Você está na página 1de 132

Volume 13 | Número 26 | Ano 13 | 2013.

2 Edição Especial - Direitos Humanos


Coordenação do Curso de Mestrado
4 Presidente
Carlos Alberto Guerra Filgueiras Lúcia Maria Barbosa de Oliveira (FBV)

Vice-Presidente de Planejamento e Ensino Conselho Editorial


Maurício Garcia Dra. Cláudia Cruz (ÁREA1)
Me. Raquel Barretto (Fanor)
Vice-Presidente de Marketing e Admissões Me. Bárbara Caldeira (Ruy Barbosa – Paralela)
Fernando Lau Dra. Nádia Maria Rocha (Ruy Barbosa – Rio Vermelho
e Pituba)
Vice-Presidente de Operações Me. Isabella Jarocki (FBV)
Geraldo Magela de Souza Moraes Júnior Me. Tenaflae Lordelo (UNIFAVIP)

Diretoria Regional Editor Chefe


Marcelo Adler (BA) Me. Marinalva Alves dos Santos
Mauricélia Bezerra Vidal (PE)
Marcelo Lourenço (CE/PI) A Revista Cientefico é um periódico de publicação
semestral. Definida como instrumento de incentivo à
Diretoria Geral produção científica e veículo de divulgação de trabalhos
Ítalo Ghignone (ÁREA1 e Ruy Barbosa - Paralela) acadêmicos dos alunos e professores das Instituições:
Lucian Bogdan Bejan (FBV) ÁREA1, FACID, FANOR, FBV, Ruy Barbosa e
Mauricélia Bezerra Vidal (UNIFAVIP) UNIFAVIP, bem como de potenciais parceiros e público
Rogério Flores da Silva (Ruy Barbosa - Rio Vermelho externo. O conteúdo dos trabalhos reflete o projeto
e Pituba). pedagógico das Instituições. São publicados textos em
Marcelo Lourenço (FANOR) português ou em outro idioma, a critério do Conselho
Maria Josecí Vidal (FACID) Editorial.

Gerência Geral Diagramação


Luiz Patrício Barbosa Júnior (FBV - Boa Vista) Equipe OPA Agência Experimental FBV | DeVry Brasil
Morgana Bavaresco (FANOR - North Shopping)
Rogério Flores da Silva (Ruy Barbosa - Pituba). Capa
Equipe de Marketing DeVry Brasil
Coordenação Geral Acadêmica
Maria Mesquita Mota (ÁREA1 e Ruy Barbosa - Revisão ortográfica
Paralela) Lorena Maia Ribeiro
Humberto B. da Fonseca (FANOR)
Ricardo Alexandre O. Ciriaco (FBV) Revisão ABNT
Marjony Barros Camelo (UNIFAVIP) Leilane Maria Lucena Pereira
Cristiano A. de Aguiar (Ruy Barbosa - Rio Vermelho e
Pituba) Direitos reservados à:
Lúcia Cristina Gauber (FACID) DeVry Brasil
Rua Antônio Gomes Guimarães, 150 - Dunas CEP:
Coordenadores dos Cursos de Pós-Graduação 60.191-195 | Fone/Fax: +55 (85) 3052- 4814 Fortaleza
Osvaldo Matos (ÁREA1) - Ceará – Brasil.
Zarlanya Paiva Sales (FANOR)
Gustavo Araújo (Ruy Barbosa) Catalogação na fonte elaborada pela bibliotecária
Victor Hugo D’albuquerque (UNIFAVIP) Leilane Maria Lucena Pereira - CRB 3-916
Cristiane Ferreira de Andrade (FBV)
Cyntia Maria de M. Araujo (FACID)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

R349 Revista Cientefico / DeVry Brasil. – ano 13, v. 13, n. 26, Edição Especial Direitos Humanos, jul./
dez. 2013.
Fortaleza: DeVry Brasil, 2001 – Semestral, resumo em Português e Inglês.
ISSN 1677-5716 (Versão Online)
1. Ciências sociais aplicadas. 2. Ciências da Saúde. 3. Periódicos. 4. Científico.
5. DeVry Brasil. I. Título.
CDD - 658
610
340
5
SUMÁRIO

Editorial.....................................................................................................................................07

DIREITOS HUMANOS, MERCADO E ESTADO: A PLURIDIMENSIONALIDADE


DA JUSTIÇA E DOS DIREITOS

Carlos Vilar Estevão..................................................................................................................09

PERCEPCIÓN SOCIAL Y DISCURSO MEDIÁTICO SOBRE INMIGRACIÓN


EN ESPAÑA

Pedro Garrido Rodríguez..........................................................................................................25

ADAPTANDO EL GÉNERO EN AMÉRICA LATINA: DERECHOS Y CIUDADANÍA.


ANÁLISIS INTERSECCIONAL DE DOS DISPOSITIVOS GUBERNAMENTALES
EN CHILE Y COLOMBIA

Angélica María Gómez ǀ Fabiola Miranda Pérez......................................................................37

FILH@S DA PEDRA: DESVENDANDO VIDAS A PARTIR DE NARRATIVAS


DE MULHERES USUÁRIAS DE CRACK

Marcelo de Freitas Gimba ǀ Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti..............................................49

ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL


ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

Euzelene Aguiar Rodrigues......................................................................................................69

NÃO ME FALE DAS FLORES: UM BREVE ENSAIO SOBRE OS DIREITOS


HUMANOS E INTERESSES ELITISTAS

Norvi Vieira de Melo ǀ Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti....................................................105

BRASILEIRAS EM PORTUGAL NO PROCESSO MIGRATÓRIO E DE


EXPLORAÇÃO SEXUAL

Ana Manuela Santos Conceição ǀ Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti...................................115

Normas para publicação de trabalhos na Revista Cientefico.......................................................127


6
EDITORIAL 7

Conselho Editorial – Revista Cientefico

Com a inclusão em 2013 do Projeto da Semana de Direitos Humanos à agenda de eventos acadêmicos
organizados pelo curso de Direito e pelo Programa de Iniciação Científica e Tecnologia (PICT) da
Faculdade Ruy Barbosa, a professora e pesquisadora Dra. Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti propôs
a produção de um número especial da Revista Cientefico com a temática Direitos Humanos, fortale-
cendo a área e criando espaços e diálogos interinstitucionais.

Assim, por iniciativa de professores e estudantes (contando, também com o apoio do Centro Aca-
dêmico Orlando Gomes – curso de Direito), a presente edição inaugura mais uma ação voltada à
produção científica e amplia a difusão de conhecimento e criação de redes: a incorporação de duas
edições especiais anuais, ademais dos números já editorados há quase 14 anos. O Conselho Editorial
lança a primeira edição especial que reúne artigos de pesquisadores renomados com larga experiência
e estudantes-aprendizes que optaram por se aventurar em debates sociais, polêmicos e urgentes, seja
integrando projetos, núcleos, iniciação científica ou voluntariado.

A abertura dos textos ficou sob responsabilidade do professor e pesquisador português, Carlos Alber-
to Vilar Estevão da Universidade do Minho, Portugal. O artigo, intitulado “Direitos Humanos, Merca-
do e Estado: a pluridimensionalidade da justiça e dos direitos” provoca questionamentos e debates em
torno da seguinte pergunta: “Quais são as verdades do mercado” quando falamos em justiça e direito?
Ademais, reforça a conferência realizada em 20 de novembro de 2013, onde esteve em contato direto
com o corpo discente e docente da Faculdade Ruy Barbosa, proporcionando novas abordagens sobre
o campo temático.

Ainda como contribuição ibérica, Pedro Garrido Rodríguez, historiador espanhol, doutor pela Uni-
versidade de Salamanca, Espanha, nos traz reflexões sobre a percepção social e o discurso da mí-
dia espanhóis acerca do fenômeno migratório como elemento obrigatório dos Direitos Humanos ao
defender a tese de que vivenciamos a emblematização redutora de acontecimentos complexos, nos
impossibilitando ter uma visão mais objetiva e completa dos processos imigratórios como processos
humanos em todas as suas dimensões.

As pesquisadoras Angélica María Gómez e Fabiola Miranda Pérez realizam um trabalho comparativo
entre Chile e Colômbia de dois programas sociais cujo objetivo é a promoção da cidadania feminina
nestes países, e que apresentam políticas distintas, considerando o conceito de gênero adotado: “Ca-
sas de acolhida” para “vítimas” de violências em contexto intrafamiliar no Chile e na Colômbia o
programa “Serviços de saúde amigáveis para jovens”.

No contexto da produção local, Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti (Universidade Católica do Salva-
dor/Faculdade Ruy Barbosa) e Marcelo Gimba (Universidade Católica do Salvador) enveredam pelas
histórias de vida de mulheres que encontraram em seus caminhos, “pedras” que definitivamente mu-
daram suas narrativas de vida: em “FILH@S DA PEDRA: desvendando vidas a partir de narrativas
de mulheres usuárias de crack”, os autores apresentam conflitos entre os espaços públicos e privados
existentes no contexto de vulnerabilidades, questões familiares e políticas públicas que sejam “com-
prometidas com o direito de oportunidades”.
A professora Euzelene Aguiar Rodrigues, da Universidade do Estado da Bahia e doutoranda pela
8 Universidade de Salamanca, optou pela análise histórica da relação entre as comunidades indígenas e
o consumo de álcool na história de vida destes sujeitos, índios Pataxós (Bahia) considerando aspectos
socioculturais e a própria história local.

Os alunos de Iniciação Científica, Norvi Vieira de Melo (Faculdade Ruy Barbosa) e Ana M. S. Con-
ceição (Universidade Católica do Salvador) ensaiaram os primeiros passos nas trilhas dos Direitos
Humanos no âmbito internacional. O estudante Norvi Vieira de Melo delineou o funcionamento dos
Direitos Humanos a partir do confronto entre violações de direitos e interesses elitistas com foco para
dois Estados: Israel e Estados Unidos da América. Finalmente, encerrando os diálogos, Ana Concei-
ção nos leva a pensar quem são os sujeitos femininos por trás dos processos migratórios e o tráfico de
mulheres ao analisar o discurso e as imagens difundidos pela mídia sobre as brasileiras em Portugal
e como Brasil e a esfera lusa trabalham com os estereótipos do tema.

Esperamos que as questões e problemas debatidos pelos autores provoquem inquietações e que a
temática Direitos Humanos possa fomentar posicionamentos, críticas e novas perspectivas para o
combate destas fronteiras visíveis, silenciosas e que tratam do fundamento principal: vidas humanas.

Boa leitura!
DIREITOS HUMANOS, MERCADO E ESTADO: A PLURIDIMENSIONALIDADE DA JUSTIÇA E DOS DIREITOS

DIREITOS HUMANOS, MERCADO E ESTADO: A


PLURIDIMENSIONALIDADE DA JUSTIÇA E DOS
DIREITOS

Carlos Vilar Estêvão1

1 AS VERDADES DO MERCADO

Apesar dos progressos da humanidade em termos de direitos e de uma maior atenção aos problemas do nosso
mundo, predomina ainda a vulgarização e a insensibilidade ao sofrimento individual e colectivo. Por outro
lado, nesta era dos mercados continuamos sujeitos ao vampirismo mercantil e a crer na inevitabilidade
das suas verdades. Com efeito, vivemos numa espécie de fundamentalismo em que os mercados
impõem as suas ortodoxias, fazendo-nos descrer, entre outros aspectos, nas virtualidades do Estado
social, o qual, também, em vez de unir pela solidariedade, parece, por vezes, separar-nos uns dos outros.

Mas, então, quais são as verdades do mercado?

Poderíamos elencar aquelas que estão a tornar-se mais evidentes e, por isso mais perigosas e
merecedoras de uma crítica ideológica clara. Assim, diz-se que os mercados em geral funcionam
bem e trazem prosperidade, enquanto que os Estados funcionam, em geral, mal e empobrecem os
cidadãos. Aliás, é comum até emergir como uma palavra de ordem o dito “o mercado sempre que
possível; o Estado quando for necessário”. Isto significa que o único Estado que interessa é o que se
torna mínimo, oco ou modesto nos direitos, intervindo apenas para reforçar o mercado.

Consequentemente, o Estado social deve ser remetido para o sótão das quinquilharias, porque já não
corresponde aos anseios e às expectativas do mundo de hoje.

Depois, os defensores da ordem meercantilizada defendem que só se pode distribuir o que se produz,
ou seja, é necessário produzir antes para distribuir depois. A conclusão lógica é esta: “esperem pela

1
Licenciado em Filosofia, Mestre em Filosofia Moderna e Contemporânea e com uma especialização em
Administração Escolar, doutorado em Educação da Universidade do Minho, Braga, Portugal. Atualmente é
Professor Catedrático do Departamento de Sociologia da Educação do de Educação da mesma Universidade.
E-mail: cestevao@ie.uminho.pt.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

justiça social até que sejamos ricos!”. A esta verdade acresce uma outra: a austeridade é inevitável,
10 não há alternativa, independentemente de daí resultar a miséria e a lançamento para o caixote do lixo
social de muitos de nós, com a (vã) esperança de um dia ressuscitarmos mais prósperos e com as
necessidades básicas mais garantidas.

Então, os direitos também têm de ser retocados: os nossos direitos, sobretudo os sociais, devem
ser interpretados como relativos; eles devem ser, face aos constrangimentos económicos, políticos,
sociais ou outros, aquilo que alguns, sobretudo os que ocupam os lugares cimeiros da politica, dizem
que são, por invocação do que chamam de realismo e sensatez.

Acresce a estas verdades uma outra na área do trabalho, que pode resumir-se a: o emprego é um
bem escasso, tem de ser merecido. O desemprego é, pois, inevitável, pelo que, como afirma Stiglitz
(2004), ele se tornou, no Ocidente, numa contagem de cadáveres económica, num apuramento de
vítimas não intencionais da luta contra a inflação ou do pagamento da dívida aos bancos e outras
instituições “aparentemente” sem rosto.

Há, então, que investir para ser grande na ordem capitalista atual, pelo que se torna necessário, para
tal, tornarmo-nos empresários de nós próprios, investindo na nossa carteira de competências, por
exemplo, de modo a tornarmo-nos empregáveis e, por isso, mais vendáveis e portáveis. Quanto mais
nos auto-explorarmos mais facilmente ficaremos sintonizados com o novo espírito do capitalismo
atual.

Existe ainda uma outra verdade cruel: na ordem do mercado nem todos os indivíduos interessam: só
os produtores e os consumidores, os que criam mais-valia, é que verdadeiramente contam. Por outras
palavras, a cidadania como dever de normalidade económica é usufruída apenas por alguns, pelos
considerados verdadeiros clientes, devido ao seu poder aquisitivo.

Num outro plano, outras verdades vêm ao de cima. Assim, hoje já nem é necessário pensar.

Vivemos, em certa medida, e como afirma Innerarity (2010), num mundo em segunda mão, já
interpretado, pois são os meios de comunicação que fornecem a matéria da nossa realidade, pelo
que o verdadeiro interessa pouco; o que verdadeiramente interessa é o big brother, o novo, o
conflitual, as quantidades, o local, o escandaloso ou o atual. Agora, as aparências também contam e
tornam-se até a substância da nossa realidade, pois vivemos numa sociedade de sensações, que tudo
espectaculariza, dramatiza e converte em experiência emocional. Ainda segundo o mesmo autor, os
meios de comunicação provocam um permanente alerta emocional. O espaço emocional é agora o
espaço por excelência, substituindo o espaço da confrontação ideológica, da argumentação racional e
enfraquecendo, consequentemente, a democracia de pessoas racionais e razoáveis.

Estamos, em suma, imersos em múltiplas contradições: há liberdade, mas persistem as servidões (tais
como a colonização da vida ou a proletarização do espírito); há justiça, mas sem justiça social (ser
justo é sobretudo ser eficiente ou ser mais vendável); há igualdade, mas sem igualização social; há
direitos mas sem direitos sociais e económicos.

Podemos concluir, então, que este tempo é um tempo de hipocrisia em que resgatar teoricamente a
justiça e os direitos humanos, reposicionando-os face ao Estado, ao mercado e à comunidade, se torna
um imperativo urgente e inadiável.

2 DIREITOS HUMANOS E CONCEPÇÕES DE ESTADO

Os direitos têm sido pensados quase sempre em articulação com os Estados, como se fossem direitos
DIREITOS HUMANOS, MERCADO E ESTADO: A PLURIDIMENSIONALIDADE DA JUSTIÇA E DOS DIREITOS

estatais ou deles decorressem naturalmente. Todavia, a relação do Estado com os direitos humanos é
mais complexa, feita de protecções, de apoios, mas também de traições, de infidelidades, de exclusões.
11

Na verdade, se é um facto que a ideia de direitos humanos recebeu a sua expressão madura e ficou
profundamente devedora da teoria do contrato social liberal, reflectindo a história dos direitos
humanos a evolução do Estado moderno, tal não impede de afirmar que o Estado se tornou por vezes
um predador dos direitos. Aliás, alguns teóricos consideram mesmo que os direitos são primariamente
protecções contra o Estado, como resposta à centralização política do poder e à crescente penetração do
mercado que perturbaram a vida social no século XVII.

Contudo, no período liberal, a concepção dominante do poder regulador do Estado era


fundamentalmente negativa, limitada à defesa e protecção, assumindo na sua forma os contornos de
laissez-faire e os constrangimentos do contrato social baseado numa teoria minimalista de direitos,
em que predominava a liberdade individual e os direitos à vida, à liberdade e à propriedade.

A questão do bem-estar era uma questão eminentemente particular ou a cargo de associações


voluntárias e de assistência local e os direitos decorriam da própria natureza humana, sobressaindo as
capacidades individuais e os direitos naturais. Estes eram sobretudo triunfos dos indivíduos sobre o
Estado, devendo este proteger a autonomia individual, entendida como a livre determinação de cada
um para adoptar qualquer concepção de bem e de vida boa, sem coerção externa.

Por outro lado, e na mesma época, por influência da teoria positivista, só os Estados, segundo Cumper
(2003, p.23), eram verdadeiramente, pelo seu estatuto legal, os “sujeitos” da lei internacional; ou seja,
apenas os Estados tinham direitos na arena internacional, detendo os cidadãos o estatuto de “objectos”
dessa mesma lei, sendo-lhes negado, por isso, “qualquer reconhecimento legal internacional dos seus
direitos”. O estatuto de cidadania estava assim totalmente regulado pelo Estado, detendo, portanto,
um cunho claramente nacionalista.

Com o Estado social e os seus modos de regulação mais intervencionistas, o princípio da igualdade
ganhou nova centralidade contribuindo para minimizar diferenças entre classes. Para tal, as relações
entre o Estado e os indivíduos ou grupos deviam fundar-se no contrato social baseado numa teoria
mais alargada dos direitos e no intervencionismo estatal para fornecer serviços sociais. Por outro
lado, o Estado social partia de pressupostos universalistas, aplicando aos indivíduos princípios como
os de igualdade, direitos e justiça, tratando as suas necessidades como comensuráveis e fornecendo
bens sociais caracterizados pela sua universalidade e mesmidade.

Na actual conjuntura do Estado neoliberal, os direitos humanos confrontam-se com sérios desafios
que resultam de novas concepções do papel do Estado e do mercado, com implicações a vários níveis,
desde logo no modo como os sujeitos são valorizados, como a cidadania se constrói, como o trabalho
se redefine, como os efeitos da mudança social são assumidos. Por sua vez, os direitos tendem a ser
obedientes aos desígnios de mercado, prevalecendo agora os desejos e a vontade individuais; ou seja, os
direitos individuais passam a ter prioridade absoluta como questão da justiça.

Poderia então sintetizar esta relação entre justiça, direitos humanos e Estado, do seguinte modo (Quadro
I):
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

12 Quadro1: Concepções de Estado, direitos humanos e justiça

E s tado Direitos humanos /J us tiça


Respeito e protecção da liberdade individual e do direito
de propriedade e dos interesses individuais («-» direitos
Liberal políticos e civis ou direitos negativos).
Dever do Estado = proteger direitos individuais. Trata-se
de defender os direitos dos cidadãos contra o Estado
Justiça mercantil ou justiça como produto do próprio
mercado, para que este funcione eficientemente.
Neoliberal Dever do Estado = minimizar-se nos direitos
Direitos ao serviço da prioridade das necessidades da
economia
Justiça social ou justa redistribuição dos bens sociais,
Justiça como equidade e igualdade (direitos sociais,
Social culturais e económicos como resposta aos abusos do
desenvolvimento capitalista).
Dever do Estado = tornar-se providência
Direitos ao serviço da comunidade e do indivíduo

Fonte: Elaboração do autor, 2013.

Para além do exposto, poderia sintetizar as diversas orientações e tendências em duas abordagens que
claramente influenciam as concepções e práticas de experienciação dos direitos humanos: a mercantil e
a igualitária.

Segundo a perspectiva mercantilista, a justiça e os direitos que interessam são sobretudo os de pendor
individualista e de conservação da ordem social vigente. Na verdade, para esta corrente, o mercado é
fundamentalmente amoral, devendo o Estado minimizar-se como defensor dos direitos e fortalecer-se na
defesa das leis do mercado.

De uma forma crua, o mercado deve apresentar-se como uma instituição social que visa a eficiência
económica, não fazendo parte dos seus intentos e preocupações a equidade social ou o gozo dos direitos
humanos por todos. O processo distributivo do mercado deve reflectir antes, segundo Donnelly (2003,
p.201), “o valor acrescentado económico, que varia sistematicamente através dos grupos sociais (bem
como entre os indivíduos)”. Saber se a sua eficiência penaliza a maioria da sociedade pouco interessa;
o que verdadeiramente conta é que a eficiência potencia a melhoria de alguns ainda que à custa da
privação dos outros. Aqui, os direitos humanos são entendidos sobretudo como direitos do proprietário,
direitos que são pensados a partir do mercado e, neste aspecto, são direitos que se estendem não apenas
às pessoas individuais mas também às pessoas jurídicas colectivas, sobretudo privadas.

Neste enquadramento, o Estado deve remeter-se a mero regulador e avaliador, qual Estado oco,
devendo transformar-se num Estado fraco tendo em conta a capacidade de respeitar os direitos embora
permanecendo forte na regulação e apoio ao mercado. O Estado deve sobretudo reforçar a substância
ideológica do individualismo ao mesmo tempo que deve apoiar a visão “libertária” dos direitos (PÖGGE,
2005) integrados num contexto de liberdade de mercado. Esta visão (libertária) dos direitos reforça a
visão minimalista dos direitos, tendo presente a existência de um nível central mínimo a partir do qual
cada um pode escolher o seu pacote de “direitos cidadãos”. O cidadão é agora um consumidor de bens e
os seus direitos confundem-se com os direitos de consumidor (e não de cidadão).

Não obstante estas justificações, a crítica mais funda a esta abordagem vem daqueles que consideram
que o capitalismo é intrinsecamente subversivo do respeito pelos direitos humanos. Como um conjunto
de relações estruturais e uma fonte de motivações, o capitalismo requer que os indivíduos sejam
DIREITOS HUMANOS, MERCADO E ESTADO: A PLURIDIMENSIONALIDADE DA JUSTIÇA E DOS DIREITOS

tratados diferentemente, dependendo como eles estão posicionados na relação do capital e do trabalho.
Consequentemente, falar, neste contexto, em bem-estar só terá sentido se falarmos do bem-estar do
13
capital mais do que das pessoas (FALK, 1999, p.191).

Uma outra atitude em oposição à mercantil, embora acusada de menos realista no contexto actual, pode
ser caracterizada como “igualitária”, que apresenta uma forte correlação com as funções do Estado
social. Esta perspectiva defende claramente que são os direitos humanos que civilizam a democracia
e é o Estado de bem-estar social que civiliza os mercados. Se os direitos civis e políticos mantêm a
democracia dentro dos limites convenientes, são os direitos económicos e sociais que estabelecem os
limites adequados dos mercados.

Nesta abordagem, o Estado assume claramente uma atitude interventora do ponto de vista da defesa
e promoção dos direitos humanos e da justiça. Foca-se o compromisso positivo para a concessão de
direitos civis de igual valor a cada um e para a manutenção de níveis mínimos decorosos para todos,
dentro de um contexto geral de crescimento e de desenvolvimento. Agora, a visão dominante é a de
que todas as vidas são igualmente valiosas, embora, em certos casos, o Estado social acabe por assumir
um pendor claramente corporativista ou conservador, protegendo bem os que estão integrados e mal os
restantes, ou seja, os outsiders.

A abordagem igualitária tenta desconstruir os mecanismos sedutores da racionalidade mercantil,


negando que a economia de mercado tout court exista, independentemente, portanto, de uma variedade
de economias, em contextos e condições institucionais diferentes onde o Estado tem uma acção não
desprezível. A actual concepção de mercado já não é a de mero mecanismo de alocação de recursos, mas
é também uma instituição social inscrita num marco legal e moral, que deve ter presente a superioridade
dos níveis de consciência social alcançado pela humanidade ou por certas sociedades acerca do que é
justo.

Esta perspectiva igualitária articula-se intimamente não apenas com a igualdade formal de direitos
(igualdade fundamental dos cidadãos), mas requer também o combate às desigualdades sociais
produzidas pela economia e a liberdade de cada um; requer, além disso, nas palavras de Sen (2003,
p. 20), “a eliminação das principais fontes de restrições: da pobreza como da tirania, da míngua de
oportunidades económicas como da sistemática privação social, da incúria dos serviços públicos
como da intolerância e prepotência dos estados repressivos”; por outras palavras, exige o direito ao
desenvolvimento, que engloba quer o empowerment de homens e mulheres, ou seja, o aumento das
suas capacidades e escolhas, quer a cooperação, a equidade, quer, finalmente, a sustentabilidade e a
segurança.

A questão do desenvolvimento dentro da perspectiva mais igualitária não pode, por conseguinte, ser
interpretada como mero crescimento económico, mas deve referir-se antes “à promoção da vida que
construímos e às liberdades de que usufruímos” (SEN, 2003: 30; ver ainda SEN, 2009); ou então
compreender-se como um processo de expansão das liberdades reais das pessoas, independentemente
do seu contributo para outras realizações do desenvolvimento, como sejam, o crescimento do produto
interno bruto ou a promoção da industrialização. Ora, ainda segundo este autor, “a emergência e a
consolidação dos direitos civis e políticos são constitutivos do processo de desenvolvimento” (SEN,
2003: 294; itálico do autor) e o papel do crescimento económico é apenas um elemento que deve ser
incluído na compreensão mais fundamental do processo de desenvolvimento como alargamento da
potencialidade humana de viver uma vida mais digna de ser vivida e mais livre.

3 TEORIAS DA JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS

O discurso da justiça foi na modernidade, e ainda é hoje, objecto de interpretações várias e


conflituantes, que vão, por exemplo, desde o sentido da tolerância ao de lei natural ou dos direitos
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

naturais (Locke), ao de utilidade (Bentham, Hume e Stuart-Mill), ao de respeito pela pessoa (Kant) e,
14 mais recentemente, ao de equidade, imparcialidade e de liberdade igual (Rawls) e ao de igual respeito
e consideração (Dworkin), entre outras.

Este ponto leva-me a inferir que a justiça declinada no singular parece ter cada vez menos sentido
devendo falar-se, antes, em justiças, em modos plurais de justificação racional, em várias e
desencontradas racionalidades, enfim, em “teorias rivais de justiça” (MACINTYRE, 1993).

Contudo, esta posição não deixa de suscitar também grande controvérsia.

Acompanhando (ou suscitando) esta polémica, o panorama teórico apresenta um leque variado de
teorias da justiça que intersectam concepções também diferentes de direitos humanos. Na verdade, o
acento que a justiça vai adquirindo ao longo dos tempos conduz a perspectivas de direitos humanos
nem sempre conciliáveis entre si2.

Como já salientei em vários trabalhos anteriores, poderemos “arrumar” as teorias da justiça em três
categorias: as de pendor universalista, as de cariz pluralista ou contextualizado e as de tendência
radical, cada uma delas tendendo a enfatizar um determinado feixe de orientações relativo aos direitos
humanos.

4 UNIVERSALIDADE DA JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS

Dada a relevância da discussão actual da universalidade face à relatividade e radicalidade da


justiça, vou abordar agora, ainda que brevemente, esta problemática. Começaria por salientar que a
discussão em torno da justiça e dos direitos humanos, nomeadamente em termos da sua amplitude e
fundamentação, tem trilhado um caminho algo tortuoso, havendo autores que os colocam praticamente
no mundo das Ideias platónicas e dizendo respeito apenas aos indivíduos, aos seus direitos civis e
políticos, enquanto outros os relativizam e contextualizam face às comunidades concretas.

Em primeiro lugar, há que sublinhar que o conceito de justiça surge normalmente vinculada à
grandeza que lhe advém do seu carácter universal e abstracto, pairando por cima das suas variações
interpretativas. Deste modo, quando se procura uma definição de justiça, as nossas preocupações
tendem a investir num critério para o justo e injusto que seja aceite por todos. E é assim, como nos diz
Höffe (2001, p.27), que o liberalismo económico tenta visibilizar a justiça de acordo com o seguinte
princípio: “a cada um segundo a sua produção”; enquanto o Estado de Direito prefere: “a cada um
conforme os seus direitos legais”; e a aristocracia prioriza: “a cada um conforme seus méritos”; ao
passo que o socialismo exige: “a cada um segundo as suas necessidades”.

Também o contratualismo liberal dá um grande relevo à justiça universalista, procurando encontrar


os seus princípios mínimos, os quais deveriam, segundo Rawls (1993), resultar de um acordo entre
pessoas livres e razoáveis colocadas numa fictícia posição original, sob um “véu de ignorância”
quanto a eventuais diferenças de poder e benefícios ou vantagens que pudessem retirar devido à sua
condição ou posição social.

Seria na base desse acordo que emergiriam os dois princípios mínimos de justiça - garantir as
liberdades e minimizar as desigualdades - e a partir do qual se edificaria um original contrato social
tendo em vista o acesso de todos os cidadãos aos bens primários (como as liberdades básicas ou
o respeito próprio, por exemplo), ao mesmo tempo que ficaria definido a priori o que seria justo

2
No seu último livro publicado entre nós, Sandel (2011) considera que verdadeiramente há apenas três teorias
da justiça que merecem ser consideradas: o utilitarismo (que assenta na equação custo-benefício), o liberalismo
(que concilia a liberdade com preocupações da igualdade) e o aristotelismo (com uma orientação clara para a
virtude).
DIREITOS HUMANOS, MERCADO E ESTADO: A PLURIDIMENSIONALIDADE DA JUSTIÇA E DOS DIREITOS

ou injusto assim como se sinalizariam de antemão as regras mínimas da convivência e os


termos equitativos de cooperação capazes de promover benefícios recíprocos. Seria assim
15
que, de acordo com o mesmo autor, a pretensão de justiça, entendida como uma questão de
equidade (fairness) na distribuição segundo o critério normal da igualdade, se constituiria na
condição de legitimidade das instituições pertencentes à estrutura básica de uma dada sociedade.

Independentemente de outras críticas que possam ser feitas, é de assinalar que esta concepção
pressupõe já determinadas “ideias materiais de justiça” (naturalmente as do autor e as da sociedade
americana do século XX), como comenta Kaufman (1999). No entanto, o seu pensamento inscreve-
se numa característica comum do pensamento contemporâneo e que tem que ver com o repensar
os direitos fundamentais como matéria da justiça. Preocupa-se com uma sociedade bem ordenada
promotora de bem para os seus membros, não segundo uma visão individualista, mas segundo uma
concepção pública de justiça, que de modo algum coincide com a proposta neoliberal de a encarar
(desde logo, porque Rawls defende que o poder público deve intervir socialmente para eliminar as
iniquidades sociais).

Nesta proposta, os direitos nas comunidades políticas concretas, racionais e razoáveis, estariam
devidamente salvaguardados, destacando-se o princípio da diferença que exigiria, numa distribuição
justa (e resguardando a prioridade do princípio da liberdade igual e do princípio da igualdades de
oportunidades), dar mais aos menos afortunados. Esta compensação atenuaria então a precariedade
social e económica dos mais desfavorecidos, dando um maior equilíbrio à sociedade politicamente
organizada segundo os princípios mínimos de justiça.

Gostaria de sublinhar, a propósito do pensamento de Rawls (1998: 74), que este autor, intervindo nas
conferências Oxford Amnesty, defendia que os direitos humanos tinham como uma das suas funções
“fixar os limites da soberania interna do Estado”. Distinguia depois os direitos especiais que devem
ter alcance universal de outros direitos (como os constitucionais) com alcance mais limitado. Para
ele, os direitos humanos são parte de “um razoável direito dos povos e fixam limites às instituições
domésticas exigidas por esse direito a todos os povos”.

Considerou ainda que os direitos humanos são uma condição necessária da legitimidade do regime e
da decência da sua ordem jurídica, para além de fixarem um limite ao pluralismo entre os povos. O
autor terminou a sua intervenção considerando que o respeito dos direitos humanos são uma condição
imposta a todo o regime para ser admitido como membro de boa fé numa justa sociedade política dos
povos (RAWLS, 1998, p.81). Ou seja, são os direitos humanos que acabam por civilizar a própria
democracia e o Estado.

A preocupação universalista da justiça, procedente de uma concepção procedimental e contratualista,


emerge igualmente em Habermas - autor conhecido na área da filosofia do direito - embora identificada
como legitimidade dialógica-comunicativa, ou seja, dentro, não de um modelo contratualista, mas
sim de um modelo discursivo. De facto, este autor coloca a justiça a partir dos pressupostos que
fundamentam a ética comunicativa, concebendo esta última como tratando sobretudo de “questões da
justiça, isto é, questões que têm a ver com a resolução discursiva da pretensão de validade de normas
problematizadas, com os conflitos de acção em suma” (GARCÍA-MARZÁ, 1992, p.191).

O que Habermas (1987) na verdade procura fazer é enquadrar o pluralismo das normas pelas exigências
universais da comunicação e da discussão (isto é, pela função argumentativa da linguagem), afirmando
que o princípio de universalidade assenta na prova pragmático-transcendental dos pressupostos gerais
e necessários da argumentação implícitos em toda a acção comunicativa (que pressupõe que, sempre
que falamos, aceitamos em relação ao que é dito a pretensão de que é verdadeiro, correcto ou sincero).
Para este autor, só por um programa de fundamentação pragmático-discursiva é que será possível
chegar ao princípio moral que determina que serão justas apenas as normas, ou as acções, ou as
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

instituições que forem aceites por todos os afectados num discurso prático, sob condições perfeitas de
16 simetria e igualdade quanto às oportunidades de participação (HABERMAS, 1997; 2001).

É de sublinhar, ainda, que a teoria discursiva apenas indica as regras formais de como argumentar
racionalmente, isto é, as condições de uma situação ideal de comunicação, pelo que Habermas “só
pode sustentar a afirmação de que se alcançou o consenso de maneira correcta desde o ponto de vista
formal, mas não pode reivindicar o ter alcançado a verdade ou a correcção de algo material, por
exemplo, de normas” (KAUFMAN, 1992, p. 139).

Em suma, Habermas aponta para uma nova ética, a da acção e da linguagem comunicativa, que defende
a universalidade da razão, os valores que transcendem os conteúdos concretos histórico-culturais ou
a multiplicidade de vozes. Ele acredita, por outro lado, que as normas morais universalizáveis são
geradas através de um processo dialógico em que os participantes claramente deixam para trás as
suas experiências, perspectivas e sentimentos particulares, visando a formulação de princípios gerais
com os quais todos concordam (tal como já defendia Rawls). Entretanto, outros autores têm vindo
ultimamente a falar também, face à globalização tecnológica, económica e cultural, da necessidade
de se construir uma teoria global de justiça (por exemplo, HELD, 1997).

Esta teoria seria, na opinião de muitos deles, tanto mais necessária quanto assistimos hoje em dia ao
aparecimento de organizações globais pouco ou nada controladas, que exercem o seu poder opressor
ao nível do planeta. Para a construção dessa teoria global (que não pode confundir-se com a teoria
ocidental) de justiça, haverá que contar então com instituições políticas de âmbito mundial mas
também com associações da sociedade civil que se vão articulando local e mundialmente.

5 JUSTIÇA COMPLEXA E DIREITOS HUMANOS

Contrariamente a estas posições, outros teóricos pensam a justiça (e os direitos) de um modo mais
relativizado, ou seja, mais vinculada a uma comunidade política concreta, ou a cada esfera social
ou, num sentido marxista, à noção de classe (neste caso teríamos apropriadamente uma justiça de
classe). Assim, Walzer (1993, p.19) considera que uma determinada sociedade é justa se a sua vida
essencial é vivida de uma forma fiel às compreensões partilhadas dos seus membros, e que, portanto,
qualquer explicação da justiça deve ser uma explicação local. Propõe-nos, nesta sequência, uma teoria
pluralista da justiça social cuja meta é realizar a “igualdade complexa” entendida como aquela que
respeita a liberdade e que exige a distribuição dos diferentes bens sociais segundo uma diversidade
de procedimentos e de critérios (a necessidade, o mérito e o mercado), ou seja, de acordo com o
significado do bem social em causa. Nas suas palavras: “os princípios da justiça são em si mesmos
plurais na sua forma”. Não há, por isso, sentidos pré-fixados ou ideais, prévios às comunidades e
independentes das vicissitudes históricas.

Torna-se claro, por conseguinte, que para Walzer o carácter universal e único da justiça distributiva,
típico de um Estado eminentemente iluminista, não tem razão de ser, uma vez que os homens são,
em primeiro lugar, activos na criação de sentidos sociais, distribuindo os bens de acordo com esses
sentidos e, depois, porque os critérios de distribuição (e o seu carácter apropriado) são internos a cada
esfera distributiva. Assim sendo, compreende-se também a sua insistência na defesa do princípio da
separação das diferentes esferas sociais (que o próprio Estado deve respeitar), uma vez que, a não
verificar-se tal separação, a posição dominante detida por alguém numa esfera social pode contaminar
a sua posição noutras esferas, o que poderia levar à tirania social de um grupo que utilizaria o seu
monopólio de um bem para controlar o acesso a outros bens ou para transformar o seu sentido social.

Não obstante o coro de aplausos a esta abordagem, ela mereceu muitas e variadas críticas,
nomeadamente as que salientavam que a construção dos sentidos ultrapassa as fronteiras de uma
comunidade política particular a que se pertence e que certas versões locais da justiça podem ser
DIREITOS HUMANOS, MERCADO E ESTADO: A PLURIDIMENSIONALIDADE DA JUSTIÇA E DOS DIREITOS

incompatíveis com os próprios direitos das pessoas (ver ESTÊVÃO, 2001; 2004).
Respondendo a estas críticas, o próprio Walzer considerou, mais tarde, que embora não haja leis 17
universais de justiça há certas exigências de justiça que se encontram em todas as culturas e que, neste
sentido, poderia falar-se na existência de um “código moral mínimo e universal”.

Dentro deste mesmo espírito walzeriano encontramos Miller (1999), quando esboça uma teoria
pluralista da justiça, partindo, não dos bens sociais e seus sentidos mas dos “modos de relações
humanas”, complexas e multifacetadas, que o autor resume a três: a comunidade solidária, a
associação instrumental e a cidadania. O princípio substantivo de justiça nas comunidades solidárias
(tradicionais, estáveis e com um ethos comum) é o da distribuição de acordo com as necessidades.

Quanto ao segundo modo de relação, assente na relação utilitária de uns com os outros (em que o
paradigma é a relação económica), o princípio de justiça é o da distribuição de acordo com o mérito
ou merecimento. Finalmente, o terceiro modo de associação relevante da sua teoria da justiça é o de
cidadania que parte da ideia de que, nas democracias liberais modernas, os membros se constituem
em detentores de direitos e de deveres que os definem como cidadãos. Aqui o princípio de justiça é
o da igualdade. Estamos, pois, perante três modos ideais de associação que podem estar presentes na
distribuição dos diversos bens sociais, como acontece, por exemplo, na educação.

Na literatura francesa encontram-se também posicionamentos com grandes semelhanças às que


acabei de descrever. Assim, Boltanski & Thévenot (1991) falam-nos do mesmo pluralismo a partir
das estratégias de justificação concretizadas pelos actores sociais nas situações de litígio. Para eles,
a vida social consiste fundamentalmente em organizar compromissos entre os vários “mundos” ou
“grandezas” que aí se constituem e que corporizam formas de bem comum. E, nesta sequência,
distinguem os mundos da inspiração, mercantil, cívico, industrial, doméstico e da opinião, cada qual
com os seus modos de generalização e justificação, com os seus modos de conhecimento do mundo
social, com os seus modos de encarar as relações entre as pessoas, mas também os benefícios, as
satisfações e os sacrifícios.

Esta pluralidade de mundos força a que a própria noção de justiça se contextualize e amplie, sendo
reportada a vários princípios que devem recobrir uma variedade de imperativos (técnicos, económicos,
sociais, etc.), sem que tal pluralismo ou diversidade equivalha, no entanto, à defesa de qualquer
relativismo.

Pela sua relevância e actualidade, Boltanski e Chiapello (1999) falam ainda de uma justiça mais
adequada ao “novo espírito do capitalismo”, que enfatiza a “cidade por projectos” e que se concretiza
no “mundo em rede” ou no “mundo conexionista”, favorecedor da circulação das pessoas entre
projectos diferentes num espaço heterogéneo e aberto, ou seja, num mundo desterritorializado.

Estaríamos assim perante a emergência de um novo sentido ordinário de justiça, em que aquele que
é justamente grande é aquele que está integrado em projectos, é o adaptável, o móvel, o flexível, o
polivalente, o empregável, o aberto às diferenças (não ligado, portanto, à defesa dos valores universais),
o que sabe escutar e colaborar; por sua vez, o excluído será aquele que não está inserido em nenhuma
rede, que não sabe comunicar, que não tem uma carteira de competências bem recheada.

Um outro aspecto a salientar desta proposta teórica é que cada um dos mundos referidos está numa
relação crítica face aos restantes e, tal como Walzer, também Boltanski e Thévenot denunciam a
transferência dos pressupostos argumentativos de um mundo para outro como injusta, porque, entre
outras razões, ela pode levar à valoração de objectos estranhos ao mundo em causa ou a alterar a
ordem do que é grande ou do que é pequeno.

Finalmente, uma outra perspectiva similar em vários aspectos às duas referidas anteriormente mas
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

com um interesse particular nestas “questões do direito” e da justiça, é formulada por Santos (2000),
18 quando nos propõe a distinção de espaços estruturais de relações sociais, incluindo aí o espaço
doméstico, o da produção, o do mercado, o da comunidade, o da cidadania e o mundial.

Creio que estes espaços, na medida em que se estruturam em bases diferentes, podem reportar-se
a conceitos de justiça não coincidentes, levando ainda a privilegiar concepções de emancipação
específicas. Com efeito, e não obstante a estruturação dominante de cada espaço implicar relações
de subordinação, é também possível proceder a “tópicas” ou a orientações mais consentâneas com
o sentido libertador substituindo, por exemplo no espaço doméstico, uma relação patriarcal por uma
relação da libertação da mulher; substituindo, no espaço do mercado, o consumismo fetichista por
uma acentuação de necessidades fundamentais e satisfações genuínas; substituindo, no espaço da
comunidade, uma tópica chauvinista por uma tópica cosmopolita; substituindo, no espaço mundial,
uma tópica do Norte por uma tópica do Sul (SANTOS, 2000, p.103-104).

É assim possível, a partir deste autor, defender a existência de diferentes justiças e apontar ainda para
um sentido mais amplo de justiça emancipatória. Consequentemente, e a propósito da vida sócio-
jurídica, é possível sustentar que esta, na prática, envolve sempre “interlegalidade”, em que o poder
de regulamentação/ desregulamentação ao nível do direito estatal é passível de ser neutralizado ou
compensado por aumento de regulamentação/desregulamentação ao nível de outras escalas de direito
(do direito local de produção ou do direito global das transacções internacionais, por exemplo).

E se vivemos num mundo cada vez mais globalizado, num tempo de “porosidade ética e jurídica”,
também o direito, segundo o autor, deverá ser pensado como “poroso” e “constituído por múltiplas
redes de ordens jurídicas”. O carácter jurídico das relações sociais “não decorre de uma única forma
de direito, por exemplo do direito estatal, mas de constelações de juridicidades, de formas de direito
diferentes, combinando-se de modo diferentes de acordo com o campo social específico a que
fornecem a ordenação normativa” (SANTOS, 2000, p. 270).

Isto equivale a dizer que, num determinado momento e num determinado espaço, coexistem vários
direitos (doméstico, da produção, de troca, da comunidade, estatal e o sistémico) ou, acrescento,
várias justiças: doméstica, justiça empresarial ou produtivista, justiça de troca ou mercantil, justiça
comunitarista, justiça estatal ou oficial e justiça sistémica ou mundial, embora deva reconhecer-se
que o direito ou a justiça veiculada pelo direito estatal seja a dominante, funcionando como um
referencial das restantes. Por outro lado, e esta é a outra face da moeda, reconhecer esta pluralidade
de espaços estruturais de relações sociais e as suas constelações de direitos pode ter como resultado
a vulnerabilização de certos grupos sociais, o que leva a ter que considerar-se a necessidade de
resistência a formas legitimadas de poder e às ordens jurídicas envolvidas. Este último ponto remete-
nos então para a discussão em torno da diferencialidade ou, por outras palavras, para o carácter
contextualizado dos direitos.

Por exemplo, Mackinnon (1998: 109) considera que os direitos humanos concebidos pelos
contratualistas liberais e outros resultam tão abstractos que pessoas com crenças diametralmente
opostas podem coincidir com eles sem fazer justiça a ninguém em particular.

No mesmo sentido os multiculturalistas defendem a marcação contextualizada dos direitos humanos,


até porque se tem verificado que, em nome do pretenso carácter universalista da justiça e dos direitos
humanos, se têm forjado justificações para o imperialismo, o colonialismo, o patriarcalismo, o
androcentrismo, o capitalismo. Por outras palavras, as concepções e discursos sobre justiça social
têm escondido relações de poder que estão sob a capa não só de classe, mas também de outras vozes
ou pertenças como do género, raça, etnicidade, religião, comunidade, sexualidade, idade, cultura,
localidade, afiliação grupal, etc. Então, defender a universalidade dos direitos não passa de um
exercício ocioso que pode, em certas circunstâncias, tornar-se até perigoso.
DIREITOS HUMANOS, MERCADO E ESTADO: A PLURIDIMENSIONALIDADE DA JUSTIÇA E DOS DIREITOS

6 ABORDAGENS RADICAIS DE JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS


19
Contrariando, de certo modo, as soluções anteriores, outros autores consideram necessário que a
justiça social seja entendida no sentido de contribuir para desmantelar, as estruturas de opressão e de
dominação tendo presente, porém, que estas duas faces não dizem respeito apenas ao modo como os
recursos são distribuídos.

Criticam o paradigma redistributivo de justiça porque este, para além de a reduzir a uma distribuição
igual de direitos como se estes fossem simples bens materiais que se possuem e se distribuem, impõe
uma norma igualitária que obriga a diferença a tornar-se uniformidade. Ou seja, segundo Young
(1990), o paradigma distributivo de justiça tende a impor uma falsa identidade sob uma norma
igualitária, o que faz com que as identidades individuais não compatíveis ou inconsistentes com esta
norma sejam silenciadas.

A noção universalista de justiça dos contratualistas liberais acaba frequentemente por esquecer a (in)
justiça cultural e questões tão concretas como a “soberania” da mulher ou os direitos dos homossexuais
e das pessoas de cor, por exemplo. Mas qual o sentido e alcance da opressão e da dominação e que
implicações terão ao nível dos direitos?

Para a autora, a dominação deve ser interpretada como fenómeno estrutural ou sistémico que exclui
as pessoas de participarem na determinação das suas acções ou na formulação das condições dessas
mesmas acções, enquanto a opressão tem a ver com constrangimentos institucionais ao desenvolvimento
e à aprendizagem, quer ao nível dos processos de tomada de decisão, quer da divisão do trabalho, quer
da cultura. Em outras palavras, defende uma conceptualização multidimensional de justiça, entendida
esta como “eliminação da dominação e da opressão institucionalizadas” (YOUNG, 1990: 15). Isto
significa que o importante é o contexto institucional, que inclui estruturas e práticas, regras e normas,
linguagem e símbolos, que medeiam as interacções sociais em instituições do Estado, na família, na
sociedade civil, bem como no local de trabalho.

Consequentemente, avaliar a justiça social de acordo com o ter ou não oportunidades deve envolver
a análise, não de um resultado distributivo, mas de uma estrutura social, na medida em que esta
capacita ou constrange os indivíduos em situações determinadas.

Young expõe, depois, uma série de conceitos e condições relevantes para uma concepção
contemporânea de justiça social, que desenvolve nas “cinco faces da opressão”, quais sejam: a
exploração, a marginalização, a privação de poder, o imperialismo cultural e a violência. Estas faces
não são, todavia, redutíveis a uma única fonte comum, tal como não são resolúveis também pela
distribuição de recursos de modo igualitário.

Torna-se claro que esta posição multidimensional da justiça de Young, posicionada claramente num
contexto teórico diferente da perspectiva contratualista de Rawls, nos dá uma visão mais realista e
multifacetada da situação das injustiças e da sonegação ou debilitação de direitos que atingem os
indivíduos e os grupos, desocultando a componente institucionalizada das formas oficiais de opressão
e de dominação imersas nas diversas instâncias da estrutura social.

Convém ressalvar, contudo, que embora Young critique o paradigma da justiça distributiva, o seu
enquadramento incorpora aspectos das noções liberais de justiça distributiva, designadamente através
da identificação da marginalização, da ausência de poder e da violência como formas de opressão, e
que constituem barreiras à igualdade de oportunidades defendidas pelos liberais.

Reportando-se criticamente ao pensamento de Young, mas seguindo um outro caminho, Fraser (1997)
realça a centralidade da justiça económica ou redistributiva que engloba também várias dimensões.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

Reivindica, ainda, que este tipo de justiça não pode ser menosprezado – como alguns autores
20 contemporâneos tendem a fazer – a favor da justiça cultural ou do direito ao reconhecimento (ver
HONNETH, 20113).

Fraser quer interpelar a justiça social, procurando captar a sua complexidade e recuperando, face aos
desenvolvimentos mais recentes que tendem a culturalizá-la, a sua faceta tradicional redistributiva.
Com efeito, o perigo da actual visão “pós-socialista” da justiça prende-se, segundo ela, com a invasão
da lógica que acentua sobretudo a justiça como reconhecimento (termo que Young não utiliza), como
se as lutas pela justiça redistributiva ou pela igualdade social deixassem já de ter relevância, não tendo
consciência, ainda, de que as políticas de redistribuição se incompatibilizam frequentemente com as
políticas de reconhecimento.

Mas, o mero respeito pelas diferenças pode contribuir para a rigidez das diferentes identidades, não
possibilitando a autocrítica ou a redefinição dos padrões de auto-identificação de indivíduos e grupos.
Fraser considera, a este propósito, ser urgente introduzir um critério normativo para classificar as
diferenças (facto que as correntes desconstrutivistas não consideram pela acentuação que fazem da
diferenciação do desigual): as causadas pelos factores económicos, que deverão desaparecer; as que
não dependem desses factores e que foram marginalizadas pelos padrões dos grupos dominantes, que
devem ser universalizadas; e as diferenças restantes, que devem ser respeitadas na sua diversidade.

A sua proposta vai no sentido da imbricação mútua do cultural e do económico, isto é, na integração
das duas justiças: a cultural e a (re)distributiva, a primeira tendo que ver com a ausência de dominação
cultural, de desrespeito e de não-reconhecimento (invisibilidade cultural), enquanto a segunda visa a
ausência de exploração, de marginalização económica e de privação (de um padrão de vida material
adequado), ou seja, tem que ver mais com o combate às desigualdades materiais, com a redistribuição
da riqueza, com a reorganização da divisão do trabalho, com a democratização das decisões de
investimento, com a transformação das estruturas económicas básicas.

Tendo em vista uma melhor compreensão desta imbricação, ela refere que as correntes que defendem
a dimensão do reconhecimento não podem esquecer as dimensões da injustiça económica específicas
do género, raça e sexo. Por sua vez, as políticas de redistribuição não podem omitir as dimensões do
reconhecimento das lutas de classes, que nunca se dedicaram em exclusivo à redistribuição da riqueza,
nem é possível deixar de considerar que a sociedade esconde injustiças cujas raízes profundas podem
não estar na economia mas “em padrões institucionalizados de valor” (FRASER, 2005b, p.159).

Esclarece, por exemplo, que o género é “uma diferenciação social bidimensional ou uma categoria
híbrida enraizada ao mesmo tempo na estrutura económica e na ordem de status da sociedade”;
portanto, “compreender e reparar a injustiça de género requer atender tanto à distribuição como ao
reconhecimento” (2005a: 28). Aliás, é claro que na divisão social ninguém pertence apenas a uma
categoria, mas a várias (classe, género, raça, sexualidade), que não estão radicalmente separadas entre
si, mas são eixos de subordinação que influem nos interesses e identidades de todos e que alguém pode
até ser dominante num eixo e ser subordinado noutro. Outro exemplo: as questões económicas, como
a distribuição de salário, têm subtextos de reconhecimento: os padrões de valor institucionalizado
nos mercados de trabalho podem privilegiar actividades codificadas como masculinas e brancas, por
exemplo. Do mesmo modo, a questão dos juízos estéticos, situada na área do reconhecimento, tem
subtextos de redistribuição: a diminuição de acesso aos recursos económicos pode, por exemplo,
impedir a capacidade igual de fazer ou de apreciar arte.

3
Este autor debate a questão da justiça e da eticidade com base na teoria do reconhecimento. Este conceito é
especialmente apropriado porque torna sistematicamente diferenciáveis entre si as formas de interacção social
no que toca ao respeito por outra pessoa. Sobre a estrutura das relações sociais de reconhecimento, ver a sus
síntese na p. 177.
DIREITOS HUMANOS, MERCADO E ESTADO: A PLURIDIMENSIONALIDADE DA JUSTIÇA E DOS DIREITOS

Em síntese, haverá que atender, na lógica do pensamento desta autora, ao “dualismo perspectivista”, o
qual está atento aos efeitos distributivos das reformas do reconhecimento assim como às consequências
21
para o reconhecimento das reformas redistributivas (FRASER, 2005a, p.80).

Consequentemente, a relação entre redistribuição e reconhecimento deverá merecer uma maior


atenção por parte dos teóricos, pelo que a visão economicista, que reduz o reconhecimento a um
simples epifenómeno da distribuição, deverá ser rechaçada (FRASER; HONNETH, 2005, p. 14).

Do mesmo modo, a teoria distributiva entendida numa linha individualista e consumista terá de
ser ultrapassada, tal como a teoria do reconhecimento não poderá enfeudar-nos em pressupostos
normalizadores centrados na subjectividade que impedem uma crítica mais radical.

Mais recentemente, Fraser fala numa outra dimensão da justiça, para além da redistribuição e do
reconhecimento, retomando de algum modo a trilogia famosa de Weber (classe, status e poder): trata-
se da justiça política, relacionada negativamente com a injustiça da marginalização política ou da
exclusão e positivamente com a solução da democratização.

A dimensão política da justiça, tão importante também em termos de direitos, diz respeito ao
estabelecimento de critérios de pertença social e de regras de decisão, reconhecendo que o mau
reconhecimento e a má distribuição conspiram para subverter o princípio da igual voz política para
todo o cidadão. Mas também o contrário: os que sofrem de não representação são vulneráveis às
injustiças de classe e de status. Daí o novo slogan de Fraser (2009, p.21): “não há redistribuição nem
reconhecimento sem representação”.

Retornando ao núcleo normativo da bidimensionalidade de justiça, a autora afirma que ele se baseava
já na “paridade normativa”, segundo a qual a justiça exige acordos sociais que permitam que todos
os membros da sociedade interactuem em pé de igualdade, devendo, para isso, cumprir-se a condição
objectiva que a distribuição dos recursos materiais deve fazer-se de modo que garanta a independência
e a voz de todos os participantes e, como segunda condição, que os padrões institucionalizados de
valor cultural expressem o mesmo respeito por todos os participantes e garantam a igualdade de
oportunidades para conseguir a estima social.

As reivindicações de reconhecimento devem demonstrar em processos públicos de deliberação


democrática que os padrões institucionalizados de valor cultural podem negar, injustamente, as
condições intersubjectivas de paridade participativa. Quando tal acontece, a estrutura de classe ou a
existência de uma hierarquia de status “constitui um obstáculo à paridade de participação e, portanto,
uma injustiça” (FRASER, 2005a, p.52), com a seguinte especificidade: enquanto que a subordinação
de classe nega a alguns actores os recursos necessários para interactuarem com os outros como iguais
(o que supõe reestruturar o sistema económico), a subordinação de status nega-lhes a categoria
necessária a que têm direito (o que exige mudar os padrões institucionalizados do que é considerado
valor cultural ligados, por exemplo, à ordem androcêntrica do estatuto que está imbricado na estrutura
económica).

Fraser pretende deixar claro que o princípio fundamental de uma teoria da justiça tridimensional é
o da paridade participativa que assume a razoabilidade do desacordo ético assim como a igualdade
de valor moral dos seres humanos. Este princípio proporciona, finalmente, uma norma para julgar as
reivindicações de redistribuição e de reconhecimento: só se justificam as que reduzam as disparidades
económicas e as que promovam a igualdade de status.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

7 PARA UMA OUTRO ENTENDIMENTO DA JUSTIÇA E DOS DIREITOS NA ERA DOS


22 MERCADOS

Parece-nos evidente que as vicissitudes por que tem passado teoricamente a justiça justificam
ênfases diferenciadas no que toca aos direitos humanos. Assim, e a título descritivo e meramente
exemplificativo, poderemos deparar-nos com várias concepções de justiça que apontam para processos
de construção e defesa dos direitos marcadamente distintos (Quadro II).

Quadro 2: Justiças e direitos humanos

J us tiças Direitos humanos

*Visão meritocrática dos


direitos
Justiça industrial
*Empresarialização dos
(ser justo=ser eficiente)
direitos
*Visão libertária e
individualista dos direitos
Justiça mercantil
(ser justo=ser vendável)
*Mercadorização dos
direitos

*Visão igualitária e
solidária dos direitos
Justiça social
(ser justo=ser cidadão)
*Cidadanização dos
direitos

Fonte: Elaboração do autor, 2013.

No caso da prevalência de uma justiça industrial e de uma justiça mercantil, o que interessa é raciocinar
não tanto em termos de igualdade mas antes em parâmetros de custo e eficácia, de maximização da
eficiência mercantil, independentemente dos efeitos de exploração, competição e desigualdade que
geram. Com efeito, o que verdadeiramente importa aqui é fazer prevalecer uma justiça em que ser justo
equivale a ser eficiente ou uma justiça em que ser justo significa reunir condições e competências para
ser mais vendável. Claramente, a visão dos direitos que neste contexto predomina é a meritocrática
e a mercadorizada, tornando-se a empresarialização e a mercadorização os processos dominantes.
Poderia dizer que este cenário é congruente com a actual globalização neoliberalizada ou com a era
dos mercados que estamos vivendo.

Um outro cenário, que defendo como solução que dignifica a democracia, os direitos e a justiça, é
aquele que recoloca no campo das preocupações e da luta, a justiça social, em que ser justo equivale
a ser cidadão solidário, que investe continuamente na cidadanização dos direitos de todos. O contexto
político-social e cultural propício ao seu desenvolvimento é o da “demoglobalização”, como alguns
propõem, construída a partir de baixo, em interdialogação e cordialidade, com as diversas forças
sociais e as múltiplas comunidades políticas.

Na verdade, só na conversação a partir de baixo, em consensos sobrepostos, é possível progredir


numa concepção mais consistente de justiça global e, ao mesmo tempo, construir a plataforma
consensualizada da universalidade dos direitos, que não poderá ser, por isso, uma universalidade de
rectas paralelas, mas antes uma “universalidade de confluência” (HERRERA FLORES, 2000).

Trata-se de uma proposta mais cosmopolítica de justiça e dos direitos, que não deixa de assumir
igualmente as formas do respeito, do amor e da solidariedade, que constituem o tripé do reconhecimento
de Honneth (2011), ao serviço do incremento de interacções em que os sujeitos se interessam
reciprocamente pelos seus percursos de vida diferenciados, porque se valorizam entre si reciprocamente
DIREITOS HUMANOS, MERCADO E ESTADO: A PLURIDIMENSIONALIDADE DA JUSTIÇA E DOS DIREITOS

e, deste modo, se experienciam a si próprios como valiosos para a sociedade e para o mundo. Creio, para
terminar, que será por este caminho que passará a construção da eticidade democrática cosmopolítica
23
e da própria democracia entendida “como direitos humanos” (GOODHART, 2005). Será também por
este caminho que a pluridimensionalidade da justiça e dos direitos humanos nos poderá enriquecer
teoricamente sem nos fazer perder a opção pela normatividade crítica e radical que nos coloca como
sujeitos de direitos e de justiça...

REFERÊNCIAS

BOLTANSKI, L. ; CHIAPELLO, E. Le nouvel esprit du capitalisme. Paris: Gallimard, 1999.

BOLTANSKI, L. ; THEVENOT, L. De la justification. Les économies de la grandeur. Paris:


Gallimard, 1991.

CUMPER, P. Direitos humanos: a história, desenvolvimento e classificação. In: HEGARTHY, A.;


LEONARD, S. (Eds.). Direitos humanos: uma agenda para o século XXI. Lisboa: Instituto Piaget,
2003.

DONNELLY, J. Universal human rights in theory and practice. New York: Cornell University
Press, 2003.

ESTÊVÃO, C. V. Educação, justiça e democracia: um estudo sobre as geografias da justiça em


educação. São Paulo: Cortez, 2004.

ESTEVÃO, C. V. Justiça e educação. São Paulo: Cortez, 2001.

FALK, R. The challenge of genocide and genocidal politics in an era of globalisation. In T. DUNNE;
N. WHELLER (Eds.). Human rights in global politics. Cambridge: Cambridge University Press,
1999, p. 177-194.

FRASER, N.; HONNETH, A. Redistribución o reconocimiento?. Madrid: Morata, 2005.

FRASER, N. Justice interruptus. Critical reflections in the “postsocialist” condition. London:


Routledge, 1997.

FRASER, N. La justicia social en la era de la política de la identidad: redistribución, reconocimiento


y participación. In: FRASER, N.; HONNETH, A.. Redistribución o reconocimiento?. Madrid:
Morata, 2005, p. 17-88.

FRASER, N. Scales of justice. Reimagining political space in a globalizing world. Cambridge:


Polity, 2009.

FRASER, N. Una deformación que hace imposible el reconocimiento: Réplica a Axel Honneth. In:
FRASER, N. ; HONNETH, A.. Redistribución o reconocimiento?. Madrid: Morata, 2005b, p. 149-
175.

GARCÍA MARZÁ, V. Teoría de la justicia. Madrid: Tecnos, 1992.

GOODHART, M. Democracy as human rights: freedom and equality in the age of globalization. New
York: Routledge, 2005.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

HABERMAS, J. Droit et démocratie. Entre faits et normes. Paris, Gallimard: 1997.


24
HABERMAS, J. Facticidade y validez. Madrid: Trotta, 2001.

HABERMAS, J. Teoría de la acción comunicativa: crítica de la razón funcionalista. Madrid: Taurus,


1987.

HELD, D. La democracía y el orden global. Barcelona: Paidós, 1997.

HERRERA FLORES, J. El vuelo de Anteo: derechos humanos y crítica de la razón liberal. Bilbao:
Editorial Desclée de Brouwer, 2000.

HÖFFE, O. Justiça política. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

HONNETH, A. Luta pelo reconhecimento: para uma gramática moral dos conflitos sociais. Lisboa:
Edições 70, 2011.

INNERARITY, D. O novo espaço público. Lisboa: Editorial Teorema, 2010.

KAUFMANN, A. Filosofía del derecho. Bogotá: Universidad Externado, 1999.

MACINTYRE, A. Quelle justice? Quelle rationalité? Paris: PUF, 1993.

MACKINNON. Crímenes de guerra, crímenes de paz. In: SHUTE, S.; HURTLEY, S. (Eds.). De los
Derechos humanos, Madrid: Trotta, 1998, p. 87-115.

MILLER, D. Principles of social justice. Cambridge: Harvard University Press, 1999.


PÖGGE T. La pobreza en el mundo y los derechos humanos. Barcelona: Paidós, 2005.

RAWLS, J. El derecho de gentes. In: SHUTE, S.; HURLEY, S. (Eds). De los derechos humanos.
Madrid: Trotta, 1998.

RAWLS, J. Uma teoria da justiça. Lisboa: Editorial Presença, 1993.

SANDEL, M. Justiça: o que é fazer a coisa certa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

SANTOS, B. S. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. Porto:


Afrontamento, 2000.

SEN, A. O desenvolvimento como liberdade. Lisboa: Gradiva, 2003.

SEN, A. The idea of justice. London: Penguin Books, 2009.

STIGLITZ, J. Globalização-a grande desilusão. Lisboa: Terramar, 2004.

WALZER, M. Las esferas de la justicia: una defensa del pluralismo y la igualdad. México: Fondo
de Cultura Económica, 1993.
PERCEPCIÓN SOCIAL Y DISCURSO MEDIÁTICO SOBRE INMIGRACIÓN EN ESPAÑA

25

PERCEPCIÓN SOCIAL Y DISCURSO MEDIÁTICO SOBRE


INMIGRACIÓN EN ESPAÑA

Pedro Garrido Rodríguez1

El conocimiento del fenómeno migratorio y sus implicaciones precisa un análisis profundo y sosegado
en el que se contemplen sus múltiples variables y sus numerosas interrelaciones. Sin embargo, el
tratamiento de la realidad por parte de los medios de comunicación se caracteriza a menudo por la
denominada emblematización reductora de acontecimientos complejos2, que no nos proporcionará
precisamente una imagen completa y objetiva de la realidad de la inmigración en todas sus dimensiones.
En el ámbito de las migraciones, el discurso periodístico realiza demasiadas simplificaciones que en
cierto modo trastocan o desnaturalizan el fenómeno.

Dos de ellas, muy recurrentes, las recoge De la Fuente en su brillante investigación sobre el discurso
mediático sobre la inmigración3: los mitos o, en sus propias palabras, metáforas de que la inmigración
es masiva y, por tanto, incontrolada y el concepto de que la inmigración es un problema que origina
numerosos conflictos sociales por las diferencias culturales y por la proclividad de los inmigrantes a
la delincuencia.

El presente artículo se asienta sobre las conclusiones de uno de los bloques de la tesis doctoral:
Inmigración y diversidad cultural en España. Un análisis histórico desde la perspectiva de los
Derechos Humanos4. En el cuarto capítulo de la misma, se estudia la prensa, empleando para ello
la metodología del análisis del discurso con el fin de diseccionar el tratamiento periodístico de la
inmigración y la diversidad cultural.

A este fin, se analizan en primer lugar los planteamientos acerca de la cuestión que gozan de mayor
prevalencia dentro del ámbito mediático. Posteriormente se elabora un análisis editorial de los dos
medios elegidos para el estudio, El Mundo y El País, como diarios de referencia de la prensa española.
En último lugar, se procede a la selección y el análisis cualitativo de las noticias sobre inmigración y
diversidad cultural publicadas en ambos diarios.
1
Doctor por la Universidad de Salamanca. E-mail: pegarro@usal.es / pegarro@gmail.com.
2Ramonet, I. (1998): La tiranía de la comunicación. Ed. Debate. Madrid. P. 22.
3
De la Fuente, M. (2006): La argumentación en el discurso periodístico sobre inmigración. Tesis Doctoral.
Universidad de León. León. P.138.
4
Garrido Rodríguez, Pedro (2012): Inmigración y diversidad cultural en España. Un análisis histórico desde la
perspectiva de los Derechos Humanos. Ed. Digital en Ediciones Universidad de Salamanca. Salamanca.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

Aunque también se intercalan determinadas noticias procedentes de la publicación impresa, la


26 muestra se ha tomado de la edición digital. Ello se debe a la mayor disponibilidad de esta última
como fuente y a la enorme difusión de las ediciones digitales de ambos medios. Este análisis trata de
abarcar en la mayor medida posible las variables implicadas en el ámbito de la inmigración. Para ello,
se divide en las siguientes partes: recepción de la inmigración, inmigración y trabajo, inmigración
y educación y, por último, inmigración, diversidad cultural y derecho a la cultura. La selección y el
análisis cualitativo de las noticias se centra, especial, aunque no exclusivamente, en los años 2008
y 2009, años en que la variable económica, fuertemente marcada por la situación de crisis, irrumpe
con fuerza y origina una sustancial modificación de los planteamientos del Gobierno en materia de
migraciones.

De este modo, se pretende centrar el análisis periodístico en un periodo que además de ser actual
coincide justamente con el momento en el que se produce una transformación, un cambio, en
los planes y en el discurso político del Gobierno en torno a la cuestión migratoria, lo que se ha
manifestado significativamente en algunas de sus realizaciones legislativas y políticas. En este
sentido, se ha considerado altamente ilustrativo y enriquecedor el análisis de la cobertura periodística
de estas cuestiones, centrando la atención justamente en el momento en que se produce esta mutación,
que por otra parte no sólo ha tenido lugar en el campo de las migraciones, sino que también se ha
experimentado en otros ámbitos de la política social.

Generalmente se asocia el racismo a posiciones políticas o ideológicas muy polarizadas y a estratos


sociales de corte medio-bajo, que continúan defendiendo el rancio racismo biológico tradicional
europeo. Sin embargo, Van Dijk nos presenta otra forma de racismo5, a la que él llama “racismo
discursivo”, que tiene su base en las prácticas discursivas de las élites, ya se trate de personas a título
individual o instituciones, y se ve legitimado por el liderazgo o la credibilidad de sus emisores. Este
discurso se transmite por múltiples canales como los debates parlamentarios, las noticias de prensa,
los documentos burocráticos, el lenguaje de las Administraciones o incluso los libros de texto en la
escuela o en la universidad.

La representación que se elabora de los inmigrantes, las minorías, los refugiados y, en general, los
pueblos no europeos, en el discurso racista promovido por las élites respondería así a ciertos rasgos
distintivos. En primer lugar, como sucede en cualquier discurso ideológico, el discurso racista se
caracteriza por una estrategia general de autorrepresentación positiva y presentación negativa del
otro6.

Por otra parte, el control de los discursos sobre las minorías, se encuentra prácticamente en manos
de las élites blancas. Los grupos y portavoces de las minorías apenas tienen acceso ni margen de
influencia en lo que se dice o se escribe sobre ellos. Y cuando lo tienen, se les resta credibilidad
al presentarlos de cara al público o al citarlos. Las historias son parciales, están condicionadas
por comentarios unilaterales “blancos”. Por otra parte, en las redacciones apenas hay presencia de
periodistas que pertenezcan a minorías, y menos en los puestos directivos. De este modo, las noticias
se fraguan en un contexto excluyente desde el inicio.

Los discursos sobre las minorías que observamos en la prensa casi nunca se dirigen a las propias
minorías que describen. Suelen ignorarlas como receptoras potenciales de los textos y las disertaciones
públicas. Se pone el énfasis en los aspectos más negativos y apenas se presta atención a los problemas
experimentados por los inmigrantes, a sus vidas, a su trabajo, a su tiempo libre o a su sustancial
contribución a la economía del país. En otras palabras, la prensa europea en general no define la

5
Van Dijk, Teun (2006): Discurso de las élites y racismo institucional. En: Bastida, L. (Coord.): Medios de
comunicación e inmigración. Caja de Ahorros del Mediterráneo-Obra Social. Murcia. p. 15-34.
6
Van Dijk, Teun (2006): Discurso de las élites… Op. Cit. p. 15-34.
PERCEPCIÓN SOCIAL Y DISCURSO MEDIÁTICO SOBRE INMIGRACIÓN EN ESPAÑA

situación étnica en términos de los propios protagonistas étnicos7.


27
El discurso reivindicativo, el que es generado y transmitido por “ellos”, por el exogrupo, se percibe
generalmente como un discurso desestabilizador e incómodo que con frecuencia se encuentra mermado
o limitado mediáticamente en su proceso de transmisión. Bañón realiza un análisis muy ilustrativo
de tres tipos de discurso sobre inmigración que resultan fundamentales para poder comprender su
tratamiento en los medios de comunicación8.

Aunque alargaría en gran medida este artículo desarrollar su teoría en toda su extensión, no quisiera dejar
de esbozar sus líneas maestras. El primer tipo de discurso está formulado por “ellos”, el exogrupo: el
discurso reivindicativo; y los otros dos, muy dispares, están formulados por “nosotros”, el endogrupo:
el discurso comprometido y el discurso discriminador. En el análisis de la representación periodística
sobre el discurso de la reivindicación y los reivindicadores, Bañón señala algunos mecanismos y
actuaciones con que los medios suelen distorsionarlo, restándole significación, validez, credibilidad,
legitimación, calado, intensidad o, en suma, poder de movilización.

A lo largo de los años 60 y 70, la investigación académica sobre comunicación y la práctica periodística
siguieron la referencia de la corriente objetivista, cuyo rasgo caracterizador era la distinción clara entre
la información y la opinión. Proponía una deontología periodística pivotada en hechos incorruptibles
por un lado y opiniones particulares y libres por otro, esto es, un tratamiento de la información regido
por el distanciamiento, buscando la representación de la realidad de manera objetiva9.

Al término de los años 70, fueron tomando fuerza perspectivas diferentes a la objetivista. Tuchman
cuestionó esta corriente y afirmó que la percepción de la realidad es un proceso en el que intervienen
múltiples factores que la mediatizan y la condicionan10. Para explicar su teoría, empleó una metáfora
que consistía en identificar la noticia con una ventana abierta a la realidad. Por medio de esta ventana,
sabemos qué es lo que ocurre ahí fuera y cuál es el mundo que nos rodea. Ahora bien, dependiendo
de condicionantes tales como lo grande o pequeña que sea la ventana o lo mucho o poco que nos
asomemos a ella podremos obtener una visión más o menos completa de la realidad. Es el momento
en el que la figura del periodista como decodificador, traductor, o mediador entre la información y la
audiencia comienza a subrayarse tanto en la investigación académica como en los propios medios de
comunicación.

En los años 80 y 90 hubo diversas y enérgicas críticas a la corriente objetivista que cuestionaron la idea
de una verdadera objetividad en la práctica periodística. Diversos autores comenzaron a considerar
que por mucho que se pretenda elaborar la noticia como mera representación de la realidad, toda
noticia implica, de manera directa o indirecta, una perspectiva, una interpretación. Glasser concibió
la objetividad como un artificio, una herramienta persuasiva de la que el periodista se vale para
aparentar imparcialidad ante el público11.

Es lo que Entman denominó una técnica de camuflaje a través de la cual se logran reproducir mensajes
sesgados y partidistas12. Ya en los años 90, se produjo un acuerdo generalizado dentro del medio
7
Ibídem.
8
Bañón Hernández, A. (2002): Discurso e inmigración. Propuestas para un debate social. Universidad de Mur-
cia. Murcia.
9
Canel Crespo, María J. (1999): “El País, ABC y El Mundo: Tres manchetas, tres enfoques de las noticias”.
En: Zer: Revista de Estudios de Comunicación. Nº 6. p. 97-117. La autora nos ofrece en este artículo una in-
teresante síntesis de los estudios académicos sobre análisis de contenido desde los años 60 y un análisis de los
encuadres o enfoques que caracterizan a los tres diarios de información general más representativos en nuestro
país: El País, ABC y El Mundo.
10
Tuchman, Gaye (1978): Making News. The Free Press. Nueva York.
11
Glasser, T. L. (1984): “Objectivity precludes responsibility”. En: The Quill. Febrero. p. 120-135.
12
Entman, Robert (1989): Democracy Without Citizens, Media and the Decay of American Politics. Oxford
University Press. Oxford.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

28 académico que investigaba la práctica periodística. Se comenzó a asumir que los periodistas toman
un enfoque o encuadre, es decir, que ejercen interpretación, a la hora de representar la realidad. Así,
este enfoque o encuadre, también llamado frame, es incorporado a la noticia de manera más o menos
directa y más o menos sutil, quiera o no el periodista. Tankard13 definió el enfoque ya en 1991 como
la idea central organizadora del contenido de las noticias que aporta un contexto mediante un proceso
de selección, énfasis, exclusión y elaboración.

Entman propuso otra definición, centrándose en la idea de que los encuadres aportan perspectivas
acerca del tema tratado a través de las cuales interpretamos la información, esto es, encuadrar supone
seleccionar algunos aspectos de la realidad percibida, haciéndolos más sobresalientes en el texto
comunicativo, de tal manera que consigan promover una definición del problema particular, una
interpretación causal, una evaluación moral y/o una recomendación de tratamiento para el asunto
descrito14. De este modo, para Entman los encuadres noticiosos son un instrumento que emplean
quienes ostentan el poder cuando transmiten informaciones a los demás, influyendo así en su modo de
pensar e incitando a la audiencia a orientarse hacia un sentido u otro. Ya en 2001, Tankard presenta una
teoría más desarrollada y explica la teoría del enfoque, encuadre o framing mediante tres imágenes15.

Por un lado, los encuadres son como los marcos de una fotografía o pintura, ya que excluyen
determinado material para centrar la atención en el objeto representado, en cuya configuración lleva
implícita una selección de lo que se reproduce; un énfasis, es decir, cómo y con cuánta precisión se
reproduce; y una exclusión de lo que no se reproduce. Del mismo modo, son como el marco de la
pintura, que fija un tono que influye en la visualización de lo representado, de igual forma que los
encuadres noticiosos aportan un contexto del que partir a la hora de interpretar la información. Por
último, los encuadres son como el marco de una ventana de un edificio, es decir, constituyen la idea
organizadora central para elaborar la información periodística.

La localización y la sistematización de los encuadres noticiosos ha sido desde las primeras


investigaciones sobre la materia uno de los objetivos prioritarios de los investigadores de la
comunicación y la práctica periodística. Cuando Semetko y Valkenburg analizaron los encuadres de
noticias en prensa y televisión con motivo de las reuniones de jefes de Estado europeos en Ámsterdam
en 199716, percibieron el predominio de cinco marcos de noticias: 1) Atribución de responsabilidad.
Es decir, la responsabilidad e hipotética solución al problema se le atribuye a un gobierno, institución
o individuo. 2) Conflicto. Ya sea entre instituciones, grupos o individuos. 3) Interés humano. Que se
emplea para aportar dramatismo o emoción a la información. 4) Consecuencias económicas. Cuando
el asunto se presenta haciendo hincapié en los efectos económicos que habrá que afrontar y, por
último, 5) Moralidad. Constituida por principios religiosos o morales17.

Sobre la referencia de la escala de marcos noticiosos elaborada por Semetko y Valkenburg, Muñiz
13
Tankard, James, Hendrickson, Laura, Silberman, Jackie; Bliss, Kris y Ghanem, Salma (1991): Media Frames:
Approaches to conceptualization and Measurement. Ponencia presentada en Communication Theory and
Methodology Division. AEMC Convention. Boston.
14
Entman R. (1993): “Framing: Toward aclarification of a fractured paradigm”. Journal of Communication. 43
(3). p. 51-58.
15
Tankard, James (2001): The empirical approach to the study of media framing. p. 95-106. En Reese, S. D.
Gandy, O. H. y Grant, A. E. (Eds.): Framing public life. Perspectives on media and our understanding of the
social world. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associates.
16
Semetko, H. y Valkenburg, P. (2000): “Framing European Politics: a content analysis of press and television
news”. En: Journal of Communication. Nº 50 (2). p. 93-109.
17
Semetko y Valkenburg ya apuntaron en su estudio que las diferencias más representativas no se encontraban
tanto entre prensa y televisión, sino, más bien entre medios de línea editorial sensacionalista y medios con
una línea editorial más seria. De este modo, mientras los periódicos y programas de televisión más serios
empleaban los marcos de la responsabilidad y el conflicto en la presentación de sus noticias, los medios más
sensacionalistas hacían un uso predominante del interés humano como marco. En: Semetko, H. y Valkenburg,
P. (2000): “Framing European Politics: a content analysis of press and television news”. En: Journal of Com-
munication. Nº 50 (2). Op. Cit. p. 93-109.
PERCEPCIÓN SOCIAL Y DISCURSO MEDIÁTICO SOBRE INMIGRACIÓN EN ESPAÑA

e Igartua realizan en 2004 un análisis de contenido acerca de los enfoques de las noticias sobre
inmigración en los medios españoles de prensa y televisión18. Los autores perciben en ambos medios
29
una preponderancia del encuadre noticioso de atribución de responsabilidad. Por detrás de éste,
observan la importancia del enfoque de interés humano y en tercer lugar el de conflicto. Asimismo,
el análisis revela una diferencia significativa entre el medio televisivo y la prensa en el empleo del
encuadre de interés humano, mucho más predominante en las informaciones de televisión19. Los
autores, valorando además del enfoque otros factores significativos como los productores de las
informaciones, las fuentes o la agenda de noticias, concluyen que la prensa realiza mayoritariamente
un tratamiento más riguroso y profundo de la realidad que la televisión, hecho que se constata
al observar que cuenta con mayor variedad de productores de la información y más amplitud de
géneros, así como que ofrece más información y más precisa a la audiencia, incluye diversos temas y
organiza las noticias dentro de diferentes secciones. La investigación sobre encuadres de noticias en
comunicación también se ha ocupado de estudiar ampliamente las causas que los motivan.

Goffman concibió el framing como una necesidad que el profesional de la comunicación ha de asumir
para conectar con la audiencia, para que ésta comprenda lo que le está diciendo20. El enfoque se
entendería así como una contextualización que orienta al receptor sobre la información que se le
está proporcionando. Los enfoques, en su mayor parte ocultos y sólo perceptibles tras un profundo
análisis, no suelen ser ni siquiera acciones conscientes e intencionadas. El periodista proyecta su
forma de ver las cosas de forma más bien inconsciente e inevitable cuando trata de localizar y explicar
la noticia21.

Gran parte de las investigaciones sobre encuadres noticiosos, sobre todo hasta los años 90, asumió
que éstos estaban causados por factores individuales relacionados con las propias creencias. Es
decir, el enfoque que el periodista imprime a una noticia estaría influenciado por cuestiones como su
educación, edad, sexo y, sobre todo, posición ideológica22.

A partir de los años 90 y especialmente en los últimos años, las investigaciones han añadido a las
causas individuales otro tipo de causas, que se derivan de la complejidad del proceso de producción
de la información. Entienden que las causas individuales son únicamente una parte de los factores que
influyen en la mediación informativa. Un ejemplo de esta tendencia es la investigación de Shoemaker
y Reese23 que explican el proceso con un ejemplo. Para ellos, los medios influyen en la información a
través de diferentes niveles que equivaldrían a las capas de una cebolla. De este modo, los encuadres
noticiosos estarían condicionados por factores diversos como las circunstancias particulares del
periodista, esto es, su nivel educativo, edad, sexo, convicciones religiosas, ideas políticas, etc.; las
características de las propias fuentes, ya sean humanas, documentales, independientes, gubernamentales;
el funcionamiento del medio, es decir, cuestiones como sus criterios de noticiabilidad, el personal, la
organización de sus secciones, vinculación con las agencias, procedimientos de trabajo; la titularidad

18
Muñiz, C. e Igartua, J. J. (2004): “Encuadres noticiosos e inmigración. Un análisis de contenido de la prensa
y televisión españolas”. En: ZER: Revista de Estudios de Comunicación. Nº 16. p. 87-104.
19
En otro estudio publicado en 2006, Muñiz, Igartua y Otero toman la Teoría del Framing para elaborar un
análisis de contenido acerca de la representación visual de la inmigración por medio de las fotografías repro-
ducidas en los diarios españoles de ámbito nacional más representativos. Entre sus principales conclusiones,
sostienen que la cobertura que se hace a cada agente vinculado a la inmigración difiere en función de la línea
editorial del diario, así como de si se trata de un modelo de prensa serio y de prestigio o de prensa sensaciona-
lista. En: Muñiz, C. Igartua, J. J. y Otero, J. A. (2006): “Imágenes de la inmigración a través de la fotografía de
prensa. Un análisis de contenido”. En: Comunicación y Sociedad. Vol. XIX. Nº 1. p. 103-128.
20
Goffman, E. (1974): Frame Analysis: An Essay on the Organization of Experience. Northeastern University
Press. Boston.
21
Hackett, R. A. (1984): “Decline of a Paradigm? Bias and Objectivity in news media studies”. En: Critical
Studies in Mass Communication. Nº. 1 (3). p. 229-259.
22
Ibídem.
23
Shoemaker, Pamela y Reese, Stephen (1991): Mediating the Message. Theories of Influences on Mass Media
Content. Longman. New York.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

30 del medio; y otros factores externos como los poderes fácticos, la competencia o el público.

Las investigaciones más actuales toman en consideración estos factores y tratan de poner en conexión
las causas individuales con este otro tipo de causas más corporativas24. La sucesión de enfoques
va configurando lo que se denomina política de opinión o línea editorial. Los medios suelen tener
reparos a que se les identifique con una determinada línea editorial. Sin embargo, como ya apuntó
Schlesinger, eso es lo que están haciendo los diarios en el momento en que determinan la cantidad de
columnistas, el tamaño y el emplazamiento de las páginas de opinión o el asunto de los editoriales25.

Pasemos a continuación a un análisis más pormenorizado de los medios de prensa elegidos para este
estudio, El Mundo y El País, los dos periódicos nacionales de información general más representativos
en España.

El País es un diario liberal, europeísta y moderno. Autodenominado desde su origen como Diario
independiente de la mañana, hasta el 21 de octubre de 2007, momento en el que cambió su lema
por El periódico global en español731. Fundado por José Ortega Spottorno, hijo del célebre filósofo
José Ortega y Gasset, su primer número apareció el 4 de mayo de 1976. Desde el primer momento,
el diario se mostró contrario a la ultraderecha y al reaccionarismo, así como receloso de Alianza
Popular, al que asociaba con un discurso neofranquista y autoritario. Mostró una sintonía cada vez
mayor con el PSOE, al que apoyaba en sus ideas de cambio. Esta sintonía se ha ido manteniendo hasta
la actualidad a lo largo de los años, estando el PSOE en la oposición o en el Gobierno, lo cual le ha
valido no pocas críticas por parte del sector más afín a posiciones de centro-derecha.

No ajeno a las divisiones del PSOE, El País es favorable en principio a dicho partido, aunque
coyunturalmente crítico, a un punto que llegó a disgustar a Rodríguez Zapatero, que impulsó por
ello la creación del diario Público (hasta fechas recientes, muy favorable a su gestión). El País es un
periódico con perfil innovador, bien estructurado, de gran orden interno, con visible formalidad en el
tratamiento de la información y con un periodismo serio y riguroso26.

En conjunto, El País emplea una técnica argumentativa de análisis que le confiere una imagen de
moderación, progresismo, modernidad, tolerancia, talante democrático e intelectualismo. Sin
embargo, con mucha sutileza, también deja un espacio para ciertos encuadres de las noticias, que se
manifiestan en la inclusión y la exclusión de matices en las informaciones, los temas o los personajes,
más que en las propias páginas destinadas a opinión.

El Mundo ve la luz por primera vez el 23 de octubre de 1989. Con un capital inicial de 500 millones
de pesetas, que poco después se amplió a 1.500, un grupo promotor de periodistas y empresarios
encabezados por Pedro J. Ramírez lograron poner en marcha el proyecto de crear un diario inconformista,
crítico con el poder, de estilo enérgico y con predominio del periodismo de investigación.

El Mundo es un diario crítico, agresivo e inconformista que emplea y promueve el periodismo de


investigación27. Da mucho espacio e importancia a la opinión, contando con diversos editoriales,
columnas y tribunas. Aglutina un amplio número de columnistas de posiciones ideológicas muy
diversas. Aparte de esto, lo opinativo se manifiesta profusamente también en lo informativo, donde
son frecuentes titulares valorativos que condicionan la información. Formalmente es un periódico
atractivo a la vista, ameno y de lectura sencilla. Hace uso de título, subtítulo y breves entradillas
24
Canel, María José y Piqué, Antoni M. (1997): Journalists for emerging democracies. The case of Spain. En
Weaver, David (Ed.): The Global Journalist. Hampton Press. New Jersey.
25
Schlesinger, Philip (1978): Putting Reality Together. Biddles Ltc. Londres.
26
Berrocal, Salomé y Rodríguez-Maribona, Carlos (1998): Análisis básico de los medios de comunicación.
Editorial Universitas S. A. Madrid.
27
Berrocal, Salomé y Rodríguez-Maribona, Carlos (1998): Análisis básico de los medios de comunicación.
Editorial Universitas S. A. Madrid. Op. Cit.
PERCEPCIÓN SOCIAL Y DISCURSO MEDIÁTICO SOBRE INMIGRACIÓN EN ESPAÑA

que resumen la noticia. Emplea también gran cantidad de recursos gráficos de calidad, lo cual ha
contribuido en gran medida a que El Mundo haya sido premiado en diversos certámenes de alcance
31
internacional por su diseño de calidad y creativo.

Es conocido su apego preferencial al PP. Además de contar con una amplia sección de opinión, El
Mundo transmite opiniones e imprime un enfoque determinado a sus noticias, al igual que El País
aunque en mayor medida y con más intensidad, mediante la inclusión o exclusión de informaciones
y también, con bastante frecuencia, a través de la elección de titulares valorativos que condicionan
la información. Opta, en suma, por una fuerte preponderancia de la opinión e interpretación, con un
estilo más directo y explícito que el de El País y adopta así una postura que expresa con mayor o
menor sutileza. De este modo, El Mundo connota rotundidad, agresividad y denuncia28.

Pasando ya a un análisis del discurso periodístico en España, tomando como muestra a los diarios El
Mundo y El País, es palpable que éste concede una gran importancia a asuntos como la inmigración
irregular, la economía sumergida o la delincuencia y, sin embargo, le presta una atención menor a la
denuncia de las restricciones a los derechos de las personas inmigrantes y, en especial, los trabajadores.
Se aprecia contraste entre la receptividad que muestra la prensa nacional a los aspectos negativos
referidos a la inmigración y los aspectos que ofrecen una visión más positiva de ella o a los agentes
reivindicativos y comprometidos.

Vemos cómo se reproduce ampliamente el discurso de las élites políticas, como ha sido puesto
de manifiesto por autores como Van Dijk. Existe una gran cobertura mediática de sus acuerdos,
sus debates, sus leyes, etc., pero no se le da una importancia proporcional a las reivindicaciones
protagonizadas por asociaciones de inmigrantes y ONG, que en realidad son también protagonistas
de los procesos derivados de la inmigración, así como destinatarios directos de los acuerdos tomados
en la esfera política, pero a los que sólo se da voz de modo ocasional.

A lo largo del análisis de prensa realizado, percibimos la presencia ambivalente de dos discursos.
Uno es más bien reactivo o receloso con respecto a la inmigración y sus diversas implicaciones
políticas, socioeconómicas y culturales y el otro muestra un carácter más proactivo, tolerante o
favorable a estos procesos29. El discurso reactivo se caracteriza en lo que concierne a la recepción de
los inmigrantes por conceder una mayor importancia a los aspectos más negativos como la entrada
irregular30, las conexiones con las mafias, la delincuencia o la inseguridad ciudadana, casi siempre
vistos desde los ojos del endogrupo, así como el empleo de términos exagerados, despectivos o con

28
Canel, M. J. (1999): El País, ABC y El Mundo… Op. Cit.
29
Se emplean los términos reactivo y proactivo en el análisis del discurso periodístico a semejanza de la termi-
nología empleada por Zapata-Barrero en su análisis de los discursos políticos en materia de inmigración. Sobre
ello, consúltese: Zapata-Barrero, Ricard (2008): La política del discurso sobre la inmigración en España. En:
Zapata-Barrero, Ricard, González, Elisabet y Sánchez Montijano, Elena: El discurso político en torno a la in-
migración en España y en la Unión Europea. Ministerio de Trabajo e Inmigración. Madrid. Op. Cit. p. 117-157.
30
Sobre ello, véanse, entre otros, los artículos publicados: Agencia EFE (Santa Cruz de Tenerife y Almería).
Una nueva oleada de inmigrantes llega a las costas de Tenerife y Almería. 16 de septiembre de 2008. Elmundo.
es:http://www.elmundo.es/elmundo/2008/09/16/espana/1221567378.html Biot, Rosa / Agencias (Alicante).
Oleada de pateras en la costa mediterránea. 5 de octubre de 2009. Elpais.com: h t t p : / / w w w. e l p a i s . c
o m / a r t i c u l o / e s p a n a / Ol e a d a / p a t e r a s / c o s t a / m e d i t e r ra n e a /elpepuesp/20091005el-
pepunac_5/Tes Agencias (Las Palmas). El buen tiempo reactiva la llegada masiva de inmigrantes a las Islas
Canarias. 19 de junio de 2008. Elmundo.es: http://www.elmundo.es/elmundo/2008/06/18/espana/1213770611.
html Navarro, Santiago (Alicante). Llega a la costa de Torrevieja la primera oleada estival de pateras. 30 de
julio de 2008. Elpais.com: http://www.elpais.com/articulo/Comunidad/Valenciana/Llega/costa/Torrevieja/pri-
mera/oleada/estival/pateras/elpepiespval/20080730elpval_8/Tes Barrio, Ana del (Madrid). Un ‘supercayuco’
con 230 inmigrantes bate todos los récords de llegadas a las costas. 29 de octubre de 2008. Elmundo.es: http://
www.elmundo.es/elmundo/2008/09/30/espana/1222739414.html Agencias (Roma). Lampedusa, desbordada
por la llegada masiva de inmigrantes ilegales. 28 de diciembre de 2008. Elpais.com: http://www.elpais.com/
articulo/internacional/Lampedusa/desbordada/llegada/masiva/inmigrantes/ilegales/elpepuint/20081228el-
pepuint_8/Tes
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

connotaciones innecesariamente negativas para referirse a las personas inmigrantes31. En lo tocante


32 al ámbito laboral, hace especial hincapié en el empleo irregular, la economía sumergida, los fraudes,
la denuncia de estas cuestiones como una maniobra de autorrepresentación positiva, la presentación
de los inmigrantes como consumidores de recursos sociales y la minimización de la importancia de la
contribución de los trabajadores inmigrantes a la Seguridad Social32.

En lo referido a la educación, es frecuente ver noticias en las que se acusa al alumnado inmigrante de
reducir el nivel académico de la comunidad educativa33, de suponer una carga demasiado pesada para
el Sistema Educativo o de limitar la calidad de la educación en España, así como valoraciones que
plantean la presencia de alumnado extranjero en las aulas en términos de problema34, maximizando
las dificultades y minimizando las virtudes de un Sistema Educativo multicultural y las posibles
contribuciones de éste para la sociedad35.

Dentro del ámbito relativo a la diversidad cultural, se incide más en las cuestiones que nos separan que
en las que nos unen, se subrayan los aspectos más problemáticos de la heterogeneidad de culturas y de
una sociedad multicultural, en lugar de sus potencialidades y se presenta a determinadas identidades
culturales como escasamente compatibles con una sociedad democrática como la nuestra. Esto sucede
especialmente con la comunidad islámica36. Encontramos numerosas noticias, artículos, reportajes y
columnas de opinión en las que se resaltan los preceptos, planteamientos y acciones más retrógrados
que se llevan a cabo, bajo el argumento de que la religión islámica lo exige.

En ocasiones, vemos que cuando se denuncian casos en los que en nombre de la cultura se vulneran
los derechos culturales e incluso los Derechos Humanos de personas a las que se les niega la libertad
para elegir, más que hacerse en defensa de estas personas, se utiliza el caso como argumento para
representar negativamente a la identidad cultural en cuyo nombre se comete este abuso, poniendo

31
Sirvan como muestra los siguientes artículos: Redacción (Madrid). Una ‘hoja de ruta’ detalla a losSirvan
como muestra los siguientes artículos:Redacción (Madrid). Una ‘hoja de ruta’ detalla a los ilegales cómo
evitar controles en Barajas. 15 de enero de2008. Elmundo.es: http://www.elmundo.es/elmundo/2008/01/15/
espana/1200397026.html Barrio, Ana del (Madrid). Las mafis de la inmigración abren nuevas rutas a
Baleares para traer argelinos. 16 de enero de 2008. Elmundo.es: http://www.elmundo.es/elmundo/2008/01/16/
baleares/1200485738.html Agencia EFE (Ceuta). Las mafis enseñan a los inmigrantes a nadar para que
logren el sueño europeo. 28 dejunio de 2008. Elmundo.es:http://www.elmundo.es/elmundo/2008/06/28/
espana/1214648776.html Europa Press (Valencia). Las mafis de inmigrantes irregulares han ganado
2.000 millones de euros. 5 de mayode 2009. Elmundo.es: http://www.elmundo.es/elmundo/2009/05/05/
espana/1241515769.
32
Sobre ello, consúltense: Redacción (Madrid). La inmigración desborda las cárceles. 3 de marzo de 2008. El
Mundo:http://www.elmundo.es/papel/2008/03/03/opinion/2338141.html Mucientes, Esther (Madrid). Rubal-
caba: «Si somos laxos con la inmigración ilegal no hay quien la pare». 8 de mayo de 2008. Elmundo.es:
http://www.elmundo.es/elmundo/2008/05/08/espana/1210231402.html
33
Véanse: Aguilera, Manuel (Palma). Los alumnos inmigrantes repercuten en los índices de fracaso escolar. 3
de abril de 2008. Elmundo.es: http://www.elmundo.es/elmundo/2008/04/03/baleares/1207223100.html
34
Sanmartín, Olga R. (Madrid). Los alumnos detectan pandillas y peleas interraciales en los colegios. 2 de mar-
zo de 2009. Elmundo.es:http://www.elmundo.es/elmundo/2009/03/02/espana/1235999460.html
35
Sirvan como ejemplos: Redacción (Valencia). El alumnado inmigrante en las escuelas de la CVA crece un
37% desde septiembre. 12 de febrero de 2008. Elmundo.es:http://www.elmundo.es/elmundo/2008/02/16/
valencia/1203165096.html Agencia EFE (Madrid). El número de alumnos extranjeros es 10 veces superi-
or al de hace una década. 27 de julio de 2008. Elmundo.es:http://www.elmundo.es/elmundo/2008/07/27/
espana/1217156278.html
36
Léase: Gili Banda, Jaime (Palma). ‘Amenaza’ islámica en Felanitx. 8 de febrero de 2008. Elmundo.es:
http://www.elmundo.es/elmundo/2008/02/08/ciudadanobaleares/1202466978.html
PERCEPCIÓN SOCIAL Y DISCURSO MEDIÁTICO SOBRE INMIGRACIÓN EN ESPAÑA

poco énfasis en advertir que en este tipo de acciones confluyen en muchas ocasiones otro tipo de
intereses más bien políticos, económicos y de poder, que en realidad nada tienen que ver con la 33
cultura en sí, sino que ésta se ve utilizada como parangón para justificar dichas acciones. También es
patente cómo en múltiples ocasiones se incurre en un reduccionismo nada objetivo a la hora de hacer
valoraciones sobre las culturas del exogrupo.

El ejemplo más notorio es quizá la identificación entre islamismo y fundamentalismo, cuando, si


nos atenemos a la realidad, vemos que el fundamentalismo está más vinculado a intereses políticos y
económicos que a la religión y a la cultura propiamente. Percibimos también que no es un fenómeno
en el que esté implicado todo el conjunto de la población islámica, sino que se da más bien de
manera bastante polarizada en determinados países donde este fundamentalismo, lejos de crecer de
manera natural entre la población, es alentado interesadamente desde esferas de poder que no actúan
motivadas por una creencia religiosa o cultural, sino movidas por intereses políticos y económicos.

A su vez, se concede un espacio y una atención mucho menor a las solicitudes del movimiento
asociativo así como a las iniciativas favorables a la integración en la sociedad española que parten de
las propias comunidades de inmigrantes y que ponen de manifiesto su compromiso de formar parte
activa de una sociedad multicultural basada en el intercambio y el mutuo enriquecimiento sobre la
base del respeto a los valores democráticos y a los Derechos Humanos.

Esporádicamente, se da cuenta de la existencia de este tipo de asociaciones, cada vez más representativas
dentro de sus comunidades. Sin embargo, se echa en falta un mayor interés mediático hacia la
interacción entre culturas, que bien podría ser vista como motor de integración y de enriquecimiento
sociocultural para todas las comunidades presentes de forma cada vez más creciente en la sociedad
española.

El discurso mediático presenta también, como representación a su vez del discurso político, un carácter
más proactivo, tolerante o favorable con respecto a la inmigración y sus implicaciones. Dentro del
ámbito de la recepción de los inmigrantes, vemos cómo frente al alarmismo de los inicios de la década
de 2000, se va evolucionando hacia una valoración más equilibrada de la inmigración en España y
lo que representa y vemos también cómo a partir de mediados de 2008 se da cuenta del descenso de
la inmigración en nuestro país de una manera bastante acorde con la realidad37. A su vez, también se
percibe el reconocimiento de cierto espacio mediático a las acciones reivindicativas desempeñadas
por las asociaciones de inmigrantes. Esto es especialmente patente con las protestas ocasionadas por
reforma de la Ley de Extranjería, acusada de restringir los derechos de los inmigrantes y algunas
de cuyas medidas han sido objeto de numerosas críticas y actos de protesta por ser contrarias a los

37
Véanse, entre otros: Agencia EFE (Roquetas de Mar). Desciende un 22% la llegada de inmigrantes en pat-
era. 12 de diciembre de 2008. Elpais.com:http://www.elpais.com/articulo/espana/Desciende/22/llegada/inmi-
grantes/patera/elpepiesp/20081212elpepinac_17/Tes/Sanmartín, Olga R. y Lázaro, Fernando (Madrid). Los
inmigrantes que llegaron en patera bajaron un 25% en 2008. 12 de enero de 2009. Elmundo.es:http://www.el-
mundo.es/elmundo/2009/01/12/espana/1231765708.html Redacción (Madrid). Cae un 25% la llegada de ‘sin
papeles’ a España. 12 de enero de 2009. Elpais.com: h t t p : / / w w w. e l p a i s . c o m / a r t i c u l o / e s p
a n a / C a e / 2 5 / l l e g a d a / p a p e l e s / E s p a n a /elpepuesp/20090112elpepunac_12/Tes Sanmartín,
Olga R. (Madrid). El Gobierno dice que los inmigrantes están dejando de venir ‘por primera vez’. 4 de marzo
de 2009. Elmundo.es:http://www.elmundo.es/elmundo/2009/03/04/espana/1236174407.html Bárbulo, Tomás
(Madrid). La crisis económica frena en seco la llegada de inmigrantes irregulares. 27 de abril de 2009. Elpais.
com: http://www.elpais.com/articulo/espana/crisis/economica/frena/seco/llegada/inmigrantes/irregulares/el-
pepiesp/20090427elpepinac_6/Tes Agencia EFE (Madrid). La llegada de inmigrantes en patera desciende el
9%. 8 de agosto de 2008. Elpais.com: http://www. e l p a i s . c o m / a r t i c u l o / e s p a n a / l l e g a d a / i n
m i g r a n t e s / p a t e r a / d e s c i e n d e /elpepuesp/20080808elpepunac_11/Tes
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

Derechos Humanos38.
34
También vemos ocasionalmente noticias críticas con la situación de los inmigrantes y con la respuesta
dada por el sistema al drama de la inmigración irregular. Muestra de ello son las críticas a los Centros
de Internamiento de Inmigrantes, tanto en su concepción como en su propio funcionamiento, carentes
de las garantías básicas de habitabilidad y de trato a sus internos, cuestión que ha sido denunciada,
según podemos observar tanto en El Mundo como en El País39.

En lo relativo a la inmigración laboral, del mismo modo que encontramos informaciones que
resaltan los aspectos más negativos, también existen, aunque en una proporción menor, artículos en
los que se reconoce la contribución de los trabajadores inmigrantes al Estado del Bienestar desde
múltiples aspectos, especialmente por la contribución a la Seguridad Social40 y por el aumento de
la tasa de natalidad41. A su vez, también se denuncian los abusos cometidos por ciertos empresarios
que, aprovechando la situación de vulnerabilidad de los trabajadores inmigrantes, los contratan en
condiciones abusivas que los dejan en una posición muy desfavorable con respecto a los trabajadores
nacionales, tanto en las retribuciones económicas como en las condiciones laborales en sí. En cuanto
a la educación, el discurso proactivo con respecto a la inmigración se limita más bien a denunciar
situaciones injustas, pero no hay muchas noticias que hablen del valor enriquecedor de la diversidad
del alumnado inmigrante para el Sistema Educativo y para la sociedad. El principal aspecto a destacar
en este sentido son las críticas recibidas por la Administración Educativa de Cataluña por su iniciativa
de separar a los inmigrantes recién llegados en los llamados Espacios de Bienvenida Educativa, con el
propósito de que permanezcan en ellos durante un tiempo hasta la consecución del conocimiento de
la lengua y las capacidades que se estimen suficientes para seguir el ritmo de las clases con el grupo
de referencia.

El hecho de separar a los alumnos inmigrantes en espacios diferentes a los del resto de alumnos de su
promoción, así como la imprecisión de determinados aspectos, como el criterio para determinar cuánto

38
Acerca de ello: Agencia EFE (Madrid). La caminata de 500 kilómetros culmina con una marcha contra
la Ley de Extranjería. 25 de octubre de 2009. Elmundo.es: http://www.elmundo.es/elmundo/2009/10/25/
espana/1256473374.html Redacción (Madrid). Marchas en 10 ciudades contra la reforma de la Ley de Ex-
tranjería. 18 de octubre de 2009. Elpais.com:http://www.elpais.com/articulo/espana/Marchas/ciudades/refor-
ma/Ley/Extranjeria/elpepiesp/20091018elpepinac_7/Tes Junquera, Natalia (Madrid). Asociaciones de inmi-
grantes tildan la ley de «policial». 18 de septiembre de 2009. Elpais.com: http://www.elpais.com/articulo/
espana/Asociaciones/inmigrantes/tildan/ley/policial/elpepiesp/20090918elpepinac_6/Tes Agencia EFE (Ma-
drid). Los inmigrantes piden «puentes y no muros». 17 de mayo de 2009. Elmundo. es: http://www.elmundo.
es/elmundo/2009/05/17/madrid/1242570833.html.
39
Missé, Andreu (Bruselas). 20.000 ‘sin papeles’ en centros de la UE. 18 de mayo de 2008. Elpais.com: h t
t p : / / w w w. e l p a i s . c o m / a r t i c u l o / i n t e r n a c i o n a l / 2 0 0 0 0 / p a p e l e s / c e n t r o s /
U E /elpepiint/20080518elpepiint_2/Tes Agencia EFE (Madrid). El 40% de los extranjeros en los centros de
internamiento españoles denuncia un trato «negativo o muy negativo». 9 de diciembre de 2009. Elpais.com:
http://www.elpais.com/articulo/espana/extranjeros/centros/internamiento/espanoles/denuncia/trato/ negativo/
negativo/elpepuesp/20091209elpepunac_28/Tes Rei, Joana (Madrid). Cerremos los Guantánamos europeos.
9 de abril de 2008. Elmundo.es: http://www.elmundo.es/elmundo/2008/04/09/madrid/1207746602.html Rei,
Joana (Madrid). Las cárceles de los «sin papeles». 10 de abril de 2008. Elmundo.es: http://www.elmundo.es/
elmundo/2008/04/10/solidaridad/1207842708.html Europa Press (Madrid). Las ONG presentan más de 1.800
firmas para exigir una investigación sobre los CIE. 12 de mayo de 2008. Elmundo.es: http://www.elmundo.es/
elmundo/2008/05/12/solidaridad/1210615734.html
40
Ximénez de Sandoval, Pablo (Madrid). Los inmigrantes salvan el Estado del Bienestar. 16 de junio de
2008. Elpais.com: http://www.elpais.com/articulo/sociedad/inmigrantes/salvan/Estado/bienestar/elpepiso-
c/20080616elpepisoc_1/Tes Abellán, Lucía (Madrid). El Banco de España cree que la “flexibilidad” laboral
de la inmigración ayudará al empleo. 22 de junio de 2008. Elpais.com: http://www.elpais.com/articulo/econo-
mia/Banco/Espana/cree/flexibilidad/laboral/inmigracion/ayudara/empleo/elpepieco/20080622elpepieco_4/
Tes Garea, Fernando (Madrid). Los inmigrantes enriquecemos España. 7 de julio de 2008. Elpais.com:h t t p :
/ / w w w. e l p a i s . c o m / a r t i c u l o / e s p a n a / i n m i g r a n t e s / e n r i q u e c e m o s / E s p a n a /
elpepinac/20080707elpepinac_6/Tes
41
Rei, Joana (Madrid). La inmigración eleva la natalidad en España al nivel más alto desde 1990. 3 de julio de
2008. Elmundo.es: http://www.elmundo.es/elmundo/2008/07/03/espana/1215079428.html
PERCEPCIÓN SOCIAL Y DISCURSO MEDIÁTICO SOBRE INMIGRACIÓN EN ESPAÑA

tiempo deberían estar y qué conocimientos y capacidades concretos habrían de adquirir los alumnos
inmigrantes derivados a estos espacios antes de poder desarrollar su actividad educativa de manera
35
normalizada ha causado gran irritación en determinados sectores de la Comunidad Educativa, por
considerar que supone una segregación evitable que puede afectar negativamente al propio desarrollo
educativo de estos menores inmigrantes, cuestión que la prensa nacional ha reflejado ampliamente,
como podemos observar en múltiples artículos publicados tanto en El Mundo como en El País42.

En la cobertura mediática de la cuestión de la diversidad en España, también percibimos la progresiva


presencia de un enfoque proactivo o tolerante. Esto se manifiesta en artículos en los que se da espacio
a los representantes de las propias comunidades de inmigrantes para que expliquen sus pretensiones,
sus dificultades, sus intereses y den a conocer su cultura desde un punto de vista interno, desde la
perspectiva de su propia referencia cultural43. También se dedica espacio ocasionalmente para mostrar
los avances del movimiento asociativo de diversas comunidades culturales y religiosas. El ejemplo
más patente es el de la comunidad islámica44.

A lo largo del análisis de prensa, observamos diversas noticias que hablan, de los intentos de
los representantes de algunas asociaciones de inmigrantes, algunas con gran peso dentro de la
propia comunidad cultural en cuestión, por limar diferencias y buscar los puntos de unión y las
compatibilidades de sus culturas con las sociedades de acogida en las que se encuentran. También
podemos ver a determinados representantes de la comunidad islámica explicando el sentido de
algunas de sus tradiciones. Son avances en la consecución de una verdadera integración de las diversas
comunidades culturales que se encuentran en nuestro país, de tal manera que no deban renunciar a
su identidad cultural para integrarse y que esta identidad cultural se sitúe, en efecto, dentro de los
márgenes delimitados por los Derechos Humanos.

Para terminar, hemos sido testigos de cómo a lo largo de los últimos años, los actores políticos, y
más concretamente el Gobierno, han desarrollado un discurso ante la cuestión migratoria que ha
ido virando desde el impulso decidido de políticas sociales para la acogida y la integración de los
inmigrantes entre los años 2004 y 2008, hacia una política de extranjería, a partir de la segunda mitad
de 2008, fuertemente condicionada por la variable económica y por las divergencias internas dentro
del partido socialista, más pragmática y con una menor sensibilidad hacia el colectivo inmigrante.

Los medios, convocados al efecto, han tendido a integrar, cuando no a reproducir, el discurso político
cambiante, bien para apoyar el viraje del Gobierno o bien para favorecer a la oposición, según el
caso, poniendo de manifiesto el cambio de criterio socialista, pasando así el discurso mediático de
ser fuente de información a desempeñar un papel más activo dentro del panorama político. Desde
la oposición, el Partido Popular, también ha mantenido posicionamientos más bien restrictivos en
determinados lugares de la geografía española.

Es el caso de la Comunidad de Cataluña, donde la candidata del PP a las elecciones autonómicas


de noviembre de 2010, Alicia Sánchez Camacho, logró 18 escaños, es decir, el mejor resultado de
su partido en toda la historia de la Comunidad, haciendo uso de un discurso ante la inmigración
fuertemente centrado en el control de los flujos migratorios y en el aspecto de la seguridad y en el que
se sugería la vinculación de determinados colectivos inmigrantes con la delincuencia. La reproducción
de los discursos político y mediático ha tenido un efecto en la sociedad que queda de manifiesto en
los sondeos de opinión, en los que podemos apreciar, según se ha dicho, que la percepción de la
42
Redacción (Barcelona). La segregación no tiene aliados. 21 de julio de 2008. Elpais.com: http://www.elpais.
com/articulo/sociedad/segregacion/tiene/aliados/elpepisoc/20080721elpepisoc_2/Tes.
43
Meneses, Rosa (Madrid). ¿Cuál es el significado y el origen del ‘hiyab’? 21 de abril de 2010. Elmundo.es:
http://www.elmundo.es/elmundo/2010/04/21/madrid/1271853528.html
44
Carbajosa, Ana (Bruselas). Los musulmanes europeos, contra los atentados suicidas y a favor del velo. 11
de enero de 2008. Elpais.com: http://www.elpais.com/articulo/internacional/musulmanes/europeos/atentados/
suicidas/favor/velo/elpepiint/20080111elpepiint_11/Tes.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

inmigración por parte de los españoles a partir de 2008 ha empeorado. Se tiende a valorar a los
36 inmigrantes en términos de problema, relacionándolos con la irregularidad y la inseguridad.

Se hace un balance a la baja de sus contribuciones al país, se los ve más como competencia en el
trabajo que como factor de crecimiento para el sistema productivo y se estiman en menor medida
sus potenciales contribuciones en el aspecto sociocultural. Todo ello hace patente el deterioro de la
imagen de los trabajadores foráneos y el recrudecimiento de las actitudes recelosas ante la inmigración
por parte de la sociedad española.

El colectivo inmigrante se ha visto incomodado ante esta situación y ha tratado de reclamar sus
derechos a través de actos reivindicativos, manifestaciones y actividades de protesta, como las
acontecidas en 2009 a propósito de la Reforma de la Ley de Extranjería y la ampliación del plazo de
permanencia en los Centros de Internamiento de Extranjeros. En ellos, las asociaciones de inmigrantes
han contado comúnmente con el apoyo de agentes sociales comprometidos, miembros de ONG e
instituciones solidarias principalmente. Sin embargo, no siempre han tenido la cobertura mediática ni
la receptividad política y social esperada.
ADAPTANDO EL GÉNERO EN AMÉRICA LATINA: DERECHOS Y CIUDADANÍA. ANÁLISIS INTERSECCIONAL
DE DOS DISPOSITIVOS GUBERNAMENTALES EN CHILE Y COLOMBIA.

37

ADAPTANDO EL GÉNERO EN AMÉRICA LATINA:


DERECHOS Y CIUDADANÍA.
ANÁLISIS INTERSECCIONAL DE DOS DISPOSITIVOS
GUBERNAMENTALES EN CHILE Y COLOMBIA.

Angélica María Gómez1


Fabiola Miranda Pérez2

RESUMEN

Este artículo buscar analizar, dos programas puestos en marcha en Chile y Colombia para gobernar la esfera
privada de las ciudadanas. En Chile estudiaremos el dispositivo gubernamental “Casas de acogida” para
“víctimas” de violencias en contexto intrafamiliar; y en Colombia el programa “Servicios de salud amigables
para jóvenes”. Se trata de dos políticas distintas cuyo elemento común es su manera de impactar interseccio-
nalmente. Veremos cómo los factores que configuran las discriminaciones, se articulan para construir la cate-
goría de género, continuando con el orden sexista en ambas sociedades. Finalmente pondremos en perspectiva
los desafíos para una ciudadanía igualitaria entre hombres y mujeres en América Latina.

PALABRAS-CLAVE: Mujeres. Discriminaciones. Género. Ciudadanía. Chile y Colombia.

1
Doctoranda en Sociología en el EHSS (Escuela de Altos Estudios en Ciencias Sociales), Paris, Francia. Entre
sus temáticas de estudios se encuentran los derechos sexuales y reproductivos, género y adolescencia.
2
Doctoranda en Ciencias Políticas, en el Instituto de Estudios Políticos de Grenoble, Universidad de Grenoble
2, Francia, sus temáticas de estudio son las políticas sociales con perspectiva de género. E-mail: fabiola.mi-
randaperez@etu-iepg.fr.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

ABSTRACT
38
This article aims at analysing globally two programs started in Chile and Colombia to govern private sphere of
women citizens. In Chile we will study the governmental device “safe house” for “victims” of heavy violence
in domestic context, and in Colombia the program “friendly services for young people and teenagers”. It is
about two different policies for which common element is their way of impacting intersectionnaly. We will
see how factors that configure discriminations articulate themselves to build gender category, going on with
sexist order in these two societies. Eventually, we will put on perspective the challenges for applying an equal
citizenship between men and women in Latin America. 

KEYWORDS: Women. Discriminations. Gender. Citizenship. Chile & Colombia.


ADAPTANDO EL GÉNERO EN AMÉRICA LATINA: DERECHOS Y CIUDADANÍA. ANÁLISIS INTERSECCIONAL
DE DOS DISPOSITIVOS GUBERNAMENTALES EN CHILE Y COLOMBIA.

INTRODUCCIÓN
39
En las últimas dos décadas diversos Estados latinoamericanos han generado acciones para contribuir
al desarrollo de los derechos de las mujeres. Dos ejemplos para analizar son: el programa para las
“buenas prácticas sexuales”, los “Servicios Amigables para Jóvenes y Adolescentes” en Colombia;
y el dispositivo de tratamiento de violencia doméstica “Casas de Acogida”, para la protección de
mujeres “victimas” de violencias de pareja en Chile.

Mediante su comparación, pretendemos interrogar su puesta en marcha a luz de sus aportes al ejercicio
de derechos de las ciudadanas. ¿Las prácticas de los funcionarios que se desempeñan al interior de
ellos responden a las necesidades generales y específicas de sus usuarios y usuarias? ¿Qué efectos
sobre los programas ejercen los contextos en los cuales se desarrollan? ¿Las acciones realizadas al
interior de los programas cumplen con la meta de contribuir a la empoderamiento de las mujeres
señalados en sus directivas?

Nuestra hipótesis sugiere que ambos programas, pese a anunciar un interés por contribuir al
ejercicio de derechos de las mujeres “empoderándolas”, operan como dispositivos de control, lo cual
contribuye a la continuación de discriminaciones. Los dispositivos estatales para validar y legitimar
su discurso y acciones se alimentan del uso de “saberes expertos” (Ihl, Kaluszynski, Pollet, 2003),
validados por organismos internacionales. De este modo, se produce una importación de modelos que
desconoce las características de la población que termina por afectar los procesos de “emancipación”
o empoderamiento. Para llevar a cabo el estudio propuesto nos basaremos la revisión de documentos
oficiales producidos por el Estado chileno y colombiano, y en el análisis de discurso de entrevistas
semi-directivas realizadas a funcionarios y agentes que contribuyen al desarrollo de ambos programas
enunciados.

2 EL CASO COLOMBIANO

2.1 Servicios de Salud Amigables

En Colombia, los derechos sexuales son reconocidos como derechos humanos protegidos en la actual
Constitución vigente desde 1991 (Pacheco et al., 2007), que además reconoce la existencia de una
pluralidad étnica en el Estado Colombiano. Sin embargo, cabe señalar que la noción de derechos
sexuales se vinculó desde el principio al concepto de salud, ante lo cual en 2003 se promulga la
“Política Nacional de Salud Sexual y Reproductiva”, corpus en el cual se enuncian principios que
contemplan la concepción de los derechos sexuales mediante la “equidad de género”.

En 2008 nacen los “Servicios de salud Amigables”, que son modalidades de atención en salud con
énfasis en la asesoría para la sexualidad en adolescentes. El programa contempla una implementación
a nivel nacional y él se auto-define como “una forma de concebir la actividad diaria dentro de las
unidades de atención en salud para la población joven”3. Las acciones realizadas por sus funcionarios se
orientan a la realización de intervenciones colectivas de “prevención de riesgos”, de ITS (Infecciones
de Transmisión Sexual), embarazos adolescentes y VIH, buscando considerar las realidades locales
de sus beneficiarios.

3
Servicios de Salud Amigables para Adolescentes y Jóvenes. Un modelo para adecuar las respuestas de los
servicios de salud a las necesidades de adolescentes y jóvenes de Colombia. Tercera edición. 2010. Ministerio
de Protección Social. UNFPA, p. 28.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

2.2 ¿Hacia una sexualidad responsable?


40
La perspectiva de género

El programa defiende la idea de trabajar bajo la premisa de la utilización de una “perspectiva de


género” en sus talleres. Lo anterior es señalado por los funcionarios, los cuales afirman la existencia
de mutaciones en los roles de género, que conllevan cambios importantes en la construcción de
una sociedad igualitaria. No obstante, ellos reconocen la existencia de representaciones que asocian
la reproducción a una tarea de “mujeres”, percibiéndolas como sujetos principalmente “pasivos”.
De esta forma, se dirigen ellas de manera diferenciada y las invitan a sesiones para prevenir los
embarazos, ignorando muchas veces, la presencia de los varones. En cuanto a la inclusión de la
categoría “género”, se convierte en un término necesario para la presentación de informes y resultados
como exigencia externa de los programas. Sin embargo, el género no se presenta como categoría de
análisis crítico que estructura la diferencia de comportamiento entre hombres y mujeres con respecto
a la sexualidad (Scott, Bonder, 1998).

2.3 Juventud y Etnicidad

La juventud se define en función de la edad, es decir, “aquellos ubicados entre los 10 y 29 años de
edad”4, siendo percibida como un grupo de riesgo para la salud pública dada su actividad sexual
“sin precauciones”. Las directrices para el trabajo suponen “educar” a la población y transformar
sus “mitos”. De esta manera, los funcionarios identifican “rasgos culturales” estableciendo una
división entre población rural andina, del Pacífico y urbana. Frente a los “rasgos andinos”5 se afirma
la necesidad de transformar “tabúes”. La cultura andina es caracterizada como poco interesada en los
servicios de salud. Además, señalan los funcionarios que, a diferencia del Pacífico, los adolescentes de
la montaña sacralizan la virginidad, iniciando su sexualidad de manera tardía y siendo poco abiertos
a manifestar sus prácticas sexuales. Así, aparecen discursos victimizando a poblaciones rurales que
construyen estereotipos étnicos, a partir de una representación del “buen uso de la sexualidad”. El
proceso de “liberación” se entiende como exclusivo de la zona urbana:
Las mujeres rurales tienen oficios de amas de casa. Su role le impide tomarse el medicamento
a cierta hora [...] En cambio, una mujer de zona urbana [organiza] su agenda: bueno a esta
hora a las doce del día la tengo libre, voy a almorzar y de paso me tomo el medicamento
[refiriéndose a la píldora anticonceptiva]”6.

Los funcionarios muestran en sus representaciones la existencia de una supuesta incapacidad


de la población rural para asumir una sexualidad “responsable”. Con todo, sus relatos dan cuenta
de dificultades estructurales consecuencia de las condiciones de acceso y la centralización de los
recursos. Esto último, vinculado a la situación de precariedad que afecta el ejercicio de sus derechos:
¿a una paciente de zona rural, que método de planificación le damos, pastillitas o inyección?
[…] con un método mensual, tiene que bajar cumplidamente a sus citas [sumando a esto que]
hay trayectos que son inaccesibles […] por eso allá [en el campo] desertan mucho. Cuando
tienen dos hijos se [les] sugiere [a las mujeres tomar] métodos [anticonceptivos] definitivos,
igual por las condiciones socioeconómicas de la población7.

4
Servicios de Salud Amigables para Adolescentes y Jóvenes. Un modelo para adecuar las respuestas de los
servicios de salud a las necesidades de adolescentes y jóvenes de Colombia. 3era ed. 2010. Ministerio de Pro-
tección Social. UNFPA. P. 25
5
La población Nariñense se acentúa principalmente en tres zonas geográficas: pacífico, zona rural andina y
población urbana.
6
Médico referente Instituto departamental de Nariño. Entrevista realizada 07/01/2012 en Pasto-Nariño.
7
Médica de servicios amigables. 10/01/2012 en Pasto-Nariño.
ADAPTANDO EL GÉNERO EN AMÉRICA LATINA: DERECHOS Y CIUDADANÍA. ANÁLISIS INTERSECCIONAL
DE DOS DISPOSITIVOS GUBERNAMENTALES EN CHILE Y COLOMBIA.

Las dificultades de acceso a los servicios para las comunidades rurales, es incrementado por la
repartición desigual de recursos, los cuales son entregados en razón de la población a intervenir. De
41
esta manera, las brechas entre un servicio y otro son importantes, dejando a comunidades subalternas
más afectadas por la precariedad. Bajo este contexto vemos como las discriminaciones hacia un
sector de la población a tratar continúan estando fuertemente presentes.

3 EL CASO CHILENO

3.1 De la “recepción” de las normas a la praxis.

Con la vuelta a la democracia en Chile, el país comienza a generar acciones para mostrarse ante la
sociedad internacional como un Estado garante de los derechos de sus ciudadanos/as. En esa línea
en 1991, se crea una agencia para la promoción de la igualdad de derechos de las mujeres el Servicio
Nacional de la Mujer (SERNAM)8, dependiente del Ministerio de Planificación (MIDEPLAN)
actualmente llamado Ministerio de Desarrollo Social. La promoción de planes de prevención de las
violencias de género se configura rápido como un eje de acción importante para el Estado en la
contribución de una sociedad más igualitaria. Sin embargo, se centraliza en el discurso estatal la idea
de una lucha contra las violencias en el seno de la familia, siendo los planes llamados de combate
contra las “violencias intrafamiliares” (VIF). Siguiendo esta línea en 1994 se promulga la primera ley
de VIF (n°19.325), la cual es reformada en 2005 (n°20.066), debido a problemas estructurales, sobre
todo en materia de sanción a sus infractores.

Por su parte, la segunda ley llama al Estado a generar dispositivos a través programas especializados
en la problemática de las violencias familiares, sobre todo, aquellas de carácter conyugal. Los
programas llevados a cabo por el Servicio Nacional de la mujer insisten en la generación de procesos
de emancipación para las mujeres como la base de su accionar. Ahora bien, si al interior de los
programas se busca contribuir a la emancipación, distintos limites se hacen presentes. Uno de ellos son
los procesos de “migración” (Araujo, 2010) multinivel de las ideas (del nivel supranacional hacia el
nacional, pero así también del nacional al local). Entonces, en los programas intervienen las diferentes
“re-significaciones” (Marques-Pereira, 2010:89) generadas por los actores involucrados en ellos.
Esto implica un desarrollo paralelo de diferentes posiciones acerca de lo cual trabajar considerando
“perspectiva de género” significa. Lo anterior, será analizado y presentado por intermedio del análisis
del programa “Casas de Acogida” para las víctimas de violencia grave en contexto intrafamiliar.

3.2 Las Casas de Acogida

La segunda ley de lucha contra las violencias intrafamiliares (VIF) de 2005, hace un llamado al
Poder Ejecutivo a crear programas y políticas públicas para combatir las violencias en contexto
doméstico9. Así en 2007, se crea un dispositivo de apoyo a las mujeres “en riesgo grave o vital en
contexto intrafamiliar”: Las “Casas de Acogida”, las Casas son implementadas a nivel nacional siendo
actualmente 24 en funcionamiento. Este instrumento estatal desde el comienzo se instituye como una
herramienta focalizada en mujeres que no cuentan con redes primarias, es decir, se dirige a mujeres
sin familiares en la región en la cual habitan y provenientes de los sectores más desfavorecidos de la
población. En las Casas se entrega una atención especializada para los casos connotados de riesgo,
mediante apoyo sicológico y asesoría jurídica. Debido al riesgo ante el cual se encuentran sus usuarias,

8
El Servicio Nacional de la Mujer (SERNAM) nace a través de la ley 19.023. “El Servicio Nacional de la Mujer
es el organismo encargado de colaborar con el Ejecutivo [en la] proposición de planes generales y medidas
conducentes a que la mujer goce de igualdad de derechos y oportunidades respecto del hombre […]”.
9
Articulo n°3, ley n° 20.066 a propósito de VIF.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

estos alojamientos de emergencia cuentan con protección policial constante. Lo anterior implica un
42 encierro temporal en sus recintos, o bien estrictas limitaciones para sus desplazamientos. A pesar de lo
anterior, el programa busca contribuir al “empoderamiento” de beneficiarias a través de la realización
de talleres con grupales y terapia sicológica, además de orientarlas hacia la inserción laboral. En
ese sentido las mujeres residentes y sus hijos son invitadas a conectarse con otras instituciones del
Estado, siendo en algunos casos prioritarias, por ejemplo, en planes de inserción laboral femenina o
bien para subsidios de vivienda. El periodo de estancia máximo es de 3 meses, ampliado cuando las
mujeres continúan en riesgo, o ante la dependencia económica de un agresor potencial. El límite de
hijos para ingresar es de 2 menores de 12 años.

3.3 Adecuación de la política pública al terreno de acción.

Quisiéramos comenzar por enunciar a quién el Estado configura como “susceptible de intervención,
basándonos en los testimonios de dos funcionarias:

Hay una teoría que dice que mientras la mujer, menos recursos aporte a la casa, el hombre
puede ejercer más poder, y la mujer va a aceptar, y va a ponerse en un lugar de sumisión
porque depende de él […] Entonces [en general] son mujeres entre 17 hasta 60 años [...] de
barrios bajos, situación socioeconómica baja, y nivel educacional muy bajo10.
Son mujeres súper jóvenes, como 25 años es el promedio de edad […] [con] muy poca
escolaridad, con muchos hijos, en situaciones de vulneración importante […] [Ellas tienen]
escasa autonomía, […] de ambientes muy vulnerables, o sea, de extrema pobreza la mayoría,
de sectores muy marginales11.

A través de estos extractos podemos enunciar que el programa se focaliza en una población considerada
“vulnerable”, siendo aquella el objeto de intervención en razón de sus necesidades de orientación y de
vivienda. Entonces, frente a la inexistencia de definición del sector socio-económico al cual se orienta
el programa por parte del Servicio Nacional de la Mujer, en sus orientaciones técnicas, los discursos
vienen a categorizar la población usuaria. Así, entendemos que la política pública se dirige a mujeres
caracterizadas por diferentes intersecciones: sexo, edad, y clase social. Cuando los funcionarios hacen
referencia a las “víctimas de la violencia sexista”, se hace una relación directa entre la edad temprana
y la pobreza que afecta a las mujeres. De este modo, captamos la sectorización de la política y su
alcance social, y por otra parte son estas intersecciones las que justifican su tratamiento.

En lo relativo a la perspectiva de género proclamada por el programa “Casas de Acogida”, las bases
anuncian poner en marcha procesos de reparación que contribuyan a la independencia económica y
emocional de las mujeres de su agresor:

la atención a mujeres que se encuentra sufriendo violencia grave, cumplirá una triple función:
por una parte, detendrá la violencia y protegerá a la mujer y su familia, en segundo lugar,
contribuirá al proceso de reparar los efectos que la violencia ha provocado en ellas y, por
último, les facilitará la adquisición de herramientas para comenzar un nuevo proyecto de
vida, desde una perspectiva de competencias y recursos, donde un elemento central es el
desarrollo del empoderamiento desde la propia mujer12.

Pese a que estos objetivos son parte de las orientaciones técnicas del programa, diferentes factores
influyen para afectar al cumplimiento de aquellos. Los anteriores son destacados por una funcionaria,
la cual señala que frente a la realidad a la cual ellos se enfrentan en el cotidiano, y el corto periodo
de intervención, la meta principal es la entrega de recursos que permitan a las mujeres alejarse de
situaciones que afecten a la seguridad física de ellas y de sus hijos.

10
Entrevista a una funcionaria del Sernam nacional, realizada 04/09/12 en Santiago de Chile.
11
Entrevista realizada a una funcionaria de una “Casa de Acogida” el 12/11/13 en Santiago de Chile.
12
SERNAM (2012) “Orientaciones técnicas para la intervención psicosocial con mujeres”, p.21.
ADAPTANDO EL GÉNERO EN AMÉRICA LATINA: DERECHOS Y CIUDADANÍA. ANÁLISIS INTERSECCIONAL
DE DOS DISPOSITIVOS GUBERNAMENTALES EN CHILE Y COLOMBIA.

“Nosotros no pretendemos que una mujer salga sana de una Casa de Acogida, lo que queremos es que
al menos ella tome conciencia de la violencia y del riesgo [al cual se expone] por las dinámicas de la
43
violencia. Esto es un trabajo a corto término, pero este objetivo también es difícil, dado que tenemos
otros objetivos como el empoderamiento que necesita de un tratamiento más profundo”13.

De esta manera, observamos que los objetivos de emancipación para las mujeres se ven restringidos
por la estructura misma de los programas. Así, el trabajo de los funcionarios se orienta sobre tres ejes:
poner en evidencia las relaciones de violencia en las cuales sus usuarias se encuentran, identificar
estrategias de protección para las usuarias y sus hijos, e incitarlas a denunciar y continuar los
procesos ante la justicia. El empoderamiento, es entonces, un objetivo a largo plazo que requiere una
permanencia más extensa en el tiempo en los dispositivos, que el Estado chileno no está en condición
de asegurar. El programa “Casas de Acogida”, es aún un instrumento que más allá de asegurar procesos
de emancipación o empoderamiento se orienta más bien a cubrir necesidades de seguridad y vivienda
para las mujeres en situación de dificultad económica. Los procesos de desnaturalización de las
relaciones de poder se basan en una toma básica de conciencia de las relaciones desiguales existentes
entre mujeres y hombres y no implican un verdadero proceso de desnaturalización de aquellas. Con
todo, se observa que este dispositivo ha sido un eje fuerte contra las violencias conyugales ya que antes
de su aparición existían solamente programas locales con directivas de alcance menor. Actualmente,
el trabajo deberá buscar el desarrollo de estrategias que permitan a las mujeres, no solamente alejarlas
de su agresor, sino insertarlas de nuevo al mundo social y del trabajo, como la base de sus procesos
de emancipación.

4 CASO CHILENO Y COLOMBIANO EN PERSPECTIVA

4.1 Entre “re-significación” e instrumentalización de la acción pública.

Orientación de los programas

De manera general, hemos podido observar que ambos programas responden a necesidades sociales
captadas por los Estados, y a exigencias internacionales tendientes a estrechar las brechas que separan
hombres y mujeres en el ejercicio de su ciudadanía. Para responder a esto, tanto las autoridades como
los agentes y funcionarios de ambos Estados han tenido que pasar por procesos de interpretación
acerca de lo que trabajar siguiendo un “enfoque de género” significa. Sin embargo, en los procesos de
bajada de las exigencias internacionales a las realidades locales, han implicado procesos de adaptación
y de interpretación de las exigencias internacionales por parte de los decidores públicos involucrados,
pero así también por parte de los funcionarios involucrados en el trabajo cotidiano con los usuarios y
usuarias de los dispositivos. Si asumimos que trabajar utilizando el género como categoría de análisis,
que está a la base de relaciones de poder desiguales entre los individuos, implica la imposibilidad
de una postura neutra entre el observador o ejecutor y su objeto, podemos deducir que cuando éste
fundamenta el accionar de la autoridad pública (Ballmer-Cao y Bonvin 2008), las representaciones
sociales de sus diseñadores se ven plasmadas en la estructura y resultado de las políticas públicas. De
este modo, el tratamiento que se le ha dado a ambas temáticas sea en relación a los derechos sexuales
y reproductivos en Colombia o al tratamiento de la violencia machista en Chile, reproduce la manera
por la cual la categoría de género produce tensiones, y por otra parte cómo se viven las relaciones
inter-género en el seno de ambas sociedades.

Identificamos que en el tratamiento dado a tales problemáticas responde a discursos sociales y a su


sumisión a una posición política dominante. En Colombia, es durante el proceso de la Asamblea Na-
cional Constituyente (1991), que las mujeres posicionan sus demandas en la agenda pública. Dicho
proceso, si bien es favorable para sus reivindicaciones, también es complejo debido a los posiciona-
13
Entrevista realizada a una funcionaria de las Casas de Acogida de la comuna de Puente Alto en Santiago de
Chile, realizada el 12/12/12.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

mientos contrarios. Así, actualmente los frenos a las iniciativas de orden progresista, incorporadas
44 por el movimiento de mujeres, se ven reflejados en los obstáculos para dar curso a procedimientos de
interrupción del embarazo, retrasando el proceso (legal) al punto de hacerlo inviable14. En cuanto a
Chile, ha existido históricamente un rechazo al reconocimiento del “género” como categoría de utili-
zación política por parte de sectores conservadores. Lo cual ha tenido un impacto en el desarrollo de
políticas públicas y de leyes orientadas hacia las mujeres durante el periodo post-dictatorial. Más allá
de poner en marcha mecanismos que impliquen y que promuevan practicas inclusivas entre los sexos,
se ha tendido a la producción de programas que muchas vecen continúan una lógica de reproducción
de roles asignados a cada sexo. Creemos que el programa “Casas de acogida”, se inscribe dentro de
esta lógica, al asignar el espacio público a lo masculino, y el encierro o esfera privada a lo femenino.
La apelación de ley de violencia “intrafamiliar”, es otro elemento que nos muestra la inclusión y la
relación establecida entre las mujeres y la esfera familiar o privada y que por ende es revelador de la
lectura realizada del género por parte del Estado y sus autoridades.

Los discursos dominantes en consecuencia, como lo vemos en ambos casos, se ven distintamente re-
flejados. En Colombia, la ley y las políticas públicas se enmarcan en una “perspectiva de género”, que
es también asumida por el Estado, sin embargo cuestionada en sus aplicaciones. En cambio en Chile,
el “enfoque de género” es rechazado por la ley, no obstante él es asumido por el Estado en ciertas polí-
ticas públicas. Estas tensiones rinden finalmente cuenta como el “género” es un concepto que está a
la base de conflictos sociales preexistentes, a causa de “relaciones de poder desiguales” (Ballmer-Cao
et Bonvin, 2008: 19) institucionalizadas por la sociedad, pero así también por el Estado.

Otro elemento a tener en cuenta a la hora de analizar la adecuación de los programas y políticas
públicas al terreno de acción, es tener en cuenta que ambos programas presentados se vinculan a
convenciones internacionales comprometidas por los Estados. Acuerdos, tales que la Convención
contra las violencias a las mujeres (Belem do Pará, Brasil 1994), y la adhesión a las directrices de
la IV Conferencia de la Mujer de Beijing en 1995 mediante los objetivos de desarrollo del Milenio
(ODM)15: la disminución de infecciones de transmisión sexual, VIH, prevención del embarazo
adolescente o bien la promoción al desarrollo de políticas públicas para tratar las violencias de género
por parte de los Estados. Por lo tanto, ambos programas existen en diversos países de América Latina
y constituyen una importación de modelos16, inmersos en relaciones de poder Norte-Sur a través de
la transferencia de medios financieros y/o la imposición de conductas consideradas “adecuadas” por
parte de los usuarios y usuarias que den cuenta de un nivel de desarrollo para el país respondiendo a
indicadores impuestos por la sociedad internacional.

4.1 Población objetivo

A pesar de que en ambos casos se trata de políticas públicas orientadas a una muestra importante
de la población, su sectorización es presentada a la hora de analizar los sectores geográficos en los
cuales los programas despliegan sus esfuerzos, siendo por lo general sectores considerados más
desfavorecidos, y a la hora de leer los discursos llevados por los agentes estatales. En el caso de
Chile, país neoliberal, el público “objetivo” se caracteriza por la selección de un grupo poblacional
especifico de mujeres “vulnerables”, dado que el Estado no puede hacerse cargo de una población

14
Información obtenida en entrevista con la encargada del programa servicios amigables para Nariño. Entrevis-
ta realizada el 25/01/2013 en Pasto-Nariño
15
Documento disponible en internet: Phttp://odm.pnudcolombia.org/index.php?option=com_content&view=-
category&layout=blog&id=5&Itemid=14
16
En el caso de Chile, una ex Ministra del Sernam durante una entrevista nos señaló que en el diseño ella se
había “inspirado” de la experiencia española, siguiendo un modelo similar al de Casas de acogida de ese país.
Entrevista realizada 19/12/12 en Santiago de Chile. Para el caso de Colombia, el documento oficial que permite
guiar a funcionarios, propone una implementación de un modelo puesto en marcha en otros países de América
Latina mencionados más arriba.
ADAPTANDO EL GÉNERO EN AMÉRICA LATINA: DERECHOS Y CIUDADANÍA. ANÁLISIS INTERSECCIONAL
DE DOS DISPOSITIVOS GUBERNAMENTALES EN CHILE Y COLOMBIA.

que a su consideración, puede “auto-otorgarse” ayuda por sus propios medios. En el caso colombiano,
igualmente neoliberal, con un sistema de salud mixto que se caracteriza por sus fuertes desigualdades,
45
los usuarios/as de Servicios Amigables son la mayoría beneficiarios/as del sector público. Entonces,
se asume que la población “en riesgo”, es aquella que sin la ayuda del Estado no podría acceder a
prestaciones sociales y de salud. En cuanto a la edad de los beneficiarios,, identificamos que se trata
principalmente de mujeres entre 15 y 35 años. En ambos casos se trata de una edad reproductiva.
Cabría preguntarse si esto reproduce la relación feminidad/maternidad (Lagarde, 1997), es decir,
muestra al Estado como garante del rol socialmente asociado a las mujeres.

4.2 Realidades de las mujeres con una lectura interseccional.

Los elementos anunciados dan cuenta de diversas posiciones marcadoras de la diferencia: es decir, las
condiciones sociales que operan para jerarquizar: sexo, preferencias sexuales, raza/etnicidad, clase,
origen, edad. Mencionamos el sexo, el origen, la clase y la edad, pues son características enunciadas
en los programas. Sin embargo, es pertinente indagar marcadores no explícitos desde una posición
“no marcada”. Hablamos entonces de la “heterosexualidad” y la etnicidad “mestiza”.

Con respecto a la hetero-normatividad, ambos programas se dirigen principalmente a mujeres


heterosexuales. Si bien sus “perspectivas de género” plantean tolerancia frente a la diversidad
sexual, el locus de enunciación, es decir, hablar desde la posición de la heterosexualidad, asumida
como “normal” o “mayoritaria”, contribuye a la otrerización de la homosexualidad manteniendo
exclusiones en la no toma en cuenta de sus necesidades y en su victimización (Estrada, 2007; Butler,
2005; Curiel, 2013).

Finalmente, planteamos la interrogante a propósito de los discursos sobre etnicidad que pueden operar
en ambos programas y que corresponden a los relatos de Estado-Nación de cada uno de los países. En
Colombia, la definición constitucional como Estado multicultural, se visibiliza en el establecimiento
de diferencias entre el comportamiento sexual de las poblaciones según su ubicación geográfica. La
sexualidad “adecuada”, se percibe como distante del comportamiento de las poblaciones rurales,
afro-descendientes e indígenas. Por el contario, en Chile, la etnicidad es invisible, dado el no
reconocimiento del Estado como plurinacional. Entonces, pese a las diferenciaciones étnicas y luchas
por el reconocimiento de grupos “minoritarios”, el factor etnicidad es un marcador de relevancia
mínima, dado que las políticas públicas orientadas a los “pueblos originarios” se concentran en
temáticas ligadas al patrimonio de estos pueblos (JOUANNET, 2011). Lo anterior, no implica la
ausencia de una jerarquía étnica y racial que toca directamente a las mujeres, sino más bien, la
invisibilidad asociada a posturas no marcadas como el mestizaje y el eurocentrismo presentes en los
agentes/funcionarios.

4.3 Derechos y ciudadanía

Cuando hablamos de ciudadanía y su ejercicio, queremos tomar en cuenta dos aspectos propuestos por
Molyneux (MOLYNEUX, 2009): su ejercicio cotidiano, y en términos de inclusión y cohesión social
que implica su ejercicio. El primero entiende como “justicia social” el reconocimiento institucional
social y familiar de las mujeres como sujetos de derecho. El segundo entiende la ciudadanía “como
un proceso de lucha contra la exclusión social” (Molyneux, 2009: 71), en tanto que reclamo de la
inclusión de minorías marcadas por la clase y la etnicidad entre otros, que se suman a la dificultad del
ejercicio de la ciudadanía para las mujeres, generando binomios o trinomios discriminatorios: mujer-
indígena-pobre. El primer punto, muestra como la sociedad condiciona el ejercicio de derechos. En
los casos estudiados cuestionamos la protección a las mujeres, respetando su autonomía. El segundo
muestra que, tanto en el caso chileno como en el colombiano, los “mecanismos de cohesión social” se
encuentran “debilitados” (MOLYNEUX, 2009) por la falta de inclusión a la vida social de las mujeres
vulnerables, manifestado en la toma en cuenta de las particularidades de esta población. En el caso
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

chileno se refleja en la exclusión legal de grupos minoritarios, y en el colombiano en la asociación de


46 conductas esperadas como distantes de las usuarias por tratarse de mujeres rurales.

CONCLUSIÓN  

A través del artículo revisamos como, bajo la promoción de la “equidad de género”, los Estados
implementan diferentes programas en América Latina. Estudiamos la congruencia entre los
objetivos de los programas y las prácticas enunciadas por los funcionarios con el objeto de indagar
las representaciones movilizadas en las interacciones entre estos últimos y los usuarios y usuarias.
El análisis realizado dejó en evidencia las contradicciones entre los objetivos de empoderamiento,
que los programas enuncian llevar a cabo, y la implementación de los programas, pero así también
en la estructura misma de los programas. Las prácticas de los funcionarios/as se condicionan por
sus discursos, dejando entrever representaciones de la población intervenida que reproducen
discriminaciones.

Sin cuestionar las intenciones de los agentes, explicamos el fenómeno como consecuencia del
contexto. En efecto, éste afecta las subjetividades de los integrantes de ambas sociedades, dando
cuenta de rasgos sexistas y herencias coloniales, donde las ideas del “norte”, asociadas al “progreso,
civilización y desarrollo” se configuran como modelos. Así, la aplicación de patrones establecidos
por modelos importados en el marco de una relación de poder Norte-Sur desconoce realidades
particulares de las sociedades latinoamericanas.

Por otra parte, los modelos importados son el objeto de transformaciones en razón de procesos de
“re-significación” (MARQUES-PEREIRA, 2010) por parte de los agentes. Tales procesos se reflejan
a través del discurso mostrando la “naturalización de las relaciones sociales de sexo” (BALLMER-
CAO, BONVIN, 2008:20).Es decir, la división tradicional de roles manifestada de manera visible en
las prácticas de los funcionario/as.

De esta manera, el análisis pretendió dar cuenta cómo las prácticas y discursos de los funcionarios
reconfiguran “la perspectiva de género” transformándola en un instrumento que permite, la
continuación de lógicas de dominación en detrimento de los derechos de las mujeres.

REFERENCIAS

ARAUJO, Kathya. Transnationalisation et politiques publiques : le processus d’institutionnalisation


des agendas féministes. In : MARQUES-PEREIRA, Bérèngere; MEIER, Petra ; PATERNOTTE,
David (Dir.). Au-delà et en deçà de l’Etat : le genre entre dynamiques transnationales et multi
niveaux. Louvain: Ed. Bruylant-Academia, 2006.

BALLMER-CAO, Thanh-Huyen ; BONVIN, Jean Michel. Les politiques publiques du genre :


transformations et perspectives. In : ENGELI, Isabelle; BALLMER-CAO, Thanh-Huyen ; MULLER,
Pierre (Dir.). Les politiques du genre. Paris : Ed. L’Harmattan, collection Logiques politiques, 2008

BONDER, Gloria. Género y subjetividad: Avatares de una relación no Evidente, 1998. Disponible
en: <http://www.iin.oea.org/iin/cad/actualizacion/pdf/Explotacion/genero_y_subjetividad_bonder.
pd>. Acceso en: 15 sept. 2013.

BUTLER, Judith. Trouble dans le genre: pour ne féminisme de la subversion.  Paris: Éditions la
Découverte, 2005.

CURIEL, Ochy. La nación heterosexual, análisis del discurso jurídico y el régimen heterosexual
ADAPTANDO EL GÉNERO EN AMÉRICA LATINA: DERECHOS Y CIUDADANÍA. ANÁLISIS INTERSECCIONAL
DE DOS DISPOSITIVOS GUBERNAMENTALES EN CHILE Y COLOMBIA.

desde la antropología de la dominación. Bogotá: Brecha Lésbica y en la frontera, 2013.


47
ESTRADA, Angela; CAMINO, M., TRAVERSO, L. Repertorios interpretativos sobre la
homosexualidad en Bogotá: Revista de Estudios Sociales, Bogotá, n. 28, 2007, p. 56-71.

FOUCAULT, Michel. La gouvernementalité. In : Dits et écrits II, 1976-1988. Paris : Gallimard
(Quarto), 2001.

IHL, Olivier; KALUSZYNSKI, Martine; POLLET, Gilles (Dir.). Les sciences du gouvernement.
Paris: Economica, 2003.

JOUANNET, Andrés. Participación política indígena en Chile: el caso mapuche. In: CARDENAS,
Víctor Hugo; FERNANDO, André. Participación política indígena y políticas públicas para
pueblos indígenas en América Latina. La Paz: Ed. Konrad Adenauer, 2011.

LAGARDE, Marcela. Los cautiverios de las Mujeres: madresposas, monjas, putas, presas y locas.
México: UNAM, 1997.

MARQUES-PEREIRA, Bérèngere. Le féminisme latino-américain au niveau transnational. In :


MARQUES-PEREIRA, Bérèngere ; MEIER, Petra ; PATERNOTTE, David (Dir.). Au-delà et en
deçà de l’Etat : le genre entre dynamiques transnationales et multi niveaux. Louvain: Bruylant-
Academia, 2010.

PACHECO, Carlos; LATORRE, Carolina; ENRIQUEZ, Carolina. El Carnaval de los Desencuentros,


La construcción de los derechos humanos, sexuales y reproductivos en adolescentes. Universidad
del Rosario: Bogotá, 2007.
SCOTT, Joan. Le Genre une catégorie utile d’analyse historique. Paris: Cahiers de GRIF, 2008.

Documentos e informes

CHILE. Ministerio de Justicia, Ley de violencia intrafamiliar, n.19.325,publicada en el Diario Oficial


de 27 de Agosto de 1994, Decreto Supremo Nº1.41, Diario Oficial, Feb.1996. Santiago, Ediciones
Publiley. 1999.

Sentencia C-355 de 2006 para la despenalización del aborto en Colombia en tres casos específicos.

Servicios de Salud Amigables para Adolescentes y Jóvenes. Un modelo para adecuar las respuestas
de los servicios de salud a las necesidades de adolescentes y jóvenes en Colombia. Tercera edición.
Ministerio de la protección social. UNFPA. 2010.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

48
FILH@S DA PEDRA: DESVENDANDO VIDAS A PARTIR DE NARRATIVAS DE MULHERES USUÁRIAS
DE CRACK

49

FILH@S DA PEDRA: DESVENDANDO VIDAS A PARTIR


DE NARRATIVAS DE MULHERES USUÁRIAS DE CRACK

Marcelo de Freitas Gimba1


Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti2

No meio do caminho tinha uma pedra


Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.
 Carlos Drummond de Andrade

PRIMEIRAS ANDANÇAS: entre a rua e o método

Ao abordar o tema crack, observa-se que existem vários grupos de pessoas que fazem uso de tal
substância psicoativa, em geral homens, sendo um percentual maior que as mulheres e praticam mais
crimes na vivência do crack. Nas cidades, nas ruas e nas praças, também crianças e adolescentes
estão envolvidos, perambulando sem destino, o que requer políticas públicas que tenham como “[…]
desafios mais importantes para o futuro, em âmbito público e privado, a construção de políticas
comprometidas com o direito de oportunidades” (CAVALCANTI, 2005, p. 96). No entanto, os
caracteres distintivos e motivadores para realizar esta pesquisa não englobam estas categorias, haja
vista que a delimitação recai sobre mulheres usuárias de crack. Como delimitação do grupo a ser
pesquisado, acabamos restringindo às internas em Centros de Tratamentos e Clínicas Especializadas
em Dependência Química, na Região Metropolitana de Salvador. Sujeitos do sexo feminino,
interconectando categorias sociais e representações de gênero, classe, territórios, etnia/raça, bem
como as relações familiares expressas e construídas através da intergeracionalidade.

Ademais, foi dada ênfase no impacto do uso de crack dentro das relações e ambientes familiares,
especialmente em razão das violências praticadas pelas usuárias contra todos: desde pequenos furtos

1
Mestre em Família na Sociedade Contemporânea pela UCSAL. Advogado. E-mail: mgimba@bol.com.br
2
Pós-doutora pela Universidade de Salamanca, Espanha. Professora e investigadora do Programa de Pós-
Graduação em Família na sociedade contemporânea da UCSAL. Integrante do NPEJI/UCSAL/CNPq.
Professora da Faculdade Ruy Barbosa. E-mail: vanessa.cavalcanti@uol.com.br
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

de objetos da sua residência, abandono dos filhos e filhas, ausência da possibilidade de dialogar, que
50 nessa tentativa responde agressivamente gerando uma impotência familiar. Diante de tal situação,
perdem os seus referenciais e o sentido de aliança e, como resultado desse comportamento, a
convivência afetiva e social fica comprometida e enfraquecida pela quebra de valores e de padrões
compartilhados.

Neste contexto, o surgimento e o aumento rápido da utilização do crack desde o final do século
passado ampliam a gravidade deste dilema, dilatando e agravando as condições de vulnerabilidade
para as parcelas mais carentes da população. Em Salvador, o consumo cresceu na população de rua,
devido ao completo abandono, conforme noticiado nos jornais:
A cena é cada vez mais degradante, entre adolescentes, adultos e até mesmo idosos moradores
de Rua de Salvador, principalmente os que perambulam entre a região da Calçada (cidade
baixa) e o Farol da Barra, incluindo o Centro Histórico. Quase impossível apontar algum deles
que não faz uso de crack, a droga cuja circulação cresceu 140% este ano na capital baiana,
atingindo várias camadas sociais, segundo o Departamento de Tóxicos e Entorpecentes. (A
TARDE, 13/12/2008)

Em Salvador, de 2006 a 2009, 5.618 novos usuários passaram a ser atendidos pelo Programa
de Redução de Danos da Universidade Federal da Bahia, um dos principais centros de estudos
sobre o assunto. O alvo da pesquisa foi a população de rua e se refere só aos que aceitaram
começar um processo para abandonar o vício. Para se ter uma ideia do problema, em 2006,
só 26% dos novos usuários de drogas atendidos eram consumidores de crack. Em 2009, a
proporção pulou para 34% (O GLOBO, 06/02/10)

Milton Júlio Carvalho Filho ressalta que cada sociedade “fabrica seus próprios desviantes”,
classificando em sociedades antropofágicas ou antropoêmicas, de acordo como lidam com essas
pessoas:
Engolindo-os, incluindo-os e tornando-os seus ou vomitando-os, conservando-os fora
da sociedade, excluindo-os, comparando essas sociedades, assim, com os processos de
canibalismo e bulimia. Considera, assim, que o mundo moderno tanto ingere quanto ejeta; é
excludente e includente.(in: DANTAS; CARVALHO, 2012, p. 91)

As mulheres usuárias de crack constituem um grupo distinto, como as acometidas com câncer de
mama, exigindo uma atenção específica e multifacetada, com o comprometimento de todos os
envolvidos.
As transformações em uma estrutura familiar, oriundas da constatação da severidade da
doença [...] contribuem para que se processem inúmeras mudanças no comportamento e na
psique dos seus membros. É necessário englobar os fenômenos dentro dos seus contextos,
possibilitando criar um laço de pertencimento do indivíduo adoecido com o seu grupo
familiar, evitando as lacunas e as contradições, bastante frequentes durante essa fase tão
crítica. Por outro lado, é igualmente importante, que os profissionais de saúde envolvidos no
processo da doença, tenham consciência do papel que desempenharão em todas as etapas da
enfermidade e, se habilitem para lidar com todas elas, auxiliando a família a transpô-las. Para
que isso se realize de uma maneira harmônica, necessário se faz à compreensão de uma nova
postura diante da doença e do doente, com a finalidade da realização de parceria, ou seja,
da interação entre o doente, a família e os profissionais de saúde. Com essa visão, e nesse
contexto, é mister que todas as partes estejam motivadas, para que se possa de fato ouvir
as narrativas atentando para a subjetividade presente, não se limitando apenas às queixas
clínicas. (SANTOS, 2010, p. 22)
 
Quando o uso da droga se torna contumaz, a pessoa deixa de sentir prazer em outros aspectos da
vida, como o convívio com parentes e amigos, valorizando o “espírito de fraternidade” (Declaração
Universal dos Direitos Humanos - DUDH, 1948). Toda a dinâmica familiar e social é afetada por esse
comportamento, fragilizando os relacionamentos (CNJ, 2011, p.9), fazendo com que os usuários,
especialmente as usuárias entrem em um processo de autodestruição e seus estilhaços atinjam aqueles
que as rodeiam, perdendo a noção de tempo e espaço. Muitas vezes, o uso da droga é uma transferência
FILH@S DA PEDRA: DESVENDANDO VIDAS A PARTIR DE NARRATIVAS DE MULHERES USUÁRIAS
DE CRACK

de relação de aprisionamento resultado da dificuldade do(a) usuário (a) de cessar com os laços de
dependência familiar, principalmente da mãe, forjados ao longo da vida, podendo ser resultado de
51
saída forçada precocemente de casa ou de forma tardia, conforme relatou o Psicólogo P.S, de um dos
Centros de Tratamento de dependentes químicos.

A ausência do pai contribui significativamente para a entrada da mulher como do homem no


uso do crack, isto não quer dizer que nos lares que são administrados pelas mães, os filhos estão
fadados a entrarem no mundo da droga. Saem precocemente de casa: umas por serem vítimas e/ou
praticantes de violência, tanto físicas como morais; outras por se envolverem afetivamente e acabam
engravidando. Além da incompreensão dos familiares de seu estado doentio, é comum, a violência de
gênero propiciarem desigualdades de poder nas relações afetivas, conjugais e/ou íntimas, dificultando
a abordagem de questões relativas à sexualidade, fidelidade e proteção. De igual modo naturalizam a
violência, sobretudo a sexual, cujos corpos passam a ser tomados como objetos do desejo masculino.

Devido a situação peculiar das usuárias de crack, muitas sofreram violências sexuais na infância
ou adolescência dentro de seus próprios lares (OLIVEIRA, 2007). No contexto do crack, acabam
engravidando e geralmente por não atentarem para os cuidados nas relações sexuais ou por seus
parceiros, pagantes, exigirem o não uso do preservativo. Possibilita-se desta forma, a transmissão de
doenças e gravidez. Este é um dos fatores conflituosos das relações familiares que após serem reveladas
tais informações muitas são postas para fora de casa pelos familiares. Quando essas mulheres saem de
casa, suas vulnerabilidades se transformam e potencializam, como na sua relação com parceiros, com
prostituição, com a gravidez sob o uso do crack, com prejuízos ao feto, violência doméstica, risco de
matar ou morrer em condições violentas, infecção por DSTs e AIDS e outras. 

2 REPRESENTAÇÕES FAMILIARES: Ser mãe, filha e usuária

São numerosas as crianças fruto de circunstâncias que se repetem mais vezes que podemos imaginar
e, provavelmente, morrerão sem ter jamais conhecido o olhar daquela que as colocaram no mundo
(sua mãe). As que conseguirem crescer e sobreviver, alguns anos mais tarde, se tiverem oportunidades
de reencontrá-las, descobrirão uma estranha: aquela que lhes deu à luz.
Segundo Badinter (1985), no livro “Um amor conquistado: o Mito do Amor Materno”, o sentimento
de maternagem foi sendo construído ao longo do tempo.

Se é indiscutível que uma criança não pode sobreviver e desenvolver-se sem uma atenção e
cuidados maternais, não é certo que todas as mães humanas sejam predestinadas a oferecer-
lhe esse amor de que ela necessita. Não parece existir nenhuma harmonia preestabelecida
nem interação necessária entre as exigências da criança e as respostas da mãe. Nesse domínio,
cada mulher é um caso particular. Algumas sabem compreender, outras menos, e outras
ainda nada compreendem. E talvez aí esteja o mal metafísico, uma das causas essenciais da
infelicidade humana. Mas será possível pensar em fugir desse mal negando sua existência?
(BADINTER, 1985, p. 17)

A importância dessas duas palavras que aparentemente têm o mesmo significado, apesar de serem
indissociáveis e andarem juntas, possuem distinções bem próprias. A maternidade é um processo
biológico de transformar-se em mãe, podemos dizer que são laços sanguíneos que une mãe e filho,
uma condição física, nem sempre uma opção. Por outro lado, a maternagem não está arrimada na
condição biológica, mas vinculada à afetividade, ao sentimento de cuidar, é sempre uma escolha,
mesmo que posterior, uma decisão de dedicação por amor.

O crack é considerado um divisor de águas, entre emoções positivas e negativas, mesmo existindo
muitos outros fatores que irão estabelecer diferenças entre uma gravidez desejada de uma rejeitada
ou não planejada. Por exemplo, a gravidez de uma pessoa acometida de doença grave, gravidez fruto
de estupro, ou um número elevado de filhos, etc. A notícia de “Positivo” pode ecoar de distintas
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

perspectivas para a mulher ou para o casal/parceiros, gerando sentimentos de arrependimento e raiva,


52 como dificuldades domésticas e financeiras e até problemas emocionais.
Segundo Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra da Unifesp, em depoimento para a Unidade de Pesquisa
em Álcool e Drogas (UNIAD), comentando a relação de dependência e sofrimento das mães usuárias
de crack:

O que caracteriza a dependência é a incapacidade de ter um controle. Então, é como se ela


ficasse à mercê de uma força maior do que a própria vontade dela. É um sofrimento muito
grande. Não são mães desnaturadas, não são mães que não se preocupam com isso, mas são
mães que estão em um nível de sofrimento impensável e que não conseguem sair disso. É por
isso que a gente precisa ajudar essas mães e não condená-las.

Nesse cenário onde o crack3 é o “personagem principal”, encarnando um ser que possui “tentáculos
multifacetados”, conseguindo tangenciar e interferir na dinâmica familiar e social, afetando tanto
as relações afetivas quanto os organismos das pessoas, contribuindo para redesenhar as famílias. A
ruptura é individual e familiar, conclamando, inclusive, a um olhar mais específico para esse grupo
pelas agendas de políticas públicas próprias.

O crack se apodera da mente e do corpo e para os dependentes, passa a só existir a droga, gerando
incapacidade de cuidar da criança, de acalentar, de prestar e oferecer cuidados básicos. Os filhos
do crack ficam entregues à própria sorte ou às mãos de familiares próximos que assumem a
responsabilidade por eles. Muitos perambulam pelas ruas, vão para instituições ou ficam sob a guarda
de alguém da família. Existem muitos casos de mães que trocam seus filhos por cesta básica, o que
é ainda pior, o escambo pode ser feito pelo crack, entregando-os a traficantes ou serem vendidos
virando moedas de barganha. Ocorrem casos das mães que carregam a culpa pela morte de seus filhos
por usarem crack durante os nove meses de gravidez. O problema envolve crianças e cresce a ponto
de mudar a composição da população dos abrigos. Antes, eram levadas para os abrigos eram filhos de
prostitutas ou alcoólatras. Hoje, chegam muitas por causa do crack.

Em Salvador, o número da população de rua é de 3.500 pessoas, dessas 10% são menores e pelo menos
50% usa crack, segundo o Secretário Municipal de Promoção Social e Combate a Pobreza, Maurício
Trindade. Acredita-se que seja em torno de 175 menores viciados em crack vivendo espalhados nas
ruas na capital baiana. (CORREIO BAHIA, 17/03/2013).

Ainda sob interferência do crack, as usuárias diante do desespero de constatar que estão grávidas
acabam optando, muitas vezes, por realizar aborto.

Na minha primeira gravidez, eu tinha 15 anos, peguei com meu namorado que usava drogas,
ele que me apresentou o crack, mas nessa época eu ainda não usava, sabia fazer tudo..cortar
a lata..colocar a cinza, aí eu nem sabia que estava grávida..a menstruação parou..falei para a
minha mãe...ela me pegou e tiramos...sangrei quase um mês..foi horrível.. Na segunda vez,
tinha 18 anos e foi com outro namorado, também usuário de drogas..ele estava cheio de crack..
quando estávamos transando ele disse: vou te colocar um filho meu...acabei engravidando,
também tirei. (R24)

Além desses casos das usuárias de crack ocorrem outros tipos de abortos: podendo ser nos casos em
que se verifica má-formação congênita; clandestinos; causados por medicamentos; violência ou de
forma espontânea. Com isso, muitas brasileiras sofrem pela falta de amparo nos serviços públicos de
saúde. A despeito da falta de assistência governamental, a gestação é interrompida independentemente
de leis que as proíbam ou de punição por parte do Judiciário.

3
Utiliza-se essa expressão com sentido metafórico. O crack é uma substância obtida a partir da mistura da
pasta-base de coca ou cocaína refinada (feita com folhas de Erythroxylum coca), com bicarbonato de sódio e
água.
FILH@S DA PEDRA: DESVENDANDO VIDAS A PARTIR DE NARRATIVAS DE MULHERES USUÁRIAS
DE CRACK

Em pesquisa desenvolvida por Moreira (2012) foi constatado que fatores econômicos e sociais
interferem substancialmente na gravidez da adolescência. Mitsuhiro (2007) e Chalem (2007)
53
acompanharam mil adolescentes de uma maternidade pública de São Paulo e observaram que 82%
delas não haviam planejado a gravidez, 76% não faziam uso de nenhum método contraceptivo, 60%
abandonaram a escola, 90% estavam desempregadas e 92% encontrava-se em situação financeira
dependente. Quanto à saúde mental das gestantes, 29% da amostra apresentava algum tipo de
transtorno psiquiátrico, sendo que 13% delas apresentavam depressão; 10% transtorno de estresse
pós-traumático; e 6%, ansiedade.

A prostituição entre essas adolescentes é comum como meio para conseguir a substância, dificultando
muitas vezes, a elas, saberem quem é o pai da criança, criando um “eclipse da figura paterna”
(PETRINI, 2005, p.47) e formando uma sociedade sem pais, eu acrescento e sem mães, passando
a ser um grupo social órfão (MITSCHERLICH, 1970 apud PETRINI, 2005). O uso de crack acaba
potencializando a falta de planejamento e de organização, típica da adolescência (MOREIRA, 2012).

Esses elementos podem estar relacionados a problemas familiares, evasão escolar, falta de capacitação
profissional e desemprego, bem como a questões relativas à estrutura da personalidade. Há, portanto,
desvinculação afetiva com o bebê que irá nascer, ocasionando falência múltipla na vida social e
emocional dessas adolescentes, bem como o comprometimento de seu papel de mãe.
A mulher grávida usuária de crack apresenta maior vulnerabilidade4 em todas as esferas de sua
vida. Nesse sentido, vale ressaltar a importância de se desenvolver políticas de saúde para mulheres
grávidas, e com cuidado maior para as adolescentes, incluindo certamente essa demanda específica,
denominada gravidez associada ao uso de crack. (MOREIRA, 2012)

3 ENTRE MARCO LEGAL-JURÍDICO E AS AÇÕES RECENTES

A estruturação de uma nação é estabelecida e embasada pelo conjunto legislativo que correspondem
os anseios daquela população, num determinado período e num certo contexto histórico. Desta
forma, perceberemos como é vista a doença mental no Brasil e seus recursos terapêuticos, de forma
cronologicamente crescente. Pode se ver que o Decreto nº 1.132 de 1903 procurou reorganizar a
assistência a alienados, e diz no seu artigo 1º:

Art. 1º O indivíduo que, por moléstia mental, congênita ou adquirida, comprometer a ordem
publica ou a segurança das pessoas, será recolhido a um estabelecimento de alienados.

O Decreto nº 24.559 de 1934, dispõe sobre a profilaxia mental, a assistência e proteção à pessoa e aos
bens dos psicopatas, a fiscalização dos serviços psiquiátricos. Desta feita podemos verificar em seu
artigo 1º:
Art. 1º A Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental terá por fim:
a) Proporcionar aos psicopatas tratamento e proteção legal;
b) dá amparo médico e social, não só aos predispostos a doenças mentais como também aos
egressos dos estabelecimentos psiquiátricos;
c) concorrer para a realização da higiene psíquica em geral e da profilaxia das psicopatias
em especial.

O Decreto nº 891 de 1938, permite que os toxicômanos ou intoxicados habituais sejam submetidos a
internação obrigatória ou facultativa, por tempo determinado ou não, no seu artigo 29:

Artigo 29 Os toxicômanos ou os intoxicados habituais, por entorpecentes, por inebriantes em


geral ou bebidas alcoólicas, são passíveis de internação obrigatória ou facultativa por tempo
determinado ou não.
4
Característica que implica no risco do usuário de crack em apresentar agravos de todas as ordens decorrentes
do uso da droga. Diversos elementos interferem na vulnerabilidade do usuário, tais como: Gênero, idade,
vínculo com instituições, escolaridade, comorbidades, delitos, situações de conflito com a lei e conflito com
tráfico. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010)
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

    § 1º A internação obrigatória se dará, nos casos de toxicomania por entorpecentes ou


54 nos outros casos, quando provada a necessidade de tratamento adequado ao enfermo, ou
for conveniente à ordem pública. Essa internação se verificará mediante representação da
autoridade policial ou a requerimento do Ministério Público, só se tornando efetiva após
decisão judicial.
    § 2º A internação obrigatória por determinação do Juiz se dará ainda nos seguinte; casos:
    a) condenação por embriaguez habitual;
    b) impronúncia ou absolvição, em virtude de derimente do artigo 27, § 4º, da Consolidação
das Leis Penais, fundada em doença ou estado mental resultante do abuso de qualquer das
substâncias enumeradas nos arts. 1º e 29 desta lei.
    § 3º A internação facultativa se dará quando provada a conveniência de tratamento
hospitalar, a requerimento do interessado, de seus representantes legais, cônjuge ou parente
até o 4º grau colateral inclusive.
    § 4º Nos casos urgentes poderá ser feita pela polícia a prévia e imediata internação fundada
no laudo do exame, embora sumário, efetuado por dois médicos idôneos, instaurando-se a
seguir o processo judicial, na forma do § 1º deste artigo, dentro do prazo máximo de cinco
dias, contados a partir da internação.
§ 5º A internação prévia poderá também ser ordenada pele juiz competente, quando os peritos,
por ele nomeados, a considerarem necessária a observação médico legal.

A lei 6.368 de 1976 dispôs sobre medidas de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de
substâncias entorpecentes ou que determinavam dependência física ou psíquica.

Art. 10. O tratamento sob regime de internação hospitalar será obrigatório quando o quadro
clínico do dependente ou a natureza de suas manifestações psicopatológicas assim o exigirem.
§1º Quando verificada a desnecessidade de internação, o dependente será submetido a
tratamento em regime extra-hospitalar, com assistência do serviço social competente.
§2º Os estabelecimentos hospitalares e clínicas, oficiais ou particulares, que receberem
dependentes para tratamento, encaminharão à repartição  competente, até o dia 10 de cada
mês, mapa estatístico dos casos atendidos  durante o mês anterior, com a indicação do código
da doença, segundo a classificação aprovada pela Organização Mundial de Saúde, dispensada
a menção do nome do paciente.

O Projeto de lei nº 3.657 de 1989, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. O qual pretendia a extinção
progressiva dos manicômios e sua substituição por outros recursos assistenciais, regulamentando,
também, a internação psiquiátrica compulsória. Tratava em seu artigo 1º:

Art. 1º Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta
Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação
sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau
de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.

A Lei nº 10.216, de 2001 dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos
mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, ou seja, disciplina na atualidade as
internações psiquiátricas no Brasil, marcando a chamada Reforma Psiquiátrica.

Art.1o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta
Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação
sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau
de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.

A Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, institui o Código Civil, no seu artigo 1767:

Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela: (...)


III - os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos.
FILH@S DA PEDRA: DESVENDANDO VIDAS A PARTIR DE NARRATIVAS DE MULHERES USUÁRIAS
DE CRACK

A Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de
55
usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao
tráfico ilícito de drogas e define crimes, nos seus artigos 28 e 45:

Art. 28.  Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas:
(....) § 7o  O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator,
gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento
especializado.
Art. 45.  É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente
de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que
tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único.  Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este
apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste
artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico
adequado.

O Decreto Nº 7.179, de 20 de maio de 2010, trata do Plano de enfrentamento do crack: 

Art. 1o  Fica instituído o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, com


vistas à prevenção do uso, ao tratamento e à reinserção social de usuários e ao enfrentamento
do tráfico de crack e outras drogas ilícitas.
§ 1o  As ações do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas deverão ser
executadas de forma descentralizada e integrada, por meio da conjugação de esforços entre
a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, observadas a intersetorialidade, a
interdisciplinaridade, a integralidade, a participação da sociedade civil e o controle social. 
§ 2o  O Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas tem como fundamento a
integração e a articulação permanente entre as políticas e ações de saúde, assistência social,
segurança pública, educação, desporto, cultura, direitos humanos, juventude, entre outras, em
consonância com os pressupostos, diretrizes e objetivos da Política Nacional sobre Drogas.

O Projeto de lei nº 7663/2010, encontrava-se à Mesa Diretora da Câmara do dos Deputados, se


aprovado ele acrescenta e altera dispositivos à Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, para tratar
do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas, dispor sobre a obrigatoriedade da classificação das
drogas, introduzir circunstâncias qualificadoras dos crimes previstos nos Artigos. 33 a 37, definir as
condições de atenção aos usuários ou dependentes de drogas.

a) O texto propõe o aumento das penas para porte de drogas para consumo próprio e tráfico;
b) O PL também prioriza as internações involuntárias como forma de tratamento aos
dependentes de drogas e preconiza “programas de atenção que visam à abstinência”. Prevê a
exclusão do usuário dos programas de reinserção caso haja suspeita de uso de drogas;
c) prevê a criação de um sistema paralelo ao Sistema Único de Saúde (SUS) para atendimento
de usuários, com internações prolongadas em comunidades terapêuticas religiosas;
d) estabelece uma nova classificação das drogas com base na sua capacidade de causar
dependência. Na prática, significa que se alguém for pego com crack receberá uma pena
muito maior de quem for pego com outra droga;
e) Cria um sistema de notificação de usuários de drogas, sem especificar a finalidade deste
cadastro, medida que pode aprofundar o preconceito já sofrido por essa minoria;
f) prevê que os professores deverão denunciar alunos com suspeita de uso, inclusive para fins
penais; e
g) incentiva a política de Redução de Danos.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

O Governo Federal criou o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack, em 2011, com previsão
56 de investimento de R$ 4 bilhões até 20145. Para poder dar mobilidade a esse plano, trabalhará
em quatro setores: Saúde, Educação, Assistência Social e Segurança Pública. Compartilhando
essa responsabilidade com os Estados e Municípios. Dentro desse planejamento atuará com três
eixos: Cuidado, Prevenção e Segurança Pública. Tem como meta, criar 2462 leitos de enfermarias
especializadas para tratar de casos de dependência até 2014, mais de 300 Consultórios na Rua, nos
Municípios com mais de 100 mil habitantes e serão criados 175 unidades de Centros de Atenção
Psicossocial para Álcool e Drogas (CAPSad), com atendimento ininterrupto. Com a Segurança
Pública, as ações policiais serão integradas às ações de saúde e assistência social e irão se concentrar
em duas frentes: nas fronteiras e nas áreas de uso de drogas, nos centros consumidores.

Através do Decreto nº 7508 de 28 de junho de 2011, o Governo Federal criou a Rede de Atenção
Psicossocial. Dentre os seus compromissos ela deverá atender as pessoas em sofrimento e/ou com
demandas decorrentes dos transtornos mentais e/ou do consumo de álcool, crack e outras drogas.
Para tanto, esta Rede de Atendimento será estruturada da seguinte forma: Atenção Básica em Saúde,
Atenção Psicossocial Estratégica, Atenção de Urgência e Emergência, Atenção Residencial de Caráter
Transitório, Atenção Hospitalar, Estratégias de Desinstitucionalização, Estratégias de Reabilitação
Psicossocial.

No compartilhamento de responsabilidades, Estados e Municípios elaboraram seus planos de


enfrentamento ao crack, buscando soluções adequadas às suas realidades. A fim de descentralizar e
dividir compromissos, os governos estaduais ficaram incumbidos de desenvolver planos de combate a
droga. O Governo da Bahia lançou em janeiro de 2012, o Plano Viver sem Drogas, que define políticas
de prevenção ao uso de drogas. Serão abertas três frentes de trabalho: prevenção, conscientização e
na reinserção social. Essa ação integra o programa Pacto pela Vida e contará com investimentos de
R$ 42 milhões. (BAHIA, 2012).

4 REDUÇÃO DE DANOS: possibilidades?

Ao conceituar Redução de Danos (RD), podemos verter o olhar de duas formas, uma de maneira
ampla e outra de maneira mais estrita. A de forma estrita pode assim ser entendida: “uma política de
saúde cujos princípios e práticas, sem condicionar à abstinência, têm como objetivos reduzir os danos
e os riscos relacionados ao uso de drogas, pautados no protagonismo da população alvo, no respeito
ao indivíduo e no direito deste às suas drogas de consumo.” (ANDRADE, 2011, p.3)

De acordo com o Medical Subject Headings  (MeSH)  da  United State National Library of
Medicine, “Harm Reduction” (termo introduzido no MeSH em 2003) ou Redução do Dano, no seu
conceito mais amplo é “a aplicação de métodos projetados para reduzir o risco do dano associado
a certos comportamentos, sem diminuição na frequência daqueles comportamentos”. (IMESC/
INFOdrogas, 2012, p.1)

Agora para a International Harm Reduction Association (2010),”Redução de Danos se refere a


políticas, programas e práticas que visam primeiramente reduzir as conseqüências adversas para a
saúde, sociais e econômicas do uso de drogas lícitas e ilícitas, sem necessariamente reduzir o seu
consumo. Redução de danos beneficia pessoas que usam drogas, suas famílias e a comunidade”.
(IMESC/INFOdrogas, 2012, p.1)

Frequentemente, os termos Redução do Risco ou Redução do Dano são usados como sinônimos.

5
Estas informações foram colhidas do Governo Federal disponível em: <http://www.brasil.gov.br/
crackepossivelvencer/plano-integrado/conceito-dos-eixos>. Acesso em: 09 jun. 2013.
FILH@S DA PEDRA: DESVENDANDO VIDAS A PARTIR DE NARRATIVAS DE MULHERES USUÁRIAS
DE CRACK

O risco se relaciona à possibilidade de que um evento possa ocorrer, o dano deve ser visto como a
ocorrência do próprio evento. Desse enfoque, evitar o dano seria uma atitude mais pragmática do
57
que evitar o risco (nem sempre ocorre necessariamente um dano, em uma situação onde há risco).
(IMESC/INFOdrogas, 2012)

O marco inicial da Redução de Danos (RD) foi uma decisão, sobre opiáceos a fim de auxiliar no
tratamento de dependentes de ópio, tomada na Inglaterra, em 1926, sendo este o primeiro passo
na direção da construção de uma estratégia de redução de danos. Foi considerado como primeiro
passo porque foi naquele momento da história moderna que se viu a dependência de drogas de outra
perspectiva que tratava a dependência como situação complexa devendo ser abordada através de
estratégias múltiplas e particulares. (VALÉRIO, 2010)

Na contramão da política de Redução de Danos, foi criada no Brasil, em 1998, a Secretaria Nacional
Anti-Drogas (SENAD), ligada diretamente ao gabinete militar e adotando uma abordagem baseada
na guerra às drogas proposta pelo governo estadunidense em 1989, em uma convenção sobre
entorpecentes realizada pela ONU. Antes da criação da SENAD, a RD no Brasil não teve muito espaço
frente à política orientada para a abstinência como único caminho e que objetivava a erradicação das
drogas. Alguns setores buscavam uma organização maior a fim de implantar programas de RD no
país desde 1989, mas somente em 1995, em Salvador (BA) foi implantado o Programa de Redução
de Danos (PRD) do país, realizando troca de seringas para usuários de drogas injetáveis. (VALÉRIO,
2010)

A partir daí a RD veio crescendo com o apoio do Ministério da Saúde e pela crescente organização
dos redutores de danos e usuários de drogas em movimentos políticos, desembocando na constituição
das Associações Municipais e Estaduais de Redutores de Danos, além da constituição da formação da
ABORDA (Associação Brasileira de Redutores de Danos) e a REDUC (Rede Brasileira de Redução
de Danos) que vêm intervindo intensamente no sentido de construir uma força política capaz de
enfrentar os saberes constituídos, alterando a dinâmica das redes de poder e assim também a realidade
dos usuários. (ANDRADE, 2011).

As ações que visam à redução de danos sociais e à saúde, decorrentes do uso de produtos, substâncias
ou drogas que causem dependência, estão reguladas pela Portaria nº 1.028 de 1º de julho de 2005.

Art. 1º  Determinar que as ações que visam à redução de danos sociais e à saúde, decorrentes
do uso de produtos, substâncias ou drogas que causem dependência, sejam reguladas por esta
Portaria.
Art. 2º  Definir que a redução de danos sociais e à saúde, decorrentes do uso de produtos,
substâncias ou drogas que causem dependência, desenvolva-se por meio de ações de
saúde dirigidas a usuários ou a dependentes que não podem, não conseguem ou não
querem interromper o referido uso, tendo como objetivo reduzir os riscos associados sem,
necessariamente, intervir na oferta ou no consumo.

Destaca-se que a Redução de Danos, não é tratamento, “quer dizer, pode ser entendida como uma
prática que visa a possibilitar o direito de escolha e a responsabilidade da pessoa diante da sua
vida” (CONTE et al, 2004, p. 62) não trabalhando na causa, mas sim nos efeitos. Os Redutores são
profissionais que trabalham munidos de informações e insumos de acordo com a realidade do local a
ser visitado, atuam através da divisão do território em áreas, as quais possuem características próprias,
normalmente à tarde, pois as pessoas que se tem como objetivo estão dormindo na parte da manhã,
tendo em vista que à noite devido as situações de vulnerabilidade passam acordadas. Os redutores
são identificados através da camisa e crachás da Aliança de Redução de Danos Fátima Cavalcanti/
Universidade Federal da Bahia (ARD-FC/UFBA). (CRUZ, 2011).

Os locais de abordagens são bem distintos uns dos outros, podem ser ao relento, em lugares com
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

grande circulação de pessoas, relativamente limpos ou com as condições de higiene bem precárias.
58 Ademais, existe o Consultório de Rua (CR) é Parte integrante do Plano Integrado de Enfrentamento
ao Crack e outras Drogas (PIEC), instituído pelo Decreto Presidencial nº 7179 de 20 de maio de
2010, o qual constitui importante dispositivo público componente da rede de atenção substitutiva
em saúde mental. Tendo como escopo atender pessoas em estado de vulnerabilidade, crianças e
adolescentes em situação de risco e fragilidade social, através da atuação de uma equipe profissional
multidisciplinar formada por médicos, psicólogos, assistentes sociais, pedagogos e redutores de
danos, este é o principal objetivo, que utiliza como suporte um ambulatório móvel que vai até os
locais onde se concentra o público-alvo do projeto. E, como a sua principal característica, oferecer
cuidados no próprio espaço da rua, preservando o respeito ao contexto sócio-cultural da população
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

4.1 Narrativas e Realidades: Essas Mulheres...

Vale aqui relembrar que o objetivo é analisar as relações familiares e identificar as vulnerabilidades
das usuárias de crack, colhendo relatos de suas experiências em relação ao uso. Buscou-se traçar
o perfil e padrões das dependentes, entrando em contato com o real, o vivido, a subjetividade,
capturando o fenômeno como uma representação que se dá no cotidiano. Participaram do estudo, de
forma espontânea, mulheres usuárias/ dependentes de crack, sendo quatro internas em dois Centros
de tratamento para dependentes químicos, na Região Metropolitana de Salvador, e uma no pós-
tratamento, tendo os perfis conforme quadro a seguir:

Quadro 1: Caracterização das Usuárias entrevistadas


DADOS IDENTIFICAÇÃO
R(24) P(30) L(35) R(41) J(54)
Tempo de internamento 48 dias 30 dias 48 dias 05 dias 42 dias
Quantas vezes foi 1 vez 2 vezes 1 vez 4 vezes 1 vez
internada
Idade (em anos) 24 30 35 41 54
Grau de Escolaridade Médio Médio Médio Médio Superior
incomp. completo
Classe Social Média Média Alta Média Média Alta
Estado civil Solteira União Solteira Casada Separada
estável
Filhos Não 01 03 03 02
Tempo de uso de crack 04 anos 11 anos 1 ano 08 anos 03 meses
Droga de entrada Álcool Álcool Cocaína Cocaína Maconha
Processo de internamento Voluntário Voluntário Voluntário Voluntário Compulsório
Sofreu violência Sim Sim Sim Não Não
Sentiu discriminada Sim Sim Sim Sim Não
(amigos) (filho) (família)
Prática de atos ilícitos Sim Não Sim Não Não
Prática de aborto 02 Abortos Não Não Não Não
Teve recaída Sim Várias Não 03 Vezes Não
Recebe visitas Sim Sim Sim Não Sim

Fonte: Autores, 2013. Foram usadas a primeira letra do nome e a idade para criar a legenda.

As usuárias são de classes média e alta, com grau de escolaridade entre médio e superior, idades entre
24 e 54 anos, estado civil variáveis, o tempo de uso da droga com nuances entre três meses a onze anos.
FILH@S DA PEDRA: DESVENDANDO VIDAS A PARTIR DE NARRATIVAS DE MULHERES USUÁRIAS
DE CRACK

Além dessas mulheres foram entrevistados dois profissionais que lidam com dependentes químicos.
A primeira foi R(24), solteira, sem filhos, dois abortos, usa crack há quatro anos, introduzida pelo
59
namorado e pertencente à classe média. Vive com a mãe, contudo, não tem bom relacionamento com
ela. Possui ensino médio incompleto. Já praticou furto para consumir o crack e vendeu o corpo em
troca e foi estuprada nesse contexto.

A segunda foi R(41), casada, três filhos, usa crack há oito anos. Foi introduzida pelo marido, pertence
à classe média, vive com marido e a filha, os outros dois filhos já casaram. Possui ensino médio
incompleto, fuma escondido da filha, o marido encontra-se “limpo”, permite que ela fume em casa
enquanto a filha está na faculdade, dá R$ 30,00 (trinta reais) por dia para ela comprar o crack, mas
quando ele dorme, ela compra mais crack escondida. Conforme relato da usuária, ela não quer receber
visitas porque não quer que ninguém a veja naquela situação.

A terceira foi J(54), separada, possui dois filhos, uma está no Rio de Janeiro e o outro saiu de casa
quando descobriu que ela estava usando crack, é usuária recente de crack, mas de maconha há 20 anos.
Começou com o namorado na faculdade, pertence à classe alta, formada em Psicologia, exercendo a
profissão.

A quarta foi L(35), solteira, três filhos, um está com o pai na Argentina. Segundo consta é guarda
compartilhada; o outro está com sua mãe e o terceiro ela perdeu a guarda. Pertence à classe média,
possui ensino médio completo, ficou presa por seis anos, por tráfico internacional de drogas, na
Espanha. Levou um tiro no rosto e perdeu a visão de um dos olhos, já apanhou de traficante, pois
queria que ela tivesse relação sexual com um dos auxiliares dele. Usuária de crack há um ano.

A quinta foi a P(30), união estável, mas ela e o companheiro moram com a mãe dela, uma vez que
tentaram morar sozinhos e o companheiro vendeu tudo de casa. Ele também é viciado, tem um filho
que está na responsabilidade da avó materna. O filho é de um relacionamento anterior. Pertence à
classe média alta, possui ensino médio completo, esta internação é voluntária, segundo ela começou
a usar crack para emagrecer e tornou-se usuária há 11 anos. Teve várias recaídas.

As entrevistas foram gravadas com a concordância prévia dos profissionais que atuam nas clínicas
para dependentes químicos e as mulheres usuárias de crack, levando em média cerca de 50 minutos
e marcando a confidencialidade e sigilo de dados que pudessem identificá-los de qualquer maneira.
Ocorreram em local apropriado para esse tipo de intervenção no Centro de Tratamento para
Dependentes Químicos, onde as mulheres estavam internadas.

A coleta de dados e a escuta revelam para além das drogas, vidas desfeitas, sem rumo, de experimentação
desde a juventude, de múltiplas violências e violações. Por isso, os resultados traduzem não somente
nas transcrições, mas nas problematizações e lacunas que existem quanto à temática. Para as mulheres,
o crack pode ser um “convite”, mas transforma suas vidas, relações familiares e as mantém em um
estado de letargia, de falta de confiança na construção de um futuro, de fortalecimento de afetos e
vivências com entes familiares e amigos. As transforma em indivíduos em constante tratamento,
conforme observa-se a seguir:

4.2 Classe social, escolaridade e trabalho

Podemos observar que o crack atingiu a todos os grupos sociais, independente de idade, profissão,
poder econômico, estado civil e sexo. Assim, torna-se temeroso afirmar que é uma droga dos pobres.
Como relatam as entrevistadas:
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

“Moro numa casa com vários quartos, tem piscina, no bairro nobre de Salvador, vaga para
60 vários carros na garagem, coloquei dez traficantes dentro de casa, não pago nada pela pedra.”
(J54)
“Quando eu quero a pedra saio, vou à boca e compro, esqueço de tudo, não penso em nada,
antes eu não sabia comprar, pedia para um taxista, ele ia à boca e me cobrava R$ 20,00 por
pedra, sendo que cada uma saia por R$ 5,00” (L35)

Verifica-se que a maioria possui ensino médio e uma com curso superior. Contrariando as pesquisas
encontradas nos bancos de dados e notícias veiculadas na mídia. “Sou formada em psicologia pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA) a quase 20 anos.” (J54)

As entrevistadas revelaram não trabalhar e o principal motivo alegado para essa situação é o uso de
crack. As ausências constantes do trabalho, os furtos que começam a praticar no local, a total falta de
disposição para o trabalho, inteiramente minadas pela droga (crack), impedem-nas de dar sequência
a um emprego fixo.

[...] eu tinha um consultório particular de psicologia, atendia crianças, quando comecei a usar
o crack, perdi a vontade de atender e também perdi os clientes. (J54)
[...] interessante que com a cocaína eu conseguia trabalhar, inclusive eu ia para o final da
loja e cheirava a minha carreirinha e voltava, mas com o crack não dá, quando começamos,
vamos até a exaustão. (L35)

4.3 Tempo de uso de crack e custos

A cronologia do uso do crack independe da idade, visto que nessa dinâmica de uso, existem múltiplos
determinantes. Um deles, quando será o seu primeiro contato. Desta feita, o que vai determinar o
momento de iniciação no crack será a forma de ser apresentada e sua predisposição para seu uso.
Portanto, vamos constatar nas entrevistas realizadas, que a mulher mais velha (R.54) é que tinha
menos tempo de uso, três meses; a que tinha mais tempo era (P.30) com cerca de onze anos.

Aparentemente o custo do uso do crack é baixo, graças às pedras terem preços relativos acessíveis,
varia de R$ 5,00 a 10,00. Existe um adágio popular que afirma que “de grão em grão a galinha enche
o papo”, fazendo uma interpretação a contra senso. A fim de vencer a sensação da fissura, usam até a
exaustão (dois a três dias consecutivos), demandando uma quantidade significativa de pedras.

“[...] eu era dona de um restaurante, perdi tudo para o crack, para manter o vício nós fazemos
tudo, ainda não precisei vender o corpo para manter a dependência da droga”. (R41)
[...] o que tiver a gente gasta, um dia estava com R$ 800,00, gastei tudo. Eu e meu companheiro
perdemos duas motos e um carro por causa do crack. Ele vendeu tudo dentro de casa, minha
mãe pegou a gente e levou para casa. Eu estou internada aqui e ele no outro Centro. (P.30)
[...] coloquei dez traficantes dentro da minha casa, assim tenho pedra à vontade, mas também
não tenho casa. (J.54)

4.4 O corpo como acesso à pedra

Em pesquisas realizadas nos bancos de dados e livros, depreende-se que essa prática é comum entre
usuárias de crack. Duas afirmaram que venderam o corpo: uma de forma direta e outra de forma
velada. As outras três negaram, dizendo que tinham dignidade e que não chegaram a este ponto. A
fronteira entre drogas e prostituição é sabida que é tênue e mascarada. Também há que se considerar
que o fato de não declarem que se prostituiam, não significa que não usassem o sexo como troca
(conforme P30, em relato logo a seguir).
[...] estava sem dinheiro, tava pirada sobre uma coisa que soube da minha mãe..., tomei uma
lata de cerveja, dessa lata de cerveja..pedi a uma amiga da minha mãe R$ 5,00, fui para boca
comprei uma pedra, fiquei no lixão fumando.. depois troquei o tênis, celular, o relógio, tudo
FILH@S DA PEDRA: DESVENDANDO VIDAS A PARTIR DE NARRATIVAS DE MULHERES USUÁRIAS
DE CRACK
que podia trocar.. depois, fiquei com uns caras lá da favela, aí chegou um menino, que tinha
uns 14 anos com uma arma..., eles ficaram metendo um de cada vez, não tinha como sair de 61
lá, ele estava armado.. não lembro quantos eram, fiz sexo com todos.. (R24)
[...] nunca faltou nada para mim, minha mãe não me controlava financeiramente, tinha
um cartão, comprava crack para mim e meus colegas. Teve um momento que começou a
dificultar, aí fui morar com um cara, ele pagava tudo, só que eu tinha que fazer sexo com ele.
(P.30)

Em outra entrevista, uma usuária narrou que não venderia, uma vez que era a última coisa que lhe
restava era a dignidade:

[...] já passei muitas coisas nesta vida.., já levei tiro.., fui presa por tráfico..., perdi o respeito
do meu filho...além de nunca ter precisado vender o corpo.. sempre tive dinheiro..quando
acabava a pedra eu ia no caixinha e pegava dinheiro...guardava meu cartão no sutiã (L35)

5 VIOLÊNCIAS E DISCRIMINAÇÃO

A violência neste domínio atinge vários matizes que, por vezes, é desconhecida ou ignorada por
nós, tais como estupros coletivos citado no depoimento de (R24) acima e várias outras formas de
violência. No relato de outra usuária, ela afirma: “recebi uma paulada na cabeça chegou abrir um
corte profundo, por causa que queriam roubar a pedra de mim, só fui acordar no hospital “ (P30)

A discriminação, o preconceito e estigmatização no mundo dessas mulheres é uma constante,


o momento que elas mais se ressentem é quando vem da família, principalmente, dos filhos. As
perguntas de origem eram: O que faz uma pessoa buscar respostas no uso de drogas? Por que usar
crack, sendo uma droga com poder destrutivo tão intenso? A resposta à pergunta: se já se sentiram
discriminadas por fazer uso de crack? Demonstra a seguir, um campo de vulnerabilidade imenso nas
relações familiares e intergeracionais.

“sim, minha filha que tem 21 anos, ela não aceita, faz psicologia.” (R41);
“sim, meu filho que tem 17 anos, quando descobriu saiu de casa, foi morar com colega. (J54)
“sim, meu filho de 14 anos, chora todos os dias pedindo que pare com isso.” (P.30)
“sim, por um grupo de colegas, dizendo ‘olha ali já vem a sacizeira’, foi horrível”. (R24)

5.1 Forma de uso e internamento

[...] “meu marido como ex-dependente, ele é meu herói, sabe como é doído a fissura, ele
permite que eu fume, ele me dá R$ 30,00, todos os dias, vou lá na boca compro tudo e vou
para casa fumar no banheiro de casa, enquanto a minha filha não chega da faculdade....., mas
eu gosto mesmo de ir para a favela sentar a minha bunda no tijolo, com a minha lata e fumar
com aquelas pessoas” (R41)
Eu gosto de usar com um grupo, tem uma casa velha, a gente se reúne, e vamos fumando,
tem uma mulher que chamo de tia, deve ter uns 60 anos, fica eu e ela de mulher, o resto é
tudo homem. (P.30)

Na entrevista com as cinco usuárias, três se posicionaram favoráveis ao internamento compulsório,


dizendo que elas não conseguiam pensar em outra coisa, somente no crack. Conforme declaração de
duas delas: “É droga do diabo” (L35), “é do demônio” (R41). Uma delas (P.30), quando foi internada
involuntariamente, contou que fugiu no primeiro dia, saltou muro e foi embora.

Na entrevista com (L35) relatou a sua experiência, neste caso, considero uma exceção. Ela pode
enxergar seu estado precário de saúde física, psicológica e social, conseguiu ter a capacidade de pedir
socorro:
[...] cheguei ao fundo do poço, só assim consegui perceber, estava suja, na rua, com roupa que
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

não sabia de quem era, as minhas tinham sido trocadas, já fui presa por tráfico internacional
62 de cocaína, já levei tiro no olho, mas nada é tão arrasador que o crack, não aguento mais...
vou parar..quero recuperar o respeito da minha mãe, do meu filho ..por isso que vim para cá,
pedi a minha mãe, tem que ser hoje..” (L35)

5.2 Início do uso do Crack

A maioria das entrevistadas cita o álcool e a maconha como drogas de entrada, apenas uma alegou que
não suportava o álcool nem o cheiro da maconha, sendo a droga de entrada a cocaína. Geralmente, até
chegar ao crack a forma é gradual, álcool, maconha, cocaína e crack. Constata-se que quatro tiveram
o início do uso de drogas com o namorado ou companheiro, apenas uma começou a usar através de
influência do colega. Isso demonstra que os relacionamentos têm uma importância significativa na
formação de nossas condutas, principalmente, nos momentos de construção das personalidades ou de
fragilidades emocionais.

[..] comecei a usar maconha com meu namorado na faculdade, ele me ofereceu, foi a primeira
vez que fiz uso, fumei por 20 anos, e agora estou no crack a três meses. (J54)
[..] comecei com meu namorado a usar maconha, quando tinha 15 anos, em Itacaré, e o crack
com meu ex-companheiro, que conheci nos Narcóticos Anônimos, mas já sabia tudo, cortar
a lata, colocar a cinza(R24)

5.3 Filiação e Família

Nesse grupo de entrevistadas verificou-se terem em média dois filhos, sendo que uma das entrevistadas
cometeu dois abortos. Apenas uma das entrevistadas revela viver com o pai dos filhos e os filhos, as
demais vivem sozinhas ou com a família de origem. Os filhos, em geral, são provenientes de pais
diferentes. Uma delas perdeu a guarda de um dos filhos.

Quando a família ou a própria adolescente permitem que a criança nasça, vamos constatar que a
primeira maternidade ocorre muito cedo, com isso será delegada a responsabilidade para alguém da
família, principalmente avós. Conforme declarações abaixo:

“Na minha primeira gravidez, eu tinha 15 anos, peguei com meu namorado que usava drogas,
ele que me apresentou o crack, mas nessa época eu ainda não usava, sabia fazer tudo..cortar
a lata..colocar a cinza, aí eu nem sabia que estava grávida..a menstruação parou..falei para
a minha mãe...ela me pegou e tiramos...sangrei quase um mês..foi horrível... Na segunda
vez, eu tinha dezoito anos e foi com outro namorado, também usuário de drogas..ele estava
cheio de crack..quando estávamos transando ele disse: vou te colocar um filho meu...acabei
engravidando, também tirei.” (R24)
Engravidei com 15 anos do meu namorado, nessa idade já usava álcool e maconha. Eu e meu
filho moramos com a minha mãe. (P30)
Meu primeiro filho eu tinha 17 anos, peguei com outro usuário, eu só queria usar droga,
minha mãe não deixou tirar...eu nem olhava para ele, não tinha uma relação de mãe e filho..
não sabia nem o que era isso. Os outros dois estão com os pais, um na Argentina, e outro aqui
em Salvador, este eu perdi a guarda, devido à droga. (L35)

Duas das entrevistadas relatam que apesar de ter uma boa condição financeira, nunca tiveram uma
boa relação com a mãe e que nem conheceram os pais.

Eu detesto a minha mãe, ela nunca me deu carinho... ela quando engravidou de mim também
usava drogas e meu pai também, quem sempre me deu apoio foram meus avós, ela tem seus
problemas e acho que ainda usa drogas. (R24)
Sempre achei que a minha mãe não gostasse de mim, ficou marcado... eu tinha por volta dos
14 anos.. ela estava no quarto dela lendo deitada na cama, abri a porta e perguntei quem era
meu pai..ela não fez nenhum movimento..apenas perguntou falta alguma coisa para você?
Agora me deixa ler meu livro e feche a porta por causa do ar condicionado. (L35)
FILH@S DA PEDRA: DESVENDANDO VIDAS A PARTIR DE NARRATIVAS DE MULHERES USUÁRIAS
DE CRACK

Outra entrevistada durante as perguntas afirmava que tinha uma boa relação com a mãe e se dizia
muito “arteira” quando criança, e no momento que pedi para explicar melhor, como era o convívio,
63
ela informou que não morava com a mãe, tendo vista que morava com os avós, declarando:

Quando pedia para morar com ela dizia que se me tirasse dos meus avós eles iriam morrer...
mas quando eu era pequena quem cuidava de mim era os empregados. Depois que minha mãe
se casou novamente, teve uma outra filha, dizia que eu não podia ir morar com ela para evitar
confusão, então ela nunca me criou... (P30)

5.4 Reconquista da família

É importante notar que no depoimento daquelas usuárias que possuem filhos e família, o esteio e
objetivo de melhorar estão arrimados no resgate do respeito e amor dessas pessoas, no entanto é uma
via perigosa, caso isso não aconteça poderá cair como uma bomba, podendo provocar a recaída dessas
usuárias. No depoimento das usuárias vamos confirmar:

Tenho um filho de 14 anos, ele é tudo para mim, sempre quando uso a pedra, tento fazer tudo
para ele não perceber, mas ele percebe e fica chorando, pedindo ‘mãe não faça mais isso’, é
o motivo de eu estar aqui, não posso perder o amor do meu filho. (P30)

[...] estou aqui a 48 dias, é para resgatar o amor do meu filho de 17 anos e da minha mãe,
eu nunca fui mãe, quem sempre cuidou do meu filho foi a minha mãe, quero poder ter esse
direito, ele nem vem me visitar aqui na clínica, também não quero que me veja assim..sou
vaidosa. (L35)
Faço uso de crack a oito anos, essa é a terceira recaída, não sei a razão, mas me sinto frágil
emocionalmente, desde a morte do meu filho mais velho... é uma ferida que não fecha.
Consegui criar os outros três filhos sem problemas, acredito não ter afetado o amor nem o
respeito... Mas de um tempo para cá.. as brigas com a minha filha caçula têm aumentado e ela
tem jogado na minha cara que sou usuária de crack...isso dói muito, sinto que estou perdendo
o respeito e o amor, tenho que parar enquanto há tempo.(R41)
A minha filha está no Rio de Janeiro, vai ser artista.. o meu filho quando descobriu que eu
estava usando crack saiu de casa, está morando com um amigo. Quero melhorar... Vou vender
a minha casa e morar com meu filho no interior (J54)

PROJETOS FAMILIARES: quais reduções?

O uso do crack tem uma aparente segregação de usuários, apenas pobres e miseráveis, algumas
reportagens e pesquisas, servem para endossar essa imagem social, mas percebi na pesquisa que o
uso do crack passou a ser “democrático”, atingido a todos, inclusive pessoas de várias faixas etárias
e graus de escolaridade.

Não é por ser a unidade da pedra mais barata, que vai limitar a quem consome. Aquele que possuir
maior poder aquisitivo poderá comprar mais pedras com menor esforço e adiar as consequências
resultantes do seu uso, como a venda do corpo. Não se pode precisar o momento etário ou psicológico
que essas pessoas irão acessar o crack. Neste caso existe uma amplitude etária, podendo ser de criança
ao idoso, ficando difícil estabelecer um perfil. As decisões volitivas é um enigma que, muitas vezes,
as pessoas detentoras da capacidade de exercer essas ações não sabem o porquê do caminho trilhado,
se perguntam: por que tomei essa decisão? Por que fiz isso, não era do meu perfil?

O valor unitário da pedra é baixo, mas o custo do vício é muito alto. Em uma sociedade capitalista
que tem como essência o preço, a mercantilização e a coisificação, as relações passam a ter uma
importância pecuniária.

As usuárias adquirem o crack através das moedas convencionais, mas em determinado momento,
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

as formas de negociação vão se alterando, em virtude do intenso consumo que é característico do


64 contexto do crack: fumar até a exaustão. Começam a se desfazer de objetos domésticos e depois
realizam pequenos furtos, nessa escalada de deterioração de valores e com o surgimento da fissura,
essas mulheres acabam culminando na prostituição. Entre as mulheres chamadas “profissionais do
sexo” e as usuárias de crack, que se prostituem em busca de qualquer quantia ou pedra, existem
diferenças: as primeiras vendem o corpo por necessidades econômicas, as usuárias para saciar um
desejo imediato, a fissura.

A carga discriminatória para aquelas pessoas que usam crack é maior do que aqueles dependentes
de outras drogas, por ter sido estigmatizada como a droga dos pobres, miseráveis e sacizeiras. Como
também, no âmbito familiar traz a desarmonia, corroendo as relações afetivas e a situação financeira.
Em razão à discriminação, querendo se esconder do estigma, fazem uso do crack de forma clandestina,
em lugares fechados ou em casa quando algum parente se ausenta. Ao contrário do que aparenta, o
crack não é uma droga de socialização, como o álcool. Uma das características do uso do crack é a
forma utilitária, buscam a troca de algo: de favores ou da pedra, numa visão micro do capitalismo.

A sexualidade das usuárias de crack é um dos pontos mais sensíveis dessa conjuntura, se irradia para
diversas fases da vida dessas mulheres e transborda para outras pessoas ligadas a elas por diferentes
circunstâncias, por exemplo: a) gravidez, normalmente indesejada, podendo ter como resultados:
abortos; abandono dos filhos em abrigos ou orfanatos; entrega dos filhos aos parentes. Essas proles,
com frequência, são de paternidades distintas; b) doenças DST/AIDS, sofrem as consequências e
muitas das vezes o óbito, pode transmitir para a prole e para os parceiros, servindo de hospedeira e
multiplicadora das doenças; c) violências, como estupros e destruição da autoestima.

Diante de tantos elementos deletérios, a usuária de crack, quando contemplada e inserida numa
atmosfera familiar, busca um bálsamo para amenizar o sofrimento e a possibilidade de poder voltar
a viver, encarnando muitas das vezes, a figura da última trincheira. Destarte, a família é lócus da
prevenção, da atenção e recuperação, por conseguinte tem um destaque expressivo no patrocínio do
resgate dessas mulheres, que tem como alvo reaver o respeito e o amor dos entes que elas magoaram.
É um trabalho conjunto, já que terá momentos intercalados de harmonia e recaídas.

REFERÊNCIAS
ANDRADE, Tarcísio Matos de. Reflexões sobre políticas de drogas no Brasil. Ciênc. saúde
coletiva. Vol.16, n.12, Rio de Janeiro, dez. 2011.
ANDRADE, Tarcísio Matos de. Redução de danos: um novo paradigma? In: NERY FILHO, Antonio
(org.). Drogas: tempos, lugares e olhares sobre seu consumo. Salvador: EDUFBA, 2004.
BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1985.
BAHIA. Secretaria de Saúde. Plano viver sem drogas investe na reinserção social de dependentes.
2012. Disponível em: <http://www.saude.ba.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&i
d=3359:plano-viver-sem-drogas-investe-na-reinsercao-social-de-dependentes&catid=47:saladeimpr
ensa&Itemid=24.> Acesso em: 10 jun. 2013.
BRASIL. Leis e Decretos. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal, 1988.
FILH@S DA PEDRA: DESVENDANDO VIDAS A PARTIR DE NARRATIVAS DE MULHERES USUÁRIAS
DE CRACK

BRASIL. DECRETO nº 7.247, de 19 de Abril de 1879. Reforma o ensino primário e secundário no


município da Côrte e o superior em todo o Império. Coleção de Leis do Império do Brasil - 1879,
65
p. 196 Vol. 1 pt. II (Publicação Original)
BRASIL. Decreto nº 1.132, de 22 de Dezembro de 1903. Reorganiza a Assistência a Alienados.
Diário Oficial da União, Seção 1 - 24/12/1903, p. 5853.
 
BRASIL. Decreto nº 24.559, de 3 de Julho de 1934. Dispõe sobre a profilaxia mental, a assistência
e proteção à pessoa e aos bens dos psicopatas, a fiscalização dos serviços psiquiátricos e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Seção 1 - 14/7/1934, p. 14254.
BRASIL. Decreto nº 7508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de
1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde,
a assistência à saúde e a articulação interfederativa, e dá outras providências. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/D7508.htm>. Acesso em: 10 jun. 2013.
BRASIL. DECRETO-LEI nº 891, de 25 de novembro de 1938.  Aprova a Lei de Fiscalização de
Entorpecentes. Diário Oficial da União, Seção 1 - 28/11/1938, p. 23843.
BRASIL. DECRETO-LEI nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.  Aprova o Código Penal. Disponível
em:< http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-2848-7-dezembro-1940-
412868-norma-pe.html>. Acesso em: 10 jun. 2013.
BRASIL LEI nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas
sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social
de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e
ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Diário Oficial da União, seção 1,
24 ago. 2006, p.2.
BRASIL. Lei nº 10.708, de 31 de julho de 2003.  Institui o auxílio-reabilitação psicossocial para
pacientes acometidos de transtornos mentais egressos de internações. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.708.htm>. Acesso em: 11 jun. 2013.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.  Institui o Código Civil. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em 15 jul. 2013.
BRASIL LEI nº 10.216, de 6 de abril de 2001.  Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial
da União da União, Seção 1, 9 abr. 2001, p.2.
BRASIL. LEI nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Institui o Estatuto da Criança e do Adolescente,
dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 17 jul. 2013.
BRASIL. LEI nº 6.368, de 21 de Outubro de 1976. Dispõe sobre medidas de prevenção e repressão
ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física
ou psíquica, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Seção 1, 22 out. 1976, p.14039.
Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6368.htm>. Acesso em: 20 jul. 2013.
BRASIL. Portaria nº 1028/GM, de 1º de julho de 2005.  Ministério da Saúde. Determina que as ações
que visam à redução de danos sociais e à saúde, decorrentes do uso de produtos, substâncias ou
drogas que causem dependência, sejam reguladas por esta Portaria. Disponível em: <http://dtr2001.
saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2005/GM/GM-1028.htm>. Acesso em: 23 set. 2013.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas


66 Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Magnitude do Aborto no Brasil. Aspectos
Epidemiológicos e Sócio-Culturais: abortamento Previsto em lei em situações de violência sexual.
Brasília: Ministério da Saúde, 2008.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde
Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à
Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS:
Brasília, 2005.
BRASIL .Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. SVS/CN-DST/AIDS. A Política do
Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas. Brasília, 2004.
BRASIL. Presidência da República. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Relatório
brasileiro sobre drogas. Brasília: SENAD, 2009.
.
CARVALHO A.M.A; MOREIRA, L.V. (Orgs.) Família e educação: olhares da psicologia. São
Paulo: Paulinas, 2008.
CAVALCANTI, Vanessa R.S. A contramão da exclusão, pobreza e trabalho: visibilidade da condição
feminina. In: PETRINI, G.; CAVALCANTI, V.R.S. (Orgs) Família, sociedade e subjetividade: uma
perspectiva multidisciplinar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
CETAD OBSERVA. Consultório de rua: origem e trajetória. Disponível em: < http://twiki.ufba.br/
twiki/bin/view/CetadObserva/ConsultoriodeRua>. Acesso em: 20 mar. 2013.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Cartilha Sobre o Crack, 4ª Composição. 2011. Disponível
em:< http://www.cnj.jus.br/images/campanhas/Crack/cartilha%20crack%20v1%20revisado.pdf>.
Acesso em: 24 jun. 2013.
CONSUMO de crack cresce sem controle no Brasil. Disponível em: < http://oglobo.globo.com/
politica/consumo-de-crack-cresce-sem-controle-no-brasil-3057188#ixzz2U2LdbGNK >. Acesso
em: 22 maio 2013.
CONTE, Marta et al. Redução de danos e saúde mental na perspectiva da atenção básica. Boletim
da Saúde, Porto Alegre, v.18, n.1, jan./jun. 2004.
CRUZ, Camila Couto e. Redução de danos no contexto do centro histórico de Salvador – BA:
relato da Experiência de uma Estudante de Psicologia. Disponível em: < http://www.encontro2011.
abrapso.org.br/trabalho/view?ID_TRABALHO=446>. Acesso em: 24 mar. 2013.
DANTAS, M.T.A; CARVALHO FILHO, M. J. (Orgs). Prisões numa abordagem interdisciplinar.
Salvador: EDUFBA, 2012.
IMESC / INFOdrogas 1999-2012. Disponível em: <http://www.imesc.sp.gov.br/infodrogas/
redu%C3%A7%C3%A3o.htm>. Acesso em: 22 abr. 2013.
JORNAL A TARDE, 13/12/2008. Disponível em: <http://atarde.uol.com.br/noticias/1030155>.
Acesso em: 13 maio 2013.
MÃES usuárias de crack se tornam um novo problema de saúde pública no Brasil. Disponível em:
<http://www.uniad.org.br/desenvolvimento/index.php/artigos/16706-maes-usuarias-de-crack-se-
tornam-um-novo-problema-de-saude-publica-no-brasil>. Acesso em: 25 maio 2013.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Abordagens terapêuticas a usuários de cocaína/crack no Sistema
Único de Saúde, texto preliminar destinado à consulta pública. Brasília, 2014.
FILH@S DA PEDRA: DESVENDANDO VIDAS A PARTIR DE NARRATIVAS DE MULHERES USUÁRIAS
DE CRACK

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Coordenação Nacional de Saúde Mental. Consultórios de Rua do SUS.


Material de trabalho para a II Oficina Nacional de Consultórios de Rua do SUS. Ministério da
67
Saúde/EPJN-FIOCRUZ: Brasília, 2010.
MITSUHIRO, S.S. Prevalence of cocaine and marijuana use in the last trimester of adolescent
pregnancy: sócio-demographic, psychosocial and behavioral characteristic. Addict Behav., 2007, v.
32, p. 2392-7
MOREIRA, T. M. et al. Conflitos vivenciados pelas adolescentes com a descoberta da gravidez. Rev.
Esc.Enferm, USP.2008, v.42, n.2, p.312-20
NASSIF, Maria Inês. Para Dartiu Xavier, ações na “cracolândia” são hipócritas. 2012. Disponível
em: <http://coletivodar.org/2012/01/para-dartiu-xavier-acoes-na-cracolandia-sao-hipocritas/>.
Acesso em: 04 abr. 2014.
OLIVEIRA, M.G.P.N. Consultório de rua: relato de uma experiência. 151 f. Dissertação (Mestrado).
Universidade Federal da Bahia. Instituto de Saúde Coletiva. Salvador, Bahia. 2009.
MOREIRA, Lucia Vaz Campos; PETRINI, Giancarlo; BARBOSA, Francisco de Barros (Orgs). O
pai na sociedade contemporânea. Bauru, SP: EDUC, 2010.
SILVEIRA, Dartiu Xavier da. Programa contra crack foi feito com dado de 4 Estados. Disponível
em: <http://atarde.uol.com.br/brasil/materias/1465161-programa-contra-crack-foi-feito-com-dado-
de-4-estados >. Acesso em: 18 abr. 2013.
PROJETO DE LEI 3657/1989 (Transformado na Lei Ordinária 10216/2001). Dispõe sobre a extinção
progressiva dos manicômios e sua substituição por outros recursos assistenciais e regulamenta a
internação psiquiátrica compulsória. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/
fichadetramitacao?idProposicao=20004>. Acesso em: 10 abr. 2013.
PROJETO DE LEI 7663/2010. Altera as Leis nºs 11.343, de 23 de agosto de 2006, 7.560, de 19 de
dezembro de 1986, 9.250, de 26 de dezembro de 1995, 9.532, de 10 de dezembro de 1997, 8.981, de
20 de janeiro de 1995, 8.315, de 23 de dezembro de 1991, 8.706, de 14 de setembro de 1993, 8.069,
de 13 de julho de 1990, 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e 9.503, de 23 de setembro de 1997, os
Decretos-Lei nºs 4.048, de 22 de janeiro de 1942, 8.621, de 10 de janeiro de 1946, e 5.452, de 1º
de maio de 1943, para dispor sobre o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas e as
condições de atenção aos usuários ou dependentes de drogas e para tratar do financiamento
das políticas sobre drogas. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/
fichadetramitacao?idProposicao=483808>. Acesso em: 09 abr. 2013.
SANTOS, Simone Ganem Assmar. Dores no Corpo/Dores na Alma: uma reflexão sobre a experiência
corporal e familiar de mulheres mastectomizadas. 2010. 194 f. Dissertação (Mestrado em Família na
Sociedade Contemporânea). Universidade Católica do Salvador, 2010.
TATIANA, Santiago. Cartão para tratamento de usuário de crack custará R$ 4 milhões mensais. 2013.
Disponível em: <http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2013/05/cartao-para-tratamento-de-usuario-
de-crack-custara-r-4-milhoes-mensais.html> Acesso em: 09 maio 2013.
UNIDADE DE PESQUISA EM ÁLCOOL E DROGAS. Mães usuárias de crack se tornam um novo
problema de saúde pública no Brasil. Disponível em: <http://www.uniad.org.br/desenvolvimento/
index.php/artigos/16706-maes-usuarias-de-crack-se-tornam-um-novo-problema-de-saude-publica-
no-brasil>. Acesso em: 25 maio 2013.
VALÉRIO, Andréa Leite Ribeiro. (Mal) dita liberdade e cidadania: a redução de danos em
questão. 2010. 117 f. Dissertação (Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania). Universidade
Católica do Salvador, 2010.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. São Paulo: Atlas, 2003.
68
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

69

ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL


CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

Euzelene Rodrigues Aguiar1

RESUMEN

El consumo de bebidas alcohólicas siempre estuvo presente entre los pueblos indígenas de brasileños, desde sus
prácticas tradicionales hasta las bebidas destiladas introducidas en su vida cotidiana por la colonización. En
ese trabajo se realizó un análisis de la historia del consumo de alcohol entre indígenas de Brasil, considerando
los aspectos históricos y socioculturales, a partir de un contexto general hasta su realidad local. Desde la
metodología histórica se optó por la Teoría Fundamentada (Grounded Theory) como método de investigación,
realizándose entrevistas semi-estructuradas con indígenas Pataxó de Bahía con el objetivo de comprender la
dimensión subjetiva y las significaciones que circundan la acción de beber entre hombres y mujeres indígenas.
Entre las principales conclusiones del trabajo se verificó que, al contrario de sus celebraciones tradicionales,
la acción de beber entre muchos de los indígenas hoy en día, no más se caracteriza por la socialización, mas
se trata de una actividad solitaria y generalmente ocurre en su ambiente doméstico.

PALABRAS-CLAVE: Pueblos indígenas. Consumo de alcohol. Aspectos históricos. Condicionantes


socioculturales.

1
Doctoranda en la Universidad de Salamanca – USAL, Facultad de Medicina, Departamento de Psiquiatría,
Psicología Médica, Medicina Legal e Historia de la Ciencia. Programa “La enfermedad, su dimensión personal
y condicionantes socioculturales”, Director de Tesis Doctoral: Dr. Juan Antonio Rodríguez Sánchez, Profesor
Titular de Historia de la Ciencia. E-mail: euzelene@hotmail.com.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

INTRODUCCIÓN
70
El presente artículo integra el trabajo de grado intitulado Análisis histórico de la evolución del
consumo de alcohol entre indígenas Pataxó de Bahía (Brasil): un proceso individual, colectivo y
étnico, defendido en 14 de septiembre de 2012 en el Departamento de Psiquiatría, Psicología Médica,
Medicina Legal e Historia de la Ciencia de la Universidad de Salamanca – USAL.  La investigación
se vincula a la Historia de la Ciencia a partir de un estudio interdisciplinar contemplando las
Ciencias Sociales, con énfasis en Psicología. La intención final del análisis de las significaciones
e interpretaciones atribuidas por los indígenas a la acción de consumir bebidas alcohólicas, es la
producción de conocimientos sobre la adicción alcohólica entre estos pueblos con el intuito de
contribuir en la creación y desarrollo de medidas preventivas.

La búsqueda de comprensión de la complejidad que envuelve el consumo del alcohol, desde una
perspectiva más amplia, debe considerar los múltiples aspectos históricos, psicológicos, socioculturales,
políticos, económicos y ambientales que lo caracterizan. La Organización Mundial de la Salud - OMS
afirma que el consumo nocivo de bebidas alcohólicas es un problema de alcance mundial que pone
en peligro tanto el desarrollo individual como el social.2

Los datos y cifras presentados por la OMS en 2011 ofrecen un panorama general de los problemas
ocasionados por la ingesta nociva del alcohol:

• El consumo nocivo de bebidas alcohólicas causa 2,5 millones de muertes cada año.
• Unos 320 000 jóvenes de entre 15 y 29 años de edad mueren por causas relacionadas
con el consumo de alcohol, lo que representa un 9% de las defunciones en ese grupo
etario.
• El consumo de alcohol ocupa el tercer lugar entre los factores de riesgo de la carga
mundial de morbilidad; es el primer factor de riesgo en el Pacífico Occidental y las
Américas, y el segundo en Europa.
• El consumo de alcohol está relacionado con muchos problemas graves de índole
social y del desarrollo, en particular la violencia, el descuido y maltrato de menores
y el absentismo laboral.

Las diversas consecuencias del consumo abusivo de alcohol son destacadas en las definiciones del
alcohólico y del alcoholismo, según la OMS,

(...) um alcoólico é um bebedor excessivo, cuja dependência em relação ao álcool, é


acompanhada de perturbações mentais, da saúde física, da relação com os outros e do seu
comportamento social e económico (...). Na sequência desta definição, o alcoolismo, e de
acordo com a OMS (…) não constitui uma entidade nosológica definida, mas a totalidade
dos problemas motivados pelo álcool no indivíduo, estendendo-se a vários planos, causando
perturbações orgânicas e psíquicas, perturbações da vida familiar, profissional e social, com
as suas repercussões económicas, legais e morais.3

En el presente trabajo, el análisis de las relaciones entre etnicidad, género y salud parte de la
investigación sobre el consumo de alcohol entre hombres y mujeres indígenas y se propone una
reflexión cultural que trascienda la fragmentación disciplinar (Spink, 2001), privilegiando la
interlocución entre la Historia de la Ciencia y las Ciencias Sociales con énfasis en la Psicología.
El énfasis en la Psicología se justifica por el hecho de que el consumo del alcohol está íntimamente
relacionado con las interacciones individuo-sociedad, siendo el alcoholismo considerado como
una enfermedad social cercana a las clases populares, dadas sus condiciones de vida, status, poder,
costumbres, tareas cotidianas así como su participación económica y política.
2
Disponible en:< http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs349/es/index.html>. Acceso en: 20 jun. 2012.
3
Disponible en: <http://bebesalcoolrecusa.blogs.sapo.pt/1266.html>. Acceso en: 20 jun. 2012.
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

Las subjetividades humanas están presentes en ese proceso de interacción social y se constituyen a
partir de las manifestaciones mentales, afectivas y corporales que resultan de las experiencias del 71
individuo como un ser biopsicosocial y también a través de los significados y representaciones sociales
que son por él atribuidos a la vida cotidiana. En la investigación fueron analizadas las representaciones
sociales en torno al término “indio” así como las representaciones sociales del propio indio en relación
a su identidad étnica. Las significaciones e interpretaciones atribuidas por el indígena a su conducta
bebedora fueron esenciales para la comprensión del universo cultural, simbólico y subjetivo que les
motiva al consumo de bebidas alcohólicas.

Según Bruner (1994) la realidad psicológica ocurre de acuerdo con la subjetividad del individuo.
Gran parte del conocimiento, acción y comprensión de la vida en general implica el uso de sistemas
simbólicos. El significado del símbolo es dado por el sistema de significados en el cual el individuo
existe. Cada sistema de símbolos tiene sus propias referencias. En ese sentido se debe considerar
que el consumo del alcohol está directamente relacionado con la cultura y, por lo tanto, requiere la
realización de estudios sociológicos y transculturales, especialmente al tratarse del binomio raza/
etnia y salud. Así, para el conocimiento de la etiología del alcoholismo entre indígenas, es necesaria
la comprensión de los factores individuales y socioculturales.

En lo que se refiere al entendimiento interdisciplinar del proceso salud-enfermedad, la Psicología


Médica ha contribuido estudiando las relaciones médico - paciente y las acciones psicológicas en
la práctica médica en general, esenciales para el tratamiento de la drogadicción. De acuerdo con la
Psicología de la Adicción, los comportamientos adictivos como el alcoholismo integran un conjunto de
factores bio-psico-sociales y ambientales, donde la comprensión global del fenómeno es fundamental
para la elaboración de políticas preventivas, al igual que para la realización de estudios comparativos
en el futuro.

Con el fin de conocer la referida problemática, la Psicología de la Adicción orienta sus estudios hacia
la personalidad del alcohólico (Fragoso y García, 1976-77; Bermejo, 1989), buscando comprender
las motivaciones del individuo para el consumo de alcohol y los consecuentes trastornos sociales,
psíquicos o corporales, tales como: la euforia, la alteración de los reflejos y de las reacciones motoras,
el comportamiento agresivo y auto-agresivo, las conductas psicóticas, etc. De acuerdo con Bogani
(1976) la interdisciplinariedad se ha impuesto en el estudio del alcoholismo, pues son múltiples los
factores biológicos, psíquicos, sociales y culturales que lo explican.

En esta perspectiva, Alonso-Fernandez (1991) afirma que solo es posible comprender la etiología,
diagnóstico, tratamiento y prevención del alcoholismo partiendo de su realidad “pluridimensional”
y “multicausal” que envuelve aspectos psicológicos, psicopatológicos, orgánicos, socio-económicos,
socio-culturales, socio-políticos, familiares, comunitarios y ambientales.

La Etnopsicología busca comprender las identidades culturales, la relación entre: personalidad y


cultura, motivación y cultura, el problema de la integración simbólica de los grupos humanos en
las relaciones interétnicas, los conflictos culturales, las identidades colectivas, la cosmovisión y las
vertientes culturales y políticas como expresión básica de la identidad colectiva a través de los vínculos
comunitarios, temas estos que también serán abordados a lo largo del presente trabajo. La contribución
de este abordaje para la investigación, es el entendimiento del actual proceso de aculturación y la
consecuente e incesante búsqueda de la reconstrucción y reafirmación de sus identidades étnicas, (a
través de la reinvención de sus rituales, sus tradiciones y la revitalización de sus idiomas originales)
vivenciada por muchos de los actuales pueblos indígenas brasileños.

Según Pittman y Snyder (1962) los patrones en la forma de consumir alcohol varían de una cultura a
otra, hacen las siguientes distinciones:
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

• Culturas abstinentes: donde se prohíbe el consumo del alcohol (ej. hindú e islámica).
72 • Culturas ambivalentes: donde coexisten en situación de conflicto las tendencias ambivalentes en
relación al consumo del alcohol (ej. Inglaterra y Estados Unidos).
• Culturas permisivas moderadas: admiten el consumo del alcohol sobre todo en pequeños círculos
y durante las comidas y condenan la embriaguez y otros aspectos patológicos (ej. China y Japón).
• Culturas permisivas incondicionales: son tolerantes no solo para el consumo eventual del
alcohol, sino también a los excesos y la embriaguez (ej. Francia, España y Bolivia).

Wundt (1990), frente al discurso sobre la psicología de los pueblos, o sea, de la colectividad, afirma
que las cuestiones que resultan de la vida humana en común no pueden ser explicadas únicamente a
partir de las propiedades de la consciencia individual, puesto que suponen la influencia recíproca de
muchos, esa es la base para el criterio psicológico-etnográfico.

De acuerdo con Morin (1992), no se puede considerar un hombre como una entidad cerrada, separada,
radicalmente extraña a la naturaleza. Es esencial considerar no solo la dimensión biológica, también
la cultural y la ecológica. Enfatiza la necesidad no solo de efectuar intercambios interdisciplinares
entre las ciencias biológicas y las ciencias humanas, sino, además, de favorecer un pensamiento
verdaderamente transdisciplinar. Afirma que es evidente que cada hombre es una totalidad bio-
psico-sociológica. Según este autor, cuanto mayor es la autonomía de un sistema vivo, mayor es su
dependencia con relación al ecosistema.

De hecho, la autonomía presupone complejidad, la cual a su vez presume la existencia de una gran
variedad de relaciones de todo tipo entre el hombre y el medio ambiente. La complejidad aparece en
la relación individuo / sociedad caracterizada por la interdependencia y acompañada por desórdenes
y desaciertos, se conforma a partir de la permanente ambigüedad entre la complementariedad, la
competitividad y el antagonismo.

Morin (1992) se refiere a la “sensibilidad contemporánea” que resulta del profundo malestar
ocasionado por la falta de futuro. Según él es difícil para cualquier teoría de desarrollo humano captar
la “imaginación cultural” de aquellos que temen que no habrá futuro alguno. Afirma que las teorías
actuales son modestas, relativas a las preocupaciones locales, exentas de grandes conceptos sobre
las posibilidades futuras, en referencia a las teorías específicas del campo que están en la escena
actualmente.

La contribución de la Antropología Cultural para ese estudio es comprender los distintos patrones
culturales presentes en las diversas sociedades, abarcando la amplia diversidad de formas de consumo
de las bebidas alcohólicas. La Sociología, a su vez, contribuye al entendimiento de las jerarquías
presentes en la cultura indígena y también a las relaciones de dominación/cooperación o conflicto/
solidaridad que caracterizan sus interacciones con la sociedad no indígena circundante.

La elección del consumo de alcohol como objeto de estudio se debe a contactos anteriores con
diferentes pueblos indígenas del estado de Bahía durante el Mestrado4 en Políticas Públicas realizado
en el Departamento de Ciencias Humanas de la Universidad del Estado de Bahía – UNEB de
Salvador, Brasil, en los años de 2006 a 2008. Para la elaboración de la disertación Políticas Públicas
para a Educação Superior Indígena na Bahia: ¿Caminhos para o Protagonismo e a Autonomia?
fueron investigados los significados atribuidos por indígenas a la educación superior. En esa ocasión,
al visitar diversas comunidades indígenas, se verificó la fuerte incidencia del consumo abusivo de
bebidas alcohólicas entre indígenas de diferentes etnias, generando inquietud y despertando el interés
de posteriormente investigar ese fenómeno.

4
Mestrado es un curso de pós-grado realizado en instituciones de enseñanza superior brasileñas con la duración
de dos años.
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

En la realización del trabajo intitulado Análisis histórico de la evolución del consumo de alcohol
entre indígenas Pataxó de Bahía (Brasil): un proceso individual, colectivo y étnico fueron delineados 73
los siguientes objetivos:

Objetivo General
Estudiar el consumo de alcohol entre los indígenas Pataxó de Bahía - Brasil, considerando los
aspectos históricos y socioculturales que han conducido a su uso a lo largo de la historia desde un
contexto general hasta su realidad local.

Objetivos Específicos

a) Comprender la génesis y la evolución histórica del consumo de alcohol entre los indígenas
brasileños, desde sus tradiciones ancestrales hasta la modernidad.
b) Analizar los condicionantes socioculturales que históricamente han conducido a la ingesta de
alcohol entre los indígenas brasileños, estudiando el caso de los Pataxó de Bahía.
c) Investigar la conducta alcohólica entre mujeres y hombres Pataxó, verificando las significaciones e
interpretaciones atribuidas a la acción de beber, considerando las razones que influyen o influenciaron
la ingesta, así como su percepción subjetiva al respeto.
En el primer capítulo se buscó comprender la evolución histórica del consumo de alcohol en
diferentes contextos socioculturales. Partiendo de la historia general para contextos regionales, el
análisis enfocó la historia del consumo de alcohol en Brasil considerando los aspectos históricos,
socioculturales, económicos y políticos. El consumo abusivo de alcohol como enfermedad social
también fue abordado enfocándose temas como la degeneración, la medicalización y la higienización
social.

El según capítulo también parte de lo general a lo específico, destacando los pueblos indígenas de
Brasil en las dimensiones históricas, socioculturales, económicas, políticas y ambientales, desde
una perspectiva más amplia hasta las realidades regionales destacándose los pueblos indígenas de
Bahía. En lo que se refiere a los aspectos locales, fue estudiado el pueblo indígena Pataxó de Bahía,
buscándose entender sus peculiaridades en los mismos aspectos anteriormente enunciados.

El tercer capítulo aborda el consumo de alcohol entre los indígenas brasileños, enfatizándose
contextos regionales y también locales a través de la realización de investigación con hombres y
mujeres Pataxó consumidores de bebidas alcohólicas. En ese capítulo se realizó la caracterización de
las dos comunidades investigadas y demás características como el perfil de las mujeres y hombres
entrevistados. Finalmente fueron presentadas las categorías de análisis que emergieran de los discursos
de los indígenas y una síntesis de las hablas más ilustrativas en cada una de estas categorías.

En el trabajo de campo, además de verificarse las propias concepciones de los indígenas sobre el
consumo de alcohol, se buscó comprender la manera en que los bebedores perciben sus condiciones
de salud. En la investigación sobre la conducta bebedora fueron considerados sus conocimientos
tradicionales sobre el cuerpo y aspectos de su cultura y organización social como factores que
intervienen en su comportamiento.

1 EL CONSUMO DE BEBIDAS ALCOHÓLICAS ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

A lo largo de la historia de Brasil se destaca la relación entre la producción y el consumo de bebidas


alcohólicas y los contactos interétnicos. En este sentido, la embriaguez tuvo un rol estratégico en la
configuración de las relaciones sociales y de los sistemas culturales (Fernandes, 2011, p. 9).

Entre los siglos XVI y XVII, las bebidas alcohólicas fueron predominantemente utilizadas como
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

alimento, no solo las tradicionales de los indígenas obtenidas por la fermentación, sino también el vino
74 traído por los colonizadores portugueses. El aguardiente a su vez, se convirtió en bebida colonizadora
y esclavista, siendo utilizada como moneda de gran valor en el tráfico de esclavos africanos desde el
siglo XVII.

De acuerdo con Fernandes (2011, p.14) fue a partir de la constatación de que la embriaguez de las
cauinagens1 ponía en riesgo su dominación sobre las poblaciones indígenas, cuando fueron diseñadas
estrategias de restricción del consumo basadas en el mantenimiento del dominio europeo a partir de
la necesidad de “civilizar” reprimiendo así sus formas tradicionales de alteración de consciencia.

En las estrategias de control al consumo de bebidas alcohólicas surgió el prejuicio y el estereotipo del
indígena embriagado. Para Foucault, la invenção do viciado é um mecanismo de controle, uma nova
rede de poder / conhecimento. (Foucault, 1993, p.88) La prevalencia de los intereses de los europeos
sobre los indígenas permaneció desde la colonización hasta nuestros días. La estigmatización y
criminalización son impuestas por las clases dominantes y el estereotipo del indígena embriagado
continúa siendo utilizado para justificar la explotación y violencia a la que todavía están sometidos.

En este contexto de dificultades actualmente sufridas por los indígenas, el alcoholismo surge como
destino inexorable para muchos. El diagnóstico elaborado por la Fundação Nacional de Saúde –
FUNASA (2000) destacó el alcoholismo como una de las enfermedades más comunes en los grupos
indígenas brasileños, sobre todo en las regiones nordeste, centro-oeste, sudeste y sur de Brasil
(Guimarães & Grubits, 2007).

Actualmente se verifican grandes transformaciones en los perfiles epidemiológicos de las poblaciones


indígenas, probablemente acaecidas a lo largo del proceso de contacto entre estos y la población
no-indígena en las diversas regiones. Dichos modelos de contacto con la sociedad nacional son
condicionantes de la situación de salud de las poblaciones indígenas, se observa la aparición de nuevas
enfermedades relacionadas con los cambios de estilos de vida, como, por ejemplo, la hipertensión
arterial, la diabetes, el cáncer, la depresión e incluso el suicidio, que son problemas cada día más
frecuentes. Para Guimarães & Grubits, además,

O Seminário sobre Alcoolismo e DST-AIDS entre Povos Indígenas (Ministério da Saúde,


2001) também informa que: existe a necessidade e a importância da discussão da problemática
do consumo de álcool entre os povos indígenas, assim como seu enfrentamento, visto ser esta
uma questão que vêm trazendo sérios transtornos dentro das aldeias indígenas, seja do ponto
de vista patológico, como estrutural social e cultural... para qualquer ação de intervenção em
relação à redução de danos, se faz necessário entender a especificidade cultural e histórica
de cada grupo, assim como o significado do ato de beber para cada indivíduo ou etnia.
(Guimarães y Grubits, 2007, p. 45 y 51)

En relación a las desigualdades sociales en Brasil todavía existe una producción sistemática de
conocimientos con respecto a la dimensión étnico-racial de la expresión diferenciada de la marginalización,
de la discriminación y de las situaciones de extrema vulnerabilidad y violencia en la cotidianeidad de
determinados grupos sociales y sus consecuencias para la salud. Muchas investigaciones (Coimbra
Jr. & Escobar, 2003; Souza, J. A & Aguiar, 2001) apuntan las situaciones de tensión social, amenaza
y vulnerabilidad como factores que hacen que crezca considerablemente el consumo de alcohol.
En el caso de las poblaciones indígenas, además de los factores ya mencionados, las bebidas
alcohólicas siempre fueron utilizadas a la larga, desde el proceso de colonización e invasión del
territorio nacional (Quiles 2001), en el cual estas poblaciones fueron cruelmente sometidas a muchas
formas de exterminio: el encarcelamiento, la esclavitud, las epidemias, el asesinato de los liderazgos,
el suicidio, la violencia sexual, entre otras.
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

La consecuente debilidad de su sistema social hace que se vuelvan más vulnerables a la aparición
de nuevas enfermedades. Entre éstas se observa la prevalencia de los trastornos mentales, del
75
alcoholismo, del suicidio y de la violencia interpersonal. De acuerdo con Langdon (2001), el
crecimiento de la prevalencia del alcoholismo en indígenas está directamente relacionado con
el proceso de “pacificación” y las condiciones de vida de los indígenas en la sociedad actual.

Coloma (2001) citado por Guimarães & Grubits (2007), destaca la importancia de las transformaciones
socioculturales en el proceso de colonización, analizando el sufrimiento individual y/o colectivo como
factor determinante de la pérdida del equilibrio individual y/o social y el alcoholismo como una de las
manifestaciones del desequilibrio juntamente con otras, citando la violencia auto y/o hetero dirigida.
De acuerdo con Coimbra Jr. et al (2003), en relación a la salud de las poblaciones indígenas actuales,
se observa intensas transformaciones no solo en los perfiles epidemiológicos, sino también en la
estructura del sistema de atención. Advierte de que, aunque las enfermedades continúan ocupando
un lugar clave en el perfil epidemiológico de los indígenas brasileños, surgen rápidamente otros
agravantes importantes, que incluyen enfermedades crónicas no transmisibles, como el alcoholismo,
diabetes mellitus, hipertensión arterial, neoplasias y obesidad.

Afirman que, entre las etnias brasileñas, hubo un crecimiento de los casos de las llamadas “enfermedades
sociales”, como el alcoholismo y la depresión, con un alto índice de mortalidad entre los indígenas
brasileños, tres o cuatro veces superior a la media nacional, de acuerdo con el Estado. El alcoholismo
se considera una de las principales causas de mortalidad, en función del aumento de enfermedades
como cirrosis, diabetes, hipertensión arterial, enfermedades cardiovasculares, del aparato digestivo,
depresión, estrés, suicidio, o como causa de muerte por factores externos como accidentes, peleas,
caídas y atropellamientos.

Souza J. A. e Aguiar (2001) relatan que la proporción del consumo de bebidas alcohólicas por
indígenas es mucho mayor a la encontrada en poblaciones no indígenas. En estudio realizado con los
Terena de Mato Grosso do Sul, los autores encontraron una prevalencia del 10,1% de alcoholismo en
esta población. Sin embargo, cuando fue considerada la edad por encima de los 15 años, la proporción
de alcohólicos se elevó a un 17,6% en la población de la aldea y hasta un 19,7% en la población de
indígenas viviendo en la periferia de la ciudad de Sidrolândia (MS).

De acuerdo con Coloma (2001) el proceso de alcoholización es un fenómeno que acompaña un


conjunto de problemas, la mayoría de las veces como catalizador de actos agresivos y auto-agresivos,
lo que indica su íntima relación con la violencia. Indica que la alcoholización puede ser la forma de
expresión de las señales de un deterioro de la persona y de la sociedad y éstas, a su vez, se definen
culturalmente. Niewiadomski (2004) afirma que el alcoholismo frecuentemente está relacionado con
acciones delictivas como homicidios, delitos sexuales, malos tratos, entre otras. Guimarães & Grubits,
2007, resaltan que 22 de las 47 administraciones de la FUNAI, relatan causas externas (especialmente
la violencia y el suicidio) como la tercera causa de mortalidad conocida entre la población indígena de
Brasil, añadiendo que, para afrontar más eficazmente el problema del alcoholismo en los 34 Distritos
Sanitários Especiais Indígenas – DSEI existentes en el país, es fundamental reconocerlos como un
agravante importante, comprendiendo sus diversas interfaces.

Para comprender el alcoholismo es necesario considerar los factores psicológicos, psicopatológicos,


familiares, socioculturales, ambientales, así como las relaciones de género entre los indígenas. Por
ello, es imprescindible conocer el proceso histórico-cultural de la comunidad investigada. Dicho
hecho indica que la formulación de propuestas y metodologías de trabajo de investigación sobre
el consumo de alcohol ente indígenas debe contemplar los múltiples factores que interactúan en su
aparición, teniendo en cuenta su diversidad cultural y la heterogeneidad de los perfiles epidemiológicos.
En este sentido, es de extrema importancia comprender los significados, los aspectos simbólicos,
socioculturales y políticos que abarcan el acto de beber, así como las consecuencias generadas por el
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

proceso histórico vivenciado por estas poblaciones considerando así la complejidad que envuelve el
76 consumo de alcohol entre los indígenas.

2 EL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BAHÍA

El “Relatório Brasileiro Sobre Drogas 2010”5 elaborado por la Secretaria Nacional de Políticas Sobre
Drogas - SENAD presenta un panorama sobre el consumo del alcohol y otras drogas psicotrópicas
en Brasil en los últimos tiempos, destacando también las diferencias regionales y características del
consumo de alcohol entre indígenas.

De acuerdo con el referido informe, el porcentaje de indios que consumen bebidas alcohólicas en
Bahía es de 43%. Los datos se refieren al “Levantamento sobre Padrões de Consumo de Alcohol y
Otras Drogas” realizado en el año de 2007 por la SENAD. La población indígena estudiada estaba
distribuida en siete etnias de diferentes regiones brasileñas y tenía la edad entre 18 y 64 años.
Participaron en el estudio 1.455 indígenas, siendo 715 hombres y 740 mujeres. Entre otros resultados,
la proporción de los que beben fue mayor entre los hombres (52,7%) que entre las mujeres (24,6%).

Sin embargo, los estudios sobre el consumo de alcohol entre indígenas de Bahía son escasos. Fue
realizada una investigación por el Instituto de Salud Colectiva – ISC, coordinado por la Profesora
Doctora Mônica Nunes. Según la información obtenida en el Departamento de Saúde Especial
Indígena de Bahia - DSEI-BA la investigación identificó el perfil epidemiológico de bebedores de
la etnia Pataxó. El objetivo de la investigación era el financiamiento de proyectos en comunidades
indígenas, pero los resultados no fueron divulgados.

3 EL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE LOS PATAXÓ DE BAHÍA - Historia de la bebida


ritual: cauim

El cauim es preparado por las personas de más edad, está hecho de Manihot esculenta (yuca).
Inicialmente se pela la yuca y se la corta en pequeños trozos, en segundo lugar se pone dentro de
una cazuela o un cubo lleno de agua, en tercer lugar se pone en el fuego para cocinar hasta que esté
blando, en cuarto lugar después de cocido se separan los trozos de la yuca del propio jugo y se pone
en otro recipiente para enfriar naturalmente, en quinto lugar se coge la yuca y se ralla en un recipiente
grande, en sexto lugar se pone la yuca rallada en la propia agua que fue cocida (jugo), se remueve
bien y se deja fermentar naturalmente durante dos o tres días y, por último, se añade un poco de caldo
de caña de azúcar.

Desde los tiempos ancestrales hasta hoy en día se produce y se consume la bebida ritual en la aldea.
No existe una edad predeterminada para comenzar a beber el cauim. Beber el cauim no es una práctica
religiosa entre los Pataxó, sino que está considerada por ellos como una tradición cultural indígena.
Sin embargo, dentro de la aldea son practicadas las religiones católica y protestante. Las iglesias
existentes en la aldea son: Católica, Misionera, Asamblea de Dios, Asamblea de Dios Madureira y
Maranata.

Son realizados rituales tradicionales en la aldea. Los rituales se realizan en día de luna llena y todos
los de la comunidad participan. Se bebe el cauim en estos rituales, distribuido gratuitamente a todos
los participantes, pero además se consume en otros momentos familiares. La relación entre el cauim
y la cultura Pataxó es de unión y conocimiento cultural de una población.
5
Relatório Brasileiro Sobre Drogas (2010) SENAD, Ministerio de Justicia. Organizadores: Paulina do Carmo
Arruda Vieira Duarte; Vladimir de Andrade Stempliuk; Lúcia Pereira Barroso. Disponible en: <http://www.
obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Relatorios/328379.pdf>. Acceso en: 20 enero 2012.
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

O cauim simboliza para a comunidade união, respeito e um momento sagrado do nosso povo.
A importância do cauim é perpetuar a memória dos nossos antepassados, anciões. O cauim 77
costuma ser preparado por uma pessoa mais velha, experiente e que tenha a mão boa para
prepará-lo, isso para o cauim ficar com o caldo grosso, forte e saboroso. 6

Según el auxiliar de investigación, en la comunidad de Barra Velha, el cauim no se utiliza como


medicina y no tiene indicación para enfermedades. Sin embargo, el cauim se utiliza como alimento
y sustituye a una comida o una cena y se bebe en las refecciones, incluso en el desayuno. El cauim
se distribuye y se consume entre familiares e invitados gratuitamente. En caso de que alguien quiera
comprarlo en grandes cantidades se puede hacer un encargo y, en este caso, pagar por el producto.

4 EL TRABAJO DE CAMPO

Inicialmente los sujetos de la investigación fueron indicados por el cacique y/o vice-cacique y
después, tras el inicio de las entrevistas, ellos mismos pasaron a sugerir que sus amigos, vecinos
o familiares, consumidores de bebida alcohólica fuesen también entrevistados. En ese sentido
fue observado el criterio de exclusión, optándose por no entrevistar indígenas embriagados o con
presencia de enfermedad clínica que imposibilitara la claridad y coherencia del discurso. El cacique
también indicaba si el indígena tenía o no problemas de salud.

La recogida de datos se realizó mediante entrevistas semiestructuradas a partir de un guion básico con
posibles preguntas anteriormente elaboradas y aplicadas por la propia investigadora, que grabó las
charlas y después las transcribió, registrando además los comportamientos verificados y considerados
relevantes, durante la entrevista.

La presente investigación contó con la colaboración de un joven indio Pataxó, Jussimar Alves
Vieira7, quien participó junto con otros jóvenes de la comunidad en una formación en psicoterapia
comunitaria en la ciudad de Recife en el estado de Pernambuco. La formación tuvo como objetivo la
implantación de un servicio de acompañamiento psicoterapéutico para los indígenas, en la búsqueda
de la prevención del alcoholismo en la aldea. (Guion para el trabajo del auxiliar de investigación en
el anexo 4)

4.1. Objetivos de la investigación de campo

4.1.1. General8

Investigar la conducta alcohólica entre mujeres y hombres Pataxó, verificando las significaciones e
interpretaciones atribuidas a la acción de beber, considerando las razones que influyen o influyeron
en la ingesta, así como su percepción subjetiva al respeto.

4.1.2. Específicos

a) Verificar cómo los indígenas perciben su identidad étnica, comprendiendo su discurso y


representaciones subjetivas.

b) Investigar el contexto sociocultural de los indígenas Pataxós, a través de la memoria de su historia


individual y colectiva, verificando e identificando si la costumbre de consumir la bebida ritual Cauim,
tiene o no algo que ver con la ingesta de otras bebidas alcohólica.
6
Informaciones colectadas en las comunidades por el auxiliar de investigación, Jussimar Alves Vieira “Indio
Pataxó”, en el período de abril y mayo de 2010, ver el DVD adjunto.
7
Las informaciones fueron colectadas en las comunidades por el auxiliar de investigación, Jussimar Alves
Vieira “Indio Pataxó”, en el período de abril y mayo de 2011.
8
Corresponde al objetivo específico “c” del trabajo de grado.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

c) Comprender la percepción subjetiva del consumo de alcohol entre los hombres y mujeres Pataxó,
78 destacando las significaciones e interpretaciones que ellos atribuyen al acto de beber, así como a las
enfermedades desarrolladas por este tipo de consumo.

d) Verificar si el consumo de alcohol afecta a la vida familiar del entrevistado considerando las
reacciones y consecuencias familiares y si existen más personas que ingieren bebidas alcohólicas en
su familia.

e) Identificar si los indígenas relacionan el acto de la conquista sexual o desinhibición en relación al


sexo opuesto con el consumo de alcohol, así como la práctica de sexo inseguro.

f) Observar cómo los indígenas relacionan el consumo de bebidas alcohólicas con el trabajo,
percibiendo si interfiere o no en las actividades laborales e identificando la existencia de críticas en
el ambiente de trabajo.

4.2. Perfil de los entrevistados

4.2.1. Hombres

La edad de los hombres entrevistados varió entre 30 y 83 años. En general presentaron también baja
escolaridad, desde el segundo año de la escuela primaria hasta el primer año de la secundaria, siendo
tres de ellos analfabetos. La profesión de ellos es diversificada y de baja cualificación, como obrero,
pescador, artesano, albañil, pintor de casas, auxiliar de marinero, estando jubilados dos de ellos. Con
relación al estado civil, seis de los doce hombres entrevistados son solteros, 2 son casados, uno es
viudo y los demás son “amasiados”, es decir que viven junto, pero sin casarse civilmente.

4.2.2. Mujeres

La edad de las mujeres entrevistadas varió entre 28 y 74 años. También presentaron baja escolaridad:
del segundo al octavo año de la escuela primaria, siendo que una de ellas es analfabeta. En la profesión
de las mujeres se destacaron los servicios domésticos, como de ayudante de limpieza y cocinera,
siendo una de ellas profesora y otra es jubilada. Entre las seis mujeres entrevistadas, cuatro son
solteras y dos son casadas.

4.3. Categorías de Análisis de los datos

Las categorías de análisis, fueron creadas y sintetizadas tras el análisis de los datos del cuestionario,
estando así constituidas:

IDENTIDAD ÉTNICA. Busca comprender las relaciones que ellos establecieron en el discurso con
el hecho de ser indígena y las relaciones con el consumo de bebida.
BEBIDA RITUAL. Investiga la relación entre el consumo del cauim (bebida ritual) como costumbre
y tradición y su influencia o no en el consumo de otras bebidas alcohólicas en la comunidad, así como
las reacciones de esa misma comunidad al consumo de alcohol.
MOTIVACIÓN PARA EL PRIMER CONSUMO. Investiga cómo ocurrió el primer contacto con la
bebida y cuáles fueron las razones y motivos o personas que llevaron al indígena al acto de beber, en
qué circunstancias y porqué (aquí se puede retomar en el discurso si el cauim tiene o no importancia
en dicho proceso).
CONDUCTA BEBEDORA. Investiga qué beben los indígenas, con quién y cuándo beben. Además,
examina la frecuencia, las razones y motivaciones para el consumo actual de bebidas alcohólicas,
buscando verificar si existe una negación y qué suelen hacer tras la ingesta.
EMBRIAGUEZ. Investiga los sentimientos y las alteraciones corporales verificadas por los bebedores
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

durante la embriaguez.
ALCOHOL Y SEXUALIDAD. Relaciona el acto de la conquista sexual con el consumo de alcohol,
79
así como la práctica de sexo inseguro.
ALCOHOL Y FAMILIA. Busca verificar si existen más personas que consumen alcohol en la familia
del entrevistado, así como las reacciones y consecuencias familiares en relación al consumo.
ALCOHOL Y TRABAJO. Identifica si los indígenas creen que el consumo de alcohol interfiere o no
en el trabajo y si reciben críticas en relación al hecho de beber en el ambiente de trabajo.
ALCOHOL Y COMUNIDAD. Busca comprender las relaciones del bebedor con su comunidad,
verificando las normas establecidas para el consumo del alcohol, así como las reacciones colectivas a
los comportamientos adictivos.
ALCOHOL Y SALUD. Investiga la auto percepción de los indígenas sobre los efectos de las bebidas
alcohólicas en relación con la salud, sus opiniones generales y abstracciones al respeto.
Tras esa breve descripción, se relaciona las categorías de análisis con respecto a los objetivos
específicos prestablecidos en el proyecto de investigación, presentadas en el siguiente cuadro:

OBJETIVOS ESPECÍFICOS X CATEGORÍAS DE ANÁLISIS


a) Verifican como los indígenas perciben su
identidad étnica, comprendiendo su discurso y IDENTIDAD ÉTNICA
representaciones subjetivas.

b) Investigar el contexto histórico y sociocultural


de los indígenas Pataxós, identificando si la
costumbre de consumir la bebida ritual Cauim, ALCOHOL Y RITUAL, MOTIVACIÓN PARA EL
tiene o no relación con la ingesta de otras bebidas PRIMER CONSUMO
alcohólicas.

c) Comprender la percepción subjetiva del consumo


de alcohol entre los hombres y mujeres Pataxó,
destacando las significaciones e interpretaciones
que ellos atribuyen al acto de beber, así como,
ALCOHOL Y SALUD, CONDUCTA
las enfermedades desarrolladas por ese tipo de
BEBEDORA, EMBRIAGUEZ
consumo.

d) Verificar si la ingesta de bebidas alcohólicas


interfiere en las relaciones del bebedor con la
comunidad. Conocer las normas de la comunidad ALCOHOL Y COMUNIDAD
cuanto al consumo de bebidas alcohólicas.
e) Verificar si el consumo de alcohol afecta a la ALCOHOL Y FAMILIA
vida familiar del entrevistado, considerando las
reacciones y consecuencias familiares y si existen
más personas que ingieren bebidas alcohólicas en
su grupo familiar.
f) Identificar si los indígenas Pataxó relacionan la
conquista sexual o la desinhibición en relación al
sexo opuesto con el consumo de alcohol, así como ALCOHOL Y SEXUALIDAD
la práctica de sexo inseguro.
g) Observar como los indígenas relacionan
el consumo de bebidas alcohólicas al trabajo,
percibiendo si interfiere o no en sus actividades ALCOHOL Y TRABAJO
laborales, identificando la existencia de críticas en
el ambiente de trabajo.

En el siguiente cuadro se relaciona cada categoría de análisis a los cuestionamientos, que a su vez,
intentan responder a los objetivos específicos del trabajo de campo. Así pues, el siguiente cuadro fue
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

construido:
80
CATEGORÍAS Y CUESTIONAMIENTOS

Utilizar las percepciones paralelas a la entrevista (las


percepciones de la investigadora) para entonces, elaborar
un texto donde se revele lo genérico de la temática,
separando las dos aldeas o juntándolas en un solo texto
con ese título (identidad étnica). Utilizar además las
IDENTIDAD ÉTNICA intervenciones de los indígenas donde se refieren al hecho
de ser se esta etnia.
¿Cuándo vio la bebida alcohólica por primera vez?
¿Cuándo consumió bebida alcohólica por primera vez?
¿Quién le influyó a empezar a consumir bebida alcohólica?
¿Con quién suele consumir alcohol?
¿Cómo obtiene bebida alcohólica?
¿Existen más personas que consumen alcohol a su
BEBIDA RITUAL, MOTIVACIÓN PARA EL alrededor?
PRIMER CONSUMO ¿Qué es lo normal en su comunidad en relación al consumo
de alcohol?
Hoy en día ¿Cuáles bebidas alcohólicas que consume?
¿Cuándo consume alcohol?
¿Cuándo usted tiene más ganas de beber?
¿Cuáles los resultados de su comportamiento al beber?
¿Se sintió embriagado alguna vez?
¿Cómo define lo que considera estar embriagado?
¿Cuántos vasos de bebida alcohólica usted consume hasta
que se sienta embriagado?
ALCOHOL Y SALUD, CONDUCTA ¿Cómo se siente cuando no ingiere alcohol?
BEBEDORA, EMBRIAGUEZ ¿Generalmente usted recibe críticas por el hecho de beber?
¿Qué piensa sobre los efectos del alcohol sobre su salud?
¿El alcohol afectó su vida familiar?
ALCOHOL Y FAMILIA ¿Con quién usted vive?
¿Dónde nasció y vivió en su infancia?
¿Cuántos hijos tiene usted?
¿Cree que el hecho de beber ayuda en la conquista de
ALCOHOL Y SEXUALIDAD hombres/mujeres?

El hecho de consumir bebidas alcohólicas ¿influye


ALCOHOL Y TRABAJO negativamente en el trabajo? ¿Cómo su jefe y colegas
reaccionan?
¿Qué es lo normal en su comunidad en relación al consumo
ALCOHOL Y COMUNIDAD de alcohol? ¿Generalmente recibe críticas en relación al
hábito de beber? ¿Cómo se siente?
Fuente: elaboración propia.

4.4.El discurso de los indígenas

4.4.1. Identidad étnica

Esta categoría de análisis fue elaborada para permitir la comprensión de las relaciones que los
indígenas establecieron en el discurso, el hecho de ser indígenas y, en especial, para comprender si
ellos se identifican con su origen. Así pues, los discursos de los hombres y de las mujeres se dividen
para comprobar si el género influye en la autopercepción de su identidad étnica.
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

En Barra Velha, seis de los entrevistados nacieron en la propia aldea, cinco de estos siempre vivieron
allí y solo uno vivió fuera de la aldea durante nueve meses (en la ciudad de Corumbau). Uno de los
81
entrevistados nació fuera de Barra Velha, en la ciudad de Itamaraju y a los 21 años se fue a vivir
con su familia en la aldea, éste también vivió en otra aldea, Pataxó (Coroa Vermelha) por dos años.
Solamente un entrevistado de Barra Velha vive solo, todos los demás viven con su familia. La única
mujer indígena entrevistada en Barra Velha nació, creció y siempre vivió en la aldea con su familia.

Como se ha dicho anteriormente, Aldea Velha se originó en los 70 y se regularizó como tierra indígena
posteriormente, cuando entonces los indígenas de allí buscaban colonizar el lugar. Los cinco hombres
indígenas entrevistados nacieron fuera de la aldea (en otras aldeas Pataxó de la región o en ciudades
vecinas) y viven hace más de cinco años en este lugar, la mayoría de ellos vivió en diferentes aldeas
antes de irse a Aldea Velha. En total, tres viven con la familia y dos de los indígenas viven solos.

Con respecto a las mujeres indígenas entrevistadas en Aldea Velha, la mayoría creció en Arraial
D’Ajuda y después se fueron a vivir a la aldea cuando eran adolescentes o todavía cuando eran
niñas. Las que viven menos de dos años en la aldea, contaron que antes vivían en Porto Seguro,
en São Paulo o en Rio de Janeiro, además de otras aldeas como la de Mata Medonha. Cuatro
mujeres viven con sus familiares, algunas solteras o divorciadas viven con sus padres y otras con
nietos o parientes cercanos, apenas una de ellas vive sola en una casa al lado de la de su madre.

Con relación a la identidad étnica, las mujeres no se manifestaron y sólo uno de los indígenas
entrevistados en las dos aldeas argumentó respecto a su origen, cuando dijo que tenía vergüenza de
ser indígena:
Não posso ver muita gente perto de mim porque desmaio, penso que estão rindo do meu ros-
to, sinto vergonha e penso que estão “mangando”9 de mim porque sou índio, (...) é um órgão
federal, todos nós somos iguais. Eu não bebo nem cerveja porque amarga, nem cachaça, só o
cauim mesmo porque é o efeito da cultura.

Otro entrevistado de Aldea Velha se refirió a su identidad étnica enfocándola hacia la cuestión política,
ya que es un líder comunitario, diciendo:
Sempre tive muita responsabilidade na luta do meu povo na transmissão da nossa cultura.
Essa terra era do meu bisavô e dos irmãos dele, eles criaram essa aldeia (...) eu sou conse-
lheiro dentro da comunidade. Já fiz muitos trabalhos como palestras e Cd´s sobre a nossa
história e cultura.

Los hombres entrevistados relataron que el cauim se hace en la propia familia generalmente por
personas mayores: madre, tía, abuelos, entre otros. Antiguamente formaba parte de la tradición que
la abuela tuviese un bote de cauim en casa para ser ingerido por la familia y también por invitados.

Uno de ellos reveló que tuvo contacto con la bebida alcohólica por primera vez a los cuatro años
de edad, y que quando nasci a minha mãe fazia o cauim e a gente tomava. Aos oito anos bebi
cachaça com meu pai, a gente viajava a noite pra roça e ele me mandava beber um pouquinho
pra espantar o frio. Otro sorprendió al decir con naturalidad: Eu tomo o cauim desde que eu
era miudinho, com uns três aninhos eu já bebia, minha avó e minha mãe faziam e a gente bebia.

Esta persona reveló que los Pataxó consideran de la familia a todos los que son indígenas,
independientemente del lazo de consanguinidad, incluso aquellos que pertenecen a otros grupos
étnicos son también llamados de familia. Con respecto a la identidad étnica un hecho interesante fue
relatado por una indígena, que era bastante común hace algunos años atrás, cuando no había en Brasil

“Mangando” significa burlando.


9
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

una legislación específica de protección a niños y adolescentes10, ella contó que,


82
Eu fui dada para uma mulher pelo meu pai, eu trabalhava na casa dela em Porto Seguro, esta-
va com 8 anos e morei lá por 3 anos e 8 meses. Eu não brincava nem estudava, só trabalhava.
Aos 11 anos eu vim procurar o meu pai, eu vim por causa da minha mãe que eu amo muito,
mas ele não gostava de mim. Ele me batia e me bate até hoje. Há seis meses ele me bateu
de murro, quase me matou, fui parar na emergência internada, fiquei 98 dias sem andar. Ele
também batia na minha mãe, minha mãe morreu há 11 anos.

4.4.2. Bebida ritual

El objetivo de esta categoría es investigar el contexto histórico y sociocultural de los


indígenas Pataxó, identificando si la costumbre de consumir la bebida ritual cauim tiene o
no relación con la ingesta de otras bebidas alcohólicas. En esta etapa del trabajo se analizó
conjuntamente las entrevistas de las dos aldeas, separándolas sólo con respecto al género.

Los hombres participantes de la encuesta en ambas aldeas relataron que consumen el cauim desde la
infancia, a partir de un año y medio de edad (18 meses de vida) cuando hay celebraciones y rituales (torés
y luaus en la playa) de la aldea. Los demás no supieron contestar exactamente la edad en que empezaron
a consumir la bebida ritual, afirmando que beben desde edades tempranas y que el cauim era utilizado
también como alimento, cuando no había comida. La mayoría de ellos dijeron que aún hoy bebe el cauim
en las fiestas de la aldea. Sin embargo, otros contestaron que beben a menudo en las fiestas o fuera de
festividades: Aos 20 anos conheci o cauim aqui na aldeia mesmo. Eu passei a tomar o cauim aos 20 anos
em festas aqui na aldeia, minha tia preparava só na época das festas aqui e também catuaba selvagem11.

Solamente uno de los entrevistados reveló que comenzó a tomar cauim en la adolescencia, a los
catorce años, y la bebida la hacía su madre. Por otro lado, un indígena dijo que probó el cauim sólo
en la edad adulta, a los veinte años, en la propia aldea y después pasó a utilizarla en festividades. Uno
de los entrevistados dijo que su madre fabricaba el cauim desde que nació, utilizado como medicina,
especialmente para “limpiar el intestino”. En general, se observó que los indígenas que nacieron
en Barra Velha empezaron a consumir el cauim aún muy jóvenes, mientras que los de Aldeia Velha
conocieron y bebieron el cauim cuando se hicieron adultos, después que llegaron a vivir en la aldea.

Con respecto a las mujeres entrevistadas, la mayoría de ellas contó que tuvo el primer contacto con la
bebida alcohólica en la infancia, ya que presenciaban a sus familiares borrachos o porque ya bebían
el cauim: Quando eu era criança, eu via a minha mãe beber cachaça temperada com folha de horta,
ela bebia sempre.
(...) vi minha mãe beber quando tinha 12 anos, eu reclamava com ela porque não gostava que
bebesse, eu morava na roça, ela bebia, passava mal e desmaiava, eu ficava com pena dela.
Mas agora ela parou de beber, graças a Deus, está forte. Meus parentes não bebem, são evan-
gélicos, mas eu não sou e se tiver dinheiro vou beber cachaça mesmo.
A minha mãe me deu cachaça temperada com ervas numa colher na sexta-feira santa para
“fechar o corpo”12, ela confessou que eu tinha seis anos de idade.

Otra indígena reveló que aprendió a beber a los trece años cuando se casó a razón de que el marido
ya bebía y, actualmente, consume lo que llama “pinga”, “cachaça Pirassununga” y “juninho”. Sin

Refere-se de maneira específica à Lei 8.069 de 13 de julho de 1990, conhecida como Estatuto da Criança e do Adoles-
10

cente.
11
“Catuaba selvagem” es una bebida que está hecha con aguardiente e hierbas, como la Jurubeba.
12
La expresión “fechar o corpo” significa proteger contra los malos espíritus.
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

intimidarse con las preguntas una de ellas dijo, Vi uns amigos lá em Porto Seguro, no primeiro gole
minha filha eu já gostei (...) da cerveja.
83

Entre las mujeres se confirmó la misma situación identificada en el discurso de los hombres, en este
sentido, en las fiestas de la aldea las bebidas se consumían libremente y muchas de ellas, utilizaban
estas bebidas alcohólicas como alimento, especialmente el cauim.

Bebo o cauim desde que nasci, tomava de manhã substituindo o café da manhã, (...) na festa
de Nossa Senhora da Conceição (...). Os índios iam lá em Caraiva e compravam a cachaça
Cai Boca, traziam e bebíamos, além do cauim que era distribuído na festa (...) fabricado pelas
índias mais velhas.

Se verificó que todos los entrevistados en Barra Velha afirman que el cauim fue la primera bebida
alcohólica que ellos conocieron y probaron, excepto un indígena que afirmó que bebió aguardiente
antes de conocer y consumir el cauim. Él nació y creció fuera de la aldea y, al visitar su familia en
Barra Velha, le ofrecieron la bebida. Afirmó que le gustó y continuó consumiéndola, aún hoy en día
bebe el cauim en las fiestas y en los juegos de la aldea.

4.4.3. Motivación para el primer consumo

En este apartado se investigó cómo ocurrió el primer contacto con la bebida, las razones y qué
circunstancias llevaron al indígena a beber por primera vez, estableciéndose las relaciones con la
categoría anterior “bebida ritual”.

Entre los doce indígenas del sexo masculino entrevistados, cinco afirmaron haber tenido influencia
directa o indirecta de amigos (indígenas o no indígenas) en el momento de consumir la bebida
alcohólica; tres dijeron que fueron influenciados por colegas de trabajo y dos de ellos que no fueron
influenciados por nadie y bebieron por voluntad propia, por curiosidad. Sólo uno de los entrevistados
se refirió a la familia afirmando haber sido influenciado por su padre.

La mayoría empezó a beber en la adolescencia, como se puede ver en la entrevista de uno de los
participantes que relató haber conocido el aguardiente a los dieciséis años de edad: Foi numa festa,
eu estava com um colega mais velho, de uns vinte e cinco anos a vinte e oito anos, ele bebia. Nessa
época eu comecei a trabalhar com obra e meus colegas sempre bebiam depois do trabalho, assim eu
fui aprendendo.

Sin embargo, otros, justificaron que la pérdida de algún miembro de la familia y la soledad fue el
hecho que les llevó a consumir alcohol en el intento de buscar alegría: (...) passei a beber depois que
perdi a minha “jocana”13, às vezes fico desanimado e bebo para relaxar. Faz 11 anos que minha
mulher morreu. En otra intervención, un indígena dijo que empezó a beber después de que su padre
falleció, cuando él tenía 15 años, revelando que comenzó a beber aguardiente: (...) Fiquei preocupado
pela morte do meu pai, bebi num bar na rua em que eu morava em Itamaraju.(...) por preocupação,
porque eu morava sozinho com a minha mãe que criava mais três sobrinhos e eu tinha que ajudar
eles.(...)

En relación al primer contacto con la bebida, cuatro indígenas dijeron que vieron una bebida alcohólica
(vino y batido de aguardiente con frutas) por primera vez en la infancia (aproximadamente a los diez
años de edad) y en distintas ocasiones, como en las fiestas de la aldea o en ciudades vecinas; cuando
pescaban en la playa o jugaban al fútbol. En estos casos la bebida apareció asociada al placer y al
ocio.

Jocana significa mujer en la lengua de los Pataxó, el Pathohã.


13
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

Uno de ellos contó que cuando tenía cuatro años y estaba con su padre en la ciudad de Corumbau
84 comprando comida vio al padre comprando el aguardiente Cai-Boca. Otro dijo que a los ocho años de
edad había visto a otros indígenas de la aldea bebiendo en un bar (boteco) que pertenecía a su abuelo
en la ciudad vecina de Caraiva, ubicada a seis kilómetros de la aldea. Y otros dijeron que convivían
con su padre bebiendo, aun niños e, incluso: (…) via meu irmão mais velho bebendo cachaça, eu e
três irmãos mais novos. Se percibe la influencia de los familiares en el consumo.

Uno de los indígenas reveló que cuando tenía los dieciocho años vio a algunas personas bebiendo que
se caían al suelo y pensaba que eso no era bueno, y que esas personas podrían morirse. Sin embargo,
este hecho no hizo que se alejara de la bebida. La mayoría de los indígenas reveló haber consumido
bebidas alcohólicas por primera vez en la adolescencia, entre los catorce y veinte años, en situaciones
variadas, incluso en contacto con el hombre blanco: Aos quatorze anos bebi cerveja, vinho e cachaça.
Estava na Ponta de Corumbau14, com um casal de hippies. Não eram indígenas.

Otro indígena dijo que bebió a los quince años: (…) quando vi me deu vontade de beber, eu via pessoas
bebendo, bebi cachaça Tarantim, foi durante o meu trabalho de artesão, outros índios chegaram com
a cachaça e eu bebi.

Dos indígenas entrevistados contaron haber bebido a los dieciséis años, uno de ellos bebió aguardiente
con un amigo de veinticinco años cuando estaba en una fiesta. Dijo también que en esa época sus
amigos siempre bebían después del trabajo, trabajaban en la construcción civil y que así él, también
pasó a beber con frecuencia siempre que salía del trabajo. Otros indígenas afirmaron que,

(…) aos dezesseis anos bebi Catuaba Selvagem e cerveja, estava num bairro vizinho à aldeia
com amigos não-indígenas.
Bebi aos 20 anos, trabalhava em rodagem, na construção de uma estrada na cidade de Novo
Mundo. Os outros colegas me diziam para beber um pouquinho (...).
Aos 20 anos bebi cerveja num bar em Caraiva, antes só vendia lá, foi num bar, eu estava com
amigos indígenas e fomos comprar feijão, carne e outros alimentos.
Bebi quando já era adulto, bebi carotinho (aguardente) em uma festa com meus amigos in-
dígenas e parentes.

Las mujeres en su totalidad demostraron que fueron incentivadas a beber por los maridos y novios
o por amigas. Entre ellas la motivación para el consumo del alcohol ocurrió la mayoría de las veces
dentro de la familia, porque los padres o los hermanos bebían, y también por influencia de los amigos
y otros parientes.

4.4.4. Conducta bebedora

Esta categoría de análisis investiga qué beben los indígenas, con quién y cuándo beben. Además,
examina la frecuencia, así como las razones y motivaciones para el consumo actual de bebidas
alcohólicas, buscando verificar si existe una negación y qué suelen hacer tras la ingesta.

Además del cauim, los indígenas dicen que consumen cerveza, aguardiente (cachaça) de distintos

14
Ponta de Corumbau (así como Caraiva, Arraial D, Ajuda, y Trancoso) es una playa paradisíaca que desde los
años 70 está frecuentada por muchas personas en la búsqueda de la naturaleza y tiene una ideología de vivir
de forma alternativa y no consumista. Esas son popularmente conocidas como hippies en Brasil y representan
un movimiento de contra-cultura.
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

tipos y marcas como, por ejemplo, Cai Boca, Carotinho, Boroca, Pirassununga, Vinte e Nove,
además de ron y bebidas que ellos denominan “mezcladas” (temperadas) (aguardiente mezclado con 85
hierbas). Entre éstas, la preferida es el aguardiente (cachaça, pinga), seguida por la cerveza y por las
temperadas. Algunos afirmaron consumir diferentes tipos de bebidas de una sola vez como cerveza,
aguardiente y ron.

En cuanto a la conducta bebedora, se preguntó por qué bebían y las respuestas dadas revelaron los
principales motivos del consumo, siendo éstas muy diferentes. La mayoría expresó que bebe porque
le apetece, porque se acostumbró y porque le gusta,

Bebo para fortalecer as partes do corpo humano e para o crescimento do cabelo, por causa
do aipim. (yuca).
Por diversão e às vezes por sentimento, tristeza, passei a beber depois que perdi a minha
mulher. Às vezes fico desanimado e bebo para relaxar.
Acho que fica melhor, melhora a situação mais um pouco, é mais pelo esporte mesmo, pelo
prazer.
Bebo para distrair mais um pouco, aos domingos porque não trabalho, quando tenho caiambá
(diñero).
Bebo por influência do futebol nos finais de semana, aos domingos eu jogo futebol e o prêmio
são caixas de cerveja.
Bebo para esquentar e dormir.
Bebo para conversar, fico mais alegre porque sou um pouco tímido.

La mayoría de los indígenas afirmó que bebe solo, en su propia casa y en seguida come y duerme.
Otros relacionaron el consumo con el placer, como: antes de ir a alguna fiesta, cuando está reunido
con los amigos, los domingos porque no se trabaja, en los partidos de fútbol, cuando va a la ciudad
y en los fines de semana. Otros afirman que sienten más necesidad de beber después de comer, por
ejemplo, después del desayuno, o por la noche, porque hace frío.

La bebida se consigue fácilmente, en algunos casos en la propia aldea, los quioscos la ofrecen; en
otros casos, los mismos indígenas la adquieren cuando van a la ciudad o en algunos bares cercanos. El
cauim u otra bebida con hierbas se fabrica en casa y, en algunos casos específicos, llegan a desplazarse
a pie hasta doce kilómetros para comprar el aguardiente utilizado en la fabricación de la bebida.

De forma espontánea, algunos de los entrevistados mencionaron más de un lugar en donde pueden
consumir bebidas alcohólicas. Siete dijeron que están acostumbrados a beber en su propia casa. Dos
de ellos beben en casa de amigos, tres fuera de la aldea y apenas uno bebe en bares de Corumbau,
afirmando que se va a casa cuando se da cuenta de que (…) passando dos limites e alegando que, hoje
em dia é difícil beber em companhia de amigos. Otro reveló que bebe en Caraiva donde trabaja como
artesano y, después de consumir, se va a casa y se acuesta. Sólo uno afirmó que bebe fuera de casa
porque a su padre no le gusta que beba.

En relación a la frecuencia con la que consumen alcohol15, sólo tres de los entrevistados admitieron
beber todos los días, especialmente en verano, dos una vez por semana, y uno dijo beber dos veces
por semana y los demás sólo una vez al mes o de vez en cuando.

Cuando preguntamos sobre cómo actúan y qué suelen hacer tras haber consumido alcohol, entre los
doce indígenas entrevistados, nueve contestaron que, la mayoría de las veces, después de beber se van
a comer y luego se acuestan. Cuatro de ellos dijeron que si tienen ganas se quedan charlando con los
amigos y contando historias durante horas. Uno dijo que generalmente trabaja en el campo (capinar

15
Fue posible observar que algunos de los entrevistados hesitaban en contestar esa pregunta, en cuanto que
otros demostraban no tener certeza de frecuencia con que consumían bebidas alcohólicas.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

e roçar) después de beber, otro hace trabajos manuales (arco-flecha, maracá, gamela, lança e cocá)
86 otro suele jugar a la snooker, y sólo dos se van a bailar forró en las fiestas tras haber bebido.

En relación a los cambios comportamentales causados por la bebida, la mayoría de ellos reveló que se
siente mejor después de consumir alcohol, lo que se puede observar en sus respuestas:

Fico mais alegre e falante.


Me sinto mais solto porque normalmente sou mais fechado.
Fico mais alegre, conversador e perco a vergonha.
Eu brinco e fico mais alegre, fico pensando em coisas, penso na minha vida.
Fico mais alegre, começo a cantar e faço graça pros “kitoco” [crianças, niños].

Sin embargo, no todos afirman que la sensación tras la ingesta de la bebida sea placentera. Uno
de ellos dijo que siente frío, bebe para calentarse y después por la mañana al despertar tiembla de
debilidad y sólo mejora cuando bebe nuevamente. Otro dijo, literalmente, que se sentía mal, tenía falta
de aliento, sensación de soledad, le subía la presión y una vez vomitó mucho y tuvo una sensación de
estar hablando con espíritus.

Já passei mal por causa de beber. Eu estava frequentando a Igreja Assembléia de Deus e o
pastor me convidou para ir a um Centro de Recuperação. Passei 9 meses lá, fiz amizade com
o pessoal, rezava todos os dias. Voltei a beber, mas não como antigamente que eu bebia o dia
inteiro, 24 horas.
Choro porque me dá tristeza de ter bebido e fico chorando sozinho.

Cuando preguntamos si presentaban una conducta agresiva tras haber consumido alcohol, todos los
indígenas de Barra Velha dijeron que nunca agredieron a nadie o provocaron jaleos después de ingerir
alcohol.

En Aldea Velha fueron registradas conductas agresivas, provocando peleas fuera de la aldea con
no indígenas, además de comportamientos autoagresivos como golpear las paredes, caerse y sufrir
pequeños accidentes como cortes en la cabeza y hematomas y pequeñas lesiones en otras partes del
cuerpo.

Jogaram a cerveja no meu rosto, reagi e briguei de porrada. Pegaram um taco de sinuca e
quebraram nas minhas costas. No passado quando eu tomava mesmo eu ficava mais alegre,
mas dependendo do motivo eu encarava uma briga também.
Já tomei várias quedas, já me machuquei na pista ao cair da bicicleta na estrada e quando
acordei estava em Porto Seguro, me levaram ao médico e tirei um raio X da cabeça.

Uno de los entrevistados dijo que, en una ocasión, tuvo problemas serios por causa de la bebida, pegó
a personas en la calle y a su hermano. Después se arrepintió, habló con su madre, pero no se armó de
valor para hablar con las personas a quienes había agredido, cree que ellas saben que fue el alcohol
y que ya lo perdonaron por ello. Algunos revelaron que la familia se desestructuró por causa de la
bebida,

Já bati a cabeça na parede da minha casa e me machuquei sem querer. Também já dei murros
em porta com raiva há 5 anos quando a mãe dos meus filhos me deixou por causa da bebida
e de outras mulheres que eu ficava. Eu não queria me separar da minha mulher, não me con-
formava e por isso dava murro na porta. Ela ficou com os nossos filhos e eu para me consolar
arrumei outra, mas depois me separei também.

En el caso de las mujeres todas ellas admitieron que beben y comentaron hasta los detalles sobre los
principales momentos del día en que ingieren alcohol. Dijeron que antes de la comida o después de la
cena es bueno para el apetito, o por la noche antes de acostarse para tener una buena noche de sueño.
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

Una de ellas dijo que bebe solamente una vez por mes, cuando tiene dinero.
87
Sábado e domingo é na rua. Até sexta-feira eu bebo em casa e sábado e domingo bebo em
bares diferentes de Arraial D’Ajuda.
Antes do almoço e do jantar e quando estou com os amigos na casa de alguém tomo cachaça
e quando estou num bar tomo cerveja.
Quando eu vou para festa, em casa na hora que eu vou almoçar tem que ter uma “cai boca.”.
É, sexta em casa, dia de sábado e domingo na rua.
Se tiver eu bebo qualquer hora: de manhã, de tarde ou de noite.

Cuando fueron preguntadas sobre cómo se sienten al beber y lo que suelen hacer después de consumir
alcohol, la mayoría de ellas reveló que siente hambre y sueño y duerme tras beber. Algunas dijeron que
eso es bueno porque están más alegres y relajadas. Una indígena manifestó cómo se siente diciendo,
(…) eu vivo triste pensando nos meus problemas, tenho medo e me preocupo com os filhos. Confesó
que una de sus hijas sale y bebe mucho, durmiendo fuera de casa y que el hijo está preso por uso de
drogas. Dijo que su vida es muy complicada y que su hija tiene amnesia provocada por la bebida y
que necesita ser vigilada para tomar correctamente la medicación.

En relación al tipo de bebida que consumen una de ellas dijo que Cerveja, cachaça, licor, conhaque,
tudo, isso aí já é uma droga mesmo. Es necesario decir que ellas expresaron en sus discursos que la
bebida ayuda a olvidarse de los problemas y que (...) o tempo passa mais rápido, me dá sono depois
que eu como, tenho mais sono, durmo melhor e sonho mais. Además fue posible percibir que la
carencia afectiva fue una de las causas del consumo de alcohol: Eu acho que comecei a beber por
falta de carinho, porque eu não tive carinho do meu pai.

Con respecto a los comportamientos que manifiestan tras el consumo de la bebida, una de ellas dijo
que se ponía más agresiva y nerviosa y, si alguien decía algo que no le gustaba, contestaba enfadada.
Otra reveló que nunca peleó con nadie, pero si bebiese y alguien la molestase, ella reaccionaría. Una
de ellas dijo: Fico mais besta, pego o meu dinheiro e dou tudo, até pro meu pai. O espelho de beber
quem me deu foi ele, reafirmando la influencia de la familia en el consumo.

4.4.5. Embriaguez

Investiga las alteraciones corporales, los sentimientos y las valoraciones como culpa y arrepentimiento,
verificadas por los bebedores durante la embriaguez, las cuales pueden estar relacionadas con la
cantidad de bebidas alcohólicas consumidas.

En Barra Velha la mayoría reveló que cuando no bebe se siente más fuerte y trabaja mejor. Ya en
Aldea Velha las respuestas fueron más consistentes, dijeron que se sienten con la mente despejada al
beber, duermen mejor y se quedan con la conciencia limpia. Uno de ellos dijo con respecto al cauim
que no tiene ganas de beber diariamente, porque es una bebida muy fuerte e intenta beber solamente
en las fiestas de la aldea.

Con respecto a la cantidad de bebida que consumen hasta emborracharse, varía mucho. Uno de ellos
comentó que consume veinticuatro botes de cerveza y otro dijo que ingiere dos carotes16 enteros de
aguardiente. Después de consumir gran cantidad de alcohol un indígena dijo: não ando mais direito,
perco o equilíbrio, esqueço das coisas, na hora de comprar bebida dou dinheiro demais, esqueço da
bebida e de outras coisas nos lugares por onde ando.
Sobre las sensaciones uno de ellos reveló que le duele el cuerpo, cuando siente que ha pasado los
límites, se acuesta y duerme. Otros revelaron que se pierden, tomei uma Cai Boca e dormi dentro de

16
Carote es una marca de aguardiente, cuya botella es pequeña (500 ml) y de plástico, más fácil de esconder en
los alimentos (arroz, harina, etc.) al entrar en la comunidad.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

uma moita de mato perto da escola, me encontraram entrevado de frio, me pegaram e me levaram
88 para o hospital. Después, dijo que ya no se acordaba de lo que pasó. Refieren que el cuerpo les
queda dolorido y sienten culpabilidad y miedo: Adormece, fica dormente o meu corpo e também
tremendo; ah eu fico pensando: será que eu vou morrer agora? Fico com medo de dormir e quando
tiver dormindo morrer. Otros dicen que tienen ganas de vomitar, pero no tienen ganas de beber más,
tampoco de hacer las cosas, sin embargo, mientras están borrachos enfrentan peleas, se sienten más
macho (se arman de valor). Casi todos afirmaron que cuando se termina el efecto del alcohol les duele
la cabeza y se sienten culpables y avergonzados.

Vou tomando, tomando de dois em dois meses tenho vontade de beber até ficar embriagado.
Às vezes me dá um vazio por dentro e vem uma lembrança das coisas boas que eu tive e
perdi, a família principalmente. Antes eu já ficava embriagado, mas fiquei pior agora. Morei
5 anos com a mãe de meus filhos, a segunda mulher morei por 1 ano e a terceira mulher por
2 anos. Gostei muito da última, ela quis me ajudar, ela é viciada em drogas, maconha e crack.

La mayoría de las mujeres reveló que siente dolores de cabeza después de que hayan pasado los
efectos de la bebida. Otra dijo que nunca se marea, porque no se siente bien si bebe demasiado, por
eso busca controlar la cantidad de bebida que ingiere: Vomito, eca, quando eu penso me dá tristeza.
En otros discursos es posible percibir el arrepentimiento posterior al consumo de alcohol,

(...) às vezes bebia porque estava contrariada com muitos problemas com meus filhos. Já me
arrependi porque não podia beber porque ficava sem disposição depois, com dor de cabeça
e me arrependia.
É quando a bebida sobe para a cabeça, se fica um pouco tonta e não sabe o que faz.
Eu penso às vezes, por exemplo: vou pra festa hoje e quando estou bebendo não ligo pra
nada, não penso em nada, quando é no outro dia eu lembro, ai pra que eu fui gastar o meu
dinheiro? O dinheiro de comprar outras coisas eu fui gastar em cachaça. Falta um pão aí a
gente vai lembrar disso né?

No obstante, algunas dijeron que no se arrepienten después de haber bebido, porque la bebida hace
que estén más relajadas y cuando el estómago les empieza a doler, dejan de beber. Una de ellas no se
arrepiente porque no está haciendo nada de malo y no bebe delante de sus hijos, (…) porque se meus
filhos me verem bebendo, eles tomam a garrafa, saem correndo e derramam a bebida no mato. Outra
revelou que (...) não sinto vergonha nem culpa, nem me arrependo porque eu não bebo em porta de
bar, só bebo em casa.

En cuanto a la cantidad de bebida ingerida, una entrevistada dijo que al tener hambre suele beber una
dosis (tres o cuatro dedos de aguardiente) y tres botes de cerveza. Otra reveló que cuando está con los
amigos (…) misturo cauim com vinho e com cachaça pra se divertir. La mayoría de las mujeres, sin
embargo, suele fabricar su propia bebida en casa, compran el aguardiente y “temperan”, mezclando
distintos tipos de hierbas. Si beben ron, por ejemplo, suelen ingerir de cinco a diez tazas, si es cerveza,
de ocho a diez botes y en el caso del aguardiente mezclado o “carote” (medio litro), la mayoría dice
que lleva dos días para consumir un “carote”.

Cuando preguntamos cómo consiguen la bebida ellas contestaron que A cachaça eu compro na feira
já temperada ou eu mesma tempero. A cerveja eu obtenho com os amigos, eles pagam. Vemos ahí que
hay una relación de los familiares en relación al consumo de alcohol cuando revelan que,

Bebo mais no final de semana, sábado e domingo. Se tiver bebida, também bebo no meio da
semana na hora da comida. Meu pai dá o dinheiro para a minha mãe comprar alguma coisa e
ela me dá escondido para comprar a temperada. Meu pai não gosta, mas ele entende porque
já bebeu muito. Lá em Itabela muitas vezes fui buscar ele bêbado na feira.
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

4.4.6. Alcohol y sexualidad


89
La finalidad de esta etapa de la investigación fue identificar si los indígenas Pataxó relacionan la
conquista sexual o la falta de inhibición en relación al sexo opuesto con el consumo de alcohol, así
como la práctica de sexo no seguro.

Inicialmente se les preguntó a los hombres si el hecho de beber facilitaría la conquista de las mujeres,
algunos se mostraron intimidados, mientras que otros dijeron que uno se arma de valor cuando está
borracho. Entre tanto revelaron que después de la práctica sexual se sintieron inseguros cuando
no conocían a la persona y acabaron practicando sexo no seguro, sin el uso del preservativo. La
mayoría de los entrevistados dijo que el consumo de alcohol da más coraje para acercarse al sexo
opuesto porque se muestran más comunicativos y se expresan mejor, pero dos de ellos dijeron que:
(…) tenho uns amigos que bebem e ficam fogosos pro lado das mulheres, mas elas não querem
ninguém embriagado. Además revelaron que solo ocurre la práctica sexual si (...) ela também estiver
embriagada, mas outra mulher17 não aceita ninguém embriagado.

Es interesante ver que la mayoría de ellos cuando practicó sexo no seguro demostró estar despreocupado,
porque dicen que conocían a la persona y tenían certeza de que ella no poseía ninguna enfermedad,
porque era indígena. Asociaron la etnia a la seguridad en la práctica sexual sin preservativo y esto lo
observamos de la siguiente manera:

Eu me senti normal, não me arrependi porque já conhecia ela e sabia que não tinha doença.
(...) fiquei normal porque conhecia as pessoas, elas eram indígenas também.
Apenas um dos participantes confessou que ficou preocupado depois de fazer sexo após
beber álcool e disse que se arrependeu muito,
Fiquei arrependido. Teve uma vez que fiquei 6 meses preocupado e com medo de pegar uma
doença como a AIDS. A primeira vez em que a gente fica com uma pessoa estranha, fica
preocupado. Só me tranquilizei quando fiz os exames. Hoje quando fico muito embriagado
eu não procuro.

Con respecto al estado civil de las mujeres, las que son viudas o divorciadas y las que tienen sesenta años
de edad o más revelaron que, después de que perdieran a los maridos o compañeros, no mantuvieron
más relaciones sexuales. Las mayores dijeron que les parece mal enamorarse por causa de la edad,
pero confiesan que cuando tenían a sus maridos en casa, bebían con ellos. Las demás revelaron que
no suelen practicar sexo inseguro cuando están borrachas afirmando que: Só faço sexo com o meu
próprio marido, nunca usamos camisinha, eu confio nele e ele em mim. Sólo una de ellas demostró
preocupación con la práctica del sexo no seguro, diciendo que: (...) tenho minhas camisinhas. Já
tenho três filhos. Se não tiver camisinha não rola18.

Cuando fueron preguntadas sobre si la bebida ayuda o perjudica en la conquista del compañero, una
de ellas dijo: (…) quando bebo eu nem gosto de tocar no meu marido, ele fica pra lá. Mientras que
otras afirmaron que el alcohol perjudica a las relaciones con los hombres porque tem homem que
não gosta de ver mulher assim em bar bebendo (…) y sólo una dijo que estar borracha ayuda a la
aproximación hacia los hombres porque uno pierde la vergüenza de acercarse.

4.4.7. Alcohol y familia

Esta etapa de la investigación tiene como objetivo ver si el consumo de alcohol afecta a la vida
familiar de los entrevistados, considerando sus reacciones y las consecuencias, y si hay más personas
que ingieren bebidas alcohólicas en el grupo familiar. Preguntamos si el consumo de alcohol afecta a
la vida familiar, en este caso la mayoría de los entrevistados reveló que sí. En sus intervenciones fue
17
Se refiere a las mujeres sobrias.
18
“Rolar” en portugués no formal significa ocurrir.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

posible ver que perjudica no sólo a las relaciones matrimoniales sino también a las relaciones entre
90 padres e hijos.

Afeta porque minha esposa detesta que eu beba, meus filhos também não gostam. Às vezes
eu sentia vergonha da minha filha mais velha de 10 anos quando ela me via andando de um
lado para outro. Às vezes eu me desentendia com amigos por causa da bebida.
Meu pai, minha mãe e minhas irmãs ficam muito tristes quando eu bebo, me pedem para
parar de beber. Minha família me dá conselhos, principalmente meu pai, diz que eu sou um
filho bom, mas que fico agressivo em palavras quando bebo.

Los hombres que beben afirmaron que, cuando llegan a casa, sus mujeres se enfadan y pelean con
ellos y sólo dos revelaron que, después de que sus mujeres empezaron a beber, cesaron las críticas.
Aquí se percibe claramente la influencia de uno sobre el otro en el acto de beber, o porque se dieron
por vencidos en que el otro deje de beber, o porque realmente optaron por ese camino como modo de
acercarse al otro. Sólo uno de los entrevistados reveló que cuando su mujer comenzó también a beber,
ellos pelearon y se divorciaron.

Las mujeres dijeron que cuando llegan borrachas a casa los hijos se enfadan ( eles não aceitam que
eu beba ) o pueden recibir críticas de la madre: (...) ela diz pra mim parar de beber, senão eu não
vou mais ver os meus filhos (...) isso me dá vontade de beber mais ainda, tem muitos anos que eu não
vejo eles19. Las que están casadas afirmaron que los maridos no se enfadan porque tienen hijos que
también beben [¿“que los maridos no se enfadaban por tener hijos que bebiesen” o quieres decir “que
los maridos no se enfadan porque ya tienen hijos que beben”?]. Sólo una de ellas reveló que la bebida
le trajo problemas, pero ella permaneció tranquila,

(...) sou tranquila. Já levei uma facada do meu irmão nas costas porque ele usava drogas e
queria me estuprar e foi pela minha barriga que o médico tirou o sangue coalhado. Eu estava
sozinha em casa, mas ele não conseguiu porque na hora passou um amigo que gritou e o meu
irmão saiu correndo.

4.4.8. Alcohol y trabajo

Con la finalidad de observar cómo los indígenas relacionan el consumo de bebidas alcohólicas con
el trabajo, verificando si interfiere directamente o no en sus actividades laborales, en esa etapa de
la investigación se les preguntó de manera directa si ellos solían beber durante el trabajo. Uno de
ellos fue enfático al decir que no mezcla trabajo con bebida porque sólo bebe en los fines de semana.
Reveló que es consejero dentro de la comunidad y ya hizo trabajos como comunicador de discursos y
Cd’s sobre la historia y la cultura indígena y que por ello debe de dar ejemplo a los demás.

No obstante, la mitad de los indígenas afirmó que el hecho de consumir bebidas alcohólicas no
perjudica al desarrollo de su labor porque ellos trabajan por cuenta propia (autónomos) o porque hay
otras personas que también beben en el ambiente de trabajo. Algunos dijeron que el hábito de beber
está relacionado con el trabajo y generalmente beben con otros colegas tras terminar el día laboral. En
algunos casos el primer consumo ocurrió por influencia de los propios compañeros de trabajo. Otros
afirmaron que no perjudica en nada porque sólo beben en los fines de semana cuando no se trabaja.

Quando saio do trabalho passo num bar e bebo um pouquinho. Bebo mais nos finais de se-
mana, bebo pouco.
Eu estava trabalhando e os meus colegas me diziam pra beber um pouquinho, reclamavam
porque todos estavam bebendo e eu não, e diziam: “bebe que é bom...” eu via os outros be-
bendo e comecei a beber.
Dos indígenas confesaron que beber durante el trabajo les perjudicó y uno de ellos, que es pescador,
reveló que la bebida: Já me atrapalhou no trabalho porque não se pode ir bêbado para o mar, mas
19
Los hijos de la entrevistada viven en São Paulo
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

o patrão é meu amigo e no dia seguinte eu fui. Não era meu patrão é mais um amigo, eu não tenho
compromisso sério de trabalho não.
91

Otro confesó que perdió dinero en el trabajo por cuenta de la bebida: (...) peguei meus artesanatos e
vendi tudo baratinho, para vender rápido e comprar mais bebida, eu vendi produtos de 30 reais por
10 reais.

Tres indígenas revelaron que sus jefes les llamaron la atención por haber llegado tarde al trabajo o por
no haber ido a trabajar por cuenta de la bebida. Pero los colegas acababan incentivándoles a beber.
Por otra parte, la mayoría de ellos dijo que bebía porque “les daba la gana”.

Las mujeres en su mayoría no trabajan fuera y dijeron que, cuando beben, escuchan canciones y
hacen actividades de casa normalmente, afirmando que el consumo de alcohol no afecta a su rutina.
Sólo una que trabaja fuera dijo que: No trabalho é mais difícil porque quando eu bebo não consigo
trabalhar, por isso não bebo quando trabalho. Reconoció que su jefe le llama la atención sobre su
conducta bebedora porque él quiere su bien, revelando con eso que comprende que el alcohol puede
hacerle daño.

4.4.9. Alcohol y comunidad

Esta categoría de análisis del discurso tiene como objetivo comprender las relaciones del bebedor con
su comunidad, verificando las normas establecidas para el consumo del alcohol, bien como reacciones
colectivas a los comportamientos adictivos.

Cuando preguntamos si conocían personas en la comunidad que consumían bebidas alcohólicas, once
indígenas dijeron que sí, refiriéndose a vecinos y amigos. Solamente uno de ellos contestó que no
conoce otros bebedores, además de miembros de su familia. En Aldeia Velha los indígenas relataron
que muchas personas beben: Muitas, se for contar não dá tempo [risas] o dia é pouco, e isso porque
é proibido aqui dentro. Y otro llegó a decir que más de la mitad de los indígenas de la comunidad es
bebedora.

Habiendo sido preguntados sobre la prohibición del alcohol dijeron que beben a escondidas, afirman
que: Não é permitido beber não, bebem de teimoso os caboclos. Nem um dia se pode beber aqui
dentro. Afirmaron que el cacique y el vice-cacique20 no permite el consumo de alcohol dentro de la
aldea, solo está liberado el cauim. Culpan al cacique de haber permitido y después haber vuelto hacia
atrás con el permiso de traer bebida para dentro de la aldea. Expresan que las normas con respecto al
consumo de alcohol no son claras y dicen que el cacique: (…) faz churrasco21 lá direto com cerveja,
na casa dele mesmo. Aunque esté prohibido afirmaron que: (...) tem alcoolista que compra e traz
escondido aqui pra dentro da aldeia.

En Barra Velha el cacique tampoco permite que beban, aunque se vende cerveza dentro de la
comunidad, en donde, al igual que en Aldea Velha, beben a escondidas, en el patio de las casas,
afirmando que el propio jefe sabe y conoce a las personas que beben: Ele não gosta, às vezes chama
a atenção, dá conselho.

Algunos se refieren a los que les gusta salir de fiesta y que suelen comprar cerveza para que los

20
El vice-cacique es quién toma las decisiones cuando el cacique no está, sustituyéndolo y además desarrolla
otras actividades de coordinación en la comunidad.
21
Churrasco significa barbacoa.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

indígenas beban en las fiestas de la aldea. Otros revelaron que la FUNAI22 quiere prohibirlo, pero
92 no lo consigue porque en estas fiestas solamente la cerveza está autorizada como venta de bebida
alcohólica.

Cuando preguntamos sobre su opinión con respecto a los indígenas que beben, algunos dijeron que se
están divirtiendo, porque no tienen nada mejor que hacer, mientras que otros afirmaron que: (…) não
acho nem certo nem errado, é a vida deles. Sin embargo, expresaron el deseo de que,

(...) alguém os leve para uma sala de recuperação, porque eles bebem todos os dias. Só conhe-
ço esse casal de vizinhos, eu ajudo muito eles com alimentação, dou feijão, arroz que compro
com o dinheiro do meu artesanato indígena.
Eu não acho certo, mas às vezes a gente vai dar um conselho e eles não gostam e dizem: ah,
não estou bebendo com o seu dinheiro.
Eu não sou contra eles não, eu dou valor a eles porque ficam mais tranquilos.

Cuando fueron preguntados sobre la reacción de los amigos con relación a su conducta bebedora
fueron enfáticos al afirmar que,

Eles não se sentem bem, sentem vergonha de me levar para casa quando estou embriagado,
mas tenho poucos amigos que não bebem. Tenho alguns amigos evangélicos que gostam de
mim e me dão conselho, às vezes eu vou na igreja deles.

Por otro lado, uno de ellos reveló que el hecho de beber facilita la amistad con determinados indígenas
y que, si parasen de beber, creen que estos amigos se alejarían. Además manifiestan su punto de vista
en relación con personas que no beben. Dijeron que: Chamo de ‘careta23’, sempre falam alguma
coisa, eles estão certos, mas a gente não cumpre o que eles falam, admitiendo que los que no beben
están acostumbrados a dar consejos para que dejen de beber afirmando, además, que quien no bebe
tiene ventajas, porque (…) evitam muitas coisas como se machucar, tomar uma queda, brigar com
parentes. Sin embargo un indígena en su intervención admitió que beber no es bueno: Eu acho legal
e queria ser assim porque elas são mais felizes, são mais conscientes e sabem o que estão fazendo.
Apareció también en su discurso la asociación del hecho de beber con el dinero, porque quien bebe
acaba por gastarse todo el dinero y quien no bebe, puede ahorrar, afirman. Otros entrevistados creen
que quien no bebe tiene mejores perspectivas de futuro: Eu penso que vão fazer progresso pra frente,
qualquer progresso.

Las mujeres revelaron que cerca del cuarenta por ciento de los habitantes de las aldeas beben
normalmente, amigos, vecinos y familiares: O meu filho mais velho bebe de vez em quando e a
minha filha caçula de 16 anos. Sin embargo, cuando se les pregunta si alguna vez dieron bebida
alcohólica a sus hijos, ellas constestaron que: Nunca dei e jamais vou dar bebida alcoólica para os
meus filhos. Eles já são adultos, se eles quiserem, eles bebem, só não o caçula, esse eu não deixo
beber não, demostrando que no consideran el cauim consumido normalmente por los niños como
bebida alcohólica.

Revelaron contradicciones al afirmar que en sus comunidades el consumo de bebidas alcohólicas


está considerado normal, sin embargo: O cacique não gosta, mas bebem de teimoso; mientras que
las relaciones familiares sí son afectadas por el consumo de alcohol: Eu me separei do meu marido
por causa de bebida, ele bebia e queria me bater. En Aldeia Velha dijeron que: O cacique não gosta
que beba, agora foi proibido mesmo. Ali na porteira, eles não permitem que entre com bebida, mas
quem bebe esconde. En otra comunidad: Permitem beber, comprar a bebida lá fora e trazer aqui pra

22
FUNAI – Fundación Nacional del Indio es una institución gubernamental creada en 1967, está vinculada al
Ministerio de la Justicia responsable por establecer y ejecutar la política indigenista brasileña. Disponible en:<
http://www.funai.gov.br/>. Acceso en: 05 jul. 2012.
23
Careta en portugués no formal significa anticuado.
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

dentro. Y esa autorización del líder de la comunidad permite que entre con facilidad la bebida en la
aldea,
93

(...) trago com eles vendo, o cacique, porque ele que dá liberdade para as pessoas trazerem a
bebida aqui pra dentro, se ele falasse que não era pra trazer, a gente tinha que respeitar, mas
ele não fala nada.
Eu entro e saio da aldeia com bebida, nunca falaram nada não.

Cuando se les preguntó sobre lo que piensan de las personas que no beben, ellas asociaron la bebida
al sentimiento de tristeza, diciendo que las personas que no son bebedoras (…) são alegres (...) vivem
melhor porque não gastam o dinheiro que pegam com bebida. Algunas afirmaron que, quien no bebe,
si comente algún error es por libre elección; demostrando que, por otro lado, quien bebe actúa a veces
sin pensar y no por voluntad propia, y sí por influencia de la bebida.

4.4.10. Alcohol y salud

El objetivo de esta categoría de análisis es comprender la percepción subjetiva del consumo de


alcohol entre los hombres y mujeres Pataxó, destacando el significado y la interpretación que ellos
atribuyen al acto de beber, así como las enfermedades desarrolladas como consecuencia de este tipo
de consumo.

Para investigar la auto percepción de los indígenas sobre los efectos del alcohol en relación con
la salud, verificando si consideran el consumo como enfermedad y observando la simultaneidad
de patologías referidas por ellos, se preguntó qué pensaban al respecto de los efectos de la bebida
alcohólica para la salud. Uno de los entrevistados reveló que cree que un poco de alcohol diario es
bueno para la salud, alegando que vio eso en el periódico, sin embargo no significa decir que debe
emborracharse: Depende da doença, porque às vezes o álcool ajuda a curar quando coloca uma
planta dentro serve de remédio, como a carqueja. La mayoría reveló que la bebida es perjudicial
para quien tiene alta la presión y que no tiene efectos benéficos para la salud, debilita el cuerpo y la
mente: A minha mente e o meu corpo não enfraqueceu ainda não, sempre faço caminhada de 6 km
para Corumbau. En los discursos fue posible percibir que ellos asociaron el consumo de alcohol al
envejecimiento precoz e incluso a la muerte temprana,

Acho que prejudica o pulmão, o fígado, a cabeça, a memória não se desenvolve no trabalho.
Acho que está afetando a minha saúde, acho que estou cansando mais rápido, tenho dor de
cabeça às vezes.
Dá áfrica24 nos ossos, é dor nos ossos e chega até a AIDS, HIV1 porque bebe e esquece de
usar camisinha nos relacionamentos. O HIV5 se chama “amerpa”, a pessoa emagrece, depois
engorda e morre rápido.

Cuando se les pregunta si tienen alguna enfermedad que creen que ha sido contraída debido al
consumo de alcohol, la gran mayoría reveló que no, pero después de algunos minutos de conversación
empezaron a confesar que cuando beben tienen dolores de cabeza diciendo que,

Já passei mal por causa de beber. Eu estava frequentando a Igreja Assembléia de Deus e o
pastor me convidou para ir a um Centro de Recuperação, passei 9 meses lá, fiz amizade com
o pessoal, rezava todo dia. Voltei a beber, mas não como antigamente que eu bebia o dia
inteiro, 24 horas.

Nuevamente en sus discursos algunos indígenas dijeron que de niños bebían el cauim hecho por
sus padres o abuelos. Cuando se les pregunta si esa era la bebida más consumida en la aldea ellos
dijeron que no, porque era el aguardiente Pirassununga 29. Algunos negaron que consumían bebida
alcohólica y otros dijeron que aunque hayan consumido, no tenía nada que ver con la salud: A minha
24
África nos ossos es un refrán que quiere decir dolor en los huesos.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

saúde não afetou em nada. Tem gente que começa a beber e fica barrigudo, incha, meu irmão mesmo
94 já passou mal, teve cirrose e continua a beber, nunca melhorou, a barriga está sempre crescendo.

Uno de ellos reveló que tenía dificultad para orinar pero no creía que tuviese nada que ver con la
bebida y que tras una intervención quirúrgica se sentía mejor. Otros tres dijeron estar sanos y que
nunca se encontraban enfermos, aunque uno de ellos dijo que el aguardiente le alejaba del trabajo. Por
su parte, otro consideraba que presentaba visión borrosa desde que empezó a beber.

Además de otras enfermedades mencionadas por las mujeres de las aldeas, están los problemas de
columna y de riñones, varices en las piernas y dolores de rodilla,

Estou com problemas de coluna e nos rins, varizes nas pernas e dores no joelho.
Só me dá mais apetite (...) Eu sofro de gastrite nervosa, pedra na vesícula e problema de
coração.

Otras mujeres dijeron que cuando beben se ponen demasiado sentimentales,

Quando eu bebo fico muito emotiva e mais pensativa. Eu tomo Diasepan, é um remédio
para dormir, para a pessoa ficar dopada, é uma droga. Meu pai me obriga a tomar isso pra
mim ficar em casa. Ele me internou pra mim ficar na clínica. Um dia ele me bateu, eu fiquei
inchada com problema nas pernas e ele achava que era bebida, que eu tava com problema de
derrame e na clínica me deram esse remédio, quando saí eu trouxe esses remédios, mas eu
me recuperei rápido.

Al final de las entrevistas todos fueron preguntados si querían aportar alguna cosa con respecto a
la bebida o de las posibles enfermedades que se pueda desarrollar. Las manifestaciones fueron bien
variadas, como las que demuestran preocupación en relación a la conducta bebedora:

Eu nunca trago bebida para casa. Meu filho de 22 anos bebe pinga (cachaça). Eu gostaria de
parar de beber, eu sei que não é certo, sei que quando faço isso estou prejudicando a mim
mesmo. A pessoa que não bebe fica mais positiva, fica forte, é diferente. Mas às vezes fico
pensando na vida e acabo bebendo.
(...) eu tenho vontade de parar de beber, mas é difícil parar de beber se não tiver ajuda de um
profissional. Vou pensar em procurar um profissional para me ajudar a parar. Sinto vergonha
quando recebo críticas e fico triste. Os meus parentes que não bebem me dão conselho pra
mim diminuir o consumo de álcool. Meus planos mudaram depois do álcool porque desviei
o dinheiro de muita coisa, nem consegui terminar a minha casa ainda.

Eu fui ao INSS25 para me aposentar por causa das minhas varizes (...). Sinto dor de coluna e
dor de cabeça porque quando desmaio eu caio e bato a cabeça no chão (...). Os meus pés in-
cham por causa das varizes. O sangue tenta circular, mas não consegue. No tempo do frio elas
doem e no tempo do calor elas coçam. Eles me chamam de cachaceiro, pensam que é por cau-
sa da cachaça. Não posso ficar sentado porque doem as minhas partes inferiores, pênis, ânus e
pernas. As pernas ficam cansadas como se eu tivesse pegando peso, quando vou urinar dói o
pênis. Estou tomando chá de cana de macaco, aí pára de doer o pênis. Os rins também doem.

Las mujeres de las aldeas demostraron en la última intervención que beben para alejarse de la tristeza,
la soledad, la monotonía y la morriña de los hijos, familiares y amigos. Algunas usaron la oportunidad
para contar que otros familiares también beben: Perto de Caraiva tem uma pequena aldeia, tenho
dois irmãos lá que bebem muito, o Churé, o Zé Doutor e meu sobrinho Ozias, também o meu cunhado
Oziel. Otra, sin embargo, dijo que las constantes peleas familiares parecen ser una de las causas
importantes de la conducta bebedora al afirmar que,

Meu pai parou de beber há 11 anos. Eu tenho vontade de parar de beber, porque a bebida não
é futuro pra ninguém, eu era evangélica e não bebia. Eu comecei a beber porque meu pai me
25
Instituto Nacional de Seguridad Social. Disponible en: <http://www.inss.gov.br/>. Acceso en: 05 jul. 12.
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

bateu e eu fiquei revoltada, mas o exemplo veio dele. Ele vendia cachaça. Ele não gosta do
meu filho. Já bateu nele até sair sangue pela orelha. Meu filho está em Arraial D’Ajuda na 95
casa do pai dele porque está com medo do avô.

En el trabajo de campo se verificó la inexistencia de tratamiento del alcoholismo, así como de polí-
ticas de prevención. La intensa marginación, estigmatización y abandono en que viven los indígenas
bebedores puede ser verificada desde la precariedad de sus viviendas y demás condiciones de vida,
como la falta de actividades productivas dentro de la comunidad. Algunos de los bebedores entrevis-
tados manifestaron su deseo de dejar de consumir bebidas alcohólicas, pero afirmaron que necesitan
ayuda terapéutica para lograrlo.

En la investigación se observó la necesidad de planear programas educativos para la salud partiendo


de los conocimientos tradicionales incluyéndose las medidas preventivas. Además de eso fue eviden-
ciada la urgencia de cualificación de profesionales de salud indígena para trabajar en la recuperación
de los adictos, así como en la prevención.
Después de todas las observaciones, estudios y experiencias prácticas en la realización del presente
trabajo se hace algunos cuestionamientos:

¿Porque no existen políticas de prevención del alcoholismo y otras drogas en las comunidades
indígenas? ¿Es bueno para las elites que la imagen del indígena sea asociada con el crimen, la pereza,
la falta de inteligencia y capacidad, la irresponsabilidad y también con el alcoholismo?

CONCLUSIONES

1. A pesar del proceso de globalización, la fuerte impronta de las teorías degeneracionistas


decimonónicas se ha mantenido presente a lo largo de los siglos en distintos contextos socioculturales.
En la perspectiva individual aún se expresa por medio de la reclusión y del confinamiento de las
personas estigmatizadas. En la dimensión colectiva se sigue revelando a través de la preponderancia
de los principios eugenésicos basados en la superioridad de una raza sobre la otra.

2. La imagen del indígena degenerado, borracho y perezoso fue de gran utilidad para el implacable
poder de dominación de las élites brasileñas, lo que justifica la ausencia de políticas preventivas para
el alcoholismo en las aldeas, la creciente criminalización de los líderes en la justicia y en los medios
de comunicación y el consecuente encarcelamiento.

3. Con respecto a la identidad étnica los indígenas se identifican como parientes


-independientemente del lazo de consanguinidad-, demuestran que por ser indígenas sufren perjuicio
y expresan preocupación con el mantenimiento de la cultura y la preservación de sus hábitos y
costumbres.

4. El consumo de alcohol empieza en la infancia, cuando sus padres y abuelos preparan la bebida
ritual (cauim) que es utilizada como alimento, pero también en prácticas curativas como las dirigidas
a calmar los “dolores de barriga”. La ingesta de cauim se asocia además a rituales terapéuticos y de
celebración, comprendidos como parte de la tradición y de la cultura indígena.

5. La motivación para el consumo de alcohol es debida a la influencia de amigos y familiares,


puesto que la mayoría es bebedora. A ello se suma la necesidad de huir de la realidad. En la actualidad,
al contrario de lo que sucede en las celebraciones tradicionales, lo que caracteriza la acción de beber
en muchos de los indígenas no es la socialización, pues se trata de una actividad solitaria que ocurre
generalmente en su ambiente doméstico. Estos indígenas suelen beber solos y, a continuación, comen
y duermen.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

6. La conducta bebedora generalmente se aprende y se enseña en el ambiente doméstico y


96 comunitario, y aunque afecte a las relaciones familiares, generando desentendimiento y violencia, se
perpetúa entre las generaciones.

7. Algunos indígenas entrevistados reconocen los efectos negativos de la ingesta de alcohol


sobre su salud, como, por ejemplo, la pérdida de memoria (refieren no recordar lo que hicieron cuando
estaban embriagados) y presentan síntomas de tristeza y arrepentimiento tras el consumo excesivo.
Dolores de estómago, de cabeza, mareos y temblores fueron sensaciones relatadas con frecuencia.

8. Sin embargo, otros bebedores creen que el consumo de alcohol no es la causa de problemas de


salud, afirmando que los dolores y otras quejas no tienen relación con la conducta bebedora y creen
que el alcohol mezclado con hierbas es capaz de sanar.

9. La euforia a consecuencia de los efectos del alcohol favorece las relaciones con el sexo
opuesto, porque desinhibe y “uno se arma de valor” para acercarse al otro. La práctica de relaciones
sexuales sin medios profilácticos es común debido a la creencia de que entre los indígenas (marido,
mujer, compañeros o conocidos) no hace falta el uso de preservativo.

10. El alcohol se consume normalmente entre los que trabajan por cuenta propia, ya que, beber
y consumir alcohol en ese ambiente es normal. Sin embargo, quien trabaja de manera subordinada
(empleado) y ya pasó por situaciones vergonzosas por estar embriagado en el ambiente de trabajo,
comprende que debe cambiar de actitud para no perder su plaza de trabajo.

11. En una de las comunidades investigadas está prohibido el consumo de alcohol y el cacique
deja clara esa prohibición. Sin embargo, existen contradicciones en relación a esas reglas dado que
permite que introduzcan bebidas en la aldea y que éstas sean libremente consumidas en las fiestas y
en los rituales. En la otra aldea se vende cerveza y también se puede consumir bebidas alcohólicas
en las fiestas. Los bebedores son vistos por los no bebedores como enfermos y gente que, al estar
embriagada, no sabe lo que está haciendo, hecho que merece la comprensión y el perdón por sus
actitudes.

12. El consumo de alcohol entre los indígenas Pataxó de Bahía se relaciona con sus tradiciones
ancestrales a través de las significaciones atribuidas al cauim, su bebida ritual, además de aspectos
históricos, socioculturales y económicos como la colonización y aculturación conduciendo a la
adicción a otros tipos de bebidas como el aguardiente, la cerveza, el ron y bebidas temperadas
(mezcladas con hierbas).

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Euzelene R. Os mecanismos de proteção dos direitos humanos: um estudo sobre a


aplicabilidade dos instrumentos de alcance geral e específico. Revista do Curso de Especialização
em Direitos Humanos. Salvador, Ministério Público do Estado da Bahia e Universidade do Estado
da Bahia - UNEB, 2001, n. 1, p. 151-184.

______. Políticas públicas para a educação superior indígena na Bahia: caminhos para o
protagonismo e a autonomia? Dissertação (Mestrado em Políticas Públicas), Universidade do Estado
da Bahia – UNEB, Salvador, 2008.

ALGRANTI, Leila Mezan. Aguardente de cana e outras aguardentes: por uma historia da produção
e do consumo de licores na América portuguesa In: CARNEIRO, Henrique; PINTO, Renato (Orgs.).
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

Álcool e drogas na história do Brasil. São Paulo: Alameda, 2005.


97
ALONSO-FERNANDEZ, F. Perspectivas Antropológicas de la Etiología del Alcoholismo. Actas
Luso-Españolas de Neurología y Psiquiatría. Vol. XXV, n. 2. Madrid, Complutense, 1991.

ALVES, Almeida Antonio. Vidas em transe: trabalho escravo e direitos humanos no Brasil contem-
porâneo. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2006.

APARÍCIO, Adriana Biller. Direitos Territoriais Indígenas: diálogo entre o direito e a antropologia:
O caso da terra Guarani “Morro dos Cavalos”. Dissertação (Mestrado em Direito). Universidade
Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2008.

ARAÚJO, Ana Valéria e Outros. Povos indígenas e a lei dos “Brancos”: o direito à diferença.
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade;
LACED/Museu Nacional, 2006. Disponible en: <http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/
EST/Revistas_EST/III_Congresso_Et_Cid/Comunicacao/Gt04/Antonio_Alves_de_Almeida.pdf>.
Acceso en: 20 abr. 2013.

ARRUTI, José Maurício P. A. A produção da alteridade: o Toré e as conversões missionárias e


indígenas. In: MOTERO, Paula (Org.). Deus na aldeia: missionários, índios e mediação cultural.
São Paulo: Globo, 2006.

BANDEIRA, Pedro. Participação, articulação de atores sociais e desenvolvimento regional.


Brasília: IPEA, 1999.

BAUMAN, Zigmunt. Modernidad líquida. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica de Argentina,
2003.

______.Vidas desperdiçadas. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, 2005.

______. Comunidad: en busca de seguridad en un mundo hostil. Buenos Aires: Fondo de Cultura
Económica de Argentina, 2008.

BERTONI, Luci Mara. “Se beber não dirija”: representações sociais de universitários sobre propa-
gandas televisivas de cerveja. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Estadual Paulista, São
Paulo, 2007.

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

BOCK, Ana M.B; FURTADO; Odair, TEIXEIRA et al. Psicologias: uma introdução ao estudo da
psicologia. São Paulo: Saraiva, 1993.

BOGANI, Miguel E. Alcoholismo, Enfermedad Social. Barcelona: Plaza & Janés, 1976.

BONIN, Iara Tatiana. Racismo institucional em Mato Grosso do Sul: mais uma vez o estado lidera
o ranking de violências contra os Povos Indígenas in Relatório violências contra povos indígenas no
Brasil 2009. CIMI, Brasília-DF, Brasil. Disponible en: <http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=p
ublicacoes&cid=30;>. Acceso en: 20 abr. 2013.

BORGES, Ricardo Dantas. Uma análise sobre o processo de territorialização, afirmação étnica
e políticas indigenistas no caso dos índios Tuxá de Rodelas. Faculdade de Antropologia da
Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro. Disponible en: <http://www.laced.mn.ufrj.br/
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

indigenismo/arquivos/texto_ram_GT_12ricardo_dantas.pdf>. Acceso en: 20 abr. 2013.


98
BRUNER, Jerome. Realidad Mental y mundos posibles: los actos de imaginación que dan sentido
a la experiencia. Barcelona: Editorial Gedisa, 1994.

CAMPOS MARIN, Ricardo. Socialismo marxista e higiene pública: la lucha antialcohólica en la II


Internacional (1890-1914/19). Madrid: Fundación de Investigaciones Marxistas, 1992.

______. Alcoholismo, medicina y sociedad en España (1876-1923). Madrid: Consejo Superior de


Investigaciones Científicas; 1997.

______; MARTÍNEZ PÉREZ, José; HUERTAS GARCÍA-ALEJO, Rafael. Los Ilegales de la Na-
turaleza: medicina y degeneracionismo En La España De La Restauración, (1876- 1923). Madrid:
Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 2000.

______; MONTIEL, Luis; HUERTAS GARCÍA-ALEJO, Rafael. Medicina, ideología e historia En


España:(Siglos XVI- XXI). Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 2007.

CARNEIRO, Henrique. Transformações do significado da palavra “droga”: das especiarias coloniais


ao proibicionismo contemporâneo. In: CARNEIRO, Henrique; PINTO, Renato (Orgs.) Álcool e
drogas na história do Brasil. São Paulo: Alameda, 2005.

______; VENÂNCIO, Renato Pinto (Orgs.). Álcool e drogas na história do Brasil. São Paulo:
Alameda, 2005.

CATTANI, Antonio Davi; PAGLIARO, Heloisa. Riqueza e desigualdades. In: Dossiê: Povos Indí-
genas do Brasil. Salvador: Universidade Federal da Bahia – UFBA, 2009.

CHAUÍ, Marilena de Souza. Escritos sobre a universidade. São Paulo: UNESP, 2001.
COIMBRA, C. E. A.; SANTOS JÚNIOR, R. V.; ESCOBAR, A. L. Epidemiologia e saúde dos
povos indígenas do Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz / ABRASCO, 2003.

COUTO, Patrícia N. de Almeida. O processo de ressurgimento étnico entre os Tupinambá de


Olivença. Monografia (Departamento de Antropologia). Universidade Federal da Bahia, (UFBA),
Salvador, 2003.

CUÑAT GIMENEZ, Ruben. Estudio del proceso de Creación de Empresas. Aplicación de la Teoría
Fundada del Proceso de Creación de Empresas. (Grounded Theory), 1999. Disponible en: <http://
www.investigacioncualitativa.es/Paginas/Articulos/investigacioncualitativa/Cunat.pdf>. Acceso en:
20 abr. 2013.

DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos humanos e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998.

DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. História oral: memória, tempo, identidades. Belo Horizon-
te: Autência, 2006.

DONATO, Hernani. Os índios do Brasil. 5. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1995.

ECHEBURRÚA, Enrique. Abuso de alcohol: guías de intervención, psicología clínica. Madrid:


Editorial Síntesis, 2008.

ERICKSON, H. Erik. Infancia y Sociedad. 8. ed. Buenos Aires: Hormé, 1980.


ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

ESCOHOTADO, Antonio. Historia General de las Drogas. 2. ed. Madrid: Editorial Espasa Calpe
S.A., 1999.
99

ESPINA BARRIO, Ángel-B. Manual de Antropología Cultural. 2. ed. Salamanca: Amaru Edicio-
nes, 1997.
______. Freud y Lévi Strauss: influencias, aportaciones e insuficiencias de las antropologías diná-
mica y estructural. 2.ed. Salamanca: Universidad Pontificia de Salamanca, 1997.

FEIJÓ, Carmen. Trabalho escravo, infantil e indígena, desafiam direitos indígenas. 2008. Dis-
ponible en: <http://www.direitodoestado.com.br/noticia/s/6793/Trabalho-escravo-infantil-e-ind%-
C3%ADgena-desafiam-direitos-humanos>. Acceso en: 20 abr. 2013.

FERNANDES, João Azevedo. Selvagens bebedeiras: álcool, embriaguez e contatos culturais no


Brasil Colonial (Séculos XVI-XVII). São Paulo: Alameda, 2011.

FIGUEIREDO, Betânia Gonçalves. O arranjo das drogas nas boticas e farmácias mineiras entre os
séculos XVIII e XIX. In: CARNEIRO, Henrique; PINTO, Renato (Orgs). Álcool e drogas na história
do Brasil. São Paulo: Alameda, 2005. p. 141-154.

FIORI, Maurício. A medicalização da questão das drogas no Brasil: reflexões acerca de debates
institucionais e jurídicos. In: CARNEIRO, Henrique; PINTO, Renato (Orgs). Álcool e drogas na
história do Brasil. São Paulo: Alameda, 2005, p. 257-290.

FONTELES FILHO, José Mendes. Subjetivação e educação indígena. Tese (Doutorado em


Educação) - Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, 2003.

FOSCACHES, Nataly Guimarães. Análisis del racismo contra los Kaiowá y Guarani en los perió-
dicos brasileños. Maestría (Estudios Latinoamericanos) - Instituto de Iberoamerica de la Universi-
dad de Salamanca. Salamanca, 2010.

FOUCAULT, Michel. Historia de la Locura en la Época Clásica. Vol. 1 y 2, México D. F: Fondo


de Cultura Económica, 1979.

______. Microfísica del Poder. 2. ed. Vol.1. Madrid: La Piqueta, 1980.

______. Enfermedad Mental y Personalidad. Vol. 41. Barcelona: Paidós Studio, 1984.

______. Vigilar y castigar: nacimiento de la prisión. Madrid: Siglo Veintiuno Editores, 1986.

GAMIO, Manuel. Consideraciones sobre el problema indígena. México: Instituto Indigenista In-
teramericano, 1966.

GARCÍA, David Rodríguez. Alcohol y cerebro: motivos y secuelas de la conducta bebedora. Cádiz:
Ediciones Absalon, España, 2010.

GARNELO, Luiza; LANGDON, Esther Jean. Saúde dos povos indígenas: reflexões sobre Antropo-
logia participativa. São Paulo: Associação Brasileira de Antropologia, 2005.

GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4.ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2005.

GRUPIONI, Luís Donisete Benzi. Povos indígenas e tolerância: Construindo Práticas de Respeito
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

e Solidariedade. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001.


100
______. Formação de professores indígenas: repensando trajetórias. Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2006.

GUEDES, Max Justo. A cartografia portuguesa de João Teixeira e a descripção de todo o


marítimo da Terra de S. Cruz. Vol. 2. Coleção Brasiliana. São Paulo: Fundação Estudar, 2003.

GUIMARÃES, Liliana A. M.; GRUBITS, Sonia. Alcoolismo e Violência em Etnias Indígenas: uma
visão crítica da situação brasileira. Psicologia & Sociedade, 2007, 19: 45-51.

GUIMARÃES, Magno Carlos. Os quilombos, a noite e a aguardentes nas minas coloniais. In:


CARNEIRO, Henrique; PINTO, Renato (Orgs). Álcool e drogas na história do Brasil. São Paulo:
Alameda, 2005, p.93-122.

HUERTAS GARCÍA-ALEJO, Rafael. Locura y degeneración: psiquiatría y sociedad en el positi-


vismo francés. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Centro de Estudios Históri-
cos, 1987.

______. El Delincuente y Su Patología: Medicina, Crimen y Sociedad en el Positivismo Argentino.


Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1991.

______. Los Laboratorios de la Norma: Medicina y Regulación Social en el Estado Liberal. Bar-
celona: Octaedro, 2008.

HECK, Egon D. Criminalização dos povos indígenas: A nova face do velho colonialismo. In: Relatório
Violências contra os povos indígenas no Brasil 2009. Conselho Indigenista Missionário, (CIMI) e
Conferência Nacional dos Bispos no Brasil, (CNBB) Brasília, 2009. Disponible en: <http://www.
cimi.org.br/pub/publicacoes/1280418665_Relatorio%20de%20Violencia%20contra%20os%20
Povos%20Indigenas%20no%20Brasil%20-%202009.pdf>. Acceso en: 20 abr. 2013.

HECKMANN, Wolfgang; SILVEIRA, Camila Magalhães. Dependência do álcool: aspectos clínicos


e diagnósticos. Disponible en: <http://www.cisa.org.br/UserFiles/File/alcoolesuasconsequencias-pt-
cap3.pdf>. Acceso en: 20 abr. 2013.

IBASE. Educação escolar indígena em Terra Brasílis, tempo de novo descobrimento. Rio de
Janeiro: IBASE, 2004.

JANUARIO, Elias. Ensino superior para índios: um novo paradigma na educação. Barra do Bu-


gres: UNEMAT, 2002 [Cadernos de Educação Escolar Indígena. V. 1].

______. A construção do currículo no 3º Grau Indígena: a etapa de estudo presencial. Barra do


Bugres: Universidade Estadual de Mato Grosso - UNEMAT, 2004. Cadernos de Educação Escolar
Indígena, vol. 3.

LANGDON, J. E. O que beber, como beber e quando beber: o contexto sociocultural no alcoolismo
entre as populações indígenas. In: I Anais do Seminário sobre Alcoolismo e DST/AIDS entre os
Povos Indígenas, 2001, p. 83-97.

LOMBROSO, Cesare. Medicina Legal. Madrid: La España Moderna, 1900.

______. El delito sus causas y remedios. Madrid: Librería general de Victoriano Suárez, 1902.
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

______. Los anarquistas. Madrid: Est.Tip. Biblioteca Social Contemporánea, 1894.


101
______. Los criminales. Barcelona: Presa, s/d.

LUCIANO, Gersem dos Santos. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos
indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade: LACED/Museu Nacional, 2006.

MAESTRO, Ángeles; HUERTAS GARCÍA-ALEJO, Rafael. La Ofensiva Neoliberal y la Sanidad


Pública. Madrid: Fundación de Investigaciones Marxistas, 1991.

______. La salud y el Estado: los Servicios Sanitarios Públicos entre el Bienestar y la Crisis. Vol. 2.
Madrid: Fundación de Investigaciones Marxistas, 1992.

MAHER, Terezinha de Jesus M. Sendo índio em português. In: SIGNORINI, I (Org.). Língua(gem)
e identidade: elementos para uma discussão no campo aplicado. Campinas: Mercado das Letras,
1998, p.115-138.

______. A formação de professores indígenas: uma discussão introdutória. In: GRUPIONI, Luís
Donisete Benzi (Org.). Formação de professores indígenas. Brasília: Ministério da Educação, Se-
cretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2006. p.11-37.

MELIÁ, Bartomeu . Educação indígena e alfabetização. São Paulo: Loyola, 1979.

______. Educação indígena na escola. Cadernos CEDES, Campinas, n. 49, 2000.

MENDES, Cândido. Pluralismo cultural, identidade e globalização. Rio de Janeiro: Record, 2001.

MORIN, Edgar. El paradigma perdido: ensayo de bioantropologia. Barcelona: Editions Kairós,


1992.

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. 3.ed. Petrópolis,


RJ: Vozes, 2005.

MOTT, Luiz. Vino in Veritas: vinho e aguardente no cotidiano dos sodomitas luso-brasileiros à época
da Inquisição. In: CARNEIRO, Henrique; PINTO, Renato (Orgs). Álcool e drogas na história do
Brasil. São Paulo: Alameda, 2005, p. 47-70.

MUNANGA, Kabengele. Diversidade, etnicidade, identidade e cidadania. ANPED, Universidade


Federal de São Carlos, 2005. Disponible en: <http://www.npms.ufsc.br/programas/Munanga%20
05diversidade.pdf>. Acceso en: 23 abr. 2013.

OLIVEIRA, João Pacheco de. A viagem de volta: reelaboração cultural e horizonte político dos
povos indígenas no Nordeste. Rio de Janeiro: PPGAS/Museu Nacional/ UFRJ, 1993.

______. Hacia una antropología del indigenismo: estudios críticos sobre los procesos de dominación
y las perspectivas políticas actuales de los indígenas en Brasil. Rio de Janeiro/Lima: Contra Capa/
Centro Amazónico de Antropología y Aplicación Práctica, 2006.

______. A presença indígena na formação do Brasil. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria


de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/Museu Nacional, 2006.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

PARAISO, Maria Hilda B. A presença indígena na construção da cidade do Salvador. In: GAMA,
102 Hugo; NASCIMENTO, Jaime (Orgs.). A Urbanização de Salvador em três tempos: colônia,
império e república. Vol. I. Salvador: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, 2011, p. 33-52.

POL, Enric; VALERA, Sergi; VIDAL, Tomeu. Psicología ambiental y procesos psicosociales. In:
Psicología Social. Madrid: McGraw-Hill, 1999, p. 317-334.

PITTMAN, D.J.; SNYDER, C. R. (Eds.). Society, culture and drinking patterns. New York: Wiley
Sons, 1962.

QUEIROZ, Delcele Mascarenhas. Desigualdade racial no vestibular. Revista CEPAI, v. 1. Salvador,


UNEB, 2001, p. 23-28.

_______. Desigualdades raciais no ensino superior: a cor da UFBA. In: QUEIROZ, D. M. et al.
(Orgs.). Educação, racismo e anti-racismo. Salvador: Programa A Cor da Bahia/ Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais da UFBa, Salvador, 2000, p. 11- 44.

______. Universidade e desigualdade: brancos e negros no ensino superior. Brasília: Líber Livro
Editora, 2004.

QUILES, M. Mansidão de fogo: aspectos etnopsicológicos do comportamento alcoólico entre os


Bororo. In: Anais do Seminário Sobre Alcoolismo e DST/AIDS entre os Povos Indígenas.v.1,
2001, Brasília. Anais... Brasília: Ministério da Saúde, 2001, p.166-179.

RAMINELLI, Ronald. Da etiqueta canibal: beber antes de comer. In: CARNEIRO, Henrique; PINTO,
Renato (Orgs.). Álcool e drogas na história do Brasil. São Paulo: Alameda, 2005, p. 29-46.

RELATÓRIO violências contra os povos indígenas no Brasil 2009. Conselho Indigenista Missionário,
(CIMI) e Conferência Nacional dos Bispos no Brasil, (CNBB). Disponible en: <http://www.cimi.org.
br/pub/publicacoes/1280418665_Relatorio%20de%20Violencia%20contra%20os%20Povos%20
Indigenas%20no%20Brasil%20-%202009.pdf>. Acceso en: 20 abr. 2013.

RELATÓRIO violências contra os povos indígenas no Brasil 2010. Conselho Indigenista Missionário,
(CIMI) e Conferência Nacional dos Bispos no Brasil, (CNBB). Disponible en: <:http://www.cimi.
org.br/pub/publicacoes/1309466437_Relatorio%20Violencia-com%20capa%20-%20dados%20
2010%20(1).pdf>. Acceso en: 20 abr. 2013.

RELATÓRIO violências contra os povos indígenas no Brasil 2011. Conselho Indigenista Missionário,
(CIMI) e Conferência Nacional dos Bispos no Brasil, (CNBB). Disponible en: <http://www.cimi.org.
br/pub/CNBB/Relat.pdf>. Acceso en: 20 abr. 2013.

RELATÓRIO Brasileiro sobre drogas 2009. Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas, (SE-
NAD) E Ministério da Justiça (Brasil). Organizadores: Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte; Vla-
dimir de Andrade Stempliuk E Lúcia Pereira Barroso. Disponible en: <http://portal.mj.gov.br/senad/
data/Pages/MJD0D73EAFPTBRNN.htm>.Acceso en: 20 abr. 2013.

RELATÓRIO Brasileiro sobre drogas 2010. Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (SENAD)
e Ministério de Justiça. Organizadores: Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte; Vladimir de Andra-
de Stempliuk e Lúcia Pereira Barroso. Disponible en: <http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/
biblioteca/documentos/Relatorios/328379.pdf>. Acceso en: 20 abr. 2013.

RELATÓRIO conflitos no campo no Brasil 2011. Comissão Pastoral da Terra, (CPT). Disponible en:
ANÁLISIS HISTÓRICO DE LA EVOLUCIÓN DEL CONSUMO DE ALCOHOL ENTRE INDÍGENAS DE BRASIL

<http://www.cptnacional.org.br/>. Acceso en: 20 abr. 2013.


103
RIBEIRO, Ricardo Ferreira. Tortuosas raízes medicinais: as mágicas origens da farmacopeia popular
brasileira e sua trajetória pelo mundo. In: CARNEIRO, Henrique; PINTO, Renato (Orgs.). Álcool e
drogas na história do Brasil. São Paulo: Alameda, 2005, p. 155-184.

ROCHA, Leandro Mendes. A política indigenista no Brasil: 1930-1967. Goiânia: Universidade


Federal de Goiás (UFG), 2003.

______. Etnicidade e nação. Goiânia: Cânone Editorial, 2006.

RODRÍGUEZ GARCÍA, F. David. Alcohol y cerebro: motivos y séquelas de la conducta bebedora.


Cádiz: Ediciones Absalon, 2010.

SAMPAIO, José Augusto L. Breve História da presença indígena no extremo sul baiano e a questão
do território Pataxó do Monte Pascoal. In: POLÍTICA Indigenista para o Nordeste e Leste do
Brasil. Brasília: FUNAI, 2000, p. 25-60.

SANTOS, Fernando Sérgio D.; VERANI, Ana Carolina. Alcoolismo e medicina psiquiátrica no
Brasil do início do século XX: história, ciência e saúde-Manguinhos, vol.17, Rio de Janeiro, 2010.
Disponible en: www.scielo.com.br. Acesso em 19/04/2013.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. São
Paulo: Record, 2004.

SENA, Consuelo Pondé. Os Tupinambá da Bahia: a política portuguesa à época do descobrimento.


In: GAMA, Hugo; NASCIMENTO, Jaime (Orgs.). A urbanização de Salvador em três tempos:
colônia, império e república. Vol. 1. Salvador: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, 2011, p.13-
29.

LOPES DA SILVA, Aracy; LEAL FERREIRA, Mariana Kawal (Org.). Antropologia, história e


educação: a questão indígena e a escola. São Paulo: Global, 2001.

SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. Disponible en: <http://
ccs.ufpel.edu.br/wp/wp-content/uploads/2011/07/a-producao-social-da-identidade-e-da-diferenca.
pdf>. Acceso en: 20 marzo 2013.

SOUZA, J. A. & AGUIAR J. A. Alcoolismo em população Terena no Estado do mato Grosso do Sul:
impacto da sociedade envolvente. In: Anais do Seminário sobre Alcoolismo DST/AIDS entre os
Povos Indígenas. Brasília: Ministério da Saúde, 2001, p. 149-165.

SPINK, P. K. Pesquisa de campo em psicologia social: uma perspectiva pós-construcionista.


Psicologia social, vol. 15, n. 2, 2003. Disponible en: <www.scielo.com.br>. Acceso en: 22 abr. 2013.

SZASZ, Thomas. Drogas y Ritual: la persecución ritual de drogas, adictos e inductores. Madrid:
Fondo de Cultura Económica, 1990.

VISIÓN Global Sobre el Consumo de Alcohol: documento de información y reflexión. Coordinadora


de ONGs que intervienen en Drogodependencias, Madrid, s/d.

VITORIA, Francisco de. Doctrina sobre los indios. 3. ed. Salamanca: Editorial San Esteban, 2009.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

WUNDT, Wilhelm. Elementos de psicología de los pueblos. Barcelona: Alta Fulla, 1990.
104
XIBERRAS, Martine. Les théories de l’exclusion. Paris: Meridiens Klincksieck, 1993.
NÃO ME FALE DAS FLORES: UM BREVE ENSAIO SOBRE OS DIREITOS HUMANOS E INTERESSES ELITISTAS

105

NÃO ME FALE DAS FLORES: UM BREVE ENSAIO SOBRE


OS DIREITOS HUMANOS E INTERESSES ELITISTAS

Norvi Vieira de Melo1


Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti 2

“Eu sei que a justiça é indivisível. Injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à
Justiça em todo lugar.”
Martin Luther King

RESUMO

Neste artigo tratarei do funcionamento dos Direitos Humanos em escala global. Serão explicitados vários
casos de desrespeito a esses direitos inerentes ao homem mais precisamente focando as violações de dois
Estados: Israel e os EUA. Com uma leve investigação discutiremos os interesses políticos e econômicos dentro
do Estado mais poderoso dentre os dois, os EUA. Serão argumentados interesses ocultos, mais precisamente
da classe alta, infiltrados em vários campos da sociedade como no comércio, na educação e na mídia,
demonstrando através desses interesses, a impossibilidade do avanço não só da sociedade mas dos Direitos
Humanos como um todo. Finalizamos, sinalizando as necessidades de profundas mudanças no quadro social
se quisermos evoluir como espécie e finalmente sair da barbárie em que ainda nos encontramos.

PALAVRAS-CHAVE: Direitos Humanos. Interesses Políticos e Econômicos. Educação. Sociedade.

ABSTRACT

In this abstract, I intend to discuss the Human Rights issue on a global scale. I will talk about various cases
in which inherent human rights have been disrespected by such countries as the USA and Israel. With a brief
investigation, I´ll discuss the political and economic interests in the most powerful state, the USA. I will unveil
hidden interests by the upper class infiltrated in various parts of society like for example, in commerce, education
and the mainstream media demonstrating how these interests make it hopeless to have real advancements not
just in society as a whole but also in the Human Rights issue. I will conclude discussing the needs for profound
changes in the social framework.

KEY WORDS: Human Rights. Political and Economic Interests. Education. Society.

1
Aluno do curso de Direito – Faculdade Ruy Barbosa. E-mail: norvi.v.demelo@hotmail.com.
2
Pós-doutorado em Humanidades pela Universidade de Salamanca, Espanha. Professora de Graduação e Pós-
Graduação da Universidade Católica do Salvador e Professora da Faculdade Ruy Barbosa. Co-coordenadora
do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Juventudes, Culturas, Identidades e Cidadania - NPEJI/UCSAL.
E-mail: vanessa.cavalcanti@uol.com.br.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

NÃO ME FALE DAS FLORES


106
Uma das primeiras cenas que invade a mente de inúmeras pessoas quando se trata de direitos
humanos, são as imagens de figuras cadavéricas empilhadas ou enfileiradas e moribundas. São as
cenas dos campos de concentração como Auschwitz e Dachau. Parece-nos que foram as únicas
vítimas da Segunda Guerra Mundial. No lado opositor, será que não havia campos de concentração?
Será que o General Dwight Eisenhower não dispunha de campos com cenas tão depravantes como as
mencionadas? Por que foi dado particular destaque a um único grupo étnico quando as vítimas não
se limitaram a um povo em especial? Será que a imagem que temos de certos países como defensores
da humanidade e eternas vítimas das agressões nazistas não esconde um propósito malévolo? O que
pretendo expor é o fato de que existem, hoje, interesses velados sob essa imagem de “defensores” dos
direitos inerentes ao homem, que facilitam mascarar suas violações.

Levantar questionamentos sobre o funcionamento dos Direitos Humanos é nosso objetivo, afinal
a ONU foi constituída para diminuir a quantidade de conflitos e não o oposto, e é mais que óbvio
que a Declaração dos Direitos Humanos veio proteger a pessoa humana. Explicar como os Direitos
Humanos somente têm êxito quando não entram em conflito com os interesses de Estados que se
julgam egrégios, justificando então nosso propósito.

Com a Declaração Universal dos Direitos do Homem em 10 de dezembro de 1948 e da Organização


das Nações Unidas em 1945 pensou-se que o primeiro passo estava dado para a não repetição da
selvageria que foi a Segunda Guerra. Essa declaração, conquanto bela, é desprovida de concretização.
Países que se fazem defensores ferrenhos desses direitos ditos inerentes a “todos os membros da
família humana”, são os maiores violadores dos mesmos.

Não é por acaso que os EUA não ratificaram o Estatuto da Corte Penal Internacional, tendo o
presidente norteamericano George W. Bush retirado a assinatura dos EUA em 2002. Isso se deveu
diante da possibilidade de soldados americanos envolvidos em guerras serem julgados pelo Tribunal
Internacional. O Estado de Israel, também, sempre seguindo os passos norte-americanos, retirou
sua assinatura na mesma data. É importante lembrar esses fatos na medida em que examinarmos
acontecimentos relacionados a ambos os Estados.

A invasão do Iraque foi realizada em 2003 sob acusações do governo de Saddam Hussein possuir armas
de destruição em massa e terem ligações com o Al Qaeda (ambas as acusações provadas falsas após a
ocupação). É imprescindível lembrar que grande parte do poderio bélico iraquiano foi adquirido dos
EUA. A ocupação norte-americana literalmente arrasou o país. Até hoje o Iraque é palco de inúmeros
atentados diariamente. Durante o mês de agosto, as fontes da ONU contaram mais de oitocentas
mortes. As notícias dos horrores da guerra foram apresentadas em primeira mão por um homem
que sensibilizou o mundo. São as imagens tornadas públicas por um corajoso soldado americano,
Bradley Manning, que hoje, por ter divulgado estes acontecimentos no Iraque, foi condenado a 35
anos de prisão. Na manhã de 12 de julho de 2007, dois helicópteros Apache, ambos armados com
canhões de 30mm, abriram fogo contra uma mini van onde havia alguns adultos e duas crianças. O
que é supreendente neste caso específico não é somente o fato dos pilotos terem atacado este veículo
sem nem mesmo dar o tempo suficiente para analisar a situação. O supreendente é que receberam
notícias da presença de crianças dentro da van e não demonstraram nenhum remorso, culpando ainda
os homens já mortos por terem “trazido crianças para a guerra”.

As histórias que saíram do Iraque e foram contadas até mesmo pelos próprios soldados americanos
nos lançam uma luz sobre a tamanha e sombria barbaridade que foi essa ocupação. Uma pergunta
plausível neste momento seria: onde estão os Direitos Humanos? Não é conveniente falar sobre tais
barbaridades, especialmente quando o Estado norte-americano está trazendo “democracia” ao mundo.
Uma soldada, Kelly Dogherty, contou sobre a miséria que a invasão estava infligindo na população
NÃO ME FALE DAS FLORES: UM BREVE ENSAIO SOBRE OS DIREITOS HUMANOS E INTERESSES ELITISTAS

iraquiana. Diz Kelly que viu a desumanização e degradação dos civis, por roubarem deles a sua
dignidade inerente, negando-lhes respeito e tratando-os como seres inferiores. 107

Darrel Anderson, outro soldado, contou que quando se entrava em Bagdá, o que se via eram prédios
grandes de apartamentos explodidos ou arruinados. Afirmou não ser possível encontrar um civil sequer
que não tenha perdido um amigo ou parente. Jason Limieux diz que foi ordenado várias vezes por
oficiais comissionados a matar civis não armados se a presença deles o deixassem “desconfortável”.
Além desses fatos expostos por soldados, hoje, em um número alarmante, crianças iraquianas nascem
com deformidades causadas pelo uso de fósforo branco e munições de urânio empobrecido, utilizados
pelo exército americano. Todos esses exemplos são violações diretas dos Direitos Humanos e até hoje
os Estados Unidos não responderam pela miséria e sofrimento que provocaram. Bush até então não foi
processado por crimes contra a humanidade, nem Rumsfeld ou Dick Cheyney. Com o enforcamento
de Saddam Hussein e a desumanização dos civis do Iraque eu pergunto mais uma vez, onde estão os
Direitos Humanos?

Na data de 23 de setembro de 2009, Muammar Gaddafi foi até a ONU e ofuscou totalmente o discurso
de quarenta minutos de Obama, falando por uma hora e meia, atacando mordazmente, do pódio,
o World Body. Gaddafi relatou que a ONU tinha falhado em intervir ou prevenir sessenta e cinco
guerras desde o início das Nações Unidas em 1945 (motivo pelo qual foi estabelecida). Ao longo do
seu discurso, brandindo a carta das Nações Unidas ferozmente, ele criticou a ONU, alegando aquela
não ser uma instituição democrática. Afirmou ainda ser o Conselho de Segurança que detém o poder
de veto (cinco membros).

Declarou que este precisa ser exercido pela Assembléia Geral, o que tornaria a ONU mais democrática.
Disse ainda que o Conselho de Segurança deveria ser chamado do Conselho de Terrorismo, e que não
deveríamos aceitar qualquer resolução tomada por este Conselho, pois somos todos iguais, pequenos
e grandes. Se na democracia chegamos a igualdade tratando os iguais de forma igual e os desiguais
de forma desigual na exata medida da sua desigualdade, por que insistimos nessa diferenciação dentro
da própria Nações Unidas?

Meses depois Muammar Gaddafi foi brutalmente deposto e morto e a Líbia, um país em progresso,
foi reduzido a ruínas. A afirmação dada pela então Secretária de Estado, Hillary Clinton foi infâmia,
“Nós viemos, nós vimos e ele morreu”, soltando uma gargalhada vil. Parece-nos uma declaração
autoritária, demonstrando que, quem está em desacordo conosco, encontrará seu fim. A Líbia hoje
está destruída da mesma forma que o Iraque. Segue um comentário de Vladimir Putin pertinente a
OTAN:

A OTAN tinha afirmado que destruir Gaddafi não fazia parte de seus planos.
Então, por qual motivo bombardearam seus palácios? Agora alguns oficiais
dizem que eliminá-lo foi de fato seu objetivo. Quem lhes deu este direito,
perguntou Putin. Gaddafi teve um julgamento justo? As bombas da OTAN
estão destruindo a total infraestrutura do país. Quando aqueles que se
denominam ‘mundo civilizado’ utilizam todo seu poderio militar contra um
pequeno país, destruindo o que foi erguido por gerações, não sei se isso é
bom. (PUTIN, 2011, s.p.)

Onde está o grito da Declaração Universal dos Direitos Humanos? Sobre Muammar Gaddafi, o que
pouca gente sabe é que ele construiu em 40 anos um país invejável. Deve ser exposto que não é como
a mídia retratava. Como disse Louis Farrakhan:
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

Gaddafi não se encontrava em uma tenda brincando com seus dedos nos
108 últimos dez anos. Esse homem investiu no desenvolvimento africano[...] a
população tem trabalho, comida. Ele utilizou o dinheiro do petróleo para
construir a Líbia, empregou este mesmo recurso e descobriu água no deserto
do Saara trazendo essa água até a superfície e levando-a até Benghazi, e dali
quase até a fronteira com a Tunísia. Ele impôs agricultura no deserto para que
pudesse alimentar seu próprio povo, usou bilhões de dólares para construir
lares e apartamentos para seu povo. (FARRAKHAN, 2011)

É importante ressaltar que em 1951 a Líbia era o país mais pobre do mundo. Gaddafi havia planejado
introduzir o Dinar, a moeda única africana feita com ouro, trazendo assim uma maior divisão real
da riqueza, dessa forma enterrando de vez o dolar. O que aconteceu com esse investimento todo?
Transformou-se em ruínas e agora o país está dividido entre facções. Com a morte brutal de Gaddafi
e a destruição de Tripoli, pergunto novamente: Onde estão os Direitos Humanos?

Agora, temos Obama, extremamente ansioso para começar mais uma guerra, dessa vez na Síria. O
conflito já dura dois anos, e o número de refugiados da guerra, de acordo com a Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Refugiados, já alcança a cifra de dois milhões. O governo americano
desde o início dessa guerra civil arma mercenários para combater o regime de Assad.

É relevante ressaltar que antes do início dos conflitos podia-se caminhar em Damasco, a qualquer hora
do dia ou da noite, sem se expor a nenhum perigo. George Galloway, em uma sessão no parlamento
inglês, fez uma crítica muito pertinente sobre os atos do governo em financiar essa guerra civil. Ele
relatou a existência de vídeos disponíveis na internet que demonstram atos canibalísticos e execuções
bestiais postados pelos rebeldes. Essas imagens nos permitem refletir: que governos são esses que
põem armas nas mãos de homens que decapitam soldados rendidos? Onde estão os Direitos Humanos?

Todas essas ações se tratam, na verdade, de “interesses”. A pergunta seria, “Que interesses são esses?”
Um General norte-americano, Wesley Clark, entrevistado no noticiário “Democracy Now” por Amy
Goodman, revelou planos para a desestabilização de sete países árabes em cinco anos. Começariam
com o Iraque seguindo pela Síria, Líbano, Líbia, Somália, Sudão e finalizando com o Irã. Já assistimos
a derrubada do Iraque e Líbia. No momento estão tentando destruir a Síria.
Segundo Louis Farrakhan, este projeto denominado “The Greater Middle East Project”, melhor
conhecido como a “Primavera Árabe”, propõe controlar os recursos da África e Oriente Médio sob
domínio militar para bloquear o crescimento econômico da China e da Rússia, contendo a Eurasia.
Com o que foi dito, pode-se perguntar, onde estão os Direitos Humanos em tudo isso? Onde estão os
interesses para a busca da melhoria de vida dos milhões de seres humanos que vivem nessas regiões?
Onde foi o espírito de “fraternidade”, disposto no art.1º. da Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948? Onde estão as Cortes para processar os violadores do art.3º?

Após a queda de Saddam Hussein, uma prisão chamada Abu Ghraib, localizada no Iraque, foi tomada
pelos EUA. Fotografias foram vazadas comprometendo seriamente as ações norte-americanas. Fotos
de torturas cruéis surgiram desmascarando com maior ênfase os horrores contínuamente infligidos
pelo exército americano. De acordo com a Cruz Vermelha Internacional, a grande maioria das pessoas
mantidas presas eram inocentes e detidas pelos norte-americanos sem motivo aparente ou por motivos
torpes. O art. 5º. da D.U.D.H diz que “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo
cruel, desumano ou degradante”. Lendo os artigos restantes do código, é difícil encontrar um único
deles que os EUA ainda não tenham desrespeitado.

O Estado de Israel ultimamente tem recebido muito pouca atenção da mídia, mesmo com a sua
contínua desobediência aos pedidos da ONU para que cesse de expulsar os Palestinos das suas casas.
Os Palestinos não têm tempo para tirar seus pertences pessoais e muito menos para pedir ajuda. Após
serem expulsos de suas residências, estas são destruídas e sobre o local novos apartamentos são
NÃO ME FALE DAS FLORES: UM BREVE ENSAIO SOBRE OS DIREITOS HUMANOS E INTERESSES ELITISTAS

construídos para a população israelense.


109
Um respeitado psicólogo palestino, depois de examinar um número em torno de mil crianças palestinas,
concluiu que muitas dessas crianças perderam a vontade de viver, que estavam desumanizadas e
muito afetadas por terem assistido seus pais serem espancados por soldados israelenses. A condição
psicológica é uma das dimensões do conflito que não é amplamente compreendida. Foi feito um
pedido pelos palestinos por uma Força Internacional Observadora que traria fim à violência, mas
esse ato foi bloqueado por Israel. Por fim, um grupo de ativistas de direitos humanos palestinos e
israelenses se uniram e criaram o Movimento de Solidariedade Internacional (International Solidarity
Movement). Esse movimento tem sensibilizado pessoas de todo o mundo e, dessa forma, fornecendo
uma presença internacional não violenta, assim preenchendo essa necessidade. Uma estudante norte-
americana chamada Rachel Cory foi para Gaza com o intuito de auxiliar o movimento. Uma das
mensagens enviadas a seus pais dizia, “Eu já estou aqui há duas semanas e uma hora, e ainda tenho
poucas palavras para descrever o que vejo. É muito difícil para mim ficar aqui e pensar no que
escrever. Não sei se muitas das crianças que vivem aqui tiveram uma vida normal, sem torres de um
exército ocupante constantemente de olho nelas. Acredito, mas não tenho absoluta certeza, que até
a mais jovem dessas crianças entende que a vida não é assim em todos os lugares do mundo”. Em
16 de março de 2003, essa estudante teve sua vida abruptamente roubada por um soldado israelense.
Ela morreu tentando proteger a casa de um médico palestino. As constantes violações pelo Estado
Israelense variam da destruição de lares até a própria desumanização e tortura de crianças.
O que surpreende nas ações do Estado Israelense é, como um povo que sempre vive evocando a
memória dos males que sofreram na segunda guerra, do holocausto, comete tantas violações dos
Direitos Humanos?

Os constantes abusos são alarmantes, especialmente quando o resto do mundo não reage. Há uma
crescente insensibilização nos dias atuais no que tange a violação dos Direitos Humanos. Um perfeito
exemplo foi o atentado que ocorreu em Boston, em 13 de abril 2013, matando três pessoas. Essa
notícia ganhou atenção global, como se fosse um novo onze de setembro. Contudo, no Iraque, nesse
mesmo dia, bombas foram detonadas matando umas vinte vezes essa quantidade de pessoas, mas não
houve grande repercussão na mídia. Há um paradoxo nessas situações. A vida de três pessoas valem
ser mencionadas mais do que as sessenta que morreram no Iraque? Para ser mais direto, a vida de
três norte-americanos valem mais que as de sessenta Iraquianos? Não é mistério que a grande mídia
(e aqui me refiro à grande mídia norte-americana como a Fox News, por exemplo) é pró governo.
Podem tachar o atual presidente de idiota, mas no fundo defendem suas ações na Síria, assim como
defenderam na Líbia. Percebemos que a mídia é manipulada pelo poder econômico.

As corporações, hoje, são o auge do poder econômico. Sua dominação se estende por todos os cantos
do globo. Manfredo Araújo de Oliveira (2011) citou em seu trabalho “Direitos humanos no diálogo
entre os campos de conhecimento”, o grande propulsor da economia mundial em que estão montadas
as grandes coorporações:

A globalização transformou profundamente nos últimos vinte anos a


organização econômica, as relações sociais, os modelos de vida e cultura,
os Estados e a política, e acelerou enormemente as mudanças e a geração de
novos paradigmas. Recorre-se hoje a lógica da globalização para legitimar
o desmantelamento das instituições de proteção social e de controle de
mercados, do exercício do papel equilibrador do Estado e da proteção dos
direitos dos cidadãos, já que as instituições políticas dispõem de pouca
margem de manobra frente aos mecanismos dominadores do mercado, de
modo especial frente aos organismos financeiros internacionais.
O resultado deste processo escancara a violação dos direitos elementares do
ser humano, gerando: pobreza, miséria, dependência econômica, ditadura
política, opressão policial, sequestro, tortura, exílio, assassinato. (OLIVEIRA,
2011, p. 148)
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

A globalização, como exposto na citação anterior, foi e ainda é o grande aliado das grandes empresas.
110 Os Direitos Humanos, lineares e evolutivos caminham em retrocesso. Hoje, as grandes empresas
exploram de forma bem mais eficiente do que faziam até então. Abrem fábricas em países de
terceiro mundo, pagando a seus funcionários míseros salários e ainda com ares de salvadores dos
pobres. No documentário canadense “The Corporation”, a corporação é retratada como a criação
de Dr. Frankenstein, que mais tarde se voltou contra o seu criador. Existem inúmeras corporações
que utilizam seu poder econômico para dominar tudo que impede o seu avanço. Um dos maiores
exemplos de tamanha voracidade de dominação é a empresa Monsanto. Ela hoje é responsável pela
destruição de rios e lavouras de pequenos agricultores por todo o mundo. Por causa dos seus produtos
que somente são usados pelos grandes agricultores, os pequenos perdem suas colheitas por serem
contaminadas pelo produto utilizado pelos grandes fazendeiros. Recentemente o presidente Obama
assinou o que se chama ‘Monsanto Protection Act’. Esse ato efetivamente barra os Tribunais Federais
de ter a capacidade de impedir a venda ou plantação de colheitas ou sementes GMO’s (alimentos
geneticamente modificados), sem dar importância às consequências advindas de seu consumo,
que poderão ser esclarecidas futuramente. Como se pode ver, o poder econômico dessa empresa
possibilitou o atropelamento do bom senso. Caso fosse analisada eticamente, por pessoas preocupadas
com o bem estar das populações que se alimentarão desses produtos, certamente esse ato jamais
teria sido assinado. De forma análoga, tal situação remonta a época Vitoriana, quando os ingleses
comercializavam o ópio na China, tendo claro conhecimento dos males produzidos por sua utilização.

Os governos, nos dias atuais, tornaram-se subservientes ao poder econômico. De forma simples,
uma corporação, hoje, tem a capacidade de financiar a campanha de um político para que, chegando
ao poder, este possa lhe trocar favores. Dessa forma não mais temos um governo para todos, mas
um governo para os privilegiados. Um perfeito exemplo hoje é o governo americano. As empresas
financiam políticos para cumprir suas vontades, ainda que seja necessário a destruição de povos. É
imprescindível recordar que os EUA detém o título de maiores exportadores de armas no mundo.
Podemos apontar a Lockheed Martin, a maior empresa fabricante de produtos aeroespaciais e
militares mundiais. Em outras palavras, a Lockheed com as outras empresas vendedoras de armas,
comercializam a morte e o governo abre possibilidades de venda a mercenários dos mais variados
tipos, vendendo suas armas tanto para o mercado local quanto para organizações que eles próprios
chamam de terroristas.

Os Direitos Humanos nunca terão a base firme para se expandir enquanto os Estados funcionem como
mediadores de corporações que objetivam simplesmente tirar proveito de tudo. Essas tais empresas
mencionadas anteriormente não estão interessadas em Direitos Humanos. Em vários pontos da África
e do Oriente Médio, corporações se instalam, com o intuito de auferir lucro sobre a exploração dos
povos. Não são somente empresas de produtos manufaturados como roupas, mas também gigantes
do petróleo como a Halliburton, se aproveitam da miséria de nações inteiras. Muitas vezes, essas
empresas se instalam em países de terceiro mundo disfarçadas como ajuda humanitária. Essa é a
forma clássica do que se pode compreender como neo-colonialismo.

George Carlin declarou certa vez que direitos não existem, são imaginários, e criamos essa ideia
como as historinhas da Disney. Afirmou que direitos são ideias belas, porém fictícias. Certa vez
pediu à sua audiência que, se ainda acreditavam em Direitos, pesquisassem os japoneses/americanos
em 1942. Com o início da Segunda Grande Guerra, cento e dez mil cidadãos nipoamericanos foram
encaminhados a campos de concentração, pelo simples fato de que seus pais nasceram no país errado.
Não tinham direito a um advogado, nem a um julgamento justo ou a um devido processo legal. No
momento em que mais necessitaram de seus direitos, seu governo lhes negara, e direitos não são
direitos se podem ser negados ou levados, são privilégios temporários, que qualquer indivíduo que
assiste o noticiário percebe que cada ano a lista se encurta.

A educação é também um direito de todo cidadão. No Brasil, seu declínio é visível e não é por
NÃO ME FALE DAS FLORES: UM BREVE ENSAIO SOBRE OS DIREITOS HUMANOS E INTERESSES ELITISTAS

acaso que essa área se encontra em apuros. A verba para a educação no Brasil não é suficiente e
mesmo se fosse encontraria abrigo nos bolsos dos políticos sem escrúpulos. Não é mistério também o
111
“emburrecimento” da sociedade. Os canais de televisão só oferecem futilidades para o grande público.
A televisão foi criada para vender produtos e fazer o cidadão acreditar que precisa deles. O indivíduo
é moldado para que pense de acordo com o que lhe é imposto pela sociedade. Sem uma educação
de qualidade e sendo bombardeado diariamente por tolices, os cidadãos tornam-se escravos de seus
desejos e não podendo atendê-los, alguns até jogam-se ao crime.

Edward Bernays já dizia que a maioria das escolas são centros de treinamento para a estupidez e
conformidade. A própria educação se modificou de uma maneira em que hoje o importante não é o
processo, mas a finalidade. Não é relevante ter o conhecimento em si (dentro da instituição de ensino),
mas obter o diploma, o papel que certifica que você foi instruído em um certo assunto. A mentalidade
de ter sucesso nos deixou de olho na finalidade, no que terei em retorno e não no processo em si.

John Dewey, filósofo e pedagogo norte-americano dizia que educação e aprendizagem são processos
sociais e interativos e os alunos deveriam estar em um ambiente em que fossem permitidos
experimentar e interagir com o currículo, em vez de simplesmente se confinarem em uma sala
recebendo informação. Eles participariam de sua própria aprendizagem. Dewey discutiu sobre a
democracia e reformas sociais. Dizia que devia-se ir a escola não somente para obter conhecimento,
essa não era a única finalidade, mas sim aprender a viver, não limitar-se a adquirir habilidades, mas
sim descobrir seu potencial e utilizar isso para o bem maior. Ele afirmava que o papel do professor
seria de um facilitador e guia. O professor não está na escola para impor certas ideias ou criar certos
hábitos na criança, está ali como membro da comunidade para selecionar as influências que afetarão
a criança e para auxiliá-la em responder de maneira eficiente a essas questões. Assim, o professor
se torna um parceiro no processo de aprendizagem, guiando os estudantes de forma independente a
descobrir o significado da área estudada.
Noam Chomksy, discursando sobre o ensino, tomando como exemplo John Dewey, declarou que uma
educação decente criaria seres humanos livres, independentes e criativos. Ela tem que permitir que
o homem siga seus instintos naturais. O que é natural nas crianças é arrancado à força pelo sistema
educacional, tornando-as obedientes e subordinadas. Um sistema educacional decente permitiria
que esses aspectos naturais da natureza humana florecesse, além de os encorajar. Este sistema seria
parte do desenvolvimento de uma sociedade livre e democrática participativa. Mas é claro que isso é
contrário aos interesses da elite. É importante lembrar que os EUA não foram fundados para ser uma
sociedade democrática e as elites não desejam que fosse.

Demandaria ser o que cientistas políticos chamam de “poliarquia”, um sistema basicamente de decisões
elitistas e ratificação pública. Se esse sistema educacional a que Dewey dedicou a sua vida tivesse
sido implementado, essa poliarqui não seria sustentável, pois as pessoas seriam ativas, envolvidas e
comprometidas e tentariam criar uma verdadeira sociedade democrática funcional que necessitaria,
como Dewey tinha apontado, de uma democracia industrial, o que quer dizer democratizar a produção,
comércio e etc. Consiste em eliminar toda a estrutura hierárquica capitalista. Seu posicionamento
estava conectado com os interesses da população (Main Street America), mas era visto como radical
do ponto de vista da doutrina predominante. Dewey disse que caso seus anseios não fossem realizados,
a política continuaria a ser o que ele denominava de “a sombra projetada pelas empresas sobre a
sociedade” (the shadow cast by business over society) e o sistema de educação seria um sistema de
doutrinação e controle.

Para ensinar uma matéria como direitos humanos e obter um resultado consistente, é preciso enxergar
os obstáculos que impedem o seu avanço e essas barreiras precisam ser desmontadas. Trata-se de
debilitações que impedem a sociedade de evoluir. Somos literalmente dirigidos por pessoas desprovidas
de senso de comunidade, homens que não se importam com outra coisa além da sua vontade de
lucrar. Vivemos em uma sociedade corrupta, que segue rumo à deterioração. Se colocamos a História
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

em perspectiva, vemos que os fatos se repetem. Quando a tolerância de uma sociedade se esgota,
112 ocorre uma implosão, e tudo que mantinha a sociedade em pleno funcionamento se despedaça. Em
momentos de grande sofrimento e agitação social encontra-se a gênese. Nesse exato momento uma
sociedade pode dar um passo para frente ou para trás. Essa gênese pode ser interpretada em datas
como 1776, 1789 e 1917. Quantas vezes, no Brasil, esses períodos de gênese foram manipulados por
grupos economicamente mais “relevantes”? Com relação à própria Independência, que mudanças
ocorreram na transição do governo português ao de Dom Pedro I para a melhoria da população? Na
Revolução Francesa, de líderes como Robespierre a Napoleão, é fácil entrever mudanças repentinas
e interesseiras que revoluções podem produzir. O problema consiste no rumo em que uma gênese
possa seguir.

Seria desejoso pensar que uma simples prece pudesse fazer com que esse momento de inquietação
social encontrasse seu rumo mais justo, mais digno para todo um povo. Quando o Brasil se declarou
uma República, que diferença sentiu sua população? Que trouxeram os governos repetitivos para
mudar a nação? Estagnação social! Foi necessário uma guerra mundial para que esses aproveitadores
perdessem seu palanque e finalmente permitissem que indústrias surgissem no país! A raça humana
tem um vasto potencial, mas é barrada por míseros seres humanos que não permitem que a humanidade
se transforme no que o grande John Dewey imaginou, pois assim perderiam seu trono. Com tamanha
injustiça envolvendo nosso mundo, trabalhadores do direito deveriam posicionar-se para promover
a justiça. Os obstáculos são os mecanismos do mundo consumista que constantemente servem para
desfocar a atenção e aguçar os desejos, e, dessa forma, tornar o homem comum incapacitado para
distinguir o certo do errado.

Temos hoje um governo que estranhamente faz lembrar Luís XVI e Maria Antonieta. Esperemos que
a cobiça dos ricos ultrapasse o seu bom senso, se é que essa clase social reconhece tal palavra. Dessa
forma a história se repetirá mais uma vez e quem sabe essa oportunidade não seja desperdiçada.
Permaneço então ansioso, esperando ouvir mais uma vez aquela famosa frase ‘aux armes citoyens’!

REFERÊNCIAS

BERNAYS, Edward L. Propaganda. 20ª, London: Ebook, 2013.

B’TSELEM. The Israeli Information Center for Human Rights in the Occupied Territories:
torture and abuse under interrogation. Disponível em: <http://www.btselem.org/torture/201308_
etzion>. Acesso em: 1 set. 2013.

CARLIN, George. It´s bad for ya! 2008. Disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=gaa9iw85tW8>. Acesso em: 6 set. 2013.

COLLATERAL MURDER. Vídeo exposto por Bradley Manning. Disponível em:


<http://www.youtube.com/watch?v=Yw442y2fTeU>. Acesso em: 1 set. 2013.

CHOMSKY, Noam. The Stony Brook Interview. 2003. Disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=uZFuOZ0yTNM>. Acesso em 4 set. 2013.

ESTÊVÃO, Carlos V. Direitos humanos e educação para uma outra democracia.Ensaio: aval.pol.
públ.Educ. [online]. 2011, vol.19, n.70, pp. 9-20.

GADAFFI, Muammar. Discurso nas nações unidas em 2009. Disponível em: <http://www.youtube.
com/watch?v=YuMTzyxAuzs>. Acesso em: 4 set. 2013.
NÃO ME FALE DAS FLORES: UM BREVE ENSAIO SOBRE OS DIREITOS HUMANOS E INTERESSES ELITISTAS

FARRAKHAN, Louis. Discurso para “Nation Of Islam”. 2013. Disponível em: <http://www.
youtube.com/watch?v=ODegqpM7usw>. Acesso em: 3 set. 2013.
113

FARRAKHAN, Louis. Entrevista ao WVON The Talk of Chicago The Cliff Kelley Show. 2011.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=bPqmoyU6v5w>. Acesso em: 2 set. 2013.

INNOCENCE LOST. Testemunha e veterano da guerra no Iraque. 2010. Disponível em: <http://
www.youtube.com/watch?v=3ihPGtcHjNk>. Acesso em: 2 set. 2013.

IRAQ VETERANS AGAINST THE WAR. 2011. Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=c-8C-rs8Jh4>. Acesso em: 2 set. 2013.

GADDAFI, Jamahiriya de. O Estado das Massas. 2009. Disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=K7rfEhtspC8>. Acesso em: 5 set. 2013.

OLIVEIRA, Manfredo Araújo de et al. Direitos humanos no diálogo entre os campos de conhecimento.
R.Katál., Florianópolis, v.14, n.2, p. 147-149, jul./dez. 2011.

PRESS TV. 2013. Disponível em: <http://www.presstv.ir/detail/2013/08/27/320752/hrw-urges-


israel-to-end-demolitions/>. Acesso em: 2 set. 2013.

PRESS TV. 2013. Disponível em: <http://www.presstv.ir/detail/2013/09/01/321573/over-800-killed-


in-iraq-in-august-un/>. Acesso em: 1 set. 2013.

PRESS TV. 2013. Disponível em: <http://www.presstv.ir/detail/2013/08/27/320688/israeli-group-


publishes-revelatory-report/>. Acesso em: 2 set. 2013.

RT RUSSIA TODAY. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=GuqZfaj34nc>. Acesso


em: 2 set. 2013.

THE CORPORATION. 2004. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=Y888wVY5hzw>.


Acesso em: 2 set. 2013.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

114
BRASILEIRAS EM PORTUGAL NO PROCESSO MIGRATÓRIO E DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

115

BRASILEIRAS EM PORTUGAL NO PROCESSO


MIGRATÓRIO E DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

Ana Manuela Santos Conceição1


Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti2

“Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. [...] devem agir umas com
as outras com espírito de fraternidade”.

ARTIGO 1º DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1948.

RESUMO

A crise de 2009 afetou a economia do mundo, inclusive da Península Ibérica. Deste modo, algumas medidas
para “aliviar” a crise financeira foram se desenvolvendo e assuntos como: Migração, Comércio Sexual,
Tráfico de Mulheres, Prostituição, Exploração Sexual ilegal e Deportação ganharão destaque em nossa
pesquisa. Temas estes levantados mediante publicações contidas nos mais respeitados jornais de Portugal
e Brasil. Quem são estas pessoas, quais são suas intenções ao migrarem para Portugal? Quais são as suas
condições de vida e trabalho no país desconhecido? Como a mulher brasileira é representada? Quais são os
estereótipos e a forma de tratamento que recebem por parte do Estado e Sociedade Civil? Nosso objetivo é
detectar as representações transmitidas por essas mídias (portuguesas e brasileiras, entre os anos de 2009
a 2012) sobre as mulheres brasileiras e as circunstâncias de vulnerabilidade que levam essas mulheres a
tornarem-se vítimas /cúmplices de redes mafiosas. Realizamos um levantamento de imprensa digital (Brasil e
Europa), como também referências documentais e bibliográficas.

PALAVRAS-CHAVE: Migração. Comércio Sexual. Tráfico de Mulheres. Prostituição. Exploração Sexual.

1
Aluna do curso de História da Universidade Católica do Salvador. Bolsista de Iniciação Científica (Fapesb).
Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Juventudes, Culturas, Identidades e Cidadania - NPEJI/
UCSAL. E-mail: anasancon2012@gmail.com.
2
Pós-doutorado em Humanidades pela Universidade de Salamanca, Espanha. Professora de Graduação e Pós-
-Graduação da Universidade Católica do Salvador e Professora da Faculdade Ruy Barbosa. Co-coordenadora
do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Juventudes, Culturas, Identidades e Cidadania - NPEJI/UCSAL.
E-mail: vanessa.cavalcanti@uol.com.br.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

ABSTRACT
116
The 2009 crisis affected the economy of the world, including the Iberian Peninsula. Thus, some measures to
“alleviate” the financial crisis was unfolding and subjects like Migration, Trade Sexual Trafficking in Women,
Prostitution, Sexual Exploitation and Illegal Deportation gain prominence in our research. Issues raised by
these publications contained in the most respected newspapers in Portugal and Brazil (2009/2012). Who are
these people, what are their intentions to migrate to Portugal? What are their conditions of life and work in the
unknown country? As the Brazilian woman is represented? What are the stereotypes and the kind of treatment
they receive from the State and Civil Society? Our goal is to detect the representations conveyed by these
media (and Brazilian Portuguese, between the years 2009 to 2012) on Brazilian women and circumstances
of vulnerability that lead these women to become victims / accomplices to criminal networks. We conducted a
survey of digital media (Brazil and Europe), as well as documentary and bibliographical references.

KEYWORDS: Migration. Trade Sexual Trafficking in Women. Prostitution. Sexual Exploitation.


BRASILEIRAS EM PORTUGAL NO PROCESSO MIGRATÓRIO E DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

INTRODUÇÃO
117
O ano de 2009 foi marcado por mais um ápice da crise econômica que abalou vários países,
principalmente os que constituem a Península Ibérica e observam contestações, quebra de direitos
sociais e fortes planos de austeridade. Com dívida externa, PIB em baixa, falta de investidores,
desemprego, redução de salários e subsídios, o descontentamento popular é geral. Para tentar combater
a crise, o governo de Portugal adotou medidas que nem sempre agradam a todos, como por exemplo:
cortar quatro dos quatorzes feriados nacionais por tempo determinado de cinco anos.

Mesmo com a Troika a adiar por um ano a exigência de redução do défice abaixo de 3%, os
portugueses vão ter de suportar em 2013 mais cortes do rendimento: [...] Um aumento da
carga fiscal ao nível do IRS-Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, e um corte
adicional das pensões dos aposentados do sector público. (PUBLICO P, 08 de mar. 2012).

E como não poderiam faltar, medidas mais específicas para o imigrante, conhecida como a “Diretiva
da Vergonha” ou Diretiva do Retorno, adotada pela União Europeia, medida que expõe claramente o
“direito” pela hostilidade das autoridades contra o imigrante ilegal. As últimas décadas foram austeras
para os imigrantes, inclusive com deportações e programas de incentivo ao retorno.

A incorporação na lei portuguesa [...] constitui um retrocesso imposto pela Europa de Sarko-
zy e Merkel, [...] esta diretiva “foi criticada mundialmente, inclusive por vários governos e
pela Igreja Católica, como contraditória aos melhores valores civilizacionais europeus e uma
flagrante violação à Dignidade da Pessoa Humana e aos Direitos Humanos. (ESQUERDA.
NET. 1 de abr. 2012).

Mas, não foi só o governo quem encontrou meios indesejáveis para conter a crise. Outro tipo de
comércio tem se favorecido, mediante as “circunstâncias”, de ser muito lucrativo dentro do comércio
ilegal. É o tráfico e exploração de seres humanos, um grande problema nos países do mundo todo,
principalmente os mais afetados pela crise, incluindo Portugal. Existem dois tipos de migrações: a
primeira é motivada pelo fator intelectual do indivíduo, de enriquecer culturalmente o seu conhecimento
sobre lugares diferentes do que nasceu e viveu por grande parte da sua vida, alguns até históricos.

A segunda é uma necessidade de sobrevivência básica, migrações motivadas por catástrofes da


natureza, estações climáticas ou por simples ausência de emprego, uma vulnerabilidade (econômica
e, sobretudo, social). Todas são fatores contribuintes para uma melhoria nas condições de vida, seja
intelectual ou por preservação da própria espécie. Porém, a questão que abrange a busca por trabalho,
envolve a dignidade humana em querer aliviar a sua situação de pobreza, migrando para outro local,
em casos que o próprio Estado ao qual está subordinado não exerce o papel de lhe oferecer os direitos
básicos para a sua sobrevivência. Podemos observar como que a crise econômica em determinados
países interfere na justiça social de uma sociedade e no bem-estar de seus cidadãos. Atualmente,
a Península Ibérica vive um processo de inversão migratória, inclusive incentivada pelos próprios
Estados.3

No decorrer da história os migrantes sempre foram designados a trabalhos secundários em fábricas,


fazendas e construção civil. Mas com a era da automatização robótica, fim dos anos 70, muitos
imigrantes perderam suas possibilidades de melhoria de vida, a sua força de trabalho, fora trocada por
uma única máquina, com capacidade de substituir dois ou mais funcionários como ele. O imigrante
tornou-se mais um concorrente no banco de oportunidades para emprego nas localidades internacionais,
criando inclusive revanchismos e reações xenofóbicas. E para as políticas de imigração, um alvo para

3
Até os anos 2000 o foco migratório foi ascendente. Com a crise econômica em especial a partir de 2009 há
uma confluência emigratória e programas de estímulos ao “retorno” para estrangeiros, muitas deportações e
migrações “forçadas”.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

ser contido no controle entre as fronteiras. Sobretudo, a própria crise se encarrega de diminuir o fluxo
118 de imigrantes nesses países, dadas as dificuldades encontradas por eles para se manterem e, algumas
vezes até, humilhações que sofrem longe de casa.

Passando a existir o inverso, o retorno a seu país de origem as chamadas “Ondas Migratórias”
(PEIXOTO; EGREJA, 2012, p.265). A migração é um motivo de desequilíbrio, diferenças, explorações
e ataques de xenofobia entre pessoas dos países desenvolvidos. Tem se “justificado” por conta da crise
econômica e instabilidade política em diversas nações e hoje tornou - se um “mal” das sociedades
desenvolvidas economicamente. Uma lacuna não cumprida no principio constitucional de 1988 em
que diz “construir uma sociedade livre, justa e solidária” (BRASIL CF, 1988, art. 3, Inc. I).
Em Portugal, a situação não é diferente, sem o apoio do governo e de instituições especializadas,
alguns imigrantes que persistem se debruçam nos “laços fracos”.

Para obter trabalho, mantendo contato através de redes sociais4 informais compostas por conhecidos,
portugueses e brasileiros que vivem em Portugal. É uma rede que não se contém em divulgar
informações, oportunidades e/ou meios para conseguir empregos, como por exemplo, orientação
sobre algum local que precise de mão-de-obra. Obtendo a orientação, o imigrante por si só, vai à
procura do trabalho. Apesar da crise, se comparada com outros países do “terceiro mundo”, a Europa
ainda é um horizonte na vista de muitas pessoas com baixa qualificação educacional e profissional.

As imigrações ilegais surgem como uma contra resposta a essa barreira política de dificuldades
impostas. Neste cenário, há o aparecimento dos “sem-papéis” 5.

O Tribunal de Instrução Criminal decretou hoje a prisão preventiva de três dos seis arguidos
detidos na terça-feira numa operação do SEF que desmantelou uma rede internacional de
auxílio à imigração ilegal, informou hoje o Ministério Público. [...] O grupo dedicava-se
desde 2009 à legalização de imigrantes com recurso a métodos ilícitos, como a obtenção de
autorizações de residência através de falsos contratos de trabalho e da falsificação de docu-
mentos necessários. Aos imigrantes que recorriam a esta rede para obterem a legalização no
país eram cobrados valores que podiam chegar aos oito mil euros, segundo a PGDL. (EX-
PRESSO, 16 de jun. 2011).

Pagar alto e em euros pela legalização possa ser talvez, o mínimo de transtorno sofrido pelo imigrante.
Há situações em que o “legalizar” fica valendo apenas e somente como promessa:

Essa operação foi o culminar de uma investigação do SEF6 que durou mais de um ano e apu-
rou que dezenas de mulheres passaram por esta organização, muitas delas traficadas, outras
que se prostituíam por iniciativa própria mediante uma promessa de legalização em Portugal.
(EXPRESSO, 14 de Jun. 2011).

Se para os homens, a exploração é feita através da sua força de trabalho; para as mulheres, disponíveis
estão, esses mesmos serviços secundários e também a prostituição com ou sem a intenção da mulher
imigrante, esta acaba sendo uma saída temporária para a falta de dinheiro e/ou permanência no exterior.
Existe uma grande diferença entre exploração sexual e prostituição. No primeiro caso, a exploração, a

4
O que antes, a obtenção de um trabalho, era intermediada pela família do imigrante, hoje se ocasiona (com a
ruptura antiga e reconstrução de novos vínculos) através dos laços fracos, são os contatos adquiridos em co-
munidades na internet, usando as redes sociais como novos recursos para informação sobre uma possível vaga
de emprego.
5
Nome dado aos imigrantes não regularizados os que não conseguem o visto de residência. Eles conseguem o
trabalho através de documentos falsos (comprados em euros) ou de terceiros - Existem quadrilhas especializa-
das em “legalizar” a situação dos imigrantes.
6
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, abreviado SEF, é um serviço de segurança, com objetivos de controlar
a circulação de pessoas nas fronteiras, a permanência e atividades de estrangeiros em território nacional, que
pretende dar execução à política de imigração e asilo de Portugal, de acordo com as disposições da Constitu-
ição e da Lei e as orientações do Governo.
BRASILEIRAS EM PORTUGAL NO PROCESSO MIGRATÓRIO E DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

vítima do tráfico se personifica quando há um aprisionamento em seu posto de “trabalho” por motivos
de dívidas, violência e retenção de documentos, é a mulher – ou homem - obrigada (o) a manter
119
relações sexuais com diversos homens várias vezes ao dia, estando com sua liberdade confinada
(um princípio básico de direito) e há casos em que, para aguentar a rotatividade de clientes, algumas
fazem (e ou são forçadas a fazer) o uso de drogas, causando à posteriori uma dependência química,
agravando ainda mais a sua condição de vítima. Destarte, a pessoa sai de sua condição de ser- humano
e torna-se uma mercadoria. No segundo caso (a prostituição), a mulher possui liberdade para escolher
o horário, o tipo e a quantidade de clientes em que deseja “trabalhar”.

A depender do “ponto de vista” a prostituição ganha sentidos diferentes, tanto para o lado positivo,
quanto negativo. Para algumas profissionais do sexo, por exemplo, não há na sua prostituição
indignidade alguma. “... simplesmente uma atividade que se inscreve no direito das mulheres disporem
do seu corpo, incluindo a prestação de serviços sexuais” (SANTOS, 2009. p. 78.)

Para Anna Hedh (europarlamentar sueca e feminista que apoia a campanha do LEF - Lobby Europeu
de Mulheres (sigla em francês).

A prostituição constitui uma violação fundamental dos direitos humanos das mulheres, é
uma forma de violência masculina [...] Além disso, também é um elemento importante da
escravidão moderna na Europa, o tráfico humano. Se conseguirmos uma sociedade livre de
prostituição e de exploração sexual de mulheres e meninas, também ficaremos livres de uma
grande parte do tráfico humano na UE. (MACKENZIE, 2012).

A concretização do sonho épico também está no imaginário de muitas mulheres, a busca por um
marido estrangeiro que garanta sua permanência num rico país através de um casamento e assim,
alivie a pobreza. Podendo retornar (ou não) ao seu país de origem numa situação bem melhor, é a
chamada migração econômica (FERRAZ, 2008). Mas, o que estas mulheres não imaginam é que
podem cair num esquema de tráfico e exploração e se tornarem reféns de seus próprios anseios, como
escravas sexuais. O que está contido na pobreza é o que torna um dos primeiros fatores que motivam
a migração, a vulnerabilidade proveniente de motivos econômicos e sociais, gênero e etnia. “São
mulheres entre 17 e 25 anos, de classe popular, baixa escolaridade e qualificação profissional, muitas
possuem filhos (como mães solteiras) e/ou ajudam a família no sustento da casa” (RODRIGUES,
2013).

É no país de destino, quando o traficante se apossa de seus documentos é lá que ela torna-se vítima.
Como estratégia dos traficantes, retirar a documentação das imigrantes faz parte do primeiro passo
para assegurar a vulnerabilidade do indivíduo e garantir a subordinação perante o novo “serviço”.

... tratando da obtenção de todo o tipo de documentos e meios necessários para a deslocação
dos clandestinos, [...] Uma vez chegados ao destino, os grupos criminosos continuam a con-
trolar a situação dos imigrantes, se necessário, através da força física e coação psicológica,
[...] e de ameaças às famílias (PEIXOTO, 2005. p.123).

A prostituição se espalha por diversos locais em Portugal. Em ruas dos principais centros urbanos,
bares, clubes, apartamento, e até nas autoestradas7. “Aqui a prostituição é ponto de passagem. Porque
nós estamos muito bem servidos pela autoestrada, estamos a 70 km do Porto e estamos a 250 de Lis-
boa” (SANTOS, 2007. p. 214).

Os preços variam conforme for o ambiente e o nível intelectual das profissionais, sejam em automó

7
É comum em Portugal a presença de prostitutas a espera de um programa nas beiras de estradas (regiões mais
afastadas das zonas urbanas). A prostituta sente-se menos alvejada pela sociedade local, o acontecimento das
“Mães de Bragança” é lembrado com repúdio por elas.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

veis equipados para a relação ou em casas de alternes. “A prostituição espalha-se pelas estradas de
120 norte a sul do País. As rectas de Coina e Pegões, Setúbal, são muito conhecidas. Outro dos pontos é a
estrada nacional na Mealhada – Próxima a Coimbra”. (TRIGUEIRÃO. 2009).

Essas profissionais do sexo são mulheres solteiras ou divorciadas, entre os 21 e os 50 anos e com
problemas econômicos. Já não são somente as toxicodependentes que vivem da prostituição. Muitas
das jovens perderam o emprego e com a crise encontram dificuldades para se inserir no mercado
de trabalho. Outras, após se separarem dos maridos, ficaram sem renda para sustentarem os filhos.
Mesmo sob condições de escolhas, as prostitutas não estão livres da exploração e agressividade.
A violência contra mulheres de programas (lenocínio) continua um problema constante e a justiça
portuguesa impôs penas duras para os acusados,

As penas entre 12 anos e sete anos e meio acabaram de ser ditadas pelo juiz Raul Cordeiro
[...] As penas aplicadas pela exploração violenta de prostitutas são acima do que solicitou o
próprio Ministério Público durante as alegações finais. (EXPRESSO. 7 de out. 2011).

Em maioria, os chamados arguidos, são agressores que cobram taxas de “proteção” para as prostitutas.
As que não pagam, são intimidadas com ameaçadas de violências físicas e psicológicas nas próprias
ou em seus filhos. Para além das ameaças, as prostitutas estão submetidas também ao risco de morte
por assassinato, os requintes de crueldades com as vitimas, são diversos. Em junho de 2012, em
Portugal, foi anunciada a morte de uma prostituta brasileira dentro do seu próprio apartamento, o
local de “trabalho”.

Ao abrirem a porta depararam-se com a brasileira de 53 anos deitada na cama, com pés
e mão amarrados, o corpo ensanguentado e a zona da cabeça carbonizada. Estava morta
há várias horas. [...] O caso está a ser investigado pela secção de homicídios da Polícia
Judiciária de Lisboa. (RODRIGUES, 2012).

Um estudo realizado na cidade do Porto constatou que quase metade (44 por cento) das prostitutas de
rua que participaram da entrevista tentaram suicidar-se, algumas mais do que uma vez, taxa mais de
cem vezes superior à estimativa entre a população geral.

Atendendo a que o número de suicídios em Portugal é de 9,6 por cada 100 mil habitantes/
ano e que os cientistas calculam que por cada suicídio consumado haja outras 30 tentativas,
contas feitas pela Lusa levam ao número provável de 28.800 tentativas anuais no país e uma
taxa de 0,28 por cento. Quando comparados, os dados recolhidos por Alexandre Teixeira
indiciam uma taxa de suicídio tentado entre o universo de prostitutas inquirido mais de 170
vezes superior à estimativa do que ocorre entre a população portuguesa em geral. (DIÁRIO
DE NOTÍCIAS PORTUGAL. 10 de set. 2011).

Em plena mundialização, regida por um sistema capitalista, tudo o que gira em torno do lucro é tra-
tado como mercadoria, neste caso, a força de trabalho e o corpo de alguém. O vício do consumismo
contaminou a sociedade contemporânea, capitalista em sua existência, as pessoas necessitam usar e
criar formas (como cliente8 ou como patrão) de sobre-exploração do indivíduo para manter o fluxo
do capital e consequentemente com isto, continuarem consumindo. É de grande interesse de alguns
empregadores manterem um funcionário imigrante por que este representa uma mão-de-obra barata e
flexível. Começou com a escravatura e posteriormente, no que podemos notar nos dias de hoje, com
o tráfico de imigrantes e as mulheres, em grande maioria, são aliciadas para atuarem no comércio
sexual ilegal.

Há ainda uma interligação significativa entre o tráfico de pessoas e os processos de


globalização – por um lado, melhores meios de comunicação e transporte facilitam o tráfico,
8
“Eles combinam entre si e colocam as ‘meninas’ a rodar nas diferentes casas”. Este sistema de ‘rodízio’ per-
mite que os clientes tenham sempre caras novas. Expresso. Prostituição: Filhas de Bragança. 2008. Disponível
em:< http://expresso.sapo.pt/filhas-de-braganca=f306413 #ixzz2Bqhisqm8.>. Acesso em: 10 nov. 2012.
BRASILEIRAS EM PORTUGAL NO PROCESSO MIGRATÓRIO E DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

e, por outro, a globalização é um dos principais motores do crescimento da indústria global da


prostituição (Mameli 2002: 69), tradicionalmente o principal mercado do tráfico (PEIXOTO, 121
2005. p. 34).

Esse comércio de explorar pessoas para a obtenção de lucros é derivado do capitalismo, a máfia não
precisou “entrar em crise econômica” para ter que praticar este “novo” crime de explorar os homens,
mulheres e crianças. A exploração é a escravidão da modernidade, é o meio mais fácil e ilícito de se
obter lucros a investimento zero, somente á custo de outrem. O aliciamento é feito tanto por pessoas
próximas das vítimas (parentes, namorados e amigos) quanto por estranhos, que se aproveitam da
vulnerabilidade econômica e social, com ofertas de emprego em casa de família, estabelecimento
comercial e até mesmo, locais específicos para as que querem se prostituir. Porém, sem nenhum alerta
sobre as condições de trabalho que serão submetidas neste serviço.

Quanto aos traficantes, atuam a dois níveis, um mais organizado, com estrutura hierárquica,
onde se inserem as máfias de Leste, e outro mais artesanal, constituídos por três ou quatro
indivíduos, mais ligados ao tráfico de jovens brasileiras e africanas. São, na sua maioria, ho-
mens entre os 30 e 40 anos, havendo envolvimento de portugueses, que assumem o papel de
donos, transportadores e seguranças, mas há também mulheres envolvidas no recrutamento,
na exploração e também no controle. (EXPRESSO, 7 de fev. 2008).

É notável a presença de mulheres no aliciamento9, algumas podem ser vítimas aliciadas, que para a
quitação de sua dívida tenha que aliciar outras novas garotas. A intenção é sempre a mesma, de con-
quistar a confiança da vítima e garantir a mercadoria para o comércio. Há casos também de homens
que para obter o mesmo propósito, passam-se até por atenciosos namorados. As redes criminosas
possuem diferentes ramos de atuação (abaixo), esta estratégia proporciona às autoridades locais uma
dificuldade à mais na captura e identificação dos criminosos:

Em entretenimento (como: prostíbulos, agências de acompanhantes, casas de massagem,


casas de shows, danceterias, boates, bares, restaurantes, lanchonetes, motéis e barracas de
praia); Agências de modelos, de emprego (para empregadas domésticas, babás, acompa-
nhantes); de viagens (dançarinas, atrizes e cantoras); de casamento; de turismo (hotéis, spas
/ resorts, empresas de táxi); Em produtoras de vídeos pornográficos; Serviço de sexo “vir-
tual” por telefone”. (OIT, 2006. p. 56).

Os esforços necessários, ou seja, a informação precisa ser dirigida ás camadas mais pobres da socie-
dade, recentemente oito brasileiras (dentre as 40 vítimas do tráfico sexual) foram libertadas em numa
ação da polícia federal brasileira juntamente com a europeia devido a uma denúncia anônima feita por
uma telespectadora, de uma novela que aborda o tema. Na Bahia um casal aliciou cinco garotas com
promessas de emprego na Europa.

A maioria das mulheres exploradas sexualmente em Portugal. São jovens brasileiras e de Leste
até aos 35 anos, provenientes de contextos sociais fragilizados, classes baixas e com filhos. [...]
A tendência, é para as brasileiras e as de Leste serem colocadas “em prostituição abrigada” e
de luxo e as africanas e romenas nas ruas. (EXPRESSO. 7 de fev. 2008).

Em visita ao Cônsul Geral de Portugal - Sr. José Manuel Lomba -, na Bahia, o mesmo faz uma con-
firmação de que há uma rede de criminosos e desarticular este esquema torna-se uma tarefa muito
difícil para as autoridades:

Eles organizam-se em formato de pirâmide, onde, mesmo que o primeiro nível (nas proximi-
dades da vítima, em que há um leque maior de criminosos, inclusive brasileiros) seja desarti-
culado, haverá os outros níveis. Inclusive, quem está no topo desta pirâmide pode ser alguém
que não tenha nada á ver, em suas ocupações diárias, com o tráfico sexual.

9
Dados da Polícia Federal do Brasil revelam que as mulheres são as principais aliciadoras, recrutadoras ou
traficantes de pessoas, chegando a representar 55% dos indiciados. 
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

Em Portugal, “nem todos (os agentes) são portugueses, há pessoas de etnias diferentes que usam da
122 conveniência (e esperteza) de pertencerem à outra nacionalidade, para que seja possível, através da
migração, a fuga para diversos países sem deixar rastros após efetuarem o crime de exploração”.
Segundo a OIT, um estudo feito entre a ultima década, das 241 rotas do tráfico humano, 131 é in-
ternacional e o restante, as 110, está somente no Brasil, nos 520 municípios do País. As principais
cidades exportadoras de vítimas são: Goiás; São Paulo; Minas Gerais e Rio de Janeiro. Os principais
destinos são Europa (Espanha; Portugal; França e Itália) e nos E.U.A. (OIT, 2006. p. 49). Portugal
tem se tornado um dos grandes países da Europa receptores deste comércio ilícito de tráfico de mu-
lheres brasileiras. Facilitado tanto pela praticidade da comunicação quanto por acordos políticos de
migração entre governos.

A entrada das cidadãs brasileiras é facilitada pelo Tratado de Amizade, Cooperação e Consul-
ta entre a República Portuguesa e a República Federativa do Brasil, aprovado pela Resolução
da Assembleia da República n.º83/2000, de 14 de Dezembro, que no artigo 7.º estabelece
a isenção de visto para cidadãos portugueses e brasileiros para estadas com fins culturais,
empresariais, jornalísticos ou turísticos não superiores há três meses (SANTOS, 2007. p. 68).

A cultura, a religião, os interesses políticos, o tradicionalismo patriarcal (HOBSBAWM, 2006) enrai-


zado na diferença entre gênero quebra importantes princípios dos direitos humanos e os enfraquece.
Como poderemos saber se os direitos humanos chegarão a estas mulheres vitimadas pela escravidão
sexual? Privadas de sua liberdade e de informações que sustentem a elas a certeza de que existe direi-
tos e garantias específicas para a sua condição de vítimas. Não dá para saber se o sofrimento sentido
por estas pessoas que foram enganadas terá um fim, só até onde sabemos é que os responsáveis por
essas frustrações apenas terão comprometidos no máximo oito anos de sua vida em reclusão. Em
Portugal, com o objetivo de prevenir e reprimir a ação das organizações que se dedicam ao tráfico de
pessoas, a República Portuguesa e a República Federativa do Brasil assinaram em Lisboa, em 11 de
Julho de 2003, um acordo de cooperação para a prevenção e a repressão do tráfico ilícito de migran-
tes. Um dos princípios que a União Europeia destaca no seu processo penal para as vítimas imigrantes
é o direito de serem acolhidas e tratadas com respeito:

As vítimas de tráfico, exploração sexual e prostituição forçada devem ter a possibilidade


de se mudarem para centro de acolhimento especialmente criado para o efeito. No caso
de algumas destas vítimas serem imigrantes ilegais, deverão ser tratadas humanamente de
acordo com as leis do país em causa e com respeito pelos direitos humanos. (CONSELHO
DA UNIÃO EUROPÉIA).

De acordo com a entrevista para o jornal Expresso, o escritor Aaron Cohen - Autor e ativista de di-
reitos humanos, especializado em tráfico de seres humanos - define que Portugal não seja um bom
exemplo de combate ao crime sexual.

Portugal deve fornecer informação acerca das sentenças que são proferidas contra os cri-
minosos. Deve identificar as vítimas junto de ONG qualificadas que poderão cuidar delas.
E deve utilizar as sugestões das ONG para identificar potenciais vítimas. [...] Portugal ne-
cessita de educar os clientes que compram sexo. Se as forças de segurança e os legisladores
não estiverem conscientes de como tudo isto afeta os direitos humanos, será difícil vermos
o progresso necessário para o combate ao tráfico humano. Portugal tem leis que proíbem o
tráfico de pessoas para exploração sexual e laboral. No entanto, as leis não levam à penali-
zação dos criminosos nem à proteção das vítimas. Os governantes portugueses não apostam
na formação de prevenção anti-tráfico específica para militares e polícias. Gostaria de saber
se existem investigações éticas internas relativas a suspeitas de corrupção nas embaixadas
dos países de onde as vítimas são originárias (COHEN, 2011).

A deportação é o “meio” encontrado pelas autoridades de diversos países para enviar ao País de ori-
gem os imigrantes em situações de ilegalidade. Não é errado deportar, ilegal são as condições em
que o imigrante é submetido até o momento em que a deportação não é efetivada. São necessárias
BRASILEIRAS EM PORTUGAL NO PROCESSO MIGRATÓRIO E DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

políticas públicas que assegurem os direitos humanos desses imigrantes em situações de deportados
e inadmitidos.
123

... a falta de vontade política e de recursos materiais e a corrupção no controle de fronteiras


e na aplicação de políticas de imigração restritivas associada a uma falta de legislação ade-
quada sobre o tráfico e de cooperação interna e internacional, fazem com que o tráfico de
migrantes seja uma atividade com baixo risco de detecção, investigação e prisão, em com-
paração com outras atividades ilícitas, como o tráfico de armas (PEIXOTO, 2005. p.109).

Obedecendo aos princípios políticos estabelecidos pela ONU, de acolhimento e integração de


imigrantes, o governo de Portugal disponibiliza - Através do CNAI (Centro de Apoio ao Imigrante)10 -
informações sobre diversos assuntos relacionados à: Migração; Serviço de Estrangeiros e Fronteiras;
Segurança Social; Condições de Trabalho juntamente com os Ministérios da Saúde; Educação e
Ciência e Registros Gerais. Atualmente, são feitos mais de três milhões de atendimentos. Contudo, o
problema do tráfico de imigrantes para a exploração continua.

Em 2010 iniciou campanha nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Mulheres, onde lançou uma car-
tilha intitulada de “Passaporte para a Liberdade (Dicas para viajar com segurança)” 11 uma importante
ferramenta no combate ao tráfico de pessoas e a oportunidade de regularizem a sua condição de imi-
grante ilegal no país. E em 2013, será decidido um plano com 115 metas contra o tráfico internacional
de pessoas, dentre essas metas estão as seguintes medidas:

... a perda de bens dos envolvidos em tráfico de pessoa, revertendo-os para atendimento às
vítimas; sanções administrativas a empresas financiadas com recursos públicos, inclusive as
que executam grandes obras governamentais no Brasil, que tenham sido condenadas nesse
tipo de processos; a internacionalização do Disque 100 e do Disque 180 (de denúncia contra
esse tipo de exploração); a regulamentação do funcionamento de agências de casamento e de
recrutamento de pessoas; a instalação de casas-abrigo no exterior para atendimento dessas
vítimas; e o monitoramento nas grandes obras do governo de infraestrutura, mineração e
energia. (O GLOBO, fev. de 2013).

A estratégia do governo é informar a população em campanhas de conscientização e em uma rede


nacional de apoio às vítimas para estimular os brasileiros a denunciar o tráfico de pessoas, atualmente
pouco conhecido, principalmente pelas camadas sociais de baixa renda. As ações de enfrentamento ao
tráfico de pessoas não têm como prosseguir sem o apoio das seguintes áreas: De Justiça, Segurança
Pública, Relações Exteriores, Educação, Saúde, Assistência Social, Promoção da Igualdade Racial,
Trabalho e Emprego, Desenvolvimento Agrário, Direitos Humanos, Proteção e Promoção dos Direitos
da Mulher, Turismo, Cultura, dentre outras.

CONCLUSÃO

A humanidade tem desenvolvido o seu lado intelectual com o conhecimento sobre as regras de
convivência e discursos democráticos sobre liberdade e respeito em sociedade, mas as leis patriarcais,
intencionadas em assumirem um papel de ordem civil, apresentam em essência um regresso, pois
irracionalmente punem as mulheres pelos atos dos homens. Serão elas (nós) vítimas da sua (nossa)
própria existência? As mulheres sempre foram educadas, pelos seus pais, para a submissão e mantidas

10
Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (CNAI), órgão criado pela ACIDI, I.P. (Alto Comissariado para a
Imigração e Diálogo Intercultural – Instituto Público) com intuito de reunir num mesmo espaço, diferentes
serviços, instituições e Gabinetes de Apoio ao Imigrante, no seu processo de integração em Portugal.
11
Trata-se de um informativo simples de seis páginas, ao qual alerta brasileiros (as), que vão vivenciar uma
experiência no exterior, sobre este tipo de crime. Saber identificá-lo, como se prevenir se informando sobre o
local de destino, não entregar os documentos de identificação a quem quer que seja, sempre saber a localização
de consulados e embaixadas brasileiras e como ajudar uma vítima do tráfico.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

sempre em níveis mais baixos na escala social se comparados aos homens. E quando uma conquista,
124 seja por voto ou por inclusão no trabalho, era alcançada, várias outras dificuldades emergiam como
uma estratégia de exclusão social. É do encargo da família, dentro de casa, quebrarem a imposição do
silêncio que vêm sido mantida tradicionalmente, a de não educarem as meninas para serem submissas,
deste modo, em algum momento da vida delas, elas poderão se defrontar com o risco do trafico e se
submissas, não questionarão.

É de responsabilidade também da sociedade romperem o hábito de desqualificar a mulher,


principalmente se as “desqualificadas” forem brasileiras, muitas mulheres que migram e se mantém
dentro das regularidades dos países sentem-se alvejadas por insultos que as qualifiquem de maneira
pejorativa.

O Estado de forma alguma deve ficar de fora desta obrigação, prover e cuidar da dignidade humana,
executar a democracia que defenda direitos básicos de sobrevivência de todos (as). Punir os culpados
de atos de crueldade e movimentar leis de intimidação para futuros crimes. Talvez o necessário seja
uma “injeção” ou nuvem de chuva carregada de conscientização para que todos na esfera global
sejam imunizados desse mal histórico das sociedades que é o preconceito, sobre cor, etnia e sexo.

Enquanto os homens não abrirem suas mentes e enxergarem as condições de vulnerabilidade dessas
mulheres, ficará muito difícil de convencer às futuras gerações de que o século XXI foi o período de
uma sociedade evoluída se comparado as de séculos anteriores. O governo brasileiro não só tem se
importado com o assunto como também vem trabalhado por leis e políticas migratórias que façam
jus aos direitos humanos e trabalhistas de imigrantes e de brasileiros no exterior. Mas para que haja
sucesso em meios as “tentativas” é necessário compromisso com as vítimas sofridas e as vítimas em
potenciais.

Toda esta mobilização não deve ser deixada de lado após os grandes eventos esportivos em que breve
sediaremos. A concretização dos objetivos do enfrentamento ao tráfico de pessoas tem que ser uma
atitude corriqueira, constante, de pré-requisito para um país que atualmente ocupa a 7ª posição na
economia mundial e possui um potente atrativo turístico de belezas naturais.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃIO PORTUGUESA DE APOIO À VÍTIMA. Direitos Europeus das vítimas. Disponível


em: <http://apav.pt/apav_v2/index.php/pt/a-vitima-e-a-lei/direitos-europeus dasvitimas#direitosda-
vitimanoprocessopenal>. Acesso em: 07 nov. 2012.

BAHIA está na rota do tráfico de pessoas. A Tarde, 16 out. 2012. Disponível em: <http://atarde.uol.
com.br/bahia/materias/1460754-bahia-esta-na-rota-do-trafico-de-pessoas>. Acesso em: 09 nov. 2012.

TRÁFICO de pessoas para fins de exploração sexual. 2. ed. Brasília: OIT, 2006. Disponível em:
<http://www.oitbrasil.org.br/node/384>. Acesso em: 26 fev. 2013.

BUCHSER, Corinne. Estar sem papéis é como viver em uma prisão. 2010. Disponível em:
<http://www.swissinfo.ch/por/sociedade/Estarsempapeis_e_comoviverem%20uma_prisao.html?-
cid=29050242>. Acesso em: 17 fev. 2013.

BEM-VINDO ao Centro Nacional de Apoio ao Imigrante. Disponível em: <http://www.acidi.gov.


pt/es-imigrante/servicos/centros-nacionais-de-apoio-ao-imigrante---cnai >. Acesso em: 22 out. 2012.
BRASILEIRAS EM PORTUGAL NO PROCESSO MIGRATÓRIO E DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

COHEN, Aaron. Portugal não cumpre os padrões mínimos. Disponível em:< http://expresso.sapo.pt/
portugal-nao-cumpre-os-padroes-minimos=f628582#ixzz2BCVG6Srs>. Acesso em: 11 nov. 2012.
125

PROSTITUTAS são as pessoas que mais tentam suicidar-se. 10 de Set. 2011. Disponível em:<
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?contentid= 1987114&seccao=Norte >. Acesso em: 11
nov. 2012.

ASSOCIAÇÕES contra nova lei de imigração. Disponível em: <http://www.esquerda.net/artigo/as-


socia%C3%A7%C3%B5es-contra-nova-lei-de imigracao%C3%A7%C3%A3o/22571>. Acesso em:
07 fev. 2013.

PENA recorde por explorarem prostitutas com violência. Disponível em: <http://expresso.sapo.pt/
penas-recorde-por-explorarem-prostitutas -com-violencia=f678866#ixzz2BvB x7KEy>. Acesso em:
11 nov. 2012.

SEF desmantela rede internacional de auxílio à imigração ilegal. Disponível em <http://expresso.


sapo.pt/sef-desmantela-rede-internacional-de-auxilio-a-imigracao ilegal=f655537#ixzz2Az2Yu-
d9p>. Acesso em: 1 nov. 2012.

RODRIGUES, Roney. Sonho de melhorar de vida faz brasileiras escravas sexuais na Europa.
Caros Amigos, Cotidiano, 05 fev. 2013. Disponível em: <http://carosamigos.terra.com.br/index/in-
dex.php/cotidiano/3010-trafico-humano-leia-reportagem-na-integra> Acesso em: 07 fev. 2013.

PROSTITUIÇÃO: filhas de Bragança. 28 abr. 2008. Disponível em: <http://expresso.sapo.pt/fi-


lhas-de-braganca=f306413#ixzz2Bqhisqm8>. Acesso em: 10 nov. 2012.
MULHERES exploradas sexualmente em Portugal são maioritariamente brasileiras e de Leste. Dis-
ponível em: <http://expresso.sapo.pt/coimbra-mulheres-exploradas-sexualmente-em-portugal-sao-
-maioritariamente-brasileiras-e-de-leste=f236329#ixzz2BUjvTM7P>. Acesso em: 6 nov. 2012.

ESTUDOS sociais da Universidade de Coimbra, “Tráfico de Mulheres em Portugal para exploração


sexual”, realizado entre 2005 e 2007. 07 fev. 2008. Disponível em: <http://expresso.sapo.pt/coim-
bra-mulheres-exploradas-sexualmente-em-portugal-sao-maioritariamente-brasileiras-e-de-leste=-
f236329#ixzz2B C7IBGGm>. Acesso em: 03 nov. 2012.

CONTRA a crise econômica, Portugal corta quatro feriados nacionais. Disponível em: <http://g1.glo-
bo.com/mundo/noticia/2012/05/contra-crise-economica-portugal-corta-quatro-feriados-nacio nais.
html>. Acesso em: 18 out. 2012.

HOBSBAWM, Eric. Os anos rebeldes. São Paulo, s.l: s.n: 2006. Disponível em: <http://www1.folha.
uol.com.br/Fsp/mais/fs1902200607.htm>. Acesso em: 27 fev. 2013.

OPERAÇÃO planeta: 40 vítimas são libertadas do tráfico internacional. Disponível em: <http://www.
metro1.com.br/operacao-planeta-40-vitimas-sao-libertadas-do-trafico-internacional-9-26578,noticia.
html>. Acesso em: 24 fev. 2013.

GOVERNO Federal prepara pacote com 115 metas contra tráfico internacional de pessoas. Disponível
em: <http://oglobo.globo. com/pais/governo-federal-prepara-pacote-com-115-metas-contra-trafico-
internacional-de-pessoas-7655689#ixzz2NiGRS8cw>. Acesso em: 16 mar. 2013.

PEIXOTO, João et al. O tráfico de migrantes para Portugal: perspectivas sociológicas, jurídicas e
políticas. Lisboa: FCT, 2005.
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

FARIA, Ana Rita; ANÍBAL, Sérgio. Metas do défice foram aliviadas, mas Governo lança mais
126 austeridade. 2012. Disponível em: < http://www.publico.pt/economia/noticia/metas-do-defice-fo-
ram-aliviadas-mas-governo-lanca-mais-austeridade-1562662l>. Acesso em: 14 fev. 2013.

RODRIGUES, João; SILVA, Carolina Ana. Prostituta torturada e queimada em casa. Correio da
Manhã. Porto, Portugal. 16 jun. 2012. Disponível em: <http://www .cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/
nacional/portugal/prostituta-torturada-e-queimada-em-casa>. Acesso em: 12 nov. 2012

SANTOS, Boaventura de Sousa; GOMES, Conceição; DUARTE, Madalena. Tráfico sexual de


mulheres: representações sobre ilegalidade e vitimação. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 87,
dez. 2009.

SANTOS, Boaventura de Sousa; GOMES, Conceição; DUARTE, Madalena & BAGANHA, Maria.
(Coord.). Tráfico de mulheres em Portugal para fins de exploração sexual. Coimbra: CIDM, Dis-
ponível em: <http://www.ieei.com.pt/ traficodepessoas/images/documentos/traficodemulheresces.
pdf>. Acesso em: 07 nov. 2012.

TRIGUEIRAO, Sónia. Crise atira portuguesas para as estradas. Correio da Manhã, Atualida-
de, Porto, Portugal. 14 jun. 2009. Disponível em: <http://www.cmjornal.xl.pt/noticia.aspx?channe-
lid=00000009-0000-0000-0000-000000 000009&contentid=B461337A-57C3-4ED9-84F2-D4A-
8DEF39D7>. Acesso em: 10 nov. 2012.

DOCUMENTÁRIO sobre tráfico de mulheres: encantos e desencantos em rede. Pontifícia Univer-


sidade Católica de Goiás (PUC-GO) e da Universidade Federal de Goiás (UFG). TV UFG (canal 14
UHF) 2011. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=1tCOArJWZ9k>. Acesso em: 06
nov. 2012.
Normas para publicação de trabalhos na Revista Cientefico 127

Apresentação

A Revista Cientefico (ISSN: 1677-1591 (versão impressa) e ISSN: 1677-5716 (versão online)),
produzida, fomentada e editada pelo grupo DeVry Brasil, propõe-se a estimular a produção acadêmico-
científica, visando instigar a transdisciplinaridade entre as áreas de interesse das Instituições do grupo
DeVry Brasil. As diretrizes gerais da revista são definidas pelo Conselho Editorial e as sugestões,
críticas e observações efetivadas pelos leitores devem ser encaminhadas à Equipe Editorial, através
do e-mail: cientefico@devrybrasil.edu.br.

Atualmente, a periodicidade da revista é semestral, além de contar com a versão online de livre acesso
no site das IES.

I. Orientação Editorial

Os textos produzidos deverão ser originais e serão submetidos a exame pela Equipe Editorial, a quem
cabe elaborar o conteúdo do parecer e deliberar sobre a publicação.

A Equipe Editorial poderá assessorar-se de pareceristas ad hoc, a seu critério, omitida a identidade
dos autores, bem como dos respectivos avaliadores. O prazo de entrega do parecer dos avaliadores
será de no máximo três (03) meses.

As revisões necessárias serão sugeridas pela Equipe Editorial, seguindo as observações técnicas do(s)
revisor(es), e a devolução dos textos avaliados deverá ocorrer no prazo de trinta dias, pelo seu autor,
uma vez que ele tenha recebido a notificação. É permitida a reprodução parcial dos textos, desde que
citada à fonte.

II. Apresentação do Manuscrito

• Os trabalhos, digitados em Word for Windows, devem ser encaminhados a Revista Cientefico
através do e-mail cientefico@devrybrasil.edu.br. O recebimento só será considerado me-
diante confirmação por e-mail emitida pelo editor da revista;

• Os textos terão no mínimo 15 e no máximo 25 páginas em papel A4 e configuradas de modo a


apresentar margem esquerda e superior de 3,0 cm e margem direita e inferior 2,0cm, em todo
documento, em espaço 1,5 entrelinhas, justificado;

• A fonte usada deverá ser Times New Roman, tamanho 12 em estilo normal. O resumo de-
verá ser tamanho 11, em itálico, em texto corrido, sem parágrafos. E as citações deverão ser
apresentadas em tamanho 10, sendo que as citações de até 3 linhas deverão ser incorporadas
ao parágrafo e àquelas de 3 linhas ou mais sofrerão recuo de 4 cm, à esquerda, com espaço
simples e justificado.

• Não faça espaço no início dos parágrafos, deixando uma linha entre eles;

• O título do trabalho deverá ser apresentado em letra maiúscula, tamanho 12, em negrito, com
alinhamento centralizado, não devendo exceder duas linhas;
• Após o título do trabalho, inserir nome completo do(s) autor(es), alinhado à direita;

• Na primeira página, em nota de rodapé, em tamanho 11, deverão constar a titulação acadê-
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

mica e a vinculação institucional de cada um dos autores bem como o endereço eletrônico de
128 todos eles;

• Os artigos devem conter resumo com no máximo 350 palavras e de três a cinco palavras-cha-
ve. Também deve haver um resumo em língua inglesa, abstract, com a mesma quantidade de
palavras-chave neste idioma;

• Recurso tipográfico Itálico deve ser utilizado apenas para palavras e/ou expressões estrangei-
ras;

• Não deve ser incluída moldura no texto;

• Os artigos deverão conter, obrigatoriamente, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão,


Conclusões e Referências.

Vale ressaltar que, algumas áreas do conhecimento, principalmente as Humanidades não trabalham
com os títulos abaixo, apesar de representar o mesmo conteúdo, ou seja, há sim a descrição do método,
dos procedimentos de coleta quantiquali, mas em geral os pesquisadores nomeiam tais itens com
outros títulos.

a) Introdução: descrição breve do tema, objetivos e hipóteses;

b) Métodos: procedimentos científicos utilizados;

c) Resultados: descrição panorâmica dos dados levantados para propiciar ao leitor a percepção
adequada e completa dos resultados obtidos de forma clara e precisa, sem interpretações pes-
soais;

d) Discussão: argumentos convincentes e adequados como: equações, exemplos, provas mate-


máticas, estatísticas, padrões, tendências, além de dados coletados e tabelados, onde devem
ser feitas comparações com resultados obtidos por outros pesquisadores, caso existam;

e) Conclusões e/ou Considerações Finais: devem responder às questões da pesquisa, correspon-


dentes aos objetivos e hipóteses.

f) Referências: fontes de pesquisa que foram utilizadas e/ou consultadas para a confecção do
artigo.

• Os textos e as referências devem obedecer às normas da ABNT (NBR 6023 - Informação e


documentação: Elaboração de referências bibliográficas);

• As citações devem obedecer às normas da ABNT (NBR 10520 - Informação e documentação:


Citações em documentos: apresentação);

• Caso exista financiamento ou apoio o mesmo deve ser explicitado;

• Pesquisas que envolvam seres humanos serão publicadas mediante o parecer do comitê de
ética;

• Para as tabelas e desenhos devem ser utilizados os recursos apropriados do editor de texto
(Word). As equações devem ser editadas no Microsoft Equation 3.0 ou similar;
• As ilustrações, fotografia e mapas devem ser inseridas no tamanho máximo de 15x20 cm, ter
boa qualidade e no formato de arquivo jpg. Gráficos e tabelas deverão ser colocados na ocor-
rência do texto, com as respectivas indicações de localização e explicação.
129
• As notas de rodapé devem ser utilizadas, minimamente, para destacar alguma explicação e
colocadas no pé das páginas por meio de números sequenciais, seguindo as referências numé-
ricas constantes no corpo do texto.

• Os trabalhos que estiverem distintos das normas sugeridas, não serão remetidos aos pareceris-
tas, mas devolvidos aos autores para a devida adequação às normas.

• Os autores serão responsáveis pelos dados, conceitos emitidos e Referências citadas em seus
artigos.

• Os trabalhos serão submetidos, sigilosamente, à apreciação do Conselho Científico ou a re-


latores de pareceres ad hoc, sendo publicados após o parecer favorável de, pelo menos, dois
membros, de acordo com a programação a ser definida pelo Conselho Editorial, dependendo
da quantidade de trabalhos aprovados, obedecendo-se a ordem cronológica de submissão.

• Os autores receberão as informações sobre a aceitação do trabalho via e-mail pessoal.

• Os autores, dos trabalhos recusados, serão informados via e-mail pessoal.

• As possíveis sugestões dos pareceristas ou do Conselho Editorial de modificações nos traba-


lhos, serão remetidas, sigilosamente, aos autores.

• Os autores, ao submeterem os seus trabalhos, estão concordando com a Cessão dos Direitos
Autorais à Revista Cientefico, conforme disposições de veiculação e acesso livre dos leitores
aos textos, desde que citando a fonte de referência e os respectivos créditos do autor.

III. Tipos de textos acolhidos

Artigos, artigos de revisão, relato de pesquisa ou experiência, resenhas, reflexão filosófica e artigo
especial.

• Artigos: Relato de investigação. Deve conter resumo e palavras chave em língua vernácula
e estrangeira, introdução, métodos, resultados, discussão, considerações finais e referências;

• Artigo de revisão: Revisão de literatura e crítica sobre determinado tema. Deve conter resumo
e palavras chave em língua vernácula e estrangeira, introdução, desenvolvimento, considera-
ções finais e referências;

• Relato de pesquisa ou experiência: Explicitação dos passos do processo de pesquisa ou expe-


riência vivenciada;

• Resenhas: Abordagem de obras publicadas. Não é necessário resumo e palavras-chave;

• Reflexão filosófica: Abordagem relevante para o conhecimento científico e para a área acadê-
mica. Não é necessário resumo e palavras-chave;

• Artigo especial: Texto escolhido pelo corpo editorial. Geralmente de um especialista ou teó-
rico de áreas de interesse para o meio acadêmico. Deve conter resumo e palavras chave em
língua vernácula e estrangeira, introdução, métodos, resultados, discussão, considerações fi-
nais e referências;
Cientefico. V. 13, N. 26, Edição Especial, Fortaleza, jul-dez, 2013

IV. Terrmo de Autorização


130
Cada um dos autores deverá preencher o Termo de Autorização e enviar no momento da submissão
do manuscrito, devidamente assinado, pois o envio do mesmo será condição sine qua non para que o
texto seja publicado na Cientefico (vide modelo abaixo).

Cidade (Estado), _____ de __________ de _____.

________________________________________
Conselho Editorial
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
131

Eu, _____________________________________________, CPF nº ________________, autorizo o


grupo DeVry Brasil, responsável pela edição do periódico Cientefico, (ISSN 1677-5716 e ISSN: 1677-
1591), a publicar o texto de minha autoria intitulado ______________________________________
___________________________, em versão eletrônica e disponibilizá-lo, em formato eletrônico ou
outras mídias, para bases bibliográficas de indexação, repositórios e bancas de dados de referências e
de periódicos científicos, dispensando qualquer tipo de remuneração ou contra prestação econômica
pela divulgação do referido trabalho.

Declaro que o presente manuscrito é contribuição original, não tendo sido publicado anteriormente,
nem integralmente nem partes, sob nenhuma forma de mídia impressa ou eletrônica, e não foi
encaminhado concomitantemente a outros periódicos, nem o será até concluído o processo de
avaliação pela Revista Cientefico.

Informo ainda que participo suficientemente do trabalho para tornar pública minha responsabilidade
pelo seu teor. Caso necessário e se solicitados, forneceremos as informações e dados referentes ao
estudo apresentado no manuscrito para análise do editor da revista.

____________________, _____ de __________ de _____.

________________________________________
Assinatura
Ciente . V. 13,Ciente
N. 26, Edição
. V. 3,Especial,
Ano 13, Fortaleza,
Fortaleza, jul-dez,
jul-dez, 2013
2013

132

devrybrasil.edu.br

Você também pode gostar