Você está na página 1de 2

N ATAL

TRT-RN condena empresa por obrigar gerente a andar sobre


brasas
por Redação Tribuna do Norte

 8 de abril de 2024

Gerente foi obrigado a andar sobre brasas (imagem ilustrativa)

A Primeira Turma de Julgamentos do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª (TRT-RN) condenou, por
unanimidade, a Narciso Enxovais ao pagamento de R$ 50 mil de indenização por danos morais a uma ex-
gerente submetida a tratamento degradante e vexatório durante treinamentos motivacionais promovidos pela
empresa.

Entre esses treinamentos impostos aos empregados, de acordo com o TRT, estava andar sobre um caminho de
carvão de brasa quente.

Em um encontro realizado na propriedade rural do dono da empresa, durante o mês de setembro, foi realizado
um jogo denominado Meta ou Morte, uma alusão à independência do Brasil que, por si só, já sugere o clima
tenso da reunião de avaliação do desempenho de seus gerentes.

Nesse encontro, o dono da Narciso chegou a colocar pessoalmente uma cruz no local da reunião e afirmar que o
gerente que não batesse a meta teria seu nome colocado na cruz, simbolizando que aquela pessoa “morreu”
para a empresa.

Em outra ocasião, ela também disse ter sido obrigada a declamar o poema Filosofia do Sucesso, de Napoleon
Hill, e ao final foi humilhada pelo dono da empresa, diante dos demais gerentes, por não ter atingido sua meta.

Fire Walker

Por fim, em outro treinamento, os gerentes ficavam três dias incomunicáveis em uma fazenda de propriedade
do dono da Narciso e eram obrigados a andar descalços sobre brasas quentes e gritar “fire walker” (caminhante
do fogo) ao final da caminhada.
Em sua reclamação à 5ª Vara do Trabalho de Natal, a ex-gerente explica que trabalhou na Narciso a partir de
julho 2009, inicialmente como assistente de vendas e, depois, foi promovida a gerente de loja.

Ela foi demitida sem justa causa, em julho de 2021 e durante o período de seu contrato de trabalho foi obrigada
a participar de vários treinamentos e reuniões para cobrança de metas.

Meta ou Morte

Em treinamento realizado num hotel fazenda, os gerentes passaram a noite acordados e amarrados pelos
pulsos, uns dos outros, procurando pistas em um jogo de caça ao tesouro, num lugar ermo, no meio do mato,
ouvindo gritos e xingamentos depreciando o desempenho funcional da gerente.

Num outro encontro, realizado em Recife, os gerentes foram trancados numa sala escura, com uma pessoa
deitada ao chão, como se estivesse morta, com velas acesas ao redor.

Segundo a ex-gerente, em outra atividade, a equipe deveria ficar sentada, sem falar, olhar pro lado ou tocar o
encosto da cadeira, sob pena de receber um balde de água na cabeça.

Testemunhas ouvidas durante o processo atestaram que a ex-gerente era, de fato, exposta a situações
vexatórias nos “treinamentos motivacionais” promovidos pela empresa.

A Narciso, no entanto, contestou a ex-gerente alegando que a empresa “não pratica abusos de ordem moral no
trato com seus funcionários, zelando pela ética, bons costumes e sem exageros ou constrangimentos”. A
empresa recorreu da decisão ao TRT-RN.

Recurso

O recurso foi analisado na Primeira Turma de Julgamentos do TRT-RN pelo juiz convocado Décio Teixeira de
Carvalho Junior.

Para ele, “é incontroverso que, em todos os treinamentos, existia a dinâmica de andar em caminho de brasa
quente, inclusive sendo juntado vídeo, em que se observa os participantes caminhando sobre carvão em
chamas”.

O juiz convocado reconheceu que houve “extrapolação do espaço de liberdade patronal que lhe é conferido pelo
poder diretivo, configurando-se conduta abusiva, que dá ensejo à reparação civil pela mácula aos atributos da
dignidade da pessoa humana do empregado”.

Décio Carvalho concluiu que, “por toda prova produzida, restaram comprovados excessos do empregador, visto
que suas atitudes configuram verdadeiras ameaças ao emprego da autora”.

Baseado nesse fato, o juiz convocado manteve a indenização por danos morais em favor da ex-gerente no valor
de R$ 50 mil e foi acompanhado, à unanimidade, pelos desembargadores da Primeira Turma.

Com informações do TRT/RN

Você também pode gostar