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ANDRÉ MACHADO

HANDEL MAYA
MARTINS DIAS
Organizador
Organizador

ESTUDOS DE DIREITO
CONSTITUCIONAL
ANAIS DO

JUDICIAL

2019
ANDRÉ MACHADO MAYA
Organizador

CONSELHO ADMINISTRATIVO
David Medina da Silva – Presidente
Cesar Luis de Araújo Faccioli – Vice-Presidente
Fábio Roque Sbardellotto – Secretário
Alexandre Lipp João – Representante do Corpo Docente ANAIS DO

DIREÇÃO DA FACULDADE DE DIREITO


Fábio Roque Sbardellotto

COORDENADOR DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO


Luis Augusto Stumpf Luz

CONSELHO EDITORIAL
Anizio Pires Gavião Filho
Fábio Roque Sbardellotto
Guilherme Tanger Jardim
Luis Augusto Stumpf Luz

2019
© FMP 2019 Apresentação
CAPA: Marcelo Mariante de Queiroz
DIAGRAMAÇÃO: Liquidbook | tecnologias para publicação
REVISÃO DE TEXTO: Liquidbook | tecnologias para publicação O Encontro de Grupos de Pesquisa surgiu no âmbito do Pro-
EDITOR: Rafael Martins Trombetta | Liquidbook grama de Pós-Graduação em Direito da FMP, com o objetivo de
RESPONSABILIDADE TÉCNICA Patricia B. Moura Santos fomentar o diálogo entre os diferentes grupos de pesquisa e a pro-
dução acadêmica conjunta. Na primeira edição, foram realizados
Fundação Escola Superior do Ministério Público dois Grupos de Trabalho - GTs, um para cada linha de pesquisa do
Inscrição Estadual: Isento Programa, e apresentados trabalhos representativos dos Grupos de
Rua Cel. Genuíno, 421 – 6º, 7º, 8º e 12º andares Pesquisa do PPGD da FMP. Nesta segunda edição, o Encontro teve
Porto Alegre – RS – CEP 90010-350 seu âmbito ampliado para além dos limites do Mestrado da FMP,
Fone/Fax (51) 3027-6565 com a participação de grupos de pesquisa em desenvolvimento nos
E-mail: fmp@fmp.com.br Programas de Pós-Graduação da Universidade de Santa Cruz do Sul
Website: www.fmp.edu.br - UNISC e da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC. O
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação evento, realizado na FMP em Outubro de 2018, contou com quatro
CIP-Brasil. Catalogação na fonte GTs, os quais abordaram três temáticas, representativas das linhas
de pesquisa dos Programas de Pós-Graduação envolvidos: (GT01)
E56a Encontro Interinstitucional dos Grupos de Pesquisa
(2. : 2018 : Porto Alegre, RS) políticas públicas em direitos fundamentais e jurisdição: intercone-
Anais do II Encontro Interinstitucional dos Grupos xões cambiantes; (GT02) Estado, mercado e sociedade: equações
de Pesquisa – EGRUPE [recurso eletrônico] / André de equilíbrios, e (GT03) segurança pública e política criminal: a ex-
Machado Maya, organizador. – Dados eletrônicos – pansão da intervenção penal na sociedade contemporânea. No
Porto Alegre: FMP, 2019.
total, foram apresentados cinquenta e quatro trabalhos, sendo que
440 p.
trinta e nove foram aprovados para publicação em anais do evento.
Modo de acesso: <https://www.fmp.edu.br/publicacoes/>
Os números revelam a adesão do público acadêmico e o êxito da
ISBN 978-85-69568-17-9
metodologia de trabalho, apta a fomentar o relacionamento acadê-
1. Direitos Fundamentais. 2. Políticas Públicas. 3. Segurança Pública. 3.
Política Criminal. I. Maya, André Machado. II. Título. mico entre os Programas de Pós-Graduação cujas linhas temáticas
são fins, e assim também o diálogo interno entre docentes e discen-
CDU: 342.7
tes dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da
Bibliotecária Responsável: Patricia B. Moura Santos – CRB 10/1914
FMP, UNISC e UNESC. Dessa maneira, pretende-se contribuir para
o aprimoramento dos projetos de pesquisa em desenvolvimento
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por no âmbito das linhas de pesquisa que compõem seus respectivos
qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, programas; promover o intercâmbio de conhecimentos e relações
fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/
ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta entre pesquisadores das Instituições participantes; e incentivar a in-
obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam- teração entre professores e alunos de mestrado e os acadêmicos da
se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos
direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), graduação em Direito.
com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações
diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).
André Machado Maya
Organizador
Sumário
CAPÍTULO 1
GT1: POLÍTICAS PÚBLICAS EM
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JURISDIÇÃO:
INTERCONEXÕES CAMBIANTES

Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não


observação do princípio do superior interesse da criança e
do adolescente
Gláucia Borges e Ismael Francisco de Souza...........................16
A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de
formação em Direitos Humanos para os operadores do direito
nos cursos de graduação em Direito do Rio Grande do Sul
Jadir Zaro e Leonardo Jensen Ribeiro.....................................33
O tratamento dado ao argumento orçamentário nas
decisões do tribunal de justiça do rio grande do sul nos
casos de contratação de monitores
Marcia da Silveira Moreira e André Inacio Silva Lopes............49
A textura aberta do direito e a aplicabilidade dessa a
diferentes casos
Brenda Wetter Ipé da Silva e Pietra Mikaela Gaeier Alves......72
A necessidade da efetiva integração operacional do sistema
de garantia de direitos em todo o país para a real promoção
de ações em benefício de crianças e adolescentes
Fabiana Koinaski Borges e Ismael Francisco de Souza............86
Coerência, argumentação e decisão judicial
Pietro Cardia Lorenzoni e Lucas Moreschi Paulo...................103
Resumos
Da função social à função econômica da terra: impactos
da Lei nº 13.465/17 sobre as políticas de regularização
fundiária e o direito à cidade no Brasil
Betânia de Moraes Alfonsin, Pedro Prazeres Fraga Pereira,
Débora Carina Lopes,Marco Antônio Rocha e
Helena Boll Corrêa................................................................132
Os atos de improbidade dos municípios em matéria de
saúde pública segundo julgados do Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul
Ricardo Hermany e Betieli da Rosa Sauzem Machado..........136
A eficácia vinculante da ratio decidendi em sede de CAPÍTULO 2
recursos extraordinários GT2: ESTADO, MERCADO E SOCIEDADE:
Guilherme Candido e Eduardo Gonçalves Spitaliere............143 EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIOS.
O exercício da democracia através dos movimentos sociais
A possibilidade de impetração do mandado de segurança
e a tentativa de silenciamento com os projetos de lei nº
coletivo pelo Ministério Público
5.065/2016 e 9.604/2018
Marina Gomes de Souza........................................................202
Aneline Kappaun e Laura Vaz Bitencourt..............................148
Governança digital e democracia em tempos de inovação
As atribuições dos conselhos tutelares na prevenção e
tecnológica
erradicação do trabalho infantil no tráfico de drogas
Laís Michele Brandt e Fernanda Schwertner.........................231
André Viana Custódio e Matheus Denardi Paz Martins.........154
A (im)possibilidade da candidatura avulsa à luz do Resumos
elemento gramatical O sistema democrático-participativo suíço como
Maurício Martins Reis eThomás Henrique Welter Ledesma..160 referência: uma comparação com as possibilidades de
A proteção dos grupos em situação de vulnerabilidade sob participação no contexto brasileiro
a ótica da Corte Interamericana de Direitos Humanos Roberta de Moura Ertel e João Felipe Lehmen....................250
Mônia Clarissa Hennig Leal e Sabrina Santos Lima...............165 O planejamento do enfrentamento ao trabalho infantil a
As teorias dialógicas e da margem de apreciação (nacional partir da identificação de pontos vulneráveis no âmbito
e do legislador) sob a ótica da Corte Interamericana de municipal
Direitos Humanos e do Supremo Tribunal Federal Maria Eliza Leal Cabral e Rafael Bueno da Rosa Moreira......257
Mônia Clarissa Hennig Leal e Maria Valentina de Moraes.....172 A impossibilidade de utilizar a prova diabólica como um
Pobreza na infância e adolescência brasileira: a atuação do limitador para a distribuição do ônus da prova nas tutelas
UNICEF e o princípio da municipalização das garantias transindividuais ao meio ambiente
Johana Cabral e Maria Carolina dos Santos Costa................179 Gabriella Guimarães Moita....................................................264

O processo na modernidade: uma análise/crítica acerca do A ação comunicativa como instrumento de melhoria nos
excessivo protagonismo da magistratura e da necessidade serviços prestados pela Administração Pública
de se democratizar os processos judiciais Carolina da Silva Ruppenthal Weyh
Fernando Barros Martinhago e Reginaldo de Souza Vieira...185 Fernanda Tavares Sonda........................................................270

O princípio da juridicidade no controle da Administração Da resolução nº 1.236/2018 do Conselho Federal de


Pública do Estado Democrático de Direito Medicina Veterinária como parâmetro para definição de
Vinícius Filipin........................................................................190 maus-tratos: perspectivas desde o direito dos animais
Júdson da Silva Bahia Nascimento
O papel do Supremo Tribunal Federal e a candidatura Rodrigo Ruiz Carvalho...........................................................276
avulsa no Brasil
Marília Medeiros Piantá.........................................................196 O acesso à informação pública como meio de adequada
participação social na tutela individual e coletiva de
direitos
Catharine Black Lipp João.....................................................281
A viabilidade de aplicação dos programas de compliance CAPÍTULO 3
na Administração Pública
Guilherme Oliveira Weber.....................................................288 GT 3: SEGURANÇA PÚBLICA E POLÍTICA CRIMINAL:
A EXPANSÃO DA INTERVENÇÃO PENAL NA
O direito à informação e a tutela do consumidor no SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA.
comércio eletrônico sob a luz do princípio da boa-fé
objetiva A corrupção política e os reflexos desta na democracia
Arthur Künzel Salomão..........................................................292 brasileira
O ser e o outro: direitos humanos fundamentais além do Rogério Gesta Leal e Pedro Guilherme Ramos Guarnieri.....320
ocidente Direito penal e povos indígenas no Brasil: drogas,
Raquel Fabiana Lopes Sparemberger infanticídio, tortura, meio ambiente e estupro
Bruno Ruiz de Souza..............................................................299 Bruno Heringer Júnior, Anuska Leochana Menezes Antonello,
Abolição dos testes em animais como imperativo Flávia Miranda Falcão, Deisi Quintana de Souza
para superação do especismo e do antropocentrismo: Marina Medim Cansan...........................................................340
argumentos a partir de um pensamento pós-abissal Os Limites da Busca por Celeridade Processual pela via do
Bianca Pazzini e Geórgia Manfroi..........................................306 Instituto da Colaboração Premiada
O índio como sujeito político: análise sob a perspectiva Mateus Augusto Bohrz Klein.................................................364
decolonial do exercício da cidadania indígena Discriminação de gênero sob o enfoque da criminologia
Camila Neis Pinheiro..............................................................313 feminista: breves considerações sobre o papel da mulher no
tráfico de drogas e a punição desta pelo sistema penal
Juliano Sartor Pereira e Maiara Caetano Daniel....................381
Efeitos da homologação - Questão de Ordem na Petição
7074
Vera Fischer Macarthy...........................................................413

Resumos
A luta internacional contra a corrupção e os reflexos no
Brasil
Gabriel Maciel e Matheus Prato da Silva...............................420
Direito fundamental à segurança e imperativos implícitos de
tutela processual penal: possibilidades e limites
Pietro Cardia Lorenzoni.........................................................426
A palavra da vítima como prova única nos crimes de
estupro sem conjunção carnal
Éder Renato Martins Siqueira................................................431
O acesso à informação pública como meio de adequada participação social na
Júdson da Silva Bahia Nascimento e Rodrigo Ruiz Carvalho
tutela individual e coletiva de direitos

Conclusões O acesso à informação pública como


A pesquisa, ainda em fase inicial, já revela alguns aspectos meio de adequada participação social na
relevantes:
a) O contexto de criação da resolução ora em estudo reve-
tutela individual e coletiva de direitos
la evolução e modificação paulatina da relação entre humanos e
outros animais;
Catharine Black Lipp João1
b) A cultura de permissividade em relação aos maus-tratos
animais vem mudando no sentido de ser socialmente cada vez
menos tolerada, bem como eticamente superada;
c) O direito revela-se cada vez mais como espaço de dis-
Resumo
cussão para os direitos animais, ante o surgimento de normas
Este trabalho busca, a partir do método de abordagem
protetivas e coercitivas relativas à temática, não obstante a ma-
dedutivo e das técnicas de pesquisa bibliográfica e documen-
nutenção de “espaços” desregulamentados juridicamente;
tal, analisar o acesso à informação como defesa social em face
d) Há necessidade de maior especialização e especificação
do Estado, pelo viés da obtenção de uma resposta jurisdicional
das normas de direito dos animais.
adequada. Para tanto, são inicialmente apresentadas considera-
ções sobre o princípio da transparência e o direito de acesso à
Referências informação, para, então, ser examinada a legitimação conferida
aos cidadãos e às associações, na tutela individual e coletiva de
BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Disponível em:
interesses lesados por atos estatais, a fim de relacionar o papel
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9605.htm>. Acesso
do objeto de tutela da Lei nº 12.527/11 com o devido acesso à
em: 22 nov. 2018.
Justiça.
______. Resolução nº 1.236, de 26 de outubro de 2018. Conselho
Palavras-chave: Acesso à informação. Acesso à Justiça.
Federal de Medicina Veterinária. Disponível em: <http://portal.cfmv.
Transparência. Tutela coletiva.
gov.br/lei/download-arquivo/id/1096>. Acesso em: 22 nov. 2018.
NACONECY, Carlos Michelon. Ética & animais: um guia de orientação
filosófica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006. Tema:
REGAN, Tom. Jaulas vazias. Porto Alegre: Editora Lugano, 2006. A participação social efetiva através do direito de acesso à
informação pública na tutela individual e coletiva de direitos.

Problema
Por que o direito fundamental de acesso à informação pú-
blica pode ser visto como uma forma de assegurar efetivo acesso
à Justiça, através da tutela de direitos individuais ou coletivos,

1 Mestranda em Direito pela Fundação Escola Superior do Ministério Público, sob orientação do profes-
sor doutor Anízio Pires Gavião Filho. Currículo Lattes: <http://lattes.cnpq.br/2263906623301856>.
E-mail: <catharinejoao@gmail.com>.

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O acesso à informação pública como meio de adequada participação social na
Catharine Black Lipp João
tutela individual e coletiva de direitos

conduzida pelo cidadão ou por associações em face dos danos públicos informações – ressalvadas as de sigilo imprescindível à
decorrentes de atos estatais? segurança da sociedade e do Estado – de interesse particular ou
coletivo, assim elegendo “a transparência pública como um ver-
dadeiro mecanismo de controle social, essencial para o Estado
Metodologia Democrático de Direito” (BRASIL, 2017).
A abordagem se deu a partir do método dedutivo, com o
É nesse contexto que o presente trabalho tem como
objetivo explicativo, a fim de apresentar considerações gerais a
objetivo geral analisar a importância da concretização do direito
respeito do direito de acesso às informações públicas e, então,
fundamental de acesso à informação pública para assegurar um
identificar as formas de tutela jurídica que foram conferidas aos
efetivo acesso à Justiça, através da tutela de direitos individuais
cidadãos e associações, individual ou coletivamente, para, então,
ou coletivos, conduzida pelo cidadão ou por associações em face
possibilitar o exame sobre a relevância do acesso à informação
dos danos decorrentes de atos estatais.
como forma de assegurar o seu apropriado acesso à Justiça. Os
Para tanto é fundamental considerar que, na Lei nº
procedimentos utilizados para a pesquisa foram o documental,
12.527/11, foram regulados de maneira sistemática os procedi-
tendo como principais fontes a Lei nº 12.527/11 e a Constituição,
mentos, as obrigações e os prazos que objetivam assegurar o
e o bibliográfico, a partir dos estudos de autores das áreas do
acesso à informação pública, sendo previstas a iniciativa de trans-
direito constitucional e administrativo em relação às questões do
parência ativa, independentemente de solicitações, do órgão
direito de acesso à informação, e do direito processual civil, so-
público ou da entidade privada recebedora de recursos públicos,
bre os aspectos atinentes aos processos coletivos.
por meio da instalação de Serviços de Informações ao Cidadão
físico e eletrônico, e com a possibilidade de a população deman-
Introdução dar a prestação de informações específicas, não sigilosas, sem a
No ordenamento jurídico brasileiro, é conferida legitimi- necessidade de apresentação de justificativa. A partir disso, já
dade para agir ao particular lesado por atos estatais enquanto se percebe que a participação ativa dos cidadãos proporciona,
titular de um direito subjetivo público. Além disso, também se entre vários outros benefícios sociais, um maior respeito aos di-
reconhece legitimação ativa a cidadãos e entidades associati- reitos fundamentais, porquanto “a violação aos direitos humanos
vas para promoverem a tutela coletiva de direitos coletivos em também prospera em um ambiente de segredo e acontece com
sentido amplo. Nesses casos, mostra-se essencial que os de- mais facilidade ‘a portas fechadas’. Um governo transparente
mandantes estejam aptos a conduzir a defesa desses interesses, propicia o respeito a esses direitos” (CGU, 2013, p. 6). Por essa
principalmente considerando que os efeitos da decisão judicial razão, o art. 21 da Lei de Acesso à Informação pontuou não ser
são capazes de ultrapassar a relação entre as partes. Claro é que possível negar o acesso à informação necessária à tutela judicial
não raramente isso pode depender de uma atuação estratégica ou administrativa de direitos fundamentais.
e de um aparelhamento estrutural só alcançados por meio do co-
nhecimento de informações públicas em mãos da Administração.
Hipóteses
Sobre o direito humano fundamental de acesso à informa-
A partir do exposto, levantam-se as hipóteses sobre como a
ção pública – que “constitui por certo, juntamente com o direito
transparência pública se relaciona, como ferramenta de controle
à vida, a mais fundamental das prerrogativas humanas, na medida
social das ações governamentais, com a defesa, pela sociedade
em que o saber determina o entendimento” (CASTRO, 2010, p.
civil, de direitos individuais e coletivos. Além da transparência
437) – , observa-se que a Constituição de 1988 o contemplou
no trato da coisa pública permitir aos cidadãos verificar a origem
no inciso XXXIII do art. 5º como o direito de receber dos órgãos

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O acesso à informação pública como meio de adequada participação social na
Catharine Black Lipp João
tutela individual e coletiva de direitos

da lesão aos seus direitos fundamentais – caso decorrente de do art. 17 da Lei nº 8.429/92 –, conferindo-lhes legitimidade ativa
ato da Administração –, e, assim, buscar com propriedade a sua para a propositura de ação principal, em face dos agentes públi-
defesa por ação individual, permite igualmente que estes partici- cos que pratiquem atos que importem em enriquecimento ilícito,
pem eficazmente da tutela jurisdicional com dimensão coletiva e danos ao erário ou violação a princípio da Administração.
social – o que contribui sobremaneira para o controle social dos Além da tutela coletiva, através da iniciativa do cidadão na
atos públicos, por meio de um provimento judicial, não apenas defesa dos seus direitos, o ato estatal lesivo ao cidadão também
isoladamente. pode ser apreciado pelo Judiciário, nos casos em que o particular
No acesso à Justiça para a defesa de direitos difusos ou seja titular de um direito subjetivo público defensável por ação
coletivos, qualquer cidadão é parte legítima, consoante o art. 5º, individual ou pela via do Mandado de Segurança. Tal pode se dar,
inciso LXXIII da Constituição, para propor Ação Popular, pleitean- por exemplo, quando o administrado, usuário de bens de uso
do a invalidade de atos da Administração que causem danos ao comum do povo ou bens de uso especial destinados ao público,
patrimônio público, ao meio ambiente, à moralidade administra- venha a ser impedido de exercer livremente esse uso em razão
tiva ou ao patrimônio histórico e cultural, diante do que “o ato de ato da Administração.
de Governo será passível de apreciação pelo Poder Judiciário” Nota-se que, mesmo a partir da propositura de uma ação
(DI PIETRO, 2017, p. 121). Já na defesa de direitos coletivos lato individual, com a finalidade de tutelar um direito subjetivo lesa-
sensu podem ser propostas Ação Civil Pública e Mandado de do por ato da Administração, é possível decorrer uma dimensão
Segurança Coletivo pelos cidadãos reunidos sob a forma de as- coletiva, na hipótese da questão de direito relativa ao evento em
sociação civil que inclua, entre as suas finalidades institucionais, causa ser comum a um número considerável de demandas indivi-
a proteção desses interesses e que, em regra, seja constituída há duais e houver risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica,
pelo menos um ano. ensejando a instauração do IRDR, regulado nos arts. 976 a 987
A dimensão coletiva dessas ações intentadas por cida- do CPC – cuja provocação pode ser requerida pelas próprias par-
dãos individualmente considerados ou civilmente associados se tes, circunstância na qual seu processo será a causa-piloto, pois
comprova pelo fato de que as decisões judiciais são hipóteses não há atualmente previsão legal para seleção de outro litígio
de sentenças com efeito erga omnes em sede de Ação Popular mais bem instruído para tramitação e julgamento do incidente.
(art. 18 da Lei nº 4.717/65) e Ação Civil Pública (art. 16 da Lei A completude da discussão judicial e a qualidade da argumenta-
nº 7347/85) e ultra partes em sede de Mandado de Segurança ção podem depender diretamente de informação pública sobre
Coletivo (art. 22 da Lei nº 12.016/09). Diante do alcance coleti- a questão debatida, razão pela qual o seu acesso pelo cidadão
vo e das consequências sociais desses provimentos, é essencial é essencial, já que, sendo afetado “um processo inadequado,
que os indivíduos tenham amplo acesso às informações públicas também a decisão do incidente pode não vir a ser a melhor so-
necessárias para identificar em que termos determinada ação ou lução da controvérsia de massa, com evidente impacto sistêmico
omissão da Administração deu, ou pode dar, causa a situações deletério pela multiplicação da conclusão a todos os outros pro-
lesivas. cessos” (CABRAL, 2014, p. 206).
Ainda cogita-se que, em se tratando de improbidade admi-
nistrativa, a ampla transparência e a possibilidade de acesso às
Considerações Finais
informações públicas poderiam implicar no reconhecimento das
Ante o exposto, pode-se concluir que o amplo acesso à in-
instituições emanadas pelo corpo social como pessoas jurídicas
formação possibilita que o “cidadão esteja informado e, assim,
“interessadas” – para além das pessoas jurídicas diretamente le-
possa inteligentemente exercer seus direitos fundamentais de
sadas, como atualmente prevalece sobre a inteligência do caput

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O acesso à informação pública como meio de adequada participação social na
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tutela individual e coletiva de direitos

defesa perante os órgãos públicos, e a administração pública, CGU – CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO. Secretaria de Prevenção
legitimando o processo administrativo e, por consequência, for- da Corrupção e Informações Estratégicas. Manual da Lei de Acesso à
talecendo as bases da democracia representativa” (ARRUDA, Informação para Estados e Municípios. Brasília: CGU, 2013.
2016, p. 48). Não restam dúvidas de que o livre fluxo de informa- DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 30. ed. Rio
ções implica no “fortalecimento de todos os cidadãos, por meio de Janeiro: Forense, 2017.
do acesso e utilização da informação e do conhecimento” (UH-
UHLIR, Paul F. Diretrizes políticas para o desenvolvimento e a
LIR, 2006, p. 21), até mesmo por meio do acesso à Justiça. Cita-se
promoção da informação governamental de domínio público.
a clássica lição de Francis Bacon: “O conhecimento em si mesmo
Brasília: UNESCO, 2006.
é poder” (ipsa scientia potestas est). É por isso que, uma vez
conferida legitimidade ativa aos cidadãos, individualmente consi-
derados ou civilmente associados, inclusive no âmbito da tutela
jurisdicional coletiva de direitos, faz-se necessária a implementa-
ção efetiva da Lei de Acesso à Informação para que possam estar
munidos de todo o conhecimento e documentos necessários, e,
assim, litigar eficientemente em uma relação de equilíbrio e igual-
dade com a parte adversa, de modo que o direito de acesso à
informação possa ser visto como uma verdadeira garantia indivi-
dual fundamental para assegurar o direito fundamental de acesso
à Justiça notadamente pelo viés da obtenção de uma resposta
jurisdicional efetiva, na própria defesa social em face de atos le-
sivos praticados pelo Estado.

Referências
ARRUDA, Carmen Sílvia Lima de. Direito à informação: requisito
do devido processo legal em um estado democrático de direito.
Páginas a&b, Porto, s. 3, n. 6, p. 32-51, 2016.
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Agravo em Recurso Especial
n. 1.098.461 - SP. Agravante: Marcia Santos de Oliveira pereira e
Nelson Luiz da Silva Araújo. Agravado: Município de São Paulo.
Relator: Ministro Sérgio Kukina. Brasília, 27 de junho de 2017.
CABRAL, Antônio do Passo. A escolha da causa-piloto nos incidentes
de resolução de processos repetitivos. Revista de Processo, São
Paulo, v. 231, p. 201-223, maio 2014.
CASTRO, Carlos Roberto Siqueira. A constituição aberta e os
direitos fundamentais: ensaios sobre o constitucionalismo pós-
moderno e comunitário. Rio de Janeiro: Forense, 2010.

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