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2023
Belo Horizonte | p. 1-300 | ISSN 2238-8508 | DOI RFDFE.v13.i23
R. Fórum Dir. Fin. e Econômico – RFDFE
RFDFE
REVISTA FÓRUM DE DIREITO FINANCEIRO E ECONÔMICO – RFDFE
IDFin INSTITUTO
DE DIREITO
FINANCEIRO
A Revista Fórum de Direito Financeiro e Econômico – RFDFE apresenta produções científicas de duas importantes áreas do
Direito, que abrangem todo o universo daqueles que, de alguma maneira, usam recursos públicos em suas atividades.
Ao divulgar produções acadêmicas nacionais e internacionais, a RFDFE aproxima instituições relacionadas ao Direito Econômico
e Financeiro, além de proporcionar ao leitor temas recorrentes a esses ramos, tais como: planejamento, concorrência, recursos
minerais e petrolíferos, comércio internacional, reforma urbana e agrária, análises sobre a ordem econômica constitucional,
abrangência da lex mercatoria, entre outros.
Fundador da Revista
Regis Fernandes de Oliveira (USP)
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Os conceitos e opiniões expressas nos trabalhos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores.
CDD: 341.38
CDU: 347.73
Estado e exceção econômica na
periferia: acumulação primitiva e
outras formas de expropriação do
comum
Introdução
a) Itinerário
Este texto tem como objetivo demonstrar a existência de um quadro crônico de
exceção econômica em países periféricos, especialmente no Brasil, que a fraqueza
do Estado de direito e ausência de um Estado Social satisfatório só fizeram agravar.
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b) Enfoque metodológico
Neste sentido, o presente artigo tenta demonstrar o argumento apresentado a
partir de uma abordagem interdisciplinar, com a utilização de conceitos consagrados
pela economia, mas sem perder do horizonte o papel do fenômeno jurídico no
processo de edificação e manutenção do estado de exceção econômico.
Segue-se, neste ponto, a constatação realizada, entre outros, por Carlos
Rivera-Lugo, para quem o neoliberalismo desvelou completamente a “centralidade
da economia política para o direito”: “desde o final do século passado, foi-se
desbancando empiricamente toda pretensão, ideologicamente sustentada, de
separação entre economia política e direito, ou seja, de relativa autonomia ou
independência do direito e do Estado frente à economia política”. Neste contexto,
segundo o autor, houve recrudescimento da sujeição “do direito pela nova razão
econômica”, que tem como lógica primordial “a autorregulação do capital e a
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Reificação, que pode ser assim definida: “The act (or result of the act) of transforming human properties,
relations and actions into properties, relations and actions of man-produced things which have become
independente (and which are imagined as originally independent) of man and overn his life. Also transformation
of human beings into thing-like beings which do not behave in a human way but according to the laws of the
thing-world. Reification is a “special case of ALIENATION, its most radical and widespread form characteristic
of modern capitalist society” (PETROVIC, 1991, p. 463).
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sua realidade”. Seja por meio da pequena propriedade livre, seja da propriedade
comunitária, o indivíduo se relaciona com os demais como coproprietário ou
proprietários independentes, não como trabalhadores, mas como membros de uma
comunidade em que trabalham e cujo trabalho teria como finalidade não a criação
de valor, mas a conservação do indivíduo, de sua família e da comunidade como
um todo (MARX, 2011, p. 388).
Nesse contexto, a propriedade da terra e a agricultura constituem a base da
economia que tem como finalidade a produção de valores de uso, e se volta para a
reprodução do indivíduo inserido (e sendo base) na comunidade. Indivíduo este que
se relaciona com as condições objetivas do trabalho como sendo “suas próprias
condições; relaciona-se a elas como a natureza inorgânica de sua subjetividade, em
que esta realiza a si própria; a principal condição objetiva do trabalho não aparece,
ela própria, como produto do trabalho, mas está dada como natureza”. Essas
“formas em que o trabalhador é proprietário, ou em que o proprietário trabalha” é que
serão dissolvidas pelo processo histórico de formação da sociabilidade capitalista:
“dissolução do comportamento em relação à terra – território – como condição natural
da produção, com a qual ele se relaciona como sua própria existência inorgânica;
como laboratório de suas formas e domínio de sua vontade”; “dissolução das
relações em que ele figura como proprietário do instrumento”, propriedade essa
que “presume uma forma particular do desenvolvimento do trabalho manufatureiro
como trabalho artesanal”, em que o “trabalho é ainda metade artístico, metade
fim em si mesmo”; e ainda a dissolução das relações em que os trabalhadores
ainda fazem parte diretamente das condições objetivas de produção, já que, para
o capital, o trabalhador deixa de sê-lo, figurando apenas por meio do trabalho (“o
capital não se apropria do trabalhador, mas do seu trabalho – não diretamente, mas
pela mediação da troca”). Em síntese, segundo Marx, temos aí os pressupostos
históricos que levaram ao “trabalho livre” confrontado com “as condições objetivas
da produção como a sua não propriedade, como propriedade alheia, como valor
existente por si mesmo, como capital” (MARX, 2011, p. 397, 408-409).
Marx lembra que, assim como a acumulação do capital depende do mais-valor
e o mais-valor da produção capitalista, esta necessita de grande quantidade de
força de trabalho e de capital por parte dos produtores de mercadorias, de modo
que se deve supor a existência de uma “acumulação primitiva” que antecede a
acumulação capitalista, figurando aquela como ponto de partida desta. A acumulação
primitiva representaria o “pecado original econômico” que nos revela como alguns
poucos acumularam riquezas enquanto para a grande maioria só restou vender a
própria força de trabalho, boa parte numa pobreza irremediável, enquanto cresce
exponencialmente a riqueza dos poucos que nem trabalhar precisam. Métodos
nada idílicos foram utilizados para esta acumulação: a conquista, a dominação,
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pauperização do povo que ficava agora à mercê da contratação por salários aviltantes
e da assistência oficial dos pobres, para que não morressem de fome. Estes foram
alguns dos “métodos idílicos da acumulação primitiva. Tais métodos conquistaram
o campo para a agricultura capitalista, incorporaram o solo ao capital e criaram
para a indústria urbana a oferta necessária de um proletariado inteiramente livre”
(MARX, 2017, p. 495-804).
Ben Fine e Alfredo Saad Filho (2021, p. 87-89) também ressaltam o papel do
poder público neste processo de acumulação primitiva. Segundo os autores, “essas
transformações necessitavam do poder do Estado, sem o qual o processo violento –
e violentamente resistido – de acumulação originária não poderia ter avançado”.
A intervenção do poder público, representando os interesses burgueses, ocorreu
em duas frentes: na expropriação do campesinato de suas terras individuais ou
comunais, por meio dos cercamentos, reprimindo violentamente as resistências ao
processo, e forjando pela força um grande contingente de trabalhadores sem-terra;
e, por outro lado, com a criação de legislações e aparatos de seguridade social,
como a Lei dos Pobres de 1834, voltadas à disciplina e imposição de árdua rotina
de trabalhos aos camponeses expropriados. Foi exatamente “o impacto combinado
dessas transformações, ao longo de várias décadas, [que] transformou a maioria
dos camponeses em trabalhadores assalariados, criando a fonte potencial de
mais-valor absoluto”.
Diversos autores contemporâneos buscam aplicar o conceito de acumulação
primitiva para a atualidade do processo de acumulação capitalista. Um desses
destacados autores, David Harvey, destaca que, contemporaneamente, o neolibe-
ralismo teve como principal proeza, “redistribuir, em vez de criar, riqueza e renda”,
fenômeno por ele nomeado como “acumulação por espoliação” que representa a
continuidade das práticas de acumulação primitiva, teorizadas por Marx, que tiveram
lugar no período de ascensão do capitalismo, conforme descrito anteriormente.
Harvey indica a privatização da terra, a expulsão de camponesas pelo uso da força,
a transformação em propriedades comuns, coletivas, estatais etc. em propriedades
privadas e a supressão dos direitos aos bens comuns, bem como a supressão
de formas alternativas de produção, a apropriação neocolonial e imperialista de
ativos, inclusive recursos naturais, a exacerbação das dívidas nacionais e o uso
do sistema creditício como meio devastador de acumulação por espoliação, e tudo
isso com o primordial apoio dos Estados Nacionais e seus aparatos jurídicos e de
violência (HARVEY, 2008, p. 171-172).
Harvey aponta quatro principais características para a acumulação por
espoliação contemporânea. A primeira delas, a mercadificação e privatização de
bens públicos com o intuito de abrir novas frentes, antes distantes da lógica do
lucro, para a acumulação privada. Recursos naturais como água, utilidades públicas
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Por fim, ainda a este respeito, Sandro Mezzadra também insiste na atualidade
do conceito de “acumulação primitiva”, mas vai além. Ele ressalta que esse processo
atual de expropriação não se aplica exclusivamente ao “Sul”, atingindo o espaço
global do capitalismo contemporâneo. Ganha relevância a questão da mobilidade
da força de trabalho e a exploração da mão de obra móvel e imigrante como formas
centrais de trabalho, além do “cercamento” a variadas formas do “comum”, como
da água, da terra, do conhecimento e até mesmo do material genético (MEZZADRA,
2011, p. 303).
Mas, ressalta Mezzadra, na mesma linha de Negri e Hardt, que o “comum”,
além de envolver os elementos citados como água, serviços públicos e o direito de
propriedade intelectual, se relaciona diretamente com o próprio sentido político e
filosófico de “comunidade”. Ou seja, o comum, noutros termos, não compreende
apenas o dado e existente, mas também algo que se produz, algo construído
coletivamente que capacita este mesmo sujeito social, no processo de sua própria
constituição, de solapar as bases da exploração e reinventar condições comuns
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A subsunção formal ainda não ocorreu quando o capital exerce função apenas
episódica, subordinada ao processo de produção, como no “capital usurário” que
adianta aos produtores as matérias-primas e instrumentos necessários ao trabalho,
por meio de empréstimos com juros extorsivos, tomando do produtor trabalho
excedente, ou mesmo por meio do capital comercial que faz encomendas aos
produtores diretos, realiza adiantamentos e depois vende os produtos no mercado.
Em ambos os exemplos trazidos por Marx, o produtor permanece como vendedor
de suas mercadorias e como usuário de seu próprio trabalho. Se anteriormente
ao processo de produção as pessoas se “defrontavam como possuidores de
mercadorias e mantinham entre si unicamente uma relação monetária”, inseridos
no processo produtivo os agentes passam a personificar os fatores centrais ao
processo, “o capitalista, como ‘capital’; o produtor direto, como ‘trabalho’, e sua
relação está determinada pelo trabalho como simples fator do capital que se
autovaloriza” (MARX, 1978, p. 51-54):
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“On the one hand, for climate change movements and ecological movements more generally, the common
refers primarily to the earth and its ecosystems, including the atmosphere, the oceans and rivers, and the
forests, as well as all the forms of life that interact with them. Anticapitalist social movements, on the other
hand, generally understand the common in terms of the products of human labor and creativity that we
share, such as ideas, knowledges, images, codes, affects, social relationships, and the like. These common
goods are becoming increasingly central in capitalist production — a fact that has a series of important
consequences for e)orts to maintain or reform the capitalist system as well as projects to resist or overthrow
it” (HARDT, 2010b, p. 17-18).
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“This form of production should be understood as biopolitical insofar as what is being produced is ultimately
social relations and forms of life. In this context traditional economic divisions between production and
reproduction tend to fade away. Forms of life are simultaneously produced and reproduced” (HARDT, 2010b,
p. 19).
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Para Foucault, o poder “doit être analysé comme quelque chose qui circule, ou plutôt comme quelque chose
qui ne fonctionne qu’en chaîne. Il n’est jamais localisé ici ou là, il n’est jamais entre les mains de certains,
il n’est jamais approprié comme une richesse ou un bien. Le pouvoir fonctionne.”. O poder, desta forma,
transitaria entre os indivíduos: “C’est-à-dire que l’individu n’est pas le vis-à-vis du pouvoir ; il en est, je
crois, l’un des effets premiers. L’individu est un effet du pouvoir et il est en même temps, dans la mesure
même où il en est un effet, le relais : le pouvoir transite par l’individu qu’il a constitué” (FOUCAULT, 1997,
p. 26-27).
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os corpos resistem. Ademais, eles “precisam resistir para existir”, o que revela a
ambiguidade da biopolítica não vista apenas sob o prisma da dominação, sendo
que “a história é determinada pelos antagonismos e resistências biopolíticos ao
biopoder”, de modo que “a resistência corpórea produz subjetividade, não de uma
forma isolada ou independente, mas na complexa dinâmica com as resistências
de outros corpos”, sendo de suma relevância a “produção de subjetividade através
da resistência e da luta”, figurando a biopolítica como o “supremo antídoto ao
fundamentalismo, pois recusa a imposição de um valor ou estrutura transcendente,
espiritual, não deixando que os corpos sejam eclipsados e insistindo, pelo contrário,
em seu poder” (NEGRI; HARDT, 2016, p. 41, 44, 46-47, 54; 2018, p. 113).
Ao retomar os conceitos de subsunção formal e real em um contexto biopolítico,
Negri e Hardt querem enfatizar que o “capital subsume não só o trabalho mas a
sociedade como um todo, ou, ainda, a própria vida social, já que a vida é ao mesmo
tempo o que é posto para trabalhar na produção biopolítica e o que é produzido”.
Ocorre que a relação entre a vida social produtiva e o capital não é mais orgânica
tal qual entendia Marx, pois o capital é externo ao processo produtivo, de modo
que a força de trabalho (biopolítica) é cada vez mais marcada pela autonomia, o
que não a exime de ser parasitada pelo capital, de fora, através da disciplina e dos
mecanismos de espoliação (NEGRI; HARDT, 2016, p. 165).
Em perspectiva crítica à de Negri e Hardt, na vertente marxista, Eleutério
Prado e José Paulo Guedes Pinto (2014, p. 71) também identificam relevantes
mudanças no processo produtivo, mormente nos países centrais do capitalismo,
com a flexibilização do regime rígido do taylorismo, atendendo às necessidades
advindas do “trabalho imaterial”:
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legal paraphernalia of the economic state of emergency, as have poor and relatively
weak states (Bolivia, Peru, Uruguay)”. Slavoj Zizek (2010a, p. 86-87) também
identifica, mesmo em países tidos como desenvolvidos, o ingresso em uma espécie
de estado de exceção econômica permanente:
One thing is clear: after decades of the welfare state, when cutbacks
were relatively limited and came with the promise that things would
soon return to normal, we are now entering a period in which a kind of
economic state of emergency is becoming permanent: turning into a
constant, a way of life. It brings with it the threat of far more savage
austerity measures, cuts in benefits, diminishing health and educa-
tion services and more precarious employment.
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Leda Paulani também cita a retomada operada por autores como David Harvey
do conceito de “acumulação primitiva de capital”, a partir da defesa de que tal tipo
de expropriação estaria presente nos dias atuais de forma intensa. Tais processos,
segundo pensadores críticos da atualidade, que marcaram o período inicial do
capitalismo e que “envolvem fraude, roubo e todo tipo de violência”, exacerbam-se em
períodos de crises econômicas: “o resgate desses expedientes violentos minoraria
as consequências da sobreacumulação, visto que desbravaria ‘territórios’ para a
acumulação de capital antes fora de seu alcance”. O presente seria, na expressão
consagrada por Harvey, uma época de “acumulação por espoliação”, a partir da
junção entre o poder do capital e o poder estatal, que sempre se faz presente,
seja diretamente, seja por conivência ou omissão. Paulani (2008, p. 120-121) cita
alguns exemplos desse processo: “os ataques especulativos a moedas de países
fracos, o crescimento da importância dos títulos da dívida pública em todos os
países e as privatizações, que se generalizaram”.
Caso paradigmático disso, segundo a autora, seria o processo de privatização
iniciado no Brasil nos anos 1990, processo esse que abriu “à acumulação privada
suculentos espaços de acumulação”, muitas vezes regado a dinheiro público via
BNDES emprestado aos compradores das estatais a juros subsidiados e a preços
subavaliados pelo Estado. Outro caso emblemático seria o ataque ao sistema
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“Ora, o desenvolvimento do Welfare State é justamente a revolução nas condições de distribuição e consumo,
do lado da força de trabalho, e das condições de circulação, do lado do capital. Os gastos sociais públicos
mudaram as condições da distribuição dentro de uma relação social de produção que parecia ter permanecido
a mesma; o fundo público como financiador, articulador e “capital em geral” mudou as condições da circulação
de capitais, Estas transformações penetram agora a esfera da produção pela via da reposição do capital e
da força de trabalho, transformados nas outras esferas” (OLIVEIRA, 1998a, p. 37).
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Sobre o processo de desmercadorização do trabalho a partir do direito, cf. ESPING-ANDERSEN, 1990,
p. 21-23.
7
Para Poulantzas (2013, p. 212), em trecho emblemático: “Les luttes populaires sont inscrites dans la
matérialité institutionnelle de l’État, même si elles ne s’y épuisent pas, matérialité qui porte la trace de ces
luttes sourdes et multiformes. Les luttes politiques qui portent sur l’État ne sont pas, pas plus que toute
lutte face aux appareils de pouvoir plus généralement, en position d’extériorité face à l’État, mais relèvent de
sa configuration stratégique: l’État, comme c’est le cas pour tout dispositif de pouvoir, est la condensation
matérielle d’un rapport.”
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Na periferia do capitalismo as privatizações figuram como subterfúgio questionável de atração de investimentos:
“Neste ponto é que se inscrevem as reformas dos Estados e sobretudo os processos de privatização, o
caminho que se impôs ás periferias que procuram atrair investimentos produtivos ainda quando o argumento
utilizado seja de natureza fiscal. E isto porque enredado em dívidas impagáveis e crescentes os Estados
periféricos, nesta novíssima forma de dependência, perdem qualquer espaço para políticas ativas de
desenvolvimento” (FIORI, 1995, p. 225).
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Nesse mesmo sentido é a análise de Paulo Arantes, que afirma que “se
fosse possível e desejável resumir numa única fórmula o atual estado do mundo,
de minha parte não pensaria duas vezes: estado de sítio”. Os regimes militares
periféricos foram “substituídos com vantagem pela ditadura dos mercados”, para
o autor, e “golpes de estado hoje em dia são politicamente incorretos, já uma
crise cambial pode pôr nos trilhos maus pensamentos sobre alternância no poder”.
Arantes (2007, p. 149; 2014, p. 326-327), dialogando com obra de Leda Paulani,
destaca a exigência de um estado de emergência econômica permanente para que
o Brasil se transformasse de país periférico industrializado em mera plataforma
de valorização financeira.
Sintoma disso é o acelerado processo de desindustrialização pelo qual o
país tem passado há anos e, por outro lado, as infindáveis “reformas” impostas
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Considerações finais
Vê-se, desse modo, que a configuração dos regimes políticos contemporâneos
está maculada pelo decisionismo de mercado, de que fala Bercovici. A exceção
econômica é permanente na periferia do sistema capitalista e figura como essencial
na estruturação e manutenção de suas instituições. Pensar o direito e o Estado
no Brasil passa por situá-los no contexto do subdesenvolvimento econômico e da
pilhagem de suas riquezas sociais. A “exceção sobre os oprimidos”, denunciada
por Francisco de Oliveira, chegou aqui nas embarcações dos colonizadores e se
manteve como elemento estruturante da sociabilidade brasileira.
A atualidade da “acumulação primitiva” é sintoma claro da permanência da
expropriação do comum mesmo sob Estados de Direito formalizados há tempos e
sob um constitucionalismo democrático. Os recursos naturais da periferia continuam
sendo saqueados com o auxílio e a legitimação dos Estados, em detrimento da
vontade popular. Ao dispor do comum, o Estado vende/cede o que não lhe pertence,
já que as riquezas coletivas pertencem ao povo e não a grupos políticos de ocasião.
Não bastasse a privatização da riqueza comum, o Estado se aproxima cada
vez mais de seu antigo perfil, oitocentista, já que paralelamente à desconstrução
dos Direitos Sociais e da estrutura dos Estados de Bem-Estar (em países em
que eles se estabeleceram) há o endurecimento de sua atuação punitiva, para a
manutenção da ordem do processo de dominação. O Estado passa cada vez mais
a agir como fiador da espoliação do comum pelo capital privado, como uma espécie
de organizador da exceção econômica, dando-lhe ares de legitimidade.
A recente reação negativa do mercado à retomada de políticas assistenciais
de combate à miséria no Brasil, num quadro de aumento exponencial da insegurança
alimentar, é emblemático do presente momento em que os recursos estatais só
podem ser direcionados para aplacar a fome do poder econômico. A austeridade, que
mata a população vulnerável e sucateia os serviços e as políticas públicas, é venerada
pelo mercado, entidade que ganhou o posto de soberano na contemporaneidade,
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Estado e exceção econômica na periferia: acumulação primitiva e outras formas de expropriação do comum
State and economic exception in the periphery: Primitive accumulation and other forms of expropriation
of the common
Abstract: The article seeks to demonstrate the permanence of the framework of economic exception
on the periphery of capitalism, as well as the instrumentalization of State and Law to legitimize the
expropriation of the “common”. It tries to understand, therefore, the actuality of concepts such as
“primitive accumulation”, “formal subsumption” and “real subsumption” as appropriate analytical tools
for criticizing the expropriation of social wealth, the deepening of the peripheral condition of countries
like Brazil, and how the legal form and the political form are functional to this project of “plundering”
that is located at the core of “neoliberal rationality” (Dardot; Laval). The discussions undertaken do
not manifest automatic adherence to the authors used, but seek to build the argument presented from
a critical dialogue with texts by Antonio Negri, Michael Hardt, Laura Nader, Ugo Mattei and, in Brazil,
mainly, Leda Paulani, Paulo Arantes, Gilberto Bercovici and Francisco de Oliveira. The chosen method
is dialectical materialism, which was applied to the bibliographic survey and to the tying of concepts
directed to the critique of the contemporary economic exception. The usurpation of the commons is a
global phenomenon, but one that evidently has a greater incidence outside the capitalist center. This
justifies the focus given to Brazil as a locus for observing the phenomenon.
Keywords: Economic exception. Rule of law. Primitive accumulation. Common.
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