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POVO TUXÁ
das águas do Opará
1ª Edição
Paulo Afonso/BA
2020
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECOLOGIA HUMANA – SABEH
CNPJ 21.200.341/0001-80
E-mail: editora.sabeh@gmail.com | Site: www.sabeh.org.br
Este livro é uma coletânea de artigos produzidos em programas de graduação e pós-graduação sobre
o Povo Indígena Tuxá. Compõe o acervo do Projeto da Nova Cartografia Social da Bacia do Rio São
Francisco: coordenado por Msc. Alzení de Freitas Tomáz e o Dr. Juracy Marques. Consta do reper-
tório de atividades do Projeto Quilombos coordenado por: Dr. Juracy Marques (Grupo de Pesquisa
em Ecologia Humana – GPEHA/UNEB), Franklin Plessmann de Carvalho (NEA Nova Cartografia
Social/UFRB) e Vânia Rocha Fialho de Paiva e Souza (LACC/UPE). Supervisionado pelo Prof. Jura-
cy Marques, em parceria com a Sociedade Brasileira de Ecologia Humana – SABEH e Mestrado em
Ecologia Humana e Gestão Socioambiental (PPGECOH/UNEB).
Povo Tuxá das águas do Opará [livro eletrônico] / [organização] André Luís
Oliveira Pereira de Souza, Alzení de Freitas Tomáz, Juracy Marques. -- "O índio não veio de lugar nenhum, ele
1. ed. -- Paulo Afonso, BA : Sociedade Brasileira de Ecologia Humana
- SABEH, 2020. -- (Povos Indígenas do Rio São Francisco; 2) saiu aqui da terra, foram os primeiros...
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Estamos aqui no lugar onde sempre
Vários autores estivemos, o território dos brabio."
ISBN: 978-65-5732-023-5
20-48688 CDD-980.41
corpo editorial - editora sabeH
Brasil
Dr. Juracy Marques dos Santos (GPEHA /UNEB); Dr. Alfredo Wagner
Berno de Almeida (UFAM/PPGAS); Dr. João Pacheco de Oliveira (UFRJ/
Museu Nacional); Dra. Maria Cleonice de Souza Vergne (CAAPA/PPGE-
coH/UNEB); Dra. Eliane Maria de Souza Nogueira (NECTAS/PPGEcoH/
UNEB); Dr. Fábio Pedro Souza de F. Bandeira (UEFS/PPGEcoH); Dr. José
Geraldo Wanderley Marques (UNICAMP/UEFS/PPGEcoH); Dr. Júlio Ce-
SUMÁRIO
sar de Sá Rocha (PPGEcoH/UNEB); Dra. Flávia de Barros Prado Moura
(UFAL); Dr. Sérgio Malta de Azevedo (PPGEcoH/UFC); Dr. Ricardo Amo-
rim (PPGEcoH/UNEB); Dr. Ronaldo Gomes Alvim (Centro Universitário
Prefácio
Tiradentes–AL); Dr. Artur Dias Lima (UNEB/PPGECOH); Dra. Adriana
Cunha (UNEB/PPGECOH); Dra. Alpina Begossi (UNICAMP); Dr. An-
11 André Luís Oliveira Pereira de Souza
derson da Costa Armstrong (UNIVASF); Dr. Luciano Sérgio Ventin Bomfim
Apresentação
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(PPGEcoH/UNEB); Dr. Ernani M. F. Lins Neto (UNIVASF); Dr. Gustavo
Hees de Negreiros (UNIVASF/SABEH); Dr. Carlos Alberto Batista Santos Juracy Marques
(PPGEcoH/UNEB); Dra. Maria do Socorro Pereira de Almeida (UFRPE);
Dra. Dinani Gomes Amorim (PPGEcoH/UNEB).
Eu vi dois peixinhos: o reencontro do Povo
Tuxá com suas águas encantadas
Internacional
Dr. Ajibula Isau Badiru – NIGÉRIA (UNIT); Dr. Martín Boada Jucá – ES-
21 Antônia Flechiá Tuxá
PANHA (UAB); Dra. Iva Miranda Pires – PORTUGAL (FCSH); Dr. Paulo Felipe Cruz Tuxá
Magalhães – PORTUGAL (QUERCUS); Dr. Amado Insfrán Ortiz – PARA-
GUAI (UNA); Dra. María José Aparício Meza – PARAGUAI (UNA).
Ilhas da memória, memória das ilhas:
Equipe de Pesquisadores e Pesquisadoras da Nova Car-
tografia Social do São Francisco
49 histórias ao longo do tempo e à margem
do rio
Alzení de Freitas Tomáz, Ana Paula Silva de Arruda, André Luís Oliveira Pe- Leandro Marques Durazzo
reira de Souza, Joaquim Alves Novaes, Juracy Marques dos Santos, Lilian Pinto
da Silva Santos, Maria de Fátima Santos de Lima, Maria Rosa Almeida Alves, Uma etnohistória do submédio
José Ignácio Vega Férnandez, Nilma Carvalho Pereira, Pâmela Peregrino da
Cruz, Paulo Wataru Morimitsu, Robson Marques dos Santos, Silvia Janayna de 71 São Francisco e dos Tuxá de Rodelas
Ricardo Dantas Borges Salomão
Oliveira Veriato e Suana Medeiros Silva.
Território, memória e identidade do Povo
Indígena Tuxá de Rodelas/BA e efeito
137 barragem em sua dinâmica socioambiental
e cultural
Nilma Carvalho Pereira
D’zorobabé: um etnomapa da
autodemarcação Tuxá
173 André Luís Oliveira Pereira de Souza
Alzení de Freitas Tomáz
Juracy Marques
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nordeste” foram duplamente afetados, pelo desprezo local A criação de uma escola indígena passa a ser o epicentro
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nunca saiu da minha cabeça: “Agora entendi tudo! Amar- forma carinhosa como sempre me receberam ao longo
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é, por essência, uma instituição voltada para a economia e Por último quero dizer quão profunda é minha ale-
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e privação veiculadas em narrativas midiáticas e literárias sobre No presente capítulo, os autores que são ambos mem-
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si estabelecida entre os índios com e para o rio não foi alvo ou a caçadar banho nos meninos e levar água para
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São Francisco, de dia e de noite, enfrentando suas ter ontológico como um lócus em potencial de memória
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Dialogar sobre a importância do rio São Francisco nossa existência como hidrelétricas, enchentes, dispersão e
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Como podemos ver, trânsitos ao longo do curso do rentezas desse grandioso rio em um tempo de felicidade e
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dias que eu dormia lá sozinho. Me lembrando, me recordan- “Estou vivo”
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esperado; seu potencial energético lá estava a ser indígena. Pelo contrário, os Tuxá eram vistos como empe-
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aproximadamente três décadas após o deslocamento de lideranças já que haviam divergências na comunidade sobre
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relações de convivência distintas com o território D’zoroba- da nossa história. Assim aconteceu quando no passado uma
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processo de sobrevivência sociocultural, física e simbólica Percebe-se no depoimento deste jovem a importância
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ilha do Sorobabé e vieram para o lado de cá e subiram para Rio São Francisco
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SANTOS, Juracy Marques dos. Cultura material e etnicidade dos po-
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tão importante. É no lugar em que vivem, no ambiente que Quando da barragem, os Tuxá foram realocados
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vam – e auxiliam – os Tuxá a manterem seu lugar vivo. CHESF (Companhia Hidrelétrica do São Francisco) nem
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bientes e dos recursos naturais, existência de con- Ampliá-lo para abranger:
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Mas, ao longo dos séculos, D’zorobabé não deixou de reiras e lotes nos quais barracas de moradia pudessem ser
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essa história, senão todas, diziam-me ser uma sabedoria an- pedras ou nadando de braçadas nas águas do rio. Ser mem-
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lonização europeia – uma importante via de tráfego fluvial, não apenas com o rio, mas com as próprias pessoas que re-
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roças abundantes – ainda que de difícil trato, pelo terreno ras pelos colonos, pela metrópole portuguesa e por outras
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para seu entendimento de uma história vivida e também Snyder nos indicou: ser membro de uma comunidade é ser
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representantes do passado ou sujeitos sem agência nem R eferências
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VIEIRA, José Glebson; AMOROSO, Marta; VIEGAS, Susana de
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ção e expansão do domínio colonial territorial dos portu- Nesse sentido, como sugere Fredrik Barth (2000),
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sentido. Dessa maneira, sugere Cardoso de Oliveira, a iden- diversos processos de territorialização, ocorridos ao longo
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mantimentos, abrindo novos caminhos por paragens suítas já estabeleciam contatos com as populações indígenas
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Pe. Fernam Cardim, como Perrone-Moisés (1992), sugerem São Francisco, na ilha de Jetinã. Regni (1988) relata que o
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oficialmente cinco aldeamentos, a saber, Rodelas (Mapa 1 uma vez que fossem libertos de práticas demoníacas através do
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camentos, os jesuítas solicitam à Coroa, diante da situação o território é complementado com 1 légua em terra firme na
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...agora e pelo tempo futuro a elas se hão de rio da aldeia Sorobabé, como ao padre Agostinho Correia,
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ao mesmo tempo, não queria se confrontar com os cur-
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Hospício da Penha, e a partir de 1713 assumem as missões tequese pela dificuldade de aprenderem os diversos “diale-
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- Aldeia de Nossa Senhora do Belém, na ilha de Alguns anos depois, em 1755, foi promulgado o de-
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Existem muitos registros sobre a aplicação de casti- lherme Fernando Halfeld4 em 1860, foi estabelecido após
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simples, não mais que uma capela. No dia seguinte, a imagem São João é índio. São João é o dono da aldeia. Isso eu digo
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da “velha tradição”. A imagem em bloco maciço de pedra do como indígenas, são reforçadas regionalmente. A negação
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A povoação tem 23 casas de mui inferior constru- com o apoio das autoridades da província. Escreve também
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do município de Glória. As famílias brancas proprietárias de ra, os morenos não formavam um grupo identitário coeso, e
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iam dançar toré para se divertir nos fins de semana, ou praticar Hohenthal (1954:61), que visitou os Tuxá em meados
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de amizade e compadrio. Como observa Eriksen, os estereó- tuições públicas responsáveis pela questão, tanto em Recife,
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caboclo também bate o pé a eles. Mas de primeiro aqui, os Com a instalação do posto indígena, os Tuxá conse-
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e indígena. Fonseca também teve acesso a essa relação de do rio Pajeú, área do aldeamento de Sorobabé (Hohenthal
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outra fração, de dialeto diferente, a dos Brogodá S. Francisco – CHESF numa área de 336 metros
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única rua sem calçamento, diferente da rua dos brancos que ximadamente 2.500 MW, com o intuito de solucionar o
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de negociação do deslocamento compulsório das famílias Tuxá, entre os moradores de Rodelas, foram o único gru-
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Na Reserva Indígena de Ibotirama: Às “famílias reassentadas” em Ibotirama que já es-
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nar a definição do território dos índios Tuxá de Rodelas, Como sugere Sigaud (1986: 53), a natureza do pro-
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trabalharem com agricultura. Toda essa desestruturação amor do convívio, da natureza. De nossa terra, perderam
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indígena. Além do econômico, esses fatores também fo- trabalharem e criarem chances de emprego para os mais
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MAPA 1 MAPA 2
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8 - Aldeamento Missio-
nário Curral dos Bois
9 - Aldeia do Bento Serafim,
situada na Ilha de Varge, Sec XVIII
10 - Missão de São João Batista de
Rodellas Sec XIX
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MAPA 3
MAPA 4
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iNtrodução
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Os povos indígenas da bacia do São Francisco sofre- perda de sua diversidade sociocultural, como foi o caso da
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Referenciais T eóricos
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Estudos realizados por Salomão (2007) constatam que O Mapa 2 descreve a diáspora Tuxá, localizando os 3
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As lembranças do antigo território, ainda permane- Importante compreender que a percepção do agir so-
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Fui criado lá na Ilha da Viúva, lá era muito bom... Era um É necessário entender a natureza do processo so-
cial deflagrado pelo empreendimento que proces-
paraíso. Uma porque nos vivia num lugar onde foi gerado e
sa simultaneamente o econômico, político, cultural
criado nosso antepassado, as terras nossas era abençoa- e ambiental, pois, trata-se, com efeito, de um pro-
da por Deus... A vida lá era outra (...) coisa que lá nunca cesso de mudança social que interfere em várias
vimos uma morte nem de caboclo, nem de negro e nem de dimensões e escalas, espaciais e temporais, pois,
branco. Era três famias, nós era tudo unido. Os índios, os instauram-se novas dinâmicas socioeconômicas,
novos grupos sociais emergem na região de im-
negros e os brancos. Vivia tudo unido...
plantação, novos interesses e problemas se mani-
(PAJÉ ARMANDO, 2012) festam. (SIGAUD, 1986, p. 6)
A recuperação do território étnico é um grande desa- Por sua vez, Rothman (1998, p. 45) ampliando a visão
fio, e também uma luta histórica do Povo Tuxá, como ressal- de Sigaud ressalta que:
ta a liderança indígena Tuxá:
Entender o processo como mudança social, implica
O nosso território tradicional é toda essa terra (referindo- igualmente considerar que há dimensões não estri-
-se ao município de Rodelas) onde nossos antepassados tamente pecuniárias ou materiais, e sim, abrange
perdas que são resultantes da própria desestrutu-
sempre viveram por entre as caatingas e as beiradas do rio
ração das relações prevalecentes, da eliminação de
Opará e suas Ilhotas. Nosso povo viveu, morreu e reviveu, práticas, das perdas de valores e recursos imateriais
mas, que continuar existindo e vivendo, para isso, precisa (religiosos e culturais), e cita como exemplo, a dis-
de duas coisas: recuperar seu território e viver suas tra- persão de um grupo familiar extenso, ou a inunda-
ção de lugares com importância simbólica religiosa,
dições de maneira livre e livre dos grandes projetos que
para um determinado grupo social.
destruíram e continuam destruindo nossas vidas.
(SANDRO TUXÁ, 2012)
Logo, o território surge como resultado de uma di-
nâmica social, que de forma concreta e abstrata, se apropria
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de um espaço (tanto físico como simbólico) e assim, vive-se nessas questões da tradição, da visão de ser Tuxá, dessa
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cursos naturais para satisfazer necessidades materiais e sim- somos difamados por estarmos ocupando ou entrando
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O fato de não possuírem posse de seu território é la- Neste sentido Acselrad (2005), corrobora dizendo que
mentada por outras lideranças jovens da aldeia e relata a os conflitos ambientais surgem a partir de interesses opostos
triste realidade em que seu povo se submete para buscar as entre os atores sociais que defendem diferentes lógicas para
plantas medicinais para fazer seus remédios para as curas: gestão de bens de uso comum. Ressaltando que o ambiente
não é composto apenas por objetos materiais, mas através de
[...] hoje quando a gente precisa de alguma planta, de sentidos socioculturais com interesses diferenciados, e asse-
alguma erva que possa tá melhorando a saúde nossa gente gura que a causa ambiental é atravessada por conflitos sociais.
muitas vezes se sente diminuído porque a gente tem que ir Para Little (2001) os conflitos mais difíceis tendem a
nessa parte do território que ficou fora da inundação, mas acontecer onde há um choque entre os diferentes sistemas
que hoje pertence ao branco então a gente tem que entrar produtivos. Ou seja, ao mesmo tempo em que é necessário o
nas terras dos não índios, que é nossa, muitas vezes sem barramento do rio para geração de energia, para suprir a ne-
pedir licença, porque a gente sente como nossa e as vezes cessidade de uma sociedade que exige cada vez mais satisfazer
148 149
sua necessidade de consumo, O povo indígena necessita do Segundo Little (2001), todos os grandes empreendi-
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O Universo simbólico do povo Tuxá é, essencialmente, Por possui uma percepção e visão de mundo que os
composto pelo culto aos encantados/mestres2, santos, cabo- difere dos demais, os Tuxá tem uma profunda interação com
clos e gentios (ESTRELA s/n). Percebe-se claramente que a natureza e essa ligação vai além de uma lógica racional, ela
a dimensão simbólica dos Tuxá está intensamente ligada às adentra na fronteira do sagrado.
águas do São Francisco, em especial as cachoeiras, morada Entretanto, esta relação relativamente harmônica
dos encantados e de outras forças Divinas que fazem parte e interdependente dos bens da natureza, passaram a ser
da cosmovisão dos Tuxá. Lamentavelmente, as cachoeiras, ameaçados pelas transformações ocorridas decorrentes da
assim como as ilhas, lugares sagrados para os Tuxá, foram implantação da barragem hidroelétrica.
destruídas pelas barragens. As barragens, juntamente com os agronegócios, já di-
minuíram consideravelmente a vegetação nativa e os peixes
2 Forças poderosas do Povo Tuxá que fazem parte do regime do indígena, que são respon- nativos, como também destruíram o ciclo da vazante que
sável por proteger e defender o Índio e sua aldeia (Cacique Bidu, 2013).
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regulava as atividades produtivas das populações indígenas,
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Proteger essas tradições e práticas implica em A vida dos Tuxá após a transferência forçada de seu
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Os dois mapas, antigo e novo, são parte intrínseca
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Quadro 1: Consenso sobre o antigo Território e a situação em que se
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Destacaram-se neste índice de saliência cognitiva, os
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tra para Inajá (PE) e Banzaê (BA). E assim os laços que cultura, antigamente tínhamos mais fé no trabalho que ia
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A inundação foi a pior coisa que aconteceu pra nós até hoje
estamos sofrendo. A coisa que mais a gente perdeu que
Figuras 4 e 5: Anciãs da Aldeia Tuxá de Rodelas, à esquerda e
abalou todo mundo foi a crença nas coisas da ciência, na
Auxiliadora, a direita. (TOMÁZ, 2012)
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A perda do território compromete profundamente as
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Neste contexto, percebe-se claramente a importân- sistema de conhecimento e saberes guardadas em suas ri-
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bilizem uso adequado e justo dos bens naturais e a ga- Projeto Nova cartografia social dos povos e comunidades tradicionais
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iNtrodução
O pássaro que canta
marca assim seu território
(DELEUZE/GUATTARI)
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líticas de desenvolvimento como a implantação de barragens e ritmos contidas nas águas, nos ventos, na terra, nas folhas
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Sublinhou-se muitas vezes o papel do ritornelo: ele sobremaneira, dimensões como a transmissão de saberes
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D’ zorobabé T erritório Ancestral
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DO APAKO, 2018). É onde os seus ancestrais teciam suas O marco arqueológico encontrado em D’zorobabé, re-
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O D’zorobabé é um lugar sagrado desde os nossos D’zorobabé, é território ancestral do povo Tuxá... E ali em
ancestrais... quem morou aqui, encontrou não foi nem frente no meio do lago, ficava a ilha D’zorobabé, primeira
uma nem duas coisas não, encontrou foi muitas tocas morada do Povo Tuxá, dos índios Rodeleiros, primeiro apor-
indígenas, eles chegaram a ver caco de cachimbo, caco te de onde a gente veio, do nosso tronco antigo, do nossos
de barro. Agora hoje, eles não querem dar nosso direito, anciões, foi de lá que veio os nossos ensinamentos, foi de lá
o D’zorobabé! E aí eu digo, eles vieram pra cá, eles fize- que nasceu tudo que a gente sabe, e foi de lá que dissemi-
ram o rebanho deles aqui. Chegou uma enchente muito nou para a nossa aldeia, que é a aldeia Tuxá mãe.
grande que eles não puderam mais desviar, aí eles foram (MAYRA APAKO, 2017)
pra o Rodelas, pra o lugar que eles foram habitar, pro lu-
gar que nós se encontra. (DORA JURUM ARFER, 2017) Com o início da atividade missionária a partir de
1671, na missão de São João Batista, iniciada com a ordem
As lideranças Tuxá preocupadas com o patrimônio dos capuchinhos instalada em Rodelas antiga, seguiu-se um
histórico, buscam com a luta pela regularização fundiária década depois a chegadas dos Jesuítas, que escolheram D’zo-
de D’zorobabé, resguardar a memória ancestral, através de robabé como aldeamento missionário (ARRAES, 2013:58),
processos cartográficos, contação de histórias, transmissões as escolhas apontam uma presença marcante de povos indí-
de saberes, organização das famílias através de Clãs - cujo genas vivendo nesse território.
laços de parentescos ajudam na recuperando de nomes na Nessa época a ilha de D’zorobabé ainda não havia submer-
língua indígena e nos processos de gestão do ambiente. gido, também registrada no atlas de 1860 do engenheiro civil
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Henrique Guilherme Fernando Halfeld (1797-1873), que em A terra do D’zorobabé, dos índio rodeleiros, começava da
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As historiografias sobre os indígenas do Nordeste, sociedade, todavia, o território jamais foi homologado ofi-
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Todas essas ilhas era Tuxá, toda essa região era Tuxá, tem Nós estamos aqui nesse momento, aqui nessa terra, que
um escritor aqui de Rodelas que ele diz que foi adquirida é a terra dos nossos ancestrais, a Ilha de D’zorobabé
em forma de compra mas, como foi feita essa compra? Ou que tem uma identificação muito forte do tronco Tuxá,
você sai ou você quer quanto? Vou lhe dar dez reais pela que está aqui agora, buscando recuperar tudo aquilo
sua terra, não tá barata demais! Você quer sair ou quer que os nossos antepassados desde a Ilha da Viúva e
morrer? Você quer sair ou quer que eu tome? Você quer outras ilhas, a ilha do Camambá, a ilha do Jatinã, a ilha
dinheiro ou quer que eu tome? Então o pessoal não sabe da porta, todas outras ilhas junto de mais outras tantas
essa história, não conhece a realidade Tuxá. ilhas... (DIPETA FLECHIÁ, 2017)
(ZAHATY JURUM VIEIRA, 2017)
Neste contexto, a memória presente na organização
As tantas perdas provocadas pela ação do Estado, espacial do território antigo, demonstra a forte relação
conduziu os indígena a produzirem lutas sistêmicas de re- que os indígenas possuem com os sistemas da natureza.
sistência, instaurando processos de retomadas em face à ins- Os Índios remontam os lugares e afirmam resistências.
trumentos jurídicos de demarcação de territórios étnicos, Seu estilo de vida, conservava práticas de extração, mane-
aquisições de terras, ou reivindicações em torno de territó- jo e cultivos num fluxo de relações ambientais, conforme
rios de pertencimento. Os pedidos de reconhecimento da atesta o Cacique:
posse das ilhas possuem registros desde os anos de 1945,
entre a região de D’zorobabé e Barra do Tarrachil, tradicio- A ilha de Sorobabel ficou debaixo d’agua, mas no tempo
nalmente ocupadas pelos índios rodeleiros, somente a posse das cheias, eles [índios] subia pra caçar até o rio baixas-
da Ilha da Viúva foi reconhecida como lugar de índio na se, eles trabalhavam na agricultura na Ilha, mas enquanto
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isso não acontecia eles iam pras matas, subiam as dunas, Nós temos vários agrupamentos de Tuxá, temos Tuxás
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Imagina só... como foi na cabeça dos índios que há muito
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conflitos e riscos que o território atual sofre no município T erritório T uxá C artografado e a
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Ocorre que D’zorobabé, como já mencionado é o ter- A Ilha da Viúva é um território âncora no cam-
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Diante desses desafios e impasses, compreende-se que Sobre a vila dos Tuxá aldeia mãe na cidade de Rodelas
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los intrínsecos conectados com os elementos da natureza, D’zorobabé é mais que um território, é o que os liga na
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foram levados pela palavra amiga do Estado e da Funai e Esse D’zorobabé aqui, ele representa muito. Ele significa
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organizados por Clãs, numa analogia ao seu jeito antigo de Mas, é o que eles queriam... Entendeu? Eles não queriam
dá a terra... E hoje, ela diz, na última reunião que eles tive-
se ordenar, decidiram retornar ao território de pertencimen-
ram em Brasília, o chefão disse: “Nós não devemos nada
to - o coração de D’zorobabé -, o território mais sagrado
a vocês!” Mas eles não queriam dá a terra não! Se eles
dos Índios rodeleiros,
deram a todo mundo e só ficou nós! Por que? Agora aqui
é uma retomada. (ALDENORA JURUM VIEIRA, 2018)
Em 2010 nós tivemos a primeira ação de retomada do terri-
tório de Sorobabé, 2017 a gente está ressignificando essa
O Cacique João Batista Juntá ainda infere:
ação. E enquanto comunidade, nós afirmamos que não va-
mos sair daqui. Que esta é uma luta que a gente precisa do
Já chega de tanta demora, de tanto a Chesf enganar a
aporte dos nossos parentes, os parentes que já consegui-
gente. Chega engana de um jeito, engana de outro e nós
ram as terras, são esses que já passaram por esse proces-
fica esperando e nós estamos ficando velho e nada tá
so e sabem o quanto é difícil. (MAYRA APAKO, 2017) resolvendo porque quando eu cheguei aqui (nessa luta), eu
cheguei com mais ou menos uns trinta e três anos, hoje já
Segundo os relatos do povo Tuxá, os dispositivos do vou fazer sessenta e quatro. E só esperando pela Chesf,
Estado, através de instituições como a Chesf e do próprio fizemos reunião, marcamos reunião, Quando chega lá diz
aparato jurídico e sua lentidão no processo, utilizaram que num disse isso, num disse aquilo e nós esperando.
uma estratégia de vencer pelo cansaço, como posto no de- Hoje nós temos um terreno que nós vamos lutar agora com
poimento de Aldenora Jurum Vieira e do Cacique João toda força pra nós vencer essa batalha.
Batista Juntá: (CACIQUE JOÃO BATISTA JUNTÁ, 2017)
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Esse movimento de reorganização do reconheci- na frente tenha que ser ajustado. O processo, da divisão da
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dos troncos velhos familiares através do sistema dos antigos A noção de território para os Tuxá, transpõe os li-
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vendo-os e georreferenciando-os, com base no que é conside-
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tradicionais a partir da ideia do sagrado. Os elementos cendo o território ancestral como condição necessária para
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iNtrodução
1 Ayrumã, nome indígena presenteado pelos Encantados; Flechiá, nome do meu clã fa-
miliar; Tuxá, nome do meu Povo.
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e dos instrumentos jurídicos que asseguram o direito indíge- tes no ordenamento jurídico, bem como refletir acerca dos
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pode incidir determinantemente na vida das comunidades da propriedade” e corpus é conceituada por ele como “à rela-
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rio de se utilizar do seu bem a sua maneira. O direito de Posteriormente, outra distinção é permitida uma vez
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praticou o esbulho, ao passo que o esbulhador restitui o fato, to tanto quando há ameaça de turbação como de
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Segundo consta as informações públicas a respeito do Dito isso cabe reafirmar, que as terras que os povos
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ciológica, jurídica, cartográfica, ambiental e o levantamento Após debruçar-se sobre a manifestação anterior ou
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A Convenção nº 169 da Organização Internacional Os direitos de propriedade e posse de terras tra-
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restante da sociedade não indígena, o que faz imaginar que
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O povo Tuxá, localizado no município de Rodelas, caravelas passam… os Tuxá de Rodelas reafirmam sua
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constituiu o Conselho da Aldeia Mãe - CONTAM, com o Tuxá, seguindo o entendimento do relator, entendendo que a
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sendo então responsabilidade da União se debruçar sobre rein- sentados nos autos do processo, não provam a posse dos
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§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos atender os interesses da classe capitalista que anseia pelo
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força da própria reintegração, para produzir mais benfeito- BRASIL. Decreto nº 1775, de 8 de janeiro de 1996. Dispõe sobre o pro-
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Antônia Flechiá Tuxá: Licenciada em ma- Luiza Kelly Assis de Oliveira - Ayrumã Fle-
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