por ora
o pedido. Suspende-se o incidente de desconsideração da personalidade jurídica e
prossiga-se a execução nos autos principais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse estudo, buscou-se demonstrar que o instituto da desconsideração da
personalidade jurídica, em determinados casos concretos era utilizado de forma
equivocada, porque se distanciava dos requisitos legais pertinentes, de modo a obs-
taculizar a persecução do direito reparatório de credores em prol da pessoa jurídica
que teve sua personalidade abusada por desvio de finalidade ou pela confusão patri-
monial.
Com o advento da Lei 13.105/2015 (Código de Processo Civil) não só houve
a alteração do rito procedimental próprio para apuração judicial da desconsideração
da personalidade jurídica, mas, também, passou-se a dispor de novas diretrizes e
orientações principiológicas que se destinaram a perfectibilizar tanto o incidente
procedimental próprio, como também a sistemática das provas.
E isto pode ser verificado a partir mesmo do que se encontra expressa e espe-
cificamente disposto nos arts. 133 a 137 da Lei 13.105/2015 (Código de Processo
Civil), os quais passaram a regulamentar o incidente processual destinado à apura-
ção judicial da desconsideração da personalidade jurídica, o que por si só já fora
suficiente para reacender a discussão sobre a matéria, formando por via de conse-
quência, um imperativo categórico (legislação processual civil) inafastável para a
resolução dos casos relacionados com a necessidade de desconsideração da persona-
lidade jurídica, enquanto instrumentalidade para o asseguramento de crédito.
Noutro vértice, observa-se a variação da atuação hermenêutica acerca das novas
regras relativas ao instituto jurídico-legal da desconsideração da personalidade jurídica,
haja vista mesmo a concorrência legislativa acerca da sua regulamentação, isto é, tanto
fundadas no que se encontra disposto no art. 50 da Lei 10.406/2002 (Código Civil),
quanto no art. 28 da Lei 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor), e, também, nos
arts. 133 a 137 da Lei 13.105/2015 (Código de Processo Civil).
No entanto, é preciso dizer que as legislações civil e consumerista, com o advento
da nova legislação processual civil, passam, assim, a descrever os elementos (pressu-
postos e requisitos) materiais para a desconsideração da personalidade jurídica,
enquanto que a procedimentalização judicial se encontra regulamentada como inci-
dente processual – exemplo disto, no caso do Código de Defesa do Consumidor, são
as diversas e não cumulativas causas, destacando que o abuso da personalidade não
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05.10.1988.
BRASIL. Lei 8.078, de 11.09.1990. Código de Defesa do Consumidor
BRASIL. Lei 13.105, de 16.03.2015. Código de Processo Civil.
BRASIL, Lei 13.874, de 20.09.2019. Lei de Declaração de Direitos de Liberdade Econômica
BRASIL, Medida Provisória n. 881, de 30.04.2009.
BRASIL, STJ, 4ª Turma, REsp. n. 1.729.554/SP (2017/0306831-0), Rel.: Min. Luis Felipe Salomão, j. em
8.05.2018.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. Vol. 2. 8. ed, São Paulo, Saraiva, 2005.
COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima. 3. ed, Rio de Janeiro, Foren-
se, 1983.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: parte geral. Vol.
1. 17. ed, São Paulo, Saraiva, 2015.
GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Empresa individual de responsabilidade limitada e sociedade
de pessoas. Coord. Modesto Carvalhosa, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2016.
MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial. Vol. 1. 3. ed, São
Paulo, Atlas, 2009.
MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. 34. ed, Rio de Janeiro, Forense, 2011.
REGO, Margarida Lima. Desconsideração da personalidade colectiva. Lisboa: UNL, 2009.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. Vol. 1. 23. ed, São Paulo, Saraiva, 1998.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito Comercial. Vol. 1. 29. ed, São Paulo, Saraiva, 2010.
REQUIÃO, Rubens. Aspectos Modernos de Direito Comercial. Vol. 1, São Paulo, Saraiva, 1997.
TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. Vol. 2. 11. ed, Rio de
Janeiro, Forense, 2016.
TARTUCE, Flávio. Direito civil: lei de introdução e parte geral. Vol. 1. 12. ed, Rio de Janeiro, Forense,
2016.
TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial: Teoria Geral e Direito Societário. Vol. 1, São
Paulo, Altas, 2012.
VASCONCELOS, Fernanda Quintas. Uma análise sobre a evolução da desconsideração da personalida-
de jurídica. 2018. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2018-mar-20/opiniao-evolucao-descon
sideracao-personalidade-juridica> Acesso em: 1º maio 2019.
Resumo: O presente trabalho tem por escopo a análise do novo modelo de trabalho em
época de Covid-19. O presente estudo aponta as alterações sofridas nas relações de
trabalho, bem como observa, de modo mais acurado, quais as formas que estão sendo
projetadas ou utilizadas para o melhor aproveitamento dos trabalhadores. Com isso, se
observará que o teletrabalho tem se apresentado como fator importante para a
manutenção do emprego e renda, bem como para manter a economia ativa e não
estagnada. Para tanto, foi feita uma pesquisa bibliográfica e documental, como forma de
compreender os impactos do Covid-19 nas relações humanas e, especialmente nas
relações laborais trabalho. Por fim será observado a necessidade de adaptação de toda
sociedade para uma nova realidade empregatícia.
Palavras-chave: Jornada de trabalho. Teletrabalho. Covid-19.
Abstract: The present work aims to analyze the new model of work at the time of
Covid-19. The present study points out the changes suffered in labor relations, as well as
observing, in a more accurate way, which forms are being designed or used for the better
use of workers. With that, it will be observed that teleworking has presented itself as an
important factor for the maintenance of employment and income, as well as to keep the
economy active and not stagnant. To this end, a bibliographic and documentary research
was carried out, as a way to understand the impacts of Covid-19 on human relations and,
especially on labor relations. Finally, the need to adapt the entire society to a new
employment reality will be observed.
Keywords: Workday. Telework. Covid-19.
Sumário: 1. Considerações iniciais. 2. As jornadas de trabalho no Brasil.
3. Teletrabalho/trabalho remoto/home office. 4. Pandemia instaurada pelo novo
coronavírus (covid – 19). 5. A jornada de trabalho em época de covid-19.
6. Considerações finais. 7. Referências.
1
Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Feevale (2019), Pós-graduanda em Direito do
Trabalho e Processo Trabalhista (Uninter, 2020), Pós-graduanda em Direito Empresarial (Legale, 2021),
E-mail.: francielerocha165@gmail.com.
2
Doutora em Qualidade Ambiental (Universidade Feevale, 2015), Mestre em Letras, Cultura e
Regionalidade (Universidade de Caxias do Sul, 2006), Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais
(Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 1981), Docente (Universidade Feevale), Advogada, Membro do
Conselho Editorial da Revista Alienação Parental – Revista Digital Lusobrasileira de Alienação Parental. E-
mail: petrydefaria.advogados@yahoo.com.br
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente trabalho versa sobre novo modelo de trabalho, com ênfase nas
questões relacionadas a jornada de trabalho utilizada no Brasil, a partir do momento
em que se instaurou a epidemia mundial em virtude do novo coronavírus. O objetivo
principal do presente estudo é visualizar as novas formas de trabalho em razão do isola-
mento e orientação da Organização Mundial de Saúde para prevenção do Covid-19.
Assim, inicialmente será analisado a jornada de trabalho admitida no direito naci-
onal verificando os métodos aplicados antes e após a pandemia, destacando o teletraba-
lho (também conhecido como Home Office ou trabalho remoto). O coronavírus apresen-
tou seu primeiro caso no Brasil em março de 2020 e, desde então, o país vem adotando
medidas de prevenção e o isolamento social se faz necessário, inclusive no que tange ao
cumprimento da jornada laborativa, justificando, assim, a importância e atualidade do
presente estudo.
3
BRASIL, Presidência da República, Dec.-Lei 5.452, de 1º.05.1943, Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>, Acesso em: 06
jun, 2020.
4
BRASIL, Presidência da República, Dec.-Lei 5.452, de 1º.05.1943, Aprova a Consolidação das Leis
do Trabalho, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>, Aces-
so em: 06 jun, 2020.
5
BRASIL, Presidência da República, Dec.-Lei 5.452, de 1º.05.1943, Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>, Acesso em: 06
jun, 2020.
6
OLIVEIRA, Cínthia Machado de; DORNELES, Leandro do Amaral Dorneles de, Direito do Traba-
lho, 2ª ed, Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013, pp. 103.
7
CAMINO, Carmen, Direito individual do trabalho, 4ª ed, Porto Alegre: Síntese, 2004, pp. 381.
8
MARX, Karl, O Capital: crítica da economia política, São Paulo, Boitempo, 2013, pp. 180-184.
9
DELGADO, Mauricio Godinho, Jornada de trabalho e descansos trabalhistas, São Paulo, LTr,
2003, pp. 17.
10
ROUBICEK, Marcelo, O que diz o primeiro dado do desemprego na pandemia, Jornal nexo, de
30.04.2020, Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/04/30/O-que-diz-o-primeiro-
dado-de-desemprego-na-pandemia>, Acesso em: 16 jun. 2020.
11
NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do
trabalho, relações individuais e coletivas do trabalho, 27ª ed, São Paulo, Saraiva, 2012, pp. 792-793.
12
BRASIL, Presidência da República, Dec.-Lei 5.452, de 1º.05.1943, Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>, Acesso em: 06
jun. 2020.
as mesmas funções, sendo necessário que a empresa manifeste interesse nessa jorna-
da e realize um acordo por meio de negociação coletiva. Além disso, a jornada par-
cial permite que as férias sigam as mesmas regras aplicadas ao trabalhador em jor-
nada regular, havendo todas estas descrições no art. 58-A da CLT13.
Ainda na linha da jornada de trabalho, deve ser ressaltada a jornada de traba-
lho intermitente, descrita no art. 443, §3°, da CLT, classificando o trabalho intermitente
como aquele em que a prestação de serviços: “não é contínua, ocorrendo com alternân-
cia de períodos de prestação de serviços e de inatividade, independentemente do tipo de
atividade do empregado e do empregador”14.
Cumpre referir que não há períodos mínimos ou máximos da jornada de trabalho
no contrato intermitente. Entretanto, caso o mesmo se estenda por grandes períodos
temporais, poderá ser descaracterizado como intermitente, passando a uma jornada labo-
ral de 8 horas diárias ou 44 semanais. Além disso, deve ser frisado que esta modalidade
de contrato surgida com a Lei 13567/2017, prevê prazos para a comunicação prévia do
trabalho, incluindo prazo para que esta oferta de trabalho seja aceita ou não, sendo que, o
descumprimento, poderá implicar em cobrança de multa15.
O contrato de trabalho intermitente formalizou o trabalho informal, protegendo o
trabalhador e facilitando a sua contratação. Assim, aquele que aderir este contrato de
trabalho receberá o salário por hora, sendo que tal pagamento não poderá ser inferior ao
valor da hora em salário mínimo nacional. Além disso, terá direito a todos os reflexos e
adicionais legalmente previstos, devendo haver o pagamento de todas as verbas ao final
da jornada de trabalho16.
No que se refere ao teletrabalho (trabalho remoto ou Home Office), deve ser des-
tacado que sua existência vem desde o século XIX nos Estados Unidos. Naquela época
era exercida a gestão e controle de linhas ferroviárias remotamente. Outrossim, esta
jornada de trabalho trata-se de um trabalho exercido, fisicamente, em local diverso das
dependências da empresa e através dos meios telemáticos, não devendo ser confun-
dido com o trabalho à domicílio17. Embora já existisse na prática, foi a Lei 13467/17
quem inseriu tal modalidade, dispondo no art. 75-B, da CLT que, “a prestação de
serviços preponderantemente fora das dependências do empregador, com a utiliza-
ção de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza, não se
constituam como trabalho externo”18.
13
BARROS, Leonardo, Jornada de trabalho: tudo que você precisa saber, Disponível em: <https://blog.tan
gerino.com.br/jornada-de-trabalho/>, Acesso em: 06 jun. 2020.
14
BRASIL, Presidência da República, Dec.-Lei 5.452, de 1º.05.1943, Disponível em: <http://www.pla
nalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452compilado.htm>, Acesso em: 07 jun. 2020.
15
MARTINEZ, Pedro Romano, Direito do trabalho, 6ª ed, Coimbra, Almedina, 2013, pp. 520.
16
NOGUEIRA, Eliana dos Santos Alves, “O contrato de trabalho intermitente na reforma trabalhista
brasileira: contraponto com o modelo italiano”, Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª
Região, vol. 01, n. 51, jul./dez, 2017, Disponível em: <https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/
20.500.12178/125435/2017_nogueira_eliana_contrato_trabalho.pdf?sequence=1&isAllowed=y>,
Acessado em 12 jun. 2020, p. 136.
17
MARTINS, Sergio Pinto, Direito do Trabalho, 34ª ed, São Paulo, Atlas, 2018, pp. 243.
18
BRASIL, Presidência da República, Lei 13.467, de 13.06.2017, Altera a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), aprovada pelo Dec.-Lei 5.452, de 1º.05.1943, e as Leis n. 6.019, de 3.01.1974, 8.036, de 11.05.1990,
e 8.212, de 24.07.1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm>, Acesso em: 16 jun. 2020.
19
BRASIL, Presidência da República. Lei 13.467, de 13.06.2017, Altera a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), aprovada pelo Dec.-Lei 5.452, de 1º.05.1943, e as Leis n. 6.019, de 3.01.1974, 8.036, de 11.05.1990,
e 8.212, de 24.07.1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm>, Acesso em: 16 jun. 2020.
20
BARROS, Leonardo, Jornada de trabalho: tudo que você precisa saber, Disponível em:
<https://blog.tangerino.com.br/jornada-de-trabalho/>, Acesso em: 06 jun. 2020.
21
FINCATO, Denise, “Teletrabalho na reforma trabalhista brasileira”, Revista eletrônica do Tribunal
Regional do Trabalho da 9ª Região, vol. 8, n. 75, fev. 2019, Disponível em:
<https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/152290/2019_fincato_denise_teletrabalho_refor
ma.pdf?sequence=1&isAllowed=y>, Acesso em: 18 jun. 2020, p. 58-72.
22
MASI, Domenico de, Ócio criativo, São Paulo, Sextante, 2000, pp. 204.
23
FINCATO, Denise Pires; BITENCOURT, Manoela de, Teletrabalho transnacional: tributação da renda
dos teletrabalhadores no plano internacional, Florianópolis: CONPEDI, 2014, pp. 108.
24
BRASIL, Presidência da República, Lei 12.551, de 15 de dezembro de 2011, Altera o art. 6º da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Dec.-Lei 5.452, de 1º.05.1943, para equiparar os
efeitos jurídicos da subordinação exercida por meios telemáticos e informatizados à exercida por meios
pessoais e diretos, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l1
2551.htm>, Acesso em: 16 jun. 2020.
25
MARTINS, Sergio Pinto, Direito do Trabalho, 34ª ed, São Paulo, Atlas, 2018, pp. 148.
26
BARROS, Alice Monteiro de, Curso de Direito do Trabalho, 11ª ed, São Paulo, LTr, 2017, pp. 306.
27
LEITE, Carlos Henrique Bezerra, Curso de Direito do Trabalho, 11ª ed, São Paulo, Saraiva, 2019,
pp. 233.
28
ESTRADA, Manuel Martín Pino, “Teletrabalho: Conceitos e a sua Classificação em face aos Avanços
Tecnológicos”, in STOLZ, Sheila; MARQUES, Carlos Alexandre Michaello, org., Teletrabalho, São Paulo,
LTr, 2017, pp. 11.
Rodolfo Pampolha Filho e Leandro Fernadez, por sua vez, acordam que “o
teletrabalho foi uma das mais importantes inovações no mundo do trabalho decor-
rentes da tecnologia da informação e comunicação”29. Ademais, Alfredo Massi
acrescenta que “o teletrabalho não se resume a um mero trabalho à distância, pois
ele agrega outro elemento: o uso de tecnologias da informação e da comunicação
na organização e na realização do labor”30. Diante da situação que se instaurou nas
relações de trabalho, em decorrência da rápida propagação do vírus, se apresentou
como uma alternativa viável para manter as relações entre patrão e empregado ou
mesmo atividades autônomas, sem a necessidade de deslocamentos e maiores riscos
de contaminação.
Assim, o teletrabalho faz-se importante, sendo que a “conduta profissional e
competente é definido em termos de adotar uma certa relação consigo mesmo, uma
postura diante da vida”31. Com isso, é possível compreender o teletrabalho como
ferramenta e produto da reestruturação dos modelos de contratação, da busca de
capitais monetários, social e cultual, visão de mercado. Isso leva a um novo olhar ao
momento contemporâneo, onde uma epidemia desafia a economia, as ciências e as
relações sócio profissionais.
29
PAMPOLHA FILHO, Rodolfo; FERNANDEZ, Leandro, “Tecnologia da Informação e as Relações de
Trabalho no Brasil: O Teletrabalho na Lei 13.467/2017”, in FIGUEIREDO, Carlos Arthur; COSTA,
Flavio; NORONHA, Francisco; QUEIROZ. Sergio, org., Reforma trabalhista: Novos rumos do direito do
trabalho e do direito processual do trabalho, São Paulo, LTr, 2018, pp. 124-137.
30
MASSI, Alfredo, “Teletrabalho: Análise sob a óptica da saúde e da segurança do teletrabalhador”, in
STOLS, Sheila. MARQUES, Carlos Alexandre Michaello Marques, org., Teletrabalho, São Paulo, LTr,
2017, pp. 87-106.
31
COSTA, Isabel de Sá Affonso da, “Teletrabalho: subjugação e construção de subjetividades”, Revista de
Administração Pública, Rio de Janeiro, vol. 41, n. 1, Fev. 2007, Disponível em: <http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-76122007000100007&lng=en&nrm=iso>, Acesso em: 19 jun.
2020
32
MARINELLI, Natália Pereira, Evolução de indicadores e capacidade de atendimento no início da epIdemia
de COVID-19 no Nordeste do Brasil, 2020, Epidemiologia e Serviço de Saúde, Brasília, vol. 29, n. 3,
03.06.2020, Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-96222020000
300303&lng=en&nrm=iso>, Acesso em: 19 jun. 2020.
mia. Para tanto, justificou que “nas últimas duas semanas, o número de casos [...] fora
da China aumentou 13 vezes e a quantidade de países afetados triplicou”33. Com isso
houve o alerta mundial para os riscos que todos corriam ante esse novo inimigo.
Para que ocorresse o decreto, deve ser compreendido que a definição de pande-
mia não está vinculada ao número específico de acometidos, mas é considerado, uma
doença infecciosa que atinge grande número de pessoas em diferentes países ao redor do
mundo. Embora a OMS não use com frequência o termo, para evitar pânico ou uma
sensação de impotência, quando a situação foge do controle, as autoridades de saúde são
alertadas sobre os riscos e a rápida transmissão de uma enfermidade, no caso o Covid-19,
como passou a ser conhecido.
Com isso, o diretor geral da OMS, ao anunciar a Pandemia, afirmou que “esta-
mos chamando todos os países para ativar e intensificar mecanismos emergenciais de
resposta, buscar casos suspeitos, isolar, testar e tratar todo episódio de Covid-19, além
de traçar as pessoas que tiverem contato com ele”34. Em ato contínuo, requereu que
todos iniciassem os cuidados e a proteção, no intuito de reduzir o ciclo de transmissão.
Inclui nesse pedido atenção para detectar o vírus e o tratamento aos infectados.
Entretanto, tratando-se de um vírus que ainda não tem conhecida a forma de
combatê-lo, o mundo está buscando alternativas que possibilitem diminuir sua
transmissibilidade e letalidade. Diante disso, essa pandemia está se mostrando como
um dos maiores desafios aos sanitaristas em escala global, conforme apontam Gui-
lherme Loureiro Werneck e Marilia Sá Carvalho, apontando que “o insuficiente
conhecimento científico sobre o novo coronavírus, sua alta velocidade de dissemi-
nação e capacidade de provocar mortes em populações vulneráveis, geram incerte-
zas sobre quais seriam as melhores estratégias a serem utilizadas para enfrentar a
pandemia”35. Além disso, os referidos autores apontam que uma das alternativas
para mudanças ou mitigação do quadro de pandemia é o distanciamento social que
se torna mais difícil em muitas situações brasileiras, tendo em vista o modo que
vivem em muitas comunidades na periferia dos grandes centros. Para tanto, os espe-
cialistas em saúde apresentam a pandemia sob quatro fases compreendidas como
contenção, mitigação, supressão e recuperação36.
33
REDAÇÃO, OMS decreta pandemia do novo coronavírus, Veja saúde, 29 abr. 2020, Disponível em:
<https://saude.abril.com.br/medicina/oms-decreta-pandemia-do-novo-coronavirus-saiba-o-que-isso-signifi
ca/>, Acesso em: 19 jun. 2020.
34
REDAÇÃO, OMS decreta pandemia do novo coronavírus, Veja saúde, 29 abr. 2020, Disponível em:
<https://saude.abril.com.br/medicina/oms-decreta-pandemia-do-novo-coronavirus-saiba-o-que-isso-signifi
ca/>, Acesso em: 19 jun. 2020.
35
WERNECK, Guilherme Loureiro, CARVALHO, Marilia Sá, A pandemia de COVI-19 no Brasil: crônica
de uma crise sanitária anunciada. Caderno de Saúde Pública, vol. 36, n. 5 de 2020, Disponível em:
<http://cadernos.ensp.fiocruz.br/csp/artigo/1036/a-pandemia-de-covid-19-no-brasil-crnica-de-uma-crise-sa
nitria-anunciada>, Acesso em: 23 jun. 2020, p. 1-4.
36
WERNECK, Guilherme Loureiro, CARVALHO, Marilia Sá, A pandemia de COVI-19 no Brasil: crônica
de uma crise sanitária anunciada. Caderno de Saúde Pública, vol. 36, n. 5 de 2020, Disponível em:
<http://cadernos.ensp.fiocruz.br/csp/artigo/1036/a-pandemia-de-covid-19-no-brasil-crnica-de-uma-crise-sa
nitria-anunciada>, Acesso em: 23 jun. 2020, p. 1-4.
Essas fases podem ser compreendidas como sendo, em primeiro plano, mes-
mo antes de surgir os primeiros casos, o cuidado em rastrear os possíveis passagei-
ros vindos de áreas externas de modo a evitar que sejam os transmissores à comuni-
dade em questão. A segunda fase, a mitigação, busca diminuir os níveis de trans-
missão da doença para os grupos de risco. Caso o primeiro caminho, ou seja a
contenção, não tenha alcançado os resultados esperados, não sendo possível evitar
a contaminação, então é necessário buscar alternativas para que ela não atinja os
mais vulneráveis. Esta prática é conhecida como isolamento vertical37.
A supressão, por sua vez, se apresenta como o próximo passo ao ser perce-
bido que as duas alternativas anteriores (contenção e mitigação) não atingiram o
resultado esperado, ou seja, não ocorreu o achatamento da curva da epidemia.
Aqui são implantadas medidas mais drásticas de distanciamento social, fazendo
com que toda a população evite a explosão de casos, ocasião em que não haveria
condições de saúde para atender todos os infectados em estado mais grave. Esse
procedimento deve permanecer até o momento que venha ocorrer uma estabiliza-
ção e/ou a testagem do maior número de pessoas, buscando novas ferramentas de
tratamento ou prevenção38.
Finalmente, quando houver sinais claros de que está ocorrendo a involu-
ção do quadro epidêmico, será o momento em que a sociedade precisará de rees-
truturação econômica e social, de modo a retomar o quanto antes à normalidade
de vida, na medida do possível. Para essa fase, existe a preocupação de verificar
até que ponto será possível modificar o quadro que restou configurado durante a
pandemia, bem como observar o que foi feito e o quais as ações positivas para
vencer o vírus ou o problema enfrentado. Embora o mundo já tenha presenciado
outras Pandemias, os acontecimentos e seus reflexos são variáveis, considerando
os diferentes aspectos sociais, culturais e econômicos, incluindo as novas tecno-
logias39.
Assim, como reportado, a rapidez de disseminação do vírus se dá, de modo
especial pelo contato entre as pessoas e as partículas de saliva que são lançadas no
ar pela respiração, tosse ou espirro das pessoas. Para tanto, como forma de evitar a
transmissão de pessoa para pessoa, além do isolamento social, a Pandemia vivenciada no
ano de 2020, será fator determinante para demonstrar a importância de cuidados básicos
37
WERNECK, Guilherme Loureiro, CARVALHO, Marilia Sá, A pandemia de COVI-19 no Brasil: crônica
de uma crise sanitária anunciada. Caderno de Saúde Pública, vol. 36, n. 5 de 2020, Disponível em:
<http://cadernos.ensp.fiocruz.br/csp/artigo/1036/a-pandemia-de-covid-19-no-brasil-crnica-de-uma-crise-sa
nitria-anunciada>, Acesso em: 23 jun. 2020, p. 1-4.
38
CHOR, Dóra; FAERSTEIN, Eduardo, Um enfoque epidemiológico da promoção da saúde: as ideias de
Geoffrey Rose, Caderno de Saúde Pública, vol. 16, n. 1, jan./marc. 2000, Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2000000100025&lng=en&nrm=iso>,
Acesso em: 23 jun. 2020.
39
WERNECK, Guilherme Loureiro, CARVALHO, Marilia Sá, A pandemia de COVI-19 no Brasil: crônica de
uma crise sanitária anunciada. Caderno de Saúde Pública, vol. 36, n. 5 de 2020, Disponível em:
<http://cadernos.ensp.fiocruz.br/csp/artigo/1036/a-pandemia-de-covid-19-no-brasil-crnica-de-uma-crise-sa
nitria-anunciada>, Acesso em: 23 jun. 2020, p. 1-4.
de higiene, especialmente a lavagem das mãos com água e sabão diminuindo a ocorrên-
cia das infecções, entre outros40.
Para tanto, conforme Adriana Cristina de Oliveira, Thabata Coaglio Lucas e Ro-
bert Aldo Iquiapaza, deve restar compreendido a necessidade de tornar um hábito que “a
higienização das mãos, considerada uma medida de baixo custo e alta efetividade, por
serem as mãos o principal veículo de contaminação cruzada, é um cuidado básico”41.
Esta conduta, aparentemente simples, é um modo de evitar a facilidade de proliferação
do vírus, quebrando a cadeia de transmissão.
As medidas de saúde pública em relação a COVID-19 também devem se tornar
referência para os ambientes de trabalho, especialmente por estar em transição para um
novo modelo de contratação de trabalhadores e de prestação de serviços. É, portanto,
fator que precisa ser observado com maior acuidade pois a complexidade de adesão a
esses cuidados é grandiosa devido a invisibilidade do risco, embora a redução da morbi-
dade possa estar relacionada a fatores de comportamento humano que precisam ser revis-
tos e introjetados criando barreiras que ajudem a evitar a propagação pandêmica do
vírus.
40
OLIVEIRA, Adriana Cristina de, LUCAS, Thabata Coaglio, IQUIAPAZA, Robert Aldo, O que a
pandemia da COVID-19 tem nos ensinado sobre adoção de medidas de precaução?, Texto & contexto
enfermagem, vol. 29, 2020, Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-0707202
0000100201&script=sci_arttext&tlng=pt>, Acesso em: 23 jun. 2020.
40
OLIVEIRA, Adriana Cristina de, LUCAS, Thabata Coaglio, IQUIAPAZA, Robert Aldo, O que a
pandemia da COVID-19 tem nos ensinado sobre adoção de medidas de precaução?, Texto & contexto
enfermagem, vol. 29, 2020, Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-0707202
0000100201&script=sci_arttext&tlng=pt>, Acesso em: 23 jun. 2020.
40
ALMEIDA, Ildeberto Muniz de, “Proteção da saúde dos trabalhadores da saúde em tempos de COVID-19 e
respostas à pandemia”, Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, vol. 45, 2020, Disponível em:
<https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-07072020000100201&script=sci_arttext&tlng=pt>, Acesso
em: 23 jun. 2020.
41
OLIVEIRA, Adriana Cristina de, LUCAS, Thabata Coaglio, IQUIAPAZA, Robert Aldo, O que a
pandemia da COVID-19 tem nos ensinado sobre adoção de medidas de precaução?, Texto & contexto
enfermagem, vol. 29, 2020, Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-070720
20000100201&script=sci_arttext&tlng=pt>, Acesso em: 23 jun. 2020.
42
FERRARI, Andrés; CUNHA, André Moreira Cunha, A pandemia de Covid-19 e o isolamento social: saúde
versus economia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Disponível em: <https://www.ufrgs.
br/coronavirus/base/artigo-a-pandemia-de-covid-19-e-o-isolamento-social-saude-versus-economia/>, Acesso
em: 25 jun. 2020.
43
ALMEIDA, Ildeberto Muniz de, “Proteção da saúde dos trabalhadores da saúde em tempos de COVID-19 e
respostas à pandemia”, Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, vol. 45, 2020, Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0303-76572020000101500&lng=en&nrm=iso>,
Acesso em: 24 jun. 2020.
44
FERRARI, Andrés; CUNHA, André Moreira Cunha, A pandemia de Covid-19 e o isolamento social: saúde
versus economia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Disponível em: <https://www.ufrgs.br/
coronavirus/base/artigo-a-pandemia-de-covid-19-e-o-isolamento-social-saude-versus-economia/>, Acesso
em: 25 jun. 2020.
45
GUIMARÃES, Elaine, Em tempos de pandemia, o que será do trabalhador?,. Notícias/Educação,
Disponível em: <https://www.uninassau.edu.br/noticias/em-tempos-de-pandemia-o-que-sera-do-trabalhad
or>, Acesso em: 25 jun. 2020.
46
BUENO, Ademir, Como será a volta ao trabalho após a pandemia?, Uninter notícias, 13.05.2020,
Disponível em: <https://www.uninter.com/noticias/como-sera-a-volta-ao-trabalho-apos-a-pandemia>,
Acesso em: 25 jun. 2020.
47
LAURETTI, Patrícia, O trabalho no pós-pandemia: crise e oportunidade para a sociedade, Atualidades
Unicamp, 01.05.2020, Disponível em: <https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2020/05/01/o-trabalho-
no-pos-pandemia-crise-e-oportunidade-para-sociedade>, Acesso em: 25 jun. 2020.
48
RODRIGUES, Raisa, Como ficará o mercado de trabalho após o pico da pandemia?, Notícias –FTC de
Juazeiro, 23.04.2020, Disponível em: <https://www.uniftc.edu.br/como-ficara-o-mercado-de-trabalho-apos-
o-pico-da-pandemia/>, Acesso em: 25 jun. 2020.
49
FERRARI, Andrés; CUNHA, André Moreira Cunha, A pandemia de Covid-19 e o isolamento social: saúde
versus economia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Disponível em: <https://www.ufr
gs.br/coronavirus/base/artigo-a-pandemia-de-covid-19-e-o-isolamento-social-saude-versus-economia/>,
Acesso em: 25 jun. 2020.
50
GUIMARÃES, Elaine, Em tempos de pandemia, o que será do trabalhador?, Notícias/Educação,
Disponível em: <https://www.uninassau.edu.br/noticias/em-tempos-de-pandemia-o-que-sera-do-trabal
hador>, Acesso em: 25 jun. 2020.
51
NASCIMENTO, Rodrigo, Quais são as tendências do mercado de trabalho após a Covid-19, Gazeta,
15.04.2020, Disponível em: <http://www.gaz.com.br/conteudos/regional/2020/04/15/164484-quais_sa
o_as_tendencias_do_mercado_de_trabalho_apos_a_covid_19.html.php>, Acesso em: 25 jun. 2020.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse estudo foi possível observar como um inimigo, mesmo invisível, pode
modificar as relações sociais, comerciais e de trabalho. Assim, o Coronavírus –
COVID-19 trouxe alterações que tornaram obrigatório o distanciamento social, que
redundou em afastamento dos postos de trabalho e, com isso as relações de trabalho
foram alteradas e, em muitos casos, rompidas. Como consequência imediata houve
uma retração no setor industrial/comercial havendo uma queda na produção e, ao
lado disso problemas sociais como desemprego, subempregos e maior permanência
em casa, além da ampliação do chamado trabalho remoto, também conhecido como
home office.
O teletrabalho, mesmo existindo desde a década de setenta do século passado,
foi oficializado por normativa legal no Brasil, apenas no início desse século. Essa
atividade, a despeito de diferentes opiniões tem, por um lado a necessidade de adap-
tação do empregado à realidade de permanecer afastado de seu ambiente de trabalho
costumeiro e fazer uso de tecnologia que, muitas vezes antes nem dominava. Ao
mesmo tempo, isso oferece vantagens como a possibilidade de criar seu horário de
trabalho, suas condições de empreender sem esquecer que não tem mais necessidade
de longos deslocamentos, o que, nos grandes centros, torna-se um ganho em termos de
qualidade de vida. Não menos verdadeiro também é o fato que pode demandar em
mais horas trabalhadas, não ter as condições ideais para a realização de suas ativida-
des, sem contar as possíveis maiores interferências de outras pessoas ao trabalho.
Essa alternativa de trabalho se torna muito importante quando há um risco
maior de contaminação, de infecção como ocorre no momento no Brasil e no mun-
do, com o Coronavírus. Esse inimigo, por ter um alto poder de transmissibilidade e
letalidade, exige que sejam tomadas medidas enérgicas para diminuir a curva de
contaminação e, assim, possibilitar a descoberta de alternativas de combatê-lo ou
torná-lo menos agressivo. Ainda mais quando não há uma exata dimensão do que
pode ocorrer com sua disseminação e como evitar, de forma mais efetiva a letalida-
de. Diante disso, o home office se apresentou como uma boa alternativa para evitar
demissões e procurar manter a roda da economia em movimento.
Entretanto, a grande dúvida que surge, durante a pandemia, é a preocupação
de como será a relação de trabalho durante o isolamento social e, especialmente
após. Durante, já é possível observar que ocorreram demissões em massa, negocia-
ções salariais, de horário e o trabalho remoto. O novo momento obrigou os empre-
gadores e empregados a repensarem suas atitudes já visando o retorno das atividades
após a passagem do surto.
Esse cuidado exige novo olhar sobre as relações de trabalho, os ambientes
de trabalho e até mesmo as novas exigências do mercado. Para tanto, mesmo que
não seja possível mensurar como e quando haverá a retomada das atividades con-
sideradas “normais”, é necessário repensar e rever velhos padrões e valores. O
mundo não sairá igual e isso será muito mais verdadeiro no que se refere aos mei-
os de vida, as necessidades individuais e os paradigmas empregatícios. Conclui-se
assim que, ante este quadro, cabe a cada um enxergar o outro de modo mais empá-
7 REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Ildeberto Muniz de, “Proteção da saúde dos trabalhadores da saúde em tempos de COVID-19
e respostas à pandemia”, Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 45, 2020, Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0303-76572020000101500&lng=en&n
rm=iso>, Acesso em: 24 jun. 2020.
BARROS, Alice Monteiro de, Curso de Direito do Trabalho, 11ª ed, São Paulo, LTr, 2017.
BARROS, Leonardo, Jornada de trabalho: tudo que você precisa saber, Disponível em:
<https://blog.tangerino.com.br/jornada-de-trabalho/>, Acesso em: 06 jun. 2020.
BRASIL, Presidência da República, Lei 12.551, de 15.12.2011, Altera o art. 6º da Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), aprovada pelo Dec.-Lei 5.452, de 1º.05.1943, para equiparar os efeitos jurídicos da
subordinação exercida por meios telemáticos e informatizados à exercida por meios pessoais e diretos,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12551.htm>, Acesso em:
16 jun. 2020.
BRASIL, Presidência da República, Lei 13.467, de 13.06.2017, Altera a Consolidação das Leis do Traba-
lho (CLT), aprovada pelo Dec.-Lei 5.452, de 1º.05.1943, e as Leis n. 6.019, de 3.01.1974, 8.036, de
11.05.1990, e 8.212, de 24.07.1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho, Disponí-
vel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm>, Acesso em: 16 jun.
2020.
BRASIL, Presidência da República, Dec.-Lei 5.452, de 1º.05.1943, Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>, Acesso em:
06 jun. 2020.
BUENO, Ademir, Como será a volta ao trabalho após a pandemia?, Uninter notícias, 13.05.2020, Dispo-
nível em: <https://www.uninter.com/noticias/como-sera-a-volta-ao-trabalho-apos-a-pandemia>, Acesso
em: 25 jun. 2020.
CAMINO, Carmen, Direito individual do trabalho, 4ª ed, Porto Alegre: Síntese, 2004.
CHOR, Dóra; FAERSTEIN, Eduardo, Um enfoque epidemiológico da promoção da saúde: as ideias de
Geoffrey Rose, Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, jan./marc. 2000, Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2000000100025&lng=en&nrm=
iso>, Acesso em: 23 jun. 2020.
COSTA, Isabel de Sá Affonso da, “Teletrabalho: subjugação e construção de subjetividades”, Revista de Adminis-
tração Pública, Rio de Janeiro, v. 41, n. 1, Fev. 2007, Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0034-76122007000100007&lng=en&nrm=iso>, Acesso em: 19 jun. 2020.
DELGADO, Mauricio Godinho, Jornada de trabalho e descansos trabalhistas, São Paulo, LTr, 2003.
ESTRADA, Manuel Martín Pino, “Teletrabalho: Conceitos e a sua Classificação em face aos Avanços
Tecnológicos”, in STOLZ, Sheila; MARQUES, Carlos Alexandre Michaello, org., Teletrabalho, São
Paulo, LTr, 2017.
FERRARI, Andrés; CUNHA, André Moreira Cunha, A pandemia de Covid-19 e o isolamento social:
saúde versus economia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Disponível em:
<https://www.ufrgs.br/coronavirus/base/artigo-a-pandemia-de-covid-19-e-o-isolamento-social-saude-ver
sus-economia/>, Acesso em: 25 jun. 2020.
FINCATO, Denise Pires; BITENCOURT, Manoela de, Teletrabalho transnacional: tributação da renda
dos teletrabalhadores no plano internacional, Florianópolis: CONPEDI, 2014.
ROUBICEK, Marcelo, O que diz o primeiro dado do desemprego na pandemia, Jornal nexo, de
30.04.2020, Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/04/30/O-que-diz-o-primeiro-
dado-de-desemprego-na-pandemia>, Acesso em: 16 jun. 2020.
WERNECK, Guilherme Loureiro, CARVALHO, Marilia Sá, A pandemia de COVI-19 no Brasil: crônica
de uma crise sanitária anunciada, Caderno de Saúde Pública, v. 36, n. 5 de 2020, Disponível em:
<http://cadernos.ensp.fiocruz.br/csp/artigo/1036/a-pandemia-de-covid-19-no-brasil-crnica-de-uma-crise-
sanitria-anunciada>, Acesso em: 23 jun. 2020, pp. 1-4.
1
Doutor e Mestre em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professor
de Pós-Graduação lato sensu da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. E-mail:
dwgranado@hotmail.com
2
Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, Graduado pela PUC/SP.
Professor de Pós-graduação lato sensu em Direito Processual Civil. Membro da ABDPRO. Membro do
CEAPRO. Membro da Comissão de Estudos de Direito Processual Civil da OAB/AM. Advogado. E-mail:
fernando@cotaadv.com
adopted, in favor of the unity of law, legal security, effectiveness and speed, as well as to
relieve the Brazilian Judiciary.
Keywords: Civil Procedural Law; Massification of Demands; Repetitive litigation;
Legislative Evolution; 2015 Code of Civil Procedure.
Sumário: 1. O avanço da massificação dos processos no direito brasileiro. 2. Evolução
legislativa. 3. O sistema processual civil de 2015. 4. Conclusão. 5. Referências .
8
“Não é raro, no Brasil, que um tribunal de segundo grau interprete e aplique um dispositivo de lei federal de
maneira diversa da que foi conferida pelo Superior Tribunal de Justiça, órgão máximo em matéria
infraconstitucional, mesmo estando a matéria pacificada no âmbito da Corte superior. Também não é tão
incomum como deveria ser que um determinado tribunal, uma dada turma julgadora ou um julgador não se
vincule sequer às próprias decisões anteriores. Essa falta de coerência externa e interna nos tribunais, além
de atentar contra a segurança jurídica, a isonomia entre os jurisdicionados e a previsibilidade de suas
decisões, prejudica sobremaneira a imagem do Judiciário, levando – ao descrédito junto à sociedade.”
(LIMA, Tiago Asfor Rocha, Precedentes judiciais civis no Brasil, São Paulo, Saraiva, 2013, p. 135.)
9
“Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e
interesse social, nos termos dos arts. 5°, inc. XXXII, 170, inc. V, da Constituição Federal e art. 48 de suas
Disposições Transitórias.”
10
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim, Súmula vinculante: figura do common law in Revista de Doutrina da 4ª
Região, Porto Alegre, n. 44, out. 2011, Disponível em: http://bdjur.stj.jus.br/dspace/handle/2011/42526,
Acesso em: 14.05.2020.
11
“Art. 2.º: O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia
processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação”. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm>, Acesso em: 10.04.2020
12
Disponível em: <https://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/turma-nacional-de-uniformizac
ao/copy_of_atos-oficiais-1/res-586-2019.pdf>, Acesso em: 28.04.2020
13
Importante salientar que muitos outros diplomas compõem o microssistema de ações coletivas, tais como a
Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/1992), Lei da Ação Popular (Lei 4.717/1965), Lei do
Mandado de Segurança Coletivo (Lei 12.016/2009), Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
8.069/1990), Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001) Lei de Parcelamento do Solo (Lei 6.766/1979), Código
Florestal (Lei 4.771/1965), Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981); Estatuto da
Pessoa com Deficiência (Lei 7.853/1989), Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei 8.666/1993),
entre outras.
Outro ponto importante a ser frisado [do NCPC] é a extrema cautela do Código quanto à
ênfase e manutenção de um padrão bom de segurança jurídica, entendida como previsibi-
lidade do que se espera seja decidido e da estabilidade da jurisprudência. Procurou-se,
como se verá mais adiante, incentivar a uniformidade da jurisprudência e sua estabilida-
de16. (os itálicos são do original)
Nessa esteira, serão analisados dispositivos que, muitas vezes pautados na valori-
zação de precedentes, desestimulam a proposição desnecessária de demandas, bem como
permitem a interrupção liminar de ações judiciais, reduzindo a litigiosidade e desburo-
cratizando o processo, quando houver decisão anterior sobre a mesma temática.
3.1 A Improcedência Liminar do Pedido
Fundamentada nos princípios da efetividade e da economia processual, a impro-
cedência liminar do pedido, prevista no art. 332 do CPC/15, tem lugar quando a deman-
da do autor, de imediato e sem a citação do réu, pode ser julgada improcedente. O art.
332 prevê que nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz poderá julgar liminar-
mente improcedente o pedido do autor que contrariar: enunciado de súmula do Supremo
Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; acórdão proferido pelo Supremo
Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repeti-
tivos; entendimento firmado em Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas ou de
Assunção de Competência; enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito
local; e ocorrência de decadência ou de prescrição.
O julgamento de improcedência liminar mostra-se como uma solução eco-
nômica, haja vista o encerramento do processo com a realização mínima de gastos
para o autor. Nesse sentido, afirmam Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade
Nery, senão vejamos:
É medida de celeridade (CF 5.º LXXVIII) e de economia processual, que evita a citação e
demais atos do processo, porque o juízo, o tribunal local, o STF ou o STJ já havia decidido
questão idêntica anteriormente, ou por se ter verificado a decadência ou a prescrição. Se-
ria perda de tempo, dinheiro e de atividade jurisdicional insistir-se na citação e na prática
dos demais atos do processo, quando o juízo ou mesmo a jurisprudência como um todo
já tem posição firmada quanto à pretensão deduzida pelo autor, ou quando já se apu-
rou que o pedido é caduco ou prescrito17.
16
ARRUDA ALVIM, José Manoel de, Novo Contencioso Cível no CPC/2015, Revista dos Tribunais: São
Paulo, 2016, pp. 23-24.
17
NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade, Código de Processo Civil Comentado [livro
eletrônico], 4. Ed, São Paulo, Thomson Reuters Brasil, 2019.
18
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. MITIDIERO, Daniel, Código de Processo Civil
Comentado [livro eletrônico], 4. ed, São Paulo, Thomson Reuters Brasil, 2019.
bilitam que o sistema jurídico se adapte às novas realidades, haja vista a dinamicida-
de da sociedade.
3.6 O Incidente de Assunção de Competência e o Incidente de Resolução de
Demandas Repetitivas
O sistema de precedentes delineado no tópico supra inseriu novos instrumen-
tos à dinâmica processual civil, quais sejam o Incidente de Assunção de Competên-
cia e o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, instituídos nos arts. 947 e
976, respectivamente.
O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas tem por finalidade evitar
a insegurança jurídica no trato de demandas que possuam idênticas questões de
direito, na hipótese de haver o potencial de massificação daquela causa com ofensa
ao princípio da isonomia23. O Incidente de Assunção de Competência, por sua vez,
ocorre quando o julgamento do recurso, de remessa necessária ou de processo de
competência originária, envolver relevante questão de direito, com grande repercus-
são social, contudo, sem a repetição em múltiplos processos.
O objetivo do Incidente de Assunção de Competência é prevenir ou dirimir
controvérsia a respeito da matéria de grande relevância e orientar os membros do
tribunal e os juízes a ele submetidos mediante a formação de precedente ou jurispru-
dência vinculante (arts. 927, III, e 947, § 3.º). No entanto, se a questão apresentar
múltipla repetição, o incidente adequado é o de resolução de demandas repetitivas,
bem como a adoção da técnica de julgamento dos Recursos Extraordinário ou Espe-
cial repetitivos (arts. 1.036 a 1.041).
No que tange ao Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, na prática,
ao se deparar com uma repetição de casos sobre um mesmo fato, havendo similitude
também na questão de direito, busca-se evitar decisões conflitantes, prestigiando a
isonomia e segurança jurídica, cabendo a aplicação do incidente. Assim será esco-
lhido, dentre os processos, aquele que servirá de base para análise da situação jurídi-
ca e julgamento da causa. A causa jurídica será julgada e fixará entendimento a ser
seguido pelos demais órgãos e juízos de hierarquia inferior, curvando-se, portanto,
ao princípio da isonomia e segurança jurídica.
A intenção de aludido incidente reside fortemente em garantir ao jurisdicio-
nado isonomia no tratamento do conflito de interesses levado ao Poder Judiciário e,
além disso, acena, inclusive, no âmbito extrajudicial de como os Tribunais tratam
determinada matéria, devendo seguir de norte para a pauta de conduta, a fim de
evitar a ocorrência de conflito de interesses no âmbito sociológico.
23
“O incidente de resolução de demandas repetitivas será́ instaurado no curso de um processo individual que
verse sobre controvérsia com potencial de gerar relevante multiplicação de processos fundados em idêntica
questão de direito e de causar grave insegurança jurídica diante da possibilidade de coexistência de decisões
antagônicas.” (CASTRO MENDES, Aluísio Gonçalves de; e Rodrigues, Roberto de Aragão Ribeiro,
Reflexões sobre o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas previsto no projeto de novo Código de
Processo Civil in Revista de Processo, vol. 211/2012, p. 191 – 207, Set/2012.)
24
Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/03/17/novo-codigo-de-processo-civil-
recebe-sete-vetos>, Acesso em: 14.05.2020,
25
“Sabe-se que um dos fatores da litigiosidade massiva no Brasil é o da falta de diálogos institucionais entre
os ‘poderes’ e entre os agentes responsáveis pela fiscalização do cumprimento de direitos”. (NUNES,
Dierle; BAHIA, Alexandre Melo Franco, Precedentes no CPC-2015: por uma compreensão
constitucionalmente adequada do seu uso no Brasil In FREIRE, Alexandre; BARROS, Lucas Buril de
Macedo; PEIXOTO, Ravi. Coletânea Novo CPC: Doutrina Selecionada, Salvador: Juspodivm, 2015, p.
2.340.)
26
“O legislador criou verdadeira regra impositiva, regulamentando nova verba honorária, que não pode ser
confundida com a fixada em primeiro grau, mas com ela cumulada, tendo em vista o trabalho adicional do
advogado no segundo grau de jurisdição e nos tribunais superiores” (Superior Tribunal de Justiça, 3ª Turma.
AgInt no AREsp 370.579/RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 23.06.2016, DJe 30.06.2016.)
27
“A condenação pelas custas, despesas processuais e honorários advocatícios deve recair sobre quem deu
causa à ação. Se o réu deu causa à propositura da ação, mesmo que o autor saia vencido, pode o réu ter de
responder pelas verbas de sucumbência. Aplica-se o princípio da causalidade para repartir as despesas e
custas do processo entre as partes. O processo não pode causar dano àquele que tinha razão para o instaurar.
Nesta matéria, o princípio da razoabilidade reza que tanto é vencido em parte quem não ganhou parte do
que pediu, quanto é vencedor em parte quem não foi condenado no todo pedido.” (NERY JUNIOR,
Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado [livro eletrônico], 4. ed, São
Paulo, Thomson Reuters Brasil, 2019.)
sitivo em comento, que determinam os critérios para fixação dos honorários na de-
manda originária, com a determinação de limites máximos e mínimos.
Precipuamente, a possibilidade da sucumbência recursal tem por escopo ini-
bir a interposição de recursos notoriamente protelatórios, levando em consideração a
razoável duração dos processos e o seu custo efetivo, visando combater, por conse-
guinte, a eternização das demandas no judiciário brasileiro, em busca de uma melhor
e mais efetiva prestação jurisdicional.
3.10 A Concessão de Maiores Poderes ao Relator no art. 932 do CPC/15
O Relator atua como o condutor do processo no tribunal, seja no caso de re-
cursos ou ações de competência originária, atuando por meio de atribuições de cará-
ter ordenatório, preparatório, instrutório e decisório. Considerando a notória morosi-
dade do julgamento de processos pelos tribunais, revelou-se cada vez mais necessá-
rio prestigiar a decisão monocrática do Relator, de modo a evitar a repetição de
recursos flagrantemente inadmissíveis e protelatórios ou que veiculassem teses jurí-
dicas já reiteradamente decididas pelas Cortes Superiores, desde que, contudo, não
se desprestigie a importância do julgamento colegiado, regra no sistema recursal
brasileiro.
Nessa esteira, ao art. 932 do CPC/15 coube a função de estruturar a atividade
do Relator de forma mais sistemática, sendo importante destacar, a título inicial, que
o rol não é exaustivo, haja vista que o seu próprio inc. VIII prevê que o Relator
também exercerá as atribuições expressas nos regimentos internos dos tribunais28.
Os incs. IV e V do dispositivo retro estabelecem hipóteses específicas e bem
delineadas de julgamento monocrático por parte do Relator, os chamados poderes
decisórios, afastando, especificadamente, a expressão genérica “súmula ou jurispru-
dência dominante”, prevista no antigo diploma. Para Teresa Arruda Alvim, os inci-
sos em comento vão ao encontro de uma grande tendência do Código de Processo
Civil atual, qual seja a criação de “condições para que se concretize de modo mais
pleno o princípio da isonomia, proporcionando condições e criando técnicas para
uniformização e estabilização da jurisprudência”29.
Ademais, aduz a autora que este “dispositivo prestigia súmulas, ainda que
não vinculantes, o que significa um estímulo a que os tribunais as redijam com
28
Para Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, na prática, “pretende-se, com a aplicação da
providência prevista no texto ora analisado, a economia processual, com a facilitação do trâmite do recurso
no tribunal”, de modo que o Relator poderá “decidir monocraticamente tudo, desde a admissibilidade do
recurso até o seu próprio mérito, sempre sob controle do colegiado a que pertence, órgão competente para
decidir, de modo definitivo, sobre admissibilidade e mérito do recurso. (NERY JUNIOR, Nelson; NERY,
Rosa Maria de Andrade, Código de Processo Civil Comentado [livro eletrônico], 4. ed, São Paulo,
Thomson Reuters Brasil, 2019.)
29
Alvim, TERESA ARRUDA, et al. Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil [livro
eletrônico], São Paulo, Revista dos Tribunais, 2016.
muito mais responsabilidade, já que cientes da eficácia que podem ter”30. E, por
fim, em sentido contrário, “essa espécie de dispositivo acaba levando também a que
os tribunais fiquem inibidos de alterar bruscamente entendimentos consolidados e
sumulados”31.
Por conseguinte, o artigo em apreço acaba por dar especial relevância aos en-
tendimentos firmados no julgamento dos recursos especiais repetitivos pelos Tribu-
nais Superiores, bem como ao Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas ou
de Assunção de Competência, na medida em que estão em consonância com o sis-
tema de precedentes instituído pelo CPC/15.
3.11 A Barreira de Acesso aos Tribunais Superiores em Determinados Casos
Esculpidos em Lei (Art. 1030 do CPC/15)
A análise de um recurso pode comportar dois juízos fundamentais, o juízo de
admissibilidade, no qual são verificados os pressupostos genéricos recursais, quais
sejam, cabimento, interesse, legitimidade, preparo, tempestividade, regularidade
formal e inexistência de fato extintivo ou impeditivo do direito de recorrer, além dos
pressupostos específicos, como é o caso da repercussão geral da questão discutida,
no Recurso Extraordinário (art. 1.035, CPC/15) e o juízo de mérito, responsável pelo
julgamento efetivo da matéria discutida no recurso.
Com o advento da Lei 13.256/2016, entre outras alterações, o art. 1.030, res-
ponsável pela abolição do duplo juízo de admissibilidade nos Tribunais Superiores,
fora alterado para manter o juízo de admissibilidade no tribunal de origem e, ade-
mais, disciplinou-se de maneira pormenorizada as hipóteses de inadmissão monocrá-
tica dos recurso excepcionais, as quais representam verdadeiras barreiras de acesso
as instâncias superiores.
Deste modo, o Recurso Especial e o Recurso Extraordinário, antes de se diri-
girem ao Superior Tribunal de Justiça ou ao Supremo Tribunal Federal, respectiva-
mente, serão interpostos perante o juízo que prolatou a decisão recorrida, razão pela
qual ficará a cargo do presidente ou vice-presidente do Tribunal de Justiça ou Tribu-
nal Regional Federal proceder ao juízo prévio de admissibilidade32.
30
Alvim, TERESA ARRUDA, et al. Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil [livro
eletrônico], São Paulo, Revista dos Tribunais, 2016.
31
Alvim, TERESA ARRUDA, et al. Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil [livro
eletrônico], São Paulo, Revista dos Tribunais, 2016.
32
“A competência para o juízo de admissibilidade dos recursos é do órgão ad quem. Ao tribunal destinatário
cabe, portanto, o exame definitivo sobre a admissibilidade do recurso. Ocorre que, para facilitar os trâmites
procedimentais, em atendimento ao princípio da economia processual, o juízo de admissibilidade é
normalmente diferido ao juízo a quo para, num primeiro momento, decidir provisoriamente sobre a
admissibilidade do recurso [a regra mudou: CPC 1010 § 3.º]. De qualquer sorte, essa decisão do juízo a quo
poderá ser modificada pelo tribunal, a quem compete, definitivamente, proferir o juízo de admissibilidade
recursal, não se lhe podendo retirar essa competência.” (NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de
Andrade, Código de Processo Civil Comentado [livro eletrônico], 4. ed, São Paulo, Thomson Reuters
Brasil, 2019.)
Ocorre, como mencionado anteriormente, que muitas das atribuições trazidas pe-
la Lei 13.256/16 configuram-se como efetivos obstáculos de acesso aos Tribunais Supe-
riores, uma vez que, para Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, a negativa
do seguimento de um recurso, “significa proferir juízo negativo de admissibilidade, pois
tranca a via recursal e impede que o recurso seja julgado pelo mérito”33.
Desta feita, em primeiro lugar, o presidente ou vice-presidente do tribunal re-
corrido poderá negar seguimento, tendo em vista as decisões do Supremo Tribunal
Federal em matéria de repercussão geral, o qual, repita-se, constitui pressuposto
específico do Recurso Extraordinário. Assim, caso não seja reconhecida a repercus-
são geral de determinada questão constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, o
Recurso Extraordinário que retrate a mesma questão de direito, terá seu seguimento
denegado monocraticamente.
Ato contínuo, em hipótese contrária, caso a decisão recorrida esteja em con-
formidade com o entendimento pacificado pelo Supremo Tribunal Federal em de-
terminada repercussão geral, o seguimento do Recurso Extraordinário também será
denegado, dada a supremacia da tese refletida na repercussão geral.
Na mesma esteira, caso seja verificado que o acórdão recorrido está em con-
formidade com o entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribu-
nal de Justiça exarado no regime de julgamento de recursos repetitivos dos arts.
1.036 e seguintes do CPC/2015, também será denegado seguimento ao Recurso
Extraordinário e Especial, respectivamente, haja vista que será constatado que o
tribunal de origem realizou a aplicação correta do precedente firmado no regime de
recursos repetitivos.
O art. 1.030 também prevê a hipótese do presidente ou vice-presidente do tri-
bunal de origem encaminhar o processo ao órgão julgador, a fim de realizar o juízo
de retratação, quando a decisão recorrida seja divergente do entendimento do Su-
premo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça no julgamento da reper-
cussão geral ou no julgamento dos recursos repetitivos, a fim de que o juízo a quo
realize as devidas adequações ao precedente firmado pelos Tribunais Superiores.
Por fim, o presidente ou vice-presidente do tribunal pode sobrestar o recurso
que verse sobre controvérsia de caráter repetitivo, ainda que não decidida pelo Su-
premo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça. No entanto, cabe des-
tacar que o sobrestamento somente será efetivo quando da escolha dos processos que
serão encaminhados para o Tribunal Superior para fins de afetação, conforme art.
1.036, §1.º, do CPC/2015.
É importante mencionar que qualquer das decisões supramencionadas, lastre-
adas em teses firmadas em regimes de repercussão geral e do julgamento dos recur-
sos repetitivos, implicam algum grau de paralisação do processamento do recurso
excepcional, seja por sua efetiva negativa de seguimento, agravável internamente,
seja pelo encaminhamento para juízo de retratação, ou, por fim, por meio do sobres-
33
NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade, Código de Processo Civil Comentado [livro
eletrônico], 4. ed, São Paulo, Thomson Reuters Brasil, 2019.
tamento do feito para eventual afetação no regime de julgamento dos recursos repe-
titivos, representando, em maior ou menor grau, entraves ao acesso do jurisdiciona-
do aos Tribunais Superiores.
4 CONCLUSÃO
Ainda que não seja uma questão eminentemente nova, a crise do judiciário
ainda é um assunto que suscita discussões das mais diversas ordens, sobretudo, obje-
tivando a criação e o fortalecimento de instrumentos legislativos que possam ameni-
zá-la. Destarte, o presente trabalho teve por escopo estudar o grave problema atinen-
te à proliferação de demandas que entopem o judiciário brasileiro, analisando o
desenvolvimento histórico da legislação processual civil e seus mecanismos para
redução dos processos, inclusive no âmbito dos Tribunais Superiores.
Decerto, muitas novidades foram instituídas a partir da promulgação da
Constituição Federal de 1988, desde a edição de instrumentos de contenção até a
criação de novos órgãos jurisdicionais. No entanto, os resultados, ainda que signifi-
cativos, não foram esplendorosos ante o atual estágio de litigância massiva. Contu-
do, os avanços foram melhor sedimentados com a promulgação do Código de Pro-
cesso Civil de 2015, que, sem dúvida nenhuma, constitui importante avanço na re-
dução da massificação de processos, haja vista a adoção de mecanismos processuais
que têm por escopo melhorar a efetividade das decisões judiciais e que auxiliam na
celeridade da prestação jurisdicional.
Com o objetivo de tornar o processo mais eficiente e rápido, o novel diploma
processual civil buscou atender em maior medida o princípio constitucional da razo-
ável duração do processo, haja vista que a eficiência da tutela jurisdicional somente
será preservada se resolvida em tempo hábil, razão pela qual deve ser coibido todo e
qualquer expediente protelatório ao resultado final, na medida em que ineficiente o
sistema processual, todo o ordenamento jurídico padecerá de real efetividade.
Destarte, à luz da ideologia da celeridade e da efetividade da prestação da
justiça, o CPC/2015 instituiu uma série de instrumentos, tais como a improcedência
liminar do pedido, a inversão do ônus probatório, a tutela provisória de evidência, a
decisão parcial de mérito, a sucumbência recursal e a concessão de maiores poderes
ao Relator, os quais têm por escopo evitar demandas judiciais eminentemente desne-
cessárias, protelatórias ou contrárias a entendimentos consolidados por tribunais
superiores.
Além disso, em prol do mesmo objetivo, foram estabelecidas ferramentas que
têm por escopo a uniformização do direito a partir da valorização dos precedentes,
para a promoção de um sistema que seja coerente e estável como um todo. Dente as
novidades, destacam-se os Incidentes de Assunção de Competência e o Incidente de
Resolução de Demandas Repetitivas, as barreiras de acesso aos Tribunais Superio-
res, além da fiscalização, pelas Agências Reguladoras, da aplicação de precedentes.
Os expedientes de uniformização de jurisprudência, somados a instrumentos
de indeferimento liminar e desestímulo à propositura de demanda, formam um arca-
bouço processual de grande valia para a diminuição de processos, de modo que o
34
JUSTIÇA, Conselho Nacional, Relatório Justiça em Números 2019: ano-base 2018, Brasília,
CNJ, 2019, p. 5.
35
JUSTIÇA, Conselho Nacional, Relatório Justiça em Números 2019: ano-base 2018, Brasília,
CNJ, 2019, p. 79.
36
JUSTIÇA, Conselho Nacional, Relatório Justiça em Números 2019: ano-base 2018, Brasília,
CNJ, 2019, p. 79.
37
JUSTIÇA, Conselho Nacional, Relatório Justiça em Números 2019: ano-base 2018, Brasília,
CNJ, 2019, p. 79.
38
JUSTIÇA, Conselho Nacional, Relatório Justiça em Números 2019: ano-base 2018, Brasília,
CNJ, 2019, p. 80.
5 REFERÊNCIAS
ANDERS, Eduardo Caminati (org.) et al, Comentários à nova lei de defesa da concorrência: Lei 12.529,
de 30.11.2011, São Paulo, Método, 2012.
ARENHART, Sérgio Cruz, A tutela de direitos individuais homogêneos e as demandas ressarcitórias
em pecúnia in Direito processual coletivo e o anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coleti-
vos, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2007.
ARRUDA ALVIM, José Manoel de, Novo Contencioso Cível no CPC/2015, Revista dos Tribunais: São
Paulo, 2016.
CASTRO MENDES, Aluisio Gonçalves de; e Rodrigues, Roberto de Aragão Ribeiro, Reflexões sobre o
Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas previsto no projeto de novo Código de Processo Civil in
Revista de Processo, v. 211/2012, p. 191-207, Set/2012.
CRUZ E TUCCI, José Rogério. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2015-mar-17/paradoxo-corte-
veto-providencial-cpc, Acesso em: 12.02.2020.
JUSTIÇA, Conselho Nacional, Relatório Justiça em Números 2019: ano-base 2018, Brasília: CNJ, 2019.
______, 100 maiores litigantes 2012, Brasília: CNJ, 2012.
LIMA, Tiago Asfor Rocha, Precedentes judiciais civis no Brasil, São Paulo, Saraiva, 2013.
MANCUSO, Rodolfo de Camargo, Acesso à justiça: condicionantes legítimas e ilegítimas, São Paulo,
Revista dos Tribunais, 2011.
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. MITIDIERO, Daniel, Código de Processo
Civil Comentado [livro eletrônico], 4. Ed, São Paulo, Thomson Reuters Brasil, 2019.
NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade, Código de Processo Civil Comentado [livro
eletrônico], 4. ed, São Paulo, Thomson Reuters Brasil, 2019.
NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre Melo Franco, Precedentes no CPC-2015: por uma compreensão
constitucionalmente adequada do seu uso no Brasil In FREIRE, Alexandre; BARROS, Lucas Buril de
Macedo; PEIXOTO, Ravi. Coletânea Novo CPC: Doutrina Selecionada, Salvador: Juspodivm, 2015. p.
2340.
SICA, Heitor Vitor Mendonça. Brevíssimas Reflexões sobre a evolução do tratamento da litigiosidade
repetitiva no ordenamento brasileiro, do CPC/1973 ao CPC/2015 in Doutrinas Essenciais – Novo Proces-
so Civil, v. 7/2018, Revista de Processo, v. 257/2016, p. 269 – 281, jul/2016.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 3ª Turma, AgInt no AREsp 370.579/RJ, Rel. Min. João Otávio
de Noronha, j. 23.06.2016, DJe 30.06.2016.
TAVARES, André Ramos, Reforma do Judiciário no Brasil pós-88: (dês)estruturando a justiça: comen-
tários completos à EC n. 45/04, São Paulo, Saraiva, 2005.
ZAVASCKI, Teori Albino, Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos,
São Paulo, Revista dos Tribunais, 2006.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim, et al. Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil
[livro eletrônico], São Paulo, Revista dos Tribunais, 2016.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim, Súmula vinculante: figura do common law in Revista de Doutrina da
4ª Região, Porto Alegre, n. 44, out. 2011, Disponível em: <http://bdjur.stj.jus.br/dspace/han
dle/2011/42526> acesso em: 14.05.2020.
Disponível em: <https://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/turma-nacional-de-uniformi
zacao/copy_of_atos-oficiais-1/res-586-2019.pdf>, Acesso em: 28.04.2020.
1
Advogada, Mestre e doutora. Graduada em direito pela Universidade Católica de Direito de Santos, em
1989. Mestre em Direito Internacional, pela Universidade Católica de Santos, em 2006. Doutora em Direito
Internacional, pela Universidad Argentina John F. Kennedy de Buenos Aires, em 2018. Sócia e
Administradora da sociedade de advogados Ruben José da Silva Andrade Viegas Eliana Aló da Silveira
Advogados Associados. E-mail: ealo.advogados@ruben-eliana.com.br
The methodology used considers that the law is interdisciplinary, since it follows, as one
and its multiple model ramifications of society, therefore this investigation follows in a
logical, logical, inductive reasoning to find answers to the questions proposed in this
investigation. The use of a set of procedures and the use of qualitative scientific and
legal methods such as laws, customs, international treaties, systematic jurisprudence,
with the objective of presenting the case presented, to find a solution to the problem.
Thus, for this work, follow the descriptive methodology of the qualitative type, through
the analysis of a case and the comparison of jurisprudence between Brazil and
Argentina, the legal and hermeneutical system to prove the theory presented.
Keywords: Logistics of international transport; Agent; Legal security.
Sumario: 1. Introducción. 2. El derecho marítimo en brasil y la norma. 3. Derecho
logístico: concepto, introducción y elementos de la logística internacional. 4. El
ordenamiento jurídico en la relación entre transportador y agente de carga. 5. Seguridad
jurídica y agenciamiento de cargas. 6. Análisis de la seguridad jurídica en la teoría pura
de derecho de Hans Kelsen. 7. La imprevisibilidad de las decisiones judiciales. 8. El
derecho ante la subjetividad del magistrado y el ideal de justicia. 9. Propuesta para una
solución. 10. La actuación de los tribunales brasileños. 11. La legislación argentina y las
decisiones judiciales. 12. Conclusión.
Summary: 1. Introduction. 2. The brazilian maritime law and the norm. 3. Logistical
law: concept, introduction and elements of international logistics.4. The legal order in
the relationship between carrier and cargo agent. 5. Legal security and cargo agency.
6. Analysis of legal security in the pure theory of law of Hans Kelsen. 7. The
understanding of judicial decisions. 8. The right to the subjectivity of the magistrate and
the ideal of justice. 9. Proposal for a solution. 10. The action of the brazilian courts.
11. Argentine legislation and judicial decisions. 12. Conclusion.
1 INTRODUCCIÓN
Se ha establecido en la doctrina internacional que los contratos
internacionales, o sencillamente el acuerdo entre dos personas, sean ellas físicas o
jurídicas, son el elemento esencial y necesario para hacer viable el desarrollo y el
emprendimiento del comercio transfronterizo.
A través del contrato se detalla la operación para su ejecución, especificando
al máximo sus peculiaridades y se ofrecen elementos para la solución de toda y
cualquier controversia originada en esta etapa. En la práctica, la necesidad de
trasladar bienes y distribuirlos en varios puntos del mundo se hace más comúnmente
vía transporte marítimo, conforme enseña Guilherme Bergmann Borges Vieira
(2002, p. 14)2, “Se estima que el transporte marítimo es la modalidad utilizada en
más del 90% de las operaciones de comercio exterior en el mundo.” Por esta razón
este trabajo se limita exclusivamente a las cuestiones relativas al transporte
marítimo.
Las reglas que orientan este ramo de actividades se basan, en su gran
mayoría, en los usos y las costumbres. Las personas involucradas realizan por
escrito acuerdos formales en los cuales, sin embargo, no siempre están previstos
todos derechos y deberes básicos para las partes, bien como los términos y extensión
2
Transporte internacional de cargas, 2 ed., Aduaneras
sin la intervención del Poder Judicial. Por lo tanto, actualmente en Brasil el derecho
marítimo consiste en un área extensa y de gran actividad, que se hace cada vez más
compleja por necesitar una debida codificación.
En Brasil, el Decreto 19.473 del 10 de diciembre 1930, regula los
conocimientos de transporte de mercancías por tierra, agua y aire.
Este decreto constituye el estatuto reglamentar de los conocimientos de
transporte hasta su revocación, sin cualquier criterio o fundamento, por el Decreto
000, de 26 de abril 1989, en el gobierno del presidente de la república Fernando Collor.
Esta decisión está basada sencillamente en el hecho de determinar genéricamente que se
deberían revocar todos los decretos anteriores, con el argumento de que serían “leyes
viejas”, sin embargo, aun se aplica el mencionado decreto bajo el fundamento jurídico y
de derecho admitido, ante la inexistencia de otro dispositivo legal que lo sustituya,
además del hecho que las normas con fuerza de ley ordinaria no su pueden
revocarlas solo a través de un decreto ejecutivo.
La Ley N. 556, de junio de 1850, crió el Código Comercial Brasileiro que,
en su segunda parte, trata del Comercio Marítimo y en esta, a su vez, en el
Capítulo II, de los conocimientos, regula y disciplina su emisión, tal como
previsto en los artículos 575 a 589.
3
Los INCOTERMS son reglas utilizadas en los contratos internacionales de comercio cuyo objetivo es
armonizar los negocios internacionales, proporcionando a las partes una mayor solidez en la relación a los
obstáculos de las relaciones comerciales. de compra y venta en el comercio internacional, y no se las puede
confundir con las relaciones establecidas en el contrato de transporte marítimo. Esto debido a que en el
primer contrato la relación se restringe al comprador y el vendedor, y posteriormente entre el exportador
(que puede o no ser el vendedor) y el transportador.
5
ob citada. (2008: 325)
6
En este sentido: STJ – RESP 826637-RS; AGRG NO RESP 584365-PE, RESP 784357-PR, RESP 170997-
SP.
7
“El agente marítimo, cuando en el ejercicio exclusivo de las atribuciones propias, no se considera
responsable fiscal, tampoco se equipara al transportador para efectos de Decreto-ley n. 37 de 1966”.
8
En este sentido: RESP 148683-SP; RESP 176932-SP
9
TJ-RJ – Apelação n. 0262352-27.2008.8.19.0001
10
Idem.
12
Barreto, F. Aires, in “Tributação e Conjuntura Nacional”, capítulo de su responsabilidad en la obra
colectiva “Segurança Jurídica na Tributação e Estado de Direito”, coordinación de Eurico Marcos Diniz de
Santi, NOESES e IBET, 2005, p. 4.
Por lo tanto, no hay que hablar en seguridad jurídica sino como un amparo final a
la proposición, para que de modo fundamentado, tras el análisis del derecho en todo su
contexto, se llegue a la única solución posible, en conformidad con todo el ordenamiento
jurídico.
Las expectativas normativas son efectivamente aseguradas y alcanzadas solo si se
conocen y se reducen las complejidades existentes a través de la interpretación, siendo
este el resultado del principio de la seguridad jurídica.
Definiciones de lo que sería derecho, norma, sistema, enunciados prescriptivos,
enunciados principio-lógicos y todo lo que sirve para la interpretación que se produce
por el aplicador del derecho asume una importancia medular en el camino recurrido para
la reducción de las complejidades existentes.
El jurista contemporáneo necesita aportar, independiente de su posición, al
ambiente de derecho (profesor, escritor, magistrado, miembro del Ministerio Público,
abogado, consultor, etc.) para que se aleja cualquier movimiento de debilitamiento del
principio de seguridad jurídica, con destaque para el de la modificación de la
jurisprudencia sin motivo justificado.
Aunque parezca que Brasil atraviesa una crisis por la no obediencia al paradigma
de la seguridad jurídica, no se puede alimentar tal circunstancia aislada con el fin de
aumentar la incertidumbre en la aplicación del derecho legislado.
Por lo tanto, es imperativo que todos los involucrados con la Ciencia Jurídica,
diseminen la idea de que la seguridad jurídica junto con la certeza del derecho, sean
valores fundamentales necesarios y que deben ser cultivados, para que la entrega de la
prestación jurisdiccional, que es un acto de Estado y perseguida por el ciudadano, sea
justa y solidificación de la paz entre los hombres y entre las instituciones de la Nación.
La seguridad jurídica representa confiabilidad en el sistema legal aplicado. Este
debe traducir la orden y la estabilidad basadas en el cumplimiento de los principios de
13
KELSEN, Hans, O que é justiça? A justiça, o direito e a política no espelho da ciência, Martins Fontes,
1998, Trad. Luís Carlos Borges.
16
Proyecto de Ley 1572 de 2011, www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposica
o=50884
17
artículo 710 del Código de Derecho Civil Brasileño: “Por contrato de agencia una persona asume,
en carácter no eventual y sin vínculos de dependencia, la obligación de promover, a cuenta de otra,
y mediante remuneración, la realización de determinados negocios y en área delimitada, y se encar-
ga de la distribución cuando el agente tenga a su disposición el objeto del negocio”.
Por esta decisión, se concluye que el agente no sería responsable por los actos
practicados en nombre de su mandante. Y luego complementa:
18
BARBADO, Patricia. Manual de jurisprudencia del transporte. 1 ed.,Buenos Aires, Lexis Nexis, 2004,
p. 285.
jurídica. (C. Nac. Civ y Com. Fed., sala 2ᵃ, 21.07.1970 – Aseguradores Argentinos y
otra v. Capitán y/o armadores del buque Lassel)19.
No se insiste en imputar al agente marítimo responsabilidad por hecho propio (art.
199 L.N.), solo queda como posibilidad jurídica la citación fundada en la sola
intervención en el transporte, y esta, por exclusión del primer supuesto, solo puede
darse en los términos del art. 193, esto es, en el carácter de agente marítimo del
transportador como su mandatario o representante ex lege; supuesto en el que no
responde por las obligaciones de su representado (art. 199 cit.; confr. J. D. RAY,
Derecho de la Navegación, t. II, p. 128; L. B. MONTIEL, Curso de derecho de la
navegación, Bs. As. 1994, p. 169, punto f; W. TEJERINA, Algunos aspectos relativos
a la responsabilidad del agente marítimo – nota a fallo-, L.L. 127-576). Lo
establecido por el art. 199 de la ley 20.094, bajo este aspecto, no hace sino
reproducir lo que constituye principio general en materia de representación.(C. Nac.
Civ y Com. Fed., sala 3ᵃ, 17.05.2005 – Compañía Argentina de Seguros Victoria S/A
c/ Expeditors Internacional Ocean s/ faltante y/o avería de carga transporte mar.)20
Luego, se puede concluir que la ley que define las responsabilidades del
agente, bien como las relaciones entre armador y su agente marítimo sobretodo por
un contrato de mandato o de agencia, es lo que han dado a los tribunales para
decidir. Por ejemplo:
El agente marítimo no responde por las obligaciones de sus representados, que es-
precisamente – lo que dispone el art. 199 ley 20.094. Igual decisión debería
adoptarse con respecto a Navicon. En efecto: el carácter que reviste Navicon es el de
delivery agent, y el tribunal ha asimilado la figura del agente de transporte aduanero
a la del agente marítimo.(C. Nav. Civ. Y Com. Fed., sala 1ᵃ, 7.09.2000 – Masari SRL
v. Navicon SA y otro s/ daños y perjuicios varios)21.
19
BARBADO, Patricia. Manual de jurisprudencia del transporte. 1 ed.,Buenos Aires, Lexis Nexis, 2004, p.
285.
20
jurisprudencia.pjn.gov.ar. Tema: Transporte marítimo. RESPONSABILIDAD DEL AGENTE
MARÍTIMO. Ley de navegación, Representación. Causa nr. 4.435/04
21
BARBADO, Patricia, Manual de jurisprudencia del transporte, 1 ed., Buenos Aires, Lexis Nexis, 2004, p.
286.
12 CONCLUSIÓN
Es evidente que la realidad social en la cual se vive se contenta más con el
modelo individualista de las soluciones judiciales. Desde el fin del siglo pasado se
ha construido un nuevo aspecto fundamentado en la prevalencia del interés social
sobre el individual. De ahí deriva la necesidad de exigir un sistema judicial más
participativo y activista, en la búsqueda de una sociedad más eficiente, humana y
solidaria, Se deberá a tal fin utilizar los instrumentos procesales más eficientes, por
ejemplo de la acción civil pública, de las acciones colectivas, de los juzgados
especiales, del mandato de seguridad colectivo, de las acciones de control de la
constitucionalidad.
Es decir, mecanismos hábiles y eficaces que complementan la actividad
estatal priorizando lo social. En el ámbito de la justicia y en dimensiones mundiales,
la realidad demuestra la insatisfacción generalizada con la solución jurisdiccional
estatal, lo que hizo que estudiosos y organizaciones, oficiales o no, busquen
soluciones, promoviendo conferencias locales e internacionales a través de la
inversión en investigaciones y en medios alternativos para la resolución de
conflictos.
Sin embargo, mientras esto no se convierte en realidad, aún se buscan
soluciones internas a través de la creación, alteración y revocaciones de leyes, como
a ejemplo en Brasil que revocó el código comercial de 1850. Asimismo, desde el
2011 cuando se presentó el nuevo proyecto de ley para su reformulación, hasta el
momento no se llegó a un consenso con respecto a los temas propuestos, incluyendo
las cuestiones de derecho mercantil tratadas de forma superficial, sin adentrarse a
cuestiones actuales y relevantes, instituyendo un capítulo exclusivo para los
contratos de logística. No obstante, este tema se trata solo de forma muy sencilla
junto al conocimiento de transporte de carga relativo al derecho marítimo.
Por un lado, Argentina define las responsabilidades generales de las agencias
en la Ley de Navegación 20.094, la cual posibilita la actuación del país en el
comercio marítimo, dando seguridad jurídica a quien opera en este segmento de
actividad.
Por otro lado, las decisiones brasileñas no tienen una orientación consolidada,
quizás por falta de una ley para definir las relaciones con claridad, lo que lleva a
interpretaciones dudosas, quizás porque así lo desean las partes interesadas o,
simplemente porque no piensan que esto sea un prioridad dando por sentado que
esto no traerá ninguna ventaja a los legisladores.
22
BARBADO, Patricia, Manual de jurisprudencia del transporte, 1 ed., Buenos Aires, Lexis Nexis, 2004, p.
286.
REFERENCIAS
AMARAL, Antonio Carlos Rodrigues, (2004), Direito do Comércio Internacional, São Paulo,
Aduaneiras.
ANJOS, J. Haroldo dos, & GOMES, Carlos Rubens Caminha, (1992), Curso de Direito Marítimo, Rio de
Janeiro, Renovar.
ARAUJO, Nadia, (2004), Contratos internacionais: Autonomia da Vontade, Mercosul e Convenções
Internacionais, 3 ed., Rio de Janeiro, 2004.
_______ (2004), Direito internacional privado – Teoria e prática brasileira, (2. ed.), Rio de Janeiro,
Renovar.
AZÚA, Daniel E. Real de, (1987), Transportes e seguros marítimos para o exportador, (2ª ed.), São
Paulo, Aduaneiras.
BARBADO, Patricia, (2004), Manual de jurisprudência del transporte, (1 ed.), Buenos Aires, Lexis
Nexis.
BASSO, Maristela, (2002), Contratos internacionais do comércio, (3. ed.), Porto Alegre, Livraria do
Advogado.
BARROSO, Luís Roberto e TIBURCIO, Carmem, (organizadores), ((2006), Direito Internacional
Contemporâneo – Estudos em homenagem ao Prof. Jacob Dolinger, Rio de Janeiro, Renovar.
BATISTA, Luiz Olavo, Dos contratos internacionais – Uma visão teórica e prática, (1994), São Paulo,
Saraiva.
BHAGHWATI P. N. (2002), Democratização de soluções e acesso à Justiça. in I FÓRUM MUNDIAL
DE JUÍZES, http://www.ajuris.org.br/fmundialj/Preview/artigo36.html (Porto Alegre, 2002)
BIC – Bureau International des Conteineres, Quartely Publication – april 91, NR 22 – Paris, France.
_______. Yearly Publication – NR 26 – Paris, France.
BOBBIO, Norberto, (1995), O Positivismo Jurídico: Lições de filosofia do direito. trad. Márcio Pugliesi,
Edson Bini, Carlos E. Rodrigues São Paulo, Ícone.
BLOCH D. Roberto, (1996), Transporte multiomodal – Análisis jurídico y operativo de un sistema
integrado de transporte, Buenos Aires, Ad-Hoc.
BUTLER, William Elliot, (1985), The Law of the sea and international shipping, New York, Oceana
Publications.
CABRERA, Omar, (2014), Teoría de los contratos, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, DyD.
CALVO CARAVACA, Afonso Luis e CARRASCOSA GONZALEZ, Javier, (2000), Derecho
internacional privado, v. I, Granada, Comares.
CÂMARA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL, (1978), Developpement du transport international par
conteneur, Paris, Chambre de Commerce International.
CÂMARA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL, Regras uniformes pour um document de transport
combine, Paris, Chambre de Commerce International, 1980.
CAMBI, Eduardo, (2001). Jurisprudência Lotérica. São Paulo, RT.
CASELLA, Paulo Borba, (1996), Contratos Internacionais e Direito Econômico no Mercosul, São Paulo,
LTR, 1996.
CASTRO, Amílcar de, (1987), Direito internacional privado. (4. ed.) Rio de Janeiro, Forense.
CHAMI, Diego Esteban, (2005), Régimen jurídico del transporte multimodal, Buenos Aires, Lexis.
CHAMI, Diego Esteban, (2010), Manual de derecho de la navegación. Buenos Aires, Abeledo-Perrot.
CHIRINIAN, Marianela, comp. Ley de navegación. 1 ed. Buenos Aires, Zavalia, 2014.
CIRIBELLI, Marilda Corrêa, (2000), Projeto de pesquisa: um instrumental de pesquisa científica, Rio de
Janeiro, 7 letras.
COIMBRA, Delfim Bouças, (2004), O conhecimento de carga no transporte marítimo. (3 ed.) São Paulo,
Aduaneiras.
CRETELLA JÚNIOR, José, (1995), Primeiras Lições de Direito, Rio de Janeiro, Forense.
DINAMARCO, Cândido Rangel, (2004), Instituições de direito processual civil. (v. IV). São Paulo,
Malheiros.
ECO Umberto, (2007), Como se faz uma tese, (13ᵃ ed.), Editorial Presença.
ENGELBERG, Esther, (2003), Contratos internacionais do comércio, (3 ed.), São Paulo, Atlas.
FARIA, Sergio Fraga Santos, (2001), Fragmentos da história dos transportes, São Paulo, Aduaneiras.
FARIÑA, Francisco, (1955), Derecho comercial marítimo, (v. 1 – 2.ed.) Barcelona: BOSCH.
FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. (2007). Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão,
dominação, São Paulo, Atlas.
GILENO, G. B. (1996), Manuale di diritto della navigazione, (2.ed.), Roma, Concorsi x Tutti.
FRIEDE, Reis, (2001), Ciência do direito, norma, interpretação e hermenêutica jurídica, (4 ed. – rev.
atual. ampl), Rio de Janeiro, Forense Universitária.
FUX, Luiz, (2006), Homologação de sentença estrangeira. in O direito internacional contemporâneo –
Estudos em homenagem ao Prof. Jacob Dolinger. Organizadores: BURCIO, Carmen Barroso, Rio de
Janeiro, São Paulo, Recife, Renovar.
GILBERTONI, Carla Adriana Comitre, (2005), Teoria e prática do direito marítimo. (2 ed.), Rio de
Janeiro, Renovar.
GOMES, Carlos Rubens Caminha, (1978), Direito comercial marítimo, Rio de Janeiro, Rio.
GRANZIERA, Maria Luiza Machado, (1993), Contratos internacionais: Negociação e Renegociação.
Comentários aos Incoterms-CCI-1990, São Paulo, Ícone.
HENRICH, V. R. (1998), Correlação entre a indústria de freight forwarding no Brasil e no mundo.
Trabalho de Conclusão de Curso, São Leopoldo, Unisinos.
HERRERA Enrique, (2012), Práctica metodológica de la investigación jurídica, (3 ed.) Buenos Aires-
Bogotá, Astrea, 2012.
JAVUREK, Giselle, (2009), Responsabilidad del transportador de mercaderías por agua: Actividad
riesgosa protegido o abuso del derecho? Córdoba-Argentina, Lerner.
JAVUREK, Giselle, (2009), De timones, alas y fletes. Córdoba-Argentina, Lerner.
JUNIOR, Humberto Theodoro, (2003), Do contrato de agência e distribuição no Novo Código Civil.
Disponível em: Mundo Jurídico, maio de 2003. www.mundojuridico.adv.br/sis_artigos. Acesso em:
15.07.2016.
KEEDI, S.; MENDONÇA. P. C. C. (2000), Transportes e seguros no comércio exterior, (2. ed.) São
Paulo, Aduaneiras.
KELSEN, Hans, (1979), Teoria Pura do Direito. Coimbra, Arménio Amado.
KELSEN, Hans, (1998), O que é justiça? A justiça, o direito e a política no espelho da ciência, São
Paulo, Martins Fontes,Trad. Luís Carlos Borges.
LORENZI, Mario, (1978), Transitário e o transporte internacional no Brasil, São Paulo, Revista dos
Tribunais.
LOSADA, Francisco Rubén. (2012), Hacia una teoria general del derecho del transporte, Córdoba-
Argentina, Lerner.
LUHMANN, Niklas, (1980), Legitimação pelo procedimento. Tradução de Maria Conceição Corte-Real.
Revisão de Tércio Sampaio Ferraz Jr. Brasília, Universidade de Brasília.
MAGALHÃES, José Carlos de, (2000), O Supremo Tribunal Federal e o direito internacional: uma
análise crítica. Porto Alegre, Livraria do Advogado.
MARTINS, Fran, (1981), Contratos e obrigações comerciais, ( 6.ed), Rio de Janeiro, Forense.
MIRANDA, Pontes de, (1954), Tratado de Direito Privado: Parte Especial, (Tomo XLV, 2ª ed.) Rio de
Janeiro, Borsoi.
NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade (2006), Código Civil Comentado, 4ª ed, São
Paulo, Revista dos Tribunais.
NORTH, P. & FAWCETT, J.J. (2005), Chesire and North's Private International Law, Londres, Lexis
Nexis.
NOVAES, Antonio Galvão Naclério, (1972), Evolução do transporte marítimo: Aspectos tecnológicos e
operacionais, São Paulo, Marinha do Brasil.
NUNES, Luiz Antonio Rizato, (2001), Manual da Monografia Jurídica, (3. ed.), São Paulo, Saraiva.
OCTAVIANO, Eliane Maria Martins, (2005), Curso de Direito Marítimo, (2. ed.), São Paulo, Manole.
OCTAVIANO, Eliane Maria Martins, (2008), Curso de Direito Marítimo Privado, São Paulo, Manole.
RANGEL, Vicente Mariotta, (2002), Direito e relações internacionais, (7. ed.), São Paulo, Revista dos
Tribunais.
_______ (2002), Navios em Direito Internacional, Córdoba, AR: Drnas – Lerner.
RODAS, João Grandino (coord.), (1985) Contratos Internacionais, (2ª ed.), São Paulo, RT.
RODRIGUES, Paulo Roberto Ambrosio, (2003), Introdução aos sistemas de transporte no Brasil e à
logística internacional ( 3 ed.), São Paulo, Aduaneiras.
ROMUALDI, Emilio Elias (2008), Transporte Internacional de Mercaderías, Buenos Aires, Argentina,
Aplicación.
SAMPAIO DE LACERDA, J.C. (1963), Curso de direito comercial marítimo e aeronáutico, (6. ed.), Rio
de Janeiro, Livraria Freitas Bastos.
SANTOS, José Clayton dos, (1982), O Transporte Marítimo Internacional, (2 ed.), São Paulo,
Aduaneiras.
SHIPPEY, Karla C. (1999), A short course in international contracts: drafting the international sales
contract, San Rafael, Califórnia: World Trade Press.
SHIPPEY, Karla C. (1990), International Contracts – Drafting the International sales contract – for
attorneys and attorneys, San Rafael, Califórnia: World Trade Press.
SILVEIRA, Eliana Aló, (2007), O contrato internacional de transporte de carga por via marítima e a
norma de sobreestadia de container – Aspectos de Direito Internacional Econômico, Santos-SP:
Universidade Católica de Direitode Santos.
STOUP, Luis Alejandro, (2003), Revista de Direito Internacional e do Mercosul, (2ª ed.) Buenos Aires,
Síntesep, p. 334.
STRENGER, Irineu, (2003), Contratos Internacionais do Comércio, (4 ed.), São Paulo, LTr.
_____(1996), Direito do comércio internacional e lex mercatoria, São Paulo, LTr.
_____(1996), Direito Internacional Privado, (3 ed.) SP – LTr .
VIEIRA, Guilherme Bergmann Borges, (2001), Transporte Internacional de Cargas, São Paulo,
Aduaneiras.
VIEIRA, Guilherme Bergmann Borges, (2003), Transporte internacional de cargas, (2ª ed.), São Paulo,
Aduaneiras.
WOLFF, Martin, (1958), Derecho Internacional Privado, Barcelona, Bosch.
YANGUAS MESSIA, Jose de, (1971), Derecho Internacional Privado, Madrid, Reus.
ZAPATA, Jorge Bengolea, (1991), La doctrina en el derecho de la navegación argentino, Córdoba-
Argentina, Lerner.
1
Mestre em Direito pelo Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA (2017). Bacharel em Direito pelo
Centro de Ensino Superior de Rondonópolis (2003). Advogada na área de Direito Civil, com ênfase em
Responsabilidade Civil e Direito Empresarial. E-mail: angalvsou@gmail.com
2
Mestre em Direito Empresarial pelo Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA (2018). Pós-
graduanda em Direito Previdenciário pelo Instituto de Estudos Previdenciário. Bacharel em Direito pelo
Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA (2006). Professora na Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas Sobral Pinto – FAIESP/UNIC. Advogada na Área de Direito Civil e Empresarial, com ênfase em
Responsabilidade Civil. E-mail: sandrasette@bol.com.br
3
Magistrado em segundo grau aposentado do TJPR. Pós Doutor em Direito pela Universidade Central de
Lisboa, Doutor e Mestre em Direito pela UFPR. Especialista em Responsabilidade Civil pela UEM.
Professor Titular do Programa de Doutorado e Mestrado do UNICURITIBA. Professor do curso de Direito
da UTP. Professor da Escola da Magistratura do Paraná. Professor Adjunto IV aposentado da UEM.
Membro fundador da APLJ – Academia Paranaense de Letras Jurídicas. Membro do IBERC e do IAPR.
Advogado e parecerista em Curitiba-Pr. E-mail: claytonreis43@gmail.com
INTRODUÇÃO
A sociedade contemporânea tem demandado novos contornos à responsabili-
dade civil, diante da atual limitação do alcance das leis de proteção a direitos funda-
mentais, relacionados à personalidade e ao meio ambiente, e das recorrentes violações a
esses direitos praticadas por grandes corporações. Devido a isto, torna-se importante a
compreensão do processo histórico social que ocasionou essas constantes violações,
tanto no âmbito nacional quanto internacional.
Ante a constatação da evolução científica e tecnológica que marcaram o século
anterior e continuado à luz do século XXI, o empresariado da contemporaneidade não
pode mais isolar-se dessa realidade, a única “mola propulsora” do desenvolvimento
econômico. Ao contrário, se a empresa deseja perseguir a lucratividade como meta prin-
cipal de suas atividades, deve refletir a respeito de suas responsabilidades, nos planos
ambientais, sociais e humanitários, pensando numa economia global possível a médio e
longo prazos.
A sociedade denominada “pós-moderna” (LATOUR, 1994), no momento pre-
sente, traz consigo muitas questões do passado que não foram resolvidas a contento,
entre elas a busca pelo equilíbrio que, sem dúvida alguma, deve se amparar no instituto
da responsabilidade civil, visando conter abusos e práticas ilícitas tanto locais quanto
globais.
Ao englobar tamanho patrimônio doutrinário, é possível perceber o quanto o ins-
tituto da responsabilidade civil tem sido objeto de transformação através dos tempos,
ganhando na atualidade novos contornos, os quais remetem a reflexões e a uma nova
forma de se pensar o referido instituto em face da sua eficácia.
Em constante modificação, a responsabilidade civil no ordenamento jurídico bra-
sileiro, merece sempre especial atenção, bem como, a observância de suas alterações e
questões que permeiam estes mecanismos.
constitucionais que mais tarde exerceram expressiva influência na disciplina dos Direitos
de Personalidade prescritos no Código Civil de 2002.
Mesmo com a positivação da proteção destes direitos, uma visão panorâmica da
sociedade brasileira demonstra frequentes violações de direitos fundamentais praticadas
por grandes corporações. Tais circunstâncias, nos induzem a refletir sobre qual deve ser
o papel do Direito diante da dinamicidade das estruturas sociais e qual o significado ou a
função que a responsabilidade civil deve ocupar para melhor proteção das novas deman-
das sociais.
As empresas, muitas vezes, alegam o não cumprimento das normas jurídicas que
impactam sobre os direitos de personalidade e do meio ambiente, ao argumento das
dificuldades econômicas em atender a todas as exigências governamentais e legislativas.
Porém, tais argumentos se tornam frágeis e se esgotam quando se trata do uso do bem
comum, dos quais depende a sobrevivência de toda a humanidade.
A questão ambiental, enquanto ponto crucial para a evolução econômica e desen-
volvimento geral da sociedade, possui grande relevância e preocupação, motivo pelo
qual é imprescindível delinear de que forma será possível conduzir os debates às lideran-
ças das grandes corporações. As discussões possuem a finalidade de contribuir para
alterar o modo de pensar e agir, através do viés humanitário, que sejam ao menos visua-
lizadas na direção de um futuro sustentável em curto espaço temporal, sob pena de per-
der o objeto central de sua existência consistente na lucratividade.
A partir de uma contextualização histórica e sociológica, pode-se traçar um perfil
da sociedade atual, com análise de alguns institutos que a compõem, incluindo uma visão
econômica inovadora. Mesmo constatando a evolução do ordenamento jurídico na tenta-
tiva de equilibrar interesses tão diversos, pode-se perceber a recorrente violação de direi-
tos, em especial dos direitos de personalidade por parte das grandes empresas.
Fato incontestável é que a organização social vem passando por transformações,
significativas que denotam uma ruptura com a fase inicial que foi a característica das
sociedades modernas. Essas diferenças são notadas pelo filósofo Gilles Lipovetsky
(2016, p.7):
(...) considerando, com efeito, que o universo dos objectos, das imagens, da informa-
ção e dos valores hedonistas, permissivos e psicologistas que lhe estão ligados gera-
ram ao mesmo tempo que uma nova forma de controle dos comportamentos, uma di-
versificação incomparável dos modos de vida, uma flutuação sistemática da esfera
priva da, das crenças e dos papéis, ou, por outras palavras, uma nova fase na história
do individualismo ocidental. O nosso tempo só logrou evacuar a escatologia revolu-
cionária levando a cabo uma revolução permanente do quotidiano e do próprio indi-
víduo: privatização alargada, erosão das identidades sociais, desafecção ideológica e
política, desestabilização acelerada das personalidades, eis-nos vivendo uma segun-
da revolução individualista. Uma ideia central governa as análises que se seguem: à
medida que as sociedades democráticas se devem a sua inteligibilidade revela-se à
luz de uma lógica nova, a que chamamos aqui o processo de personalização.
noção de que o indivíduo, para sobreviver, necessita que as demais pessoas sobrevivam,
preferencialmente de maneira digna.
Essa sociedade voltada para o individualismo, à beira de um colapso, revela uma
ruptura com o modus vivendi coletivo, conhecido até então. Uma série de transforma-
ções se desencadeiam no chamado tempo real, acelerando o já frenético ritmo que
impulsiona os avanços da civilização.
No direito internacional, são reconhecidos os direitos humanos fundamentais
e admitidas punições aos crimes de guerra. No ordenamento jurídico brasileiro,
especificamente no Código Civil, são reconhecidos os direitos de personalidade e os
direitos humanos fundamentais e, ambas as categorias estão presentes na Constitui-
ção Federal de 1988, garantindo a dignidade da pessoa humana, seus direitos básicos
e a integridade física e moral do ser humano como valores fundamentais.
A sociedade contemporânea exige uma “reconstrução” ou, segundo o pensa-
mento de Anthony Giddens (1991, p. 8) exige um “reencaixe” para que os conceitos
como dano moral e danos punitivos nela possam se reinserir. Ensina que essa “(...)
“modernidade” refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emer-
giram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou
menos mundiais em sua influência.”
Isto significa desconstruir conceitos anteriormente considerados imutáveis e,
substituí-los por outros mais condizentes com as mudanças sociais e suas aceleradas
demandas. Esse “deslocamento” que tem um fluxo contínuo, obriga a uma reformu-
lação geral incluindo a organização social completamente. Nessa “nova ordem”,
todos os segmentos, entre eles a Ciência do Direito, passam a merecer novos contor-
nos, e se necessário, para alterar enunciados e adaptá-los aos novos tempos.
Nesse panorama, a problemática da recorrente violação de direitos de perso-
nalidade e direitos fundamentais por parte das grandes corporações, começou a to-
mar vulto a partir da década de 1970, quando a temática obteve a atenção de movi-
mentos sociais, organizações da sociedade civil, alguns centros acadêmicos, especi-
almente na Europa e pelas Nações Unidas – ONU.
A atenção da sociedade civil para tais violações foi, sem dúvida alguma, o
ponto de partida necessário para que o ordenamento jurídico e sua aplicabilidade
buscassem nova direção para atender as inúmeras demandas, no sentido de respon-
sabilizar as empresas em face da prática de atos ilícitos.
(...) a proteção do ambiente não deve ser feita a nível de sistemas jurídicos isolados
(estatais ou não) mas sim, a nível de sistemas jurídico-políticos, internacionais e su-
pranacionais, de forma a que se alcance um standard ecológico ambiental razoável
em nível planetário e, ao mesmo tempo, se estruture uma responsabilidade global (de
estados, organizações, grupos) quanto às exigências de sustentabilidade ambiental.
(...) é preciso avançar para além do sistema de comando e controles estatais e para
além da ótica corretivo – repressiva que inaugurou o combate à poluição e à conta-
minação do ambiente a partir da década de 1970, cujos marcos representativos são a
Conferência de Estocolmo (1972) e, entre nós a instituição da Política Nacional de
Meio Ambiente – PNMA (Lei 6.938/1981).
com seu próprio esforço físico, o que de fato não resolvia a questão, pelo contrário,
era objeto de agravamento dos conflitos diante das conturbadas ilicitudes.
Com o surgimento do Estado romano, a noção de responsabilidade civil é ex-
traída da Lex Aquilia de Damno, resultado de um plebiscito aprovado entre o final
dos séculos III e II a.C., que deu a possibilidade de atribuir-se ao ofendido um pa-
gamento em dinheiro daquele que houvesse destruído ou danificado seus bens. Cen-
tralizada na ideia de culpa, essa forma de reparação se traduz no dolo, na imperícia,
imprudência ou negligência. Através da chamada Lei Aquiliana, o Estado passou a
intervir nos conflitos privados, fixando monetariamente o valor a ser pago. A distin-
ção entre a Lei civil e penal se dá apenas a partir da Idade Média. (VENOSA, 2004,
p. 18-19).
A França protagonizou a noção de responsabilidade civil, aperfeiçoando e gene-
ralizando o princípio aquiliano, considerando “In Lege Aquilia et levissima culpa venit”,
em outras palavras, a obrigação de indenização é um pressuposto ligado à uma culpa
caracterizada sem importar com a sua gravidade. A concepção moderna e o modelo da
legislação atual é de 1804, quando o Código de Napoleão sistematizou e fez a distinção
entre culpa contratual e culpa extracontratual.
No Brasil Colônia o que vigorava era o ordenamento do Reino e à época não ha-
via distinção entre reparação, pena e multa. Entretanto, em 1830 é adotado o Código
Criminal, que tem preceitos que foram sendo aprimorados ao longo dos tempos e contri-
buíram para diversas formulações presentes no Código Civil e Penal brasileiros.
O que parecia estar estabilizado e controlado pelo ordenamento jurídico começa a
ser questionado de várias maneiras, e o conflito a emergir com violência manifesta, faz
lembrar Michel Foucault (1987, p. 288) em sua obra “Vigiar e Punir”. Em uma análise
social a partir do dilema do prisioneiro, o autor demonstra que todos os seres humanos
estão condenados a viver prisioneiros de si mesmos, acuados, temendo o outro ser hu-
mano, o que acabou por tornar-se uma ameaça real e virtual, vivenciado com maior
intensidade no século XXI, na chamada sociedade pós-moderna.
Para melhor compreender, tanto a questão da responsabilidade civil, quanto
as transformações sociais no chamado “tempo real”, é necessário um acompanha-
mento das demandas sociais por parte do instrumental jurídico, entendendo que
todos esses institutos, que se encontram de certa forma interligados e com objetivos
bastante semelhantes, existem em benefício da pessoa humana e de sua integridade
física e moral.
O Direito, tendo como um dos seus grandes princípios e finalidades a prote-
ção da pessoa e a procura do equilíbrio entre interesses diferenciados, deve buscar se
integrar a outras disciplinas que integram o sistema normativo, de forma a questio-
nar o mesmo tipo de indagação em busca de soluções que possam propiciar a pacifi-
cação da turbulência presentes nas relações sociais.
Sem dúvida alguma, não é tarefa fácil analisar os institutos do Direito à luz
da sociedade atual e das suas novas demandas. Isto em razão das complexidades que
necessitam de novos regramentos e, principalmente, de novas interpretações e adap-
tações para que o próprio direito não perca sua razão de ser diante do novo momento
histórico e transitório da sociedade humana.
A técnica reparatória tradicional da responsabilidade civil vem sendo um es-
tímulo à prática de diversos tipos de ilícitos civis. Pois o causador do dano já sabe
previamente que o lucro resultante da ilicitude será, em muitos casos, superior à
eventual indenização que precisará pagar ao lesionado. Esse uso de uma racionali-
dade econômica ardilosa, analisando o custo-benefício de arcar com uma sanção
legal, ocorre de forma reiterada em casos relacionados à violação dos direitos fun-
damentais da personalidade.
Considerando as novas demandas sociais e à mutabilidade da responsabilida-
de civil ao longo da história da nossa sociedade, alguns doutrinadores têm criticado
fortemente a função reparatória clássica, e ainda dominante, da responsabilidade
civil. Acompanhou-se o entendimento de Nelson Rosenvald (2017), de que vivemos
um momento em que é relevante a substituição da técnica da neutralidade pela ética
da efetividade. Referida efetividade do direito é diretamente subordinada à indaga-
ção sobre a realidade social que confere conteúdo e substância à ordem jurídica.
Nesse sentido, como forma de inibir condutas reprováveis e indesejadas pelo nosso
sistema, qualificadas pela malícia e pelo ardil, deve-se propor uma função da res-
ponsabilidade civil para uma função com caráter punitivo, a exemplo do instituto
dos danos exemplary damages presentes nos países da common low.
O Direito, nas palavras de Miguel Reale (1978, p. 52), “não pode deixar de
ser estável, sem ser estático; e deve ser dinâmico, sem ser frenético”. A sociedade
pós-moderna exige nova dinâmica do Direito, a partir da análise de quais modifica-
ções vêm ocorrendo no âmago da sociedade desde a Segunda Grande Guerra, opor-
tunidade em que foram reconhecidos, a nível global, os chamados Direitos Humanos
Fundamentais, que têm evoluído e conquistado novos contornos através dos tempos.
Por isso, o instrumental fornecido pelo Direito deve buscar, cada vez mais, a multi-
disciplinaridade para cumprir eficazmente com o seu papel principal de resolver
conflitos e, dentro da medida do possível, antecipar-se por meio de regramentos
reconhecíveis e adaptáveis a uma realidade social em constante mudança.
Com a evolução da sociedade, a responsabilidade civil abre novos espaços e
funções plurais no ordenamento jurídico brasileiro, bem como, também no cenário
internacional, tendo como destaque instrumentos civis com funções preventivas, tais
como a pena civil e a multa diária, visando punir e coibir abusos, tendo o disgorge-
ment como uma terceira via do vértice da ampliação do processo indenizatório.
O papel da responsabilidade civil é o de restabelecer a harmonia e o equilí-
brio das relações sociais violadas, de tal modo que aquele que prejudicar ou causar
dano, ainda que imaterial a outro, ficará obrigado a ressarcir a vítima de forma
exemplar, com o propósito de evitar a reincidência do ato ofensivo e lesivo.
O chamado processo de abertura política e redemocratização no País, que
culminou com a promulgação da Constituição Federal de 1988, representou grandes
avanços em termos institucionais e de valoração da dignidade do ser humano, com a
4
Apesar de não haver previsão expressa no CPC/1973 de que a multa cominatória poderia ser excluída, o
Superior Tribunal de Justiça, mediante o Tema 706 de recurso repetitivo, decidiu, dentre outros, pela
possibilidade de supressão da multa cominatória, sob o fundamento de que ela não integra a coisa julgada,
servindo apenas como um meio de coerção indireta ao cumprimento da ordem judicial.
Algumas questões que foram ganhando dimensão e espaço cada vez mais
consolidados especialmente quando se pode observar que há incidência das lesões
aos direitos humanos, não importando mais sua classificação, se de personalidade ou
simplesmente fundamentais, que persistem na intimidade das empresas, em especial
as transnacionais.
Há na jurisprudência brasileira, diversos casos em que a violação aos direitos
de personalidade é de certa forma lucrativa ao ofensor, pois os seus lucros são supe-
riores aos valores pagos a título de indenização, a partir da ideia clássica da função
meramente ressarcitória da responsabilidade civil e da divisão em danos patrimoni-
ais e extrapatrimoniais.
A função desse terceiro vértice da culpa, denominado disgorgement, como
instrumento preventivo, é o meio mais adequado a ser adotado para materialização
de uma reparação integral, devendo ser somada a uma eficácia preventiva de novos
ilícitos, com a finalidade de desencorajar a prática ou a reiteração de infrações.
(ROSENVALD, 2017, p. 162)
Todos os institutos ora apresentados são instrumentos de efetivação e cum-
primento dos propósitos da Responsabilidade Civil e, devem ser considerados quan-
do da análise da conduta lesiva, de forma a ratificar o cumprimento de sua função
reparadora, sancionatória e pedagógica. Um novo olhar ao referido instituto passa a
ser atribuição de todos os envolvidos no sistema jurídico, quer sejam doutrinadores,
operadores do direito, integrantes do Poder Judiciário, entre outros, de forma pri-
mordial com o propósito de coibir as condutas lesivas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido a complexidade do tema e de seus desdobramentos, cabe ao Direito
equilibrar e promover diálogos entre seus institutos, de forma a possibilitar sua ope-
racionalidade. Através do ordenamento jurídico brasileiro se poderá apontar a fragi-
lidade nele contida que permite e corrobora para a atuação das grandes corporações
na manipulação e permanência de atitudes de atos lesivos com intuito de produções
de baixo custo.
Danos reiterados são causados pelas grandes corporações, inclusive no âmbi-
to daqueles de ordem moral e ambiental, de forma a exigir dos operadores do direito
um novo olhar para o instituto da Responsabilidade Civil, fazendo com que este
cumpra suas finalidades, especialmente a pedagógica. No que diz respeito ao dano
ambiental, somente a finalidade reparatória não seria suficiente a dar cumprimento a
responsabilidade social.
Entende-se que o nullum crime, nulla poena sine lege possui aplicabilidade
restrita às penas de natureza criminal. A sanção civil, não obstante a finalidade de
exercer coerção sobre o autor da ofensa – e atingi-lo em seu patrimônio – afasta-se
do universo penal, para atuar em campo delimitado de natureza civil.
Não se vislumbra óbices à finalidade punitiva da Responsabilidade Civil, me-
lhor interpretação do inc. V do art. 5º da Constituição Federal de 1988, justamente
pelo fato de a lesão ao atingir o patrimônio moral do ser humano, ofender direitos da
personalidade, a integridade psicofísica, os valores mais relevantes que compõem o
princípio Constitucional da dignidade do ser humano e o imensurável patrimônio da
consciência. A imposição de valor em pecúnia, com finalidade punitiva, no caso
analisado se justifica amplamente.
Ao Direito não cabe satisfazer apenas o papel de tornar a vítima indene, sem
danos ou de mera recomposição patrimonial, mas sim, cumprir sua função de pre-
venção, de desestímulo justa, ou seja, com uma função de elevado alcance social.
REFERÊNCIAS
ASSIS, Araken de, Manual da Execução, 10. ed, São Paulo, RT, 2006
BRASIL, Constituição Federal de 1988, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constitui
cao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 01 mai.2019
_______, Código Civil Brasileiro, Lei 10.406 de 10.01.2002. Disponível em: <http://www.planalto.g
ov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>.Acesso em: 01 jul. 2017.
_______, Código civil e legislação civil em vigor. Org. Theotonio Negrão com a colaboração de José
Roberto Ferreira Gouvêa. 22. ed. atual, São Paulo, Saraiva, 2003.
DINAMARCO, Cândido Rangel, A reforma do Código de Processo Civil, São Paulo, Malheiros, 1995.
FOUCAULT, Michel, Vigiar e punir: nascimento da prisão, Tradução de Raquel Ramalhete, Petrópolis,
Vozes, 1987.
GIDDENS, Anthony, As Consequências da Modernidade, São Paulo, UNESP: 1991.
HOMA – Centro de Direitos Humanos e Empresas, Direitos Humanos e Empresas: o estado da arte do
direito brasileiro. Disponível em: <http://homacdhe.com/wp-content/uploads/2016/10/O-ESTADO-DA-
ARTE-FINAL-VERSION1.pdf>. Acesso em: 01 mai.2019
IGREJA CATÓLICA, Papa Francisco, Carta Encíclica Laudato Si: sobre o cuidado da casa comum, São
Paulo, Paulinas, 2015.
LATOUR, Bruno, Jamais Fomos Modernos: Ensaio de Antropologia Simétrica, 34. ed. Tradução de
Carlos Irineu da Costa, Rio de Janeiro, Coleção Trans, 1994
LEITE, José Rubens Morato et all. Estado de Direito Ambiental: tendências, in José Joaquim Gomes
Canotilho, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2004.
LIPOVETSKY, Gilles, A Era do vazio, Ensaios sobre o individualismo contemporâneo, 70. ed. Barueri,
Manole, 2016.
REALE, Miguel, Estudos de Filosofia e Ciência do Direito, São Paulo, Saraiva, 1978.
ROSENVALD, Nelson, As Funções da Responsabilidade Civil: a Reparação e a Pena civil, 3. ed. São
Paulo: Atlas, 2017.
SEINO, Eduardo; ALGARVE, Giovana; GOBBO, José Carlos, ABERTURA POLÍTICA E REDEMO-
CRATIZAÇÃO BRASILEIRA: entre o moderno-conservador e uma “nova sociedade civil”, Araraquara, v.
2, n. 1, 2, p. 31-42, 2013. Disponível em: <https://periodicos.fclar.unesp.br/semaspas/article/download
/6922/4982. Acesso em: 30 abr.2019
SILVA, João Calvão da, Cumprimento e Sanção Pecuniária Compulsória, Coimbra, Almedina, 1987.
VENOSA, Silvio de Sávio, Direito Civil: responsabilidade civil, 3. ed, São Paulo, Atlas, 2003/2010.
YOSHIDA, Consuelo; KISHI, Sandra Akemi Shimada; PIAZZON, Renata; VIANNA, Marcelo Drugg
Barreto. Finanças Sustentáveis e a Responsabilidade Socioambiental das Instituições Financeiras, Belo
Horizonte, Fórum, 2017.
1 INTRODUCCIÓN
1. Si bien la celebración de un contrato de trabajo no implica, en modo
alguno, la supresión de los derechos fundamentales de los trabajadores2, sin
1
Doctor en Derecho. Facultad de Derecho, Departamento de Derecho Constitucional, Universidad
Complutense de Madrid. E-mail: antdelgadojimenez@gmail.com / antdelga@ucm.es
2
SSTC 38/1981, de 3 de noviembre, FJ 4º; 88/1985, de 19 de julio, FJ 3º; 4/1996, de 16 de enero, 98/2000,
de 10 de abril, FJ 4º; 308/2000, de 18 de diciembre, FJ 5º y 126/2003, de 30 de junio, FJ 4º.
3
TOSCANI GIMÉNEZ, V., “La videovigilancia de los trabajadores con cámaras ocultas o clandestinas.
Comentario a las SSTEDH de 9 de enero de 2018 y 17 de octubre de 2019, caso López Ribalda”, Trabajo y
Derecho, n. 60, Diciembre 2019, p. 69.
4
JIMÉNEZ CAMPO, J., Derechos fundamentales. Concepto y garantías, Ed. Trotta, Valladolid, 1999, p. 14.
5
GOÑI SEIN, J.L., “Los derechos fundamentales inespecíficos en la relación laboral individual: ¿necesidad
de una reformulación?”, Primera Ponencia de las XXIV Congreso Nacional de Derecho del Trabajo y de la
Seguridad Social, organizadas por la Asociación Española de Derecho del Trabajo y Seguridad Social,
Pamplona, 2014, p. 11.
6
STC 320/1994, de 28 de noviembre. A respecto, véase, CASAS BAAMONDE, Mª. E., “La plena
efectividad de los derechos fundamentales: juicio de ponderación (¿o de proporcionalidad?) y principio de
buena fe”, Revista Relaciones Laborales, n. 12, 2004, p. 1.
7
GOÑI SEIN, J.L., “Los derechos fundamentales inespecíficos en la relación laboral individual: ¿necesidad
de una reformulación?”, Primera Ponencia de las XXIV Congreso Nacional de Derecho del Trabajo y de la
Seguridad Social, organizadas por la Asociación Española de Derecho del Trabajo y Seguridad Social,
Pamplona, 2014, p. 47.
8
CASAS BAAMONDE, Mª. E., “La plena efectividad de los derechos fundamentales: juicio de ponderación
(¿o de proporcionalidad?) y principio de buena fe”, Revista Relaciones Laborales, n. 12, 2004, p. 3.
9
DESDENTADO BONETE, A. y MUÑOZ RUIZ, A. B., Control informático, videovigilancia y protección
de datos en el trabajo, Ed. Lex Nova, Valladolid, 2013, p. 42.
10
SSTC 199/1999, de 8 de noviembre, FJ 4º y 126/2003, de 30 de junio, FJ 5º.
11
SSTC 99/1994, de 11 de abril, FJ 3º; 6/1995, de 10 de enero, FJ 4º; 204/1997, de 25 de noviembre, FJ 4º;
55/1998, 98/2000, de 10 de abril, FJ 5º; 186/2000, de 10 de julio, FJ 5º y 125/2007, de 21 de mayo, FJ 6º.
12
SSTC 14/2003, de 28 de enero, FJ 5º; 270/1996, de 6 de diciembre, FJ 4º; 37/1998, de 17 de febrero, FJ 3º;
186/2000, de 10 de julio, FJ 5º; 198/2003, de 10 de noviembre, FJ 4º y 173/2004, de 18 de octubre, FJ 5º.
Véase, VALDÉS DAL-RÉ, F., “Poderes del empresario y derechos de la persona del trabajador”, Revista
Relaciones Laborales, n. 8, 1990, p. 100; GARCÍA–PERROTE ESCARTÍN, I. y MERCADER UGUINA,
J., “Conflicto y ponderación de los derechos fundamentales de contenido laboral. Un estudio introductorio”,
AA. VV., Dir. SEMPERE NAVARRO, A., El modelo social en la Constitución Española de 1978, Ed.
Ministerio de Trabajo y Asuntos Sociales, Madrid, 2003, p. 258; TERRADILLOS ORMAETXEA, E.,
Principio de proporcionalidad, Constitución y Derecho del Trabajo, Ed. Tirant Lo Blanch, Valencia, 2004;
BALLESTER PASTOR, I.: “Facultades de control empresarial sobre el aspecto exterior del trabajador:
límites a la expresión del derecho a su propia imagen en el desarrollo de la prestación laboral”, TS n. 169,
2005, p. 32 y SEMPERE NAVARRO, A. V. y SAN MARTÍN MAZUZUCCONI, C., Los derechos
fundamentales (inespecíficos) en la negociación colectiva, Ed. Aranzadi, Pamplona, 2011, p. 279.
13
SSTS de 26 de septiembre de 2007, FJ 2º y 8 de marzo de 2011, FJ 3º y SSTC 241/2012, FJ 5º y 170/2013,
FJ 6º.
14
Vid. GOÑI SEIN, J.L., La videovigilancia empresarial y la protección de datos personales, Ed. Aranzadi,
Pamplona, 2007.
15
STSJ de Madrid 20 de diciembre de 2006.
16
STSJ de Cataluña de 5 de julio de 2000.
empresario. No estamos, por tanto, ante una mínima sospecha o una mera suposición
(en estos casos es evidente que no se podrá grabar).
La instalación de un circuito de videograbación ha superado el test de
proporcionalidad porque existían sospechas razonables de las irregularidades que se
estaban cometiendo, lo que termina por justificar la instalación de las cámaras.
Realmente, es un problema de interpretación de cuestiones fácticas objeto de prueba,
más que de fundamentación o sustento jurídico. Pero, al tiempo, exige un
razonamiento jurídico a partir de indicios. No se olvide que se hace referencia a una
función justificativa o probatoria del indicio, cuando el indicio necesario o los
indicios contingentes –no simples sospechas aparentes sin más – sustentan una
conclusión sobre el factum probandum17.
2.6 Conclusiones
1. Como garantía de los derechos fundamentales de los trabajadores y como
recomendación a aquellos empresarios que quieran instalar un circuito de
videovigilancia, se advierte que, dado que la imagen de la persona es un dato de
carácter personal, la empresa deberá de informar, de manera previa a la instalación,
de la instalación de las cámaras a los empleados. Concretamente, la LOPD se refiere
a la obligación de informar a los afectados de la existencia de un fichero o
tratamiento de datos de carácter personal, de la finalidad de la recogida de estos y de
los destinatarios de la información. Por tanto, sí es posible instalar cámaras para
detectar irregularidades o incumplimientos por parte de los trabajadores, pero
cumpliendo los siguientes requisitos:
1) Informando a los trabajadores de que van a ser grabados. Para ello se
recomienda colocar un distintivo visible en el que se avise de la instalación de las
cámaras y de la existencia de un fichero o tratamiento de datos de carácter personal
(de conformidad con la normativa ya mencionada). Igualmente, y para ser más
prudentes, se recomendaría la notificación individual a cada trabajador y, en los
contratos que se firmen con nuevos trabajadores, incluir una cláusula concreta en la
que se informe expresamente de este contenido.
2) Avisar a los trabajadores de que las grabaciones o la videovigilancia puede
ser utilizada también para justificar incumplimientos laborales. Para ello se
recomienda incluir una nota informativa en la misma notificación individual de cada
trabajador, así como también incluirlo en los nuevos contratos que se firmen entre la
empresa y trabajadores.
¿Y qué ocurre si no se informa o avisa a los trabajadores de manera
preventiva? En caso de que los trabajadores demanden al empresario serán los
tribunales los que decidirán, caso por caso, si se supera el juicio de
proporcionalidad. Para superar el juicio de proporcionalidad cuando se está
17
Michele Taruffo, M., “Observaciones sobre la prueba por indicios”, en Nuevas tendencias de derecho
probatorio, Horacio Cruz Tejada (coord.), Bogotá, Universidad de los Andes, 2011, p. 105.
3 BIBLIOGRAFÍA
BALLESTER PASTOR, I., “Facultades de control empresarial sobre el aspecto exterior del trabajador:
límites a la expresión del derecho a su propia imagen en el desarrollo de la prestación laboral”, TS n. 169,
2005.
CASAS BAAMONDE, Mª. E., “La plena efectividad de los derechos fundamentales: juicio de
ponderación (¿o de proporcionalidad?) y principio de buena fe”, Revista Relaciones Laborales, n. 12,
2004.
DESDENTADO BONETE, A. y MUÑOZ RUIZ, A. B., Control informático, videovigilancia y
protección de datos en el trabajo, Ed. Lex Nova, Valladolid, 2013.
GARCÍA–PERROTE ESCARTÍN, I. y MERCADER UGUINA, J., “Conflicto y ponderación de los
derechos fundamentales de contenido laboral. Un estudio introductorio”, AA. VV., Dir. SEMPERE
NAVARRO, A., El modelo social en la Constitución Española de 1978, Ed. Ministerio de Trabajo y
Asuntos Sociales, Madrid, 2003.
GOÑI SEIN, J.L., “Los derechos fundamentales inespecíficos en la relación laboral individual:
¿necesidad de una reformulación?”, Primera Ponencia de las XXIV Congreso Nacional de Derecho del
Trabajo y de la Seguridad Social, organizadas por la Asociación Española de Derecho del Trabajo y
Seguridad Social, Pamplona, 2014.
______. La videovigilancia empresarial y la protección de datos personales, Ed. Aranzadi, Pamplona,
2007.
JIMÉNEZ CAMPO, J., Derechos fundamentales. Concepto y garantías, Ed. Trotta, Valladolid, 1999.
MICHELE TARUFFO, M., “Observaciones sobre la prueba por indicios”, en Nuevas tendencias de
derecho probatorio, Horacio Cruz Tejada (coord.), Bogotá, Universidad de los Andes, 2011.
MOLINA NAVARRETE, C., “TEDH. Revisión del caso López Ribalda y otros: los cajeros de
supermercados españoles filmados encubiertamente por cámaras de seguridad no sufrieron una violación
de sus derechos de privacidad”, CEF Laboral Social, 2019.
MONEREO PÉRREZ, J.L. y ORTEGA LOZANO, P. O., “STEDH (Gran Sala) de 17 de octubre de 2019
(números 1874/13 y 8567/13) (asunto López Ribalda II)”, en Revista de Jurisprudencia Laboral, n.
8/2019.
PRECIADO DOMENECH, C.H., “Comentarios de urgencia a la STEDH de 17 de octubre de 2019. Caso
López Ribalda c. España (Gran Sala)”, www.juecesdemocracia.es
ROJO TORRECILLA, E., “Medias verdades y fake news en el mundo jurídico. No cabe todo en la
videovigilancia de una persona trabajadora. A propósito de la sentencia “López Ribalda” de la Gran Sala
del TEDH de 17 de octubre de 2019 (y recordatorio de la sentencia de Sala de 9 de enero de 2018 y del
caso Barbulescu II, sentencia de Gran Sala de 5 de septiembre de 2017)”, www.eduardorojotorrecilla.es
SEMPERE NAVARRO, A. V. y SAN MARTÍN MAZUZUCCONI, C., Los derechos fundamentales
(inespecíficos) en la negociación colectiva, Ed. Aranzadi, Pamplona, 2011.
TERRADILLOS ORMAETXEA, E., Principio de proporcionalidad, Constitución y Derecho del
Trabajo, Ed. Tirant Lo Blanch, Valencia, 2004.
TOSCANI GIMÉNEZ, V., “La videovigilancia de los trabajadores con cámaras ocultas o clandestinas.
Comentario a las SSTEDH de 9 de enero de 2018 y 17 de octubre de 2019, caso López Ribalda”, Trabajo
y Derecho, n. 60, Diciembre 2019.
VALDÉS DAL-RÉ, F., “Poderes del empresario y derechos de la persona del trabajador”, Revista
Relaciones Laborales, n. 8, 1990.